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MARIA CRISTINA PALMA MUNGIOLI
MARIA LOURDES
MOTTER† foi professora
livre-docente da Escola
de Comunicações e Artes
da USP.
MARIA CRISTINA
PALMA MUNGIOLI
é doutora em Ciências da
Comunicação pela Escola
de Comunicações e Artes
da USP.
entreaimposição
eacriatividade
“Nãosãocontosdefadasfalandodeummundoencantado,
masflashesdarealidadequenosenvolve
semqueavejamoscomclarezanocotidianoconcreto”
(Motter,2004,p.261).
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Uma versão deste trabalho foi
selecionada para o I Colóquio
Brasil-Chile de Ciências da Comunicação, organizado pela
Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação
(Intercom ), em Santiago (Chile), em
abril de 2007.
IDENTIDADE NA TELA
DE TELEVISÃO: DISCURSO E
ENUNCIAÇÃO
1 M. Bakhtin (1993, p. 211)
define cronotopo como a “[…]
fusão dos indícios espaciais e
temporais num todo compreensivo e concreto. Aqui o tempo
condensa-se, comprime-se,
torna-se artisticamente visível;
o próprio espaço intensifica-se,
penetra no movimento do tempo
do enredo e da história. Os
índices do tempo transparecem
no espaço, e o espaço reveste-se
de sentido e é medido com o
tempo. Esse cruzamento de
séries e a fusão de sinais caracterizam o cronotopo artístico”.
Essa “invasão” do momento
histórico ocorre por meio da
tematização e da estética da
obra literária que, por sua vez,
são construídas pela inter-relação espaço/tempo. A relação
tempo/espaço é dinâmica e
organicamente construída de
maneira concomitante pelo
autor, obra e leitor na medida
em que todos se inserem no
quadro da comunicação dialógica. Sobre cronotopo e
ficção televisual ver Mungioli,
2006, pp. 37-42.
emergência do caráter cronotópico1 das temporalidades
presentes em boa parte das
telenovelas brasileiras que
vinculam inexoravelmente
espaços e memórias – individuais e coletivas – às condições sociais e políticas presentes na sociedade brasileira faz com
que essas produções surjam como uma
metáfora da nação2 que se busca, que procura sua imagem, que procura um conceito
para se entender. Uma nação cujo povo se
(re)conhece muito mais pelas imagens e
discursos fragmentados da linguagem televisual do que pelas palavras impressas nas
páginas de livros, confirmando uma tradição
de compreensão, já detectada na literatura,
muito mais ligada à oralidade que à escrita, à
emoção que à razão. Referindo-se ao romantismo brasileiro, Antonio Candido (1965, p.
96) afirma que mesmo a literatura brasileira,
devido à ausência de um público alfabetizado
ou “pouco afeito à leitura”3,
escritores, em prosa e verso, fala de pena
em punho e prefigura um leitor que ouve
o som da sua voz brotar a cada passo por
entre as linhas”.
Para Antonio Candido (1965), a literatura brasileira, voltada mais para a oralidade
que para a escrita, adotou mecanismos
que exploravam essa condição do ponto
de vista tanto de estruturação quanto de
temática. Apropriando-se de um estilo que
apelava para a emoção e de uma temática
nacionalista, estabeleceu-se entre escritor
e público uma relação baseada na busca da
brasilidade. Dessa forma, o público:
“[…] sempre tendeu a exigir [a vocação
patriótico-sentimental] como critério de
aceitação e reconhecimento do escritor.
Ainda hoje, a cor local, a exibição efetiva, o pitoresco descritivo e a eloqüência
são requisitos mais ou menos prementes,
mostrando que o homem de letras foi
aceito como cidadão, disposto a falar aos
grupos; e como amante da terra, pronto
para celebrá-la com arroubo, para edificação de quantos, mesmo sem o ler, estavam
dispostos a ouvi-lo. Condições todas, como
se vê, favorecendo o desenvolvimento e
penetração coletiva de uma literatura sem
leitores, como foi e é em parte a nossa”
(Candido, 1965, pp. 96-7).
A televisão, a exemplo do que ocorreu
na literatura, legitima-se em sua nacionalidade por meio do uso de um tom patrióticosentimental que se manifesta nas diversas
formas de enunciação presentes ao longo
da programação diária de uma emissora
e nas relações que esta mantém com a
sociedade. As manifestações enunciativas
das emissoras de televisão encontram-se
não apenas no conteúdo dos programas,
mas também nas conhecidas vinhetas
(principalmente no caso da Rede Globo de
Televisão: “Brasil a gente vê por aqui”), no
tom ufanista característico da transmissão
de eventos esportivos em todas as emissoras (sobretudo na Globo) e nas imagens
das aberturas de programas na maioria das
emissoras de televisão4.
2 Bhabha (2003, p. 199) propõe
o entendimento do conceito
de nacionalidade “[…] como
uma forma de afiliação social
e textual […]” que se opõe ao
“[…] formou-se, dispensando o intermédio
da página impressa […] requerendo no
escritor certas características de facilidade
e ênfase, certo ritmo oratório, que passou a
timbre da boa literatura e prejudicou entre
nós a formação dum estilo realmente escrito
para ser lido. A grande maioria dos nossos
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Jost (2004, pp. 4-5) afirma que há três
formas de manifestações enunciativas das
redes de televisão: a da rede, a da grade
de programação e a dos programas. O
autor trata a rede como “intencionalidade
e como personalidade do mundo”, dentro
da qual podem ser observados três tipos
de discurso:
“[…] o discurso da empresa (sócio-econômico, balanço, etc.); o discurso da instituição (quais são os objetivos, as missões, o
que se quer fazer? etc.); o discurso da marca,
que é para nós o mais importante, uma vez
que se define não somente pelo ato ilocutório
– dizer alguma coisa –, mas também por
seu objetivo de agir sobre alguém, o que é
outra lógica. A rede como marca quer não
somente falar, mas prescrever comportamentos e, portanto, semantizar os objetos
do mundo. A dificuldade, para uma rede,
é colocar essas três vozes em uníssono do
ponto de vista da entidade sócio-econômica”
(Jost, 2004, p. 4).
Jost (2004, p. 5) faz uma ressalva dizendo que admitir que a rede tem um discurso
não significa admitir que ela possui um
locutor, mas um enunciador por meio do
qual é possível perceber sua intencionalidade. Dentro do critério da intencionalidade,
a construção da imagem de marca se faz
por meio de duas vozes: a primeira delas
diz respeito à rede como responsável pela
programação. Pode-se perceber a intencionalidade por meio da organização e do ritmo
dos programas da grade (seguir o ritmo
do telespectador, provocar momentos de
relaxamento, etc.). Essa intencionalidade
é construída pelo analista.
A segunda voz em que é possível perceber a intencionalidade da rede é aquela
“[…] da rede como pessoa, como ser do
mundo, como instância, como personalidade mais ou menos estável que se manifesta
por meio da logomarca, através da voz das
apresentadoras, ou das vozes em off […]”
(Jost, 2004, p. 6).
A voz da rede se aproximaria do ethos
aristotélico, ou seja, da vontade de o orador
causar uma boa impressão de si mesmo.
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“Em termos performativos, pode-se dizer
que a programação tenta seduzir o público
pela imagem que ela constrói da rede” (Jost,
2004, p. 6). Nesse sentido, falar de si mesmo
inclui a fala em off que faz a autopromoção
e mesmo a publicidade fora da televisão. “É
tudo o que contribui a forjar o que chamamos
sua alma” (Jost, 2004, p. 7).
Portanto, a imagem de marca de uma
emissora ou de uma rede de televisão é
construída ao longo do tempo e é determinada pelo entrecruzamento de discursos
presentes na sociedade, sejam da própria
rede de televisão, sejam de outros veículos
de comunicação (incluem-se aí gêneros
publicitários ou de veículos ligados ao
entretenimento e cultura: revistas, livros,
pesquisas); ou seja, todo esse quadro é
construído a partir das diversas formas de
enunciação características de cada rede.
conceito de nacionalismo como
certeza histórica e natureza
estável. O autor postula que o
importante para compreendermos a nacionalidade e o nacionalismo é termos a noção
de localidade da cultura, uma
localidade que não encontra
referência apenas no mundo
“real”, mas principalmente num
conjunto de sentimentos que
emerge das relações humanas,
principalmente naquelas em
que a narrativa da nação surge
como força aglutinadora, como
metáfora da própria nação. De
acordo com esse pensador,
as grandes obras literárias
seriam metáforas da nação
– a interpretação dessas obras
literárias seguindo um processo
de transposição semântica ensejado pela comparação subjetiva
presente na metáfora –, seriam
a própria nação e não apenas
uma representação dela. Isso
ocorreria na medida em que
essas obras interpretam as diversas temporalidades das “[…]
formações culturais e processos
sociais sem uma lógica causal
centrada” (Bhabha, 2003, p.
201).
3 Antonio Candido (1979, p.
346) desvincula a questão do
gosto pela leitura dos índices de
analfabetismo. Para ele, não se
trata de uma relação direta e
simétrica, mas de algo que deve
ser analisado levando-se em
conta fatores econômicos e sociais mais amplos. Comentando
o surto editorial verificado nos
anos de 1940 no México,
Argentina e Brasil o autor afirma:
“Talvez possamos concluir que
os maus hábitos editoriais e a
falta de comunicação acentuassem além dos limites a inércia
dos públicos; e que havia uma
capacidade não satisfeita de
absorção”.
No Brasil, já se tornou lugar-comum
falar do “padrão Globo de qualidade” como
uma marca da emissora líder de audiência.
Deve-se compreender que essa expressão
não corresponde apenas a um slogan, mas
a uma reestruturação total da grade de
4 Na quase totalidade das
telenovelas e minisséries da
Rede Globo de Televisão e
de algumas experiências bemsucedidas em outras emissoras
as imagens do Brasil e do povo
brasileiro ganham destaque
na abertura ou no tratamento
estético e temático adotados.
A título de exemplo, citamos
apenas algumas produções de
outras emissoras que ganharam
relevância nacionalmente, como
Pantanal (1990), na extinta Rede
Manchete, Éramos Seis (1994),
no SBT, e mais recentemente
Prova de Amor (2005-06) e
Cidadão Brasileiro (2006), na
Rede Record. Na Rede Globo
de Televisão a “cor local” está
presente em praticamente todas
as suas produções por meio
da inserção de cenas externas
que primam pelos grandes
planos que mostram as “belezas
naturais” ou a “grandeza das
cidades”.
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DISCURSO E ENUNCIAÇÃO DA
REDE GLOBO: O PAPEL
ARTICULADOR DO GÊNERO
TELEDRAMATÚRGICO
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5 Cf. Or tiz, Borelli & Ramos,1988. Eugênio Bucci
(2002) acrescenta ainda que o
“padrão Globo de qualidade”
continha preferencialmente a
face ideológica de uma emissora totalmente submissa ao
governo militar e que “o padrão
Globo de qualidade não era
simplesmente uma escolha
intencional dos gerentes, mas
um padrão ideológico tornado
possível pelo regime autoritário.
Não é bem que a liderança
da Globo se devesse ao seu
autodenominado padrão de
qualidade; era antes o contrário: o tal padrão é que só
foi possível porque dispunha de
condições prévias, o monopólio
entre elas. […] O que definiu
o padrão Globo de qualidade
foi a necessidade imperativa
de mostrar ao Brasil qual era
a cara do Brasil. Era um Brasil
de notícias governistas, de
regionalismos de cartão-postal,
de ufanismos futebolísticos
e, por favor, sem negros nas
novelas, sem evangélicos no
horário nobre, sem excluídos
desdentados no auditório”.
programação, produção de programas e
organização da empresa empreendida pela
emissora na década de 19705.
Dentro do quadro da análise empregado neste artigo, tal expressão pode ser
considerada como a parte mais marcante
de uma espécie de discurso fundador (Orlandi, 2003, p. 13) na medida em que ele
“cria uma nova tradição”, novos sentidos
são incorporados e os antigos sentidos são
desautorizados. O enunciado se expande e
ganha corpo no cenário audiovisual brasileiro como discurso fundador de uma nova
organização empresarial e artística, que
abandona o amadorismo e o improviso e
investe pesadamente – e faz publicidade
disso – no planejamento e na qualidade de
seus produtos. Assim, uma emissora que
pautava sua programação por programas de
auditório que apelavam para o popularesco transforma sua imagem operando uma
mudança radical tanto em sua programação
quanto no discurso por meio do qual se
faz ouvir.
Essa reorientação da Rede Globo atua
em todos os segmentos da programação da
emissora: jornalismo, programas infantis,
programas humorísticos, telenovelas. Este
último, já considerado o carro-chefe em
termos de audiência, recebe especial atenção uma vez que poderia incrementar a
audiência dos programas que o precediam
ou sucediam, sem contar com o reforço à
audiência do Jornal Nacional devidamente
colocado entre duas telenovelas.
A teledramaturgia surge como opção
mercadológica com a finalidade de obter
maiores índices de audiência, porém é importante estarmos atentos para o fato de que
essa opção não se explica apenas em termos
estritamente econômicos. Ao contrário, o
uso do gênero ficcional com bases folhetinescas no cinema e na televisão corresponde
a toda uma mudança operada no imaginário
do público pelos meios de comunicação de
massa. Segundo Morin (2005, p. 93), essa
mudança ocorre principalmente a partir de
1930 quando se dá, no cinema, a introdução
em massa do happy end, que opera “uma
revolução no reino do imaginário. A idéia
de felicidade se torna o núcleo afetivo do
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novo imaginário”. Trata-se, portanto, de
uma transformação na matriz genérica que
envolve a indústria cultural: o final trágico
passa a ser sistematicamente substituído
pelo final feliz, este sim mais agradável às
grandes massas.
“O elo sentimental e pessoal que se estabelece entre espectador e herói é tal, no
novo clima de simpatia, de realismo e de
psicologismo, que o espectador não suporta
mais que seu alter ego seja imolado. Pelo
contrário, ele espera o sucesso, o êxito, a
prova de que a felicidade é possível. Assim,
paradoxalmente, é na medida em que o filme
se aproxima da vida real que ele acaba na
visão mais irreal, mais mítica: a satisfação
dos desejos, a felicidade eternizada” (Morin,
2005, pp. 93-4).
Porém, a felicidade não é alcançada de
imediato, como o próprio nome diz, tratase de um final feliz; final esse que deve ser
precedido por toda sorte de problemas para
o protagonista. A tentativa de suplantar esses
problemas deve levar o telespectador a se
identificar cada vez mais com as personagens cujos conflitos passam a ser vivenciados emocionalmente pelo telespectador
que, dia após dia, convive com as alegrias
e tristezas de um mundo ficcional calcado,
geralmente, sobre a verossimilhança (o que
permite uma identificação mais forte entre
telespectador e telenovela), que se manifesta
não apenas por meio de temas e de estruturas baseadas na oralidade do diálogo, mas
também pelo detalhamento de situações do
cotidiano que criam entre telespectador e
trama uma certa identidade marcada pelos
pequenos gestos, pelos anseios comuns. Segundo Borelli (2005), essas características
fazem da telenovela brasileira
“[…] um objeto de padrão massivo, constituído em constante diálogo com matrizes
populares […]. Originária de tradições, ao
mesmo tempo populares e massivas, das
narrativas orais, do romance-folhetim ou
das novelas semanais, das radionovelas,
do cinema de lágrimas, e da soap-opera
norte-americana, a telenovela brasileira
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distingue-se, na atualidade, por ser um
produto cultural diferenciado, fruto de
especificidades das histórias da televisão
e da cultura popular no Brasil”.
Assim, com a adoção da matriz genérica
telenovela como elemento definidor de toda
sua grade de programação, a Rede Globo
consegue se aproximar do público. O gênero
atua não apenas como mapa ou como modelo prescritivo, mas também como modelo
interpretativo de um mundo construído à
semelhança da realidade. O gênero torna-se
chave de entendimento do mundo. Nesse
sentido, Martín-Barbero (2001, p. 211),
enfatiza que “[…] o gênero não é somente
qualidade da narrativa, e sim o mecanismo
a partir do qual se obtém o reconhecimento
– enquanto chave de leitura, de decifração
do sentido, e enquanto reencontro com um
‘mundo’[…].”
A matriz genérica conduz e, de certa
maneira, condiciona nossa compreensão de
mundo, uma vez que delimita os espaços
imaginários, direciona interpretações, mas
faz isso de uma maneira tão agradável que
somos levados a concordar com Eco (1997,
p. 124), “já que a ficção parece mais confortável que a vida, tentamos ler a vida como
se fosse uma obra de ficção”, e com sua
personagem Jacopo Belbo, de O Pêndulo
de Foucault, segundo a qual “a Grande
Arte […] nos mostra […] o mundo como
os artistas gostariam que fosse. Já o folhetim finge brincar e no entanto nos mostra o
mundo como realmente é – ou pelo menos
como será” (Eco, 1997, p. 124).
É possível dimensionar o grande valor
que a Rede Globo dá à teledramaturgia
quando se observa sua grade de programação. O sucesso do gênero é tamanho que
“a emissora criou uma grade de programação rígida com ênfase absoluta na ficção”
(Balogh, 2002, p. 159): Malhação, novela
das seis, novela das sete, novela das oito
(e meia) antecedida pelo Jornal Nacional;
a novela das sete é precedida pelo jornal
regional. Deve-se acrescentar ainda que, na
época em que exibe minisséries, o horário
das 23 também é ocupado pela teledramaturgia. Poderíamos ainda acrescentar
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a cota de ficcionalidade ofertada pelos
programas seriados semanais (A Diarista,
A Grande Família, Carga Pesada) e pelas
telenovelas reapresentadas diariamente no
período da tarde no programa Vale a Pena
Ver de Novo.
ENTRE CIFRÕES E PORCENTAGENS:
A RENTABILIDADE DE UM GÊNERO
8 “O valor de venda por capítulo
não é uniforme, mas entram em
jogo vários elementos. Eles são:
o êxito que a novela obteve em
seu país de origem; a região
geográfica com a qual está
ligada e o alcance regional do
canal comprador; a quantidade
de títulos que adquire; o valor
da fatia publicitária nesse país;
a quantidade média de televisores por habitante” (Mazzioti,
2004).
A adoção da teledramaturgia como espinha dorsal de toda a programação produziu
efeitos bastante positivos em termos de
rentabilidade para a emissora. A equação
favorável à Rede Globo constitui-se por
meio da diluição dos altos custos de produção ao longo dos vários meses em que a
telenovela fica no ar, que garantem por um
longo período a venda do espaço publicitário a preços que variam de acordo com
a audiência de um determinado segmento
de horário/público. Além disso, devem ser
acrescentados os lucros advindos da venda
de espaços publicitários dentro da telenovela
– o merchandising –, produtos licenciados e
trilhas sonoras comercializadas pela gravadora Som Livre, braço fonográfico da Rede
Globo (Borelli, 2005).
Soma-se a tudo isso a grande aceitação
que o gênero tem tido no mercado internacional. Mercado esse dominado por algumas poucas produtoras: Televisa (México),
Rede Globo de Televisão (Brasil), Radio
Cadena Nacional da Colômbia, Venevision
Internacional (Venezuela)6. Entretanto, as
cifras milionárias que dominam o mercado
internacional não são superiores aos lucros
provenientes da exibição de telenovelas
no país de origem; esse fator faz com que
as tramas desenvolvidas pelas telenovelas
continuem a ter a “cor local” e temas que
interessem mais de perto aos telespectadores nacionais7. O êxito no país de origem é
também componente determinante do valor
de venda: quanto maior for o sucesso obtido pela telenovela em seu país de origem,
maior será seu valor de venda no mercado
televisual8. Além disso, as telenovelas são
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6 Nora Mazzioti (2004) afirma:
“A revista eletrônica TVMAS
Magazine calcula que a telenovela gera um negócio de
130 milhões de dólares ao ano,
dos quais 55% a 60% vão para
os baús da Televisa”. E citando
dados fornecidos por Daniel
Mato, a autora continua: “Mato
expõe cifras maiores: ‘Segundo
estimativas confiáveis, em 1997
o total de exportações da Protele
(a distribuidora internacional da
Televisa do México) e da TV
Globo do Brasil representou
aproximadamente uns 100 milhões de dólares para cada uma
delas; a da Radio Cadena Nacional da Colômbia, Venevision
Internacional (distribuidora da
Venevision da Venezuela) e
Artear e Telefé da Argentina
representou aproximadamente
uns 15 milhões para cada uma
delas’”.
7 “Apesar de a venda internacional de telenovelas ser o principal
nas exportações das empresas
latino-americanas – por volta
de 70% a 80% de suas vendas
internacionais –, os rendimentos
mais altos provêm do mercado
local, devido ao investimento
publicitário. Como nas novelas
é prioritário o êxito local, continua-se produzindo telenovelas
orientadas pela repercussão
no país de origem” (Mazzioti,
2004)
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responsáveis também por um outro aspecto
bastante importante no que diz respeito à
audiência: a fidelidade do telespectador. A
matriz genérica transforma-se em enredo,
ganha vida por meio de uma fabulação
composta de conflitos e paixões que geram
uma forte identificação com o público que
assiste às telenovelas quase religiosamente
todos os dias.
O GÊNERO EM TRANSFORMAÇÃO:
INOVAÇÃO TEMÁTICA E
SIGNIFICAÇÃO
Aliada à força da matriz genérica, temos,
na década de 1970, a eclosão de um eixo
temático que se caracteriza pela:
“[…] veiculação de imagens da realidade
brasileira; incorpora-se à trama um tom de
debate crítico sobre as condições históricas
e sociais vividas pelos personagens; articulam-se, no contexto narrativo, os tradicionais
dramas familiares e universais da condição
humana, os fatos políticos, culturais e sociais
significativos da conjuntura no período; esta
nova forma inscreve-se na história das telenovelas como uma característica particular
da produção brasileira; e estas narrativas
passam a ser denominadas ‘novelas verdade’,
que veiculam um cotidiano que se propõe
crítico, por estar mais próximo da vida ‘real’
e por pretender desvendar o que estaria ideologicamente camuflado na percepção dos
receptores” (Borelli, 2001).
De uma forma indireta, transfere-se, na
época da censura efetuada pela ditadura
militar, para a ficção a responsabilidade de
mostrar a verdade ou a realidade da vida
dos brasileiros, ao mesmo tempo em que
a Rede Globo capta para si os benefícios
simbólicos dessa inovação temática9.
Como vimos, as mudanças implementadas ao longo das últimas décadas têm
tornado a telenovela brasileira um produto
altamente lucrativo tanto no mercado inter-
no quanto no externo, haja vista a grande
aceitação que as novelas brasileiras têm tido
no mercado internacional10. Porém, engana-se quem acredita que se trata somente
de um programa de televisão cujo aperfeiçoamento é pensado apenas em termos de
produção ou orientação temática. Trata-se
do aperfeiçoamento de um gênero que deve
ser analisado em sua amplitude modeladora
e interpretativa. Afinal, “não são contos de
fadas falando de um mundo encantado, mas
flashes da realidade que nos envolve sem
que a vejamos com clareza no cotidiano
concreto” (Motter, 2004).
A telenovela é um produto cuja matériaprima é marcada pela polissemia do signo
(e, talvez, principalmente, do signo lingüístico), o que torna praticamente impossível
a seu criador e a seu produtor controlar
todas as possibilidades de significação e
interpretação, uma vez que as relações
entre signo e sociedade ocorrem entre os
interlocutores concretos que se estabelecem
durante a enunciação. Note-se que falamos em interlocutores e não em emissor e
receptor. De acordo com Bakhtin (2002),
os interlocutores são sujeitos plenamente
constituídos nas relações de comunicação;
porém não se trata de compreender essa relação como uma relação de alternância, ora
a palavra estaria com um locutor, ora com
outro; para o estudioso russo, o processo de
comunicação é muito mais complexo, uma
vez que seus pilares não estão localizados
no indivíduo mas sim na situação social, no
contexto em que se desenvolve a enunciação11, contexto esse que se integra no todo
enunciativo, produzindo-o e moldando-o
esteticamente12.
Dessa forma, a significação não pertence ao falante ou ao interlocutor, mas sim
ao texto criado entre ambos. O sujeito é
socialmente construído num processo de
contínua interação com o outro. Processo
que envolve idas e vindas, avanços e retrocessos, reticências, silêncios, o verbal
e o não-verbal, e permeia a construção de
significação que tornará possível a emergência da consciência por meio da interação
verbal. Porém, essa consciência jamais se
encontrará no indivíduo como ser único, mas
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9 Inovação que muitas vezes
contrapõe a “realidade”
mostrada no Jornal Nacional
à “realidade” das telenovelas.
A esse respeito Renato Janine
Ribeiro (2004, p. 123) afirma:
“Não será essa realidade, que
aparece na ficção, muitas vezes
mais genuína do que a assim
chamada ‘realidade’? Dez
anos atrás, o Jornal Nacional
mostrava velhos políticos da
ditadura no papel de figurões
ilustres – e, minutos depois,
a novela das oito zombava
dos coronéis dos grotões do
país. Mas eram as mesmas
personagens! A novela era
mais verídica que o noticiário.
A ficção dizia mais verdade do
que o relato dos acontecimentos
do dia”.
10 A fórmula latino-americana
de telenovelas tem sido tão
bem-sucedida em termos financeiros que até as redes
norte-americanas, mais acostumadas a produzir novelas de
poucos capítulos (uma espécie
conhecida como minissérie ou
microssérie aqui no Brasil),
estão interessadas em testar
novelas de duração maior.
É o que se veicula no artigo
“Globo Negocia a Produção
de Novela nos EUA”, de Daniel
Castro (2006). As primeiras
dessas redes seriam a NBC e a
Fox, que buscam, dessa forma,
segundo a reportagem, conseguir uma maior fidelização
do público.
11 “É por isso que não tem sentido
dizer que a significação pertence a uma palavra enquanto
tal. Na verdade, a significação
pertence a uma palavra enquanto traço de união entre os
interlocutores, isto é, ela só se
realiza no processo de compreensão ativa e responsiva.
A significação não está na
palavra nem na alma do falante,
assim como também não está
na alma do interlocutor. Ela é o
efeito da interação do locutor e
do receptor produzido através
do material de um determinado
complexo sonoro” (Bakhtin,
2002, p. 132).
12 “A estrutura da enunciação e
da atividade mental a exprimir
são de natureza social. A elaboração estilística da enunciação
é de natureza sociológica e a
própria cadeia verbal, à qual
se reduz em última análise a
realidade da língua, é social.
Cada elo dessa cadeia é social,
assim como toda a dinâmica da
sua evolução” (Bakhtin, 2002,
p. 122).
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sim no indivíduo que se constitui como tal
por meio das relações sociais constituídas
pelo signo lingüístico. Essa definição faz
com que compreendamos por que Bakhtin
(2002, p. 3) considera que o signo ideológico
“[…] não é apenas um reflexo, uma sombra
da realidade, mas também um fragmento
material dessa realidade”.
Assim, pensar a telenovela como gênero significa pensá-la não apenas como
o produto de uma emissora de televisão,
ou como o resultado da inspiração de um
roteirista, ou ainda como qualquer outro
programa de televisão, significa analisá-la
dentro da complexidade da teia discursiva
que constitui os sujeitos da comunicação
situados num contexto social e cultural
marcado pela comunicação de massa.
O GÊNERO TELEDRAMATÚRGICO:
ABRASILEIRAMENTO
E BRASILIDADE
13 Há inúmeras telenovelas e
minisséries que poderiam ser
incluídas nessa lista, mas vamos
nos limitar a citar apenas O
Bem Amado (1973), que mais
tarde, se tornaria seriado, Roque
Santeiro (1985), Anos Rebeldes
(1992) e Bandidos da Falange
(1983).
o público a lutar contra mazelas como corrupção e desigualdade social que, na opinião
de muitos autores e diretores, impedem que
a nação e o povo se desenvolvam. Alinhado
com a perspectiva de transformação social
por meio da televisão, o diretor Walter
Avancini afirmou, em entrevista a Silva Jr.
(2001, p. 324), que o abrasileiramento das
telenovelas tinha “algo político”:
“Tinha um pouco de política, claro, como
aconteceu em praticamente todas as manifestações culturais da época15. Sofri toda
influência de nomes como Walter George
Durst, Oduvaldo Vianna, Túlio de Lemos,
que eram membros do Partido Comunista
Brasileiro. Evidentemente recebi toda uma
influência ideológica, digamos assim, da
qual me orgulho muito porque, a partir
disso, passei a ter maior preocupação social e de identidade brasileira. A idéia era
trazer a teledramaturgia o mais próximo da
alma brasileira, não só geograficamente,
mas também da nossa própria identidade
de nação”.
Dessa forma, o abrasileiramento da telenovela, de certo modo, também defendido
pelos militares (quando estes orientavam a
produção de novelas “históricas” inspiradas em obras clássicas de nossa literatura)
(Guimarães, 1995; Ortiz, Borelli & Ramos,
1988), obedece a uma intenção ideológica
bastante clara por parte de alguns autores
e diretores. Essa intenção vai num sentido
praticamente oposto àquele previsto pelos
militares que tomaram o poder em março
de 1964. Enquanto, para os militares, a
telenovela deveria mostrar com ufanismo
os bons valores da cultura nacional, para os
autores e diretores, a telenovela deveria servir como uma forma de o Brasil se conhecer
e se discutir como nação. Intencionalidade
essa ainda presente em alguns autores e
diretores da ficção televisual brasileira.
Luis Fernando Carvalho (apud Reis, 2005),
por exemplo, ao responder a uma pergunta
sobre que Brasil queria representar na TV,
afirmou: “Um Brasil que, apesar dos problemas, das injustiças, ainda sonha. Não é
um sonho puro e simples, mas um sonho
16 Lembramos aqui as observações
de Michel Meyer (2000, p. XLI)
a respeito do fato de que as
paixões descritas na Retórica
são vistas numa perspectiva
de resposta a outra pessoa ou
à representação que ela faz
de nós: “Na Retórica […] as
paixões passam por resposta
a outra pessoa, e mais precisamente à representação que ela
faz de nós em seu espírito. As
paixões refletem, no fundo, as
representações que fazemos
dos outros, considerando-se
o que eles são para nós,
realmente ou no domínio de
nossa imaginação”.
Com base nesse referencial teórico,
é possível compreendermos como uma
emissora alinhada com o ideário político e
social dos regimes militares inclui em sua
programação produções que foram incorporando as demandas sociais e simbólicas
de seu público13. Produções que demonstravam a percepção artística de autores e
diretores que se consideravam responsáveis
pelo “despertar” da consciência da imensa
população brasileira que só teria acesso à
“cultura” e à brasilidade por meio da televisão. Para uma empresa de comunicação,
não é possível manter-se totalmente ao largo
das discussões e dos temas que agitam a
sociedade.
Assim, as minisséries e telenovelas
cujas imagens e tramas valorizam “a cor
local”, “o pitoresco”14, comportam, muitas
vezes, boa dose de crítica social e, portanto,
são orientadas ideologicamente por seus
autores e diretores no sentido de permitir
ao Brasil se conhecer como nação. Esse
(re)conhecimento permitiria conscientizar
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14 Referimo-nos aqui a telenovelas,
minisséries e seriados como
Roque Santeiro (1985), O
Bem Amado (1973, 1980-84
– telenovela e seriado); Anos
Rebeldes (1992); Anos Dourados (1986); Porto dos Milagres
(2001) entre muitos outros.
15 O diretor se refere ao decênio
de 1960.
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que nos ajuda a despertar. A função da arte
é despertar as pessoas. Aí eu não separo
por categorias, é função da TV, do cinema,
do teatro”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidencia-se, portanto, que a partir de
um objetivo aparentemente semelhante (“o
Brasil se conhecer” por meio da televisão)
constroem-se interpretações diferentes
que se concretizarão pelo estabelecimento de um gênero televisual orientado no
sentido de proporcionar mais que emoção,
proporcionar talvez uma outra perspectiva
de enxergar a sociedade e as instituições
brasileiras.
Afinal, desde a Retórica de Aristóteles16,
sabe-se que, para convencer sua platéia, um
bom orador deve fazer uso das paixões17,
dos sentimentos18. Assim, os autores de telenovelas e minisséries (e de outros gêneros
televisuais) buscam atingir o público por
meio das emoções, das paixões (no sentido
aristotélico), estejam elas relacionadas aos
pequenos gestos do cotidiano ou aos grandes
momentos históricos. Busca-se, sobretudo,
uma maneira de dialogar com o público
por meio daquilo que lhe é mais sensível:
o amor, o ódio, a inveja, a vergonha.
É também dessa forma que a teledramaturgia consegue estabelecer, dentro do quadro que distingue a grade de programação
e o conteúdo das emissões como instâncias
enunciativas (Jost, 2004), uma imagem até
certo ponto “avançada” da Rede Globo, uma
vez que as telenovelas promovem a discussão de temas considerados tabus dentro da
sociedade brasileira, como sexualidade,
alcoolismo, prostituição, aproximando-a do
ethos aristotélico (Jost, 2004, p. 6).
Assim, a partir de objetivos semelhantes
traçados por governos militares e pelas redes
de televisão (notadamente pela Globo), o
gênero teledramatúrgico percorreu caminhos
diferentes daqueles previstos pelos militares.
Os caminhos trilhados refletem e refratam
o cotidiano19 de uma nação que busca, por
meio da ficção, talvez mesmo sem se dar
conta disso, o estabelecimento do diálogo
entre as diversas camadas que compõem a
heterogênea sociedade brasileira. Articulamse, assim, por meio de uma matriz genérica
– o melodrama20 –, uma filosofia até certo
ponto idealista dos criadores de telenovelas
e minisséries e, por parte das emissoras, uma
perspicaz visão mercadológica no sentido de
se empreender a conquista e a fidelização
(de audiência) de um público composto por
todas as classes sociais.
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17 “A paixão é decerto uma
confusão, mas é antes de
tudo um estado de alma móvel
reversível sempre suscetível de
ser contrariado, invertido; uma
representação sensível do outro,
uma reação à imagem que ele
cria de nós, uma espécie de
consciência social inata, que reflete nossa identidade tal como
esta se exprime na relação incessante com outrem. Reequilíbrio
que assegura a constância na
variação multiforme que o Outro
assume em sociedade, a paixão
é resposta, julgamento, reflexão
sobre o que somos porque o
Outro é, pelo exame do que o
Outro é para nós. Lugar em que
se aventuram a identidade e a
diferença, a paixão se presta
a negociar uma pela outra;
ela é momento retórico por
excelência. Resposta ao Outro
a paixão é, por definição, a
própria variação, o que no mais
profundo do nosso ser exprime
o problemático” (Meyer, 2000,
p. XXXXIXL).
18 Fato esse também explorado
por B. Tomachevski (1976,
p. 172) quando da discussão
da problemática do tema na
literatura: “Não é suficiente
escolher um tema interessante.
É preciso sustentar o interesse,
estimular a atenção do leitor. O
interesse atrai, a atenção retém.
[…] Suscitar uma emoção é
o melhor meio para cativar a
atenção”.
19 “[…] questões desenvolvidas,
discutidas ao longo dos seis
meses de vida da personagem
(em tempo real) implicam uma
incorporação do problema,
pela via ficcional, ao cotidiano
real do telespectador por igual
período, o que, se não opera
mudanças, pelo menos o induz
a refletir sobre elas. Não se
trata pois de apenas apontar
e denunciar problemas, mas
de demonstrar como eles estão
presentes e afetam a vida das
pessoas” (Motter, 2002).
20 Empregamos o termo em
seu sentido lato partindo das
discussões efetuadas por MartínBarbero (2001), e conforme
uma definição efetuada por
Maria Lourdes Motter (2001,
p. 76) a respeito da telenovela brasileira situando-a
num sentido lato e num sentido
stricto: a telenovela “no sentido
stricto, no qual identificamos
a característica universal do
gênero que é o melodrama,
à qual se acrescentou a dimensão social e um rigoroso
critério de verossimilhança.
Esse critério, levado às últimas
conseqüências, dota-a de um
caráter realista criador de uma
impressão de realidade forte
a ponto de, em alguns casos,
quase fundir acontecimentos
dos planos da ficção e da
realidade”.
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