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A corrupção na opinião do jornal: o discurso dos editoriais da Folha de S. Paulo e da Gazeta do Povo sobre a Lava Jato The corruption in the opinion of the newspaper: the discourse of the editorials of the Folha de S. Paulo and the Gazeta do Povo about Lava Jato Ester ATHANÁSIO1 Resumo Partindo da discussão sobre a atuação da empresa de jornalismo como ator político e das características do texto editorial, o artigo analisa editoriais da Folha de S. Paulo e da Gazeta do Povo sobre a Operação Lava Jato, entre março e junho de 2016, tendo como estratégia metodológica a Análise do Discurso. São analisados 28 textos que mencionam a investigação de corrupção que desempenhou papel protagonista no período de turbulência política analisado. Os resultados indicam que a Lava Jato é defendida pelos jornais – que, normativamente, reivindicam para si o papel de defesa do interesse público. O discurso da Gazeta do Povo varia a depender do grupo político acusado, o que confirma, em partes, a hipótese a respeito da variável “grau de combatividade em casos de corrupção” a depender da origem política dos envolvidos. Assim, o diário é mais enfático com petistas e tolerante em relação à cúpula do PMDB. Já a Folha de S. Paulo critica uma corrupção sistêmica, envolvendo todos os partidos. Palavras-chave: Corrupção. Editoriais. Democracia. Lava Jato. Jornalismo. Abstract Based on the discussion about the work of the journalism company as a political actor and the characteristics of the editorial text, this article analyzes the Folha de S. Paulo and Gazeta do Povo editorials about Operation Lava Jato between March and June 2016. Methodological strategy to Discourse Analysis. We analyze 28 texts that mention the investigation of corruption that played a leading role in the period of political turbulence analyzed. The results indicate that the Lava Jato is defended by the newspapers - which, normatively, claim for themselves the role of defense of the public interest. The speech of the Gazeta do Povo varies depending on the political group accused, which confirms, in parts, the hypothesis regarding the variable "degree of 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Universidade Federal do Paraná. E-mail: ester.athanasio1@gmail.com Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 126 combativity in cases of corruption" depending on the political origin of those involved. Thus, the paper is more emphatic with "petistas" and tolerant towards the PMDB summit. Folha de S. Paulo, however, criticizes a systemic corruption involving all parties. Keywords: Corruption. Editorials. Democracy. Lava Jato. Journalism. Introdução A corrida eleitoral de 2014 inaugurou um período turbulento na política brasileira. Ao vencer a eleição presidencial mais apertada e polarizada da história, com 3,28% de vantagem (3,4 milhões de votos) sobre Aécio Neves (PSDB) e com o início de um período de instabilidade econômica, Dilma Rousseff (PT) abriu o segundo mandato com baixas que a conduziram a sucessivas perdas na aprovação2. Somada a fatores econômicos e disputas políticas, a Operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção brasileira, exerceu forte influência nos desdobramentos do cenário político dos últimos anos3, contribuindo para um ambiente em que o combate à corrupção se transforma em deslegitimação do sistema político (AVRITZER, 2016). A partir da compreensão de que as empresas de jornalismo possuem interesses próprios e atuam, em determinadas circunstâncias, como atores políticos e não apenas meros instrumentos de comunicação e que o texto editorial possui características singulares, que expressam a opinião oficial das organizações de imprensa que, ora comunicam seu posicionamento à Opinião Pública, ora se utilizam desse espaço como ferramenta de pressão e persuasão política, o artigo analisa 28 editoriais que mencionam a Lava Jato, publicados pelos jornais Folha de S. Paulo (n=18) e Gazeta do Povo (n=10) entre março e junho de 2016. O recorte representa um intervalo rico de acontecimentos que têm a Operação Lava Jato, maior investigação anticorrupção já desempenhada no Brasil, como protagonista. O jornal Gazeta do Povo foi selecionado devido à Em março de 2013 a petista exibia 65% de aprovação, segundo o DataFolha. Um ano depois, a taxa caiu para 36% e em 2015 para 8%, com taxas de rejeição que chegavam a 71%, superando o pior momento do ex-presidente Fernando Collor (65%). 2016 culminou no afastamento definitivo da chefe do executivo. 3 Embora as justificativas para o impeachment não tivessem relação direta com a Lava Jato, o desgaste que o governo sofreu reforçou a iniciativa e a Lava Jato foi usada como um dos principais argumentos dos favoráveis à interrupção do mandato. 2 Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 127 expressividade que ocupa no cenário paranaense4 – onde está instalada a Força-Tarefa da Lava Jato, entendendo-se que seria um bom jornal a ser comparado com a Folha de S. Paulo, de expressividade nacional5. O próximo tópico discute, brevemente, a literatura a respeito dos editoriais jornalísticos e, especialmente, as características que o gênero textual apresenta que o tornam objeto de estudo pertinente para a análise da imprensa como ator político. Na sequência, apresentam-se os procedimentos metodológicos, dados obtidos e conclusões. A empresa de jornalismo como ator político Embora as pesquisas em Comunicação muito problematizem o papel democrático do Jornalismo, confrontando a prática idealizada à cobertura, por vezes, carente de isenção, é reduzido o volume de pesquisas se dedica a investigar os interesses particulares dessas empresas e o conjunto de valores, práticas, rotinas e processos que situam essas instituições jornalísticas como atores políticos e não meros veículos de informação ou mediadores neutros, já que, a despeito da história social e da relação simbiótica entre imprensa e as democracias modernas, são corporações com interesses próprios, sejam eles políticos, ideológicos, econômicos ou religiosos. Sendo assim, a literatura que pondera aspectos corporativos dos jornais é fundamental para compreensão do posicionamento dessas organizações e de sua influência na arena política (WANTA, 2015). A função crucial da imprensa em comunicação política, no entanto, não se restringe a serviços de informação. A imprensa não apenas serve como transmissor neutro, mas pode também ter um papel ativo no processo de comunicação política expressando suas próprias visões e opiniões. As empresas de comunicação não apenas informam sobre os atores políticos, mas na verdade são os próprios atores políticos 4 Embora tenha anunciado, no início de 2017, o fim da circulação da edição imprensa, a Gazeta do Povo se apresenta como o 5º Jornal mais acessado do Brasil. Segundo a Associação Nacional de Jornal, em 2015 a tiragem do jornal foi de 36.341 exemplares diários. Integra um dos maiores grupos de comunicação do país, o GRPCOM, que reúne, além de jornais, emissoras de TV e rádio, incluindo a RPC, filiada da Rede Globo no Paraná. 5 De acordo com Associação Nacional dos Jornais, a média de circulação do terceiro impresso brasileiro é de 189.254 exemplares. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 128 participantes. A pesquisa em Comunicação tem negligenciado em grande parte essa perspectiva (EILDERS, 1999, tradução nossa). No controle da esfera de visibilidade, os meios de comunicação de massa exercem influência e, devido a essa posição, em determinadas circunstâncias, assumem caráter de atores políticos. Contudo, este papel raramente se dá de forma expressa, já que entre os valores mais enraizados do Jornalismo Informativo estão a imparcialidade, a neutralidade e a objetividade, embora haja um consenso em Teoria do Jornalismo capaz de admitir a impossibilidade de se aplicar esses valores em sua totalidade (BARROS FILHO, 1995). Logo, quando tais empresas buscam objetivos políticos ou adotam posicionamento partidário explícito são alvos de críticas severas (EILDERS, 1999), já que tomar partido fere a normatividade profissional do modelo de Jornalismo liberal difundido pelos Estados Unidos. Relevante da arena política, com objetivos profissionais ou comerciais, a mídia debate assuntos políticos, estabelece espaço das campanhas eleitorais e é lugar de luta democrática. Segundo a literatura que compreende as organizações jornalísticas como atores políticos, há pelo menos quatro circunstâncias colocam as empresas de mídia neste papel ativo: (1) quando são propriedade de políticos ou possuem claro alinhamento ideológico; (2) quando promovem a exposição de opinião explícita, com objetivo de defender e convencer sobre uma posição; (3) quando promovem campanhas específicas, sobre temas de interesse de uma comunidade e (4) quando assumem poder e responsabilização da mídia, defendendo a agenda da própria atividade profissional (EBERWEIN, PORLEZZA e SPLENDORE, 2015). Editoriais sobre corrupção: uma expressão da atuação política do jornal A atuação política dos jornais se aplica tanto à cobertura noticiosa quanto aos espaços opinativos, como é o caso dos editoriais; mas estes oferecem à imprensa a chance de colocar uma ênfase especial em certas questões e, legitimamente, se posicionar de maneira clara – o que não se observa na cobertura noticiosa, norteada por procedimentos que visam à objetividade utópica. A seleção de temas dos editoriais pode complementar, portanto, a relevância atribuída a determinadas pautas informativas e Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 129 indicam a agenda prioritária do jornal (EILDERS, 1999), além de transparecer as visões defendidas ou condenadas pela organização. Tal inclinação editorial é definida tanto pelo tom quanto pela frequência com que determinado tema aparece nesse tipo de texto (DRUCKMAN, PARKIN, 2005). Como espaço legítimo de exposição explícita das visões oficiais da empresa sobre temas públicos, o editorial permite que se perceba, com maior clareza, a atuação política dos jornais – muito embora os editorialistas evoquem o papel de defensor do interesse público creditado à prática jornalística e, ainda, porta-voz da Opinião Pública, é no editorial que o jornal se posiciona sobre determinadas questões e, ataca outras, transparece seus interesses e ambiciona interferir na esfera das decisões políticas. O espaço de visibilidade pública controlado pelo campo midiático é disputado por atores do campo político (GOMES, 2004). Como empresa, o jornal usa do editorial e assume lugar de fala socialmente legitimado na arena de discussões (GUERREIRO NETO, 2013) e “explicitamente autorizado a publicamente expressar opinião” (EILDERS, 1999, tradução nossa). “Enquanto a expressão da opinião está normativamente restrita à seção editorial, a discussão sobre imprensa como ator político requer uma revalorização dos editoriais como tópico dos estudos de comunicação” (EILDERS, 1999, tradução nossa). Os editoriais apresentam especificidades pouco exploradas pela pesquisa brasileira, apesar de constituírem objeto de estudo adequado para compreender as tensões entre a atividade social do Jornalismo e os objetivos particulares das empresas, pois é “o gênero que melhor ilustra a tensão entre interesses públicos e privados no Jornalismo” (MONT’ALVERNE E MARQUES, 2014). Em meio à polêmica em torno da emissão de opiniões por parte da imprensa, “o legítimo lugar de opinião da organização jornalística é a página editorial” (EILDERLS, 1999, tradução nossa). A empresa de jornalismo age como ator político (player) e investe em seus interesses nesse gênero textual, buscando atingir objetivos que transcendem a quantidade de leitores. Os editoriais constituem uma oportunidade de autonomia dessas organizações frente à imposição da agenda da política institucional, norteada por eventos burocráticos (EILDERS, 1999). A função do texto, então, não se restringe à orientação do público leitor, mas também de uma ferramenta de pressão do poder Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 130 público e dos agentes políticos com poder de decisão (MONT’ALVERNE, MARQUES, 2014). Isto é, as organizações jornalísticas dialogam com os atores políticos e propõe ações por meio do texto editorial. Sob esse ângulo, a empresa reivindica um papel legitimado pela atividade social do Jornalismo, que situa a profissão como fiscalizadora do poder político, o “cão de guarda” das instituições democráticas: papel saliente na editoria política e nos textos institucionais de opinião, já que temas políticos são predominantes nestas páginas, dada a sua relevância para o campo social. No caso dos editoriais sobre corrupção da classe política, o papel fica ainda mais evidente, visto que a corrupção, por definição, é uma infração que agride aos valores democráticos e ao interesse coletivo da comunidade e, portanto, é tratada sob o viés da responsabilidade social do Jornalismo na discussão de temas sociais (ARAÚJO, JORGE, 2015). Se posicionar de forma combativa em relação à corrupção é uma maneira de defender o interesse público e, concomitantemente, se legitimar, construindo a própria imagem pública da instituição de imprensa. “Ali [nos editoriais], o jornalismo é instituição e discurso, agente legitimador e campo a ser legitimado” (GUERREIRO NETO, 2013). Os editoriais colaboram para a imagem pública do próprio jornal, a medida que se posiciona sobre determinadas agendas, defende outras, ataca conceitos e projetos, atua politicamente e legitima o jornalismo (MONT’ALVERNE, MARQUES, 2015; GUERREIRO NETO, 2013). O jornal estabelece, ao mesmo tempo, um contrato de leitura com sua audiência, dialoga com o campo político, formata sua imagem e transmite sua linha editorial à redação (MARQUES; MONT’ALVERNE; MITOZO, no prelo). Estratégias metodológicas Tendo em vista o cenário político brevemente apresentado na introdução e considerando a literatura que versa sobre o objeto, desenha-se a seguinte hipótese: H1: sendo os jornais atores políticos com interesses próprios e partes interessadas no jogo político, o discurso editorial acerca da corrupção e, em especial, sobre a Lava Jato, tende a ser mais ou menos combativo a depender do grupo político acusado; assim, a depender da parte envolvida na investigação, o jornal pode ser Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 131 enfático na cobrança por punição, presumindo a criminalidade ou, minimizar as suspeitas, relativizando o delito. Compõem o corpus empírico editoriais da Gazeta do Povo (GP) (n=10) e Folha de S. Paulo (FSP) (n=18) que mencionaram o termo “Lava Jato”(LJ), publicados entre os meses de março e junho de 2016, período que inclui as semanas que antecederam a mudança de governo, os dias de transição e o primeiro mês de exercício do governo interino. O jornal paranaense publica um editorial por dia, já o jornal de circulação nacional publica dois editoriais por dia, o que implica em uma probabilidade maior de ocorrência do tema. A coleta do material foi realizada no website de cada veículo e as páginas foram salvas em formato PDF6. O recurso utilizado é a Análise do Discurso (AD), que propõe uma reflexão sobre as condições de produção do texto, buscando compreender a formação social de sentido. Tal proposta teórico-metodológica “ultrapassa o status de simples técnica de análise para compor um campo do conhecimento” e analisa as condições de produção do texto em seu contexto histórico-ideológico (CAPPELLE, MELO, GONÇALVES, 2003). Consideram-se as teorias do jornalismo como ponto de partida para compreensão do texto jornalístico como discurso (BENETTI, 2008). Foi adotada como estratégia principal a identificação das formações discursivas (também denominadas sentidos nucleares) mais recorrentes, isto é “os elementos do texto que de algum modo propõe uma forma de interpretar os fatos” (CARVALHO, 2013). Essas formações discursivas (FD) ou núcleos de sentido são assimiladas a partir da percepção de um “movimento de paráfrase, isto é, a repetição e o reforço do mesmo sentido, através das sequências discursivas ao longo do(s) texto(s)” (PINHEIRO, 2013). Os trechos a serem recortados para análise e utilizados no relato da pesquisa são chamados de sequências discursivas (SDs), que correspondem aos fragmentos do texto que reforçam e exemplificam a adesão à determinada FD. Foram identificadas as principais questões enfatizadas pelos jornais separadamente. Após o levantamento particular de cada jornal, foram comparadas as formações discursivas da GP e da FSP, destacando similaridades e contrastes. A seguir, apresentam-se as principais Formações Discursivas e parte das respectivas Sequências 6 A íntegra dos textos analisados é fornecida mediante solicitação à autora. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 132 Discursivas (SD)7. A ordem de apresentação reflete o grau de recorrência, sendo a FD1 mais frequente que FD2. Análise dos dados e resultados Gazeta do Povo FD1: A ofensiva política contra a Lava Jato Segundo a GP, há uma série de tentativas da classe política para conter o avanço da Lava Jato, sendo que o Partido dos Trabalhadores (PT) e o poder legislativo aparecem como protagonistas desse processo. Esta é a FD mais recorrente nos textos do jornal Gazeta do Povo e que já indica a defesa aberta que o periódico faz da Operação, bem como crítica severa que tece a atores políticos ligados ao partido que na ocasião ocupava o governo federal e protagonizava as acusações da Operação Lava Jato. Assim, a Gazeta do Povo se mune do discurso de combate à corrupção para construir um discurso de deslegitimação do governo de Dilma Rousseff (PT). Este discurso de combate à corrupção também está relacionado ao próprio discurso de autolegitimação do Jornalismo, enquanto atividade social apta a fiscalizar os poderes e defender os interesses coletivos (GOMES, 2009). 7 Por uma limitação de espaço, foram excluídas algumas SDs e mantiveram-se outras para fins de ilustração. A íntegra da análise pode ser fornecida mediante solicitação à autora. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 133 Sequência Discursiva SD1: “Dilma teria tentado interferir no andamento da Lava Jato em pelo menos três ocasiões” SD4: “Qual seria a melhor estratégia para um governo acuado pela Operação Lava Jato e interessado em jogar água na fervura das investigações que chegaram ao centro do poder petista?” SD6: “Se Aragão estiver realmente disposto a minar a Lava Jato, a sociedade precisa reagir com a mesma força que demonstrou após a tentativa de levar Lula para o ministério” SD7: “Daí advêm os sinais, cada vez mais frequentes, de que há o ânimo, ainda que inconfessado e subterrâneo, de um grupo de peemedebistas investigados de tentar esvaziar a Operação” SD8: “todas as tentativas de interferência saíram fracassadas e com um alto preço pago por boa parte dos envolvidos” SD9: “Se algum risco existe, ele está não no âmbito do Poder Executivo, mas no Poder Legislativo” Editorial E01: Acusações explosivas E03: Aragão parte para o ataque E05: Proteção incondicional à Lava Jato E06: Contra a corrupção SD10: “Não por acaso ameaças semelhantes começam a emergir das sombras do Congresso Nacional. É emblemática a divulgação nesta semana da conversa gravada pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado...” SD13: “O primeiro front consiste em acabar com a Lava Jato propriamente dita, ou pelo menos burlá-la onde for possível. Tais movimentações vêm desde o governo Dilma” SD14: “... Mas as gravações de Sérgio Machado mostram que a intenção não era E07: A trama contra a Lav apenas blindar os atuais investigados, e sim garantir que os corruptos fiquem longe do alcance de futuras operações, com alterações na legislação que dificultassem o combate à ladroagem” SD15: “dado o clima de conspiração contra a Lava Jato que predomina em Brasília, a sociedade vai precisar ficar bastante atenta...” E08: A Câmara e o SD16: “A intenção de, por meio da atividade legislativa, minar a Lava Jato e combate à corrupção outras operações de combate aos crimes de agentes públicos ficou evidente nas gravações...” SD17: “O que não se pode admitir é qualquer “operação abafa” ” E09: Temer e o delator (Tabela 1: FD1) FD2: PT, o inimigo número 1 Associada à FD1, a FD2 destaca que os editoriais da GP tratam o Partido dos Trabalhadores, seus representantes e o governo federal como protagonistas do esquema de corrupção investigado pela LJ e, portanto, antagônicos à LJ. Essa postura adversarial Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 134 coloca o PT numa posição negativa e vilã, que trabalharia constantemente para perpetuação da corrupção e uso da máquina pública para fins privados. Sequência Discursiva Editorial SD20: ““vazamento”, expressão que o petismo vem usando na tentativa de criminalizar a difusão dos áudios...” E02: A lei está do lado SD21: “Dentro da legalidade, tomar uma atitude como a da quarta-feira é mérito, de Moro dado o golpe que o PT vinha tramando para blindar seu investigado mais célebre” SD23: “Qual seria a melhor estratégia para um governo acuado pela Operação Lava Jato e interessado em jogar água na fervura das investigações que chegaram ao centro do poder petista?” SD24: “uma das convicções mais arraigadas do petismo é a de que os órgãos de Estado estão a serviço do partido” SD25: “graças à pressão do ex-presidente Lula, para quem era obrigação de Cardozo domesticar a Polícia Federal para que a Lava Jato não incomodasse o chefão petista...” SD27: “mais uma vez a máquina estatal está sendo colocada a serviço de Lula” SD28: “têm como principal objetivo protelar indefinidamente a constatação definitiva de que houve desvio de finalidade na tentativa de levar Lula para a Casa Civil” SD 29: “estrutura do governo foi colocada, de uma ou outra forma, a serviço do projeto petista” E03: Aragão parte para o ataque E04: Vale tudo para blindar Lula SD 30: “Bernardo não é o primeiro ex-Ministro petista preso em decorrência das investigações iniciadas com a Lava Jato. Mas José Dirceu já estava fora do governo quando a fonte do mensalão secou e o PT resolveu buscar outros meios E10: A prisão de Paulo de abastecer seus cofres. Ele representa, podemos dizer, a dimensão “partidária” Bernardo do esquema. Já a investigação no âmbito daqueles que operavam de dentro do governo havia pego, no máximo, diretores e gerentes de estatais; quando surgem denúncias, acusações e indícios que envolvem até mesmo alguém que agia na qualidade de ministro de Estado, a situação muda de patamar” (Tabela 2: FD2) FD3: A competência de Sérgio Moro O juiz federal Sérgio Moro8, que conduz a Operação de Curitiba, adquiriu destaque como figura capaz de promover o combate à corrupção. Nos editoriais da GP, o magistrado é admirado, tendo, inclusive, textos exclusivamente dedicados à sua 8 Juiz da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, Sérgio Moro ganhou visibilidade pela atuação no julgamento da Operação Lava Jato. Sua trajetória passa por casos expressivos de combate à corrupção. Atuou na Operação Banestado, em 2010 (escândalo do Banco do Estado do Paraná na década de 1990) e foi juiz instrutor do Supremo Tribunal Federal (STF) durante julgamento do caso Mensalão (caso mais expressivo durante governo Lula, PT) Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 135 defesa, em contraposição à imagem do ex-presidente Lula. Há uma veneração quase heroína à personalidade. Essa personificação e contraposição maniqueísta entre culpados e inocentes, com ampla exploração da imagem dos indivíduos é prevista na literatura que trata da cobertura noticiosa da corrupção e que, na presente análise, se repete nos textos editoriais (ARAÚJO, JORGE, 2015). Sequência Discursiva SD31: “Sergio Moro agiu estritamente dentro de suas prerrogativas e do que prescreve o processo penal ao divulgar o conteúdo das gravações de Lula” SD 32: “desmoralizar o juiz federal Sergio Moro já era uma estratégia dos investigados da Lava Jato havia um bom tempo” SD33: “O que uns chamam de oportunismo nós chamaríamos de coragem. Impossível saber a intenção do magistrado, mas, se realmente Moro agiu guiado pelo senso de oportunidade, só podemos dar-lhe os parabéns. Dentro da legalidade, tomar uma atitude como a da quarta-feira é mérito” SD34: “Moro arriscou todas as fichas ao fazer o que fez? É possível. Mas agiu consciente da legalidade de sua decisão. O Brasil agradece.” SD35: “Estamos convencidos da legalidade das ações do juiz federal, e por isso só nos resta esperar que o ministro, ao fim, tome a decisão correta e reconheça a lisura com que Moro tem conduzido a Lava Jato.” SD36: “Sergio Moro, cuja caneta foi a principal responsável por ter mostrado o lado avesso da prática política nacional, que não poupou os maiores notáveis do poder encrustados no governo e nas grandes empreiteiras cúmplices. Bom lembrar: até agora, menos de 4% das decisões de Moro foram reformadas por instâncias superiores” (Tabela 3: FD3) Editorial E02: A lei está do lado de Moro E04: Vale tudo para blindar Lula E05: Proteção incondicional à Lava Jato FD4: A Operação legítima e defensável A defesa da Lava Jato é clara: a GP acusa quem investe contra a Operação, reafirma a relevância da investigação para o país e sentencia: quem está contra a Lava Jato está a favor da corrupção e da impunidade. Para a GP, o apoio popular é unânime, o que realça o reforço da autolegitimação do jornal, que reivindica para si o papel de porta-voz da Opinião Pública. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 136 Sequência Discursiva Editorial SD37: “As evidências parecem comprovar, a cada dia, que a Lava Jato ainda tem muito a fazer. O trabalho de limpeza ética, ao que tudo indica, está longe de ser E05: Proteção concluído” incondicional à Lava SD38: “Vem daí o risco de esvaziamento da operação já que popular e Jato politicamente se tornou completamente inviável investir frontalmente contra ela” SD39: “...todas as tentativas de interferência saíram fracassadas e com um alto preço pago por boa parte dos envolvidos” SD40: “A Operação Lava Jato e os efeitos dela decorrentes precisam ser E06: Contra a corrupção encarados pelos parlamentares da mesma forma como o são pela sociedade: um momento de ruptura que abre a oportunidade para a transformação do ambiente político brasileiro” SD41: “Saber que o trabalho exemplar realizado no Paraná encontra ecos pelo E10: A prisão de Paulo país é um conforto – a não ser, claro, para quem contava com a impunidade” Bernardo (Tabela 4: FD4) FD5: População deve agir e reagir Para evitar obstáculos (alarmados em FD1) que impeçam o sucesso da Lava Jato na instalação de um novo ambiente político, a GP orienta a população permanecer vigilante, o que segue a lógica de defesa do interesse público. Sequência Discursiva SD42: “Se Aragão estiver realmente disposto a minar a Lava Jato, a sociedade precisa reagir com a mesma força...” SD43: “Essa oportunidade precisar ser aproveitada. E a sociedade pode ser a indutora desse processo de mudança, se, da mesma forma que vem demonstrando seu apoio à Lava Jato, encampar uma mobilização mais ampla para aprovar esses projetos contra a corrupção” SD44: “Este é um controle que só pode ser feito pela população, para que não aconteça aqui o que houve na Itália. Atenção máxima aos projetos de lei que lidam com o combate à roubalheira, apoio a iniciativas como as Dez Medidas Contra a Corrupção e pressão popular, inclusive nas ruas, são o melhor jeito de impedir que os corruptos levem a melhor, no curto ou no longo prazo” Editorial E03: Aragão parte para o ataque E06: Contra a corrupção E07: A trama contra a Lava Jato SD45: “... a sociedade vai precisar ficar bastante atenta à tramitação do projeto” SD46: “...é necessária a mais absoluta vigilância neste momento” E08: A Câmara e o SD47:“A mobilização da sociedade para aprovar as Dez Medidas Contra a combate à corrupção Corrupção é uma tarefa que, se levada a cabo, vai contribuir para transformar o ambiente político” (Tabela 5: FD5) Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 137 FD6: Temer não deve temer Embora o jornal se coloque na defesa do interesse público, é curioso notar que na transição de governo, o descrédito do PT se converte em voto de confiança a gestão Temer - que não representa a lisura outrora requerida. Os editoriais dão uma chance ao PMDB e cobram firmeza. Essa variação de discurso a depender do ator político – já que ambos acumulam acusações – deixa transparecer preferências particulares do jornal. Sequência Discursiva SD48: “... o presidente precisa ser mais enfático. Temer tem que estar atento para assegurar que as garantias que deu sejam cumpridas e, até mesmo, se necessário, atuar para a blindagem do trabalho dos envolvidos na operação.” SD49: “toda a atenção de Temer é necessária para que, além da “salvação nacional” de que falou em seu discurso de posse, permaneça assegurada a continuidade da atuação implacável da Lava Jato” SD50: “Apesar de declarar apoio público à Lava Jato, o governo não deu a mínima atenção até agora a esse relevante conjunto de medidas” SD51: “Por isso, se Temer não quiser repetir Dilma, interrompendo ainda no início um esforço que pode ser fundamental para o país, terá de sanear sua equipe, livrando-a de quaisquer elementos suspeitos” (Tabela 6: FD6) Editorial E05: Proteção incondicional à Lava Jato E08: A Câmara e o combate à corrupção E09: Temer e o de-lator Folha de S. Paulo FD1 – A crise política e a corrupção são maiores que o PT No caso da FSP, a formação discursiva mais recorrente diz respeito à afirmação de que a Operação Lava Jato expõe uma fragilidade de todo sistema político brasileiro e não apenas do PT. Segundo a FSP, a corrupção transcende as bandeiras partidárias – o que indica não somente que o PT não é o único responsável, como também dá alguma margem para a defesa da credibilidade da equipe jurídica e técnica da Operação. Para a FSP, o fato da LJ atingir diversos grupos políticos é argumento que sustenta a ideia de que é uma força a favor do interesse público do Brasil e não de um determinado grupo. Essa postura também corrobora para a linha editorial do jornal, que se apresenta como apartidário e plural. Assim, é coerente que busque atacar a corrupção e não se limitar a crítica de um grupo político isolado. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 138 Sequência Discursiva Editorial SD1: “...todo o sistema político brasileiro se vê comprometido pela ilegalidade e E04:Lista explosiva pela drenagem do dinheiro público através de contratos de obras públicas” SD2: “São tantos os desdobramentos da Lava Jato que o campo do improvável e do remoto parece redefinir-se a cada dia. (...) uma crise que, provavelmente, um impeachment não conseguirá interromper” SD3: “Delações que envolvem o vice-presidente indicam que a crise deflagrada pela Operação Lava Jato não se encerrará facilmente” SD4: “Há muito a investigar, sem dúvida, também no campo da oposição: de Aécio Neves (PSDB-MG) a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são muitas as figuras estranhas ao petismo que se encontram igualmente sob a mira de Janot. Do ponto de vista da opinião pública, todavia, pode-se dizer que não só o esquema petista, mas todo um modelo multipartidário de corrupção e financiamento político já está exposto, desmoralizado e agonizante, à luz do dia” (Tabela 7: FD1) E05:Crise ininterrupta E06: Sombras Temer sobre 7 E07: O começo e o fim FD2 - Governo Temer é sustentado por personagens sem reputação Seguindo a lógica da FD anterior, é recorrente o questionamento da Folha acerca da idoneidade do governo Temer. O fato deste acolher nomes investigados pela Operação desmoraliza a recente administração. Por essa razão, enquanto a GP militou pelo impeachment, a FSP defendia a renúncia da chapa. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 139 Sequência Discursiva Editorial SD5: “Ainda que nenhuma dessas suspeitas se confirme, é inegável que um eventual governo Temer, por mais desafogo que confira ao ambiente econômico, E06: Sombras sobre estará longe de representar a solução para a crise” Temer SD6:“Talvez Temer se sinta tentado a interferir no rumo das investigações, bloqueando eventual fonte de deslegitimação.” SD7:“A presença de personagens envolvidos em maior ou menor grau nas investigações da Operação Lava Jato sinalizou que a busca de imediata sustentação no Congresso superou, por parte de Temer, as preocupações com a E09: Concessões regeneração ética do Executivo” demais SD8: “No campo da ética e da credibilidade, entretanto, o novo governo parece estar fabricando as armadilhas e os escândalos com que irá se defrontar num futuro próximo” SD9: “Era impossível amenizar o conteúdo de suas conversas com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras)” SD10: “ Tendo chegado ao poder por caminhos tortuosos, embora dentro da lei, e após protestos nas ruas, o governo do presidente interino Michel Temer precisa dedicar especial atenção ao caso da mulher de César—que, além de ser honesta, deveria apresentar-se acima de qualquer suspeita” SD11: “Alves não é o primeiro nem o segundo ministro a deixar o governo Temer em meio a circunstâncias desabonadoras ou escandalosas , mas o terceiro...” SD12: “...tudo o que Temer faz no Palácio do Planalto é administrar o escândalo de hoje apenas para enfrentar o de amanhã” E10: Primeira Crise E13: A cada novo escândalo (Tabela 8: FD2) FD3 - A Lava Jato é indispensável e não pode ser contida Associada a FD1, a FD3 reitera que a LJ não pode parar. Os editoriais tecem elogios à Operação sem economia de adjetivações e rejeitam qualquer tentativa de interrompê-la ou reduzi-la, com a convicção de que está de acordo com o interesse dos brasileiros. Esse discurso também dialoga com o papel social do Jornalismo, reivindicando a função defensora da sociedade e, portanto, adversarial em relação à Política. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 140 Sequência Discursiva SD13: “Tornam-se mais próximos, contudo, os riscos de que a própria Operação Lava Jato venha a conhecer novos obstáculos. Seja pelo excesso de ramificações, seja pela pressão, agora multilateral, de variados atores, a paralisia ou o abafamento das investigações passa a ser uma possibilidade—que cumpre repudiar com ênfase” SD14: “Que não se interrompam. Não importa o partido, o nome ou o cargo dos que venham a soçobrar neste processo. É a democracia brasileira que, passada a crise, precisa reemergir mais forte” SD15:“...o apoio à Lava Jato assumiu tal força que qualquer intromissão indevida corresponderia a um suicídio político” SD16:“É verdade: como já ficou claro, as instituições responsáveis pela Lava Jato têm funcionado com a necessária independência, e o tal pacto talvez não passasse de ilusão” SD17: “A experiência da Operação Mãos Limpas, na Itália, mostra com eloquência a dedicação dos políticos quando se trata de interromper tudo o que desvele suas práticas corruptas. A sociedade brasileira está atenta, contudo...” SD18: “O desenrolar da Operação Lava Jato (...) torna possível, de forma inédita no país, que medidas judiciais extremas sejam encetadas contra pessoas que, pelo hábito do privilégio e pelo amplo poder de influência, se imaginavam protegidas pela permanente impunidade” SD19:“A Lava Jato continuará até o fim, sem prazo para acabar, e os eleitores jamais perdoarão quem pretender encerrá-la” SD20: “Longe de declinar, ímpeto da Operação Lava Jato se renova e se espraia em ações anticorrupção por todo o país, como deve ser” SD21: “Tudo indica que não há fim à vista para a Lava Jato e seus desdobramentos—e é exatamente isto que se deseja do inédito desvelamento de práticas generalizadas de assalto a cofres públicos perpetradas por políticos de todos os matizes” SD22: “Para sorte de todos os brasileiros que desejam um país melhor, a Operação Lava Jato alterou o paradigma de combate à corrupção” Editorial E04:Lista explosiva E06: Sombras sobre Temer E10: Primeira Crise E11: Preparando o concerto E12: Falta explicar E15: À espera da autocrítica E16: Sem fim à vista E18: Cuidar das SD23: “Como seria de esperar, forças poderosas mostram-se dispostas a pôr freio delações nas operações” (Tabela 9: FD3) FD4 - O PT deve explicações Embora compreenda que o PT não é o único culpado, a FSP o trata como protagonista do caso e, por isso, cobra medidas adicionais. Não é o mesmo que a GP faz, já que a crítica é unânime e pode-se supor que a evidência ao PT se deva, justamente, pelo cargo ocupado naquele momento. Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 141 Sequência Discursiva SD24:“A condução coercitiva do ex-presidente Lula (...) teve o efeito de reiterar a amplitude e o peso das suspeitas que o cercam. Ganha ímpeto a impressão de que o sistema de favorecimentos e negócios construído pelo poder petista se apressa no rumo do colapso” SD25: “Abriu-se, entretanto, a oportunidade para que Lula pudesse reforçar, com renovado calor e reanimada audiência, o discurso da vitimização (...) silenciando, obviamente, sobre os casos concretos que lhe caberia explicar. A retórica lulista nunca soou tão inconvincente, e inadequada, como agora” SD27: “Será a palavra “cumplicidade” forte demais para aplicar a uma presidente da República e a um ex-presidente que se afobam em arranjar artifício desesperado para manter a corrupção impune, a Justiça paralisada e o privilégio intacto? A dupla superou, com certeza, tudo o que já se tinha visto no PT e arredores em matéria de cinismo, de imprudência e provocação” SD28: “É como se o laborioso e complexo edifício de desvios e irregularidades construído pelo PT desde os tempos do mensalão fosse enfim atingido em sua principal estrutura de sustentação” SD29: “...que o partido precisa reconhecer seus erros . Atitudes desse gênero são raras numa agremiação que se perdeu nos próprios labirintos e somente agora começa a abandonar sua empáfia” SD30:“Repetida em nota oficial, a habitual alegação de que está em curso uma tentativa de criminalizar o PT fica menos convincente do que nunca” Editorial E01: Vitimização E03: É o fim E07: O começo e o fim E15: A espera autocrítica da E16: Sem fim à vista (Tabela 10: FD4) O discurso de ambos os jornais analisados corrobora com a literatura no esforço em se utilizar deste espaço como lugar de legitimação do Jornalismo e formatação da própria imagem pública da empresa midiática (GUERREIRO NETO, 2013; MONT’ALVERNE, MARQUES, 2014). Levando em conta a temática da corrupção, é saliente a tentativa de exercício do papel fiscalizador e comprometido com o interesse público. A variação de posicionamento da Gazeta do Povo, radical em suas cobranças ao governo petista e mais compreensiva em relação ao peemedebista, embora ambos sejam investigados pela LJ, confirma a hipótese de pesquisa sobre a variação de discurso a depender do grupo acusado. O que a GP deixa transparecer é que acima do combate à corrupção está seu posicionamento anti-PT, que é justificado neste momento de crise pela corrupção e pelo cenário econômico. Pode-se concluir que, a despeito do esforço da agenda petista contra a corrupção, a fragilidade da sigla frente a antipatias somadas à culpa pelo envolvimento em recorrentes casos de corrupção, conduziram o governo à Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 142 uma deslegitimação grave (AVRITZER, 2016). Tal variação não é encontrada nos textos da Folha. Considerações finais O artigo buscou apresentar uma breve discussão teórica acerca do desempenho dos editoriais jornalísticos como ferramenta de atuação política dos jornais e propôs uma análise a partir de dois jornais brasileiros, com especial enfoque à temática da corrupção. Os editoriais da Gazeta do Povo e da Folha de S. Paulo, do período analisado, consideram a Lava Jato uma oportunidade rara de mudança do ambiente político brasileiro, tecendo constantes elogios, seja pela firmeza (GP), seja pela imparcialidade das investigações (FSP). A Folha de S. Paulo realça que as acusações e investigações transcendem a então cúpula do Governo Federal e envolve outros partidos políticos, incluindo o PMDB do então vice-presidente Michel Temer. Já a GP exalta o processo de impedimento e deposita uma confiança adicional no governo interino, já que, para a GP o PT é o vilão. A Folha associa a Operação Lava Jato ao processo de impeachment, sugerindo que Temer não teria condições de assumir por ser tão suspeito quanto à petista. Semelhante à Gazeta do Povo, a Folha de S. Paulo defende a continuidade da Operação Lava Jato, mas é menos enfática nas preocupações acerca de sua interrupção – o que a GP insiste em alertar como uma ameaça constante. De forma similar, porém, a FSP frisa que a força da operação frente à Opinião Pública é notória e irreversível. Na GP, no contexto pós-impeachment, Temer se torna mais presente nos textos, sendo reivindicado para garantir o triunfo da LJ. A FSP é mais cautelosa em relação a Temer e questiona, constantemente, sua conduta moral. Destaca-se, que a GP tende a minimizar fatos relativos a escândalos envolvendo Temer e a cúpula do PMDB, enquanto que a Folha questiona ambos. Desta forma, notou-se que a hipótese sobre a mudança de discurso a depender do grupo político acusado só se verifica com clareza nos textos da Gazeta do Povo. Por fim, os textos analisados realçam como os jornais agem como ator político, especialmente nos editoriais, interferindo no debate público, propondo determinadas Ano XIII, n. 08. Agosto/2017. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 143 posições e saídas para o cenário político – o que ficou evidenciado durante o processo de impeachment, quando a GP sugeriu veementemente a saída de Dilma e a FSP pediu a renúncia da chapa. Deste modo, ao tratar da LJ em seus editoriais, a linha editorial adotada promove uma negativa de determinados atores políticos, mas, em contrapartida, engrandece outros. Referências ARAÚJO, B.B; JORGE, Thaís. Discurso jornalístico e corrupção política: a construção de uma cobertura legalista e personificada em Veja e CartaCapital. 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