Samarone Da Silva Nunes Nós Museológicos Os Discursos Queer Nas Exposições
Samarone Da Silva Nunes Nós Museológicos Os Discursos Queer Nas Exposições
Samarone Da Silva Nunes Nós Museológicos Os Discursos Queer Nas Exposições
SAMARONE NUNES
GOIÂNIA
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA
SOCIAL
LINHA DE PESQUISA: ETNOGRAFIA DOS PATRIMÔNIOS,
MEMÓRIAS, PAISAGENS E CULTURA MATERIAL.
GOIÂNIA
2019
Agradecimentos
This reflexive writing is the result of the displacements of the "fieldwork" and the
"ethnographic" doing. This one considers with special attention the political and
epistemological implications of the differences when they undergo processes of
capture. Suggestions for these processes emerge when comparing Queer
speeches in the Homo (queer remixed) exhibited at the Museu Antropológico
(UFG) in Goiânia, Goiás (2007) and QueerMuseu: cartografias da diferença na
arte brasileira, shown at Centro Cultural Santander – Porto Alegre, Rio Grande
do Sul (2017), Brazil. Contemporary productions such as "epicenters" of
conflicts or as mnemonic triggers are shown, described and accessed,
according to the proposal to redesign a seam pierced by several narratives in
which one of them is a mediator. The dissertation is divided in three chapters in
which I expose the problem of the representation of subalternized deviant
groups and I gather the Digital Fund of the exhibition at the Museu
Antropológico (UFG), mapping and recomposing memories. For this, retrieve of
personal files, memories, virtual sources, internet, files and productions in
electronic medium. I propose, therefore, reflection on outsourced conflicts,
impacts of the reverberations that the peripheral-center inverse displacements
can cause. All this bearing in mind the theoretical filters selected between the
queer and not (explicitly) queer for the present work, if not untie, at least begin
to characterize the knots and nodes left in the tropus of the expository fact by
the attempt to capture the Queer in these places and in the brazilian system of
arts.
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 15
CAPÍTULO I.................................................................................................... 24
CAPÍTULO II................................................................................................... 47
CAPÍTULO III.................................................................................................. 92
4. Conclusão .............................................................................................112
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantitativo por regiões dos produtores. ...................................... 66
Gráfico 2 – Amostra por gênero. .................................................................... 66
TABELA
Tabela 1 - Coletivo Circular com presença na Homo (queer remixed) MA-UFG
e por Estado.................................................................................................... 64
QUADROS
Quadro 1 - Vídeos de apresentação de produtores do Coletivo Circular. ...... 67
Quadro 2 - Seleção de significados. .............................................................. 99
Quadro 3 - Performação em escala. .............................................................107
Quadro 4 - Deslocamento e disputa .............................................................109
LISTA DE SIGLAS
BBC-Brasil - British Broadcasting Corporation no Brasil
BDSM - Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo
EAV - Escola de Artes Visuais Parque Lage
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
ENUDES - Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual
FCS/UFG - Faculdade de Ciências Sociais Universidade Federal de Goiás
FGV DAPP – Fundação Getúlio Vargas Diretoria de Análise de Políticas Públicas
FFLCH/USP – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo.
Fies - Fundo de Financiamento Estudantil
ICOM – Conselho Internacional de Museus
Iphae-RS - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado
JC - Jornal do Comércio
LGBTTQ+ - Lésbicas, Gay, Trans, Travesti, Queer e outros
MA-UFG - Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás
MG – Estado de Minas Gerais
MC – Mestre de Cerimônia
MP-RS – Ministério Público Estado do Rio Grande do sul
MuBAN-IBRAM - Museu das Bandeiras do Instituto Brasileiro de Museus
NUMAS - Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença do Departamento de
Antropologia da FFLCH/USP
PPGAS - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
ProUni - Programa Universidade para Todos
PUC – GO - Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Reuni - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais Brasileiras
RJ – Estado do Rio de Janeiro
SEDUCE-GO - Secretaria Estadual de Educação Cultura e Esporte de Goiás
SP – Estado de São Paulo
UBC MOA - University of British Columbia Vancouver
UFBA - Universidade Federal da Bahia
UFG - Universidade Federal de Goiás
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
UFPA - Universidade Federal do Pará
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UFPEL - Universidade Federal de Pelotas
UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFS - Universidade Federal de Sergipe
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNB - Universidade de Brasília
Unibave - Centro Universitário Barriga Verde
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
USP – Universidade de São Paulo
INTRODUÇÃO
13
1
A Sala 2, antigamente conhecida como FCS2 fica no prédio de Humanidades I, Campus
Samambaia, onde ocorrem diversas aulas do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Social da Universidade Federal de Goiás.
14
2
Quick Response Code (QR Code) é código de barras bidimensional facilmente escaneável e
de amplo uso no mundo virtual por permitir direcionar de maneira rápida as informações. Não é
preciso “baixar” aplicativo. Na extrema direita, acima, clicar nos três pontos (verticais) e
escolher “Ler Código QR”, no provedor de pesquisa Google. É uma funcionalidade presente
entre outros lugares nas páginas de redes sociais.
3
4
O termo está em disputa. Mas nesta pesquisa é empregado como termo êmico. Vindo em
ítálico para lembrar de sua condição colonizadora.
15
CAPÍTULO I
Antropologizando museus -
Musealizando devir
25
Esse texto explora alguns temas que são indissociáveis para estudar as
questões convergentes abordadas por esse trabalho, tais como: origens da
ideia de museu, as relações entre públicos e museus, assim como a inserção
da antropologia nos museus. Abordo, também, os casos de Sarah "Saartjie"
Baartman, sul-africana, e do grupo familiar Kaliña de Galibi, indígenas sul-
americanos levados à Europa para serem estudados e exibidos nas
"exposições etnográficas" daquele continente. Por fim, proponho uma
separação estratégica e provisória entre o museu antigo - museion, gabinetes
de estudo e o museu moderno, por entender que cada categoria engendra a
outra, mas principalmente, assinalam uma mentalidade específica para
solucionar a relação do público com um patrimônio de conformação do outro
sob uma ótica eurocentrada. Contudo, dada à celeridade dessa reflexão,
muitos aspectos podem quedar pouco iluminados afinal.
Um dos braços pouco explorados que ainda não chegamos a beber da
fonte originaria, é o da origem mesma do Museu. É certo que a iridescência
fugidia de aspectos sagrados do museu ainda hoje nos toca (SCHAER, 2007;
SCHEINER, 1998; CHOAY, 2001). Contudo a delimitação original, em geral
recebe poucas linhas em qualquer estudo sobre os antecedentes do museu
ocidental. Precisaríamos proceder com uma divisão temporal entre museu
antigo, museu de transição ou gabinetes de estudo e museu moderno para
entender como o museu procede hoje em relação a vontade de colecionar
determinadas coisas em detrimento de outras. Concordo com Bruno Brulon
(2012, p. 59) a respeito da necessidade de compreensão do surgimento da
instituição moderna, sem o qual não é possível entender a diversidade
tipológica das instituições e a difícil tarefa de definição do que seja Museu.
O museu antigo – museion, centrado nas sociedades gregas antigas, é
um dos aspectos da história museológica, envolvido nas brumas míticas. Só
aspectos do sagrado do museu, seu fascínio, e a gana em acumular são
cultuados em nossos dias. Outros aspectos como "pesquisa e docência" dos
museus antigos são ligeiramente pontuados pelos autores consultados da área
museológica. Sob esse envolvimento dos museus com pesquisa e docência,
26
5
A Carta é resultado da Conferência de Santiago patrocinada pelo ICOM e realizada no Chile
de maio de 1972. Após algumas dificuldades em reunir os delegados, a mesa propôs
recomendações não atendidas integralmente e ainda atuais.
28
7
Marco António Antunes, ao fazer comentários e críticas ao texto de Gabriel Tarde: Le public et
la foule in Lópinion et la foule de 1901, conta que nos finais do século XIX e começo do século
XX, foram constatados esse fenômeno (2008).
30
1.1.2. Antropologia
8
Anthony Shelton é Professor de Antropologia na University of British Columbia Vancouver,
director do Museum of Anthropology (UBC MOA), e director do MOA Centre for Cultural
Research no Canadá.
31
9
Escreve “Os princípios da classificação etnológica” (BOAS, 2004), ocasião em que aproveita
para debater com Otis T. Mason discordando da ideia de classificar as invenções e fenômenos
etnológicos como se espécimes biológicos fossem.
10
Sara junto com Strinée, mulheres do povo Khoisa, da porção sul da África foram
comercializadas e exibidas largamente na Europa.
32
foi explorada por Jay Gould (1980). Sara "Saartije" Baartman, da etnia Khoisa,
foi transformada em „espécime‟ por volta de 1810 a 1815, passando por
intensivo processo documental. Medida, fotografada e exibida, mesmo depois
de falecida o escrutínio dos homens brancos continuou. As ditas "exposições
etnológicas"11, com a presença de grupos étnicos, arregimentavam multidões
nessas feiras que cristalizaram em certa medida, os preceitos racializantes que
perduram. Em 2014, o Musée du Quai Branly reuniu, em uma exposição, mais
de 600 itens entre fotografias, filmes e cartazes para mostrar como isso
acontecia (CALVALCANTE, 2013).
Nessas populares "exposições etnográficas", não são somente as
coisas, com o sentido que damos hoje aos objetos, que eram musealizadas,
mas pessoas e famílias inteiras eram processadas, tal como são classificados
hoje os objetos, e postas em exibição em feiras multinacionais, como a
Exposição Universal de Paris de 1889 que marcou a inauguração da Torre
Eiffel. Descrita na reportagem “Exposição relembra shows étnicos com
humanos 'exóticos' na Europa” BBC-Brasil (2011) essas mostras entrou o
século XX e temos uma referencia regional dessas feiras na “encenação” anual
no Memorial do Cerrado da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC.
As teorias culturais hierarquizantes pautadas na ciência evolucionista,
que perpassavam o mundo ocidental, organizavam da mesma forma as
exposições nos museus. No século XX, o antropólogo Franz Boas polemiza no
texto Raça, Linguagem e Cultura, ao perceber que artefatos diversos eram
exibidos tendo como princípio corroborar que a sociedade ocidental era o ápice
da evolução, mais desenvolvida e civilizada. As outras culturas, por sua vez,
eram demonstradas como primitivas, de tecnologia rudimentar e bárbara. A
proposta de Boas consiste em entender que o conjunto de seres humanos não
é redutível a sua dimensão biológica. As pessoas como as culturas são
moldadas por vários fatores (BOAS, 1940).
De mesmo modo Sally Price, antropóloga estadunidense, faz leituras
refinadas sobre o manejo das coleções em uma instituição museal do porte do
Quai Branly12 (2016), demostrando que o tema é dos mais atuais. Entretanto, o
12
Museu francês que é recorrente como tema de pesquisas para antropólogos que desejam
explorar relações de coisas ou patrimônio.
33
A relação entre público e museu é uma relação instável, porém. Por ter
aspirações negadas, parte desse público produz resistências elegendo o
museu como uma das últimas fronteiras a serem ocupadas. Vejam, na
progressão público/museu, primeiro a mulher adulta e branca foi incluída e só
depois a criança (não todas as crianças). No momento, penso os
desprivilegiados, os desviantes e subalternos pleiteiam a indulgência. Com
isso, a sacra blindagem de séculos de autoridade inquestionável, atritada,
origina fendas pelas quais, eventualmente, o dissenso, o desviante, o queer, a
mulher, o negro, o sertão, outros patrimônios e outras epistemes, penetram o
museu.
35
13
Kimberlé Crenshaw em Demarginalizing the intersection of race and sex. 1989.
38
14
Zamboni é colaborador do NUMAS (Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença
do Departamento de Antropologia da FFLCH/USP).
40
A essa altura vale apontar que se essas categorias - gênero, raça/ etnia
e classe - estando animando as representações museais desde o princípio é se
entendermos que os museus e seus discursos,
em sua maioria (e desde sua „invenção‟) são espaços de poder a serviço do
patriarcado. Muito já foi dito sobre os museus como locais de celebração da
memória do poder, que representam determinados interesses políticos de
indivíduos e/ou grupos sociais, étnicos, religiosos ou econômicos privilegiados.
(MAUÉS, 2015, p. 1).
15
Temos cerca de 14 cursos universitários de museologia criados, Unirio (1932) e
Universidade Federal da Bahia - UFBA (1969) os mais antigos, Centro Universitário Barriga
43
CAPÍTULO II
Exposições Queer: ou é patrimônio, ou é
esquecimento, os dois não dá
48
18
Resultado do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais Brasileiras (Reuni), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), do
Programa Universidade para Todos (ProUni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies),
assim como o Ciências sem Fronteiras e as Cotas Sociais.
19
A exceção aludida diz respeito ao avanço democrático que acompanhado de políticas
públicas de redistribuição de renda, conjugadas com demais Políticas de Estado de Inclusão
Social, permitiu ao país experimentar um ciclo de desenvolvimento sem paralelo. A proposta foi
proceder uma inversão simbólica no uso do termo exceção – utilizado correntemente para
períodos não democráticos, para contrastar com demais períodos. No Brasil, a exceção é a
democracia e a igualdade de direitos.
49
20
Socializations são encontros festivos com teor político e grupo de apoio. Momentos de apoio
mútuo e para reforçar laços. Todavia, se constitui, principalmente, como espaço de intervenção
(NASCIMENTO, 2007).
21
PreParadas são eventos realizados no âmbito da UFG pelo Colcha de Retalhos durante o
período anterior a realização da Parada do Orgulho LGBT em Goiânia juntamente com a
Semana da Diversidade Sexual, visando o debate e discussão dos temas (NASCIMENTO,
2007).
51
museus não têm defesa. São postos face-a-face com outras possibilidades de
existir.
Pois bem, o referido museu, cenário dessa experiência estética, está
estendido à meia quadra, defronte à Praça universitária (Praça Honestino
Guimarães), palco ela mesma de vivências marcantes para a capital do Estado
de Goiás, ponto de socialização e manifestações sociais em diversas épocas.
Em outro tempo, a sociedade goianiense vinha passear e aproveitar o
belvedere, as fontes, o passeio de final de tarde e a intensa atividade política e
estudantil nos nossos tempos. De desenho invulgar a Praça Universitária
abriga edificação projetada para o primeiro museu de arte do centro oeste (ali
jaz o corpo do prédio que foi construído para abrigar coleções de arte de
Goiânia e Goiás nas décadas de 1970) e é fagocitado pela Biblioteca Pública
Municipal Marieta Telles Machado. De lá, cruzamos os exóticos anéis
dextrogiros em direção ao Sul.
Após cruzarmos os anéis temos acesso aos pavimentos do museu,
depois de atravessar um estacionamento. Há canteiros arborizados. O Museu
Antropológico da Universidade Federal de Goiás (MA-UFG) divide com outros
órgãos da Universidade o prédio e a quadra. Edificação em “T” posicionado
norte-sul, cuja morfologia estreita, coloca dificuldades para as atividades
museais, exigindo adaptações sucessivas e restringindo ambições expositivas
e técnicas. Modificações ao longo dos anos descaracterizaram o perfil quando
particularidades arquitetônicas como janelas, paredes, elevador, rampas
exteriores e colunas foram vedadas, demolidas ou acrescentadas. Outrora
havia, sob o vão, onde é hoje a biblioteca setorial, uma rampa helicoidal em
balanço que dava acesso ao primeiro pavimento.
Com a demolição desse apêndice, pérola da engenharia, parte do vão
foi suprimido, a rampa deslocada para o acesso leste com outra inclinação, a
vista seccionada pela torre de elevador e o vão restante, ocupado por mesas e
bancos de cimento.
O acesso durante algum tempo se deu apenas por uma íngreme
escadaria com dezenove degraus. Está ali irredutível, a lembrar que aquele
lugar não é para todos. Contudo não é prerrogativa desse museu esse
obstáculo inicial. Todos os vetustos museus do mundo possuem escadarias
frontais. Rampas e elevadores são concessões à inclusão física muito recente.
53
Vencidos os degraus, sob uma marquise a mais de três metros de altura, duas
portas de folhas duplas abrem-se de par em par.
Orientado para o sul, no hall, do lado esquerdo, uma porta corta fogo dá
acesso à exposição Lavras e Louvores, no lado direito, uma porta feita por
caixilhos regulares em metal e vidro dá acesso à sala de exposições
temporárias, a seu lado outra porta dá acesso para a área administrativa e
salas de aula do MA-UFG. Completa a disposição, as escadarias que dão
acesso aos pavimentos superiores. Em 2007, a edificação não contava com
elevador, todos que desenvolviam atividades naquele prédio acessavam os
diversos departamentos e atividades distribuídos pelo prédio por meio dessas
escadarias e, então, qualquer que fosse seu envolvimento com o prédio, os
passantes teriam que necessariamente se ater com os discursos expositivos
presentes ali. Qual susto da servidora, terceirizados e visitantes ao chegarem
nesse hall, para acessar por meio das escadas os pisos superiores, quando
dão de cara com uma caixa de luz impressa com nu feminino (fig. 9) nada
convencional.
“- Tira a bunda do caminho!”22
Está estabelecido o conflito.
22
Relato da entrevistada Nei Clara de Lima sobre a censura à obra na exposição Homo (queer
remixed). Essa censura foi ocasionada pelo “susto” de uma servidora ao se deparar com a
obra, por ela considerada inadequada para aquele espaço. Esse ato resultou na retirada da
obra do local. Entrevista realizada em 18/04/2018. Possivelmente é a imagem da fig. 10,
página 70.
54
23
Para responder essas indagações, a sexualidade como critério provisório parece ser
assumida pelo curador como baliza na escolha dos produtos expositivos ao mesmo tempo em
que, ao optar por agentes próximos e de longa data, pretende suprimir a falta de
fundamentação da condição crítica e militante de parcela dos produtores de arte no fluxo do
sistema de arte nacional, como veremos a seguir nos registros do curador Siqueira.
57
A Mostra Virtual
24
Informações prestadas pelo Curador Hugo Siqueira.
25
É posterior a exposição e aparece como desdobramento da “Preliminares” e “Ato”. Mais
vídeos do Coletivo Circular:
58
veste uma saia com tecido colorido na forma de pênis e instalações com
vídeos. A temática geral é homoerótica.
26
O principal colaborador dessa pesquisa é o Curador Hugo Siqueira que por meio de
conversas via Whatsapp possibilitando um canal de diálogo. Tive cerca de três conversas
informais com pessoas que estiveram na exposição no MA-UFG, ou participaram do processo
e com mais dois produtores/expositores via facebook. Dessa forma, no total de seis pessoas
colaboraram com a pesquisa.
59
27
Estavam presentes além da Nei Clara, o entrevistador e mais três pessoas.
60
Figura 6 – Série: Marcelo 2007 – Marcelo Henrique 2007. Desenho/pintura em papel - Postais.
Figura 7 – São Jorge I (Série Santo Luxo), Ronan Gonçalves 2007. Desenho - Postais.
Tabela 1 - Coletivo Circular com presença na Homo (queer remixed) MA-UFG e por Estado.
16 Eris Correia DF
17 X Estevão (Movimento Colcha GO
18 X de Retalhos UFG)
Eskar
19 Ezio Evy – SP DF
20 Fábio Costa DF
21 Felipe Vernon SP
22 X Fernando Cardoso MG
23 X Fernando Carpaneda
24 X Florian Raiss RJ
25 Frederico Barbosa DF
26 X Geraldo - videosNeto – MG
Gazzele Lemos
27 Giovanna Ditscheiner GO
28 X Glenda
29 Guilherme Filho DF
30 Guilherme Machado MG
31 Hélio Veiga GO
32 Hércules Barros DF
33 X Hugo Sirqueira – MG/GO SP
34 Hugo Lima DF
35 Junin DF
36 Kênia Ribeiro DF
37 Layo Barros GO
38 Léo Bahia MG
39 Leonardo Pinto Silva SP
40 X Leopoldo Wolf
41 X Lincoln DF
42 Luiz Morando MG
43 Marcelo Manzan– MG/SP
Marcelo Gabriel DF
44 Márcia Rocha DF
45 Márcio Segundo RJ
46 Marco Antônio Vieira DF
47 X Marcelo Henrique GO
48 X Marcelo Solá GO
49 Marcos Hill MG
50 Marcos Paulo Cipriano DF
51 Siqueira - DF
Marcos Queyroz GO
56 Marilia Panitz DF
57 X Nazareno SP
58 Nivas Gallo DF
59 Pedro Tapajós (The Six) DF
60 Rafael Reche DF
61 Railda DF
62 X Ronan Gonçalves RJ
63 Ricardo Gomes – pinturas
64 (realismo)
Ricardo França DF
65 Ricardo Lucas DF
66 Saulo Ceolin – DF/Itália IT
67 Sérgio Bacelar DF
68 Sílvio Garcia DF
66
69 Thales Sabino
70 Tainá Frota DF
71 Tatiana Ornelas DF
72 X Zello Visconti RJ
Fonte: Samarone Nunes (2019).
Regiões
Centro Oeste
Norte
Sudeste
Outros
"Gênero"
Homens
Mulheres
Outros
Vídeo https://www.youtube.com/user/hugosiq/videos
Vídeo 1 https://www.youtube.com/watch?v=7G7MCOZxXP4
Vídeo 2 https://www.youtube.com/watch?v=RN2UhhtfG8s&t=77s
Vídeo 3 https://www.youtube.com/watch?v=Y234OXqB1yo
Vídeo 4 https://www.youtube.com/watch?v=-UBZaGUlNOQ
Vídeo 5 https://www.youtube.com/watch?v=N9yUe3HIY44
Fonte: Samarone Nunes – compilação (2019).
2.1.4. Recriação
Figura 8 – Planta baixa e perspectiva Homo (queer remixed) - Daniel Almeida. Fonte: Hugo Siqueira (2007).
70
Figura 9 – Planta baixa assinalando produtores e obras identificadas em exposição Homo (queer remixed). Fonte: Samarone Nunes (2019).
71
Para fechar esse momento, a produção que mais dialoga com categorias
tais como “borda” “periferia” e “sertão” e que por isso catalisará as reações
mais incisivas, está montada diretamente para a entrada em um altar sobre um
praticável encimado por uma bandeira votiva estampada com um anjo (Fig. 12).
O conjunto é composto de imagens representando São Sebastião, velas
coloridas em formato de pénis, colares indígenas e terços.
em Roma. A fria pedra exala o gozo do corpo perpassado pelo amor divino,
tanto isso é mais aquecido, quanto mais lemos os poemas dedicados pela
retratada – irmã Thereza, a suas visões do Bem Amado.
O amor torturante também estará mal resolvido (incompreendido,
talvez?) no próximo painel, quando trataremos da leitura da produção
Cruzando Jesus Cristo com Deusa Schiva, de Fernando Baril (Fig. 22, p.86)
alvo de censura e acionado com interesses nada devocionais na mostra
QueerMuseu - Cartografias da diferença na arte brasileira.
Figura 15 – Fluxo gráfico dos movimentos conservadores, influência da opinião virtual nos
deslocamentos da exposição e MP-RS.
2.3.1. Recriação
30
Disponível aqui:
31
Construído a partir de 1927 e concluído em 1931 para sediar a matriz do Banco Meridional,
exemplar de arquitetura eclética foi tombado em 1987 (portaria 07/87 de 10.03.87).
32
Disponível aqui:
82
Figura 18 – Frame do vídeo que deu partida no ambiente virtual à denúncia associando o
discurso expositivo de “pedofilia”, zoofilia e desrespeito a símbolos de culto religiosos.
33
Lei a reportagem aqui:
84
34
Assista ao video aqui:
85
Essa sessão permite uma leitura das principais obras que foram
capturadas a serviço da posterior censura. As produções a seguir foram as
mais acionadas nesse sentido. Procurarei digerir os mecanismos de edição
postos em curso para cumprir determinados efeitos que os agentes pretendem
potencializar em cada edição. Cabe lembrar que a edição “seca”
descontextualiza a imagem editada e “abre” mais do que o necessário e
prudente, permitindo o vazamento de significados e significantes. Correndo
risco de esvaziar – por transbordar as intenções primeiras, nas dialogias
descontroladas das interações comunicacionais. Até por que, as imagens na
íntegra foram veiculadas e comentadas por especialistas logo após os
argumentos virem a público, assim evidenciando a seletividade das edições e
cortes.
Assim, a imagem da figura 19 faz parte da série Criança Viada,
composta pelos trabalhos Adriano Bafônica, Luiz França de She-há, Travesti
da Lambada e Deusa das Águas de Bia Leite (2013).
35
Direção de Daniel Myrick e Eduardo Sanchez (1999).
90
36
Ler a materia aqui:
91
CAPÍTULO III
Desvios do olhar antropologizado
93
PROCESSO
Seleção de significados
DISCURSO CATEGORIAS APAGAMENTOS LEGITIMAÇÃO RESTAURAÇÃO
EXPOSITIVO
Homo SEMELHANÇAS DIFERENÇAS TRAUMA OMISSÃO Legitimação Após o
O LÚDICO E A
(queer da autoridade enceramento
RELIGIOSIDADE
remixed) institucional, das
Violência, exposições,
- O - narrativa em - Estado elementar, - Sincretismo
violência retorno a um
imaginário primeira Irresolução e secular da
epistêmica, estágio
infantil nos pessoa. infantilização. religiosidade
atos censura. anterior a
postais (fig. Autobiográfica. Leitura da judaico-
quebra da
3 e 4), - Sincronia. produção de cristã e
“normalidade”.
Ursinho maneira primária e Hindu.
- retorno ao
Pooh, descontextualizada. - Bricolagem
fluxo normal.
Carrossel. dos ícones
- cessa o
- converte uma religiosos
conflito.
possibilidade ocidental.
positiva de vivencia -
e relacionamento combinação
com o “divergente” iconográfica.
em relação
negativa com o - Não há
diferente. negociação
- O curadorial
imaginário - Censura. entre
religioso produtores,
nos postais ou
(fig. 6 e 7), movimentos
Querubim, “queer”.
São Jorge. Sant’ana
sintetiza a
QueerMuseu - O - crítica na
imaginário Anacronismos. reportagem
infantil nas - relações e depois
produções estreitas com o vemos na
(fig. 21), sistema de versão da
- O arte. QueerMuseu
imaginário (2018),com a
religioso inclusão da
nas monitoria
produções Trans e
(fig. 23), Travesti na
Crucifixo. ação
cultural.
Fonte: Samarone Nunes (2019).
100
37
René François Ghislain Magritte (1898 – 1967), pintor belga surrealista, com traços realista
mais do que onirico. Penso na tela La trahison des images (1920). Magritte discursa ao
relacionar imagem e texto pintando uma figura de cachimbo e abaixo escreve “Leci n’est pas
une pipe” – Isto não é um cachimbo.
101
38
Para Kimberlé Crenshaw sistemas complexos de subordinação têm sidos descritos de várias
formas: “discriminação composta, cargas múltiplas, ou como dupla ou tripla discriminação”.
Crenshaw ensina que a conceituação de interseccionalidade deve-se ao problema que “busca
capturar as conseqüencias estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da
subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a
opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que
estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a
102
interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram opressões que
fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do
desempoderamento” (2002, p. 177).
103
39
A EAV do Parque Lage, ligada ao Estado e instalada em um palacete em uma grande área verde
do bairro Jardim Botânico, na capital fluminense – RJ abrigou a versão da exposição a partir de 18
de Agosto 2018 após campanha bem sucedida financiada coletivamente por meio do crowdfunding.
104
40
O projeto desenvolvido na UNICAMP pretendeu dimensionar a exclusão por raça e gênero,
entre outras categorias em livros de História da Arte. Do recorte com onze livros editados em
105
português as informações tabuladas dão conta que: “de um total de 2.443 artistas, apenas 215
(8,8%) são mulheres, 22 (0,9%) são negras/negros e 645 (26,3%) são não europeus. Dos 645
não europeus, apenas 246 são não estadunidenses”. Daí que a história da Arte constrói
narrativas por meio de coisas e experiências, em sua maioria constituída, por “homens
brancos, europeus, estadunidenses e pintores” (MORESCHI, SANTOS & PEREIRA, 2016).
Disponivel em: https://historiada-rte.org/
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PROCESSO
Deslocamentos/disputas
DISCURSO CATEGORIAS FOLCLORIZAÇÃO LEGITIMAÇÃO RESTAURAÇÃO
EXPOSITIVO Sexualidades
Homo (queer Sincretismo/hibridismo Estado elementar, Reatualiza a Retorno ao gosto
remixed) Práticas sexuais Irresolução e dicotomia padrão.
infantilização. natureza x -
Fig. 4 – Desenho PRIMITIVISMO cultura. restabelecimento
(górgona Medusa). - fortalecimento - cultura da hierarquia.
Fig. 5 – Desenho (queer- de hierarquias. popular x alta - obtura
viado). CULTURA cultura; assimetrias.
QueerMuseu Sincretismo/hibridismo - é arte x não é - anula a
Práticas sexuais arte. regeneração
4. Conclusão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS