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Distopia, Literatura e Historia

2017, Editora Milfontes

Distopia, Literatura & História Copyright © 2017, Julio Bentivoglio, Marcelo Durão Rodrigues da Cunha & Thiago Vieira de Brito Copyright © 2017, Editora Milfontes. Rua Santa Catarina, 282, Serra - ES, 29160-104. http://editoramilfontes.com.br editor@editoramilfontes.com.br Brasil Editor Chefe: Bruno César Nascimento Conselho Editorial Prof. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU) Prof. Dr. Arthur Lima de Ávila (UFRGS) Prof. Dr. Cristiano P. Alencar Arrais (UFG) Prof. Dr. Diogo da Silva Roiz (UEMS) Prof. Dr. Hans Urich Gumbrecht (Stanford University) Prof. Drª. Helena Miranda Mollo (UFOP) Prof. Dr. Josemar Machado de Oliveira (UFES) Prof. Dr. Júlio Bentivoglio (UFES) Prof. Dr. Jurandir Malerba (UFRGS) Profª. Drª. Karina Anhezini (UNESP - Franca) Profª. Drª. Maria Beatriz Nader (UFES) Profª. Drª. Rebeca Gontijo (UFRRJ) Prof. Dr. Ricardo Marques de Mello (UNESPAR) Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UERJ) Prof. Dr. Valdei Lopes de Araujo (UFOP) Profª. Drª Verónica Tozzi (Univerdidad de Buenos Aires) Laboratório de Estudos em Teoria da História e História da Historiografia CCHN/UFES - Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras CEP 29075-910 - Vitória - ES - Brasil. Julio Bentivoglio Marcelo Durão Rodrigues da Cunha Thiago Vieira de Brito (Organizadores) Distopia, Literatura & História Editora MilfontEs Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora. Projeto Gráfico e Editoração Bruno César Nascimento Capa Bruno César Nascimento Hugo Ricardo Merlo Revisão Rozimery B. Fontana Nascimento Thiago Vieira de Brito Impressão e Acabamento GM Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D614 Distopia, Literatura & História/ Julio Bentivoglio, Marcelo Durão Rodrigues da Cunha, Thiago Vieira de Brito (organizadores). - Serra: Editora Milfontes, 2017. 146 p. : 20 cm Inclui Bibliografia. ISBN: 978-85-94353-06-1 1. Teoria da História. 2. Filosofia da História. 3. Narrativa. 4. Distopia. I. BENTIVOGLIO, Julio Cesar. II. CUNHA, Marcelo Durão Rodrigues da. III. BRITO, Thiago Vieira de. CDD 901.02 Sumário Apresentação.............................................................7 Temporalidades distópicas ou distopias temporais? Um problema para os historiadores ...................11 Thiago Vieira de Brito Cegueira Branca: o fracasso da razão em Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago......................33 Wesley Ribeiro dos Santos Presentismo e Distopia: temporalidade e narrativa distópica na obra Andróides sonham com ovelhas elétricas? de Philip K. Dick. ...................................51 Taynna Mendonça Marino Memória, esquecimento e presentismo na distopia de O Doador de Memórias. ......................................75 Weverton Bragança do Amaral O estado de exceção como fator distópico na obra O Processo, de Franz Kafka....................................91 Luiz Fernando Soares Pereira Trauma, memória e nova consciência histórica: reflexões sobre V de vingança, grafic novel de Alan Moore ...............................................................115 Domenique Soler Rodrigues Presentismo e distopia: o lugar da narrativa distópica em Também o cisne morre de Aldous Huxley..........................................................................125 Lucas Henrique de Barros Julio Bentivoglio, Marcelo D. R. da Cunha & Thiago V. Brito (org.) Apresentação Em 2015, diante das discussões a respeito da narrativa histórica e sobre o problema da temporalidade levadas à cabo pelos integrantes do Lethis (Laboratório de Estudos em Teoria da História e História da Historiografia) vinculado ao curso de História e ao Programa de Pós-graduação em História das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), resolvemos abrir uma linha de pesquisa para investigar o lugar ocupado pela distopia nas representações estéticas, históricas e no imaginário contemporâneo. Desde a organização do seminário internacional em 2013 relacionado com as comemorações dos 40 anos da obra Meta-história de Hayden White e da oferta de duas disciplinas sobre História e Narrativa, na graduação e na pós-graduação, intensificamos estudos e leituras com vistas a compreender se porventura estaríamos presenciando a emergência e o predomínio de construções narrativas distópicas no Ocidente, haja vista a profusão de livros, quadrinhos, séries e filmes distópicos produzidos nos últimos anos. Essa linha de investigação gerou um projeto de pesquisa de base, em torno do qual se integraram algumas monografias e trabalhos de iniciação científica realizados entre 2015 e 2017, que resultaram num conjunto original de pequenos estudos que agora trazemos à lume. De um modo geral, procuramos estabelecer as análises em torno de dois eixos fundamentais. O primeiro seria a preeminência dessa imaginação histórica distópica, que teria açambarcado um espaço que era, preponderantemente, preenchido pelas utopias. 7 Distopia, Litratura & História De algum modo, no atual cenário pós-moderno, notávamos uma espécie de recrudescimento bastante particular daquela forma de conceber a história que, desde a Renascença e o Iluminismo, teria marcado as ciências, os saberes e as artes. Isso ocorreu porque, longe de pensar a distopia como uma negação ou como uma antítese da utopia - um topos localizado exclusivamente no futuro -, partíamos da premissa de que a distopia se apresentava como uma espécie de embaralhamento, uma fusão de diferentes temporalidades. Assim, enquanto a utopia era vista como um lugar no futuro, pensávamos a distopia como um deslugar inscrito, acentuadamente, num determinado tipo de presente. De algum modo esse telos parecia orientar ou influenciar boa parte das narrativas históricas produzidas nas últimas décadas, demonstrando um grande interesse ou uma espécie de sintonia da cultura de massas com esse tipo de visão pessimista da história e da própria maneira de se conceber a relação entre passado, presente e futuro em meados do século passado e no alvorecer do século vinte e um. O segundo eixo de questões, por sua vez, voltava-se para o problema do tempo, da historicidade e, desta forma, para a discussão sobre o significado do fenômeno do presentismo. Fomentada a partir da leitura e discussão dos trabalhos teóricos de nomes como François Hartog, Martin Heidegger e Hans Ulrich Gumbrecht, a tese em questão sugere que após ter se orientado em especial à futuridade, ao menos desde a segunda metade do século vinte, a consciência histórica ocidental teria fornecido evidências de uma perda de confiança no decurso do tempo, fechando-se em relação às antigas expectativas otimistas de futuro e enclausurando a cultura histórica do Ocidente nos limites de uma forma ampliada de se compreender o presente mediante o controle e a construção de passados. Reduzindo as expectativas otimistas em relação ao futuro e vivenciando uma crise do tempo e das tradicionais estruturas meta-narrativas predominantes na prática científica, quais seriam as características culturais desse novo tipo presentista de consciência 8 Julio Bentivoglio, Marcelo D. R. da Cunha & Thiago V. Brito (org.) histórica? Teria esse novo regime de historicidade produzido subterfúgios para romper por completo com a antiga lógica de se conceber o tempo ou teria ele conservado ainda elementos característicos da maneira moderna de se entender a história e o seu decurso? Que tipo de suportes ou materiais os historiadores poderiam lançar mão para melhor evidenciar estas questões? Foi visando responder a esses questionamentos que - em uma mescla dos dois eixos de discussões acima mencionados - os autores dos textos reunidos neste pequeno volume produziram as suas contribuições. Em meio aos debates em questão, parecia praticamente impossível negar o fato de que o topos da distopia havia se estabelecido como um elemento essencial para se compreender os efeitos do presentismo e da própria crise do tempo característica do atual regime de historicidade. De igual modo, tornou-se aos poucos consensual entre os partícipes dos debates travados no interior do Lethis de que seria, sobretudo, por meio do diálogo entre literatura, teoria literária e teoria da história que os elementos da narrativa distópica se mostrariam mais evidentes e passíveis de uma análise historiográfica. Perguntávamo-nos, afinal: quais seriam as características principais das narrativas distópicas e o que elas seriam capazes de relevar a respeito da historicidade e sobre a forma de se experimentar o tempo em nossa era? Diante deste conjunto de problemas os integrantes do Laboratório reunidos em torno de um amplo projeto de pesquisa, procuraram desenvolver seus estudos pontuais, escolheram seus objetos de análise e suas fontes, em boa parte literárias ou derivadas da cultura popular dos séculos vinte e vinte e um. Suas escolhas e suas pesquisas foram capazes de demonstrar a viabilidade dos eixos e das chaves de leitura propostas, evidenciando a pertinência de situar a distopia como um topos privilegiado para compreender as representações e o imaginário social na chamada pós-modernidade. É por isso que, nas páginas a seguir, mais do que abordagens 9 Distopia, Litratura & História autocentradas e encerradas em si próprias, o leitor entrará em contato com um conjunto integrado de textos e estudos que visam descortinar as possibilidades analíticas inerentes às narrativas distópicas, bem como as muitas vias de contato entre a literatura, a teoria da história e a crítica da historicidade. Portanto, longe de representar um projeto finalizado, as pesquisas ora publicadas, constituem um primeiro passo no sentido de se estimular a reflexão sobre um tema ainda pouco explorado pela historiografia, mas que em muito pode contribuir para análises vindouras a respeito dos vínculos entre a literatura e a teoria da história. Neste sentido, caso este livro seja capaz de fomentar essa relação e de despertar o interesse de outros pesquisadores para as temáticas e questões aqui desenvolvidas, a presente publicação terá cumprido em grande medida um dos seus objetivos principais. Os Organizadores 10