escalas e matriz
escalas e matriz
escalas e matriz
2014
SAERJ
SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
REVISTA PEDAGÓGICA
Língua Portuguesa
9º ano do Ensino Fundamental
GOVERNO DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
Governador
Luiz Fernando de Souza
Secretário de Educação
Antônio José Vieira de Paiva Neto
Subsecretário Executivo
Amaury Perlingeiro do Valle
Chefe de Gabinete
Caio Castro Lima
EQUIPE AVALIAÇÃO
Alessandra Silveira Vasconcelos de Oliveira
Alessandro Jordão da Silva
Ana Paula Costa dos Santos
Ângelo Damasceno Hottz
Bruno Alexandre Barreiros Rosa
Danielle Domingos Soares
Eliane Martins Dantas
Jaqueline Antunes Farias
Monica Maria de Barros Xavier Santos
Reinaldo de Oliveira Ferreira
Roberto Ricardo Souza de Andrade
Saladino Correa Leite
Talita Santos Carvalho da Silva
Vanessa Karen Alves Barroso Furtado
Walter Soares Antonio Júnior
Prezados EDUCADORES,
Os avanços conquistados pela educação fluminense no período 2011/2014
elevaram o estado ao patamar das melhores redes de ensino no cenário nacional,
graças à operacionalização de um planejamento estratégico abraçado por todos
os servidores que, direta ou indiretamente, dedicam-se à arte de ensinar. Não
foi sem esforço, portanto, que nesse período elevamos nosso IDEB de 2,8 para
3,66; cujos números expressam a grandeza da educação no Rio de Janeiro e o
compromisso de todos para que a oferta deste direito fundamental se processe
Antônio José Vieira de Paiva Neto
com a qualidade que nossos alunos merecem.
Secretário de Educação
45
3. ESTUDO DE
51
4. REFLEXÃO
59
5. OS RESULTADOS
CASO PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
1
O PAPEL DESEMPENHADO PELOS PROFESSORES
NOS SISTEMAS DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA
A Revista Pedagógica foi criada para você, educador, pensando em oferecer in-
formações que possam aprimorar seu conhecimento sobre a avaliação educacio-
nal e, consequentemente, contribuir para a sua prática docente. Organizada com
esse objetivo, a publicação apresenta os principais elementos das avaliações em
larga escala, como a Matriz de Referência e os Padrões de Desempenho. Nela,
você encontrará, também, os resultados de sua escola, que representam um im-
portante subsídio para reflexão e planejamento do seu trabalho pedagógico.
A avaliação educacional em larga escala, tema que se avaliações. Os agentes educacionais e escolares sempre
tornou central para a educação brasileira, especifica- tiveram que tomar decisões, independente da existên-
mente, por se relacionar com a possibilidade de realiza- cia dos sistemas de avaliação. Contudo, e nossa histó-
ção de uma reforma educacional efetiva no país, possui ria educacional recente reforça esse ponto de vista, ter
características próprias, que a diferenciam em relação acesso a um amplo conjunto de diagnósticos sobre a
a outras formas de avaliação. Tal modelo avaliativo se qualidade da educação oferecida por nossas redes de
destina à produção de diagnósticos sobre a qualidade ensino representa um salto na qualidade das próprias
da educação oferecida pelas redes de ensino, e é justa- decisões tomadas na seara educacional. As difíceis es-
mente neste nível, o da rede, que o interesse da avalia- colhas apresentadas àqueles que vivem a educação em
ção em larga escala repousa. Assim, é possível afirmar seu cotidiano se tornam menos complexas, à medida
que os instrumentos avaliativos em larga escala perse- que tais atores se alimentam com informações capazes
guem uma compreensão em nível macro, permitindo de lhes dar um suporte para a ação. Isso quer dizer que a
uma análise geral da rede de ensino avaliada. avaliação significa a possibilidade de escolher melhor os
caminhos a serem trilhados, estando, necessariamente,
Com isso, a princípio, a concepção de um sistema de para sua eficácia, ligada à ação.
avaliação em larga escala faz parecer que seus instru-
mentos, e os diagnósticos que são capazes de Delineado este cenário, pode parecer, equivo-
produzir, se destinam a um público espe- camente, que aos atores mais diretamente
cífico, qual seja, os gestores das redes ligados ao dia a dia da escola, como
de ensino, secretários de educação, os professores e os gestores, não
equipe técnica dos órgãos de co- Sem os diagnósticos desses é reservado nenhum papel pre-
mando, superintendentes etc. ponderante no que diz respeito
sistemas, nosso entendimento em
De fato, as informações oriun- às avaliações em larga escala.
das das avaliações em larga relação às redes de ensino jamais Ao se debruçarem sobre diag-
escala passaram a possibilitar formará uma base sólida para que nósticos da rede como um todo,
a esses atores envolvidos com os sistemas de avaliação se
decisões educacionais possam ser
a educação uma análise que as apresentam como estranhos e
tomadas com segurança. indiferentes às práticas docentes,
avaliações conduzidas pelos pro-
fessores, em cada unidade escolar, tendo, desta maneira, pouco a dizer
não são capazes de fornecer. E esse aos professores. Mesmo àqueles que
é um ponto elementar para conhecer a reconhecem a importância da avaliação
importância, os objetivos e a efetividade de em larga escala para a tomada de decisões
um sistema de avaliação em larga escala. Sem os diag- relacionadas à rede de ensino, a avaliação pode se
nósticos desses sistemas, não há dúvida, nosso enten- apresentar como um instrumento inócuo para lidar com
dimento em relação às redes de ensino é reduzido a um os problemas que os docentes encontram no âmbito
conjunto de impressões colhidas por atores específicos das escolas, visto que o instrumento avaliativo, ao con-
(como gestores escolares e professores), e jamais for- trário do trabalho do professor, desconheceria o “chão
mará uma base sólida para que decisões educacionais da escola”. Afinal, se é fundamental que problemas edu-
possam ser tomadas com algum nível de segurança. cacionais sejam atacados tendo como foco a rede de
ensino, não é menos importante que se reconheça a
O suporte para a tomada de decisões, aliás, é um dos as- necessidade de enfrentar as dificuldades vivenciadas
pectos justificadores e definidores da avaliação em larga por cada unidade escolar, em específico. Nesse último
escala. Os resultados que elas são capazes de produzir caso, a avaliação, aos olhos docentes, pode ser vista
são destinados, em última instância, a servir de suporte como um elemento pouco produtivo.
para que decisões sejam tomadas no âmbito educacio-
nal. Isso não quer dizer, evidentemente, que as decisões Articulada a essa forma de entendimento, há a visão
só possam ser tomadas com base nas informações das que antagoniza os objetivos e os efeitos das avaliações
1 O Brasil assumiu um
compromisso, partilhado
Para melhorar a qualidade
do ensino ofertado, é preciso
POR QUE AVALIAR? por estados e sociedade, identificar problemas e
de melhorar a qualidade lacunas na aprendizagem,
da educação oferecida por sendo necessário
nossas escolas. Melhorar estabelecer diagnósticos
a qualidade e promover a educacionais.
equidade: eis os objetivos
que dão impulso à avaliação
educacional em larga escala.
CONTEÚDO MATRIZ DE
AVALIADO REFERÊNCIA
PADRÕES DE
ITENS
DESEMPENHO
3 A partir da identificação
dos objetivos e das metas
Os itens que compõem
os testes são analisados,
de aprendizagem, são pedagógica e
COMO TRABALHAR estabelecidos os Padrões estatisticamente, permitindo
OS RESULTADOS? de Desempenho estudantil, uma maior compreensão do
permitindo identificar o grau desenvolvimento dos alunos
de desenvolvimento dos nas habilidades avaliadas.
alunos e acompanhá-los ao
longo do tempo. página 38
página 36
COMPOSIÇÃO ESCALA DE
DOS CADERNOS PROFICIÊNCIA
Esse estudo tem como A partir da análise dos Para ter acesso a toda a Coleção
objetivo propiciar ao resultados da avaliação, e a outras informações sobre
leitor um mecanismo um diagnóstico confiável a avaliação e seus resultados,
de entendimento sobre do ensino pode ser acesse o site
como lidar com problemas estabelecido, servindo
educacionais relacionados de subsídio para que www.saerj.caedufjf.net
à avaliação, a partir da ações e políticas sejam
narrativa de histórias que desenvolvidas, no intuito
podem servir como exemplo de melhorar a qualidade da
para que novos caminhos educação oferecida.
sejam abertos em sua prática
profissional. página 59
T Tópico
D Descritores
Os descritores associam o conteúdo curricular a operações cogni-
tivas, indicando as habilidades que serão avaliadas por meio de um
item.
I Item
O item é uma questão utilizada nos testes de uma avaliação em lar-
ga escala e se caracteriza por avaliar uma única habilidade indicada
por um descritor da Matriz de Referência.
I. PROCEDIMENTOS DE LEITURA
D5 Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.).
Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das
D20 condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido.
D21 Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.
Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um
D2 texto.
D15 Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
D18 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão.
D19 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos.
91 itens 7 blocos por disciplina 2 blocos (26 itens) formam um caderno com
divididos em com 13 itens cada de cada disciplina 4 blocos (52 itens)
Língua
Portuguesa
iiiiii
iiiiii
iiiiii iiiiii
i iiiiii iiiiiii
iiiiii
iiiiiii
iiiiiii iiiiiii
91 x
Matemática iiiiii
iiiiii
iiiiii iiiiii
iiiiii iiiiiii
91 x iiiiii i
iiiiiii
iiiiiii iiiiiii
1 item
De maneira geral, a Teoria de Resposta ao Item possui três parâmetros, através dos quais é
possível realizar a comparação entre testes aplicados em diferentes anos:
A TCT e a TRI não produzem resultados incompatíveis ou excludentes. Antes, estas duas teo-
rias devem ser utilizadas de forma complementar, fornecendo um quadro mais completo do
desempenho dos alunos.
O SAERJ utiliza a TRI para o cálculo da proficiência do aluno, que não depende unicamente do
valor absoluto de acertos, já que depende também da dificuldade e da capacidade de discri-
minação das questões que o aluno acertou e/ou errou. O valor absoluto de acertos permitiria,
em tese, que um aluno que respondeu aleatoriamente tivesse o mesmo resultado que outro
que tenha respondido com base em suas habilidades, elemento levado em consideração pelo
“Parâmetro C” da TRI. O modelo, contudo, evita essa situação e gera um balanceamento de
graus de dificuldade entre as questões que compõem os diferentes cadernos e as habilidades
avaliadas em relação ao contexto escolar. Esse balanceamento permite a comparação dos
resultados dos alunos ao longo do tempo e entre diferentes escolas.
Identifica letras
Lê palavras
Localiza informação D1
Identifica tema D6
ESTRATÉGIAS
DE LEITURA
Realiza inferência D3, D4, D5, D16, D17, D18 e D19
PROCESSAMENTO
Estabelece relações entre textos D20
DO TEXTO
A ESCALA DE PROFICIÊNCIA foi desenvolvida com o Em geral, para as avaliações em larga escala da Edu-
objetivo de traduzir medidas em diagnósticos qualitati- cação Básica realizadas no Brasil, os resultados dos
vos do desempenho escolar. Ela orienta, por exemplo, alunos em Língua Portuguesa são colocados em uma
o trabalho do professor com relação às competências mesma Escala de Proficiência definida pelo Sistema
que seus alunos desenvolveram, apresentando os re- Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Por
sultados em uma espécie de régua onde os valores ob- permitirem ordenar os resultados de desempenho, as
tidos são ordenados e categorizados em intervalos ou Escalas são importantes ferramentas para a interpreta-
faixas que indicam o grau de desenvolvimento das ha- ção dos resultados da avaliação.
bilidades para os alunos que alcançaram determinado
nível de desempenho.
Primeira
Perceber, a partir de um determinado Domínio, o grau de complexidade das competências a ele associadas, atra-
vés da gradação de cores ao longo da Escala. Desse modo, é possível analisar como os alunos desenvolvem as
habilidades relacionadas a cada competência e realizar uma interpretação que contribua para o planejamento do
professor, bem como para as intervenções pedagógicas em sala de aula.
Segunda
Ler a Escala por meio dos Padrões de Desempenho, que apresentam um panorama do desenvolvimento dos alunos
em um determinado intervalo. Dessa forma, é possível relacionar as habilidades desenvolvidas com o percentual
de alunos situado em cada Padrão.
Terceira
Interpretar a Escala de Proficiência a partir da abrangência da proficiência de cada instância avaliada: estado, DRP
ou município e escola. Dessa forma, é possível verificar o intervalo em que a escola se encontra em relação às de-
mais instâncias.
Esta seção apresenta o detalhamento dos níveis de complexidade das competências (com suas
respectivas habilidades), nos diferentes intervalos da Escala de Proficiência. Essa descrição fo-
caliza o desenvolvimento cognitivo do aluno ao longo do processo de escolarização e o agrupa-
mento das competências básicas ao aprendizado de Língua Portuguesa para toda a Educação
Básica.
Professor, a apropriação do sistema de escrita é condição para que o alu- Identifica letras.
no leia com compreensão e de forma autônoma. Essa apropriação é o
foco do trabalho nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ao longo dos Reconhece convenções gráficas.
quais se espera que o aluno avance em suas hipóteses sobre a língua
escrita. Neste domínio, encontram-se reunidas quatro competências que Manifesta consciência fonológica.
Uma das primeiras hipóteses que a criança formula com relação à língua escrita é a de que escrita e desenho são
uma mesma coisa. Sendo assim, quando solicitada a escrever, por exemplo, “casa”, a criança pode simplesmente
desenhar uma casa. Quando começa a ter contato mais sistemático com textos escritos, a criança observa o uso
feito por outras pessoas e começa a perceber que escrita e desenho são coisas diferentes, reconhecendo as letras
como os sinais que se deve utilizar para escrever. Para chegar a essa percepção, a criança deverá, inicialmente, di-
ferenciar as letras de outros símbolos gráficos, como os números, por exemplo. Uma vez percebendo essa diferen-
ciação, um próximo passo será o de identificar as letras do alfabeto, nomeando-as e sabendo identificá-las mesmo
quando escritas em diferentes padrões.
CINZA 0 A 75 PONTOS
Os alunos cuja proficiência se encontra na faixa cinza, de 0 a 75 pontos, ainda não desenvolveram habilida-
des relacionadas a esta competência.
Mesmo quando ainda bem pequenas, muitas crianças que têm contatos frequentes com situações de leitura imitam
gestos leitores dos adultos. Fazem de conta, por exemplo, que leem um livro, folheando-o e olhando suas páginas.
Esse é um primeiro indício de reconhecimento das convenções gráficas. Essas convenções incluem saber que a
leitura se faz da esquerda para a direita e de cima para baixo ou, ainda, que, diferentemente da fala, se apresenta
num fluxo contínuo, enquanto na escrita é necessário deixar espaços entre as palavras.
CINZA 0 A 75 PONTOS
Os alunos cuja proficiência se encontra na faixa cinza, de 0 a 75 pontos, ainda não desenvolveram habilida-
des relacionadas a esta competência.
A consciência fonológica se desenvolve quando o sujeito percebe que a palavra é composta de unidades menores
que ela própria. Essas unidades podem ser a sílaba ou o fonema. As habilidades relacionadas a essa competência
são importantes para que o aluno seja capaz de compreender que existe correspondência entre o que se fala e o
que se escreve.
CINZA 0 A 75 PONTOS
Os alunos cuja proficiência se encontra na faixa cinza, de 0 a 75 pontos, ainda não desenvolveram as habili-
dade relacionadas a esta competência.
LÊ PALAVRAS
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
Para ler palavras com compreensão, o alfabetizando precisa desenvolver algumas habilidades. Uma delas, bastante ele-
mentar, é a de identificar as direções da escrita: de cima para baixo e da esquerda para direita. Em geral, ao iniciar o pro-
cesso de alfabetização, o alfabetizando lê com maior facilidade as palavras formadas por sílabas no padrão consoante/
CINZA 0 A 75 PONTOS
Os alunos cuja proficiência se encontra na faixa cinza, de 0 a 75 pontos, ainda não desenvolveram as habili-
dades relacionadas a esta competência.
Estratégias de leitura
A concepção de linguagem que fundamenta o trabalho com a língua ma- Localiza informação.
terna no Ensino Fundamental é a de que a linguagem é uma forma de in-
teração entre os falantes. Consequentemente, o texto deve ser o foco do Identifica tema.
ensino da língua, uma vez que as interações entre os sujeitos, mediadas
pela linguagem, se materializam na forma de textos de diferentes gêneros. Realiza inferência.
O domínio “Estratégias de Leitura” reúne as competências que possibili- Identifica gênero, função e destinatário de
tam ao leitor utilizar recursos variados para ler com compreensão textos um texto.
de diferentes gêneros. competências descritas para este domínio
A competência de localizar informação explícita em textos pode ser considerada uma das mais elementares. Com o seu
desenvolvimento, o leitor pode recorrer a textos de diversos gêneros, buscando neles informações de que possa ne-
cessitar. Essa competência pode apresentar diferentes níveis de complexidade – desde localizar informações em frases,
por exemplo, até fazer essa localização em textos mais extensos – e se consolida a partir do desenvolvimento de um
conjunto de habilidades que devem ser objeto de trabalho do professor em cada período de escolarização. Isso está
indicado, na Escala de Proficiência, pela gradação de cores.
A competência de identificar tema se constrói pelo desenvolvimento de um conjunto de habilidades que permitem
ao leitor perceber o texto como um todo significativo pela articulação entre suas partes.
REALIZA INFERÊNCIA
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
Fazer inferências é uma competência bastante ampla e que caracteriza leitores mais experientes, que conseguem
ir além daquelas informações que se encontram na superfície textual, atingindo camadas mais profundas de signi-
ficação. Para realizar inferências, o leitor deve conjugar, no processo de produção de sentidos sobre o que lê, as
pistas oferecidas pelo texto aos seus conhecimentos prévios, à sua experiência de mundo. Estão envolvidas na
A competência de identificar gênero, função ou destinatário de um texto envolve habilidades cujo desenvolvimento
permite ao leitor uma participação mais ativa em situações sociais diversas, nas quais o texto escrito é utilizado com
funções comunicativas reais. Essas habilidades vão desde a identificação da finalidade com que um texto foi produzido
até a percepção de a quem ele se dirige. O nível de complexidade que esta competência pode apresentar dependerá
da familiaridade do leitor com o gênero textual; portanto, quanto mais amplo for o repertório de gêneros de que o aluno
dispuser, maiores suas possibilidades de perceber a finalidade dos textos que lê. É importante destacar que o repertó-
rio de gêneros textuais se amplia à medida que os alunos têm possibilidades de participar de situações variadas, nas
quais a leitura e a escrita tenham funções reais e atendam a propósitos comunicativos concretos.
Neste domínio estão agrupadas competências cujo desenvolvimento Estabelece relações lógico-discursivas.
tem início nas séries iniciais do Ensino Fundamental, progredindo em
grau de complexidade até o final do Ensino Médio. Para melhor com- Identifica elementos de um texto narrativo.
preendermos o desenvolvimento destas competências, precisamos lem-
brar que a avaliação tem como foco a leitura, não se fixando em nenhum Estabelece relações entre textos.
conteúdo específico. Na verdade, diversos conteúdos trabalhados no
Distingue posicionamentos.
decorrer de todo o período de escolarização contribuem para o desen-
volvimento das competências e habilidades associadas a este domínio.
Identifica marcas linguísticas.
Chamamos de processamento do texto as estratégias utilizadas na sua
constituição e sua utilização na e para a construção do sentido do texto. competências descritas para este domínio
Neste domínio, encontramos cinco competências, as quais serão deta-
lhadas a seguir, considerando que as cores apresentadas na Escala indi-
cam o início do desenvolvimento da habilidade, as gradações de dificul-
dade e sua consequente consolidação.
A competência de estabelecer relações lógico-discursivas envolve habilidades necessárias para que o leitor estabeleça
relações que contribuem para a continuidade, a progressão do texto, garantindo sua coesão e coerência. Essas habili-
dades relacionam-se, por exemplo, ao reconhecimento de relações semânticas indicadas por conjunções, preposições,
advérbios ou verbos. Ainda podemos indicar a capacidade de o aluno reconhecer as relações anafóricas marcadas pelos
diversos tipos de pronome. O grau de complexidade das habilidades associadas a essa competência está diretamente
associado a dois fatores: a presença dos elementos linguísticos que estabelecem a relação e o posicionamento desses
elementos dentro do texto, por exemplo, se um pronome está mais próximo ou mais distante do termo a que ele se refere.
Os textos com sequências narrativas são os primeiros com os quais todos nós entramos em contato, tanto na ora-
lidade, quanto na escrita. Daí observarmos o desenvolvimento das habilidades associadas a essa competência em
níveis mais baixos da Escala de Proficiência, ao contrário do que foi visto na competência anterior. Identificar os
elementos estruturadores de uma narrativa significa conseguir dizer onde, quando e com quem os fatos ocorrem,
bem como sob que ponto de vista a história é narrada. Essa competência envolve, ainda, a habilidade de reconhe-
cer o fato que deu origem à história (conflito ou fato gerador), o clímax e o desfecho da narrativa. Esses elementos
dizem respeito tanto às narrativas literárias (contos, fábulas, crônicas, romances...), como às narrativas de caráter não
literário, uma notícia, por exemplo.
Esta competência diz respeito ao estabelecimento de relações intertextuais, as quais podem ocorrer dentro de um
texto ou entre textos diferentes. É importante lembrar, também, que a intertextualidade é um fator importante para o
estabelecimento dos tipos e dos gêneros, na medida em que os relaciona e os distingue. As habilidades envolvidas
nessa competência começam a ser desenvolvidas em níveis mais altos da Escala de Proficiência, revelando, portan-
to, tratar-se de habilidades mais complexas, que exigem do leitor uma maior experiência de leitura.
Distinguir posicionamentos está diretamente associado a uma relação mais dinâmica entre o leitor e o texto.
Esta competência relaciona-se ao reconhecimento de que a língua não é imutável e faz parte do patrimônio social
e cultural de uma sociedade. Assim, identificar marcas linguísticas significa reconhecer as variações que uma língua
apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. Esta competên-
cia envolve as habilidades de reconhecer, por exemplo, marcas de coloquialidade ou formalidade de uma forma
linguística e identificar o locutor ou interlocutor por meio de marcas linguísticas.
Os Padrões de Desempenho são categorias definidas a partir de cortes numéricos que agru-
pam os níveis da Escala de Proficiência, com base nas metas educacionais estabelecidas
pelo SAERJ. Esses cortes dão origem a quatro Padrões de Desempenho – Baixo, Interme-
diário, Adequado e Avançado –, os quais apresentam o perfil de desempenho dos alunos.
Por outro lado, estar no Padrão mais elevado indica o caminho para o êxito e a qualidade da
aprendizagem dos alunos. Contudo, é preciso salientar que mesmo os alunos posicionados
no Padrão mais elevado precisam de atenção, pois é necessário estimulá-los para que pro-
gridam cada vez mais.
Além disso, as competências e habilidades agrupadas nos Padrões não esgotam tudo aquilo que os alunos desen-
volveram e são capazes de fazer, uma vez que as habilidades avaliadas são aquelas consideradas essenciais em
cada etapa de escolarização e possíveis de serem avaliadas em um teste de múltipla escolha. Cabe aos docentes,
através de instrumentos de observação e registros utilizados em sua prática cotidiana, identificarem outras caracte-
rísticas apresentadas por seus alunos e que não são contempladas nos Padrões. Isso porque, a despeito dos traços
comuns a alunos que se encontram em um mesmo intervalo de proficiência, existem diferenças individuais que
precisam ser consideradas para a reorientação da prática pedagógica.
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
Neste Padrão de Desempenho, os alunos se limitam a realizar operações básicas de leitura, interagindo apenas com
textos do cotidiano, de estrutura simples e de temáticas que lhes são familiares.
Eles localizam informações explícitas; realizam inferências de informações, de efeito de sentido de palavra ou ex-
pressão, de efeito do emprego de pontuação e de efeitos de humor. Além disso, identificam a finalidade desses
textos.
Na apropriação de elementos que estruturam o texto, manifestam-se operações de retomada de informações por
meio de pronomes pessoais retos e por substituição lexical. Além disso, reconhecem as relações lógico-discursivas
marcadas por advérbios e locuções adverbiais e por marcadores de causa e consequência.
Considerando as habilidades descritas, constata-se que esses alunos, após nove anos de escolaridade apresentam
lacunas no processo de desenvolvimento da competência leitora.
item 1
Esse item avalia a habilidade de interpretar texto que conjuga linguagem verbal e
não verbal em uma tirinha, um gênero textual comum ao ambiente escolar e que,
geralmente, desperta o interesse dos alunos.
A resolução desse item pressupõe que o aluno seja capaz de construir um sentido
para o texto a partir da relação entre as pistas verbais e não verbais fornecidas na
tirinha.
O comando desse item requer que o aluno extraia, a partir da leitura global do texto,
uma interpretação que não se encontra na superfície textual. Para isso, deve entender
que, no terceiro quadrinho, o menino apresenta uma justificativa para ter escrito um
cartão para a mãe. Na sequência, no último quadrinho, a fala do tigre reforça a justi-
ficava do menino e revela uma atitude interesseira de ambos os personagens com
relação à melhora da mãe. Dessa forma, os alunos que conseguiram construir essa
interpretação acertaram o item, marcando a alternativa D.
Por fim, a escolha do distrator C também revela que os alunos ficaram presos
somente aos dois primeiros quadrinhos do texto, em especial à fala do menino
no segundo: “Fique boa logo”. Tal expressão, reforçada pelo advérbio de tempo
“logo”, poderia indicar a certeza do menino de que a mãe melhorará em breve.
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
Os alunos cujas médias de proficiência estão situadas neste Padrão de Desempenho ampliam suas habilidades de
leitura, sendo capazes de interagir com textos de temática menos familiar e de estrutura um pouco mais complexa.
No que diz respeito à percepção de posicionamentos presentes no texto, esses alunos conseguem distinguir fato
de opinião e identificar a tese e os argumentos que a sustentam.
Quanto à apropriação de elementos que estruturam o texto, manifestam-se operações de retomada de informações
por meio de pronomes pessoais e indefinidos e por substituição lexical. Revelam-se também operações de reco-
nhecimento de relações lógico-discursivas, marcadas por advérbios, locuções adverbiais e marcadores de causa e
consequência.
No que diz respeito ao tratamento das informações globais, esses alunos inferem o assunto de textos de temática
do cotidiano.
No campo da variação linguística, identificam interlocutores por meio das marcas linguísticas.
Com relação às operações inferenciais, eles depreendem informações implícitas, o sentido de palavras ou expres-
sões, o efeito do uso da pontuação e de situações que geram humor. Além disso, reconhecem o efeito de sentido
de notações em um texto de linguagem mista.
Texto 1
Combate ao estresse
É possível combater o estresse gerado pelo ritmo acelerado do dia a dia de uma forma muito
gostosa... comendo! Alguns alimentos têm poder de melhorar o desempenho do organismo. A
nutricionista funcional Tatiana Rocha dá dicas.
“A laranja, rica em vitamina C e complexo B, é um ótimo relaxante muscular e ajuda a dar mais
pique. Os pescados diminuem o cansaço e a ansiedade, graças à presença de zinco e selênio.
Uma banana por dia também é uma ótima opção, já que ela é responsável pela sensação de
bem-estar”, explica.
Texto 2
Vida: estresse infantil
Esse item avalia a habilidade de reconhecer formas de tra- ao estresse infantil, apresenta dicas de atitudes a serem
tar uma informação na comparação de textos que abordam tomadas para evitar esse mal. Sendo assim, aqueles que
o mesmo tema. Para acertar o item, o aluno deve com- escolheram a alternativa A mostraram-se capazes de re-
preender a temática apresentada em cada um dos textos, conhecer que o ponto de aproximação entre o Texto 1 e
para então compará-los, identificando suas semelhanças e/ o Texto 2 são as formas de combate ao estresse.
ou diferenças. Os textos utilizados como suporte, no entan-
to, podem facilitar a resolução do item, por serem de curta Aqueles que assinalaram as demais alternativas prende-
extensão e apresentarem linguagem simples. ram-se a informações que foram apresentadas em ape-
nas um dos textos. A escolha do distrator B sugere que
O item já sinaliza ao aluno a temática abordada nos dois tex- os alunos focaram apenas no segundo texto, que com-
tos: o estresse. Diante dessa informação, espera-se que o para o estresse em adultos e crianças. De igual modo,
respondente seja capaz de reconhecer qual aspecto refe- a opção pela alternativa C também apresenta uma in-
rente a esse problema está presente em ambos os suportes. formação constante somente no Texto 2, as causas do
estresse em crianças e adultos. Por fim, a alternativa D
O primeiro texto focaliza a alimentação como forma de mostra um dado ausente no primeiro texto.
combate ao estresse, enquanto o segundo, mais voltado
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
No campo da variação linguística, reconhecem expressões de linguagem informal e marcas de regionalismo. Além
de reconhecerem a gíria como traço de informalidade.
Quanto ao tratamento das informações globais do texto, distinguem a informação principal das secundárias e iden-
tificam gêneros textuais diversos.
No que concerne à construção do texto, reconhecem relações lógico-discursivas expressas por advérbios, locuções
adverbiais e conjunções. Na realização de atividades de retomada por meio do uso de pronomes, esses alunos
conseguem recuperar informações por meio do uso de pronomes relativos.
Eles demonstram, ainda, a capacidade de localizar informações em textos expositivos e argumentativos, além de
identificar a tese de um artigo de opinião e reconhecer a adequação vocabular como estratégia argumentativa.
Neste Padrão, os alunos demonstram, portanto, uma maior familiaridade com textos de diferentes gêneros e tipologias.
(P091175ES) No trecho “... um terceiro fator deve ser incluído na equação do emagrecimento – o sono.” ( . 3-4),
o travessão foi empregado para
A) anunciar fala de personagem.
B) comentar um fato exposto.
C) esclarecer uma afirmação feita.
D) ironizar uma explicação dada.
No entanto, nota-se que, na verdade, esse sinal de pontuação foi usado para es-
pecificar o terceiro fator responsável pelo emagrecimento: o sono. Esse emprego
está previsto na alternativa C, assinalada por aqueles alunos que compreenderam
o propósito do uso do travessão no trecho.
Aqueles que escolheram a alternativa D podem ter inferido que a inclusão do sono
como um fator importante para a perda de peso revela um comentário irônico.
Esses alunos podem ter se guiado pela ideia de que o sono é uma atividade as-
sociada a repouso, inércia, em que não há gasto de energia e que, portanto, não
poderia ser, a princípio, associada ao emagrecimento. Entretanto, essa interpreta-
ção, pautada em aspectos extratextuais, não é permitida pelo texto.
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
A análise das habilidades encontradas neste Padrão permite afirmar que os alunos que nele se encontram são ca-
pazes de interagir com textos de tema e vocabulário complexos e não familiares.
Esses alunos reconhecem os efeitos de sentido do uso de recursos morfossintáticos diversos, de notações, de re-
petições, de escolha lexical, em gêneros de várias naturezas e temáticas, ou seja, demonstram maior conhecimento
linguístico associado aos aspectos discursivos dos textos.
Eles realizam operações de retomada com alta complexidade, como as realizadas por meio de pronomes demons-
trativos e indefinidos, retos, incluindo também elipses.
São capazes de analisar, com maior profundidade, uma ampla gama de textos argumentativos, narrativos, expositi-
vos, instrucionais e de relato, observando diversas categorias ainda não atingidas anteriormente, tanto no interior do
texto quanto na comparação entre eles. Na comparação, inferem diferentes posicionamentos em relação ao mesmo
assunto em textos de tipologias diferentes.
No tocante à análise de textos que conjugam diversas tipologias, são capazes de identificá-las e analisá-las, reco-
nhecendo seus objetivos separada ou conjuntamente. Analisam gêneros textuais híbridos, considerando as condi-
ções de produção e os efeitos de sentido pretendidos.
Em textos literários complexos, inferem o significado da metáfora e o efeito de sentido pretendido com seu uso.
Assim, os alunos cujas proficiências estão acima de 325 pontos na escala podem ser considerados leitores profi-
cientes, ou seja, são leitores que conseguem selecionar informações, levantar hipóteses, realizar inferências, autor-
regular sua leitura, corrigindo sua trajetória de interpretação quando suas hipóteses não são confirmadas pelo texto.
(P090267C2) No trecho “... se você limitar sua linguagem à gíria,...” (ℓ. 17), o termo destacado estabelece
relação de
A) causa.
B) concessão.
C) condição.
D) consequência.
Esse item avalia a habilidade de estabelecer relações ló- informação mencionada anteriormente, ou seja, o uso de
gico-discursivas entre partes de um texto, marcadas por gírias é uma causa para o perigo.
advérbios, locuções adverbiais, conjunções etc. No que
concerne a esse item, temos uma conjunção subordina- Os alunos que escolheram a alternativa B podem ter en-
tiva que estabelece com a oração anterior uma relação tendido que há uma condição contrária ao uso de gírias,
condicional. Essa habilidade mostra-se sofisticada para mas que não impede seu uso. Entretanto, essa relação
os alunos, na medida em que requer processos inferen- não está prevista no trecho selecionado; portanto os alu-
ciais mais refinados, em um texto de extensão mediana. nos que assinalaram essa alternativa demonstram ainda
não serem capazes de diferenciar as relações de condi-
A escolha da alternativa C (gabarito) sugere que esses ção e concessão.
alunos compreenderam que restringir a linguagem ao
uso de gírias é condição para a perda de referência Por fim, aqueles que assinalaram a alternativa D confun-
quanto ao padrão formal da língua, relação esta marcada diram-se na relação entre as orações, entendendo que
pelo conectivo “se”. aquela que segue a oração introduzida pela conjunção
“se” (“... pode ficar viciado e acabar perdendo...”) apre-
Aqueles que optaram por A, possivelmente, entenderam senta uma possível consequência,caso a condição seja
que a conjunção em destaque marca uma causa para a satisfeita. Entretanto, essa não é a circunstância estabe-
lecida pela conjunção “se”.
Por isso, a presente seção é constituída por um estudo de caso destinado à apresenta-
ção de um problema vivido nas redes de ensino do Brasil. Seu objetivo é dialogar, atra-
vés de um exemplo, com os atores que lidam com as avaliações educacionais em larga
escala em seu cotidiano. Esse diálogo é estabelecido através de personagens fictícios,
mas que lidaram com problemas reais. Todas as informações relativas à composição do
estudo, como a descrição do contexto, o diagnóstico do problema e a maneira como
ele foi enfrentado, têm como base pesquisas acadêmicas levadas a cabo por alunos de
pós-graduação.
Uma novidade “antiga” na escola o conteúdo proposto para cada ano letivo, acompanhar
de perto os alunos com maiores dificuldades, corrigir
Foi chegando para sua primeira aula naquela semana os deveres de casa. O “novo professor”, na visão de
que Augusta viu, no corredor central da escola, um car- Augusta, é que era o problema, pois descomprometi-
taz no quadro de avisos. As outras informações que ali do e arrogante, escorado em um conjunto de teorias
estavam, há muito sem serem alteradas, foram retiradas sem sentido, apregoadas por uma academia que havia
para dar lugar a “essa novidade”. Augusta parou para se distanciado da escola. Augusta chamava de “vazio”
ver do que se tratava. Era a primeira vez que tomava esse discurso dos recém-formados.
contato com resultados de um sistema de avaliação
educacional daquela maneira. O cartaz trazia informa- Estava na Dom Mario há 5 anos e não desejava sair da
ções sobre a escola, informando o número de alunos escola. Era bem verdade que lecionava Língua Espa-
que haviam participado da avaliação, bem como a “nota nhola em uma escola particular do município, mas suas
média” da escola e um conjunto de “gráficos” que ela paixões eram o ensino de Língua Portuguesa e a Dom
não entendeu bem. De todo modo, mesmo curiosa, isso Mario. Augusta sempre alimentou o sonho de lecionar
“teria que esperar”, pois o sinal já tocara. Augusta se na escola pública e, apesar de todas as contrariedades
dirigiu à sala 2, onde começaria a jornada daquele dia. e dificuldades que enfrentou, ainda mantinha acesa
essa vontade. Tanto que considerava trabalhar em regi-
Augusta sempre se considerou uma professora “à moda
me de dedicação exclusiva na escola Dom Mario.
antiga”. Estava na docência há 10 anos e já havia lecio-
nado em quase todas as etapas de escolaridade. Co-
Naquele mesmo dia, aproveitou o intervalo entre uma
meçou dando aulas no Ensino Médio, para, em segui-
aula e outra, em que Augusta costumava fazer uma bre-
da, assumir turmas no 2º ciclo do Ensino Fundamental.
ve refeição, ou, nos bons dias, conversar sobre litera-
Durante dois anos, foi também professora substituta na
tura com Eustáquio, o professor de literatura do Ensino
universidade local, uma experiência que lhe “rendeu
Médio, para, mais uma vez, parar diante do quadro de
muito aprendizado”, segundo seu próprio julgamento,
avisos do corredor central e tentar entender as informa-
mas que não acreditava que iria se repetir. Apenas com
ções oferecidas pelo cartaz. Mais uma vez, esbarrou na
a alfabetização Augusta não havia trabalhado.
compreensão de alguns gráficos. Gostaria de entender
A percepção de que era uma professora “mais tradicio- melhor o que aquilo significava. Era capaz de entender
nal” não incomodava Augusta. Pelo contrário, acredita- os números e interpretar os gráficos, bem o sabia. Con-
va se tratar de um elogio. Tinha duras críticas a tecer em tudo, o problema era o que aquilo significava pedago-
relação à atuação dos “novatos”, que envolviam desde gicamente. Augusta não tinha nenhum motivo concre-
sua postura profissional, mais precisamente à ausência to para desacreditar o sistema de avaliação em larga
dela, até as falhas de formação das universidades. Ao escala, mas também nenhum para lhe dar créditos. Na
passo que muitos professores defendiam a superação verdade, desde que começou a carreira no magistério,
do que chamavam de “ensino tradicional”, Augusta en- Augusta nunca tinha visto um uso sequer desses resul-
tendia que a interpretação e o julgamento do tradicional tados. Para ela, era apenas um conjunto de informações
era equivocado. Para ela, tradicional significava compro- que até poderia ser importante para os secretários de
metimento com a carreira docente, com a escola e com educação, mas não para os professores. Quem estava
os alunos, com todas as consequências dessa postura: na escola tinha seus próprios problemas e a avaliação
exigir dos alunos, ser pontual, preparar as aulas, esgotar externa estava longe de enfrentá-los.
A ação
Para que os alunos se familiarizem com a leitura de poesia, uma estratégia produtiva
é relacionar um ou mais poemas a assuntos do cotidiano. Uma sugestão seria criar círcu-
los de leitura, em que, a cada semana ou quinzena, um grupo de alunos fosse responsável
por trazer para a turma notícias, ou até mesmo outros textos literários, que estabeleçam um
paralelo com poemas apresentados pelo professor, em sala, como “Visão 1944”, de Carlos
Drummond de Andrade:
Entretanto, antes de dar início a essas atividades, poemas como este precisam passar
por um processo acurado de leitura e análise, para que sejam adequadamente
apropriados pelos alunos. O primeiro passo é sua leitura – não silenciosa,
pois um poema deve ser lido em voz alta, para que se perceba sua
estrutura na totalidade. Há que se notar que um poema é mais do
que conteúdo: é também escolha de palavras, de elementos for-
mais, de recursos estilísticos. E um recurso deveras significativo
é a anáfora “Meus olhos são pequenos para ver”, iniciando Há que se notar que um poema é mais
cada estrofe. A escolha dessa expressão não constitui so-
do que conteúdo: é também escolha de
mente um elemento sonoro do texto; sua repetição enfatiza
o horror que se descortinava diante dos olhos das pessoas, palavras, de elementos formais, de recursos
durante os conflitos da II Guerra. Porém, para absorver esse estilísticos.
significado, dentro do poema, é preciso realizar um trabalho in-
terdisciplinar, junto aos professores de História e de Geografia:
o que foi a II Guerra, os países envolvidos, até mesmo a participa-
ção do Brasil são dados que merecem ser explorados.
Cabe ressaltar que é muito importante que o professor leia o poema junto a seus alunos,
conduzindo-os à dedução desses elementos por meio de perguntas direcionadas, como
por exemplo: o título do poema remete a uma data; o que essa data lembra? Em cada
estrofe, a que o sujeito poético se refere? É necessária uma leitura inicial do poema na
íntegra, em voz alta, pelo professor – pelo menos em um primeiro momento, para que
a turma perceba o ritmo e a entonação – e, na sequência, uma leitura pausada, estrofe
Após essa análise de seu conteúdo, pode-se partir para a abordagem dos efeitos de sentido
conferidos pelos elementos constituintes desse texto. Cabem, agora, perguntas específicas
sobre os recursos de repetição; de sonoridade conferida pela métrica; de uso das estrofes
de quatro versos. Nesse último caso, por exemplo, é possível estabelecer um paralelo com
quadrinhas populares; talvez alguns alunos tenham exemplos para apresentar, tais como “Ba-
tatinha quando nasce,/ se esparrama pelo chão,/ minha amada quando dorme,/ põe a mão
no coração” ou cantigas de roda, como: “O anel que tu me deste/ era vidro e se quebrou,/ o
amor que tu me tinhas/ era pouco e se acabou” etc.
Oportunidades para o trabalho com textos poéticos, como o indicado, surgem especialmente
quando os alunos estão tendo contato, nas aulas de História, com informações a respeito da II
Guerra Mundial. Outro poema que também pode ser abordado, com relação ao mesmo tema,
é “A rosa de Hiroxima”, de Vinícius de Moraes:
A ROSA DE HIROXIMA
Pensem nas crianças Mas oh não se esqueçam
Mudas telepáticas Da rosa da rosa
Pensem nas meninas Da rosa de Hiroxima
Cegas inexatas A rosa hereditária
Pensem nas mulheres A rosa radioativa
Rotas alteradas Estúpida e inválida
Pensem nas feridas A rosa com cirrose
Como rosas cáli- A anti-rosa atômica
O enfoque do conceito de metáfora, como das Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
recurso estilístico comum à poesia, tem
MORAES, Vinícius. Poesia completa e prosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p.
aqui seu espaço, e a análise da seleção
265.
vocabular merecerá expansão
Enquanto Drummond expõe fatos ligados à II Guerra, Vinícius re-
gistra poeticamente o evento que determinou o fim do conflito – a
explosão da bomba atômica sobre a cidade de Hiroxima, no Japão
(seguida pela cidade de Nagasaki). Em um poema notadamente bem
menos extenso que o do poeta mineiro, Vinícius sintetiza aquele momen-
to de dor e angústia gerado pela primeira vez em que um artefato explosivo
com tamanho poder de destruição foi lançado contra uma cidade.
É digna de nota, nesse poema, a escolha vocabular efetuada por seu autor. Começando pelo
título do poema – por que “rosa” de Hiroxima? Essa pergunta, feita aos alunos, certamente ori-
ginará suposições diversas, que devem ser orientadas, pelo professor, em direção às
hipóteses mais plausíveis. O enfoque do conceito de metáfora, como recurso
estilístico comum à poesia, tem aqui seu espaço, e a análise da seleção
vocabular merecerá expansão, para além de seu título: as habilidades
de reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de deter-
minadas palavras, da exploração de recursos morfossintáticos e de
recursos estilísticos, mais uma vez, surgem como relevantes para A tarefa do professor, nesse ponto, é
a análise do texto em questão. conduzir os alunos a perceberem esses
elementos, por meio de questionamentos
Como elementos representativos dos efeitos de sentido propor-
cionados pela escolha de palavras, observamos que, no início devidamente direcionados, sem respostas
do poema, a cada substantivo estão associados dois termos de prontas
valor adjetivo: crianças mudas telepáticas; meninas cegas inexatas;
mulheres rotas alteradas. A leitura pode ser direcionada para que
os alunos percebam essa estrutura, retomando as noções de classes
de palavras. Essa sequência poética precisa ser avaliada, junto à turma,
como significativa, e seu sentido explorado: por que o poeta escolheu essa
forma de apresentar as figuras humanas? E qual é a área semântica a que perten-
cem esses termos adjetivos: positiva ou negativa? Por que o poema não cita homens, somen-
te crianças, meninas e mulheres?
Também merece destaque o fato de que o poema utiliza, como recurso verbal, o modo im-
perativo – “Pensem”. O texto é enfático, no sentido de incitar seus leitores a pensarem sobre
a tragédia que se abateu sobre Hiroxima: é significativo induzir os alunos a que percebam o
efeito de sentido proporcionado pelo uso desse modo verbal, bem como da repetição do
termo “sem”, ao final do texto – “Sem cor sem perfume/ Sem rosa sem nada” – , que pode
remeter à imagem da bomba atômica como a negação de tudo, como uma rosa que não
possui os atributos usuais das rosas. É significativo, inclusive, buscar pontos de contato entre
a estrutura deste poema e o tratado anteriormente; em “Visão 1944”, existe a mesma atitude
de negação provocada pela guerra, o que pode ser percebido na estrofe:
Os círculos de leitura propostos no início destes apontamentos podem se tornar muito mais
amplos, extrapolando os muros da escola, ao relacionar os textos poéticos às experiências de
vida dos adolescentes. Nessa etapa de escolaridade, estamos diante de um público crítico,
que já percebe que o mundo à sua volta é cheio de conflitos, mas nem sempre consegue efe-
tuar a leitura desse mundo de forma organizada. A leitura literária precisa ser entendida como
uma competência socialmente significativa, pois remete a elementos culturais que vão muito
além do âmbito da escola. E o contato com a poesia pode se revelar um poderoso aliado, para
que essa leitura seja efetiva e contribua para a formação de cidadãos críticos e criativos.
Proficiência Média
»» Com base na Proficiência Média: identificar o Padrão de Desempenho.
»» Relacionar a Proficiência Média com o desempenho dos alunos: que habilidades e competên-
cias já foram desenvolvidas?
»» Refletir sobre o desempenho alcançado pelos alunos em relação ao esperado, com
base na Matriz de Referência, para a sua etapa de escolaridade. Quais habilidades e
competências devem ser desenvolvidas para alcançar este resultado?
»» Como recuperar os alunos que já passaram pela etapa avaliada e não apresentaram o
desempenho esperado?
»» Refletir sobre o trabalho realizado na sala de aula e as possíveis mudanças, com o ob-
jetivo de melhorar o desempenho dos alunos.
»» Relacionar o resultado alcançado com a possibilidade de realizar ações/intervenções
pedagógicas.
ISSN 1948-5456
CDU 373.3+373.5:371.26(05)