A corrupção na opinião do jornal:
o discurso dos editoriais da Folha de S. Paulo e da Gazeta do Povo
sobre a Lava Jato
The corruption in the opinion of the newspaper:
the discourse of the editorials of the Folha de S. Paulo and the Gazeta do Povo
about Lava Jato
Ester ATHANÁSIO1
Resumo
Partindo da discussão sobre a atuação da empresa de jornalismo como ator político e
das características do texto editorial, o artigo analisa editoriais da Folha de S. Paulo e da
Gazeta do Povo sobre a Operação Lava Jato, entre março e junho de 2016, tendo como
estratégia metodológica a Análise do Discurso. São analisados 28 textos que
mencionam a investigação de corrupção que desempenhou papel protagonista no
período de turbulência política analisado. Os resultados indicam que a Lava Jato é
defendida pelos jornais – que, normativamente, reivindicam para si o papel de defesa do
interesse público. O discurso da Gazeta do Povo varia a depender do grupo político
acusado, o que confirma, em partes, a hipótese a respeito da variável “grau de
combatividade em casos de corrupção” a depender da origem política dos envolvidos.
Assim, o diário é mais enfático com petistas e tolerante em relação à cúpula do PMDB.
Já a Folha de S. Paulo critica uma corrupção sistêmica, envolvendo todos os partidos.
Palavras-chave: Corrupção. Editoriais. Democracia. Lava Jato. Jornalismo.
Abstract
Based on the discussion about the work of the journalism company as a political actor
and the characteristics of the editorial text, this article analyzes the Folha de S. Paulo
and Gazeta do Povo editorials about Operation Lava Jato between March and June
2016. Methodological strategy to Discourse Analysis. We analyze 28 texts that mention
the investigation of corruption that played a leading role in the period of political
turbulence analyzed. The results indicate that the Lava Jato is defended by the
newspapers - which, normatively, claim for themselves the role of defense of the public
interest. The speech of the Gazeta do Povo varies depending on the political group
accused, which confirms, in parts, the hypothesis regarding the variable "degree of
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Universidade Federal do Paraná.
E-mail: ester.athanasio1@gmail.com
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combativity in cases of corruption" depending on the political origin of those involved.
Thus, the paper is more emphatic with "petistas" and tolerant towards the PMDB
summit. Folha de S. Paulo, however, criticizes a systemic corruption involving all
parties.
Keywords: Corruption. Editorials. Democracy. Lava Jato. Journalism.
Introdução
A corrida eleitoral de 2014 inaugurou um período turbulento na política brasileira.
Ao vencer a eleição presidencial mais apertada e polarizada da história, com 3,28% de
vantagem (3,4 milhões de votos) sobre Aécio Neves (PSDB) e com o início de um
período de instabilidade econômica, Dilma Rousseff (PT) abriu o segundo mandato com
baixas que a conduziram a sucessivas perdas na aprovação2. Somada a fatores
econômicos e disputas políticas, a Operação Lava Jato, que investiga um esquema
bilionário de corrupção brasileira, exerceu forte influência nos desdobramentos do
cenário político dos últimos anos3, contribuindo para um ambiente em que o combate à
corrupção se transforma em deslegitimação do sistema político (AVRITZER, 2016).
A partir da compreensão de que as empresas de jornalismo possuem interesses
próprios e atuam, em determinadas circunstâncias, como atores políticos e não apenas
meros instrumentos de comunicação e que o texto editorial possui características
singulares, que expressam a opinião oficial das organizações de imprensa que, ora
comunicam seu posicionamento à Opinião Pública, ora se utilizam desse espaço como
ferramenta de pressão e persuasão política, o artigo analisa 28 editoriais que mencionam
a Lava Jato, publicados pelos jornais Folha de S. Paulo (n=18) e Gazeta do Povo (n=10)
entre março e junho de 2016. O recorte representa um intervalo rico de acontecimentos
que têm a Operação Lava Jato, maior investigação anticorrupção já desempenhada no
Brasil, como protagonista. O jornal Gazeta do Povo foi selecionado devido à
Em março de 2013 a petista exibia 65% de aprovação, segundo o DataFolha. Um ano depois, a taxa caiu
para 36% e em 2015 para 8%, com taxas de rejeição que chegavam a 71%, superando o pior momento do
ex-presidente Fernando Collor (65%). 2016 culminou no afastamento definitivo da chefe do executivo.
3
Embora as justificativas para o impeachment não tivessem relação direta com a Lava Jato, o desgaste
que o governo sofreu reforçou a iniciativa e a Lava Jato foi usada como um dos principais argumentos
dos favoráveis à interrupção do mandato.
2
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expressividade que ocupa no cenário paranaense4 – onde está instalada a Força-Tarefa
da Lava Jato, entendendo-se que seria um bom jornal a ser comparado com a Folha de
S. Paulo, de expressividade nacional5.
O próximo tópico discute, brevemente, a literatura a respeito dos editoriais
jornalísticos e, especialmente, as características que o gênero textual apresenta que o
tornam objeto de estudo pertinente para a análise da imprensa como ator político. Na
sequência, apresentam-se os procedimentos metodológicos, dados obtidos e conclusões.
A empresa de jornalismo como ator político
Embora as pesquisas em Comunicação muito problematizem o papel
democrático do Jornalismo, confrontando a prática idealizada à cobertura, por vezes,
carente de isenção, é reduzido o volume de pesquisas se dedica a investigar os interesses
particulares dessas empresas e o conjunto de valores, práticas, rotinas e processos que
situam essas instituições jornalísticas como atores políticos e não meros veículos de
informação ou mediadores neutros, já que, a despeito da história social e da relação
simbiótica entre imprensa e as democracias modernas, são corporações com interesses
próprios, sejam eles políticos, ideológicos, econômicos ou religiosos. Sendo assim, a
literatura que pondera aspectos corporativos dos jornais é fundamental para
compreensão do posicionamento dessas organizações e de sua influência na arena
política (WANTA, 2015).
A função crucial da imprensa em comunicação política, no entanto,
não se restringe a serviços de informação. A imprensa não apenas
serve como transmissor neutro, mas pode também ter um papel ativo
no processo de comunicação política expressando suas próprias visões
e opiniões. As empresas de comunicação não apenas informam sobre
os atores políticos, mas na verdade são os próprios atores políticos
4
Embora tenha anunciado, no início de 2017, o fim da circulação da edição imprensa, a Gazeta do Povo
se apresenta como o 5º Jornal mais acessado do Brasil. Segundo a Associação Nacional de Jornal, em
2015 a tiragem do jornal foi de 36.341 exemplares diários. Integra um dos maiores grupos de
comunicação do país, o GRPCOM, que reúne, além de jornais, emissoras de TV e rádio, incluindo a RPC,
filiada da Rede Globo no Paraná.
5
De acordo com Associação Nacional dos Jornais, a média de circulação do terceiro impresso brasileiro é
de 189.254 exemplares.
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participantes. A pesquisa em Comunicação tem negligenciado em
grande parte essa perspectiva (EILDERS, 1999, tradução nossa).
No controle da esfera de visibilidade, os meios de comunicação de massa
exercem influência e, devido a essa posição, em determinadas circunstâncias, assumem
caráter de atores políticos. Contudo, este papel raramente se dá de forma expressa, já
que entre os valores mais enraizados do Jornalismo Informativo estão a imparcialidade,
a neutralidade e a objetividade, embora haja um consenso em Teoria do Jornalismo
capaz de admitir a impossibilidade de se aplicar esses valores em sua totalidade
(BARROS FILHO, 1995). Logo, quando tais empresas buscam objetivos políticos ou
adotam posicionamento partidário explícito são alvos de críticas severas (EILDERS,
1999), já que tomar partido fere a normatividade profissional do modelo de Jornalismo
liberal difundido pelos Estados Unidos.
Relevante da arena política, com objetivos profissionais ou comerciais, a mídia
debate assuntos políticos, estabelece espaço das campanhas eleitorais e é lugar de luta
democrática. Segundo a literatura que compreende as organizações jornalísticas como
atores políticos, há pelo menos quatro circunstâncias colocam as empresas de mídia
neste papel ativo: (1) quando são propriedade de políticos ou possuem claro
alinhamento ideológico; (2) quando promovem a exposição de opinião explícita, com
objetivo de defender e convencer sobre uma posição; (3) quando promovem campanhas
específicas, sobre temas de interesse de uma comunidade e (4) quando assumem poder e
responsabilização da mídia, defendendo a agenda da própria atividade profissional
(EBERWEIN, PORLEZZA e SPLENDORE, 2015).
Editoriais sobre corrupção: uma expressão da atuação política do jornal
A atuação política dos jornais se aplica tanto à cobertura noticiosa quanto aos
espaços opinativos, como é o caso dos editoriais; mas estes oferecem à imprensa a
chance de colocar uma ênfase especial em certas questões e, legitimamente, se
posicionar de maneira clara – o que não se observa na cobertura noticiosa, norteada por
procedimentos que visam à objetividade utópica. A seleção de temas dos editoriais pode
complementar, portanto, a relevância atribuída a determinadas pautas informativas e
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indicam a agenda prioritária do jornal (EILDERS, 1999), além de transparecer as visões
defendidas ou condenadas pela organização. Tal inclinação editorial é definida tanto
pelo tom quanto pela frequência com que determinado tema aparece nesse tipo de texto
(DRUCKMAN, PARKIN, 2005).
Como espaço legítimo de exposição explícita das visões oficiais da empresa
sobre temas públicos, o editorial permite que se perceba, com maior clareza, a atuação
política dos jornais – muito embora os editorialistas evoquem o papel de defensor do
interesse público creditado à prática jornalística e, ainda, porta-voz da Opinião Pública,
é no editorial que o jornal se posiciona sobre determinadas questões e, ataca outras,
transparece seus interesses e ambiciona interferir na esfera das decisões políticas.
O espaço de visibilidade pública controlado pelo campo midiático é disputado
por atores do campo político (GOMES, 2004). Como empresa, o jornal usa do editorial
e assume lugar de fala socialmente legitimado na arena de discussões (GUERREIRO
NETO, 2013) e “explicitamente autorizado a publicamente expressar opinião”
(EILDERS, 1999, tradução nossa). “Enquanto a expressão da opinião está
normativamente restrita à seção editorial, a discussão sobre imprensa como ator político
requer uma revalorização dos editoriais como tópico dos estudos de comunicação”
(EILDERS, 1999, tradução nossa). Os editoriais apresentam especificidades pouco
exploradas pela pesquisa brasileira, apesar de constituírem objeto de estudo adequado
para compreender as tensões entre a atividade social do Jornalismo e os objetivos
particulares das empresas, pois é “o gênero que melhor ilustra a tensão entre interesses
públicos e privados no Jornalismo” (MONT’ALVERNE E MARQUES, 2014). Em
meio à polêmica em torno da emissão de opiniões por parte da imprensa, “o legítimo
lugar de opinião da organização jornalística é a página editorial” (EILDERLS, 1999,
tradução nossa).
A empresa de jornalismo age como ator político (player) e investe em seus
interesses nesse gênero textual, buscando atingir objetivos que transcendem a
quantidade de leitores. Os editoriais constituem uma oportunidade de autonomia dessas
organizações frente à imposição da agenda da política institucional, norteada por
eventos burocráticos (EILDERS, 1999). A função do texto, então, não se restringe à
orientação do público leitor, mas também de uma ferramenta de pressão do poder
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público e dos agentes políticos com poder de decisão (MONT’ALVERNE, MARQUES,
2014). Isto é, as organizações jornalísticas dialogam com os atores políticos e propõe
ações por meio do texto editorial. Sob esse ângulo, a empresa reivindica um papel
legitimado pela atividade social do Jornalismo, que situa a profissão como fiscalizadora
do poder político, o “cão de guarda” das instituições democráticas: papel saliente na
editoria política e nos textos institucionais de opinião, já que temas políticos são
predominantes nestas páginas, dada a sua relevância para o campo social.
No caso dos editoriais sobre corrupção da classe política, o papel fica ainda
mais evidente, visto que a corrupção, por definição, é uma infração que agride aos
valores democráticos e ao interesse coletivo da comunidade e, portanto, é tratada sob o
viés da responsabilidade social do Jornalismo na discussão de temas sociais (ARAÚJO,
JORGE, 2015). Se posicionar de forma combativa em relação à corrupção é uma
maneira de defender o interesse público e, concomitantemente, se legitimar, construindo
a própria imagem pública da instituição de imprensa. “Ali [nos editoriais], o jornalismo
é instituição e discurso, agente legitimador e campo a ser legitimado” (GUERREIRO
NETO, 2013). Os editoriais colaboram para a imagem pública do próprio jornal, a
medida que se posiciona sobre determinadas agendas, defende outras, ataca conceitos e
projetos, atua politicamente e legitima o jornalismo (MONT’ALVERNE, MARQUES,
2015; GUERREIRO NETO, 2013). O jornal estabelece, ao mesmo tempo, um contrato
de leitura com sua audiência, dialoga com o campo político, formata sua imagem e
transmite sua linha editorial à redação (MARQUES; MONT’ALVERNE; MITOZO, no
prelo).
Estratégias metodológicas
Tendo em vista o cenário político brevemente apresentado na introdução e
considerando a literatura que versa sobre o objeto, desenha-se a seguinte hipótese:
H1: sendo os jornais atores políticos com interesses próprios e partes
interessadas no jogo político, o discurso editorial acerca da corrupção e, em especial,
sobre a Lava Jato, tende a ser mais ou menos combativo a depender do grupo político
acusado; assim, a depender da parte envolvida na investigação, o jornal pode ser
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enfático na cobrança por punição, presumindo a criminalidade ou, minimizar as
suspeitas, relativizando o delito.
Compõem o corpus empírico editoriais da Gazeta do Povo (GP) (n=10) e Folha
de S. Paulo (FSP) (n=18) que mencionaram o termo “Lava Jato”(LJ), publicados entre
os meses de março e junho de 2016, período que inclui as semanas que antecederam a
mudança de governo, os dias de transição e o primeiro mês de exercício do governo
interino. O jornal paranaense publica um editorial por dia, já o jornal de circulação
nacional publica dois editoriais por dia, o que implica em uma probabilidade maior de
ocorrência do tema.
A coleta do material foi realizada no website de cada veículo e as páginas
foram salvas em formato PDF6. O recurso utilizado é a Análise do Discurso (AD), que
propõe uma reflexão sobre as condições de produção do texto, buscando compreender a
formação social de sentido. Tal proposta teórico-metodológica “ultrapassa o status de
simples técnica de análise para compor um campo do conhecimento” e analisa as
condições de produção do texto em seu contexto histórico-ideológico (CAPPELLE,
MELO, GONÇALVES, 2003). Consideram-se as teorias do jornalismo como ponto de
partida para compreensão do texto jornalístico como discurso (BENETTI, 2008).
Foi adotada como estratégia principal a identificação das formações discursivas
(também denominadas sentidos nucleares) mais recorrentes, isto é “os elementos do texto
que de algum modo propõe uma forma de interpretar os fatos” (CARVALHO, 2013).
Essas formações discursivas (FD) ou núcleos de sentido são assimiladas a partir da
percepção de um “movimento de paráfrase, isto é, a repetição e o reforço do mesmo
sentido, através das sequências discursivas ao longo do(s) texto(s)” (PINHEIRO, 2013).
Os trechos a serem recortados para análise e utilizados no relato da pesquisa são
chamados de sequências discursivas (SDs), que correspondem aos fragmentos do texto
que reforçam e exemplificam a adesão à determinada FD.
Foram identificadas
as principais questões enfatizadas pelos jornais
separadamente. Após o levantamento particular de cada jornal, foram comparadas as
formações discursivas da GP e da FSP, destacando similaridades e contrastes. A seguir,
apresentam-se as principais Formações Discursivas e parte das respectivas Sequências
6
A íntegra dos textos analisados é fornecida mediante solicitação à autora.
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Discursivas (SD)7. A ordem de apresentação reflete o grau de recorrência, sendo a FD1
mais frequente que FD2.
Análise dos dados e resultados
Gazeta do Povo
FD1: A ofensiva política contra a Lava Jato
Segundo a GP, há uma série de tentativas da classe política para conter o avanço
da Lava Jato, sendo que o Partido dos Trabalhadores (PT) e o poder legislativo
aparecem como protagonistas desse processo.
Esta é a FD mais recorrente nos textos do jornal Gazeta do Povo e que já indica
a defesa aberta que o periódico faz da Operação, bem como crítica severa que tece a
atores políticos ligados ao partido que na ocasião ocupava o governo federal e
protagonizava as acusações da Operação Lava Jato. Assim, a Gazeta do Povo se mune
do discurso de combate à corrupção para construir um discurso de deslegitimação do
governo de Dilma Rousseff (PT). Este discurso de combate à corrupção também está
relacionado ao próprio discurso de autolegitimação do Jornalismo, enquanto atividade
social apta a fiscalizar os poderes e defender os interesses coletivos (GOMES, 2009).
7
Por uma limitação de espaço, foram excluídas algumas SDs e mantiveram-se outras para fins de
ilustração. A íntegra da análise pode ser fornecida mediante solicitação à autora.
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Sequência Discursiva
SD1: “Dilma teria tentado interferir no andamento da Lava Jato em pelo menos
três ocasiões”
SD4: “Qual seria a melhor estratégia para um governo acuado pela Operação Lava
Jato e interessado em jogar água na fervura das investigações que chegaram ao
centro do poder petista?”
SD6: “Se Aragão estiver realmente disposto a minar a Lava Jato, a sociedade
precisa reagir com a mesma força que demonstrou após a tentativa de levar Lula
para o ministério”
SD7: “Daí advêm os sinais, cada vez mais frequentes, de que há o ânimo, ainda
que inconfessado e subterrâneo, de um grupo de peemedebistas investigados de
tentar esvaziar a Operação”
SD8: “todas as tentativas de interferência saíram fracassadas e com um alto
preço pago por boa parte dos envolvidos”
SD9: “Se algum risco existe, ele está não no âmbito do Poder Executivo, mas no
Poder Legislativo”
Editorial
E01:
Acusações
explosivas
E03: Aragão parte para
o ataque
E05:
Proteção
incondicional à Lava
Jato
E06: Contra a corrupção
SD10: “Não por acaso ameaças semelhantes começam a emergir das sombras do
Congresso Nacional. É emblemática a divulgação nesta semana da conversa
gravada pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado...”
SD13: “O primeiro front consiste em acabar com a Lava Jato propriamente dita, ou
pelo menos burlá-la onde for possível. Tais movimentações vêm desde o governo
Dilma”
SD14: “... Mas as gravações de Sérgio Machado mostram que a intenção não era E07: A trama contra a Lav
apenas blindar os atuais investigados, e sim garantir que os corruptos fiquem
longe do alcance de futuras operações, com alterações na legislação que
dificultassem o combate à ladroagem”
SD15: “dado o clima de conspiração contra a Lava Jato que predomina em
Brasília, a sociedade vai precisar ficar bastante atenta...”
E08: A Câmara e o
SD16: “A intenção de, por meio da atividade legislativa, minar a Lava Jato e combate à corrupção
outras operações de combate aos crimes de agentes públicos ficou evidente nas
gravações...”
SD17: “O que não se pode admitir é qualquer “operação abafa” ”
E09: Temer e o delator
(Tabela 1: FD1)
FD2: PT, o inimigo número 1
Associada à FD1, a FD2 destaca que os editoriais da GP tratam o Partido dos
Trabalhadores, seus representantes e o governo federal como protagonistas do esquema
de corrupção investigado pela LJ e, portanto, antagônicos à LJ. Essa postura adversarial
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coloca o PT numa posição negativa e vilã, que trabalharia constantemente para
perpetuação da corrupção e uso da máquina pública para fins privados.
Sequência Discursiva
Editorial
SD20: ““vazamento”, expressão que o petismo vem usando na tentativa de
criminalizar a difusão dos áudios...”
E02: A lei está do lado
SD21: “Dentro da legalidade, tomar uma atitude como a da quarta-feira é mérito, de Moro
dado o golpe que o PT vinha tramando para blindar seu investigado mais célebre”
SD23: “Qual seria a melhor estratégia para um governo acuado pela Operação Lava
Jato e interessado em jogar água na fervura das investigações que chegaram ao
centro do poder petista?”
SD24: “uma das convicções mais arraigadas do petismo é a de que os órgãos de
Estado estão a serviço do partido”
SD25: “graças à pressão do ex-presidente Lula, para quem era obrigação de
Cardozo domesticar a Polícia Federal para que a Lava Jato não incomodasse o
chefão petista...”
SD27: “mais uma vez a máquina estatal está sendo colocada a serviço de Lula”
SD28: “têm como principal objetivo protelar indefinidamente a constatação
definitiva de que houve desvio de finalidade na tentativa de levar Lula para a Casa
Civil”
SD 29: “estrutura do governo foi colocada, de uma ou outra forma, a serviço do
projeto petista”
E03: Aragão parte para
o ataque
E04: Vale tudo para
blindar Lula
SD 30: “Bernardo não é o primeiro ex-Ministro petista preso em decorrência das
investigações iniciadas com a Lava Jato. Mas José Dirceu já estava fora do
governo quando a fonte do mensalão secou e o PT resolveu buscar outros meios E10: A prisão de Paulo
de abastecer seus cofres. Ele representa, podemos dizer, a dimensão “partidária” Bernardo
do esquema. Já a investigação no âmbito daqueles que operavam de dentro do
governo havia pego, no máximo, diretores e gerentes de estatais; quando surgem
denúncias, acusações e indícios que envolvem até mesmo alguém que agia na
qualidade de ministro de Estado, a situação muda de patamar”
(Tabela 2: FD2)
FD3: A competência de Sérgio Moro
O juiz federal Sérgio Moro8, que conduz a Operação de Curitiba, adquiriu
destaque como figura capaz de promover o combate à corrupção. Nos editoriais da GP,
o magistrado é admirado, tendo, inclusive, textos exclusivamente dedicados à sua
8
Juiz da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, Sérgio Moro ganhou visibilidade pela atuação no
julgamento da Operação Lava Jato. Sua trajetória passa por casos expressivos de combate à corrupção.
Atuou na Operação Banestado, em 2010 (escândalo do Banco do Estado do Paraná na década de 1990) e
foi juiz instrutor do Supremo Tribunal Federal (STF) durante julgamento do caso Mensalão (caso mais
expressivo durante governo Lula, PT)
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defesa, em contraposição à imagem do ex-presidente Lula. Há uma veneração quase
heroína à personalidade.
Essa personificação e contraposição maniqueísta entre culpados e inocentes,
com ampla exploração da imagem dos indivíduos é prevista na literatura que trata da
cobertura noticiosa da corrupção e que, na presente análise, se repete nos textos
editoriais (ARAÚJO, JORGE, 2015).
Sequência Discursiva
SD31: “Sergio Moro agiu estritamente dentro de suas prerrogativas e do que
prescreve o processo penal ao divulgar o conteúdo das gravações de Lula”
SD 32: “desmoralizar o juiz federal Sergio Moro já era uma estratégia dos
investigados da Lava Jato havia um bom tempo”
SD33: “O que uns chamam de oportunismo nós chamaríamos de coragem.
Impossível saber a intenção do magistrado, mas, se realmente Moro agiu guiado
pelo senso de oportunidade, só podemos dar-lhe os parabéns. Dentro da
legalidade, tomar uma atitude como a da quarta-feira é mérito”
SD34: “Moro arriscou todas as fichas ao fazer o que fez? É possível. Mas agiu
consciente da legalidade de sua decisão. O Brasil agradece.”
SD35: “Estamos convencidos da legalidade das ações do juiz federal, e por isso só
nos resta esperar que o ministro, ao fim, tome a decisão correta e reconheça a
lisura com que Moro tem conduzido a Lava Jato.”
SD36: “Sergio Moro, cuja caneta foi a principal responsável por ter mostrado o
lado avesso da prática política nacional, que não poupou os maiores notáveis do
poder encrustados no governo e nas grandes empreiteiras cúmplices. Bom lembrar:
até agora, menos de 4% das decisões de Moro foram reformadas por instâncias
superiores”
(Tabela 3: FD3)
Editorial
E02: A lei está do lado
de Moro
E04: Vale tudo para
blindar Lula
E05:
Proteção
incondicional à Lava
Jato
FD4: A Operação legítima e defensável
A defesa da Lava Jato é clara: a GP acusa quem investe contra a Operação,
reafirma a relevância da investigação para o país e sentencia: quem está contra a Lava
Jato está a favor da corrupção e da impunidade. Para a GP, o apoio popular é unânime,
o que realça o reforço da autolegitimação do jornal, que reivindica para si o papel de
porta-voz da Opinião Pública.
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Sequência Discursiva
Editorial
SD37: “As evidências parecem comprovar, a cada dia, que a Lava Jato ainda tem
muito a fazer. O trabalho de limpeza ética, ao que tudo indica, está longe de ser
E05:
Proteção
concluído”
incondicional à Lava
SD38: “Vem daí o risco de esvaziamento da operação já que popular e Jato
politicamente se tornou completamente inviável investir frontalmente contra ela”
SD39: “...todas as tentativas de interferência saíram fracassadas e com um alto
preço pago por boa parte dos envolvidos”
SD40: “A Operação Lava Jato e os efeitos dela decorrentes precisam ser
E06: Contra a corrupção
encarados pelos parlamentares da mesma forma como o são pela sociedade: um
momento de ruptura que abre a oportunidade para a transformação do ambiente
político brasileiro”
SD41: “Saber que o trabalho exemplar realizado no Paraná encontra ecos pelo E10: A prisão de Paulo
país é um conforto – a não ser, claro, para quem contava com a impunidade”
Bernardo
(Tabela 4: FD4)
FD5: População deve agir e reagir
Para evitar obstáculos (alarmados em FD1) que impeçam o sucesso da Lava
Jato na instalação de um novo ambiente político, a GP orienta a população permanecer
vigilante, o que segue a lógica de defesa do interesse público.
Sequência Discursiva
SD42: “Se Aragão estiver realmente disposto a minar a Lava Jato, a sociedade
precisa reagir com a mesma força...”
SD43: “Essa oportunidade precisar ser aproveitada. E a sociedade pode ser a
indutora desse processo de mudança, se, da mesma forma que vem demonstrando
seu apoio à Lava Jato, encampar uma mobilização mais ampla para aprovar esses
projetos contra a corrupção”
SD44: “Este é um controle que só pode ser feito pela população, para que não
aconteça aqui o que houve na Itália. Atenção máxima aos projetos de lei que lidam
com o combate à roubalheira, apoio a iniciativas como as Dez Medidas Contra a
Corrupção e pressão popular, inclusive nas ruas, são o melhor jeito de impedir que
os corruptos levem a melhor, no curto ou no longo prazo”
Editorial
E03: Aragão parte para
o ataque
E06: Contra a corrupção
E07: A trama contra a
Lava Jato
SD45: “... a sociedade vai precisar ficar bastante atenta à tramitação do projeto”
SD46: “...é necessária a mais absoluta vigilância neste momento”
E08: A Câmara e o
SD47:“A mobilização da sociedade para aprovar as Dez Medidas Contra a combate à corrupção
Corrupção é uma tarefa que, se levada a cabo, vai contribuir para transformar o
ambiente político”
(Tabela 5: FD5)
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FD6: Temer não deve temer
Embora o jornal se coloque na defesa do interesse público, é curioso notar que
na transição de governo, o descrédito do PT se converte em voto de confiança a gestão
Temer - que não representa a lisura outrora requerida. Os editoriais dão uma chance ao
PMDB e cobram firmeza. Essa variação de discurso a depender do ator político – já que
ambos acumulam acusações – deixa transparecer preferências particulares do jornal.
Sequência Discursiva
SD48: “... o presidente precisa ser mais enfático. Temer tem que estar atento para
assegurar que as garantias que deu sejam cumpridas e, até mesmo, se necessário,
atuar para a blindagem do trabalho dos envolvidos na operação.”
SD49: “toda a atenção de Temer é necessária para que, além da “salvação
nacional” de que falou em seu discurso de posse, permaneça assegurada a
continuidade da atuação implacável da Lava Jato”
SD50: “Apesar de declarar apoio público à Lava Jato, o governo não deu a mínima
atenção até agora a esse relevante conjunto de medidas”
SD51: “Por isso, se Temer não quiser repetir Dilma, interrompendo ainda no
início um esforço que pode ser fundamental para o país, terá de sanear sua equipe,
livrando-a de quaisquer elementos suspeitos”
(Tabela 6: FD6)
Editorial
E05:
Proteção
incondicional à Lava
Jato
E08: A Câmara e o
combate à corrupção
E09: Temer e o de-lator
Folha de S. Paulo
FD1 – A crise política e a corrupção são maiores que o PT
No caso da FSP, a formação discursiva mais recorrente diz respeito à afirmação
de que a Operação Lava Jato expõe uma fragilidade de todo sistema político brasileiro e
não apenas do PT. Segundo a FSP, a corrupção transcende as bandeiras partidárias – o
que indica não somente que o PT não é o único responsável, como também dá alguma
margem para a defesa da credibilidade da equipe jurídica e técnica da Operação. Para a
FSP, o fato da LJ atingir diversos grupos políticos é argumento que sustenta a ideia de
que é uma força a favor do interesse público do Brasil e não de um determinado grupo.
Essa postura também corrobora para a linha editorial do jornal, que se apresenta como
apartidário e plural. Assim, é coerente que busque atacar a corrupção e não se limitar a
crítica de um grupo político isolado.
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Sequência Discursiva
Editorial
SD1: “...todo o sistema político brasileiro se vê comprometido pela ilegalidade e
E04:Lista explosiva
pela drenagem do dinheiro público através de contratos de obras públicas”
SD2: “São tantos os desdobramentos da Lava Jato que o campo do improvável e
do remoto parece redefinir-se a cada dia. (...) uma crise que, provavelmente, um
impeachment não conseguirá interromper”
SD3: “Delações que envolvem o vice-presidente indicam que a crise deflagrada
pela Operação Lava Jato não se encerrará facilmente”
SD4: “Há muito a investigar, sem dúvida, também no campo da oposição: de Aécio
Neves (PSDB-MG) a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são muitas as figuras estranhas
ao petismo que se encontram igualmente sob a mira de Janot. Do ponto de vista
da opinião pública, todavia, pode-se dizer que não só o esquema petista, mas todo
um modelo multipartidário de corrupção e financiamento político já está exposto,
desmoralizado e agonizante, à luz do dia”
(Tabela 7: FD1)
E05:Crise ininterrupta
E06: Sombras
Temer
sobre
7 E07: O começo e o
fim
FD2 - Governo Temer é sustentado por personagens sem reputação
Seguindo a lógica da FD anterior, é recorrente o questionamento da Folha acerca
da idoneidade do governo Temer. O fato deste acolher nomes investigados pela
Operação desmoraliza a recente administração. Por essa razão, enquanto a GP militou
pelo impeachment, a FSP defendia a renúncia da chapa.
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Sequência Discursiva
Editorial
SD5: “Ainda que nenhuma dessas suspeitas se confirme, é inegável que um
eventual governo Temer, por mais desafogo que confira ao ambiente econômico,
E06: Sombras sobre
estará longe de representar a solução para a crise”
Temer
SD6:“Talvez Temer se sinta tentado a interferir no rumo das investigações,
bloqueando eventual fonte de deslegitimação.”
SD7:“A presença de personagens envolvidos em maior ou menor grau nas
investigações da Operação Lava Jato sinalizou que a busca de imediata
sustentação no Congresso superou, por parte de Temer, as preocupações com a
E09:
Concessões
regeneração ética do Executivo”
demais
SD8: “No campo da ética e da credibilidade, entretanto, o novo governo parece
estar fabricando as armadilhas e os escândalos com que irá se defrontar num
futuro próximo”
SD9: “Era impossível amenizar o conteúdo de suas conversas com Sérgio
Machado, ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras)”
SD10: “ Tendo chegado ao poder por caminhos tortuosos, embora dentro da lei, e
após protestos nas ruas, o governo do presidente interino Michel Temer precisa
dedicar especial atenção ao caso da mulher de César—que, além de ser honesta,
deveria apresentar-se acima de qualquer suspeita”
SD11: “Alves não é o primeiro nem o segundo ministro a deixar o governo Temer
em meio a circunstâncias desabonadoras ou escandalosas , mas o terceiro...”
SD12: “...tudo o que Temer faz no Palácio do Planalto é administrar o escândalo
de hoje apenas para enfrentar o de amanhã”
E10: Primeira Crise
E13: A cada novo
escândalo
(Tabela 8: FD2)
FD3 - A Lava Jato é indispensável e não pode ser contida
Associada a FD1, a FD3 reitera que a LJ não pode parar. Os editoriais tecem
elogios à Operação sem economia de adjetivações e rejeitam qualquer tentativa de
interrompê-la ou reduzi-la, com a convicção de que está de acordo com o interesse dos
brasileiros. Esse discurso também dialoga com o papel social do Jornalismo,
reivindicando a função defensora da sociedade e, portanto, adversarial em relação à
Política.
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Sequência Discursiva
SD13: “Tornam-se mais próximos, contudo, os riscos de que a própria Operação
Lava Jato venha a conhecer novos obstáculos. Seja pelo excesso de ramificações,
seja pela pressão, agora multilateral, de variados atores, a paralisia ou o
abafamento das investigações passa a ser uma possibilidade—que cumpre
repudiar com ênfase”
SD14: “Que não se interrompam. Não importa o partido, o nome ou o cargo dos
que venham a soçobrar neste processo. É a democracia brasileira que, passada a
crise, precisa reemergir mais forte”
SD15:“...o apoio à Lava Jato assumiu tal força que qualquer intromissão indevida
corresponderia a um suicídio político”
SD16:“É verdade: como já ficou claro, as instituições responsáveis pela Lava Jato
têm funcionado com a necessária independência, e o tal pacto talvez não passasse
de ilusão”
SD17: “A experiência da Operação Mãos Limpas, na Itália, mostra com eloquência
a dedicação dos políticos quando se trata de interromper tudo o que desvele suas
práticas corruptas. A sociedade brasileira está atenta, contudo...”
SD18: “O desenrolar da Operação Lava Jato (...) torna possível, de forma inédita
no país, que medidas judiciais extremas sejam encetadas contra pessoas que, pelo
hábito do privilégio e pelo amplo poder de influência, se imaginavam protegidas
pela permanente impunidade”
SD19:“A Lava Jato continuará até o fim, sem prazo para acabar, e os eleitores
jamais perdoarão quem pretender encerrá-la”
SD20: “Longe de declinar, ímpeto da Operação Lava Jato se renova e se espraia
em ações anticorrupção por todo o país, como deve ser”
SD21: “Tudo indica que não há fim à vista para a Lava Jato e seus
desdobramentos—e é exatamente isto que se deseja do inédito desvelamento de
práticas generalizadas de assalto a cofres públicos perpetradas por políticos de
todos os matizes”
SD22: “Para sorte de todos os brasileiros que desejam um país melhor, a
Operação Lava Jato alterou o paradigma de combate à corrupção”
Editorial
E04:Lista explosiva
E06: Sombras sobre
Temer
E10: Primeira Crise
E11: Preparando o
concerto
E12: Falta explicar
E15: À espera da
autocrítica
E16: Sem fim à vista
E18: Cuidar das
SD23: “Como seria de esperar, forças poderosas mostram-se dispostas a pôr freio delações
nas operações”
(Tabela 9: FD3)
FD4 - O PT deve explicações
Embora compreenda que o PT não é o único culpado, a FSP o trata como
protagonista do caso e, por isso, cobra medidas adicionais. Não é o mesmo que a GP
faz, já que a crítica é unânime e pode-se supor que a evidência ao PT se deva,
justamente, pelo cargo ocupado naquele momento.
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Sequência Discursiva
SD24:“A condução coercitiva do ex-presidente Lula (...) teve o efeito de reiterar a
amplitude e o peso das suspeitas que o cercam. Ganha ímpeto a impressão de que o
sistema de favorecimentos e negócios construído pelo poder petista se apressa no
rumo do colapso”
SD25: “Abriu-se, entretanto, a oportunidade para que Lula pudesse reforçar, com
renovado calor e reanimada audiência, o discurso da vitimização (...) silenciando,
obviamente, sobre os casos concretos que lhe caberia explicar. A retórica lulista
nunca soou tão inconvincente, e inadequada, como agora”
SD27: “Será a palavra “cumplicidade” forte demais para aplicar a uma presidente
da República e a um ex-presidente que se afobam em arranjar artifício
desesperado para manter a corrupção impune, a Justiça paralisada e o privilégio
intacto? A dupla superou, com certeza, tudo o que já se tinha visto no PT e
arredores em matéria de cinismo, de imprudência e provocação”
SD28: “É como se o laborioso e complexo edifício de desvios e irregularidades
construído pelo PT desde os tempos do mensalão fosse enfim atingido em sua
principal estrutura de sustentação”
SD29: “...que o partido precisa reconhecer seus erros . Atitudes desse gênero são
raras numa agremiação que se perdeu nos próprios labirintos e somente agora
começa a abandonar sua empáfia”
SD30:“Repetida em nota oficial, a habitual alegação de que está em curso uma
tentativa de criminalizar o PT fica menos convincente do que nunca”
Editorial
E01: Vitimização
E03: É o fim
E07: O começo e o fim
E15: A espera
autocrítica
da
E16: Sem fim à vista
(Tabela 10: FD4)
O discurso de ambos os jornais analisados corrobora com a literatura no esforço
em se utilizar deste espaço como lugar de legitimação do Jornalismo e formatação da
própria imagem pública da empresa midiática (GUERREIRO NETO, 2013;
MONT’ALVERNE, MARQUES, 2014). Levando em conta a temática da corrupção, é
saliente a tentativa de exercício do papel fiscalizador e comprometido com o interesse
público.
A variação de posicionamento da Gazeta do Povo, radical em suas cobranças ao
governo petista e mais compreensiva em relação ao peemedebista, embora ambos sejam
investigados pela LJ, confirma a hipótese de pesquisa sobre a variação de discurso a
depender do grupo acusado. O que a GP deixa transparecer é que acima do combate à
corrupção está seu posicionamento anti-PT, que é justificado neste momento de crise
pela corrupção e pelo cenário econômico. Pode-se concluir que, a despeito do esforço
da agenda petista contra a corrupção, a fragilidade da sigla frente a antipatias somadas à
culpa pelo envolvimento em recorrentes casos de corrupção, conduziram o governo à
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uma deslegitimação grave (AVRITZER, 2016). Tal variação não é encontrada nos
textos da Folha.
Considerações finais
O artigo buscou apresentar uma breve discussão teórica acerca do desempenho
dos editoriais jornalísticos como ferramenta de atuação política dos jornais e propôs
uma análise a partir de dois jornais brasileiros, com especial enfoque à temática da
corrupção. Os editoriais da Gazeta do Povo e da Folha de S. Paulo, do período
analisado, consideram a Lava Jato uma oportunidade rara de mudança do ambiente
político brasileiro, tecendo constantes elogios, seja pela firmeza (GP), seja pela
imparcialidade das investigações (FSP).
A Folha de S. Paulo realça que as acusações e investigações transcendem a então
cúpula do Governo Federal e envolve outros partidos políticos, incluindo o PMDB do
então vice-presidente Michel Temer. Já a GP exalta o processo de impedimento e
deposita uma confiança adicional no governo interino, já que, para a GP o PT é o vilão.
A Folha associa a Operação Lava Jato ao processo de impeachment, sugerindo que
Temer não teria condições de assumir por ser tão suspeito quanto à petista.
Semelhante à Gazeta do Povo, a Folha de S. Paulo defende a continuidade da
Operação Lava Jato, mas é menos enfática nas preocupações acerca de sua interrupção
– o que a GP insiste em alertar como uma ameaça constante. De forma similar, porém, a
FSP frisa que a força da operação frente à Opinião Pública é notória e irreversível.
Na GP, no contexto pós-impeachment, Temer se torna mais presente nos
textos, sendo reivindicado para garantir o triunfo da LJ. A FSP é mais cautelosa em
relação a Temer e questiona, constantemente, sua conduta moral. Destaca-se, que a GP
tende a minimizar fatos relativos a escândalos envolvendo Temer e a cúpula do PMDB,
enquanto que a Folha questiona ambos. Desta forma, notou-se que a hipótese sobre a
mudança de discurso a depender do grupo político acusado só se verifica com clareza
nos textos da Gazeta do Povo.
Por fim, os textos analisados realçam como os jornais agem como ator político,
especialmente nos editoriais, interferindo no debate público, propondo determinadas
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posições e saídas para o cenário político – o que ficou evidenciado durante o processo
de impeachment, quando a GP sugeriu veementemente a saída de Dilma e a FSP pediu a
renúncia da chapa. Deste modo, ao tratar da LJ em seus editoriais, a linha editorial
adotada promove uma negativa de determinados atores políticos, mas, em contrapartida,
engrandece outros.
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