DOI: 10.17666/bib8506/2018
Ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura: uma análise dos
papers apresentados no grupo de trabalho da Anpocs1
Rafael Cardoso Sampaio2
Isabele Mitozo3
Michele Goulart Massuchin4
Giulia Sbaraini Fontes5
Cláudio Luis de Camargo Penteado6
Introdução
A internet nasce do improvável encontro entre o projeto militar de comunicação (Arpanet), a inserção da big science
no desenvolvimento de tecnologias de informação e a cultura libertária californiana
(CASTELLS, 2003). Segundo o sociólogo
catalão, a junção desses três movimentos com
perfis diferenciados criou condições econômicas, tecnológicas e culturais para a formação
de uma nova estrutura comunicacional, com
o uso de microprocessadores e estruturada na
forma de rede distribuída, que vem provocando profundas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. Por sua vez, a internet
comercial surge em meados dos anos 1980,
enquanto a world wide web é de meados dos
anos 1990 e rapidamente se torna a tecnologia
de comunicação e informação (TIC) com a
mais rápida expansão da história humana7.
1
2
3
4
5
6
7
Mesmo que ainda exista uma grande parcela da população mundial sem acesso à internet, os efeitos e as transformações do uso dessa
tecnologia já se impõem diretamente para
quase toda a população mundial, mesmo que
de forma indireta. A arquitetura distribuída, o
desenvolvimento de processos colaborativos e
a interatividade entre os usuários possibilitam a
emergência de novas relações, tecidas de forma
horizontal nesse meio. Emerge um novo modelo de reestruturação da produção, organizado
em rede e de acordo com o uso crescente das
TICs, em que a informação assume o papel de
matéria-prima na constituição da Sociedade
em Rede (Idem, 1999).
Nesse contexto, boa parte das questões iniciais sobre essa aproximação, do ponto de vista
político, se deram na perspectiva de responder
o que a internet pode fazer pela democracia,
recebendo tanto respostas bastante céticas quanto entusiasmadas sobre os potenciais dos então
Uma versão prévia deste artigo foi apresentada no Grupo de Trabalho Ciberpolítica, Cibercultura e Ciberativismo,
durante o 41º Encontro Anual da Anpocs, em Caxambu, entre os dias 23 e 27 de outubro de 2017. Os autores e as
autoras agradecem as sugestões dos participantes do GT. Parte da pesquisa foi realizada com apoio do Laboratório
de Análise do Campo Científico da Universidade Federal do Paraná (LaCC-UFPR).
Professor do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: cardososampaio@gmail.com
Pesquisadora em estágio pós-doutoral no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.
DD/Brasil). Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: ibmitozo@gmail.com
Professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (Ufma). E-mail: mimassuchin@gmail.com
Doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Ciência Política pela
mesma instituição. E-mail: giuliasfontes@gmail.com
Professor Associado da Universidade Federal do ABC (UFABC). E-mail: claudio.penteado@ufabc.edu.br
Em 2001, 8% da população mundial tinha acesso à rede mundial de computadores; já são 45,9% da população em
2016, segundo dados do Telecommunication Development Sector (ITU-D). No Brasil, o número de usuários já passa
da metade da população, atingindo 58% dos cidadãos e representando 102 milhões de internautas (CGI. br, 2018).
BIB, São Paulo, n. 85, 1/2018 (publicada em julho de 2018), pp. 126-147.
126
novos meios de comunicação e informação.
O efeito das tecnologias eletrônicas e digitais
sobre as atividades políticas, sociais e culturais
se configura como preocupação relativamente
antiga nas ciências humanas e sociais.
Conforme estudo realizado por
Gomes (2016), a atenção acadêmica para as
relações entre os meios digitais e as práticas
políticas já é consolidada, havendo mais de
4 mil estudos em quase 25 anos de existência das
TICs, com o estabelecimento de ao menos três
grandes áreas de estudo: e-política, democracia
digital e Estado digital, com as práticas sociais
ganhando proeminência no primeiro eixo.
Em relação ao Brasil, o estudo de Sampaio,
Bragatto e Nicolás (2016) analisa 526 artigos
publicados nos registros dos principais eventos
acadêmicos de comunicação e de ciências sociais
no país, no período de 2000 a 2014, demonstrando que aquelas subáreas estão também consolidadas na pesquisa nacional. Por outro lado,
há uma concentração de artigos apresentados em
eventos de comunicação e por pesquisadores/as
dessa área (45,6%), enquanto pesquisadores/as
dos programas de pós-graduação das áreas de
ciências sociais em conjunto (ciências sociais,
ciência política e sociologia) representam 29,4%
da produção analisada. Dessa maneira, considerando a consolidação do grupo de trabalho (GT)
Ciberpolítica, Ciberativismo e Cibercultura
na Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), criado
em 2010 e mantido de forma ininterrupta até
então, é nosso objetivo investigar exclusivamente
os trabalhos apresentados nesse espaço, compreendendo-o como uma pequena amostra do
interesse acadêmico pelo tema e da relevância
deste para as ciências sociais.
Desse modo, o artigo se divide em cinco
seções. A primeira delas apresenta um panorama da consolidação das pesquisas em
cibercultura e ciberpolítica no país, dando
destaque para a criação de grupos de trabalho
em eventos acadêmicos de comunicação e de
ciências sociais e para a consolidação do campo
de pesquisa. Mais adiante, apresentam-se os
procedimentos metodológicos adotados. A terceira seção consiste na análise dos dados obtidos, que é seguida da discussão dos resultados.
Por fim, apresentam-se algumas considerações
sobre a investigação, abrindo espaços para
pesquisas mais abrangentes sobre a incidência
dos trabalhos acerca da temática em tela em
outros eventos nacionais.
Internet, política e cibercultura:
a consolidação de uma nova
área de pesquisas
A área de pesquisa em ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura se caracteriza pela interdisciplinaridade e pelas constantes inovações
tecnológicas, que se refletem na dinâmica do
objeto e dos métodos de pesquisa. Situada em
zonas de fronteira entre a comunicação e as
ciências sociais, com aportes e diálogos com
outras áreas do conhecimento (administração,
ciência da informação, ciência da computação, direito, filosofia, psicologia, etc.), cria-se
uma área aberta para contribuições de saberes
provenientes de diferentes áreas. As rápidas
transformações das TICs levam ao surgimento
de novas agendas que visam estudar as mudanças inseridas pelas inovações tecnológicas,
desafiando pesquisadores e pesquisadoras com
novos problemas, assim como trazendo novas
técnicas para a investigação científica.
Os primeiros estudos acadêmicos voltados
para a área ocorrem no campo da cibercultura,
no qual pesquisadores/as, geralmente de comunicação, começam a estudar a emergência
de novas práticas culturais que se estabelecem
pelo uso e pela interação com as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs). Segundo
Amaral e Montardo (2012), o termo cibercultura é popularizado entre a metade dos
anos 1980 e início dos anos 1990, e chega
ao Brasil em torno de 1996 por meio dos
127
textos de André Lemos e Eugênio Trivinho.
A título de exemplo, a tradução do influente
livro Cibercultura, de Pierre Lévy, seria lançada
em 1999 no Brasil, enquanto André Lemos
lançaria o livro Cibercultura: tecnologia e vida
social na cultura contemporânea em 2002, marcando em definitivo tal área de estudos no país.
Segundo Lévy (1999, p. 17), “cibercultura
especifica o conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos
de pensamento e de valores que se desenvolvem
juntamente com o crescimento do ciberespaço”.
Ou seja, análises e reflexões acerca dos impactos
das tecnologias digitais e móveis em “hábitos
sociais, práticas de consumo cultural, ritmos de
produção e distribuição da informação, [criam]
novas formas de sociabilidade de comunicação
social” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 22).
Para Lemos e Lévy (Ibid.), a cibercultura
estaria assentada em três princípios fundamentais. O tripé seria composto de: (a) liberação do
polo de emissão ou da palavra, ou seja, as múltiplas possibilidades geradas pelos meios digitais
para as pessoas passarem a emitir suas próprias
informações ao invés de apenas serem expectadoras das mídias massivas, o que impactaria na
emergência de novas formas de comunicação
e de veiculação da opinião pública; (b) princípio da inteligência coletiva, segundo o qual
a interconexão planetária aliada à liberação da
emissão permitiria o estabelecimento de sinergia
entre competências, recursos e projetos que
envolvessem a ativação de modos de cooperação
flexíveis e transversais, permitindo a criação de
um conhecimento coletivo cujo alcance não
seria possível individualmente; e (c) reconfiguração social, cultural e política, que é impactada
pelos dois princípios anteriores e baseada em
funções pós-massivas da comunicação. O “sistema pós-massivo permite a personalização,
o debate não mediado, a conversação livre, a
desterritorialização planetária” (Ibid., p. 26).
Na área de comunicação, a cibercultura seria institucionalizada com a criação de
128
grupos de trabalho específicos nos principais
eventos da área, nomeadamente promovidos pela Associação Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
e pela Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação (Compós),
e com a criação de linhas de pesquisa em programas de pós-graduação, como foi o caso
do PPGCOM da Universidade Federal da
Bahia. Houve, ainda, a publicação da coletânea
Cibercultura pela editora Sulina, que passou
a editar compilações e livros autorais sobre o
tema, incluindo as duas obras citadas anteriormente (AMARAL; MONTARDO, 2012).
A institucionalização culminaria na criação, em 2006, da Associação Brasileira de
Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber),
que passou a realizar eventos anualmente com
uma série de temáticas dentro do assunto, diversas delas próximas aos objetos da interface
“internet e política”. Até 2017, dez encontros
anuais haviam sido realizados.
Como uma área de estudos bastante
abrangente, a cibercultura realizou parte das
primeiras reflexões acerca dos impactos dos
novos meios de comunicação e informação
sobre cultura, sociabilidade e política, desenvolvendo pesquisas ligadas às inovações tecnológicas e suas apropriações por cidadãos usuários. Foram estabelecidas, assim, intersecções
não apenas com outras áreas da comunicação,
como o jornalismo (i.e., ciberjornalismo),
mas também com as ciências sociais, como as
reflexões acerca do impacto do digital sobre
formas de ação coletiva (i.e., ciberativismo)
ou mesmo sobre técnicas de pesquisa antropológica (p.ex., netnografia).
Paralelamente a isso, podemos falar da
subárea “internet e política” ou ciberpolítica.
Diferentemente do campo da cibercultura,
ela surgiria como um subcampo de estudos de
comunicação e política e, consequentemente,
como uma área interdisciplinar entre a comunicação social e a ciência política. Segundo
Miguel e Biroli (2010), o interesse nas relações entre mídia e política estaria centrado
em quatro pontos: (1) a mídia se tornou o
principal instrumento de contato entre a elite
política e os cidadãos comuns; (2) a mídia é a
principal responsável pela produção da agenda
pública, o que levou (3) o discurso político a
se transformar, adaptando-se às formas preferidas pelos meios de comunicação de massa; e
(4) candidatos a posições de destaque político
têm de adotar uma preocupação central com a
gestão de suas visibilidades e imagens públicas.
A esse respeito também são elucidativos os
estudos de Gomes (2004) e Weber (2009).
Essa mudança apontava certa substituição
dos partidos políticos pelos meios de comunicação de massa como intermediadores entre
cidadãos e políticos em situações como: (a) definir a agenda dos temas relevantes para a discussão na esfera pública; (b) gerar e transmitir
informações políticas; (c) fiscalizar a ação das
administrações públicas; (d) exercer a crítica
das políticas públicas; (e) canalizar as demandas da população ao governo (LIMA, 2009).
Como indicado por Rubim e Azevedo,
os estudos sobre comunicação e política já
existem desde as décadas de 1970 e 1980 no
Brasil (ainda sob a alcunha “comunicação e
poder”), “articulados pela preocupação dominante de pensar as mídias como aparelhos
de luta política e principalmente ideológica”
(RUBIM; AZEVEDO, 1998, p. 190). A área,
entretanto, ganha verdadeiramente força após
o processo de redemocratização com as eleições
presidenciais de 1989.
Alguns outros fatores são importantes
para compreender a consolidação da pesquisa
acerca da comunicação e política. Como ressaltado por Lima, “as características históricas
específicas do sistema de mídia no Brasil potencializam o seu poder no processo político”
(LIMA, 2009, p. 28). A falta de regularização
no setor, por exemplo, permitiu oligopólios,
propriedades cruzadas e forte alinhamento
de famílias e setores midiáticos com governantes no período da ditadura militar, como
foi o caso das Organizações Globo. Isso é reforçado pelas “características específicas da
população brasileira [que] historicamente
potencializaram o poder da mídia no processo político, sobretudo, no processo eleitoral”
(Ibid., p. 29), como o alto analfabetismo, a
baixa escolarização e o baixo interesse político. Finalmente, a implantação do inovador
modelo do Horário Gratuito de Propaganda
Eleitoral (HGPE) pode ser considerado um
último marco desse momento inicial. Sendo
de exibição obrigatória nos sistemas de rádio
e TV, o HGPE é um espaço exclusivo aos
agentes políticos e a suas campanhas, com
significativos efeitos sobre elas e as intenções
de voto (a ponto de influenciar a união de
coligações pelo “tempo de TV”). Esse recurso
se tornaria rapidamente um dos objetos mais
estudados pela área de comunicação e política (ALBUQUERQUE, 2010; DIAS, 2013;
FIGUEIREDO et al., 1997; PANKE;
CERVI, 2011). Segundo Figueiredo et al.
(1997), a eminência do HGPE nas campanhas eleitorais teria sido um importante marco
para o crescente interesse da ciência política
na temática.
Conforme a pesquisa de Sampaio, Bragatto
e Nicolás (2016, p. 288), os estudos sobre “internet e política” ou ciberpolítica começam a
surgir logo após os anos 2000, fazendo reflexões
mais gerais acerca da regulação do novo meio
e do impacto da internet sobre instâncias políticas tradicionais, como “engajamento cívico,
formação da vontade política, criação ou reforço
da coesão social entre grupos de interesse, participação política, capital social, cultura política,
relação entre a classe dos representantes e dos
representados, campanhas políticas”. Segundo
os autores, apesar de ser uma subárea (ou seja,
nascida dentro de interesses mais ampliados de
comunicação e política), a ciberpolítica teria
características próprias e diferentes da área
129
maior, notadamente associada às especificidades tecnológicas.
Enquanto as relações sobre mídia e política são constantemente avaliadas sob um
viés negativo, que denota o esvaziamento do
discurso político para se adaptar à gramática
midiática e à geração de uma espiral do cinismo fomentada pela cobertura constantemente
negativa das ações políticas pelo jornalismo
(GOMES, 2004), a ciberpolítica teria originalmente uma visão mais otimista sobre o potencial dos (então) novos meios para a mitigação
de déficits democráticos. Isso pode ser constatado pela análise de Sampaio et al. (2016),
que denota a importância de temas da democracia digital (participação, deliberação e
engajamento) sobre temas da política digital,
como estratégia política e campanhas eleitorais. Para Gomes (2016), na verdade todos os
estudos sobre internet e política são em maior
ou menor medida gestados originalmente sob
o guarda-chuva intelectual da democracia digital. Em um primeiro momento, era necessária
a justificativa de recursos e esforço acadêmico
para os novos meios, o que foi alcançado com
a legitimidade trazida por estudos sobre gestar
melhorias para a democracia. Não obstante, as
pesquisas mais empíricas e mais orientadas a
outras questões, que não as democráticas, passam gradativamente a ganhar força e espaço,
seja no caso internacional (GOMES, 2016),
seja no brasileiro (SAMPAIO et al., 2016).
Cabe destacar também os estudos sobre
ativismo online, webativismo ou ciberativismo.
As pesquisas dessa subárea nascem das iniciativas pioneiras do uso das TICs pelo Movimento
Zapatista no México e dos movimentos antiglobalização do final do século XX. Outros campos
de investigação estão voltados para (a) ações de
hacktivismo em favor da emancipação social
pelo acesso às informações (SILVEIRA, 2010),
(b) uso de dispositivos da internet pelas organizações da sociedade civil na influência de
políticas públicas (ARAÚJO et al., 2015) e
130
(c) para as mobilizações políticas pelo uso de
mídias sociais para expressão de indignação e
esperança – que tiveram início com o ciclo de
protestos conhecidos como Primavera Árabe
e se espalharam por diversas regiões do planeta, chegando ao Brasil em junho de 2013
(CASTELLS, 2017). Com o avanço das TICs,
diversos grupos e organizações ativistas incorporaram o uso dos dispositivos de comunicação
da internet em suas práticas de mobilização e
divulgação de informações, de forma que hoje já
não existe mais distinção entre ativismo online
e offline (HARLOW; HARP, 2012).
Em termos acadêmicos, no Brasil, é preciso
apontar o papel pioneiro do GT Comunicação
e Política, já presente na criação dos GTs da
Compós em 1992, por iniciativa de pesquisadores diversos da interface, como Antonio Albino
Canelas Rubim, Maria Céres Pimenta, Maria
Helena Weber, Murilo Ramos, Sergio Porto,
Wilson Gomes, entre outros. Posteriormente,
a primeira institucionalização por parte da
ciência política ocorre em 1997, com a criação do GT Mídia, Opinião Pública e Eleições
na Anpocs, por intermédio dos professores
Marcus Figueiredo, à época vinculado ao
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro (Iuperj), e Vera Chaia, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Por sua vez, a criação da Associação dos
Pesquisadores em Comunicação e Política
(Compolítica), em 2006, é um marco na
consolidação da área interdisciplinar entre
comunicação e ciência política, já que cria
o primeiro evento exclusivamente voltado às
diferentes temáticas do campo. Em especial,
a Compolítica apresenta o primeiro GT stricto sensu a levar a alcunha Internet e Política,
coordenado pelo professor Wilson Gomes.
No caso da ciência política, a linha interdisciplinar com a comunicação consolidava
sua presença com a criação da área temática
Comunicação Política e Opinião Pública no
congresso da Associação Brasileira de Ciência
Política (ABCP) em 2008, coordenada por
Alessandra Aldé, da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj) e Marcus Figueiredo
(Iuperj), o que se mantém até os dias atuais.
A rápida difusão das TICs na sociedade
e seu uso massivo por diversos atores e segmentos sociais gerou uma demanda específica
de estudos acerca dos impactos e dos efeitos
das tecnologias digitais na sociedade, na cultura e no sistema político formal e informal.
A emergência desse campo de estudos envolve
questões e abordagens de diferentes áreas do
conhecimento. Composto de uma agenda de
pesquisa dinâmica e interdisciplinar, a cada dia
atrai mais pesquisadores (de diferentes áreas do
saber) interessados em estudar os efeitos e as
transformações sociais, culturais, tecnológicas
e políticas decorrentes das TICs.
Advindo de maneira mais direta da
discussão sobre comunicação e política, no
geral, e da internet e política, em específico, mas com uma preocupação especial em
ofertar um novo espaço para outras discussões possíveis a respeito do tema, é criado
em 2010 o GT Ciberpolítica, Ciberativismo
e Cibercultura, coordenado pelos professores
Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade
Federal do ABC (UFABC) e Sérgio Braga,
da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O grupo se mantém regularmente ativo até a
apresentação deste artigo. A consolidação do
GT permite identificar a existência de um
campo de estudos específico com foco em
internet nas ciências sociais contemporâneas,
com objetos, temáticas e métodos próprios,
que interage com outras áreas do conhecimento, criando uma diversidade de pesquisas e reflexões sobre a influência e o impacto das TICs
na sociedade contemporânea, assim como o
estudo de novas práticas que se estabelecem
pelo uso crescente das tecnologias digitais.
A seção seguinte procura apresentar
de modo detalhado os procedimentos adotados pela investigação, que possui caráter
exploratório, não partindo, portanto, de hipóteses acerca dos dados obtidos – sobretudo porque
o corpus é composto por textos de apenas um
GT que acolhe a área, dentre tantos outros GTs
que compõem eventos nacionais atualmente.
Procedimentos metodológicos
A primeira etapa desta pesquisa consistiu
na coleta dos textos que formariam o corpus do
paper. Esse processo foi realizado a partir do
website da associação que promove o evento
(www.anpocs.com), em que estão armazenados
os trabalhos de todas as edições do encontro
anual da Anpocs. A partir dessa consulta foram
reunidos 106 papers apresentados no GT
Ciberpolítica, Ciberativismo e Cibercultura
entre 2010, ano em que o GT foi criado,
e 2017. Consideraram-se tanto apresentações orais quanto painéis, já que não há essa
distinção no site da associação. Na Tabela 1
apresentamos a distribuição dos trabalhos nos
anos contemplados pela pesquisa. As variações
no número de artigos disponibilizados ocorrem porque, mesmo que exista uma margem
fixa de textos aceitos pelo GT (em torno de
doze apresentações orais e cinco painéis), nem
todos/as autores/as disponibilizam a versão
completa após o evento.
Tabela 1
Distribuição dos artigos por ano
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Total
Frequência
15
14
16
10
13
10
14
14
106
%
14,2
13,2
17
9,4
12,3
9,4
13,2
13,2
100,0
Fonte: Elaboração própria
131
Após a coleta do corpus foi realizada uma
análise de conteúdo quantitativa. O livro de
códigos construído para a pesquisa toma
por base o artigo de Sampaio, Bragatto e
Nicolás (2016), adaptando algumas categorias das variáveis de acordo com nosso objeto
de estudo8. As dezessete variáveis analisadas
(Quadro 1) dividem-se em dois grupos: aquelas que se referem a autores/as, e outras que
dizem respeito à pesquisa apresentada.
Quadro 1
Variáveis analíticas
Características
dos/as autores/as
Características
dos trabalhos
Fonte: Elaboração própria
8
9
132
Quantidade
Sexo
Instituição
Escolaridade
Área da escolaridade
Parceria institucional
Parceria interdisciplinar
Área temática do artigo
Vertente
Objeto político/social
Objeto tecnológico
Abordagem teórica
Tipo de estudo
Tipo de método
Tipo de técnica
Aplicou estatística?
Qual tipo de estatística?
No primeiro grupo de variáveis, que se
referem às características dos autores/as, foram
levantadas informações como sexo, instituição
à qual pertencem, grau de escolaridade e área
em que atuam. Além disso, nos casos em que
havia mais de um/a autor/a, observou-se se
pertenciam a diferentes instituições de ensino
(parceria institucional) e/ou a distintas áreas
de pesquisa (parceria interdisciplinar).
Após esse primeiro levantamento, os codificadores passaram à análise do conteúdo
dos textos. Inicialmente os trabalhos foram
classificados de acordo com a área temática a
que pertenciam: ciberpolítica, ciberativismo
ou cibercultura. Os papers foram considerados
(1) de vertente social, quando diziam respeito
ao engajamento cívico, por exemplo; ou (2) de
vertente institucional, quando se relacionavam a
iniciativas de interação entre Estado e cidadãos9.
Depois dessa primeira classificação ampla,
observou-se qual era o objeto político ou social
explorado no artigo. Além disso, os trabalhos
foram classificados de acordo com o objeto
tecnológico que exploravam. Outro aspecto
verificado na análise diz respeito à abordagem
teórica predominante nos textos.
Na variável “tipo de estudo”, os papers
foram classificados como teóricos ou empíricos.
Em seguida, ao considerar o método utilizado
na pesquisa, os trabalhos poderiam ser quantitativos, qualitativos, bibliográficos ou quantitativos e qualitativos simultaneamente. Estudos
teóricos, nesse caso, foram sempre classificados
Em caso de interesse em replicar e/ou ampliar o estudo, entrar em contato com os autores por e-mail para a
disponibilização do livro de códigos ou mesmo do banco de dados.
Conforme a pesquisa de Sampaio et al. (2016, p. 295), na vertente social “estariam as implicações do meio no
engajamento cívico, na esfera pública, na deliberação política e na sua relação com o capital social. Em comum, a
preocupação com a formação e as aptidões políticas da cidadania no ciberespaço”. Segundo Gomes (2007, p. 11),
a vertente institucional teria três endereços: “a) a conformação digital das instituições da democracia em sentido
estrito (cidades e governos digitais, parlamentos on-line) ou lato (partidos políticos on-line); b) as iniciativas
institucionais no vetor que vai do Estado aos cidadãos (como a prestação de serviços públicos on-line e governo
eletrônico); c) iniciativas institucionais no vetor cidadãos-Estado (oportunidades de participação ou de oferta
de inputs por parte da cidadania na forma de votos, respostas a sondagens, decisões ou sugestões orçamentárias,
registro e discussão de opiniões em fóruns eletrônicos etc.)”.
como bibliográficos. Somente para estudos
empíricos, por fim, foram analisadas outras
três variáveis. No caso de estudos empíricos,
foi verificada a técnica de pesquisa aplicada e
se houve o uso de técnicas estatísticas.
Esse livro de códigos foi aplicado aos
106 trabalhos do corpus por três codificadores/as,
após um treinamento para que houvesse concordância entre eles/as. A partir disso, a fim
de apreender outras características dos artigos
analisados, a pesquisa lança mão de técnicas
estatísticas para auxiliar na análise e no cruzamento dos dados, como o uso de frequências
simples, cálculo de qui-quadrado e análise de
resíduos padronizados. Os resultados são, então,
apresentados no tópico a seguir.
Análise dos dados sobre o GT
Ciberpolítica, Ciberativismo
e Cibercultura
computados na codificação. O objetivo é identificar se há pluralidade no GT. Percebe-se que,
embora haja equilíbrio na autoria principal,
com 53 mulheres como primeiras autoras
e 53 homens na mesma categoria, no total
ainda há mais homens participando do GT em
todas as outras posições de autoria observadas.
Normalmente, quando há inclusão de mais
de um/a autor/a, a tendência é serem homens
e não mulheres, o que acaba desequilibrando
Tabela 2
Número de autores por paper apresentado
Frequência
Percentual
1
44
41,5
2
27
25,5
3
31
29,2
4
4
3,8
Total
106
100,0
Fonte: Elaboração própria
Características dos/as autores/as
A partir da análise dos textos que constituem o corpus empírico (n=106), é possível
chegar a alguns achados importantes sobre
o modo como o referido GT se estruturou
ao longo dos anos, mapeando e inserindo
vertentes de pesquisa e instituições. Pode-se
primeiramente depreender que, mesmo que a
maior parcela dos papers se concentre na parceria entre dois ou mais autores/as (somando
58,5%), há predomínio da categoria “autoria
individual” nos trabalhos apresentados no GT,
conforme pode ser visto na Tabela 2. Dentre
eles, 41,5% são de apenas um/a autor/a. Além
disso, é possível dizer que essa constatação
inicial já diminui de forma significativa a possibilidade de pesquisas interinstitucionais, o
que vai ser analisado adiante.
Outra variável analisada é o sexo dos/as
autores/as. Nesse caso são agregados os dados
dos/as três primeiros/as autores/as, que foram
Tabela 3
Sexo dos autores e autoras dos trabalhos
Sexo
1º
2º
3º
Total
% Total
Mulher
53
24
13
90
44,3
Homem
53
38
22
113
55,7
Total
106
62
35
203*
100
* Temos os dados de 203 e não de 207 autores/as, pois
apenas quatro dos 106 trabalhos possuem quatro
autores/as, e na pesquisa fez-se a coleta dos dados referentes
aos três primeiros, uma vez que aquele total foi mínimo.
Ressalta-se que em 2017 houve uma restrição de cadastro
para os alunos de graduação.
Fonte: Elaboração própria
o total. O conjunto dos presentes no GT ao
longo dos anos foi composto de 44,3% de
mulheres e 55,7% de homens.
É importante saber, ainda, se há rotatividade desses/as pesquisadores/as durante os oito
133
anos do GT, e se há aqueles/as que se repetem
com frequência, ou seja, que participaram
várias vezes do evento. O primeiro dado indica que, entre os/as 203 autores/as, há certa
repetição ao longo do tempo. Logo, no total há
130 autores/as únicos/as. A Tabela 4 permite
identificar a rotatividade do GT.
Os dados indicam que 96 autores/as
(73,8% do total) participaram do evento apenas uma vez ao longo dos oito anos. Dezoito
participaram de duas edições, o que equivale
a 13,8%. Logo, pode-se perceber que em cada
edição do evento não há tendência à repetição
de autores/as. Do total de 130 autores/as,
dezesseis participaram de três edições ou mais.
É importante notar que, dentre os/as
cinco autores/as que mais se repetiram ao
longo do GT (entre seis e oito edições),
há apenas uma mulher. Ainda discutindo
gênero, verifica-se que os homens são quase
sempre maioria nas sessões, como ilustra o
Gráfico 1, quando se observa a distribuição
longitudinal.
Apenas em 2016 e 2017 houve maior
presença de mulheres (57% e 55%, respectivamente) no referido GT. As maiores diferenças
estão em 2011 e 2015, com mais de 65% de
participantes homens. Dessa forma, não há um
crescimento contínuo da paridade, que ocorre
de modo mais próximo em 2013, 2014 e 2017.
Assim, apesar da repentina visibilidade das
mulheres em 2016, elas são, no total, minoria.
Outra variável observada pela pesquisa
é a universidade representada pelos/as autores/as. Os dados também são agregados
e se referem aos/às três autores/as do paper
apresentado. Conforme os dados do Gráfico
2, há uma concentração da representação de
Tabela 4
Rotatividade de autores/as no GT
Repetição
Quantidade
Percentual
1
96
73,8
2
18
13,8
3
9
6,9
4
2
1,5
5
0
0,0
6
1
0,8
7
2
1,5
8
2
1,5
Total
130
100,0
Fonte: Elaboração própria
Gráfico 1
Distribuição de homens e mulheres ao longo dos anos no GT
Fonte: Elaboração própria
134
Gráfico 2
Distribuição das universidades dos autores
Fonte: Elaboração própria
quatro universidades, que aparecem em quase
todos os anos e são centros de referência em
estudos da área.
A PUC-SP, a UFABC, a UFPR e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) reúnem
42% de todos os/as autores/as que já participaram do GT. Houve, ademais, um único autor de
instituição estrangeira, da Universidade da Beira
Interior (UBI, Portugal). A região Norte aparece representada por Universidade Federal do
Amazonas (Ufam), Universidade da Amazônia
(Unama), Universidade Federal do Pará (Ufpa)
e Instituto Federal do Tocantins (IFTO), com
cinco autores/as da Ufam e uma autora para
cada uma das demais instituições durante
o período. O Nordeste aparece representado pelas universidades federais da Bahia
(Ufba), da Paraíba (UFPB), do Rio Grande
do Norte (UFRN), de Pernambuco (UFPE)
e do Ceará (UFC), mas em pouca quantidade em relação ao predomínio das universidades que lideram. Chama a atenção a pouca
10
11
12
presença de trabalhos da Ufba, que atualmente
é a instituição sede do Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia sobre Democracia Digital
(INCT.DD)10 e do Laboratório de Pesquisa em
Mídia Digital, Redes e Espaço (Lab 404)11, cujas
pesquisas entrariam no escopo do GT em tela.
Destaca-se que as universidades mais representadas (PUC-SP, UFABC, UFPR e UFMG)
estão nas regiões Sul e Sudeste, apenas. Das 38
que apareceram (excluída aquela do exterior),
22 são da região Sudeste. Ademais, há três do
Sul, quatro do Norte, três do Centro-Oeste e
cinco do Nordeste.
Além da observação das instituições, há
dados sobre a escolaridade dos autores/as.
Da mesma forma, estão agregados os números
relacionados aos/às três autores/as (203 casos)12.
Percebe-se, a partir da leitura da última
coluna do Gráfico 3, que grande parte dos/as
primeiros/as autores/as de papers é composta
de doutores/as (54%), seguidos/as de longe por
doutorandos/as (21%). A baixa incidência de
Disponível em: <https://www.facebook.com/inct.dd/>. Acesso em: 25 set. 2017.
Dedicado a estudos sobre cibercultura. Disponível em: <www.lab404.ufba.br/>. Acesso em: 25 set. 2017.
Consideramos a autoria de todos os papers, logo, contabilizam-se as autorias de cada estudo, não os autores em si,
como outrora neste trabalho. Assim, no total são 130 “autores únicos”.
135
mestres/as pode apontar para o fato de que o
evento é almejado por quem está ativamente
no meio acadêmico, seja como docente ou discente de programas de pós-graduação. Com relação aos/às mestrandos/as (14%), a frequência
mais próxima àquela de doutorandos/as pode
indicar maior ocorrência de trabalhos desses/
as estudantes na modalidade painel, que não é
diferenciada nos anais do evento e, portanto,
entra nesta contagem.
Fazendo uma observação na perspectiva
longitudinal, os anos de 2010, 2013 e 2014
foram os que mais atraíram doutores/as, chegando a 74% em 2013 e 65% em 2014. Com o passar dos anos, contudo, discentes de doutorado e
mestrado, assim como mestres, ganharam mais
espaço, tendo superado em 2015, 2016 e 2017
o total de doutores/as apresentando trabalhos.
Ou seja, abriu-se mais espaço para pesquisadores/as em formação, independentemente de
sua posição na relação de autoria, pois aqui os
dados estão agregados, conforme se depreende
da distribuição apresentada no Gráfico 3.
Outro ponto interessante é entender a
relação entre coautores/as. Por isso, apresentam-se os dados separados na Tabela 5. Como
segundo/a autor/a, segue a predominância de
doutores/as (54,8%). Logo, poucos participantes da referida categoria tendem a escrever com
seus/suas respectivos/as orientandos/as, por
exemplo. No caso de terceira autoria também
predominam doutores/as (40%). Como se pode
perceber, há discrepância entre doutores/as e as
demais categorias, o que evidencia que, quando
Gráfico 3
Distribuição da escolaridade de autores/as durante os oito anos
Fonte: Elaboração própria
Tabela 5
Distribuição da escolaridade entre autores/as e coautores/as
Titulação
Graduando/a
Mestrando/a
Mestre/a
Doutorando/a
Doutor/a
Total
1º autor/a
0
15
7
22
62
106
Fonte: Elaboração própria
136
Percentual
0
14,2
6,6
20,8
58,5
100,0
2º autor/a
2
9
7
10
34
62
Percentual
3,2
14,5
11,3
16,1
54,8
100
3º autor/a
4
5
2
10
14
35
Percentual
11,4
14,3
5,7
28,6
40,0
100,0
há coautoria, esta tende a ocorrer com menor
incidência entre indivíduos daquela primeira
categoria e pesquisadores/as em formação.
Outro dado relevante para entender a composição do GT é em relação à área de atuação
dos/as autores/as. Agregaram-se mais cientistas
políticos (24%) e sociais (31%), no geral. Na
área da comunicação, embora haja muitos estudos de ciberpolítica e cibercultura, a presença
de pesquisadores/as da área teve menos espaço
(17,5%). Em quarto lugar apareceu a sociologia,
com 10% das autorias. Destaca-se que há outras
formações (17,5%), como em políticas públicas,
direito, ciências da computação, informática,
administração e economia, mas elas apareceram
poucas vezes ao longo de todo o período e, por
isso, foram agregadas na categoria “outros”.
Nenhuma delas, sozinha, se aproxima das quatro
principais que têm caracterizado o GT.
Essa distribuição também foi observada ao
longo do tempo para identificar como as diferentes áreas se inseriram ou se afastaram do GT. O
Gráfico 4, que apresenta os dados longitudinais
assim como o total, mostra que a ciência política
tem reaparecido com mais ênfase nos últimos
anos – havia perdido espaço entre 2011 e 2013.
Autores/as advindos/as da comunicação, por
outro lado, alcançaram mais espaço nos referidos anos e voltam a ganhar destaque em 2016
e 2017. A sociologia teve menos espaço no GT
nos últimos anos, apesar da elevação de 2017.
Enquanto isso, as ciências sociais mantiveram
sua presença de modo mais estável ao longo do
tempo, com um decréscimo mais significativo
somente em 2011, notando-se até crescimento
em 2017. Esses dados estão diretamente relacionados aos/às autores/as que representam esse
curso na PUC-SP e na UFABC.
Outro dado relevante trata das pesquisas
interinstitucionais. Dentre os 63 papers escritos
em parceria, mais da metade conta com autores/as da mesma instituição (58,7%). Quanto
ao total de textos, apenas 24,5% têm parceria
Tabela 6
Parceria interinstitucional de autores/as
Frequência
%
% Válido
Não
37
34,9
58,7
Sim
26
24,5
41,3
Total
63
-
100
Não se aplica
43
40,6
Total
106
100
Fonte: Elaboração própria
Gráfico 4
Distribuição da formação de autores/as
Fonte: Elaboração própria
137
Tabela 7
Parceria entre autores/as de
diferentes áreas de atuação
Frequência
%
% válido
Não
41
38,7
65,1
Sim
22
20,8
34,9
Total
63
59,4
100,0
Não se aplica
43
40,
Total
106
100,0
Fonte: Elaboração própria
institucional. Esse dado aponta a baixa relação
de pesquisas em rede, as quais demonstrariam
parcerias efetivas entre os grupos de pesquisa.
Do mesmo modo, a parceria entre autores/as de áreas distintas – o que poderia trazer
um ganho qualitativo aos trabalhos ao mesclar
teoria e prática, discussões teóricas convergentes, entre outras possibilidades – também
é algo raro. Isso ocorre em apenas 20,8% dos
estudos. Logo, apesar de o GT agregar áreas
distintas, elas aparentam ainda não conversar
entre si nos artigos. Sendo assim, o GT acaba
revelando a pouca relação entre centros de
pesquisa e a rara convergência entre as áreas,
ainda que elas apareçam nas sessões.
Passa-se, a seguir, à análise de conteúdo
propriamente dita.
Características dos trabalhos
A pesquisa também identificou como
os trabalhos se distribuem nas áreas que
compõem o GT, conforme o próprio título do grupo: Ciberpolítica, Cibercultura
e Ciberativismo. Assim, 53,8% deles são
categorizados como ciberpolítica (57), enquanto ciberativismo abrange 28,3% dos
papers (trinta) e cibercultura, 17,9% (dezenove). Constata-se uma forte presença de
estudos sobre internet e política, o que pode
138
ser relacionado com a presença da ciência
política como a segunda área mais presente
no GT. Os dados longitudinais mostram
algumas alterações na presença das três subáreas do GT, principalmente o decréscimo de
ciberpolítica, a consolidação do ciberativismo
e a perda de espaço da cibercultura.
Nota-se que ciberpolítica estava representada na maior parte dos trabalhos nos três
primeiros anos (66,7% dos quinze totais,
50% dos quatorze e 68,8% dos dezesseis
em 2010, 2011 e 2012, respectivamente).
Depois desses anos, em 2015 e 2017, volta
a aparecer em mais de 50% dos papers. Nos
demais anos essa temática perde espaço para
as outras áreas, principalmente para ciberativismo, que passa a se destacar no GT
especialmente a partir de 2014, chegando a
38,5% dos artigos apresentados (cinco dos
treze). Ademais, nota-se como o predomínio
de ciberativismo acaba “sufocando” cibercultura, que é central em apenas um caso nos
anos de 2015, 2016 e 2017.
Outra variável que demonstra como
se consolidam e se constroem as pesquisas
apresentadas no GT é a vertente de estudos,
social (a respeito da apropriação das TICs por
organizações da sociedade civil) e institucional (relativa ao uso das TICs por instituições
governamentais), conforme a categorização de
Sampaio, Bragatto e Nicolás (2016). Notase que predomina a vertente social (59,4%)
sobre a institucional (40,6%). Isso chama
atenção, pois os estudos de ciberpolítica, área
predominante, estão mais relacionados às autorias advindas da ciência política, campo que
possui notadamente um viés mais institucional em seus estudos. Quando se relacionam
as áreas com as vertentes, todavia, nota-se
que 68,4% dos trabalhos de ciberpolítica são
da vertente institucional e apenas 31,6% da
social, o que ainda é notável. Por outro lado,
a grande incidência de uma vertente social
está concentrada em ciberativismo – que
Gráfico 5
Distribuição temporal das áreas temáticas nos trabalhos do GT
Fonte: Elaboração própria
Tabela 8
Distribuição das áreas temáticas do GT por vertente de estudos
Social
Institucional
Total
N
%
R.p.
N
%
R.p.
N
%
Ciberpolítica
18
31,6%
-2,7
39
68,4%
3,3
57
100,00%
Ciberativismo
30
100,0%
2,9
0
0,0%
-3,5
30
100,00%
Cibercultura
15
78,9%
1,1
4
21,1%
-1,3
19
100,00%
Total
63
59,4%
43
40,6%
106
100,00%
x² = 41.820/ Sig: 0,000
Fonte: Elaboração própria
tem todos os trabalhos nessa categoria – e
cibercultura, que apresenta essa categoria
em quase 79% deles.
Aqui testou-se a existência de uma
tendência de distribuição, o que gerou um
coeficiente qui-quadrado significativo e tendência de ocorrência positiva significativa
– ou seja, com resíduos padronizados (R.p.)
fora do intervalo entre -1,96 e +1,96 – da
vertente social para a área de ciberativismo e
negativa para ciberpolítica. O inverso, com
quase os mesmos valores, ocorre em relação
à vertente institucional. A temática cibercultura não apresentou resíduos padronizados
significativos.
Ao observar a perspectiva longitudinal,
chamou atenção o ano de 2011, em que há
poucos trabalhos na vertente social. Em alguns
anos a categoria institucional aparece mais,
como 2010 e 2014. No entanto, há em geral
139
um equilíbrio entre as duas categorias, com
apenas essa tendência grande para a vertente
social em 2011.
Pode-se, ainda, observar qual o objeto
predominante nos trabalhos. Tem-se maior
presença das categorias “instituições” (27,4%)
e “movimentos sociais” (22,6%), possivelmente na perspectiva de como usam as ferramentas
tecnológicas. Apesar de parecer inconsistente
o fato de os trabalhos terem mais vertente
social e aqui predominarem as instituições,
vale observar a distribuição dos demais tipos
de objeto, que podem reunir mais a perspectiva social que a institucional, como políticas
de comunicação, esfera civil não organizada
e sociabilidade, que agregam mais de 40%
das ocorrências.
Nota-se a baixa presença de trabalhos
sobre campanhas eleitorais (4,7%), que têm
estudado a apropriação das ferramentas por
candidatos, políticos e partidos no período da
disputa eleitoral, que tendem a ser apresentados no GT de Mídia, Política e Eleições. Há
maior espaço para estudos sobre instituições,
mas fora do aspecto eleitoral.
Para entender melhor o que propriamente
tem sido estudado pelos participantes do GT, há
ainda o fator “objeto tecnológico” como variável
central dos estudos do campo. Ressalta-se que
os objetos “internet” e “mídia” são destinados
às pesquisas mais gerais, com um objeto empírico ou pouco definido (normalmente mais
presentes em reflexões e ensaios sobre os meios
de comunicação no geral) ou muito abrangente
(no caso de estudar simultaneamente vários
dos mecanismos apresentados), categorias que
agrupam mais de 43% das pesquisas.
Por outro lado, nota-se a forte presença dos
websites (18,9%) e das mídias sociais (26,4%)
entre os principais objetos. Blogs, chats e softwares livres, por exemplo, não ganham tanto destaque no GT. O processo de desenvolvimento
tecnológico leva à constante transformação dos
objetos tecnológicos e à consequente transformação de seus estudos. Dessa forma, os trabalhos sobre blogs e chats vão perdendo espaço para
estudos sobre mídias sociais nos últimos anos.
Essa constante modificação de objeto mostra
que a dinâmica da área está associada à relação
entre tecnologia e sociedade.
Outra característica analisada é a abordagem teórica dos textos, podendo-se depreender
uma abordagem bastante variada, sem nenhuma grande corrente dominando os estudos.
Tabela 9
Distribuição dos objetos
político/social
Tabela 10
Objetos tecnológicos de análise
Objeto
N
%
N
%
Internet
43
40,6
Instituições
29
27,4
Mídias sociais
28
26,4
Movimentos sociais e
organizações cívicas
24
22,6
Websites
20
18,9
Políticas de comunicação
21
19,8
Fóruns ou chats
4
3,8
Esfera civil não organizada
17
16,0
Open source, software livre e
dados abertos
4
3,8
Sociabilidade
9
8,5
Mídia
3
2,8
Campanhas eleitorais
5
4,7
Blogs
3
2,8
Outros
1
0,9
Dispositivos móveis
106
100,0
Total
Fonte: Elaboração própria
140
Total
Fonte: Elaboração própria
1
,9
106
100,0
Apesar de abordagens variadas entre os
trabalhos, percebem-se algumas menos frequentes, como jornalismo político (4,7%). Isso
se deve provavelmente à menor procura pelo
GT por parte de autores/as que trazem essa reflexão, já que há outros espaços na Anpocs para
discussões mais centradas em mídia e política.
Deliberação, apesar do grande destaque que
recebe na literatura, também aparece menos
no GT (4,7%). Por outro lado, chama atenção
a preocupação dos estudos com a economia
política e as políticas de comunicação.
Tabela 11
Abordagem teórica
Abordagem teórica
N
%
Identidade, sociabilidade e cidadania
18
17,0
Economia política/políticas
de comunicação
17
16,0
Participação
16
15,1
Engajamento
14
13,2
Accountability e representação
13
12,3
Estratégia política e eleitoral
7
6,6
Deliberação
5
4,7
Jornalismo político
5
4,7
Transparência e informação
4
3,8
Inclusão digital
3
2,8
Outros
3
2,8
Capital social e cultura política
Total
1
0,9
106
100,0
Fonte: Elaboração própria
Um avanço importante que mostra a
consolidação dos estudos do GT é a predominância dos trabalhos empíricos, 83%
do total, sendo somente 17% teóricos. No
entanto, como o grupo tem três subáreas, é
importante observar como essa constatação
pode ser apropriada por cada uma delas.
A Tabela 12 mostra que dos 57 papers de
ciberpolítica, apenas seis são teóricos, o que equivale a 10,5%. Já no caso de ciberativismo, entre
os 35 trabalhos, cinco possuem uma abordagem
teórica, alcançando o percentual de 16%. No
caso de cibercultura, os sete artigos teóricos chegam a 36,8% do total da subárea, que já tende a
ser minoria no GT, conforme discutido anteriormente. Sendo assim, é a guinada da ciberpolítica
e do ciberativismo que leva mais empiria ao GT.
Na sequência, observa-se o método de
pesquisa utilizado nas pesquisas. Destaca-se
a predominância de abordagem qualitativa
(46,2%) sobre a quantitativa (23,6%), enquanto reflexões teóricas bibliográficas vêm
em seguida (17%). Outro ponto a se destacar
é que 13,2% dos trabalhos apresentados foram
categorizados como método misto, por utilizarem as abordagens qualitativa e quantitativa.
De modo mais específico, observam-se as
técnicas de pesquisa predominantes. Retirando os
dezoito trabalhos que não são empíricos (16,3%),
50% dos demais fazem análise de conteúdo.
Nota-se que, apesar de a vertente qualitativa
predominar no GT, há pouca apropriação de
entrevistas, grupos focais e métodos de interação
direta com o objeto de pesquisa, como etnografia.
Tabela 12
Tipo de estudo x Área temática do GT
Área temática
Ciberpolítica
Tipo de estudo
Ciberativismo
Cibercultura
Total
teórico
6
5
7
empírico
51
25
12
88
57
30
19
106
Total
18
Fonte: Elaboração própria
141
Tabela 13
Distribuição por tipo de método
N
%
Qualitativo
49
46,2
Quantitativo
25
23,6
Bibliográfico
18
17,0
Quanti/quali
14
13,2
Total
106
100,0
Tabela 14
Técnicas de pesquisa utilizadas
Fonte: Elaboração própria
Além da centralidade da análise de conteúdo em 50% dos trabalhos, percebe-se que
nenhuma outra técnica se sobressai, havendo
até poucos estudos que se utilizam de análise
do discurso (1,1%), por exemplo. Há papers
que, apesar de se proporem à empiria, não
apresentam um método específico de análise
passível de se enquadrar entre os principais,
o que chegou a 5,7% deles. Por outro lado,
percebe-se a entrada de novas técnicas, tal
como a análise de redes, que obteve quatro
ocorrências.
Outra característica observada é o uso da
estatística, que aparece em cinquenta artigos
(47,2%), a partir de testes variados dentro do
escopo do método, conforme se pode observar
na Tabela 15.
N
%
% válido
Análise de conteúdo
53
50,0
60,2
Entrevista e grupo focal
12
11,3
13,6
Análise documental
6
5,7
6,8
Indefinido
6
5,7
6,8
Etnografia/observação
participante e pesquisaação
5
4,7
5,7
Análise de redes
4
3,8
4,5
Survey
1
,9
1,1
Análise do discurso
1
,9
1,1
Total
88
83,0
100,0
Não se aplica
18
17,0
Total
106
100,0
Fonte: Elaboração própria
Nota-se, entretanto, que não há avanços
significativos com a utilização desse recurso
analítico, pois prevalece de maneira expressiva
o uso de frequências simples, o que aponta
para um caráter mais descritivo dos trabalhos.
Tabela 15
Tipo de estatística utilizada
N
%
% válido
Frequência simples
41
38,7
82,0
Estatística univariada
3
2,8
6,0
Estatística bivariada
6
5,7
12,0
Total
50
47,2
100,0
Não se aplica
56
52,8
Total
106
100,0
Fonte: Elaboração própria
142
Considerações finais
O estudo sobre a produção apresentada no GT Ciberpolítica, Ciberativismo e
Cibercultura permitiu identificar algumas
características da área, que, embora ainda em
formação, começa a delinear suas especificidades. O objetivo da proposta foi mapear o perfil
das pesquisas apresentadas durante os oito
anos do GT, o que traz indicativos de como
essa área multitemática tem se estruturado ao
longo do tempo.
A análise permite afirmar que as pesquisas
apresentadas no GT, com quase 50% de todos
os trabalhos possuindo apenas um autor ou
autora, possivelmente não são resultado de
investigação coletiva ou de grupos de pesquisa,
que normalmente contam com um processo colaborativo de produção. O trabalho de
Sampaio, Bragatto e Nicolás (2016) segue os
mesmos achados, o que demonstra que essa
é uma prática comum na área, uma vez que
a pesquisa mencionada trabalha com eventos
de todo o campo de comunicação e política.
Esse comportamento, todavia, é contrário
àquilo que tende a ocorrer atualmente nas
ciências humanas de modo generalizado, cujos
trabalhos em coautoria nos últimos vinte anos
saltaram de 2% para 40% em média, como
indicam Codato et al. (2017).
Apesar da intrínseca característica interdisciplinar do grupo, com participantes de
diversas áreas do conhecimento, por fazer
parte de um congresso de ciências sociais a
composição do GT tem uma maioria de participantes desse campo, notadamente da ciência
política, indicando um viés mais próximo
dos estudos sobre internet e política, como
pode ser observado pela maior ocorrência de
artigos de ciberpolítica. Esse perfil também
pode estar associado à formação dos primeiros
coordenadores do GT, oriundos da ciência
política, seja pela formação ou pela área de
produção atual.
Constata-se, ainda, que houve grande concentração de trabalhos apresentados em poucas
instituições, especialmente do eixo Sul-Sudeste.
Isso pode indicar que o GT precisa estar mais
atento à diversidade a ser contemplada quando
da avaliação dos papers submetidos, uma vez
que, há alguns anos, grupos de pesquisa que
abordam essa interface têm se formado nas
regiões Norte e Centro-Oeste, aquelas menos
contempladas no GT, e ganhado alguma proeminência nacional. É surpreendente a redução
de participação de instituições do Nordeste
nesse grupo, uma vez que no campo de internet e política a região é muito atuante (cf.
SAMPAIO, BRAGATTO, NICOLÁS, 2016).
Possivelmente isso seja explicado pelo fato de
a maior parte de autores/as dessa região ser da
área de comunicação e não das ciências sociais.
Não se pode deixar de perceber a menor
participação e permanência de mulheres no
GT. Esse fato segue em movimento contrário
àquele de crescimento das mulheres no setor
científico no Brasil, iniciado na década de
1980 (LETA, 2003) e intensificado especialmente nos últimos anos, quando as mulheres
atingiram a marca de 49% da autoria de trabalhos acadêmicos no país (ELSEVIER, 2017).
Por fim, pode-se apontar que os estudos
têm se caracterizado nos últimos anos como
mais empíricos, preocupados em compreender
fenômenos políticos, especialmente quanto à
sua relação com os media digitais. Todavia,
continuam em um nível mais descritivo de
observação, o que indica uma tentativa de mapeamento dos casos a partir de uma análise de
conteúdo de diferentes mecanismos com maior
foco nas instituições do Estado, especialmente
o parlamento, e na sociedade civil organizada, achados que corroboram os resultados de
Sampaio, Bragatto e Nicolás (2016).
Diferentemente de outras áreas da ciência política, contudo, o viés institucional não
é a principal vertente nos estudos apresentados no GT, havendo certo equilíbrio com
143
o viés social, que chega a apresentar maior
ocorrência. Dessa forma, os estudos de caráter predominantemente empírico mostram
uma pluralidade de objetos de pesquisa, com
maior ênfase em instituições, movimentos
sociais e políticas de comunicação. Percebe-se
a diversidade de abordagens, como questões
de identidade, sociabilidade, cidadania, engajamento, economia política, accountability,
entre outras.
Esses traços denotam a especificidade do
campo de estudos sobre internet, caracterizado por permitir formas de mobilização/
ação institucionais e não institucionais que
envolvem aspectos não só políticos, mas também sociais, culturais e tecnológicos. Assim
como o desenvolvimento de novas tecnologias
digitais (softwares, plataformas, mídias sociais
etc.) e diferentes formas de apropriação e uso
dessas tecnologias, o campo produz inovações
e desafios aos/às pesquisadores/as.
Esses resultados também permitem observar algumas lacunas que podem indicar
novas agendas de pesquisa. Além do incentivo
a uma maior pluralidade de autoras e instituições presentes nas diferentes regiões do
Brasil, o estudo ainda destaca a necessidade
de maior cuidado metodológico. Por um lado,
detecta-se uma reduzida gama de técnicas
empregadas, concentradas em análise de conteúdo e, geralmente, apenas com estatística
descritiva básica – algo aparentemente geral
da área de internet e política, como apontado pelo estudo de Sampaio et al. (2016) –
enquanto é notável que os meios digitais,
em sua constante e rápida evolução, estão
constantemente demandando novas técnicas de averiguação e cuidados com questões
específicas a esses meios (e.g. robôs usados
para divulgar candidatos e/ou ideias, páginas
divulgando fake news, ou até os algoritmos
que regem as mídias sociais).
Com a possibilidade da mineração e análise de altos volumes de informação (i.e., Big
Data), as técnicas estatísticas e de análise de
redes deveriam receber cada vez mais atenção
e refinamento. Isso, por outro lado, não deve
significar o abandono das técnicas de pesquisa
tradicionais. Afinal, as pesquisas não podem
se centrar exclusivamente no conteúdo das
plataformas digitais, mas devem estar atentas a seus criadores, hospedeiros e usuários,
o que reforça o uso de entrevistas, surveys,
grupos focais e mesmo etnografias (com as
devidas adaptações aos meios em questão).
É justamente nesse sentido que uma maior
interdisciplinaridade e a ocorrência de mais
coautorias parecem ser caminhos frutíferos
para tais avanços.
Em especial é preciso reconhecer que a
dinâmica informacional, o rápido desenvolvimento tecnológico e as diferentes formas de
apropriação das TICs fazem com que a área
esteja sempre se reconfigurando, surgindo
novos objetos de estudo, novos problemas e
novas ferramentas de pesquisa que visam explicar um fenômeno complexo e em constante
transformação, sempre aberto para inovadoras
formas de estudo nas ciências sociais.
Diante de tal desafio o que se pode concluir, enfim, é que, apesar de alguns ajustes
ainda serem necessários, o GT estudado tem
auxiliado no desenvolvimento de um campo
interdisciplinar de estudos, apresentando avanços e se constituindo como um importante
espaço para o fortalecimento das pesquisas.
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Resumo
Ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura: uma análise dos papers apresentados no grupo de trabalho da Anpocs
Levando em conta a consolidação da atenção acadêmica aos fenômenos que envolvem a intersecção entre internet e
política, este estudo busca compreender como ocorre tal produção científica no âmbito das ciências sociais no Brasil.
Para isso, o artigo analisa os papers apresentados no grupo de trabalho Ciberpolítica, Ciberativismo e Cibercultura
(N=106), da Anpocs, desde a sua criação, em 2010, até 2017. Compreende-se que esse grupo representa uma amostra
significativa do interesse acadêmico a respeito do assunto no contexto brasileiro. O estudo visa depreender o perfil dos/
das autores/as, das temáticas, das teorias e das pesquisas realizadas, buscando perceber se há mudanças nesses aspectos
ao longo dos oito anos observados e identificar agendas de pesquisa. Os resultados indicam, dentre outros fatores:
predomínio de textos de autoria única; equilíbrio de gênero quanto à autoria; predominância de artigos empíricos; e
grande concentração de trabalhos em poucas instituições de ensino superior.
Palavras-chave: Internet e Política; Ciberpolítica; Ciberativismo; Cibercultura; Democracia Digital.
Abstract
Cyberpolitics, cyberactivism, and cyberculture :an analysis of papers presented in the Anpocs workgroup
Considering the consolidation of academic attention to the phenomena involving the intersection between Internet
and Politics, this study aims to understand this academic production in the area of Brazilian Social Science. To achieve
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this, this article analyzes the papers presented in the Workgroup Cyberpolitics, Cyberactivism, and Cyberculture
(N=106) of ANPOCS, from its creation in 2010 to 2017. We understand that this workgroup represents a significant
sample of the academic interest regarding the subject in the Brazilian context. This study aims to identify the profile of
the authors, themes, theories, and researches conducted, in addition to checking if there were changes in these aspects
over the eight years observed and identifying research agendas. The results point out that: single-authorship texts
predominate; there is a gender balance in the authorship; there is a predominance of empirical articles; and there is a
great concentration of work in few higher education institutions.
Keywords: Internet and Politics; Cyberpolitics; Cyberactivism; Cyberculture; Digital Democracy.
Résumé
Cyberpolitiques, Cyberactivisme et Cyberculture : une analyse des articles presentés dans le groupe de travail Anpocs
Dans le contexte de consolidation de l’attention académique aux phénomènes à propos de l’intersection entre
l’Internet et la politique, cet étude cherche la compréhension des dynamiques de production scientifique dans les
Sciences Sociales au Brésil. Donc, l’article analyse les textes présentés au Groupe de Travail (GT) Cyberpolitique,
Cyberactivisme et Cyberculture (N=106) de l’ANPOCS, depuis sa création (2010 – 2017). On comprend que le
GT représente un extrait significatif de l’intérêt académique à propos de ce sujet là dans le contexte brésilien. L’étude
a l’intention d’identifier le profil des auteurs, des thèmes, des théories, et des recherches. En plus, on cherche s’il
y a des changements dans ces caractéristiques au long des années observées et indiquer des agendas de recherche.
Les résultats indiquent que : les textes d’un unique auteur sont prédominants; il y a un équilibre de genre entre les
auteurs; les articles empiriques sont la majorité; et il y a une grande concentration de travails parmi peu d’institutions
d’enseignement supérieures.
Mots-clés: Internet et politique ; Cyberpolitiques ; Cyberactivisme ; Cyberculture ; Démocratie Digitale.
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