Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
AYAMONTE NA EXPANSÃO PORTUGUESA PARA O NORTE DE ÁFRICA FERNANDO PESSANHA ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE VILA DE SANTO ANTONIO AYAMONTE EN LA EXPANSIÓN PORTUGUESA POR EL NORTE DE AFRICA 106 107 PREFÁCIO A notável participação que Ayamonte teve na descoberta, conquista, colonização e evangelização no Novo Mundo foi desde sempre reconhecida. No entanto, pouco sabemos acerca das suas relações com o próximo continente do sul e do contributo da sua gente na Expansão Portuguesa para o Norte de África, onde o Algarve teve um protagonismo indubitável. É neste sentido que é de agradecer este artigo do historiador Fernando Pessanha, onde aprofunda as relações que Ayamonte manteve, pelo menos desde as últimas duas décadas do século XV, com a vizinha Castro Marim, com Tavira e com outros portos algarvios, o que desencadeou a participação de muitos ayamontinos nessa expansão portuguesa pelo continente africano, umas vezes na qualidade de soldados às ordens das hostes lusas em Marrocos, outras como povoadores de praças como Arzila, Safim, Azamor, etc., isto quando não o faziam como meros comerciantes que aspiravam manter relações mercantis com territórios norte-africanos vassalos da coroa portuguesa. Este contributo de Ayamonte na Expansão Portuguesa para o continente meridional da Península Ibérica, no outro lado do Estreito de Gibraltar, é explicado por Pessanha depois de analisar os antecedentes da presença espanhola em África, em rivalidade com o próprio reino de Portugal, com interessantes novidades, como o frustrado projecto da conquista de Azamor pela Coroa de Castela, em 1500. Referências concretas a ayamontinos em lugares africanos como Santa Cruz de la Mar Pequeña e outros, que o autor remonta ao ano 1494, são também fruto da secular vocação marítima e pesqueira de uma Ayamonte com pretensões comerciais em determinadas povoações do Cabo de Gué, como Tamareque, Meça o Taracuco. Um interessante episódio que o historiador Pessanha desenvolve neste trabalho é dedicado à armada fretada em 1529 pelo marquês de Ayamonte D. Francisco de Sotomayor, e composta por duas caravelas e um galeão, com intenções de estabelecer uma feitoria comercial de escravos e produtos africanos em Marrocos, o que acabou por não se concretizar, mas que originou óbvias tensões com o rei de Portugal. 108 Por aqueles anos do segundo quartel do século XVI, Ayamonte encontrava-se em pleno processo de crescimento, tanto económica como demograficamente, e com repercussões no seu tecido urbano no Barrio de la Ribera, o que contribuiu para reactivar o comércio local e as pescarias nas costas norte-africanas e que fez com que alguns dos seus naturais tentassem a sorte nas praças portuguesas de África, para além da inestimável participação de tantos ayamontinos na Carreira das Índias. E, ainda que o autor recorra a uma completíssima bibliografia ibérica para a elaboração deste trabalho, o grande contributo de Fernando Pessanha é juntar-lhe o enorme valor de basear o seu estudo em fontes documentais inéditas, tendencialmente provenientes do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Lisboa (especificamente os fundos das chancelarias dos reis D. João II e D Manuel I de Portugal, as Cartas dos Governadores de África, Chancelaria da Ordem de Cristo e de fundos do Tribunal do Santo Oficio português), que reflectem o ponto de vista do país luso quanto a Ayamonte durante a primeira metade do século XVI, documentos que cobrem parcialmente o enorme vazio documental que tem a nossa cidade para estas datas, entre outras razões, pela lamentável dispersão e perda que teve o arquivo dos marqueses de Ayamonte. Parabéns, Fernando, por este contributo para a nossa História. A minha gratidão como ayamontino. Prof. Doutor Antonio Sánchez González Universidade de Huelva 109 PREFACIO Siempre hemos ponderado la notable participación que tuvo Ayamonte en el descubrimiento, conquista, colonización y evangelización del Nuevo Mundo. Sin embargo, poco sabemos acerca de sus relaciones con el cercano continente del sur, y de la contribución de su gente en la expansión portuguesa por el norte de África, en la que el Algarve tuvo un protagonismo indudable. De ahí que sea de agradecer este artículo del historiador Fernando Pessanha, donde profundiza en las relaciones que mantuvo Ayamonte, al menos desde las últimas décadas del siglo XV, con la vecina Castro Marim, con Tavira y con otros puertos algarvios, lo que desencadenó en la participación de muchos ayamontinos en esa expansión portuguesa por el continente africano, unas veces enrolándose como soldados a las órdenes de las huestes lusas en Marruecos, otras como pobladores de plazas como Arzila, Safim, Azamor, etc., cuando no lo hacían como meros comerciantes que aspiraban a mantener relaciones mercantiles con territorios norteafricanos vasallos de la corona portuguesa. Esta contribución de Ayamonte a la expansión portuguesa por el continente meridional de la Península Ibérica, al otro lado del estrecho de Gibraltar, la enmarca Pessanha tras analizar los antecedentes de la presencia española en África, en rivalidad con el propio reino de Portugal, con interesantes aportaciones como el frustrado proyecto de conquista de Azamor por la Corona de Castilla en 1500. Menciones concretas a ayamontinos en lugares africanos como Santa Cruz de la Mar Pequeña y otros, que remonta el autor al año 1494, son también fruto de la secular vocación marítima y pesquera de Ayamonte con pretensiones comerciales en determinadas poblaciones del cabo de Aguer como Tamareque, Meça o Taracuco. Un interesante episodio que desarrolla el historiador Pessanha en este trabajo es el dedicado a la armada que fletó en 1529 el marqués de Ayamonte D. Francisco de Sotomayor, compuesta por dos carabelas y un galeón, con intenciones de establecer en Marruecos una factoría comercial de esclavos y productos africanos, que finalmente no prosperó y que generó lógicas tensiones con el rey de Portugal. 110 Por aquellos años del segundo cuarto del siglo XVI Ayamonte se encontraba en pleno proceso expansivo, tanto económica como demográficamente con repercusión en su entramado urbano por el barrio de la Ribera, lo que contribuyó a reactivar el comercio local y las pesquerías en las costas norteafricanas y a que algunos de sus naturales probaran suerte en plazas portuguesas del continente, al margen de la inestimable participación de tantos ayamontinos en la carrera de Indias. Y aunque el autor maneja una completísima bibliografía ibérica en la elaboración de este trabajo, la gran contribución que hace aquí Fernando Pessanha es añadirle el enorme valor de basar su estudio en fuentes documentales inéditas, preferentemente extraídas del Archivo Nacional de la Torre do Tombo de Lisboa (en concreto de los fondos de las cancillerías de los reyes Juan II y Manuel I de Portugal, de las series de Gobernadores de África, de la cancillería de la orden de Cristo y de fondos del Tribunal del Santo Oficio portugués), que reflejan el punto de vista del país luso en cuanto a Ayamonte durante la primera mitad del siglo XVI, unos documentos que cubren parcialmente el enorme vacío documental que tiene nuestra ciudad para estas fechas, entre otras razones por la lamentable dispersión y pérdida que tuvo el archivo de los marqueses de Ayamonte. Felicidades, Fernando, por esta aportación a nuestra Historia, y mi gratitud como ayamontino. Prof. Doctor Antonio Sánchez González Universidad de Huelva 111 112 Tal como é do conhecimento comum, Ayamonte foi uma das terras andaluzas que colaborou activamente para a exploração e colonização do continente americano, acabando por se converter, durante o século XVI, num dos núcleos urbanos mais importantes de toda a costa de Huelva. Porém, a proximidade ao Algarve determinada pela sua condição de terra de fronteira, fez com que Ayamonte também participasse com recursos humanos nos Descobrimentos Marítimos e na Expansão Portuguesa para o Norte de África. Com efeito, a história do vizinho Algarve, entre os séculos XV e XVII, encontra-se estreitamente interligada com as conquistas em Marrocos, uma ligação umbilical que, efectivamente, unia os Algarves Daquém aos Algarves Dalém-mar, em África. Aliás, como Romero de Magalhães bem observou, “a ligação de Portugal com as praças marroquinas fazia-se através do Algarve e, em princípios do século XVI, sobretudo por Tavira”1. Refira-se que este porto de ligação com o Norte de África encontra-se a apenas 23 Km de Ayamonte, pelo que a ligação entre as duas cidades resultava extremamente fácil através da tradicional navegação por cabotagem. Por outro lado, o posicionamento de Ayamonte frente a Castro Marim, a praça de guerra portuguesa mais próxima de Marrocos, atrairia certamente muitos ayamontinos interessados em aventurar-se na cruzada portuguesa nos Algarves Dalém-mar. Mas para compreendermos em que circunstâncias os ayamontinos participaram na Expansão Portuguesa para o Norte de África, vejamos antes qual o ambiente que se vivia na vizinha Castro Marim. 1 Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, pp.81-96. Do mesmo autor ver também Para o Estudo do Algarve Económico Durante o séc. XVI, pp.238-239. Sobre a relação entre Tavira e as praças dos Algarves Dalém vejase Maria Augusta Lima Cruz, “Tavira no processo de abandono de praças portuguesas no Norte de África, no século XVI. Abertura de um estudo”, in Espírito e Poder – Tavira nos Tempos da Modernidade, pp.20-45. 113 CASTRO MARIM NA EXPANSÃO PORTUGUESA PARA O NORTE DE ÁFRICA. Se desde os primeiros anos do séc. XVI que os ayamontinos se lançavam como pilotos e marinheiros nos barcos da Carreira das Índias2, o mesmo aconteceu na vizinha Castro Marim, onde os descobrimentos e a Expansão para o Norte de África tiveram forte impacto. O próprio infante D. Henrique - que em 1416 tinha sido incumbido por D. João I de abastecer e defender a recém-conquistada Ceuta3 permaneceu em Castro Marim durante algum tempo, quando ali foi receber o infante D. Fernando, seu sobrinho e herdeiro, entretanto regressado ao reino, depois da sua passagem por aquela praça norte-africana4. Do mesmo modo, também outros fidalgos se estabeleceram nesta praça fronteira a Ayamonte, apoiando o infante e exercendo altos cargos. Foi o caso de Diogo Lopes, cavaleiro da casa do infante D. Henrique e comendador de Castro Marim, para além de vedor dos vassalos régios moradores nesta vila e termo, em 14445, ou o caso de Vasco Eanes Corte Real, capitão da cavalaria de Castro Marim antes de 14336 e filho de Vasco Eanes, que acompanhou D. Henrique durante a conquista de Ceuta7. E porquê esta necessidade de prover Castro Marim com gente de confiança do infante? Porque a vila, pela sua proximidade geográfica a Marrocos, passou a ter um importante papel na defesa da presença portuguesa no Norte de África e no combate contra a pirataria magrebina. Nesse sentido, não podemos deixar de salientar a extraordinária acção de Garcia de Melo, anadel-mor dos besteiros e alcaide-mor de 2 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.154-155; Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.38. 3 Ver Isabel L. Morgado de Sousa e Silva, A Ordem de Cristo (1417-1521) - Revista Militarium Ordium Analecta, Nº 6, p.63. Mais tarde, em 1433, o rei D. Duarte concedeu ao infante D. Henrique um quinto de tudo o que fosse tomado pelos seus navios de corso, que andavam a patrulhar o Estreito de Gibraltar. Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.266; Ver também Edite Maria da Conceição Martins Alberto, “Resgatar cristãos em terras no Norte de África – O ofício de Alfaqueque no século XV”, in Estudos de História Luso-Marroquina, p.42. 4 Alberto Iria, O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos), p.77. 5 Ver Monumenta Enricinha, Vol. VIII, p.220. 6 Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.500. 7 De acordo com Zurara, Vasco Eanes saltou na praia da vila com o infante D. Henrique e foi o primeiro português a combater os mouros na porta da Almina. Ver Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta, Capítulo LXXII, p.225. 114 Castro Marim8. Recordamos que em 1504, no mesmo ano em que a vila recebeu o foral manuelino, Garcia de Melo liderou um vitorioso ataque a Larache, na altura um conhecido ninho de piratas que incansavelmente atacava as costas do Algarve e da Andaluzia - ataque em que capturou cinco galeotas, dois bergantins e uma caravela, tendo incendiado uma galé e três outras caravelas9. CASTRO-MARINENSES NAS PRAÇAS DE PORTUGAL EM MARROCOS Temos que ter em consideração que as conquistas em África implicaram, desde logo, o envio de homens para assegurar a defesa e manutenção das praças sob domínio português. E como Castro Marim se encontra próximo das terras marroquinas, muitos foram os castro-marinenses que se lançaram na conquista, manutenção e defesa destas praças. Quando o infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V, planeou envolver-se em grandes feitos em Ceuta mesmo sem a aprovação do irmão, “mandou aparelhar uma caravela na foz do rio Guadiana e pôs-se a caminho”10. Escusado será dizer que parte da tripulação que acompanhou o infante seria, seguramente, originária do termo de Castro Marim. É no século XVI que esta tendência parece intensificar-se. Em Outubro de 1508, por exemplo, determinou D. Manuel, através do já referido Garcia de Melo, anadel-mor dos besteiros, a nomeação de vários besteiros do monte moradores em Castro Marim. Foi o caso de Barão Martins11, Afonso Eanes Pescoço12, João 8 Não sabemos exactamente em que ano foi investido com a alcaidaria de Castro Marim, contudo, uma carta que foi datada de 1509 apresenta-o como alcaide-mor desta praça de guerra do Algarve, nesse mesmo ano. Ver A.N.T.T., Gaveta 20, Maço V, nº 14. 9 Ver Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África (Séculos XV-XIX), p.120. 10 D. Afonso V, preocupado com a impulsividade do irmão, veio ao seu encalço até Tavira e Castro Marim. Tarde demais. O infante acabaria por ser interceptado no estreito de Gibraltar pelo Conde de Odemira, capitão de Ceuta. Após visitar aquela praça foi conduzido ao reino, passando por Tarifa, Castro Marim, Mértola e Beja, onde o esperava a Corte. Ver Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar, pp.57-59. 11 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v. 12 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v. 115 Lourenço13, Vasco Lourenço Fafez14, Afonso Eanes Galego15, Martim Eanes Pescoço16, etc. Mas terão estes homens permanecido na vila de onde eram naturais? Alguns meses depois, já em 1509, recrutou o alcaide de Castro Marim, Simão Correia, 102 besteiros da vila para irem servir em Arzila, onde deviam acumular funções como pedreiros17. De resto, foi frequente a presença de homens naturais de Castro Marim nas praças norte africanas, não só enquanto soldados como também na qualidade de moradores. É o caso de Afonso Roiz, natural de Castro Marim e que encontrámos como besteiro de pé na guarnição de Safim, em 151118, ou o caso dos moradores de Castro Marim que encontrámos em Azamor19. Neste contexto, revestese de particular interesse o caso do castro-marinense Gaspar Gonçalves, armado cavaleiro em Azamor por mandado do duque de Bragança, depois da conquista daquela praça marroquina, em 151320. Para além dos soldados e moradores oriundos desta praça de guerra, também temos de contabilizar os degredados frequentemente enviados para Arzila, Ceuta e Tânger21. Exemplo disso é o caso do escudeiro Henrique Vaz, de Castro Marim, condenado a dois anos de degredo em Arzila, “por feridas dadas”22. E, a juntar a tudo isto, os castro-marinenses que se aventuraram na epopeia dos Descobrimentos. Oliveira Marques, por exemplo, inclui Castro Marim no grupo das terras que mais contribuiu com gentes que se lançaram nas explorações marítimas23. 13 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v. 14 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25. 15 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25. 16 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25. 17 Rafael Moreira, “História – Histoire”, in Arzila, Torre de Menagem – Le Donjon d’Asilah, p.35. 18 João Cosme, A Guarnição de Safim em 1511, p.151. 19 Maria Augusta Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português, quadro 1. 20 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv.11, fl.53. 21 José António de Jesus Martins, O Reino do Algarve nos finais da Idade Média – Os concelhos algarvios no séc. XV, p.45. 22 A.N.T.T., Chancelaria de D. João II, liv. 24, fl.99. 23 Oliveira Marques, “A Expansão no Atlântico”, in Nova História da Expansão Portuguesa – Vol. II – A Expansão Quatrocentista, p.208. 116 PRESENÇA ESPANHOLA NA COSTA ATLÂNTICA DE MARROCOS Antes de avançarmos no presente artigo, torna-se pertinente contextualizarmos os ascendentes da presença espanhola em África, de modo a compreendermos em que circunstâncias Ayamonte se vê envolvida na Expansão Portuguesa em Marrocos. Como é de conhecimento comum, desde o séc. XV que Castela tentava estabelecer-se na costa atlântica africana, - pretensão que levou a uma disputa com Portugal quanto à política expansionista em África e que se encontrava intimamente relacionada com o contencioso sobre as Canárias. Com efeito, em 8 de Janeiro de 1454, depois de o rei de Castela doar as Canárias ao duque de Medina Sidónia24, o infante D. Henrique conseguiu do papa Nicolau V a bula Romanus Pontifex, que dava aos portugueses as terras tomadas perto de Ceuta e as descobertas depois do Bojador e do Cabo Não. Este último, sublinhe-se, situado frente à Ilha de Lançarote. Porém, a bula não era clara quanto aos direitos dos dois reinos sobre a costa atlântica, permitindo que Castela afirmasse que a linha divisória da partilha passava pelo Cabo Bojador, enquanto Portugal defendia que o limite seria o Cabo Não (actual Cabo Chaunar), muito mais a norte. É neste contexto que, durante a segunda metade do século XV, Portugal conquista Alcácer Ceguer, Arzila, Tânger e lança uma série de ataques nas costas marroquinas, enquanto os espanhóis se lançavam em entradas na costa frente às Canárias. São exactamente estes espanhóis estabelecidos nas Canárias que irão tentar estabelecer-se no continente africano, alguns quilómetros a sul de Meça, em território situado à mesma latitude das Canárias25. De facto, em 1477/1478 Diego de Herrera e os seus homens construíram uma fortaleza na margem direita do rio Açaca, a que chamaram Santa Cruz de la Mar Pequeña26, localizada ao sul de Meça e a norte do Cabo Não. Com o Tratado de Alcáçovas, em 6 de Março de 1480, Portugal fez algumas cedências, renunciando aos direitos que afirmava ter sobre as Canárias, embora lhe fosse reconhecido o direito de continuar com as conquistas da Guiné, a posse das ilhas descobertas ao sul das Canárias e o direito de conquista do reino de Fez. Todavia, 24 Colección de documentos ineditos para la Historia de España ..., Tomo XXXVI, pp.499-501. 25 António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.29. 26 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, p.405. Este forte respeitava, portanto, a interpretação de Castela quanto à bula de Nicolau V, mas aumentava o clima de tensão com Portugal, que se mostrava intransigente quanto às pretensões de Castela na costa africana. 117 mais uma vez, a ambiguidade dos textos dos próprios acordos, particularmente sobre os limites do reino de Fez, permitiu a continuação dos conflitos entre Portugal e Castela pelo controlo do território. Será, seguramente, nesse contexto de disputa que Castela pretendeu alargar a sua presença para norte, para a rica região da Duquela. Para 1480 temos notícia de que os “espanhóis de Xerez e de Calis (Cádiz), comandados pelo alcaide Juan Sanchez, atacaram Azamor com uma esquadra de 150 velas”27, mas só tomaram quatro torres e acabaram por ser repelidos. Esta tentativa de conquistar Azamor parece prender-se, desde logo, com o interesse castelhano nas riquezas da região, nomeadamente, na pesca, nas carnes e nos cereais28. Acresce ainda que Azamor encontra-se a apenas 10 Km da baía de Mazagão, um activo porto de exportação de cereais frequentado por portugueses e castelhanos: “nesta baía de Mazagão carregam muitas naus destes reinos, e assi de Castela”29. Ora, se tivermos em consideração as descrições de Duarte Pacheco Pereira, parece natural que os castelhanos tenham pretendido apropriar-se das riquezas da região através da conquista de Azamor. Aliás, a tomada da Casa do Cavaleiro (a que os mouros chamam Uguer) pelos espanhóis de Xerez, no último quartel do séc. XV30, parece reforçar esta teoria31. Curiosamente, B. Bonett não refere este episódio ao tratar das movimentações castelhanas em África antes da chegada de Alonso Fernández de Lugo32. É possível que o silêncio deste autor se deva ao facto de ter sido uma ocupação infrutífera, já que os mouros abandonaram o local. Seja como for, a breve ocupação desta localidade, situada a apenas 10 léguas do porto de Mazagão, vem reforçar a teoria de uma tentativa de estabelecimento castelhano na rica região da Duquela. Como resposta às acções de Castela, D. João II impôs uma política de 27 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86. 28 Duarte Pacheco Pereira, navegador e cosmógrafo português dos séculos XV e XVI, refere “a maravilhosa pescaria de sáveis muito grandes e bons (…) e esta vila de Azamor e suas comarcas são muito abastadas de pão, carnes, pescados e outras coisas”.. Ver Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, pp.62-63. 29 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, p.64. 30 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86. 31 “Nesta Casa do Cavaleiro há muito trigo e cevada, e muitas vezes carregam ali navios dele; e disso mesmo há ali muita abastança de carne e caça; e no mar, nas cinquenta a sassenta braças, há muita pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”. Ver Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 18, p.65. 32 Buenaventura Bonet y Reverón, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Revista de Historia, Tomo 5. Año 10. Número 037, pp.138-140. 118 protectorados sobre algumas zonas do sul e com as quais era mantida uma relação comercial33. De facto, o primeiro acordo conhecido entre Portugal e Safim já remontava ao reinado de D. Afonso V, como foi referido na carta que D. João II enviou a Amadux, o alcaide da cidade em 148834. Do mesmo modo, também D. João II impôs a soberania portuguesa aos habitantes mouros de Azamor, em 148635 (a mesma cidade que os castelhanos tentaram conquistar anos antes) e D. Manuel I estabeleceu um tratado de suserania com os habitantes de Meça, em 149736. Nesse mesmo ano, D. Manuel confirmou os termos do contrato com Azamor, em 1497, contudo, a fidelidade dos seus habitantes à Coroa portuguesa foi muito irregular depois de 150237. A resposta de Castela não tardou. Em 1496, já depois do Tratado de Tordesilhas, os indígenas de Mar Pequeña e San Bartolomé reconhecem a soberania de Castela, pelo que a torre de Santa Cruz de la Mar Pequeña - entretanto perdida - foi reedificada pelo governador das Canárias Alonso Fajardo38. Em 1499 Lopez Sanchez de Valenzuela conseguiu a submissão de várias tribos e vilas da costa africana frente às Canárias, nomeadamente Tagaost (capital da zona do Cabo Não), Tamanar, Ifran e Ifni. No ano seguinte, em 1500, Afonso de Lugo, Adelantado das Canárias, “Capitán general de la Berbería desde el cabo de Aguer hasta el de Bajador”39, foi enviado para África tendo por missão a construção de três fortes: um junto ao Cabo Bojador, outro junto ao Cabo Não e o terceiro perto de Tagaost40. É certo que o Tratado de Tordesilhas veio a delimitar as áreas de influência de 33 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação para mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, p.22. 34 Durval Pires de Lima, História da Dominação Portuguêsa em Çafim (1506 – 1542), p.15; David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos…”, in História de Portugal, vol. III, p.463; António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.26. 35 Rui de Pina, Crónica de D. João II, Capítulo XXI, pp.53-54; Garcia de Resende, Cónica de D. João II e Miscelânia, Capítulo LX, p.56; David Lopes “Os Portugueses em Marrocos”, in História de Portugal, vol. III, p.508. 36 Carta de D. Manuel I aos moradores de Meça, em 11 de Janeiro de 1497, in Les Sources Inédites de l’Histoire du Maroc, Tomo I, Première Série, doc. IV, pp. 31-35. Sobre a presença portuguesa em Meça veja-se David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, pp.542-544; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.321-323. 37 Ver Vergílio Correia, Lugares Dalém – Azemôr, Mazagão, Çafim, pp.32-33. 38 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, pp.413-417. 39 Leopoldo de la Rosa Olivera & Elfas Serra Rafols, El Adelantado D. Alonso de Lugo y su residência por Lope de Sosa, IX. 40 B. Bonet, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Nuevas Aportaciones Historicas, p.140. 119 Espanha e Portugal em África. Porém, a zona entre o Cabo de Gué e Meça permaneceu em litígio, pendente de ser incorporada numa ou noutra coroa. É sabido que, em 1501, Alonso de Lugo pretendeu estabelecer-se em Meça e em Santa Cruz do Cabo de Gué, como veremos adiante. Porém, durante a investigação para o presente artigo, deparámo-nos com uma informação não referida pela historiografia portuguesa. Trata-se do projecto da conquista de Azamor por Alonso de Lugo e Francisco de Peñalosa, em 1500, a mandado de Isabel de Castela. A referência é avançada por Fray Bartolomé de Las Casas, na sua obra Historia de las Indias onde escreve sobre a “armada que se hizo para Azamor donde iba el Alonso de Lugo, siendo el dicho Francisco de Peñalosa capitán general”41. Ainda que a expedição tenha resultado na derrota espanhola e morte do próprio capitão, acaba por se revelar de grande interesse na medida em que vem demonstrar que Isabel a Católica pretendia estender o domínio de Castela para norte, através da conquista de uma cidade então tributária de Portugal – o que constituiria uma clara violação do Tratado de Tordesilhas. Ainda em 1500/1501 Alonso de Lugo tentou estabelecer-se em Meça, uma vila de mouros muito grande, mercado de ouro, cera, couro, etc. e situada a uma légua do mar42. Portugal protestou junto de Castela, pelo que foi ordenado ao governador castelhano que respeitasse os interesses portugueses anteriores na região, uma vez que, como anteriormente referimos, os moradores de Meça eram vassalos de Portugal deste 1497. Porém, Alonso não se deu por vencido. Dirigindo-se mais para norte, ocupou a povoação que actualmente se chama Agadir, ajudado pelos Cacimas, a tribo berbere instalada no lugar43. Com efeito, já em 1480 tinham os castelhanos atacado Agadir, de modo a punir os indígenas que tinham participado num ataque a Santa Cruz de la Mar Pequeña. Tentaram repetir a proeza em 1483, resultando esta última iniciativa castelhana num desastre militar44. A ocupação foi, no entanto, muito breve. Os habitantes de Meça, incitados pelos portugueses, lançaram-se sobre a povoação e derrotaram os espanhóis e os seus aliados Cacimas, “matando-lhes 41 Fray Bartolomé de Las Casas, Historia de las Indias, Tomo I, cap. LXXXII, p.352. 42 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.122. 43 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), Vol. III, pp.453-454. 44 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, pp.411-412. 120 muita gente e outra cativaram”45. Em 1505, após esta tentativa espanhola de ocupar o território, João Lopes Sequeira construiu no local um castelo a que chamou Santa Cruz do Cabo de Gué46, em resposta às pretensões castelhanas, assim como a fortaleza satélite de Bem Mirao47. A ocupação do espaço pelos portugueses acabou por dissuadir os interesses dos espanhóis na região, confinando-os à já referida Santa Cruz de la Mar Pequeña, onde acabariam por resistir até 1524 ou 1527. Outro pormenor, porém, despertou a nossa atenção. Entre os homens recrutados para a construção da torre de Santa Cruz de la Mar Pequeña encontrava-se Bartolomé Ayamonte, o majador da obra que acabou por ficar na torre após o término da empreitada e regresso da restante expedição. Aliás, de acordo com o que conseguimos apurar, este alegado ayamontino permaneceu na torre durante 16 meses (3 meses dedicados à construção e 12 meses como integrante da guarnição)48. A ARMADA DO MARQUÊS DE AYAMONTE NOS ALGARVES DALÉMMAR, NO SUL DE MARROCOS Não se pense, contudo, que a perda de Santa Cruz de la Mar Pequeña representou o desinteresse espanhol pelo sul marroquino. Como veremos, D. Francisco de Sotomayor, que se tornou marquês de Ayamonte pelo casamento com Teresa de Zuñiga y Manrique de Castro49, tentou reinstalar a influência espanhola na 45 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, p.543. Do mesmo autor ver também: A Expansão em Marrocos, p.28; Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), p.29. 46 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), 1945; Robert Ricard, “L’occupation portugaise d’Agadir (1505-1541)”, in Hespéris, Tomo XXXIII, pp.93-102; Pedro Dias, História da Arte Portuguesa no Mundo – O Espaço Atlântico (séculos XV – XIX), pp.50-51; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.324-328. 47 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), p.32; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.328-334. 48 Note-se que tal como Bartolomé Ayamonte, também encontrámos dois portugueses que permaneceram os mesmos 16 meses em Santa Cruz de la Mar Pequeña. Eram eles o ferreiro Pedro português e o soldado Manuel português (o apelido verdadeiro era Sousa). Ver Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, pp.437, 446, 454, 475. 49 CF. Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., p.480, nota 1. A este respeito ver também Antonio Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.19; Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, pp.45-46. 121 região do Sus, especificamente no Cabo de Gué, ou seja, num território anteriormente cobiçado por D. Juan II e pelos Reis Católicos. Passamos agora a explicar porquê. Durante o processo de investigação para a publicação Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, deparámo-nos com um documento que, desde logo, chamou a nossa atenção. Trata-se de uma carta do capitão de Azamor António Leite ao rei D. João III, em 10 de Setembro de 1529, e em que revela as movimentações de uma armada do marquês de Ayamonte no porto de Mazagão e quais as suas intenções. No referido documento, António Leite refere que duas caravelas e um galeão do marquês de Ayamonte tentaram tomar um navio de Ruão ancorado no porto de Mazagão e que aí costumava comerciar todos os anos. De acordo com o capitão de Azamor, os navios do marquês levavam um presente para um dos xerifes, com a intenção de estabelecer um acordo comercial no sul de Marrocos, fragilizando os interesses portugueses. Dadas as circunstâncias, Leite aconselhava o monarca português a controlar a navegação comercial nos portos marroquinos, forçando a passagem do trato entre europeus e muçulmanos pelas alfândegas portuguesas, o que permitiria significativos lucros para a Fazenda Real50. Aqui transcrevemos o excerto do documento relativo às movimentações do marquês de Ayamonte: “C Aquy veo ter huua armada do marques de Aiamonte, huum galeam e duas caravelas, e pousou no porto de Mazagam; e quiseram tomar húua naoo que estava ameorada dentro no porto, a qual era de mercadores de Ruam, que aquy vem cada anno tratar comnosquo ; e eu nam lh’o cornsemty, porque estava segura no porto de V. A. E soube que aquella armada leva huum presente ao Xarife, sobre comçerto que o Marques com elle quer fazer, pêra os de sua terra hirem pesquar seguros ao Cabo de Gué, e pêra tratarem com elle na costa. Dou este aviso a V. A. pêra oulhar nisso o que cumpre a seu serviço, e também por me parecer grande baxeza tal pesoa como o marques de Aiamomte mandar presente sobre tal caso a huum Mouro de tam pouqua verdade. E isto 50 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.65-66, nota171. 122 lhe ajudara a criar mais soberba, porque ja cre que os Christãos lhe sam tributários”51. Por outras palavras, o marquês de Ayamonte tentava captar a simpatia do xerife do Sus com o objectivo de estabelecer um acordo comercial com os adversários directos dos portugueses na região. Acordo comercial que, a ser bem-sucedido, até poderia resultar na constituição de uma feitoria espanhola danosa para os interesses estratégicos dos portugueses, uma vez que os xerifes do sul tinham sob sua tutela territórios por onde passavam as caravanas do tráfico mercantil que percorriam o deserto. É claro que Ayamonte era uma povoação com uma inegável vocação marítima e piscatória, porém, a intenção dos ayamontinos em irem pescar para o Cabo de Gué e de negociarem com os mouros naquela costa não parece de todo inocente. Como anteriormente vimos, desde o século XV que os castelhanos frequentavam algumas povoações do Cabo de Gué com pretensões comerciais52, nomeadamente Tamaraque onde, de acordo com Duarte Pacheco Pereira, podiam ancorar navios e onde havia “grande pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”53. De resto, Joaquim Figanier afirma mesmo a existência de comerciantes castelhanos a residir e a tratar em terras como a já referida Tamaraque, Meça e Taracuco54. Posteriormente, na transição do séc. XV para o séc. XVI, o governador de Tenerife, Alonso de Lugo, tentou estabelecer-se no Cabo de Gué, uma baía que, como António Dias Farinha bem observou, servia de porto à rica região do Sus. Seria intenção do marquês de Ayamonte instalar uma feitoria no continente africano? Estaria ele interessado no tráfego mercantil de escravos e produtos africanos que atravessava o deserto? Antes de respondermos a essa questão vejamos de que território de trata. Duarte Pacheco Pereira, navegador e cosmógrafo do séc. XVI, descreve deste modo a região: 51 Carta de António Leite a D. João III, em 10 de Setembro de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº64. Ver também Pedro Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol. XI, p.265. 52 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.121. 53 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 19, p.71. 54 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21. 123 “Santa Cruz, o qual tem a dita angra em que pode pousar qualquer nau grande, em fundo limpo e boa ancoração (…) esta terra é muito fértil de pão, carnes, pescados, mel, cera courama e outras muitas mercadorias em que se faz muito proveito; e asi há qui ouro, que os Alarves trazem da Guiné por terra”55. O cosmógrafo oculta o comércio de escravos, no entanto, sabemos que na vizinha Meça, onde os castelhanos também tentaram construir feitoria, chegavam escravos provenientes do Sudão e da Mauritânia56. Apresentada a descrição do cosmógrafo português, torna-se evidente qual o objectivo de Alonso de Lugo: estabelecer-se numa costa africana rica em produtos e que tivesse capacidade de ancorar barcos de grande porte. Como atrás referimos, a ocupação castelhana foi, no entanto, muito breve, na medida em que os habitantes de Meça, enquanto vassalos do rei de Portugal, atacaram a povoação e derrotaram os espanhóis57. Em 1505, com a ocupação do espaço pelos portugueses e a construção do castelo de Santa Cruz do Cabo de Gué, a presença militar espanhola ficou confinada à já referida Santa Cruz de la Mar Pequeña, onde acabariam por resistir até aos anos vinte do séc. XVI. Posto isto, voltamos a colocar as mesmas questões. Seria intenção do marquês de Ayamonte instalar uma feitoria no continente africano? Estaria ele interessado no tráfego mercantil de escravos e produtos africanos que atravessava o deserto? Vejamos: de acordo com o historiador marroquino Adnan Mechbal, Santa Cruz de la Mar Pequeña funcionava como uma fortaleza costeira que tinha como objectivo apoiar as forças conquistadoras nas cavalgadas destinadas à “busca de alimentos y de esclavos para su comercio”58. O historiador espanhol Rumeu de Armas, ainda que não concorde com a ideia de se tratar de uma fortaleza destinada a lançar operações militares, refere a existência de documentos que atestam a compra de escravos na 55 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 20, pp.71-72. 56 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21. 57 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, p.543. Do mesmo autor ver também: A Expansão em Marrocos, p.28. 58 Cf. Javier Gil Pérez & Óscar Garrido Guijarro, “Santa Cruz de Mar Pequeña - Ifni en las relaciones hispanomarroquíes”, in Anuario de Estudios Atlánticos, Las Palmas de Gran Canaria. España (2015), p.2. 124 dita fortaleza59. Ora, com a perda de Santa Cruz de la Mar Pequeña - a única feitoria espanhola em África - os espanhóis viram-se privados deste tráfego de escravos e, como é sabido, os escravos que davam entrada em cidades como Ayamonte, nos primeiros anos da Idade Moderna, eram vendidos pelos mercadores portugueses que os traziam de Angola, Moçambique, São Tomé e Cabo Verde60. Aliás, de acordo com Manuel Fernández Chaves e Rafael Pérez García, uma das vias do tráfego de escravos de Portugal para Sevilha era proveniente das costas do Algarve, dando entrada em território espanhol através de Ayamonte. Os que não eram vendidos nesta cidade eram depois reencaminhados para um circuito que poderia passar por cidades como Huelva, Gibraleón, Moguer e Niebla e Sevilha61. Como é do conhecimento comum, os mercadores portugueses, enquanto intermediários neste negócio, arrecadavam considerável lucro, inflacionando substancialmente o preço dos escravos quando vendidos em cidades como Ayamonte. Dadas as circunstâncias, seria intenção de D. Francisco de Sotomayor reactivar o rentável tráfego de escravos directamente com os xerifes do Sus sem que o comércio tivesse de passar pelos intermediários portugueses? Ou estaria o marquês interessado no comércio de outro tipo de produtos? Com efeito, já em 1494 um grupo de comerciantes ayamontinos tinha carregado uma caravela com panos, lenços e outras mercadorias, para serem comercializados nos portos de África. Estando a dita caravela em Azamor, então tributária de Portugal, foi roubada com todo o seu carregamento por um grupo de homens com uma caravela bem artilhada, oriunda de Cádis62. Quer isto dizer que os contactos dos ayamontinos com o sul de Marrocos era uma realidade que, pelo menos, remontava aos anos em que os Reis Católicos se empenharam em estender “el influjo y la acción política de España por las inmensas tierras del Africa Occidental”63. 59 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, pp.408 e 466. 60 Antonio Manuel González Díaz, “La outra cara del Ayamonte Moderno: la población esclava. Procedimientos de integración y exclusión social”, in XIX Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, pp.36-37. 61 Manuel F. Fernández Chaves & Rafael Pérez García, “Las redes de la trata negrera: mercaderes portugueses y tráfico de esclavos en Sevilla (1560-1580)”, in La Esclavitud Negroafricana en la Historia de España. Siglos XVI y XVII, pp.14-15. 62 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153. 63 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, p.17. 125 A verdade é que não sabemos exactamente quais seriam as intenções de D. Francisco de Sotomayor no sul de Marrocos. Seja como for, o plano que visava estabelecer um acordo comercial com o xeque do Sus acabou por não ser bemsucedido. Era normal. Marraquexe tinha sido ocupada pelo xerife Ahmed al-Araji em 1520 e em 1527, já dominava o Sus, faltando-lhe apenas controlar Tadla. Quer isto dizer que aquando da visita da armada do marquês de Ayamonte, em 1529, já os xerifes da província do Sus se encontravam amplamente organizados como grupo político e religioso dedicado a expulsar os cristãos da costa africana e a unificar o território marroquino. Se estes faziam guerra aos infiéis portugueses que ocupavam o território, como iam celebrar um acordo comercial com os infiéis espanhóis? Aliás, foi tal o ímpeto guerreiro dos xerifes do Sus que o próprio Reino de Fez se viu na necessidade de assinar um Tratado de Paz com Portugal, poucos anos depois, em 8 de Maio de 153864 MOVIMENTAÇÕES DO MARQUÊS DE AYAMONTE NOS ALGARVES DAQUÉM, NO SUL DE PORTUGAL Contudo, a acção do marquês de Ayamonte não ficou por este intento. Reparámos que em Dezembro de 1529, apenas dois meses depois da carta de António Leite a D. João III, outra missiva voltava a fazer referência a problemas com o supracitado marquês. Trata-se do Traslado do que se deu a Cristóvão de Mendonça que enviou a sua Alteza o marquês de Ayamonte sobre o caso do Bregantim. Neste documento o comendador de Arenilha parece responsabilizar o marquês por danos causados nas barcas dos habitantes da vila, nomeadamente no referido bergantim, chegando mesmo a mandar “pagar as barcas e (…) as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilha” e mandar o marquês prender os responsáveis que se encontrem nas suas terras65. Como se pode perceber, o tom da missiva não resulta propriamente abonatório para o nobre espanhol. 64 João Cosme, “Tratado de Paz entre Portugal e o Reino de Fez”, in Arquipélago * História, XIV-XV, pp.11-29. 65 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45. 126 Fig.1 - Traslado do que se deu a Cristóvão de Mendonça que enviou a sua Alteza o marquês de Ayamonte sobre o caso do Bergantim. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45. Em 24 de Maio de 1530 – ano em que Ayamonte contava já com uma população entre os 4040 e os 5057 habitantes66 - D. Francisco de Sotomayor escreveu a D. João III. No documento, que tem por título Carta do marquês de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador Cristóvão de Mendonça, o marquês 66 Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.39. 127 esquiva-se das acusações de que era alvo, referindo a pena que tinha em não poder demonstrar a sua vontade em servir o rei português. Fig.2 - Carta do marquês de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador Cristóvão de Mendonça. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9. O nobre espanhol, através de um exercício diplomático tão bajulador quão demagógico, argumentava que os verdadeiros responsáveis, conhecedores de que o marquês era um verdadeiro servidor de D. João III, não ousaram passar pelas suas terras, tendo-se dirigido para San Lucar e para Cartaya67. A carta revela ainda um 67 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9. 128 pormenor extremamente interessante: D. Francisco de Sotomayor justifica a sua indisponibilidade em explicar-se pessoalmente perante o rei português alegando “tenerme la emperatriz mi señora ocupado en la guardia desta costa”. Como sabemos, a regente do sacro Império Romano-Germânico, entre 1528 e 1533, foi a imperatriz Isabel de Portugal, “a mulher mais bonita de seu tempo”68, esposa do imperador Carlos V, filha do rei D. Manuel I e irmã de D. João III. Portanto, podemos depreender que o marquês de Ayamonte procurou legitimar as culpas que lhe eram imputadas com as responsabilidades que lhe tinham sido atribuídas pela própria irmã do rei português. Por outro lado, também podemos depreender porque motivo o marquês de Ayamonte, alegadamente incumbido da guarda da costa, se aventurava nos mares dos Algarves Daquém e Dalém-mar, tentando fragilizar os interesses portugueses. Seja como for, o descontentamento do monarca português para com o nobre espanhol não ficou por aqui. De acordo com uma carta de D. João III a Henrique de Meneses, embaixador em Roma, e a Álvaro Mendes de Vasconcelos, embaixador em Madrid, vemos que o rei de Portugal não deu o assunto por encerrado. Ainda que nos tenha sido impossível analisar esta missiva, o descritivo deste documento acondicionado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo refere “os danos cometidos pelo marquês de Aiamonte nos mares do Algarve” em data não discriminada69. Porém, sabendo nós que Álvaro Mendes de Vasconcelos era o embaixador de Portugal em Madrid nesse mesmo ano de 1530, torna-se fácil depreender de que estamos exactamente perante o mesmo assunto. Mais: que o rei português, não satisfeito com a resposta do marquês de Ayamonte, encaminhou as queixas directamente para o embaixador português na corte espanhola. 68 Marsilio Cassotti, Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, p.233. 69 A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17). 129 Fig.3 Página da Internet relativa ao descritivo da Correspondência de D. João III a Henrique de Meneses, embaixador em Roma e a Álvaro Mendes de Vasconcelos, embaixador em Madrid. A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17). Aliás, a tensão provocada por este episódio deve ter sido de tal ordem que o Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo regista a Carta do Senhor Rei D. João III dada em Lisboa, dirigida á Camara da villa de Mertola, para lhe enviar a inquirição, que se tirou em 1530, por falsamente se testemunhar em Castella por parte de Ayamonte contra Castro Marim70. De resto, não deixa de ser curiosa a intransigência do marquês de Ayamonte para com os vizinhos portugueses, especialmente quando a Armada do Estreito criada em 1520 para assegurar a segurança da navegação entre o Algarve e o norte 70 Visconde de Santarém, Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo…, Tomo I, p.18. 130 de África71 – também acabava por proteger Ayamonte dos danos causados pela pirataria magrebina. De facto, são vários os testemunhos que nos dão conta dos frequentes ataques da pirataria moura às constas da Andaluzia. Bernardo Rodrigues, por exemplo, refere para o ano de 1513 o “muito dano que alguas fustas de Tetuão fazião na costa de Castela especialmente de Malega até Cális e de Cális até o Algarve, el-rei nosso senhor o mandava destroir e derrubar”72. Foi neste contexto que o rei D. Fernando de Castela chegou a preparar uma armada para destruir Tetuão, o que não veio a acontecer por este ninho de piratas se encontrar em zona de direito de conquista portuguesa. Mais tarde, em 1520, Carlos V voltou a insistir junto do monarca português para construir uma torre na foz do rio de Tetuão, de modo a neutralizar os barcos inimigos que tantos danos causavam nas costas da Andaluzia, mas o rei português nada fez. Seria a intransigência do marquês de Ayamonte eventualmente instigado pelo seu soberano - resultado da passividade de D. Manuel relativamente a este assunto? Em 1523 encontrava-se esta armada na foz do Guadiana, onde tinha ordens de embarcar o Conde do Redondo D. João Coutinho73 na vila de Arenilha, de modo a levá-lo para Arzila74. Seria a presença da Armada do Estreito na foz do Guadiana interpretada como provocação face ao então marquês de Ayamonte Francisco de Zúñiga y Gusmán? É possível. O certo é que a Armada do Estreito não deixou de proteger Ayamonte. Exemplo disso foi o que se passou em 1531, quando D. Gonçalo Coutinho, capitão da Armada do Estreito, encontrou uma fusta de Larache próximo da barra de Ayamonte e de Lepe, a que deu combate com prejuízo para os portugueses. 71 Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), pp.117-137. 72 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo I, Capitulo XXVII, p.90. ver também Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), p.122. 73 Sobre a linhagem dos Coutinhos veja-se Luís Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos: Linhagem, Espaço e Poder (13601452), Cascais, Patrimonia, 1999; “Outro Venturoso de finais do século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e de Loulé”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp.45-56; Vítor Luís Gaspar Rodrigues, “As Linhagens Secundárias dos Coutinhos e a Construção do Império Manuelino”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp. 177-189; António Maria Falcão Pestana de Vaconcelos, Nobreza e Ordens Militares. Relações Sociais e de Poder (séculos XIV a XVI), Dissertação de Doutoramento em História Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2008, pp.337-348. 74 José Virgílio Amaro Pissara, “Vasco Fernandes César, capitão da Armada do Estreito”, in A Guerra Naval do Norte de África séculos XV – XIX), p.144; Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar, p.100. 131 Aliás, é o próprio Bernardo Rodrigues que, no mesmo capítulo em que descreve estes acontecimentos, refere um ataque dos piratas de Larache “ao Algarve, onde fizérão muito dano em navios que tomárão e, dentro da Barra de Aiamonte, fizérão despejar a Arrinilha e a Montegordo”75. ANTÓNIO LEITE – UM CAPITÃO DA EXPANSÃO PORTUGUESA PARA VIGIAR O MARQUÊS DE AYAMONTE? Torna-se fácil perceber que a acção do marquês de Ayamonte nos mares dos Algarves Daquém e Dalém-mar não era do interesse dos portugueses. A epistolografia confirma-o. Nesse sentido, tornava-se necessário seguir de perto as suas movimentações, colocando no terreno alguém que tivesse conhecimento do seu modus operandi. Com efeito, o monarca português não tardou a encontrar a pessoal ideal para o cargo: António Leite, um cavaleiro português da era de quinhentos que, através da carreira das armas e dos serviços prestados à Coroa em Azamor e Mazagão, viu os seus esforços serem coroados com honras e títulos76. Como anteriormente vimos, António Leite foi o capitão de Azamor que em 10 de Setembro de 1529 avisou D. João III quanto às movimentações de uma armada do marquês de Ayamonte no porto de Mazagão e quanto à intenção deste em estabelecer um acordo comercial com o xerife do sul de Marrocos. Sabemos que depois de ter estado como capitão em Mazagão, voltou a ser nomeado capitão de Azamor em 17 de Setembro de 153777, ocupando o cargo até Março de 1541. Porém, ao terminar a sua capitania em Azamor e tendo-lhe sido ordenado que aí ficasse a servir, António Leite queixou-se ao rei de não ter sido nomeado para a capitania de Mazagão, cargo que “lhe pertencia por carta, que dela tinha del-rei D. Manuel, 75 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo XXXV, p.209. 76 Sobre António Leite veja-se Rui Jorge Ferreira Henriques, “Quão grande trabalho é viver!” António Leite – circuitos da nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos apresentada à Universidade Nova de Lisboa, 2012; Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.58-72. Do mesmo autor ver também “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.8183. 77 Cf. Instrumento público de entrega da capitania de Azamor a António Leite. Documento publicado por Maria Augusta Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português, pp.161- 164. 132 seu pai”78. É neste contexto que em 20 Agosto de 1542, António Leite recebeu a mercê da alcaidaria de Santo António de Arenilha, junto à foz do Guadiana e a pouca distância de Ayamonte, onde se esclarecia que esse benefício era feito em troca da dita capitania de Mazagão79. Deste episódio fica claro que, aos olhos da Coroa, António Leite não tinha estatuto social, nem as competências necessárias para estar à frente da nova fortaleza de Mazagão, o grande baluarte português cujas obras tinham custado à Coroa 300 mil cruzados80 e onde foram concentradas as forças portuguesas da região da Duquela após do despejo de Azamor e Safim81. Porém, a experiência de António Leite no combate contra os mouros e os seus conhecimentos quanto às movimentações do marquês de Ayamonte em Marrocos acabaram, certamente, por serem relevantes no momento em que D. João III decidiu entregar ao antigo capitão o senhorio de uma vila voltada para Ayamonte82 - a mesma vila, refira-se, que o comendador de Arenilha Cristóvão de Mendonça afirmou ter sofrido danos, responsabilizando o marquês de Ayamonte pelo sucedido83. Uma outra razão leva-nos a sublinhar esta teoria. Durante a sua capitania em Azamor, António Leite privou de perto com ayamontinos e temos razões para acreditar na sua desconfiança em relação aos espanhóis, em geral. E porquê? Passaremos de seguida a explicar. 78 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189. 79 A.N.T.T., Chancelaria da Ordem de Cristo, lv.13, fls. 375 v. – 379 v. Documento publicado por Hugo Cavaco in Revisitando Santo António de Arenilha, doc. V, pp.36-37. 80 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.212; David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos…”, in História de Portugal, vol. IV, pp.100-101. 81 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação de Mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, pp.65-66. 82 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.57-72. Do mesmo autor ver também “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.81-83. 83 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45. 133 AYAMONTINOS NAS PRAÇAS DE PORTUGAL EM MARROCOS Durante o reinado de D. João III, Portugal já não dispunha de recursos humanos para tão vasto império. Eram os “fidalguos e gemte do Allgarve” que frequentemente acudiam as praças de guerra em Marrocos84. Porém, o Algarve Daquém já não conseguia assegurar sozinho a defesa e abastecimento das praças norte africanas, pelo que tinha de operar em conjugação com a feitoria portuguesa na Andaluzia85. Foi nesse sentido que se tornou relativamente frequente a contratação de soldados ayamontinos, algo muito natural se tivermos em consideração a proximidade de Ayamonte a Portugal e o forte crescimento demográfico que esta cidade começou a evidenciar a partir dos primeiros anos da Idade Moderna. Foi o caso de um atalaia que tinha residência Ayamonte e que em 1530 servia na guarnição de Arzila. Bernardo Rodrigues, apesar de não identificar o nome do individuo que “se fez cavaleiro e atalaia”, refere que este foi aprisionado e levado para Chefchauen86. Outro desses casos foi o de Manuel Fernandes, um cristão-velho natural de Ayamonte, que era atalaia na cidade de Tânger aquando da sua prisão, em 164587. 84 Usando as palavras de Romero de Magalhães, o “Algarve era essencial para a defesa das praças ocupadas em Marrocos”. Ver Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, p.82. 85 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da História, Vol. I, pp.135-159; Tomás Garcia Figueras, Hipólito Sancho, Dos Expedientes de abastecimiento de Mazagán, Tánger y Ceuta, por factores portugueses del Puerto de Santa Maria, (1563-1567), Tânger, Instituto General Franco para la Investigación Hispano-Árabe, 1939; Francisco Bejarano Robles, Documentos para el estúdio del abastecimento y auxilio de las plazas portuguesas en Marruecos desde el sur de España – Aportación del concejo y la ciudad de Málaga esta empresa a instancia de los factores portugueses, durante el siglo XVI (1513-1574), Tanger, Instituto General Franco, 1941; Hipólito Sancho, La colonia Portuguesa del Puerto de Santa Maria. Siglo XVI, Jerez de la Frontera, s/d.; Hipólito Sancho, “Un foco de cooperación Española a la Obra Portuguesa en África: Jerez de la Frontera y el Puerto de Santa Maria, 1500-1550”, Mauritania, XXI, Tânger, 1943, pp.189-190-19; Robert Ricard, “Les Facteurs Portugais d’Andalousie (1509-1588)”, in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Tomo II, seconde partie, Paris, Paul Geuthner, 1946, pp.564-573 e “Sur les facteurs portugais d’Andalousie” in Mélages d’études luso-marocains dédiés à la mémoire de David Lopes et Pierre Cénival, Lisboa, Portugália, 1945, pp.391-400; Antonio Carmona Portillo, “Un contencioso entre Málaga y el Reino de Portugal en el contexto del abastecimiento de las plazas portuguesas del Norte de África desde el puerto de Málaga”, in Isla de Arriarán, XX, 2002, pp.23-40. 86 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo VII, p.153. 87 A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10330. Ver também Fernando Pessanha, “Ayamonte nos processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal)”, in XX Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.26. 134 Se isto acontecia nas praças do norte de Marrocos, o mesmo acontecia nas praças do sul, que sentiram de perto a pressão dos xerifes, principalmente depois da queda de Santa Cruz do Cabo de Gué, em 1541. Isso mesmo presenciou António Leite quando se encontrava em Azamor, nesse mesmo ano. Fig.4 - Frontispício do processo de Manuel Fernandes. A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10330. A carta do doutor Rodrigo Machado a D. João III, em 28 de Marco de 1541, revela a presença de António de Gonçalves em Ayamonte de modo a recrutar homens que integrassem as guarnições militares, uma vez que era esperado um cerco do xerife a qualquer momento: E foi assim que “domingo xx de março partio húa caravela d’Antonio Gonçallvez da Camará, ho da Ilha, que orra esta em Ayamonte, e que elle avia de partir a terça feira xxij dias”88. O certo é que no mês seguinte, em 13 de Abril de 1541, é o próprio D. João III a referir o envio de 550 homens do Algarve e Ayamonte para Azamor e Mazagão: “eu tenho por certo que do Algarve e Aiamonte são partidos para socorro d’Azamor e Mazaguão b l homens”89. O problema é que o recrutamento de soldados e mercenários na Andaluzia ficava dispendioso e nem sempre os reforços castelhanos prestavam o auxílio que se era de esperar. Exemplo disso foi o que se passou nesse mesmo ano, quando D. Fernando de Noronha substituiu António Leite na capitania de Azamor. Diz-nos Frei Luís de Sousa que: 88 Carta do doutor Rodrigo Machado a D. João III, em 28 de Marco de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. XCIV; pp.338-339. 89 Carta de D. João III a Fernão Peres de Andrade, em 13 de Abril de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. CVII, pp.386-389. 135 “tomando o governo, achou-se D. Fernando com guerra dos muros a dentro, não lha fazendo os inimigos de fora. Eram a mor força de gente que havia na cidade, castelhanos andaluzes (…) gente que corre a receber soldos nestes lugares grandes (…) homens broncos e lerdos pera a boa disciplina, e mui fáceis e prontos para todo o insulto”90. Eram estes os soldados andaluzes que, desobedientes e insubmissos ao capitão português, chegavam a soltar os presos encarcerados no castelo por culpas graves. Interessava-lhes essencialmente o soldo que se apressavam a exigir, ameaçando saquear a cidade, o que levou o capitão a usar da violência91. Para tal, pediu o capitão reforços a Mazagão e ludibriou os cabecilhas dos motins com pagamento dos tão exigidos soldos. Reunidos na sala dos pagamentos, foram desarmados pelos soldados portugueses e, “quando amanheceu o dia seguinte, apareceram enforcados e pendurados nas ameias todos os mais culpados”92. Com efeito, a crónica de Frei Luís de Sousa não discrimina a naturalidade destes soldados andaluzes. Porém, os documentos que anteriormente referimos dãonos conta da contratação de soldados ayamontinos de modo a integrarem a guarnição de Azamor nesse mesmo ano de 1541, o que torna altamente provável que entre os envolvidos nos distúrbios estivessem homens naturais de Ayamonte. Ora, é muito provável que esta experiência tivesse sido determinante no que se refere à desconfiança de António Leite para com os espanhóis. Leite não só tinha tido contacto com as movimentações do marquês de Ayamonte, como também conhecia o modus operandi andaluz nos Algarves luso-hispano-marroquinos. De maneira que a escolha de um indivíduo como o antigo capitão de Azamor e Mazagão para marcar posição numa vila frente a Espanha e proteger a margem portuguesa do Guadiana não terá sido, seguramente, inocente93. Aliás, a desconfiança do 90 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189. 91 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação de Mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, p.55. 92 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.191. Sobre a violência nas crónicas relativas à Expansão no Norte de África veja-se Paulo Vicente, A violência na cronística sobre Marrocos nos séculos XV e XVI, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 2009. Do mesmo autor ver também “Falar de Violência em Marrocos nos Séculos XV-XVI. A Perspectiva dos Cronistas Portugueses”, in Portugal e o Magrebe. Actas do 4º Colóquio de História Luso-Marroquina, pp.347-352. 93 Fernando Pessanha, Os 500 anos da fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, p.67. 136 alcaide de Arenilha para com os vizinhos do outro lado da fronteira está bem patente na carta que escreve a D. João III e onde receia o despovoamento da vila, o “que não pesara nada aos castilhanos e aos de sua openyão”94. De resto, esta frase é bem representativa das dúvidas que os castelhanos despertavam no espírito de Leite, e na consequente necessidade de vigiá-los de perto. AYAMONTE – PORTO DE TRANSPORTE DE HOMENS E MERCADORIAS PARA AS PRAÇAS PORTUGUESAS DO NORTE DE ÁFRICA Pelo que pudemos comprovar, a relação de Ayamonte com as praças portuguesas do norte de África não se limitou à contratação de soldados. De facto, há também referências a contactos directos entre Ayamonte e estas praças de guerra, atestadas por fretamentos de barcos com vista ao transporte de homens e mercadorias. De acordo com Antonio Manuel González Días, o documento mais antigo que atesta a ligação directa entre Ayamonte e as possessões portuguesas em Marrocos é relativo a uma transacção de 1596, em que o gaditano Antonio Méndez, dono do barco San Juan de Guía, acordou com Luís del Puerto, de Tânger, o fretamento do seu barco para levar para a cidade norte africana 12 fardos de roupa da Índia. De resto, o barco, que então se encontrava em Ayamonte, devia recolher a carga num moinho de maré de Castro Marim95. Porém, durante a investigação para o presente trabalho deparámo-nos com referências que nos permitem concluir que esta relação directa entre o porto de Ayamonte e estas praças de guerra é bastante anterior. Com efeito, a alusão mais antiga que encontrámos data de 1494 e é relativa a um grupo de comerciantes ayamontinos e leperos que carregaram uma caravela com panos, lenços e outras mercadorias para comercializar com portos de África, e que então se encontrava no porto de Azamor96. 94 Carta de António Leite a D. João III, em 16 de Novembro de ??? Documento parcialmente publicado por Hugo Cavaco in Revisitando Santo António de Arenilha, pp.16-17 e por Márcia Grilo, “Na Margem Direita do Guadiana Face a Espanha”, in Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, p.44. 95 Antonio Manuel González Días, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.47. 96 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153. 137 Outro caso interessante é o de Pite João, um bombardeiro de Arzila que, tendo vindo a Portugal em 1529, fretou em Ayamonte um barco castelhano e o carregou com peças de artilharia, telha e madeira97. Note-se que isto ocorreu no mesmo ano em que o marquês de Ayamonte enviou uma armada a Mazagão constituída por um “galeam e duas caravelas”98, o que poderá indicar que Ayamonte, em finais da década de 20 do séc. XVI, já começava a evidenciar uma ascendente pujança naval. De resto, temos ainda outras notícias relativas a contactos directos entre Ayamonte e as praças portuguesas do Norte de África, já durante o período da União Ibérica. Exemplo disso é o contrato realizado entre Cristóbal Gómez, do Porto de Santa Maria e dono do barco conhecido com La Victoria, e Manuel Teixeira, de Tânger, para levar para esta cidade do estreito 16 fardos de roupa que deveriam ser recolhidos no porto fluvial de Mértola. Do mesmo modo, também o ayamontino Francisco Días fretou o seu barco a Simón de Corona, de Ceuta. O navio, que se chamava San Andrés, devia recolher as mercadorias em Tavira e transportá-las para aquela cidade do estreito99. CONSIDERAÇÕES FINAIS Antes de concluirmos o presente artigo cabe-nos tecer algumas considerações finais quanto a algumas questões anteriormente colocadas. Para tal, torna-se indispensável analisar a realidade política, económica e social vivida em Ayamonte na transição da década de 20 para a década de 30 do séc. XVI. A verdade é que nos anos em que ocorreram acontecimentos como as movimentações da armada do marquês de Ayamonte no sul de Marrocos, a tentativa de estabelecer um acordo comercial com os xerifes do Sus ou as tensões verificadas entre o rei de Portugal e o marquesado de Ayamonte, correspondem a anos em que 97 Este barco acabou por encontrar um bergantim de mouros, antes de chegar a Arzila. O combate foi favorável aos portugueses, apesar da desproporção numérica. Ver Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo LV, pp.137-138. 98 Carta de António Leite a D. João III, em 10 de Setembro de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº64. Ver também Pedro Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol. XI, p.265. 99 Antonio Manuel González Días, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.47. 138 esta cidade portuária crescia muito em virtude do desenvolvimento económico baseado nas actividades comerciais, nas pescarias e na participação ayamontina na Carreira das Índias. Os marqueses de Ayamonte, aproveitando os anos de paz que Espanha conheceu nos primeiros anos da Idade Moderna, fomentavam eficazmente o povoamento do território, o que levou ao crescimento do tecido urbano100. Com a marquesa Dª Teresa de Gusmán, esposa de D. Francisco de Sotomayor, Ayamonte conheceu anos de crescimento urbano, demográfico e económico que tiveram reflexo em situações como a fundação de Villablanca, ou a regulamentação dos direitos gerados pelas actividades piscícolas101. Em 1530 – ano de maior tensão com D. João III de Portugal - a cidade contava com 1035 vizinhos e entre 1530 e 1540 foi tal o crescimento da população maruja que houve a necessidade de estender o segundo núcleo urbano, o Barrio de la Ribera. Por outras palavras, Ayamonte encontravase em pleno processo de expansão, estando esta dependente de novos espaços de mobilidade e oportunidade. Não é portanto de estranhar que os ayamontinos procurassem as águas do Cabo de Gué para desenvolverem as suas pescarias, que procurassem reactivar o comércio nas costas de África ou que procurassem a sua sorte como soldados nas praças portuguesas de Marrocos, um destino muito mais próximo do que a arriscada Carreira das Índias Ocidentais. Por outro lado, é preciso não esquecer que esta cidade de clara vocação marítima e pesqueira estava voltada para os mares do Algarve a oeste, e para a costa marroquina a sul e a sudoeste, então controlada pelos portugueses. É nesse sentido que a afirmação de Ayamonte do ponto de vista político, económico e social passava por romper com a hegemonia portuguesa nos mares atlânticos onde, como diria o historiador espanhol Rumeo de Armas, “sin más excepción que las Canárias, Portugal le llevó sempre la delantera”102. É portanto, essa rivalidade e essa necessidade de procurar novas soluções para os novos desafios que então se colocavam que terão, certamente, conduzido aos desentendimentos entre a coroa 100 É nesse sentido que, logo em 1527, é fundado o convento de San Francisco, edificação que marca o arranque da nova Ayamonte da Idade Moderna. 101 Antonio Manuel González Días, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, pp.45-46. 102 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, p.401. 139 de Portugal e o marquês de Ayamonte. Por outro lado, esta vantagem que Portugal levava nas costas atlânticas de África, reflectida na posse de praças de guerra em Marrocos, também acabou por viabilizar o negócio de fretamentos de barcos em Ayamonte, com vista ao transporte de homens e mercadorias, ainda que de forma bastante mais tímida quando comparado com o caso do Porto de Santa María, Cádiz, ou Málaga103. Por fim, acreditamos que os documentos aqui referidos revestem-se de particular interesse se tivermos em consideração duas razões principais: primeiro, porque se tratam de documentos portugueses que acabam por reflectir o ponto de vista do país vizinho quanto a Ayamonte. Segundo, devido à cronologia a que nos reportam e à escassez de documentação relativamente a esta cidade durante a primeira metade do séc. XVI. Com efeito, o documento mais antigo que se conserva no Arquivo Municipal de Ayamonte está datado de 1522104. Nesse sentido, os documentos por nós referidos, nomeadamente os documentos relativos à primeira metade do séc. XVI, assumem particular importância, na medida em que acabam por contribuir, ainda que de forma tímida, para um maior conhecimento do que foi Ayamonte nos alvores da Idade Moderna. Fernando Pessanha (Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António) 103 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da História, Vol. I, pp.135-159. 104 Antonio Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.24. 140 AYAMONTE EN LA EXPANSIÓN PORTUGUESA POR EL NORTE DE ÁFRICA Es sabido que Ayamonte fue una de las zonas andaluzas que colaboró activamente en la exploración y colonización de continente americano, acabando por convertirse, durante el siglo XVI, en uno de los núcleos urbanos más importantes de toda la costa de Huelva. Sin embargo, la proximidad del Algarve, dada su condición fronteriza, hizo que Ayamonte también participara con sus recursos humanos en los descubrimientos marítimos y en la expansión portuguesa por el norte de Africa. En efecto, la historia del vecino Algarve entre los siglos XV y XVII se encuentra estrechamente relacionada con las conquistas en Marruecos, una relación umbilical que, efectivamente, unía los Algarves de Daquém a los Algarves Dalémmar, en África. Por otra parte, como bien observó Romero de Magalhães: “a ligação de Portugal com as praças marroquinas fazia-se através do Algarve e, em princípios do século XVI, sobretudo por Tavira”105. Se refiere a que este puerto vinculado al norte de África se encontraba a menos de 23 kms. de Ayamonte, por lo que la relación entre ambas ciudades resultaba muy fácil por el sistema de la tradicional navegación de cabotaje. Además, el emplazamiento de Ayamonte frente a Castro Marim, la plaza militar portuguesa más cercana a Marruecos, atraía sin duda a muchos ayamontinos interesados en aventurarse en la cruzada portuguesa hacia los Algarves del otro lado del mar. Pero, para que comprendamos en qué circunstancias los ayamontinos participaron en la expansión portuguesa por el norte de África, veamos antes qué ambiente se vivía en la vecina Castro Marim en el Quinientos. 105 Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, pp.81-96. De este mismo autor véase también Para o Estudo do Algarve Económico Durante o séc. XVI, pp.238-239. Sobre la relación entre Tavira y las plazas de los Algarves Dalém véase Maria Augusta Lima Cruz, “Tavira no processo de abandono de praças portuguesas no Norte de África, no século XVI. Abertura de um estudo”, in Espírito e Poder – Tavira nos Tempos da Modernidade, pp.20-45. 141 CASTRO MARIM EN LA EXPANSIÓN PORTUGUESA HACIA EL NORTE DE ÁFRICA Desde principios del siglo XVI los ayamontinos se lanzaban como pilotos y marineros en los barcos de la carrera de la Indias106, lo mismo que la vecina Castro Marim, donde los descubrimientos y la expansión hacia el Norte de África tuvieron un fuerte impacto. El propio infante Don Enrique – que en 1416 había sido requerido por el rey Don Juan I para abastecer y defender la recién conquistada Ceuta107 – permaneció en Castro Marim durante algún tiempo, cuando recibió al infante Don Fernando, su sobrino y heredero, al regresar al reino tras su paso por aquella plaza norteafricana108. Del mismo modo, se establecerán en esta plaza fronteriza de Ayamonte otros hidalgos, apoyando al Infante y ejerciendo altos cargos. Fue el caso de Diego Lopes, caballero de la Casa del Infante Don Enrique y comendador de Castro Marim, además de veedor de los vasallos reales habitantes en esta ciudad y término, en 1444109, o el caso de Vasco Eanes Corte Real, capitán de caballería de Castro Marim antes de 1433110 e hijo de Vasco Eanes, que acompañó a Don Enrique durante la conquista de Ceuta111. ¿Por qué esta necesidad de proveer Castro Marim con gente de confianza del Infante? Porque la villa, por su proximidad geográfica con Marruecos, pasó a tener un importante papel en la protección de la presencia portuguesa en el Norte de África y en la lucha contra la piratería magrebí. En este sentido, no podemos dejar de destacar la extraordinaria actuación de García de Melo, capitán mayor de ballesteros 106 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminencias alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.154-155; Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.38. 107 Isabel L. Morgado de Sousa e Silva, A Ordem de Cristo (1417-1521) - Revista Militarium Ordium Analecta, nº 6, p.63. Más tarde, en 1433, el rey D. Duarte concedió al infante D. Henrique un quinto de todo lo que fuese tomado por sus navíos de corso que patrullaban el Estrecho de Gibraltar. Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.266; Ver también Edite Maria da Conceição Martins Alberto, “Resgatar cristãos em terras no Norte de África – O ofício de Alfaqueque no século XV”, in Estudos de História Luso-Marroquina, p.42. 108 Alberto Iria, O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos), p.77. 109 Ver Monumenta Enricinha, Vol. VIII, p.220. 110 Ver Monumenta Enricinha, Vol. IV, p.500. 111 De acuerdo con Zurara, Vasco Eanes saltó en la playa de la villa con el infante D. Henrique y fue el primer portugués en combatir a los moros en la puerta de Almina. Véase Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta, Capítulo LXXII, p.225. 142 y alcaide de Castro Marim112. Recordemos que en 1504, el mismo año que la villa recibió al foral manuelino, García de Melo lideró un valeroso ataque a Larache, en ese momento un conocido nido de piratas que atacaba incansablemente las costas del Algarve y Andalucía, capturando cinco galeotes, dos bergantines y una carabela e incendiando una galera y otras tres carabelas113. LOS CASTRO-MARINENSES EN LAS PLAZAS DE PORTUGAL EN MARRUECOS Debemos tener en cuenta que las conquistas en África suponían, evidentemente, el envío de hombres para garantizar la defensa y manutención de las plazas bajo dominio portugués. Y dada la proximidad de Castro Marim a las tierras marroquíes, fueron muchos los castro-marinenses que se lanzaron a la conquista, manutención y defensa de esas plazas. Cuando el Infante Don Fernando, hermano del rey Don Alfonso V planeó enrolarse en la hazaña de Ceuta, incluso sin la aprobación de su hermano, “mandou aparelhar uma caravela na foz do rio Guadiana e pôs-se a caminho”114. No es preciso decir que parte de la tripulación que acompañó al Infante sería, probablemente, originaria de la comarca de Castro Marim. En el siglo XVI esta tendencia parece intensificarse. En octubre de 1508, por ejemplo, D. Manuel decidió a través del mencionado García de Melo, anadel-mor de los ballesteros, el nombramiento de varios ballesteros del monte vecinos de Castro Marim. Fue el caso de Barão Martins115, Afonso Eanes Pescoço116, João Lourenço117, 112 No sabemos exactamente en qué año fue investido con la alcaldía de Castro Marim; con todo, una carta que datada en 1509 lo presenta como alcalde mayor de esta plaza de guerra del Algarve, en ese mismo año. Vease A.N.T.T., Gaveta 20, Maço V, nº 14. 113 Ver Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África (Séculos XV-XIX), p.120. 114 D. Alfonso V, preocupado con la impulsividad de su hermano, vino a su encuentro hasta Tavira y Castro Marim. Más tarde, el infante acabaría por ser interceptado en el estrecho de Gibraltar por el Conde de Odemira, capitán de Ceuta. Después de visitar aquella plaza fue conducido al reino portugués, pasando por Tarifa, Castro Marim, Mértola y Beja, donde lo esperaba la Corte. Véase Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar, pp.57-59. 115 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v. 116 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v. 117 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 24v. 143 Vasco Lourenço Fafez118, Afonso Eanes Galego119, Martim Eanes Pescoço120, etc. Pero ¿se quedaron estos hombres en su villa de origen? Algunos meses después, ya en 1509, el alcaide de Castro Marím, Simão Correia, reclutó 102 ballesteros de la villa para que fueran a servir en Arzila, donde tendrían además funciones de constructores121. Por lo demás, fue frecuente la presencia de hombres naturales de Castro Marim en las plazas norteafricanas, no solo como soldados sino también en calidad de pobladores. Es el caso de Afonso Roiz, natural de Castro Marim, que encontramos como ballestero de a pie en la guarnición de Safim, en 1511122, o el caso de los habitantes de Castro Marim que encontramos en Azamor123. En este contexto, tiene un particular interés el caso del castro-marinenese Gaspar Gonçalves, armado caballero en Azamor por orden del Duque de Bragança, tras la conquista de aquella plaza marroquí en 1513124. Pero, además de los soldados y moradores oriundos de esta plaza militar, también debemos contabilizar los desterrados enviados con frecuencia a Arzila, Ceuta y Tánger125. Un buen ejemplo es el caso del escudero Henrique Vaz, de Castro Marim, condenado a dos años de destierro en Arzila, “por feridas dadas”126. Hay que añadir, a todos estos casos, los castro-marinenses que se lanzaron a la epopeya de los descubrimientos. Oliveira Marques, por ejemplo, incluye a Castro Marim en el grupo de las tierras que más contribuyeron con gentes que se lanzaban a las exploraciones marítimas127. 118 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25. 119 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25. 120 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv. 5, fl. 25. 121 Rafael Moreira, “História – Histoire”, in Arzila, Torre de Menagem – Le Donjon d’Asilah, p. 35. 122 João Cosme, A Guarnição de Safim em 1511, p.151. 123 Maria Augusta Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português, quadro 1. 124 A.N.T.T., Chancelaria de D. Manuel I, liv.11, fl. 53. 125 José António de Jesus Martins, O Reino do Algarve nos finais da Idade Média – Os concelhos algarvios no séc. XV, p.45. 126 A.N.T.T., Chancelaria de D. João II, liv. 24, fl. 99. 127 Oliveira Marques, “A Expansão no Atlântico”, in Nova História da Expansão Portuguesa – Vol. II – A Expansão Quatrocentista, p.208. 144 PRESENCIA ESPAÑOLA EN LA COSTA ATLÁNTICA DE MARRUECOS Antes de continuar, es necesario contextualizar los antecedentes de la presencia española en África, para comprender en qué circunstancias Ayamonte se ve también involucrada en la expansión portuguesa en Marruecos. Como sabemos, desde el siglo XV, Castilla intentaba establecerse en la costa atlántica africana, pretensión que le llevó a un enfrentamiento con Portugal respecto a la política expansionista en África y que estaba estrechamente relacionada con el contencioso sobre las Canarias. En efecto, el 8 de enero de 1454, después de que el rey de Castilla donara las Canarias al duque de Medina Sidonia128, el infante Don Enrique consiguió del Papa Nicolás V la Bula Romanus Pontifex, que otorgaba a los portugueses las tierras tomadas cerca de Ceuta y las descubiertas, con posterioridad, de Bojador y del Cabo Não (actual Cabo Chaunar). Éste último, subrayemos, frente a la Isla de Lanzarote. Sin embargo, el permiso no era claro respecto a los derechos de los dos reinos sobre la costa atlántica, permitiendo que Castilla afirmase que la línea divisoria pasaba por el Cabo Bojador, mientras que Portugal defendía que el límite sería el Cabo Não, mucho más al norte. En esas circunstancias, durante la segunda mitad del siglo XV, Portugal conquista Alcácer Ceguer, Arzila, Tánger y lanza una serie de ataques sobre las costas marroquíes, mientras que los españoles penetraban en la costa frente a Canarias. Son precisamente estos españoles establecidos en las Canarias quienes intentarán instalarse en el continente africano, algunos kilómetros al sur de Meça, un territorio a la misma latitud que las Canarias129. De hecho, en 1477/1478 Diego de Herrera y sus hombres construirán una fortaleza en la margen derecha del río Açasa, a la que llamarán Santa Cruz de la Mar Pequeña130, localizada al sur de Meça y al norte del Cabo Não. Con el Tratado de Alcaçovas, el 6 de marzo de 1480, Portugal hizo algunas cesiones, renunciando a los derechos que afirmaba tener sobre las Canarias, aunque 128 Colección de documentos inéditos para la Historia de España ..., Tomo XXXVI, pp.499-501. 129 António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.29. 130 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, p.405. Este fuerte respetaba, por tanto, la interpretación de Castilla cuanto a la bula de Nicolás V, pero aumentaba el clima de tensión con Portugal, que se mostraba intransigente en cuanto a las pretensiones de Castilla en la costa africana. 145 se le reconocía el derecho de continuar con la conquista de Guinea, la posesión de las islas descubiertas al sur de Canarias y el derecho de conquista del reino de Fez. Una vez más, la ambigüedad de los textos y los propios acuerdos, particularmente sobre los límites del reino de Fez, permitió que continuaran los conflictos entre Portugal y Castilla por el control del territorio. Será seguramente en ese contexto de disputa en el que Castilla pretendió extender su presencia hacia el norte, hacia la rica región de Duquela. Hacia 1480 tenemos noticia de que “espanhóis de Xerez e de Calis (Cádiz), comandados pelo alcaide Juan Sanchez, atacaram Azamor com uma esquadra de 150 velas”131, pero solo tomaron cuatro torres y acabaron por ser repelidos. Esta tentativa de conquistar Azamor parece guardar relación con el interés castellano en las riquezas de la región, especialmente la pesca, las carnes y los cereales132. Más aún cuando Azamor se encuentra apenas a 10 km de la bahía de Mazagão, un activo puerto de exportación de cereales frecuentado por portugueses y castellanos: “nesta baía de Mazagão carregam muitas naus destes reinos, e assi de Castela”133. Por otra parte, si tenemos en cuenta las descripciones de Duarte Pacheco Pereira, parece natural que los castellanos hayan pretendido apropiarse de las riquezas de la región a través de la conquista de Azamor. Por lo demás, la toma de Casa do Cavaleiro (a la que los moros llaman Uguer) por los españoles de Jerez, en el último cuarto del siglo XV134, parece reforzar esta teoría135. Curiosamente, B. Bonett no refiere este episodio al tratar de los movimientos castellanos en Africa antes de la llegada de Alonso Fernández de Lugo136. Es posible que el silencio de este autor se deba al hecho de haber sido una ocupación infructuosa, ya que los moros 131 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86. 132 Duarte Pacheco Pereira, navegante y cosmógrafo portugués de los siglos XV y XVI, refiere “a maravilhosa pescaria de sáveis muito grandes e bons (…) e esta vila de Azamor e suas comarcas são muito abastadas de pão, carnes, pescados e outras coisas”.. Véase Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, pp.62-63. 133 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 17, p.64. 134 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.86. 135 “Nesta Casa do Cavaleiro há muito trigo e cevada, e muitas vezes carregam ali navios dele; e disso mesmo há ali muita abastança de carne e caça; e no mar, nas cinquenta a sassenta braças, há muita pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”. Véase Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 18, p.65. 136 Buenaventura Bonet y Reverón, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Revista de Historia, Tomo 5. Año 10. Número 37, pp.138-140. 146 abandonaron el lugar. En cualquier caso, la breve ocupación de esa localidad, situada a apenas 10 leguas del puerto de Mazagão, viene a reforzar la teoría de una tentativa de establecimiento castellano en la rica región de Duquela. Como respuesta a las acciones castellanas, el rey D. João II impuso una política de protectorados sobre algunas zonas del sur con las que mantenía una relación comercial137. De hecho, el primer acuerdo conocido entre Portugal y Safim ya se remonta al reinado de D. Afonso V, como se refiere en la carta que D. João II envió a Amadux, el alcaide de la ciudad en 1488138. Del mismo modo, también D. João II impuso la soberanía portuguesa a los habitantes moros de Azamor, en 1486139 (la misma ciudad que los castellanos intentaron conquistar años antes) y el rey D. Manuel I estableció un tratado de soberanía con los habitantes de Meça, en 1497140. En ese mismo año, D. Manuel confirmó los términos del contrato con Azamor, en 1497, a pesar de ellos la fidelidad de sus habitantes a la Corona portuguesa fue muy irregular a partir de 1502141. La respuesta de Castilla no se hizo esperar. En 1496, después del Tratado de Tordesillas, los indígenas de Mar Pequeña y San Bartolomé reconocen la soberanía de Castilla, por lo que la torre de Santa Cruz de la Mar Pequeña, perdida a pesar de todo, fue reedificada por el gobernador de Canarias Alonso Fajardo142. En 1499 Lopez Sánchez de Valenzuela consiguió someter a varias tribus y aldeas de la costa africana frente a Canarias, concretamente Tagaost (Capital de la zona del Cabo Não), Tamanar, Ifran e Ifni. Al año siguiente, en 1500, Alfonso de Lugo, Adelantado de las Canarias, “Capitán general de la Berbería desde el cabo de Aguer hasta el de 137 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Disertación para el máster en Historia del Algarve presentada en la Universidad del Algarve, p.22. 138 Durval Pires de Lima, História da Dominação Portuguêsa em Çafim (1506 – 1542), p. 15; David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos…”, in História de Portugal, vol. III, p. 463; António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, p.26. 139 Rui de Pina, Crónica de D. João II, Capítulo XXI, pp. 53-54; Garcia de Resende, Crónica de D. João II e Miscelânia, Capítulo LX, p. 56; David Lopes “Os Portugueses em Marrocos”, in História de Portugal, vol. III, p.508. 140 Carta de D. Manuel I a los moradores de Meça, en 11 de enero de 1497, in Les Sources Inédites de l’Histoire du Maroc, Tomo I, Première Série, doc. IV, pp. 31-35. Sobre la presencia portuguesa en Meça véase David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, pp.542-544; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.321-323. 141 Véase Vergílio Correia, Lugares Dalém – Azemôr, Mazagão, Çafim, pp.32-33. 142 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, pp.413-417. 147 Bajador”143 fue enviado a África con la misión de construir tres fuertes: uno junto al Cabo Bojador, otro junto al Cabo Não y un tercero cerca de Tagaost144. Cierto es que el Tratado de Tordesillas vino a delimitar las áreas de influencia de España y Portugal en África. Sin embargo, la zona entre el Cabo de Gué y Meça siguió en litigio, pendiente de ser incorporada a una u otra Corona. Es sabido que, en 1501, Alonso de Lugo pretendió establecerse en Meça y en Santa Cruz do Cabo de Gué, como veremos más adelante. No obstante, durante nuestra investigación para el presente artículo, nos encontramos con una información que no aparece referida en la historiografía portuguesa. Se trata del proyecto de conquista de Azamor por Alonso de Lugo y Francisco de Peñalosa, en 1500, ordenado por la reina Isabel I de Castilla. La referencia la da Fray Bartolomé de las Casas en su obra Historia de las Indias, en la que habla sobre la “armada que se hizo para Azamor donde iba el Alonso de Lugo, siendo el dicho Francisco de Peñalosa capitán general”145. Aunque la expedición se saldara en derrota española y muerte del propio capitán, termina revelándose de un gran interés en la medida en que viene a demostrar que Isabel la Católica pretendía extender el dominio de Castilla hacia el norte, a través de la conquista de una ciudad, por entonces tributaria de Portugal, lo que constituiría una clara violación del Tratado de Tordesillas. Además, en 1500 y 1501 Alonso de Lugo intentó establecerse en Meça, una villa de moros muy grande, mercado de oro, cera, cuero, etc. y situada a una legua del mar146. Portugal protestó ante Castilla, por lo que se ordenó al gobernador castellano que respetase los intereses portugueses anteriores en la región, ya que, como dijimos anteriormente, los habitantes de Meça eran vasallos de Portugal desde 1497. Sin embargo, Alonso no se dio por vencido. Dirigiéndose más al norte ocupó la población que actualmente se llama Agadir ayudado por los Cacimas, una tribu bereber instalada en el lugar147. En efecto, ya en 1480 los castellanos habían atacado Agadir para castigar a los indígenas que habían participado 143 Leopoldo de la Rosa Olivera & Elfas Serra Rafols, El Adelantado D. Alonso de Lugo y su residencia por Lope de Sosa, IX. 144 Buenaventura Bonet, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Nuevas Aportaciones Históricas, p.140. 145 Fray Bartolomé de Las Casas, Historia de las Indias, Tomo I, cap. LXXXII, p.352. 146 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.122. 147 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), Vol. III, pp.453-454. 148 en un ataque a Santa Cruz de la Mar Pequeña. Intentaron repetir la proeza en 1483, terminando esta última iniciativa castellana en un desastre militar148. La ocupación fue, sin embargo, muy breve. Los habitantes de Meça, incitados por los portugueses, se lanzarán sobre la población y derrotarán a los españoles y a sus aliados Cacimas “matando-lhes muita gente e outra cativaram”149. En 1505, tras esta tentativa española de ocupar el territorio, João Lopes Sequeira construyó en el lugar un castillo que llamó Santa Cruz do Cabo de Gué150, en respuesta a las pretensiones castellanas, así como la fortaleza satélite de Bem Mirao151. La ocupación del espacio por los portugueses acabó por disuadir los intereses españoles en la región, limitándolos a la ya referida Santa Cruz de la Mar Pequeña, donde acabarían por resistir hasta 1524 ó 1527. Otro detalle llamó nuestra atención. Entre los hombres reclutados para la construcción de la torre de Santa Cruz de la Mar Pequeña se encontraba Bartolomé de Ayamonte, el majador capataz de la obra que acabó por quedarse en la torre tras el regreso del resto de la expedición. Además, por lo que hemos conseguido averiguar, este ayamontino permaneció en la torre 16 meses (3 dedicados a la construcción y 12 como parte de la guarnición)152. 148 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, pp.411-412. 149 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, p. 543. Del mismo autor vease tambien: A Expansão em Marrocos, p.28; Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), p.29. 150 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), 1945; Robert Ricard, “L’occupation portugaise d’Agadir (1505-1541)”, in Hespéris, Tomo XXXIII, pp.93-102; Pedro Dias, História da Arte Portuguesa no Mundo – O Espaço Atlântico (séculos XV – XIX), pp.50-51; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.324-328. 151 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.32; Jorge Correia, Implantação da Cidade Portuguesa no norte de África – Da tomada de Ceuta a meados do séc. XVI, pp.328-334. 152 Nótese que tal como Bartolomé Ayamonte también encontramos a dos portugueses que permanecerán los mismos 16 meses en Santa Cruz de la Mar Pequeña. Eran ellos el ferreiro Pedro portugués y el soldado Manuel portugués (el apellido verdadero era Sousa). Ver Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, pp.437, 446, 454 y 475. 149 LA ARMADA DEL MARQUÉS DE AYAMONTE EN LOS ALGARVES DALÉM-MAR, EN EL SUR DE MARRUECOS No se piense, con todo, que la pérdida de Santa Cruz de la Mar Pequeña representó el desinterés español por el sur marroquí. Como veremos, D. Francisco de Sotomayor, que se convertirá en marqués de Ayamonte por su matrimonio con Teresa de Zúñiga y Manrique de Castro153, intentó reactivar la influencia española en la región del Sus, concretamente en el Cabo de Gué, o sea, en un territorio anteriormente codiciado por el rey portugués D. João II y por los Reyes Católicos. Veamos por qué. Durante la investigación que realizamos para la publicación de Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, nos encontramos con un documento que nos llamó mucho la atención. Se trata de una carta del capitán de Azamor, Antonio Leite, al rey D. João III el 10 de septiembre de 1529, en el que se revelan los movimientos de una armada del marqués de Ayamonte en el puerto de Mazagão y de cuáles eran sus intenciones. En el documento, Antonio Leite cuenta cómo dos carabelas y un galeón del marqués de Ayamonte intentaron tomar un navío de Ruan, anclado en el puerto de Mazagão, que solía comerciar allí todos los años. Según el capitán de Azamor, los navíos del marqués llevaban un regalo para uno de los xarifes con la intención de establecer un acuerdo comercial en el sur de Marruecos y debilitar los intereses portugueses. Dadas las circunstancias, Leite aconsejaba al monarca portugués controlar la navegación comercial en los puertos marroquíes, obligando al paso del trato entre europeos y musulmanes por las aduanas portuguesas, lo que permitía importantes beneficios para la Hacienda Real154. Trascribimos aquí el extracto original del documento relativo a los movimientos del marqués de Ayamonte y la respectiva tradución al castellano: 153 CF. Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., p. 480, nota 1. A este respecto véase también Antonio Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.19; Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, pp.45-46. 154 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.65-66, nota 171. 150 “C Aquy veo ter huua armada do marques de Aiamonte, huum galeam e duas caravelas, e pousou no porto de Mazagam; e quiseram tomar húua naoo que estava ameorada dentro no porto, a qual era de mercadores de Ruam, que aquy vem cada anno tratar comnosquo ; e eu nam lh’o cornsemty, porque estava segura no porto de V. A. E soube que aquella armada leva huum presente ao Xarife, sobre comçerto que o Marques com elle quer fazer, pêra os de sua terra hirem pesquar seguros ao Cabo de Gué, e pêra tratarem com elle na costa. Dou este aviso a V. A. pêra oulhar nisso o que cumpre a seu serviço, e também por me parecer grande baxeza tal pesoa como o marques de Aiamomte mandar presente sobre tal caso a huum Mouro de tam pouqua verdade. E isto lhe ajudara a criar mais soberba, porque ja cre que os Christãos lhe sam tributários”155. ……………………………………………………………………………………… “Aquí veo tener una armada del Marqués de Ayamonte, un galeón y dos carabelas y las colocó en el puerto de Mazagam; y quisieron tomar una nao que estaba anclada dentro del puerto, que era de mercaderes de Ruam, que aquí vienen cada año a comerciar sé; y yo no lo consentí porque estaba segura en el puerto de V.A . Y supe que aquella armada lleva un regalo al Xarife para el acuerdo que el Marqués quiere con él hacer, para que los de su tierra vayan a pescar seguros en el Cabo de Gué, y para comerciar con él en la costa. Doy este aviso a V.A. para mirar en esto lo que cumple a su servicio, y también porque me parece gran bajeza tal persona como el marqués de Ayamonte mandar un presente para tal caso a un Moro de tan poca verdad. Y esto le ayudará a crear más soberbia porque ya cree que los Cristianos le son tributarios”. 155 Carta de António Leite a D. João III, en 10 de Septiembre de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº64. Véase también Pedro Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol. XI, p.265. 151 En otras palabras, el Marqués de Ayamonte intentaba captar la simpatía del xarife del Sus con el objetivo de establecer un acuerdo comercial con los enemigos directos de los portugueses en la región. Acuerdo comercial que, de salir bien, hasta podría suponer la constitución de una factoría española, perjudicial para los intereses estratégicos de los portugueses, ya que los xarifes del sur tenían bajo su tutela territorios por donde pasaban las caravanas comerciales que atravesaban el desierto. Es evidente que Ayamonte era una población con una clara vocación marítima y pesquera. Sin embargo, la intención de los ayamontinos en ir a pescar al Cabo de Gué y de negociar con los moros de aquella costa no parece del todo inocente. Como vimos, desde el siglo XV los castellanos frecuentaban algunas poblaciones del Cabo de Gué con pretensiones comerciales156, concretamente Tamareque donde, según Duarte Pacheco Pereira, podían anclar navíos y donde había mucha pesca de pijotas y de otros pescados: “grande pescaria de pixotas e doutros muitos peixes”157. Por lo demás Joaquin Figanier afirma también la existencia de comerciantes castellanos residentes y tratantes en zonas como la citada Tamareque, Meça y Taracuco158. Después, en el tránsito del siglo XV al XVI, el gobernador de Tenerife, Alonso de Lugo, intentó establecerse en el Cabo de Gué, una bahía que, como bien observó António Dias Farinha, servía de puerto a la rica región de Sus. ¿Sería la intención del marqués de Ayamonte instalar una factoría en el continente africano? ¿Estaría interesado en el comercio de esclavos y productos africanos que cruzaba el desierto? Antes de responder a estas preguntas, veamos de qué territorio se trataba. Duarte Pacheco Pereira, navegante y cosmógrafo del siglo XV, describe así la región: “Santa Cruz, o qual tem a dita angra em que pode pousar qualquer nau grande, em fundo limpo e boa ancoração (…) esta terra é muito fértil de pão, carnes, pescados, mel, cera courama e outras muitas mercadorias em que se faz muito proveito; e asi há qui ouro, que os Alarves trazem da Guiné por terra”159. 156 Vitorino Magalhães Godinho, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, p.121. 157 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 19, p.71. 158 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21. 159 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis, I Parte, Capítulo 20, pp.71-72. 152 El cosmógrafo oculta el comercio de esclavos aunque sabemos que en la vecina Meça, donde los castellanos también intentaban construir una factoría, llegaban esclavos provenientes de Sudán y de Mauritania160. Vista la descripción del cosmógrafo portugués, se hace evidente cuál era el objetivo de Alonso de Lugo: establecerse en una costa africana rica en productos y con capacidad de atraque de barcos de gran tamaño. Como ya dijimos, la ocupación castellana fue sin embargo muy breve, en la medida que los habitantes de Meça, como vasallos del rey de Portugal, atacaron la población y derrotaron a los españoles161. En 1505, con la ocupación de la zona por los portugueses y la construcción del castillo de Santa Cruz do Cabo de Gué, la presencia militar española quedó limitada a la citada Santa Cruz de la Mar Pequeña, donde resistirían hasta la segunda década del siglo XVI. Explicado esto, volvamos a preguntarnos: ¿tendría intención el marqués de Ayamonte de instalar una factoría en el continente africano? ¿Estaría interesado en el comercio de esclavos y productos africanos que cruzaban el desierto? Veamos: según el historiador marroquí Adnan Mechbal, Santa Cruz de la Mar Pequeña funcionaba como una fortaleza de costa que tenía como objetivo apoyar las fuerzas conquistadoras en las batidas destinadas a la “la búsqueda de alimentos y de esclavos para su comercio”162. El historiador español Rumeu de Armas, aunque no coincide con la idea de tratarse de una fortaleza para lanzar operaciones militares, alude a la existencia de documentos que demuestran la compra de esclavos en dicha fortaleza163. Con la pérdida de Santa Cruz de la Mar Pequeña – la única factoría española en Africa - los españoles se vieron privados de este comercio de esclavos y, como es sabido, los esclavos que entraban en ciudades como Ayamonte en los primeros años de la Edad Moderna, eran vendidos por los mercaderes portugueses que los traían 160 Joaquim Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541, p.21. 161 David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, (dirigida por Damião Peres), vol. III, p. 543. Del mismo autor ver también: A Expansão em Marrocos, p.28. 162 Cf. Javier Gil Pérez & Óscar Garrido Guijarro, “Santa Cruz de Mar Pequeña - Ifni en las relaciones hispanomarroquíes”, in Anuario de Estudios Atlánticos, Las Palmas de Gran Canaria. España (2015), p.2. Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, pp.408 y 466. 163 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, pp.08 y 466. 153 de Angola, Mozambique, Santo Tomé y Cabo Verde164. Además, según Manuel Fernández Chaves y Rafael Pérez García, una de las rutas del comercio de esclavos de Portugal a Sevilla era procedente de las costas del Algarve, entrando en territorio español a través de Ayamonte. Los que no eran vendidos en esta ciudad entraban en un circuito que podría pasar por Huelva, Gibraleón, Moguer, Niebla y Sevilla165. Como es sabido, los mercaderes portugueses, como intermediarios de este negocio, conseguían importantes beneficios, aumentando sustancialmente el precio de los esclavos cuando eran vendidos en ciudades como Ayamonte. Dadas las circunstancias, ¿Intentaría D. Francisco de Sotomayor reactivar el rentable comercio de esclavos directamente con los xarifes de Sus sin tener que pasar por los intermediarios portugueses? ¿O estaría interesado el marqués en otro tipo de productos? En efecto, en 1494 un grupo de comerciantes ayamontinos había cargado una carabela con paños, lienzos y otras mercancías para venderlos en los puertos de Africa. Estando dicha carabela en Azamor, entonces tributaria de Portugal, todo su cargamento fue robado por un grupo de hombres con una carabela bien artillada, originaria de Cadiz166. De ello se concluye que los contactos de los ayamontinos con el sur de Marruecos era una realidad que, por lo menos se remontaba a la época en la que los Reyes Católicos se empeñaban en extender “el influjo y la acción política de España por las inmensas tierras del Africa Occidental”167. La verdad es que no sabemos exactamente cuáles serían las intenciones de D. Francisco de Sotomayor al sur de Marruecos. En cualquier caso el acuerdo comercial que planeaba establecer con el xarife del Sus no tuvo éxito. Era normal. Marraquech había sido ocupada por el xarife Ahmed al-Araji en 1520 y en 1527 ya dominaba el Sus, a falta de controlar apenas Tadla. Esto quiere decir que en el momento de la visita de la armada del marqués de Ayamonte, en 1529, los xarifes del Sus se encontraban ampliamente organizados como un grupo político y religioso dedicado 164 Antonio Manuel González Díaz, “La otra cara del Ayamonte Moderno: la población esclava. Procedimientos de integración y exclusión social”, in XIX Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, pp.36-37. 165 Manuel F. Fernández Chaves & Rafael Pérez García, “Las redes de la trata negrera: mercaderes portugueses y tráfico de esclavos en Sevilla (1560-1580)”, in La Esclavitud Negroafricana en la Historia de España. Siglos XVI y XVII, pp.14-15. 166 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminencias alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153. 167 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, p.17. 154 a expulsar a los cristianos de la costa africana y a unificar el territorio marroquí. Y si estos peleaban con los infieles portugueses que ocupaban el territorio, ¿cómo iban a celebrar un acuerdo con los infieles españoles? Además, fue tal el ímpetu guerrero de los xarifes del Sus que el propio reino de Fez se vió obligado a firmar un tratado de paz con Portugal, pocos años después, el 8 de mayo de 1538168. MOVIMIENTOS DEL MARQUÉS DE AYAMONTE POR LOS ALGARVES DAQUÉM, AL SUR DE PORTUGAL A pesar de todo, la acción del marqués de Ayamonte no quedó ahí. Reparemos que en diciembre de 1529, apenas dos meses después de la carta de Antonio Leite al rey D. João III, otra carta volvía a hacer referencia a los problemas con el susodicho marqués. Se trata del Traslado do que se deu a Cristóvão de Mendonça que enviou a sua Alteza o marquês de Ayamonte sobre o caso do Bregantim En este documento el comendador de Arenilha parece responsabilizar al marqués por los daños causados en las embarcaciones de los vecinos de la villa, concretamente al referido bergantín, llegando incluso a ordenar “pagar as barcas e (…) as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilha” Fig.1 - Traslado do que se deu a Cristóvão de Mendonça que enviou a sua Alteza o marquês de Ayamonte sobre o caso do Bergantim. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45. 168 João Cosme, “Tratado de Paz entre Portugal e o Reino de Fez”, in Arquipélago * História, XIV-XV, pp.11-29. 155 y detener a los responsables que se encontraran en sus tierras169. Como puede comprenderse, el tono de la carta no es precisamente halagador para el noble español. El 24 de Maio de 1530 – cuando Ayamonte contaba ya con una población entre los 4040 y los 5057 habitantes170 – D. Francisco de Sotomayor escribió a D. João III. En el documento, que tiene por título Carta do marquês de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador Cristóvão de Mendonça, el marqués esquiva las acusaciones de que era objeto, alegando la pena que tenía de no poder demostrar su voluntad en servir al rey portugués . Fig.2 - Carta do marquês de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar crédito ao comendador Cristóvão de Mendonça. A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9. 169 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45. 170 Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, p.39. 156 El noble español, a través de un ejercicio diplomático tan adulador como demagógico, argumentaba que los verdaderos responsables, conocedores de que el marqués era un verdadero servidor del rey D. João III, no se atrevieran a pasar por sus tierras y fueran directamente hacia Sanlúcar y hacia Cartaya171. La carta revela, además, un detalle muy interesante: D. Francisco de Sotomayor justifica su disponibilidad en explicarse personalmente frente al rey portugués alegando “tenerme la emperatriz, mi señora, ocupado en la guardia desta costa”. Como sabemos, la regente del Sacro Imperio Romano Germánico entre 1528 y 1533 fue la emperatriz Isabel de Portugal “a mulher mais bonita de seu tempo”172, esposa del emperador Carlos V, hija del rey D. Manuel I y hermana de D. João III. Así podemos deducir que el marqués de Ayamonte procuró legitimar las culpas que se le imputaban por las responsabilidades que la propia hermana del rey portugués le había atribuído. Por otro lado, se deduce por qué motivo el marqués de Ayamonte, legítimamente encargado de controlar la costa, se aventuraba en los mares de los Algarves Daquém e Dalém-mar, intentando debilitar los intereses portugueses. En cualquier caso, el malestar del monarca portugués con el noble español no quedó ahí. Según una carta de D. João III a Henrique de Meneses, embajador en Roma, y a Alvaro Mendes Vasconcelos, embajador en Madrid, vemos que el rey de Portugal no dio el asunto por zanjado. Aunque nos haya sido imposible analizar directamente esta carta, la descripción del documento en el Archivo Nacional de Torre de Tombo alude a “os danos cometidos pelo marquês de Aiamonte nos mares do Algarve” en fecha no precisada173. Sin embargo, como sabemos que Álvaro Mendes de Vasconcelos era el embajador de Portugal en Madrid en ese mismo año de 1530, resulta muy fácil deducir que se trata del mismo asunto. Más aún, el rey portugués, no satisfecho con la respuesta del marqués de Ayamonte, dirigió sus quejas directamente al embajador de Portugal en la corte española. 171 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 45, n.º 9. 172 Marsilio Cassotti, Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, p.233. 173 A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17). 157 Fig. 3 Página da Internet relativa ao descritivo da Correspondência de D. João III a Henrique de Meneses, embaixador em Roma e a Álvaro Mendes de Vasconcelos, embaixador em Madrid. A.N.T.T., Manuscritos da Livraria n.º 1118 (17). Además, la tensión provocada por este episodio tuvo que ser de tal magnitud que el Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo refiere la Carta do Senhor Rei D. João III dada em Lisboa, dirigida á Camara da villa de Mertola, para lhe enviar a inquirição, que se tirou em 1530, por falsamente se testemunhar em Castella por parte de Ayamonte contra Castro Marim174. Por lo demás, no deja de ser curiosa la intransigencia del marqués de Ayamonte hacia los vecinos portugueses, especialmente cuando la armada del Estrecho – creada en 1520 para garantizar la seguridad de la navegación entre el Algarve y el Norte 174 Vizconde de Santarém, Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo…, Tomo I, p.18. 158 de Africa175terminaba por proteger Ayamonte de los daños causados por la piratería magrebí. De hecho, son varios los testimonios que dan cuenta de los frecuentes ataques de la piratería mora a las costas de Andalucía. Bernardo Rodrigues, por ejemplo, refiere en el año 1513 el “muito dano que alguas fustas de Tetuão fazião na costa de Castela especialmente de Malega até Cális e de Cális até o Algarve, elrei nosso senhor o mandava destroir e derrubar”176. Por otras palabras, el daño que las fustas de Tetuán hacían a la costa de Castilla especialmente desde Málaga hasta Cádiz y de Cadiz hasta el Algarve. Este es el contexto en el que el rey D. Fernando el Católico llegó a preparar una armada para destruir Tetuán, lo que no logró por este nido de piratas que se encontraba en zona de derecho de conquista portuguesa. Más tarde, en 1520, Carlos V volvió a insistir al lado del monarca portugués para construir una torre en el cauce del río de Tetuán, para neutralizar a los barcos enemigos que tantos daños causaban en las costas de Andalucía, pero el rey portugués no lo hizo. ¿Sería la intransigencia del marqués de Ayamonte, eventualmente instigado por su soberano, el resultado de la pasividad del rey D. Manuel respecto a este asunto? En 1523 estaba esta armada en el cauce del río Guadiana, donde tenía orden de embarcar el Conde do Redondo, D. João Coutinho177, en la villa de Arenilha, para llevarlo a Arzila178. ¿Sería interpretada como una provocación la presencia de la Armada del Estrecho en el cauce del Guadiana frente al entonces marqués de Ayamonte Francisco de Zúñiga y Guzmán? Es posible. Lo cierto es que la Armada del Estrecho siguió protegiendo Ayamonte. Buen ejemplo de ello fue lo que pasó en 1531, cuando D. Gonçalo Coutinho, capitán de dicha Armada, encontró una fusta 175 Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África (Séculos XV – XIX), pp.117-137. 176 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo I, Capitulo XXVII, p.90. Véase también Rui Landeiro Godinho, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), p.122. 177 Sobre esta familia véase Luís Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos: Linhagem, Espaço e Poder (1360-1452), Cascais, Patrimonia, 1999; “Outro Venturoso de finais do século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e de Loulé”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp.45-56; Vítor Luís Gaspar Rodrigues, “As Linhagens Secundárias dos Coutinhos e a Construção do Império Manuelino”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), pp.177-189. 178 José Virgílio Amaro Pissara, “Vasco Fernandes César, capitão da Armada do Estreito”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), p.144; Fernando Pessanha, Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar, p.100. 159 de Larache cerca de la barra de Ayamonte y de Lepe, a la que atacó perjudicando a los portugueses. Además, es el propio Bernardo Rodrigues quien, en el mismo capítulo en el que se describen los acontecimientos, refiere un ataque de los piratas de Larache “ao Algarve, onde fizérão muito dano em navios que tomárão e, dentro da Barra de Aiamonte, fizérão despejar a Arrinilha e a Montegordo”179. ANTÓNIO LEITE: ¿UN CAPITÁN DE LA EXPANSIÓN PORTUGUESA PARA VIGILAR AL MARQUÉS DE AYAMONTE? Es fácil comprender que la acción del marqués de Ayamonte en los mares de los Algarves Daquém e Dalém-mar no interesaba a los portugueses. La epistolografía lo confirma. Por eso se hacía necesario seguir de cerca sus movimientos, colocando en el terreno a alguien que conociera bien su modus operandi. En efecto, el monarca portugués no tardó en encontrar la persona ideal para el cargo: António Leite, un caballero portugués que, a lo largo de su carrera de armas y de los servicios prestados a la Corona en Azamor y Mazagão, vio reconocidos sus esfuerzos con honras y títulos180. Como anteriormente vimos, António Leite fue el capitán de Azamor que el 10 de septiembre de 1529 advirtió a D. João III de los movimientos de una armada del marqués de Ayamonte en el puerto de Mazagão y sobre la intención de éste de establecer un acuerdo comercial con el xarife del sur de Marruecos. Sabemos que después de haber estado como capitán en Mazagão, volvió a ser nombrado capitán de Azamor el 17 de septiembre de 1537181, ocupando el cargo hasta marzo de 1541. Sin embargo, al terminar su capitanía en Azamor y habiéndosele ordenado que siguiera prestando sus servicios allí, Antonio Leite se quejó al rey de no haber sido nombrado 179 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo XXXV, p.209. 180 Sobre António Leite véase Rui Jorge Ferreira Henriques, “Quão grande trabalho é viver!” António Leite – circuitos da nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos apresentada à Universidade Nova de Lisboa, 2012; Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.58-72. Del mismo autor véase también “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.81-83. 181 Cf. Instrumento público de entrega da capitania de Azamor a António Leite. Documento publicado por Maria Augusta Lima Cruz, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português, pp.161-164. 160 como capitán de Mazagão, cargo que “lhe pertencia por carta, que dela tinha del-rei D. Manuel, seu pai”182. Es así como, el 20 de agosto de 1542, Antonio Leite recibió la merced de la alcaidía de Santo Antonio de Arenilha, junto al cauce del Guadiana y a poca distancia de Ayamonte, en la que se aclaraba que ese beneficio era a cambio de dicha capitanía de Mazagão183. Este episodio evidencia que, a los ojos de la Corona, Antonio Leite no tenía ni el estatuto social ni las competencias necesarias para estar al frente de la nueva fortaleza de Mazagão, el gran baluarte portugués cuyas obras habían costado a la Corona 300.000 cruzados184 y donde se concentraban las fuerzas portuguesas de la región de Duquela tras el abandono de Azamor y Safim185. No obstante, la experiencia de Antonio Leite en el combate contra los moros y sus conocimientos sobre los movimientos del marqués de Ayamonte186 en Marruecos acabarán, ciertamente, por ser relevantes en el momento en que el rey D. João III decidió entregar al antiguo capitán el señorío de una villa ubicada frente a Ayamonte - la misma villa que el comendador de Arenilha Cristobal de Mendoza afirmó que había sufrido daños, responsabilizando al marqués de Ayamonte de lo sucedido187. Otra razón nos lleva a subrayar esta teoría. Durante su capitanía en Azamor, Antonio Leite trató estrechamente con ayamontinos y tenemos razones para suponer su desconfianza hacia los españoles en general. ¿Por qué? Lo explicamos enseguida. 182 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189. 183 A.N.T.T., Chancelaria da Ordem de Cristo, lv.13, fls. 375 v. – 379 v. Documento publicado por Hugo Cavaco in Revisitando Santo António de Arenilha, doc. V, pp.36-37. 184 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.212; David Lopes, “Os Portugueses em Marrocos…”, in História de Portugal, vol. IV, pp.100-101. 185 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação para mestrado em História do Algarve apresentada a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, pp.65-66. 186 Fernando Pessanha, Os 500 anos da Fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, pp.57-72. Del mismo autor véase también “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, pp.81-83. 187 A.N.T.T., Corpo Cronológico, Parte I, maço 44, n.º 45. 161 AYAMONTINOS EN LAS PLAZAS DE PORTUGAL EN MARRUECOS Durante el reinado de D. João III, Portugal ya no dispone de recursos humanos para tan vasto imperio. Eran los “fidalgos y gemte del Algarve” quienes frecuentemente acudían a las plazas de guerra en Marruecos188. No obstante, el Algarve Daquém ya no podía asegurar en solitario la defensa y abastecimiento de las plazas africanas, por lo que tenía que actuar en coordinación con la factoría portuguesa en Andalucía189. Es por esa razón por la que se hizo relativamente frecuente la contratación de soldados ayamontinos, algo muy natural si consideramos la proximidad de Ayamonte a Portugal y el fuerte crecimiento demográfico que esta ciudad comenzó a evidenciar a partir de los primeros años de la Edad Moderna. Fue el caso de un atalaia (vigía) que residía en Ayamonte y que en 1530 servía en la guarnición de Arzila. Bernardo Rodrigues, a pesar de no identificar el nombre del individuo que “se fez cavaleiro e atalaia”, cuenta que éste fue apresado y trasladado a Chefchauen190. Otro caso similar es el de Manuel Fernández, un cristiano viejo natural de Ayamonte que era atalaia en la ciudad de Tánger en el momento de su encarcelamiento, en 1645191. 188 Usando las palabras de Romero de Magalhães, el “Algarve era essencial para a defesa das praças ocupadas em Marrocos”. Ver Joaquim Romero de Magalhães, O Algarve na Época Moderna, p.82. 189 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da História, Vol. I, pp.135-159; Tomás Garcia Figueras, Hipólito Sancho, Dos Expedientes de abastecimiento de Mazagán, Tánger y Ceuta, por factores portugueses del Puerto de Santa Maria, (1563-1567), Tânger, Instituto General Franco para la Investigación Hispano-Árabe, 1939; Francisco Bejarano Robles, Documentos para el estúdio del abastecimento y auxilio de las plazas portuguesas en Marruecos desde el sur de España – Aportación del concejo y la ciudad de Málaga esta empresa a instancia de los factores portugueses, durante el siglo XVI (1513-1574), Tanger, Instituto General Franco, 1941; Hipólito Sancho, La colonia Portuguesa del Puerto de Santa Maria. Siglo XVI, Jerez de la Frontera, s/d.; Hipólito Sancho, “Un foco de cooperación Española a la Obra Portuguesa en África: Jerez de la Frontera y el Puerto de Santa Maria, 1500-1550”, Mauritania, XXI, Tânger, 1943, pp.189-190-19; Robert Ricard, “Les Facteurs Portugais d’Andalousie (1509-1588)”, in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Tomo II, seconde partie, Paris, Paul Geuthner, 1946, pp.564-573 e “Sur les facteurs portugais d’Andalousie” in Mélages d’études luso-marocains dédiés à la mémoire de David Lopes et Pierre Cénival, Lisboa, Portugália, 1945, pp.391-400; Antonio Carmona Portillo, “Un contencioso entre Málaga y el Reino de Portugal en el contexto del abastecimiento de las plazas portuguesas del Norte de África desde el puerto de Málaga”, in Isla de Arriarán, XX, 2002, pp.23-40. 190 Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo VII, p.153. 191 A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10330. Ver también Fernando Pessanha, “Ayamonte nos processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal)”, in XX Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.26. 162 Fig. 4- Frontispício del proceso de Manuel Fernández. A.N.T.T., Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10330. Si esto sucedía en las plazas del norte de Marruecos, lo mismo pasaba en las plazas del sur, que sentirían de cerca la presión de los xarifes, principalmente después de la caída de Santa Cruz do Cabo de Gué, en 1541. Es lo que presenció Antonio Leite cuando, ese mismo año, se encontraba en Azamor. La carta del doctor Rodrigo Machado a D. João III, el 28 de Marco de 1541, revela la presencia de Antonio de Gonçalves en Ayamonte para reclutar hombres que integrasen las guarniciones militares, ya que se preparaba un inminente cerco del xarife. Y fue así que el “domingo XX de março partio húa caravela d’Antonio Gonçallvez da Camará, ho da Ilha, que orra esta em Ayamonte, e que elle avia de partir a terça feira XXIJ dias”192. Lo cierto es que en el mes siguiente, el 13 de abril de 1541, es el propio D. João III el que alude a un envío de 550 hombres del Algarve y Ayamonte hacia Azamor y Mazagão: “eu tenho por certo que do Algarve e Aiamonte são partidos para socorro d’Azamor e Mazaguão b l homens”193. 192 Carta del doctor Rodrigo Machado a D. João III, en 28 de Marzo de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. XCIV; pp.338-339. 193 Carta de D. João III a Fernão Peres de Andrade, en 13 de Abril de 1541. Documento publicado in Les Sources Inédites de 163 El problema es que el reclutamiento de soldados y mercenarios en Andalucía resultaba costoso y no siempre los refuerzos castellanos prestaban el auxilio que era de esperar. Un buen ejemplo fue lo que pasó ese mismo año, cuando D. Fernando de Noronha sustituyó a Antonio Leite en la capitanía de Azamor. Nos dice Fray Luis de Sousa que: “tomando o governo, achou-se D. Fernando com guerra dos muros a dentro, não lha fazendo os inimigos de fora. Eram a mor força de gente que havia na cidade, castelhanos andaluzes (…) gente que corre a receber soldos nestes lugares grandes (…) homens broncos e lerdos pera a boa disciplina, e mui fáceis e prontos para todo o insulto”194. Estos eran los soldados andaluces que, desobedientes e insumisos al capitán portugués, llegaban a soltar los presos encarcelados en el castillo por faltas graves. Les interesaba sobre todo el sueldo que se apresuraban a exigir, amenazando saquear la ciudad, lo que llevó al capitán a usar la violencia195. Para ello el capitán pidió refuerzos a Mazagão y engañó a los cabecillas de los motines con el pago de tan exigidos sueldos. Reunidos en la sala de los pagos, fueron desarmados por los soldados portugueses y, al día siguiente, todos los culpables aparecieron estrangulados y colgados en las almenas: “quando amanheceu o dia seguinte, apareceram enforcados e pendurados nas ameias todos os mais culpados”196. En efecto, la crónica de Fray Luis de Sousa no precisa el origen de estos soldados andaluces. Sin embargo, los documentos que anteriormente citamos constatan la contratación de soldados ayamontinos para integrar la guarnición de Azamor en ese mismo año de 1541, lo que hace muy probable que entre los implicados en los disturbios se encontrasen hombres naturales de Ayamonte. Por otro lado, es muy l’histoire du Maroc, Vol. III, doc. CVII, pp.386-389. 194 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.189. 195 Fernando Pessanha, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação para mestrado em História do Algarve apresentada a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, p.55. 196 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, Vol. II, p.191. Sobre la violencia en las crónicas relativas a la expansión portuguesa en el norte de África véase Paulo Vicente, A violência na cronística sobre Marrocos nos séculos XV e XVI, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 2009. Del mismo autor véase también “Falar de Violência em Marrocos nos séculos XV-XVI. A Perspectiva dos Cronistas Portugueses”, in Portugal e o Magrebe. Actas do 4º Colóquio de História Luso-Marroquina, pp.347-352. 164 posible que esta experiencia hubiese sido determinante en cuanto a la desconfianza de António Leite hacia los españoles. Leite no solo había tenido contacto con las actividades del marqués de Ayamonte, sino que además conocía el modus operandi andaluz en los Algarves luso-hispano-marroquies. De forma que la selección de un individuo como el antiguo capitán de Azamor y Mazagão para marcar la posición en una villa frente a España y proteger la margen portuguesa del Guadiana, no habría sido sin duda inocente197. Por otra parte, la desconfianza del alcaide de Arenilha hacia los vecinos del otro lado de la frontera es bien patente en la carta que escribe a D. João III en la que recela del despoblamiento de la villa, lo “que não pesara nada aos castilhanos e aos de sua openyão”198. Por lo demás, esta frase es representativa de las dudas que los castellanos despertaban en el ánimo de Leite, y la consecuente necesidad de vigilarlos de cerca. AYAMONTE – PUERTO DE TRANSPORTE DE HOMBRES Y MERCANCÍAS HACIA LAS PLAZAS PORTUGUESAS DEL NORTE DE ÁFRICA Como podemos comprobar, la relación de Ayamonte con las plazas portuguesas del norte de África no se limitó a la contratación de soldados. De hecho, hay referencias a contactos directos entre Ayamonte y esas plazas de guerra, acreditadas por fletamentos de barcos de cara al transporte de hombres y mercancías. Según Antonio Manuel González Díaz, el documento más antiguo que demuestra la relación directa entre Ayamonte y las posesiones portuguesas en Marruecos se relaciona con una transacción de 1596, en la que el gaditano Antonio Méndez, dueño del barco San Juan de Guía, acordó con Luís del Puerto, de Tánger, el fletamento de su barco para llevar a la ciudad norteafricana 12 fardos de ropa de la Índia. Aparte, el barco que entonces se encontraba en Ayamonte, debía recoger la 197 Fernando Pessanha, Os 500 anos da fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, p.67. 198 Carta de António Leite a D. João III, el 16 de Noviembre de ¿?? Documento parcialmente publicado por Hugo Cavaco in Revisitando Santo António de Arenilha, pp. 16-17 y por Márcia Grilo, “Na Margem Direita do Guadiana Face a Espanha”, in Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, p.44. 165 carga en un molino de agua de Castro Marim199. Sin embargo, durante la investigación para el presente trabajo nos hemos encontrado con referencias que nos permiten concluir que esta relación directa entre el puerto de Ayamonte y esas plazas militares es bastante anterior. En efecto, la alusión más antigua que encontramos data de 1494, relativa a un grupo de comerciantes ayamontinos y leperos que llevaron una carabela con paños, lienzos y otras mercancías hacia los puertos de África, e que entonces se encontraba en el puerto de Azamor200. Otro caso interesante es el de Pite João, un artillero de Arzila que, habiendo llegado a Portugal en 1529, fletó en Ayamonte un barco castellano y lo cargó con piezas de artillería, cerámica y madera201. Obsérvese que esto ocurrió el mismo año en el que el marqués de Ayamonte envió una armada a Mazagão, formada por un “galeam e duas caravelas”202, lo que podrá indicar que Ayamonte, a finales de la segunda década del siglo XVI, empezaba a evidenciar una creciente pujanza naval. Por lo demás, todavía tenemos más noticias relativas a contactos directos entre Ayamonte y las plazas portuguesas del Norte de África, ya desde el periodo de la Unión Ibérica. Un ejemplo es el contrato realizado entre Cristóbal Gómez, del Puerto de Santa María y dueño del barco conocido como La Victoria, y Manuel Teixeira, de Tânger, para llevar a la ciudad del Estrecho 16 fardos de ropa que debían ser recogidos en el puerto fluvial de Mértola. Es el caso también del ayamontino Francisco Díaz que fletó su barco a Simón de Corona, de Ceuta. El navío, que se llamaba San Andrés, debía recoger las mercancías en Tavira y transportarlas a aquella ciudad del Estrecho203. 199 Antonio Manuel González Díaz, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.47. 200 Enrique R. Arroyo Berrones, “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.153. 201 Este barco acabó por encontrar un bergantín de moros, antes de llegar a Arzila. El combate fue favorable a los portugueses, a pesar de la desproporción numérica. Ver Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, Tomo II, Capitulo LV, pp.137-138. 202 Carta de António Leite a D. João III, el 10 de Septiembre de 1529. Documento publicado in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Doc. CXIX., pp.475-481; A.N.T.T., Cartas dos Governadores de África, nº 64. Ver também Pedro Pinto, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol. XI, p.265. 203 Antonio Manuel González Díaz, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, p.47. 166 CONSIDERACIONES FINALES Antes de concluir el presente artículo, cabe hacer algunas consideraciones finales respecto a determinadas cuestiones antes planteadas. Para ello resulta indispensable analizar la realidad política, económica y social vivida en Ayamonte en el tránsito de la segunda a la tercera década del siglo XVI. Lo cierto es que los años en los que ocurrieron acontecimientos como los movimientos de la armada del marqués de Ayamonte en el sur de Marruecos, la tentativa de establecer un acuerdo comercial con los xarifes del Sus o las tensiones verificadas entre el rey de Portugal y el marquesado de Ayamonte, corresponden a un momento en el que esta ciudad portuaria crecía mucho gracias al desarrollo económico basado en las actividades comerciales, las pesquerías y la participación ayamontina en la Carrera de Indias. Los marqueses de Ayamonte, aprovechando los años de paz que España conoció en los primeros años de la Edad Moderna, fomentaban eficazmente el poblamiento del territorio, lo que supuso un crecimiento del tejido urbano204. En época de la marquesa Dª Teresa de Guzmán, esposa de D. Francisco de Sotomayor, Ayamonte conoció años de crecimiento urbano, demográfico e económico que tuvieron reflejo en situaciones como la fundación de Villablanca o la regulación de los derechos generados por las actividades piscícolas205. En 1530, año de mayor tensión con D. João III de Portugal, la ciudad contaba con 1035 vecinos y, de 1530 a 1540, fue tal el crecimiento de la población marinera que se hizo necesario extender el segundo núcleo urbano, el Barrio de la Ribera. Dicho de otro modo, Ayamonte se encontraba entonces en pleno proceso de expansión, condicionada a nuevos espacios de movilidad y oportunidad. No es, por tanto, de extrañar que los ayamontinos buscasen las águas del Cabo de Gué para desempeñar sus actividades de pesquerías, que intentasen reactivar el comercio en las costas de África o que intentaran probar suerte como soldados en las plazas portuguesas de Marruecos, un destino mucho más cercano que la arriesgada Carrera de las Indias Occidentales. Por otra parte, es preciso recordar que esta ciudad de clara vocación marítima y pesquera estaba orientada hacia los mares del Algarve, al oeste, y hacia la costa 204 En 1527, es fundado el convento de San Francisco, edificación que marca el arranque de la nueva Ayamonte de la Edad Moderna. 205 Antonio Manuel González Díaz, La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, pp.45-46. 167 marroquí, al sur y al suroeste, entonces controlada por los portugueses. De ahí que la afirmación de Ayamonte desde el punto de vista político, económico y social pasara por desprenderse de la hegemonía portuguesa en los mares atlánticos donde, como diría el historiador español Rumeo de Armas, “sin más excepción que las Canarias, Portugal le llevó siempre la delantera”206. Es, por tanto, esa rivalidad y esa necesidad de procurar nuevas soluciones para los nuevos desafíos que se planteaban, las que habrían conducido a los desencuentros entre la corona de Portugal y el marqués de Ayamonte. Por otro lado, esta ventaja que Portugal llevaba en las costas atlánticas de África, reflejada en la posesión de plazas militares en Marruecos, también contribuyó a viabilizar el negocio de los fletes de barcos en Ayamonte, con vista al transporte de hombres y mercancías, aunque de forma bastante más tímida cuando se compara con el caso de El Puerto de Santa María, Cádiz, o de Málaga207. Finalmente, creemos que los documentos aquí referidos cobran un particular interés si tenemos en cuenta dos razones principales: primero, por tratarse de documentos portugueses que acaban por reflejar el punto de vista del país vecino en cuanto a Ayamonte; y segundo, debido à la cronologia a la que nos remontan y a la escasez de documentación relativa a esta ciudad durante la primera mitad del siglo XVI. Efectivamente el documento más antiguo que se conserva en el Archivo Municipal de Ayamonte está datado de 1522208. En este sentido, los documentos que citamos, en particular los documentos relativos a la primera mitad del siglo XVI, revisten una especial importancia en la medida en la que terminan contribuyendo, aunque de forma tímida, a un mayor conocimiento de lo que fue Ayamonte en los albores de la Edad Moderna. Fernando Pessanha (Archivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António) Traducción: Silvia Rodriguez Cacho Revisión: Antonio Sánchez González 206 Antonio Rumeo de Armas, “La Torre africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estudios Atlánticos, p.401. 207 Manuel Henrique Corte-Real, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da História, Vol. I, pp.135-159. 208 Antonio Sánchez González, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, p.24. 168 FONTES E BIBLIOGRAFIA / FUENTES Y BIBLIOGRAFIA Arquivos / Archivos: Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelaria de D. João II Livro 24, fólio 99. Chancelaria de D. Manuel I Livro 5, fólio 24v; Livro 5, fólio 25; Livro11, fólio 53. Corpo Cronológico Parte I, maço 44, n.º 45; Parte I, maço 45, n.º 9. Cartas dos Governadores de África Documento nº64. Gavetas Gaveta 20, maço V, nº 14, Manuscritos da Livraria Documento n.º 1118 (17). Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13, fólios 375 v. – 379 v. 169 Tribunal do Santo Ofício Inquisição de Lisboa, Processo Nº 10330. Fontes Impressas / Fuentes Impresas CASAS, Fray Bartolome de las, Brevisima Relación de la Destruiccion de Africa, Editorial del Cardo, 2003. Colección de documentos ineditos para la Historia de España, por los señores marqueses de Pidaal y de Miraflores y D. Miguel Salvá. Individuos de la Academia de la Historia, Tomo XXXVI, Madrid, Imprenta de la Viuda de Calero, 1860. Monumenta Henricina, 8 Vols, Coimbra, Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960. PEREIRA, Duarte Pacheco, Esmeraldo de Situ Orbis, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1954. PINA, Rui de, Crónica de D. João II, Lisboa, Publicações Alfa, 1989. RESENDE, Garcia de, Biografias da História de Portugal - Volume XXIX - D. João II, Matosinhos, QuidNovi, 2004. RODRIGUES, Bernardo, Anais de Arzila, 2 Vols., Lisboa, Academia das Sciências de Lisboa, 1915-1919. SOUSA, Frei Luís de, Anais de D. João III, 2 vols., Lisboa, Sá da Costa, 1928. ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica da Tomada de Ceuta, Mem-Martins, Publicações Europa-América, 1992. 170 Estudos / Estudios ALBERTO, Maria da Conceição Martins, Um Negócio Piedoso: o Resgate de Cativos em Portugal na Época Moderna, Dissertação de Doutoramento em Historia - Área do conhecimento de Idade Moderna - apresentada à Universidade do Minho, Braga, 2010. - “Resgatar cristãos em terras no Norte de África – O ofício de Alfaqueque no século XV”, in Estudos de História Luso-Marroquina, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 2010, pp.41-50. AMARAL, Augusto Ferreira do, Mazagão, A Epopeia Portuguesa em Marrocos, Lisboa, Tribuna da História, 2007. ARMAS, Antonio Rumeo de, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña – Su segunda fundación”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, Universidad de las palmas de Grand Canária. Biblioteca Universitaria, 2004, pp-397-477. ARROYO BERRONES, Enrique R., “La marinería ayamontina: las preeminências alcanzadas por Juan de Zamora y el temor ante las levas forzosas”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura, 2010, pp.149175. BEJARANO ROBLES, Francisco, Documentos para el estúdio del abastecimento y auxilio de las plazas portuguesas en Marruecos desde el sur de España – Aportación del concejo y la ciudad de Málaga esta empresa a instancia de los factores portugueses, durante el siglo XVI (1513-1574), Tanger, Instituto General Franco, 1941. BONET Y REVERÓN, Buenaventura, “Alonso Fernández de Lugo y sus conquistas en África”, in Revista de Historia, Tomo 5. Año 10. Número 037, La Laguna de Tenerife, Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de La Laguna, 1933, pp.138-149. 171 CARMONA PORTILLO, Antonio, “Un contencioso entre Málaga y el Reino de Portugal en el contexto del abastecimiento de las plazas portuguesas del Norte de África desde el puerto de Málaga”, in Isla de Arriarán, XX, 2002, pp.23-40. CASSOTTI, Marsilio, Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, Lisboa, Esfera dos Livros, 2004. CAVACO, Hugo, Revisitando Santo António de Arenilha, Vila Real de Santo António, Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 1995. CÉNIVAL, Pierre de, Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. I, Première Série, Paris, Paul Geuthner, 1934. - Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Première Partie, Paris, Paul Geuthner, 1939. CÉNIVAL, Pierre de; LOPES, David; RICARD, Robert, Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. II, Seconde Partie, Paris, Paul Geuthner, 1948. CORREIA, Jorge, Implantação da Cidade Portuguesa no Norte de África - Da tomada de Ceuta a meados do Séc. XVI, Porto, FAUP Publicações, 2008. CORREIA, Vergílio, Lugares Dalém, Azamor, Mazagão, Safim, Conferências realizadas em Lisboa, Porto e Coimbra, Lisboa, 1923. CORTE – REAL, Manuel Henrique, “Feitores e escrivães na Andaluzia durante o reinado de D. João III”, in Do Tempo e da História, Vol. I, Instituto de Alta Cultura – Centro de Estudos Históricos, Lisboa, 1965, pp.135-159. COSME, João, A Guarnição de Safim em 1511, Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2004. - “Tratado de Paz entre Portugal e o Reino de Fez”, in Arquipélago * História, 2ª série, XIV-XV, Açores, Universidade dos Açores, pp.11-29. 172 CRUZ, Maria Augusta Lima, “Documentos inéditos para a história dos portugueses em Azamor”, in Arquivos do Centro Cultural Português, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1970, pp.104-179. - “Tavira no processo de abandono de praças portuguesas do Norte de África no século XVI. Abertura de um estudo”, in Espírito e Poder – Tavira nos Tempos da Modernidade, Tavira, Câmara Municipal de Tavira, 2006, pp.20-45. DIAS, Pedro, A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos 1415 – 1769, Coimbra, Livraria Minerva Editora, 2000. - História da Arte Portuguesa no Mundo – O Espaço Atlântico (séculos XV – XIX), Lisboa, Círculo dos Leitores, 2008. FARINHA, António Dias, “O conceito de «império português»”, in História de Portugal - Vol. V – Os Descobrimentos (II), (dir. João Medina), Lisboa, Ediclube, s/d, pp.445-457. - “O Norte de África”, in História da Expansão Portuguesa, Vol. I, Lisboa, Circulo de Leitores, 1998, pp.118-133. - Os Portugueses em Marrocos, Lisboa, Instituto Camões, 2002. FERNÁNDEZ CHAVES, Manuel F., & PÉREZ GARCÍA, Rafael, “Las redes de la trata negrera: mercaderes portugueses y tráfico de esclavos en Sevilla (15601580)”, in La Esclavitud Negroafricana en la Historia de España. Siglos XVI y XVII, Granada, Editorial Comares, 2010, pp.5-34. FIGANIER, Joaquim, História de Santa Cruz do Cabo de Gué (Agadir) 1505-1541), Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1945. FONTOURA, Otília Rodrigues, Portugal em Marrocos na Época de D. João III – Abandono ou Permanência?, Funchal, Centro de Estudos de História doAtlântico, 1998. 173 GALINDO Y VERA, León, Las Posesiones Hispano-Africanas, Málada, Algazara, 1993. GAMBÍN GARCÍA, Mariano, La torre de Santa Cruz de la Mar pequeña. La primera huella de Canarias y Castilla en África, Instituto de Estudios Canarios, 2014. GARCIA FIGUERAS, Tomás, SANCHO, Hipólito, Dos Expedientes de abastecimiento de Mazagán, Tánger y Ceuta, por factores portugueses del Puerto de Santa Maria, (1563-1567), Tânger, Instituto General Franco para la Investigación Hispano-Árabe, 1939. GIL PÉREZ, Javier & GARRIDO GUIJARRO, Óscar, “Santa Cruz de Mar Pequeña - Ifni en las relaciones hispanomarroquíes”, in Anuario de Estudios Atlánticos, Las Palmas de Gran Canaria, 2015, pp.1-23. GODINHO, Rui Landeiro, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África (Séculos XV-XIX), Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 2003, pp.117-137. GODINHO, Vitorino Magalhães, História Económica e Social da Expansão Portuguesa, Lisboa, Terra Editora, 1947. GONZÁLEZ DÍAZ, Antonio Manuel, “Ayamonte y su proyección exterior”, in XIV Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura, 2010, pp.43-69. - La Provincia de Huelva. Historia de sus villas y ciudades – Ayamonte, Huelva, Diputación Provincial de Huelva, 2014. - “La outra cara del Ayamonte Moderno: la población esclava. Procedimientos de integración y exclusión social”, in XIX Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de 174 Ayamonte. Área de Cultura, 2015, pp.31-47. GRILO, Márcia Luísa, “Na Margem Direita do Guadiana Face a Espanha”, in Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista, Vila Real de Santo António, Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2010. HENRIQUES, Rui Jorge Ferreira, “Quão grande trabalho é viver!” António Leite – circuitos da nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos apresentada à Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2012. IRIA, Alberto, O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos), Braga, Editora Correio do Minho / SM, 1995. LIMA, Durval Pires de, História da Dominação Portuguêsa em Çafim (1506 – 1542), Lisboa, Imprensa Lucas & C.ª, 1930. LOPES, David, “Os Portugueses em Marrocos: Ceuta e Tânger”, in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. III, Barcelos, Portucalense Editora, 1932, pp.385-432. - “Os Portugueses em Marrocos no tempo de D. Afonso V e de D. João II”, in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. III, Barcelos, Portucalense Editora, 1932, pp.433-452. - “Os Portugueses em Marrocos no Tempo de D. Manuel”, in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. III, Barcelos, Portucalense Editora, 1932, pp.453-544. - “Os Portugueses em Marrocos no tempo de D. João III: Decadência do Domínio Português”, in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. IV, Barcelos, Portucalense Editora, 1932, pp.78-129. 175 - A Expansão em Marrocos, Lisboa, Teorema, 1989. MAGALHÃES, Joaquim Romero de, Para o Estudo do Algarve Económico Durante o Século XVI, Lisboa, Edições Cosmos, 1970. - O Algarve na Época Moderna, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012. MARQUES, Oliveira, “A Expansão no Atlântico”, in Nova História da Expansão Portuguesa – Vol. II – A Expansão Quatrocentista, Lisboa, Editorial Estampa, 1998, pp.11-236. MARQUÉZ MACÍAS, Rosario & LÓPEZ VIERA, David, Hombres y Capitales: las relaciones entre Ayamonte y America en la Edad Moderna. El caso de los Galdames, Ayamonte, Patronato Municipal de Cultura de Ayamonte, s/d. MARTINS, José António de Jesus Martins, O Reino do Algarve nos finais da Idade Média – Os concelhos algarvios no séc. XV, Lagos, edição de autor, 2007. MOREIRA, Rafael, Arzila, Torre de Menagem – Le Donjon d’Asilah, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, pp.23-45. OLIVERA, Leopoldo de la Rosa & RAFOLS, Elfas Serra, El Adelantado D. Alonso de Lugo y su residência por Lope de Sosa, Tenerife, Instituto de Estudios Canarios, 1949. OLIVEIRA, Luís Filipe, A Casa dos Coutinhos: Linhagem, Espaço e Poder (13601452), Cascais, Patrimonia, 1999. - “Outro Venturoso de finais do século XV: Francisco Coutinho, Conde de Marialva e de Loulé”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues 176 (coord.), Lisboa, CHAM/IICT, 2004, pp.45-56. PESSANHA, Fernando, As Guarnições Militares nas Praças Portuguesas da Região da Duquela, no Algarve Dalém Mar, Dissertação de Mestrado em História do Algarve apresentada à Universidade do Algarve, Faro, 2011. - Os 500 anos da fundação de Arenilha – Memórias de uma «vileta» nascida no decurso da Expansão Portuguesa, Vila Real de Santo António, Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 2014. - “Os mouriscos nos Algarves portugueses – Uma perspectiva generalista sobre uma minoria étnica”, in Los Descendientes Andaluíes «Moriscos» en Marruecos, España y Portugal, Tanger, Câmara Municipal de Tânger, 2014, pp.245-254. - “V Centenário da fundação de Arenilha e a sua relação com Ayamonte”, in XVIII Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura, 2014, pp.77-95. - Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar, Edições Mandil / 4 Águas Editora, 2014. - “Ayamonte nos processos da Inquisição do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal)”, in XX Jornadas de Historia de la muy noble y leal ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. Área de Cultura, 2016, pp.13-28. PINTO, Pedro, “Índice Analítico das Cartas dos Governadores de África na Torre do Tombo”, in Anais da História de Além-Mar, Vol. XI, 2010, pp.249-380. PISSARA, José Virgílio Amaro, “Vasco Fernandes César, capitão da Armada do Estreito”, in A Guerra Naval do Norte de África 8séculos XV – XIX), Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 2003, pp.139-156. 177 RICARD, Robert, - “Sur les facteurs portugais d’Andalousie” in Mélages d’études luso-marocains dédiés à la mémoire de David Lopes et Pierre Cénival, Lisboa, Portugália, 1945. - “Les Facteurs Portugais d’Andalousie (1509-1588)”, in Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Tomo II, seconde partie, Paris, Paul Geuthner, 1946. - “L’occupation portugaise d’Agadir (1505-1541)”, in Hespéris, Tomo XXXIII, Paris, Librairie Larose, 1946, pp.93-102. - Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. III, Paris, Paul Geuthner, 1948. - Les Sources Inédites de l’histoire du Maroc, Vol. IV, Paris, Paul Geuthner, 1951. RESENDE, Vasco, “Os Portugueses em Marrocos e a guerra no mar no princípio do século XVI”, in A Guerra Naval no Norte de África (séculos XV – XIX), Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 2003, pp.101-116. RODRIGUES, Vítor Luís Gaspar, “As Linhagens Secundárias dos Coutinhos e a Construção do Império Manuelino”, in A Alta Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, João Paulo Oliveira e Costa e Vítor Luís Gaspar Rodrigues (coord.), Lisboa, CHAM/IICT, 2004, pp.177-189. RUMEO DE ARMAS, Antonio, “La Torre Africana de Santa Cruz de la Mar Pequeña”, in Anuario de Estúdios Atlanticos, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria., Biblioteca Universitaria. Memoria Digital de Canarias, 2004, pp.397-477. SÁNCHEZ GONZÁLEZ, Antonio, “Ayamonte: datos para una Historia basada en fuentes documentales”, in XVI Jornadas de Historia de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte, Ayamonte, Diputación Provincial de Huelva. Ayuntamiento de Ayamonte. 178 Área de Cultura, 2012, pp.11-57. SANCHO, Hipólito, La colonia Portuguesa del Puerto de Santa Maria. Siglo XVI, Jerez de la Frontera, s/d. - “Un foco de cooperación Española a la Obra Portuguesa en África: Jerez de la Frontera y el Puerto de Santa Maria, 1500-1550”, Mauritania, XXI, Tânger, 1943. SANTARÉM, Visconde de, Quadro elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo, desde o princípio da Monarchia Portugueza até aos nossos dias, Tomo I, Paris, MDCCCXLII. SILVA, Isabel L. Morgado de Sousa e, A Ordem de Cristo (1417-1521) - Revista Militarium Ordium Analecta, Nº 6, Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 2002. VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de, Nobreza e Ordens Militares. Relações Sociais e de Poder (séculos XIV a XVI), Dissertação de Doutoramento em História Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2008. VICENTE, Paulo, A violência na cronística sobre Marrocos nos séculos XV e XVI, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 2009. - “Falar de Violência em Marrocos nos Séculos XV-XVI. A Perspectiva dos Cronistas Portugueses”, in Portugal e o Magrebe. Actas do 4º Colóquio de História Luso-Marroquina, Lisboa / Braga, Centro de História de Além-Mar e Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, 2011, pp.347-352. 179 180 181 182