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Folha de São Paulo - Ângela Maria Gomes tornou-se rainha do Rosário no século XVIII

Africana era sacerdotisa do culto vodum e participante de irmandade católica

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/07/angela-maria-gomes-tornou-se-rainha-do-rosario-apesar-de-ter-sido-denunciada-para-inquisicao.shtml

Autor: Moacir R. de Castro Maia


Ângela Maria Gomes tornou-se rainha do Rosário no século XVIII
Africana era sacerdotisa do culto vodum e participante de irmandade católica

Em noites de lua cheia, a africana Ângela Maria Gomes incorporava o vodum (nome das divindades e da religião) e dançava com outras mulheres em volta de uma gameleira em um povoado pertencente a Ouro Preto, por volta de 1759.

Enquanto buscava praticar os ritos religiosos de sua terra natal, ela era vigiada e perseguida por homens brancos, que escreveram várias cartas à Inquisição para denunciar a sacerdotisa vodum como a grande “mestra das feiticeiras” daquele arraial minerador.

Já fazia algumas décadas que Ângela havia sido capturada na região dos reinos de Uidá e Grande Popo (atual República do Benim), na África Ocidental, e vendida como escrava para a nova capitania de Minas Gerais, onde passou da escravidão para a liberdade.

Além de conquistar a alforria, ela se tornou senhora de sua casa, adquiriu trabalhadores escravos e vivia da produção de pães e quitandas, sendo reconhecida como uma mulher liberta.

A presença destacada e o relativo êxito econômico dessa mulher africana começaram a incomodar uma parcela de homens livres daquela sociedade escravista. Era um momento de insatisfação de parte da classe senhorial de Itabira do Campo (atual Itabirito – MG), que vivia um período de declínio da exploração do ouro naquele arraial.

Além disso, ser senhora de sua casa possibilitava maior liberdade para Ângela praticar seus cultos particulares, celebrar as divindades voduns e estreitar laços com pessoas de sua confiança. Nessas cerimônias secretas, ela se religava à família deixada na África, às histórias de seus ancestrais, às crenças religiosas de sua terra natal, o que contribuía para enfrentar as perdas, os infortúnios e os dilemas vivenciados do lado de cá do Atlântico.

A perseguição masculina contra Ângela e outras mulheres negras do povoado revela o quanto as práticas mágicas, o papel econômico independente e a liderança religiosa dessas mulheres libertas desagradavam parcela da elite do arraial.

As denúncias recebidas pelos agentes da Inquisição em Minas chegaram ao Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, com a acusação de que ela causava malefícios à população local. Contudo, outras fontes demonstram que algo havia sido omitido pelos denunciadores.

A africana não era apenas uma destacada praticante do culto vodum. Também era uma das mais proeminentes participantes de irmandade católica na localidade, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

Essa era uma das únicas formas de organização coletiva de pessoas negras aceitas e permitidas pelo poder colonial, que buscava o controle social da população escrava e liberta e a assimilação delas ao catolicismo, a religião oficial do Império português.

Na Irmandade do Rosário dos Pretos de Itabira do Campo, Ângela foi coroada rainha do Rosário mais de uma vez. Sua influência e sua autoridade transparecem em diversas decisões, como a posse da sua escrava Ana como juíza da irmandade e a doação de uma vara de prata (signo de autoridade do cargo) para que ela pudesse sair em cortejo festivo e cumprir suas funções na mesa de direção com dignidade e certa opulência.

Para esta africana e outros conterrâneos, não era contraditório ser uma sacerdotisa do culto vodum, abraçar o catolicismo ou dançar para o vodum Loko (de origem no orixá Iroko dos iorubás), pois a religião vodum era dinâmica, aberta, e incluía novos elementos, mesmo se de outros territórios e religiões.

A crença era que quanto mais protetores a pessoa tivesse, mais protegida espiritualmente ela estaria, o que buscava equilibrar a relação entre o mundo visível e o mundo invisível do universo vodum, além de demonstrar temor e respeito por práticas de outros indivíduos e religiões.

É uma lição de tolerância religiosa vinda dessa cultura africana, que contribuiu na formação de vários ritos afro-americanos, incluindo o candomblé no Brasil.

As denúncias contra Ângela foram arquivadas em Lisboa enquanto ela continuava a sofrer a perseguição local, inclusive de alguns membros de sua própria confraria. Contudo, superou as adversidades, manteve-se senhora de sua casa e voltou a ser coroada rainha do Rosário no final de sua vida. Sendo também católica, deixou sua residência como patrimônio para sua irmandade.



Este artigo faz parte da série #matriabrasil.

Folha de São Paulo, caderno Cotidiano, B4 - 29/07/2023.
Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII). Autores: Aldair Rodrigues e Moacir Maia . Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas... more
Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII).

Autores: Aldair Rodrigues e Moacir Maia .

Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII) reúne transcrições de documentos inéditos sobre a vida e as crenças de mulheres africanas perseguidas no Brasil por forças militares e pela Inquisição.

Essas mulheres permaneceram a grupos étnicos que habitavam a região da África ocidental chamada pelos portugueses da Costa da Mina. Escravizadas e trazidas para o Brasil, algumas se tornaram lideranças de comunidades negras na posição de sacerdotisas voduns (vodúnsis), ao mesmo tempo que exerciam cargos de juízas e rainhas da irmandade católica de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos — a principal confraria negra mineira.


Chão Editora

RODRIGUES, Aldair; MAIA, Moacir. Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII). Chão Editora: São Paulo, 2023.

ISBN: 9786580341122

Moacir Rodrigo de Castro Maia

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Para adquirir o exemplar:

https://chaoeditora.com.br/livros/sacerdotisas-voduns/#:~:text=Sinopse-,Sacerdotisas%20voduns%20e%20rainhas%20do%20Ros%C3%A1rio%3A%20mul
Capítulo de livro
Research Interests:
Mapa da Costa da Mina. Século XVIII. Fonte: Mapa produzido para o livro Moacir Maia - De reino traficante a povo traficado. Geógrafa Danielle Gomes Correa. Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada... more
Mapa da Costa da Mina. Século XVIII. Fonte: Mapa produzido para o livro Moacir Maia - De reino traficante a povo traficado. Geógrafa Danielle Gomes Correa.

Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada Costa da Mina baseada na bibliografia e na documentação mineira trabalhada. Mapa produzido para este livro pela geógrafa Danielle Gomes Corrêa.

Como citar:

MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 31.


Para baixar os arquivos (em escala de cinza e colorido) acessar o Google drive:

https://drive.google.com/drive/folders/11_mBRTMh39bMj3u8-lUy7gory8O78ZXW?usp=sharing
Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019. O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e... more
Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019.

O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.

O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.

Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.

Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana. 

O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.

Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.

“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).

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Para mais informações sobre o livro. Arquivo Nacional, e-mail: publicacoes@an.gov.br
Estudo síntese sobre os africanos do grupo courá / courana /courano na África e em Minas Gerais, Brasil, (século XVIII). Para adquirir o livro, acesse o site:... more
Estudo síntese sobre os africanos do grupo courá / courana /courano na África e em Minas Gerais, Brasil, (século XVIII).

Para adquirir o livro, acesse o site:

https://naueditora.com.br/produto/a-diaspora-mina-africanos-entre-o-golfo-do-benim-e-o-brasil/
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/issue/view/2154/showToc Artigo completo Revista Afro-Ásia n. 62. . O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou... more
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/issue/view/2154/showToc

Artigo completo

Revista Afro-Ásia n. 62.
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O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania de Minas Gerais ao longo do século XVIII. A economia do ouro possibilitou uma significativa posse de trabalhadores escravos para alguns desses senhores negros. O estudo desvenda a origem desses escravizados e como muitos desses lares mantiveram uma estreita relação com o passado africano desse grupo. De forma comparativa e também conectada, percebeu-se como as duas povoações vizinhas possuíam grupos de africanos forros que, além da alforria, adquiriram bens: casas, estabelecimentos comerciais, minas de ouro e, principalmente, trabalhadores escravos da mesma identidade étnica.

Palavras-chave: diáspora africana | libertos | escravidão | identidade étnica | posse escravista.

Autor: Moacir Rodrigo de Castro Maia.


Abstract:

This article discusses a group of freed African people identified in Portuguese sources as Courás or Couranos, seeking to understand how they formed their homes in two important urban centers of the Captaincy of Minas Gerais during the eighteenth century. The gold-mining economy facilitated the acquisition of significant numbers of enslaved laborers by black masters. The study examines the origin of these enslaved people and the way in which many of these households maintained a close relationship with their African past. Usinga comparative and connected approach, this paper shows that in both of the two neighboring towns there were enclaves of freed Africans who, in addition to obtaining manumission, also acquired various forms of property, including  houses, commercial establishments, gold mines and especially, enslaved people of the same ethnic identity.

Keywords: african diaspora | african freed people | slavery | ethnic identity | slave ownership.


MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Reforçar a identidade e a autoridade: as casas de courás libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII, Revista Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 9-45.

Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/29127
Revista Afro-Ásia n. 62. . O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania... more
Revista Afro-Ásia n. 62.
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O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania de Minas Gerais ao longo do século XVIII. A economia do ouro possibilitou uma significativa posse de trabalhadores escravos para alguns desses senhores negros. O estudo desvenda a origem desses escravizados e como muitos desses lares mantiveram uma estreita relação com o passado africano desse grupo. De forma comparativa e também conectada, percebeu-se como as duas povoações vizinhas possuíam grupos de africanos forros que, além da alforria, adquiriram bens: casas, estabelecimentos comerciais, minas de ouro e, principalmente, trabalhadores escravos da mesma identidade étnica.

Palavras-chave: diáspora africana | libertos | escravidão | identidade étnica | posse escravista.

Autor: Moacir Rodrigo de Castro Maia.


Abstract:

This article discusses a group of freed African people identified in Portuguese sources as Courás or Couranos, seeking to understand how they formed their homes in two important urban centers of the Captaincy of Minas Gerais during the eighteenth century. The gold-mining economy facilitated the acquisition of significant numbers of enslaved laborers by black masters. The study examines the origin of these enslaved people and the way in which many of these households maintained a close relationship with their African past. Usinga comparative and connected approach, this paper shows that in both of the two neighboring towns there were enclaves of freed Africans who, in addition to obtaining manumission, also acquired various forms of property, including  houses, commercial establishments, gold mines and especially, enslaved people of the same ethnic identity.

Keywords: african diaspora | african freed people | slavery | ethnic identity | slave ownership.


MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Reforçar a identidade e a autoridade: as casas de courás libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII, Revista Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 9-45.

Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/29127
A presente tese analisa os africanos que se declararam pertencentes a identidade étnica courá em Minas Gerais entre 1715 e 1760. Para esse fim, estuda-se a inserção social desses indivíduos a partir de Vila Rica de Ouro Preto e Vila do... more
A presente tese analisa os africanos que se declararam pertencentes a identidade étnica courá em Minas Gerais entre 1715 e 1760. Para esse fim, estuda-se a inserção social desses indivíduos a partir de Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (posteriormente, cidade de Mariana), dois importantes e dinâmicos centros mineradores da capitania de Minas Gerais. Este trabalho foi construído no diálogo entre a História da África, os estudos sobre a diáspora africana e da escravidão nas Américas. Utiliza-se de vasta documentação eclesiástica, cartorária, associativista, camarária, inquisitorial e relatos de viajantes e administradores europeus. Buscou-se, pela conjugação dos métodos da história serial com as proposições metodológicas da microstoria italiana, orientar o foco da pesquisa para as trajetórias de vida de indivíduos que compartilhavam a mesma identidade, tendo a finalidade de perceber como o sentimento de comunhão étnica poderia se manifestar no universo escravista. Como pontos reveladores, o trabalho reconstrói redes de parentesco ritual estabelecidas entre os africanos courás, bem como relações clientelísticas, de auxílio mútuo e complexas práticas religiosas – fossem de origens africanas ou católicas.

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A tese revista e ampliada virou livro, com mapas inéditos da África e da diaspora africana:

De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022
Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019.

Para mais informações sobre o livro. Arquivo Nacional, e-mail: publicacoes@an.gov.br

O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.

O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.

Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.

Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana.

O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.

Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.

“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).

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Para mais informações sobre o livro: Arquivo Nacional, e-mail publicacoes@an.gov.br


Hueda Kingdom (Uidá, Whydah; Ouidah, Whidah, Juda ou reino de Ajuda).

Hueda people (Xwéda, Pheda); Hula people.(Xwla, Pla).
O presente capítulo tem como foco a análise da trajetória histórica de dois jardins históricos criados em duas antigas cidades de Minas: Ouro Preto e Mariana. Aborda. inicialmente, a reformulação da quinta do antigo Palácio dos Bispos de... more
O presente capítulo tem como foco a análise da trajetória histórica de dois jardins históricos criados em duas antigas cidades de Minas: Ouro Preto e Mariana. Aborda. inicialmente, a reformulação da quinta do antigo Palácio dos Bispos de Mariana. E, em seguida, busca compreender a fundação do Horto Botânico de Ouro Preto e o papel do naturalista Joaquim Veloso de Miranda, diretor da instituição. Criados na virada do século XVIII para o oitocentos, os dois espaços verdes pertenceram a momento de valorização da história natural, com a criação de jardins botânicos, curso de filosofia natural e intenso intercâmbio de plantas e sementes pelo Império Português. No presente estudo, esses jardins históricos têm suas histórias reconectadas.

MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Histórias (re)conectadas: o horto botânico de Vila Rica e os jardins do antigo palácio dos bispos de Mariana. In: PESSOA, Ana; FASOLATO, Douglas; ANDRADE, Rubens de (Orgs.) Jardins históricos: a cultura, as práticas e os instrumentos de salvaguarda de espaços paisagísticos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2015.

Palavras-chave: Patrimônio; jardins históricos; Ouro Preto; Mariana.

ISBN 978-85-7004-329-0
Artigo de divulgação científica do projeto coordenado pelo autor e realizado pelo NPHED/UFMG em parceria com a Vanderbilt University. Artigo publicado na revista Mariana Histórica e Cultural:... more
Artigo de divulgação científica do projeto coordenado pelo autor e realizado pelo NPHED/UFMG em parceria com a Vanderbilt University.

Artigo publicado na revista Mariana Histórica e Cultural:
https://www.yumpu.com/pt/document/view/62213894/revista-outubro-2018-2?fbclid=IwAR1h9FEm7sz-VfAO_n2uoh8pMegDxhCxgpxW5MYmYaYbazuzw3G1EQE3eNo
Research Interests:
A tecnologia, particularmente a digital, trouxe novos desafios e oportunidades para os museus e suas relações com as comunidades locais e globais. Neste artigo, apresentamos inovador repositório digital, que vem sendo construído há alguns... more
A tecnologia, particularmente a digital, trouxe novos desafios e oportunidades para os museus e suas relações com as comunidades locais e globais. Neste artigo, apresentamos inovador repositório digital, que vem sendo construído há alguns anos: a plataforma digital Tainacan (http://tainacan.org/), batizada a partir de lenda indígena oriunda dos povos Carajás. O Ministério da Cultura, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e a Universidade Federal de Goiás têm desenvolvido a plataforma Tainacan de gestão de acervos digitais da Cultura, com a novidade de abrangrer diferentes tipos de acervos e a categorização e indexação de dados. O referido repositório digital é software livre e se apresenta como interessante possibilidade de hiperconectividade, não apenas pela sua caraterística de poder reunir múltiplas instituições museais brasileiras, com sua diversidade de acervo, em um mesmo portal, mas por também tornar o usuário participante ativo no processo.  No presente estudo, destacamos experiência com acervos digitais do patrimônio Afro-Brasileiro na plataforma Tainacan.

MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Museus brasileiros e a hiperconectividade: a experiência com a plataforma Tainacan no acesso ao patrimônio Afro-Digital, Revista Museu, 18/05/2018. Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2018/4751-museus-brasileiros-e-a-hiperconectividade-a-experiencia-com-a-plataforma-tainacan-no-acesso-ao-patrimonio-afro-digital.html
O estudo revela facetas da trajetória religiosa de uma mulher africana, ex-escravizada e moradora no interior da América Portuguesa Setecentista. Denunciada à Inquisição Lusa, como a "chefe de todas as feiticeiras" de povoado minerador, o... more
O estudo revela facetas da trajetória religiosa de uma mulher africana, ex-escravizada e moradora no interior da América Portuguesa Setecentista. Denunciada à Inquisição Lusa, como a "chefe de todas as feiticeiras" de povoado minerador, o texto evidencia a circulação da mulher africana nas agremiações católicas oficiais e a manutenção e reelaboração de práticas religiosas de sua terra natal.

Ângela Maria Gomes

MAIA, Moacir Rodrigo de Castro Maia. In: BAETA,; PILÓ. Arêdes: recuperação ambiental e valorização de um sítio histórico-arqueológico. Belo Horizonte: Orange Editorial, 2016.

ISBN 978-85-68643-02-0.
É analisado neste capítulo o papel desempenhado pela administração obrigatória do batismo aos indivíduos escravizados de origem africana recém-chegados à América Portuguesa. Baseado nos corpos jurídicos do Estado e da Igreja e nos... more
É analisado neste capítulo o papel desempenhado pela administração obrigatória do batismo aos indivíduos escravizados de origem africana recém-chegados à América Portuguesa. Baseado nos corpos jurídicos do Estado e da Igreja e nos registros de batismo de duas paróquias da capitania de Minas Gerais, na primeira metade do século XVIII, discutisse a imposição do sacramento cristão aos africanos e a importância do mesmo como mecanismo de criação de parentesco no sistema escravista.

Livro: REIS, Isabel; ROCHA, Solange. Diáspora africana nas Américas. Cruz das Almas, BA: EDUFRB : Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2016.
Research Interests:
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Resumo. O presente trabalho tem como objetivo analisar as relações de parentesco espiritual estabelecidas pelos escravizados do grupo étnico coura em um importante núcleo urbano da Capitania de Minas Gerais no século XVIII. Após uma... more
Resumo. O presente trabalho tem como objetivo analisar as relações de parentesco espiritual estabelecidas pelos escravizados do grupo étnico coura em um importante núcleo urbano da Capitania de Minas Gerais no século XVIII. Após uma discussão sobre grupo étnico, centra-se o foco sobre os cativos da Costa da Mina, mais especificamente da "Terra de Courá", e seus laços étnicos reforçados no batismo cristão na Mariana setecentista. Palavras-chave. escravidão; parentesco; etnia. 'À moda de sua terra': ethnic identity and spiritual relationship among slaves couranos in the Mariana in the century XVIII (1715-1750) Abstract. The present work has as objective analyzes the relationships of spiritual relationship established by the enslaved of the group ethnic coura in an important urban nucleus of the Captaincy of Minas Gerais in the century XVIII. After a discussion on ethnic group, the focus is centered on the slaves of Costa of the Mine, more specifically of the " Earth of Courá " , and your ethnic bows reinforced in the Christian baptism in the Mariana of the century XVIII.
Research Interests:
Jardins históricos; patrimônio; reformismo ilustrado; viajantes-naturalistas; Mariana (MG); Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho); Dom Frei Cipriano de São José; História ambiental.
This is a reconstruction of the career of bishop Cipriano de São José and the historical garden he built for his palace in Mariana, Minas Gerais, in the late eighteenth and early nineteenth centuries. The grounds, which, like most of... more
This is a reconstruction of the career of bishop Cipriano de São José and the historical garden he built for his palace in Mariana, Minas Gerais, in the late eighteenth and early nineteenth centuries. The grounds, which, like most of their counterparts in Minas Gerais, contained an orchard and kitchen garden, underwent a major reform to fit the mold of the classical European garden. Orderly and showing aesthetic concern, they were an admirable space at the end of the colonial period, representing as they did the enlightened metropolitan elite's growing interest in natural history and botany. A variety of documental sources were used to reconstruct the history of the grounds and the career of the person behind their design, the enlightened Dom Frei Cipriano de São José.

Keywords : Cipriano de São José, Frei (1743-1817); historical garden; Minas Gerais (Brazil); Enlightenment; heritage.

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v16n4/en_03.pdf
Research Interests:
Reconstrói a trajetória do bispo dom frei Cipriano de São José e do jardim histórico que construiu em seu palácio, na cidade de Mariana (MG), no final do século XVIII e início do seguinte. A área, com pomar e outros tipos vegetais, como a... more
Reconstrói a trajetória do bispo dom frei Cipriano de São José e do jardim histórico que construiu em seu palácio, na cidade de Mariana (MG), no final do século XVIII e início do seguinte. A área, com pomar e outros tipos vegetais, como a maioria dos quintais das casas mineiras do período, sofreu significativa transformação e tornou-se um clássico jardim europeu. Ordenado com preocupação estética, no final do período colonial era um espaço admirável, representante do processo de encantamento da ilustrada elite metropolitana pela história natural e pelos conhecimentos de botânica. Variada documentação foi utilizada para reconstruir a trajetória dessa área verde bem como a de seu idealizador, o ilustrado dom frei Cipriano de São José.

Keywords : Cipriano de São José, frei (1743-1817); jardim histórico; Minas Gerais (Brasil); Iluminismo; patrimônio.

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v16n4/03.pdf
Este artigo analisa as relações de compadrio tecidas em importante núcleo minerador no âmbito da América Portuguesa e levanta novas questões sobre o tema. Através da história de livres, escravos e forros procura-se entender como a... more
Este artigo analisa as relações de compadrio tecidas em importante núcleo minerador no âmbito da América Portuguesa e levanta novas questões sobre o tema. Através da história de livres, escravos e forros procura-se entender como a sociedade colonial institucionalizou práticas ao transgredir a norma eclesiástica que proibia a participação de pais como padrinhos dos próprios filhos. Além disso, a análise aponta como os vínculos entre compadres, padrinhos e afilhados produziram várias reciprocidades e como o apadrinhamento também se refletia em legados e bens deixados por aqueles que fizeram do compadrio prática de eleição de uma povoação em processo de formação.

Palavras-chave : Brasil Colônia; escravidão; parentesco; compadrio

This article analyzes the godparent relationships established in an important mining region in the Portuguese America and raises new questions about the topic. The story of free men, slaves and freed slaves helps to understand how colonial society institutionalized practices in violating the ecclesiastical rule that prohibits parents as godfathers of their own children. Furthermore, the analysis reveals how the ties between compadres, godfathers and godchildren produced reciprocity and cooperation and how the sponsorship custom results in legacies and material wealth for the population of a village in the process of formation.

Keywords: Colonial Brazil, slavery, family relationship, godparent relationship.

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/topoi/v11n20/2237-101X-topoi-11-20-00036.pdf
O presente artigo revisa o imaginário construído de que o batismo de escravos adultos africanos nas terras americanas era formal e, conseqüentemente, não gerava vínculos significativos entre afilhado e padrinho. Ao analisar as relações de... more
O presente artigo revisa o imaginário construído de que o batismo de escravos adultos africanos nas terras americanas era formal e, conseqüentemente, não gerava vínculos significativos entre afilhado e padrinho. Ao analisar as relações de apadrinhamento em importante centro minerador da Capitania de Mi-nas Gerais, com grande diversidade étnica e formada principalmente por africanos, encontraram-se fortes indícios de que, para além da maioria dos afilha-dos escravos terem padrinhos também cativos, muitos africanos puderam ter como padrinhos companheiros da mesma procedência ou da mesma etnia. Dessa forma, o batismo cristão, ao invés de apagar as “gentilidades”, era forte instrumento de socialização na nova terra e contribuiu para que muitos africanos pudessem reencontrar-se, afirmando suas identidades de origem.

Palavras-chave: Brasil Colônia – Africanos novos – Batismo – Apadrinha-mento – Etnia.


Africans and their Godparents in Colonial Minas Gerais: (Re)Encounters
in the Americas (Mariana, 1715-1750)

Abstract
The present article re-examines the entrenched idea that the baptism of adult Africans slaves in the Americas was a mere formality that did not generate significant bonds between the parties involved. Analyzing godparent-godchild relationships in an important mining center of the Captaincy of Minas Gerais, where Africans constituted an ethnically-diverse majority, the paper argues that not only did the godparents of African slaves tend to be captives themselves, they also often belonged to the same ethnic group as their godchildren. Thus, Christian baptism, instead of helping to eliminate “paganism”, was a strong instrument of social integration in the new land that permitted Africans to refind one another, serving to re-affirm their sense of ethnic identity and common origin.

Keywords. Colonial Brazil – Newly-arrived Africans – Baptism – Godparents
– Ethnic groups

Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/21141/13728
Mapa da Costa da Mina. Século XVIII. Fonte: Mapa produzido para o livro Moacir Maia - De reino traficante a povo traficado. Geógrafa Danielle Gomes Correa. Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada... more
Mapa da Costa da Mina. Século XVIII. Fonte: Mapa produzido para o livro Moacir Maia - De reino traficante a povo traficado. Geógrafa Danielle Gomes Correa.

Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada Costa da Mina baseada na bibliografia e na documentação mineira trabalhada. Mapa produzido para este livro pela geógrafa Danielle Gomes Corrêa.

Como citar:

MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 31.


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