EquipE Editorial Conselho consultivo Coordenação editorial Nicolas Floriani, UEPG, Brasil Pierre Alves Costa, UNICENTRO, Brasil Adalto Gonçalves Lima, UNICENTRO, Brasil Alfonso García de la Vega, Univ. Aut de Madrid, Espanha André Luiz Pinto, UFMS/CPTL, Brasil Antonio Liccardo, UEPG, Brasil Augusto Cesar Pinheiro da Silva, PUC-RIO, Brasil Edison Archela, UEL, Brasil Edivaldo Lopes Thomaz, UNICENTRO, Brasil Edna Lindaura Luiz, UDESC, Brasil Edson Struminski, UEPG, Brasil Eloiza Cristiane Torres, UEL, Brasil Elpidio Serra, UEM, Brasil Elvio Pinto Bosetti, UEPG, Brasil Glaucio José Marafon, UERJ, Brasil Ivan Jairo Junckes, UFPR, Brasil Jasmine Cardozo Moreira, UEPG, Brasil João Baptista Ferreira de Melo, UERJ, Brasil João Carlos Nucci, UFPR, Brasil José Santino Assis, UFAL, Brasil Julio Cesar Paisani, UNIOESTE, Brasil Júlio César Suzuki, USP, Brasil Karla Rosário Brumes, UNICENTRO, Brasil Leandro Redin Vestena, UNICENTRO, Brasil Lindon Fonseca Matias, UNICAMP, Brasil Luiz Alexandre Gonçalves Cunha, UEPG, Brasil Luiz Eduardo Mantovani, UFPR, Brasil Luiz Gilberto Bertotti, UNICENTRO, Brasil Marcelo Chemin, UFPR (Setor Litoral), Brasil Márcia da Silva, UNICENTRO, Brasil Marcio Mendes, UNIVALE, Brasil Marga Eliz Pontelli, UNIOESTE, Brasil Maria Ligia Cassol Pinto, UEPG, Brasil Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes, UNICENTRO, Brasil Marta Regina Barrotto do Carmo, UEPG, Brasil Mauricio Camargo Camargo Filho, UNICENTRO, Brasil Messias Modesto dos Passos, UEM; UNESP, Brasil Michael Holz, UFRGS, Brasil Miguel Angelo Ribeiro, UERJ, Brasil Nelson Ferreira Fernandes, UFRJ, Brasil Nicolas Floriani, UEPG, Brasil Pedro de Alcântara Bittencourt Cesar, UNIVAP, Brasil Ricardo Henrique Gentil Pereira, UFMS, Brasil Rosemeri Segecin Moro, UEPG, Brasil Sandra Lúcia Videira, UNICENTRO, Brasil Sergio Fernandes Alonso, UFPB, Brasil Silvia Méri Carvalho, UEPG, Brasil Sylvio Fausto Gil Filho, UFPR, Brasil Ycarim Melgaço Barbosa, UCG, Brasil Zeny Rosendahl, UERJ, Brasil Mesa editorial Cicilian Luiza Löwen Sahr, UEPG, Brasil Gisele Pietrobelli, UNICENTRO, Brasil Joseli Maria Silva, UEPG, Brasil Leonel Brizolla Monastirsky, UEPG, Brasil Lisandro Pezzi Schmidt, UNICENTRO, Brasil Pierre Alves Costa, UNICENTRO, Brasil Selma Regina Aranha Ribeiro, UEPG, Brasil Conselho editorial Adriano Severo Figueiró, UFSM, Brasil Agostinho Paula Brito Cavalcanti, UFPI, Brasil Alexey Naumov, Univ. de Moscou, Russia Antônio Carlos Vitte, UNICAMP, Brasil Antonio Cezar Leal, UNESP, Brasil Antonio Teixeira Guerra, UFRJ, Brasil Cesar Miranda Mendes, UEM, Brasil Clemente Herrero Fabregat, Univ. Aut de Madrid, Espanha Cristina Bertoni Machado, UFRGS, Brasil Dirce Suertegaray, UFRGS, Brasil Edson Armando Silva, UEPG, Brasil Edson Vicente da Silva, UFC, Brasil Francisco Javier Llera, UACJ, México Francisco Mendonça, UFPR, Brasil João Sarmento, Univ. do Minho, Portugal Jones Dari Goettert, UFGD, Brasil José Bueno Conti, USP, Brasil José Henrique Gonçalves de Melo, PETROBRAS, Brasil José M. Mateo Rodriguez, Univ. Habana, Cuba Juliano Andres, UNIOESTE, Brasil Marcello Guimarães Simões, UNESP, Brasil Marcio Mendes Rocha, UEM, Brasil Marcio Piñon Oliveira, UFF, Brasil Maria Angeles Diaz Munõz, Univ. de Alcalá de Henares, Espanha Marina Bento Soares, UFRGS, Brasil Marly Nogueira, UFMG, Brasil Roberto Lobato Correa, UFRJ, Brasil Rosemeri Melo e Souza, UFS, Brasil Rozely Ferreira dos Santos, UNICAMP, Brasil Tania Maria Fresca, UEL, Brasil Wolf Dietrich Gustav Johannes Sahr, UFPR, Brasil UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Programa de Pós-Graduação em Geografia UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE Programa de Pós-Graduação em Geografia Terr@Plural, v.8, n.1, 2014 A revista Terr@ Plural tem a missão de publicar artigos científicos relacionados à área de Geografia e Gestão do Território que contribuam com o desenvolvimento do conhecimento teórico e metodológico destes campos de saber. Além disso, visa estimular o debate acadêmico daqueles que atuam na temática e ampliar as relações com profissionais de outras regiões do Brasil e do exterior. A revista é uma publicação semestral e é composta pelas seções de artigos e resenhas. Revista Terr@ Plural has as its mission the publication of scientific articles on geography, territorial analysis and management focusing specifically on theoretical and methodological perspectives. It promotes the academic debate with those professionals who are actively involved in the area and reaches out to all regions of Brazil and the international scientific community, via electronic means. It is a bi-annual journal with composed of sections of articles and reviews. rEdação E assinaturas Terr@ Plural Universidade Estadual de Ponta Grossa CIPP - Sala LP 117 Campus Uvaranas Av. Carlos Cavalcanti, 4748 84030-900 - Ponta Grossa - PR - Brasil Tel: 55 – 42 – 32203046 e-mail: revistaterraplural@gmail.com Publicação Indexada: Geodados – Indexador de Geografia e Ciências Sociais. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Campus Ponta Grossa http://geodados.pg.utfpr.edu.br DOI (Digital Object Identifier) Latindex – Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, Espanã y Portugal www.latindex.unam.mx Coordenação Editorial Nicolas Floriani Pierre Alves Costa Revisão Ubirajara Araujo de Moreira Diagramação Marco Wrobel Capa Silviane Vitkoski Cláudia Gomes Fonseca Revista Terr@ Plural. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Ponta Grossa, Ed. UEPG, v.1, n.1, (jan./jul., 2007-) Secretaria Jéssica Fernanda Cabral v. 8, n.1 , jan./jun., 2014 Semestral ISSN 1981-6537 Webman Sandro Teixeira Impressão Imprensa Universitária Versão eletrônica de Terr@ Plural em: www.terraplural.com.br 1. Gestão do território – periódicos. 2. Geografia – periódicos. I. Universidade Estad ual de Ponta Grossa. Mestrado em Gestão do Território. II Universidade Estadual do Centro Oeste. Mestrado em Geografia. Solicita-se permuta / Exchange desired / Pédese canje CDD 551 Sumário/Contents 7 Editorial / Editorial 13 Mobilidades Humanas e Interações Sociais entre Comunidades Rurais na Fronteira Brasil-Bolívia Human Mobilities and Social Interactions between Rural Communities on the Brazil-Bolivia Border Movilidades Humanas y las Interacciones Sociales entre Comunidades Rurales en la Frontera Brasil-Bolivia Edgar Aparecido Costa; Vania Oliveira Sabatel 37 Marcos Legais e Redes de Contrabando de Agrotóxicos: Análise Escalar A Partir da Fronteira Brasil-Uruguai Marco Legal y las Redes de Contrabando de Agroquímicos: Análisis Escalar A Partir de la Frontera Brasil-Uruguay Legal Framework And Agrochemicals Smuggling Networks: Scalar Analysis From The Brazil-Uruguay Border Adriana Dorfman; Arthur Borba Colen França; Guilherme de Oliveira Soares 55 O Contexto Agrário do Município de Guarapuava-Pr: Uma Leitura a Partir dos Conceitos de Espaço e Território El Contexto Agrario de la Municipalidad de Guarapuava(Estado de Paraná, Brasil): Una Lectura de los Conceptos de Espacio y Territorio The Agrarian Context Of Guarapuava (Paraná State, Brazil): A Reading Using The Concepts Of Space And Territory Tatiane Leal Bastos; Sergio Fajardo 77 O Debate teórico a respeito da Reforma Agrária El Debate Teórico sobre la Reforma Agraria Theoretical debate about Agrarian Reform Estevan Coca 91 A efetividade das políticas ambientais para a conservação da natureza nos parques estaduais dos Campos Gerais do Paraná La efetividad de las politicas ambientales para la conservación de la naturaleza en los parques estaduales de los Campos Gerais de Paraná The effectiveness of environmental policies for the conservation of nature on the state parks of Campos Gerais of Paraná Isonel Sandino Meneguzzo; Chisato Oka Fiori 107 “Geografizando” O Mundo dos Sentidos dos Jovens da Igreja Assembléia de Deus “Geographying” The World Of The Senses Of Youth In The Assembly Of God Church “Geografizando” El Mundo De Los Sentidos De Los Jóvenes De La Iglesia Asamblea De Diós Dalvani Fernandes 125 A saga do “pioneiro” no sertão dos “bichos do mato”: A produção do espaço no Sudoeste do Paraná e o silêncio da História The ‘pioneer’ trajectory in the sertão region: The production of space in the southwest of Paraná State and History’s silence La saga de los “pioneros” en el sertão de los “bichos del bosque”: La producción del espacio en el sur oeste de Paraná y el silencio de la historia Roberto Luiz Pocai Filho 145 História, Quadrinhos e Ideologia: O complexo industrial-militar em The Boys Historia, ideología y comics: el complejo militar-industrial en The Boys History, comics and ideology: the industrial-military complex in The Boys Lucas Patschiki; Janaina De Paula do Espírito Santo 165 As interfaces da relação rural - urbano no Brasil: notas para debate Las Interfaces de La Relación Rural-Urbana en Brasil: Notas para el Debate The interfaces of the Rural-Urban relationship in Brazil: notes for debate Celbo Antonio Ramos Fonseca Rosas 185 Aplicação da análise visual em duas unidades de paisagem da bacia hidrográfica do rio Pitangui/ PR mediante processamentos digitais Aplicación del análisis visual en dos unidades de paisaje de la cuenca del río Pitangui / PR a través de procesamiento digital Application of visual analysis in two landscape units of river basin Pitangui / PR through digital processing Pedro Molina Holgado; Carla Eva Prichoa; Selma Regina Aranha Ribeiro 203 Espaço, atendimento de saúde e sexualidades segundo a vivência travesti em Ponta Grossa – Paraná Space, Health Care And Sexualities According To The Experience Of Travestis In The City Of Ponta Grossa City, Paraná Espacio, Atención A La Salud Y Sexualidades Según La Vivencia Travestí En Ponta Grossa – Paraná Marcia Tobias Carneiro; Marcio Jose Ornat 225 Território, territorialização e territorialidade: O uso da música para a compreensão de conceitos geográficos Territory, territorialization and territoriality: The use of music to understand geographic concepts Territorio, territorialización y territorialidad: El uso de la música para la comprensión de los conceptos geográficos Lucas Labigalini Fuini 251 El trabajo y la articulación religiosa en los asentamientos menonitas: Los contextos de Chihuahua y Quintana Roo, México Work and articulation in the Mennonite religious settlements: Contexts of Chihuahua and Quintana Roo, Mexico O trabalho e a articulação religiosa em colonias menonitas: os contextos de Chihuahua e Quintana Roo, México Elizabeth Bautista Flores; Lucinda Arroyo Arcos; Francisco Javier Llera Pacheco 269 Diretrizes para autores / Guidelines for authors EDITORIAL A Revista Terr@ Plural é um periódico científico, concebido em parceria entre dois programas de pós-graduação em Geografia, o da UEPG e o da UNICENTRO, Reúne contribuições científicas em torno do eixo Geografia e Gestão do Território. Em 2014 publica seu décimo sexto número congregando textos selecionados a partir de demanda contínua de trabalhos acadêmicos. Inicia este número, com a contribuição do artigo Mobilidades Humanas e Interações Sociais entre Comunidades Rurais na Fronteira Brasil-Bolívia, de autoria de Edgar Aparecido Costa e Vania Oliveira Sabatel que realizam um empolgante estudo de caso na fronteira Brasil-Bolívia, na área próxima à linha limítrofe, entre o município de Corumbá (Mato Grosso do Sul, Brasil) e a Segunda Sección Municipal de Puerto Quijarro (departamento de Santa Cruz, Bolívia), onde há décadas estão instalados pequenos agricultores. Nesse lugar de encontros afloram maiores possibilidades de relacionamento pela proximidade geográfica imediata, a ponto de se confundir onde fica um e outro território nacional. O pano de fundo dessa investigação foi a perspectiva de pensar o desenvolvimento territorial para áreas rurais de fronteira, nas quais as políticas públicas são aplicadas apenas dentro dos limites da jurisdição, enquanto nas fronteiras, as mobilidades humanas frequentemente avançam para além dos limites, produzindo territorialidades que afetam a lógica local. Contudo, conforme os autores “(...) a fronteira não é necessariamente um problema. Na verdade é, muitas vezes, tratada como problema por aqueles que não entendem ou não desejam entender suas dinâmicas (...). É preciso, pois, compreender cada comunidade e suas interações sociais. A fronteira é, portanto, uma porta que abre oportunidades de desenvolvimento para os dois lados e também para a construção de uma forma de atuação autônoma dos seus moradores e no reconhecimento de um ‘terceiro lado’: o território rural fronteiriço”. Também tratando do tema ‘Fronteiras’, apresentamos o artigo Marcos Legais e Redes de Contrabando de Agrotóxicos: Análise Escalar A Partir da Fronteira BrasilUruguai, de autoria de Adriana Dorfman, Arthur Borba Colen França e Guilherme de Oliveira Soares. De acordo com os autores, o tema Agrotóxico é apropriado e polemizado por diversos atores sociais, cada qual carregando em si o posicionamento e as intenções da comunidade discursiva que gera o discurso sobre o tema, representando projetos distintos: das empresas produtoras de agrotóxicos e às suas associações; de grupos ecologistas, de segurança alimentar, de direitos dos consumidores etc.; da comunidade científica; do espaço midiático; dos órgãos de repressão ao contrabando e, finalmente a comunidade praticante do contrabando. Esses discursos podem ser materializados em ações (e vice-versa) no espaço. Particularmente na região fronteiriça do Brasil-Uruguay, as práticas ecomômicas agenciadas pelo comércio de agrotóxicos assumem diversos formatos: do mercado e sua regulamentação, das rotas de contrabando, dos territórios em rede e suas permeabilidades na fronteira. Para mapear, analisar e compreender esse fenômeno, os autores lançam mão da escala geográfica enquanto método investigativo. No caso do contrabando de agrotóxicos na fronteira gaúcha Livramento-Rivera, a escala geográfica 7 adotada condicionará as representações revelando ou não os atributos dos objetos, reconhecendo ou não os territórios e as práticas em jogo. Estudando as variáveis de regras e escalas (transnacionais e locais) que tencionam e configuram a realidade da região de fronteira sob a ótica dos diferentes interesses entorno da reprodução modelo produtivo e jurídico baseado no agrotóxico, os autores lançam uma questão crucial: “Até que ponto, afinal, a fronteira é a margem?”. Na sequencia, apresentamos o artigo O Contexto Agrário do Município de Guarapuava-Pr: Uma Leitura a Partir dos Conceitos de Espaço e Território, de autoria de Tatiane Leal Bastos e Sérgio Fajardo, resulta do desenvolvimento de dois projetos de pesquisa direcionados à análise do espaço rural da referida região. Especificamente, o texto busca analisar o espaço rural do município de Guarapuava-PR, realizando um breve resgate das transformações econômicas e sociais ocorridas no campo nas últimas décadas, o que possibilita compreender como essas mudanças interferiram na vida dos agricultores familiares. Para tanto, entrevistas foram realizadas com gerentes de empresas do município de Guarapuava-PR, visando entender e identificar as principais estratégias territoriais das agroindústrias. Por outro lado, Além da análise documental junto aos setores do poder público, foram feitas visitas às feiras agroecológicas, bem como a realização de entrevistas e conversas informais com os pequenos produtores e técnicos para compreender a visão dos mesmos em relação á modernização do campo, e alternativas da agricultura familiar no município. Em linha temática correlata, apresentamos o artigo de Celbo Antônio Fonceca Rosas, intitulado “As Interfaces da Relação Rural - Urbano no Brasil: Notas para Debate, compartilha reflexões derivadas de sua tese de doutoramento acerca das principais correntes teórico-metodológicas e referências que balizam os trabalhos da comunidade acadêmica sobre relação rural - urbano. De acordo com o autor, diversas são as temáticas possíveis para investigação do fenômeno rural-urbano, diante da abordagem territorial ou do sujeito. Assim, o autor buscará explicitar essas categorias e vertentes que mais se aproximam da explicação desta relação: a social, a política, a cultural, a econômica e a ambiental, que influenciam, dão conteúdo e identidade ao corpus científico da geografia agrária brasileira. Em “O Debate teórico a respeito da Reforma Agrária”, Estevan Coca nos fornece uma importante contribuição para se pensar o estado da arte do debate teórico acerca da questão da reforma agrária, com base no pensamento de intelectuais engajados aos movimentos sociais de luta pela terra. Para o autor “Conhecer este debate é de fundamental importância para entendermos os posicionamentos de governos e instituições, já que muitos desses intelectuais acabam influenciando-os.” Assim, o artigo apresenta alguns pensadores fundamentais que influenciaram o contexto histórico dos últimos sessenta anos de lutas sociais pela terra. Assim, dá-se destaque aos intelectuais, suas posições político-partidárias e seus temas abordados no contexto social em que se encontravam: Antonio García Nossa e possibilidade de a reforma agrária ser revolucionária ou não; Alberto Passos Guimarães e Caio Prado Júnior e os debates sobre a reforma agrária no Partido Comunista Brasileiro; José Gomes da Silva e a reforma agrária ampla, imediata 8 e drástica; João Pedro Stédile e a proposta de reforma agrária dos movimentos socioterritoriais progressistas; Bernardo Mançano Fernandes e a reforma agrária como política de desenvolvimento territorial; Guilherme Delgado e a reforma agrária e a disputa por territórios com o agronegócio; Ariovaldo Umbelino de Oliveira: a reforma agrária para além do alcance social; José de Souza Martins e a reforma agrária como a retomada do território por parte do Estado. Em “A saga do “pioneiro” no sertão dos “bichos do mato”: a produção do espaço no Sudoeste do Paraná e o silêncio da História”, Roberto Pocai Filho (Universidade Estadual de Ponta Grossa) fala do caboclo paranaense, esse ser miscigenado que nasce no e do Sertão, da Floresta. Forjado historicamente, o caboclo enquanto categoria social possui uma identidade regional, matizada: são “Roceiros e safristas cuidam a horta, sua fonte de alimentação, ou desenvolvendo roças de milho. Mateiros e sertanistas trabalham na lida com animais silvestres como porcos-do-mato, onças e tatus extraindo suas peles e usufruindo inclusive de suas carnes. (...) Religiosos e curandeiros, promovem um culto próprio em contato com a natureza, extraindo dela ervas para fazer chá e desempenhar o papel da medicina popular na região. Contudo, a partir do século 19, o projeto civilizatório levado a cabo pelo Império e após endossado ao Estado-Nação, transfigurado na racionalidade modernizadora, atinge essa região do sertão caboclo paranaense, expulsando os posseiros caboclos de suas terras, usurpando-lhes sua liberdade, subordinando-os ao Capital Transnacional. Nesse contexto, de conflitos e aos e tensões pelo território caboclo é formado o espaço no sertão sudoeste do Paraná. O artigo “A efetividade das políticas ambientais para a conservação da natureza nos parques estaduais dos Campos Gerais do Paraná” de autoria de Isonel Sandino Meneguzo e Chisato Oka Fiori traz outra importante contribuição aos estudos sobre as políticas ambientais brasileiras. Fruto do trabalho de doutoramento, o autor apresenta os resultados de sua pesquisa aplicada em cinco parques estaduais situados no domínio fitogeográfico dos Campos Gerais do Paraná. A partir da análise de fontes históricas e documentos oficiais (leis, decretos e portarias), e após, a realização de entrevistas estruturadas com os gerentes dos parques – o autor pôde verificar que algumas práticas de gestão dos parques ocorrem de forma distinta pelo órgão ambiental responsável, gerando disparidades e problemas na efetividade das políticas ambientais. Assim, figuram como ausentes ou deficitários desde aspectos como a ausência ou presença de Conselho Consultivo, Plano de Manejo, Situação Fundiária, Monitoramento da Zona de Amortecimento, entre outros aspectos. O texto intitulado “Aplicação da análise visual em duas unidades de paisagem da bacia hidrográfica do rio Pitangui/ PR mediante processamentos digitais”, de autoria de Carla Eva Prichoa, Selma Regina Aranha Ribeiro e Pedro Molina Holgado, trata de contextualizar caracterização e o reconhecimento de padrões homogêneos/heterogêneos de duas unidades de paisagem da bacia hidrográfica do Rio Pitangui - PR, mediante um conjunto de variáveis físicas e de uso e ocupação das terras. Realizar uma interpretação adequada da paisagem física, identificando objetos, avaliando suas reais características e descrevendo-as de maneira legível é a proposta dos autores que, utilizando-se de técnicas 9 de Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informação Geográfica, fazem avançar o corpus científico da Ecologia da Paisagem. Em Território, territorialização e territorialidade: o uso da música para a compreensão de conceitos geográficos, Lucas Labigalini Fuini trata de contextualizar o conceito de Território como categoria geográfica fundamental e em constante diálogo com o os conceitos de (espaço, região, paisagem, lugar), podendo ser interpretado como um metaconceito .Por sua vez, a música, por seu conteúdo rico, popularidade e atualidade, estimulam o aprendizado de conteúdos geográficos, estimulando a estruturação da abordagem geográfica das relações e fenômenos socioespaciais através da observância de dois elementos: cotidiano/vivência do aluno e a relação dialógica aluno-professor aluno, problematizando e reconstruindo os conteúdos aprendidos na escola. A opção pela abordagem didáticopedagógica geográfica viabilizada pela musica permite o entendimento dos processos de desterritorialização, reterritorialização e as territorialidades múltiplas. De acordo com as palavras do autor “A utilização de referências históricas e geográficas que nos trazem as músicas, servindo como recurso discursivo e mediação didática para o trabalho de pesquisa e docência em Geografia”. Na mesma linha apreensão artística da realidade e sua compreensão científica, apresentamos o artigo História, Quadrinhos e Ideologia: O Complexo Industrial-Militar Em The Boys de autoria de Janaina De Paula do Espírito Santo e Lucas Patschiki que partem da premissa que “A arte encontra-se imersa em ideologia, mas também consegue distanciar-se dela, a ponto de nos permitir ‘sentir’ e ‘observar’ a ideologia de onde surge”. Os autores tratam os quadrinhos como um produto cultural artístico, historicamente situado, que pode servir para desvelar as relações de expropriação, exploração e dominação que perpassam seu processo de criação, produção, distribuição e consumo. A partir dessas premissas, o autor busca abordar as relações entre o Estado, a iniciativa privada no complexo industrial-militar, a partir do quadrinho The boys (em português Os rapazes), que se insere no contexto do desenvolvimento do complexo industrial-militar estadunidense na segunda metade do século XX. Dois textos marcam a temática relativa às dimensões religiosas e de gênero das espacialidade de sujeitos sociais marginalizados e em situação de vulnerabilidade social. O artigo de Dalvani Fernandes, intitulado “Geografizando” O Mundo dos Sentidos dos Jovens da Igreja Assembléia de Deus, traz uma interessante contribuição científica para a geografia da Religião, ao representar, com base em sua observação participante, uma “geografização” do mundo dos sentidos de jovens que se aproximam da Igreja Assembleia de Deus como forma potencializadora e reconciliadora de valores da comunidade evangélica. A partir da dramatização do problemas e conflitos cotidianos, esses jovens buscam e conferem novos sentidos a suas vidas. Para esse desafio, o autor utiliza-se da filosofia das Formas Simbólicas de Cassirer, procurando a partir dela, entender a religião enquanto formadora de sentido para a realidade da juventude evangélica. O artigo Espaço, Atendimento de Saúde e Sexualidades Segundo a Vivência Travesti Em Ponta Grossa – Paraná, de autoria de Marcia Tobias Carneiro e Marcio José Ornat problematiza a relação entre espacialidades, atendimento de saúde e sexualidades, segundo a vivência travesti na cidade de Ponta Grossa – Paraná. O estudo aponta como espacialidade da saúde é vivenciada pelo grupo de travestis, problematizando a vivência de grupos que não correspondem à linearidade entre sexo, gênero e desejo. Esta temática, que não tem recebido a devida atenção dos geógrafos brasileiros, ocupa, conforme os próprios autores “a margem das produções científicas brasileiras, tanto na Geografia, quanto dentro das ciências sociais”. Contudo, “a mesma ainda não produziu visibilidade para as questões referentes ao acesso e ao atendimento das pessoas trans, mais especificamente às travestis, que pela sua corporeidade e transgressão da norma vigente, demandam discussões espaciais de suas vivências sociais (...)”. Bem, esperamos que esta apresentação tenha despertado o interesse do leitor para os temas citados. Desejamos, nesse sentido, uma ótima e fértil leitura. Nicolas Floriani e Pierre Alves Costa Editores da RTP