AYAMONTE NA EXPANSÃO
PORTUGUESA PARA
O NORTE DE ÁFRICA
FERNANDO PESSANHA
ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE VILA DE SANTO ANTONIO
AYAMONTE EN LA EXPANSIÓN
PORTUGUESA POR
EL NORTE DE AFRICA
106
107
PREFÁCIO
A notável participação que Ayamonte teve na descoberta, conquista, colonização e evangelização no Novo Mundo foi desde sempre reconhecida. No entanto,
pouco sabemos acerca das suas relações com o próximo continente do sul e do contributo da sua gente na Expansão Portuguesa para o Norte de África, onde o Algarve
teve um protagonismo indubitável.
É neste sentido que é de agradecer este artigo do historiador Fernando
Pessanha, onde aprofunda as relações que Ayamonte manteve, pelo menos desde as
últimas duas décadas do século XV, com a vizinha Castro Marim, com Tavira e com
outros portos algarvios, o que desencadeou a participação de muitos ayamontinos
nessa expansão portuguesa pelo continente africano, umas vezes na qualidade de
soldados às ordens das hostes lusas em Marrocos, outras como povoadores de praças
como Arzila, Safim, Azamor, etc., isto quando não o faziam como meros comerciantes que aspiravam manter relações mercantis com territórios norte-africanos vassalos
da coroa portuguesa.
Este contributo de Ayamonte na Expansão Portuguesa para o continente meridional da Península Ibérica, no outro lado do Estreito de Gibraltar, é explicado por
Pessanha depois de analisar os antecedentes da presença espanhola em África, em
rivalidade com o próprio reino de Portugal, com interessantes novidades, como o
frustrado projecto da conquista de Azamor pela Coroa de Castela, em 1500.
Referências concretas a ayamontinos em lugares africanos como Santa Cruz
de la Mar Pequeña e outros, que o autor remonta ao ano 1494, são também fruto da
secular vocação marítima e pesqueira de uma Ayamonte com pretensões comerciais
em determinadas povoações do Cabo de Gué, como Tamareque, Meça o Taracuco.
Um interessante episódio que o historiador Pessanha desenvolve neste trabalho é dedicado à armada fretada em 1529 pelo marquês de Ayamonte D. Francisco de
Sotomayor, e composta por duas caravelas e um galeão, com intenções de estabelecer uma feitoria comercial de escravos e produtos africanos em Marrocos, o que acabou por não se concretizar, mas que originou óbvias tensões com o rei de Portugal.
108
Por aqueles anos do segundo quartel do século XVI, Ayamonte encontrava-se em pleno processo de crescimento, tanto económica como demograficamente, e
com repercussões no seu tecido urbano no Barrio de la Ribera, o que contribuiu para
reactivar o comércio local e as pescarias nas costas norte-africanas e que fez com
que alguns dos seus naturais tentassem a sorte nas praças portuguesas de África, para
além da inestimável participação de tantos ayamontinos na Carreira das Índias.
E, ainda que o autor recorra a uma completíssima bibliografia ibérica para a
elaboração deste trabalho, o grande contributo de Fernando Pessanha é juntar-lhe o
enorme valor de basear o seu estudo em fontes documentais inéditas, tendencialmente provenientes do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Lisboa (especificamente
os fundos das chancelarias dos reis D. João II e D Manuel I de Portugal, as Cartas
dos Governadores de África, Chancelaria da Ordem de Cristo e de fundos do Tribunal do Santo Oficio português), que reflectem o ponto de vista do país luso quanto a
Ayamonte durante a primeira metade do século XVI, documentos que cobrem parcialmente o enorme vazio documental que tem a nossa cidade para estas datas, entre
outras razões, pela lamentável dispersão e perda que teve o arquivo dos marqueses
de Ayamonte.
Parabéns, Fernando, por este contributo para a nossa História. A minha gratidão como ayamontino.
Prof. Doutor Antonio Sánchez González
Universidade de Huelva
109
PREFACIO
Siempre hemos ponderado la notable participación que tuvo Ayamonte en el
descubrimiento, conquista, colonización y evangelización del Nuevo Mundo. Sin
embargo, poco sabemos acerca de sus relaciones con el cercano continente del sur, y
de la contribución de su gente en la expansión portuguesa por el norte de África, en
la que el Algarve tuvo un protagonismo indudable.
De ahí que sea de agradecer este artículo del historiador Fernando Pessanha, donde profundiza en las relaciones que mantuvo Ayamonte, al menos desde las
últimas décadas del siglo XV, con la vecina Castro Marim, con Tavira y con otros
puertos algarvios, lo que desencadenó en la participación de muchos ayamontinos en
esa expansión portuguesa por el continente africano, unas veces enrolándose como
soldados a las órdenes de las huestes lusas en Marruecos, otras como pobladores de
plazas como Arzila, Safim, Azamor, etc., cuando no lo hacían como meros comerciantes que aspiraban a mantener relaciones mercantiles con territorios norteafricanos vasallos de la corona portuguesa.
Esta contribución de Ayamonte a la expansión portuguesa por el continente
meridional de la Península Ibérica, al otro lado del estrecho de Gibraltar, la enmarca
Pessanha tras analizar los antecedentes de la presencia española en África, en rivalidad con el propio reino de Portugal, con interesantes aportaciones como el frustrado
proyecto de conquista de Azamor por la Corona de Castilla en 1500.
Menciones concretas a ayamontinos en lugares africanos como Santa Cruz
de la Mar Pequeña y otros, que remonta el autor al año 1494, son también fruto de
la secular vocación marítima y pesquera de Ayamonte con pretensiones comerciales
en determinadas poblaciones del cabo de Aguer como Tamareque, Meça o Taracuco.
Un interesante episodio que desarrolla el historiador Pessanha en este trabajo
es el dedicado a la armada que fletó en 1529 el marqués de Ayamonte D. Francisco de
Sotomayor, compuesta por dos carabelas y un galeón, con intenciones de establecer
en Marruecos una factoría comercial de esclavos y productos africanos, que finalmente no prosperó y que generó lógicas tensiones con el rey de Portugal.
110
Por aquellos años del segundo cuarto del siglo XVI Ayamonte se encontraba
en pleno proceso expansivo, tanto económica como demográficamente con repercusión en su entramado urbano por el barrio de la Ribera, lo que contribuyó a reactivar
el comercio local y las pesquerías en las costas norteafricanas y a que algunos de
sus naturales probaran suerte en plazas portuguesas del continente, al margen de la
inestimable participación de tantos ayamontinos en la carrera de Indias.
Y aunque el autor maneja una completísima bibliografía ibérica en la elaboración de este trabajo, la gran contribución que hace aquí Fernando Pessanha es añadirle el enorme valor de basar su estudio en fuentes documentales inéditas, preferentemente extraídas del Archivo Nacional de la Torre do Tombo de Lisboa (en concreto
de los fondos de las cancillerías de los reyes Juan II y Manuel I de Portugal, de las
series de Gobernadores de África, de la cancillería de la orden de Cristo y de fondos
del Tribunal del Santo Oficio portugués), que reflejan el punto de vista del país luso
en cuanto a Ayamonte durante la primera mitad del siglo XVI, unos documentos que
cubren parcialmente el enorme vacío documental que tiene nuestra ciudad para estas
fechas, entre otras razones por la lamentable dispersión y pérdida que tuvo el archivo
de los marqueses de Ayamonte.
Felicidades, Fernando, por esta aportación a nuestra Historia, y mi gratitud
como ayamontino.
Prof. Doctor Antonio Sánchez González
Universidad de Huelva
111
112
Tal como é do conhecimento comum, Ayamonte foi uma das terras andaluzas
que colaborou activamente para a exploração e colonização do continente americano,
acabando por se converter, durante o século XVI, num dos núcleos urbanos mais
importantes de toda a costa de Huelva. Porém, a proximidade ao Algarve determinada
pela sua condição de terra de fronteira, fez com que Ayamonte também participasse
com recursos humanos nos Descobrimentos Marítimos e na Expansão Portuguesa
para o Norte de África. Com efeito, a história do vizinho Algarve, entre os séculos
XV e XVII, encontra-se estreitamente interligada com as conquistas em Marrocos,
uma ligação umbilical que, efectivamente, unia os Algarves Daquém aos Algarves
Dalém-mar, em África. Aliás, como Romero de Magalhães bem observou, “a ligação
de Portugal com as praças marroquinas fazia-se através do Algarve e, em princípios
do século XVI, sobretudo por Tavira”1. Refira-se que este porto de ligação com o
Norte de África encontra-se a apenas 23 Km de Ayamonte, pelo que a ligação entre
as duas cidades resultava extremamente fácil através da tradicional navegação por
cabotagem.
Por outro lado, o posicionamento de Ayamonte frente a Castro Marim, a
praça de guerra portuguesa mais próxima de Marrocos, atrairia certamente muitos
ayamontinos interessados em aventurar-se na cruzada portuguesa nos Algarves
Dalém-mar. Mas para compreendermos em que circunstâncias os ayamontinos
participaram na Expansão Portuguesa para o Norte de África, vejamos antes qual o
ambiente que se vivia na vizinha Castro Marim.
1 Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, pp.81-96. Do mesmo autor ver também Para o Estudo
do Algarve Económico Durante o séc. XVI, pp.238-239. Sobre a relação entre Tavira e as praças dos Algarves Dalém vejase Maria Augusta Lima Cruz, “Tavira no processo de abandono de praças portuguesas no Norte de África, no século XVI.
Abertura de um estudo”, in Espírito e Poder – Tavira nos Tempos da Modernidade, pp.20-45.
113
CASTRO MARIM NA EXPANSÃO PORTUGUESA PARA O NORTE DE
ÁFRICA.
Se desde os primeiros anos do séc. XVI que os ayamontinos se lançavam
como pilotos e marinheiros nos barcos da Carreira das Índias2, o mesmo aconteceu
na vizinha Castro Marim, onde os descobrimentos e a Expansão para o Norte de
África tiveram forte impacto. O próprio infante D. Henrique - que em 1416 tinha
sido incumbido por D. João I de abastecer e defender a recém-conquistada Ceuta3 permaneceu em Castro Marim durante algum tempo, quando ali foi receber o infante
D. Fernando, seu sobrinho e herdeiro, entretanto regressado ao reino, depois da sua
passagem por aquela praça norte-africana4. Do mesmo modo, também outros fidalgos
se estabeleceram nesta praça fronteira a Ayamonte, apoiando o infante e exercendo
altos cargos. Foi o caso de Diogo Lopes, cavaleiro da casa do infante D. Henrique
e comendador de Castro Marim, para além de vedor dos vassalos régios moradores
nesta vila e termo, em 14445, ou o caso de Vasco Eanes Corte Real, capitão da
cavalaria de Castro Marim antes de 14336 e filho de Vasco Eanes, que acompanhou
D. Henrique durante a conquista de Ceuta7.
E porquê esta necessidade de prover Castro Marim com gente de confiança
do infante? Porque a vila, pela sua proximidade geográfica a Marrocos, passou a
ter um importante papel na defesa da presença portuguesa no Norte de África e no
combate contra a pirataria magrebina. Nesse sentido, não podemos deixar de salientar
a extraordinária acção de Garcia de Melo, anadel-mor dos besteiros e alcaide-mor de
2 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante
las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.154-155; Antonio Manuel
González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.38.
3 Ver Isabel L. Morgado de Sousa e Silva, A Ordem de Cristo (1417-1521) - Revista Militarium Ordium Analecta, Nº 6, p.63.
Mais tarde, em 1433, o rei D. Duarte concedeu ao infante D. Henrique um quinto de tudo o que fosse tomado pelos seus navios
de corso, que andavam a patrulhar o Estreito de Gibraltar. Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.266; Ver também Edite Maria
da Conceição Martins Alberto, “Resgatar cristãos em terras no Norte de África – O ofício de Alfaqueque no século XV”, in
Estudos de História Luso-Marroquina, p.42.
4 Alberto Iria, O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos), p.77.
5 Ver Monumenta Enricinha, Vol. VIII, p.220.
6 Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.500.
7 De acordo com Zurara, Vasco Eanes saltou na praia da vila com o infante D. Henrique e foi o primeiro português a combater
os mouros na porta da Almina. Ver Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta, Capítulo LXXII, p.225.
114
Castro Marim8. Recordamos que em 1504, no mesmo ano em que a vila recebeu o
foral manuelino, Garcia de Melo liderou um vitorioso ataque a Larache, na altura um
conhecido ninho de piratas que incansavelmente atacava as costas do Algarve e da
Andaluzia - ataque em que capturou cinco galeotas, dois bergantins e uma caravela,
tendo incendiado uma galé e três outras caravelas9.
CASTRO-MARINENSES NAS PRAÇAS DE PORTUGAL EM MARROCOS
Temos que ter em consideração que as conquistas em África implicaram,
desde logo, o envio de homens para assegurar a defesa e manutenção das praças
sob domínio português. E como Castro Marim se encontra próximo das terras
marroquinas, muitos foram os castro-marinenses que se lançaram na conquista,
manutenção e defesa destas praças. Quando o infante D. Fernando, irmão de D.
Afonso V, planeou envolver-se em grandes feitos em Ceuta mesmo sem a aprovação
do irmão, “mandou aparelhar uma caravela na foz do rio Guadiana e pôs-se a
caminho”10. Escusado será dizer que parte da tripulação que acompanhou o infante
seria, seguramente, originária do termo de Castro Marim.
É no século XVI que esta tendência parece intensificar-se. Em Outubro de
1508, por exemplo, determinou D. Manuel, através do já referido Garcia de Melo,
anadel-mor dos besteiros, a nomeação de vários besteiros do monte moradores
em Castro Marim. Foi o caso de Barão Martins11, Afonso Eanes Pescoço12, João
8 Não sabemos exactamente em que ano foi investido com a alcaidaria de Castro Marim, contudo, uma carta que foi datada
de 1509 apresenta-o como alcaide-mor desta praça de guerra do Algarve, nesse mesmo ano. Ver A.N.T.T., Gaveta 20, Maço
V, nº 14.
9 Ver Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África
(Séculos XV-XIX), p.120.
10 D. Afonso V, preocupado com a impulsividade do irmão, veio ao seu encalço até Tavira e Castro Marim. Tarde demais. O
infante acabaria por ser interceptado no estreito de Gibraltar pelo Conde de Odemira, capitão de Ceuta. Após visitar aquela
praça foi conduzido ao reino, passando por Tarifa, Castro Marim, Mértola e Beja, onde o esperava a Corte. Ver Fernando
Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar, pp.57-59.
11 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v.
12 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v.
115
Lourenço13, Vasco Lourenço Fafez14, Afonso Eanes Galego15, Martim Eanes Pescoço16,
etc. Mas terão estes homens permanecido na vila de onde eram naturais?
Alguns meses depois, já em 1509, recrutou o alcaide de Castro Marim, Simão
Correia, 102 besteiros da vila para irem servir em Arzila, onde deviam acumular
funções como pedreiros17. De resto, foi frequente a presença de homens naturais de
Castro Marim nas praças norte africanas, não só enquanto soldados como também
na qualidade de moradores. É o caso de Afonso Roiz, natural de Castro Marim e que
encontrámos como besteiro de pé na guarnição de Safim, em 151118, ou o caso dos
moradores de Castro Marim que encontrámos em Azamor19. Neste contexto, revestese de particular interesse o caso do castro-marinense Gaspar Gonçalves, armado
cavaleiro em Azamor por mandado do duque de Bragança, depois da conquista
daquela praça marroquina, em 151320. Para além dos soldados e moradores oriundos
desta praça de guerra, também temos de contabilizar os degredados frequentemente
enviados para Arzila, Ceuta e Tânger21. Exemplo disso é o caso do escudeiro
Henrique Vaz, de Castro Marim, condenado a dois anos de degredo em Arzila, “por
feridas dadas”22. E, a juntar a tudo isto, os castro-marinenses que se aventuraram na
epopeia dos Descobrimentos. Oliveira Marques, por exemplo, inclui Castro Marim
no grupo das terras que mais contribuiu com gentes que se lançaram nas explorações
marítimas23.
13 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v.
14 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25.
15 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25.
16 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25.
17 Rafael Moreira, “História – Histoire”, in Arzila, Torre de Menagem – Le Donjon d’Asilah, p.35.
18 João Cosme, A Guarnição de Safim em 1511, p.151.
19 Maria Augusta Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro
Cultural Português, quadro 1.
20 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv.11, fl.53.
21 José António de Jesus Martins, O Reino do Algarve nos finais da Idade Média – Os concelhos algarvios no séc. XV, p.45.
22 A.N.T.T., Chancelaria de D. João II, liv. 24, fl.99.
23 Oliveira Marques, “A Expansão no Atlântico”, in Nova História da Expansão Portuguesa – Vol. II – A Expansão
Quatrocentista, p.208.
116
PRESENÇA ESPANHOLA NA COSTA ATLÂNTICA DE MARROCOS
Antes de avançarmos no presente artigo, torna-se pertinente contextualizarmos
os ascendentes da presença espanhola em África, de modo a compreendermos em
que circunstâncias Ayamonte se vê envolvida na Expansão Portuguesa em Marrocos.
Como é de conhecimento comum, desde o séc. XV que Castela tentava
estabelecer-se na costa atlântica africana, - pretensão que levou a uma disputa com
Portugal quanto à política expansionista em África e que se encontrava intimamente
relacionada com o contencioso sobre as Canárias. Com efeito, em 8 de Janeiro de
1454, depois de o rei de Castela doar as Canárias ao duque de Medina Sidónia24, o
infante D. Henrique conseguiu do papa Nicolau V a bula Romanus Pontifex, que
dava aos portugueses as terras tomadas perto de Ceuta e as descobertas depois do
Bojador e do Cabo Não. Este último, sublinhe-se, situado frente à Ilha de Lançarote.
Porém, a bula não era clara quanto aos direitos dos dois reinos sobre a costa
atlântica, permitindo que Castela afirmasse que a linha divisória da partilha passava
pelo Cabo Bojador, enquanto Portugal defendia que o limite seria o Cabo Não (actual
Cabo Chaunar), muito mais a norte. É neste contexto que, durante a segunda metade
do século XV, Portugal conquista Alcácer Ceguer, Arzila, Tânger e lança uma série
de ataques nas costas marroquinas, enquanto os espanhóis se lançavam em entradas
na costa frente às Canárias. São exactamente estes espanhóis estabelecidos nas
Canárias que irão tentar estabelecer-se no continente africano, alguns quilómetros
a sul de Meça, em território situado à mesma latitude das Canárias25. De facto, em
1477/1478 Diego de Herrera e os seus homens construíram uma fortaleza na margem
direita do rio Açaca, a que chamaram Santa Cruz de la Mar Pequeña26, localizada ao
sul de Meça e a norte do Cabo Não.
Com o Tratado de Alcáçovas, em 6 de Março de 1480, Portugal fez algumas
cedências, renunciando aos direitos que afirmava ter sobre as Canárias, embora lhe
fosse reconhecido o direito de continuar com as conquistas da Guiné, a posse das ilhas
descobertas ao sul das Canárias e o direito de conquista do reino de Fez. Todavia,
24 Colección de documentos ineditos para la Historia de España ..., Tomo XXXVI, pp.499-501.
25 António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.29.
26 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, p.405.
Este forte respeitava, portanto, a interpretação de Castela quanto à bula de Nicolau V, mas aumentava o clima de tensão com
Portugal, que se mostrava intransigente quanto às pretensões de Castela na costa africana.
117
mais uma vez, a ambiguidade dos textos dos próprios acordos, particularmente sobre
os limites do reino de Fez, permitiu a continuação dos conflitos entre Portugal e
Castela pelo controlo do território. Será, seguramente, nesse contexto de disputa que
Castela pretendeu alargar a sua presença para norte, para a rica região da Duquela.
Para 1480 temos notícia de que os “espanhóis de Xerez e de Calis (Cádiz),
comandados pelo alcaide Juan Sanchez, atacaram Azamor com uma esquadra de 150
velas”27, mas só tomaram quatro torres e acabaram por ser repelidos. Esta tentativa
de conquistar Azamor parece prender-se, desde logo, com o interesse castelhano
nas riquezas da região, nomeadamente, na pesca, nas carnes e nos cereais28. Acresce
ainda que Azamor encontra-se a apenas 10 Km da baía de Mazagão, um activo porto
de exportação de cereais frequentado por portugueses e castelhanos: “nesta baía de
Mazagão carregam muitas naus destes reinos, e assi de Castela”29.
Ora, se tivermos em consideração as descrições de Duarte Pacheco Pereira,
parece natural que os castelhanos tenham pretendido apropriar-se das riquezas da
região através da conquista de Azamor. Aliás, a tomada da Casa do Cavaleiro (a que
os mouros chamam Uguer) pelos espanhóis de Xerez, no último quartel do séc. XV30,
parece reforçar esta teoria31. Curiosamente, B. Bonett não refere este episódio ao tratar
das movimentações castelhanas em África antes da chegada de Alonso Fernández de
Lugo32. É possível que o silêncio deste autor se deva ao facto de ter sido uma ocupação
infrutífera, já que os mouros abandonaram o local. Seja como for, a breve ocupação
desta localidade, situada a apenas 10 léguas do porto de Mazagão, vem reforçar a
teoria de uma tentativa de estabelecimento castelhano na rica região da Duquela.
Como resposta às acções de Castela, D. João II impôs uma política de
27 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86.
28 Duarte Pacheco Pereira, navegador e cosmógrafo português dos séculos XV e XVI, refere “a maravilhosa pescaria de
sáveis muito grandes e bons (…) e esta vila de Azamor e suas comarcas são muito abastadas de pão, carnes, pescados e outras
coisas”.. Ver Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, pp.62-63.
29 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, p.64.
30 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86.
31 “Nesta Casa do Cavaleiro há muito trigo e cevada, e muitas vezes carregam ali navios dele; e disso mesmo há ali muita
abastança de carne e caça; e no mar, nas cinquenta a sassenta braças, há muita pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”.
Ver Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 18, p.65.
32 Buenaventura Bonet y Reverón, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Revista de Historia, Tomo 5.
Año 10. Número 037, pp.138-140.
118
protectorados sobre algumas zonas do sul e com as quais era mantida uma relação
comercial33. De facto, o primeiro acordo conhecido entre Portugal e Safim já
remontava ao reinado de D. Afonso V, como foi referido na carta que D. João II
enviou a Amadux, o alcaide da cidade em 148834. Do mesmo modo, também D.
João II impôs a soberania portuguesa aos habitantes mouros de Azamor, em 148635
(a mesma cidade que os castelhanos tentaram conquistar anos antes) e D. Manuel I
estabeleceu um tratado de suserania com os habitantes de Meça, em 149736. Nesse
mesmo ano, D. Manuel confirmou os termos do contrato com Azamor, em 1497,
contudo, a fidelidade dos seus habitantes à Coroa portuguesa foi muito irregular
depois de 150237.
A resposta de Castela não tardou. Em 1496, já depois do Tratado de
Tordesilhas, os indígenas de Mar Pequeña e San Bartolomé reconhecem a soberania
de Castela, pelo que a torre de Santa Cruz de la Mar Pequeña - entretanto perdida - foi
reedificada pelo governador das Canárias Alonso Fajardo38. Em 1499 Lopez Sanchez
de Valenzuela conseguiu a submissão de várias tribos e vilas da costa africana frente
às Canárias, nomeadamente Tagaost (capital da zona do Cabo Não), Tamanar, Ifran e
Ifni. No ano seguinte, em 1500, Afonso de Lugo, Adelantado das Canárias, “Capitán
general de la Berbería desde el cabo de Aguer hasta el de Bajador”39, foi enviado
para África tendo por missão a construção de três fortes: um junto ao Cabo Bojador,
outro junto ao Cabo Não e o terceiro perto de Tagaost40.
É certo que o Tratado de Tordesilhas veio a delimitar as áreas de influência de
33 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar,
Dissertação para mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, p.22.
34 Durval Pires de Lima, História da Dominação Portuguêsa em Çafim (1506 – 1542), p.15; David Lopes, “Os Portugueses
em Marrocos…”, in História de Portugal, vol. III, p.463; António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.26.
35 Rui de Pina, Crónica de D. João II, Capítulo XXI, pp.53-54; Garcia de Resende, Cónica de D. João II e Miscelânia,
Capítulo LX, p.56; David Lopes “Os Portugueses em Marrocos”, in História de Portugal, vol. III, p.508.
36 Carta de D. Manuel I aos moradores de Meça, em 11 de Janeiro de 1497, in Les Sources Inédites de l’Histoire du Maroc,
Tomo I, Première Série, doc. IV, pp. 31-35. Sobre a presença portuguesa em Meça veja-se David Lopes, “Os Portugueses em
Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, pp.542-544; Jorge Correia,
Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.321-323.
37 Ver Vergílio Correia, Lugares Dalém – Azemôr, Mazagão, Çafim, pp.32-33.
38 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos,
pp.413-417.
39 Leopoldo de la Rosa Olivera & Elfas Serra Rafols, El Adelantado D. Alonso de Lugo y su residência por Lope de Sosa, IX.
40 B. Bonet, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Nuevas Aportaciones Historicas, p.140.
119
Espanha e Portugal em África. Porém, a zona entre o Cabo de Gué e Meça permaneceu
em litígio, pendente de ser incorporada numa ou noutra coroa. É sabido que, em
1501, Alonso de Lugo pretendeu estabelecer-se em Meça e em Santa Cruz do Cabo
de Gué, como veremos adiante. Porém, durante a investigação para o presente artigo,
deparámo-nos com uma informação não referida pela historiografia portuguesa.
Trata-se do projecto da conquista de Azamor por Alonso de Lugo e Francisco de
Peñalosa, em 1500, a mandado de Isabel de Castela. A referência é avançada por
Fray Bartolomé de Las Casas, na sua obra Historia de las Indias onde escreve sobre
a “armada que se hizo para Azamor donde iba el Alonso de Lugo, siendo el dicho
Francisco de Peñalosa capitán general”41. Ainda que a expedição tenha resultado
na derrota espanhola e morte do próprio capitão, acaba por se revelar de grande
interesse na medida em que vem demonstrar que Isabel a Católica pretendia estender
o domínio de Castela para norte, através da conquista de uma cidade então tributária
de Portugal – o que constituiria uma clara violação do Tratado de Tordesilhas.
Ainda em 1500/1501 Alonso de Lugo tentou estabelecer-se em Meça, uma
vila de mouros muito grande, mercado de ouro, cera, couro, etc. e situada a uma légua
do mar42. Portugal protestou junto de Castela, pelo que foi ordenado ao governador
castelhano que respeitasse os interesses portugueses anteriores na região, uma
vez que, como anteriormente referimos, os moradores de Meça eram vassalos de
Portugal deste 1497. Porém, Alonso não se deu por vencido. Dirigindo-se mais para
norte, ocupou a povoação que actualmente se chama Agadir, ajudado pelos Cacimas,
a tribo berbere instalada no lugar43. Com efeito, já em 1480 tinham os castelhanos
atacado Agadir, de modo a punir os indígenas que tinham participado num ataque
a Santa Cruz de la Mar Pequeña. Tentaram repetir a proeza em 1483, resultando
esta última iniciativa castelhana num desastre militar44. A ocupação foi, no entanto,
muito breve. Os habitantes de Meça, incitados pelos portugueses, lançaram-se sobre
a povoação e derrotaram os espanhóis e os seus aliados Cacimas, “matando-lhes
41 Fray Bartolomé de Las Casas, Historia de las Indias, Tomo I, cap. LXXXII, p.352.
42 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.122.
43 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião
Peres), Vol. III, pp.453-454.
44 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos,
pp.411-412.
120
muita gente e outra cativaram”45.
Em 1505, após esta tentativa espanhola de ocupar o território, João Lopes
Sequeira construiu no local um castelo a que chamou Santa Cruz do Cabo de Gué46,
em resposta às pretensões castelhanas, assim como a fortaleza satélite de Bem
Mirao47. A ocupação do espaço pelos portugueses acabou por dissuadir os interesses
dos espanhóis na região, confinando-os à já referida Santa Cruz de la Mar Pequeña,
onde acabariam por resistir até 1524 ou 1527. Outro pormenor, porém, despertou
a nossa atenção. Entre os homens recrutados para a construção da torre de Santa
Cruz de la Mar Pequeña encontrava-se Bartolomé Ayamonte, o majador da obra
que acabou por ficar na torre após o término da empreitada e regresso da restante
expedição. Aliás, de acordo com o que conseguimos apurar, este alegado ayamontino
permaneceu na torre durante 16 meses (3 meses dedicados à construção e 12 meses
como integrante da guarnição)48.
A ARMADA DO MARQUÊS DE AYAMONTE NOS ALGARVES DALÉMMAR, NO SUL DE MARROCOS
Não se pense, contudo, que a perda de Santa Cruz de la Mar Pequeña
representou o desinteresse espanhol pelo sul marroquino. Como veremos, D.
Francisco de Sotomayor, que se tornou marquês de Ayamonte pelo casamento com
Teresa de Zuñiga y Manrique de Castro49, tentou reinstalar a influência espanhola na
45 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião
Peres), vol. III, p.543. Do mesmo autor ver também: A Expansão em Marrocos, p.28; Joaquim Figanier, História de Santa Cruz
do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), p.29.
46 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), 1945; Robert Ricard, “L’occupation
portugaise d’Agadir (1505-1541)”, in Hespéris, Tomo XXXIII, pp.93-102; Pedro Dias, História da Arte Portuguesa no Mundo
– O Espaço Atlântico (séculos XV – XIX), pp.50-51; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da
tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.324-328.
47 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), p.32; Jorge Correia, Implantação da
Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.328-334.
48 Note-se que tal como Bartolomé Ayamonte, também encontrámos dois portugueses que permaneceram os mesmos 16
meses em Santa Cruz de la Mar Pequeña. Eram eles o ferreiro Pedro português e o soldado Manuel português (o apelido
verdadeiro era Sousa). Ver Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de
Estúdios Atlanticos, pp.437, 446, 454, 475.
49 CF. Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., p.480, nota 1. A este respeito ver também Antonio
Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la
muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.19; Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y
ciudades – Ayamonte, pp.45-46.
121
região do Sus, especificamente no Cabo de Gué, ou seja, num território anteriormente
cobiçado por D. Juan II e pelos Reis Católicos. Passamos agora a explicar porquê.
Durante o processo de investigação para a publicação Os 500 anos da
Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, deparámo-nos com um documento que, desde logo, chamou a nossa
atenção. Trata-se de uma carta do capitão de Azamor António Leite ao rei D. João
III, em 10 de Setembro de 1529, e em que revela as movimentações de uma armada
do marquês de Ayamonte no porto de Mazagão e quais as suas intenções. No referido
documento, António Leite refere que duas caravelas e um galeão do marquês de
Ayamonte tentaram tomar um navio de Ruão ancorado no porto de Mazagão e que aí
costumava comerciar todos os anos. De acordo com o capitão de Azamor, os navios
do marquês levavam um presente para um dos xerifes, com a intenção de estabelecer
um acordo comercial no sul de Marrocos, fragilizando os interesses portugueses.
Dadas as circunstâncias, Leite aconselhava o monarca português a controlar a
navegação comercial nos portos marroquinos, forçando a passagem do trato entre
europeus e muçulmanos pelas alfândegas portuguesas, o que permitiria significativos
lucros para a Fazenda Real50. Aqui transcrevemos o excerto do documento relativo às
movimentações do marquês de Ayamonte:
“C Aquy veo ter huua armada do marques de Aiamonte, huum
galeam e duas caravelas, e pousou no porto de Mazagam; e quiseram
tomar húua naoo que estava ameorada dentro no porto, a qual
era de mercadores de Ruam, que aquy vem cada anno tratar
comnosquo ; e eu nam lh’o cornsemty, porque estava segura no
porto de V. A. E soube que aquella armada leva huum presente
ao Xarife, sobre comçerto que o Marques com elle quer fazer, pêra
os de sua terra hirem pesquar seguros ao Cabo de Gué, e pêra
tratarem com elle na costa. Dou este aviso a V. A. pêra oulhar
nisso o que cumpre a seu serviço, e também por me parecer grande
baxeza tal pesoa como o marques de Aiamomte mandar presente
sobre tal caso a huum Mouro de tam pouqua verdade. E isto
50 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, pp.65-66, nota171.
122
lhe ajudara a criar mais soberba, porque ja cre que os Christãos
lhe sam tributários”51.
Por outras palavras, o marquês de Ayamonte tentava captar a simpatia do
xerife do Sus com o objectivo de estabelecer um acordo comercial com os adversários
directos dos portugueses na região. Acordo comercial que, a ser bem-sucedido, até
poderia resultar na constituição de uma feitoria espanhola danosa para os interesses
estratégicos dos portugueses, uma vez que os xerifes do sul tinham sob sua tutela
territórios por onde passavam as caravanas do tráfico mercantil que percorriam o
deserto.
É claro que Ayamonte era uma povoação com uma inegável vocação marítima
e piscatória, porém, a intenção dos ayamontinos em irem pescar para o Cabo de Gué
e de negociarem com os mouros naquela costa não parece de todo inocente. Como
anteriormente vimos, desde o século XV que os castelhanos frequentavam algumas
povoações do Cabo de Gué com pretensões comerciais52, nomeadamente Tamaraque
onde, de acordo com Duarte Pacheco Pereira, podiam ancorar navios e onde havia
“grande pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”53. De resto, Joaquim Figanier
afirma mesmo a existência de comerciantes castelhanos a residir e a tratar em terras
como a já referida Tamaraque, Meça e Taracuco54.
Posteriormente, na transição do séc. XV para o séc. XVI, o governador de
Tenerife, Alonso de Lugo, tentou estabelecer-se no Cabo de Gué, uma baía que,
como António Dias Farinha bem observou, servia de porto à rica região do Sus.
Seria intenção do marquês de Ayamonte instalar uma feitoria no continente
africano? Estaria ele interessado no tráfego mercantil de escravos e produtos africanos
que atravessava o deserto? Antes de respondermos a essa questão vejamos de que
território de trata. Duarte Pacheco Pereira, navegador e cosmógrafo do séc. XVI,
descreve deste modo a região:
51 Carta de António Leite a D. João III, em 10 de Setembro de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de
l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº64. Ver também Pedro
Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol.
XI, p.265.
52 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.121.
53 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 19, p.71.
54 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21.
123
“Santa Cruz, o qual tem a dita angra em que pode pousar qualquer nau
grande, em fundo limpo e boa ancoração (…) esta terra é muito fértil de pão, carnes,
pescados, mel, cera courama e outras muitas mercadorias em que se faz muito
proveito; e asi há qui ouro, que os Alarves trazem da Guiné por terra”55.
O cosmógrafo oculta o comércio de escravos, no entanto, sabemos que na
vizinha Meça, onde os castelhanos também tentaram construir feitoria, chegavam
escravos provenientes do Sudão e da Mauritânia56.
Apresentada a descrição do cosmógrafo português, torna-se evidente qual o
objectivo de Alonso de Lugo: estabelecer-se numa costa africana rica em produtos
e que tivesse capacidade de ancorar barcos de grande porte. Como atrás referimos,
a ocupação castelhana foi, no entanto, muito breve, na medida em que os habitantes
de Meça, enquanto vassalos do rei de Portugal, atacaram a povoação e derrotaram os
espanhóis57. Em 1505, com a ocupação do espaço pelos portugueses e a construção do
castelo de Santa Cruz do Cabo de Gué, a presença militar espanhola ficou confinada
à já referida Santa Cruz de la Mar Pequeña, onde acabariam por resistir até aos anos
vinte do séc. XVI.
Posto isto, voltamos a colocar as mesmas questões. Seria intenção do marquês
de Ayamonte instalar uma feitoria no continente africano? Estaria ele interessado
no tráfego mercantil de escravos e produtos africanos que atravessava o deserto?
Vejamos: de acordo com o historiador marroquino Adnan Mechbal, Santa Cruz de
la Mar Pequeña funcionava como uma fortaleza costeira que tinha como objectivo
apoiar as forças conquistadoras nas cavalgadas destinadas à “busca de alimentos y
de esclavos para su comercio”58. O historiador espanhol Rumeu de Armas, ainda que
não concorde com a ideia de se tratar de uma fortaleza destinada a lançar operações
militares, refere a existência de documentos que atestam a compra de escravos na
55 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 20, pp.71-72.
56 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21.
57 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião
Peres), vol. III, p.543. Do mesmo autor ver também: A Expansão em Marrocos, p.28.
58 Cf. Javier Gil Pérez & Óscar Garrido Guijarro, “Santa Cruz de Mar Pequeña - Ifni en las relaciones hispanomarroquíes”, in
Anuario de Estudios Atlánticos, Las Palmas de Gran Canaria. España (2015), p.2.
124
dita fortaleza59. Ora, com a perda de Santa Cruz de la Mar Pequeña - a única feitoria
espanhola em África - os espanhóis viram-se privados deste tráfego de escravos e,
como é sabido, os escravos que davam entrada em cidades como Ayamonte, nos
primeiros anos da Idade Moderna, eram vendidos pelos mercadores portugueses
que os traziam de Angola, Moçambique, São Tomé e Cabo Verde60. Aliás, de acordo
com Manuel Fernández Chaves e Rafael Pérez García, uma das vias do tráfego de
escravos de Portugal para Sevilha era proveniente das costas do Algarve, dando
entrada em território espanhol através de Ayamonte. Os que não eram vendidos nesta
cidade eram depois reencaminhados para um circuito que poderia passar por cidades
como Huelva, Gibraleón, Moguer e Niebla e Sevilha61.
Como é do conhecimento comum, os mercadores portugueses, enquanto
intermediários neste negócio, arrecadavam considerável lucro, inflacionando
substancialmente o preço dos escravos quando vendidos em cidades como
Ayamonte. Dadas as circunstâncias, seria intenção de D. Francisco de Sotomayor
reactivar o rentável tráfego de escravos directamente com os xerifes do Sus sem que
o comércio tivesse de passar pelos intermediários portugueses? Ou estaria o marquês
interessado no comércio de outro tipo de produtos? Com efeito, já em 1494 um
grupo de comerciantes ayamontinos tinha carregado uma caravela com panos, lenços
e outras mercadorias, para serem comercializados nos portos de África. Estando a
dita caravela em Azamor, então tributária de Portugal, foi roubada com todo o seu
carregamento por um grupo de homens com uma caravela bem artilhada, oriunda de
Cádis62. Quer isto dizer que os contactos dos ayamontinos com o sul de Marrocos
era uma realidade que, pelo menos, remontava aos anos em que os Reis Católicos se
empenharam em estender “el influjo y la acción política de España por las inmensas
tierras del Africa Occidental”63.
59 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, pp.408
e 466.
60 Antonio Manuel González Díaz, “La outra cara del Ayamonte Moderno: la población esclava. Procedimientos de integración
y exclusión social”, in XIX Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, pp.36-37.
61 Manuel F. Fernández Chaves & Rafael Pérez García, “Las redes de la trata negrera: mercaderes portugueses y tráfico de
esclavos en Sevilla (1560-1580)”, in La Esclavitud Negroafricana en la Historia de España. Siglos XVI y XVII, pp.14-15.
62 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante
las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153.
63 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, p.17.
125
A verdade é que não sabemos exactamente quais seriam as intenções de D.
Francisco de Sotomayor no sul de Marrocos. Seja como for, o plano que visava
estabelecer um acordo comercial com o xeque do Sus acabou por não ser bemsucedido. Era normal. Marraquexe tinha sido ocupada pelo xerife Ahmed al-Araji
em 1520 e em 1527, já dominava o Sus, faltando-lhe apenas controlar Tadla. Quer
isto dizer que aquando da visita da armada do marquês de Ayamonte, em 1529, já os
xerifes da província do Sus se encontravam amplamente organizados como grupo
político e religioso dedicado a expulsar os cristãos da costa africana e a unificar o
território marroquino. Se estes faziam guerra aos infiéis portugueses que ocupavam
o território, como iam celebrar um acordo comercial com os infiéis espanhóis? Aliás,
foi tal o ímpeto guerreiro dos xerifes do Sus que o próprio Reino de Fez se viu na
necessidade de assinar um Tratado de Paz com Portugal, poucos anos depois, em 8
de Maio de 153864
MOVIMENTAÇÕES DO MARQUÊS DE AYAMONTE NOS ALGARVES
DAQUÉM, NO SUL DE PORTUGAL
Contudo, a acção do marquês de Ayamonte não ficou por este intento.
Reparámos que em Dezembro de 1529, apenas dois meses depois da carta de
António Leite a D. João III, outra missiva voltava a fazer referência a problemas com
o supracitado marquês. Trata-se do Traslado do que se deu a Cristóvão de Mendonça
que enviou a sua Alteza o marquês de Ayamonte sobre o caso do Bregantim. Neste
documento o comendador de Arenilha parece responsabilizar o marquês por danos
causados nas barcas dos habitantes da vila, nomeadamente no referido bergantim,
chegando mesmo a mandar “pagar as barcas e (…) as perdas que receberam os
donos delas e asy o dano que se fez na Arenilha” e mandar o marquês prender os
responsáveis que se encontrem nas suas terras65. Como se pode perceber, o tom da
missiva não resulta propriamente abonatório para o nobre espanhol.
64 João Cosme, “Tratado de Paz entre Portugal e o Reino de Fez”, in Arquipélago * História, XIV-XV, pp.11-29.
65 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45.
126
Fig.1 - Traslado do que se deu a Cristóvão de Mendonça que enviou a sua Alteza o marquês de
Ayamonte sobre o caso do Bergantim. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45.
Em 24 de Maio de 1530 – ano em que Ayamonte contava já com uma população
entre os 4040 e os 5057 habitantes66 - D. Francisco de Sotomayor escreveu a D. João
III. No documento, que tem por título Carta do marquês de Aiamonte agradecendo
ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador Cristóvão de Mendonça, o marquês
66 Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.39.
127
esquiva-se das acusações de que era alvo, referindo a pena que tinha em não poder
demonstrar a sua vontade em servir o rei português.
Fig.2 - Carta do marquês de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador
Cristóvão de Mendonça. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9.
O nobre espanhol, através de um exercício diplomático tão bajulador quão
demagógico, argumentava que os verdadeiros responsáveis, conhecedores de que o
marquês era um verdadeiro servidor de D. João III, não ousaram passar pelas suas
terras, tendo-se dirigido para San Lucar e para Cartaya67. A carta revela ainda um
67 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9.
128
pormenor extremamente interessante: D. Francisco de Sotomayor justifica a sua
indisponibilidade em explicar-se pessoalmente perante o rei português alegando
“tenerme la emperatriz mi señora ocupado en la guardia desta costa”. Como
sabemos, a regente do sacro Império Romano-Germânico, entre 1528 e 1533, foi
a imperatriz Isabel de Portugal, “a mulher mais bonita de seu tempo”68, esposa do
imperador Carlos V, filha do rei D. Manuel I e irmã de D. João III. Portanto, podemos
depreender que o marquês de Ayamonte procurou legitimar as culpas que lhe eram
imputadas com as responsabilidades que lhe tinham sido atribuídas pela própria
irmã do rei português. Por outro lado, também podemos depreender porque motivo
o marquês de Ayamonte, alegadamente incumbido da guarda da costa, se aventurava
nos mares dos Algarves Daquém e Dalém-mar, tentando fragilizar os interesses
portugueses.
Seja como for, o descontentamento do monarca português para com o nobre
espanhol não ficou por aqui. De acordo com uma carta de D. João III a Henrique de
Meneses, embaixador em Roma, e a Álvaro Mendes de Vasconcelos, embaixador
em Madrid, vemos que o rei de Portugal não deu o assunto por encerrado. Ainda
que nos tenha sido impossível analisar esta missiva, o descritivo deste documento
acondicionado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo refere “os danos cometidos
pelo marquês de Aiamonte nos mares do Algarve” em data não discriminada69. Porém,
sabendo nós que Álvaro Mendes de Vasconcelos era o embaixador de Portugal
em Madrid nesse mesmo ano de 1530, torna-se fácil depreender de que estamos
exactamente perante o mesmo assunto. Mais: que o rei português, não satisfeito com
a resposta do marquês de Ayamonte, encaminhou as queixas directamente para o
embaixador português na corte espanhola.
68 Marsilio Cassotti, Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, p.233.
69 A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17).
129
Fig.3 Página da Internet relativa ao descritivo da Correspondência de D. João III
a Henrique de Meneses, embaixador em Roma e a Álvaro Mendes de Vasconcelos,
embaixador em Madrid. A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17).
Aliás, a tensão provocada por este episódio deve ter sido de tal ordem que o
Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas
potências do mundo regista a Carta do Senhor Rei D. João III dada em Lisboa,
dirigida á Camara da villa de Mertola, para lhe enviar a inquirição, que se tirou
em 1530, por falsamente se testemunhar em Castella por parte de Ayamonte contra
Castro Marim70.
De resto, não deixa de ser curiosa a intransigência do marquês de Ayamonte
para com os vizinhos portugueses, especialmente quando a Armada do Estreito criada em 1520 para assegurar a segurança da navegação entre o Algarve e o norte
70 Visconde de Santarém, Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do
mundo…, Tomo I, p.18.
130
de África71 – também acabava por proteger Ayamonte dos danos causados pela
pirataria magrebina. De facto, são vários os testemunhos que nos dão conta dos
frequentes ataques da pirataria moura às constas da Andaluzia. Bernardo Rodrigues,
por exemplo, refere para o ano de 1513 o “muito dano que alguas fustas de Tetuão
fazião na costa de Castela especialmente de Malega até Cális e de Cális até o
Algarve, el-rei nosso senhor o mandava destroir e derrubar”72. Foi neste contexto
que o rei D. Fernando de Castela chegou a preparar uma armada para destruir Tetuão,
o que não veio a acontecer por este ninho de piratas se encontrar em zona de direito
de conquista portuguesa. Mais tarde, em 1520, Carlos V voltou a insistir junto do
monarca português para construir uma torre na foz do rio de Tetuão, de modo a
neutralizar os barcos inimigos que tantos danos causavam nas costas da Andaluzia,
mas o rei português nada fez. Seria a intransigência do marquês de Ayamonte eventualmente instigado pelo seu soberano - resultado da passividade de D. Manuel
relativamente a este assunto?
Em 1523 encontrava-se esta armada na foz do Guadiana, onde tinha ordens
de embarcar o Conde do Redondo D. João Coutinho73 na vila de Arenilha, de modo
a levá-lo para Arzila74. Seria a presença da Armada do Estreito na foz do Guadiana
interpretada como provocação face ao então marquês de Ayamonte Francisco de
Zúñiga y Gusmán? É possível. O certo é que a Armada do Estreito não deixou de
proteger Ayamonte. Exemplo disso foi o que se passou em 1531, quando D. Gonçalo
Coutinho, capitão da Armada do Estreito, encontrou uma fusta de Larache próximo
da barra de Ayamonte e de Lepe, a que deu combate com prejuízo para os portugueses.
71 Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos
XV – XIX), pp.117-137.
72 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo I, Capitulo XXVII, p.90. ver também Rui Landeiro Godinho, “A Armada do
Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), p.122.
73 Sobre a linhagem dos Coutinhos veja-se Luís Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos: Linhagem, Espaço e Poder (13601452), Cascais, Patrimonia, 1999; “Outro Venturoso de finais do século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e de
Loulé”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e
Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp.45-56; Vítor Luís Gaspar Rodrigues, “As Linhagens Secundárias dos Coutinhos e
a Construção do Império Manuelino”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional,
João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp. 177-189; António Maria Falcão Pestana de Vaconcelos,
Nobreza e Ordens Militares. Relações Sociais e de Poder (séculos XIV a XVI), Dissertação de Doutoramento em História
Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2008, pp.337-348.
74 José Virgílio Amaro Pissara, “Vasco Fernandes César, capitão da Armada do Estreito”, in A Guerra Naval do Norte de
África séculos XV – XIX), p.144; Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém
e Dalém-mar, p.100.
131
Aliás, é o próprio Bernardo Rodrigues que, no mesmo capítulo em que descreve
estes acontecimentos, refere um ataque dos piratas de Larache “ao Algarve, onde
fizérão muito dano em navios que tomárão e, dentro da Barra de Aiamonte, fizérão
despejar a Arrinilha e a Montegordo”75.
ANTÓNIO LEITE – UM CAPITÃO DA EXPANSÃO PORTUGUESA PARA
VIGIAR O MARQUÊS DE AYAMONTE?
Torna-se fácil perceber que a acção do marquês de Ayamonte nos mares
dos Algarves Daquém e Dalém-mar não era do interesse dos portugueses. A
epistolografia confirma-o. Nesse sentido, tornava-se necessário seguir de perto as
suas movimentações, colocando no terreno alguém que tivesse conhecimento do seu
modus operandi. Com efeito, o monarca português não tardou a encontrar a pessoal
ideal para o cargo: António Leite, um cavaleiro português da era de quinhentos
que, através da carreira das armas e dos serviços prestados à Coroa em Azamor e
Mazagão, viu os seus esforços serem coroados com honras e títulos76.
Como anteriormente vimos, António Leite foi o capitão de Azamor que
em 10 de Setembro de 1529 avisou D. João III quanto às movimentações de uma
armada do marquês de Ayamonte no porto de Mazagão e quanto à intenção deste
em estabelecer um acordo comercial com o xerife do sul de Marrocos. Sabemos que
depois de ter estado como capitão em Mazagão, voltou a ser nomeado capitão de
Azamor em 17 de Setembro de 153777, ocupando o cargo até Março de 1541. Porém,
ao terminar a sua capitania em Azamor e tendo-lhe sido ordenado que aí ficasse a
servir, António Leite queixou-se ao rei de não ter sido nomeado para a capitania
de Mazagão, cargo que “lhe pertencia por carta, que dela tinha del-rei D. Manuel,
75 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo XXXV, p.209.
76 Sobre António Leite veja-se Rui Jorge Ferreira Henriques, “Quão grande trabalho é viver!” António Leite – circuitos da
nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos
apresentada à Universidade Nova de Lisboa, 2012; Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de
uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.58-72. Do mesmo autor ver também “V Centenário da fundação
de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.8183.
77 Cf. Instrumento público de entrega da capitania de Azamor a António Leite. Documento publicado por Maria Augusta
Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português,
pp.161- 164.
132
seu pai”78. É neste contexto que em 20 Agosto de 1542, António Leite recebeu a
mercê da alcaidaria de Santo António de Arenilha, junto à foz do Guadiana e a pouca
distância de Ayamonte, onde se esclarecia que esse benefício era feito em troca da
dita capitania de Mazagão79.
Deste episódio fica claro que, aos olhos da Coroa, António Leite não tinha
estatuto social, nem as competências necessárias para estar à frente da nova fortaleza
de Mazagão, o grande baluarte português cujas obras tinham custado à Coroa 300
mil cruzados80 e onde foram concentradas as forças portuguesas da região da Duquela
após do despejo de Azamor e Safim81. Porém, a experiência de António Leite no
combate contra os mouros e os seus conhecimentos quanto às movimentações do
marquês de Ayamonte em Marrocos acabaram, certamente, por serem relevantes no
momento em que D. João III decidiu entregar ao antigo capitão o senhorio de uma
vila voltada para Ayamonte82 - a mesma vila, refira-se, que o comendador de Arenilha
Cristóvão de Mendonça afirmou ter sofrido danos, responsabilizando o marquês de
Ayamonte pelo sucedido83. Uma outra razão leva-nos a sublinhar esta teoria. Durante
a sua capitania em Azamor, António Leite privou de perto com ayamontinos e temos
razões para acreditar na sua desconfiança em relação aos espanhóis, em geral. E
porquê? Passaremos de seguida a explicar.
78 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189.
79 A.N.T.T., Chancelaria da Ordem de Cristo, lv.13, fls. 375 v. – 379 v. Documento publicado por Hugo Cavaco in Revisitando
Santo António de Arenilha, doc. V, pp.36-37.
80 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.212; David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos…”, in História de
Portugal, vol. IV, pp.100-101.
81 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar,
Dissertação de Mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, pp.65-66.
82 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, pp.57-72. Do mesmo autor ver também “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”,
in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.81-83.
83 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45.
133
AYAMONTINOS NAS PRAÇAS DE PORTUGAL EM MARROCOS
Durante o reinado de D. João III, Portugal já não dispunha de recursos
humanos para tão vasto império. Eram os “fidalguos e gemte do Allgarve” que
frequentemente acudiam as praças de guerra em Marrocos84. Porém, o Algarve
Daquém já não conseguia assegurar sozinho a defesa e abastecimento das praças
norte africanas, pelo que tinha de operar em conjugação com a feitoria portuguesa
na Andaluzia85.
Foi nesse sentido que se tornou relativamente frequente a contratação de
soldados ayamontinos, algo muito natural se tivermos em consideração a proximidade
de Ayamonte a Portugal e o forte crescimento demográfico que esta cidade começou
a evidenciar a partir dos primeiros anos da Idade Moderna. Foi o caso de um atalaia
que tinha residência Ayamonte e que em 1530 servia na guarnição de Arzila. Bernardo
Rodrigues, apesar de não identificar o nome do individuo que “se fez cavaleiro e
atalaia”, refere que este foi aprisionado e levado para Chefchauen86. Outro desses
casos foi o de Manuel Fernandes, um cristão-velho natural de Ayamonte, que era
atalaia na cidade de Tânger aquando da sua prisão, em 164587.
84 Usando as palavras de Romero de Magalhães, o “Algarve era essencial para a defesa das praças ocupadas em Marrocos”.
Ver Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, p.82.
85 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da
História, Vol. I, pp.135-159; Tomás Garcia Figueras, Hipólito Sancho, Dos Expedientes de abastecimiento de Mazagán,
Tánger y Ceuta, por factores portugueses del Puerto de Santa Maria, (1563-1567), Tânger, Instituto General Franco para la
Investigación Hispano-Árabe, 1939; Francisco Bejarano Robles, Documentos para el estúdio del abastecimento y auxilio de
las plazas portuguesas en Marruecos desde el sur de España – Aportación del concejo y la ciudad de Málaga esta empresa
a instancia de los factores portugueses, durante el siglo XVI (1513-1574), Tanger, Instituto General Franco, 1941; Hipólito
Sancho, La colonia Portuguesa del Puerto de Santa Maria. Siglo XVI, Jerez de la Frontera, s/d.; Hipólito Sancho, “Un foco
de cooperación Española a la Obra Portuguesa en África: Jerez de la Frontera y el Puerto de Santa Maria, 1500-1550”,
Mauritania, XXI, Tânger, 1943, pp.189-190-19; Robert Ricard, “Les Facteurs Portugais d’Andalousie (1509-1588)”, in Les
Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Tomo II, seconde partie, Paris, Paul Geuthner, 1946, pp.564-573 e “Sur les facteurs
portugais d’Andalousie” in Mélages d’études luso-marocains dédiés à la mémoire de David Lopes et Pierre Cénival, Lisboa,
Portugália, 1945, pp.391-400; Antonio Carmona Portillo, “Un contencioso entre Málaga y el Reino de Portugal en el contexto
del abastecimiento de las plazas portuguesas del Norte de África desde el puerto de Málaga”, in Isla de Arriarán, XX, 2002,
pp.23-40.
86 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo VII, p.153.
87 A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10330. Ver também Fernando Pessanha, “Ayamonte nos
processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal)”, in XX Jornadas de Historia de la muy noble y
leal ciudad de Ayamonte, p.26.
134
Se isto acontecia
nas praças do norte de
Marrocos,
o
mesmo
acontecia nas praças do
sul, que sentiram de perto
a pressão dos xerifes,
principalmente depois da
queda de Santa Cruz do
Cabo de Gué, em 1541.
Isso mesmo presenciou
António Leite quando se
encontrava em Azamor,
nesse mesmo ano.
Fig.4 - Frontispício do processo de Manuel Fernandes.
A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc.
10330.
A carta do doutor Rodrigo Machado a D. João III, em 28 de Marco de 1541,
revela a presença de António de Gonçalves em Ayamonte de modo a recrutar homens
que integrassem as guarnições militares, uma vez que era esperado um cerco do xerife
a qualquer momento: E foi assim que “domingo xx de março partio húa caravela
d’Antonio Gonçallvez da Camará, ho da Ilha, que orra esta em Ayamonte, e que
elle avia de partir a terça feira xxij dias”88. O certo é que no mês seguinte, em 13 de
Abril de 1541, é o próprio D. João III a referir o envio de 550 homens do Algarve e
Ayamonte para Azamor e Mazagão: “eu tenho por certo que do Algarve e Aiamonte
são partidos para socorro d’Azamor e Mazaguão b l homens”89.
O problema é que o recrutamento de soldados e mercenários na Andaluzia
ficava dispendioso e nem sempre os reforços castelhanos prestavam o auxílio que
se era de esperar. Exemplo disso foi o que se passou nesse mesmo ano, quando D.
Fernando de Noronha substituiu António Leite na capitania de Azamor. Diz-nos Frei
Luís de Sousa que:
88 Carta do doutor Rodrigo Machado a D. João III, em 28 de Marco de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites
de l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. XCIV; pp.338-339.
89 Carta de D. João III a Fernão Peres de Andrade, em 13 de Abril de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites de
l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. CVII, pp.386-389.
135
“tomando o governo, achou-se D. Fernando com guerra dos muros a dentro,
não lha fazendo os inimigos de fora. Eram a mor força de gente que havia na cidade,
castelhanos andaluzes (…) gente que corre a receber soldos nestes lugares grandes
(…) homens broncos e lerdos pera a boa disciplina, e mui fáceis e prontos para todo
o insulto”90.
Eram estes os soldados andaluzes que, desobedientes e insubmissos ao capitão
português, chegavam a soltar os presos encarcerados no castelo por culpas graves.
Interessava-lhes essencialmente o soldo que se apressavam a exigir, ameaçando
saquear a cidade, o que levou o capitão a usar da violência91. Para tal, pediu o
capitão reforços a Mazagão e ludibriou os cabecilhas dos motins com pagamento
dos tão exigidos soldos. Reunidos na sala dos pagamentos, foram desarmados pelos
soldados portugueses e, “quando amanheceu o dia seguinte, apareceram enforcados
e pendurados nas ameias todos os mais culpados”92.
Com efeito, a crónica de Frei Luís de Sousa não discrimina a naturalidade
destes soldados andaluzes. Porém, os documentos que anteriormente referimos dãonos conta da contratação de soldados ayamontinos de modo a integrarem a guarnição
de Azamor nesse mesmo ano de 1541, o que torna altamente provável que entre os
envolvidos nos distúrbios estivessem homens naturais de Ayamonte.
Ora, é muito provável que esta experiência tivesse sido determinante no que se
refere à desconfiança de António Leite para com os espanhóis. Leite não só tinha tido
contacto com as movimentações do marquês de Ayamonte, como também conhecia
o modus operandi andaluz nos Algarves luso-hispano-marroquinos. De maneira que
a escolha de um indivíduo como o antigo capitão de Azamor e Mazagão para marcar
posição numa vila frente a Espanha e proteger a margem portuguesa do
Guadiana não terá sido, seguramente, inocente93. Aliás, a desconfiança do
90 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189.
91 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar,
Dissertação de Mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, p.55.
92 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.191. Sobre a violência nas crónicas relativas à Expansão no Norte de
África veja-se Paulo Vicente, A violência na cronística sobre Marrocos nos séculos XV e XVI, Lagos, Câmara Municipal de
Lagos, 2009. Do mesmo autor ver também “Falar de Violência em Marrocos nos Séculos XV-XVI. A Perspectiva dos Cronistas
Portugueses”, in Portugal e o Magrebe. Actas do 4º Colóquio de História Luso-Marroquina, pp.347-352.
93 Fernando Pessanha, Os 500 anos da fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, p.67.
136
alcaide de Arenilha para com os vizinhos do outro lado da fronteira está bem patente
na carta que escreve a D. João III e onde receia o despovoamento da vila, o “que
não pesara nada aos castilhanos e aos de sua openyão”94. De resto, esta frase é bem
representativa das dúvidas que os castelhanos despertavam no espírito de Leite, e na
consequente necessidade de vigiá-los de perto.
AYAMONTE – PORTO DE TRANSPORTE DE HOMENS E MERCADORIAS
PARA AS PRAÇAS PORTUGUESAS DO NORTE DE ÁFRICA
Pelo que pudemos comprovar, a relação de Ayamonte com as praças
portuguesas do norte de África não se limitou à contratação de soldados. De facto,
há também referências a contactos directos entre Ayamonte e estas praças de guerra,
atestadas por fretamentos de barcos com vista ao transporte de homens e mercadorias.
De acordo com Antonio Manuel González Días, o documento mais antigo que
atesta a ligação directa entre Ayamonte e as possessões portuguesas em Marrocos é
relativo a uma transacção de 1596, em que o gaditano Antonio Méndez, dono do barco
San Juan de Guía, acordou com Luís del Puerto, de Tânger, o fretamento do seu barco
para levar para a cidade norte africana 12 fardos de roupa da Índia. De resto, o barco,
que então se encontrava em Ayamonte, devia recolher a carga num moinho de maré
de Castro Marim95.
Porém, durante a investigação para o presente trabalho deparámo-nos com
referências que nos permitem concluir que esta relação directa entre o porto de
Ayamonte e estas praças de guerra é bastante anterior. Com efeito, a alusão mais antiga
que encontrámos data de 1494 e é relativa a um grupo de comerciantes ayamontinos
e leperos que carregaram uma caravela com panos, lenços e outras mercadorias para
comercializar com portos de África, e que então se encontrava no porto de Azamor96.
94 Carta de António Leite a D. João III, em 16 de Novembro de ??? Documento parcialmente publicado por Hugo Cavaco in
Revisitando Santo António de Arenilha, pp.16-17 e por Márcia Grilo, “Na Margem Direita do Guadiana Face a Espanha”, in
Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, p.44.
95 Antonio Manuel González Días, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal
ciudad de Ayamonte, p.47.
96 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante
las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153.
137
Outro caso interessante é o de Pite João, um bombardeiro de Arzila que, tendo
vindo a Portugal em 1529, fretou em Ayamonte um barco castelhano e o carregou
com peças de artilharia, telha e madeira97. Note-se que isto ocorreu no mesmo ano
em que o marquês de Ayamonte enviou uma armada a Mazagão constituída por um
“galeam e duas caravelas”98, o que poderá indicar que Ayamonte, em finais da década
de 20 do séc. XVI, já começava a evidenciar uma ascendente pujança naval.
De resto, temos ainda outras notícias relativas a contactos directos entre
Ayamonte e as praças portuguesas do Norte de África, já durante o período da União
Ibérica. Exemplo disso é o contrato realizado entre Cristóbal Gómez, do Porto de
Santa Maria e dono do barco conhecido com La Victoria, e Manuel Teixeira, de
Tânger, para levar para esta cidade do estreito 16 fardos de roupa que deveriam ser
recolhidos no porto fluvial de Mértola. Do mesmo modo, também o ayamontino
Francisco Días fretou o seu barco a Simón de Corona, de Ceuta. O navio, que se
chamava San Andrés, devia recolher as mercadorias em Tavira e transportá-las para
aquela cidade do estreito99.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de concluirmos o presente artigo cabe-nos tecer algumas considerações
finais quanto a algumas questões anteriormente colocadas. Para tal, torna-se
indispensável analisar a realidade política, económica e social vivida em Ayamonte
na transição da década de 20 para a década de 30 do séc. XVI.
A verdade é que nos anos em que ocorreram acontecimentos como as
movimentações da armada do marquês de Ayamonte no sul de Marrocos, a tentativa
de estabelecer um acordo comercial com os xerifes do Sus ou as tensões verificadas
entre o rei de Portugal e o marquesado de Ayamonte, correspondem a anos em que
97 Este barco acabou por encontrar um bergantim de mouros, antes de chegar a Arzila. O combate foi favorável aos portugueses,
apesar da desproporção numérica. Ver Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo LV, pp.137-138.
98 Carta de António Leite a D. João III, em 10 de Setembro de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de
l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº64. Ver também Pedro
Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol.
XI, p.265.
99 Antonio Manuel González Días, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal
ciudad de Ayamonte, p.47.
138
esta cidade portuária crescia muito em virtude do desenvolvimento económico
baseado nas actividades comerciais, nas pescarias e na participação ayamontina na
Carreira das Índias.
Os marqueses de Ayamonte, aproveitando os anos de paz que Espanha
conheceu nos primeiros anos da Idade Moderna, fomentavam eficazmente o
povoamento do território, o que levou ao crescimento do tecido urbano100. Com a
marquesa Dª Teresa de Gusmán, esposa de D. Francisco de Sotomayor, Ayamonte
conheceu anos de crescimento urbano, demográfico e económico que tiveram reflexo
em situações como a fundação de Villablanca, ou a regulamentação dos direitos
gerados pelas actividades piscícolas101. Em 1530 – ano de maior tensão com D. João
III de Portugal - a cidade contava com 1035 vizinhos e entre 1530 e 1540 foi tal o
crescimento da população maruja que houve a necessidade de estender o segundo
núcleo urbano, o Barrio de la Ribera. Por outras palavras, Ayamonte encontravase em pleno processo de expansão, estando esta dependente de novos espaços
de mobilidade e oportunidade. Não é portanto de estranhar que os ayamontinos
procurassem as águas do Cabo de Gué para desenvolverem as suas pescarias, que
procurassem reactivar o comércio nas costas de África ou que procurassem a sua
sorte como soldados nas praças portuguesas de Marrocos, um destino muito mais
próximo do que a arriscada Carreira das Índias Ocidentais.
Por outro lado, é preciso não esquecer que esta cidade de clara vocação
marítima e pesqueira estava voltada para os mares do Algarve a oeste, e para a
costa marroquina a sul e a sudoeste, então controlada pelos portugueses. É nesse
sentido que a afirmação de Ayamonte do ponto de vista político, económico e
social passava por romper com a hegemonia portuguesa nos mares atlânticos onde,
como diria o historiador espanhol Rumeo de Armas, “sin más excepción que las
Canárias, Portugal le llevó sempre la delantera”102. É portanto, essa rivalidade e
essa necessidade de procurar novas soluções para os novos desafios que então se
colocavam que terão, certamente, conduzido aos desentendimentos entre a coroa
100 É nesse sentido que, logo em 1527, é fundado o convento de San Francisco, edificação que marca o arranque da nova
Ayamonte da Idade Moderna.
101 Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, pp.45-46.
102 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos,
p.401.
139
de Portugal e o marquês de Ayamonte. Por outro lado, esta vantagem que Portugal
levava nas costas atlânticas de África, reflectida na posse de praças de guerra em
Marrocos, também acabou por viabilizar o negócio de fretamentos de barcos em
Ayamonte, com vista ao transporte de homens e mercadorias, ainda que de forma
bastante mais tímida quando comparado com o caso do Porto de Santa María, Cádiz,
ou Málaga103.
Por fim, acreditamos que os documentos aqui referidos revestem-se de
particular interesse se tivermos em consideração duas razões principais: primeiro,
porque se tratam de documentos portugueses que acabam por reflectir o ponto de vista
do país vizinho quanto a Ayamonte. Segundo, devido à cronologia a que nos reportam
e à escassez de documentação relativamente a esta cidade durante a primeira metade
do séc. XVI. Com efeito, o documento mais antigo que se conserva no Arquivo
Municipal de Ayamonte está datado de 1522104. Nesse sentido, os documentos por
nós referidos, nomeadamente os documentos relativos à primeira metade do séc.
XVI, assumem particular importância, na medida em que acabam por contribuir,
ainda que de forma tímida, para um maior conhecimento do que foi Ayamonte nos
alvores da Idade Moderna.
Fernando Pessanha
(Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António)
103 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da
História, Vol. I, pp.135-159.
104 Antonio Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de
Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.24.
140
AYAMONTE EN LA EXPANSIÓN PORTUGUESA POR EL
NORTE DE ÁFRICA
Es sabido que Ayamonte fue una de las zonas andaluzas que colaboró
activamente en la exploración y colonización de continente americano, acabando por
convertirse, durante el siglo XVI, en uno de los núcleos urbanos más importantes de
toda la costa de Huelva. Sin embargo, la proximidad del Algarve, dada su condición
fronteriza, hizo que Ayamonte también participara con sus recursos humanos en los
descubrimientos marítimos y en la expansión portuguesa por el norte de Africa.
En efecto, la historia del vecino Algarve entre los siglos XV y XVII se
encuentra estrechamente relacionada con las conquistas en Marruecos, una relación
umbilical que, efectivamente, unía los Algarves de Daquém a los Algarves Dalémmar, en África. Por otra parte, como bien observó Romero de Magalhães: “a ligação
de Portugal com as praças marroquinas fazia-se através do Algarve e, em princípios
do século XVI, sobretudo por Tavira”105. Se refiere a que este puerto vinculado al
norte de África se encontraba a menos de 23 kms. de Ayamonte, por lo que la relación
entre ambas ciudades resultaba muy fácil por el sistema de la tradicional navegación
de cabotaje.
Además, el emplazamiento de Ayamonte frente a Castro Marim, la plaza
militar portuguesa más cercana a Marruecos, atraía sin duda a muchos ayamontinos
interesados en aventurarse en la cruzada portuguesa hacia los Algarves del otro
lado del mar. Pero, para que comprendamos en qué circunstancias los ayamontinos
participaron en la expansión portuguesa por el norte de África, veamos antes qué
ambiente se vivía en la vecina Castro Marim en el Quinientos.
105 Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, pp.81-96. De este mismo autor véase también Para o
Estudo do Algarve Económico Durante o séc. XVI, pp.238-239. Sobre la relación entre Tavira y las plazas de los Algarves
Dalém véase Maria Augusta Lima Cruz, “Tavira no processo de abandono de praças portuguesas no Norte de África, no século
XVI. Abertura de um estudo”, in Espírito e Poder – Tavira nos Tempos da Modernidade, pp.20-45.
141
CASTRO MARIM EN LA EXPANSIÓN PORTUGUESA HACIA EL NORTE
DE ÁFRICA
Desde principios del siglo XVI los ayamontinos se lanzaban como pilotos y
marineros en los barcos de la carrera de la Indias106, lo mismo que la vecina Castro
Marim, donde los descubrimientos y la expansión hacia el Norte de África tuvieron
un fuerte impacto. El propio infante Don Enrique – que en 1416 había sido requerido
por el rey Don Juan I para abastecer y defender la recién conquistada Ceuta107 –
permaneció en Castro Marim durante algún tiempo, cuando recibió al infante
Don Fernando, su sobrino y heredero, al regresar al reino tras su paso por aquella
plaza norteafricana108. Del mismo modo, se establecerán en esta plaza fronteriza de
Ayamonte otros hidalgos, apoyando al Infante y ejerciendo altos cargos. Fue el caso
de Diego Lopes, caballero de la Casa del Infante Don Enrique y comendador de
Castro Marim, además de veedor de los vasallos reales habitantes en esta ciudad y
término, en 1444109, o el caso de Vasco Eanes Corte Real, capitán de caballería de
Castro Marim antes de 1433110 e hijo de Vasco Eanes, que acompañó a Don Enrique
durante la conquista de Ceuta111.
¿Por qué esta necesidad de proveer Castro Marim con gente de confianza
del Infante? Porque la villa, por su proximidad geográfica con Marruecos, pasó a
tener un importante papel en la protección de la presencia portuguesa en el Norte de
África y en la lucha contra la piratería magrebí. En este sentido, no podemos dejar de
destacar la extraordinaria actuación de García de Melo, capitán mayor de ballesteros
106 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminencias alcanzadas por Juan de Zamora y el temor
ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.154-155; Antonio Manuel
González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.38.
107 Isabel L. Morgado de Sousa e Silva, A Ordem de Cristo (1417-1521) - Revista Militarium Ordium Analecta, nº 6, p.63.
Más tarde, en 1433, el rey D. Duarte concedió al infante D. Henrique un quinto de todo lo que fuese tomado por sus navíos
de corso que patrullaban el Estrecho de Gibraltar. Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.266; Ver también Edite Maria da
Conceição Martins Alberto, “Resgatar cristãos em terras no Norte de África – O ofício de Alfaqueque no século XV”, in
Estudos de História Luso-Marroquina, p.42.
108 Alberto Iria, O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos), p.77.
109 Ver Monumenta Enricinha, Vol. VIII, p.220.
110 Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.500.
111 De acuerdo con Zurara, Vasco Eanes saltó en la playa de la villa con el infante D. Henrique y fue el primer portugués en
combatir a los moros en la puerta de Almina. Véase Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta, Capítulo LXXII,
p.225.
142
y alcaide de Castro Marim112.
Recordemos que en 1504, el mismo año que la villa recibió al foral manuelino,
García de Melo lideró un valeroso ataque a Larache, en ese momento un conocido
nido de piratas que atacaba incansablemente las costas del Algarve y Andalucía,
capturando cinco galeotes, dos bergantines y una carabela e incendiando una galera
y otras tres carabelas113.
LOS CASTRO-MARINENSES EN LAS PLAZAS DE PORTUGAL EN
MARRUECOS
Debemos tener en cuenta que las conquistas en África suponían, evidentemente,
el envío de hombres para garantizar la defensa y manutención de las plazas bajo
dominio portugués. Y dada la proximidad de Castro Marim a las tierras marroquíes,
fueron muchos los castro-marinenses que se lanzaron a la conquista, manutención
y defensa de esas plazas. Cuando el Infante Don Fernando, hermano del rey Don
Alfonso V planeó enrolarse en la hazaña de Ceuta, incluso sin la aprobación de
su hermano, “mandou aparelhar uma caravela na foz do rio Guadiana e pôs-se a
caminho”114. No es preciso decir que parte de la tripulación que acompañó al Infante
sería, probablemente, originaria de la comarca de Castro Marim.
En el siglo XVI esta tendencia parece intensificarse. En octubre de 1508, por
ejemplo, D. Manuel decidió a través del mencionado García de Melo, anadel-mor de
los ballesteros, el nombramiento de varios ballesteros del monte vecinos de Castro
Marim. Fue el caso de Barão Martins115, Afonso Eanes Pescoço116, João Lourenço117,
112 No sabemos exactamente en qué año fue investido con la alcaldía de Castro Marim; con todo, una carta que datada en
1509 lo presenta como alcalde mayor de esta plaza de guerra del Algarve, en ese mismo año. Vease A.N.T.T., Gaveta 20, Maço
V, nº 14.
113 Ver Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África
(Séculos XV-XIX), p.120.
114 D. Alfonso V, preocupado con la impulsividad de su hermano, vino a su encuentro hasta Tavira y Castro Marim. Más
tarde, el infante acabaría por ser interceptado en el estrecho de Gibraltar por el Conde de Odemira, capitán de Ceuta. Después
de visitar aquella plaza fue conducido al reino portugués, pasando por Tarifa, Castro Marim, Mértola y Beja, donde lo esperaba
la Corte. Véase Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar,
pp.57-59.
115 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v.
116 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v.
117 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v.
143
Vasco Lourenço Fafez118, Afonso Eanes Galego119, Martim Eanes Pescoço120, etc. Pero
¿se quedaron estos hombres en su villa de origen?
Algunos meses después, ya en 1509, el alcaide de Castro Marím, Simão
Correia, reclutó 102 ballesteros de la villa para que fueran a servir en Arzila, donde
tendrían además funciones de constructores121. Por lo demás, fue frecuente la
presencia de hombres naturales de Castro Marim en las plazas norteafricanas, no
solo como soldados sino también en calidad de pobladores. Es el caso de Afonso
Roiz, natural de Castro Marim, que encontramos como ballestero de a pie en la
guarnición de Safim, en 1511122, o el caso de los habitantes de Castro Marim que
encontramos en Azamor123. En este contexto, tiene un particular interés el caso del
castro-marinenese Gaspar Gonçalves, armado caballero en Azamor por orden del
Duque de Bragança, tras la conquista de aquella plaza marroquí en 1513124. Pero,
además de los soldados y moradores oriundos de esta plaza militar, también debemos
contabilizar los desterrados enviados con frecuencia a Arzila, Ceuta y Tánger125. Un
buen ejemplo es el caso del escudero Henrique Vaz, de Castro Marim, condenado a
dos años de destierro en Arzila, “por feridas dadas”126. Hay que añadir, a todos estos
casos, los castro-marinenses que se lanzaron a la epopeya de los descubrimientos.
Oliveira Marques, por ejemplo, incluye a Castro Marim en el grupo de las tierras que
más contribuyeron con gentes que se lanzaban a las exploraciones marítimas127.
118 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25.
119 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25.
120 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25.
121 Rafael Moreira, “História – Histoire”, in Arzila, Torre de Menagem – Le Donjon d’Asilah, p. 35.
122 João Cosme, A Guarnição de Safim em 1511, p.151.
123 Maria Augusta Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro
Cultural Português, quadro 1.
124 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv.11, fl. 53.
125 José António de Jesus Martins, O Reino do Algarve nos finais da Idade Média – Os concelhos algarvios no séc. XV, p.45.
126 A.N.T.T., Chancelaria de D. João II, liv. 24, fl. 99.
127 Oliveira Marques, “A Expansão no Atlântico”, in Nova História da Expansão Portuguesa – Vol. II – A Expansão
Quatrocentista, p.208.
144
PRESENCIA ESPAÑOLA EN LA COSTA ATLÁNTICA DE MARRUECOS
Antes de continuar, es necesario contextualizar los antecedentes de la
presencia española en África, para comprender en qué circunstancias Ayamonte se
ve también involucrada en la expansión portuguesa en Marruecos.
Como sabemos, desde el siglo XV, Castilla intentaba establecerse en la costa
atlántica africana, pretensión que le llevó a un enfrentamiento con Portugal respecto
a la política expansionista en África y que estaba estrechamente relacionada con el
contencioso sobre las Canarias. En efecto, el 8 de enero de 1454, después de que el
rey de Castilla donara las Canarias al duque de Medina Sidonia128, el infante Don
Enrique consiguió del Papa Nicolás V la Bula Romanus Pontifex, que otorgaba a los
portugueses las tierras tomadas cerca de Ceuta y las descubiertas, con posterioridad,
de Bojador y del Cabo Não (actual Cabo Chaunar). Éste último, subrayemos, frente
a la Isla de Lanzarote.
Sin embargo, el permiso no era claro respecto a los derechos de los dos reinos
sobre la costa atlántica, permitiendo que Castilla afirmase que la línea divisoria pasaba
por el Cabo Bojador, mientras que Portugal defendía que el límite sería el Cabo Não,
mucho más al norte. En esas circunstancias, durante la segunda mitad del siglo XV,
Portugal conquista Alcácer Ceguer, Arzila, Tánger y lanza una serie de ataques sobre
las costas marroquíes, mientras que los españoles penetraban en la costa frente a
Canarias. Son precisamente estos españoles establecidos en las Canarias quienes
intentarán instalarse en el continente africano, algunos kilómetros al sur de Meça, un
territorio a la misma latitud que las Canarias129. De hecho, en 1477/1478 Diego de
Herrera y sus hombres construirán una fortaleza en la margen derecha del río Açasa,
a la que llamarán Santa Cruz de la Mar Pequeña130, localizada al sur de Meça y al
norte del Cabo Não.
Con el Tratado de Alcaçovas, el 6 de marzo de 1480, Portugal hizo algunas
cesiones, renunciando a los derechos que afirmaba tener sobre las Canarias, aunque
128 Colección de documentos inéditos para la Historia de España ..., Tomo XXXVI, pp.499-501.
129 António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.29.
130 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos,
p.405. Este fuerte respetaba, por tanto, la interpretación de Castilla cuanto a la bula de Nicolás V, pero aumentaba el clima de
tensión con Portugal, que se mostraba intransigente en cuanto a las pretensiones de Castilla en la costa africana.
145
se le reconocía el derecho de continuar con la conquista de Guinea, la posesión de las
islas descubiertas al sur de Canarias y el derecho de conquista del reino de Fez. Una
vez más, la ambigüedad de los textos y los propios acuerdos, particularmente sobre
los límites del reino de Fez, permitió que continuaran los conflictos entre Portugal y
Castilla por el control del territorio. Será seguramente en ese contexto de disputa en
el que Castilla pretendió extender su presencia hacia el norte, hacia la rica región de
Duquela.
Hacia 1480 tenemos noticia de que “espanhóis de Xerez e de Calis (Cádiz),
comandados pelo alcaide Juan Sanchez, atacaram Azamor com uma esquadra de
150 velas”131, pero solo tomaron cuatro torres y acabaron por ser repelidos. Esta
tentativa de conquistar Azamor parece guardar relación con el interés castellano en
las riquezas de la región, especialmente la pesca, las carnes y los cereales132. Más
aún cuando Azamor se encuentra apenas a 10 km de la bahía de Mazagão, un activo
puerto de exportación de cereales frecuentado por portugueses y castellanos: “nesta
baía de Mazagão carregam muitas naus destes reinos, e assi de Castela”133.
Por otra parte, si tenemos en cuenta las descripciones de Duarte Pacheco
Pereira, parece natural que los castellanos hayan pretendido apropiarse de las
riquezas de la región a través de la conquista de Azamor. Por lo demás, la toma de
Casa do Cavaleiro (a la que los moros llaman Uguer) por los españoles de Jerez,
en el último cuarto del siglo XV134, parece reforzar esta teoría135. Curiosamente, B.
Bonett no refiere este episodio al tratar de los movimientos castellanos en Africa
antes de la llegada de Alonso Fernández de Lugo136. Es posible que el silencio de este
autor se deba al hecho de haber sido una ocupación infructuosa, ya que los moros
131 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86.
132 Duarte Pacheco Pereira, navegante y cosmógrafo portugués de los siglos XV y XVI, refiere “a maravilhosa pescaria de
sáveis muito grandes e bons (…) e esta vila de Azamor e suas comarcas são muito abastadas de pão, carnes, pescados e outras
coisas”.. Véase Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, pp.62-63.
133 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, p.64.
134 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86.
135 “Nesta Casa do Cavaleiro há muito trigo e cevada, e muitas vezes carregam ali navios dele; e disso mesmo há ali muita
abastança de carne e caça; e no mar, nas cinquenta a sassenta braças, há muita pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”.
Véase Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 18, p.65.
136 Buenaventura Bonet y Reverón, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Revista de Historia, Tomo 5.
Año 10. Número 37, pp.138-140.
146
abandonaron el lugar. En cualquier caso, la breve ocupación de esa localidad, situada
a apenas 10 leguas del puerto de Mazagão, viene a reforzar la teoría de una tentativa
de establecimiento castellano en la rica región de Duquela.
Como respuesta a las acciones castellanas, el rey D. João II impuso una
política de protectorados sobre algunas zonas del sur con las que mantenía una
relación comercial137. De hecho, el primer acuerdo conocido entre Portugal y Safim
ya se remonta al reinado de D. Afonso V, como se refiere en la carta que D. João II
envió a Amadux, el alcaide de la ciudad en 1488138. Del mismo modo, también D.
João II impuso la soberanía portuguesa a los habitantes moros de Azamor, en 1486139
(la misma ciudad que los castellanos intentaron conquistar años antes) y el rey D.
Manuel I estableció un tratado de soberanía con los habitantes de Meça, en 1497140.
En ese mismo año, D. Manuel confirmó los términos del contrato con Azamor, en
1497, a pesar de ellos la fidelidad de sus habitantes a la Corona portuguesa fue muy
irregular a partir de 1502141.
La respuesta de Castilla no se hizo esperar. En 1496, después del Tratado de
Tordesillas, los indígenas de Mar Pequeña y San Bartolomé reconocen la soberanía
de Castilla, por lo que la torre de Santa Cruz de la Mar Pequeña, perdida a pesar
de todo, fue reedificada por el gobernador de Canarias Alonso Fajardo142. En 1499
Lopez Sánchez de Valenzuela consiguió someter a varias tribus y aldeas de la costa
africana frente a Canarias, concretamente Tagaost (Capital de la zona del Cabo Não),
Tamanar, Ifran e Ifni. Al año siguiente, en 1500, Alfonso de Lugo, Adelantado de
las Canarias, “Capitán general de la Berbería desde el cabo de Aguer hasta el de
137 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar,
Disertación para el máster en Historia del Algarve presentada en la Universidad del Algarve, p.22.
138 Durval Pires de Lima, História da Dominação Portuguêsa em Çafim (1506 – 1542), p. 15; David Lopes, “Os Portugueses
em Marrocos…”, in História de Portugal, vol. III, p. 463; António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.26.
139 Rui de Pina, Crónica de D. João II, Capítulo XXI, pp. 53-54; Garcia de Resende, Crónica de D. João II e Miscelânia,
Capítulo LX, p. 56; David Lopes “Os Portugueses em Marrocos”, in História de Portugal, vol. III, p.508.
140 Carta de D. Manuel I a los moradores de Meça, en 11 de enero de 1497, in Les Sources Inédites de l’Histoire du Maroc,
Tomo I, Première Série, doc. IV, pp. 31-35. Sobre la presencia portuguesa en Meça véase David Lopes, “Os Portugueses em
Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, pp.542-544; Jorge Correia,
Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.321-323.
141 Véase Vergílio Correia, Lugares Dalém – Azemôr, Mazagão, Çafim, pp.32-33.
142 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos,
pp.413-417.
147
Bajador”143 fue enviado a África con la misión de construir tres fuertes: uno junto al
Cabo Bojador, otro junto al Cabo Não y un tercero cerca de Tagaost144.
Cierto es que el Tratado de Tordesillas vino a delimitar las áreas de influencia
de España y Portugal en África. Sin embargo, la zona entre el Cabo de Gué y Meça
siguió en litigio, pendiente de ser incorporada a una u otra Corona. Es sabido que, en
1501, Alonso de Lugo pretendió establecerse en Meça y en Santa Cruz do Cabo de
Gué, como veremos más adelante. No obstante, durante nuestra investigación para
el presente artículo, nos encontramos con una información que no aparece referida
en la historiografía portuguesa. Se trata del proyecto de conquista de Azamor por
Alonso de Lugo y Francisco de Peñalosa, en 1500, ordenado por la reina Isabel I
de Castilla. La referencia la da Fray Bartolomé de las Casas en su obra Historia de
las Indias, en la que habla sobre la “armada que se hizo para Azamor donde iba el
Alonso de Lugo, siendo el dicho Francisco de Peñalosa capitán general”145. Aunque
la expedición se saldara en derrota española y muerte del propio capitán, termina
revelándose de un gran interés en la medida en que viene a demostrar que Isabel
la Católica pretendía extender el dominio de Castilla hacia el norte, a través de la
conquista de una ciudad, por entonces tributaria de Portugal, lo que constituiría una
clara violación del Tratado de Tordesillas.
Además, en 1500 y 1501 Alonso de Lugo intentó establecerse en Meça, una
villa de moros muy grande, mercado de oro, cera, cuero, etc. y situada a una legua del
mar146. Portugal protestó ante Castilla, por lo que se ordenó al gobernador castellano
que respetase los intereses portugueses anteriores en la región, ya que, como dijimos
anteriormente, los habitantes de Meça eran vasallos de Portugal desde 1497.
Sin embargo, Alonso no se dio por vencido. Dirigiéndose más al norte
ocupó la población que actualmente se llama Agadir ayudado por los Cacimas,
una tribu bereber instalada en el lugar147. En efecto, ya en 1480 los castellanos
habían atacado Agadir para castigar a los indígenas que habían participado
143 Leopoldo de la Rosa Olivera & Elfas Serra Rafols, El Adelantado D. Alonso de Lugo y su residencia por Lope de Sosa, IX.
144 Buenaventura Bonet, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Nuevas Aportaciones Históricas, p.140.
145 Fray Bartolomé de Las Casas, Historia de las Indias, Tomo I, cap. LXXXII, p.352.
146 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.122.
147 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião
Peres), Vol. III, pp.453-454.
148
en un ataque a Santa Cruz de la Mar Pequeña. Intentaron repetir la proeza en
1483, terminando esta última iniciativa castellana en un desastre militar148. La
ocupación fue, sin embargo, muy breve. Los habitantes de Meça, incitados por
los portugueses, se lanzarán sobre la población y derrotarán a los españoles
y a sus aliados Cacimas “matando-lhes muita gente e outra cativaram”149.
En 1505, tras esta tentativa española de ocupar el territorio, João Lopes
Sequeira construyó en el lugar un castillo que llamó Santa Cruz do Cabo de Gué150,
en respuesta a las pretensiones castellanas, así como la fortaleza satélite de Bem
Mirao151. La ocupación del espacio por los portugueses acabó por disuadir los
intereses españoles en la región, limitándolos a la ya referida Santa Cruz de la Mar
Pequeña, donde acabarían por resistir hasta 1524 ó 1527. Otro detalle llamó nuestra
atención. Entre los hombres reclutados para la construcción de la torre de Santa Cruz
de la Mar Pequeña se encontraba Bartolomé de Ayamonte, el majador capataz de
la obra que acabó por quedarse en la torre tras el regreso del resto de la expedición.
Además, por lo que hemos conseguido averiguar, este ayamontino permaneció en la
torre 16 meses (3 dedicados a la construcción y 12 como parte de la guarnición)152.
148 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos,
pp.411-412.
149 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião
Peres), vol. III, p. 543. Del mismo autor vease tambien: A Expansão em Marrocos, p.28; Joaquim Figanier, História de Santa
Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), p.29.
150 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), 1945; Robert Ricard, “L’occupation
portugaise d’Agadir (1505-1541)”, in Hespéris, Tomo XXXIII, pp.93-102; Pedro Dias, História da Arte Portuguesa no Mundo
– O Espaço Atlântico (séculos XV – XIX), pp.50-51; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da
tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.324-328.
151 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.32; Jorge Correia, Implantação da
Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.328-334.
152 Nótese que tal como Bartolomé Ayamonte también encontramos a dos portugueses que permanecerán los mismos 16
meses en Santa Cruz de la Mar Pequeña. Eran ellos el ferreiro Pedro portugués y el soldado Manuel portugués (el apellido
verdadero era Sousa). Ver Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de
Estudios Atlánticos, pp.437, 446, 454 y 475.
149
LA ARMADA DEL MARQUÉS DE AYAMONTE EN LOS ALGARVES
DALÉM-MAR, EN EL SUR DE MARRUECOS
No se piense, con todo, que la pérdida de Santa Cruz de la Mar Pequeña
representó el desinterés español por el sur marroquí. Como veremos, D. Francisco
de Sotomayor, que se convertirá en marqués de Ayamonte por su matrimonio con
Teresa de Zúñiga y Manrique de Castro153, intentó reactivar la influencia española
en la región del Sus, concretamente en el Cabo de Gué, o sea, en un territorio
anteriormente codiciado por el rey portugués D. João II y por los Reyes Católicos.
Veamos por qué.
Durante la investigación que realizamos para la publicación de Os 500 anos
da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da
Expansão Portuguesa, nos encontramos con un documento que nos llamó mucho la
atención. Se trata de una carta del capitán de Azamor, Antonio Leite, al rey D. João
III el 10 de septiembre de 1529, en el que se revelan los movimientos de una armada
del marqués de Ayamonte en el puerto de Mazagão y de cuáles eran sus intenciones.
En el documento, Antonio Leite cuenta cómo dos carabelas y un galeón del marqués
de Ayamonte intentaron tomar un navío de Ruan, anclado en el puerto de Mazagão,
que solía comerciar allí todos los años. Según el capitán de Azamor, los navíos del
marqués llevaban un regalo para uno de los xarifes con la intención de establecer un
acuerdo comercial en el sur de Marruecos y debilitar los intereses portugueses. Dadas
las circunstancias, Leite aconsejaba al monarca portugués controlar la navegación
comercial en los puertos marroquíes, obligando al paso del trato entre europeos y
musulmanes por las aduanas portuguesas, lo que permitía importantes beneficios para
la Hacienda Real154. Trascribimos aquí el extracto original del documento relativo a
los movimientos del marqués de Ayamonte y la respectiva tradución al castellano:
153 CF. Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., p. 480, nota 1. A este respecto véase también Antonio
Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la
muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.19; Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y
ciudades – Ayamonte, pp.45-46.
154 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, pp.65-66, nota 171.
150
“C Aquy veo ter huua armada do marques de Aiamonte, huum
galeam e duas caravelas, e pousou no porto de Mazagam; e quiseram
tomar húua naoo que estava ameorada dentro no porto, a qual
era de mercadores de Ruam, que aquy vem cada anno tratar
comnosquo ; e eu nam lh’o cornsemty, porque estava segura no
porto de V. A. E soube que aquella armada leva huum presente
ao Xarife, sobre comçerto que o Marques com elle quer fazer, pêra
os de sua terra hirem pesquar seguros ao Cabo de Gué, e pêra
tratarem com elle na costa. Dou este aviso a V. A. pêra oulhar
nisso o que cumpre a seu serviço, e também por me parecer grande
baxeza tal pesoa como o marques de Aiamomte mandar presente
sobre tal caso a huum Mouro de tam pouqua verdade. E isto
lhe ajudara a criar mais soberba, porque ja cre que os Christãos
lhe sam tributários”155.
………………………………………………………………………………………
“Aquí veo tener una armada del Marqués de Ayamonte, un
galeón y dos carabelas y las colocó en el puerto de Mazagam;
y quisieron tomar una nao que estaba anclada dentro del puerto, que
era de mercaderes de Ruam, que aquí vienen cada año a comerciar
sé; y yo no lo consentí porque estaba segura en el
puerto de V.A . Y supe que aquella armada lleva un regalo
al Xarife para el acuerdo que el Marqués quiere con él hacer, para
que los de su tierra vayan a pescar seguros en el Cabo de Gué, y para
comerciar con él en la costa. Doy este aviso a V.A. para mirar
en esto lo que cumple a su servicio, y también porque me parece gran
bajeza tal persona como el marqués de Ayamonte mandar un presente
para tal caso a un Moro de tan poca verdad. Y esto
le ayudará a crear más soberbia porque ya cree que los Cristianos
le son tributarios”.
155 Carta de António Leite a D. João III, en 10 de Septiembre de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de
l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº64. Véase también
Pedro Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar,
Vol. XI, p.265.
151
En otras palabras, el Marqués de Ayamonte intentaba captar la simpatía del
xarife del Sus con el objetivo de establecer un acuerdo comercial con los enemigos
directos de los portugueses en la región. Acuerdo comercial que, de salir bien, hasta
podría suponer la constitución de una factoría española, perjudicial para los intereses
estratégicos de los portugueses, ya que los xarifes del sur tenían bajo su tutela
territorios por donde pasaban las caravanas comerciales que atravesaban el desierto.
Es evidente que Ayamonte era una población con una clara vocación marítima
y pesquera. Sin embargo, la intención de los ayamontinos en ir a pescar al Cabo de
Gué y de negociar con los moros de aquella costa no parece del todo inocente. Como
vimos, desde el siglo XV los castellanos frecuentaban algunas poblaciones del Cabo
de Gué con pretensiones comerciales156, concretamente Tamareque donde, según
Duarte Pacheco Pereira, podían anclar navíos y donde había mucha pesca de pijotas
y de otros pescados: “grande pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”157. Por lo
demás Joaquin Figanier afirma también la existencia de comerciantes castellanos
residentes y tratantes en zonas como la citada Tamareque, Meça y Taracuco158.
Después, en el tránsito del siglo XV al XVI, el gobernador de Tenerife, Alonso de
Lugo, intentó establecerse en el Cabo de Gué, una bahía que, como bien observó
António Dias Farinha, servía de puerto a la rica región de Sus. ¿Sería la intención
del marqués de Ayamonte instalar una factoría en el continente africano? ¿Estaría
interesado en el comercio de esclavos y productos africanos que cruzaba el desierto?
Antes de responder a estas preguntas, veamos de qué territorio se trataba. Duarte
Pacheco Pereira, navegante y cosmógrafo del siglo XV, describe así la región:
“Santa Cruz, o qual tem a dita angra em que pode pousar qualquer nau
grande, em fundo limpo e boa ancoração (…) esta terra é muito fértil de pão, carnes,
pescados, mel, cera courama e outras muitas mercadorias em que se faz muito
proveito; e asi há qui ouro, que os Alarves trazem da Guiné por terra”159.
156 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.121.
157 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 19, p.71.
158 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21.
159 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 20, pp.71-72.
152
El cosmógrafo oculta el comercio de esclavos aunque sabemos que en la
vecina Meça, donde los castellanos también intentaban construir una factoría,
llegaban esclavos provenientes de Sudán y de Mauritania160.
Vista la descripción del cosmógrafo portugués, se hace evidente cuál era el
objetivo de Alonso de Lugo: establecerse en una costa africana rica en productos y
con capacidad de atraque de barcos de gran tamaño. Como ya dijimos, la ocupación
castellana fue sin embargo muy breve, en la medida que los habitantes de Meça, como
vasallos del rey de Portugal, atacaron la población y derrotaron a los españoles161. En
1505, con la ocupación de la zona por los portugueses y la construcción del castillo
de Santa Cruz do Cabo de Gué, la presencia militar española quedó limitada a la
citada Santa Cruz de la Mar Pequeña, donde resistirían hasta la segunda década del
siglo XVI.
Explicado esto, volvamos a preguntarnos: ¿tendría intención el marqués de
Ayamonte de instalar una factoría en el continente africano? ¿Estaría interesado en
el comercio de esclavos y productos africanos que cruzaban el desierto? Veamos:
según el historiador marroquí Adnan Mechbal, Santa Cruz de la Mar Pequeña
funcionaba como una fortaleza de costa que tenía como objetivo apoyar las fuerzas
conquistadoras en las batidas destinadas a la “la búsqueda de alimentos y de esclavos
para su comercio”162. El historiador español Rumeu de Armas, aunque no coincide
con la idea de tratarse de una fortaleza para lanzar operaciones militares, alude a la
existencia de documentos que demuestran la compra de esclavos en dicha fortaleza163.
Con la pérdida de Santa Cruz de la Mar Pequeña – la única factoría española en
Africa - los españoles se vieron privados de este comercio de esclavos y, como es
sabido, los esclavos que entraban en ciudades como Ayamonte en los primeros años
de la Edad Moderna, eran vendidos por los mercaderes portugueses que los traían
160 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21.
161 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião
Peres), vol. III, p. 543. Del mismo autor ver también: A Expansão em Marrocos, p.28.
162 Cf. Javier Gil Pérez & Óscar Garrido Guijarro, “Santa Cruz de Mar Pequeña - Ifni en las relaciones hispanomarroquíes”, in
Anuario de Estudios Atlánticos, Las Palmas de Gran Canaria. España (2015), p.2. Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana
de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, pp.408 y 466.
163 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos,
pp.08 y 466.
153
de Angola, Mozambique, Santo Tomé y Cabo Verde164. Además, según Manuel
Fernández Chaves y Rafael Pérez García, una de las rutas del comercio de esclavos
de Portugal a Sevilla era procedente de las costas del Algarve, entrando en territorio
español a través de Ayamonte. Los que no eran vendidos en esta ciudad entraban en
un circuito que podría pasar por Huelva, Gibraleón, Moguer, Niebla y Sevilla165.
Como es sabido, los mercaderes portugueses, como intermediarios de
este negocio, conseguían importantes beneficios, aumentando sustancialmente el
precio de los esclavos cuando eran vendidos en ciudades como Ayamonte. Dadas
las circunstancias, ¿Intentaría D. Francisco de Sotomayor reactivar el rentable
comercio de esclavos directamente con los xarifes de Sus sin tener que pasar por
los intermediarios portugueses? ¿O estaría interesado el marqués en otro tipo de
productos? En efecto, en 1494 un grupo de comerciantes ayamontinos había cargado
una carabela con paños, lienzos y otras mercancías para venderlos en los puertos de
Africa. Estando dicha carabela en Azamor, entonces tributaria de Portugal, todo su
cargamento fue robado por un grupo de hombres con una carabela bien artillada,
originaria de Cadiz166. De ello se concluye que los contactos de los ayamontinos con
el sur de Marruecos era una realidad que, por lo menos se remontaba a la época en la
que los Reyes Católicos se empeñaban en extender “el influjo y la acción política de
España por las inmensas tierras del Africa Occidental”167.
La verdad es que no sabemos exactamente cuáles serían las intenciones de D.
Francisco de Sotomayor al sur de Marruecos. En cualquier caso el acuerdo comercial
que planeaba establecer con el xarife del Sus no tuvo éxito. Era normal. Marraquech
había sido ocupada por el xarife Ahmed al-Araji en 1520 y en 1527 ya dominaba
el Sus, a falta de controlar apenas Tadla. Esto quiere decir que en el momento de
la visita de la armada del marqués de Ayamonte, en 1529, los xarifes del Sus se
encontraban ampliamente organizados como un grupo político y religioso dedicado
164 Antonio Manuel González Díaz, “La otra cara del Ayamonte Moderno: la población esclava. Procedimientos de integración
y exclusión social”, in XIX Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, pp.36-37.
165 Manuel F. Fernández Chaves & Rafael Pérez García, “Las redes de la trata negrera: mercaderes portugueses y tráfico
de esclavos en Sevilla (1560-1580)”, in La Esclavitud Negroafricana en la Historia de España. Siglos XVI y XVII, pp.14-15.
166 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminencias alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante
las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153.
167 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, p.17.
154
a expulsar a los cristianos de la costa africana y a unificar el territorio marroquí. Y si
estos peleaban con los infieles portugueses que ocupaban el territorio, ¿cómo iban
a celebrar un acuerdo con los infieles españoles? Además, fue tal el ímpetu guerrero
de los xarifes del Sus que el propio reino de Fez se vió obligado a firmar un tratado
de paz con Portugal, pocos años después, el 8 de mayo de 1538168.
MOVIMIENTOS DEL MARQUÉS DE AYAMONTE POR LOS ALGARVES
DAQUÉM, AL SUR DE PORTUGAL
A pesar de todo, la acción del marqués de Ayamonte no quedó ahí. Reparemos
que en diciembre de 1529, apenas dos meses después de la carta de Antonio Leite al
rey D. João III, otra carta volvía a hacer referencia a los problemas con el susodicho
marqués.
Se trata del Traslado do que
se deu a Cristóvão de Mendonça que
enviou a sua Alteza o marquês de
Ayamonte sobre o caso do Bregantim
En este documento el comendador
de Arenilha parece responsabilizar
al marqués por los daños causados
en las embarcaciones de los vecinos
de la villa, concretamente al referido
bergantín, llegando incluso a ordenar
“pagar as barcas e (…) as perdas
que receberam os donos delas e asy
o dano que se fez na Arenilha”
Fig.1 - Traslado do que se deu a Cristóvão
de Mendonça que enviou a sua Alteza o
marquês de Ayamonte sobre o caso do
Bergantim. A.N.T.T., Corpo Cronológico,
Parte I, maço 44, n.º 45.
168 João Cosme, “Tratado de Paz entre Portugal e o Reino de Fez”, in Arquipélago * História, XIV-XV, pp.11-29.
155
y detener a los responsables que se encontraran en sus tierras169. Como puede
comprenderse, el tono de la carta no es precisamente halagador para el noble español.
El 24 de Maio de 1530 – cuando Ayamonte contaba ya con una
población entre los 4040 y los 5057 habitantes170 – D. Francisco de Sotomayor escribió
a D. João III. En el documento, que tiene por título Carta do marquês de Aiamonte
agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador Cristóvão de
Mendonça, el marqués esquiva las acusaciones de que era objeto, alegando la pena
que tenía de no poder demostrar su voluntad en servir al rey portugués .
Fig.2 - Carta do marquês de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador
Cristóvão de Mendonça. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9.
169 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45.
170 Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.39.
156
El noble español, a través de un ejercicio diplomático tan adulador como
demagógico, argumentaba que los verdaderos responsables, conocedores de que el
marqués era un verdadero servidor del rey D. João III, no se atrevieran a pasar
por sus tierras y fueran directamente hacia Sanlúcar y hacia Cartaya171. La carta
revela, además, un detalle muy interesante: D. Francisco de Sotomayor justifica su
disponibilidad en explicarse personalmente frente al rey portugués alegando “tenerme
la emperatriz, mi señora, ocupado en la guardia desta costa”. Como sabemos, la
regente del Sacro Imperio Romano Germánico entre 1528 y 1533 fue la emperatriz
Isabel de Portugal “a mulher mais bonita de seu tempo”172, esposa del emperador
Carlos V, hija del rey D. Manuel I y hermana de D. João III. Así podemos deducir
que el marqués de Ayamonte procuró legitimar las culpas que se le imputaban por
las responsabilidades que la propia hermana del rey portugués le había atribuído.
Por otro lado, se deduce por qué motivo el marqués de Ayamonte, legítimamente
encargado de controlar la costa, se aventuraba en los mares de los Algarves Daquém
e Dalém-mar, intentando debilitar los intereses portugueses.
En cualquier caso, el malestar del monarca portugués con el noble español
no quedó ahí. Según una carta de D. João III a Henrique de Meneses, embajador
en Roma, y a Alvaro Mendes Vasconcelos, embajador en Madrid, vemos que el rey
de Portugal no dio el asunto por zanjado. Aunque nos haya sido imposible analizar
directamente esta carta, la descripción del documento en el Archivo Nacional de
Torre de Tombo alude a “os danos cometidos pelo marquês de Aiamonte nos mares
do Algarve” en fecha no precisada173. Sin embargo, como sabemos que Álvaro
Mendes de Vasconcelos era el embajador de Portugal en Madrid en ese mismo año
de 1530, resulta muy fácil deducir que se trata del mismo asunto. Más aún, el rey
portugués, no satisfecho con la respuesta del marqués de Ayamonte, dirigió sus
quejas directamente al embajador de Portugal en la corte española.
171 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9.
172 Marsilio Cassotti, Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, p.233.
173 A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17).
157
Fig. 3 Página da Internet relativa ao descritivo da Correspondência de D. João III a Henrique
de Meneses, embaixador em Roma e a Álvaro Mendes de Vasconcelos, embaixador em Madrid.
A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17).
Además, la tensión provocada por este episodio tuvo que ser de tal magnitud
que el Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as
diversas potências do mundo refiere la Carta do Senhor Rei D. João III dada em
Lisboa, dirigida á Camara da villa de Mertola, para lhe enviar a inquirição, que se
tirou em 1530, por falsamente se testemunhar em Castella por parte de Ayamonte
contra Castro Marim174.
Por lo demás, no deja de ser curiosa la intransigencia del marqués de Ayamonte
hacia los vecinos portugueses, especialmente cuando la armada del Estrecho – creada
en 1520 para garantizar la seguridad de la navegación entre el Algarve y el Norte
174 Vizconde de Santarém, Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências
do mundo…, Tomo I, p.18.
158
de Africa175terminaba por proteger Ayamonte de los daños causados por la piratería
magrebí. De hecho, son varios los testimonios que dan cuenta de los frecuentes
ataques de la piratería mora a las costas de Andalucía. Bernardo Rodrigues, por
ejemplo, refiere en el año 1513 el “muito dano que alguas fustas de Tetuão fazião
na costa de Castela especialmente de Malega até Cális e de Cális até o Algarve, elrei nosso senhor o mandava destroir e derrubar”176. Por otras palabras, el daño que
las fustas de Tetuán hacían a la costa de Castilla especialmente desde Málaga hasta
Cádiz y de Cadiz hasta el Algarve.
Este es el contexto en el que el rey D. Fernando el Católico llegó a preparar
una armada para destruir Tetuán, lo que no logró por este nido de piratas que se
encontraba en zona de derecho de conquista portuguesa. Más tarde, en 1520, Carlos
V volvió a insistir al lado del monarca portugués para construir una torre en el cauce
del río de Tetuán, para neutralizar a los barcos enemigos que tantos daños causaban
en las costas de Andalucía, pero el rey portugués no lo hizo. ¿Sería la intransigencia
del marqués de Ayamonte, eventualmente instigado por su soberano, el resultado de
la pasividad del rey D. Manuel respecto a este asunto?
En 1523 estaba esta armada en el cauce del río Guadiana, donde tenía orden
de embarcar el Conde do Redondo, D. João Coutinho177, en la villa de Arenilha,
para llevarlo a Arzila178. ¿Sería interpretada como una provocación la presencia de
la Armada del Estrecho en el cauce del Guadiana frente al entonces marqués de
Ayamonte Francisco de Zúñiga y Guzmán? Es posible. Lo cierto es que la Armada
del Estrecho siguió protegiendo Ayamonte. Buen ejemplo de ello fue lo que pasó en
1531, cuando D. Gonçalo Coutinho, capitán de dicha Armada, encontró una fusta
175 Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África
(Séculos XV – XIX), pp.117-137.
176 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo I, Capitulo XXVII, p.90. Véase también Rui Landeiro Godinho, “A Armada
do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), p.122.
177 Sobre esta familia véase Luís Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos: Linhagem, Espaço e Poder (1360-1452), Cascais,
Patrimonia, 1999; “Outro Venturoso de finais do século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e de Loulé”, in A Alta
Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar
Rodrigues (coord.), pp.45-56; Vítor Luís Gaspar Rodrigues, “As Linhagens Secundárias dos Coutinhos e a Construção do
Império Manuelino”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo
Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp.177-189.
178 José Virgílio Amaro Pissara, “Vasco Fernandes César, capitão da Armada do Estreito”, in A Guerra Naval do Norte de
África 8séculos XV – XIX), p.144; Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém
e Dalém-mar, p.100.
159
de Larache cerca de la barra de Ayamonte y de Lepe, a la que atacó perjudicando
a los portugueses. Además, es el propio Bernardo Rodrigues quien, en el mismo
capítulo en el que se describen los acontecimientos, refiere un ataque de los piratas
de Larache “ao Algarve, onde fizérão muito dano em navios que tomárão e, dentro
da Barra de Aiamonte, fizérão despejar a Arrinilha e a Montegordo”179.
ANTÓNIO LEITE: ¿UN CAPITÁN DE LA EXPANSIÓN PORTUGUESA
PARA VIGILAR AL MARQUÉS DE AYAMONTE?
Es fácil comprender que la acción del marqués de Ayamonte en los mares de
los Algarves Daquém e Dalém-mar no interesaba a los portugueses. La epistolografía
lo confirma. Por eso se hacía necesario seguir de cerca sus movimientos, colocando
en el terreno a alguien que conociera bien su modus operandi. En efecto, el monarca
portugués no tardó en encontrar la persona ideal para el cargo: António Leite, un
caballero portugués que, a lo largo de su carrera de armas y de los servicios prestados
a la Corona en Azamor y Mazagão, vio reconocidos sus esfuerzos con honras y
títulos180.
Como anteriormente vimos, António Leite fue el capitán de Azamor que el
10 de septiembre de 1529 advirtió a D. João III de los movimientos de una armada
del marqués de Ayamonte en el puerto de Mazagão y sobre la intención de éste de
establecer un acuerdo comercial con el xarife del sur de Marruecos. Sabemos que
después de haber estado como capitán en Mazagão, volvió a ser nombrado capitán de
Azamor el 17 de septiembre de 1537181, ocupando el cargo hasta marzo de 1541. Sin
embargo, al terminar su capitanía en Azamor y habiéndosele ordenado que siguiera
prestando sus servicios allí, Antonio Leite se quejó al rey de no haber sido nombrado
179 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo XXXV, p.209.
180 Sobre António Leite véase Rui Jorge Ferreira Henriques, “Quão grande trabalho é viver!” António Leite – circuitos da
nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos
apresentada à Universidade Nova de Lisboa, 2012; Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias
de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.58-72. Del mismo autor véase también “V Centenário
da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de
Ayamonte, pp.81-83.
181 Cf. Instrumento público de entrega da capitania de Azamor a António Leite. Documento publicado por Maria Augusta
Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português,
pp.161-164.
160
como capitán de Mazagão, cargo que “lhe pertencia por carta, que dela tinha del-rei
D. Manuel, seu pai”182. Es así como, el 20 de agosto de 1542, Antonio Leite recibió
la merced de la alcaidía de Santo Antonio de Arenilha, junto al cauce del Guadiana
y a poca distancia de Ayamonte, en la que se aclaraba que ese beneficio era a cambio
de dicha capitanía de Mazagão183.
Este episodio evidencia que, a los ojos de la Corona, Antonio Leite no tenía
ni el estatuto social ni las competencias necesarias para estar al frente de la nueva
fortaleza de Mazagão, el gran baluarte portugués cuyas obras habían costado a la
Corona 300.000 cruzados184 y donde se concentraban las fuerzas portuguesas de la
región de Duquela tras el abandono de Azamor y Safim185. No obstante, la experiencia
de Antonio Leite en el combate contra los moros y sus conocimientos sobre los
movimientos del marqués de Ayamonte186 en Marruecos acabarán, ciertamente, por
ser relevantes en el momento en que el rey D. João III decidió entregar al antiguo
capitán el señorío de una villa ubicada frente a Ayamonte - la misma villa que
el comendador de Arenilha Cristobal de Mendoza afirmó que había sufrido daños,
responsabilizando al marqués de Ayamonte de lo sucedido187. Otra razón nos
lleva a subrayar esta teoría. Durante su capitanía en Azamor, Antonio Leite trató
estrechamente con ayamontinos y tenemos razones para suponer su desconfianza
hacia los españoles en general. ¿Por qué? Lo explicamos enseguida.
182 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189.
183 A.N.T.T., Chancelaria da Ordem de Cristo, lv.13, fls. 375 v. – 379 v. Documento publicado por Hugo Cavaco in Revisitando
Santo António de Arenilha, doc. V, pp.36-37.
184 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.212; David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos…”, in História de
Portugal, vol. IV, pp.100-101.
185 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar,
Dissertação para mestrado em História do Algarve apresentada a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
do Algarve, pp.65-66.
186 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, pp.57-72. Del mismo autor véase también “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”,
in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.81-83.
187 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45.
161
AYAMONTINOS EN LAS PLAZAS DE PORTUGAL EN MARRUECOS
Durante el reinado de D. João III, Portugal ya no dispone de recursos
humanos para tan vasto imperio. Eran los “fidalgos y gemte del Algarve” quienes
frecuentemente acudían a las plazas de guerra en Marruecos188. No obstante, el
Algarve Daquém ya no podía asegurar en solitario la defensa y abastecimiento de
las plazas africanas, por lo que tenía que actuar en coordinación con la factoría
portuguesa en Andalucía189.
Es por esa razón por la que se hizo relativamente frecuente la contratación de
soldados ayamontinos, algo muy natural si consideramos la proximidad de Ayamonte
a Portugal y el fuerte crecimiento demográfico que esta ciudad comenzó a evidenciar
a partir de los primeros años de la Edad Moderna. Fue el caso de un atalaia (vigía)
que residía en Ayamonte y que en 1530 servía en la guarnición de Arzila. Bernardo
Rodrigues, a pesar de no identificar el nombre del individuo que “se fez cavaleiro
e atalaia”, cuenta que éste fue apresado y trasladado a Chefchauen190. Otro caso
similar es el de Manuel Fernández, un cristiano viejo natural de Ayamonte que era
atalaia en la ciudad de Tánger en el momento de su encarcelamiento, en 1645191.
188 Usando las palabras de Romero de Magalhães, el “Algarve era essencial para a defesa das praças ocupadas em Marrocos”.
Ver Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, p.82.
189 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e
da História, Vol. I, pp.135-159; Tomás Garcia Figueras, Hipólito Sancho, Dos Expedientes de abastecimiento de Mazagán,
Tánger y Ceuta, por factores portugueses del Puerto de Santa Maria, (1563-1567), Tânger, Instituto General Franco para la
Investigación Hispano-Árabe, 1939; Francisco Bejarano Robles, Documentos para el estúdio del abastecimento y auxilio de
las plazas portuguesas en Marruecos desde el sur de España – Aportación del concejo y la ciudad de Málaga esta empresa
a instancia de los factores portugueses, durante el siglo XVI (1513-1574), Tanger, Instituto General Franco, 1941; Hipólito
Sancho, La colonia Portuguesa del Puerto de Santa Maria. Siglo XVI, Jerez de la Frontera, s/d.; Hipólito Sancho, “Un foco
de cooperación Española a la Obra Portuguesa en África: Jerez de la Frontera y el Puerto de Santa Maria, 1500-1550”,
Mauritania, XXI, Tânger, 1943, pp.189-190-19; Robert Ricard, “Les Facteurs Portugais d’Andalousie (1509-1588)”, in Les
Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Tomo II, seconde partie, Paris, Paul Geuthner, 1946, pp.564-573 e “Sur les facteurs
portugais d’Andalousie” in Mélages d’études luso-marocains dédiés à la mémoire de David Lopes et Pierre Cénival, Lisboa,
Portugália, 1945, pp.391-400; Antonio Carmona Portillo, “Un contencioso entre Málaga y el Reino de Portugal en el contexto
del abastecimiento de las plazas portuguesas del Norte de África desde el puerto de Málaga”, in Isla de Arriarán, XX, 2002,
pp.23-40.
190 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo VII, p.153.
191 A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10330. Ver también Fernando Pessanha, “Ayamonte nos
processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal)”, in XX Jornadas de Historia de la muy noble y
leal ciudad de Ayamonte, p.26.
162
Fig. 4- Frontispício del proceso de Manuel Fernández. A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício,
Inquisição de Lisboa, proc. 10330.
Si esto sucedía en las plazas del norte de Marruecos, lo mismo pasaba en las
plazas del sur, que sentirían de cerca la presión de los xarifes, principalmente después
de la caída de Santa Cruz do Cabo de Gué, en 1541. Es lo que presenció Antonio
Leite cuando, ese mismo año, se encontraba en Azamor. La carta del doctor Rodrigo
Machado a D. João III, el 28 de Marco de 1541, revela la presencia de Antonio
de Gonçalves en Ayamonte para reclutar hombres que integrasen las guarniciones
militares, ya que se preparaba un inminente cerco del xarife. Y fue así que el “domingo
XX de março partio húa caravela d’Antonio Gonçallvez da Camará, ho da Ilha, que
orra esta em Ayamonte, e que elle avia de partir a terça feira XXIJ dias”192. Lo cierto
es que en el mes siguiente, el 13 de abril de 1541, es el propio D. João III el que alude
a un envío de 550 hombres del Algarve y Ayamonte hacia Azamor y Mazagão: “eu
tenho por certo que do Algarve e Aiamonte são partidos para socorro d’Azamor e
Mazaguão b l homens”193.
192 Carta del doctor Rodrigo Machado a D. João III, en 28 de Marzo de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites
de l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. XCIV; pp.338-339.
193 Carta de D. João III a Fernão Peres de Andrade, en 13 de Abril de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites de
163
El problema es que el reclutamiento de soldados y mercenarios en Andalucía
resultaba costoso y no siempre los refuerzos castellanos prestaban el auxilio que era
de esperar. Un buen ejemplo fue lo que pasó ese mismo año, cuando D. Fernando de
Noronha sustituyó a Antonio Leite en la capitanía de Azamor. Nos dice Fray Luis de
Sousa que:
“tomando o governo, achou-se D. Fernando com guerra dos muros a dentro,
não lha fazendo os inimigos de fora. Eram a mor força de gente que havia na cidade,
castelhanos andaluzes (…) gente que corre a receber soldos nestes lugares grandes
(…) homens broncos e lerdos pera a boa disciplina, e mui fáceis e prontos para todo
o insulto”194.
Estos eran los soldados andaluces que, desobedientes e insumisos al capitán
portugués, llegaban a soltar los presos encarcelados en el castillo por faltas graves.
Les interesaba sobre todo el sueldo que se apresuraban a exigir, amenazando saquear
la ciudad, lo que llevó al capitán a usar la violencia195. Para ello el capitán pidió
refuerzos a Mazagão y engañó a los cabecillas de los motines con el pago de tan
exigidos sueldos. Reunidos en la sala de los pagos, fueron desarmados por los soldados
portugueses y, al día siguiente, todos los culpables aparecieron estrangulados y
colgados en las almenas: “quando amanheceu o dia seguinte, apareceram enforcados
e pendurados nas ameias todos os mais culpados”196.
En efecto, la crónica de Fray Luis de Sousa no precisa el origen de estos
soldados andaluces. Sin embargo, los documentos que anteriormente citamos constatan
la contratación de soldados ayamontinos para integrar la guarnición de Azamor en
ese mismo año de 1541, lo que hace muy probable que entre los implicados en los
disturbios se encontrasen hombres naturales de Ayamonte. Por otro lado, es muy
l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. CVII, pp.386-389.
194 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189.
195 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar,
Dissertação para mestrado em História do Algarve apresentada a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
do Algarve, p.55.
196 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.191. Sobre la violencia en las crónicas relativas a la expansión
portuguesa en el norte de África véase Paulo Vicente, A violência na cronística sobre Marrocos nos séculos XV e XVI, Lagos,
Câmara Municipal de Lagos, 2009. Del mismo autor véase también “Falar de Violência em Marrocos nos séculos XV-XVI.
A Perspectiva dos Cronistas Portugueses”, in Portugal e o Magrebe. Actas do 4º Colóquio de História Luso-Marroquina,
pp.347-352.
164
posible que esta experiencia hubiese sido determinante en cuanto a la desconfianza
de António Leite hacia los españoles. Leite no solo había tenido contacto con las
actividades del marqués de Ayamonte, sino que además conocía el modus operandi
andaluz en los Algarves luso-hispano-marroquies. De forma que la selección de un
individuo como el antiguo capitán de Azamor y Mazagão para marcar la posición en
una villa frente a España y proteger la margen portuguesa del Guadiana, no habría
sido sin duda inocente197. Por otra parte, la desconfianza del alcaide de Arenilha hacia
los vecinos del otro lado de la frontera es bien patente en la carta que escribe a D.
João III en la que recela del despoblamiento de la villa, lo “que não pesara nada
aos castilhanos e aos de sua openyão”198. Por lo demás, esta frase es representativa
de las dudas que los castellanos despertaban en el ánimo de Leite, y la consecuente
necesidad de vigilarlos de cerca.
AYAMONTE – PUERTO DE TRANSPORTE DE HOMBRES Y MERCANCÍAS
HACIA LAS PLAZAS PORTUGUESAS DEL NORTE DE ÁFRICA
Como podemos comprobar, la relación de Ayamonte con las plazas
portuguesas del norte de África no se limitó a la contratación de soldados. De
hecho, hay referencias a contactos directos entre Ayamonte y esas plazas de guerra,
acreditadas por fletamentos de barcos de cara al transporte de hombres y mercancías.
Según Antonio Manuel González Díaz, el documento más antiguo que
demuestra la relación directa entre Ayamonte y las posesiones portuguesas en
Marruecos se relaciona con una transacción de 1596, en la que el gaditano Antonio
Méndez, dueño del barco San Juan de Guía, acordó con Luís del Puerto, de Tánger,
el fletamento de su barco para llevar a la ciudad norteafricana 12 fardos de ropa de
la Índia. Aparte, el barco que entonces se encontraba en Ayamonte, debía recoger la
197 Fernando Pessanha, Os 500 anos da fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão
Portuguesa, p.67.
198 Carta de António Leite a D. João III, el 16 de Noviembre de ¿?? Documento parcialmente publicado por Hugo Cavaco in
Revisitando Santo António de Arenilha, pp. 16-17 y por Márcia Grilo, “Na Margem Direita do Guadiana Face a Espanha”, in
Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, p.44.
165
carga en un molino de agua de Castro Marim199.
Sin embargo, durante la investigación para el presente trabajo nos hemos
encontrado con referencias que nos permiten concluir que esta relación directa
entre el puerto de Ayamonte y esas plazas militares es bastante anterior. En efecto,
la alusión más antigua que encontramos data de 1494, relativa a un grupo de
comerciantes ayamontinos y leperos que llevaron una carabela con paños, lienzos
y otras mercancías hacia los puertos de África, e que entonces se encontraba en el
puerto de Azamor200. Otro caso interesante es el de Pite João, un artillero de Arzila
que, habiendo llegado a Portugal en 1529, fletó en Ayamonte un barco castellano y
lo cargó con piezas de artillería, cerámica y madera201. Obsérvese que esto ocurrió el
mismo año en el que el marqués de Ayamonte envió una armada a Mazagão, formada
por un “galeam e duas caravelas”202, lo que podrá indicar que Ayamonte, a finales
de la segunda década del siglo XVI, empezaba a evidenciar una creciente pujanza
naval.
Por lo demás, todavía tenemos más noticias relativas a contactos directos
entre Ayamonte y las plazas portuguesas del Norte de África, ya desde el periodo
de la Unión Ibérica. Un ejemplo es el contrato realizado entre Cristóbal Gómez, del
Puerto de Santa María y dueño del barco conocido como La Victoria, y Manuel
Teixeira, de Tânger, para llevar a la ciudad del Estrecho 16 fardos de ropa que debían
ser recogidos en el puerto fluvial de Mértola. Es el caso también del ayamontino
Francisco Díaz que fletó su barco a Simón de Corona, de Ceuta. El navío, que se
llamaba San Andrés, debía recoger las mercancías en Tavira y transportarlas a aquella
ciudad del Estrecho203.
199 Antonio Manuel González Díaz, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y
leal ciudad de Ayamonte, p.47.
200 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante
las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153.
201 Este barco acabó por encontrar un bergantín de moros, antes de llegar a Arzila. El combate fue favorable a los portugueses,
a pesar de la desproporción numérica. Ver Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo LV, pp.137-138.
202 Carta de António Leite a D. João III, el 10 de Septiembre de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de
l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº 64. Ver também Pedro
Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol.
XI, p.265.
203 Antonio Manuel González Díaz, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y
leal ciudad de Ayamonte, p.47.
166
CONSIDERACIONES FINALES
Antes de concluir el presente artículo, cabe hacer algunas consideraciones
finales respecto a determinadas cuestiones antes planteadas. Para ello resulta
indispensable analizar la realidad política, económica y social vivida en Ayamonte
en el tránsito de la segunda a la tercera década del siglo XVI. Lo cierto es que los
años en los que ocurrieron acontecimientos como los movimientos de la armada del
marqués de Ayamonte en el sur de Marruecos, la tentativa de establecer un acuerdo
comercial con los xarifes del Sus o las tensiones verificadas entre el rey de Portugal
y el marquesado de Ayamonte, corresponden a un momento en el que esta ciudad
portuaria crecía mucho gracias al desarrollo económico basado en las actividades
comerciales, las pesquerías y la participación ayamontina en la Carrera de Indias.
Los marqueses de Ayamonte, aprovechando los años de paz que España
conoció en los primeros años de la Edad Moderna, fomentaban eficazmente el
poblamiento del territorio, lo que supuso un crecimiento del tejido urbano204. En
época de la marquesa Dª Teresa de Guzmán, esposa de D. Francisco de Sotomayor,
Ayamonte conoció años de crecimiento urbano, demográfico e económico que
tuvieron reflejo en situaciones como la fundación de Villablanca o la regulación
de los derechos generados por las actividades piscícolas205. En 1530, año de mayor
tensión con D. João III de Portugal, la ciudad contaba con 1035 vecinos y, de 1530 a
1540, fue tal el crecimiento de la población marinera que se hizo necesario extender
el segundo núcleo urbano, el Barrio de la Ribera.
Dicho de otro modo, Ayamonte se encontraba entonces en pleno proceso
de expansión, condicionada a nuevos espacios de movilidad y oportunidad. No es,
por tanto, de extrañar que los ayamontinos buscasen las águas del Cabo de Gué
para desempeñar sus actividades de pesquerías, que intentasen reactivar el comercio
en las costas de África o que intentaran probar suerte como soldados en las plazas
portuguesas de Marruecos, un destino mucho más cercano que la arriesgada Carrera
de las Indias Occidentales.
Por otra parte, es preciso recordar que esta ciudad de clara vocación marítima
y pesquera estaba orientada hacia los mares del Algarve, al oeste, y hacia la costa
204 En 1527, es fundado el convento de San Francisco, edificación que marca el arranque de la nueva Ayamonte de la Edad
Moderna.
205 Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, pp.45-46.
167
marroquí, al sur y al suroeste, entonces controlada por los portugueses. De ahí que la
afirmación de Ayamonte desde el punto de vista político, económico y social pasara
por desprenderse de la hegemonía portuguesa en los mares atlánticos donde, como
diría el historiador español Rumeo de Armas, “sin más excepción que las Canarias,
Portugal le llevó siempre la delantera”206. Es, por tanto, esa rivalidad y esa necesidad
de procurar nuevas soluciones para los nuevos desafíos que se planteaban, las que
habrían conducido a los desencuentros entre la corona de Portugal y el marqués de
Ayamonte. Por otro lado, esta ventaja que Portugal llevaba en las costas atlánticas de
África, reflejada en la posesión de plazas militares en Marruecos, también contribuyó
a viabilizar el negocio de los fletes de barcos en Ayamonte, con vista al transporte
de hombres y mercancías, aunque de forma bastante más tímida cuando se compara
con el caso de El Puerto de Santa María, Cádiz, o de Málaga207.
Finalmente, creemos que los documentos aquí referidos cobran un particular
interés si tenemos en cuenta dos razones principales: primero, por tratarse de
documentos portugueses que acaban por reflejar el punto de vista del país vecino
en cuanto a Ayamonte; y segundo, debido à la cronologia a la que nos remontan y
a la escasez de documentación relativa a esta ciudad durante la primera mitad del
siglo XVI. Efectivamente el documento más antiguo que se conserva en el Archivo
Municipal de Ayamonte está datado de 1522208. En este sentido, los documentos que
citamos, en particular los documentos relativos a la primera mitad del siglo XVI,
revisten una especial importancia en la medida en la que terminan contribuyendo,
aunque de forma tímida, a un mayor conocimiento de lo que fue Ayamonte en los
albores de la Edad Moderna.
Fernando Pessanha
(Archivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António)
Traducción: Silvia Rodriguez Cacho
Revisión: Antonio Sánchez González
206 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, p.401.
207 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da
História, Vol. I, pp.135-159.
208 Antonio Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de
Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.24.
168
FONTES E BIBLIOGRAFIA / FUENTES Y BIBLIOGRAFIA
Arquivos / Archivos:
Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Chancelaria de D. João II
Livro 24, fólio 99.
Chancelaria de D. Manuel I
Livro 5, fólio 24v; Livro 5, fólio 25; Livro11, fólio 53.
Corpo Cronológico
Parte I, maço 44, n.º 45; Parte I, maço 45, n.º 9.
Cartas dos Governadores de África
Documento nº64.
Gavetas
Gaveta 20, maço V, nº 14,
Manuscritos da Livraria
Documento n.º 1118 (17).
Chancelaria da Ordem de Cristo
Livro13, fólios 375 v. – 379 v.
169
Tribunal do Santo Ofício
Inquisição de Lisboa, Processo Nº 10330.
Fontes Impressas / Fuentes Impresas
CASAS, Fray Bartolome de las, Brevisima Relación de la Destruiccion de Africa,
Editorial del Cardo, 2003.
Colección de documentos ineditos para la Historia de España, por los señores
marqueses de Pidaal y de Miraflores y D. Miguel Salvá. Individuos de la Academia
de la Historia, Tomo XXXVI, Madrid, Imprenta de la Viuda de Calero, 1860.
Monumenta Henricina, 8 Vols, Coimbra, Comissão Executiva das Comemorações
do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960.
PEREIRA, Duarte Pacheco, Esmeraldo de Situ Orbis, Lisboa, Academia Portuguesa
da História, 1954.
PINA, Rui de, Crónica de D. João II, Lisboa, Publicações Alfa, 1989.
RESENDE, Garcia de, Biografias da História de Portugal - Volume XXIX - D. João
II, Matosinhos, QuidNovi, 2004.
RODRIGUES, Bernardo, Anais de Arzila, 2 Vols., Lisboa, Academia das Sciências
de Lisboa, 1915-1919.
SOUSA, Frei Luís de, Anais de D. João III, 2 vols., Lisboa, Sá da Costa, 1928.
ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica da Tomada de Ceuta, Mem-Martins,
Publicações Europa-América, 1992.
170
Estudos / Estudios
ALBERTO, Maria da Conceição Martins, Um Negócio Piedoso: o Resgate de
Cativos em Portugal na Época Moderna, Dissertação de Doutoramento em Historia
- Área do conhecimento de Idade Moderna - apresentada à Universidade do Minho,
Braga, 2010.
- “Resgatar cristãos em terras no Norte de África – O ofício de Alfaqueque
no século XV”, in Estudos de História Luso-Marroquina, Lagos, Câmara Municipal
de Lagos, 2010, pp.41-50.
AMARAL, Augusto Ferreira do, Mazagão, A Epopeia Portuguesa em Marrocos,
Lisboa, Tribuna da História, 2007.
ARMAS, Antonio Rumeo de, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña
– Su segunda fundación”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, Universidad de las
palmas de Grand Canária. Biblioteca Universitaria, 2004, pp-397-477.
ARROYO BERRONES, Enrique R., “La marinería ayamontina: las preeminências
alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas
de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación
Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura, 2010, pp.149175.
BEJARANO ROBLES, Francisco, Documentos para el estúdio del abastecimento y
auxilio de las plazas portuguesas en Marruecos desde el sur de España – Aportación
del concejo y la ciudad de Málaga esta empresa a instancia de los factores portugueses,
durante el siglo XVI (1513-1574), Tanger, Instituto General Franco, 1941.
BONET Y REVERÓN, Buenaventura, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas
en África”, in Revista de Historia, Tomo 5. Año 10. Número 037, La Laguna de
Tenerife, Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de La Laguna, 1933,
pp.138-149.
171
CARMONA PORTILLO, Antonio, “Un contencioso entre Málaga y el Reino de
Portugal en el contexto del abastecimiento de las plazas portuguesas del Norte de
África desde el puerto de Málaga”, in Isla de Arriarán, XX, 2002, pp.23-40.
CASSOTTI, Marsilio, Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, Lisboa, Esfera
dos Livros, 2004.
CAVACO, Hugo, Revisitando Santo António de Arenilha, Vila Real de Santo António,
Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 1995.
CÉNIVAL, Pierre de, Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. I, Première
Série, Paris, Paul Geuthner, 1934.
- Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Première Partie, Paris,
Paul Geuthner, 1939.
CÉNIVAL, Pierre de; LOPES, David; RICARD, Robert, Les Sources Inédites de
l’histoire du Maroc, Vol. II, Seconde Partie, Paris, Paul Geuthner, 1948.
CORREIA, Jorge, Implantação da Cidade Portuguesa no Norte de África - Da
tomada de Ceuta a meados do Séc. XVI, Porto, FAUP Publicações, 2008.
CORREIA, Vergílio, Lugares Dalém, Azamor, Mazagão, Safim, Conferências
realizadas em Lisboa, Porto e Coimbra, Lisboa, 1923.
CORTE – REAL, Manuel Henrique, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o
reinado de D. João III”, in Do Tempo e da História, Vol. I, Instituto de Alta Cultura
– Centro de Estudos Históricos, Lisboa, 1965, pp.135-159.
COSME, João, A Guarnição de Safim em 1511, Casal de Cambra, Caleidoscópio,
2004.
- “Tratado de Paz entre Portugal e o Reino de Fez”, in Arquipélago * História,
2ª série, XIV-XV, Açores, Universidade dos Açores, pp.11-29.
172
CRUZ, Maria Augusta Lima, “Documentos inéditos para a história dos portugueses
em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português, Paris, Fundação Calouste
Gulbenkian, 1970, pp.104-179.
- “Tavira no processo de abandono de praças portuguesas do Norte de África
no século XVI. Abertura de um estudo”, in Espírito e Poder – Tavira nos Tempos da
Modernidade, Tavira, Câmara Municipal de Tavira, 2006, pp.20-45.
DIAS, Pedro, A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos 1415 – 1769, Coimbra,
Livraria Minerva Editora, 2000.
- História da Arte Portuguesa no Mundo – O Espaço Atlântico (séculos XV –
XIX), Lisboa, Círculo dos Leitores, 2008.
FARINHA, António Dias, “O conceito de «império português»”, in História de
Portugal - Vol. V – Os Descobrimentos (II), (dir. João Medina), Lisboa, Ediclube,
s/d, pp.445-457.
- “O Norte de África”, in História da Expansão Portuguesa, Vol. I, Lisboa,
Circulo de Leitores, 1998, pp.118-133.
- Os Portugueses em Marrocos, Lisboa, Instituto Camões, 2002.
FERNÁNDEZ CHAVES, Manuel F., & PÉREZ GARCÍA, Rafael, “Las redes de
la trata negrera: mercaderes portugueses y tráfico de esclavos en Sevilla (15601580)”, in La Esclavitud Negroafricana en la Historia de España. Siglos XVI y XVII,
Granada, Editorial Comares, 2010, pp.5-34.
FIGANIER, Joaquim, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541),
Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1945.
FONTOURA, Otília Rodrigues, Portugal em Marrocos na Época de D. João III –
Abandono ou Permanência?, Funchal, Centro de Estudos de História doAtlântico, 1998.
173
GALINDO Y VERA, León, Las Posesiones Hispano-Africanas, Málada, Algazara,
1993.
GAMBÍN GARCÍA, Mariano, La torre de Santa Cruz de la Mar pequeña. La
primera huella de Canarias y Castilla en África, Instituto de Estudios Canarios,
2014.
GARCIA FIGUERAS, Tomás, SANCHO, Hipólito, Dos Expedientes de
abastecimiento de Mazagán, Tánger y Ceuta, por factores portugueses del Puerto
de Santa Maria, (1563-1567), Tânger, Instituto General Franco para la Investigación
Hispano-Árabe, 1939.
GIL PÉREZ, Javier & GARRIDO GUIJARRO, Óscar, “Santa Cruz de Mar Pequeña
- Ifni en las relaciones hispanomarroquíes”, in Anuario de Estudios Atlánticos, Las
Palmas de Gran Canaria, 2015, pp.1-23.
GODINHO, Rui Landeiro, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in
A Guerra Naval no Norte de África (Séculos XV-XIX), Lisboa, Edições Culturais da
Marinha, 2003, pp.117-137.
GODINHO, Vitorino Magalhães, História Económica e Social da Expansão
Portuguesa, Lisboa, Terra Editora, 1947.
GONZÁLEZ DÍAZ, Antonio Manuel, “Ayamonte y su proyección exterior”, in
XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte,
Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura,
2010, pp.43-69.
- La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte,
Huelva, Diputación Provincial de Huelva, 2014.
- “La outra cara del Ayamonte Moderno: la población esclava. Procedimientos
de integración y exclusión social”, in XIX Jornadas de Historia de la muy noble y leal
Ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de
174
Ayamonte. Área de Cultura, 2015, pp.31-47.
GRILO, Márcia Luísa, “Na Margem Direita do Guadiana Face a Espanha”, in Vila
Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, Vila Real de Santo António, Câmara
Municipal de Vila Real de Santo António, 2010.
HENRIQUES, Rui Jorge Ferreira, “Quão grande trabalho é viver!” António Leite
– circuitos da nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Dissertação de
Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos apresentada à Universidade
Nova de Lisboa, Lisboa, 2012.
IRIA, Alberto, O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos), Braga, Editora
Correio do Minho / SM, 1995.
LIMA, Durval Pires de, História da Dominação Portuguêsa em Çafim (1506 – 1542),
Lisboa, Imprensa Lucas & C.ª, 1930.
LOPES, David, “Os Portugueses em Marrocos: Ceuta e Tânger”, in História de
Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. III, Barcelos, Portucalense Editora, 1932,
pp.385-432.
- “Os Portugueses em Marrocos no tempo de D. Afonso V e de D. João II”,
in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. III, Barcelos, Portucalense
Editora, 1932, pp.433-452.
- “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de
Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. III, Barcelos, Portucalense Editora, 1932,
pp.453-544.
- “Os Portugueses em Marrocos no tempo de D. João III: Decadência do
Domínio Português”, in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. IV,
Barcelos, Portucalense Editora, 1932, pp.78-129.
175
- A Expansão em Marrocos, Lisboa, Teorema, 1989.
MAGALHÃES, Joaquim Romero de, Para o Estudo do Algarve Económico Durante
o Século XVI, Lisboa, Edições Cosmos, 1970.
- O Algarve na Época Moderna, Coimbra, Imprensa da Universidade de
Coimbra, 2012.
MARQUES, Oliveira, “A Expansão no Atlântico”, in Nova História da Expansão
Portuguesa – Vol. II – A Expansão Quatrocentista, Lisboa, Editorial Estampa, 1998,
pp.11-236.
MARQUÉZ MACÍAS, Rosario & LÓPEZ VIERA, David, Hombres y Capitales: las
relaciones entre Ayamonte y America en la Edad Moderna. El caso de los Galdames,
Ayamonte, Patronato Municipal de Cultura de Ayamonte, s/d.
MARTINS, José António de Jesus Martins, O Reino do Algarve nos finais da Idade
Média – Os concelhos algarvios no séc. XV, Lagos, edição de autor, 2007.
MOREIRA, Rafael, Arzila, Torre de Menagem – Le Donjon d’Asilah, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, pp.23-45.
OLIVERA, Leopoldo de la Rosa & RAFOLS, Elfas Serra, El Adelantado D. Alonso
de Lugo y su residência por Lope de Sosa, Tenerife, Instituto de Estudios Canarios,
1949.
OLIVEIRA, Luís Filipe, A Casa dos Coutinhos: Linhagem, Espaço e Poder (13601452), Cascais, Patrimonia, 1999.
- “Outro Venturoso de finais do século XV: Francisco Coutinho, Conde de
Marialva e de Loulé”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do
Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues
176
(coord.), Lisboa, CHAM/IICT, 2004, pp.45-56.
PESSANHA, Fernando, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da
Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação de Mestrado em História
do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, Faro, 2011.
- Os 500 anos da fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida
no decurso da Expansão Portuguesa, Vila Real de Santo António, Câmara Municipal
de Vila Real de Santo António, 2014.
- “Os mouriscos nos Algarves portugueses – Uma perspectiva generalista sobre
uma minoria étnica”, in Los Descendientes Andaluíes «Moriscos» en Marruecos,
España y Portugal, Tanger, Câmara Municipal de Tânger, 2014, pp.245-254.
- “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in
XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte,
Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura,
2014, pp.77-95.
- Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e
Dalém-mar, Edições Mandil / 4 Águas Editora, 2014.
- “Ayamonte nos processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do
Tombo (Portugal)”, in XX Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de
Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte.
Área de Cultura, 2016, pp.13-28.
PINTO, Pedro, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do
Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol. XI, 2010, pp.249-380.
PISSARA, José Virgílio Amaro, “Vasco Fernandes César, capitão da Armada do
Estreito”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), Lisboa, Edições
Culturais da Marinha, 2003, pp.139-156.
177
RICARD, Robert, - “Sur les facteurs portugais d’Andalousie” in Mélages d’études
luso-marocains dédiés à la mémoire de David Lopes et Pierre Cénival, Lisboa,
Portugália, 1945.
- “Les Facteurs Portugais d’Andalousie (1509-1588)”, in Les Sources
Inédites de l’histoire du Maroc, Tomo II, seconde partie, Paris, Paul Geuthner, 1946.
- “L’occupation portugaise d’Agadir (1505-1541)”, in Hespéris, Tomo
XXXIII, Paris, Librairie Larose, 1946, pp.93-102.
- Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. III, Paris, Paul Geuthner,
1948.
- Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. IV, Paris, Paul Geuthner,
1951.
RESENDE, Vasco, “Os Portugueses em Marrocos e a guerra no mar no princípio
do século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África (séculos XV – XIX), Lisboa,
Edições Culturais da Marinha, 2003, pp.101-116.
RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar, “As Linhagens Secundárias dos Coutinhos e a
Construção do Império Manuelino”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da
Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís
Gaspar Rodrigues (coord.), Lisboa, CHAM/IICT, 2004, pp.177-189.
RUMEO DE ARMAS, Antonio, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar
Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, Universidad de Las Palmas de Gran
Canaria., Biblioteca Universitaria. Memoria Digital de Canarias, 2004, pp.397-477.
SÁNCHEZ GONZÁLEZ, Antonio, “Ayamonte: datos para una Historia basada en
fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de
Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte.
178
Área de Cultura, 2012, pp.11-57.
SANCHO, Hipólito, La colonia Portuguesa del Puerto de Santa Maria. Siglo XVI,
Jerez de la Frontera, s/d.
- “Un foco de cooperación Española a la Obra Portuguesa en África: Jerez de
la Frontera y el Puerto de Santa Maria, 1500-1550”, Mauritania, XXI, Tânger, 1943.
SANTARÉM, Visconde de, Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas
de Portugal com as diversas potências do mundo, desde o princípio da Monarchia
Portugueza até aos nossos dias, Tomo I, Paris, MDCCCXLII.
SILVA, Isabel L. Morgado de Sousa e, A Ordem de Cristo (1417-1521) - Revista
Militarium Ordium Analecta, Nº 6, Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 2002.
VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de, Nobreza e Ordens Militares.
Relações Sociais e de Poder (séculos XIV a XVI), Dissertação de Doutoramento
em História Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, 2008.
VICENTE, Paulo, A violência na cronística sobre Marrocos nos séculos XV e XVI,
Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 2009.
- “Falar de Violência em Marrocos nos Séculos XV-XVI. A Perspectiva dos
Cronistas Portugueses”, in Portugal e o Magrebe. Actas do 4º Colóquio de História
Luso-Marroquina, Lisboa / Braga, Centro de História de Além-Mar e Centro de
Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, 2011, pp.347-352.
179
180
181
182