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Angelina Lettiere2
Ana Márcia Spanó Nakano3
doméstica, atendidas no instituto médico legal, convivem com essa adversidade e identificar
Foram entrevistadas dez mulheres e os dados analisados pela técnica de análise de conteúdo,
modalidade temática. A busca por ajuda ocorre no próprio meio social, junto à família e
amigos. Posteriormente, recorre-se aos serviços de saúde e judicial. Nessa busca, os vínculos
1
Artigo extraído da Dissertação de Mestrado “Violência doméstica sob o olhar das mulheres atendidas em um Instituto Médico Legal:
as possibilidades e os limites de enfrentamento da violência vivenciada”, apresentada a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil. Apoio financeiro
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 130218/2009-0.
2
Enfermeira, Mestranda em Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da
OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil. E-mail: angelinalettiere@yahoo.com.br.
3
Enfermeira, Doutor em Enfermagem, Professor Titular, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro
Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, SP, Brasil. E-mail: nakano@eerp.usp.br.
This qualitative study assesses how women, in situations of domestic violence and examined
at the Institute of Forensic Medicine, deal with this adversity and identifies protection
strategies to cope with it, considering the support required and obtained from their relational
and institutional environments. Ten women were interviewed and the data were analyzed
using thematic content analysis. Search for help primarily occurs in the women’s social
milieu, with family and friends and health and legal services being sought. In such a
quest, established bonds may either become an obstacle to coping and make these women
vulnerable to violence or protect and strengthen them during coping. In the identification of
these women’s social and health needs, the aggravating circumstances of violence are only
superficially addressed by professionals. New strategies to implement professional actions
should be devised in order to provide integral and humanized care.
El objetivo del presente estudio fue comprender como las mujeres en situación de violencia
doméstica, atendidas en el Instituto Médico Legal, conviven con esta adversidad e identificar
las estrategias de protección en el enfrentamiento, considerando el apoyo/soporte requerido
y el obtenido en el medio relacional e institucional. Es un estudio de abordaje cualitativo.
Se entrevistaron diez mujeres y los datos fueron analizados por la técnica de análisis de
contenido, en la modalidad temática. La búsqueda por ayuda ocurre en el propio medio social,
junto a la familia y amigos. Posteriormente, se recurre a los servicios de salud y judicial. En
esa búsqueda los vínculos establecidos se pueden tornar un obstáculo al enfrentamiento y,
por lo tanto, vulnerables a la violencia, o pueden proteger a las mujeres y fortalecerlas en el
enfrentamiento. En el reconocimiento de sus necesidades sociales y de salud, los agravantes
de la violencia son tocados apenas tangencialmente por los profesionales en la aprehensión
de las necesidades de estas mujeres. Para la atención integral y humanizada deben ser
elaboradas nuevas estrategias de acciones profesionales.
Introdução
O impacto da violência pode ser visto no mundo, considerando-se os atos agressivos contra a mulher,
pois, todo ano, mais de um milhão de pessoas perdem objeto deste estudo. Em relação a esse fato, a Assembleia
suas vidas e muitas outras sofrem lesões não fatais, Geral das Nações Unidas, em 1993, aprovou a declaração
resultantes da violência autoinfligida, interpessoal ou sobre a eliminação de atos violentos contra a mulher e
coletiva . Segundo a Organização Pan-Americana de
(1)
definiu a ação como: qualquer ato de violência baseado
Saúde, a interface entre atos violentos e a saúde ocorre, no gênero que resulte, ou tenha probabilidade de resultar,
pois o setor da saúde constitui-se como um ponto de em dano físico, sexual ou psicológico ou sofrimento,
encruzilhada, tanto por ser o local para onde convergem incluindo a ameaça de praticar tais atos; coerção ou
todos os casos resultantes desses atos como pela pressão privação arbitrária da liberdade, tanto na vida pública ou
que suas vítimas exercem sobre os serviços de urgência, privada(3).
serviços especializados, serviços de reabilitação física e As mulheres têm maior risco de serem violentadas
psicológica e de assistência social(2). em relações com familiares e pessoas próximas do que
A violência como um fenômeno complexo deve ser com estranhos, observando-se que, na maioria das vezes,
compreendida nas suas distintas formas, particularmente o agressor tem sido o próprio cônjuge ou parceiro(4), tendo
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Lettiere A, Nakano AMS. Tela 3
como causa e consequência a desigualdade de poder nas As mulheres que denunciam a violência doméstica
relações de gênero(5). na delegacia da mulher são encaminhadas ao instituto
A violência doméstica ou de gênero afeta a integridade médico legal, principalmente no caso de lesão corporal,
biopsicossocial da vítima. São diversas as sintomatologias e para a realização do exame de corpo de delito. Portanto,
transtornos do desenvolvimento que podem se manifestar, a escolha da referida instituição como o local de coleta
tais como: doenças nos sistemas digestivo e circulatório, de dados justifica-se, por ser o local em que se depara
dores e tensões musculares, desordens menstruais, com mulheres com perfil proativo, o que pode revelar a
depressão, ansiedade, suicídio, uso de entorpecentes, ação frente ao problema e também revelar movimentos
transtornos de estresse pós-traumático, além de lesões anteriores de passividade.
físicas, privações e assassinato da vítima(6-7). O recorte empírico do estudo foi dado pelo critério de
No enfrentamento dessa problemática, o acolhimento saturação dos dados, ou seja, quando ocorre a reincidência
das mulheres em situação de violência doméstica, nos das informações. Participaram do estudo 10 mulheres
serviços de saúde, ocorre de maneira fragmentada e maiores de 18 anos, que sofreram violência doméstica e
pontual, pois os profissionais não estão preparados para foram atendidas na referida instituição.
atender, de maneira integral, essa demanda. Frente à Por envolver seres humanos, esse estudo atendeu
prática clínica, em que esses atos tendem a se manter os requisitos propostos estabelecidos pela Resolução
na invisibilidade, a conduta dos profissionais de saúde 196/96, do Conselho Nacional de Saúde(9). A coleta de
é de não acolhimento às necessidades das mulheres, dados iniciou-se após aprovação pelo Comitê de Ética em
restringindo suas ações a encaminhamentos, o que Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, sob
também nem sempre resulta em resposta adequada às Protocolo nº1029/2009.
demandas das mulheres(8). A coleta dos dados foi realizada nas dependências
Nesse sentido, buscou-se compreender como as
do IML, no período de dezembro de 2009 a agosto de
mulheres em situação de violência doméstica, atendidas
2010. As mulheres eram convidadas, na sala de espera e
em um instituto médico legal (IML) do interior do
pela ordem de chegada ao serviço, a participar do estudo.
Estado de São Paulo, convivem com essa adversidade,
A coleta ocorria somente após a realização do exame
identificando-se as estratégias de proteção contra essas
de corpo de delito e em uma sala reservada, para não
ações, considerando-se o apoio/suporte requerido e
atrapalhar o fluxo do serviço.
obtido do meio relacional e institucional, em termos de
Os sujeitos eram informados dos objetivos da
reconhecer e atender suas necessidades.
pesquisa, por meio da leitura, feita pela pesquisadora, do
O presente estudo se justifica pela insuficiência de
termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE); frente
respostas, na literatura especializada, sobre quais são
ao aceite, era solicitada ao sujeito a assinatura do TCLE
os fatores que podem proteger as mulheres do ciclo da
e. após isso, era iniciada a entrevista. Foi garantida às
violência. Este estudo constitui importante contribuição
participantes uma cópia do TCLE, devidamente assinado
para a área da saúde e, em especial, para a enfermagem,
pela pesquisadora e pela entrevistada. Para assegurar o
pois entende-se que compreender essa questão possibilita
sigilo das informações e o anonimato das entrevistadas,
proporcionar cuidados mais efetivos às mulheres e construir
na apresentação dos resultados, os depoimentos foram
estratégias que incluam atendimento multidisciplinar,
codificados pela letra (E) seguidos por algarismos
somado à conjunção de setores da sociedade, a fim de
arábicos de um a dez, seguindo a ordem de realização
prestar o atendimento integral e humanizado, além de
das entrevistas.
promover estratégias para a prevenção e redução de
Os dados do estudo foram obtidos por meio de
ocorrência de episódios de agressão.
entrevista semiestruturada, em que o entrevistado tem a
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cada participante uma relação de serviços de saúde e de No primeiro núcleo de sentido, ou seja – a busca
apoio às mulheres nessa situação. por ajuda: do silêncio ao grito de socorro –, identifica-
Os depoimentos foram gravados e, após cada se que a violência é silenciada, até que alguma medida
entrevista, foram transcritos na íntegra. Os dados foram seja tomada, como identificado na fala, a seguir. Eu tinha
analisados através da modalidade de análise de conteúdo que esconder do pai, da mãe, dos irmãos, da família. Tinha que
temática .
(11)
Operacionalmente, a análise temática esconder tudo. Eu tinha que passar tudo sozinha. Foi muito difícil,
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No entanto, se não há coesão familiar, ou vínculo emocional, na alta estima da pessoa, porque a gente pensa que
familiar, o impacto produzido é a vulnerabilidade frente à não é nada (E8). Então isso ele mexeu muito mais com o meu
violência, já que os sujeitos se mostram isolados e sem emocional, com o meu psiquicossomático da vida. Então ele me
apoio efetivo, como apontado nas falas, a seguir. Minha deixou extremamente surtada. Ele literalmente me levou à loucura
mãe até agora ainda nem me procurou para falar: filha, vamos (E6). Afetou sim. Afetou porque eu tenho problema de gastrite
conversar (E8). Ah a minha família foi uma vez só. Liguei para a nervosa e ele me espancou demais. Eu não gosto... Eu não quero
minha tia. Minha tia mora em Leme e falei: “oh eu, eu vou ir para nem lembrar o jeito dele ter pegado a minha cabeça e batido no
algum lugar longe, vou desaparecer com o meu filho e eu preciso chão (E4).
que você fique com a minha mãe. Porque a minha mãe depende Essa realidade pode ser constatada, pois distúrbios
de mim. Eu prefiro que você fique com a sua irmã só para poder psicológicos não são acolhidos pelos profissionais como
resolver meu problema. Aí ela falou: “resolve você! Você que tem elas esperam, como identificado nas falas:... porque tem
que ficar com a sua mãe. Se vira” (E1). médicos que assim... Que faz o que tem que fazer. Não pensa
Em relação à instituição da igreja, é possível perceber no psicológico da pessoa (E3). Eu tenho um psiquiatra que faz
que ela atua oferecendo apoio, principalmente emocional, 15 anos que eu trato com ele. Porque o que eu falo entra aqui
como observado nas falas:... ajudou a tirar aquela mágoa, (ouvido) e sai aqui para ele (E10).
aquela tristeza de dentro do meu coração e me dá forças para A violência pode trazer prejuízos à saúde, mas,
prosseguir. Porque a igreja ajuda, mas de uma forma interior também, marca as relações interpessoais, as instituições
na gente só. Porque fora mesmo tem que ter uma coisa mais sociais e a sociedade como um todo, na medida em
forte para ele, para as pessoas verem que a gente não está tão que essas mulheres percebem modificação nas relações
abandonada assim, à própria sorte da situação (E8). sociais, principalmente, em relação aos amigos e aos
Nos serviços de saúde, evidencia-se que esses vizinhos. Eu me afastei de todo mundo. Eu me afastei porque
cumprem o papel de tratar o que é aparente. Eu fui ao eu achava que seu tivesse amizade com aquele ela vai descobrir
hospital e para mim eu achei que o hospital tinha feito o boletim ela vai contar, o outro vai saber, o outro vai saber, as noras vão
(E2). Fui atendida rápida porque estava sangrando né. A faca saber (E10). Agora as pessoas que acabam ficando um pouco mais
ainda estava dependurada, porque não podia tirar a faca das cautelosas de chegar em você, conversar, porque você chega a
costas (E7). se afastar por um tempo muito grande, as pessoas ficam assim...
Em relação à intervenção policial, as mulheres utilizam aí... então... o que é está acontecendo... aí as pessoas vão meio
esse recurso devido à possibilidade de autoproteção, como se afastando um pouco também (E3).
relatado. Espero que o juiz conceda que ele se afaste de mim e
que eu consiga ficar com a casa porque eu tenho as minhas filhas Discussão
para criar (E5). Eu fui procurar porque eu não aguento mais e
se acontecer alguma coisa comigo eu quero que alguém sabe. Este estudo possibilitou a aproximação das vivências
Entendeu... Que ele está envolvido. Eu creio que não vai acontecer de mulheres em situação de violência e das estratégias
nada, mas pelo menos se acontecer já está sabendo que uma pista e decisões adotadas por elas, que as colocam frente
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contribuição para que a mudança nas relações entre homens abordado por um estudo publicado por esta revista. Tal
e mulheres esteja acompanhada de transformações na pesquisa aborda o significado da vivência de profissionais
linguagem, refletindo novas construções de imaginários da saúde em cuidar de vítimas de violência sexual. O
sociais(14). principal tema emergido do estudo foi o sentimento de
Ao enfrentar esse problema, as mulheres percorrem impotência para resolver a situação de violência, diante
caminhos que envolvem a interação de processos de problemas que emergem da subjetividade do outro,
intrapsíquicos e sociais, como as relações familiares e bem como de questões sociais e também por essas
institucionais, que podem ser de risco ou de proteção mulheres não perceberem os recursos e possibilidades de
à violência. Entende-se que o contexto familiar é fator enfrentamento do problema(19).
que pode proteger, uma vez que a família atua com fator Fato marcante é a psicologização do problema da
externo e que leva à reconstrução diante do sofrimento violência, que se revela como forma de não enfrentamento
e é influência que pode modificar, melhorar ou alterar a da questão pelos serviços de saúde. Ao medicalizar o
resposta da pessoa frente à adversidade, ou seja, frente corpo da mulher agredida, reafirma-se a ideologia médica
ao ato violento(15). de definir a realidade apresentada, aquilo que lhe é
No entanto, algumas mulheres, geralmente, aparente, obscurecendo a raiz social, política, cultural do
estão isoladas de seus parentes e da rede social, o que problema(20). Assim, o conhecimento da subjetividade do
pode facilitar o controle do agressor sobre a vítima e a outro e das questões biopsicossociais não é abordado no
perpetuação do ciclo de violência. Para que seja rompido modelo biomédico que valoriza os resultados práticos e
esse ciclo, é necessário que exista uma rede articulada de em curto prazo(19).
serviços de apoio à mulher nessa situação(16). Além dos serviços de saúde, há os serviços de
Dentre os recursos sociais que são acionados segurança pública, principalmente a busca das delegacias
estão a família e instituições de segurança e de saúde, de defesa da mulher, o que representa para as mulheres
o que constitui sua rede social de apoio. Nessa rota, há deste grupo marco de ruptura com a condição de vítima
diversas portas de entrada, ou seja, diferentes serviços da violência, sustentadas na Lei Maria da Penha, que as
que deveriam trabalhar de forma articulada para prestar protegerá do agressor e fará justiça ao seu caso. A Lei
assistência qualificada à mulher(17) e também é importante Maria da Penha, que altera o Código Penal, permite que
que seja dada continuidade ao atendimento, aspectos agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão
esses que não foram identificados por este estudo, nas preventiva decretada. Também estipula a criação de um
falas das entrevistas. juizado especial para violência doméstica e familiar contra
É nesse contexto que a Organização Mundial da a mulher, visando dar mais agilidade aos processos, assim
Saúde passa a recomendar a capacitação dos profissionais como medidas de proteção, entre elas, a saída do agressor
de saúde para reconhecer e abordar a violência através de casa, a proteção dos filhos e o direito de a mulher reaver
do acolhimento, do reconhecimento da integridade das seus bens(21). Porém, as mulheres do estudo queixam-se
mulheres como sujeitos com direitos humanos, informá- da morosidade dos processos, o que as deixa inseguras
las sobre os recursos disponíveis na sociedade, tais como diante da situação a que estão expostas.
delegacias de mulheres e casas abrigo, além de reconhecer As necessidades das mulheres deste estudo são
as situações de risco de vida para protegê-las, trabalhando percebidas por elas de forma diferenciada, a depender de
de forma articulada com outros setores da sociedade(5). No sua condição histórica, social e do contexto de suporte
entanto, o acolhimento ocorre de maneira fragmentada e social recebido. No enfrentamento, as mulheres orientam-
sem compromisso de continuidade da atenção, tanto nos se, tendo por base as necessidades que possibilitam ser
aspectos de reabilitação física e emocional quanto nos de apreendidas pelas instituições sociais (saúde e segurança),
reabilitação social e jurídica(18). ou seja, as de base normativa, o que é limitante para
Os vínculos estabelecidos com a rede, que, neste acessar aspectos de sua integralidade. Os agravantes da
grupo, reduz-se a serviços de saúde (pronto-socorro) e violência para a saúde e para a sua condição de vida são
com maior evidência ao tratamento psicoterapêutico, apenas tangenciados pelos profissionais, na apreensão de
apresentaram-se para elas como cumpridores do papel suas necessidades.
de tratar o que é aparente, com soluções paliativas e No transcorrer dos relatos do grupo de estudo,
limitantes no atendimento de suas necessidades, o que percebe-se que a rede social configurada e utilizada por
torna a rede de apoio frágil e desestruturada. elas se conforma com vínculos maiores e outros menores.
Ainda no que se refere aos profissionais de saúde, Isso aponta que a rede ainda se apresenta com vínculos
o conhecimento sobre o atendimento das mulheres foi e relações muito frágeis e que a integração entre todos
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Lettiere A, Nakano AMS. Tela 7
os setores e serviços, formando efetivamente uma rede contribuindo para a realização de planejamentos da
de proteção, apesar da evolução nesse campo, ainda se assistência de enfermagem, que vão desde a prevenção,
mostra distante da realidade dos sujeitos deste estudo. atendimento, reabilitação até a reintegração da mulher
Acredita-se que, no desenvolvimento e na atuação da junto à sociedade.
rede no enfrentamento da violência, ainda ocorre dicotomia Na ação intersetorial, é fundamental um trabalho em
entre aquilo que é preconizado e o que é vivenciado no rede, que inclua setores de saúde, segurança, educação,
cotidiano dessas mulheres, e que essas instituições ainda bem-estar social e jurídico, que trabalhem de forma
não realizam efetivamente seu papel protetor desses articulada e responsável, o que amplia as chances de
sujeitos. Assim, para cumprir verdadeiramente sua construir estratégias que respondam, de forma integral,
função de proteção, as redes de apoio social têm que às necessidades das mulheres, e que as ajudem na
trabalhar sob a perspectiva da flexibilização dos sistemas superação dos agravos consequentes dessa violência à
ecológicos(22-23). saúde e condição de vida delas e de suas famílias.
Estudo realizado pela Secretaria Especial de Políticas
Públicas para as Mulheres constatou que o ato violento, Referências
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Recebido: 3.12.2010
Aceito: 10.8.2011
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