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Editorial #6 Os editores O dossiê temático, a entrevista e os ensaios O dossiê temático deste novo número da Aniki, intitulado “Outros filmes”, ilumina um conjunto de obras que tradicionalmente recebeu menos atenção tanto da parte da crítica, como da história do cinema. Contribui, assim, para um dos principais objetivos desta revista, que é a valorização e revisitação teoricamente informadas de filmes, géneros e autores menos conhecidos e estudados. O dossiê foi organizado por Sofia Sampaio (CRIA-IUL), Raquel Schefer (Université Sorbonne Nouvelle-Paris 3) e Thaís Blank (CPDOC, Fundação Getulio Vargas), que o apresentam na introdução “Filmes utilitários, amadores, órfãos e efémeros: repensando o cinema a partir dos ‘outros filmes’”. Todos os textos do dossiê foram submetidos a um processo de avaliação cega por pares. A secção “Entrevistas” articula-se, mais uma vez, com o dossiê temático, através de uma entrevista a Hernani Heffner, conservador, professor e curador, que está à frente do setor de preservação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro há mais de duas décadas. Confundindo-se com a história da conservação e do arquivo no Brasil, Heffner é um espectador e um ator fundamental para entender as políticas de arquivo, a diversidade de fontes e registos, e essa mesma história de que fez parte. A entrevista percorre a sua carreira, os percalços motivados por decisões políticas, e quais as condições atuais do panorama do arquivo brasileiro. Uma conversa com Thaís Blank, que é fundamental para entender um setor decisivo para a pesquisa das imagens em movimento e dos “outros filmes”. A secção “Ensaios” recebe permanentemente submissões fora do tema do dossiê. Neste número, publica-se o artigo “O mundo é um palco: a teatralidade em ‘Depois do ensaio’, de Ingmar Bergman”, de Gustavo Ramos de Souza (Universidade Estadual de Londrina). Neste texto, o autor mobiliza o conceito de ‘teatralidade’ para investigar a relação entre a obra de August Strindberg e a do realizador sueco, tomando como estudo de caso o telefilme Depois do ensaio (I. Bergman, 1984). Segundo Ramos de Souza, está em causa neste filme uma teatralidade “aberta” que influencia profundamente a própria prática cinematográfica e demonstra vários pontos de contacto com a linguagem do cinema moderno. Segundo o autor, a “teatralidade na obra de Bergman ultrapassa a renovação da linguagem cinematográfica pela adição de recursos oriundos do teatro; com efeito, a Aniki vol.3, n.º 2 (2016): 176-178 | ISSN 2183-1750 doi:10.14591/aniki.v3n2.274 177 | OS EDITORES teatralidade transparece como elemento central dos seus filmes” e, em especial, Depois do ensaio. As recensões de livros e conferências Esta edição inclui duas recensões e dois relatórios de conferências. Abre com a recensão, por Inês Dias Cordeiro, a Uhuru. Stamp. Genealogy. Anatomy, obra impressa que se articula e prolonga a exposição homónima de Catarina Simão, centrada no filme Mueda, memória e massacre, de Ruy Guerra (1981). Cordeiro sustenta que não se trata de um livro convencional mas antes uma “reflexão acerca das possibilidades de representação da história e da memória nacional”, além de afirmar-se como memória de um filme raro, em termos de acessibilidade, e de problematizar os limites da representação da memória. Érica Faleiro Rodrigues recenseia, depois, Adaptation, Autorship, and Contemporary Women Filmmakers, de Shelley Cobb, que analisa o modo como as cineastas têm adaptado obras literárias assinadas por mulheres. Apesar de assinalar o superficialismo de algumas análises e asserções e criticando sobretudo o facto desta investigação se manter circunscrita ao universo anglo-saxónico, Rodrigues sublinha a pertinência desta obra abordar o papel “da mulher realizadora e sobre o impacto comercial da sua obra”. No que respeita aos relatórios de encontros científicos, Beatriz Rodovalho escreve sobre o colóquio internacional Ruy Guerra e o Pensamento Crítico das Imagens, organizado por Raquel Schefer, Mickaël Robert-Gonçalves e Benjamin Léon, e realizado em Paris em 7 e 8 de outubro de 2015. A autora nota que o colóquio evidenciou como o estudo do cinema de Guerra é um “embate com uma memória viva e em movimento, que se transforma e que assume novos sentidos no presente” e que o pensamento crítico das imagens a partir das imagens deste realizador é “um chamado à arte e à luta”. Finalmente, Albert Elduque relata os trabalhos durante o congresso internacional Liberation Struggles, the ‘Falling of the Empire’ and the Birth (through Images) of African Nations que, a 27 e 28 de janeiro de 2016, se desdobrou pela Universidade de Reading e pelo King’s College de Londres, abordando o processo de descolonização dos territórios portugueses em África a partir do modo como foi refletido ou produzido por novas imagens, realizadas tanto pelos cineastas portugueses quanto por aqueles dos novos países africanos, ou feitas no âmbito do Terceiro Cinema. O autor nota que se tratou de um “congresso vivo, sem poeira, completado também com apresentações de trabalhos artísticos, arquivísticos ou artísticos e arquivísticos ao mesmo tempo”, que superou alguns dos limites da academia. EDITORIAL | 178 As exposições e festivais A secção “Exposições e festivais” deste número conta com três contribuições. A primeira, assinada pelo investigador Pedro Guimarães, revisita o famoso festival de cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, com o qual o autor colabora desde 2011 na qualidade de curador (e cuja última edição decorreu em janeiro de 2016). Pedro Guimarães recorda os laços que unem o festival – que festejará em 2017 a sua 20ª edição – à chamada “retomada” do cinema brasileiro, evocando também alguns dos desafios enfrentados pela equipa de curadores do festival. Registando anualmente mais de mil candidaturas, o festival pauta-se por uma seleção apurada, que se tem vindo a afirmar como um termómetro eficaz do cinema brasileiro. Os textos de Miriam de Rosa e de Alejandro Martin concentram-se sobre duas exposições que ilustram estratégias distintas no que diz respeito à exposição de imagens em movimento – em ambos os casos bem longe do white cube museográfico. De Rosa evoca a vídeo-instalação La Vie abstraite de Marie-Claire Blais e Pascal Grandmaison, exposta na galeria Blouin de Montréal, no Canadá. De acordo com a autora, os conceitos de liminaridade e de dualidade permitem-nos apreender tanto a disposição espacial da instalação, como os problemas figurativos explorados pela mesma. Alejandro Martin, por seu lado, escreve na qualidade de curador da exposição “Noche es Día”, que reuniu em Cali, na Colômbia, trabalhos videográficos de Kátia Maciel e André Parente. A exposição decorreu num lugar especial: a Casa Obeso Mejía, uma residência privada, recentemente doada ao Museo la Tertulia. Para a primeira exposição concebida para este local, Alejandro Martin convidou a dupla brasileira a refletir sobre a forma como ocupar e se apropriar de um espaço doméstico habitado pelos fantasmas e as recordações de um outro casal – os mecenas Antonio Obeso e Luz Mejía.