ISSN
Impresso: 0104-0588
On-line: 2237-2083
V.25 - Nº 3
Rev. Estudos da Linguagem Belo Horizonte v. 25 n. 3 p.939-1830
jul./out. 2017
REVISTA DE ESTUDOS DA LINGUAGEM
Universidade Federal de Minas Gerais
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REVISTA DE ESTUDOS DA LINGUAGEM, v.1 - 1992 - Belo Horizonte, MG,
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1997 v.6, n.2 (jul/dez)
1998 v.7, n.1 (jan/jun)
1998 v.7, n.2 (jul/dez)
1. Linguagem - Periódicos I. Faculdade de Letras da UFMG, Ed.
CDD: 401.05
ISSN:
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V. 25 - Nº 3- jul.-set. 2017
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Sumário / Contents
Panorama da Linguística Experimental no Brasil
An Overview of Experimental Linguistics in Brazil
Marcus Maia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 951
A escolha de software e hardware na psicolinguística: revisão
e opinião
The choice of software and hardware in psycholinguistics: review
and opinion
Thiago Oliveira da Motta Sampaio . . . . . . . . . . . . . . . . . 971
Maxakalí Nasality and Field Recording with Earbud Microphony
Nasalidade no Maxakalí e gravação em campo com microfonia
de fone de ouvido
Andrew Ira Nevins
Mário André Coelho da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1011
Social affective variations in Brazilian Portuguese: a perceptual
and acoustic analysis
Variações socioexpressivas no português do Brasil: análise
perceptiva e acústica
Albert Rilliard
João Antônio de Moraes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1043
Perception of emotional prosody: investigating the relation between
the discrete and dimensional approaches to emotions
Percepção da prosódia emocional: investigando a relação entre as
abordagens discreta e dimensional das emoções
Wellington da Silva
Plinio Almeida Barbosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1075
Prosódia de enunciados declarativos e interrogativos totais
nas variedades de Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro
Prosody of declarative and interrogative modalities in Salvador,
Fortaleza and Rio de Janeiro varieties
Leticia Rebollo Couto
Carolina Gomes da Silva
Luma da Silva Miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1105
Desambiguização de sentenças na interface fonologia-sintaxe:
resultados de um estudo de compreensão
Sentence disambiguation in the phonology-syntax interface:
comprehensive study results
Melanie Campilongo Angelo
Raquel Santana Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1143
Representation and Processing of the Inflected Infinitive
in Brazilian Portuguese: an eye-tracking study
Representação e processamento dos infinitivos flexionados
em português brasileiro: um estudo com rastreamento ocular
Marcello Modesto
Marcus Maia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1183
On the asymmetry between subject and object relative clauses
in discourse context
Assimetria no custo de processamento de relativas de sujeito
e de objeto em contextos discursivos
Renê Forster
Letícia Maria Sicuro Corrêa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1225
A aceitabilidade da anáfora logofórica em português brasileiro
The acceptability of logophoric anaphor in Brazilian Portuguese
Flávia Gonçalves Calaça de Souza
Rosana Costa de Oliveira
Judithe Genuíno Henrique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1255
Efeitos de distância linear e marcação no processamento
da concordância verbal variável no PB
Linear distance and markedness effects in variable subject-verb
agreement processing in BP
Mercedes Marcilese
Erica dos Santos Rodrigues
Marina Rosa Ana Augusto
Késsia da Silva Henrique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1291
Agreement effects of gender and number in pronominal coreference
processing in Brazilian Portuguese
Efeitos de concordância de gênero e número no processamento da
correferência pronominal em português brasileiro
Michele Calil dos Santos Alves . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1327
A behavioral study to investigate the processing routes
of grammatical gender in Brazilian Portuguese
Um estudo comportamental para investigar as rotas
do processamento do gênero gramatical do português brasileiro
Natália C. A. de Resende
Mailce Borges Mota . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1367
A influência da referencialidade no processamento de orações
relativas em português brasileiro
The influence of referentiality on relative clause
processing in Brazilian Portuguese
Gitanna Brito Bezerra
Márcio Martins Leitão
Lorrane da Silva Neves Medeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . 1397
An ERP study of kind-denoting nouns in the subject position
in Brazilian Portuguese
Um estudo neurofisiológico de nomes que denotam tipo na posição
de sujeito em português brasileiro
Aniela Improta França
Maurício Cagy
Antonio Fernando Catelli Infantosi . . . . . . . . . . . . . . . . 1433
Referência genérica em SNs singulares: uma abordagem cognitivista
experimental
Generic reference in singular Nps: a cognitive grammar experimental
approach
Diogo Pinheiro
Lilian Ferrari
Maria Clara Pimenta
Joabe de Souza
Márcia Viegas
Wanderson Lucas Ohenes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1463
Um estudo experimental do processamento de metáforas do português
brasileiro
An experimental study on Brazilian Portuguese metaphor processing
Antonio João Carvalho Ribeiro
Adiel Queiroz Ricci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1501
A técnica de ERP no processamento de sentenças de crianças:
uma revisão
The ERP technique in children’s sentence processing: a review
Marília Uchôa Cavalcanti Lott de Moraes Costa . . . . . . . . . 1537
Aquisição de estruturas possessivas inalienáveis: o caso dos nomes
de parte do corpo em inglês americano e português brasileiro
Acquisition of inalienable possessive structures: the case
of body-part names in American English and Brazilian Portuguese
Fernanda Mendes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1567
On the acquisition of distributivity in Yudja
Sobre a aquisição da distributividade em Yudja
Suzi Lima
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1613
O processamento do numeral reduplicado sohoji-sohoji em Karajá:
uma averiguação de ERP durante a compreensão de sentenças
The processing of the reduplicated numeral sohoji-sohoji in Karajá:
An ERP investigation during sentence comprehension
Cristiane Oliveira da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1647
Are bilingualism effects on the L1 byproducts of implicit
knowledge? Evidence from two experimental tasks
Efeitos do bilinguismo sobre a L1 são produtos de conhecimento
implícito? Evidências de duas tarefas experimentais
Ricardo Augusto de Souza
Cândido Samuel Fonseca de Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . 1685
Morphological priming resists language and modality
switching in late Dutch-Brazilian Portuguese bilinguals
Priming morfológico resiste em face à alternância entre
línguas e modalidades com bilíngues tardios de holandês
e português brasileiro
Marije Soto
Aline Gesualdi Manhães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1717
O teste de Cloze como instrumento de medida da proficiência
em leitura: fatores linguísticos e não linguísticos
Cloze test as an instrument to measure reading proficiency:
linguistic and non-linguistic factors
Kátia Nazareth Moura de Abreu
Daniela Cid de Garcia
Katharine de Freitas P. N. A. da Hora
Cristiane Ramos de Souza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1767
O movimento ocular na leitura realizada por revisores de textos
Revisers’ eye movement in reading
Délia Ribeiro Leite
José Olímpio de Magalhães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1801
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
Panorama da Linguística Experimental no Brasil
An Overview of Experimental Linguistics in Brazil
Marcus Maia
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
CNPq
A linguagem é uma faculdade da mente humana e, como tal,
é implementada por processos cognitivos complexos. Os estudos
linguísticos baseados na inspeção de corpora podem analisar os
produtos destes processos, o que tem, sem dúvida, permitido descobertas
importantes sobre as línguas. Entretanto, naturalmente, esses estudos estão
restritos aos dados que inspecionam, não sendo capazes, por definição, de
examinar os processos que geraram tais produtos. Se restrita à análise de
corpora, portanto, a pesquisa linguística ficaria impossibilitada de testar
hipóteses sobre questões lingüísticas fundamentais, como por exemplo
a gramaticalidade ou a aceitabilidade das expressões linguísticas.
Como discutimos em Maia (2015), para estudar tais processos,
a gramática gerativa propôs, desde a sua criação, em meados dos anos
50, que julgamentos sobre a boa formação de frases fossem coletados.
Buscando uma caracterização da capacidade gerativa da linguagem,
Noam Chomsky propôs que a gramaticalidade das frases poderia ser
testada através de julgamentos intuitivos obtidos informalmente pelo
linguista consigo próprio e/ou com alguns falantes. Embora o próprio
Chomsky tenha avaliado, posteriormente, que a confiabilidade exclusiva
da teoria em julgamentos intuitivos informais deveria ser substituída por
critérios mais rigorosos,1 o fato é que a coleta de julgamentos informais
“Como qualquer outra pessoa, também não gosto de me fiar em intuições. Devemos
substituir as intuições por critérios rigorosos , assim que pudermos”. (cf. CHOMSKY
discussion in HILL, 1962, p. 177)
1
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.951-969
952
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
introspectivos sobre a aceitabilidade ou sobre a gramaticalidade de frases
tem sido a principal ferramenta de avaliação de dados em linguística
gerativa há várias décadas. Sua proposição inicial foi verdadeiramente
revolucionária em um momento da história da ciência dominada
pelo behaviorismo antimentalista. Por meio desses testes informais,
a linguística gerativa pôde operar uma mudança importante no foco
dos estudos lingüísticos, que pôde ir além das análises exaustivas dos
corpora para oferecer uma modelagem inicial dos processos cognitivos
subjacentes ao conhecimento da linguagem.
Desde esses dias pioneiros, os experimentos lingüísticos têm
percorrido um longo caminho no sentido de adotarem-se critérios
mais rigorosos, utilizando metodologias e tarefas engenhosas, análises
estatísticas apropriadas e até mesmo os equipamentos sofisticados
dos laboratórios de psicolinguística, podendo oferecer evidências
independentes, além das intuições iniciais do linguista, para explorar os
processos cognitivos da linguagem.
O presente número da Revista de Estudos da Linguagem – RELIN
reúne uma amostra significativa de estudos experimentais realizados no
Brasil. São 24 artigos, representando as principais técnicas experimentais
em uso no mundo para explorar o conhecimento da linguagem,
flagrando processos linguísticos off-line e on-line, tais como os testes de
ranqueamento em escala, o julgamento controlado de gramaticalidade, o
julgamento de valor de verdade, o teste Cloze, o paradigma de priming,
a decisão lexical, a leitura automonitorada, a tarefa maze, a extração de
potenciais evocados, o rastreamento ocular, entre outros. Esses estudos
investigam diferentes aspectos de questões fonéticas, fonológicas,
morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas, bem como questões
de interface entre vários desses subsistemas do conhecimento linguístico,
oferecendo um panorama amplo da Linguística Experimental no país.
Antes de passarmos à apresentação de cada um dos artigos,
queremos destacar ainda um fato que é também digno de nota a respeito do
presente volume da RELIN: três dos trabalhos aqui reunidos tomam como
objeto de suas pesquisas experimentais dados obtidos junto a falantes de
línguas indígenas brasileiras, a saber, a língua Maxakalí (família Jê), a
língua Yudjá (Tronco Tupi) e a língua Karajá (Tronco Macro-Jê). Como
se sabe, foi apenas muito recentemente que a pesquisa de campo com
línguas indígenas começou a beneficiar-se do método experimental. Já era
tempo que a revolução cognitivista chegasse à linguística de campo e esse
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
953
número da RELIN situa-se entre os primeiros a publicar estudos dessa
natureza no Brasil. Este novo empreendimento, que está sendo chamado,
justamente, de pesquisa de campo experimental, está enfrentando o desafio
de reunir dimensões cruciais da linguística, como as diferentes teorias, os
métodos psicolinguísticos e os procedimentos etnográficos de campo, a
fim de tentar explorar processos gramaticais que dificilmente poderiam
ser descobertos apenas com base em análise de corpora.
Feito este destaque, passemos à apresentação dos artigos. Após a
resenha do primeiro artigo, de natureza metodológica, seguem-se cinco
artigos que estudam questões fonéticas e fonológicas ou de interface
entre a fonologia e a sintaxe. Apresentam-se, na sequência, artigos que
discutem questões de processamento e de representação gramatical e
um grupo de artigos que tem como objeto a relação de concordância.
Os próximos quatro artigos debruçam-se sobre o tema da referência
nominal. Seguem-se três artigos que estudam experimentalmente
aspectos da aquisição da linguagem, o último deles investigando
questões relativas à distributividade em uma língua indígena, tema
também abordado pelo artigo seguinte, com falantes adultos de outra
língua indígena. O processamento bilíngue é tema de dois artigos. A
revista encerra com dois artigos de viés aplicado sobre o tema da leitura.
Em um momento em que a possibilidade de experimentação vem
atraindo pesquisadores de praticamente todas as subáreas da Linguística,
o artigo de Sampaio que abre o volume, intitulado A escolha de software
e hardware na psicolinguística: revisão e opinião oferece orientações
seguras da psicolinguística, principalmente para os recém-chegados ao
campo fascinante dos métodos experimentais. Em um texto bastante
didático, Sampaio discorre sobre os diferentes programas usados na
implementação de experimentos, sugerindo uma série de critérios a serem
considerados na sua escolha, além de oferecer informações práticas que
podem poupar tempo para os linguistas decididos a explorar metodologias
experimentais.
Cinco estudos neste número investigam fenômenos fonéticos,
fonológicos ou na interface fonologia-sintaxe. Em Maxakalí nasality
and field recording with earbud microphony, Nevins e Silva
iniciam revendo dados da língua indígena Maxakalí (família Jê) que
demonstram que esta lingua tem processos fonológicos tais como prénasalização, nasalização em coda, harmonia nasal dentro da sílaba,
entre núcleo e rima, entre rima e onset e de sílaba a sílaba, que oferecem
954
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
desafios interessantes para as teorias fonológicas. Após discutirem as
técnicas mais tradicionalmente utilizadas no estudo da nasalidade, os
autores apresentam a sua proposta inovadora de fonologia de campo
experimental: a técnica de gravação com microfonia de fone de ouvido,
que é, então, demonstrada em relação a fenômenos de nasalidade vocálica
e consonantal, empréstimos, entre outros fenômenos na língua Maxakalí.
Ao final, os autores fazem ainda uma interessante prospecção de áreas
que a técnica de microfonia de fone de ouvido poderia vir a impactar
positivamente, incluindo questões pedagógicas.
No artigo Social affective variations in Brazilian Portuguese:
a perceptual and acoustic analysis, Rilliard e Moraes partem de um
experimento de escolha livre com 22 ouvintes brasileiros para analisar
parâmetros prosódicos de duração, intensidade e entonação, tomando
como quadros de referência para a análise, teorias de expressividade
na fala e de uso simbólico da voz em interações verbais. Os autores
descrevem agrupamentos de expressões, rotulando-as como “pergunta
neutra”, “admiração”, “arrogância”, “autoridade”, “desprezo”,
“obviedade”, “incerteza”, “ironia”, “irritação”, “pisando em ovos”,
“polidez”, “sedução”, “sinceridade”, “surpresa”, “descrédito”, entre outras
expressões. Os resultados do estudo permitem aos autores reagrupar
dezessete expressões em três grupos principais de valência positiva,
assertividade e dubitatividade. Os autores comparam ainda os dados
brasileiros com dados obtidos com franceses e japoneses, para concluirem
que os dados brasileiros apresentam maior acurácia na singularização de
expressões únicas, em comparação com as duas outras línguas.
Também pesquisando a percepção de emoções na fala, Silva
e Barbosa discutem no artigo Perception of emotional prosody:
investigating the relation between the discrete and dimensional
approaches to emotions, as relações entre a percepção de emoções
básicas e suas dimensões emocionais na fala, conduzindo dois
experimentos de percepção de enunciados em uma língua estrangeira
sobre a qual os participantes não tinham qualquer conhecimento. Com
base nesses experimentos, os autores puderam correlacionar as dimensões
emocionais ativação, justiça, valência, motivação e envolvimento com as
emoções básicas alegria, raiva, tristeza e calma. Em seguida, as emoções
básicas e dimensões emocionais foram correlacionadas com parâmetros
acústicos, confirmando que os ouvintes, de fato, utilizam ao menos
parcialmente traços acústicos para julgar a expressividade das emoções
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
955
e dimensões emocionais. Ao final, os autores sugerem que esse tipo de
investigação tem potencial para contribuir com pesquisas sobre a síntese
da fala e sobre o reconhecimento automático de emoções.
Em Prosódia de enunciados declarativos e interrogativos
totais nas variedades de Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro, Rebollo
Couto, Silva e Miranda gravam enunciados declarativos e interrogativos,
elicitando-os a partir de imagens. As autoras avaliam que esses dados de
fala experimental, assim coletados, seriam mais próximos dos dados de
leitura do que dos dados provenientes de fala atuada, em que o falante
já conhece o texto, tendo praticado previamente a sua elocução. Os
participantes da pesquisa são adultos de escolaridade média, de ambos
os sexos, originários de Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro, havendo
os dados obtidos no teste, sido analisados acusticamente no programa
PRAAT em termos de parâmetros acústicos de F0, duração e intensidade
das vogais pré-tônicas, tônicas e pós-tônicas. Os resultados das análises
dos dados obtidos no experimento são comparados a resultados de
pesquisas similares nas três capitais, permitindo aos autores demonstrar
a existência de diferenças prosódicas entre as modalidades declarativa
e interrogativa testadas, bem como variações dialetais.
Angelo e Santos apresentam em Desambiguização de sentenças
na interface fonologia-sintaxe os resultados de um experimento do
tipo oral sentence/picture matching (pareamento de sentença auditiva
e imagem), com o objetivo de analisar como pistas de duração na
desambiguação de sentenças do tipo SN1-Verbo SN2-Atributo influenciam
a interpretação dos ouvintes. O artigo situa-se em uma linha de pesquisa
muito produtiva que vem testando o princípio de processamento Late
Closure (Aposição Local) em diferentes construções em várias línguas.
As autoras apresentaram frases como “A mãe encontrou a filha suada”
em contextos que favoreciam ora a interpretação do tipo early closure
(a mãe estava suada) ou a interpretação late closure (a filha estava
suada), manipulando também no input auditivo a duração do trecho
entre a sílaba final do objeto até a sílaba inicial do atributo, enquanto os
participantes visualizavam imagens que deveriam escolher, de acordo
com a interpretação das frases que ouviam, levando em conta ainda
gradações no alongamento. Os resultados obtidos demonstram a operação
do princípio Late Closure, (cf. FRAZIER, 1979), em português brasileiro,
corroborando o trabalho de Magalhães e Maia (2006), segundo o qual uma
preferência pelo default local ocorre na ausência de pistas prosódicas.
956
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
Diversos estudos neste volume apresentam resultados
experimentais sobre a compreensão adulta de construções sintáticas que,
além de fornecerem evidências relevantes para teorias de processamento,
também estabelecem diálogo com questões de representação gramatical.
Em Representation and Processing of the Inflected Infinitive in
Brazilian Portuguese: an eye-tracking study, Modesto e Maia
apresentam estudo de rastreamento ocular que indica menor custo
significativamente para o processamento da correferência entre
antecedentes acessíveis na frase e a categoria vazia PRO do que nos casos
em que a interpretação do PRO é arbitrária. Em linha com a literatura
psicolinguística relativa aos chamados modelos de “dois estágios”, que
têm estabelecido como default no processamento sintático a computação
intrassentencial “syntax first”, precedendo a extrassentencial, os
achados de Maia e Modesto são também pertinentes para contribuir
com dados empíricos para debate corrente na teoria sintática e na
descrição da gramática do português brasileiro, constituindo, neste
sentido, empreendimento realizado não só no quadro de referência da
especialidade do processamento de frases, mas também no quadro da
especialidade relativamente mais recente da sintaxe experimental. A
literatura de natureza teórica, descritiva e também sociolinguística sobre o
infinitivo flexionado em português é revisada criteriosamente na primeira
parte do artigo, sugerindo-se que “os contextos sintáticos de uso da flexão
não finita no Brasil atual e a interpretação de tais estruturas são questões
de grande interesse científico, considerando-se a situação sociopolítica
do país”. O ponto fulcral do debate sobre a representação do infinitivo
flexionado em português situa, de um lado, a análise de Rodrigues e
Hornstein (2013), que afirma que as construções com infinitivo flexionado
em português são configurações de controle não obrigatório e, de outro,
a análise de Modesto (2010, 2016a), que argumenta serem os sujeitos de
orações não finitas flexionadas normalmente interpretados como sujeitos
controlados em PB. Os resultados do experimento, que indicam que
as construções com PRO controlado em frases com verbos infinitivos
flexionados não apenas são psicologicamente reais, mas são, de fato, a
opção preferida em uma comparação estrita com o PRO de interpretação
arbitrária, servem de fundamentação empírica para a conclusão em favor
da proposta de Modesto (2010, 2016a).
No artigo On the asymmetry between subject and object
relative clauses in discourse context, Forster e Corrêa também
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
957
examinam, através de experimento de rastreamento ocular, questão de
processamento com relevância para a teoria gramatical minimalista.
Realizado no âmbito do quadro maior do projeto de pesquisa da segunda
autora, intitulado “Processamento e aquisição da linguagem sob ótica
minimalista: extensão e comparação de modelos”, o estudo toma como
objeto de investigação a assimetria existente no processamento de
orações relativas de sujeito vis à vis o processamento de orações relativas
de objeto, manipulando como uma das variáveis independentes do
experimento o contexto narrativo em que a oração relativa é apresentada,
que poderia favorecer o seu processamento como relativa de sujeito ou
de objeto. O experimento tinha, portanto, um design 2x2, contendo 40
narrativas (20 favorecendo a relativa de objeto, outras 20 a relativa de
sujeito), distribuídas em quadrado latino e apresentadas a 41 participantes,
para leitura, ranqueamento e interpretação. Os resultados obtidos indicam
maior custo para as relativas de objeto do que para as relativas de sujeito,
independentemente do contexto discursivo. Destaque-se que os autores
avaliam seus resultados não só em termos de teorias de processamento,
trazendo à discussão o debate clássico em psicolinguística entre modelos
de dois estágios versus estágio único, mas também, interessantemente,
em termos de desenvolvimentos recentes da linguística gerativa que,
como já tem apontado o grupo de pesquisa dos autores (LAPAL), vem
minimizando as diferenças que, tradicionalmente, tem colocado em
oposição os modelos de um e dois estágios.
O artigo A aceitabilidade da anáfora logofórica em
português brasileiro, de Souza, Oliveira e Henrique, oferece um
exemplo paradigmático de empreendimento em sintaxe experimental.
Considerando explicitamente em seu texto que a intuição do linguista
poderia não ser suficiente para permitir avaliar adequadamente a
aceitabilidade das construções logofóricas em PB, tema do artigo, as
autoras desenvolvem um estudo controlado, ainda que não cronométrico,
de julgamento de aceitabilidade para testar sentenças com anáfora (e.g. O
genro de Mauro cortou José e ele mesmo com a faca na cozinha) e com
pronome (e.g. O genro de Mauro cortou José e ele com a faca na cozinha)
logofóricos. Segundo avaliam no texto, as intuições das autoras, ponto
de partida do estudo, indicavam que ambas as construções pudessem
ser aceitáveis em PB, o que se revelou inadequado, como demonstrado
pelos resultados obtidos no teste, em que a aceitabilidade dos pronomes
logofóricos não atingiu níveis de significância. As autoras discutem
958
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
seus resultados com base em teorias de representação como a Teoria
da Ligação (CHOMSKY, 1981) e, principalmente, com base na Teoria
da Reflexividade de Reinhart e Reuland (1993). Além da interessante
discussão empreendida pelas autoras, fica comprovada no estudo a
importância da máxima frequentemente mencionada na especialidade
da sintaxe experimental: as intuições devem ser ponto de partida, mas
não ponto de chegada das pesquisas.
Um tema em foco em estudos recentes em psicolinguística e em
sintaxe experimental é o processamento da concordância que, segundo
Phillips, Wagers e Lau (2011), tem constituído um desafio para os
psicolinguistas interessados em pesquisar a compreensão on-line das
construções gramaticais. Phillips e colegas avaliam que, nas construções
que envolvem concordância, o processador sintático parece mais
suscetível à falibilidade, ao contrário do que ocorre em outras construções
(e.g. efeitos de ilha, dependências entre antecedentes e categorias vazias,
princípios de Binding), em que o processador demonstra “sensibilidade
on-line impressionante” (cf. p. 149). O tema da concordância requer,
portanto, muita pesquisa para que possamos vir a compreender melhor
como os falantes “navegam representações linguísticas complexas em
tempo real”,2 como avaliam os autores, após um levantamento abrangente
da literatura. No presente número da RELIN, três artigos se propõem a
contribuir, através de experimentos, para avançar nosso entendimento
da relação de concordância.
Em Efeitos de distância linear e marcação no processamento
da concordância verbal variável em PB, Marcilese, Rodrigues, Augusto
e Henrique estudam a computação das relações de concordância entre
sujeito e verbo, manipulando a distância linear entre esses elementos, em
um teste do tipo maze task ou labirinto, em que os participantes devem
escolher, entre duas opções, como continuar a leitura de uma frase.
Interessantemente, os autores partem de achados da sociolinguística
variacionista, que têm indicado, sistematicamente, a relevância da
distância linear entre sujeito e verbo na realização em corpora da
concordância verbal em português brasileiro. Após rever criteriosamente
esses estudos e também a literatura pertinente em psicolinguística, as
“...the parser’s highly selective vulnerability to interference and “gramatical illusions”
provides a valuable tool for understanding how speakers encode and navigate complex
linguistic representations in real time” (cf. PHILLIPS; WAGERS; LAU, 2011, p. 147.)
2
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
959
autoras se propõem a estudar, para além dos produtos encontrados nos
corpora, o processo cognitivo de concordância, manipulando a distância
linear como uma das variáveis independentes do experimento, ao lado dos
fatores número do verbo e número do sujeito. Seus resultados indicam
não só a existência de efeito de distância linear no processamento da
concordância, mas também “apontam para a relevância da marcação na
atuação dos mecanismos de verificação de traços”. O artigo é concluído
reconhecendo-se a importância de empreendimentos interdisciplinares,
como o que foi realizado no estudo em tela, buscando um “diálogo
explícito” entre variação e processamento, para se conseguir avançar no
entendimento de fenômenos linguísticos complexos como a concordância.
O tema da marcação da concordância em PB é também
investigado em Agreement effects of gender and number in
pronominal coreference processing in Brazilian Portuguese, em que
Alves reporta um estudo de rastreamento ocular que tem como objetivo
específico o de explorar como e quando as condições estruturais impostas
pelo Princípio B da Teoria da Ligação (CHOMSKY, 1981) interagem
com pistas de concordância, na recuperação mnemônica de antecedentes
por pronomes. A autora mede a duração de fixações oculares em áreas
críticas de frases apresentadas a 24 participantes, para testar a hipótese
de que a redundância na marcação morfológica da concordância em PB
levaria os leitores a utilizar tais pistas na recuperação de antecedentes por
pronomes. São encontrados efeitos tanto de antecedentes estruturalmente
aceitáveis, quanto de antecedentes não aceitáveis estruturalmente,
levando a autora a alinhar-se com os achados de Badecker e Straub
(2002), contrariando a hipótese de que as condições estruturais atuem
como um filtro inicial no processamento. Finalmente, tomando como base
seus resultados, a autora também argumenta em favor do modelo CAM –
content addressable memory, que propõe que informações previamente
analisadas possam ser recuperadas a partir de uma busca, em paralelo,
de pistas gramaticais, como as oferecidas pela marcação da concordância
de número e de gênero em PB.
O terceiro artigo que investiga experimentalmente a relação
gramatical de concordância em PB é A behavioral study to investigate
the processing routes of grammatical gender in Brazilian Portuguese,
de Resende e Mota. Diferentemente dos dois estudos anteriores, este
artigo focaliza as relações de concordância no âmbito do Sintagma
Determinante (DP), para pesquisar possíveis diferenças nas rotas de
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
processamento da concordância de gênero em duas condições, a saber,
artigo e nome (condição 1) e nome e adjetivo (condição 2) em uma
tarefa em que se mediram tempos de reação dos participantes nas duas
condições, contrastando-se também substantivos masculinos e femininos,
transparentes quanto ao seu gênero gramatical (terminações -a e -o) e
opacos (outras terminações). Os resultados obtidos indicam a existência
de diferenças no processamento da concordância de gênero entre as
condições 1 e 2, atribuídas à maior quantidade de informação a ser
processada na relação entre o nome e adjetivo do que na relação entre o
artigo e o nome. As autoras também encontram efeitos de frequência e de
memória, influenciando tanto o processamento de formas transparentes,
quanto de formas opacas, o que as leva a concluir em favor dos modelos
unitários, não duais, de processamento da linguagem.
O importante tema da referência de nomes é explorado através
de angulações teóricas e de metodologias diversas, em quatro artigos,
neste número da RELIN, devotado à Linguística Experimental. Em A
influência da referencialidade no processamento de orações relativas
em português brasileiro, Bezerra, Leitão e Medeiros, testam, em
estudos de leitura automonitorada e de rastreamento ocular de orações
relativas do PB, o Princípio da Referencialidade, apresentado no âmbito
do modelo Construal (FRAZIER; CLIFTON, 1996), que prediz que
orações adjetivas restritivas sejam preferencialmente apostas a núcleos
referenciais. Os autores se colocam o desafio de tentar flagrar através
de medidas on-line efeito de referencialidade operando a tempo de
influenciar as decisões do processador sintático. Como, a partir do modelo
Construal, relações sintáticas secundárias (como as orações relativas),
seriam associadas e não apostas (casos restritos à aposição de argumentos,
em relações sintáticas primárias), no marcador frasal em construção, o
processador seria capaz de avaliar informação semântica e pragmática
para informar suas decisões, ao contrário das propostas iniciais do tipo
“syntax-first” da Teoria do Garden-Path. Os autores corroboram em PB
as propostas do modelo Construal e discutem similaridades e diferenças
entre os resultados obtidos nos experimentos de leitura automonitorada
e de rastreamento ocular, este último viabilizado graças à cooperação
entre os laboratórios LAPROL (UFPB) e LAPEX (UFRJ).
Em An ERP study of kind-denoting nouns in subject position
in Brazilian Portuguese, França, Maurício e Infantosi colocam em
contraste uma abordagem do tipo “syntax-first”, inspirada no Programa
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Minimalista (cf. CHOMSKY, 1995) e uma abordagem do tipo “semanticfirst”, que toma como referência propostas de natureza cognitivista de
Fillmore (1982, 2007). Para estabelecer o contraditório entre as duas
abordagens os autores tomam como objeto do estudo o tema central
da referencialidade, orquestrando de forma bastante lógica e clara, em
estudo de extração de potenciais cerebrais evocados, a comparação entre
Sintagmas Nominais de denotação específica e Sintagmas Nominais
que denotam tipo em um contexto especial de conhecimento de mundo.
A hipótese do estudo é a de que, em linha com a abordagem “syntaxfirst”, os nomes que denotam tipo, em posição de sujeito, não deverão
influenciar o processamento em medidas iniciais em que o conteúdo
semântico do nome não deveria ser acessado. De fato, monitorando 34
participantes através de equipamento de EEG com 20 canais, enquanto
estes realizavam julgamentos de gramaticalidade de frases em que as
condições experimentais eram contrastadas, tomando-se como controle
condições incongruentes que deveriam produzir ERP (N400), os autores
puderam concluir que “o pleno acesso ao conteúdo pragmático que está
no sujeito só ocorre após o merge do complemento ao verbo”.
O artigo Referência genérica em SNs singulares: uma
abordagem cognitivista experimental de Pinheiro, Ferrari, Pimenta,
Souza, Viegas e Ohenes, também estabelece como objeto de estudo
aspectos da referencialidade de nomes, mas adota perspectiva teórica
diametralmente oposta à do estudo apresentado no parágrafo acima,
tomando como quadro de referência a Gramática Cognitiva (cf.
LANGACKER, 1987, 2013, entre outros), que propõe caracterização de
base semântica de sintagmas nominais. Os autores postulam, inicialmente,
a existência de uma diferença conceptual entre o SN genérico definido
(e.g. o gato é voluntarioso) e o SN genérico indefinido com determinante
zero (e.g. gato é voluntarioso). Alinhando-se com o que chamam de
“guinada empírica” em Linguística Cognitiva” (cf. STEFANOWITSCH,
2011), os autores se propõem, em seguida, a tentar estabelecer
experimentalmente o efeito que uma sequência com contraste poderia
exercer sobre o SN singular genérico com artigo definido, manipulando
a presença e a ausência dessas sequências contrastivas nos estímulos
(e.g. A criança gosta de doces e guloseimas vs A criança gosta de doces
e guloseimas. Já o adulto tende a ter um paladar mais apurado). Em uma
tarefa off-line de julgamento de aceitabilidade controlada, utilizando uma
escala Likert de cinco pontos, os autores testaram 30 participantes para
962
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
comparar frases como exemplificadas acima, distribuidas em quadrado
latino. Após analisar seus resultados, os autores concluem que podem
“confirmar a previsão de que a presença de um segundo SN genérico, com
função contrastiva, na mesma sequência textual eleva significativamente
a aceitabilidade de enunciados com SN genérico definido”. Tratando-se
de experimento off-line, este resultado não pode, portanto, ser usado
para comparar questões de curso temporal, com possível impacto na
arquitetura da representação e do processamento linguísticos, a partir
do exame da referencialidade de nomes, como as entretidas nos dois
estudos apresentados anteriormente, que utilizam variáveis dependentes
on-line. Ainda assim, a perspectiva de início de um programa de pesquisa
experimental em Linguística Cognitiva, de que esse trabalho é, sem
dúvida, um dos precursores no Brasil, tem o potencial de trazer para o
exame empírico criterioso da Linguística Experimental questões que
tradicionalmente têm fundamentado divergências importantes e, muitas
vezes, motivado debates acalorados, em Linguística.
O artigo assinado por Ribeiro e Ricci, intitulado Um estudo
experimental do processamento de metáforas do português brasileiro
também examina uma questão relacionada à referência de nomes, a saber,
a computação do sentido literal e não literal ou metafórico. Depois de
relatar dois estudos normativos bastante criteriosos, que lhes permitiram
estabelecer, com confiança, controles relativos à familiaridade, adequação
e convencionalidade das metáforas nominais, os autores reportam um
estudo de leitura automonitorada em que foram apresentadas a 66
participantes, em distribuição em quadrado latino, frases alvos precedidas
de três tipos de contextualizações, motivando interpretação metafórica,
interpretação literal, inclusão em classe. Não tendo observado diferenças
significativas nos tempos médios de leitura dos segmentos críticos, nas
três condições, os autores argumentam em favor do processamento direto
de metáforas familiares, conforme preconizado por Glucksberg e Keysar
(1990), habilmente rebatendo o chamado argumentum ad ignorantiam (a
ausência de evidência não é evidência da ausência), com base no poder
do teste estatístico utilizado na análise dos dados.
Três estudos no presente número temático da RELIN investigam
experimentalmente a aquisição da linguagem. Em A técnica de ERP no
processamento de sentenças de crianças: uma revisão, Costa presta
uma contribuição para a área de aquisição da linguagem, revisando
estudos que têm utilizado a técnica de extração de potenciais cerebrais
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
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evocados por eventos linguísticos, incluindo um estudo seu próprio
(Costa, 2015), desenvolvido para sua tese de doutorado. O artigo inicia
com uma apresentação bastante didática da técnica EEG-ERP, destacando
sua excelente resolução temporal e seu baixo custo, comparativamente
a técnicas tais como o MEG, o fMRI, o PET, entre outras. O artigo,
então, passa a rever componentes cerebrais frequentemente encontrados
em experimentos com adultos, com especial atenção para o N400 e o
P600. Passa-se a discutir, em seguida, as razões pelas quais estudos
encefalográficos ainda são incipientes em estudos com crianças, revendose, na sequência, estudos de segmentação da fala e de processamento
de sentenças. Costa conclui seu artigo apresentando o relato de seu
próprio experimento, em que testou crianças francesas quanto à estrutura
argumental de verbos. Ela relata haver captado uma ativação negativa
entre 200-450ms após as crianças terem escutado o verbo que estava
sendo manipulado, o que lhe permite estabelecer que as crianças são
sensíveis a manipulações na estrutura argumental.
Em Aquisição de estruturas possessivas inalienáveis: o caso
dos nomes de parte do corpo em inglês americano e português
brasileiro, Mendes faz sintaxe experimental ao estudar construções de
posse inalienável em PB e em inglês, comparando o desenvolvimento
dessas estruturas na criança com as propriedades que as caracterizam na
gramática adulta. Após rever a literatura teórica relevante (e.g. Teoria
da Ligação, CHOMSKY, 1981, entre vários outros trabalhos teóricos),
bem como pesquisas sobre a posse inalienável e sua aquisição, a autora
estabelece suas hipóteses e previsões, que serão testadas em uma série
de experimentos de julgamento de valor de verdade. Através desses
experimentos, testa-se a compreensão de falantes de inglês americano e
de PB a respeito da ocorrência de determinantes definidos e pronomes
possessivos em construções de posse em que, tanto a leitura alienável,
quanto a inalienável, estariam disponíveis. Os resultados obtidos
permitem à autora concluir que, embora partindo da mesma gramática
universal, a distinção entre as gramáticas do PB e do inglês americano
apareceu por volta dos seis anos de idade, quando as crianças falantes
de inglês americano passaram a limitar o uso do determinante definido,
de acordo com a gramática alvo.
No artigo On the Acquisition of distributivity in Yudja, Lima faz
semântica formal experimental, estudando a aquisição da distributividade
na língua índigena brasileira Yudja, comparativamente a adultos, através
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de testes de preferencialidade. Após rever cuidadosamente a literatura
relevante tanto em semântica formal, quanto em psicolinguística,
Lima estabelece os objetivos da pesquisa: (i) avaliar a disponibilidade
da interpretação distributiva encoberta em Yudjá e (ii) explorar a
interpretação de frases que marcam a distributividade abertamente na
língua, através do processo de reduplicação verbal. Lima descreve, em
seguida, as propriedades dos sintagmas nominais e verbais na língua, com
especial atenção para a formação da reduplicação verbal, apresentando
sua análise teórica sobre a reduplicação e a pluralização de nomes em
Yudjá, para então testar experimentalmente a hipótese já formulada em
Lima (2008) de que a reduplicação verbal, além de indicar pluralidade,
funciona também como um marcador da distributividade aberta na língua.
Os resultados dos testes de preferencialidade levados a efeito com onze
adultos e dezessete crianças, que a autora considera serem pilotos de
futuras pesquisas, indicaram que, enquanto a interpretação dos adultos é
influenciada pelo tipo de sintagma nominal, as crianças teriam preferência
pela leitura distributiva, independentemente das propriedades do verbo
e dos sintagmas nominais.
O trabalho de Silva, intitulado O processamento do numeral
reduplicado sohoji-sohoji em Karajá: uma averiguação de ERP
durante a compreensão de sentenças também explora propriedades
de distributividade em uma língua indígena brasileira, utilizando muito
provavelmente pela primeira vez no Brasil, a técnica de EEG-ERP
com uma população indígena. O estudo se desenvolveu no âmbito do
projeto guarda-chuva de seu orientador no Programa de Pós-Graduação
em Linguística (POSLING-UFRJ) “Pesquisa de campo experimental
com línguas indígenas brasileiras”, com o apoio do CNPq. Em janeiro
de 2015, uma equipe constituída por professores e doutorandos do
POSLING-UFRJ, incluindo os orientadores da tese de Cristiane Oliveira
da Silva, os professores Marcus Maia e Aniela Improta França, levaram
a campo equipamento de EEG de 64 canais e realizaram testes in loco
com falantes nativos da língua Karajá, moradores das aldeias Btõiry ou
Hãwalò (Ilha do Bananal, TO). Os resultados do teste de oral sentencepicture matching (pareamento de sentenças orais e figuras) realizado
por 22 participantes falantes nativos de Karajá, enquanto seus sinais
cerebrais eram monitorados pelo equipamento de EEG, permitiram
à autora identificar componentes N400 e P600, que indicam que o
numeral distributivo Karajá sohoji-sohoji atuaria como um quantificador
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
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ambíguo, permitindo que leituras evento-distributiva e participantedistributiva fossem licenciadas ou ainda que licenciariam diferentes
cenários de verificação para a mesma leitura. A autora conclui, avaliando
que a disponibilidade de técnicas cada vez mais sensíveis para aferir o
processamento da linguagem pode, de fato, contribuir significativamente
para as pesquisas de campo tradicionais e análises formais da linguagem.
Dois estudos neste número da RELIN investigam
experimentalmente questões de um tema que vem se tornando cada vez
mais presente em Psicolinguística, a saber, o estudo do processamento
bilíngue, cujo desafio é o de entender o problema conhecido como one
mind, two languages. Em Are bilingualism effects on the L1 byproducts
of implicit knowledge? Evidence from two experimental tasks, Souza
e Oliveira estudam efeitos do inglês L2 sobre o desempenho linguístico da
L1 português brasileiro, na compreensão de construções resultativas, em
dois experimentos psicolinguísticos que elaboram sobre estudo anterior
dos autores, utilizando, agora, a tarefa maze (on-line), além do julgamento
imediato de aceitabilidade (off-line). A tarefa maze, também utilizada no
estudo de Marcilese, Rodrigues, Augusto e Henrique, no presente número
da RELIN, embora não meça os tempos de leitura dos segmentos em
que se dividem as frases, tem sobre a tarefa de leitura automonitorada,
a vantagem de não acarretar efeitos spillover e nem demandar questões
interpretativas, uma vez que força que o leitor escolha ativamente
entre duas opções de continuação da frase. Como se sabe construções
resultativas, comuns em inglês (e.g. Samuel wiped the table clean) não
se instanciam no repertório de construções do português. A questão que
os autores se colocaram no estudo foi a de verificar a influência da L2
sobre a L1, havendo a tarefa on-line se mostrado a única apta a capturar
esse efeito, que é analisado pelos autores como um processo implícito.
Soto e Manhães investigam em Morphological priming resists
language and modality switching in late Dutch-Brazilian Portuguese
bilinguals, o processamento morfológico em bilíngues tardios cuja L1
é o holandês e a L2, o português, em uma tarefa de decisão lexical,
coletando tanto tempos de reação, quanto dados cerebrais através
de EEG. No experimento, monitoraram-se, através de equipamento
eletroencefalográfico, 18 bilíngues proficientes (dados de 3 deles
seriam posteriormente retirados do estudo), que deveriam decidir se os
itens alvos eram palavras, alternando-se itens em português, holandês
e, ainda, como controle, itens em húngaro, língua que nenhum dos
966
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 951-969, 2017
participantes conhecia. O estudo pretendia testar a Superficial Processing
Hypothesis (cf. CLAHSEN; FELSER, 2006; CLAHSEN et al., 2010)
que prediz processamento morfológico menos eficiente na L2, e o
Revised Hierarchical Model (cf. KROLL et al., 2010) que, entre outras
predições, propõe que haja ativação em paralelo de informações lexicais
e sublexicais entre línguas. Os resultados obtidos permitem às autoras
estabelecer efeitos morfológicos na L2, nas medidas de EEG, mas não
nos tempos de reação, sendo a diferença discutida em termos da maior
sensibilidade do N400 a propriedades das raízes do que a palavras
inteiras. As autoras concluem que os resultados da alternância entre
línguas demonstram priming morfológico nas condições em que a direção
se dava de L2 para L1, enquanto que, para a direção de L1 para L2, o
efeito oposto ocorreu, confirmando-se as previsões feitas pelo Modelo
Revisado Hierárquico.
Os dois artigos que encerram o número tratam de questões
relacionadas à leitura de textos que, além de examinadas e avaliadas per
se, também apresentam dimensões aplicadas interessantes. Em O teste
de Cloze como instrumento de medida da proficiência em leitura:
fatores linguísticos e não linguísticos, Abreu, Garcia, da Hora e Souza
apresentam inicialmente uma ampla revisão da literatura sobre o teste
de cloze, uma técnica relativamente simples, que vem sendo usada há
pelo menos quatro décadas, em que se solicita aos participantes que
completem palavras omitidas em textos. Conforme avaliam as autoras,
o teste de Cloze tem aplicações educacionais imediatas, servindo
de diagnóstico para avaliar-se a compreensão leitora e permitindo
intervenções empiricamente fundamentadas. Após a resenha crítica bem
orquestrada, as autoras apresentam o seu próprio experimento baseado na
técnica, com o objetivo tanto de avaliar a sensibilidade do teste a fatores
linguísticos, quanto não linguísticos. Os testes são organizados em um
design 2x2, em que se cruzam as variáveis tipo de palavra (funcional
ou lexical) e tamanho do texto (curto ou longo), sendo aplicados a 88
alunos, sendo metade do sexto ano do ensino fundamental e metade do
primeiro ano do ensino médio. As autoras analisam, então, os resultados
obtidos quantitativa e qualitativamente, argumentando, ao final, em
favor da aplicação mais ampla do teste de cloze, que avaliam ser uma
ferramenta versátil, capaz de acessar a proficiência leitora em níveis micro
e macroestruturais, tendo o potencial de revelar lacunas no letramento
em leitura.
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O artigo O movimento ocular na leitura realizada por
revisores de textos, de Leite e Magalhaes, teve por objetivo estudar,
através da técnica de rastreamento ocular, o processamento da leitura
em profissionais de revisão de texto, comparativamente a não revisores,
entretendo a hipótese de que a leitura dos revisores seria “menos
automática, mais controlada e mais detalhada”. Foram submetidos para
leitura pelos dois grupos de sujeitos, em tarefa de detecção de erros, 20
parágrafos experimentais, metade com supressão de preposições e metade
com anáforas pronominais incorretas, além de 30 textos distratores,
parte sem incorreções e parte com diferentes tipos de erros. O índice
de detecção de erros nas frases experimentais não indicou diferença
significativa entre os dois grupos de sujeitos, ambos de nível superior. Por
outro lado, os resultados das medidas de rastreamento ocular permitiram
aos autores confirmarem a sua hipótese inicial de que os revisores
profissionais teriam uma leitura mais demorada, menos automática,
mais detalhada e controlada. Os autores concluem que a pesquisa pode
ser informativa tanto para o estudo da leitura em si, quanto para aferir
critérios de desempenho de revisores profissionais.
Em conclusão, avaliamos que os 24 artigos reunidos nesse
número temático da RELIN apresentam um panorama único, em que se
pode apreciar de forma integrada, pela primeira vez no país, uma amostra
significativa de pesquisas, que exercitam diferentes angulações teóricas,
através das mais praticadas técnicas experimentais no mundo, no exame
de um conjunto amplo de questões relevantes para as principais subáreas
da Linguística, verdadeiramente atestando a exuberância da Linguística
Experimental no Brasil. Esperamos que esses trabalhos sejam fonte de
inspiração para novas pesquisas teóricas e experimentais.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
A escolha de software e hardware na psicolinguística:
revisão e opinião
The choice of software and hardware in psycholinguistics:
review and opinion
Thiago Oliveira da Motta Sampaio
Language Acquisition, Processing and Syntax Lab - LAPROS
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo / Brasil
thiagomotta@iel.unicamp.br
Resumo: Nos últimos anos, diversos softwares foram criados para
auxiliar a elaboração de experimentos em ciências cognitivas. A oferta de
softwares de simples utilização deveria facilitar o trabalho dos iniciantes,
porém, acabou trazendo novos problemas e dúvidas. Que software usar?
Qual deles é o mais adequado ao meu estudo e por quê? Através de
uma revisão sobre computação, linguagem de programação e técnicas
de apresentação de estímulos visuais,1 este artigo pretende fomentar a
discussão a respeito (i) dos diversos tipos de softwares para estimulação,
(ii) da importância de conhecer os detalhes técnicos do hardware utilizado
e (iii) da compatibilização hardware-software-método como uma variável
a ser controlada durante o desenvolvimento do protocolo experimental.
Palavras-chave: psicolinguística; ciências cognitivas; linguagens de
programação; métodos.
Abstract: In the last few years, several softwares have been designed to
help the development of experiments in cognitive sciences. The offer of
user friendly software would help beginners in their first tests. However,
it brought new problems and questions. Which software should one use?
Which one is more adequate for my research and why? The present paper
brings a quick and panoramic review on computer science, programming
languages and on the presentation of visual stimuli. Through these three
topics, I intend to promote a discussion (i) on the main types of software
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.971-1010
972
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
for stimulation in cognitive sciences, (ii) on the importance of being
attentive to the hardware specifications and (iii) on some compatibility
issues between software-hardware-method as independent variables in
our experiments.
Keywords: psycholinguistics; cognitive sciences; programming
languages; methods.
Recebido em: 5 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 28 de março de 2017.
1. Introdução
O trabalho a ser apresentado a seguir não irá apresentar uma
hipótese para testá-la através do método experimental. Este é um artigo
de métodos que tem por objetivo problematizar algumas questões
rotineiras de um cientista cognitivo que trabalha com experimentação:
o desenvolvimento de experimentos no computador.
Primeiramente é preciso dizer que para elaborar um experimento
no computador não é necessário ter um conhecimento muito avançado em
computação. Existem diversos softwares especializados nesta tarefa tanto
para usuários avançados quanto para os jovens cientistas em formação.
Verba para software também não é necessariamente um problema. Para
a maior parte dos experimentos, não precisamos desembolsar centenas
de dólares para a aquisição de software proprietário, visto que existem
diversas opções livres e com uma curva de aprendizagem bastante rápida.
Ainda assim, por alguma razão, estes softwares não são tão difundidos
entre os pesquisadores da área.
A segunda questão que trago neste artigo é que, apesar da grande
oferta de aplicações especializadas, não é aconselhável deixar toda a
tarefa de comunicação entre usuário e máquina por conta do software.
Ao contrário dos sistemas operacionais mais atuais, os softwares de
experimentação não escondem do usuário as configurações impossíveis
de serem realizadas pelo seu hardware, nem dão informações precisas
sobre o comportamento do hardware durante o teste. Muitas vezes
acreditamos ter controle total sobre nossas variáveis sem nos darmos
conta de que o computador não está executando exatamente a mesma
tarefa que pedimos para ele executar.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
973
Apresentadas minhas questões principais, pretendo iniciar nas
próximas seções uma discussão sobre estes dois aspectos. A seção 2, a
seguir, problematiza o conhecimento em computação do senso comum.
Em seguida, a seção 3 visa esclarecer o que é e como funcionam as
linguagens de programação. A seção 4 apresenta diversos tipos de
software criados especialmente para experimentação em ciências
cognitivas, entre linguagens de programação, toolboxes e softwares com
interface gráfica pagos e gratuitos. A seção 5 discursa sobre problemas
de controle de experimentos visuais originados do desconhecimento
sobre o hardware usado em sua aplicação. Por fim, fecho este artigo com
algumas considerações finais.
2. Uma rápida discussão sobre software e hardware
As Ciências da Computação possuem uma regra que parece prever
o ritmo do avanço tecnológico: a Lei de Moore (1965). Esta lei demonstra
que computadores aumentam exponencialmente sua complexidade,
dobrando a capacidade de processamento a cada 2 anos. Se utilizarmos esta
regra para olhar para o passado, verificamos que o início da computação
teria ocorrido na década de 60, exatamente quando o 1º chip foi inventado.
A partir da lei de Moore, é possível prever que até mesmo usuários
entusiastas não conseguem acompanhar o avanço da tecnologia em sua
totalidade. Enquanto a quantidade de informação aumenta com o passar
dos anos, nossas vidas adquirem mais responsabilidades que nos tomam
o tempo necessário para nos atualizar em todas as frentes da tecnologia.
Neste contexto, somos invadidos pela ideia de que as crianças de
hoje são nativas digitais e aprendem naturalmente a utilizar tecnologias
avançadas que mesmo os entusiastas já não conseguem mais dominar.
Porém, em diversas ocasiões, conversas pessoais e até mesmo em uma
mesa durante o 3o Encontro de Divulgação Científica e Cultural na
Unicamp, foi discutido e constatado que esta é uma meia verdade.
É inegável que existem (i) jovens usuários que realmente
aproveitam a maior disponibilidade dos conteúdos digitais para dominarem
tecnologias avançadas e se tornarem excelentes programadores.
Por outro lado, o que observamos na maioria das vezes é que (ii) os
softwares (especialmente os pagos) ficaram cada vez mais acessíveis
tanto financeiramente, se tornando mais baratos, quanto na facilidade
de utilização (user friendly). Isso resulta em uma ilusão de inclusão
974
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
tecnológica, na qual muitos usuários menos avançados conseguem, com
relativa facilidade, realizar tarefas que seriam bastante complexas para
o entusiasta de anos atrás.
Isso pode ser observado com mais clareza ao verificarmos a
evolução dos sistemas operacionais dos dispositivos móveis. Cada vez
mais populares, estes sistemas que, hoje, quase toda criança tem no bolso,
chegaram ao ponto de dividir ou mesmo de substituir algumas funções que,
antes, eram realizadas exclusivamente por computadores pessoais caros e
inacessíveis. O resultado é que muitas daquelas pessoas que consideramos
experts em tecnologia da informação possuem nada mais do que um vasto
conhecimento sobre como utilizar os diversos softwares disponíveis no
mercado. Estes usuários conseguem utilizar diversos tipos de programas
computacionais de forma hábil através de sua interface de usuário, no
front-end (Figura 1). Porém, eles muitas vezes possuem um conhecimento
extremamente limitado sobre a comunicação do software com o hardware
e da resolução de questões básicas de hardware, o back-end.
FIGURA 1 – Kernel (núcleo) do sistema: a ponte entre software e hardware
Nota: O centro de um sistema operacional é o seu núcleo (kernel), responsável
por servir de ponte entre o software e o hardware de uma máquina. Usuários de
interface (front-end) geralmente se limitam ao conhecimento do software, não
tendo a necessidade de compreender o funcionamento da máquina nos demais
níveis. Podemos fazer uma alusão à parte visível de um iceberg, quando a maior
parte da rocha está submersa e fora de nosso campo de visão.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
975
Não é difícil encontrar um entusiasta dos anos 90 ou do início do
século que tenha lidado com as inúmeras questões de incompatibilidade
entre uma nova peça de hardware (ex. placas de som e de vídeo) e a
placa mãe de seu computador, ou entre um hardware compatível com sua
placa mãe, mas sem a disponibilidade de um controlador para realizar a
comunicação entre o sistema operacional e sua nova peça de hardware
(driver1).
Quando instalamos o Windows ou o Linux pela primeira
vez, eles geram drivers genéricos para que o hardware funcione em
suas configurações mínimas. Os drivers específicos de cada peça são
procurados após a instalação, para que possamos aproveitar o potencial
máximo da máquina. Antigamente, tanto a busca quanto instalação
dos drivers eram realizadas de forma manual e, ao passar por estas
experiências e buscar por soluções, os usuários acabaram obtendo noções
básicas sobre a comunicação entre hardware e software.
Hoje, tanto o hardware, quanto o software, assim como a
comunicação entre eles, se tornaram mais eficientes permitindo que
o sistema operacional simplesmente esconda muitas das opções de
configuração que o hardware não suporta (muito disso devido à presença
dos drivers corretos para o hardware instalado), o que evita uma grande
parte dos problemas mais básicos que enfrentávamos na década de 90.
Além disso, as últimas versões dos sistemas já possuem uma biblioteca
dos drivers mais utilizados. Quando os sistemas não possuem o driver de
sua peça, eles oferecem a opção de busca automática. Além disso, você
sempre pode recuperar o driver na página da fabricante ou nos CDs que
acompanham a peça.
Os aparelhos móveis também podem sofrer com a subutilização
de suas funções por conta de drivers genéricos. Consideremos a título de
exemplo a qualidade das fotos de um smartphone. Ao contrário do iOS, que
roda em hardware padronizado e obriga os desenvolvedores de software a
usarem os aplicativos e drivers oficiais da empresa, o Android precisa se
adequar a diversos tipos de hardware de diferentes fabricantes. Por esta
razão, cada fabricante possui um tipo de aplicativo de fotos otimizado
para o seu aparelho, com diversos filtros que melhoram o desempenho
da câmera no pós-processamento. Os aplicativos de terceiros, porém,
para não terem o trabalho de criar um aplicativo diferente (ou drivers
1
Software contendo instruções de comunicação entre o sistema operacional e o hardware.
976
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
diferentes que aumentariam o tamanho do aplicativo) para cada modelo
existente de telefone, geram um driver genérico para acessar diretamente
a câmera, o que diminui a qualidade de imagem mesmo nos aplicativos
mais usados e famosos.
Conhecer a forma como o computador recebe os inputs pode não ser
necessário para todos os usuários desde que tudo funcione aparentemente
bem. Por outro lado, este conhecimento pode ser importante para
fazermos melhores escolhas de softwares para determinados fins, para
resolvermos determinados tipos de problemas técnicos e, especialmente,
para quando desenvolvemos nossos experimentos e queremos controlar
rigorosamente a forma como o hardware apresenta os estímulos aos
participantes e coleta as respostas comportamentais.
O primeiro passo para discutir a comunicação entre software
e hardware será o levantamento sobre o que são as linguagens de
programação e como elas funcionam. Para isso, me limitarei àquelas que
são comumente utilizadas por pesquisadores em ciências cognitivas, o que
inclui a psicolinguística, nos principais laboratórios americanos e europeus.
3. O que são as Linguagens de Programação?
As máquinas clássicas2 recebem input em forma de fluxos
de corrente elétrica, correspondendo aos números 0 (desativado) e
1 (ativado), o que chamamos de bits. Isso nos dá a possibilidade de
distinguir até duas informações por vez. Para aumentar o número de
informações a serem processadas, os computadores foram desenvolvidos
de modo a trabalhar com um conjunto de oito bits (1 byte). Agora, cada
sequência de 8 bits pode ser relacionada a uma informação diferente.
Por exemplo, a representação do número 8 corresponde à sequência
00111000 e a letra ‘e’ (minúsculo) corresponde à sequência 01100101.
Este código binário, conhecido como código de máquina, é o único que
os processadores são capazes de compreender. Porém, dar instruções ao
Grosso modo, máquinas clássicas se opõem às máquinas quânticas. Repare que as
máquinas clássicas funcionam com a transmissão de bits, que podem variar entre
os estados desligado (0) ou ligado (1). As máquinas quânticas funcionam com os
chamados qubits, ou bits quânticos, na qual a informação, além dos estados binários,
pode estar em uma sobreposição de 0 e 1 (vetores). Isso terá efeitos na quantidade de
informação transmitida por vez e na forma de transmissão e leitura de informação pelos
computadores quânticos.
2
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
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computador diretamente em binários é impraticável. Por isso, surgiram
as linguagens de programação, doravante LP, visando agilizar a tarefa
do desenvolvedor.
As LPs são classificadas de acordo com seu nível de abstração.
As linguagens de mais baixo nível têm um funcionamento mais próximo
do conjunto de instruções suportado pelos processadores das máquinas,
o que exige uma maior curva de aprendizagem. As linguagens de
mais alto nível são mais próximas da linguagem humana utilizando
funções e relações sintáticas e semânticas de mais fácil memorização e
aprendizagem (Figura 2).
FIGURA 2 – Linguagens de programação e nível de abstração
Nota: O primeiro passo de um curso de programação é escrever um código que faça
a máquina exibir a frase “Hello World” no monitor. A Figura A corresponde apenas
às letras do texto em binários; A Figura B utiliza um Assembly para realizar esta
exibição; a Figura C apresenta o mesmo comando na linguagem C; A Figura D,
executa a exibição do texto em Python. Repare que a facilidade de escrita do código
aumenta de A até D. A seta maior exemplifica os conceitos de linguagens de baixo
nível de abstração (mais próximo dos binários) e as de alto nível (mais próximos
da linguagem humana). A forma como devemos escrever e organizar as funções e
argumentos é chamada de sintaxe.
Como exemplo de linguagem de baixo nível é necessário citar
o Assembly. O Assembly não é exatamente uma linguagem específica,
mas o nome que se dá a uma linguagem única de cada processador,
978
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
contendo uma forma legível e memorizável do conjunto de instruções que
a máquina pode realizar. Por esta razão o Assembly é também conhecido
por ‘linguagem de montagem’. Programadores mais avançados podem
utilizar o Assembly para dar instruções para a máquina ou mesmo para
desenvolver aplicações. O porém do desenvolvimento em Assembly é
que eles são ininteligíveis as outras máquinas e seus códigos só podem
ser executados pelo modelo de processador para o qual foram escritos.
Além disso, a programação em Assembly ainda é uma tarefa para experts
na área.
A programação só viria a se popularizar com o desenvolvimento
de linguagens de alto nível de abstração. Por outro lado, assim como
em linguagem natural, quando dois interlocutores não são fluentes em
uma língua em comum, é necessário um tradutor/intérprete para que a
comunicação se estabeleça. Isso gera um custo de processamento e, por
consequência, um aumento no tempo de resposta da máquina.
Uma linguagem é um software que nos permite criar, de forma
lógica, uma sequência de passos/funções chamada ‘algoritmo’.3 Este
algoritmo será lido e executado pela máquina, esta, que só entende
binários. Para que estas instruções sejam compreendidas pelo hardware,
a linguagem precisa ser ‘compilada’, traduzida para a linguagem de
máquina (ex. C e C++), ou ser ‘interpretada’, transformando suas linhas
em um código binário (byte code) que será interpretado por uma máquina
virtual (ex. Java e Python).
Uma das linguagens mais utilizadas hoje é o ‘C’. Por ter sido criado
com o objetivo de desenvolvimento de sistemas operacionais, softwares
que precisam tirar todo o potencial das máquinas, o C é considerado
a língua franca da programação, assim como o inglês entre as línguas
naturais. As fabricantes de hardware, além do Assembly, geralmente
escrevem também um código que mapeia as funções de seus dispositivos
diretamente para o C, facilitando o trabalho dos desenvolvedores. Apesar
da praticidade introduzida por esta linguagem, a programação ainda era
relativamente restrita. Além disso, muitos usuários têm necessidades
bastante específicas que poderiam ser realizadas de forma mais simples
e em uma lógica de programação diferente da utilizada pelo C. E assim
Algoritmo pode ser, grosso modo, definido como uma sequência ordenada de passos
que levam a um determinado resultado, logo, se trata de uma sequência finita. Um
algoritmo não precisa necessariamente ser algo matemático ou computacional.
3
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
979
surgiram diversas linguagens de mais alto nível, das quais podemos
citar o Python, o R, o Matlab e o Java. A vantagem destas linguagens é
que todas permitem que executemos cada passo do código ao longo da
programação para verificar se ele irá funcionar corretamente na prática.
Isso facilita (i) a identificação e a localização de erros, que normalmente
são indicados pelo próprio console (tela de escrita do código) durante a
programação, e (ii) a aprendizagem, devido ao seu feedback imediato e
identificação dos argumentos sintáticos através de diferentes cores, como
podemos observar no exemplo do Python, na Figura 2.
O Java é bastante utilizado pois, além de ser gratuito, teve
uma grande ação de marketing realizada pela sua desenvolvedora Sun,
hoje pertencente à Oracle. O mercado passou a exigir conhecimentos
de Java para contratar programadores, o que levou as universidades
a leciona-la nos cursos ligados à tecnologia. Embora tenha perdido
força recentemente, o Java é a linguagem de programação adotada pela
Google para desenvolvimento de aplicativos para Android. O Java é
interpretado e traduz o código para uma máquina virtual (Java Virtual
Machine, JVM). Esta máquina virtual é uma espécie de emulador que
simula uma máquina específica em qualquer computador, evitando que
o código tenha que ser recompilado.
O Python funciona de forma semelhante ao JAVA, utilizando
uma máquina virtual que é instalada em qualquer computador e permite
que ele seja executado em qualquer máquina, independente do sistema
operacional. Isso favorece a portabilidade de seus códigos e o torna uma
das linguagens preferidas de quem realiza experimentação.
O Matlab é um software proprietário com base em C e em Java.
Ele foi criado com o objetivo facilitar a programação baseada em matrizes
de dados. Embora os códigos escritos em Matlab rodem diretamente
dentro do software, ele possui um compilador que nos permite tornar
estes softwares independentes, capazes de rodar fora de sua interface.
Uma opção gratuita ao Matlab é o GNU Octave. Sua sintaxe é bastante
semelhante à do Matlab, o que facilita a migração. Outra opção com
sintaxe semelhante é o Julia (BEZANSON et al., 2014) que, em algumas
tarefas, apresenta um excelente desempenho.
Já o R é bastante conhecido de qualquer linguista e outros
pesquisadores que trabalham com estatística, análise ou mineração de
dados para a criação de corpus. Trata-se de um software livre desenvolvido
para facilitar o trabalho com dados numéricos e estatísticos, sendo
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amplamente utilizado em ciências cognitivas. Psicolinguistas costumam
utilizar o R para análise de dados devido à sua lógica de programação
e aos diversos códigos distribuídos gratuitamente para tal, mas nada
impede que ele seja utilizado para desenho e aplicação de experimentos.
Em resumo, observamos até aqui que o processador possui
uma arquitetura que recebe um determinado tipo de informação para
executar um algoritmo. Essa informação pode ser elaborada através
de uma linguagem de programação que, além de facilitar a tarefa do
programador, também pode ser traduzida para a máquina através de
compiladores e interpretadores, em troca de uma determinada perda no
desempenho do algoritmo. Agora que temos um conhecimento básico
sobre a comunicação entre hardware e software, seguimos com nossa
discussão sobre os softwares desenvolvidos para a criação e apresentação
de estímulos em ciências cognitivas.
4. Softwares para experimentação em ciências cognitivas
Uma das maiores dificuldades de um aluno que escolhe trabalhar
com o método experimental é aprender como controlar devidamente a
estimulação e a coleta dos dados. Além disso, reparo que, no Brasil, boa
parte dos experimentos que são realizados em software proprietários
de mais de mil dólares poderiam ser portados com facilidade para
software livre. Por este motivo, proponho uma mudança na relação dos
psicolinguistas com os softwares especializados em experimentação.
Neste caminho, nos deparamos com quatro problemas básicos
que, embora sem uma ordem específica, serão considerados e discutidos
ao longo desta seção:
(i)
Escolha: a grande oferta de softwares de estimulação existentes
hoje no mercado;
(ii)
Familiaridade com a tarefa: a falta de familiaridade com
conceitos mais básicos na relação entre hardware e software e
com linguagem de programação;
(iii) Aprendizagem: a curva de aprendizagem em algumas
plataformas de experimentação; e
(iv) Portabilidade: a diferença entre os sistemas operacionais que,
frequentemente, limita a escolha de softwares.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
981
No que diz respeito à escolha, há algumas décadas, as opções
disponíveis para elaborar testes psicométricos eram escassas, obrigando
os iniciantes a utilizar os recursos já disponíveis em seu laboratório. Isso
facilitava o fator escolha mas afetava o fator aprendizagem, visto que
precisamos nos acostumar com os softwares que eram disponibilizados.
Hoje, vivenciamos um crescimento nas opções de softwares especializados
em experimentação, nos trazendo cada vez mais opções de escolha.
Hoje é comum os laboratórios americanos e europeus
disponibilizarem de três a quatro opções para facilitar o trabalho de
integrantes e visitantes que, porventura, tenham experiência anterior
em algum deles. Ao solicitar um posdoc, é também comum os
laboratórios exigirem experiência em um ou dois softwares específicos,
correspondentes àqueles nos quais seus integrantes mais trabalham. Isso
traz uma uniformidade na forma como o laboratório desenvolve suas
pesquisas. Por outro lado, o que deveria ser uma facilidade, em certos
casos, se torna um problema.
Hoje existem dezenas de softwares que podem ser utilizados para
a elaboração de experimentos. Alguns destes softwares nos oferecem
desde a liberdade criativa das linguagens Turing complete4 como C,
Presentation, Java, R, Python e Matlab e suas toolboxes (caixa de
ferramentas). Outros nos dão a facilidade de aprendizagem e de uso
em detrimento da liberdade de criação nos softwares proprietários com
interface gráfica (GUI, de Graphic User Interface), como o E-Prime, o
Paradigm e o SuperLab. Outros ainda chegam a combinar a praticidade
da GUI, a liberdade da programação e, também, a portabilidade entre
sistemas operacionais, como o PsychoPy e o OpenSesame, ambos em
software livre.
O maior questionamento na escolha de um software cai em cima
dos iniciantes. Ainda inexperientes e tendo que dividir suas atenções
entre graduação, iniciação científica e pré-projetos para obter bolsas
e para ingressar em um mestrado, eles poderão apresentar ainda mais
Mais tecnicamente, existem diversos tipos de linguagens. Segundo Alan Turing,
uma linguagem de programação deve possuir (i) uma forma de repetição ou de salto
condicional e (ii) um fim, possibilitando a geração e a leitura de um resultado do
algoritmo programado. Ao atender estas condições, a linguagem é chamada de Turing
Complete. Linguagens turing complete nos permitem programar tudo o que nossa
habilidade nos permitir.
4
982
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
dificuldades tanto na escolha, quanto na curva de aprendizagem e na
habituação a um software durante seus primeiros testes. Neste momento,
mesmo aqueles que consideram ter um bom nível de conhecimento,
muito provavelmente optarão pela opção mais prática, independente de
ela ser, de fato, mais prática para ele, ou de ser a melhor opção para o
tipo de teste que irá aplicar.
Como vimos anteriormente, as linguagens de programação nos
permitem criar tudo o que nossa habilidade como programadores permitir.
Desta forma, é perfeitamente possível utilizá-las para criar qualquer tipo
de experimento, desde os mais simples e recorrentes até experimentos
mais complexos e com métodos completamente inéditos. Ainda assim,
escrever todos os comandos necessários para a comunicação entre
software e hardware, além de reescrever funções corriqueiras podem
dificultar e alongar este trabalho. Para facilitar a tarefa, diversos grupos
de pesquisadores com habilidades em programação desenvolveram
softwares que facilitam a vida do programador-experimentador.
Nas próximas subseções apresento e discuto algumas destas
opções. Comparações técnicas entre cada uma delas, como exatidão
temporal na coleta de dados ou velocidade de processamento, porém,
estão fora do escopo deste trabalho, especialmente porque estas medições
podem mudar de acordo com o hardware utilizado. Para garantir que
os tempos apresentados não foram alterados por conta de problemas
de sistema e/ou de hardware é necessário a utilização de medidores
externos (PLANT et al., 2004; PLANT; TURNER, 2009). Caso estas
comparações sejam interessantes para você, sugiro iniciar pela bateria
de testes realizada por Garaizar et al. (2014), comparando os softwares
E-Prime 2, PsychoPy e DMDX, ou o artigo de De Leeuw & Motz
(2015) que comparam os tempos de resposta do PsychToolbox 3 com
o do jsPsych rodando em navegadores e advogando pela viabilidade de
experimentos cronométricos via internet.
4.1 Opções de software experimental #1: As toolboxes
Uma das opções que nos auxiliam no desenvolvimento dos
experimentos são as toolboxes. Uma toolbox consiste em uma ‘caixa de
ferramentas’, contendo um conjunto de funções previamente escritas
para determinados fins. Com estas ferramentas, não precisamos realizar
toda a comunicação entre hardware e software, bastando utilizar estas
funções e definir seus parâmetros em nosso código, o que facilita e
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automatiza as tarefas mais comuns, no nosso caso, tarefas de apresentação
de estímulos e de coleta de dados. O quadro abaixo, nos mostra algumas
das toolboxes utilizadas para experimentos em ciências cognitivas, o que
inclui a psicolinguística e a neurociência da linguagem:
QUADRO 1 – Algumas opções de toolboxes utilizadas para experimentação
em ciências cognitivas5
Para Python
ExPyriment
PyGame
Vision Egg
•
•
•
Krause & Lindermann (2014)
Shinners (2011)
Straw (2008)
Para C
•
PsyToolKit
Stoet (2010)
Para Java
•
PsychJava
www.psychjava.com5
Para Matlab
•
Psychtoolbox 3
Kleiner et al. (2007)
Para JavaScript (Experimentos via Web)
•
jsPsych
De Leeuw (2014)
•
JATOS
Lange; Kühn; Filevich (2015)
O ExPyriment (KRAUSE; LINDERMANN, 2014) foi elaborado
para ser uma plataforma universal de experimentação. Primeiramente
por ter funções para experimentos comportamentais e neurofisiológicos,
segundo por ser multiplataforma, graças ao Python. Sua ideia é ter
uma lógica estruturada de forma a facilitar a transposição do desenho
experimental para o seu código. Uma de suas vantagens é a possibilidade
de rodar uma versão específica para tablets e smartphones android. Em
seu site é possível encontrar tutoriais e uma série de códigos modelo para
serem estudados e utilizados na programação de seu teste (ver Anexo).
O site do PsychJava está fora do ar há algum tempo. Não consegui informações sobre
os motivos da queda do site. Como ele já estava incorporado em outros softwares,
acredito que o projeto esteja parado.
5
984
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Os desenvolvedores do Vision EGG (STRAW, 2008) buscavam
uma forma mais simples de utilizar a linguagem de programação
multiplataforma Python para o processamento gráfico, especialmente em
3D. Eles então aproveitam o conjunto de bibliotecas de funções (API6)
gráficas conhecido como OpenGL e desenvolvem o VisionEGG como
uma interface entre os dois, visando a experimentação com estímulos
visuais.
O PyGame (SHINNERS, 2011) tem uma proposta diferente.
Originalmente criado para desenvolvimento de jogos, sua ideia é que o
seu próprio código seja responsável por tarefas que demandam maior
poder de processamento como a renderização de imagens e processamento
de áudio. Estas tarefas serão abstraídas de forma diferente do código
escrito pelos desenvolvedores, garantindo sempre o melhor desempenho
possível para o jogo. Estas características o tornaram uma boa ferramenta
para desenvolvimento de experimentação, sendo considerado uma boa
plataforma para estimulação visual e auditiva, que demandam mais
processamento da máquina.
Uma das toolboxes mais utilizadas atualmente é a Psychtoolbox
3, ou PTB-3, (KLEINER et al., 2007), desenvolvido para Matlab e GNU
Octave. A proposta do PTB-3 é fornecer funções que façam interface
entre o Matlab e o hardware para fins de experimentação. Isso permite
um maior controle e confiabilidade cronométrica das estimulações visuais
e auditivas apesar de ser uma linguagem mais distante do hardware (de
alto nível de abstração). Estas características a tornam uma excelente
ferramenta para programadores iniciantes. O PTB também tem interface
com a API gráfica OpenGL, além de ter funções escritas por fabricantes
de hardware como a EyeLink Toolbox, fornecida pela SR Research para
desenvolvimento de testes em seus equipamentos de rastreamento ocular.
Embora o Matlab tenha versões nas diferentes plataformas,
é bastante provável que alguns códigos precisem ser ligeiramente
modificados para se tornar compatíveis com um novo sistema operacional
O termo API (Application Programming Interface) se refere a um conjunto de
algoritmos criados pelo desenvolvedor de um software para permitir que outros
softwares, ou um código criado pelo próprio usuário, utilizem ou modifiquem algumas
funções ocultas da aplicação em questão.
6
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como, por exemplo, o mapeamento do teclado.7 Apesar disso, devido
à grande adoção, o PTB-3 é constantemente atualizado para corrigir
bugs, para aumentar suas funções e para melhorar seu desempenho e
compatibilidade. Mais além, a toolbox contém funções do PsychJava
que ainda não possui distribuição pública.
4.2 Opções de software experimental #3: Opções de experimento via Web
Caso você tenha a necessidade de realizar um experimento
em massa ou, por alguma outra razão, a experimentação via web seja
interessante para você, existe a possibilidade de utilizar linguagens
específicas para desenvolvimento de páginas web, como o HTML5,
o CSS e o JavaScript. Outra opção é o Flash que, por diversas razões
técnicas e, muito provavelmente também, estratégicas e de mercado, se
tornou indesejável pelo mercado.
Estas linguagens também possuem suas toolboxes, facilitando
bastante a tarefa de elaboração de testes psicofísicos na web. Uma toolbox
bem recente é o jsPsych (DE LEEUW, 2014), para JavaScript. O jsPsych
disponibiliza alguns modelos que podem ser reutilizados para outros tipos
de testes, o que facilita bastante o seu uso. Aqueles que já trabalharam
com JavaScript, CSS e HTML5, linguagens desenvolvidas para criação
de páginas web, provavelmente terão facilidade em desenvolver
experimentos com esta toolbox. Outra toolbox com o mesmo objetivo e
utilizando a mesma linguagem é o JATOS (Just Another Tool for Online
Studies), de Lange, Kühn & Filevich (2015).
Também temos opções em outras linguagens. Desenvolvido para
C, o PsyToolKit foi criado por Gijsbert Stoet para criação e aplicação de
experimentos comportamentais. A ideia deste toolkit é ser uma linguagem
de nível de abstração maior que o do C, tendo um compilador duplo que
transmuta o código para C durante a programação para, em seguida, o
compilador do C transformá-lo em linguagem de máquina. Desde sua
versão 1.4 é possível interpretá-lo na máquina virtual Java (JVM). Este
toolkit também possui uma interface web que permite criar e rodar
experimentos via web, além de uma interface gráfica para criação e
aplicação de questionários online (PsyQuest). Em seu site é possível
A mudança no código das teclas no PsychToolbox 3 pode ser observada nos códigos
anexos de Sampaio (2015). Dos 4 experimentos desenvolvidos com a toolbox, 2 foram
aplicados em PCs e 2 em Mac.
7
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encontrar diversos tutoriais e modelos dos paradigmas mais populares
em experimentação (ver Anexo).
Embora alguns testes possam ser facilmente portados para
plataformas Web, ainda sou bastante cético no que diz respeito ao
controle da estimulação. Alguns estímulos visuais e auditivos podem
variar bastante de acordo com o monitor, caixas de som, fones e hardware
utilizados. Máquinas e navegadores diferentes podem apresentar o
experimento e coletar os dados cronométricos de forma diferente. Além
disso, não temos um bom controle sobre as condições ambientes e sobre
quem são os participantes do teste em casos em que estas informações
sejam relevantes na interpretação dos dados.
No que diz respeito aos tempos de reação, De Leeuw & Moritz
(2015) realizaram uma bateria de testes comparando o desempenho
do jsPsych com o PsychToolbox 3 e advogam a favor da utilização de
JavaScript inclusive para testes cronométricos. Já Reimers & Steward
(2014) comparam testes em JavaScript em Flash. Os autores argumentam
que ambos podem ser ferramentas úteis para experimentação psicofísica.
Nos últimos anos, porém, o Flash vem sendo excluído de ambiente web,
o que me faz acreditar que, mesmo que ainda seja uma ferramenta útil, é
possível que, em breve, testes escritos em Flash deixem de ser viáveis. De
qualquer forma, o Flash gera arquivos bastante pesados em relação aos
outros softwares, o que pode comprometer o desempenho em máquinas
mais antigas e menos potentes.
Outra opção interessante para realizar experimentos na web
e em massa é o desenvolvimento de testes para tablets, que vêm se
tornando uma ferramenta cada vez mais explorada. Experimentos para
tablets podem ser desenvolvidos diretamente em Java (android) ou Swift
(iPad), além de poderem ser desenvolvidos em outros softwares livres
ou proprietários, como veremos nas próximas seções. Para iPad, ainda
existe a opção de desenvolvê-lo no PsyPad, criado e mantido por Andrew
Turpin (TURPIN; LAWSON; MCKENDRICK, 2014).
4.3 Opções de software experimental #3: Linguagens específicas para
experimentos cognitivos
As toolboxes facilitaram muito o trabalho de desenvolvimento de
experimentos cognitivos em diversas linguagens de programação. Porém,
se os programadores criam linguagens próprias para facilitar suas próprias
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tarefas, como o R e o Matlab, os pesquisadores em ciências cognitivas
também criaram linguagens que facilitam a apresentação de estímulos.
Este é o caso do PEBL (Psychology Experiment Building
Language; MUELLER; PIPER, 2014), baseado em C++, gratuito,
desenhado especificamente para a elaboração de experimentos com
estímulos de texto, imagens, áudios e vídeos. Esta linguagem está
disponível para Windows e MacOS e sua utilização consiste na criação e
na edição de arquivos de texto modelo que contém os códigos necessários
para que o parser da linguagem de programação apresente os estímulos
e colete os dados indicados pelo programador (ver Anexo). Outra opção
gratuita é o DMDX (FORSTER; FORSTER, 2003), bastante utilizado
para experimentos visuais.
Outros softwares deste tipo foram desenvolvidos por empresas
e são, portanto, pagas. Um dos softwares proprietários mais utilizados
nas últimas décadas é o Presentation, elaborado pela Neurobehavioral
Systems. O Presentation contém duas linguagens proprietárias, a SDL
(Scenario Description Language), e a PCL (Program Control Language),
baseadas em C e em Basic, ambas utilizadas para elaborar os estímulos
visuais, trials e o roteiro da estimulação. Atualmente, o Presentation
conta com um módulo que permite a programação em Python.
4.4. Opções de software experimental #4: Graphic User Interface (GUI)
Apesar das facilidades introduzidas pelas linguagens de
programação, pelas toolboxes e também pelas linguagens mais
direcionadas à experimentação, tudo isso ainda envolve o ato de programar
que, para alguns, ainda é considerado uma tarefa de especialistas.
Iniciantes e profissionais mais experientes em ciências cognitivas, que
não tiveram formação em lógica de programação, possuem uma enorme
resistência à necessidade de programar seus experimentos. Para eles,
foram elaborados alguns softwares que oferecem uma interface gráfica
(GUI), que torna o processo de desenvolvimento mais visual, diminuem a
necessidade de habilidades de programação e, assim, diminuem também
a curva de aprendizagem necessária para criar seus primeiros testes.
Um dos softwares GUI mais famosos é o Psyscope (COHEN
et al., 1993), bastante utilizado para experimentação em linguagem. O
Psyscope possui uma interface gráfica, com objetos drag-and-drop, que
permitem visualizar e organizar experimentos em uma lógica visual de
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diagrama arbóreo. As linhas indicam as relações entre funções, listas e
objetos do experimento, cada um com uma gama de opções internas que
nos dão enorme liberdade de configuração e personalização do nosso teste.
A versão atual do Psyscope conta com suporte aos aparelhos de
rastreamento ocular da Tobii. Embora rode nativamente em processadores
Intel,8 o Psyscope ainda é exclusivo do MacOS, o que se configura
em uma desvantagem, especialmente no que diz respeito ao preço do
equipamento. Apesar disso, ele tem como vantagem o fato de ser gratuito
e de que é possível dominá-lo em questão de dias. Uma nova versão, ainda
em fase beta, possui um editor de código interpretado. Esta mudança deve
permitir a identificação de erros e a alteração de determinadas funções
de forma muito mais simplificada, via código. Aos experimentadores
que desejarem testar a nova versão, basta entrar em contato com Luca
Bonatti, um dos desenvolvedores e responsáveis pelo fórum (ver Anexo).
Em ambiente Windows, um dos softwares mais próximos ao
Psyscope é o E-Prime, de código proprietário. O E-Prime também possui
uma interface drag-and-drop na qual é possível organizar e visualizar
o experimento, porém, sua lógica simula uma linha de tempo, na qual
listas e funções se sucedem. Sua versão 3.0 foi lançada em dezembro de
2016 com a possibilidade de desenhar experimentos para tablets. Devido
ao lançamento recente, os comentários sobre o E-Prime neste artigo se
referem à versão 2.
Outro software semelhante é o Paradigm.9 Com lógica semelhante
e baseado em Python. Ele tem a vantagem de possibilitar a criação de
experimentos que podem ser salvos em DropBox para serem apresentados
em iPads. Tanto o E-Prime quanto o Paradigm contam com suporte das
fabricantes. Os preços, porém, são uma grande desvantagem.
A maior razão da incompatibilidade de diversos softwares entre plataformas Mac
e PC era a utilização de processadores diferentes. Hoje todas as máquinas da Apple
utilizam processadores Intel, o que permite, por exemplo, que o Windows seja instalado
em um Mac, a existência dos diversos emuladores de Windows no Mac e, também,
dos chamados Hackintoshs, que consistem na instalação do MacOS em PCs. Por esta
razão, hoje o Psyscope poderia ser portado para o Windows, o que ainda não foi feito
pelos desenvolvedores.
9
No início de 2016 o Paradigm teve suas vendas interrompidas por conta do falecimento
de seu único desenvolvedor, Bruno Tagliaferri. A empresa foi comprada por Josh
Pritchard no final do mesmo ano, retornando as vendas e o suporte.
8
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Além destes, existem softwares que são desenvolvidos
pelas próprias fabricantes dos equipamentos, de forma a certificar a
comunicação eficiente entre software e o seu hardware. Este é o caso
dos rastreadores oculares. Para citar apenas as maiores fabricantes, o
equipamento da Tobii conta com o software Tobii Studio, uma ferramenta
que segue a lógica da linha do tempo para organizar os estímulos visuais.
O equipamento da SMI conta com toda uma suíte de aplicativos para
desenhar, aplicar e analisar os dados. Já os rastreadores da EyeLink
contam com o software Experiment Builder, além de toolboxes adicionais
para o Psychtoolbox, do Matlab e para Python.
A grande vantagem dos softwares com interface gráfica
está na curva de aprendizagem. Geralmente um iniciante consegue
aprender a usar e montar seu experimento em poucos dias. Porém, uma
desvantagem é o fato de serem muito focados no seu objetivo principal:
realizar experimentação. Desta forma, embora criem diversos tipos de
algoritmos bastante poderosos e avançados, eles são apenas softwares
de experimentação, não nos permitindo ir muito além das funções já
previstas pelos seus idealizadores.10
Alguns softwares que driblam esta questão vêm surgindo no
mercado, oferecendo uma interface gráfica que facilita a visualização da
sequência de algoritmos, mas, ao mesmo tempo, por serem baseados em
linguagens de alto nível, conseguem mesclar sua interface gráfica com
o potencial da programação. Felizmente, as duas opções que conheço
são gratuitas e multiplataforma: o PsychoPy e o Open Sesame, ambos
baseados em Python.
Excluindo o Psyscope, tecnicamente E-Prime e Paradigm podem ser expandidos
através das ferramentas chamadas “InLine”. Esta ferramenta permite inserir pedaços
de programação em outra linguagem dentro do código gerado pelo software GUI. Os
comandos InLine são a forma como podemos acessar algumas funções escondidas
dos softwares, tendo apenas o objetivo de extensão das possibilidades oferecidas na
interface gráfica. Desta forma, a linguagem dos InLine não é utilizada para criar um
código completamente novo com funções que já não foram, de alguma forma, inseridas
pelos desenvolvedores do software. Quando uma linguagem é inserida dentro de outros
softwares com esta finalidade, elas são conhecidas como Linguagens de Script e criam
scrips, diferente do código que o software cria ao final do processo de desenvolvimento
e que contém estes scripts.
10
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O PsychoPy11 (PEIRCE, 2007, 2009) possui uma interface gráfica
que permite elaborar e visualizar a organização de uma grande parte
do seu experimento. Grosso modo, ele possui duas janelas de linhas do
tempo, uma do experimento como um todo e outra de cada estímulo
a ser apresentado. Este software roda em uma base (backend) que faz
interface entre o Python e o OpenGL (pyglet).
A facilidade de uso e o fato de rodar em Python trouxe aos
usuários de PsychoPy o sonho de vê-lo rodando em um RaspberryPi, uma
espécie de minicomputador desenvolvido pela Fundação RaspberryPi
no Reino Unido (Figura 3). Estes computadores são extremamente
baratos, custando menos de 40 dólares sua versão mais potente hoje
(versão 3 Model B) e menos de 20 dólares em sua versão mais simples
(versão Zero). Devido ao seu preço, estes computadores vêm se tornando
popular em todo tipo de projeto que envolva recursos computacionais.
Porém, devido a incompatibilidades entre software (pyglet) e hardware
do RaspberryPi, o PsychoPy era incompatível com o RaspberryPi. Este
panorama pode mudar em breve. Felizmente, foram lançados em no ano
passado os primeiros drivers experimentais do OpenGL para a plataforma,
possibilitando o uso do PsychoPy nestes pequenos computadores.
Segundo testes realizados por Mark Scase e publicados no fórum do
PsychoPy12 em fevereiro de 2016, ainda é inviável aplicar experimentos.
Mas ainda assim é possível criar códigos no RaspberryPi e aplicá-lo em
máquinas com drivers mais funcionais.
É comum que categorizem o PsychoPy como uma toolbox devido a algumas
características. Não discordo, porém, o fato de ele possuir uma GUI faz com que ele
tenha mais interessados entre os leigos do que as toolboxes tradicionais e, por isso,
preferi categorizá-lo entre os softwares GUI.
12
“PsychoPy on RaspberryPi”: https://groups.google.com/forum/ - !topic/psychopyusers/1mPwJqDVy1c
11
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FIGURA 3 – Um RaspberryPi 3 Model B, em uma case de proteção (foto autoral).
Apesar da facilidade e de uma rápida curva de aprendizagem,13
ainda me parece mais simples configurar as variáveis de algumas
funções diretamente no código do PsychoPy. Outras, podem realmente
não estar disponíveis na interface gráfica visto que o software privilegia
uma interface simples com as funções mais comuns em experimentação
psicofísica. Por exemplo, ele não possui um editor de tabelas em sua
interface como o E-Prime e o Psyscope, por mais que estes editores sejam
bastante limitados. Desta forma, é necessário organizar nossas tabelas em
um software externo como o Excel. Geralmente isso é um procedimento
padrão para alguns programadores e simples para quem está iniciando
na área, não trazendo nenhuma dificuldade extra. Ainda assim, entre os
utilizadores da interface gráfica, esta ausência é normalmente apontada
como um de seus pontos fracos.
Excelente tutorial do PsychoPy em Português gravado pela Prof. Mahayana Godoy
(UFRN): <www.youtube.com/watch?v=W8cpnARvtNw>.
13
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FIGURA 4 – Captura de tela da interface gráfica do PsychoPy
Nota: Além da Interface GUI ele conta com um console para programação em Python.
O Open Sesame 14 (MATHÔT et al., 2012), embora tenha
uma interface mais completa que a do PsychoPy, ainda requer algum
conhecimento da relação hardware-software para que seja corretamente
utilizado. Um exemplo é a decisão sobre o tempo dos estímulos visuais
em comparação com a taxa de atualização de telas do monitor utilizado,
como discutiremos com mais detalhes na próxima seção. Outra questão é
a escolha da melhor base (backend) para ser utilizada pelo OpenSesame
para o seu experimento, de acordo com o tipo de teste e de hardware
[pyglet, pygame, xpyriment ou droid15]. Caso o pyglet não seja necessário,
o Open Sesame pode se tornar uma boa ferramenta para ser utilizada nos
RaspberryPi. Este software pode ser considerado também uma opção
gratuita ao E-Prime visto que sua interface possui alguma semelhança
com a do software proprietário.
Na prática, o Python funciona como uma Linguagem de Script no Open Sesame,
aparentemente de forma distinta do que acontece no PsychoPy. Ainda assim, o Python
é mais fundamental no Open Sesame do que as linguagens de script no E-Prime ou no
Paradigm e, por este motivo, o categorizamos entre as toolboxes e os softwares GUI.
15
Para experimentos em tablets Android.
14
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FIGURA 5 – Captura de tela da Interface gráfica do Open Sesame
5. Cuidados na relação software-hardware que influenciam a percepção
A seção anterior traz uma gama de alternativas de software para
elaborar a estimulação. Por outro lado, nossos cuidados não podem se
resumir a uma boa escolha de software. Assim como Chomsky propõe a
diferença entre a competência e o desempenho, separando o que sabemos
do que de fato fazemos em linguagem, podemos transpor a dicotomia
para a relação software-hardware. O software nos permite enviar um
comando para que a máquina faça uma determinada tarefa, mas será que
o hardware é capaz de realizá-la?
5.1 Cronometria e estimulação visual: o caso do movimento aparente
Após os esforços de Helmholtz na Psicologia Fisiológica e de sua
recuperação por Donders e Cattell na Psicologia Experimental, nossos
métodos de coleta e de análise de tempos de resposta (Cronometria
Mental) são reconhecidamente uma ferramenta de análise e de medida
dos processos cognitivos. A psicolinguística se utiliza frequentemente
de protocolos cronométricos em modalidades visual e auditiva como nos
experimentos de decisão lexical, de priming, de leitura automonitorada,
em testes de percepção entre outros. Muitos testes, porém, dependem de
exatidão temporal na escala dos milissegundos e, para isso, é necessário
ter uma noção do funcionamento de nossos equipamentos, como o
monitor.
994
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Antes de entrar nos detalhes do funcionamento dos monitores,
precisamos entender duas ilusões visuais que foram de extrema
importância na história do seu desenvolvimento. A primeira delas é o
Phi Phenomenon (WERTHEIMER, 1912), que ocorre quando dispomos
diversas lâmpadas uma ao lado da outra e as ligamos e desligamos de
forma sucessiva. Esta ação impede que nossa mente perceba o desligar
e ligar das lâmpadas, criando uma ilusão de que a luz se move de uma
lâmpada para a outra.
A segunda ilusão é a Beta Movement, descrita por (KENKEL,
1913). Se apresentamos uma sequência de imagens ligeiramente
semelhantes – como um boneco em diferentes posições – em uma
determinada velocidade, nossa mente não consegue concebê-las como
imagens estáticas, mas como uma mesma imagem cuja cena está em
movimento. Estes dois fenômenos nos causam a ilusão conhecida como
Movimento Aparente.
Estas ilusões são as responsáveis pela nossa capacidade de nos
entreter com vídeo games, animações e filmes. Duas questões foram
postas para as técnicas de apresentação de imagens com movimento
aparente: (i) criar um material com maior número de imagens para resultar
em uma melhor experiência ou (ii) criar um material que mantenha a
experiência aceitável da forma mais barata possível?
Nos primeiros filmes mudos, as imagens eram apresentadas em
uma sequência de frames registrados em películas de celuloide numa taxa
que variava entre 14 e 26 quadros por segundo (fps, frames per second),
que foi o suficiente para dar a ilusão de movimento. Por outro lado, este
movimento era normalmente considerado irregular, dando a sensação
de que as imagens tinham pequenos saltos no tempo (skipping). Desta
forma, podemos dizer que o threshould16 para o beta movement é de
aproximadamente 15fps. Para resolver este problema, os filmes passaram
a ser gravados e apresentados em uma taxa mais alta, variando entre 18
e 23fps, melhorando consideravelmente a experiência dos vídeos. Mais
tarde, essa taxa passou para 24fps fixos, visto que esta é a taxa mínima
Podemos traduzir threshould pelo termo “limiar”. O limiar seria um ‘nível’ a partir
do qual podemos observar uma mudança na percepção. Neste caso, até 14fps o
sistema visual humano consegue distinguir as imagens de um filme. A partir de 15fps
aproximadamente, esta percepção passará a ser de movimento, embora uma melhora
na fluidez do movimento possa ainda ser observada com o aumento da frequência.
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para que os vídeos pudessem ser corretamente sincronizados com o som
(READ; MEYER, 2000).
5.2 Por que usar monitores CRT?
A televisão foi inventada na década de 50 e levou as imagens de
filmes e programas televisivos para dentro das casas. Estes aparelhos
eram enormes e pesados devido a sua tecnologia. Existem elementos que
emitem radiações através da absorção de uma fonte de energia. Este é o
caso do fósforo, que é utilizado tanto em objetos fluorescentes, que emite
radiação visível enquanto absorve radiações de outras fontes, quanto nos
fosforescentes, que continuam a emitir radiação visível algum tempo após
a absorção. As telas das TVs são fosforescentes e absorvem os elétrons
emitidos por um grande tubo de raios catódicos (Cathode Ray Tube, ou
CRT), responsáveis pelo tamanho e peso destes aparelhos.
Os monitores mais antigos seguem a mesma tecnologia. Nos
monitores CRT, cada quadro (imagem estática) é construído pixel por
pixel de forma sequencial, partindo do primeiro ponto no canto superior
esquerdo até o último no canto inferior direito da tela, tudo isso em
poucos milissegundos. Neste momento, o computador recebe um sinal
do monitor indicando que o quadro atual foi finalizado e começa a
construção do próximo quadro. Este sinal é chamado de retrace signal
(sinal de retorno; COHEN; PROVOST, 1994). Para não percebermos a
mudança entre quadros, a tela pisca durante 1,5ms enquanto os raios que
iluminam cada pixel da tela retornam ao canto superior esquerdo para
iniciar a montagem do próximo quadro (PEIRCE, 2009). A frequência
na qual um monitor consegue trocar de um quadro para o outro ficou
conhecido como refreshrate (taxa de atualização). Este termo, em parte,
substituiu o fps nas descrições de manuais.
Uma curiosidade dos aparelhos de TV é que o refreshrate era
definido de acordo com a alternância de corrente elétrica local. Nos EUA,
essa frequência é de 60Hz enquanto o fornecimento de energia na Europa
funcionava a 50Hz. O refreshrate indica o quão rápido um aparelho
consegue atualizar a imagem a cada segundo. Assim, os aparelhos
de televisão na Europa poderiam apresentar uma imagem diferente a
cada 20ms (1/50) enquanto, nos EUA, as televisões eram mais rápidas,
podendo apresentar uma imagem a cada 16.7ms (1/60). Os monitores,
seguindo a tecnologia das televisões, geralmente funcionam a 60Hz.
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Embora consumam muita energia, os Monitores CRT possuem
um excelente tempo de resposta aos comandos do computador (na casa
dos microssegundos, µs), e excelente ângulo de visão, o que permite que
pessoas em diferentes posições tenham uma experiência psicofísica da
imagem muito semelhante. Por esta razão, diversos centros importantes
de ciências cognitivas resistem às tecnologias recentes e insistem em
apresentar estímulos visuais exclusivamente em monitores CRT.
5.3 Os monitores modernos são uma boa opção?
A tecnologia dos monitores mais modernos evoluiu a partir das
telas monocromáticas utilizadas, por exemplo, em relógios e em alguns
laptops antigos. Chamamos normalmente esta tecnologia de LCD (Liquid
Crystal Display; Tela de Cristal Líquido) mas, o nome correto seria TFT
(Thin Film Transistor, Transistor de Filme Fino). O LCD é apenas a
forma como os primeiros monitores de tela fina funcionam.
O cristal líquido é uma substância transparente mas, ao receber
a corrente elétrica, desmonta sua estrutura e se torna opaca, bloqueando
passagem de luz. Nos monitores TFT-LCD, o cristal líquido é espalhado
entre duas lâminas transparentes e polarizadas em sentidos opostos
(HOOGBOOM et al., 2007). Para formar a imagem, o transistor emite
uma corrente elétrica capaz de alterar a configuração do LCD, fazendo
as moléculas girarem até 90o na vertical. Por este motivo os monitores
que utilizam esta tecnologia são chamados Twisted Nematic (LCDTN), devido ao arranjo torcido das moléculas de cristal líquido que se
posicionam de forma perpendicular à tela (Figura 6). O movimento das
moléculas de cristal guia os raios de luz na formação da luz e das cores,
de acordo com a imagem a ser exibida.
Algumas das vantagens do LCD-TN foi ter diminuído o tamanho
dos monitores, ter um tempo de resposta ainda razoável (poucos
milissegundos) e ser extremamente barato hoje em dia. Por outro lado,
seu ângulo de visão é bastante restrito devido à angulação das moléculas
de cristal líquido. Isso resulta numa baixa fidelidade de cores, de brilho
e de contraste da imagem exibida. Estas características fazem com que
monitores LCD-TN não sejam recomendados para estimulação visual
visto que é difícil que dois participantes tenham a mesma experiência
psicofísica da imagem. Nos LCD-TN, brilho, cores e contraste se alteram
drasticamente bastando um sutil movimento para o lado.
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Na busca por uma solução para este ponto fraco, foi elaborada
a tecnologia LCD-IPS (In-Plane Switching) que, através de um novo
método, conseguiu com que as moléculas de cristal líquido girassem
no sentido horizontal ao invés do vertical das telas TN, se posicionando
de forma paralela à tela. Esta mudança diminui a distorção da imagem
e aumenta seu ângulo de visão. Monitores IPS possuem excelentes
ângulos de visão e fidelidade de cores. Seu ponto fraco, porém, está em
seu tempo de resposta que é bem mais lento que o dos monitores TN.
Inicialmente este se tornou um dos grandes pontos fracos da tecnologia,
criando o efeito Ghosting, quando percebemos resquícios das imagens
anteriores nas imagens correntes devido a baixa taxa de atualização. A
tecnologia IPS ainda não resolveu este problema mas, hoje, por falta de
opções, ainda é o monitor LCD, de preço acessível, mais recomendado
para experimentação (Figura 6).
FIGURA 6 – Modelos de funcionamento de monitores LCD-TN e LCD-IPS
Nota: Adaptado dos manuais da Sharp.
Com a escassa oferta de monitores CRT no mercado, alguns
trabalhos discutem a possibilidade de monitores OLED (Organic LightEmitting Diode) e os displays de painel de plasma o substituírem (ITO
et al., 2013; RICHLAN et al., 2013). No que se refere ao OLED, estes
monitores são construídos com duas ou três camadas de materiais de
carbono que emitem luz quando expostos a um campo eletromagnético
(Figura 7). A primeira camada é responsável pela condução da energia
elétrica enquanto a última é responsável pela emissão de luz. Esta luz
é produzida por três lâminas, responsáveis pelas cores do sistema RGB
(vermelho, verde e azul) e o brilho da luz é proporcional à força do
campo magnético.
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FIGURA 7 – Modelo de funcionamento de um monitor OLED
Nota: Baseado no modelo da Visionox.
Monitores OLED possuem gama e fidelidade de cores superiores,
além de possuírem melhor brilho e um excelente campo de visão,
girando em torno de 170-180 graus, o que evita as distorções comuns
nos monitores LCD. Além disso, possuem um tempo de resposta também
superior, o colocando à frente da concorrência em termos de usabilidade
para a experimentação visual. Sua grande desvantagem é que se trata
de uma tecnologia recente e, por isso, ainda possuem um alto custo no
mercado. Cooper et al. (2013), em especial, já apontam os monitores
OLED como ótimos substitutos aos CRT.
5.4 Questões sobre a tecnologia dos monitores, desenho e aplicação de
testes psicolinguísticos
Atualmente, a grande maioria dos monitores funcionam a 60Hz,
embora seja possível encontrar monitores de tecnologia mais recente
com refreshrates de até 200Hz (5ms/quadro), especialmente para jogos.
Ainda assim, a experiência de vídeo depende também da capacidade de o
hardware processar cada imagem dentro desta taxa de atualização, através
de um processador razoável, uma boa placa de vídeo, preferencialmente
dedicada, e também uma quantidade razoável de memória RAM livre.
Também é importante que, na hora da aplicação dos testes, sejam
desabilitadas tarefas de fundo como antivírus, atualizações de software
e notificações, a fim de evitar o consumo desnecessário de memória e
de recursos do processador que podem deixar as tarefas mais lentas,
alterando tanto a percepção quanto a medição dos dados.
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Além disso, como indicado anteriormente, se precisamos de
exatidão na casa dos poucos milissegundos, é de extrema importância
termos noção sobre a competência e o desempenho da máquina. Para dar
um exemplo do porquê, me basearei em um protocolo experimental de
priming encoberto, no qual o experimentador apresenta a palavra prime
por poucas dezenas de milissegundos a fim de que a palavra seja lida,
mas dificilmente percebida pelo participante.
Considere um experimento de priming encoberto de Garcia
(2013), em que a experimentadora quis apresentar a palavra prime por
38ms encoberta por uma máscara (uma sequência de *) que é apresentada
por 50ms antes e após a palavra prime. Agora considere que este teste seja
aplicado em um monitor de 60Hz. Ao utilizar um software com interface
gráfica como o Psyscope (utilizado pela autora) ou o Open Sesame, um
experimentador inexperiente irá indicar o tempo de apresentação desejado
para o estímulo no campo correspondente: 38ms. Porém, isso quer dizer
apenas que, aos 38ms, o computador enviará o comando para o monitor
atualizar a imagem. Na prática, o estímulo só será de fato trocado no
tempo de atualização da tela seguinte, ou seja, em um múltiplo de 16.7ms
(1s / 60Hz). Neste cenário, podemos perceber que a última atualização do
monitor teria sido por volta dos 33.4ms, o tempo de 2 quadros. Assim, a
próxima atualização será aos 33.4ms + 16.7 = 50.1ms, o que indica que
tanto a palavra prime (38ms) quanto a sua máscara (50ms) seriam, na
verdade, apresentados com a mesma duração, de 50.1ms.
A princípio, isso não é necessariamente um problema para grande
parte dos experimentos, quando trabalhamos com períodos relativamente
longos como 300 ou 400ms. Ainda assim é importante estar atento a esta
questão uma vez que, no caso do priming encoberto citado e de outros
testes cujos estímulos sejam apresentados por poucos quadros, o tempo
de uma atualização da tela pode ser a diferença entre o participante
ter consciência do estímulo ou não. Além disso, o experimentador irá
descrever o teste indicando que a palavra prime foi apresentada por
um determinado período quando, por limitações de hardware, ela teria
sido apresentada por um tempo consideravelmente maior. Caso as
configurações de hardware e software não estejam explicitamente citadas
na seção de métodos, não é possível ter certeza de que a descrição do
teste corresponde, de fato, a sua realidade.
O problema pode ser ainda mais grave. Enquanto muitos guias
de uso especificam que seus monitores funcionam a 60Hz, não é raro
1000
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
encontrar em suas especificações técnicas detalhadas a informação de
que eles funcionam em um range entre 60-75Hz. E estas especificações
não deixam claro em que situações o monitor funciona em determinada
faixa, se a atualização possui um timing variável a depender do tipo de
imagem ou se ele permite configurações que nos possibilite controlar
o refreshrate dentro desta faixa. Diversos trabalhos sobre métodos em
estimulação visual se debruçam sobre este tema. A maioria concorda que,
(i) ao se trabalhar com monitores LCD, é necessário realizar testes de
precisão e que (ii) confiar apenas na taxa de atualização e na contagem
de quadros não é um método confiável (PLANT; TURNER, 2009; ELZE,
2010a, b; BAUER, 2015).
Quem realmente programa está atento a estas questões pois saber
a taxa de atualização do monitor é essencial para que seu código funcione.
Isso pode ser observado no código matlab/psychtoolbox desenvolvido por
Sampaio & van Wassenhove (2013), utilizado e publicado por Sampaio
(2015) e ilustrado na figura 8. Neste código, existe um cálculo em cima
do número de frames apresentado pelo hardware (variável “dur_f”) para,
enfim, adaptar o tempo indicado (variável “dur”) e reportar o número
de frames apresentados. Este tipo de cálculo é comumente chamado
de sincronizador adaptativo (adaptive synchronizer). Para usuários de
softwares GUI, porém, estes detalhes podem passar uma vida sem serem
percebidos.
FIGURA 8 – Captura de tela com parte do código escrito em Matlab por Sampaio
& van Wassenhove (2013), utilizando funções do PTB 3
O PsychoPy também possui um sincronizador adaptativo
utilizando uma função para testar a taxa de atualização do monitor e
calcular a duração de cada frame, como ilustrado na figura 9. Ainda assim,
é importante estar atento pois, em alguns casos, ele não consegue recuperar
a taxa de atualização e usará 60Hz como padrão. O E-Prime 2, possui
1001
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
uma ferramenta de diagnóstico que também realiza esta sincronização
e nos dá informações sobre a capacidade do hardware (SCHNEIDER et
al., 2002). Os desenvolvedores do Open Sesame, em seus tutoriais em
vídeo,17 chamam atenção para este ponto ao recomendar a utilização de
múltiplos da taxa fps decrescidos de 5ms, para evitar possíveis atrasos
no processamento. Já o Paradigm e outros softwares conseguem reportar
o número de quadros apresentados e, por vezes, a sua duração. Porém
não fica claro se eles possuem algum tipo de sincronizador.
FIGURA 9 – Sincronizador adaptativo nativo do PsychoPy
O Psyscope também não deixa claro se possui este sincronizador,
mas Cohen & Provost (1994, p. 446) indicam a existência de outro método
de controle, o retrace synching. Normalmente o computador envia a nova
imagem para o monitor de acordo com a taxa de atualização. O monitor,
então, aguarda até que o frame seja finalizado para atualizar a imagem,
como vimos anteriormente. Com o retrace synching, o PsyScope aguarda
o sinal de retorno do monitor (retrace signal) para enviar a imagem, o que
garante que o tempo indicado nos resultados é o tempo exato do onset do
estímulo. A duração exata dos frames e, por consequência, do estímulo,
pode ser calculada a partir dos dados do log e do retrace synching.
Todas estas questões nos mostram que, para desenvolver
testes psicofísicos e psicolinguísticos, não basta ter domínio sobre um
determinado software. É necessário também ter alguma noção sobre que
passos o hardware deverá seguir e o quão bem ele é capaz de executar
estes passos, de forma que possamos pensar em como contornar eventuais
problemas ou desvios de precisão e de exatidão os dados. Softwares com
interface gráfica, são bastante úteis por simplificar a tarefa de elaborar um
experimento. Por outo lado, eles nos permitem rodar experimentos sem a
17
www.youtube.com/ceebassmusic
1002
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
necessidade de entender o que, de fato, está sendo feito das variáveis que
definimos para o teste. Isso pode nos fazer acreditar que uma determinada
variável visual ou temporal está devidamente controlada quando, na
verdade, não está.
Após esta discussão sobre testes rodando numa máquina
controlada, me pergunto sobre a precisão e exatidão dos dados retornados
em ferramentas web que não possuem máquinas, monitores e nem
ambientes controlados.
6. Considerações Finais
Ao final deste trabalho, acredito ter atingido dois objetivos
principais. O primeiro deles é a discussão e apresentação de diversos
tipos e opções de software que podem ser utilizados para experimentação
em ciências cognitivas em geral, o que inclui a psicolinguística. Existe
uma enorme gama de softwares em diferentes plataformas e com
diferentes níveis de curva de aprendizagem que poderiam ser muito mais
difundidos no Brasil, aumentando o contato dos alunos de Linguística
com a experimentação. O segundo objetivo é a discussão sobre eventuais
problemas de método que podem ser facilmente contornáveis caso
tenhamos conhecimento do que acontece na máquina quando estamos
rodando nosso teste.
6.1 Mas qual software eu devo utilizar?
Uma das principais perguntas que poderá ser feita após esta
discussão é: “qual software devo utilizar”? Acredito que minha
contribuição neste artigo foi a de apresentar diversas opções e suas
principais características, de forma que você tenha alguma base antes de
escolher um deles. De uma forma mais prática, apesar de antigamente o
DMDX, o Presentation e o Psyscope serem alguns dos mais utilizados,
hoje percebo que os softwares mais populares são o C e suas toolboxes,
o PyGame (Python) e o Psychtoolbox 3 (Matlab) entre aqueles que
programam. Entre os que não programam, o E-Prime e o PsychoPy me
parecem ser os mais populares nos laboratórios americanos, europeus.
No Brasil, o E-Prime se tornou bastante popular nos últimos anos entre
os não-programadores, seguido pelo Paradigm, devido ao seu preço
mais acessível. Dentre as opções em software livre, vejo raros artigos
utilizando o PsychoPy e o DMDX.
1003
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
Para quem inicia sua vida acadêmica, acredito ser bastante
razoável recomendar o PsychoPy. Esta recomendação se deve a 5 fatores:
(i) se trata de um software extremamente simples com uma interface
gráfica limpa, que contem apenas o necessário; (ii) te dá a possibilidade
de continuar usando o mesmo software após uma iniciação à programação
em Python, (iii), possui um sincronizador adaptativo, te dando maior
confiança quanto aos dados obtidos; (iv) é bastante popular e você poderá
trocar experiências e códigos com diversos pesquisadores do mundo que
o utilizam, além de (v) se tratar de software livre. Vale ressaltar que esta
indicação não passa de uma opinião pessoal de um software que considero
ser extremamente prático e confiável para grande a maioria dos casos.
Particularmente, tenho uma ótima experiência ao utilizar o
PsychoPy em aulas de psicolinguística para a graduação. Esta experiência
faz com que os alunos percam o medo de elaborar experimentos por não
saberem programar, consigam aplicar e analisar seus próprios testes em
poucas aulas e, por consequência, tenham uma experiência mais real sobre
o que é a experimentação psicolinguística, aumentando o interesse pela
área. Além disso, os laboratórios de Psicolinguística no Brasil costumam
pagar mais de mil dólares em cada licença que podem ser facilmente
substituíveis por soluções em software livre, bastando um pouco mais
de informação. Apesar de livres, todos estes softwares possuem grupos
de discussão que funcionam como um suporte coletivo entre os usuários
e os desenvolvedores responsáveis.
Além do PsychoPy, as opções em JavaScript parecem ser
excelentes opções para coleta de dados via web. Embora eu ainda
não me sinta a vontade para realizar coleta de tempos de resposta
nestas plataformas, as comparações de De Leeuw & Moritz (2015) me
pareceram consistentes. Me pergunto apenas se a precisão cronométrica
se mantém independente da diferença de processamento das máquinas
utilizadas e dos seus dispositivos. Por esta razão, apesar de recomendar,
sugiro um certo cuidado com estas plataformas caso você trabalhe com
diferenças sutis na estimulação física, como diferenças em imagens, em
intensidade de luz e de cores ou com tempos de apresentação como nos
testes de priming encoberto.
1004
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
6.2 Atenção às configurações de software e de hardware
Meu segundo objetivo foi mostrar que é necessário ter uma
compreensão mínima da interface software-hardware para que possamos
ter certeza de que controlamos corretamente a estimulação psicolinguística.
Apenas dizer ao computador o que queremos não significa que ele é capaz
de realizar. Sem um conhecimento das capacidades do hardware ou sem
a utilização de medidores externos acurados, é impossível perceber que
a máquina não está controlando os tempos da forma que indicamos.
Ainda neste escopo, estas questões mostram a importância de
descrevermos detalhadamente o software, código e hardware utilizados
no desenho e aplicação dos testes. Muitos softwares podem não ter
sido testados em uma determinada versão de um sistema operacional,
especialmente os recém lançados. Por esta razão, não podemos atualizar
os sistemas operacionais das plataformas de aplicação antes de termos
certeza de sua total compatibilidade com os softwares, o que é diferente
de o software simplesmente funcionar.
Alguns softwares podem apresentar problemas com determinadas
peças de hardware como, por exemplo, uma placa de vídeo, mas raramente
estamos atentos aos avisos dos desenvolvedores sobre estas questões.
Além disso, muitas vezes indicamos em nossos testes que a apresentação
dos estímulos foi realizada em um tempo que é notadamente impossível
de ser apresentado em um monitor comum. Isso não é errado visto que
não temos a obrigação de conhecer todos os detalhes, configurações
e incompatibilidades de hardware existentes. E por isso é importante
sinalizar estes detalhes em nossos métodos de forma que possíveis
problemas possam ser facilmente identificados por aqueles que possuem
um maior conhecimento no assunto. Esses cuidados evitam alguns dos
fatores que levam ao problema da replicação dos resultados, tema que
vem sendo bastante debatido como, por exemplo, no levantamento da
Open Science Collaboration (2015) na Science que levou, posteriormente,
à publicação de “A manifesto for reproducible science” (MUNAFÒ et
al., 2017), na Nature.
Reforço que a divulgação detalhada e cuidadosa das principais
informações sobre o hardware, o software, a elaboração, os métodos
de elaboração, de aplicação e de análise de nossos experimentos, assim
como a divulgação dos estímulos e dos códigos fonte, são fatores
fundamentais para a viabilidade do método experimental, que tem sua
eficácia e validade fundadas exatamente na reprodução sistemática destes
1005
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
métodos e de seus resultados por diferentes pesquisadores em diversas
partes do mundo.
Acredito que este artigo seja de alguma forma inspirador para
que sejamos mais atentos e tenhamos um maior cuidado descritivo no
momento de reportar nossos testes.
Agradecimentos
Agradeço a Virginie van Wassenhove, Douglas Bemis, Jansen Oliveira,
Daniela Cid de Garcia e Julia Cataldo Lopes pelas discussões sobre
linguagem de programação, experimentação e métodos. Renata Passetti
que, há poucos dias do envio deste artigo, me inspirou a revisar as
opções de experimentação via web, tornando este trabalho um pouco
mais abrangente. Agradeço a Leticia Kolberg e aos alunos do curso
Tópicos em Psicolinguística em 2016/2 que, nas aulas sobre métodos,
me ajudaram a levantar alguns dos exemplos utilizados ao longo do
texto. Agradeço aos revisores deste artigo que, com suas sugestões de
reelaboração, tornaram este trabalho, na medida do possível, um pouco
mais acessível. O presente artigo foi realizado sob a vigência do projeto
FAEPEX 519.292 e no âmbito do auxílio FAPESP 2016/13.920-9.
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1010
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 971-1010, 2017
ANEXO: Endereço das ferramentas computacionais citadas no texto
a)
Multiplataforma Livre:
C: www.open-std.org/jtc1/sc22/wg14
ExPyriment: www.expyriment.org
JATOS: www.jatos.org
Java: www.java.com
JsPsych: http://www.jspsych.org
Julia: julialang.org
Open Sesame: osdoc.cogsci.nl
Octave: www.gnu.org/software/octave
PEBL: pebl.sourceforge.net
PsyToolKit: www.psytoolkit.org
PsychJava: psychjava.com*
PsychoPy: psychopy.org
Psychtoolbox 3 (p/ Matlab e Octave): psychtoolbox.org
PsyPad: www.psypad.net.au
PyGame: pygame.org
Python: www.python.org
R-Project: www.r-project.org
Scilab: www.scilab.org
VisionEgg: visionegg.org
b)
Multiplataforma Proprietário:
Matlab: www.mathworks.com
SuperLab: www.cedrus.com/superlab
c)
MacOs X, Livre:
Psyscope: psy.ck.sissa.it
d)
Windows, Proprietários:
E-Prime: www.pstnet.com/eprime.cfm
Paradigm: paradigmexperiments.com
Presentation: www.neurobs.com
e)
RaspberryPi: www.raspberrypi.org
* O site do PsychJava está fora do ar há algum tempo. Não consegui informações sobre
os motivos da queda do site. Como ele já estava incorporado em outros softwares,
acredito que o projeto esteja parado.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
Maxakalí Nasality and Field Recording
with Earbud Microphony
Nasalidade no Maxakalí e gravação em campo
com microfonia de fone de ouvido
Andrew Ira Nevins
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
a.nevins@ucl.ac.uk
Mário André Coelho da Silva
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
mario.andrecs@gmail.com
Abstract: The challenges in verifying vowel nasalization acoustically are
well-known, and for this reason many researchers have opted for the use
of nasal airflow masks. Such equipment, however, is not always affordable
for recordings or projects conducted in the field. In the present article,
we apply the recently developed technology of earbud recordings in
Stewart & Kohlberger (2017) to the study of nasality in Maxakalí as a new
method in experimental fieldwork phonology. This language has several
phenomena related to nasality such as nasal spreading, prenasalization
at the beginning of words, and glottal transparency in morphologicallyalternating ‘long forms’. One goal in using methodology with affordable
equipment is to make it easier to generate a visual representation of the
timing of the nasal profile of a word, thereby yielding possibilities for
experimental linguistics to show increased integration with language
description and pedagogy.
Keywords: nasal harmony; prenasalized stops; loanword phonology;
Maxakalí; field recording.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1011-1042
1012
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
Resumo: As dificuldades em se verificar acusticamente a nasalização
de vogais são bem conhecidas e por isso diversos pesquisadores optam
por usar máscaras de fluxo nasal. Porém, esse tipo de equipamento nem
sempre é prático para gravações em campo. No presente estudo, foi
aplicada a tecnologia recentemente desenvolvida de gravação com fones
de ouvido apresentada em Stewart e Kohlberger (2017), com o intuito de
estudar a nasalidade no Maxakalí e esse processo de gravação como um
novo método de fonologia experimental em campo. A língua Maxakalí
conta com diversos fenômenos ligados à nasalidade como, por exemplo,
espraiamento de nasalidade, pré-nasalização em início de palavra, entre
outros. Um objetivo ao usar uma metodologia com equipamentos de baixo
custo é facilitar a geração de uma representação visual do perfil nasal de
uma palavra, produzindo possibilidades para a linguística experimental
mostrar uma integração maior com a pedagogia de língua.
Palavras-chave: fonologia de empréstimos; gravação em campo;
harmonia nasal; Maxakalí; oclusivas pré-nasalizadas.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 3 de abril de 2017.
1 Background on Maxakalí and difficulties of nasality in Acoustic
Analysis
1.1 An overview of Maxakalí phonology
Maxakalí is an indigenous Brazilian language spoken in Minas
Gerais state by about 2,000 people. It forms part of the Macro-Jê stock
and it is the only extant language within its branch. Maxakalí is well
known in the phonological literature for a number of properties such
as the lack of any phonological liquids and the prevocalization of all
its eight consonants in coda position (GUDSCHINSKY; POPOVICH;
POPOVICH, 1970; WETZELS, 1993; WETZELS; SLUYTERS, 1995;
ARAÚJO, 2000; SILVA 2015). The table below shows the language’s
consonantal inventory, as well as the prevowels resulting from coda
lenition (or prevocalization):
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voiceless stop
voiced / nasal stop
fricative
1013
labial
dental
palatal
velar
glottal
p
t
c
k
ʔ
[ɤ̯]
[ə̯]
[j]
[ɰ]
b/m
d/n
ɟ/ɲ
g/ŋ
[ɤ̯]̃
[ə̯]̃
[j]̃
[ɰ̃]
h
An important allophonic process in Maxakalí is the one involving
voiced and nasal stops: nasal stops always precede nasal vowels and
voiced stops most of the times precede oral vowels. The two instances
where voiced stops precede nasal vowels are in some verbs with the
[-nãŋ] suffix (further discussed in Section 3.5) and in loanwords. It is also
important to know that the coda position always agrees in nasality with
the syllable nucleus, so the consonant in this position is underspecified
for nasality (SILVA; NEVINS, 2015). As can be seen from the Table
above, glottals do not undergo lenition, as they never occur in coda
position (except for some loanwords). Therefore, both /ʔ/ and /h/ do not
have a prevocalized allophone.
There is a long discussion in the literature about the underlying
nature of voiced ~ nasal stops. Gudschinsky, Popovich & Popovich
(1970) contend that Maxakalí has nasal stops and a contrast between oral
and nasal vowels, such that nasals become oral before oral vowels (as
represented in Popovich’s orthography). Rodrigues (1981) claims that,
except for a few instances, there are just oral stops and oral vowels in the
language and that by the means of a rule, codas become nasalized and
then spread nasality to the segments to their left. Araújo (2000) argues
that there are nasal consonants and oral vowels only, and that nasal coda
consonants are responsible for spreading nasality to other segments.
Finally, Wetzels (2009) postulates that there are oral consonants only and
both nasal and oral vowels. According to him, stressed nasal vowels are
responsible for spreading nasality to other segments. In this paper, we
follow Wetzels’ hypothesis, as Gudschinsky, Popovich & Popovich’s is
typologically unnatural, Rodrigues’ cannot explain why words without
a coda may be nasal (then treating them as exceptions) and Araújo’s
is not adequate to explain why epenthetic vowels in CCṼC words are
nasal and not oral.
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1014
The syllabic structure of Maxakalí, according to Gudschinsky,
Popovich & Popovich (1970), consists of a maximum of CVC, in which
any consonant can be placed in onset position and, as said before, all
consonants but the glottals can occupy coda position. Silva (2016) argues
that the maximum syllable is, in fact CCVC – but this larger syllable
type is restricted to cases in which the first onset consonant must be a
non-coronal (labial or velar) and the second onset position must be filled
in almost every case by a coronal. This structure corresponds to Proto
Macro-Jê *CɾVC with a Proto-Maxakalí change of *ɾ > d > t.
Lexical stress falls on the last syllable of the word, but because
of some interactions between the nuclear vowel and the coda consonant,
it can be located in the penultimate syllable. This interaction has to do
with the insertion of a glide, which can be predicted by the vowel and
the prevowel resulting from consonant lenition. The table below shows
which vowels interact with which coda consonant and some examples:
dental
palatal
/i/
[j] /cit/ > [ˈʨijə] ‘thread’
-
/a/
[ɰ] /tat/ > [ˈtaɰə] ‘get (uncount.)’
-
/ɨ/
[ɰ] /-kɨt/ > [ˈkɨɰə] ‘louse’
[ɰ] /cɨc/ > [ˈʨɨɰɪ] ‘leaf’
/o/
[w] /kot/ > [ˈkʊwə] ‘tobacco’
[w] /poc/ > [ˈpʊwɪ] ‘arrow’
The same phenomenon also can be observed with nasal vowels, as
in /pɨd̃ / > [ˈpɨɰ
̃ ̃ ə]̃ jump, except for the interaction with /a/: /bãd/ > [ˈmɑ̃ə̯]̃
and not *[ˈmɑ̃ɰ̃ə̃] shoot. The final consonant, even though uncommon,
can sometimes be heard in this context: [ˈkɨɰə̯] ~ [ˈkɨɰət]. For further
discussion, see Wetzels (1993) and Wetzels & Sluyters (1995).
Some other phonological phenomena (besides nasal spreading,
which, as mentioned, will be discussed in Section 3.5) found in Maxakalí
regarding nasality are the prenasalization of consonants, left-edge nasality,
glottal transparency and nasality in loanwords. The first of these, which
will be presented in section 3.2, is found in words beginning with voiced
stops, both in native and loanwords, although not in medial position.1
It seems that compound words where the second element begins with a voiced stop
have some degree of variation (e.g.: / kɨk + bac/ > [kɘɰˈbɑj] ~ [kɘɰˈmbɑj] ‘turtle’). The
pattern in compounds, however, awaits more extensive confirmation with recordings
of the type we explore in the text (and a range of compound types).
1
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(1) /bai/ > [mbaˈi] ~ [baˈi] ‘to be good’
(2) /kɨbɨk/ > [kɨˈbɨɰ], but *[kɨˈmbɨɰ] ‘to be bad’
Somewhat related to this, there is left-edge nasality (section 3.1)
in which vowels are nasalized from left to right, an apparent exception
to the better understood right-edge nasality. There are just a few native
words which fail to nasalize in this onsetless, word-initial context, and
many loanwords have been adapted with nasal vowel even when in the
source language there is no nasality, such as in (3):
(3) Portuguese [oliˈveɾə] > [õnĩˈbɛə̯] ‘Oliveira’ (surname)
In section 3.3, we present evidence for glottal transparency. In
Maxakalí, there are some nouns and verbs which alternate between short
and long forms, according to syntactic and/or prosodic context. These
words have a short form CVC and a long form CVHVC, in which the H
corresponds to a glottal consonant and both Vs have the same phonetic
value. We will argue that long forms are derived from the short ones, and
that the glottal consonant cannot block nasal spreading, thus remaining
transparent for nasality.
In section 3.4, we discuss nasality in loanwords from Portuguese.
Some of the phenomena discussed above also apply to loanwords, but
there are some exceptions, such as variation in nasal spreading. An
example in which nasality varies is shown below:
(4) [flaˈmẽgʊ] > [pãnãˈmæ̃j]̃ ~ [panãˈmæ̃j]̃ ~ [padãˈmæ̃j]̃ ~ [palãˈmæ̃j]̃
‘Flamengo’ (soccer team)
In short, Maxakalí has prenasalization, coda nasalization, and
nasal harmony within the syllable, between nucleus and rime, between
rime and onset, and from syllable-to-syllable. Each of these processes
show potential locality effects, based on factors such as loanword status,
morphological restrictions, and intervening glottals. Development of
theoretical models of the underlying forms and the nature of these
processes therefore depends on a firm empirical basis for knowing the
surface forms themselves.
1016
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1.2 Prior tecnhiques for studying nasality
As the discussion above reveals, Maxakalí is a rich domain for the
study of nasality, and many of its details present interesting challenges for
theoretical models. Nonetheless, as is widely acknowledged, instrumental
verification of nasality is not entirely straightforward. The literature
contains varying suggestions for acoustic landmarks of nasality (such
as CHEN, 1996; STYLER, 2015), but these are largely developed for
vowel nasality, and as discussed above, many of the phenomena of
interest in Maxakalí involve consonants as well. Measurements using
nasal airflow masks (SHOSTED, 2006; DEMOLIN, 2011) are extremely
informative, but such equipment is often expensive for researchers based
in the ‘Global South’. To take an example that is all-too common, there
are few if any Brazilian linguistics researchers or postgraduate students
who have the budgetary support for equipment of this kind. Even costs
aside, the analytic techniques involved in calibration and processing of
aerodynamic data require technical training that may not even be available
in all regions where these languages are bring spoken and studied. And
bringing a range of demographically diverse participants from a village
setting into an urban laboratory hundreds of kilometers away is also not
always practical, not only for financial but also for cultural reasons. On
the other hand, earbuds are inexpensive and portable, and familiar to
participants who have seen them with mobile phones, and we have found
that they are welcome in virtually anyone’s home in the village, and are
perceived as fairly discreet even in scenarios where the recording takes
place among a range of extended family members of varying ages. Earbud
recordings and the corresponding visualization can be informative in
confirming or disconfirming impressionistic percepts of nasalization by
fieldworkers and language teachers even with a limited background in
acoustic phonetics. The main output of this technique is nasalance, the
relative prominence of the amplitude of nasality versus orality, originally
developed in Fletcher, Sooudi & Frost (1974) for clinical purposes, which
can be graphed temporally with a corresponding transcription to show
the details of timing of velar opening.
Nasalance was originally measured using an acoustic ‘baffle’,
a plate separating the nostrils from the upper lip. However, the method
we use follows Stewart & Kohlberger (2017)’s proposal of earbuds as a
method of field recording, with no baffle in place. Prior acoustic studies
using this method include Montagu & Amelot (2005) and Audibert &
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Amelot (2011). Stewart & Kohlberger bring to the fore the usefulness
of this technique in studying phenomena such as nasal harmony, which,
given their geographic distribution, tend to cluster in regions within the
Global South, where nearby training resources call for a more intuitive
method for instantly displaying the action of the velum in controlling
nasality. This is an invaluable exercise when working with native speakers
to discuss oral/nasal contrasts as they relate to, say, orthographic marking
(i.e. should prenasalization be marked? Well, we now have very easy
methods to see how consistently it is produced – and whether the variation
found is phonologically-predictable, lexically specific, or negligible,
and thus making corresponding orthographic decisions). Given that all
of the scripts for their paper are now openly available on the Language
Documentation and Conservation journal site accompanying Stewart &
Kohlberger (2017)’s publication, and that all of our recordings reported
in this study are available with their corresponding segmented textgrids,
any reader of this paper can analyze or visualize the entirety of the data
we have collected. We strictly follow the method outlined in Stewart
& Kohlberger (2017) for using earbuds as microphones to record a
nasal track, alongside the simultaneous recording of an oral track and
subsequent software post-processing as a means of representing nasal
airflow, and focused our efforts on an experimental and demographic
design and method that would allow us to collect a body of data and a set
of illustrative analyses for well-known unresolved descriptive questions,
the resolution of which leads itself to more well-informed theoretical and
orthographic decisions.
2 The present study
2.1 Equipment and recording procedure
For data collection we used a Zoom h4n recorder, as it has two
microphone inputs. The Zoom h4n recorder has the advantage of being
able to record two tracks simultaneously, although two recorders (one
for recording oral track and the other for nasal one) would be equally
suitable for data collection. The most important thing is that these tracks
be recorded separately.
In one of the inputs, we connected a wired CSR Pro 2.1
Microphone for the oral track recording. In the other input we plugged
1018
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Samsung earbuds with silicon tips (the price of a single pair, as of the
time of writing, is around 50 BRL). A P2 x P10 adaptor was needed as
the earbuds have a P2 connection, while the recorder has a P10/XLR
input. The earbuds should preferably be of low impedance (~27 ohms):
Because earphones work on the same basic principle as
microphones (i.e. a diaphragm vibrates when agitated by
a medium and a copper coil around a magnet creates an
electromagnetic field which interprets the signal), earbuds
function as small microphones when attached to the input
jack of a recording device. (STEWART; KOHLBERGER,
2017, p. 52).
With both microphone (for the oral track) and earbuds (for the
nasal track) connected to the recorder, the participant was asked to hold
the earbuds below each nostril, so nasal flow could be recorded. The
oral track was recorded with the microphone, which was held by the
researchers. At first, we tried a wireless mic on the oral track, so no one
would have to hold the microphone. However, its wireless transmission
generated low-level background noise that was picked up by the nasal
earbuds, so we opted for a wired microphone. The downside of this wired
microphone setting was that the recording procedure thereby needed one
person to hold the microphone for the participant (whose own hands
were busy with the two earbuds), and this time we did not take a tripod
to the field.
Participants were asked for the translations of the words collected
for this study, while holding the earbuds below their nostrils. The wordlist
was randomized for each participant, in order to avoid any bias. The
wordlist and the translation of its items can be found in Appendix A. As
the answers in terms of translation equivalents were open, sometimes
participants did not give the expected ones. For example, when asked
for ‘doggy’ (Pt. cachorrinho), the expected Maxakali elicitation was for
kokexnãg (dog-DIM), but a few participants said things like kokex kutok
(dog-offspring) or kokex kutĩynãg (little dog). Thus not every participant
provided the same set of tokens as every other.
2.2. Post-processing
Recordings were amplified at 12dB with Zoom’s built in amplifier
on the nasal channels. We first selected the words of interest in Praat
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in both tracks in parallel using the Group checkbox, and then made a
textgrid based on the oral track, segmenting each recorded token into
a phonetic form with the SAMPA transcription. We then used Praat to
generate Intensity and Sound textfiles for the words of interest. All of
these sound files can be found in the accompanying materials to this
article, in the format axõk-oral-PM and axõk-nasal-PM, where these are
the recording from the oral and nasal tracks, respectively, alongside a
corresponding textgrid of the form ãxok-PM.textgrid (where PM, in this
case, is a code for this particular Maxakali speaker). By superimposing
the two intensity curves and using Stewart & Kohlberger’s (2017) script
(available at http://nflrc.hawaii.edu/ldc/ as of April 2017) to normalize
the two tracks using intensity in decibels, one can generate the visualized
superimposed curves shown in the discussion below.
2.3 Demographics
We recorded 5 female speakers (DM, EM, MM, MSM, and SM)
and 6 male speakers (GM, IM, IZM, PM, RM & TM), all of them living
in Aldeia Verde (one of the four Maxakalí villages), located near the town
of Ladainha, Minas Gerais state. There are about 350 inhabitants in this
village. People in virtually all households but one speak only Maxakalí to
each other. Most people in this village have at least some understanding
of Portuguese, in a continuum of competence: some people are fluent in
both Maxakalí and Portuguese on the one hand, but on the other hand
some inhabitants (mainly women) can understand but do not produce
full sentences in Portuguese.
In terms of age, there were 6 younger speakers (DM, EM, GM,
IM, and RM), with apparent age spanning from 15 to 30 years old, 4
adult speakers (MSM, SM, IZM, and PM) from approximately 30 to 50
years old, and 1 elder speaker (TM) more than 80 years old.
3 Empirical issues
In the following subsections, we highlight five empirical issues
that have been the matter of some debate within the description of
Maxakalí phonology, and which receive a more concrete empirical
picture given the ability to document nasality and clearly represent it with
normalised intensity curves aligned with the segmental transcription of
the accompanying token.
1020
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
3.1 Left-edge nasality
A phenonemon noted in Silva & Nevins (2015), independently
noted in the transcriptions in Popovich & Popovich (2005), is the
spontaneous nasalization of vowel-initial loanwords that have neither
nasal vowels nor nasal consonants present in the source word. For
example, açúcar, when loaned into Maxakalí, is [ãˈʧoɰ], with the
surprising appearance of a nasal vowel. There are very few morphemes
in Maxakalí that begin with oral vowels (e.g. negation a-, interrogative
ok-), and only a handful of words to our knowledge, e.g. onop ‘bee’, that
are not a suffix, onomatopoeic, or a loanword. What this overwhelming
distribution of nasal vowels at the left edge of Maxakalí, even
spontaneously so in loanwords, suggests, is that the ‘default’ specification
at the left edge of Maxakalí words is nasality. This line of reasoning
follows an observation in Rodrigues (1986) (further developed in Sândalo
& Abaurre (2010) and Fujimura (2010)) that in a great deal of lowlands
South American languages, the default resting position of the articulators
beginning from silence is to have the velum lowered and to produce
nasalization, unless otherwise interrupted by an explicit lexical [-nasal]
specification. However, the phenomenon in itself remains surprising,
and therefore is exactly a domain in which instrumental verification
is of use. Consider, therefore, the following Intensity comparisons.
The transcription accompanying the segmentation is in X-Sampa (see
Appendix B for correspondences with the IPA). In all figures throughout
this paper, nasal intensity is plotted with a solid line, and oral intensity
with a dotted line.
FIGURE 1 – [ãˈʧoɰ]
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1021
This example was elicited with young female speaker EM; similar
curves were found for the other speakers, and in the is paper, we generally
include one representative visualization per word token of interest, for
reasons of space. As can be clearly seen in the diagram, the first vowel
is nasal, with an equal intensity of oral (dotted) and nasal (solid) tracks,
which extends into the initial portion of the affricate. Nasality does
not reach this level any later within the word, and the second vowel is
clearly more oral than the first. This example thus confirms a degree of
nasalization on the initial vowel, in concord with previous descriptions.
A second loanword noted to exhibit this phenomenon results from
the adaptation of espelho ‘mirror’, adapted into Maxakalí as [ʔĩjˈ̃ pæjç],
shown below.
FIGURE 2 – [ʔĩjˈ̃ pæjç]
This example, from young male speaker IM, demonstrates a
profile parallel to that of [ãˈʧoɰ]: the first vowel shows an equal nasal
and oral intensity, extending into the offglide, and then no longer present
during the closure and release portion of the following stop, nor in the
second vowel of the word. The intensity curves therefore again confirm
the auditory transcription of spontaneous nasalization of the initial vowel.
In a third example, however, elicited with the loanword espora
‘spur’, its adaptation into Maxakalí did not show this initial nasalization
[ɪjˈpʊə̯]. This token, recorded with adult male speaker GM, does not
show nasalization.
1022
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
FIGURE 3 – [ɪjˈpʊə̯]
In this example, in contrast with the other two presented above,
nasalization never reaches the same level of intensity as the oral profile
in the initial vowel. We may thus conclude that initial nasalization did
not take place with this token. There are a few possible explanations
for its absence here. The first is the fact that this particular token refers
to spurs (as found on a cowboy’s boots), which may be a word of less
familiarity and lesser usage to the speaker in question. The second is
that this particular speaker has a higher degree of bilingualism, using
Portuguese in his daily work. Comparison of the same token with older
speakers, or of different tokens with the same speaker, could potentially
arbitrate between these explanatory paths.
To conclude this subsection, we have demonstrated the utility
of nasality measurements in bolstering the empirical support for the
description of spontaneous initial nasalization. As such, the enterprise of
continuing its theoretical explanation, in terms of a potential articulatory
‘default’ setting of left-edge nasalization, along the lines of Rodrigues
(1986), may be further elaborated.
3.2 Prenasalization of stops
As has been documented throughout the literature on Maxakalí,
from Gudschinsky, Popovich & Popovich (1970) onwards, the language
has the presence of prenasalized stops such as [nd] word-initially.
Prenasalization of voiced stops is a pervasive feature throughout
lowlands South American languages, although with different potential
underlying causes. For example, as discussed by Wetzels & Nevins
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1023
(2016), prenasalization may reflect ‘hypervoicing’, the mechanism
discussed by Iverson & Salmons (1996) and Piñeros (2003), in which
lowering the velum during the initial closure portion of a voiced stop
allows maintenance of the pressure differential between subglottal and
supraglottal regions that enables continued vibration of the vocal folds.
Differently from Southern Jê languages such as Kaingang,
Maxakalí does not have oral-nasal contour segments [dn] or circumoralized
stops [dnd], which Wetzels & Nevins (2016) argue is the hallmark of a
different underlying force, namely one to shield neighboring oral
vowels from potential coarticulatory contamination by an adjacent nasal
consonant. As such, Maxakalí’s prenasalized stops reflect the articulatory
motivation of ‘venting’ an underlying voiced stop, and therefore
documenting the existence of the nasal realization is an important aspect
of the description to confirm. We include here three tokens: one is a
Maxakalí noun, the second a loanword from Portuguese, and the third,
a Maxakalí verb.
The first token presented here is [ndaˈɪj], ‘clay pot’, as recorded
with adult male speaker PM.
FIGURE 4 – [ndaˈɪj]
This example shows a clear prenasalization phase preceding
the closure and release portion of the voiced stop that follows it. The
velum remains raised for the remainder of the word until after the final
consonant, at which point in the nasal track may simply reflect an
outward breath and/or a return to the resting state of the articulators.
From tokens such as this one, we can conclude that Maxakalí possesses
prenasalization, the timing profile of which is easily enabled by the
earbud recording method.
1024
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The second token chosen for inspection is the loanword [ŋgaˈhaɤ̯],
from the Portuguese garrafa ‘bottle’. The presence of prenasalization in
this example bolsters the explanation of this phenomenon as reflecting
hypervoicing of an underlying oral voiced stop, as the source word is
clearly non-nasal.
FIGURE 5 – [ŋgaˈhaɤ̯]
In this example, recorded with elderly female speaker MSM,
there is a clear nasal portion, which in fact extends all the way into the
beginning of the vowel. This speaker, therefore, has lowered the velum
to achieve venting, and shows delayed closure to a purely oral airflow.
The final example of prenasalization considered here is with
the verb [mbaˈi] ‘to be good’. Although this may be considered an
adjective, as discussed by Campos (2009), it takes the same agreement
prefixes as verbs. In fact, these agreement prefixes often inhibit (or
bleed) the realization of prenasalization of the underlying voiced stop,
as this prenasalization only reliably takes place in absolute word-initial
position.2 However, in this particular token, adult male speaker IZM
does not produce it with the person prefix, which is common given that
this particular lexical item can be used to mean something like “okay”,
without a referential subject.
Campos (2009, p. 18-19) contends that this prenasalization in verbs is one of the
realizations of the third person prefix. However, if the prenasalization were a form of
the third person prefix, it would be hard to explain why alienable nouns (which cannot
occur with such prefixes) also show prenasalization in the same contexts.
2
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1025
FIGURE 6 – [mbaˈi]
Much like the realization of [ndaˈɪj] above, this example shows
a clear distinction between a prenasalization phase and an oral closure
and release that follow it. While prenasalization is less often encountered
in verbs than nouns for the reasons explained above, we conclude that
it simply reflects affixation bleeding the otherwise expected process of
nasal venting before a voiced stop, potentially applicable in both nouns
(whether native or loanwords) and verbs.
3.3 Glottal transparency
Maxakalí is a language that permits leftward nasal harmony
when originating with a stressed nasal vowel, though this harmony is
blocked by voiceless obstruents intervening, as is well-known within the
typology of blocking in nasal harmony (WALKER, 2003). Interesting,
therefore, is the question of whether the relevant blocking factor interacts
with sonority and with supraglottal articulation. The phonological
characterization of harmony therefore highly depends on whether the
formalization of blocking vs transparency is in terms of pure definition
as fricative or stop, or whether glottals are treated as more sonorous (as
in LOMBARDI, 2001) – and hence permissive of nasalization, or simply
irrelevant as they contain no supralaryngeal node (as in SAGEY 1986).
Nonetheless, descriptive issues remain about the nasalization of glottals
in Maxakalí, largely because of the difficulty of perceiving it auditorally.
The use of nasal measurements is thus quite informative, particularly in
regards to the contrast between the glottal fricative and the glottal stop.
1026
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
The first word to be presented in this connection, the long
form [ʨãˈʔãɤ̯̃] ‘slug’ is of importance because it demonstrates nasal
transparency, originating with the stressed nasal vowel, and spreading
leftwards across a glottal stop.
FIGURE 7 – [ʨãˈʔãɤ̯̃]
This token, produced by adult female speaker SM, shows that
while there is no nasalization during the word-initial voiceless affricate,
the velum is lowered immediately when the first vowel begins, and
continues all the way to the end of the word, remaining steady throughout
the glottal stop and onto the second vowel, and only decreasing during
the final offglide. The presence of nasalization in this word – both in the
glottal and indeed in the first vowel itself – is of importance in descriptive
terms because this word has been previously described as lacking
nasalization on the initial vowel (POPOVICH; POPOVICH, 2005).
The second token is one with the glottal fricative, [nɑ̃ˈhɑ̃ə̯̃]
‘annato’, as produced by elderly female speaker MSM.
FIGURE 8 – [nɑ̃ˈhɑ̃ə̯̃]
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1027
This example, like the one above, demonstrates nasality both in
the first vowel and in the glottal fricative that intervenes between the
first and second vowel. In fact, this word demonstrates nasality entirely
throughout, providing a canonical example of a fully harmonized word.
We may thus conclude that although they are distributionally more
restricted in the language ([h] occuring only in onset, and the glottal stop
occuring only intervocalically), and while not phonologically contrastive
in the language, glottal consonants in Maxakalí undergo nasalization in
the same environments as voiced onsets.
The relevance of glottal transparency in Maxakalí takes on
further importance given its interaction with the morphophonology of
what are called long and short forms in the language. In its most compact
description, long forms are found as the citation form of nouns, and
found when they occur postverbally, e.g. [mãˈhãɤ̯ ]̃ ‘fish’. However, in
compounds, suffixed forms, and when occurring preverbally, such nouns
occur in their short form, e.g. [mãɤ̯ˈ̃ pɨɰə̯] ‘fish catch’. There is debate
as to which form of the noun is underying and which is derived; Araújo
(2000), among others, argues that the long form is underlying, whereas
Wetzels (2009)3 and Silva (2016) argues that the short form is underlying.
One of Silva’s arguments is based on the identity of the two vowels in
the long form and their interaction with allophonic environments. In
Maxakalí, vowels show a different realization when they precede coronal
consonants: /a, ɛ, i, o/ → [ɑ, æ, ɪ, ʊ] / ___ [+ coronal]. Importantly, the
pre-coronal allophone is maintained in both halves of the long form,
even though the ‘first’ half is not directly before a coronal. Thus, the
long form of /dãd/ ‘annatto’, as shown above, maintains this allophonic
vowel quality in both halves [nɑ̃ˈhɑ̃ə̯]̃ , and not *[nã.ˈhɑ̃ə̯]̃ , demonstrating
that the allophony is copied over to the first vowel in the long form.
This pattern is more clearly explained if the short form is underlying.
However, it may still be possible to explain this in terms of the long
form being underlying, provided a mechanism for harmony (and thus
vowel identity) is in place. Confirmation of the transparency of glottals
Although Wetzels’ (2009) analysis considers that the short form is underlying, it relies
in part on inaccurate data and affirmations from Araújo (2000) such as “[...] according
to Araújo (2000), the glottal sound that occurs in the long forms, although it is usually
realized as [h], alternates freely with [ʔ].” There are not any cases of such variation
in our data.
3
1028
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
for nasal harmony, therefore, indirectly bears consequences for analyses
of harmony more generally in the language.
3.4 Loanwords
The distribution of nasality in loanwords is of great interest, as
discussed in Wetzels (2009) and Silva & Nevins (2015), particularly when
it reflects a discrepancy in nasality of consonants between the source
and donor language. In Maxakalí native vocabulary, syllables such as
[na] and [dã] are banned: onset consonants cannot be nasal without the
presence of a nasal vowel that follows. This predictable pairing of nasal
onsets with nasal vowels has been reflected in an allophonic analysis of
the two, whereby voiced stops are taken to be underlying and their nasal
variant arises from predictable processes of spreading, and is enshrined
in the orthographic system developed by Popovich & Popovich (2005),
which does not graphemically distinguish voiced stops from their nasal
counterparts. However, the influx of Portuguese loanwords is leading to
the emergence of oral voiced stops before nasal vowels, as with words
such as [bãˈɛə̯] (from Portuguese banheiro ‘bathroom’).
These divergences from the otherwise regular spreading of
nasality within syllables found in Maxakalí are of course understandable
in terms of the tradeoffs that arise in loanword phonology, whereby
faithfulness to the identity of consonants in the source language play a
role as well. Such a case arises in the adaptation of words such as laranja
‘orange’ in Portuguese, which are adapted as [nda.dɨj̃ ]̃ . As Maxakalí has
no liquids in its native inventory (despite the name of the language,
which remains an exonym), both the lateral and rhotic are adapted as
[d]. Notably, this coronal onset resists onset nasalization.
FIGURE 9 – [ndaˈdɨj̃ ]̃
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1029
The recording, with adult male speaker RM exhibits prenasalization
of the word-initial [d], of the same nature as that described in the
subsection above. Of central interest to the present discussion is the
predominately oral onset in the second syllable. While the final vowel and
its coda are fully nasal, as shown by the solid intensity curve, its onset fails
to undergo nasalization. This example therefore provides confirmation for
a fully oral onset consonant preceding a nasal rime in Maxakalí, arguably
an emerging consequence of the sometimes conflicting demands posed
by loanword phonology.
As described in Wetzels (2009) and Silva & Nevins (2015), on the
other hand, occasionally loanwords do exhibit a distribution of nasality
that goes far above and beyond what is present in the source form. The
adaptation of the Brazilian soccer team Flamengo is of particular interest
in this case. This item undergoes epenthesis between the initial labial
consonant (adapted as voiceless [p] in Maxakalí) and the following
coronal consonant. However, speakers show three possibilities of the
realization of the source [l]. Some adapt the lateral as [n] as in [panãmæ̃j]̃ ,
undergoing nasal spreading from the following nasal vowel. However,
these fall into two subgroups: [pãnãmæ̃j]̃ and [panãmæ̃j]̃ where the
difference between these two lies in the presence (the former) or absence
(the latter) of further leftwards vowel harmony extending to the preceding
vowel. These are shown below for speakers RM and IZM below:
FIGURE 10 – [pãnãˈmæ̃j]̃
1030
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
FIGURE 11 – [panãˈmæ̃j]̃
As can be seen from the solid intensity curves above, adult male
speaker RM shows nasality from the first vowel of the word all the way
until the end, with a gradual raising of the velum as nasality peters out.
On the other hand, adult male speaker IZM only begins nasality in the
final portion of the initial vowel, as coarticulatory anticipation of the
following nasal onset, after which it extends all the way to the end of the
word. From this instrumentally-informed comparison, we can conclude,
in concert with the proposal of Silva & Nevins (2015), based on purely
auditory transcriptions that leftwards vowel-to-vowel harmony is a
gradient phenomenon, even across an intervening nasal consonant.
Still others, in a solution to loanword phonology that remains
within the native inventory (in eschewing [l]) but diverges from its
phonotactics, follow the pattern of [nda.dɨj̃ ]̃ as [padãmæ̃j]̃ . This is shown
below for the young male speaker IM.
FIGURE 12 – [padãˈmæ̃j]̃
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1031
In this example, as shown by the solid intensity curve, velum
lowering only occurs during the nasal vowel [ã] following the oral stop
[d], and continues until the end as in the same relevant portion of the
profile of this word as pronounced by RM above.
Summarizing this subsection, both words discussed here illustrate
that Maxakalí loanwords allow an oral voiced stop to precede a nasal
vowel, in contradiction to the otherwise entirely predictable allophonic
distribution whereby nasal vowels must have nasal onsets (if the
consonant is voiced). Given that such a pattern necessitates a revision
of the overall picture of Maxakalí phonology (and potentially, down the
road, its orthography), this makes all the more valuable a verification
that indeed such consonants evade nasality, afforded by this instrumental
method.
3.5 Nasal spreading from the diminutive
In this final subsection, we discuss one of the more languagespecific aspects of the distribution of nasality in this language, one
resulting from the leftward spreading induced by the diminutive suffix
[-nãŋ]. According to Campos (2009), this suffix induces nasal spreading
in verbs, but not nouns. This is shown for [kukæçnãŋ] ‘dog-dim.’, by the
adult male speaker PM, below.
FIGURE 13 – [kukæçˈnãŋ]
As shown by the red intensity curve, nasality is not part of the
production of the root, and obtains only during the suffix-initial nasal
consonant, thereby demonstrating that, for nouns such as this one, the
diminutive does not induce nasalization.
1032
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
In verbs, however, as discussed by Campos (2009), the
diminutive causes leftward nasalization of the root-final consonant and,
in turn, the vowel that precedes it. This can be shown in the following
pair of recordings with adult male speaker IZM below. The first curve
is for [pɨˈtɨɰɪj] ‘heavy’, which has no nasality. The second is for its
diminutivized form ‘heavy-dim.’, which shows nasalization of the entire
rime of the root.
FIGURE 14 – [pɨˈtɨɰɪj]
In the figure above, the nasal curve does not surpass that of the
oral curve. By contrast, in the figure below for [pɨtɨɰ
̃ ̃ ɪj̃ ˈ̃ nãɰ̃] recorded
with IZM as well, nasality clearly obtains from the root-final vowel
onwards:
FIGURE 15 – [pɨtɨɰ
̃ ̃ ɪɲ̃ ̊ ˈnãɰ̃]
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1033
This latter example, ‘heavy-dim.’, based on a verb, shows a
clear effect of morphologically-induced nasalization into the base. Its
morphological conditioning is evident in the fact that in a nearly parallel
noun, [pɨtɨɰɪjˈnãɰ̃] ‘bird/birdy’, no nasalization obtains. Of course, this
is a ‘frozen’ diminutive, based on a root that is no longer synchronically
present,4 but it also serves to show that the segmental content of the
final syllable [nãŋ] is not enough on its own to induce nasalization in an
otherwise identical sequence to its left.
Finally, it should be said that diminutive nasal spreading in verbs
itself shows interspeaker variation. The form [kɨˈbɨk] ‘bad’ can undergo
complete nasalization, as shown for speaker IM below:
FIGURE 16 – [kɨm
̃ ɨŋ̃ ̊ ˈnãŋ̊]
This form, given the base [kɨˈbɨk] ‘bad’, has undergone leftward
nasalization in the root-final coda, subsequently spreading to the entire
syllable, and further leftward in nasal harmony, halted only by the
word-intial voiceless stop. On the other hand, speaker MSM shows no
nasalization at all of the root. Note that this token includes an inflectional
3rd person prefix [ɨ]̃ , which is an inherently nasal vowel.
The plausibility of a root meaning ‘bird’ inside a frozen diminutive, interestingly,
gains support from the recent tentative reconstruction of ‘feather’ and ‘bird’ in ProtoMacro-Jê as *pɾɤ(C) by Nikulin (2015, p.293), which would then undergo sound change
to Maxakali *[pɨtɨj], following the steps posited in Silva (2016).
4
1034
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
FIGURE 17 – [ɨk̃ ɨbɨkˈnãɰ̃]
In this token, the oral intensity curve dominates the nasal out
the root, but the velum does lower during the production of the suffix.
Finally, we show that the pattern of nasalization induced by the
diminutive suffix with monosyllabic roots such as [ʥoɰk] ‘straight’ can
lead to a sequence of oral voiced stop followed by nasal vowel, again in
apparent contradiction of the otherwise exceptionless phonotactic that
nasal vowels induce onset nasalization of voiced stops.
FIGURE 18 – [ɨʥ
̃ õŋˈnãŋ]
The gradient patterning of nasalization found with verbs but not
nouns, and with exceptional and optional behavior, can therefore lead to
another source for emerging non-allophonic distribution of voiced stops
vs. their nasal counterparts.
To summarize the empirical situation overall, therefore,
nasalization in verbs, while variable in its application and extent, can
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
1035
obtain, as confirmed by earbud microphony, while nasalization in nouns
was never found. This is a valuable new descriptive contribution that goes
beyond impressionistic descriptions of nasalization. The availability of
earbud microphony for field recordings enables us to study phenomena
such as this with a wide range of speakers, across ages and genders, which
allows one to investigate variable phenomenon with a large sample size
and address ethnosociolinguistic questions. Recordings with a diverse
demographic range of participants would not have been as straightforward
if one needed to bring speakers far from their homes to a laboratory and/
or use unfamiliar equipment.
4 Future directions
In this article, we have shown how instrumental measurements
of nasal airflow can break the stalemate that can arise with decriptive
claims that necessitate potential revisions from one’s theoretical comfort
zone. With earbud microphones, segmental transcription, and subsequent
execution of scripts, questions such as prenasalization of voiced stops,
spontaneous nasalization of initial vowels, failure of onset nasalization,
laryngeal transparency to nasal harmony, and morphophonologicallyconditioned restrictions on nasal spreading can all be addressed with
visual clarity.
As these five aspects of nasalization across consonants,
vowels, and their interaction with processes such as prenasalization,
nasal harmony, and loanword adaptation are widespread across South
American languages (and beyond), the promise of this technique for such
crosslinguistic investigations is clear. In some cases, one can confirm
earlier auditory impressions, in others apparently divergent descriptions
or analyses do turn out to boil down to interspeaker variation, and in
others, the description or the researcher can reflect on potential reasons
the auditory impressions diverge from the representations obtained by
recording and normalizing oral and nasal tracks. Either way, more data
and metadata accompanying them are added to the empirical base.
Going beyond these considerations, we also view the potential of
earbud microphony and its nearly immediate ability to generate a visual
representation of the nasal profile of a word as yielding possibilities for
experimental linguistics to show increased integration with language
pedagogy. Showing native speakers and in particular, those concerned
with indigenous education and orthography reform the immediate
1036
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
representation of nasality has clear potential for more close integration
between educational technology and development of pedagogical
materials within the village context. As an example, we can cite the fact
that many Maxakalí often omit the orthographic tilde when writing. This
diacritic serves as an indicator of nasalization and its absence can lead to
potential confusion in reading. Its omission – which could be influenced
by the fact that is impossible to place tilde over the graphemes e,u,i
using a Portuguese keyboard layout, and so users must use <ê,û,î>, the
comfortability of typing which may lead to questioning how often they
are needed – may be because some instances are highly predictable thanks
to nasal harmony from the stressed vowel or by other means.
Nasal earbuds are easy to use and lend themselves to excellent
possibilities for student projects at the beginning research level as well
as for younger or technologically-savvy members of the indigenous
community to be involved hands-on with new ways of visualizing the
sound patterns of their language. We have shown that they can be used
for consonantal and vocalic nasality phenomena, loanword phonology,
variable phenomena, and morphologically-conditioned patterns, and in
making our dataset available with the textgrids and a pointer to the scripts,
they have the potential to form part of ‘visual dictionaries’ showing what
nasality does within given sets of recurrent word patterns.
Acknowledgements
We would like to thank Martin Kohlberger and Jesse Stewart for help with
numerous technical aspects of applying this research method. We would
also like to thank Leo Wetzels and the three anonymous reviewers for
their thorough reading and insightful suggestions that led to improving
this paper. Finally, we acknowledge the Maxakalí people from Aldeia
Verde for their contribution and collaboration.
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1040
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
APPENDIX A
Recorded Wordlist and Translation
Maxakalí
English
Ãnenep
Andrew
ãxok
ãyuhuk
sugar (< Port. açúcar)
non-indigenous
gahap
bottle (< Port. garrafa)
hitũmnãg
happy-DIM
hitup
happy, healthy
Homet
Roberto (male name)
Hoyet
Rogério (male name)
Ĩã
ixõg ~ ĩxõg
Ian
bird
ixpot
spur (< Port. espora)
ĩypex
mirror (< Port. espelho)
kokexnãg
dog-DIM
Kõyãyiy
Cunhadinho (male nickname)
kũĩn
stripped
kũĩnnãg
stripped-DIM
kumuk
bad
kumuknãg ~ kũmũgnãg
bad-DIM
kũnõhõn
cockroach
mãhãm
fish
mahap
turn around
mai
good
mainãg ~ mãĩnnãg
good-DIM
Mãxakani
Maxakalí (exonym)
mayix
bowl (< Port. vasilha)
mĩkax hã
with the knife (lit. knife INSTR)
mĩnkup
sugarcane
mot
ball (< Port. bola)
mot mõyõn
play football
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1011-1042, 2017
mox
cow, ox (< Port. boi)
mũnũytut
cow, ox
nagnãg
dry-DIM
nãhãn
annatto
nak
dry
Nanaĩn
Ladainha (town name)
nanuy
orange (< Port. laranja)
nax ~ naix
pot
Pãnãmẽy ~ Panãmẽy
Flamengo (football team)
penãhã
see, watch
ponognãg
white-DIM
ponok
white
putõõy
mud, clay
putux
heavy
putuxnãg
bird
putũynãg
heavy-DIM
Tẽãn
Ateanderson (male name)
Tikmũũn
Maxakalí (endonym)
tonok
step
tonoknãg
step-DIM
xããm
snail
xẽẽnãg
true
xuta
red
xutãnnãg
red-DIM
Yaet
Isael (male name)
yĩmamnãg
turn around-DIM
yĩmap
turn around
Yitmã
Gilmar (male name)
yognãg
straight-DIM
yok
straight
1041
1042
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APPENDIX B
X-SAMPA values and IPA correspondence
X-SAMPA
IPA
i
i
I
ɪ
{
æ
a
a
A
ɑ
o
o
u
u
U
ʊ
7_^
ɤ̯
@_^
ə̯
p
p
t
t
ts\
ʨ
k
k
?
ʔ
b
b
d
d
dz\
ʥ
g
g
m
m
n
n
J
ɲ
N
ŋ
h
h
C
ç
j
j
M\
ɰ
~ (e.g.: a~)
nasality (e.g.: ã)
_0 (e.g.: n_0)
devoicing (e.g.: n̥ )
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
Social affective variations in Brazilian Portuguese:
a perceptual and acoustic analysis
Variações socioexpressivas no português do Brasil:
análise perceptiva e acústica
Albert Rilliard
Laboratoire d’Informatique pour la Mécanique et les Sciences de l’Ingénieur
(LIMSI), Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), Université Paris-Saclay,
Orsay / France
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
CNPq
albert.rilliard@limsi.fr
João Antônio de Moraes
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
CNPq
jamoraes3@gmail.com
Resumo: Este trabalho descreve e analisa um corpus de 17 atitudes
prosódicas produzido por 21 falantes do português do Brasil (PB). A
interpretação dada a essas atitudes baseia-se em um experimento de
escolha livre (free-labelling) do qual participaram 22 ouvintes brasileiros.
O agrupamento das diferentes expressões obtidas no experimento é
relacionado aos parâmetros acústicos da prosódia (F0, intensidade,
duração), e sua interpretação é feita com base na literatura sobre a
manifestação da expressividade na fala e nas teorias do uso simbólico da
voz em interações (código da frequência, de Ohala, e código do esforço,
de Gussenhoven). Os resultados mostram que as principais dimensões
de sentido identificadas pelos ouvintes podem ser reagrupadas em três
grandes categorias: valência positiva, expressões assertivas e expressões
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1043-1074
1044
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
dubitativas, dimensões que se correlacionam com as medidas acústicas.
Palavras-chave: prosódia; free-labelling; dimensões de sentido; medidas
acústicas.
Abstract: This work presents a description and an analysis of an
attitudinal corpus recorded in Brazilian Portuguese by 21 speakers.
The interpretation of their performances across 17 situations, by L1
speakers of Brazilian Portuguese, is studied thanks to a free-labelling
experiment. The grouping of expressions is then related to acoustic
parameters of prosody. The interpretation of these descriptions is done
in the light of literature on expression of affect in voice, and theories of
symbolic use of voice in spoken interactions (Ohala’s Frequency Code,
and Gussenhoven’s Effort Code). Results show that the main dimensions
of meaning retrieved by the listeners may be summarized as: positive
valence, assertive and dubitative expressions. These dimensions do
correlate with the acoustical measures.
Keywords: prosody; free-labelling; dimensions of meaning; acoustic
measures.
Recebido em: 5 de janeiro de 2017.
Aprovado em: 14 de março de 2017.
1 Introduction
Communication, during face-to-face interactions, uses a
multimodal framework of signals to accurately convey the targeted
speech acts. This includes gestures (WU; COULSON, 2007), facial
expressions (GONZÁLEZ-FUENTE et al., 2015), lexical choices and
prosodic variations (BOROD et al., 2000). Use of prosodic cues has
received a sustained attention. Researches in various languages have
studied its uses to signal various speech acts, or sets of speech acts:
e.g. in Chinese (CHANG, 1958), English (ULDALL, 1960), French
(FÓNAGY; BÉRARD, 1972), Japanese (FUJISAKI; HIROSE, 1993).
Works on prosodic attitudes focus on one specific language, listing the
various prosodic changes observed in speech, often for foreign language
teaching purposes (e.g. DELATTRE, 1963; MARTINS-BALTARD,
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1977). These approaches end with lists of labels describing the meaning
of the described prosodic changes. Such lists raises problems as soon
as one tries to compare them cross-culturally: the folk labels (i.e. labels
used with their vernacular meanings) fall under Wierzbicka’s criticism
on the notional variation lying under folk labels’ translations—that do
not bear equivalent concepts (WIERZBICKA, 1985). Thus the concepts
behind e.g. the term “irony” in English shall not be exactly comparable
to those evoked by “ironia” in Portuguese.
To study social affects expressed by prosodic means, and to
compare them cross-culturally (both in production and perception),
a paradigm as been set up (RILLIARD et al., 2013) that proposes to
speakers of various languages to produce the same simple sentence, in
various contexts (cf. FÓNAGY; BÉRARD, 1972, for a similar practice),
thus eliciting a range of vocal expressions. The same contexts, defining
the speaker’s communication goals, her/his relationship to the interlocutor
(in terms of social proximity and hierarchy: SPENCER-OATEY, 1996),
introduced short dialogues that end with the targeted prosodic expression.
This paper presents a description of the recordings process
in Brazilian Portuguese (BP), acoustical analyses and perceptual
interpretations of the prosodic performances, which follow these
principles. The findings are discussed in the light of similar results in
other languages—and together with interpretations linked to theoretical
account of intonational meaning (OHALA, 1994; BANSE; SCHERER,
1996; GUSSENHOVEN, 2004; GOUDBEEK; SCHERER, 2010).
2 Corpus and method
2.1 Capturing cross-culturally comparable social affects
This study is part of a project aiming at comparison of prosodic
performances between languages and cultures (RILLIARD et al.,
2013). To that aim, and to avoid the bias possibly introduced by the
use of folk labels, speakers were set up in situations where they had
to interact with an interviewer. Small scenarios were written that end
with the speakers uttering a sentence with a speech act and an attitude
defined by the scenario—e.g. asking politely for a fruit, or requesting
this fruit with authority. These scenarios allow the production of two
target sentences (for the BP version: sentence B “uma banana”: a
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banana, and sentence M “Maria dançava”: Maria was dancing) with 17
different speech acts and/or attitudes (note for BP, a 17th scenario was
added to produce “descrédito”, discredit). The use of scenarios allows
expressive variations that convey similar communicative values without
resorting to folk labels. The scenario were originally written in English,
and then translated in various languages (French, Japanese, German,
Cantonese, and of course BP) to enable the production of the same
attitudes in each of these languages. The details of the 17 situations used
for introducing the performances of the sentence “Maria dançava”, with
the corresponding dialogues, are presented in annex. We give here the
names of the targeted expressions, with their English translations and
abbreviations: “declarativo neutro” (neutral declarative sentence, DECL);
“pergunta neutra” (neutral question, QUES); “admiração” (admiration,
ADMI); “arrogância” (arrogance, ARRO); “autoridade” (authority,
AUTH); “desprezo” (contempt, CONT); “evidência” (obviousness,
OBVI); “incerteza” (uncertainty, UNCE); “ironia” (irony, IRON);
“irritação” (irritation, IRRI); “pergunta com estranheza” (doubt, DOUB);
“pisando em ovos” (walking on eggs, WOEG); “polidez” (politeness,
POLI); “sedução” (seduction, SEDU); “sinceridade” (sincerity, SINC);
“surpresa” (surprise, SURP); and “descrédito” (discredit, DESC).
The situation coined as “walking-on-eggs” in English corresponds
to an adaptation of what is called kyoshuku in Japanese: a concept that
does not have an adequate translation in English or Portuguese, and
is described by Sadanobu as “corresponding to a mixture of suffering
ashamedness and embarrassment, which comes from the speaker’s
consciousness of the fact his/her utterance of request imposes a burden
to the hearer” (SADANOBU, 2004, p. 34). In order to study the prosodic
performances expressing such a kyoshuku expression, as well as for the
other expressions, speakers from various cultural origins were asked to
interact in a communication context corresponding to the expressions
of these social affects.
2.2 Recordings and acoustic measures
Twenty-one speakers (10 females) having Brazilian Portuguese,
in the variety of Rio de Janeiro, as their L1 were recorded. Recordings
took place in a sound-treated room at the Laboratório de Fonética of
UFRJ, Rio de Janeiro. Each speaker had first recorded the corpus in one
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of her/his L2 language (in this case, either Japanese, English, or French),
then record the corpus in BP, each time interacting with a L1 speaker of
the target language. The present paper focuses on the recordings in BP.
The speakers were seated in front of a Panasonic AG-AC160
video camera, equipped with an Earthworks QTC1 omnidirectional
microphone. The microphone was placed at one meter of the speaker’s
mouth so to reduce intensity changes linked to body movements. The
microphone level was calibrated before each recording session using
a Brüel & Kjær acoustical calibrator: recordings were latter corrected
for variation in the input level on the basis of this input sound. The two
target sentences, “Uma banana” and “Maria dançava”, were extracted
from the recordings, and then segmented at the level of phonemes using
the Praat software (BOERSMA; WEENINK, 2016) and the easyalign
plugin (GOLDMAN, 2011), with manual corrections of the automatic
segmentations.
An acoustic analysis of the signal was done, extracting the mean
fundamental frequency on each vowel (F0, expressed in semitones
relative to 1 Hz, and measured using Praat default algorithm with hand
correction for octave jumps and other errors), the syllabic duration
(express in second), and the mean intensity on vowels (A-weighted
intensity, expressed in dB-A: cf. LIENARD; BARRAS, 2013).
These acoustic parameters have been selected as reflecting the
main dimensions of prosodic changes. Ohala (1994) proposes that the
use of F0 in vocal communication is mostly of symbolic origin: low
/ descending F0 being related to assertive and dominant behaviours
(reflecting the large size of the speaker), and high / rising F0 being
related to submissive and interrogative behaviours (linked to the smaller
size of the speaker). Gussenhoven (2004) built on Ohala’s “Frequency
Code”, and proposes the existence of an “Effort Code”, that is related
to the vocal effort exerted by the speaker while producing speech, and
that also have influences on the voice’s F0. Interpretations of this Effort
Code link the involvement of the speaker in her/his spoken utterance
(cf. DANEŠ, 1994 for this notion of involvement) and to the arousal of
the expression (SCHERER, 2009; GOUDBEEK; SCHERER, 2010).
On a speech production point of view, the vocal effort is related to the
muscular tension at the glottis, and Titze & Sundberg (1992) as well
as Traunmüller & Eriksson (2000) linked the production of variation
of effort to the voice’s intensity, and show there is a relation between
1048
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higher efforts and higher F0. Let’s note that intensity levels were strictly
controlled during the recording of this corpus, and avoid the use of
e.g. spectral slope (HANSON, 1997) as a mean to retrieve a voice’s
vocal effort; this is fortunate given the high influence of vowel on
such type of spectral measures, and their sensitivity to relatively small
(and phonetically unbalanced) data. The three parameters have been
standardized for intrinsic difference linked to speakers, so to keep only
expressive variation–they are thus expressed in z-scores in this paper.
2.3 Perceptual analysis
In order to evaluate the expressive content of the recorded stimuli,
they were submitted to a perceptual analysis. First, a performance test was
run, asking listeners to judge the adequacy of each recording regarding
to the targeted speech act/attitude. Listeners were 10 L1 speakers of
BP trained in phonetics. They were presented with the 17 situations,
and they observed the performances of speakers, knowing the targeted
attitude. They had to rate the quality of the 21 speakers performances on
a 1 (very poor) to 9 (excellent) scale. The scores given by each listener
were standardized to remove variations in the individual use of the scale,
and these z-scores were used to select the best performances in each of
the 17 attitudes. The six best performers (3 females, 3 males) for each
attitude and each sentence were selected. Among these 6 speakers, four
(2 females, 2 males) were retained for a second perceptual analysis (the
selection was made by the authors of this article). 20 speakers out of
the 21 were selected for at least once of their performance through this
process; the speaker who was not selected was not the one receiving
the lowest overall score, but one that do receive medium rating for all
attitudes. This sub-selection was done to ease the task of subjects in the
second test, which cannot be performed on the 714 stimuli.
The second perception test was based on a free-labelling
paradigm (cf. WIDEN; RUSSELL, 2003; GREENBERG et al., 2009):
the listeners, L1 speakers of PB, were asked to describe the expressivity
of the presented audio-visual stimuli, using one substantive or adjective
they think best describes the expression. They were presented with 136
stimuli (the two sentences in each of the 17 attitudes as performed by 4
speakers) randomly sorted for each listener. A typical experiment lasted
40 minutes. 22 listeners took part in the experiment (16 females; mean
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age: 25 year-old). Listeners did not know about the recording procedure
nor were instructed about the situations used to record the expression
they were presented with. 530 different labels were provided by these
22 subjects, a number that was reduced to 274 after normalization: first
typos were corrected; then, in case subjects type more than one word,
the first was selected (as they were instructed to give only one), then
marks of gender and plural were removed. On the remaining list, labels
appearing in their adjective or verbal forms were converted to substantive
when it was perceived to convey the same meaning (e.g. “afirmação,
afirmando, afirmar, afirmativa, afirmativo” was encoded as “afirmação”,
while “inexpressivo”, or “sonhador” were kept—as “inexpressividade”,
or “sonho” are less frequent or have a different meaning). The frequency
of each of these 274 labels, for the 17 attitudes in each sentence (i.e. 34
situations performed by 4 speakers each), was calculated and forms a
large 34 by 274 matrix that was submitted to a correspondence analysis
(using the FactoMineR library of the R software; HUSSON et al., 2011;
R CORE TEAM, 2016). The correspondence analysis aims at reducing
the dimension of this large matrix, so to extract abstract dimensions that
carry most of the information relative to the description of each type
of stimulus by means of the labels. The analytic procedure is inspired
from works on dimensions of meanings—typically those pioneered by
Osgood and colleagues (OSGOOD et al., 1957; OSGOOD et al., 1975)
using list of dimensions based on opposed labels (a procedure already
used to study the dimensions of attitudinal meaning: ULDALL, 1960;
FÓNAGY; BÉRARD, 1972, GU et al., 2011), and renewed by Romney
and colleagues (ROMNEY et al., 1996, 2000), who introduced a labelfree version of such dimensional analysis that allows the creation of what
they call the “shared cognitive structures” (ROMNEY; MOORE, 1998;
cf. RILLIARD et al., 2014 for an application on prosodic meaning). The
eleven first dimensions of the correspondence analysis (which account for
70% of the total variance) were kept, based on an elbow criterion. The
dispersion of the 34 types of expressions (17 attitudes on 2 sentences)
on these eleven dimensions was taken as the perceived dispersion of the
34 types of expressions, in a space based on these 274 labels; Husson
et al. (2011, p. 189) defend the idea that a clustering based on the main
dimensions of a multidimensional analysis removes noisy data and
gives more stable partitions. A hierarchical clustering was thus run on
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the eleven first principle components of the correspondence analysis
(using the HCPC procedure of the FactoMineR library; HUSSON et al.,
2011). This allows the creation of a dendrogram showing the relative
similarity of the 34 types of expressions (cf. figure 1). At the main
levels of this tree, one may observe three large clusters that regroup
respectively the expressions of (i) ADMI, SEDU, SURP; (ii) ARRO,
AUTH, CONT, DECL, IRRI, OBVI, POLI, SINC, and IRON on the B
sentence; and (iii) DESC, DOUB, QUES, UNCE, WOEG, and IRON on
the M sentence. Cluster (i) is mostly described (by the labels representing
more than 5% of the occurrences of labels in this cluster) using the labels
“surpresa, alegria, admiração” (surprise, joy, admiration): it is thus
linked to behaviours carrying notions of novelty and positive valence.
Cluster (ii) is described as “afirmação, obviedade, certeza” (affirmation,
obviousness, certainty): it is thus linked to notions of assertion and
assertive behaviours. Cluster (iii) is described as “dúvida, incerteza”
(doubt, uncertainty): it is thus a cluster evoking dubitative expressions.
The tri-partition of the 34 expressions recalls two main dimensions of
meanings discussed respectively by Osgood et al. (1975) and Brandt
(2008): a valence component, and the linguistic distinction between
assertive and interrogative (or dubitative) speech acts.
In order to have a better understanding of the notions carried
by these expressions, a finer level of cluster may be used. By selecting
an appropriate level, according to a criterion of inertia gain (HUSSON
et al., 2011, p. 188), one may cut that tree so to select a set of clusters
that maximizes their internal coherence and external difference. This
procedure gives 12 distinct clusters grouping the 34 types of expressions,
to be analysed in the next section.
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FIGURE 1 – Dendrogram showing the relative distance between each 34 types of
expressions (attitude, sentence) on the 11 first principal dimensions of the
correspondence analysis, according to a hierarchical clustering procedure
Legend: The horizontal red line indicates the difference level selected to cut the tree
so to obtain 12 clusters.
3 Analysis
3.1 Perceived dimensions in performances
The composition of the twelve clusters obtained from the freelabelling experiment is detailed in table 1. Half of the clusters (6) are
composed of the two versions of the same expression, in each of the two
sentences. These clusters (#2, #3, #5, #6, #8, #9) contain expressions
that are distinguished from the others, whoever do perform them, and
for the two situations that were used to elicit them. These expressions
correspond to the situation of (in the same order than the clusters): IRRI,
CONT, WOEG, UNCE, QUES, and DOUB.
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TABLE 1 –
List of the expressions (attitude, sentence) regrouped in each of the
21 clusters obtained in the free-labelling experiment
Cluster
#1
Pairs of (Attitude, Sentence) composing the cluster
(ARRO, B)
(ARRO, M)
(AUTH, B)
(AUTH, M)
(DECL, B)
(DECL, M)
(POLI, B)
(POLI, M)
(SINC, B)
(SINC, M)
#2
(IRRI, B)
(IRRI, M)
#3
(CONT, B)
(CONT, M)
#4
(OBVI, B)
(OBVI, M)
#5
(WOEG, B)
(WOEG, M)
#6
(UNCE, B)
(UNCE, M)
#7
(DESC, B)
(DESC, M)
#8
(QUES, B)
(QUES, M)
#9
(DOUB, B)
(DOUB, M)
#10
(SEDU, B)
#11
(ADMI, M)
(SEDU, M)
#12
(ADMI, B)
(SURP, B)
(IRON, B)
(IRON, M)
(SURP, M)
Among the other clusters, one may find the following situations:
̶
Clusters with one expression recognized on both sentences, but
also containing another expression. This is the case of clusters #4,
#7 and #12, respectively composed of OBVI with IRON on the B
sentence; DESC with IRON on the M sentence; and SURP with
ADMI on the B sentence.
̶
Cluster 1, mixing many expressions together.
̶
Cluster 10, grouping only expressions of seduction on the “B”
sentence.
̶
Cluster 11, grouping expressions of admiration and seduction on
the M sentence.
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1053
To understand these clustering of expressions, one has to look at
the list of labels used significantly more frequently inside each of these
clusters than in the whole picture. These labels give a description of how
the listeners have interpreted each cluster. Table 2 gives this list of labels
describing the main expression perceived for the expressions composing
each cluster. For the analysis, we’ll focus on the more important labels:
those set in bold in table 2 (with a criterion of composing more than 5%
of the total of labels in that cluster)—of course, the complete list of labels
participates in the characterisation of the expressions.
The five “homogeneous” clusters (those composed of only one
attitude) are described as follows. Cluster #2, composed of expressions
of IRRI, is coined as “impaciência, raiva, irritação” (impatience, anger,
irritation): it is thus possible to conclude the expression is indeed well
recognized by listeners, and that these expressions carry semantic traits
of urgency (impaciência), negative valence (raiva, irritação), and high
arousal (raiva). Cluster #3, composed of expressions of CONT, is
described as “nojo, desprezo, desgosto, indiferença” (disgust, contempt,
displeasure, indifference), and is also well recognized, and characterized
by a negative valence, and a low arousal. Cluster #5 contains the
expression coined as WOEG that corresponds to the Japanese kyoshuku,
and does not have a direct translation in BP. It is described by subjects
as “vergonha, timidez, medo” (shame, shyness, fear), and one can link
these terms with Sadanobu’s definition (2004, p. 34; cf. supra), that
contains the notion of shame and traits of submission. The long list
of terms in this cluster (22) also shows the difficulty listeners have to
coin a precise term on this situation—even if they do describe it rather
accurately. The labels share traits of low arousal, negative valence and
submissive behaviour.
1054
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TABLE 2 – List of the labels observed significantly more frequently inside the cluster
than their global distribution (according to a v test, cf. HUSSON et al., 2011)
Cluster
Labels (percentage of observation inside the cluster)
#1
afirmação (19,5%), certeza (13,2%), neutralidade (5,6%), confirmação (9,5%),
constatação (3,6%), pedido (2,5%), segurança (2,0%), resposta (1,7%), normalidade (1,9%), atestação (0,9%), informação (1,4%), diretamente (0,8%), seriedade
(1,3%), declaração (1,3%), assertividade (0,7%), convicção (0,8%), ordem (1,1%),
inexpressivo (0,9%), solicitação (0,5%), narração (0,5%), arrogância (1,0%)
#2
impaciência (17,0%), raiva (11,4%), irritação (5,7%), agressividade (3,4%),
nervosismo (2,3%), opressão (2,3%), ênfase (3,4%), exaltamento (1,7%), ordem
(2,8%), correção (2,3%), desaprovação (2,3%), grosseria (1,1%), insistência
(1,1%)
#3
nojo (11,9%), desprezo (12,5%), desgosto (6,3%), indiferença (5,7%), rejeição
(2,3%), inveja (2,3%), arrogância (3,4%), repugnância (1,7%), incômodo (2,3%),
desdém (4,0%), “tanto faz” (1,1%), insatisfação (1,1%), descaso (1,1%), desânimo
(1,1%), raiva (4,0%), impaciente (1,1%)
#4
obviedade (42,4%), confirmação (9,8%), reafirmação (1,5%), sarcasmo (2,3%),
explicação (1,5%), deboche (2,7%), simplicidade (0,8%), afirmação para pergunta
idiota (0,8%)
#5
vergonha (10,2%), timidez (5,7%), medo (5,7%), constrangimento (3,4%), hesitação (4,5%), mentira (3,4%), tristeza (4,0%), insegurança (3,4%), lamentação
(2,8%), incerteza (8,5%), decepção (2,8%), receio (1,7%), excitação (1,7%), incômodo (2,3%), desconforto (1,1%), confissão (1,1%), admitindo (1,1%), acanhamento (1,1%), descontentamento (1,7%), recordação (1,1%), inexatidão (1,1%),
cautela (1,1%)
#6
incerteza (33,0%), dúvida (36,4%), insegurança (4,0%), hesitação (2,8%), reprovação (1,7%), palpite (1,7%)
#7
ironia (24,6%), descrédito (5,3%), incredulidade (5,7%), deboche (4,9%), incredibilidade (4,2%), desdém (4,9%), sarcasmo (2,7%), negação (1,5%), decepção
(1,9%), discordância (1,1%), descrença (1,9%)
#8
dúvida (41,5%), pergunta (14,2%), interrogação (9,1%), questionamento
(4,5%), palpite (2,8%), desinteresse (1,7%), desconhecimento (1,7%), indagação
(1,1%), apatia (2,3%)
#9
estranheza (10,2%), estranhamento (10,2%), dúvida (25,0%), descrença
(5,7%), incredibilidade (6,3%), desconfiança (4,5%), incredulidade (5,1%), descrédito (4,0%), indignação (1,7%), interrogação (3,4%)
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#10
malícia (6,8%), sedução (5,7%), felicidade (8,0%), desejo (4,5%), satisfação
(5,7%), paixão (4,5%), gracejo (2,3%), contentamento (4,5%), alegria (6,8%),
vontade (2,3%), sugestão (2,3%), gostar (2,3%)
#11
admiração (18,2%), encantamento (8,5%), contentamento (5,7%), alegria (8,5%), paixão (2,8%), apreciação (1,7%), felicidade (4,0%), lembrança (2,3%), prazer (1,7%), memória (1,7%), saudade (1,7%), elogio
(1,7%), correção (2,3%), impressionado (1,1%), deleite (1,1%), fascínio
(1,7%), ironia (8,0%), encanto (1,1%), entusiasmo (1,7%)
#12
surpresa (56,4%), alegria (8,7%), espanto (4,5%), descoberta (2,7%),
felicidade (3,8%), empolgação (1,1%), entusiasmo (1,9%), satisfação
(2,3%), maravilhado (1,1%), deslumbramento (0,8%), agrado (0,8%), fascínio (1,1%), encantamento (2,3%), exclamação (0,8%)
Note: Labels are listed in decreasing order of the test’s importance; the percentage of
observations inside clusters are reported.
Cluster #6, based on the expressions of UNCE, is labelled
as “incerteza, dúvida” (uncertainty, doubt): this expression is clearly
recognized, and labelled accurately by listeners. Cluster #8, based on
the expressions of neutral QUES, is labelled as “dúvida, pergunta,
interrogação” (doubt, question, interrogation): once again, this expression
is recognized and labelled rather accurately, if the main label (doubt) is
not the most typical of what a linguistic description would say. Cluster #9,
based of expressions of DOUB, is labelled as “estranheza, estranhamento,
dúvida, descrença, incredibilidade” (strangeness, estrangement, doubt,
disbelief, incredibility): this show the quality of the recognition listeners
made of these expressions. The three clusters #6, #8 and #9 share similar
traits: these three expressions (QUES, UNCE, DOUB) share the same
labels of “dúvida” (doubt), and traits related to doubt, like a submissive
behaviour, and low activation levels. This correspond to interrogatives as
described by Ohala (1994) when he proposes the linguistic interpretations
of his Frequency Code, thus one may expect relatively higher levels of
pitch for the expressions related to these clusters.
This interpretation differs from that of the cluster #7 (DESC and
IRON on sentence M), described as “ironia, descrédito, incredulidade”.
These terms carry a rejection of an assertion, as in cluster #9
(“descrença”), but without a component of doubt; on the contrary, an
ironic tone is clearly noted, together with labels like “sarcasmo, desdém,
1056
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discordância” (sarcasm, disdain, disagreement). The interpretation of this
cluster is more assertive (in the rejection of the assertion) than cluster #9.
Cluster #4 contains the OBVI expression, as well as the
expression of IRON on sentence B. It is described as “obviedade,
confirmação” (obviousness, confirmation): thus the listeners clearly
interpret these expressions in a manner coherent with the situation of
OBVI. The situation of IRON for sentence B consists in choosing between
a banana and a sport car—with the speaker speaking “banana”, expressing
obviously s/he prefers the reverse choice. The irony only appears from
the context (the switch between the obviousness of the tone and the
lexical content, regarding the context of choice), context which was not
accessible to subject of the free labelling experiment.
Cluster #10, #11, and #12 are respectively described by the labels
“malícia, sedução, felicidade, satisfação, alegria” (malice, seduction,
happiness, satisfaction, joy), “admiração, encantamento, contentamento,
alegria” (admiration, enchantment, contentment, joy), and “surpresa,
alegria” (surprise, joy). These three clusters show similarities around a set
of labels carrying positive valence (joy, happiness). Cluster #10 contains
the expression SEDU in the context of B sentence, which is indeed
described as a joyful play to seduce the interlocutor; the second situation
expressing seduction was not recognized as such, but is mixed, in cluster
#11, with ADMI on sentence M: both expressions share traits expressing
the quality of an object of desire, but with a more passive pattern than
SEDU on the B sentence. This reflects adequately the differences in both
situations aiming at eliciting SEDU on the B and M sentences: for the
B sentence, the speaker has to express her/his sexually related interest
to the interlocutor; for the M sentence, the speaker expresses her/his
feeling about the interlocutor. The second situation of admiration (on
the B sentence) is mixed with the two expressions of SURP: they share
a trait of surprise (and admiration on the B sentence was elicited with a
kind of surprise—the fruit being shown suddenly), and a positive valence.
Finally, cluster #1 regroups the largest set of expressions:
ARRO, AUTH, DECL, POLI and SINC. All these expressions share
an assertive sentence mode, and are mostly described following this
trait, as “afirmação, certeza, neutralidade, confirmação” (affirmation,
certainty, neutrality, confirmation). The traits fit adequately to the
neutral declarative situation, but they fail to describe adequately the
specificities of the other expressions (ARRO, AUTH, POLI, SINC):
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these four expressions thus lead to performances that are not adequately
perceived as such (out of context) by the listeners. A least, it is not the
prominent characteristic of the corresponding speech acts. Meanwhile,
digging up a little in the tree (cf. figure 1), one may observe that the next
level of clustering associated to this cluster separates ARRO and AUTH
from DECL, POLI and SINC. There seems to be some information on
the valence of the speech act and/or its imposition degree, but it is not
something that characterizes the performances prominently.
3.2 Acoustical variations
In order to observe the acoustic variation across the prosodic
performances of these 17 attitudes, several parameters have been extracted
(cf. supra). Figure 2 shows the dispersion of attitudes along the parameters
of intensity and F0. Both have been reported to play an important role in
expressive voice. F0 is the most prominent acoustic correlate of prosodic
variations, being mostly related to the perception of pitch, while intensity
is correlated to vocal effort (LIENARD; BARRAS, 2013). Changes in
both parameters are constrained by the voice production mechanism,
and an increase in vocal effort is generally linked to a rise in F0 (TITZE;
SUNDBERG, 1992). Changes in vocal effort have been reported to be
the primary acoustic cues in the expression of vocal emotion, and are
related to expressive arousal (BANSE; SCHERER, 1996; GOUDBEEK;
SCHERER, 2010).
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1058
1.5
FIGURE 2 – Position of the mean values of each type of expression
(see text for abbreviation) on the intensity x F0 plane (both
expressed as z-score), as performed within each of the two
sentences
1.0
SURP
ADMI
surp
0.5
OBVI
unce
obvi
poli
SINC
DOUB
WOEG
POLI QUES
ques
woeg
sinc
arro
ARRO doub
DECL
IRON
decl
admi
auth
AUTH
DESC
cont
CONT
IRRI
irri
−0.5
0.0
FO
UNCE
iron
sedu
desc
−1.0
SEDU
−1.0
0.0
1.0
1.5
Legend:
B: −0.5
uppercase grey
fonts; 0.5
M: lowercase black font. Intensity
The regression line shows the relation between both parameters.
The dispersion of expressions observed on figure 2 illustrates
these tendencies: expressions belonging to clusters described with terms
linked to high activation (typically cluster #2, with expressions of IRRI)
show the highest levels of intensity, and also relatively high F0—but
this rise of F0 follows the regression line between both parameters, and
shall be the sub-product of a louder voice, and hence related to the Effort
Code. The spread of expressions along a direction perpendicular to the
regression line follows changes in F0 that are not explained by change
in vocal effort, and hence related to the Frequency Code. This line
separates expressions with a higher F0, above the line, from expressions
with lower F0, under the line—for comparable levels of intensity. Such
a separation allows to regroups expressions of WOEG, UNCE, QUES,
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1059
POLI, SINC, marked by semantic features of submission or positive
valence, and performed with a higher pitch, from expressions of DESC,
CONT marked by assertive or negative features.
Differences between the two types of elicitations of the same
expression are also observed. SEDU on the B sentence received the
lowest values of intensity and a low F0. It thus departs clearly from other
expressions, and this low voice may be related to a search of intimacy
linked to the expression of seduction. On the contrary, SEDU on the M
sentence still show a low pitch, but levels of intensity closer to those
of the expressions of ADMI it is mixed with. Interestingly, this type of
ADMI on the M sentence (performed with F0 and intensity values close
to those of declaration) also departs clearly from the sentence B type
of ADMI, which shows very high F0, for a relatively medium intensity
level: in that respect, it is acoustically comparable to the expressions of
SUPR it is mixed with.
On the middle of the graph lie the many expressions that share
conversational levels of intensity and F0. Typically, one observes the
proximity of the expressions regrouped under cluster #1 that share similar
values of mean pitch and vocal effort.
UNCE M
DESC M
IRON B
DOUB M
ADMI M
WOEG M
SEDU M
DESC B
IRON M
WOEG B
ADMI B
SURP B
SURP M
UNCE B
DOUB B
SEDU B
IRRI M
SINC M
OBVI M
IRRI B
POLI M
ARRO M
CONT M
OBVI B
AUTH M
SINC B
QUES M
POLI B
CONT B
DECL M
ARRO B
DECL B
QUES B
AUTH B
0.0
−1.0
−0.5
Duration (z−score)
0.5
1.0
FIGURE 3 – Mean standardized syllabic duration (z-score) of each type of
expression, on each sentence (see text for abbreviation)
Legend: The dashed horizontal line indicates the mean syllabic duration.
1060
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Duration constitutes a third set of prosodic indices: mean syllabic
durations are displayed for each expression on figure 3. Two groups
of expressions may be observed: (i) expressions with a tendency to
lengthening, that regroups (in decreasing order of lengthening) clusters
#6, #7, #5, #11, #9, and #12, plus IRON on the B sentence; and (ii)
expressions with a tendency to shortening, that regroups (in decreasing
order of shortening) clusters #1, #8, #3, #4 (minus IRON), #2, and #10.
These two groups are mostly differentiated by traits of dominance and
assertiveness (linked to shortening) vs. submissiveness and dubitative
expressions (linked to lengthening)—the case of QUES (cluster #8) being
a counter-example. One may also observe that neutral sentence (both
DECL and QUES) are performed with fast speech rhythm, while most
expressive behaviours do exhibit some lengthening (i.e. all expressions
show lengthened syllabic durations regarding these two expressions but
those of cluster #1). The two expressions of SEDU show different patterns
of lengthening, with SEDU on the M sentence, grouped with ADMI (and
described as a kind of admiration), having the longest—while SEDU on
the B sentence have a faster, more assertive rhythm. Expressions of IRON
on the B sentence are grouped with lengthened expressions and not with
expressions of OBVI (cluster #4); such difference in timing may have
been use by speakers as a cue for expressing exaggeration (a component
of ironic meaning, according to BRYANT, 2011; GONZÁLEZ-FUENTE,
2015), but appears to be insufficient for the listeners being able to decode
them as ironic, outside of the communication context.
4 Discussion and conclusions
The results of the free-labelling study have shown that the
17 expressions are first regrouped in three main groups, which are
interpreted in terms of: (i) positive valence, (ii) assertive expressions,
and (iii) dubitative expressions. These distinctions are basic components
of meaning: valence is part of the three “dimensions of meaning” crossculturally observed by Osgood et al. (1975); the distinction between
assertion / dubitative expressions being a classical dimension of linguistic
meaning, and one of the basic function of prosody (the expression of
sentence’s mode; BRANDT, 2008). It is worth noting that only one of
the three “dimensions of meaning” reported by Osgood is part of these
three main distinctions, and that the next ones (Osgood’s dimensions of
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1061
activation and dominance) are not part of this high-level description. The
fact that Osgood’s work was based on isolated (and written) words may
explain why the typically interactional distinction between assertive and
interrogative speech acts was not observed in his work. This distinction
was also observed in works on other languages performed with the same
methodology as the one presented here, typically in French, Japanese (cf.
GUERRY et al., 2015, 2016; other languages are under study): it even
constitutes the main distinction found in these two languages, for which
the valence component do not seem to be as prominent (a comparative
study shall be pursued to raise conclusive remarks on this aspect). This
distinction between assertion and interrogation is also reflected in the
acoustic measures, and ranked along the regression line drawn from the
position of vowels on the intensity x F0 plane. This distinction, orthogonal
to the line linked to vocal effort, can be interpreted as a change in F0
explicitly made by the speaker to change the pitch of her/his production
(and not as a by-product of a stronger vocal effort): this is in line with
the interpretation proposed by the Frequency Code (OHALA, 1994).
At a finer level of distinctions, 12 clusters have been described.
Among these 12 groups of expressions, half are based on one type
(and one only) of attitude among the 17, and labelled with terms that
correspond to the intended expressions. There are thus 6 expressions
that are recognized without ambiguity, and not mixed with others:
IRRI, CONT, WOEG, UNCE, QUES, and DOUB. Three more clusters
are based on a well-recognized expression, but also contain another
expression that was not labelled adequately (in relation to the targeted
attitude by the listeners: OBVI (mixed with IRON on the B sentence),
DESC (mixed with IRON on the M sentence) and SURP (mixed with
ADMI on the B sentence).
ADMI is recognized in one case (on the M sentence), and mixed
with one type of seduction, that involve prizing the interlocutor; the
second type of seduction is recognized and labelled according to the
speaker’s intended attitude. The accuracy of the listeners’ descriptions
is interesting as they manage to grasp the difference in the scenario set
up to elicit most of the 17 attitudes—with the notable exception of four
expressions part of cluster #1. This cluster regroups a set of assertive
expressions that have not been singled-out by the listeners: ARRO,
AUTH, POLI, and SINC (cluster #1 being mostly labelled as a neutral
assertion, one may conclude DECL is well recognized).
1062
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One may compare the recognition of the complete set of 16
expressions (let’s remember for other language, the DESC situation was
not recorded) in PB with the results obtained in French (GUERRY et al.,
2015) and Japanese (GUERRY et al., 2016). French listeners (judging
French expressions) have made the same grouping of IRON on the B
sentence with OBVI that the one observed here (the expression of IRON
on the M sentence being mixed with negative and dominant expressions
by French); on the contrary, both expressions of IRON are well clustered
in the Japanese dataset, and interpreted as a negative sarcasm. This notion
of sarcasm can be compared with labels given to IRON on the M sentence
by both Brazilian and French listeners. Another common behaviour is
related to the comparison of SEDU with ADMI: both Brazilian and
French listeners do mix these two expressions in the context of the M
sentence only (associating them to an expression of admiration), while
Japanese subjects do these grouping for all expressions of ADMI and
SEDU; conversely, French and Brazilian subjects do note the sexually
related expression of SEDU in the B sentence (French do mix this one
with ADIM on the B sentence, with labels expressing desire and longing).
The situation corresponding to the Japanese kyoshuku, WOEG, is
well distinguished by Japanese subjects, as for Brazilian, and described
primarily as 申し訳ない (I’m sorry) by Japanese and as “vergonha”
(shame) by Brazilian. In both cases, this expression pertains to a more
general dubitative cluster. Let’s note that even for Japanese, who did
conventionalize this expression in their language, the list of terms used to
denote it is particularly long (25 in the case of Japanese, 22 for Brazilian).
French subjects do not singularize the WOEG expression, but mixed it
with UNCE, and do label it accordingly.
A singularity of the Brazilian data lies in the large set of clusters
(12) compared to seven for French and eight for Japanese. This shows a
greater accuracy in singularizing a set of unique expressions, compared
to the two other languages. Finally, both French and Japanese do separate
a large group of negative and/or imposing expressions (AUTH, IRRI,
CONT, ARRO) from a neutral of positive group of assertions based
on DECL, and mixed with POLI and SINC. This is not the case for
Brazilians, who do mix these two groups, singularizing IRRI and CONT,
but neither AUTH nor ARRO from DECL. Note the valence component is
present (and important) in the Brazilian data, with a group of expressions
with a positive valence. Once again, a compared analysis shall be pursued
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1063
for interpreting these observations and propose a comprehensive crosscultural analysis. To that aim, a detailed analysis of the semantic features
linked to each type of expressions shall be pursued. It will notably help a
better understanding of the various prosodic expressions captured in this
corpus, and to propose a set of comparable expressions across languages,
as well as another set of varying expressions, worth to be studied in the
framework of foreign language teaching.
Acknowledgements
The authors are deeply indebted to the many speakers and listeners from
Rio de Janeiro Federal University, who participated in these recordings
and perception experiments. Also, we acknowledge the French National
Research Agency (ANR) PADE, and the Brazilian CNPq agency (bolsa
PV 406177/2015-5).
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1068
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
Annex
We give hereafter the details of the prototypical situations that
have been used to describe the 17 prototypical situations and dialogues
corresponding to the targeted attitudes (in each case, F1 is the recorded
speaker, F2 the interlocutor):
Declarativo neutro
Neutral declarative sentence (DECL)
O falante F1 dá uma informação ao falante
F1 & F2 are colleagues, same age; F1
F2 (“Maria dançava” / “Uma banana”), de
gives information without any personal
forma neutra, isto é, sem nenhuma atitude ou perspective; the scene is at a coffee shop.
perspectiva pessoal. F1 & F2 são colegas, de
mesma idade, e estão num local informal, p.
ex. num bar.
F2: O que ela estava fazendo quando você
chegou?
F1: Maria dançava.
Pergunta neutra
F2: What was Mary doing when you arrived?
F1: Mary was dancing.
Neutral question (QUES)
Sem nenhuma expectativa particular,
esperando uma resposta simples. Os Falantes
F1 & F2 são amigos, mesma idade. Local:
em um bar
F1 & F2 are colleagues, same age. F1
asks for information, without any personal
perspective, awaiting a simple answer. The
scene is at a coffee shop.
F2: Encontrei Maria ontem a noite.
F1: Maria dançava?
F2: I saw Mary last night.
F1: Mary was dancing?
Admiração
Admiration (ADMI)
F1 & F2 adoram comida japonesa, e eles
falam de um prato delicioso que comeram
em um restaurante japonês na semana
passada. Ambos são aproximadamente
da mesma idade, e se conhecem bem. No
restaurante da universidade.
F1 & F2 are almost the same age and know
each other well. Both love French cuisine,
and talk about the very delicious food they
ate yesterday at a famous French restaurant.
The scene is at a coffee shop.
F2: E a comida japonesa que comemos na
semana passada?
F1: (Hummmm...) Era maravilhosa!
F2: Do you remember the French food we
ate yesterday?
F1: Oh, yes, of course! It was so fantastic!
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Arrogância
Arrogance (ARRO)
O falante F1 está dando uma festa, e o
falante B não foi convidado, mas A percebeu
que ele /ela está na festa. Ambos, F1 & F2
estudam da mesma faculdade mas F1 é mais
velho que o falante F2, seu pai é o reitor da
Universidade e você é um tanto metido a
snob. Os dois falantes se conhecem, mas não
se gostam muito. Local: Na festa
Both F1 & F2 are from the same university,
but F1 is older and F1’s father is head of
the university and F1 is a bit of a snob.
Both know each other, but are not friends.
F1 organized a social party, and F2 was not
invited to the party, but F1 is aware of his/
her presence during the party. The scene is a
party room, and F1 says to F2 that only his
friends are invited.
F1: O que que você está fazendo aqui?
F2: É você que está dando essa festa?
F1: (não), Eu só convido gente de alto nível
para minhas festas.
F1: Why are you here?
F2: You organized this party?
F1: I only invite my friends to my parties.
Autoridade
Authority (AUTH)
O falante F2 está na frente do F1, requerendo
permissão para entrar no país. F1 deve impor
sua autoridade. O Falante F1 é um agente da
polícia federal, o falante F2 é um turista. A
cena se passa no controle de imigração do
Aeroporto.
F1 is a custom agent; F2 is a traveller. F2
is in front of F1, requesting permission to
enter the country; F1 needs to impose his
authority; the scene is at a custom counter at
the airport.
F1: Qual o motivo de sua visita?
F2: Eu sou um estudante, fazendo intercâmbio
F1: Por quanto tempo você vai ficar no país?
F2: Três semanas
F1: What is your purpose for visiting?
F2: I am an exchange student
F1: How long do you plan to stay?
F2: 3 weeks
Desprezo
O falante F1 está dando uma festa em casa e
não convidou o falante F2, mas F1 descobre
que ele está na festa. F1 e o falante F2 são
colegas de faculdade, mas F1 é de um ano
mais adiantado. Eles se conhecem, mas
não são amigos. Na verdade F1 detesta F2.
Durante a festa.
Contempt (CONT)
Both F1 & F2 are from the same university,
but F1 is older; both know each other, but
are not friends. In fact, F1 really hates F2.
F1 organized a social party, and speaker F2
was not invited, but F1 is aware of his/her
presence. The scene is at a party room
1070
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F1: Você não foi convidado, foi?
(olhando para ele com ar superior)
F2: Não, mas eu queria muito vir.
F1: É melhor você ir embora!
Evidência
F1: You are not invited, are you?
(thinking about how you dislike F2 so
much)
F2: No, but I really wanted to come.
F1: You should leave!
Obviousness (OBVI)
Todo mundo sabe que Paulo não gosta de
filmes do Woody Allen. Mas F2, um amigo
de F1, ainda assim lhe pergunta se Paulo
gostaria de ver um dos filmes do Woody
Allen.
Os dois falantes são colegas, mesma idade.
Local: em um bar
F1 & F2 are colleagues, same age; everyone
knows F2 doesn’t like French movies, but F1
asks F2 if he likes French movies or not; the
scene is at a coffee shop.
F2: Você acha que Paulo gostaria de ver um
filme do Woody Allen hoje?
F1: Acho que não!...
F2: Do you think Paul likes French movies?
F1: Of course he doesn’t like them.
Incerteza
Uncertainty (UNCE):
O falante F1 acha que viu Paulo, um amigo
comum (dele e de seu interlocutor F2), no
Maracanã na véspera, mas ele não está 100%
seguro de que fosse realmente Paulo. Os dois
falantes são colegas, mesma idade. Local: em
um bar
F1 & F2 are colleagues, same age. F1 saw
Paul at the baseball game yesterday, but is
not 100% sure if it was really Paul; the scene
is at a coffee shop.
F2: Oi, eu fui ao Maracanã ontem, o jogo foi F2: Hi, I went to see the baseball game
ótimo. Você sabe se o Paulo também foi
yesterday, and it was really fantastic! Do
ao jogo?
you know if Paul went to see the game too?
F1: Acho que o Paulo estava lá também...
F1: Paul was probably there too.
Ironia
Irony (IRON)
O falante F1 está indo para São Paulo para
assistir a um jogo do seu time e seu amigo
Pedro F2, que mora em São Paulo telefona
para ele. Infelizmente, o tempo em São Paulo
está chuvoso. Os dois falantes são colegas,
mesma idade. Local: no aeroporto do Galeão
F1 & F2 are friends, same age; F1 is going
to Boston to see an important baseball game,
and F2, who is living in Boston calls F1.
Unfortunately, the weather in Boston is rainy
and F1 says it’s wonderful; the scene is at an
airport.
F1: Oi, Pedro, como está o tempo hoje?
F2: Hoje está chovendo...
F1: Ah!, que ótimo!
F1: Hey Paul, what’s the weather today?
F2: Oh it’s rainy today, unfortunately...
F1: Oh! That’s great!
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
Irritação
1071
Irritation (IRRI)
O falante F1 está sentado ao lado do falante
F2. O falante F2 acende um cigarro, e F1
fica muito irritado com isso. F1 quer que F2
pare de fumar, e expressa sua irritação em
relação a ele. Os dois são aproximadamente
da mesma idade, e se conhecem bem. No
corredor da faculdade
F1 & F2 are almost the same age and know
each other. F1 is sitting next to F2. Suddenly,
F2 starts to smoke, and F1 is very angry; s/
he wants him/her to stop, expressing his
irritation toward speaker F2. The scene is a
public place.
F1: Por favor, apaga a cigarro.
F2: Ok, Ok, eu sei....
F1: Por favor, apaga a cigarro!
F1: Excuse me, but don’t smoke please.
F2: ok I know I know...
F1: Don’t smoke, please!
Pergunta com estranheza
Doubt (DOUB)
O falante F1 sabe que seu amigo Paulo
não sabe cozinhar, mas Paulo (Falante F2)
conta ter feito um jantar ontem; você tem lá
suas dúvidas se isso é mesmo verdade. Mas
diferentemente da afirmação com descrédito
(a anterior), o falante F1 estranha a afirmação
feita por F2, e pergunta se é isso mesmo que
ouviu, como se quisesse confirmar o que foi
dito, ao mesmo tempo manifestando, por
seu tom de voz, sua estranheza em relação
a informação dada por F2. F1 & F2 são
amigos, mesma idade. Num bar.
F1 & F2 are colleagues, same age. F1 knows
that his colleague F2 didn’t go to the baseball
game yesterday, but F2 pretends he went
to the game, and F1 doesn’t believe it. The
scene is at a coffee shop.
F2: Ontem eu fiz uma lasanha, ficou ótima
F2: Hi, did you see the baseball game
F1: Você fez uma lasanha???
yesterday? It was really fantastic!
(tem certeza? Você não sabe fritar um ovo!) F1: Hey Paul, did you really go to see the
game yesterday?
1072
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
Pisando em ovos
Walking on eggs (WOEG)
F2, o chefe de F1, quer que F1 se encarregue
de uma tarefa muito trabalhosa, que vai
exigir muitas horas fora do expediente e você
sabe que não vai dar para fazer o que ele
pede (sua mãe está no hospital e você precisa
cuidar dela, mas você não quer dizer isso
a seu chefe). Então você tenta recusar seu
pedido tentando ao mesmo tempo não deixálo irritado com você por que está recusando
a tarefa. O falante F2 é o chefe de F1, é mais
velho que F1. No escritório de F2.
F2 is chief of the section which F1 belongs
to; F2 is older than F1. The chief (F2) wants
F1 to do a task which is a lot of work, and it
seems to A it is impossible to do this, so F1
tries to reject this request by trying to make
sure her/his boss (F2) doesn’t get angry for
refusing. The scene is at F2’s office.
F2: Estou indicando você para se ocupar do
próximo projeto.
F1: Obrigado pela confiança, mas acho
que não vou poder assumir essa
responsabilidade.
F2: Acho que pode, sim, você está
recusando?
F1: Desculpa, mas acho que não vou poder...
F2: I am recommending you to be in charge
of our next big project.
F1: Thank you for your confidence, but
I’m afraid I can’t take on such a big
responsibility.
F2: I think you can do it. Are you declining?
F1: I’m sorry, but it seems difficult for me...
Polidez
Politeness (POLI)
F1 está sentado ao lado de F2. Ambos
começam a conversar sobre banalidades,
de forma muito educada. Ambos são
aproximadamente da mesma idade. Eles não
se conhecem muito bem, mas trabalham na
mesma empresa. Numa festa da empresa.
F1 & F2 are almost the same age and don’t
know each other well, but work together
professionally. F1 is sitting next to F1; both
start social talk. The scene is at a formal
party.
F1: Muito prazer
F2: O prazer é meu...
F1: Com é mesmo seu nome?
F2: Meu nome é ......, e o seu?
F1: Nice to meet you.
F2: I’m glad to meet you too.
F1: Excuse me, would you remind me your
name?
F2: My name is ......, and you?
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
Sedução
1073
Seduction (SEDU)
O falante F1 está apaixonado pelo falante
F2. O Falante F1 elogia o falante F2 de
forma provocativa, sensual, tentando atrair
a atenção de F2. F1 & F2 tem uma relação
íntima. Numa boate
F1 loves F2 and they have an intimate
relationship. F1 gives a compliment to F2 in
a sexually provocative way. The scene is at a
clubhouse.
F1: Como você está sexy!
F2: Obrigado.
F1: Vamos dançar?
F2: Claro, vamos.
F1: You look sexy today.
F2: Thank you.
F1: Would you dance with me?
F2: Of course.
Sinceridade
F2, o chefe de F1, quer que F1 se ocupe de
um grande projeto. F1 está muito contente
com a indicação, e expressa sua entusiasmo
e sua vontade de cumprir bem essa tarefa.
O Falante F2 é o chefe da seção onde F1
trabalha, e é mais velho que F1. Na sala de
F2.
Sincerity (SINC)
F2 is chief of the section which F1 belongs
to; F2 is older than F1. The chief (F2) wants
F1 to take on a big project; F1 is pleased
to be asked to do this, and expresses his
enthusiasm, honesty and sincerity for this
task. The scene is at F2’s office.
F2: Indiquei você para tomar conta do
F2: I recommend you to be in charge of
próximo projeto.
carrying out our next big project.
F1: Muito obrigado pela confiança! Vou me F1: Thank you for your confidence. I will do
esforçar ao máximo para não decepcionámy best. (appreciative)
lo.
Surpresa
Surprise (SURP)
O falante F1 não sabia que Paulo cantava
tão bem. Uma dia, um amigo (Falante F2)
faz você ouvir Paulo cantando. F1 & F2 são
amigos, mesma idade. Na casa de F1.
F1 & F2 are friends, same age. F1 didn’t
know that F2 can sing well. One day, F2
makes F1 listen to his beautiful voice. The
scene is at friend’s home.
F2: Você já ouviu Paulo cantando?
F1: Nunca ouvi.
F2: A voz dele é incrível. Quer ouvir?
F1: Claro.
***toca música***
F1: Nossa, é ele mesmo?
F2: Hey did you ever listen to Paul’s song?
F1: Not yet.
F2: It’s actually amazing. Do you wanna
listen to his song?
F1: Yes, sure.
***listen***
F1: Wow! Really?
1074
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1043-1074, 2017
Descrédito
Discredit (DESC)
O falante F1 sabe que seu amigo Paulo não
sabe cozinhar, mas Paulo (Falante F2) insiste
ter feito um jantar ontem; você não acredita.
Diferentemente da ironia, aqui não se trata de
uma resposta irônica, mas a repetição de uma
afirmação anterior. O falante F1 repete o que
ele acaba de ouvir, expressando sua falta de
convicção em relação a informação dada por
F2. Ele põe em causa ou mesmo duvida do
que acaba de ouvir, mostrando por seu tom
de voz que não acredita no que foi dito. F1 &
F2 são amigos, mesma idade. Num bar.
F1 knows her/his friend Paulo (F2) cannot
cook, but F2 insist in preparing the lunch; F1
disbelieve. Unlike for Irony, the answer here
is not an ironic assertion, but the repetition
of a preceding assertion. F1 repeats what
s/he just heard, expressing her/his lack of
conviction about the information given by
F2. F1 rejects the plausibility of what s/he
just heard, showing this disbelief in her/his
tone of voice. Both F1 & F2 are friends of
the same age. The scene is at a coffee shop.
F2: Ontem eu fiz uma lasanha, ficou ótima
F1: Você fez uma lasanha (conta outra, fez
nada!..)
F2: Yesterday, I cooked lasagne; it was great!
F1: You cook lasagne (pull my leg)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
Perception of emotional prosody: investigating the relation
between the discrete and dimensional approaches to emotions
Percepção da prosódia emocional: investigando a relação entre
as abordagens discreta e dimensional das emoções
Wellington da Silva
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo / Brasil
wellingtondasilva@rocketmail.com
Plinio Almeida Barbosa
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo / Brasil
pabarbosa.unicampbr@gmail.com
Abstract: Emotional phenomena can be described according to various
psychological approaches, the most adopted being the discrete (basic)
and the dimensional ones. This study aimed at investigating the relation
between the perception of some basic emotions and emotional dimensions
in speech, as well as determining which acoustic cues are related to their
perception. We conducted two perception experiments with utterances
selected from a foreign language (Swedish) of which the listeners had
no knowledge. In the first one, Brazilian subjects rated on 5-point
scales the expressivity of four basic emotions: joy, anger, sadness, and
calmness. In the second, a distinct group of Brazilian subjects rated the
expressivity of five emotional dimensions: activation, fairness, valence,
motivation, and involvement. The perception of the basic emotions
and of the emotional dimensions was then compared by means of the
Spearman’s correlation coefficient. The five emotional dimensions were
significantly correlated to some extent with the basic emotions, and these
correlations were, in general, consistent with the literature and with the
hypotheses that guided this study. We also performed an acoustic analysis,
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1075-1103
1076
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
in which twelve acoustic parameters were automatically computed for the
utterances evaluated by the listeners. The parameters which correlated
better with the listeners’ judgments were fundamental frequency (median,
interquantile semi-amplitude, 99.5% quantile), spectral tilt (mean and
standard deviation), and LTAS slope. We concluded that it is possible to
describe the perception of basic emotions in speech as a combination of
emotional dimensions and that emotional dimensions may be better for
describing the expression of emotions in speech.
Keywords: emotional prosody; basic emotions; emotional dimensions;
perception test.
Resumo: Os fenômenos emocionais podem ser descritos de acordo
com várias abordagens psicológicas, sendo a discreta (básica) e a
dimensional as mais adotadas. Este estudo teve como objetivo investigar
a relação entre a percepção de algumas emoções básicas e dimensões
emocionais na fala, bem como determinar quais pistas acústicas estão
relacionadas com sua percepção. Conduziram-se dois experimentos
de percepção com enunciados selecionados de uma língua estrangeira
(sueco) da qual os ouvintes não possuíam nenhum conhecimento. No
primeiro, sujeitos brasileiros julgaram em escalas de cinco pontos a
expressividade de quatro emoções básicas: alegria, raiva, tristeza e
calma. No segundo, um grupo distinto de sujeitos brasileiros avaliou
a expressividade de cinco dimensões emocionais: ativação, justiça,
valência, motivação e envolvimento. A percepção das emoções
básicas e das dimensões emocionais foi então comparada por meio do
coeficiente de correlação de Spearman. As cinco dimensões emocionais
correlacionaram-se significativamente em algum grau com as emoções
básicas e essas correlações foram, no geral, consistentes com a literatura
e com as hipóteses que nortearam este estudo. Realizou-se também uma
análise acústica, na qual doze parâmetros acústicos foram computados
automaticamente para os enunciados avaliados pelos ouvintes. Os
parâmetros que melhor se correlacionaram com os julgamentos dos
ouvintes foram: frequência fundamental (mediana, semiamplitude entre
quantis, quantil 99,5%), inclinação espectral (média e desvio padrão) e
inclinação do LTAS. Concluiu-se que é possível descrever a percepção das
emoções básicas na fala como uma combinação de dimensões emocionais
e que as dimensões emocionais podem ser melhores para descrever a
expressão de emoções na fala.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1077
Palavras-chave: prosódia emocional; emoções básicas; dimensões
emocionais; teste de percepção.
Recebido em: 17 de agosto de 2016.
Aprovado em: 16 de novembro de 2016.
1 Introduction
Emotions are complex phenomena which have intrigued
researchers from different fields for decades. Many theories have been
developed to explain what an emotion is (CORNELIUS, 2000). Currently,
most scholars assume a componential view, for which emotions are
(brief) processes made up of several components. This position differs,
for example, from the one shared by the common sense, which sees
emotion only as a feeling, that is, as the subjective experience of the
state of emotional arousal caused by an event (SCHERER, 2000).
The following components have been postulated (SCHERER, 2000):
feeling, neurophysiological response patterns, motor expressions, action
readiness, and appraisal. Mesquita & Frijda (1992) include in this list
the antecedent events, event coding and regulation.
According to this perspective, an emotional process is triggered
by the appraisal of an event in the environment (the antecedent event)
as being relevant for the goals and needs of the individual. The appraisal
of the event is automatic and unconscious, i.e., it is not dependent on
the deliberate action of the individual. However, it is mediated by the
event coding, which is the meaning that the antecedent event has to
the organism. Such process depends on the knowledge shared by the
culture, the history of life, the personality and the personal beliefs of
the person. Therefore, the emotion which the person will experience
does not depend on the nature of the event itself, but rather on how it is
coded by the individual (MESQUITA; FRIJDA, 1992). This is why the
same event can trigger different emotions in different cultures and even
between different people. Emotions are also subject to the regulation of
the individual, who can try to disguise an expression (as is the case with
shame) or exaggerate it (when someone tries to fake joy, for example).
This process often depends on cultural and social norms, but it does
1078
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
not inhibit the emotional process (for example, even disguising the
expression, the person is still experiencing the emotion).
Researchers have also sought to find the most suitable way of
describing the emotional processes and several methods have been
developed for this purpose (COWIE; CORNELIUS, 2003). In the
present study, we compare the two most influential approaches: the
basic emotions approach and the dimensional. One of the big debates in
emotion research is whether variations in the emotional processes should
be regarded as gradual differences on a set of underlying dimensions or
as discrete differences among emotion categories (FONTAINE, 2009).
According to the basic emotions approach, there exists a small
set of universal emotions (known as basic or discrete), which are
qualitatively different from each other and characterized by specific
patterns of cognitive appraisal, expression, and physiological changes
(EKMAN, 1992). This approach has its roots in the evolutionary theory
of emotions (DARWIN, 2009[1872]), which understands that emotions
are evolved phenomena which have been selected in the course of the
evolution of the species because they help us to cope with relevant
events in the environment, such as telling the individual when to attack,
defend, flee, reject food, etc. As a result, one expects to find the same
patterns of expression (facial and vocal) for a given emotion in all
human cultures (CORNELIUS, 2000; MATSUMOTO; EKMAN, 2009).
The basic emotions are described by means of labels provided by the
natural languages, such as joy, sadness, anger, etc. Each of these labels
actually denotes a family of related emotions. For example, the anger
family is composed of emotions described by the labels angry, annoyed,
irritated, furious, etc. (EKMAN, 1992; MATSUMOTO; EKMAN, 2009).
However, there is no absolute agreement between researchers as to
which emotions are “basic”. The most known proposal is Paul Ekman’s
(EKMAN, 1992), which recognizes six basic emotions: joy, sadness,
fear, disgust, anger, and surprise.
The dimensional approach understands that emotions are best
represented by positions within continuous scales specified by underlying
emotional dimensions. This approach, thus, emphasizes the gradual
nature of the emotional phenomenon, which can occur with varying
levels of intensity, and not only with two discrete poles of minimum and
maximum intensity (FONTAINE, 2009; SCHLOSBERG, 1954). The
most known emotional dimensions are activation and valence. Activation
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1079
(also labeled as arousal) refers to the degree of arousal of the individual
(increase in behavior or physiological activity) and varies from calm to
agitated (FOWLES, 2009; SCHLOSBERG, 1954). Valence (also known
as pleasantness) corresponds to the subjective feeling of the degree of
pleasantness caused by the antecedent event and emotions are commonly
distinguished within this dimension as either positive (pleasant) or
negative (unpleasant). Examples of positive emotions are joy and pride,
and examples of negative emotions are anger, fear, shame (BROSCH;
MOORS, 2009). It is possible to integrate the basic emotions approach
with the dimensional by considering that each basic emotion can be
represented by a set of underlying dimensions (MAUSS; ROBINSON,
2009; SMITH; ELLSWORTH, 1985). For example, the emotion labeled
by the discrete approach as “anger” has negative valence and a degree
of activation that varies from medium to high. The emotion “joy”, in
turn, has positive valence, whereas “sadness” has negative valence and
a low degree of activation.
In addition to valence and activation, many more emotional
dimensions have been proposed in the literature (see, for example,
FRIJDA et al., 1995; SMITH; ELLSWORTH, 1985). Barbosa (2009)
used the dimension of involvement, which is related to the degree of
involvement of the individual with the event and is analogous to the
opposition between attention – rejection used by Schlosberg (1941). A
dimension that is also used is dominance, which refers to the capability
of the individual to handle the situation, that is, whether he/she is in the
control of the event or controlled by it (KEHREIN, 2002). Dominance
has been regarded as an important dimension, as in some cases it is the
only dimension that distinguishes pairs of emotions, such as anger from
fear (SMITH; ELLSWORTH, 1985). However, some studies have found
that dominance may not be well inferred from speech. Barbosa (2009)
obtained very low inter-rater agreement for this dimension. Amir et al.
(2010) obtained very low rates of automatic recognition (by means of
combination of acoustic parameters) for the dimensions of dominance
and valence, concluding, thus, that the acoustic parameters were better at
predicting the dimension of activation than these other two dimensions.
A similar result was found by Lugger & Yang (2007). Therefore, we
decided here to replace dominance by other dimensions, in order to assess
whether they can also be inferred from speech.
1080
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
Following Frijda et al. (1995), we investigate in this study
the perception of the dimensions of fairness and motivation. Fairness
is related to the appraisal of the eliciting event by the individual,
i.e., whether the individual considered what happened fair or unfair.
Motivation is a dimension related to action readiness, i.e., whether the
eliciting event enhanced or diminished the individual’s disposition to act
on the event. It has been suggested that the appraisal of an event as unfair
can trigger and increase the intensity of various emotions, especially
anger (ELLSWORTH; SCHERER, 2003, p. 581). In addition, the emotion
the individual is expressing may also signal his/her behavioral intentions,
such as approaching, avoidance, or touching, as well as his/her disposition
to change his/her behavior (FRIJDA et al., 1995).
Emotions can be expressed through different modalities, such as
facial, body posture and gesture, and vocal (SCHERER; ELLGRING,
2007). This work addresses the expression of emotions in speech. The
physiological responses triggered by emotions cause variations in
respiration, phonation, and articulation, which are processes directly
related to speech (SCHERER, 1986). In addition, the cognition of the
speaker can also be affected by the emotional episodes, and this can
have an impact on the temporal characteristics of speech (JOHNSTONE;
SCHERER, 2000). Research on speech and emotion has focused on
investigating the emotion-related changes in speech and whether listeners
are able to recognize the intended emotion based only on speech samples
(SCHERER, 2003). A common approach in this area is to measure acoustic
properties of speech, such as amplitude, duration, and fundamental
frequency, which we refer to in this work as “acoustic parameters”. It is
assumed that different emotions are characterized by specific patterns
of changes in the acoustic parameters (see JOHNSTONE; SCHERER,
2000; and SCHERER, 2003, for a review of empirical findings on acoustic
patterns for some basic emotions). The most studied parameters in the
literature have been those related to vocal fold vibration (fundamental
frequency), time (speech rate, duration of utterances and pauses) and
intensity (perceived amount of energy in the speech signal). Because
prosody, a branch of linguistics, is the area which studies these properties
(BARBOSA, 2012), the term “emotional prosody” is often used to refer
to utterances which convey emotional information.
With regard to the perception of emotional prosody, many studies
which followed the basic emotion perspective have shown that listeners
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1081
can satisfactorily recognize a number of basic emotions through speech,
even in intercultural contexts (e.g. BANSE; SCHERER, 1996; PITTAM;
SCHERER, 1993; SCHERER; BANSE; WALLBOTT, 2001). Recent
studies have demonstrated that some emotional dimensions can also be
inferred from speech (LAUKKA; JUSLIN; BRESIN, 2005; PEREIRA,
2000; BARBOSA, 2009). Laukka, Juslin, & Bresin (2005) had listeners
rate utterances conveying five acted emotions (anger, happiness, sadness,
fear, and disgust) with respect to four emotional dimensions (activation,
valence, potency, and intensity). The authors found that these emotions
were associated with different patterns of judgments for these emotional
dimensions, which suggests that these basic emotions can be described
and distinguished by means of dimensions. In addition, some acoustic
correlates were found in the utterances for all four dimensions. Laukka
& Elfenbein (2012) have found that emotional dimensions related to
the appraisal of the emotion-eliciting events (e.g. valence, novelty,
urgency, goal conduciveness, etc.) can also be inferred reliably from
vocal expressions, which suggests that speech can also signal information
about the cognitive representation of events.
In spite of the great interest of speech researchers in the
discrete and dimensional approaches, it is still unclear which of the two
perspectives is more suitable to describe the expression of emotions in
speech and there is a lack of studies which have directly compared these
approaches in order to shed light on this question. Some authors have
suggested that emotional dimensions may be better for distinguishing
and describing the vocal expression of emotions than labels of discrete
emotions, since some dimensions (e.g. activation) directly reflect the
emotion-related changes in physiology (COWIE; CORNELIUS, 2003;
SCHERER, 1986). In addition, emotions which have a similar pattern for
some dimensions (e.g. activation and valence) share the same changes
for some acoustic parameters (e.g. fundamental frequency and intensity)
and this may cause confusion when trying to describe these emotions by
means of discrete labels (LUGGER; YANG, 2007; PEREIRA, 2000).
Emotional dimensions may be useful for research on speech synthesis and
automatic recognition of emotions from speech, since their continuous
quality allows the modeling of weaker emotional expressions, as well
as gradual changes in speech expressiveness over time (GRIMM et al.,
2007; SCHRÖDER et al., 2001; BARBOSA, 2009).
1082
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
The present study was conducted to address these questions and
thus contribute to the literature on emotional prosody. We carried out
two perception experiments with utterances selected from spontaneous
speech of a foreign language (Swedish). The use of utterances of an
unknown foreign language is important to guarantee that listeners rely
only on the prosody of the utterances to make their judgments (this is
discussed in section 2.1). In the first experiment, Brazilian subjects rated
on 5-point scales the expressivity of four basic emotions: joy, anger,
sadness, and calmness. In the second, a distinct group of Brazilian
subjects rated the expressivity of five emotional dimensions: activation,
fairness, valence, motivation, and involvement. Our objectives were to
investigate the relation between the perception of these basic emotions
and emotional dimensions in speech, and to determine which acoustic
cues among those investigated here are related to their perception. Based
on the studies reported above, we hypothesize that each of these basic
emotions is associated with a distinct pattern of perceptual judgments for
these emotional dimensions and that the ratings for the discrete emotions
and emotional dimensions correlate to some extent with some acoustic
parameters extracted from the utterances.
2 Materials and methods
2.1 Authentic emotional speech
The corpus used in the present study consists of 40 speech samples
from 5 Swedish female speakers,1 each one with duration between 1 and
6 seconds and with acceptable quality for performing acoustic analysis.
It was set up for a cross-cultural study on the perception of emotions
through spontaneous speech which was carried out with Brazilian and
Swedish listeners and showed no difference in the perception of the
emotions between the subjects of both cultures, that is, the Brazilian
listeners’ perception of the emotions expressed by the speakers of this
corpus was very similar to the native speakers’ (SILVA; BARBOSA;
The programs from which the utterances were extracted did not provide information
regarding the age of the participants. According to our perception, the speakers were
aged between 30 and 60 at the time of the recording.
1
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1083
ABELIN, 2016).2 The reason for using this corpus is that the subjects who
took part in the perception experiments reported here had no knowledge
of the Swedish language. The use of utterances of an unknown foreign
language prevents listeners from using words referring to emotions as
clues to determine the emotional state of the speaker. Therefore, the
listeners could rely only on the prosody and voice quality of the utterances
to make their judgments.
The utterances of this corpus were extracted from spontaneous
speech (talk shows and interviews) of the Swedish television and of one
Swedish interview program which was freely available over the internet
as podcasts. They were saved on the hard drive into wave sound format
with a sampling frequency of 44.1 kHz (Mono).
2.2 Perception experiment I: basic emotions
2.2.1 Participants
13 subjects completed this experiment (7 women and 6 men).
All of them were born and have lived most part of their lives in Brazil
and have Portuguese as their mother language. They were either
undergraduate or graduate students and reported having no hearing
impairment. The average age of the judges was 28 years, ranging from
21 to 50 years. They also reported having no knowledge of the Swedish
language.
2.2.2 Procedure
In this experiment, subjects were asked to rate on 5-point scales
ranging from 0, “not at all adjective”, to 4, “very adjective”, the degree
with which the speaker in each stimulus was expressing the discrete
Studies comparing the perception of emotions through speech between speakers of
Portuguese and of other languages are rare, but we can also mention the work by Peres
(2014), which compared the perception of emotions expressed in Brazilian Portuguese
utterances between Brazilian and English subjects. In this study, both groups recognized
the emotions with better-than-chance rate, but the native listeners (Brazilian) performed
better (90% against 66%).
2
1084
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
emotions described by four adjectives: joyful, angry, sad, and calm.3
Therefore, the experiment consisted of 4 parts, which were completed
in a single session. In each part the listeners evaluated one emotional
adjective for all 40 speech samples. The stimuli were presented in a
random order, but the adjectives were evaluated by all listeners in the
order presented above. The experiment was developed in Portuguese and
carried out over the internet through the “Survey Gizmo” online software
(http://www.surveygizmo.com/). The link for accessing it was sent by
email to the subjects who were interested in taking part. They were asked
to use earphones and to do the experiment in a quiet room. One speech
sample was presented on each screen along with its corresponding scale
and it was reproduced automatically as the page was finished loading.
After listening to the utterance, the subjects had to mark their response
on the scale by clicking on the desired value and then click on the “next”
button at the bottom of the page to proceed to the next stimulus. It was
not possible to return to the previous page or to proceed to the next one
without having marked the response on the scale.
2.3 Perception experiment II: emotional dimensions
2.3.1 Participants
This experiment was carried out with a group of judges different
from that of experiment I. 20 subjects completed the experiment (7 men
and 13 women). Their average age was 25 years, ranging from 18 to 34
years. They were either graduate or undergraduate students, were born
and have lived most part of the life in Brazil and have Portuguese as their
mother language. They reported having no knowledge of the Swedish
language at all and no hearing impairment.
2.3.2 Procedure
In this experiment, judges were asked to rate on 5-point scales
ranging from 0, “not at all adjective”, to 4, “very adjective”, the degree
The adjective “calm” is used here to balance the emotional space under investigation
with an item that corresponds to an emotion of positive valence and low level of arousal.
Thus, we have a representative label for each quadrant of the arousal-valence space
(see, for example, James Russell’s circumplex model of affect (RUSSELL, 1980).
3
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1085
with which the speaker in each stimulus was expressing the emotional state
described by emotional dimensions. The experiment consisted of 5 parts,
which were carried out in a single session. In each part the listeners evaluated
one emotional dimension for all 40 speech samples. The dimensions
investigated in this experiment were: activation (“How agitated was the
speaker?”), fairness (“How fair did the speaker consider what happened?”),
valence (“How pleasant for the speaker was the situation he/she was in?”),
motivation (“How motivated to act on the situation was the speaker?”),
and involvement (“How involved is the speaker with the situation he/
she was in?”). The stimuli were presented randomly, but the emotional
dimensions were evaluated by all listeners in this order. After listening to
each utterance, the subjects had to judge the degree of expressivity of the
emotional dimension specific to that part of the experiment by clicking on
the desired value of the 5-point scale and then click on the “next” button
at the bottom of the page to listen to the next stimulus. The experiment
was developed and run in Portuguese through the “Survey Gizmo” online
software. The questions related to the dimensions (shown above) were
presented along with the scales to guide the judges. The remaining of the
procedure is the same as that followed in experiment I.
3 Analyses and results
To ensure comparable magnitudes with the normalized values of
the acoustic parameters, the judges’ responses were linearly converted
to a scale ranging from 0 to 1 (0, 0.25, 0.50, 0.75, and 1). Then, the
5-level responses were transformed into three categories: low (0 and
0.25), medium (0.50), and high (0.75 and 1). This was done to avoid the
influence of outliers on the mean ratings for each utterance to be used
in the following analyses, thus guaranteeing more reliable judgments.
The statistical analyses reported in this paper were performed with the
software R in its 3.1.2 version (R CORE TEAM, 2014).
3.1 Inter-rater reliability
The reliability of the listeners’ responses in both experiments
was verified by means of the Fleiss’ kappa index (FLEISS, 1971), which
is an index bounded between 0 and 1 (the closer to 1, the greater the
agreement). The index was calculated separately for each adjective,
considering the three categories of responses.
1086
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
Table 1 shows the kappa figures for the discrete emotional labels
and emotional dimensions as well as their corresponding z figure (this test
is statistically significant for α = 0.001 when z > 3.09). The agreement
between the listeners’ responses was statistically different from 0 for all
adjectives (p < 0.001) and similar to other studies on the perception of
emotions through speech (ALM; SPROAT, 2005; DEVILLERS et al.,
2006; BARBOSA, 2009).
TABLE 1
Kappa index for the discrete emotional labels and emotional dimensions
and their corresponding z value
Experiment I
Adjective
Kappa
enraivecido (angry)
k = 0.465
z = 34.0
calmo (calm)
k = 0.408
z = 30.4
triste (sad)
k = 0.281
z = 21.0
alegre (joyful)
k = 0.231
z = 17.7
z
Experiment II
Adjective
Kappa
agitado (agitated)
k = 0.359
z = 43.9
agradável (pleasant)
k = 0.280
z = 34.0
motivado (motivated)
k = 0.258
z = 31.1
justo (fair)
k = 0.199
z = 24.1
envolvido (involved)
k = 0.186
z = 22.4
z
3.2 Comparing the perception of basic emotions and of emotional
dimensions
In order to evaluate the relation between the perceptual judgments
for the discrete emotions and emotional dimensions, correlation
coefficients were computed between the judges’ mean ratings for each
utterance for the discrete emotions and for the emotional dimensions.
The correlation coefficient measures the degree of association between
two variables (DOWDY; WEARDEN; CHILKO, 2004).
Because some of the variables did not meet the normality condition
for their distribution (according to the Shapiro–Wilk normality test), we
used the Spearman’s rank correlation (ρ), which is a nonparametric
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1087
alternative to the Pearson product-moment correlation. To perform this
test the variables were transformed into ranks. Results are shown in Table
2. The Spearman’s rank correlation coefficient is bounded between −1 and
1, with 1 indicating perfect positive correlation (i.e. a given observation
of one variable has the same rank order as the corresponding observation
of the other variable) and −1 expressing perfect negative correlation
(i.e. when a given observation of one variable has a high rank order, the
corresponding observation of the other variable has a low rank order).
The correlations were statistically significant (i.e. different from 0) for
almost all discrete emotion – emotional dimension pairs.
The ratings for joy were positively correlated with fairness,
valence, and motivation, which is in accordance with theoretical
predictions which state that joy is an emotion of positive valence
(ELLSWORTH; SCHERER, 2003; LAUKKA; ELFENBEIN, 2012;
SCHERER, 1986). This indicates that according to the listeners’
perception the speakers who were joyful were motivated to act on the
situation and considered the situation pleasant and fair.
Anger was negatively correlated with fairness and valence and
positively correlated with activation, motivation, and involvement. This
means that there was a tendency for the utterances which were evaluated
by the listeners with high level of anger to be also rated with high level for
the dimensions of activation, motivation, and involvement (and thus with
low level for the dimensions of fairness and valence). According to the
listeners’ perception, these speakers were very agitated, very involved and
very motivated to act on the situation and did not consider the situation
neither pleasant nor fair. This result is also in accord with the theoretical
predictions and evidence presented in the literature for the relation of
this basic emotion to valence, fairness, and activation (ELLSWORTH;
SCHERER, 2003; LAUKKA; ELFENBEIN, 2012; SCHERER, 1986).
As expected, sadness was negatively correlated with activation,
motivation, and involvement. Based on the literature, we also expected
a negative correlation of this basic emotion with fairness and valence
(since one expects that a person who is sad must have considered the
event unfair and unpleasant). Although this was the case with the latter,
the correlation with these two dimensions was not statistically significant.
Calmness was also negatively correlated with activation,
motivation, and involvement. It differed from sadness for being positively
correlated with fairness and valence, which was expected. In addition,
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1088
calmness was exactly the opposite of anger with regard to its correlation
with the five emotional dimensions.
TABLE 2
Spearman’s rank correlations between the listeners’ judgments
(mean ratings for each utterance) for the discrete emotions
and for the emotional dimensions
Activation
Fairness
Valence
Motivation
Involvement
Joy
0.17 ns
0.36*
0.56***
0.44**
0.23 ns
Anger
0.88***
-0.81***
-0.70***
0.69***
0.79***
Sadness
-0.49**
0.03 ns
-0.09 ns
-0.62***
-0.37*
Calmness
-0.94***
0.82***
0.69***
-0.72***
-0.82***
* p < 0.05
** p < 0.01 *** p < 0.001 ns = not significant
It is also useful to analyze how the emotional dimensions of
fairness, motivation, and involvement relate to the well-known dimensions
of activation and valence according to the listeners’ perception. The
correlations between the basic emotions and the emotional dimensions
presented in Table 2 suggest that fairness is more related to valence
(i.e. they tended to be positively correlated with each other) whereas
motivation and involvement seem to be more linked to activation. To
better investigate this, the intercorrelations among the listeners’ mean
ratings for the emotional dimensions were also computed through the
Spearman’s rank correlation coefficient. Results are shown in Table 3. As
expected, fairness presented a high and positive correlation coefficient
with valence, whereas motivation and involvement presented high and
positive correlations with activation and with each other.
This result indicates that the listeners’ perception indeed separated
fairness and valence from involvement, motivation, and activation. Put
differently, there was a tendency for the utterances which were evaluated
by the listeners with high values of the rating scales for the dimension of
fairness to be also rated with high values for the dimension of valence.
Conversely, the speech samples which were evaluated by the listeners
with high values for activation tended to be also rated with high values
for the dimensions of motivation and involvement.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1089
TABLE 3
Intercorrelations (Spearman’s rho) among the emotional
dimensions assessed by the subjects in experiment II
activation
fairness
valence
motivation
activation
―
fairness
-0.77***
―
valence
-0.58**
0.88***
―
motivation
0.82***
-0.45*
-0.23 ns
―
0.88***
-0.65***
-0.50**
0.82***
involvement
*p < 0.01 **p < 0.001 ***p < 10-5
involvement
―
ns = not significant
To examine to what extent the linear combination of the five
emotional dimensions explains the variance of the listeners’ judgments
for the basic emotions, we performed a series of multiple linear regression
models with basic emotion as the response variable and the listeners’
judgments for the emotional dimensions as the predictor variables.
However, because the emotional dimensions are highly intercorrelated
(as shown in table 3), we applied principal component analysis on the
emotional dimensions to eliminate covariate variables. This analysis
showed that the first (PC1) and the second (PC2) principal components
taken together account for 95% of the total variance of the listeners’
judgments for the five emotional dimensions (PC1 = 73%; PC2 = 22%).
Therefore, the scores of the utterances in these principal components
were taken as the predictor variables of the multiple linear regression
models (representing the listeners’ judgments for the five emotional
dimensions). To correct for violations of normality and/or of constant
variance (statistical assumptions for multiple linear regression analysis),
we applied a log transformation to the response variable when necessary
(for joy, calmness, and anger).
The model with joy as the response variable yielded an adjusted
R2 of 67% (F[2, 36] = 39.96, p < 10-09), which indicates that the linear
combination of PC1 and PC2 explains a significant and relative high
proportion of variance of the listeners’ judgments for joy. There was
no significant interaction between PC1 and PC2 in this model. The
model with calmness as the response variable and with a significant
interaction between PC1 and PC2 yielded an adjusted R2 of 89% (F[3,
36] = 109.5, p < 10-15). The model with anger as the response variable
1090
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
yielded an adjusted R2 of 69% (F[2, 37] = 43.71, p < 10-09), and there
was no significant interaction between PC1 and PC2. Finally, the model
with sadness as the response variable and with a significant interaction
between PC1 and PC2 yielded an adjusted R2 of 68% (F[3, 36] = 28.16,
p < 10-08).
3.3 Acoustic analysis
To investigate which acoustic parameters of speech correlate
better with the listeners’ judgments for the basic emotions and emotional
dimensions and thus contribute to advance the knowledge of how these
parameters vary as a function of the speaker’s emotions, a set of acoustic
features was automatically extracted from the utterances evaluated by the
judges in the experiments by means of the script “Expression Evaluator”,
implemented for the software Praat (BOERSMA; WEENINK, 2011) by
Barbosa (2009).4
This script analyzes the following acoustic features: fundamental
frequency (f0), fundamental frequency first derivative (df0), global
intensity, spectral tilt and Long-Term Average Spectrum (LTAS). All
of these parameters have been reported in the literature as potential
correlates of the vocal expression of emotions, since they may be
affected by the psychophysiological responses triggered by the emotional
processes (BARBOSA, 2009; FRICK, 1985; PITTAM; SCHERER, 1993;
SCHERER, 1986). Fundamental frequency is an acoustic correlate of
the rate of vocal fold vibration and is perceived as the pitch of the voice.
Sound intensity, measured in decibels (dB), corresponds to the variations
in the air pressure of a sound wave and it is the major contributor to the
sensation of loudness of a sound. Spectral tilt, considered here as the
difference of intensity between the 0 − 1250 Hz and 1250 − 4000 Hz
frequency bands computed every ten points, measures the degree of
the drop in intensity as the frequencies of the spectrum increase. LTAS
is an intensity spectrum obtained from the average of several spectra
extracted from the speech sample for a given frequency range. Various
authors argue that the LTAS reduces the effect of individual linguistic
segments on the spectral structure of speech, thus providing a spectral
representation of the speaker’s voice as a whole (PITTAM; GALLOIS;
4
This Praat script is available from the authors upon request.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1091
CALLAN, 1990; SCHERER, 1982). The f0 first derivative, computed
as the difference in Hz between successive odd-numbered f0 values, is
used as a means of revealing abrupt changes in the intonation contour
(BARBOSA, 2009).
In addition, spectral tilt and LTAS are acoustic correlates of vocal
effort and voice quality, since the increase of vocal effort enhances the
energy in the harmonics of high frequencies due to changes in subglottal
pressure and in the characteristics of vocal fold vibration (LAUKKANEN
et al., 1997; TRAUNMÜLLER; ERIKSSON, 2000).
These acoustic parameters are computed by the script in terms of
the following statistical descriptors (yielding a total of twelve parameters):
f0: median, interquantile semi-amplitude, skewness, and 99.5%
quantile;
df0: mean, standard deviation, and skewness;
global intensity: skewness;
spectral tilt: mean, standard deviation, and skewness;
LTAS: slope (difference of mean intensity in dB between the
bands 0 – 1000 Hz and 1000 – 4000 Hz of the LTAS).
The statistical descriptors related to f0 and df0 were normalized
for inter-speaker variability through the z-score technique5 by using the
following reference values (mean, standard deviation) of f0 for adult
females: (231 Hz, 120 Hz). Spectral tilt was normalized by dividing its
value by the complete-band intensity median. The f0 interquantile semiamplitude is calculated as the difference between the 95% and 5% quantiles
of f0, divided by two. It is, therefore, a measure analogous to f0 range (f0
maximum - f0 minimum), but less sensitive to measurement errors, since
it does not take into account the extreme values of the data. Similarly,
the f0 99.5% quantile is a measure analogous to f0 maximum. Skewness
indicates whether the distribution of the random variable (i.e. the measured
values) is symmetric or asymmetric about its mean (and, in the latter case,
whether the larger concentration of the values is on the left or on the right
of the mean). The f0 skewness is taken as the difference between f0 mean
and f0 median, divided by the f0 interquantile semi-amplitude.
The z-score is a statistical procedure that expresses the distance in terms of standard
deviation units of an observation from its mean (here, the reference values).
5
1092
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
The acoustic data were then correlated with the listeners’ mean
ratings for each utterance for the basic emotions (Table 4) and emotional
dimensions (Table 5) by computing the Spearman’s rank correlation.
The parameters which correlated better with the listeners’ judgments
were f0 median, interquantile semi-amplitude, and 99.5% quantile,
spectral tilt mean and standard deviation, and LTAS slope. In general,
these parameters correlated better with the emotional dimensions. The
parameters f0 median, f0 interquantile semi-amplitude, spectral tilt
mean, and LTAS slope, for example, were significantly correlated with
all five emotional dimensions, but only with some of the basic emotions.
In addition, f0 skewness was significantly correlated only with fairness,
motivation, and involvement.
Joy was not significantly correlated with any of the acoustic
features. This may have occurred because of a possible lack of exemplars
of this emotion in our corpus, or perhaps because the speakers of our
corpus may not have expressed this emotion consistently through speech.
The sign of the correlation coefficients (positive or negative) reveals
that the perceived increase of calmness in the speakers’ speech was
associated with a decrease of f0 median, f0 interquantile semi-amplitude,
f0 99.5% quantile, and of the energy concentrated in the harmonics of
higher frequencies (indicated by spectral tilt mean and standard deviation,
and LTAS slope).6 Higher ratings of anger were linked to an increase
in f0 median, f0 interquantile semi-amplitude, f0 99.5% quantile, and
in high-frequency energy. Sadness was associated with a decrease of f0
interquantile semi-amplitude and in high-frequency energy (indicated by
spectral tilt standard deviation and LTAS slope) across the utterances.
Because spectral tilt and LTAS slope are estimated by the difference of intensity
between the lower and higher frequency bands and the intensity drops as the frequencies
of the spectrum increase, an increase in these parameters means less energy concentrated
in the harmonics of higher frequencies due to a lower vocal effort used in the production
of the utterance (TRAUNMÜLLER; ERIKSSON, 2000).
6
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1093
TABLE 4
Spearman’s rank correlations between acoustic parameters and listeners’
judgments (mean ratings for each utterance) for the basic emotions
Acoustic Parameters
Joy
Calmness
Anger
Sadness
median
0.13 ns
-0.65***
0.57***
-0.17 ns
interquantile semi-amplitude
0.13 ns
-0.56***
0.53***
-0.37*
99.5% quantile
0.10 ns
-0.33*
0.31*
-0.15 ns
skewness
-0.06 ns
0.26 ns
-0.26 ns
-0.01 ns
Fundamental frequency (f0)
F0 first derivative
mean
-0.18 ns
0.07 ns
0.03 ns
0.28 ns
standard deviation
0.17 ns
-0.22 ns
0.23 ns
-0.15 ns
skewness
-0.06 ns
0.00 ns
-0.02 ns
0.08 ns
-0.18 ns
0.00 ns
0.09 ns
0.17 ns
mean
-0.03 ns
0.54***
-0.54***
0.28 ns
standard deviation
-0.21 ns
0.41**
-0.35*
0.55***
skewness
0.10 ns
0.10 ns
-0.13 ns
-0.01 ns
0.08 ns
0.81***
-0.79***
0.38*
Global intensity
skewness
Spectral tilt
Long-Term Average
Spectrum - LTAS
slope
*p < 0.05
**p < 0.01 ***p < 0.001 ns = not significant
With respect to the emotional dimensions, the perceived increase
in the degree of activation, motivation, and involvement was significantly
linked to an increase in f0 median, f0 interquantile semi-amplitude and in
high-frequency energy (reflected mainly in spectral tilt mean and LTAS
slope). Activation was also significantly associated with an increase in f0
99.5% quantile, whereas motivation and involvement with a decrease in
f0 skewness. Conversely, the perceived increase in fairness and valence
was associated with a decrease in f0 median, f0 interquantile semiamplitude and in high-frequency energy (also indicated by spectral tilt
mean and LTAS slope). In addition, fairness was significantly linked to
a decrease in f0 99.5% quantile and an increase in f0 skewness. It can
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1075-1102, 2017
1094
also be observed that the opposite behavior between the two groups of
dimensions (which separate fairness and valence from involvement,
motivation, and activation) observed in Table 2 and in Table 3 still holds
for the correlations between these emotional dimensions and the acoustic
parameters. This means that different patterns of changes in acoustic
parameters characterize these groups.
TABLE 5
Spearman’s rank correlations between acoustic parameters and listeners’
judgments (mean ratings for each utterance) for the emotional dimensions
Acoustic
Parameters
Activation Fairness
Valence
Motivation Involvement
Fundamental frequency (f0)
median
0.75***
-0.57***
-0.38*
0.63***
0.72***
interquantile semiamplitude
0.59***
-0.51***
-0.33*
0.48**
0.48**
99.5% quantile
0.40*
-0.34*
-0.19 ns
0.22 ns
0.29 ns
skewness
-0.29 ns
0.31*
0.25 ns
-0.31*
-0.44**
-0.14 ns
0.00 ns
-0.18 ns
-0.25 ns
-0.00 ns
standard deviation
0.28 ns
-0.20 ns
-0.09 ns
0.16 ns
0.20 ns
skewness
-0.06 ns
0.06 ns
0.03 ns
-0.13 ns
-0.09 ns
-0.06 ns
-0.16 ns
-0.29 ns
-0.04 ns
0.09 ns
mean
-0.59***
0.45**
0.38*
-0.54***
-0.63***
standard deviation
-0.47**
0.27 ns
0.13 ns
-0.47**
-0.28 ns
skewness
-0.00 ns
0.05 ns
0.13 ns
-0.02 ns
0.02 ns
0.72***
0.64***
-0.65***
-0.64***
F0 first derivative
mean
Global intensity
skewness
Spectral tilt
Long-Term Average
Spectrum - LTAS
slope
-0.79***
*p < 0.05
**p < 0.01 ***p < 0.001 ns = not significant
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1095
4 Discussion
The present study was conducted to shed light on the relation
between the perception of basic emotions and emotional dimensions
in speech, as well as to identify some acoustic cues which may guide
this process. For this purpose, a group of Brazilian subjects rated the
expression of four basic emotions in utterances of a foreign language
of which they had no knowledge (Swedish) and a separate group of
Brazilian subjects rated the expression of five emotional dimensions for
the same utterances. To further advance the knowledge of how emotions
are expressed and perceived in everyday interactions, the corpus used in
this study was composed of authentic emotional expressions as conveyed
in spontaneous speech.
The novelty of this study lies in the direct comparison between
the perception of some basic emotions and some emotional dimensions
in speech, which provided evidence on how the two perspectives can
be related to each other. The use of multiple linear regression analysis
to assess this relation is also new, and proved effective. The majority of
studies which suggested a relation between basic emotions and emotional
dimensions have not done so in the form of a specific relationship, but
only presented classes of basic emotions in a dimensional space. In
summary, this work has empirically shown that the perception of basic
emotions in speech can be described as a combination of emotional
dimensions, which, in the study presented in this paper, tended to display
a specific pattern for each basic emotion. In addition to contributing to the
literature on emotion in general, this finding is also relevant to research
on emotion and speech, as it provides researchers with empirical evidence
which may help them to choose the best approach for their studies and to
better interpret the results obtained with these approaches. Furthermore,
three of the emotional dimensions investigated here (fairness, motivation,
and involvement), despite being recognized by some theorists, have not
been satisfactorily examined in studies on emotional prosody. Thus,
this study also contributed by providing knowledge of other emotional
dimensions, which can be used in expressive speech applications. The
dimensions of motivation and involvement, for example, can be used in
automatic processing of meetings, in order to detect heated arguments
or periods of high excitement (WREDE; SHRIBERG, 2003) or in call
center conversations (together with activation) to monitor the affective
state of customers (VOGT; ANDRÉ; WAGNER, 2008).
1096
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Our results show that, apart from the classic dimensions of
activation and valence, the dimensions of fairness, motivation, and
involvement can also be inferred from speech. This is not only ensured
by a significant agreement between the listeners’ judgments for their
expressivity (which was slight to fair but similar to other studies on
the subject), but mainly because these dimensions were strongly and
significantly correlated with some acoustic parameters, basic emotions
and with activation and valence. This finding suggests that other
emotional dimensions related to the appraisal of the eliciting event and
to action readiness can also be inferred from speech. Investigating other
emotional dimensions which could possibly be recognized from speech
may advance our understanding of how emotions (and other affective
phenomena) are expressed and perceived in speech, as well as of the
expressive functions of speech prosody.
All the five emotional dimensions investigated here were
significantly correlated to some extent with the basic emotions. In
addition, the four basic emotions analyzed in the present study tended
to have different patterns of perceptual judgments for these dimensions:7
joy (positive fairness, positive valence, and high motivation); anger
(high activation, negative fairness, negative valence, high motivation,
and high involvement); sadness (low activation, low motivation, and
low involvement); calmness (low activation, positive fairness, positive
valence, low motivation, and low involvement). As can be observed,
with regard to activation and valence, these patterns were, in general,
consistent with previous findings. In this way, this study contributed to
better understand the underlying structure of these discrete emotions
with regard to some emotional dimensions. Furthermore, the multiple
linear regression analysis performed with each basic emotion and the two
principal components corresponding to the listeners’ judgments for the
five emotional dimensions showed that indeed it is possible to describe
the perception of basic emotions in speech as a combination of emotional
dimensions, since the linear combination of the two principal components
explained a significant and relative high (more than 50%) proportion of
variance of the listeners’ judgments for all the basic emotions (as revealed
by the adjusted R2 of the models).
Because its correlations with fairness and valence were not statistically significant,
sadness could not be reliably distinguished from calmness in this respect.
7
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1097
The basic emotions and the emotional dimensions were also
significantly correlated with some acoustic parameters extracted
automatically from the utterances used as stimuli in the perception
experiments, which indicates that the listeners relied partly on these
acoustic features to judge the expressiveness of these emotions and
dimensions. The most robust parameters were f0 median, interquantile
semi-amplitude, and 99.5% quantile, spectral tilt mean and standard
deviation, and LTAS slope. These parameters confirm the relevance
of fundamental frequency and voice quality in the communication of
emotions through speech. Among the basic emotions, only anger and
calmness correlated significantly with a considerable number of acoustic
parameters. Joy was not significantly correlated with any of the acoustic
features and sadness correlated moderately with three of them. All five
emotional dimensions, on the other hand, correlated significantly with
various acoustic parameters. Therefore, it is possible to conclude that,
in general, the acoustic parameters correlated better with the emotional
dimensions. This result is consistent with some previous studies,
which have suggested that emotional dimensions are more suitable to
distinguish and describe the vocal expression of emotions than labels
of discrete emotions (COWIE; CORNELIUS, 2003; LUGGER; YANG,
2007; PEREIRA, 2000; BARBOSA, 2009). Research on the automatic
recognition of emotions from speech and speech synthesis can benefit
from this finding, since the use of emotional dimensions may allow
the reliable identification and synthesis of more subtle expressions of
emotions and changes in speech expressiveness over time (GRIMM, et
al., 2007; SCHRÖDER et al., 2001; BARBOSA, 2009).
Acknowledgments
This work was funded by a fellowship from the São Paulo Research
Foundation – FAPESP (2012/04254-4 and 2013/06082-9) to the first
author. We thank all the subjects who took part in the perception
experiments reported here.
1098
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Prosódia de enunciados declarativos e interrogativos totais
nas variedades de Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro
Prosody of declarative and interrogative modalities in Salvador,
Fortaleza and Rio de Janeiro varieties
Leticia Rebollo Couto
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
rebollocouto@yahoo.fr
Carolina Gomes da Silva
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
carolinagsufpb@gmail.com
Luma da Silva Miranda
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
CAPES
lumah.miranda@gmail.com
Resumo: Este trabalho tem como objetivo descrever diferenças entre
variedades dialetais do português falado em Salvador, Fortaleza e Rio de
Janeiro, Brasil, tanto nas sentenças declarativas quanto nas interrogativas.
A análise de parâmetros prosódicos (frequência fundamental, duração,
intensidade) é feita no núcleo final de sentenças oxítonas, paroxítonas
e proparoxítonas. Há diferenças prosódicas sistemáticas entre as duas
modalidades (declarativa e interrogativa): um tom alto ou subida de F0 no
núcleo das interrogativas e, ao contrário, um tom baixo ou descida de F0
no núcleo das declarativas. Variações dialetais também são observadas.
Os acentos tonais nucleares H + L*L% para as declarativas e L + H*L%
para as interrogativas, propostos por Moraes (2008), são observados nos
falantes do Rio de Janeiro – sendo este último truncado ou comprimido
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1105-1142
1106
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
em sentenças oxítonas, devido à falta do material postônico. Entretanto,
nas variedades de Salvador e Fortaleza, as interrogativas também podem
ser realizadas com um padrão L + H*H%. Maior elisão de sílabas é
observada nos falantes de Fortaleza.
Palavras-chave: prosódia; entoação; sentenças declarativas; sentenças
interrogativas totais; variação dialetal.
Abstract: This work aims at describing differences between the dialectal
varieties of Portuguese spoken at Salvador, Fortaleza and Rio de Janeiro,
Brazil, in both the declarative and interrogative modalities. Analyses of
prosodic parameters (fundamental frequency, duration, intensity) are
made on the final nucleus of oxytonic, paroxytonic and proparoxytonic
sentences. There are systematic prosodic changes between modalities
– with a higher / rising F0 in interrogative nucleus where it is lower /
decreasing for declaratives. The interrogative nucleus are also longer
and stronger than the declaratives. Dialectal variations are also observed.
The accentual patterns H + L*L% for declaratives and L + H*L%
for interrogatives proposed by Moraes (2008) are observed in Rio de
Janeiro speakers – the latter being truncated or compressed in oxytonic
sentences due to lack of post-tonic material. Meanwhile, in the Salvador
and Fortaleza varieties, interrogatives may also be performed with a L
+ H*H% pattern. More syllable elisions are also observed in Fortaleza
speakers.
Keywords: prosody; intonation; declarative sentences; yes/no questions;
dialectal variation.
Recebido em: 5 de janeiro de 2017.
Aprovado em: 14 de março de 2017.
1 Introdução
A proposta deste trabalho é descrever e comparar elementos
prosódicos de enunciados interrogativos totais e declarativos do
corpus experimental AMPER (Atlas Multimédia Prosódico do Espaço
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1107
Românico)1 para o português do Brasil: projeto AMPER Por (Brasil). Os
dados que analisamos neste artigo são referentes a três pontos de coleta,
duas capitais na região nordeste do Brasil – Salvador e Fortaleza – e uma
na região sudeste – Rio de Janeiro. Analisamos a variação do padrão
entonacional e a implementação dos parâmetros acústicos frequência
fundamental (F0), duração e intensidade no núcleo e no pré-núcleo dos
seguintes enunciados: “O Renato gosta do Renato”, “O pássaro gosta do
pássaro”, “O bisavô gosta do bisavô”, nas suas modalidades declarativas
e interrogativas totais (respostas sim/não).
Partindo de estudos já realizados acerca do português do Brasil
(doravante PB), e em particular sobre as variedades de Salvador, Fortaleza
e Rio de Janeiro, pretendemos com este estudo discutir resultados dos
falares destas três cidades, e seus padrões melódicos de declarativas e
interrogativas. Um dos principais problemas dos estudos comparativos
é a disparidade de escolhas metodológicas.
Os dados do AMPER são dados de fala controlada, experimental
ou de laboratório. O estudo das funções prosódicas de segmentação
e de hierarquização da fala se faz sobre frases construídas a fim de
que variem sistematicamente suas estruturas morfossintáticas, o que
permite a oposição de um traço particular entre duas frases, que tenham
estruturas iguais (RILLIARD, 2011). Esta função de demarcação e
de hierarquização da fala é uma hipótese clássica sobre as funções da
prosódia que se encontra descrita em Rossi (1987), Reis (1995), Vaissière
(1997) ou Ladd (2008) e nós nos afiliamos a esta abordagem teórica. Os
dados que coletamos e analisamos para o AMPER-Por (Brasil) nas três
capitais (Rio de Janeiro, Fortaleza e Salvador) podem ser considerados
como dados de fala lida ou fala atuada, de acordo com as diferentes
condições de produção e oralização dos enunciados, e de acordo com as
diferentes conceitualizações teóricas de fala lida, atuada ou espontânea.
O projeto AMPER (Atlas Multimédia Prosodique de l’Espace Roman – Atlas
Multimídia Prosódico do Espaço Românico) é coordenado por Michel Contini do
Centro de Dialectologia da Universidade de Grenoble, na França e visa contemplar
línguas românicas, tais como o italiano, o francês, o castelhano e o galego, além das
variedades do português europeu (PE) e do português brasileiro (PB). A pesquisa relativa
à variação prosódica do Português é coordenada pela Lurdes de Castro Moutinho, do
Centro de Investigação de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. AMPER-POR
disponível em: http://pfonetica.web.ua.pt/AMPER-POR.htm.
1
1108
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Segundo Gomes da Silva (2014, p. 55-56), a primeira característica
de um texto espontâneo, tal como sugere Blanche Benveniste (1998), é
que este nunca é uma produção acabada e que na sua oralização deixa ver
suas etapas de produção. A segunda característica é que na fala espontânea
aparecem comentários sobra a escolha do léxico e a dificuldade de
encontrar a palavra adequada. A terceira característica é que, nesse tipo
de discurso, as tentativas lexicais são conservadas, uma vez que não é
possível apagar o que se acaba de dizer. A fala espontânea pode apresentar
titubeios, repetições, falsos começos. A fala espontânea além de não
apresentar uma sequência linear, sintagmática, de uma seleção em ausência,
está constituída por relações paradigmáticas, expostas, em presença. O
falante vai e volta, sobre sintagmas já apresentados, seja para corrigi-los
ou completá-los, acrescentando comentários ou aspectos que considere
relevantes, de uma forma que poderíamos definir como um modo online,
ou “sobre la marcha”, como foi traduzido em espanhol. Trata-se de uma
produção simultânea à sua oralização, no que diverge da fala lida ou atuada.
Ao contrário da fala espontânea, na fala lida ou atuada, seja
experimental ou não, o texto já está pronto e é oralizado a posteriori. Na
fala atuada, o texto é aprendido de cor e praticado a fim de conseguir uma
performance de interação, com efeitos expressivos controlados. Na fala
lida o texto está pronto e é oralizado a posteriori, mas diferentemente da
fala atuada o texto não é aprendido de cor. As fronteiras podem ser sempre
tênues e dependem dos gêneros e eventos de interação. No caso dos dados
do AMPER, o falante tem o texto pronto, mesmo que não seja com palavras,
mas com imagens sob os olhos, portanto estaríamos mais inclinados a
considerá-los como dados de leitura, são frases muito controladas quanto
à sua estrutura sintática e fonética que são por sua vez oralizadas sem
contexto de interação. Neste estudo comparamos durante nossa análise
dados do AMPER aos do projeto ALIB (Atlas Linguístico do Brasil)2 para
as três capitais. No caso dos dados do ALIB, o falante é apresentado a
O Projeto “Atlas Linguístico do Brasil” foi criado em 1996, sob a coordenação de um
Comitê Nacional, presidido pela Professora Doutora Suzana Cardoso, da Universidade
Federal da Bahia. O ALIB, mais especificamente, se constitui pela recolha de dados em
250 localidades, tanto nas capitais dos estados como outras cidades de grande e médio
porte, linguisticamente representativas. Com relação aos informantes, foram gravados
um total de 1100 informantes. Para a coleta dos dados, o Projeto ALIB conta com um
inquérito composto por três questionários: (i) Questionário Morfossintático (QMS);
(ii) Questionário Semântico-Lexical (QSL) e (iii) Questionário Fonético-Fonológico
2
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uma situação, a um contexto no qual ele tem que inserir a frase esperada
ou proposta com certa intencionalidade. Consideramos que no ALIB os
dados coletados são de fala atuada.3 Os falantes do ALIB seguem um
questionário que inclui questões para a apuração de diferenças prosódicas
relativas à natureza das frases. Como exemplo desses contextos de
interação, apresentamos aqui os contextos de coleta das interrogativas.
São apresentados 4 contextos, com instruções e respostas esperadas para
as interrogativas, os dois primeiros para interrogativas disjuntivas e os
dois últimos para interrogativas totais (CUNHA, 2005):
1) Ó, meu amigo, você prefere vinho ou cerveja? (Resposta Esperada)
Se você/o(a) senhor(a) quer oferecer uma bebida a um amigo e
quer saber se ele prefere vinho ou cerveja, como é que você/o(a)
senhor(a) se dirige a ele e pergunta? (Instrução)
2) Ó, meu amigo, você toma leite ou café? (Resposta Esperada)
Se você/o(a) senhor(a) quer saber se o seu amigo toma leite ou
café, como é que você/o(a) senhor(a) se dirige a ele e pergunta?
(Instrução)
3) Você vai sair hoje? (Resposta Esperada)
Se você/o(a) senhor(a) quer saber se alguém vai sair hoje, como é
que você/o(a) senhor(a) pergunta? (Instrução)
4) Eu vou sair hoje, doutor? (Resposta Esperada)
Uma pessoa está internada em um hospital e quer saber do médico
se vai sair naquele dia. Como é que pergunta? (Instrução)
(QFF), que inclui questões para apuração de diferenças prosódicas, relativas à natureza
das frases, que podem ser interrogativas, afirmativas ou imperativas.
3
Tanto nos dados do AMPER quanto nos dados do ALIB, há “surpresas” na coleta de
dados. Mesmo que o texto esteja pronto, no AMPER há falantes que não produzem os
artigos ou que mudam as estruturas, razão pela qual se coletam seis de cada enunciado.
Em alguns casos, itens lexicais inesperados podem aparecer. Imagens são interpretáveis,
mas só são consideradas e selecionadas as frases que reproduzam o modelo ou mais
se aproximem em número de sílabas ao modelo esperado. Também no ALIB, Cunha
(2005) observa que não se produzem as frases esperadas, quase nunca, na interação
de fala atuada.
1110
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Para as declarativas, são apresentados 3 contextos diferentes, com
instruções e respostas esperadas, o primeiro para declarativa neutra e os
dois últimos para declarativas com marcas de expressividade (CUNHA,
2006). No entanto, Silvestre (2012, p. 59) sinaliza que, além de ter
apenas uma questão concernente à declarativa neutra, os informantes
não produziram de maneira satisfatória as informações desejadas e, ao
contrário do esperado, não houve a possibilidade de comparar frases
idênticas ou, ao menos, terminadas pelo mesmo vocábulo. Por essa
razão, em seu trabalho, Silvestre (2012) compara enunciados declarativos
neutros produzidos ao longo dos demais questionários.
1) Você vai sair hoje. (Resposta Esperada)
Uma pessoa está internada num hospital e quer saber do médico se
vai sair naquele dia. Se a resposta for positiva, como é que o médico
responde? (Instrução)
2) Oh, gente, estou muito aborrecido com o que aconteceu. (Resposta
Esperada, expressando desagrado, rispidez)
Você / o(a) senhor(a) quer dizer a algumas pessoas que estão
presentes que você / o(a) senhor(a) está muito aborrecido com o
que aconteceu. Como é que você / o(a) senhor(a) diz? (Instrução)
3) Oh, gente, estou muito feliz com o resultado do trabalho. (Resposta
Esperada, expressando contentamento, polidez)
Você / o(a) senhor(a) quer dizer a algumas pessoas que estão
presentes que você / o(a) senhor(a) está muito feliz com o resultado
do trabalho. Como é que você / o(a) senhor(a) diz? (Instrução)
As estruturas comparadas são próximas e têm em geral o mesmo
número de sílabas, tanto no projeto AMPER quanto no ALIB, que utiliza
dados de entrevista e enunciados paroxítonos. Entretanto, consideramos
que os dados do ALIB são de fala atuada os dados do AMPER são de
fala lida, sendo ambos experimentais.
Esta comparação da variação prosódica de enunciados do AMPER
Por (Brasil), referentes a três capitais brasileiras, tem quatro objetivos:
1) caracterizar o padrão declarativo e interrogativo total de Salvador,
Fortaleza e Rio de Janeiro verificando se os acentos tonais H + L* L%
para as sílabas nucleares das declarativas e L + H* L% para as sílabas
nucleares das interrogativas, propostos por Moraes (2008) se realizam
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1111
com estes dados do projeto AMPER;4 2) discutir os resultados referentes
às duas capitais, Salvador e Fortaleza, de acordo com o trabalho de Lira
(2009) que analisou dados dessas capitais; 3) comparar os resultados do
AMPER aos resultados da análise de dados do projeto ALIB propostos
por Silva (2011) e Silvestre (2012) para as três capitais; 4) descrever a
variação da sílaba tônica com relação às sílabas pretônica e postônica
nucleares em termos de duração, de frequência fundamental e de
intensidade, comparando convergências e divergências de implementação
destes parâmetros acústicos nas três variedades locais analisadas. Para
a realização deste estudo, seguimos os padrões comparativos propostos
por Moraes (2008) para o estado do Rio de Janeiro, os de Antunes (2012)
para o estado de Minas Gerais, os de Nunes (2015) para o estado de Santa
Catarina e os de Seara e Rebollo-Couto (2011) para dados comparados
de Santa Catarina e Rio de Janeiro, considerando ainda a discussão
proposta por Lira (2009) com relação à variação entonacional em cinco
capitais da região nordeste.
2 Pesquisas anteriores sobre os enunciados declarativos e
interrogativos totais
Para as descrições de contornos declarativos e interrogativos
totais, Moraes (2008) propõe dois acentos tonais nucleares contrastantes.
A inflexão final apresenta um movimento final descendente (↓) nas
modalidades assertivas, exclamativas e interrogativas parciais, ou ainda
com final circunflexo (^), ou seja, descendente-ascendente-descendente,
na modalidade interrogativa total. Seguindo a notação métrica
autossegmental, Moraes (2008) propõe enunciados declarativos neutros
com um padrão melódico H+L*L%, ou seja, uma queda entre as sílabas
finais pretônica e tônica, seguido de um nivelamento na postônica. Para
os enunciados interrogativos totais neutros, propõe a notação L+H*L%,
com diferenças de implementação segundo o alinhamento do pico na
tônica, tardio para as perguntas e adiantado para os pedidos. Vale ressaltar
que, segundo Cunha (2000), esses acentos podem variar de acordo com
De acordo com a teoria métrica autossegmental a notação (*) corresponde à sílaba tônica
lexical e a notação (%) ao tom de fronteira do enunciado. O núcleo é a última sílaba
tônica do enunciado, e o pré-núcleo tudo o que está à sua esquerda. O núcleo é portanto
o final do enunciado, marcado pelo último acento lexical (*) e o tom de fronteira (%).
4
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a área dialetal a que pertence o falante. O par contrastante de acentos
tonais (pitch accent) para o PB, entre as declarativas H+ L* L% e as
interrogativas totais neutras L + H* L% propostos por Moraes (2008),
tem sido sistematicamente encontrado em diversos estudos entonacionais
e em diversos pontos do país.
Particularmente com relação às descrições do Rio de Janeiro,
nos interessa destacar os resultados obtidos por Silva (2011) e Silvestre
(2012), trabalhando com os dados do projeto ALIB. Para Silvestre (2012,
p. 82-83):
Rio de Janeiro. A entoação nos enunciados assertivos
neutros cariocas, já amplamente descritos no PB,
apresentou em nosso corpus o mesmo comportamento
outrora evidenciado por Moraes, Cunha, Tenani e outros
autores: tom baixo nas sílabas que compõem o acento prénuclear e tons semelhantemente baixos observados até a
última sílaba pretônica de I, na qual a F0 alcança o seu pico
e posteriormente apresenta o movimento descendente final.
O enunciado “O sol tá nascendo”, dito pela falante carioca
da primeira faixa etária, jovem, dá, mais uma vez, amostra
do padrão. Nele, a F0 de 157Hz na primeira sílaba tônica
de I ascende 14% até alcançar o pico de 179Hz na última
sílaba pretônica e decrescer 22% até a fronteira final.
E Silva (2011, p. 102-103) encontra duas variantes do mesmo
padrão para as interrogativas totais na capital do Rio de Janeiro:
A questão total da capital fluminense apresentou, em geral,
a seguinte configuração inicial: pico inicial hospedado na
primeira sílaba tônica, seguido de declinação ao longo
do interior da frase. A configuração circunflexa final
apresentou dois tipos de comportamento na tônica final:
pico melódico [+ antecipado] seguido de movimento
descendente e movimento ascendente seguido de pico
melódico [+ atrasado]. Ambos alcançam valores que
superam os obtidos pelo primeiro pico. Os enunciados
“A pessoa que tá internada vai sair hoje?” e “A minha alta
vai ser hoje?”, apresentados a seguir, foram produzidos,
respectivamente, pelo homem e pela mulher da primeira
faixa etária. O contorno inicial comum a ambos apresenta
pico inicial na primeira sílaba tônica, seguidos de
movimento descendente que no primeiro enunciado,
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apresenta variação de 36 Hz e na segunda, de 21 Hz. A
diferença entre essas frases é relativa à manifestação do
pico da última sílaba tônica. Na primeira frase, observase um movimento de subida cujo ápice é atingido à
direita dessa sílaba. Na segunda frase, por outro lado, o
pico ocorre no início da tônica, sendo sucedido por um
movimento descendente.
Ou seja, os trabalhos de Silva (2011) e Silvestre (2012) confirmam
a proposta de Moraes (2008) para o Rio de Janeiro. E no caso de Salvador
e Fortaleza? No caso dessas duas capitais do Nordeste contamos com
os resultados de Lira (2009), cujos dados são neste artigo reanalisados
em função da comparação com o Rio de Janeiro, considerando, além do
contorno melódico analisado na tese de Lira (2009), variações de F0,
duração e intensidade.
Lira (2009) analisa apenas os enunciados interrogativos totais
e parciais, de Salvador e Fortaleza. No que diz respeito aos contornos
melódicos das questões totais nessas duas capitais, a autora propõe dois
padrões contrastantes para as duas variedades regionais. A proposta é
de uma tônica final alta seguida de postônicas baixas para Fortaleza,
e inversamente, de uma tônica final baixa, seguida de postônica alta
em Salvador, movimento ascendente que se inicia já na sílaba tônica
(LIRA, 2009, p. 106-107)
Essa tônica final baixa para Salvador, mas com movimento
já ascendente e pico nas postônicas é exemplificada, nos três padrões
acentuais, da seguinte forma para os interrogativos totais de Salvador
(LIRA, 2009, p. 101-106):
a) O final oxítono termina em movimento ascendente “bisavô” com
pequeno apêndice sobre a tônica final (2009, p. 104).
b) O final paroxítono, “Renato”, com a perda da última sílaba, também
termina como o padrão oxítono com uma subida melódica moderada
na sílaba tônica, de 98 a 129 Hz considerando os valores médios
de realização de um falante (2009, p. 104).
c) E o final proparoxítono, “pássaro”, termina ora com um movimento
ascendente sobre a tônica final que se prolonga sobre as postônicas
finais, ora com uma sílaba tônica final que se situa em um nível alto,
mas seguido de uma queda sobre a postônica final (2009, p. 106).
1114
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Essa tônica final alta para Fortaleza é exemplificada nos três
padrões acentuais, da seguinte forma para os interrogativos totais de
Fortaleza (LIRA, 2009, 9 p. 4-96), sendo os padrões oxítono e paroxítono
bem próximos em oposição ao proparoxítono:
a) O final oxítono, “bisavô”, termina com uma subida melódica mais
nítida na sílaba tônica, de 96 a 124 Hz, considerando os valores
médios de realização de um falante (2009, p. 95).
b) O final paroxítono, “Renato”, com a perda da última sílaba, também
termina com uma subida melódica moderada na sílaba tônica, de
96 a 105 Hz considerando os valores médios de realização de um
falante (2009, p. 94).
c) E, o final proparoxítono, “pássaro”, termina com uma subida
melódica após a tônica final, que passa de 124 a 130 Hz e chega a
180 Hz na última postônica final, considerando os valores médios de
realização de um falante, sem supressão das últimas sílabas átonas,
e com pico na ultima átona (2009, p. 96)
Silva (2011), em pesquisa utilizando o corpus do projeto ALIB,
analisa os enunciados interrogativos com final paroxítono (“O meu amigo
vai ter alta hoje?”; “Você vai sair hoje?” e “A minha alta vai ser hoje?”).
Para Salvador, Silva (2011, p. 93-94) encontra dois padrões, um
padrão de tônica alta seguida de postônica baixa, que corresponde ao
acento proposto por Moraes (2008) L + H* L% mas também um acento
com um tom de fronteira alto L + H* H%, que foi o padrão encontrado
por Lira (2009), tônica alta seguida de postônica alta:
O traçado inicial mais comum encontrado nas frases
analisadas de Salvador apresenta nível alto na tônica,
que também pode ser manifestado na pretônica, seguido
de movimento descendente que se alonga até a pretônica
final. Em relação ao contorno do final da frase, foram
encontrados dois comportamentos: uma configuração
circunflexa formada por F0 baixa na pretônica, subida
melódica com pico alinhado à direita na tônica e descida
na postônica; e um movimento ascendente final, hospedado
nas sílabas tônica e postônica. Nos dados analisados de
Salvador, o segundo pico apresenta-se mais proeminente
que o primeiro.
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O enunciado “Você vai sair hoje?”, [vo 'se 'vaj sa 'i 'oj i],
produzido pela falante mulher da segunda faixa etária,
apresenta o padrão que foi mais recorrente nos dados
analisados de Salvador. Nessa frase, o nível mais alto
da frase recai sobre a primeira tônica. Um movimento
descendente de 54 Hz ocupa o interior do enunciado. Na
sílaba tônica, a frequência aumenta 50 Hz em direção ao
final da sílaba, onde alcança seu pico, decrescendo 34 Hz
na postônica.
No enunciado “Eu estou de alta?”, [ew i 'to di 'aw t],
realizado pela falante mulher da primeira faixa etária,
observa-se o padrão melódico menos recorrente nos
dados analisados da capital baiana. Essa frase possui pico
melódico na pretônica, seguido de movimento descendente
de 25 Hz até a pretônica final e subida de 38 Hz da F0 na
última tônica, que permanece alta na postônica.
Para Fortaleza, Silva (2011, p. 84-85) encontra um padrão de
tônica alta seguido de postônica baixa, que corresponde ao acento
proposto por Moraes (2008) L + H* L%, com ensurdecimento sistemático
da última sílaba postônica, potencialmente ligado à escolha da unidade
lexical “hoje”:
Nos enunciados coletados em Fortaleza, foi observado um
único padrão de questão total. A primeira configuração da
frase apresenta movimento descendente que se espraia
desde a primeira até a última pretônica do enunciado.
A segunda configuração, por sua vez, caracteriza-se
por movimento ascendente-descendente no interior
da tônica final, cujo pico possui traço [+ atrasado]. O
comportamento da postônica não pôde ser descrito devido
ao seu ensurdecimento em todos os dados.
No enunciado “O meu amigo vai ter alta hoje?”, [u 'mew
ã 'mi gu vaj te 'aw t 'o ], dito pela falante mulher da
primeira faixa etária, constata-se que a proeminência de
216 Hz do início da frase localiza-se na primeira sílaba
pretônica, sendo seguida por um decréscimo de 52 Hz
ao longo das sílabas do interior da frase. A configuração
circunflexa final está hospedada na última sílaba tônica,
com pico alinhado à sua direita. Essa configuração é menos
destacada que a primeira, apresentando variação de 38
Hz na subida e 19 Hz na descida da F0. (SILVA, 2011,
p. 84-85)
1116
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Silvestre (2012, p. viii), em pesquisa utilizando o mesmo corpus
do projeto ALIB, apresenta para todos os enunciados declarativos (“Você
vai estar de alta hoje.”; “Eu dou alta pra ele.” e “O sol está nascendo”) e
nas três localidades, Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro, um contorno
descendente no núcleo, com notação fonológica H+L*L%, sendo que a
diferença entre os contornos do Rio de Janeiro e os do nordeste estariam
no ataque, ou pré-núcleo dos enunciados declarativos:
Ao padrão observado nas capitais nortistas e nordestinas,
atribui-se a mesma notação que Cunha (2005) propôs para
a asserção neutra em Recife, com base no corpus do projeto
NURC: H*___H+L*L%. Para o padrão majoritariamente
observado nas capitais do centro-oeste e do sudeste do
Brasil, atribui-se notação semelhante a de Cunha (2005) e
Moraes (2008) para a asserção neutra, ambos com base na
fala carioca: L+H*____ H+L*L%. (SILVESTRE, 2012,
p. viii)
Os trabalhos de Silva (2011) e Silvestre (2012) utilizam o
corpus do ALIB para a análise prosódica dos enunciados interrogativos
e declarativos, respectivamente, com o objetivo de caracterizar as
diferenças entonacionais entre as capitais brasileiras.
3 Procedimentos metodológicos
Para a feitura desse trabalho, adotamos a metodologia empregada
pelo Projeto AMPER (MOUTINHO et alii, 2011). O corpus compreende
a gravação de uma série de sentenças declarativas e interrogativas totais
neutras geradas através de estímulos visuais. Detalhamos a seguir por
partes: o corpus de pesquisa, os falantes da pesquisa e apresentação das
etapas de análise.
3.1 O corpus da pesquisa
O corpus desta análise está composto por 6 enunciados, formados
por 3 enunciados declarativos, aqueles que afirmam a realidade ou
a possibilidade de um fato, e 3 interrogativos totais, aqueles que
correspondem ao caráter afirmativo ou negativo da predicação, ou seja,
respondem-se com sim ou não. Os enunciados são analisados a partir de
três repetições de cada, chegando a um total de 18 enunciados analisados
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para cada falante. Todos eles possuem 10 sílabas contemplando final
proparoxítono, paroxítono e oxítono. Estes enunciados foram obtidos por
meio de gravações de três frases, repetidas três vezes por cada falante.
A metodologia do AMPER prevê a gravação de 6 repetições dos dados
para assim se justificar a escolha das três melhores. As frases são as
seguintes, de acordo com seus núcleos paroxítono, paroxítono e oxítono:
wO pássaro gosta do pássaro.
wO pássaro gosta do pássaro?
wO Renato gosta do Renato.
wO Renato gosta do Renato?
wO bisavô gosta do bisavô.
wO bisavô gosta do bisavô?
Escolhemos três frases de cada modalidade produzida por
cada falante. Nossos critérios foram: qualidade da gravação (algumas
gravações apresentaram problemas técnicos, como por exemplo,
enunciado truncado) e com a relação sinal-ruído alta o suficiente para
realizar as análises acústicas deste trabalho.
Os programas de análise do AMPER geram uma curva de F0
média, deslexicalizada, a partir das três realizações escolhidas para
cada enunciado por falante. A técnica de deslexicalização (RILLIARD,
2014, p. 30), baseada num processo de ressíntese da curva melódica,
sem conteúdo segmental, assegura uma transmissão eficaz da informação
prosódica normalizando eventuais efeitos microprosódicos e fonotáticos.
A reiteração conserva uma estrutura silábica clara, e, portanto, todas as
informações relacionadas à variação rítmica regional. A segmentação foi
feita no Praat e a análise com o Matlab. O procedimento está detalhado
em Romano et alii (2011).
Os dados foram coletados com a metodologia do projeto AMPER,
com os enunciados adaptados para o PB. A gravação dos enunciados
se coleta a partir da leitura de imagens. Os falantes recebem estímulos
visuais para produzi-los, propostos por Moraes e Abraçado (2005).
1118
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Figura 1 – Exemplos de enunciado (A) declarativo e (B) interrogativo a ser produzido
pelos falantes
A: O pássaro gosta do pássaro.
B: O pássaro gosta do pássaro?
Uma vez que o texto está pronto, e é oralizado a posteriori, após
um período de treinamento e repetição, consideramos que estes dados
coletados estão mais próximos aos dados de leitura e não aos dados
de fala atuada, como os do projeto ALIB para as capitais brasileiras,
coletados a partir de um contexto de interação e com maior controle da
expressividade. Em ambos os casos estamos diante de fala experimental
(ou de laboratório), gerada a partir de um elemento motivador, mas o
fato de que o texto não esteja terminado, e não tenha sido produzido
simultaneamente ao seu processo de oralização, nos faz considerar nossos
dados como mais próximos aos dados de leitura (o texto está sob os olhos
do falante) e não aos de fala atuada (ele já sabe o texto de cor, repetiu e
praticou bastante a sua elocução).
3.2 Falantes da pesquisa
Os falantes desta pesquisa são originários de três cidades:
Salvador e Fortaleza, na região nordeste do Brasil, e Rio de Janeiro, na
região sudeste. Todos os 6 falantes, um homem e uma mulher de cada
localidade, têm pelo menos nível de escolaridade médio concluído, são
todos da categoria “jovens” de 20 a 35 anos. Os falantes do Rio de Janeiro
estão no último ano de graduação em Letras, preparando seu TCC, o que
pode influenciar no padrão de leitura que encontramos bem marcado para
os falantes desta cidade com relação aos das duas capitais do nordeste
que não têm nível superior.
Os falares das cidades de Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro são
três “sotaques” facilmente reconhecíveis e estereotipados ou difundidos
na mídia em todo o Brasil, embora faltem testes de percepção que
atestem as condições de reconhecimento desses falares (CUNHA, 2006).
Nesse sentido destacamos as pesquisas que começam a ser realizadas na
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1119
UFRJ, sob a orientação de João Antônio de Moraes para a descrição de
movimentos melódicos perceptivamente relevantes (MIRANDA, 2015,
p. 19) do Português do Brasil.5
3.3 Etapas de análise
A fase de análise de dados para esta pesquisa foi a segmentação
dos enunciados no programa computacional PRAAT (BOERSMA;
WEENINK, 2014), a fim de observar o comportamento das vogais
tônicas, pretônicas e postônicas dos enunciados, como se implementaram
os parâmetros acústicos F0, duração e intensidade de cada uma das
vogais dos enunciados produzidos. Posteriormente, geramos gráficos
dos parâmetros acústicos: frequência fundamental (F0), intensidade e
duração vocálica através de scripts do próprio PRAAT e do programa
Interface_AMPER_beta11 (RILLIARD; LAI, 2008), de acordo com as
convenções apresentadas em Contini et alii (2009) ou em Romano et alii
(2011). A partir desses gráficos fizemos a descrição fonética e a análise
fonológica do contorno entonacional dos enunciados. No caso de vogais
que não se realizam, a convenção é marcar um valor de F0 igual a 50 Hz
o que faz que a curva pareça descontínua nos traçados e gráficos gerados.
Do ponto de vista fonético, para a realização deste estudo levamos
em consideração o valor da duração e da intensidade das vogais do núcleo
de cada enunciado (última sílaba acentuada) e da frequência fundamental
(F0). A medida de F0 é feita em três pontos de cada vogal, começo meio
e fim, introduzindo assim uma normalização temporal comparável à
normalização apresentada por Xu (2004) e Arantes (2015). Para obter
valores estáveis de cada um destes parâmetros, optamos por considerar
a média de três repetições de cada vogal, de acordo com a metodologia
AMPER. As variações de intensidade, ligadas às condições de gravação
(em particular o nível da gravação e a distância entre o falante e o
microfone) são aqui negligenciáveis, uma vez que consideramos, com
a metodologia AMPER, as diferenças de nível médio de intensidade
entre vogais próximas; essas diferenças são pouco influenciáveis pelas
condições de gravação.
São trabalhos que destacam a entoação modal, através de estudos fonéticos
experimentais da entoação do português do Brasil, a partir do método de ressíntese e
estilização da curva de F0 em uma abordagem perceptiva baseada no modelo holandês
IPO (MIRANDA, 2015).
5
1120
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A duração das vogais é considerada e não a das sílabas ou a das
unidades V-V, o que constitui uma aproximação discutível do ritmo da
fala (BARBOSA, 2007), mas as restrições inerentes ao corpus AMPER
tornam impossível uma normalização estrita das influências intrínsecas
dos fonemas; essas influências são controladas pela utilização das mesmas
frases (e, portanto, dos mesmos fonemas), para todos os falantes. Sendo
assim, neste trabalho observamos, com esta metodologia, padrões de
alongamento e de redução da duração vocálica.
Analisamos o comportamento da F0 das vogais a partir do
contraste entre os valores em Hz da vogal da primeira sílaba tônica
e das vogais pretônicas e postônicas de cada enunciado. Do ponto de
vista fonológico levamos em consideração o contorno melódico dos
enunciados, tais como foram descritos inicialmente por Moraes (2008)
e confirmados pelos trabalhos de Lira (2009), Silva (2011) e Silvestre
(2012).
4 Resultados e discussões
A partir dos gráficos de F0, duração e intensidade, desenvolvemos
nossa análise sobre os acentos tonais nucleares dos enunciados de cada
localidade, a partir dos três padrões acentuais do português: começamos
com o padrão nuclear paroxítono, o mais frequente e produtivo (1 sílaba
tônica e 1 átona final), seguido do padrão proparoxítono, o mais longo
(1 sílaba tônica e 2 sílabas átonas finais) e do padrão oxítono, o mais
polêmico por aparecer truncado ou comprimido segundo as diferentes
interpretações fonológicas (1 sílaba final tônica).
4.1 Resultados e discussões: núcleos paroxítonos
A categoria acentual paroxítona é a categoria mais frequente do
português em termos de produtividade, apresentando, segundo Cintra
(1997), uma frequência de distribuição de aproximadamente 70% em
termos de distribuição de padrões acentuais nos vocábulos em português.
O padrão acentual das paroxítonas é analisado a partir dos três parâmetros
acústicos: F0, duração e intensidade em enunciados declarativos e
interrogativos totais.
Em termos de F0, na variedade de Salvador, tanto o homem
quanto a mulher realizam nas frases declarativas (em vermelho) um
padrão ascendente e alto na pretônica do núcleo, “Renato”, sílaba 8,
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1121
descendente na sílaba tônica, sílaba 9, e baixo na sílaba postônica final,
sílaba 10.
Os enunciados interrogativos (em azul) apresentam uma descida
da F0 na sílaba pretônica, sílaba 8, uma curva ascendente na tônica, sílaba
9, e um comportamento variável na postônica, baixo/ descendente para
a mulher e alto/ ascendente para o homem.
Figura 2 – Variedade de Salvador: escolaridade média
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Salvador
B: F0 do homem de Salvador
As vogais elididas são representadas, por convenção, nos gráficos
AMPER com 50 Hz para a F0 e com 0 (zero) duração e intensidade,
portanto, a barra baixa na primeira vogal significa queda do artigo inicial.
No pré-núcleo “Renato”, ver sílabas 2, 3 e 4, temos o mesmo
comportamento na declarativa e na interrogativa, embora nas
interrogativas a F0 seja mais alta no homem: um movimento ascendente
que culmina na postônica, uma tônica ascendente e uma postônica alta
descendente. Trata-se de um comportamento ascendente progressivo, sem
a queda abrupta da F0 na sílaba tônica da declarativa, como se observa
no núcleo, sílaba 9, correspondendo à notação proposta por Silvestre
(2012), L + H* como característica dos falares do norte e nordeste. Do
ponto de vista fonológico, as duas realizações confirmam o padrão nuclear
H + L* L% para as declarativas (vermelho), mas só a mulher confirma
o padrão nuclear L + H* L% para as interrogativas (azul), proposto por
Moraes (2008). No homem, o padrão realizado corresponde a L + H*
H%, já registrado por Lira (2009) e Silva (2011) para Salvador.
Na variedade de Fortaleza, tanto o homem quanto a mulher
realizam nas frases declarativas (em vermelho) um padrão ascendente
e alto na pretônica do núcleo, “Renato”, sílaba 8, descendente na sílaba
1122
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
tônica, sílaba 9, e baixo na sílaba postônica final, sílaba 10, elidida pela
mulher.
Os enunciados interrogativos (em azul) apresentam uma F0
baixa na sílaba pretônica, sílaba 8, uma curva ascendente-descendente
na tônica, sílaba 9, e uma queda de F0 na sílaba postônica final, tanto
para a mulher quanto para o homem.
Figura 3 – Variedade de Fortaleza: escolaridade média
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Fortaleza
B: F0 do homem de Fortaleza
No pré-núcleo “Renato”, ver sílabas 2, 3 e 4, temos o mesmo
comportamento na declarativa e na interrogativa: um movimento
ascendente que culmina na postônica. Trata-se de um comportamento
alto e suavemente ascendente progressivo, sem a queda abrupta da F0
na sílaba tônica da declarativa, como se observa no núcleo, sílaba 9, não
correspondendo à notação proposta por Silvestre (2012), L + H*, como
característica dos falares do norte e nordeste, mas sim à notação H*. Do
ponto de vista fonológico, as duas realizações confirmam o padrão nuclear
H + L* L% para as declarativas (vermelho), mas só o homem confirma
o padrão nuclear L + H* L% para as interrogativas (azul), proposto por
Moraes (2008). Na mulher, o padrão realizado corresponde a H + H*
L% já registrado por Lira (2009) e Silva (2011) para Fortaleza.
Na variedade de Rio de Janeiro, tanto o homem quanto a mulher
realizam nas frases declarativas (vermelho) um padrão ascendente de F0
na pretônica, do núcleo, “Renato”, descendente na sílaba tônica e baixo
na sílaba postônica que não é elidida.
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Figura 4 – Variedade Rio de Janeiro: escolaridade média
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Rio de Janeiro
B: F0 do homem de Rio de Janeiro
No pré-núcleo “Renato”, o comportamento do padrão é bem
diferente do comportamento do núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4, corresponde
ao acento tonal H*, proposto para Rio de Janeiro por Moraes (2008) e
Silvestre (2012). Trata-se de um comportamento ascendente progressivo
com pico na postônica nas declarativas, sem a queda abrupta de F0
do núcleo, ver sílabas 8, 9 e 10. Do ponto de vista fonológico as duas
realizações confirmam o padrão H + L* L% para as declarativas
(vermelho) e o padrão L + H* L% para as interrogativas (azul), proposto
por Moraes (2008).
Em termos de duração, a distribuição das durações por sílaba é
muito mais regular, com menos diferença entre vogais acentuadas e não
acentuadas ou átonas nos dados do Rio de Janeiro, do que nos de Salvador
e Fortaleza, para as declarativas (vermelho) e para as interrogativas (azul).
1124
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Figura 5 – Duração de enunciado com núcleo paroxítono: mulheres
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração das mulheres de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro6
Figura 6 – Duração de enunciado com núcleo paroxítono: homens
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração dos homens de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
As vogais das sílabas tônicas de “Renato”, sílaba 3 no pré-núcleo,
“gosta”, sílaba 5, e “Renato”, sílaba 9 no núcleo do enunciado, são mais
longas do que as vogais das sílabas átonas que as sucedem em Fortaleza
como no Rio de Janeiro.7
No Rio de Janeiro, as sílabas postônicas, 4, 6 e 10 são sempre
realizadas, o que pode ser atribuído a um padrão escolar de leitura,
aprendido e praticado nos anos de formação e exposição à variante
As vogais elididas são representadas, por convenção, nos gráficos AMPER com 50 Hz
para a F0 e com 0 (zero) duração e intensidade. A seleção de frases se faz em função
dessa elisão, quando ocorrer, são escolhidas três frases que tenham a vogal elidida no
mesmo lugar, caso seja impossível encontrar três frases com os mesmos pontos de
elisão selecionam-se apenas duas.
7
Para uma comparação mais precisa teria sido necessária a normalização da duração das
vogais, entretanto, as vogais tônicas são tão mais longas que as átonas, que acreditamos
que tal procedimento não deve alterar este padrão.
6
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1125
de leitura frente à fala espontânea. Esse padrão se repete nos dados de
Fortaleza, apesar do ensurdecimento e das duas supressões de centros
silábicos das átonas, sílaba 6 na declarativa “gosta” e sílaba 10 na
declarativa “Renato”. Em termos de duração, o padrão mais acentual,
com maior diferença entre sílabas átonas e tônicas, é o de Salvador.
Trata-se de uma descrição qualitativa e não quantitativa dessa diferença
que precisaria ser sistematicamente analisada em trabalhos futuros.
O falante masculino do Rio de Janeiro divide seu enunciado
simetricamente em dois grupos rítmicos, com dois picos de duração
nas duas tônicas no pré-núcleo, “Renato” e “gosta”, sílabas 3 e 5,
respectivamente, e com dois picos nas duas últimas sílabas do núcleo,
“Renato”, sílabas 9 e 10, com alongamento da postônica final, como
estratégia rítmica de leitura (na nossa interpretação).
Em termos de intensidade, nas três localidades, a intensidade da
sílaba tônica no núcleo é mais importante na interrogativa (azul), sílaba
9, do que na declarativa (vermelho). O comportamento da mulher do
Rio de Janeiro se diferencia das demais, neste caso, pela queda abrupta
progressiva de intensidade na sílaba átona final do enunciado, sílaba 10,
procedimento estratégico característico da leitura que não se verifica nas
outras duas falantes.
Figura 7 – Intensidade de enunciado com núcleo paroxítono: mulheres
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Intensidade das mulheres de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
1126
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Figura 8 – Intensidade de enunciado com núcleo paroxítono: homens
Enunciado 1: O Renato gosta do Renato./ O Renato gosta do Renato?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Intensidade dos homens de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
O comportamento do homem do Rio de Janeiro, mais escolarizado,
se diferencia das demais, neste caso, pela queda abrupta progressiva de
intensidade na sílaba átona final do enunciado, sílaba 10, procedimento
estratégico característico da leitura que não se verifica nos outros dois
falantes masculinos.
4.2 Resultados e discussões: núcleos proparoxítonos
A categoria acentual proparoxítona é a categoria menos frequente
do português em termos de produtividade (REIS, 1995). Considera-se
que seja um núcleo mais longo que se estende por três sílabas, quando a
última sílaba não for elidida, transformando-se nesse caso num padrão
paroxítono. O padrão acentual das proparoxítonas é analisado a partir
dos três parâmetros acústicos: F0, duração e intensidade, em enunciados
declarativos e interrogativos totais.
Em termos de F0, na variedade de Salvador, nem o homem nem
a mulher elidem sílabas finais. Tanto o homem quanto a mulher realizam
nas frases declarativas um padrão alto na pretônica, do núcleo, “pássaro”,
mas descendente na sílaba tônica e baixo na sílaba postônica.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1127
Figura 9 – Variedade de Salvador: escolaridade média
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Salvador
B: F0 do homem de Salvador
No pré-núcleo “pássaro”, o comportamento do padrão é bem
diferente do comportamento no núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4, para o prénúcleo. Trata-se de um comportamento alto ou ascendente na sílaba
tônica, sílaba 2, sem a queda abrupta de F0 do núcleo, sílaba 8 nas
declarativas, tendo um padrão L + H* para o pré-núcleo e um padrão H
+ L* L% para o núcleo das declarativas. Nas interrogativas se realizam
os dois padrões previstos para Salvador, um com final baixo, L + H* L%
para a mulher e L + H* H% para o homem.
Do ponto de vista fonológico as duas realizações confirmam o
padrão H + L* L% para as declarativas (vermelho) e o padrão L + H*
L% para as interrogativas (azul), proposto por Moraes (2008), sendo que
no homem se observa a variante descrita por Lira (2009) e Silva (2011)
com final alto para Salvador.
Na variedade de Fortaleza, nem o homem nem a mulher
elidem sílabas finais. Tanto o homem quanto a mulher realizam nas
frases declarativas (vermelho) um padrão alto na pretônica, do núcleo,
“pássaro”, alto, mas descendente na sílaba tônica e baixo na sílaba
postônica.
1128
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Figura 10 – Variedade de Fortaleza: escolaridade média
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Fortaleza
B: F0 do homem de Fortaleza
No pré-núcleo “pássaro”, o comportamento do padrão é bem
diferente do comportamento no núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4, para o prénúcleo. Trata-se de um comportamento alto ou ascendente na sílaba
tônica, sílaba 2, sem a queda abrupta de F0 do núcleo, sílaba 8 nas
declarativas, tendo um padrão L + H* para o pré-núcleo e um padrão H
+ L* L% para o núcleo das declarativas. Nas interrogativas (azul), se
realizam dois padrões para Fortaleza, um com final baixo, L + H* L%
para a mulher e L + H* H% para o homem.
Do ponto de vista fonológico, as duas realizações confirmam o
padrão H + L* L% para as declarativas (vermelho) e o padrão L + H* L%
para as interrogativas (azul), proposto por Moraes (2008), sendo que no
homem também se observa na variedade de Fortaleza a variante descrita
por Lira (2009) e Silva (2011) com final alto para Salvador.
Ainda sob o ponto de vista fonológico, as duas realizações
confirmam o padrão H + L* L% para as declarativas (vermelho) e o
padrão L + H* L% para as interrogativas (azul), proposto por Moraes
(2008). No pré-núcleo “pássaro”, o comportamento do padrão é bem
diferente do comportamento no núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4, para o prénúcleo. Trata-se de um comportamento alto ou ascendente na sílaba
tônica, sílaba 2, sem a queda abrupta de F0 do núcleo, sílaba 8 nas
declarativas, tendo um padrão L + H* para o pré-núcleo e um padrão H
+ L* L% para o núcleo das declarativas. Nas interrogativas se realizam
os dois padrões previstos para Salvador, um com final baixo, L + H* L%,
para a mulher e L + H* H% para o homem. Do ponto de vista fonológico,
as duas realizações confirmam o padrão H + L* L% para as declarativas
(vermelho) e o padrão L + H* L% para as interrogativas (azul), proposto
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1129
por Moraes (2008), sendo que no homem se observa a variante descrita
por Lira (2009) e Silva (2011) com final alto também para Fortaleza.
Na variedade do Rio de Janeiro, tanto o homem quanto a
mulher realizam nas frases declarativas (em vermelho) um padrão alto e
ascendente na pretônica do núcleo (sílaba 7), “pássaro”, descendente na
sílaba tônica, o padrão vai descendo suavemente nas sílabas postônicas
que não são elididas.
Figura 11 – Variedade Rio de Janeiro: escolaridade média
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Rio de Janeiro
B: F0 do homem de Rio de Janeiro
No pré-núcleo “pássaro”, o comportamento do padrão é bem
diferente do comportamento no núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4, para o prénúcleo. Trata-se de um comportamento ascendente na sílaba tônica, sílaba
2, que continua subindo suavemente pelas duas sílabas posteriores, 3 e 4.
Não há apagamento de sílabas e as curvas se realizam progressivamente.
Este comportamento rítmico e melódico, tão diferente dos encontrados
nos falantes de Salvador e Fortaleza, poderia ser atribuído ao nível
diferenciado de escolaridade e formação destes dois falantes. Ambos
demonstram ter adquirido um padrão de leitura rítmico, bem como
padrões melódicos mais regulares para a oralização dos dados de leitura.
Do ponto de vista fonológico as duas realizações confirmam o
padrão H + L* L% para as declarativas (vermelho) e o padrão L + H*
L% para as interrogativas (azul), proposto por Moraes (2008).
Em termos de duração, nas proparoxítonas se repete o mesmo
padrão de supressão silábica para Fortaleza. Entretanto, tanto Salvador
como Fortaleza apresentam maior diferença entre as sílabas tônicas e
átonas no pré-núcleo “pássaro” – sílabas 2, 3, 4 – e “gosta” – sílabas 5
e 6 – do que o Rio de Janeiro. Estas observações rítmicas qualitativas
1130
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
precisariam ser sistematicamente descritas posteriormente a partir de
uma análise quantitativa.
Figura 12 – Duração de enunciado com núcleo proparoxítono: mulheres
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração das mulheres de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro:
Figura 13 – Duração de enunciado com núcleo proparoxítono: homens
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração dos homens de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro:
Nas proparoxítonas se repete o mesmo padrão de supressão
silábica nos falantes homens de Salvador e Fortaleza frente ao padrão
do homem do Rio de Janeiro, que apresenta menos diferença de duração
entre tônicas e átonas, com um contorno mais proporcional.
Em termos de intensidade, o planejamento da leitura com a queda
abrupta de intensidade no final do enunciado também se realiza no padrão
proparoxítono da falante do Rio de Janeiro.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1131
Figura 14 – Intensidade de enunciado com núcleo proparoxítono: mulheres
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Intensidade das mulheres de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro:
Figura 15 – Intensidade de enunciado com núcleo proparoxítono: homens
Enunciado 2: O pássaro gosta do pássaro./ O pássaro gosta do pássaro?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração dos homens de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro:
Nas localidades Salvador e Rio de Janeiro, a sílaba tônica das
proparoxítonas, sílaba 8 do núcleo, a intensidade da interrogativa (azul)
é maior do que a da declarativa (vermelho). Em Fortaleza, a mulher
repete o comportamento das outras duas localidades, mas, no homem, a
intensidade da declarativa é maior que a da interrogativa.
O planejamento da leitura com a queda abrupta progressiva
de intensidade no final do enunciado também se realiza no padrão
proparoxítono do falante do Rio de Janeiro.
4.3 Resultados e discussões: núcleos oxítonos
A categoria acentual oxítona é a categoria mais polêmica do
português em termos de classificação ou atribuição acentual para o núcleo,
que pode ser interpretado como um padrão truncado ou comprimido. O
padrão acentual das oxítonas é analisado a partir dos três parâmetros
1132
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
acústicos: F0, duração e intensidade em enunciados declarativos e
interrogativos totais.
Em termos de F0, na variedade de Salvador, tanto o homem
quanto a mulher realizam nas frases declarativas um tom alto na pretônica
do núcleo, “bisavô”, ver sílaba 9 (em vermelho). A última sílaba tônica
é descendente, sendo mais baixa que a pretônica. Isso confirma o acento
tonal proposto para o núcleo das declarativas por Moraes (2008), sem o
tom de fronteira, em H + L* L% de declarativas.
Figura 16 – Variedade de Salvador: escolaridade média
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Salvador
B: F0 do homem de Salvador
No pré-núcleo o comportamento do padrão é bem diferente
do comportamento do núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4. Trata-se de um
comportamento alto ou ascendente progressivo, sem a queda do núcleo.
Nas interrogativas o padrão também pode ser considerado como truncado,
uma vez que temos uma pretônica baixa, sílaba 9 em azul, seguida de
uma tônica alta, sílaba 10. O padrão proposto por Moraes (2008) para
o núcleo das interrogativas totais L + H* L% se realiza sem o tom de
fronteira baixo, pois na nossa interpretação não há segmento posterior
para a realização do tom baixo de fronteira L%, terminando numa sílaba
acentuada alta H*, por truncamento.
Na variedade de Fortaleza, tanto o homem quanto a mulher
realizam nas frases declarativas um tom alto na pretônica do núcleo,
“bisavô”, ver sílaba 9 (em vermelho). A última sílaba tônica é descendente,
sendo mais baixa que a pretônica. Isso confirma o acento tonal proposto
para o núcleo das declarativas por Moraes (2008) H + L* L%.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1133
Figura 17 – Variedade de Fortaleza: escolaridade média
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Fortaleza
B: F0 do homem de Fortaleza
No pré-núcleo o comportamento do padrão é bem diferente
do comportamento do núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4. Trata-se de um
comportamento alto H*, sem a queda longa e inclinada do núcleo. Nas
interrogativas o padrão também pode ser considerado como comprimido,
uma vez que temos uma pretônica baixa, sílaba 9 em azul, seguida
de uma tônica alta, sílaba 10, ascendente-descendente para a mulher
e ascendente com um princípio de descida para o homem. O padrão
proposto por Moraes (2008) para o núcleo das interrogativas totais L +
H* L% se realiza com o tom de fronteira baixo para a mulher, mas não
para o homem que termina numa sílaba alta, conforme o assinalado por
Lira (2009, p. 95), para o padrão oxítono de Fortaleza, por truncamento
ou compressão.
Na variedade do Rio de Janeiro, tanto o homem quanto a mulher
realizam nas frases declarativas um tom alto descendente na pretônica
do núcleo, “bisavô”, ver sílaba 9 (em vermelho), sendo esta pretônica
o pico do enunciado. A última sílaba tônica é descendente, sendo mais
baixa que a pretônica. Isso confirma o acento tonal proposto para o núcleo
das declarativas por Moraes (2008), sem o tom de fronteira, em H + L*
L% implementando-se a descida na tônica quando esta é a última sílaba
do enunciado.
1134
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Figura 18 – Variedade Rio de Janeiro: escolaridade média
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
A: F0 da mulher de Rio de Janeiro
B: F0 do homem de Rio de Janeiro
No pré-núcleo o comportamento do padrão é bem diferente
do comportamento do núcleo, ver sílabas 2, 3 e 4. Trata-se de um
comportamento alto ou ascendente progressivo, sem a queda do núcleo.
Nas interrogativas o padrão também pode ser considerado como truncado,
uma vez que temos uma pretônica baixa, sílaba 9 em azul, seguida de
uma tônica alta, sílaba 10. O padrão proposto por Moraes (2008) para
o núcleo das interrogativas totais L + H* L% se realiza sem o tom de
fronteira baixo, pois na nossa interpretação não há segmento posterior
para a realização do tom baixo de fronteira L%, terminando numa sílaba
acentuada alta H*, por truncamento.
Em termos de duração, a duração das vogais tônicas nucleares
tende a ser mais longa nas sílabas tônicas das interrogativas (azul) do
que nas declarativas (vermelho), pelo menos nos dados de Salvador e
Fortaleza, mas não nos do Rio de Janeiro. O mesmo comportamento de
duração se encontra nos homens, o falante de Fortaleza é o que mais tende
à supressão silábica, sendo que nos três casos a distribuição dos padrões
de redução ou alongamento da duração vocálica em dois grupos rítmicos
simétricos aponta para uma oralização mais planejada das frases lidas.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1135
Figura 19 – Duração de enunciado com núcleo oxítono: mulheres
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração das mulheres de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
Figura 20 – Duração de enunciado com núcleo oxítono: homens
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Duração dos homens de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
Nas sentenças com núcleo oxítona, o padrão de supressão recai
sobre as sílabas átonas internas do enunciado, “gosta do”, sílabas 6 e
7, também para a mulher de Fortaleza. A falante do Rio de Janeiro que
mantém o seu padrão rítmico de leitura, criando mesmo dois grupos
rítmicos simétricos no interior do enunciado, fazendo o contraponto
entre “gosta” e “bisavô”, sílabas 5 e 10. O mesmo realiza a falante de
Fortaleza apesar da supressão silábica em “gosta” e menos a falante de
Salvador que apresenta dois grupos rítmicos também de leitura, mas
menos regulares ou simétricos que os de Fortaleza e Rio de Janeiro.
Em termos de intensidade, no caso do Rio de Janeiro, a queda
abrupta de intensidade se dá mesmo no padrão oxítono, no caso das
declarativas (vermelho), estratégia de leitura que se repete no falante
masculino, como se verá a seguir.
1136
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
Figura 21 – Intensidade de enunciado com núcleo oxítono: mulheres
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Intensidade das mulheres de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
Figura 22 – Intensidade de enunciado com núcleo oxítono: homens
Enunciado 3: O bisavô gosta do bisavô./ O bisavô gosta do bisavô?
Declarativas (vermelho) e interrogativas (azul).
Intensidade dos homens de Salvador, Fortaleza, e Rio de Janeiro
Assim como para as mulheres, no caso do Rio de Janeiro, a queda
abrupta de intensidade se dá mesmo no padrão oxítono, nas declarativas
(vermelho), estratégia de leitura que associada ao comportamento de
duração e de F0 diferencia os falantes do Rio de Janeiro pela aprendizagem
de um padrão prosódico de leitura que é aplicado à oralização dos dados,
no momento da leitura do corpus.
5 Considerações finais
Procuramos estabelecer um diálogo entre os resultados de
nossas análises e dados de projetos de pesquisa similares para as três
capitais. Em termos de duração, a distribuição regular da duração ao
longo do enunciado, formando grupos rítmicos simétricos, aponta para
a realização de uma fala planejada, leitura, no caso das três localidades,
o que atribuímos ao grau de escolaridade dos falantes, que já adquiriram
a prosódia de leitura, aprendida nas práticas escolares. A internalização
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1137
de um padrão mais silábico e regular de leitura dos falantes de
Salvador, Fortaleza e do Rio de Janeiro também se destaca no caso das
proparoxítonas e das oxítonas.
No caso dos homens, em termos de duração, a distribuição das
reduções e alongamentos vocálicos por sílaba também é muito regular,
tanto nos dados do Rio de Janeiro quanto nos de Salvador e menos
nos de Fortaleza. Os resultados referentes à intensidade não podem ser
considerados, sem normalização, em termos brutos, pois as condições de
gravação certamente não foram as mesmas, o que afeta o dado em dB.
Entretanto, podemos comparar a distribuição dos valores de intensidade
ao longo do enunciado, comparando as diferenças e proporções de
intensidade interssilábicas, uma vez que são as mesmas frases e que a
variação no interior do enunciado da intensidade é desconsiderável.
Assim como para as mulheres, nos dados dos homens, para as três
localidades, a intensidade da sílaba tônica no núcleo é mais importante
na interrogativa (azul) do que na declarativa (vermelho). A partir dos
dados analisados, encontramos diferenças significativas em relação às
modalidades – declarativa e interrogativa total – e, em menor medida,
em relação à origem dos falantes.
5.1 Com relação às modalidades podemos afirmar que:
a. A pretônica que antecede a última tônica é mais alta na modalidade
declarativa do que na interrogativa total;
b. A duração da última tônica é menor na modalidade declarativa que
na interrogativa total, menos para a variedade Salvador;
c. A intensidade da última tônica é menor na modalidade declarativa
que na interrogativa total;
d. O contorno entonativo da modalidade declarativa é descendente, ao
passo que o da interrogativa total é, predominantemente, circunflexo
proparoxítono e paroxítono.
e. No padrão oxítono das interrogativas, temos resultados ascendentes
para o Rio de Janeiro, truncados para Salvador (ascendente com
começo de queda) e circunflexo na mulher, mas truncado no homem
de Fortaleza.
1138
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
5.2 Com relação à origem dos falantes podemos afirmar que:
a. Nas declarativas, o comportamento da F0 é descendente da pretônica
nuclear, descendendo gradualmente, até a postônica (linha de
declinação). Entretanto, nas interrogativas, o movimento de F0 é
sempre ascendente na sílaba tônica nuclear, nas três localidades.
Fortaleza diverge de Rio de Janeiro e Salvador, pois a subida da F0
na tônica é seguida de movimento descendente na própria tônica.
b. A diferença de duração entre sílabas tônicas e átonas em posição
nuclear agrupa Rio de Janeiro e Salvador em oposição ao
comportamento de Fortaleza. Em Fortaleza a tônica nuclear é
proporcionalmente mais longa do que a postônica que chega
inclusive à elisão vocálica na mulher.
c. A queda de intensidade ao longo do enunciado é visível nas três
variedades, no entanto, a queda no núcleo da tônica para a postônica
é mais abrupta em Fortaleza devido aos apagamentos finais.
d. O contorno entonativo da modalidade declarativa é descendente
nas três localidades, ao passo que o da interrogativa total é
predominantemente circunflexo nos núcleos paroxítonos e
proparoxítonos. Nos núcleos oxítonos é variável. Segundo sugestão
de Moraes (2016, informação verbal) seria importante verificar se
o padrão ascendente das oxítonas é um caso de truncamento ou
um padrão diferente do padrão das paroxítonas através de testes
perceptuais com estímulos gerados a partir da manipulação de síntese
em pontos chave dos enunciados.
Agradecimentos
Agradecemos a João Antônio de Moraes e Zulina Souza de Lira por
terem disponibilizado os dados de Salvador e Fortaleza para esta análise.
E a Albert Rilliard pelas observações e sugestões teórico-metodológicas
para a análise e revisão final do texto. Igualmente, o trabalho atento e
cuidadoso, a leitura construtiva dos dois revisores. Quaisquer imprecisões
ou erros ainda remanescentes são de responsabilidade nossa, inteiramente.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1105-1142, 2017
1139
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
Desambiguização de sentenças na interface fonologiasintaxe: resultados de um estudo de compreensão1
Sentence disambiguation in the phonology-syntax interface:
comprehension study results
Melanie Campilongo Angelo2
Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo / Brasil
melanie.angelo@usp.br
Raquel Santana Santos3
Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo / Brasil
raquelss@usp.br
Resumo: Este artigo analisa a compreensão no português brasileiro da
pista prosódica de duração de sílabas em sentenças ambíguas do tipo SN1V-SN2-Atributo (e.g. ‘A mãe encontrou a filha suada’). Fonologicamente,
tais leituras podem ser explicadas pelo fato de o atributo poder ou não
se juntar a seu núcleo na construção do domínio da frase fonológica
(NESPOR; VOGEL, 1986), e de que, se há fronteira de domínios,
um alongamento é esperado (FOUGERON; KEATING, 1997). O
estudo propõe que o alongamento é um fenômeno opcional no PB. Um
experimento de picture matching é aplicado para versões de estruturas
de aposição não local e local de nove sentenças. Os resultados apontaram
Uma versão anterior deste trabalho foi defendida em Angelo (2016). Agradecemos aos
participantes da banca de mestrado e a dois pareceristas anônimos pelos comentários e
discussão do texto e os eximimos de todos os problemas remanescentes.
2
Agradece o auxílio em Forma de bolsa de Mestrado do Departamento de Linguística
da FFLCH/USP (CAPES Proex 2013-2015).
3
Agradece o auxílio do CNPq (Bolsa Produtividade 308135/2009-1).
1
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1143-1182
1144
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
para diferenças significativas conforme o tipo de estrutura sintática. As
diferentes sentenças também se mostraram relevantes para a interpretação
de que, ainda que o alongamento seja opcional na produção, uma vez
realizado, ele serve como condutor para uma interpretação não local. Os
resultados para uma interpretação local parecem decorrer da interação
entre o Princípio de Late Closure (FRAZIER, 1979) com a estrutura
prosódica da sentença. Por fim, a análise evidencia que estruturas do tipo
small clause interferem no processo de alongamento e, assim, este artigo
defendeue isso ocorre porque a reestruturação prosódica é bloqueada
neste tipo de estrutura sintática.
Palavras-chave: aposição local; aposição não local; fronteira prosódica;
alongamento; small clauses.
Abstract: This article discusses the comprehension of syllable duration
in Brazilian Portuguese as a prosodic cue in ambiguous sentences with a
NP1-V-NP2-attribute structure (e.g. ‘The mother has found her daughter
sweating’). Phonologically, interpretations of the above-mentioned
structure can be explained by the fact that attributes may or may not
join the head in the construction of the phonological phrase domain
(NESPOR; VOGEL, 1986), and because lengthening is expected when
there is a boundary (FOUGERON; KEATING, 1997). We suggest that
lengthening exists in BP as an optional phenomenon. We ran a picture
matching experiment, with versions of structures with high and low
attachment of 9 sentences. Overall results showed significant differences
for type of syntactic structure. The different sentences also played a role in
the results, indicating that although lengthening is optional in production,
once it has been performed, it leads to a high attachment reading. The
Low Attachment Principle (FRAZIER, 1979) seems to play a role in the
results for sentences with low attachment. Finally, the findings signal
also that sentences which allow small clause constructions may interfere
with the lengthening process; and we argue that this happens because
restructuring is blocked in this kind of structure.
Keywords: low attachment; high attachment; prosodic boundary;
lengthening; small clauses.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 17 de janeiro de 2017.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1145
1 Introdução
Neste artigo, investigamos o uso da pista prosódica da duração
de sílabas na desambiguação de sentenças do Português Brasileiro
(doravante PB), através de escolhas de interpretação do ouvinte de
contextos onde pode haver reestruturação de frases fonológicas. Nosso
objetivo é observar se a maior/menor duração de um trecho guia o
ouvinte a uma dada interpretação e se, em caso positivo, há gradações
no continuum duracional. Para tanto, elegemos casos de ambiguidade
sintática permanente, especificamente sentenças de tipo SN1-V-SN2Atributo, tais como (1). Nosso interesse está no papel que a prosódia
tem na desambiguização.
Magalhães e Maia (2006) avaliaram a interpretação da leitura de
sentenças que apresentam ambiguidade entre as posições local/não-local
do atributo, como em (1), que podem ter as leituras (a) com aposição
não-local, e (b) com aposição local.
1. O pai abraçou o filho embriagado.
a. O pai estava embriagado.
b. O filho estava embriagado.
Os autores aplicaram um experimento em 2 tarefas: (a) os
informantes liam as sentenças e depois diziam qual a interpretação, e (b)
liam as sentenças com algum tipo de informação que pudesse influenciar
a estrutura prosódica das sentenças (barra (/) entre ‘filho’ e ‘embriagado’).
Os resultados apontaram que, em frases onde não havia nenhuma marca
que pudesse influenciar a prosódia, havia sempre uma preferência pela
aposição local. Quando havia barra entre o objeto e o atributo, aumentava
a quantidade de opções pela interpretação de aposição não-local. Quando
a leitura era pela aposição não-local, havia um alongamento na sílaba
tônica do atributo (a sílaba ‘ga’).
Fonseca e Magalhães (2008) apontam também outras pistas
prosódicas que interferem na escolha da interpretação destas sentenças.
No experimento de leitura em voz alta, encontrou-se uma elevação da
frequência fundamental em SN1 e no Atributo e uma pausa silenciosa
entre SN2 e o Atributo. Fonseca (2008), por sua vez, observou o uso
de aspectos entoacionais neste mesmo tipo de estrutura, observando
se algum padrão específico é adotado no momento em que o falante
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
necessita desambiguar uma sentença. Os resultados encontrados foram
de que apenas quando a prosódia é enfática (elevação de F0 no sujeito e
no atributo) a interpretação se direciona para o não-local.
Angelo e Santos (2015) reformularam os testes aplicados por
Magalhães e Maia (2006) e analisaram dados de produção para observar
o que acontecia com a duração no trecho onde pode haver reestruturação
prosódica – duas frases fonológicas se juntarem na composição de um
único domínio prosódico – uma vez que o resultado apresentado pelos
autores é interessante por não poder ser explicado pelas teorias fonológicas
atuais. Como veremos, na leitura não-local, ‘filho’ e ‘embriagado’ estão
em domínios prosódicos diferentes ([o filho φ] [embriagado φ]), enquanto
que em uma leitura local, ‘filho’ e ‘embriagado’ estão em um mesmo
domínio prosódico ([o filho embriagado φ]).
Angelo e Santos tomam como pressuposto resultados
translinguísticos que apontaram que sílabas tônicas e sílabas finais de
palavras são alongadas no final de domínios prosódicos (OLLER 1973;
KLATT, 1976; KEATING et al., 2003). Se este é o caso, o fato de ‘ga’ se
tornar mais longo em Magalhães e Maia não deveria favorecer nenhuma
interpretação, pois em ambas as interpretações ‘ga’ é a sílaba tônica final
de um domínio de frase fonológica. Além disso, alguns estudos também
constataram que quanto mais alto o domínio prosódico, maior é a duração
(cf. TABAIN, 2003; KEATING et al., 2003). Neste caso, a previsão seria
de uma variação na duração das sílabas de ‘filho’ apenas na aposição
não-local, por serem próximas à fronteira de frase fonológica. Ou seja,
deveria ocorrer um alongamento nas sílabas do SN2, e não do atributo,
pois é ele que se encontra em diferentes domínios prosódicos conforme
a interpretação. Um alongamento nas primeiras sílabas do atributo na
interpretação não-local, como no caso da sílaba ‘em’ de ‘embriagado’,
também se justificaria por estar próximo à fronteira. Já na leitura com
aposição local, tais sílabas não estão no final/começo de domínio e,
portanto, deveriam ser mais curtas do que com a leitura não-local, quando
estão no começo/final do domínio.
Os resultados de Angelo e Santos (2015) não apresentaram
diferença de duração significativa entre as leituras, embora tenha sido
encontrada uma clara tendência: sempre que houve um alongamento
relevante ele ocorria nos casos de aposição não-local (fronteira). A
pergunta que se coloca, então, é se esse alongamento seria opcional. Um
experimento de compreensão ajuda a definir em que medida uma duração
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1147
maior nas sentenças do tipo descrito em (1a) (ainda que não obrigatória
na produção) conduziria o ouvinte a interpretá-las como não-local.
Mas ainda outra questão se coloca. Tanto Magalhães e Maia
(2006) quanto Angelo e Santos (2015) trataram as sentenças em (1)
como possíveis de ter apenas duas estruturas. No entanto, Angelo (2016)
aponta que algumas dessas sentenças podem ter uma terceira estrutura
sintática, como em (2):
2. A mãe encontrou a filha suada.
a. A mãe estava suada.
b. A filha estava suada.
c. A mãe se deparou com uma situação: a filha suada.
A interpretação de (2c) é gerada por uma terceira estrutura
sintática que leva a um mapeamento prosódico diferente daquele
das sentenças locais por adjunção. Esta constatação traz importantes
consequências para a expectativa de interpretação das sentenças, já que
então não é esperada nenhuma diferença fonológica entre os tipos de
leitura local.
Assim, o objetivo deste artigo é discutir o que acontece com
as sílabas dentro versus às margens de domínios prosódicos em tais
sentenças, pois, uma vez que há diferentes mapeamentos estruturais
(aliado ao fato de haver na literatura trabalhos que concluam que sílabas
em início e/ou final de domínios prosódicos são mais longas e melhor
articuladas), espera-se que quando a duração das sílabas que beiram a
possível fronteira for maior, a interpretação será não-local, evidenciando
que há fronteira entre objeto e atributo (pois a reestruturação não é
possível). Também esperamos observar se há uma interpretação diferente
do significado das sentenças caso haja uma diferença de estrutura sintática
nas leituras locais.
Este artigo organiza-se da seguinte maneira: na seção 2,
apresentamos um breve resumo das teorias sintáticas, fonológicas
e de processamento, no que dizem respeito especificamente ao que
se sabe sobre estruturas ambíguas. As seções 3 e 4 trazem o design
do experimento e os resultados de sua aplicação, respectivamente. A
discussão dos resultados é apresentada na seção 5, e as considerações
finais na seção 6.
1148
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
2 Sentenças SN1-Verbo-SN2-Atributo nas interfaces FonologiaSintaxe-Processamento
2.1 Sintaxe: Ambiguidade por aposição de atributo e Teoria X-Barra
Do ponto de vista sintático, a ambiguidade das sentença SN1V-SN2-Atributo diz respeito a quais elementos formam um ou mais
constituintes. No entanto, essa ambiguidade pode depender da natureza
do verbo em conjunto com o complemento que o segue. Segundo Foltran
(1999), quando o predicativo é expresso por adjetivos, ele pode ser um
adjunto adnominal. Sendo assim, em uma sentença como (4), em que só
há aposição local, o adjetivo funciona como modificador do sintagma
nominal [o carro].
4. O João comprou o carro quebrado
Alguns testes de gramaticalidade, como passivação, topicalização
e/ou clivagem podem nos dar evidências empíricas para a existência de
outras estruturas e, então, de uma nova ambiguidade (cf. (5), extraído
de Foltran. 1999, p. 29). Fica evidente que no Grupo 1, ‘quebrado’ é um
adjunto de ‘carro’ (integra o constituinte por ele nucleado). No entanto,
há uma outra construção da sentença, em que, a partir das mesmas
construções, o adjetivo ‘quebrado’ comporta-se como um constituinte à
parte do sintagma nominal ‘o carro’ mas ainda o caracterizando, só que
de forma predicativa – cf. (6).
5. Grupo 1: Uso atributivo do adjetivo
a. O carro quebrado foi comprado por João.
b. O carro quebrado, o João comprou-o.
c. Foi o carro quebrado que o João comprou.
6. Grupo 2: Forma predicativa do adjetivo
a. O carro foi comprado quebrado por João.
b. O carro, o João comprou-o quebrado.
c. Foi o carro que o João comprou quebrado.
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1149
No entanto, nem todos os verbos permitem essas duas
possibilidades: (8) e (9) trazem os mesmos testes acima para a sentença
(7), apenas para a interpretação local:
7. O pai visitou o filho feliz.
8. Grupo 1: Uso atributivo do adjetivo
a. O filho feliz foi visitado pelo pai.
b. O filho feliz, o pai visitou-o.
c. Foi o filho feliz que o pai visitou.
9. Grupo 2: Forma predicativa do adjetivo
d. #O filho foi visitado feliz pelo pai.4
e. #O filho, o pai visitou-o feliz.
f. #Foi o filho que o pai visitou feliz.
Como se observa, tanto (4) quanto (7) permitem a interpretação
local; no entanto, elas diferem quanto à estrutura sintática em questão,
pois ao passo que a primeira permite leitura predicativa e adjuntiva (cf.
(5)-(6)), a segunda não é tão clara quanto à estrutura predicativa (cf.
(8)-(9)). O que está em pauta é que há uma diferença entre sentenças
como (10) e (11) abaixo
10. A Maria trabalhou magoada.
11. O João considera a Maria bonita.
Em (10), o verbo ‘trabalhar’ só seleciona um argumento, o de
sujeito, no caso [A Maria], o que não exclui a relação evidente entre o
sintagma adjetivo (AP) [magoada] e o sintagma determinante (DP) [A
Maria]. Já no segundo exemplo, o verbo ‘considerar’ seleciona, além
do sujeito, o constituinte [a Maria bonita] como um todo, sendo uma
evidência para a classificação de [a Maria bonita] como uma pequena
4
# indica uma sentença gramatical, mas com um significado diferente do pretendido.
1150
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oração selecionada pelo verbo, ou seja, uma small clause (SC) – cf.
Foltran (1999). Nos dois casos, no entanto, temos uma aposição local.
2.2 Fonologia Prosódica: Fronteiras prosódicas e ambiguidade
A discussão da interação entre fonologia e sintaxe não é nova (e.g.
LIGHTFOOT, 1976; CHOMSKY; LASNIK, 1978), embora diferentes
propostas se apresentem para explicar como esta interação se dá.
Segundo Selkirk (1984) e Nespor e Vogel (1986), parte do
componente fonológico interage com outros componentes gramaticais
indiretamente, através da criação dos domínios onde as regras
fonológicas se aplicam: regras de formação de domínios levam em conta
informações de outros componentes gramaticais. Uma vez criados estes
domínios, a fonologia já não tem acesso aos outros componentes. Estes
domínios (conhecidos como domínios prosódicos) estão estruturados
hierarquicamente como uma árvore de ramificação n-ária. De acordo
com Nespor e Vogel, a estrutura sintática é mapeada fonologicamente no
nível da frase fonológica (φ) por meio das regras de mapeamento em (12):
12. Phonological Phrase formation:
I. Domain: The domain of φ consists of a clitic group (C) which
contains a lexical head (X) and all Cs on its nonrecursive side
up to the C that contains another head outside of the maximal
projection of X.
II. Construction: Join into an n-ary branching φ all Cs included in
a string delimited by the definition of the domain of φ.
φ Restructuring (optional):
A nonbranching φ which is the first complement of X on its
recursive side is joined into the φ that contains X.
(NESPOR; VOGEL, 1986, p.168-173),
Uma palavra lexical juntamente com seus clíticos forma o grupo
clítico (C) (e.g. ‘o filho’). Um adjetivo, além de compor ele mesmo uma
frase fonológica, pode ser incorporado ao domínio que contém a palavra
que ele modifica em um processo de reestruturação: anexar a uma frase
fonológica o primeiro complemento de X que esteja em seu lado recursivo,
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1151
ou seja, o lado em que normalmente se encontram os complementos do
núcleo lexical. Para a reestruturação ocorrer, o complemento deve ser
uma frase fonológica formada por apenas um grupo clítico, o que impede
que sequências como ´comeu bolo de chocolate´ sejam reestruturadas,
já que o complemento do verbo ´comer´ é ´bolo de chocolate´, formado
por dois grupos clíticos.
As línguas variam quanto a permitir a reestruturação ou não, e
em caso afirmativo, deve-se definir se esta reestruturação é obrigatória
ou opcional. O PB vem sendo descrito como uma língua em que é
possível a reestruturação (cf. ABOUSALH, 1997; SANTOS, 2003;
SÂNDALO; TRUCKENBRODT, 2002), embora não se discuta a questão
da obrigatoriedade do processo.
O PB é identificado como língua com recursividade à direita.
Assim, o adjetivo é uma frase fonológica independente (porque sua
projeção máxima é diferente da projeção máxima do nome), mas que pode
se reestruturar compondo uma única frase fonológica. Este mapeamento
reflete diferenças estruturais de sentenças ambíguas de adjunção, como
em (13), entre leituras locais vs. não-locais. Na interpretação de que o
filho é feliz, ‘feliz’ é complemento de ‘filho’ e, portanto, as duas frases
fonológicas podem ser reestruturadas (13a); na interpretação de que o
pai é feliz, não há relação entre ‘filho’ e ‘feliz’, portanto a reestruturação
não é permitida entre [o filho] e [feliz] (13b):5
13. O pai visitou o filho feliz.
a. leitura: O filho feliz.
[o pai φ] [visitou φ] [o filho φ] [feliz φ]
>> [o pai φ] [visitou φ] [o filho feliz
φ reestruturado]
b. leitura: O pai feliz.
[o pai φ] [visitou φ] [o filho φ] [felizφ]
>> *[o pai Φ] [visitou φ] [o filho feliz
φ reestruturado]
>> [o paiΦ] [visitou o filhoφ reestruturado]
[felizφ]
5
Mas note-se que é possível entre o verbo e seu complemento, criando ‘visitou o filho’.
1152
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2.3 Processamento: A compreensão de sentenças ambíguas
Estudos em Psicolinguística propõem que somos dotados de uma
espécie de ‘dispositivo’ (parser, analisador sintático) que determina a
estrutura de uma sentença, contribuindo para a produção e compreensão
da linguagem. A Teoria do Garden Path (FRAZIER, 1979) é um modelo
de processamento de frases que tem como características ser universal,
inato, e estar baseado em princípios de economia cognitiva, ou seja,
um funcionamento com menor custo e menor memória de trabalho (cf.
FRAZIER; FODOR, 1978; FRAZIER, 1979). Segundo este modelo,
as escolhas de interpretação são feitas no momento em que se dá o
processamento, obedecendo os seguintes princípios:
Minimal Attachment: Attach incoming material into the
phrase-marker being constructed using the fewest nodes
consistent with the well-formedness rules of the language
under analysis. (FRAZIER, 1979, p. 24)
Late Closure: When possible, attach incoming lexical
itens into the phrase or clause currently being parsed.
(FRAZIER, 1979, p. 33)
Conforme o primeiro princípio, ao ouvirmos/lermos uma
sentença, o parser constrói a estrutura de uma sentença ouvida/lida
com o mínimo de nós sintáticos possíveis. Devido ao princípio de Late
Closure, novos constituintes devem ser apostos ao sintagma que está
sendo processado, ou seja, o nó não terminal mais baixo possível. Isto
significa que o fechamento do sintagma em processamento é atrasado para
permitir que novos itens sejam integrados localmente. Para exemplificar,
vejamos (14):
14. Enquanto as meninas costuravam as meias caíram.
a. Enquanto as meninas costuravam as meias / caíram.
b. Enquanto as meninas costuravam / as meias caíram.
O leitor, ao chegar ao sintagma ‘as meias’, interpreta-o como
complemento do verbo ‘costuravam’. Isso decorre do princípio de Late
Closure: o sintagma verbal está aberto para incluir o material que vem
a seguir, o DP ‘as meias’ (14a). No entanto, ao encontrar mais material
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1153
(‘caíram’), ele reanalisa a sentença encerrando o sintagma verbal (Early
Closure), de forma que o sintagma ‘as meias’ possa ser analisado como
sujeito da próxima oração e não como objeto da anterior (14b).
Uma das direções de trabalho da pesquisa em processamento
consiste em descobrir com que tipo de informações o parser trabalha.
Fodor (1998, 2002a) observa que, nos princípios propostos por Frazier
(1979), não havia menção à interferência da prosódia, mas não há como
negar que a prosódia tem um papel fundamental no processamento de
sentenças, principalmente tendo em vista a quantidade de trabalhos
apontando para o seu papel na desambiguização de sentenças (e.g.
LEHISTE, 1973). Tendo como base uma diferença nos resultados de
resolução de ambiguidades para o inglês e o espanhol em situação de
leitura, que pode ser explicada como devida à diferente sensibilidade
ao tamanho de constituintes (FODOR, 1998), a autora propõe que a
prosódia está presente inclusive em situações de não produção sonora
das sentenças, como no caso de leituras silenciosas, e que esta projeção
mental da estrutura prosódica (prosódia implícita, nas palavras da autora)
é tratada como parte do input pelos leitores. Em linhas gerais, esta é a
assunção da Hipótese da Prosódia Implícita (Fodor, 2002b), que sugere
a existência de uma prosódia que ajuda na resolução de ambiguidades
sintáticas na leitura silenciosa, assim como a prosódia explícita faz na
fala:
Implicit Prosody Hypothesis: In silent reading, a default
prosodic contour is projected onto the stimulus, and it
may influence syntactic ambiguity resolution. Other
things being equal, the parser favors the syntactic analysis
associated with the most natural (default) prosodic contour
for the construction. (FODOR, 2002a, p. 1)
Esta prosódia implícita, assim como a prosódia explícita, tem
as características prosódicas de cada língua específica. De acordo com
a proposta da HPI, características prosódicas particulares das línguas
são responsáveis pelas variações encontradas nas preferências por
aposições do parser – como por exemplo a acima mencionada diferente
sensibilidade ao tamanho de constituinte (FODOR, 1998).
De acordo com Miyamoto (1999), o português brasileiro é
uma língua com preferência de processamento para aposição local. O
autor testou a preferência de anexação de orações relativas reduzidas
1154
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
ou não, anexadas em posição local (baixa) ou não-local (alta), como
exemplificado em (15) (exemplo (7) de Miyamoto, 1999):
15. a) A Kombi trouxe os supervisores do engenheiro [que foram
pagos pela empreiteira.
b) A Kombi trouxe o supervisor dos engenheiros [que foram pagos
pela empreiteira.
c) A Kombi trouxe os supervisores do engenheiro [pagos pela
empreiteira.
d) A Kombi trouxe o supervisor dos engenheiros [pagos pela
empreiteira.
Os resultados apontaram, no entanto, para uma interação
significante entre o tipo de oração relativa e o local de aposição. A
performance com orações relativas reduzidas era melhor com aposição
local do que não-local. No caso de orações relativas plenas, a performance
foi melhor com a aposição local apenas numericamente, sem significância
estatística.
Esta tendência à aposição baixa/local é interpretada como uma
tendência a um Late Closure (em oposição a línguas com tendência ao
Early Closure, como o francês, holandês, espanhol – cf. Fodor, 2002).
Miyamoto (2005) reanalisa seus dados de (1999) e argumenta que as
diferenças no número (singular e plural dos SN) afetou os resultados.
Ribeiro (2001) encontrou uma preferência por aposição alta,
não-local, em experimentos que mediam o tempo de leitura em trechos
críticos de sentenças com sintagmas adjetivos. Outros estudos atestaram
a relação entre prosódia e aposição. Finger & Zimmer (2005) mostraram
que orações relativas longas são mais sujeitas à aposição não-local, alta,
que orações relativas curtas. Lourenço-Gomes e Moraes (2005) também
encontraram para orações relativas longas uma preferência para aposição
não-local. Finalmente, Maia et al. (2007), a partir de meta-análise,
argumentam que a diferença na preferência entre aposição local e nãolocal só se dá claramente em testes off-line.
O que os estudos acima têm em comum é que a aposição nãolocal é preferida sempre em condições específicas, como a oração relativa
ser longa. Assim, mantém-se a afirmação inicial de Miyamoto (1999) de
que o PB tem preferência por aposição local. De acordo com Magalhães
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1155
e Maia (2006), em PB, na ausência de pistas prosódicas há um default
aplicado pelos falantes. Este default seria a aposição local, justificada
pelo Princípio do Late Closure (FRAZIER, 1979), que sugere que um
sintagma só se feche depois de conferir se há um elemento que possa ser
aposto a ele em seguida. Isso significa que, quando um ouvinte escuta
(13), ele identifica que ‘feliz’ pode ser aposto à ‘filho’ (sintagma ainda
em aberto no parsing durante o processamento para verificar a existência
de adjuntos a sua frente), se fechando logo em seguida.
3 O Experimento6
O objetivo deste artigo é analisar se e como, fonologicamente,
pistas de duração na desambiguação de sentenças do tipo SN1-VerboSN2-Atributo influenciam a escolha de interpretação do ouvinte. Uma
vez que estatisticamente os resultados de Angelo e Santos (2015) não
confirmaram a hipótese de alongamento das autoras onde há fronteira de
frase fonológica, mas sabendo que sempre que houve uma maior duração
ela foi em favor da interpretação não-local, as questões que se colocam
são por que isso acontece; por que, quando há alongamento, ele ocorre
em direção do esperado pelas autoras.
Nossa hipótese é que os falantes utilizam o alongamento para
desambiguar sentenças ambíguas sintaticamente. A duração serviria,
então, como pista para a interpretação de tais sentenças. Como vimos,
na ausência de pistas prosódicas, o princípio de Late Closure favorece
leituras locais. O alongamento desambiguaria, então, sentenças quando
há interpretação não-local. No entanto, resultados de pesquisas anteriores
apontam que o alongamento é processo opcional, não-obrigatório (dado
inclusive que o falante pode utilizar outros processos para apontar para a
interpretação pretendida). Em linhas gerais, o que podemos esperar é que,
sempre que o alongamento ocorrer, deve ser em sentenças não-locais e,
em experimentos de compreensão, a sentença deve ser interpretada como
não-local. Nossa hipótese nos leva às seguintes predições específicas:
Aprovação do Comitê de Ética para Pesquisas com Seres Humanos deferida pelo
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e registrada através do CAAE:
45791815.5.0000.5561.
6
1156
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i. Para sentenças longas, dado os resultados de Angelo e
Santos (2015), espera-se que os falantes as interpretem
como não-local (A).
ii. Para sentenças curtas, sendo o alongamento opcional no PB,
haveria uma variação na interpretação (entre aposição local
e não-local); no entanto, pela HPI, deve-se encontrar uma
preferência pela leitura local.
Ademais, uma vez que não há trabalhos prosódicos até o momento
que considerem possíveis diferenças estruturais em interpretações de
aposição local, assumimos que, em princípio, estruturas adjuntivas e
que permitem small clauses tenham comportamentos similares (uma
vez que processualmente possuem a mesma interpretação (local)). No
entanto, sentenças que podem ter interpretação local de small clause serão
investigadas em grupos separados para que haja um controle. Esperamos,
assim, que o alongamento seja ‘acertado’ (interpretado como não-local)
sempre que realizado; já nas versões curtas, independentemente de a
estrutura ser de adjunção ou de small clause, pode haver variações entre
acertos e erros (pois o alongamento sendo opcional, respostas não-locais
também são possíveis).
3.1 Método
3.1.1. Participantes
Participaram do experimento 30 ouvintes adultos, de nível
universitário, nascidos em São Paulo, com idade entre 18 e 50 anos.7
Para a leitura das sentenças a serem ouvidas, 50 falantes com o mesmo
perfil sociolinguístico previamente gravaram as sentenças – lidas em
histórias que conduziam ao significado pretendido.
Todos os participantes completaram o experimento. Posteriormente, os resultados
por informante confirmaram que nenhum dos participantes apresentou comportamento
desviante do grupo.
7
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1157
3.1.2. Materiais
As sentenças analisadas neste experimento são as mesmas
de Angelo e Santos (2015), lidas em histórias que conduziam às
interpretações em questão – cf. Quadro 1 e exemplo de história em (16).8
Quadro 1 – Sentenças Analisadas
S1. O pai visitou o filho feliz.
S2. A babá ninou a menina chorando.
S3. O aluno consultou o monitor cismado.
S4. O sobrinho cumprimentou o tio sonolento.
S5. O assessor auxiliou o presidente furioso.
S6. O repórter entrevistou o político sozinho.
S7. A mãe procurou a filha magoada.
S8. A mãe encontrou a filha suada.
S9. O réu encontrou o advogado nervoso.
16. A mãe encontrou a filha suada.
a) Mãe e filha iriam se encontrar para almoçar no shopping antes da
filha viajar. No meio do caminho, o pneu do carro da mãe furou
e, como não havia ninguém para ajudá-la, a mãe trocou o pneu
sozinha, o que a deixou muito cansada. Ao chegar ao shopping,
correu muito para não se atrasar ainda mais. A mãe encontrou
a filha suada. No entanto, conseguiu chegar antes que a menina
fosse embora.
b) Sábado era aniversário da avó de Lúcia. Sua mãe avisou para
que Lucia não se atrasasse e enfatizou que era uma festa chique
e Lucia deveria ir bem vestida. Mas naquele dia, a garota tinha
vários compromissos: ela saiu cedo de casa, foi trabalhar, depois
foi à academia, malhou muito, correu para o shopping para
Antes da aplicação do experimento, as sentenças foram apresentadas para julgamento
por 9 estudantes universitários, que não apontaram nenhum problema pragmático ou
de impossibilidade de leitura com interpretação local e não-local.
8
1158
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comprar um presente para a avó e teve que ir pra festa sem passar
antes em casa pra se arrumar. A mãe encontrou a filha suada.
Lucia recebeu uma grande bronca por não estar arrumada direito.
As sentenças apareciam sempre ao final das histórias, mas não
necessariamente na última sentença. Todas as sentenças permitiam
interpretações não-locais (A) e locais. No caso das sentenças S1 a S7,
apenas a interpretação local de adjunção era possível (aqui identificadas
como leitura B), ao passo que as sentenças S8 e S9 permitiam, além de
adjunção, estrutura de small clause (a possibilidade de duas estruturas
para a interpretação local é identificada como C). O desbalanceamento
na quantidade de sentenças com interpretação B ou C se deve ao fato
de que esta diferenciação só ocorreu após a aplicação do experimento.
Para analisar o efeito da duração na interpretação das sentenças
era relevante a duração trecho entre a sílaba final do objeto até a sílaba
inicial do atributo.9 Foram então extraídas para o experimento de
compreensão as 3 versões mais longas para o trecho relevante lidas em
contexto de interpretação não-local, assim como as 3 versões mais curtas
no mesmo trecho lidas em contexto de aposição local, totalizando 54
dados a serem aplicados aos ouvintes.10 Em uma escala, a gradação das
durações se dá conforme representado na Figura 1 abaixo.
Figura 1 – Escala de Gradações das estruturas
Estrutura
Duração
não-locais (A)
+ longas
locais (BC)
- longas
A sílaba tônica não foi alvo de nossa análise porque, como se pode observar nas
sentenças, a posição da sílaba tônica variou em relação à fronteira prosódica (em alguns
casos estava na fronteira, em outros estava em uma sílaba de distância, e em um caso
a duas sílabas de distância) e esta variação afeta os resultados, como já reportado na
literatura (cf. Seção 2.2).
10
Não há um valor mínimo ou máximo de duração especificado para a seleção das
sentenças de A1 a B1 pois as sentenças apresentavam segmentos com características
acústicas diferentes e não é objetivo desta análise investigar o quanto a duração deve
ser mais longa para que se possa atribuir uma dada interpretação.
9
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1159
Os áudios selecionados correspondem à leitura de 17 indivíduos
(homens e mulheres) dentre o total de 50 falantes. Os participantes
ouvintes tiveram acesso às sentenças, sem nenhum contexto que
apontasse para qualquer interpretação.
O material é composto ainda por imagens que foram desenhadas
para cada versão das sentenças a serem ouvidas. Em cada imagem,
buscou-se evidenciar que somente um personagem não dispunha do
atributo que o outro dispunha. Por exemplo, em (7), ora o pai estava
feliz e o filho triste, ora o filho estava feliz e o pai triste.
Ao final, o corpus é composto por 1620 dados (9 sentenças x 2
interpretações x 3 gradações = 54 respostas de cada um dos 30 ouvintes).
3.1.3 Procedimentos
Antes do teste, os ouvintes fizeram um treinamento elaborado com
o programa PowerPoint, no qual testava-se se os ouvintes reconheciam
os personagens nas imagens e se distinguiam entre as versões não-local e
local conforme os atributos das sentenças (‘feliz’, ‘suada’, etc). Como o
treinamento tratava de identificar a diferença entre os pares de imagens, a
noção de ambiguidade fica implícita; por isso, não se utilizou distratoras
no teste. O treinamento durava 5 minutos.
Após o treinamento, o teste de picture matching era iniciado,
elaborado com o software TP Versão 3.1 da Worken.11 Cada input do
teste correspondia a um dos 54 áudios, ou seja, todos os participantes
ouviram as duas versões/interpretações da mesma sentença, e cada uma
em três versões de duração, mas de forma aleatorizada, diminuindo,
assim efeitos de explicitação/reforço. Na tela, um par de imagens aparecia
no lado esquerdo e um botão de ok ao centro do lado direito (portanto,
equidistante das duas imagens), em seguida uma sentença era tocada.
As imagens foram apresentadas sempre na mesma ordem (versão A
acima e versão B/C abaixo), independentemente da resposta esperada
para cada áudio. O ouvinte deveria clicar em cima da imagem (resposta)
interpretada (versão A ou versão B/C). Para ouvir o áudio seguinte, o
ouvinte deveria clicar em ‘ok’. Além disso, os ouvintes usaram um fone
Agradecemos à prof. Dra. Andreia Rauber, uma das criadoras do TP, pela cessão
do programa, disponível gratuitamente através da URL <http://www.worken.com.br/
tp_regfree.php>.
11
1160
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confortável e de alta precisão conectado ao computador para fazer o
teste. O teste durava, em média, 10 minutos.
Os resultados foram automaticamente codificados pelo programa
no Excel com as respostas de cada ouvinte identificadas entre acerto ou
erro, definidas a depender da intenção do falante ao ler cada sentença
no experimento de produção (intenção definida pelo contexto em que
sentença se inseria).
4. Resultados
Os resultados do experimento de compreensão foram analisados
por tipo de estrutura, por sentença e por informante, no entanto a análise
por ouvinte não trouxe inferências significantes ao escopo de nossas
hipóteses. A aplicação dos testes estatísticos foi feita através do programa
R. Para alguns casos, utilizou-se o teste de proporção, em outros, o teste
para igualdade de proporções. Reportamos abaixo os resultados por
estrutura e sentença.
4.1 Por estrutura
A Tabela 1 abaixo apresenta os valores gerais por tipo de estrutura,
comparando as proporções de acertos, sem considerar uma possível
influência da sentença. O teste rodado foi o de igualdade de proporções,
que busca responder se a diferença das proporções de acertos das
estruturas é igual a 0. A comparação de A com B/C tem base em todas as
9 sentenças do experimento, já em A com B, apenas as sentenças de 1 a
7 foram consideradas. Quando se compara A com C, apenas as sentenças
8 e 9 são as observadas.
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TABELA 1
Comparação da proporção de acertos conforme a estrutura
Teste para igualdade de proporções
Estrutura
Diferença entre as proporções
de acerto (IC95%)
A
0,02
B/C
(-0,03; 0,07)
A
0,16
B
(0,10; 0,21)
A
-0,46
C
(-0,55; -0,37)
p-valor
0,472
<0,001
<0,001
Conforme se observa acima, posto que o valor da diferença
entre as proporções de acerto subtrai as locais das versões não-locais
em cada linha, na comparação geral de A com B/C não se observou
diferença significativa na frequência de acertos. No entanto, há diferença
na proporção de acertos de A comparada a B – a frequência de acerto é
maior para A. Ao comparar A e C, também existe diferença significativa,
mas note que, neste caso, a frequência de acertos é maior para C.12
A Tabela 2 abaixo registra a quantidade de acertos e erros
segundo a estrutura e a gradação de longas e curtas. Como dissemos,
em uma escala, A1 se trata da sentença com o trecho relevante mais
longo das sentenças não-locais, enquanto A3 se trata da menos longa
destas. Ao mesmo tempo, B1 e C1 são as que apresentaram os trechos
relevantes mais curtos das sentenças locais, ao passo que B3 e C3 são as
menos curtas. Isto significa que as 1 são aquelas que mais têm chances
de conduzir o ouvinte ao acerto em ambos os casos (segundo nossas
predições), e as 3 são as mais suscetíveis a erro.
Valores de IC positivos indicam maior taxa de acerto para A. Valores negativos
apontam para maior taxa de acerto para B ou C.
12
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1162
TABELA 2
Frequência de acertos e erros conforme a estrutura e a duração
(gradação de longa e curta)
Teste de Proporções
Estrutura
Certo
Errado
p-valor
N
%
N
%
A
514
63,46
296
36,54
<0,001
A1
196
72,59
74
27,41
<0,001
A2
166
61,48
104
38,52
<0,001
A3
152
56,30
118
43,70
0,045
B
351
55,71
279
44,29
0,004
B1
110
52,38
100
47,62
0,535
B2
124
59,05
86
40,95
0,011
B3
117
55,71
93
44,29
0,113
C
148
82,22
32
17,78
<0,001
C1
43
71,67
17
28,33
0,001
C2
54
90,00
6
10,00
<0,001
C3
51
85,00
9
15,00
<0,001
B/C
499
61,60
311
38,40
<0,001
B1/C1
153
56,67
117
43,33
0,033
B2/C2
178
65,93
92
34,07
<0,001
B3/C3
168
62,22
102
37,78
<0,001
Conforme se pode observar, o número de acertos das estruturas
gerais (A, B, C e B/C) foram estatisticamente diferentes de 0,5.13 Para A, C
Um p-valor significativo (<0,05) nos testes que comparam se a diferença entre
acertos e erros são diferentes de 0,5 indica que o ouvinte acertou ou errou as respostas,
fugindo da média de oscilação. Em paralelo à observação do p-valor, quando este for
significativo o leitor deve considerar as porcentagens de acertos e erros, pois mostrarão
a direção da significância.
13
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1163
e B/C, obteve-se p-valor < 0,001, porém, para a estrutura B encontramos
p-valor = 0,004, o que nos mostra que essa é a estrutura menos acertada
de forma geral, ainda que com mais acertos do que erros. Analisando a
quantidade de acertos, podemos observar que a estrutura C foi a mais
acertada – na grande maioria das vezes, ao ouvir uma sentença curta, o
ouvinte a interpretava como local. A estrutura B foi a menos acertada
(55,7%). Tal resultado indicia a opcionalidade do alongamento desse tipo
de estrutura. Sentenças com interpretação local podem ser reestruturadas
prosodicamente. Se o são, SN2 não está em fronteira de frase fonológica.
Se não há reestruturação, há uma fronteira fonológica logo depois
de SN2, como ocorre com as sentenças em interpretação não-local.
Finalmente, a estrutura A teve uma taxa de acerto de 63%, o que aponta
a um direcionamento para a interpretação não-local, de acordo com o
predito: contextos mais longos levariam à interpretação não-local. Mas
interessantemente, não é uma predição nossa que o ouvinte pudesse
ouvir sentenças com duração mais longa e interpretá-las como local, o
que ocorreu em 36,5% dos casos.
Segundo nossas predições, as sentenças 1 deveriam apresentar
mais acertos. Vejamos os resultados no que concerne às gradações para
cada estrutura. As estruturas não-locais (A1, A2 e A3) obedecem a uma
ordenação de acertos, pois, embora todas sejam significativas, as mais
longas (A1 e A2) apresentam valor de significância menor que A3. Veja
que esta gradação é percebida mesmo na percentagem de acertos: A1
teve 72% de acento, A2 teve 61% e A3 teve 56% de acertos.
Nas gradações das sentenças locais que não permitem a
interpretação de small clause (B1, B2 e B3), essa ordenação não é
encontrada. B2 apresentou mais acertos que B1 e B3. No caso das
sentenças que permitiam small clause, todas as gradações de C (C1, C2
e C3) apresentaram acertos significativos, embora percentualmente C2
tenha sido a mais acertada – mas ressaltamos que havia apenas 2 sentenças
com esse tipo de estrutura. Nas gradações das sentenças locais como um
todo, ou seja, considerando tanto aquelas que permitem como as que não
permitem small clauses (B/C1, B/C2 e B/C3), o resultado foi um p-valor
significativo para todas, mas com uma direção oposta ao esperado: B/
C1 apresenta um p-valor maior do que B/C2 e B/C3.
1164
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
4.2 Por sentença
A Tabela 3 abaixo indica a proporção de acertos para cada
sentença, relacionando-as aos tipos de estrutura.
TABELA 3
Comparação da proporção de acertos segundo estrutura, para cada sentença
Teste para igualdade de proporções
Sentença
S1
S2
S3
S4
S5
S6
S7
S8
S9
Estrutura
Diferença entre as proporções
de acerto (IC95%)
A
0,17
B
(0,01; 0,32)
A
0,09
B
(-0,06; 0,24)
A
0,17
B
(0,02; 0,31)
A
-0,10
B
(-0,24; 0,04)
A
-0,11
B
(-0,26; 0,03)
A
0,43
B
(0,29; 0,58)
A
0,44
B
(0,31; 0,58)
A
-0,54
C
(-0,68; -0,41)
A
-0,38
C
(-0,52; -0,24)
p-valor
0,035
0,272
0,025
0,175
0,143
<0,001
<0,001
<0,001
<0,001
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1165
Como se observa, o fator ´sentença´ merece investigação, já que
algumas sentenças tiveram as leituras mais claramente identificadas do
que outras. Observou-se diferença significativa na comparação entre A
e B nas sentenças S1, S3, S6 e S7, sendo a frequência de acertos sempre
maior para A (não-local) do que para B (local). As sentenças S2, S4 e
S5 não apresentaram diferenças significativas – e no caso de S4 e S5,
houve mais acertos para as estruturas locais (B). Quando se compara A
e C (sentenças S8 e S9), a diferença também é significativa, mas aqui a
frequência de acertos é maior nas estruturas de C.
Lembramos que a ausência de significância na comparação de
A vs. B/C para cada sentença é justificada uma vez que esperamos que
os ouvintes oscilem entre acertos e erros para as respostas de B ou C.
Ou seja, não necessariamente deve haver diferença estatísticas entre os
erros/acertos das não-locais vs. locais.
A Tabela 4 considera, para cada sentença, as diferentes estruturas
e suas gradações.
TABELA 4
Frequência de acertos e erros conforme a sentença
para cada estrutura e gradações
Teste de proporções
Sentença
S1
Estrutura
Certo
Errado
p-valor
n
%
n
%
A
59
65,56
31
34,44
0,004
A1
23
76,67
7
23,33
0,006
A2
16
53,33
14
46,67
0,856
A3
20
66,67
10
33,33
0,100
B
44
48,89
46
51,11
0,961
B1
10
33,33
20
66,67
0,100
B2
19
63,33
11
36,67
0,201
B3
15
50,00
15
50,00
1,000
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
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Teste de proporções
Sentença
S2
S3
S4
Estrutura
Certo
Errado
p-valor
n
%
n
%
A
63
70,00
27
30,00
<0,001
A1
24
80,00
6
20,00
0,002
A2
27
90,00
3
10,00
<0,001
A3
12
40,00
18
60,00
0,361
B
55
61,11
35
38,89
0,045
B1
15
50,00
15
50,00
1,000
B2
20
66,67
10
33,33
0,100
B3
20
66,67
10
33,33
0,100
A
69
76,67
21
23,33
<0,001
A1
24
80,00
6
20,00
0,002
A2
25
83,33
5
16,67
<0,001
A3
20
66,67
10
33,33
0,100
B
54
60,00
36
40,00
0,073
B1
17
56,67
13
43,33
0,584
B2
18
60,00
12
40,00
0,361
B3
19
63,33
11
36,67
0,201
A
61
68,89
28
31,11
<0,001
A1
21
70,00
9
30,00
0,045
A2
22
73,33
8
26,67
0,018
A3
19
63,33
11
36,67
0,201
B
71
78,89
19
21,11
<0,001
B1
27
90,00
3
10,00
<0,001
B2
22
73,33
8
26,67
0,018
B3
22
73,33
8
26,67
0,018
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1167
Teste de proporções
Sentença
S5
S6
S7
Estrutura
Certo
Errado
p-valor
n
%
n
%
A
58
64,44
32
35,56
0,008
A1
23
76,67
7
23,33
0,006
A2
15
50,00
15
50,00
1,000
A3
20
66,67
10
33,33
0,100
B
68
75,56
22
24,44
<0,001
B1
22
73,33
8
26,67
0,018
B2
23
76,67
7
23,33
0,006
B3
23
76,67
7
23,33
0,006
A
62
68,89
28
31,11
<0,001
A1
25
83,33
5
16,67
<0,001
A2
22
73,33
8
26,67
0,018
A3
15
50,00
15
50,00
1,000
B
23
25,56
67
74,44
<0,001
B1
9
30,00
21
70,00
0,045
B2
6
20,00
24
80,00
0,002
B3
8
26,67
22
73,33
0,018
A
76
84,44
14
15,56
<0,001
A1
26
86,67
4
13,33
<0,001
A2
26
86,67
4
13,33
<0,001
A3
24
80,00
6
20,00
0,002
B
36
40,00
54
60,00
0,073
B1
10
33,33
20
66,67
0,100
B2
16
53,33
14
46,67
0,855
B3
10
33,33
20
66,67
0,100
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1168
Teste de proporções
Sentença
S8
S9
Estrutura
Certo
Errado
p-valor
n
%
n
%
A
23
25,56
67
74,44
<0,001
A1
12
40,00
18
60,00
0,361
A2
3
10,00
27
90,00
<0,001
A3
8
26,67
22
73,33
0,018
C
72
80,00
18
20,00
<0,001
C1
18
60,00
12
40,00
0,361
C2
27
90,00
3
10,00
<0,001
C3
27
90,00
3
10,00
<0,001
A
42
46,67
48
53,33
0,598
A1
18
60,00
12
40,00
0,361
A2
10
33,33
20
66,67
0,100
A3
14
46,67
16
53,33
0,855
C
76
84,44
14
15,56
<0,001
C1
25
83,33
5
16,67
<0,001
C2
27
90,00
3
10,00
<0,001
C3
24
80,00
6
20,00
0,002
Quando se estratifica a frequência de acertos por estrutura para
cada sentença, observa-se que com exceção das sentenças S8 e S9 todas
apresentam valores significativos e com mais acertos que erros nas
estruturas de A. É interessante notar que essa significância se encontra,
na maioria das vezes nas sentenças A1 e A2 (que são as mais longas).
Não houve nenhum caso em S1 a S7 de que uma sentença menos longa
(A3) tenha sido significativa e suas versões mais longas não. No caso
das sentenças S8 e S9, o comportamento foi diferente: S8 apresentou A
significativo (que só ocorreu em A2), e com maior número de erros do
que de acertos, enquanto que para S9 nenhum resultado foi significativo
nas gradações de A.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1169
Os resultados encontrados para as gradações das versões B não
foram tão claros. S1, S3 e S7 não apresentam diferenças significativas
em nenhuma das gradações. No caso de S2, apenas a frequência geral de
acertos da gradação foi significativa. As sentenças S4 e S5 apresentam
valores significativos em todas as gradações. A sentença 6 apresenta um
padrão diferente já que todas as gradações foram significativas, porém,
os falantes erraram mais em todos estes os casos.
Nas gradações das sentenças C, que permitem small clause (S8
e S9), com exceção de C1 na S8, todos os valores foram significativos.
Do mesmo modo que nas sentenças não-locais, não houve nenhum caso
em que as gradações 2 ou 3 tenham sido significativas e as respectivas
gradações mais curtas (1 ou 2) não.
Considerando apenas os valores das estruturas gerais, nas
estruturas de A (não-local longas), com exceção das sentenças S8 e
S9 (que permitem interpretação de small clause), todas apresentam
p-valor significativo com acertos em direção ao esperado (não-local). A
sentença S8 apresenta p-valor significativo, mas para números de erros
(ou seja, mesmo quando essa sentença é longa, os ouvintes preferem a
interpretação local). Já a sentença S9 não apresenta p-valor significativo
para A, indicando que os ouvintes oscilam nas escolhas de respostas para
essa sentença.
A respeito da estrutura geral B, as sentenças S1, S3 e S7 não
apresentaram significância estatística. Nas sentenças S2, S4 e S5, assim
como nas sentenças S8 e S9, que permitem small clause, o p-valor é
significativo para o número de acertos. A sentença S6, diferentemente,
apresenta significância em B, mas para o número de erros, ou seja, mesmo
quando a sentença é curta, os falantes preferem a interpretação não-local.
5 Discussão
Nossa primeira predição, dado os resultados de Angelo e Santos
(2015), era de que as sentenças em que o trecho analisado foi alongado pelos
falantes na produção seriam interpretadas como aposição não-local (A).
Considerando os acertos e erros conforme a estrutura, vimos
que os acertos de A foram significativamente maiores que os acertos de
B. Ainda, é interessante notar que esse resultado se manteve não só na
estrutura geral de A, mas em todas as suas gradações, sendo A3 (mais
curta entre as longas) com menor p-valor que A1 e A2.
1170
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
Ao mesmo tempo, para os resultados por sentenças, à exceção
das sentenças S8 e S9, todas apresentaram acertos significativos nas
versões A: ou seja, quando os ouvintes escutaram as sentenças com
alongamento, de fato preferiram a versão A. Estes resultados também
vão ao encontro das propostas de que há alongamento quanto maior for
o domínio prosódico (CHO; KEATING, 2001; KEATING et al., 2003).14
A segunda predição foi levantada esperando que o processo de
alongamento exista como opcional no PB. Assim, haveria uma variação
na interpretação (entre aposição não-local e local) das sentenças em que
não houvesse alongamento: curtas seriam igualmente interpretadas como
local e não-local.
Cabe analisar, primeiramente, os acertos e erros por estrutura
(sem contrapô-las às interpretações opostas). No geral, todas as estruturas
foram mais acertadas que erradas. Como vimos na Tabela 2, os acertos
foram significativos em todas as gradações de duração de A, assim como
nas gradações de C. Interessantemente, em B só houve significância no
valor geral e na segunda gradação, mas vale ressaltar que os p-valores
não foram tão baixos como em A e C. Assim, as gradações em que não
houve significância de acertos em B confirmam a predição (que previa
que os acertos seriam iguais a 50%, ou seja, oscilação de respostas).
Quando unimos B/C há significância, mas pode ser pela influência dos
altos índices de significância de C.
Pela interação com a HPI, esperávamos que, em caso de oscilação,
os ouvintes optassem pela interpretação local. No entanto, os resultados
de B não confirmam esta predição, pois quando não houve alongamento,
os ouvintes nem sempre responderam em direção à interpretação local
(como deveria ser caso o alongamento fosse obrigatório), em B1 e B3 há
variação nas respostas; no geral (B), o valor é significativo, mas menor
que em A.
Olhando para as sentenças, encontramos dois comportamentos.
As estruturas curtas das sentenças S1, S3 e S7 não apresentaram
significância. As respostas para as versões curtas (B) ficaram na média
de 50% de acertos e erros. Conforme a Tabela 3, vimos que há muito
mais oscilações nas respostas de B do que nas A, evidenciando que o
alongamento parece ser opcional e, por isso, há variações de respostas
Perceptualmente vão contra os achados de Santos e Leal (2008), que não encontraram
alongamento no PB em sentenças sem ambiguidade, em um experimento de produção.
14
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1171
nas versões curtas ouvidas, corroborando a sugestão de opcionalidade
do processo de Angelo e Santos (2015).
Porém, outras sentenças apresentaram significância de acertos
(S2, S4, S5, S8 e S9) da interpretação B, corroborando Magalhães e
Maia (2006), pois na ausência de pistas prosódicas, mais especificamente
quando não houve alongamento, além das oscilações de respostas,
observamos uma preferência pela interpretação de aposição local em
4 das 9 sentenças.15 Fodor (2002) propõe que esses princípios podem
não ser cumpridos na leitura se houver pistas prosódicas da língua
que direcionem à outra interpretação. Uma vez que a autora compara
a prosódia implícita aos padrões de prosódia explícita, mesmo nosso
experimento não se tratando de leitura (mas audição), podemos inferir que
a ausência de alongamento é uma ausência de pista prosódica explícita,
o que direciona o falante ao default local, corroborando Frazier (1979)
e Magalhães e Maia (2006).
Para a interpretação B, fica por ser explicada S6 (p-valor <
0,001, mas com relação ao número de erros), que mesmo quando curta,
teve preferência por interpretação não-local.16 Este resultado vai contra
as expectativas de uma preferência por aposição local na ausência de
pistas prosódicas, nos termos de Magalhães e Maia (2006), mas não
contra a proposta fonológica aqui apresentada, pois a interpretação
não-local neste caso é possível já que o alongamento é opcional. Porém,
esse valor de ‘erro’ foi significativo, diferentemente dos outros casos
em que houve variação ou preferência pelas locais. Embora nenhum
ouvinte tenha reportado problema de interpretação ou pragmático com
essa sentença, nos perguntamos se o ouvinte relacionou o AP ‘sozinho’
ao DP ‘o repórter’, pois seria mais provável pragmaticamente que o
repórter estivesse sozinho. Alternativamente, é possível que, por ser
a única sentença em que havia 3 personagens nos desenhos, o ouvinte
ficasse mais confuso.
Um dos pareceristas apontou que S2, S4, S5 e S8 podem ser enviesadas em termos
de conhecimento de mundo. Embora o parecerista explicite sua leitura apenas para
S2, parece que ele entende que a interpretação nestes casos, por razões pragmáticas, é
sempre local. Quando observamos os resultados das gradações na Tabela 4, no entanto,
as únicas sentenças com clara direção para a aposição local são S5 e S8. No caso de
S8, há a explicação alternativa, desenvolvida na seção 5.1.
16
Já as versões longas de S6 se comportaram como o esperado, ou seja, também foram
interpretadas como não-local.
15
1172
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
As sentenças com C, ambíguas entre leitura de adjunto ou small
clause, apresentaram preferência significativa pela aposição local,
podendo indicar apenas a regularidade do princípio de Aposição Local.
No entanto, devemos nos perguntar se a estrutura sintática poderia ser
uma explicação alternativa para os resultados.
5.1 As small clauses, a fonologia prosódica e sentenças ambíguas
Como vimos, as sentenças que permitiam apenas interpretação
local por adjunto apresentaram um comportamento diferente daquelas
que foram identificadas como ambíguas quanto a interpretação local
ser por adjunto ou small clause. S1 a S7 (A) foram significativamente
interpretadas como não-local. S8 (A) foram significativamente preferidas
com interpretações locais; em S9 houve oscilação nas respostas.
Interessa-nos que as duas estruturas sintáticas locais são diferentes.
Segundo Foltran e Mioto (2007), em uma estrutura de adjunção o adjetivo
está dentro de um DP, onde é adjunto de um sintagma nominal (NP) – cf.
(17a). No caso das small clauses, o adjetivo é um predicado (predicativo)
de um argumento. Se o argumento é um DP, o adjetivo não pertence a
ele, mas forma com ele uma small clause – cf. (17b).17
17. A mãe encontrou a filha suada.
a. Adjunção: [DP a filha suada]
17
b. Small clause: [SC a filha suada]
Para uma proposta de análise distinta das small clauses, cf. Starke (1995).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
1173
Em (17a) ‘suada’ é complemento de ‘filha’ (ambos derivam de
um NP). Em (17b), o adjetivo ‘suada’ não pende de um NP, mas de uma
outra categoria (SC). Neste caso, o DP é o sujeito e o AP é o predicado
da SC (small clause).
Tendo estas duas estruturas em mente, voltemos ao algoritmo
de reestruturação de Nespor e Vogel: os domínios de frase fonológica
consistem de um grupo clítico que contém um núcleo lexical X e todos
os outros grupos clíticos no seu lado não recursivo (à esquerda em PB)
até o próximo grupo clítico fora da projeção máxima de X.
A proposta de Nespor e Vogel é de 1986, quando não havia
distinção na Teoria X-Barra entre complemento e adjunto e, da mesma
forma, NP era a projeção lexical máxima ao invés de DP.18 Hoje, há
trabalhos que mostram que adjuntos funcionam como complementos
(e.g. SANTOS, 2003) e diversos trabalhos reveem Nespor e Vogel
(GUIMARÃES, 1997; FROTA, 2000; VIGÁRIO, 2003) à luz dos
avanços em sintaxe.
Como se nota abaixo, há um diferente mapeamento nos casos
de aposição local. Tomemos a sentença (17), que pode ter interpretação
por adjunção ou predicativa. No caso de aposição local por atributo, a
restruturação ocorre, pois, ‘suada’ é complemento de ‘filha’ (cf. (18a)).
Porém, no caso das small clauses, a reestruturação não pode ocorrer, pois
embora a interpretação seja local, em sua estrutura sintática o adjetivo
não está inserido na projeção máxima do nome. Não estando dentro da
projeção máxima do nome (NP), ele não pode ser reestruturado com
este – cf. (18b).19 Por esta organização, há uma fronteira prosódica entre
‘filha’ e ‘suada’, o que nos leva a esperar que a duração seja a mesma
que nos casos de aposição não-local (19):
Cf. Chomsky (1970, 1986) para a Teoria X-Barra em vigor na época.
Acrescentamos que a reestruturação é bloqueada tanto se forem uma projeção lexical
(STOWELL, 1983) quanto funcional (STARKE, 1995). Se a SC for uma projeção
lexical, sua estrutura é similar à de adjunção, porém, ainda assim, ‘suada’ não é
complemento de ‘filha’ e isto é o que bloqueia a reestruturação. Por outro lado, se SC for
uma projeção funcional, a reestruturação também não ocorre, pois, a SC comporia um
outro domínio (já que a frase fonológica de Nespor e Vogel acontece no domínio NP).
18
19
1174
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
18. aposição local
a. adjunção: [a mãe Φ] [encontrou Φ] [a filha suada Φreestruturada]
b. small clause: [a mãe Φ] [encontrou Φ] [a filha Φ] [suada Φ]
19. aposição não-local: [a mãe] [encontrou a filha Φreestruturada] [suada Φ]
No caso de aposição não-local, ‘a filha’ pode ser reestruturado
com o verbo, já que é o primeiro complemento do verbo (e formado
por um único C). No entanto, a estrutura de small clause impede esta
reestruturação, já que o complemento do verbo é o SC ‘a filha suada’:
embora ‘suada’ não seja adjunto de filha, o SC que é complemento
do verbo é formado por dois sintagmas (cf. a estrutura em (18b)).
Salientamos, no entanto, que esta diferença não traz consequências para
o contexto que estamos analisando, já que podemos resumir as fronteiras
dos domínios no contexto relevante da seguinte maneira: (i) aposição
local: ‘filha’ em fronteira de frase fonológica; (ii) aposição local por
adjunção: ‘filha’ dentro de frase fonológica; (iii) aposição local por SC:
‘filha’ em fronteira de frase fonológica.20
Na discussão das predições, não tratamos das sentenças com
possibilidade de leitura por small clause e, para analisar estes resultados,
lembramos que sentenças que permitem small clause podem permitir
também a interpretação de adjunção, ou seja, não há como controlar a
escolha sintática no processamento do falante em nosso experimento
e, por isso, essas sentenças foram olhadas com atenção especial nesta
análise.
Voltemo-nos então para a discussão do alongamento, lembrando
que estamos mais levantando hipóteses a serem aprofundadas, já que
havia apenas 2 sentenças deste tipo em nosso corpus. Se apenas a
questão da aposição local estiver em jogo (e estruturas predicativas forem
Note-se que há diferença entre aposição não-local e aposição local por SC no
contexto verbo-nome 2: em aposição não-local, o verbo encontra-se dentro de uma
frase fonológica reestruturada com o N2; em aposição local por adjunção, o verbo
está em fronteira de frase fonológica (já que o N2 adjungiu-se ao adjetivo e então não
pode se juntar ao verbo); e em aposição local por SC, o verbo está em fronteira de
frase fonológica (já que não pode se reestruturar com o N2 porque este está dentro da
small clause com o predicativo (e para o complemento se reestruturar com o núcleo
ele deve ser formado por um único C).
20
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1175
interpretadas da mesma forma que estruturas de adjunção), o esperado
é que nas versões curtas continue havendo oscilações ou preferência
local em S8 e S9, pois, como o processo de alongamento é opcional, a
interpretação das curtas pode corresponder a qualquer estrutura (nãolocal, small clause ou adjunção). Por outro lado, se levarmos em conta
apenas o algoritmo de construção de frases fonológicas de Nespor e Vogel
(1986), espera-se que as versões longas das sentenças que permitem
small clause (S8 e S9), mesmo produzidas em contexto de interpretação
não-local, tenham respostas que direcionem também para a interpretação
local. Levando em conta apenas os domínios prosódicos, não há porque
se esperar uma tendência para nenhuma das respostas – acerto (o que
significaria seleção da estrutura não-local) ou erro (o que significaria
seleção da estrutura local de small clause ou adjunção).
Ainda mais interessante se torna a expectativa de acertos em se
assumindo que o Princípio de Aposição Local (FRAZIER, 1979) interage
com a estruturação prosódica. Neste caso, temos que a expectativa de que
como small clause e não-local permitem alongamento, e small clause
é uma aposição local, sentenças mais longas deveriam tender a uma
preferência por interpretação local.21
Na comparação por estrutura, os acertos de C foram
significativamente maiores. Isso nos leva a duas interpretações: Ou os
acertos de A para as sentenças small clause foram poucos, ou os acertos
de C foram muitos. Na primeira possibilidade, pode ser que ouvintes
tenham escutado as longas e não acertaram por ser possível o alongamento
com interpretação local (a de small clause). Na segunda possibilidade,
as sentenças curtas direcionariam à interpretação local em grande parte
das vezes, o que indicaria que, estranhamente os ouvintes não acessam
a estrutura de small clause, ou que, interessantemente, as leituras de
adjunção desses casos são obrigatoriamente curtas, diferentemente das
demais estruturas de apenas adjunção (B) – nas quais verificamos que
pode haver variação. Neste caso, talvez isso ocorra justamente para
diferenciar interpretação local de small clause (que deveria ser longa) da
de adjunção (sempre curta). Em outras palavras, para as versões curtas,
O caso ideal de análise seria aquele em que as sentenças pudessem ser apenas de
aposição não-local vs. sentenças em que somente a estrutura de small clause fosse
permitida. Infelizmente, não é este o caso para as nossas sentenças, mas fica aqui a
sugestão para trabalhos futuros.
21
1176
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
é possível que a preferência local tenha ocorrido como em algumas
sentenças B, porém; como em ambos os casos que permitem small clause
o p-valor foi < 0,001 para o acerto (ouviram curta e preferiram local),
nos perguntamos se seria o caso de, por haver mais de uma estrutura
para interpretação local, o processo de alongamento ser obrigatório para
diferenciá-las, ao passo que não o é na interpretação não-local uma vez
que o falante também pode lançar mão de outras estratégicas, como
ênfase.
Sobre as versões longas dessas sentenças, porém, a sentença S8
apresentou p-valor significativo para números de erros, ou seja, mesmo
quando essa sentença é longa, os ouvintes preferiram a interpretação
local. Já a sentença S9 não apresentou p-valor significativo para A,
sendo o número de erros e acertos bem próximos a 50%. Na análise por
estruturas, questionou-se se os acertos em C foram significativamente
maiores que A porque houve muitos erros em A ou porque as C foram
mais acertadas. De fato, olhando apenas para as estruturas de S8 e S9,
vemos que houve uma distorção do padrão nas versões longas dessas
sentenças. Em S8, os ouvintes preferiram C independentemente da
duração. Em S9, eles preferiram C ao ouvir sentenças curtas, mas
variaram nas respostas ao ouvir sentenças longas. Se mesmo ouvindo
sentenças longas, os falantes optaram pelas versões curtas, isto é forte
indício de que há uma interpretação local com alongamento, devido à
fronteira de frase fonológica entre o objeto e o atributo – já que a estrutura
por small clause bloqueia a reestruturação.
Ao que tudo indica, o bloqueio da reestruturação em C faz com
que as sentenças S8 e S9 longas sejam interpretadas também como
local, o que não pode acontecer (e não aconteceu) com as sentenças que
permitem apenas estrutura de adjunção. No entanto, duas sentenças são
pouco para nos permitir fazer afirmações mais contundentes e sugerimos
que um estudo futuro analise apenas sentenças desse tipo em contextos
em que haja certeza da estrutura lida/interpretada pelo falante/ouvinte.
6 Considerações Finais
O objetivo deste artigo era fornecer uma reanálise do processo
de alongamento em fronteira de frase fonológica em contexto de
desambiguação de sentenças do tipo SN1-V-SN2-Atributo, buscando
trazer mais luzes sobre a questão da interação entre os componentes
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gramaticais. Assumindo que essa interação se dá indiretamente, há
na fonologia um componente interpretativo que mapeia informações
de outros componentes (no caso, a Sintaxe) em níveis e domínios
fonológicos (SELKIRK, 1984; NESPOR; VOGEL, 1986).
Tendo em conta resultados translinguísticos a respeito da
realização fonética dos segmentos em fronteiras prosódicas em diferentes
línguas, em especial do alongamento na produção de segmentos em
fronteiras de domínios prosódicos a depender do nível destes domínios,
investigamos como o alongamento poderia ser utilizado para distinguir
entre interpretações de sentenças estruturalmente ambíguas, buscando
evidências de que o alongamento, quando realizado, seria devido a uma
fronteira prosódica existente, percebida pelo ouvinte.
Por meio da aplicação de um experimento de picture matching,
buscamos interpretar as escolhas de significado de sentenças ambíguas
levando em conta também gradações no alongamento. Os resultados, de
forma geral, corroboraram as predições levantadas. Mais do que uma
tendência, encontramos que o processo de alongamento acontece em PB
em contexto de desambiguação de sentenças do tipo SN1-Verbo-SN2Atributo: As estruturas não-locais apresentaram números significativos
de acertos e, por sentenças, com exceção das que permitiam small
clauses, as versões longas foram significativamente interpretadas como
de aposição não-local.
Observamos que o processo nem sempre é necessário para
que haja interpretações não-locais (ou seja, às vezes, mesmo ouvindo
sentenças curtas, os ouvintes selecionavam a resposta não-local),
assegurando, assim, que este se trata de um processo opcional na língua,
mas favorecido em situações de necessidade de desambiguação de
sentenças.
No caso das interpretações locais, os resultados apontaram para
a significância de acertos, embora não tão marcantes quanto para as
interpretações não-locais. Além disso, não foi encontrada significância
estatística para o acerto na análise das diferentes gradações de duração
(B1, B2, B3). Olhando para as sentenças separadamente, parte dos dados
foram significativos ao acerto, corroborando o Princípio de Aposição
Local proposto para o PB em conformidade com o princípio de Late
Closure, de Frazier (1979) (cf. MAGALHÃES; MAIA 2006), segundo
o qual uma preferência pelo default local ocorre na ausência de pistas
prosódicas.
1178
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1143-1182, 2017
Interessantemente, duas sentenças foram identificas pelos
informantes como podendo ter 3 interpretações, e por isso foram
codificadas separadamente. Trata-se de sentenças em que a aposição local
pode-se dar por adjunção ou por small clauses. Por serem ambas locais, a
expectativa é que tivessem um mesmo comportamento. No entanto, não
foi o que ocorreu. As versões longas foram interpretadas como locais.
Nossa proposta é de que, embora com interpretação local, o mapeamento
prosódico (decorrente da estrutura sintática) tem papel preponderante nas
interpretações. Especificamente, estruturas de small clause não podem
ter o atributo reestruturado ao N2. Assim, estando em frases fonológicas
diferentes, elas apresentam a mesma estrutura prosódica que sentenças de
interpretação não-local: os falantes identificavam o alongamento e tinham
duas possibilidades de escolha – a intepretação não-local ou a local por
small clause. Nestes casos, os ouvintes selecionavam a interpretação local
por HPI. Em outras palavras, não se trata apenas de uma preferência por
aposição local, mas por uma interação entre o mapeamento prosódico e
Princípio de Aposição Local.
Estes resultados são interessantes, mas como a terceira estrutura
só foi identificada post-hoc, não houve um balanço entre a quantidade
de estruturas com aposição local (small clause vs. adjunção) e seus
resultados devem ser tomados como preliminares e indicativos de que
mais estudos devam ser conduzidos, controlando-se não só aposição,
mas tipo de estrutura sintática.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
Representation and Processing of the Inflected Infinitive
in Brazilian Portuguese: an eye-tracking study
Representação e processamento dos infinitivos flexionados
em português brasileiro: um estudo com rastreamento ocular
Marcello Modesto
Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo / Brasil
modesto@usp.br
Marcus Maia
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
maia@ufrj.br
Abstract: In this paper, we examine the syntactic representation and
processing characteristics of null subjects of inflected nonfinite clauses in
Brazilian Portuguese (BP). After reviewing some literature on generativesyntax Control and discussing the peculiarities of BP diachrony, we present
an eye-tracking experiment which proves that a control interpretation of
null subjects of inflected nonfinite clauses is not only psychologically
real in BP, but it is actually the preferred option in a task in which a
strict comparison with arbitrary PRO is entertained. We then discuss
the implications of the experiment to syntactic theory and the analysis
of Control and speculate on the role of third factor explanations in the
architecture of human language.
Keywords: generative syntax; sentence processing; nonfinite control;
inflected infinitives; Brazilian Portuguese; eye-tracking.
Resumo: Este estudo examina a representação sintática e as características
de processamento de sujeitos nulos de orações infinitivas flexionadas em
português brasileiro (PB). Após revisão de parte da literatura atual sobre
a Teoria do Controle e discussão das peculiaridades da diacronia do
PB, o artigo apresenta um experimento envolvendo rastreamento ocular
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1183-1224
1184
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
que comprova que a interpretação controlada do sujeito da infinitiva
flexionada é não apenas real psicologicamente, mas também a opção
preferida numa tarefa em que se compara a leitura controlada à leitura
arbitrária. Discute-se, então, as implicações desse experimento com
relação à teoria sintática e à Análise do Controle e especula-se sobre o
papel de explicações com base no conceito de terceiro fator na arquitetura
da linguagem humana.
Palavras-chave: sintaxe gerativa; processamento de frases; controle não
finito; infinitivos flexionados; português brasileiro; rastreamento ocular.
Recebido em: 7 de dezembro de 2017.
Aprovado em: 17 de fevereiro de 2017.
1 Introduction: Brazilian Portuguese and nonfinite inflection
The purpose of this study is to investigate the syntactic
representation and the psycholinguistic processing of different readings
(controlled, arbitrary and referential) of null subjects of inflected nonfinite
complement clauses in Brazilian Portuguese (BP). Portuguese (both
the European and the Brazilian varieties) is known for having nonfinite
inflection (cf. SILVA NETTO, 1950; MAURER, 1968; QUICOLI, 1996;
LEMLE, 1984; NEGRÃO, 1986; RAPOSO, 1987, 1989; LIGHTFOOT,
1991; AMBAR, 1994, 1998; MADEIRA, 1994, SITARIDOU, 2002;
MILLER, 2002; SCIDA, 2004; NUNES, 2008; MODESTO, 2011,
2016a). However, nonfinite inflection has remained an under-researched
characteristic of the language (especially w.r.t. the Brazilian variety)
until Modesto (2010) discussed partial control with nonfinite inflection
in BP. Modesto’s article fed a lot of research on (partial) control
and restructuring (LANDAU, 2013, 2015; GRANO, 2012, 2015;
WURMBRAND, 2015; MODESTO, 2016a, 2016b) and motivated a
return to the study of nonfinite inflection in EP (cf. SHEEHAN, 2014,
2016; GONÇALVES; SANTOS; DUARTE, 2014). In fact, such latter
works attested the judgment-data used in Modesto (2010), i.e. the use
of nonfinite inflection giving rise to partial control interpretations, in
spoken EP and substandard EP. Yet, Modesto’s work has been received
by some Brazilian linguists with skepticism.
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1185
The views advocated and experimentally confirmed in this work
(i.e. that nonfinite inflection is used in BP and that its normal interpretation
in complement clauses is a controlled one) contrast sharply with the views
expressed in Rodrigues and Hornstein (2013). In fact, Modesto (2010) was
a reply to Boeckx and Hornstein (2006), which used data from Rodrigues
(2004) to show that a theory of control involving syntactic movement (as
in HORNSTEIN, 1999) could not explain several facts about BP syntax.
However, as argued by Modesto (2010) (and later in 2016a), Rodrigues’
data was both problematic and incomplete, because it did not include data
on nonfinite inflection. When taken into consideration, nonfinite inflection
presents compelling evidence against the hypothesis that the Movement
Theory of Control (MTC) could properly explain all the uses of null
subjects of finite and nonfinite clauses in BP. Since part of the theoretical
discussion between Modesto and the MTC proponents involved different
grammaticality judgments of the relevant data, we have created an eyetracking experiment that can indicate to us the degree of acceptability
(or surprise) of inflected infinitives used in three distinct manners (i.e.
having distinct antecedents) by BP speakers (college students in Rio de
Janeiro). The experiment presented and discussed in section 3 below
partially confirms Modesto’s (2010, 2016a) claims that Brazilians are not
surprised with inflected infinitives in complement clauses and have no
problem assigning a control reading to a null category in subject position
of an inflected nonfinite complement clause. The referential reading, in
which a distant binder is taken as the antecedent of the null category,
was thought to be ungrammatical; but the arbitrary interpretation was
considered acceptable by Modesto. The examples below seem to indicate
that Modesto was correct; however, when tested, referential readings
were read faster than arbitrary readings, counter-intuitively:
(1)
a. Depois que as crianças foram encontradas,
after
that the children were found
o casal
percebeu terem
feito besteira.
the couple realized have.inf.pl done mistake
‘After the children were found, the couple concluded that they made/had made
a mistake.’
1186
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
b. Depois da prefeitura podar as árvores,
After the city.hall prune the trees
o casal percebeu terem
feito besteira.
the couple realized have.inf.pl done mistake
‘After the city hall pruned the trees, the couple concluded that
they made/had made a mistake.’
Example (1a) has a preferable interpretation in which the
couple realized that letting the children into the woods (for instance)
was a mistake they made. That is the control interpretation. Would it be
possible to have the interpretation in which the couple realized that the
children made a mistake? That would be the referential interpretation.
Finally, it would be possible to have an interpretation in which the couple
realized that some arbitrarily defined group of people made a mistake.
That reading is easier to get in (1b): after the city hall people pruned
the trees we realized they had made a mistake; but it is also possible in
(1a), even though it is not the preferred interpretation: after the children
were found, the couple realized that someone made a mistake. We will
come back to discussing these readings when analyzing the experimental
data, in section 4.
The relevance of nonfinite inflection data was harshly criticized
by Rodrigues and Hornstein (2013). For clarity, we provide here a
concise recap of the dispute. To make his case against movement
analyses of control, including the MTC, Modesto (2010) used examples
of nonfinite inflection giving rise to partial control (PC) interpretations.
Such constructions are assumedly rare in speech, but PC is not the only
context of use of inflected infinitives in BP, and not the most common
either. Other contexts of use are several kinds of adjunct clauses, subjective
clauses and complement clauses of several classes of predicates and
nominals (see MODESTO, 2016a for a fuller description). The number
of contexts that either allow or require nonfinite inflection is so high as to
make nonfinite inflection a salient characteristic of BP, as already noted by
Lightfoot (1991, p. 99-102; a.o.). Rodrigues and Hornstein (2013, R&H
from now on), on the other hand, consider the use of inflected infinitives
to be “scarce” and not a feature of Brazilian’s internal grammar (or core
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1187
grammar), but something learnt in school.1 However, concepts like core
and peripheric grammar are muddy, at best. One thing that could be
considered peripheric (if the concept could be made clear) in BP spoken
grammar is the use of 3rd person accusative clitics, a kind of relic, not
really used except when one is putting on airs or being very formal in
their speech. Third person accusative clitics, which exist in modern EP,
are normally not used in spoken BP, having been substituted by full (nonclitic) nominative pronouns or by null objects.2 Although we Brazilians
learn (in school or when reading literature) how to use those clitics, we
almost never use them. When we do use them, they have a clear bookish
ring to them. That is not the case with inflected infinitives. At all. Inflection
in BP may not be a requirement for every speaker, but it definitely is a
grammatical possibility for all speakers. Inflection (nonfinite and finite) is
still an active ingredient of BP grammar, or in other words, still belongs
to BP as a linguistic system (an I-language). In a sense, R&H equate
nonfinite inflection to 3p. accusative clitics, because both would be the
product of schooling and reading. However, nonfinite inflection is nothing
like accusative clitics in BP: whereas the use of nominative-like full
pronouns in accusative position has become the social norm (see example
(2a)), even among educated people, (2b) on the other hand is frowned
upon, since it involves lack of subject-verb agreement, something that
has been preserved in the speech of most BP speakers (especially in the
big cities, by white people, etc.). It does not matter if the clause is finite
R&H cite Pires and Rothman (2010) as saying that “the majority of Brazilian
Portuguese speakers do not acquire inflected infinitives via an early native acquisition
process but rather via late exposure to the standard dialect at school.” However,
Rothman, Duarte, Pires and Santos (2013, p. 7) say textually that there are “standard
BP speakers”: “inflected infinitives […] are also found in adult BP, something expected
if they correspond to a property of standard BP and if some families are speakers of the
standard variety or switch between their colloquial dialect and standard BP (this might
indeed explain the production of one inflected infinitive at 3;7 by A.C).” Although
Rothman, Duarte, Pires and Santos do say that inflected infinitives are “limited” in the
quote above, it is unclear in what sense. In the sense that only part of the population
uses the paradigm of nonfinite inflection, then yes, the use of inflected infinitives is
limited (to that population). However, the use of inflected infinitives (by that population
that uses them) is not limited in any sense.
2
See Cyrino and Lopes (2016) and Cyrino (2001) for description of usage and analyses
of null objects in BP.
1
1188
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or nonfinite, BP seems to require subject-verb agreement. Therefore,
Brazilians do hear infinitives inflecting all the time at work, in television,
radio and the internet, whether they use the inflection themselves or not.
Brazilian speakers normally accept as grammatical both versions (b-c)
below, and react to them in different manners, given their sociolinguistic
background (as discussed in section 2 below). More inflecting speakers
will tend to accept (2c) better than (2b), less inflecting speakers will favor
(2b) over (2c).
(2)
a. Eu vi ela ontem.
I saw her yesterday
‘I saw her yesterday.’
b. Eu fico contente de vocês ficar
aqui.
I stay happy of you.pl stay.inf.Ø here.
‘I am glad you guys stay here/are staying here.’
c. Eu fico contente de vocês ficarem aqui.
I stay happy
of you.pl stay.inf.pl here.
‘I am glad you guys stay here/are staying here.’
R&H’s argumentation departs from the fact that nonfinite
inflection is not present in the speech of a number of Brazilian speakers,
which would then make it a syntactic relic, similarly to third person
accusative clitics. However, R&H depart from a wrong premise in
supposing that BP, considered as an I-language, equals “popular BP”,
the norm spoken in rural areas of Brazil (see GUY, 1981).3 In reality,
the fact that there are variants of BP in which nonfinite inflection has no
phonological realization may be of no consequence for linguistic analysis.
As seen above, (2b-c) have a complementary sociolinguistic behavior:
there are speakers who tend to accept the variant with inflection (2c) better
than the one without; and there are speakers, on the other hand, who tend
to accept/produce the variant with no inflection (2b). Socio-political and
historical facts in Brazil lead one to expect there to be a group of Brazilian
speakers to which there would be no difference in grammaticality between
3
See also section 2, where the terms “popular” and “standard” are discussed.
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1189
(2b-c), just restrictions of sociolinguistic nature in their use (formality,
etc.) related to the social norm. What matters is that, whether inflecting
the verb or not, all BP speakers license overt subjects in the same nonfinite
contexts (as shown in (2) and (3)), which suggests they have the same
grammar. So, contrary to what R&H assumed, it is not the case that BP
speakers have an internalized system with no nonfinite inflection; it is
actually the case that all BP have nonfinite agreement, though some
speakers have null or zero morphemes to mark such inflection. At least,
that would be the simplest explanation for the licensing of overt subjects
in contexts like (3b). The form in (3b) is socially stigmatized, which
motivates the use of (3a) even in colloquial registers which, again, leads
to the conclusion that sentences like (3a) are very common in BP. In fact,
many sociolinguists are pointing out an increase in the use of (verbal and
nominal) inflection in the last decades in Brazil (cf. LUCCHESI, 2012;
OUSHIRO, 2015; SCHERRE; NARO, 2006).
(3)
a. Eu prefiro elas ficarem aqui comigo do que
I
lá com o pai.
prefer they be.inf.pl here with.me of than there with the father
‘I’d rather they stay here with me than with their father.’
b. Eu prefiro elas ficar
I
aqui comigo do que
lá com o pai.
prefer they be.inf.Ø here with.me of than there with the father
‘I’d rather they stay here with me than with their father.’
Overt inflection is not necessary in BP to license overt nominative
nonfinite subjects, which means that all speakers (those who use overt
inflection more than do not, and those who do not use overt inflection more
frequently than they do) have the same internalized grammar, even though
there is a lot of social variance. It is then paramount to investigate how
inflection is actually used in BP. In what follows, we will be concerned
with investigating which syntactic null category occupies the subject
position of nonfinite inflected complement clauses in BP and EP. The
possible analyses are described, in traditional generative-syntax terms,
in (4) below. The pro analysis (4a) takes nonfinite inflection as able to
license and identify a null pronominal with independent reference (as well
as overt DPs). Therefore, the null subject position may refer to a distant
(in terms of c-command) antecedent, or even to have no syntactic binder
at all. This analysis seems to account for the behavior of complements of
1190
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propositional predicates such as sugerir (to suggest), pensar (to think),
acreditar (to believe) in EP, (cf. RAPOSO, 1987; LANDAU, 2015;
SHEEHAN, 2016) and the corresponding examples in (5).
The PRO analysis, in (4b), however PRO may be analyzed,
takes subjects of inflected nonfinite verbs to be controlled (by normal
rules of syntactic construal). Such analysis would be suitable to explain
the interpretations of the null subject in the complement of desiderative
predicates in EP (per SHEEHAN, 2016), and in the complement of any
partial control predicate in BP (per MODESTO, 2010), see examples in
(6). Regarding BP, the subject of an inflected nonfinite complement is
either controlled (when null) or overt.4
Finally, the proarb analysis (4c) would explain the interpretation of
null subjects with arbitrary interpretation, such as the ones in the examples
in (7). According to R&H, the subject of nonfinite clauses in BP would
be either like (4a) or (4c), whereas Modesto (2010, 2016a) argues that
only (4b) and (4c) are possible in spoken BP. Our experiment shows that
structure (4b) is definitely grammatical in BP. It also shows, surprisingly,
that the referential reading is less problematic than the arbitrary reading.
We will propose a syntactic explanation for that in section 4 below.
(4)
a. DP1 control predicate [CP pro2 T-tense,+agr v ]
b. DP1 control predicate [CP PRO1 T-tense,+agr v]
c. DP1 control predicate [CP proarb T-tense,+agr v]
(5)
a. %A tua tia1 sugeriu pro2 encontrarmo-nos, mas sem ela1 para atrapalhar. (EP)
the your aunt suggested meet.inf.1pl refl but without her to get.in.the.way
‘Your aunt suggested that we meet without her getting in the way.’
b. Eu penso/lamento [terem
(os deputados) trabalhado pouco].
(EP)
I think/regret.1sg have.inf.3pl the deputies worked little
‘I believe/regret the deputies to have worked very little.’
As pointed out by Sheehan 2016, there has been a growing understanding that, in many
languages, overt subjects alternate with controlled null subjects in the same syntactic
contexts (cf. LANDAU, 2000; SUNDARESAN; MCFADDEN, 2009; SUNDARESAN,
2014; McFADDEN; SUNDARESAN, 2014). This is to be expected, since the
controlled subject does receive Case (cf. LANDAU, 2006, 2008; SIGURÐSSON,
2008; BOBALJIK; LANDAU, 2009).
4
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(6)
a. A tua tia1 preferia PRO encontrarmo-nos2 sozinhos.
the your aunt preferred
1191
(EP)
meet.inf.1pl refl alone
‘Your aunt preferred that we met alone.’
b. A presidente preferiu PRO nos encontrarmos outro dia.
the president preferred
refl
meet.inf.1pl
(BP)
another day
‘The president preferred for us to meet another day.’
c. *A presidente preferiu PRO nos encontrarmos sem ela.5
the president preferred
refl
( BP)
meet.inf.1pl without her
‘The president preferred for us to meet without her.’
(7)
a. O Luiz1 pensou de proarb terminarem o projeto
the Luiz thought about
sem
ele1.
(BP)
finish.INF.3PL the project without him
‘Luiz considered letting people finish the project without him.’
b. O Luiz1 pensou das meninas irem
the Luiz thought of.the girls
viajar
(sem ele1).
(BP)
go.INF.3PL travel.INF (without him)
‘Luiz thought about the girls travelling together (without him).’
BP cannot resort to structure (4a), that much is clear. That is
logically deduced by the fact that null subjects may not have independent
reference in BP even in finite clauses, so, obviously, nor in nonfinite
clauses (cf. MOREIRA DA SILVA, 1984; FIGUEIREDO SILVA, 1994;
DUARTE, 1995; NEGRÃO, 1999; GALVES, 1993, 2001; MODESTO,
2000a, 2000b; the collection of articles in ROBERTS; KATO, 1993;
and KATO; NEGRÃO, 2000); so, the fact that R&H consider structure
(2a) to be possible in BP is puzzling, since Rodrigues (2004) had also
concluded that there is no referential pro in BP, in consonance with the
studies listed above.
As for (4c), it is true that some inflected nonfinite clause’s
subjects are interpreted arbitrarily, so Modesto (2010) treats (4c) as a
possible structure. In the example (8a), below, for instance, the arbitrary
reading is forced, since a control interpretation would cause a principle
What may occur is “A presidente preferiu nós nos encontrarmos sem ela”, with a full
referential pronoun occupying the subject position of the nonfinite clause.
5
1192
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B violation (the pronoun in object position would be bound by the
controlled subject). What Modesto (2010) claimed is that, in BP, in
absence of any syntactic constrain, the first interpretation of (8b) is a
control interpretation,6 not an arbitrary one (though that reading may be
possible too, see CAVALCANTE, 2006; CAVALCANTE; DUARTE,
2009 on the use of arbitrary overt subjects in BP). To investigate this
intuition, we set up an eye-tracking reading experiment in which BP
speakers, after reading a clause like (8b) were asked to say who has
proven the theorem. The results indicate that Modesto’s intuitions were
correct. Sentences like (8b) with a control interpretation are read faster
and require less regressive eye movement than similar sentences with
arbitrary interpretation.
(8)
a. O João acredita gostarem
dele.
the João believes like.inf.3pl of.him
‘João believes that people like him.’
b. O João acredita terem
provado o teorema.
the João believes have.inf.3pl proved the theorem
‘João believes that they proved the theorem.’
In a recent addition to the debate, Sheehan (2016) shows that
EP speakers may be divided between those who take the sentences in
(6) to have the representation in (4a), showing obviation effects (cf.
SITARIDOU, 2007), and those who use a control structure (4b) for the
same sentences. The existence of such Brazilianized EP speakers could be
the result of contact between the two varieties or it may indicate a general
tendency of Portuguese in treating null subjects of inflected infinitives
as controlled subjects. Another run of our eye-tracking experiment with
EP speakers should shed some light on what syntactic category occupies
the subject of nonfinite clauses for those speakers.
One of the anonymous reviewers, at this points, asks why there is no principle B
violation here (in (8b)). The answer is contradictorily both simple and complicated.
The answer is: because there is no pronoun there to violate principle B. What is there
is a PRO (in that reading), not a pro. So now one would ask us what is PRO? That is
the complicated part of the answer (see LANDAU, 2013, 2015).
6
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1193
Before turning to the experiment, the following section reviews
some technical terms and concepts that are at the source of R&H
misunderstanding, that BP is equal to Popular BP. Such a misconception
leads them to three unwarranted claims: that inflected infinitives are
scarce (in the speech of Brazilian speakers); that their use is regulated by
normative grammar; and, that the paradigm of nonfinite inflection is not
part of the internalized grammar of Brazilian speakers. The first claim is
an empirical matter and interviews eliciting that kind of data are already
underway at Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ (though a
simple google search is already very telling). The second and third claims
are obviously false (by speaker’s intuition) and are tested (and disproven)
in our experiment. Then, section 4 offers some theoretical discussion and
interpretation of the data, as well as our concluding remarks.
2. What is BP after all?
What is any natural language? What kind of object is a language?
The chomskyan tradition has answered those questions in these terms: a
language L1 is a mental state produced by the action of the social group
(E-language) on the state L0 of the mind, which then produces L1 through
a specialized Language Acquisition Device (CHOMSKY, 1965, p. 32).
According to Chomsky in Aspects, in order to study a human language
L, say BP, one should focus on “an ideal speaker-listener in a completely
homogeneous speech-community who knows its language perfectly”
(p. 3, our italics). The fact is that no such homogeneous community exists
in Brazil, so the study of BP within generative syntax should be a careful
one and unfounded assumptions like those in R&H should not be taken.
As always, generative syntacticians should try to unveil the underlying
competence of BP speakers that allows them to communicate in such
seemingly chaotic linguistic context, as we try to do here.
It is not our intention to review the extensive sociolinguistic
literature on (standard) BP and popular BP, but some inescapable concepts
will have to be made clear, and some terminology has to be discussed,
before any advance can be made in the generative-syntax description
of BP (and, in that sense, we build upon GUY, 1981; TARALLO,
1988, 1993; LUCCHESI, 2001, 2004, 2012; LUCCHESI; BAXTER;
RIBEIRO, 2009; NARO; SCHERRE, 2007; SCHERRE; NARO, 2006;
MATTOS E SILVA, 2004; ILARI; BASSO, 2006; OUSHIRO, 2015;
1194
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FARACO, 2008, 2016). Most importantly, and almost consensually, the
sociolinguistic situation in Brazil is described in most works just cited
as being polarized between two norms: the norm of middle and upper
class (urban white) Brazilians, usually called the “educated” norm (bad
term, in our opinion), to which we have been referring as Standard BP;
and the norm of working class and rural speakers, the “popular” norm.
Such state of affairs, of course, has its roots in Brazilian history of slavery
and colonialism. Brazil is believed to have imported more African slaves
than any other country. An estimated 4.9 million slaves from Africa
came to Brazil during the period from 1550 to 1875 (cf. http://www.
slavevoyages.org/). According to Mattos e Silva, “starting from the 18th
c. [...], especially in the urban areas that existed, there was a contrast
between two possibilities: an Africanized Portuguese and a Europeanized
one.” (MATTOS E SILVA, 2004, p. 21).7
From the 18th c. on, EP started to change (cf. GALVES; GALVES,
1995) and those changes solidified in 19th c. EP grammar, which was
then adopted by early 20th c. Brazil as its “official language”, and,
unfortunately, that grammar is still taught in schools in Brazil today.
However, the BP spoken in the 18th c. did not change contiguously with
EP. (White) BP kept being spoken in Brazil from the 18th c. on with its own
characteristics, which culminated on a (white) Portuguese in Brazil today
which is not identical to EP nor the Brazilian “official language”. Then, in
the 20th c., the white-norm and the popular norm intermingled, education
reached the lower classes and poor white immigrants (Europeans and
Asians who came to Brazil fleeing poverty caused by World Wars I and
II) ascended the social ladder “bringing to the heart of the cultured norm
some of the structures of popular origin that they acquired in their initial
contact with Portuguese.” (LUCCHESI; BAXTER; RIBEIRO, 2009,
p. 53, our translation). All this has caused the 20th c. pickle Brazilians are
in: we speak one language (with two norms) but we learn in our schools
a different grammar, as if it were ours. The worst side of the problem is
that the so called “educated” norm is more similar, in some respects, to
EP, than the “popular” norm, which makes it harder for those speakers to
learn the “official dialect” and grade well in university exams. One of such
similarities between the “educated” norm and EP (normative grammar)
The original is: “a partir do século XVIII [...], sobretudo nas concentrações urbanas
que já existiam, o embate se dava entre duas possibilidades: um português africanizado
ou um português europeizado.” (MATTOS E SILVA, 2004, p. 21).
7
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1195
is the presence of more verbal and nominal inflection, although nonfinite
inflection is used in radically different ways in EP and BP.
As sad as Brazilian social-linguistic situation is, it is inadmissible
for us linguists to pretend that such differences do not exist and impose
that BP I-grammar is the grammar of the popular speaker (in the sense
of only considering data from popular speakers and dishing out all other
data as being “peripherical”, “not core” features of BP grammar). It is
also outrageous to imply that the I-grammar of “educated” speakers is
regulated by “school-grammar”. As mentioned in the introduction, there are
peripheral features in BP grammar, like 3p. accusative clitics, but inflected
infinitives are completely different phenomena, with a large distribution of
use, which is influenced by speakers’ intuitions (cf. MODESTO, 2016a).
As discussed by the authors cited above, there has been much
influence in both directions, from “educated” to “popular” and from
“popular” to “educated” norms, so we prefer to avoid those terms and
urge others to avoid them. Standard and Popular BP are the most used
terms in generative circles (again, to refer to the norm spoken by one or
another BP speaker, so not to be confused with the “official” language
we learn in school). Modesto (2016a) does not use the terms Standard
and Popular to avoid misunderstandings and for seeing some residual
racism on the term “popular”: he then refers to (more) inflecting speakers
and less-inflecting speakers; terms that highlight the fact that Popular
speakers do inflect sometimes (even infinitives) and that Standard BP
speakers sometimes do not inflect (even in finite contexts). Whatever
term one may choose, it must be clear that BP data may not be taken from
one norm only, because the internalized grammar of Brazilian speakers
is acquired within such a polarized sociolinguistic context. Assuming
that the inflected infinitive has been “lost” in BP is just bad linguistics.
Given the history of Brazil, and according to the cited authors,
actual BP is a continuation of Classical Portuguese, not a new (creole)
language and, therefore, the null hypothesis is that nonfinite inflection is
still part of BP (qua linguistic system). The study of nonfinite inflection
in BP is interesting exactly because BP has lost the property usually
referred to as “rich agreement”, the property of licensing a null pronoun
by force of inflection alone (cf. MODESTO, 2000, among others). The
logic behind Modesto’s (2010) analysis was to ask what happens in a
situation where the colonizer speaks an Italian-type pro-drop language
and the other half (at least) of the population speaks a probably creolized
version of that language? Either the language becomes a non-pro-drop
1196
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one (in a way, like French did), or it becomes a discourse null-subject
language, which is what has happened in Brazil (cf. PONTES, 1987;
NEGRÃO; VIOTTI, 2000; MODESTO, 2008). What would happen
in nonfinite contexts in the same social linguistic situation? It is highly
plausible that null subjects in those contexts would become controlled,
since null pronominal subjects are not licensed anymore in the language.
Modesto’s intuitions, plus collected data, indicated that this is what
happened. And, as discussed in the following section, the passage from
a pro-drop context to a control context when inflection becomes “weak”
is also what is expected by the psycholinguistics literature.
To conclude this section, we believe that the (syntactic) contexts
of use of nonfinite inflection in Brazil today and the interpretations of
such structures are highly scientific interesting questions, considering
Brazilian history and the synchronic social-political situation. We draw
attention to the fact that the concepts of controller and antecedent and
control and coreference are kept separate here. As discussed in the next
section, when different antecedents are chosen as the reference of null
categories, the control relation is a special one, for the null category can
only have the closest argument as its antecedent in this relation. The notion
of ‘controller’ (as closest antecedent considering c-command) is used in
the psycholinguistic literature in exact the same sense it has in generative
circles (cf. NICOL; SWINNEY, 1989; BETANCORT; MESEGUER;
CARREIRAS, 2004; BETANCORT; CARREIRAS; ACUÑA-FARINA,
2006). The notion of coreference is different than the relation of control.
If a null category can be coreferential with several different antecedents, it
is most likely not a controlled position. What our experiment shows is that
the subject position of nonfinite clauses in BP (inflected or noninflected)
is a controlled position in BP when the subject is null. The phenomenon
is not ‘coreference’ of the null category with the matrix subject, it is
control, since the more distant antecedent is much harder to process. The
experiment below is exactly tailored to show what kind of antecedents are
in fact taken by null subjects of inflected infinitives. It shows that most
speakers in most contexts tend to take the closest antecedent possible (other
antecedents costing more, psychologically). It is therefore concluded that
the category occupying the null subject position of an inflected infinitive
in BP is PRO, not pro! The presence of PRO in inflected nonfinite clauses
in BP clearly shows that the MTC is the wrong theory to use when dealing
with Control (in any language). The corollary is that it cannot be used to
explain finite null subjects in BP either.
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3 The eye-tracking study
The processing of empty categories in sentence comprehension
has been extensively investigated in Psycholinguistics. An important
question in this literature has been the assessment of how and when
coreferential relations are established between different types of empty
categories and their antecedents. Nicol and Swinney (1989) is a seminal
paper which examines the role of syntactic constraints on the reactivation
and assignment of antecedents to explicit and implicit anaphoric elements
during sentence comprehension. The authors review several studies which
investigate coreferential assignment between different types of empty
categories and their antecedents, concluding that “one consistent finding
of recent studies is that reference-dependent sentential elements appear
to cause reactivation of the antecedent noun phrases to which they refer”
(cf. NICOL; SWINNEY, 1989, p. 6). McElree and Bever (1989) explore
further the processing differences between different types of empty
categories and conclude that “NP-movement gaps appear to activate their
antecedent to a greater extent than PRO gaps” (cf. McELREE; BEVER
1989, p. 34). Fodor (1989) argues that the fact that empty categories of
the PRO type are base-generated, that is, do not involve a moved element,
makes them especially interesting, since there may be cases in which there
are no antecedent warning the empty element before it is encountered.
Frazier, Clifton Jr. and Randall (1983) report a series of
experiments testing the processing of empty categories of the PRO type
in which they manipulate the main verb of the sentences in terms of
their properties of requiring subject or object control.8 They measured
the reading times for sentences such as (9) and (10) below:
(9)
Everyone liked the woman who the little child started PRO to sing those stupid
French songs for last Christmas.
(10) Everyone liked the woman who the little child forced PRO to sing those stupid
French songs last Christmas.
They found that sentences with subject control verbs, such as (9)
were read significantly faster than sentences with object control verbs
Frazier, Clifton and Randall (1983) also manipulated ambiguity as an additional
factor in the study.
8
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as (10). Based on this study the authors proposed the Most Recent Filler
Strategy, which postulates that the human sentence processing mechanism
prefers the most recent potential filler NP to fill the empty position of the
infinitive verb, which is the processing version of syntactic principles like
Rosenbaum’s (1967) Minimal Distance Principle.
Osterhout and Nicol (1988), on the other hand, investigated the
reactivation properties of PRO in a series of priming studies9 in sentences
as exemplified below, that were composed of a matrix clause containing
two potential antecedents and an infinitival clause:
(11) The actress invited the dentisti from the new medical center PROi to go
to the party at the mayor’s house.
(12) The actressi was invited by the dentist from the new medical center PROi to go
to the party at the mayor’s house.
In (11), the antecedent of PRO is ‘dentist’, a recent antecedent; in
(12), it is ‘actress’, a distant antecedent. In their study, Osterhout and Nicol
manipulated the position in the sentence in which a prime was launched and
they found that when the prime was launched in the area of the last PPs in the
sentences, only the actual antecedents were significantly activated: dentist
in sentence (11), and actress in sentence (12). Based on these results they
argue that the Most Recent Filler Strategy is not invoked in the processing
of PRO and that “these results support the hypothesis that all structurally
appropriate referents are reactivated” (cf. NICOL; SWINNEY, 1989, p. 17).
Despite the controversy about the Most Recent Filer Strategy, both Frazier,
Clifton and Randall (1983) and Osterhout and Nicol (1988), as well as
McElree and Bever (1989) provide experimental evidence in favor of the
so called “psychological reality” of PRO: when encountering PRO, a search
for an antecedent in the sentence is activated. Using a priming technique,
McElree and Bever (1989) show that the activation properties of PRO are
observable, but they are not so strong as the activation properties of NP
or Wh-traces. Frazier, Clifton and Randall (1983) measure reading times
These priming experiments consisted basically in the oral presentation of sentences,
launching a written probe word or prime at specific points of the sentences. Subjects
were asked to decide whether or not the probe word was in the sentence. Differences
in accuracy rates and average reaction times in probe recognition in different areas of
the sentence are then taken to indicate reactivation properties of referents in these areas.
9
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1199
during the reading of subject and object control sentences and propose that
PRO prefers the most recent antecedent. Finally, Osterhout and Nicol (1988)
argue that not necessarily the most recent, but the structurally appropriate
antecedent of PRO is activated. In addition to the self-paced reading and
priming techniques, Betancort, Meseguer and Carreiras (2004) study
controlled PROs in Spanish, using eye-movement technology. The authors
argue that the results of their two eye-tracking experiments show that
readers do not seem to delay the selection of an antecedent of PRO. They
conclude that “(…) when readers arrive at the empty category PRO, they
begin a search for the antecedent of PRO. This search seems to be carried
out quickly…” (cf. BETANCORT; MESEGUER; CARREIRAS, 2004,
p.115). Betancort, Carreiras and Acuña-Farina (2006) further manipulate
subject and object control verbs as well as adverbial clauses in Spanish in
two eye-tracking experiments to show that “coreferential obligatory control
is processed fast because it is launched from the same lexical platform that
launches all fast-syntactic connections” (cf. BETANCORT; MESEGUER;
CARREIRAS, 2004, p. 218).
Empty categories have been a productively investigated topic
within the framework of two-stage models of processing, which
discriminate between an earlier phase of syntactic parsing and a later
phase, where nonstructural information is integrated. Two stage models as
Garden Path Theory (GPT) (FRAZIER, 1979; FRAZIER; RAYNER, 1982),
among several others) have proposed that the computation of gaps may
be resolved as a first resort strategy (cf. FODOR, 1989), prioritizing the
computation of grammatical structure over the integration of inferential and
contextual information, which would only be accessed at a later integrative
phase of comprehension. The present study presupposes the “syntaxfirst” framework of GPT and builds on the evidence that controlled PRO
is psychologically real, triggering an antecedent search in the sentence
as soon as it is encountered, by comparing the processing of controlled
PRO with the processing of arbitrary PRO in inflected nonfinite clauses in
BP. The main questions we wanted to address with our experiment were:
(a) Is the search for an antecedent in the sentence the default process
in comprehension when there is ambiguity between a controlled and
an arbitrary interpretation for PRO? (b) To what extent is the arbitrary
interpretation reading of PRO favored, when there is agreement mismatch
between a local antecedent for PRO and the verb. (c) To what extent, if
any, a referential interpretation of the null nonfinite subject is possible.
1200
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
This study monitored the eye gaze of subjects (who were educated,
but not necessarily inflecting speakers of BP) as they read sentences in
BP made up by a contextualizing subordinate clause, a main clause and a
final clause containing an inflected nonfinite clause, on a computer screen.
The aim of the experiment was twofold. Firstly, we wanted to investigate
the effect of obligatory control contexts on the processing of the sentences
vis à vis contexts favoring indefinite, arbitrary and referential readings.
Secondly, we manipulated number agreement between the subject and the
inflected infinitive verb in order to assess whether the singular agreement
would totally block a control reading of the sentence or whether a partial
control interpretation would still be allowed.
We hypothesized that the latencies of first pass reading measures,
the Total Fixation Duration (TFD) would be longer in the noncontrol
conditions than in the control conditions, reflecting the higher processing
cost of not establishing a local control syntactic relation which should be
the default preference in the computation of the sentence. In line with
the hypothesis that local control relation should be preferred as default
in sentence processing, we also expected that latencies of regressive
measures to the contextualizing subordinate sentences should be longer
in the noncontrol interpretation conditions than in the control conditions,
reflecting the higher cost of inferential processes vis à vis the computation
of local grammatical relations. We also predicted that off-line interpretation
questions, which were always probing for the referent of PRO in the inflected
infinitive clause, should indicate preference for the control interpretation in
control conditions in contrast to preference for the noncontrol inferential
interpretation in noncontrol conditions, since the off-line interpretation
measure should be able to capture post-syntactic integrative processes.10
Method
Participants
40 undergraduate students at the Federal University of Rio de
Janeiro participated in the experiment voluntarily for course credit. They
In addition to TFD, the Fixation Count (FC) metric was also measured for each of
the relevant areas across the conditions, but did not yield any robust effects and is not
reported. Likewise, for the off-line dependent variable, significant effect were found only
for the accuracy rates in the interpretation questions, decision times not being informative.
10
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1201
were all native speakers of BP with normal or corrected vision and without
any history of reading problems.
Materials and Design
A total of 16 sets of experimental sentences like those displayed
in Table 1 were created. Each sentence was immediately followed by a
respective interpretation question probing for the referent of PRO/pro in
the Inflected Infinitive clause. Examples of the corresponding questions
for the sentences exemplified in Table 1 are displayed in Table 2. All
experimental sentences were composed by an initial subordinate clause
followed by a main clause and by a [PRO INFLECTED INFINITIVE
CLAUSE]. There were two independent variables crossing in a 2x2
design, namely, Control context, which had two levels, obligatory control
(O) or no control (N), and Number, which could be singular (S) or plural
(P). The crossing of these two independent variables, each with two
levels, generated four conditions: No-control plural (NP), Obligatory
control plural (OP), No control singular (NS), Obligatory control
singular (OS). The no control conditions were additionally manipulated
in terms of two sub-conditions: 8 sentences had a referential DP in the
subordinate clause which could potentially be the controller of the PRO
in the Inflected infinitive clause and other 8 sentences did not include
such a referential DP in the subordinate clause, forcing an exclusively
arbitrary interpretation for the PRO.
Obligatory-control sentences always contained, in the initial
subordinate clause, a verb whose cataphoric subject was the subject DP
in the main clause. This DP was a semantically plausible subject for all
the verbs in the sentence: the subordinate clause verb, the main clause
verb and the inflected nonfinite clause verb. The non-control sentences, on
the other hand, never allowed the possibility that the main clause subject
DP could also be the cataphoric subject of the preceding subordinate
clause verb. Non-control sentences always had a DP subject in the main
clause which was not likely to be the antecedent for the PRO in the
nonfinite clause. In the adjunct clause, non-control sentences either had
no semantically plausible controller DP or there was a DP which could
plausibly be a distant antecedent for the PRO/pro in the nonfinite clause.
The independent variable ‘number’ included a level in which the DP
subject and the main clause verb agreed in the plural (P) and a level in
which the DP subject and the main clause verb agreed in the singular (S).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1202
Adjunct clause verbs as well as inflected nonfinite verbs were
always in the plural. Experimental sentences were distributed in a Latin
square design, generating four versions of the experiment. In addition,
another 32 sentences with different types of structures were created to
serve as fillers. Both for experimental and distractor items, sentence
length was controlled to be within 25 to 30 metric syllables range. The
48 sentences (16 experimental and 32 fillers) in each version were
pseudo-randomized to be presented in a fixed random order interspersing
distracting sentences among the experimental sentences, and guaranteeing
that the first and the last two sentences were never experimental sentences.
TABLE 1 – Examples of sentences used in the eye-tracking experiment
Cond
NP
OS
Main clause
Inflected nonfinite
clause
a
r
b
Como os feridos foram os repórteres julgaram
achados logo
the reporters judged
As the wounded were
found soon
r
e
f
Só quando os bebês
foram examinados
Only when the babies
were examined
os cuidadores
terem sujado as
perceberam
fraldas
the caretakers realized to have dirtied the
diapers
Como chegaram logo
ao local da queda
As (they) arrived at
once in the crash area
os bombeiros julgaram terem salvo muitas
the firefighters judged vidas
to have saved many
lives
OP
NS
Adjunct clause
terem salvo muitas
vidas
to have saved many
lives
a
r
b
Como os feridos foram o repórter julgou
achados logo
the reporter judged
As the wounded were
found soon
terem salvo muitas
vidas
to have saved many
lives
r
e
f
Só quando os bebês
foram examinados
Only when the babies
were examined
o cuidador percebeu
the caretaker realized
terem sujado as
fraldas
to have dirtied the
diapers
Como chegaram logo
ao local da queda
As(they) arrived soon
in the crash area
o bombeiro julgou
the firefighter judged
terem salvo muitas
vidas
to have saved many
lives
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1203
TABLE 2 – Examples of interpretation questions after presentation of each sentence
Cond
NP
arb
Quem salvou muitas vidas?
Who saved many lives?
ref
Quem sujou as fraldas?
(A) os cuidadores (B) outras pessoas
Who dirtied the diapers? (A) the caretakers (B) other people
OP
NS
Interpretation questions
Quem salvou muitas vidas?
Who saved many lives?
(A) os repórteres (B) outras pessoas
(A) the reporters (B) other people
(A) os bombeiros (B) outras pessoas
(A) the firefighters (B) other people
arb
Quem salvou muitas vidas? (A) o repórter (B) outras pessoas
Who saved many lives?
(A) the reporter (B) other people
ref
Quem sujou as fraldas? (A) o cuidador (B) outras pessoas
Who dirtied the diapers? (A) the caretaker (B) other people
OS
Quem salvou muitas vidas? (A) o bombeiro
(B) outras pessoas
Who saved many lives?
(A) the firefighter (B) other people
Procedures
A TOBII TX300 eye-tracker monitored subject’s eye-movements.
Participants viewed the stimuli binocularly on a monitor 65 cm from
their eyes. Sentences were written in Courier New 28pt Font (True
Type) and were displayed in a single line. Before the experiment started,
subjects read a set of instructions on how to perform the experiment.
The instructions told them to read the sentences at a very fast rate, but
trying to comprehend the text as well as they could, as they would be
asked an interpretation question at the end of each sentence. By pressing
the space bar on the keyboard, subjects self-monitored the duration of
each sentence on the screen. In order to guarantee a fast reading of the
sentences, there was a timeout of 2 seconds, after which the sentence
was replaced on the screen by the interpretation question. Participants
were asked to try to read the sentence as fast as they could and press the
keyboard bar before the timeout. Therefore, after reading the sentence,
subjects typically would press the bar before the timeout, in order to call
another screen which contained a question with two possible answers,
each preceded by (A) and (B) and subjects were instructed to press an
(A) or a (B) button in the keyboard. If subjects delayed pressing the bar,
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1204
the screen with the interpretation question would appear automatically
after two seconds. There was a 5 second timeout for the interpretation
question screen. The experimenter then started a calibration session
which consisted in having the subject follow a red ball moving around
the screen. If the calibration was successful as indicated by a screen after
the calibration session, the experimenter would start a practice session,
otherwise a recalibration session would take place. The practice session
consisted of three sentences and was observed by the experimenter. If
the subject confirmed that he had understood the instructions well and
could do the experiment, the instructor would start the experiment and
leave the room. A full session would generally last for 25 to 30 minutes.
Results
For the purpose of the analysis, the texts were segmented in three
areas as shown in Table 1: adjunct clause, main clause and inflected
nonfinite clause. Results for two different eye-movement measures which
displayed robust effects will be reported: (1) Total Fixation Duration
(TFD), which refers to the summed durations of all fixations made
on each of the three areas and on the whole sentence, including later
fixations resulting from regressive movements from subsequent words
in the sentence or re-reading the sentence starting at words prior to the
target; (2) Second pass duration on the subordinate clause area, which
refer to the sum of all refixations directed to that area, either from the left
or from the right. The observed differences were statistically evaluated
by an ANOVA for subjects (F1). TFDs are indicated in Table 3:
TABLE 3 – TFDs in milliseconds
Conditions
Adjunct
clause
Main clause
Inflected nonfinite
clause
TOTAL
NP
860
418
487
1765
OP
692
332
435
1459
NS
754
398
474
1626
OS
722
376
452
1550
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1205
The 2x2 ANOVA for subjects crossing the two within subjects
factors control and number carried out for the sum of TFDs of each
condition shows a highly significant main effect of control (F(1, 159)
= 213, p<0,000001), a marginally significant main effect of number
(F(1,159) = 3,73 p<0,055374) and a highly significant interaction of
control*number (F(1,159) = 98,2 p<0,000001). Pairwise comparisons
between the conditions were also performed yielding highly significant
results for all relevant crossings: NP x OP (t(159)=13,13 p< 0,0001),
NS x OS (t(159)=9,13 p< 0,0001), NP x NS (t(159)=9,14 p< 0,0001)
and OP x OS (t(159)=4,79 p< 0,0001).
The area of the inflected nonfinite clause was also submitted to
a 2x2 ANOVA by subjects, showing a highly significant main effect of
control (F(1,159) = 83,0 p<0,000001), a nonsignificant main effect of
number (F(1,159) = 0,218 p<0,641306), and a significant interaction of
control*number (F(1,159) = 11,1 p<0,001081). Pairwise comparisons
yielded significant results for NP x OP (t(159)=7,74 p< 0,0001), NS x OS
(t(159)=4,30 p< 0,0001), OP x OS (t(159)=3,30 p< 0,0012), but there
was no significance in the comparison between NP x NS (t(159)=1,74
p< 0,0832).
An ANOVA by subjects was also carried out in the region of
the main clause and showed a highly significant main effect of control
(F(1,159) = 190 p<0,000001), a significant main effect of number
(F(1,159) = 9,53 p<0,002390) and a highly significant interaction of
control*number (F(1,159) = 74,4 p<0,000001). Pairwise comparisons
yielded significant results for NP x OP (t(159)=13,89 p< 0,0001), NS
x OS (t(159)=4,93 p< 0,0001), NP x NS (t(159)=3,24 p< 0,0014) and
OP x OS (t(159)=11,04 p< 0,0001).
First and Second pass fixation durations on the subordinate clause
area were also obtained for all conditions and are shown in Table 4.
TABLE 4 – Second pass fixation durations on subordinate clause
Condition
1st pass
2nd pass
Total
NP
OP
NS
OS
560
558
566
556
300
134
188
166
860
692
754
722
1206
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
First pass fixation durations did not exhibit any significant
differences in 2x2 ANOVA by subjects neither for main effect of control
(F(1,159) = 1,27 p<0,261362), nor for main effect of number (F(1,159)
= 0,034 p<0,853785). No significant interaction was observed between
the factors (F(1,159) = 0,641 p<0,424381). As expected, there was no
difference in pairwise t-tests between the conditions.
Second pass fixation durations on the subordinate clause, on
the other hand, displayed significant differences in the 2x2 ANOVA
by subjects. There was a highly significant main effect of control
(F(1,159) = 2570 p<0,000001) and a highly significant main effect of
number (F(1,159) = 539 p<0,000001). Pairwise comparisons were also
significant for all relevant crossings, in the expected directions. NP x
OP (t(159)=44,54 p<0,0001), NS x OS (t(159)=10,61 p<0,0001), NP
x NS (t(159)=32,40 p<0,0001) and OP x OS (t(159)=13,45 p< 0,0001)
A subanalysis comparing the two sub-conditions of the nocontrol condition was also performed to establish any possible effects
of referentiality. As explained in the Materials & Design section above,
8 sentences had a referential DP in the subordinate clause which could
potentially be the controller of the PRO in the final clause and other 8
sentences did not include such a referential DP in the subordinate clause,
forcing an arbitrary interpretation for the PRO. TFDs for the whole
sentences, considering these sub conditions of the no control conditions
are indicated in Table 5.
TABLE 5 – TFDs for sub conditions of N condition
NP REF
NP ARB
NS REF
NS ARB
1724
1806
1584
1667
The subject 2x2 ANOVA showed a highly significant referentiality
effect (F(1,79) = 29,3 p<0,000001) and a highly significant main effect
of number (F(1,79) = 62,4 p<0,000001), but no interaction between the
two factors (F(1,79) = 0,001 p<0,996830). The relevant pairwise t-tests
also yielded significant results in the expected directions. NS REF x
NS ARB indicated that singular sentences with a potential controller
referential DP in the adjunct clause were read significantly faster than
singular sentences which did not include such a potential controller
referential DP (t(79)=5,63 p<0,0001). Likewise, NP REF x NP ARB
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1207
indicated that REF plural sentences were significantly faster than ARB
plural sentences (t(79)=3,48 p< 0,0008). NP REF x NS REF also showed
a significant difference (t(79)=6,64 p<0,0001), as well as NP ARB x NS
ARB (t(79)=6,26 p<0,0001).
Off-line interpretation questions were computed and expressed in
percentages of CONTROL choices11. Table 6 indicates the results obtained
for all conditions, including the N conditions referentiality manipulations
in arbitrary (arb) or referential (ref) interpretations:
TABLE 6 – Off-line choices for control interpretation (%)
Cond
NP
NP
NS
NS
OP
OS
REF
arb
ref
arb
ref
-------
-----
Cont. INT
36%
28%
29%
24%
83%
62%
Chi-square analyses were performed, yielding the following
results: OP x OS (X2= 6,08, p= 0,01); OP x NP arb (X2=37,1, p=
0,0001***); OP x NP ref ( X2= 54,5, p= 0,0001***); NP arb x NP ref
(X2= 2,0, p= 0,15ns); OS x NS arb (X2= 23,9, p = 0,0001***); OS x NS
ref (X2= 33,5, p= 0,0001***); NS arb x NS ref (X2=0,94, p=0,33ns); NP
arb x NS arb (X2= 1,5, p= 0,21ns); NP ref x NS ref (X2= 0,61, p=0,43ns).
Discussion
The effects obtained for the sum of TFDs of each condition
showed that readers took longer to read the noncontrol conditions than
to read the control conditions. This overall result already gives us a first
answer to our question about the default preference when comparing the
processing of controlled PRO with the processing of arbitrary PRO, in
inflected nonfinite clauses in BP. When it is possible to establish a local
control syntactic relation, the sentence is processed faster than in the
indefinite or arbitrary reading cases. In line with Betancort, Meseguer
and Carreiras (2004), when readers arrive at the empty category PRO,
they begin a search for the antecedent of PRO. The simplest search of
Average response times were not significantly different in any of the comparisons
between conditions and are not reported.
11
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
all takes place in the OP condition in which the subject DP in the main
clause is both the cataphoric subject of the subordinate clause verb and
of the inflected infinitive verb. Accordingly, the OP condition receives
the highest rate of control interpretation when compared to all other
conditions. The second fastest reading is OS, the PC condition, in which
there is a number mismatch between the main clause subject and both the
verbs of the subordinate clause and of the inflected infinitive clause. In
this condition, the semantic/pragmatic fit between the main clause subject
DP and the inflected infinitive verb allowed for the partial control of the
PRO, as established in the off-line measure, which indicated the second
highest rate of control interpretation. Again, having a local controller,
even if partial, facilitated the PRO coreference search, confirming the
preference for a local controller of the PRO as the default process in
the resolution of nonfinite clauses. Noncontrol sentences took longer
to read than Control or PC sentences, receiving lower rates of control
interpretation than control or partial control sentences, as expected.12
Total fixation durations of NS sentences are longer than OS
sentences and OP sentences, but shorter than NP sentences. Both NP and
NS sentences presented a subject DP in the main clause which was not
a plausible controller for PRO in the inflected nonfinite clause, opening
the way for an arbitrary interpretation. The number mismatch between
the subject DP in the main clause and the inflected nonfinite verb should
contribute to additionally rule out the control analysis, pushing the reader
even more towards the arbitrary analysis. NP sentences, in contrast,
establishing plural agreement matching between the subject DP of the main
clause and the plural agreement feature of the inflected infinitive verb would
create a potential ambiguity between an arbitrary and a control reading for
the PRO, leading the reader to fixate longer the sentences in this condition.
As indicated in the last column of Table 3, the total reading
durations per condition were distributed as follows: OP < OS < NS <
Note that in the N conditions there is still a 24% to 36% choice for the control
interpretation. As indicated in the statistical analyses, these differences are not
significant across the N conditions, but the very fact that even in the N conditions a
control interpretation is residually entertained can be taken as a further evidence of the
default control analysis proposed in this paper.
12
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1209
NP. Having a local controller for the PRO, OP sentences are the easiest
to read, as illustrated by the heatmap13 of a typical reading, in Figure 1.
FIGURE 1 – OP sentence:
Como chegaram logo ao local da queda, os bombeiros julgaram
terem salvo muitas vidas
As they arrived at once in the crash area, the firefighters judged
to have saved many lives.
OS sentences take longer to read than OP sentences, as there is a
number mismatch between the felicitous subject DP of the main clause
and the inflected infinitive verb. However, partial control is still possible
and they are resolved in shorter reading times than the N sentences,
which were intended to block the local control interpretation and require
more exhausting visual search for a controller for the PRO. Not finding
a possible local controller in an N sentence, readers should invoke the
arbitrary reading as a last resort. Figure 2 provides the heatmap obtained
during the reading of an OS sentence and Figure 3 exemplifies the reading
of an NS sentence.
FIGURE 2 – OS sentence:
Como chegaram logo ao local da queda, o bombeiro julgou terem salvo muitas vidas.
As they arrived at once in the crash area, the firefighter judged to have saved
many lives.
A heatmap is a graphical representation of data where the individual values contained
in a matrix are represented as colors. The areas where readers looked the most are
colored red; the yellow areas indicate fewer views, followed by the least-viewed green
areas.
13
1210
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
FIGURE 3 – NS ref sentence:
Só quando os bebês foram examinados, o cuidador percebeu terem sujado as fraldas.
Only when the babies were examined, the caretaker realized (them) to have
dirtied the diapers.
Notice that in Figure 3, the correct interpretation of the null
category requires an inferential chain, since in addition to number
mismatch, it would not be plausible to analyze the DP o cuidador “the
caretaker” as the agent of having dirtied the diapers. In the NSref
condition there is a possible controller in the adjunct clause, but not in
the NS arb condition exemplified in Figure 4, in which, in the adjunct
clause, there is no possible antecedent. Notice that, in Figure 4, the
correct interpretation of PRO requires an inferential chain, since in
addition to number mismatch, it would not be plausible to analyze the
DP the candidate as the agent of being ill intentioned. Additionally, in
the subordinate clause there is no possible controller for PRO either.
The arbitrary interpretation is invoked only after the first resort search
for a local controller is unsuccessful, resulting in even longer fixations
during reading.
FIGURE 4 – NS arb sentence:
Quando o concurso foi cancelado, o candidato julgou estarem mal-intencionados.
When the selection was cancelled, the candidate judged (them) to be ill intentioned.
In the NP condition, agreement between the main clause subject
DP and the inflected infinitive verb seems to make the search for a local
controller even longer, possibly misleadingly allowing for the initial
search for a local controller which is then discarded because it is not a
felicitous agent, even though matching in formal features. The search
proceeds then to find a possible controller in other areas of the sentence.
Figure 5 illustrates the heatmap of an NP ref sentence.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1183-1224, 2017
1211
FIGURE 5 – NP ref sentence:
Quando os terroristas chegaram na base, os pilotos perceberam estarem armados.
When the terrorists arrived at the base, the pilots realized (them) to be armed.
Finally, Figure 6 illustrates the heatmap of an NP arb sentence,
which requires the longest average fixations of all conditions, since there
is no felicitous DP in the sentence which could be the proper controller
for the PRO. The arbitrary interpretation of the-PRO is the costliest.
FIGURE 6 – NP arb sentence:
Quando os dados chegaram na base, os cientistas perceberam estarem em órbita.
When the data arrived at the base, the scientists realized to be in orbit.
As shown in the Results section, comparative analyses of other
areas of the sentences between the four conditions also display main
effects of control. Pairwise comparisons between the conditions also
indicated interesting significant differences in the areas of the main
clause and of the inflected nonfinite clause in the expected direction,
attesting that the noncontrol conditions are harder to process than the
control conditions.
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Table 4 shows comparative analyses between the total fixation
durations during the first pass and the second pass in the area of the
subordinate clause. As expected the first pass measures do not exhibit any
significant differences between the conditions, since at this point readers
had not been exposed to the independent variables. Notice, however,
that second pass measures differ in the expected direction: readers
exhibited significantly lesser regressions to the adjunct clause in the OP
condition, which resolves the PRO coreference in a very straightforward
manner than in any other condition. Actually, second pass measures in
the subordinate clause confirm the hierarchy established for the TFD
of the sentences: OP < OS < NS < NP, indicating that regressions are
progressively needed to compute the sentences as they move away from
local syntactic control to more arbitrary or ambiguous interpretations,
again, in line with the hypothesis that local control relations should be
preferred as default in sentence processing.
To conclude, the subanalyses entertained here between the
arbitrary x referential manipulations of the N sentences also confirm the
hypothesis. As shown in Table 5, referential noncontrol sentences are read
faster than arbitrary noncontrol sentences, again indicating the preference
for local syntactic relations which can resolve coreference more readily
and are therefore preferred to inferential processes, as predicted by twostage models of sentence processing, as Garden Path Theory.
4 Theoretical discussion and conclusions
As detailed in section 3, in line with several previous
psycholinguistic studies, especially work on structural models of sentence
processing, which have very consistently established the priority of
structural computations over inferential interpretations, the present paper
has demonstrated, among other things, the priority of structural processes
over inferential interpretations in the processing of PRO in BP: when
readers arrive at the empty category PRO, they begin a search for the
antecedent of PRO as a default. The most accessible antecedent for the
null category in our test-sentences was the subject of the matrix clause
and when context and lexical choices allowed that control interpretation,
reading of the sentence was easiest. This means that controlled PRO in
inflected nonfinite clauses is not only psychologically real in BP, it is
actually the preferred option in a task in which a strict comparison with
arbitrary PRO is entertained.
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This means that none of the problems raised by R&H are relevant
and the data in Modesto (2010) does refute movement analyses of Control.
All these assertions should be unpacked here, if we had the space. For
now, let us just take notice of how the MTC makes the wrong predictions
about BP, when actual data is taken into consideration. Besides the
psycholinguistic discussion, we have seen, in section 2, that nonfinite
inflection has been present in the speech of BP speakers (actively, for
some speakers; passively for others) for at least three centuries
Given BP’s sociolinguistic history and context, it is easy to
see how Portuguese is spoken scarcely in the Brazil of the 16th c. (i.e.
exclusively at or around the “big” cities that were formed then (Salvador,
BA; Pernambuco, PE; Rio de Janeiro, RJ e São Paulo, SP). However,
Portuguese becomes the only language acquired by most people born
in Brazil from the 18th c. on. Such nativization process lasted only two
centuries, speakers learnt their Portuguese from very different sources
(white BP vs. black BP). Then in the 20th c., these two variants of BP
were mixed and mingled. But there should be no problem since we have
been using the same language, after all. It is unimaginable that through
the 19th c. white speakers had a much different grammar than black
speakers. It would have been impossible for BP to keep the romancetype pro-drop grammar brought here by the 17th and 18th c.-Portuguese
people who immigrated, because some (roughly half) of the speakers
(slaves and Indians) had no inflection in their system during that time. So
already in the 19th c., at least, BP probably was already a non-pro-drop
language (to every speaker; no matter how much inflection they used). It
is possible that very few conserved the older system, or that some people
were bilingual speakers of both varieties of BP at that time (see KROCH,
2001 on grammars in competition). But that is unlikely for nowadays
BP, since there is no evidence for two different linguistic systems in
Brazil, just a lot of morphological variation. If the conclusions expressed
here for the discussion in section 2 are correct, i.e. if all Brazilians have
nonfinite inflection whether using it overtly or not, this is very much
in accordance with a third factor explanation (cf. CHOMSKY, 2005,
as pointed out by one of the anonymous reviewers of this paper) for
syntactic data of natural languages. Interestingly, the present work has
brought about relevant data for a contemporary challenge in the relatively
new domain of Experimental Syntax – the interplay between processing
algorithms, Universal Grammar (UG) and the grammar of particular
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languages. Principles of computational efficiency have been analyzed as
third factor effects (cf. CHOMSKY, 2005). If the PRO control processing
default shown in the present paper can be claimed to be an efficiency
processing algorithm it raises interesting architecture issues concerning
the interaction of processing and grammar. In this respect, we follow
the proposal in Trotkze, Bader and Frazier (2013) that “properties of
performance systems can play an important role within the biolinguistic
perspective on language by providing third-factor explanations for
crucial design features of human language” (TROTKZE; BADER;
FRAZIER, 2013, p. 28). Of course, third factor effects must interact with
UG principles and with grammatical properties of specific languages,
sometimes bringing about tensions when they apply in the derivations,
but they probably do not override grammar internal principles, as argued
for in Di Sciullo and Aguero (2008) on independent grounds. We intend
to keep on this line of research, incorporating EP experimental data and
comparing the results with BP.
The problem with that explanation is that BP continues to be a
language with null subjects, even if not a pro-drop language, using a
different strategy that does not rely on inflection (like Chinese). Subjects
of inflected clauses can still be null in BP, but they now have a controlled
interpretation (in most contexts), as the experiment demonstrates. The odd
result, however, is that our informants seem to have less trouble getting
a non- controlled, referential reading of the null subject than getting an
arbitrary reading. Though unproblematic for the psycholinguistics part,
this result is tricky to explain syntactically. If BP inflection does not
license null pronouns anymore, how are referential readings achieved
by BP speakers? A mandatory quasi-topic position in BP, as proposed
in Modesto (2008), nicely explains those readings, given a suitable
context, as our test-sentences provided. Take (13a) as an example. Its
representation would be (13b), with an elided topic:
(13) a. Só quando os bebês foram examinados, o cuidador percebeu terem
only when the babies were examined, the caretaker noticed have.inf.3pl
sujado as fraldas
soiled the diapers
‘When the babies were examined, the caretaker noticed that they have soiled
the diapers.’
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b. [ [ Só quando os bebês foram examinados] [os bebêsi
[ o cuidador percebeu [ PROi [PROi terem sujado as fraldas ]]]
The example in (14a), on the other hand, has the structure in (14b).
(14) a. Como chegaram
as
logo ao
local da queda,
arrive.pst.3pl soon to.the place of fall
o bombeiro julgou terem
salvo muitas vidas.
the firefighter judged have.inf.3pl saved many lives
‘As(they) arrived soon in the crash area, the firefighter judged
to have saved many lives.’
b. [ [ Como chegaram logo ao local da queda] [o bombeiroi
[ eci julgou [ PROi [PROi terem salvo muitas vidas ]]]]]
We believe that the empty category in (14c) marked as ec is just
a minimal pronoun (as in SZABOLCSI, 2009), the same category that
produces control (as in LANDAU, 2015), which gets the values for its
features by being bound by “o bombeiro”, the firefighter, the closest
possible antecedent. PRO itself is a minimal pronoun that climbs to the
quasi-topic position, still finds no value for its person feature, which
then causes the control phenomenon (all as described in LANDAU,
2015). It can be seen, then, that BP data involving inflected infinitives are
unproblematic when the most plausible analysis of control is assumed.
Acknowledgments
This work is part of the State University of Campinas project “Portuguese
in space and time: linguistic contact, grammars in competition and
parametric change” (FAPESP 12/06078-9), per the first author and of the
CNPq research project “Experimental Syntax and Semantics: timecourse
and underspecification in the on-line implementation of grammar” (CNPq
302989/2015-3), per the second author. We both wish to thank our
informants and the students involved in the experiment described here,
as well as two anonymous reviewers who made valuable comments on
our first draft. All remaining errors are ours, of course.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
On the asymmetry between subject and object relative clauses
in discourse context1
Assimetria no custo de processamento de relativas de sujeito e de
objeto em contextos discursivos
Renê Forster
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
rene.forster@gmail.com
Letícia Maria Sicuro Corrêa
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
lscorrea@puc-rio.br
Abstract: This paper investigates the possibility of an effect of contextual
information during the processing of sentences containing subject
relative clauses (SRCs) and object relative clauses (ORCs) in Brazilian
Portuguese. The predictions from one-stage models and from syntaxoriented approaches to sentence processing are outlined. An eye-tracking
experiment is reported in which SRCs and ORC were presented when
preceded by narrative contexts that could either favor a subject or an
object relative clause analysis. The results suggest that ORCs are harder
This paper is an extended version of the work On the unbalance between subject and
object relative clauses in discourse context presented in the XXIX CUNY Conference
on human sentence processing, Florida, March 3-5, 2016. This research was supported
by a post-doctoral scholarship for the first author (PDJ-CNPq) and was developed
in connection with the project “Processamento e aquisição da linguagem sob ótica
minimalista: extensão e comparação de modelos” (PQ-CNPq) of the second author.
1
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1225-1254
1226
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
to process when compared to SRCs, no matter what discourse contexts
they are inserted in. The contextual effect obtained here can be ascribed
to a pre-syntactic priming, ie. a priming effect which arises during lexical
access. The possibility of pre- and post-syntactic contextual effects in
the processing of RCs is discussed.
Keywords: relative clauses; sentence-processing; eye-tracking.
Resumo: Este trabalho investiga, no Português Brasileiro, a possibilidade
de um efeito de informação contextual no processamento de sentenças
contendo orações relativas de sujeito (RS) e de objeto (RO), considerando
os possíveis impactos dessa integração para a assimetria de custo entre
RSs e ROs. Previsões de modelos de base estrutural e de modelos
interativos são comparadas. Um experimento de rastreamento ocular
é relatado em que relativas de sujeito e de objeto foram apresentadas
em contextos narrativos que favoreceriam o processamento, ou de uma
relativa de sujeito, ou de uma relativa de objeto. Os resultados sugerem
que ROs têm maior custo quando comparadas a relativas de sujeito,
independentemente do contexto discursivo no qual estão inseridas. O
efeito de informação contextual obtido pode ser atribuído a um efeito
de priming pré-sintático, ou seja, um efeito de priming durante o acesso
lexical. Discute-se a possibilidade de efeitos contextuais pré e póssintáticos no processamento de orações relativas.
Palavras-chave: orações relativas; compreensão da linguagem;
rastreamento ocular.
Recebido em: 8 de janeiro de 2017.
Aprovado em: 24 de abril de 2017.
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1227
1 Introduction
The asymmetry between subject relative clauses (SRCs) and
object relative clauses (ORCs) has been widely reported, with higher
processing costs for the latter (eg. WANNER; MARATSOS, 1978;
KING; JUST, 1991; KING; KUTAS, 1995; GIBSON et al., 2005). This
asymmetry has been ascribed to the transient memory load between
the head of the RC (the filler) and the position in which it is recovered
(the gap in the RC), in order for the processing of relativization to be
accomplished (cf. (1-2)). The greater the distance between the filler and
the gap, the greater the transient memory load (WANNER; MARATSOS,
1978). The need to hold the head noun in working memory as soon as the
relative clause is identified and to process a subject-verb relation would
account for the greater transient memory load between the filler and the
gap of object RCs (CORRÊA, 1986, 1995). In light of recent linguistic
accounts (RIZZI, 2006, 2013), the intervention of the RC subject in ORCs
would account for this asymmetry, and explain the particular difficulty of
children and language impaired individuals in coping with the processing
of these sentences (GRILLO, 2009; FRIEDMANN, BELLETTI; RIZZI,
2009). In any case, the structural properties of ORCs would account for
the asymmetry.
(1) … the boy that __ called the girl… (SRC)
(2) … the boy that the girl called ___.... (ORC)
It is a point of debate, however, the extent to which the
processing cost of relative clauses can be strictly attributed to their
structural properties. It has been observed, for instance, that nonstructural
factors such as animacy2 (MAK; VONK; SCHRIEFERS, 2002, 2006;
TRAXLER; MORRIS; SEELY, 2002) and referential accessibility
It is worth noting that if animacy is assumed to be a formal feature, animacy effects
on RC processing can be accounted for by the intervention hypothesis, i.e., it can be
predicted by a structural approach to language comprehension (COSTA et al., 2012).
2
1228
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
(WARREN; GIBSON, 2005) of the DPs involved in the RC can be
reflected on processing costs of this type of sentences. Some results
suggest further that the asymmetry between SRCs and ORCs can
disappear in narrative contexts (YANG; MO; LOUWERSE, 2013).
Addressing this debate, a study using the eye-tracking
methodology was conducted with restrictive ORCs (AUGUSTO;
CORRÊA; FORSTER, 2012; FORSTER, 2013). An effect suggestive of
the integration of previous information during the analysis of RCs was
obtained, which may have some impact on the overall processing cost.
In that study, there were two characters (two girls) and two background
events for the processing of the test sentences. In each of the events, one
of the girls was the patient of the action performed by two similar/different
characters. Eye-fixations reveal that, when the previous actions were
performed by different characters, the participants tended to anticipate the
referent of the object of the RC, as soon as its subject (the actor of one of
the previous actions) was processed, by looking immediately and longer
to the correct patient (one the two girls). This effect is compatible with
results suggesting the anticipation of the referent of linguistic expression
in biasing contexts (ALTMANN; KAMIDE, 1999).
A similar effect was not, however, obtained in a temporarily
ambiguous context, i.e. when the sentence introduced by the complementizer/
relative pronoun “that” could be preferentially interpreted as a complement
sentence (FORSTER, 2013; FORSTER; CORRÊA, 2016) (cf. (3)).
It seems, therefore, that a possible effect of information integration is
blocked by the priority of structural factors – the minimal attachment of
the embedded sentence (or the immediate satisfaction of the syntactic/
semantic requirements of the main clause verb).
(3) Mary told the girl that the painter kissed…
In Forster (2013), two explanations were proposed as a means
of reconciling the on-line integration of previous information with an
autonomous parser. One possibility would be that the anticipation of the
patient of the event described by the RC would facilitate the retrieval of
the head noun at the position of the gap. This retrieval would be a means
of checking the prediction prompted by the identification of the subject
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
1229
of the RC (as in a sort of shadowing task3, as suggested in CORRÊA
et al., 2012). Another possibility would be a post-syntactic priming
effect (FORSTER, 2013). The background context would prime the
actor-action-patient relationship presented by the RC. Once the subject
of the RC was recognized, the recovery of the patient (the head noun)
would be facilitated, which could, in principle, minimize possible feature
interference effects. In both cases, in order for the priority of the syntactic
analysis to be maintained, the immediate mapping of the subject of the
RC onto a referent requires that DPs are processed as phases i.e. chunks
of syntactically analyzed material that are transferred to the interfaces
between (internal) language and processing systems (CHOMSKY, 2001)
in a model of on-line computation in which sentences are analyzed from
left to right (CORRÊA et al., 2012).
The present study resumes this debate by considering the extent
to which a supportive context can override the asymmetry between SRCs
and ORCs. An eye-tracking experiment was conducted, which was based on
Yang et al.’s study (2013). Our results indicate that the asymmetry between
ORCs and SRCs is unaffected by the contextual information provided.
The aim of this paper is then two-fold: to verify the extent to
which the manipulation of contextual information affects the asymmetry
between SRCs and ORCs and to discuss the possibilities of pre and postsyntactic contextual effects in RC processing.
This paper is organized as follows. In the next section, predictions
from one-stage and from syntax-oriented models are briefly outlined. In
section 3, the study conducted by Yang et al. (2013) is presented, in which
the asymmetry between subject and object RCs is claimed to be neutralized.
The shadowing technique in elicited production tasks requires the participants to repeat
as quickly as possible orally presented linguistic material (isolated sentences, normal
prose) as it is heard, as in simultaneous interpretation from one language to another
(MARSLEN-WILSON, 1973a, b). The latency between the auditory stimulus and the
onset of the repetition provides an estimate of the speed of the perception and the analysis
of the linguistic material. The mean latency in the shadowing of connected speech is
250-300ms and there is evidence of anticipation (the participant produces something
that has not already been heard, based on the on-going lexical/syntactic information).
This type of result has been taken an indication that semantic and contextual constraints
affect syntactic processing (TRUESWELL; TANNENHAUS, 1994). Alternatively,
processing the material as hearer and as speaker may occur in parallel and anticipation
by the speaker may be independently checked by the parser.
3
1230
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
It is argued that the interpretation of the results is not as clear as suggested,
which motivates the experiment reported in section 4. In section 5, possible
discourse context effects in the processing of sentences with RCs are
considered, which are in tune with current developments of linguistic theory.
The final remarks present some future directions of the current study.
2 Integrating discourse information: two accounts for language
comprehension
It can be said that two main approaches to the integration
of nonstructural information in sentence processing have emerged
throughout the history of psycholinguistics: syntax-based approaches,
giving rise to a two-stage model, and constraint-based approaches,
giving rise to one stage-models. By positing an encapsulated stage
for structural analysis, syntax-based accounts predict that structural
factors, such as the nature of the long distance dependencies involved,
are one of the main sources of processing load. According to some of
those models, first pass analyses guided by syntactic information may
lead to incorrect structural descriptions. In RC processing, parsing
heuristics, such as the active filler strategy (CLIFTON; FRAZIER,
1989; FRAZIER; FLORES D’ARCAIS, 1989; STOWE, 1986) would
create a subject-bias for relative clauses since the possibility of a subject
gap would be ranked over the option of a lexically occupied subject
position. This strategy leads to incorrect structural descriptions for ORCs.
Reanalysis, then, would increase processing costs. Models in this tradition
predict that the asymmetry between ORCs and SRCs tends to prevail
irrespectively of contextual information (FRAZIER; FODOR, 1978).
More recent linguistically oriented proposals ascribe this asymmetry to
an overextension of a universal principle that constrains the sort of local
relations that can be established in a sentence (Relativized Minimality)
(RIZZI, 2006, 2013). Even though the relationship between the head of
an RC and its (phonologically null) copy (in the position of the gap) is
licensed in human languages, there are conditions in which intervention
occurs, thereby impairing the processing of ORCs (GRILLO, 2008,
2009; FRIEDMANN; BELLETI; RIZZI, 2009; FRIEDMANN; COSTA,
2010). The effect of intervention varies as a function of the syntactic
properties of the intervening element (the subject of ORCs) – the
greater the similarity between its syntactic properties and those of the
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1231
relativized element, more likely it is that intervention occurs (particularly
in children and language impaired individuals who may not have access
to the distinguishing WH-feature of the RC-object). In any case, insofar
intervention is characterized as an interface phenomenon, the possibility
of this effect being sensitive to contextual factors is an empirical question.
Approaches that rely on a general-purpose processor, with no
exclusive stage for syntactic computation, claim that non structural
information come into play since the very first steps of structural
analysis (eg., MACDONALD; PEARLMUTTER; SEIDENBERG, 1994;
TRUESWELL; TANENHAUS, 1994; STEVENSON, 1994; SPIVEY;
TANENHAUS 1998; Cf. MCRAE; MATSUKI, 2012). According to
one-stage models of sentence processing in constraint-based theories,
initial structural descriptions can be assigned based on interpretive
information, such as discourse information. Background information
would then constrain the structure assigned to the currently processed
material. These accounts predict that the processing cost associated with
structural factors can be overridden by properties of the narrative context
in which a sentence is inserted.
3 Reading relative clauses in context: Yang et al.’s study
The results obtained by Yang et al. (2013) in an eye-tracking
experiment, are viewed as providing support for this latter account of
language comprehension. In their study, the referent of the subject-DP
of relative clauses was repeatedly presented in subject positions along a
short narrative. The idea behind the manipulation was to create supportive
contexts for either SRCs or ORCs. It seems that the rationale was the
following: when reading the relative clause in a sentence like (5) after
narratives like (7), readers do not fall in the trap of expecting a subject
gap in the RC, since a subject function for babysitter (the proper subject
of the ORC) was consistently emphasized along the story previously
read. The same would hold true for sentences like (4) when read after
stories like (6).
For gaze duration measures, a general facilitatory effect of
contextual information was reported such that null contexts (test
sentences in isolation) produced longer fixation times (see Fig. 1). This
effect can be explained in terms of a purely lexical (pre-syntactic) priming
mechanism that benefits from recurrent activation of a DP in previous
1232
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
discourse in line with previous observations (GRODNER et al., 2005).
That is, the fact that the referents of the subject and the object of the RC
are reiterated along the narrative passage can make lexical recognition
and the access to the features of the lexical items easier in the analysis
of the test sentences. It seems, then, that the effect of gaze duration does
not say much about the attribution of structural descriptions.
In Yang et al.’s results the supportive contexts favoring SRCs led
to longer reading times for ORCs when compared to SRCs, as expected.
The typical asymmetry between ORCs and SRCs disappeared when the
latter were read after supportive contexts intended to favor ORCs (see
Fig. 1).
(4) SRC: The child that chased the babysitter squealed with delight at
the game.
(5) ORC: The child that the babysitter chased squealed with delight at
the game.
(6) Supportive context for SRCs: The child with a pony tail was playing
on the playground with the babysitter. She looked pretty good in the
pink sweater, and her white sport shoes were very cute. When the child
laughed, her voice sounded sweet. On this sunny spring day, the breeze
gently blew her brown hair. The child was busy picking up wildflowers,
chasing the birds, and playing a game of tag.
(7) Supportive context for ORCs: The babysitter with a pony tail was
playing on the playground with the child. She looked pretty good in
the pink sweater, and her white sport shoes were very cute. When the
babysitter laughed, her voice sounded sweet. On this sunny spring day,
the breeze gently blew the brown hair. The babysitter was busy picking
up wildflowers, chasing the birds, and playing a game of tag.
A closer look at Yang et al.’s data (see Fig. 1), however, calls into
question the claim that the contextual information provided overrides
the asymmetry between SRC and ORCS. It can be observed that ORCs
are not read faster in contexts intended to favor ORCs when compared
to contexts intended to favor SRCs. It seems, instead, that the processing
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1233
of SRCs becomes relatively more difficult in contexts favoring ORCs
(cf. Figure 1). It is not clear, then, whether the conclusion “the object
relative clause… becomes easier to read than the subject relative clause”
(YANG et al., 2013, p. 236) can be sustained.
FIGURE 1 – Results from Yang et al. (2013)
Gaze duration (left) and total fixation times (right) for relative clauses
per type of narrative contexts
It is important to note that the ORC favoring condition is the
only one, according to Yang at al.’s data, in which the typical asymmetry
between SRCs and ORCs fails to be attested. According to the authors,
this result is due to the consistent association of the referent of the RC
subject-DP with the subject function. In the absence of the reiterated
recovery of a given referent by a subject RC in the supportive context
provided, as in Fedorenko et al. (2012), the asymmetry between ORCs
and SRCs prevails. Fedorenko et al. (2012) tested relative clauses like
(8) and (9) in a self-paced reading experiment. The typical asymmetry
between ORCs and SRCs was observed with or without the presence of
previous short narratives like (10).
(8) I heard that the reporter that attacked the senator admitted to making
an error.
(9) I heard that the reporter that the senator attacked admitted to making
an error
1234
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(10) At the press-conference, a senator and two reporters got into an
argument. The senator attacked one of the reporters and then the other
reporter attacked the senator.
An alternative explanation for the relative difficulty of SRCs in
ORC favoring context and the absence of a facilitative effect in ORCs
can be provided. Given the sentence (4) in context (7), the sudden
reintroduction of the DP the child after several mentions of the concurrent
DP the babysitter may explain the longer reading times for SRCs in the
context condition. If this is the case, it can be argued that the parsing of
the embedded sentence was not necessarily affected by the contextual
information provided.
4 Experiment
4.1 Design and predictions
The experiment reported here was intended to make the contrast
between supportive contexts clearer than in Yang et al.’s study in order to
verify the extent to which a biasing context can override the asymmetry
between subject and object RCs.
As in that study, the eye-tracking methodology was used in a
reading comprehension task. Unlike that study, the present one focused
only on the comparison between SRCs and ORCs in two different
contexts. The null condition was excluded here. The sort of experimental
material used in that study was nevertheless maintained. The supportive
contexts were characterized in relation to the element that is consistently
presented by a DP-subject in the narrative preceding the test sentences,
that is, the referent of the subject of the RC. As such, Context A was
intended to favor the processing of SRC and Context B the processing
of ORCs, as in Yang et al.
The reading task consisted of the silent reading of a narrative
in which the critical sentence was included. A comprehension question
was to be answered based on this story. The reading task and the
comprehension question were followed by a distractor rating task,
in which the participants should evaluate how coherent or sound the
story was, using a 1 (very bad) to 5 (very good) scale, insofar as the
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
1235
experimental material, following the original study, might not sound
natural in some cases. After the rating task, subjects had to press the
space bar to move to the next stimulus.
The independent variables were (i) the type of RC structure (SRC
or ORC) ((11) & (12)) and (ii) type of Narrative context (Context A and
Context B) ((13) & (14)), in a 2x2 factorial design. Context A emphasized
the subject of SRC and Context B, the subject of ORCs.
(11) SRC: O banqueiro que [∆ irritou o advogado] joga tênis todo sábado.
The banker that irritated the lawyer plays tennis every Saturday.
(12) ORC: O banqueiro que [o advogado irritou ∆] joga tênis todo sábado.
The banker that the lawyer irritated plays tennis every Saturday.
(13) Context A - bias for SRC: O dia do banqueiro começou com uma
rápida lida nos jornais para ver o que estava acontecendo no mundo. O
telefone dele não parava de tocar. Ele atendia educadamente, mas [ele]
estava esperando impacientemente a ligação do advogado. A ligação
finalmente veio. O banqueiro falou no telefone por mais de uma hora.
Apesar disso, eles não chegaram a um acordo. [RELATIVA]. Eles
costumam se encontrar no clube de tênis. O banqueiro esperava encontrar
com o advogado novamente neste sábado. (The banker´s day started
with a quick reading of the newspapers to see what was going on in the
world. His phone didn’t stop ringing. He answered politely, but [he] was
impatiently waiting for a call from the lawyer. The call finally came. The
banker talked on the phone for more than one hour. Despite this, they
didn´t come to a deal. [RELATIVE CLAUSE]. They usually meet on the
tennis club. The banker hoped to meet the lawyer again this Saturday.)
(14) Context B – bias for ORC: O dia do advogado começou com uma
rápida lida nos jornais para ver o que estava acontecendo no mundo. O
telefone dele não parava de tocar. Ele atendeu educadamente, mas [ele]
estava esperando impacientemente a ligação do banqueiro. A ligação
finalmente veio. O advogado falou no telefone por mais de uma hora.
Apesar disso, eles não chegaram a um acordo. [RELATIVA]. Eles
1236
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
costumam se encontrar no clube de tênis. O advogado esperava não ter
que cruzar com o banqueiro no clube. (The lawyer’s day started with a
quick reading of the newspapers to see what was going on in the world. His
phone didn’t stop ringing. He answered politely, but [he] was impatiently
waiting for a call from the banker. The call finally came. The lawyer talked
on the phone for more than one hour. Despite this, they didn´t come to a
deal. [RELATIVE CLAUSE]. They usually meet on the tennis club. The
lawyer hoped to meet the banker again this Saturday.)
Three critical regions were delimited: the head noun region (head
DP + relative pronoun); the RC region (the subject-verb-object structure
following the relative pronoun, in which either the subject position or
the object position present a gap); and the spillover region immediately
after the RC, including the main verb.
(15) Head que [that] Subj. Verb Object (…) main clause verb
1
2
3
1. Head noun region
2. RC region
3. Spill-over region
The relevant regions for comparing the present results with the
results of Yang et al. are 2 and 3. Region 1 makes it possible to capture
differences in reading times due to regressions. This region was also
intended to provide means of verifying if changing the referent of the
main clause subject could explain the longer reading times for SRC in
the ORCs supportive context in Yang et al.’s study.
The dependent variables were (i) total fixation duration at the
head noun region, (ii) total fixation duration at the RC region, and
(iii) total fixation duration at the spillover region. By total fixation
duration, we mean the sum of all fixations on a portion of the sentence
comprehended between the moment that the eyes first fixate on this
region to the moment the last fixation in that area is detected, including
all regressions. Additionally, the number of correct responses to the
comprehension questions was considered.
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1237
The following predictions were verified:
(a) If the effect of structure prevails, a main effect of RC structure
is expected with longer total fixations in ORCs in the RC region and in
the spillover region (the region which includes the main clause verb,
where the complex subject is analyzed in relation with the verb).
(b) If the type of narrative context interferes in RC processing, in
the RC region, an interaction between RC structure and Context should
be obtained, in which the asymmetry between SRC and ORC is reverted
or neutralized in Context B.
4.2 Method
PARTICIPANTS
The participants were 41 undergraduate students (30 female)
from Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio). Nine
of them were excluded due to bad calibration, errors of the researcher or
due to bad performance on comprehension questions. The participants
signed a term of consent and volunteered to take part in the experiment.
Their participation was exchanged for course credits. The mean age of
the final sample was 22.15 years old.
MATERIAL
40 test narratives were constructed, 20 for each version (favoring
SRC or favoring SRC), as close as possible to the original narratives in
English. There were also 40 test-sentences containing relative clauses,
20 for each version (SRCs or ORCs). Besides the critical stimuli, an
additional 10 fillers and 2 training narratives were created. Four lists were
constructed in such a way that the participants could see each version
of a relative clause only once. Materials were presented in computer
screen in a monospaced font with each 1º of the visual field ranging
approximately 4 characters.
1238
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APPARATUS
A 300 Hz eye-tracker (with 0.5º accuracy and 0.4º precision) was
connected to a Windows desktop computer for monitoring participants
while stimuli were presented in a 23” full-hd screen. The software Tobii
Studio was used for presenting stimuli, collecting data and analyzing
the results. Subjects’ verbal responses to comprehension questions and
rating tasks were recorded through a Samson USB microphone.
PROCEDURE
Subjects had to read text passages presented at the computer
screen while their eye movements were recorded. The session was preceded by a calibration phase. In this phase, subjects were required to
look at 9 points in the screen. Additional recalibration points were shown in case of bad calibration. The calibration phase was followed by
a training phase, in which two narratives were presented. Then, if the
participant demonstrated having understood the procedure, one of the
four lists of randomly ordered items was presented. After each story,
question and rating task, the space bar was to be pressed for the next
stimulus. The comprehension questions and rating task were orally
answered by the participant. There was a break in the middle of each
session in which the participant was allowed to rest. The second half
of the session restarted with another calibration phase, as soon as the
participant signaled to be ready. The whole session lasted between 25
and 35 minutes.
4.3 Results
4.3.1 Comprehension question
There were 91.4% correct response to the comprehension
questions. The comprehension task was, therefore, easily performed.
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1239
4.3.2 Reading time
The data concerning the total fixation duration (ms) in each
critical region were analyzed by means of ANOVAs. Graph 1 presents
the mean total fixation duration in the head noun region in each condition.
For this region, a main effect of RC structure was obtained (F(1,31) =
13,6 p > .0009), with longer reading times for ORCs (M = 920 ms) when
compared to SRCs (M = 718), probably due to regressions during ORC
reading (cf. Graph 2).
GRAPH 1– Mean total fixation duration at the head noun
region per condition (ms)
Context A: bias for subject RC | Context B: bias for object RC
GRAPH 2 – Mean total fixation duration at the head noun
region per Structure of RC (ms)
1240
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GRAPH 3 – Mean total fixation duration at the relative clause
region per condition (ms)
Context A: bias for subject RC | Context B: bias for object RC
For the Relative clause region, Graph 3 presents the mean total
fixation duration per condition. A main effect of RC structure was
obtained (F1(1,31) = 24,9 p < .00003; F2(1,19) = 12,3 p < .003) (cf.
Graph 4). Longer reading times were associated with ORCs regardless
of context. A main effect of Narrative context (F1(1,31) = 24,9 p < .001;
F2(1,19) = 6,47 p < .02) was also obtained, with longer reading times in
context A than in B (cf. Graph 5).
GRAPH 4 – Mean total fixation duration at the relative clause
region per Structure of RC (ms)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
1241
GRAPH 5 – Mean total fixation duration at the relative clause
region per Context (ms)
Context A: bias for subject RC | Context B: bias for object RC
Graph 6 presents the mean fixation time for the spill over region.
A main effect of RC structure (F1(1,31) = 35,1 p < .000003; F2(1,19)
= 15,9 p < .0008) was obtained due to longer reading times for ORCs
independently of Narrative context (cf. Graph 7). Neither a main effect
of narrative context nor a significant interaction between variables was
attested.
GRAPH 6 – Mean total fixation duration at the spill-over region
per condition (ms)
Context A: bias for subject RC | Context B: bias for object RC
1242
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
GRAPH 7 – Mean total fixation duration at the spill-over region
per Structure of RC (ms)
4.4 Discussion
The direct comparison of SRC and ORC in contexts A and B
provided a clearer picture of the role of a supportive context in which the
subject of the RC is reiterated as the subject of the previous sentences.
The results support prediction (a): ORCs had longer total fixation duration
than SRCs regardless of Context in the three critical regions. No evidence
was obtained for ORC processing being facilitated by supportive contexts
in such a way as to revert or neutralize the asymmetry between SRCs
and ORCs (prediction (b)). Unlike Yang et al.’s results, longer times
were not obtained in SRC in Context 2 in the RC region and no effect
of context could be captured in the head noun region that could suggest
that altering the referent of the subject of the main clause could have
impact in the processing of SRCs. The effect of RC structure in region 1
(the head noun region) is likely to be due to regressions, since the total
fixation duration includes not only first-pass reading (ie. the first time
the eye passes through a word), but also backward fixations detected on
a critical region. This effect seems, then, to reflect processing costs of
the RC region and, in particular, the higher cognitive demands of ORCs.
A possible effect of the alternation of the subject of the main clause in
the processing of SRCs in Yang et al.’s study was not captured here. It is
possible that other eye-tracking measures (related to first-pass reading)
or a self-paced reading task can provide further information about the
effect of the reintroduction of a possibly unexpected DP.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
1243
Overall, these results suggest that the analysis of ORCs is more
demanding than SRCs, no matter the particular context they are inserted
in. Syntactic based models can explain these results as a possible feature
intervention effect (GRILLO, 2008; FRIEDMANN; COSTA, 2010),
which adds to the transient memory load and can lead to reanalysis (eg.
CLIFTON; FRAZIER, 1989).
As for the effect of Narrative context in the RC region, it was not
predicted. It does not seem to have affected the processing of the fillergap relationship per se. This effect, unlike the effect of RC structure, was
not maintained in the spill-over region (the matrix verb region), when
the complex DP is processed as the subject of the verb. It is suggested
then that the preceding context affected the processing of the critical
sentence at the level of lexical access only. It seems that the repetition
of the item that is overtly present in the RC in context B (advogado) (see
the example (13) repeated below as (15)) has facilitated its recognition
in both RC types ((16) and (17)), leading to the shorter reading times
in the RCs in Context B. Facilitation is observed, then, when the DP
phonetically visible inside the RC (and not the referent of the gap) is
emphasized in prior discourse.
(15) Context A: O dia do advogado começou com uma rápida lida nos
jornais para ver o que estava acontecendo no mundo. O telefone dele não
parava de tocar. Ele atendeu educadamente, mas [ele] estava esperando
impacientemente a ligação do banqueiro. A ligação finalmente veio. O
advogado falou no telefone por mais de uma hora. Apesar disso, eles
não chegaram a um acordo. [RELATIVA]. Eles costumam se encontrar
no clube de tênis. O advogado esperava não ter que cruzar com o
banqueiro no clube.
(16) SRC: O banqueiro que [∆ irritou o advogado] joga tênis todo sábado.
(17) ORC: O banqueiro que [o advogado irritou ∆] joga tênis todo sábado.
In sum, the present data support the view that the higher
processing cost of ORCs is maintained regardless of context, as suggested
by Fedorenko et al. (2012). Having the two types of supportive contexts
envisaged in the Yang et al.’s study contrasted, in the absence of the null
1244
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
context condition, provided a clearer assessment of the possibility of the
reiterated mention of the subject of the RC in the subject of previous
sentences alter the relative processing cost of sentences with RCs.
The more plausible explanation for the effect of context in Yang
et al.’s study is that it was due to pre-syntactic lexical priming; that is,
having the test sentences in a discourse context can facilitate lexical
access in the RC. A spurious lexical effect along these lines may account
for the main effect of context in the present study. It is also worth noting
that in the narratives provided, the information conveyed by the RC was
not necessarily crucial for the identification of a given referent in a set of
referents of the same type. In the contexts exemplified in (6-7; 13-14),
for instance, the restrictive RC singles out a single child and a single
banker in the class of children and bankers, whereas in a context such
as (10), the RC distinguishes a single reporter in a set of two reporters.
The immediate search for the referent of the head/noun and the subject/
object of the RC, as captured in Forster et al. (2011, 2013), which may
facilitated by a post-syntactic priming, is not crucially required in more
descriptive RCs (as in 6-7). An effect of pre-syntactic lexical priming
may therefore predominate, irrespective of the gap-filler relationship.
Given the prevalence of the effect of structure in the present
results, potential contextual influence in RC processing can be due to
either pre or post-syntactic effects. In the next section, the integration
of RC information with the background context is characterized in the
context of an on-line model of sentence computation, which incorporates
an autonomous parser.
5 Pre and post-syntactic effects in the on-line processing of restrictive
RCs
One of the main challenges for a syntactically oriented model
of sentence processing is to account for the incremental mapping of
DPs onto referents as the analysis of the sentence proceeds, which
enables information from different sources to be integrated. Evidence
for incrementality in sentence processing has motivated the proposal of
single-stage constraint theories (eg. MACDONALD; PEARLMUTTER;
SEIDENBERG, 1994; TRUESWELL; TANENHAUS, 1994;
STEVENSON, 1994; SPIVEY; TANENHAUS 1998; Cf. MCRAE;
MATSUKI, 2012). There is, nevertheless, compelling evidence for a
syntax-first path analysis giving rise to small chunks of syntactically
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1245
analyzed material that can be semantically interpreted and mapped onto
the referential world as the analysis of the sentence proceeds (from left
to right) (VOS; FRIEDERICI, 2003).
It is our contention that the current developments of (Chomskyan)
generative linguistics go in the direction of minimizing the differences
that have been pulling apart constraint-based theories and dual-stage
models of sentence processing (cf. CORRÊA et al., 2012). Notice
that universal principles that constrain possible syntactic relations in
human languages are viewed as being imposed by performance systems
(CHOMSKY, 1995, 2005; RIZZI, 2006, 2013) and all grammatical
information is codified in the formal features of the lexical items. Formal
features have interpretable and non-interpretable counterparts, which
enable syntactic computation to be conducted modularly, while at the
same time guaranteeing the interpretability of the product of the syntactic
analysis. From a psycholinguistic point of view, having grammatical
information represented as formal features of lexical items makes lexical
access (which can be influenced by different factors) a precondition for
syntactic processing. Moreover, computation (the merging of lexical
items, giving rise to hierarchically structured objects) starts by the
selection of items in an initial array or subarray. From a psycholinguistic
point of view, the elements of these (sub) arrays are retrieved from the
mental lexicon during on-line computation, in sentence production/
comprehension. Derivation proceeds by phase (that is, as soon as there is
a chunk of semantically interpretable syntactically analyzed material, the
output of syntactic computation is transferred to the interfaces levels, i.e.
it becomes accessible to processing systems (CHOMSKY, 2001). These
developments of linguistic theory enable a model of on-line syntactic
computation to be conceived of, which can account for incrementality
in sentence processing while keeping an autonomous parser (CORRÊA;
AUGUSTO, 2007, 2011). In particular, it has been argued that having DPs
as phases in an on-line model of syntactic computation, in which phases
are transferred from left to right (cf. AUGUSTO; CORRÊA; FORSTER,
2012) makes it possible to account for pre and post-syntactic effects in
the comprehension of restrictive RCs.
1246
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FIGURE 2 – On line processing of restrictive ORC with post-syntactic priming
In Forster (2013), a procedural characterization of RC processing
was proposed in which a post-syntactic effect of background context
could be predicted. This account incorporates a processing unit equivalent
to phase, and the HOLD model of RC comprehension in Corrêa (1986,
1995). According to that model, as soon as soon as the relative pronoun is
recognized, the closure of the current phrase (the DP) is postponed. The head
noun is held active in working memory to be retrieved when a gap is found.
In the present version, the holding of the head noun would be promoted by
the recognition of the relative pronoun in the edge of a phase (cf. Fig 2).
This computation presupposes recognition and access to the
lexical items presented in a sequence and analyzed from left to right.
Pre-syntactic effects in sentence comprehension occur in the lexical
recognition process. Once lexical items are recognized (via their
phonological/written form), their formal and semantic features can be
retrieved from the mental lexicon. This retrieval is amenable to the effect
of frequency as well as to an effect of lexical priming when sentences
are processed in discourse. The frequency of the items in language use,
in the previous context, their salience in previous sentence and in the
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1247
discourse and the mere fact of having been presented can be reflected in
processing speed (reading time, for instance).
Once recognized, the lexical items are merged into syntactic
objects solely based on the grammatical information represented in their
formal features (their semantic and phonological features are processed
at the interface levels). As soon as uninterpretable features are eliminated
(in the syntactic module), a chunk of information is sent to the interfaces.
This syntactic object can be semantically interpreted and even mapped
onto a referent/event. At the same time, its lexical features are kept active
in working memory (edge features) so that further syntactic computation
requiring it, such as gap filling operation, can occur. A DP mapped onto a
referent (or an antecedent in discourse) may promote the retrieval of an
event and its participants (introduced in the discourse by means of DPs).
These DPs can then promote a post-syntactic priming effect. Keeping
lexical features active in working memory makes them vulnerable to
intervention effects once the analysis of the sentence proceeds (such as
an immediate gap filler strategy).
Pre-syntactic effects in sentences processed in discourse contexts
are expected to necessarily occur. Post-syntactic effects due to the
mapping of DPs onto referents as the analysis of the sentence proceeds
are likely to occur when the information in the RC is deeply integrated,
that is, crucial for the identification of the referent of the head noun (as
in CORRÊA et al., 2012; FORSTER, 2013).
The extent to which an effect of feature intervention can be
minimized in contexts such as (10) is still an open question. There is
evidence that typical and language impaired children improve their ability
to process object which-questions (vulnerable to intervention) when more
than one possible referent to the head noun is available in the discourse
context (CORRÊA et al., 2012). In sum, pre-syntactic factors cannot
affect the asymmetry between SRC and ORC, but the availability of
lexical representations for syntactic computation to start. As for a postsyntactic effect, it is likely to be restricted to ORCs since the subject of
a SRC can be immediately filled in as the verb is recognized. This is,
nevertheless, an empirical question to be explored in the future.
1248
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
6. Final remarks
The present results suggest that the differential demands of SRC
and ORC are maintained in narrative contexts, at least in contexts in which
the referent of the subject of the RC is consistently presented in subject
position in the preceding discourse. The higher transient memory load
between the head noun and the gap in ORCs (WANNER; MARATSOS,
1978; CORREA, 1995) possibly due to feature intervention (GRILLO,
2009) is an account that can be sustained based on the present results.
Previous results suggesting the neutralization of this asymmetry allow
alternative interpretations. Testing the impact of the main clause subject
of a sentence with a center-embedded SRC in contexts favoring ORCs,
by means of a self-paced reading task, is a follow-up planned to evaluate
a possible alternative explanation for the asymmetry between SRC and
ORCs observed in Yang’s et al. results.
The main effect of contextual information obtained in the present
study seems to stem from a pre-syntactic priming effect, which is likely
to affect lexical access during discourse processing. Possible postsyntactic integration of restrictive RCs with prior information require,
nevertheless, further investigation. A contrast between restrictive RCs that
enables the identification of a single referent in a previously introduced
set of individuals of the same type with restrictive RCs that describe a
distinguishing property of a previously introduced referent can provide
means of verifying the extent to which integrating the subject of an ORC
with a past event affects processing costs.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1225-1254, 2017
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APPENDIX A
(1)
[SRC] O banqueiro que irritou o advogado joga tênis todo sábado.
[ORC] O banqueiro que o advogado irritou joga tênis todo sábado.
(2)
[SRC] A criança que achou a babá ria alegremente da brincadeira.
[ORC] A criança que a babá achou ria alegremente da brincadeira.
(3)
[SRC] O piloto que elogiou a aeromoça a chamou para um encontro.
[ORC] O piloto que a aeromoça elogiou a chamou para um encontro.
(4)
[SRC] O atacante que odiava o zagueiro agrediu o rival.
[ORC] O atacante que o zagueiro odiava agrediu o rival.
(5)
[SRC] O executivo que amava a secretária chamou até o porteiro para festa.
[ORC] O executivo que a secretária amava chamou até o porteiro para festa.
(6)
[SRC] O médico que ignorava a enfermeira dirigia um conversível vermelho.
[ORC] O médico que a enfermeira ignorava dirigia um conversível vermelho.
(7)
[SRC] O mecânico que namorava a garçonete sempre a convidava para almoçar.
[ORC] O mecânico que a garçonete namorava sempre a convidava para almoçar.
(8)
[SRC] A escritora que elogiou o fotógrafo trabalhava para uma revista de arte.
[ORC] A escritora que o fotógrafo elogiou trabalhava para uma revista de arte.
(9)
[SRC] O ladrão que assustou o policial já tinha assaltado três casas naquela semana.
[ORC] O ladrão que o policial assustou já tinha assaltado três casas naquela semana.
(10)
[SRC] a editora que aborreceu a escritora demitiu toda a equipe.
[ORC] a editora que a escritora aborreceu demitiu toda a equipe.
(11)
[SRC] O prisioneiro que atacou o carcereiro provocou a rebelião.
[ORC] O prisioneiro que o carcereiro atacou provocou a rebelião.
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(12)
[SRC] O coreógrafo que admirava a dançarina deu a ela o papel principal.
[ORC] O coreógrafo que a dançarina admirava deu a ela o papel principal.
(13)
[SRC] A lavradora que desprezava o fazendeiro ligou para os jornais e reclamou.
[ORC] A lavradora que o fazendeiro desprezava ligou para os jornais e reclamou.
(14)
[SRC] A professora que criticou o estudante ficou um pouco envergonhada.
[ORC] A professora que o estudante criticou ficou um pouco envergonhada.
(15)
[SRC] A cliente que desagradou o psicólogo não voltou mais às sessões.
[ORC] A cliente que o psicólogo desagradou não voltou mais às sessões.
(16)
[SRC] O jogador que gostava do carregador foi chamado para um torneio
profissional.
[ORC] O jogador que o carregador gostava foi chamado para um torneiro
profissional.
(17)
[SRC] O caçador que viu o guarda saiu correndo pela floresta.
[ORC] O caçador que o guarda viu saiu correndo pela floresta.
(18)
[SRC] O historiador que criticou o estudante se sentiu mal por aquela situação.
[ORC] O historiador que o estudante criticou se sentiu mal por aquela situação.
(19)
[SRC] A atriz que convocou o diretor pediu o papel principal do novo filme.
[ORC] A atriz que o diretor convocou pediu o papel principal no novo filme.
(20)
[SRC] O lobo que atacou a serpente feriu gravemente o animal.
[ORC] O lobo que a serpente atacou feriu gravemente o animal.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
A aceitabilidade da anáfora logofórica em português brasileiro
The acceptability of logophoric anaphor in Brazilian Portuguese
Flávia Gonçalves Calaça de Souza
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
flavia.ufpb@hotmail.com
Rosana Costa de Oliveira
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
rosana.ufpb@gmail.com
Judithe Genuíno Henrique
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
judithegh@gmail.com
Resumo: Este trabalho buscou investigar se as estruturas logofóricas
são aceitáveis ou não para os falantes do português brasileiro (PB).
Diversas abordagens sintáticas e semânticas têm sido usadas para
explicar a logoforicidade, e uma forte discussão teórica é sobre qual tipo
de abordagem melhor dá conta do fenômeno. Autores como Reinhart e
Reuland (1993) apontam que a anáfora logofórica existe separadamente
das anáforas sintáticas na Gramática Universal. As anáforas sintáticas
são guiadas por fatores sintáticos como localidade e c-comando. Já a
logófora pode ou não observar essas condições sintáticas. Esses estudos
também demonstram que, nos casos em que há logoforicidade, a anáfora
e o pronome são intercambiáveis, ou seja, tanto um quanto o outro podem
ser usados na mesma posição na frase. Com base nesses pressupostos
teóricos, examinamos a aceitabilidade de construções logofóricas em PB
com a finalidade de saber se elas estão presentes na gramática dos falantes
dessa língua. Foi realizado um experimento off-line de julgamento de
aceitabilidade, visto que, segundo Gibson e Fedorenko (2013), a intuição
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1255-1290
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do linguista não é suficiente para averiguar tal aceitabilidade. O presente
experimento mostrou que a anáfora logofórica é licenciada em PB, o que
aponta que os sujeitos veem a anáfora logofórica e o pronome logofórico
como diferentes. Não houve resultado significativo para o pronome, o
que não nos permite apontar que não são licenciados em PB.
Palavras-chave: julgamento de aceitabilidade; logoforicidade; anáfora;
pronome.
Abstract: This study sought to investigate whether these structures are
acceptable or not for the speakers of Brazilian Portuguese. Both syntactic
and semantic approaches have been used to explain the logophoricity
and a strong theoretical discussion is about what kind of best approach
to account for the phenomenon. Much of the literature on the subject
Reinhart and Reuland (1993) points out that logophoric anaphora exists
separately from syntactic anaphora in Universal Grammar. The syntactic
anaphora is guided by syntactic factors such as location and c-command.
Already logophor may or may not notice these syntactic conditions. These
studies also demonstrate that where there logophoricity, the pronoun and
anaphora are interchangeable, so, either one or the other can be used in
the same position in the sentence. Based on these theoretical assumptions,
we examine the acceptability of logophorics buildings in PB in order to
know if they are present in the grammar of the speakers of that language.
An offline experiment judgment of acceptability since that according to
Gibson and Fedorenko (2013) the linguistics intuition is not enough to
verify such acceptability. The following experiment showed the results
were significant for logophoric anaphora, which shows that a degree I
anaphora and logophoric pronoun as different. There was no significant
result for the pronoun, which does not allow us to point out that are not
licensed in PB.
Keywords: judgment of acceptability; logophoricity; anaphora; pronoun.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016
Aprovado em: 4 de abril de 2017
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1 Introdução
A Teoria da Ligação (Binding Theory) (CHOMSKY, 1981) busca
estudar as relações de correferência que existem entre as expressões
nominais e pronominais, dentro do escopo da sentença. Para explicar
tais relações, Chomsky (1981) prediz três princípios que regem essas
relações, a saber:
(1)
Princípio A – Uma anáfora deve ser presa no seu domínio de
ligação.1
Princípio B – Um pronome deve ser livre no seu domínio de
ligação.
Princípio C – Uma expressão R – referencial deve ser livre.2
O Princípio A, que se refere às anáforas reflexivas e recíprocas (se,
um ao outro), prediz que uma anáfora deve ser presa em seu domínio de
ligação, isto é, estar ligada por um antecedente que esteja c-comandando
e em seu domínio local. Compreende-se por c-comando a noção sintática
de liame entre dois constituintes. Observemos o exemplo abaixo:
(2)
[O neto do Joãok]3 se i/*k adora.
Neste exemplo, o DP “O neto do João” é o antecedente da anáfora
“se”, assim o DP “O neto do João” está c-comandando a anáfora “se”.
O Princípio B refere-se aos pronomes, este afirma que todo
pronome deve ser livre no seu domínio de ligação, isto é, não pode haver
a presença do antecedente e do pronome na mesma sentença. Vejamos
os exemplos abaixo:
(3)
a. [Penhai acha que [Bruna vestiu elai com o vestido. ]]
b. *[Penha acha que [Brunai vestiu elai com o vestido. ]]
Entendemos por domínio de ligação o limite que apresenta a anáfora e seu antecedente.
Binding Principles (CHOMSKY, 1981)
A. An anaphor must be A-bound in its binding domain.
B. A pronominal must be A-free in its binding domain.
C. An R-expression must be A-free.
3
Índice de indexação.
1
2
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A sentença (3a) é absolutamente plausível, pois o antecedente
está fora do domínio do pronome, ao contrário da sentença (3b), que é
agramatical, pelo fato de termos o pronome e seu antecedente no mesmo
domínio, conforme defende a Teoria da Ligação.
E por fim, porém não menos importante, temos o Princípio C.
Este faz menção às expressões referenciais, que devem ser livres em
qualquer contexto de ocorrência, pois possuem autonomia referencial e,
assim, não precisam ser ligadas. Observemos o exemplo abaixo:
(4)
O João observou o Pedro na sala.
Em alguns casos, a anáfora não está restrita às condições de
ligação propostas por Chomsky (1981), como mostra Reinhart e Reuland
(1993). Estes autores denominam esse tipo de anáfora de logofórica.
Vejamos:
(5)
Maria contava cinco pessoas na cozinha, além de si mesma/dela.
(6)
Carlos viu uma blusa perto de si/dele.
Nos exemplos acima, a anáfora está em um PP adjunto, não sendo
um argumento exigido pelo verbo. Segundo Reinhart e Reuland (1993),
Chomsky (1981, 1986) não explica os contextos em (5) e (6), justamente
pelo fato da anáfora e seu antecedente não serem coargumentos. Essas
anáforas não estão de acordo com o previsto pela Teoria da Ligação,
pois esta não explica a correferência com antecedentes fora do domínio
de ligação.
A partir destes e de outros contraexemplos, Reinhart e Reuland
(1993) observam as anáforas a partir da noção de argumentos, apontando
que a anáfora é logofórica quando não está em posição argumental. A
anáfora sintática, como o próprio nome aponta, é guiada por fatores
sintáticos como localidade e c-comando, e a anáfora logofórica relacionase com os fatores discursivos. Como nos exemplos que seguem:
(7)
João se vangloriava de que o prefeito convidou Ana e ele mesmo
para um café da manhã.
(8)
Vânia encontrou tempo para verificar que, além dela mesma,
havia um outro funcionário que tinha sido demitido.
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1259
Nas sentenças acima nota-se que a previsão de Chomsky (1981;
1986) para as anáforas não podem ser verificadas, uma vez que em ambas
as sentenças a anáfora não está no domínio de ligação. Zribi-Hertz (1989)
fornece cerca de 130 exemplos, como os apresentados acima, de sentenças
em que a anáfora não se encontra em posição argumental.
Reinhart e Reuland (1993) ainda afirmam que é possível haver
um pronome logofórico sempre que houver uma anáfora logofórica,
como em (9) e (10):
(9)
Carlos estava chateado quando Júlia colocou Bruno e ele mesmo
em perigo no paraquedismo.
(10) Carlos estava chateado quando Júlia colocou Bruno e ele em
perigo no paraquedismo.
O tipo de estrutura das sentenças (9) e (10) é bastante discutido
por Pollard e Sag (1992) e Reinhart e Reuland (1993), visto que é
consistente com o fato de que em inglês o pronome é uma forma aceitável
para ser alternada com a anáfora, mantendo a mesma interpretação.
O presente trabalho tem como foco verificar a aceitabilidade da
anáfora logofórica e do pronome logofórico em PB, isto é, nosso objetivo
foi averiguar se os sujeitos julgam as sentenças com anáfora logofórica
e pronome logofórico como aceitáveis ou inaceitáveis de acordo com
sua intuição.
Gibson e Fedorenko (2013) apontam que, apesar das intuições
do pesquisador serem úteis para diversos estudos, em muitos outros não
se pode ter uma confiabilidade alta apenas através da intuição, exigindo
um controle metodológico mais rigoroso a fim de detectar sutilezas e
distinguir entre diferentes posições teóricas. O autor ainda afirma que um
grande problema com o campo de estudo da sintaxe é que muitos artigos
não incluem a evidência experimental como apoio de suas hipóteses de
pesquisa. Também é recomendado pelo autor que os estudos reúnam
evidências quantitativas para que haja uma melhoria para este campo
de estudo. Levando em conta tal importância, nesta pesquisa demos um
enfoque ao método quantitativo de Julgamento de Aceitabilidade, em que
os sujeitos fizeram o julgamento das sentenças com anáfora logofórica e
pronome logofórico com o intuito de apresentar dados confiáveis sobre
a aceitabilidade dessas sentenças.
1260
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O experimento offline de julgamento de aceitabilidade realizado,
teve como objetivo central observar a aceitabilidade de anáforas
consideradas logofóricas, especificamente da anáfora “ele mesmo” em
português brasileiro (PB), com a finalidade de compará-la ao pronome
“ele”, para compreender se, assim como no inglês, esse fenômeno está
presente na gramática dos falantes do PB. Por hipótese, com base na
Teoria da Reflexividade de Reinhart e Reuland (1993), essas estruturas
seriam aceitáveis e não violariam as condições de ligação por não estarem
restritas a elas.
É importante destacar que existe uma escassez de estudos em
português brasileiro sobre a resolução de logofóricos e os processos que
ela exige. Assim, nosso trabalho, além de verificar a aceitabilidade das
estruturas logofóricas em PB, buscou fazer um levantamento bibliográfico
de estudos realizados em outras línguas sobre esse tema que apontam
que a anáfora logofórica existe separadamente da anáfora sintática na
Gramática Universal (GU).
2 A logoforicidade em Linguística
Apesar de em alguns casos as relações entre anáforas, pronomes
e os seus antecedentes serem estabelecidas obedecendo a restrições da
Teoria da Ligação (CHOMSKY, 1981), alguns estudos (REINHART;
REULAND, 1993; ZRIBI-HERTZ, 1989) mostram que essas formas
podem ser interpretadas de outras maneiras. Como apontado acima, a
logoforicidade ocorre nesses casos e tem sido caracterizada e definida
a partir de diversas perspectivas. Uma dessas perspectivas é não estar
sujeita às restrições de c-comando e localidade impostas pela Teoria da
Ligação ao possuir um status logofórico.
A seguir, serão delineadas, em mais detalhes, as abordagens de
Chomsky (1981), Reinhart e Reuland (1993) e Zribi-Hertz (1989), com
a finalidade de fazer um levantamento descritivo desse tema tão pouco
pesquisado. Algumas dessas abordagens observam a anáfora logofórica a
partir da configuração de c-comando, ou seja, tanto limitando e definindo
por meio das restrições de natureza sintática, quanto observando o
discurso e a semântica antes da sintaxe. Na abordagem de Zribi-Hertz
(1989), por exemplo, a prioridade teórica é dada aos fatores discursivos.
Caso estes não deem conta, o domínio sintático é procurado.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
1261
2.1 Chomsky (1981)
A Teoria da Ligação formulada por Chomsky (1981) descreve
as restrições sintáticas sobre as anáforas, pronomes e expressões
referenciais. Ele postulou três princípios de vinculação: A, B e C. O
princípio A prediz que uma anáfora deve ser ligada ao antecedente
que está em seu domínio, ou seja, deve estar ligada ao antecedente
que está na oração mínima que contém a anáfora. Além da presença de
um antecedente local, o princípio A também prediz que o antecedente
c-comande a anáfora. Nas sentenças abaixo, temos dois exemplos de
anáforas vinculadas a seu antecedente local:
(11) [A prima de Joana]i sei acha muito bonita.
(12) O Carlosi machucou ele mesmoi enquanto cozinhava.
Já em (13) e (14), a seguir, vemos o exemplo de um DP que não
está c-comandando as anáforas se e ele mesmo, pois, de acordo com a
Teoria da Ligação, a anáfora se não pode se referir a Joana e a anáfora ele
mesmo não pode se referir a Carlos, tornando as sentenças agramaticais.
(13) *A prima de [Joana]i sei acha muito bonita.
(14) *O Carlosi machucou Vivian e ele mesmoi enquanto cozinhava.
O princípio B prevê que o pronome esteja livre em seu domínio
de vinculação. Na sentença (15) abaixo, o pronome ela não pode ter
como antecedente o DP Maria, pois está em seu domínio de vinculação.
(15) *A Mariai adora elai.
O princípio B, portanto, impõe que o pronome não pode ser ligado
ao seu antecedente local, distintamente do princípio A, que afirma que
a anáfora tem que estar ligada a esse antecedente.
Já o princípio C determina que as expressões referenciais devem
estar livres em qualquer contexto sintático, isto é, não podem estar
ligadas. Em (16), a expressão-R o animal não possui antecedente na
sentença, o que a torna gramatical. As expressões-R não necessitam
de um elemento antecedente para extrair seu significado, ou seja, são
independentes referencialmente, o que as diferencia das anáforas e dos
pronomes, que possuem dependência referencial.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
(16) O animal fez um grande barulho.
Ainda de acordo com a Teoria da Ligação, as anáforas e os
pronomes estão em distribuição complementar. Isto é, um elemento
pode estar na sentença somente onde o outro não pode. Assim, para que
a sentença seja considerada gramatical, esses elementos devem estar em
ambientes opostos. Uma anáfora deve ser ligada e um pronome deve
ser livre. Portanto, se uma anáfora possuir um antecedente dentro da
mesma oração que a inclui, a sentença é gramatical. Mas se nessa mesma
sentença houver um pronome em vez de uma anáfora, seria agramatical.
No entanto, vários autores têm demonstrado que esta distribuição
complementar nem sempre é possível de se constatar, pois sentenças
como (17) são consideradas gramaticais.
(17) Mateusi sabia que ninguém gosta de João e dele mesmoi/delei por
causa de suas personalidades.
A proposta de Reinhart e Reuland (1993), que veremos a seguir,
aponta que as anáforas como em (17) sejam observadas a partir da noção
de argumentos e, caso não sejam coargumentos do mesmo predicado,
permanecerão sendo consideradas gramaticais. A ideia fundamental é
que a distribuição complementar não exista em sentenças como em (17),
que contém uma anáfora logofórica.
2.2 Reinhart e Reuland (1993)
A Teoria da Reflexividade proposta por Reinhart e Reuland (1993)
surge a partir da necessidade de uma reformulação na Teoria da Ligação
(CHOMSKY, 1981) justificada pelos muitos problemas empíricos que
apresentaram os princípios A e B dessa teoria. Os autores também
questionam a distribuição complementar entre anáforas e pronomes,
levantando vários exemplos em que essa complementariedade falha.
Essa teoria ainda deixa clara a diferença quando há ligação e quando há
correferência entre as formas anafóricas.
Para tanto, os autores propõem retornar à interpretação dos
predicados reflexivos nas línguas naturais em que o verbo tem uma ligação
estreita com o fenômeno da reflexivização. A partir disso, a reflexivização
seria então analisada como uma propriedade dos predicados e não como
uma propriedade da anáfora, ou seja, a distribuição das formas anafóricas
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
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é feita a partir das propriedades semânticas das formas anafóricas, nesse
caso, a propriedade de reflexivizar um predicado (inherent properties).
É assumida, então, a seguinte definição de anáfora:
Anaphors (of both the SE and the SELF type) are
referentially defective NPs, which entails, for example,
that they cannot be used as demonstratives, referring to
some entity in the world (though it does not entail that
they must be bound variables). (REINHART; REULAND,
1993, p. 658).4
A partir dessa definição e das funções de ambos os tipos de
anáfora, é proposta uma tipologia das expressões anafóricas. As anáforas
SE e as anáforas SELF formam o mesmo grupo em relação à propriedade
de dependência referencial, e as anáforas SE e os pronomes agrupam-se
por não terem a função de reflexivizar. O resumo dessa tipologia segue
na tabela abaixo:
TABELA 1 – Proposta apresentada por Reinhart e Reuland (1993) para a distribuição
das anáforas e pronomes
SELF
SE
PRONOUN
Reflexivizing function
+
-
-
R(eferential Independence)
-
-
+
Fonte: Reinhart e Reuland (1993)
De acordo com a tabela acima, as anáforas SELF têm a
propriedade de reflexivizar um predicado (+ função reflexiva), mas não
têm independência referencial. Os autores consideram que essa função
reflexiva SELF é sensível às condições de ligação propostas por eles.
Já as anáforas SE não têm independência referencial como também não
“Anáforas (de ambos os tipos SE e SELF) são NPs referencialmente defeituosos, o
que significa, por exemplo, que eles não podem ser utilizados como demonstrativos,
referenciando alguma entidade no mundo (embora isto não signifique que eles devem
ser variáveis ligadas)”.
4
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são responsáveis por tornar um predicado reflexivo (- função reflexiva),
por serem apenas marcas para predicados inerentemente reflexivos. Os
pronomes, por sua vez, não reflexivizam predicados (- função reflexiva),
mas, ao contrário das anáforas, têm independência referencial por
possuírem traços de pessoa, gênero e número – não obrigatoriamente
todos.
É importante destacar que, para os autores, os dois tipos de
anáforas citadas podem ser usadas logoforicamente. Entretanto, devido
à escassez de estudos que façam a distinção das funções gramaticais e
logofóricas da anáfora, há muitos equívocos com relação à distribuição
sintática das anáforas e os termos local e longa distância, já que, se usadas
logoforicamente, os dois tipos de anáforas podem ocorrer em todos os
tipos de distância. Deste modo, os reflexivos logofóricos não possuem
uma regra específica, mas devem ser considerados gramaticais. No
entanto, os autores apontam que uma propriedade da anáfora logofórica
é não ser c-comandada (REINHART; REULAND, 1993, p. 660).
Reinhart e Reuland (1993) discutem que é possível haver um
pronome sempre que houver uma anáfora logofórica. Ao afirmar isso,
os autores não apresentam uma justificativa das razões de preferência
entre a anáfora logofórica e o pronome. Uma abordagem sugerida, em
nota, pelos próprios autores, é a de Ariel (1990), que leva em conta os
candidatos disponíveis mais acessíveis no discurso.
A respeito da função gramatical, afirmam os autores que os
domínios são apenas dois: local e longa distância. O domínio local
corresponde ao domínio de reflexividade no qual a anáfora SELF
obrigatoriamente reflexiviza o predicado. Esse domínio é regulado pelas
Condições A e B reformuladas por eles e as quais descreveremos adiante.
Já o domínio de longa distância refere-se ao domínio de ligação das
anáforas SE que seguem o padrão dos pronomes e, por isso, são regidos
pela Condição B.
As Condições A e B devem ser lidas como condicionais e são
assim definidas:
(i) Condição A: um predicado sintático marcado reflexivamente é
reflexivo.
(ii) Condição B: um predicado semântico reflexivo é reflexivamente
marcado.
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A Condição A aplica-se a predicados que são marcados
reflexivamente por vias sintáticas e a Condição B inerentemente
(semanticamente) a reflexivos. Entende-se por predicado sintaticamente
reflexivo como sendo aquele que tem dois dos seus argumentos
coindexados (com os traços de gênero, número e pessoa indistintos) e
por predicado reflexivamente marcado aquele ou que é lexicalmente
reflexivo (o que é marcado pela presença de uma anáfora SE) ou cujo
um dos seus argumentos indexados é uma anáfora SELF. Logo, não é a
anáfora em si, mas a marcação reflexiva que confere que seja interpretado
reflexivamente.
Sendo assim, para Reinhart e Reuland, as Condições A e B estão
relacionadas não com a configuração sintática de c-comando, isto é,
com a possibilidade de ligação com o antecedente disponível no mesmo
domínio da anáfora ou pronome, mas com a propriedade intrínseca do
predicado de ser ou não inerentemente reflexivo.
Com a finalidade de observarmos como as Condições A e B se
aplicam, vejamos os exemplos abaixo:
(18) a. *Johni likes himi.
b. Johni likes himselfi.
c. Johni said Ann likes himi5
Observe que em (18a) John e him são coargumentos do predicado
likes. Esse predicado sintático não será reflexivo porque ele não foi
marcado pela anáfora do tipo SELF, que corresponde à anáfora que
reflexiviza predicados, mas foi substituído por um pronome, tornando a
frase agramatical. Um predicado como like estaria submetido à condição
A – um predicado que seria sintaticamente marcado como reflexivo
porque um dos seus argumentos seria uma anáfora SELF. Em (18b),
a frase é gramatical porque a anáfora SELF está na sentença como
marcador reflexivo e está condizente com a Condição A. Já em (18c),
John é coargumento de said e him é coargumento de likes. Portanto, o
predicado não é reflexivo, já que não há coindexação entre os argumentos
de um mesmo predicado e, por isso, não é guiado pela Condição B. Em
5
*John gosta dele.
John gosta dele mesmo.
John disse que Ann gosta dele.
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(18c), os predicados não são semanticamente reflexivos e, por isso, não
são reflexivamente marcados.
Um dos problemas apontados pelos autores sobre a Condição A da
Teoria da Ligação (CHOMSKY, 1981) é a ocorrência de anáforas livres
de seu domínio, como mostrado por Kuno (1987) e Zribi-Hertz (1989)
com anáforas SELF de primeira, segunda e terceira pessoas. Vejamos:
(19) Max boasted that the queen invited Lucie and himself for a drink.
(20) *Max boasted that the queen invited himself for a drink.6
Reinhart e Reuland (1993) citam que, para Zribi-Hertz (1989), as
anáforas de terceira pessoa ligadas à longa distância violam o princípio
A e têm o uso conhecido como logofórico. Entretanto os autores
argumentam que não é possível concluir que os contextos em que há
ponto de vista7 permitem uma violação da Condição A. Para Reinhart
e Reuland (1993), não se trata apenas de uma questão discursiva, mas,
sobretudo, de uma questão estrutural, visto que em (20) a anáfora SELF
é um argumento de seu predicado e, por isso, o predicado é marcado
reflexivamente. Em (19), não há predicado marcado reflexivamente,
pois o argumento de invited não é apenas himself (anáfora SELF), mas
queen, com o qual himself não compartilha traços de gênero e, por isso,
não pode ser a ele coindexado.
A visão desenvolvida pelos autores, a partir da distinção entre
função gramatical e logofórica, mostra que a Condição A apenas é
aplicada à anáfora em posição argumental. Ou seja, as anáforas SELF que
ocorrem fora dessa posição (logofóricas) estão isentas dessa condição.
Ainda nesta discussão, os autores afirmam que a distinção
entre uso anafórico e uso logofórico do SELF é supérfluo, porque
sintaticamente existe apenas um tipo de anáfora, cujo uso é regido pela
Condição A. Isso exclui, de imediato, a anáfora SELF, em que não há
predicados reflexivos como aplicáveis a essa Condição. Portanto, a
logoforicidade não é codificada na sintaxe e o logóforo não tem que
Max se gabou que a rainha convidou Lucie e ele mesmo para uma bebida.
Max se gabou que a rainha convidou ele mesmo para uma bebida.
7
Tem sido caracterizada na literatura a noção de ponto de vista para indicar que a
correferência da anáfora/pronome com o autofalante, nos termos de Kuno (1987) cujo
discurso, pensamentos, sentimentos estão sendo relatados.
6
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1267
ser ligado/coindexado a um antecedente. A sua relação pode ser de
correferência (REINHART; REULAND, 1993, p. 673). Essa postura
entra em discordância com Sells (1987), que afirma que os logóforos,
especialmente os de perspectiva, são ligados.
Há apenas um caso em que a Condição A permite o uso logofórico
da anáfora SELF: quando esta não ocupa uma posição argumental e,
consequentemente, não marca o predicado como reflexivo.
Como afirmado acima, a Condição A governa a anáfora. Além
disso, também é postulado pela Teoria da Reflexividade que o pronome
não é excluído em certos contextos nos quais há a predição de uma
anáfora ocorrer. Um exemplo desse contexto é quando há um NP picture,
como em (21), no qual se prevê um mecanismo adicional para justificar
a ocorrência do pronome.
(21) Mary saw a Picture of herself8
Além disso, é importante enfatizar que uma propriedade da
anáfora logofórica citada pelos autores é que ela não tem que ser
c-comandada pelo seu antecedente. Dessa forma, os exemplos de NP
picture são facilmente aceitos, pois há correferência e não há ligação.
2.3 Zribi-Hertz (1989)
O artigo de Zribi-Hertz publicado em 1989 faz um levantamento
detalhado de ocorrências de pronomes reflexivos do inglês que são
compatíveis com a Teoria da Ligação chomskyana e observa que algumas
dessas anáforas violam o princípio A dessa teoria, o que mostra, segundo
ela, que se baseia em um corpo relativamente pequeno de dados e não é
suficiente para provar que a distribuição dos pronomes do uso cotidiano
é tão restrita quanto a previsão feita pelo princípio A.
Esses pronomes que violam tal princípio, segundo a autora,
traçam uma linha clara entre sintaxe e discurso e mostram que o princípio
A de Chomsky é completo apenas se for uma teoria interna da frase, sem
levar em consideração o discurso, mas incompleta porque ignora um
componente integral da gramática de reflexivos e assim não dá conta de
vários conjuntos de dados.
8
Mary viu uma foto dela mesma.
1268
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A discussão central do estudo de Zribi-Hertz é compreender onde
a linha deve ser traçada, com relação à anáfora, entre sintaxe e discurso.
É feito um levantamento sobre as propriedades sintáticas e semânticas
dos pronomes reflexivos em inglês a fim de confrontá-las com um corpus
de textos do inglês. Após a análise do corpus, a autora esclarece que os
pronomes reflexivos do inglês podem ser ligados a longa distância e
podem violar várias restrições estruturais. A partir disso, é proposta uma
relação entre a gramática dos reflexivos localmente ligados e a gramática
discursiva dos reflexivos ligados a longa distância.
Entre os dados problemáticos que surgiram após a Teoria da
Ligação, alguns põem em xeque a complementariedade entre anáforas
e pronomes. Alguns deles são: NPs Picture, posições de genitivo, alguns
Prepositional phrase (PPs) e contextos enfáticos, que são discutidos por
Warshawsky (1965), Ross (1970), Cantrall (1974), Kuno (1987) e outros
autores. Vejamos:
(22) a. They thought that [pictures of {them / themselves}] would be
on sale.
b. We thought that [John’s pictures of {us / ourselves}] would
be on sale.
(23) John said that there was a picture of {him / himself } in the post
office.
(24) a. (Mary thought that) [a picture of {you / yourself}] would be
nice on the wall.
b. (Mary thought that) [a picture of {me / myself}] would be nice
on the wall.
(25) They heard the stories about {them / themselves}.9
9
(22) a. Eles achavam que [fotos {deles / deles mesmos}] seriam colocadas à venda.
b. Nós pensamos que [as fotos de John de {nós / nós mesmos}] seriam colocadas
à venda.
(23) João disse que havia uma imagem {dele / dele mesmo} na estação de correios.
(24) a. (Mary pensou que) [uma imagem {sua/ de si mesmo}] seria bom na parede.
b. (Mary pensou que) [uma imagem {sua / de si mesma}] seria bom na parede.
(25) Eles ouviram as histórias sobre eles {Eles/eles mesmos}.
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1269
A partir desses e de outros contraexemplos, alguns autores
apontam ora para uma mudança ou alteração na tipologia a fim de abarcálos dentro da teoria estrutural, ora é sugerido que essas ocorrências
estejam fora do âmbito da sintaxe. Contudo, é argumentado neste artigo
que uma teoria gramatical dos pronomes reflexivos do inglês não pode
ser completa sem um componente discursivo.
A autora cita a discussão de Cantrall (1969) sobre a hipótese de
que, em inglês, onde é possível alternar pronomes e anáforas no mesmo
contexto estrutural, a escolha de um ou do outro expressa uma escolha
de ponto de vista narrativo, como também a de Kuroda (1973), que
sugere que a opção reflexiva de zibun está correlacionada com o estilo
narrativo não reportivo por meio do qual o autor relata os eventos “de
dentro” (algum personagem) ao contrário do seu próprio ponto de vista.10
Essa discussão de Cantrall (1969) é possível de ser observada
no exemplo abaixo:
(26) a. The womeni were standing in the background, with the children
behind themi.
b. The womeni were standing in the background, with the children
behind themselvesi.11
As sentenças 26a e 26b não possuem o mesmo conteúdo
informativo, pois em 26b as crianças estão localizadas “atrás das
mulheres”, do ponto de vista interno do protagonista discursivo (as
mulheres), e em 26a, as crianças estão “atrás das mulheres”, do ponto
de vista do falante. O contraste está relacionado à opção do ponto
de vista, que pode ser de um protagonista do discurso ou do falante
e, consequentemente, como aponta Cantrall (1969), nas escolhas de
uma terceira pessoa das anáforas pronominais e pronomes, não há um
condicionamento estrutural.
A proposta da Teoria da Ligação de Chomsky não faz correlação
com as propriedades semânticas acima e é assumido que elas não
pertencem à sintaxe e são derivadas de suas propriedades estruturais. No
O ponto de vista também é o conceito central das análises dos pronomes em Kuno
(1972, 1983, 1987).
11
a. As mulheres estavam em pé ao fundo, com as crianças atrás delas.
b. As mulheres estavam em pé ao fundo, com as crianças atrás delas mesmas.
10
1270
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entanto, a autora, apesar de concordar que o ponto de vista não pertence
à sintaxe, discorda de sua derivação a partir das propriedades estruturais:
“It is the structural properties of pronouns that are, in a sense, derived
from their discourse properties”.12 (ZRIBI-HERTZ, 1989, p. 705)
Para justificar sua afirmação, são dados os exemplos em (27),
em que há um contraste semântico:
(27) a. Johni hid the book behind himselfi.
b. Johni hid the book behind himi.13
Para Zribi-Hertz, a relação espacial entre John e o livro é
entendida como mais direta em 27a do que em 27b porque, nesta última,
John escondeu o livro em algum lugar atrás da linha dos ombros, enquanto
que em 27a John escondeu o livro muito perto dele, provavelmente em
contato com seu corpo.
É argumentado, então, que o “sujeito de consciência” não é
uma variação semântica do sujeito sintático, mas que se destaca como
um conceito linguístico pertencente à gramática do discurso e que este,
em vez do sujeito sintático, é o conceito relevante para a gramática dos
reflexivos ligados à longa distância no inglês.
O conceito “sujeito de consciência” é uma categoria da gramática
do discurso, sendo similar ao conceito de logoforicidade proposto por
Kuno (1987) e Clements (1975). Como afirma a autora, o “sujeito de
consciência” é uma propriedade semântica atribuída a um referente cujos
pensamentos ou sentimentos, opcionalmente expressos no discurso, são
transportados por uma parte do discurso. Esse “sujeito de consciência”,
ainda nas palavras da autora, é geralmente entendido como [+ humano].
A autora diz que os pronomes reflexivos pertencem à gramática
do discurso, da qual a gramática da sentença é um subdomínio específico.
Por meio dessa conclusão, a autora sugere que as restrições estruturais
podem ter a sua motivação discursiva.
Uma afirmação importante colocada pela autora é a de que as
relações anafóricas apontadas em seu estudo pertencem à gramática do
“São as propriedades estruturais dos pronomes que são, em certo sentido, derivadas
de suas propriedades discursivas.”
13
a. John escondeu o livro atrás dele mesmo.
b. John escondeu o livro atrás dele.
12
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1271
discurso, visto que as restrições estruturais entram em jogo quando o
princípio do discurso deixa de ser relevante.
Portanto, a proposta de Zribi-Hertz afirma que qualquer teoria
estrutural da anáfora deve ser preenchida pelos princípios de discurso,
pois, para dar conta desse fenômeno, é preciso considerar as noções de
estrutura do discurso.
Essa proposta de a gramática da sentença (sintaxe) ser uma
subparte da gramática do discurso autoriza os pronomes reflexivos a
violarem o Princípio A de Chomsky, caso certas propriedades discursivas
sejam satisfeitas. Isso torna essa proposta diferente da de Reinhart e
Reuland (1993), pois, para esses últimos, a sintaxe opera prioritariamente
e, caso não seja suficiente, a semântica e o discurso estão livres para atuar.
3 A logoforicidade em Psicolinguística
Apesar das diversas abordagens sobre o fenômeno, há poucos
estudos em Psicolinguística Experimental que têm como foco principal
compreender o processamento desse tipo de estrutura. Neste tópico
mostraremos algumas abordagens no processamento intrassentencial e
alguns experimentos desenvolvidos em Psicolinguística.
No âmbito da Psicolinguística Experimental intrassentencial, há
uma discussão sobre o processamento on-line de sentenças que possuem
uma única oração ser restrito exclusivamente à atuação dos Princípios
de Ligação postulados por Chomsky (1981) nas primeiras etapas do
processamento. Nessa problemática existe um forte debate sobre o
momento de atuação dos princípios de ligação de Chomsky, no curso
do processamento, o que tem se desdobrado em predições diferenciadas
com os modelos que postulam o quanto o processamento é afetado pelos
seus antecedentes, a saber, os modelos: filtro inicial, filtro reversível e
interativo.
Em linhas gerais, o primeiro modelo foi apresentado por Nicol
e Swinney (1989), que afirma que a ligação entre o antecedente e a
anáfora é restrita aos princípios de ligação de Chomsky (1981) tanto nos
estágios iniciais do processamento quanto nos estágios que o seguem. O
segundo modelo é defendido por Sturt (2003), Kennison (2003) e Leitão,
Peixoto e Santos (2008) ao apresentar evidências de um filtro reversível
em que esses princípios guiam o processamento nos estágios iniciais,
mas podem ser violados posteriormente por vários fatores. Já Badecker e
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
Straub (2002) analisam seus dados interpretando que não só as restrições
sintáticas atuam nesse primeiro estágio, mas também outras restrições de
caráter discursivo. Esses últimos propõem o modelo interativo.
O modelo descrito por Nicol e Swinney (1989) mostra que as
restrições propostas pela Teoria da Ligação são aplicadas nos estágios
iniciais e subsequentes do processamento. De acordo com esse modelo,
o antecedente para a anáfora é imediatamente escolhido de acordo com
a teoria da ligação, já outros antecedentes são desconsiderados nos
primeiros estágios do processamento e posteriormente.
Os autores analisaram o processamento de pronomes e anáforas
que possuíam dois tipos de antecedentes: disponíveis e indisponíveis,
segundo a Teoria da Ligação. Eles realizaram um experimento de priming
cross modal14 (inter-modal) com a finalidade de observar a atuação das
restrições de ligação. Nesse experimento os participantes ouviram as
sentenças e fizeram uma decisão lexical após visualizarem uma palavra
sonda que aparecia após as anáforas e pronomes.
Dessa forma, previa-se que os antecedentes disponíveis
estruturalmente influenciariam o processamento da correferência nos
estágios iniciais e que os antecedentes indisponíveis seriam imediatamente
excluídos e desconsiderados na interpretação subsequente (Hipótese do
Filtro Inicial).
Os resultados do estudo realizado por eles trouxeram evidências
para a Hipótese do Filtro Inicial, pois houve efeito significativo para os
antecedentes disponíveis estruturalmente e não houve efeito significativo
para os antecedentes indisponíveis estruturalmente tanto para a anáfora
quanto para o pronome. Isso indica que eles não foram levados em
consideração no momento da resolução da correferência e há um filtro
gramatical que determina quais candidatos podem se referir à anáfora
e ao pronome.
Entretanto, Sturt (2003), Kennison (2003) e Leitão, Peixoto
e Santos (2008) encontraram evidências contra o modelo do filtro de
ligação inicial. Seus dados mostram que as restrições de ligação são
aplicadas nos estágios iniciais, mas podem ser violadas posteriormente.
O filtro seria, então, reversível, com a possibilidade de ser violado em
um segundo momento do processamento por vários fatores.
14
Quando os estímulos apresentados no priming e no alvo são de modalidades diferentes.
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1273
O trabalho de Sturt (2003) mostrou que as restrições de ligação
são relevantes no processamento da correferência no primeiro estágio do
processamento. Os fatores discursivos influenciariam apenas tardiamente,
o que justifica o efeito dos antecedentes indisponíveis encontrados no
seu estudo.
Na mesma direção dos achados de Sturt (2003), Kennisson (2003)
investigou a atuação do princípio B no processamento por meio da técnica
de leitura automonitorada, capturando o processamento em dois estágios.
A autora fez um experimento utilizando os pronomes her, his e
him com antecedentes disponíveis e indisponíveis, no qual os sujeitos
leram mais lentamente o pronome na condição em que o antecedente
indisponível estruturalmente era do mesmo gênero da retomada em
comparação à condição em que o gênero era o mesmo.
A partir dos resultados encontrados, Kennisson (2003) sugere
que os antecedentes disponíveis e indisponíveis estruturalmente são
considerados durante a resolução correferencial, diferentemente da
proposta de Nicol e Swinney (1989) de que apenas são considerados os
antecedentes disponíveis estruturalmente.
Dialogam com os resultados de Kennisson (2003) e Sturt (2003)
os achados de Leitão, Peixoto e Santos (2008) para o PB encontrados por
meio de dois experimentos de leitura automonitorada. No experimento
realizado pelos autores, foi investigado o processamento do pronome
“ele” na posição de objeto. No primeiro experimento, não houve diferença
significativa na leitura do segmento crítico (pronome), sugerindo-se que
o princípio B bloqueou, no primeiro estágio, a possibilidade do “ele” se
vincular ao sujeito.
Os tempos de leitura foram mais lentos quando o sujeito não
disponível estruturalmente possuía os mesmos traços de gênero, número
e animacidade do pronome do que nas condições em que esses traços
não combinavam. Esses resultados sugerem que o processamento da
correferência ocorre em dois estágios.
Ao segundo experimento foi acrescentado um preâmbulo com
um antecedente disponível que combinava os mesmos traços com o
pronome. A presença desse antecedente disponível tornou a leitura do
pronome significativamente mais demorada do que no experimento 1,
ou seja, não houve a influência dos antecedentes indisponíveis.
Por fim, Badecker e Straub (2002) propõem um modelo no qual
várias restrições são atuantes no momento inicial do processamento.
1274
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Tanto sintáticas quanto discursivas são combinadas paralelamente, ou
seja, as restrições de ligação atuam junto com outros tipos de informações
(traços de gênero e número, foco discursivo). Neste entendimento, tanto
os antecedentes disponíveis quanto os indisponíveis são relevantes no
processamento correferencial desde o primeiro estágio do processamento.
No estudo de leitura automonitorada feito por eles, havia
antecedentes tanto disponíveis quanto indisponíveis estruturalmente.
Badecker e Straub (2002) encontraram resultados no segmento póscrítico, em que foram lidos mais rapidamente quando o gênero da
retomada combinava com o gênero do antecedente. Porém, a leitura foi
mais lenta quando o gênero dos antecedentes indisponíveis e disponíveis
combinavam com o gênero da retomada, o que mostra que os antecedentes
indisponíveis também influenciaram no processamento das sentenças.
Nesta linha, os autores propõem que os antecedentes indisponíveis
interferem no processamento.
Entretanto, esses modelos citados acima não contemplam,
especificamente, a discussão do processamento de anáforas logofóricas
e pronomes logofóricos, apesar de citarem a possibilidade de haver
certos tipos de estrutura em que há o uso da anáfora e não há a atuação
dos princípios de ligação.
Em um outro estudo psicolinguístico, envolvendo especificamente
a logoforicidade, Foraker (2003) usou a forma SELF logoforicamente para
examinar se as informações discursivas utilizadas na interpretação desse
logofórico são semelhantes às usadas na interpretação do pronome. Nesse
estudo foi realizado um experimento de leitura automonitorada no qual
foi controlada a distância entre o logofórico / pronome e seu antecedente,
com três posições possíveis para o antecedente (First-mentioned, Middle
e Most Recent). Nesse experimento, Foraker mostra que houve um efeito
Spill over (após o logofórico / pronome), o qual revelou que logofóricos e
pronomes foram processados de forma semelhante apenas nas condições
em que o antecedente estava a uma distância longa ou intermediária
em relação à retomada. Quando o antecedente foi mencionado mais
recentemente, o logofórico foi lido mais rapidamente do que quando
este estava em posição distante ou intermediária.
A sua proposta de explicação para os resultados encontrados nas
condições com antecedente em distância longa e intermediária é a de que
a resolução da correferência da anáfora logofórica parece usar o mesmo
tipo de informação pragmática e discursiva usada para correferência
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1275
pronominal, já que, tanto para logofóricos quanto para pronomes foi
encontrado o mesmo padrão de processamento. O conjunto de frases do
experimento segue exemplificado em (28) e (29) abaixo:
(28) Logophoric Reflexive
First-mentioned: Megan wondered/ if Isaac had found out/ that
Rick wanted to invite/ Sally and herself/ to the birthday party.
Middle: Isaac wondered/ if Megan had found out/ that Rick
wanted to invite/ Sally and herself/ to the birthday party. Most
Recent: Rick wondered/ if Isaac had found out/ that Megan
wanted to invite/ Sally and herself/ to the birthday party.
(29) Pronoun
First-mentioned: Albert was upset/ when Debbie didn’t care/ that
Rachel had endangered/ Gordon and him/ on the climbing trip.
Middle: Debbie was upset/ when Albert didn’t care/ that Rachel
had endangered/ Gordon and him/ on the climbing trip. Most
Recent: Rachel was upset/ when Debbie didn’t care/ that Albert
had endangered/ Gordon and him/ on the climbing trip.15
Ainda no inglês, Harris et al (2000) fez um estudo com EEG16
com a finalidade de verificar as características das respostas de ERP17 em
frases com violação sintática e violação não sintática, já que na literatura
Reflexivos logofóricos.
Mencionado primeiro: Megan perguntou se Isaac tinha achado que Rick queria convidar
Sally e ela mesma para a festa de aniversário. Médio: Isaac perguntou se Megan havia
achado que Rick queria convidar Sally e ela mesma para a festa de aniversário. Mais
recente: Rick perguntou se Isaac tinha achado que Megan queria convidar Sally e ela
mesma para a festa de aniversário.
Pronome
Mencionado primeiro: Albert ficou chateado quando Debbie não se importou que Rachel
tivesse ameaçado Gordon e ele na viagem de escalada.
Médio: Debbie ficou chateada quando Albert não se importou que Rachel tivesse
ameaçado Gordon e ele na viagem de escalada.
Mais recente: Rachel ficou chateada quando Debbie não se importou que Albert tivesse
ameaçado Gordon e ele na viagem de escalada.
16
Eletroencefalógrafo.
17
Potenciais relacionados a eventos.
15
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atual é possível observar que existem padrões de ERP encontrados a partir
da verificação de violações de caráter sintático e semântico.
Assim, no experimento de Harris et al (2000), nas frases com
violação sintática, havia a comparação da anáfora sintática concordando/
discordando e, nas frases com violação não sintática, havia a comparação
da anáfora logofórica concordando/discordando. A previsão do autor era
de que, nas frases que continham uma violação sintática, seria encontrado
um P600 por ser de caráter sintático e provocar o padrão semelhante
ao encontrado nesses tipos de violação. Já nas frases logofóricas, não
seriam encontrados P600 por essa violação ser de natureza semânticopragmática. Ele ainda afirma que seria difícil saber que tipo de onda
se esperar das violações logofóricas por elas não serem definidas na
literatura em geral. Esperava-se apenas distingui-las das de padrão
sintático. Para tanto, foi feito um estudo com 24 conjuntos de frases
experimentais construídos no seguinte modelo:
(30) a. The boys’ cousin introduced Suzie and himself at the wedding.
b. The boys’ cousin introduced Suzie and themselves at the
wedding.
c. The boys’ cousin introduced himself at the wedding.
d. The boys’ cousin introduced themselves at the wedding.18
A tarefa feita pelos 40 voluntários consistia em ler as frases e
determinar quem recebeu a ação da sentença com base na concordância
de número. Apareciam na tela as duas opções de resposta e todos os
sujeitos foram incentivados a anteciparem a pergunta e a resposta.
Os resultados confirmaram que as comparações envolvendo
restrições sintáticas tiveram um P600 e, nas restrições com logofóricos,
não. Sugeriu-se que as comparações envolvendo argumentos são
mediadas por processos sensíveis às restrições sintáticas enquanto que
para os logofóricos são insensíveis ou sensíveis de forma diferente a
essas restrições.
18
O primo dos meninos apresentou Suzie e ele mesmo no casamento.
O primo dos meninos apresentou Suzie e eles mesmos no casamento.
O primo dos meninos apresentou ele mesmo no casamento.
O primo dos meninos apresentou eles mesmos no casamento.
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Ainda buscando compreender o processamento de sentenças em
tempo real, tendo como foco a reflexividade e tendo por meio a discussão
sobre os campos da sintaxe, de um lado, e da sintaxe + discurso do outro,
Petra Burkhardt (2002) faz um estudo em língua inglesa utilizando o
paradigma cross-modal para verificar o processamento em sentenças
contendo logóforos. Ou seja, ambas as posturas foram examinadas na
perspectiva do processamento.
Como a interpretação de reflexivos logofóricos envolve acesso
a operações não sintáticas, como o acesso às noções de discurso e de
ponto de vista, e os reflexivos coargumentos envolvem apenas operações
sintáticas, a autora levanta a hipótese de que os contrastes entre esses
dois reflexivos teriam custos de processamento diferentes.
Na posição de apenas sintaxe, os dois reflexivos propostos no
estudo teriam um comportamento semelhante; já na posição sintaxe +
discurso, haveria um contraste entre eles.
Foram feitas as tarefas de compreensão de sentenças e as de
decisão lexical, que consistia na apresentação da frase a qual o sujeito
ouvia e em seguida respondia à pergunta de compreensão sobre a frase
em pontos aleatórios no curso do experimento. Em um determinado
momento durante a apresentação da frase, aparecia uma palavra sonda
na qual o sujeito teria que decidir apertando o botão “sim” ou “não” se
a sonda era ou não uma palavra do inglês. O tempo de reação para a
decisão lexical foi gravado.
Foram criados 25 pares de sentenças experimentais e 119 frases
distratoras. Nas frases experimentais, cada par consistia em uma frase
com um reflexivo coargumento e um reflexivo logofórico, como abaixo:
(31) a. The womani who was arrogant praised PROBE herselfi PROBE because
the network had called about negotiations for a leading role.
b. The girli sprayed bug repellent around PROBE herselfi PROBE because
there were many mosquitoes in the Everglades.19
A mulher que era arrogante elogiou ela mesma porque os contatos tinham ligado a
respeito das as negociações para um papel de liderança.
A menina pulverizou o repelente em torno dela mesma porque havia muitos mosquitos
nos Everglades.
19
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Nas frases com reflexivos logofóricos foram incluídos objetos
diretos (bug repellent) e preposições de lugar (around ou behind).
Os verbos de ambas as frases foram controlados por frequência e o
comprimento total das frases e a distância entre antecedente e reflexivo
foram pareados.
As sondas estavam em duas posições: antes do reflexivo (posição
controle) e depois do reflexivo (posição experimental). Elas não eram
semanticamente relacionadas à sentença nem permitiam que se gerasse
uma continuação da sentença. Na posição experimental, é possível medir
os recursos necessários durante o processamento do reflexivo, observando
se há um custo adicional ou não.
É por meio da comparação dos tempos de reação para a decisão
lexical nas duas condições que se pode perceber se há indício para a
posição apenas da sintaxe (não há diferença entre as duas condições) ou
para a posição sintaxe + discurso (há diferença entre as duas condições
com um aumento de tempo nas condições com reflexivos logofóricos).
Os resultados mostram que não houve uma diferença significativa
para a sonda na posição controle, mas houve uma diferença significativa
para os tempos de reação da sonda (RT) em posição experimental, que
registrou um tempo maior para os reflexivos logofóricos, indicando que
a interpretação dos reflexivos logofóricos custa mais ao processador do
que a dos reflexivos coargumentos.
Os dados obtidos vão a favor de uma abordagem sintaxe +
discurso para a reflexividade, sugerindo que a logoforicidade vai além da
sintaxe. A diferença entre os reflexivos coargumentos (cuja interpretação
é puramente de reflexivos sintáticos) e logofóricos (o que implica que
a sua interpretação requer acesso à informação sintática e não sintática)
aponta que há um custo adicional para o processador. Esse custo, por
sua vez, só é compatível com a posição da sintaxe + posição discurso
que afirma que a interpretação de reflexivos logofóricos requer acesso à
informação discursiva (extrassintática).
Esses resultados encontrados por Pietra Burkhardt (2002)
corroboram os achados de ERP de Harris et al. (2000) que descrevemos
anteriormente, nos quais os “erros” que envolvem os dois tipos de
reflexivos produzem diferentes padrões de ativação de potenciais
cerebrais relacionados a eventos, sugerindo a existência de processos
sintáticos e extrassintáticos.
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Os experimentos feitos em inglês descritos acima são de suma
importância para o estudo dos logóforos, pois os fatores pragmáticos
têm recebido muita atenção na literatura teórica.Entretanto, não foram
econtrados estudos quantitativos determinando a aceitabilidade de
sentenças com logóforos. Gibson e Fedorenko (2013) mencionam que
a tarefa de julgamento de aceitabilidade é a forma ideal para sondagem
do conhecimento sintático/semântico, em comparação com outras tarefas
ou medidas de leitura.
Os experimentos em Psicolinguística Experimental com foco
no processamento de logóforos têm como base, em sua maioria, a
perspectiva de Reinhart e Reuland (1993), em que a posição estrutural da
anáfora determina seu caráter logofórico. No presente trabalho, também
tomaremos como base a perspectiva de Reinhart e Reuland (1993), visto
que observaremos a logoforicidade a partir da posição estrutural da
anáfora e do pronome.
4 O experimento
Diante das mais diversas abordagens teóricas para a logoforicidade
em várias línguas, o experimento que descreveremos a seguir objetivou
verificar a aceitabilidade de construções com anáfora logofórica
em PB com a finalidade de compreender se elas estão presentes na
gramática de falantes dessa língua, visto que a abordagem de Reinhart
e Reuland (1993) mostra que essas estruturas em que a semântica e o
discurso operam e exercem uma influência determinante na resolução
correferencial da anáfora logofórica são gramaticais em inglês. Além
disso, como apresentado anteriormente, esses autores ainda afirmam que,
nos contextos em que há uma anáfora logofórica, também pode haver
um pronome logofórico.
O estudo de Galves (2001, p. 132 apud BRITO, 2009, p. 56)
mostra que, em alguns dialetos do PB, o “ele” pode ter leitura anafórica.
Consideramos, então, a partir de Reinhart e Reuland (1993), a propriedade
logofórica como oposta à propriedade anafórica, em que a propriedade
logofórica se caracteriza por ter um antecedente fora do domínio de
ligação, seja presente na sentença ou não. Portanto, denominamos o “ele”
no experimento como pronome logofórico por este ter um antecedente
fora do domínio de ligação nas frases utilizadas. A partir disso, também
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nos propomos a verificar a aceitabilidade do pronome logofórico a fim
de fazer um contraponto com a aceitabilidade da anáfora logofórica.
A partir dessas abordagens, buscamos responder às seguintes
perguntas:
1.
Assim como no inglês, essas construções são aceitáveis em
português?
2.
Há a mesma aceitabilidade em construções logofóricas com
anáforas e pronomes?
Para tanto, foi realizado um experimento off-line de julgamento
de aceitabilidade. De acordo com Leitão (2011):
As aferições obtidas a partir de experimentos offline dão
informação a respeito da interpretação (momento de
reflexão) das frases ou enunciados, ou seja, conseguem
capturar reações a estímulos linguísticos quando já
houve uma integração entre todos os níveis linguísticos
(fonológico, morfológico, lexical, sintático e semântico).
(LEITÃO, 2011, p. 223).
Isso posto, o experimento buscou perceber se há aceitabilidade
em construções logofóricas em PB de acordo com os estudos de Reinhart
e Reuland (1993). Essa aceitabilidade pode ser confirmada através da
medida off-line, já que os sujeitos emitirão um julgamento para as frases
lidas. Assim, utilizamos a anáfora logofórica (AL) ele mesmo e o pronome
logofórico (PL) ele nessas construções para verificar tal aceitabilidade.
A hipótese prevista para esse teste foi de que ambas as estruturas seriam
consideradas aceitas pelos sujeitos falantes dessa língua, como previsto
na Teoria da Reflexividade de Reinhart e Reuland (1993).
4.1 Método
4.1.1 Participantes
Participaram desta pesquisa 77 estudantes do curso de Letras da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Campus I João Pessoa, todos
falantes nativos do português brasileiro, com idade entre 19 e 32 anos.
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4.1.2 Material
Para a realização desse experimento, foram criadas 12 frases
experimentais, divididas em 2 conjuntos. Cada conjunto continha seis
frases com anáfora logofórica ele mesmo e seis frases com pronome
logofórico ele. Além dessas frases experimentais, foram inseridas 24
frases distratoras, sendo 12 frases aceitáveis e 12 inaceitáveis. O propósito
dessas frases era fazer com que o sujeito não percebesse qual a natureza
das frases que foram o objeto de estudo da pesquisa. Também foi elaborada
uma pequena instrução para que o sujeito compreendesse a tarefa. Na
tabela abaixo, podemos ver os exemplos das frases experimentais e a
instrução contida no teste.
TABELA 2 – Exemplo das sentenças experimentais do teste piloto20
INSTRUÇÃO
Observe as frases abaixo e responda se você as considera como aceitável ou inaceitável. Não
há respostas certas ou erradas. Nós queremos apenas verificar suas intuições sobre as frases.
TIPO DE
SENTENÇA
SENTENÇAS
Anáfora logofórica
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele mesmo com a escova da sua tia.
O genro de Mauro cortou José e ele mesmo com a faca na cozinha.
Pronome logofórico O irmão de Vítor penteou Lucas e ele com a escova da sua tia.
O genro de Mauro cortou José e ele com a faca na cozinha.20
Fonte: Elaboração própria.
A variável dependente do experimento foi o tipo de julgamento
(aceitável x inaceitável) feito em cada condição, e as variáveis
independentes foram o tipo de logóforo (anáfora e pronome). A partir
disso, obtivemos duas condições experimentais: retomada com pronome
logofórico e retomada com anáfora logofórica. Foram controlados o
gênero do antecedente e o da retomada, que foram masculinos, e todos
os logóforos estavam dentro de uma coordenação.
As sentenças experimentais aqui utilizadas seguiram o modelo apresentado por
Reinhart e Reuland (1993).
20
1282
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4.1.3 Procedimento
Escolhemos a técnica experimental de julgamento de aceitabilidade
(off-line), que consiste em averiguar se um dado estímulo é aceitável para
os falantes daquela língua, pois a intuição do linguista é insuficiente para
atribuir tal julgamento. Essa técnica nos parece ser ideal para testar esse
fenômeno devido ao fato de esse julgamento nos proporcionar um dado
que torna possível a realização de inferências sobre a representação da
logoforicidade na gramática desses falantes.
O experimento piloto foi elaborado por meio do Google Docs em
um computador e apresentado aos sujeitos por meio do link de acesso
ao teste. Nesse mesmo link, estavam as instruções para a realização do
experimento, que apareciam na parte superior do arquivo. Os participantes
leram as frases em frente à tela do computador e ao teclado. Ao ler
cada frase, o participante teria que escolher entre as opções aceitável e
inaceitável segundo seu julgamento. As opções estavam ao lado de cada
frase com a possibilidade de apenas uma marcação. As frases foram
divididas em dois conjuntos – uma sentença com a anáfora logofórica “ele
mesmo” e outra com pronome logofórico “ele”. Dessa forma, o sujeito
tinha como tarefa a leitura de cada frase e a escolha de uma opção, ou
seja, deveria marcar como “aceitável” ou “não aceitável” cada frase.
Os estímulos apresentados no experimento foram randomizados. Como
dito acima, nosso intuito era verificar qual sentença seria aceitável e qual
seria inaceitável.
4.2 Resultados e discussão
Os resultados obtidos nesse primeiro teste não corroboraram
completamente a hipótese inicialmente formulada. Em geral, as sentenças
consideradas aceitáveis foram aquelas que continham a anáfora logofórica
e não aceitáveis aquelas que tinham o pronome logofórico. A anáfora
logofórica teve 276 julgamentos aceitáveis e o pronome logofórico
teve 213 julgamentos aceitáveis, porém, neste último, não obtivemos
resultado significativo, contrariando a hipótese de que as duas estruturas
são gramaticais no PB.
Os resultados dos julgamentos feitos em cada condição podem
ser expressos de acordo com a tabela abaixo:
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1283
TABELA 3 – Resultados dos julgamentos de aceitabilidade em cada condição
experimental
Condição 1 (retomada
com anáfora logofórica)
Condição 2 (retomada com
pronome logofórico)
Total
Aceitável
276
213
489
Inaceitável
Total
186
462
249
462
435
924
Fonte: Elaboração própria.
A partir da tabela acima, é possível perceber que houve um maior
número de aceitabilidade para a anáfora logofórica (condição 1) e maior
número de inaceitabilidade para o pronome logofórico (condição 2).
A diferença da primeira condição, em que obtivemos 276
respostas aceitáveis e 186 respostas não aceitáveis, foi considerada
significativa estatisticamente no teste do Qui quadrado de proporção: χ2
(1, 462) = 17.532, p < .05. Essa diferença aponta para uma aceitabilidade
desse tipo de construção em português brasileiro. Na segunda condição,
com 213 respostas aceitáveis e 249 respostas não aceitáveis, não tivemos
um resultado significativo utilizando o mesmo teste estatístico: χ2 (1,
462) = 2.805, p = .09. Este resultado não nos permite apontar que os
pronomes logofóricos são inaceitáveis nessa língua. Entre as condições
experimentais utilizadas, foi o Qui quadrado de homogeneidade que nos
apresentou um resultado significativo (p < .05), indicando que os sujeitos
viram a anáfora logofórica e o pronome logofórico como estruturas
diferentes. O gráfico abaixo expressa esse resultado, mostrando uma
tendência inversa na condição PL em comparação com a condição AL:
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1284
FIGURA 1 – Gráfico com os resultados do julgamento de aceitabilidade
0.6
Aceitável
Inaceitável
0.0
0.2
0.4
Proporção
0.8
1.0
Gráfico da Tabela Cruzada
Condição_1
Condição_2
Fonte: Elaboração própria.
Esses resultados são capazes de nos apontar a necessidade de
se fazer outro experimento, a fim de explorar com mais afinco o estudo
dos logóforos em PB, visto que esses dados sugerem previamente que a
gramática licencia as anáforas logofóricas e as vê como diferentes dos
pronomes logofóricos, diferentemente da língua inglesa (REINHART;
REULAND, 1993). É possível que o motivo disso seja o design do
teste não ter contribuído para a aceitação das sentenças com pronome
logofórico, pois pode ter acontecido enviesamento, já que os sujeitos
que leram as frases com anáfora logofórica também leram as frases com
pronome logofórico. Sendo assim, para excluir essa possibilidade, o
próximo passo desta pesquisa é realizar um experimento de julgamento
de aceitabilidade com o design estruturado para que as condições sejam
vistas por sujeitos diferentes.
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1285
5 Discussão geral
Nossa hipótese no presente estudo foi saber se as construções
com anáfora logofórico e pronome logofórico são aceitas pelos falantes
do PB. Apesar de nossa intuição poder ser utilizada para considerar tal
aceitabilidade, a realidade a ser verificada através dos dados poderia ser
oposta, o que nos levou a realizar o experimento descrito anteriormente.
Como mostra Gibson e Fedorenko (2013), a intuição do linguista não é
suficiente para averiguar tal aceitabilidade.
O estudo aqui reportado aponta para a fiabilidade dos testes de
julgamento de sentenças e sua importância no estudo dessas estruturas,
posto que não permite que o pesquisador assuma a aceitabilidade de
estruturas que são vistas como não gramaticais por sujeitos ingênuos.
Logo, este tipo de teste vai além do mero uso da intuição do pesquisador
para investigar a gramática do PB. Afinal, se não houvesse esse estudo de
aceitabilidade, seria assumido a aceitabilidade das duas estruturas o que
não foi sustentada pelo teste de aceitabilidade. No experimento descrito
vimos que os sujeitos consideraram aceitáveis as sentenças com anáfora
logofórica e não aceitáveis com pronome logofórico.
Os dados obtidos a partir do julgamento de aceitabilidade,
feito nesta pesquisa, demonstraram que as estruturas das frases com
anáfora logofórica são consideradas aceitáveis pelos falantes nativos
do PB. Vamos considerar, assim como Reinhart e Reuland (1993), que
esse tipo de estrutura é gramatical. Os dados encontrados apontam
para essa possibilidade, já que obtivemos valores significativos para a
aceitabilidade dessas estruturas logofóricas.
Na condição experimental anáfora logofórica, os sujeitos
julgaram ser aceitável; já na condição pronome logofórico, não houve
significância.
Esses resultados são capazes de nos mostrar um caminho a
ser explorado no estudo dos logóforos em PB, visto que a gramática
licencia as anáforas logofóricas e as vê como diferentes dos pronomes
logofóricos, diferentemente de línguas como o inglês (REINHART;
REULAND, 1993).
Uma possibilidade para essa diferença é a ocorrência de um
enviesamento, pois os sujeitos que leram as frases com anáfora logofórica
também leram as frases com pronome logofórico. Sendo assim, para
excluir essa possibilidade, faz-se necessário realizar mais um teste de
1286
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aceitabilidade com duas condições: anáfora e pronome logofóricos,
seguindo o mesmo modelo do teste realizado, porém os sujeitos serão
expostos a apenas uma condição experimental.
Por fim, destacamos que a Teoria da Reflexividade prevê que
as estruturas logofóricas são completamente aceitáveis pelos falantes
do inglês. Assim, a partir da técnica experimental utilizada, concluímos
que os dados aqui analisados mostram que a anáfora logofórica, é
aceitável. A partir da percepção dos sujeitos participantes do experimento,
constatamos que tal estrutura provavelmente compõe a gramática dos
falantes do PB.
6 Considerações finais
Os estudos em Linguística, especialmente em processamento
linguístico, que investigam o processamento anafórico veem como
relevantes os princípios de ligação da Teoria da Ligação na resolução
da correferência. Esses estudos levam em consideração a atuação dessas
restrições de ligação no momento do processamento, problematizando a
gramaticalidade dos antecedentes na resolução correferencial.
No estudo aqui descrito buscamos compreender estruturas com
a anáfora logofórica que não são contempladas nessa teoria e comparálas com o pronome logofórico. Para isso, recorremos à Teoria da
Reflexividade de Reinhart e Reuland (1993) como base teórica para o
experimento realizado. Procuramos comprovar a hipótese de que frases
com logóforos são aceitáveis em PB, já que, segundo Reinhart e Reuland
(1993), devem ser consideradas gramaticais em línguas como o inglês,
por exemplo.
Com os resultados do experimento, obtivemos evidências de
que a anáfora logofórica ele mesmo é aceitável em PB (p < .05), porém
para o pronome logofórico ele não obtivemos um resultado significativo
(p = .09).
Sendo este um dos primeiros estudos referentes à logoforicidade
em PB, há um caminho extenso a ser explorado. Este tema ainda necessita
de uma abordagem mais ampla tanto no âmbito da Linguística quanto no
âmbito da Psicolinguística, visto que neste trabalho estudamos apenas
a aceitabilidade de duas entre as diversas estruturas com logóforos.
Portanto, além de investigar sua aceitabilidade, é necessário também
compreendermos como acontece o processamento dessas estruturas e
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investigar experimentalmente o processamento da anáfora sintática e
da anáfora logofórica com a finalidade de perceber se essas estruturas
diferem em termos de processamento. É relevante mencionar que se faz
necessária uma nova investigação com a finalidade de saber como se
dá o processamento desses fatores semântico-discursivos nas estruturas
com logóforos, bem como observar se o processamento de um elemento
logofórico acarretará um maior custo operacional.
Assim, nos próximos passos desta pesquisa, observaremos,
em tempo real, a distinção de representação das anáforas sintática e
logofórica.
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1290
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ANEXO 1
As condições experimentais e as frases utilizadas no teste de
julgamento de aceitabilidade são apresentadas abaixo:
Retomada com anáfora logofórica
O irmão de André machucou Davi e ele mesmo na BR230.
O genro de Mauro cortou José e ele mesmo com a faca na cozinha.
O primo de Leandro barbeou Arthur e ele mesmo no banheiro da rodoviária.
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele mesmo com a escova da sua tia.
O amigo de Joaquim feriu Tiago e ele mesmo com o brinquedo pontiagudo.
O neto de Breno olhou Murilo e ele mesmo no espelho da sala.
Retomada com pronome logofórico
O irmão de André machucou Davi e ele na BR230.
O genro de Mauro cortou José e ele com a faca na cozinha.
O primo de Leandro barbeou Arthur e ele no banheiro da rodoviária.
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele com a escova da sua tia.
O amigo de Joaquim feriu Tiago e ele com o brinquedo pontiagudo.
O neto de Breno olhou Murilo e ele no espelho da sala.
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The acceptability of logophoric anaphor in Brazilian Portuguese
A aceitabilidade da anáfora logofórica em português brasileiro
Flávia Gonçalves Calaça de Souza
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
flavia.ufpb@hotmail.com
Rosana Costa de Oliveira
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
rosana.ufpb@gmail.com
Judithe Genuíno Henrique
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
judithegh@gmail.com
Abstract: This study sought to investigate whether or not these
logophoric structures are acceptable or not for the speakers of Brazilian
Portuguese (BP). Both syntactic and semantic approaches have been
used to explain logophoricity and a strong theoretical discussion has
been conducted as to what kind of approach would be best to account
for this phenomenon. Authors such as Reinhart and Reuland (1993)
points out that logophoric anaphora exists separately from syntactic
anaphora in Universal Grammar. The syntactic anaphora is guided by
syntactic factors, such as location and c-command. By contrast, logophors
may or may not notice these syntactic conditions. These studies also
demonstrate that, in cases of logophoricity, the pronoun and anaphora
are interchangeable, therefore, either one or the other can be used in the
same position in the sentence. Based on these theoretical assumptions,
we examine the acceptability of logophoric buildings in BP in order to
know if they are present in the grammar of the speakers of that language.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1255-1290
1256
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
An offline experiment of acceptability judgment was conducted, given
that, according to Gibson and Fedorenko (2013), linguistic intuition is
insufficient to verify such an acceptability. The following experiment
demonstrated that the results were significant for logophoric anaphoras,
which shows that a degree I anaphoras and logophoric pronouns are
different. No significant result was observed for the pronoun, which does
not allow us to point out that are not licensed in BP.
Keywords: judgment of acceptability; logophoricity; anaphora; pronoun.
Resumo: Este trabalho buscou investigar se as estruturas logofóricas
são aceitáveis ou não para os falantes do português brasileiro (PB).
Diversas abordagens sintáticas e semânticas têm sido usadas para
explicar a logoforicidade, e uma forte discussão teórica é sobre qual tipo
de abordagem melhor dá conta do fenômeno. Autores como Reinhart e
Reuland (1993) apontam que a anáfora logofórica existe separadamente
das anáforas sintáticas na Gramática Universal. As anáforas sintáticas
são guiadas por fatores sintáticos como localidade e c-comando. Já a
logófora pode ou não observar essas condições sintáticas. Esses estudos
também demonstram que, nos casos em que há logoforicidade, a anáfora
e o pronome são intercambiáveis, ou seja, tanto um quanto o outro podem
ser usados na mesma posição na frase. Com base nesses pressupostos
teóricos, examinamos a aceitabilidade de construções logofóricas em PB
com a finalidade de saber se elas estão presentes na gramática dos falantes
dessa língua. Foi realizado um experimento off-line de julgamento de
aceitabilidade, visto que, segundo Gibson e Fedorenko (2013), a intuição
do linguista não é suficiente para averiguar tal aceitabilidade. O presente
experimento mostrou que a anáfora logofórica é licenciada em PB, o que
aponta que os sujeitos veem a anáfora logofórica e o pronome logofórico
como diferentes. Não houve resultado significativo para o pronome, o
que não nos permite apontar que não são licenciados em PB.
Palavras-chave: julgamento de aceitabilidade; logoforicidade; anáfora;
pronome.
Received on: December 10, 2016
Approved on: April 04, 2017
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
1257
1 Introduction
The Binding Theory (CHOMSKY, 1981), seeks to study the
coreference relations that exist between nominal and pronominal
expressions, within the scope of a sentence. To explain such relations,
Chomsky (1981) proposes three principles that govern these relations,
namely:
(1)
Principle A – An anaphor must be A-bound in its binding domain.1
Principle B – A pronominal must be A-free in its binding domain.
Principle C – An R-expression must be A-free.2
Principle A, which refers to reflexive and reciprocal anaphors
(self, one another), predicts that an anaphor must be bound in
its binding domain, that is, be bound by an antecedent that is
c-commanded in its local domain. A c-command is understood as the
syntactic notion of binding between two constituents. Let us observe
the example below:
(2)
[O neto do Joãok]3 se i/*k adora. ([João’s grandsonk] loves himselfi/*k.)
In this example, the DP4 “O neto do João” (João’s grandson) is
the antecedent of the anaphor “se” (himself); therefore, the DP “O neto
do João” (João’s grandson) c-commands the anaphor “se” (himself).
Principle B refers to the pronouns, and states that all pronouns
are free in their binding domain, that is, the antecedent and the pronoun
may not be on the same sentence. Let us see the examples below:
A binding domain is understood as being the limit presented by the anaphora and its
antecedent..
2
Binding Principles (CHOMSKY, 1981)
A. An anaphor must be A-bound in its binding domain.
B. A pronominal must be A-free in its binding domain.
C. An R-expression must be A-free.
3
Indexation index..
4
Determiner Phase
1
1258
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(3)
a. [Penha i acha que [Bruna vestiu ela i com o vestido.]]
([Penhai thinks that [Bruna dressed heri with the dress.]]
b. *[Penha acha que [Bruna i vestiu ela i com o vestido.]]
([Penha thinks that [Brunai dressed heri with the dress.]]
Sentence (3a) is absolutely plausible, given that the antecedent is
outside the pronoun domain, unlike sentence (3b), which is agrammatical,
since we have the pronoun and its antecedent in the same domain, as
contended by the Binding Theory.
Finally, there is Principle C. This principle mentions referential
expressions, which must be free in all occurrence contexts, since they
have referential autonomy and, therefore, do not need to be bound. Let
us observe the example below:
(4)
O João observou o Pedro na sala. (João observed Pedro in the
room.)
In some cases, the anaphor is not constrained by the binding
conditions proposed by Chomsky (1981), as shown by Reinhart and
Reuland (1993). These authors refer to this type of anaphor as logophoric.
As we can see:
(5)
Maria contava cinco pessoas na cozinha, além de si mesma/dela.
(Maria counted five people in the kitchen, in addition to herself/
her.)
(6)
Carlos viu uma blusa perto de si/dele. (Carlos saw a shirt next
to himself/him.)
In the examples above, the anaphor is in an adjunct prepositional
phrase (PP)5 and is not an argument required by the verb. According to
Reinhart & Reuland (1993), Chomsky (1981; 1986) does not explain the
contexts exemplified in (5) and (6), precisely because the anaphor and
its antecedent are not coarguments. These anaphors do not behave as
predicted by the Binding Theory, since it does not explain the coreference
with antecedents outside the binding domain.
5
Prepositional phrase
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1259
Based on these and other examples, Reinhart and Reuland (1993)
observe the anaphors from the argument standpoint, indicating that the
anaphor is logophoric when it is not in an argumental position. The
syntactic anaphor, as its name indicates, is guided by syntactic factors
such as location and c-command, while the logophoric anaphor is related
to discursive factors. This is shown by the examples below:
(7)
João se vangloriava de que o prefeito convidou Ana e ele mesmo
para um café da manhã. (João boasted that the mayor invited
Ana and himself to have breakfast.)
(8)
Vânia encontrou tempo para verificar que, além dela mesma,
havia um outro funcionário que tinha sido demitido. (Vânia
found time to verify that, besides herself, another employee had
been fired.)
The sentences above reveal that Chomsky’s (1981; 1986)
predictions for anaphors may not be verified, since the anaphor is not in
the binding domain in either of the sentences above. Zribi-Hertz (1989)
provides approximately 130 examples, such as those provided above, of
sentences in which that anaphor is not in an argumental position.
Reinhart and Reuland (1993) also state that it is possible to have
a logophoric pronoun whenever there is a logophoric anaphor, as in (9)
and (10):
(9)
Carlos estava chateado quando Júlia colocou Bruno e ele mesmo
em perigo no paraquedismo. (Carlos was upset when Júlia put
Bruno and himself at risk in parachuting.)
(10) Carlos estava chateado quando Júlia colocou Bruno e ele em
perigo no paraquedismo. (Carlos was upset when Júlia put Bruno
and him at risk in parachuting.)
The type of structure present in sentences (9) and (10) is discussed
at length by both Pollard and Sag (1992) and Reinhart and Reuland
(1993), as this is consistent with the fact that, in English, the pronoun
is an acceptable means of alternating with the anaphor, maintaining the
same interpretation.
1260
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The present work focuses on determining the acceptability of the
logophoric anaphor and the logophoric pronoun in Brazilian Portuguese
(BP), that is, this study’s goal was to investigate if subjects consider
sentences with logophoric anaphors and logophoric pronouns to be
acceptable or unacceptable according to their intuition.
Gibson and Fedorenko (2013) indicate that, although the
researcher’s intuitions are useful to several studies, many others do not
allow for high reliability based only on intuition, and require a stricter
methodological control to detect the subtleties and to distinguish among
different theoretical positions. The author also states that a major
problem in the syntax field of study is that many articles do not include
the experimental evidence to support their research hypotheses. The
author also recommends that the studies collect quantitative evidence to
ensure an improvement in this field of study. Taking such importance into
account, this research focuses on the Acceptability Judgment quantitative
method, in which the subjects evaluated sentences with logophoric
anaphor and logophoric pronoun with the intent to present reliable data
on the acceptability of these sentences.
The key goal of the off-line acceptability judgment performed
was to observe the acceptability of anaphors deemed as logophoric,
especially the anaphor “ele mesmo” (“himself”) in BP, in order to compare
it to the pronoun “ele” (“him”), to understand if, similarly to the English
language, this phenomenon is present in the grammar of BP speakers. By
hypothesis, based on Reinhart and Reuland’s (1993) Reflexivity Theory,
these theories would be acceptable and would not violate the binding
conditions, given that they are not constrained to them.
It is important to note that there is a lack of studies in BP on the
resolution of logophoric structures, as well as the processes it requires.
Therefore, this work, in addition to verifying the acceptability of
logophoric structures in BP, sought to conduct a bibliographic review
of the studies performed on this topic in other languages, which indicate
that logophoric anaphors occur separately from syntactic anaphors in
Universal Grammar (UG).
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1261
2 Logophoricity in Linguistics
Although the relations involving anaphors, pronouns, and
their antecedents in some cases are established in compliance with the
constraints imposed by the Binding Theory (CHOMSKY, 1981), some
studies (REINHART; REULAND, 1993; ZRIBI-HERTZ, 1989) show
that these forms may be interpreted otherwise. As indicated above,
logophoricity occurs in these cases, and it has been characterized and
defined based on several perspectives. One of these perspectives is that
it is not subject to the c-command and position constraints imposed by
the Binding Theory for having a logophoric status.
Chomsky’s (1981), Reinhart and Reuland’s (1993) and
Zribi-Hertz’s (1989) approaches will be outlined in detail below, to
provide a descriptive survey of this scarcely researched topic. Some
of these approaches view the logophoric anaphor from the c-command
configuration, that is, not only limiting and defining it by means of
constraints of a syntactic nature, but also observing the discourse and
semantics prior to the syntax. Zribi-Hertz’s (1989) approach, for instance,
gives theoretical priority to discursive factors. If these are not sufficient,
the syntactic domain is sought.
2.1 Chomsky (1981)
The Binding Theory formulated by Chomsky (1981) describes the
syntactic constraints on anaphors, pronouns, and referential expressions.
He postulated three binding principles: A, B, and C. Principle A predicts
that an anaphor must be bound to the antecedent that is within its domain,
that is, it must be bound to the antecedent within the minimum clause that
contains the anaphor. In addition to the presence of a local antecedent,
principle A also predicts that the antecedents c-command the anaphor.
The sentences below are two examples of anaphors bound to their local
antecedent:
(11) [A prima de Joana]i sei acha muito bonita. ([Joana’s cousin]i
finds herselfi very pretty.)
(12) O Carlosi machucou ele mesmoi enquanto cozinhava. (Carlosi
hurt himselfi while cooking.)
1262
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Examples (13) and (14) below show a DP that is not c-commanding
the anaphors se (herself) and ele mesmo (himself), since, according to
the Binding Theory, the anaphor se (herself) may not refer to Joana, and
the anaphor ele mesmo (himself) may not refer to Carlos, making the
sentences agrammatical.
(13) *A prima de [Joana]i sei acha muito bonita. (*[Joana’s]i cousin
finds herselfi very pretty.)
(14) *O Carlosi machucou Vivian e ele mesmoi enquanto cozinhava.
(*Carlosi hurt Vivian and himselfi while cooking.)
Principle B predicts that the pronoun is free in its binding domain.
In sentence (15) below, the pronoun ela (she) may not have the Maria
DP as its antecedent, since it is within its binding domain.
(15) *A Mariai adora elai. (*Mariai adores heri.)
Principle B, therefore, imposes that the pronoun may not be
bound to its local antecedent, differently from principle A, which states
that the anaphor must be bound to this antecedent.
Principle C, however, determines that referential expressions
must be free in any syntactic context, that is, they may not be bound. In
(16), the R-expression o animal (the animal) does not have antecedent
within the sentence, which makes it agrammatical. R-expressions do
not require an antecedent element to extract their meaning, that is, they
are referentially independent, which sets them apart from anaphors and
pronouns, which have a referential dependency.
(16) O animal fez um grande barulho. (The animal made a great noise.)
Also in accordance with the Binding Theory, anaphors and
pronouns are in complementary distribution. That is, an element can only
be in the sentence where the other cannot. Hence, for a sentence to be
deemed grammatical, these elements must be in opposite environments.
An anaphor must be bound and a pronoun must be free. Therefore, if an
anaphor has an antecedent within the same clause that includes it, it is
grammatical. However, if this very sentence included a pronoun rather
than an anaphor, the sentence would be agrammatical. Nevertheless,
several authors have demonstrated that this complementary distribution
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may not always be identified, since sentences such as (17) are considered
to be grammatical.
(17) Mateusi sabia que ninguém gosta de João e dele mesmoi/delei
por causa de suas personalidades. (Mateusi knew that no one
likes João and himselfi/himi because of their personalities.)
Reinhart and Reuland’s (1993) proposal described below
recommends that anaphors, such as the one in example (17), be observed
based on the notion of arguments and, if they are not coarguments in the
same predicate, they will still be deemed grammatical. The fundamental
idea is that complementary distribution does not exist in sentences such
as (17), which contains a logophoric anaphor.
2.2 Reinhart and Reuland (1993)
The Reflexivity Theory proposed by Reinhart and Reuland (1993)
is based on the need to reformulate the Binding Theory (CHOMSKY,
1981), explained by the many problems posed by principles A and B in
this theory. The authors also question the complementary distribution
between anaphors and pronouns, identifying several examples in which
this complementarity fails. This theory also makes the difference clear
when there is a connection and when there is a coreference between the
anaphoric forms.
For such, the authors propose returning to the interpretation of
reflexive predicates in the natural languages in which the verb has a
strict connection with the reflexivization phenomenon. Based on this,
reflexivization would then be analyzed as a property of predicates rather
than a property of the anaphor, that is, the distribution of anaphoric forms
is done based on the semantic properties of anaphoric forms, in this case,
the property of reflexivizing a predicate (inherent properties). Therefore,
the following anaphor definition is assumed:
Anaphors (of both the SE and the SELF type) are referentially
defective NPs, which entails, for example, that they cannot
be used as demonstratives, referring to some entity in the
world (though it does not entail that they must be bound
variables). (REINHART; REULAND, 1993, p. 658).
1264
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A typology of anaphoric expressions is proposed, based on this
definition and on both types of anaphor functions. SE and SELF anaphors
are included in the same group regarding the referential dependency
property, and SE anaphors and pronouns are grouped because they do
not have the reflexivization function. The summary of this typology is
presented in the table below:
TABLE 1 – Reinhart and Reuland’s (1993) proposal for anaphor
and pronoun distribution
SELF
SE
PRONOUN
Reflexivizing function
+
-
-
R(eferential Independence)
-
-
+
Source: Reinhart and Reuland (1993)
According to the table above, SELF anaphors have the property
of reflexivizing a predicate (+ reflexive function), but they do not have
referential independence. The authors consider that this SELF reflexive
function is sensitive to the binding condition proposed by them. SE
anaphors, however, neither have referential independence, nor are
responsible for making a predicate reflexive (- reflexive function), since
they are only markers for inherently reflexive predicates. Pronouns, by
contrast, do not reflexivize predicates (- reflexive function); however,
unlike the anaphors, they do have referential independence, given that
they carry person, gender, and number traits – although not necessarily
all of these.
For the authors, however, it should be noted that both types of
anaphors mentioned can be used logophorically. However, since studies
that establish the distinction between the anaphor’s grammatical and
logophoric functions are scarce, there are several mistakes regarding the
syntactic distribution of anaphors and the terms local and long distance,
given that, if used logophorically, both types of anaphors may result in all
types of distance. Hence, logophoric reflexives do not follow a specific
rule, but they should be considered to be grammatical. Nevertheless, the
authors indicate that one of the properties of the logophoric anaphor is
not being c-commanded (REINHART; REULAND, 1993, p. 660).
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Reinhart and Reuland (1993) discuss that it is possible to have
a pronoun whenever there is a logophoric anaphor. By stating this, the
authors do not provide an explanation for the reasons why preference
is given to a logophoric anaphor or to a pronoun. In a note, the authors
themselves suggest Ariel’s (1990) approach, which takes the most
accessible available candidates in the discourse into account.
Regarding the grammatical function, the authors state that the
domains are limited to two: local and long distance. The local domain
corresponds to the reflexivity domain in which the SELF anaphor
mandatorily reflexivizes the predicate. This domain is regulated by
Conditions A and B, reformulated by them, which will be described
below. The long distance domain, however, refers to the binding domain
of SE anaphors, which adopt the pronoun pattern, and, therefore, are
governed by Condition B.
Conditions A and B must be read as requirements and are defined
as follows:
(i) Condition A: a syntactic predicate marked reflexively is reflexive.
(ii) Condition B: a reflexive semantic predicate is reflexively marked.
Condition A applies to predicates that are marked reflexively
by syntactic ways, while Condition B inherently (semantically) applies
to reflexives. A syntactically reflexive predicate is understood as being
one in which two of its arguments are coindexed (with indistinct gender,
number, and person traits), while a reflexively marked predicate is
understood as being either lexically reflexive (which is marked by the
presence of an SE anaphor) or having a SELF anaphor as one of its
indexed arguments. Therefore, it is not the anaphor in itself, but rather
the reflexive marking that allows for it to be interpreted reflexively.
Thus, for Reinhart and Reuland, Conditions A and B are not
related to the c-command syntactic configuration, that is, with the
possibility of binding to the antecedent available on the same pronoun or
anaphor domain, but are related to the intrinsic property of the predicate
being inherently reflexive or not.
To observe how Conditions A and B apply, let us observe the
examples below:
1266
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(18) a. *Johni likes himi.
b. Johni likes himselfi.
c. Johni said Ann likes himi.
It should be noted that in (18a) John and him are coarguments of
the predicate likes. This syntactic predicate will not be reflexive because
it was not marked by the SELF anaphor corresponding to the anaphor
that reflexivizes predicates, but it was instead replaced with a pronoun,
making the phrase agrammatical. A predicate, such as like, would be
subjected to condition A – a predicate that would be syntactically marked
as reflexive, since one of its arguments would be a SELF anaphor. In
(18b), the phrase is grammatical, since the SELF anaphor is used in
the sentence as a reflexive marker and is compatible with Condition
A. In (18c), however, John is a coargument for said, and him is a coargument for likes. Hence, the predicate is not reflexive, since there is no
coindexation between the arguments in the same predicate; therefore, it is
not guided by Condition B. In (18c), the predicates are not semantically
reflexive; therefore, they are not reflexively marked.
One of the problems the authors identified about Condition A
in Chomsky’s Binding Theory (CHOMSKY, 1981) is the occurrence of
anaphors that are free of their domain, as demonstrated by Kuno (1987)
and Zribi-Hertz (1989) with SELF anaphors in the first, second, and third
persons. Let us see:
(19) Max boasted that the queen invited Lucie and himself for a drink.
(20) *Max boasted that the queen invited himself for a drink.
Reinhart and Reuland (1993) mention that, for Zribi-Hertz
(1989), long-distance bound, third-person anaphors violate principle
A and its use is known as logophoric. Nevertheless, the authors argue
that it is not possible to conclude that the contexts in which there is a
point of view6 allow for a violation of Condition A. For Reinhart and
Reuland (1993), it is not merely a discursive issue, but, above all, a
structural issue, given that (20) the SELF anaphor is an argument of its
The notion of point of view has been characterized in the literature to indicate the
coreference of the anaphor/pronoun and the self-speaker, as proposed by Kuno (1987),
whose discourse, thoughts, and feelings are being reported.
6
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predicate and, therefore, the predicated is marked reflexively. In (19),
there is no reflexively marked predicate, as the argument for invited is
not only himself (SELF anaphor), but also queen, with which himself
does not share gender traits; ttherefore, the first may not be coindexed
the latter.
The view developed by the authors, based on the distinction
between the grammatical and logophoric functions, show that Condition
A is applied only to the anaphor in the argumental position. That is, SELF
anaphors that occur outside this position (logophoric) are exempt from
this condition.
In this discussion, the authors also state that the distinction
between the anaphoric and the logophoric use of SELF is superfluous,
given that, syntactically, there is only one type of anaphor, whose use is
governed by Condition A. This immediately excludes the SELF anaphor
in which there are no reflexive predicates as applicable to this Condition.
Therefore, logophoricity is not coded in syntax, and the logophor does
not need to be bound/coindexed to an antecedent. Its relation may be that
of coreference (REINHART; REULAND, 1993, p. 673). This position is
in disagreement with Sells (1987), who states that logophors, especially
perspective logophors, are bound.
Only one case has been identified in which Condition A allows
for the logophoric use of the SELF anaphor, that is, when it does not have
an argumental position and, consequently, does not mark the predicate
as reflexive.
As stated above, Condition A governs the anaphor. In addition,
the Reflexivity Theory also contends that the pronoun is not excluded in
certain contexts in which the prediction of an anaphor occurs. An example
of this context is the occurrence of an NP picture, as in (21), in which an
additional mechanism is provided to justify the occurrence of a pronoun.
(21) Mary saw a Picture of herself.
Moreover, it is important to emphasize that one of the properties
of logophoric anaphor mentioned by the authors is that it does not need to
be c-commanded by its antecedent. Therefore, the NP picture examples
are easily accepted, as coreference rather than binding occurs.
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2.3 Zribi-Hertz (1989)
Zribi-Hertz’s article published in 1989 presents a detailed survey
of the occurrence of reflexive pronouns in English that are compatible
with the Chomskyan Binding Theory, and observes that some of these
anaphors violate this theory’s principle A, which reveals that it is based
on a relatively small data corpus and that it is not sufficient to prove that
the distribution of daily use pronouns is as constrained as the prediction
made by principle A.
These pronouns that violate such a principle, according to the
author, draw a clear line between syntax and discourse, and show that
Chomsky’s principle A is complete only if it is an internal theory of the
phrase, not taking the discourse into account, although it is incomplete,
as it ignores an integral component of the reflexives’ grammar, and thus
does not account for several data sets.
The key discussion in Zribi-Hertz’s study is to understand where
the line should be drawn, regarding the anaphor, between syntax and
discourse. A survey of the syntactic and semantic properties of reflexive
pronouns in English is conducted with the intent of confronting them with
a corpus of English texts. After the corpus analysis, the author explains
that English reflexive pronouns may be long-distance bound and may
violate several structural constraints. Based on this, a relation between
the grammar of locally bound reflexive and the discursive grammar of
long distance bound reflexives has been proposed.
Some of the problematic data that arose after the Binding Theory
jeopardize the complementarity between anaphors and pronouns. These
include: NPs Picture, genitive positions, some PPs, and emphatic
contexts, which are discussed by Warshawsky (1965), Ross (1970),
Cantrall (1974), Kuno (1987), among other authors, as can be seen below:
(22) a. They thought that [pictures of {them / themselves}] would be
on sale.
b. We thought that [John’s pictures of {us / ourselves}] would be
on sale.
(23) John said that there was a picture of {him / himself } in the post
office.
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(24) a. (Mary thought that) [a picture of {you / yourself}] would be
nice on the wall.
b. (Mary thought that) [a picture of {me / myself}] would be nice
on the wall.
(25) They heard the stories about {them / themselves}.
Using these and other counter-examples, some authors either
indicate a change or alteration in the typology to include them within the
structural theory, or suggest that these occurrences are outside the syntax
field. However, this article argues that a grammatical theory for English
reflexive pronouns cannot be complete without a discursive component.
The author quotes Cantrall’s (1969) discussion about the
hypothesis that, in English, whenever it is possible to alternate pronouns
and anaphors in the same structural context, the choice for one or the
other expresses the choice of a narrative point of view, as well as quotes
Kuroda’s (1973) discussion, which suggests that the zibun reflexive
option is related to the non-reporting narrative style by means of which
the author reports the events “from within” (a given character) contrary
to the author’s own point of view.7
Cantrall’s (1969) discussion may also be observed in the
examples below:
(26) a. The womeni were standing in the background, with the children
behind themi.
b. The womeni were standing in the background, with the children
behind themselvesi.
Sentences 26a and 26b do not have the same informative content,
since in 26b the children are located “behind the women”, from the
internal point of view of the discursive protagonist (the women), and, in
26a, the children are “behind the women”, from the speaker’s point of
view. The contrast is related to the point of view option, which may be
that of a discourse protagonist or that of the speaker and, consequently,
as Cantrall (1969) points out, in choosing a third person in pronominal
anaphors and pronouns, there is no structural conditioning.
The point of view is also the key concept of pronoun analysis made by Kuno (1972,
1983, 1987).
7
1270
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The proposal in Chomsky’s Binding Theory does not correlate to
the semantic properties above, and it is assumed that they do not belong
to the syntax and derive from their structural properties. However, the
author, although agreeing that the point of view does not belong to
syntax, disagrees with its derivation from structural properties: “It is the
structural properties of pronouns that are, in a sense, derived from their
discourse properties”.8 (ZRIBI-HERTZ, 1989, p. 705)
To justify this statement, the examples in (27), in which there is
a semantic contrast, are provided:
(27) a. Johni hid the book behind himselfi.
b. Johni hid the book behind himi.
For Zribi-Hertz, the spatial relation between John and the book is
understood as being more direct in 27a than it is in 27b, given that, in the
latter, John hid the book somewhere behind the shoulder line, whereas
in 27a John hid the book very close to himself, probably in contact with
his own body.
It is thus argued that the “subject of consciousness” is not a
semantic variation of the syntactic subject, but stands out as a linguistic
concept belonging to discourse grammar, and that this subject of
consciousness, rather than the syntactic subject, is the relevant concept
for the grammar of long-distance bound reflexives in English.
The concept of “subject of consciousness” is a category of
discourse grammar, being similar to the concept of logophoricity
proposed by Kuno (1987) and Clements (1975). As the author states, the
“subject of consciousness” is a semantic property attributed to a referent
whose thoughts or feelings, optionally explicit in the discourse, are
transported by a part of the discourse. This “subject of consciousness”,
still in the author’s words, is generally understood as being [+ human].
The author states that reflexive pronouns belong to discourse
grammar, from which sentence grammar is a specific sub-domain. With
this conclusion, the author suggests that structural constraints may have
their discursive motivation.
“São as propriedades estruturais dos pronomes que são, em certo sentido, derivadas
de suas propriedades discursivas.”
8
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An important statement made by the author is that the anaphoric
relations indicated in her study belong to discourse grammar, since the
structural constraints come into play when the discourse principle is no
longer relevant.
Therefore, Zribi-Hertz’s proposal argues that any anaphor
structural theory must be completed by the discourse principles, since,
to account for this phenomenon, the notions of discourse structure must
be taken into account.
This proposal of sentence (syntax) grammar being a sub-part of
discourse grammar authorizes reflexive pronouns to violate Chomsky’s
Principle A, in case some discursive properties are met. This makes ZribiHertz’s proposal different from Reinhart and Reuland’s (1993), since,
for the latter, the syntax operates primarily and, if it is not sufficient,
semantics and discourse are free to act.
3 Logophoricity in Psycholinguistics
Despite the several approaches to the phenomenon, few studies in
Experimental Linguistics have understood the processing of this type of
structure as their primary focus. In this topic, this study will demonstrate
some approaches in the inter-sentence processing and some experiments
developed in Psycholinguistics.
In the field of inter-sentence Experimental Psycholinguistics,
there is a discussion about the online processing of sentences that have
a single clause being constrained exclusively to the action of the Binding
Principles proposed by Chomsky (1981) in the first processing stages.
This problem includes a strong debate about the Chomsky’s binding
principle’s moment of action, in the course of processing, which has
unfolded into a differentiated prediction with the models that argue how
much processing is affected by its antecedents, namely, the models: initial
filter, reversible filter, and interactive filter.
In general lines, the first model was presented by Nicol and
Swinney (1989), who state that the binding between the antecedent and
the anaphor is constrained to Chomsky’s (1981) binding principles,
both in the initial stages of processing and in the subsequent stages.
The second model is defended by Sturt (2003), Kennison (2003),
and Leitão, Peixoto and Santos (2008) by presenting evidence of
a reversible filter in which these principles guide the processing in
1272
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the initial stages but may be violated afterwards by many factors.
Badecker and Straub (2002), however, analyze their data interpreting
that not only the syntactic constraints operate in this first stage, but
also other constraints of discursive nature. These last authors propose
the interactive model.
The model described by Nicol and Swinney (1989) shows that the
constraints proposed by the Binding Theory are applied in the initial and
subsequent stages of processing. According to this model, the antecedent
for anaphor is immediately chosen according to the binding theory, while
other antecedents are disregarded in these first stages of processing and
afterwards.
The authors analyzed the processing of pronouns and anaphors that
had two types of antecedents, according to the Binding Theory: available
and inaccessible. They performed priming cross modal9 experiment to
observe the action of binding constraints. In this experiment, participants
heard the sentences and made a lexical decision after viewing a probe
word that appeared after anaphors and pronouns.
Therefore, it was predicted that the structurally available
antecedents would influence the processing of coreference in the initial
stages and the inaccessible antecedents would be immediately excluded
and disregarded in the subsequent interpretation (Initial Filter Hypothesis).
The results of the study performed by them brought evidence
to the Initial Filter Hypothesis, since there was a significant effect for
the structurally available antecedents, while there was no significant
effect for the structurally inaccessible antecedents, both for the anaphor
and the pronoun. This indicates that they were not taken into account
at the time of the coreference resolution and there is a grammatical
filter that determines which candidates may refer to the anaphor and
the pronoun.
Nevertheless, Sturt (2003), Kennison (2003), and Leitão, Peixoto
and Santos (2008) found evidence against the initial binding filter model.
Their data show that binding constraints are applied at the initial stages
but may be violated afterwards. The filter would thus be reversible, with
the possibility of being violated at a second moment of processing due
to several factors.
9
When stimuli presented in the priming and target are of different modalities.
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1273
Sturt’s (2003) work has shown that binding constraint are relevant
in processing coreference at the first processing stage. Discursive
factors would only produce late influence, which justifies the effect of
inaccessible antecedents found in their study.
Running in line with Sturt’s (2003) findings, Kennison (2003)
investigated the action of principle B in processing by means of the selfmonitored reading, capturing the processing in two stages.
The author conducted an experiment using the pronouns her,
his, and him with available and inaccessible antecedents, in which the
subjects took longer to read the pronoun under the condition in which the
structurally inaccessible antecedent had the same gender in the anaphora,
when compared to the condition in which the gender was the same.
Based on the results, Kennison (2003) suggests that the structurally
available and inaccessible antecedents are considered during the coreferential
resolution, differently from Nico and Swinney’s (1989) proposal, in which
only structurally accessible antecedents are taken into account.
Leitão, Peixoto and Santos’ (2008) findings for BP, identified by
means of two self-monitored reading experiments, dialog with Kennison’s
(2003) and Sturt’s (2003) results. In the experiment conducted by the authors,
the processing of the pronoun “ele” (him) as an object was investigated. At
first, no significant difference in reading the critical segment (pronoun) was
identified, which suggested that principle B blocked, in the first stage, the
possibility of the pronoun “ele” (him) to be bound to the subject.
The reading times were longer when the structurally inaccessible
subject had the same gender, number and animacy as the pronoun than
under the conditions in which these traits did not match. These results
suggest that coreference processing occurs in two stages.
A preamble was added to the second experiment with an available
antecedent that shared the pronoun traits. The presence of this available
antecedent made the pronoun reading significantly longer than it was in
experiment 1, that is, there was no influence of inaccessible antecedents.
Finally, Badecker and Straub (2002) propose a model in which
several constraints operate at the initial processing moment. Both
syntactic and discursive constraints are combined in parallel, that is, the
binding constraint act along with other types of information (gender,
number and discursive focus traits). In this understanding, both available
and inaccessible antecedents are relevant in coreferential processing from
the first processing stage.
1274
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The self-monitored reading study conducted by them included
both structurally accessible and inaccessible antecedents. Badecker and
Straub (2002) found results in the post-critical segment, which were read
faster when the anaphora gender matched the antecedent gender. However,
the reading was slower when the gender of inaccessible and accessible
antecedents matched the anaphora gender, which shows that inaccessible
antecedents also affected the sentence processing. In this line, the authors
propose that inaccessible antecedents interfere in the processing.
However, these models mentioned above do not specifically
address the discussion of the processing of logophoric anaphors and
logophoric pronouns, although they mention the possibility of certain
types of structure in which the anaphor is used and in which the binding
principles do not operate.
In another psycholinguistic study, specifically involving
logophoricity, Foraker (2003) used the SELF form logophorically to
examine if discursive information used in interpreting this logophoric is
similar to that used in pronoun interpretation. In this study, a self-monitored
reading was performed in which the distance between the logophor/pronoun
and its antecedent was controlled, with three possible positions for the
antecedent (First-mentioned, Middle, and Most Recent). In this experiment,
Foraker shows that there was a Spillover effect (after the logophor/pronoun),
which revealed that logophors and pronouns were processed in a similar
manner only under the conditions in which the antecedent was at a long
or intermediate distance in relation to the anaphora. When the antecedent
was mentioned more recently, the logophor was read more quickly than
when it was at a distant or intermediate position.
Their proposed explanation for the results found under the
conditions with long and intermediate distance antecedent is that the
coreference resolution for the logophoric anaphor appears to use the
same type of pragmatic and discursive information used for pronominal
coreference, given that, both for logophors and for pronouns, the same
processing pattern was found. The set of sentences in the experiment is
exemplified in (28) and (29) below:
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1275
(28) Logophoric Reflexive
First-mentioned: Megan wondered/ if Isaac had found out/ that
Rick wanted to invite/ Sally and herself/ to the birthday party.
Middle: Isaac wondered/ if Megan had found out/ that Rick
wanted to invite/ Sally and herself/ to the birthday party.
Most Recent: Rick wondered/ if Isaac had found out/ that Megan
wanted to invite/ Sally and herself/ to the birthday party.
(29) Pronoun
First-mentioned: Albert was upset/ when Debbie didn’t care/ that
Rachel had endangered/ Gordon and him/ on the climbing trip.
Middle: Debbie was upset/ when Albert didn’t care/ that Rachel
had endangered/ Gordon and him/ on the climbing trip. Most
Recent: Rachel was upset/ when Debbie didn’t care/ that Albert
had endangered/ Gordon and him/ on the climbing trip.
Moreover, for the English language, Harris et al. (2000) conducted
a study using EEG10 with the intent to determine the characteristics of the
ERP11 responses in sentences with syntactic and nonsyntactic violation,
since in current literature it is possible to observe that ERP patterns
are found based on the determination of syntactic and semantic nature
violations.
Therefore, findings from Harris et al. (2000), in sentences with
syntactic violation, showed that there was a comparison of the syntactic
anaphor agreeing/disagreeing and, in sentences with nonsyntactic
violation, there was a comparison of the logophoric anaphor agreeing/
disagreeing. The author’s prediction was that, in sentences containing
a syntactic violation, a P600 would be found, since it has a syntactic
nature and causes a similar pattern to that encountered in these types
of violations. In logophoric sentences, however, P600 would not be
found, since this violation would have a semantic-pragmatic nature.
The author also states that it would be difficult to know what type of
wave to expect from logophoric violations, given that they are not
defined in literature in general. The author expected only to distinguish
10
11
Electroencephalograph
Event-related brain potentials.
1276
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them from violations of syntactic pattern. For this purpose, a study was
constructed with 24 sets of experimental phrases, constructed according
to the following model:
(30) a. The boys’ cousin introduced Suzie and himself at the wedding.
b. The boys’ cousin introduced Suzie and themselves at the
wedding.
c. The boys’ cousin introduced himself at the wedding.
d. The boys’ cousin introduced themselves at the wedding.
The task performed by the 40 volunteers consisted of reading
the sentences and determining who the recipient of the sentence action
was, based on number agreement. Two answer options were shown on
the screen, and all subjects were encouraged to anticipate the question
and the answer.
The results confirmed that the comparisons involving syntactic
constraints exhibited a P600, while constraints with logophors did not. It
has been suggested that comparisons involving arguments are mediated
by processes sensitive to syntactic constraints, whereas those with
logophors are insensitive or sensitive to these constraints in a different
manner.
In the attempt to understand sentence processing in real time,
focusing on reflexivity, and using as its means the discussion about
syntax-only field, on the one hand, and about syntax + discourse on the
other, Petra Burkhardt (2002) conducts a study in the English language
using the cross-modal paradigm to determine processing in sentences
containing logophors. That is, both postures were examined from the
perspective of processing.
Because the interpretation of logophoric reflexives involves the
access to nonsyntactic operations, such as the access to the notions of
discourse and point of view, and the coargument reflexives involve only
syntactic operations, the author proposes the hypothesis that the contrast
between these two reflexives would have different processing costs.
In the syntax-only position, the two reflexives proposed in the
study would have a similar behavior; while in the syntax + discourse
position, there would be a contrast between them.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
1277
Two tasks were performed, the sentence comprehension
task and the lexical decision task, which consisted of presenting
the sentence, which the subject heard and, afterwards, answered the
comprehension question about it, at random points on the course of
the experiment. At a given moment during the sentence presentation,
a probe word was shown, and the subject had to decide, by pressing
either the button “yes” or the button “no”, whether the probe word
was an English word or not. The reaction time taken for the lexical
decision was recorded.
For the study, 25 pairs of experimental sentences and 119
distracter sentences were created. In the experimental sentences, each
pair consisted of a sentence with a coargument reflexive and a logophoric
reflexive, as shown below:
(31) a. The womani who was arrogant praised PROBE herselfi PROBE because
the network had called about negotiations for a leading role.
b. The girli sprayed bug repellent around PROBE herselfi PROBE because
there were many mosquitoes in the Everglades.
The sentences with logophoric reflexive included direct objects
(bug repellent) and prepositions of place (around or behind). The verbs
in both sentences were controlled by frequency, and the total length of the
sentences, as well as the distance between the antecedent and reflexive,
were paired.
The probe words were placed in two positions: before the
reflexive (control position) and after the reflexive (experimental position).
They were not semantically related to the sentence, nor did they allow
for generating a sentence continuation. In the experimental position, it is
possible to measure the resources required while processing the reflexive,
determining whether there is an additional cost or not.
By means of the comparison between the times taken for the
lexical decision under both conditions, it is possible to determine if there
are indications for the syntax-only position (no difference between both
conditions) or for the syntax + discourse position (there is a difference
between both conditions, with an increase in time for the conditions with
logophoric reflexives).
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Results have not shown a significant difference for the probe
word in the control position, but there was a significant time difference
for the probe reaction times (RT) in the experimental position, which
recorded a longer time for the logophoric reflexives, thus indicating that
the interpretation of logophoric reflexives is costlier to the processor than
that of coargument reflexives.
The obtained data are in favor of a syntax + discourse
approach to reflexivity, thus suggesting that logophoricity goes beyond
syntax. The difference between the coargument reflexives (whose
interpretation is merely that of syntactic reflexives) and logophoric
reflexives (which implies that their interpretation requires access
to syntactic and nonsyntactic information) indicates that there is an
additional cost to the processor. This cost, is in turn only compatible
with the syntax + discourse position that claims that the interpretation
of logophoric reflexives requires access to discourse information
(extra-syntactic).
These results obtained by Pietra Burkhardt (2002) corroborate
Harris et al.’s (2000) ERP findings, as described above, in which the
“errors” involving the two types of reflexives produce different eventrelated brain potential activation patterns, suggesting the existence of
syntactic and extra-syntactic processes.
The experiments conducted in English, as described abov, are
of utmost importance for the study of logophors, since the pragmatic
factors have received great attention from the theoretical literature21.
However, no quantitative studies have been found that determine the
acceptability of sentences with logophors. Gibson and Fedorenko (2013)
mentioned that the acceptability judgment task is the ideal form for
probing syntactic/semantic knowledge, in comparison with other tasks
or reading measures.
The experiments in Experimental Psycholinguistics with focus
on the processing of logophors are mostly based on Reinhart and
Reuland’s (1993) perspective, in which the anaphor structural position
determines its logophoric nature. In the present work, Reinhart &
Reuland’s (1993) perspective will also be used as a basis, given that
logophoricity will be observed from the anaphor’s and the pronoun’s
structural position.
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1279
4 The experiment
Considering the different theoretical approaches to
logophoricity in several languages, the experiment described below
was intended to verify the acceptability of constructions with
logophoric anaphor in BP in order to understand whether or not they
are present in the grammar of these language speakers, given that
Reinhart and Reuland’s (1993) approach shows that these structures
in which semantics and discourse operate and have a determining
influence in the coreferential resolution of logophoric anaphors are
grammatical in English. Furthermore, as presented above, these
authors also state that, in the contexts in which there are logophoric
anaphors, there may also be a logophoric pronoun.
Galves’ (2001, p. 132 apud BRITO, 2009, p. 56) study shows that,
in some BP dialects, the word “ele” (he) may accept an anaphoric reading.
Therefore, based on Reinhart and Reuland (1993), this study considers
the logophoric property to be opposite to the anaphoric property, since
the logophoric property is characterized for having an antecedent outside
the binding domain, whether within the sentence or not. Therefore, the
pronoun “ele” (he) in the experiment is called a logophoric pronoun,
because it has an antecedent outside the binding domain in the sentences
used. Based on this, this study also seeks to determine the acceptability
of the logophoric pronoun in order to establish a counterpoint with the
acceptability of the logophoric anaphor.
From these approaches, the study seeks to answer the following
questions:
1.
Are these constructions as acceptable in Portuguese as they are
in English?
2.
Are logophoric constructions with anaphors and pronouns equally
acceptable?
To achieve this aim, an off-line experiment of acceptability
judgment was conducted. According to Leitão (2011):
The determinations obtained from off-line experiments
provide information on the interpretation (moment of
reflection) of sentences or utterances, that is, they are able
to capture the reactions to linguistic stimuli when there
1280
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
has already been an integration of all linguistic levels
(phonological, morphological, lexical, syntactic and
semantic). (LEITÃO, 2011, p. 223).
As such, the experiment sought to observe whether or not there is
acceptability in logophoric construction in BP, according to the Reinhart
and Reuland’s (1993) studies. Such acceptability may be confirmed by
means of the off-line measurement, since the subjects will issue judgment
for the sentences read. Thus, the logophoric anaphor (LA) ele mesmo
(himself) and the logophoric pronoun (LP) ele (him) were used in this
construction to determine such an acceptability. The hypothesis predicted
for this test was that both structures would be deemed accepted by
these language speakers, as provided in Reinhart and Reuland’s (1993)
Reflexivity Theory.
4.1 Method
4.1.1 Participants
The participants in this research were 77 students majoring in
Languages at the Federal University of Paraíba (UFPB), Campus I João
Pessoa, all native speakers of Brazilian Portuguese, with ages ranging
from 19 to 32.
4.1.2 Material
To conduct this experiment, 12 experimental sentences were
created, divided into 2 sets. Each set included six sentences with
the logophoric anaphor ele mesmo (himself) and six sentences with
the logophoric pronoun ele (him). In addition to these experimental
sentences, 24 distracter sentences were inserted, 12 sentences of which
were acceptable, while the other 12 were unacceptable. The purpose of
these sentences was to ensure the subject did not realize the nature of the
sentences that were the research’s object of study. A small instruction was
also prepared so that the subject would understand the task. The table
below shows examples of the experimental sentences and the instruction
in the test.
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1281
TABLE 2 – Example of experimental sentences in the pilot test 12
INSTRUCTION
Observe the sentences below and answer whether you consider them t
o be acceptable or unacceptable. There are no right or wrong answers.
We only want to check your intuitions about the sentences.
TYPE OF SENTENCE
SENTENCES
Logophoric anaphor
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele mesmo com a
escova da sua tia. (Vitor’s brother combed Lucas and
himself with his aunt’s brush.)
O genro de Mauro cortou José e ele mesmo com a
faca na cozinha. (Mauro’s son-in-law cut José and
himself with the knife in the kitchen.)
Logophoric pronoun
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele com a escova
da sua tia. (Vitor’s brother combed Lucas and him
with his aunt’s brush.)
O genro de Mauro cortou José e ele com a faca na
cozinha. (Mauro’s son-in-law cut José and him with
the knife in the kitchen.) 12
Source: Prepared by the authors.
The experiment’s dependent variable was the type of judgment
(acceptable vs. unacceptable) made under each condition, and the
independent variables were the type of logophor (anaphor and pronoun).
Based on this, two experimental conditions were obtained: anaphora
with logophoric pronoun and anaphora with logophoric anaphor. The
antecedent and the anaphora genders (masculine) were controlled, and
all logophors were within a coordination.
The experimental sentences used here adopted the model proposed by Reinhart and
Reuland (1993).
12
1282
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
4.1.3 Procedure
The experimental acceptability judgment technique (off-line)
was used, and it consists of checking if a given stimulus is acceptable
to these language speakers, since the linguist’s intuition is insufficient
to determine such a judgment. This technique appears to be ideal to test
this phenomenon since this judgment provides a piece of information
that enables making inferences about the representation of logophoricity
in these speakers’ grammar.
The pilot experiment was prepared with Google Docs in a
computer, and it was submitted to the subjects through the link to
access the test. This same link included the instructions to perform the
experiment, which were shown on the top part of the file. The participants
read the sentences in front of the computer screen and keyboard. After
reading each sentence, the participants would have to choose between
acceptable and unacceptable options based on their own judgment.
The options were beside each sentence, which had a single marking
possibility. The sentences were divided into two sets – one sentence with
logophoric anaphor “ele mesmo” (himself) and another sentence with
logophoric pronoun “ele” (him). Therefore, the subject’s task was to read
each sentence and choose one option, that is, the subject would have
to mark each sentence as “acceptable” or “unacceptable”. The stimuli
presented in the experiment were randomized. As previously mentioned,
the intent was to determine which sentence would be acceptable and
which one would be unacceptable.
4.2 Results and discussion
The results obtained in this first test did not fully corroborate
our original hypothesis formulated. In general, the sentences considered
as acceptable were the ones that contained the logophoric anaphor,
and the sentences considered as unacceptable were those with the
logophoric pronoun. The logophoric anaphor was judged as acceptable
276 times, while the logophoric pronoun was judged as acceptable 213
times. However, no significant result was obtained in the latter, which
contradicted the hypotheses that both structures are grammatical in BP.
The results of the judgments made under each condition may be
expressed according to the table below:
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
1283
TABLE 3 – Results of acceptability judgments
for each experimental condition
Condition 1 (anaphora
with logophoric
anaphor)
Condition 1 (anaphora
with logophoric
pronoun)
Total
Acceptable
276
213
489
Unacceptable
Total
186
462
249
462
435
924
Source: Prepared by the authors.
Based on the table above, it is possible to observe that the
logophoric anaphor obtained a higher number of “acceptable” answers
(condition 1), while the logophoric pronoun obtained a higher number
of “unacceptable” answers (condition 2).
The difference for the first condition, in which 276 acceptable
answers were obtained and 186 unacceptable answers were obtained,
was considered statistically significant in the Chi-square proportion test:
χ2 (1, 462) = 17.532, p < 0.05. This difference indicates an acceptability
of this type of construction in Brazilian Portuguese. For the second
condition, with 213 acceptable answers and 249 unacceptable answers,
no significant result was obtained using the same statistical test: χ2
(1, 462) = 2.805, p = 0.09. This result does not allow one to identify
that logophoric pronouns are unacceptable in this language. Among
the experimental conditions used, the Chi-square test of homogeneity
provided us with a significant result (p < 0.05), indicating that the
subjects viewed logophoric anaphor (LA) and logophoric pronoun
(LP) as different structures. The chart below expresses this result,
showing a reverse trend in the LP condition, when compared to the
LA condition:
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
1284
FIGURE 1 – Chart with the results of the acceptability judgment
0.6
Aceitável
Inaceitável
0.0
0.2
0.4
Proporção
0.8
1.0
Gráfico da Tabela Cruzada
Condição_1
Condição_2
Source: Prepared by the authors.
These results are capable of showing us the need to conduct a
different experiment in order to explore the study of logophors in BP in
greater depth, given that these data previously suggest that the grammar
licenses the logophoric anaphors and sees them as different from the
logophoric pronouns, which is different from what occurs in the English
language (REINHART; REULAND, 1993). It is possible that the reason
for this is the test design not having contributed to the acceptance of
sentences with logophoric pronoun, since the test may have been biased,
given that the subjects who read the sentences with logophoric anaphors
also read the sentences with logophoric pronouns. Therefore, to eliminate
this possibility, the next step in this research is to conduct an experiment
of acceptability judgment whose design is structured so that the conditions
are seen by different subjects.
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1285
5 General discussion
The present study’s hypothesis was to determine whether or not
constructions with logophoric anaphors and logophoric pronouns are
accepted by BP speakers. Although our intuition may be used to consider
such an acceptability, the reality to be checked by means of the data could
be opposite, which led us to perform the previously described experiment.
As Gibson and Fedorenko (2013) show, the linguist’s intuition is not
sufficient enough to determine such an acceptability.
The present study points to the reliability of sentence judgment
tests and their importance in the study of these structures, given
that they do not allow the researcher to assume the acceptability
of structures seen as ungrammatical by naive subjects. Hence, this
type of test goes beyond the mere use of the researcher’s intuition
to investigate the BP grammar. After all, if this acceptability study
had not been conducted, both structures’ acceptability could have
been assumed, which was not supported by the acceptability test.
The described experiment showed that the subjects considered
sentences with logophoric anaphor to be acceptable, and sentences
with logophoric pronoun to be unacceptable.
The data obtained based on the acceptability judgment, as
conducted in this research, demonstrated that the structures of sentences
with logophoric anaphor are considered to be acceptable by native
speakers of BP. This type of structure will be considered, as in Reinhart
and Reuland (1993), to be grammatical. The data found point toward
this possibility, since significant values have been obtained for the
acceptability of these logophoric structures.
Under the experimental conditions of logophoric anaphors,
the subjects judged them to be acceptable; while in the conditions of
logophoric pronouns, no clear significance difference was observed.
These results are capable of showing us a path to be explored in
the study of logophors in BP, given that grammar licenses logophoric
anaphors and considers them to be different from logophoric pronouns,
unlike languages such as English (REINHART; REULAND, 1993).
A possibility of explanation for this difference is the occurrence
of bias, since the subjects who read the sentences with logophoric
anaphor also read the sentences with logophoric pronoun. Therefore, to
exclude this possibility, another acceptability should be conducted with
1286
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
both conditions: logophoric anaphor and pronoun, following the same
model of the test performed, but exposing the subjects to only one of the
experimental conditions.
Finally, the Reflexivity Theory predicts that logophoric structures
are completely acceptable by English speakers. Therefore, based on the
experimental technique used, the conclusion reached is that the data
analyzed here show that logophoric anaphors are acceptable. Based
on the perception of the subjects participating in the experiment, it has
been detected that such a structure most likely composes the grammar
of BP speakers.
6 Final considerations
Linguistic studies, especially in the linguistic processing field,
which investigate the anaphoric process, seen as relevant to the Binding
Theory binding principles in coreference resolution. These studies
take these binding constraints’ actions into account at the processing
moment, questioning the grammaticality of antecedents in coreferential
resolution.
The study described here seeks to understand structures with
logophoric anaphors that are not addressed by this theory and to compare
them with the logophoric pronouns. For this purpose, this study resorts to
Reinhart and Reuland’s (1993) Reflexivity Theory as a theoretical basis
for the conducted experiment. This work seeks to prove the hypothesis
that sentences with logophors are acceptable in BP, given that, according
to Reinhart and Reuland (1993), these sentences should be considered
to be grammatical in languages such as English.
The experiment results illustrated that the logophoric anaphor ele
mesmo (himself) is acceptable in BP (p < 0.05); however, no significant
result was obtained for the logophoric pronoun ele (he) (p = 0.09).
Since this is one of the first studies related to logophoricity in
BP, there is still much to be explored. This topic still requires a broader
approach in the fields of both Linguistics and Psycholinguistics, given
that in this work only the acceptability of two of the different structures
with logophors were studied. Therefore, in addition to investigating its
acceptability, it is necessary to understand how the processing of these
structures occurs, as well as to investigate experimentally the processing
of the syntactic anaphor and the logophoric anaphor, with the intention of
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1255-1290, 2017
1287
determining whether or not these structures differ in terms of processing.
It is worth mentioning that a new investigation is warranted to identify
how the processing of these semantic-discursive factors takes place in
structures with logophors, as well as to observe if the processing of a
logophoric element will result in a higher operational cost.
Hence, the representation distinction between the syntactic and
logophoric anaphors will be the observed in subsequent steps of this
research.
References
ARIEL, M. Accessing Noun Phrase antecedents. London: Routledge,
1990.
BADECKER, W.; STRAUB, K. The Processing Role of Structural
Constraints on the Interpretation of Pronouns and Anaphors. Journal of
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1290
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ATTACHMENT 1
The experimental conditions and the sentences used in the
acceptability judgment test are presented below:
Anaphora with logophoric anaphor
O irmão de André machucou Davi e ele mesmo na BR230.
(André’s brother hurt Davi and himself on BR230.)
O genro de Mauro cortou José e ele mesmo com a faca na cozinha.
(Mauro’s son-in-law cut José and himself with the knife in the kitchen.)
O primo de Leandro barbeou Arthur e ele mesmo no banheiro da rodoviária.
(Leandro’s couching shaved Arthur and himself at the bus station’s rest room).
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele mesmo com a escova da sua tia.
(Vitor’s brother combed Lucas and himself with his aunt’s brush.)
O amigo de Joaquim feriu Tiago e ele mesmo com o brinquedo pontiagudo.
(Joaquim’s friend hurt Tiago and himself with the sharp toy.)
O neto de Breno olhou Murilo e ele mesmo no espelho da sala.
(Breno’s grandson looked at Murilo and himself on the living room mirror.)
Anaphora with logophoric pronoun
O irmão de André machucou Davi e ele na BR230.
(André’s brother hurt Davi and him on BR230.)
O genro de Mauro cortou José e ele com a faca na cozinha.
(Mauro’s son-in-law cut José and him with the knife in the kitchen.)
O primo de Leandro barbeou Arthur e ele no banheiro da rodoviária.
(Leandro’s cousin shaved Arthur and him at the bus station’s rest room).
O irmão de Vítor penteou Lucas e ele com a escova da sua tia.
(Vitor’s brother combed Lucas and him with his aunt’s brush.)
O amigo de Joaquim feriu Tiago e ele com o brinquedo pontiagudo.
(Joaquim’s friend hurt Tiago and him with the sharp toy.)
O neto de Breno olhou Murilo e ele no espelho da sala.
(Breno’s grandson looked at Murilo and him on the living room mirror.)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
Efeitos de distância linear e marcação no processamento
da concordância verbal variável no PB
Linear distance and markedness effects in variable
subject-verb agreement processing in BP
Mercedes Marcilese
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais / Brasil
Núcleo de Estudos em Aquisição da Linguagem e Psicolinguística (NEALP)
mercedes.marcilese@ufjf.edu.br
Erica dos Santos Rodrigues
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro /
Brasil
Laboratório de Psicolinguística e Aquisição da Linguagem (LAPAL)
ericasr@puc-rio.br
Marina Rosa Ana Augusto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
Laboratório de Psicolinguística e Aquisição da Linguagem (LAPAL)
marinaaug@uerj.br
Késsia da Silva Henrique
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais / Brasil
Núcleo de Estudos em Aquisição da Linguagem e Psicolinguística (NEALP)
kessiasilvahenrique@gmail.com
Resumo: Este artigo investiga o papel de distância linear entre sujeito
e verbo e de marcação morfológica de número no sujeito e no verbo no
processamento da concordância verbal variável no português brasileiro
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1291-1325
1292
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
(Ex.: Policiais Militares, após denúncia, prendeØ/ prendem traficante).
Tomando como ponto de partida estudos sobre o processamento da
concordância – baseados em dados de compreensão e de produção dos
denominados erros de atração (Ex.: O tecido das cortinas rasgaram) –
e resultados de pesquisas sobre a concordância variável realizadas no
contexto da Sociolinguística Variacionista, foi elaborado um experimento
de leitura conduzido por meio de uma maze task. Os resultados obtidos
sugerem que a distância tem impacto na computação dos traços de número
no verbo: tempos de reação significativamente menores foram registrados
nas condições de distância longa. Além disso, a marcação de número
do sujeito (singular/plural) e do verbo também se mostrou relevante.
Sujeitos plurais parecem ser mantidos na memória de forma mais robusta
e estabelecer restrições mais pesadas na computação da concordância
do que sujeitos singulares, mesmo no contexto de falantes expostos à
variação linguística em que marcas não redundantes são atestadas.
Palavras-chave: concordância variável; processamento da concordância;
distância linear; marcação morfológica.
Abstract: This paper investigates the role of linear distance between
subject and verb and number marking for the processing of Brazilian
Portuguese variable subject-verb agreement (e.g. Policiais Militares, após
denúncia, prendeØ/ prendem traficante). On the basis of production and
comprehension studies about attraction errors (E.g. O tecido das cortinas
rasgaram) and the findings of Sociolinguistics, we conducted a reading
experiment making use of a maze task. The results suggest that distance
has an impact on the computation of the number features on the verb:
with shorter reaction times under longer distance conditions. Results
concerning number marking (singular/plural) were also significant: plural
subjects representations appear to be more persistent in memory and
impose heavier constraints on agreement computation in comparison to
singular subjects, even for speakers in the context of linguistic variation
concerning non-redundant marking.
Keywords: variable agreement; agreement processing; linear distance;
markedness.
Recebido em: 9 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 20 de janeiro de 2017.
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1293
1 Introdução
Os estudos sobre o processamento da concordância na produção
e na compreensão têm se consolidado a partir da investigação dos
chamados lapsos de atração. No âmbito dessa literatura, tem sido
avaliado um conjunto de fatores que, potencialmente, poderiam interferir
na computação das relações de concordância entre o sujeito e o verbo.
Sabe-se assim que lapsos ou erros de atração são favorecidos em
situações em que o núcleo do sujeito é singular e há uma distância linear
e/ou hierárquica entre este e o verbo, como no exemplo (1) retirado de
Rodrigues (2006, p.15):
(1)
A análise dos resultados experimentais indicaram um efeito
principal de número do núcleo interveniente no processamento
da concordância.
Note-se que os lapsos consistem em falhas de processamento, não
estando, pois, associados a um desconhecimento das regras da gramática
da língua e, nesse sentido, refletem uma questão de desempenho e não de
competência linguística. São, pois, como coloca Fromkin (1973, p.217)
“inovações linguísticas não-intencionais”, “desvios do desempenho
no que tange à intenção [de fala] fonológica, gramatical ou lexical do
falante”.1
No âmbito da Psicolinguística, lapsos de fala são caracterizados como produções
decorrentes de falhas em alguma das etapas do processamento linguístico típico (i.e. em
indivíduos sem comprometimento linguístico). Esse tipo de ocorrência foi inicialmente
investigado por Meringer e Mayer (1885), dando origem à publicação de uma lista de
erros de fala e de escrita no alemão. Na mesma época, Freud em Psicopatologia da vida
cotidiana analisa lapsos de fala numa perspectiva psicanalítica (FREUD, 1901). Vale
salientar que o próprio Freud faz referência – no capítulo V dessa obra – ao mencionado
trabalho de Meringer e Mayer. Na década de 1970, a investigação dos lapsos vai ser
retomada por Fromkin (1971, 1973) e Garrett (1975, 1976) que propuseram modelos
nos quais buscaram estabelecer as rotas do pensamento à fala articulada a partir de
dados de erros de fala. No site do Max Planck Institute (https://www.mpi.nl/dbmpi/
sedb/sperco_form4.pl) é possível acessar uma base de dados de lapsos de fala que
inclui corpora de várias línguas (inglês, francês, italiano e alemão). Lapsos podem
ser categorizados de acordo com as unidades linguísticas envolvidas em cada caso
(traços fonológicos, fonemas, sílaba, morfema, palavra, frase ou sentença) e o tipo de
mecanismo envolvido no erro (fusão, substituição, adição, apagamento de unidades etc.).
1
1294
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Em línguas em que é registrada variação linguística no que
diz respeito à realização da concordância, como é o caso do Português
Brasileiro (PB), nem sempre é fácil distinguir entre uma situação típica de
ocorrência de lapso e contextos em que a ocorrência de uma variante não
padrão seria possível, como ilustrado em (2), em que o núcleo do sujeito
é plural e há um potencial elemento atrator entre o sujeito e o verbo.
(2)
Contas vazias do Estado deixaØ pagamento de servidores,
pela Justiça, sem prazo para acabar. (Jornal Extra online,
13/09/2016)
A pergunta que se coloca então é se a ausência de marca de número
plural no verbo corresponde a um erro de atração ou, diferentemente,
reflete a existência de regras de concordância variável na língua.
Desde os anos de 1970, estudos descritivos conduzidos no âmbito
da Sociolinguística Variacionista têm apontado de forma sistemática que
a realização da concordância de número no PB constitui um fenômeno
variável (LEMLE; NARO, 1977; NICOLAU, 1984; GRACIOSA, 1991;
SCHERRE; NARO; 1993, 1997, 1998a, 1998b, dentre outros; BRANDÃO;
VIEIRA, 2012; VIEIRA, 2015; MENDES; OUSHIRO; 2015).
Duas regras gerais de realização da concordância de número
podem ser identificadas na língua: (i) marcação morfologicamente
redundante, com reiteração da informação de plural em todos os itens
relevantes envolvidos; (ii) marcação morfologicamente não redundante,
que no caso da relação entre sujeito e verbo, seria obrigatoriamente
codificada no sujeito, podendo ser omitida no verbo. A regra (ii) é
exemplificada em (3) a seguir:
(3)
[...] as criançaØ iráØ aprender os relacionados ao ambiente [ ]2
A variação entre as duas regras levantadas não seria livre, mas
condicionada pela atuação de fatores linguísticos e extralinguísticos. No
caso específico da concordância entre sujeito e verbo, dentre as variáveis
externas que parecem ter algum papel na ocorrência da concordância
verbal variável, idade, local de procedência e sexo são alguns dos fatores
Exemplo retirado de um conjunto de trechos de sentenças aleatoriamente selecionados,
coletados pelas autoras de forma anedótica a partir de trabalhos escritos produzidos no
contexto de disciplinas diversas, por alunos universitários, entre 2014-2016.
2
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1295
que têm sido investigados. No entanto, o nível de escolaridade é, dentre
os fatores sociolinguísticos explorados na literatura, o que tem sido mais
frequentemente identificado como relevante (VIEIRA, 1994; VOTRE,
2013).
No que diz respeito às variáveis linguísticas arroladas como
relevantes pelos estudos de corpora podemos destacar: (i) a posição
do sujeito (anteposto/posposto); (ii) os traços semânticos do sujeito
(em especial, o contraste entre sujeitos animados/inanimados); e (iii)
a distância entre o sujeito e o verbo (COSTA, 1994; SILVA, 2005;
SANTOS, 2010; SCHERRE; NARO; 1998b, 1997).
Observa-se assim que um mesmo fator, qual seja, a distância
linear entre sujeito e verbo, parece ser relevante tanto para prever a
ocorrência de erros de atração quanto para favorecer a ocorrência de
concordância não redundante no caso do PB.
É importante salientar que, enquanto as pesquisas sobre
processamento da concordância a partir da análise de lapsos é bastante
rica, incluindo estudos que investigam a produção escrita (BOCK;
MILLER, 1991; BOCK; CUTTING, 1992; BOCK; EBERHARD,
1993; FAYOL et al., 1994; VIGLIOCCO; NICOL, 1998; FRANCK et
al., 2002; no PB, RODRIGUES, 2005a, 2005b, 2006, COSTA, 2013;
ALMEIDA, 2016; lapsos na escrita, FAYOL et al., 1994; dentre outros),3
trabalhos envolvendo o processamento da concordância variável ainda
são escassos e muito recentes (sobre o PB, MARCILESE et al., 2015;
HENRIQUE, 2016; AZALIM, 2016; AZALIM et al., submetido; no
inglês: SQUIRES, 2014).
No caso de pesquisas em processamento conduzidas com falantes de PB, cumpre
destacar, no que tange ao diálogo entre Psicolinguística e Estudos de Variação
Linguística, os trabalhos de Costa (2014) e Almeida (2016), os quais, embora não tomem
a concordância variável como tópico de investigação, trazem algum nível de discussão
sobre possível efeito de variação linguística no processamento da concordância.
Costa analisa estruturas em que verbos meteorológicos inseridos em orações relativas
concordam em número com o antecedente da relativa (Ex. Essa roupa é perfeita para
locais que ventam muito), e discute as fronteiras entre lapso e estruturas inovadoras
no PB. Almeida, por sua vez, ao examinar, na produção e compreensão, concordância
em estruturas predicativas, discute efeitos de marcação morfológica no processamento
dessas configurações, observando um possível efeito de formas não marcadas (singular
e masculino) em estruturas predicativas.
3
1296
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No presente artigo, explora-se – por meio de metodologia
experimental – em que medida a distância linear é um fator que se
mostra relevante no processamento da concordância variável por falantes
universitários.4 Assumindo como pressuposto inicial que a concordância
não redundante pode não ser a variante mais frequente para esse grupo
– em função do nível de escolaridade que amplia as possibilidades de
contato com a variante redundante da concordância –, buscou-se verificar
se uma maior distância entre sujeito e verbo poderia melhorar a aceitação
de sentenças nas quais o sujeito é marcado no plural e o verbo aparece
no singular.
Pelo fato de se tratar de um assunto praticamente inexplorado
na literatura psicolinguística, serão retomados aqui estudos que
avaliaram o papel da distância (linear e hierárquica) e da marcação
morfofonológica (singular/plural) no sujeito na ocorrência de lapsos
de concordância. Embora os erros de produção não sejam o foco desta
pesquisa, essa bibliografia resulta essencial na análise e interpretação dos
dados aqui obtidos experimentalmente no que tange ao processamento
da concordância verbal variável. Interessa também a discussão mais
recente sobre falibilidade do parser em relação a fenômenos linguísticos
que podem induzir ilusões gramaticais (PHILLIPS; WAGERS; LAU,
2011). Pesquisas conduzidas no âmbito da Sociolinguística Variacionista
fornecem ainda subsídios fundamentais para a elaboração da pesquisa
da qual este artigo é resultado.
Em § 2 retomamos pesquisas sociolinguísticas que investigaram,
em função de análises de corpora, a atuação da variável distância na
alternância das regras de marcação morfofonológica de plural no verbo.
Estudos sobre o processamento da concordância que avaliam tanto a
produção quanto a compreensão são discutidos em §3. O experimento
conduzido é reportado em §4 e as considerações finais são apresentadas
em §5.
O presente artigo é resultado de uma pesquisa conduzida no âmbito do projeto Interfaces
internas e externas na aquisição e no processamento adulto de L1 e L2: concordância
e tópico/ foco no PB, financiado pela FAPEMIG (Edital 1/2015 Demanda Universal
– Processo APQ-00988-15). O referido projeto conta com a aprovação do Comitê de
Ética da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAAE: 44123015.6.0000.5147).
4
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1297
2. Concordância verbal variável no PB e distância entre sujeito/verbo
Um conjunto de estudos conduzidos no contexto da
Sociolinguística Variacionista tem apontado para a importância do
fator distância linear para a realização da concordância verbal no PB
(BRANDÃO; VIEIRA, 2009; SCHERRE; NARO, 1997; GRACIOSA,
1991; dentre outros). Segundo Naro (1981), quanto mais nítida for a
relação entre sujeito/verbo e/ou quanto mais próximo do verbo estiver o
sujeito a que ele se refere, maiores serão as chances de o verbo receber a
marcação morfofonológica de plural. Na escrita, inclusive em contextos
tidos como mais monitorados – como no caso de textos jornalísticos –,
são frequentes as ocorrências de concordância verbal não redundante
quando o sujeito está distante do verbo (4-5).
(4)
Os policiais militares, Sargento Souza e Sargento Ottoni (na
foto acima), sob o comando do capitão Flávio, realizouØ nessa
quarta-feira, 20/01, duas ocorrências que resultouØ em prisões
dos autores (dados retirados de HENRIQUE, 2016)
(5)
Policiais Militares, após denúncia, prendeØ traficante do bairro
Boa União. (dados retirados de HENRIQUE, 2016)
Especificamente no que diz respeito à modalidade escrita,
Motta (2011) investigou a ocorrência de concordância verbal variável
em redações de alunos frequentando cursos da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) e alunos matriculados em cursos regulares dos ensinos
fundamental e médio em escolas públicas e privadas localizadas na cidade
do Rio de Janeiro. O estudo buscou analisar os fatores linguísticos que
mais influenciam a marcação de plural de 3a pessoa nas redações, além
de avaliar fatores extralinguísticos como nível de escolaridade (EJA,
ensino fundamental e médio), sexo dos participantes e faixa etária. Os
dados coletados foram divididos em três grupos: o grupo 1 formado
por redações de alunos de uma escola da rede privada, o grupo 2 por
produções de alunos de uma escola da rede Municipal de ensino da
cidade do Rio de Janeiro, e o grupo 3 por produções de alunos de uma
escola da rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro. A análise
1298
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conduzida sugere que, na modalidade escrita, a saliência fônica5 seria um
fator linguístico decisivo para presença ou ausência da marca de plural em
verbos da terceira pessoa. Já a relevância da distância do verbo em relação
ao sujeito foi verificada em algumas redações; entretanto, foi registrado
um número reduzido de ocorrências (19 dados, com 12 ocorrências com
marcação de plural, totalizando 63% do total). O fato de o sujeito estar
anteposto ao verbo também se mostrou um fator determinante para a
realização da concordância redundante. Segundo a autora, a posição
do sujeito anteposto em relação ao verbo favorece consideravelmente
o uso da variante padrão na concordância verbal. De modo geral, os
dados analisados por Motta (2011) não se mostram conclusivos com
relação à relevância da distância linear em virtude do pequeno volume
de ocorrências de sujeitos distantes de verbos na amostra analisada. No
entanto, vários estudos prévios (BRANDÃO; VIEIRA, 2009; SCHERRE;
NARO, 1997; GRACIOSA, 1991) reportam que a distância linear seria
um dos fatores determinantes para explicar a ocorrência variável da
marcação morfológica de plural nos verbos.
De acordo com Scherre e Naro (1997), quanto mais material
interveniente houver entre o núcleo do sujeito e o verbo, menor é
a probabilidade de haver concordância redundante entre ambos os
elementos. Uma das explicações aventadas para esse fenômeno seriam
restrições na capacidade de memória de trabalho dos indivíduos, que
teriam maiores dificuldades para recuperar a informação de número do
núcleo do DP sujeito.
Graciosa (1991), ao analisar a alternância na marcação
morfológica de plural no verbo na fala de falantes cultos cariocas, verifica
que: “quando há proximidade linear entre SN e SV há maior garantia
da regra se aplicar” (GRACIOSA, 1991, p.69). Santos (2010, p. 98),
por sua vez, observa que a concordância verbal não redundante seria
condicionada pelo fator “presença de elementos”, enquanto a realização
A saliência fônica está associada ao fato de formas singulares e plurais terem maior
ou menor identidade fônica quando comparadas entre si. Nesse sentido, as formas
singular e plural de verbos como ser, na terceira pessoa do presente do indicativo
(é/são), teriam um maior grau de saliência fônica do que verbos do tipo de comer
(come/comem no presente do indicativo), em que as formas singular e plural são mais
semelhantes fonética e morfologicamente entre si. Análises de corpora sugerem que
quanto menor o grau de saliência fônica de um item, mais favorável seria o contexto à
não realização redundante da marca de plural (LEMLE; NARO, 1977, dentre outros).
5
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1299
da concordância verbal é condicionada pelo fator “ausência de elementos”
entre o sujeito e o verbo. Vale destacar que, enquanto a pesquisa de
Graciosa (1991) investigou o fenômeno da concordância verbal variável
na produção oral de falantes adultos, a pesquisa de Santos (2010) analisou
o cancelamento da marca de plural no verbo em narrativas de crianças
frequentadoras de entidades filantrópicas em Maceió.
Em um estudo comparativo recente realizado por Rubio (2012),
houve 67,9% de cancelamento da marcação redundante em dados de
escrita em sentenças nas quais a distância entre sujeito e verbo era de entre
seis e dez sílabas. Segundo o autor, esses resultados: “demonstram que
o alargamento da distância do verbo em relação a seu sujeito promove,
conforme premissas pré-apresentadas, enfraquecimento da concordância
verbal” (p.280).
O papel da distância linear na realização da concordância variável
tem sido atestado também em outras variedades do português. Lopes e
Baxter (2010), considerando neste caso o português de Tonga, apontam
para a interferência do fator distância na realização da concordância.
Segundo os autores, a complexidade do SN (sintagma nominal) e a
distância entre sujeito e verbo condicionariam a realização das regras
de concordância nessa variedade do português. De acordo com Lopes e
Baxter (2010), em termos cognitivos e pragmáticos, a adjacência entre
esses elementos ajuda na configuração e desenvolvimento da regra. Já
Rubio (2015), analisando o português europeu, reporta que a posição
do verbo com relação ao sujeito (anteposto/posposto) influenciaria
fortemente a ocorrência da concordância variável nessa variedade. Em
particular, sujeitos antepostos combinados com uma maior distância
(mais de 10 sílabas) configuram um contexto que desfavorece a marcação
redundante.
3. Estudos sobre o processamento da concordância: os erros de
atração e concordância variável
Como foi previamente mencionado, na literatura psicolinguística,
o mecanismo da concordância tem sido explorado principalmente no
que diz respeito ao que vem sendo chamado de “erros de atração”
(CLAHSEN; HANSEN, 1993; VIGLIOCCO; BUTTERWORTH;
GARRET, 1996; VIGLIOCCO; NICOL, 1998). Os erros de atração
se caracterizam pelo fato de o verbo concordar não com o núcleo do
1300
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
sujeito, mas com outro núcleo nominal interveniente, em estruturas do
tipo ilustrado em (6).
(6)
O álbum das fotos rasgaram. (RODRIGUES, 2005a, p. 146)
Diversas pesquisas têm reportado uma assimetria entre singular
e plural na indução de erros de atração (BOCK; EBERHARD, 1993;
EBERHARD, 1999; no PB, RODRIGUES, 2005a). Assim, a condição
em que o N1 é singular e o N2 é plural (7) registra um número maior
de erros de atração do que a condição em que o N1 é plural e o N2 é
singular (8). É importante lembrar que a configuração em (8), mas não
em (7), é a que está envolvida nos casos de concordância variável (i.e.
sujeito plural + verbo no singular).
(7)
A caixa N1 das canetas N2 ... sujou/sujaram.
(8)
As contas N1 do estado N2 ... fechou/fecharam.
O efeito da distância linear no processamento da concordância
foi inicialmente investigado em estudos de produção por Bock e Miller
(1991), em experimento no qual manipularam, entre outros fatores, o
tamanho dos preâmbulos que funcionavam como sujeitos das sentenças,
a partir da colocação de uma média de dois adjetivos pré-nominais no
modificador (Ex.: The key to the cabinets vs. The key to the ornate
Victorian cabinets / A chave dos armários vs. A chave dos [ornamentados
vitorianos] armários). Nesse mesmo experimento, os autores também
variaram o tipo de modificador do núcleo do sujeito – sintagma
preposicionado (PP) e oração relativa –, e o número tanto do núcleo do
sujeito quanto do núcleo nominal do modificador. Não foi observado
efeito principal de tamanho do modificador nem são reportados efeitos
de interação entre essas variáveis.
Bock e Cutting (1992), em experimento posterior, também
envolvendo modificadores preposicionais e oracionais, obtiveram um
efeito do número do nome local, do tipo de modificador e também
do tamanho do modificador. Houve também efeito de interação entre
número do nome local e tipo de modificador e entre tipo e tamanho do
modificador. No que tange à distância, foi observado efeito de tamanho
do modificador apenas para PPs. Esses resultados foram tomados como
evidências na direção da hipótese do “empacotamento oracional”,
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1301
segundo a qual informação de número de um núcleo interveniente teria
menos chance de induzir erros de atração quando estivesse em uma
oração, porque a oração funcionaria como uma espécie de “ilha” que
isolaria o núcleo interveniente do núcleo do sujeito, dificultando qualquer
tipo de interferência no estabelecimento da concordância.
No que tange à literatura em compreensão, resultados de um
estudo envolvendo leitura de estímulos, com emprego da técnica de
monitoramento do olhar (eyetracking), conduzido com falantes de
hebraico (DEUTSCH, 1998) sugerem que a distância linear entre o
núcleo do sujeito e o verbo é um fator que afeta a detecção de erros de
concordância de número e de gênero no verbo (dado que o verbo concorda
em número e em gênero com o sujeito em hebraico). Nessa pesquisa,
foram mais facilmente identificados erros na condição distância curta
do que longa.
Pearlmutter (2000) conduziu dois experimentos de leitura
automonitorada 6 com vistas a avaliar efeitos de distância no
processamento da concordância na compreensão. O autor manipulou a
distância entre o elemento interveniente e o núcleo do sujeito, de modo
a poder contrastar duas hipóteses acerca de como a concordância seria
computada e possíveis efeitos de interferência: (i) uma hipótese baseada
na ideia de percolação (VIGLIOCCO; NICOL, 1997) e em um sistema de
transmissão hierárquica de traços (hierarchical feature-passing system),
e (ii) uma hipótese ancorada na proposta de um sistema linear de slot de
memória (linear slot-based system).
De acordo com a hipótese (i), a distância hierárquica entre o
elemento interveniente e a projeção máxima do núcleo do sujeito seria o
fator determinante de efeitos de interferência. Logo, quanto mais próximo
da projeção mais alta estivesse o elemento com número incongruente,
maior a chance de este vir a afetar o processamento da concordância.
O paradigma da leitura automonitorada foi introduzido independentemente por vários
pesquisadores diferentes (cf. MITCHELL, 2004) e se caracteriza pelo fato de permitir
que o próprio participante controle – pressionando um botão – o tempo de exposição
de cada palavra, segmento ou frase inteira durante sua leitura. Assume-se que o tempo
levado para pressionar o botão (passando de um segmento, palavra ou frase para o/a
seguinte) depende das propriedades daquilo que está sendo lido e está relacionado com
o curso dos processos cognitivos durante a leitura e a compreensão.
6
1302
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
Assim, no contraste entre as sentenças (9) e (10), abaixo, a primeira
geraria mais efeitos de interferência do que a segunda:
(9)
The lamp near the paintings of the house was damaged in the
flood.
A lâmpada perto dos quadros da casa foi danificada durante a
enchente.
(10) The lamp near the painting of the houses was damaged in the
flood.
A lâmpada perto do quadro das casas foi danificada durante a
enchente.
De acordo com a hipótese (ii), por outro lado, efeitos de interferência
estariam diretamente associados a esvaecimento de informação na memória
de trabalho. A ideia é que haveria uma localização na memória reservada
para rastrear o número do NP (Nominal Phrase – sintagma nominal) sujeito
durante o processamento e que a informação de número do núcleo do
sujeito tenderia a decair com o tempo ou distância. Assim, um elemento
interveniente mais distante do núcleo do sujeito teria mais chance de gerar
interferência, pois a representação de número do núcleo já teria sofrido
processo de esvaecimento. Logo, uma sentença como (10) teria mais
chance de provocar efeitos de interferência do que (9).
Pearlmutter (2000) observou efeito de interferência apenas no
experimento 2, cujos estímulos eram todos sentenças com N1 plural (Ex.
The lamps near the painting(s) of the house(s) were... / As lâmpadas
próximas do(s) quadro(s) da(s) casa(s) foram). Nesse experimento,
quando o número do N2 era incongruente em relação ao número do N1,
os tempos de leitura no verbo foram maiores.
Os resultados obtidos nesse segundo experimento estão em
acordo com a hipótese de que distância hierárquica é fator relevante no
processamento da concordância e também com a ideia de que marcação
de número do núcleo do sujeito afeta esse processo.
Esses resultados de compreensão vão na mesma direção do
observado em estudos de produção (VIGLIOCCO; NICOL, 1998, com
falantes de inglês e RODRIGUES, 2006, com falantes de português
brasileiro).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1303
Pearlmutter observa, contudo, que não se pode descartar
totalmente um possível efeito de distância métrica. Segundo o autor,
caso não houvesse alguma interferência desse fator, seria esperado que os
sujeitos plurais do experimento 2 fossem tão invulneráveis à interferência
como sujeitos plurais em construções envolvendo um único PP (Ex. The
keys to the cabinet / As chaves do armário). Um ponto adicional levantado
por Pearlmutter diz respeito à natureza dos elementos intervenientes entre
o núcleo do sujeito e o verbo. Segundo o autor, talvez o que deva ser
considerado não é o número de elementos intervenientes puramente, mas
sim a possibilidade de estes precisarem ser computados em um processo
de rastreamento de traços de número.
Wagers, Lau e Phillips (2009) conduziram um conjunto de 7
experimentos envolvendo estruturas com elementos intervenientes
entre o núcleo do sujeito e o verbo, as quais potencialmente
poderiam gerar distúrbios no processamento da concordância.
Entre as estruturas investigadas, os autores trabalharam com NPs
modificados por PPs e com NPs modificados por orações relativas. No
caso dos modificadores do tipo PP, o N1 foi sempre usado no singular
e foram manipulados o número do N2 e o número do verbo (Ex. The
key to the cell(s) (unsurprisingly) was(were) rusty from many years of
disuse / A chave da(s) cela(s) (sem surpresa) ficou/ficaram enferrujadas
pelos muitos anos de falta de uso); no caso dos modificadores oracionais,
foram manipulados tanto o número do N1 quanto do N2 e o número do
verbo da relativa (Ex. The musician(s) who the reviewer(s) praise(s) /
O(s) músico(s) que o(s) crítico(s) elogia/elogiam...).
Em relação aos resultados obtidos nesse conjunto de experimentos,
é relevante aqui destacar o fato de os autores terem reportado efeitos de
atração em configurações de relativas (em que o verbo parece concordar
com o sujeito da oração principal – The musician who the reviewers praises
/ O músico que os críticos elogiou) e de só terem sido observados efeitos
de atração em sentenças agramaticais. Tais resultados são apontados como
evidências para um mecanismo de recuperação dos traços do sujeito
orientado por pistas (similar ao modelo de slot de memória de Pearlmutter,
2000). Os autores argumentam que, se o problema estivesse associado
à representação de número do sujeito (como no modelo de transmissão
hierárquica de traços), seria esperado um estranhamento também no
caso de sentenças gramaticais (Ex.: The key to the cells (unsurprisingly)
was rusty from many years of disuse / A chave das celas (sem surpresa)
1304
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
ficou enferrujada pelos muitos anos de falta de uso), uma vez que o
modificador ao afetar o número da projeção hierárquica mais alta seria
incongruente com o verbo. Assim, no exemplo dado, o traço de número
de cells (celas), por um processo de percolação, poderia acabar por
especificar o número do DP como plural, o que seria incompatível com
o número do verbo, singular – was (foi/ficou). Rodrigues (2011) nota que
os autores reportam um efeito de atração, capturado na posição do verbo,
em uma das comparações entre pares gramaticais: The key to the cells
unsurprisingly was rusty from many years of disuse (com N2 plural) vs.
The key to the cell unsurprisingly was rusty from many years of disuse
(com N2 singular/condição controle), com maior tempo de leitura para
a primeira. Esse resultado, não esperado segundo a hipótese dos autores,
é explicado em termos de uma continuação do efeito de marcação de
número que se estenderia para a região seguinte à do advérbio.
Rodrigues (2011), em um experimento off-line, que consistiu na
adaptação da técnica de julgamento de gramaticalidade,7 verificou que a
presença de um N2 plural na posição de modificador do núcleo do sujeito
reduz expressivamente a rejeição de sentenças em que a concordância
entre o sujeito e o verbo é agramatical – enquanto a média de aceitação
para a condição N2 singular + V plural (Ex. O pediatra da criança da
creche receitaram o remédio) foi de 0,5 em um máximo score de 4, a
média para a condição N2 plural + V plural (Ex. O pediatra das crianças
da creche receitaram o remédio) foi de 2,3. Já no caso das condições
gramaticais (N2 singular + V singular: O pediatra da criança da creche
receitou o remédio vs. N2 plural + V singular: O pediatra das crianças
da creche receitou o remédio) não houve diferença em termos da taxa
de aceitação, tendo ambas apresentado resultados próximos ao score
máximo (respectivamente, 3,8 e 3,7).
Os resultados de Rodrigues (2011) são compatíveis com a
proposta de Wagers, Lau e Phillips (2009), segundo a qual, no caso da
O procedimento experimental adotado consistiu na apresentação de sentenças,
palavra por palavra, no centro de uma tela de projeção. Os participantes receberam a
informação de que as sentenças haviam sido produzidas por falantes estrangeiros e que
a tarefa a ser realizada consistia em dizer se o estrangeiro dominava bem o português.
Os julgamentos, registrados em um bloco de respostas, poderiam ser de dois tipos: “D”
para Domina ou “N” para não domina. Havia um tempo fixo entre a apresentação dos
estímulos, e a resposta deveria ser dada da forma mais rápida possível.
7
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1305
compreensão, o efeito de atração ocorreria no reacesso à informação
acerca do número do sujeito a partir da identificação do verbo. Uma
alternativa considerada pelos autores, no âmbito dessa hipótese, é a de
que o número do verbo poderia ser antecipado a partir de um mecanismo
preditivo. Apenas nos casos de agramaticalidade ocorreria um processo de
reanálise. Essa explicação é, em certa medida, compatível com o modelo
de Produção Monitorada por Parser (PMP), apresentado por Rodrigues
(2006), para explicar erros de concordância por atração na produção.
Uma questão que os experimentos sobre processamento da
concordância na compreensão levantam é a da infalibilidade do parser
às chamadas ilusões gramaticais (PHILLIPS; WAGERS; LAU, 2011).
Segundo os autores, as ilusões gramaticais, de um modo geral, seriam
geradas devido a equívocos do parser durante o processamento de
sentenças em contextos sintáticos bastante específicos, tais como: anáfora,
concordância, caso e dependências. De acordo com os autores, apesar de
o parser humano ser muito eficiente na implementação de determinadas
restrições gramaticais complexas, como as restrições no uso de pronomes
reflexivos, este apresentaria falhas em restrições relativamente simples,
gerando, assim, as ilusões gramaticais.
Como foi mencionado anteriormente, pesquisas relativas ao
processamento da concordância variável são bastante escassas na
literatura. O trabalho de Squires (2014) constitui um estudo exploratório
que busca analisar o papel de um conjunto de variáveis sociais (classe
social, sexo e etnia) no processamento da variação relativa à concordância
no inglês americano. Especificamente, foi investigado o modo como a
variação na concordância entre sujeito e verbo nessa língua é processada
durante a compreensão de sentenças. Para isso, foram conduzidos três
experimentos de leitura automonitorada. Três padrões distintos de
realização da concordância foram investigados, sendo eles:
a)
Concordância padrão (they don’t/ he doesn’t);
Plural: After eating, the turtles don’t walk very fast.
[Depois de comer, as tartarugas não caminham muito rápido].
Singular: After eating, the turtle doesn’t walk very fast.
[Depois de comer, a tartaruga não caminha muito rápido].
1306
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
b)
Concordância não padrão (he/she don’t);
After eating, the turtle don’t walk very fast.
c)
Concordância denominada “incomum” pela autora, i.e., uma
opção não reconhecida como variação presente no inglês
americano (they doesn’t).
After eating, the turtles doesn’t walk very fast.
Participaram 112 voluntários, todos eles estudantes de cursos de
graduação nos Estados Unidos e com conhecimento da norma padrão
de concordância. Os participantes responderam um questionário e
foram agrupados de acordo com três categorias: classe (alta ou baixa),
etnia (branco, afroamericano ou outros) e sexo (masculino e feminino).
Tomando como ponto de partida estudos sociolinguísticos prévios, as
previsões levantadas pela autora foram que participantes de classe média
baixa, afroamericanos e homens seriam menos afetados pelas diferenças
nos padrões de concordância, registrando tempos de reação equivalentes
nas condições padrão e não padrão. Esperava-se ainda que participantes
de classe social mais alta, mulheres e brancos fossem mais sensíveis
a essas diferenças, apresentando tempos de reação mais altos para as
condições não padrão e incomum.
Em virtude do foco específico da nossa pesquisa, retomaremos
aqui apenas os resultados relativos à performance dos participantes
de forma global (sem considerar os fatores grupais investigados).
Independente do grupo social, sentenças com concordância padrão
foram lidas mais rapidamente e sentenças com concordância incomum
apresentaram os maiores tempos de leitura, enquanto as sentenças com
concordância não padrão registraram tempos de leitura intermediários.
Em conjunto, os resultados obtidos por Squires (2014) sugerem um
processamento diferenciado da forma não padrão de marcação do plural
na relação sujeito-verbo quando comparada com a forma padrão.
No que tange ao PB, os trabalhos de Marcilese et al. (2015),
Henrique (2016), Azalim 2016, Azalim et al. (submetido) e Marcilese
et al. (em prep.) buscaram investigar o processamento da concordância
variável nominal e verbal. Marcilese et al. (2015) conduziram um
experimento de escuta automonitorada com alunos universitários cujos
resultados foram na mesma direção do reportado por Squires (2014) para
o inglês e revelaram tempos de escuta significativamente maiores nas
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
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condições de concordância não redundante quando comparadas com as
condições de concordância redundante (Os esquilo desceu da árvore vs.
Os esquilos desceram da árvore). Resultados semelhantes foram obtidos
por Henrique (2016) a partir de um experimento de produção eliciada
por repetição que registrou tempos de reação maiores nas condições não
redundantes.
Azalim (2016), Azalim et al. (submetido) e Marcilese et al.
(em prep.) investigaram o papel da saliência fônica no processamento
da concordância nominal variável no PB. Para tal, foram conduzidos
experimentos de produção eliciada por repetição com adultos
universitários, alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e crianças
na faixa dos 6 anos de idade. Novamente, tomados em conjunto os
resultados indicam um processamento diferenciado das formas padrão
e não padrão, com tempos de reação significativamente maiores nas
condições de concordância não redundante e menores médias de
respostas-alvo, para todos os grupos investigados (i.e independente de
escolaridade e idade).
Diante do quadro traçado por esses estudos prévios, o presente
artigo visa a dar continuidade a essa linha de pesquisa que busca avaliar o
processamento da concordância variável no PB. No caso do experimento
reportado na próxima seção, as questões que se colocam são:
(i)
Considerando-se que os participantes são falantes universitários
(e, portanto, com maior exposição – pelo menos na escrita – à
concordância redundante), a presença de uma marca de número
plural apenas no sujeito (gramatical na variedade não padrão
do PB) geraria menor estranhamento do que uma condição
agramatical em qualquer variedade do PB (sujeito singular +
verbo plural: *A menina dançaram)?
(ii)
A distância linear, que pode favorecer a ocorrência de erros (na
produção) e sua não percepção como lapsos (na compreensão),
interferiria no processo de verificação de traços do verbo pelo
parser, fazendo com que este fosse mais vulnerável a um efeito
de ilusão gramatical?
(iii) A distância pode contribuir para uma maior “aceitação” de uma
variante que – não necessariamente – faz parte da gramática
dos nossos participantes?
1308
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
4. Distância linear no processamento da concordância verbal variável
Com o objetivo de investigar o papel da distância linear
na ocorrência da concordância verbal variável, foi conduzido um
experimento de leitura por meio de uma tarefa de labirinto (maze task).8
Em linhas gerais, em experimentos que empregam essa técnica, a tarefa
do participante consiste em fazer escolhas sobre qual de duas opções é
mais adequada para dar sequência a uma sentença. Diferentemente dos
experimentos de leitura automonitorada tradicionais, a tarefa de labirinto
requer a integração incremental local de cada nova palavra/segmento
com o contexto precedente, o que pode contribuir para inibir eventuais
efeitos de spillover. É importante lembrar que para o participante o foco
da tarefa a ser realizada é a construção de uma frase completa com sentido.
Dessa forma, consideramos que aspectos pontuais como a marcação
morfofonológica dos itens que conformam a frase em questão podem
ficar menos salientes do que em tarefas de leitura convencionais. Por
esse motivo, embora o fenômeno aqui investigado seja muito frequente
na produção oral, mas proscrito na norma padrão escrita, consideramos
que uma tarefa de leitura nos moldes da maze poderia ser uma opção
metodológica que atenderia aos nossos objetivos.
Outro ponto relevante a ser considerado é o fato da tarefa de maze
ser concebida de modo que apenas uma das opções apresentadas em
cada etapa da leitura possibilita a formação de uma sentença completa.
Assim, no nosso caso específico, em que o segmento crítico era o verbo
da frase (que podia concordar ou não de forma redundante com o sujeito),
este sempre constituía a melhor escolha para a construção global da
sentença. Pode-se dizer então que nesta tarefa temos uma situação de
“escolha forçada” e o que é de fato avaliado é o quanto tal escolha se
mostra demandante (em termos de tempo de reação) para o participante.
De acordo com esse raciocínio, escolhas mais rápidas indicariam uma
integração mais automática e inconsciente das informações, enquanto
escolhas mais demoradas revelariam a percepção de algum tipo de
incongruência entre o item relevante para dar prosseguimento à frase e
o material previamente processado.
Maiores detalhes sobre essa técnica podem ser encontrados em Forster, Guerrera e
Elliot (2009) e no site <http://www.u.arizona.edu/~kforster/MAZE/>.
8
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1309
4.1 Método
As variáveis independentes foram: distância linear entre sujeito
e verbo (longa, curta e zero), número do verbo (singular/plural) e número
do sujeito (singular/plural). As duas primeiras variáveis foram fatores
within-subjects e a terceira, fator grupal (between-subjects). As variáveis
dependentes foram: o tempo de reação na leitura/escolha do alvo (o
segmento crítico considerado foi o verbo da sentença) e o número de
respostas-alvo (escolha do verbo da sentença).
No presente artigo, reportamos apenas os resultados detalhados
relativos à primeira variável dependente, i.e. tempo de reação. O número
de respostas-alvo não se mostrou uma medida informativa já que –
como previsto pelo rationale da técnica anteriormente apresentado – o
percentual de escolhas do verbo-alvo foi bastante alto em todos os
grupos e condições (Escolhas do alvo – sujeito plural: distância longa
90%, distância curta 83%, distância zero 80%; sujeito singular: distância
longa 92%, distância curta 89%, distância zero 87%). Embora possa ser
observada uma diminuição do número de respostas-alvo em função da
distância (mais respostas para as condições de distância longa do que para
as restantes), essas diferenças não foram estatisticamente significativas.
A apresentação dos estímulos experimentais foi feita de acordo
com a distribuição em quadrado latino (todos os membros do grupo
foram expostos a todas as condições, mas a mesma sentença não foi
apresentada em mais de uma condição para o mesmo participante). Ao
longo do teste, foram apresentadas 18 sentenças experimentais (3 por
condição) e 18 distratoras. Utilizamos um número menor de distratoras
do que o habitual (proporção 1 experimental para 2 distratoras) pelo
fato de as próprias sentenças experimentais apresentarem uma variação
considerável entre si no que diz respeito ao tamanho. Nesse sentido,
estimamos que as próprias sentenças experimentais em cada condição
funcionariam como distratoras entre si. A tabela 1 apresenta exemplos das
condições experimentais. Além disso, a própria natureza da tarefa, que
demanda que o participante lide com “material irrelevante extra” a cada
escolha, também traz um elemento de distração que não está presente
em tarefas de leitura tradicionais.
1310
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TABELA 1
Exemplos das condições experimentais
Grupo 1 – Sujeito plural
Condição
Os alunos no início da aula atentamente escutaram a professora.
Suj pl. V pl. longa
Os alunos atentamente escutaram a professora.
Suj pl. V pl. curta
Os alunos escutaram a professora.
Suj pl. V pl. zero
Os alunos no início da aula atentamente escutou a professora.
Suj pl. V sg. longa
Os alunos atentamente escutou a professora.
Suj pl. V sg. curta
Os alunos escutou a professora.
Suj pl. V sg. zero
Grupo 2 – Sujeito singular
Condição
O aluno no início da aula atentamente escutaram a professora.
Suj sg. V pl. longa
O aluno atentamente escutaram a professora.
Suj sg. V pl. curta
O aluno escutaram a professora.
Suj sg. V pl. zero
O aluno no início da aula atentamente escutou a professora.
Suj sg. V sg. longa
O aluno atentamente escutou a professora.
Suj sg. V sg. curta
O aluno escutou a professora.
Suj sg. V sg. zero
Participantes
Participaram do experimento 40 adultos voluntários. Todos
os participantes eram estudantes universitários de graduação ou pósgraduação, de cursos diversos. A idade média dos participantes foi de 26
anos. Os participantes foram divididos em dois grupos de acordo com
a variável grupal número no sujeito. Assim, para um grupo só foram
apresentadas frases experimentais com sujeitos plurais e, para o segundo
grupo, sentenças contendo sujeitos singulares.
Procedimento
Durante a atividade experimental, frases divididas em segmentos
são apresentadas na tela do computador. Para cada etapa da tarefa de
leitura, duas palavras/segmentos separados por barras são exibidos.
Apenas uma das opções apresentadas dá sequência à sentença de forma
coerente. Em cada etapa, o participante seleciona uma das duas palavras/
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
1311
segmentos apresentados utilizando um dos dois botões disponíveis no
teclado e marcados respectivamente por ← (esquerda) e → (direita). O
primeiro e o último segmento não envolvem escolhas reais (a alternativa
nesses casos é indicada por uma sequência de letras x, como ilustrado
na Figura 1), já que têm como função iniciar e encerrar cada frase. Após
o início da atividade experimental, o participante controla a velocidade
de aparição de novos estímulos na tela conforme vão sendo feitas as
escolhas entre as duas opções exibidas até completar uma frase (cujo final
era graficamente indicado pela presença de um ponto). O experimento
foi programado por meio do software Linger,9 versão 2.94, que também
randomizou os itens e captou o tempo de reação e as escolhas dos
participantes para posterior análise. Cabe salientar que, no caso do
experimento conduzido, no par de escolhas correspondente ao segmento
crítico (i.e. aquele que contém o verbo da frase), a alternativa ao verbo
nunca era outro verbo (cf. o exemplo apresentado na Figura 1). A duração
de cada sessão experimental foi de aproximadamente 12 minutos.
Figura 1 – Exemplo esquemático do procedimento experimental
O Linger é uma plataforma flexível para experimentos que investiguem o
processamento da linguagem. O software foi desenvolvido no laboratório de Ted Gibson
e é disponibilizado gratuitamente, funcionando em computadores com qualquer sistema
operacional (<http://tedlab.mit.edu/~dr/Linger/>).
9
1312
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4.2 Resultados e discussão
Os resultados relativos à variável tempo de reação foram
submetidos a uma análise da variância com design fatorial 2x3x2 (número
do verbo x distância x número do sujeito), sendo que a variável número
do sujeito foi tomada como fator grupal. Para tal, foi utilizado o software
estatístico gratuito ezANOVA.10 Cabe destacar que o tempo de reação
foi medido no segmento delimitado como crítico, qual seja, o verbo da
sentença (cf. Figura 1); todos os resultados reportados a seguir remetem
a essa variável dependente.
A análise dos tempos de reação no segmento crítico (i.e. par
de opções que contém o verbo) revelou um efeito principal de número
do sujeito, com médias de tempo de reação significativamente maiores
para as sentenças com sujeitos plurais (F(1,38) = 6.28, p=0.02) (Médias:
2412.8ms sujeito plural e 1988.5ms sujeito singular).
Gráfico 1 – Tempo médio de resposta (em ms) em função do número do sujeito.
Foi obtido também um efeito principal de distância, em
decorrência do aumento gradual no tempo de reação em função da
distância, com tempos maiores nas condições com distância zero e
menores nas condições com distância longa (F (2,76) = 8.84, p=0.0003)
(Médias: 1979.1ms, 2207.4ms e 2415.6ms para a distância longa, curta
Recurso disponível em: <http://www.cabiatl.com/mricro/ezanova/>. Esse mesmo
software fornece ainda as comparações entre pares de condições por meio do teste de Tukey.
10
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1313
e zero, respectivamente). O gráfico 2 ilustra essa gradação nas médias
de tempo de respostas.
Gráfico 2 – Tempo médio de resposta (em ms) em função da distância
entre sujeito e verbo
A terceira variável delimitada, qual seja número do verbo,
também registrou um efeito principal, com médias de tempo de reação
significativamente maiores na condição de verbos no singular (F(1,38) =
8.99, p=0.004) (Médias: 2338.1ms e 2063.3ms, para verbos no singular
e no plural, respectivamente). Como veremos a seguir, esse efeito foi
decorrente de um aumento expressivo nos tempos de reação na condição
sujeito plural + verbo singular.
Gráfico 3 – Tempo médio de resposta (em ms) em função do número do verbo
1314
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Por último, foi obtido um efeito de interação entre número
do sujeito e número do verbo (F(1,38) = 35.4, p=0.000001) (Médias:
2822.9ms, 2002.7ms, 1853.2ms e 2123.8ms, para as condições SPL
VSG, SPL VPL, SSG VSG e SSG VPL, respectivamente). A condição
que registrou as maiores médias de tempo de reação foi a de sujeito plural
+ verbo singular (Ex. As músicas... fez...), justamente a condição que
ilustra a concordância verbal variável do PB. Apenas as comparações
entre pares que apresentaram resultados estatisticamente significativos
são marcadas pelo asterisco no Gráfico 4.
Gráfico 4 – Tempo médio de resposta (em ms) em função
da interação entre o número do sujeito e o número do verbo
No que diz respeito ao efeito principal de número do sujeito
observado, sujeitos plurais parecem facilitar a manutenção na memória
da informação relativa a número. Nessas condições foram registrados
tempos de reação maiores relativos a leitura/escolha do verbo, quando
comparados com os tempos verificados nas condições com sujeitos
singulares. Como foi mencionado anteriormente, sujeitos plurais não
favorecem a ocorrência de erros de atração (BOCK; EBERHARD, 1993;
EBERHARD, 1999; RODRIGUES, 2005a). Vale lembrar que no estudo
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1315
de Pearlmutter (2000) só foram observadas diferenças entre distancia
hierárquica e linear quando o núcleo do sujeito era plural. Além disso,
em estudo sobre erros de atração no PB, Rodrigues (2006) não obteve
uma produção significativa de lapsos nas condições de sujeito plural.
Em conjunto, esses resultados parecem reforçar a ideia de que um DP
sujeito plural seria mais saliente e, portanto, seus traços seriam mantidos
na memória e recuperados com maior facilidade.
O tempo de reação no segmento crítico foi inversamente
proporcional à distância em todas as condições. A distância longa
entre sujeito e verbo está associada a menores tempos de reação,
independentemente das outras variáveis.
As condições de distância longa favorecem um esvaecimento da
informação literal e o que se mantém na memória é uma representação
semântica abstrata. No entanto, quando o sujeito é morfofonologicamente
marcado, os traços morfológicos do DP sujeito ficam mais acessíveis
na memória e, ao localizar o possível verbo da sentença, em caso de
incongruência, o participante leva um tempo maior para escolher o
verbo do que na condição incongruente em que o sujeito é singular (não
marcado). Todavia, em virtude das características da tarefa experimental
utilizada, o participante, na ausência de uma alternativa melhor, acaba
escolhendo o verbo como opção mais adequada. Esse resultado é
compatível com o observado no caso dos lapsos, tanto na produção quanto
na compreensão. Como mencionado logo acima, na produção, não há
ocorrência de lapsos quando o sujeito é plural (RODRIGUES, 2006). Já
na compreensão, Pearlmutter (2000) só registrou efeitos de incongruência
quando o sujeito era plural e o verbo singular. Nas condições de sujeito
singular, assim como no nosso experimento, não foi registrada diferença.
No caso da condição curta, a representação do DP sujeito com
seu conjunto completo de traços morfossintáticos ainda estaria disponível
quando da escolha do verbo. Isso aconteceria tanto na condição de
sujeito singular quanto de sujeito plural. Assim, a escolha dos verbos
nas condições incongruentes registra tempos significativamente maiores
do que nas condições congruentes. Na condição de distância zero, a
concordância incongruente também apresenta tempos de reação mais
altos. Neste caso, contudo, só se revelou estatisticamente significativa a
comparação entre SPL VPL e SPL VSG. A comparação entre SSG VSG
e SSG VPL, por sua vez, não foi significativa, embora as médias tenham
sido na direção esperada (i.e. tempos de reação maiores na condição
incongruente).
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1316
Diante dos resultados apresentados, pode-se afirmar que tanto
a distância quanto a marcação morfofonológica do sujeito parecem ter
efeito no processamento da concordância verbal. As médias em cada
condição e o resultado da análise estatística da comparação entre os pares
de condições relevantes em cada caso (congruente vs incongruente), são
apresentados na Tabela 2 a seguir.
TABELA 2
Comparações entre pares em função da distância entre sujeito
e verbo (médias de tempo de reação em ms por condição e resultado
da análise estatística)
Distância entre
sujeito e verbo
Longa
Comparações entre pares (teste de Tukey)
SPL VPL x SPL VSG
1746.1831ms
2600.35ms
(t(19)=4.14, p= 0.0006)
Curta
2109.2ms
2809.4ms
(t(19)=3.62, p= 0.001)
Zero
2152.9ms
3059.2ms
(t(19)=3.77, p= 0.0013)
SSG VSG x SSG VPL
1715.8ms
1854.1ms
(t(19)=1.03, p= 0.3150)
1789.6ms
2121.5ms
(t(19)=2.43, p= 0.02)
2054.3ms
2395.9ms
(t(19)=1.32, p= 0.2)
Verbos no plural foram mais rapidamente processados do que
os verbos no singular. No entanto, os resultados relativos ao efeito de
interação entre número do sujeito e número do verbo revelaram que a
presença de um verbo no singular na condição sujeito plural + verbo
singular (As músicas... fez...) elevou substancialmente o tempo de reação
no segmento crítico. Assim, o efeito principal de número do verbo deve
ser interpretado levando em consideração o efeito de interação também
registrado e discutido a seguir.
A interação entre número do sujeito e número do verbo mostrou
que as condições congruentes (sujeito plural/verbo plural e sujeito
singular/verbo singular) não apresentam diferença significativa entre
si. Já as condições incongruentes (sujeito plural/verbo singular e sujeito
singular/verbo plural) apresentam diferença significativa quando
comparadas com as restantes, com tempos de reação maiores – como já
foi salientado – para a combinação sujeito plural + verbo singular. Esse
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resultado poderia indicar que tal combinação não é percebida como
gramatical pelos participantes do teste (universitários, potencialmente
falantes da norma culta do PB) e que adotar valores distintos dos da sua
gramática para permitir um processamento adequado para a sentença
poderia demandar tempo de processamento adicional.
No entanto, o elevado tempo de reação registrado nessa condição
também pode ser analisado levando em consideração o que foi discutido
na §3 com relação aos mecanismos de recuperação dos traços do sujeito.
No processamento, durante a compreensão de enunciados linguísticos,
uma operação de checagem de traços é acionada para a computação da
concordância entre sujeito-verbo (RODRIGUES et al., 2008). Ocorreria
assim, uma verificação dos valores dos traços de número e pessoa entre
o sujeito e o verbo.
Figura 2 – Representação formal da operação de checagem de traços na relação
sujeito/verbo durante a computação sintática.
Na tarefa experimental conduzida, quando o participante se
depara com o verbo da sentença, mecanismos de checagem dos traços
devem ser ativados. De acordo com a visão que assume um sistema
de slot de memória, efeitos de interferência estariam diretamente
associados ao esvaecimento de informação na memória de trabalho (cf.
1318
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PEARLMUTTER, 2000). Como vimos anteriormente, nos DPs plurais os
traços parecem ser menos suscetíveis a esvaecimento. Assim, na condição
de sujeito plural do nosso experimento, em que os traços parecem ficar
mais salientes, a presença de um verbo no singular parece ser a situação
mais conflitante para a computação dos traços de concordância da
sentença. Uma incongruência entre os traços de número do sujeito e os
do verbo pode ficar mais perceptível nessa configuração do que na outra
condição anômala testada: sujeito-singular + verbo-plural. Nesse segundo
caso, a incongruência – embora seja detectada pelos participantes, como
sugerido pela diferença encontrada entre essa condição (agramatical no
PB) e a condição relevante sujeito-singular + verbo-singular (gramatical)
– parece gerar um estranhamento menor, possivelmente em virtude de
uma subespecificação dos traços do DP sujeito na memória de trabalho.
Conforme visto em § 3, resultados prévios obtidos com crianças e
adultos, tanto no que diz respeito à concordância nominal quanto verbal,
têm indicado que sentenças contendo concordância não redundante
registram tempos de reação significativamente maiores do que sentenças
com concordância redundante. Esses resultados incluem experimentos
conduzidos com crianças na faixa dos 6-7 anos de idade (o que permite
eliminar um eventual papel do ensino formal no julgamento da variedade
linguística menos prestigiada socialmente) e alunos cursando o primeiro
ano do ensino médio em Centros de Educação de Jovens e Adultos
(i.e. falantes cuja gramática potencialmente contemplaria a regra de
concordância não redundante) (MARCILESE et al., 2015; AZALIM,
2016; HENRIQUE, 2016; MARCILESE et al., em prep.). Resultados
semelhantes (maiores tempos de reação para a concordância não
redundante, independente de outras variáveis sociolinguísticas) têm sido
reportados também para o inglês (SQUIRES, 2014).
Nesse sentido, nossos resultados vão na mesma direção apontada
por esse conjunto de estudos. O fato de as populações testadas nos estudos
mencionados serem diversas quanto ao nível de exposição às variantes
redundante e não redundante (adultos com escolaridade superior, adultos
com ensino fundamental e crianças), aliado à identificação dos mesmos
padrões na concordância nominal e verbal, parecem reforçar a análise aqui
aventada em termos da relevância da marcação de plural no primeiro item
(sujeito da sentença ou determinante, no caso da concordância nominal)
na computação dos traços.
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1319
5. Breves considerações finais
No presente artigo, buscamos explorar a dimensão processual
vinculada a um fenômeno de variação linguística bem conhecido no PB:
a concordância verbal. Investigamos especificamente em que medida
a distância linear – um fator já estudado no âmbito da psicolinguística
experimental – poderia ter um papel relevante no processamento
da concordância não redundante por parte de falantes que não
necessariamente seriam usuários dessa variante.
Retomando nossas perguntas de pesquisa, formuladas no final
de §3, pode-se afirmar que os resultados obtidos são compatíveis
com um efeito de distância linear no processamento da concordância,
possivelmente ligado a um maior esvaecimento dos traços do sujeito em
condições de distância longa entre sujeito e verbo, as quais apresentaram
os menores tempos de reação em todas as condições. Os resultados
também sugerem diferenças no processamento das regras redundante
e não redundante e apontam para a relevância da marcação na atuação
dos mecanismos de verificação de traços. Com base no observado nas
comparações entre pares, pode-se afirmar que, embora a análise da
variância não tenha revelado um efeito de interação entre distância e
marcação no sujeito e no verbo, esses fatores parecem sim operar de
forma conjunta no processamento da concordância.
O tipo de pesquisa aqui desenvolvido – que estabelece um
diálogo explícito entre variação e processamento –, bastante exploratória
e praticamente inexistente no Brasil, apresenta desafios tanto em termos
teóricos quanto metodológicos. A técnica empregada (maze task)
mostrou-se sensível a efeitos de natureza morfossintática e adequada
à investigação de um fenômeno bastante estigmatizado na modalidade
escrita culta.
Esperamos com este trabalho ter contribuído para estimular o
desenvolvimento de novas pesquisas que visem a estabelecer e estreitar
o diálogo entre estudos que atentam para a heterogeneidade do sistema
linguístico e abordagens que buscam desvendar a natureza cognitiva da
variação.
1320
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1291-1325, 2017
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Agreement effects of gender and number in pronominal
coreference processing in Brazilian Portuguese
Efeitos de concordância de gênero e número no processamento
da correferência pronominal em português brasileiro
Michele Calil dos Santos Alves
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
michelecalil@gmail.com
Abstract: Pronominal coreference is a syntactic dependency in which
pronouns are bound to previous referents in discourse. One of the keys
to understanding coreference processing is memory, since information
that has already been interpreted and stored must be integrated with
new material in real time. The aim of this research is to investigate how
pronominal antecedents are retrieved from memory, and more precisely
to clarify the role of structural constraints, agreement features and decay
factors. Since Brazilian Portuguese has rich morphology, speakers of this
language can rely on agreement cues as well as structural constraints to
resolve coreference. The hypothesis is that candidates that feature-match
pronouns will initially influence coreference processing, even though
they violate structural constraints, which will only work later in binding
processing to help the parser select the most adequate antecedent. An eyetracking experiment was conducted with twenty-four native speakers of
Brazilian Portuguese. The results showed that structurally unacceptable
antecedent candidates that feature-matched the pronouns in gender and
number facilitated coreference processing. It is claimed that they were
considered as potential antecedents. Moreover, it seems that memory
might be sensitive to differences that exist between singular and plural
features. Plural may be more salient in memory due to the fact it is marked
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1327-1366
1328
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
in Brazilian Portuguese. Finally, memory can also be affected by decay
factors, which, for example, can be responsible for processing difficulties
when there is a long distance between antecedents and pronouns.
Keywords: coreference processing; gender and number features;
Brazilian Portuguese.
Resumo: A correferência é uma dependência sintática em que pronomes
são ligados a antecedentes prévios no discurso. Uma das chaves para se
compreender o processamento da correferência é a memória, uma vez
que as informações que foram anteriormente interpretadas e armazenadas
devem ser integradas com novo material em tempo real. O objetivo desta
pesquisa é investigar como os pronomes recuperam seus antecedentes
na memória, mais precisamente, esclarecer o papel das restrições
estruturais, dos traços de concordância e dos fatores de decay. Uma vez
que o português brasileiro possui rica morfologia, leitores desta língua
podem utilizar-se tanto de traços de concordância, como de restrições
estruturais para resolver a correferência. A hipótese era de que candidatos
que concordassem com os pronomes em gênero e número poderiam
influenciar o início do processamento da correferência, apesar de violarem
as restrições estruturais, e estas, por sua vez, somente entrariam em jogo
mais tarde para ajudar o processador a selecionar o antecedente mais
adequado. Foi realizado um experimento de monitoramento ocular com
vinte e quarto falantes nativos de português brasileiro e os resultados
apontam que antecedentes estruturalmente inaceitáveis que concordam
com os pronomes em gênero e número facilitaram o processamento
da correferência. Eles foram considerados antecedentes em potencial,
apesar de violarem as restrições estruturais. Além disso, parece que
a memória pode ser sensível às diferenças existentes entre singular e
plural. O plural pode ser mais saliente na memória devido ao fato de ser
marcado em português brasileiro. Finalmente, a memória também pode
ser afetada por fatores decay, que, por exemplo, podem ser responsáveis
por dificuldades de processamento quando há uma distância longa entre
os antecedentes e os pronomes.
Palavras-chave: processamento da correferência; traços de gênero e
número; português brasileiro.
Recebido em: 11 de dezembro de 2016
Aprovado em: 7 de maio de 2017
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1329
1. Introduction
In order to process language in real time, previously interpreted
information must be kept at least momentarily in our memory so that
integration with novel upcoming material can take place rapidly (LEWIS
et al., 2006). In this way, memory can be considered one of the key
factors in processing long distance dependencies such as coreference,
in which pronouns are bound to antecedents that occupy linearly distant
positions in the discourse.
Among other cues, binding can be influenced by structural
constraints, agreement relations between antecedents and anaphors,
and salience of the discourse entities involved in the context. Previous
research that has investigated how those three factors play a role in binding
processing is very contradictory. On the one hand, it has been claimed that
structurally unacceptable candidates cannot initially influence binding
processing even in cases in which they are salient discourse entities
and agree with the anaphors (NICOL; SWINNEY, 1989; CLIFTON et
al., 1997; STURT, 2003; LEITÃO et al., 2008; XIANG et al., 2009;
OLIVEIRA et al., 2012; DILLON et al., 2013; CHOW et al., 2014). On
the other hand, other research has shown that structural constraints can
be fallible as these studies found that structurally unacceptable candidates
can be initially considered as potential antecedents if they are salient
entities that feature-match the anaphors (BADECKER; STRAUB, 2002;
KENNISON, 2003; PARKER, 2014; PATIL et al., 2016).
One possible explanation for these contradictory results in
relation to the role of agreement in binding processing in the literature
may rely on the fact that those studies may have taken for granted
intrinsic differences that exist among morphological features. In these
terms, our research tried to control for the different types of features
that may exist under the category of gender (masculine and feminine)
and number (singular and plural). In addition, English may not be the
most appropriate language to study agreement, as it is a language with
limited overt morphology. By comparing overt agreement marking in
English and in Brazilian Portuguese, one notices that unlike the former,
the latter has redundant agreement marking in most determiners, nouns,
adjectives, and verbs, for example. Sentence (1) shows how one of the
sentences used in one of our experiments in Brazilian Portuguese would
be translated into English. The sentence in Brazilian Portuguese (1a) has
17 overt marks, while its translation in English (1b) has only 8.
1330
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(1)
a) O[masc, sg] engenheiro[masc, sg] investigou[sg] os[masc,
pl] arquitetos[masc, pl] que roubam[3rd person, pl] ele[masc,
3rd person, sg] há alguns[masc, pl] semestres[pl].
b) The engineer[sg] investigated the architects[pl] who have[3rd
person, pl] stolen him[masc, 3rd person, sg] for a couple of
semesters[pl].
Lago et al. (2015) compared agreement attraction in subjectverb dependencies in Spanish (another morphologically rich language
similar to Brazilian Portuguese), and in English. Their results showed
that Spanish comprehenders showed more processing difficulties in
ungrammatical sentences than English comprehenders. Moreover,
Spanish comprehenders, but not English comprehenders showed
processing difficulties in grammatical sentences with plural attractors.1
The authors explain that since agreement morphology is functionally
1
Sample of the materials of Lago et al (2015)
Experiment in Spanish:
Gram, sg attractor: La nota que la chica va a escribir en la clase alegrará a su
amiga.
(The note that the girl are going to write during class will cheer her friend up.)
Gram, pl attractor: Las notas que la chica va a escribir en la clase alegrará a
su amiga.
(The notes that the girl are going to write during class will cheer her friend up.)
Ungram, sg attractor: *La nota que la chica van a escribir en la clase alegrará
a su amiga.
(The note that the girl are going to write during class will cheer her friend up.)
Ungram, pl attractor: * Las notas que la chica van a escribir en la clase alegrará
a su amiga.
(The notes that the girl are going to write during class will cheer her friend up.)
Experiment in English:
Gram, sg attractor: The musician that the reviewer was highly praising last
week will probably win a Grammy.
Gram, pl attractor: The musicians that the reviewer was highly praising last
week will probably win a Grammy.
Ungram, sg attractor: *The musician that the reviewer were highly praising
last week will probably win a Grammy.
Ungram, pl attractor: *The musicians that the reviewer were highly praising
last week will probably win a Grammy.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1331
more important in Spanish than in English, Spanish speakers would
rely more on morphological cues in processing sentences. Therefore,
the strength of agreement predictions would be higher for Spanish than
in English, which causes a higher pay off when the predictions are not
fulfilled and reanalysis is needed.
Taking the fact that the use of agreement cues may be more
fruitful in languages with rich morphology like Spanish, the present
work aims to investigate how pronouns retrieve antecedents in Brazilian
Portuguese, which is also a language with rich morphology. Moreover,
it seems that the use of morphological cues in memory retrieval may
also vary depending on the particular binding dependency. Agreement
features may be more helpful in pronominal antecedent retrieval due to the
looseness of Principle B, since it only posits that the pronoun antecedent
must not be local [see section 3 of the present paper].
The recognition of a pronoun must initiate a retrospective search
for an antecedent. Since the structural relation between a pronoun and its
antecedent is almost free, it is natural do assume that a pronoun initiates
a cue-based search for an antecedent that shares its person, number, and
gender features, and hence it would not be surprising for this search to
detect nouns that match those cues, even when they violate Principle B
(PHILLIPS; WAGERS; LAU, 2011, p. 171)
In this way, the present research will fill a gap in the literature
as it will provide not only one more piece of evidence to the puzzle
of binding processing, which lacks intensive investigation, but it will
determine whether different types of gender and number features carried
by candidates are responsible for differences in the way memory retrieves
the antecedents. It will also be determined whether speakers of languages
with morphological richness such as Brazilian Portuguese tend to initially
consider structurally unacceptable candidates as potential antecedents
despite the fact that they violate binding constraints. In addition, pronouns
will be our object of the study since they might rely more on content
cues as opposed to reflexives.
Thus the main aim of this research is to investigate how pronouns
retrieve antecedents in Brazilian Portuguese. In addition, its secondary
aim is to examine which features can influence memory retrieval the most.
The first hypothesis is that candidates that feature-match the pronouns
would initially influence coreference processing in Brazilian Portuguese,
even though they violate Principle B, and that structural constraints
1332
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
would only work later on in binding processing to help the parser select
the most appropriate antecedent (cf. BADECKER; STRAUB, 2002).
In addition, it is hypothesized that memory and consequently
coreference processing is sensitive to different types of agreement
features such as masculine and feminine, for gender; and singular
and plural, for number. Since feminine and plural are marked features
in Brazilian Portuguese, we expect that they will be more salient in
memory, making the antecedent candidates that carry these types of
features more easily retrieved. The correlation between the influence of
the structurally unacceptable antecedents and the types of features they
display is known as the mismatch assymetry. It seems that structurally
unacceptable candidates with marked features are more influential than
those with unmarked features (cf. among others for plural and singular,
BOCK; MILLER, 1991; WAGERS et al., 2009; DILLON, 2013).
Finally, it is also hypothesized that memory is affected by
decay over time (LEWIS; VASISHTH, 2005; LEWIS; VASISHTH;
VAN DYKE, 2006), so that a long linear distance between antecedent
candidates and anaphors brings costs to binding processing.
In order to test the hypotheses, an eye-tracking experiment was
conducted with native speakers of Brazilian Portuguese. The eye-tracking
technique is suitable for our purposes as it enables the researcher to
examine the temporal course of language processing, including early
(First Fixation Duration2) and late (Total Fixation Duration3) on-line
processing measures.
This paper will be arranged as follows: Section 2 will present
the reader with the computational model that is commonly used in the
literature to explain how memory retrieval operates; in Section 3 the
structural constraints on corefernece called the Binding Principles will be
briefly reviewed; Section 4 will discuss previous research in the literature;
Section 5 will introduce the present study; Section 6 will discuss the main
conclusions of this study, followed by References.
2
3
First Fixation Duration is the duration of the first fixation in a certain text region.
Total Fixation Duration is the sum of all the fixations in a certain text region.
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1333
2. Content-Addressable Memory (CAM)
Content-addressable memory (CAM) (McELREE, 2000;
McELREEE et al., 2003; van DYKE; McELREE, 2006) is a
computational model that has been used recently to explain how memory
operates during language processing. In this model, previous information
that was previously interpreted can be retrieved by a parallel search
based on a set of grammatical cues generated by the target. This parallel
search in memory can be affected by similarity-based interference and
decay factors (LEWIS; VASISHTH, 2005; LEWIS; VASISHTH; van
DYKE, 2006). The former occurs when the similarity between items
in memory and the retrieval cues increase, reducing the strength of
association between the cue and the target item, as a great number of
items will be associated with the cue. Consequently, memory failure rates
increase, and distractors, that is, candidates that partially-match the cues
can sometimes be retrieved. The latter occurs when the linear distance
between the dependent items is increased and the activation of the distant
item decays over time, which makes its retrieval more difficult.
Retrieval cues consist of several types, including structural,
morphological, semantic, and contextual cues (among others). The present
paper will focus on only two of them: structural and morphological cues.
Figure 1 (based on LEWIS; VASISHTH; van Dyke, 2006)
illustrates how pronouns retrieve their antecedents in memory.
FIGURE 1 – How antecedent retrieval works in CAM. Figure based on Lewis,
Vasishth and van Dyke (2006)
1334
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
During the encoding phase, all information is interpreted and
stored in memory. By the time the pronoun is encountered, a group of
grammatical cues is generated is order to retrieve the antecedent. In the
example portrayed in Figure 1, the antecedent must not be local,4 and
it must be feminine and singular. After that, there is a parallel search in
memory and two candidates that are similar to the cues generated by the
target are found: “housekeeper” and “princess”. The former candidate is
a perfect match; however, although the latter candidate is only a partial
match as it is local, it can interfere with memory retrieval, the so-called
similarity-based interference effect. Candidates like “princess” are called
distractors according to the CAM model. In addition, in this example,
“housekeeper” can also decay over time as it was stored in memory
before “princess”, which, in this case, is more recent. Thus, according to
this model, distractors such as “princess” can sometimes be erroneously
retrieved as antecedents as a result of a failure caused by both similaritybased interference effects and decay factors.
3. Binding Principles
The Binding Theory (CHOMSKY, 1993) posits three principles:
A, B, and C, which are able to explain, respectively, the distributional
constraints on (a) anaphor (according to Chomsky, only includes the
reflexives and reciprocals); (b) pronouns; and (c) free referential expressions.
Chomsky (1993) claimed that depending on the nature of the
NPs involved and the syntactic configurations in which they occur, the
anaphoric relations can be possible, necessary, or proscribed.
(2) John said Mary criticized him.
(3) John criticized him.
Chomsky (1993) states that in (2), him can take John as its
referent, which cannot happen in (3). According the Binding Principle B,
pronouns cannot have a structurally local antecedent. It is noteworthy that
It is important to mention that the status of the [-local] feature can be questioned, as
it seems awkward that languages would have this feature specified for each and every
item. However, we assume that it is actually a relational feature that is only specified
in binding dependencies.
4
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1335
this is not a matter of linear distance, as pronouns can actually linearly
precede their antecedents, like in (4), a construction traditionally known
as cataphora. Moreover, in (5), him cannot refer to John, even though
there is a long linear distance between them.
(4)
After he entered the room, John sat down.
(5)
He said Mary criticized John.
Thus Chomsky proposed that a pronoun couldn’t take as its
antecedent an element within its [binding] domain. In (3), the domain
of the pronoun is the whole sentence; therefore, as John is within the
domain of him, it cannot be its referent. On the other hand, in (2) and (4),
John is not in the same domain of him since they are in different clauses.
(6)
α binds β if α c-commands β, and α and β are co-indexed.
(7)
If β is not bound, β is free.
(8)
A referential expression (neither a pronoun nor an anaphora)
must be free
The previous sentences with their indexes are the following:
(9)
Johni said Mary criticized himi.
(10) After hei entered the room, Johni sat down.
(11) *Hei said Mary criticized Johni.
(12) Hei said Mary criticized Johnj.
The example (11) can only be grammatical if him and John have
different indexes, like in (12).
(13) If the α index is different from the β index, α cannot be the
antecedent of β and vice-versa.
The example in (3) with indexes would be like:
(14) Johni criticized himj.
(15) * Johni criticized himi.
1336
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
By comparing (9) and (15), one notices that a pronoun is able to
exist within the binding domain of its antecedent. However, it should be
highlighted that a pronoun cannot be too close to its antecedent.
(16) A pronoun must be free in a local domain (Principle B)
The local domain is generally the minimum clause that contains
the pronoun. Unlike pronouns, which can have a binding antecedent
but do not need one, anaphora (reflexives and reciprocals), like in (17),
require antecedents to bind them. In addition, the antecedents of anaphora
need to be in the same local domain:
(17) Johni criticized himselfi.
(18) An anaphor must be bound in its local domain (Principle A).
Clearly, pronouns cannot be substituted for anaphora:
(19) *Johni said Mary criticized himselfi.
(20) *Johni said Mary criticized himselfi.
Finally, Chomsky (1993) postulates the Binding Principles as
the following:
(21) Principle A: an anaphor must be bound in its local domain.
Principle B: a pronoun must be free in its local domain.
Principle C: an R-expression must be free.
Principles A and B had as their local domain the minimum clause
that contains the anaphor or pronoun. However, the rule of the minimum
domain does not address (22) and (23):
(22) Johni believes [himselfi to be clever].
(23) *Johni believes [himi to be clever].
In (22) himself is not bound in its local domain, but it is a
grammatical sentence, whereas in (23) him is free in its local domain,
but it is an ungrammatical sentence. The answer to this can be found in
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1337
government. In the examples (22) and (23), the main verb believe governs
himself and him due to the fact that to be does not carry inflection. The
concept of local domain must therefore be substituted with governing
category. This way, the governing category is (22) and in (23) is the whole
sentence, and Principles A and B are no longer violated. Chomsky (1993)
explains that the governing category of α is the minimum Complete
Functional Complex that contains α and in which the binding principle
of α can be satisfied.
(24) Principle A: an anaphor must be bound in its governing category
Principle B: a pronoun must be free in its governing category.
Principle C: an R-expression must be free.
Psycholinguists have been trying to investigate whether the
principles of the Binding Theory would rapidly influence binding
processing during on-line sentence processing. In the next section some
studies that examined the influence of binding principles in online
language processing will be reviewed.
4. Previous research in binding processing
In this section, some previous research on coreferential
processing with respect to Principles A and B will be reviewed5. The
relationship between these structural constraints and agreement cues
in the time-course of binding processing is very controversial in the
literature. Therefore, previous research will be presented here under two
subsections: works that showed some evidence of initial infallibility of
structural constraints in binding processing; and works that found the
opposite, that is, structurally unacceptable candidates can be initially
considered as potential candidates if they feature-match the anaphoric
expressions.
Principle C processing will not be addressed here since, unlike Principles A and B, it
does not have any structural constraints operating on it.
5
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4.1 Evidences of initial infallibility of structural constraints in binding
processing
Nicol and Swinney (1989) conducted a cross-modal priming
experiment examining the reactivation of anaphoric antecedents. They
found out that immediately after the anaphor only the structurally
appropriate antecedent was reactivated, while the other referents were
not significantly reactivated. The results for pronouns were similar to the
results for anaphora. Thus, the authors concluded that the reactivation of
prior referents is restricted by grammatical constraints. Nicol & Swinney
(1989) explained that only when binding constraints do not constrain the
list of potential antecedents to a single one; pragmatic and other sentence
or discourse processing procedures would come into play, but only at a
later point in processing.
Clifton et al. (1997) studied how antecedents of “her” and “him/
his” are reactivated. They performed a phrase-by-phrase self-paced
moving window experiment contrasting noun phrase (NP) and specifier
(SPEC) usages. They also manipulated the morphological number of the
subject in each sentence. The authors found faster reading times for the
SPEC trials when the number of the subject agreed with the pronoun,
which would make it an appropriate antecedent. However, when the
subject and the pronouns mismatched in number, there was a slowdown
on reading times as the subject was made inappropriate. Importantly,
number did not show any effects on NP trials. Thus Clifton and colleagues
concluded that, at least initially, binding principles constrain parsing
decisions, and that number would work as a filter to determine whether
the accessed antecedents are appropriate.
Sturt (2003) was concerned about two questions: i) to what extent
sentence processing is affected by ungrammatical antecedents; ii) to what
extent do binding principles act like a filter on the final interpretation of a
sentence. He conducted an eye-tracking study to investigate the influence
of inaccessible antecedents in reflexive binding when they are put strongly
into discourse focus. Stereotypical subjects were used in order not to
expose participants to ungrammatical sentences. His results show that
binding constraints were applied extremely early (at First Fixation and
First Pass reading times). First Fixation and First Pass reading times were
faster when the gender of the reflexive matched the stereotype of the
accessible antecedent than it did not, but they did not differ reliably as a
function of whether the inaccessible antecedent matched the reflexive.
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1339
However, reliable influences of the inaccessible antecedent at late
measures were found (Second Pass in the second area after the reflexive).
There were longer Second Pass times when the inaccessible antecedent
mismatched the reflexive than when it did not. The author concluded that
antecedents that were not initially considered by the binding principles
could affect processing at a later stage. In other words, binding constraints
are applied at an extremely early stage, but they do not act as filters.
Sturt (2003) also conducted a follow-up study, a sentence-by-sentence
self-paced reading experiment with a comprehension question to check
the interpretation of the anaphor referent. It seems that Principle A did
not act as an absolute filter on the final interpretation of the sentence
either. Sturt (2003) defends the idea that binding principles act like a
defeasible filter, as they can be violated at a later stage when there is a
highly focused inacceptable antecedent involved.
Leitão et al. (2008) investigated the relationship between Principle
B and phi-features (gender, number, and animacy) in coreference
processing in Brazilian Portuguese in two self-paced reading experiments.
In the first experiment, there were structurally unacceptable antecedents in
the sentences, and the results showed that the pronoun+1 region (adverb
regions) had longer reading times due to the fact that the structurally
unacceptable antecedent in the sentence feature-matched the pronoun.
However, in the second experiment, there was a structurally unacceptable
candidate available in a preamble. Unlike the first experiment, the results
of the second experiment did not show any differences among the
conditions, although the reading times at the pronoun region were faster
when compared to the first experiment. The authors suggested that when
there are no structurally acceptable antecedent candidates available, as in
the first experiment, candidates that feature-match the pronouns could be
considered as potential antecedents even if they violate Principle B. On the
other hand, when there is a structurally acceptable antecedent available,
as in the second experiment, the search of an antecedent ends faster and
the structurally unacceptable candidates are not taken into account.
In an Event Relative Potentials experiment (ERPs), Xiang et al.
(2009) studied intrusion effects of structurally unacceptable noun phrases
that matched the reflexive. The authors found a P600-like component
for both intrusive and incongruent conditions. However, there were no
differences between the intrusive and incongruent sentences, while both
were significantly different from the congruent. It is important that they
1340
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
found a marginal late intrusion effect only at 800-1000ms, which matches
the late effects of inaccessible antecedents in Sturt (2003). The authors
concluded that there is no initial intrusion effect for reflexive binding.
Oliveira et al. (2012) conducted a self-paced reading experiment
to determine whether Principle A influences reflexive resolution in
Brazilian Portuguese. They found that the grammatical conditions, in
which the structurally acceptable antecedent agrees in gender with the
reflexives, had faster reading times at the reflexive region when compared
to ungrammatical conditions. It should be noted that the structurally
unacceptable antecedents were not taken into account in any condition,
which suggests that Principle A works as a filter, blocking the candidates
that violate it.
Dillon et al. (2013) conducted eye-tracking experiments with the
purpose of investigating the impact of structurally illicit nouns phrases
on the computation of reflexive binding. It should be mentioned that they
also conducted off-line judgments to check whether the number mismatch
in the materials would be reliably rejected. The results of the offline
grammaticality judgment indicated a main effect of grammaticality,
confirming this. Likewise, the online results showed a main effect of
grammaticality in First Pass and in Total Times, with no facilitatory
intrusion effects. The authors concluded that initially the feature content
of a structurally illicit NP could not affect reflexive processing. Thus they
concluded that the mechanism used by memory retrieval for reflexives
primarily uses syntactic information to guide retrieval of the antecedents.
It is relevant to the current study that comprehenders seemed to be less
sensitive to the feature match when the head noun was plural suggests
that the feature mismatch is sensitive to the markedness of the features
involved.
Chow et al. (2014) were concerned about which kinds of
constraints initially restrict antecedent retrieval, and which have later
effects, working as filters. In their first self-paced moving window
experiment they manipulated the gender match between the pronoun “him”
and the structurally acceptable main clause subject and the structurally
unacceptable embedded clause subject. Relative clauses could also
modify the nouns in order to increase the distance between the pronoun
and the antecedent. The structurally unacceptable antecedents could be
either a common noun or a proper name. As the mismatch conditions
had longer reading times, it seems that comprehenders are immediately
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1341
sensitive to the structural constraints on pronoun interpretation regardless
of the similarity between the candidate antecedents and linear distance.
They found robust effects of grammaticality, but no interference effects
of any kind. It should be mentioned that when the linear distance between
the pronoun and the structurally acceptable antecedent was long in the
modified common noun condition, they found a late ungrammatical
match effect, that is, when no grammatical antecedent was available,
the presence of a feature-matching structurally unacceptable antecedent
led to longer reading times. The authors explain that it may have been
caused by the fact that the memory representation of the structurally
acceptable antecedent was decayed due to the long distance. In their
second experiment, Chow et al. (2014) tried to replicate the results
found on Badecker & Straub (2002) [which will be discussed in the next
subsection] by using identical materials and procedures. However, Chow
et al. (2014) failed and only replicated the results of their first experiment.
They also conducted 3 other experiments, but no effects were found.
The authors defended the Simultaneous Constraints hypothesis since
it appeared that both agreement features like gender and the structural
constraints of binding immediately restricted the set of candidate
antecedents during the initial retrieval process.
4.2 Evidence of the initial fallibility of the structural constraints in binding
processing
Badecker and Straub (2002) studied the processing of reflexive
and pronoun binding in a series of self-paced reading experiments.
According to the authors, coreference processing is influenced by:
morphological and syntactic properties of the dependent expression and
the antecedents; structural parallelism; causal semantics; prominence
and salience of the local discourse entities; and the world knowledge
shared about the discourse entities involved. Among these factors, the
authors’ study was focused on morphosyntactic features and local focus
of attention. In one of their experiments, they investigated whether
the content of structurally inaccessible NPs would influence pronoun
processing.
1342
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
(25) a) multiple match: John thought that Bill owed him another
chance to solve the problem.
b) accessible match: John thought that Beth owed him another
chance to solve the problem.
c) inaccessible match: Jane thought that Bill owed him another
chance to solve the problem.
d) no-match: John thought that Beth owed him another chance
to solve the problem.
They observed longer reading times in the no-match condition
than in the accessible match condition. The results also show faster
reading times when there was a structurally accessible antecedent than
when there was an inaccessible antecedent. There was no difference
between the multiple match and the accessible-match conditions. The
authors concluded that gender was automatically used to identify the
referent of a pronoun, and that the structurally accessible antecedents were
also rapidly accessed. On the other hand, inaccessible candidates were
not blocked for an initial candidate set, as they influenced the evaluation
process as soon as the pronoun was encountered.
Badecker and Straub (2002) also investigated whether number
features could shape the initial candidate set. In another experiment, they
studied the influence of grammatical number in reciprocal anaphors like
“each other”, which are also governed by Principle A, as can be seen in
(26):
(26) a) multiple match: The attorney thought that the judges were
telling each other which defendants has appeared as
witnesses before.
b) single-match: The attorneys thought that the judges were
telling each other which defendants has appeared as
witnesses before.
The results indicate longer reading times in the multiple-match
than in the single match, but only 3-4 words after the anaphor. The authors
suggested that morphological number contributes to identifying the initial
set of antecedent candidates. The multiple-match effect was attenuated
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1343
in this case, because, according to the authors, common nouns may not
be as effective as proper names in establishing discourse entities.
Badecker and Straub (2002) concluded that binding-theory
principles do not function as initial filters as reading times were longer
when the grammatically inaccessible NPs agreed in gender (and number)
with the pronoun or anaphor. The authors supported the interactiveparallel-constraint model: the initial candidate set is composed of the
focused discourse entities that are compatible with the lexical properties
of the referentially dependent expression, while the grammatical
constraints on interpretation operate quickly and effectively in the process
of selecting from among these options.
Kennison (2003) investigated how comprehenders use structural
information during coreference resolution of the pronouns “her”, “him”,
and “his”. In a self-paced moving window experiment, Kennison (2003)
examined the processing of “her” in object position, functioning as either
an NP or SPEC as in (27).
(27) SPEC conditions:
Susan watched her classmate during the open rehearsals of the
school play.
Carl watched her classmate during the open rehearsals of the
school play.
They watched her classmate during the open rehearsals of the
school play.
NP conditions:
Susan watched her during the open rehearsals of the school play.
Carl watched her during the open rehearsals of the school play.
They watched her during the open rehearsals of the school play.
She found that the type of subject influenced coreference
processing in both conditions, including in NP conditions, which is
inconsistent with Nicol and Swinney (1989) and Clifton et al. (1997).
In SPEC conditions, reading times were longer when the subject was
a male name, while in NP conditions reading times were longer when
the subject was female. And the shortest times were for the conditions
1344
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
with “they”. In other words, when coreference could be achieved, there
were longer reading times for NP conditions than for SPEC, as SPEC
conditions were easy to process. However, when coreference could not
be achieved, there was no difference immediately after the pronoun. But,
later, when gender and number information was accessed, coreference
was impeded in SPEC sentences as reading times were longer for the
SPEC than the NP condition later on in the sentence. Kennison (2003)
also replicated the results of “her” with “his”.
Kennison’s (2003) findings contradict Nicol and Swinney (1989)
and Clifton et al. (1997) as structurally unavailable antecedents were
considered as potential subjects since the type of subject influenced
reading times. Her findings also contradict Badecker and Straub (2002), as
number features appeared to help compose the initial candidate set, while
gender mismatch only influenced processing at a later phase. It seemed
that the antecedent search ended more quickly when the unavailable
candidate differed in number with the pronoun whereas the antecedent
search was longer when the subject of the sentence in NP matched the
pronoun in gender.
In another experiment, Kennison (2003) aimed to determine
whether subject type would influence processing when the discourse
context contained an available antecedent for the pronoun as in (28).
(28) Billy complained about having a stomachache.
a) Laura watched him closely throughout the day.
b) Michael watched him closely throughout the day.
c) They watched him closely throughout the day.
The results suggested that when a single highly salient and
structurally available antecedent was in discourse context, structurally
unavailable antecedents did not influence coreference, which means that
when there is a good fit between the antecedent and the pronoun, the
process of searching for an antecedent terminates. It appeared that, on
the other hand, when no antecedent is available or when there is not a
strong fit between the structurally available antecedent and the pronoun,
the process of searching for an antecedent continues, and structurally
unavailable antecedents can be considered.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1345
Parker (2014) studied how the parser targets specific information
in memory, and how that information is extracted to elaborate the
sentence representation. The author studied attraction effects in anaphora
resolution manipulating gender, number, and animacy. The results for
1-feature mismatch only showed a late slow down in reading times for
ungrammatical sentences, and no attraction effects were found. However,
for 2-feature mismatch conditions, early and late reading times were
facilitated for ungrammatical sentences with attractors when compared to
ungrammatical sentences without attractors. Parker (2014) explains that
attraction effects are likely to be a consequence of quantitative similarity.
Qualitative factors are also important since structural cues are weighted
more strongly in retrieval than morphological cues.
Patil et al. (2016) thought that reflexive binding may be a very
informative phenomenon in understanding the role that grammatical and
non-grammatical constraints play in memory. The structural constraints
of reflexive binding are relatively clear, and this construction admits
manipulations of agreement, distance, and distracting antecedent
candidates. They created a model running 1000 simulations of each
condition of Sturt’s (2003) conditions. Just like Sturt (2003), they found
that: retrieval errors on mismatch conditions were higher than in match
conditions (mismatch effect), the retrieval errors for both interference
conditions, mismatch and match, were higher than for the other 2
conditions (match interference effect), and the retrieval times for both
mismatch conditions are longer than the other two match conditions
(mismatch effect). On the other hand, they also found results that were
not consistent with Sturt (2003): retrieval times for the match interference
condition were shorter than for the match condition and shorter than
for the mismatch conditions (mismatch interference effect). Patil et al.
(2016) suggested that the inacceptable candidates in Sturt (2003) could
not be good attractors as semantic matching cues are not able to cause
attraction if no grammatical cue is involved. In addition, since they
were less recently created in representation, they could not have enough
strength in memory to be retrieved due to decay factors.
Patil et al. (2016) also conducted an eye-tracking experiment.
To increase the strength of the inaccessible subject, they used an object
pronoun within a relative clause where the inaccessible antecedents
were the subject of the clause. Patil et al. (2016) found a significant
main effect of interference in First Pass and in First Pass Regression
Probability. There was also a main effect of match for Rereading times
1346
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
and Total Reading Times. Thus their results are consistent with Badecker
and Straub (2002), but inconsistent with Sturt (2003), Nicol and Swinney
(1989), Xiang et al. (2009), and Dillon et al. (2013). Patil et al. (2016)
concluded that non-structural cues are crucial for antecedent retrieval
so that agreement features such as gender must be included in the set
of retrieval cues. Moreover, it seems that strict syntactic constraints on
antecedent retrieval are inconsistent with their results, as their results
challenged the idea that the parser is infallible for reflexive binding.
5. The present study
The experiment that is reported here is an eye-tracking study, and
its main purpose is to investigate how and when the structural constraints
of Principle B and agreement cues influence the way nominal antecedents
are retrieved from memory.
In this experiment, participants had their eye movements recorded
while they read text on a computer screen. Using appropriate software,
the researcher can measure the duration of eye fixations (among other
measures). This technique is one of the most efficient means linguists
have to study language processing. Moreover, it has advantages over
the self-paced reading technique because the text can be presented more
naturally to the readers (i.e, without segmentation and button pressing).
According to Just and Carpenter (1980), the duration of eye
fixations during sentence processing depends on information complexity,
that is, the more complex information processing is, the longer the fixation
duration in the area where that information is located. These authors
make two assumptions: the first is called the Immediacy Assumption,
which claims that language processing is immediate, that is, a word
is processed at the first time it is encountered; the second is called the
Eye-Mind Assumption, which means that the eye remains fixated on a
word as long as the word is being processed. The first assumption is still
considered true; however, the second assumption is no longer thought
to be true, since a word can still be processed when the eyes are fixated
on the next word, which is called the spillover effect.
We assume that since overt and redundant agreement marking
is often available in languages with rich morphology such as Brazilian
Portuguese, speakers will tend to strongly rely on agreement morphology
in order to resolve coreference. In congruence with Badecker and Straub
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1347
(2002), the hypothesis is that candidates that feature-match the pronouns
would initially influence coreference processing, even though they violate
Principle B, and that the structural constraints of Principle B would
only work later on in binding processing to help the parser select the
most adequate antecedent. Therefore, find main effects of structurally
unacceptable antecedents at early eye measures (First Fixation Duration)
and main effects of structurally acceptable antecedents as late eye
measures (Total Fixation Duration) are expected.
In addition, it is hypothesized that memory is sensitive to different
types of features. In other words, marked features in the language will
be more salient in memory, facilitating memory retrieval. This way, it is
expected that due to their markedness in Brazilian Portuguese, feminine
and plural features on structurally unacceptable candidates will cause
facilitation effects when compared to masculine and singular. It should be
mentioned that the markedness of these features is not inherent to them.
Plural, for example, is not marked because of its morphology (morpheme
–s) or notional plurarity, but because of its grammatical number (STAUB,
2009). Plural or feminine is marked in opposition to singular and masculine
respectively because the former ones, and not the latter ones, are the default
features, which are automatic, frequent, and dominant.
Moreover, we hypothesize that as memory decays, sentences in
which the structurally acceptable antecedent is linearly distant from the
pronoun would have stronger facilitation effects caused by structurally
unacceptable antecedents, as they might be more easily retrieved
as the antecedents by memory due to recentness (cf. among others,
SCHWEPPE, 2013; CHOW et al., 2014).
Participants
Twenty-nine native speakers of Brazilian Portuguese with
normal or corrected-to-normal vision participated as volunteers in the
experiment. They were undergraduate students of the Federal University
of Rio de Janeiro (UFRJ) and were randomly invited to participate in the
study, and, as compensation for their work, they receiving three hours of
Cultural-Scientific Activities (Atividades-Científico-Culturais Discentes,
AACC), which is mandatory for their graduation. All participants were
naive with respect to the object of study of the experiment and signed a
consent form which stated that the task they would perform would not
have any risks to their health and that the results would be eventually
1348
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
published. Of the twenty-nine participants, five were excluded from
analysis as they had less than 80% of their eyes movements recorded.
Therefore, the experiment was analyzed using data from the remaining
twenty-four participants sixteen female and eight male, with a mean age
of 22.6 years (ranging from 18 to 30 years).
Design and materials
There were two independent variables in the experiment. The first
one was (i) structurally acceptable antecedent matching. In this variable
the structurally acceptable antecedent could feature-match/mismatch the
pronoun in number. The second one was (ii) structurally unacceptable
antecedent matching, and the structurally unacceptable antecedent could
feature-match/mismatch the pronoun in number.
Besides the independent variables, there were three controls in the
experiment: i) the number of the structurally unacceptable antecedent,
half of the sentences contained plural structurally unacceptable
antecedents and the other half singular; ii) the gender of the structurally
unacceptable antecedent, half of the sentences contained feminine
structurally unacceptable antecedents and the other half masculine; iii)
the linear distance between the structurally acceptable antecedent and the
pronoun, half of the sentences contained long linear distance and the other
half short. Although the controls could not be considered independent
variables, they were taken into account in the analysis of the experiment.
The experiment had two on-line dependent variables: (i) the First
Fixation Duration and (ii) the Total Fixation Duration at the pronoun areas.
Each of the four lists, which were created using a Latin Square,
was pseudo-randomized and contained sixteen experimental sentences
and thirty-two fillers. Four sentences from each experimental condition
were in each list. Each sentence of the experiment was accompanied
by an off-line yes-or-no comprehension question. The filler questions
were balanced between yes and no answers, while all the experimental
sentences had yes answers.
Each experimental trial contained a structurally acceptable
antecedent (masculine/feminine, singular/plural) in the main clause,
followed by a structurally unacceptable antecedent, which was the
subject of a relative clause, followed by a 3rd person pronoun (“ele/ela/
eles/elas”), which were the direct objects of the relative clauses. One can
find an example sentence below:
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
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(29) Short distance between the structurally acceptable antecedent
and the pronoun:
TABLE 1 – Sample of the experimental materials used for short distance conditions
Feminine structurally unacceptable
antecedent
Masculine structurally
unacceptable antecedent
O médico elogiou os
Structurally
As professoras contraram a faxineira
enfermeiros que chamam eles
acceptable
que xinga ela com muitos palavrões.
quando necessário.
antecedent mismatch/ (“The[fem, pl] teachers[fem,pl]
(“The[masc,sg] doctor[masc,
structurally
hired[pl] the[fem,sg] cleaner[fem,sg]
sg] complimented[sg] the[masc,
unacceptable
who curse[sg] her with a lot of bad
pl] nurses[masc, pl] who called
antecedent match
words.”)
them when necessary.”)
As professoras contraram as
O médico elogiou o enfermeiro
Structurally
faxineiras que xingam ela com
que chama eles quando
acceptable
muitos palavrões.
necessário.
antecedent mismatch/
(“The[fem, pl] teachers[fem,pl]
(“The[masc,sg] doctor[masc,
structurally
hired[pl] the[fem,pl] cleaners[fem,pl] sg] complimented[sg] the[masc,
unacceptable
who curse[sg, pl] her with a lot of sg] nurse[masc, sg] who called
antecedent mismatch
bad words.”)
them when necessary.”)
As professoras contraram as
O médico elogiou o
Structurally
faxineiras que xingam elas com enfermeiro que chama ele
acceptable
muitos palavrões.
quando necessário.
antecedent match/ (“The[fem, pl] teachers[fem,pl] (“The[masc,sg] doctor[masc,
structurally
hired[pl] the[fem,pl]
sg] complimented[sg]
unacceptable
cleaners[fem,pl] who curse[sg, the[masc, sg] nurse[masc,
antecedent match
pl] them with a lot of bad
sg] who called him when
words.”)
necessary.”)
As professoras contraram a
O médico elogiou os
Structurally
faxineira que xinga elas com enfermeiros que chamam ele
acceptable
muitos palavrões.
quando necessário.
antecedent match/
(“The[fem, pl] teachers[fem,pl] (“The[masc,sg] doctor[masc,
structurally
hired[pl] the[fem,sg]
sg] complimented[sg]
unacceptable
cleaner[fem,pl] who curse[sg, sg] the[masc, pl] nurses[masc,
antecedent
them with a lot of bad words.”) pl] who called him when
mismatch
necessary.”)
(30) Short distance between the structurally acceptable antecedent and
the pronoun:
1350
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
TABLE 2 – Sample of the experimental materials used for long distance conditions
Feminine structurally
Masculine structurally
unacceptable antecedent
unacceptable antecedent
As cozinheiras viram vários
Os mecânicos viram bem poucas
problemas graves e razões sérias
qualificações e vantagens para
Structurally
para despedir a lavadeira que contratar o borracheiro que chama
acceptable
olha ela com antipatia.
ele na oficina.
antecedent mismatch/
(“The[fem, pl] cooks[fem, pl] (“The[masc, pl] mechanics [masc,
structurally
saw several serious problems
pl] saw a few qualifications and
unacceptable
and reasons to fire the[fem, sg] advantages to hire the[masc, sg] tire
antecedent match
washerwoman[fem, sg] who
repairman[masc, sg] who call[sg]
look[sg] at her with antipathy.”)
him in the repair shop.”)
As cozinheiras viram vários
Os mecânicos viram bem poucas
problemas graves e razões sérias
qualificações e vantagens para
Structurally
para despedir as lavadeiras que
contratar os borracheiros que
acceptable
olham ela com antipatia.
chamam ele na oficina.
antecedent mismatch/
(“The[fem, pl] cooks[fem, pl] (“The[masc, pl] mechanics [masc,
structurally
saw several serious problems
pl] saw a few qualifications and
unacceptable
and reasons to fire the[fem, pl] advantages to hire the[masc, pl] tire
antecedent mismatch
washerwomen[fem, pl] who
repairmen[masc, pl] who call[pl]
look[pl] at her with antipathy.”)
him in the repair shop.”)
As cozinheiras viram vários
Os mecânicos viram bem poucas
problemas graves e razões sérias
qualificações e vantagens para
Structurally
para despedir as lavadeiras que
contratar os borracheiros que
acceptable antecedent
olha elas com antipatia.
chamam eles na oficina.
match/ structurally (“The[fem, pl] cooks[fem, pl] (“The[masc, pl] mechanics [masc,
unacceptable
saw several serious problems
pl] saw a few qualifications and
antecedent match
and reasons to fire the[fem, pl] advantages to hire the[masc, sg] tire
washerwomen[fem, pl] who
repairmen[masc, pl] who call[pl]
look[pl] at them with antipathy.”)
them in the repair shop.”)
As cozinheiras viram vários
Os mecânicos viram bem poucas
problemas graves e razões sérias
qualificações e vantagens para
para despedir a lavadeira que
Structurally
contratar o borracheiro que chama
olha elas com antipatia.
acceptable antecedent
ele na oficina.
(“The[fem, pl] cooks[fem, pl]
match/ structurally
(“The[masc, pl] mechanics [masc,
saw several serious problems
unacceptable
pl] saw a few qualifications and
and reasons to fire the[fem,
antecedent mismatch
advantages to hire the[masc, sg] tire
sg] washerwoman[fem, sg]
repairman[masc, sg] who call[sg]
who look[sg] at them with
him in the repair shop.”)
antipathy.”)
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1351
Procedure
The experiment was conducted at the laboratory of experimental
research (LAPEX) at the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) in
Rio de Janeiro, Brazil. The eye-tracking software used in this experiment
was Tobii StudioTM TX 300, which requires an initial individual calibration
at the beginning of the procedure for the eye-tracker to be able to
monitor the participant’s pupils during the reading task. The participants
were instructed to sit comfortably and were given written and oral task
instructions. After that, the calibration process would start, followed by a
short practice session with filler sentences so that the experimenter could
check whether the participants understood the task and were performing it
at a natural speed. Finally, the experimenter left the participants alone in
a quiet room without distraction. Each sentence of the experiment would
appear in whole on the computer screen. The participants could read each
sentence however many times that was necessary; however they were
instructed to read each sentence as fast as they could while also paying
attention to meaning. After reading a sentence, the participants would
press the space bar to continue to a comprehension question about the
sentence that was just read. Subjects answered by fixating their eyes on
one of the options, “Yes” or “No”. Each participant randomly performed
one of the four lists of the experiment. The duration of the experiment
was of approximately twenty minutes.
Analysis
The reading time data were extracted using Tobii Fixation Filter,
which is the default fixation algorithm in Tobii StudioTM 2.X version
2.2. Approximately 19% of the data were lost due to calibration issues.
Therefore, due to the small sample of the test, we decided not to perform
any outlier trimming. Our raw data came with a positively skewed nonnormally distributed population (Shapiro Test: W=0.893, p<0.05 for
First Fixation; and W= 0.619, p<0.05 for Total Fixation). We believe
that this was a consequence of the small sample and the missing data.
We did not transform our data to achieve normality, because we decided
to analyze the experiment with a linear mixed-effect model (LMM),
which is a statistical model that does not use mean data, as it does not
average across individual responses and it can also cope with unbalanced
data (LO; ANDREWS, 2015). Moreover, we were concerned that data
1352
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
transformation could bias the results. All dependent variables were
within-subjects and the statistical analysis was carried on R6 software,
using plotrix,7 lmer Test,8 and gplots29 packages.
Although there were only two independent variables as mentioned
before, we also included the three controlled variables in our analysis in
order to reduce the error residual in our LMM statistical model. Therefore,
five variables were analyzed: a) structurally acceptable antecedent
matching (matching or mismatching), b) structurally unacceptable
antecedent matching (matching or mismatching), c) number of the
structurally unacceptable antecedent (singular or plural), d) gender of
the structurally unacceptable antecedent (feminine or masculine), e)
distance between the structurally acceptable antecedent and the pronoun
(short or long).
Results
Means as well as standard errors of First Fixation Duration
and Total Fixation Duration at the pronoun area are reported for each
condition in Tables 1 and 2:
(31) Short distance between the structurally acceptable antecedent and
the pronoun:
R CORE TEAM. R: A Language and Environment for Statistical Computing.
R Foundation for Statistical Computing. Vienna, Austria, 2016. (https://www.rproject.org/)
7
LEMON, J. Plotrix: a package in the red light district of R. R-News, R
Foundation, v. 6, n. 4, p. 8-12, 2006.
8
Alexandra Kuznetsova, Per Bruun Brockhoff and Rune Haubo Bojesen
Christensen (2015). lmerTest: Tests in Linear Mixed Effects Models. R package
version 2.0-29 (https://CRAN.R-project.org/package=lmerTest)
9
Gregory R. Warnes, Ben Bolker, Lodewijk Bonebakker, Robert Gentleman,
Wolfgang Huber Andy Liaw, Thomas Lumley, Martin Maechler, Arni
Magnusson, Steffen Moeller, Marc Schwartz and Bill Venables (2015). gplots:
Various R Programming Tools for Plotting Data. R package version 2.16.0.
(https://CRAN.R-project.org/package=gplots)
6
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1353
TABLE 3 – First Fixation Duration means and standard errors in milliseconds for
short distance experimental conditions
Structurally
unacceptable
number
Structurally acceptable
antecedent mismatch/
structurally
unacceptable
antecedent match
Singular
Structurally
acceptable antecedent
mismatch/ structurally
unacceptable
antecedent mismatch
Singular
Structurally
acceptable antecedent
match/ structurally
unacceptable
antecedent match
Singular
Structurally
acceptable antecedent
match/ structurally
unacceptable
antecedent mismatch
Singular
Plural
Plural
Plural
Plural
Eye measure
Feminine
structurally
unacceptable
antecedent
Masculine
structurally
unacceptable
antecedent
First Fixation
297 (107)
266 (148)
Total Fixation
375 (128)
542 (253)
First Fixation
350 (195)
253 (76)
Total Fixation
547 (264)
462 (294)
First Fixation
294 (179)
219 (67)
Total Fixation
379 (187)
499 (301)
First Fixation
285 (171)
349 (161)
Total Fixation
323 (250)
531 (251)
First Fixation
298 (105)
251 (123)
Total Fixation
431 (172)
478 (207)
First Fixation
259 (40)
279 (53)
Total Fixation
270 (60)
395 (189)
First Fixation
256 (77)
263 (76)
Total Fixation
421 (257)
599 (374)
First Fixation
281 (48)
327 (118)
Total Fixation
630 (296)
317 (130)
(32) Long distance between the structurally acceptable antecedent and
the pronoun:
1354
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TABLE 4 – First Fixation Duration means and standard errors in milliseconds for
long distance experimental conditions
Structurally
unacceptable
number
Structurally acceptable
antecedent mismatch/
structurally
unacceptable
antecedent match
Singular
Structurally
acceptable antecedent
mismatch/ structurally
unacceptable
antecedent mismatch
Singular
Structurally
acceptable antecedent
match/ structurally
unacceptable
antecedent match
Singular
Structurally
acceptable antecedent
match/ structurally
unacceptable
antecedent mismatch
Singular
Plural
Plural
Plural
Plural
Eye measure
Feminine
structurally
unacceptable
antecedent
Masculine
structurally
unacceptable
antecedent
First Fixation
344 (121)
316 (142)
Total Fixation
585 (322)
616 (360)
First Fixation
242 (81)
277 (69)
Total Fixation
522 (148)
478 (202)
First Fixation
326 (121)
294 (126)
Total Fixation
442 (166)
897 (1425)
First Fixation
329 (180)
379 (217)
Total Fixation
614 (515)
732 (617)
First Fixation
339 (240)
281 (132)
Total Fixation
576 (467)
328 (154)
First Fixation
263 (52)
258 (44)
Total Fixation
382 (111)
349 (133)
First Fixation
288 (158)
284 (79)
Total Fixation
489 (266)
454 (178)
First Fixation
301 (144)
305 (87)
Total Fixation
381 (145)
555 (312)
LMM was created with the help of lmerTest package with the
following Fixed Effects: i) structurally acceptable antecedent matching;
ii) structurally unacceptable antecedent matching; iii) number of the
structurally unacceptable antecedent; iv) gender of the structurally
unacceptable antecedent; v) distance between the structurally acceptable
antecedent and the pronoun. On the other hand, the Random Effects
were: i) participants; and ii) items.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
1355
For First Fixation Duration, using the anova ( ) function in
our model, it was found a significant effect of the interaction between
the variables structurally unacceptable antecedent and structurally
unacceptable antecedent number: F(1, 258)=6.248, p=0.013*. In
addition, there was an important trend towards statistical significance
in the interaction between structurally unacceptable antecedent gender
and number: F(1, 265)=3.44, p=0.064; and a moderately significant
interaction between structurally unacceptable antecedent number and
distance between the structurally acceptable antecedent and the pronoun:
F(1, 264)=2.46, p=0.117.
For Total Fixation Duration, a linear mixed-effect model was also
created with the help of lmerTest package. Its fixed and random effects
were the same of the First Fixation Duration model. By using the anova
( ) function, we found a significant main effect of structurally acceptable
antecedent matching: F(1, 254) = 4.046, p=0.045* and slight trend
towards significance in the interaction between structurally acceptable
antecedent and linear distance: F(1, 253)=3.556, p=0.060.
In order to figure out which pairs of conditions were significantly
different, bar plots with Tukey Tests Results for 95% confidence intervals
(CI) were also created with the help of ggplot2 package.
Structurally acceptable antecedents that feature-matched the
pronouns had faster reading times when compared to structurally
acceptable antecedents that mismatched the pronouns for First Fixation
Duration, although this effect was probably not statistically significant
(β=-21, CI [-49, 6], p=0.140), and for Total Fixation Duration, with a
statistically significance difference (β=-91, CI [-176, 5], p=0.036*), as
one can see in Figures 2 and 3 respectively.
1356
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FIGURE 2 – 95% CI barplot for First Fixation Duration
of structurally acceptable antecedent matching
FIGURE 3 – 95% CI barplot for Total Fixation Duration of structurally
acceptable antecedent matching
1357
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
Even though this was only a near-marginal statistical significance,
Figure 4 illustrates that First Fixation reading times at the pronoun area
were slower when there was a long distance between the pronoun and
the structurally acceptable antecedent when compared to short distance,
(β=18, CI [-9, 46], p=0.187). Figure 5 shows an established trend towards
significance for Total Fixation Duration: (β=70, CI [-15, 155], p=0.106).
FIGURE 4 – 95% CI barplot for First Fixation Duration of the linear distance
between the structurally acceptable antecedents and the pronouns
1358
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FIGURE 5 – 95% CI barplot for Total Fixation Duration of the linear distance
between the structurally acceptable antecedents and the pronouns
For First Fixation Duration, one can see in Figure 6, there was
near-marginal significance: a) structurally unacceptable antecedents in
the plural that feature-mismatched the pronoun had longer reading times
when compared to structurally unacceptable antecedents that matched
the pronouns (β=41, CI [-11, 94], p=0.180); and an apparent trend
towards significance: b) singular structurally unacceptable antecedents
that mismatched the pronouns had faster First Fixation times than plural
structurally unacceptable antecedents (β=-38, CI [-90, 13], p=0.215).
1359
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FIGURE 6 – 95% CI barplot for First Fixation Duration of structurally
unacceptable antecedents and number
FIGURE 7 – 95% CI barplot for Total Fixation Duration of structurally
unacceptable antecedents
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Similarly, for Total Fixation Duration, Figure 7 illustrates nearmarginal significance for longer reading times when the structurally
unacceptable antecedent mismatches the pronoun than when it matches:
(β=57, CI [-27, 143], p=0.186).
Discussion
This research aimed investigated how pronouns retrieve their
antecedents in Brazilian Portuguese, a morphologically rich language.
It was hypothesized that due to the redundant overt agreement marking
in Brazilian Portuguese, readers would strongly rely on agreement cues
in order to retrieve pronominal antecedents. Therefore, we expected
that structurally unacceptable antecedents would be initially considered
as potential antecedents, even they violate the structural constraints of
Principle B, which would only influence coreference processing later,
helping the parser to select the most adequate antecedent from the initial
candidate set. The results of the present experiment seem to corroborate
that hypothesis, providing evidence in favor of Badecker and Straub
(2002). The results of the LMM for First Fixation Duration, which
measures early processing, showed effects of structurally unacceptable
antecedents, and agreement features such as number and gender, as well
as the linear distance between the structurally acceptable antecedents
and the pronouns. However, it should be mentioned that 95% confidence
intervals for our conditions in First Fixation Duration also showed effects
of structurally acceptable antecedents, that is, effects of Principle B.
On the other hand, our LMM for Total Fixation only showed effects of
structurally acceptable antecedents and linear distance, although the 95%
confidence intervals for our conditions in Total Fixation Duration also
showed effects of structurally unacceptable antecedents.
It is important to note the 95% confidence intervals showed that
structurally unacceptable antecedents that feature-matched the pronouns
were responsible for faster coreference processing in both First Fixation
Duration and Total Fixation Duration, which might be evidence that these
candidates are actually being initially retrieved as antecedents. According
to Dillon (2013), facilitatory effects of structurally unacceptable
antecedents might be evidence that antecedents are retrieved through a
content-addressable memory. In other words, structurally unacceptable
antecedents can cause interference effects in memory due to the fact
that they partially match the content cues of the pronouns, leading to
1361
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
erroneous retrieval of them as antecedents, which in CAM is known as
similarity-based interference.
Therefore, these results evidence contradicting the hypothesis
that structural constraints work as an initial filter in binding processing,
blocking the influence of structurally unacceptable candidates, as claimed
by Nicol and Swinney (1989), Clifton et al. (1997), Sturt (2003), Leitão
(2008), Xiang et al. (2009), Oliveira et al. (2012), Dillon et al. (2013)
and Chow et al. (2014). These results also contradict Kennison (2003),
as it seems that gender agreement is also important at initial stages of
coreference processing.
Curiously, at early processing, it was also found that even when
the structurally unacceptable antecedents mismatched the pronouns,
coreference processing is affected. In this case, structurally unacceptable
antecedents in the singular tend to facilitate coreference when compared
to the ones in the plural. This result apparently contradicts CAM, as
this model posits that only partial matches can cause similarity-based
interference effects, and since structurally unacceptable antecedents
that mismatch the pronouns do not have any content cue matching the
pronoun, it should not be taken into account by memory as a potential
antecedent.
It is noteworthy that it was not found strong evidence to support
the second hypothesis, that memory is sensitive to different types of
agreement features. It was expected that feminine structurally acceptable
antecedents would influence coreference more than the masculine
ones due to the fact that feminine features are marked in Brazilian
Portuguese. The same applies for number, when comparing plural to
singular. Our results did not show any difference between masculine and
feminine, but it suggests that, as already mentioned above, structurally
unacceptable antecedents in the singular that mismatched the pronouns
were responsible for shorter reading times at the pronoun area than
plural features. Interestingly, plural features did not cause facilitatory
effects as we expected, but rather increased reading times. However,
one must remember that in that condition, the structurally unacceptable
antecedents mismatched the pronouns; therefore, for CAM, they could
not be considered as potential antecedents. Essentially, the structurally
unacceptable antecedents only facilitate coreference when they featurematch the pronouns. And in the relevant condition, this was not the case.
Nonetheless, we should not assume that singular and plural features
1362
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
did not behave the same in this condition. It is likely that structurally
unacceptable antecedents in the plural that mismatched pronouns can
bring difficulties to the processor due to the salience of plural features
in memory. It might be the case that the parser knows that this specific
candidate could not be the adequate antecedent, but at the same time the
salience of plural disturbs memory, even though those features do not
match the pronoun.
As expected, another piece of evidence in favor of CAM is the
decay effects we found in both First Fixation Duration and Total Fixation
Duration, that is, short linear distance between the structurally acceptable
antecedents and the pronouns facilitated coreference when compared to
long distance. Again, the hypothesized reason for this is that the more
recent an item was stored in memory; the easier it is to retrieve it (cf.
among others, Schweppe, 2013; Chow et al, 2014).
Finally, it was found that structurally acceptable antecedents
that matched the pronouns facilitated coreference in both First Fixation
Duration and Total Fixation Duration. Once structurally acceptable
candidates totally match the content cues of the pronouns (both
agreement and structural ones), they can clearly be considered as the best
antecedents. Nevertheless, it was not expected to find this result in First
Fixation Duration, as it was hypothesized that the structural constraints
of Principle B would only work at late processing phases, as in Total
Fixation Duration. However, as this effect did not appear in our LMM
for First Fixation as a significant effect or a trend towards significance,
we can continue to support our hypothesis.
6 Conclusion
This research filled a gap in the literature on coreference
processing by showing how agreement cues influence antecedent
retrieval in a language with rich morphology and how memory seems
to be sensitive to different types of features. In summary, the results
suggest that agreement cues, structural constraints, and decay effects
can influence coreference from early to late processing stages. However,
it seems that agreement cues play a major role at early pronominal
coreference processing, while structural constraints play a major role
at later processing. Decay appears to influence processing regardless
of particular agreement feature or structural constraint. Moreover,
structurally unacceptable antecedents that feature match the pronoun in
1363
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1327-1366, 2017
gender and number facilitated coreference processing. It was suggested
that these structurally unacceptable antecedents might be erroneously
retrieved from memory as potential antecedents as a result of similaritybased interference.
The results reported here provide evidence in favor of CAM as it
was found decay and similarity-interference effects in antecedent retrieval
from memory; however, it seems that this model needs some adjustments
in order to explain how candidates that mismatched the pronouns could
interfere in coreference processing, how singular and plural features can
be distinguished in memory, and what the consequences are for these
effects in sentence processing. Thus future studies that seek to compare
different types agreement cues in antecedent memory retrieval can be
helpful in order to better understand how memory retrieval and language
processing are integrated.
Acknowledgements
I am grateful for the reviewers’ comments and suggestions, which
enormously contributed to this paper. I would like to thank William
Matchin for his helpful discussions on the results and his generous
proofreading. I am also grateful for the participants that were involved
in the experiment reported here. Finally, it should be mentioned that
without the financial aid given by Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), this research would not be possible.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
A behavioral study to investigate the processing routes
of grammatical gender in Brazilian Portuguese
Um estudo comportamental para investigar as rotas do
processamento do gênero gramatical do português brasileiro
Natália C. A. de Resende
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas
Gerais / Brasil
natcarol2000@gmail.com
Mailce Borges Mota
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina / Brasil
CNPq
mailce.mota@ufsc.br
Abstract: In this paper, we present a behavioral study aimed at
investigating whether inanimate grammatical gender transparent
nouns (feminine nouns ending in -a and masculine nouns ending in -o)
and inanimate grammatical gender opaque nouns (other endings) in
Brazilian Portuguese are processed by the same or by distinct cognitive
mechanisms. To this purpose, 19 subjects participated in a grammatical
gender agreement task in two conditions: between a determiner (definite
article) and a noun (condition 1), and a noun and an adjective (condition
2). Factors such as frequency of the nouns and adjectives (high vs. low)
as well as their phonological form (gender transparent vs. gender opaque)
were manipulated. Results show that, in both conditions, frequency
is a strong predictor of faster reaction times, suggesting that gender
transparent and gender opaque forms can be stored in memory. This
pattern holds for both conditions. We interpret this finding as evidence
for the single-mechanism view of language processing.
Keywords: grammatical gender; Brazilian Portuguese.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1367-1395
1368
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
Resumo: Este artigo apresenta um estudo comportamental que teve como
objetivo investigar se substantivos inanimados do português do Brasil,
transparentes quanto ao seu gênero gramatical (substantivos femininos
terminados em -a e masculinos terminados em -o) e opacos (outras
terminações) são ou não processados por mecanismos cognitivos distintos.
Para tanto, uma tarefa de concordância de gênero foi executada por 19
sujeitos em duas condições: entre um artigo definido e um substantivo
(condição 1) e entre um substantivo e um adjetivo (condição 2). Fatores
como a frequência dos substantivos e adjetivos (alta vs. baixa) e forma
fonológica (transparente vs. opaca) foram manipulados. Os resultados
mostram que, em ambas as condições, a frequência é um forte preditor de
respostas mais rápidas, sugerindo que tanto formas transparentes quanto
formas opacas podem ser armazenadas na memória. Este padrão foi
encontrado em ambas as condições. Estes resultados foram interpretados
como evidência para a visão unitária de processamento da linguagem.
Palavras-chave: gênero gramatical; português do Brasil.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 6 de abril de 2017.
1 Introduction
One of the most intriguing phenomena of the human mind is
its ability to learn and process language. Although language processing
seems quite simple given the speed and automaticity with which the
human mind deals with it, how the brain stores and processes language
regularities and irregularities has been largely debated within the
Psycholinguistic research field (for example, PINKER, 1991, 1999;
ULLMAN, 2001; BYBEE, 1985, 1995; MACWHINNEY, 2001;
CHOMSKY, 1981; JACKENDOFF, 2002).
On one view, linguistic processing relies on a dual mechanism
(PINKER, 1991, 1999; ULLMAN, 2001): a mental lexicon specialized
in the storage of simplex/irregular lexical forms (PINKER, 1991,
1999; ULLMAN, 2001) and a different mechanism specialized in the
processing of complex/decomposable lexical forms. On a second view
(e. g. BYBEE, 1985, 1995; MCWHINNEY, 2001), simplex as well as
complex forms are retrieved from and processed by a single associative
memory mechanism.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1369
Both the dual and the single mechanism views discuss the factors
that influence the processing of complex and simplex forms. According to
dual models of language processing, only simplex/idiosyncratic forms are
sensitive to frequency effects. Regular/complex forms, however, usually
are not subject to such effect since they are processed by a cognitive
system specialized in the computation of rules. The single mechanism
view, on the other hand, predicts that both categories of lexical items
(simplex and complex forms) are subject to frequency effects as they are
all processed and retrieved from an associative lexical memory.
A series of studies (FLEISCHHAUER; CLAHSEN, 2012; VAN
DER LELY; ULLMAN, 2001; PRADO; ULLMAN, 2009, PRASADA;
PINKER, 1993; CLAHSEN, ROTHWEILER; WOEST, 1992; MARCUS
et al., 1995) has been proposed to investigate the processing routes of
regular vs. irregular inflectional morphology focusing, mainly, on the
verbal morphology of languages. For the English language, for instance,
many studies (NEWMAN; ULLMAN, 2007; ULMMAN, 2001, 2004,
2005; PRASADA; PINKER, 1993) have shown that the processing of
high-frequency and low-frequency regular forms are not correlated with
their frequencies, but that speakers of English process high-frequency
irregular verbs faster than low-frequency irregular verbs. These findings
suggest that speakers of English activate a computational mechanism to
process regular forms (by concatenating a base to a suffix: walk + ed in
language production or decomposing the items into their morphological
constituents in language comprehension), but rely on memory to process
irregular forms. Research on languages other than English has shown
a similar pattern (BOWDEN, 2007; MORGAN-SHORT et al., 2010;
CLAHSEN; EISENBEISS; SONNENSTUHL, 1997). Other findings,
however, contradict such claims. Alegre and Gordon (1999), Baayens et
al. (1997) and Baayen, Tweedie and Schreuder (2002), for instance, have
shown that regular forms are also sensitive to surface frequency effects,
suggesting that they can also be stored in memory as simplex forms.
Given the debate in the literature, the question that arises is: If
regular forms can also be stored, what kinds of structures can be stored
and what kinds of structures can be computed? An answer to this question
is still far from being trivial. We believe that not only verbal morphology
can provide good insights to this debate. In this paper, we test the
hypotheses of the dual and single mechanism models by investigating
another aspect of morphology: the processing of grammatical gender of
1370
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
inanimate nouns. The language of our investigation is Portuguese, more
specifically Brazilian Portuguese which, so far, has not received much
attention on the part of researchers interested in investigating the routes
of language processing. The research question we address in the present
study is the following: Is grammatical gender agreement in Brazilian
Portuguese governed by a dual or by a single cognitive mechanism?
Before presenting a detailed description of the method adopted in
the present study, we think it is worth presenting a review of the literature
focusing on the cognitive mechanisms involved in the processing of
grammatical gender and a brief (but complete) outline of the grammatical
gender of Portuguese with the purpose of clarifying how the grammatical
gender system of Portuguese can provide subsidies for a study on the
balance between storage and computation.
1.1. Literature Review
Grammatical gender, unlike semantic gender, does not refer
to the biological sex of the referent, but represents, instead, a formal,
intrinsic feature of inanimate nouns (CORBET, 1991). In Portuguese, as
in other Romance languages, animate and inanimate nouns are distributed
into gender categories: feminine and masculine. For instance, the word
cultura (“culture”) does not have an animate referent in the world, but
it is a feminine noun. Similarly, the word pensamento (“thought”) does
not have an animate referent in the world, but it is a masculine noun.
In Portuguese, as a general rule, nouns ending in -a tend to be
feminine, and nouns ending in -o tend to be masculine. However, many
other nouns with other endings can be of either grammatical gender.
Hence, a computational mechanism could be at work to process the
grammatical gender rule (nouns ending in -a are feminine, nouns ending
in -o are masculine) and a distinct mechanism, an associative memory,
would be responsible for storing and processing the grammatical gender
of opaque forms.
Analogous to the debate focusing on the routes of verbal
morphology processing, researchers interested in the processing of
grammatical gender have also examined whether the grammatical
gender of inanimate nouns is represented and processed by a dual or
a single cognitive mechanism. A number of studies (e.g. AFONSO et
al., 2014; GOLLAN; FROST, 2001; HOHFELD, 2006) in languages
other than Portuguese suggest that there is a dual route to process
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1371
grammatical gender. A study in Hebrew has offered evidence in favor
of such claim. Gollan and Frost (2001) have shown that response times
to gender regular/transparent nouns were faster than the response times
to gender opaque/irregulars forms. This effect was also observed in
error rates. The authors observed that, in Hebrew, the phonological
form (the ending of the nouns) of either regular or irregular nouns also
influences the processing of grammatical gender decisions. Based on
this finding, they argued that there are two routes for the processing
and representation of grammatical gender in Hebrew: a lexically based
route and a computational route. The lexically based route would be
responsible for nouns whose grammatical gender is stored as information
of the lemma of each noun. The computational route, on the other hand,
would be responsible for the processing and representation of the nouns
whose grammatical gender information can be recovered from their
surface (phonological/orthographic) form.
Another very recent source of evidence in favor of a dualmechanism for the processing of grammatical gender comes from
Spanish. Afonso et al. (2013) employed a gender decision task and a
masked priming task in order to assess two factors: first, whether words
ending -o, typical of masculine nouns, and words ending in -a, typical of
feminine nouns, are more relevant to gender assignment than other gender
correlated endings such as -ad and -ón. For example, in Spanish, forms
ending in -ad are associated with the feminine gender category (ciudad
–”city”) and forms ending in -ón are associated with the masculine
gender category (embrión – “embryo”, bastión-”stick”). Second, they
investigated whether determiners are retrieved from the mental lexicon
in conjunction with lexical items. In the gender assignment task, results
clearly show that gender is easily assigned to masculine nouns ending in
-o, and feminine nouns ending in -a, but participants were more prone
to errors when the nouns were irregular, i.e., feminine nouns ending in
-o, and masculine nouns ending in -a, and also when the words were
opaque, that is, when the endings of the nouns were different from -a or
-o. In addition, participants were faster to respond to regular forms than
irregular or opaque forms. As regards the question of whether determiners
facilitate gender assignment and whether they are retrieved together with
the noun, the results of the masked priming task showed that participants
were, again, faster in gender decisions for nouns ending in -o or -a than
for nouns with other endings. Researchers observed that the definite
article was relevant only when the nouns were opaque forms, suggesting
1372
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
that the article is retrieved with the noun just for opaque forms that do
not end in -o or -a. The authors interpreted these results as evidence for
a dual-mechanism operating in gender assignment processing as well as
in gender agreement processing.
Some recent neuroimaging studies have contributed to the dual
route hypothesis as well. Hernandez et al. (2004, 2007) and Padovani
et al. (2005) have found in a gender decision task that gender opaque
forms show greater activation in Broadmann’s area BA45 than gender
transparent forms. Caffarra et al. (2015) have found different ERP
components for gender transparent and gender opaque forms during
sentence agreement processing.
The consistency of the results for different languages reveals
that the processing of regular (transparent) forms seems to be quite
different from the processing of opaque forms. These results seem to
be analogous to results reported by studies on verbal morphology of
English, which report differences between the processing of regular
and irregular past tense formation. However, an issue that remains
unresolved concerns the fact that while some studies report effects of
frequency for gender transparent forms, other studies (TAFT; MEUNIER,
1998; DESROCHERS et al., 1989) have shown that transparent/regular
grammatical gender nouns can be stored.
Taft and Meunier (1998), for instance, indicated in a gender
decision task that the phonological cues of French nouns play an important
role in gender decisions. Participants were faster in regular nouns than
in irregular ones. Nevertheless, effects of regularity and frequency also
played a role in error rates and an interaction between regularity and
frequency in reaction and error rates was not found. These results suggest
that although phonological cues facilitate gender assignment, regular/
transparent gender nouns can be stored in the lexical memory. These
results, however, contradict those of a seminal study for French carried
out by Tucker et al. (1968). French speakers were exposed to nonwords
which had grammatical gender correlated endings. They found that the
proportion of gender category (masculine or feminine) an item received
was related to the proportion to which the ending was associated with the
masculine or feminine gender category. Thus, their experiment showed
that gender assignment to nonword was the product of phonological
cues present in the end of the items and that gender assignment can be
independent of lexical access.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1373
In a gender assignment task, Bates et al. (1995) showed that
participants were faster and more accurate in Italian nouns with highly
predictable gender endings, thus providing evidence for effects of
phonological cues as participants were faster in phonologically transparent
nouns (masculine nouns ending in -o, and feminine nouns ending in -a)
than in opaque nouns (other endings). Although the study controlled for
frequency effects (high vs. low) and semantic features (abstractness vs.
concreteness), results did not reveal any significance for these factors on
the gender assignment task. Based on these findings, Bates et al. (1995)
claim that there are two stages for gender assignment: First, the word
is retrieved from the mental lexicon, and after that, a post-lexical check
takes place in order to assign gender to the word. Faster reaction times to
regular phonological cues are explained as convergence of information
provided by the word ending and gender of the lexical item. Longer
reaction times to irregular words are explained as a mismatch between
the phonological cues and the grammatical gender.
In summary, the studies reviewed above show that phonological
cues facilitate gender processing. Some researchers interpret this finding
as the activation of a computational mechanism to process transparent
grammatical gender lexical items. Nevertheless, other studies show
that the frequency of items can influence gender processing, suggesting
that memory plays a role independent of the form of the nouns. Thus,
the debate remains open. Aiming to contribute to the discussion on the
duality vs. singularity of grammatical gender processing, we carried out a
behavioral study to investigate whether grammatical gender of transparent
nouns and grammatical gender of opaque nouns in Brazilian Portuguese
are processed by the same or by distinct cognitive mechanisms. In our
study, we took into account the above mentioned frequency effects
rationale, that is, if we find that frequency effects influence the processing
of gender opaque nouns and do not influence the processing of transparent
nouns, then our results suggest that regular/transparent gender nouns
are computed while gender opaque forms are retrieved from memory.
Based on the results encountered by Afonso et al. (2014) for Spanish,
we hypothesize that the processing of grammatical gender in Portuguese
is governed by a dual cognitive mechanism.
1374
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
2 Grammatical gender in Portuguese
In Portuguese, every single noun has an intrinsic gender. Nouns
in Portuguese can be either masculine or feminine. In most nouns in
Portuguese, gender information can be retrieved from their phonological
forms: nouns ending in -a are, generally, feminine, and nouns ending in
-o are, generally, masculine. For instance, menina (“girl”) is a feminine
noun and menino (“boy”) is a masculine noun. Similarly, the words
casa (“house”) and cama (“bed”) are feminine nouns, whereas carro
(“car”) and corpo (“body”) are masculine nouns, although they do not
stand for an animate referent in the world. There are also other endings
typical of feminine and masculine nouns. Examples of those endings are:
nouns ending in -agem and -ade are, always, feminine nouns: garagem
(“garage”), imagem (“image”), idade (“age”), cidade (“city”). Words
ending in -or and -ema are, usually, masculine nouns: amor (“love”), vapor
(“steam”), problema (“problem”), cinema (“cinema”), sistema (“system”).
It is important to emphasize that the general rule (feminine
nouns ending in -a, and masculine nouns ending in -o) is the productive
rule. Some studies for Brazilian Portuguese (e.g. NAME, 2002) have
shown that children assign feminine gender to nonwords ending in
-a, and masculine gender to nonwords ending in -o. This study also
shows the same pattern for adults in gender assignment tasks. However,
grammatical gender cannot always be predicted from a word’s endings.
Actually, a huge amount of nouns are opaque as regards its grammatical
gender. In other words, gender information cannot always be retrieved
from a word’s phonological structure. In fact, in Portuguese there are
nouns whose phonological form contradicts their gender, for instance,
dia (“day”), problema (“problem”), sofá (“sofa”), razão (“sense”),
mão (“hand”). As we can notice, although words such as dia, problema,
and sofá end in -a, they are masculine, whereas words such as mão and
razão, althouth ending in -o are feminine nouns. There are also other
word endings which do not provide any cue for gender assignment such
as leitemasc, abacaximasc, noitefem, among many others.
Given this puzzling scenario, the question that arises is: How
do native speakers of Portuguese know the gender of opaque forms
(such as words as leite, abacaxi, noite) if gender assignment cannot
be based on phonological cues? There are two possible answers to this
question: The first answer could be that there are two different strategies
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1375
for gender agreement or gender assignment. This hypothesis relies on
the fact that word endings function as a cue to gender agreement so
that native speakers apply a very straightforward rule: if the word ends
in -a, then it is feminine; if the word ends in -o, then it is a masculine
noun. When such rule is not applicable, speakers rely on memory of the
word’s grammatical gender. This first answer implies that there is a dual
route for gender assignment and gender agreement. The second answer
is that grammatical gender assignment and agreement are based on the
memory of the gender of each noun. Thus, native speakers of Portuguese
simply know the gender of each noun. Therefore, gender assignment and
agreement depend on memory. This answer implies that there is only one
strategy for gender assignment and gender agreement and that there is
no rule-governed behavior, which is in line with the single-mechanism
account of language processing.
In the next section, we present the method employed in the present
study to examine whether grammatical gender in Brazilian Portuguese
is governed by a dual or by a single cognitive mechanism.
3 Method
In order to investigate whether a single or a dual route governs the
processing of grammatical gender in Brazilian Portuguese, we employed
a grammatical gender agreement task. Although studies on grammatical
gender have traditionally used the gender assignment paradigm (e.g.
TAFT; MEUNIER, 1998; AFONSO et al., 2014; BATES et al., 1995),
we adopted the grammatical gender agreement task for two main
reasons: first, because instead of gender assignment, the grammatical
gender phenomenon is manifested in real language by means of gender
agreement, i.e., in natural language, speakers make use of grammatical
gender information for agreement purposes, not for gender assignment
purposes. Second, since we intended to analyze the differences of
grammatical gender processing between two conditions – article + noun
(Condition 1) and noun + adjective (Condition 2) – it would not be
possible to attribute gender to two words of different types such as noun
and adjective at the same time since adjectives in Portuguese are either
neutral (e.g. feliz – “happy”) or inflected by gender (e.g. bonit-omasc or
bonit-afem – “beautiful”).
1376
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
The research question we address by conducting a grammatical
gender agreement task is: Is the processing of grammatical gender
governed by a single or a dual mechanism in i) the article + noun and
ii) in the noun + adjective condition? We hypothesize that grammatical
gender agreement processing is governed by a dual route and that we
will find similar patterns in the article + noun agreement and in the noun
+ adjective agreement conditions. In both conditions, we do not expect
to find frequency effects for the agreement of transparent forms but only
for the opaque forms. A lack of frequency effects in transparent forms
processing suggests that they are decomposed in their form in order to
have gender agreement assignment. Instead of recurring to memory of the
item’s gender, speakers rely on the phonological cues, that is, the word’s
endings, to perform gender agreement both with the determiners and with
the adjectives. On the other hand, since no phonological cues are provided
by the opaque forms and the phonological cues of the opaque forms
contradict their gender, speakers rely on memory of the item’s gender to
perform gender agreement. In what follows, we describe our task design.
3.1 Task Design
Materials: The entire set of stimuli comprised 112 items in total.
We used the Corpus Brasileiro available online1 to select 32 nouns (16
transparent and 16 opaque nouns) for condition 1: agreement between the
definite article and the noun. We also selected 32 nouns (16 transparent and
16 opaque) to construct the stimuli for condition 2: agreement between the
noun and the adjective. In this paper, we will refer to the items selected
for condition 2 as bigrams. We considered transparent forms feminine
words ending in -a, and masculine words ending in -o; we considered
opaque forms all other word endings, including feminine words ending
in -o and masculine words ending in -a. Half of the transparent nouns
(8 items) and half of the opaque nouns (8 items) selected for condition
1 and condition 2 were high-frequent nouns (310-4608 per million) and
the other half were low-frequent nouns (1-17 per million). We also tried
to approximate the number of feminine and masculine nouns selected as
much as possible. To compose condition 1, we selected seven masculine
and nine feminine opaque nouns as well as nine masculine and seven
1
www.linguateca.pt
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1377
feminine transparent nouns. To compose condition 2, we selected eight
masculine and eight feminine opaque nouns as well as eight masculine
and eight feminine transparent nouns.
The experiment also included 48 fillers (nonwords). The
nonwords were phonologically legal letter strings. They were constructed
by exchanging a vowel phoneme or a consonant phoneme of existing
gender transparent and gender opaque nouns, e.g. *plefe (correct form
= plebe) or *visma (correct form= cisma).
To construct the bigrams of condition 2, we looked up in the
corpus the adjective most likely to co-occur with the noun selected.
Besides manipulation of the frequency of the noun of a bigram, we also
manipulated the frequency of occurrence in the corpus of the adjectives
following the nouns in a bigram. The adjectives of the bigrams selected
were either high-frequent or low-frequent adjectives so that we obtained
frequent and infrequent nouns co-occurring with frequent and infrequent
adjectives. As it was not always possible to find adjectives co-occurring
with infrequent nouns in the Corpus Brasileiro, we used Google search
to find adjectives likely to co-occur with the infrequent nouns selected.
The adjectives of the bigrams selected from Google were also controlled
by frequency in our analysis. The control of the frequency of the two
elements of a bigram was adopted to investigate which one matters for
the gender agreement: the frequency of the head of the noun phrase or
of the adjective itself.
3.2 Apparatus
The experiment was programmed on E-prime software for
psychological experiments. Items were presented in the center of the
screen in a white lowercase size 18 against a black background of a LG
Computer Monitor (Flatron L1755S).
3.3 Participants
Participants were 19 right-handed native speakers of Brazilian
Portuguese (9 female, MAge = 31, rangeAge = 21-44), recruited among
graduate and undergraduate students at the Federal University of Santa
Catarina (UFSC), Brazil. Subjects did not report previous register
of neurological disorders. All participants reported having normal or
corrected-to-normal vision. Subjects provided informed consent to
1378
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
participate as volunteers in the present study. The study was approved
by the research ethics committee of UFSC.
3.4 Procedure
The set of stimuli was presented visually and each subject
performed the grammatical gender agreement task individually. The
experimenter gave the task instructions to each participant while they
appeared on the screen. The task consisted of a visual grammatical gender
agreement in two conditions. Subjects were asked to push button 1 for
letter A or button 5 for letter O which corresponded to the articles “A” and
“O” preceding each noun or the ending of the adjectives to be inflected.
Each trial was preceded by a fixation cross ‘+’ of 1000ms and the items
remained on the screen up to 5000ms or until any button was pushed. We
introduced 10 practice items before the beginning of each experimental
session to make sure all participants were able to perform the main task
properly. Figure 1 illustrates the presentation of the stimuli.
FIGURE 1 – Design of the experiment
NOTE: After the fixation cross, participants saw a blank screen followed by stimuli of
condition 1 and condition 2. They then performed a gender agreement task. Stimuli were
presented in different random order to each participant.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1379
4 Results
4.1 Description of the data
Although we have coded participant’s response for accuracy and
reaction times, in this paper our analysis will be based on reaction times
only. Inaccurate responses were removed from the dataset. We obtained
608 data points per condition, a total of 1216 data points. Table 1 displays
description of reaction times collected for each category of condition 1
and condition 2.
TABLE 1 – Descriptive data per category
Conditions
Condition 1
Condition 2
Category
Mean
SD
Transparent frequent nouns
890ms
251.4
Transparent infrequent nouns
1647ms
688.8
Opaque frequent nouns
1033ms
304.8
Opaque infrequent nouns
1184ms
462.4
Transparent frequent bigrams
1563ms
557.5
Transparent infrequent bigrams
1549ms
582.8
Opaque frequent bigrams
1413ms
611.7
Opaque infrequent bigrams
1777ms
621.3
In condition 1, the results show that participants were faster to
respond to transparent frequent nouns than to transparent infrequent
nouns (890ms vs. 1647ms) t = -14.243, df = 266.86, p-value < 2.2e-16.
Similarly, participants were faster to respond to opaque frequent nouns
than to respond to opaque infrequent nouns (1033ms vs. 1184ms) t =
-2.9157, df = 283.25, p-value = 0.003. These results show that frequency is
a strong predictor for response speed regardless of the form of the nouns.
For condition 2, data description shows that participants were
much faster to respond to opaque frequent bigrams than to respond
to opaque infrequent bigrams (1413ms vs. 1777ms) t = -5.8663, df =
295.75, p-value = 1.19, suggesting that memory plays an important role
in the processing of agreement between opaque forms and adjectives.
On the other hand, reaction times for gender agreement between
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
frequent and infrequent transparent nouns and adjectives are very close
(1549ms vs.1563ms) t = 0.4102, df = 270.7, p-value = 0.68, suggesting
that a computational mechanism could be at work for agreement with
transparent forms. Surprisingly, however, it is possible to notice that in
condition 2 participants were slightly faster in agreement with transparent
infrequent bigrams than in agreement with transparent frequent ones.
Although the difference is statistically irrelevant (p>0.6), these results
might show that participants were faster in agreement with transparent
infrequent bigrams because this category of items imposed more
processing costs than agreement with transparent frequent bigrams, since
nouns were first accessed in memory and, after that, were decomposed
to perform agreement, while infrequent bigrams were only decomposed
to perform agreement.
Since our task design contains two different conditions of gender
agreement and each condition presents different types of factors that
might affect reaction times, we adopted the Linear Mixed Effects Models
approach with crossed effects of subjects and items for the statistical
analysis to obtain a better picture of the data. The next section describes
how the data analysis on reaction times was carried out.
4.1.1 Data analysis
The Mixed Effects models as well as data pre-processing were
run in Language R. For the Mixed Effects models, we used the lme4
package (BATES, 2005; R Development Core Team, 2008). Prior to
the data analysis, we screened the reaction times for extreme outliers
(RT<400ms >3000ms). The outliers were removed from the data set of
each category from condition 1 and condition 2 separately using Grubbs
test for one or two outliers (GRUBBS, 1950), package Outliers. We
removed 12 data points from condition 1 (1,97%) and 15 data points
from condition 2 (2,4%). After cleaning the dataset, histograms showed
that the distribution of reaction times of condition 1 and condition 2 were
left-skewed. In order to minimize the skewness of the distribution, we
log-transformed reaction times.
As will be shown in the next section, we ran separate models
for condition 1 and condition 2. This procedure was adopted in order
to investigate more closely the effects of predictors for each condition.
The fixed effects we included in the models of condition 1 were: lemma
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1381
frequency of nouns (continuous), number of graphemes of nouns
(continuous), sex/gender of participants (categorical), grammatical
gender of the nouns, that is, whether the noun was feminine or masculine
(categorical), number of graphemes of nouns (continuous) and number
of phonemes of nouns (continuous). For condition 2, we included the
following fixed effects: lemma frequency of the nouns (continuous),
lemma frequency of adjectives (continuous), sex/gender of participants
(categorical), grammatical gender of the nouns, that is, whether the noun
of the bigram was feminine or masculine (categorical), and number of
graphemes of bigrams (continuous). The number of graphemes of nouns
and bigrams were included in the models as control factors in order to
maximize statistical power by reducing residuals.
In each model, we included subjects and items (nouns for condition
1 and bigrams for condition 2) as random effects. In order to determine
which random slope should be included in the models, we adopted a
forward procedure, starting with a minimum model. Then, we included
all possible random slopes for subject and items (words and bigrams) one
by one. Models converged easily after scaling the continuous predictors.
Following Baayen et al. (2008), model comparisons were made using
likelihood ratio test to verify if the random slopes and interactions added
to the minimum model were justified. As a result, the random slopes
included were removed from the models of condition 1 and condition 2.
P-values reported here were obtained by means of ANOVA type 3 which
tests for the presence of significant interactions.
Table 2 displays the results of the model that best explains
reaction times of gender agreement between article and nouns (condition
1). Table 3 exhibits results of the model that best explains reaction times
of gender agreement between nouns and adjectives (condition 2). Table
1 and Table 2 show only factors that appear to have justifiable inclusion2
in the final model according to results obtained after models comparison
by means of likelihood ratio test.
Following a standard procedure (see BARR et al., 2013), we constructed various
models for comparison purposes, using the likelihood ratio test. This test indicates the
factors and interactions that are more likely to influence the dependente variable. Thus,
the models presented in this paper do not always include all factors and interactions
tested since they are the models that best fit our dataset.
2
1382
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
TABLE 2 – Model that best explains reaction times for condition 1
Fixed effects
Estimate
Std.Error
t
Pr(>F)
Intercept
2.94986
0.06337
46.55
2.2e-16 ***
Lemma Frequency
0.00433
0.01456
0.30
0.7685
Category
0.02056
0.02028
1.01
0.3198
Number of graphemes
0.01499
0.01247
1.20
0.2402
Participants’ Gender
(Male)
0.02773
0.03472
0.80
0.4355
-0.02450
0.02111
-1.16
0.2563
-0.14243
0.02338
-6.09
1.898e-06 ***
Groups
name
Variance
Std. Deviation
Corr
subjects
intercept
0.005334
0.07303
Word
Intercept
0.002329
0.04826
0.011867
0.10893
Nouns’ Grammatical
Gender
Lemma
Frequency:category
Random Effects
Residual
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TABLE 3 – Model that best explains reaction times for condition 2
Fixed effects
Estimate
Std.Error
t
Pr(>F)
Intercept
3.253e+00
1.060e-01
30.695
0.002588 **
Lemma Frequency
(nouns)
-6.614e-06
1.985e-06
-3.332
0.002588 **
Category
-4.639e-02
2.896e-02
0.61
0.121367
Number of graphemes
-5.688e-03
9.800e-03
-0.58
0.568410
Participants’Gender
2.077e-02
4.111e-02
0.50
0.619894
Lemma Frequency (nouns):
Category
5.949e-06
2.303e-06
2.583
0.015618 *
Grammatical gender
2.338e-02
2.187e-02
1.069
0.295044
Variance
Std.
Deviation
corr
Random Effects
Groups
subjects
Intercept
0.007654
0.08749
Bigram
Intercept
0.003083
0.05553
0.010900
0.10440
Residual
The model of condition 1 shows a significant interaction between
category (transparent nouns vs. opaque nouns) with frequency (high vs.
low). This interaction means that frequency affects categories of nouns
differently. The interaction plot of Figure 2 illustrates the effect of frequency
on reaction times of gender agreement between articles and nouns.
Importantly, frequency of lemma itself and category itself did not reach
significance. Factors such as number of graphemes and grammatical gender
of the nouns (masculine vs. feminine) did not influence reaction times.
Participants’ gender (male vs. female) did not influence reaction times.
We did not find a three-way interaction of gender, frequency, and category
(β=0.010096, t=0.53), which suggests that reaction times of both men and
women were equally influenced by interaction between frequency and
category of nouns. We did not find a three-way interaction of grammatical
gender, frequency, and category (β=4.528e-02, t=0.55) either, suggesting
that reaction times for both masculine and feminine nouns were equally
influenced by interaction between frequency and category of nouns.
1384
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
As regards condition 2, results show a main effect of lemma
frequency of nouns and a significant interaction between lemma
frequency of nouns and category. As frequency of adjectives did
not reach significance neither did a three-way interaction of lemma
frequency of nouns, lemma frequency of adjectives, and category, our
final model includes only the interaction between lemma frequency of
nouns and category. As shown in Table 3, similar to condition 1, there
is an interaction between lemma frequency of nouns and category,
indicating that lemma frequency of nouns influenced reactions times
of transparent and opaque bigrams differently. However, the effect of
lemma frequency in condition 2 is more prominent than in condition 1,
especially on opaque forms. The interaction plot of Figure 3 illustrates
this effect. Concerning the other predictors included in our final model
of condition 2 (participants’ gender, grammatical gender of nouns, and
number of graphemes of bigrams), as in condition 1, those predictors
failed to reach significance as revealed by p-values presented in Table 3.
FIGURE 2 – Interaction Plot Condition 1 – Transparent forms x Opaque forms
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1385
FIGURE 3 – Interaction Plot Condition 2 – Transparent forms x Opaque forms
5 Discussion
In the present study, we investigated the processing routes
of grammatical gender agreement in Brazilian Portuguese in two
conditions: between an article and a noun (condition 1) and between a
noun and an adjective (condition 2). Results suggest that grammatical
gender agreement processing between article and noun differs from that
between noun and adjective. We can notice, by observing reaction times
(see Table 1), that agreement between noun and adjectives elicits more
processing costs, as reflected by longer reaction times, than agreement
between article and nouns. It is our contention that, as subjects had more
information to process in condition 2 than in condition 1 (for instance, a
higher number of phonemes and graphemes, two items for retrieval, items
decomposition, and concatenation), reaction times were longer as a result
of the fact that more information demands more time to be processed.
In condition 1, while an interaction between frequency and form
category plays a role in reaction times, frequency and form category alone
fail to reach significance. This result suggests that form category itself is
not a predictor of reaction times and neither is frequency itself. In fact,
1386
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
there is a combination of both factors, but with differences concerning
the influence of frequency on reaction times between form categories.
This is very clear when we compare the reaction times of frequent
transparent forms and frequent opaque forms. Participants were faster in
gender agreement for frequent transparent forms compared to frequent
opaque forms, infrequent transparent forms and infrequent opaque forms,
replicating previous findings for other languages such as Italian (BATES
et al., 1995), French (TAFT; MEUNIER, 1998; DESROCHERS et al.,
1989; TUCKER et al., 1968), German (HOHFELD, 2006), Hebrew
(GOLLAN; FROST, 2001) and Spanish (AFONSO et al., 2013). The
faster reaction times to respond to frequent transparent forms than to
respond to frequent opaque forms suggest that the phonological cues
of the transparent forms yield a processing advantage as compared to a
processing disadvantage for gender agreement with opaque forms, which,
in turn, suggests that phonological cues facilitate gender processing.
Although in condition 1 our results indicate that high-frequent
transparent forms can be stored, replicating results of Taft and Meunier
(1998) and Desrochers et al. (1989), our findings suggest that lowfrequent items might be decomposed. One of the clues to support this
assumption is that, in condition 1, it is possible to observe that participants
were slower to process infrequent transparent forms than infrequent
opaque forms. A possible explanation for this phenomenon would be
an increase in the processing costs while decomposing transparent
infrequent nouns to retrieve gender information. This finding suggests
that, on the one hand, high-frequent transparent forms are fully accessed
in memory, but infrequent items might be decomposed. Thus, results of
condition 1 suggest that computation would be applicable only when
access to items in memory is difficult. Our assumption is based on the
fact that other studies (e.g. Laine, Vainio and Hyönä, 1999) have shown
that decomposition and concatenation processes are more demanding
than lexical access, resulting in longer reaction times.
In condition 2, results also show that frequency of nouns plays
a role in reaction times. As in condition 1, our final model shows a
significant interaction between lemma frequency of the nouns and
category, suggesting that frequency influences word categories differently.
However, in condition 2, as illustrated by the interaction plot of Figure
3, it is possible to observe that the influence of lemma frequency of the
nouns is stronger on opaque forms than on transparent forms, indicating
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
1387
that opaque forms are stored and transparent forms might be computed.
As previously mentioned, surprisingly, subjects were slightly slower to
perform gender agreement with high-frequent transparent forms than with
low-frequent transparent forms. Following Bates et al. (1995) rationale,
we maintain that this phenomenon might be related to a three-stage
processing strategy for high-frequent transparent forms – first lexical
access, second item decomposition, third affix concatenation – as opposed
to a two-stage processing for the low-frequency items (decomposition
followed by affix concatenation). How to interpret these results in the
light of the dual mechanism model and single-mechanisms model?
One may argue that since we found different patterns for both
types of phonological forms, a dual mechanism would be at work in the
processing of grammatical gender between an article and a noun and a
noun and an adjective in Portuguese. However, we claim, on the basis
of the frequency effects that were observed influencing the processing
of both transparent and opaque forms, that there is a single mechanism
governing grammatical gender processing in condition 1. As regards
condition 2, in our view, there are two mechanisms governing gender
agreement processing between nouns and adjectives. However, our
results also indicate that, even if a computational processing strategy is
operating, items are still being lexically accessed. This interpretation is
based on the slightly longer reaction times in high-frequent transparent
nouns in condition 2, suggesting an a priori lexical access and further
decomposition and concatenation, leading to longer reaction times.
Our experiment shows that both transparent and opaque gender
forms can be stored, but computational processing can be activated
under some circumstances: when subjects do not readily extract the
items from the mental lexicon and, as in condition 2, when there is more
information to be processed. It seems that when the strings are longer as
they are in condition 2, subjects prefer to decompose them to perform
agreement. They also prefer to decompose items that are not easily
accessed in memory as occurred with infrequent gender transparent
nouns in condition 1. As observed by Rastle and Davis (2008), although
more time-consuming, decomposition is an easier strategy when items
present clues on their surface form.
Our results indicate that memory is involved regardless of the
form of the noun when it is a frequent noun, that is, subjects recognize
1388
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
the item and look up for it in the mental lexicon. Thus, we suggest
that it is not the case that a computational route is activated every time
subjects face a transparent form. The first strategy is to search for the
item in the mental lexicon. If the item cannot be found, a second strategy
takes place: decomposition. Based on these findings, we argue that our
results do not support the dual mechanism view of grammatical gender
processing and, therefore, do not support our initial hypothesis that the
processing of grammatical gender in Portuguese is governed by a dual
cognitive mechanism. On the contrary, our experiments show that regular/
transparent forms can be stored as whole words, as predicted by single
mechanism models.
It is noteworthy that the number of participants selected and
number of items selected limited the experiment presented here. An
experiment containing a larger sample of participants and items could
provide different results. Future research with more subjects and more
levels of items frequency is necessary to verify whether very infrequent
transparent nouns are in fact subject to decomposition. In order to
disentangle this issue, it would be of great aid to test if medium-frequency
gender transparent nouns are also subject to decomposition or if they can
also be accessed in memory just as high-frequency gender transparent
nouns.
Acknowledgement
This research was supported by CAPES/NUFFIC Grant 051/13 –
23038.007129/2013-40.
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1394
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1367-1395, 2017
Appendix
TABLE 1 – Stimuli list of condition 1
Item
Grammatical gender
___dia
___saúde
___clave
___coldre
___covil
___dogma
___filme
___gente
___lei
___limiar
___mão
___noite
___ode
___país
___plebe
___prole
___prelo
___ata
___átrio
___bojo
___casa
___casta
___fleuma
___hora
___hulha
___jogo
___jugo
___livro
___pessoa
___preço
___tempo
___vida
masc
fem
fem
masc
masc
masc
masc
fem
fem
masc
fem
fem
fem
masc
fem
fem
masc
fem
masc
masc
fem
fem
fem
masc
fem
masc
masc
masc
fem
masc
masc
fem
Lemma Frequency
(noun)
2119
320
1
1
1
3
597
822
572
6
905
616
1
1461
1
3
2
10
1
5
1062
7
1
480
1
689
2
648
385
407
1515
1059
Form Category
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Opaque
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
Transparent
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1395
TABLE 2 – Stimuli list of condition 2
Grammatical
gender
Form
Category
feixe rápid___
Masc
Opaque
7
291
lider inat___
Masc
Opaque
440
4
base sólid___
Fem
Opaque
417
46
time barat___
Masc
Opaque
652
103
rede comprid___
Fem
Opaque
411
28
prece calm___
Fem
Opaque
8
27
fronte baix___
Fem
Opaque
15
433
morte súbit___
Fem
Opaque
486
34
motim louc___
Masc
Opaque
7
68
série nov___
Fem
Opaque
310
2370
nuance nov___
Fem
Opaque
4
2370
haste comprid___
Fem
Opaque
5
28
âmbar clar___
Masc
Opaque
1
428
matiz escur___
Masc
Opaque
6
69
papel gross___
Masc
Opaque
468
52
total alt___
Masc
Opaque
410
1014
vulto pret___
Masc
Transparent
17
148
mundo inteir___
Masc
Transparent
1076
185
Água parad___
Fem
Transparent
421
43
rua escondid___
Fem
Transparent
612
6
gueto escur___
Masc
Transparent
10
69
fava branc___
Fem
Transparent
5
308
beca antig___
Fem
Transparent
1
318
banco privad___
Masc
Transparent
720
299
crina long___
Fem
Transparent
1
427
coisa cert___
Fem
Transparent
1222
700
obra acabad___
Fem
Transparent
722
5
ano letiv___
Masc
Transparent
4608
6
gnomo velh___
Masc
Transparent
1
414
prazo long___
Masc
Transparent
532
427
pompa suntuos___
Fem
Transparent
5
3
clero antig___
Masc
Transparent
4
318
Items
Lemma Frequency Lemma Frequency
(noun)
(Adj)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
A influência da referencialidade no processamento
de orações relativas em português brasileiro
The influence of referentiality on relative clause
processing in Brazilian Portuguese
Gitanna Brito Bezerra
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
gitannabezerra@gmail.com
Márcio Martins Leitão
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba / Brasil
profleitao@gmail.com
Lorrane da Silva Neves Medeiros
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
lorranesnm@hotmail.com
Resumo: Neste artigo apresentamos dois experimentos que foram
conduzidos para investigar, no português brasileiro, o papel da
referencialidade no processamento de orações relativas associadas a
Sintagmas Nominais complexos (SNs complexos) do tipo substância
(como “a bolsa de (do) couro”). O experimento de leitura automonitorada
revelou uma preferência imediata pela aposição não local, evidenciando
uma forte influência da referencialidade do N1 no processamento da
oração relativa. O experimento de rastreamento ocular, por sua vez,
revelou um efeito imediato da referencialidade do N2: uma aposição
local é favorecida quando o N2 é referencial e uma aposição não local é
preferida quando o N2 não é referencial. Nossos dados vão na direção do
que é proposto pela Hipótese de Construal (FRAZIER; CLIFTON, 1996).
Palavras-chave: processamento; orações relativas; referencialidade.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1397-1431
1398
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
Abstract: In this paper we report two experiments that were conducted
to investigate the influence of referentiality on the processing of relative
clauses associated with complex noun phrases of substance reading
(like “the bag of (the) leather”). The self-paced reading task showed an
immediate preference for high-attachment, revealing a strong influence
of N1 referentiality on relative clause processing. The eyetracking study,
in turn, revealed an immediate effect of N2 referentiality: low attachment
is favored when the N2 is referential and high attachment is preferred
when the N2 is non-referential. Our data are in tune with the general
proposal of the Construal Hypothesis (FRAZIER; CLIFTON, 1996).
Keywords: processing; relative clauses; referentiality.
Recebido em: 9 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 31 de janeiro de 2017.
1 Introdução
Na área da Psicolinguística Experimental, diferentes modelos
de processamento sentencial buscam explicitar a maneira pela qual
os sujeitos compreendem e produzem linguagem. No que tange,
especificamente, ao processo de compreensão linguística, tais modelos
diferem-se, de forma geral, quanto ao caminho proposto e assumido para
se alcançar a interpretação de uma sentença. Nesse âmbito, a Teoria do
Garden Path (FRAZIER, 1979; FRAZIER; RAYNER, 1982) propõe
que a interpretação de uma sentença pressupõe uma estrutura sintática:
o significado de uma sentença vai sendo construído composicionalmente
à medida que o parser, o processador sentencial, atribui um esqueleto
sintático ao input linguístico. Essa teoria assume, mais especificamente,
que o parser, na atribuição inicial de uma representação sintática para
uma cadeia linguística, tem acesso restrito à informação sintática, não
podendo, por exemplo, acessar de imediato informações discursivas para
decidir se apõe um sintagma X a um local Y ou a um local Z. Decisões
desse tipo, oriundas de ambiguidades estruturais, seriam, na verdade,
automaticamente feitas seguindo um princípio geral: escolha a primeira
análise disponível (FRAZIER, 1987). Uma aposição é imediatadamente
determinada, considerando, primeiramente, a análise que pedir o menor
número de nós sintáticos (Aposição Mínima) e, no caso de duas análises
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1399
com mesma complexidade estrutural, a análise que implicar uma aposicão
ao sintagma ou oração correntemente sendo processado (Aposição Local).
Essa necessária determinação inicial de análise foi repensada
quando a Teoria do Garden Path foi reformulada, dando origem
à Hipótese de Construal (FRAZIER; CLIFTON, 1996). Uma das
motivações para essa reformulação foi o surgimento de evidências
experimentais divergentes quanto às predições do princípio da Aposição
Local. Em uma sentença como “Alguém atirou no empregado da atriz que
estava na varanda”, tal princípio prediz uma preferência sistemática pela
aposição da oração relativa ao N2, “a atriz”, e não ao N1, “o empregado”.
Porém, em um trabalho seminal, Cuetos e Mitchell (1988) reportaram
evidências de que falantes de Espanhol preferiram, na verdade, a aposição
ao N1, enquanto falantes de Inglês preferiram a aposição ao N2. A partir
de então, este tipo de estrutura com oração relativa passou a ser foco
de estudos experimentais em diversas línguas, originando-se diferentes
hipóteses na tentativa de explicar a ausência de uma sistematicidade nas
preferências de análise entre as línguas (CUETOS; MITCHELL, 1988;
GIBSON; PEARLMUTTER; CANSECO-GONZALEZ; HICKOK,
1996; FODOR, 1998, 2002; HEMFORTH; KONIECZNY; SEELIG;
WALTER, 2000; MAIA; FERNÁNDEZ; COSTA; LOURENÇOGOMES, 2006; GRILLO; COSTA, 2014; HEMFORTH; FERNANDEZ;
CLIFTON; FRAZIER; KONIECZNY; WALTER, 2015).
Nesse contexto, o Construal surgiu reconhecendo a pertinência
do princípio da Aposição Local e enfatizando que, antes de dar ênfase
às diferenças de aposição observadas entre as línguas e pôr em cheque
a universalidade de tal princípio, seria preciso observar as diferentes
preferências de análise existentes em uma mesma língua a depender do
tipo de estrutura focalizado. Assim, o Construal formalizou uma distinção
entre sintagmas primários e sintagmas secundários. O primeiro tipo diz
respeito ao sujeito e ao predicado principal de uma oração finita, bem
como aos seus complementos e constituintes obrigatórios. O segundo tipo
diz respeito aos sintagmas que não podem, nem mesmo temporariamente,
ser analisados como sintagmas primários. Os sintagmas secundários
ditos “potencialmente primários” terão seu status “primário” acessado
em primeiro lugar. Simplificando, o primeiro tipo de relação alude a
sintagmas argumentos e o segundo alude a sintagmas adjuntos. A chave
dessa distinção é a assunção de que o parser emprega mecanismos de
análise distintos dependendo do tipo de estrutura em questão. Dessa
1400
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maneira, diante de uma ambiguidade envolvendo a análise de um
sintagma primário, o parser está sujeito a uma pressão para determinar
a descrição lexical de um dado núcleo lexical e procede a uma aposição
imediata seguindo princípios estruturais – uma análise determinada,
então, é automaticamente construída. No entanto, tal pressão não está
presente em uma ambiguidade que envolve um adjunto, dado que
esse elemento não está envolvido na especificação das propriedades
de núcleos lexicais, dando oportunidade para uma indeterminação ou
subespecificação inicial de análise – o parser, nesse caso, procede a
uma associação.
Com essa distinção feita, Frazier e Clifton (1996) lançaram
a hipótese de que o parsing de orações relativas do tipo mencionado
anteriormente não exibiria uma sistemática preferência de análise entre
as línguas pois ele estaria sujeito à influência não só de informações
estruturais, mas também, e crucialmente, de informações não-estruturais.
Investigando os fatores que poderiam influenciar o processamento
das relativas, os autores propuseram, por exemplo, o Princípio de
Referencialidade, segundo o qual orações relativas restritivas são
preferencialmente apostas a núcleos referenciais. É este princípio que a
presente pesquisa focaliza.
Nós reportaremos dois experimentos em português brasileiro
(uma leitura automonitorada e um rastreamento ocular) que realizamos
para investigar a influência desta informação não-estrutural de
referencialidade. Considerando os resultados obtidos, discutiremos até
que ponto os sujeitos deixam-se guiar por informações não-estruturais
no processamento on-line e até que ponto eles são sensíveis e fiéis à
informação de gênero como material desambiguador. Para embasarmos
nossa discussão, organizamos o texto da seguinte forma: no tópico
2, abordaremos a proposta do Construal, apresentando a noção de
subespecificação inicial de análise e o princípio da Referencialidade; no
tópico 3, apresentaremos os dois experimentos realizados; e, no tópico
4, apresentamos uma discussão geral dos resultados obtidos.
2 Construal de orações relativas
A Hipótese do Construal (FRAZIER; CLIFTON, 1996, 1997)
para o processamento de sintagmas secundários é a seguinte: associe um
sintagma secundário ao domínio de processamento temático (a projeção
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máxima estendida do último atribuidor temático) e o interprete usando
informações estruturais e não estruturais. O processo de associação,
especificamente, pressupõe a possibilidade de uma subespecificação
limitada de análise, já brevemente mencionada, a qual alude ao fato de
que, na construção de uma representação sintática, o parser pode deixar
relações sintáticas de dominância e irmandade não completamente
especificadas. Na figura a seguir, essa indeterminação inicial na análise
é evidenciada pela linha tracejada que associa o sintagma secundário XP
à estrutura através do YP, que, neste caso, seria a projeção máxima do
último atribuidor temático:
FIGURA 1 – Associação de um sintagma secundário
A
B
YP
D
E
F
G
XP
Fonte: Frazier; Clifton (1997, p. 280).
Embora os autores defendam que o parser pode não determinar
uma análise estrutural de imediato, a proposição de uma associação inicial
a um domínio temático específico garante que o sintagma secundário
receba uma estruturação mínima (não ficando, portanto, totalmente
sem uma estruturação, “solto”, o que, se fosse o caso, afetaria a sua
manutenção na memória de trabalho) até que, no processo posterior
de interpretação, receba uma análise específica. Considerando a figura
1, no processo de interpretação, o acesso a informações sintáticas e
não sintáticas permite que um local determinado de aposição seja
selecionado para o sintagma secundário (XP): “If XP associates to YP
then XP must take YP, or some node dominated by YP, as its sister”
(FRAZIER; CLIFTON, 1997, p. 279). Entende-se, portanto, que, depois
da subespecificação inicial, um compromisso sintático é eventualmente
realizado, alcançando-se uma representação estrutural com as relações
sintáticas devidamente determinadas.
1402
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
No tocante, especificamente, aos processos de associação e de
interpretação de uma oração relativa, uma informação não estrutural
que, no escopo do Construal, é tratada como importante no processo
de determinação de análise é a referencialidade do N1 e do N2. De
maneira geral, o status referencial de um dado nome relaciona-se ao seu
potencial ou não de referir a uma entidade discursiva presente em um
modelo discursivo ou de introduzir uma entidade discursiva no modelo
discursivo em construção para uma sentença. Com base nesta noção do
que seria um nome referencial, Gilboy, Sopena, Clifton e Frazier (1995,
p. 136) propõem o Princípio de Referencialidade:
the heads of some maximal projections are referential
in the sense that they introduce discourse entities (e.g.,
participants in events described in the discourse) into a
discourse model (at least temporarily), or correspond to
already existing discourse entities. Restrictive modifiers
(e.g., restrictive relative clauses) preferentially seek hosts
which are referential in this sense.
Em específico, os autores assumem que um nome é referencial
quando ele é introduzido por um determinante. Seguindo o princípio, se
houver, no domínio temático corrente, um nome referencial e um nome
não referencial, a relativa será aposta ao nome que é referencial, tendo
em vista que ele, correspondendo a uma entidade discursiva, estará
disponível para uma modificação restritiva, justificando, assim, a função
da oração relativa. Veja-se que este princípio não teria uma predição
específica para casos envolvendo sintagmas nominais como “a filha
do coronel”, já que ambos os nomes se encontram no mesmo domínio
temático e ambos são referenciais. O princípio, conforme os autores,
poderia prever uma preferência específica para sintagmas nominais
como “a mesa de madeira” e “a taça de vinho”, sendo o primeiro do tipo
“substância” ou “material” e, o segundo, do tipo “quantidade” (ou ainda
“conteúdo” e “classificação”). Nesses tipos de sintagmas, é mais natural
que o N2 apareça sem um determinante, não sendo, portanto, referencial,
sendo todo o SN complexo visto como uma única entidade discursiva.
Por consequência, nestes casos, o N1, que é referencial, é visto como o
local preferido de aposição da oração relativa.
Gilboy et al. (1995) investigaram, dentre outros fatores, esta
influência do status referencial no processamento de orações relativas
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
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através de dois questionários. Focalizando aqui o SN “substância”,
foi encontrada, em questionários com falantes de inglês e falantes de
espanhol uma preferência geral pela aposição da oração relativa ao N1
em sentenças como “Yesterday they gave me the sweater of cotton that
was illegally imported” e (versão em espanhol: “Ayer me regalaron el
jersey de algodón que importaban de contrabando”), as quais contêm
apenas um nome referencial: o N1. Em um questionário posterior, agora
só com falantes de inglês, os autores manipularam a referencialidade do
N2, tornando-o também referencial: “Yesterday they gave me the sweater
of the cotton that was illegally imported”. A predição era a de que a
quantidade de respostas N2 aumentaria neste caso, tendo em vista que
o N2 é referencial. De fato, a porcentagem de respostas N2 aumentou
de 26% para um N2 não referencial no questionário anterior para 55%
para um N2 referencial, corroborando, assim, a influência da informação
da referencialidade na análise das orações relativas.
O princípio da Referencialidade foi investigado em português
brasileiro primeiramente por Maia e Finger (2007). Os autores
conduziram um questionário e investigaram a influência de vários tipos
de sintagmas complexos no processamente de orações relativas, além
de focalizarem a influência de fatores prosódicos nas preferências de
aposição. No que tange ao sintagma nominal do tipo substância, os autores
investigaram o processamento de sentenças como “O técnico fez críticas
à antena de metal que oxida”, em que apenas o N1 é referencial, e não
manipularam a referencialidade do N2. Os resultados seguiram a linha
do que é proposto por Gilboy et al. (1995): diante de um N1 referencial
e de um N2 referencial, falantes de português brasileiro prefereriram a
aposição da oração relativa ao N1.
Há evidências, portanto, para o princípio da Referencialidade, e
elas remetem basicamente ao momento off-line do processamento. Uma
questão que aparece, então, neste contexto, é se tal informação poderia
influenciar a compreensão on-line da oração relativa, o que remete para
uma reflexão mais ampla sobre a natureza dos processos de associação
e interpretação assumidos pelo Construal. Veja-se que esta hipótese
não propõe um mecanismo de análise específico para o processamento
de sintagmas adjuntos, não postulando de forma clara como ocorre
o processo de interpretação nem esclarecendo quão persistente
seria a subespecificação sintática no decorrer do processamento. É
uma questão aberta para o Construal, portanto, quão rápida seria a
1404
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
interpretação responsável por conferir uma análise específica ao material
subespecificado, o que decorre do fato de não se ter clareza quanto à
forma pela qual o parser tem acesso à informação não estrutural que é
responsável por determinar uma análise. No processamento de sintagmas
primários, em específico, no processo de reanálise, o acesso à informação
não estrutural pelo parser é viabilizado pelo processador temático
(RAYNER; CARLSON; FRAZIER, 1983; FRAZIER, 1990), que traduz
em um vocabulário legível para o parser informações concernentes ao
discurso e à plausibilidade, por exemplo. Seria preciso também tornar
explícito como o parser enxerga informações não sintáticas que são
responsáveis por guiá-lo na determinação de análise de um sintagma
secundário (associação > aposição).
Considerando, especificamente, o que poderia conduzir ou
encorajar o parser a avançar de uma simples associação para a aposição
de um sintagma, Swets, Desmet, Clifton e Ferreira (2008) enfatizam o
papel da demanda da tarefa experimental, propondo um diálogo entre
a Hipótese de Construal e a Teoria do Good-Enough (FERREIRA;
BAYLEY; FERRARO, 2002; FERREIRA, 2003; FERREIRA; PATSON,
2007; KARIMI; FERREIRA, 2015). O fundamento desta teoria é o
seguinte: o processamento da linguagem não necessariamente envolve
a construção de representações linguísticas acuradas, detalhadas e
completas, e isso seria uma decorrência do fato de que, em uma situação
real de comunicação, o objetivo do sistema de compreensão não seria
produzir representações ótimas a partir de uma computação sintática
minuciosa, mas, na verdade, entregar uma interpretação que é apenas
boa o bastante (good-enough) para permitir que o sistema de produção
gere uma resposta apropriada, contribuindo para o sucesso da interação.
Nessa linha de raciocínio, a profundidade de processamento do material
linguístico (em termos do grau de comprometimento sintático) estaria
relacionada ao objetivo da tarefa na qual os sujeitos estão engajados. O
“good-enough” em situação real de comunicação pode deixar de sê-lo
em uma situação de tarefa experimental, por exemplo.
A proposta de Swets et al. (2008) é a de que, posteriormente
à associação inicial do sintagma secundário, a busca por informações
que auxiliem a resolução da ambiguidade pode ser gradual, podendo
se estender ou não até a determinação de uma análise de acordo com
os objetivos do leitor. Nesse sentido, na ausência de um material
desambiguador e de uma pressão, em termos experimentais, para uma
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1405
aposição específica, a consulta a várias fontes de informação poderia ser
apenas superficial. Conforme os autores, a pressão para a realização de
uma aposição poderia advir do tipo de questão de compreensão presente
em uma tarefa experimental: dada uma ambiguidade quanto à aposição
de uma oração relativa, tal como em “Alguém atirou no empregado
da atriz que estava na varanda”, sujeitos em uma tarefa com questão
de compreensão focalizando a oração relativa tendem a realizar uma
aposição mais imediata, o que não ocorre no caso de uma tarefa com
questão de compreensão superficial, isto é, que não direciona para a
interpretação da oração relativa, na qual os sujeitos tendem, em verdade,
a deixar uma análise subespecificada.
É importante considerar, no entanto, as críticas tecidas por
Frazier (2008) à Teoria do Good-Enough. Conforme a autora, está
claro que o objetivo do sistema de compreensão da linguagem não é
computar uma representação sintática, mas esta computação seria um
meio necessário para se alcançar a mensagem pretendida pelo falante.
A sintaxe não seria apenas uma questão de “niceties of high style”,
mas uma forma de individualizar e acessar entidades e eventos, sem a
qual a interpretação poderia ser “a salad of word meanings”. Quanto
à subordinação do processamento linguístico à demanda da tarefa
experimental, a autora questiona a ideia de um controle estratégico da
computação sintática e diz que poderia até mesmo não ser apropriado
falar em “objetivo” do processador sintático, já que esse seria um sistema
de inferência automático. A autora especula, porém, que talvez a fase
mais interpretativa do processamento esteja mais aberta a efeitos de
profundidade de processamento em dependência da tarefa experimental.
O debate está aceso e o presente estudo insere-se nessa discussão
teórica geral na medida em que se propõe a investigar aspectos como:
subespecificação inicial de análise e determinação de análise através de
informação não estrutural no processamento de orações relativas em
português brasileiro.
3 Experimentos
Os experimentos realizados por Gilboy et al. (1995) eram de
medidas off-line, dando ênfase ao papel da referencialidade no processo
de interpretação das orações relativas. Porém, para verificar até que
ponto essa informação poderia influenciar o processamento on-line das
1406
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
orações relativas, inserindo-se mais diretamente na discussão sobre o
grau de subespecificação no processamento sintático que subjaz à noção
de associação proposta pelo Construal, optou-se por investigar não só o
momento mais reflexivo da compreensão, mas, sobretudo, o momento
reflexo. Nesse sentido, apresentaremos a seguir dois experimentos on-line
que conduzimos para compreender a natureza do fenômeno em questão.
3.1 Leitura automonitorada
Neste experimento, manipulamos a referencialidade do N2 e o
gênero do particípio da oração relativa, originando as seguintes condições
experimentais:
a) N2 Não Referencial / Aposição ao N1 (N2NR/N1)
O policial apreendeu/ a bolsa de couro/ que foi irregularmente
importada/ pela empresa.
b) N2 Não Referencial / Aposição ao N2 (N2NR/N2)
O policial apreendeu/ a bolsa de couro/ que foi irregularmente
importado/ pela empresa.
c) N2 Referencial / Aposição ao N1 (N2R/N1)
O policial apreendeu/ a bolsa do couro/ que foi irregularmente
importada/ pela empresa.
d) N2 Referencial / Aposição ao N2 (N2R/N2)
O policial apreendeu/ a bolsa do couro/ que foi irregularmente
importado/ pela empresa.
Tomamos como variável dependente o tempo de leitura do
segmento três, que contém o material desambiguador, e partimos da
hipótese geral de uma influência on-line da referencialidade do N2 e
da informação de gênero, assumindo, então, uma preferência geral pela
aposição alta da oração relativa quando o N2 é não-referencial mas uma
atenuação dessa preferência quando o N2 é referencial, com o gênero
do particípio sinalizando essas preferências. Nessa linha, elencamos as
seguintes previsões:
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1407
1) tempos de leitura mais lentos em (b) do que em (a);
2) tempos de leitura mais rápidos em (d) do que em (c), pois, em (d),
as duas variáveis convergem para a aposição local;
3) tempos de leitura mais rápidos em (d) do que em (b), pois, em (b),
o N2 não referencial não favorece a aposição local forçada pelo
gênero;
4) finalmente, tempos de leitura mais lentos em (c) do que em (a), pois
(c) contém um N2 referencial, que, potencialmente, favorece uma
aposição local, mas o gênero guia o parser para a aposição não local.
3.1.1 Método
a) Participantes
Participaram voluntariamente do experimento trinta e dois
graduandos de universidades estaduais e particulares de Campina Grande
(PB) (dos cursos de Direito, Enfermagem e Engenharia Química), todos
falantes nativos de Português Brasileiro e com idade média de 21 anos.
b) Material
O material compreendeu quatro conjuntos experimentais, cada
um com dezesseis sentenças experimentais e trinta e duas sentenças
distratoras: atendendo ao design 2x2, foram geradas quatro condições
experimentais, exemplificadas anteriormente, e, em cada conjunto
experimental, foram inseridas quatro sentenças experimentais por
condição e o dobro de sentenças distratoras. O modo de distribuição dos
itens experimentais em quatro conjuntos respondeu à lógica do design
do tipo quadrado latino e do design do tipo intrassujeito, de forma que
todos os participantes entraram em contato com todas as condições
experimentais, mas não com mais de uma versão de um mesmo item
experimental.
No que se refere à estrutura e ao modo de segmentação das
sentenças experimentais, elas apresentavam a seguinte estruturação: SN
+ V / SN complexo (N1 de N2) / oração relativa / Agente da passiva. A
estrutura do segmento 2 modificava-se entre as condições: nas condições
1408
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
N2NR, o N2 não era antecedido por um Determinante, diferentemente
do que era observado nas condições N2R. Ainda no que tange ao SN
complexo, o N1 e o N2 sempre diferiam quanto ao gênero: quando
o N1 correspondia ao gênero feminino, o N2 correspondia ao gênero
masculino, e vice-versa. A estrutura do segmento 3, que é o segmento
crítico, também se alterava entre as condições: nas condições N1, o
gênero do particípio concordava com o N1, direcionando para a aposição
não local da oração relativa, e nas condições N2, o gênero do particípio
concordava com o N2, direcionando para a aposição local da oração
relativa. O segmento 4 correspondia ao segmento pós-crítico e, também,
ao segmento final da sentença. Após este segmento, aparecia, em todos
os itens experimentais, uma questão de compreensão, que focalizava a
aposição da oração relativa ao N1, tal como “A bolsa foi importada?”,
para as sentenças mostradas anteriormente. Como a questão focalizava o
N1, nas condições (a) e (c), a resposta correta era SIM, e, nas condições
(b) e (d), a resposta correta era NÃO.
c) Procedimentos
O experimento foi realizado por meio da técnica on-line de
leitura automonitorada na modalidade não cumulativa. Os participantes
liam sentenças exibidas de maneira segmentada na tela do computador
e apertavam a tecla L para passar de um segmento a outro, respondendo
SIM ou NÃO à questão de compreensão que aparecia depois de cada
sentença. O aparato experimental abarcou um Macbook Apple, cujo
sistema operacional suporta o programa Psyscope, o qual foi utilizado
para programar e rodar o presente experimento.
Nas sessões experimentais, os participantes eram testados
individualmente, em uma sala isolada, e recebiam, antes da realização
da tarefa, instruções da experimentadora no que tange ao mecanismo
geral da tarefa. Além dessa instrução, os sujeitos participavam de uma
etapa de prática, na qual entravam em contato com oito sentenças que
possuíam estruturas distintas das estruturas das sentenças experimentais.
Cada sessão experimental durou cerca de 20 minutos e os sujeitos não
reportaram dificuldades na execução da tarefa.
3.1.2 Resultados
Os resultados obtidos na análise estatística do segmento crítico
não foram coerentes com as previsões: a análise da variância (ANOVA)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1409
não revelou efeito principal da referencialidade do N2 (F(1,31)=0,459;
p< 0,5) nem de gênero (F(1,31)=0,076; p<0,7), e também não revelou
efeito de interação entre as variáveis (F(1,31)=0,019; p<0,8). Os tempos
médios de leitura podem ser vistos no gráfico 1:
GRÁFICO 1 – Tempos médios de leitura do segmento crítico
Em busca de um efeito spillover, analisamos os tempos de leitura
do segmento pós-crítico. A ANOVA revelou efeito principal de gênero
(F(1,31)=8,34; p<0,007), evidenciando maiores tempos de leitura nas
condições N2 (gênero forçando aposição ao N2), mas não revelou efeito
principal da referencialidade do N2 (F(1,31)=1,29; p<0,2) nem efeito de
interação entre as variáveis (F(1,31)=1,51; p<0,2). Considerando o efeito
de gênero, as análises com Teste T revelaram uma diferença significativa
apenas na comparação N2NR/N1 vs N2NR/N2 (t(31)=2,79; p<0,008),
mas não na comparação N2R/N1 vs N2R/N2 (t(31)=1,28; p<0,21). Os
tempos médios de leitura podem ser vistos no gráfico 2:
1410
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GRÁFICO 2 – Tempos médios de leitura do segmento pós-crítico / final
Buscando entender a ausência do efeito de referencialidade do
N2, verificamos, também, o comportamento dos sujeitos diante do SN
complexo em si. Comparando os tempos de leitura do SN complexo na
condição N2NR com os tempos de leitura do SN complexo na condição
N2R, o Teste T revelou que os tempos são significativamente maiores
na condição N2R (t(31)=-2,41; p<0,02). Esse resultado evidencia que
os sujeitos computaram o determinante na condição N2R, embora ele
não tenha afetado o processamento da oração relativa subsequente. Os
tempos médios de leitura podem ser vistos no gráfico 3:
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1411
GRÁFICO 3 – Tempos médios de leitura do SN complexo
Diante da ausência de efeito da referencialidade do N2 nestes
dados on-line, analisamos os tempos de respostas e as respostas à
questão de compreensão. Vendo, primeiramente, os tempos de resposta,
a ANOVA não revelou efeito principal da referencialidade do N2
(F(1,31)=0,570; p<0,4), nem de efeito de interação entre as variáveis
(F(1,31)=0,467; p<0,4), mas revelou um efeito marginal da informação
de gênero (F(1,31)=3,65; p<0,06), com efeito marginal emergindo na
comparação N2NR/N1 vs N2NR/N2 (t(31)=1,79; p<0,08), mas sem
efeito significativo ou marginal na comparação N2R/N1 vs N2R/N2
(t(31)=1,12; p<0,27). Nessa linha, embora de forma não significativa
em termos estatísticos, os tempos para responder à questão foram, de
modo geral, maiores nas condições N2, como pode ser visto no gráfico 4:
1412
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GRÁFICO 4 – Tempos médios de resposta à questão de compreensão
Vejamos o padrão de respostas. Através de testes Qui-quadrado,
encontrou-se um número significativamente maior de respostas SIM do
que de respostas NÃO em todas as condições experimentais (N2NR/N1:
X2=91,125; p<0,05; N2NR/N2: X2=60,5; p<0,05; N2R/N1: X2=87,78;
p<0,05; N2R/N2: X2=40,5; p<0,05). Vizualizou-se, porém, um efeito
principal de gênero (X2=390,94, p<0,0003), com o gênero forçando
a aposição ao N2 aumentando significativamente a probabilidade de
respostas N2 (β=0,7817; SE=0,4096; z=1,909; p<0,05). As porcentagens
de respostas SIM (N1) podem ser vistas no gráfico 5:
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GRÁFICO 5 – Porcentagem de respostas SIM à questão de compreensão
Discutiremos esses resultados no subtópico a seguir.
3.1.3 Discussão
Com base nos dados obtidos, vemos que apenas a previsão (1)
foi corroborada. Verificamos que, em estruturas com SNs complexos
do tipo “substância”, não há uma preferência sistemática pela aposição
local da oração relativa, em oposição ao que seria predito pelo princípio
da Aposição Local (FRAZIER, 1979), mas há uma preferência geral
pela aposição não local, já encontrada anteriormente por Gilboy et al.
(1995) e Maia e Finger (2007) em uma etapa mais interpretativa da
compreensão. Supõe-se que a base dessa preferência de análise tem
relação com a natureza semântica do SN complexo “substância”. Em
SNs como “a bolsa de (do) couro”, vemos que a relação entre o N1 e o
N2, mediada pela preposição, é a de que “X é feito da substância Y”,
e essa relação não favorece (ou mesmo bloqueia) a introdução de duas
entidades discursivas no modelo mental, favorecendo, na verdade, uma
análise em que o N2 funciona apenas como modificador do N1, ambos
correspondendo a uma única entidade discursiva. Os dados sugerem
que o parser tem um acesso rápido à restrição imposta por essa relação
1414
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
semântica, daí a resistência1 que os sujeitos apresentam à construção
com N2 referencial.
Tal resistência e a ausência de efeito da referencialidade do N2
indicam que a implicação discursiva da adição do determinante ao N2 (a
sua introdução no modelo discursivo como entidade independente do N1
mas a ele relacionado via modificação) não foi a análise imediatamente
vista pelo parser. De fato, considerar o N2 como uma entidade discursiva
parece requerer um processo mais reflexivo, dado que o artigo definido em
si carrega pressuposição (HAWKINS, 1978; HEIM, 1982) e o experimento
não contou com contexto prévio. Uma objeção possível seria a de que
o N1 também é definido e também está sendo introduzido no modelo
discursivo mas, ainda assim, ele é selecionado como local de aposição.
Porém, é preciso observar que, no SN complexo em foco, o N1 e o N2
exibem status sintático e semântico distintos. Em termos gerais, o N1 é
o núcleo do SN complexo e é alvo de modificação restritiva, enquanto
o N2 justifica sua presença apenas em termos do N1. A nossa hipótese é
a de que essa “subordinação” sintático-semântica do N2 (em relação ao
N1) pode dificultar o seu processo de acomodação (HEIM, 1982), isto
é, pode dificultar a sua introdução no modelo mental em construção para
a sentença. O parser, portanto, enxergaria tal subordinação, mas não a
dimensão discursiva do N2 referencial.
Reconhecendo essa preferência geral pela aposição não local,
devemos refletir, agora, sobre o momento em que ela aparece no curso
da compreensão. Para tanto, podemos olhar para o efeito de gênero.
Em experimentos psicolinguísticos, o uso de material desambiguador é
elucidativo no sentido de poder indicar uma preferência de análise: se
uma análise X foi selecionada em um ponto de ambiguidade, o material
desambiguador, quando contrário à análise X inicial, pode gerar um
efeito garden-path e um processo de reanálise, o que causa um maior
custo computacional em comparação a um caso em que o material
desambiguador apenas corrobora a análise X. No nosso caso, o gênero
Nós estamos interpretando os maiores tempos de leitura na condição com N2
referencial como uma resistência pois não se observou um efeito dessa referencialidade
no processamento da oração relativa em si. Caso essa influência tivesse sido observada,
uma interpretação alternativa seria a de que os tempos estão refletindo um custo
associado à inserção e à integração de uma nova entidade no modelo discurso (cf.
Warren; Gibson, 2002; Grodner; Gibson; Watson, 2005).
1
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1415
é o responsável pela sinalização de que a análise X, aqui, é aposição
ao N1. O efeito de gênero foi encontrado no segmento pós-crítico, que
correspondia também ao segmento final, e poderia ser interpretado ou
como um efeito spillover de um processamento ocorrido no segmento
crítico em si ou como um efeito tardio no sentido de ter sido considerado
apenas em uma fase mais final do processamento, talvez como parte
de um wrap-up process (JUST; CARPENTER, 1980), que envolve a
integração de várias fontes de informação, chegando-se à compreensão
final da sentença. Essa discussão se mostra ainda mais pertinente ao se
considerar que já existe, na literatura, um debate quanto à sensibilidade
do parser a essa informação de gênero, com estudos propondo que ela
poderia ser tardiamente acessada (DE VINCENZI; DI DOMENICO,
1999) ou mesmo desconsiderada (BRYSBAERT; MITCHELL, 2000)
no processamento. Nesse sentido, o efeito de gênero, por si só, não
nos permite dizer, com categoria, se a preferência de aposição ao N1
foi imediata ou se houve uma subespecificação inicial de análise mais
prolongada.
Mas se assumirmos que houve uma preferência mais imediata
pelo N1, o efeito de gênero poderia ser entendido pelo menos de duas
formas, dada a falta de acurácia no padrão de respostas das condições N2
(gênero forçando a aposição ao N2): ele poderia ser o resultado de uma
resistência em considerar a possibilidade de apor a oração relativa ao N2
ou poderia ser visto como um sinal de reanálise, mas, nesse caso, de uma
reanálise parcial, pois, ao final, é o N1 que acaba sendo majoritariamente
escolhido. No âmbito da Teoria do Good-Enough (CHRISTIANSON;
HOLLINGWORTH; HALLIWELL; FERREIRA, 2001; RIBEIRO,
2008, 2010, 2012), tem sido considerada a ideia de má interpretação
de sentenças garden-path associada com realização de reanálises
incompletas, assumindo que o princípio da Composicionalidade, segundo
o qual o significado de uma sentença resulta da soma dos significados de
suas partes, poderia ser violado no processamento.2 Assim, os sujeitos
poderiam não ter nem iniciado a reanálise ou tê-la iniciado mas não
A Teoria do Garden-Path (FRAZIER, 1979) não assume esta hipótese, defendendo,
na verdade, uma construção composicional do significado das sentenças. Nessa linha,
após um efeito garden-path, para que a sentença seja devidamente interpretada, é
necessário que haja um processo de reanálise pleno.
2
1416
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
finalizado, tendo sido o gênero, de qualquer forma, desconsiderado na
fase mais final da compreensão, como evidenciado pelas respostas.
Para tentar esclarecer o efeito de gênero e compreender
melhor a influência da referencialidade marcada no N2, conduzimos
um experimento com rastreamento ocular. Essa técnica é, em geral,
caracterizada como mais natural (pela apresentação não segmentada das
sentenças, por exemplo) e mais sensível ao processamento sintático inicial
em comparação com outras técnicas, como a leitura automonitorada.
Acreditamos, portanto, que, por sua própria natureza, o rastreamento
ocular possa nos ajudar a esclarecer os dados obtidos neste experimento.
3.2 Rastreamento ocular
Neste segundo experimento, manipulamos, também, a
referencialidade do N2 e o gênero do particípio da oração relativa. As
condições experimentais foram as mesmas do teste anterior:
a) N2 Não Referencial / Aposição ao N1 (N2NR/N1)
O policial confiscou a bolsa de couro que foi importada irregularmente
pela empresa.
b) N2 Não Referencial / Aposição ao N2 (N2NR/N2)
O policial confiscou a bolsa de couro que foi importado
irregularmente pela empresa.
c) N2 Referencial / Aposição ao N1 (N2R/N1)
O policial confiscou a bolsa do couro que foi importada
irregularmente pela empresa.
d) N2 Referencial / Aposição ao N2 (N2NR/N2)
O policial confiscou a bolsa do couro que foi importado
irregularmente pela empresa.
Consideramos como região de interesse a forma participial
do verbo presente na oração relativa. Como variável dependente,
consideramos, inicialmente, o tempo de primeira leitura, que, sendo
associada às etapas mais iniciais do processamento sintático, corresponde
à soma da duração das primeiras fixações em uma região desde a primeira
fixação nessa região até ao seu abandono para a esquerda ou para a direita.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1417
Partindo da hipótese de um efeito imediato da referencialidade do N2 e
do gênero do particípio da oração relativa, fizemos as seguintes previsões:
1) Tempos mais lentos em (b) do que em (a);
2) Tempos mais lentos em (c) do que em (a);
3) Tempos mais lentos em (c) do que em (d);
4) Tempos mais rápidos em (d) do que em (b).
Caso o efeito da referencialidade do N2 e o efeito do gênero
não se mostrassem de imediato, poderíamos encontrar as diferenças
previstas acima em medidas mais tardias, como no tempo de segunda
leitura (que abarca os tempos relativos a todas as releituras da região,
incluindo a segunda, a terceira ou e as demais vezes que o leitor entrou
nessa região) e no tempo de leitura total (que corresponde à soma dos
valores da primeira e da segunda leituras).
3.2.1 Método
a) Participantes
Participaram voluntariamente do experimento vinte e oito
graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, todos falantes
nativos de português brasileiro e com idade média de 22 anos. Os sujeitos
receberam duas horas em sua carga horária do Curso de Letras pela
participação voluntária no teste.
b) Material
Assim como no experimento anterior, o material abarcou quatro
conjuntos experimentais, cada um com dezesseis sentenças experimentais
(quatro por condição) e trinta e duas sentenças distratoras. O modo de
distribuição dos itens experimentais respondeu à lógica do design do tipo
quadrado latino e do design do tipo intrassujeito, de forma que todos os
participantes entraram em contato com todas as condições experimentais,
mas não com mais de uma versão de um mesmo item experimental.
Os itens experimentais tinham a mesma estrutura das sentenças
do experimento anterior, com apenas uma modificação: o advérbio foi
1418
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
colocado, agora, após o material desambiguador.3 Com relação aos itens
lexicais, em todos eles, o N1 correspondia ao gênero feminino e o N2
correspondia ao gênero masculino. Após cada sentença experimental,
aparecia uma questão de compreensão (focalizando a oração relativa) e
duas opções de resposta: N1 e N2, tal como “O que a empresa importou?
( ) Bolsa ( ) Couro”,4 para os exemplos apresentados. Nas sentenças
experimentais, as respostas eram apresentadas sempre com o N1 à
esquerda e o N2 à direta; já nas sentenças distratoras, metade das respostas
corretas aparecia à esquerda e a outra metade aparecia à direita.
c) Procedimentos
O aparelho utilizado na coleta dos dados foi um rastreador modelo
EyeLink 1000, com uma câmera com acurácia de 1000Hz, configurada
para gravação monocular, acoplada a uma tela de 32 polegadas, com
resolução de 1920x1080 px. Foi utilizado aparato para a cabeça e a
testa do voluntário, enquanto seus movimentos oculares foram gravados
durante a leitura das frases. O programa usado para apresentação e
registro dos estímulos foi o “EyeTracker 0.7.10m” e a análise foi feita
utilizando-se os programas “Robodoc.py” e “EyeDry”.
O experimento foi aplicado na sala do Laboratório de
Psicolinguística Experimental – Lapex, na Faculdade de Letras da UFRJ.
Cada participante era instruído a ler frases, enquanto seus olhos eram
monitorados pelo aparelho. Após a instrução da tarefa, o participante era
posicionado no equipamento. O experimentador ajustava a cabeça e a
3
Intuitivamente, achamos que, com a antecipação do material desambiguador, o efeito do gênero poderia ser mais rápido e mais forte. Ferreira e Henderson (1991) propõem, nessa linha, que a distância entre o ponto em que uma análise é atribuída e o
ponto em que o material desambiguador aparece pode influenciar a força da análise
inicial na memória e, consequentemente, o processo de reanálise: quanto maior a distância, maior a força da primeira análise na memória, o que não favorece a reanálise.
Em um estudo de leitura automonitorada (não publicado), fizemos essa alteração, mas
nenhuma diferença significativa quanto ao efeito do gênero foi observada.
4
Respondendo a um dos revisores anônimos: usamos um tipo de questão diferente
do utilizado no experimento anterior pois, em um experimento ainda não publicado,
encontramos evidências de que o tipo de questão pode influenciar o comportamento
dos sujeitos, com uma questão como a do experimento 1, exemplo, diminuindo a
probabilidade de respostas N2.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1419
testa do voluntário no aparato, pois era importante que o voluntário ficasse
com a cabeça imóvel durante a aplicação do teste. Após o devido ajuste,
o voluntário tinha a sua pupila calibrada e validada. Nesse processo,
o participante era instruído a olhar fixamente para um círculo preto
que aparecia inicialmente no centro da tela e movia-se para 9 pontos
diferentes. Em seguida, o participante passava pela fase de validação, na
qual o aparelho checava todas as fixações oculares capturadas durante
a calibragem. Essa fase era de extrema relevância, pois apenas depois
da perfeita calibragem e validação da pupila do voluntário era possível
continuar com o procedimento.
Antes de cada frase, no canto medial esquerdo da tela, aparecia
um quadrado preto indicando que o participante deveria olhar fixamente
para este local, para que a frase pudesse surgir na tela. A frase só aparecia
se o participante estivesse fixando o olhar no quadrado preto. Isso
acontecia sempre antes de cada frase ser apresentada. Após a leitura
da frase, o participante era instruído a apertar um botão no joystick
(controle), autorizando o aparecimento da questão interpretativa. O
participante, então, respondia apertando o botão esquerdo ou direito, e
em seguida aparecia um novo quadrado preto, indicando o aparecimento
de uma nova frase, e assim por diante. Cada participante realizava a
leitura de 96 frases (16 frases experimentais e 32 frases distratoras,
com suas respectivas questões interpretativas). Era necessário que o
experimentador permanecesse na sala juntamente com o participante,
para manuseio do monitor principal, através do qual eram realizados
o processo de calibragem e validação, além do aceite das fixações dos
voluntários. No processo de aceite das fixações oculares, o experimentador
clicava com o mouse sobre a pupila do voluntário, sempre que estava
certo de que o participante estava, de fato, olhando para a área correta.
Tal procedimento acontecia sempre antes de o quadrado preto surgir e
consistia no aparecimento de um círculo preto no centro da tela, onde o
participante tinha que olhar fixamente, para que o experimentador pudesse
aceitar sua fixação. A duração de cada teste era em torno de 30 minutos.
Antes de cada experimento era aplicada uma prática, com o objetivo de
treinamento e apresentação da tarefa, com duração de 10 minutos.
1420
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
3.2.2 Resultados
Focalizando os dados de primeira leitura, a ANOVA5 revelou um
efeito principal de gênero (F(1,99)= 8,910; p<0,003), um efeito principal
da referencialidade do N2 (F(1,99)= 7569,304; p<0,001) e um efeito de
interação das variáveis (F(1,99)=29,024; p<0,001). A análise estatística
por pares com Teste T evidenciou como significativas as seguintes
comparações: N2R/N1 vs N2R/N2 (t(99)=28,899; p<0,001), com a
condição N2R/N1 exibindo tempos de leitura maiores; N2NR/N1 vs N2R/
N1 (t(99)=-59,700; p<0,001), com a condição N2R/N1 exibindo tempos
de leitura maiores; e N2NR/N2 vs N2R/N2 (t(99)=64,116; p<0,001), com
a condição N2NR/N2 exibindo tempos de leitura maiores. A comparação
N2NR/N1 vs N2NR/N2 não revelou uma diferença significativa (t(99)=1,291; p<0,1), havendo, porém, uma diferença numérica na direção
esperada. Estes dados mostram a pertinência das previsões (2), (3) e
(4) que elencamos anteriormente. Os tempos médios de leitura em cada
condição podem ser vistos no gráfico 6:
GRÁFICO 6 – Tempos médios de primeira leitura de “importado(a)”
Os dados de todas as medidas do rastreamento ocular que consideramos para análise não
apresentavam distribuição normal originalmente. Desta forma, para conduzir a ANOVA
e o Teste T, procedemos a uma transformação dos dados, o que fizemos por meio do
recurso “Transformação Box-Cox” disponibilizado pelo programa estatístico Action.
5
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1421
Analisando os tempos de segunda leitura, a ANOVA revelou
um efeito principal de gênero (F(1,67)=439,432; p<0,001), um efeito
principal da referencialidade do N2 (F(1,67)=433,157; p<0,001) e
um efeito de interação das variáveis (F(1,67)=422,247; p<0,001). A
análise estatística por pares com Teste T evidenciou como significativas
as seguintes comparações: N2NR/N1 vs N2NR/N2 (t(67)=21,138;
p<0,001), com a condição N2NR/N2 exibindo tempos de leitura
maiores; N2R/N1 vs N2R/N2 (t(67)=1,926; p<0,001), com a condição
N2R/N1 exibindo tempos de leitura maiores; e N2NR/N1 vs N2R/N1
(t(67)= 20,685; p<0,001), com a condição N2R/N1 exibindo tempos de
leitura maiores. A análise dos tempos de leitura total evidenciou efeito
significativo de gênero (F(1,99)=4,086; p<0,04) e efeito de interação
das variáveis (F(1,99)=4,857; p<0,02), com o Teste T revelando como
significativas as seguintes comparações: N2NR/N1 vs N2NR/N2 (t(99)=3,071; p<0,002), com a condição N2NR/N2 exibindo tempos de leitura
maiores; e N2NR/N1 vs N2R/N1 (t(99)=-2,126; p<0,03), com a condição
N2R/N1 exibindo tempos de leitura maiores.
Para entender melhor como os sujeitos lidaram com o N2
referencial em si, decidimos considerar uma segunda região de interesse:
o sintagma preposicional (SP) do SN complexo – “de (do) couro”, por
exemplo. Analisando os tempos de primeira leitura através do Teste
T, visualizamos que as condições com N2 referencial geram um custo
de processamento maior do que as condições com N2 não referencial
(t(193)=-2,140; p<0,03), como podemos observar no gráfico 7:
1422
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
GRÁFICO 7 – Tempos médios de primeira leitura do SP
Esse mesmo custo adicional visualizado nas condições N2R
apareceu nos tempos de leitura total do SP (t(193)=-3,815, p<0,0001),
mas não nos tempos de segunda leitura (t(145)=-1,323; p<0,1).
Finalmente, analisamos, também, os dados das respostas. Quanto
aos tempos de resposta, a ANOVA revelou efeito significativo de gênero
(F(1,111)=3428,890; p<0,001), efeito significativo da referencialidade
do N2 (F(1,111)=3471,358; p<0,001) e efeito de interação das
variáveis (F(1,111)=2069,417; p<0,001). A análise estatística por pares
efetuada com Teste T revelou efeitos significativos nas comparações
relevantes: N2NR/N1 vs N2NR/N2 (t(111)=152,373; p<0,001), com a
condição N2NR/N2 exibindo tempos mais lentos; N2R/N1 vs N2R/N2
(t(111)=52,190; p<0,001), com a condição N2R/N2 exibindo tempos
mais lentos; N2NR/N1 vs N2R/N1 (t(111)=-52,716; p<0,001), com a
condição N2R/N1 exibindo tempos mais lentos; e N2NR/N2 vs N2R/N2
(t(111)=-175,743; p<0,001), com a condição N2NR/N2 exibindo tempos
mais lentos. Os tempos médios de resposta podem ser vistos no gráfico 8:
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1423
GRÁFICO 8 – Tempos de resposta à questão de compreensão
Quanto às respostas em si, testes de Qui-quadrado de aderência
revelaram um maior número de respostas N1 nas condições N2NR/N1
(X2=63; p<0,001), N2NR/N2 (X2=3,9729; p<0,04) e N2R/N1 (X2=54,32;
p<0,001), não havendo diferença, porém, entre o número de respostas
N1 e N2 na condição N2R/N2 (X2=0,1428; p<0,7). Encontramos, nesta
linha, um efeito significativo de gênero (X2=485,01; p<0,001), com a
probabilidade de obter uma resposta N2 sendo significativamente maior
quando o gênero força a aposição ao N2 (β=1,5629; SE= 0,3450; z=4,531;
p<0,001), como podemos observar no gráfico 9:
1424
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GRÁFICO 9 – Porcentagem de respostas N1 à questão de compreensão
Esse conjunto de dados será discutido no subtópico a seguir.
3.2.3 Discussão
Os resultados deste experimento revelaram um efeito imediato
do gênero do particípio e da referencialidade do N2: quando o N2 é
referencial, há uma preferência imediata pela aposição da oração relativa
ao N2, com a condição com gênero forçando a aposição ao N1 causando
um maior custo no processamento. Já quando o N2 não é referencial,
sugerimos que haveria uma preferência imediata pela aposição ao N1.
Nesta linha, a associação inicial proposta pelo Construal (FRAZIER;
CLIFTON, 1996) seria rapidamente resolvida, produzindo uma aposição.
Esses dados são coerentes com o Princípio da Referencialidade (GILBOY
et al., 1995), segundo o qual, em caso de SNs complexos do tipo
“substância”, a chance de aposição local da oração relativa seria muito
maior quando o N2 é referencial do que quando o N2 não é referencial.
Considerando a natureza “substância” do SN complexo que estamos
focalizando, é interessante refletir sobre o custo adicional encontrado
no SN complexo que contém um N2 referencial. No experimento
anterior, este custo foi associado a uma resistência a um N2 referencial;
porém, nesse segundo experimento, a referencialidade do N2 parece
ter influenciado o processamento da oração relativa em si, de modo
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
1425
que tal custo poderia ser associado a uma resistência e a uma tentativa
de integração do N2 referencial no modelo discursivo. Neste sentido,
o custo maior na condição N2R/N1 na região do particípio (encontrado
nos tempos de primeira leitura, nos tempos de segunda leitura e nos
tempos de leitura total) estaria relacionado justamente à quebra da análise
discursiva do N2: considerando que uma sentença como “O policial
confiscou a bolsa do couro” não é bem formada em português brasileiro,
um N2 referencial nesse tipo de SN complexo só é possível na presença
de um modificador restritivo, que seria o responsável por estabelecer
o seu referente (cf. Hawkins (1978) para uma discussão sobre casos
de “Referent-Establishing relative clauses”, isto é, casos em que o SN
“pede” uma oração relativa pois ele, sozinho, não consegue introduzir
um referente), assim, quando o gênero do particípio bloqueia esta análise,
a integração discursiva do N2 fica prejudicada, com ele podendo ser
reanalisado como não referencial (o que explica o número equiparável
de respostas N1 nas condições N2NR/N1 e N2R/N1).
Considerando a interpretação acima, precisamos refletir mais
sobre dois resultados: o maior custo encontrado na condição N2NR/N2
(sobretudo nos tempos de segunda leitura e nos tempos de leitura total)
e o menor custo encontrado na condição N2R/N2 (sobretudo nos tempos
de primeira leitura e de segunda leitura). No primeiro caso, a questão
é se o custo pode ou não ser associado a um processo de reanálise, já
que os dados das respostas revelaram ainda uma preferência pelo N1. É
possível que, diante do N2 não referencial, os sujeitos tenham resistido
a uma aposição local, realizando o processo de reanálise em alguns
itens experimentais, mas em outros não; parece-nos legítimo considerar,
também, a possibilidade de o gênero forçando a aposição ao N2 ter
instaurado uma “dúvida” no processamento, com os maiores tempos
de resposta nesta condição podendo estar associados a uma decisão de
análise. Com relação ao menor custo na condição N2R/N2, que estaria
relacionado à convergência das variáveis manipuladas, é curioso observar
que, apesar da influência on-line da referencialidade do N2, houve um
número equiparável de respostas N1 e N2 à questão de compreensão, já
que esperávamos um maior número de respostas N2. Uma hipótese, aqui,
seria a de que a oração relativa foi, de fato, aposta ao N2 nesta condição,
com as respostas evidenciando que esta aposição não elimina a unidade
conceitual correspondente ao SN complexo: o processo “a bolsa feita de
(do) couro que foi importado irregularmente” implica a unidade-produto
1426
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1397-1431, 2017
“a bolsa de couro”, e, sendo o couro importado, a bolsa também o teria
sido, com este processo inferencial podendo estar associado aos tempos
de resposta mais lentos nesta condição.
Os resultados deste experimento são positivos pois evidenciam
uma influência imediata dos dois fatores que focalizamos em nossa
pesquisa: o gênero do particípio, que tem o potencial de nos revelar
uma preferência de análise, e a referencialidade do N2, que nos permite
investigar a influência de princípios não estruturais no processamento
sentencial. Vimos que o processamento da oração relativa é influenciado
pelo status referencial dos nomes que compõem o SN complexo, como
predito pelo Construal e pelo Princípio da Referencialidade (GILBOY
et al., 1995; FRAZIER; CLIFTON, 1996), e que o processo de
subespecificação envolvido no processamento de sintagmas secundários
pode ser rapidamente resolvido quando há uma informação útil disponível
(no nosso caso, a informação referencial já estaria disponível no SN
complexo em si).
4 Discussão geral
Uma questão principal motivou a realização do experimento de
leitura automonitorada: a informação não estrutural de referencialidade
pode influenciar as decisões iniciais do parser? Os nossos resultados
evidenciaram uma preferência geral pela aposição ao N1, com a
referencialidade do N2, em particular, não exercendo uma influência
na análise da oração relativa. Esses dados não nos permitem dizer,
simplesmente, que a referencialidade não influencia o processamento
inicial, haja vista que a preferência imediata pela aposição não local
observada também residiria na própria natureza referencial do N1,
como defendem Gilboy et al. (1995) para dados off-line, não sendo
o fruto da aplicação sistemática de um princípio estrutural. Assim,
seguindo o Construal, assumimos que o parser, ao encontrar a oração
relativa, procede a uma associação e a apõe, rapidamente, com base na
referencialidade do N1.
Duas questões principais motivaram a realização do experimento
de rastreamento ocular: (1) a informação de gênero é acessada de
imediato pelo parser? e (2) a referencialidade (do N1 e do N2) pode
influenciar o processamento inicial da oração relativa? Os resultados
permitiram esclarecer, em primeiro lugar, que não há um atraso no
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acesso à informação de gênero, o que nos faz interpretar o efeito de
gênero do experimento de leitura automonitorada como efeito spillover,
e, em segundo lugar, que a referencialidade do N1 e do N2 influencia o
modo de análise da oração relativa: quando apenas o N1 é referencial,
a aposição não local seria favorecida, mas quando o N2 é referencial, a
aposição local é que seria inicialmente favorecida.
Porém, os dois experimentos revelam, também, que o gênero
do particípio e a referencialidade do N2 podem eventualmente ser
desconsiderados pelo parser, sobretudo no momento mais interpretativo
do processamento sentencial, em favor de uma análise que parece ser
a predominante no tipo de estrutura em estudo: a aposição ao N1.
Ademais, a diferença entre os experimentos quanto aos resultados da
referencialidade do N2 aponta para como o uso de diferentes metodologias
experimentais pode ajudar a compreensão de um fenômeno. O modo
de apresentação dos estímulos, neste sentido, poderia ter um papel
importante: é legítimo cogitar a hipótese de que a não segmentação dos
estímulos no rastreamento ocular pode favorecer mais a compreensão e
a integração discursiva do N2 referencial do que a segmentação presente
na leitura automonitorada, na qual isolamos o SN complexo, aumentando,
possivelmente, a resistência ao N2 referencial e favoreceendo uma
decisão mais imediata de sua não introdução no modelo discursivo.
Por fim, as diferentes medidas fornecidas pelo rastreamento ocular nos
permitiram ver com mais clareza o que seria um efeito imediato ou tardio
de nossas variáveis.
Em suma, fornecemos evidências de que o processamento de
orações relativas associadas a SNs complexos do tipo “substância” é
influenciado pela referencialidade dos núcleos que compõem tais SNs.
Certamente, precisamos compreender melhor, por exemplo, a resistência ao
N2 referencial vista, sobretudo, no primeiro experimento. Já comentamos
que a relação sintático-semântica estabelecida entre o N1 e o N2 pode não
favorecer a introdução do N2 referencial no modelo discursivo, e estamos
trabalhando para alcançar uma explicação mais precisa.
Agradecimentos
Agradecemos ao professor Marcus Maia pelo seu apoio ao disponibilizar
o equipamento e o ambiente físico necessários para a aplicação do
experimento de rastreamento ocular. Agradecemos aos dois revisores
anônimos pelas contribuições para a melhoria do texto.
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Referências
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FERREIRA, F. Thematic roles assigned along the garden-path linger.
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CUETOS, F.; MITCHELL, D. C. Cross-linguistic differences in
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FERREIRA, F. The misinterpretation of noncanonical sentences.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
An ERP study of kind-denoting nouns
in the subject position in Brazilian Portuguese
Um estudo neurofisiológico de nomes que denotam tipo
na posição de sujeito em português brasileiro
Aniela Improta França
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
aniela@gmail.com
Maurício Cagy
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
mauricio.cagy@gmail.com
Antonio Fernando Catelli Infantosi
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
mcagy@peb.ufrj.br
Resumo: A referencialidade é um tópico que sempre renova o interesse
da linguística teórica e experimental. Isso porque as referências são
recursos fundamentais das línguas naturais que estabelecem uma relação
entre a língua no cérebro e as coisas do mundo lá fora. Este experimento
investiga duas condições referentes a mecanismos de referencialidade:
uma relaciona-se a um NP não específico na posição do sujeito e a outra
se relaciona a um NP que denota tipo influenciado por um contexto
especial de Conhecimento do Mundo. A comparação entre as duas
condições nas suas versões congruente e incongruente revelou que a
Condição do Conhecimento do Mundo apresentou um ERP (N400) com
latência mais curta. Já que as sentenças são percebidas em uma ordem
linear e que o sujeito em português (língua SVO) vem na frente, aqui se
propõe que o acesso ao sujeito pragmaticamente saliente na sua posição
sentença-inicial abre, logo de início, uma moldura pragmática e pode
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1433-1461
1434
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
restringir a seleção no verbo-complemento, fazendo com que o merge
verbo-objeto se dê de forma mais rápida. Isso pode explicar porque o
N400 relacionado aos estímulos do Conhecimento do Mundo apareceu
mais cedo do que na Condição de Controle. Adicionalmente, encontrouse um ERP positivo em torno dos 600 ms apenas presente nos estímulos
da Condição de Conhecimento do Mundo e ausente na Condição de
Controle. A interpretação deste achado é que o pleno acesso ao conteúdo
pragmático que está no sujeito só ocorre após o merge do complemento
ao verbo.
Palavras-chave: hipótese sintaxe-primeiro; pragmática no processamento
de sentenças; extração de potenciais relacionados a evento; N400-P600.
Abstract: Referring is a permanently hot topic in theoretical and
experimental linguistics since references establish the fundamental
relationship between parts of language in the brain and things out there
in the world. This experiment investigates two conditions pertaining to
reference mechanisms: one relates to a generic NP in the subject position
and the other to an NP that is influenced by a special World Knowledge
context. The comparison between the two conditions in their congruous
and incongruous versions depicts a shorter latency for the N400 ERPs of
the World Knowledge stimuli. Since linguistic input gradually reaches
the reader from left to right, we propose that the access to a pragmatically
salient subject in its sentence-initial position, by opening a window
into World Knowledge, may restrict selections in the verb-complement
merge more speedily than pragmatically unmarked subjects. This may
explain why the N400 related to the World Knowledge stimuli appeared
earlier than that of the Control Condition. Additionally, we found a later
positive ERP around the 600ms only present in the World Knowledge
stimuli and absent in the Control condition. The interpretation of this
finding is that full access to the pragmatic contents of the subject only
takes place after the verb complement merge.
Keywords: syntax-first hypothesis; pragmatics in sentence processing;
event-related brain potentials; N400-P600.
Recebido em: 5 de janeiro de 2017
Aprovado em: 10 de abril de 2017
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
1435
1 Introduction
Referring is a permanently hot topic in theoretical and
experimental linguistics, since it takes the fundamental role of
establishing a relationship between parts of language in the brain and
things out there in the world.
Referring can take place in a number of ways. Typically, a
referential expression (RE) is a Noun (N) that successfully picks out a
definite referent in the world because the words in the expression and the
way they are combined produce an accurate description of such referent,
in such a way that the hearer of the expression can recognize the speaker’s
intention. (HAVILAND; CLARK, 2002; CLARK; SENGUL, 1979).
Notice, for instance (i) and (ii).
(i)
The dentist pulled the tooth easily
(ii)
Donald pulled the tooth easily
In (i), the noun dentist activates a specific piece of structured
encyclopedic knowledge which is inextricably connected with that
linguistic RE. Contrastingly, in (ii), out of a specific context or deitic
situation, Donald is an RE that conveys poorer content, since it picks
out any human being in the world to refer, just based on gender and
number traces. Thus, this not-specific Donald exerts less attractive
power in relation to pull and tooth than the dentist, because the latter is
a kind-denoting RE.
But if the nouns in the subject position in (i) and (ii) are REs of
different nature, it is important to verify how such contrasting nouns,
respectively semantically rich and poor, might impact the online
processing of these sentences.
At this point, holding minimal assumptions about on-line
comprehension, it is safe to say that we parse an acoustic stream into
discrete units that come into our ears incrementally. So, necessarily, part
of the task is to identify the onset of each new syllable and combine
syllables into words, phrases and sentence. As of the identification of the
first words, there is profuse evidence that we take a very active, or better,
proactive step in trying to anticipate incoming material, so that incoming
items can, without a delay, be represented and incorporated into existing
representations (SCHUBERTH; EIMAS, 1977; STANOVICH; WEST,
1436
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1981; ALTMANN; STEEDMAN, 1988; ALTMANN; KAMIDE, 1999;
FEDERMEIER, 2007; ITO et al., 2016; FREUNBERGER; ROEHM,
2016).
So, beyond the phonemic identification, during language
processing, perceivers have a range of data at their disposal that they
process on the fly: knowledge about the formal properties of language,
semantic knowledge about contents and maybe even knowledge about
pragmatics. But at what speed? What kicks in first? Does processing
follow the linear acoustic or visual input order only or is it subject to a
non-linear algorithm? Predictions depend on one’s theoretical standing.
For instance, under a syntax-first account, inspired by the
Minimalist framework (CHOMSKY, 1993), the assumption is that before
any sentential meaning can be achieved, there is necessarily an intricate
formal algorithm that secures structural hierarchy whirling around the
vP, that includes the merge between the internal argument and the verb
first. In this account, which is explicitly derivational, the sentence is built
from the bottom up, bit by bit. Thus, since processing is incremental,
in an SVO language, for a split of second, this syntax algorithm would
make the listener ignore the noun that reached the ears and was perceived
first, be it the dentist or Donald, to start work on the verb and its internal
argument. Then the complete vP can license the external argument and
merge with it. So, pulled the tooth is OK and needs an agent that can
be the dentist or a human named Donald. Thus, the functional elements
within the vP would be checked first, and the syntactic operations should
be momentarily blind to the root content of the noun in the subject
position regardless of its referential nature (CHOMSKY, 1998). In this
view, the pragmatic frame deployed by the root of dentist would not be
explored in the same time window as the one that applies to the vP, which
is explored first (GOMES, 2014).
Contrastingly, taking a cognitivist, pragmatic approach to how
sentential meaning is attained, Fillmore (1982, 2007) advances that REs
like dentist are qualitatively special because they are semantically rich
and they immediately activate a private history of that concept in the
hearer’s brain. This frame encompasses a coherent structure of related
concepts, such as pull and tooth, that get combined by attraction of
frequent use together. Thus, a frame would entail a net of facts about
our world knowledge (WK) that can be retrieved from memory and that
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1437
refers to an entity kind, in this case that of a human being who works
taking care of someone else’s teeth.
Under the semantic-first account, the predictions would be that
when processing starts, due to the pressure for fast linguistic decisionmaking, frugal heuristics takes place and the pragmatic frame deployed
by the semantic content in the roots of dentist, pull and tooth is explored
first. For these theories, the content of such roots is immediately
inspected and suffers attraction, rejection and other surface effects that
ultimately motivate syntax (KOS et al., 2010; KIM; OSTERHOUT, 2005;
KUPERBERG et al., 2007; CHOW; PHILIPS, 2013).
The big question is to decide which account is closest to the
neurophysiological reality of such cognitive computations. When are
these pieces of knowledge triggered and what triggers them – syntax,
semantics or pragmatics – to be used online while processing language
in the brain? How do these pieces of knowledge interact toward the final
understanding of the sentence? What constraint is satisfied first?
In order to investigate these complex issues affecting the rapid
online integration of syntax, semantic and world knowledge information,
we built an online investigation of Brazilian Portuguese sentences using
a useful technique in neuroscience of language. It is the event-related
brain potential (ERP): the extraction, from the electroencephalogram
(EEG) recording of raw brain activity, of the clean electrical potentials
specifically related with the brain activity one wants to study, in this
case, language processing. The technique consists of time-locking a
target linguistic unit to the corresponding EEG signal emitted by the
participant’s brain. With this time-locking procedure it became possible to
pinpoint the exact instant that the target linguistic stimulus was presented
to the volunteer and the exact time it provoked a reaction (the cortical
response) related to that part of the stimulus (cf. KUTAS; HILLYARD,
1980; KUTAS; HILLYARD, 1984; KUTAS et al., 1984, FRIEDERICI,
1995; LAGE, 2005; LI; YANG; HAGOORT, 2008).
For our basic comparison, we contrasted two conditions:
Condition 1: World Knowledge (WK) sentences, like those in (i); and
Condition 2: Control Sentences (CT) like in (ii). Thus, our objective
is to time in milliseconds the impact that a kind-denoting noun in the
subject position of our WK condition compared to a non-specific one of
our CT condition will pose on the course of processing, just as it reaches
the object.
1438
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We are embracing the syntax-first hypothesis that supports a
single processing stream, syntax all the way down. (GOUVEA, 2010;
GOMES, 2014; GOMES, FRANÇA, 2015; STOCKALL; MARANTZ,
2006; PHILLIPS; LEWIS, 2009; LAU et al., 2006). If this hypothesis is
correct, the special content of a kind denoting noun in the subject position
should not hasten processing, since, at first, the semantic content of the
noun in the subject position would not be inspected. As we shall see,
this prediction bears interesting connections with neurophysiological
markers for semantic congruence in the ERP literature and motivated
the two additional conditions that we inserted in this test.
During the first thirty years of linguistic ERP research since
the 80’s, among the most commonly extracted ERP waves were those
related to the semantic violations coinciding with the merge operation
between the verb and its complement. The usual paradigms stimulate
participants with sentences that contrast minimally as to congruence like
in (iii) and (iv):
(iii)
John ate the sandwich yesterday
(iv)
John ate the sandal yesterday
Experimenters most commonly set the trigger for the stimulation
point immediately after the verb and measure the ERP at that point,
which relates to the exposure to the object. The literature shows that
ERP peak amplitudes related to (iv) are higher than those related to (iii)
and the difference between the two is statistically significant (KUTAS;
HILLYARD, 1980; KUTAS, HILLYARD, 1984; HOLCOMB; NEVILLE,
1991, FRANÇA et al., 2004). Usually the interpretation is that sandals is
incongruous in the context of eat and therefore integration efforts result
in augmented ERP amplitudes.
This very robust phenomenon, consistently tested across over
100 languages, can be described as an enlarged negative-going eventrelated potentials (ERP), peaking at around 400 ms post-stimulus: the
N400. The cortical reaction to such sentences has been widely described as
a consequence of an increased difficulty in morpho-syntactic integration
due to the fact that the semantic features of the noun cannot be integrated
with the event the requirements set by the verb. The current study will also
build on this legacy by proposing two additional conditions, presented
in (iv) and (v) as Conditions 3 and 4. These are incongruous versions of
Conditions 1 and 2.
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(v)
(vi)
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The dentist pulled the thunder easily
Donald pulled the thunder easily
Since ERPs are very sensitive to incongruous conditions, this
well-tested congruence contrast for the N400 response was included
in our test hoping it might interact with contextual or pragmatic data
built-in via the subject, promoting an even more amplified ERP response
that could discriminate better among conditions. Thus, crossing the
two conditions relating to the subject semantics (world knowledge and
control) with the two congruity versions (congruous and incongruous)
we arrived at 4 conditions, that can be depicted in Table 1.
TABLE 1 – An example of a set of experimental stimuli in the four experimental
conditions to be applied within-subject
Conditions
Sentences
Control Congruous (CTCC)
O Maurício tirou o dente com facilidade
Maurício pulled the tooth easily
Control Incongruous (CTIC)
O Maurício tirou
o trovão com facilidade
Maurício pulled the thunder easily
World Knowledge Congruous (WKCC) O dentista tirou
o dente com facilidade
The dentist pulled the tooth easily
World Knowledge Incongruous(WKIC) O dentista tirou o trovão com facilidade
The dentist pulled the thunder easily
We devised an experimental approach to compare sentences
that are exactly the same in all their syntactic aspects, but that have
semantically rich and poor REs in the subject position and congruous or
incongruous nouns in the object position. Notice the stimuli in the four
conditions have identical syntactic configurations: [subject [verb-object]],
despite the fact that those in WK condition include world knowledge
scenarios, and those in the Control condition that have a poor content
RE in the subject position.
Thus, most crucially, exploring the predictions supposedly
held by the Semantic-first account, if there is immediate inspection
of the content of the noun in the subject position, CTCC should get a
greater latency effect than WKCC. For instance, under this hypothesis,
in stimulus 1, the world knowledge information inserted in the subject
1440
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
dentist should narrow down the list of candidates for pull and the checking
of the best candidate, tooth, should hasten the low amplitude N400 that
will be formed after the verb.
Concerning the two incongruous conditions – CTIC and WKIC
– the incongruence effect measured by the amplitude of the N400 should
be enlarged in WKIC when compared with that in CTIC, due to the
frustrated anticipation for a specific, focalized noun in the object position:
in WKIC instead of the very predictable tooth the participant gets thunder.
In CTIC, after pull, predictions include anything that can be pulled, so
this unfocused, widespread activation of many candidates should soften
the impact of incongruous thunder while enlarging its latency.
Contrastingly, under the perspective of Syntax-first approach,
CTCC and WKCC should be exactly the same: the first noun comes in but it
should not be fully inspected semantically. Then, when the verb pull comes
in, there is anticipation for a large number of possible complements and
among them, one is tooth. So, when the object comes and is semantically
interpreted in both congruous conditions, it is judged as a compatible
complement and the cortical reaction that derives from the integration of
the verb and its complement should be a small amplitude N400.
Again, under Syntax-first, CTIC and WKIC should be the same,
since there is no special semantic contribution coming from the subject.
So, the verb pull should elicit anticipation for a large number of possible
complements and thunder is not among them. So, when the object comes
in, it should be semantically interpreted and judged as incompatible
with the verb and the integration efforts are supposed to cause a cortical
reaction of a high amplitude N400, the classical incongruence effect.
2 Materials and methods
This EEG-ERP test in its final configuration1 was approved by the
Ethics Committee of the University Hospital of the Federal University
An early version of this test was applied in 2006, and was registered as a work in
progress in a non-commercial CD, internally distributed to the members of “GT de
Psicolinguística da Anpoll”. The idea of the CD, organized by Marcus Maia and Ingrid
Finger, was to increase the synergy among the group members of the GT by presenting
their on-going, unfinished research. The version presented here includes 10 more
participants, a revision of the stimuli and a full digestion of the findings.
1
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1441
of Rio de Janeiro, under the registration #113.05 (CEP – HUCFF/
UFRJ).2 This committee also approved an informed consent form, that
experimenters handed in to each participant prior to the beginning of
the test. The form explained the methodology, its marginal risks and
emphasized the fact that the participant may quit the test at any moment,
and that no questions would be asked. The form was signed by all
participants who took the test.
2.1 Participants and stimuli
While monitored by a 20 channel EEG, 34 right-handed
participants (13 males) engaged in a computerized grammaticality
judgment test. All participants were within the 18-39-age bracket (cf.
Figure 1). Their mean age was 25.9 years (standard deviation, 3.0). All of
them had a college education (complete or partial) and were previously
screened for systemic diseases and for the current use of antidepressants
and had normal or corrected-to-normal vision.
FIGURE 1 – Dispersion of participants’ age (orange diamonds). Average (green line)
The experiment had a factorial design of 2x2, with 4 conditions.
There were two independent variables related to the semantics of the
noun in the subject position: non-specific, here named Control (CT),
and kind-denoting, here named, World Knowledge (WK); each one had
This project was submitted to the ethics committee by Professor Antonio Fernando
Catelli Infantosi, a brilliant and most esteemed signal processing scholar from COPPEUFRJ, co-author of this study, who died in 2016.
2
1442
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two levels: congruous (C) and incongruous (I). This design gave rise to
four conditions: CTCC; CTIC; WKCC; WKIC. The stimuli in each of
these conditions were designated to participants according to a withinsubject distribution.
There were 160 experimental sentences divided among the four
conditions. So there were 40 sets of stimuli like that in Table 1. Since
there were four conditions, the within-subject distribution demanded we
assigned participants to one of four test versions, so that participants did
not see the same stimuli in more than one condition.
Each participant saw 40 experimental sentences, out of a total of
160 experimental sentences used in the test. Each participant was also
assigned to 80 distractor sentences (40 congruous and 40 incongruous).
All the 120 sentences each participant saw (40 experimental stimuli and
80 distractors), were displayed in a pseudo-random manner in order to
perfectly control for sequential effects.
Both the subject and the object in all experimental sentences were
introduced by a morphologically open DP (definite article) since proper
nouns in Portuguese can be introduced by determiners. So this means that
the control and the world knowledge conditions were formed by a DP_NP
in the place of the subject. The occurrence of masculine and feminine
determiners in the subject position was balanced among conditions.
The distractors were pseudo-randomly mixed with the
experimental stimuli and were formulated so as not to present only
verb-complement selections as those in the target stimuli. For instance,
while all experimental sentences included a transitive verb with agentive
subjects, some distractors included intransitive verbs or light verbs and
adverbials.3
Some of the distractor sentences were: (i) O José trabalha muito no inverno (he works
a lot in the winter); (ii) Ela sempre sorri as bananas verdes (she always smiles the green
bananas); (iii) Os supermercados são caros (the supermarkets are expensive); (iv) Os
policiais têm penas azuis (the policemen have blue feathers). Sentences of type (i),
with pronominal subjects and congruous semantics, were formulated to be distractors
for congruous Control condition sentences. Sentences of type (ii), with pronominal
subjects and incongruous semantics, were formulated to be distractors for incongruous
Control condition sentences. Sentences of type (iii), with content subjects and congruous
semantics, were formulated to be distractors for congruous WK condition sentences.
Finally, Sentences of type (iv), with content subjects and incongruous semantics, were
formulated to be distractors for incongruous WK condition sentences.
3
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1443
In selecting the stimuli, the criteria of word-length in syllables
was taken into consideration. As to the frequency assessment, in the
absence of a Brazilian Portuguese equivalent to a Cobuild Corpus and
Frequency Levels, we resorted to a rating scale assessment, like the
Likert scale of 7 levels, in which 1 corresponded to most infrequent and
7 to most frequent (DALMORO; VIEIRA, 2013).
We applied this test to 45 undergraduates of the Engineering
school of the Federal University of Rio de Janeiro. We put together a
collection of 100 nouns and we tested each one of them as to frequency
before we made our stimuli. At the end, we selected only the nouns that
achieved scores 6 or 7 by at least 75% of the participants. One item of
the test follows as an illustration of the frequency test:
FIGURE 2 – Likert Scale presented to participants
How frequently do you use the word BABY?
1
never
2
rarely
3
sometimes
4
often
5
very often
6
great deal
7
always
Forty-three out of the 45 respondents (95%) rated the word bebê
(baby) as 6 or 7 in the scale, since they reported using it “a great deal”
or “always”. Thus, we selected BEBÊ as a suitable word to make one
of the stimulus sentences of the test. Contrastingly, the word quadro
(painting) was rated as 4 “used often” by 61% of the respondents, and
was, thus, eliminated from the word collection used in the preparation
of the experimental stimuli.
TABLE 2 – Additional examples of experimental stimuli in the four conditions
2
CTCC
O Marcelo apagou o fogo rapidamente
Marcelo put out the fire rapidly
CTCI
O Marcelo apagou a alma rapidamente
Marcelo put out the soul rapidly
WKCC
O bombeiro apagou o fogo rapidamente
The fireman put out the fire rapidly
WKIC
O bombeiro apagou a alma rapidamente
The fireman put out the soul rapidly
1444
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3
CTCC
A Angela curou o bebê totalmente
Angela healed the baby completely
CTCI
A Angela curou o livro totalmente
Angela healed the book completely
WKCC
A médica curou o bebê totalmente
The doctor healed the baby completely
WKIC
A médica curou o livro totalmente
The doctor healed the book completely
CTCC
O Antonio puxou a arma na hora
Antonio pulled the gun instantly
CTCI
O Antonio puxou a praia na hora
Antonio pulled the beach instantly
WKCC
O soldado puxou a arma na hora
The soldier pulled the gun instantly
WKIC
O soldado puxou a praia na hora
The soldier pulled the beach instantly
4
5
CTCC
A Fernanda tocou a valsa muito bem
Fernanda played the waltz very well
CTCI
A Fernanda tocou o cheiro muito bem
Fernanda played the smell very well
WKCC
O músico tocou a valsa muito bem
The musician played the waltz very well
WKIC
O músico tocou o cheiro muito bem
The musician played the smell very well
2.2 The stimulation protocol
Stimulus sentences were presented kinetically, word-by-word,
on the computer screen, commanded by a script written in Presentation
0.5 (Neurobehavioral Systems, Albany, USA). Participants read test
instructions on the screen followed by a warm-up drill that checked
their comprehension of the protocol. After the warm-up, participants
could receive additional coaching from the experimenter, in case doubts
about the protocol still lingered. When ready, participants would start the
congruity judgment test, that followed the timeline in Figure 3.
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1445
FIGURE 3 – The timeline of the experiment
Each word was centrally displayed on the monitor for 200 ms,
formatted with white, 14-point, Times New Roman font over a black
screen (170 monitor with a 1024 X 768 resolution). At the onset of the
display of words 5 and 7, a trigger (square wave) was sent via parallel
port to the computer that controls the experiment. This trigger is coupled
to the waves sent by the EEG in a way to visually label them.
After the presentation of the last word of each sentence, subjects
were to judge the stimulus for incongruence or congruence by pressing
either the red N or green Y keys that are special keys that are placed on
top of two regular keys in the computer keyboard, respectively to respond
to the stimuli (cf. Figure 4).
FIGURE 4 – The keyboard with two specially identified keys,
respectively for Y and N responses
This task allowed us to verify if participants were engaged in the
experiments and were reading the sentences attentively. The high rate
of correct responses in this off line test might indicate that participants
were in fact distinguishing between congruous and incongruous stimuli.
Response wait would time-out after 1000 ms. Following the event of
judgment or time-out, a white fixation cross was displayed for 1500 ms
before the first word of the next sentence was presented.
1446
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2.3 EEG Acquisition
EEG signal was continuously recorded during the whole
experimental session from 20 monopolar derivations. Silver-tip electrodes
were topographically positioned according to the International 10-20
System (Jasper, 1958), with averaged mastoid reference and ground at FPz.
Electrode impedance was controlled to normal values (for EEG,
lower than 5 kW). Signal was amplified (gain = 18,000) and treated with
low-pass (cut-off frequency of 32 Hz) and high-pass filtering (0.8 Hz).
This filter allows the removal of all slow and constant electrical waves
from the signals. All EEG derivations were digitized with a sampling
frequency of 1000 Hz (12-bit analog-to-digital resolution) and were
stored for off-line processing.
2.4 ERP Waveform Estimation
The multi-channel EEG digital processing of all experimental
sentences was performed using Matlab version 5.2 environment (The
MathWorks, Inc., MA). The original signal of each subject was segmented
into epochs from 500 ms before up to 1500 ms after the onset of the target
words. Then, an algorithm for artifact rejection was applied to each signal
epoch. This algorithm consisted of comparing each EEG sample to a
threshold, defined as 1.35 times the Root Mean Squared (RMS) value of
an artifact-free individual EEG raw signal. The epochs that presented,
within the time interval 0-800 ms, 10% of all samples or 5% of consecutive
samples with absolute value above this threshold were discarded.
The ERP was then estimated by coherently averaging the
epochs relative to congruous (or incongruous) EEG response for each
topographic derivation of a subject. Hence, ERPs were time-locked to the
onset of the stimulus-trigger for each of the two conditions (congruous
and incongruous). A 100 ms pre-stimulus period was used to correct the
baseline of each epoch. Individual ERPs were then low-pass filtered (cutoff frequency of 7 Hz, 2nd order Butterworth, applied bi-directionally
for obtaining null phase frequency-response, i.e. no phase distortion,
and consequently no change in latency). Figures 5 and 6 show the
resulting grand-average of the 34 individual ERPs, from 100ms before
up to 1000ms after the trigger word, where thick and thin lines refer to
incongruous and congruous sentences respectively. Negative waves are
plotted upward in accordance with ERP literature.
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1447
3 Results
FIGURE 5 – Grand-average ERPs from 34 right-handed subjects submitted
to the Standard Condition
Note: EEG was extracted from 20 different cortical regions, in accordance with the
International 10-20 System and with averaged mastoid reference (medial line: Fz, Cz,
Pz and Oz; Fp2, F4, F8, C4, T4, P4, T6, O2 and their homologous). The thin line refers to
ERPs resulting from congruous sentences and the thick line to those of the incongruous
ones. Negativity is plotted upwards.
1448
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FIGURE 6– Grand-average ERPs from 34 right-handed subjects submitted
to the Standard
Condition. EEG was extracted from 20 different cortical regions,
in accordance with the International 10-20 System and with averaged
mastoid reference (medial line: Fz, Cz, Pz and Oz; Fp2, F4, F8, C4, T4,
P4, T6, O2 and their homologous). The thin line refers to ERPs resulting
from congruous sentences and the thick line to those of the incongruous
ones. Negativity is plotted upwards.
3.1 Wave Morphology Reading
Since there are specific cerebral regions that respond to specific
linguistic stimuli, the manipulation we introduced through the careful
streamlining of the stimulus sentences in each condition affected mainly
a specific cerebral region: the left centro-parietal derivations. To make
interpretation of the ERPs easier to follow, we prepared Figures 7 and
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1449
8 that show the congruous – incongruous contrast in ERPs picked by
electrodes that were positioned in this left centro-parietal region of
interest.
FIGURE 7 – ERPs in the Control Condition in 4 derivations of interest
Legend: Thin line is congruous and thick line incongruous,
the stars stand for statistically meaningful wave contrast.
In terms of latency, in the Control Condition (Figure 7), the
amplitude of the incongruous N400 wave (thick line) is higher than that of
the congruous one. Concerning the overall morphology, congruous and
incongruous show similar shapes. Notice also that this condition yields
basically one ERP within the 400-800 ms window.
1450
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FIGURE 8 – ERPs in the World Knowledge in 4 derivations of interest
Legend: Thin line is congruous and thick line incongruous,
the stars stand for statistically meaningful wave contrast.
In terms of latency, in the World Knowledge Condition (Figure
8), the amplitude of the incongruous N400 wave (thick line) is higher
than that of the congruous one. Concerning the overall morphology,
congruous and incongruous show similar shapes. Notice also that this
condition yields basically two ERPs within the 400-800 ms window. At
around 400 ms, derivations with the largest amplitude make up an early
N400 peak varying topographically from 300 to 375 ms. On the other
hand, in the Control condition, the N400 exhibits a smaller topographical
variability (range of 330-377 ms) (Figure 8). Beyond the N400, in the
WK condition we also find a positive potential (cf. Cz, Pz, P3), that
deepens at around 560-620 ms, whose amplitude is considerably larger
in the incongruous stimuli. This second wave is absent in the Control
Condition. The amplitude of the incongruous N400 is also higher than that
of the congruous one, but the ERP waveforms particularly in P3, Pz and
P4 show noticeable differences.
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1451
3.2 Statistical Reading
Although there are considerable latency differences between the
Control and WK N400 ERPs (cf. Figures 7 and 8, Table 3), there is no
evident difference in the N400 latency between congruous and incongruous
ERP within each condition. Therefore, no statistical comparison was
performed related to N400 latency. Nevertheless, a comparison of N400
instantaneous amplitude between individual ERPs from incongruous (I)
and congruous (C) sentences in each condition was carried out by means
of the Running t-Test (HAGOORT et al., 2004).
TABLE 3 – Intervals in which the waveforms for incongruous and congruous
sentences differ significantly (between brackets).
Derivation
Control Latencies
in ms
Control
Waves
WK
Latencies
in ms
T3
[345-460]
[365-430]
[715-790]
T5
[505-725]
[370-410]
F3
[315-430]
[255-420]
C3
[315-440]
[310-435]
[535-620]
P3
[315-455]
[315-443]
[765-800]
T4
[410-440]
[625-670]
WK
Waves
1452
T6
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[405-465]
[315-355]
[600-680]
C4
[375-420]
[470-520]
[755-800]
P4
[360-445];
[315-380]
[590-630]
Fz
[335-420]
[270-310]
Cz
[335-430]
[585-635]
Pz
[315-450]
[300-365]
[745-800]
Note: The wave thumbnails are just to illustrate the ERP tendencies within the
time interval, not supposed to be used for wave morphology inspection. For better
visualization of the morphology of the waves, cf. Figures 4 and 5.
Using the differential waveform (I-C), Gaussianity could be
assumed and the t-test was then applied sample-by-sample (each 5 ms)
within the time interval of interest, that is from 200 to 800 ms. Two
one-sided tests comparing (I-C) to zero, i.e. the null hypothesis of
zero difference, were performed using a significance level of 2.5% for
each side. At a given instant of time, if the null hypothesis is rejected
for the positive side, one can infer that the resulting grand-average for
incongruous sentences is statistically more positive or less negative
than that for congruous sentences. The counterpart reasoning is applied
to the instants of time for which the null hypothesis is rejected for the
negative side.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
1453
Table 3 shows the intervals when the waveforms for incongruous
and congruous sentences differ (between brackets). For example, in Pz,
the time intervals [315-450] ms for Control condition and [300-365] ms
for WK indicate more negativity for incongruous waveforms (thick
lines) than for congruous (thin lines). Similar results, indicating that
N400 is statistically more pronounced due to incongruence, are noted in
most derivations except for Fp1, Fp2, F7, F8, T3 and C4 in the Control
condition and O1 in the WK one. Further, an earlier N400 occurs in the
WK if compared to Control condition. In Pz, the interval [745-800] ms
for WK condition exhibits a more pronounced positivity for incongruous
waveforms. The same kind of positivity is observed in other derivations
except for Fp1, Fp2, Fz, F3, F7, T4, T5 and O2.
4 Discussion
The most interesting finding revealed by this experiment is
that the sentences in the Control conditions yielded only one ERP,
the N400, while those in the World Knowledge conditions yielded two,
respectively the N400 and the P600. In fact, other studies (LAGE, 2005;
COWLES; KUTAS; KLUENDER, 2003; VAN BERKUM et al., 2003;
HAGOORT et al., 2004) have found similar ERP results reporting an
anterior negativity (N400) coupled with P600 effects in the establishment
of anaphoric links involving world knowledge introduced by the subject.
But we found no studies that streamlined conditions so as to properly
compare a sentence with poor world knowledge content with the exact
same sentence with an NP that deployed a rich pragmatic frame.
The syntax-first assumption that the course of the derivational
process starts with the bottom merge does not completely conform
with the results we found, since it cannot be applied to each and every
sentence with a transitive verb. In our experiment, the World Knowledge
stimuli that have a kind-denoting DP in the subject position, hastened
the computational course. So it means that some information was
indeed sensed linearly, as soon as the kind denoting subject entered the
computation.
Nevertheless, the idea that the frame established by the subject
would completely shape the general understanding of the sentence did
not hold true either. Notice the contrast pull the tooth Vs pulled the
thunder. This contrast was effective both for the Control and for the WK
1454
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
conditions. In both conditions we have a large amplitude N400 relative
to the incongruous version. But only in the WK condition is there a
P600 relative to the incongruous condition. So, it is clear that the lexical,
semantic and pragmatic components of the DP in the subject position of
the WK condition are only fully digested at the end of the computation of
the sentence, with the P600. So, if information introduced by the subject,
that comes in first, can only be sensed at 600 ms and information about
the vP merge can be sensed at 400 ms, this reveals that there is precedence
of some information of the vP merge in relation to some information
stemming from the subject.
These facts are indicative that the linear online order of processing
has to interact with the derivational phases of grammar that are available
in the brain. So, in an itemized way, here are the conclusions.
a. Concerning the syntactic computation, in the WK condition,
incongruence is established by the integration of the subject after the verbobject merge. That is, in this condition, our prediction is that incongruence
is established later in the derivation, at the subject-predicate merge.
b. Concerning the Mental representation of contents, to judge
the congruence of the control condition sentences, we have to know the
semantic selectional properties of the verbs. For instance, extinguish
selects an object with the semantic property of fire; heal selects an object
with the semantic property of living being. In the incongruous version
of the control condition (CTCI), semantic anomaly is established by and
limited to the lower merge.
In the WK condition, incongruity judgments include information
introduced by the subject merge, conforming to representations of world
facts, including the notion, for instance, that a dentist pulls tooth, a
fireman extinguishes fire. So, the incongruity in such cases stem from
the subject merge and requires World Knowledge with special scenarios,
which may encompass actual facts like treating a patient or putting out
a fire or make-believe conventions like spinning a web for fictional
characters like Spiderman, inserted in what has been termed a Possible
World Box (NICHOLS; STICH, 2000).
A semantic anomaly like eat shoes produces an incongruous
electric effect with a latency of about 400 ms and a large amplitude, the
N400, an effect that has been widely attested in the ERP literature and,
in our work, was statistically indicated by means of a running t-test
(a = 0.05). This electric effect is said to result from difficulty of verb-
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
1455
object integration: for instance shoes with its property [leather artifact]
would not be selected by eat. The stimuli composed for experiments
usually have the poorest content subjects possible, like a pronoun, any
proper name or a non-specific kind (man, woman, boy etc), for instance.
Thus, the subjects chosen for the Control Condition stimuli were clearly
less restrictive than those picked for the WK condition. For instance,
dentist is a fixed reference with defined objectives clothes, actions and
origin while, a man or Donald can be any male human.
c. Concerning the contrast between the two conditions described
above, the first finding we intend to discuss is the difference in latency
between the first electrical wave in the Control condition and that in the
WK one. Look at the N400 latencies in the Control condition and compare
them to those in the WK condition, presented in Table 3. Note that the
N400 related to the vP-object merge in the WK condition is earlier than
that in the Control condition. How can we explain the fact that a verbobject merge involving special World Knowledge contents hastens the
course of the derivation?
In the processing of Brazilian Portuguese, an SVO (subject-verbobject) word order language, prior to the verb-complement computation,
there is the linear precedence of the subject. For the subject to be saved
until syntactic computation integrates it into the structure being formed, it
has to be stored in short term memory. For that, lexical access is required.
And lexical access is automatic to allow whatever cognitive handling is
needed, including storing.
If we look at the first NP as a transitorily independent expression,
whose lexical access will guarantee memory storage of content for later
use, we can suppose that the lexical content accessed is not completely
innocuous to on-going syntactic computation and, in fact, affects the
processing of the verb-complement constituent. If this is the case, the
presence of a subject that recruits a non-default context hastens syntactic
processing because it poses special requirements that restrict the VP
internal selections.
d. Concerning the P600, a second ERP that deepens at about
600 ms in incongruous sentences of the WK condition (cf. Table 3, WK
derivations at T3, P3, T6, C4, P4, Fz, Cz and Pz). Our interpretation is that
this positivity exclusive to this condition, is related to the repair efforts to
integrate contents from kind-denoting DPs into the on-going subject-VP
merge. We assume here that the integration of this kind of DP with the
1456
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1433-1461, 2017
vP constituent is a two-fold operation: first it prompts an early semantic
access that accelerates the vP merge, but this early independent lexical
access does not spare the later full computation required to merge the
subject with the vP, which can be seen in the P600 component.
We are hereby challenging the frame analysis that the subjectobject semantic synergy spares the language user from making the
regular syntactic computations to effect the vP-object merge operation.
Our claim is that the array of NP candidates potentially licensed at the
vP merge is much restricted in view of the access to a world-constructing
non-default subject.
e. Concerning the higher wave amplitudes of the object merge
coming from the congruous and incongruous sentences in the WK
condition, a similar amplitude effect was reported by Hagoort et alii.
(2004) in the gamma radiation related to stimuli requiring World
Knowledge processing.4 Knowing that amplitude is a parameter related
to a difficulty to perform morpho-syntactic integration (KUTAS;
HILLYARD, 1984; FONTENEAU; FRAUENFELDER; RIZZI, 1998;
HOLCOMB; NEVILLE, 1991), we propose that the pragmatic scope
set by the subject DPs in the WK condition presented extra selectional
restrictions to the verb, which ultimately overburdened the verbobject integration, causing the higher wave amplitudes captured at the
derivations. Since the introduction of the subject shapes the causation
mode in the VP (PYLKKÄNEN, 2002; MARANTZ, 2001), the retrieval
of the subject DP requires encyclopedic contents, and so way more
cognitive resources are demanded.
Hagoort et alii (2004) examined the wavelet band of theta and gamma radiation in
relation to retrieval and usage of world knowledge and of knowledge of word meaning
encoded in sets of stimuli with congruity violations. The authors found greater gamma
electric activity as the oscillatory brain responses in relation to the world knowledge
violations and greater theta activity in relation to the purely semantic conditions.
Despite the fact that the former finding is compatible with our ERP findings, a direct
comparison between the two experiments cannot be made since Hagoort et alii. used
light verbs in the stimuli: Dutch trains are yellow / white / sour. Light verbs do not
impose selectional restrictions confined to the vP level. As to latency, the authors explain
that the wavelet transform cannot be a reliable measure of temporal resolution, thus,
we cannot compare their latencies with ours.
4
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1457
5 Conclusion
This comparative ERP analysis of time-locked stimuli brought
about an unexpected result: an N400 that is earlier in the WK Condition
than in the Control Condition (running t-test, (a = 0.05). We also
observed that, concerning congruity, the incongruous sentences in
the WK condition generated more pronounced effects on the ERP
morphology than those in the Control condition. These results can be
properly interpreted if we take into account that access to the subject
and its storing for future syntactic computation will entail a regular or
modified array of verb semantic selection restrictions. Entering a nontrivial world knowledge space causes three effects in the waves locked
to vP processing: N400 waves coming from the WK Condition are faster
and more pronounced than those in the Control condition, the special
semantic content of subjects in the WK condition impose a further
integration, P600, that can only take place after the verb is fully merged
with its object (bottom-up order). The P600 might be related to the repair
efforts to integrate special contents into the on-going subject-vP merge.
This extended computation is not necessary for the Control condition
because the special merge between verb and object is not added of any
special world knowledge meaning.
Acknowledgments
Aniela Improta França gratefully acknowledges the financial support to
her research (PQ 312079/2016-8) from CNPq, Brazil (National Counsel
of Technological and Scientific Development).
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
Referência genérica em SNs singulares: uma abordagem
cognitivista experimental
Generic reference in singular NPs: a cognitive grammar
experimental approach
Diogo Pinheiro
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
diogopinheiro@letras.ufrj.br
Lilian Ferrari
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
lilianferrari@uol.com.br
Maria Clara Pimenta
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
maclarapimenta@yahoo.com.br
Joabe de Souza
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
joabesouza@hotmail.com.br
Márcia Viegas
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
marcia.viegas@uol.com.br
Wanderson Lucas Ohenes
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
wlohenes@gmail.com
Resumo: Este artigo se debruça sobre dois padrões de SNs singulares
genéricos do português brasileiro – com artigo definido e com
determinante zero – com um objetivo duplo: de um lado, caracterizar
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1463-1500
1464
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
as estruturas conceptuais associadas a cada um desses padrões; de
outro, testar experimentalmente a validade dessa caracterização. À luz
da Gramática Cognitiva (LANGACKER, 1987, 1991, 2009, 2013),
assumimos que ambos os padrões designam um tipo (em oposição a uma
instância particular) inserido em um domínio conceitual abstrato (em
oposição ao espaço físico). Com base nisso, sugerimos que (i) o esquema
com artigo pressupõe a disponibilidade prévia do domínio de instanciação
e evoca a conceitualização implícita de tipos não perfilados, ao passo
que (ii) o esquema com determinante zero não pressupõe acesso prévio
ao domínio de instanciação e não faculta a conceitualização de tipos
não perfilados. Para testar essas hipóteses, foi realizado um experimento
de julgamento de aceitabilidade no qual trinta estudantes de graduação
avaliaram sentenças contendo SNs singulares genéricos definidos em duas
condições: com sequência contrastiva (condição plenamente compatível
com a hipótese (i)) e sem sequência contrastiva (condição menos
compatível com a hipótese (i)). Os resultados revelaram a existência de
diferença significativa na distribuição dos graus de aceitabilidade entre as
duas condições (p = .043), fornecendo evidências em favor da proposta
desenvolvida aqui.
Palavras-chave: Gramática Cognitiva; abordagem experimental;
sintagma nominal genérico; português brasileiro.
Abstract: This paper investigates generic singular NPs in Brazilian
Portuguese, comparing patterns containing a definite article with those
that display a zero determiner. The goal is twofold: to characterize
the conceptual structures associated with these predications and to
experimentally validate this characterization. Within the framework
of Cognitive Grammar (LANGACKER, 1987, 1991, 2009, 2013), we
assume that both syntactic patterns designate a type (as opposed to a
particular instance) which inhabits an abstract conceptual domain (as
opposed to physical space). Given this assumption, we argue that: (i)
the definite schema implies the previous availability of the domain of
instantiation and implicitly conjures up unprofiled types, whereas (ii)
the zero determiner schema does not presuppose previous access to the
domain of instantiation and does not evoke unprofiled types. To test
these hypotheses, an acceptability judgement test was carried out where
30 undergraduate students rated sentences containing definite generic
NPs in two conditions: with a contrastive sequence (fully compatible
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
1465
with hypothesis (i)) and without a contrastive sequence (less compatible
with hypothesis (i)). The results revealed the existence of a significant
difference in the distribution of acceptability ratings in each condition (p
= .043), thus providing evidence for the conceptual approach advanced
here.
Keywords: Cognitive Grammar; experimental approach; generic noun
phrase; Brazilian Portuguese.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016
Aprovado em: 26 de abril de 2017
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra Zona Sul pra conhecer água de coco
E o pobre na favela passando sufoco
(Cidinho e Doca – Rap da Felicidade)
1 Introdução
A semântica dos sintagmas nominais genéricos tem merecido
atenção especial na literatura, principalmente a partir de estudos em
semântica formal (KRIFKA et al., 1995). Em especial, todas as línguas
parecem disponibilizar sintagmas singulares genéricos, mas divergem
quanto às restrições semânticas e sintáticas impostas a seus usos. Assim,
enquanto línguas não-relacionadas, como as germânicas e românicas,
admitem o uso de SNs definidos com interpretação genérica (“o gato
é voluntarioso”), o português brasileiro (PB) possui a peculiaridade,
mesmo entre as línguas românicas, de contar com o singular genérico
com determinante zero (“gato é voluntarioso”), conforme descrito por
Müller (2002a, 2002b).1
A expressão “singular genérico com determinante zero” é empregada por Langacker
(1991), no âmbito da sua Cognitive Grammar, com propósito meramente descritivo.
É nesse sentido também que o empregamos aqui, já que a Cognitive Grammar é
o quadro teórico no qual este trabalho se insere. Neste artigo, portanto, o termo
“determinante zero” não pressupõe a hipótese de que exista, “na sintaxe”, a projeção
de um determinante não realizado fonologicamente. Vale lembrar que esse tipo de
1
1466
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
Dentre as vertentes teóricas que compõem a Linguística
Cognitiva, a Gramática Cognitiva (GC) é aquela que apresenta a proposta
mais detalhada para a caracterização semântica dos sintagmas nominais
(LANGACKER, 1987, 1991). Essa proposta envolve a caracterização
do significado dos SNs em termos de conceptualização. Tomando a
abordagem langackeriana como ponto de partida, o presente trabalho
busca investigar a diferença entre dois tipos de SNs singulares genéricos
do PB – o esquema com artigo definido (“o gato é voluntarioso”) e
o esquema com determinante zero (“gato é voluntarioso”) – com o
objetivo de associar a organização interna dessas predicações a estruturas
conceptuais específicas.
Na esteira da GC, defenderemos aqui que ambos os esquemas
são representados em um Espaço de Tipo (ET), caracterizado como
um domínio conceptual abstrato. Com base nisso, proporemos que os
SNs genéricos estabelecem diferentes articulações entre o ET e outro
domínio conceptual relevante, o Espaço Discursivo Corrente (EDC),
definido como o espaço mental que inclui os elementos e as relações
compartilhados por falante e ouvinte em cada momento do fluxo
discursivo. Especificamente, sustentamos que o emprego de um SN
singular genérico com artigo definido pressupõe a disponibilidade prévia
do ET no EDC, ao passo que o mesmo não é verdade para o padrão com
determinante zero.
Como se observa, esse tipo de abordagem envolve sugestões
bastante específicas quanto ao tipo de representação mental associado ao
emprego de SNs singulares genéricos. É preciso reconhecer, no entanto,
que tratamentos dessa natureza abrem espaço para um questionamento
importante: como é possível assegurar a realidade psicológica das
descrições propostas? Com efeito, a insistência inicial da Linguística
Cognitiva em análises estritamente linguísticas fundadas na intuição do
analista levou alguns pesquisadores a questionar se o campo “faz jus ao
seu nome” (PEETERS, 2001). Essa crítica, é preciso salientar, não poupou
a GC langackeriana: algumas vozes, ainda que relativamente isoladas,
interpretação é inteiramente estranho à arquitetura gramatical postulada em modelos
construcionistas (como é o caso da Cognitive Grammar), nos quais as representações
fonológica e semântica não são “lidas” ou “interpretadas” a partir de uma estrutura
sintática prévia (sobre esse ponto, ver Michaelis (2013)).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
1467
têm questionado a realidade psicológica de parte de suas propostas
(BROCCIAS; HOLMANN, 2007; HOLLMANN, 2013).
Em face dessas preocupações, e em consonância com o que
tem sido chamado de “guinada empírica” em Linguística Cognitiva
(STEFANOWITSCH, 2011), propomo-nos neste trabalho a testar
experimentalmente a validade das nossas hipóteses teóricas. Para isso,
realizamos um experimento de julgamento de aceitabilidade no qual
falantes nativos do PB foram solicitados a avaliar, em uma escala Likert
de cinco pontos, a naturalidade de um conjunto de sentenças contendo
SNs singulares genéricos. Ao recorrer a esse tipo de expediente para
verificar a plausibilidade de certas postulações teóricas, esperamos
poder contribuir para disseminar, também na comunidade de linguistas
cognitivistas brasileiros, o interesse pelo recurso a métodos empíricos,
e em particular experimentais.
O trabalho está organizado em três seções principais. Na seção 2,
são apresentados os pressupostos teóricos que fundamentam a pesquisa,
detalhando-se premissas básicas da GC bem como sua proposta de
caracterização dos nomes e sintagmas nominais. Na sequência, a seção
3 apresenta uma proposta de descrição cognitivista – sob a ótica da GC
– do aporte conceptual associado aos dois esquemas de SNs singulares
genéricos investigados aqui. Por fim, a seção 4 descreve o experimento
realizado e discute seus resultados.
2 Gramática Cognitiva, sintagma nominal e grounding
Nesta seção, enfocam-se os pressupostos teóricos que nortearam
a pesquisa. Após uma breve apresentação da GC (LANGACKER,
1987, 1991, 2009, 2013), detalhamos a proposta de Langacker para a
caracterização dos nomes e sintagmas nominais, com especial atenção aos
SNs singulares genéricos. Por fim, enfocamos o processo de grounding
associado a sintagmas nominais definidos e indefinidos.
2.1 Breve caracterização da Gramática Cognitiva
A Gramática Cognitiva, quadro teórico desenvolvido por Ronald
Langacker (1987, 1991, 2009, 2013), tem como proposta fundamental a
premissa de que a gramática, ao invés de ser autônoma, reside em padrões
esquemáticos de estrutura conceptual e simbolização. Sob essa ótica, o
1468
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termo predicação é usado para designar o significado de uma expressão,
independentemente de sua abrangência. Tal significado, é importante
ressaltar, não diz respeito apenas ao conteúdo conceptual, mas também ao
modo particular como esse conteúdo é construído. A noção de construal
busca apreender esse fenômeno, referindo-se à habilidade do falante de
conceber e retratar uma mesma situação de formas alternativas.2
Tendo em vista que o significado é concebido como interação
entre conteúdo conceptual e construal, a GC adota o termo domínio
para se referir, de modo uniforme, ao conteúdo. Sendo assim, considerase que uma expressão evoca um conjunto de domínios cognitivos,
coletivamente denominados matriz, como base para o significado. Por
exemplo, a expressão “copo d’água” pode evocar os seguintes domínios
de experiência: espaço, o conceito de água, o conceito mais esquemático
de líquido (imanente em água), a concepção de um contêiner com líquido,
noções de volume, etc. Por um lado, a lista de domínios evocados por uma
expressão não é exaustiva, e depende sempre do propósito comunicativo
do falante; por outro, pode-se estabelecer uma distinção entre domínio
básico, que é não derivável ou analisável a partir de outras concepções
(ex. Espaço, tempo, espectro cromático, espectro sonoro, temperatura,
gosto, cheiro, etc.) e domínio não-básico, que pode ser reduzido a outras
noções (ex. Instâncias de experiência imediata de tipo sensorial, emotivo
ou motor/sinestésico, como a sensação de medo; produtos abstratos de
operações intelectuais, como os conceitos de justiça, vertebrado, etc.).
Os domínios não-básicos tendem a se organizar em hierarquias, de
modo que uma concepção relativa a um determinado nível pressupõe e
incorpora uma ou mais concepções de nível mais básico.
Embora reconheça que nem todos os significados são baseados
em percepção visual, a GC recorre à metáfora visual para classificar
as várias facetas do construal. Essas facetas incluem as dimensões
de especificidade, focalização e proeminência, as quais passamos a
descrever.
A especificidade diz respeito ao nível de precisão com que uma
situação é retratada. Assim, um determinado animal pode ser descrito
como “roedor”, mas também como “esquilo”, o que implica maior grau
Optamos por não traduzir o termo “construal” por se tratar de termo técnico cujas
possíveis traduções (interpretação, construção) levariam a termos já utilizados na
literatura linguística com acepções diferentes.
2
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
1469
de especificidade. Nesse caso, o termo “roedor” é mais esquemático que
“esquilo” – ou seja, considera-se que a caracterização “roedor” pode ser
instanciada por caracterizações mais específicas, cada uma delas servindo
para elaborar especificações mais detalhadas (roedor → esquilo →
esquilo marrom → esquilo marrom grande).
A focalização é um aspecto do construal que inclui a seleção
de conteúdo conceptual para apresentação linguística, como é o caso da
organização em termos de figura e fundo (foreground vs. Background).
Em termos mais gerais, todas as expressões evocam conhecimento
pressuposto (background knowledge) como base para a interpretação. Por
exemplo, para interpretar a sentença “Deixei meu carro no estacionamento
rotativo”, é preciso acessar o conhecimento cultural referente a esse tipo
de estacionamento, sem o qual o ouvinte poderia pensar que o carro foi
abandonado no referido local. Além da organização figura vs. Fundo,
a focalização inclui a extensão que uma expressão recobre no domínio
acessado. Para cada domínio de uma matriz, uma expressão tem um
escopo que consiste na sua cobertura daquele domínio, a qual será sempre
limitada (bounded) em sua extensão. Assim, o termo copo evoca uma
certa extensão espacial para a especificação de sua forma característica
(mas não todo o universo), o verbo tropeçar requer o acesso mental a
um período de tempo suficientemente longo para que o evento ocorra (e
não a eternidade), e assim por diante.
Vale notar que o escopo, sendo uma questão de seleção, pode ser
também organizado em termos de figura/fundo. Em determinados casos, é
preciso distinguir entre escopo máximo de uma expressão em determinado
domínio (ou seja, toda a extensão recoberta pela expressão) e o escopo
imediato, mais limitado e diretamente relevante para um propósito
particular. Usando-se uma metáfora teatral, o escopo imediato também
pode ser denominado onstage region (região relativa ao palco, para a
qual se dirige a atenção visual). Para ilustrar esse fenômeno, Langacker
(2013, p. 63) discute a palavra “cotovelo” (elbow), que tem como um
domínio bastante central de sua matriz a concepção de corpo humano. O
autor nota, contudo, que o corpo não é um todo indiferenciado, mas uma
estrutura composta de diferentes partes. Assim, o cotovelo é concebido,
em primeiro lugar, como parte do braço. Há, portanto, uma hierarquia
conceptual (corpo humano > braço > cotovelo) em que braço funciona
como escopo imediato e corpo humano, como escopo máximo:
1470
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
FIGURA 1 – Escopo máximo e imediato para cotovelo
Como mostra a Figura 1, a partir do escopo máximo, a expressão
“cotovelo” seleciona um determinado conteúdo conceptual para colocar
em proeminência (isto é, onstage no escopo imediato). Esse conteúdo
selecionado constitui uma estrutura particular que será denominada perfil
(profile). Por isso, diz-se que, no escopo imediato representado acima, a
estrutura cotovelo está perfilada (profiled).
2.2 Caracterização de nomes e sintagmas nominais
Valendo-se do instrumental teórico desenvolvido para tratar do
significado das expressões linguísticas, Langacker (1991) enfoca as
estruturas nominais, defendendo que a função semântica (e não o caráter
estrutural) é o fator crítico para entender sua organização interna. Com
base na proposta de que um nome perfila uma coisa (thing), definida
como uma região (conjunto de entidades interconectadas) em um
determinado domínio, o autor parte para a distinção das predicações
nominais em termos de suas propriedades conceptuais específicas. Em
especial, investiga a distinção entre nomes simples (“gato”, “telhado”,
“vinho”) e SNs (“aqueles três gatos”, “um telhado de madeira”, “o vinho
branco”), propondo que os primeiros exercem a função de tipo, enquanto
os segundos caracterizam instâncias de um tipo.
2.2.1 Instanciação: tipo vs. Instância
Para Langacker (1991, p.55), a distinção entre tipo e instância
apresenta pontos em comum com a distinção entre extensão e intenção. A
extensão de um termo é o conjunto de objetos que podem ser designados
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
1471
por ele em um dado mundo: a extensão de “gato”, por exemplo, é o
conjunto de gatos. A intenção de um termo, por outro lado, é descrita
como uma função das palavras para suas extensões, ou seja, um tipo de
caracterização que identifica precisamente os objetos que constituem a
extensão do termo no mundo.
Apesar dos pontos em comum, entretanto, o autor aponta
diferenças importantes entre essas dicotomias. Em especial, os constructos
tipo e instância correspondem a estruturas conceptuais e enfocam o modo
pelo qual situações concebidas são retratadas linguisticamente. Sob a
ótica da GC, “tipo” e “instâncias” equivalem a conceito e entidades
conceptuais, respectivamente. Assim, a instância designada por “o
gato” não equivale nem à referência da expressão nominal (tomada
normalmente como um objeto no mundo), nem à extensão de “gato” (o
conjunto de todos esses objetos). Isso porque o polo semântico de um SN
é tratado como uma conceptualização, que pode designar até mesmo uma
instância não-específica ou não-referencial (ex. “Ele queria encontrar um
apartamento próximo ao trabalho, mas não havia nenhum apartamento
à venda na região”).
Para elucidar o contraste entre concepção de tipo e concepção de
instância, Langacker (1991) propõe a noção de domínio de instanciação,
definido como o domínio no qual se considera que uma entidade reside
ou tem sua manifestação primária. Por exemplo, tempo é o domínio de
instanciação para eventos, enquanto espaço é o domínio de instanciação
para substância material. Mais precisamente, o domínio de instanciação
é o domínio no qual a localização de uma entidade é suficiente para
estabelecê-la como uma instância de uma categoria distinta de outras
instâncias potenciais.
As concepções de tipo e instância compartilham a propriedade
de perfilar uma entidade no domínio de instanciação. Por exemplo, tanto
“gato” quanto “o gato” evocam e perfilam a concepção de uma criatura
peluda que ocupa o espaço físico e tem uma determinada forma nesse
domínio. Sendo assim, Langacker (1991) propõe um fator adicional
para dar conta da distinção: instâncias (mas não tipos) apresentam uma
localização particular no domínio de instanciação. Isso significa que
uma especificação de tipo usa o domínio de instanciação apenas para
descrever uma propriedade da entidade designada (como sua forma ou
extensão temporal), ao passo que uma especificação de instância concebe
o domínio como tendo extensão suficiente para sustentar manifestações
1472
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
simultâneas de entidades múltiplas, caracterizando a entidade perfilada
como situada no âmbito dessa extensão em uma localização específica
em contraste com outras localizações possíveis. Nas palavras do autor:
Pode ser útil imaginar uma especificação de tipo como
flutuando pelo domínio de instanciação, sem estar presa a nada,
com o potencial de se manifestar em qualquer lugar dentro
desse domínio. Esse potencial é concretizado, e uma concepção
de instância é obtida, quando a especificação é ancorada em um
ponto particular (LANGACKER, 1991, p. 57).3
Nos termos da definição proposta, a especificação de instância
é assim representada:4
FIGURA 2 – Especificação de instância
“It may be helpful to imagine a type specification as floating about unattached through
the domain of instantiation, with the potential to be manifested anywhere within it.
This potential is realized, and an instance conception obtained, when the specification
is anchored at a particular spot.”
4
Deve-se destacar que a noção de instanciação difere das noções de grounding e referência.
O grounding, a ser detalhado mais adiante, pressupõe que uma instância foi estabelecida e
acrescida de uma indicação relativa aos participantes do evento de fala; a instanciação em
si não fornece essa indicação. Além disso, o efeito de uma predicação ancorada no ground
(grounding predication) pode ser o de negar o status referencial da instância perfilada
(ex.: “Ele precisava de um emprego, mas não havia nenhum emprego disponível”).
3
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Especificação de tipo
Instanciação
As especificações de tipo, por sua vez, representam diferentes
níveis de abstração, de modo que uma hierarquia de tipos pode conter
uma sequência ordenada (ex. Coisa > animal > mamífero > gato). Em
termos de significado, cada especificação de tipo é esquemática em
relação à que lhe segue; além disso, os membros de cada categoria
incluem aqueles da próxima como um subconjunto.
Costumam-se distinguir as relações de tipo/subtipo, por um lado,
das relações (sub)tipo/instância, de outro. Para tratar das primeiras,
usa-se o termo elaboração, enquanto as últimas são designadas como
instanciação. Langacker (1991) argumenta, entretanto, que a distinção
não é absoluta, e que a instanciação pode ser mais bem compreendida
como um caso especial de elaboração. Para defender essa posição, o autor
analisa expressões nas quais os tipos são construídos como instâncias,
como no exemplo a seguir:
(1) O gato é um mamífero que pode viver entre quinze e quarenta anos.
Em (1), o SN “o gato” recebe interpretação genérica, que diz
respeito ao animal como tipo – não se trata aqui de um gato particular
e espacialmente instanciado. Ao mesmo tempo, entretanto, esse tipo é
construído como instanciação de um tipo mais alto (mamífero).
Para representarmos a estrutura conceptual associada ao uso do
SN em (1), consideremos, primeiramente, a situação normal, na qual
instanciações constituem o nível mais baixo da hierarquia de tipo:
1474
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FIGURA 3 – Espaço físico como domínio de instanciação
A estrutura A representa um tipo (ex.: mamífero), enquanto B, C
e D são subtipos (ex.: gato, humano, baleia), cada qual com múltiplas
instanciações. Por exemplo, as instanciações de B (b1, b2 e b3) podem
corresponder a gatos específicos, como ilustram os exemplos a seguir:
(2) Meu gato sumiu.
(3) O gato do vizinho é cinza azulado.
A situação é um pouco diferente quando a expressão “o gato”
caracteriza um tipo de mamífero (como em (1)). Nesse caso, o domínio
pertinente de instanciação não é mais o espaço físico, mas o Espaço de
Tipo para mamífero, como representado a seguir:
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FIGURA 4 – Espaço de Tipo como domínio de instanciação
A Figura 4 indica que a especificação de tipo para gato não é
apenas um subtipo de mamífero, mas instanciações quantificáveis dessa
categoria. Nesse caso, pode-se mencionar “dois mamíferos” (ex.: “o
gato e o cachorro são dois mamíferos”), do mesmo modo que se pode
falar de “dois gatos” em referência a “meu gato” e “o gato do vizinho”.
2.2.2 Grounding
Como descrito anteriormente, considera-se que todo SN perfila
uma coisa (thing), construindo-a como uma instância quantificada de um
determinado tipo e ancorada ao Ground – conceito que se refere à situação
comunicativa e inclui, portanto, falante, ouvinte, local e momento do
ato de fala. Langacker recorre ainda ao termo grounding predication
(“predicação de ancoragem”) para se referir a predicações que relacionam
uma instância perfilada a um determinado ponto de referência.
O falante sempre pode contar com dois pontos de referência
naturais, inerentes à situação comunicativa: o Ground propriamente dito
e uma massa de referência (RT), que inclui todas as instâncias no âmbito
do discurso. Por exemplo, para o nome “menino”, que designa uma
entidade discreta, RT é equivalente ao conjunto de todas as instâncias.
1476
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
O objetivo do falante ao usar um SN é mencionar uma determinada
instância de um tipo, de modo que o ouvinte possa determinar a
referência pretendida. Por exemplo, para um determinado tipo T, existe
normalmente um conjunto aberto de instâncias (t1, t2, t3,...). Além disso,
para se determinar o valor definido (ou indefinido) da instância perfilada,
o ponto de referência externo inclui falante e ouvinte, que se veem sob o
desafio de dirigir a atenção para a mesma instância, sendo responsáveis
pela conceptualização que constitui o polo semântico do SN.
Assim, falante (F) e ouvinte (O), que formam conjuntamente o Ground,
enfrentam a tarefa de coordenar suas referências mentais a uma determinada
instância t1 do tipo T, destacada da massa de referência RT. Tanto o Ground
quanto RT estão disponíveis como pontos de referência para esse propósito.
Tendo em vista que os participantes do evento de fala
estabelecem contato com a entidade concebida e a relacionam ao seu
próprio conhecimento das instâncias, as predicações de ancoragem são
consideradas epistêmicas. Ao usar o Ground como ponto de referência,
o indivíduo estabelece contato mental com t1 e, portanto, t1 é destacado
para tomada de consciência no estado mental corrente do falante.
A Figura 5 representa os fenômenos de instanciação e contato mental,
em que há coordenação plena da referência:
FIGURA 5 – Instanciação e contato mental
Com base na Figura 5, conclui-se que uma predicação epistêmica
sempre perfila a entidade ancorada, e não a relação de ancoragem em si
mesma (embora essa relação seja parte essencial de sua base e, portanto,
de seu significado). Como já mencionamos, a entidade perfilada para as
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1477
expressões nominais é uma coisa: uma instância quantificada e única do
tipo T e retirada da massa de referência RT. A predicação de ancoragem
evoca os interactantes como pontos de referência e faz algum tipo de
especificação referente ao estabelecimento de contato mental com t1 por
parte deles.
2.2.3 Definitude e indefinitude
Neste trabalho, interessam-nos, em especial, as predicações que
enfocam grau de definitude e tomam o Ground como ponto de referência
primário.
Para caracterizar o artigo definido, Langacker (1991) recorre
à noção de current discourse space (Espaço Discursivo Corrente, ou
apenas EDC), que contém os elementos e relações construídos como
compartilhados por falante e ouvinte. Esses elementos e relações
constituem a base para a comunicação em um determinado momento
do fluxo discursivo, e representam aquilo que é concebido como
imediatamente disponível para os interlocutores, figurando diretamente na
consciência ou sendo prontamente evocado por associação ou inferência.
Outra noção básica é a de contato mental, definida como um processo
em que uma entidade é isolada (singled out) para tomada de consciência
individual. Com base nas noções de EDC e contato mental, Langacker
(1991, p. 98) propõe a seguinte caracterização do artigo definido:
O uso do artigo definido como descrição de tipo T em um
sintagma nominal implica que: (1) a instância designada t1
de T é única e máxima em relação ao EDC; (2) o Falante
tem contato mental com t1; e (3) o Ouvinte pode ter contato
mental com t1 ou o próprio SN é suficiente para estabelecer
esse contato5.
Segundo essa definição, o artigo em si mesmo perfila t1, e seu uso
implica que o SN é suficiente para colocar o ouvinte em contato mental
com uma instância unicamente identificada, sem depender de outras
informações disponíveis na cláusula que o contém.
“The use of the definite article with type description T in a nominal implies that (1) the
designated instance t1 of T is unique and maximal in relation to the current discourse
space; (2) S has mental contact with ti; and (3) either H has mental contact with t1 or
the nominal alone is sufficient to establish it.”
5
1478
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A especificação de que t1 é único no EDC pode ser ilustrada com
os seguintes exemplos:
(4) a. Douglas comeu uma maçã e um figo. A maçã estava deliciosa.
b. *Douglas comeu uma maça verde e uma maça vermelha. A maçã
estava deliciosa.
Em (4a), o EDC criado pela primeira cláusula contém apenas uma
instância de maçã. Sendo assim, a referência pretendida é inequívoca.
Já em (4b), o EDC contém duas instâncias de maçã; dessa forma, t1 não
é único e o artigo definido “o” é inapropriado.
A especificação de que t1 é máximo estabelece que t1 só pode ser
identificado com a instância mais inclusiva no espaço discursivo, como
ilustram os seguintes exemplos:
(5) a. José tem três carros. Os carros são esportivos.
b. José comprou vinte litros de água. A água foi usada para molhar
as plantas.
Nos exemplos, as primeiras cláusulas introduzem uma instância
de carro, com a cardinalidade de três (ex. (5a)) e uma instância de água,
com um volume de vinte litros (ex. (5b)). Trata-se de instâncias máximas
no espaço discursivo, às quais “os carros” e “a água” se referem com
propriedade.
Assim como os definidos, os SNs com artigo indefinido também
tomam o Ground como ponto de referência primário. Estes últimos,
contudo, apresentam uma diferença crucial em relação aos primeiros,
por serem insuficientes para colocar o ouvinte em contato mental com
uma instância única de T. Langacker retoma aqui a proposta de Hawkins
(1978), para quem o artigo indefinido contrasta com o definido em relação
à unicidade: o primeiro implica que o SN em si mesmo não é suficiente
para colocar o ouvinte em contato mental com uma instância unicamente
determinada da categoria. Assim, se há dois mecânicos consertando um
carro, e vários parafusos disponíveis, é possível que um diga para o outro
“Poderia me passar um parafuso?” – mas dificilmente diria “Poderia me
passar o parafuso?”. Isso porque há múltiplas instâncias de parafuso no
EDC, definido neste caso pelas circunstâncias físicas imediatas.
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Com relação aos sintagmas indefinidos, Langacker (1991)
assinala que há uma clara divisão de função entre os que apresentam
artigo indefinido e os que ocorrem com zero: o artigo indefinido ocorre
apenas com nomes singulares contáveis (“Ele comprou um livro”),
enquanto o determinante zero ocorre com nomes contáveis e nãocontáveis (“Alice bebeu (Ø ) leite”; “Ø Ratos entraram na loja”). Além
disso, apenas o determinante zero admite um construal plenamente
genérico (“Ø Cachorros são mamíferos”).6
De especial relevância são os casos que envolvem a noção de
instância arbitrária. Uma delas é a chamada leitura opaca, que constitui
uma das leituras possíveis da sentença Maria quer comprar um vestido.
Aqui, o referente vestido não é acessado no espaço de ‘realidade’, mas
no espaço de desejo de Maria – trata-se, portanto, de um vestido nãoespecífico.7 Outro caso diz respeito ao valor do artigo indefinido em
construções de predicado nominal (ex.: “Alice é uma ladra”). Por fim, há
o uso que envolve sentenças genéricas, como “Uma criança sempre tem
sonhos”. O que todos esses usos têm em comum é o fato de poderem ser
considerados casos de não-especificidade, nos quais uma determinada
instância t1 de T é evocada para um propósito particular limitado, e só
se sustenta em contextos desse tipo. É importante destacar que essas
sentenças não implicam que falante e ouvinte tenham contato mental préexistente com a instância designada pelo sintagma indefinido. A instância,
na verdade, é evocada com vistas a se estabelecer uma afirmação genérica
e como tal é concebida como uma instância representativa da categoria,
e não como uma instância particular, conhecida em bases independentes.
Assim, tanto “uma criança” quanto “sonhos” podem suscitar leituras
não-específicas, de forma semelhante a “um vestido” em interpretação
opaca na sentença “Maria quer comprar um vestido”.
Há um caso de sintagma singular, entretanto, que não foi discutido
por Langacker. Trata-se do sintagma singular genérico com determinante
zero, cuja ocorrência não é gramatical em inglês (“*Cat is lazy”). Esse
Para uma discussão mais detalhada desses casos, remetemos a Langacker (1991, p.
89-95 e p. 103-107).
7
A sentença também admite a leitura transparente em que vestido é acessado na Base
(espaço de ‘realidade’). Essa leitura, por ser específica, não se inclui nos casos de
instância arbitrária discutidos por Langacker (1991).
6
1480
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tipo de estrutura, contudo, ocorre em português (“Gato é preguiçoso”),
e se inclui no foco de investigação deste trabalho. Na próxima seção,
apresentaremos uma proposta teórica que busca ampliar a proposta
langackeriana, a fim de contrastar os usos genéricos dos sintagmas
singulares com artigo definido e com determinante zero no PB.
3 SNs singulares genéricos no PB: uma abordagem cognitivista
Nesta seção, propomos uma análise cognitivista para dois tipos
de SN singulares genéricos do PB: o padrão com determinante zero,
como em (6a) e (7a), e o padrão com artigo definido, como em (6b) e (7b).
(6) a. Gato é muito voluntarioso.
b. O gato é muito voluntarioso.
(7) a. Brasileiro gosta de feijoada.
b. O brasileiro gosta de feijoada.
Embora nosso objetivo último seja o de explorar as diferenças
entre essas estruturas, vale a pena iniciar a análise assinalando as
semelhanças entre elas. Em primeiro lugar, ambos os padrões designam
tipos (em oposição a instâncias particulares), o que significa que tanto o
esquema artigo definido + SN quanto o esquema Ø + SN perfilam uma
categoria inserida em um Espaço de Tipo, e não uma entidade particular
inserida no espaço físico. Assim, quando alguém enuncia (6a) ou (6b),
está fazendo referência a uma categoria (gato) que tem existência em um
espaço abstrato (digamos, o espaço abstrato das espécies animais, ou dos
mamíferos, ou dos felinos), e não a um ser particular (digamos, o Tom)
que tem existência no espaço físico (ainda que, no caso do Tom, não se
trate do espaço físico do mundo real). Da mesma maneira, quando alguém
enuncia (7a) ou (7b), está se referindo à categoria genérica brasileiro, que
existe no espaço abstrato das nacionalidades, e não a qualquer brasileiro
particular que habite o mundo físico.
Nos termos da GC, essa proposta pode ser traduzida assim:
quando se trata de SNs singulares genéricos, o domínio da instanciação
do referente do núcleo do SN corresponde a um Espaço de Tipo – isto
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é, a um domínio conceptual abstrato. Tomando como exemplos os SNs
sujeitos de (6), essa ideia pode ser representada assim:
FIGURA 6 – Representação conceptual parcial das expressões genéricas
“Gato” e “O gato”
A Figura 6 ilustra uma hierarquia de tipo na qual a letra A
representa o tipo animal e a letra G representa o tipo gato. Usamos a
linha forte no círculo ao redor da letra G para indicar que o tipo gato
é conceptualmente perfilado pelas expressões “Gato” e “O gato”; pela
mesma lógica, usamos a linha pontilhada no círculo ao redor da letra A
para indicar que o tipo animal corresponde à porção não-perfilada da
predicação (isto é, ao que Langacker chamada de base).
Se a representação acima captura as similaridades entre os dois
padrões de SN genérico analisados aqui, é preciso agora investigar
as diferenças entre eles. Para isso, dividiremos nossa hipótese em
duas partes: (i) uma hipótese referente às representações conceptuais
compartilhadas pelos interlocutores – e, portanto, disponíveis no EDC
– no momento imediatamente anterior ao emprego de cada um dos
padrões e (ii) uma hipótese referente às representações conceptuais que
são acionadas – e, portanto, passam a estar disponíveis no EDC – em
função do próprio emprego de cada um dos padrões de SN genérico. No
primeiro caso, trata-se de investigar o contexto discursivo que licencia o
emprego de uma ou outra estrutura; no segundo, trata-se de descrever o
cenário conceptual diretamente predicado pelas estruturas investigadas.
Em relação ao primeiro ponto, sugerimos que o padrão definido
é licenciado nos contextos em que o domínio conceptual de instanciação
do referente do núcleo do SN já se encontra previamente disponível.
1482
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Nos termos da GC, isso significa que o Espaço do Tipo que abriga o
tipo designado pelo SN deve estar previamente acessível no Espaço
Discursivo Corrente. Essa situação pode ser representada assim8:
FIGURA 7 – Representação do contexto discursivo que licencia o padrão com artigo
A Figura 7 busca capturar o conhecimento compartilhado
entre os participantes da situação comunicativa no momento anterior à
enunciação de um SN singular genérico com artigo definido. A presença
do tipo W representa o fato de que, nesse ponto da interação, um domínio
conceptual abstrato deve estar acessível ao Falante e ao Ouvinte. Por
definição, o acesso mental a essa categoria faculta a conceptualização
de um Espaço de Tipo, bem como dos tipos inseridos nele. Indicados no
diagrama acima pelas variáveis X, Y e Z, esses tipos estão representados
por linhas pontilhadas para marcar o fato de que, nesse momento, eles
não estão perfilados, dado que ainda não foram mencionados de forma
explícita. Em outras palavras, sua conceptualização decorre tão somente
do conhecimento de mundo compartilhado pelos interactantes. A Figura
7 representa, portanto, uma situação na qual uma categoria mais geral
(como animal, por exemplo) já está acessível, levando à conceptualização
de um Espaço de Tipo (por exemplo, o espaço conceptual abstrato das
espécies animais) e à “visualização” implícita (ou “offstage”, nos termos
de Langacker) de tipos pertencentes a esse espaço (por exemplo, gato,
cachorro e morcego).
Como o Espaço Discursivo Corrente é tratado por Langacker (1991, p. 97) como um
tipo de espaço mental, nos termos do modelo de Fauconnier (1994), iremos representálo como um círculo, como tradicionalmente se faz na Teoria dos Espaços Mentais.
8
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1483
No que diz respeito ao padrão com determinante zero,
sugerimos que o contexto discursivo que o licencia é menos específico
– fundamentalmente, ele é caracterizado pela ausência de uma categoria
geral (como animal, ou nacionalidade, ou qualquer outra) no Espaço
Discursivo Corrente. Em outras palavras, sugerimos que a formulação
sem artigo será preferida quando o Espaço de Tipo – que, como vimos,
funciona como domínio de instanciação do referente do núcleo do SN –
não estiver disponível no EDC. Essa ideia pode ser representada assim:
FIGURA 8 – Representação do contexto discursivo que licencia o padrão com
determinante zero
A Figura 8 representa uma situação na qual o domínio conceptual
abstrato que sustenta a instanciação do tipo designado pelo SN genérico
não se encontra no EDC, por não ter sido ativado no contexto discursivo.
Por essa razão, também não estão representados no diagrama acima
tipos abstratos (como aqueles indicados pelas variáveis X, Y e Z na
Figura 7). Em termos práticos, isso significa que uma diferença crucial
entre as estruturas com artigo e com determinante zero diz respeito à
disponibilidade prévia da entidade a ser perfilada pelo SN: estamos
sugerindo que, no primeiro caso, essa entidade está previamente
disponível (ainda que “offstage”) ao passo que, no segundo caso, ela
não comparece no EDC.
Isso nos leva à segunda parte da nossa hipótese – aquela que diz
respeito à representação conceptual evocada pelo próprio SN singular
genérico. Se a alternativa com artigo é empregada em uma situação
interacional como aquela representada na Figura 7, isso significa que
seu papel é tão somente o de perfilar uma entidade que já se encontra
1484
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
previamente disponível no EDC (em detrimento de outras entidades que
igualmente povoam o Espaço de Tipo). Em contraste, se a alternativa sem
artigo é empregada no contexto representado na Figura 8, isso significa
que seu papel será o de inserir uma nova entidade na EDC. Essa diferença
fica evidenciada pelo contraste entre as figuras 9 e 10:
FIGURA 9 – Representação conceptual associada ao SN singular genérico com
artigo definido
FIGURA 10 – Representação conceptual associada ao SN singular genérico com
determinante zero
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
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A Figura 9 representa o fato de que o papel do SN singular
genérico com artigo é o de perfilar (conforme indicado pela linha mais
forte ao redor do Y) uma entidade já presente do Espaço de Tipo abstrato
que serve como domínio de instanciação para o referente do seu núcleo
(conforme indicado na Figura 7). A Figura ajuda ainda a explicitar
visualmente a ideia de que o padrão com artigo seleciona uma entidade
conceptual (aquela representada por Y) em meio a um conjunto de tipos
não-perfilados (aqueles representados por X e Z).
A Figura 10, por seu turno, representa a ideia de que o SN
singular genérico com determinante zero estabelece no Espaço Discursivo
Corrente um novo Espaço de Tipo, ao mesmo tempo em que perfila
um tipo inserido nesse espaço (aqui representado pela variável Y). A
comparação entre as figuras 9 e 10 deixa evidente que a diferença entre
os dois padrões de SN singular genérico diz respeito à parte não-perfilada
da predicação (isto é, ao que Langacker chama de base): crucialmente,
apenas a alternativa com artigo faculta a “visualização” de tipos nãoperfilados presentes no domínio de instanciação, para além daquele
diretamente designado pelo SN. As diferenças entre as duas estruturas
estão sintetizadas na tabela abaixo:
TABELA 1 – Diferenças entre os padrões de SN singular genérico com e
sem artigo definido
REPRESENTAÇÃO
CONCEPTUAL
ASSOCIADA AO
CONTEXTO PRÉVIO
REPRESENTAÇÃO
CONCEPTUAL
ASSOCIADA AO SN
SINGULAR GENÉRICO
ARTIGO DEFINIDO
+ NOME
Espaço de Tipo disponível
no EDC; tipos disponíveis
no EDC mas não perfilados
Perfilamento de um dos
tipos inseridos no Espaço de
Tipo previamente disponível
no EDC
DETERMINANTE ZERO
+ NOME
Espaço de Tipo e tipos não
disponíveis no EDC
Estabelecimento de um
novo Espaço de Tipo e de
um novo tipo no EDC
Conforme observamos na Introdução deste artigo, a Gramática
Cognitiva tem recebido algumas críticas em função da alegada ausência,
ou pelo menos escassez, de suporte experimental para seus constructos
1486
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teóricos (HOLLMANN, 2013; BROCCIAS; HOLLMANN, 2007) – nos
termos de Hart (2014, p. 16), “a realidade psicológica da Gramática
Cognitiva é, neste momento, plausível mas ainda não demonstrada”9.
Dessa maneira, análises calcadas na GC podem ser consideradas hipóteses
produtivas e instigantes, mas dificilmente poderiam prescindir de algum
tipo de verificação empírica.
Isso vale, naturalmente, para a análise desenvolvida nesta seção.
Por um lado, é possível que alguns a considerem produtiva e instigante
– ela pode ajudar a entender, por exemplo, por que expressões com
SN singular genérico com e sem artigo parecem sinônimas (porque
perfilam um mesmo tipo de entidade, em um mesmo tipo de Domínio
de instanciação), ao mesmo tempo em que esclarece por que elas, na
verdade, não são sinônimas (porque se distinguem quanto à porção nãoperfilada – isto é, implícita – da predicação). Mas até que ponto esse tipo
de sugestão é confiável? Que evidências nós temos de que a percepção de
uma sentença como (6b) dispara a conceptualização implícita de outros
animais (digamos, cachorro, morcego, etc.), ao passo que o mesmo efeito
não se verifica com uma sentença do tipo (6a)? É para essa questão que
nos voltamos na próxima seção.
4 Testando a hipótese
A fim de verificar a realidade psicológica da análise desenvolvida
na seção anterior, foi realizado um teste offline de julgamento de
aceitabilidade. Nesta seção, descrevemos o experimento (item 4.1) e, na
sequência, apresentamos e discutimos seus resultados (item 4.2).
4.1 O experimento: visão geral
Para o experimento de julgamento de aceitabilidade, foi utilizada
escala Likert de cinco pontos. Como variável dependente, portanto, temos
o grau de aceitabilidade do estímulo, que poderia variar entre os níveis
1 (completamente inaceitável) e 5 (completamente aceitável). A única
variável independente considerada foi a presença ou ausência de contraste.
Assim, os estímulos críticos foram divididos em somente duas condições
– sem contraste e com contraste –, conforme os exemplos abaixo:
“The psychological reality of Cognitive Grammar is, at this point in time, plausible
but not yet proven”.
9
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(8) A criança gosta de doces e guloseimas.
(9) A criança gosta de doces e guloseimas. Já o adulto tende a ter um
paladar mais apurado.
Os estímulos da condição sem contraste, como (8), predicam
sobre uma única categoria (no exemplo acima, criança). Diferentemente,
os estímulos da condição com contraste, como (9), estabelecem uma
oposição entre duas categorias distintas (no exemplo acima, criança e
adulto).10 Neste experimento, prevemos que o grau de aceitabilidade
do estímulo estará relacionado à presença ou ausência de contraste,
de maneira tal que os estímulos com contraste serão tidos como mais
aceitáveis que os estímulos sem contraste (mas ver a seção 4.1.3 para
uma outra formulação da previsão experimental).
Para compreender a lógica por trás do experimento, é importante
lembrar a hipótese desenvolvida na seção 3. Resumidamente, defendemos
que o SN singular genérico com artigo definido (i) pressupõe a
disponibilidade prévia do Espaço de Tipo que funcionará como domínio
de instanciação do referente do seu núcleo e (ii) faculta a conceptualização
implícita de tipos não-perfilados. Ao mesmo tempo, e inversamente,
sugerimos que o SN singular genérico com determinante zero (i) não
pressupõe a disponibilidade prévia do Espaço de Tipo que funcionará
como Domínio de instanciação e (ii) não faculta a conceptualização
implícita de tipos não-perfilados.
Ao manipular a presença e ausência de sequências contrastivas
nos estímulos experimentais, foi possível criar estímulos mais e menos
compatíveis com a descrição sugerida para o padrão de SN genérico
com artigo. Especificamente, a inserção de uma sequência adicional nos
estímulos com contraste favorece a inferência de que o domínio conceptual
do ET corresponde ao próprio tópico do discurso. Por exemplo, a segunda
sentença de (9) favorece a interpretação de que as sentenças presentes
no estímulo são parte de uma sequência discursiva mais ampla na qual
o tópico em pauta são as diferenças entre as etapas da vida humana.
Tecnicamente, realizar esse tipo de inferência equivale a assumir que (i)
o Espaço de Tipo fases da vida humana estava previamente disponível
para os interlocutores hipotéticos da situação comunicativa em que a
10
Para detalhes sobre a composição dos estímulos, ver seção 4.1.2.
1488
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sentença teria sido enunciada e (ii) a função realizada pelo SN genérico
foi a de perfilar um tipo particular (por exemplo, o tipo criança) em meio
a outros tipos conceptualmente disponíveis (por exemplo, adolescente e
adulto). Assumindo-se que os sujeitos experimentais de fato realizarão
essa inferência, essa proposta produz a previsão de que os estímulos com
contraste deverão ser considerados naturais e bem-sucedidos.11
Nos estímulos da condição sem contraste, por outro lado, a
ausência de uma sequência contrastiva torna menos evidente ou imediata
a intepretação de que o domínio conceptual do ET corresponde ao
próprio tópico do discurso.12 Em outras palavras, assumimos que, em
uma sentença como (8), os sujeitos experimentais terão menos subsídios
– em comparação com a condição com contraste – para interpretar o
enunciado como parte de uma sequência discursiva mais ampla sobre as
fases da vida humana. Tecnicamente, isso significa que eles estarão menos
propensos a assumir que (i) o ET fases da vida humana estava previamente
disponível para os interlocutores e (ii) o SN genérico teria cumprido tão
somente a função de perfilar um tipo particular em meio a um conjunto
de tipos disponíveis. Caso a nossa hipótese esteja correta, a ausência (ou
menor disponibilidade) dessa interpretação deverá conduzir a um grau de
aceitabilidade relativamente mais reduzido para os estímulos sem contraste.
Em resumo, as condições experimentais procuram manipular
o acionamento de inferências contextuais por parte dos sujeitos do
experimento: enquanto a inserção de uma sequência contrastiva deverá
favorecer a evocação do tipo de representação conceptual associado ao
SN singular genérico com artigo, a supressão dessa mesma sequência
deverá produzir o efeito inverso. Como, no entanto, todos os estímulos
críticos contêm SNs genéricos com artigos, espera-se que essa diferença
resulte em uma diferença significativa na aceitabilidade dos estímulos
pertencentes a cada uma das condições.
Naturalmente, o desenho do experimento e a composição dos estímulos pressupõem
a ideia de que ouvintes/leitores são capazes de fazer inferências sobre o contexto em
que os enunciados ouvidos/lidos teriam sido utilizados (WESTERA; BRASOVEANU,
2014; SAVIC, 2014).
12
O que não significa que essa interpretação seja impossível – voltaremos a esse ponto
na seção 4.2.
11
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4.1.1 Desenho experimental, estímulos e participantes
Participaram voluntariamente do experimento 30 sujeitos (21
mulheres e 9 homens), com idades entre 18 e 57 anos, todos estudantes
do 1º período da Faculdade de Letras da UFRJ e falantes nativos do PB.
Em troca da participação, os voluntários receberam horas de Atividades
Acadêmico-científico-culturais (AACCs).
Ao todo, foram elaborados 16 estímulos críticos (oito para cada
condição) e 16 distratores. Por meio de delineamento em quadrado latino,
os estímulos críticos foram divididos em dois scripts (aqui referidos
como scripts A e B) a fim de evitar a repetição de material lexical entre
as duas condições experimentais. Como se optou por um desenho intrasujeitos, cada participante julgou quatro estímulos críticos com contraste
e quatro estímulos críticos sem contraste (além de dezesseis distratores),
totalizando 240 observações.
Para a criação dos estímulos, foram definidos previamente sete
domínios semânticos: alimento, bebida, fases da vida humana, meio de
transporte, equipamento eletrônico, esporte e roupa. Para o domínio
alimento foram estabelecidos dois pares de classes contrastantes
(chocolate vs. Maçã e batata frita vs. Fruta); além disso, para cada um dos
seis domínios restantes, foi estabelecido um par de classes contrastantes
(respectivamente, leite vs. Chá; criança vs. Adulto; carro vs. Metrô;
notebook vs. Tablet; futebol vs. Golfe; casaco vs. Regata). Por fim, para
cada um desses oito pares opositivos, foram criadas duas sentenças –
uma com contraste e uma sem contraste –, resultando em 16 estímulos
críticos. Todos os estímulos podem ser vistos no anexo 1.
Os estímulos críticos foram construídos segundo o modelo das
sentenças (6) e (7), repetidas abaixo, por conveniência, como (8) e (9):
(8) A criança gosta de doces e guloseimas.
(9) A criança gosta de doces e guloseimas. Já o adulto tende a ter um
paladar mais apurado.
1490
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
Como se vê, os estímulos críticos sempre exibem artigo definido
(não há, portanto, estímulos com determinante zero).13 Em sequências
pertencentes à condição sem contraste, como (8), temos uma sentença
simples e apenas um SN singular genérico, sempre na posição de sujeito.
Por seu turno, sequências pertencentes à condição com contraste, como
(9), apresentam duas sentenças simples, com um SN singular genérico
em cada uma delas. Tomadas conjuntamente, essas duas sentenças
descrevem uma situação de contraste: o referente do sujeito da primeira
sentença (codificado como SN singular genérico com artigo definido)
é contrastado, com base em algum atributo, ao referente do sujeito da
segunda sentença (igualmente codificado como SN singular genérico com
artigo definido). Em (9), por exemplo, o atributo relevante diz respeito à
sofisticação do paladar: afirma-se, assim, que membros da classe criança
apresentam paladar menos sofisticado que membros da classe adulto.
4.1.2 Materiais e procedimentos
O experimento foi montado no software PychoPy, versão 1.84.2, e
aplicado em um notebook Positivo Duo ZX3020, com tela de 10.1 polegadas.
Inicialmente, todos os voluntários receberam explicações orais sobre a tarefa
experimental e sobre a dinâmica do experimento. Em seguida, cada sujeito
avaliou, na presença do pesquisador, cinco estímulos de treinamento. Depois
disso, os participantes foram deixados por conta própria.
Em um primeiro momento, os sujeitos tinham acesso a uma tela
inicial com instruções escritas (anexo 2), que poderiam ler quantas vezes
quisessem e por quanto tempo julgassem necessário. A fim de assegurar
a intepretação genérica (e não específica) dos estímulos críticos, esse
texto inicial solicitava ao participante que imaginasse uma situação
hipotética na qual um pai estivesse transmitindo ao seu filho “uma
série de ensinamentos sobre diversos assuntos e seres”. Em seguida, o
mesmo texto solicitava que os participantes julgassem a aceitabilidade
das frases produzidas por esse pai hipotético, a partir de uma escala com
cinco níveis:14
Conforme a proposta desenvolvida na seção 3, o padrão com determinante zero
é não-marcado em relação ao conteúdo inserido no EDC antes do momento da
enunciação da sentença. Por essa razão, a hipótese teórica não prevê que esse padrão
seja necessariamente incompatível com a existência de sequências contrastivas. É isso
que justifica a opção por incluir no experimento apenas estímulos com artigo definido.
14
O texto com as instruções iniciais pode ser visto no anexo 2.
13
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
1.
2.
3.
4.
5.
1491
Totalmente inaceitável
Pouco aceitável
Medianamente aceitável
Muito aceitável
Totalmente aceitável
Após ter lido e compreendido as instruções iniciais, o participante
deveria pressionar a barra de espaço para que se iniciasse a apresentação
dos estímulos. As 24 sequências textuais a serem julgadas por cada
sujeito foram organizadas em ordem pseudoaleatória, de maneira que
sequências críticas não fossem exibidas em estímulos consecutivos.
Cada estímulo ficou exposto por 4000ms, sendo então seguido da tela
mostrada na Figura 11:
FIGURA 11 – Tela da pergunta referente ao julgamento em Escala Likert
Essa tela, por seu turno, permanecia visível por tempo
indeterminado, até que os participantes indicassem, por meio dos
números do teclado, o grau de aceitabilidade da sequência exposta na
tela imediatamente anterior. Essa resposta levava automaticamente à
exibição do estímulo seguinte.
4.1.3 Análise estatística e previsões experimentais
Para a análise estatística, foi realizado um teste qui-quadrado de
homogeneidade por meio do software Action Stat, versão 3.1.43.724.694.
Optou-se pela técnica do qui-quadrado, em detrimento da mais tradicional
Análise de Variância, porque existe questionamento na literatura quanto
à possibilidade de se tratar os dados derivados de escala Likert como
1492
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
dados numéricos (JAMIESON, 2004). Aqui, portanto, assumimos a opção
metodologicamente mais conservadora de tratar o grau de aceitabilidade
como variável categórica.
Especificamente, o qui-quadrado de homogeneidade avalia se
duas ou mais populações apresentam distribuição equivalente de uma
dada variável categórica. No nosso caso, as populações correspondem
às duas condições experimentais (com e sem contraste), ao passo que
a variável categórica corresponde ao próprio grau de aceitabilidade
atribuído a cada estímulo pelos participantes do experimento. Dessa
maneira, o qui-quadrado de homogeneidade permite avaliar se a
proporção de sequências com grau de aceitabilidade 1, 2, 3, 4 e 5 é
equivalente nas duas condições.
Mais acima, apresentamos informalmente nossa previsão
experimental da seguinte maneira: os estímulos da condição com contraste
serão considerados mais aceitáveis do que os estímulos da condição sem
contraste. Como não trabalharemos com médias numéricas, e sim com
contagem de frequência dos graus de aceitabilidade, formularemos essa
previsão nos seguintes termos: a proporção de sentenças totalmente
inaceitáveis (grau 1), pouco aceitáveis (grau 2), medianamente aceitáveis
(grau 3), muito aceitáveis (grau 4) e totalmente aceitáveis (grau 5)
não será equivalente nas duas condições experimentais. Se estivermos
corretos, esse resultado revelará a existência de uma correlação estatística
entre a presença ou ausência de contraste, de um lado, e o grau de
aceitabilidade de sentenças com SNs singulares genéricos com artigo,
de outro.
4.2 Resultados e discussão
Conforme previsto pela hipótese teórica desenvolvida na seção 3,
existe diferença significativa na distribuição dos graus de aceitabilidade dos
estímulos entre as duas condições experimentais (χ2 (4) = 9.832, p = .043), com
um efeito de intensidade moderada (V de Cramer = .2).15 A tabela 2 e o gráfico
1 sintetizam a distribuição dos graus de aceitabilidade em cada condição:
Tipicamente, assume-se que valores de V de Cramer iguais ou maiores que .1 e
menores que .2 indicam efeito fraco, valores iguais ou maiores que .2 e menores que
.4 indicam efeito moderado, valores iguais ou maiores que .4 e menores que .6 indicam
efeito forte e valores acima de .6 indicam efeito muito forte (REA; PARKER, 1992).
15
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
1493
TABELA 2 – Grau de aceitabilidade dos estímulos críticos
COM CONTRASTE
Grau de
aceitabilidade
Número de
respostas
Valor
percentual
SEM CONTRASTE
Número de
respostas
TOTAL
Valor
percentual
1
6
5%
11
9.16%
17
2
10
8.33%
20
16.66%
30
3
18
15%
24
20%
42
4
27
22.5%
15%
12.5%
42
5
59
49.16%
50
41.66%
109
Total
120
120
240
GRÁFICO 1 – Distribuição dos dados nas condições com e sem contraste
O padrão que emerge dos dados acima é o seguinte: o índice
de sentenças totalmente inaceitáveis (grau 1), pouco aceitáveis (grau
2) e medianamente aceitáveis (grau 3) é mais elevado na condição sem
contraste, ao passo que o número de sentenças muito aceitáveis (grau
4) e totalmente aceitáveis (grau 5) é maior na condição com contraste.
Especificamente, as sequências julgadas completamente aceitáveis
perfazem aproximadamente 49.16% do total de estímulos com contraste e
1494
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
41.66% dos estímulos sem contraste; de maneira semelhante, 22.5% dos
estímulos contrastivos receberam grau de aceitabilidade 4, ao passo que o
mesmo só ocorreu com 12.5% dos estímulos não-contrastivos. Ao mesmo
tempo, quando se trata dos estímulos com menor nível de aceitabilidade
(graus 1, 2 e 3), a situação se inverte: as proporções são sistematicamente
mais elevadas na condição sem contraste (respectivamente, 9.16%,
16.66% e 20%) do que na condição com contraste (respectivamente,
5%, 8.33% e 15%).16
Os resultados sugerem, portanto, que a presença de um segundo
SN genérico, com função contrastiva, na mesma sequência textual eleva
significativamente – ainda que moderadamente – a aceitabilidade de
enunciados que contêm SN genérico com artigo definido (e, naturalmente,
a ausência do segundo SN genérico produz o efeito inverso). Isto é, o
falante está mais propenso a aceitar uma sentença descontextualizada
com SN genérico introduzido por artigo definido quando ela é seguida
por uma sentença adicional capaz de construir uma relação opositiva.
Isso é precisamente o que se poderia esperar com base na proposta
teórica desenvolvida na seção 3. Conforme argumentamos, a sequência
contrastiva convida o leitor a evocar o tipo de esquema conceptual
associado ao padrão sintático de SN genérico com artigo definido. Nesse
esquema, vale lembrar, (i) o Espaço de Tipo que funciona como domínio
de instanciação do referente do núcleo do SN se encontra previamente
disponível no Espaço Discursivo Corrente e (ii) esse mesmo Espaço de
Tipo é ocupado não apenas pelo referente do núcleo do SN, mas também
por um conjunto de tipos conceptualmente pressupostos (isto é, “offstage”,
ou não-perfilados). Se, diante de um estímulo linguístico, o sujeito é
capaz de evocar mentalmente esse cenário (conforme representado nas
Figuras 7 e 9), é de esperar que ele perceba o enunciado como natural
e aceitável. Ao mesmo tempo, caso o indivíduo falhe em construir essa
representação (situação mais provável na ausência de uma sequência
contrastiva), é esperado que ele sinta algum tipo de estranhamento diante
de um enunciado com SN genérico definido. Dessa forma, a diferença
Um dos pareceristas argumenta que a diferença entre a proporção de notas 5 para
estímulos com e sem contraste é “mínima”. O dado crucial, no entanto, é que a diferença
na distribuição dos graus de aceitabilidade nas duas condições é estatisticamente
significativa e evidencia efeito moderado. Estes são, portanto, os dois fatos empíricos
a serem explicados. Nesta seção, propomos uma intepretação para eles.
16
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1495
na distribuição dos graus de aceitabilidade entre as duas condições é
interpretada aqui como efeito da maior ou menor probabilidade de se
evocar o tipo de representação conceptual associado à variante definida
do SN singular genérico.
Ao mesmo tempo, é importante lembrar que este experimento foi
capaz de detectar um efeito apenas moderado da presença do segundo
SN sobre a distribuição dos graus de aceitabilidade dos estímulos (V de
Cramer = .2). A nosso ver, isso pode ser explicado, ao menos em parte,
pela assunção de que leitores/ouvintes jamais interpretam enunciados em
um vácuo discursivo e informacional. Isso significa que, mesmo em casos
nos quais nenhum contexto discursivo é explicitamente fornecido, eles
tenderão a evocar algum tipo de entorno contextual para a sequência que
está sendo interpretada17. Dessa forma, ao se deparar com uma sentença
isolada do tipo A criança gosta de doces e guloseimas, é concebível que boa
parte dos participantes tenha assumido (inconscientemente) um contexto
discursivo prévio no qual se discutiam as diferenças entre o paladar das
crianças e o dos adultos. Em outras palavras, é provável que, em muitos
casos, a ausência da sequência contrastiva não tenha sido suficiente para
suprimir a evocação do cenário conceptual associado ao SN genérico
definido – uma hipótese que ajuda a explicar, inclusive, a alta incidência
de sentenças plenamente aceitáveis (grau 5) na condição sem contraste.
É razoável especular, portanto, que o efeito seja mais forte do que
o que foi possível observar neste experimento – e que a detecção de um
efeito apenas moderado tenha sido artifício do desenho experimental. Para
confirmar essa especulação, são bem-vindos experimentos que permitam
flagrar de forma mais direta as representações conceptuais associadas
aos diferentes padrões sintáticos – por exemplo, uma tarefa de escolha
forçada com imagens. Para os nossos propósitos, a vantagem desse tipo
de desenho é sua menor vulnerabilidade ao fenômeno da acomodação
pragmática, que pode interferir na interpretação de sequências linguísticas.
Seja como for, ainda que alguma forma de acomodação pragmática tenha
de fato sido realizada por muitos sujeitos, e com um elevado número de
estímulos, está claro que ela não foi suficiente para anular a diferença
Essa tendência dá origem ao conhecido fenômeno de acomodação de pressuposição
(LAMBRECHT, 1994): se alguém entra em um ambiente e ouve o enunciado “Foi o
Diego que fez o gol do Flamengo”, provavelmente não poderá evitar a suposição de
que a conversa anterior girava em torno da definição da autoria do gol do Flamengo.
17
1496
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na distribuição dos graus de aceitabilidade dos estímulos entre as duas
condições experimentais. A rigor, o fato de o efeito do contraste ter sido
observado mesmo numa situação propícia à acomodação pragmática
pesa fortemente em favor da hipótese defendida aqui.
Um segundo ponto relevante diz respeito à existência de possíveis
explicações alternativas para as diferenças de aceitabilidade encontradas.
É possível notar que os estímulos das duas condições se distinguem não
apenas quanto à contrastividade mas também quanto à informatividade –
especificamente, os estímulos da condição com contraste veiculam uma
maior quantidade de informações18. Para avaliar se os dados revelam a
existência de um efeito de informatividade independente do efeito de
contraste, um segundo experimento está atualmente em desenvolvimento.
5 Considerações finais
Este trabalho apresentou resultados experimentais compatíveis
com uma análise cognitivista acerca da semântica de SNs singulares
genéricos. A partir da caracterização do sintagma nominal estabelecida
por Langacker (1991), postulamos a existência de uma diferença
conceptual entre o SN genérico definido e o SN genérico indefinido (com
determinante zero) do PB. Com base em uma tarefa de julgamento de
aceitabilidade, foi possível confirmar a previsão de que a presença de
um segundo SN genérico, com função contrastiva, na mesma sequência
textual eleva significativamente a aceitabilidade de enunciados com SN
genérico definido. Esse resultado foi interpretado como evidência de
que, no PB, SNs genéricos definidos evocam representações conceptuais
distintas, conforme indicado nas Figuras 7 a 10.
O tratamento experimental de constructos teóricos associados à
Gramática Cognitiva é um campo ainda pouco explorado, principalmente
no que se refere ao PB. Nesse sentido, a presente pesquisa abre um
caminho promissor de investigação, que pode respaldar empiricamente a
associação entre padrões sintáticos e estruturas conceptuais. Com relação
à caracterização dos sintagmas nominais genéricos do PB, os resultados
aqui encontrados motivam o aprofundamento da proposta a partir de
novos desenhos experimentais, ao mesmo tempo em que sugerem a
ampliação da análise para incluir outros tipos de SNs genéricos do PB.
18
Agradecemos a um dos pareceristas anônimos por essa observação.
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1497
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1499
ANEXO 1
Estímulos críticos do Script A
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
A criança gosta de doces e guloseimas.
O futebol tem muitos adeptos no Brasil.
O carro só serve para atrapalhar a vida.
A batata frita engorda.
O chocolate dá espinha. Já a maçã faz bem para a pele.
O notebook ocupa muito espaço na mala. Já o tablet é leve e mais prático de
carregar.
O casaco é totalmente desnecessário no inverno do Rio de Janeiro. Enquanto
isso, a regata é um item comum em todas as estações.
O leite agrava a gastrite. Por outro lado, o chá de hortelã melhora problemas
estomacais.
Estímulos críticos do Script B
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
O chocolate dá espinha.
O leite agrava a gastrite.
O notebook ocupa muito espaço na mala.
O casaco é totalmente desnecessário no inverno do Rio de Janeiro.
O futebol tem muitos adeptos no Brasil. Já o golfe não é muito popular.
A criança gosta de doces e guloseimas. Já o adulto tende a ter um paladar mais
diversificado.
A batata frita engorda. Já a fruta é indicada para quem faz dieta.
O carro só serve para atrapalhar a vida. O metrô, por outro lado, facilita a
locomoção das pessoas.
Estímulos distratores
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Todo ônibus possui assentos preferenciais para idosos e gestantes.
Florestas são adequadas para se fazer trilhas.
Todo instrumentista possui instrução formal. Dessa maneira, há músicos que não
possuem treinamento algum.
Uma boa parte dos avós gosta de contar histórias para os seus netos.
Todo quarto de criança é bagunçado.
As famílias costumam se encontrar aos domingos.
Os gatos são muito amigáveis. Entretanto, não têm medo das pessoas.
1500
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1463-1500, 2017
Os jogadores de futebol são muito famosos no Brasil. Mas os atletas de hóquei
não costumam ter muitos fãs.
As sorveterias vendem mais em dias quentes. Assim, lucram mais no inverno.
Roqueiro costuma usar roupas pretas e pulseiras metálicas.
Os cantores líricos cantam apenas música sertaneja.
Lanchonete é um bom lugar para se fazer refeições rápidas.
As cidades grandes são muito barulhentas. Mesmo assim, são lugares
recomendados para se morar
Flash é o herói mais rápido dos quadrinhos. Dessa forma, ele pode correr mais
rápido que a velocidade da luz.
Cidades quentes são péssimas para se encontrar gorros e agasalhos.
Os escritores costumam não gostar de ler livros.
ANEXO 2
Você está prestes a participar de um experimento linguístico muito simples. Leia as
instruções a seguir com bastante atenção e responda ao que for solicitado.
Imagine que você está ouvindo um pai transmitir ao seu filho uma série de
ensinamentos sobre diversos assuntos e seres. Na sequência, você verá algumas das
frases produzidas por ele. Sua tarefa consiste simplesmente em julgar se elas soam
aceitáveis e naturais no português. Para isso, considere a seguinte escala:
1. Totalmente inaceitável
2. Pouco aceitável
3. Medianamente aceitável
4. Muito aceitável
5. Totalmente aceitável
Lembre-se: você não está sendo avaliado e não deve levar em consideração as regras
gramaticais aprendidas na escola. Ao atribuir uma nota para cada frase (1, 2, 3, 4 ou
5), considere apenas a maneira como elas soam aos seus ouvidos. Em outras palavras,
faça o seu julgamento utilizando apenas a sua intuição de falante do português.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Um estudo experimental do processamento
de metáforas do português brasileiro
An experimental study on Brazilian Portuguese
metaphor processing
Antonio João Carvalho Ribeiro
Grupo de Estudos e Laboratório em Psicolinguística Experimental – GEPEX
Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro / Brasil
ajcarvalhoribeiro@gmail.com
Adiel Queiroz Ricci
Grupo de Estudos e Laboratório em Psicolinguística Experimental – GEPEX
Universidade Severino Sombra, Vassouras, Rio de Janeiro / Brasil
adielricci@gmail.com
Resumo: Um estudo experimental do processamento psicolinguístico
de metáforas nominais do português brasileiro (X é um Y), p. ex., “Irene
é um furacão”, foi realizado com o objetivo de evidenciar, a partir de
tempos de leitura (RTs), a compreensão de expressões familiares, highapt (“bem construídas”) e cujo veículo se acha convencionalizado. Na
primeira fase da pesquisa, realizaram-se dois norming studies (“estudos
normativos”) com vistas ao ranqueamento de metáforas nominais (p. ex.
“Algumas mulheres são furacões”) em relação a familiaridade, aptness
(“adequação”) e convencionalidade. Na segunda fase da pesquisa, um
experimento de leitura automonitorada (self-paced, non-cumulative,
moving-window reading) foi conduzido, recorrendo, para a composição
dos estímulos, às metáforas, p. ex., “Irene é um furacão”, que alcançaram,
nos estudos normativos da primeira fase, ratings (ou “classificações”) de
“muito familiares”, “very high-apt’’ e “altamente convencionalizadas”.
Evidências do português brasileiro em favor do processamento direto
de metáforas foram obtidas, conforme preconiza o modelo de ClasseISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1501-1536
1502
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
inclusion, de Glucksberg e Keysar (1990), pois não se revelaram
diferenças significativas entre os RTs médios nas três condições:
“metáfora”, “literal” e “declaração literal de inclusão em classe”, em
contraposição aos achados de Janus e Bever (1985), que observaram
tempos de leitura de metáforas novas significativamente maiores do que
os de expressões literais, conforme as predições do Modelo Pragmático
Padrão de processamento indireto.
Palavras-chave: processamento psicolinguístico da metáfora; classinclusion; dual reference; norming studies; compreensão de linguagem
figurada; português brasileiro.
Abstract: An experimental study on the psycholinguistic processing
of Brazilian Portuguese attributive metaphors (X is a Y), e.g., “Irene
é um furacão” (“Irene is a hurricane”), was carried out with the aim of
highlighting, from reading times (RTs), the understanding of familiar, highapt (“well-built”) expressions and the vehicle of which is conventionalized.
In the first phase of the research, two norming studies were carried out
aiming at the ranking of attributive metaphors, e.g. “Algumas mulheres são
furacões” (“Some women are hurricanes”), regarding familiarity, aptness
and conventionality. In the second phase of the research, a self-paced, noncumulative, moving-window reading experiment was conducted, using, for
the composition of the stimuli, the metaphors, e.g., “Irene é um furacão”,
that have reached, in the normative studies of the first phase, ratings of
“very familiar”, “very high-apt” and “highly conventionalized”. Brazilian
Portuguese evidences in favor of direct processing of metaphors were
obtained, as recommended by the Class-inclusion model of Glucksberg
and Keysar (1990), since there were no significant differences between
the mean RTs in the three conditions: “Metaphor”, “Literal” and “Literal
Declaration of Class Inclusion”. In contrast to the findings of Janus and
Bever (1985), who observed reading times of new metaphors significantly
larger than those of literal expressions, according to the predictions of the
Standard Pragmatic Model of indirect processing.
Keywords: psycholinguistic processing of metaphor; class-inclusion;
dual reference; norming studies; figurative language comprehension;
brazilian portuguese.
Recebido em: 8 de dezembro de 2017.
Aprovado em: 16 de março de 2017.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1503
1 Introdução
Este artigo pretende inserir o português brasileiro (PB) na literatura
sobre compreensão de metáforas, polarizada, segundo Glucksberg
(2003), entre modelos de processamento indireto, cujos pressupostos
se têm revelado hipóteses testáveis, e processamento direto, com base
em evidências empíricas da interferência das variáveis “Familiaridade”,
“Aptness” (“eficácia”, “adequação”) e “Convencionalidade”. Para tanto,
reportamos aqui os resultados da pesquisa em que nos envolvemos nos
últimos dois anos, investigando a compreensão de metáforas que se
acham convencionalizadas no PB, sugestivos de processamento direto
segundo o modelo de Class-inclusion de Glucksberg e Keysar (1990).1
Na fase inicial da pesquisa, foram realizados dois pré-testes
– norming studies nos quais os participantes ranquearam expressões
metafóricas, por exemplo, “Algumas mulheres são furacões”, em
Familiaridade, Aptness e Convencionalidade.2 Na literatura da área, são
chamados de norming studies (BLASKO; CONNINE, 1993; BOWDLE;
GENTNER, 2005; DULCINATI et al., 2014), ou norming pre-tests
(JONES; ESTES, 2006), ou ainda rating experiments (THIBODEAU;
DURGIN, 2011), ou, simplesmente, de rating tasks (HARRIS, 1976),
os instrumentos concebidos para avaliar expressões metafóricas. O
objetivo dos ranqueamentos foi o de selecionar expressões, entre as
que receberam os ratings mais altos em ambos, como norteadoras da
construção dos estímulos do experimento de leitura automonitorada
conduzido na fase subsequente. Por exemplo, os ratings altos atribuídos
a “Algumas mulheres são furacões” basearam a construção do
estímulo “Irene é um furacão” que, inserido em contextos (parágrafos)
apropriados, permitiria interpretação metafórica (se Irene é uma mulher
agitada) ou literal (se Irene é o furacão que atingiu o Caribe e os EUA
em 2011).
A opção por utilizar metáforas nominais – do tipo X é um Y – em
que X é o tópico e Y é o veículo, nos exemplos acima, respectivamente,
A pesquisa em questão, orientada pelo primeiro autor, foi conduzida pelo segundo, como
parte dos requisitos de obtenção, por esse último, do título de Mestre em Linguística
(RICCI, 2016). Aprovação pelo CEP da USS – RJ, CAAE 50572215.80000.5290,
parecer 1.412.627, em 22 fev. 2016.
2
Os resultados dos referidos norming studies foram apresentados no XXXI ENANPOLL
(RIBEIRO et al., 2016)
1
1504
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
“Algumas mulheres” e “Irene” / “furacões” e “furacão”, deve-se ao
fato de a maioria dos experimentos que se acham descritos na literatura
focalizar essa forma (DULCINATI et al., 2014, p. 72).
Finalmente, a decisão de propor uma tarefa de leitura
automonitorada de expressões do PB em contextos diversos visou a
superar as fragilidades metodológicas apontadas por Janus e Bever (1985)
nos experimentos conduzidos até então – sustentando (cf. CLARK;
LUCY, 1975; GIBBS JR., 1979, 1981) ou refutando (cf. ORTONY
et al., 1978; GLUCKSBERG; GILDEA; BOOKIN, 1982) o que se
convencionou chamar de Modelo Pragmático Padrão de processamento
indireto da metáfora (cf. SEARLE, 1993 [1979]; GRICE, 1975) – nos
quais não se preveem contextos, ou tempos de leitura são medidos ao final
da apresentação dos estímulos. Janus e Bever (1985) mediram tempos
de leitura dos fragmentos críticos de expressões contextualizadas, isto é,
dos sintagmas nominais que contêm o veículo – locus do “Problema do
Reconhecimento” do significado metafórico – e observaram que metáforas
“novas” tomaram, em média, tempos de leitura significativamente
maiores do que expressões equivalentes de significado literal. Sendo
assim, ofereceu-se, na literatura, o espaço que este estudo no PB busca
ocupar: adotando as linhas mestras do experimento que foi conduzido
por Janus e Bever (1985), oferecer achados cronométricos em proveito
da tese do processamento direto de metáforas familiares, high-apt e cujo
veículo acha-se convencionalizado.
2 Revisão da literatura
Tradicionalmente, na esteira da visão aristotélica, de que a
metáfora é desviante da linguagem ordinária (GARRET, 2007), a
interpretação metafórica é considerada como opcional (GLUCKSBERG,
2003; BOWDLE; GENTNER, 2005). No que se convencionou chamar
de Modelo Pragmático Padrão (SPM), o processamento da metáfora
(bem como o da linguagem figurada em geral) se dá em três estágios.
Inicialmente, o ouvinte / leitor deriva o significado literal da expressão. No
segundo estágio, ele verifica se a interpretação é apropriada no contexto
do enunciado e deve ser aceita, ou não, como significado pretendido pelo
locutor. Se implausível, a representação inicial é rejeitada, e chega-se ao
terceiro estágio, o da busca por uma interpretação metafórica. Portanto,
a malograda interpretação inicial do significado literal funciona como
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1505
o “gatilho” que dispara a busca por um significado metafórico que
dê conta do proferimento (SEARLE, 1993 [1979], p. 89-90). Sendo
assim, metáforas nominais como, por exemplo, Some jobs are jails
(“Alguns empregos são prisões”) (exemplo retirado de GLUCKSBERG;
KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG, 1998, 2003) seriam reconhecidas
como asserções que ferem a máxima da qualidade (GRICE, 1975), e uma
maneira de compreendê-las passaria por sua conversão em símile, Some
jobs are like jails (“Alguns empregos são como prisões”), declarações
literais verdadeiras, posto que duas coisas quaisquer sempre podem ser
semelhantes de inúmeras maneiras.
Entretanto, Glucksberg, Gildea e Bookin (1982) questionam a
prioridade do significado literal / opcionalidade da interpretação metafórica,
pressuposto do modelo SPM, a partir das evidências que obtiveram em
uma série de experimentos de verificação de sentenças inspirados no
teste de Stroop (1935). Stroop (1935) evidenciou a competição entre
processos atencionais que permite capturar o automatismo das fases
iniciais do processamento da leitura, traduzido em erros ou maiores
tempos de reação ao se responder em que cor uma palavra (por exemplo,
vermelho) está escrita, quando ela se acha impressa em outra cor (por
exemplo, verde). Glucksberg, Gildea e Bookin (1982.) alegam que as
metáforas que eles apresentaram aos participantes, p. ex., some surgeons
are butchers (“alguns cirurgiões são açougueiros”) tomaram mais tempo
para serem julgadas como falsas do que as metáforas “embaralhadas”,
p. ex., some jobs are butchers (“alguns empregos são açougueiros”),
porque os significados metafóricos disponíveis nas metáforas, mas não
nas metáforas embaralhadas, interferiram no julgamento do significado
literal dessas expressões. Recorrendo à lógica do efeito Stroop, ou da
“compulsão” por ler a palavra quando se é instado a dizer o nome da cor
em que a ela está escrita, Glucksberg, Gildea e Bookin (1982) refutam
o modelo SPM, segundo o qual se cogitam interpretações metafóricas
apenas quando os significados literais se mostram intratáveis, sustentando
que interpretações metafóricas não podem ser inibidas ou, em suas
próprias palavras, que o significado metafórico não pode ser ignorado.
De acordo com Glucksberg e colaboradores (GLUCKSBERG;
KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG, 1998; GLUCKSBERG, 2003), falham
as diversas teorias (cf. TVERSKY, 1977; ORTONY, 1993 [1979]) que
tratam metáforas como comparações implícitas porque, em comparações
literais, a equação “X é como um Y” é bidirecional, p. ex.: copper is like tin
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ou tin is like cooper (“cobre é como estanho” ou “estanho é como cobre”),
coffee is like tea ou tea is like coffee (“café é como chá” ou “chá é como
café”), enquanto, em metáforas, os elementos não podem ser comutados, p.
ex.: some jobs are jails, mas não *some jails are jobs (“alguns empregos são
prisões”, mas não “*algumas prisões são empregos”), sermons are sleeping
pills, mas não *sleeping pills are sermons (“sermões são soníferos”, mas
não “*soníferos são sermões”). A aparente reversibilidade dos elementos da
metáfora produz uma nova expressão, p. ex.: some surgeons are butchers
(“alguns cirurgiões são açougueiros”) e some butchers are surgeons
(“alguns açougueiros são cirurgiões”) diferem nas bases que sustentam a
construção de cada uma delas.
De acordo com Glucksberg e colaboradores (GLUCKSBERG;
KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG, 1998), metáforas são o que aparentam
ser: declarações de inclusão em classe, tanto quanto asserções literais
de inclusão em categorias. A metáfora sermons are sleeping pills
(“sermões são soníferos”), por exemplo, comporta-se como uma
declaração de inclusão de sermons (“sermões”) na categoria metafórica
sleeping pills (“soníferos”), tal qual a asserção a tree is a plant (“uma
árvore é um vegetal”) inclui tree (“árvore”) na classe plant (“vegetal”)
(GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990, p. 12). É evidência, segundo eles, de
que, em metáforas nominais, “X é um Y” expressa relação de inclusão em
classe, e não de igualdade, a possibilidade de parafrasear, sem problemas,
comparações metafóricas em metáforas (na forma paradigmática), p. ex.:
my job is like a jail → my job is a jail (“meu emprego é como uma prisão
→ meu emprego é uma prisão”); ao passo que é impossível parafrasear
comparações literais em declarações verdadeiras, p. ex.: bees are like
hornets → *bees are hornets (“abelhas são como vespas → *abelhas
são vespas”) (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990, p. 7-11) ou my lawyer
was like a shark → my lawyer was a shark (“meu advogado é como um
tubarão → meu advogado é um tubarão”), mas não barracudas are like
sharks → *barracudas are sharks” (“barracudas são como tubarões →
*barracudas são tubarões”) (GLUCKSBERG, 1998, p. 41).
De acordo com o modelo teórico de Glucksberg e Keysar (1990)
– Class-inclusion –, metáforas são compreendidas como declarações de
inclusão em classes, ou categorias, nas quais os veículos metafóricos têm
o que ele chama de Dual Reference (“dupla referência”). Por exemplo,
shark refere um predador marinho (ou uma categoria deles) e também
uma categoria abstrata de entes predatórios em geral à qual empresta o
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nome. Em my lawyer was a shark (“meu advogado era um tubarão”)
o veículo da expressão, (shark / “tubarão”) estabelece uma relação
taxonômica entre predador marinho e advogado, ambos abrigados em
categoria abstrata de entes predatórios em geral que recebe o nome
do membro prototípico: shark / “tubarão”. Em síntese, metáforas
cujos veículos referem categorias metafóricas convencionalizadas são
processadas diretamente, tanto quanto asserções literais de inclusão em
categoria, nos termos do modelo de Class-inclusion / Dual reference,
em que a “dupla referência” provê explicação tanto para a “não
reversibilidade da metáfora” quanto para a possibilidade de parafrasear
comparações metafóricas em declarações, o que permite distinguir
metáforas de comparações (GLUCKSBERG, 2003, p. 95). A par desses
fatos, Glucksberg (1998, 2003) rechaça a hipótese de que metáforas
seriam processadas a partir da conversão em símiles, amparado nos
achados empíricos de Johnson (1996), de que metáforas na forma de
declaração, p. ex.: my lawyer is a shark (“meu advogado é um tubarão”)
foram compreendidas mais rapidamente que símiles, my lawyer is like a
shark (“meu advogado é como um tubarão”), embora essas contenham
uma palavra (like / “como”) mais do que aquelas.
Ao legitimar a possibilidade de o membro prototípico designar
a categoria metafórica, Glucksberg e Keysar (1990, p. 8) alegam que
diversas línguas se valem, rotineiramente, da estratégia para rotular
categorias supraordenadas. Na língua de sinais americana, utilizamse sinais para itens básicos do mobiliário, chair (“cadeira”), table
(“mesa”), bed (“cama”) para referir categoria furniture (“mobília”).
No birmanês, falado no sudeste da Ásia (Birmânia, Tailândia, Malásia
e Singapura) recorre-se à dupla função de nomes que referem objetos
altamente prototípicos e classes (DENNY, 1986; CRAIG, 1986 apud
GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990). Até mesmo em línguas não
classificadoras, como o hebraico e o inglês, identificam-se exemplos
da utilização de nomes prototípicos para designar categorias, como o
sobrenome de um acusado de crimes de guerra, Demjanjuk, que, em
Israel e artigos de jornais norte-americanos tornou-se a palavra para
identificar “indivíduo comum capaz de cometer atos inomináveis”
(SHINOFF, 1987 apud GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990) –, ainda
que John Demjanjuk, não tenha sido julgado, definitivamente, culpado
dos crimes atribuídos ao sádico guarda do campo de concentração de
Treblinka, na Polônia, chamado de “Ivan o Terrível”. Em grande número
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de línguas indígenas do sudoeste dos Estados Unidos, há fartos exemplos
do uso ocasional de nomes de membros prototípicos para rotular as
categorias em que se incluem. Na língua hopi, o nome da espécie mais
abundante, cottonwood, pode designar todas as árvores chamadas de
deciduous trees, ou caducifólias ou de folhas “caducas”, que perdem
completamente as folhas no outono e no inverno (TRAGER, 1938
apud GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990). E em shoshoni, a palavra para
“águia” também é usada para aves de grande porte em geral (HAGE;
MILLER, 1976 apud GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990). Segundo
Glucksberg e Keysar (1990), o princípio subjacente aos exemplos de
dupla referência acima – tomar o membro que é prototípico para referir
a categoria – explica o que se dá nas metáforas: toma-se o veículo para
referir a categoria metafórica, abstrata, além de referir o ente real. Há
casos em que a dupla referência do veículo das metáforas fica explícita,
como, por exemplo, na fala de um espectador presente ao julgamento
de John Demjanjuk, transcrita por Glucksberg e Keysar (1990, p. 8): I
know his name is Demjanjuk, but I don’t know if he is a Demjanjuk (“Eu
sei que o nome é Demjanjuk, mas não sei se ele é um Demjanjuk”). E
no exemplo oferecido por Glucksberg (2003, p. 94): Cambodia was
Vietnam’s Vietnam (“O Camboja foi o Vietnã do Vietnã”), em que, em
inglês, a primeira menção a Vietnã refere o país, e a segunda menção (de
Vietnã), a categoria abstrata supraordenada das intervenções militares
desastrosas decorrentes do conflito armado no sudeste da Ásia (e viceversa em português).
Finalmente, no mapeamento do campo de pesquisas em
psicolinguística da metáfora até então explorado, Glucksberg (2003)
enfatiza as evidências dos experimentos de Blasko e Connine (1993)
de crossmodal priming (no caso, priming semântico associado a
uma tarefa de decisão lexical), de que ratings altos de familiaridade
e aptness aceleram a ativação do significado metafórico do veículo
de metáforas. Com isso, Glucksberg (2003) arrola, além da
convencionalidade do veículo, o papel das variáveis Familiaridade e
Aptness (“adequação ou eficácia da expressão”) no acesso rápido ao
significado metafórico e, portanto, tributárias do processamento direto
de expressões metafóricas.
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3 Experimento 1: norming study de Familiaridade e Convencionalidade
O Experimento 1 objetivou avaliar a familiaridade dos
participantes em relação às metáforas que foram construídas, para tal fim,
pelo pesquisador, sendo familiaridade aqui entendida como familiaridade
subjetiva, segundo a definição de Blasko e Connine (1993, p. 305): the
perceived experience with the metaphor (“a sensação da experiência
com a metáfora”).3 Para além da obtenção de ratings de familiaridade das
metáforas – em familiar e não familiar – estimou-se a convencionalidade
das expressões, cujos veículos tiveram o significado figurado colhido em
dicionários de prestígio do PB.4 Para tanto, cada um dos participantes
escolheu, entre três palavras, aquela que, de acordo com ele(a), capturava
o significado que a expressão pretendia comunicar. A partir das respostas,
verificou-se se o veículo (Y) evocara o significado figurado ou por
extensão registrado nos dicionários consultados, permitindo, ou não,
inferir se o mesmo se achava, ou não, convencionalizado no repertório
dos indivíduos da amostra.
Participantes: 81 estudantes da Universidade Severino Sombra,
em Vassouras – RJ, com idade entre 18 e 56 anos, sendo 16 do sexo
masculino e 65 do feminino, todos falantes nativos de PB, jamais
tendo colaborado em experimentos sobre compreensão de metáforas,
participaram voluntariamente.
Materiais: 84 metáforas nominais (X é um Y) foram construídas,
pelo pesquisador, sem repetições de veículos (Y) ou tópicos (X). Os
tópicos das expressões foram modificados por “alguns(mas)” e tanto os
tópicos (X) quanto os veículos (Y) são substantivos concretos, de mesmo
gênero, por exemplo: “Alguns carros são abacaxis”. Com exceção de
alguns tópicos (X), que são comuns de dois gêneros e alguns veículos,
sobrecomuns, p. ex.: “Alguns motoristas são lesmas”. Os significados
figurados de todos os veículos (Y) acham-se registrados em pelo menos
Em oposição a familiaridade objetiva, estimada com base na frequência metafórica,
utilizando a ferramenta de pesquisa Google com corpus (THIBODEAU; DURGIN,
2011, p. 209).
4
AULETE. Aulete Digital: o dicionário da língua portuguesa na internet; HOUAISS;
VILLAR. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 3. ed. (2009); FERREIRA.
Novo Aurélio século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa (1999); e a 6ª edição do
FERREIRA. Miniaurélio: o Minidicionário da Língua Portuguesa (2004).
3
1510
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dois dos dicionários consultados. E, tomadas literalmente, todas as
expressões construídas são falsas.
Procedimentos: Em dias pré-determinados, grupos de participantes
de, no máximo, 19, foram acomodados em uma das salas do Núcleo de
Ensino Semipresencial da USS – RJ5 e, após firmarem o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, realizaram a tarefa proposta, em
média, em 15 minutos. Cada um dos participantes sentou-se em frente a
uma tela LCD de 17” que mostrava o formulário Google (Google Chrome
sobre Windows 7) que continha as perguntas que deveriam responder
(cada uma das telas conectada a um PC com teclado com fio ABNT2 e
mouse USB óptico, com fio, de três botões e scroll). No cabeçalho de
cada um dos blocos do formulário, imediatamente acima da expressão
que tinham que julgar (familiar ou não familiar) os participantes podiam
ler as instruções acerca do procedimento a ser seguido: “As expressões
abaixo lhe são familiares?” “Você já as leu ou ouviu?” E, continuando:
“Marque SIM (se for familiar) ou NÃO (se não for familiar)”. E “Depois,
tendo, ou não, ouvido ou lido a expressão, escolha uma palavra que você
acredita que capture o seu significado”.
Assim, foi possível estimar a convencionalidade do veículo (Y)
de cada uma das metáforas, cujo significado figurado achava-se entre as
opções, além de avaliar a qualidade da participação dos componentes
da amostra, pois as outras opções referiam o significado literal da
expressão ou o oposto do metafórico. Na distribuição das múltiplas
escolhas, cuidou-se de alternar, dentro do formulário, as posições em
que apareciam as opções (cf. excerto do formulário, na Figura 1). Dar
respostas a todas as perguntas era obrigatório, impossibilitando que
fossem deixadas em branco quando do envio do formulário via acesso à
internet. E, ao final de cada sessão, os participantes puderam conhecer os
objetivos do experimento e ter esclarecidas dúvidas que eventualmente
tivessem.
Núcleo de Ensino Semipresencial da Universidade Severino Sombra, em Vassouras
– RJ.
5
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1511
Figura 1 – Excerto do formulário de Familiaridade
3.1 Experimento 2: norming study de Aptness6 e Convencionalidade
O Experimento 2 objetivou avaliar em aptness as expressões do
conjunto de 84 metáforas cuja familiaridade foi julgada no Experimento
1. Atendendo à definição de aptness mais amplamente aceita: the
extent to which the statement captures important features of the topic
(cf. CHIAPPE et al., 2003, p. 97) (“o quanto a declaração captura as
características importantes do tópico”),7 foi pedido aos participantes
que dessem notas de 1 a 5 a cada uma das expressões, avaliando a sua
eficácia em transmitir o significado que pretendem transmitir. Além disso,
estimou-se, como foi feito no Experimento 1, a convencionalidade das
expressões.
Participantes: 79 estudantes da Universidade Severino Sombra,
em Vassouras – RJ, com idade entre 19 e 44 anos, sendo 28 do sexo
masculino e 51 do feminino, todos falantes nativos de PB, jamais
A versão, em português, de aptness, aqui, bem como nos formulários apresentados
aos participantes, “eficácia”, poderia ser “capacidade” ou “competência”, “jeito”, ou,
até mesmo, “adequação” ou “a qualidade do que é apropriado ou adequado”.
7
Dulcinati et al. (2014, p. 74), advertem que se trata de uma propriedade da metáfora
que tem recebido muitas definições diferentes.
6
1512
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tendo colaborado em experimentos sobre compreensão de metáforas,
participaram voluntariamente.
Materiais: As mesmas 84 metáforas nominais (X é um Y)
mostradas aos participantes do Experimento 1.
Procedimentos: Em dias pré-determinados, grupos de
participantes de, no máximo, 19, foram acomodados em uma das salas do
Núcleo de Ensino Semipresencial da USS – RJ8 e, após firmarem o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, realizaram a tarefa proposta, em
média, em 15 minutos. Cada um dos participantes sentou-se em frente a
uma tela LCD de 17” que mostrava o formulário Google (Google Chrome
sobre Windows 7) que continha as perguntas que deveriam responder
(cada uma das telas conectada a um PC com teclado com fio ABNT2 e
mouse USB óptico, com fio, de três botões e scroll). No cabeçalho de
cada um dos blocos do formulário, imediatamente acima da expressão
que tinham que julgar, os participantes podiam ler as instruções acerca
do procedimento a ser seguido: “Dê uma nota de 1 a 5 a cada uma das
expressões abaixo, avaliando a sua eficácia em transmitir o significado
que pretendem transmitir”, e “Depois, escolha uma palavra que você
acredita que capture o seu significado”. Tal qual no Experimento 1, foi
possível estimar a convencionalidade do veículo (Y) de cada uma das
metáforas, cujo significado figurado achava-se entre as opções, além
de avaliar a qualidade da participação dos componentes da amostra,
pois as outras opções referiam o significado literal da expressão ou o
oposto do metafórico. Na distribuição das múltiplas escolhas, cuidouse de alternar, dentro do formulário, as posições em que apareciam as
opções (cf. excerto do formulário, na Figura 2). Dar respostas a todas
as perguntas era obrigatório, impossibilitando que fossem deixadas em
branco quando do envio do formulário via acesso à internet. E, como
no Experimento 1, ao final de cada sessão, os participantes puderam
conhecer os objetivos do experimento e ter esclarecidas dúvidas que
eventualmente tivessem.
8
Nas mesmas dependências em que foi realizado o Experimento 1.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1513
Figura 2 – Excerto do formulário de Aptness
3.2 Resultados dos norming studies
Os resultados dos 2 norming studies contabilizaram um total de
26.880 julgamentos das 84 expressões metafóricas que foram construídas
para esse fim: 13.608 julgamentos feitos pelos 81 participantes do
Experimento 1 a respeito da “Familiaridade” e da “Convencionalidade”
das metáforas; e outros 13.272, feitos pelo grupo de 79 participantes do
Experimento 2, que as ranquearam em “Aptness” e “Convencionalidade”
– em ambos os casos, com a finalidade de compor o conjunto de estímulos
do experimento de leitura automonitorada que foi realizado na fase
seguinte da pesquisa. A seleção das metáforas de rating mais alto em
“Convencionalidade” baseou-se na média das estimativas obtidas nos
2 experimentos.
Considerando-se o indivíduo, familiaridade deve ser vista
como uma variável discreta, envolvendo exclusivamente dois fatores,
ou “sentimentos”: um, de familiaridade com “algo”, e outro de não
familiaridade com “esse algo”, se o que é percebido pelo indivíduo
lhe parece, respectivamente, familiar ou não familiar. Porém, tomando
grupos de indivíduos, é lícito admitir graus de familiaridade, tais como os
ratings de “Familiaridade” obtidos entre os participantes do Experimento
1, que resultaram em metáforas “não familiares”, “pouco familiares”,
“medianamente familiares”, “familiares” e “muito familiares” reunidos
na Tabela 1.
1514
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Tabela 1 – Ratings de “Familiaridade” no Experimento 19
Ratings das expressões
Respostas SIM (%)9
Metáforas muito familiares
entre 80 e 100
Metáforas familiares
igual ou maior que 60 e menor que 80
Metáforas medianamente familiares
igual ou maior que 40 e menor que 60
Metáforas pouco familiares
igual ou maior que 20 e menor que 40
Metáforas não familiares
menor que 20
4 expressões, isto é, menos de 5% do total, foram julgadas
familiares por menos da metade dos participantes: “Alguns vizinhos
são sapos” (familiar a 41,98%), “Alguns carros são abacaxis” (40,74%),
“Algumas explicações são véus” (39,51%) e a menos familiar ao grupo,
“Alguns indivíduos são avestruzes” (37,04%). A grande maioria, 75 das
84 expressões (89% do total) foi julgada familiar por 60% ou mais dos
participantes: desde aquelas que pareceram familiares a pouco mais da
metade do grupo, por exemplo, “Alguns pensadores são águias” (60,49%)
e “Algumas amigas são camaleões” (64,02%) às que soaram familiares a
todos, p. ex.: “Algumas sogras são cobras” (100%) e “Algumas mulheres
são furacões” (100%). Essa maioria abarcou as metáforas ranqueadas
“familiares” e “muito familiares”, pré-requisito da seleção dos estímulos
do experimento de leitura automonitorada a se realizar na fase seguinte
da pesquisa.
Contudo, decidimos elevar o nível de corte para 85% de respostas
positivas (SIM) nos julgamentos da familiaridade das expressões,
preservando 59 (ou 70%) das 84 candidatas à seleção para compor o
conjunto de estímulos do experimento de leitura automonitorada previsto.
Sendo assim, as expressões metafóricas selecionadas foram julgadas
familiares por 85% dos participantes, por exemplo, desde “Alguns
políticos são raposas” (85,19%), passando por “Alguns professores são
carrascos” (98,77%), até aquelas que alcançaram a unanimidade no grupo,
p. ex.: “Alguns motoristas são lesmas” (100%) e “Alguns músicos são
feras” (100%).
“As expressões abaixo lhe são familiares? Você já as leu ou ouviu? Marque SIM (se for
familiar) ou NÃO (se não for familiar)” (cf. excerto do formulário de “Familiaridade”,
Figura 1).
9
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Tabela 2 – Ratings de Aptness no Experimento 210
Ratings das expressões
Notas (de 1 a 5)10
Metáforas very high-apt
5
Metáforas high-apt
4
Metáforas moderate-apt
3
Metáforas low-apt
2
Metáforas very low-apt
1
O ranqueamento em Aptness, de acordo com as notas de 1 a 5
dadas pelos participantes do Experimento 2 à eficácia das expressões,
resultou nos ratings: very low-apt, low-apt, moderate-apt, high-apt e
very high-apt, reunidos na Tabela 2.
Nenhuma das 84 expressões mereceu, dos participantes do
Experimento 2, nota igual ou menor que 2 em Aptness, redundando em
não se ter, no conjunto, metáforas de ratings low-apt e very-low apt. E
apenas 6, ou 7% do total, receberam notas menores que 4, caracterizadas
como moderate-apt, a saber: “Alguns carros são abacaxis” (com a média
3,94), “Alguns estudantes são traças” (com 3,89), “Algumas explicações
são véus” (3,86), “Alguns vizinhos são sapos” (3,77) e as duas de
rating mais baixo, “Alguns humanos são canários (3,65) e “Alguns
indivíduos são avestruzes” (3,57). Em matéria de “eficácia”, a quase
totalidade das expressões, 78 ou cerca de 93%, recebeu notas entre 4 e 5,
circunscrevendo a maioria aos ratings mais altos, high-apt ou very highapt, p. ex.: “Alguns viciados são zumbis” (com a média 4,08), “Alguns
advogados são tubarões” (4,32), “Algumas estradas são serpentes” (4,35),
“Alguns cunhados são malas” (4,72), “Algumas mães são leoas” (4,82)
e aquela que chegou mais perto de alcançar a nota máxima, “Algumas
meninas são gatas“ (4,91).
Apesar das notas altas dadas à maioria das expressões, aplicamos,
aqui, o rigor adotado antes, elevando para 4,5 o nível de corte nos ratings
de Aptness das metáforas, preservando então 61 das 84 (ou 73%) das
candidatas a estímulos do experimento de leitura automonitorada previsto.
“Dê uma nota de 1 a 5 a cada uma das expressões abaixo, avaliando a sua eficácia
em transmitir o significado que pretendem transmitir” (cf. excerto do formulário de
“Aptness”, Figura 2).
10
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1516
Portanto, as expressões metafóricas selecionadas foram aquelas de rating
igual ou maior do que 4,5, p. ex.: “Alguns policiais são gorilas” (4,54),
“Alguns pais são bananas” (4,67), passando por “Alguns trabalhos são
prisões” (4,71), “Algumas modelos são aviões” (4,8) até as que estiveram
a ponto de alcançaram a unanimidade no grupo, tais como “Alguns
lutadores são touros” (4,89) e “Alguns mestres são espelhos” (4,89).
As estimativas médias de “Convencionalidade”, obtidas a
partir dos resultados dos Experimentos 1 e 2 traduziu-se nos ratings:
“metáforas novas”, “metáforas pouco convencionalizadas”, “metáforas
medianamente convencionalizadas”, “convencionalizadas” e “metáforas
altamente convencionalizadas”, reunidos na Tabela 3. As estimativas
com respeito à “Convencionalidade” coletadas nos Experimentos 1
e 2 foram reunidas em estimativas médias, ponderadas em relação
ao número de participantes de cada um deles, com o objetivo de tirar
proveito da totalidade das observações. A adoção do mesmo nível de corte
(85%) utilizado para selecionar expressões com base em familiaridade,
restringiu aqui os estímulos do experimento de leitura automonitorada
previsto às expressões altamente convencionalizadas.
Tabela 3 – Ratings de “Convencionalidade” nos Experimentos 1 e 2113
Ratings das expressões
Respostas congruentes (%)11
Metáforas altamente convencionalizadas
entre 80 e 100
Metáforas convencionalizadas
igual ou maior que 60 e menor que 80
Metáforas medianamente convencionalizadas
igual ou maior que 40 e menor que 60
Metáforas pouco convencionalizadas
igual ou maior que 20 e menor que 40
Metáforas novas
menor que 20
Desse modo, foram selecionadas 43 expressões do conjunto
original, com o objetivo de compor os estímulos do experimento de leitura
automonitorada a se realizar na fase seguinte da pesquisa. Admitiramse, nessa seleção: metáforas “muito familiares” (em ao menos 85%
dos julgamentos dos participantes do Experimento 1), metáforas very
high-apt (de rating igual ou superior a 4,5 obtido no ranqueamento do
“[...] escolha uma palavra que você acredita que capture o significado da expressão”
(cf. excertos dos formulários de “Familiaridade” e de “Aptness”, Figura 1 e Figura 2,
respectivamente).
11
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1517
Experimento 2; e “altamente convencionalizadas” (em 85% ou mais das
estimativas médias nas avaliações dos participantes dos Experimentos 1
e 2, todas reunidas na Tabela 4.
Tabela 4 – As 43 expressões selecionadas nos Experimentos 1 e 2
As 43 expressões selecionadas
Familiaridade
Aptness Convencionalidade
Alguns políticos são raposas.
85,19%
4,67
97,45%
Algumas crianças são anjos.
98,77%
4,77
89,83%
Alguns chefes são toupeiras.
92,59%
4,66
94,92%
Alguns seguranças são armários.
93,83%
4,76
95,56%
Algumas modelos são aviões.
97,53%
4,8
98,73%
Alguns pais são bananas.
92,59%
4,67
97,45%
Alguns maridos são cavalos.
96,30%
4,68
100,00%
Algumas sogras são cobras.
100,00%
4,82
99,36%
Alguns meninos são diabos.
98,77%
4,67
96,84%
Algumas modas são febres.
96,30%
4,72
96,19%
Algumas senhoras são flores.
91,36%
4,68
99,37%
Algumas mulheres são furacões.
100,00%
4,81
98,11%
Algumas meninas são gatas.
100,00%
4,91
100,00%
Algumas adolescentes são girafas.
92,59%
4,63
99,36%
Alguns cordeiros são lobos.
91,36%
4,68
96,83%
Algumas mães são leoas.
97,53%
4,82
98,11%
Alguns motoristas são lesmas.
100,00%
4,85
98,73%
Alguns genros são sanguessugas.
91,36%
4,66
98,73%
Alguns avós são santos.
86,42%
4,65
87,97%
Algumas tias são vitrolas.
90,12%
4,72
98,09%
Algumas avós são corujas.
98,77%
4,73
98,11%
Alguns cunhados são malas.
97,53%
4,72
96,83%
Alguns músicos são feras.
100,00%
4,84
100,00%
Algumas motos são foguetes.
92,59%
4,85
99,37%
Alguns cozinheiros são porcos.
97,53%
4,85
94,33%
Alguns locutores são papagaios.
92,59%
4,72
96,20%
Algumas atitudes são máscaras.
85,19%
4,61
92,42%
Algumas provas são torturas.
98,77%
4,81
100,00%
Alguns botequins são chiqueiros.
95,06%
4,85
96,81%
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Alguns professores são carrascos.
98,77%
4,87
96,20%
Algumas celebridades são antas.
88,89%
4,75
99,36%
Alguns fumantes são chaminés.
96,30%
4,86
97,47%
Alguns barracos são fornos.
93,83%
4,66
98,72%
Alguns caminhoneiros são tartarugas.
95,06%
4,85
98,72%
Algumas casas são fornalhas.
95,06%
4,72
97,47%
Algumas garotas são violões.
95,06%
4,8
97,44%
Alguns amigos são pilares.
87,65%
4,77
96,84%
Algumas torcidas são quadrilhas.
92,59%
4,63
89,89%
Algumas críticas são coices.
92,59%
4,72
94,30%
Alguns lutadores são touros.
93,83%
4,89
98,08%
Alguns mestres são espelhos.
93,83%
4,89
98,73%
Alguns trabalhadores são formigas.
92,59%
4,62
86,08%
Algumas vizinhas são moscas.
93,83%
4,51
95,53%
4 Experimento 3: leitura automonitorada de metáforas do PB
O experimento de leitura automonitorada (self-paced,
non-cumulative, moving-window reading) objetivou evidenciar o
processamento direto, sustentado pelo modelo teórico de Class-inclusion
(GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990), de metáforas do PB muito familiares,
very high-apt e altamente convencionalizadas, selecionadas nos norming
studies que realizamos, observando-se os tempos de leitura sobre o locus
do “Problema do Reconhecimento” do significado metafórico, isto é, o
veículo de cada uma das expressões (p. ex.: “um furacão” quando “Irene
é um furacão” demandava interpretação metafórica). Foram registrados
também os tempos de leitura de fragmentos correspondentes, p. ex.: “um
furacão” quando “Irene é um furacão” tinha interpretação literal, e ainda
os tempos de leitura de fragmentos-controle, p. ex.: “uma jovem” em
declarações literais de inclusão em classe, no caso, “Irene é uma jovem”.
Participantes: 66 voluntários participaram do experimento: 20
homens e 46 mulheres, com idade média de 27 anos. 35 foram recrutados
entre os estudantes do Curso de Graduação em Letras da Universidade
Federal Fluminense e 3 eram funcionários administrativos da instituição,
esses, com nível superior completo de escolaridade. 28 eram estudantes
de diversos cursos da Universidade Severino Sombra (Enfermagem,
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1519
Engenharia de Produção, Engenharia Química, Medicina e Psicologia).
Desses, 24 eram graduandos e 4 tinham Especialização.
Materiais: 9 trincas de parágrafos (transcritos no Apêndice),
igualmente divididos em 11 fragmentos / sintagmas, foram preparadas
para acomodar: no tipo 1: expressões do tipo “X é um Y” construídas
a partir das metáforas que foram selecionadas nos pré-testes, p. ex.:
“Irene é um furacão”, construída a partir de “Algumas mulheres são
furacões” (cf. Tabela 4); no tipo 2: expressões de significado literal
do mesmo tipo (X é um Y), p. ex.: “Irene é um furacão”, construída
a partir do que se apurou sobre o furacão Irene, que assolou o Caribe
e os EUA em 2011; e no tipo 3: declarações de inclusão em classe do
mesmo tipo (X é um Y), p. ex.: “Irene é uma jovem”, categorizando o
tópico da expressão. Nos contextos do tipo 1, as expressões “X é um
Y” demandavam interpretações metafóricas; nos do tipo 2, as mesmas
expressões (X é um Y) pediam interpretações literais; e nos do tipo 3,
“X é um Y” eram usuais declarações literais de inclusão em classe. Os
fragmentos críticos das expressões – “um Y” em todas – metafóricas,
literais e declarações literais de inclusão, foram balanceados em número
de sílabas, 4; e em tipo e número de número de constituintes, “Det +
N” (nos exemplos, respectivamente, “um furacão”, ‘um furacão”, “uma
jovem”). E, ao final da leitura de cada um dos parágrafos, os participantes
responderam a uma pergunta acerca do conteúdo lido, pressionando os
botões correspondentes a SIM ou Não na caixa de botões acoplada ao
dispositivo de exibição dos estímulos. As barras nos exemplos abaixo
limitam, no papel, os 11 fragmentos apresentados em cada uma das
janelas de leitura, na cadência imposta por cada um dos participantes ao
realizar a leitura dos parágrafos.
Contexto do tipo 1: demandando interpretação metafórica
Com muita frequência, / mulheres brasileiras / trabalham fora, /
têm filhos / e estudam. / Irene é / um furacão / que empolga / todo mundo
/ no trabalho, em casa / e na faculdade.
Contexto do tipo 2: demandando interpretação literal
Com muita frequência, / fenômenos naturais / recebem nomes
/ de gente / dos mais comuns. / Irene é / um furacão / que assolou / o
Caribe / e o leste dos EUA / em 2011.
1520
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Contexto do tipo 3: demandando interpretação de declaração de
inclusão em classe
Com muita frequência, / mulheres brasileiras / trabalham fora, /
têm filhos / e estudam. / Irene é / uma jovem / que empolga / todo mundo
/ no trabalho, em casa / e na faculdade.
Os estímulos foram distribuídos (within-subjects, contrabalanceados
em latin square) de modo que os participantes leram parágrafos em
todas as 3 condições (lendo 3 estímulos por condição e jamais lendo
o mesmo estímulo em mais de uma condição). Foram intercalados
entre os 9 parágrafos-alvo outros 18 parágrafos, distrativos e a ordem
de apresentação do total de 27 aleatorizada a cada sessão com cada
um dos participantes. As perguntas após cada um dos parágrafos-alvo
demandaram dos participantes, aproximadamente, tantas respostas SIM
quantas NÃO.
Procedimentos: Em sessões individuais, cada um dos participantes
leu os estímulos, fragmento a fragmento, apresentados, sob o seu
comando, na tela de um microcomputador Apple, pressionando “o botão
de passar a tela” de uma caixa de botões acoplada ao dispositivo. Para
isso, a apresentação dos estímulos obedeceu a um protocolo construído
em PsyScope, de modo a gravar os tempos de leitura e as respostas
dos participantes. Antes de cada sessão, garantiu-se ao participante um
breve treinamento, constando da leitura de 4 estímulos, com o fim de
familiarizá-lo com o manuseio do equipamento e a rotina do experimento.
Aos estudantes dos cursos de graduação foi oferecido um certificado
de participação em atividade complementar aos estudos que eles(as)
estivessem desenvolvendo. E, ao final de todas as sessões, os participantes
puderam conhecer os objetivos do experimento e ter esclarecidas dúvidas
que eventualmente tivessem.
Hipótese: De acordo com o modelo teórico de Class-inclusion
(GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990), as metáforas do PB muito
familiares altamente convencionalizadas, e very high-apt selecionadas
nos norming studies realizados devem ser processadas diretamente,
sem a intermediação da derivação do significado literal, tal qual o são
declarações literais de inclusão em classe. Alternativamente, de acordo
com o chamado Modelo Pragmático Padrão, as mesmas metáforas devem
ser processadas indiretamente, a partir da derivação do significado literal
da expressão e sua rejeição no contexto do enunciado.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1521
Predições: Consequentemente à hipótese de pesquisa, de
processamento direto de metáforas muito familiares, altamente
convencionalizadas e high-apt, não se esperam diferenças significativas
entre os tempos de leitura dos veículos dessas metáforas e os dos SNs
correspondentes, tanto nas expressões equivalentes de significado literal
quanto nas declarações literais de inclusão em classe. Prevalecendo o
processamento indireto, devem-se observar tempos médios de leitura
dos veículos das metáforas significativamente maiores do que os dos
mesmos SNs-alvo de interpretação literal e os SNs-alvo nas declarações
literais de inclusão em classe.
4.1 Análise dos Resultados do experimento de leitura automonitorada
Adotamos, aqui, o rigor metodológico que, nas críticas de Janus
e Bever (1985), falta à literatura de até então, tanto ao sustentar quanto
ao refutar o processamento indireto da metáfora que segue o Modelo
Pragmático Padrão. Para tanto, dividimos os estímulos em sintagmas
e medimos os tempos de leitura (RTs) sobre o locus do “Problema
do Reconhecimento” do significado metafórico, os veículos das
metáforas. Mas, diferentemente de Janus e Bever (1985), cujos achados
sugerem que metáforas novas são processadas indiretamente, a parir da
derivação do significado literal da expressão, obtivemos resultados que
oferecem sustentação à hipótese do processamento direto de metáforas
convencionalizas, familiares e high-apt. De fato, Janus e Bever (1985,
p. 485) admitem a possibilidade de processamento direto, do que eles
chamam de frozen metaphors e aparentemente não foram outros os
nossos achados no PB.
Contrariando as predições associadas à hipótese de processamento
indireto nos termos do Modelo Pragmático Padrão, os participantes
do experimento de leitura automonitorada que nós conduzimos não
despenderam significativamente mais tempo na leitura dos veículos
das metáforas, p. ex., “um furacão”, em “Irene é um furacão”, do que
na leitura dos mesmos SNs em expressões de interpretação literal, p.
ex., “Irene é um furacão”, referindo o furacão que, em 2011, assolou o
Caribe. E nem na leitura dos SNs correspondentes nas declarações literais
de inclusão em classe, p. ex.: “Irene é uma jovem”, sugerindo, assim, a
validade da hipótese de processamento direto via Class-inclusion / Dual
reference de Glucksberg e Keysar (1990), como demonstram os RTs
médios reunidos na Tabela 5.
1522
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Tabela 5 – Tempos médios de leitura (RTs em ms) dos fragmentos críticos
(em destaque) nas condições: Literal, Metafórico e Declaração Literal de Inclusão
em Classe (DLIC)
Contextos
RTs
Literal
954,25
Metafórico
925,84
DLIC
867,89
Exemplos (extratos dos parágrafos)
[...] fenômenos naturais recebem nomes de gente. Irene é
um furacão que assolou o Caribe [...].
[...] mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é um furacão que empolga todo [...].
[...] mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é uma jovem que empolga todo [...].
Em nenhuma das 3 condições, Literal, Metáfora e Declaração
Literal de Inclusão em Classe (DLIC), os RTs dos fragmentos críticos
apresentaram distribuição normal (na condição Literal, Estatística
Kolmogorov-Smirnov=0,14, p<,05; na condição Metáfora, KolmogorovSmirnov=0,12, p<,05; e na condição DLIC, Kolmogorov-Smirnov=0,12,
p<,05). Além disso, não se mostraram diferenças significativas nas
Comparações Múltiplas entre as condições, DLIC-Literal, DLICmetáfora, Literal-Metáfora na análise estatística por sujeito (KruskalWallis X2(2)=2,95, p>,05) e na análise por item (Kruskal-Wallis
X2(2)=3,55, p>,05). O Poder do Teste utilizado foi estimado em 70%,
capaz de avaliar diferenças de, no mínimo, 200 milissegundos (ms) entre
os RTs dos fragmentos críticos das condições, diferenças como as que
Janus e Bever (1985) relataram e que aqui não apareceram.12
A natureza epistemológica de achados como os nossos, que se baseiam na falta de
diferenças estatisticamente significativas entre as condições experimentais, tem sido
questionada, tradicionalmente, nos termos do chamado argumentum ad ignorantiam
(em inglês, the absence of evidence is not evidence of the absence). A evidência de
ausência, na tradição que remonta ao ceticismo de Sextus Empiricus (século II), deve
ser considerada falaciosa, como ausência de evidência que apenas pode não ter sido
encontrada. Entretanto, cresce em importância a visão que não contempla com a pecha
de falácia alguns casos em que uma proposição é presumida verdadeira simplesmente
porque não pode ser provada falsa, ou é falsa porque não pode ser provada verdadeira
(WALTON, 1992, p. 381-4). Admitem-se entre tais casos circunstâncias em que
evidências conclusivas não se mostram apesar de perseguidas; e se presume verdadeira
ou falsa a proposição que expressa a falta desses resultados, ainda que provisoriamente,
tendo em vista a possiblidade de futuras refutações (p. 383). Sendo assim, alegamos
12
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1523
As respostas dos participantes às perguntas sobre o conteúdo dos
parágrafos atestaram, satisfatoriamente, o envolvimento dos indivíduos
na realização da tarefa proposta. Considerando a sua totalidade (66),
observou-se esmagadora maioria (94%) de respostas corretas. Ou ainda,
aproximadamente 99% dos participantes responderam corretamente a
90% das perguntas, permitindo que não se atribuam os resultados à falta
de atenção dos leitores ou a dificuldades de compreensão dos estímulos.
A diferença estatisticamente não significativa (apenas 28,4ms)
entre o tempo médio de leitura (RT médio) dos veículos das metáforas
e o dos mesmos SNs interpretados literalmente é sugestiva de que os
significados metafóricos familiares, high-apt e convencionalizados (assim
julgados nas respostas off-line dos participantes dos norming studies)
acham-se, de fato, “disponíveis” ao se dar a estruturação on-line das
expressões predicativas e sua interpretação em contextos apropriados.
Em relação a essa diferença (estatisticamente não significativa, de 28ms,
repetimos), pode-se indagar se causaram aos participantes alguma
“estranheza” e dificuldade de interpretar as expressões literais que, nos
estímulos utilizados, atribuíam “nomes de gente” a entes não humanos,
animados ou inanimados, e.g., “Irene é um furacão” no parágrafo “[...]
fenômenos naturais recebem nomes de gente. Irene é um furacão que
assolou o Caribe [...]” (cf. Apêndice, para os demais). Esse mesmo RT
médio dos SNs de interpretação literal também se afastou (86,36ms,
diferença essa que também não se revelou estatisticamente significativa)
do RT médio de leitura dos SNs das declarações de inclusão em classe,
p. ex., “Irene é uma jovem”, que são do repertório dos falantes do PB
enquanto conhecimento semântico consolidado. Se, então, algumas
expressões literais causaram “estranhamento” (e expressões literais não
ser esse o caso das diferenças entre os RTs dos segmentos críticos nas condições
(como Hipótese Alternativa) que não se revelaram no experimento que conduzimos,
ensejando a defesa – ao menos presuntiva, nos termos de Walton – da Hipótese de
Pesquisa. Em reforço à presunção de que não são falaciosos os achados experimentais
que obtivemos, aduzimos que, se, por um lado, a ausência de diferenças significativas
entre os RTs dos segmentos críticos nas 3 condições pode ser parafraseada em termos
da não rejeição da Hipótese Nula, por outro, o Poder do Teste utilizado no tratamento
estatístico dos dados, estimado em 70%, seria capaz de surpreender diferenças de, no
mínimo, 200ms como aquelas que Janus e Bever (1985) relataram no processamento
de metáforas novas, e, portanto, responder ao desafio de se estar cometendo, aqui, o
erro do tipo II, de não rejeitar H0 falsa. (COOLICAN, 2014, p. 427-8).
1524
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
deveriam causar qualquer um), cabe alegar que o efeito ao confrontar, p.
ex., “Fernanda é uma lesma”, no parágrafo “Em certas culturas, animais
exóticos são adotados e ganham apelidos. Fernanda é uma lesma que
habita um viveiro na casa de criadores nas Filipinas”, deve-se, em tais
casos, à “infelicidade” pragmática da declaração literal e não à violação
das condições de verdade da sentença (cf. MATTHEWSON, 2004,
p. 409).13 É verdade que, assim, se estaria estendendo a exemplares
dos chamados enunciados “consta(ta)tivos” problemas, em princípio,
inerentes aos “performativos”, mas não sem algum aval da literatura. Ao
menos para Gerken (1994, p. 78), ao “descrever”, “explicar” e “teorizar”
também nos comprometemos em atividades performativas, o que equivale
a afirmar que seria mais adequado considerar “constativo” ou “descritivo”
como caso especial de “performativo”. Em Petrey (1990), é possível
verificar que até Austin (1962) reconheceu que a distinção (originalmente
proposta por ele, Austin) era demasiado forte, inclinando-se por sua
reavaliação nos termos acima. Em Grandesso (2006), é possível tomar
contato com a literatura em língua portuguesa que contempla as visões
aqui expostas.
No que diz respeito à hipótese do processamento direto de
metáforas, voltamos aqui ao que importa destacar: que o RT médio de
leitura dos veículos das metáforas não diferiu significativamente do
RT médio dos mesmos SNs interpretados literalmente. E que, também,
não diferiu significativamente do RT médio dos SNs correspondentes
nas declarações literais de inclusão em classe (57,95ms), o que enseja
a defesa da posição Glucksberg e Keysar (1990), de que metáforas são
o que aparentam ser: declarações de inclusão em classe, categorias
metafóricas que recebem os nomes dos veículos, que delas são membros
prototípicos. A não observância nos dados do PB aqui relatados de
diferenças significativas entre os RTs dos fragmentos críticos das
condições sugere que metáforas familiares, high-apt e convencionalizadas
sejam processadas como declarações de inclusão em classe, conforme o
modelo de Class-inclusion (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990).
Agradecemos à Dra. Luciana Sanchez Mendes, nossa colega no GEPEX – UFF, a
sugestão de encaminhar na direção seguida acima a avaliação da instigante (embora
estatisticamente marginal) diferença entre os tempos de leitura de SNs de interpretação
literal e declarações literais de inclusão em classe.
13
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1525
A ausência de diferenças significativas entre os RTs que obtivemos
poderia ser atribuída, talvez, à constituição da amostra. Entre os 66
participantes do experimento, não havia, de fato, equilíbrio na distribuição
entre homens (1/3) e mulheres (2/3); os indivíduos selecionados eram
habitantes de diferentes cidades (duas, embora no mesmo estado);
e cursavam ou haviam concluído os seus estudos em instituições de
Ensino Superior que têm perfis diferentes uma, de ensino público, outra,
instituição privada; eram estudantes de Graduação, incompleta (59) e
completa (1) e com Especialização (6); e oriundos de cursos diversos.
Certamente, não se pretendeu ignorar o fato de que a compreensão
de metáforas por indivíduos inseridos em contextos socioculturais
diferentes pode diferir consideravelmente (para uma iniciação aos estudos
de aspectos culturais envolvidos na compreensão de metáforas, vejam-se,
por exemplo: Gibbs Jr. (2008) e Ortony (1993 [1979]) e referências por
eles recomendadas). Tanto é assim que, na primeira fase da pesquisa,
foram colhidos julgamentos a respeito de familiaridade, aptness e
convencionalidade das expressões que deram origem aos estímulos
utilizados no experimento de leitura automonitorada.
Ainda assim, passamos, a partir deste ponto, a sistematizar os
achados do experimento de leitura automonitorada à luz do que se pode
chamar de “uniformização” da amostra global. Ao restringir a amostra
aos participantes que deram respostas corretas a todas as perguntas (100%
em vez de 94%), e aos que eram estudantes da UFF, cursando o segundo
período de Letras – chegou-se a 38 indivíduos cuja média de idade (antes,
de 27,3 anos e, agora, 26,6 anos) alterou-se em menos de 1 ano; e a um
subconjunto cuja proporção entre homens (25%) e mulheres (75%),
reflete o público dos cursos de Letras no país. Considerando, então, a
amostra “uniformizada”, não se acham motivos de questionamentos dos
resultados anteriormente mostrados (cf. Tabela 6), que não se mostraram
divergentes dos anteriormente apontados (na Tabela 5, quando o total
de 66 participantes foi considerado) e, portanto, não justificam outras
conclusões.
1526
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Tabela 6 – Tempos médios de leitura (RTs) dos fragmentos críticos nas condições:
Literal, Metáfóra e Declaração Literal de Inclusão em Classe (em ms),
com 66 e 38 participantes
Literal
Metafórico
Controle
66 participantes
954,25
925,84
867,89
38 participantes
1008,02
968,11
930,11
Consequentemente, de uma maneira ou de outra, não se
sustenta, nos resultados do experimento de leitura automonitorada
realizado, a hipótese do processamento indireto de metáforas familiares,
high-apt e convencionalizadas do PB. Os RTs médios não diferiram
significativamente, sugerindo, assim, que os participantes, tanto os 66
da amostra original quanto os 38 do subconjunto dos que pertenciam a
um grupo geográfico e socialmente mais homogêneo, compreenderam,
sem dificuldades adicionais, em relação às mesmas expressões mesmas
literais e declarações literais de inclusão em classe, as metáforas inseridas
em contextos apropriados. Ao interpretar o significado metafórico
de, p. ex., “Irene é um furacão” (porque aparentemente Irene agita o
ambiente social, por onde quer que ela passe), os falantes nativos do PB
da amostra selecionada não encontraram dificuldades, tanto quanto não
encontraram em relação a interpretar literalmente “Irene é um furacão”
(que assolou o Caribe). Bem como não encontraram dificuldades para
interpretar o significado metafórico da mesma expressão maiores do que
para interpretar “Irene é uma jovem”, declaração literal de inclusão em
classe (incluindo Irene na categoria das jovens), permitindo-nos inferir,
como querem Glucksberg e cols. (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990;
GLUCKSBERG, 1998; GLUCKSBERG, 2003), que compreenderam
as metáforas tal qual compreenderam as declarações literais de inclusão
em classe.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1527
Figura 3 – Propriedades associadas ao significado metafórico M-furacão
de “furacão” no nível supraordenado e ao significado literal L-furacão
“furacão” no nível básico da categoria
Assim como Glucksberg (1998, p. 41) estrutura, hierarquicamente,
em 2 níveis de referência, em 2 níveis de referência, um básico e outro
supraordenado ou metafórico, para dar conta de my lawyer is a shark
(“meu advogado é um tubarão”), a categoria metafórica “furacão” achase ilustrada na Figura 3.
De acordo com o modelo Class-inclusion / Dual reference,
diante da expressão “Irene é um furacão”, o ouvinte / leitor acessa
prontamente o significado metafórico do veículo da metáfora, “furacão” –
convencionalizado (no PB, até dicionarizado. No modelo de Glucksberg
e Keysar (1990) de processamento direto de metáforas por categorização,
metáforas como, p. ex., “Irene é um furacão”, seriam compreendidas
como são compreendidas as declarações literais de inclusão em classe,
às custas da inclusão de tópicos de categorias preexistentes, criadas a
partir de veículos convencionalizados.
5 Conclusões
Os resultados dos experimentos realizados sustentam a
hipótese defendida por Glucksberg e Keysar (1990), de processamento
direto de metáforas familiares, high-apt e cujos veículos se acham
convencionalizados, conforme o modelo Class-inclusion. Foram medidos
os RTs sobre os fragmentos críticos das expressões, encaixadas em
contextos apropriados, e não se observou diferença significativa entre
1528
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
os RTs dos veículos das metáforas e das expressões literais equivalentes.
Tampouco se observou diferença significativa entre os RTs médios dos
veículos das metáforas e de declarações literais de inclusão em classe, o
sugere que o processamento das metáforas em questão deu-se conforme
o modelo Class-inclusion / Dual reference (GLUCKSBERG; KEYSAR,
1990).
Importa assinalar que aqui não se cogitou estender a ideia
de processamento direto via Class-inclusion a categorias que não as
preexistentes, como ambiciona Glucksberg (2008). Para Glucksberg
(2008), a convencionalidade de “veículos” decorre necessariamente do
seu uso em expressões bem construídas. E, sendo assim, metáforas highapt, ainda que novas, seriam interpretadas como declarações de inclusão
em classe. No futuro, tal hipótese poderá (e deve) ser devidamente testada.
Apesar do ineditismo, o presente estudo não ultrapassa os limites
que, desde o início, se impôs: o de avaliar no PB o processamento de
metáforas convencionalizadas, familiares e high-apt. Fica ainda à espera
do interesse de pesquisas que ainda hão de vir, o estudo do processamento
de metáforas do PB com o auxílio do rastreamento de movimentos
oculares na compreensão de metáforas e, é claro, a extração de potenciais
evocados durante a audição / leitura de metáforas do PB e investigações
com base em neuroimagem.
Agradecimentos
Agradecemos aos pares anônimos pelas indicações de aspectos do
texto que mereceram reformulação. Ao Parecerista 1, no trato da
transição para os objetivos, hipótese e predições do experimento de
leitura auto-monitorada. Ao Parecerista 2, por pleitear (sem exigir) o
uso de equivalentes em português de termos em inglês que se acham
consagrados na literatura internacional, o que virá, cada vez mais, à
medida que o campo de processamento de metáfora se consolidar entre
nós. E, finalmente, ao organizador do volume por nos impelir à necessária
discussão (veja-se a nota 12) dos achados que relatamos, tendo em vista
as ideias em torno do chamado argumentum ad ignorantiam.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1529
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1534
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Apêndice: Parágrafos experimentais do experimento cronométrico
Os parágrafos experimentais e respectivas perguntas que se
seguem estão organizados na sequência Literal / Metáfora / Declaração
Literal de Inclusão em Classe, em cada trinca.
1. Com muita frequência, fenômenos naturais recebem nomes de gente dos
mais comuns. Irene é um furacão que assolou o Caribe e o leste dos EUA
em 2011.
Com muita frequência, mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é um furacão que empolga todo mundo no trabalho, em casa
e na faculdade.
Com muita frequência, mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é uma jovem que empolga todo mundo no trabalho, em casa
e na faculdade.
2. Excepcionalmente, móveis italianos têm qualidade e nome no mercado.
Bérgamo é um armário que recebe dos clientes ótimas avaliações nos
comentários.
Excepcionalmente, segurança de rua porta armas para ser respeitado.
Bérgamo é um armário que trabalha com ajuda do porte avantajado e da
força bruta.
Excepcionalmente, segurança de rua porta armas para ser respeitado.
Bérgamo é um vigia que trabalha com ajuda do porte avantajado e da força
bruta.
3. Em certas culturas, animais exóticos são adotados e ganham apelidos.
Fernanda é uma lesma que habita um viveiro na casa de criadores nas
Filipinas.
Costumeiramente, motoristas idosos guiam devagar sem razão no trânsito.
Fernanda é uma lesma que atrasa a chegada no trabalho ou lazer quando
usa carro.
Costumeiramente, motoristas idosos guiam devagar sem razão no trânsito.
Fernanda é uma chofer que atrasa a chegada no trabalho ou lazer quando
usa carro.
1535
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
4. Em certas famílias, bichos de estimação distanciam-se do padrão esperado.
Tereza é uma cobra que só pica raramente e não tem qualquer veneno,
segundo o dono.
Em certas famílias sogras problemáticas implicam muito com genros, sem
motivos. Tereza é uma cobra que ataca sem aviso o marido da filha em
qualquer lugar.
Em certas famílias sogras problemáticas implicam muito com genros, sem
motivos. Tereza é uma sogra que ataca sem aviso o marido da filha em
qualquer lugar.
5. Em alguns lugares, primatas em extinção ganham proteção de ONGs e
pessoas. Samuel é uma fera que resiste na África à extinção dos gorilas até
o momento.
Por todo o mundo, guitarristas famosos sobem em palcos ou tocam ao ar
livre. Samuel é uma fera que fascina o público da banda de rock Skank há
muitos anos.
Por todo o mundo, guitarristas famosos sobem em palcos ou tocam ao ar
livre. Samuel é um músico que fascina o público da banda de rock Skank
há muitos anos.
6. Em filmes infantis, grupos de felinos formam famílias felizes e saudáveis.
Maria é uma gata que alegra as crianças na famosa animação Os Aristogatas.
Em qualquer época, meninas sedutoras estão no centro de festas e
baladas. Maria é uma gata que encanta os garotos em qualquer reunião de
adolescentes.
Em qualquer época, meninas sedutoras estão no centro de festas e baladas.
Maria é uma moça que encanta os garotos em qualquer reunião de
adolescentes.
7. De tempos em tempos, animais adestrados ficam famosos em filmes de
sucesso. Argento é um cavalo que estrela a história Cavaleiro Solitário na
pele de Silver.
Em alguns lugares, maridos ciumentos podem agredir esposas sem punição.
Anderson é um cavalo que recebeu até hoje apenas advertências por bater
na mulher.
Em alguns lugares, maridos ciumentos podem agredir esposas sem punição.
Anderson é um marido que recebeu até hoje apenas advertências por bater
na mulher.
1536
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
8. Muito raramente, heroínas de filmes são veículos a motor femininos.
Rochelle é um avião que atua no sucesso de animação da Disney chamado
Aviões.
De modo esperado, modelos de beleza são convidadas a posar para fotos.
Rochelle é um avião que desfila com sucesso nas capas de revistas e nas
passarelas.
De modo esperado, modelos de beleza são convidadas a posar para fotos.
Rochelle é uma jovem que desfila com sucesso nas capas de revistas e nas
passarelas.
9. Para quase todos, produtos japoneses são tidos como muito bons e duráveis.
Tagima é um violão que músicos destacados têm como referência de
qualidade.
De modo habitual, garotas de biquíni são criticadas com rigor por mulheres.
Tagima é um violão que revela destemor diante dos olhares de todas na praia.
De modo habitual, garotas de biquíni são criticadas com rigor por mulheres.
Tagima é uma moça que revela destemor diante dos olhares de todas na
praia.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
An experimental study on Brazilian Portuguese metaphor
processing
Um estudo experimental do processamento de metáforas do
português brasileiro
Antonio João Carvalho Ribeiro
Grupo de Estudos e Laboratório em Psicolinguística Experimental – GEPEX
Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro / Brasil
ajcarvalhoribeiro@gmail.com
Adiel Queiroz Ricci
Grupo de Estudos e Laboratório em Psicolinguística Experimental – GEPEX
Universidade Severino Sombra, Vassouras, Rio de Janeiro / Brasil
adielricci@gmail.com
Abstract: An experimental study on the psycholinguistic processing of
Brazilian Portuguese attributive metaphors (X is a Y), e.g., “Irene é um
furacão” (“Irene is a hurricane”), was carried out with the aim of highlighting,
from reading times (RTs), the understanding of familiar, high-apt (“wellbuilt”) expressions, the vehicle of which is conventionalized. In the first
phase of the research, two norming studies were carried out, aimed at the
ranking of attributive metaphors, e.g. “Algumas mulheres são furacões”
(“Some women are hurricanes”), regarding familiarity, aptness (adaptation),
and conventionality. In the second phase of the research, a self-paced, noncumulative, moving-window reading experiment was conducted, using, for
the composition of the stimuli, the metaphors, e.g., “Irene é um furacão”,
which have reached, in the normative studies of the first phase, ratings of
“very familiar”, “very high-apt”, and “highly conventionalized”. Brazilian
Portuguese evidence in favor of the direct processing of metaphors was
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1501-1536
1502
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
obtained, as recommended by the Class-inclusion model of Glucksberg
and Keysar (1990), since there were no significant differences between the
average RTs in the three conditions: “Metaphor”, “Literal” and “Literal
Declaration of Class Inclusion.” In contrast to the findings of Janus and Bever
(1985), who observed reading times of new metaphors that were significantly
longer than those of literal expressions, according to the predictions of the
Standard Pragmatic Model of indirect processing.
Keywords: psycholinguistic processing of metaphor; class-inclusion;
dual reference; norming studies; figurative language comprehension;
Brazilian Portuguese.
Resumo: Um estudo experimental do processamento psicolinguístico de
metáforas nominais do português brasileiro (X é um Y), p. ex., “Irene é
um furacão”, foi realizado com o objetivo de evidenciar, a partir de tempos
de leitura (RTs), a compreensão de expressões familiares, high-apt (“bem
construídas”) e cujo veículo se acha convencionalizado. Na primeira fase da
pesquisa, realizaram-se dois norming studies (“estudos normativos”) com
vistas ao ranqueamento de metáforas nominais (p. ex. “Algumas mulheres
são furacões”) em relação a familiaridade, aptness (“adequação”) e
convencionalidade. Na segunda fase da pesquisa, um experimento de leitura
automonitorada (self-paced, non-cumulative, moving-window reading) foi
conduzido, recorrendo, para a composição dos estímulos, às metáforas,
p. ex., “Irene é um furacão”, que alcançaram, nos estudos normativos da
primeira fase, ratings (ou “classificações”) de “muito familiares”, “very
high-apt’’ e “altamente convencionalizadas”. Evidências do português
brasileiro em favor do processamento direto de metáforas foram obtidas,
conforme preconiza o modelo de Class-inclusion, de Glucksberg e Keysar
(1990), pois não se revelaram diferenças significativas entre os RTs médios
nas três condições: “metáfora”, “literal” e “declaração literal de inclusão
em Classe”, em contraposição aos achados de Janus e Bever (1985), que
observaram tempos de leitura de metáforas novas significativamente
maiores do que os de expressões literais, conforme as predições do Modelo
Pragmático Padrão de processamento indireto.
Palavras-chave: processamento psicolinguístico da metáfora; classinclusion; dual reference; norming studies; compreensão de linguagem
figurada; português brasileiro.
Received on December 8, 2017.
Approved on March 16, 2017.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1503
1 Introduction
This article intends to include Brazilian Portuguese (BP) in
the literature about understanding metaphors, polarized, according to
Glucksberg (2003), between indirect processing, whose assumptions
have proven testable hypothesis, and direct processing models, based on
empirical evidence of interference caused by “Familiarity”, “Aptness”,
and “Conventionality” variables. To achieve this, we report on the
results for the research in which we have been involved for the past
two years, investigating the understanding of metaphors that have been
conventionalized in BP, which are suggestive of direct processing,
according to Glucksberg and Keysar’s Class-inclusion model (1990).1
During the initial research phase, two pre-tests were performed –
norming studies, in which participants ranked metaphorical expression,
such as, “Algumas mulheres são furacões” (“Some women are
hurricanes”), according to Familiarity, Aptness, and Conventionality.2 In
linguistics literature, the instruments conceived to evaluate metaphorical
expressions are called norming studies (BLASKO; CONNINE,
1993; BOWDLE; GENTNER, 2005; DULCINATI et al., 2014), or
norming pre-tests (JONES; ESTES, 2006), or even rating experiments
(THIBODEAU; DURGIN, 2011), or, simply, rating tasks (HARRIS,
1976). Rankings were designed to select expressions, among those that
received the highest ratings in both, as guiding the construction of stimuli
for the self-monitored reading experiment conducted in the subsequent
phase. For instance, high ratings assigned to “Algumas mulheres são
furacões” (“Some women are hurricanes”) were the basis for building the
stimulus “Irene é um furacão” (“Irene is a hurricane”), which, included
in appropriate contexts (paragraphs), would enable the metaphorical
interpretation (Irene being a hectic woman) or a literal one (Irene being
the hurricane that hit the Caribbean and the USA in 2011).
As the majority of experiments described in the literature focus
on this form (DULCINATI et al., 2014, p. 72), we opted to use nominal
The research in question, advised by the first author, was conducted by the latter
author, as part of the requirements for obtaining the title of Master in Linguistics
(RICCI, 2016). Approval by USS – RJ CEP, CAAE 50572215.80000.5290, report 1
412 627, on Feb. 22, 2016.
2
Results of the aforementioned norming studies were presented during the XXXI
ENANPOLL (RIBEIRO et al., 2016)
1
1504
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metaphors – such as X is a Y – in which X is the topic and Y is the vehicle;
in the examples above, “Algumas mulheres” (“Some women”) and “Irene”
/ “furacões” (“hurricanes”) and “furacão” (“hurricane”), respectively.
Finally, the decision to propose a self-monitored reading task
involving BP expressions in several contexts was designed to overcome
the methodological frailties identified by Janus and Bever (1985) in the
experiments conducted up to then - supporting (cf. CLARK; LUCY,
1975; GIBBS JR., 1979, 1981) or refuting (cf. ORTONY et al., 1978;
GLUCKSBERG; GILDEA; BOOKIN, 1982) what is conventionally
called the Standard Pragmatic Model of indirect metaphor processing (cf.
SEARLE, 1993 [1979]; GRICE, 1975) – in which context is not provided,
nor is reading time measured after the stimuli have been presented. Janus
and Bever (1985) measured reading time spent on critical fragments of
contextualized expressions, that is, of nominal syntagmas that contain the
vehicle – locus of “the Problem to Recognize” metaphorical meaning –
and noticed that “new” metaphors took, on average, significantly longer
reading times than did equivalent expressions with literal meanings.
Therefore, the literature on the topic has produced a gap that this BP
study intends to fill: by adopting the key approach used in the experiment
conducted by Janus and Bever (1985), it offers chronometric findings
in favor of the direct processing of familiar, high-apt metaphors, whose
vehicle is conventionalized.
2 Literature review
Traditionally, echoing the Aristotelian view of metaphor as a
deviation of ordinary language (GARRET, 2007), metaphor interpretation
is considered optional (GLUCKSBERG, 2003; BOWDLE; GENTNER,
2005). According to what is conventionally called the Standard Pragmatic
Model (SPM), metaphor processing (as well as that of figurative language
in general) takes place in three stages. Initially, the listener/reader derives
the literal meaning of the expression. In the second stage, the listener/
reader decides if the interpretation is appropriate in the context of the
utterance and should be accepted, or not, with the meaning intended by the
speaker. If it is implausible, the initial representation is rejected, and the
third stage is reached, that of seeking metaphorical interpretation. Thus,
the failed initial interpretation of literal meaning works as a “trigger”
that sets off the search for a metaphorical meaning that accounts for
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1505
the utterance (SEARLE, 1993 [1979], p. 89-90). Therefore, nominal
metaphors, such as, for instance, “Some jobs are jails” (example obtained
from GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG, 1998, 2003)
would be recognized as assertions that do not meet the maxim of quality
(GRICE, 1975), and one way of understanding them would be to convert
them into similes, “Some jobs are like jails”, true literal statements, since
any two given things may be similar in numerous ways.
However, Glucksberg, Gildea, and Bookin (1982) question the
priority of literal meaning/optionality of metaphorical interpretation, an
assumption in SPM, based on evidence obtained from a series of sentence
check experiments inspired by Stroop’s test (1935). Stroop (1935)
illustrated the competition among attentional processes that enables one to
capture the automatism of the initial reading processing phases, translated
into errors or longer reaction times in answering questions about the color
in which a word (e.g., red) is written, when it is printed in a different color
(e.g., green). Glucksberg, Gildea, and Bookin (1982.) argue that participants
took longer to consider the metaphors they were presented, e.g., “some
surgeons are butchers”, as false, than it took them to consider “jumbled”
metaphors, e.g. “some jobs are butchers”, as false, since the metaphorical
meanings available in the metaphors, rather than the jumbled metaphors,
interfered in the evaluation of these expressions’ literal meanings. By
resorting to the Stroop effect logic, or to the “compulsion” to read the
word when prompted to use the name of the color in which it is printed,
Glucksberg, Gildea, and Bookin (1982) refute the SPM model, according
to which metaphorical interpretations are only considered when literal
meanings prove themselves unmanageable, supporting the theory that
metaphorical interpretations may not be inhibited, or, in their own words,
that the metaphorical meaning may not be ignored.
According to Glucksberg and his collaborators (GLUCKSBERG;
KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG, 1998; GLUCKSBERG, 2003), the
different theories (cf. TVERSKY, 1977; ORTONY, 1993 [1979]) that treat
metaphors as implied comparisons fail because, in literal comparisons,
the equation “X is like Y” is bidirectional, e.g.: “copper is like tin” or
“tin is like copper”, “coffee is like tea” or “tea is like coffee”, while,
in metaphors, the elements may not be switched, e.g.: “some jobs are
jails”, but not “*some jails are jobs”, “sermons are sleeping pills”, but
not “*sleeping pills are sermons”. The apparent reversibility of metaphor
elements produces a new expression, e.g.: “some surgeons are butchers”
1506
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and “some butchers are surgeons” are different in the foundations that
sustain the construction of each one of them.
According to Glucksberg and his collaborators (GLUCKSBERG;
KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG, 1998), metaphors are what they seem
to be: class inclusion statements, as well as literal assertions of category
inclusion. The metaphor “sermons are sleeping pills”, for instance,
behaves as a statement of inclusion of “sermons” in the metaphorical
category of “sleeping pills”, as well as the assertion “a tree is a plant”
includes “tree” in the “plant” class (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990,
p. 12). According to them, evidence that, in nominal metaphors, “X is
Y” expresses the class inclusion relation, rather than an equality relation,
is the possibility of easily paraphrasing metaphorical comparisons in
metaphors (in the paradigmatic form), e.g.: “my job is like a jail” → “my
job is a jail”; whereas it is impossible to paraphrase literal comparisons
in true statements, e.g.: “bees are like hornets” → “*bees are hornets”
(GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990, p. 7-11) or “my lawyer was like a
shark” → “my lawyer was a shark”, but not “barracudas are like sharks”
→ “*barracudas are sharks” (GLUCKSBERG, 1998, p. 41).
According to Glucksberg and Keysar’s theoretical model (1990)
– Class-inclusion – metaphors are understood as class, or category,
inclusion statements, in which the metaphorical vehicles have what they
call Dual Reference. For instance, “shark” refers to a marine predator (or
a category of those) as well as an abstract category of predatory beings
in general, to which it lends its name. In “my lawyer is a shark”, the
expression vehicle (“shark”) defines a taxonomic relation between marine
predator and lawyer, both housed in the abstract category of predatory
beings in general, which receives the name of the prototypical member:
“shark.” In short, metaphors whose vehicles refer to conventionalized
metaphorical categories are processed directly, as are literal category
inclusion assertions, in the terms of the class-inclusion/dual reference
model, in which the latter provides explanation both for the “metaphor’s
non-reversibility” and for the possibility of paraphrasing metaphorical
comparisons in statements, which enables one to distinguish metaphors
from comparisons (GLUCKSBERG, 2003, p. 95). Understanding these
facts, Glucksberg (1998, 2003) rejects the hypothesis that metaphors
would be processed based on their conversion into similes, supported
by Johnson’s empirical findings (1996), that metaphors in the form of a
statement, e.g.: “my lawyer is a shark” were understood more quickly
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than similes, “my lawyer is like a shark”, despite the latter having an
additional word (“like”) when compared to the first.
By legitimating the possibility that the prototypical member
designates the metaphorical category, Glucksberg and Keysar (1990, p. 8)
argue that several languages use the strategy to label supraordinate categories
routinely. American Sign Language uses signs for basic furniture items,
“chair”, “table”, “bed”, to refer to the “furniture” category. Burmese, spoken
in Southeast Asia (Burma, Thailand, Malaysia, and Singapore), resorts to
the double function of names that refer to highly prototypical objects and
classes (DENNY, 1986; CRAIG, 1986 apud GLUCKSBERG; KEYSAR,
1990). Even non-classifying languages, such as Hebrew and English, provide
examples of using prototypical names to designate categories, such as the
last name of someone who was accused of war crimes, Demjanjuk, who,
in Israel and in North-American articles and newspapers, became the word
to identify a “common individual capable of unspeakable acts” (SHINOFF,
1987 apud GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990) – although John Demjanjuk,
was not found guilty, ultimately, of the crimes attributed to the sadistic
guard at the Treblinka concentration camp, in Poland, nicknamed “Ivan, the
Terrible”. In a large number of indigenous languages from the southwestern
regions of the United States, there are plenty of examples of the occasional
names of prototypical members to label the categories in which they are
included. In the Hopi language, the name of the most abundant species,
cottonwood, may designate all trees called deciduous trees, which lose
their leaves completely during the fall and winter (TRAGER, 1938 apud
GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990). In the Shoshoni language, the word
for “eagle” is also used for large birds in general (HAGE; MILLER, 1976
apud GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990). According to Glucksberg and
Keysar (1990), the underlying principle for the dual reference examples
above – using the prototypical member to refer to the category – explains
what happens in metaphors: the vehicle is used to refer to the metaphorical,
abstract category, in addition to referring to the actual being. There are cases
in which the metaphor vehicle’s dual reference is explicit, such as in the
speech of an spectator present during John Demjanjuk’s trial, transcribed by
Glucksberg and Keysar (1990, p. 8): I know his name is Demjanjuk, but I
don’t know if he is a Demjanjuk. It is also explicit in the example provided
by Glucksberg (2003, p. 94): “Cambodia was Vietnam’s Vietnam”, in which
the first mention of ‘Vietnam’ refers to the country, whereas the second
reference points to the supraordinate abstract category of disastrous military
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interventions resulting from the armed conflict in southeast Asia (and vice
versa in Portuguese).
Finally, in mapping the metaphor psycholinguistics research
field explored thus far, Glucksberg (2003) highlights the evidence in
Blasko and Connine’s cross-modal priming experiments (1993) (in this
case, semantic priming associated with a lexical choice task), in which
high familiarity and aptness ratings accelerate the activation of the
metaphorical meaning of the metaphor vehicle. Thus, Glucksberg (2003)
lists, in addition to the vehicle conventionality, the role played by the
Familiarity and Aptness variables in the fast access to the metaphorical
meaning, and, therefore, tributary of the direct processing of metaphorical
expressions.
3 Experiment 1: Familiarity and Conventionality norming study
Experiment 1 was designed to assess participants’ familiarity in
relation to metaphors that have been constructed for such a purpose by
the researcher. Familiarity is understood here as subjective familiarity,
according to Blasko and Connine’s definition (1993, p. 305): “the
perceived experience with the metaphor.”3 Beyond obtaining familiarity
ratings for metaphors – classified as familiar and unfamiliar – the
conventionality of expressions was estimated, whose figurative meaning
of vehicles was collected from prestigious BP dictionaries.4 To achieve
this, each of the participants chose, among three words, the one that
in his/her opinion captured the meaning the expression intended to
communicate. Based on the answers, it was determined whether or not
the vehicle (Y) had evoked the figurative meaning, or extended meaning
recorded in the reference dictionaries, allowing or not allowing one
to infer whether this meaning was or was not conventionalized in the
sample’s individual’s repertoire.
As opposed to objective familiarity, estimated based on metaphorical frequency, by
using the Google search engine with corpus (THIBODEAU; DURGIN, 2011, p. 209).
4
AULETE. Aulete Digital: o dicionário da língua portuguesa na internet; HOUAISS;
VILLAR. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 3. ed. (2009); FERREIRA. Novo
Aurélio século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa (1999); and the 6th edition of
FERREIRA. Miniaurélio: o Minidicionário da Língua Portuguesa (2004).
3
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1509
Participants: 81 students from the Severino Sombra University,
in Vassouras, RJ, Brazil, between 18 and 56 years of age, 16 males and
65 females, all native speakers of BP, who had never participated in
experiments about metaphor understanding and who had volunteered
to participate.
Materials: 84 nominal metaphors (X is a Y) were constructed,
by the researcher, with no repetitions in the vehicles (Y) or topics (X).
Topics in the expressions were modified by “some”, and both topics (X)
and vehicles (Y) are concrete nouns, with the same gender, for instance:
“Alguns carros são abacaxis” (“Some cars are lemons”). Some topics
(X) are exceptions, as they are common gender nouns, and some vehicles
are overly common nouns, e.g.: “Alguns motoristas são lesmas” (“Some
drivers are snails”). Figurative meanings of all vehicles (Y) are recorded
in at least two of the reference dictionaries. Understood literally, all
constructed expressions are false.
Procedures: On pre-defined days, groups of participants
(maximum of 19) were placed in one of the rooms at USS – RJ5 Distance
Learning Support Center, and, after having signed the Free and Informed
Consent Form, they performed the proposed task in, on average, 15
minutes. Each of the participants sat before a 17” LCD screen exhibiting
the Google form (Google Chrome on Windows 7) that contained the
questions to be answered (each of the screens was connected to a PC
with ABNT2 wired keyboard and a wired optical USB mouse with
three buttons and scroll). In the heading on each of the form blocks,
immediately above the expression they were expected to evaluate (as
familiar or unfamiliar), the participants could read the instructions in
Portuguese, regarding the procedure to be adopted: “Do the expressions
below sound familiar to you?” “Have you ever read or heard them?” And
it continued: “Check YES (if it is familiar) or NO (if it is not familiar)”.
“After that, if you have heard or read the expression before, choose a
word that, in your opinion, captures its meaning.”
Hence, it was possible to estimate the conventionality of the
Vehicle (Y) of each of the metaphors, whose figurative meanings
were listed among the choices, as well as to assess the quality of the
participation of sample components, since the other choices would
Distance Learning Support Center at the Severino Sombra University in Vassouras,
RJ, Brazil.
5
1510
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refer to the expression’s literal meaning or to the metaphor’s opposite.
In distributing multiple choices, we were careful to alternate, within
the form, the positions where the options appeared (see excerpt of the
form in Figure 1). Answering all questions was mandatory, thus making
it impossible for participants to leave any questions blank when they
submitted the form on the internet. At the end of each session, participants
were given access to the purposes of the experiment and were able to
clarify any potential doubts.
Figure 1 – Excerpt from the Familiarity form
3.1 Experiment 2: Aptness and Conventionality norming study
Experiment 2 was designed to evaluate the ‘aptness’ of the
expressions in the set of 84 metaphors, whose familiarity was assessed
in Experiment 1. In accordance with the most widely accepted definition
of aptness: “the extent to which the statement captures important features
of the topic” (CHIAPPE et al., 2003, p. 97),6 participants were asked to
rate each of the expressions from 1 to 5, evaluating their effectiveness
Dulcinati et al. (2014, p. 74), warn that this metaphor property has been assigned
several different definitions.
6
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in conveying the meaning they intend to convey. In addition, similar to
Experiment 1, the expressions’ conventionality was also estimated.
Participants: 79 students from Severino Sombra University in
Vassouras, RJ, Brazil, 19 to 44 years of age, 28 males and 51 females, all
native speakers of BP, who had never participated in experiments about
metaphor understanding and who volunteered to participate.
Materials: The same 84 nominal metaphors (X is a Y) provided
to participants in Experiment 1.
Procedures: On pre-defined days, groups of participants
(maximum of 19) were placed in one of the rooms at the USS – RJ7
Distance Learning Support Center, and after having signed the Free
and Informed Consent Form, they performed the proposed task in, on
average, 15 minutes. Each of the participants sat before a 17” LCD
screen exhibiting the Google form (Google Chrome on Windows 7) that
contained the questions to be answered (each of the screens connected
to a PC with an ABNT2 wired keyboard and a wired optical USB mouse
with three buttons and scroll). In the heading on each of the form blocks,
immediately above the expression they were expected to evaluate, the
participants could read the instructions in Portuguese, regarding the
procedure to be adopted: “Rate each of the expressions below from
1 to 5, evaluating their effectiveness in conveying the meaning they
intend to convey” and “After that, choose a word that, in your opinion,
captures its meaning. Similar to Experiment 1, we were able to estimate
the conventionality for each metaphor vehicle (Y), whose figurative
meanings were listed among the choices, as well as to assess the quality
of the participation of the sample components, as the other choices
would refer to the expression’s literal meaning or to the metaphor’s
opposite. In distributing multiple choices, we were careful, within the
form, to alternate the positions where the options appeared (see excerpt
of the form in Figure 2). Answering all questions was mandatory, thus
making it impossible for participants to leave any questions blank when
they submit the form on the internet. Similar to Experiment 1, at the end
of each session, participants were given access to the purposes of the
experiment and were able to clarify any potential doubts.
7
At the same facilities where Experiment 1 was held.
1512
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Figure 2 – Excerpt from the Aptness form
3.2 Results of norming studies
Results of both norming studies totaled 26,880 evaluations for
the 84 metaphorical expressions constructed for this purpose: 13,608
evaluations performed by the 81 participants in Experiment 1, regarding
the metaphors’ “Familiarity” and “Conventionality”; and 13,272,
evaluations performed by the group of 79 participants in Experiment 2,
who ranked them regarding “Aptness” and “Conventionality” – in both
cases, these were performed in the subsequent research stage in order
to construct the set of stimuli in the self-monitored reading experiment.
Selection of higher rating metaphors concerning their “Conventionality”
was based on the average of estimates obtained in both experiments.
Considering the individual, familiarity should be regarded as a
discrete variable, involving exclusively two factors or “feelings”: the
feeling of familiarity with “something”, and the feeling of “unfamiliarity”
with such “something”, if what is perceived by the individual seems,
respectively, familiar or not familiar to him/her. However, considering
groups of individuals, it is permissible to admit degrees of familiarity, such
as the “Familiarity” ratings obtained among participants in Experiment 1,
which resulted in “unfamiliar”, “little familiar”, “moderately familiar”,
“familiar” and “very familiar”, listed in Table 1.
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Table 1 – Familiarity ratings in Experiment8
Expression ratings
Answers YES (%)8
Very familiar metaphors
between 80 and 100
Familiar metaphors
equal to or higher than 60 and lower than 80
Moderately familiar metaphors
equal to or higher than 40 and lower than 60
Little familiar metaphors
equal to or higher than 20 and lower than 40
Unfamiliar metaphors
lower than 20
Four expressions, that is to say, less than 5% of the total, were
considered familiar by less than half of the participants: “Some neighbors
are toads” (familiar to 41.98%), “Alguns carros são abacaxis” (“Some
cars are lemons”) (40.74%), “Algumas explicações são véus” (“Some
explanations are veils”) (39.51%), and the least familiar to the group,
“Alguns indivíduos são avestruzes” (“Some individuals are ostriches”)
(37.04%). The vast majority, 75 out of the 84 expressions (89% of the total),
was considered familiar by 60% of the participants or more: from those
that sounded familiar to a little bit more than half of the group, for instance,
“Alguns pensadores são águias” (“Some thinkers are eagles”) (60.49%)
and “Algumas amigas são camaleões” (“Some friends are chameleons”)
(64.02%) to those that sound familiar to everyone, e.g.: “Algumas sogras
são cobras” (“Some mothers-in-law are snakes”) (100%) and “Algumas
mulheres são furacões” (“Some women are hurricanes”) (100%). This
majority included metaphors ranked as “familiar” and “very familiar”, a
pre-requisite for selecting stimuli for the self-monitored reading experiment
to be performed in the subsequent research stage.
However, we decided to increase the minimum score to 85%
of positive answers (YES) in judging the familiarity of expressions,
maintaining 59 (or 70%) of the 84 candidates within the selection to make
up the set of stimuli for the planned self-monitored reading experiment.
Therefore, the selected metaphorical expressions were considered
familiar by 85% of the participants, for instance, from “Alguns politicos
são raposas” (“Some politicians are rats” – adapted to convey the idea
of slyness) (85.19%), to “Alguns professors são carrascos” (“Some
teachers are executioners” - adapted to convey the idea of mercilessness)
“Do the expressions below sound familiar to you?” Have you ever read or heard
them?” “Check YES (if it is familiar) or NO (if it is not familiar)”. (see excerpt of
“Familiarity” form in Figure 1).
8
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(98.77%), to those that were unanimous in the group, e.g.: “Some drivers
are snails” (100%) and “Alguns músicos são feras” (“Some musicians
are animals” – adapted to convey the idea of greatness) (100%).
Table 2 – Aptness ratings in Experiment 29
Expression ratings
Scores (1 to 5)9
Very high-apt metaphors
5
High-apt metaphors
4
Moderate-apt metaphors
3
Low-apt metaphors
2
Very low-apt metaphors
1
The Aptness ranking, in accordance with the scores between 1 and
5 given by the participants in Experiment 2 regarding the effectiveness
of expressions, resulted in the following ratings: very low-apt, low-apt,
moderate-apt, high-apt, and very high-apt, listed in Table 2.
From participants in Experiment 2, none of the 84 expressions
received a score of lower than 2 for Aptness, which meant there were
no low-apt or very low-apt ratings for the metaphors. Only 6, that is 7%
of the total, received scores lower than 4, characterized as moderateapt, namely: “Alguns carros são abacaxis” (“Some cars are lemons” –
adapted to convey the idea of “problematic”) (with an average of 3.94),
“Alguns estudantes são traças” (“Some students are bookworms”) (with
3.89), “Algumas explicações são véus” (“Some explanations are veils”)
(3.86), “Alguns vizinhos são sapos” (Some neighbors are toads”) (3.77)
and the two expressions with the lowest ratings, “Alguns humanos são
canários” (“Some humans are canaries”) (3.65) and “Alguns indivíduos
são avestruzes” (Some individuals are ostriches”) (3.57). In terms of
“effectiveness”, almost all expressions – 78, or approximately 93% -received scores between 4 and 5, limiting most expressions to the highest
ratings, high-apt or very high-apt, e.g.: “Alguns viciados são zumbis”
(“Some addicts are zombies”) (averaging 4.08), “Alguns advogados
são tubarões” (“Some lawyers are sharks”) (4.32), “Algumas estradas
“Rate each of the expressions below from 1 to 5, evaluating their effectiveness in
conveying the meaning they are intended to convey” (cf. excerpt of “Aptness” form,
Figure 2).
9
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1515
são serpentes” (“Some roads are serpents”) (4.35), “Alguns cunhados
são malas” (“Some brothers-in-law are a pain” – adapted to convey the
idea of nuisance) (4.72), “Algumas mães são leoas” (“Some mothers are
lionesses”) (4.82), and the one that was the closest to reaching a perfect
score “Algumas meninas são gatas” (“Some girls are foxes” – adapted
to convey the idea of attractiveness) (4.91).
Despite the high scores assigned to most expressions, we applied
the same strict standards previously adopted, raising the minimum score
of the metaphors’ aptness ratings to 4.5, thus preserving 61 out of the
84 (or 73%) of the candidates for stimuli in the planned self-monitored
reading experiment. Therefore, the selected metaphorical expressions
presented ratings of equal to or greater than 4.5, e.g.: “Alguns policiais
são gorilas” (“Some police officers are gorillas”) (4.54), “Alguns pais
são bananas” (“Some fathers are doormats” – adapted to convey the idea
of submission) (4.67), as well as “Alguns trabalhos são prisões” (“Some
jobs are jails”) (4.71), “Algumas modelos são aviões” (meaning “Some
models are gorgeous”) (4.8), and those that were almost unanimous within
the group “Alguns lutadores são touros” (“Some fighters are bulls”) (4.89)
and “Alguns mestres são espelhos” (“Some masters are mirrors”) (4.89).
Average “Conventionality” estimates, obtained from the
results of Experiments 1 and 2, translated into the following ratings:
“new metaphors”, “little conventionalized metaphors”, “moderately
conventionalized metaphors”, “conventionalized metaphors”, and
“highly conventionalized metaphors” (Table 3). Estimates regarding
“Conventionality”, collected in Experiments 1 and 2, were gathered in
average estimates, weighted in relation to the number of participants
in each of them in order to allow it to benefit from the totality of
observations. The adoption of the same minimum level (85%) used
to select expressions based on familiarity, in this study, limited the
stimuli for the planned self-monitored reading experiment for highly
conventionalized expressions.
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1516
Table 3 – “Conventionality” ratings in Experiments 1 and 210
Expression ratings
Congruent answers (%)10
Highly conventionalized metaphors
between 80 and 100
Conventionalized metaphors
equal to or higher than 60 and lower than 80
Moderately conventionalized metaphors
equal to or higher than 40 and lower than 60
Little conventionalized metaphors
equal to or higher than 20 and lower than 40
New metaphors
lower than 20
Therefore, 43 expressions from the original set were selected
to construct the stimuli for the self-monitored reading experiment,
performed in the subsequent research stage. This selection included: “very
familiar” metaphors (in at least 85% of the evaluations by participants
in Experiment 1), very high-apt metaphors (with ratings equal to or
higher than 4.5, obtained in the ranking in Experiment 2), and “highly
conventionalized” metaphors (in 85% or more of the average estimates in
the evaluations by the participants in Experiments 1 and 2) (see Table 4).
Table 4 – The 43 expressions selected in Experiments 1 and 2
The 43 expressions selected
English versions (* adapted)
Familiarity
Aptness
Conventionality
Alguns políticos são raposas.
Some politicians are rats.*
85.19%
4.67
97.45%
Algumas crianças são anjos.
Some children are angels.
98.77%
4.77
89.83%
Alguns chefes são toupeiras.
Some bosses are stupid.*
92.59%
4.66
94.92%
Alguns seguranças são armários.
Some security guards are monsters.*
93.83%
4.76
95.56%
Algumas modelos são aviões.
Some models are gorgeous.*
97.53%
4.8
98.73%
Alguns pais são bananas.
Some parents are doormats.*
92.59%
4.67
97.45%
Alguns maridos são cavalos.
Some husbands are jackasses.*
96.30%
4.68
100.00%
Algumas sogras são cobras.
Some mothers-in-law are snakes.
100.00%
4.82
99.36%
Alguns meninos são diabos.
Some boys are devils.
98.77%
4.67
96.84%
Algumas modas são febres.
Some fads are fevers.
96.30%
4.72
96.19%
Algumas senhoras são flores.
Some ladies are flowers.
91.36%
4.68
99.37%
Algumas mulheres são furacões.
Some women are hurricanes.
100.00%
4.81
98.11%
Algumas meninas são gatas.
Some girls are foxes.*
100.00%
4.91
100.00%
“[...] choose a word that captures the expression meaning” (see excerpts from the
“Familiarity” and “Aptness” forms in Figures 1 and 2, respectively).
10
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1517
Algumas adolescentes são girafas.
Some teenagers are giraffes.
92.59%
4.63
99.36%
Alguns cordeiros são lobos.
Some sheep are wolves.
91.36%
4.68
96.83%
Algumas mães são leoas.
Some mothers are lionesses.
97.53%
4.82
98.11%
Alguns motoristas são lesmas.
Some drivers are snails.
100.00%
4.85
98.73%
Alguns genros são sanguessugas.
Some sons-in-law are leeches.
91.36%
4.66
98.73%
Alguns avós são santos.
Some grandparents are saints.
86.42%
4.65
87.97%
Algumas tias são vitrolas.
Some aunts are record players.
90.12%
4.72
98.09%
Algumas avós são corujas.
Some grandmothers are proud.*
98.77%
4.73
98.11%
Alguns cunhados são malas.
Some brothers-in-law are pains.*
97.53%
4.72
96.83%
Alguns músicos são feras.
Some musicians are animals.*
100.00%
4.84
100.00%
Algumas motos são foguetes.
Some motorcycles are rockets.
92.59%
4.85
99.37%
Alguns cozinheiros são porcos.
Some cooks are pigs.
97.53%
4.85
94.33%
Alguns locutores são papagaios.
Some announcers are parrots.
92.59%
4.72
96.20%
Algumas atitudes são máscaras.
Some attitudes are masks.
85.19%
4.61
92.42%
Algumas provas são torturas.
Some tests are torture.
98.77%
4.81
100.00%
Alguns botequins são chiqueiros.
Some bars are pigsties.
95.06%
4.85
96.81%
Alguns professores são carrascos.
Some teachers are executioners.
98.77%
4.87
96.20%
Algumas celebridades são antas.
Some celebrities are asses.
88.89%
4.75
99.36%
Alguns fumantes são chaminés.
Some smokers are chimneys.
96.30%
4.86
97.47%
Alguns barracos são fornos.
Some huts are furnaces.
93.83%
4.66
98.72%
Some truck drivers are tortoises.
95.06%
4.85
98.72%
Algumas casas são fornalhas.
Some houses are stoves.
95.06%
4.72
97.47%
Algumas garotas são violões.
Some girls are curvaceous.*
95.06%
4.8
97.44%
Alguns amigos são pilares.
Some friends are pillars.
87.65%
4.77
96.84%
Algumas torcidas são quadrilhas.
Some team fans are gangs.
92.59%
4.63
89.89%
Algumas críticas são coices.
Some criticisms are kicks.
92.59%
4.72
94.30%
Alguns lutadores são touros.
Some fighters are bulls.
93.83%
4.89
98.08%
Alguns mestres são espelhos.
Some masters are mirrors.
93.83%
4.89
98.73%
Some workers are ants.
92.59%
4.62
86.08%
Some neighbors are flies.
93.83%
4.51
95.53%
Alguns caminhoneiros são
tartarugas.
Alguns trabalhadores são
formigas.
Algumas vizinhas são moscas.
1518
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
4 Experiment 3: self-monitored reading of BP metaphors
The self-monitored reading experiment (self-paced, noncumulative, moving-window reading) was designed to evidence
direct processing supported by the Class-inclusion theoretical model
(GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990), for very familiar, very high-apt, and
highly conventionalized metaphors in BP, selected in norming studies
conducted in our research, observing the reading times impact upon the
“Recognition Problem” locus of the metaphorical meaning, that is, the
vehicle for each of the expressions (e.g.: “um furacão” (“a hurricane”)
in “Irene é um furacão” (“Irene is a hurricane”) demanded metaphorical
interpretation). The reading times for the corresponding fragments were
also recorded, e.g.: “um furacão” (“a hurricane”) in “Irene é um furacão”
was to be interpreted literally, as was the reading time for the control
fragments, e.g.: “uma jovem” (“a young woman”) in literal class inclusion
statements, in this case, “Irene é uma jovem” (“Irene is a young woman”).
Participants: 66 volunteers participated in the experiment: 20 men
and 46 women, an average of 27 years of age. Thirty-five volunteers were
recruited among undergraduate students from the Languages Department
at Federal Fluminense University (UFF) and 3 were administrative
workers at the institution, the latter with college degrees. Twenty-eight
volunteers were students in different areas at the Severino Sombra
University (Nursing, Production Engineering, Chemical Engineering,
Medicine, and Psychology). Among these, 24 were undergraduate
students and 4 were specialists.
Materials: 9 triplets of paragraphs (transcribed in the Appendix),
equally divided into 11 fragments/syntagmas, were prepared to
include: in type 1: expressions type “X is a Y” constructed based on
metaphors selected in the pre-tests, e.g.: “Irene é um furacão” (“Irene is
a hurricane”), constructed based on “Algumas mulheres são furacões”
(“Some women are hurricanes”) (see Table 4); in type 2: expressions
with literal meaning of the same type (X is a Y), e.g.: “Irene é um
furacão”, constructed based on what had been learned from hurricane
Irene, which struck the Caribbean and the USA in 2011; and in type
3: class inclusion statements of the same type (X is a Y), e.g.: “Irene
é uma jovem” (“Irene is a young woman”), categorizing the topic of
the expression. In type 1 contexts, the expressions “X is a Y” required
metaphorical interpretations; in type 2 contexts, the same expressions
(X is a Y) required literal interpretations, and in type 3 contexts, “X is
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1519
a Y” were usual literal class inclusion statements. Critical fragments
of the - “Y” in all - metaphorical and literal expressions and of literal
inclusion statements, were balanced as the number of syllables, 4 (7th
segment); and in type and number of constituents, “Det + N” (in the
examples, respectively, “um furacão”, “um furacão”, “uma jovem”).
In addition, all the segments of the 9 triplets were equally balanced in
number of syllables before the critical fragment, and up to the ninth one.
After reading each paragraph, participants answered a question about the
content read, by pressing the buttons corresponding to YES or NO on
the button box attached to the stimuli exhibition device. The bars in the
examples below, on paper, limit the 11 fragments provided in each of
the reading windows, at the rhythm imposed by each of the participants
upon reading the paragraphs.
Type 1 context: requiring metaphorical interpretation
Com muita frequência, / mulheres brasileiras / trabalham fora, /
têm filhos / e estudam. / Irene é / um furacão / que empolga / todo mundo
/ no trabalho, em casa / e na faculdade.
(“Quite frequently, / Brazilian women / have jobs, / have children
/ and study. / Irene is / a hurricane / who excites / everyone / at work, at
home, / and at school.”)
Type 2 context: requiring literal interpretation
Com muita frequência, / fenômenos naturais / recebem nomes
/ de gente / dos mais comuns. / Irene é / um furacão / que assolou / o
Caribe / e o leste dos EUA / em 2011.
(“Quite frequently, / natural phenomena / are named / after /
common people. / Irene is / a hurricane / that struck / the Caribbean /
and the eastern USA / in 2011.”)
Type 3 context: requiring interpretation of the class inclusion
statement
Com muita frequência, / mulheres brasileiras / trabalham fora, /
têm filhos / e estudam. / Irene é / uma jovem / que empolga / todo mundo
/ no trabalho, em casa / e na faculdade.
1520
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
(“Quite frequently, / Brazilian women / have jobs, / have children,
/ and go to school. / Irene is / a young woman / who excites / everyone
/ at work, at home, / and at school.”)
Stimuli were distributed (within subjects, counterbalanced in
Latin squares) so that participants read paragraphs in all 3 conditions
(by reading 3 stimuli per condition and never reading the same stimulus
for more than one condition). Eighteen additional distractive paragraphs
were interspersed among the 9 target-paragraphs, and the presentation
order for the total 27 paragraphs was randomized in each session with
each participant. Questions after each of the target-paragraphs required
participants to provide approximately as many YES answers as NO
answers.
Procedures: In individual sessions, each participant read the
stimuli, fragment by fragment, prompted, at the participant’s command,
on an Apple computer screen, by pressing the “next screen button” from
a button box attached to the device. For this, the stimuli presentation
followed a protocol built in PsyScope, so as to record reading times
and participants’ answers. Prior to each session, participants underwent
training, consisting of reading 4 stimuli, in order to familiarize themselves
with equipment operation and with the experiment routine. Undergraduate
students were given a certificate for participating in extra-curricular
activities, complementary to the studies they might have been developing.
At the end of each session, participants were told the experiment purposes,
and any potential doubts they may have had were clarified.
Hypothesis: According to the theoretical class-inclusion
model (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990), the very familiar, highly
conventionalized, and very high-apt BP metaphors selected during the
norming studies should be processed directly, without mediation by the
derivation from literal meaning, as are literal class inclusion statements.
Alternatively, according to the so-called Standard Pragmatic Model, the
same metaphors should be processed indirectly, based on the derivation of
the expression’s literal meaning and its rejection in the utterance context.
Predictions: Due to the research hypothesis, of direct processing
of very familiar, highly conventionalized, and high-apt metaphors,
significant differences are not expected between the reading time for these
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1521
metaphor vehicles and for the corresponding nominal syntagmas, both in
the equivalent literal meaning expressions and in the class inclusion literal
statements. If indirect processing prevails, significantly higher average
reading times will most likely be observed for the metaphor vehicles
than those for the same target-nominal syntagmas in literal interpretation
and the target-nominal syntagmas in class inclusion literal statements.
4.1 Self-monitored reading experiment result analysis
We hereby adopt the methodological strictness that, according to
Janus and Bever’s criticism (1985), is missing in the literature to date, in
supporting as well as in rejecting indirect processing of the metaphor that
follows the Standard Pragmatic Model. For such, we divided the stimuli
into syntagmas and measured the reading times (RT) on the “Recognition
Problem” locus of the metaphorical meaning, the vehicles of metaphors.
However, unlikely in Janus and Bever (1985), whose findings suggest
that new metaphors are processed indirectly, based on the derivation
of the expression’s literal meaning, we obtained results that support
the hypothesis of direct processing of conventionalized, familiar, and
high-apt metaphors. In fact, Janus and Bever (1985, p. 485) admit the
possibility of direct processing of what they call frozen metaphors, and
our findings for BP are apparently no different from that.
Contrary to the predictions associated with the hypothesis
of indirect processing, in terms of the Standard Pragmatic Model,
participants in the self-monitored reading experiment conducted by us did
not spend significantly longer periods in reading the metaphor vehicles,
e.g., “um furacão” (“a hurricane”), in “Irene é um furacão” (“Irene is
a hurricane”), than they spent reading the same nominal syntagmas in
expressions with literal interpretation, e.g., “Irene é um furacão” (“Irene
is a hurricane”), referring to the hurricane that struck the Caribbean in
2011. They did not spend longer periods reading the nominal syntagmas
corresponding to the literal class inclusion statements, e.g. “Irene é uma
jovem” (“Irene is a young woman” - adapted), thus suggesting the validity
of the hypothesis of direct processing via Glucksberg and Keysar’s
(1990) Class inclusion/Dual reference, as demonstrated by the average
RT listed in Table 5.
1522
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Table 5 – Average reading times (RT in ms) for critical fragments (highlighted)
under the following conditions: Literal, Metaphorical and Literal Class Inclusion
Statement (LCIS)
Contexts
Literal
RT
Examples (paragraphs extracts)
954.25
[...] fenômenos naturais recebem nomes de gente. Irene é um
furacão que assolou o Caribe [...]. (“[...] natural phenomena
are named after people. Irene is a hurricane that struck the
Caribbean [...].”)
Metaphorical 925.84
[...] mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é um furacão que empolga todo mundo [...].
(“[...] Brazilian women have job, have children, and go to
school. Irene is a hurricane who excites everyone [...].”)
LCIS
[...] mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é uma jovem que empolga todo mundo [...].
(“[...] Brazilian women have job, have children, and go to
school. Irene is a young woman who excites everyone [...].”)
867.89
The RT for critical fragments did not exhibit normal distribution
for any of the 3 conditions: Literal, Metaphor, or Literal Class
Inclusion Statement (LCIS) (for Literal condition, KolmogorovSmirnov statistics=0.14, p<.05; for Metaphor condition, KolmogorovSmirnov=0.12, p<.05; and for the LCIS condition, KolmogorovSmirnov=0.12, p<.05). In addition, significant differences were not
detected in Multiple Comparisons among the conditions, LCIS-Literal,
LCIS-metaphor, Literal-Metaphor, in statistical analysis per subject
(Kruskal-Wallis X2(2)=2.95, p>.05) and in the analysis per item
(Kruskal-Wallis X2(2)=3.55, p>.05). The Test Power used was estimated
at 70%, capable of evaluating differences of, at least, 200 milliseconds
(ms) between the RTs of the critical fragments for the conditions and
differences, such as those Janus and Bever (1985) reported and that were
not present in this case.11
The epistemological nature of findings such as ours, which are based on the absence
of statistically significant differences among experimental conditions, has been
questioned, traditionally, under the terms of the so-called argumentum ad ignorantiam
(the absence of evidence is not evidence of the absence). Evidence of absence, in the
tradition that goes back to Sextus Empiricus’ (2nd century) skepticism, should be
considered fallacious, as absence of evidence that may simply have not been found.
11
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1523
Participants’ answers to the questions on the content in the
paragraphs satisfactorily attested to the involvement of individuals in
performing the proposed task. Considering the totality of participants
(66), we detected the vast majority (94%) of correct answers. What’s
more, approximately 99% of the participants answered 90% of the
questions correctly, ensuring that the results are not attributed to the lack
of attention by readers or to their difficulty in understanding stimuli.
The statistically non-significant difference (only 28.4 ms)
between the average reading time (average RT) for metaphor vehicles
and for the nominal syntagmas interpreted literally suggests that familiar,
high-apt, and conventionalized metaphorical meanings (thus considered
in the participants’ off-line answers in the norming studies) are indeed
“available” when the online structuring of predicative expressions and
their interpretation in appropriate contexts take place. In relation to
this difference (statistically non-significant, of 28 ms), it may be asked
whether they caused any “strangeness” and difficulty in interpreting
literal expressions that, in the stimuli used, assigned “people’s names”
to non-human beings, whether animate or inanimate, e.g.. “Irene é
um furacão” (“Irene is a hurricane”) in the paragraph “[...] fenômenos
naturais recebem nomes de gente. Irene é um furacão que assolou o
However, there has been an increase in the view that some cases in which a proposition
is assumed to be true simply because it may not be proven false, or is false because it
may not be proven true, are not considered fallacies (WALTON, 1992, p. 381-4). Among
such cases, circumstances are admitted in which conclusive evidence does not appear,
despite being sought; and the proposition that expresses the absence of such results is
assumed to be true or false, although temporarily, considering the possibility of future
rejections (p. 383). Therefore, we argue that this is the case of differences between the
RT of critical segments for the conditions (as an Alternative Hypothesis) that were not
evidenced in the experiment we performed, enticing the defense - at least presumptive
defense, under Walton’s terms - of the Research Hypothesis. To add further support to
the assumption that the experimental findings we obtained are not fallacious, we adduce
that, if, on the one hand, the absence of significant differences among RT for critical
segments under the 3 conditions may be paraphrased under the terms of non-rejection
of the null hypothesis, on the other hand, the test power used in the statistic treatment
of data, estimated at 70%, would be capable of surprise differences of, at least, 200 ms,
such as those reported by Janus and Bever (1985) in the processing of new metaphors,
and, therefore, respond to the challenge that a type II error may be occurring here, that
is, not rejecting the false H0. (COOLICAN, 2014, p. 427-8).
1524
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Caribe [...]” (“[...] natural phenomena are named after people. Irene is
a hurricane that struck the Caribbean [...]”) (see Appendix for the other
references). This average RT for the literal interpretation of nominal
syntagmas also departed (86.36 ms, a difference that was also not
statistically significant) from the average RT of nominal syntagmas in the
class inclusion statements, e.g., “Irene é uma jovem” (“Irene is a young
woman”), which are part of BP speakers’ repertoire, as consolidated
semantic knowledge. If, therefore, some literal expressions cause
“strangeness” (and literal expressions should not cause it), it should be
argued that the effect obtained by confronting, e.g., “Fernanda é uma
lesma” (“Fernanda is a snail”), in the paragraph “Em certas culturas,
animais exóticos são adotados e ganham apelidos. Fernanda é uma lesma
que habita um viveiro na casa de criadores nas Filipinas” (“In some
cultures, exotic animals are adopted and given nicknames. Fernanda is a
snail that lives in a nursery in a breeder’s in the Philippines”), is due, in
such cases, to the pragmatic “misfortune” of the literal statement, rather
than a breach in the sentence’s conditions of truth (see also Matthewson,
2004, p. 409).12 It is thus true that problems, in principle, inherent in
“performative” utterances would be extended to the examples of the socalled “constative” utterances, although this would be endorsed by the
literature. At least for Gerken (1994, p. 78), by “describing”, “explaining”,
and “theorizing” we also commit to performative activities, which means
stating that it would be more appropriate to consider “constative” or
“descriptive” as special cases of “performative.” In Petrey (1990), it
is possible to determine that even Austin (1962) recognized that the
distinction (originally proposed by Austin) was too strong and leaned
towards reevaluating it under the terms explained above. In Grandesso
(2006), we are able to get in contact with the literature in the Portuguese
language that addresses the views exposed herein.
Regarding the hypothesis of the direct processing of metaphors,
we return to the key issue to be highlighted: the average RT for metaphor
vehicles did not significantly differ from the average RT for the same
nominal syntagmas interpreted literally. This did not significantly differ
We thank Dr. Luciana Sanchez Mendes, our colleague at GEPEX – UFF, for the
suggestion to direct, towards the path above, the evaluation of the instigating (albeit
statistically marginal) difference between the reading times of nominal syntagmas for
literal interpretation and for literal class inclusion statements.
12
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1525
from the average RT of the corresponding nominal syntagmas in the
literal class inclusion statements (57.95 ms), which leads to the defense
of Glucksberg and Keysar’s (1990) position that metaphors are what
they appear to be: class inclusion statements, metaphorical categories
that are the names of the vehicles, which are prototypical members of
such categories. The fact that, in the BP data reported here, no significant
differences between the RT of critical fragments for the conditions
suggests that familiar, high-apt, and conventionalized metaphors are
processed as class inclusion statements, according to the Class-inclusion
model (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990).
The absence of significant differences between the RT obtained
could result, perhaps, from the sample composition. Among the 66
participants in the experiment, there was no actual balance in the
distribution between men (1/3) and women (2/3); the individuals selected
were originally from different cities (although two were from the same
state); and were students or had graduated from two different higher
education institutes, a public university, and a private college; they were
undergraduate students (59), had undergraduate degrees (1), and had
specialist degrees (6); in different majors.
We certainly did not mean to ignore the fact that the understanding
of metaphors by individuals within different sociocultural contexts may
differ considerably (for an introduction to the studies on the cultural
aspects involved in understanding metaphors, refer to Gibbs Jr. (2008) and
Ortony (1993 [1979]) and the references recommended in it). So much
so that, during the first research stage, evaluations were collected about
familiarity, aptness, and conventionality of expressions that originated
the stimuli used in the self-monitored reading experiment.
Nevertheless, from that point on, we started to systematize
findings from the self-monitored reading experiment under the light
of what may be called the “standardization” of the global sample. By
restricting the sample to the participants who provided right answers to
all questions (100% instead of 94%); and to those who attended UFF and
were in the second semester majoring in Languages – we reduced the total
to 38 individuals whose average age (previously, 27.3 years, and now,
26.6 years) was altered by less than 1 year; and to a subset whose ratio
between men (25%) and women (75%) reflects the public majoring in
Languages in the country. If we consider now, the “standardized” sample, there
are no reasons to question the results previously shown (see Table 6), which did not
1526
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
diverge from those previously exhibited (in Table 5, when the total of 66 participants
was considered), and, therefore, do not justify other conclusions.
Table 6 – Average reading times (RT) for critical fragments under the conditions: Literal,
Metaphor, Literal Class Inclusion Statement (in ms), with 66 and with 38 participants
Literal
Metaphorical
Control
66 participants
954.25
925.84
867.89
38 participants
1008.02
968.11
930.11
Consequently, one way or another, the hypothesis of the indirect
processing of familiar, high-apt, and conventionalized BP metaphors is
not supported by the results of the self-monitored reading experiment
conducted in this research. Average RT did not differ significantly, thus
suggesting that participants, both in the 66 of the original sample and
in the 38 in the subset, belonging to a geographically and socially more
homogeneous group, understood, with no additional difficulties in relation
to the same literal expressions and literal class inclusion statements,
the metaphors inserted in appropriate contexts. By interpreting the
metaphorical meaning of, e.g., “Irene é um furacão” (“Irene is a
hurricane”) (because apparently Irene disrupts the social environment
wherever she goes), native speakers of BP in the selected sample did not
find problems, in the same way that they did not find trouble with the
literal interpretation of “Irene é um furacão” (“Irene is a hurricane”) (the
hurricane that struck the Caribbean). They had no trouble interpreting
the metaphorical meaning of the same expressions that were greater than
the trouble they had to interpret “Irene é uma jovem” (“Irene is a young
woman”), literal class inclusion statement (including Irene in the category
of ‘jovem’ (‘young woman’), which enables us to infer, as proposed by
Glucksberg et al. (GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990; GLUCKSBERG,
1998; GLUCKSBERG, 2003), that they understood the metaphors as
well as they understood the literal class inclusion statements.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1527
Figure 3 – Properties associated with the metaphorical meaning M-furacão of “furacão” (“hurricane”) at the supraordinate level, and to the literal meaning L-furacão
“furacão” (“hurricane”) at the basic category level
As Glucksberg (1998, p. 41) hierarchically structures, in 2
reference levels, a basic level and a supraordinate or metaphorical level, to
account for “my lawyer is a shark”, the metaphorical category “furacão”
(“hurricane”) is illustrated in Figure 3.
According to the Class-inclusion/Dual reference model, before
the expression “Irene é um furacão” (“Irene is a hurricane”), the listener/
reader promptly accesses the metaphorical meaning of the metaphor
vehicle, “furacão” (“hurricane”) – conventionalized (in BP, even included
in the dictionary). In the Glucksberg and Keysar’s model (1990) of direct
metaphor processing by categorization, metaphors such as “Irene é um
furacão” (Irene is a hurricane”) would be understood as literal class
inclusion statements, due to the inclusion of topics from pre-existing
categories created from conventionalized vehicles.
5 Conclusions
The results of the experiments performed support the hypothesis
defended by Glucksberg and Keysar (1990), of direct processing of
familiar, high-apt metaphors, whose vehicles are conventionalized,
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according to the Class-inclusion model. RTs were measured for the
critical fragments for the expressions fit in appropriate contexts, and no
significant difference was identified between the RT of metaphor vehicles
and the equivalent literal expressions. A significant difference was also
not identified between the average RT of metaphor vehicles and literal
class inclusion statements, which suggests that the metaphors in question
were processed in accordance with the Class-inclusion/Dual reference
(GLUCKSBERG; KEYSAR, 1990).
It is important to highlight here that we did not consider extending
the idea of direct processing via Class-inclusion to categories other than
the pre-existing ones, as aimed by Glucksberg (2008). For Glucksberg
(2008), the conventionality of “vehicles” results necessarily from their
use in well-constructed expressions. Therefore, high-apt metaphors,
despite being new, would be interpreted as class inclusion statements.
In the future, such a hypothesis may (and should) be duly tested.
Despite its originality, the present study does not cross the
original limits defined for it: that of evaluating in BP the processing of
conventionalized, familiar, and high-apt metaphors. Still awaiting the
interest of future research, the study of BP metaphor processing with
the assistance of eye movement tracking technology in understanding
metaphors, as well as the extraction of the potential evoked during the
hearing/reading of BP metaphors and investigations based on neuroimaging.
Acknowledgments
We wish to thank the anonymous peers for identifying aspects in
the text that deserved to be reformulated. We thank Reviewer 1 for the
care towards the transition to objectives, hypothesis, and predictions of the
self-monitored reading experiment. We thank Reviewer 2 for advocating
(but not demanding) the use of Portuguese equivalents for the English
terms that are established in the international literature, which will happen
more often, as the field of metaphor processing becomes more consolidated
among us. Finally, we thank the volume organizer for urging us to hold the
necessary discussion (see note 12) on the findings we reported, considering
the ideas surrounding the so-called argumentum ad ignorantiam.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1529
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
1533
Appendix: Experimental paragraphs for the chronometric
experiment
The experimental paragraphs below are organized in the sequence
Literal/Metaphor/Literal Class Inclusion Statement, for each triplet. The
translations of some expressions were adapted (*) to retain their original ideas.
1. Com muita frequência, fenômenos naturais recebem nomes de gente dos
mais comuns. Irene é um furacão que assolou o Caribe e o leste dos EUA
em 2011. (“Quite frequently, natural phenomena are given the most common
people’s names. Irene is a hurricane that struck the Caribbean and the eastern
US in 2011.”)
Com muita frequência, mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos e
estudam. Irene é um furacão que empolga todo mundo no trabalho, em
casa e na faculdade. (“Quite frequently, Brazilian women have jobs, have
children, and go to school. Irene is a hurricane who excites everyone at
work, at home, and at school.”)
Com muita frequência, mulheres brasileiras trabalham fora, têm filhos
e estudam. Irene é uma jovem que empolga todo mundo no trabalho, em
casa e na faculdade. (“Quite frequently, Brazilian women have jobs, have
children, and go to school. Irene is a young woman* who excites everyone
at work, at home, and at school”)
2. Excepcionalmente, móveis italianos têm qualidade e nome no mercado. Bérgamo
é um armário que recebe dos clientes ótimas avaliações nos comentários.
Excepcionalmente, segurança de rua porta armas para ser respeitado.
Bérgamo é um armário que trabalha com ajuda do porte avantajado e da
força bruta. (“Exceptionally, security guards carry guns to be respected.
Bérgamo is a monster* who works with the help of his massive size and
raw strength.”)
Excepcionalmente, segurança de rua porta armas para ser respeitado.
Bérgamo é um vigia que trabalha com ajuda do porte avantajado e da força
bruta. (“Exceptionally, security guards carry guns to be respected. Bérgamo is a
security guard who works with the help of his massive size and raw strength.”)
1534
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
3. Em certas culturas, animais exóticos são adotados e ganham apelidos.
Fernanda é uma lesma que habita um viveiro na casa de criadores nas
Filipinas. (“In certain cultures, exotic animals are adopted and are given
nicknames. Fernanda is a snail that lives in a nursery in a breeder’s house
in the Philippines”)
Costumeiramente, motoristas idosos guiam devagar sem razão no trânsito.
Fernanda é uma lesma que atrasa a chegada no trabalho ou lazer quando usa
carro. (“Older drivers usually drive slowly in traffic for no reason. Fernanda
is a snail that is late to get to work or recreation when she uses a car.”)
Costumeiramente, motoristas idosos guiam devagar sem razão no trânsito.
Fernanda é uma chofer que atrasa a chegada no trabalho ou lazer quando usa
carro. (“Older drivers usually drive slowly in traffic for no reason. Fernanda
is a driver that is late getting to work or recreation when she uses a car.”)
4. Em certas famílias, bichos de estimação distanciam-se do padrão esperado.
Tereza é uma cobra que só pica raramente e não tem qualquer veneno,
segundo o dono. (“In some families, pets are different from the expected
standard. Tereza is a snake that rarely bites and is not poisonous, according
to the owner.”)
Em certas famílias sogras problemáticas implicam muito com genros, sem
motivos. Tereza é uma cobra que ataca sem aviso o marido da filha em
qualquer lugar. (“In some families, problematic mothers-in-law pick on
their sons-in-law for no reason. Tereza is a snake who attacks her daughter’s
husband anywhere, without warning.”)
Em certas famílias sogras problemáticas implicam muito com genros, sem
motivos. Tereza é uma sogra que ataca sem aviso o marido da filha em
qualquer lugar. (“In some families, problematic mothers-in-law pick on
their sons-in-law for no reason. Tereza is a mother-in-law who attacks her
daughter’s husband anywhere, without warning.”)
5. Em alguns lugares, primatas em extinção ganham proteção de ONGs e pessoas.
Samuel é uma fera que resiste na África à extinção dos gorilas até o momento.
(“In some places, endangered primates are protected by NGOs and individuals.
Samuel is a beast that has resisted the extinction of gorillas in Africa to date.”)
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Por todo o mundo, guitarristas famosos sobem em palcos ou tocam ao ar
livre. Samuel é uma fera que fascina o público da banda de rock Skank há
muitos anos. (“All over the world, famous guitar players play on stages or in
open environments. Samuel is an animal* who has fascinated the audience
of the rock band Skank for many years.”)
Por todo o mundo, guitarristas famosos sobem em palcos ou tocam ao ar
livre. Samuel é um músico que fascina o público da banda de rock Skank há
muitos anos. (“All over the world, famous guitar players play on stages or in
open environments. Samuel is a musician who has fascinated the audience
of the rock band Skank for many years.”)
6. Em filmes infantis, grupos de felinos formam famílias felizes e saudáveis. Maria
é uma gata que alegra as crianças na famosa animação Os Aristogatas. (“In
children’s movies, groups of felines are happy and healthy families. Marie
is a cat that entertains children in the famous animation “The Aristocats.””)
Em qualquer época, meninas sedutoras estão no centro de festas e
baladas. Maria é uma gata que encanta os garotos em qualquer reunião
de adolescentes. (“Seductive girls are the center of attention in parties and
nightclubs at any time. Marie is a fox* who charms boys in any teenage
gathering.”)
Em qualquer época, meninas sedutoras estão no centro de festas e baladas.
Maria é uma moça que encanta os garotos em qualquer reunião de
adolescentes. (“Seductive girls are the center of attention in parties and
nightclubs at any time. Marie is a young woman who charms boys in any
teenage gathering.”)
7. De tempos em tempos, animais adestrados ficam famosos em filmes de sucesso.
Argento é um cavalo que estrela a história Cavaleiro Solitário na pele de Silver.
(“From time to time, trained animals become famous in successful movies.
Argento is a horse that stars in the Lone Ranger story playing the role of Silver.”)
Em alguns lugares, maridos ciumentos podem agredir esposas sem punição.
Anderson é um cavalo que recebeu até hoje apenas advertências por bater na mulher.
(“In some places, jealous husbands may beat their wives without any punishment.
Anderson is a jackass* who has only received warnings for beating his wife.”)
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1501-1536
Em alguns lugares, maridos ciumentos podem agredir esposas sem punição.
Anderson é um marido que recebeu até hoje apenas advertências por bater
na mulher. (“In some places, jealous husbands may beat their wives without
any punishment. Anderson is a husband who has only received warnings
for beating his wife.”)
8. Muito raramente, heroínas de filmes são veículos a motor femininos. Rochelle
é um avião que atua no sucesso de animação da Disney chamado Aviões.
(“Movie heroes are seldom female motor vehicles. Rochelle is an airplane
who acts in the Disney animation hit “Planes.””)
De modo esperado, modelos de beleza são convidadas a posar para fotos.
Rochelle é um avião que desfila com sucesso nas capas de revistas e nas
passarelas. (“As expected, beauty models are invited to pose for photos.
Rochelle is a beauty* who appears successfully in magazine covers and
runways.”)
De modo esperado, modelos de beleza são convidadas a posar para fotos.
Rochelle é uma jovem que desfila com sucesso nas capas de revistas e nas
passarelas. (“As expected, beauty models are invited to pose for photos.
Rochelle is a young woman* who appears successfully in magazine covers
and runways.”)
9. Para quase todos, produtos japoneses são tidos como muito bons e duráveis.
Tagima é um violão que músicos destacados têm como referência de
qualidade. (“For almost everyone, Japanese products are viewed as good
and durable. Tagima is a guitar that successful musicians use as reference
for quality.”)
De modo habitual, garotas de biquíni são criticadas com rigor por mulheres.
Tagima é um violão que revela destemor diante dos olhares de todas na praia.
(“Girls in bikinis are usually criticized by women. Tagima is a curvaceous
woman* who does not fear being seen by others on the beach.”)
De modo habitual, garotas de biquíni são criticadas com rigor por mulheres.
Tagima é uma moça que revela destemor diante dos olhares de todas na
praia. (“Girls in bikinis are usually criticized by women. Tagima is a young
woman* who does not fear being seen by others on the beach.”)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1537-1566, 2017
A técnica de ERP no processamento de sentenças de crianças:
uma revisão
The ERP technique in children’s sentence processing: a review
Marília Uchôa Cavalcanti Lott de Moraes Costa
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
marilia@letras.ufrj.br
Resumo: A medição da ativação cerebral por meio da técnica de
potenciais relacionados a eventos (ERP) tem sido valiosa para lançar luz
sobre diversas cognições humanas. A linguagem é uma das cognições que
têm sido estudadas com essa técnica de grande resolução temporal entre
o estímulo apresentado e a ativação observada decorrente desse estímulo.
A área de aquisição da linguagem tem se beneficiado especialmente dessa
técnica, dado que é possível investigar relações entre dados linguísticos
e a ativação cerebral sem a necessidade de uma resposta explícita, como
apertar um botão ou apontar para uma imagem. O objetivo deste artigo é
apresentar o estado da arte sobre o processamento de frases em crianças
utilizando a técnica de ERP.
Palavras-chave: ERP/EEG; processamento de frases; aquisição da
linguagem; N400; P600.
Abstract: The measurement of brain activation through the technique
of event related potentials (ERP) has been valuable in shedding light
on various human cognitions. Language is one of those cognitions that
has been studied with this technique, which allows for more accurate
temporal resolution between the stimulus presented and the time in
which we observe an activation resulting from this stimulus. The area of
language acquisition has especially benefited from this technique since it
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1537-1566
1538
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1537-1566, 2017
is possible to investigate relationships between linguistic data and brain
activation without the need for an explicit response. The purpose of this
article is to present the state of the art in children’s sentence processing
captured by the ERP technique.
Keywords: EEG/ERP; sentence processing; language acquisition; N400;
P600.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 4 de abril de 2017.
O objetivo deste artigo é revisar a literatura que utiliza a técnica
de extração de potenciais elétricos de um traçado de eletroencefalograma
(EEG/ERP) no campo de processamento de sentenças em crianças.
Essa técnica tem sido utilizada por diferentes laboratórios, para medir
diferentes modos de ativação cerebral relacionados a tarefas cognitivas e
já demonstrou resultados importantes. Neste artigo, pretendo demonstrar
resultados que atestam que crianças de 18 meses tem sensibilidade
quanto à categoria de palavras e com 24 meses distinguem frases mal
formadas daquelas bem formadas na língua que estão adquirindo. Estudos
com crianças de até 4 anos são apresentados demonstrando a vasta
competência linguística de crianças nessa faixa etária. Esse artigo também
apresenta a técnica de ERP e os principais componentes encontrados em
adultos, dessa forma é possível perceber as diferenças e semelhanças entre
o processamento adulto e o infantil. Essa revisão procura contribuir com
a área de aquisição da linguagem e neurociência da linguagem trazendo
o estado da arte nessas duas áreas para o público brasileiro.
Para isso é relevante situar brevemente o leitor a respeito da
técnica EEG-ERP. A eletroencefalografia (EEG) é uma técnica de
imagem que mensura a atividade elétrica gerada por estruturas cerebrais
(TEPLAN, 2002) na superfície do escalpo. Voltagens do escalpo refletem
diretamente atividade neuronal. O EEG refere-se à atividade elétrica
gravada continuamente da superfície do escalpo após ser capturada por
canais, eletrodos de metal. O EEG é a mais antiga das técnicas de imagem.
Hans Berger reportou a primeira gravação em 1929 (cf. LUCK, 2005,
para informações históricas sobre a técnica).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1537-1566, 2017
1539
O EEG tem uma resolução temporal muito boa, na ordem de
alguns milissegundos; ele é um procedimento não invasivo que pode
ser utilizado tanto em adultos como em crianças. É relativamente barato
quando comparado a outros sistemas, como a ressonância magnética
funcional (fMRI) e o PET (Tomografia por emissão de Pósitrons),
métodos hemodinâmicos, ou o magneto-encefalograma (MEG), e
ele não requer pessoal especializado da área médica. Outro aspecto
importante quando comparamos o EEG com métodos hemodinâmicos
é que, diferente desses, o ambiente de testagem do EEG é silencioso, o
que é ideal para estudos de linguagem que utilizam estímulos auditivos.
O EEG tem a desvantagem de ter uma menor resolução espacial,
dado que, a eletricidade captada é gerada dentro do crânio e perpassa
diversas barreiras como diferentes tipos de tecido cerebral e barreiras
celulares até alcançar o escalpo. O ricochetear que a atividade elétrica
sofre até chegar à superfície faz com que a ativação captada no escalpo e o
local onde ela foi gerada não sejam análogos, ou seja, a fonte da atividade
elétrica não está normalmente localizada logo abaixo do eletrodo onde
está sendo feita a mensuração.
No sinal contínuo gravado pelo EEG, estão as respostas
neuronais associadas a eventos sensoriais, linguísticos, e motores –
assim como atividade neuronal não relacionada e ruídos (TEPLAN,
2002). Para analisar as respostas elétricas correspondentes a um evento
específico, a técnica de potenciais relacionados a eventos é utilizada
(JOHNSON, 2001; LUCK, 2005). Essa técnica consiste em tirar uma
média da atividade cerebral de muitos trials (item de um experimento)
que correspondem à mesma condição experimental. A média permite
que os pesquisadores eliminem o ruído e as atividades neuronais não
relacionadas ao experimento.1 Ao calcular a média do sinal, assume-se
que o sinal de interesse ocorra de maneira consistente através dos trials
enquanto que o ruído é aleatório (LUCK, 2005).
No entanto, para garantir a exclusão do ruído indesejado e não do
sinal relevante é necessário ter um grande número de itens experimentais
para realizar as médias, termo conhecido como razão sinal-ruído ou
relação sinal-ruído. Quanto maior o sinal, menor é a influência do
ruído. Isso quer dizer que para obter uma onda ERP confiável em um
experimento de linguagem padrão, a média deve ser feita com pelo
1
Para facilitar a leitura chamarei toda ativação não relacionada ao experimento de ruído.
1540
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menos 20-30 tokens diferentes dentro da condição experimental. Assim,
quando falamos do ERP suscitado por uma palavra específica em uma
condição particular, queremos dizer a atividade eletrofisiológica média
em diferentes tokens do mesmo tipo (BROWN; HAGOORT; KUTAS,
2000).
O método de ERP pode identificar diretamente o potencial
relacionado ao processamento de um estímulo. Ele é muito utilizado
em estudos de aquisição da linguagem (OBERECKER et al., 2005;
OBERECKER; FRIEDERICI, 2006; SILVA-PEREYRA et al., 2005a,
2005b; SILVA-PEREYRA et al., 2007; BERNAL et al., 2010; BRUSINI
et al., 2016a, 2016b; COSTA, 2015) e processamento linguístico em geral
(KUTAS et al., 1980; FRANÇA et al., 2004; GOMES; FRANÇA, 2013;
GOMES, 2014; GOMES; FRANÇA, 2015). Outra vantagem de ERPs é
que não há a necessidade de os participantes fazerem uma tarefa – o que
torna essa tecnologia mais atrativa em populações mais jovens que podem
participar de estudos de linguagem sem receber instruções (CONBOY
et al., 2008). Na maioria dos estudos com ERP os voluntários recebem
instruções para realizar uma tarefa apenas para mantê-los atentos, mas
a atividade cerebral pode ser capturada sem nenhuma tarefa específica.
Após décadas de estudo, alguns componentes elétricos foram
frequentemente observados – N170, ELAN, N400, P300, P600 – quando
participantes processam estímulos específicos (como fala, faces, etc) e
hoje eles são considerados marcadores de certos tipos de processamento
realizado pelo cérebro. Há restrições para qualificar uma certa atividade
cerebral encontrada por um paradigma experimental como um
componente elétrico já muito conhecido. Existem critérios bem definidos
para que uma dada ativação cerebral seja caracterizada como um N400
ou P600, por exemplo. A população de neurônios envolvida na atividade
identificada precisa ser grande o suficiente e a atividade deles precisa
ser sincronizada e coerente durante uma janela de tempo com duração
suficiente; em nosso exemplo, a duração mínima seria 200ms. A definição
de um potencial consiste de três dimensões da atividade gravada:
1. Latência (ms): o tempo em que um potencial começa, se desenvolve
e desaparece;
2. Distribuição Espacial: a disposição dos eletrodos que exibem o efeito;
3. Voltagem: a polaridade do efeito (positiva ou negativa).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1537-1566, 2017
1541
Esses componentes são comumente nomeados levando em
consideração a polaridade deles (N ou P) e o número de milissegundos
em que se observa tipicamente o efeito máximo (e.g.: N400, P600).
A literatura sobre aspectos linguísticos no cérebro já reúne um
número considerável de trabalhos e há muitas hipóteses sobre como se dá
o processamento linguístico. Poeppel e Embick (2005) e Marantz (2005)
expressam as dificuldades e a importância da interseção entre a Linguística
e a Neurociência (POEPPEL; EMBICK, 2005; MARANTZ, 2005).
Desafios importantes que precisam de atenção são chamados por Poeppel
e Embick de incompatibilidade de granularidade e incomensurabilidade
ontológica. O primeiro conceito está relacionado com o fato de haver uma
incongruência entre os elementos representacionais das duas disciplinas.
Em geral a linguística trabalha com elementos bem detalhados, traços
distintivos, morfema, sintagmas etc., enquanto que em abordagens
neurocientíficas os termos são vistos de maneira mais ampla, dendritos,
neurônios, coluna cortical. O segundo conceito está relacionado com o
fato desses elementos das teorias linguísticas não poderem ser diretamente
comparados com as unidades observadas pela Neurociência. Os autores
apontam que esses problemas não são específicos da área da linguagem,
mas são “problemas de interface” comuns aos estudos da cognição”
(POEPPEL; EMBICK, 2005).
Apesar de a possibilidade de descobrir os mecanismos subjacentes
ao processamento linguísticos ser empolgante, os elementos que eliciam
ou afetam algum componente de ERP não se equiparam a uma função
neurocognitiva. Por enquanto, a forma mais direta de observar um
resultado de ERP é apresentar eventos altamente controlados que variam
em apenas uma variável e compará-los entre muitos sujeitos. Se uma
diferença for encontrada, então deve ser pelo fato de os estímulos terem
alguma propriedade que o cérebro dos participantes “pôde diferenciar”.
Cada estudo postula uma explicação que se encaixa aos
dados e possivelmente a uma teoria, mas é apenas após um número
de manifestações que seremos capazes de entender melhor o que os
elementos descritos na literatura de ERP como componentes distintos
quer dizer sobre os mecanismos subjacentes. A cada novo estudo
entendemos mais sobre a linguagem, o cérebro e a técnica. Muitos anos
após o primeiro estudo de ERP em linguagem, o debate ainda está aberto
sobre o que significam para a linguagem os vários componentes de ERP
encontrados e como integrar esses estudos com o corpo massivo de
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trabalhos já existentes em psicolinguística para alcançarmos os melhores
modelos sobre processamento de linguagem. Como Pylkkänen e colegas
afirmam:
In this endeavor, a cognitive model is crucial as without it,
the cognitive neuroscientist does not know what to look for
in the brain, what the nature of the relevant representations
might be, or how the different components of a process
might interact with each other.” (PYLKKÄNEN;
BRENNAN; BEMIS, 2011).
Componentes comumente encontrados em experimentos de
processamento de frases em adultos
Muito já foi aprendido sobre o fato de anomalias linguísticas nos
níveis semântico, morfológico e sintático eliciarem uma série de respostas
de ERP com características diferentes. Estudos com anomalias sintáticas e
morfológicas, por exemplo, têm demonstrado respostas qualitativamente
diferentes de ERP aos diferentes tipos de violações. Abaixo faremos uma
revisão destes tipos de componentes.
Como já foi mencionado, componentes de ERP são normalmente
denominados de acordo com sua polaridade e latência. No entanto alguns
componentes podem ser nomeados a partir de sua topografia. LAN (Left
Anterior Negativity, negatividade anterior à esquerda) e ELAN (Early
Left Anterior Negativity – negatividade anterior à esquerda precoce) são
dois exemplos na área da linguagem. As duas ondas aparecem cedo e
são eliciadas, de acordo com a literatura, por violações sintáticas. LAN e
ELAN são, como o nome sugere, ondas negativas capturadas à esquerda
nas áreas anteriores do cérebro. Essas duas ondas, analisadas como
idênticas, diferem apenas em sua latência. O ELAN é muito precoce
e aparece entre 150 e 200 milissegundos após o começo do elemento
crítico; já o LAN se desenvolve entre 300-500 milissegundos. Estudos
reportaram que o LAN e o ELAN opunham frases neutras, gramaticais,
de frases contendo violações sintáticas: a morfossintaxe não estava
adequada (concordância ou marcador de caso repetido) ou em sentenças
contendo uma combinação de palavras inadequadas (e.g. uma palavra
ou grupo de palavras aparecia em um contexto em que palavras de uma
categoria sintática diferente eram esperadas – HAGOORT; LEVELT,
2009; HWANG; STEINHAUER, 2011).
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1543
O N400
No final dos anos 70, Martha Kutas e Steven Hillyard estavam
investigando a influência do contexto sentencial para o reconhecimento
de palavras. Eles inicialmente pensaram que a manipulação do grau de
previsibilidade do final de frases os levaria a observar o componente P32,
que é normalmente relacionado à probabilidade de um certo estímulo
aparecer. Os autores manipularam o final de frases, que variavam de
congruentes até ininterruptas, mas, ao invés de uma onda posterior
positiva, eles encontraram uma onda negativa. Na verdade, a única
manipulação que deu o gatilho para um P3 foi o uso de finais congruentes,
porém com fontes distintas, letras maiúsculas, na última palavra. Essa
nova forma de onda foi chamada de N400 devido à sua polaridade e ao
fato de seu pico ser observado em torno dos 400ms (KUTAS; HILLYARD,
1980). Em 1980, o primeiro artigo sobre o N400 foi publicado. Um par
de exemplos desse trabalho foi “I like my coffee with cream and sugar.”
versus “I like my coffee with cream and socks.”3. O segundo tipo de frase
levaria a uma onda negativa 400 ms após o elemento crítico que nesse
caso é a palavra final (sugar ou socks). Esse trabalho seminal foi feito com
estímulos visuais, escritos. Naquele momento, os autores interpretaram
a onda como uma resultante de uma violação semântica. Um grande
número de trabalhos replicaram esse efeito estendendo os achados a
outras modalidades (HOLCOMB; COFFEY; NEVILLE, 1992) e outros
contextos linguísticos, incluindo pares de palavras e contextos discursivos
mais amplos, assim como sentenças (OSTERHOUT; HOLCOMB, 1992;
BERKUM; HAGOORT; BROWN, 1999; FRANÇA, 2002; FRANÇA
et al., 2004; HÄNEL-FAULHABER et al., 2014).
Hoje, o N400 é descrito como uma deflexão negativa ampla do
ERP que começa 200–300 ms após uma palavra ou sinal, no caso das
línguas de sinais, ser apresentada por via auditiva ou visual e que tem seu
pico depois de 400ms, aproximadamente, em eletrodos centro-parietais
(cf. KUTAS; FEDERMEIER, 2011; LAU; PHILLIPS; POEPPEL,
2008). Pesquisadores observaram o N400 em um número variado de
tarefas que variam de priming de palavras e processamento no nível
Uma onda positiva que tem seu pico normalmente 300 milissegundos após o elemento
crítico referida como P3.
3
A primeira frase lê-se “Eu gosto do meu café com creme e açúcar” e a segunda “Eu
gosto do meu café com creme e meias”
2
1544
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da mensagem até o papel da atenção e consciência na compreensão
da linguagem, diferenças de ativação entre hemisférios ativados pela
memória semântica, e a construção de vocabulário no aprendizado de uma
língua (OSTERHOUT; MCLAUGHLIN, 2006; KOTZ; HOLCOMB;
OSTERHOUT, 2008), só para mencionar alguns trabalhos. O N400
também já foi usado para comparar diferenças entre populações – e.g.,
jovens vs. idosos, sadios vs. pacientes esquizofrênicos (KUPERBERG
et al., 2006).
In general then, the N400 is thought to reflect the degree of
ease or difficulty in retrieving stored knowledge associated
with a potentially meaningful item from semantic memory,
contingent upon both the characteristics of the stored item
itself, as well as the contextual cues available. (KUTAS;
DELONG, 2008, p. 157)
Apesar de uma resposta N400 ser majoritariamente associada
a uma anomalia semântica, ela também já foi eliciada pela maioria de
estímulos significativos – palavras faladas, escritas ou sinalizadas, nãopalavras pronunciáveis, e acrônimos conhecidos, mas também para sons
não-humanos, faces, gestos, e cenas. Desde a primeira vez que a onda foi
reportada, pesquisadores têm tentado explicar os mecanismos subjacentes
relacionados ao N400. O componente já foi estudado a partir de diferentes
ângulos e campos de investigação e mesmo assim ainda hoje há muitos
aspectos que não são completamente compreendidos. De acordo com
Kutas e Federmeier (2011), um ponto crucial da literatura de N400 é o
panorama convincente de como a percepção, a atenção, a memória, e a
linguagem em conjunto participam nos eventos neuronais responsáveis
pelo N400 (KUTAS; FEDERMEIER, 2011). Apesar de não ser eliciado
exclusivamente em estudos de processamento de linguagem, o N400 é
uma ferramenta para investigar questões relacionadas ao curso temporal
do processamento de linguagem. Um ponto permanece em discussão:
exatamente qual(is) processo(s) o componente reflete?
O P600
O P600 foi descrito pela primeira vez em 1992 por Osterhout e
Holcomb. É uma onda com voltagem positiva que apresenta sua amplitude
máxima em torno de 600ms após o estímulo crítico. Ele é eliciado tanto
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na modalidade visual quanto na auditiva. Ativa tipicamente eletrodos
centro-parietais, mas alguns trabalhos já reportaram esse componente
em eletrodos frontais (FRIEDERICI, 2002). O P600, também chamado
de Syntactic Positive Shift – mudança sintática positiva (SPS), devido
a sua natureza positiva e ao fato de ser eliciado por estímulos sintáticos
(OSTERHOUT; HOLCOMB, 1992; FRIEDERICI; PFEIFER; HAHNE,
1993; HAGOORT; BROWN; GROOTHUSEN, 1993; OSTERHOUT;
HOLCOMB; SWINNEY, 1994; GOMES; FRANÇA, 2013; GOMES,
2014; GOMES; FRANÇA, 2015).
Originalmente, o P600 foi interpretado como um reflexo de
processos sintáticos. Ele foi observado em resposta a diferentes violações
sintáticas, incluindo violações na estrutura sintagmática (OSTERHOUT;
HOLCOMB, 1992; HAGOORT; BROWN; GROOTHUSEN, 1993),
violações de subcategorização (OSTERHOUT; HOLCOMB, 1992;
OSTERHOUT; HOLCOMB; SWINNEY, 1994), violações quanto ao
número, tempo, gênero, e concordância de caso (COULSON; KING;
KUTAS, 1998; NEVINS et al., 2007) e violações às restrições de
dependência de longa distância (PHILLIPS; KAZANINA; ABADA,
2005). Devido à variedade de circunstâncias em que o P600 foi
observado, ele foi interpretado como o reflexo de reparo sintático – e.g.,
(OSTERHOUT; HOLCOMB, 1992; FRIEDERICI, 1995), reanálise
estrutural, ou integração sintática (GIBSON, 1998; KAAN et al., 2000;
HERTEN; KOLK; CHWILLA, 2005). No entanto, nos últimos 10 anos a
interpretação de que o P600 é especificamente relacionado a processamento
sintático tem sido questionada (KUPERBERG; SITNIKOVA, 2003;
KOLK et al., 2003; KIM; OSTERHOUT, 2005). Hoje já se discute o
P600 como um componente que pode refletir tanto o componente sintático
como semântico (BORNKESSEL-SCHLESEWSKY; SCHLESEWSKY,
2008; HOEKS; STOWE; DOEDENS, 2004; KUPERBERG, 2007).
Gouvea et al. (2010) estudaram todos os “estímulos P600”
comumente descritos para um melhor entendimento da natureza
dessa onda. Eles utilizaram um desenho experimental intra-sujeito
com o máximo de estímulos similares para três tipos de configuração
estruturais que havia sido discutido na literatura como “eliciadores
de P600” – sentenças agramaticais, garden paths, e complexidade de
dependências de longa-distância. O resultado foi que a topografia para
garden paths sintáticos, violações de gramaticalidade, e preenchimento
de dependências de longa-distância eram bastante semelhantes, mas
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as dependências com relação a palavras qu- tinham uma distribuição
diferente, inicialmente mais anterior. A condição das dependências de
qu- eliciaram um P600 de amplitude menor, e as condições com frases
garden path e agramaticais apresentaram uma negatividade adicional e “o
P600 posterior tinha uma latência retardada nas condições agramaticais
(500-700 ms) do que nas condições com frases garden path (300-500
ms)” (GOUVEA et al., 2010).
Gouvea et al. (2010) sugerem que o P600 possa refletir um
conjunto comum de processos que começam assim que informações
suficientes foram acumuladas para iniciá-los. Sob essa visão, mesmo
quando o P600 ocorre em latências distintas, ele ainda reflete os mesmos
processos subjacentes, a diferença de latência refletiria mais ou menos
o tempo necessário para completar os processos que acionam o P600.
Uma vez que a positividade que atinge picos de 600 ms é
provocada por diferentes tipos de estímulos, ela levanta naturalmente
a questão de se ela reflete um único mecanismo subjacente ou vários
processos diferentes. Por enquanto, alguns pesquisadores discutiram
possíveis maneiras de explicar o P600 como refletindo diferenças nos
cálculos realizados por um único processo subjacente, mas ainda pode
haver a possibilidade de que pequenas diferenças de topografia, tensão
e tempo de pico sejam índices de diferentes mecanismos subjacentes.
Estudos de linguagem ERP sobre processamento de sentenças em
crianças pequenas
Não há muitos estudos de ERP testando processamento de
sentenças em crianças, por várias razões: (i) artefatos de movimento; (ii)
dificuldade de colocação dos eletrodos/ touca de EEG; (iii) participação
dos responsáveis; (iv) duração dos experimentos e dificuldade de
encontrar estímulos atraentes. Como foi explicado anteriormente, uma das
principais dificuldades para uma gravação de qualidade é o movimento.
Solicita-se aos participantes adultos que não se movam e se abstenham
de piscar em partes críticas do teste. Em contraste, você não pode pedir
a uma criança pequena para ficar quieta, especialmente quando ela
tem entre 14 a 36 meses – a idade exata quando você precisa estudar
o início do processamento da sentença. É muito cansativo para eles
permanecer no lugar por um longo tempo. A última barreira é a duração
dos experimentos: embora o EEG seja a técnica ótima para estudos de
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crianças porque é silencioso e as crianças não têm que dar respostas
abertas, o ERP exige a média de múltiplos trials em cada condição, o
que torna as experiências geralmente muito longas para crianças (20-30
minutos). Se uma criança não participar do experimento por um período
de tempo suficiente, o número de itens será muito baixo para obter médias
estáveis. Para incentivar as crianças a permanecerem no experimento
tempo suficiente, os estímulos precisam ser muito atraentes para elas.
Todas essas barreiras podem explicar por que há tão poucos estudos com
crianças pequenas na literatura ERP.
Uma última dificuldade com as crianças é que um cérebro
em desenvolvimento não tem as mesmas propriedades de um cérebro
totalmente desenvolvido4 (PUJOL et al., 2006). Não é raro que os
componentes de ERP de crianças sejam diferentes temporalmente,
topograficamente ou quanto à polaridade. É difícil, portanto, usar o
conhecimento que temos da literatura adulta para extrapolar o que deve
ser encontrado em populações jovens (COCH, MITRA, GEORGE,
2012). As diferenças podem ocorrer em latência, duração e amplitude.
Embora haja muitos obstáculos na pesquisa de desenvolvimento
de ERP, ainda existem alguns grupos ao redor do mundo que realizam
essa empreitada. Encontramos estudos de ERP em diferentes domínios
cognitivos e idades (KOVELMAN, 2012). No estudo da língua, a
maioria dos estudos é feita em inglês, francês ou alemão. Existem muitos
estudos em prosódia e fonologia (MILLS et al., 2004). Há evidências de
que as crianças podem discriminar entre categorias de som, padrões de
tonicidade (stress) (FRIEDERICI; FRIEDRICH; CHRISTOPHE, 2007)
e unidades prosódicas, por exemplo. Os estudos em fonologia geralmente
são realizados com bebês bem pequenos, que não se importam com as
toucas; em muitos casos, os estudos podem ser feitos até mesmo quando
o bebê está desatento à tarefa (por exemplo, distraído com bolhas de
sabão enquanto ouve sílabas ou palavras) e às vezes até durante o sono
(DEHAENE-LAMBERTZ; PENA, 2001).
Há também trabalhos sobre a segmentação da fala. O trabalho
realizado com crianças de até 7 meses de idade apresentou evidência
Cf. (SHAFER; GARRIDO-NAG, 2007) para uma revisão sobre as evidências
neurobiológicas relativas ao desenvolvimento da linguagem e (POEPPEL; OMAKI,
2008) para uma discussão sobre as ressalvas e perspectivas do uso de abordagens ERP
no desenvolvimento da linguagem.
4
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significativa de segmentação da fala. Os participantes mostraram uma
polaridade positiva (KOOIJMAN et al., 2013). Os estudos foram
conduzidos com técnica ERP para investigar o acesso lexical também. Os
pesquisadores desenvolveram um paradigma apropriado para adultos e
crianças, no qual o participante vê uma imagem de um objeto e ao mesmo
tempo ouve um estímulo auditivo que é uma palavra correspondente ao
nome do objeto ou não, ou é uma pseudopalavra que é fonotaticamente
bem ou mal formada – em português poderíamos ter exemplos como
baluga e btinica, respectivamente. Usando esse paradigma, Friedrich
e Friederici (2004) observaram uma mudança de desenvolvimento
entre as idades de 12 e 19 meses. Os efeitos de ERP em crianças de
19 meses foram relatados como bastante semelhantes aos dos adultos,
isto é, um efeito N400 para as palavras incongruentes e pseudopalavras
fonotaticamente possíveis, mas não para pseudopalavras fonotaticamente
ilegais (FRIEDRICH, FRIEDERICI, 2004). No entanto, eles não
encontraram uma negatividade aos 400 ms para 12 meses de idade.
Diferentemente dos resultados encontrados com 12 meses de idade, em
outro estudo realizado em 2010, os autores observaram um efeito N400
de priming com a mesma população. A ativação foi relacionada ao nível
de produção de palavras de bebês. Os participantes foram divididos em
dois grupos: um com alta produção de palavras precoces, e o outro com
baixa produção de palavras precoces. Apenas o primeiro grupo teve o
que Friedrich e Friederici interpretou como um N400 (FRIEDRICH;
FRIEDERICI, 2010).
De acordo com Silva-Pereyra e colegas (2005b), a maior parte das
crianças apresenta dois momentos de desenvolvimento sem igual após
o primeiro ano de vida. O primeiro é uma aceleração na velocidade do
crescimento do vocabulário a partir de 16 e 20 meses (SILVA-PEREYRA
et al., 2005b). Aos 20 meses de idade, diferenças de ERP entre palavras
conhecidas e não conhecidas se tornam lateralizadas e mais diferenciadas
nas regiões temporal e parietal do hemisfério esquerdo, possivelmente
refletindo o aumento de especialização dessas áreas para o processamento
da linguagem (cf. os trabalhos do grupo de Debra Mills para uma revisão
desses resultados). O segundo é no desenvolvimento da morfossintaxe
das crianças, entre 24 e 30 meses de idade. Esse segundo momento é
mais relevante para esse trabalho, dada a relação com o processamento
de sentenças.
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Oberecker et al. (2005) e Oberecker e Friederici (2006)
trabalharam no processamento de sentenças em crianças de 2 anos, de 28
meses e de 24 meses de idade, respectivamente. O estudo foi realizado
em alemão. Eles testaram se nessa idade as crianças eram sensíveis às
estruturas sintáticas de sua língua , como exemplificadas em (1), (2) e (3):
(1) Der Löwe brüllt
O
leão ruge (ou está rugindo)
(2) Der Löwe im Zoo brüllt
O
Leão no Zoo rugindo
(3) Der Löwe im brüllt
O
leão no rugindo
As sentenças foram apresentadas a crianças em três condições
– duas condições gramaticais e uma agramatical. As frases gramaticais
tinham ou estrutura de DP (VP) como em (1) ou estrutura de DP [PP VP]
como em (2). A condição agramatical tinha sentenças com descasamento
de maiúsculas e minúsculas; o caso era marcado por uma preposição que
tomava um nome ou adjetivo, mas as frases tinham um verbo em vez
disso como em (3). Os resultados apresentados em Oberecker, Friedrich,
Friederici (2005) demonstraram que os participantes de 2 anos e 8
meses exibiram o que os autores chamaram de ELAN e P600, enquanto
que aqueles de 2 anos exibiram apenas um P600 (OBERECKER;
FRIEDERICI, 2006). O padrão encontrado no grupo mais velho estava
alinhado com o grupo-controle adulto que também exibiu um ELAN e
P600. Os autores interpretaram esses achados sugerindo que os princípios
de sintaxe são estabelecidos precocemente durante o desenvolvimento,
uma vez que um P600 estava presente no grupo mais jovem, pelo menos
no que se refere a frases simples.
According to this interpretation the presence of a P600
effect in 2-year- olds would mean that late integration
processes are already at work at this age even though
highly automatic syntactic processes reflected in the
ELAN are not yet effective. The biphasic ELAN-P600
pattern observed in 2.8-year-olds indicates that local phrase
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structure building processes are already established by
that age in addition to late integration processes at least
for the processing of simple active sentences. A similar
developmental shift from a P600-only to a biphasic
ELAN-P600 pattern was reported for the processing of
phrase structure violations in passive sentences between
the age of 6 and 7 years (Hahne, Eckstein, and Friederici,
2004). (FRIEDERICI; THIERRY, 2008, p. 227)
Em 2010, Bernal e colegas estudaram se as crianças construíam
expectativas online em relação à categoria sintática da próxima palavra em
uma frase. Os pesquisadores apresentaram frases que tinham substantivos
no lugar de verbos e vice-versa. Os resultados mostraram respostas
cerebrais diferentes para sentenças gramaticais e não-gramaticais,
sugerindo que aos 24 meses de idade, as crianças constroem expectativas
on-line sobre a categoria das palavras. Outro achado interessante foi que
a topografia da resposta cerebral foi diferente para substantivos e verbos,
sugerindo que o processamento de substantivos e verbos em crianças
pequenas já poderia ser conduzido por mecanismos subjacentes diferentes
(como é encontrado em adultos).
Em 2012, o mesmo grupo relatou resultados semelhantes com
novas palavras (BRUSINI, 2012 – tese de doutorado). Eles ensinaram às
crianças substantivos e verbos novos5 criados para o teste com a fonotática
do francês, touse como em (4), uma semana antes do teste – nunca com
a estrutura alvo –, e, no dia do teste, como em Bernal et al. (2010), eles
os apresentaram em frases gramaticais como em (5) ou agramaticais nas
quais os substantivos ensinados na semana anterior eram inseridos agora
em estrutura verbal, como em (6), e vice-versa.
(4) Oh regarde, un touse!
Ih Olha,
um touse!
(5) L’indien pousse le [touse]N
O índio empurra o touse.
As palavras inventadas eram ensinadas a partir de brincadeiras com bonecos. Touse,
por exemplo, foi ensinado com o significado de tricerátopes.
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(6) *Alors, elle le [touse]V de joie.
Então, ela o touse de alegria.
Os pesquisadores também encontraram respostas diferentes para
frases gramaticais e agramaticais, embora com uma topografia e uma
janela temporal diferentes do que aquelas do estudo de 2010. Essa tese
se converteu em um número de artigos publicados em 2016 – BRUSINI
et al., 2016a, 2016b).
Ainda em relação ao processamento sintático, e mais
especificamente aos verbos e à morfossintaxe, em 2005, dois artigos do
mesmo grupo de pesquisadores surgiram. O estudo com crianças mais
velhas foi publicado em primeiro lugar e, em seguida, um grupo mais
jovem também foi testado e os resultados desses testes foram publicados
em um artigo separado. Isso significa que, uma vez que os autores
observaram os potenciais obtidos pela manipulação de propriedades
morfossintáticas e semânticas, eles estavam confiantes de que tal ativação
poderia ser encontrada em crianças mais novas. É comum na literatura
do ERP de desenvolvimento procurar primeiro os fenômenos em um
grupo etário e, em seguida, tentar observar quão cedo pode-se observar
o fenômeno. Silva-Pereyra et al. (2005b) abordaram o curso temporal
dos ERPs utilizando frases sintáticas e semanticamente anômalas para
comparar com as controle, com crianças de 36 meses de idade (SILVAPEREYRA; RIVERA-GAXIOLA; KUHL, 2005b). O objetivo era
observar que tipo de ativação cerebral seria observada quando sentenças
sintática e semanticamente anômalas foram apresentadas aos participantes
em idade pré-escolar. Silva-Pereyra et al. (2005a) apresentaram o mesmo
conjunto de estímulos em uma população mais jovem, de 30 meses de
idade (SILVA-PEREYRA et al., 2005a).
Silva-Pereyra e colaboradores estudaram crianças de 36 e
48 meses, manipulando elementos sintáticos e semânticos (SILVAPEREYRA, RIVERA-GAXIOLA, KUHL, 2005). Eles adicionaram
o sufixo -ing às estruturas em que ele não é licenciado como em (7) e
alteraram o argumento interno dos verbos tornando-os agramaticais,
como em (8).
(7)
My
uncle will
1POS tio
watching
a
movie.
FUT assistir-ASP DET filme
Meu tio irá assistindo um filme.
1552
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(8)
My uncle will
1POS tio
blow
the movie.
FUT soprar DET filme
Meu tio vai soprar um filme.
Com essa manipulação, os autores demonstraram que crianças de
36 e 48 meses apresentaram efeitos ERP diferentes para processamento
sintático e semântico (mesmo sem atenção explícita às frases) e que
suas respostas mudaram entre 3 e 4 anos de idade. As ativações tiveram
localização mais anterior aos 3 do que aos 4 anos de idade. O mesmo
padrão foi replicado em crianças de 2,5 anos de idade.
Eles descobriram uma mudança positiva significativa na forma de
onda durante o processamento de frases sintaticamente anômalas quando
comparadas com frases não anômalas. Este efeito foi composto apenas de
um efeito positivo duradouro que foi maior sobre as regiões anteriores do
escalpo de 500 a 1500 ms. A interpretação foi que o efeito foi consistente
com os resultados de P600 de adultos durante o processamento sintático.
Os P600 adultos sob o mesmo tipo de manipulação são apresentados em
eletrodos de linha média parietal (HAGOORT; BROWN; OSTERHOUT,
1999). Entretanto, o efeito sintático em pré-escolares tinha uma
distribuição anterior. Uma possível conclusão após a análise desses
resultados é que, já em tenra idade, as crianças têm a capacidade de
analisar a sintaxe. Eles implementam diferentes processos ao analisar
sentenças gramaticais e não-gramaticais. Em geral, o potencial evocado
foi uma onda de positividade tardia. Este resultado foi interpretado como
semelhante ao P600 adulto, mas os pré-escolares tiveram uma resposta
mais distribuída nos eletrodos anteriores. O mesmo padrão estava
presente em crianças de 2,5 anos (SILVA-PEREYRA et al., 2005a). A
conclusão geral foi de que as crianças pequenas possuem assinaturas
neurais do processamento das sentenças no início de seu desenvolvimento
linguístico.
Em outro estudo dos mesmos autores (SILVA-PEREYRA et
al., 2005b) são comparadas as ativações de crianças de 36 e 48 meses
em frases com violações morfossintáticas e semânticas. O estudo
demonstrou que crianças de 36 meses e 48 meses demonstram efeitos
de ERP diferentes para processamento sintático e semântico sem atenção
explícita às sentenças e que suas respostas mudam entre 3 e 4 anos de
idade para as violações sintáticas. Uma onda positiva foi observada
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nas frases sintaticamente anômalas nos participantes de 36 meses com
pico de ativação em 800 ms e duas ondas positivas na população de 48
meses: uma com pico aos 400 ms e a outra em 800 ms. Essas ativações
foram reportadas como P400 e P800. Os autores também reportaram uma
diferença quanto à topografia, que demonstrou ativações mais fortes em
regiões frontocentrais. Em relação às frases com anomalias semânticas,
três ativações negativas foram reportadas como N400, N600 e N800,
nos dois grupos.
Outra área de investigação na literatura da linguística e de
processamento de frases é a importância das pistas sintáticas e semânticas.
Essa importante questão também foi investigada em crianças. Para poder
observar se as sugestões semânticas são mais salientes do que a estrutura
das frases, Silva-Pereyra e colegas apresentaram a crianças de 36 meses
com frases em inglês e em jabberwocky,6 sem conteúdo semântico – ou
seja, usando apenas a estrutura de frases com palavras sem qualquer
significado (SILVA-PEREYRA et al., 2007). Eles testaram 16 crianças.
Metade das sentenças eram agramaticais. As frases usadas tinham verbos
transitivos como em (9). No exemplo, o argumento interno (the cat)
é um DP. Os pesquisadores substituíram o tipo correto de argumento
interno, um DP, por um sintagma preposicional como em (10). Esta é
uma violação da estrutura do verbo “touch”. Nas frases jabberwocky a
posição das palavras funcionais é respeitada em frases gramaticais como
em (11) e (12), mas as palavras lexicais são substituídas por palavras
possíveis mas inexistentes na língua.
(9)
My dolly touched the cat with her hand.
‘Minha bonequinha tocou o gato com a mão dela.’
(10) My dolly touched with the cat her hand.
‘Minha bonequinha tocou com o gato a mão dela.’
(11) My cholly daunched the glat with her shond.
‘Minha tonequinha docou o clato com a prão dela.’
Jabberwocky é o termo para denominar sentenças com estruturas aparentemente
perfeitas na língua mas que não fazem sentido algum. O termo é original do livro
Through the Looking-Glass, and What Alice Found There, de Lewis Carrol (1871).
6
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(12) My cholly daunched with the glat her shond
‘Minha tonequinha docou com o clato a prão dela.’
Se as crianças utilizassem o conhecimento semântico para
determinar se uma frase era incongruente ou não, mais do que o
conhecimento sintático, então seria de se esperar que os efeitos de ativação
fossem mais fortes para frases que eram semanticamente incongruentes
do que sintaticamente incongruentes. Os autores encontram ativações
negativas e positivas maiores para as frases anômalas do que para as
não-anômalas. No entanto, os resultados encontrados pelos autores
são difíceis de interpretar dado que nenhum dos efeitos durou mais de
200ms. Na verdade, as ativações encontradas tinham apenas 150ms, o
que é bastante rápido para esse tipo de fenômeno. Sendo assim, o que o
leitor levo do artigo é a variedade de latência e localização que os autores
encontraram que por vezes estavam alinhadas com outros estudos, mas
também foram observadas latências e localização ainda não reportada.
O último estudo que será relatado diz respeito a uma investigação
quanto à estrutura argumental. COSTA (2015) investigou se crianças
de dois anos sabem inconscientemente que certos verbos entram em
estruturas argumentais específicas como em (13), demonstrando efeito
de agramaticalidade caso um verbo conhecido entrasse em outra estrutura
como em (14), presente em outras línguas do mundo, mas não observada
nos dados da língua francesa. Pequenos vídeos em que uma narradora
contava uma história enquanto manipulava bonecos era apresentado às
crianças. Ao longo das histórias, frases gramaticais – do tipo (13) e (15) e
agramaticais como em (14) eram ouvidas e as pesquisadoras analisaram a
ativação cerebral relacionada a essas frases. Os resultados demonstraram
uma ativação negativa entre 200-450ms após a criança ter escutado o
verbo que estava sendo manipulado. Esses resultados indicaram que as
crianças são sensíveis a manipulações na estrutura argumental.
(13) Thomas lui donne une fleur pour lui dire merci.
‘Thomas lhe deu uma flor para lhe dizer obrigado.’
(14) * Elle lui donne qu’ils seront toujours amis.
‘Ela lhe deu que eles seriam sempre amigos.’
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(15) Elle lui crie qu’il
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faut manger la bonne viande.
‘Ela lhe gritou que ele devia comer a boa
carne.’
Todos esses estudos indicam que crianças bem pequenas que
produzem palavras ou pequenas sentenças há poucos meses no momento
dos testes já têm intuição linguística sobre o que é possível ou não em
sua língua nativa quanto ao processamento de frases. Violações sintáticas
e semânticas eliciam ondas diferentes daquelas encontradas em frases
bem formadas. Os resultados apresentados aqui sugerem que crianças
de um ano e meio, dois e três computam estruturas sintáticas complexas
online. Isso nos leva a pensar sobre quais mecanismos já estão ativos
nessa idade e a que outros tipos de subcategorização de verbos as crianças
são sensíveis e quando essa(s) capacidade(s) estaria(m) disponível(is).
Conclusão
A ativação observada quando crianças processam sentenças
não ocorre necessariamente na mesma topografia e janela temporal
encontradas nos componentes clássicos de ERP. Alguns autores têm
reportado ativações que ocorrem em janelas de 500-1500ms e em
posições mais anteriores como P600. Isso estaria alinhado com o que
Gouvea (2010) observa em sua revisão sobre o P600. No entanto, não
sabemos dizer ainda se todos os elementos reportados como P600 em
adultos vão ser encontrados na população infantil e se eles representarão
os mesmos processos subjacentes. É importante dar continuidade às
pesquisas para podermos, com um corpo maior de dados de outras línguas,
conhecer mais sobre o processamento sintático infantil.
A área de estudo sobre desenvolvimento linguístico em ERP ainda
é recente e as melhores formas de testar e interpretar os dados estão sendo
continuamente debatidas, a fim de encontrar o melhor sistema. O campo
está em ampla expansão e cada ano mais pesquisas e novos grupos são
formados em todo o mundo. A comparação com adultos é necessária,
mas às vezes, quando a ativação encontrada não está alinhada com aquela
em adultos não há uma conclusão óbvia. A diferença pode existir devido
ao nível de maturidade linguística ou fatores relacionados à anatomia
infantil. Sendo assim, dizer apenas que os resultados são diferentes não
necessariamente nos leva a conclusões claras sobre quais processos tal
ativação indica.
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Mesmo assim, o que sabemos hoje sobre o processamento infantil
com ERP já é bastante encorajador. Crianças de 18 meses são sensíveis
a manipulações quanto a categoria em palavras do dia-a-dia e aos 24
meses em palavras aprendidas no laboratório. Estudos mostram que, aos
24 meses, as crianças são sensíveis a manipulações quanto à marcação
de caso e que aos 28 meses a ativação encontrada já apresenta padrão
adulto. Aos 30 meses, as crianças são sensíveis a manipulações sintáticas e
semânticas. Essa mesma manipulação elicia uma ativação com localização
mais anterior em crianças de 3 do que em crianças de 4 anos. Pesquisadores
também encontraram diferenças de ativação em crianças de 36 meses
quando frases jabberwocky foram testadas vs. frases padrão das línguas.
Neste artigo, foi apresentada a técnica de ERP, mostrando
o caminho que o campo tomou ao tentar entender os mecanismos
subjacentes à cognição e especificamente à linguagem - a literatura adulta
foi brevemente apresentada, mostrando seus principais componentes e
estudos mais relevantes. Em seguida, apresentamos a literatura sobre o
desenvolvimento infantil utilizando a técnica de ERP e seus desafios e
resultados encorajadores. No final do artigo, os artigos mais importantes
sobre a estrutura de argumentos usando a técnica ERP também foram
resumidos. A ativação observada quando as crianças processam sentenças
não ocorre necessariamente na mesma topografia e janela temporal
encontradas em componentes clássicos de ERP. Alguns autores relataram
ativações ocorrendo em janelas de 500-1500ms e em posições anteriores
como P600. Isso estaria em consonância com o que Gouvea et al. (2010)
observa em sua revisão da P600. No entanto, ainda não sabemos se
todos os elementos relatados, como P600 em adultos, serão encontrados
na população infantil e se eles representarão os mesmos processos
subjacentes. É importante continuar a pesquisa para que possamos ter
um corpo maior de dados de outros laboratórios, outras tarefas e línguas
para saber mais sobre o processamento sintático das crianças.
Sendo assim, este campo de investigação tem grandes desafios a
enfrentar ao tentar abranger diferentes fontes de informação de diferentes
disciplinas relacionadas ao estudar a linguagem e/ou o desenvolvimento
infantil. Mesmo assim, estou otimista de que a fertilização mútua (crossfertilization) é possível (POEPPEL, EMBICK, 2005), se tentarmos
pesquisar fenômenos com a devida diligência. No entanto, não devemos
ser afoitos em supor que uma ativação cortical em crianças é diretamente
comparável aos resultados encontrados em adultos. Até agora, ainda
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precisamos de mais pesquisas para ter certeza de que as mesmas janelas
de tempo e polaridade significam as mesmas computações para ambas
populações.
Agradecimentos
Parte desta pesquisa foi conduzida com o apoio do CNPq e Fundação
CAPES (Bolsista CAPES no Processo 17638-12-7), que apoiou um
ano de trabalho em Paris, no Laboratoire de Science Cognitive et
Psycholinguistique (LSCP) na École Normale Superieure, Paris, França.
Gostaria também de agradecer as minhas orientadoras Professoras
Doutoras Aniela Improta França e Anne Christophe pelo suporte durante
o período do meu doutorado e para além desse momento de formação
acadêmica bem como toda a equipe dos laboratórios Acesin e LSCP.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 25, n.3, 1567-1611, p. 2017
Aquisição de estruturas possessivas inalienáveis:
o caso dos nomes de parte do corpo em inglês americano
e português brasileiro
Acquisition of inalienable possessive structures: the case of bodypart names in American English and Brazilian Portuguese
Fernanda Mendes
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo / Brasil
fernanda.mds@gmail.com
Resumo: Este estudo testa a aquisição de estruturas de posse inalienável
em português brasileiro e inglês americano, assumindo que crianças
falantes nativas de inglês americano teriam disponível, num primeiro
momento, a mesma gramática disponível para crianças falantes nativas
de português brasileiro, em que a leitura inalienável poderia ser vinculada
tanto na presença de pronomes possessivos quanto na presença de
determinantes definidos com nomes de parte do corpo. Aplicando a
Tarefa de Julgamento de Valor de Verdade observou-se que a distinção
entre as gramáticas das duas línguas apareceu por volta dos seis anos de
idade, quando crianças falantes de inglês americano restringiram o uso do
determinante definido de acordo com a gramática alvo, não permitindo
o seu uso nas estruturas contendo nomes de partes do corpo, quando foi
veiculada a interpretação inalienável. Neste caso, o determinante definido
foi substituído pelo pronome possessivo.
Palavras-chave: posse; inalienável; aquisição.
Abstract: The current study tests the acquisition of inalienable possessive
structures in Brazilian Portuguese and American English, assuming that
American English-speaking children start with the same grammar as
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1567-1611
1568
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
Brazilian Portuguese-speaking children do. This first grammar would
allow inalienable interpretation being carried by possessive pronouns
as well as definite determiners introducing body-parts names. Using
Truth Value Judgement Task method it is noticed that the difference
between Brazilian Portuguese grammar and American English grammar
appeared around the age of six, when American English-speaking children
approach the target grammar, in which the presence of the possessive
pronoun is what allows the inalienable interpretation and the use of
definite determiners is restricted to alienable possession constructions
with body-parts names.
Keywords: possession; inalienable; acquisition.
Recebido em: 10 de dezembro de 2016
Aprovado em: 19 de abril de 2017
1 Introdução
De forma geral, as construções de posse inalienável são definidas
como estruturas possessivas especiais em que o possuído e o possuidor
estabelecem uma relação de posse que não pode ser transferida a outro
possuidor qualquer. Usualmente, essas estruturas contam com nomes de
partes do corpo, tais como pernas ou nariz, ou relacionais, como pai e
irmãos,1 e implementam uma relação possessiva, independentemente da
presença de um pronome que a expresse – tal como em O Pedro lavou
a mão (dele) ou O Pedro abraçou a mãe (dele).2
A fim de investigar como esse tipo de construção possessiva
se comporta no PB adulto e se desenvolve na gramática infantil, este
trabalho se apoia em estudos realizados anteriormente que examinam
como esse mesmo tipo de estrutura funciona em outras línguas – não
No entanto, apenas os nomes de partes do corpo serão examinados no presente artigo.
É importante observar que estas sentenças, em PB, também podem veicular a
interpretação alienável. Ou seja, é possível haver uma leitura em que o objeto possuído
a mão (dele) ou a mãe (dele) não pertença ao possuidor disponível na sentença O
Pedro. No entanto, esta não é a interpretação requerida na presente discussão sobre
inalienabilidade.
1
2
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1569
necessariamente pertencentes à mesma família –, tais como o francês,
o espanhol e o inglês.
Assim, serão apresentadas, ao longo deste artigo, pesquisas que
tratam sincronicamente da posse inalienável e da sua aquisição, além
de estudos que examinam fenômenos relacionados a ela – tais como a
aquisição de determinantes e de Princípios A e B da Teoria da Ligação
(CHOMSKY, 1981).
De acordo com esses trabalhos, serão apresentadas as hipóteses
e previsões aventadas no presente estudo, a serem avaliadas pelos
experimentos aplicados em inglês americano (AE) e português brasileiro
(PB), exibidos em seguida.
Na seção 2 a seguir, é apresentado o viés teórico deste artigo,
incluindo o que a literatura da área afirma sobre a posse inalienável na
gramática adulta e infantil, bem como as hipóteses e previsões da presente
pesquisa. Na seção 3, em seguida, é apresentado o viés experimental
deste artigo, incluindo a metodologia adotada, os fatores envolvidos e
os testes específicos (gerados a partir da combinação desses fatores), os
sujeitos participantes, os resultados e a discussão. E, por fim, na seção
4 é traçada a conclusão deste artigo.
2 Estruturas possessivas inalienáveis: viés teórico
2.1 PB adulto: estratégias sincrônicas para a marcação de posse inalienável
Segundo pesquisas diacrônicas sobre posse inalienável3, o
pronome clítico dativo de posse não se constitui mais como uma estratégia
sintática possível para veicular a interpretação inalienável da estrutura
em PB. Atualmente, são empregadas outras estratégias, como o uso do
pronome possessivo e do determinante definido, que serão analisadas
nesta seção, com foco especial na última, já que essa estratégia é a que
parece diferenciar o PB de outras línguas românicas, como o francês e
o espanhol, além de o distinguir do AE.
Segundo Guéron (1985), a interpretação inalienável é veiculada
quando o sintagma nominal que denota a coisa possuída é uma parte
3
Ver MENDES, 2012.
1570
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intrínseca do sintagma nominal possuidor, que pode ser o sujeito, como
em (1),4 ou o dativo possuidor, como (2).5
(1)
a. Jean lève la main.
b. O João levanta a mão.
(2)
a. Je lui ai coupé les cheveux.
b. Eu lhe cortei os cabelos.
Por outro lado, a interpretação alienável é veiculada quando o
sintagma nominal que denota a coisa possuída é “disjunto” do sujeito ou
do dativo possuidor, como mostram os exemplos do AE em (3).6
(3)
a. #John raises the hand.
b. #I cut the hair for her.
Segundo a classificação proposta pela autora, construções em que
o sintagma nominal contendo um nome de parte do corpo e introduzido
por um determinante definido está em posição do objeto do verbo,
como em (1)-(3), apresentam ambiguidade entre a leitura alienável e
a inalienável em línguas como o francês, enquanto, em línguas como
o AE, há apenas a leitura alienável disponível. Conforme os exemplos
(1b) e (2b), observa-se que os dados do PB se comportam tais quais os
do francês com respeito a essa classificação.
No caso do AE, para que a leitura inalienável esteja disponível
é preciso que, no lugar do determinante definido, haja um pronome
possessivo,7 tal como ilustra (4a).
(4)
a. John raises his hand.
b. Jean lève sa main.
c. João levanta a mão dele.
Exemplo retirado de GUÉRON, 1985, p. 43.
Exemplo retirado de GUÉRON, 1985, p. 43.
6
Exemplos retirados de GUÉRON, 1985, p. 43-44.
7
Para uma análise transformacional dessa estrutura, ver CHOMSKY, 1970, p.200.
4
5
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1571
Os exemplos em (4b-c) mostram que essa possibilidade também
está disponível no francês e no PB. Portanto, quando a estrutura envolve
um pronome possessivo, ambas as leituras, alienável e inalienável, estão
disponíveis, já que, em (4), his hand, sa main e a mão dele podem tanto
pertencer ao sujeito da sentença – John/Jean/João –, quanto a um outro
possuidor qualquer, que pode ter sido mencionado no discurso.
Assim, o Quadro 1 apresenta as leituras veiculadas por cada
tipo de determinante que introduz o sintagma nominal contendo o nome
possuído em cada língua observada:
QUADRO 1 – Leitura permitida com o determinante: AE e francês/PB
Leitura inalienável
Leitura alienável
Determinante definido
Pronome possessivo
PB/Francês
PB/Francês e AE
PB/Francês e AE
PB/Francês e AE
Segundo a hipótese da autora, a diferença apresentada,
contrapondo os dados do AE aos dados do francês ou do PB, em relação
à disponibilidade das leituras inalienável e alienável nos exemplos
introduzidos por determinantes definidos seria consequência do valor
atribuído a um parâmetro morfofonológico, chamado pela autora de
“parâmetro de inclusão de PRO”, segundo o qual o determinante definido
que constitui o sintagma inalienável pode ser uma anáfora pronominal
ou um operador iota.
Como uma anáfora pronominal, ou seja, um pronome sem
referência independente, o determinante definido seria responsável pela
leitura inalienável vinculada, tal qual ocorre em línguas como o francês
ou o PB.
Como um operador iota, ou seja, um operador semântico que
representa a parte que denota a unicidade de uma descrição definida –
isto é, a sua definitude –, o determinante definido seria responsável pela
leitura alienável veiculada, tal qual acontece em línguas como o francês,
o PB e o AE.
Evidência para esta hipótese, na aquisição, seriam as marcas de
concordância (gênero, número e pessoa8) do determinante. Isto é, se a
Segundo Guéron (1985), o determinante definido, nas línguas românicas, tem o traço
de 3a pessoa.
8
1572
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
língua tem os determinantes morfologicamente marcados, como em (5),
o determinante definido pode funcionar, além de como um operador iota,
como uma anáfora pronominal.
(5)
a. o(s) garoto(s)
[3Sg. M.Sg.(Pl.)]
[M.Sg.(Pl.)]
b. a(s) garota(s)
[3Sg. F.Sg.(Pl.)]
(6)
[F.Sg.(Pl.)]
a. the
[∅]
boy(s)
[M.Sg.(Pl.)]
b. the
[∅]
girl(s)
[F.Sg.(Pl.)]
Por outro lado, se a língua não tem os determinantes
morfologicamente marcados, como em (6), o determinante definido
não pode atuar como uma anáfora pronominal, mas apenas como um
operador iota.
Sendo o determinante definido uma anáfora, Guéron (1985)
propõe, como uma das condições sintáticas básicas, que ele se sujeite
à ligação anafórica. Ou seja, para que haja a interpretação inalienável
é preciso que estas construções estejam submetidas ao Princípio A da
Teoria da Ligação, apresentado em (7), conforme exemplo (12A) em
Chomsky (1981, p.188).9
(7)
Princípio A:
“[...] uma anáfora tem que estar ligada em seu domínio de
ligação”.
De acordo com esse princípio, a anáfora, precisa ter um
antecedente que a c-comande e ambos precisam estar contidos no domínio
9
Do original: “An anaphor is bound in its governing category” (p. 188).
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1573
de ligação da primeira, sendo domínio de ligação definido como segue
em (8), conforme Roberts (1997, p.142, exemplo 21’).10
(8)
O domínio de ligação de α é o XP mínimo que contém α e
a. Um sujeito que é distinto de α e que não contém α; ou
b. A flexão que atribui Caso Nominativo para α
Assim, no exemplo em (1) acima, la main/a mão é uma anáfora
e seu antecedente, o sintagma nominal possuidor Jean/O João, além de
c-comandar a anáfora, se configura como um sujeito distinto dela que
não a contém. Sendo assim, é explicada a impossibilidade da vinculação
da leitura inalienável em exemplos como (9) abaixo, já que o Princípio
A não seria respeitado.
(9)
O dente caiu.
Além disso, é necessário que haja uma cadeia lexical, que Guéron
(1985), de acordo com Chomsky (1981), define como:
(10) “[...] um conjunto de dois ou mais nominais relacionados por
ligação anafórica e interpretados como um único argumento
em LF” (GUÉRON, 1985, p. 44).
De acordo com a autora, todos os tipos de cadeia são afetados
pela “Restrição de não-distintividade” enunciada em (11) abaixo, o que
a torna uma condição a ser respeitada também para o estabelecimento
da interpretação inalienável.
(11) “Se A e B são elos de uma cadeia, então o referente de A é
não-distinto do referente de B” (GUÉRON, 1985, p.44).
A junção da noção de cadeia lexical apresentada em (10) com
a restrição de não-distintividade enunciada em (11) resulta, segundo
Do original: “Binding Domain (Revised) The binding domain (BD) of α is the smallest
XP containing α and:
EITHER (a) a subject (distinct from α and which does not contain α)
OR
(b) the I that assigns Nominative Case to α” (p. 142).
10
1574
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a autora, em uma simplificação da gramática frente aos modelos
propostos anteriormente, fazendo com que nada mais seja necessário
gramaticalmente para que se estabeleça uma interpretação inalienável.
Vergnaud e Zubizarreta (1992), no entanto, discordam desta
hipótese, já que uma análise baseada na teoria de controle não capturaria
certas restrições que se aplicam a essas estruturas. Portanto, eles propõem
que a diferença apresentada entre a disponibilidade das leituras alienável
e inalienável em AE e francês seja consequência da dupla interpretação
que o sintagma nominal definido contendo nomes de partes do corpo,
por exemplo, pode veicular. Segundo estes autores, sintagmas nominais
definidos e referenciais podem expressar interpretação de token e
interpretação de type de acordo com a “Lei de correspondência”,
apresentada em (12) abaixo.
(12) Lei de correspondência
“Quando um DP ou um NP denota, o DP denota um token e o
NP denota um type”11.
A interpretação de token, que licencia a interpretação alienável,
corresponde a um DP que tem por núcleo um determinante substantivo,
conforme Longobardi (1994), resultando em um DP “completo”.
Já a interpretação de type, que licencia a interpretação inalienável,
corresponde tanto a um NP nu, quanto a um DP que tem por núcleo um
determinante expletivo.
Os autores definem o determinante expletivo como “uma categoria
que não tem representação em um certo domínio D”12 (VERGNAUD e
ZUBIZARRETA, 1992, p. 595), conforme a definição de “domínio D”
adotada em Chomsky (1981, p.324).
Longobardi (1994), propondo um princípio para reger a
realização do núcleo da projeção do determinante, apresentado em (13)
abaixo, afirma que determinantes definidos podem ser divididos entre
determinantes substantivos e determinantes expletivos, podendo ser a
última categoria ainda subdividida entre aqueles que introduzem nomes
genéricos massivos plurais e aqueles que introduzem nomes próprios.
Do original: “Correspondence Law when a DP or an NP denotes, the DP denotes a
token and the NP denotes a type” (p. 612, exemplo 45).
12
Do original: “an expletive in that sense [Chomsky, 1981] is a category that has no
representation in domain D” (p. 595).
11
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1575
(13) “A realização fonológica da posição D é licenciada apenas
se ela expressa conteúdo semântico ou traços gramaticais, ou
como último recurso”13 (p. 654, exemplo 89).
Segundo Castro (2006, 2007), observa-se que, em PB, além de
o determinante expletivo, nulo ou lexicalizado14, ocorrer introduzindo
sintagmas nominais com nomes próprios e nomes genéricos, esses
determinantes também podem introduzir sintagmas nominais
possessivos15 (no caso, sintagmas nominais introduzidos por possessivos
simples prenominais), como mostram os exemplos em (14) abaixo.
(14) a. (O) João comprou um livro.
b. (As) crianças gostam de gibis.
c. (O) meu livro foi publicado.
Assim, a interpretação de type estaria disponível para línguas
como o PB, que apresentam determinantes expletivos, e não para o AE,
na qual este tipo de determinantes não estão presentes16, como evidenciam
os exemplos em (15)17 abaixo.
Do original: “The phonetic realization of the D position is licensed only if it expresses
semantic content or grammatical features, or as a last resort” (p. 654, exemplo 89).
14
Segundo Castro (2006, 2007), no PB o determinante expletivo pode ocorrer tanto
nulo quanto lexicalizado, enquanto, no PE, ele ocorre apenas lexicalizado.
15
Para uma análise diacrônica dessa coocorrência, ver os estudos de Vianna (2004),
Floripi (2008) e Rinke (2010).
16
Segundo Longobardi (1994), há dois casos em AE em que o determinante definido
expletivo pode ocorrer: introduzindo sintagmas nominais com nomes genéricos nãomassivos e singulares, como em (i) abaixo (LONGOBARDI, 1994, p. 650, exemplo
80a-b); ou introduzindo sintagmas nominais com adjetivos substantivados genéricos,
como em (ii) abaixo (LONGOBARDI, 1994, p.644, exemplo 44a-b).
(i) a. The lion has four legs.
b. *Lion has four legs.
(ii) a. The rich are becoming even richer.
b. *Rich are becoming even richer.
17
Exemplos retirados de Longobardi (1994, p. 631, exemplo 43), exceto exemplo 39d.
13
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1576
(15) a. *I love the France.
b. *The beavers are mammals.
c. *The wine is made out of grapes.
d. *The my book was published.
A interpretação de token, por outro lado, estaria disponível
para ambos os tipos de línguas, dado que o PB e o AE apresentariam
igualmente determinantes substantivos.
Dessa forma, a gramática adulta do AE e do PB apresentariam
padrões opostos em relação à leitura permitida quando está presente o
determinante definido: enquanto, na primeira, determinantes definidos,
por serem substantivos, seriam usados unicamente para denotar a leitura
alienável, na segunda, esses mesmos determinantes seriam usados para
denotar ambas as leituras, sendo inalienável quando o determinante
definido é expletivo e alienável quando o determinante definido é
substantivo, como ilustra o Quadro 2 abaixo.
QUADRO 2 – Leitura permitida com o determinante definido: AE e PB
Língua
Determinante substantivo
Determinante expletivo
PB
Leitura alienável
Leitura inalienável
AE
Leitura alienável
Não se aplica
Já o uso dos pronomes possessivos, por outro lado, desencadearia,
em ambas as línguas, as leituras alienável e inalienável, sendo, porém,
em AE, a única opção no caso da última.
Vergnaud e Zubizarreta (1992) se apoiam ainda na dependência
semântica. Segundo essa noção, o objeto inalienável é uma entidade
dependente, já que ele é inerentemente definido em termos de outro objeto
do qual faz parte. Contrariamente, o objeto alienável é uma entidade
independente, isto é, tem definição própria.
Dessa forma, os autores assumem que um nome inalienável,
diferentemente de um nome alienável, tome um argumento possuidor,
que pode ser lexicalizado dentro ou fora do sintagma nominal. Logo,
nomes de partes do corpo, por exemplo, teriam duas entradas lexicais:
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1577
(16) a. mão (x)
b. mão
Uma em que ele toma um argumento possuidor e veicula a leitura
inalienável, como em (16a), e outra em que ele não toma um argumento
possuidor e veicula a leitura alienável, como em (16b) (Cf. AUTHIER,
1988; TELLIER, 1988 apud VERGNAUD; ZUBIZARRETA, 1992).
2.2 PB infantil: posse inalienável e determinantes definidos
Baseando-se nas análises exibidas na seção anterior para a
gramática adulta do PB, nesta seção, serão apresentados alguns estudos,
dentro dessa mesma língua, ou ainda examinando outras línguas, tais
como o holandês, o espanhol e o AE, que tratam da gramática infantil
focando na aquisição da posse inalienável juntamente com outros tipos de
estruturas relacionadas diretamente a ela, como determinantes definidos.
Ramos (1999 apud PÉREZ-LEROUX et al., 2002a, b),
examinando a interpretação de determinantes definidos em contextos
de posse inalienável na gramática de crianças com DEL,18 observa, de
acordo com os resultados das crianças típicas falantes de AE, uma taxa
decrescente na veiculação da leitura inalienável em estruturas em que
está presente o determinante definido. Enquanto é encontrada uma taxa
de 30% nos resultados do grupo mais jovem – 3;8 a 4;5 anos –, no grupo
mais velho – 4;7 a 5;7 anos –, é encontrada uma taxa de 23%.
Resultados semelhantes podem ser encontrados em Baauw
(2000), reportado em Schaeffer (2002), que examina o comportamento
do determinante definido durante a aquisição de estruturas de posse
inalienável em duas línguas distintas parametricamente, o holandês e
o espanhol. Embora, na gramática alvo dessas línguas, o determinante
definido exiba a possibilidade de veicular a leitura inalienável apenas
em espanhol, na gramática infantil, essa vinculação é possível em ambas
as línguas.
De acordo com o experimento de Julgamento de Valor de
Verdade realizado pelo autor, envolvendo 47 crianças falantes nativas
de holandês, de 4;0 a 7;0 anos de idade, e 22 adultos, também falantes
nativos dessa mesma língua, observou-se que adultos e as crianças
18
Déficit Específico da Linguagem.
1578
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
pertencentes ao grupo mais velho – de 6;0 a 7;0 anos – apresentam 70% de
rejeição em relação à presença do determinante definido em construções
inalienáveis, enquanto as crianças do grupo mais jovem – 4;0 a 5;0 anos
–, embora exibam a mesma tendência, a fazem em proporções menores,
apresentando 30% de rejeição em relação à mesma estrutura. Dentre
os resultados do espanhol, a leitura inalienável é aceita na presença do
determinante definido tanto por parte das crianças quanto por parte dos
adultos.
Segundo o autor, a interpretação de determinantes definidos é
afetada por dois fatores, um de ordem pragmática, em que as crianças
apresentariam dificuldades para restringir o uso de determinantes aos
contextos nos quais eles são permitidos na gramática alvo, e outro de
ordem morfossintática, segundo o qual a aquisição incompleta dos traços
morfossintáticos do núcleo D faria com que eles pudessem ser tratados
como determinantes expletivos em holandês.
Pérex-Leroux et al. (2002a, b), que se baseiam nos estudos
supracitados, realizam um estudo comparativo entre as gramáticas do AE
e do espanhol, observando a interpretação de determinantes definidos no
mesmo contexto possessivo. É observado que, tal qual a gramática adulta
do holandês, a do AE não apresenta a possibilidade de existir a leitura
inalienável com estruturas nas quais ocorre o determinante definido,
como já discutido anteriormente neste capítulo, enquanto na gramática
infantil pode ser observada essa veiculação.
No entanto, diferentemente de Baauw (2000), esses autores
adotam a hipótese distribucional, segundo a qual “formas com distribuição
morfossintática comparável competem lexicalmente por um dado espaço
semântico”19 (PÉREZ-LEROUX et al., 2002b, p. 199).
Assim, os autores assumem que, tanto no AE quanto no espanhol,
as crianças incluiriam entre as representações semânticas do determinante
definido a construção inalienável, porque haveria uma supergeneralização
do uso de determinantes definidos na gramática inicial20, mas não
Do original: “forms with comparable morphosyntactic distribution lexically compete
for a given semantic space”, p. 199.
20
Ver de Villiers e Roeper, 1995, Mathewson et al., 2001, Pérez-Leroux et al., 2004,
Schaeffer e Mathewson, 2005, Munn et al., 2006, entre outros, para estudos mais
aprofundados sobre a aquisição de determinantes definidos em AE – comparados a
outras línguas.
19
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1579
por dificuldades pragmáticas, já que isso seria observado mesmo em
contextos discursivos e pragmáticos cuidadosamente controlados, ou por
fatores morfossintáticos, dado que isso também seria notado em contextos
controlados, mas pelo fato de que “eles ainda não teriam aprendido
todas as restrições impostas pelas formas concorrentes em contextos
particulares”21 (PÉREZ-LEROUX et al., 2002a, p. 246).
Segundo Pérez-Leroux et al. (2002a), crianças falantes de línguas
como o AE teriam que aprender que determinantes definidos podem
ocorrer quando o referente do sintagma nominal que ele introduz pode ser
identificado no discurso, é único e é máximo, tal qual em (17)22 abaixo.
(17) The students entered the room.
Por violarem a condição de identificação no discurso, e
maximalidade, no caso de (18b), os exemplos em (18)23, contendo nomes
abstratos, como em (18a), construções de posse inalienável, como em
(18b), e plurais genéricos, como em (18c), não seriam permitidos nesta
língua.
(18) a. *The freedom depends on the development of civil society.
b. #The teachers shook the head.
c. #The pandas are not related to bears
No entanto, contextos particulares, exemplificados em (19)24,
como construções genéricas no singular, em (19a), e construções de
posse inalienável dentro de sintagmas preposicionais, como em (19b),
embora violem as mesmas condições violadas pelos exemplos acima,
são permitidas em AE.
(19) a. The lion lives in Africa.
b. They were hit in the arm.
Do original: “they haven’t yet learned all the restrictions imposed by the competing
forms in particular contexts”, p.246.
22
Pérez-Leroux et al., 2002a, p. 246, exemplo 1.
23
Pérez-Leroux et al., 2002a, p. 246, exemplos 2-4.
24
Pérez-Leroux et al., 2002a, p. 247, exemplo 5.
21
1580
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
Assim, crianças falantes do AE teriam que, em algum momento
durante o desenvolvimento linguístico, restringir esta opção de acordo
com os dados de input, ou seja, permitir apenas a construção alienável
na presença deste determinante. Segundo Pérez-Leroux et al. (2002b), as
evidências para isso estariam relacionadas às propriedades do sistema de
possessivos do AE – que se opõem àquelas apresentadas pelo sistema do
espanhol – dado que esses seriam dados mais robustos em comparação
àqueles que dizem respeito às propriedades dos determinantes definidos.
Para testar a hipótese distribucional Pérez-Leroux et al. (2002a,
b) aplicaram um experimento de compreensão (act-out), envolvendo, por
um lado, 17 crianças falantes nativas de AE, de 3;11 a 6;6 anos de idade,
e 18 adultos, como grupo controle; e por outro, 20 crianças falantes de
espanhol, de 3;2 a 6;7 anos de idade, e 8 adultos, como grupo controle.
De acordo com os resultados obtidos, crianças falantes de
AE pertencentes ao grupo mais jovem – nove crianças de 3;11 a 5;2
anos – permitem que a leitura inalienável seja vinculada por estruturas
contendo o determinante definido mais frequentemente do que as
crianças pertencentes ao grupo mais velho – oito crianças de 5;5 a 6;6
anos –, enquanto adultos não permitem essa vinculação, confirmando
empiricamente a evidência assumida na pesquisa. Já em relação aos
resultados do espanhol, tal qual aqueles observados em Baauw (2000), a
leitura inalienável é aceita com o determinante definido tanto na gramática
infantil quanto na gramática adulta.
Por fim, em relação ao PB, Mendes (2010) realiza uma pesquisa
de caráter longitudinal, examinando diferentes faixas etárias de três
crianças – AC, G e R – passando pela fase de aquisição dessa estrutura
de posse.
De acordo com os resultados gerais dessa pesquisa, observase que, em 82% dos dados, o possuidor encontra-se no discurso e não
na sentença, diferentemente do que propõem os estudos apresentados
anteriormente – especialmente em relação àqueles que tratam de nomes
de partes do corpo.
No entanto, a autora observa que, nas faixas etárias mais jovens,
as crianças produzem muitos DPs soltos, o que poderia explicar essa não
submissão à dependência referencial.
Por outro lado, é observado um padrão crescente com relação à
presença do possuidor na sentença à medida que a criança se torna mais
velha, além de, na presença do possuidor, as exigências de dependência
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1581
referencial passarem a ser respeitadas, indicando que, à medida que a
gramática vai convergindo, vai sendo submetida às regras presentes na
gramática adulta.
2.3 Hipóteses e previsões para a aquisição de posse inalienável
De acordo com os estudos experimentais acerca da aquisição de
estruturas de posse inalienável apresentados anteriormente, a presente
pesquisa assume a hipótese distribucional de Pérez-Leroux et al. (2002a,
b, 2004), segundo a qual a superextensão do uso do determinante definido
em línguas como o AE seria explicada pela restrição tardia dos contextos
particulares nos quais esse determinante específico pode ocorrer nessa
língua – que seriam um subconjunto dos contextos permitidos em línguas
como o PB, que, por sua vez, não teriam que realizar esse mesmo tipo
de restrição.
Fatores que contribuiriam para essa restrição tardia no AE
constituem as propriedades das quais dependem as construções
possessivas inalienáveis e seguem elencados em (I)-(II) abaixo.
(I)
Tipo da categoria vazia do possuidor: anafórica vs pronominal
(II) Tipo de determinante: possessivo vs definido (substantivo vs
expletivo)
Com respeito à propriedade em (I), a categoria vazia do possuidor
do sintagma nominal possuído contendo o nome inalienável – conforme
o seu traço [±lexical] (BARKER, 1995) – ou o nome que permite
estabelecer uma relação inalienável – conforme o seu traço [±relacional]
(LICHTENBERK et al., 2011) – pode ser de duas naturezas, ou anafórica
ou pronominal, a depender do tipo de nome envolvido/relação que ele
estabelece.
Sendo um nome de parte do corpo (que estabeleça uma relação
parte-todo), essa categoria é anafórica, obedecendo ao Princípio A da
Teoria da Ligação, já que se trataria de um vestígio fruto de movimento,
como em (20) abaixo.
(20) a. O Pedroj disse que o Joãoi lavou a mão ti.
b. O Pedroj disse que os cabelosk incomodaram o Joãoi.
1582
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
Semelhante ao que ocorre no caso de a categoria vazia ser
pronominal25, tratando-se da propriedade em (II), quando o sintagma
nominal que contém o nome de parte do corpo, como nos exemplos
em (21), é acompanhado por um pronome possessivo, se sujeitaria ao
Princípio B.
(21) a. O Pedroj disse que o Joãoi lavou a mão delei/j/k.
b. O Pedroj disse que os cabelos delej/?i/k incomodaram o Joãoi.
Em relação aos exemplos (21b), observa-se que a ligação entre o
sintagma nominal possuído os cabelos dele e João não seria estabelecida
porque não haveria c-comando.26
Ainda em relação à propriedade em (II), tem-se os pronomes
possessivos, que não apresentariam distinção nas leituras que podem ser
vinculadas em PB ou em AE, embora apresentem diferentes estruturas
sintáticas.
Além desses, tem-se os determinantes definidos, que apresentam
padrões opostos em relação às leituras permitidas nessas duas
línguas quando ele introduz o sintagma possuído que contém nomes
potencialmente inalienáveis. Enquanto, em AE, eles seriam usados
unicamente para denotar a leitura alienável, em PB, seriam usados para
ambas as leituras.
De acordo com Vergnaud e Zubizarreta (1992), essa ambiguidade
no PB seria explicada pelo fato de os determinantes definidos, nesta língua,
se dividirem entre determinantes definidos substantivos e determinantes
definidos expletivos. Enquanto os primeiros disponibilizariam a leitura
alienável, os últimos disponibilizariam a leitura inalienável. E, pelo fato
de o AE não apresentar determinantes expletivos – exceto por dois casos
específicos já esclarecidos anteriormente e retomados mais adiante –,
consequentemente, também não permitiria a leitura inalienável sendo
vinculada por sintagmas nominais introduzidos por determinantes
definidos, tal como resume o Quadro 3 abaixo.
25
26
Quando se trata de nomes relacionais.
Fato apontado por Grolla (c.p.).
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1583
QUADRO 3 – Leitura permitida de acordo com tipos de determinantes: AE e PB
Língua
Determinante definido
Substantivo
Pronome possessivo
Expletivo
PB
Leitura alienável
Leitura inalienável
Leitura (in)alienável
AE
Leitura alienável
Não se aplica
Leitura (in)alienável
Assumindo-se, de acordo com Vergnaud e Zubizarreta (1992),
que determinantes definidos substantivos permitem a interpretação token
do sintagma nominal e, portanto, a leitura alienável e que determinantes
definidos expletivos permitem a interpretação type do sintagma nominal
e, portanto, a leitura inalienável, assume-se que a aquisição da posse
inalienável seja dependente da aquisição de determinantes substantivos
e expletivos.
Assim, enquanto a gramática infantil do AE não restringe os
contextos particulares em que os determinantes definidos expletivos
podem aparecer – a saber, em genéricos singulares, como em (22) abaixo,
chamados por Vergnaud e Zubizarreta de protótipos, ou seja, tokens
que veiculam o traço [±espécie], e dentro de sintagmas preposicionais
locativos, como em (23) abaixo –, eles seriam admitidos como
substantivos e expletivos, apresentando um comportamento semelhante
ao do PB.
(22) The Bengal tiger is becoming extinct.
(23) John hit him on the face.
No entanto, as evidências relevantes a favor da falta de
determinantes expletivos nesta língua estariam relacionadas ao paradigma
possessivo – em que os possessivos funcionam como determinantes
–, como em (24) abaixo, e à impossibilidade de haver determinantes
definidos introduzindo nomes próprios, como em (25).
(24) (*The) My book is blue.
(25) (*The) John is reading.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1584
Prevê-se, portanto, que crianças mais jovens falantes de AE
apresentem o mesmo padrão das crianças e adultos falantes de PB, isto
é, que haja uma tendência maior à aceitação de determinantes definidos
coocorrendo com a leitura inalienável e uma tendência maior à aceitação
de pronomes possessivos coocorrendo com a leitura alienável.
Por outro lado, crianças mais velhas falantes de AE se
aproximariam do padrão apresentado por adultos falantes de AE, no qual
determinantes definidos coocorrem com a leitura alienável, enquanto
pronomes possessivos coocorrem com a leitura inalienável.
De acordo com o que foi discutido nesta seção, é apresentado,
na Figura 1 abaixo, um esquema que resume as relações estabelecidas
entre a leitura veiculada e o tipo de determinante, além de os Princípios
da Ligação envolvidos, nas construções de posse em AE e PB.
FIGURA 1 – Resumo dos sistemas: PB e AE
Determinante definido expletivo produtivo
Inglês Português Brasileiro
Não
Determinante
definido
Pronome
possessivo
Leitura
alienável
Leitura
(in)alienável
Sim
Determinante
definido
Pronome
possessivo
Substantivo
Expletivo
Leitura
alienável
Leitura
inalienável
Leitura
(in)alienável
Princípio B
Tipo de nome
Parte do corpo
Princípio A
Relacionais
Princípio A
Princípio B
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1585
Assim, enquanto crianças falantes de AE não restringirem os
determinantes definidos expletivos aos contextos particulares em que
eles são permitidos, a sua gramática estará submetida às condições da
gramática de línguas como o PB.
3 Estruturas possessivas inalienáveis: viés experimental
3.1 Metodologia
Para investigar construções de posse inalienável quantificadas de
forma experimental, a fim de examinar como esse tipo de estrutura se
desenvolve na gramática infantil, em comparação ao seu comportamento
apresentado na gramática adulta, realizou-se uma coleta transversal de
dados infantis, caracterizada por Scarpa (2001, p. 204) como uma técnica
de recolhimento de dados provenientes de um número alto de informantes
em que as faixas etárias observadas são previamente especificadas de
acordo com os achados de estudos anteriores, permitindo testar com
maior profundidade certos aspectos do objeto em questão, uma vez que
as estruturas estudadas dispõem de uma complexidade maior para a sua
produção.
Adotando-se a técnica da Tarefa de Julgamento de Valor
de Verdade (TJVV), definida por Gordon (1996) como um método
que “requer que a criança simplesmente faça um julgamento
bipolar sobre se uma declaração descreve com precisão uma
situação particular, em alusão a algum contexto ou preâmbulo”
(p. 211), testa-se a compreensão de falantes de AE e de PB em relação
à ocorrência de determinantes definidos e pronomes possessivos em
estruturas de posse em que ambas as leituras alienável e inalienável
estariam disponíveis, como será detalhado na subseção seguinte, uma
vez que se espera que haja uma restrição tardia no AE dos contextos
particulares em que é permitido o uso do determinante definido, fazendo
com que a gramática infantil do AE se assemelhe com a gramática do
PB e não com a do AE adulto.
Para a elaboração do experimento geral, foram selecionados
quatro fatores, apresentados em (26) abaixo, sendo (26a-b) referentes à
sentença-teste, (26c) relacionado à imagem que acompanha a sentençateste e (26d) condizente à interação entre a sentença-teste e a imagem
que a acompanha.
1586
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(26) a. Tipo de determinante: artigo definido ou pronome possessivo
b. Função sintática: objeto direto, sujeito da passiva,
complemento do sintagma preposicional.
c. Tipo de imagem: favorável à leitura alienável ou favorável
à leitura inalienável
d. Interpretação possessiva: alienável ou inalienável
Da interação entre os fatores (26a) e (26d), que compõem o
experimento geral, resultam quatro pequenos testes, explicitados em (27)
abaixo, que foram utilizados aqui para apresentar de forma didática os
resultados dessa pesquisa, sendo que cada um deles contém de uma a três
sentenças-teste (que coocorrem com as imagens descritas acima), e cada
um dos testes interage independentemente com o fator apresentado em
(26b), já que se espera ver se existe algum efeito decorrente da função
sintática em que se encontra a estrutura inalienável, dado que questões
de c-comando podem influenciar os resultados.
(27) a. Definido & Inalienável
b. Definido & Alienável
c. Possessivo & Inalienável
d. Possessivo & Alienável
Assim, foram conduzidos dois estudos, um em inglês e outro
em português, com o mesmo material. Sendo quatro pequenos testes
independentes, dois com artigos definidos (um com imagens favoráveis a
leitura inalienável, outro com imagens favoráveis à leitura alienável) e dois
com possessivos (também com imagens favoráveis cada tipo de leitura).
3.2 Método
Em relação aos dados infantis coletados do AE,27 participaram dos
testes apresentados acima 45 crianças falantes nativas, todas estudantes
A aplicação dos testes foi permitida mediante autorização dada pela comissão de
ética do Departamento de Linguística da University of Massachusetts at Amherst.
Além desta, cada uma das escolas também autorizou a pesquisa e, por fim, os pais de
cada uma das crianças assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
autorizando a participação delas nos experimentos, bem como a utilização dos seus
dados na presente pesquisa.
27
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1587
de escolas infantis28 das cidades de Amherst, Sunderland e Northampton
– localidades pertencentes ao estado de Massachusetts, nos EUA. Sendo
o grupo de crianças mais jovens composto por 30 crianças de 3;03 a 5;11
– média etária de 4;07 – e o grupo de crianças mais velhas composto por
15 crianças de 6;01 a 8;04 – média etária de 7;02.
Além disso, como grupo controle adulto, os mesmos testes foram
aplicados a 13 adultos falantes nativos de AE, sendo todos estudantes de
graduação da University of Massachusetts at Amherst, EUA.
Já com respeito aos dados infantis coletados do PB29, foi aplicada
a mesma série de testes em 79 crianças falantes nativas, todas estudantes
de escolas infantis30 das cidades de Campinas, SP. Sendo o grupo de
crianças mais jovens composto por 33 crianças de 3;11 a 5;10 – média
etária de 4;11 – e o grupo de crianças mais velhas composto por 46
crianças de 6;00 a 9;00 – média etária de 7;06.
Além disso, como grupo controle adulto, os mesmos testes
foram aplicados a 15 adultos falantes nativos de PB, sendo todos
estudantes universitários da Universidade Federal de Santa Catarina e
da Universidade Estadual de Campinas.
Em relação ao material, foi utilizado um computador portátil,
contendo as apresentações em forma de .ppt pertencentes aos testes
aplicados, e formulários para anotar as respostas fornecidas pelos
informantes.
Assim, foram contadas três histórias em que um garoto – nas
duas primeiras histórias – e uma garota – na última história – brincavam
com o(a) Senhor(a) Cabeça de Batata enquanto faziam outras atividades,
Center for Early Education and Care, em Amherst; Sunderland Elementary School,
em Sunderland; e Bridge Street School, em Northampton.
29
A aplicação dos testes foi permitida mediante autorização dada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) – vide o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
(CAAE) nº 13530014.4.0000.5404 identificando a presente pesquisa, disponível online
no site da Plataforma Brasil. Além disso, cada uma das escolas também autorizou a
aplicação dos testes e, por fim, os pais de cada uma das crianças assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação delas nos experimentos,
bem como a utilização dos seus dados nesta pesquisa. No caso dos adultos, um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido também foi assinado pelos próprios participantes
autorizando a aplicação dos testes e a utilização dos seus dados neste trabalho.
30
Escola Municipal de Educação Infantil Agostinho Páttaro, em Campinas; Escola
Estadual Maria Alice Colevati Rodrigues, em Campinas.
28
1588
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como se lavar, se secar e comer, que também implicavam na participação
do brinquedo (ou das suas partes).
Na fase dos testes, cada história contada foi ilustrada por uma
série de fotografias apresentadas em slides, que variavam com respeito
à leitura que veiculavam, bem como as sentenças-teste variavam em
relação ao tipo de determinante presente.
Assim, para cada uma das sentenças-teste contendo determinante
definido, como em (28), (29) e (30) abaixo, foi apresentada, por exemplo,
uma fotografia veiculando a interpretação inalienável – ou seja, uma
fotografia em que o personagem estivesse executando a ação numa parte
do próprio corpo e não em uma parte solta do corpo do(a) Sr(a). Cabeça
de Batata, que também se encontrava presente na cena –, como ilustram
as Figuras 2, 3 e 4 a seguir.
(28) a. Is Bill cleaning the hands?
b. O Pedrinho está limpando as mãos?
(29) a. Were the eyes being dried?
b. Os olhos estão sendo secos?
(30) a. Did the fly land on the nose?
b. A mosca pousou no nARIZ?
FIGURA 2 – Objeto
FIGURA 3 – Sujeito da
direto
passiva
FIGURA 4 – Complemento
de PP
Por outro lado, sentenças-teste contendo determinante definido
também coocorreriam com uma fotografia veiculando a interpretação
alienável – isto é, uma fotografia em que o personagem estivesse
executando a ação numa parte do corpo solta do(a) Sr(a). Cabeça de
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1589
Batata, presente na cena, e não numa parte do próprio corpo –, como
mostram os exemplos em (31), (32) e (33) abaixo, ilustrados pelas Figuras
5, 6 e 7 a seguir.
(31) a. Is Bill cleaning the nose?
b. O Pedrinho está limpando o nariz?
(32) a. Was the tongue being dried?
b. A língua está sendo seca?
(33) a. Did the fly land on the hat?
b. A mosca pousou no chapéu?
FIGURA 5 – Objeto
FIGURA 6 – Sujeito da
direto
passiva
FIGURA 7 – Complemento
de PP
Semelhante às sentenças-teste contendo determinantes definidos,
as sentenças-teste contendo pronomes possessivos31 poderiam coocorrer
com, por exemplo, uma fotografia veiculando a interpretação inalienável
– na qual o personagem estivesse executando uma ação numa parte do
próprio corpo e não em uma parte do corpo solta do(a) Sr(a). Cabeça
de Batata –, como nos exemplos em (34), (35) e (36) abaixo, ilustrados
pelas Figuras 8, 9 e 10 a seguir.
(34) a. Is Bill cleaning his hand?
b. O Pedrinho está limpando a mão dele?
A forma dele/dela, no teste contendo possessivo em PB, foi utilizada no lugar de seu/
sua porque aquela é a forma preferida na gramática adulta falada desta língua quando
presentes antecedentes referenciais, como é o caso das sentenças-teste. Seu/sua seria
a forma favorecida no caso de antecedentes genéricos.
31
1590
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
(35) a. Was his nose being dried?
b. O nariz dele está sendo seco?
(36) a. Did she drop ketchup on her glasses?
b. Ela derramou catchup nos óculos dela?
FIGURA 8 – Objeto
FIGURA 9 – Sujeito da FIGURA 10 – Complemento
direto
passiva
de PP
Ou ainda, as sentenças-teste contendo pronomes possessivos
poderiam coocorrer com uma fotografia veiculando a interpretação
alienável – na qual o personagem estivesse realizando uma ação numa
parte do corpo solta do(a) Sr(a). Cabeça de Batata e não numa parte do
próprio corpo –, como mostram os exemplos em (37), (38) e (39) abaixo,
ilustrados pelas Figuras 11, 12 e 13 a seguir.
(37) a. Is Bill cleaning his eyes?
b. O Pedrinho está limpando os olhos dele?
(38) a. Was his ear being dried?
b. A orelha dele está sendo seca?
(39) a. Did the fly land on her hair?
b. A mosca pousou no cabelo dela?
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1591
FIGURA 11 – Objeto
FIGURA 12 – Sujeito da FIGURA 13 – Complemento
direto
passiva
de PP
Aplicando essa série de experimentos, de acordo com a técnica
de TJVV, foi possível verificar o julgamento do participante acerca da
adequação da interpretação favorecida pela fotografia àquela veiculada
pela sentença-teste, que, neste caso, se apresentava em forma de pergunta
sim-não.
3.3 Resultados e discussão
Os resultados gerais seguem de acordo com os quatro testes
resultantes da combinação de fatores usados na elaboração do
experimento geral, explicitadas na subseção 3.1 acima, e sua interação
com o fator idade, qual seja, crianças jovens, crianças velhas e adultos,
e tem por base o exame de respostas esperadas em cada um dos testes.
No Teste 1, o uso do determinante definido coocorrendo com
este tipo de interpretação possessiva não seria permitido em AE,
independentemente da função sintática sob a qual o sintagma possuído
aparece.
Já em PB, essa coocorrência é permitida, desde que a categoria
vazia de possuidor do sintagma possuído esteja ligada ao seu antecedente
respeitando as exigências do Princípio A. Logo, espera-se que haja um
resultado diferenciado em relação aos dados com o sintagma possuído
desempenhando a função de sujeito da passiva.
Conforme os dados apresentados no Gráfico 1 abaixo, referente
aos resultados do AE, observa-se uma taxa de respostas esperadas – no
caso, não – bastante baixa nos resultados infantis, frente aos resultados
adultos, que apresentam uma taxa mais elevada.
1592
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
GRÁFICO 1 – Teste 1: AE
Legenda:
J
V
A
EN
crianças mais jovens
crianças mais velhas
adultos
inglês americano
Segundo o gráfico acima, a gramática das crianças mais jovens e
a das mais velhas apresentam uma taxa de respostas esperadas bastante
próximas – sendo de 18% e 15% na função de sujeito da passiva e 17%
e 20% na função de objeto direto –, exceto quando o sintagma possuído
figura na função de complemento da preposição, em que essa taxas são
de 6,5% na gramática das crianças mais jovens e 30% na gramática das
crianças mais velhas.
Essas diferenças percentuais são confirmadas como
estatisticamente significativas conforme os resultados do Teste Exato
de Fischer, exibidos na Tabela 1 abaixo.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1593
TABELA 1 – Teste 1: valor de p, AE32
Sujeito da passiva
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
-
0,63240000
0,00000000
-
0,00000000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
1,00000000
0,00000001
-
0,00000075
Velhas
Adultos
Complemento
de preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
-
0,00771100
0,00000000
-
0,00002722
Adultos
-
Dessa forma, quando nomes de partes do corpo coocorrem com
determinantes definidos neste tipo de estrutura possessiva, observa-se
que, enquanto a gramática adulta do AE permite apenas a leitura alienável,
indicando o uso do determinante definido substantivo, a gramática infantil
permite ambas as leituras – alienável e inalienável –, indicando o uso
de ambos os tipos de determinantes definidos – substantivo e expletivo.
À medida que a criança fica mais velha, nota-se uma restrição
com relação ao uso de um dos tipos de determinante coocorrendo com
a leitura inalienável, apontando uma mudança em direção à gramática
alvo, conforme mostram os resultados na função de complemento do
sintagma preposicional.
Em relação aos resultados do PB adulto e infantil, observa-se,
de acordo com o Gráfico 2 abaixo, uma taxa bastante alta de respostas
esperadas – neste caso, sim – quando o sintagma possuído desempenha as
funções de complemento. Porém, quando o sintagma possuído é realizado
As células sombreadas das tabelas contendo o valor de p indicam as diferenças
estatisticamente significativas, de acordo com o Teste Exato de Fisher.
32
1594
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
na função de sujeito da passiva, é notada uma baixa taxa de respostas
esperadas – no caso, não – na gramática de todos os grupos analisados.
GRÁFICO 2 – Teste 1, PB
Legenda:
J
V
A
PB
crianças mais jovens
crianças mais velhas
adultos
portuguës brasileiro
De acordo com o gráfico acima, nas funções de complemento
as taxas de respostas esperadas variam de 84% a 96% em relação aos
resultados na função de objeto direto, e de 94% a 100% com respeito
aos resultados na função de complemento de preposição. No entanto,
quando o sintagma possuído exerce a função de sujeito da passiva, a taxa
de respostas esperadas, analisando-se os três grupos de participantes,
varia de 6% a 13%.
Observa-se, de acordo com a Tabela 2 abaixo, que existe uma
diferença estatisticamente significativa apenas na função de sujeito da
passiva e na de objeto direto – sendo esta disparidade entre a gramática
das crianças mais velhas em relação a gramática adulta na primeira e na
última, e entre as duas gramáticas infantis com respeito à última função
sintática.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1595
TABELA 2 – Teste 1: valor de p, PB
Sujeito da passiva
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
-
0,53390000
0,19240000
-
0,02906000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,00229900
0,58780000
-
0,00098730
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,45250000
0,30590000
-
1,00000000
-
Esses resultados mostram, por um lado, que a coocorrência entre
esse tipo de determinante e a leitura inalienável, de fato, é permitida em
todas as gramáticas examinadas, exibindo uma preferência ainda maior
na gramática adulta quando o nome possuído desempenha as funções de
complemento, comprovando a hipótese assumida neste estudo.
Por outro lado, os resultados concernentes à função de sujeito da
passiva parecem contrariar a hipótese adotada no presente estudo, que
previa não ser possível tal relação de posse, dado que, desempenhando
a função de sujeito da passiva, o nome possuído não estaria ligado ao
seu possuidor sob as exigências do Princípio A.
Assume-se, portanto, que, neste caso, se trata de um problema
pragmático advindo da técnica experimental, em que os participantes
tentaram ser colaborativos, interpretando as sentenças como
“suficientemente boas”.33
Good enough interpretation, de acordo com Hemforth (c.p.). Neste caso, não se
trata de um good enough das pesquisas de processamento, no sentido assumido por
Collin Phillips.
33
1596
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
Conforme o Teste 2, esta seria a leitura com a qual o determinante
definido poderia coocorrer em AE, independentemente da função sintática
sob a qual o sintagma possuído aparece.
Em PB, embora a ocorrência de determinantes seja permitida
sob qualquer uma das interpretações disponíveis, sendo o determinante
definido substantivo ou expletivo, haveria uma tendência a não aceitar
os dados sob o Teste 2, quando eles desempenham as funções de
complemento – em que seria preferida a leitura inalienável, tal como
discutido no Teste 1 acima. Já quando eles desempenham a função de
sujeito da passiva, devido ao não cumprimento das exigências de ligação
ditadas pelo Princípio A, ocorreria o oposto.
Com respeito aos resultados do AE obtidos neste teste, observa-se
que, quando o determinante definido ocorre em um contexto alienável,
a taxa de respostas esperadas – neste caso, sim – é bastante alta entre os
resultados infantis e adultos, sob qualquer uma das funções sintáticas,
conforme mostra o Gráfico 3 abaixo.
GRÁFICO 3 - Teste 2: AE
Segundo os resultados do gráfico acima, os dados de crianças
mais jovens apresentam uma taxa de respostas esperadas que varia de 76%
a 90% no presente teste, os dados de crianças mais velhas apresentam
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1597
uma variação de 93% a 100% de respostas positivas e os dados adultos
variam, neste caso, de 85% a 96% de respostas sim.
A análise estatística realizada comprova que, de fato, não há
nenhuma diferença significativa entre as três gramáticas examinadas,
como mostram os valores de p na Tabela 3 a seguir, comprovando a
hipótese aventada nesta pesquisa.
TABELA 3 – Teste 2: valor de p, AE
Sujeito da passiva
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,52770000
1,00000000
-
0,46150000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
1,00000000
0,25630000
-
0,21100000
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,29890000
1,00000000
-
0,48150000
-
No que concerne aos resultados referentes ao PB neste teste,
percebe-se que, por um lado, há uma alta taxa de respostas esperadas
– no caso, sim – em relação aos dados na função de sujeito da passiva,
e, por outro, é observada uma baixa taxa de respostas esperadas – neste
caso, não – em relação aos dados nas funções de complemento, como
mostra o Gráfico 4 abaixo.
1598
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
GRÁFICO 4 – Teste 2: PB
Enquanto, na função de sujeito da passiva, a taxa de respostas
esperadas varia de 65% a 91% entre os três grupos etários examinados,
as taxas de respostas esperadas, nas funções de complemento, objeto
direto e complemento do sintagma preposicional, variam de 21% a 27%
e 21% a 30% respectivamente dentre esses mesmos três grupos.
Observa-se, de acordo com a análise quantitativa aplicada, que,
de maneira geral não existe uma diferença estatisticamente significativa
entre as três gramáticas examinadas, exceto em relação às gramáticas
infantis quando o sintagma possuído aparece na função de sujeito da
passiva, como mostra a Tabela 4 abaixo.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1599
TABELA 4 – Teste 2: valor de p, PB
Sujeito da passiva
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,01483000
0,18300000
-
0,75360000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
1,00000000
0,60750000
-
0,80520000
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,10940000
0,44190000
-
0,82420000
-
No presente teste, nota-se que crianças e adultos aceitam o uso
do determinante definido sob a leitura alienável, tal como previsto para
dados na função de sujeito da passiva, para o qual se apresentam altas
taxas de respostas esperadas.
No entanto, não atendendo às previsões estipuladas para esta
língua – já que se esperava uma preferência pela leitura inalienável
mesmo em um contexto não favorecedor de tal leitura –, as gramáticas
adulta e infantil também exibem uma alta taxa de aceite para esse mesmo
uso quando se trata de dados na função sintática de complemento,
o que não consiste em um problema, já que determinantes definidos
substantivos também estão disponíveis em PB, disponibilizando tal
interpretação, assim como ocorre em AE.
De acordo com o Teste 3, afirma-se que, embora o pronome
possessivo seja permitido sob ambas as leituras, inalienável e alienável,
haveria uma preferência maior pela primeira em ambas as línguas,
independentemente da função sintática desempenhada, dado que, entre
os possíveis possuidores, apenas um estaria saliente na sentença-teste –
enquanto o outro estaria apenas presente no contexto.
1600
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
Segundo os resultados do Gráfico 5 abaixo, percebe-se que,
quando o pronome possessivo coocorre com a leitura inalienável em
AE, a taxa de respostas esperadas – no caso, sim – é elevada tanto nos
resultados infantis quanto nos adultos, independentemente da função
sintática na qual o sintagma possuído é realizado.
GRÁFICO 5 - Teste 3: AE
Conforme o gráfico acima, a gramática das crianças mais jovens
apresenta uma taxa de respostas esperadas que varia de 80% a 97%, a
gramática de crianças mais velhas apresenta uma variação de 86% a
100% de respostas sim e a gramática adulta, de 92% a 96% de respostas
positivas.
Segundo a Tabela 5 abaixo, observa-se que não há uma diferença
estatística significativa entre as três gramáticas analisadas, confirmando
as hipóteses da presente pesquisa.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1601
TABELA 5 – Teste 3: valor de p, AE
Sujeito da passiva
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
-
1,00000000
1,00000000
-
1,00000000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,29540000
1,00000000
-
0,46430000
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
1,00000000
0,30950000
-
0,48150000
-
Em relação aos dados do PB, é possível observar que, embora
haja uma oscilação maior entre as leituras em relação aos resultados do
AE, como ilustra o Gráfico 6, a taxa de respostas esperadas – no caso,
sim – obtidas neste teste ainda é bastante alta com respeito aos resultados
infantis e adultos, independentemente da função sintática desempenhada
pelo sintagma possuído.
1602
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
GRÁFICO 6 – Teste 3: PB
De acordo com os resultados do gráfico acima, a taxa de respostas
esperadas oriunda da gramática de crianças mais jovens varia de 91%
a 97%, a de crianças mais velhas, de 96% a 100%, e a de adultos, de
77% a 100%.
Conforme a análise estatística aplicada aos dados desse teste,
nota-se que existe uma discrepância significativa entre a gramática
infantil e a gramática adulta nas funções de sujeito da passiva e de objeto
direto, sendo a primeira entre a gramática adulta e a das crianças mais
velhas e a segunda entre a adulta e ambas as gramáticas infantis, como
mostra a Tabela 6 abaixo.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1603
TABELA 6 – Teste 3: valor de p, PB
Sujeito da passiva
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,16520000
0,30880000
-
0,01264000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,08318000
0,04492000
-
0,00021240
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
1,00000000
1,00000000
-
1,00000000
-
Essa diferença estatística mostra que, entre as duas leituras
disponíveis, crianças apresentam uma preferência maior pela leitura
inalienável na presença do pronome possessivo do que adultos, que
embora também exibam essa preferência, de acordo com os dados
percentuais apresentados na tabela acima, também dispõem da leitura
alienável, não favorecida pelo contexto.
Em conformidade com o Teste 4, tal como discutido no Teste 3
acima, embora o uso de pronomes possessivos seja permitido sob ambas
as interpretações, de acordo com a hipótese aventada neste estudo, afirmase que haveria uma preferência maior pela leitura inalienável em ambas
as línguas, independentemente da função sintática desempenhada.
No que concerne à ocorrência de pronomes possessivos sob a
leitura alienável em AE, observa-se que a taxa de respostas esperadas –
neste caso, não – segue alta na gramática adulta, enquanto se apresenta
bastante inferior nos dados infantis, como mostra o Gráfico 7 abaixo.
1604
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
GRÁFICO 7 – Teste 4: AE
De acordo com os resultados do gráfico acima, enquanto a
gramática adulta apresenta uma taxa de respostas esperadas de 79%
a 100%, a gramática infantil, de crianças mais jovens e mais velhas,
apresenta uma taxa que varia de 20% a 37% de respostas negativas neste
contexto.
Essa discrepância entre a gramática adulta e a gramática infantil
pode ser confirmada na Tabela 7 a seguir, em que os valores de p atribuídos
a cada uma delas apresenta uma diferença estatística significativa.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1605
TABELA 7 – Teste 4: valor de p, AE
Sujeito da passiva
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
-
0,82190000
0,00000000
-
0,00000002
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,64780000
0,00000015
-
0,00000024
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,79260000
0,00000007
-
0,00001816
-
Assim, em AE, quando nomes de partes do corpo coocorrem com
pronomes possessivos neste tipo de construção, observa-se que, enquanto
a gramática adulta dá prioridade à leitura inalienável – ainda que não seja
a intepretação favorecida pelo contexto –, a gramática infantil apresenta
variação entre as duas leituras possíveis, dando preferência à leitura
alienável quando mais jovem e, gradualmente à leitura inalienável à
medida em que vai ficando mais velha, indo em direção à gramática alvo.
Em relação aos dados do PB, é possível observar o mesmo padrão
de crescimento percentual nas taxas de respostas esperadas – neste caso,
não –, exceto em relação aos dados concernentes à função de sujeito da
passiva, como mostra o Gráfico 8 abaixo.
1606
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
GRÁFICO 8 – Teste 4: PB
Conforme o gráfico acima, a gramática de crianças mais jovens
apresenta uma taxa de respostas esperadas variando de 22% a 38%, a
gramática de crianças mais velhas exibe uma taxa que varia de 49% a
55% de respostas negativas e a gramática alvo expõe uma taxa de 33%
a 73% de respostas não.
A análise estatística comprova que existe essa diferença
significativa apenas na função de complemento da preposição –
entretanto, o valor de p da função de objeto direto também se apresenta
como bem próximo àquele esperado neste tipo de teste. No caso das
outras funções, há uma diferença estatisticamente significativa apenas
entre as gramáticas infantis, como mostra a Tabela 8 abaixo.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1607
TABELA 8 – Teste 4: valor de p, PB
Sujeito da passiva
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
-
0,00002135
0,15100000
-
0,08299000
Velhas
Adultos
Objeto direto
Jovens
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,02313000
0,07478000
-
1,00000000
Velhas
Adultos
Complemento de
preposição
Jovens
Velhas
Adultos
Jovens
Velhas
Adultos
-
0,03610000
0,00186200
-
0,09113000
-
Assim, enquanto crianças mais jovens exibem uma preferência
pela leitura alienável na presença de pronomes possessivos, variando
de acordo com o contexto em que a sentença é apresentada, crianças
mais velhas e adultos exibem uma tendência à preferência pela leitura
inalienável, mesmo quando o contexto não a favorece.
4 Conclusão
Em relação aos resultados obtidos sob a técnica da TJVV,
observou-se que, com respeito ao Teste 1, há uma baixa taxa de respostas
esperadas dentre os dados infantis do AE, embora esta seja uma construção
agramatical em AE adulto. Entretanto, nota-se um sensível crescimento
desta ao longo das faixas etárias, demonstrando que a ocorrência do
determinante definido é restrito à leitura alienável à medida que a criança
fica mais velha. Os dados coletados dos sujeitos adultos exibem, por sua
vez, uma taxa alta de respostas esperadas, tal como previsto.
Já em relação aos dados do PB, adultos e crianças permitem a
leitura inalienável ocorrendo com o determinante definido em qualquer
uma das funções sintáticas examinadas, contrariando a hipótese assumida
1608
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
na pesquisa, que afirmava, neste contexto, não ser essa coocorrência
preferencial quando o sintagma possuído desempenhasse a função de
sujeito da passiva, já que as exigências do Princípio A seriam feridas.
Assume-se que se trate, portanto, de um problema de ordem pragmática,
em que os participantes seriam colaborativos com o experimento,
interpretando as sentenças como “suficientemente boas”.
Quanto ao Teste 2, observa-se uma taxa de respostas esperadas
bastante alta em AE, apontando para uma preferência pela leitura
alienável neste contexto, tanto no que concerne aos dados infantis quanto
no que diz respeito aos dados adultos, tal como previsto.
Em relação aos resultados do PB, percebe-se que,
independentemente da função sintática exercida pelo sintagma possuído,
os resultados infantis e adultos também tendem à leitura alienável,
mostrando que, nesta língua, a leitura preferencial – dado que ambas
estão disponíveis – varia de acordo com o contexto apresentado.
Em relação ao Teste 3, percebe-se que a taxa de respostas
esperadas é elevada em ambas as línguas, mostrando que, neste contexto,
há, de fato, uma preferência pela leitura inalienável tanto em AE quanto
em PB.
Quanto ao Teste 4, nota-se, de maneira geral, uma alta taxa
de respostas esperadas por parte dos adultos e uma baixa taxa de
respostas esperadas por parte das crianças em ambas as línguas. No
entanto, também é possível observar um padrão de crescimento da taxa
de respostas esperadas ao longo das faixas etárias, o que mostra uma
tendência à gramática-alvo.
De acordo com os resultados exibidos acima, enquanto no
PB adulto haveria uma preferência pela leitura inalienável sendo
veiculada por estruturas contendo determinantes definidos ou pronomes
possessivos, no AE adulto, estruturas contendo pronomes possessivos
favoreceriam a veiculação da leitura inalienável, enquanto estruturas
contendo determinantes definidos veiculariam apenas a leitura alienável,
quando presentes nomes de partes do corpo.
Ainda conforme os resultados obtidos na presente pesquisa,
observa-se que no início da aquisição crianças falantes de ambas as
línguas parecem aceitar ambas as interpretações sendo veiculadas por
ambos os tipos de determinantes, calcando sua preferência no contexto
apresentado, sendo essa preferência inicial restringida àquelas disponíveis
na gramática alvo à medida que elas ficam mais velhas.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1567-1611, 2017
1609
Esses resultados, portanto, corroboram as previsões aventadas
na presente pesquisa pelo fato de as estruturas, por um lado poderem
ser superficialmente semelhantes e, por outro, apresentarem relações
mais complexas envolvendo categorias vazias distintas, além do papel
sintático-semântico do determinante e sua consequente posição estrutural.
Em consequência disso, acredita-se que a hipótese assumida de
que crianças falantes de AE iniciariam com uma gramática semelhante
àquela apresentada pelo PB, para então, convergir para a gramática do
AE, restringindo o uso de determinantes definidos, em relação a esse
tipo de construção possessiva se sustenta.
Agradecimentos
À Ruth Lopes, por tanto em tanto tempo.
À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), pelo apoio financeiro.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
On the acquisition of distributivity in Yudja
Sobre a aquisição da distributividade em Yudja
Suzi Lima
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
University of Toronto, Toronto, Ontario / Canada
suzilima1@gmail.com
Abstract This paper explores the acquisition of distributivity in
Yudja (Tupi, Brazil) based on a study with children and adults. In this
paper, we explore experimentally the hypothesis discussed in previous
work (LIMA, 2008) that verbal reduplication is a pluractional marker
(LASERSOHN, 2005) that also conveys distributivity. Two preference
tasks were performed with 11 adults and 17 children. Adults’ results
show that the interpretation of ambiguous sentences is affected by the
form of the noun phrase (conjoined nouns, pluralized nouns or bare
nouns). Children’s results suggest that they have an overall preference
for a distributive interpretation of sentences regardless of the verb form
and the NP type.
Keywords distributivity; Yudja; verbal reduplication; plural; bare nouns.
Resumo Este artigo explora a aquisição da distributividade em Yudja
(Tupi, Brasil) a partir de um estudo com crianças e adultos. Nesta
pesquisa, exploramos experimentalmente a hipótese discutida em trabalhos
anteriores (LIMA, 2007, 2008), segundo os quais reduplicação verbal é
um marcador pluracional (LASERSOHN, 1995) que também expressa
distributividade. Duas tarefas de preferencialidade foram feitas com 11
adultos e 17 crianças. Os resultados dos adultos sugerem que a interpretação
de sentenças ambíguas é afetada pelo tipo de sintagma nominal. Os
resultados das crianças sugerem uma preferência por uma leitura distributiva
independentemente das propriedades do verbo e do sintagma nominal.
Palavras-chave: distributividade; Yudja; reduplicação verbal; plural;
nomes nus.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1613-1646
1614
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
Recebido em: 5 de janeiro de 2017.
Aprovado em: 23 de março de 2017.
1 Introduction
Much work in formal semantics has explored the constrast
between distributivity and nondistributive interpretations (collective and
cumulative). One particular puzzle that will be explored in this paper is
the ambiguity of sentences such as the following:
(1) Three architects designed four buildings.
(USSERY, 1998, p. 1)
This sentence can be interpreted as distributive (covert 1
distributivity as no distributive quantifier, such as each, is inserted) in
which case the total number of buildings is twelve. This sentence also
allows nondistributive readings such as a collective reading (where the
total number of buildings is four and the three architects worked together
on each of them) and a cumulative reading (where the number of buildings
is four, but the arrangement of the three architects working per building
can vary). A debate in formal semantics is how these interpretations
are derived. Authors such as Kratzer (2001) argue in favor of lexical
cumulativity where collective and cumulative interpretations are derived
via the same structure, and are the default interpretations. Under this view,
distributivity is derived via a different operation (phrasal cumulativity):
a * operator that pluralizes the VP. One prediction of this analysis is that
distributivity would be more costly than nondistributive interpretations.
The marginality of the distributive interpretation for sentences as (1) has
been a central aspect for debate in the literature (CHAMPOLLION, to
appear) and experimental evidence is inconclusive in showing whether
covert distributivity is marginal for sentences such as (1) (Dotlačil, 2010
apud Champollion to appear). Authors such as Dotlačil (2010) argue that
the marginality could be a result of a pragmatic principle: if the intention
Following Champollion (to appear) we are using in this paper the terms covert
distributivity and overt distributivity.
1
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1615
is to convey distributivity, speakers would prefer to use a distributive
operator such as each. Below we review some studies that explore covert
and overt distributivity experimentally.
Pagliarini et al. (2012) performed truth value judgment tasks with
Italian adults and children (189 children – 4 to 13 years of age; 97 adults).
In their study, for sentences like “The boys are building a tower”, adults
accepted the sentence to be associated with a distributive-like picture
50% of the time. For children, an age effect was found: younger children
(9 years or younger) accepted the sentence without an overt distributive
quantifier as describing the distributive scene 90% of the time. Older
children showed an adult-like behavior (73% acceptance for 13-yearolds). The authors argue that the rejection of the distributive interpretation
of sentences with plural DPs is correlated with the acquisition of each.
Syrett and Mussolino (2013) have also shown, based on a truth
value judgment task, that adults accept sentences with plural DPs (without
each) to describe a distributive scene in 79% of the trials (3-year-olds
did so in 91.7% of the trials and 4-year-olds in 98.3% of the trials). Note,
however, that in a preference task where participants had to choose
between a collective and a distributive picture (SYRETT; MUSSOLINO,
2013, Experiment 2), adults preferred a collective interpretation over a
distributive one for sentences with plural DPs (without each) in most of
the trials (88.9%). Children showed the opposite pattern (preference for
collective in 31.5% of the trials). Other authors have presented similar
results. Ussery (1998) has also shown a preference for non-distributive
readings over distributive readings regardless the type of DP (conjoined,
plural DPs) for English speaking adults. Similarly, Brooks and Braine
(1996) have explored the interpretation of sentences including numerals
(Three (actors) are (verb)ing an (object)) in a task where participants
heard a sentence and were asked to choose the picture that was a better
match (distributive or collective). Twenty adults and 100 children (4
to 9 years of age) participated in the study. The adults overwhelmingly
preferred to associate a collective interpretation to sentences such as
“Three children built a raft” both in the active and passive voice (97.5%
and 100%, respectively). The study has also showed that the number of
collective pictures selected for this kind of sentence increases with age:
4-year-olds selected the collective picture in 62.2% of the time for active
voice sentences and 53.3% of the time for passive voice sentences (cf.
BROOKS; BRAINE, 1996, p. 250).
1616
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Online reading time studies such as Frazier et al. (1999, p. 1771)
have shown that distributive sentences take longer to be processed than
collective sentences. According to the authors,
[...] collective interpretations may be preferred only
because they avoid the need to postulate multiple events
(which is claimed to be cognitively costly by Harris,
Clifton, & Frazier, submitted; Majewski, in preparation,
a claim termed the ‘no extra times’ or NET hypothesis).
Alternatively, the simplicity of the Logical Form (LF)
representation of a conjoined NP, which lacks a distribution
(D) operator (Heim, Lasnik, & May, 1991), might give rise
to the initial collective preference. Both hypotheses are
plausible and are not mutually exclusive.
The variability of experimental results in the literature suggests
that there is some cross-linguistic variation in the acceptability of covert
distributivity (cf. CHAMPOLLION, to appear; 10, GIL, 1982). Despite
that, most adult studies indicate that nondistributive interpretations are
preferred over distributive interpretations for sentences without an overt
distributive marker. Acquisition studies present a different pattern, as
distributive interpretations are not necessarily dispreferred for children
(cf. PAGLIARINI et al., 2012; SYRETT; MUSSOLINO, 2013).
Given this debate, the goal of this paper is twofold: first, we would
like to evaluate the availability of the covert distributive interpretation in
Yudja; second, we want to explore the interpretation of sentences that are
overtly marked for distributivity via verbal reduplication. We discuss in
this paper whether the type of NP (bare singular, bare plural or conjoined
NP) affects the interpretation of sentences in the case where the verb is
reduplicated and in the case where it is not.
The paper is organized as follows: Section 2 presents an overview
of the nominal properties of Yudja. Section 3 presents an overview of
verb phrases in Yudja with a particular emphasis on the formation of verb
reduplication and its meaning. Section 4 presents a formal analysis of
pluractionality in Yudja. Section 5 presents an offline preference study
that investigates covert and overt distributivity in the language.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1617
2 Characteristics of Noun Phrases Yudja
Bare arguments Yudja is a number-neutral language, i.e. nouns
are unspecified for number (singular, plural). Furthermore, nouns are
bare and unspecified for definiteness (definite or indefinite):
(2) ali
child
ba’ï
paca
ixu
eat
‘(A/the) child(ren) eat(s)/ate (a/the) paca(s)’
Literal: ‘an unspecified number of children eat an unspecified
number of pacas in an unspecified number of events’.
Plural Yudja has an optional plural morpheme -i restricted to
[+ human] nouns (FARGETTI, 2001):
(3a) Senahï
man
kota
snake
ixu
eat
‘(A/The) man/men ate/eat(s) (a/the) snake(s)’
Literal: ‘an unspecified number of men eat/ate an unspecified
number of snakes in an unspecified number of events’.
(3b) Senahï-i kota
man-pl
ixu
snake eat
‘(The) men ate/eat (a/the) snake(s)’
Literal: ‘more than one man eat/ate an unspecified number of
snakes in an unspecified number of events’.
(3c) kota
senahï-i
ixu
snake
man-pl
eat
‘(A/the) snake ate/eat(s) (the) men’
Literal: ‘an unspecified number of snakes eat/ate more than one
man in an unspecified number of events’.
(3d) * Kota-i
snake-pl
senahï
man
ixu
eat
1618
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(3e) * Senahï kota-i ixu
man snake-pl
eat
The example (3a) means that either a single man or more than
one man ate snake(s). The examples (3d) and (3e) are ungrammatical
because the morpheme -i cannot be associated with [- human] nouns.2
3 Characteristics of verb phrases in Yudja
Verbs in Yudja are by default unspecified for number of events.
The examples are presented below:
(04) João
João
anï ba’ï apï
that
paca
shoot
‘João shot/shoots at that paca’
Literal: ‘João shot/shoots one single paca in an unspecified number
of events’
(05) João
itxïbï
Maria-be
kamema
João
many
Maria-dat
necklace
‘Pedro gave/gives many necklaces to Maria’
Literal: ‘Pedro gave/gives many necklaces to Maria in an
unspecified number of events’
Optional and restricted plural morphology for nouns is not peculiar to Yudja. Some
of other Tupi languages present restrictions on the distribution of plural morphology.
In Gavião (MOORE, 1984), the morpheme éèy is restricted to [+animate] nouns.
In Xipaya (RODRIGUES, 1995, p. 10)) the morpheme -i is restricted to subjects
(inanimate or animate). In Kamaiurá the morphemes -met/-het/-wet/-n are associated
with [+animate]/ [+human] (SEKY, 2000, p. 59). In Karitiana (family Arikém) and
Karo (family Ramarama) there is no plural morpheme for nouns (MÜLLER; STORTO;
COUTINHO, 2005; GABAS Jr., 1999, p. 41, respectively). Mekéns (family Tupari)
is the only language in which an unrestricted plural morpheme is attested. The plural
morpheme -iat is unrestricted and can be optional if other plural morphemes are overt
in a sentence (GALUCIO, 2001, p. 29).
2
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
(06) Senahï
man
kota
ixu
snake
eat
1619
‘(A/the) man/men ate/eat (a/the) snake(s)’
Literal: ‘an unspecified number of men ate/eat(s) an unspecified
number of snake(s) in an unspecified number of events’
In (04), (05), and (06), the number of events is strongly context
dependent. In (04) and (05), a clear number of subjects (in both cases,
singular subjects defined by the proper names) and a clear number of
objects (in (04) a singular paca, in (05) a plural number of necklaces
and a single beneficiary (Maria)) are involved. In these cases the only
argument that is not specified for number is the event (ixu ‘eat’ and upiku
‘give’, respectively). Therefore, a single or many different events can be
denoted by the verb, according to the context. The variety of possible
readings is manifested when we have bare nouns. In (06) the two bare
nouns (senahï, ‘man’ and kota, ‘snake’) are unspecified for the number
of entities, i.e., they can refer to singular or plural entities. Because the
verb is also unspecified for number and type of events denoted, (06) can
be interpreted in a wide range of scenarios: (i) singular: one man ate one
paca; (ii) unmarked: men ate pacas in various possible combinations;
(iii) collective: a group of men ate (a) paca(s); (iv) distributive: for each
man there was an event of eating (a) paca(s).
In sum, a non-reduplicated verb can have a large number of
possible readings, including collective and cumulative readings. These
different readings are possible because nouns in Yudja, as presented
before, are number-neutral, i.e., they can denote singularities or
pluralities. For that reason, the involvement of one participant or many
participants in one or more than one event are possible when the noun
is bare and the verb is not modified for number of events.
3.1 On the basics of reduplication: morphology
Fargetti (2001, p. 178) first described verbal reduplication in
Yudja. The author argues that reduplication expresses both plurality of
3
Fargetti (2001) presents a phonological analysis for verbal reduplication in Yudja that
I will not reproduce here because this paper focuses on the semantic aspects of verbal
3
1620
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arguments (subjects or objects) and reiteration (when an event is realized
more than once). Fargetti argues that Yudja has two types of reduplication
processes: (i) infixation (which is equivalent to partial reduplication)
(djidaku ‘hit’> djidaidaku) that expresses plurality of subjects/objects,
and (ii) suffixation (which is equivalent to total reduplication) (atxu ‘bite’
> atxutxu) that expresses reiteration.
Another morphological aspect of verbal reduplication described
in Lima (2008) is that inflectional morphemes do not reduplicate. This
explains why in the case of the transitive verb atxu ‘bite’ the morpheme
a-, which forms transitive verbs in the language, does not reduplicate.
The same can be observed in a series of cases with other inflectional
morphemes such as realis -u and verbalizers -k-, -h-. See the examples
below:4
(07a) Count:
a-bï a-bï~bï
t- verb root
t-root~red
(07b) hug: a-bïi a-bïi~bïi
t-verb root
t-root~red
(07c) shoot a-pï a-pï~pï
t-root
t-root~red
(07d) extinguish
a-mi-h-u
t-root-Vblz-realis
a-mi~mi-h-u
t-root~red-realis
(07e) hurt du-k-u du~du-k-u
root- vblz-realis
root~red-vblz-realis
(07f)
fall bïdï-t-u bidï~dï-t-u
root-vblz-realis
root~red-vblz-realis
reduplication. Please consult Fargetti (2001) for a detailed analysis on the phonological
properties of verbal reduplication in the language.
4
There are exceptions for this rule such as the mood morpheme that appears reduplicated
for some verbs. This aspect needs further investigation.
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1621
(07g) peel a-sa-k-u a-sa~sa-k-u
t-root-vblz-realis
t-root-red-vblz-realis
(LIMA, 2008)
In the examples below, Fargetti (2001) argues that partial
reduplication pluralizes the subject (08b) or the object (09b) (Fargetti
2001, 178):
Partial reduplication
(08a)
Una e-duku
1s
(08b)
Ulu’ udi
refl-hurt 1pl
e-du~duku
refl-red~hurt
‘I hurt myself’
‘We hurt ourselves’
(FARGETTI, 2001, p. 177)
(FARGETTI, 2001, p. 177)
Partial reduplication
(09a)
Una e-djidaku e-be
1s
2s-hit
(09b) Una
2s-dat
1s
ese-dji~dai~daku
ese-be
2pl-hit-red
2pl-dat
‘I hit you’
‘I hit you (plural)’
(FARGETTI, 2001, p. 211)
(FARGETTI, 2001, p. 213)
However, there are examples where partial reduplication occurs
and plurality of subjects or objects cannot obtain as both refer to singular
entities:
(10a)
Una e-djidaku
(10b) Una e-dji~dai~daku
1s 2s-hit 1s
2s-hit-red
‘I hit you’ (in an unespecified
‘I hit you (in different events)’
number of events)
1622
(10c)
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João
Maria
João Maria
yaekua
(10d)
remember
‘João remembers/remembered Maria
(unspecified number of events)’
João
Maria yaekua~kua
João
Maria remember-red
‘João always remembers/
remembered Maria’
Based on these facts, we argued in previous work that reduplication
(partial or full reduplication) in Yudja expresses plurality of events (cf.
LIMA, 2007). According to this analysis, plurality of arguments is not a
result of verbal reduplication, but is due to the fact that nouns are numberneutral in Yudja. Hence, reduplication is a mechanism to pluralize the
argument event and it must be dissociated from the pluralization of other
arguments (subject/object).
It is not just morphological reduplication that expresses
multiplicity of events or subevents. In Yudja there are verbs that are
lexically reduplicated, i.e. non-reduplicated forms of these verbs are
not attested. Most of the lexically reduplicated verbs describe events
that have an internal repetition of events. This would explain why these
verbs are lexically reduplicated. Some examples are presented below:
(11) Spoil
Sneeze
Scratch
Cry
Tremble
Cough
Vomit
Boil
Lãmïmï Fry lusïrïrï
Axi’ axi Steal pa’ia’ia
Atxatxaku, ata’ata
blink
ipumipumi
yayaya
write
waxĩwaxĩ
Ari’ari explode pararaka
Ese’ese blend yukukutu
Ena’ena scream azahaha
kura’kura crawl txitxiku
3.2 Interpretations of reduplication: semantics
In Yudja, reduplication is a way to express multiplicity of
events.5 We will see that the distribution may be over time and/or space
In Tupi languages, verbal reduplication is a common process that is usually associated
with pluractionality of events. In Mekéns (Tupari family) (GALUCIO, 2001, p. 104), any
verb can be reduplicated to express iterativity or repetition of an event. In Munduruku
5
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1623
or over participants. Recall examples (04) and (06) repeated below as
(12a) and (13a), respectively. Unlike (12a) and (13a), their reduplicated
counterparts in (12b) and (13b) cannot denote singular events:
(12a)
João anï ba’ï apï
João
that
paca
shoot
‘João shot/shoots at that paca’
Literal: ‘João shot/shoots one single paca in an unspecified
number of events’
(12b)
João anï ba’ï apï~pï
João
that
paca
shoot.red
‘João shot/shoots at that paca many times’
# ‘João shot/shoots at that paca in a single event’
(13a)
Senahï kota ixu
man snake eat
‘(A/the) man/men ate/eat (a/the) snake(s)’
Literal: ‘an unspecified number of men ate/eat(s) an unspecified
number of snake(s) in an unspecified number of events’
(family Munduruku) reduplication expresses the extension of the event described by
the verb or its repetition (PICANÇO, 2005, p. 376; ANGOTTI, 1998, p. 15; GOMES,
2007). For Gomes (2007), reduplication may also express an extension of the duration
of the event or participant pluralization. In Gavião (family Mondé) reduplication
expresses repetition of an event (MOORE, 1984, p. 241). In Xipaya (family Juruna),
reduplication expresses the extension of the duration of the event (RODRIGUES, 1995,
p. 68). In Karitiana (family Arikém), reduplication expresses pluractionality of events
(MÜLLER, SANCHEZ-MENDES, 2008). In Karo (family Ramarama) reduplication is
associated with ideophones (not to verbs) and express iterativity or continuous aspect.
Finally, in Kamaiurá (family Tupi Guarani) reduplication is associated with iterativity,
successiveness and intensity (SEKI, 2000, p. 133-141).
1624
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
(13b)
Senahï kota ixi~ixi
man snake eat~red
‘(A/the) man/men ate/eat (a/the) snake(s) many times’
# ‘(A/the) man/men ate/eat (a/the) snake(s) in a single event’
According to Cusic (1981) many possible interpretations can be
associated with reduplication cross-linguistically. In Yudja, one possible
interpretation associated with reduplicated verbs is distributivity, as
presented below (14b):
(14a)
Wï’ubia
etu
Tracajá egg
fall
‘(A/the) egg(s) fell/falls down’
Literal: ‘an unspecified number of eggs fell/falls down in an
unspecified number of events’
(14b)
Wï’ubia
etu~tu
Tracajá egg
fall-red
‘(A/the) egg(s) fell/falls down (each one at a time)’
Another reading that is commonly associated with reduplication
of verbs is habituality (which is a type of distributivity):
(15a)
Una
yaekua
tese
1s
remember
3pl
‘I remembered/remember them’
Literal: ‘I remembered/remember them in an unspecified
number of events’
(15b)
João
Maria yaekua~kua
João
Maria
remember-red
‘João always remembers/remembered Maria (multiple events)’
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1625
Finally, reduplicated verbs can be associated with iterative readings:
(16a)
Akayawï
i-djidaku
door
3-hit
‘(They) hit (a/the) door’
Literal: ‘someone hit an unspecified number of doors in an
unspecified number of events’
(16b)
Akayawï
i-dji~dai~daku
door
3-hit~red
‘(They) hit (a/the) door(s) many times, continuously’
We saw that verbs can be fully or partially reduplicated in Yudja
and in all cases, verbal reduplication expresses multiplicity of events. One
prominent type of multiplicity of events is distributivity (in time or by
participant). How multiplicity of events is interpreted ultimately depends
on the context and on the Aktionsart of the verb (cf. Lima, 2007). We
argue that more than one possible interpretation of the reduplicated verb
is possible (either temporal distribution of participant-based distribution
for instance) but in all cases the verb denotes multiple events.
3.3 Suppletion
In Yudja, suppletion is also related to plurality of events and/
or arguments and the alternation between intransitive and transitive
predication, similar to Xipaya (RODRIGUES, 1995), which also belongs
to the Juruna family.6 Below, I present the verbs that have a suppletive
Like reduplication, suppletion expressing plurality is common in Tupi languages.
In Mekéns (family Tupari), different verb roots denote singular/plural arguments
(GALUCIO, 2001, p. 54-55). In Munduruku (family Munduruku), Dioney Moraes (p.c.)
argue that there is no verbal suppletion, but only suppletion of ideophones. In Gavião
(family Mondé) verbal suppletion expresses plurality of arguments or plurality of events
(MOORE, 1984, p. 165, 239). In Xipaya (family Juruna), verbal suppletion has two
main functions: marking valence alternation and plurality of events (RODRIGUES,
1995). The same holds of Karitiana (LUCIANA STORTO, p.c.). Finally, in Karo (family
Ramarama) suppletion only occurs with intransitive roots and expresses singularity/
plurality of the arguments (GABAS Jr. 1999, 46).
6
1626
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
form. Most of the suppletive verbs in Yudja express plurality, except
‘toast’ (u’I, intransitive and hunu, transitive):
(17)
Neutral verb form
Plural
Walk/Run Tahu Wãnã
Fall Ala Etu
Cry (for a death)
E’a
Yayaya
Fly
Ãũ
Ebataku
Paint Itxiaku ãpiapinu
Get/Buy
Ita
ĩwã
Give (i)kua upiku
Drop Daïku daraku
Get pregnant
Imambïu
Lapiku
Wash (i)tutu aututu
Kill
Abaku
Adïkãũ
(LIMA, 2008)
As an example, consider the verb ‘give’ which can have a neutral
form as in (18a) or a plural form as in (18b):
(18a)
Una
iidja
be
aparu
kua
1s
woman
dat
beiju
give
“I gave/give beiju to (a/the) woman/women”
Literal: ‘I gave/give an unspecified number of beijus to an
unspecified number of women in an unspecified number of
events’.
(18b)
Una
iidja
be
1s
woman dat
aparu
upiku
beiju
give-pl
‘I gave/give beiju(s) to each woman’
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1627
4 Theoretical analysis: reduplication and pluralization of nouns
This analysis is based on the idea that action sentences and stagelevel predicates have an event argument (DAVIDSON, 1967, KRATZER,
1989). To illustrate this proposal, consider (19):
(19)
The choir sang the Guillaume.
(20a)
∃e [SING (e, The choir, the Marseillaise)]
(20b)
λy.λx.λe SING (e, x, y)
(DAVIDSON, 1967 apud ROTHSTEIN, 2001)
According to Davidson (1967), the verb ‘sing’ would have three
arguments: the subject (y), the object (x) and the event, the action of
singing itself (e). Kratzer (1996) proposed that external arguments are not
true arguments of the verb but are introduced by an additional functional
head. In this view the denotation of ‘sing’ is as in (20c):
(20c)
λx.λe SING (x) (e)
Another notion that will be assumed in this paper is cumulativity.
Krifka (1992) argued (see also KRATZER, 2001) that simple predicates
in natural languages are typically unmarked. A predicate P is unmarked
if and only if it satisfies the following formula:
(21) xy: [P(x) & P(y)]→ P(xy)
For all x and for all y, if x is P and y is P, then the sum of x and
y is P
An application of the cumulativity principle can be exemplified
below, for nouns:
(22a)
Cumulativity (properties of individuals) (KRATZER, 2001,
p. 3 – Chapter 4, 3):
λP<et>xy [ [P(x) & P(y)] → P(x+y) ] ]
“A function that takes a property P of individuals and return
the truth value True if for all x and for all y, if x is P and y is
P, then the sum of x and y is P”
1628
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
(22b)
[[child]] = {Pedro, Carlos, Maria, João, Pedro+Carlos,
Pedro+Maria, Pedro+João, Carlos+Maria, Carlos+João,
Maria+João, Pedro+Carlos+Maria+João}
(based on MÜLLER; SANCHEZ-MENDES, 2008)
If we observe the extension of ‘child’ in (22b), we can see that
for every two individual child (say Pedro and Maria), their sum (say
Pedro+Maria) is also in the denotation of the extension of the predicate.
The predicate ‘child’ is therefore unmarked. Cumulativity is also defined
for verbs:
(23a)
Cumulativity (properties of events)
(KRATZER, 2001, 3 – Chapter 4, 3):
λP<st>ee’ [ [P(e) & P(e’)] → P(e+e’) ] ]
‘A function that takes a property P of events and return the
truth value True if for all x and for all y, if x is P and y is P,
then the sum of x and y is P’
(23b)
[[rain]] = {<raining1>, {<raining2>,..., <raining1+raining2>, ...}
(based on MÜLLER; SANCHEZ-MENDES, 2008)
If we observe the extension of ‘rain’ in (23b), we can see that
for every two raining events (say raining1 and raining2), their sum
(say raining1+raining2) is also in the denotation of the extension of the
predicate. The predicate ‘rain’ is therefore unmarked.
As we have seen, there is no evidence that bare nouns are singular
in Yudja. Rather, we have found evidence that they are unmarked, i.e. that
their denotation includes both atomic individuals and sums of individuals.
Consider the examples below:
(24)
João
ba’ï
abaku
João
paca
kill
‘João kills/killed (a/the) paca(s)’
Literal: ‘João kills/killed an unspecified number of pacas in
an unspecified number events’
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
(25)
Ena
ba’ï
ixu
2s
paca
eat
1629
‘You eat/ate (a/the) paca(s)’
Literal: ‘you ate/eat an unspecified number of pacas in an
unspecified number of events’
(26) Alï ba’ï uatxukaha
child paca pursue
‘(A/the) child pursues/pursued a/the paca(s)’
Literal: ‘an unspecified number of children pursued/pursues
an unspecified number of pacas in an unspecified number of
pacas’
In all these examples, the noun ba’ï (‘paca’) can be interpreted
as singular or plural, definite or indefinite; its interpretation is contextdependent. This implies that these sentences are going to be true in many
different scenarios where one or more pacas were killed (24), eaten (25),
pursued (26) and so on. This shows that nouns in Yudja can denote a
single individual or many individuals without any additional morphology.
The facts presented in Yudja support Krifka’s (1992) and
Kratzer’s (2001) proposal, according to which predicates are unmarked
from the start. Cumulativity is given at no cost for both nouns and verbs.
In other words, in Yudja, lexical cumulativity can be considered the
null hypothesis for any predicate (nominal or verbal) in the language
(as Müller; Sanchez-Mendes (2008) proposed for Karitiana). But if
verbs can denote plural events by default, what is the function of verbal
reduplication?
So far we have argue that reduplicated verbs are associated with
the distribution of the event over time, time-space, or participants:
1630
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
Distribution over time (or time-space)
(27) João
João
anï
ba’ï
apï~pï
that
paca
shoot~red
‘João shot/shoots at that paca many times’
# ‘João shot/shoots at the pace once’
Distribution over time
(28) Iidja etu~tu da
woman
fall~red
col
‘A group of women fell/falls (each one at time)’
Participant-based distribution / Distribution over time
(29) Senahï kota ixi~ixi
man snake eat~red
‘(A/the) man/men ate/eat snake(s) (more than one event)’
# ‘(A/the) man/men ate/eat snake(s) once’
In (27), a single individual subject (João) and a single individual
object (that paca) are involved in the distribution of events. As a
consequence, the only possible interpretation is distribution over time. In
(28), the collective morpheme da is inserted, and indicates that more than
one group of women fell. In (29), because the nouns are number-neutral,
at least two interpretations are possible: distribution of the event over time
(one man ate snake(s) in different events) or participant-based distribution
(more than one man ate snake(s) in different events). To explain how
these readings are generated (time distribution and participant-based
distribution), we will analyze reduplication as a pluractional marker
(LASERSOHN, 1995).
In Lasersohn’s proposal, pluractional markers are morphemes
that do not reflect the plurality of the verb’s arguments (subject/object),
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1631
but the plurality of the verb itself, because it is the verb that represents
the occurrence of multiple events (LASERSOHN, 1995, p. 241). The
basic denotation of pluractional markers is presented in (30a):
(30a)
V-PA(X) ⇔ e X[P(e)] & card (X) ≥ n7
‘X is in the denotation of V-PA iff for all event e that
belongs to X, e has the property P and the cardinality of
X is at least as great as n’ (LASERSOHN, 1995, p. 256)
In Lasersohn’s own terms (1995, p. 240): “pluractional markers
attach to the verb to indicate a multiplicity of actions, involving multiple
participants, times or locations”. That is, in Lasersohn’s analysis, a
verb modified by a pluractional marker can denote an event involving
separate running spaces, non-overlapping running times, or even events
distributed over multiple participants. In order to capture distributive
readings, Lasersohn introduces a non-overlap condition in the meaning of
the pluractional marker. Specifically, the condition states that for any two
events e and e’, the parameters f(e) and f(e’) of e and e’ do not overlap:
(30b)
V-PA(X) ⇔ e, e’ X [P(e) & ¬ f(e) o f(e’ )] & card (X) ≥ n
‘X is in the denotation of V-PA iff for all events e
and e’ in X e has a property and f(e) and f(e’) do not
overlap and the cardinality of X is at least as great as n’
(LASERSOHN, 1995, p. 256)
Distributivity is temporal, spatio-temporal or participant-based
according to the value of function f. If the distribution is temporal, f
maps events to their temporal trace. If it is spatio-temporal, then f maps
events to their spatio-temporal trace. Finally, if it is participant-based, f
is a thematic function assigned by V, i.e. a function that maps events to
a particular sort of participants, such as agents or patients.
Note that there are two possible readings of distributivity in time:
the “separate” reading, which is exemplified for any example from (27) to
(29) and the “continuous” reading, such as in (16b, ‘Someone knocked/
knocks the door many times, continuously’). In the case of “separate”
7
V: verb, PA: pluractional marker, e: variable over atomic events, n: variable over the
natural numbers.
1632
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
readings, there is a space in time between each event or subevent. To
formalize this, Lasersohn included a ‘betweenness’ clause to the formula
in (30b) resulting in (30c):
(30c)
V-PA (X) ⇔ e, e’ X [ P (e) & ¬ f(e) o f(e’ ) & x
[between(x,f (e), f(e’)) & ¬ e’ ’ [P(e’ ’) & t = f(e’ ’)]] & card
(X) ≥ n
‘X is in the denotation of V-PA iff for all events e, e’ in
the denotation of X, e has the property P and f(e) and
f(e’) do not overlap and there is an x between f(e) and
f(e’) and there is no e’’ such that e’’ has the property
P and t equals f(e’’) and the cardinality of x is at least
as great as n’
The continuous reading, on the other hand, is generated by the
negation of the betweenness clause in (30c) resulting in (30d):
(30d)
V-PA (X) ⇔ e, e’ X [ P (e) & ¬ f(e) o f(e’ ) & ¬ x
[between(x, f(e), f(e’)) & ¬ e’ ’ [P(e’ ’) & t = f(e’ ’)]] & card
(X) ≥ n
‘X is in the denotation of V-PA iff for all events e, e’ in
the denotation of X, e has the property P and f(e) and
f(e’) do not overlap and it is not the case that there is an
x between f(e) and f(e’) and there is no e’’ such that e’’
has the property P and t equals f(e’’) and the cardinality
of x is at least as great as n’
Remember that Yudja is a number-neutral language. In this kind
of language, a participant-based reading is possible if the noun in question
is bare (31a) or plural (31b):
(31a)
iidja
woman
ba’ï
paca
ixi~ixi
eat-red
‘(A/the) woman(women) eat(s)/ate (a/the) paca(s) in different
events’
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(31b)
iidja-i
ba’ï
ixi~ixi
woman-pl
paca
eat~red
1633
‘(The) women eat(s)/ate (a/the) paca(s) in different events’
The participant-based distributive reading is not possible if nouns
are singularized (by demonstratives, proper names, numerals [one]).
According to Lasersohn’s proposal, if the noun is singularized, a temporal
or temporal-spatial reading is forced, as we saw in (12b) (João anï ba’ï
apïpï ‘João shot at that paca many times’). If the noun is plural as in
(31b) or bare as in (31a), the pluractional markers allow several readings
including a temporal reading (which is forced if the agent argument is
singular) and a participant-based reading. In all cases, multiple events
are necessarily implied.
This analysis predicts that reduplicated verbs will be associated
with distributive events and that they are not just indicating plurality
of events given that unmarked verbs (non-reduplicated) can also be
interpreted as such. It is unclear whether the plural in nouns has the
same effect (distributivity). If it does, we would expect that pluralized
nouns in sentences with unmarked verbs would bias distributivity. This
hypothesis is tested in the study presented in the next section.
5 Covert and overt distributivity in Yudja: a pilot study
The analysis presented in Section 3 predicts that verbal
reduplication is a way to express overt distributivity. As such, we expect
that when given a sentence such as (1) “Three architects designed
four buildings”, if the verb is reduplicated, speakers will prefer a
distributive interpretation over a nondistributive one. Conversely, if the
verb is nonreduplicated, we expect that both readings will be available
(distributive and nondistributive). Note, however, if the default reading
is nondistributive due to lexical cumulativity, then the prediction will be
that the nondistributive reading will be preferred in most trials.
One relevant question is whether the type of NP will affect the
interpretation of the verb phrase. In order to test that, we manipulated
three types of NPs: 1) Numeral + unmarked/bare noun (txabïu iidja ‘three
woman’); 2) Numeral + plural (txabïu iidjai ‘three women’); 3) Conjoined
Ns (João Pedro Claudio djuda ‘João, Pedro and Cláudio’). In languages
1634
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
like English (USSERY, 1998), it was observed that the type of NP did
not affect the results: nondistributive interpretations were preferred over
distributive interpretations regardless of the NP form.8
Two different studies were performed in Yudja. Both studies were
based on Ussery (1998)’s studies 1 and 2 for English.
Participants
A total of 17 children (5 3-to-5-year-olds; 2 7-year-olds; 5 8-to-9year-olds; 5 10-to-11-year-olds) and 11 adults participated in this study.9
Participants were tested individually in a room in Yudja’s local central
school in the Tuba Tuba village. A local teacher familiar to the children
was present to facilitate all the tasks that involved children. The study
was advertised in the village amongst adults and children. Parents were
individually consulted on the participation of their children in the study.
The children who participated in the study volunteered to do so and were
formally consented by their parents who were welcome to stay in the
room along with the researcher and the research assistant.
Study 1: Conjoined Nouns (Preference task)
Materials and Methods
The study consisted of a sentence in Yudja followed by a target
question. After presenting the target question, the participant was exposed
to two different drawings: one corresponding to a nondistributive
interpretation (collective) of the sentence and one corresponding to a
distributive interpretation of the sentence. Two conditions were tested:
8
In previous studies with English-speaking adults and children (cf. Section 1), only
pluralized DPs and conjoined DPs were manipulated as English is not a language that
allows bare singulars. A similar study to the one presented in this paper in Brazilian
Portuguese, a language that allows Bare Singulars, is in progress (cf. LIMA in progress).
9
All children who volunteered were allowed to participate (as long as their parents
authorized them). Given the wide age range in the children’s test group, we were not
able to perform a statistical analysis that explored the age effects within this group.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1635
Condition 1: conjoined NPs + non-reduplicated verb
(32a)
João, Pedro Cláudio
djuda duwadjuse
João Pedro Cláudio
and
four
apï
dog
iwãnu
poison
‘João, Pedro and Cláudio poisoned four dogs’
‘How many dogs were poisoned?’
4 12
(nondistributive interpretation)
(distributive interpretation)
Condition 2: conjoined NPs + reduplicated verb
(32b)
João, Pedro Cláudio
djuda duwadjuse apï
iwiwãnu
João Pedro Cláudio
and
poison.red
four
dog
‘João, Pedro and Cláudio poisoned four dogs’
‘How many dogs were poisoned?’
4 12
(nondistributive interpretation)
(distributive interpretation)
If verbal reduplication is associated with distributivity, we predict
Condition 2 with reduplicated verbs to be associated with the distributive
interpretation more than Condition 1 with nonreduplicated verbs.
The study included 7 critical items counterbalanced in two lists
(each participant saw 4 items each).
Study 2: Bare and Plural Noun Phrases (Preference task)
Materials and Methods
The study consisted of a sentence in Yudja followed by a target
question. After presenting the target question, the participant was exposed
to two different drawings: one corresponding to a nondistributive
interpretation (collective) of the sentence and one corresponding to
1636
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
a distributive interpretation of the sentence. Four conditions were
manipulated in this study:
Condition 1: bare noun + non-reduplicated verb
Condition 2: bare noun + reduplicated verb
Condition 3: plural noun + non-reduplicated verb
Condition 4: plural noun + reduplicated verb
Examples for each condition are presented below:
Condition 1: Unmarked Noun + Non-reduplicated verb
(33a)
Txabïu iidja
hree
tïtïrï
taha
woman pregnant pred
duwadjuse aparu
four
biscuit
ixu
eat
‘Three pregnant women ate four biscuits’
Abï ne deda
aparu ixu?
How many
biscuit eat?
‘How many biscuits were eaten?’
4 12
(nondistributive interpretation)
(distributive interpretation)
Condition 2: Unmarked Noun + Reduplicated verb
(33b)
Txabïu iidja
Three
tïtïrï
woman pregnant
taha duwadjuse aparu ixiixi
pred
four
‘Three pregnant women ate four biscuits’
Abï ne deda
aparu ixu?
How many
biscuit eat?
‘How many biscuits were eaten?’
biscuit eat.red
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1637
4 12
(nondistributive interpretation)
(distributive interpretation)
Condition 3: Plural Noun + Non-reduplicated verb
(33c)
Txabïu iidja-i
Three
tïtïrï
woman-pl pregnant
taha duwadjuse aparu ixu
pred
four
biscuit eat
‘Three pregnant women ate four biscuits
Abï ne deda
aparu ixu?
How many
biscuit eat?
‘How many biscuits were eaten?’
4 12
(nondistributive interpretation)
(distributive interpretation)
Condition 4: Plural Noun + Reduplicated verb
(33d)
Txabïu iidja-i
tïtïrï
Three woman- pl pregnant
taha duwadjuse aparu ixiixi
pred
four
biscuit eat.red
‘Three pregnant women ate four biscuits’
Abï ne deda
aparu
ixu?
How many
biscuit
eat
‘How many biscuits were eaten?’
4 12
(nondistributive interpretation)
(distributive interpretation)
The study included 16 critical items counterbalanced in two lists
(each participant saw 8 items each).
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1638
Results
To investigate the research questions in this study, generalized
estimating equations (GEE) analyses were performed. GEE is a
semi-parametric statistical technique that takes into account the
interdependencies in hierarchically structured data and is appropriate for
a wide variety of variable distributions (normal and skewed, continuous,
dichotomous, ordinal etc.). This technique was selected to account for
multiple trials for each subject within each condition of the study. Since
the outcome variable in this study is binary (Colective vs distributive
response), GEE analyses were performed with binomial probability
distribution and logit link function.
Study 1: Results10
The percentages of Collective and Distributive responses within
the two study conditions for adults and children in the sample are
displayed in Table 1. As the table shows, the distribution of the two types
of responses is similar across the two conditions within each age group,
but the pattern is different between the age groups. Specifically, for adult
subjects choose Collective more than Distributive, while children choose
Distributive more than Collective.
Table 1 – Distribution of the two types of responses across conditions
and age groups of the subjects
Adult
Study condition
Child
Collective
Distributive
Collective
Distributive
Non-Reduplicated verb
77.3%
22.7%
38.1%
61.9%
Reduplicated verb
57.1%
42.9%
42.3%
57.7%
The results of GEE analyses confirm the pattern observed in the
sample. The difference between the two study conditions is nonsignificant,
10
All children that volunteered to participate in both studies were allowed to participate
(as long as their parents authorized them). Given the wide age range in the children’s
test group (for both studies), we were not able to perform a statistical analysis that
explored the age effects inside this group.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1639
Wald c2(1) = .20, p = .652. However, there is a significant difference
between the two age groups, Wald c2(1) = 5.83, p = .016. Based on these
results, we can conclude that while the majority of adult responses (69.4%
across both study conditions in the sample) are Collective – as attested
in other studies presented in the literature (cf. USSERY, 1998), the
majority of child responses (60.3% across both conditions in the sample)
are Distributive. The pattern observed for children was also previously
attested in the literature (BROOKS; BRAINE, 1996, PAGLIARINI et
al. 2012, SYRETT; MUSSOLINO, 2013).
Study 2: Results
The percentages of Collective and Distributive responses within
each of the four study conditions for groups of adults and children are
displayed in Table 2. As can be seen from this table, the distribution of
the two types of responses is very similar for all study conditions in the
sample, with Distributive responses being more common than Collective
responses. However, in the Plural + Non-Reduplicated condition the
proportions of the two response types are similar for adult participants.
Table 2 – Distribution of the two types of responses across conditions
and age groups of the subjects
Study condition
Adult
Child
Collective Distributive Collective Distributive
Bare + Non-reduplicated verb
23.8%
76.2%
37.1%
62.9%
Bare + Reduplicated verb
17.4%
82.6%
36.4%
63.6%
Plural + Non-reduplicated verb
52.2%
47.8%
39.4%
60.6%
Plural + Reduplicated verb
33.3%
66.7%
37.1%
62.9%
The results of GEE analyses indicate that there is no significant
difference between the age groups or study conditions in the sample and
cannot be generalized beyond the sample (effect of age, Wald c2(1) =
.39, p = .532; effect of condition, Wald c2(3) = 4.30, p = .231).
1640
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Discussion
In the first study, adults preferred a nondistributive (collective)
interpretation for sentences that included conjoined nouns. Regardless
of the form of the verb (reduplicated or non-reduplicated), a distributive
interpretation was disfavored in most of the trials. For structures with
conjoined nouns, children presented a slightly higher preference for a
distributive interpretation (62%, non-reduplicated verb; 58% reduplicated
verb) over a nondistributive interpretation across verb types (reduplicated
or not). The difference between the age groups was statistically
significant. The results found for Yudja children were consistent with
the results found in previous studies in other languages (BROOKS;
BRAINE, 1996; PAGLIARINI et al., 2012; SYRETT; MUSSOLINO,
2013) where children favor a distributive interpretation over a collective
interpretation in preference tasks, even for sentences without overt
markers of distributivity (in the case of Yudja, in the absence of verbal
reduplication).
In study 2, we did not find a statistically significant difference
between non-reduplicated and reduplicated verbs across noun type
(bare or plural) The distributive interpretation was preferred across all
conditions, except for the condition with plural + Non-Reduplicated Verb.
Our initial prediction was that the distributive interpretation
would be particularly favored only when the verb is reduplicated. Instead,
in Study 2, we observed a preference for distributive interpretation even
when the verb was not reduplicated and the noun was bare (Condition 1).
We observed a preference for a distributive interpretation when the verb
is reduplicated (compare Conditions 1 and 2 and Conditions 3 and 4),
but this preference, as observed above, was not proven to be statistically
significant.
Even though we did not find a statistically significant difference
across the conditions, we observed that conditions 3 and 4 – those with
pluralized nouns – had a smaller number of trials where the distributive
interpretation was preferred. In the condition 3 (Bare noun + Nonreduplicated verb), in particular, there was no particular preference for
collective or distributive interpretations. As such, the plural morpheme
does not seem to trigger distributive interpretations.
For children, in all conditions, the results were numerically
similar; based on the data presented on Table 2, there was a slight
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1641
preference for the distributive over the collective interpretation. These
results are parallel to other studies with children that found a general
preference for a distributive interpretation (SYRETT; MUSSOLINO,
2013).
6 Final considerations
This paper explored a formal semantics analysis of distributivity
in Yudja (Tupi, Brazil). In this paper, we investigated experimentally
the hypothesis discussed in previous work (LIMA, 2008) that verbal
reduplication is a pluractional marker (LASERSOHN, 1995) that is also
a marker of overt distributivity in the language.
Two preference tasks were performed with 11 adults and 17
children. We manipulated verb form (reduplicated and nonreduplicated)
and NP type (bare noun, pluralized noun, conjoined nouns). Sentences
without reduplicated verbs were taken as examples of ambiguous
sentences where distributivity is covert, as in the English sentence
‘Three architects designed four buildings’ which is ambiguous between
a nondistributive (collective/cumulative) and a distributive interpretation.
In contrast, we hypothesized that verbal reduplication could be the
manifestation of distributivity in the language.
Given that, the predictions were: 1) reduplicated verbs
will trigger a preference for a distributive interpretation over a
nondistributive one; 2) non-reduplicated verbs will be compatible with
both interpretations (distributive and nondistributive). However, if
nondistributive interpretations are favored due to lexical cumulativity
(for nonreduplicated verbs), then nondistributive readings would be
preferred in most trials.
The results found for Yudja children were consistent with
the results found in previous studies in other languages (BROOKS;
BRAINE, 1996, PAGLIARINI et al., 2012; SYRETT; MUSSOLINO,
2013) where children favor a distributive interpretation over a collective
interpretation in preference tasks, even for sentences without overt
markers of distributivity. This was clear in Study 1 where we found a
significant age effect. In Study 2, we found a numerical advantage of the
distributive interpretation in all conditions, but no age effect or condition
effect was found.
1642
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
For adults, we found different patterns depending on the type of
NP. For conjoined nouns (Study 1), we found that participants preferred
the nondistributive interpretation over the distributive interpretation. The
same pattern was observed in previous studies in different languages;
these results are compatible with theories that claim that a non-distributive
reading is the default interpretation of this kind of predicate. For
pluralized nouns and bare nouns (Study 2), we found no condition effect,
but the results suggest a slight preference of the distributive interpretation
when the verb is reduplicated and the noun is bare (83% of the trials). In
all other conditions, the preference for the distributive interpretation is
lower: 76% (bare + Non-Reduplicated Verb); 67% (Plural + Reduplicated
Verb) and 48% (Plural + Non-Reduplicated Verb).
By hypothesis bare nouns are more likely compatible with
distributive and non-distributive interpretations because they are numberneutral and can be interpreted referring to single individuals as well
as their sums. Studies on other languages that allow bare singulars in
argument position are in progress and will be compared with the Yudja
results (Lima in progress); also in progress is a more detailed analysis
of the lexical semantics of the verbs and the interaction with overt and
covert distributivity (LIMA, in progress).
Acknowledgments Funding for this research includes the Summer
Research Stipend Program from UMass Amherst (2011) and Lewis and
Clark Fund Grant (2009). Funai authorization (79/AEP/11).
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1613-1646, 2017
1646
Appendix
Glossing Abbreviations
1
first person
2
second person
3
third person
COL
collective
DAT
dative
DECL
declarative
HAB
habitual
IRR
irrealis
RED
reduplication
REFL
reflexive
S
singular
PL
plural
T
transitivizer
vblz
verbalizer
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
O processamento do numeral reduplicado sohoji-sohoji
em Karajá: uma averiguação de ERP durante a compreensão
de sentenças1
The processing of the reduplicated numeral sohoji-sohoji in
Karajá: An ERP investigation during sentence comprehension
Cristiane Oliveira da Silva
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
cristianeolivers@gmail.com
Resumo: Este trabalho tem como objetivo averiguar o processamento do
numeral distributivo sohoji-sohoji, formado pela reduplicação do numeral
um em Karajá, sob uma perspectiva transdisciplinar aproximando os
campos da linguística teórica e da neurobiologia. O experimento de
neurociência da linguagem contribui para elucidar a complexidade do
processamento de sentenças com sohoji-sohoji quando pareado com
diferentes cenários quantitativos. Utiliza-se a técnica de extração de
ERP (potenciais bioelétricos relacionados a eventos) para observação
e extração dos dados de latência visando a análise estatística dos dados
cronométricos monitorados on-line por um eletroencefalograma (EEG).
Os resultados das análises de variância e teste t demonstraram que a
leitura evento-distributiva é a default porque a violação de exaustividade
dos itens dos eventos apresentou maior complexidade de processamento
do que a violação de exaustividade de participantes. Pluralidade,
cardinalidade e diferenciação de eventos também apresentaram efeitos
significativos durante a compreensão de sentenças com sohoji-sohoji.
Palavras-chave: Karajá; distributividade; ERP; processamento
quantificacional.
Trabalho baseado na tese de doutorado defendida na UFRJ, em 2016, sob a orientação
de Marcus Maia e coorientação de Aniela Improta França.
1
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1647-1684
1648
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
Abstract: The aim of this paper is to investigate the processing of the
reduplicated numeral sohoji-sohoji formed by the reduplication of the
numeral one in Karajá, under a transdisciplinary approach, bringing
together formal linguistic and neurobiology. The neuroscience of
language experiment conducted sheds new light into the quantification
processing complexity of sohoji-sohoji when different quantitative
scenarios were previously presented. We use the ERPs extraction
technique (Event-Related Brain Potential) to observe and to extract
the wave’s amplitude in order to conduct statistical analysis from the
chronometric data monitored online by the electroencephalogram (EEG).
The results from statistical analysis conducted (ANOVA and t test)
suggest that the event-distributive interpretation is the first activated
because the violation of event items exhaustiveness was more complex
than violation of subject exhaustiveness. Plurality, cardinality and event
differentiation also displayed significant effects during Karaja distributive
sentence comprehension.
Keywords: Karaja; distributivity; ERP; quantification processing.
Recebido em 12 de janeiro de 2017
Aprovado em 08 de maio de 2017
1. Introdução
A quantificação de eventos ou indivíduos é uma operação
comum nas línguas naturais. Entretanto, cada sistema linguístico possui
mecanismos distintos para expressar noções relacionadas à quantidade.
O estudo dos quantificadores das línguas naturais é tema de interesse
de diferentes áreas do conhecimento, tendo a filosofia e a lógica, por
exemplo, uma gama de trabalhos clássicos que buscam averiguar o
funcionamento de elementos linguísticos que exprimem quantidade.
Neste trabalho, apresentaremos um estudo de processamento que utilizou
a técnica de ERPs (Event-Related Brain Potentials) para averiguar
as respostas neurobiológicas durante o processamento de sentenças
quantificadas com o numeral reduplicado distributivo sohoji-sohoji na
língua indígena Karajá.
Quantificadores distributivos são responsáveis por uma operação
de mapeamento entre os subeventos e os indivíduos de um enunciado.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1649
Uma leitura distributiva prototípica deveria, portanto, operar sobre
indivíduos e subeventos, sob a condição de diferenciação entre indivíduos
e subeventos mapeados. Como demonstrado no exemplo (1a), para cada
indivíduo x tal que x seja menino haverá um subevento diferente de
comer um peixe.
(1a) Cada menino comeu um peixe.
Menino1 e1
Menino2 e2
Menino3 e3
e = comeu um peixe
Menino4 e4
Menino5 e5
(1b) Os meninos carregaram um piano
Menino1
e1
Menino2
e2
Menino3
e3
Menino4
e4
Menino5
e5
e = carregaram um piano
Contudo, delimitar determinados tipos de eventos parece não
ser uma tarefa trivial e a não diferenciação dos subeventos poderia,
então, resultar em uma leitura coletiva, como no exemplo (1b). Tunstall
(1998), destaca ainda a existência de uma gradiência entre leituras
distributivas e coletivas. Ou seja, haveria uma escala contínua entre
leituras distributivas e coletivas prototípicas em que estariam disponíveis
as leituras intermediárias, que seriam parcialmente distributivas ou
parcialmente coletivas. Essas leituras intermediárias são tratadas por
Kratzer (2003, 2007) como cumulativas.
1650
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
Krifka (1998) e Kratzer (2003, 2007) argumentam a favor da
cumulatividade universal dos itens lexicais simples, embora isso não
garanta, de fato, que o léxico seja cumulativo na sintaxe da língua. Nessa
perspectiva, assumindo que em Karajá itens lexicais sejam cumulativos
também na sintaxe, a leitura cumulativa estaria sempre disponível nessa
língua. Dessa forma, poderíamos especular que o processamento de
uma leitura cumulativa apresentaria menor custo de processamento,
exceto quando há um elemento que delimite o escopo quantificacional
da sentença, como, por exemplo, um operador distributivo. Logo, ao
utilizar um o numeral reduplicado sohoji-sohoji, forçaríamos uma leitura
distributiva para o enunciado, mesmo que outras leituras pudessem ser
acomodadas. Neste viés, duas questões podem ser levantadas em relação
à língua Karajá. (i) Seria possível processar leituras intermediárias
na presença do numeral reduplicado? (ii) O pareamento de leituras
intermediárias com sentenças que apresentem reduplicação numeral
apresentaria maior custo de processamento? Verificamos em um estudo
piloto de descrição de imagens que cenários que continham leituras
intermediárias poderiam ser descritos pelos participantes utilizando o
numeral sohoji-sohoji. Tal fato nos levou a elaborar um experimento
que permitisse verificar se haveria diferenças de processamento entre
as diferentes leituras quando pareadas com o numeral distributivo nessa
língua.
Dessa forma, um experimento de ERPs foi aplicado para
averiguar o processamento do numeral reduplicado sohoji-sohoji em
Karajá. O experimento teve como metodologia um design de pareamento
de imagens e sentenças (picture matching design). Buscamos aferir o
curso do processamento das sentenças apresentadas por meio da captura
dos tempos de reação e das respostas neurobiológicas dos participantes.
Para tal, averiguamos o processamento de sentenças que continham
o numeral reduplicado sohoji-sohoji, após a exposição de cenários
distributivos, coletivos e parcialmente distributivos. Como veremos a
seguir, cumulatividade, distributividade e cardinalidade exercem efeitos
durante o processamento e interpretação de sentenças com sohoji-sohoji
em Karajá. Tais evidências parecem dialogar com teorias vigentes
acerca do processamento quantificacional e da semântica de numerais
distributivos já observados em outras línguas naturais.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1651
2. O numeral reduplicado em Karajá (e outras línguas)
A língua Karajá (família Karajá, tronco Macro-Jê) apresenta
reduplicação numeral para expressar distributividade, conforme pode
ser conferido no exemplo (2) abaixo. A reduplicação numeral traz à
tona dois tipos de leituras distributivas, de acordo com as interpretações
apresentadas em (3).
(2)
weryry
sohoji-sohoji
bola-di
r-e-hu-ra
menino
um-um
bola-posp
3A-VT-arremessar-PST.REC
Lit: ‘Menino um-um arremessou bola-POSP:instrumento’
(3)
a. ‘Menino arremessou bola de um em um’
evento-distributivo
b. ‘Cada menino arremessou (uma) bola’
participante-distributivo
Enquanto a leitura evento-distributiva (3a) implica que cada
indivíduo tenha arremessado a bola em períodos de tempo distintos, a
leitura participante-distributiva (3b) não apresenta essa exigência para a
interpretação da sentença. Por sua vez, uma leitura coletiva parece não
ser permitida, ou seja, uma leitura em que todos os meninos tenham
arremessado ao mesmo tempo uma única bola.
A diferença entre as leituras acima parece ser proveniente da
ambiguidade semântica engatilhada pelo numeral reduplicado sohojisohoji. Um dos objetivos deste trabalho é averiguar se durante o
processamento de sentenças distributivas em Karajá haveria preferência
por alguma das leituras apresentadas em (3) e se uma leitura coletiva seria
imediatamente descartada, dada sua incompatibilidade com a semântica
do numeral distributivo.
A possibilidade de uma leitura participante-distributiva exige
que a operação de distributividade opere sobre individualidades. A
impossibilidade de combinação do numeral reduplicado com nomes
massivos em Karajá, que não permitem a individuação de entidades,
por se tratar de substância, pode ser confirmada pela agramaticalidade
do exemplo (4) abaixo. A sentença (4) demonstra que a substância bèè
(água) é incompatível com a operação de distributividade exercida pelo
operador de sohoji-sohoji.
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1652
(4)
*Tii
bèè
sohoji-sohoji-my
r-e-wy-reri.
3P
água
um-um-POSP
3P-VT-transportar-PRS.CONT
Ele leva água de uma em uma/ Ele leva cada água
A reduplicação numeral como estratégia de operação distributiva
parece ser relativamente comum em diversas línguas. De acordo com
o site WALS,2 das 251 línguas consideradas 85 apresentam a estratégia
de reduplicação numeral para denotar distributividade adnominal. Gil
(1982) mostra também que todas as línguas parecem dispor de recursos
para expressar distributividade adverbial a partir de algum processo de
morfologia numeral. Cabe ressaltar, ainda, que estes estudos abrangem
pouquíssimas línguas indígenas. Inclusive, a língua Karajá, objeto de
estudo deste trabalho, não faz parte do inventário de línguas observado
por estes trabalhos.
Outra língua indígena que apresenta numerais reduplicados
para expressar distributividade é o Karitiana (língua indígena da família
Arikém). Assim como em Karajá, numerais reduplicados em Karitiana
geram diferentes possibilidades de interpretação para uma mesma
sentença conforme exemplificado abaixo em (5). Muller (2012) assume,
a partir de testes sintáticos, que numerais distributivos em Karitiana são
operadores distributivos adverbiais. Para a autora, as duas possibilidades
interpretativas são o resultado da possibilidade de diferentes modos de
individuação dos subeventos na denotação do predicado verbal.
(5)
Õwã
nakakot sypomp.sypomp opokakosypi
menino
quebrou
dois.dois
‘Cada menino quebrou dois ovos’ –
ovo
participante-distributivo
‘Os meninos quebraram dois ovos de cada vez’ – evento-distributivo
Muller (2012, p. 235)
Entretanto, ao analisar a morfologia numeral em Tinglit (família
Na-Dene – Canadá), Cable (2014) propõe que a distribuição numeral
sempre permita que cenários participante-distributivo e evento-
2
World map of languages structures online, acessado em 27 de outubro de 2014.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1653
distributivo sejam licenciados, semelhante ao que encontramos em
Karajá e Karitiana.
Entre outros fatos, eu apresentarei aqui que o local
de posição sintática do numeral distributivo não tem
efeito sobre o tipo de cenário distributivo que a sentença
descreve. Isto é, não importa se o numeral distributivo é
adverbial ou adnominal, a sentença poderá ser verdadeira
tanto para cenários participante-distributivo quanto para
cenários evento-distributivos.3
Cable (2014) então propõe, baseado em um teste de descrição de
cenários, duas denotações semânticas, uma distributiva-adverbial, outra
distributiva-adnominal para a morfologia numeral em Tinglit. Entretanto,
o autor argumenta que ambas as denotações podem gerar tanto leituras
distributivas sobre eventos quanto sobre indivíduos. Portanto, concluise que a ambiguidade gerada por numerais distributivos é recorrente
nas línguas que possuem tal estratégia morfológica para expressar
distributividade em seus enunciados. Com base nos dados levantados,
a ambiguidade dos numerais distributivos não parece ser fruto de
aspectos sintáticos e sim de características semânticas particulares a
esses elementos.
Assim, com o objetivo de averiguar as possíveis diferenças
de processamento entre as leituras possíveis (e impossíveis) para o
numeral reduplicado em Karajá, aplicamos um experimento de EEG
apresentado na seção 4 deste trabalho. Os resultados obtidos podem nos
auxiliar a compreender os mecanismos cognitivos envolvidos durante o
processamento da distribuição numeral. O processamento de sentenças
que apresentam elementos quantificadores mostra-se um procedimento
bastante complexo, uma vez que exige interface entre diferentes
módulos cognitivos, como, por exemplo, o sintático e o quantificacional.
É, portanto, de interesse para a neurociência cognitiva distinguir os
mecanismos neurais subjacentes ao acesso a diferentes aspectos da
“Amongst other facts, I show here that the syntactic attachment site of the distributive
numeral has no effect upon the kind of distributive scenario the sentence describes.
That is, no matter whether the distributive numeral is adverbial or adnominal, the
sentence may be true in either participant-distributive or event-distributive scenarios”
(CABLE, 2014, p. 8)
3
1654
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
memória semântica durante a compreensão das frases (JIANG et al.,
2008).
3. Pressupostos teóricos
Todas as línguas naturais conhecidas até hoje possuem
mecanismos para quantificação de enunciados. Como dito na
introdução, um dos objetivos deste trabalho é compreender a natureza
e o processamento de um dos elementos quantificadores em Karajá,
o numeral reduplicado sohoji-sohoji, a fim de contribuir para o
entendimento de como a quantificação funciona nas línguas naturais e
quais são os princípios básicos que regem estes elementos no âmbito da
faculdade humana da linguagem. A capacidade de quantificar elementos
linguísticos é comumente expressa por meio de operadores chamados
quantificadores que, segundo a definição dada por Lyons (1977, p.
455), são modificadores que, ao se combinarem com nomes, produzem
expressões cuja referência é determinada em função do tamanho do
conjunto de elementos, ou em termos de quantidade da substância que
está sendo referida. Entretanto, já se sabe que há também diferentes tipos
de quantificadores não nominais, como é o caso, por exemplo, de certos
advérbios que expressam quantidade.
A partir de uma perspectiva relacional dos quantificadores,
podemos afirmar que quantificadores denotam relações binárias entre
conjuntos. Os quantificadores parecem ser incumbidos da tarefa de
relacionar dois conjuntos de elementos distintos, no caso, o conjunto de
indivíduos e o conjunto de propriedades. Sob o viés da Semântica Formal,
Heim (1982) define que um quantificador, ao relacionar dois conjuntos
de elementos, forma uma tríade na qual ocupa a posição de operador da
estrutura quantificada, conforme apresentado em (6) abaixo.
(6)
a. Cada macaco comeu uma banana.
b. para
Cadax
operador
tal que [x é um macaco]
sentença restritiva
(∃y) tal que y é
escopo nuclear
uma banana e x comeu y
“Para cada x tal que x é um macaco existe um y tal que y é
uma banana e x comeu y”.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1655
Portanto, do ponto de vista de análises formais, parece cabível
instituir até aqui que quantificadores são operadores que executam a
ação de relacionar dois conjuntos pertencentes a classes aparentemente
distintas. No caso do exemplo (6), o quantificador cada relaciona o
envolvimento dos indivíduos, que pertencem ao conjunto dos macacos,
em subeventos de “comer uma banana”. Nessa área da linguística,
floresceram, principalmente, análises acerca das ambiguidades de
escopo causadas, sobretudo, pela interação entre sintagmas nominais
quantificados.
(7)
Um mecânico consertou cada carro da empresa.
A sentença (7) acima geraria pelo menos duas interpretações
possíveis: (7a) há um (único) mecânico que consertou cada carro da
empresa; (7b) cada carro da empresa foi consertado por um mecânico
(qualquer). Essas duas interpretações podem ser esquematizadas da
seguinte forma:
mecânico(s)
carros da empresa
(7a) c1
m c2
c3
mecânico(s)
carros da empresa
c1
(7b) m1 c2
m2 c3
Sintaticamente, cada interpretação acima é representada por uma
estrutura de LF (Forma Lógica) diferente que será gerada a partir do lugar
de alçamento do sintagma nominal objeto. Logo, para a interpretação de
sentenças com NPs quantificados em posição de objeto se faz necessário
uma estrutura sintática abstrata que servirá de input para a interpretação
semântica de sentenças com este tipo de componente estrutural (MAY,
1977, 1985).
1656
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
A distributividade é uma operação que ocorre, principalmente,
quando o núcleo do sintagma determinante é ocupado por um
quantificador distributivo e combinado com um predicado. O predicado
é, então, entendido como aplicado a cada membro individual do conjunto
quantificado. Logo, a operação de um quantificador distributivo é
mapear subeventos a cada átomo de indivíduos disponível no discurso.
Obviamente, esta é uma definição muito simplória que não dá conta de
uma série de mapeamentos distributivos que envolvem, por exemplo,
ambiguidade de escopo em sentenças duplamente quantificadas.
Entretanto, parece ser uma definição clara e simples o suficiente para
explicar a relação entre DPs que contém quantificadores distributivos e
eventos aos quais são aplicados, como em “cada macaco comeu banana”.
Nesta sentença, “cada” pinça os indivíduos membros do conjunto restritor
{x:x é macaco} sendo o predicado [[comeu banana]] aplicado a cada
indivíduo membro de {x:x é macaco}. Além disso, um quantificador
distributivo acaba por pluralizar o evento da sentença em que ocorrem,
já que numa estrutura distributiva é exigido ao menos dois subeventos
do conjunto de eventos disponíveis, ou seja, exige que a relação R entre
indivíduos e eventos seja maior que 1. Logo, para a sentença (6) acima,
o significado pode ser interpretado da seguinte forma: existe um evento e
e para cada indivíduo m membro de {x:x é macaco} existe um subevento
e’ que é parte de e tal que em e’ m “comeu banana”.
Quantificadores distributivos como cada do português, por
exemplo, distribuem sobre entidades individuais. Portanto, ao serem
aplicados a sintagmas nominais não contáveis, como aqueles ocupados
por nomes massivos do tipo substância, geram sentenças agramaticais,
como ilustrado em (8) abaixo, já que não seria possível individualizar
suas partes, salvo sob processo de coerção ou quando uma unidade de
medida é adjungida ao nome em questão. Em Karajá, o distributivo
sohoji-sohoji exibe o mesmo padrão de comportamento, já esperado
para um quantificador desta natureza, dado a gramaticalidade de (9a) e
a agramaticalidade de (9b).
(8)
*Ele trouxe cada água.
(9a) Tii hãdoroo sohoji-sohoji-my r-e-wy-reri.
3P murici um-um-PosP 3P-VT-transportar-PRS:CONT
‘Ele leva murici de um em um’/ ‘Ele leva cada murici’
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1657
(9b) *Tii bèè sohoji-sohoji-my rewyreri.
3P água um-um-PosP
3P-VT-transportar-PRS:CONT
‘Ele leva água de uma em uma’ / ‘Ele leva cada água’
Quantificadores distributivos também forçam uma leitura
distributiva do evento (subeventos) da sentença em que está inserido.
Portanto, quando combinados a predicados coletivos geram sentenças
agramaticais (DOWTY, 1987). Por exemplo, a sentença (10) abaixo,
exige que o predicado “estar acumulado no canto da sala” seja aplicado
a um conjunto de indivíduos {x:x livros}, com em (10a) e (10b), e não a
membros individuais deste conjunto, dada a agramaticalidade de (10c)
e (10d).
(10a) Os livros estão acumulados no canto da sala.
(10b) Todos os livros estão acumulados no canto da sala.
(10c) *Um livro está acumulado no canto da sala.
(10d) *Cada livro está acumulado no canto da sala.
E, como esperado em predicados tipicamente distributivos,
quantificadores distributivos podem ser aplicados normalmente, como
em (11) abaixo. Da mesma forma, caso um quantificador distributivo não
seja aplicado a uma sentença cujo predicado seja distributivo, ainda assim
um predicado desta natureza forçaria uma leitura do tipo distributivo,
mesmo não contendo um DP composto por um núcleo quantificado por
um elemento distributivo em sua estrutura, como verificado em (12 e
13) abaixo.
(11) Cada menina dormiu.
(12) Todas as meninas dormiram.
(13) As meninas dormiram.
Assim, de acordo com os dados acima, parece que uma leitura
distributiva deve operar não apenas sobre indivíduos > 1, mas também
sobre subeventos >1, tendo, portanto, como condição a diferenciação de
indivíduos e subeventos – embora seja complicado em certos predicados
1658
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
delimitar subeventos. A não diferenciação de subeventos resulta em
uma leitura coletiva. Entretanto, não existem apenas leituras coletivas e
leituras distributivas padrão. De acordo com Tunstall (1998), as estruturas
de evento distributivo-coletivas formam uma escala contínua em que
leituras parcialmente-coletivas e parcialmente-distributivas estão no
centro da escala e as leituras coletivas e completamente distributivas estão
nas extremidades. Kratzer (2003, 2007) trata as leituras intermediárias
desta escala como cumulativas. Seguindo Krifka (1998), Kratzer (2003,
2007) traz o conceito de cumulatividade como ponto crucial para a
denotação de predicados em línguas naturais e argumenta a favor da
propriedade de Cumulatividade Universal dos itens lexicais que pode
ser conferida no trecho a seguir.
Se um predicado lógico-conceitual básico ‘vermelho’, por
exemplo, é verdadeiro para meu chapéu e seu lenço (duas
singularidades), então a Cumulatividade Universal diz que
esse mesmo predicado também é verdadeiro para a soma
de meu chapéu e seu lenço (uma pluralidade).4
Ou seja, em predicados simples, a leitura cumulativa estaria,
portanto, disponível sem maior custo de processamento, por ser uma
propriedade inerente e disponível aos itens lexicais. Entretanto, a
presença de um operador distributivo resultaria em uma preferência
pela leitura distributiva. Ademais, a cumulatividade inerente aos itens
lexicais também explicaria o fato de que uma série de experimentos
apresenta evidências de haver maior custo de processamento durante
a compreensão de predicados quantificados. Isso ocorreria porque a
presença de elementos quantificadores revelaria maior complexidade para
o processamento semântico inicial das sentenças, que seriam cumulativas
por padrão. O experimento de ERPs apresentado na próxima seção parece
apontar nesta direção. Observe abaixo os diagramas abaixo, retirados de
Tunstall (1998, p. 97), que buscam escrutinar as leituras intermediárias
possíveis entre as leituras coletiva e distributiva padrão. Essa escala serviu
para a autora demonstrar que a principal diferença entre a semântica de
“If there is a basic logical-conceptual predicate ‘red’, for example, that is true of my
hat and your scarf (two singularities), then the Cumulativity Universal says that that
very same predicate is also true of the sum of my hat and your scarf (a plurality).”
(KRATZER, 2003, p. 12)
4
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1659
each e every diz respeito à condição de diferenciação, que é mais forte
para each (todo subevento deverá ser distinto) do que para every (ao
menos dois eventos deverão ser distintos).
QUADRO 1 – diagramas de leituras intermediárias de Tunstall (1998)
a.
p1
p1
b.
p2 p2
p3
e
e1
p3
p4 p4
e
e2
p5 p5
coletiva
b.
p1
parcialmente coletiva
e1
p2
p1
b.
e2 p2
e2
p3
e3
p3
e3
p4
e4
p4
e4
p5
e5
e
p5
parcialmente distributiva
distributiva
e1
e
(14) Maria levantou todas as pastas.
Assim, para uma sentença do tipo (14) acima, vamos imaginar o
seguinte cenário: há cinco pastas de documento em cima de uma mesa
tal que Maria levantou todas essas pastas. Nesse cenário, há uma série
de leituras possíveis de acordo com a escala acima exibida. A leitura
(a) – coletiva – prevê que Maria levantou todas as cinco pastas de uma
única vez, ou seja, houve apenas um evento de levantar as pastas. A leitura
(b) – parcialmente coletiva – sugere que as pastas foram levantadas
em pequenos grupos, por exemplo, Maria levantou três pastas e em
1660
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seguida levantou mais duas pastas gerando dois subeventos do evento
de “levantar pastas”, como explícito no gráfico acima. A leitura (c) –
parcialmente distributiva – exige que haja subeventos aplicados a
membros individuais, mas permite concomitamente subeventos coletivos,
como, por exemplo, Maria levantou três pastas uma de cada vez e, depois,
duas pastas ao mesmo tempo, ou seja, quatro subeventos do evento de
“levantar pastas”. Por fim, a leitura (d) – completamente distributiva –
exige que cada pasta seja levantada individualmente gerando, portanto,
cinco subeventos de “levantar pasta”.
Na seção a seguir, averiguaremos, entre outras coisas, se cenários
que apresentam distributividade parcial podem ser pareados com
sentenças que contenham o numeral reduplicado sohoji-sohoji e qual seria
o custo cognitivo deste procedimento. Além disso, buscamos demonstrar
a aceitabilidade (ou não) de diferentes cenários quantificados quando o
participante fosse exposto à uma sentença operada por sohoji-sohoji.
Os resultados off-line e on-line corroboram para a existência de uma
gradiência de aceitabilidade para diferentes leituras distributivas, na qual
cenários completamente distributivos e singulares estão nas extremidades
opostas da escala. Veremos adiante que, embora os resultados de testes
comportamentais tenham elicitado aceitabilidade para os diferentes
cenários apresentados, inclusive aqueles tipicamente não distributivos,
as medidas de tempo (ms) e amplitude (μV) parecem fornecer dados
significativos para a nossa hipótese de que, embora diferentes leituras
possam ser possíveis para o quantificador sohoji-sohoji, a leitura
distributiva padrão é a primeira ativada por sentenças distributivas em
Karajá cujo operador seja sohoji-sohoji, ou seja, a que exige menor custo
cognitivo durante o processamento da sentença.
4. Processamento do numeral reduplicado sohoji-sohoji
Para averiguar as etapas de processamento do numeral reduplicado
sohoji-sohoji, montamos um design experimental que permitiu a
captação de dados on-line e off-line. A tarefa consistia no pareamento
de diferentes cenários controlados, que eram imagens apresentadas na
tela do computador, com sentenças distributivas gravadas em áudio. Este
design é comumente conhecido como pareamento de imagens (picturematching design).
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1661
O objetivo deste experimento 5 foi observar se contextos
distributivos padrão apresentariam diferenças de processamento em
relação a outros contextos quantitativos (parcialmente distributivo,
coletivo, não exaustivo, extra-elemento e unicidade) durante a
compreensão de sentenças com o numeral reduplicado sohoji-sohoji
em Karajá. Isto porque observamos em testagens piloto previamente
averiguadas que cenários não prototípicamente distributivos eram
aceitos pelos participantes como cenários possíveis para sentenças
que continham sohoji-sohoji. Portanto, o presente experimento buscou
averiguar se a aceitação de diferentes cenários quantitativos para
sentenças com sohoji-sohoji seria resultado de um processo reflexivo
envolvendo variáveis independentes como interpretação e acomodação,
posteriores ao parseamento de sentenças, ou se a aceitação de diferentes
cenários permitidos pelo quantificador sohoji-sohoji estaria relacionada
às propriedades semânticas intrínsecas, geradas por este numeral
reduplicado e, portanto, passíveis de serem observadas em um nível mais
reflexo da compreensão de sentenças, chamado de processamento on-line.
4.1 Participantes
Participaram deste experimento 22 sujeitos (16 homens e 6
mulheres), com visão corrigida ou normal, audição normal, destros
(OLDFIELD, 1971), falantes nativos da língua Karajá, habitantes das
aldeias Btõiry ou Hãwalò (Ilha do Bananal, TO). Todos os participantes
declararam não ter ingerido bebida alcoólica ou qualquer outra droga
(i)lícita 24 horas antes do experimento e ter concluído o ciclo básico do
ensino fundamental. A média de idade entre os participantes foi de 26
anos.
4.2 Metodologia e Materiais
O experimento consistia na apresentação da seguinte sequência de
eventos: uma imagem aparecia centralizada em um monitor CRT, seguida
por quatro áudios – correspondentes aos seguimentos um, dois, três e
quatro de uma sentença em Karajá. Todas as sentenças experimentais
O experimento foi realizado em parceria com o laboratório ACESIN (Laboratório
de Acesso Sintático coordenado por Aniela Improta França), referência na área de
neurofisiologia da linguagem no Brasil.
5
1662
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apresentavam a estrutura sujeito-distributivo-locativo-verbo respeitando
o padrão tipológico da língua, como no exemplo (15) abaixo. Após
ouvir aos áudios, a tarefa dos voluntários era decidir se a imagem seria
compatível, ou não, com a sentença ouvida. Este design é conhecido na
psicolinguística experimental por picture-matching ou pareamento de
imagens.
(15) Krukru sohoji-sohoji òra-tyreki
r-y-i-reri.
pássaro um-um tronco-posp
3a-vt-raiz-prs.cont
‘Cada pássaro está no tronco’
Para cada sentença experimental, foram produzidos seis cenários,
a saber, (i) distributivo padrão, (ii) distributivo parcial, (iii) extraelemento, (iv) não exaustivo, (v) coletivo e (vi) unicidade. O cenário
(i) distributivo padrão apresentava a distributividade prototípica. Ou
seja, os elementos dos conjuntos de indivíduos e as subeventualidades
do conjunto de eventualidades6 eram distribuídos em relações de um
por um, de forma que o número de relações entre os conjuntos seja
maior que 2 e que haja diferenciação entre os subeventualidades. O
cenário (ii) distributivo parcial demonstrava falha de cardinalidade
na operação de relacionar indivíduos e eventualidades, uma vez que
a relação de um para um era violada em uma das subeventualidades
apresentadas. Os cenários (iii) extra-elemento e (iv) não exaustivo eram
complementares. No primeiro, havia um elemento do grupo de indivíduos
que não participava da subeventualidade descrita, já no segundo, havia
uma subventualidade que não estava relacionada a nenhum indivíduo
em questão. Esses cenários testaram a propriedade de universalidade/
exaustão de indivíduos e eventualidades, respectivamente. O cenário
(v) coletivo era composto por apenas uma eventualidade para a qual
todos os indivíduos eram aplicados, logo testava se propriedade de
diferenciação entre subeventualidades era exigida por sohoji-sohoji no
curso do processamento. Por fim, o cenário (vi) unicidade contava apenas
Em uma análise que emprega tanto predicados estativos como eventivos, o termo
eventualidade (introduzido por BACH, 1986) é frequentemente utilizado como uma
categorial geral que compreende ambos predicados. ‘In analyses employing both states
and events, the term eventuality (introduced by BACH, 1986) is often used for the
general category covering both’ (LASERSOHN, 2006).
6
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1663
com um átomo do grupo de indivíduos que, por sua vez, participava
de uma única eventualidade, portanto, testava se um contexto singular
era imediatamente descartado durante o processamento do numeral
distributivo. Por exemplo, no quadro (2) abaixo podemos conferir os
seis cenários gerados para a sentença (15). As imagens foram produzidas
tendo como referência o banco de imagens produzidos por desenhistas
Karajá no âmbito do projeto PRODOCLIN|Karajá. 7 Cada imagem
foi desenhada com lápis HB em folha A4 e digitalizada por meio de
equipamento scanner em 300-bpi. A partir digitalizações, os cenários
foram montados com o auxílio do software Keynote para Mac OS e
exportados em formato JPG.
QUADRO 2 – Exemplos de cenários para as condições experimentais
Sentença: Kruku sohoji-sohoji orà-tyreki ryireri. ‘Cada pássaro está no tronco’
O experimento foi programado no software E-prime (Psychology
Software Tools, Inc. – PST), plataforma comumente utilizada para
apresentação de estímulos linguísticos com acoplamento de EEG
monitorado pelo software PyCorder (Brain Vision LLC). Foram
elaboradas seis versões do experimento em formato de quadrado latino, de
Projeto de Documentação da Língua e Cultura Karajá, parte do Programa de
Documentação de Línguas Indígenas do Museu do Índio (FUNAI), apoiado pela
UNESCO.
7
1664
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
maneira que nenhum participante viu as mesmas sentenças experimentais,
porém todos os participantes viram todas as condições experimentais a
partir de diferentes sentenças.
As listas foram apresentadas tanto na ordem normal como
inversa, para evitar efeitos de ordem de lista em cada versão. A partir da
criação das versões experimentais distribuídas entre sujeitos – design de
quadrado latino – é possível garantir que um mesmo sujeito nunca veja as
mesmas sentenças, mas seja exposto a sentenças de todas as condições.
Ao todo, para este experimento, seis listas/versões foram programadas
de acordo com a distribuição dos materiais experimentais em formato de
quadrado latino. Este protocolo experimental é importante para inibir que
fatores extralinguísticos como memória, por exemplo, atuem de modo a
interferir no processo de compreensão de sentenças. A distribuição dos
materiais entre os participantes também auxilia para que os dados obtidos
sejam mais robustos, uma vez que a análise entre sujeitos dilui fatores
subjetivos relativos aos indivíduos. Além disso, os estímulos foram
pseudo-randomizados dentro de cada lista de cada versão, seguindo as
seguintes restrições: (i) estímulos experimentais foram separados por,
pelo menos, um item distrator; (ii) nenhuma sentença experimental foi
seguida por outra da mesma condição.
Formam o conjunto total de materiais deste experimento 48
sentenças experimentais acrescidas de 48 distratoras gravadas em áudio
e 336 imagens digitalizadas e tratadas. Os áudios foram traduzidos do
português para o Karajá em conjunto com dois professores de língua
Karajá, conferidos por um terceiro falante, e, finalmente, gravados por
um consultora Karajá. Cada sentença experimental era formada por
quatro segmentos, respeitando-se o padrão de ordem vocabular da língua
Karajá, conforme anteriormente mencionado, e descrito de forma mais
detalhada no exemplo (16) abaixo:
(16) Kruku
passarinho
sujeito
seg1
sohoji-sohoji
um-um
distributivo
seg2
òra-tyreki
r-y-i-reri
tronco-em COP
locativo
verbo
seg3
seg4
Aos participantes, cabia a tarefa de observar a imagem e ouvir a
sentença a que seria exposto por meio de monitor acoplado simultaneamente
a um computador PC e a um aparelho de eletroencefalografia. Ao fim
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1665
de cada par <imagem,som>, a tarefa era avaliar se os materiais eram
compatíveis entre si ou não. Para isso, os participantes utilizaram um
teclado em que havia duas teclas disponíveis destacadas pelas cores
verde e vermelho. Caso o participante julgasse que a sentença ouvida era
compatível com a imagem anteriormente vista, apertava a tecla verde. Se
julgasse que a sentença era incompatível com a imagem vista, apertava
a tecla vermelha.
FIGURA 1 – Sequência de telas apresentadas aos participantes
durante experimento de EEG
Conforme ilustrado pela figura (1) acima, a apresentação do
conjunto de estímulos começava com uma cruz de fixação no centro da tela
por 500ms, seguida pela imagem/cenário experimental por 1500ms. Em
seguida, os quatro segmentos em áudio eram apresentados. Os segmentos
foram controlados de modo a apresentarem um tamanho médio de
1500ms cada. O tempo total entre os segmentos foi de aproximadamente
6000ms. Após ouvida a sentença, havia uma pausa de 250ms, seguida da
tela de resposta, que tinha um time-out de 2000ms, ou seja, mesmo que
o participante não apertasse nenhum dos botões de resposta, após dois
segundos um novo conjunto de dados seria apresentado. Ao final de cada
sequência experimental, uma tela em branco de 1000ms era apresentada
antes de passar para um novo conjunto de dados <imagem, sentença>.
A fim de responder se havia ou não compatibilidade entre figura e
sentença, os voluntários foram orientados a apertarem um dos dois botões
disponíveis para resposta. Os botões de resposta foram balanceados entre
os participantes (direita/esquerda) a fim de evitar efeito de lateralidade,
1666
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
ou seja, impedir que aqueles que já associassem o certo com o lado
direito se beneficiassem dessa associação e vice-versa. Os tempos de
resposta foram registrados pelo software E-prime (Psychology Software
Tools, Inc.).
Os sinais de EEG foram gravados continuamente pelo software
PyCorder (Brain Vision LLC) a partir de um sistema de 64 eletrodos
acoplados em uma touca plástica (Brain Products GmbH) em acordo
com o sistema 10-20 estendido (GOMES, 2014). Os eletrodos foram
alocados em acordo com o padrão internacional (International System
Locations), incluindo cinco eletrodos ao longo da linha média (FPz, Fz,
Cz, Pz e Oz) e dezesseis canais lateral/temporal, oito em cada hemisfério
do cérebro (FP1/ FP2, F3/ F4, F7/ F8, C3/ C4, T3/ T4, T7/ T8, P3/ P4,
e P7/ P8). Além disso, outros quarenta e três canais do sistema 10-20
estendido foram utilizados (AF3/ AF4, F1/ F2, F5/ F6, FC1/ FC2, FC3/
FC4, FC5/ FC6, FT7/ FT8, C1/ C2, C5/ C6, CP1/ CP2, CP3/ CP4, CP5/
CP6, TP7/ TP8, P1/ P2, P5/ P6, P7/ P8, PO3/ PO4, PO5/ PO6, PO7/
PO8, CB1/ CB2 e O1/ O2).
Os eletrodos foram referenciados on-line pelo eletrodo terra,
localizado na região frontal, e posteriormente re-referenciados pela média
dos canais mastoides (TP9/TP10 – esquerdo/direito). As impedâncias
foram mantidas abaixo de 10 kΩ. O EEG foi amplificado e digitalizado
em uma frequência de 1000Hz. Depois de gravados, a frequência de
amostragem dos dados foi mantida em 500Hz e foram utilizados os filtros
de passa-baixa de 30Hz e de passa-alta de 0.1Hz., metodologia utilizada
pelo laboratório ACESIN em acordo com os padrões internacionais de
pesquisas na área (TANNER et al., 2016). Posteriormente, foram geradas
médias – averages – de ERPs para cada sujeito por eletrodo em épocas
abrangendo entre 200ms e 1200ms em relação ao onset do estímulo alvo.
As épocas caracterizadas por piscadas ou movimento muscular excessivo
foram automaticamente rejeitadas pelo Software Vision Analyzer (Brain
Products GmbH), programa utilizado para filtragem e promediação dos
dados gravados.
A extração de ERPs (potenciais bioelétricos relacionados a
eventos) é um instrumento de avaliação cognitiva eletromagnético cuja
aplicação se estende às pesquisas linguísticas no campo da neurociência
da linguagem desde os anos 1980, tendo sido desenvolvido a partir do
eletroencefalograma (EEG) inventado pelo psiquiatra alemão Hans Berger
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1667
e utilizado em humanos desde 1929.8 A técnica de ERP é considerada
muito apurada pois registra com uma precisão de milissegundos respostas
do sistema nervoso central à estimulação motora ou sensorial sendo,
assim, considerado uma técnica de medição on-line. O EEG fornece
uma amostragem temporal contínua da atividade elétrica do cérebro.
Tal amostragem pode estar relacionada a diferentes tipos de fenômenos
linguísticos e é monitorada, com auxílio de software específico para este
fim, por um aparelho de EEG acoplado a um computador que expõe
os participantes do experimento a uma determinada tarefa linguística
pré-estabelecida pelo pesquisador linguista. Após a aquisição dos sinais
elétricos produzidos no córtex e monitorados pelo EEG, se faz necessário
o tratamento (aplicação de filtros) dos mesmos para que possa ser possível
analisar os dados obtidos (GESUALDI; FRANÇA, 2011). A filtragem é,
portanto, uma parte essencial e indissociável da pesquisa de ERP.
Os ERPs são compostos por uma sequência de ondas
caracterizadas por sua latência, amplitude e polaridade.
O ERP geralmente apresenta valor instantâneo de 10 a
1000 vezes menor do que o EEG de fundo e por isso não
pode ser visualizado. Para que possa haver a visualização
é necessário realizar média de várias épocas. 9 Este
procedimento se justifica por assumir-se o EEG espontâneo
como um ruído branco gaussiano de média zero e os ERPs
como as únicas respostas que são realmente sincronizadas
com o estímulo. Deste modo, o efeito da promediação é
aumentar a relação sinal/ruído (SNR), assim permitindo
a visualização do efeito específico do estímulo, no caso,
linguístico. (MARQUES, 2011, p. 30)
Assim, a promediação é um tratamento matemático dos dados
utilizado para consolidar a média de um mesmo trecho, em torno de
Assim como os métodos utilizados na psicolinguística experimental, a técnica de ERP
é igualmente não-invasiva permitindo, dessa forma, sua utilização em diversas pesquisas
sobre cognição e linguagem em diferentes grupos humanos, de diferentes faixas etárias,
com ou sem patologias e sem prejuízo ou desgaste para o participante do experimento.
Para realizar a técnica, basta servir-se dos equipamentos e softwares necessários para
a aferição, tratamento e estatísticas dos componentes que se deseje averiguar.
9
Épocas ou eventos são janelas de trabalho no contínuo temporal do EEG demarcadas
para estudo.
8
1668
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
um determinado momento acoplado no tempo, para todos os estímulos
averiguados. Esse tratamento tem o intuito de excluir ruídos aleatórios
concorrentes ao sinal relacionado ao evento estudado, como, por exemplo,
aqueles oriundos de movimentos musculares, piscar de olhos, interferência
elétrica causada por algum equipamento na sala de testagem etc. Sendo
o ruído aleatório, a média obtida após a promediação tenderia a zero.
Portanto, ao final desta operação de “limpeza” emergiria apenas o sinal
relacionado ao evento linguístico averiguado. Ou seja, uma grande média
(ou média abrangente) das janelas de evento vinculadas ao tempo de
exibição dos estímulos elaborados para esta investigação (LAGE, 2005).
O componente N400 foi descoberto por Kutas e Hillyard no
final da década de 70. Os pesquisadores elaboraram um experimento
buscando elicitar o componente P3 (já amplamente averiguado na época
para reconhecimento de palavras) investigando o papel do contexto no
reconhecimento de palavras em sentenças como “eyebrows” em “He
shaved off his mustache and eyebrows.” (Ele barbeou o bigode e a
sobrancelha dele). Os resultados demostraram um pequeno componente
negativo ao invés de positivo como inicialmente esperado. A fim de
observar mais claramente esse efeito, os autores aplicaram um novo
experimento com sentenças que continham uma palavra que em vez de
ser não esperada pelo contexto era semanticamente anômala. Sentenças
como “He shaved off his mustache and city” (Ele barbeou o bigode e
a cidade dele) e “I take my coffee with cream and dog” (Eu tomei meu
café com creme e cachorro). Nesse segundo experimento, o efeito de
negatividade foi mais explicito uma vez que o mesmo elicitou picos de
polaridade negativa bem altos em torno de 400ms no curso do tempo
de apresentação da palavra (KUTAS; HILLYARD, 1980). Desde então,
este tem sido o componente mais estudado na área da linguagem sendo
relacionado principalmente ao conteúdo semântico das palavras per
se e às teorias de acesso lexical já que parece fornecer pistas sobre
o armazenamento de palavras (FRANÇA et al., 2008). No Brasil, o
estudo do componente N400 foi averiguado pioneiramente na tese de
doutoramento da professora Aniela Improta França (FRANÇA, 2002)
intitulada Concatenações linguísticas: um estudo de diferentes módulos
cognitivos na aquisição e no córtex. Topograficamente, o N400 tende a
apresentar maior ativação na região central e parietal esquerda do cérebro.
Outro componente estudado pela neurociência da linguagem, o
P600, foi mais recentemente elicitado por Osterhout e Holcomb (1992) e
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desde então tem sido relacionado a anomalias e incongruências sintáticas
podendo ser elicitado, por exemplo, em sentenças do tipo *The broker
persuaded to sell the stock (O corretor convenceu a vender o estoque.),
em contraste com sentenças bem formadas como The broker hoped to
sell the stock (O corretor esperava vender o estoque.). Gouvea et al.
(1995) também encontraram evidências de alta amplitude no componente
P600 para sentenças que geram análises temporariamente incorretas
(conhecidas na área da psicolinguística como sentenças garden path).
O P600 também já foi elicitado em anomalias não linguísticas em áreas
como música (PATEL et al., 1998) e matemática (MARTÍN-LOECHES
et al., 2006). Na área da linguagem, além de violações sentenciais, o
componente de P600 parece refletir também violações sintagmáticas
como, por exemplo, violações de concordância de número, tempo, gênero
e caso, conforme mencionado por Gouvea et al. (1995) e investigado
por Gomes (2014), Gomes e França (2015) e Gomes e França (2013). A
positividade tardia (Late Positive Component ou Late Positive Complex)
já foi elicitada também em estudos sobre quantificação de enunciados
(JIANG et al., 2009; KAAN et al., 2007), o que parece evidenciar que
sentenças quantificadas apresentam processamento mais complexo, pois
os efeitos de incongruência quantificacional são capturados em momento
posterior ao de outros fenônemos da linguagem já averiguados. Kim e
Osterhout (2005) avaliam que esse componente pode ser observado em
itens cuja incroguência semântica pode levar a uma reanálise sintática.
Para as análises apresentadas a seguir, componentes de interesse
N400 e P600 foram inspecionados visualmente e tiveram seus picos
registrados automaticamente pelo Vision Analyzer. Para cada um
dos canais, foram capturados o pico de amplitude e a voltagem dos
componentes de interesse em todos os segmentos e condições. O
componente N400 foi inspecionado dentro de uma janela de 350-550ms
(capturando ampla negatividade) e o componente P600 foi inspecionado
dentro de uma janela de 550-800ms (capturando ampla positividade) após
o onset do estímulo alvo. Grandes médias – Grand-averages – foram
formadas pela promediação das médias dos ERPs de interesse de cada
participante.
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FIGURA 2 – Regiões de interesse baseadas em proximidade anatômica
As medidas dependentes, isto é, a amplitude e latência dos
componentes N400 e P600 foram analisadas a partir de análise de
variância (ANOVA) e testes paramétricos (Teste-T). As ANOVAS foram
aplicadas entre os fatores Condição (distributiva, distributiva parcial,
coletiva, extra-elemento, não exaustiva e unicidade), Lateralidade
(hemisfério esquerdo, direito e linha média) e Anterioridade (região
frontal, central, parietal e occipital). Os testes paramétricos foram
realizados para averiguação de diferença significativa entre a condição
distributiva padrão e as demais condições experimentais. Portanto,
realizamos quatro análises distintas a partir dos dados de ERPs obtidos:
i. ANOVA das amplitudes dos picos das ondas para o componente
N400 por condição, lateralidade e anterioridade. Teste-t contrastando
as médias obtidas com as da condição padrão distributiva.
ii. ANOVA das amplitudes dos picos das ondas para o componente
P600 por condição, lateralidade e anterioridade. Teste-t contrastando
as médias obtidas com as da condição padrão distributiva.
A estatísticas baseadas nos componentes N400 e P600 são as
medidas mais discutidas na literatura de neurociência da linguagem
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sendo, assim, o melhor ponto de partida para um experimento desta
natureza. Além disso, trabalhos que averiguaram diferentes aspectos da
quantificação de enunciados elicitaram N400 em sentenças quantificadas,
evidenciando um custo de processamento inicial maior para enunciados
que envolvem procedimentos como contagem e individuação
(CHIARELLI et al., 2011). Também verificamos efeitos de positividade
tardia, interpretada por Jiang, Tan e Zhou (2009) como um esforço de
integração de elementos quantificadores em sentenças que apresentem
inadequação quantificacional. Portanto, para as análises apresentadas
a seguir, extraímos a amplitude dos picos de N400 e P600 em todas as
condições experimentais a partir das grandes médias dos segmentos 2 e
3 das sentenças manipuladas.
4.3 Dados Comportamentais
A análise realizada por meio de test-t dos tempos de reação (RT
– em milésimos de segundos) obtidos dos participantes nos permitiu
observar quais condições apresentaram maior tempo médio de decisão em
relação à condição distributiva padrão. Os resultados obtidos apontam que
apenas a condição unicidade (t = -2.585, df = 21.182, p-value = 0.0172)
elicitou RTs significativamente maiores que a condição distributiva, o
que sugere maior custo cognitivo para a decisão dessa condição. Esta
análise dos RTs brutos nos mostra que o cenário unicidade foi o que
causou maior estranhamento durante a tarefa de pareamento com uma
sentença que continha o numeral distributivo sohoji-sohoji. As outras
condições não apresentaram diferenças significativas, conforme pode
ser conferido no gráfico (1) abaixo.
1672
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
GRÁFICO 1 – RT bruto por condição experimental
De uma forma geral, observa-se uma tendência em aceitar todas as
condições como cenários compatíveis para sentenças com sohoji-sohoji,
conforme o gráfico 2 abaixo. Entretanto, após a realização de testes de
chi-quadrado para cada condição, observou-se que apenas as condições
distributiva (X-squared = 99.5986, df = NA, p-value = 0.0004998) e
unicidade (X-squared = 6.4497, df = NA, p-value = 0.02249) apresentaram
uma diferença significativa entre as respostas “sim” e “não”. O fato da
condição distributiva apresentar o maior indíce de aceitação confirma que
este é o melhor cenário para as sentenças experimentais averiguadas. A
aceitação da condição unidade parece ser resultado de uma tentativa de
leitura cardinal do numeral reduplicado, pois como veremos nos dados
bioelétricos, essa condição foi a que obteve maior custo cognitivo durante
o processamento. Embora as outras condições não tenham capturado um
efeito significativo neste teste (p > 0.05), observamos que medidas mais
reflexas, como os RTs e os potenciais bioelétricos parecem revelar que há
diferenças de processamento entre as diferentes condições averiguadas
e a condição distributiva padrão. O time-out programado para 2000ms
gerou alguns itens “sem resposta” que foram excluídos das análises.
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GRÁFICO 2 – Índices de resposta por condição
Como em todas as condições obtivemos maiores índices para
as respostas “sim”, aplicamos novamente o teste t entre condições
para verificar os RTs apenas dos cenários aceitos pelos participantes,
excluindo os cenários julgados como não compatíveis. As condições
distributiva parcial e unicidade mantiveram-se com as médias mais
altas, neste caso ambas apresentaram diferenças significativas. Entretanto,
as condições não exaustiva e extra elemento também obtiveram tempos
significativamente mais altos. A condição coletiva não apresentou
diferença de RT significativa quando aceita pelo falante, neste caso a
média foi estatisticamente semelhante a da condição distributiva padrão.
Os p-valores e médias podem ser conferidos no gráfico 3 abaixo.
GRÁFICO 3 – RT dos pareamentos aceitos por condição experimental
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Esses resultados evidenciam a importância dos dados
cronométricos para nossa análise, pois os índices de aceitabilidade não
mostraram ser um fator decisivo dentre todos os cenários apresentados.
Além disso, embora a condição desviante unicidade tenha sido aceita
como cenário válido para a sentença experimental, a análise dos
RTs evidenciam que essa aceitabilidade foi efetuada em um tempo
significativamente maior que para a condição distributiva padrão. Sem a
análise dos tempos de decisão em milissegundos também seria impossível
capturar a distinção significativa entre as demais condições experimentais
observadas, já que a aceitabilidade se manteve constante para todos
os cenários. Entretanto, a partir dos RTs ainda não conseguimos obter
evidências de que haja diferença de processamento entre as condições
não-exaustiva e extra-elemento, nem capturar se há esforço cognitivo
maior para aceitar a condição, como esperado.
Os resultados comportamentais apresentados nesta seção foram
capturados após o processamento das sentenças, ou seja, de maneira
off-line. Para análise de dados on-line, capturamos também as respostas
eletrofisiológicas obtidas através da técnica de extração de ERPs. Esta
técnica teve como finalidade observar o processamento das sentenças
experimentais de momento a momento durante o curso temporal de
compreensão e pareamento das sentenças. Os resultados obtidos a partir
dessa metodologia serão apresentados na próxima subseção e apontarão
novas reflexões no que concerne a compreensão do processamento do
distributivo sohoji-sohoji e revelarão dados interessantes sobre como se
dá a aceitabilidade dos diferentes cenários averiguados.
4.4 Dados de ERP
Para a análise estatística, utilizamos primeiro o modelo three-way
ANOVA (within subjects) que incluiu os fatores condição, lateralidade e
ROI, com correção dos valores apresentados (Greenhouse-Geisser). Após
tratamento dos dados elicitados, observamos que o componente N400
apresentou efeito principal significativo para o fator condição (F(5,25) =
7.56 p<0.0000003) já no segundo segmento das sentenças experimentais,
correspondente ao numeral reduplicado sohoji-sohoji. Por outro lado, o
componente P600 elicitou efeito principal para o fator condição (F(5,25)
= 14.7 p<0.0017565) apenas no segmento 3, correspondente ao sintagma
posposicionado (PP) locativo. Não foram encontrados efeitos principais
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para os fatores ROI (F(11,55) = 1.19 p<0.3472345) ou lateralidade
(F(2,10) = 1.90 p<0.2238272) no componente P600 nem para os fatores
ROI (F(11,55) = 1.41 p<0.195080 p<0.2820406) ou lateralidade (F(2,10)
= 2.55 p<0.1680510) no componente N400. Tampouco encontramos
interação entre entre os fatores mencionados. Assim, parece que apenas o
fator condição parece influenciar, de fato, as análises entre os resultados
obtidos. Por isso, optamos por realizar uma análise incluindo todos as
ROIs para esse artigo. Futuramente, outras análises poderão ser realizadas
para confirmar as tendências aqui apresentadas.
Posteriormente, foi aplicado um teste t que contrastou a condição
distributiva padrão com as outras condições experimentais. Abaixo
apresentamos os resultados encontrados para as medidas de amplitude10
(µV) dos dados de ERPs das Grandes Médias para os componentes
N400 e P600.
4.4.1 Componente N400 – negatividade após onset de sohoji-sohoji
O componente N400, averiguado após o início do segmento que
continha o numeral reduplicado sohoji-sohiji, apresentou resultados
significativos ao comparar a condição distributiva padrão (-13 μV) com
a condição não exaustiva (-7 μV, t(120)=2.56 p< 0.0117), coletiva
(-6 μV, t(120)=4.88 p< 0.0001) e extra elemento (-4 μV, t(120)=6.13 p<
0.0001). As condições unicidade e distributiva parcial não apresentaram
diferenças significativas.
GRÁFICO 4 – Médias de amplitude do componente N400 por condição
10
Média dos picos de amplitude dos componentes em microvolts por condição.
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4.4.2 Componente P600 – positividade tardia após o onset do PP locativo
O componente P600, averiguado após o início do segmento que
continha o PP locativo da eventualidade, elicitou diferença significativa
entre as condições unicidade (18 μV, t(118)=17.75 p< 0.0001),
distributiva parcial (9 μV, t(118)=4.91 p< 0.0001), não exaustiva
(8 μV, t(118)=4.17 p< 0.0001) e coletiva (6 μV, t(118)=2.67 p< 0.0085)
ao compararmos com a condição distributiva padrão (3 μV).
GRÁFICO 5 – Médias de amplitude do componente P600 por condição
4.5 Discussão dos resultados e análises
Este experimento teve como fio condutor a busca por uma
compreensão microscópica do processamento do distributivo sohojisohoji. Para este experimento utilizamos contextos previamente
elaborados que foram fornecidos por meio de imagens controladas por
design específico, como descrito no início desta seção. A metodologia
utilizada possibilitou as análises dos dados eletrofisiológicos capturados
pelo EEG durante o processamento das sentenças, medida on-line, que
refletiriam o custo cognitivo durante o processamento das sentenças ao
serem pareadas com diferentes cenários quantitativos. Os dados foram
então filtrados para a extração e análise das amplitudes (μV) capturadas
a partir da delimitação dos componentes N400 (janela de tempo de 250500 ms) e P600 (janela de tempo de 550-800 ms). Os resultados obtidos
apontam que a aceitabilidade de diferentes condições experimentais em
dados comportamentais não reflete o custo cognitivo para o pareamento
entre os diferentes cenários apresentados e o numeral reduplicado
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sohoji-sohoji, uma vez que os participantes tenderam a aceitar todas as
condições. Porém, houve uma tendência de tempos de reação (RTs) mais
lentos para cenários desviantes do padrão distributivo, a saber, aqueles
que permitiam leituras distributivas intermediárias e não pluralizadas.
Portanto, os resultados parecem confirmar a hipótese previamente
levantada de que o processamento de leituras cumulativas, apesar de
possível, seria mais custoso do que sentenças não cumulativas quando
há a presenta de um elemento que delimite o escopo quantificacional,
neste caso o numeral reduplicado sohoji-sohoji. Como discutido abaixo,
os dados on-line sugerem que as propriedades de cumulatividade,
distributividade e cardinalidade exercem efeitos durante o processamento
de sentenças com sohoji-sohoji em Karajá. Essas evidências parecem
dialogar com teorias vigentes acerca do processamento quantificacional
e da semântica de numerais distributivos já observados em outras línguas
naturais.
No que diz respeito aos dados de amplitude dos ERPs, observouse que o componente N400 elicitou amplitudes mais baixas para as
condições coletiva e extra-elemento no segmento 2, correspondente
ao numeral reduplicado sohoji-sohoji. Já o componente P600 elicitou
amplitudes mais altas para as condições não exaustiva, coletiva,
distributiva parcial e unicidade no segmento 3, correspondente ao
PP locativo. Esses resultados parecem refletir o custo cognitivo de
processamento do numeral reduplicado frente aos diferentes cenários
apresentados durante o experimento. O componente N400 revela que
o cenário distributivo prototípico, aquele que temos um indivívuo para
cada eventualidade, apresenta a maior média de amplitude, seguido
pela condição distributiva parcial. Tal evidência parece indicar que
o processamento de sohoji-sohoji engajaria o sistema cognitivo dos
indivíduos em uma operação distributiva, que exige maior custo de
processamento em nível reflexo. Já para a medida P600, registrada
no segmento locativo que segue sohoji-sohoji, observamos que as
condições que infrigem a leitura do tipo evento-distributivo são aquelas
que apresentam maiores amplitudes, revelando que é após o início do
procedimento de pareamento do elemento contido na eventualidade
que emergem medidas que revelariam quais propriedades seriam mais
facilmente processadas em sentenças com numeral distributivo.
A condição unicidade foi a que elicitou médias mais altas tanto
no componente P600 (18 μV) quanto nos dados comportamentais brutos
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(557 ms) e filtrados por aceitabilidade (568 ms). O que sugere que o
numeral reduplicado realmente exige a pluralização do enunciado, no que
diz respeito as relações estabelecidas pelos indivíduos e eventualidades
disponíveis, em acordo com o que é esperado por elementos distributivos.
A condição distributiva parcial também apresentou uma média
de amplitude alta para o componente P600 (9 μV) e também foi a segunda
medida mais alta dos tempos de reação filtrados por aceitabilidade
(540 ms). Estes resultados indicam que leituras intermediárias, apesar
de aceitas, apresentam grande custo de processamento. Neste caso,
como sohoji-sohoji é formado a partir da reduplicação do numeral um
também podemos analisar estes resultados como provenientes da falha
de cardinalidade numeral apresentada pelo cenário apresentado, ou seja,
um problema na operação de contagem.
A condição não exaustiva elicitou o componente P600 (8 μV)
e tempos de reação filtrados por aceitabilidade (502 ms) significativos.
Nesta condição, um elemento da eventualidade não estava em uma relação
R com nenhum indivíduo do cenário. O custo elevado de processamento
parece evidenciar que a interpretação de sentenças com sohoji-sohoji
exige que os subeventos do cenários opere preferencialmente sob o
escopo de um quantificador universal.
A condição coletiva apesar de elicitar o componente P600
(6 μV) apresentou médias mais baixas que as outras condições acima
mencionadas. Além disso, não foi capturado nenhum efeito nos dados
comportamentais. Acreditamos que esse efeito obtido nesta condição
poderia ter sido potencializado se fossem averiguados eventos com verbos
transitivos que permitissem uma leitura coletiva do evento e não apenas
do locativo. Essa hipótese é suportada pelo fato de que nas sentenças
averiguadas os participantes aceitaram sem maiores custos cognitivos o
cenário coletivo apresentado após o processamento completo da sentença,
uma vez que não encontramos efeitos significativos nos RTs.
A condição extra elemento não obteve diferenças significativas
no componente de P600, ou seja, um cenário em que um indivíduo não
participe do evento em distribuição não afetou a amplitude positiva
averiguada (4 μV). Entretanto, nos resultados comportamentais filtrados
por acurácia (519 ms) esta condição apresentou resultados significativos.
Esses resultados indicam que em um nível mais reflexo, on-line, a
universalidade sobre eventos é menos custosa do que a universalidade
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sobre indivíduos durante a operação de distributividade de sohoji-sohoji.
A diferença encontrada no RT pode ter sido efeito de uma reinterpretação
pós-processamento sentencial.
Em relação aos resultados significativos encontrados no
componente N400 para as condições extra elemento (-4 μV), não
exaustiva (-7 μV) e coletiva (-6 μV), uma proposta é a de que nestas
condições há uma demora maior para o engajamento do sistema de
memória em computar a distributividade, pois médias mais baixas
refletem menor esforço cognitivo. É, portanto, adequado propor que
esses resultados refletem que as incompatibilidades semânticas de
universalidade e diferenciação presentes nesses cenários levaria o
sistema cognitivo a inicialmente não se engajar na verificação de
compatibilidade de tais cenários, procrastinando a verificação para
um momento posterior do processamento, conforme verificado pelos
resultados obtidos no componente P600 e nos dados comprtamentais.
A negatividade elicitada pelo componente N400 para as condições
distributiva padrão (-13 μV) e distributiva parcial (-11 μV) parece ser
resultante do efeito de incrementacionalidade dos quantificadores, que
seriam interpretados em estágios, assim como acontece com a negação
(URBACH; KUTAS, 2010; e URBACH; DELONG; KUTAS, 2015).
Logo, a resposta neurofisiológica obtida por medidas de amplitude
mais altas para condições distributivas do teste, em um momento
inicial do processamento da sentença, refletiria que o participante está
engajado no procedimento de uma operação de maior custo cognitivo,
no caso, o procedimento da verificação de distributividade numeral.
Já a negatividade elicitada para a condição unicidade (-9 μV) pode
ser consequência da implausabilidade semântica em se comparar um
cenário não pluralizado com uma sentença distributiva, o que geraria
uma resposta neurofisiológica do participante que refletiria o susto em
processar uma sentença operada por um numeral distributivo após ser
exposto a cenário singular, que deveria ser imediatamente descartado.
5. Considerações finais
Este trabalho procurou demonstrar como a disponibilidade
de técnicas cada vez mais sensíveis para averiguar como o estudo
do processamento da linguagem pode enriquecer as pesquisas de
campo tradicionais e análises formais da linguagem. Nesta perspectiva
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transdisciplinar, o experimento de EEG para a extração ERPs teve
como objetivo averiguar como os participantes processariam sentenças
distributivas com o numeral reduplicado sohoji-sohoji quando expostos a
cenários que apresentavam leituras intermediárias, não prototipicamente
distributivas.
Nossos resultados demonstram que os componentes N400 e
P600 foram elicitados quando houve incompatibilidades entre cenário
e sentença. A reanálise de condições que violavam a pluralidade,
cardinalidade, diferenciação ou exaustividade, foi capturada por
uma ampla positividade no componente P600, elicitada a partir dos
elementos que ocorriam como sintagmas locativos dos eventos. Em
um momento anterior, capturamos um efeito de ampla negatividade no
componente N400 em condições que engajavam os participantes em um
procedimento quantitativo (distributiva padrão e distributiva parcial) ou
que descartavam de imediato a plausibilidade entre o cenário investigado
e a sentença distributiva (unicidade).
Esses resultados complementam aqueles encontrados nas
medidas cronométricas off-line que apontam que sohoji-sohoji poderia
ou atuar como um quantificador ambíguo, permitindo que mais de uma
leitura seja licenciada para a sentença (leituras evento-distributiva ou
participante-distributiva) ou licenciaria diferentes cenários de verificação
para a mesma leitura, em uma perspectiva próxima àquela proposta por
Cable (2014) que propõe uma denotação semântica capaz de dar conta
dos diferentes cenários de verificação inerentes aos quantificadores
distributivos em Tiglit cuja resolução dependerá, sobretudo, do contexto
fornecido.
Além disso, se levarmos em consideração a proposta de Choe
(1987), de que o operador distributivo é um quantificador universal
que tem um conjunto em restrição e um conjunto em escopo, podemos
considerar que o numeral reduplicado sohoji-sohoji como default
colocaria a eventualidade no conjunto em restrição, ou seja, a leitura
evento-distributiva seria menos custosa. Isto porque é aos membros do
conjunto de eventualidades que o operador universal (∀) deveria ser
aplicado. Ou seja, a não exaustividade dos elementos da eventualidade
da sentença seria a leitura que apresentaria maior custo cognitivo
porque necessita de reanálise, conforme foi constatado nos dados
neurofisiológicos.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1681
A distributividade é um conhecimento que faz parte da cognição
humana e é encontrada em diferentes línguas naturais por meio de diversos
mecanismos morfológicos e sintáticos. Esperamos que este trabalho possa
dar visibilidade para o fenômeno de distributividade numeral encontrado
nas línguas ameríndias que podem conter propriedades relevantes para
o estudo das áreas pertinentes à linguística e, por conseguinte, para o
conhecimento da faculdade da linguagem humana.
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The processing of the reduplicated numeral sohoji-sohoji in
Karajá: An ERP investigation during sentence comprehension
O processamento do numeral reduplicado sohoji-sohoji
em Karajá: uma averiguação de ERP durante
a compreensão de sentenças1
Cristiane Oliveira da Silva
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
cristianeolivers@gmail.com
Resumo: Este trabalho tem como objetivo averiguar o processamento do
numeral distributivo sohoji-sohoji, formado pela reduplicação do numeral
um em Karajá, sob uma perspectiva transdisciplinar aproximando os
campos da linguística teórica e da neurobiologia. O experimento de
neurociência da linguagem contribui para elucidar a complexidade do
processamento de sentenças com sohoji-sohoji quando pareado com
diferentes cenários quantitativos. Utiliza-se a técnica de extração de
ERP (potenciais bioelétricos relacionados a eventos) para observação
e extração dos dados de latência visando a análise estatística dos dados
cronométricos monitorados online por um eletroencefalograma (EEG).
Os resultados das análises de variância e teste t demonstraram que a
leitura evento-distributiva é a default porque a violação de exaustividade
nos cenários testados apresentou maior complexidade de processamento
do que a violação de exaustividade de participantes. Pluralidade,
cardinalidade e diferenciação de eventos também apresentaram efeitos
significativos durante a compreensão de sentenças com sohoji-sohoji.
Palavras chave: Karajá; distributividade; ERP; processamento
quantificacional.
Work based on the Doctoral Dissertation defended at UFRJ in 2016; Advisor: Marcus
Maia and Coadvisor: Aniela Improta França.
1
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.4.1647-1684
1648
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
Abstract: The aim of this paper is to investigate the processing of the
reduplicated numeral sohoji-sohoji formed by the reduplication of the
numeral one in Karajá, within an interdisciplinary approach, bringing
together formal linguistics and neurobiology. The neuroscience of the
conducted language experiment sheds new light on the quantification
processing complexity of sohoji-sohoji when different quantitative
scenarios were previously presented. We use the Event-Related Brain
Potential (ERP) extraction technique to observe and extract the wave’s
amplitude in order to conduct a statistical analysis from the chronometric
data monitored online by the electroencephalogram (EEG). The results
from statistical analyses (ANOVA and t test) conducted in this study
suggest that the event-distributive interpretation is the first to be activated,
because the violation of event item exhaustiveness was more complex
than was the violation of subject exhaustiveness. Plurality, cardinality,
and event differentiation also displayed significant effects during Karajá
distributive sentence comprehension.
Keywords: Karajá; distributive property; ERP; quantification processing.
Received on January 12, 2017
Approved on May 8, 2017
1. Introduction
The quantification of events or individuals is a common operation
in natural languages. However, each linguistic system has distinct
mechanisms for expressing notions related to quantity. The study of
quantifiers in natural languages is a topic of interest in different areas
of knowledge, as philosophy and logic, for example, having a range of
classical works that attempt to ascertain the functioning of linguistic
elements to express quantity. In this paper, we present a processing
study that used the Event-Related Brain Potentials (ERP) technique
to investigate neurobiological responses during the processing of
distributive sentences with the sohoji-sohoji quantifier, a reduplicated
numeral in the Karajá language.
Distributive quantifiers are responsible for a mapping operation
between the subevents and individuals of a statement. Therefore, a
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1649
prototypical distributive reading should operate on individuals and
subevents under the condition of differentiation between mapped
individuals and subevents. As shown in example (1), for each individual
x such that x is a boy, there will be a different sub-event of eat a fish.
(1)
(2)
Each boy ate a fish.
Boy1
e1
Boy2
e2
Boy3
e3
Boy4
e4
Boy5
e5
e = ate a fish
The boys carried a piano.
Boy1
Boy2
Boy3
e = carried a piano
Boy4
Boy5
However, delimiting certain types of events does not seem to be a
trivial task and non-differentiation of the subevents could then result in a
collective reading, as in example (2). Tunstall (1998) also emphasizes the
existence of a gradient between distributive and collective readings, i.e.,
there would be a continuous scale between prototypical distributive and
collective readings in which intermediate readings would be available,
whether partially distributive or partially collective. Kratzer (2003, 2007)
treats these intermediate readings as cumulative.
1650
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
Krifka (1998) and Kratzer (2003, 2007) argue in favor of the
universal cumulative property of lexical items, although this does not
guarantee that the lexicon is cumulative in the language syntax. In this
light, assuming that lexical items are also cumulative in Karajá syntax,
a cumulative reading would always be available in that language.
Hence, we could speculate that the processing of a cumulative reading
would present a lower processing cost, except when there is an element
that delimits the quantifiable scope of the sentence, as, for example, a
distributive operator. Therefore, by using the sohoji-sohoji reduplicated
numeral, a distributive reading for the statement would be forced, even
if other readings could be accommodated. In this bias, two questions
can be raised in relation to the Karajá language: (i) Would it be possible
to process intermediate readings in the presence of the reduplicated
numeral? (ii) Would pairing intermediate readings of sentences with
sohoji-sohoji quantifier present a higher processing cost? We confirmed
in a pilot study based on scenario descriptions that scenarios containing
intermediate readings could be described by the participants using the
reduplicated numeral. This fact led to the development of an experiment
that would make it possible to verify whether there would be sentence
processing differences between the different readings available when
paired with the reduplicated numeral in Karajá.
Thus, an ERP experiment was performed to investigate the
processing of the sohoji-sohoji. The experiment was based on a picture
matching design. We attempted to assess the course of sentence processing
presented by capturing the reaction times and the neurobiological
responses during the experiment. To this end, we ascertained the
processing of sentences containing the reduplicated numeral after
showing the distributive, collective, and partially distributive scenarios.
As shown below, the properties of cumulativity, distributivity and
cardinality exert effects during the processing and interpretation of
sentences with sohoji-sohoji in Karajá. Such evidence seems to run in line
with current theories about quantification processing and the semantics
of distributional numerals, which have been observed in other natural
languages.
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1651
2. The reduplicated numeral in Karajá (and other languages)
The Karajá language (Karajá family, Macro-Je stock) presents
numeral reduplication to express the distributive property, as can be seen
in example (2) below. Numeral reduplication brings to light two types of
distributive readings, according to the interpretations presented in (3).
(2)
weryry
sohoji-sohoji
bola-di
r-e-hu-ra
boy
one-one
ball-posp
3A-VT-to.throw-PST.REC
Lit: ‘Boy threw the ball one by one
(3)
a. ‘The boys threw a ball one at a time’
event-distributive
b. ‘Each boy threw a ball
participant-distributive
While the event-distributive reading (3a) implies that each
individual has thrown the ball in distinct periods of time, the participantdistributive reading (3b) does not present this requirement for the
sentence interpretation. In turn, a collective reading does not seem to be
allowed, i.e., a reading in which all the boys have thrown a single ball
at the same time.
The difference between the readings above seems to come from
the semantic ambiguity triggered by the reduplicated numeral, sohojisohoji. One of the objectives of this paper is to determine whether there
would be a preference for some of the readings presented in (3) and
whether a collective reading would be immediately discarded, given its
incompatibility with the semantics of the distributive numeral, during
the processing of distributive sentences in Karajá,.
The possibility of a participant-distributive reading requires that
the distributive operate over individuals. The impossibility of combining
the reduplicated numeral with mass nouns in Karajá, which do not allow
the individuation of entities because it is a substance, can be confirmed
by impossibility of exemple (4) below. Sentence (4) demonstrates that
the substance bèè (water) is incompatible with the distributive operation
carried out by sohoji-sohoji.
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1652
(4)
*Tii
bèè
sohoji-sohoji-my
3P
water one-one-POSP
r-e-wy-reri.
3P-VT-to.transport-PRS.CONT
He carries the water one at a time/ He carries each water
Numeral reduplication as a distributive operation strategy is
relatively common in several languages. According to the WALS2
mapping, 85 from 251 languages investigated, present a numeral
reduplication strategy to denote adnominal distributive property. Gil
(1982) also shows that all languages have some resource to express
adverbial distributive property by numeral morphology. It should be
noted, however, that these studies cover very few indigenous languages
and the Karajá language was not investigated by these papers.
Karitiana (Arikém family) is another indigenous language that
has reduplicated numerals to express distributive property. As in Karajá,
reduplicated numerals in Karitiana generate different possibilities of
interpretation for the same sentence as exemplified below in (5). Muller
(2012) assumes, based on syntactic tests, that distributive numerals in
Karitiana are adverbial distributive operators. For the author, the two
available readings are the result of different modes of individuation that
is possible for the subevents in the verbal predicate denotation.
(5)
Õwã
nakakot
sypomp.sypomp
opokakosypi
BOY
BROKE
TWO.TWO
EGG
‘Each boy broke two eggs’
– participant-distributive
‘The boys broke two eggs at a time’
– event-distributive
Muller (2012, p. 235)
However, in analyzing the numeral morphology in Tlingit (NaDene family – Canada), Cable (2014) proposes that numeral distribution
always allows participant-distributive and event-distributive scenarios to
be licensed, similar to what is found in Karajá and Karitiana.
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1653
Amongst other facts, I show here that the syntactic
attachment site of the distributive numeral has no effect
upon the kind of distributive scenario the sentence
describes. That is, no matter whether the distributive
numeral is adverbial or adnominal, the sentence may be
true in either participant-distributive or event-distributive
scenarios. (CABLE, 2014, p. 8)
Cable (2014) proposes two semantic denotations, based on a
scenario description test, a distributive-adverbial and a distributiveadnominal, for numeral morphology in Tlingit. However, the author
argues that both denotations can generate distributive readings about
events as well as individuals. Therefore, it is concluded that the ambiguity
generated by distributive numerals is recurrent in the languages that have
this morphological strategy to express the distributive property in their
statements. Based on the data, the ambiguity of the distributive numerals
does not seem to be the result of syntactic aspects, but instead the effect
of semantic operations which are peculiar to these elements.
Thus, with the intention to ascertain possible differences
in processing between possible (and impossible) readings for the
reduplicated numeral in Karajá, we conducted an EEG experiment, as
presented in Section 4 below. The results can help explain the cognitive
mechanisms during numeral distributive processing. The processing
of sentences that present quantifying elements is known to be a very
complex procedure, since it requires interface between different cognitive
modules, such as the syntactic and the quantificational. Therefore, it is
part of cognitive research and neuroscience agenda to distinguish the
neural mechanisms underlying access to different aspects of semantic
memory during sentence comprehension (JIANG et al., 2008).
3. Theoretical assumptions
All natural languages known to date have mechanisms for
quantifying sentences. As stated in the introduction, one of the objectives
of this paper is to understand the nature and processing of one of the
quantifying elements in Karajá, the reduplicated numeral sohoji-sohoji, in
order to contribute to understanding how quantification works in natural
languages and what are the basic principles governing these elements
within human languages. The ability to quantify linguistic elements
1654
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
is commonly expressed through operators called quantifiers, which,
according to the definition given by Lyons (1977, p. 455), are modifiers
that, when combined with names, produce expressions whose reference
is determined by means of the size of the set of elements, or in terms of
the amount of the substance being referred to. However, it is known that
there are also different types of non-nominal quantifiers, as is the case
for certain quantity-expressing adverbs.
From a relational perspective, quantifiers denote binary relations
between sets. Quantifiers are entrusted with the task of relating two
sets of distinct elements, in this case, the set of individuals and the set
of properties. In terms of Formal Semantics, Heim (1982) states that a
quantifier, when relating two sets of elements, forms a triad in which it
occupies the position of operator of the quantified structure, as shown
in (6) below.
(6)
a. Each monkey ate a banana.
b. for Eachx
operator
such that [x is a monkey
(∃y) such that y is
restrictive clause
nuclear scope
a banana and x ate y
“For each x such that x is a monkey there is a y such that y is a banana
and x ate y”.
Therefore, from a formal viewpoint, it seems appropriate to
establish that quantifiers are operators that perform the action of relating
two sets belonging to seemingly distinct classes. In the case of example
(6), the quantifier each relates the involvement of the individuals, which
belong to the monkey set, in subevents of “eating a banana”. In this area
of linguistics studies, analyses of scope ambiguities, caused mainly by
the interaction between quantified nominal phrases, have flourished.
(7)
A mechanic repaired every car of the company.
The sentence (7) above would generate at least two possible
interpretations: (7a) there is a (single) mechanic who repaired every car
in the company and (7b) each company car was repaired by a mechanic
(any). These two interpretations can be schematized as follows:
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1655
mechanic(s) company cars
(7a) c1
m c2
c3
mechanic(s) company cars
c1
(7b)
m1 c2
m2 c3
Syntactically, each interpretation above is represented by a
different Logical Form structure that will be generated from the Nominal
Phrase raising that is in the verbal complement position. Therefore, for the
interpretation of sentences with quantified NPs in the object position, an
abstract syntactic structure is necessary to serve as input for the semantic
interpretation of sentences with this type of structural component (MAY,
1977, 1985).
Distributive property is an operation that occurs mainly when the
nucleus of the Determiner Phrase is occupied by a distributive quantifier
and combined with a predicate. The predicate is then understood as applied
to each individual member of the quantified set. Therefore, the operation
of a distributive quantifier is to map subevents to each available atom of
speech. Obviously, this is a very simplistic definition that does not account
for a series of distributive mappings that involves scope ambiguity in
doubly quantified sentences, for instance. However, it seems to be a
statement clear and simple enough to explain the relationship between
DPs that contain distributive quantifiers and events to which they are
applied, as in “each monkey ate a banana.” In this sentence, “each” takes
the individual members of the restrictor set {x: x is monkey}, with the
predicate [ate banana] being applied to each individual member of {x: x
is monkey}. Furthermore, a distributive quantifier ends up pluralizing the
1656
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event of the sentence in which it occurs, since in a distributive structure,
at least two subevents of the available set of events are required, i.e., it
requires that the R relationship between individuals and events is greater
than 1. Then, for sentence (6) above, the meaning can be interpreted as
follows: there is an event e and for each individual member of {x: x is
monkey} there is a sub-event e’ which is part of e and such that in e’ m
“ate banana”.
Distributive quantifiers such as each distribute over individual
entities. Therefore, when applied to uncountable noun phrases, such as
those occupied by mass names of the substance type, they generate a
ungrammatical sentence, as illustrated in (8) below, since it would not
be possible to individualize its parts, except under coercion or when a
unit of measurement is attached to the noum in question. In Karajá, the
distributive sohoji-sohoji exhibits the same pattern of behavior, already
expected for a quantifier of this nature, given the grammaticality of (9a)
and the ungrammaticality of (9b).
(8)
*He brought each water.
(9a)
Tii hãdoroo sohoji-sohoji-my r-e-wy-reri.
3P muricium2
um-PosP
3P-VT-to.carry-PRS:CONT
‘He takes murici one by one’/ ‘He takes each murici’
(9b)
*Tii bèè sohoji-sohoji-my rewyreri.
3P water um-um-PosP
3P-VT-to.carry-PRS:CONT
‘He takes water one by one’ / ‘He takes each water’
Distributive quantifiers also force a distributive reading of the
event (subevents) of the sentence in which it is inserted. Therefore,
when combined with collective predicates, they generate ungrammatical
sentences (DOWTY, 1987). For example, sentence (10) below requires
the predicate “be piled up in the corner of the room” be applied to a set
of individuals {x: x books} in (10a) and (10b), and not to individual
members of this set, given the ungrammaticality of (10c) and (10d).
2
A Brazilian fruit from the Byrsonima crassifólia specie.
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1657
(10a) The books are piled up in the corner of the room.
(10b) All the books are piled up in the corner of the room.
(10c) *A book is piled up in the corner of the room.
(10d) *Each book is piled up in the corner of the room.
As expected in typically distributive predicates, distributive
quantifiers can be applied normally, as in (11) below. Likewise, if a
distributive quantifier is not applied to a sentence whose predicate is
distributive, a predicate of this nature would still force a distributive
reading, even if it does not contain a DP composed of a nucleus quantified
by a distributive element in its structure, as seen in (12 and 13) below.
(11) Every girl slept.
(12) All the girls slept.
(13) The girls slept.
Thus, according to the above data, it seems that a distributive
Reading must operate not only over individuals > 1, but also over
subevents >1, thus creating the condition of the differentiation between
individuals and subevents – though it is complicated to limit subevents in
certain predicates. Non-differentiation of subevents results in a collective
reading. However, there are not only collective readings and standard
distributive readings. According to Tunstall (1998), distributive-collective
event structures form a continuous scale in which partially collective and
partially distributive readings are at the middle, while the completely
collective and the completely distributive readings are at the ends. Kratzer
(2003, 2007) treats intermediate readings of this scale as cumulative.
Following Krifka (1998), Kratzer (2003, 2007) introduces the concept
of cumulative property as a crucial point for the denotation of predicates
in natural languages and argues in favor of the Universal Cumulative
property of lexical items that can be conferred in the following section.
1658
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
“If there is a basic logical-conceptual predicate ‘red’,
for example, that is true of my hat and your scarf (two
singularities), then the Cumulativity Universal says that
that very same predicate is also true of the sum of my hat
and your scarf (a plurality).” (KRATZER, 2003, p. 12).
This means that, in simple predicates, a cumulative reading
would be available without higher processing costs, as it is inherent and
available to lexical items. However, the presence of a distributive operator
would result in a preference for a distributive reading. Moreover, the
cumulativeness inherent in lexical items would also explain the fact that a
series of experiments presents evidence of a higher processing cost during
the understanding of quantified predicates. This would occur because the
presence of quantifying elements would reveal greater complexity for the
initial semantic processing of sentences, which would be cumulative by
default. The ERP experiment presented in the next section seems to point
in this direction. Look at the the following diagrams, taken from Tunstall
(1998, p. 97), which examine the possible intermediate readings between
the standard collective and distributive readings. This scale allowed the
author to demonstrate that the main difference between the semantics of
each and every concerns the differentiation condition, which is stronger
for each (every subevent should be distinct) than for every (at least two
events must be distinct).
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1659
FIGURE 1 – Intermediate readings diagram by Tunstall (1998)
p1 p1
a. b.
p2 p2
e1
p3 e p3 e
p4 p4
e2
p5 p5
collective partially collective
p1
e1
p1
e1
b. b.
p2
e2
p2
e2
p3
e3
e
p3
e3
p4
e4
p4
e4
p5 p5
e5
partially distributive
e
distributive
(14) Maria picked up all the folders.
Imagine the following scenario for a sentence like (14) above:
there are five document folders on a table such that Maria picked up all
these folders. In this scenario, there are a number of possible readings
1660
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
according to the scale shown above. Reading (a) – collective – predicts
that Maria picked up all five folders at one time, i.e., there was only
one event of “pick up the folders”. Reading (b) – partially collective
– suggests the folders were picked up in small groups, for example,
Maria picked up three folders and then picked up two more folders,
thereby generating two subevents of “pick up the folders”, as shown in
the above chart. Reading (c) – partially distributive – requires there
be subevents applied to individual members, but concomitantly allows
collective subevents, for example, Maria picked up three folders one at
a time and then two folders at one time, i.e., four subevents of “pick up
the folders”. Finally, reading (d) – completely distributive – requires
each folder to be picked up individually, thus generating five “pick up
the folders” subevents.
In the following section, we will investigate whether scenarios
that have a partial distributive property can be paired with sentences
containing the reduplicated numeral sohoji-sohoji and what would be
the cognitive cost of this procedure. In addition, we aim to demonstrate
the acceptability (or otherwise) of different quantified scenarios when
the participant was exposed to a sentence operated by sohoji-sohoji.
The offline and online results corroborate the existence of a gradient
of acceptability for different distributive readings, in which completely
distributive and singular scenarios are at opposite ends of the scale. We
will see that, although the behavioral test results elicited acceptability for
the different scenarios, including those that are typically non-distributive,
the measurements of time (ms) and amplitude (μV) seem to provide
significant data for our hypothesis that, although different readings may
be possible for the sohoji-sohoji quantifier, the standard distributive
reading is the first one activated by distributive sentences in Karajá
whose operator is sohoji-sohoji, i.e., the one that requires less cognitive
cost during sentence processing.
4. The processing of the reduplicated numeral in Karajá
An experimental design was set up to investigate the processing
of the reduplicated numeral, which made it possible to collect online and
offline data. The task consisted of pairing different controlled scenarios,
which were pictures presented on a computer screen, with distributive
sentences recorded in audio. This method is commonly known as picturematching design.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1661
The objective of this experiment 4 was to observe whether
standard distributive contexts would present processing differences in
relation to other quantitative contexts (partially distributive, collective,
non-exhaustive, extra-element, and uniqueness) during sentence
comprehension with sohoji-sohoji. This is because we have observed
in previously verified pilot tests that non-prototypically distributive
scenarios were accepted by the participants as possible scenarios for
sentences containing sohoji-sohoji. Therefore, the present experiment
aimed to ascertain whether the acceptance of different quantitative
scenarios for sentences with sohoji-sohoji would be the result of a
reflexive process involving independent variables, such as interpretation
and accommodation, subsequent to the parsing of sentences, or whether
the acceptance of different scenarios allowed by the quantifier sohojisohoji would be related to the intrinsic semantic properties generated
by this reduplicated numeral and, therefore, to be observed at a more
reflexive level of sentence comprehension, called online processing.
4.1 Participants
Twenty-two subjects (16 men and 6 women), with corrected or
normal vision, normal hearing, right-handed individuals (OLDFIELD,
1971), native speakers of the Karajá language, inhabitants of the Btõiry
or Hawalò villages (Ilha do Bananal, TO) participated in this experiment.
All participants stated that they had not consumed alcohol or taken
any prescription or illicit drug 24 hours before the experiment and had
completed elementary education. The mean age of the participants was
26 years.
4.2 Method and Materials
The experiment consisted of presenting the following sequence
of events: a picture appeared on a CRT monitor, followed by four audios
– corresponding to the one, two, three, and four sequences of a sentence
in Karajá. All experimental sentences presented the subject-distributivelocative-verb structure respecting the typological pattern of the language,
as in example (15) below. After listening to the audios, the volunteers’ task
was to decide whether or not the picture would be compatible with the
sentence heard. This method is known in experimental psycholinguistics
as picture-matching design.
1662
(15)
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Krukru
sohoji-sohoji
òra-tyreki
pássaro
um-um tronco-posp
r-y-i-reri.
3a-vt-raiz-prs.cont
‘Each bird is on the trunk’
Six scenarios were produced for each experimental sentence,
namely: (i) standard distributive, (ii) partial distributive, (iii) extraelement, (iv) non-exhaustive, (v) collective, and (vi) uniqueness. The
standard distributive scenario (i) presented a prototypical distributive
property. In other words, the elements of the sets of individuals and
the subevents of the set of eventualities were distributed in one-to-one
relationships, so that the number of relationships between the sets is
greater than 2 and there is a differentiation between the sub-eventualities.
The partial distributive scenario (ii) showed cardinality failure in the
operation of relating individuals and eventualities, since the one-to-one
relationship was violated in one of the subevents. The (iii) extra-element
and (iv) non-exhaustive scenarios were complementary. In the first,
there was an element of the group of individuals that did not participate
in the avaiable subeventuality; in the second, there was a subeventuality
that was not related to any individual in question. These scenarios tested
the universality/exhaustion property of individuals and eventualities,
respectively. The collective scenario (v) was composed of only one
eventuality for which all individuals were applied, thus testing whether
the property of differentiation between subeventualities was required
by sohoji-sohoji in the course of processing. Finally, the uniqueness
scenario (vi) included only one atom of the group of individuals that, in
turn, participated in a single eventuality; therefore, it was tested whether
a singular context was immediately discarded during the processing of
the distributive numeral. For example, in Table (2) below, six scenarios
are generated for sentence (15). Pictures were produced with reference to
the picture database developed by Karajá designers within the framework
of the PRODOCLIN|Karajá project.3 Each picture was drawn with HB
pencil on A4 sheet and scanned using 300-bpi scanner equipment. The
Karajá Language and Culture Documentation Project, part of the Documentation
Program for Indigenous Languages of the Indian Museum (FUNAI), supported by
UNESCO.
3
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1663
scenarios were assembled from the scans with the help of Keynote
software for Mac OS and exported in JPG format.
FIGURE 2 – Examples of experimental condition scenarios
Sentence: Kruku sohoji-sohoji orà-tyreki ryireri. ‘Each bird is on the trunk’
The experiment was programmed in the E-prime software
(Psychology Software Tools, Inc. – PST), a commonly used platform
for presenting EEG-coupling language stimuli monitored by PyCorder
software (Brain Vision LLC). Six versions of the experiment were
developed in a Latin square format, so that no participant saw the same
experimental sentences, but all the participants saw all the experimental
conditions from different sentences.
The lists were presented in both normal and inverse order to avoid
list order effects in each version. Starting with the creation of experimental
versions distributed among subjects – Latin square design – it is possible
to ensure that the same subject never sees the same sentences, yet he/
she is exposed to sentences of all conditions. In all, six lists/versions
were programmed according to the distribution of the experimental
materials in Latin square format. This experimental protocol is important
to inhibiting extra-linguistic factors, such as memory, from interfering
in sentence comprehension. The distribution of materials among the
1664
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
participants also helps the data to be more robust, since analysis between
subjects dilutes subjective factors related to the individuals. In addition,
the stimuli were pseudo-randomized within each list of each version,
with the following restrictions: (i) experimental stimuli were separated
by at least one distracting item and (ii) no experimental sentence was
followed by another of the same condition.
The total set of materials consisted of 48 experimental sentences
plus 48 distractors recorded in audio and 336 digitized and treated
pictures. The audios were translated from Portuguese to Karajá with
the help of two Karajá language teachers, conferred by a third speaker,
and finally recorded by a Karajá consultant. Each experimental sentence
was composed of four segments, complying with the Karajá language
vocabulary standard, as described in more detail in example (16) below:
(16)
Kruku sohoji-sohoji òra-tyreki
r-y-i-reri
bird one-one trunk-on
COP
subject distributive locative verb
seg1 seg2 seg3 seg4
The participants were given the task of observing the picture
and listening to the sentence that was presented by means of a monitor
coupled simultaneously to a PC and an electroencephalography device.
At the end of each <image, sound> pair, the task was to assess whether
or not the materials were compatible with each other. The participants
used a keyboard that had two keys highlighted in green and red. If the
participant judged the sentence compatible with the picture, he pressed
the green key. If he judged the sentence incompatible with the picture,
he pressed the red key.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1665
FIGURE 3 – Screen sequence presented to participants
during the EEG experiment
As shown in Figure (3) above, the presentation of the stimulus
set began with a cross in the center of the screen for 500ms, followed by
the experimental picture/scene for 1500ms. Then the four audio segments
were presented. The segments were controlled so that the average amount
of time was 1500ms each. The total amount of time between segments
was approximately 6000ms. After the sentence was heard, there was a
250ms pause, followed by the response screen, which had a 2000ms
time-out, meaning that even if the participant did not press any of the
answer buttons, a new data set would be introduced after two seconds.
At the end of each experimental sequence, a blank screen lasting 1000
ms was presented before moving to a new <image, sentence> data set.
To determine whether or not there was compatibility between
picture and sentence, the volunteers were instructed to push one of the two
response buttons, which were balanced between the participants (right/
left) to avoid side effects, i.e., to prevent those who already associated
the right answer with the right side from benefiting from this association
and vice versa. Response times were recorded by E-prime (Psychology
Software Tools, Inc.) software.
EEG signals were continuously recorded by PyCorder (Brain
Vision LLC) software from a system consisting of a system of 64
electrodes coupled in a plastic cap (Brain Products GmbH) in accordance
with the 10-20 extended system (GOMES, 2014). The electrodes were
1666
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
allocated according to the international standard (International System
Locations), including five electrodes along the median line (FPz, Fz,
Cz, Pz, and Oz) and sixteen lateral/temporal channels, eight for each
hemisphere of the brain (FP1/ FP2, F3/ F4, F7/ F8, C3/ C4, T3/ T4, T7/
T8, P3/ P4, and P7/ P8). In addition, another forty-three channels of the
extended 10-20 system were used (AF3/ AF4, F1/ F2, F5/ F6, FC1/ FC2,
FC3/ FC4, FC5/ FC6, FT7/ FT8, C1/ C2, C5/ C6, CP1/ CP2, CP3/ CP4,
CP5/ CP6, TP7/ TP8, P1/ P2, P5/ P6, P7/ P8, PO3/ PO4, PO5/ PO6, PO7/
PO8, CB1/ CB2, and O1/ O2).
The electrodes were referenced online by the ground electrode,
located in the frontal region, and later re-referenced by the mean of
the mastoid channels (TP9/TP10 – left/right). Impedances were kept
below 10 kΩ. The EEG was amplified and scanned at a frequency of
1000Hz. After recording, the data sampling frequency was maintained
at 500Hz and the low-pass filters of 30Hz and high-pass of 0.1Hz were
used, a method used by the ACESIN laboratory in accordance with
international research standards (TANNER et al., 2016). Subsequently,
ERP averages were generated for each subject per electrode at times
ranging from 200ms to 1200ms in relation to the onset of the target
stimulus. Times characterized by blinking or excessive muscle movement
were automatically rejected by Vision Analyzer Software (Brain Products
GmbH), a program used for filtering and averaging recorded data.
The extraction of ERPs is an electromagnetic cognitive evaluation
tool whose application has been extended to linguistic research in the
neuroscience of language field since the 1980s, having been developed
from the EEG invented by German psychiatrist Hans Berger and used
with humans since 1929.4 The ERP technique is regarded as very accurate
because it registers the central nervous system’s responses to motor or
sensorial stimulation with millisecond precision and is thus considered
an online measurement technique. The EEG provides a continuous
temporal sampling of the brain’s electrical activity. Such sampling may be
Like the methods used in experimental psycholinguistics, the ERP technique is
also non-invasive, thus allowing it to be used in studies on cognition and language
in different human groups, of different age groups, with or without pathologies, and
without harm or strain for the participant. To execute the technique, all that is needed is
the equipment and software for the gauging, treatment, and statistics of the components
that one wishes to investigate.
4
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1667
related to different types of linguistic phenomena and is monitored with
the help of specific software by an EEG device attached to a computer
that presents the experiment’s participants to a certain pre-established
linguistic task. After picking up the electrical signals produced in the
cortex and monitoring them through the EEG, they must be treated (filters
are applied) so that the data can be analyzed (GESUALDI; FRANÇA,
2011). Filtering is an essential, inseparable part of ERP research.
ERPs are composed of a sequence of waves characterized
by their latency, amplitude, and polarity. ERP usually has
an instantaneous value of 10 to 1000 times less than the
background EEG and, therefore, cannot be visualized.
To be visualized, the average of several times needs to
be performed5. This procedure is justified by assuming
spontaneous EEG as a zero mean Gaussian white noise and
ERPs as the only responses that are actually synchronized
with the stimulus. In this way, the effect of averaging is to
increase the signal-to-noise ratio (SNR), thus allowing the
visualization of the specific effect of the stimulus, in this
case, linguistic. (MARQUES, 2011, p. 30)
Thus, averaging is a mathematical treatment of the data used
to consolidate the average of the same segment around a given timecoupled moment for all of the stimuli. This treatment aims to exclude
random noise that is concurrent with the signal related to the event being
studied, such as those resulting from muscular movements, eye blinks,
or electrical interference caused by some equipment in the testing room.
Since the noise is random, the median after averaging would tend to be
zero. Therefore, at the end of this “cleaning” operation, only the signal
related to the linguistic investigation will emerge, meaning a large average
(or comprehensive average) of the event windows linked to the display
time of the stimuli developed for this investigation (LAGE, 2005).
The N400 component was discovered by Kutas and Hillyard
in the late 1970s. The researchers developed an experiment to elicit
the P3 component (already widely investigated at the time for word
recognition) by investigating the role of context in word recognition
in sentences such as “eyebrows” in “He shaved off his mustache and
Times or events are working windows in the temporal continuum of the EEG
demarcated for the study.
5
1668
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
eyebrows.” The results showed a small negative component rather than
a positive one as initially expected. To more clearly observe this effect,
the authors applied a new experiment with sentences containing a word
that, instead of being unanticipated by the context, was semantically
anomalous, sentences like “He shaved off his mustache and city” and
“I take my coffee with cream and dog”. In the second experiment, the
negativity effect was more pronounced, since it elicited very high negative
polarity peaks around 400 ms in the course word presentation (KUTAS;
HILLYARD, 1980). Since then, this has been the most studied component
in the language field, as it is mainly related to the semantic content of the
words per se and lexical access theories, since it seems to provide clues
on how words are stored (FRANÇA et al., 2008). In Brazil, the study
of the N400 component was pioneered in the doctoral thesis of Aniela
Improta França (FRANÇA, 2002) entitled Linguistic concatenations:
a study of different cognitive modules in acquisition and in the cortex.
Topographically, N400 tends to exhibit increased activation in the left
central and parietal regions of the brain.
Another component studied by language neuroscience, P600,
was more recently elicited by Osterhout and Holcomb (1992) and, since
then, has been related to syntactic anomalies and incongruities, and can
be elicited in sentences of type *The broker persuaded to sell the stock,
in contrast with well-formed sentences like The broker hoped to sell
the stock. Gouvea et al. (1995) also found evidence of high amplitude
in the P600 component for sentences that generate temporally incorrect
analyses (known in psycholinguistics as garden path sentences). P600
has also been elicited in non-linguistic anomalies in music (PATEL et
al., 1998) and mathematics (MARTÍN-LOECHES et al., 2006). In the
languages area, in addition to sentence violations, the P600 component
also seems to reflect syntax violations, such as violation of number, time,
gender, and case agreement, as mentioned by Gouvea et al. (1995) and
investigated by Gomes (2014), Gomes and França (2015), and Gomes
and França (2013). The Late Positive Component (or Late Positive
Complex) has already been elicited in studies on the quantification of
statements (JIANG et al., 2009; KAAN et al., 2007), which appear to
show that quantified sentences present more complex processing, because
the effects of quantificational incongruence are captured at a later time
than other language phenomena. Kim and Osterhout (2005) evaluate that
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1669
this component can be observed in items whose semantic incoherence
could lead to a syntactic reanalysis.
With regard to the analyses presented below, the N400 and
P600 components of interest were visually inspected and their peaks
were automatically recorded by Vision Analyzer. The peak amplitude
and voltage of the components of interest for each of the channels were
captured in all segments and conditions. The N400 component was
inspected within a 350-550ms window (capturing wide negativity),
and the P600 component was inspected within a 550-800ms window
(capturing wide positivity) after the onset of the target stimulus. Grand
averages were formed by the ERP data of each participant’s interest.
FIGURE 4 – Regions of interest based on anatomical proximity
left – midline – right
The dependent measures, i.e., the amplitude and latency of the
N400 and P600 components, were analyzed by analysis of variance
(ANOVA) and parametric tests (T-test). ANOVAs were applied between
1670
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
the Condition (distributive, partial distributive, collective, extra-element,
non-exhaustive, and uniqueness), Laterality (left hemisphere, right
hemisphere, and midline), and Anteriority (frontal, central, parietal, and
occipital regions) factors. Parametric tests were performed to check any
significant difference between the standard distributive condition and
other experimental conditions. Therefore, we performed four distinct
analyses based on the ERP data:
i. ANOVA of the peak amplitudes of the waves for the N400
component by condition, laterality, and anteriority. The t test
contrasting the means obtained with those of the standard
distributive condition.
ii. ANOVA of the peak amplitudes of the waves for the P600
component by condition, laterality, and anteriority. The t test
contrasting the means obtained with those of the standard
distributive condition.
Statistics based on the N400 and P600 components are the most
discussed measures in the neuroscience of language literature, and
therefore represent the best starting point for an experiment of this nature.
Moreover, studies that investigated different aspects of the quantification
of statements elicited N400 in quantified sentences, evidencing a higher
initial processing cost for statements that involve procedures such as
counting and individuation (CHIARELLI et al., 2011). Late positivity
effects were also observed, interpreted by Jiang, Tan & Zhou (2009) as
an effort to integrate quantifying elements into sentences that present
quantificational inadequacy. Therefore, for the analyses presented
below, we extracted the amplitude of the N400 and P600 peaks in all
experimental conditions from the large means of segments 2 and 3 of
the manipulated sentences.
4.3 Behavioral Data
An analysis performed by means of a t test of participants’
reaction times (RTs) allowed us to observe which conditions presented
the highest average decision time in relation to the standard distributive
condition. The results show that only the uniqueness condition
(t = -2.585, df = 21.182, p-value = 0.0172) elicited significantly higher
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1671
RTs than the distributive condition, which suggests a higher cognitive
cost for the decision in this condition. The analysis of raw RTs shows that
the uniqueness scenario caused the greatest feeling of strangeness during
the pairing task with a sentence containing the distributive numeral.
Other conditions did not present significant differences, as can be seen
in Graph (1) below.
GRAPH 1 – Raw RT per experimental condition
In general, there is a tendency to accept all conditions as
compatible scenarios for sohoji-sohoji sentences, as shown in Figure 2
below. However, after performing chi-square tests for each condition, it
was observed that only the distributive (X-squared = 99.5986, df = NA,
p-value = 0.0004998) and uniqueness (X-squared = 6.4497, df = NA,
p-value = 0.02249) conditions showed a significant difference between
“yes” and “no” answers. The fact that the distributive condition has the
highest acceptance rate confirms our expectations since this is the best
scenario for the investigated experimental sentences. The acceptance
of the uniqueness condition seems to be the result of a cardinal reading
attempt of the reduplicated numeral, because, as we will see in the
bioelectrical data, this condition was the one that had the highest
cognitive cost during processing. Although the other conditions did not
1672
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
capture a significant effect in this test (p> 0.05), we observed that more
reflex measures, such as RTs and bioelectrical potentials, reveal there
are differences in processing between the different conditions and the
standard distributive condition. The 2000ms time-out generated some
“no response” items that were excluded from the analyses.
GRAPH 2 – Response rates by condition
Since the rates for “yes” responses were higher in all conditions,
the t-test was again applied between conditions to examine only the
RTs for the scenarios accepted by the participants, excluding scenarios
deemed to be incompatible. Partial distributive and uniqueness
conditions continued to be those with the highest averages, in which
case both presented significant differences. However, non-exhaustive
and extra element conditions also attained significantly higher times.
The collective condition did not present significant RT differences when
accepted by the speaker; in this case, the mean was statistically similar
to the standard distributive condition. The p-values and averages can be
seen in Graph 3 below.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1673
GRAPH 3 – RT of the accepted pairings per experimental condition
These results highlighted the importance of the chronometric
data for our analysis, since the acceptability indexes did not prove to
be a decisive factor among all the scenarios. Furthermore, although the
deviant uniqueness condition has been accepted as a valid scenario for the
experimental sentence, the RT analysis shows that this acceptability was
performed in a significantly longer period of time than for the standard
distributive condition. Without decision time analysis, it would also
be impossible to capture the significant distinction between the other
experimental conditions, since acceptability remained constant for all
scenarios. However, we still cannot get evidence from the RTs that there
is a difference in processing between non-exhaustive and extra-element
conditions, nor capture if there is a greater cognitive effort to accept the
condition uniqueness, as expected.
The behavioral results presented in this section were captured after
sentence processing, i.e., offline. We also captured the electrophysiological
responses through the ERP extraction technique for online data analysis.
The purpose of this technique was to observe the processing of
experimental sentences from moment to moment during the temporal
1674
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
course of sentence comprehension. The results of this method will be
presented in the next subsection, point out new reflections regarding the
understanding of the processing of the sohoji-sohoji distributive, and
reveal interesting data on how the acceptability of different scenarios
is given.
4.4 ERP Data
The three-way ANOVA (within subjects) model was first used for
statistical analysis, which included the experimental condition, laterality,
and ROI factors, with correction of the values presented (GreenhouseGeisser). After the data had been treated, the N400 component showed
a significant main effect for the condition factor (F (5.25) = 7.56 p
<0.0000003) in the second segment of the experimental sentences,
corresponding to the sohoji-sohoji reduplicated numeral. Conversely, the
P600 component elicited a main effect for the condition factor (F (5.25)
= 14.7 p <0.0017565) only in segment 3, corresponding to the locative
postpositional (PP) phrase. No major effects were found for the ROI (F
(11.55) = 1.19 p <0.3472345) or laterality (F (2.10) = 1.90 p <0.2238272)
factors in the P600 component nor for the ROI (F (11. 55) = 1.41 p
<0.195080 p <0.2820406) or laterality (F (2.10) = 2.55 p <0.1680510)
factors in the N400 component. Nor did we find any interaction among
the mentioned factors. Therefore, it seems that only the condition factor
appears to influence the analyses between the results. Consequently, an
analysis was carried out including all ROIs for this article. In the future,
other analyses may be performed to confirm the trends presented here.
Subsequently, a t test was applied that contrasted the standard
distributive condition with the other experimental conditions. Presented
below are the results for the amplitude measurements (μV) of the ERP
data of the Grand Averages for the N400 and P600 components.
4.4.1 N400 component – negativity after onset of sohoji-sohoji
The N400 component, ascertained after the start of the segment
containing the sohoji-sohiji reduplicated numeral, presented significant
results when comparing the standard distributive condition (-13 μV)
with the non-exhaustive (-7 μV, t (120) = 2.56 p <0.0117), collective (-6
μV, t (120) = 4.88 p <0.0001), and extra element (-4 μV, t (120) = 6.13
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
1675
p <0.0001) conditions. The uniqueness and partial distributive conditions
did not present significant differences.
GRAPH 4 – N400 component amplitude averages per condition
4.4.2 P600 component – late positivity after onset of locative PP
The P600 component, ascertained after the start of the segment
containing the locative PP of the eventuality, elicited a significant
difference between the uniqueness (18 μV, t (118) = 17.75 p <0.0001),
partial distributive (9 μV, t (118)=4.91 p< 0.0001), non-exhaustive (8
μV, t (118)=4.17 p <0.0001), and collective (6 μV, t(118)=2.67 p< 0.0085)
conditions when compared to the standard distributive condition (3 μV).
1676
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
GRAPH 5 – P600 component amplitude averages per condition
4.5 Discussion of results and analyses
The aim of this experiment was to search for a microscopic
understanding of the processing of the sohoji-sohoji distributive, using
previously developed contexts that were provided by scenarios controlled
by a specific design, as described at the beginning of this section. The
method made it possible to analyze electrophysiological data captured
by the EEG during sentence processing, measured online, that would
reflect the cognitive cost during sentence processing when paired with
different quantitative scenarios. The data were then filtered for extraction
and analysis of the amplitudes (μV) captured from the delineation of
N400 (250-500ms window) and P600 (550-800ms window). The results
indicate that the acceptability of different experimental conditions in
behavioral data does not reflect the cognitive cost for pairing between the
different scenarios and the reduplicated numeral, since the participants
tended to accept all the conditions. However, there was a tendency for
slower reaction times (RTs) for scenarios deviating from the distributive
1677
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
pattern, namely, those that allowed intermediate and non-pluralized
distributive readings. Therefore, the results confirm the earlier hypothesis
that the processing of cumulative readings, although possible, would be
more costly than non-cumulative sentences when there is an element
that delineates the quantificational scope, in this case the sohoji-sohoji
reduplicated numeral. As discussed below, online data suggest that the
properties of cumulative property, distributive property, and cardinality
exert effects during sentence processing with sohoji-sohoji in Karajá.
This evidence is in line with current theories on quantification processing
and the semantics of distributional numerals, which have been observed
in other natural languages.
With regard to ERP amplitude data, N400 elicited lower
amplitudes for the collective and extra-element conditions in segment
2, corresponding to the sohoji-sohoji reduplicated numeral. The
P600 component elicited higher amplitudes for the non-exhaustive,
collective, partial distributive, and uniqueness conditions in segment
3, corresponding to the locative PP. These results seem to reflect the
cognitive cost of processing the reduplicated numeral against the different
scenarios presented during the experiment. The N400 component
reveals that the prototypical distributive scenario, that for which there
is an individual for each eventuality, has the highest average amplitude,
followed by the partial distributive condition. Such evidence indicates that
the processing of sohoji-sohoji would engage the individuals’ cognitive
system in a distributive operation requiring a higher processing cost at
the reflex level. As for the P600 measurement, registered in the locative
segment following sohoji-sohoji, the conditions with larger amplitudes
are those that break the event-distributive reading, revealing that it is
after the start of the pairing procedure of the element in the eventuality
that measurements emerge that would show which properties would be
more easily processed in distributive numeral sentences.
The uniqueness condition was the one that elicited higher mean
values in both the P600 (18 μV) component and the raw behavioral data
(557 ms) and filtered by acceptability (568 ms), which suggests the
reduplicated numeral requires the pluralization of the statement with
respect to the relations established by the individuals and available
1678
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
eventualities, in agreement with what is expected by distributive
elements.
The partial distributive condition also presented a high
amplitude average for the P600 component (9 μV) and was also
the second highest measurement of the reaction times filtered by
acceptability (540 ms). These results indicate that intermediate
readings, although accepted, present a high processing cost. In this
case, as sohoji-sohoji is formed from the reduplication of the number
one, these results can also be analyzed as coming from the numerical
cardinality failure presented by the presented scenario, i.e., a problem
in the counting operation.
The non-exhaustive condition elicited the P600 component
(8 μV) and significant reaction times filtered by acceptability (502 ms).
In this condition, an element of eventuality was not in an R relation
with any individual in the scenario. The high processing cost shows
that the interpretation of sentences with sohoji-sohoji requires that the
scenario subevents preferentially operate under the scope of a universal
quantifier.
Despite eliciting the P600 component (6 μV), the collective
condition presented lower mean values than did the other conditions
mentioned above. Moreover, no effect was captured in the behavioral
data. This effect could possibly have been potentiated if events were
verified with transitive verbs that allowed a collective and not only a
locative reading of the event. This hypothesis is supported by the fact
that the participants accepted the collective scenario presented after
full sentence processing without significant cognitive costs, since no
significant effects on the RTs were found.
The extra element condition did not show significant differences
in the P600 component, i.e., a scenario in which an individual who did
not participate in the event in distribution did not affect the positive
amplitude (4 μV). However, in the behavioral results filtered by accuracy
(519 ms), this condition presented significant results, indicating that, on
a more reflexive, online level, the universality over events is less costly
than the universality over individuals during the sohoji-sohoji distributive
operation. The difference found in the RT may have been the effect of a
reinterpretation of post-sentence processing.
1679
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
Regarding the significant results found in N400 component for
the extra element (-4 μV), non-exhaustive (-7 μV), and collective (-6
μV) conditions, one proposal is that, under these conditions, there is a
greater delay for engagement of the memory system in computing the
distributive property, since lower means reflect less cognitive effort.
Therefore, it is appropriate to propose that these results reflect that the
semantic incompatibilities of universality and differentiation present in
these scenarios would lead the cognitive system to initially not engage
in the verification of compatibility of such scenarios, procrastinating
verification to a later processing moment, as verified by the results in
the P600 component and in the behavioral data. The negativity elicited
by the N400 component for the standard distributive (-13 μV) and
partial distributive (-11 μV) conditions seems to be a result of the
incrementality effect of the quantifiers, which would be interpreted
in stages, as is the case with negation. (URBACH; KUTAS, 2010;
e URBACH; DELONG; KUTAS, 2015). The negativity elicited for
the uniqueness condition (-9 μV) may be a consequence of semantic
implausibility in comparing a non-pluralized scenario with a distributive
sentence, which would generate a participant’s neurophysiological
response reflecting the shock in processing a sentence operated by a
distributive numeral after being exposed to a singular scenario, which
should be immediately discarded.
5. Conclusion
This paper aimed to demonstrate how the availability of ever
more sensitive techniques for discovering how the study of language
processing can enrich traditional field research and formal language
analysis. In this interdisciplinary perspective, the EEG experiment
to extract ERPs aimed to investigate how participants would process
distributive sentences with sohoji-sohoji reduplicated numerals when
exposed to scenarios that presented intermediate readings, rather than
prototypically distributive ones.
The results demonstrate that the N400 and P600 components
were elicited when there were incompatibilities between scenario and
sentence. The reanalysis of conditions that violated plurality, cardinality,
differentiation, or exhaustiveness was captured by a wide positivity in
the P600 component, elicited from elements that occurred as locative
1680
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
phrases of events. At a previous time, a wide negativity effect on the N400
component was captured under conditions that engaged participants in
a quantitative procedure (standard distributive and partial distributive)
or immediately dismissed the plausibility between the scenario and the
distributive sentence (uniqueness).
These results complement those found in offline chronometric
measurements that point out that sohoji-sohoji could or would act as an
ambiguous quantifier, allowing more than one reading to be licensed
for the sentence (event-distributive or participant-distributive readings)
or license different scenarios of verification for the same reading, in a
perspective close to that proposed by Cable (2014), who proposes a
semantic denotation capable of accounting for the different verification
scenarios inherent to the distributive quantifiers in Tlingit whose
resolution will depend mainly on the context.
In addition, if Choe’s (1987) proposal that the distributive
operator is a universal quantifier, which has both a constraint set and a
scope set, is taken into account, the sohoji-sohoji reduplicated numeral
as a default would put the eventuality in the set in restriction, i.e., the
event-distributive reading would be less costly. This is because the
universal operator (∀) should be applied to the members of the set of
eventualities. In other words, the non-exhaustiveness of the elements
of the sentence’s eventuality would be the reading that would present
higher cognitive cost, because it needs reanalysis, as confirmed in the
neurophysiological data.
Distributive property is a knowledge that is part of human
cognition and found in different natural languages through various
morphological and syntactic mechanisms. It is hoped that this work
will give visibility to the phenomenon of numeral distributions found in
Amerindian languages that may contain relevant properties for the study
of areas pertinent to linguistics and, therefore, knowledge of the faculty
of human language.
1681
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1647-1684, 2017
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
Are bilingualism effects on the L1 byproducts of implicit
knowledge? Evidence from two experimental tasks
Efeitos do bilinguismo sobre a L1 são produtos de conhecimento
implícito? Evidências de duas tarefas experimentais
Ricardo Augusto de Souza
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
CNPq
ricsouza.ufmg@gmail.com
Cândido Samuel Fonseca de Oliveira
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas
Gerais / Brasil
coliveira@cefetmg.br
Abstract: Experimental studies in Linguistics rely on data from human
participants performing language tasks. Therefore, understanding the
constructs that such tasks tap into is fundamental for the interpretation
of results yielded by experimental work. In the present study we address
issues brought out by a previously published study based on a timed
grammaticality judgment tasks that fails to replicate reported evidence
of cross-linguistic interaction effects in bilingual processing of argument
structure constructions that are not part of the bilinguals’ L1 construction
repertoire. Although the timed grammaticality judgment task has been
argued to be a valid measure of implicit linguistic knowledge, we review
recent psychometric studies that challenge this assumption by showing
that this task either does not tap into implicit knowledge at all, or does
not tap into it as completely as online processing psycholinguistic tasks
do. In the present study, we conducted two experiments with the same
pool of subjects. One of the experiments employed an online processing
task, and the other employed a timed grammaticality judgment task. In
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1685-1716
1686
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
our tasks, sentences in Brazilian Portuguese that emulated the linguistic
behavior of the English resultative construction were the target items.
We report results that show a mismatch in the observations yielded
by the two task types, with only the online processing task revealing
apparent L2 effects on performance in the L1. We interpret our results
by suggesting that the locus of cross-linguistic interactions in bilingual
language processing is mostly related to implicit processes.
Keywords: implicit knowledge; cross-linguistic influences;
psycholinguistic tasks; bilingualism; resultative construction.
Resumo: Estudos experimentais em Linguística apoiam-se em dados
oriundos de desempenho de participantes em tarefas linguísticas. Portanto,
a compreensão dos construtos abordados por tais tarefas é fundamental
para a interpretação dos resultados gerados pelo trabalho experimental.
Neste estudo, explora-se questões trazidas por um estudo previamente
publicado baseado em uma tarefa de julgamento de gramaticalidade
temporizada que não replicou evidências anteriormente relatadas
acerca de efeitos de interações translinguísticas no processamento
bilíngue de construções de estrutura argumental que não fazem parte
do repertório construcional da L1 dos bilíngues. Apesar da tarefa de
julgamento de gramaticalidade temporizada ter sido defendida como
uma medida válida de conhecimento linguístico implícito, resenha-se
estudos psicométricos recentes que põem este pressuposto em dúvida,
ao mostrar que tal tarefa ou não captura conhecimento implícito, ou não
o captura tão completamente quanto o fazem tarefas psicolinguísticas de
processamento online. Neste estudo, conduz-se dois experimentos com a
mesma amostra de sujeitos. Um dos experimentos empregou uma tarefa
de processamento online, e o outro empregou uma tarefa de julgamento
de gramaticalidade temporizada. Nessas tarefas, sentenças em português
do Brasil que emulavam o comportamento linguístico da construção
resultativa do inglês constituíram os itens alvo. Relata-se resultados que
mostram a discrepância de observações geradas pelos dois tipos de tarefa,
com somente a tarefa de processamento online revelando os aparentes
efeitos da L2 sobre o desempenho linguístico da L1. Interpreta-se os
resultados como sugestivos de que o local das interações translinguísticas
de bilíngues é majoritariamente nos processos implícitos.
Palavras-chave: conhecimento implícito; influências translinguísticas;
tarefas psicolinguísticas; bilinguismo; construção resultativa.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1687
Recebido em 5 de janeiro de 2017
Aprovado em 7 de maio de 2017
1 Introduction
The study of human cognitive processes – which includes
language and language processing – is challenged by a central problem
for those who conduct it as an empirical scientific enterprise. Cognitive
scientists often build up hypotheses about processes and architectures
that are not liable to direct observation and measurement. Consequently, a
crucial part of the job in this field of scientific enquiry is the establishment
of reliable and consistent connections between observable facts (e.g.:
overt behaviors, response accuracy and type, response latencies, eye
movements, deflections in the registration of electrochemical waves
produced in the brain, etc.) and the mental states, processes, and traces
that the observable facts are hypothetically assumed to instantiate. Thus,
advancement in cognitive science is much dependent on the enhancement
of the validity of alleged homomorphisms between measures of observed
behaviors and measures of the constructs (or latent traces) of which such
behaviors are construed as surface manifestations (WILSON, 2005).
Psychometrics is the discipline that targets the development
and employment of methods and techniques for construct validity
analyses. In experimental work in Linguistics and Psycholinguistics,
the critical importance of construct validity is especially highlighted.
In this branch of language studies, experiments typically involve the
collection and codification of instances of the behavior of human
participants who are asked to engage with controlled language tasks.
Among such tasks, the grammaticality or acceptability judgments play
a significant role, which is only rivaled by tasks designed to capture the
real-time processing of strings of linguistic units. The grammaticality
judgment task is construed as an offline measure, that is, a measure
that captures the output of completed language processing. However,
specifically in studies in second language research, it has been proposed
that time-ceiling manipulations for responses in grammaticality judgment
would yield measures of distinct types of knowledge repositories and
distinct levels of cognitive control (ELLIS, R., 2005; BOWLES, 2011).
1688
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
Accordingly, higher amounts of time for judgment calls would serve as
a task tapping into explicit, declarative knowledge about language facts
and more controlled processing, both of which would be unavailable
should the task be administered in a mode that gave participants but a
few seconds for their responses (usually 4 to 6 seconds). In such strictly
timed grammaticality judgment tasks, the measure would be of implicit
linguistic knowledge.
The interaction between languages in the bilingual mind, and the
necessary control upon it that bilinguals must exercise to function in one of
their languages, is a central issue in the psycholinguistics of bilingualism
(BIALYSTOK et al., 2009). Such cross-linguistic interactions and
their control have been hypothesized to be modulated by cognitive and
contextual factors in ways that could respond to differences in ultimate
attainment in L2 learning. And they have also been hypothesized to
correlate with a number of possible cognitive advantages bilinguals
would show over the lifespan, such as enhanced metalinguistic ability,
and higher accuracy and speed of executive functions (BIALYSTOK et
al., 2009). A number of studies show that cross-linguistic interactions
are pervasive in bilingualism.
Cross-linguistic interactions have been show to emerge among
high L2 proficiency bilinguals in the form of higher tolerance for argument
structure constructions that would be either rejected or processed with
much difficulty by monolinguals. Fernández and Souza (2016), as
well as Souza (2014) and Fernández, Souza and Carando (2017), have
documented observations of this phenomenon employing tasks that
deal with language processing in comprehension and production. Such
observations have led the authors to hypothesize that the phenomenon
is not restricted to a temporary and highly localized processing lapse.
Rather, the authors argue that bilinguals exhibit a certain degree of
innovation in their overall linguistic representations, that is, in their overall
linguistic competence in both L1 and L2. Fernández, Souza and Carando
(2017) propose that such bilingual innovations might be one of the
psycholinguistic mechanisms behind long-term, gradual contact-induced
language change. But in a study that employed a timed grammaticality
judgment task, Souza, Soares-Silva and Silva (2016) did not replicate a
similar heightened tolerance for L2-like argument structure constructions
in the L1 with a pool of equally high L2 proficiency Brazilian-Portuguese
English bilinguals. The authors suggest that their findings could indicate
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
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that bilingual cross-linguistic effects are actually evanescent, failing to
last long enough to emerge in the timed grammaticality judgment task.
This interpretation is ultimately incompatible with the suggestion of
bilingual innovations in overall linguistic representations.
However, recent psychometric studies have challenged the
assumption that grammaticality judgment tasks and online processing
tasks in experimental second language research can be regarded as
measures of similar constructs (VAFAEE et al., 2016; KIM; NAM,
2016). Specifically, these studies suggest that even timed grammaticality
judgments fail to tap implicit linguistic knowledge, which is the nature
of representations that is largely assumed to subsidize fluent, automatic
language processing. Rather, these psychometric studies suggest that
judgment tasks, irrespective of higher or lower temporal ceilings for
response, are tapping into explicit linguistic knowledge.
Based on the assumption that bilinguals tend to have enhanced
metalinguistic ability when compared to monolinguals since a very
early age (BIALYSTOK, 2001; BIALYSTOK et al., 2009), the research
question that motivates the present study is whether it could be the case
that a timed grammaticality task and an online processing task are actually
capturing different phenomena. In order to answer this research question,
we had the same pool of participants perform two experimental tasks. Half
of our participants were monolingual speakers of Brazilian Portuguese,
and half of them were bilingual speakers of Brazilian Portuguese and
English with high proficiency in the L2. One of the tasks consisted of a
procedure to measure the cost of online sentence processing: the maze
task (FOSTER et al., 2009), and the other task was a timed sentence
judgment task. Based on the studies we mentioned above, the hypothesis
we sought to test was that a bilingualism effect, namely cross-linguistic
influences, would be present in the measure that tapped into implicit
knowledge (the online processing task), but it would be absent in the
timed sentence judgment task.
In the following section, we discuss the relevance of implicit
linguistic knowledge and implicit learning for bilingualism studies, and
we also review psychometric studies that evaluate the construct validity
of the timed grammaticality judgment task as a measure of implicit
knowledge. We then move to the description of the linguistic focus of the
present study: the English resultative construction. Although the surface
form of this construction overlaps with an argument structure pattern
1690
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
licensed in Brazilian Portuguese, the resultative reading is only linked to the
English reconstruction. In this study, we focus on the behavior of bilinguals
in the two tasks with respect to sentences that forced the resultative reading
into the surface form available in the Portuguese language. After the
linguistic analysis of the resultative construction, we present the details
of the study design, and we follow to the presentation of our results. We
finish this report with a discussion of our interpretation of the results, and
with a conclusion in which we point towards future directions.
2 L2 implicit linguistic knowledge and learning, and its measurement
The hypothesis that the human cognitive architecture is supported
by two relatively dissociable systems of learning, and therefore two systems
for knowledge storage, has been a central debate in cognitive science for
many decades now. Hayes and Broadbent’s (1988) distinction of a dual
learning system is based on the notion of selectivity. According to the
authors (HAYES; BROADBENT, 1988, p. 251), one of the subsystems (or
as in their terminology, “modes”) is “selective, effortful, and reportable”,
whereas the other “involves the unselective and passive aggregation of
information about the co-occurrence of environmental events and features”.
Achieving the capacity to function fluently in a second language,
especially after a first language is well established, is by all means a
daunting cognitive task. Becoming bilingual after primary language
acquisition involves adjustments in linguistic representation and
processing that cannot be exclusively traced to any given learning and
teaching situation, procedure, or strategy. In our opinion, it therefore
comes as no surprise that the hypothesis of a dual system for learning
and knowledge representation should provide a useful conceptual tool
in psycholinguistic attempts to account for high levels of achievement
in second language acquisition.
To the best of our knowledge, the first theoretical account of the
nature and development of second language ability to rely on the concept
of a dual system of representations was Stephen Krashen’s model (for
example, KRASHEN, 1994). The model, dubbed the Input Hypothesis,
actually consisted of five interconnected hypotheses, among which the
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1691
“acquisition” versus “learning” hypothesis1 lies at the core. This core
hypothesis predicts that there are two distinct and non-commutable
processes subsuming second language development. According to
the hypothesis, “acquisition” refers to a process that is necessarily
subconscious and incidental, and which leads to tacit linguistic
knowledge. On the other hand, “learning” is construed as the output
of intentional attempts at building knowledge about the organization
and functioning of the L2 linguistic system, that is, it involves explicit
metalinguistic formulations of some sort. For Krashen (1994), attainment
of L2 competence and fluent L2 performance derives exclusively from
acquired (i.e: subconscious, tacit, implicit) linguistic representations.
Krashen’s model predicts no interface between the two representational
subsystems, a point made clear by the doubts cast by the author on the
efficacy of overt grammatical instruction and corrective feedback for the
development of L2 proficiency (KRASHEN, 1994, p 50-54).
Whereas Krashen’s ideas were largely committed to the
hypothesis that the acquisition of L2 competence was driven by
innate mechanisms, other developments in cognitive psychology and
psycholinguistics have conceptualized implicit learning and implicit
representations in language within a framework that accommodates
usage-based perspectives on language acquisition and processing.2 Like
Hayes and Broadbent’s (1988), Reber (1989) and Winter and Reber (1994)
define implicit learning as an individual’s capacity to extract regularities
from patterned stimuli in the environment, without consciousness of the
learning task or reflective action towards it. Both Reber (1989) and Winter
The other four ancillary hypothesis in Krashen’s model are the “natural order of
acquisition hypothesis”(which predicts a fixed order of morpheme acquisition in the
budding L2 grammar); the “monitor hypothesis” (which predicts that the ability to
produce utterances stems exclusively from acquired L2 representations, whereas learned
representations account only for post formulation monitoring); the “input hypothesis”
(which predicts that comprehension of meaningful messages is the sole mechanism
driving L2 acquisition), and the “affective filter hypothesis” (which predicts that only
negative affective dispositions can impede comprehensible input to drive L2 acquisition).
2
A key distinction between innatist and usage-based perspectives is the point of view
held by the latter that language learning is supported by general cognitive capacities,
rather than by a language-specific cognitive module. But it should be noted that, as
stated by R. Ellis (2005, p. 143), both perspectives agree on viewing the nature of
knowledge that supports fluent second language capacity is primarily implicit.
1
1692
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
and Reber (1994) rely on experiments on miniature artificial grammar
learning as the empirical base to argue for an inductive, automatic and
mostly unconscious cognitive architecture that allows for probabilistic
generalizations to be made for newly processed input based on previous
experience with instances.
In Winter and Reber’s (1994) definition there is no specification
that implicit learning should be necessarily conceptualized as strictly
incidental, that is, implicit learning is not necessarily cost-free in concern
to cognitive resources, namely attentional allocation. The role of attention
in language learning as a whole, and its role in implicit learning in
particular has been a controversial issue among psycholinguistics-oriented
second language researchers. A strong version of the notion of implicit
learning could be defined as strictly incidental, as discussed above. This
would predict that implicit learning might involve learning without
attention. But as reviewed by Schmidt (1995, 2001) and by Robinson
et al. (2014), research findings have not supported such strong version.
Although language learning may take place without overt intention and
without availability of any conscious recollections of learning effort, the
currently available evidence does not support claims that learning might
take place without attention to the linguistic input available to the learner.
This distinction is framed by Schmidt (1995) as a separation between
learning without awareness (a possible operational definition of implicit
learning), and learning without attention, a hypothetical mode of learning
whose actual existence has not been substantiated by empirical findings.
Schmidt (2001) argues that attention is an umbrella concept for
a multicomponent cognitive function that can include subsystems such
as alertness, orientation and processing selectivity (subsuming both
activation and inhibition of information). In other words, according
to Schmidt (2001), even though attention to linguistic patterns may
unfold unavailable to introspection and independently of intentionality,
it is qualitatively different from preconscious detection, as it requires
controlled cognitive processes. If some threshold level of attention to
properties and patterns in the L2 linguistic system is paramount for
learning, then the emergence of L2 linguistic representations in the
bilingual mind is, to quote Schmidt’s (2001, p. 29) words, “a side effect
of attended processing” of the L2.
Allocation of attentional resources over language processing
routines can in turn also be a cognitive operation supported by implicit
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1693
knowledge. N. Ellis (2006a) proposes a view of fluent language use as
derived from a rational architecture by way of which speakers optimally
and implicitly learn the distributional and associative probabilities of their
languages, thus achieving processing efficiency that finely converges
against the linguistic input. N. Ellis (2006b) further proposes that L2
learning is driven by the same rational learning procedure, despite the usual
shortcomings of naturalistic L2 acquisition – when learners often fail to
demonstrate acquisition of highly frequent features of the L2 despite intense
exposure to the L2 input. The author suggests that the apparent failure
to acquire features of an L2 may stem from implicitly learned attention,
which results in the blocking of detection of linguistic cues in the weaker
language that compete with key cues in the stronger language.
N. Ellis’ (2006b) hypothesis is that one’s very language learning
history builds up implicit representations that guide language users
as to what to attend to in the course of overall language processing.
Learned attention is fine tuned to one’s language experience, and it may
in turn constrain one’s capacity to promptly attend to, and therefore
come to represent features in a new language. This hypothesis has
been empirically tested in studies by N. Ellis and Sagarra (2010, 2011),
showing both short-term and long-term blocking effects of having
learned to attend to adverbial cues in a known language on refocusing
attention to verbal morphology cues when dealing with a new language.
The authors argue that their findings pose challenges to explanations of
L2 variability that evoke maturational decline in language acquisition
capacity, interpreting such findings as evidence that the commonly
reported failure of L2 learners to achieve native-likeness across the
full range of L2-specific features may actually result from the implicit
entrenchment of processing routines from the learners’ previous language
experience. That seems to be an interesting alternative to the hypothesis
of a sudden and biologically determined halt in the brain’s capacity to
acquire new languages after a given age, as it seems to accommodate
both the evidence of age effects on ultimate L2 attainment (LONG,
2013) and the growing body of evidence for human neuroplasticity and
continued learning capacity despite increased processing demands over
the lifespan (RAMSCAR et al., 2014; PAJAKA et al., 2016).
In view of the relevance of the notion of implicit L2 learning and
representation, it is not a surprise that the development and validation of
measures of implicit knowledge is a major concern for second language
1694
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and bilingualism scholars. R. Ellis (2005) reports a study in which a
psychometric operationalization of the constructs of implicit and explicit
L2 knowledge was suggested. The study gathered data on 17 English
grammatical constructions from 111 participants by way of five distinct
tasks: an untimed grammaticality judgment task, a timed grammaticality
judgment task, an oral imitation task, a oral narrative task, and a measure
of participants’ capacity to verbalize linguistic rules (thus a metalinguistic
capacity measure). The author reports having found two distinct measures
across the tasks in his study. His factor analysis3 yielded results showing
that the scores in the metalinguistic capacity measure and in the untimed
grammaticality judgment task loaded on one factor (which he describes
as explicit knowledge), whereas scores in the timed grammaticality
judgment task and in the two oral tasks involving production loaded
on another factor (which he describes as implicit knowledge). The
fundamental difference between the tasks tapping into each knowledge
base, according to Ellis (2005), is the processing pressure imposed by
the time constraints of the task at hand.
Ellis’ (2005) study also showed a difference between the
knowledge pool tapped by the grammatical and the ungrammatical
sentences, specifically in the untimed grammaticality judgment task. The
author suggests that when participants were given sufficient time to rely
on explicit linguistic knowledge, accurate rejection of ungrammatical
sentences loaded on the explicit knowledge factor.
Other studies support Ellis’s (2005) proposal that timed
grammaticality judgment tasks at least partially tap into implicit
representations. For example, Bowles (2011) replicated Ellis’ (2005)
results using the same test batteries adapted for Spanish. Furthermore,
Bowles (2011) reports an effect of language learning history that is
convergent with the assumption that the tasks described by Ellis (2005)
lead to processing that mostly relies on different knowledge repositories.
In her study, Bowles included two groups of English-Spanish bilinguals,
one formed with participants who learned Spanish mostly through
Factor analysis comprises of a set o multivariate statistical methods by way of which
it is possible to identify the minimal set of variables capable of explaining variability in
a data set (for details, see Lowen & Gonulal, 2015). In psychometrics, factor analyses
of test results allow researchers to identify the best-fit model of how constructs account
for variability in performance.
3
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1695
classroom instruction, and another formed by Spanish heritage speakers.
The classroom learner group performed higher in the tasks tapping into
explicit knowledge, whereas the heritage speaker group showed the
opposite pattern. The overall pattern of Ellis’ (2005) findings were also
replicated in Godfroid et al. (2015), a study in which sentence reading
patterns were observed through eye-tracking in combination with timed
and untimed grammaticality judgment tasks. In Godfroid et al. (2015),
comparisons were made between native speakers and non-native speakers
of English performing the two types of judgment tasks. The authors
report that the type of reading found in the ungrammatical items during
untimed task among non-native speakers distinguishes the nature of the
processing of such stimuli from the others. The authors interpret such
result as evidence of reliance on explicit knowledge, or some similar
kind of controlled cognitive process.
Notwithstanding, in recent years there has been a growing
controversy as to whether manipulations of time constraint for judgment
calls are sufficient to ensure that the grammaticality judgment task can be
taken as a valid measure of implicit knowledge. For example, Gutiérrez
(2013) reports a factor-analytic study of both timed and untimed judgment
tasks in which only the grammaticality or the ungrammaticality of the
sentences, not the time constraint, loaded on two distinct factors. The
author interprets these two factors as explicit knowledge for ungrammatical
sentences in both timed and untimed judgments, and implicit knowledge
for grammatical sentences, again irrespective of time constraints.
Kim and Nam (2016) conducted a study to further verify the
nature of representations that may be tapped into by distinct task formats,
specifically comparing the timed grammaticality judgment task (which
relies on receptive processing) and the oral elicited imitation task (which
relies on speech production),4 notably two tasks that have been identified
as tapping into implicit knowledge in previous work. The authors found
that the two task types do not load on the same factor, with the production
task imposing stricter demands on performance. Kim and Nam (2016)
interpret their results as indicating that although the timed grammaticality
Trials in this experimental task typically involve the experimenter reading the stimulus
out loud to the participant, who then follows up with an oral repetition of the stimulus.
For a discussion of the properties of the task and its validity as a measure of implicit
linguistic knowledge, see Erlam (2009).
4
1696
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
judgment task may be taken as at least partially a measure of implicit
knowledge, responses to such task might not cover the ultimate level
of complexity in the network of implicit representations that subsidize
language processing for production. Such network of representations
should include form-meaning pairings, pragmatic entailments, collocational
restrictions, and probably – in the specific case of bilingualism – crosslinguistic correspondences. Kim and Nam (2016) argue that their findings
reveal that even if the timed grammaticality judgment task taps into some
implicit knowledge, it may not tap into the same strength of implicit
knowledge as that which actually guides real time language processing.
Vafaee et al. (2016) also investigated the validity of timed and
untimed grammaticality judgment tasks as measures of implicit or explicit
knowledge vis-à-vis online processing tasks (namely, self-paced reading
and a word monitoring task). Through detailed factor analyses, the
authors reject the hypothesis that even a timed grammaticality judgment
task is a reliable measure of implicit knowledge. Vafaee et al. (2016)
argue that the very nature of online psycholinguistic tasks, which capture
language users sensitivity to violations and other linguistic features as
comprehension unfolds, are likely to minimize the chances of access to
conscious linguistic knowledge. On the other hand, the authors argue
that the very nature of a grammaticality task, which quite clearly leads its
participants to focus on linguistic forms rather than on comprehension,
is likely to invoke explicit knowledge. According to Vafaee et al. (2016),
even though the imposition of strict time constraints may make activation
of explicit knowledge harder, it is not possible to rule out that such
knowledge base is somehow at stake in judgment calls.
All in all, while it is largely accepted that fluent L1 and L2 users
rely on implicitly represented knowledge to obtain efficient performance
in language use, it is not yet clear that any form of linguistic judgment
task provides researchers with a reliable measure of such implicit
representations, at least in concern to bilinguals’ L2 knowledge. Therefore,
bilingualism studies that employ psycholinguistic online processing
measures may be capturing phenomena that could fail to be promptly
comparable with observations from experimental designs relying mostly
on judgment task performances. We now pass over to the linguistic focus
of the present study, which was specifically designed to explore this issue.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1697
3 The Resultative Construction
In the present study we compare BP-English bilinguals and BP
monolinguals behavior towards an English argument structure construction,
namely the resultative construction (GOLDBERG; JACKENDOFF, 2004;
WECHSLER, 2012; OLIVEIRA, 2016). This construction has as its main
characteristic the fact that it expresses resultativity. Sentences (1) and (2),
for example, express resultativity because in both we have the idea that <the
table> reached the property <dry> as a result of the action <wipe> and this
result was not entailed by the verb itself. Nevertheless, only sentence (2) is
usually considered an instance of the resultative construction because, as
opposed to sentence (1), its meaning is not predictable from its components
parts (WECHSLER; NOH, 2001).
(1) Samuel wiped the table until it was dry.
(2) Samuel wiped the table dry.
There are many syntactic-semantic structures that have been
considered instances of the resultative construction. As suggested
by Goldberg and Jackendoff (2004), the sentences (3)-(9), can all be
considered part of the resultative construction family. In (3) and (4),
we have sentences that have a transitive verb that can co-exist with the
internal argument irrespective of presence of the resultative predicate.
In (3) the result of the action is described by an AP and in (4) by a PP.
(5) and (6) also have a transitive verb. However, different from (3)
and (4), they cannot co-exist with the internal argument without the
resultative predicate due to semantic restrictions. (5) and (6) also have
an AP and a PP as a resultative predicate respectively. In (7) and (8) we
have resultative sentences that are formed by an intransitive verb. (7)
has an AP as its resultative predicate, whereas (8) has a PP. Finally, in
(9) we have a resultative sentence whose internal argument is a reflexive
pronoun. Even though these sentences vary in regards to some linguistic
properties, they all express results that are not entailed by the verb itself
and, hence, are considered instances of the resultative construction.
(3) Samuel watered the flower flat.
(4) Samuel broke the bathtub into pieces.
(5) Samuel drank the pub dry.
(6) Samuel talked us into a stupor.
1698
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(7) The pond froze solid.
(8) Samuel rolled out of the room.
(9) Samuel yelled himself hoarse.
In this study, we are going to focus on sentences that have the
syntactic-semantic structure of (2) and (3), which are usually classified as
the true resultative construction (LEVINSON, 2007). As we can observe
in the aforementioned examples, these resultative sentences are formed
by an external argument, an atelic transitive verb, an internal argument
and a resultative predicate that generates telicity. The difference in telicity
between the true resultative construction and its verb is one of the main
characteristics of this construction. At first sight, one may think that any
AP that can express result can be part of the true resultative construction.
However, the resultative predicate has to be an AP that not only expresses
the result of the action, but also indicates the limit of the action, which
does not have an implicit endpoint. The relation between verbs and
adjectives in this construction involves a homomorphic mapping between
the temporal structure of the event described by the verb and the scalar
property described by the adjective, as discussed by Wechsler (2012).
According to the author, maximum endpoint adjectives seem to be the
class that best fit such a role in the true resultative construction since
they express the limit of a scale (ex: dry = 0% moisture). In (2), by way
of illustration, the table is wiped until it goes down all the way on the
moisture scale and reaches the limit <dry>.
Native speakers of English seem to be very sensitive to those
restrictions in the resultative predicate. Oliveira (2014) conducted an
acceptability judgment task with the magnitude estimation paradigm to
observe if participants could distinguish true resultative constructions
formed by maximum endpoint adjectives, such as (10) and true resultative
construction formed by other adjective types (11). The results indicate that
the first type of sentence had a mean acceptability of 0.73 in 0-to-1 scale,
whereas the second type had a mean acceptability of 0.43. Therefore,
there is empirical evidence that the true resultative construction does
impose these restrictions to the resultative predicate and that native
speakers are sensitive to them.
(10) One of the classrooms was very dirty, so Desiree swept it clean.
(11) ??Tara bought a new table, but her crazy brother punched it broken.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1699
Oliveira (2016) points out a set of other restrictions that have been
observed in this structure. Verbs and adjectives that come from romance
languages, for example, do not usually form resultative sentences.
Moreover, past participle adjectives or adjectives with more than two
syllables also tend to be unlicensed. Also, the resultative predicate cannot
be topicalized and the construction cannot predicate on its external
argument. These restrictions seem to be very peculiar to the English
true resultative construction, which makes it an interesting topic for
studies about second language acquisition and other phenomena related
to bilingualism, where the L2 is English.
There have been many proposals of possible resultative
constructions in BP, but they all violate some of the basic rules of the
resultative construction, as shown by Oliveira (2016). Most of these
proposals include sentences with telic verbs or resultative predicates
that are not formed by an AP or a PP. Based on that the author contends
that the resultative construction is not part of the BP grammar. Thus,
the acquisition of this argument structure construction by BP-English
bilinguals can be considered the acquisition of a new construction.
In order to study how the acquisition of the resultative
construction can influence the L1, it is necessary to ensure that bilinguals
indeed acquire the resultative construction. Oliveira and Souza (2012)
and Oliveira (2013) show that BP-English bilinguals with high levels
of proficiency exhibit acceptability ratings to resultative sentences
indicative of successful learning. The latter study also indicates that
bilinguals with lower levels of proficiency may not have learned the
resultative construction. Therefore, in order to analyze possible effects of
the resultative construction acquisition on the L1, we have to investigate
bilinguals with high levels of proficiency.
In addition to comparing monolinguals’ and bilinguals’ behavior
towards the resultative construction, we also analyze how these groups
behave towards the depictive construction. The depictive construction has
the same surface syntactic pattern observed in the resultative construction,
namely NP-VP-NP-AP, but the AP is not mapped to a resultative reading.
As argued by Pylkkännen and Mcelree (2006), whereas the AP in the
resultative sentence in (12) indicates the result and endpoint of the
action, the AP in the depictive sentence in (13) indicates the state of the
internal argument during the action. More importantly, the depictive
construction is licensed not only Portuguese-English bilinguals’ L2, but
1700
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
also in their L1. For this reason the depictive construction was included
in the present study as a control to the elicited behaviors concerning the
L2-only resultative construction. In fact, the BP syntactic counterparts of
both (12) and (13) have a depictive reading and are licensed, as illustrated
in (14) and (15) respectively.
(12) Alice combed her hair straight.
(13) Alice combed her hair wet.
(14) Alice escovou seu cabelo liso.
‘Alice combed her straight hair’.
(15) Alice escovou seu cabelo molhado.
‘Alice combed her hair wet’.
In the next section we provide details of our design for the
empirical component of the present study.
4 Methods
As discussed above, there is growing evidence of a distinction
between the constructs tapped into by acceptability judgment tasks and
online processing tasks, with only the latter yielding valid measures of
implicit processes. The ultimate focus of the present study is to investigate
whether such latent construct difference can account for the failure reported
by Souza, Soares-Silva and Silva (2016) to replicate bilinguals’ departure
from L1 restrictions when processing argument structure constructions in
the L1 that are only productive in their L2. It must be recalled that Souza,
Soares-Silva and Silva’s (2016) observations were made by way of a timed
acceptability judgment task. In order to pursue the present investigation,
we planned two experimental tasks (which we refer to as experiment 1
and experiment 2 from now on) to be administered in a within-subjects
design. Therefore, we sought to compare the responses elicited by the two
types of task from a single pool of participants.
Experiment 1 aimed at measuring the processing cost of
sentences that forced an L2-specific construction, namely the resultative
construction, into BP by both BP-monolinguals and BP-English bilinguals
immersed in the L2. In order to do so, participants performed a mazetask (FORSTER et al., 2009), which is similar to the self-paced reading
paradigm in regards to the fragment-by-fragment sentence presentation.
The major difference between the two techniques is the fact that in the
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1701
maze-task, participants have to choose at each sentence fragment between
two options (one leading to a coherent increment to a sentence, the other one
fails to do so). Therefore, in the maze-task the reaction times (RTs) of each
sentence fragment reflects how long participants take to select the correct
option. The main advantage of this method is the fact that it does not require
comprehension questions, it does not exhibit spillover effects and it forces an
incremental processing. In FIG. 1, we have an example of how the sentence
“Samuel wiped the table clean” would be displayed in a maze-task. Each
screen the participants see when reading this sentence is represented.
FIGURE 1 – Example of how the sentence “Samuel wiped the table clean”
could be displayed in a maze task
Source: Oliveira (2016)
In order to observe possible differences between bilinguals and
monolinguals, we compared their RTs for the APs in the target sentences,
which are ungrammatical in BP, but not in English. Furthermore, we
compared bilinguals’ and monolinguals’ RTs for the APs in control
sentences with the depictive construction, which is licensed in both
BP and English. Therefore, in this task the dependent variable was the
RTs towards the APs, of target and control sentences separately, and the
independent variable was the participants’ linguistic profile.
1702
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
Experiment 2 aimed at analyzing how participants perceived the
acceptability of the same constructions from Experiment 1 under time
pressure. In other words, participants performed a speeded acceptability
judgment task with a 4-second time ceiling. The 4-second time ceiling
(i.e.: 4000ms) time-ceiling was based on Souza et al. (2015), which
reports an exploratory study showing that the 4000ms time-window
was about 500ms above the lowest threshold observed for adult and
post-secondary education native speakers to make accurate acceptability
judgments in their L1. In this task, participants read entire sentences
and evaluate how acceptable each of them sound. In order to observe
possible differences between bilinguals and monolinguals, we compared
the acceptability ratings they assigned to the target sentences, instances
of the resultative construction, and the control sentences (as previously
stated, instances of the depictive construction). Thus, in this task the
dependent variable was the acceptability ratings for the target and control
sentences and the independent variables were the participants’ linguistic
profile and the constructions instantiated by target and control sentences.
4.1 Participants
43 people participated in both Experiment 1 and Experiment 2.
Their mean age was 26 and they were college students or had higher
levels of education. As tested by Oliveira (2016), performing the speeded
acceptability judgment task after a maze-task with similar target structures
does not seem to bias participants’ behavior as a result of order effects.
27 participants were monolinguals or had only basic knowledge of
an L2 and they were all residents of the Belo Horizonte metropolitan
area. 16 participants were BP-English bilinguals with high levels of L2
proficiency and were residents of the Boston metropolitan area. These
bilinguals had been living in the United States for longer than 10 years,
but still considered BP their dominant language. All bilinguals reached
the highest level of the Vocabulary Levels Test (NATION, 1990). The
Vocabulary Levels Test has been empirically shown to obtain scores
that reliably correlate to proficiency test scores based on tasks tapping
into grammatical knowledge and comprehension skills in the L2 with
Brazilian Portuguese L1-English L2 speakers (SOUZA; SOARESSILVA, 2015). We therefore understand this test to be an effective
diagnosis of bilinguals’ levels of proficiency.
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1703
4.2 Materials
Both experiments used stimuli in Brazilian Portuguese, the
participants’ L1. The maze task had 58 experimental items, 10 of which
formed the training session. All the sentences were grammatical, except
for the 8 target items, whose resultative predicate (AP) is unlicensed
in BP. These target items, exemplified by (16), forced the resultative
construction using a structure suggested by Oliveira (2013). All items had
two clauses. The first one had an NP in the subject position, a verb in the
past tense, and a direct object NP with a definite article. The second one
had a coordinating conjunction, another verb in the past tense, a clitic
pronoun as direct object referring to the direct object of the previous
clause, and an ungrammatical AP that forced a resultative reading. The
two NPs in each sentence differed from each other in terms of gender in
order to decrease the possibility of ambiguous readings. The 8 control
items, exemplified by (17), were instances of the depictive construction
and their structure were similar to the target items. The only difference
between the target and the control items was the interpretation of the AP.
More specifically, whereas the AP in the target items had a resultative
reading, which made it ungrammatical in BP, the AP in the control items
had a depictive reading, which is licensed in BP.
(16) *A criança pintou
o
papel e o
soprou
seco.
DET kid
paint.PST DET paper and it.ACC blow.PST dry
‘The kid painted the paper and blew it dry.’
(17) A professora preparou
o chá e o
bebeu
quente.
DET teacher
prepare.PST DET tea and it.ACC drink.PST hot
‘The teacher prepared the tea and drank it hot.’
The speeded acceptability judgment task had 1115 experimental
items, 15 of which formed the training session. The experimental corpus
was balanced in terms of grammaticality so that 50% of the sentences
were grammatical and the other 50% were ungrammatical. Thus, it was
possible to mitigate possible effects related to the repetition of sentences
More items were included in the acceptability judgment task than in the maze task because
of the different nature of those tasks. For the acceptability judgment task, we believe a
wider array of different sentence types are needed in order to keep the target sentences
from becoming too salient, and therefore raising participant’s awareness towards them.
5
1704
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
with similar grammatical status. The 8 target (18) and 8 control (19) items
were similar in structure to the target and control items of the maze task
as illustrated below:
(18) O
menino pintou
a unha e a
soprou
seca.
DET boy
paint.PST DET nail and it.ACC blow.PST dry
‘The boy painted the nail and blew it dry.’
(19) A moça preparou
o
café
e
o
bebeu
quente.
DET girl prepare.PST DET coffee and it.ACC drink.PST hot
‘The girl prepared the coffee and drank it hot.’
In both the maze-task and the speeded acceptability judgment
task the items were pseudo-randomized. Such a procedure aimed at
avoiding that that target and control sentences were displayed in sequence.
Therefore, it was also possible to mitigate possible effects originated from
the repetition of the same construction and/or the order of presentation.
4.3 Procedures
Participants performed the maze-task (Experiment 1) and, after
an interval in which they provided their personal information, they
performed the speeded acceptability judgment task (Experiment 2). Both
tasks were performed in the same laptop computer. The DMDX software
(FORSTER; FORSTER, 2003) was used for the stimuli presentation and
the randomization management. In the maze-task, the software recorded
reaction times (RTs) for each segment and, in the speeded acceptability
judgment task, it recorded the acceptability ratings given to each sentence.
In both tasks participants were introduced to a set of instructions.
In the maze-task, the instructions informed the participants that they should
form sentences by choosing, from each pair of words, the option that best
suited the sentence being formed. In order to select words, participants
used the left-shift and right-shift keys, which were highlighted with colored
stickers. In the speeded acceptability judgment task, participants were
instructed to assess the acceptability of each sentence with a 5-point Likert
scale by using the number keys from 1 to 5. This scale has been argued
to be the most suitable for this type of task (SOUZA; OLIVEIRA, 2014).
Also, they were instructed to judge the sentences based on the order used
and the words selected, trying to ignore pragmatic aspects.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1705
Both Experiment 1 and Experiment 2 were fully conducted in
BP, in order not to encourage the activation of participants’ L2, i.e., to
keep them in a monolingual mode (GROSJEAN, 2013). Both tasks were
preceded by a training session and participants could ask questions to the
experimenter. In order to avoid possible fatigue effects, participants took a
break halfway through each task. In the maze-task, participants had 4000ms
to read each pair of words and select the correct option. In the speeded
acceptability judgment task participants had 4000ms to read and assign an
acceptability rating to each sentence. As stated above, the 4000ms timeceiling was based on the results reported in Souza et al. (2015), concerning
the time-window within which adults with post-secondary education can
make accurate acceptability judgments in their L1.
5 Results
5.1 Experiment 1
Our hypothesis for Experiment1 was that bilinguals would exhibit
shorter RTs for the AP in the resultative construction in comparison to
monolinguals. The rationale is that bilinguals would co-activate both the
L1 and the L2 and, in turn, they would be able to process the resultative
predicate more easily than monolinguals. Since the control items are
available both in the L1 and in the L2, we did not expect that they would
yield significant differences between bilinguals and monolinguals.
We tested the maze-task target and control item RTs for normality
with the Shapiro-Wilk test. The monolinguals’ means for the resultative
construction by subjects (W=.893, p=.252) and by items (W=.920, p=.433)
did not differ from the normal distribution., and neither did their means for the
depictive construction by subjects (W=.948, p=.692) or by items (W=.959,
p=.796). Similarly, the bilinguals’ means for the resultative construction by
subjects (W=.874, p=.166) and by items (W=.908, p =.388) did not differ from
the normal distribution, and neither did their means for the depictive construction
by subjects (W=.956, p=.770) or by items (W=.933, p=.544).
Due to the normality of all the distributions observed, we used
the Student’s T-test for independent samples to compare bilinguals’ and
monolinguals’ RT means by subject and by items to both target and control
sentences. The groups’ RTs for the AP in the resultative sentences yielded
a significant difference by subjects (t1(39)=3.725, p<.001) and by items
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
(t2(14)=4.732, p<.001), but their RTs for the AP in the depictive sentences
did not either in neither the analysis by subjects (t1(39)=-.584, p<.563)
nor in the analysis by items (t2(14)=.442, p<.665), as we suspected. The
participants’ RTs means for both sentence types are illustrated in GRAPH
1. Thus, bilinguals and monolinguals did not exhibit a significant difference
as regards the RTs to the APs in the depictive sentences, which are licensed
in BP, but bilinguals were significantly faster in relation to the APs in the
resultative sentences, which are illicit in BP, but licit in the bilinguals’ L2.
Therefore, the results suggest that bilinguals exhibit facilitation possibly
originated from an access to the L2 representation during online processing
of the argument structure pattern not licensed in their L1.
GRAPH 1 – Monolinguals’ and bilinguals’ mean RTs for the APs in the
resultative and in the depictive constructions
5.2 Experiment 2
Our hypothesis for Experiment 2 was that bilinguals would not
exhibit difference acceptability ratings for the resultative construction in
comparison to monolinguals. The rationale is that the timed acceptability
judgment task taps into a knowledge different from that involved in the
maze-task. As discussed above, our hypothesis is that whereas the mazetask taps into implicit knowledge, the speeded acceptability judgment
task taps into explicit knowledge. Since the L2 influence on L1 is a
evanescent, temporary and implicit effect on L1 (SOUZA et al., 2016),
we do not expect to find this effect on the speeded acceptability judgment
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1707
task. Therefore, we do not expect to find differences between bilinguals
and monolinguals as for the manner they perceive the acceptability of
both the resultative and the depictive sentences.
We tested the acceptability ratings for normality with the ShapiroWilk test. The monolinguals’ means for the resultative construction
(W=.841, p<.001) and for the depictive construction (W=.603, p<.001)
differed from the normal distribution. Also, bilinguals’ means for
the resultative construction (W=.740, p<.001) and for the depictive
construction (W=.415, p <.001) differed from the normal distribution.
We ran the Mann-Whitney test to compare bilinguals’ and
monolinguals’ acceptability ratings. The acceptability ratings given to
the resultative construction did not yield a significant difference between
bilinguals and monolinguals (U=9751.5, W=16537.5, Z=-.262, p<.793).
Similar results were observed in regards to the acceptability ratings
given to the depictive construction (U=9930.5, W=25861.5, Z=-.914,
p<.360). The participants’ acceptability rating means for both sentence
types are illustrated in GRAPH 2. Differently from what was observed
in the maze-task, bilinguals and monolinguals behaved similarly, as we
suspected. More specifically, bilinguals’ behavior did not suggest an L2-to-L1
influence to evaluate the acceptability of the resultative sentences. Thus,
the results suggest that the L2 influence on the L1 processing does not last
long enough to play a role in participants’ metalinguistic analysis regarding
the acceptability of an argument structure construction that is L2-specific.
GRAPH 2 – Monolinguals’ and bilinguals’ mean acceptability for the the
resultative and the depictive constructions
1708
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6 Discussion
Although the present study was not designed for factor-analytic
data treatment, our results do show that a task that taps into more automatic
and online processing (the maze task) yields distinct behavior from what
was measured in a timed grammaticality judgment task. Therefore, we
understand the present study to converge with both Vafaee et al. (2016)
and Kim and Nam (2016) in respect to the fact that psycholinguistic
measures are likely to capture features of processing that are dissociable
from what is measured by grammaticality judgments, even when the
time window for responses in the latter are manipulated so as to impose
restrictions on reflective analysis of stimuli by respondents. It must be
emphasized once again that the present studied explored the behavior
of the same participants for each of the two experiments, therefore
controlling for the possibility that the variability in the performance of
the two task types resulted from individual differences clustered in one
of the participant pools.
Following the arguments in Vafaee et al. (2016), we interpret our
observations as reflecting the differences in outcome of processing in a task
that involves automatized and largely implicit parsing routines (what we
detected through the maze task) as compared with processing in a task that
allowed our participants to rely on explicit knowledge of some sort. Such
explicit knowledge should not necessarily take the shape of metalinguistic
descriptive rules about the linguistic behavior of the resultative construction.
Even the awareness of the contrastive readings entailed by the surface forms
of sentences like as Samuel wiped the table dry and Samuel limpou a mesa
seca might have been available for inspection for our participants over the
timed grammaticality judgment task they performed.
We believe that our sample of Brazilian Portuguese-English
bilinguals was composed of L2 speakers who achieved a reasonable degree
of automaticity and proceduralization in parsing L2 constructions. First,
the bilingual participants in our sample were all classified in the highest
possible level in the Vocabulary Levels Test, a score that has been shown
to positively and significantly correlate with independent measures of L2
proficiency that include morphosyntax (SOUZA; SOARES-SILVA, 2015;
SOARES-SILVA, 2016). Second, those were bilinguals immersed in the L2
sociolinguistic environment for several years. This fact taken together with
their explicitly measured proficiency in the L2 makes it highly probable
that the bilingual population we sampled is characterized by intense
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1709
exposure and productive use of the L2. The performance of our bilinguals
in the maze task revealed a processing pattern that diverged from what we
observed among monolinguals in the critical items of our experiment, and
effects of intense usage of the L2 on the altering of bilingual processing of
L1 patterns in relation to monolinguals have been documented elsewhere
(e.g.: FERNÁNDEZ, 2003; DUSSIAS; SAGARRA, 2007). Ultimately,
as discussed above, there is evidence that it is precisely the abstraction
of distributional probabilities in the input that characterizes much of the
implicit knowledge that takes the shape of grammar.
As discussed above, Souza, Soares-Silva and Silva (2016)
suggested that the non-replication in a timed judgment task of the
bilingual cross-linguistic effects found in online processing tasks could
be a temporal decay of such effects. However, the considerations we
bring out in the present study lead us to suggest a different perspective
on this issue. We propose the alternative hypothesis that instead of the
consequence of a time factor, the mismatch reported in the authors’
study could be a byproduct of the fact that bilingual cross-linguistic
interactions may take place mostly at the level of implicit representations
and processes, but are actually inhibited and controlled if the task
contingencies allow for integration of explicit representations.
Thus, we interpret our observations in the present study as
suggesting that the extent to which bilingual cross-linguistic interactions
occur is modulated by task type, and that such interactions can be clearer
when performance relies on implicit representations, rather than on more
controlled processes. Therefore, we assume that the hypothesis that
departure from L1 norms may reflect changes in linguistic competence,
put forward in Fernández and Souza (2016) and Fernández, Souza and
Carando (2017), could be re-stated as changes in the output of procedures
that rely on implicit representations. This assumption is subsumed by the
notion that linguistic competence does not refer to a stable knowledge
repository, but rather to a malleable set of representations that optimally
serve the pressures for the efficient resolution of language processing
demands at the point of need, and as imposed by the specific contingencies
of specific linguistic tasks.
1710
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7 Conclusion
Our observations in the present study are convergent with the
results reported in Fernández, Souza and Carando (2017) and Souza
(2014) in concern to a facilitative bilingualism effect on the L1 online
processing of an argument structure construction that is alien in the
bilinguals’ L1, but productive in their L2. On the other hand, Souza,
Soares-Silva and Silva’s (2016) observations that such bilingualism
effects are not detectable in timed acceptability judgments were also
replicated. We interpret these findings in light of recent research findings
the challenge the assumption that the reduction of the time ceiling for
judgment calls makes the grammaticality judgment task a reliable measure
of mostly implicit linguistic knowledge. In other words, we understand
our present findings as suggesting that bilingual cross-linguistic effects on
the L1 that have been reported in literature might be specifically salient
in processes that rely on implicit linguistic knowledge.
This interpretation seems to be consistent with the notion that
implicit processes are automatic, whereas explicit processes are likely to
be more controlled. Ultimately, the picture that we tentatively put forward
here is that inhibition of properties of a language irrelevant for a given
processing task will be more effective in the performance of tasks that
are less dependent on the immediate outcome of automatic processes,
therefore allowing for more language control. This seems to be the case
of the acceptability judgment task, even under severe time restrictions.
We believe that such tentative picture also seems to accommodate the
hypothesis that continued automatic activation of non-relevant language
features during online processing might in the long run alter linguistic
representations that may be accessed even by explicit processes, thus
leading to bilingual innovations that may ultimately drive language
change, as proposed by Fernández, Souza and Carando (2017).
A limitation of the present study is the fact that we did not employ
a specifically factor-analytic design for the treatment of our data. We based
our assumption that explicit knowledge was tapped into by the timed
grammaticality judgment task on other research findings that show that
bilinguals in general have enhanced metalinguistic capacity. However,
we understand that more detailed psychometric validation studies of the
constructs tapped into by psycholinguistic tasks are an invaluable future
direction for both the psycholinguistics of bilingualism in particular and
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p.1685-1716, 2017
1711
for psycholinguistic research at large. Another limitation of this study is
the fact that we did not employ any validated measurement of language
use and/or dominance profile with our bilingual participant pool. The
lack of such an instrument impedes us from holding any conclusive
position concerning whether it was indeed the high level of attained L2
proficiency – rather than emerging drifts towards L2 dominance resulting
from immersion in the L2 sociolinguistic environment – that better
explains the bilingualism effects on L1 processing we did observe in our
online processing task. These limitations notwithstanding, we hope the
present study is above all an example of the fruitful collaboration that
can be established between experimental psycholinguistics and solid
psychometric considerations.
Acknowledgements
The authors would like to express their gratitude for grant APQ02932- 14, from the Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais, which supported the present study.
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Morphological priming resists language and modality
switching in late Dutch-Brazilian Portuguese bilinguals
Priming morfológico resiste em face à alternância entre línguas
e modalidades com bilíngues tardios de holandês e português
brasileiro
Marije Soto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
marijesoto@hotmail.com
Aline Gesualdi Manhães
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro / Brasil
alinegesualdi@gmail.com
Abstract: In this study, we aimed to investigate how late bilinguals of
Dutch and Brazilian Portuguese (BP) engage in morphological processing
in L2. Morphologically related and unrelated word pairs combined with
cross-linguistic and cross-modal variations were presented in a lexical
decision experiment in order to compare morphological priming effects in
L2 and L1. We collected both reaction times and Event Related Potentials
(ERPs). In L2, morphological priming effects were observed in lower
amplitudes for the N400 component, but no effect was observed for RT
measures. This can be explained under the assumption that the N400
component is more sensitive to lexical properties of roots (e.g.√friend)
than to lexical properties of full word forms (e.g. friendliness). We
consider that difficulties in L2 morphological processing are not
necessarily due to a lack of parsing of morphemic units, but because of
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1717-1766
1718
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the difficulty in the semantic interpretation of derivational morphemes
in L2. This occurs via compositional mechanisms that are grammatically
constrained, which are especially difficult to acquire in adult life. This is
in line with what is suggested by the Superficial Processing Hypothesis
(CLAHSEN et al., 2010). Moreover cross-linguistic priming showed that
although morphological priming occurred for switching from L2 to L1,
it caused the opposite effect for switching from L1 to L2. These results
confirm predictions made by the Revised Hierarchical Model (KROLL
et al., 2010), which explains this type of data in terms of the relative
weakness of concept to word form mapping in L2 as compared to word
form to concept mapping.
Keywords: switching; bilingual word recognition; N400.
Resumo: Neste estudo, pretende-se investigar o processamento
morfológico em bilíngues tardios de holandês (L1) e português brasileiro
(L2). Pares de palavras morfologicamente relacionados e pares não
relacionados foram apresentados em uma tarefa de decisão lexical
com alternância de línguas e de modalidade entre prime e alvo a fim
de comparar efeitos de priming morfológico na L1 e na L2. Coletamos
tempos de resposta (TRs) e Potenciais Relacionados a Eventos (ERPs).
Na L2, efeitos de priming morfológico foram observados nas amplitudes
reduzidas do componente do N400, mas nenhum efeito foi observado
para os TRs. Isso pode ser explicado, se considerar que o N400 é mais
sensível às propriedades lexicais das raízes (ex. √amigo) do que às
propriedades lexicais das palavras inteiras (ex. amigável). As dificuldades
no processamento morfológico na L1 não são necessariamente devidas a
uma falha na segmentação dos morfemas, mas devido à dificuldade para
interpretar os morfemas derivacionais semanticamente. Isso depende de
mecanismos composicionais que são guiadas pelas regras morfológicas
que são especialmente difíceis para serem adquiridas durante a vida
adulta. Essa conclusão está de acordo com a Hipótese de Processamento
Superficial (CLAHSEN et al., 2010). Ainda, a alternância entre línguas
evidenciou que, embora houvesse priming morfológico para a direção
de L2 para L1, para a direção de L1 para L2 o efeito oposto ocorreu.
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Esses resultados confirmam as previsões lançadas pelo Modelo Revisado
Hierárquico (KROLL et al., 2010), que explica esse tipo de dado em
termos da fragilidade relativa na L2 do mapeamento do significado da
palavra para a sua forma lexical comparada ao mapeamento da forma
lexical para seu significado.
Palavras-chave: acesso lexical bilíngue; alternância; N400.
Recebido em 13 de dezembro de 2016
Aprovado em 7 de maio de 2017
1 Introduction
The agility with which bilinguals alternate freely between lexical
items in different languages is truly an amazing feat of human cognition.
Yet it is part of everyday life for the majority of people in the world. A
conservative estimate of about 50% of the world population (BHATIA;
WILLIAMS, 2005) operates easily in both monolingual and bilingual
mode1 and engages in code switching2 on a daily basis. This has led
many researchers to raise questions about how the bilingual lexicon is
According to Grosjean (1989), the mode in which bilinguals activate L1 and L2 refers
to whether both languages are equally activated (bilingual mode), or asymmetrically
activated (monolingual mode). The mode in which the bilingual operates depends on
the information he or she receives in the form of expectancy, pragmatic context, or
task instructions.
2
Code Switching is a typical phenomenon among bilingual speakers. It consists of
inserting excerpts of speech in one language, in a conversation structured in another
language. For a long time, this phenomenon was understood as a way to compensate
for some deficiency in proficiency in one of the dominant languages of the bilingual
speaker. The hypothesis was that when bilingual speakers engage in code switching,
it is to compensate for some aspect they do not master in one of their native languages
by inserting words of the other, a phenomenon known as semilingualism (LIPSKY.,
1978; HEREDIA; BROWN, 2004). Currently, it is believed that Code Switching
involves pragmatic competence of bilinguals which enables them to recognize bilingual
conversational partners of the same languages, thus sharing in common linguistic
competence and cultural identity (MEISEL, 1994).
1
1720
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organized, the manner in which lexical representations are activated, and
the nature of the processing mechanisms operating on the comprehension
and production of lexical items in monolingual and bilingual modes.
Essential to these questions is also how factors such as age of acquisition,
exposure, cultural identity, among others, influence these aspects.
In this study, we focus on whether and how late bilinguals
engage in morphological processing in L2. With regards to this, the main
issues under debate are the following: (i) is there any morphological
processing in L2 for late bilinguals, and if so, is it comparable to L1
morphological processing?; (ii) are (morphological) processing strategies
dependent on L1 characteristics? (for example, if L1 is morphologically
‘rich’ in comparison to L2, does this lead to deeper L2 morphological
processing?); (iii) does L2 morphology map onto meaning as readily as
L1 morphology does, or is it mostly mediated by lexical representations
in L1? (BRAESBART; DIJKSTRA, 2006; PORTIN et al., 2007;
LEMHÖFER et al., 2008; DIEPENDAELE et al., 2011). We approached
these questions by investigating morphological priming3 in late bilinguals
who are native speakers of Dutch (their dominant language), having
learned Brazilian Portuguese as adults(>21y) while living in Brazil.
We adhere to Grosjean’s definition of bilinguals. He defines bilinguals
as individuals who use two languages in their daily life (GROSJEAN,
1994). To tap into the processing mechanisms of this group of bilinguals
we collected both neurophysiologic and behavioral data, using Event
Related Potential (ERP)4 and priming methodologies. There are very few
In a word priming paradigm, different types of relations between prime (1st word) and
target (2ndword) are manipulated, such as: semantic association (apple-pear), morphological
relation (teach-teacher), phonologic similarity (peach-pea), repetition(peach-peach), to
name a few. The rationale behind this paradigm is that the activation of the second word
is affected (facilitated or hindered) by the activation of the previously presented word (the
prime). Depending on the research hypothesis, a specific kind of relation can be manipulated
in order to assess its involvement in word representation and processing.
4
Event Related brain Potentials (ERPs) are extracted from continuous
Electroencephalogram (EEG) recordings in which stimulus presentation onset is
marked so that the signal can be segmented to study neurophysiological responses
to stimuli. Segments are added and averaged per experimental condition so that they
may be compared for experimental condition effects. This is measured by comparing
amplitudes (in voltage) and latencies (moment of maximum peak in ms) in a given time
interval. An N400 component is thus a negative amplitude peak approx. 400ms after
stimulus onset, a P300 effect is a positive peak approx. 300ms after stimulus onset.
3
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1721
studies on morphological priming in bilinguals using ERP methodology,
and none of them comparing Dutch-Brazilian Portuguese bilinguals.
Therefore, as a pioneer contribution to the field, this study might raise
more questions than it answers, as there are as of yet not many data to
compare with in literature.
In order to address the specific question of morphological
processing in L2, participants had to engage in a lexical decision task,
presenting morphologically related pairs (ex. friend-friendly) and
unrelated pairs (ex. pencil – garden) as the control condition in both
L1 and L2. Facilitation of lexical access by morphological priming as
compared to a control baseline has been attested both in monolinguals
and bilinguals (DIJKSTRA et al., 2005; PORTIN et al., 2007; SILVA;
CLAHSEN, 2008; DOMINGUEZ; SEGUÍ; CUETOS, 2002), and -as an
experimental effect- can be isolated from phonological, orthographical
and semantic priming effects (DE GROOT; DELMAAR; LUPKER,
2000; DIJKSTRA et al., 1999). Target words that are morphologically
related to their primes (e.g. teach-teacher) are recognized faster compared
to targets in orthographically or phonologically related pairs (e.g. freezefree), and semantically related pairs (e.g. horse-farm) (DIEPENDAELE
et al., 2011). This specific facilitation effect indicates that morphological
information is an integral and influential part in the architecture of the
lexicon, both for monolinguals and bilinguals. However, the manner
in which morphology operates in bilingual comprehension, in mono or
bilingual mode, is still a matter of debate.
Although morphological priming effects have been shown
in several studies with bilinguals, researchers are not conclusive in
the interpretation of the results. A study by Diependaele et al. (2011)
showed that Spanish-English and Dutch-English bilinguals, who had
started learning English from the ages of 18 and 12, respectively,
displayed similar reaction times as English monolinguals in a masked
morphological priming experiment in which participants had to perform
a lexical decision task in English(L2). Some authors claim data such as
these suggest that bilinguals largely adopt the same processing strategies
in L2 as monolingual native speakers of that language (LEMHÖFER
et al., 2008). If this is indeed the case, it means that morphological
processing in L2 involves parsing words for morphemic units and that
recognition of morphologically complex words is guided by rule based
automatic processing, analogue to L1 processing. Contrary to this idea,
1722
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other authors suggest that bilinguals rely more heavily on whole-word
processing in their second language than in their first language. In
this case a stored representation of a whole-word is accessed, while
morphological composition within words remains opaque (ULLMAN,
2004, 2005; CLAHSEN et al., 2010). Data that point in this direction are
presented by Hahne et al. (2006). Their study showed that late bilinguals
use morphological decomposition strategies to process morphological
derivation with suffixes, such as in bitter-bitterness, but not to process
inflectional morphology, either for regular or irregular verbs.5 Some
authors take this to be evidence that derivational and inflectional
processes have differential cognitive status, given that the latter depends
on interpretation of functional categories, such as tense features, for which
L2 grammar representation may not contain the same level of detailing
as compared to L1 grammar (ULLMAN, 2004, 2005; HAHNE et al.,
2006; CLAHSEN et al., 2010).
In this view, lack of detailing in L2 grammar occurs when L2 is
learned after childhood or, for some authors, after puberty. For Ullman
(2004, 2005) this idea is based on his declarative/procedural model. In
this model, word recognition can occur via direct lexical retrieval or
via compositional mechanisms that are grammatically constrained. The
former relies on declarative memory, subserved by the left temporal
lobe, and the latter on procedural memory, which engages the left
frontal cortex and basal ganglia. Rule based automatic procedures are
acquired early in life, and, thus, do not support language learning after
childhood. This implies that late bilinguals are more dependent on
declarative memory for L2 representations, and, therefore, are biased
Most commonly morphemes are understood to be of two categories: (i) derivational;
or (ii) inflectional. Derivational morphemes add to the meaning of a root, affecting
both category and meaning (ex. to judge (v)-judgment (n)), and morphological
rules supposedly determine which combinations between roots and morphemes
are grammatical (ex. –ment combines with a specific group of verbs). Inflectional
morphemes do not change the category of the word they combine with, but indicate
syntactic or semantic relations between constituents of sentences. For example, the
present tense morpheme –s indicates agreement between a verb and its 3rd person subject.
However, there are authors that contest the cognitive relevance of the derivational vs.
inflectional distinction, given that there are some morphemes that share characteristics
of both types (e.g. a participle morpheme can both nominalize and inflect in BP)
(MARANTZ, 1997)
5
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1723
for whole-word representations. Some authors associate this supposed
inability for deep grammatical processing in late bilinguals as a logical
consequence of cognitive-biological limitations for language acquisition
beyond the critical period (HAHNE; FRIEDERICI, 2001). Other authors
stress the possibility of the development of proficiency over time, even
for late learners, which greatly attenuate effects of so-called superficial
processing (HAHNE et al., 2006; KOTZ et al., 2004).
The reduced ability for acquiring rule based automatic
procedures for late bilinguals supposedly leads to an L2 grammar
that is morphologically underspecified, consequently only enabling
‘superficial’ processing (Superficial Processing Hypothesis, CLAHSEN;
FELSER, 2006; CLAHSEN et al., 2010). Thus, the functioning of the
morphological parser in bilinguals is expected to yield overall slower
and less automatized processing, especially for late L2 learners, who
supposedly rely more heavily on memory and attention for L2 processing
than for L1 processing (ULLMAN, 2004; 2005). Mostly this rationale is
built on evidence showing bilinguals process derivational morphology
differently from inflectional morphology. Nonetheless, criticism on
this rationale is that morphological priming results in bilinguals mostly
resemble monolingual data, which also tend to show stronger morphemic
priming with derivations than with inflections (FELDMAN, 1994;
SCHRIEFERS; FRIEDERICI; GRAETZ, 1992; SILVA; CLAHSEN,
2008).That is why, in this study we chose to focus only on the stimuli
with derivational suffixes.
Based on data from the literature, an effect for morphological
priming for late bilinguals in both L1 and L2 is expected, especially if
the stimuli only present derivational morphemes. On the other hand,
morphological processing might be relatively superficial for L2 as
compared to L1, due to late acquisition of L2. If this affects parsing
across the board, RTs might be reduced for targets in L2.
To ensure that potential morphological priming in L2 is not
merely due to an orthographic form repetition effect, participants were
presented with trials in which modality was varied. Primes were presented
in either auditory or written form, while targets were always written. In
lexical decision tasks, auditory stimuli generate reduced amplitudes for
ERPs and faster RTs, reflecting ease of processing as compared to written
stimuli (STOCKAL; MARANTZ, 2006). Yet in this study, primes will
be varied for modality, while all targets will be written. In the case of
1724
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cross-modal priming pairs, a switching cost is generated, as evidenced by
slower RTs and slower N400 effects in comparison to unimodal priming
(HOLCOMB et al., 2005; KIYONAGA et al., 2007).
Proficiency levels in late bilinguals affect both RT measures
and ERP data. ERP studies show that proficient L2 speakers tend
to present similar neurophysiologic responses as native speakers of
that language (KOTZ et al., 2008). The N400 component can appear
in both less and more proficient L2 speakers. This ERP signature is
generally associated with semantic processing, and it also sensitive to
morphological processing. Facilitation of access to target words as a
result of morphological or semantic priming yields lower amplitudes
400ms after word presentation onset as compared to targets of unrelated
word pairs. Generally, the lower amplitudes are interpreted as reflecting a
relative ease in processing (OSTERHOUT et al., 1997; MUNTE et al., 1999;
KUTAS; FEDERMEIER, 2000; PYLKKÄNEN et al., 2000; 2003; DOM et
al., 2004; MARANTZ, 2005; FRANÇA et al., 2008; LAU et al., 2008; SOTO,
2010; GARCIA et al., 2012). Differences in proficiency may correlate with
subtle modulations in latency and amplitude of the N400 component.
Even speakers with relatively low proficiency can present N400
responses to semantic priming. However, very few studies have looked into
bilingual morphological priming with ERP methodologies. Components
that supposedly reflect (morpho)syntactic processing, such as ELAN and
P600, generally only appear in very proficient speakers (KOTZ, 2001;
DIJKSTRA et al., 2005; HAHNE; FRIEDERICI, 2001). Nonetheless,
P600 waveforms can appear in proficient late bilinguals when processing
L2, and they may resemble those of native speakers of that same language.
Hahne et al. (2006) presented participants with inflected verbs (past tense)
and nouns (plural) in L2 in a syntactic violation paradigm, which yielded
a P600 effect, and not an earlier ELAN component. The authors took this
to as a confirmation of the aforementioned claim that bilinguals process
inflectional morphology different from derivational morphology. Factors
that influence resemblance to native-like responses for N400 and P600
components are proficiency (TANNER et al., 2016), age of acquisition
(KOTZ et al., 2008) and the degree of similarity of the tested syntactic
property between L1 and L2 (DÍAZ et al. 2016). In this study, we would
expect reduced N400 amplitudes for targets in morphologically related
pairs as compared to targets in unrelated word pairs. The degree of this
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morphological priming effect on the N400 components might reflect
the proficiency and stage of acquisition of the group of late bilinguals.
Another hypothesis, put forth by Díaz et al. (2016) as well as
Portin et al. (2007), is that language specific traits might influence both
RT and ERP measures. Portin et al. (2007) discuss whether language
specific morphological traits influence processing strategies. They suggest
that native speakers of languages that are known to be morphologically
complex, such as Finnish, which boasts 200 possible declinations for
nouns alone, apply similar processing strategies on languages that
display relatively less rich derivational and inflectional morphology,
such as English. The authors claim that bilingual native speakers of
Finnish will display a tendency to use morphological decomposition
for L2 word recognition because their native language has ‘sculpted’
processing mechanisms. This view, stemming from a weaker version
of the Linguistic Relativity thesis (WHORF, 1956; BORODITSKY,
2003) would predict that perhaps Dutch L1 speakers are biased for
monomorphemic and monosyllabic words (e.g. tuin, (“garden”)) and
productive compounding processes (e.g. tuin-man, (“garden-man ->
gardener”)). Derivational morphemes are productive in Dutch (e.g.
vriend – vriendelijkheid, (“friend – friendliness”), but compounding is
far more common in word formation. On the other hand, compounding
as a word forming process is rare in BP, which is why all targets (in L1
as well as L2) in this study are words with two or more derivational
morphemes. An L1 bias in this group of Dutch-BP speakers might make
them less likely to engage in processing mechanisms that are inherent
to morphologically rich languages such as Brazilian Portuguese (BP). If
this is case, than contrary to our initial prediction, morphological priming
effects in L2(BP) might be weak or even absent, meaning that RTs and
N400 will show little difference with those in response to unrelated pairs.
Another way of investigating morphological processing in L2 is
to test whether L2 morphemes map onto meaning just as readily as L1
morphemes do. In order to examine this, we included cross-linguistic
morphological priming in both directions: prime L1-target L2, and
prime L2-target L1. There is now a large amount of data in the literature
on bilingual word recognition that steadily points to bilingual lexical
access as being non-selective for either L1 or L2. This means that in
the first stages of auditory and visual word recognition, in principle,
word candidates from the different languages may compete (JACKET;
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FRENCH, 2002; BRYSBAERT; DIJKSTRA, 2006; KROLL et al., 2010).
This notion is reflected by the various hypotheses of how the bilingual
lexicon is organized. Traditional models for bilingual word recognition,
such as the one proposed by Paradis (1997), propose language-specific
storage for word forms (orthographic and phonological forms with their
syntactic properties) and word meanings, with a conceptual non-linguistic
level shared by both languages.
The idea of a separation between language-dependent lexical
meaning storage and a conceptual level shared by two languages is still
present in more recent models, such as the Revised Hierarchical Model
(RHM) (DE GROOT, 1998; KROLL; DE GROOT, 1997; KROLL
et al., 2010). Yet the focus has shifted to the notion of two lexicons
that are functionally separate, rather than a physical or organizational
separation for the storage of bilingual lexicons. Moreover, data indicate
that parallel activation to lexical and sublexical information between
languages occur (KROLL et al., 2010). The question is thus if meaning
activated by a word in L1 (ex. vriend (“friend”)) can prime a root in a
morphologically more complex word in L2 (ex. √amigo+(a)vel (“friend
+ ly”)), provided that the root is a translation candidate of the word in L1,
and vice versa. The RHM, although more intended as a model for word
prediction than word recognition, foresees that L1 and L2 can both map
onto conceptual representations, but that links between L2 word forms
and concepts are weaker. More specifically, the RHM hypothesizes that
in L2, the strength of links in the direction of concept to word form is
weaker than that for the opposite direction, from word form to concept.
This may cause asymmetric effects in the sense that, for late bilinguals,
access from words to concepts may be accomplished easily, while access
from concepts to words may demand more effort. Under this assumption,
RHM would predict facilitation from L2 to L1 (L2L1: amigo-vriendelijk
(“friend-friendly”)), given that the L2 word form amigo readily maps
onto a conceptual representation, which has rich links to L1, thus, easily
priming morphologically related candidates. Additionally, there might
be a parallel link connecting the word amigo directly to the word form
of a translation pair (e.g. vriend). Yet, language switching in the other
direction (L1L2: vriend-amigável (“friend-friendly”)) would be expected
to make target recognition more difficult due to the fact that the L1
word easily maps on to a conceptual representation, which might be
widely connected to an array of conceptual representations that link to
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other lexical representations in L1. Not only would these compete with
any upcoming word in L2, but mapping from concept to form might be
more difficult in L2. Added to this asymmetric effect is that even if the
conceptual features are shared, access to these features via word form,
might not be equivalent for L1 and L2, especially if bilinguals are less
proficient, for example (KROLL et al., 2010). Therefore, if the RHM is
correct in its predictions, for this study, we might expect facilitation to
hold when there is a switch between prime and target language, depending
on the switching condition. Facilitation is expected for L2 to L1, whereas
slow processing is expected for L1 to L2.
However, not all studies have shown evidence of asymmetric
cost, especially not in word recognition tasks. For word recognition,
there is not necessarily a need to select among competitors, especially
if the task is to merely acknowledge the word as being a potential word
in either L1 or L2, such as is the case in this experiment. Also, in this
study, bilinguals are consciously triggered into bilingual mode because
monolingual priming pairs (L1L1 or L2L2) are alternated with bilingual
pairs (L1L2 or L2L1) and they are told to recognize words in either L1
or L2. Therefore, the cognitive effort spent on inhibiting L1 competitors
may be reduced (BRYSBAERT; DIJKSTRA, 2006). There are also other
factors that may reduce asymmetric switching effects. The strengthening
of links between L2 word forms and conceptual representations may
evolve as bilinguals gain more proficiency.
ERP data for morphological processing in monolinguals present
evidence that word recognition is compositional, given that N400
components are sensitive to lexical properties of roots (e.g.√friend)
more so than lexical properties of the full word form (friendliness). This
suggests that N400 responses may reflect access to the stored meaning
representation as activated by a given lexical root, and that subsequent
processing of derivational suffixes is of relatively low cost, not reflected
by N400 amplitudes, perhaps since it only adds highly predictable and
systematized meaning to an already accessed meaning (e.g. .√friend +
ly (attribute) + -ness (state of)) (PYLKKÄNEN et al., 2000, 2002, 2003;
FRANÇA, et al., 2008).
In the case of cross-linguistic morphological priming, the prime
and target are related by way of translation pairs that supposedly map
on to shared conceptual features. For example, if the prime is vriend
(L1 (“friend”)), it may map on to amigo (L2 (“friend”)), which is the
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lexical root of the morphologically more complex target amigável (L2
(“friendly”)). An N400 component measured during the presentation of
a target in L2 probably reflects facilitation due to the sustained activation
of the meaning representation as accessed by the prime vriend. If we
assume that the lexical root in L2 and translation pair of the prime
amigo is easily identified within the morphologically complex target by
morphological parsing, its mapping onto an already activated meaning
should yield facilitation effects. However the posterior process of parsing
(in this example: amig-(a)vel) and additional processing of derivational
suffixes might be more costly in L2 than it is in L1. This might be caused
by less efficient morphological parsing in L2 or by difficulty mapping the
suffixes onto meaning, as well as a reduced richness in the representation
of morphologically related word forms in the L2 lexicon. All of these
factors might make it more difficult to recognize a morphologically
complex target word in L2, even if it is primed by a morphologically
related word in L1. Thus, while N400 components may show facilitation
effects, reaction times may not due to these additional difficulties in
the case of L1 to L2 switching. In the ERP literature opposite effects
between behavioral results and N400 components are not uncommon
(HAHNE; FRIEDERICI, 2001; HAHNE et al., 2006, KOTZ, 2001;
KOTZ; ELSTON-GÜTTLER, 2004; WEBER-FOX; NEVILLE, 1996),
since these measures may reflect different stages in word recognition, or
be affected differently by experimental task requirements.
According to the predictions of the RHM, as well as the Superficial
Processing Hypothesis, an asymmetric switch effect is expected, but
for different reasons. The RHM predicts that relatively weaker links
between word forms and concepts in L2 will result in slower RTs for
morphological priming, especially when the direction of the switch is
from L1 to L2. The Superficial Processing Hypothesis foresees overall
less efficient morphological processing for L2, which may also lead to
an asymmetric switch effect from L1 to L2, but it also predicts no or
reduced morphological priming for non-switch priming in L2.
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1729
2 The experiment
In this study we presented morphologically related and unrelated
word pairs in order to compare morphological priming effects in L2 and
L1. Facilitation for morphologically related targets relative to unrelated
target controls in L2 would be evidence of effective morphological
processing in late bilinguals of Dutch and Brazilian Portuguese (BP).
Participants engaged in a lexical decision task, for which they had to
decide whether targets were words either in Dutch or in BP. In order to
present an equal number of trials with possible yes or no answers, we
added trials with Hungarian targets, a language none of the participants
had been exposed to before. We collected EEG measures and reaction
times(RTs) from 18 proficient late bilinguals. Faster RTs and lower
mean amplitudes of the N400 component reveal facilitation effects for
morphological priming as compared to unrelated prime and target pairs.
Besides, non-switch trials (L1to L1 and L2 to L2), participants
were also presented with switch trials (L2 to L1 and L1 to L2). With the
switch condition, we aimed to test whether L2 morphemes map onto
meaning just as readily as L1 morphemes do. The lexical root contained
in a morphologically complex target word may be primed by a prime if
it is a translation candidate (e.g. prime: vriend (L1 (“friend”)) – target:
√amig- (a)vel/ amigável, (“friend- ly”)). The Revised Hierarchical Model
foresees that the switch direction from L1 to L2 is more costly because
in L2 the links from concept to word form might be weaker than those
mapping word forms to concepts. The Superficial processing hypothesis
(CLAHSEN; FELSER, 2006; CLAHSEN et al., 2010) foresees overall
less efficient morphological processing for L2, which may also lead to an
asymmetric switch effect from L1 to L2, but it also predicts no or reduced
morphological priming for non-switch priming in L2. Asymmetric
priming effects as well as slower overall processing for L2 in general
may be reflected by relatively slower RTs as compared to L1 targets, or
absence of any morphological priming. However, N400 amplitudes may
yield evidence for facilitation, even when RTs do not, if we assume that
N400 components sensitive to lexical properties of roots (e.g.√friend)
than to lexical properties of full word forms (e.g. friendliness).
Finally, to ensure that the morphological priming effects are not
merely a case of an orthographic repetition effect, we added a crossmodal variable, presenting trials with auditory primes followed by written
targets, as well as trails for which both prime and target were written.
For both types of trials, morphological priming effects may be expected.
1730
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
2. 1 Materials and Methods
The four variables in our study are: (i) relation type: morphological
vs. unrelated; (ii) switch: switch vs. non-switch; (iii) target language:
L1(Dutch) vs. L2(BP); (iv) modality: auditory vs. written. These
combinations yielded 16 conditions. In Table 1, conditions and sample
stimuli are presented except for those including Hungarian (H) targets.
There were four conditions with Hungarian targets: L1H and L2H, both
with auditory and written primes. Modality conditions are not specified in
Table 1, but of all of the 8 conditions were presented with auditory primes
and written primes, reaching a total of 16 conditions. Each condition was
represented by 8 items, and an equal number of pairs with Hungarian
targets were added for the purposes of the lexical decision task. In total,
256 pairs were presented to each participant (for the complete list, see
Appendix 1).
The auditory stimuli were recorded by native speakers for L1
and L2, both speakers were female and matched for pitch. We controlled
words for frequency over all conditions by using a hit count in Google,6
and equally distributed the number of items for all the grammatical
classes of the primes(L1: noun=83; adj=25; verb=20 and L2: noun=82;
adj=25; verb=21), and targets (L1: noun=30; adj=32; verb=2, and L2:
noun=34; adj=25; verb=3; adverb=2). We distributed a controlled
variety of suffix types over all conditions, presenting at least 2 items for
each suffix type (L1: 9 different suffixes and L2: 14 different suffixes)
(see Appendix 2 for a complete list). Also, we controlled for number
of phonemes, presenting a range of 4-6 for primes, and 6-8 for targets.
In terms of morphological complexity, primes were always composed
of a root and a category morpheme (e.g. amig + o, (“friend”)), and the
target was always a morphologically complex word with 2 or more
morphemes (e.g. amig + a + vel, (“friendly”) or vriend + (e) lijk + heid,
(“friendliness”)). Stimuli were pseudo-randomized and divided into two
In the absence of large corpora for Brazilian Portuguese, we chose to run a Google
search for each word in the stimuli set. Frequency is measured by the number of
Google hits for .br sites on a given day. It is perhaps not an ideal but an acceptable
indication of surface frequency in the absence of large accessible corpus with the
appropriate information codification. Google hits filter out infrequent words such as
drupa (‘blossom’) with 24.500 hits vs. flor (‘flower) with 10.400.000 hits or coturno
(lumberjack) 955.000 hits vs. bota (‘boot’) with 5.360.000 hits
6
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1731
lists. Eight participants from a previous Dutch-BP bilingual study who
did not participate in this experiment were asked to judge all Portuguese
words for familiarity. They were told to mark words as either known,
unknown, or I’m not sure what this word means. None of the items were
rejected unanimously; however, out of all the 176 Portuguese words, there
were nine items which were marked as unknown by three volunteers.
Notwithstanding, given that only one of these nine items was marked
twice, we did not exclude any items.
TABLE 1 – Experimental design: experimental design and prime-target
examples
switch:
prime-target
relation:
morph.related
switch
unrelated
Nonswitch
morph.related
unrelated
target L:
Dutch (L1)
Brazilian Portuguese (L2)
jogo–SPELER
sluiten –FECHAMENTO
(“game-GAMER”)
(“close-CLOSURE”)
rotina -VRIENDIN
winnen – GRÁVIDA
(“routine-GIRLFRIEND”)
(“win-PREGNANT”)
moeder – MOEDERLIJK
casar – CASAMENTO
(“mother-MOTHERLY”)
(“wed-WEDDING”)
vraag – PLEZIER
burro – SEGURO
(“question-PLEASURE”)
(“dumb-INSURANCE”)
2.2 Participants
In this study we take bilinguals to be individuals who make
use of two languages in their daily life (GROSJEAN, 1994). Eighteen
participants took part in the experiment, but 2 datasets were excluded
due to artifacts and excessive noise on the EEG signals. One participant
was excluded from the analysis based on proficiency scores. Thus, 15
datasets were included in the analysis. All participants had lived in Brazil
for an average of 6,8 years (ranging from 4 to 18 years) and had thus
been exposed to BP for the extent of that period. Participants varied in
1732
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
age from 25 to 48 years. None of the participants had been exposed to
PB under the age of 21.
All participants reported that L1(Dutch) was their dominant
language. L2 Proficiency varied somewhat between participants, but
before partaking in the experiment, participants were asked to describe
some images in a Monica e sua turma comic book, the results of which
were recorded and post-hoc assessed by 3 independent judges (native
speakers of L2, and graduate students of the Language Faculty at the
Federal University of Rio de Janeiro). The judges used a three-point
scale to assess participants on pronunciation, vocabulary, and fluency,
and a five-point scale for structure. Most participants scored between 2
and 3 points for pronunciation and vocabulary and around 4 points for
structure (see Appendix 4 for all results). One participant was excluded
based on proficiency scores, which were far below the grades of the other
participants, achieving only 50% for fluency and vocabulary.
Some biographic data were collected also (see Appendix 3).
All participants had started learning Portuguese after the age of 21 and
additionally spoke another foreign language (English, French, German,
and Spanish were the languages mentioned), a possible confound which
is hard to avoid when dealing with Dutch bilinguals. All participants
held at least bachelor degrees, except for two participants who finished
preparatory scientific education. All participants were right-handed and
had normal or corrected to normal vision. Also, none of the participants
reported having any hearing impairments. All participants signed a form
of consent which had been pre-approved by the Ethical Committee of the
University Hospital of the Federal University of Rio de Janeiro.
2.3 Procedure
Participants were placed at a 90cm distance in front of a 15 inch
screen on which words were presented in Times New Roman font, size
25, on a black screen (see Figure 1 for the presentation protocol) using
Presentation software version 12.2 (developed by Neurobehavioral
Systems). The lexical decision task was first explained, and participants
were instructed to use a button box to respond, pressing a green button
for YES and a red button for NO, only judging the target. Left and right
positions of buttons were alternated between participants. There was a
training session of 15 trials, which was repeated if participants did not
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1733
understand the task correctly. During the experiment, there were four
breaks during which participants could continue at their own leisure.
Total time of recording, including electrode placement and proficiency
testing, was approximately 1.5 hours.
The presentation protocol of the stimuli is shown in Figure 2.
A low pitched tone marked the beginning of each trial, accompanied
by a fixation cross. Primes and targets were each presented for 200ms
separated by masking for 250ms. Primes alternated for either sound or
written form. After target presentation, there was a 1500ms time out
period during which participants carried out the lexical decision task.
FIGURE 1 – Presentation protocol: presentation protocol for the priming
paradigm as presented on the Presentation platform. The last screen presents
the target for which the participant has to perform the lexical decision task
Before starting the experiment, 21 electrodes were placed on the
participant’s head according to the international 10 –20 set up (see Figure
2) (NIEDERMEYER; SILVA, 1982). Silver cup electrodes were fixed to
the scalp with electrolyte paste (Elefix by Nihon Kohden). Two electrodes
placed on the left and right earlobes served as reference. Impedance
was kept below 10 kΩ throughout the experiment. The EEG equipment
used was BrainNet BNT 36, and EEG signals were filtered during the
recording session (100Hz, and 0,1Hz), sampling frequency was 200Hz.
1734
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FIGURE 2 – Electrode set up: The photo shows a participant from the study
to illustrate electrode placement according to standard 10-20 configuration
3 Data processing and analysis
Reaction times were recorded using the Presentation platform,
and later on analyzed for normal distribution (Mauchly’s Test of
Sphericity). A cut off of 95% accuracy rate was determined a priori, but
since all the participants achieved 95% accuracy or over, none of the
datasets were rejected. All trials were included in the analysis, except for
outliers with a Z-score higher than 3 or lower than -3. RTs were analyzed
using a four-way ANOVA Repeated Measures analysis in SPSS software,
version 20. RTs were analyzed for all experimental variables: (i) switch;
(ii) relation type; (iii) target language; and (iv) modality. RTs in response
to Hungarian were not included in the analysis because they were not
considered relevant to the issues under investigation.
Raw EEG signals were digitalized and processed in BrainVision
Analyzer (BVA) software, version 2. Due to excessively noisy EEG
signals, two datasets were excluded from the analysis. From the processed
ERP wave forms (filtered at 30Hz, baseline correction 200ms) we
extracted mean amplitudes over a predetermined interval of 350-450ms
after word presentation onset. The mean amplitude analysis requires that
an a priori time interval is chosen from which all data points are taken
into account to calculate a mean. In this experiment, sampling frequency
was 200Hz, which means that within the 350-450ms interval 20 data points
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1735
yield one mean amplitude value (in µV). Extracting mean amplitudes is
considered a more reliable method than extracting only one maximum
amplitude, based on the highest amplitude within a given time interval. This
is because, in the averaging of the individual segments that form the final
ERP wave forms, distorting can occur due to variability among items and
subjects. Therefore, it is more relevant to look at all the data points within
an interval as opposed to only 1 (maximum) data point (LUCK, 2005).
Based on anatomic region, electrodes with similar anatomic lobe
reference were pooled into one Region of Interest (ROI) by the BVA pooling
function, yielding the following ROIs: Frontal (F3,F4,F7,F8,Fz); Central
(C3, C4,Cz); Temporal (T3,T4,T5,T6), Parietal (P3,P4,Pz), and Occipital
(O1,O2,Oz). Mean amplitude values were exported, and analyzed in SPSS
(version 20), applying a five-way ANOVA Repeated Measures analysis.
Mean amplitudes were analyzed for all experimental variables: (i) switch;
(ii) relation type; (iii) target language; and (iv) modality, including (v) ROI
(Frontal, Central, Temporal, Parietal, and Occipital) as a variable. For all
ANOVA analyses, p values of <0.05 were considered statistically significant.
4 Results
4.1 Behavioral Data: results
RTs were analyzed using a four-way ANOVA Repeated Measures
analysis for the variables: (i) switch: switch x non-switch; (ii) relation
type: morphological vs. unrelated; (iii) target language: L1 vs. L2;
and (iv) modality: auditory X written. Main effects were found for all
variables except relation type (F(1,118)=0.082, p=0.776). The main
effect for the target language variable (F(1,118)=150.48, p<0.001)
revealed that overall L1 rendered fastest RTs: both for non-switch
703.66ms(163.21ms) and for switch 708.38ms(169.71ms) conditions.
Post-hoc pairwise comparisons (LSD) showed there was no significant
difference between the two conditions (p=0.60). Overall L2 as a target
language yielded slower RTs: for non-switch 766.12ms(7.78ms) and for
switch 793.61ms(7.78ms). There was a significant difference between
the conditions with a p-value of 0,008. Differences between target
languages L1 and L2, irrespective of the switching condition, were
always significant with p-values of <0,001.The main effects for the
switch variable (F(1, 118)=7.53, p=0.007) revealed overall slower RTs
for the switching condition (non-switch: 734.99ms(5.89ms) vs. switch:
750.99ms(5.98ms)). However, as the interaction between the effects of
1736
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Target language and switch variables indicates (Target L. vs. Switch:
F(1,118)=5.33, p=0.023), switching from L1 to L2 yielded the slowest
RTs (793.61ms(7.78ms)). The main effect for modality (F(1,118)=28.64,
p<0.001) was reflected by overall significantly slower RTs for targets
followed by auditory primes as compared to written primes (AUD:
766.15ms(5.41ms) vs. WR: 721.05ms(5.14ms, p<0.001).
Various interactions were also found: switch X target language:
F(1,118)=5.33, p=0.023; switch X relation type F(1, 118)=9.45, p=0.003; target
X relation type: F(1, 118)=7.84, p=0.006; and switch x relation type x modality:
F(1,118)=4.79, p=0.031. To interpret these interactions in more detail, RTs for
relation type and modality variables are presented for all prime-target language
combinations in Graph 1. RT values for morphologically related targets are
presented in red, while RT values for unrelated pairs are presented in blue.
GRAPH 1 – Reaction times for variables relation type and modality per language
combination: RTs for targets preceded by an auditory prime presented on the left
(AUD) of each graph; RTs for targets preceded by written primes are presented on
the right of each graph. RTs for morphological pairs are presented in blue; RTs for
unrelated pairs are presented in red. Graphs a and b present RTs for the non-switch
condition with L1 and L2 as target languages, respectively; Graphs c and d present
RTs for the switch condition with L1 and L2 as target languages, respectively
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1737
In Graph 1a, we can see that there was a statistically significant
morphological priming effect for the non-switch condition with L1 as
the target language, i.e. L1 to L1 priming, and only when the prime
was auditory. The priming effect was expressed by faster RTs for
morphologically related targets as compared to unrelated targets: morph.
700.44ms(161.41ms) vs. unrel. 744.21ms(150.77ms), with p-value of
p=0.016. For all other language combinations in different modality
combinations there was no statistically significant effect (for all pairwise
comparisons see Table 2).
For the switch direction L1 to L2 in the auditory condition,
morphologically related targets yielded far slower RTs than for
unrelated targets (see Graph 1b): morph. 856.49ms(204.24ms) vs. unrel.
766.60ms(176.50ms), p<0.001.
For most language combinations, targets preceded by auditory
primes yielded slower RTs than targets preceded by written primes,
especially when unrelated targets are compared, with statistically
significant values for L1 to L1 (p=0.003), L2 to L2 (p=0.048), and, L2
to L1 (0.015). RTs for auditory modalities also yielded slower RTs as
compared to written modalities for morphological pairs, but only in
the switch conditions: L1 to L2 (AUD. 726.69ms(183.01ms) vs. WR.
672.61ms(156.54ms), p=0.015, and L2 to L1 (AUD. 726.69ms(183.01ms)
vs. WR. 672.61ms(156.54ms), p=0.340. In the latter switch condition,
the apparent difference was not significant statistically, probably due to
relatively high standard error values as visualized by the errors bars in
Graph 1d.
1738
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TABLE 2 – Pairwise comparisons for relation type and modality variables per
language combination: Reaction times are given in ms with standard error between
parentheses. P values were calculated for pairwise comparisons applying an LSD test
L prime - L target
L1 to L1
nonswitch
L2 to L2
L2 to L1
switch
L1 to L2
relation
type
modality
(RTs in ms)
AUD
WR
morph.
700.44
(161.42)
669.01
(163.15)
unrel.
744.12
(150.77)
694.19
(165.31)
p values
*0.016
0.236
morph.
770.81
(161.46)
738.33
(171.52)
unrel.
792.52
(177.02)
744.37
(180.41)
p values
0.312
0.773
morph.
726.69
(183.01)
672.61
(156.54)
unrel.
732.14
(158.40)
690.79
(157.31)
p values
0.766
0.351
morph.
856.48
(204.24)
784.29
(161.02)
unrel.
766.60
(176.50)
769.51
(149.61)
p values
*<0.001
0.403
p value
0.130
*0.003
0.096
*0.048
*0.002
*0.015
0.340
0.858
4.2 Behavioral Data: conclusion
The data show that this group of late bilinguals does not present
any morphological priming effect in L2. It is difficult to say whether this
effect can be explained by an overall slower processing in L2 or whether
this is related specifically to difficulty processing morphologically
complex words in L2. Both RTs for morphologically related and unrelated
targets were equally slower in L2 as compared to L1. In L1 there was
a facilitation effect due to morphological priming, but this was only
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1739
statistically significant for targets that followed auditory primes. This
seems to suggest that morphological priming occurs irrespective of an
orthographic repetition effect, but this conclusion is tentative given that
morphological priming only robustly occurred with cross-modal priming,
thus offering no grounds for comparison with unimodal priming. Across
the board, cross-modal conditions resulted in higher RTs, indicative of
a cognitive cost.
There was also no cross-linguistic morphological priming. On
the contrary, the highest RTs overall were in response to morphologically
related targets preceded by auditory pairs in the L2 to L1 condition.
Switching from L1 to L2 yielded higher RTs across all conditions,
but the interesting point here is that RTs were significantly higher for
morphologically related targets than for unrelated targets in the same
language switching condition. This seems in line with what the Revised
Hierarchical Model (RHM) would predict; namely, that relatively rich
semantic features activated by L1 primes co-activate many L1 related
candidates, but not an equal amount of L2 candidates, hindering lexical
access in L2. For unimodal written pairs in the L1 to L2 direction,
the difference between RTs for morphologically related and unrelated
targets was not statistically significant, but there is a tendency towards
an asymmetric effect also.
4.3 ERP data: results
In this analysis we will discuss mean amplitudes, measured
in µVolts, extracted from the ERP waveforms within the 350-450ms
interval after word presentation onset (LUCK. 2005). An ANOVA
analysis for repeated measures was carried out, considering the
following variables: (i) switch: non switch vs. switch; (ii) relation
type: morphological vs. unrelated; (iii) target language: L1 vs. L2; (iv)
modality: auditory vs. written; and (v) ROI: Frontal, Central, Temporal,
Parietal, and Occipital. The analysis revealed main effects for relation
type: F(1,13)=18.21, p=0.001, modality: F(1,13)=13.18, p=0.003, and
ROI(4,52)=8.16, p<0.001. There were no main effects for the switch
variable (F(1,13)=0.014, p=0.91) and target language (F(1,13)=1.03,
p=0.33). There were no interactions between the variable ROI and any
of the experimental variables (ROI vs. target L.: F(4,52)=0.13, p=0.97;
1740
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ROI vs. mod: F(4,52)=0.53, p=0.72; ROI vs. rel.type: F(4,52)=1.44,
p=0.23; ROI vs. switch: F(4,52)=0.75, p=0.56). The fact that there was
no interaction between ROI and any of the variables, may be taken
as an indication that the main effect of ROI as a variable is mostly
caused by differences in the strength of the responses in different
ROIs, rather than by any experimental effect that would be specific for
only one of the ROIs. Reports in the literature cite central and parietal
areas as most consistent for the N400 effect (KUTAS; FERERMEIER,
2000; LUCK, 2005; LAU et al., 2008). Therefore, both our analysis
and findings in literature support the selection of the parietal ROI
as representative for N400 effects in order to illustrate the results of
our analysis.
An ANOVA analysis for repeated measures on mean amplitudes
only from the Parietal ROI showed that main effects in this region mirror
those described in the previous paragraph. In Graph 2, mean amplitude
measures are shown for the 4 experimental variables. Negative amplitudes
as compared to relatively less negative amplitudes or positive amplitudes
are considered to reflect a higher cognitive cost. For example, for the
modality variable there was a main effect (F(1,14)=7.79, p=0.014, which
was driven by more negative amplitudes for targets preceded by written
primes (-10.11µV) than for targets preceded by auditory primes (9.06
µV). Thus, the data seem to suggest that the processing of written targets
takes more cognitive effort relative to the processing of auditory targets.
The main effect for relation type (F(1,14)=14.84, p=0.002) revealed
that overall targets of unrelated pairs elicited more negative amplitudes
(-6.55µV) than targets of morphologically related pairs (5.5µV). There
were no effects for the target language variable (F(1,14)=0.014, p=0.91)
nor for the switch variable (F(1.14)=0.08, p=0.784), indicating that
overall there were no significant differences between targets in L1
and L2, irrespective of the previous language context (L1 or L2). The
lack of interaction between these variables confirms this interpretation
(F(1,14)=0.78, p=0.39).
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1741
GRAPH 2 – Main effects for the parietal ROI: mean amplitudes in µV are
shown for modality in blue, switch in purple, relation type in green and target
language in orange
To examine the effects of the experimental conditions on the
waveforms, Figures 3a and b are presented with ERPs for target language
L1 (Fig. 3a) and L2 (Fig. 3b), collapsing switch and non-switch conditions
so as to make the comparison between the four waveforms representing
modality and relation type easier. There are two major peaks in these
ERP graphs: the first peak around 170ms-200ms, and a second around
400ms. Our analysis focuses on mean amplitudes extracted from the
350-450ms interval as our interest is to examine the N400 component.
Visual inspection of the waveforms in this interval (as marked by the
shaded area) seems to suggest that there were priming effects for both
L1 and L2, given that unrelated targets yielded higher amplitudes (i.e.
more negative values, with negative values plotted upwards) as compared
to morphologically related targets. This seems to be the case for targets
preceded by auditory primes (black: morph vs. blue:unrel.) as well as
for targets preceded by written primes (red: morph. vs. green: unrel.).
The more negative (or less positive) amplitudes for unrelated targets in
comparison to morphologically related targets may indeed imply there
was a relative ease in processing as a consequence of morphological
priming. However, post-hoc analyses (LSD) indicated that there was only
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a (nearly) statistically significant morphological priming effect for the
cross-modal condition with L1 as the target language. For this condition,
unrelated targets yielded higher (i.e. less positive) amplitudes as compared
to morphologically related targets: 0.25(34.78) vs. 17.44µV(38.68 µV),
p=0.05. Perhaps qualitatively apparent morphological priming effects
for other modalities with L2 as a target language are not robust enough
to survive statistical analysis, which may be due to the fact that standard
deviations are high, indicative of great variation in the data (for all values
see Table 3).
FIGURE 3– ERPs for the Parietal ROI comparing Target Language – Waveforms
for targets of morphologically related pairs are in black when preceded by an
auditory prime, and in red when preceded by a written prime. Waveforms for
targets of unrelated related pairs are in blue when preceded by an auditory prime,
and in green when preceded by a written prime. The shaded area indicates the
interval (350-450ms) from which mean amplitudes were extracted
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TABLE 3 – Post-hoc analysis of mean amplitudes for ERPs of the Parietal ROI:
mean amplitudes indicated in µV with standard deviation in parentheses. Fisher’s
LSD (least significant difference) test was applied to carry out parewise comparisons
target
language
L1
L2
relation type
modality (values in µV(std.dev))
post hoc comparison
(LSD)
AUD
WR
p-value
morph.rel.
17.44(38.68)
-4.27(36.78)
0.02
unrel.
0.25(34.78)
-14.18(42.07)
0.03
p-value
0.05
0.24
morph.rel.
16.51(35.4)
-7.67(41.36)
0.02
unrel.
2.05(45.45)
-14.31(41.22)
0.14
p-value
0.12
0.37
Tendencies for morphological priming could be observed
irrespective of cross-modal priming. In fact, for cross-modal priming,
all amplitudes were lower, and differences between unrelated and
morphologically related targets were greater; so much so that only crossmodal priming led to a statistically more pronounced effect for L1 targets.
To investigate further whether morphological priming carried over even
in switching conditions, all language combinations were plotted in Graph
4. Pairwise comparisons revealed that the morphological priming effect
presented in Figure 3 for L1 as the target language were most likely
driven by positive amplitudes for morphologically related targets in the
L2 to L1 switching condition, but only in the cross-modal condition (L2
to L1: morph. 26.87µV(8.57µV) vs. unrel. -3.09µV(10.25µV), p=0.009).
Morphological priming for L2 as the target language reachednear
significance with a p value of 0.06 for the L2 to L2 condition (morph.
13.23 µV(9.58µV) vs. unrel. -5.88 µV(11.35µV)). This confirms the
interpretation that there was a tendency for morphological priming, but
that it was not statistically robust. The data suggest that morphological
priming can occur in L2, even in a cross-linguistic context. Moreover,
this effect does not rely on an orthographic repetition effect given
that the morphological priming effect was restricted to cross-modal
morphological priming pairs.
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For the L1 to L2 switching condition, there were no differences
between the mean amplitudes of morphologically related and unrelated
targets, but there was a statistically significant effect between unimodal
and cross-modal priming, with more negative amplitudes for unimodal
priming (morph.: AUD. 19.75 µV(8.94µV) vs. WR. -21.27µV(10.95µV),
p=0.02; and unrel.: AUD. 9.97µV(12.14µV) vs. WR. –17.35µV(8.80µV),
p=0.045). Cross-modal priming also led to differences in other language
combinations (L1L1and unrel.: AUD. 3.59µV(7.78µV) vs. WR.
-19.51µV(9.56µV), p=0.012; and L2L1 and morph: AUD. 26.87 vs. WR:6.0 µV(10.6µV), p=0.015). Nonetheless, it was in the L1 to L2 switching
conditions that these differences were most pronounced since they could
be observed between both morphologically related and unrelated pairs.
4.3 ERP data: conclusions and comparison to RT data
GRAPH 4 – Mean amplitudes for variables relation type and modality per
language combination - Mean amplitudes for targets preceded by an auditory prime
presented on the left (AUD) of each graph; Mean amplitudes for targets preceded
by written primes are presented on the right of each graph. Mean amplitude values
for morphological pairs are presented in blue, for unrelated pairs in red. Graphs
a and b present mean amplitudes for the non-switch condition with L1 and L2 as
target languages, respectively; Graphs c and d present mean amplitudes for the
switch condition with L1 and L2 as target languages, respectively
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Lower amplitudes for morphologically related targets as compared
to unrelated targets in the 350-450ms interval indicated that there was
an overall morphological priming effect for targets in L1. The fact that
this facilitation was largest for switching from L2 to L1 suggests that L2
can successfully map onto meaning, thus, easily activating L1 translation
pairs that prime morphologically related words in L1. Nearly significant
morphological priming effects for the non-switch condition in L2 (L2
to L2) seems to imply that late bilinguals can establish morphological
relations between words in L2 and that morphological parsing, although
not as fast and effective as in L1, can occur.
The fact that these morphological priming effects mostly
occurred with cross-modal priming is somewhat surprising, given that
priming effects tend to decrease in the context of cross-modal priming
(HOLCOMB et al., 2005; KIYONAGA et al., 2007). However, data in
the literature are based on monolingual processing. It might be that the
conversion from orthographic forms to phonological representations
becomes more costly when more than one language is involved. Each
language has its own particular grapheme to phoneme mapping, some of
which may even overlap or contrast between languages (for example, the
grapheme ‘g’ maps onto the phoneme /g/ in PB, but onto the phoneme
/χ/ in Dutch). Bearing that in mind, we may perhaps think of unimodal
priming in language switch trials as something that can be quite costly.
Perhaps the cognitive cost of this phenomenon even carried over to
priming pairs that were monolingual since non-switching trials were
alternated with switching trials in the same block. In any case, it seems
that morphological priming effects in both L2 and L1 are not dependent
on a mere orthographical repetition effect. Although without any robust
priming effect in unimodal conditions for the purpose of comparison,
this conclusion remains tentative.
Different from the ERP data, the behavioral data did not show
any evidence of morphological priming effects in L2. This implies
that RTs and ERP measures possibly reflect different stages of word
recognition, and that they may be affected differently by task-related
processing strategies. N400 components are known to be sensitive to
lexical properties of roots (e.g.√friend) more so than to lexical properties
of full word forms (e.g. friendliness) (PYLKKÄNEN et al., 2000,
2002, 2003; FRANÇA et al., 2008). Therefore, lower (or less negative)
amplitudes in response to morphologically complex pairs in L2 (e.g.
1746
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amigo-amigável (“friend-friendly”)) may reflect morphological priming
effects because bilinguals recognize the root embedded in the target
word (√friend) for which the meaning was already activated from when
the prime was processed. Thus facilitation is due to the sustained or
repeated activation of the meaning representation of the root which is
repeated for primes and targets in the same language. This means that,
at least, morphologically complex words can be parsed for lexical roots
and derivational suffixes in L2 processing. For late bilinguals, there
is probably a qualitative difference in the semantic interpretation of
roots and suffixes, where the semantic interpretation of lexical roots is
sustained by word form to meaning mapping, while the interpretation of
derivational suffixes depends on interpreting highly predictable and rulebased meaning added to a lexical root-based meaning (e.g. .√friend + ly
(attribute) + -ness (quality/state of)friendliness: state of being friendlike). So-called superficial morphological processing in L2 is likely to
affect subsequent processing of derivational suffixes more than lexical
root to meaning mapping. This difficulty becomes apparent in higher RTs
for morphologically related targets in L2, such that no facilitation effect
can be observed in the RT analysis as opposed to analysis of the mean
amplitudes, in which we do see a morphological priming effect. This
account is in line with the Superficial Processing Hypothesis (CLAHSEN;
FELSER, 2006; CLAHSEN et al., 2010).
It seems less plausible to attribute this difficulty in morphological
processing to an L1 bias for monomorphic processing given that there is
a facilitation effect for morphological priming in L1, which is confirmed
both by RT and mean amplitude measures, even though, in Dutch,
morphologically complex words formed by derivation are less common
than words formed by compounding.
The asymmetrical switch effect predicted by the Revised
Hierarchical Model (RHM) was confirmed by the behavioral data. There
was a significant difference between RT values for morphologically
related targets and unrelated targets for cross-modal pairs in the L1 to
L2 condition. RTs for morphologically related targets were significantly
higher than those for unrelated pairs. This implies that especially related
meanings caused a processing cost as opposed to unrelated meanings,
which is something that is well accounted for by the RHM. This model
attributes a special status to the relative fragility of concept to word form
links in L2 as compared to word form to concept mapping, which is a
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notion that explains the observed effects in the behavioral data well. For
the ERP data, we did not observe a similar asymmetrical priming effect for
the L1 to L2 condition. This can be explained if we consider once again
that N400 components reflect the activation of lexical root based meaning,
and that there is a difference in L2 between the semantic interpretation
of roots, which is relatively easy compared to interpreting derivationally
generated semantics in L2. It is exactly this grammatically constrained
rule based processing that is difficult to learn for late bilinguals due to
cognitive-biological limitations for language acquisition beyond the
critical period.
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1754
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1755
APPENDIX 1 – Stimuli list
Series L
combination
relation
type
modality
prime
(gram.
class)
target
(gram.
class)
1
L1-L1
morph.
AUD
tijd
NOUN
TIJDIG
ADJ
1
L1-L1
morph.
AUD
zorg
NOUN
ZORGELOOS
ADJ
1
L1-L1
morph.
AUD
moeder
NOUN
MOEDERLIJK
ADJ
1
L1-L1
morph.
AUD
mens
ADJ
MENSHEID
NOUN
1
L1-L1
morph.
AUD
kracht
NOUN
KRACHTIG
ADJ
1
L1-L1
morph.
AUD
voeden
VERB
VOEDZAAM
ADJ
1
L1-L1
morph.
AUD
zuiver
ADJ
ZUIVERHEID
NOUN
1
L1-L1
morph.
AUD
macht
NOUN
MACHTIG
ADJ
1
L1-L1
unrel.
AUD
zoeken
VERB
KINDEREN
NOUN
1
L1-L1
unrel.
AUD
vraag
NOUN
ARTIKEL
NOUN
1
L1-L1
unrel.
AUD
slim
NOUN
LANGZAAM
ADJ
1
L1-L1
unrel.
AUD
kerk
NOUN
PLEZIER
NOUN
1
L1-L1
unrel.
AUD
middag
NOUN
RELATIE
NOUN
1
L1-L1
unrel.
AUD
knuffel
NOUN
KLACHTEN
NOUN
1
L1-L1
unrel.
AUD
klap
NOUN
BALKON
NOUN
1
L1-L1
unrel.
AUD
arbeid
NOUN
SPINAZIE
NOUN
1
L1-Hung
AUD
licht
ADJ
AGGÓDJÁL
1
L1-Hung
AUD
graag
ADJ
ALAPZAT
1
L1-Hung
AUD
dorst
NOUN
BEKÖTŐ
1
L1-Hung
AUD
beurs
NOUN
BESÚGÓ
1
L1-Hung
AUD
vloer
NOUN
BÓKJÁT
1
L1-Hung
AUD
slank
ADJ
BOLOND
1
L1-Hung
AUD
groente
NOUN
CSAHOL
1
L1-Hung
AUD
ketting
NOUN
CSALÁS
1
L1-Hung
AUD
sport
NOUN
CSAPÁS
1
L1-Hung
AUD
functie
NOUN
CSOPORT
1
L1-Hung
AUD
metode
NOUN
CSORDA
1
L1-Hung
AUD
kozijn
NOUN
CSUPÁN
1
L1-Hung
AUD
knoop
NOUN
DURRAN
1
L1-Hung
AUD
plank
NOUN
EGYIK
1756
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1
L1-Hung
AUD
braaf
ADJ
ELHELYEZ
1
L1-Hung
2
L2-L1
morph.
AUD
nagel
NOUN
ELILLAN
AUD
jogo
NOUN
SPELER
NOUN
2
L2-L1
morph.
AUD
seguir
VERB
VOLGZAAM
ADJ
2
L2-L1
morph.
AUD
brilho
ADJ
GLANSLOOS
ADJ
2
L2-L1
morph.
AUD
casar
VERB
TROUWERIJ
NOUN
2
L2-L1
morph.
AUD
sentir
VERB
VOELBAAR
ADJ
2
L2-L1
morph.
AUD
fome
NOUN
HONGERIG
ADJ
2
L2-L1
morph.
AUD
chorar
VERB
HUILERIG
ADJ
2
L2-L1
morph.
AUD
culpa
NOUN
SCHULDIG
ADJ
2
L2-L1
unrel.
AUD
comprar
VERB
GESPREK
NOUN
2
L2-L1
unrel.
AUD
conselho
NOUN
BLIJVEN
VERB
2
L2-L1
unrel.
AUD
andar
VERB
STRATEN
NOUN
2
L2-L1
unrel.
AUD
morte
NOUN
STRAND
NOUN
2
L2-L1
unrel.
AUD
rotina
NOUN
VRIENDIN
NOUN
2
L2-L1
unrel.
AUD
esconder
VERB
OCHTEND
NOUN
2
L2-L1
unrel.
AUD
pato
NOUN
STERKTE
NOUN
2
L2-L1
unrel.
AUD
trato
NOUN
HORLOGE
NOUN
2
L2-Hung
AUD
quieto
ADJ
ELÉRTE
2
L2-Hung
AUD
lima
NOUN
HOZZÁJUK
2
L2-Hung
AUD
fechar
VERB
LEGALÁBB
2
L2-Hung
AUD
mestre
NOUN
IDEGESÍT
2
L2-Hung
AUD
virar
VERB
HIÁNYA
2
L2-Hung
AUD
colo
NOUN
HIRTELEN
2
L2-Hung
AUD
intenso
ADJ
MONDUNK
2
L2-Hung
AUD
urso
NOUN
ELEGET
2
L2-Hung
AUD
anular
VERB
ELTÖRPÜL
2
L2-Hung
AUD
maçã
NOUN
HISZEN
2
L2-Hung
AUD
teimoso
ADJ
MAGYAR
2
L2-Hung
AUD
morder
VERB
GYŰJTI
2
L2-Hung
AUD
pulmão
NOUN
ÁTNÉZTE
2
L2-Hung
AUD
furo
NOUN
OLDALON
2
L2-Hung
AUD
umido
ADJ
MOZGÁST
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
2
L2-Hung
3
L1-L2
3
L1-L2
3
1757
AUD
labio
NOUN
EZENTÚL
morph.
AUD
groot
ADJ
GRANDEZA
NOUN
morph.
AUD
kleur
NOUN
CORANTE
ADJ
L1-L2
morph.
AUD
begin
NOUN
INICIANTE
ADJ
3
L1-L2
morph.
AUD
klaar
ADJ
PRONTIDÃO
NOUN
3
L1-L2
morph.
AUD
zacht
ADJ
SUAVEMENTE NOUN
3
L1-L2
morph.
AUD
droog
ADJ
SECADOR
NOUN
3
L1-L2
morph.
AUD
woede
NOUN
RAIVOSO
ADJ
3
L1-L2
morph.
AUD
zonde
NOUN
PECADO
NOUN
3
L1-L2
unrel.
AUD
alleen
ADJ
POSSÍVEL
ADJ
3
L1-L2
unrel.
AUD
niets
NOUN
DIFERENTE
ADJ
3
L1-L2
unrel.
AUD
park
NOUN
BARATO
ADJ
3
L1-L2
unrel.
AUD
scherm
NOUN
PRÉDIO
NOUN
3
L1-L2
unrel.
AUD
wetten
NOUN
VESTIDO
NOUN
3
L1-L2
unrel.
AUD
rivier
NOUN
CURIOSO
ADJ
3
L1-L2
unrel.
AUD
rust
NOUN
GELADO
ADJ
3
L1-L2
unrel.
AUD
winnen
VERB
GRÁVIDA
ADJ
3
L1-Hung
AUD
eigen
ADJ
ESŐÁLLÓ
3
L1-Hung
AUD
kies
VERB
FEJEZET
3
L1-Hung
AUD
keuken
NOUN
FEKHELY
3
L1-Hung
AUD
geest
NOUN
FÉLCIPŐ
3
L1-Hung
AUD
nuttig
ADJ
FOGDOS
3
L1-Hung
AUD
beker
NOUN
FÖLDÚT
3
L1-Hung
AUD
schrift
NOUN
FÜGGÖNY
3
L1-Hung
AUD
blond
ADJ
FÚJTAK
3
L1-Hung
AUD
type
NOUN
FÜLLEDT
3
L1-Hung
AUD
avontuur
NOUN
GÉPÁGY
3
L1-Hung
AUD
belg
NOUN
GYÁVÁVÁ
3
L1-Hung
AUD
vest
NOUN
GYENGE
3
L1-Hung
AUD
vlinder
NOUN
GYERMEK
3
L1-Hung
AUD
erven
VERB
GYÖTÖR
3
L1-Hung
AUD
pols
NOUN
HADIÜZEM
3
L1-Hung
AUD
moraal
NOUN
HAJÓJÁT
1758
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
4
L2-L2
morph.
AUD
conta
NOUN
CONTADOR
NOUN
4
L2-L2
morph.
AUD
alegre
ADJ
ALEGRIA
NOUN
4
L2-L2
morph.
AUD
dúvida
NOUN
DUVIDOSO
ADJ
4
L2-L2
morph.
AUD
cabeça
NOUN
CABEÇADA
NOUN
4
L2-L2
morph.
AUD
parar
VERB
PARADA
NOUN
4
L2-L2
morph.
AUD
correr
VERB
CORRERIA
NOUN
4
L2-L2
morph.
AUD
ácido
ADJ
ACIDEZ
NOUN
4
L2-L2
morph.
AUD
cansar
VERB
CANSADO
ADJ
4
L2-L2
unrel.
AUD
grupo
NOUN
JAQUETA
NOUN
4
L2-L2
unrel.
AUD
letra
NOUN
MOCHILA
NOUN
4
L2-L2
unrel.
AUD
amanhã
NOUN
ESCUTAR
VERB
4
L2-L2
unrel.
AUD
selo
NOUN
FELIZES
ADJ
4
L2-L2
unrel.
AUD
raiz
NOUN
BONITO
ADJ
4
L2-L2
unrel.
AUD
queijo
NOUN
PALAVRA
NOUN
4
L2-L2
unrel.
AUD
burro
ADJ
SEGURO
ADJ
4
L2-L2
unrel.
AUD
joelho
NOUN
ESTRANHO
ADJ
4
L2-Hung
AUD
idéia
NOUN
LESÜTÖTT
4
L2-Hung
AUD
topo
NOUN
LESZID
4
L2-Hung
AUD
mesa
NOUN
LEVÉLSZÓ
4
L2-Hung
AUD
natural
ADJ
LEZUHAN
4
L2-Hung
AUD
triste
ADJ
LÖKÖTT
4
L2-Hung
AUD
praga
NOUN
LOVASSÁG
4
L2-Hung
AUD
dama
NOUN
MACSKÁM
4
L2-Hung
AUD
lençol
NOUN
MEGCSAL
4
L2-Hung
AUD
álcool
NOUN
IKONRA
4
L2-Hung
AUD
pera
NOUN
KITÉRTEK
4
L2-Hung
AUD
ralo
NOUN
EGYMÁS
4
L2-Hung
AUD
rastro
NOUN
EGYBEN
4
L2-Hung
AUD
calar
VERB
KUTATÁST
4
L2-Hung
AUD
mover
VERB
SZÁJÁBA
4
L2-Hung
AUD
algebra
NOUN
OKOKBÓL
4
L2-Hung
AUD
irritar
VERB
KICSIT
5
L1-L1
WR
land
NOUN
LANDELIJK
morph.
ADJ
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1759
5
L1-L1
morph.
WR
werken
VERB
WERKELOOS
ADJ
5
L1-L1
morph.
WR
wassen
VERB
WASSERIJ
NOUN
5
L1-L1
morph.
WR
slapen
VERB
SLAPERIG
ADJ
5
L1-L1
morph.
WR
pijn
NOUN
PIJNLIJK
ADJ
5
L1-L1
morph.
WR
zicht
NOUN
ZICHTBAAR
ADJ
5
L1-L1
morph.
WR
zuiden
NOUN
ZUIDELIJK
ADJ
5
L1-L1
morph.
WR
vrede
NOUN
VREDIG
ADJ
5
L1-L1
unrel.
WR
nieuw
ADJ
RECHTER
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
fietsen
VERB
VERHAAL
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
klein
ADJ
ZILVER
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
lenen
VERB
DOCHTER
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
komen
VERB
WONDER
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
geheim
NOUN
WERELD
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
katoen
NOUN
BELOFTE
NOUN
5
L1-L1
unrel.
WR
eten
VERB
HERFST
NOUN
5
L1-Hung
WR
plan
NOUN
HATÁROS
5
L1-Hung
WR
donker
ADJ
HÉTALVÓ
5
L1-Hung
WR
donker
ADJ
HÉTALVÓ
5
L1-Hung
WR
luxe
NOUN
HITELBE
5
L1-Hung
WR
avond
NOUN
HOZTUNK
5
L1-Hung
WR
dalen
VERB
HULLADÉK
5
L1-Hung
WR
focus
NOUN
IDŐJÁRÁS
5
L1-Hung
WR
slecht
ADJ
IGAZÁN
5
L1-Hung
WR
tempel
NOUN
IGAZGATÓ
5
L1-Hung
WR
kist
NOUN
ILLETVE
5
L1-Hung
WR
balen
VERB
IMÁDNI
5
L1-Hung
WR
spin
NOUN
IRÁNYÁT
5
L1-Hung
WR
touw
NOUN
ISMERT
5
L1-Hung
WR
slap
ADJ
ISZÁKOS
5
L1-Hung
WR
klep
NOUN
JÁTSZIK
5
L1-Hung
WR
zweten
VERB
JÉGNEK
6
L2-L1
morph.
WR
fala
NOUN
SPRAAKZAAM
6
L2-L1
morph.
WR
viver
VERB
LEVENDIG
1760
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
6
L2-L1
morph.
WR
sonho
NOUN
DROMERIG
6
L2-L1
morph.
WR
perigo
NOUN
GEVAARLIJK
6
L2-L1
morph.
WR
sabor
NOUN
SMAKELIJK
6
L2-L1
morph.
WR
dano
VERB
SCHADELIJK
6
L2-L1
morph.
WR
luta
NOUN
VECHTER
6
L2-L1
morph.
WR
quebrar
VERB
BREEKBAAR
6
L2-L1
unrel.
WR
semana
NOUN
LASTIG
6
L2-L1
unrel.
WR
cara
NOUN
DENKEN
6
L2-L1
unrel.
WR
sentido
NOUN
WINTER
6
L2-L1
unrel.
WR
vigor
NOUN
STOELEN
6
L2-L1
unrel.
WR
pele
NOUN
BENIEUWD
6
L2-L1
unrel.
WR
lápis
NOUN
GRAPPIG
6
L2-L1
unrel.
WR
falha
NOUN
TEVREDEN
6
L2-L1
unrel.
WR
honrado
ADJ
LAARZEN
6
L2-Hung
WR
centro
NOUN
MEGLÉP
6
L2-Hung
WR
arte
NOUN
MEGMENTI
6
L2-Hung
WR
valer
ADJ
MEGŐRÜL
6
L2-Hung
WR
simples
ADJ
MEGVESZ
6
L2-Hung
WR
ativo
ADJ
MIKÖZBEN
6
L2-Hung
WR
raça
NOUN
NEKIRONT
6
L2-Hung
WR
pano
NOUN
NINCSEN
6
L2-Hung
WR
lago
NOUN
NÖVÉNY
6
L2-Hung
WR
calma
ADJ
NYAGGAT
6
L2-Hung
WR
maré
NOUN
OLDALAK
6
L2-Hung
WR
brisa
NOUN
PÉLDÁUL
6
L2-Hung
WR
pintor
NOUN
ROMJAI
6
L2-Hung
WR
honesto
ADJ
SZAVAIT
6
L2-Hung
WR
garra
NOUN
TOVÁBBI
6
L2-Hung
WR
cabra
NOUN
LÁTVÁNY
6
L2-Hung
WR
cenoura
NOUN
LEÁNYKA
7
L1-L2
morph.
WR
openen
VERB
ABERTURA
7
L1-L2
morph.
WR
snel
ADJ
RAPIDEZ
7
L1-L2
morph.
WR
vrij
ADJ
LIVREMENTE
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1761
7
L1-L2
morph.
WR
lelijk
ADJ
FEIOSO
7
L1-L2
morph.
WR
einde
NOUN
FINALMENTE
7
L1-L2
morph.
WR
lachen
NOUN
RISADA
7
L1-L2
morph.
WR
meten
VERB
MEDIÇÃO
7
L1-L2
morph.
WR
traag
ADJ
LENTIDÃO
7
L1-L2
unrel.
WR
zitten
VERB
LARANJA
7
L1-L2
unrel.
WR
groen
ADJ
FÉRIAS
7
L1-L2
unrel.
WR
stappen
VERB
SURPRESA
7
L1-L2
unrel.
WR
gang
NOUN
LEVANTAR
7
L1-L2
unrel.
WR
leider
NOUN
ESCOVA
7
L1-L2
unrel.
WR
kast
NOUN
CORUJA
7
L1-L2
unrel.
WR
staal
NOUN
OMBROS
7
L1-L2
unrel.
WR
doel
NOUN
CARENTE
7
L1-Hung
WR
muziek
NOUN
7
L1-Hung
WR
lijst
NOUN
7
L1-Hung
WR
thuis
NOUN
7
L1-Hung
WR
klant
NOUN
7
L1-Hung
WR
export
NOUN
7
L1-Hung
WR
boete
NOUN
7
L1-Hung
WR
acteur
NOUN
7
L1-Hung
WR
grens
NOUN
7
L1-Hung
WR
tegels
NOUN
7
L1-Hung
WR
schaap
NOUN
7
L1-Hung
WR
drop
NOUN
7
L1-Hung
WR
koorts
NOUN
7
L1-Hung
WR
happen
VERB
7
L1-Hung
WR
spek
NOUN
7
L1-Hung
WR
rommel
NOUN
7
L1-Hung
WR
leugen
NOUN
8
L2-L2
morph.
WR
fraco
ADJ
FRAQUEZA
NOUN
8
L2-L2
morph.
WR
corpo
NOUN
CORPORAL
ADJ
8
L2-L2
morph.
WR
peso
NOUN
PESADO
ADJ
8
L2-L2
morph.
WR
doce
ADJ
DOÇURA
NOUN
1762
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8
L2-L2
morph.
WR
espaço
NOUN
ESPACIAL
ADJ
8
L2-L2
morph.
WR
louco
ADJ
LOUCURA
NOUN
8
L2-L2
morph.
WR
coragem
NOUN
CORAJOSO
ADJ
8
L2-L2
morph.
WR
fixar
VERB
FIXAÇÃO
NOUN
8
L2-L2
unrel.
WR
verão
NOUN
PEQUENO
ADJ
8
L2-L2
unrel.
WR
difícil
ADJ
ESPERAR
VERB
8
L2-L2
unrel.
WR
capa
NOUN
SORVETE
NOUN
8
L2-L2
unrel.
WR
inverno
NOUN
FAMOSO
ADJ
8
L2-L2
unrel.
WR
passo
NOUN
DESENHO
VERB
8
L2-L2
unrel.
WR
roda
NOUN
COELHOS
NOUN
8
L2-L2
unrel.
WR
anual
ADJ
PREGUIÇA
NOUN
8
L2-L2
unrel.
WR
horrível
ADJ
TECIDO
NOUN
8
L2-Hung
WR
pessoal
ADJ
JOBBRA
8
L2-Hung
WR
estudo
NOUN
KERESNI
8
L2-Hung
WR
lixo
NOUN
KÉSZÜLT
8
L2-Hung
WR
festa
NOUN
KIDOBVA
8
L2-Hung
WR
missão
NOUN
KIFEJLÉS
8
L2-Hung
WR
cópia
NOUN
KINYOMJA
8
L2-Hung
WR
anel
NOUN
KIRÚGÁS
8
L2-Hung
WR
resto
NOUN
KITÖMÖTT
8
L2-Hung
WR
dança
NOUN
KORHOL
8
L2-Hung
WR
ladrão
NOUN
KÖZELI
8
L2-Hung
WR
nota
NOUN
KURUZSLÓ
8
L2-Hung
WR
tonto
ADJ
KUTATÓ
8
L2-Hung
WR
selva
NOUN
KUTATUNK
8
L2-Hung
WR
raso
ADJ
KUTYAGOL
8
L2-Hung
WR
cela
NOUN
LÁBAZAT
8
L2-Hung
WR
bagunça
NOUN
ZUHANÁS
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1763
APPENDIX 2 – Suffix distribution
L1
Total
suffix
n.
suffix
n.
IG
8
OR
2
LOOS
3
IA
2
LIJK
7
OSO
4
ER
2
ADA
3
ERIJ
2
EZ
2
BAAR
3
ADO
3
ERIG
3
EZA
2
HEID
2
ANTE
2
ZAAM
3
ENTO
1
ÃO
2
MENTE
2
AL
2
URA
3
IDÃO
2
L2
9 types
total
14 types
1764
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
APPENDIX 3 – Autobiographical information about the participants
no.
part.
age AoA
total
learning setting
period
context of use
stay in education
Brazil
other languages
1
39
26
13
formal(1/2yr)
home/fam/social/work
9
superior
English
Spanish (interm)
2
45
32
13
Contact
home/fam/social/work
9
superior
English
French (intermed)
Alemão (interm),
Spanish
3
28
23
5
formal (1 yr)
work/social/home(4 yrs) 4
superior
French,
Spanish,
English
4
39
21
18
formal (1/2yrs)
work/social
8
superior
English,
Spanish (interm)
5
36
25
11
contact
work(50%)/social(80%) 9
superior
English,
French,
6
33
24
9
contact
home/fam/social/work
6
superior
Spanish,
English,
French
7
41
29
12
contact
home/fam/social/work
5
superior
English,
Spanish,
alemao
8
25
21
4
contact
fam/work(50%)/social
4
superior
French,
German,
English
9
32
25
7
formal(1/2yrs)
home/fam/social/work
7
superior
English
10
34
23
11
formal(2yr)
home/fam/social/work
4
superior
English
11
48
28
20
contact
work/social(50%)/co
9
cient.prep.
German,
French,
English
12
33
23
10
contact
home/work/social
4,5
superior
English,
German,
13
26
21
5
contact/self study home/work/social
4
superior
English
French(intermed)
14
35
21
14
contato
7
superior
Spanish,
English,
15
42
31
11
formal(2yrs)
home/work/fam/social
4
superior
German,
French,
16
35
22
13
formal(1/2yr)
home/fam/social/work
9
superior
English,
Spanish
17
29
24
5
formal
home/fam/social/work
4
superior
English,
French,
alemao
18
41
26
15
contact
home/fam/social/work
15
cient.prep.
English,
Spanish
(intermed)
Spanish
German(intermed),
English
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1765
APPENDIX 4 –Proficiency judgment
4.1 Questionnaire
Pronunciation:
A. On a scale from 1 to 5, how would you rate the participants’ speech:
1. you almost do not notice he/she is a foreigner, only hearing after a few sentence, paying
a lot of attention;
2. you notice he or she is a foreigner, but she/he sounds like us;
3. Portuguese can be understood well, but the foreign accent is very clear;
4. The accent is so strong that it sometimes hinders comprehension of a few words;
5. The accent stops me from understanding.
B. The accent:
1. Marks only a few specific;
2. Marks the whole speech;
3. Gets in the way of communication.
Vocabulary:
C. The participant used:
1. a wide variety of words;
2. simple but adequate words;
3. words that were not adequate for the context.
D. The participant
1. has vocabulary to name specific sites and objects in a room;
2. has vocabulary to name objects and action, and when necessary, paraphrases;
3. has a limited vocabulary, repeating the same words, and paraphrasing, occasionally
using Dutch.
Fluency:
E. The participant’s speech:
1. flows freely, resulting in clear comprehension;
2. generally flows, with a few pauses during which the participants tries to structure
the message;
3. does not flow, many pauses and hesitation to structure the message, resulting in
difficult comprehension for the listener.
Structure:
F. Sentence structure:
1. is complete;
2. is usually complete, sometimes a preposition or some connection is missing;
3. Is broken, sometimes verb subject or complement, is absent from the language.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1717-1766, 2017
1766
G. The participant used correct verbal inflection:
1. varies;
2. simple, with a little variation;
3. simple, with a little variation, with some errors;
4. simple, with many errors;
5.practically did not carry out verbal inflection.
H. The participant carries out agreement:
1. without any mistakes;
2. with a few mistakes;
3. made same constant errors, but he/she corrected himself;
4. got more wrong than right;
5.did not carry out any agreement.
4.2 Assessment
participant
pronunciation
vocabulary
fluency
structure
points/total
1
2,7/3
2,8/3
2,7/3
4,6/5
2
2,8/3
2,2/3
2,3/3
3,7/5
3
2,8/3
2,3/3
2,7/3
4,9/5
4
2,9/3
2,5/3
2,3/3
4,6/5
5
2/3
1,7/3
2/3
2,2/5
6
2,8/3
2,8/3
2,7/3
4,9/5
7
1,8/3
1,5/3
1,5/3
2,9/5
8
1,9/3
2,4/3
2/3
3,3/5
9
1,9/3
2,3/3
2,3/3
4,4/5
10
2,5/3
2,5/3
2,3/3
4,2/5
11
2,1/3
2,7/3
2/3
4,2/5
12
1,8/3
2,3/3
2/3
3,7/5
13
2/3
2/3
1,7/3
3,3/5
14
2/3
2/3
2/3
3,3/5
15
2/3
1,8/3
1,7
3/5
16
2,6/3
2,7/3
2,7/3
4,2/5
17
3/3
2,8/3
2,3/3
4,6/5
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
O teste de Cloze como instrumento de medida da proficiência
em leitura: fatores linguísticos e não linguísticos
Cloze test as an instrument to measure reading proficiency:
linguistic and non-linguistic factors
Kátia Nazareth Moura de Abreu
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
kabreu00@gmail.com
Daniela Cid de Garcia
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
cid.daniela@gmail.com
Katharine de Freitas P. N. A. da Hora
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
freitas.katharine@gmail.com
Cristiane Ramos de Souza
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil
tianeramoss@gmail.com
Resumo: Este artigo tem como objetivos apresentar uma revisão
da literatura do uso do teste de Cloze como ferramenta para medir
o desempenho em leitura, discutindo seus limites e possibilidades,
verificar a sensibilidade do teste para variáveis de natureza linguística
e não linguística, e apresentar uma agenda de pesquisa que considere o
uso de desenhos qualitativos originais para acessar diferentes aspectos
da leitura. Para verificar a sensibilidade do teste, manipularam-se as
variáveis tipo de palavra (lexical e funcional), tamanho de texto (curto e
longo) e experiência leitora (medida em termos de nível de escolaridade).
Observou-se o desempenho de alunos do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio. Os resultados demonstraram que os alunos do Ensino
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1767-1799
1768
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
Fundamental apresentaram mais dificuldade com palavras funcionais
e com os textos longos, indicando que o teste é sensível a fatores
linguísticos e não linguísticos. A partir dos resultados e das análises,
discute-se como esse teste pode ser útil para avaliar diferentes processos
cognitivos envolvidos na leitura.
Palavras-chave: compreensão leitora; teste de Cloze; ensino; palavras
lexicais; palavras funcionais.
Abstract: The aims of this article are to present a review of the
literature concerning the use of the Cloze test as a tool to measure
reading performance, discussing its limits and possibilities, access the
sensibility of the test for linguistic and non linguistic variables, and
present a research agenda that considers the use of original qualitative
designs to access different aspects of reading. To verify the sensibility
of the test, we manipulated the variables word type (function words
and content words), text length (short and long) and reading experience
(measured in terms of level of schooling). We observed the performance
of students from Elementary level and from High School. The results
show that Elementary-level students had more difficulty with function
words and with long texts, which indicates that the test is sensible to
linguistic and non-linguistic factors. From the results and analyses, we
draw a discussion of how the cloze test can be useful to evaluate different
cognitive processes involved in reading.
Keywords: reading comprehension; Cloze test; education; content words;
function words.
Recebido em: 5 de janeiro de 2017
Aprovado em: 10 de abril de 2017
1 Introdução
A compreensão de um texto pode variar de acordo com as
circunstâncias de leitura e depender de fatores complexos presentes não
só na superfície do texto como também na ativação, por parte do leitor,
de um conjunto de saberes implícitos nesse ato de ler. A leitura exige
processos de percepção, de cognição, assim como exige conhecimento
da língua, da gramática, do assunto e conhecimento sobre como ler. Além
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
1769
disso, envolve uma combinação de informação visual e não visual. Ela
é uma interação entre o leitor e o texto (SMITH, 2003).
O objetivo deste artigo é apresentar uma revisão da literatura
do uso do teste de Cloze, discutir os alcances do teste como medida
da compreensão leitora, verificar como ele pode ser sensível a fatores
linguísticos e não linguísticos – uma vez que a leitura é um amálgama
de fatores de diferentes naturezas –, e apresentar uma agenda de como
esses testes podem ser qualitativamente desenhados de forma a acessar
faculdades distintas envolvidas no ato de ler.
O teste de Cloze é uma técnica que se compõe por um texto
em que se omitem todas as quintas palavras que são substituídas por
um traço de tamanho similar ao da palavra omitida. Essa técnica vem
sendo utilizada ao longo dos últimos quarenta anos no Brasil como
um instrumento de diagnóstico da compreensão em leitura – em que
avalia a compreensão em leitura, interpreta os resultados e classifica
os participantes em níveis de desempenho – e como um instrumento
de intervenção – em que desenvolve a habilidade da compreensão em
leitura ao conceder ao participante a possibilidade de prever as palavras
omitidas pelo uso de seu conhecimento prévio e pelo domínio das
estruturas linguísticas.
De modo a avaliar o impacto dos fatores tipo de palavra, extensão
textual e escolaridade no desempenho de leitores, realizamos um teste
de Cloze com estudantes do 6o ano do Ensino Fundamental e do 1o ano
do Ensino Médio. As variáveis foram escolhidas com a intenção de
incluir elementos do conhecimento linguístico (diferença entre palavras
funcionais e lexicais) e elementos relacionados a processamentos
cognitivos mais gerais, como atenção, memória e motivação. Além
disso, incluímos grupos de diferentes escolaridades para verificar se a
experiência leitora teria impacto no desempenho.
Com relação ao fator linguístico tipo de palavra, é sabido que, do
ponto de vista do processamento da informação, há uma diferenciação
de valor entre palavras lexicais e palavras funcionais no que tange à
contribuição para recuperar o sentido do input (VAN PATTEN, 1996).
Palavras lexicais apresentam maior conteúdo semântico, ao passo
que palavras funcionais carregam sobretudo informação gramatical,
de modo que estudos em psicolinguística tendem a estabelecer uma
diferença de representação e processamento entre essas duas categorias.
Palavras lexicais tendem ainda a ser maiores em tamanho e representam
1770
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
um inventário aberto, constituindo um conjunto maior do que o das
palavras funcionais. Sendo assim, a competição entre palavras lexicais
possíveis em uma posição na sentença tende a ser, na maioria dos casos,
consideravelmente maior. Do ponto de vista do acesso lexical, estudos
mostram que existe maior facilidade de processamento para palavras
funcionais. Essa diferença é atribuída a fatores como previsibilidade
e familiaridade da palavra, podendo ser afetada pela frequência
(SEGALOWITZ; LANE, 2000) e pelo fato de a palavra ser apresentada
isoladamente ou em um contexto significativo (TAFT, 1990). Estudos
de aquisição revelam que as crianças começam o processo de produção
com palavras lexicais, sendo esse tipo de palavra mais saliente. Por outro
lado, quando se trata da percepção, estudos revelam que crianças são
sensíveis à presença de palavras funcionais e apresentam expectativas
quanto à distribuição dessas palavras na sentença (VAN HEUGTEN;
CHRISTOPHE, 2015). À medida que crianças vão adquirindo
palavras funcionais, elas vão estabelecendo padrões distribucionais
de coocorrência com a categoria de palavras lexicais. A aquisição de
palavras funcionais tem, portanto, papel relevante na aquisição da
linguagem, contribuindo no processo de reconhecimento das categorias
gramaticais da língua (BRAINE, 1987; BRUSINI et al., 2017, 2016). Há
discussão na literatura quanto a se essa contribuição viria devido a uma
análise distributiva linear, ou a uma relação estrutural hierárquica entre
os elementos das frases. Esses estudos em conjunto atestam a natureza
distinta entre palavras funcionais e palavras lexicais, com impacto na
aquisição da linguagem e no processamento adulto.
De acordo com estudos sociolinguísticos, as variáveis linguísticas
e não linguísticas agem de maneira integrada. Tais estudos apontam que
as variáveis não linguísticas podem favorecer ou inibir o emprego de
determinada forma linguística. A variável nível de escolaridade, uma das
variáveis não linguísticas de que trata este estudo, vem sendo amplamente
testada e estudada a fim de observar se o seu grau gera alguma influência
sobre os falantes quanto à utilização da norma culta padrão do português
brasileiro. Gonzales et al. (2007) afirmam que a variável escolaridade
tem influência sobre o uso de diferentes fenômenos linguísticos e que
tal influência pode estar correlacionada com a função social que a escola
exerce.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
1771
É sabido que
a escola gera mudanças na fala e na escrita das pessoas que
as frequentam e das comunidades discursivas. Constata-se,
por outro lado, que ela atua como preservadora de formas
de prestígio, face a tendências de mudança em curso nessas
comunidades (VOTRE, 2012, p. 51).
Pereira e Araújo (2016) fizeram um levantamento acerca da
influência da variável escolaridade sobre a variação da concordância
verbal com sujeito na 3ª pessoa do plural no português brasileiro. As
autoras perceberam que a maior parte dos estudos mostra que o uso
da variante de prestígio aparece com maior frequência em registros
de indivíduos com grau de escolaridade maior do que daqueles que
possuem pouca escolaridade. As autoras afirmam, em conformidade com
Cyranka e Pernambuco (2008), que a privação de uma educação formal
impossibilita o indivíduo de usar certas formas linguísticas de prestígio
e, consequentemente, de transitar em diversas situações comunicativas
em que essas formas são empregadas.
Parente et al. (2009), em um estudo sobre as evidências do papel
da escolaridade na organização cerebral, observaram que há mudanças
comportamentais, de desempenho em avaliações neuropsicológicas, e
estrutural-funcionais, verificadas em exames de neuroimagem da estrutura
e da funcionalidade do cérebro humano de acordo com os níveis de
escolaridade dos indivíduos testados. Para as autoras, a variável escolaridade
mostra-se como uma variável multidimensional, pois a ela são somados
fatores como hábitos de leitura e escrita cultivados pelos indivíduos por
interesses pessoais, estilo de vida ou por necessidades profissionais.
Outro fator não linguístico que manipulamos neste estudo foi o
tamanho do texto. De acordo com Kato ([1986], 2001), extrair o significado
de um enunciado depende dos elementos presentes na memória de um
indivíduo e no modo como a memória funciona. Ao ler um texto, um
indivíduo ativa diferentes tipos de memória – de curto, médio e longo
prazo. A relação entre o tipo de memória ativado e o conteúdo do texto
determina se a estratégia de leitura será predominantemente descendente
(top-down) – quando o leitor parte do seu conhecimento prévio para
construir o sentido do texto – ou ascendente (bottom-up) – em que o
leitor reconhece palavra por palavra, juntando-as para construir unidades
maiores e gerando o sentido a partir da combinação dessas unidades.
1772
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
Há pesquisas que afirmam que textos curtos tendem a favorecer
uma leitura do tipo ascendente, uma vez que a pouca demanda de
memória permitiria maior atenção a detalhes e encorajaria estratégias
de processamento palavra por palavra (KINTSCH; VAN DIJK, 1978;
SWAFFAR; ARENS; BYRNES, 1991). Além disso, textos curtos também
são vistos como potencialmente mais difíceis pela quantidade reduzida
de informações, ao passo que textos longos seriam mais facilmente
compreendidos, por fornecerem mais conteúdo por meio do qual se pode
apreender sentido. Por outro lado, há de se considerar o fator atenção
quando se examina o papel da extensão textual na compreensão leitora
e no desempenho de estudantes em testes de leitura. A experiência de
professores em sala de aula aponta para maior dificuldade de concentração
e para um desempenho comprometido na leitura de textos longos em
comparação com textos curtos. Essa constatação é legitimada pela
preponderância de textos relativamente curtos em livros didáticos.
Na próxima seção, apresentamos uma revisão da literatura do
teste de Cloze como ferramenta de medida da compreensão leitora. Em
seguida, apresentamos um experimento que manipula quantitativamente
as variáveis de ordem linguística e não linguística elencadas acima,
verificando a sensibilidade do teste a essas variáveis. Por fim, conduzimos
uma discussão sobre como essas variáveis linguísticas e não linguísticas
podem interagir com a proficiência em leitura, propondo uma agenda de
pesquisa para futuros trabalhos, que pode se beneficiar de uma abordagem
qualitativa na extração dos itens nos testes de Cloze.
2 O teste de Cloze
O termo Cloze é derivado da palavra inglesa closure que significa
fechamento (COLLINS, 2009) e que, por sua vez, dá nome a um princípio
da Psicologia da Gestalt. Esse termo foi utilizado por Wilson L. Taylor
em 1953 para nomear um procedimento que visava à mensuração da
leiturabilidade do texto (readability), cuja base está fundamentada na
Teoria da Informação, na Psicologia da Gestalt e na noção estatística
de amostra aleatória. Em artigo seminal, Taylor (1953, p. 416 apud
ADELBERG; RAZEK, 1984, p. 111) definiu o Cloze como
um método de interceptar uma mensagem de um emissor
(escritor ou falante), suprimindo, pelo apagamento de
partes, seu padrão de língua, e então apresentando essa
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
1773
mensagem aos receptores (leitores ou ouvintes) para que as
suas tentativas de reconstrução do padrão potencialmente
rendam um número considerável de unidades de Cloze
(tradução nossa).
Taylor (1953, p. 416 apud ADELBERG; RAZEK, 1984, p. 111)
segue explicando que uma unidade de Cloze é
qualquer ocorrência de uma tentativa bem sucedida para
reproduzir acertadamente uma parte suprimida de uma
‘mensagem’... pela decisão, a partir do contexto que
permanece, de qual deveria ser a parte apagada (tradução
nossa).
Assim, em um experimento com a técnica de Cloze é possível
visualizar a Teoria da Informação na ideia de que o emissor e o receptor
devem compartilhar o mesmo conjunto de mensagens possíveis, a
Psicologia da Gestalt na ideia de se ter o leitor reconstruindo uma
mensagem e alcançando a sua compreensão, pelo preenchimento de
palavras anteriormente suprimidas, e a noção estatística de amostra
aleatória na ideia de que diferentes classes de palavras ganham
representatividade proporcional nas lacunas que são abertas no texto.
Ou seja, a probabilidade de escolha de palavras lexicais, por exemplo,
seria proporcional à escolha de palavras funcionais. Sobre esse aspecto,
Adelberg e Razek (1984, p. 112) comentam que o teste de Cloze parece
permitir a medida tanto de um componente lexical quanto de um
componente funcional, dependendo do tipo de palavra selecionada para
ser suprimida. Já Condemarín e Milicic (1988) ponderam que apesar
de Taylor ter lançado mão da Psicologia da Gestalt para fundamentar a
técnica de Cloze, ela também é considerada um instrumento cognitivo
pelos teóricos cognitivistas, pois esses assumem que tal técnica lida com
processos cognitivos como percepção e memória e veem no Cloze um
processo interativo entre o leitor e o texto.
O teste de Cloze, em seu formato original, prevê a seleção de
um texto com cerca de 250 palavras. A cada cinco palavras suprimese a quinta sistematicamente. No lugar dessas palavras são colocados
espaços em branco proporcionais aos tamanhos das palavras. Um grande
número de estudos, porém, tem utilizado formas metodológicas variadas
de construção do teste de Cloze. Uma das propostas de modificação da
versão original e que já conseguiu formar um grupo significativo de
1774
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
pesquisadores que lhe são favoráveis está baseada no pressuposto de que,
para se testar aspectos específicos da compreensão textual, elementos
precisos devem ser suprimidos. Essa proposta, segundo Sadeghi (2014,
p. 1) já promoveu a variedade de Cloze chamada de “Cloze racional” que
se contrapõe a “Cloze randômico” (tradução nossa). No teste de Cloze
racional, as omissões são feitas com base em critérios determinados
(não mecânicos) enquanto no de Cloze randômico essas são feitas
aleatoriamente (mecânicos).
Os adeptos do Cloze racional (ABRAHAM; CHAPELLE, 1992;
SADEGHI, 2014) argumentam que se o objetivo do teste é medir a
compreensão do texto, a ideia da supressão randomizada precisa ser
descartada em favor da supressão racional. É possível perceber, assim, que,
dependendo do propósito da aplicação do teste de Cloze, tipos diferentes
de Cloze racionais podem ser construídos, como, por exemplo, o Cloze
lexical – em que se omitem os itens lexicais como substantivos, adjetivos,
verbos e advérbios – e o Cloze gramatical – em que se omitem os itens
funcionais como preposições, artigos, conjunções (Santos et al., 2009).
Outra proposta de modificação do Cloze está relacionada ao
tipo de resposta. Na versão clássica, as respostas são abertas, ou seja,
o participante pode escolher qual a palavra que preenche a lacuna
corretamente. Em versões modificadas, as respostas são fechadas, ou
seja, o participante terá de escolher, entre as alternativas oferecidas, a
que preenche a lacuna corretamente. Nesse caso, temos o Cloze múltipla
escolha e suas variações como o Cloze labirinto, o Cloze pareado e o
Cloze restringido (OLIVEIRA et al., 2009). Os defensores dessa proposta
argumentam que o uso de respostas fechadas torna o teste mais prático
em termos de pontuação.
Por fim, observamos a variação existente no modelo de aplicação
que pode ser uma aplicação coletiva – como quando o teste de Cloze é
utilizado como ferramenta pedagógica por professores em uma turma
ou mais turmas – ou uma aplicação individual – como quando o teste
de Cloze é utilizado como instrumento de diagnóstico por psicólogos
na avaliação de um paciente. Oliveira et al. (2009) nos mostram que o
Cloze pós-leitura oral e o Cloze interativo são exemplos de modelo de
aplicação individual.A escolha de um modelo de aplicação vai sempre
depender da gênese do estudo e do profissional que vai lançar mão dele.
Segundo Santos et al. (2007), o procedimento de Cloze possui
duas formas de correção: a correção literal e a correção sinônima.
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A correção literal considera como acerto o preenchimento
correto da palavra exata que foi omitida, respeitando
inclusive grafia e acentuação gráfica. No caso da correção
sinônima, considera-se como correto o preenchimento da
lacuna, não somente com a palavra que foi excluída, mas
também com um sinônimo da palavra omitida. (SANTOS
et al., 2007, p. 42)
As mesmas autoras, porém, em artigo de 2009, apresentam um
terceiro tipo de correção, a correção ponderada. Nessa forma, o avaliador
faz uma ponderação sobre a palavra que foi escrita pelo participante,
verificando se a palavra utilizada se aproxima ou não do esperado e não
se preocupa com correção ortográfica (OLIVEIRA et al., 2009).
Independentemente do tipo de correção adotada, no que diz
respeito à pontuação, em geral, é atribuído um ponto a cada acerto. A
pontuação final do participante é obtida pela soma dos pontos, o que pode
variar de 0 a 25 pontos ou de 0 a 50 pontos, ou ainda de 0 a “n” pontos,
dependendo da quantidade de lacunas existentes no texto. Entretanto,
Santos et al. (2002, p.550) nos alertam que
[e]sta interdependência entre os escores e a dificuldade dos
testes é uma das limitações dos modelos da psicometria
clássica, na qual os escores são calculados atribuindo
o mesmo peso para itens heterogêneos quanto à
complexidade.
Por esse motivo, outra forma de pontuação mensura o nível de
dificuldade do item. Nesse caso, são atribuídos valores diferentes para
cada item de acordo com o seu grau de complexidade. Esses valores
são estabelecidos por especialistas em língua portuguesa chamados de
‘juízes’, os quais, após exame dos itens suprimidos, indicam os níveis de
dificuldade, a saber: fácil, médio, moderado e difícil. Assim, presencia-se
uma variabilidade na soma dos pontos, pois os itens classificados como
fáceis recebem menos pontos ao contrário dos itens classificados como
difíceis que recebem mais pontos.
Quanto à interpretação da pontuação alcançada pelo participante,
podem ser adotadas análises estatísticas a fim de se verificar a influência
de variáveis e a significância ou não dos resultados estatísticos. Outra
opção é adotar o parâmetro de classificação proposto por Bormuth
(1968) que prevê dois níveis de leitura: o nível instrucional e o nível
1776
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
independente. O nível instrucional correspondente ao percentual de acerto
na faixa de 45% a 57% do texto indica que o leitor alcançou compreensão
suficiente, mas que ainda há necessidade de auxílio adicional externo (do
professor, do livro, por exemplo). O nível independente corresponde ao
percentual de acerto superior a 57% do texto e indica que o leitor tem
autonomia de compreensão em leitura. Santos et al (2002) acrescentam,
ainda, um nível que denominam de frustração, que abrange o percentual
de acerto de até 44% do total do texto e indica que o leitor extraiu poucas
informações da leitura, ou seja, alcançou pouco êxito na compreensão.
Para a classificação proposta por Bormuth (1968), encontramos também
uma observação em Santos et al. (2002, p. 550) afirmando que essa
“aplicação para novos textos só pode ser feita se esses textos tiverem
um nível de dificuldade semelhante ao dos textos que Bormuth utilizou
em seu estudo”.
Então, pela descrição apresentada aqui sobre o Cloze, podemos
concluir que esse é um tipo de experimento econômico na preparação,
de simples aplicação (lápis e papel), porém é um experimento que exige
cuidados na seleção dos textos, na abertura das lacunas e na correção/
pontuação.
Quanto a isso, Suehiro (2013, p. 224) alerta que
No que se refere à estruturação do texto, além dos
parâmetros de omissão das palavras, é preciso
considerar também a questão de sua dificuldade e
dos itens ou palavras omitidas. Quanto à dificuldade,
verifica-se que o assunto abordado no texto também é
um aspecto que deve ser considerado, tendo em vista
que foram encontradas diferenças de desempenho
com relação a essa variável; logo, sob essa
perspectiva, a familiaridade com o assunto aumenta
a probabilidade de acerto das respostas dadas, o que
introduz uma variável interveniente na comparação
dos desempenhos obtidos pelos indivíduos durante a
realização da técnica (COHEN, 1975; OLIVEIRA;
BORUCHOVITCH; SANTOS, 2009; PAGE, 1975).
Neste estudo, realizamos um teste de Cloze cujo objetivo foi
o de investigar se o processamento de um texto durante a leitura pode
ser modulado por um fator de ordem linguística, como a diferença
entre palavra lexical e palavra funcional, e por um fator de ordem não
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
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linguística, como o tamanho do texto. O tamanho do texto pode impactar
fatores de processamento como atenção e memória de trabalho. O tipo de
palavra tem por fim constatar o papel de fatores linguísticos que podem
ser intrínsecos ao item ou relacionados a sua distribuição em relação
a outros itens na construção do significado de uma proposição. Além
disso, verificamos como esses fatores podem ser impactados pelo nível
de ensino. Para tal fim, realizamos o teste com dois grupos distintos:
alunos do 6o ano do Ensino Fundamental e alunos do 1o ano do Ensino
Médio, já que estudos apontam que o nível de escolaridade/idade é um
fator a ser considerado em relação ao saber linguístico.
3 O uso do Teste de Cloze
Com amplo uso na esfera educacional, o teste de Cloze é uma
ferramenta de diagnóstico da compreensão de leitura. Essa ferramenta já
foi utilizada por diferentes pesquisadores, tanto em abordagens básicas
sobre o processamento cognitivo de sentenças, quanto em pesquisas de
dimensão mais aplicada, com implicações para práticas de ensino de
língua (FEDERMEIER et al., 2007; SANTOS, 2004; BALIZA; SILVA,
2015). A princípio, pode-se pensar que essa ferramenta esteja limitada
à verificação do vocabulário, mas o teste pode ser também utilizado em
frases soltas, em que a verificação é mais local, ou em textos, em que a
verificação é macroestrutural.
Desde que foi criado, o Cloze tem sido considerado um recurso
confiável para avaliar a compreensão de textos escritos e tem sido
utilizado em uma grande variedade de pesquisas sobre o estudo da
leiturabilidade, bem como em estudos que buscam avaliar a influência
da posição sintática das palavras na sentença. Além dessas aplicações,
foi também utilizado em exames de proficiência em língua estrangeira
e em exames de seleção de diversas universidades (CUNHA, 2009).
Atualmente, esse teste vem sendo utilizado por pesquisadores de leitura
e de linguagem, em uma perspectiva multidisciplinar, que contempla
áreas como Psicologia, Comunicação, Fonoaudiologia, Linguística
e Educação e apresenta duas vertentes principais: a que focaliza a
avaliação de mecanismos psicolinguísticos que atuam na compreensão
da língua escrita e a que focaliza o estabelecimento de um diagnóstico
das dificuldades associadas à compreensão da língua escrita (SANTOS
et al., 2009).
1778
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
Em um estudo feito por Baliza e Silva (2015) utilizando a técnica
de Cloze, foi observada, entre outros fatores, a influência do nível de
escolaridade na compreensão da leitura. O teste foi aplicado em alunos de
7ª e 8ª séries. Os autores observaram que os alunos com mais escolaridade
compreendem melhor o que leem em relação aos demais alunos.
Há ainda estudos que combinam a técnica de Cloze com a
percepção de desempenho escolar. Oliveira, Boruchovitch e Santos
(2009) investigam a relação entre compreensão em leitura, desempenho
escolar real e desempenho escolar autopercebido de alunos da 5ª série do
ensino fundamental e verificam que a compreensão em leitura encontra-se
em nível básico. Demonstram que, apesar de os alunos conseguirem, com
esse nível, a habilidade mínima para a aprendizagem, eles não alcançam
o nível de proficiência em leitura. Quanto à relação entre desempenho
escolar em Língua Portuguesa e compreensão em leitura, as autoras
constatam que os alunos com melhor aproveitamento na disciplina
também exibem maior compreensão do texto. Revelam, ainda, que os
alunos com autopercepção negativa do desempenho obtiveram menor
pontuação no teste de Cloze e que o mesmo fato ocorrendo inversamente,
pode sugerir que os alunos estão cientes de seu próprio desempenho
escolar. Por fim, apontam a necessidade de que propostas de intervenção
sejam adotadas para a elaboração do diagnóstico e da remediação de
dificuldades específicas da compreensão em leitura.
Igualmente, tendo como foco de investigação a compreensão
leitora no ensino fundamental, Joly e Piovezan (2012) empreenderam um
estudo com o objetivo de avaliar o Programa Informatizado de Leitura
Estratégica (PILE) desenvolvido por Joly (2008) que é um programa
destinado a promover a compreensão em leitura de alunos do 5º ao 9º
ano do ensino fundamental. O conteúdo do programa é formado por uma
série de trechos de histórias em que foram aplicados o Sistema Orientado
de Cloze (JOLY, 2006, 2009), em que as dificuldades relacionadas ao
número de vocábulos que aparecem entre as lacunas e as pistas adicionais
como tamanho do espaço e banco de palavras surgem em sequência
gradativa, tendo como critério de organização dos textos, por nível de
dificuldade, o Sistema Orientado de Cloze (SOC). Os resultados obtidos
não só comprovam a eficácia do Programa como também apontam para
a importância da proposta interventiva com a finalidade de incrementar
o desempenho em compreensão leitora. Além disso, corroboram a
eficiência do Sistema Orientado de Cloze em programas de intervenção
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(JOLY, 2007, 2009) e o procedimento de Cloze como técnica de
diagnóstico e de remediação, conforme já demonstrado por Santos et
al. (2002), Santos (2004) e Cunha (2009).
Joly et al. (2014), dando continuidade a pesquisas sobre
a compreensão em leitura, realizaram um estudo de avaliação da
compreensão leitora em alunos do ensino fundamental do 6º ao 9º ano
com a utilização do Sistema Orientado de Cloze (SOC). Nesse estudo,
foram consideradas variáveis como idade, gênero e escolaridade a fim
de verificar se havia diferenças na compreensão em leitura. A análise
dos resultados indicou uma diferença significativa entre os gêneros – em
que as meninas apresentaram melhor desempenho – e, entre o ano de
escolaridade – em que mais uma vez os alunos de séries mais adiantadas
apresentaram melhor desempenho. Quanto à idade, porém, os resultados
não se mostraram significativos.
Suehiro e Boruchovitch (2016) também realizaram um estudo
direcionado a alunos do ensino fundamental, especificamente com alunos
do 6º ao 9º ano, e consideraram como variáveis o gênero, a escolaridade
e a idade. Após a análise, os resultados revelaram que os participantes se
classificariam em um nível básico de compreensão em leitura que não era
compatível com o seu grau de escolarização. Assim como os dados de
Joly et al. (2014) houve diferença significativa entre os gêneros com um
melhor desempenho das meninas e, do mesmo modo, com relação ao nível
de escolaridade em que os alunos de anos mais avançados apresentaram
melhor desempenho. A discrepância entre os estudos se deu por conta da
variável idade, pois em Joly et al. (2014) esse aspecto não se configurou
como significativo ao contrário da descrição de Suehiro e Boruchovitch
(2016) em que os mais velhos demonstraram melhor desempenho.
Em referência ao ensino médio, o estudo de Oliveira, Cantalice
e Freitas (2009), apresentou objetivos semelhantes aos estudos
anteriormente apresentados, porém com um objetivo específico
de explorar os acertos relativos aos itens. A questão dos itens é
particularmente importante no teste de Cloze porque a acurácia no
preenchimento do item omitido possivelmente não depende somente da
habilidade de leitura dos participantes como pode também depender da
dificuldade do item a ser preenchido.
Assim, nesse estudo, os itens eram compostos por oito classes
de palavras (pronome, adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, preposição,
substantivo, verbo) e por uma subclasse (locução adjetiva) e foram
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
classificados como fáceis, de dificuldade média e difíceis. Os resultados
indicaram que os alunos possivelmente apresentam dificuldades para
ler e compreender o que leem e que essa compreensão em leitura
encontra-se abaixo do nível básico, fato que não era esperado nesse
nível de escolaridade. As autoras ressaltaram que esses resultados são
exploratórios e apontaram que com relação às dificuldades dos itens, os
resultados mostraram que as categorias com maior índice de acertos foram
as preposições e os substantivos e a com menor índice, a locução adjetiva.
As autoras ressaltam que esses dados são exploratórios e apontam para
a conveniência de se realizar uma análise mais precisa.
Em consonância com o que se pretende apresentar aqui, os
estudos referenciados acima consideraram variáveis linguísticas e
variáveis não linguísticas. Cabe ressaltar, no entanto, que, se por um
lado, o conjunto de trabalhos reportados está longe de compor uma lista
exaustiva de estudos com Cloze nos ensinos fundamental e médio, por
outro lado, ilustram a aceitabilidade e a credibilidade alcançada por esse
procedimento psicolinguístico no meio acadêmico.
A relevância da técnica de Cloze reside na contribuição para a
investigação do problema da compreensão e do desempenho em leitura em
todos os níveis de ensino. Sua utilidade pode ser observada pelo número
de publicações que tratam de seu emprego seja para traçar diagnóstico
de compreensão em leitura seja para a elaboração de programas de
intervenção e remediação, como atestam os dados de Suehiro (2013) ao
descrever a produção científica sobre o teste de Cloze em periódicos de
psicologia entre os anos de 2002 a 2012.
4 Acessando a sensibilidade do teste de Cloze a fatores linguísticos
e não linguísticos
Este experimento teve como objetivo verificar a sensibilidade
do teste de Cloze a fatores linguísticos e não linguísticos. Para tal fim,
manipulamos as variáveis tipo de palavra (funcional e lexical), tamanho
do texto e escolaridade dos participantes. O procedimento adotado na
criação das lacunas foi o racional (ABRAHAM; CHAPELLE, 1992;
SADEGHI, 2014) em que manipulamos o tipo de palavra retirada
(funcional ou lexical). Assim, em um texto haverá maior quantidade
de lacunas para o tipo de palavra lexical (foco) e menor quantidade
de lacunas para o tipo de palavra funcional. Em outro texto, haverá o
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contrário: maior quantidade de lacunas para as palavras funcionais (foco)
e menor quantidade para as palavras lexicais.
Resumidamente, as variáveis independentes testadas foram
(i) tipo de palavra, que se dividia entre palavras funcionais e palavras
lexicais e (ii) tamanho do texto, que podia ser curto ou longo. Nesse teste
tivemos apenas uma variável dependente: foram medidos os índices de
erros no teste de Cloze. As variáveis independentes constituem um
design 2x2 gerando as condições TLF – Texto Longo com palavra
Funcional, TLL – Texto Longo com palavra Lexical, TCF – Texto
Curto com palavra Funcional e TCL – Texto Curto com palavra
Lexical (Tabela 1).
TABELA 1 – Design do experimento
6º ano Ensino Fundamental
Funcional
Lexical
Texto Longo
TLF
TLL
Texto Curto
TCF
TCL
1º ano Ensino Médio
Funcional
Lexical
Texto Longo
TLF
TLL
Texto Curto
TCF
TCL
A partir dos dados obtidos por este experimento, espera-se
observar diferença significativa de desempenho entre os grupos,
relacionada à extensão do texto e ao tipo de palavra. Com relação à
extensão do texto, é esperado que leitores mais experientes sejam menos
afetados pela dificuldade atencional gerada por textos longos. Com
relação ao tipo de palavra, Cain e Nash (2011) apontam que a competência
leitora de palavras funcionais é modulada pela idade dos leitores.
Considerando a variável tipo de palavra, isoladamente,
esperamos encontrar dificuldade maior para o preenchimento de
lacunas com palavras funcionais, já que, considerando fatores como
distribucionalidade e coocorrência de palavras, deve ser mais custoso
para o participante acessar uma palavra funcional a partir de uma palavra
lexical. Isso se deve ao fato de as opções de palavras funcionais que
podem ocorrer próximas a uma palavra lexical serem mais restritas que
as opções de palavras lexicais próximas a uma palavra funcional. Sendo
assim, ainda que a previsibilidade de uma palavra funcional seja maior
em uma determinada lacuna em relação a uma palavra lexical, devido
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
ao repertório limitado do paradigma, é justamente esse número limitado
que deve gerar a dificuldade. Como o protocolo utilizado no experimento
aceita respostas sinônimas ou coerentes com o sentido do texto, é mais
provável que o aluno conheça uma possibilidade dentro de um repertório
maior do que dentro de um repertório menor.
Em relação à variável texto longo, isoladamente, a literatura
sugere que o desempenho na compreensão leitora pode ser facilitado
pela extensão do texto, uma vez que textos longos forneceriam mais
informação e pistas para a interpretação. Por outro lado, acreditamos que o
papel de fatores como atenção e motivação pode afetar significativamente
o desempenho leitor, o que geraria a previsão de maior dificuldade
na compreensão de textos mais longos, sobretudo no grupo de menor
escolaridade.
Participantes
Participaram deste estudo 88 alunos de uma escola da rede Pública
Estadual do Rio de Janeiro situada no município de São Gonçalo, com
frequência regular, sendo 44 alunos do 6º ano do Ensino Fundamental e
44 alunos do 1º ano do Ensino Médio. A idade média dos participantes
do 6º ano foi igual a 12 anos com desvio padrão de 1,38 e do ensino
médio a média da idade foi igual a 17 anos com desvio padrão de 0,74.
Material
O material do teste foi composto por textos extraídos de livros
didáticos, correspondentes às séries em que se encontram os participantes
da pesquisa. Foram escolhidos textos de caráter ficcional, do gênero
crônica, por ser um dos primeiros gêneros textuais com os quais os
alunos entram em contato no Ensino Fundamental e por se considerar a
indicação de Joly (2014, p. 239), quando afirma que
A técnica de Cloze com suas inúmeras possibilidades
de variações favorece sua utilização com textos de
diferentes conteúdos, sejam específicos e ligados a
disciplinas escolares, sejam de caráter literário, como
os utilizados no presente estudo.
Além disso, trata-se de um gênero mais cotidiano, confessional e
que aborda assuntos corriqueiros. Com uma estrutura linguística próxima
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
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da narração e com linguagem simples, esse gênero é tido como mais
acessível não só a todo tipo de leitor, mas também, em geral, a todas as
faixas etárias. Os textos selecionados para compor as versões do teste de
Cloze foram três crônicas de Carlos Drummond de Andrade, intituladas
“O assalto”, “No aeroporto” e “Recalcitrante”; e um relato de viagem,
intitulado “O segredo de Mioko”, do autor Marco Clanflone. O critério
utilizado na seleção desses textos também considerou o que está indicado
por Coelho (2000) sobre a tipologia textual e sobre o gênero textual que
estaria adequado aos alunos em conformidade com a faixa etária e com
a série.
O texto “O assalto” com 218 palavras, apresentava 25 lacunas;
o texto “No aeroporto” com 515 palavras apresentava 50 lacunas; o
texto “Recalcitrante” com 629 palavras apresentava 50 lacunas e o texto
“O segredo de Mioko”, com 394 palavras apresentava 30 lacunas. As
lacunas foram intencionalmente abertas e o espaço demarcado era igual
em todas as lacunas.
Procedimentos
Após contato inicial com a direção da escola em que houve a
solicitação formal para a pesquisa, foi firmado o acordo de cooperação.
A direção da escola disponibilizou os dias e os horários das turmas que
seriam os mais adequados para a aplicação do experimento. Realizamos,
então, a aplicação de forma coletiva, em sala de aula, conforme o
agendamento previsto pela escola.
Antes de dar início ao teste, as pesquisadoras explicaram de
forma clara todo o procedimento e tiraram as possíveis dúvidas sobre a
tarefa a ser realizada. Os textos foram entregues aos alunos, em situação
de sala de aula, pelas pesquisadoras. Os testes foram aplicados em
diferentes momentos de um dia normal de atividades escolares, entre
outras atividades previstas no planejamento de aula dos professores das
diferentes turmas. Os participantes recebiam um texto contendo uma das
quatro condições testadas (TLL, TLF, TCL, TCF), e tinham como tarefa
preencher as lacunas com uma palavra que garantisse a coerência do texto.
Além disso, os participantes responderam a questões de identificação,
informando, na mesma folha do teste de Cloze, os seguintes itens: nome,
idade e turma a qual pertenciam.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
O teste foi realizado em ambiente tranquilo, bem arejado e
iluminado. A realização da atividade teve duração média de 50 minutos
por sala, não tendo sido estabelecido um limite de tempo para que os
alunos concluíssem a tarefa.
5 Análise
Critérios de correção
No teste de Cloze podem ser adotados tradicionalmente dois
critérios para a correção dos itens: o critério literal (ou objetivo) e o
critério sinônimo (ou subjetivo). No primeiro, são considerados corretos
os itens que correspondem às palavras usadas no texto original. Já
no segundo critério, são considerados corretos os itens que garantem
a coerência do conteúdo. Além desses, há o critério de ponderação
(OLIVEIRA et al., 2009) em que são considerados corretos os itens que
se aproximam do ideal de preenchimento, não importando a correção
ortográfica ou gramatical.
Neste trabalho, a avaliação do desempenho foi feita com base
no critério ponderado e consistiu em atribuir um ponto para cada acerto,
sendo consideradas corretas as palavras que completassem as frases com
coerência. A fim de evitar um excesso de subjetividade na correção, as
respostas foram apreciadas pelas pesquisadoras e houve a análise de
juízes (FONSECA et al., 2011) em que profissionais especializados em
língua portuguesa examinaram e estabeleceram os níveis de dificuldades
dos itens (OLIVEIRA et al., 2009). O número de acertos máximo era de
50 (texto longo) ou 25/30 (texto curto), correspondentes ao número de
omissões em cada versão do texto.
Análises dos dados
De início, foi feita a contabilização de erros e acertos de cada
um dos indivíduos testados. Após a verificação dos dados de cada
participante, foi necessário contrabalancear os dados, de modo que
todas as condições fossem quantitativamente equivalentes para a análise
estatística. Igualamos todos os dados a 50, conforme os dados do texto
longo. Sendo assim, para um total de 50 lacunas, o número de erros do
aluno 1, por exemplo, na condição TCF é 24, o que corresponde aos 12
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erros de um total de 25. Tal procedimento foi feito com os dados de todos
os alunos, tanto do Ensino Médio quanto do Ensino Fundamental, a fim
de termos uma análise mais homogênea e mais confiável.
Após esse passo, fizemos as análises estatísticas usando o
programa computacional R. Foram realizados dois testes: o teste T e a
ANOVA. Fizemos dois tipos de análise: a análise Within Subject, em que
comparamos os dados por grupo e a análise Between Subject, em que
comparamos os dados entre os grupos testados.
6 Resultados
Como mencionado, o objetivo do trabalho foi verificar a
sensibilidade do teste de Cloze aos fatores linguísticos tipo de texto
(longo ou curto) e tipo de palavra (lexical ou funcional) e a fatores não
linguísticos (escolaridade). O teste foi feito com alunos do sexto ano do
Ensino Fundamental e do primeiro ano do Ensino Médio.
No Gráfico 1, em que são apresentadas as médias de erros no
preenchimento da lacuna dos alunos do ensino fundamental, podemos
observar que os alunos tiveram médias de erros bastante elevadas em todas
as condições. Em uma comparação entre as condições testadas, é possível
observar, visualmente, que os alunos apresentaram maior dificuldade
ao preencher as lacunas da maneira esperada quando elas pediam uma
palavra funcional e quando os textos eram longos. Em relação ao tipo
de palavra (lexical ou funcional) os alunos apresentaram maior número
de erros quando se tratava de palavras funcionais independentemente
do tamanho do texto.
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GRÁFICO 1 – Médias de erros no preenchimento da lacuna
Em uma análise estatística (T-teste) utilizando as médias de erros
em cada condição observamos que a comparação entre as condições
TLL e TCL é altamente significativa tendo t(10)=9,58 p<0,0001***.
Observamos também que nas condições TCL e TCF há significância
sendo t(10)=4,81 p<0,0007. Na comparação entre as condições TLL e
TLF também há significância sendo t(10)=2,65 p<0,02. Entre as condições
TLF e TCF a significância mostrou-se mínima sendo t(10)=3,03 p<0,01.
O teste de significância ANOVA mostrou-se altamente significante
para a variável Tipo de Texto F(1,10) = 73,2 p<0,000007 e também para
a variável Tipo de Palavra F(1,10)=20,5 p< 0,001. Portanto, quanto à
análise Whitin subjects feita com os alunos do ensino fundamental,
podemos concluir que as variáveis Tipo de Palavra e Tamanho do Texto,
colocadas em questão no presente artigo, têm grande influência no
desempenho dos alunos.
O mesmo teste foi aplicado com os alunos do 1º ano do Ensino
Médio e apresenta resultados diferentes em relação aos encontrados no
grupo de alunos do Ensino Fundamental, sendo a condição TCF a que
teve índices de erros mais elevados (Gráfico 2).
Diferentemente do que ocorreu com os alunos do Ensino
Fundamental, as médias de erros em cada condição para os alunos do
Ensino Médio foram muito próximas.
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Em uma análise estatística, observamos que a comparação entre
as condições não apresentou significância, pois as médias de erros foram
muito próximas em todas as condições.
GRÁFICO 2 – Médias de erros no preenchimento das lacunas E. M.
Na análise estatística Between Subjects (comparação entre os
dois grupos testados – alunos do Ensino Fundamental e alunos de Ensino
Médio) fizemos, primeiramente, a análise estatística (T-teste). O T-teste
mostrou que a comparação entre as condições com texto longo em que
os alunos tinham que completar as lacunas com palavras funcionais
foi significativa (t (20)=4,43 p< 0,0003), sendo os alunos do Ensino
Fundamental os que apresentaram maiores médias de erro. Nos textos
longos em que os alunos tinham de completar as lacunas com palavras
lexicais, o resultado não foi significativo t(20)=1,93 p< 0,06. No entanto,
há fortes indícios de que há uma tendência, mostrando ser relevante a
aplicação do teste com um número maior de alunos.
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GRÁFICO 3 – Médias de erros no preenchimento das lacunas dos dois grupos
O teste de significância ANOVA (Gráfico 3) apresentou resultados
significativos para a variável tipo de palavra F(1,80)=6,31 p<0,01, sendo
as palavras funcionais as que tiveram maiores índices de erros, e para
a variável nível de ensino F(1,80) = 8,65 p<0,004, sendo os alunos do
ensino fundamental os que apresentam maiores índices de erros.
7 Discussão e agenda de pesquisa
De acordo com Kato ([1986] 2001), a compreensão da linguagem
escrita envolve uma gama de diferentes tipos de conhecimentos. Em
uma primeira análise, a linguagem escrita pode ser entendida como uma
transcrição de uma língua. Nesse sentido, uma vez entendido o código, a
proficiência em leitura deveria ser tão efetiva quanto a compreensão da
língua. Por outro lado, a linguagem escrita abarca regras e especificidades
que transcendem o que seria uma simples transcrição da língua, e
demanda diferentes fatores cognitivos, como o acesso às memórias de
curto e longo prazo e a capacidade de reconhecer e de estabelecer relações
coesivas entre diferentes unidades significativas. Essas unidades tendem
a variar em complexidade de acordo com o gênero textual e demandam
maior grau de esforço formal quanto mais esses gêneros se distanciam
da língua vernácula do leitor.
Sendo assim, medir a proficiência em leitura requer a capacidade
de medir de modo controlado esses diferentes aspectos. O experimento
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
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descrito na seção anterior mostrou que o teste de Cloze pode ser uma
via para se manipularem diferentes aspectos relacionados à compreensão
leitora. Nesse estudo, encontramos diferenças entre aspectos de ordem
linguística (diferença entre palavras funcionais e lexicais) e aspectos de
ordem não linguística (extensão do texto e escolaridade).
O desenho do experimento foi feito de modo a ser o mais
fiel possível aos padrões de criação de testes de Cloze, utilizando o
procedimento racional para simplesmente extrair palavras funcionais e
lexicais, sem um olhar qualitativo sobre quais itens funcionais e quais
itens lexicais seriam extraídos. Os resultados revelaram diferença quanto
à variável tipo de palavra, o que tem o mérito de mostrar que o teste de
Cloze pode ser sensível a essa variável de natureza linguística. Por outro
lado, do ponto de vista do processamento da leitura, essa sensibilidade
se torna mais relevante se pudermos avaliar o que essa diferença pode
nos dizer sobre a compreensão leitora, como, por exemplo, determinar
que tipo de cognição envolvida na leitura foi acessada para completar
as lacunas.
Devido ao caráter multifacetado dos processos envolvidos na
leitura, não é uma tarefa simples mensurar a relação entre testes de
compreensão e os processos cognitivos que eles avaliam. Com relação
especificamente aos processos cognitivos envolvidos na resolução do
teste de Cloze, existe um debate quanto ao teste acessar primordialmente
um conhecimento global contextual ou um processamento local imediato
– que ativaria conhecimento prévio – na elaboração de respostas
(SANTOS et al., 2002). Conforme apontam Sousa e Hubner (2015,
p. 37), “apesar de [o teste de Cloze] apresentar grande correlação com
testes de compreensão leitora, há dúvidas sobre o que exatamente ele
mede”.
A seguir, apresentamos uma breve análise qualitativa de
alguns itens dos textos utilizados no experimento reportado, de modo
a identificar a natureza da dificuldade dos participantes. O objetivo é
mostrar que há especificidades em cada item que podem acessar aspectos
diferentes do processamento da leitura. Analisamos qualitativamente,
item a item, os erros que ocorrem tanto em palavras funcionais quanto em
palavras lexicais. Esse tipo de análise revela especificidades de cada item,
revelando que as habilidades requisitadas para completar uma lacuna
podem ser de diferentes naturezas, ainda que se tratem de dois itens do
mesmo tipo (lexical ou funcional). Esse tipo de análise é útil para informar
1790
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
pesquisas futuras, de modo que se possam criar desenhos experimentais
originais em que seja possível manipular especificamente o tipo de
cognição envolvida, dando conta das possíveis variáveis intervenientes
que estejam presentes em uma distinção de categorias como funcional e
lexical. Os exemplos a seguir mostram alguns aspectos que podem ser
explorados a partir dessas análises, e que podem ser manipulados de
maneira controlada em testes futuros:
1) A lacuna em “sacar do _________” foi completada por participantes
com os itens lexicais cão, carro, bolso, cofre, homem, balcão,
banco e caixa.
No exemplo 1, o item no texto original é revólver, uma palavra
lexical. Como se observa, o aluno não apresenta dificuldades em
completar a lacuna quando se considera apenas o nível do sintagma, tendo
êxito em reconhecer as restrições sintáticas e semânticas da estrutura,
que licencia uma interpretação “tirar de x”. No entanto, na expressão
idiomática “sacar do revólver”, trata-se de uma estrutura diferente, com
a interpretação “pegar x”, em que revólver faz parte do objeto do verbo
sacar e tem papel temático diferente de qualquer opção utilizada pelos
alunos participantes do teste. Esse item é, portanto, um item que avalia
uma erudição não esperada do falante comum e não revela exatamente
um problema no processamento linguístico, já que os participantes
tiveram êxito em completar o sintagma com itens possíveis. O uso desses
itens possíveis revela, por outro lado, uma dificuldade do participante
em termos de proficiência leitora. Ou seja, ainda que sejam todos itens
possíveis para fechar o sintagma, e ainda que façam sentido dentro
do campo semântico do texto, alguns desses itens lexicais não seriam
aceitáveis levando-se em consideração a construção da coerência em
uma análise mais macroestrutural.
Os participantes não parecem, portanto, ter problema em usar
seu conhecimento linguístico para completar as lacunas do texto, o que
revela que a dificuldade está relacionada a fatores extrínsecos à língua,
associados possivelmente à estrutura textual ou ao desconhecimento
de certas estruturas linguísticas estrangeiras à sua língua. Uma análise
qualitativa permite, portanto, separar o tipo de erro que o aluno comete
para que ações pedagógicas específicas sejam realizadas.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
1791
Uma análise preliminar de erros frequentes indica que, em geral,
leitores em formação não apresentam problemas em completar sintagmas
simples. Além disso, também não apresentam grandes dificuldades em
identificar o tema predominante no texto, uma habilidade que depende
apenas da ativação de um campo semântico por meio de um conjunto
de itens lexicais, sem haver necessariamente uma estrutura coesiva entre
eles. Por outro lado, é um desafio para leitores não experientes identificar
unidades significativas maiores, como orações, sintagmas complexos –
o que ocasiona dificuldade de compreensão geral do texto como uma
unidade coesiva.
É interessante notar, ainda, em uma análise dos erros produzidos
ao se completarem as lacunas com palavras funcionais, que a incidência
de erro foi maior em estruturas de maior complexidade estrutural ou que
dependem de maior vocabulário (exemplos 2 e 3 abaixo), exigindo maior
nível de letramento – uma observação que é legitimada pela diferença
encontrada entre os grupos de diferentes escolaridades.
2) Estruturas em que houve acerto: “um homem”; “o jardim”; “da casa”.
3) Estruturas em que houve erro: “ele astúcia” (em vez de “de
astúcia”); “ele súplica” (em vez de “a súplica”); “disse que era da
saúde pública ele indagou” (em vez de “disse que era da saúde
pública e indagou”); “prometeu a nunca mais tentaria assaltar”
(em vez de “prometeu que nunca mais tentaria assaltar”).
Para completar a lacuna em “___ astúcia”, o participante deve
conhecer o item lexical “astúcia”, de frequência baixa nessa faixa etária.
Ainda de menor frequência é a possibilidade de combinação com a
preposição “de” para formar a expressão “de astúcia”. Além disso, é
possível que, não reconhecendo a raiz do item lexical, o participante
pode ter reconhecido a sequência final de letras da palavra como uma
flexão verbal, o que justifica ter completado a lacuna com o item “ele”,
que atuaria como sujeito desse suposto verbo. No caso de “súplica”, o
participante pode ter falhado em reconhecer a diferença entre a forma
verbal (não acentuada) e a forma nominal (acentuada) desse vocábulo.
Novamente, se esses são os casos, o erro no preenchimento das lacunas
decorre do não reconhecimento de um item lexical e não de uma falha no
processamento linguístico. Em “prometeu a nunca mais tentaria assaltar”,
o participante falhou em reconhecer a oração subordinada sendo usada
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como argumento interno do verbo “prometeu”, e utilizou uma preposição
(“a”) no lugar da conjunção integrante “que”. Nas estruturas presentes
no exemplo 2, por outro lado, ainda que se trate de palavras funcionais,
as estruturas são mais simples e as palavras de conteúdo são bastante
conhecidas por estudantes do EF.
O desempenho melhor dos alunos do EM pode ter sido pelo
tempo maior de exposição a estruturas mais complexas, incentivadas no
processo de escolarização, e pelo aumento de vocabulário, que pode ser
um fator relacionado tanto à idade quanto à escolaridade.
Ressaltamos, ainda, a relevância de associar o teste de Cloze
com medidas cronométricas, que possibilitariam acessar de forma mais
controlada a dificuldade do item. Por exemplo, acreditamos que um
leitor experiente possivelmente também teria dificuldade em completar a
lacuna apresentada no exemplo 1 com o item lexical “revólver”, mesmo
que, havendo tempo para pensar, acabe acertando.
Em vista dessa breve análise de itens específicos, é possível
constatar que o teste de Cloze pode ser uma ferramenta útil para avaliar
diferentes aspectos da proficiência em leitura. Nossa breve análise indica
que o teste, quando desenvolvido de forma consciente e utilizando-se
o procedimento racional com resposta aberta, pode ser útil em revelar
diferentes processos cognitivos, como, por exemplo, se o participante
estaria acessando conhecimento global contextual ou conhecimento
prévio (mais local, imediato). Isso só é possível, no entanto, se o teste
for desenvolvido de maneira informada e qualitativa, controlando a
criação das lacunas mais de modo a acessar o conhecimento que está
sendo avaliado e menos em termos de categorias binárias, linguísticas
ou não. Dessa forma, é possível identificar de maneira mais acurada
se o erro ocorre por um problema em algum conhecimento linguístico
específico, por um problema de proficiência em leitura, ou mesmo por
uma lacuna no processo de letramento linguístico. A natureza de cada
erro exige ações pedagógicas distintas.
8 Conclusão
Este trabalho se propôs discutir as possibilidades de se usar o
teste de Cloze como ferramenta para medir aspectos relacionados à
proficiência em leitura, verificando sua sensibilidade a aspectos de ordem
linguística e não linguística e entretendo a possibilidade de se criarem
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desenhos originais e qualitativos, de modo a determinar de forma mais
granular os aspectos avaliados por cada item omitido.
Apresentamos uma revisão da literatura, em que procuramos
descrever a técnica de Cloze em si, desde sua versão tradicional até
versões com variação do procedimento. Apresentamos, também, estudos
com o teste de Cloze em produções nacionais voltadas para o ensino
fundamental e para o ensino médio.
A sensibilidade do teste foi medida por meio de um estudo que
manipulou as variáveis tipo de palavra, tamanho do texto e escolaridade.
O experimento envolveu dois grupos de participantes, um constituído
por alunos do 6º ano do E.F. e o outro por alunos do 1º ano do E.M.
Os resultados encontrados para o grupo do 6º ano (EF) confirmaram as
hipóteses levantadas de que os participantes teriam mais dificuldade
para compreender o Texto Longo por ser necessário se concentrar por
um período de tempo maior e também apresentariam maior dificuldade
para acessar as palavras funcionais, que podem ser facilmente justificadas
devido à faixa etária compreendida por esses alunos e ao tempo de
exposição a esses itens.
Em relação aos participantes do 1º ano (EM), a hipótese inicial
era de que os participantes teriam mais facilidade no Texto Curto. No
entanto, a média de erros dos resultados do Teste de Cloze foi maior no
Texto Curto (24,4) em comparação com o Texto Longo (20,3), mesmo
não sendo uma diferença significativa, foi um resultado inesperado.
Uma possível justificativa é que o Texto Longo tenha proporcionado
mais informações ao participante que teve um embasamento maior para
acessar e preencher as lacunas do teste com mais acurácia.
Quanto à comparação entre os grupos, o melhor resultado foi
encontrado no grupo dos participantes do Ensino Médio. Fato que já era
esperado devido não só ao espaço temporal que separa os dois grupos,
mas também à quantidade de anos de escolaridade, visto que do 6º ano
(EF) para o 1º ano (EM) são três anos a mais em contato e interação com
o ambiente acadêmico.
Ao final, destacamos a importância de se desenvolverem testes
de Cloze que possibilitem acessar aspectos específicos relacionados
à proficiência leitora, de modo a identificar o que está sendo avaliado
pelo teste. Dessa forma, é possível identificar e trabalhar a natureza
do problema em leitura apresentado pelo participante. Assim, o teste
de Cloze pode se consolidar como sendo uma ferramenta importante e
1794
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1767-1799, 2017
versátil, capaz de acessar a proficiência leitora em níveis mais locais,
o que pode revelar problemas de processamento linguístico ou simples
desconhecimento de itens lexicais, ou em níveis mais macroestruturais,
que podem revelar lacunas no letramento em leitura.
Agradecimentos
As autoras agradecem a equipe do CIEP 246 – Professora Adalgisa Cabral
de Faria pela permissão do desenvolvimento da pesquisa. Agradecem
também a colega Prof. Dr. Marília Costa (UFRJ) que destinou tempo à
leitura da versão anterior e aos pareceristas anônimos por suas variadas
sugestões.
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O movimento ocular na leitura realizada
por revisores de textos
Revisers’ eye movement in reading
Délia Ribeiro Leite
Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais
/ Brasil
dribeiroleite@yahoo.com.br
José Olímpio de Magalhães
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
joseolimpiomagalhaes@yahoo.com.br
Resumo: Este estudo objetivou investigar o processamento da leitura
de profissionais revisores de textos, comparando o movimento ocular
destes com o de sujeitos que não trabalham profissionalmente com revisão
(não revisores). Na tarefa de leitura e detecção de erros realizada por
14 revisores e 14 não revisores, os participantes deveriam ler e revisar
pequenos textos jornalísticos projetados no computador, clicando com
o mouse nos erros e/ou inadequações que encontrassem. Havia dois
tipos de erros nos estímulos experimentais: a) supressão de preposição
e b) incoerência gerada por uma anáfora nominal incorreta. Na análise
estatística, quando garantida a normalidade, foram realizados modelos
mistos; do contrário, a análise foi realizada por meio de testes não
paramétricos. Quanto à análise do movimento ocular, a perspectiva geral
foi de que os revisores apresentaram valores mais elevados, o que significa
que eles foram mais lentos na leitura do que os não revisores, o que foi
identificado nas medidas do nível do texto, da sentença e do trecho alvo.
Esta pesquisa contribui para uma caracterização dos processos de leitura
envolvidos em tarefas de revisão de textos por revisores profissionais.
Palavras-chave: revisão de textos; revisão profissional; movimento
ocular; proficiência.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1801-1830
1802
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Abstract: This study aims to investigate the reading processing of
professional revisers comparing their eye movement with subjects who do
not work professionally in revising (non revisers). In the reading and error
detection task proposed and performed by 14 revisers and 14 non revisers,
the participants had to read and edit short journalistic texts displayed
on a computer, by clicking on the errors and/or inadequacies they
found using the mouse. There were two types of errors: a) suppression
of preposition and b) incoherence generated by an incorrect nominal
anaphora. In the statistic analysis, when normality was ensured, mixed
models were carried out; otherwise, the analysis was carried out by means
of non-parametric tests. Considering the eye movement analysis, the
general perspective indicate that revisers presented the highest values,
meaning they were slower in reading than non revisers, which occurred
concerning the measures of the text, sentence and local levels. This
research contributes to a characterization of reading processes involved
in revisions of texts by professional reviewers.
Keywords: revision; professional revisers; eye movement; proficiency.
Recebido em: 9 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 9 de janeiro de 2017.
1. Introdução
A revisão está diretamente relacionada com o processo de leitura
e produção de textos. Por isso, ao relermos um texto que produzimos,
buscamos assumir uma visão exotópica1 e verificar aspectos diversos
da estrutura textual, de forma a identificar possíveis erros, bem como
trechos cuja interpretação seja difícil para o leitor. No entanto, nem
sempre o autor é o melhor leitor para revisar o seu próprio texto, seja por
questões técnicas, relativas à falta de conhecimento específico no campo
dos estudos da linguagem (no caso de autores de outras áreas), seja por
questões práticas: a exotopia pode ficar comprometida, tendo em vista que
o texto, ao ser lido pelo próprio autor, perde a imprevisibilidade, o que
pode fazer com que as inadequações de linguagem não sejam percebidas.
A visão exotópica é aquela em que a leitura é realizada com um olhar diferente daquele
do produtor do texto, um olhar que simularia a leitura realizada pelo leitor para o qual
aquele texto é destinado.
1
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Por isso, há o profissional revisor de textos, cuja ocupação
é a leitura dos textos produzidos por outrem, de forma a identificar
inadequações de linguagem e propor correções ou alterações diversas.
Apesar de ser uma atividade antiga e importante, poucos são
os estudos cujo objeto é a revisão profissional, muito embora haja um
imaginário de que essa tarefa exige uma demanda e uma qualificação
especiais, principalmente no que se refere à leitura: “O revisor não lê
como os demais homens leem, ele fotografa a palavra visualmente; e o
texto reflete-se em sua correção.” (WAGNER; CUNHA, 2012, p. 12).
Dessa forma, este trabalho propõe-se a investigar o processamento
da leitura realizada por profissionais revisores de textos. Para tanto, foi
utilizado como método de investigação o rastreamento ocular. Verificamos
os padrões de fixações e sacadas realizados por esses profissionais durante
a revisão, bem como se esses padrões se aproximaram do depreendido
quando indivíduos que não trabalham profissionalmente com revisão
leem os mesmos textos. Portanto, este trabalho tem como objetivos:
• Investigar os padrões do movimento dos olhos na leitura
realizada por profissionais revisores de textos, em uma tarefa
de detecção de erros;
• Comparar o movimento ocular de profissionais revisores de
textos com o de sujeitos que não realizam profissionalmente
a revisão, em uma tarefa de leitura e detecção de erros;
• Verificar se os profissionais revisores de textos e se os
sujeitos que não realizam a revisão profissional fazem uma
leitura voltada tanto para a superfície textual quanto para
níveis mais globais do texto.
A hipótese assumida neste estudo é a de que a leitura realizada
pelos revisores de textos é menos automática, mais controlada e mais
detalhada, o que acarreta mais proficiência na atividade de revisão.
2. A revisão de textos sob uma abordagem cognitiva
Heurley (2006) destaca três principais visões da revisão na
perspectiva cognitiva: a revisão como uma modificação efetiva de
um texto; a revisão como subprocesso do processo de escrita, visando
melhorar o texto já escrito; e a revisão como componente distinto da
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produção escrita, que envolveria um conjunto de subprocessos e de
procedimentos implicados no controle da escrita.
Hayes et al. (1987), por sua vez, propõem um modelo
especificamente de revisão. O modelo é dividido em processos e
conhecimentos. O primeiro processo envolvido é a definição da tarefa,
que abarca questões como os objetivos do revisor, os traços do texto
a serem examinados e a forma como se pretende proceder à revisão.
O segundo é a avaliação, quando são selecionados os objetivos da
leitura: compreensão, avaliação ou detecção de problemas. Com base na
representação que se faz do problema, será selecionada uma estratégia,
sendo possível: modificar ou controlar o processo de revisão em si ou
modificar o texto. Ao modificar o processo de revisão, o revisor pode
ignorar o problema, buscar mais informações de forma a melhorar o seu
diagnóstico ou adiar a ação, inclusive quando opta por fazer mais de uma
leitura, uma delas direcionada a um nível mais alto e outra relacionada
com os aspectos da superfície textual. Ao contrário, se opta por modificar
o texto, o revisor pode reescrevê-lo ou revisá-lo. Nesse caso, a revisão
comporta os casos em que o revisor corrige as inadequações mantendo
o máximo possível do texto original. Uma questão importante é que
os revisores podem redefinir a tarefa ao longo da realização da revisão
e, assim, o conhecimento utilizado, que inclui objetivos, critérios e
restrições, é modificado dinamicamente durante a revisão. A revisão está
relacionada com a leitura para detecção de problemas, que, de acordo
com os autores, é diferente, por exemplo, daquela direcionada somente
à compreensão.
Em 1996, Hayes propõe uma reformulação do modelo de escrita
de Hayes e Flower (1980), com o objetivo principal de acrescentar
elementos cognitivos importantes, como a memória de trabalho, assim
como reorganizar os elementos existentes de forma a mostrar a relação
deles com processos cognitivos mais gerais envolvidos em vários
tipos de atividades. A revisão passa a ser vista como uma forma de
interpretação de texto. O autor propõe um novo modelo de revisão, no
qual há uma estrutura de controle, composta pelo esquema da tarefa de
revisão; processos fundamentais, entre eles a reflexão, o processamento
e a produção do texto; e os recursos utilizados, que são a memória de
trabalho e a memória de longa duração. A revisão integra juntamente
com a reflexão e a produção do texto o subcomponente dos processos
cognitivos, o qual, por sua vez, está inserido em um componente maior.
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Este, além dos processos cognitivos, envolve um subcomponente afetivo/
motivacional, a memória de trabalho e a memória de longo prazo. Assim,
o autor considera que, para entender a revisão, é necessário entender
não só o processo, mas também sua estrutura de controle e os recursos
envolvidos. O autor pontua que esse conjunto é adquirido com a prática,
o que se depreende, inclusive, da diferença entre revisores e produtores
de textos experientes e novatos explorada em Hayes et al. (1987).
Como se vê, no âmbito desses estudos, a revisão deixou de ter
um papel secundário no processo de escrita e passou a ser vista como
uma etapa importante desse processo, que atua em vários níveis. Cada
vez mais, ela tem sido tratada como uma atividade de controle, que pode
operar separadamente ou ao longo do processo de escrita.
3. Movimento ocular e leitura
Os olhos se movimentam em sacadas intercaladas com fixações.
Enquanto a sacada corresponde a um rápido movimento dos olhos
para mover o foco de uma área para outra, a fixação equivale ao tempo
gasto focalizando-se uma determinada área. É possível a verificação
de variáveis temporais e espaciais quando se registra o movimento
dos olhos, já que há um deslocamento espacial, ou seja, para onde será
direcionado o movimento, e um deslocamento temporal, representado
pelo momento em que ocorrerá esse movimento. Além disso, sabe-se
que o tipo de movimento depende bastante da informação requerida
(LAND, 2007, p. 78).
Além disso, nem sempre o movimento ocular ocorre de maneira
linear, pois há situações em que são realizadas regressões para locais que
já foram focalizados. De acordo com Luegi (2006, p. 23), “Cerca de 15%
dos movimentos sacádicos durante a leitura são movimentos regressivos,
ou seja, partem da direita para a esquerda, para regiões anteriores do
texto, na mesma linha ou em algumas linhas acima”.
As regressões podem ser correções de sacadas que foram muito
longas e, em função disso, é necessário que os olhos façam um breve
retorno. Podem, também, ser decorrentes de dificuldades de entendimento
de alguma parte do texto. Nesse caso, geralmente, as regressões são
longas (maiores que 10 caracteres na mesma linha ou em direção a linhas
anteriores) e o comportamento com relação ao retorno varia conforme
a proficiência do leitor.
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O registro do movimento dos olhos é utilizado em uma grande
gama de estudos sobre o processamento da linguagem. Muitas variáveis
podem influenciar os valores das fixações e das sacadas, inclusive se
se trata de uma leitura em voz alta ou silenciosa. Como não há estudos
específicos sobre o movimento ocular durante a revisão de textos, nesta
seção, serão apresentados estudos que abordam questões relacionadas
aos tipos de erros presentes nos textos experimentais deste trabalho, bem
como fatores considerados na análise depreendida neste trabalho, como
os retornos e a releitura dos textos.
Como o movimento dos olhos se processa em fixações e
sacadas, de uma fixação para outra podem ser puladas palavras. Sabese que palavras funcionais tendem a ser puladas, ou seja, não serem
focalizadas. De acordo com Rayner, as palavras funcionais são fixadas
aproximadamente 35% das vezes (RAYNER, 1998, p. 375). Isso pode
ser ocasionado por elas serem mais facilmente identificáveis, ou seja,
mais previsíveis pelo contexto, ou mesmo pelo fato de elas serem mais
frequentes (STAUB; RAYNER, 2007). O fato de elas serem curtas
também pode influenciar, já que, à medida que o tamanho da palavra
aumenta, a probabilidade de ela ser fixada também aumenta – palavras
de 2 a 3 letras são fixadas, em geral, 25% das vezes (RAYNER, 1998,
p. 375).
Hyönä e Nurminem (2006) investigam as regressões e, em seus
resultados, os leitores que tendem a direcionar as regressões para partes
realmente informativas do texto conseguem apresentar um resumo melhor
daquilo que leram. Dessa forma, há também aspectos relacionados a níveis
textuais mais altos que interferem no movimento dos olhos. Os autores
pesquisam como leem leitores competentes, com o objetivo de confirmar
a classificação proposta em estudo anterior (HYÖNÄ; KAAKINEN;
LORCH, 2002) e verificar se os próprios leitores têm consciência
das estratégias de leitura que eles utilizam. Foram identificados três
padrões de leitores: os processadores de estruturas de tópico, que foram
minoria, seguidos dos leitores lineares rápidos e, por fim, dos leitores
lineares lentos, que foram maioria. Os leitores têm consciência do tempo
demandado na leitura, se são ou não lentos, bem como sabem se fazem
ou não retornos a partes do texto, porém não têm uma noção precisa de
quais os locais para os quais eles fazem retornos. Portanto, há diferenças
idiossincráticas relacionadas ao movimento ocular e à leitura, embora o
direcionamento dado na tarefa possa influenciar os padrões. No caso da
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pesquisa acima, os leitores tiveram que fazer um resumo do texto, o que
pode ter influenciado a maneira como eles se comportaram.
Hyönä e Niemi (1990) investigam a releitura de um texto. A
releitura faz com que o processo seja facilitado e, com isso, todas as
medidas investigadas são diminuídas, tanto o número e o tempo de
fixações quanto o número de regressões. Os autores também investigam
se a releitura influencia na tendência em se fixarem mais os trechos com
informações importantes. Nesse sentido, a conclusão é de que as partes
mais importantes tendem a ser mais fixadas, mas isso ocorre tanto na
primeira leitura quanto na releitura. No entanto, a releitura facilita o
processamento das sentenças que são mais informativas do que daquelas
não informativas. Além disso, para cada leitura sucessiva, a média das
fixações é mais longa no início dos textos do que no final deles.
Vauras, Hyönä e Niemi (1992) investigam a leitura de textos
coerentes e incoerentes. Nos textos incoerentes, há a mudança da ordem
das sentenças. Os autores utilizam como metodologia o registro do
movimento dos olhos e também uma medida off-line, que é a análise
de reescritas dos textos realizadas pelos leitores. Eles concluem que
incoerências aumentam tanto o tempo de fixação quanto as regressões.
No entanto, embora em textos coerentes o aumento do tempo de fixação
ocasione melhora na reescrita da parte fixada, o mesmo não ocorre com
textos incoerentes.
Luegi (2006) pesquisa o registro do movimento dos olhos entre
leitores do português europeu. A autora apresenta sentenças modificadas
com a finalidade de se criarem inconsistências (agramaticalidade
ou ambiguidade) e verifica a reação dos leitores. Além disso, essas
manipulações são realizadas em dois textos: um em que predominam
termos técnicos e outro cujo tema é mais comum. A autora verificou
que o efeito das variáveis só é visível quando se trata do texto com
vocabulário técnico e manipulação das sentenças gerando inconsistências.
Esses resultados são vistos tanto no número de fixações quanto no tempo
total de leitura. Além disso, a autora verifica que os leitores são bastante
precisos no que se refere às regressões e retornam especificamente para
o local onde há problemas.
Alamargot et al. (2006) registram concomitantemente o
movimento ocular e a execução grafomotora para investigar o processo
de escrita. Embora o foco do trabalho não seja a revisão de textos, eles
observam que a detecção de erros tipográficos pode ocorrer em tempos
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muito curtos, como o de uma fixação na leitura. Pode, ainda, ocorrer em
paralelo com a execução grafomotora.
Portanto, o registro do movimento dos olhos pode indicar
aspectos importantes do processamento da leitura. Dessa forma, os
trabalhos experimentais demonstram que tanto a fisiologia da visão
quanto o processamento da leitura são determinantes quanto ao padrão do
movimento dos olhos adotado pelos sujeitos. Esses estudos dão suporte à
hipótese deste trabalho de que haverá um padrão de leitura diferenciado
conforme o tipo de erro e, também, em função da experiência dos sujeitos
em revisão de textos.
4. Metodologia
4.1 Participantes
Os sujeitos participantes da pesquisa foram divididos em dois
grupos: não revisores e revisores, sendo que cada grupo foi composto
por 14 sujeitos. No grupo dos não revisores, participaram da pesquisa
estudantes de ensino superior que não cursavam Letras nem Comunicação
Social, pois a formação nesses dois cursos é pré-requisito para a
investidura de vários cargos de revisão e, com isso, esse estudante tem
uma formação mais aprofundada em estudos de linguagem, o que o
diferencia de um grupo que representa sujeitos não revisores. Para
a escolha dos revisores, foi pré-requisito que o sujeito trabalhasse
profissionalmente com revisão, em órgãos públicos, na iniciativa privada
ou como autônomo. Todos os revisores tinham formação em Letras,
sendo que um deles estava no último período do curso, mas já acumulava
3 anos de experiência em revisão de textos. Com relação ao tempo de
experiência, 5 deles trabalhavam com revisão de 1 a 4 anos; 5, de 5 a 10
anos; e 4, por mais de 10 anos.
4.2 Construção dos estímulos
Os textos, do gênero jornalístico, redigidos especialmente para
o experimento, consistiram de um parágrafo informativo. Os problemas
dos textos experimentais foram de dois tipos:
• supressão de preposição;
• incoerência gerada por uma anáfora nominal incorreta.
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Tais tipos de problemas foram selecionados em função do custo
do processamento. Esses problemas representam dois níveis diferentes: a
supressão de preposição relaciona-se ao nível da palavra e do sintagma; e
a incoerência gerada por uma anáfora nominal incorreta, ao nível do texto,
pois é necessário que seja realizada a integração entre as sentenças do texto.
Além disso, foram inseridos textos sem erros e com outros
tipos de erros, considerados distratores. Em cada sessão experimental,
foram apresentados 20 textos experimentais, 10 com supressão de
preposição e 10 com anáfora incorreta, nos quais não havia outros erros/
inadequações previstos de serem detectados. Além disso, havia mais 30
textos distratores (8 sem erros, 2 com um erro, 7 com dois erros, 9 com
três erros e 4 com quatro erros).2
Nos exemplos 1 e 2, abaixo, são apresentados dois exemplos de
textos experimentais, um com supressão de preposição (presença duas
torcidas) e outro com anáfora incorreta (americano retomando argentino).
Exemplo 1 – Texto experimental – supressão de preposição
Após um longo período, o clássico entre Atlético Mineiro e Cruzeiro contará com a presença
duas torcidas mineiras. O Cruzeiro será o mandante da partida e vai disponibilizar uma parte
dos ingressos para a torcida adversária. O jogo do Campeonato Mineiro será na próxima
semana, na inauguração do novo Mineirão, e terá policiamento reforçado.
Exemplo 2 – Texto experimental – anáfora incorreta
Na noite de ontem, um bebê foi encontrado próximo às margens da Lagoa da Pampulha por
um argentino. O bebê estava enrolado em uma manta, e a mãe da criança foi presa horas
depois do ocorrido. O americano confirmou em depoimento que a mãe abandonou a criança
no local e fugiu logo em seguida.
Os textos experimentais e os distratores foram distribuídos entre
8 temas. Na construção dos textos experimentais, foram controladas
variáveis que podem influenciar os resultados: 3 sentenças; 54 palavras
Não foi feita uma distribuição em Quadrado Latino, com a leitura dos mesmos textos
com e sem erros, porque isso exigiria um número maior de participantes ou mesmo um
número maior de textos experimentais a serem lidos por sessão, o que seria inviável,
tendo em vista a dificuldade na participação de revisores profissionais, os quais tinham
que se deslocar até o local do experimento, e o cansaço gerado em função de um
experimento muito longo.
2
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por texto, 18 por sentença; a posição das palavras alvo, que foram a 15ª
e a 16ª do texto na supressão de preposição e, nos textos com anáfora
incorreta, a 38ª, sendo que o referente incorreto era a 18ª palavra do
texto. Na supressão de preposição, a palavra anterior à preposição tinha
3 sílabas e a posterior, 2. Já nos textos em que havia a anáfora incorreta,
tanto o referente quanto a anáfora tinham 4 sílabas.
Especificamente com relação aos textos com anáfora incorreta,
levou-se em consideração, também, a estrutura informacional dos textos:
o referente (item lexical novo introduzido no texto na primeira sentença)
não é o sujeito da oração e vem acompanhado por um artigo indefinido.
Portanto, não está focalizado. Já a anáfora incorreta é o sujeito da terceira
oração e vem acompanhada por um artigo definido, com o objetivo de
que se tratasse de uma retomada de um item anteriormente introduzido
no discurso. Cuidou-se de compor textos distratores contendo sentenças
com uma estrutura sintática semelhante, mas sem uma anáfora incorreta,
de forma a minimizar as possibilidades de os participantes preverem a
existência do erro em função da estrutura sintática.
Como a frequência de uso está bastante relacionada ao tempo de
fixação, foi utilizado o corpus Banco de Português (BP), compilado por
Tony Sardinha da PUC-SP, para se controlar essa variável. Em geral, as
palavras experimentais na supressão de preposição são mais frequentes
do que na anáfora incorreta.
Foi utilizado, ainda, o programa livre “Coh-Metrix-Port”,3 o qual
analisa vários parâmetros, visando, principalmente, oferecer subsídios
para a análise da legibilidade dos textos. O índice Flesch é uma medida
superficial da inteligibilidade de um texto, que leva em consideração
os tamanhos médios de palavras e sentenças, correlacionando-os com
a facilidade de leitura. Quanto mais alto o valor obtido, mais fácil o
processamento do texto. Considerando-se esse índice, os textos do
experimento são classificados como muito fáceis, fáceis ou difíceis, o que
correspondente às séries anteriores ao ensino superior. Como os sujeitos
participantes da pesquisa são, no mínimo, universitários, não deveriam
ter dificuldade para ler o texto, levando-se em conta esse índice.
Disponível em <www.nilc.icmc.usp.br/coh-metrix-port>. A ferramenta Coh-Metrix
foi desenvolvida na Universidade de Memphis e calcula a coerência de textos, usando
diversas medidas. No Brasil, a adaptação para o português foi realizada por pesquisadores
do Núcleo Interistitucional de Linguística da Universidade de São Paulo – campus de
São Carlos.
3
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Como a previsibilidade das palavras pode influenciar o tempo de
fixação nelas, foi controlado se a palavra alvo dos textos experimentais
era previsível, por meio de um teste de completação (frame), realizado
com alunos do curso de Letras da UFMG. Para a supressão de preposição,
a palavra alvo, ou seja, aquela posterior à preposição, é previsível, pois a
palavra correta foi a preenchida entre 53 a 100% das vezes. Já na anáfora
incorreta, as palavras alvo (o referente e a anáfora) não são previsíveis,
já que as escolhidas foram indicadas de 0 a 28% das vezes.
Por fim, antes do início da coleta de dados, foi realizado, um
pré-teste com 16 alunos do curso de pós-graduação em Revisão de
Textos da PUC-Minas, visando verificar quais erros/inadequações seriam
detectados tanto nos textos experimentais quanto nos distratores. Com
isso, foi possível realizar as últimas adequações nos textos experimentais,
de forma a minimizar as possibilidades de os sujeitos fazerem detecções
inesperadas.
4.3 Realização da tarefa
Para se investigar a leitura de revisores de textos profissionais, foi
realizado um experimento de detecção de erros em textos jornalísticos,
no qual os participantes deveriam ler e revisar os textos apresentados
em uma tela de computador, clicando com o mouse nos erros/
inadequações encontrados. Foi utilizado o rastreador ocular produzido
pela SR Research, modelo EyeLink 1000, disponível no Laboratório
de Psicolinguística da UFMG. Esse rastreador é do tipo desktop, ou
seja, a câmara e o iluminador ficam instalados abaixo do monitor de
computador em que são projetados os estímulos, a uma distância de 40
a 70 cm da cabeça do sujeito. Foi utilizado um estabilizador de cabeça
para minimizar os movimentos dos sujeitos e possibilitar o registro do
reflexo pupilar e corneano. Embora o modelo de rastreador utilizado
permita o registro binocular, foi realizado o registro de um dos olhos do
sujeito, tendo sido definido qual deles antes do início da coleta de dados,
em função da melhor calibração do equipamento.
O experimento foi realizado no Laboratório de Psicolinguística
da Faculdade de Letras da UFMG. Os textos eram apresentados em uma
tela de computador, aleatorizados. Primeiramente, eram apresentadas as
instruções, o equipamento era calibrado e os participantes realizavam um
pequeno treino de leitura e detecção de erros em três pequenos textos.
Foi solicitado que os participantes lessem o texto procurando identificar
1812
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erros e inadequações e, ao identificarem um erro/inadequação, deveriam
clicar com o mouse sobre ele. Além do registro do movimento ocular,
foi obtida, também, uma medida cronométrica: o tempo de resposta.
Além disso, constou nas instruções que os textos foram construídos
especificamente para a pesquisa e, assim, os fatos narrados não
precisavam necessariamente ser verdadeiros.
Caso algum participante pedisse informações mais detalhadas
sobre a atividade de revisão, o experimentador se restringia a informar
que era para ele se comportar como se estivesse fazendo a revisão do
texto, com a detecção de erros e inadequações. Se perguntassem quais
tipos de erros deveriam ser detectados, o experimentador informava
que não poderia responder, destacando que eles deveriam marcar todos
os erros que encontrassem. Tal procedimento foi adotado com vistas a
verificar a definição que os sujeitos tinham da tarefa de revisão, por meio
dos tipos de erros detectados.
Essa revisão de cada texto deveria ser realizada em, no máximo,
1 minuto/60segundos, pois, caso se ultrapassasse esse limite de tempo,
o programa passava automaticamente para o próximo texto. Entre um
texto e outro, havia ainda uma tela de drift correction, em que um círculo
semelhante ao da calibração era projetado na tela no exato local em que
se iniciaria o próximo texto. Como o sujeito deveria fixar esse círculo
para que o experimentador passasse para o próximo texto, era garantido
que, no início da leitura, o sujeito estaria com o olhar fixado na primeira
palavra de cada texto. Isso evita variação entre textos e sujeitos quanto
ao início da leitura de cada texto. A cor de fundo era branca, a letra preta
em fonte Times New Roman de tamanho 20, com espaçamento 3,5.
Cuidou-se de retirar o máximo possível o brilho da tela do computador,
para evitar fadiga visual.
4.4 Análise dos dados
Foram analisadas diversas variáveis, de vários níveis: texto,
sentença e trecho alvo. Assim, a análise dos dados se pautou em dois
ângulos: o nível ao qual se aplica a variável investigada (texto, sentença
ou trecho) e a relação entre movimento ocular e detecção de erros pelos
sujeitos.
O nível de investigação da variável tem uma relação direta com o
tipo de erro investigado: a supressão de preposição, por ser um erro que
tem escopo local, requer medidas que se apliquem ao nível da palavra ou
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do sintagma; já a anáfora incorreta tem escopo na integração de partes
do texto e, assim, requer também medidas que correspondam aos níveis
da sentença e do texto.
Além disso, neste trabalho há tanto as medidas do movimento ocular
quanto a medida cronométrica de tempo de resposta. Por isso, foi possível
investigar o movimento ocular e também a relação entre movimento ocular
e detecção. Portanto, optou-se por utilizar medidas tradicionais nos estudos
sobre leitura e movimento ocular, bem como por adaptar algumas medidas
a esta pesquisa, conjugando-as com o tempo de resposta.
QUADRO 1 - Variáveis dependentes4
Texto
Sentenças
Movimento
ocular
– Tempo total de leitura – First-pass fixation
– Número de fixações
time nas sentenças
nos textos
alvo
– Duração média das
– Tempo total de
fixações nos textos
fixação nas sentenças
alvo
– Second-pass fixation
time nas sentenças
alvo
– Regression-path
reading time nas
sentenças alvo
Movimento
ocular e
detecção
– Tempo total de leitura
até a detecção
– Tempo total de leitura
após a detecção
– Número de fixações
até a detecção
– Número de fixações
após a detecção
– Duração média
das fixações até a
detecção
– Duração média das
fixações após a
detecção
Trecho
– First-pass fixation
time
– Tempo total de
fixação no trecho
alvo
– Número de fixações
no trecho alvo
– Regression-path
– Tempo total de
– Tempo total de
fixação nas sentenças
fixação no trecho
alvo até a detecção
alvo até a detecção
– Tempo total de
– Tempo total de
fixação nas sentenças
fixação no trecho
alvo após a detecção
alvo após a detecção
– Second-pass fixation
time nas sentenças
alvo até a detecção
– Second-pass fixation
time nas sentenças
alvo após a detecção
Neste trabalho, optou-se por manter a terminologia em inglês, uma vez que não há
tradução já consagrada em português.
4
1814
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Nas medidas agrupadas como “Movimento ocular”, considerouse tanto os textos em que os erros foram detectados quanto aqueles em
que eles não foram detectados, de maneira a se comparar a detecção e
a não detecção. Já nas medidas agrupadas como “Movimento ocular
e detecção”, foram considerados somente os textos em que o erro foi
detectado, uma vez que o momento da detecção (no qual o participante
clicava com o mouse no erro) foi utilizado como um divisor para se
analisar cada medida até e após essa detecção: por exemplo, o tempo
total de leitura até a detecção do erro e o tempo total de leitura após a
detecção do erro, medidas que correspondem ao tempo total de leitura
até o momento em que o participante clica com o mouse sobre o erro e ao
tempo total de leitura posterior a esse momento, até ele finalizar a tarefa.
O tempo total de leitura corresponde ao tempo total que o sujeito
demorou lendo e revisando cada texto. Já o tempo total de leitura até a
detecção do erro corresponde ao tempo que o sujeito demorou na leitura
do texto até clicar com o mouse sobre o erro; e o tempo total de leitura
após a detecção,5 ao tempo que o sujeito demorou desde que clicou com
o mouse sobre o erro até terminar a revisão do texto. A mesma divisão
aplica-se ao número de fixações no texto até e após a detecção do erro.
A duração média das fixações equivale à razão entre o tempo total
de leitura, incluindo fixações e sacadas, e o número de fixações no texto.
Assim, a duração média das fixações até a detecção do erro corresponde à
razão entre o tempo total de leitura até a detecção e o número de fixações
até a detecção. A mesma lógica aplica-se à duração média das fixações
após a detecção do erro.
O first-pass fixation time corresponde à soma das durações de
todas as fixações realizadas (seja na sentença alvo, quando no nível da
sentença, ou na palavra alvo, quando no nível local) até seu abandono para
a esquerda ou para a direita e durante a primeira leitura, ou seja, é uma
medida que indica o tempo demandado em uma primeira leitura do alvo.
Já o tempo total de fixação nas sentenças equivale à soma de todas
as fixações realizadas na sentença. Esse tempo também foi dividido em
Embora já fosse esperada diferença significativa entre as condições experimentais
quanto às medidas de tempo após a detecção do erro, em função da localização de cada
trecho alvo (na primeira sentença no caso da supressão de preposição e na terceira para
a anáfora incorreta), tais medidas foram investigadas para se analisar se os grupos
fariam releituras do texto e o engajamento com a tarefa de revisão.
5
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1815
duas partes: até e após a detecção do erro, seguindo a mesma lógica de
contabilização apresentada acima.
O second-pass fixation time diz respeito à diferença entre o tempo
total de fixação na sentença e o first-pass fixation time, ou seja, equivale
ao tempo de retorno à sentença depois de ela ter sido lida uma primeira
vez. Para essa medida, também foi contabilizado o valor até e após da
detecção do erro.
A última medida do nível da sentença, o regression-path reading
time corresponde à soma de todas as fixações realizadas pelo sujeito
desde o momento em que ele fixa pela primeira vez a sentença alvo
até quando ele faz uma fixação em alguma parte posterior do texto,
contabilizando, além das fixações na própria sentença alvo, também as
possíveis regressões realizadas a partes anteriores do texto.
O tempo total de fixação no trecho alvo diz respeito à soma de
todas as fixações feitas nele, sendo que foi verificada, também, a soma
de todas as fixações até a detecção do erro e após a detecção.
O regression-path corresponde à soma de todas as fixações
realizadas pelo sujeito desde o momento em que ele fixa pela primeira vez
o trecho alvo até quando ele faz uma fixação em alguma parte posterior do
texto, contabilizando, além das fixações no próprio trecho alvo, também
as possíveis regressões realizadas a partes anteriores do texto.
Foram variáveis independentes na análise do movimento ocular
nos textos experimentais:
1. Tipos de erros:
a. supressão de preposição
b. anáfora incorreta
2. Grupos de revisão de textos:
a. revisores
b. não revisores
3. Detecção:
a. erros detectados
b. erros não detectados
1816
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
O cruzamento dessas variáveis gera 8 grupos:
1. revisores – supressão de preposição – erro detectado;
2. não revisores – supressão de preposição – erro detectado;
3. revisores – supressão de preposição – erro não detectado;
4. não revisores – supressão de preposição – erro não detectado;
5. revisores – anáfora incorreta – erro detectado;
6. não revisores – anáfora incorreta – erro detectado;
7. revisores – anáfora incorreta – erro não detectado;
8. não revisores – anáfora incorreta – erro não detectado;
Primeiramente, os dados foram tabulados e explorados
descritivamente, verificando-se medidas de tendência central como
média, mediana e desvio padrão, bem como com a visualização por meio
de gráficos como boxplot, gráfico de barras, gráfico de densidade e de
médias, escolhidos conforme o tipo de variável investigada.
Foi, então, realizada a estatística inferencial, escolhendo-se o
teste estatístico mais adequado em função dos dados analisados. O nível
de significância adotado foi de 95%, portanto, α foi definido como 0,05.
O programa utilizado para a análise estatística foi o R.6
Nas variáveis em que as amostras seguiam uma distribuição
normal, foi escolhido o teste paramétrico. Como o experimento foi
realizado com medidas repetidas, o teste paramétrico definido foi o
modelo de regressão linear misto.7
Já nas variáveis em que as amostras não seguiam uma distribuição
normal, os testes não paramétricos escolhidos foram o de Kruskal-Wallis
ou de Wilcoxon-Mann-Whitney, tendo em vista tratar-se de testes de postos
e, assim, não ser necessário que se conheça a distribuição das amostras.
5. Resultados
Os revisores detectaram 191 dos 279 erros, o que corresponde
a 68,5% dos erros. Já os não revisores detectaram 165 dos 280 erros,
Disponível em <https://www.r-project.org/>.
Este teste foi escolhido, também, porque permite analisar a relação entre as variáveis
ao longo da execução da tarefa, indicando aspectos importantes do comportamento dos
participantes, não explorados neste artigo, mas disponíveis em Leite (2014).
6
7
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1817
o que equivale a 58,9%. Portanto, os revisores foram mais proficientes
e detectaram mais erros do que os não revisores, mas, considerando
somente os textos experimentais, essa diferença não foi estatisticamente
significativa.
Nas tabelas apresentadas, serão indicados os valores das médias e
o t ou p valor (conforme o teste estatístico). Informações mais detalhadas,
como número de valores considerados por variáveis, desvio-padrão,
graus de liberdade e gráficos podem ser consultadas em Leite (2014). Os
códigos utilizados em todas as tabelas apresentadas serão os seguintes:
rev: revisores
nrev: não revisores
det: erro detectado
ndet: erro não detectado
sp: supressão de preposição
an: anáfora incorreta
N/A: não se aplica
*: diferença estatisticamente significativa
. : diferença marginalmente significativa
5.1 Nível do texto
A seguir, são apresentadas as variáveis em que foram detectados
resultados estatisticamente significativos.
Nas variáveis em que foram consideradas as medidas até e após a
detecção do erro, não foram apresentados os resultados estatisticamente
significativos encontrados entre os tipos de erros, ou seja, quando se
comparou a anáfora incorreta e a supressão de preposição, uma vez que
essas diferenças já eram esperadas em função da composição dos textos
(no primeiro caso, o erro encontra-se na terceira sentença e, no segundo,
na primeira). Porém, nesses casos, foram comparados os grupos de
revisão em um mesmo tipo de erro (revisores na anáfora x não revisores
na anáfora e revisores na supressão de preposição x não revisores na
supressão de preposição).
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1818
TABELA 1 – Resumo dos valores médios dos resultados obtidos nas
variáveis do nível do texto – modelos de regressão linear mistos
Medida
Média
t valor
Média
t valor
Média
t valor
rev
nrev
an
sp
det
ndet
tempo total 35473ms 27402ms *rev>nrev 32709ms 30147ms *an>sp 31845ms 30697ms *det>ndet
de leitura
0,002
0,04
0,01
do texto
.
número de
134
111
rev>nrev
129
117
*an>sp
123
123
fixações no
0,06
0,002
texto
duração
225ms
205ms . rev>nrev 212ms
218ms *sp>an 218ms
210ms . det>ndet
média das
0,06
0,000
0,05
fixações no
texto
tempo total 21590ms 13812ms *rev>nrev 13323ms 20696ms *sp>an
N/A
N/A
N/A
de leitura
0,001
0,000
após a
detecção do
erro
duração
245ms
222ms . rev>nrev 219ms
243ms *sp>an
N/A
N/A
N/A
média das
0,06
0,000
fixações até
a detecção
do erro
TABELA 2 – Resumo dos resultados de interação obtidos nas variáveis
do nível do texto – modelos de regressão linear mistos
Medida
Variável
1
Variável 2
Média (ms)
Número de
fixações no texto
det
sp
104
an
130
sp
113
an
112
sp
214
an
210
sp
198
an
207
ndet
Duração média
das fixações no
texto
det
ndet
Interações (p valor)
* an det > sp det (0,003)
* an det > an ndet (0,01)
* sp det > an det (0,000)
* sp det > an ndet (0,03)
* sp det > sp ndet (0,000)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1819
TABELA 3 – Resumo dos resultados obtidos no nível do texto – comparações
múltiplas do teste de Wilcoxon-Mann-Withney com correção de Bonferroni
Medida
tempo total de
leitura até a
detecção do erro
número de fixações
até a detecção do
erro
duração média das
fixações após a
detecção do erro
número de fixações
após a detecção do
erro
Variável 1 Variável 2
sp
rev
nrev
an
rev
nrev
sp
rev
nrev
an
rev
nrev
sp
rev
nrev
an
rev
nrev
sp
rev
nrev
an
rev
nrev
Mediana
7469 ms
7645 ms
22301ms
17094 ms
29
34
104
81
276 ms
265 ms
377 ms
377 ms
81,5
56,5
38
20
Interações (p valor)
* rev an > nrev an (0,000)
* rev an > nrev an (0,005)
* nrev sp > rev sp (0,01)
* rev sp > nrev sp (0,02)
* rev an > nrev an (0,002)
* rev sp > nrev sp (0,000)
Na comparação entre os dois tipos de erros, verificou-se que
os sujeitos tiveram um tempo maior de leitura quando houve a anáfora
incorreta, o que está associado ao número de fixações nos textos, já que,
também no que se refere a essa variável, houve diferença estatisticamente
significativa entre as duas condições, com maior número de fixações
nos textos em que houve a anáfora incorreta. Ao contrário, as fixações
foram em média mais longas nos textos em que havia a supressão de
preposição, o que pôde ser evidenciado também na duração média das
fixações até a detecção do erro.
Além disso, na interação entre essas variáveis (tabela 3), os
resultados indicam uma diferença entre a detecção da anáfora incorreta
e a detecção da supressão de preposição: enquanto na anáfora incorreta o
tempo total de leitura maior é relacionado ao número maior de fixações no
texto, na supressão de preposição a detecção está relacionada a fixações
em média mais longas. Essa diferença de padrão, portanto, pode estar
relacionada a dois tipos diferentes de leitura: uma leitura mais voltada
à superfície, com fixações mais longas, e uma leitura voltada a níveis
mais globais, com mais fixações no texto.
1820
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
No que se refere à análise depreendida no nível do texto, os
resultados indicam que os revisores, em geral, fazem uma leitura mais
demorada do texto, associada a um número maior de fixações.
Na comparação entre revisores e não revisores, os primeiros
tiveram valores mais elevados no tempo total de leitura e tempo total
de leitura após a detecção do erro (tabela 1), o que indica que, além de
demandarem mais tempo lendo os textos, eles ainda mantiveram a leitura
por mais tempo mesmo após terem detectado o erro. Quanto ao tempo
total de leitura até a detecção do erro, quando comparados os grupos de
revisão em um mesmo tipo de erro, os revisores apresentaram valores mais
elevados do que os não revisores quando houve anáfora incorreta, mas não
diferiram com relação à detecção da supressão de preposição (tabela 3).
Embora tenha havido uma diferença somente marginalmente
significativa entre revisores e não revisores no que se refere ao número de
fixações nos textos (tabela 1), ao se analisar esse número até a detecção
do erro, na supressão de preposição, ele foi maior no grupo dos não
revisores e, ao contrário, na anáfora incorreta, foi em média maior no
grupo dos revisores. Após a detecção do erro, revisores fizeram mais
fixações, independente do tipo de erro.
Quanto à duração média das fixações no texto, houve uma
diferença marginalmente significativa entre revisores e não revisores,
assim como quando foi analisada essa variável até a detecção do erro
(tabela 1), sendo que a tendência foi de os revisores fazerem fixações
em média mais longas. Houve diferença estatisticamente significativa
entre os grupos no que se refere à duração média das fixações após a
detecção do erro (tabela 3).
Dessa forma, os revisores mostraram um padrão de leitura
diferente para cada tipo de erro: na detecção da supressão de preposição,
as fixações tenderam a ser mais longas (duração média das fixações
marginalmente significativa), e na da anáfora incorreta, o número de
fixações foi maior.
O tempo total de leitura também foi maior nos textos em que o
erro foi detectado do que naqueles em que o sujeito não detectou o erro,
assim como o número de fixações, porém, tal achado pode decorrer da
própria tarefa, uma vez que, nos textos em que o erro foi detectado, o
participante demandou tempo clicando com o mouse no erro.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1821
5.2 Nível da sentença
Quanto às medidas apresentadas no nível da sentença, na
supressão de preposição, considerou-se somente a primeira sentença, na
qual estava localizado o erro. Já na anáfora incorreta, foram analisadas
tanto a primeira quanto a terceira sentença, uma vez que nelas estavam
localizados, respectivamente, o referente e a anáfora incorreta.
TABELA 4 – Resumo dos resultados obtidos nas variáveis do nível da sentença
– modelos de regressão linear mistos
Medida
Média (ms)
t valor
Média (ms)
sp
Média (ms)
det
t valor
rev
nrev
11274
9227
*rev>nrev 9971ms 10527
0,02
0,45
10592 9646 *det>ndet
0,000
tempo total de
11050
fixação na terceira
sentença
8240
*rev>nrev
0,009
N/A
N/A
N/A
10756 8655 *det>ndet
0,000
tempo total
de fixação na
primeira sentença
até a detecção do
erro
9075
8270
*rev>nrev
0,008
9378
8305
0,24
N/A
N/A N/A
tempo total de
fixação na terceira
sentença até a
detecção do erro
6341
4868
0,21
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A N/A
tempo total
de fixação na
primeira sentença
an
t valor
ndet
TABELA 5 – Resumo dos resultados de interação obtidos nas variáveis
do nível da sentença – modelos de regressão linear mistos
Medida
Variável 1
Variável 2
Média (ms)
tempo total de fixação na
primeira sentença até a
detecção do erro
sp
rev
8192
nrev
8431
rev
10522
nrev
7981
an
Interações (p valor)
* rev an > nrev an (0,03)
* rev an > rev sp (0,03)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1822
TABELA 6 – Resumo dos resultados obtidos no nível da sentença
– comparações múltiplas do teste de Wilcoxon-Mann-Withney
com correção de Bonferroni
Medida
Variável 1
second-pass
fixation time na
primeira sentença
det
Variável 2
Variável 3
sp
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
Mediana
(ms)
2241
182,5
5076
2088
4274
1846
1668,5
2092
5338
6181
6072
5739
8659
6039
2118,5
1666
4223,5
4282
2489,5
2199
2208,5
525,5
506,0
0
an
sp
ndet
an
first-pass fixation
time na terceira
sentença
det
an
ndet
second-pass
fixation time na
terceira sentença
an
regression-path
reading time na
terceira sentença
an
tempo total
de fixação na
primeira sentença
após a detecção
do erro
det
tempo total de
fixação na terceira
sentença após a
detecção
second-pass
fixation time na
primeira sentença
até a detecção
det
an
rev
nrev
5232
2933
det
sp
rev
nrev
rev
nrev
0
0
2904,5
1526
det
ndet
det
ndet
sp
an
an
Interações (p valor)
* rev an det > nrev an det (0,000)
* rev an det > nrev sp det (0,000)
* rev an det > rev sp det (0,000)
* rev an det > nrev an ndet (0,000)
* rev an det > rev an ndet (0,000)
* rev an det > nrev sp ndet (0,000)
* rev sp det < nrev sp det (0,000)
* nrev sp det < nrev an ndet (0,03)
* nrev sp det < rev an ndet (0,03)
* nrev sp det < rev sp ndet (0,01)
* nrev det > nrev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,000)
* rev det < nrev ndet (0,006)
* rev det > nrev det (0,000)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
* nrev det > nrev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,01)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,002)
* nrev det > nrev ndet (0,000)
* rev an > nrev an (0,001)
* rev an < rev sp (0,000)
* nrev an < nrev sp (0,000)
* nrev an < rev sp (0,000)
* rev sp > nrev sp (0,000)
* rev > nrev (0,000)
* rev an > nrev an (0,02)
* rev an > rev sp (0,000)
* rev an > nrev sp (0,000)
* nrev an > rev sp (0,000)
* nrev an > nrev sp (0,000)
Quando foram comparados revisores e não revisores, houve
diferença estatisticamente significativa quanto ao tempo total de fixação
na primeira e na terceira sentenças do texto, quanto ao tempo total de
fixação na primeira sentença do texto até a detecção do erro, bem como
quanto ao tempo total de fixação na primeira e na terceira sentenças após
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1823
a detecção do erro. Em todas essas situações, seja na anáfora incorreta
ou na supressão de preposição, os revisores apresentaram valores em
média mais elevados do que os não revisores. Os dois grupos também
diferiram quanto ao second-pass fixation time na primeira e na terceira
sentença, sendo que os revisores tiveram um tempo de retorno a essas
sentenças maior do que os não revisores. Os revisores também tiveram um
tempo de retorno à primeira sentença até a detecção da anáfora incorreta
(second-pass fixation time até a detecção do erro) maior do que os não
revisores, mas os dois grupos não diferiram no que se refere à supressão
de preposição, pois, em ambos, a detecção da supressão de preposição
ocorreu na primeira leitura da sentença.
5.3 Nível local
Na condição de supressão de preposição, foi analisado somente
o tempo total de fixação no trecho alvo, que abarca a 15ª e a 16ª palavra
do texto. Já na condição de anáfora incorreta, foi analisado o tempo total
de fixação no referente e na anáfora, em separado.
TABELA 7 – Resumo dos resultados obtidos nas variáveis do nível local –
modelos de regressão linear mistos
Medida
número de
fixações no
alvo – sp
tempo total
de fixação no
referente até
a detecção
Média
rev
nrev
10,74
11,74
1169ms
831ms
t valor
0,16
*rev>nrev
0,007
Média
an
sp
N/A
N/A
N/A
N/A
t valor
N/A
Média
det
ndet
11,91 7,68
N/A
N/A
N/A
t valor
*det>ndet
0,000
N/A
TABELA 8 – Resumo dos resultados de interação obtidos nas variáveis
do nível local – modelos de regressão linear mistos
Medida
Variável 1
Variável 2
Média
número de
fixações no
alvo – sp
det
rev
11
nrev
13
rev
8
nrev
7
ndet
Interações (p valor)
* rev det > rev ndet (0,000)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,000)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1824
TABELA 9 – Resumo dos resultados obtidos no nível local
– comparações múltiplas do teste de Wilcoxon-Mann-Withney
com correção de Bonferroni
Medida
tempo total
de fixação no
alvo – sp
Variável 1
det
tempo total
de fixação no
referente
det
tempo total
de fixação na
anáfora
número de
fixações no
referente
número de
fixações na
anáfora
tempo total
de fixação no
alvo após a
detecção – sp
tempo total
de fixação na
anáfora após
a detecção
ndet
ndet
det
ndet
det
ndet
det
ndet
det
det
Variável 2
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
Mediana
2980ms
3233ms
1072ms
1085ms
1229ms
726ms
724,5ms
497ms
2092ms
1799ms
669ms
475ms
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
6
4
3
3
8
7
3
2
rev
nrev
675,5ms
104ms
rev
246,5ms
nrev
0ms
Interações (p valor)
* nrev det > nrev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,000)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
* rev det > nrev det (0,002)
* nrev det > nrev ndet (0,008)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
* nrev det > nrev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,000)
.
rev det > nrev det (0,06)
* nrev det > nrev ndet (0,003)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
.
rev det > nrev det (0,05)
* nrev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > nrev ndet (0,000)
* rev det > rev ndet (0,000)
* nrev det > rev ndet (0,000)
.
rev det > nrev det (0,05)
* rev > nrev (0,000)
* rev > nrev (0,000)
Quando foi verificado o tempo total de fixação no trecho
alvo durante toda a leitura do texto, sem se levar em consideração o
tempo da detecção, não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre os revisores e não revisores. Ao contrário, houve
diferenças estatisticamente significativas entre os textos em que os
erros foram detectados e aqueles em que os erros não foram detectados,
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1825
sendo que, quando houve a detecção, o tempo total de fixação no alvo
foi maior. Esse padrão foi encontrado nos textos em que havia supressão
de preposição e também naqueles em que havia a anáfora incorreta.
Quanto a esse tipo de erro, somente no referente houve diferença entre
revisores e não revisores, com valores mais elevados entre os primeiros.
Os mesmos resultados foram obtidos na análise do número de fixações no
alvo, mas, nesse caso, a diferença entre revisores e não revisores quanto
ao número de fixações no referente e na anáfora foi apenas marginalmente
significativa.
Da mesma forma, ao se analisar o tempo total de fixação no alvo
até a detecção do erro, ou seja, a soma de todas as fixações realizadas no
alvo até que o participante clicasse no mouse, inclusive os retornos feitos
na palavra até então, houve diferença significativa entre revisores e não
revisores somente quanto ao referente, na anáfora incorreta, sendo que,
nesse caso, os valores em geral mais elevados foram encontrados entre
os revisores. Na análise do tempo total de fixação no referente após a
detecção, ou seja, depois de terem clicado com o mouse no erro, porém,
não houve diferença significativa entre revisores e não revisores, já que
ambos os grupos, na maioria das vezes, não retornaram ao referente.
Já no que se refere à região da anáfora incorreta, houve
diferença estatisticamente significativa entre revisores e não revisores
quanto ao tempo total de fixação após a detecção do erro. Portanto, os
revisores demandaram mais tempo fixando o referente para detectarem a
incongruência e, possivelmente, buscar resolvê-la. Depois de detectarem
o erro, eles ainda fizeram mais retornos à anáfora, antes de finalizarem
a leitura do texto.
Na supressão de preposição, como ocorreu com o tempo total
de fixação no alvo, também não houve diferença estatisticamente
significativa entre revisores e não revisores quanto ao tempo total de
fixação no alvo até a detecção do erro. O oposto ocorreu quanto ao tempo
total de fixação no alvo após a detecção do erro: os revisores tiveram
valores, em média, mais elevados do que os não revisores.
Dessa forma, embora não tenha havido diferença significativa
entre os revisores e os não revisores ao se analisar o tempo total de
fixação no alvo na leitura do texto, essa diferença surgiu ao se analisar
o movimento ocular levando-se em conta o tempo de detecção do erro.
Nesse caso, os revisores, em geral, tiveram valores mais elevados do
que os não revisores e, nos textos em que os erros foram detectados, os
1826
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valores de tempo total de fixação no alvo foram mais elevados do que
nos textos em que os erros não foram detectados. Essa variável, portanto,
é relevante ao se investigar a proficiência na detecção dos erros.
6. Considerações finais
Os resultados indicaram que, em geral, os textos em que houve
a anáfora incorreta apresentaram valores mais elevados nas medidas
investigadas, em especial do nível do texto, inclusive com um tempo
total de leitura maior, relacionado com um maior número de fixações.
Esse resultado corrobora os estudos da área, indicando que erros de níveis
que exigem a integração de partes dos textos acarretam mais dificuldade
no processamento. A exceção foi a duração média das fixações no texto
e, também, até a detecção do erro. Nesse caso, os valores foram mais
elevados nos textos em que havia a supressão de preposição. Como nessa
medida a interação entre o tipo de erro e a detecção foi significativa,
pode-se dizer que o aumento da duração média das fixações no texto,
inclusive no início, até a detecção, favorece a identificação da supressão
de preposição. Tendo em vista a localização dos erros nos textos e a
complexidade deles, essas diferenças podem decorrer das estratégias
globais utilizadas na leitura numa fase inicial ou mais tardia. Por isso,
é importante que outros estudos explorem esse achado inicial, inclusive
comparando uma condição de base, com e sem erro.
Os resultados desta pesquisa corroboram o proposto por Vauras,
Hyona e Niemi (1992), segundo os quais as incoerências aumentam
tanto o tempo de fixação quanto o número de regressões. Esta pesquisa,
portanto, confirmou dados da área de Linguística que diferenciam uma
leitura voltada para níveis mais globais de uma leitura voltada para níveis
mais superficiais, contribuindo, também, para a caracterização desses
tipos de leitura, assim como para mostrar quais estratégias podem ser mais
indicadas para cada nível. Nesse sentido, um achado importante, porém
inicial, foi que a detecção da supressão de preposição é favorecida quando
são realizadas fixações em média mais longas. Muitos estudos da área
propõem que a leitura voltada para níveis superficiais deve ser diferente
daquela voltada para níveis mais globais, sem indicarem, porém, como
essa diferença se processa quanto ao movimento dos olhos. A duração
mais longa das fixações parece ser um parâmetro significativo, sendo
necessários outros estudos, inclusive com diferentes tipos de erros de
superfície, para confirmar esse achado.
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1827
Com relação às diferenças entre os textos em que o erro foi
detectado e aqueles em que o erro não foi detectado, a perspectiva geral
é de que a detecção do erro é acompanhada pelo aumento do tempo de
fixação, seja no nível do texto, da sentença ou local. No nível local, nos
textos em que o erro é detectado, o tempo total de fixação no alvo é
maior, o que ocorre tanto na supressão de preposição quanto na anáfora
incorreta. Tal diferença, porém, pode ser decorrente do tempo demandado
pelos participantes para clicar com o mouse no texto.
Por fim, no que se refere à diferença entre revisores e não
revisores, a perspectiva geral foi de que os revisores apresentaram valores
mais elevados nas variáveis em que houve diferença significativa, o que
significa que eles foram mais lentos na leitura do que os não revisores.
Isso ocorreu no nível do texto, da sentença e no nível local.
Os resultados, portanto, confirmaram a hipótese inicial de que
os revisores profissionais teriam uma leitura mais demorada, menos
automática, mais detalhada e controlada. De acordo com Hayes (2004),
com a prática extensiva, certos aspectos da edição podem se tornar
automáticos, mas não a atividade de edição como um todo, mesmo em
sujeitos com muita experiência, motivo pelo qual o controle da leitura
é um pressuposto da revisão. Klein e Hoffman (1992), ao discorrerem
sobre a expertise, destacam que a performance diferenciada de um expert
pode ser identificada por diversos fatores: variabilidade-consistência,
acurácia, completude e velocidade. Quanto à velocidade, os autores
destacam que, em alguns casos, experts podem ser mais demorados do que
novatos no cumprimento de uma tarefa, inclusive quando os novatos, por
impulsividade, adotam um comportamento muito rápido. Esta pesquisa
indica a ocorrência desse tipo de situação.
Os revisores profissionais também foram mais específicos quanto
aos retornos realizados. Nos textos em que havia a anáfora incorreta,
tiveram um tempo total de fixação na primeira sentença até a detecção
do erro maior do que os não revisores e, também, um tempo total de
fixação maior no referente. Como o comportamento geral dos sujeitos,
ao se depararem com a anáfora incorreta, foi retornar a partes anteriores
do texto, os revisores foram mais específicos e fixaram por mais tempo a
parte do texto que era realmente importante para a resolução do problema,
ou seja, o referente e a sentença na qual ele está contido. Além disso,
após detectarem a anáfora incorreta, os revisores fizeram retornos mais
longos à terceira sentença do texto e, também, à anáfora em si, o que
1828
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indica que, também neste caso, eles foram mais específicos. De acordo
com Hyona e Nurminem (2006), leitores proficientes tendem a direcionar
suas regressões a partes realmente informativas do texto.
Por fim, deve-se considerar que esta pesquisa investigou
especificamente a detecção de erros, que é uma das etapas da revisão,
sendo que, além dela, é necessário também realizar as correções, etapa
esta que não foi investigada neste momento, mas que merece consideração
em estudos posteriores da área, inclusive naqueles em que se verifique
a qualidade das correções realizadas, de cunho, portanto, qualitativo.
Tendo em vista que os estudos sobre a revisão de textos profissional são
escassos, principalmente com abordagem cognitiva, essa pesquisa teve
um caráter exploratório e trouxe considerações iniciais importantes não
só para o estudo da performance de revisores profissionais, mas também
para o estudo do processo de leitura e revisão de textos.
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Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Revisers’ eye movement in reading
O movimento ocular na leitura realizada por revisores de textos
Délia Ribeiro Leite
Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
dribeiroleite@yahoo.com.br
José Olímpio de Magalhães
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
joseolimpiomagalhaes@yahoo.com.br
Abstract: This study aims to investigate the reading processing of
professional revisers, comparing their eye movement with subjects who
do not work professionally in revision (non-revisers). In the reading
and error detection task proposed and performed by 14 revisers and 14
non-revisers, the participants had to read and edit short journalistic texts
displayed on a computer, by clicking on the errors and/or inadequacies
they found using the mouse. There were two types of errors: a) missing
preposition and b) incoherence generated by an incorrect nominal
anaphora. In the statistical analysis, when normality was ensured, mixed
models were carried out; otherwise, the analysis was carried out by means
of non-parametric tests. Considering the eye movement analysis, the
general perspective indicates that revisers presented the highest values,
meaning they were slower in reading than non-revisers, which occurred
concerning the measures of the text, sentence, and local levels. This
research contributes to a characterization of reading processes involved
in the revision of texts by professional revisers.
Keywords: revision; professional revisers; eye movement; proficiency.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.25.3.1801-1830
1802
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Resumo: Este estudo objetivou investigar o processamento da leitura
de profissionais revisores de textos, comparando o movimento ocular
destes com o de sujeitos que não trabalham profissionalmente com revisão
(não revisores). Na tarefa de leitura e detecção de erros realizada por
14 revisores e 14 não revisores, os participantes deveriam ler e revisar
pequenos textos jornalísticos projetados no computador, clicando com
o mouse nos erros e/ou inadequações que encontrassem. Havia dois
tipos de erros nos estímulos experimentais: a) supressão de preposição
e b) incoerência gerada por uma anáfora nominal incorreta. Na análise
estatística, quando garantida a normalidade, foram realizados modelos
mistos; do contrário, a análise foi realizada por meio de testes não
paramétricos. Quanto à análise do movimento ocular, a perspectiva geral
foi de que os revisores apresentaram valores mais elevados, o que significa
que eles foram mais lentos na leitura do que os não revisores, o que foi
identificado nas medidas do nível do texto, da sentença e do trecho alvo.
Esta pesquisa contribui para uma caracterização dos processos de leitura
envolvidos em tarefas de revisão de textos por revisores profissionais.
Palavras-chave: revisão de textos; revisão profissional; movimento
ocular; proficiência.
Recebido em: 9 de dezembro de 2016.
Aprovado em: 9 de janeiro de 2017.
1 Introduction
Revision is directly related to the text reading and production
process. Therefore, when one rereads a text one has produced, one seeks to
assume an exotopic view1 and check different aspects of the textual structure
The exotopic view is that in which reading is done by using a different gaze from that
of the text’s producer, a gaze that would stimulate the reading performed by the reader
to which the text is intended.
1
A saccade is a quick, simultaneous movement of both eyes between two phases
of fixation in the same direction.
2
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1803
in order to identify possible errors, as well as segments whose interpretation
poses difficulty to the reader. However, authors are not always the most
suitable readers to revise their own texts, whether for technical reasons,
related to the lack of specific knowledge in the language study field (in the
case of authors in other areas), or for practical reasons: exotopy may be
compromised, given that the text, when read by its own author, loses its
unpredictability, which may cause language inadequacies to go unnoticed.
This is the reason for the existence of the professional text reviser,
whose occupation is to read texts produced by others in order to identify
language inadequacies and propose different corrections or changes.
Despite being an old and important activity, very few studies focus
on professional revisers, although there is a perception that this task requires
special qualification and demand, particularly regarding reading: “Revisers
do not read as other men do, they photograph the word visually; and the
texts are reflected in their corrections.” (WAGNER; CUNHA, 2012, p. 12).
Hence, this work aims at investigating how the reading performed
by professional text revisers is processed. For such, the eye-tracking
investigation method was used. Fixation and saccade2 patterns performed
by these professionals during revision were checked, as well as whether
these patterns are similar to those detected when individuals who are not
professional revisers read the same texts. Therefore, this work’s purposes are:
•
•
•
To investigate eye movement patterns in reading performed
by professional text revisers, in an error detection task;
To compare the eye movement performed by professional
text revisers to that of subjects who do not revise texts
professionally, in a reading and error detection task;
To determine if professional text revisers and subjects who
do not revise texts professionally perform a reading directed
both to the textual surface and to more global text levels.
This study contends that the reading performed by text revisers is
less automatic, more controlled and more detailed, which leads to more
proficiency in the revision activity.
1804
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2 Text revision in a cognitive approach
Heurley (2006) points out three major views of revision from
the cognitive standpoint: revision as effective text change; revision as
a subprocess of the writing process, aimed at improving the previously
written text; and revision as a distinct component of the written
production, which would involve a set of subprocesses and procedures
implied in the control of writing.
Hayes et al. (1987), in turn, propose a model specifically for
revision. The model is divided into processes and knowledge. The first
process involved is defining the task, which includes specific issues,
such as the reviser’s intents, the text traits to be examined, and how the
revision is to be conducted. The second process is the evaluation, when
the reading objects are selected: understanding, evaluating, or detecting
problems. Based on the representation made of the problem, a strategy
will be selected, with the possibility for modifying or controlling the
revision process in itself, or modifying the text. By modifying the revision
process, the reviser may ignore the problem, seek more information to
improve the diagnosis, or postpone the action, even when the reviser
opts to do more than one reading, one of which directed to a higher
level, and another one related to textual surface aspects. By contrast, if
the reviser chooses to modify the text, he/she may rewrite it or revise
it. In this case, the revision includes those cases in which the reviser
corrects inadequacies, preserving the original text as much as possible.
An important issue is that revisers may redefine the task as the revision
is performed. Thus, the knowledge used, including goals, criteria, and
restrictions, is dynamically modified during revision. Revision is related
to reading for detecting problems, which, according to the authors, is
different, for instance, from reading directed only to understanding.
In 1996, Hayes proposed Hayes and Flower’s (1980) writing model
be reformulated, with the main purpose of adding important cognitive
elements, such as the working memory, as well as to reorganize existing
elements to show the relationship between them and more general cognitive
processes involved in several types of activities. Revision is therefore
seen as a form of text interpretation. The author proposes a new revision
model, in which there is a control structure, consisting of a revision task
scheme; fundamental processes, including reflection, processing, and text
producing; and the resources used, which are the working memory and
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1805
the long-term memory. The revision, along with the reflection and text
production, is part of the subcomponent of cognitive processes, which,
in turn, is part of a greater component. The latter, in addition to cognitive
processes, involves an affective/motivational subcomponent, the working
memory and the long-term memory. Thus, the author contends that, to
understand the revision, one needs to understand not only the process, but
also its control structure and the resources involved. The author points out
that this set of requirements is acquired with practice, and this may also be
inferred from the difference between new and experienced text producers
and revisers, as explored by Hayes et al. (1987).
As shown, in these studies’ scope, revision no longer plays a
secondary role in the writing process, and revision is now seen as an
important stage in this process, acting on several levels. Revision has
been treated more and more as a control activity, which may operate
separately or throughout the writing process.
3 Eye movement and reading
Eyes move in saccades alternating with fixations. While a saccade
corresponds to a rapid eye movement to move the focus from one area
to the other, a fixation is equivalent to the time spent focusing on a given
area. It is possible to determine time and space variables when the eye
movement is recorded, as there is a spatial displacement, that is, the
point to where the movement is directed, and a temporal displacement,
represented by the moment when this movement occurs. In addition, it
is known that the type of movement depends heavily on the required
information (LAND, 2007, p. 78).
Furthermore, the eye movement does not always occur in a linear
manner, as there are situations in which the eye is drawn back to previously
focused areas. According to Luegi (2006, p. 23), “Approximately 15%
of saccadic movements during reading are regression movements, that
is, they go from right to left, towards previous areas of the text, on the
same line or a few lines above.”
Regressions may be corrections of saccades that are too long
and, therefore, the eyes must make a brief return. They may also result
from the difficulty in understanding some part of the text. In this case,
regressions are usually longer (longer than 10 characters on the same line
or towards previous lines) and the behavior regarding the return varies
according to the reader’s proficiency.
1806
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Eye movement recording is used in a wide range of studies on
language processing. Many variables may affect the values of fixations
and saccades, including whether the reading is done silently or aloud. As
there are no specific studies on eye movement during text revision, this
section presents studies that address issues associated with the types of
errors present in the experimental texts examined in this study, as well
as factors taken into account in the analysis performed in this study, such
as text rereadings and returns.
As the eye movement is processed in fixations and saccades,
words may be skipped between fixations. It is well-known that functional
words tend to be skipped, that is, not focused on. According to Rayner,
functional words are fixated approximately 35% of the time (RAYNER,
1998, p. 375). This may result from them being more easily identifiable,
that is, more predictable based on the context or even to the fact that
they are more frequent (STAUB; RAYNER, 2007). The fact that they
are short words may also affect their skipping, given that, as the word
size increases, the probability of its fixation also increases – 2 to 3-letter
words are fixated, in general, 25% of the times (RAYNER, 1998, p. 375).
Hyönä and Nurminem (2006) investigate regressions and,
according to their results, readers who tend to direct the returns to parts
of the text that are truly informative are able to provide a better summary
of what they have read. Thus, there are also aspects related to higher
textual levels that interfere in eye movements. Authors researched how
competent readers read in order to confirm the classification proposed in
a prior study (HYÖNÄ; KAAKINEN; LORCH, 2002) and to determine
whether the readers themselves are aware of the reading strategies they
use. Three reader patterns were identified: those who process topic
structures, who were the minority, followed by the fast linear readers, and,
finally, by the slow linear readers, who were the majority. The readers
are aware of the time required for reading, whether they are slow or
not, as well as whether they return or not to parts of the text; however,
they do not have a precise idea of the places to which they comeback.
Therefore, there are idiosyncratic differences related to eye movement
and to reading, although the instructions provided in the task may affect
the patterns. In the case of the research above, the readers were asked to
summarize the text, which may have affected how they behaved.
Hyönä and Niemi (1990) investigate a text rereading. The
rereading facilitates the process and, thus, all measurements investigated
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1807
are reduced, both the number and the time of fixations, as well as the
number of returns. The authors also investigate whether the rereading
affects the trend to fixate the segments more often with important
information. In this sense, the conclusion reached is that the most
important parts tend to be fixated more often, but this occurs both in the
first reading and in the rereading. However, the rereading facilitates the
processing of sentences that are more informative than of those that are
not informative. Furthermore, for each successive reading, the average
of fixations is longer at the beginning of texts than at the end.
Vauras, Hyönä, and Niemi (1992) investigate the reading of
coherent and incoherent texts. In incoherent texts, the sentence order
is changed. As their methodology, the authors use the recording of eye
movement as well as an off-line measurement, which is an analysis of
text rewriting performed by the readers. They conclude that incoherences
increase the fixation time as well as the number of returns. Nevertheless,
although in coherent texts the increased fixation time results in improved
rewriting of the fixated part, the same is not true for incoherent texts.
Luegi (2006) researches the recording of eye movement among
European Portuguese readers. The author presents modified sentences
intended to create inconsistencies (ungrammaticality or ambiguity) and
identifies the readers’ reaction. In addition, these manipulations are
done in two texts: one in which technical terms are predominant and
another whose subject is more common. The author identified that the
effect of variables is only visible when dealing with a text with technical
vocabulary and sentence manipulation, thus generating inconsistencies.
These results are seen both in the number of fixations and in the total
reading time. Furthermore, the author determines that readers are quite
precise regarding regressions and return specifically to the place where
the problems are located.
Alamargot et al. (2006) record the eye movement and the
graphomotor execution concomitantly, to investigate the writing process.
Although the work focuses on text revision, they identified that the
detection of typos can occur in very short times, as can those of a reading
fixation. They can even occur in parallel with the graphomotor execution.
Therefore, the recording of eye movement may indicate important
aspects of the reading processing. Thus, experimental works demonstrate
that both the physiology of vision and the reading processing are
determined regarding the eye movement pattern adopted by the subjects.
1808
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These studies will support this work’s hypothesis that there will be a
differentiated reading pattern according to the type of error, as well as
to the subjects’ experience with text revision.
4 Methodology
4.1 Participants
Subjects who participated in the research were divided into two
groups: non-revisers and revisers, each group consisting of 14 subjects.
The non-reviser group consisted of college students who did not major
in Languages or Communications, as graduation in these two majors is
a pre-requisite for investiture in several revision positions and, therefore,
these students have a more in-depth qualification in language studies,
which sets them apart from a group representing non-reviser subjects. To
select the revisers, subjects were required to have worked professionally
as revisers, in public agencies, in the private sector, or as freelancers.
All revisers were Language majors, one of them was a senior in college,
but had been working as a text reviser for three years. Regarding the
experience time, 5 of them had worked as revisers for 1 to 4 years; 5 had
worked between 5 and 10 years; and 4 had worked for more than 10 years.
4.2 Constructing stimuli
The texts, from the journalistic genre, written specifically for the
experiment, consisted of an informative paragraph. The problems found
in the experimental texts were of two types:
•
missing preposition;
•
incoherences generated by an incorrect nominal anaphora.
These types of problems were selected due to the processing cost
and represent two different levels: the missing preposition is related to the
word and phrase levels; while the incoherence generated by an incorrect
nominal anaphora is related to the text level, as readers were expected
to perform the integration between the text sentences.
In addition, texts without mistakes and with other types of errors,
considered distracters, were inserted. In each experimental session, 20
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1809
experimental texts were presented, 10 of which contained a missing
preposition, and 10 with incorrect anaphora, which did not include any
other errors/inappropriacies whose detection was expected. In addition,
30 other distracter texts were included (8 of which without errors, 2 with
one error, 7 with two errors, 9 with three errors, and 4 with four errors).2
In examples 1 and 2 below, two examples of experimental texts
are presented, one of which with a missing preposition (presence of two
teams’ fan clubs) and the other with an incorrect anaphora (American
referring to Argentinian).
Example 1 – Experimental text – missing preposition
Após um longo período, o clássico entre Atlético Mineiro e Cruzeiro contará com a
presença duas torcidas mineiras. O Cruzeiro será o mandante da partida e vai disponibilizar
uma parte dos ingressos para a torcida adversária. O jogo do Campeonato Mineiro será na
próxima semana, na inauguração do novo Mineirão, e terá policiamento reforçado.
(After a long period, the classic game between Atlético Mineiro and Cruzeiro will receive
the presence two teams’ fans from Minas Gerais. Cruzeiro will be the home team and will
provide part of the tickets to the opposing fans. The Minas Gerais championship game
will take place next week, when the new Mineirão stadium will be opened, and police
operation will be reinforced.)
Example 2 – Experimental text – incorrect anaphora
Na noite de ontem, um bebê foi encontrado próximo às margens da Lagoa da Pampulha
por um argentino. O bebê estava enrolado em uma manta, e a mãe da criança foi presa
horas depois do ocorrido. O americano confirmou em depoimento que a mãe abandonou a
criança no local e fugiu logo em seguida.
(Last night, a baby was found close to the margins of the Pampulha Lake by an
Argentinian. The baby was wrapped in a blanket, and the baby’s mother was arrested hours
after the event. The American confirmed in his testimony that the mother abandoned the
child at the site and fled right after that.)
A Latin square distribution, with the reading of the same texts, with or without errors,
was not performed, as this would require a higher number of participants, or even a
higher number of experimental texts to be read by session, which would render the
experiment unfeasible, considering the difficulty in the participation of professional
revisers, who had to travel to the experiment site, and considering how tiresome an
excessively long the experiment would become.
2
1810
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
The experimental texts and the distracters were distributed into
8 topics. In the construction of experimental texts, variables that can
affect the results were controlled: 3 sentences; 54 words per text, 18
per sentence; the target words were the 15th and the 16th in the missing
preposition text, and the 38th in the incorrect anaphora texts, while the
incorrect referent was the 18th word in the text. In the missing preposition
text, the word before the preposition had three syllables, and the word
after the preposition had 2 syllables, in the Portuguese version. In the
texts with the incorrect anaphora, both the referent and the anaphora had
4 syllables, in the Portuguese version.
Specifically regarding the texts with an incorrect anaphora, the
informational structure of the texts was also taken into account: the
referent (new lexical item introduced in the first sentence text) is not
the subject of the sentence, and is accompanied by an indefinite article.
Therefore, it is not a focused word. The incorrect anaphora, in turn, is
the subject in the third sentence and is accompanied by a definite article,
indicating that it was a reference to an item previously introduced in the
discourse. Distracter texts were carefully constructed including sentences
with a similar syntactic structure, but without an incorrect anaphora, to
minimize the possibilities of the participants anticipating the existence
of error due to the syntactic structure.
As the frequency of use is quite often related to the fixation time,
the Portuguese Bank (PB) corpora, compiled by Tony Sardinha at the
Catholic University of São Paulo, was used to control this variable. In
general, experimental words are more common in the missing preposition
texts than they are in incorrect anaphora texts.
The free program “Coh-Metrix-Port”3, which analyzes several
parameters, was used, aimed particularly at offering subsidies to the
text readability analysis. The Flesch index is a superficial measure of a
text’s readability, which takes into account the average sizes of words
and sentences, relating them to the ease of reading. The higher the value
obtained, the easier the text processing. Considering this index, the texts
in the experiment are classified as very easy, easy or difficult, that is,
Available at <www.nilc.icmc.usp.br/coh-metrix-port>. The Coh-Metrix tool was
developed at the University of Memphis and calculates text coherence, using different
measurements. In Brazil, the Portuguese adaptation was done by researchers at the
Interinstitutional Linguistic Center at the University of São Paulo at São Carlos.
3
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1811
corresponding to the grades before higher education. Taking this index
into account, as the subjects that participated in the research are at least
college students, they should have no problems reading the text.
Since the predictability of words may affect the time focused
on them, the predictability of the target word in experimental texts was
controlled, by means of a completion test (frame), performed with students
majoring in Languages at the Federal University of Minas Gerais (UFMG).
For the missing preposition cases, the target word, that is, the one after the
preposition, is predictable, since the correct word was used to complete
the sentence between 53% and 100% of the times. For incorrect anaphora
texts, the target words (the referent and the anaphora) are not predictable,
as the chosen words were indicated between 0% and 28% of the times.
Finally, before the start of data collection, a pre-test was
conducted with 16 students in the graduate Text Revision program at
the Pontific Catholic University of Minas Gerais (PUC-Minas), aimed
at checking which errors/inappropriacies would be detected in both
experimental and distracter texts. Thus, it was possible to make the last
adaptations to the experimental texts, so as to minimize the possibility
of the subjects reaching unexpected detections.
4.3 Performing the task
To investigate the reading by professional text revisers, an error
detection experiment was performed, using journalistic texts, in which
participants were supposed to read the texts provided on a computer
screen, clicking on the errors/inappropriacies found using the mouse. The
eye tracker, produced by SR Research, model EyeLink 1000, available
at the Psycholinguistics Laboratory at UFMG, was used. This is a
desktop tracker, that is, the camera and the lights are installed under the
computer screen where the stimuli are projected, 40 to 70 cm away from
the subject’s head. A head stabilizer was used to minimize the subjects’
movements and to allow for the recording of the pupillary and corneal
reflex. Although the tracker model used allows for binocular recording,
only one of the subject’s eyes was recorded, which was defined before
the start of data collection, allowing for better equipment calibration.
The experiment was conducted at the Psycholinguistics
Laboratory at the UFMG School of Languages. The texts were presented
on a computer screen, in a random order. First, the instructions were
1812
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
provided, the equipment was calibrated and the participants underwent
a small reading and error detection training using three short texts.
Participants were asked to read the text and try to identify the errors and
inappropriacies and, when they identified an error/inappropriacy, they
should click on them using the mouse. In addition to the eye movement, a
chronometric measure was also obtained: the response time. Furthermore,
the instructions also stated that the texts were constructed specifically for
the research and, therefore, the facts narrated were not necessarily true.
If any participant requested detailed information about the
revision activity, the researcher only informed the participant that he/
she was expected to behave as if he/she were revision the text, detecting
errors and inappropriacies. If the participants asked about the type of
errors to be detected, the researcher informed them that he/she could not
answer that, emphasizing that they should mark any errors found. Such
procedure was adopted in order to determine how the subjects viewed
the revision task, based on the types of error detected.
The revision of each text should not take longer than 1 minute/60
seconds, since, if it exceeded this time limit, the program would forward
automatically to the subsequent text. A drift correction screen, on which
a circle similar to that of calibration was projected at the exact location
where the new text would be shown, was placed between texts. As the
subject was supposed to focus on this circle so that the researcher could
move on to the next text, it was guaranteed that, at the beginning of the
reading, the subject would focus his/her gaze on the first word of each
text. This avoids variations among texts and subjects regarding when
they start reading each text. The background was white and the letters
were black, in Times New Roman, size 20, spaced at 3.5. All efforts were
made to remove the computer screen brightness, to avoid visual fatigue.
4.4 Data analysis
Different variables were analyzed, at several text levels: sentence,
segment, and target. Therefore, the data analysis was based on two angles:
the level at which the investigated variable is applied (text, sentence, or
segment), and the relation between eye movement and error detection
by the subjects.
The variable investigation level has a direct relationship with
the type of error investigated: the missing preposition, as it is a local
scope error, requires measures that apply to the level of the word or the
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1813
phrase, whereas the scope of the incorrect anaphora lies in the integration
of parts of the text and, thus, requires measures that correspond to the
sentence and text levels.
Furthermore, this work includes both eye movement measurements
and the chronometric measurement of the response time. Thus, it was possible
to investigate the eye movement as well as the relation between the eye
movement and detection. Therefore, the choice was made to use traditional
measurements in reading and eye movement studies, as well as to adapt
some measurements to this research, combining them with the response time.
Chart 3 – Dependent variables
Text
Sentences
Segment
Eye movement
– Total reading time
– Number of fixations
on the texts
– Average duration of
fixations on the texts
– First-pass fixation
time on target
sentences
– Total fixation times
on target sentences
– Second-pass
fixation time on target
sentences
– Regression-path
reading time on target
sentences
– First-pass fixation
time
– Total fixation times
on target segment
– Number of fixations
on the target segment
– Regression-path
Eye movement
and detection
– Total reading time
up to detection
– Total reading time
after detection
– Number of fixations
up to detection
– Number of fixations
after detection
– Average duration
of fixations up to
detection
– Average duration
of fixations after
detection
– Total fixation time
on target sentences up
to detection
– Total fixation time
on target sentences
after detection
– Second-pass
fixation time in
target sentences up to
detection
– Second-pass
fixation time in
target sentences after
detection
– Total fixation time on
the target segment up to
detection
– Total fixation time on
the target segment after
detection
1814
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
In the measurements grouped as “eye movement”, both the
texts in which the errors were detected and those in which they were
not detected, were taken into account, in order to compare detection to
non-detection. In the measurements grouped as “eye movement and
detection”, only texts in which the error was detected, as the time of
detection (when the participant clicked on the error using the mouse)
was used as a divider to analyze each measurement up to and after such
a detection: for example, the total reading time up to the error detection
and the total reading time after the error detection, measurements that
correspond to the total reading time up to the moment when the participant
clicks on the error using the mouse and to the total reading time after
this moment, until the task is completed.
The total reading time corresponds to the total time the subject took
to read and revise each text. The total reading time up to error detection
corresponds to the time the subject took to read the text until clicking
on the error using the mouse; and the total reading time after detection4
corresponds to the time the subject took until he clicked on the error using
the mouse until the text revision is completed. The same division applies
to the number of fixations on the text up to and after error detection.
The average duration of fixations is equivalent to the ratio between
the total reading time, including fixations and saccades, and the number
of fixations on the text. Therefore, the average duration of fixations up to
error detection corresponds to the ratio between the total reading time up
to detection and the number of fixations up to detection. The same logic
applies to the average duration of fixations after the error detection.
The first-pass fixation time corresponds to the sum of durations
of all fixations performed (whether on the target sentence, at the sentence
level, or on the target word, at the local level) until it is abandoned to
the left or to the right, as well as during the first reading, that is, it is a
measure that indicates the time required when first reading the target.
The total time of fixation on the sentences, however, is equivalent
to the sum of all fixations performed on the sentence. This time was also
Although a significant difference between experimental condition as to the time
measurements after error detection, due to the location of each target section (on the
first sentence in the case of suppression of the preposition, and on the third sentence
for incorrect anaphora), such measurements have been investigated to analyze whether
the groups would reread the texts and to verify their engagement in the revision task.
4
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1815
divided into two parts: up to and after error detection, following the same
accounting logic described above.
The second-pass fixation time regards the difference between
total time of fixation on the sentence and the first-pass fixation time, that
is, it is equivalent to the time for return to the sentence after it had been
read for the first time. For this measurement, the value up to and after
the error detection was also counted.
The last measurement at the sentence level, the regression-path
reading time, corresponds to the sum of all fixations performed by the
subject from the moment when he/she fixates the target sentence for the
first time until the moment he/she fixates on a subsequent part of the text,
counting, in addition to the fixations in the target sentences themselves,
the possible regressions to previous parts of the text.
The total time of fixation on the target segment is related to the
sum of all fixations on it, and the sum of all fixations up to the error
detection and after detection was also checked.
The regression-path corresponds to the sum of all fixations
performed by the subject from the time he/she fixates the target segment
for the first time up to the moment he/she fixates on a subsequent section
of the text, counting, in addition to the fixations on the target segment
itself, the possible regressions to previous parts of the text.
The independent variables in the eye movement analysis for
experimental texts were:
1. Types of errors:
a. missing preposition
b. incorrect anaphora
2. Text revision groups:
a. revisers
b. non-revisers
3. Detection:
a. errors detected
b. errors not detected
1816
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
The crossing of these variables generates 8 groups:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
revisers – missing preposition – error detected;
non-revisers – missing preposition – error detected;
revisers – missing preposition – error not detected;
non-revisers – missing preposition – error not detected;
revisers – incorrect anaphora – error detected;
non-revisers – incorrect anaphora – error detected;
revisers – incorrect anaphora – error not detected;
non-revisers – incorrect anaphora – error not detected;
First, the data were tabulated and explored descriptively, checking
the central tendency measures, such as mean, median, and standard
deviation, as well as the visual representation by means of charts, such
as boxplot, bar chart, density, and average charts, selected according to
the type of variable investigated.
The inferential statistical analysis was then performed, by
choosing the most appropriate statistical test based on the analyzed data.
The significance level adopted was 95%, therefore, α was defined as 0.05.
The program used for statistical analysis was R5.
In the variables where the samples adopted a normal distribution,
the parametric test was selected. As the experiment was performed with
repeated measurements, the defined parametric test was the mixed linear
regression model6.
In the variables where the samples did no adopt a normal
distribution, however, non-parametric tests were selected, namely the
Kruskal-Wallis or the Wilcoxon-Mann-Whitney tests, given that these are
rank tests and, therefore, knowledge of the sample distribution is required.
5. Results
The revisers detected 191 of the 279 errors, which correspond
to 68.5% of the errors. The non-revisers, however, detected 165 of the
Available at <https://www.r-project.org/>.
This test was also selected, because it enables one to analyze the relation between the
variables throughout the task execution, indicating important aspects of the participants’
behaviors. This information is not explored in this article, but it is available in Leite (2014).
5
6
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1817
280 errors, which correspond to 58.9% of the errors. Therefore, revisers
were more proficient and detected more errors than did the non-revisers;
however, considering only the experimental texts, this difference proved
to be statistically insignificant.
The tables provided in this study specify the median values or the
“t” or “p” value (depending on the statistical test). Leite (2014) provides
more details, such as the number of values considered by variables, the
standard deviations, the degrees of freedom and charts. The codes used
in all tables provided are as follows:
rev: revisers
nrev: non-revisers
det: error detected
ndet: error not detected
mp: missing preposition
an: incorrect anaphora
N/A: not applicable
* : statistically significant difference
. : marginally significant difference
5.1 Text level
The variables in which statistically significant results were
detected are presented below.
In the variables in which the measurements up to and after the
error detection were considered, statistically significant results found
between the types of errors, that is, when an incorrect anaphora was
compared to a missing preposition, were not presented, since these
differences were expected due to the composition of texts (in the first
case, the error is found in the third sentence, and, in the second text, it
is found in the first sentence). Nevertheless, in these cases the revision
groups with the same type of error (revisers in anaphora vs. non-revisers
in anaphora, and revisers in the missing preposition vs. non-revisers in
the missing preposition) were compared.
1818
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Table 1 – Summary of the average values of the results obtained in variables
at the text level – mixed linear regression models
Measurement
Average
t value
rev
nrev
total text
35473
27402
reading time
ms
ms
number of
134
111
Average
t value
an
mp
*rev>nrev
32709
30147
0.002
ms
ms
rev>nrev
129
117
.
t value
ndet
*an>sp
31845
30697
0.04
ms
ms
*det>ndet
0.01
*an>sp
123
123
-
*sp>an
218
210
.
0.000
ms
ms
det>ndet
0.05
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
0.06
fixations on
Average
det
0.002
the text
average
225 ms
205 ms
duration of
.
rev>nrev
212 ms
218 ms
0.06
fixations on
the text
total reading
21590
13812
*rev>nrev
13323
20696
*sp>an
time after
ms
ms
0.001
ms
ms
0.000
245 ms
222 ms
. rev>nrev
219 ms
243 ms
*sp>an
error
detection
average
duration of
0.06
0.000
fixations
up to error
detection
Table 2 – Summary of the interaction results obtained in the variables at the
text level – mixed linear regression models
Measurement
Variable
1
Variable
2
Average (ms)
Interactions (p value)
Number of
fixations in the
text
det
mp
104
an
130
* an det > mp det (0.003)
* an det > an ndet (0.01)
ndet
mp
113
an
112
det
mp
214
an
210
mp
198
an
207
Average
duration of
fixations on the
text
ndet
* mp det > an det (0.000)
* mp det > an ndet (0.03)
* mp det > sp ndet (0.000)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1819
Table 3 – Summary of the results obtained at the text level – multiple
comparisons of the Wilcoxon-Mann-Whitney test with Bonferroni correction
Measurement
total reading
time up to error
detection
Variable 1
mp
number of
fixations up to
error detection
mp
average duration
of fixations after
error detection
mp
number of
fixations after
error detection
mp
an
an
an
an
Variable 2
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
Median
7469 ms
7645 ms
22301 ms
17094 ms
29
34
104
81
276 ms
265 ms
377 ms
377 ms
81.5
56.5
38
20
Interactions (p value)
* rev an > nrev an (0.000)
* rev an > nrev an (0.005)
* nrev mp > rev mp (0.01)
* rev mp > nrev mp (0.02)
* rev an > nrev an (0.002)
* rev mp > nrev mp (0.000)
In comparing the two types of errors, it was determined that the
subjects had a longer reading time when the incorrect anaphora was
present, which is associated with the number of fixations on the texts,
since, also regarding this variable, there was a statistically significant
difference between the two conditions, with a higher number of fixations
occurring in the texts in which the incorrect anaphora was present.
Contrary to this, fixations were longer on average in the texts where the
missing preposition was present, which may be also be confirmed by the
average duration of fixations up to error detection.
Furthermore, in the interaction among these variables (table 3),
the results indicate a difference between the incorrect anaphora detection
and the missing preposition detection: while in the incorrect anaphora
the higher total reading time is related to the higher number of fixations
on the text, in the missing preposition, the detection is related to longer
fixations on average. This difference in pattern, therefore, may be related
to two different types of reading: a reading towards the surface, with
longer fixations, and a reading towards more global levels, with a higher
number of fixations on the text.
1820
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Regarding the analysis obtained at the text level, the results
indicate that revisers, in general, take longer to read the text, and their
reading is associated with a higher number of fixations.
In comparing revisers and non-revisers, the first produced
higher values for the total reading time and total reading time after error
detection (table 1), which indicates that, in addition to taking longer to
read the texts, they also maintained the reading longer even after they
had detected the error. As to the total reading time up to error detection,
in the comparison of revision groups in the same error type, revisers
presented higher values than those for non-revisers when the incorrect
anaphora was present, but did not exhibit different times regarding the
detection of the missing preposition (table 3).
Although there has been a merely marginally significant
difference between revisers and non-revisers in terms of the number of
fixations on the texts (table 1), upon analyzing this number up to the error
detection, in cases of the missing preposition, the number of fixations was
higher for the group of non-revisers, whereas in incorrect anaphora it was
higher, on average, for the group of revisers. After the error detection,
the revisers performed more fixations, regardless of the type of error.
As for the average duration of fixations on the text, there was a
marginally significant difference between how the revisers and the nonrevisers performed, as also occurred when this variable was analyzed up
to the error detection (table 1), with revisers tending to perform longer
fixations, on average. There was a statistically significant difference
between the groups regarding the average duration of fixations after
error detection (table 3).
Therefore, revisers showed a different reading pattern for each
type of error: in detecting the missing preposition, the fixations tended
to be longer (marginally significant average duration of fixations), and
in detecting the incorrect anaphora, the number of fixations was higher.
The total reading time was also longer in the texts in which the
error was detected than in those texts in which the subject did not detect
the error, and the number of fixations was also higher for those texts;
however, this finding may result from the task itself, as, in the texts in
which the error was detected, the participant took some time clicking on
the error using the mouse.
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1821
5.2 Sentence level
Regarding the measurements presented at the sentence level, in
the missing preposition cases, only the first sentence, in which the error
was located, was taken into account. For incorrect anaphora cases, both
the first and the third sentences were analyzed, as they contained the
referent and the incorrect anaphora, respectively.
Table 4 – Summary of results obtained from variables at the sentence level –
mixed linear regression models
Measurement
Average (ms)
rev
nrev
total fixation
time on the
first sentence
11274
9227
total fixation
time on the
third sentence
11050
total fixation
time on the
first sentence
up to error
detection
total fixation
time on the
third sentence
up to error
detection
t value
Average (ms)
t value
an
mp
*rev>nrev
0.02
9971
ms
10527
8240
*rev>nrev
0.009
N/A
9075
8270
*rev>nrev
0.008
6341
4868
0.21
Average (ms)
t value
det
ndet
0.45
10592
9646
*det>ndet
0.000
N/A
N/A
10756
8655
*det>ndet
0.000
9378
8305
0.24
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
N/A
Table 5 – Summary of interaction results obtained from variables at the
sentence level – mixed linear regression models
Measurement
Variable 1
Variable 2
Average (ms)
Interactions (p value)
total fixation
time on the first
sentence up to
error detection
mp
rev
8192
nrev
8431
rev
10522
* rev an > nrev an
(0.03)
* rev an > rev sp
(0.03)
nrev
7981
an
1822
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Table 6 – Summary of the results obtained at the sentence level – multiple
comparisons of the Wilcoxon-Mann-Whitney test with Bonferroni correction
Measurement
Variable
1
second-pass
fixation time
on the first
sentence
det
Variable
2
mp
an
ndet
mp
an
first-pass
fixation time
on the third
sentence
an
det
ndet
second-pass
fixation time
on the third
sentence
an
regressionpath reading
time on the
third sentence
an
total fixation
time on the
first sentence
after error
detection
det
total fixation
time on the
third sentence
after error
detection
det
second-pass
fixation time
on the first
sentence
up to error
detection
det
det
ndet
det
ndet
mp
an
an
mp
an
Variable
3
Median (ms)
Interactions (p value)
* rev an det > nrev an det (0.000)
* rev an det > nrev mp det (0.000)
* rev an det > rev mp det (0.000)
* rev an det > nrev an ndet (0.000)
* rev an det > rev an ndet (0.000)
* rev an det > nrev mp ndet (0.000)
* rev mp det < nrev mp det (0.000)
* nrev mp det < nrev an ndet (0.03)
* nrev mp det < rev an ndet (0.03)
* nrev mp det < rev mp ndet (0.01)
rev
2241
nrev
182.5
rev
5076
nrev
2088
rev
4274
nrev
1846
rev
1668.5
nrev
2092
rev
5338
nrev
6181
rev
6072
nrev
5739
rev
8659
nrev
6039
rev
2118.5
nrev
1666
rev
4223.5
nrev
4282
rev
2489.5
nrev
2199
rev
2208.5
nrev
525.5
rev
506.0
nrev
0
rev
5232
nrev
2933
rev
0
nrev
0
rev
2904.5
nrev
1526
* nrev det > nrev ndet (0.000)
* nrev det > rev ndet (0.000)
* rev det < nrev ndet (0.006)
* rev det > nrev det (0.000)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > rev ndet (0.000)
* nrev det > nrev ndet (0.000)
* nrev det > rev ndet (0.01)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > rev ndet (0.000)
* nrev det > rev ndet (0.002)
* nrev det > nrev ndet (0.000)
* rev an > nrev an (0.001)
* rev an < rev sp (0.000)
* nrev an < nrev mp (0.000)
* nrev an < rev mp (0.000)
* rev sp > nrev mp (0.000)
* rev > nrev (0.000)
* rev an > nrev an (0.02)
* rev an > rev mp (0.000)
* rev an > nrev mp (0.000)
* nrev an > rev mp (0.000)
* nrev an > nrev mp (0.000)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1823
When the performances of revisers and non-revisers were
compared, there was a statistically significant difference as to the total
fixation time on the first and third sentences of the text, as to the total
fixation time on the first sentence of the text up to the error detection,
as well as to the total fixation time on the first and third sentences after
error detection. In all of these situations, whether in the cases of incorrect
anaphora or the missing preposition, the revisers presented higher values
on average than did those obtained for non-revisers. The two groups
were also different as to the second-pass fixation time on the first and
third sentences, to which revisers took longer to return than did the nonrevisers. Revisers also took longer to return to the first sentence up to
the detection of the incorrect anaphora (second-pass fixation time up to
the error detection) than did the non-revisers. However, neither group
presented different results regarding the missing preposition, since, for
both groups, the detection of the missing preposition took place on the
first reading of the sentence.
5.3 Local level
Within the condition of the missing preposition, only the total
fixation time on the target segment, including the 15th and the 16th
words of the text, were analyzed. For the condition of incorrect anaphora,
however, the total fixation times on the referent and on the anaphora
were analyzed separately.
Table 7 – Summary of results obtained from variables at the local level –
mixed linear regression models
Measurement
number of
fixations on the
target – mp
total fixation
time in the
referent up to
error detection
Average
rev
nrev
10.74
11.74
1169
ms
t value
0.16
831 ms *rev>nrev
0.007
Average
an
mp
N/A
N/A
N/A
N/A
t value
N/A
Average
det
ndet
11.91 7.68
N/A
N/A
N/A
t value
*det>ndet
0.000
N/A
1824
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Table 8 – Summary of interaction results obtained from variables at the local
level – mixed linear regression models
Measurement
Variable 1
Variable 2
Average
Interactions (p value)
number of fixations
on the target – mp
det
rev
11
nrev
13
rev
8
* rev det > rev ndet (0.000)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* nrev det > rev ndet (0.000)
* nrev det > rev ndet (0.000)
nrev
7
ndet
Table 9 – Summary of the results obtained at the local level – multiple
comparisons of the Wilcoxon-Mann-Whitney test with Bonferroni correction
Measurement
total fixation
time on the
target – mp
Variable 1
det
total fixation
time on the
referent
det
total fixation
time on the
anaphora
number of
fixations on the
referent
number of
fixations on the
anaphora
total fixation
time on the
target after error
detection – mp
total fixation
time on the
anaphora after
error detection
ndet
ndet
det
ndet
det
ndet
det
ndet
det
det
Variable 2
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
rev
nrev
Median
2980 ms
3233 ms
1072 ms
1085 ms
1229 ms
726 ms
724.5 ms
497 ms
2092 ms
1799 ms
669 ms
475 ms
6
4
3
3
8
7
3
2
675.5 ms
104 ms
Interactions (p value)
* nrev det > nrev ndet (0.000)
* nrev det > rev ndet (0.000)
* rev det > nrev ndet (0.000)
rev
nrev
246.5 ms
0 ms
* rev > nrev (0.000)
* rev det > nrev det (0.002)
* nrev det > nrev ndet (0.008)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > rev ndet (0.000)
* nrev det > nrev ndet (0.000)
* nrev det > nrev ndet (0.003)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > rev ndet (0.000)
* nrev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > nrev ndet (0.000)
* rev det > rev ndet (0.000)
* rev > nrev (0.000)
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1825
When the total fixation time on the target segment during the
entire text reading was detected, not taking into account the detection
time, no statistically significant differences were found between
the performances of revisers and non-revisers. Actually, there were
statistically significant differences between the texts in which the errors
were detected, and those in which the errors were not detected, and,
whenever the detection occurred; the total fixation time on the target
was longer. This pattern was found in texts with cases of the missing
preposition, as well as in those with cases of incorrect anaphora. For this
type of error, the difference between the performances of revisers and
non-revisers was only identified on the referent, as values were higher for
the first. The same results were obtained in the analysis of the number of
fixations on the target, but, in this case, the difference between revisers
and non-revisers regarding the number of fixations on the referent and
on the anaphora was only marginally significant.
Similarly, upon analyzing the total fixation time on the target up to
the error detection, that is, the sum of all fixations performed on the target
until the participant clicked on the mouse, including the regressions to the
word up to that point, a significant difference between the performances of
revisers and non-revisers was detected only regarding the referent, given
that, in incorrect anaphora cases, the values in general in this case were
higher for the performances of revisers. In analyzing the total fixation
time on the referent after error detection, that is, after the participants had
clicked on the error using the mouse, however, no significant differences
between the performances of revisers and non-revisers were detected, as
both groups, most of the time, did not return to the referent.
Regarding the incorrect anaphora area, a statistically significant
difference was detected between the performances of revisers and nonrevisers, as to the total fixation time after the error detection. Therefore,
the revisers spent more time fixating the referent to detect the incongruity
and possibly attempt to solve it. After the error detection, they returned
more times to the anaphora before completing the text reading.
In the missing preposition cases, similarly to what occurred to the
total fixation time on the target, no statistically significant differences were
found between the performances of revisers and non-revisers as regards the
total fixation time on the target up to error detection. The opposite occurred
as to the total time of fixation on the target after error detection: revisers
obtained higher values than those obtained by the non-revisers, on average.
1826
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
Therefore, although no significant difference between the
performances of revisers and non-revisers was detected when the total
fixation time on the target in the text reading was analyzed, this difference
did occur when the eye movement was analyzed, taking into account the
error detection time. In this case, revisers, in general, obtained higher
values than those obtained by non-revisers and, in the texts in which the
errors were detected, the total fixation times on the target were higher
than in those texts in which the errors were not detected. This variable,
therefore, is relevant for the investigation of proficiency in error detection.
6 Final considerations
The results indicated that, in general, the texts in which the
incorrect anaphora was present yielded higher values in the investigated
measurements, especially at the text level, and even had a longer reading
time, related to a higher number of fixations. This result corroborates prior
studies in this area, indicating that the processing of errors at levels that
require the integration of parts of the text is more difficult. The exception
was the average duration of the fixations on the text, as well as the error
detection. In this case, the values were higher for texts in which the
preposition was suppressed. Since in this measure the interaction between
the error type and the detection was significant, it may be stated that the
increase in the average duration of the fixations on the text, including in
the start, up to error detection, favors the identification of the missing
preposition. Considering the location of the errors on the text and their
complexity, these differences may result from the global strategies used
in the reading at an early or late stage. Hence, it is important that other
studies explore this initial finding, including the comparison of a base
condition, with and without errors.
The results of this research corroborate Vauras, Hyona, and
Niemi’s proposal (1992), according to whom incoherences increase
both the fixation time and the number of regressions. This research,
therefore, confirmed Linguistics data that set the difference between
readings directed to levels that are more global and readings directed to
levels that are more superficial, also contributing to the characterization
of these types of reading, as well as to showing which strategies may
be more appropriate for each level. In this sense, an important, though
initial, finding is that the detection of the missing preposition is, on
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
1827
average, favored when longer fixations are performed. Many studies in
the area proposed that the reading directed to superficial levels must be
different from reading directed to more global levels, although they do
not specify how this difference is processed regarding eye movement.
The longer duration of fixations appears to be a significant parameter,
though other studies are required to confirm this finding, including those
with different types or surface errors.
Regarding the differences between those texts in which the error
was detected and those in which the error was not detected, the general
perspective is that error detection is followed by increased fixation time,
at the text, sentence, or local level. At the local level, in the texts in which
the error is detected, the total fixation time on the target is higher, which
occurs both for the missing preposition and in incorrect anaphora. Such a
difference, however, may result from the time required by the participants
to click on the text using the mouse.
Finally, regarding the difference between the performances of
revisers and non-revisers, the general perspective was that revisers
presented higher values for the variables in which a significant difference
occurred, which means they were slower in reading than the non-revisers.
This occurred at the text, sentence, and local levels.
Thus, this study’s results confirmed the initial hypothesis that
professional revisers would require a lengthier, less automatic, more
detailed, and controlled reading. According to Hayes (2004), with extensive
practice, certain edition aspects may become automatic, but not the
edition activity as a whole, even for very experienced subjects, a reason
why the reading control is an assumption of revision. When Klein and
Hoffman (1992) discuss expertise, they emphasize that the differentiated
performance of an expert may be identified based on several factors:
variability-consistency, accuracy, completeness, and speed. As to speed, the
authors highlight that, in some cases, experts may take longer than novices
do to complete a task, even when the novices adopt a very fast behavior,
on impulse. This research indicates the occurrence of this type of situation.
Professional revisers were also more specific as to the regressions
performed. In texts that presented incorrect anaphora, revisers spent a
longer total fixation time on the first sentence up to error detection than
did the non-revisers, as well as a longer total fixation time on the referent.
Since subjects, in general, chose to return to previous parts of the text,
when they encountered the incorrect anaphora, the revisers were more
1828
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.25, n.3, p. 1801-1830, 2017
specific and fixated, for a longer period of time, on the part of the text that
was actually important for problem-solving, that is, the referent and the
sentence containing it. Furthermore, after detecting the incorrect anaphora,
the revisers made longer returns to the third sentence of the text, as well
as the anaphora itself, which also indicates that they were more specific in
this case. According to Hyona and Nurminem (2006), proficient readers
tend to direct their regressions to actually informative parts of the text.
Finally, it should be considered that this research specifically
investigated error detection, which is one of the revision stages. In
addition to this, the corrections must also be performed, but this stage
was not investigated by this study, though it deserves to be considered
in further studies in the area, including those in which the quality of
corrections performed is determined, hence a qualitative investigation.
Considering that studies on professional text revision are scarce, especially
those with a cognitive approach, this research had an exploratory nature
and provided important initial considerations, not only to the study of
performances of professional revisers, but also for the study of text
revision and reading processes.
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