MESTRADO EM ENSINO DA GEOGRAFIA
NO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO
E ENSINO SECUNDÁRIO
(Des)Encontros com a Indisciplina
Paulo Manuel Costa Lemos
M
2017
Paulo Manuel Costa Lemos
(Des)Encontros com a Indisciplina
Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Ensino em Ensino de Geografia no 3º
Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário
Orientado pela Professora Doutora Elsa Maria Teixeira Pacheco
Coorientado pela Professora Doutora Cármen do Céu Gonçalves Ferreira
Orientadora de Estágio, Dra Maria Salomé Fernandes Ribeiro
Supervisora de Estágio, Professora Doutora Elsa Maria Teixeira Pacheco
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Outubro de 2017
(Des)Encontros com a Indisciplina
Paulo Manuel Costa Lemos
Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Ensino em Ensino de Geografia no 3º
Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário
Orientado pela Professora Doutora Elsa Maria Teixeira Pacheco
Coorientado pela Professora Doutora Cármen do Céu Gonçalves Ferreira
Orientadora de Estágio, Dra Maria Salomé Fernandes Ribeiro
Supervisora de Estágio, Professora Doutora Elsa Maria Teixeira Pacheco
Membros do Júri
Professora Doutora Elsa Maria Teixeira Pacheco
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Professora Doutora Laura Maria Pinheiro de Machado Soares
Faculdade de Letras – Universidade do Porto
Professora Doutora Paula Maria Nogueira Lopes Costa
Diretora do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto
Classificação Obtida: 19 Valores no Relatório Escrito e na Discussão em Provas
Públicas
Em memória da minha Mãe…
Desse meu Pequeno Mundo, onde a sua “existência”, num enredo que conjugou tão
sabiamente vitórias, alegrias e conquistas, foi e, tenho fé, que é e será (para) sempre, a
biografia mais bela já escrita.
Eu amo-te de forma insubstituível…
Sumário
Agradecimentos ................................................................................................................ 6
Resumo ............................................................................................................................. 8
Abstract ............................................................................................................................. 9
Índice de Tabelas, Gráficos e Figuras ............................................................................ 10
Lista de Abreviaturas e de Siglas ................................................................................... 12
Introdução ....................................................................................................................... 13
Primeira Parte – Perspetivas (In)Disciplinares ............................................................... 17
Observação Introdutória ................................................................................................. 18
Capítulo I – Conceito(s) de um Conceito ................................................................... 19
1.1. (In)Disciplina(s) ............................................................................................... 21
1.2. Representações Indisciplinares ........................................................................ 27
Capítulo II – Reflexos de um Passado ........................................................................ 34
Capítulo III – Cicatrizes de uma Identidade ............................................................... 42
Capítulo IV – (Re)Construir Diálogos (In)Disciplinares ............................................ 52
Segunda Parte – Abordagens à Indisciplina no A.E.A.N. ............................................ 133
Capítulo I – Enquadramento do Estudo de Caso ........................................................ 64
Capítulo II – Percursos Metodológicos ...................................................................... 68
Capítulo III – Cenários e Realidades .......................................................................... 73
Terceira Parte – Considerações Finais sobre (In)Disciplina Escolar ............................. 93
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 98
Anexos .......................................................................................................................... 111
5
Agradecimentos
Nada do que sou hoje se expressa melhor no reflexo de carinho, amor e humildade
que nutro pela minha afilhada, Yara Beatriz, pela minha sobrinha, Lara Santos e pelo
(nosso) “Joãozinho do MEG” (João Ribeiro): a vocês, Obrigado!, por me incentivarem
com as vossas brincadeiras e os vossos momentos reguilas, simples e inocentes, a ser
melhor; a ser eu mesmo, sem filtro(s) na minha vida e na minha profissão.
A vocês, professoras Lucília Silva, Alexandra Gonçalves e Celina Moreira e
professor Jorge Gonçalves por me ajudarem a compreender que a vida é um milhão de
(re)começos sempre movidos pelo desafio de fazer todo e qualquer sonho brilhar, em
especial aquele(s) que dá (dão) sentido à minha (nossa) paixão pelo ensino.
Uma paixão que foi sempre alimentada e fortificada por diversas «Mestres» de
quem tenho boas recordações e que levo para sempre na minha memória e coração:
Professoras Doutoras Cármen Ferreira, Fátima de Matos, M. Assunção Araújo, Licínia
Balkesthal, Ana Monteiro, Helena Madureira e Delminda Gonçalves, o meu Muito
Obrigado!… Aqui se imortaliza o reflexo da nossa paixão!
Mais que Orientadoras e Professoras, foram como uma (Segunda) Mãe para mim
e, disso, eu jamais esquecerei. Por entre sorrisos, lágrimas, batalhas e desafios, sempre
me revelaram que o vosso carinho, admiração e fidelidade são maiores que todos os
obstáculos da minha vida: o meu mais sincero Obrigado! a vocês, Elsa Pacheco, Laura
Soares e Salomé Ribeiro de quem muito me orgulho afirmar que esta dissertação de
Mestrado também é vossa.. É NOSSA!
É impossível deixar de não te agradecer de uma forma muito especial, meu grande
amigo Júlio Rocha, que juntamente com os meus melhores companheiros da vida, José
Raposo, Ana Lurdes Raposo, Dora Soares, Cláudia Costa, Inês Gomes (Baixinha),
Jéssica Moreira (Jéssy), Rui Pestana, Ana Sofia Costa, Sónia Pinto, Ana Raquel Silva,
Regina Rodrigues e Mariana Figueiredo, me ajudaram a compreender que a vida, muitas
vezes, parece girar em círculos só para revelar que independentemente da volta que der,
o caminho sempre começa e acaba em mim mesmo.
Além do mais, não posso deixar de recordar os meus amigos de infância – Soraia
6
Dreuxx, Samara Souza, Sílvia Batista, Ruben Cesário, Alexandre Pereira e José Martins
– por continuarem presentes na minha vida. Entre alguns quilómetros perdidos pela
distância, só vos posso agradecer por terem contribuído, nalgum momento da minha
(ainda!) «pequena» vida para a pessoa que hoje sou.
A vida também me ensinou que cada dia que vivo é uma oportunidade que não
volta e… não posso (nem quero!) deixar, por isso, de imortalizar este momento sem
prestar um reconhecimento do profunda gratidão e carinho ao Ricardo Ribeiro, à Márcia
Pinto, à Maria José Pinto (Zeza) e restante família; à E.S.C.E. (Escola Superior de
Ciências Empresarias – Valença) e à recém empresa Loading (Soraia, Renan e Filipe),
por me mostrarem que a vida não oferece promessas nem garantias, apenas
possibilidades e oportunidades que podemos (e diria mesmo, devemos) aproveitar.
Aos meus afilhados académicos pelo apoio, carinho e sobretudo por me ajudarem
a compreender que podemos e temos que viver, cada momento da nossa vida, como se
tudo fosse um verdadeiro milagre.
Agradeço também às Belas Artes e à sua equipa de trabalho. Em especial, um
agradecimento cheio de paciência à Elisa Barbosa e à Carla Tavares que tanto me
aturam durante horas seguidas nos meus cânticos (desafinados), se riram das minhas
piadas sem nexo e acompanharam (mesmo sem quererem!) as leituras que hoje dão
alento a esta obra. E a ti também, Helga Silva, que sempre te prontificaste a ajudar-me
quando mais precisei… sempre me relembraste que só saberei realmente «subir» na
vida se tiver a humildade suficiente para «descer» quantas vezes forem necessárias.
Por fim, mas não menos importante, porque sem vocês eu não seria feliz, aos
meus alunos, ao Colégio D. Duarte e à Escola Secundária de António Nobre, por me
fazerem acreditar que, num mundo tão heterogéneo como o nosso, algumas pessoas são
felizes pelo que carregam no bolso, mas outras, como eu, pelo que têm e guardam no
coração.
A todos, um MUITO OBRIGADO!
7
Resumo
Atualmente, a indisciplina é um dos maiores problemas das escolas
contemporâneas. Considerada pela comunidade científica como a grande deficiência do
processo pedagógico é também responsável pela instabilidade emocional e profissional
dos professores e compromete, grosso modo, as aprendizagens dos estudantes.
Apresenta-se, por isso, como um dos fatores que mais interfere na relação pedagógica,
sendo responsável pela permanente tensão que quase impossibilita a (re)construção de
um clima relacional que lhes permita progredir no processo de ensino-aprendizagem.
Partindo destas premissas, e reconhecendo que o(s) professor(es) contribui(em)
para o processo de formação e socialização dos alunos e que estes colaboram também
na contínua formação dos professores, foi nossa intenção identificar os comportamentos
de indisciplina que mais ocorrem na sala de aula e, ainda, compreender como procedem
alunos e professores perante os mesmos. Para o efeito, recorremos à aplicação de um
inquérito por questionário (alunos) e de entrevistas semiestruturadas (professores).
Assim, interrogamo-nos: que regras vigoram na sala de aula e quem as dita e
define? Que posições adotam professores e alunos em relação à (in)disciplina? Afinal,
quem é o aluno indisciplinado e como é percecionado pelo(s) professor(es)? E, o que
pensam os estudantes dos seus comportamentos e dos que são adotados pelos seus
professores?
Os resultados comprovam que a indisciplina é uma realidade socialmente
construída, uma mensagem cultural. Perante esta, os professores atuam de formas muito
dissemelhantes, recorrendo, normalmente a processos coercitivos, que abarcam desde a
repreensão ou chamadas de atenção até à expulsão do(s) aluno(s) da sala de aula. A sua
principal preocupação não é entendê-la. É eliminá-la!
Cientes da complexidade do fenómeno, a nossa intenção não é expor soluções
para todas as situações que envolvem este fenómeno escolar e social, mas dar um novo
alento a discussões que podem relevar novas possibilidades de (re)pensar a indisciplina.
Palavras-chave: (In)Disciplina Escolar; Relação Pedagógica; Educação; Prevenção;
8
Abstract
Nowadays, indiscipline is one of the main problems in contemporary schools.
Considered by the scientific community as the greatest weakness of the pedagogical
process, it is also responsible for the teachers‟ emotional and professional instability,
which roughly compromises the students learning progress. It is presented, for this
reason, as a permanent tension that almost makes it impossible to reconstruct discipline
and the relationship climate, which are indispensable for the development of the
teaching-learning process.
In the light of these concerns and acknowledging the role of the teacher(s) in
learners‟ educational and socialisation processes, without forgetting that they also
collaborate in teachers‟ on-going training development, it was our intention to identify
the main undisciplined behaviours inside the classroom and to understand how teachers
and learners deal with them. For that purpose, we applied a questionnaire survey
(students) and semi-structured interviews (teachers).
Thus, we asked ourselves: Which rules prevail inside the classroom and who
dictates and defines them? Which positions are adopted by teachers and learners
towards (in)discipline? After all, who is the undisciplined pupil and how is it perceived
by the teacher? And what do students think about their behaviours and the ones
performed by their teachers?
The results demonstrate that indiscipline is a socially constructed reality, a
cultural message. Under this scenario, teachers implement very dissimilar methods,
usually applying coercive processes, ranging from reprehension, calls to attention, or
even the expulsion of the learners considered unruly. Their main concern is not to
understand it, is to eliminate it!
Aware of the complexity of the phenomenon, our intention is not to come up
with solutions for all the situations that involve this educational and social phenomenon,
but rather a new impetus for discussions that may reveal new possibilities to (re)think
school indiscipline.
Keywords: School (In)Discipline; Pedagogical Relationship; Education; Prevention;
9
Índice de Tabelas, Gráficos e Figuras
TABELAS:
Tabela 1 – Amado e os 3 Níveis de Indisciplina; ……..………………………………………………… 44
Tabela 2 – Amado e os 3 tipos fundamentais de Processos Corretivos; ……………………………. 53-54
Tabela 3 – Freire e as 5 Medidas Preventivas de Indisciplina; ………………………….…………. 56-57
Tabela 4 – Caraterização das 4 Turmas ministradas pelo Núcleo de Estágio (2016/2017); ……..... 65-66
Tabela 5 – Questões de Partida, Instrumentos de Trabalho e Metodologias adotadas; ………….... 68-69
Tabela 6 – Estratificação da Amostra, por Escola do A.E.A.N. (3º Período de 2016/2017); ………….. 71
Tabela 7 – Associação entre Objetivos e Questões de Partida;…………………………………..….…. 72
GRÁFICOS:
Gráfico 1 – Distribuição dos alunos matriculados no A.E.A.N., por Nível de Ensino, em 2016/2017; ... 64
Gráfico 2 – Taxa de Sucesso e Faltas Disciplinares por Turma (Ano Letivo 2015/2016 – Relatórios
T.E.I.P.); ………………………………………………………………………………………………… 74
Gráfico 3 – Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano Letivo 2015/2016 – Relatórios
T.E.I.P.); ………………………………………………………………………………………………… 74
Gráfico 4 – Taxa de Sucesso e Faltas Disciplinares por Turma (Ano Letivo 2016/2017 – Relatórios
T.E.I.P.); ………………………………………………………………………………………………… 76
Gráfico 5 – Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano Letivo 2016/2017 – Relatórios
T.E.I.P.); ………………………………………………………………………………………………… 76
Gráfico 6 – Disciplinas que registam mais Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano
Letivo 2015/2016 – Relatórios T.E.I.P.); ………………………………………………………………... 80
Gráfico 7 – Disciplinas que registam mais Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano
Letivo 2016/2017 – Relatórios T.E.I.P.); ………………………………………………………………... 82
Gráfico 8 – Frequência de Resposta, à questão: “Por que razão o Zé Gato está a ser
indisciplinado?”; ………………………………………………………………………………………... 84
10
Gráfico 9 – Frequência de Respostas, à questão: “Se algum dos teus professores se tivesse apercebido
do que se passou, o que é que ele/ela teria dito ao Zé Gato?”; ………………..………………….......... 86
Gráfico 10 – Frequência de Respostas da nossa Amostra às 4 questões da Parte 2 do Inquérito por
Questionário; ……………………………………………………….…………………………………… 88
FIGURAS:
Figura 1 – Fatores a ter em conta na compreensão da Indisciplina; ……..……………………………. 47
Figura 2 – Requisitos (Prévios) na aplicação de Medidas Punitivas; ……..…………………………… 58
Figura 3 – Localização Geográfica das Escolas com 3º Ciclo do A.E.A.N;……………………………. 67
Figura 4 – WordCloud da Professora da Marta; ………………………………..……………….….…. 89
Figura 5 – WordCloud da Professora do Pedro; ……………………………………………..………… 89
Figura 6 – WordCloud da Professora do André;……………………… ……………….………………. 89
11
Lista de Abreviaturas e de Siglas
A.E.A.N. – Agrupamento de Escolas de António Nobre;
E.S.A.N. – Escola Secundária de António Nobre;
G.A.A.F. – Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família;
I.P.P. – Iniciação à Prática Profissional;
O.E.C.D. – Organisation for Economic Co-Operation and Development;
O.M.S. – Organização Mundial de Saúde;
T.A.L.I.S. – Teaching and Learning International Survey;
T.E.I.P. – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária;
12
Introdução
“Crise da Educação” (Aquino, 1998) é, talvez, a melhor expressão que define o
tempo em que vivemos, marcado pelo(s) desencontro(s) entre família(s), escola,
professores e alunos, onde cada vez mais se torna difícil descobrir soluções e respostas
para os (velhos) desafios que se colocam à Educação do século XXI.
Um desses desafios, por sinal muito debatido1 e polémico no âmbito escolar, é a
indisciplina. Encarada pela comunidade científica como não sendo um fenómeno ou
problema de hoje, muito menos novo (Hall, 2008), assume-se, porém, com maior
visibilidade, exercendo “(…) um papel de grande influência sobre o ambiente de
ensino-aprendizagem nas escolas.” (projeto T.A.L.I.S.2). Aliás, hoje, esta apresenta-se
muito “(…) mais complexa e „criativa‟(…)” (Garcia, 1999, p. 103) que no passado:
multifatorial, multidimensional e sem uma taxonomia definida (Lopes, 2006), é
considerada um fenómeno social e um dos maiores obstáculos e desafios pedagógicos
atuais. A sua exacerbada complexidade advém da interferência de tantas e diversas
variáveis, que se torna quase impossível aferir soluções que certifiquem um sucesso
garantido.
Mediante o exposto, e pelo que apre(e)ndemos do Estágio Profissional realizado
na Escola Secundária António Nobre, compreendemos que carecemos de encarar a
Escola do século XXI, não apenas como um veículo de transmissão de conhecimentos e
saberes essenciais mas, fundamentalmente, reconhecê-la como uma das principais
instituições que contribuem para o enriquecimento cultural, cívico e artístico da nossa
comunidade estudantil, assim como para a sua realização pessoal, promovendo a sua
formação integral. Porém, e fruto das profundas mutações sociais e culturais
contemporâneas, esta é uma escola que assume, hoje, papéis muito heterogéneos e
diferentes daqueles que lhe estavam incumbidos, acabando por revelar dificuldades de
«adaptação» a novas atitudes, comportamentos, culturas, saberes e valores
1
Prova da atualidade e relevância deste assunto são já as inúmeras obras de cariz científico que têm sido publicadas
nos últimos decénios e de que são exemplos Antunes (2008; 2012), Estrela & Amado (2000), Estrela (2002), Ferreira
(2002), Jesus (2001), La Taille (2006), Nunes (2011), Parrat-Dayan (2008), Rodrigues et al. (2010) e Vasconcellos
(2010).
2
Pesquisa recentemente desenvolvida pela Organisation for Economic Co-Operation and Development (O.E.C.D.)
13
experimentados e adotados pelos nossos alunos e que, grosso modo, não se coadunam
com as suas exigências da vida escolar atual.
Assim, para lá dos muros que circundam a escola acumulam-se dilemas que
precisam de ser resolvidos. Mas, para isso, necessitamos de renovar o interesse que
sentimos por ela e pelos seus problemas (Cachinho & Reis, 1991). Ou seja, como diria
Santos Guerra (2003), é fundamental "(…) viver[mos] a escola (…)” (p. 198). E é
precisamente na confluência destas premissas e da realidade de que não podemos
(querer) ensinar do mesmo modo que aprendemos (Sampaio, 1997), que nasce o
presente Relatório de Estágio, desenvolvido no âmbito da Unidade Curricular Iniciação
à Prática Profissional (a partir de agora designada de I.P.P.) do Mestrado em Ensino de
Geografia do 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário, intitulado (Des)Encontros
com a Indisciplina.
Com base nestas breves reflexões, equacionamos como ponto de partida um
conjunto de questões às quais pretendemos responder de forma muito clara e concisa no
final desta obra:
1. A (In)Disciplina interfere no (In)Sucesso Escolar?
2. Há alguma relação entre as faltas disciplinares e o sucesso escolar nessas
disciplinas?
3. Em que medida é que o(s) contexto(s) em que se insere a escola, os professores,
a comunidade estudantil e a própria família dos alunos interferem nos
fenómenos de (In)Disciplina e (In)Sucesso Escolar?
4. Que efeitos exerce a prática pedagógica no (In)Sucesso Escolar e na
(In)Disciplina em sala de aula?
Para o efeito, e por modo a satisfazer as questões de partida anteriormente
enumeradas, definimos como objetivos principais:
14
Identificar e compreender os multifatores e as multidimensões da Indisciplina
Escolar (Lopes, 2006);
Avaliar a relação entre faltas disciplinares e sucesso escolar nessas disciplinas;
Relacionar os contextos socioculturais e familiares com a formação escolar dos
jovens, os seus comportamentos, personalidades e objetivos de vida;
Refletir sobre (possíveis) estratégias e medidas de gestão e controlo da
(In)Disciplina em sala de aula;
Propor possíveis medidas e metodologias pedagógicas e didáticas alternativas
para lidar com os fenómenos de indisciplina escolar;
Desta forma, este Relatório de Estágio encontra-se organizado em três partes
estruturais:
A primeira – Perspetivas (In)Disciplinares –, engloba os capítulos I, II, III e IV,
onde apresentamos, com recurso a diversos autores, não só um breve recorte histórico,
relacionando e contrapondo os comportamentos indisciplinados de hoje com os de
décadas passadas, como também realizamos uma abordagem ao(s) conceito(s) de
(in)disciplina, reconhecendo a diversidade de comportamentos que este(s) fenómeno(s)
alberga(m), as suas causas e consequências, bem como os fatores a ele(s) associados.
Ainda procedemos a uma tentativa-esforço de sintetizar o que de essencial se preserva
da investigação científica nacional e internacional sobre esta problemática, com especial
relevância para as estratégias de prevenção e de resposta mais utilizadas.
A segunda parte – Abordagens à Indisciplina no A.E.A.N.3, é constituída por três
capítulos: no primeiro, apresentamos uma breve e clara descrição da Natureza deste
Estudo, caraterizando, para o efeito, os contextos histórico-geográfico e escolar onde se
aplicou a presente investigação; no segundo, expomos os Percursos Metodológicos que,
de uma forma genérica, consistiram na aplicação de um inquérito por questionário, aos
estudantes, e de entrevistas exploratórias a três entidades responsáveis pelo programa
educativo Territórios Escolares de Intervenção Prioritária (doravante conhecido como
3
A.E.A.N. é e será a sigla utilizada, doravante, para quando nos reportarmos ao Agrupamento de Escolas de António
Nobre.
15
T.E.I.P.4) do A.E.A.N.; no terceiro capítulo – Apresentação e Análise dos Resultados,
patenteamos os dados recolhidos, discutindo e interpretando os resultados obtidos. Para
tal, reforça-se esta discussão/interpretação, mobilizando a moldura concetual elaborada
na primeira parte desta obra.
Por fim, na terceira parte – Principais Considerações sobre (In)Sucesso Escolar,
aduzimos em forma de conclusão, uma síntese/resumo dos principais processos e
resultados, frisando as estratégias que podem contribuir para a prevenção da indisciplina
no plano das relações pedagógicas e fazendo uma apreciação crítica e reflexiva dos
limites deste projeto.
Mais do que responder a algumas inquietações pessoais e, casualmente, contribuir
para clarificar outros aspetos relacionados com o tema, (Des)Encontros com a
Indisciplina pretende ser um contributo de cariz científico – pedagógico, cujo objetivo
reside em compreender, explicar e prevenir a manifestação de fenómenos educacionais
associados com a temática em questão, “abrindo caminho(s)” à proposta de medidas e
soluções que permitam minorá-los.
Esperamos, assim, que os resultados obtidos neste estudo possam auxiliar todos os
profissionais ligados à Educação, incluindo a família, na discussão e desenvolvimento
de ações que contribuam para cimentar uma escola mais tolerante, compreensiva e
comunicativa. Uma escola que seja capaz de envolver toda a comunidade estudantil,
motivando os seus alunos, compreendendo os seus problemas, as suas vivências e
respeitando as suas crenças e a sua cultura. Uma escola capaz de, em comunhão com
eles, (re)construir regras e normas de (bom) funcionamento, incentivando-os para uma
participação mais responsável, ponderada e ética na gestão do espaço escolar. Até
porque, a principal função desta poderosa instituição reside na formação de jovens
cidadãos ativos, solidários, críticos e intervenientes, capazes de respeitar o outro e de
respeitar a diferença.
4
Segundo a Direção Geral da Educação, este projeto é uma iniciativa governamental que está atualmente
implementada em 137 Agrupamentos de Escolas e escolas não agrupadas que, por se localizarem em territórios
económica e socialmente desfavorecidos, cujos índices de pobreza, exclusão social, violência, indisciplina, abandono
e insucesso escolares são notórios, possui como principais objetivos a prevenção e redução do abandono escolar
precoce, do absentismo e da indisciplina, promovendo, por seu turno, o sucesso educativo de todos os alunos.
16
PRIMEIRA PARTE
_______________________________________________________
PERSPETIVAS (IN)DISCIPLINARES
“Nunca pense nos alunos como o inimigo.
O seu trabalho é lutar por eles, e não contra eles”
(Ramsey, 1997 citado por Afonso, 2006, p. 18)
17
Observação Introdutória
A indisciplina escolar tem registado e sofrido um longo percurso. Fruto disso é
já a notável e vasta literatura científica, bem como, os inúmeros estudos, nacionais e
internacionais, produzidos e realizados nesta área, e dos quais se destacam os de
Amado, (2000) e os de Estrela (2007), o de Santos (2008) ou também o de Vasconcellos
(2010), cujos resultados parecem espelhar uma mesma realidade: este é um conceito de
difícil definição, uma vez que é passível de múltiplas interpretações e significados,
consoante o(s) contexto(s) em que ocorre e se insere, e a perceção, um tanto ou quanto
heterogénea, que os diversos atores envolvidos dela adquirem (Amado & Freire, 2013;
Estrela & Amado, 2002; Hargreaves, 1975; Lopes, 2009; Magalhães, 1992; Renca,
2008). Nesta medida, é perfeitamente natural que, por vezes, este conceito seja
confundido, ou até sobreposto, com outros que teremos a oportunidade de puder
descortinar neste primeiro capítulo.
Não obstante, ainda clarificaremos as causas, consequências e os fatores
associados ao conceito em quesito, procurando compreender os motivos que nos levam
a acreditar que a existência de situações de indisciplina se atribui normalmente “(…)
aos alunos que chegam à escola «marcados» por problemas familiares, económicos,
sociais, raciais, étnicos [e] de insucessos repetidos (…)” (Estrela, 1991, p. 33). Teremos,
ainda, a oportunidade de compreender e identificar os reflexos negativos inegáveis que
a ocorrência deste fenómeno parece possuir no desempenho dos docentes em sala de
aula, levando-os a experienciar, por vezes, situações de mal-estar, «stress» e deixandoos psicologicamente afetados: “(…) são os conteúdos programáticos que não são
integralmente cumpridos, é a relação pedagógica que não funciona, é a sua própria
autoridade como professor e como adulto que é posta em causa por «miúdos»
irreverentes e desafiadores (…)” (Estrela, 1991, p. 30).
18
Capítulo I – Conceito(s) de um Conceito
É perfeitamente aceitável pensar-se que a indisciplina é, nos dias que correm,
um dos principais problemas das nossas escolas e um dos maiores dilemas com que se
confrontam, em plena sala de aula, os nossos professores, contribuindo, sobremaneira,
“(…) para uma crescente imagem negativa da escola (…)” (Amado, 2000, citado por
Couto, 2013, p. 20). Uma imagem protagonizada por “ (…) alunos [que] não têm regras,
não sabem ou não querem comportar-se dentro das normas, estão desmotivados (…)”
(Carvalho, 2000, citado por Couto, 2013, p. 20) e carregada de expressões e palavras
como «indisciplina», «mau comportamento», «irreverência» e «falta de respeito» que
tem vindo a preocupar a comunidade educativa (Amado, 2000; Boarini, 2013; Lima,
2017; Monteiro et al., 2015; Renca, 2008).
A escola mudou… e disso não temos a menor dúvida! Hoje, enfrenta dilemas
educacionais, mormente os disciplinares (e outros, como a violência ou o Bullying), que
segundo Figueiredo (1999) (re)encontram as suas origens nas “(…) crises da sociedade
contemporânea (…)” (p. 9). Fruto delas, e ainda do processo de democratização da
educação, as grandes transfigurações culturais, sociais e familiares atuais permitiram
que à escola chegasse cada vez mais estudantes com expetativas pessoais bastante
díspares, deixando-a “(…) com dificuldade em tratar por igual o que por natureza é
desigual e individual (…)” (Agrupamento de Escolas Eugénio dos Santos, s/d, p. 8).
Este facto agrava-se ainda mais quando, por sinal, e aliada à diversidade sociocultural
que reside na escola (Amado & Freire, 2009), encarada como “(…) um cruzamento de
culturas (…)” (Couto, 2013, p. 20), a família começou a distanciar-se progressivamente
dela, originando, nuns casos, e acentuando, noutros, problemas de integração e de
motivação escolares (Carvalho, 2014; Estrela & Amado, 2000; Ruivo et al., 2008), que
acabam por se revestir, muitas vezes, de fenómenos de indisciplina, assumida, aliás,
como um dos fatores que mais afeta a atividade pedagógica diária dos professores
(Amado, 2001; Aquino, 2016; Carita & Fernandes, 1997; Cortesão, 1995; Estrela, 2007;
Garcia, 1999; Lima, 2017).
Outorgada como sendo “(…) tão antig[a] como a própria escola (…)” (Aires,
2010, p. 13), “(…) sem nacionalidade, endereço ou classe social (…)” (Boarini, 2013, p.
19
124), a indisciplina é um fenómeno, comportamento e simultaneamente um problema
(interdisciplinar e transversal) da qual não só a instituição escolar não consegue estar
isenta, como também a(s) própria(s) sociedade(s). Nas palavras de Aires (2010) a
indisciplina que hoje marca presença nos espaços escolares é também ela “(…) um
fenómeno intrínseco à [própria] sociedade (…)” (p. 13), onde,
“(…) a escola, sistema aberto em interação com o meio, não pode ficar
imune às tensões e desequilíbrios da sociedade envolvente e, por isso,
poderá ver-se a indisciplina que atualmente perturba a vida de muitas
escolas como um reflexo dos conflitos e da violência que grassa na
sociedade em geral” (Estrela, 2002, p. 13).
Face ao exposto, compreendemos que a indisciplina não é só uma realidade
escolar de difícil resolução, mas também uma mensagem cultural (Alarcão, 2001;
Davis, 1989; Garcia, 2002; Hattie & Timperley, 2007), cuja sua compreensão nos
parece ser delicada, complexa e complicada, fruto do contínuo “(…) processo de
[re]invenção (…)” (Garcia, 2009, p. 315) a que este conceito está sujeito.
Enunciaríamos mesmo, conforme Estrela e Amado (2000), que “(…) quando falamos
em indisciplina, não falamos de um fenómeno, mas de uma diversidade de fenómenos
por detrás de uma mesma designação (…)” (p. 251) e isso proporciona-nos uma certa
dificuldade em conseguirmos definir, com razoável consenso, o que é (ou não) um
comportamento dito «indisciplinado» e, por inerência, o que é a indisciplina. Até
porque, “(…) embora os professores apontem o comportamento dos alunos como um
dos maiores problemas na sala de aula (…)” (Pinto, 2014, p. 5), determinados
comportamentos
parecem,
pois,
assumir
conotações
distintas
consoante
os
intervenientes e o(s) contexto(s) em que ocorre(m). Por exemplo, nalgumas escolas, e
para alguns professores, um aluno que entra numa sala de aula com o boné na cabeça ou
a mastigar uma pastilha elástica é já considerado «indisciplinado», enquanto noutras
instituições escolares, e para outros professores, estes atos são simplesmente encarados
como um excesso de vitalidade, uma revelação, aliás, própria da idade ou do (seu) meio
de naturalidade e/ou proveniência (Ramos, 2008; Renca, 2008; Zidane, 2010).
Esta falta de coerência e, em certa parte, de uniformização acaba(ra)m por,
grosso modo, dificultar a perceção dos alunos sobre que atitudes e/ou comportamentos
20
são, afinal, catalogados como «indisciplinados». A este propósito, Carita & Fernandes
(2002) esclarecem-nos que quando nos reportamos não às aceções, significados ou
interpretações que formulamos dos comportamentos e das atitudes protagonizadas pelos
nossos alunos, mas, pelo contrário, nos focamos nos seus comportamentos e nas suas
atitudes, torna-se extremamente complicado e difícil “(…) proceder a uma caraterização
generalizável do que é a indisciplina, uma vez que é praticamente impossível
estabelecer universalmente quais os comportamentos ou situações concretas
merecedoras de tal adjetivação (…)” (p. 17). Complementando esta premissa, Estrela
(2007), Garcia (2009), Lima (2017) e Rey (2004) alertam-nos que estes diferentes
entendimentos
resultam
de, nalguns
casos,
a indisciplina se reportar
aos
comportamentos e noutros às significações.
Assim sendo, julgamos que se deve ter algum cuidado na rotulagem dos
comportamentos ditos «indisciplinados», porque podemos incorrer no risco de
contribuir na criação e/ou conservação de estigmas sociais (Hargreaves, 1975). Neste
âmbito, pensamos, justificar-se, portanto, em primeiro lugar, a clarificação do conceito
de disciplina e, por inerência, o de indisciplina, por se tratarem dos conceitos alicerçais
desta obra.
1.1. (In)Disciplina(s)
Sob diversas perspetivas, ambas as noções aparecem associadas “(…) a
problemáticas que assentam em paradigmas de investigação nem sempre universais,
tornando-se difícil definir fronteiras (…)” (Pinto, 2014, p. 5) entre elas e,
principalmente, entre a indisciplina e conceitos como a agressividade, a violência, a
delinquência ou o Bullying.
Desta forma, se procurarmos o significado do conceito de indisciplina veremos
que este tende a ser “(…) definido pela (…) [negação,] (…) privação ou pela desordem
proveniente da quebra das regras estabelecidas (…)” (Estrela, 2002, p. 17). Ou seja, e
em sentido mais lato, a indisciplina surge como negação da própria disciplina (Assis et
21
al., 2010; Carvalho, 2014; Couto 2013; Esteves, 2015; Estrela & Amado, 2000;
Hargreaves, 1978; Lima, 2017; Ramos, 2008;Sousa & Palmeirão, 2015).
De origem latina (no étimo discere, que significa «aprender»), à disciplina se
encontram frequentemente associadas as ideias de instrução, ensino, educação, aplicar e
fundamentar princípios morais; o seu antónimo – indisciplina – expressa desobediência,
confusão ou negação da ordem (Dicionário de Língua Portuguesa de Houaiss e Villar,
2003, p. 1363). O Dicionário Aurélio, define disciplina como sendo o “(…) regime de
ordem imposta ou livremente consentida, que convém ao funcionamento regular de uma
organização, a observância de preceitos ou normas, submissão a um regulamento (…)”
(Aurélio, 2006, p. 322) e, por seu turno, indisciplina como sendo precisamente o “(…)
procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião
(…)” (idem, ibidem, p. 497). Ademais, o Dicionário (Online) da Porto Editora (2012)
ainda acrescenta que por disciplina se pode compreender “(…) 4. Conjunto de
conhecimentos específicos que se ensinam em cada cadeira de um estabelecimento
escolar; 5. Autoridade; 6. Castigo; Mortificação”. Da mesma fonte, ao conceito de
indisciplina ainda se associam “1. Falta de disciplina; (…) [e] 5. Incapacidade de agir de
forma metódica”.
Em verdade, não deixa de ser curioso revelar que, atualmente, o conceito de
disciplina é marcado por uma certa polissemia e ambiguidade (Amado, 2000; Estrela,
2002; Ferreira, 1986; Soares, 2000), já que, frequentemente, lhe são atribuídos diversos
significados como “(…) controlo, castigo, regulação ou organização e formação no
sentido de alcançar a autodisciplina (…)” (Alonso, citado por Silva, 2001, p. 9). Estrela
(2002) reforça esta evidência ao nos referir que “(…) quando falamos de disciplina,
tendemos não só a evocar as regras e a ordem delas decorrentes, como as sanções
ligadas aos desvios e o consequente sofrimento que elas originam (…)” (p. 17). Por isso
é que, para muitos, e embora este seja “(…) um conceito abrangente que se traduz não
só na adesão ou, porventura, na simples obediência a (…) regras, mas também nos
processos que tornam possível essa adesão e nos resultados que com ela se obtêm (…)”
(Freire, 2001, p. 9), o conceito de disciplina tenha adquirido, ao longo dos tempos, um
22
sentido, um tanto ou quanto, depreciativo (Estrela, 1986; Jesus, 2008; Ramos, 2008;
Renca, 2008).
Compreendida atualmente como sendo um conjunto de regras e procedimentos
que disciplinam e regulam a vida (e as relações) dos indivíduos no âmbito de um
estabelecimento, organização, ou até, de uma determinada instituição das sociedades
atuais, este conceito ganha um novo alento quando inserido no âmbito escolar.
Apelidado por inúmeros autores, entre os quais se destacam Amado & Freire (2002),
Carita & Fernandes (1997), Estrela (1992) e Soares (2000), de «disciplina escolar»,
traduz um conjunto de normas e de mecanismos que o empregues para colocar as regras
(pré-)estabelecidas em funcionamento no interior das escolas e, muito particularmente,
nas salas de aula, mantendo, assim, a salvaguarda da própria relação pedagógica (Carita
& Fernandes, 2002; Estrela & Amado, 2002; Hargreaves, 1975; Lopes, 2012; Palma,
2011). Ademais, para inúmeros investigadores, este conjunto singular de regras e
procedimentos/comportamentos disciplinares adotado por cada escola depende(rá)
sempre dos contextos histórico, político e cultural das sociedades em que efetivamente
essa escolarização se sucede(rá) ou ocorre(rá) (Formosinho et al., 1999; Machado &
Alves, 2013; Veiga, 2007).
Por isso, e de uma forma muito breve, até porque teremos a oportunidade de
debater esta evolução histórica, política e cultural do tema em quesito no segundo
capítulo desta obra, os sistemas de disciplina adotados e utilizados pelas escolas, para
além de serem bastante heterogéneos e díspares, evoluem, sofrendo profundas mutações
ao acompanhar as metamorfoses ocorridas no mundo sociopolítico, económico, cultural
e no pensamento pedagógico das sociedades em que se inserem (Amado, 2000; Estrela,
2007; Sergiovanni, 2004; Veiga, 2007). Assim, cada estabelecimento de ensino, para
além de apresentar um sistema disciplinar singular, com as suas regras, formas de
controlo, sanções e os seus níveis de tolerância aos desvios, salvaguarda a disciplina
escolar como o principal fator que permite que o trabalho pedagógico se concretize,
afigurando-se, este, como um fim educativo, na medida em que satisfaz a função de
preparar os estudantes para viver num mundo social pautado por regras.
Há semelhança do conceito de disciplina, explanado anteriormente, Palma
(2011) dá-nos conta de que
23
“(…) também o conceito de indisciplina é uma conceção imprecisa e
vaga, uma vez que envolve aspetos de referência multidisciplinares,
ângulos diversos através dos quais vários fenómenos podem ser
perspetivados (a evolução histórica (…), os agentes, as vítimas, as
causas, os efeitos e os contextos) e não pacífica, porque decorre de
tomadas de posição sob paradigmas de abordagem que estão longe de ser
consensuais.” (p. 13).
Neste contexto, e cientes de que não podemos negar, marginalizar ou, até
mesmo, refutar o “(…) caráter polissémico (…)” (Estrela (1992, p. 15) que tanto
carateriza estes dois termos, ajuda-nos a elucidar que “(…) para se compreender o que é
indisciplina, a escola tem de entender-se primeiro sobre a disciplina, isto é, sobre o
conjunto de comportamentos que considera aceitáveis, sob o ponto de vista pedagógico
e social (…)” (p. 5). Até porque, e como Lourenço (2003) bem nos recorda,
“(…) na escola, como em qualquer estrutura social, os conceitos de
disciplina e indisciplina estão associados à necessidade dos seus
elementos se nortearem por regras e normas de conduta e de ação que
proporcionem a integração de cada pessoa no grupo-turma e na
organização escolar em geral (…)” (p. 1).
Fruto da complexidade que sentimos ao tentar definir, com algum rigor e
precisão, o conceito de disciplina, também Amado (2001) nos dá conta do elevado grau
de dificuldade e complexidade em se conseguir definir o conceito de indisciplina,
alertando-nos para o caso de que se este não for prévia e operatoriamente bem definido,
esclarecido e, diríamos nós, compreendido “(…), tanto pode referir-se a uma realidade
merecedora de elogios, como expressar um daqueles piores males da sociedade
contemporânea, dignos de condenação e combate.” (p. 167).
Assim sendo, e segundo o Conselho Nacional de Educação (Parecer Nº.: 3/2002,
p. 5480), por indisciplina escolar deve entender-se, “(…) todos os comportamentos que
reflitam o propósito de perturbar os processos de aprendizagem que decorrem na escola,
dificultando o exercício da função docente, inibindo uma efetiva cooperação discente,
perturbando a convivência da comunidade educativa no seu todo.”. Por outras palavras,
Amado (2001) citado por Renca (2008), esclarece-nos que a indisciplina traduz-se no
24
“(…) incumprimento de regras de trabalho ou «exigências instrumentais»
que enquadram os comportamentos dentro do espaço da aula, impedindo
ou dificultando a obtenção dos objectivos de ensino-aprendizagem. A
esse incumprimento deve acrescentar-se, ainda, o desrespeito das
exigências morais, isto é, das regras, normas e princípios, explícitos ou
não, que fazem parte do património supostamente comum a uma
determinada sociedade e que estabelecem os deveres e os direitos dos
cidadãos no seu relacionamento social” (p. 28).
Palma (2011), simpatizando com a definição de inúmeros outros autores, dos
quais destacamos, Böck (1986), Garcia (2001), Lima (2017) e Neves & Silva (2006),
acrescenta, ainda à definição de Amado (2001), citado por Renca (2008), que o
incumprimento das “(…) regras estabelecidas, (…), impostas ou negociadas (…)
impede ou prejudica (…) as interações entre pares e a relação com o professor,
enquanto pessoa e autoridade (…)” (p. 14), bem como se apresenta como um grave e
sério obstáculo que “(…) impede ou dificulta [também] o decorrer do processo de
ensino-aprendizagem (…)” (Silva, 2001, p. 9). Esta obstrução à relação pedagógica é
abordada por Aquino (2016) que não deixa de frisar a indisciplina como a reação
encetada pelos estudantes que, subordinados arbitrariamente ao sistema de ensino, se
rebelam contra as normas geradas, promulgadas e, em certos casos, impostas pela
comunidade educativa. Tal ato de rebeldia e afrontamento, intitulado por Amado (2001)
como «fuga à regra», consubstancia-se pelo facto destes alunos não se encontrarem
preparados para uma vivência coletiva baseada em normas funcionais e proibições que
se fundem em “modelos de escolas idealizadas” por professores, diretores e demais
funcionários. Neste caso, e de acordo com Camacho (2001) e Chagas (2001), a
indisciplina, surge, então, como um «sintoma positivo», uma virtude ou, ainda, um
“(…) instrumento de resistência à dominação, à submissão, às injustiças, às
desigualdades e às descriminações em busca da identidade e dos direitos (…)”
(Camacho, 2001, p. 130).
Face ao exposto, é perfeitamente natural inferir-se que
“A indisciplina se define como elemento ambíguo: por um lado pode se
configurar em relações de ódio e raiva na medida em que sua ação
funciona como «forma de interromper o controle homogeneizador da
25
escola»; por outro, os atos indisciplinares, ao provocar essa dualidade,
garantem a expressão das formas heterogêneas, que asseguram a coesão
dos alunos, pois passam a partilhar de emoções que fundam o sentimento
da vida colectiva (…)” (Guimarães, 1996, p. 79).
A indisciplina escolar passa, assim, a ser perspetivada, também, como um
fenómeno relacional e interativo (Amado, 2000), que abraça “(…) todos [aqueles] (…)
comportamentos e atitudes [apresentados pelos alunos e depreendidos] (…) como
perturbadores e inviabilizadores do trabalho que o professor pretende realizar (…)”
(Jesus, 1999, p. 31). Assim sendo,
“(…) fazer barulho, bocejar, sair do lugar sem autorização, participar fora
da sua vez, proferir palavrões, agredir verbal ou fisicamente os colegas,
discutir com o professor, recusar sair da sala de aula quando se lhe
ordena que o faça, entre outros.” (Palma, 2011, p. 14),
como evitar (a realização d)o trabalho, não ser pontual e quebrar (propositadamente as)
regras estabelecidas podem figurar situações de indisciplina em sala de aula se assim
forem julgadas pelo(s) professore(es) e/ou pela turma. Ou seja, o fenómeno de
indisciplina é considerado também como a “(…) negação de qualquer coisa, seja uma
norma ou padrão socialmente aceite ou uma regra arbitrariamente imposta.”
(Magalhães, 1992, p. 12).
Certo é que poderíamos aqui apresentar outras definições e delas seguramente
extrairíamos as mesmas semelhanças: a indisciplina, sob as suas mais variadas faces,
remete-nos para a violação de normas (formais ou informais) estabelecidas, o que, em
contexto escolar, sobretudo em sala de aula, dificulta e fragiliza a relação pedagógica,
apresentando-se, ainda, como “(…) um dos fatores responsáveis pelo insucesso escolar,
já que integra comportamentos e atitudes que perturbam e inviabilizam o processo de
ensino-aprendizagem.” (Amado, 1991, citado por Silva & Neves, 2004, p. 1).
Embora o quadro concetual citado seja deveras limitado, o mesmo fornece,
contudo, uma perspetiva quanto à diversidade e
“(…) pluralidade de sentidos [e entendimentos conceituais atualmente]
atrelados ao conceito de indisciplina. Essa noção tem sido associada, por
exemplo, aos sentidos de: inadaptação escolar e conjunto de
26
comportamentos que perturbam o processo da aula (ESTRELA, 1994, p.
75-76); uma forma de desordem na sala de aula que exterioriza a
organização do trabalho de ensino (REY, 2004); um problema de
autoridade moral nas escolas (ARUM, 2005); ausência ou negação de um
comportamento desejável (FORTUNA, 2002); ruptura relacionada às
esferas pedagógica e normativa da escola (GARCIA, 2006); perturbação
que abrange as situações e os comportamentos que incomodam os
processos de ensino-aprendizagem (PRAIRAT, 2004); conduta
inadequada às normas estabelecidas, envolvendo atitudes de rebeldia ou
recusa, que quebram regras e orientações da escola (FURLÁN, 1998)”
(Garcia, 2009, p. 314).
1.2. Representações Indisciplinares
Ao conceito de indisciplina escolar aparecem frequentemente associadas as
noções de «disrupção escolar» (Afonso, 2006; Lopes, 2012; Palma, 2011; Veiga, 2007)
ou, se quisermos, na literatura internacional «disruptive behavior» (Desbiens et al.,
2011; Morin & Battalio, 2004; Pennac, 2010) ou, ainda, «disruptive classroom
behavior» (Garcia, 2009; Pennac, 2010; Veiga, 2007), como alguns autores, cientistas e
investigadores lhe gostam de apelidar. Ademais, e como um conceito extremamente
complexo, dotado de grande amplitude, ambivalência e ambiguidade, ainda se lhe
associam outros, como o conceito de «violência» (Abramovay & Rua, 2003) e o de
«Bullying» (Oliveira, 2012; Olweus, 2004).
De facto, e como tivemos a oportunidade de constatar, muitos são os autores que
confirmam que além da indisciplina, a violência e a prática de Bullying são também
problemas complexos e multidimensionais que afetam e preocupam a comunidade
escolar, já que acentua(ra)m em muitas das nossas escolas um generalizado sentimento
de insegurança (Renca, 2008). Subentendidos pela comunidade científica como
sinónimos de indisciplina, estes conceitos acaba(ra)m por se tornar, não só à escala
local, regional ou nacional, como também à escala planetária, um desafio social,
cultural, político, educativo científico, pragmático e, acrescentaríamos nós, pedagógico
que, conforme Amado (2000), Estrela (2002), Gauthier et al., (2006) e Palma (2011)
27
concordam, “(…) perturba os professores, afeta-os emocionalmente, mesmo mais do
que os problemas de aprendizagem com que habitualmente têm que se confrontar (…)”
(Carita & Fernandes, 2002, p. 15).
Assim sendo, Veiga (1995) emprega a expressão “disrupção escolar”5 e Renca
(2008) “(…) comportamento escolar disruptivo (…)” (p. 29), em vez de indisciplina.
Ambas as expressões sintonizam-se, na medida em que vão “(…) contra as regras
escolares, prejudicando as condições de aprendizagem, o ambiente de ensino ou o
relacionamento das pessoas na escola (…)” (Veiga, 1995, p. 45). Veiga, em 2007, ainda
nos alerta que os alunos que adotam tais comportamentos disruptivos acabam por
impedir ou prejudicar o normal decorrer do processo de ensino-aprendizagem,
dificultando, na maioria das vezes, as suas interações para com os colegas de turma e
minando, quase por completo, a sua relação com o(s) seu(s) professor(es), enquanto
pessoa(s) e, muito particularmente, enquanto principal(ais) autoridade(s) da e na sala de
aula. A propósito de tal, e inspirado pelas ponderações deste autor, Renca (2008)
concorda que este tipo de “(…) comportamento (…) interfere seriamente com o
processo de ensino[-aprendizagem] e (…) altera gravemente o funcionamento normal da
escola (…)” (p. 29). Considera, ainda que, para além “(…) do habitual mau
comportamento na aula, no recreio, nos corredores, …, [este tipo de comportamento
indisciplinado] inclui ataques físicos e destruição intencional da propriedade (…)” (p.
29). Extrapolando estas premissas, Casamayor (1995) considera ainda que estes
comportamentos indisciplinados e/ou disruptivos graves estão na base de uma profunda
disfunção escolar, onde os estudantes que adotam estes tipos de comportamento
procuram subordinar o(s) outro(s) a atender(em) às suas próprias vontades sem se
preocupar com os interesses dos demais que compõem a sua comunidade, a sua turma
ou, até mesmo, o seu grupo de amigos.
Coadunados com os autores supracitados, Mendes (2011) e Santos (2008)
referem que a ocorrência, em plena sala de aula, de atos indisciplinados ou disrupções
escolares consideradas graves podem evoluir para um estádio de comportamentos
violentos por parte dos alunos, colocando em causa o equilíbrio emocional dos colegas
5
Segundo Magalhães (1992), “(…) comportamentos disruptivos, indisciplinados ou desviantes assumem o mesmo significado e
estão intimamente associados ao conceito de indisciplina (…)” (p.18).
28
e do(s) professor(es) e dificultando, ainda mais, o processo de ensino-aprendizagem. Por
isso, não é de admirar que em diversos estudos, como aquele que fora encetado por
Amado & Freire, em 2009, o conceito de violência surja interligado com o conceito de
indisciplina escolar, sendo definido pela Organização Mundial de Saúde (2002) como a
“(…) utilização intencional de poder ou força física, na forma efectiva ou
de ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou
comunidade, da qual resulte ou possa resultar, com grande probabilidade,
morte, dano físico e psicológico, perturbação do desenvolvimento ou
privação (…)” (p. 4).
Em conformidade com a definição supradita, está aquela que é apresentada por
Macedo & Alves (2007), para quem a violência é entendida com ênfase no uso repetido
da força, a intencionalidade com que a ação é praticada e a possibilidade de surtir
efeitos físicos ou psicológicos nos indivíduos por ela afetados; ou, ainda, aquela que é
explanada por Fisher (1994), citado por Veiga (2007) que expressa de forma clara que o
conceito de violência está intimamente ligado ao “(…) recurso à força para atingir o
outro na sua integridade física e/ou psicológica (…)” (p. 15). Ademais, e como
complemento do(s) conceito(s) apresentado(s), Vale & Costa (1998), citado por Seixas
(2005), ressalvam, ainda, que este é também um conceito marcado por uma certa
diversidade sociocultural, um fenómeno multifacetado, que, aliás, possui uma extensa
variedade de manifestações, abarcando, entre outros, os comportamentos anti-sociais e
os de oposição, a delinquência e o vandalismo.
Em contexto escolar, e segundo a comunidade científica, subsistiria uma forte
tendência para se preterir o uso do conceito clássico de indisciplina escolar em prol de
uma designação muito mais genérica e global como «atos de violência» (Amado, 2004;
Jesus, 2008; Njaine & Minayo, 2003; Silva & Nogueira, 2008). Contudo, e mesmo
reconhecendo a notável existência de semelhanças entre estes dois fenómenos, Carvalho
(2014) relembra-nos que a atual tendência tem sido para diferenciá-los, uma vez que
admite que é frequente na comunidade educativa e, diríamos mesmo, na sociedade em
geral, assistirmos a uma certa colonização do discurso pedagógico atual pelo conceito
de violência, advindo desse facto, riscos políticos, epistemológicos e educativos de uma
definição muito ampla do conceito de violência (escolar). Assim, a melhor forma de os
29
distinguir reside no tipo de regras que esses comportamentos infringem ou transgridem,
no impato direto e imediato que geram no ambiente escolar e na gravidade intrínseca
que comportam.
A despeito disso, alguns autores (Carvalho, 2014; Njaine & Minayo, 2003) têm
destacado o perigo real de se criminalizar comportamentos escolares considerados
vulgares e de pequena gravidade, que envolvem frequente e, na grande maioria das
vezes, desnecessariamente o uso do corpo policial (escolar) na sua resolução. A adoção
desta metodologia tem conduzido a uma certa desvalorização e, atrever-nos-íamos
mesmo a dizer, destituição e minoração da importância pedagógica, cultural, social, e
até, científica dos comportamentos próprios ou caraterísticos da indisciplina, o que,
embora causem pouca perturbação pública e sejam «aparentemente inofensivos»,
causam um forte impato sentido no clima escolar e na aprendizagem dos estudantes.
Face ao exposto, a indisciplina escolar tem sido frequentemente associada aos
comportamentos não tão graves que, de alguma forma, viola(ria)m regras estritamente
escolares. Trata-se, portanto, de comportamentos que burla(ria)m as regras escolares
estabelecidas, acabando por dificultar o normal funcionamento da aula, e, em certos
casos ou momentos, podendo mesmo questionar a autoridade docente. Todavia, por
apresentarem pouca gravidade intrínseca, estes comportamentos tende(ria)m a ser
julgados em função da perturbação que geram no ambiente escolar do que pelas
consequências imediatas que poderiam acarretar à integridade física ou psicológica dos
sujeitos que deles são alvos ou ainda, que neles se encontram envolvidos. Por isso, estes
autores ressalvam que, desde que não sejam frequentes, estes comportamentos
tende(ria)m a ser ignorados (propositadamente) pelos professores. Até porque, atrevernos-íamos afirmar que, em certas circunstâncias e contextos próprios, estes
comportamentos de indisciplina são hábeis a contribuir para a vitalidade de uma turma,
ao permitirem momentos de descontração e ao quebrarem a tensão e o cansaço sentidos
pelos nossos estudantes, fruto da rotina escolar a que estão sujeitos (Dopp, PontesRibeiro, 2014; Sotoriva, 2009; Picado, 2009). Todavia, à medida que se tornam
demasiadamente frequentes, passam a assumir maior gravidade, perturbando a relação
pedagógica e impedindo que a aula decorra num clima de tranquilidade e harmonia,
30
favorável ao processo de ensino-aprendizagem e ao próprio sucesso escolar (Amado,
2001; Estrela, 2007; Lima, 2017).
Já a violência associa-se maioritariamente a eventos cuja natureza é considerada
mais grave e que, por isso mesmo, ferem de algum modo as regras sociais mais
abrangentes, possuindo a competência de causar danos físicos, morais, psicológicos ou
materiais às pessoas ou às instituições que deles são alvo (Fisher, 1994; Seixas, 2005).
Portanto, embora permaneça aberta a discussão em torno de uma definição
precisa do conceito de «violência escolar», a maioria dos estudos realizados tende a
mencionar a existência do poder destrutivo, da coerção, do uso da força física e das
figuras do agressor e/ou da vítima como elementos consensuais deste conceito.
Um outro conceito que nos importa aqui distinguir é o de Bullying, cujas
primeiras referências datam dos primários trabalhos de Olweus, em 1973.
De origem anglo-saxónica (na palavra Bully), e ainda sem termo equivalente em
português, significa, nas palavras de Veiga (2007) “(…) agressão em contexto escolar
(…)” (p. 15) e reveste-se de um conjunto de ações deliberadas de intimidação ou
agressão (Seals & Young, 2003), onde se enquadra o “(…) processo de intimidação
sistemática por parte de uma criança em relação a outra que não tem possibilidade de se
defender (…)” (Serrate, 2009, p. 17). Sobre tal facto, Olweus (2004) menciona que a
ocorrência ou a prática de Bullying envolve necessariamente um desequilíbrio de poder
físico e/ou psicológico que ocorre “(…) de alguém mais forte contra alguém mais fraco
(…)” (Oliveira, 2012, p. 24), de forma determinada, intencional e reiterada. Este tipo de
violência recorre a atos físicos, psicológicos e cibernéticos de humilhação, ameaças,
exclusão, ofensas, opressões e rumores, encontrando-se presente em todas as idades,
faixas etárias e contextos socioculturais.
A propósito, Amado (2000), Chesnais (1981) e Silva & Matos (2014), entre
diversos outros autores, demonstram que o Bullying, a violência e a indisciplina
escolares são conceitos e fenómenos cultural, escolar e socialmente (re)construídos,
perspetivados mediante uma ótica socioconstrutivista (Wolfgang & Glickman, 1995) e
encarados por Curto (1998) como sendo, no essencial, a expressão de personalidades
individuais, coletivas, patológicas ou portadoras de quadros culturais e de valores
31
delinquentes. Contudo, os trabalhos de alguns estudiosos desta temática, entre eles
Alarcão (2001), relembram-nos que, embora nos confrontemos frequentemente com o
argumento de que o sentimento de insegurança se verifica, especialmente, em contextos
sociais desfavorecidos, não podemos concluir que os alunos destas escolas sejam mais
violentos só por estarem inseridos em tais contextos. O que pode(re)mos expor é que
estas escolas sentem mais profundamente o confronto entre os seus valores e quadros
sociais, culturais e organizacionais e as trajetórias sociais e escolares, bem como as
heranças culturais dos alunos que acolhem. E é isso, que a nosso ver, prejudica as
relações que nela se estabelecem, colocando em risco e, por vezes, impossibilitando
mesmo o sucesso dos estudantes.
Podemos, assim, concluir deste primeiro capítulo que o conceito de indisciplina
escolar é suscetível de múltiplos significados e interpretações, sendo geralmente
acolhida a ideia de que as situações indisciplinares “(…) traduzem um questionamento,
explícito ou implícito, do professor (da sua pessoa e/ou do seu desempenho
profissional), ou simplesmente põem em causa a qualidade da relação com ele (…)”
(Carita & Fernandes, 2002, p. 16). São ainda encaradas como uma forma de
inconformismo, onde educadores, professores, outros agentes da comunidade educativa
e alunos, obrigados a conviver diariamente, descarregam mutuamente as suas
agressividades encaradas como sinónimos de insatisfação geradas pelos preconceitos
socioculturais, pelas dificuldades da estrutura social, económica, familiar e ainda, por
qualquer outro tipo de pressões provindas do meio no qual convivem.
Por estes motivos, a comunidade científica crê que, por um lado, “(…) a
indisciplina escolar não pode ser vista como existindo em si mesma… mas tem antes
que ser analisada e compreendida no contexto da relação pedagógica em que a situação
emerge e é categorizada enquanto tal (…)” (Carita & Fernandes, 2002, p. 17) e, por
outro lado, simpatiza com a argumentação de Amado (2000). Este autor ressalva que
estes problemas estão estreitamente relacionados com conflitos de poder e com uma
dimensão simbólica constituída por crenças e expectativas recíprocas não só entre
professor(es) e aluno(s), como também de todos aqueles que nestes fenómenos estejam
envolvidos. Por isso, propõe que se classifique este fenómeno em níveis, “(…) como se
32
falássemos de indisciplinas (no plural, portanto) diferentes pela sua natureza intrínseca e
não de uma só (…)” (p. 6), facto que teremos, aliás, a oportunidade de ressalvar e de
discorrer no terceiro capítulo desta obra.
Em suma, todos estes pensamentos e observações em torno do(s) conceito(s) de
disciplina(s) e indisciplina(s) conduzem-nos a uma reflexão importante sobre a nossa
própria prática pedagógica quotidiana. Embora atualmente persista no seio da
comunidade educativa uma certa tendência de encarar a(s) indisciplina(s) como um
problema grave que exige a implementação, ou mesmo o refinamento, de mecanismos
de controlo da conduta na escola, a serem exercidos por nós, professores, quando
convidados a refletirmos sobre tal problemática, por certo encontramos outras formas de
leitura pedagógica, que atribuem pressupostos distintos ao nosso trabalho educacional.
E será, desta forma, nos capítulos subsequentes a este, que poderemos (re)conhecê-los e
comprová-lo.
33
Capítulo II – Reflexos de um Passado
Os tempos mudaram, e, com eles, as exigências educacionais também. Hoje, não
podemos (querer) ensinar do mesmo modo que aprendemos (Sampaio, 1997), fazendo
uso, única ou maioritariamente, das velhas práticas e metodologias, um tanto ou quanto
tradicionalistas e conservadoras. Essas, feliz ou infelizmente, já não são suficientes para
suprir as necessidades vividas e sentidas pela escola, a quem se atribui a
responsabilidade de superar, ou pelo menos minorar, as grandes desigualdades sociais
que nos afetam (Estrela, 2002).
Perspetivada como peça fulcral de qualquer sistema social, a escola parece, pois,
possuir uma incapacidade inata de ficar imune às tensões e problemas que assolam as
sociedades contemporâneas, vivendo, por isso, o que Formosinho (1992) designou de
«Crise Social Importada». Neste paradigma, a escola vê-se como que obrigada a (ter
que) saber lidar, e em parte, resolver, os “(…) conflitos [existentes] entre gerações, [as]
crise[s] da família [e, ainda, muitos dos inúmeros problemas sociais] (…) que traduzem
o estado crítico [atual] da [nossa] civilização (…)” (Dottrens, 1973, p. 30). No fundo,
acaba por assumir, ainda que involuntariamente, responsabilidades e funções que, até
então, não lhe estavam confiadas, e para cujo exercício, nem sempre se tem mostrado
preparada.
Com efeito, muito embora tenhamos conquistado, com grande esforço e mérito,
o direito à liberdade de e para aprender, marco fulcral da evolução e modernização das
sociedades, e consagrado por Formosinho & Machado (2011) como “(…) a faceta mais
visível da democratização da educação (…)” (p. 16), esta universalização do ensino
“(…) nem sempre se veio a exprimir num concomitante sucesso (…)” (Lourenço, 2015,
p. 4). Em grande verdade, advindo da recuperação da Democracia Portuguesa, em abril
de 1974, o processo de universalização da escola, perspetivada para subtrair e encurtar
as disparidades entre pessoas, acabou por gerar e, em alguns casos, reforçar “(…)
algumas práticas que mantêm, mascaram ou acentuam as diferenças.” (Lourenço, 2015,
p. 4). É o caso concreto do progressivo aumento da escolaridade obrigatória, inferido
por Formosinho (1992) como sendo o principal “(…) instrumento de transformação da
crise social em crise escolar (…)” (p. 23) e que, atualmente, tem conduzido muitos
34
jovens a não vislumbrarem quaisquer vantagens em frequentar a escola com
aproveitamento, pois continuam a ser alvo de exclusão social e profissional e não lhes é,
também, garantida a possibilidade de ascensão na hierarquia social. Alunos, pais e
encarregados de educação acabam, assim, por desvalorizar a imagem da escola,
considerando que esta perdeu já o seu potencial de inclusão social, facto que contribui
para a desmotivação da comunidade estudantil, para a adoção de comportamentos
indisciplinares e agressivos e, ainda, para uma certa atitude de rejeição latente perante a
escola (Parecer Nº.: 1/2002 do Conselho Nacional de Educação).
Não obstante, os problemas sócio-escolares que “(…) há [mais de] 30 anos
poderia[m] constituir preocupação de um certo (e reduzido) número de portugueses,
(…) [são] hoje, de uma mais ou menos direta, preocupação de todos (…)” (Lopes, 1998,
p. 57). Funcionam, como que reflexos constantes de um passado conturbado em que à
escola se impuseram diversas transmutações que, a nosso ver, se poderiam elencar “(…)
numa fórmula breve, segundo a qual a escola passou de um contexto de certezas, para
um contexto de promessas, inserindo-se atualmente num contexto de incertezas (…)”
(Canário et al., 2001, p. 14). A este propósito, Canário et al. (2001), cuja opinião é
compartilhada por Lourenço (2015), elucida-nos que a «escola das certezas»,
corresponderia à escola tutelada pelo Estado Novo e encontra o seu tempo de vigência
na primeira metade do século XX, em Portugal. Com um vínculo fortemente elitista (a
escola era só para “alguns”), sem possibilidade de autonomia e regida por um elevado
centralismo político-ideológico, esta era uma escola que não aparecia comprometida
com a produção de injustiças sociais, promovendo, até, (alguns) percursos de
mobilidade social ascendente (Carvalho, 1986). Era, assim, uma escola que, como
inferem Formosinho & Machado (2000b) e Carvalho (1986), em virtude da sua forte e
estável organização político-pedagógica e administrativa, possibilitara a junção de todas
as valências imprescindíveis para uma educação nacional, reduzindo o risco de
ocorrência de episódios indisciplinares, de violência ou de contestação à autoridade.
Contudo, e fruto das grandes alterações político-económicas e socioculturais que
se fizeram sentir em Portugal nos primeiros vinte e cinco anos da segunda metade do
século XX, principalmente a mudança de regime político a crescente procura e adesão à
35
escola, a rápida expansão da rede e sistemas escolares e a democratização do acesso à
educação, permitiram que a imagem da escola se associasse a uma perspetiva «otimista»
que viria a assinalar por certo a transposição “(…) de uma escola elitista para uma
escola de massas e a correspondente transição de uma escola das certezas para uma
escola de promessas (…): [u]ma promessa de desenvolvimento, (…) de mobilidade
social e (…) de igualdade (…)” (Canário et al., 2001, p. 15).
Porém, a sentida crise e recessão económicas mundiais que marcaram os
primeiros anos da década de 70 acabaram por criar um certo sentimento de desencanto
e, diríamos nós, de desilusão por esta «escola das promessas». Assiste-se, pois, nos
finais de 1970, à passagem de uma procura «otimista» de educação, para uma procura
«desencantada» que marcara decisivamente, de acordo com Canário et al. (2001), a
entrada da escola, no início dos anos 80, “(…) numa era de incertezas (…)” (p. 15),
onde “(…) a crescente raridade dos empregos se conjuga com a desvalorização rápida
dos diplomas tornando-os simultaneamente imprescindíveis e cada vez menos rentáveis
(…)” (Canário et al., 1986, pp. 17-18). Verifica-se assim, segundo Lourenço (2015), a
“(…) inexistência, quer de uma relação de linearidade entre as oportunidades educativas
e as oportunidades sociais, quer de uma relação linear entre a democratização do ensino
e um acréscimo de mobilidade social ascendente (…)” (p. 8).
Portanto, os contextos vividos e sofridos pela sociedade portuguesa ao longo das
décadas de 70 e, muito particularmente, 80 do século passado, acabaram por mudar não
só a relação dos alunos com a escola, como acabaram por gerar um certo sentimento de
«desencanto» e cumulativamente um ambiente de «incerteza» face às expetativas que
detinham sobre o mercado de trabalho, uma vez que os empregos consonantes com os
diplomas alcançados eram, na realidade, escassos. É assim que nos últimos anos de
1980, depois de Portugal se ter juntado à então Comunidade Económica Europeia (atual
União Europeia), se começam a colocar em causa os sistemas educativos de então:
desacreditados, quanto aos trabalhadores que instruíam, e desadequados, quanto aos
valores e à cultura que reproduziam (Lourenço, 2015), a escola acaba por ter que
(sobre)viver sobressaltada a passagem de “(…) um paradigma da qualificação para um
paradigma da competência (…)” (Canário, 2005, p. 83). Nesta fase complicada e
36
complexa de transição, quer na escola, quer na sociedade, gera-se um ambiente de
agudizada incerteza quanto “(…) à utilidade dos estudos e, com ela, parte da população
escolar apresenta uma renitência em aprender, o que resulta em desinteresse,
absentismo, indisciplina, violência, abandono escolar e níveis baixos de literacia.”
(Lourenço, 2015, p. 8). Conjuntamente à dura realidade de já não ter capacidade de
garantir emprego, nem ascensão social, a escola confronta-se ainda com o dilema da
disparidade de públicos que o feliz alargamento do acesso à educação, na década de 70,
acarretou. Nas palavras de Canário (2005),
“A escola foi historicamente produzida em consonância com um mundo
que deixou de existir […]. Essa perda de coerência [também] é interna,
na medida em que o [seu] funcionamento (…) [já] não é compatível com
a diversidade dos públicos com que passou a ser confrontada.” (p.85).
Hoje, e fruto dos reflexos do nosso passado, é indissociável do ensino o aumento
das taxas de insucesso e abandono escolares provindos, em grande parte, pela forte
heterogeneidade do público que frequenta a escola. Embora o contexto sócio-escolar
atual seja marcado pela premissa da igualdade de oportunidades, estamos em crer,
contudo, “(…) que a seleção deixou de ser essencialmente social para passar a ser
predominantemente escolar (…)” (Lourenço, 2015, p. 9). Como Canário (2005, p. 85),
citado por Lourenço (2015), o refere “De uma seleção dos «melhores», que caracterizou
a escola (elitista) das «certezas», passou-se para um processo seletivo orientado para a
«exclusão» dos piores, por exclusão relativa (…) ” (p. 9).
Ainda que muitos tenham sido já os esforços efetivados, no sentido de promover
a inclusão escolar, de garantir a igualdade de direitos e de oportunidades, a escola
parece, contudo, manter inalterável a sua «cultura» (Machado, 2010), pois a «gramática
escolar» (Cabral, 2014) por ela apresentada continua a deter caraterísticas que, no nosso
entender, são muito pouco flexíveis: além de comummente criticada pela uniformidade
de normas, espaços e tempos, de alunos, professores e de saberes, é também fortemente
reprovada pelos processos de inculcação que objetivam como principal finalidade “(…)
ensinar a muitos como se fossem um só (…)” (Moura, 2009, p. 11). Ou seja,
“Como sublinha Roldão (2000, p. 125) a escola “(…) continua a servir o
mesmo menu curricular, utilizando os mesmos utensílios metodológicos
37
e a mesma linguagem de ação pedagógica que a tinha estruturado como
instituição destinada a uma classe de público tendencialmente
homogéneo e socialmente pré-selecionado (…)”. Desta forma, constatase a existência de uma uniformidade curricular apelidada por Formosinho
(1985; 1987) de “(…) currículo pronto-avestir de tamanho único (…)”,
em que se verifica um mesmo currículo “(…) para todos os alunos, todas
as escolas e todos os professores, independentemente das caraterísticas e
aptidões dos que transmitem e dos que recebem e das condições da sua
implementação (…)” (1988, p. 113). Retrata-se, assim, um ensino
baseado na unicidade que ignora as características, interesses e aptidões
dos alunos e faz “(…) imperar os princípios da uniformidade e da
impessoalidade (…)” (Formosinho & Machado, 2011, p. 20).”
(Lourenço, 2015, p. 9).
Coloca-se, assim, em causa a uniformização escolar que, arcaica, já não é
compatível com o público estudantil atual. Aliada a esta realidade, ainda, se discute a
desvalorização (propositada?) de que se tem inferido o conceito de inclusão (escolar):
talvez por receio, ou por não estar preparada para sofrer mais mudanças, a escola acaba
por desconsiderar as diferenças individuais como um dos principais “pontos de partida”
para a elaboração de propostas e recomendações pedagógicas que reflitam e traduzam as
necessidades sócio-escolares atuais dos alunos que, todos os anos, acolhe. E é
precisamente pela falta destas medidas que, cada vez mais, sofre não só com o aumento
do insucesso escolar, como também pela ocorrência frequente de situações
indisciplinares, que acabam por traduzir sentimentos de revolta, incompreensão e de
exclusão que assolam o seu público estudantil (Carvalho, 2014; Renca, 2008).
Assim sendo, hoje, talvez mais do que nunca, estamos seriamente
compenetrados em concluir que a escola contemporânea tem que ser uma escola
inclusiva. Uma escola onde todos os alunos, marcados por diferenças socioculturais e
económicas, religiosas e políticas, étnicas e com diferentes ritmos de aprendizagem,
devam e possam “(…) encontrar a resposta à sua individualidade e à sua diferença num
espaço educativo aberto, diferenciado e personalizado.” (Lourenço, 2015, p. 15). Mas,
para que tal se possa concretizar, a escola necessita de compreender à priori que
“(…) diferenciar é estabelecer diferentes vias – mas não pode ser nunca
estabelecer diferentes níveis de chegada por causa das condições de
38
partida. Diferenciar também não equivale a hierarquizar metas para
alunos de grupos diferentes – mas antes tentar, por todos os meios, os
mais diversos, que todos cheguem a dominar o melhor possível as
competências e saberes de que todos precisam na vida pessoal e social”
(Roldão, 1999, p. 53).
Cremos, assim, que a premissa da inclusão (escolar), por nós defendida, deve,
por isso, incluir em cada aula, dinâmicas didático-pedagógicas capazes de superar as
práticas e condutas de exclusão. Para o efeito, deve, grosso modo, perspetivar a criação
de experiências e práticas educativas que, indo ao encontro das necessidades sentidas
por cada aluno, o possam conduzir ao sucesso do seu processo de ensino –
aprendizagem, fazendo-o valorizar-se, valorizá-lo e valorizar a escola. Contudo, e
embora nos custe reconhecer e admitir, este paradigma é um tanto ou quanto utópico,
pois a prática da inclusão torna-se (bastante) falaciosa quando
“(…) esbarra, desde o início, com as tendências excludentes da
sociedade, incentivando a ressemantização da democratização escolar
com vista a acolher na escola todas as diferenças e fazer dela «uma ilha
de inclusão num mar de exclusão».
Esbarra também com a função seletiva (e, por isso, excludente) da escola
que tende a confundir com «falta de motivação» ou «indisciplina» ou
«falta de inteligência» a incompatibilidade entre os valores, ritmos e
interesses dos alunos com os que tradicionalmente ela veicula (…)”
(Machado, 2010, p.41).
Cientes, doravante, que as políticas educativas, quer as atuais como as do
passado, refletem, promovem e traduzem um conjunto importante e significativo de
transformações não só sociais, como culturais e políticas consagradas e emolduradas
pelo contexto temporal em que foram geradas, estamos convencidos que as que vigoram
atualmente devem procurar recentrar o seu esforço de enquadramento, por forma a
promover um melhor ambiente escolar e fomentar o exercício de valores como a
compreensão, a tolerância, o respeito pela heterogeneidade e individualidade, bem como
o sentido de responsabilidade e de liberdade (Barbosa, 2004; Caldeira, 2013; Fernandes
& Paludeto, 2010). Se assim for, conseguiremos, por certo, enfrentar e reduzir as
elevadas taxas de reprovação e de abandono escolar atuais, emergentes, como já
mencionado, da heterogeneidade da escola de massas, uma escola protagonizada
39
essencialmente por alunos que apresentam, concomitantemente, sérias dificuldades de
aprendizagem e são (mais) desfavorecidos ao nível social, económico, familiar e
psicológico.
Neste âmbito surgem, também, os programas ou políticas de educação
compensatória que assentam na promoção da igualdade de oportunidades, de
aprendizagem e de recursos e são perspetivados como uma solução (possível e
plausível) contra a exclusão social e escolar, funcionando, ainda, como uma das mais
importantes ferramentas de combate e minoração de fenómenos indisciplinares. Embora
tenhamos a oportunidade de os mencionar e refletir sobre eles no quarto e último
capítulo da primeira parte desta obra, não podemos, contudo, deixar de frisar que
“Num contexto[, como o atual,] de crise económica e de aumento
acelerado das desigualdades e das desiguais oportunidades sociais, a
educação escolar constitui um importante elemento das políticas públicas
e da ação das famílias, tendo em vista uma adequada integração social e a
manutenção de vínculos sociais de combate à exclusão e ao insucesso
escolar.” (Lourenço, 2015, p. 21).
É neste enquadramento que surgem os Territórios Educativos de Intervenção
Prioritária (T.E.I.P.)6 (Barbieri, 2003; Ferreira & Teixeira, 2010; Formosinho &
Machado, 1998c): ao assentarem em políticas de igualdade na educação, através de
medidas que visam combater os fatores de desigualdade, por forma a garantir não só a
paridade no acesso à escola, como também de sucesso nela (Aquino, 2016; Cherkaoui,
1978), este programa objetiva, principalmente, o desenvolvimento e a formação de
todos os cidadãos em condições de igualdade de oportunidades e, ainda, no respeito pela
diferença e autonomia de cada um, garantindo, assim, a universalização da educação e a
promoção do sucesso educativo, princípios, aliás, consagrados na Lei de Bases do
Sistema Educativo Português (Lei nº 46/86, de 14 de outubro), aprovada em 1986.
Como Barbieri (2003) deixa transparecer, os Territórios Educativos de Intervenção
Prioritária (T.E.I.P.)
“(…) constituem-se como uma medida de política educativa que
prescreve uma intervenção num determinado espaço geográfico,
6
Aprovados, em Portugal, no XIII Governo Constitucional, através do Despacho n.º 147-B/ME/96, de 8 de Julho.
40
administrativo e social de combate aos problemas de exclusão social e
(…) escolar, que supõe uma política de discriminação positiva,
valorizando-se o papel dos atores locais e o estabelecimento de parcerias
enquanto contributo para a criação de condições de igualdade de
oportunidades (…)” (p. 43).
Pretende-se, portanto, estimular e, em certa medida, animar o diálogo entre a(s)
escola(s) e a(s) família(s), fortalecer e cimentar os meios de promoção do acesso e
sucesso escolares e promover também a inclusão dos estabelecimentos de ensino e a sua
interação com o meio e a gestão dos recursos comunitários existentes.
Em suma, ressalvamos deste segundo capítulo que, a ênfase atual concedida à
qualificação do ensino, acentuando, sobremaneira, a visão “utilitária” do aprender a
conhecer e do aprender a fazer, teve como principal desfecho a desvalorização da
educação, mormente nos domínios, também eles fulcrais, do aprender a conviver e do
aprender a ser. Assim, no processo de educação, é a formação universal do indivíduo
que está em causa, assente no presumível equilíbrio entre a aquisição de conhecimentos,
o desenvolvimento de competências, a assimilação e interiorização de valores e de
condutas e, o mais importante, o pleno desenvolvimento harmonioso da personalidade
como ser humano. Por isso, não admira que seja hoje preocupação primordial de todas
as instituições escolares, incutir nos nossos estudantes
“(…) a responsabilidade perante nós e perante os outros, a consciência de
deveres e de direitos, o impulso para a solidariedade e para a
participação, o sentido de comunidade e de partilha, a insatisfação
perante o que é injusto ou o que está errado, a vontade de aperfeiçoar e
de servir, o espírito de inovação, de audácia e de risco, o pensamento que
age e a acção que se pensa.” (Sampaio, s/d, in Educar para a Cidadania).
Em pleno século XXI, “(…) a escola não esgota a educação mas é o seu centro,
reflete todas as crises e contradições do nosso tempo e das nossas sociedades (…)”
(Sampaio, 1999, p. 5) e é por isso, talvez, que curiosamente “(…) nunca tantos
deixaram de acreditar [nela: n]unca tantos a desejaram e procuraram[, n]unca tantos a
criticaram e nunca, como hoje, foram tão grandes as dúvidas sobre o sentido da sua
mudança (…)” (Barroso, 2001, p. 204).
41
Capítulo III – Cicatrizes de uma Identidade
A sinopse teórica realizada até ao momento acautela-nos que a indisciplina é
uma realidade “(…) complexa e „criativa‟ (…)” (Garcia, 1999, p. 103), sendo hoje
encarada como um «sintoma de doença» da nossa escola (Estrela & Ferreira, 2001).
Uma escola que, em virtude dos Reflexos de um Passado, se encontra munida de mais
dificuldades que estímulos ao desenvolvimento das aprendizagens dos alunos que
acolhe. E isto tem-nos intrigado:
“Qual o aluno que poderá interessar-se profundamente pelo seu trabalho
quando este é tão fragmentado, desconexo, caótico, ao sabor das
mudanças de actividades e de disciplinas, do ritmo das campainhas e de
outros toques, da contínua troca de professores e dos respectivos
temperamentos, das pressas e dos tempos mortos? Qual o aluno que
poderá, por imposição, tornar-se activo ou passivo e escutar ou
concentrar-se, falar ou escrever, questionar ou responder só porque
recebeu a ordem do professor, no momento determinado que este julga
oportuno? (…) Qual o aluno que poderá aprender por tentativas e erros,
expor as suas questões e as suas dúvidas, quando “tudo aquilo que possa
dizer pode ser utilizado contra si”, dá lugar a apreciações, a sarcasmos, a
comentários anotados na caderneta?” (Perrenoud, 1995, p. 18).
Em virtude do exposto, não nos admiramos, pois, que os comportamentos de
indisciplina presentes na escola possam ser persistentes, ocasionais, de iniciativa de um
aluno, de um pequeno grupo de alunos, ou também de toda uma turma (Amado, 2000),
o que acaba por dificultar, em grande parte, a articulação de diálogos que, de algum
modo, possibilitam a (re)construção da disciplina no interior das salas de aula. Aqui,
esta dificuldade é ainda mais evidente, pois no processo de composição das turmas,
estas acabam por aglutinar alunos com perspetivas bastante díspares: ou seja, coexistem
na mesma sala de aula alunos com e sem histórico de reprovações ou retenções, com e
sem interesse pelas aulas, pelas atividades, pelos conteúdos didático-pedagógicos
abordados e, muito particularmente, com e sem interesse, sentido de pertença e
identidade para com a escola que frequentam e a turma em que estão inseridos.
42
Não obstante, Estrela (1998), cuja opinião é partilhada por Afonso (1991), refere
ainda que os fenómenos de indisciplina em contexto escolar são também mais
recrudescentes quando, por sinal, continuamos a observar a existência
“(…) [de] turmas numerosas; [de] escolas superlotadas, que nas grandes
cidades funcionam como fábricas em elaboração continua; [de] edifícios
degradados e [com] falta de equipamentos didácticos adequados; fraco
nível de remuneração dos docentes, que afasta do ensino os mais
capazes; persistência de pessoal docente sem formação profissional e de
pessoal auxiliar subqualificado; percentagens elevadas de alunos
oriundos de meios economicamente degradados; presença de minorias
étnicas a quem não se proporcionou formas de acolhimento facilitadoras
da sua inserção escolar e social; taxas enormes de insucesso escolar;
seletividade e competitividade do ensino (…); falta de saídas
profissionais para os alunos do ensino básico e secundário, ligada à falta
de um sistema coerente de formação profissional (…)” (p. 13).
Assim, e na tentativa de propor medidas e estratégias que permitam, dentro das
nossas possibilidades, minorar os problemas que se manifestam dentro do recinto da
escola, torna-se imperativo (re)conhecermos as inúmeras variáveis e fatores inerentes à
personalidade da indisciplina escolar (Amado & Freire, 2009; Carita & Fernandes,
1997; Estrela & Amado, 2002). Isto porque, é através delas que, para além da
indisciplina poder assumir “(…) manifestações variadíssimas que [podem ir desde a]
“perturbação do trabalho” às agressões a colegas e professores (…)” (Amado, 1998, p.
35), o que realmente tem preocupado e angustiado a comunidade educativa e científica é
o facto de “(…) não se sabe[r exatamente] onde começam e acabam as causas e os
efeitos, a responsabilidade deste ou daquele agente, deste ou daquele fator, devido às
múltiplas implicações e à causalidade circular (…)” (Amado, 2001, p. 317), que estas
mesmas variáveis parecem assumir numa determinada ocorrência indisciplinar.
Nesta medida, Amado tem proposto, ao longo das últimas duas décadas, que se
classifique este fenómeno em níveis (Tabela 1), “(…) como se falássemos de
indisciplinas (no plural, portanto) diferentes pela sua natureza intrínseca e não de uma
só (…)” (Amado, 2000, p. 6). Acrescenta, ainda, que o desenvolvimento destes níveis
ocorre(ria) sempre que os atos perpetrados pelos alunos, pela sua natureza ou pela sua
reincidência depois da advertência do docente, transporta(ria)m a uma progressiva
43
diminuição da assimetria de poder na relação pedagógica. Ou seja, à medida que se
progride nos níveis em quesito, “(…) aumenta a sua agressividade intrínseca, mas a sua
extensão é menor na medida em que abrange menos situações e envolve cada vez um
menor número de intervenientes (…)” (Palma, 2011, p. 15).
Tabela 1 - Amado e os 3 Níveis da Indisciplina
Nível
1
Designação
«Desvios às regras da
produção»
Descrição
Comportamento de caráter disruptivo, em virtude dos
constrangimentos
que
causam
ao
normal
funcionamento da aula.
Dificuldades de relacionamento com os outros
2
«Conflitos interpares» colegas da turma, podendo traduzir-se em fenómenos
de “insolência” e/ou “Bullying”.
Condutas que, de algum modo, colocam em causa
3
«Conflitos da relação
não só a autoridade e o estatuto do professor, como os
professor-aluno»
atos encetados de violência e vandalismo contra a
escola.
Fonte: Adaptado de Amado (2000)
O primeiro nível, apelidado por Amado & Freire (2002a) de “(…) indisciplina
de carácter pedagógico (…)” (p. 49), é (re)conhecido pelos comportamentos e atitudes
ou condutas que, de alguma forma, constituem um desvio “(…) às regras da
comunicação verbal e não verbal, (…) da “mobilidade” e ao cumprimento da tarefa
(…)” (Amado & Freire, 2002a, p. 15), acabando por impedir o bom funcionamento da
aula.
“Estas infrações, frequentemente, não são explícitas, isto é, os alunos
cometem-nas, muitas vezes, de forma clandestina, mantendo
aparentemente o respeito pela regra. Até porque, este tipo de desvio
também pode ser caracterizado por não ser constante, ou seja, alguns
alunos ora cumprem as regras, ora cometem infrações a essas mesmas
regras.” (Gonçalves, 2008, p. 55)
44
São, assim, comportamentos desviantes considerados menos graves (Amado &
Freire, 2002a), uma vez que não se reportam diretamente ao professor e/ou à sua
autoridade, pelo que até estes revelam uma certa permissividade, tolerância e
flexibilidade perante a ocorrência deste tipo de infrações, atuando somente quando
atingem o seu estado de saturação. Contudo, parece-nos importante realçar que até esta
certa condescendência é inconstante e incerta, pois, varia “(…) de professor para
professor e até, com o mesmo professor, de aula para aula ou de aluno para aluno (…)”
(Gonçalves, 2008, pp. 55-56), pelo que não nos surpreende “(…) que, por vezes, o[s]
aluno[s] não saiba[m] exactamente quais são os limites.” (Gonçalves, 2008, p. 56).
Já o segundo nível corresponde(ria) à “(…) indisciplina social (…)” (Amado &
Freire, 2002a, p. 50). Uma indisciplina que coloca(ria) em causa o bom, ou pelo menos
razoável, relacionamento existente entre pares, cujos comportamentos desviantes
traduzir-se-iam, em “(…) jogos rudes7, comportamentos associais8 e [o mais conhecido
de todos, a prática de] bullying (…)” (Amado, 2005b, p. 7).
Embora aplicados com maior frequência no recreio, estas posturas desviantes
são, porém, passíveis de coexistirem em sala de aula, precisamente em “(…) turmas
pouco coesas [naquelas onde não se verifica o sentimento de destino comum (Estrela &
Amado, 2002, p. 198)] e frente a um professor sem pulso, os problemas do recreio
prolongam-se na aula (…).” (Gonçalves, 2008, p. 56). Assim,
“Na escola, sistema social aberto, inserida numa comunidade onde as
marcas de violência são cada vez mais frequentes, (…) são múltiplos os
fatores que contribuem para o fortalecimento de uma cultura de
violência. (…) Fazem medo e alastram onde reina um vazio de pertença e
de comunicação, onde escasseia o respeito pelo outro, a empatia, a
cooperação. Esta é a situação de alguns alunos vítimas de violência, que
vivem um quotidiano de medo, insegurança, mal-estar físico e
7
Segundo Gonçalves (2008), “(…) Nos jogos rudes incluiríamos os comportamentos, frequentemente, encarados
pelos alunos como “brincadeiras”, sejam elas através do contacto físico ou das zombarias. Embora estas
“brincadeiras” possam ter consequências graves, estes comportamentos, esporádicos, são entendidos por todos os
envolvidos como um jogo (Amado & Freire, 2002a, p. 53).” (p. 56).
8
Amado (2005b) explicita que “(…) Os comportamentos associais seriam comportamentos afrontosos – chamar
nomes, criar intrigas –, humilhantes – excluindo de jogos e brincadeiras –, ofensivos – apalpar, roubar, danificar
objectos dos colegas –, fisicamente agressivos – bater, empurrar. Constituem comportamentos agressivos, mas que
não são persistentes (…) (p. 7).
45
psicológico, que desinvestem na relação com os colegas e nos estudos.”
(Gonçalves, 2008, pp. 56-57).
Por fim, no terceiro nível, coloca-se em causa não só as normais condições de
trabalho, como também o salutar relacionamento hierárquico. Ou seja, poderemos
referir que os comportamentos concretizados têm o claro propósito de colocar em causa
o professor, enquanto pessoa e profissional, bem como a sua autoridade em sala de aula.
Neste nível da indisciplina, Amado & Freire (2002a) inferem que os cânones
colocados em questão – ou seja, a cooperação, o respeito e a obediência que os alunos
deverão demonstrar pelo (trabalho do) professor – à semelhança do que se sucede com
as regras que acabam por perturbar o normal funcionamento da aula, são,
excecionalmente, numeradas e esclarecidas, uma vez que se pressupõe que estas estejam
ou venham a ser adquiridas de uma forma pacífica e gradual. Porém, “(…) quando é
necessário fazê-lo é porque as relações professor-aluno já estão [significativamente]
deterioradas (…)” (Gonçalves, 2008, p. 57), o que acaba por se consumar em
comportamentos desviantes graves, como “(…) agressões físicas a professores, ameaças
e insultos, grosserias, obscenidades e atentados ao pudor, réplica à acção disciplinadora,
desobediência, desvio-dano à propriedade do professor e da instituição (…)” (Amado &
Freire, 2002a, p. 70). Destas, as condutas mais graves, como as agressões ao(s)
professor(es) ou os danos materiais à escola e ao professor, são menos frequentes do
que as contestações que se fazem sentir contra a ação disciplinadora, o que nos permite,
“(…) supor uma escalada de progressiva intensidade e de gravidade (…)” dos
fenómenos de indisciplina (Amado & Freire, 2002a, p. 70).
Além destes níveis recomendados por Amado (2000), o mesmo autor ainda nos
proporciona um momento de reflexão sobre os fatores que poderão estar por detrás dos
comportamentos disruptivos: como fenómeno extremamente complexo, que se expressa
dos mais distintos modos e graus de intensidade, alberga, ainda, múltiplos fatores de
índole social, económica, cultural, familiar, pessoal e escolar que, a nosso ver, devem
ser sempre, e em qualquer circunstância, considerados (Amado, 2000).
46
Fatores de ordem…
Pessoal do
Professor
Institucionais
Formais
Familiar
Institucionais
Informais
Pedagógica
Pessoal do
Aluno
Sociopolítica
Figura 1 - Fatores a ter em conta na compreensão da Indisciplina (adaptado de Amado, 2000)
A propósito da Figura 1, e com base na interpretação e compreensão de
inúmeras obras de literatura nacional e internacional, Amado (2001) salienta-nos que os
fatores de ordem sociopolítica potenciadores de fenómenos de indisciplina são aqueles
que acabam por espelhar os interesses, os valores e os estilos de vida das classes sociais
divergentes. Coadjuvados com o aumento do índice de desemprego e do emprego
precário, acabam por favorecer o acentuar de contextos sociais desfavorecidos, onde
impera a agressividade, a delinquência e são frequentes as atitudes de racismo,
descriminação e xenofobia (Estrela, 2007; Weishew & Peng, 1993; Willis, 1987). Além
do mais, Amado (1999), citado por Caldeira (2007), ainda infere que, neste âmbito, o
alargamento da escolaridade obrigatória constituiu também uma razão elucidativa para a
ocorrência frequente de fenómenos de indisciplina, uma vez que encaminhou para a
escola alunos oriundos de culturas e de grupos sociais diversos, levando alguns autores
(Amado & Freire, 2009; Carita & Fernandes, 1997) a julgar a existência de um fosso
entre as culturas docente e estudantil. Mesmo assim, parece-nos que hoje a escola
atinge, contudo, particular importância, já que se assume como um dos possíveis
“antídotos” a este chorrilho de fenómenos (anti-)sociais, ao adotar como paradigma
atual o educar os nossos jovens para a vida em sociedade.
A este propósito, não podemos deixar de frisar que o atual desencontro entre os
valores inculcados pela instituição escolar e aqueles que são acolhidos pela(s) família(s)
acabam também por propiciar fenómenos de indisciplina. Muito mais importante que a
escola, a família é, deveras, o principal alicerce na definição do caráter e da forma de
47
conduta dos jovens (Amado, 2000; Estrela, 2002; Gonçalves, 2008; Palma, 2011).
Assim sendo, os problemas que a assolam – como o disfuncionamento do agregado
familiar, a desestruturação familiar, os maus-tratos, a falta de afeto, carinho, negociação
e de diálogo, bem como a adoção de estilos repressivos ou permissivos de autoridade
familiar (Dornbusch et al., 1987) – acabam por, direta ou indiretamente, afetar os mais
jovens, constituindo-se como principais fatores de risco para a agressividade, por eles
adotada e revelada em meio escolar (Docking, 1987; Fernández, 2004; Weishew &
Peng, 1993). Por isso é que Amado & Freire (2009) defendem que se deve retomar
“(…) uma cooperação forte entre a escola e a família (…) para que os problemas de
indisciplina, em geral, e de agressão e de vitimização, em particular, sejam
efectivamente afrontados.” (p. 142).
Não obstante, os fatores de ordem institucional formal, de que fazem parte os
espaços, horários, curriculum, e ethos, pelo facto de se encontrarem desajustados com
os interesses e os ritmos dos estudantes, acabam também por revigorar a ocorrência de
fenómenos de indisciplina (Amado & Freire, 2009; Lawrence et al., 1985). O mesmo
sucede com os de ordem institucional informal, onde a interação, a coesão, o diálogo e
a(s) liderança(s) que naturalmente se fundam no grupo-turma acabam por (poder)
provocar não só desequilíbrios, como gerar intrigas e propiciar a adoção, por parte de
alguns elementos da turma, de condutas disruptivas que, em alguns casos, podem
assumir feições bastante graves (Amado & Freire, 2009; Hargreaves, 1976).
Há também que salientar os fatores de ordem pedagógica. Estes são
particularmente importantes, uma vez que acabam por abranger tanto a figura do
professor como a do aluno: como Amado (2001) nos alerta, uma relação pedagógica
problemática pode provocar uma reação contrária àquela que é pretendida pelo
professor, sobretudo quando este exprime falta de autoridade e de firmeza; falta de
experiência e atua de forma autoritária, revelando falta de coerência entre aquilo que
profere e aquilo que realmente faz, ou então age de modo injusto nos processos de
ensino – aprendizagem, de avaliação e nos procedimentos e processos disciplinares.
Ademais, “(…) o [seu] comportamento distante, a despersonalização da [sua] relação
(…) [com o aluno,] ignora[ndo] o [seu] nome (…), a [revelação de] brandura quando é
48
esperada a força são [também] (…) situações que suscitam a retaliação [por parte] do
aluno (…)” (Estrela, 2002, p. 88).
Neste estádio de deterioração da relação pedagógica, os fatores de ordem pessoal
do(s) professor(es) e do(s) aluno(s) também possuem a sua quota parte de culpa: no
primeiro caso, porque o(s) professor(es) pode(m) reger-se por valores, crenças, estilo(s)
de autoridade ou expetativas que podem não se conciliar com aqueles que são adotados
e defendidos pelo grupo de alunos a quem leciona(m) (Amado & Freire, 2009; Naiff,
2009; Jesus, 2008); no segundo caso, porque o(s) aluno(s) acaba(m) por transpor para
dentro da sala de aula as suas angústias e os seus problemas familiares e individuais,
mormente, a sua baixa auto-estima e autoconceito, o seu pouco ou nenhum interesse
pelo(s) conteúdo(s) abordado(s), a sua fraca adaptação à escola, ao professor, à
disciplina e/ou aos seus conteúdos, podendo, ainda, apresentar sérias dificuldades de
desenvolvimento cognitivo e moral, bem como de hábitos de trabalho (Naiff, 2009;
Pacheco, 2006; Sotoriva, 2009; Zechi, 2008).
Ainda nesta contínua degradação da relação pedagógica, Amado, em 2001,
refere-nos que muito contribuem as estratégias de ensino – aprendizagem inadequadas.
Embora não as possamos julgar, por si só, produtoras de comportamentos
indisciplinares, de acordo com a literatura científica (Amado & Freire, 2009; Carita &
Fernandes, 2002), estas acabam por assumir especial importância, na medida em que as
que são adotadas pelos professores acabam por condicionar a natureza das relações (pré) estabelecidas e por definir o funcionamento e a dinâmica da turma. Isto porque, ao
socorrer-se sobretudo de um método expositivo, devido à preocupação em cumprir o
programa curricular da disciplina ou por receio de ocasionar um ambiente de sala de
aula muito liberal, o professor acaba, ainda que inconscientemente, por incitar a
distração, a desmotivação e a indisciplina por parte dos seus estudantes (O.E.C.D.,
2009), já que inibe a sua interação e impede o confronto de ideias, teses e premissas
entre os elementos da turma. Ou seja, acaba por condicionar o desenvolvimento da sua
autonomia e contribui para que
“(…) [a] aula [se torne] desinteressante [e] repetitiva (…) [. Na]
perspetiva dos alunos, [estas são] aquelas [aulas] em que não há “nada
para fazer”, em que o professor “nunca sai da matéria” ou está a ser
49
“desinteressante”, “chato”. Além do desinteresse, desmotivação e
consequentes desvios de comportamento, estas aulas trazem uma espécie
de entorpecimento e habituação à desordem e à preguiça.
Também a ausência de sentido da matéria lecionada, muitas vezes
referida pelos alunos, por considerarem que esta não é adequada aos seus
interesses e capacidades de aprendizagem, é fator de desmotivação e
aborrecimento (…), levando (…) ao aparecimento de comportamentos
de indisciplina.” (Amado, 2001, citado por Palma, 2011, p. 17).
Por isso é que, a este propósito, Amado & Freire (2009) salientam que, em
dinâmica de sala de aula, a relevância que tanto os docentes, na forma como
estabelecem e aplicam as regras, como os estudantes, na forma como as percecionam e
as cumprem, constitui uma dimensão de caráter organizacional com grande importância
para a prevenção dos fenómenos de indisciplina escolar.
Antes de finalizarmos este capítulo, ainda merece particular atenção da nossa
parte, o facto de a indisciplina poder estar relacionada com o fraco sucesso escolar dos
nossos alunos. De facto, o insucesso escolar é fruto, em grande parte, do pouco
investimento que determinados estudantes depositam nas atividades escolares que
concretizam, bem como no crescente desinteresse que nutrem pela escola. Muito
embora seja comumente aceite que este insucesso escolar se associe às classificações
aferidas nas diversas disciplinas, o facto é que o desenvolvimento de certas emoções
negativas acabam por espelhar determinados valores inculcados pelos professores da
turma e que certos alunos recusam a interiorizar e a obedecer, porque não se vêem
coadunados com eles. Como consequência direta revelam condutas de agressividade,
apatia, desmotivação, desatenção e imaturidade que se agravam ainda mais quando não
perspetivam a escola como lugar motivacional e que contribui para o seu sucesso
escolar; ou ainda, porque não encontram em si mesmos ou na família estímulos e
dedicação suficientes para a sua aprendizagem.
Face ao exposto, seria necessário, no parecer de Dozena (2009), uma “receita
mágica” que, imolada numa série de programas e políticas públicas de prevenção e
intervenção, colocasse termo a esta agrura escolar e social. Neste sentido, será no quarto
e último capítulo desta primeira parte que teremos a oportunidade de discorrer sobre
métodos, políticas e programas educativos que convirjam para uma resolução adequada
50
desta problemática, o que “(…) será fundamental para ajudar a ultrapassar uma das
questões essenciais de ensino – a sua qualidade (…)” (Silva & Neves, 2004, p. 37).
51
Capítulo IV – (Re)Construir Diálogos (In)Disciplinares
Marcada pela atemporalidade, a indisciplina é uma realidade que sempre existiu e,
ainda que nos custe certificá-lo, sempre irá existir. Como fenómeno multidisciplinar,
multicausal e multifatorial e sem uma taxonomia nitidamente definida (Lopes, 2006),
encontra-se em constante transformação, o que impossibilita, como aludido no término
do último capítulo, a existência ou, até, a criação de «receitas» e «fórmulas» que
permitam minorar a sua manifestação na sociedade e, muito particularmente, na escola.
Neste sentido, e no discorrer deste último capítulo de enquadramento teórico, é
nosso intento apresentar algumas sugestões de prevenção da indisciplina, procurando
transmitir ao leitor “(…) a mensagem [de que] não [nos basta] apenas [querer] inovar,
mas [é necessário] conseguir a diferença quando se inova (…)” (Lopes & Silva, 2015, p.
3). E é precisamente através dessa «diferença», acreditamos, que estaremos a contribuir
decisivamente
“(…) para a promoção do desenvolvimento pessoal e social dos alunos
[e] para a qualidade de vida e do bem-estar social nas escolas em geral,
[ao minorarmos, através de ações preventivas] (…), [o] insucesso, [a]
desmotivação (…) [o] abandono escolar, (…) a delinquência e a exclusão
social (Amado & Freire, 2009).” (Palma, 2011, p. 24).
Neste sentido, admitimos, até pelo que consta da vasta bibliografia nacional e
internacional, que a grande dificuldade sentida pelos professores em lidar com as
questões indisciplinares no interior das salas de aula, se reporta essencialmente a um
problema de prevenção. Como Amado (2000; 2001), compartilhando as premissas de
outros autores (Carita & Fernandes, 1997; Estrela, 1992, 2007;), nos refere, prevenir a
sua (oportunidade de) ocorrência e de manifestação, trata-se fundamentalmente de “(…)
organizar as situações de aula, de gerir as atividades e de dar expressão a um conjunto
de atitudes relacionais, de tal modo que se afastem ou anulem os factores de perturbação
e desvio (…)” (p. 9; p. 269) e, em simultâneo, se consiga promover e potencializar o(s)
processo(s) de ensino-aprendizagem, que acaba(m) por fomentar a (re)construção da
disciplina na escola e na sala de aula.
A missão dos professores não é, deveras, fácil… Até porque,
52
“(…) não há receitas aplicáveis e as soluções são em geral construídas
momento a momento, sob a pressão dos acontecimentos. (…).[Contudo,
de entre] os processos utilizados, a investigação efetuada (…) considera a
utilização de estratégias preventivas e de resposta, incluindo estas últimas
as medidas corretivas e punitivas [como as mais utilizadas pelos
professores para corrigir as ocorrências indisciplinares].” (Pinto, 2014, p.
23).
A este desígnio, e concordando com Amado (2000), por mais que procuremos
prevenir, é quase inevitável a aparição de condutas desviantes, que acabam por dar
alento à intervenção corretiva ou punitiva, por parte do(s) professor(es). Entre ambas,
Palma (2011), Amado (2000) e Pinto (2014) revelam a sua preferência pelas ações
disciplinares corretivas, pois estas detêm como objetivo essencial, “(…) o de gerir as
situações de indisciplina, corrigindo mais do que punindo.” (Palma, 2011, p. 25). Neste
âmbito, Amado (2000, 2001) estabelece, de acordo com a Tabela 2, três tipos
fundamentais de processos corretivos que são usualmente utilizados pelos professores
em sala de aula.
Tabela 2 – Amado e os três tipos fundamentais de Processos Corretivos
Tipo
Processo
Corretivo
Descrição e Metodologia de Atuação
Integração/Estimulação»
1
«Correção pela
A resolução dos problemas comportamentais efetua-se com recurso
ao diálogo com os alunos, em situações que já não são as de
prevenir, mas as de corrigir. São, portanto, situações onde, como
Amado (2000) evidencia, "(…) prevalecem as bases pessoais do
poder do professor (poder referente), as bases de poder normativo
(o apelo às regras) ou a partilha de poderes com os alunos (…)" (p.
29), com o claro objetivo destes alterarem a sua conduta
comportamental.
53
Neste âmbito, as relações são vinculadas numa base de poder
legítimo-coercitivo, onde as posições de advertência adotadas são
nitidamente de ameaça e de intimidação: a atitude do professor é
Dominação/Imposição»
2
«Correção pela
alavancada não só por gritos de menor/maior intensidade, como por
distintas manifestações físicas de aproximação ao aluno, como meio
de aviso.
Contudo, a eficácia da utilização destas metodologias, depende(rá)
da credibilidade da mensagem transmitida, ou que se pretende
transmitir, e das interpretações que eventualmente dela se
concebem, já que, nalgumas ocasiões, os efeitos surtidos são
contrários aos pretendidos.
Mesmo assim, consideramos, pertinente ressalvar que a advertência
é considerada uma medida corretiva, consagrada pelo Decreto-Lei
N.º51/2012, de 5 de setembro, alusivo ao Estatuto do Aluno e Ética
Escolar dos Ensinos Básico e Secundário (Palma, 2014).
Dominação/Ressocialização»
3
«Correção pela
A ação do professor, aparentemente muito próxima da atribuição de
um castigo, tem porém, como intenção prioritária, dar ao aluno uma
oportunidade de modificar o seu comportamento.
As
estratégias
adotadas,
segundo
o
normativo
legal
supramencionado, visam contribuir, assim, "(…) para o esforço da
sua formação cívica com vista ao desenvolvimento equilibrado da
sua personalidade, da sua capacidade de se relacionar com os
outros, da sua plena integração na comunidade educativa, do seu
sentido de responsabilidade e das suas aprendizagens" (Artigo 24º).
Fonte: Adaptado de Amado (2000, 2001)
Estrela & Amado (2000) ainda complementam estes processos corretivos (Tabela
2) com mais três orientações de prevenção que julgam(os), aliás, ser essenciais na
(re)construção, compreensão e (re)valorização da disciplina e das regras na escola e,
muito particularmente, no interior das salas de aula.
Assim sendo, na primeira medida de prevenção – construção de um clima
54
relacional assente em normas e regras –, os autores reportam-se à capacidade de
liderança e ao estilo de autoridade adotado pelo professor; ao seu relacionamento com a
turma; ao civismo e à criação de um bom e propício ambiente (democrático e
participativo) de trabalho, assente na definição coletiva de um conjunto claro, simples e
objetivo de regras e normas (Amado, 2000). Pretende-se, assim, que os estudantes
fortaleçam a sua vertente cívica, cresçam, reflitam e participem ativamente na
(re)construção da disciplina e das regras: uma vez envolvidos na sua formulação,
acabam por aceitá-las, compreendê-las e cumpri-las muito mais facilmente do que se
estas fossem impostas de uma forma autoritária pelo(s) professor(es) (Amado, 2000;
Carita & Fernandes, 2002).
A propósito da construção de um clima de abertura ao aluno (segunda medida de
prevenção enumerada pelos autores em quesito), espera-se que o professor seja
reflexivo, democrático e cumpridor das regras e normas de conduta que, conjuntamente
com os seus alunos, concebeu. Que se preste em «dar a palavra», em saber escutar e,
acima de tudo, orientar, por forma a poder apoiá-los, quer no âmbito escolar e
educativo, como na vertente sociopsicológica, a fim de, consciente e eticamente,
(re)construírem e (re)orientarem a sua autoestima e autoconceito. Até porque, segundo
diversos outros autores (Carita & Fernandes, 2002; Simões & Serra, 1987; Veiga,
1995), os professores que menosprezam, por vezes, estas conceções, acabam por
conduzir os seus estudantes ao desinteresse, à desmotivação e à procura de outros
colegas com quem se identifiquem e que, na grande maioria das vezes, se regem à
margem das regras (pré-)estabelecidas e acordadas. Carita & Fernandes (2002) inferem
também que, para se conceber este «clima de abertura» é necessário existir uma
saudável relação de cooperação, interesse, interajuda, responsabilidade, autonomia e
motivação entre professor(es) e alunos. Ademais, ainda deixam transparecer como
premissas bastante importantes para o sucesso deste paradigma, o sentido de humor, de
responsabilidade e de compreensão do professor: um professor que sabiamente concebe
uma aula dinâmica, interessante e flexível; que se revele mais batalhador pelos seus
alunos e pouco rigoroso na marcação de faltas disciplinares e de castigos; um professor
que, a seu jeito, permita que o «aprendiz» se transforme «mestre», dando-lhe a liberdade
55
de escolher, de criar e de desenvolver trabalhos que animem aulas e que fomentem a sua
autonomia e gosto pela(s) cultura(s) escolar(es).
Por fim, Estrela & Amado (2000) ainda referem que a atuação do professor (com
competência técnico-pedagógica) tem que ser dinâmica, surpreendente e cativante. Para
que isso ocorra, é-lhe praticamente exigida não só a formação inicial, como,
apelidaríamos nós, a «formação ao longo da vida». Através dela, o professor pode
encontrar estratégias de prevenção para lidar com a indisciplina e que se materializam
na forma como aborda os assuntos mais atuais dos conteúdos programáticos que
leciona; na criatividade que deposita na construção dos seus materiais didáticos e na
própria cultura pedagógica de que é titular, que lhe permite implementar metodologias
de cooperação e dinâmicas de grupo que acabam por favorecer o desenvolvimento da
auto-estima, da solidariedade, da cooperação, da responsabilidade e do respeito.
Os processos corretivos (Tabela 2) de Amado (2000), bem como estas medidas
preventivas estipuladas por Estrela & Amado (2000) vão, ainda, ao encontro das
estabelecidas por Freire, em 2001 (Tabela 3).
Tabela 3 – Freire e as cinco Medidas Preventivas da Indisciplina
Competências de
MEDIDAS PREVENTIVAS
Comunicação
Educação para os
Valores
Desenvolvimento das competências do “saber ser”,
“saber ouvir” e “saber respeitar”.
Clarificação dos valores individuais e sociais, que
norteiam a nossa vida em sociedade.
Desenvolvimento adequado do autoconceito do
Autoconceito Positivo e
Realista
futuro
adulto,
através
da
formulação
de
pensamentos positivos e conscientes perante si
próprio e perante os outros que o rodeiam e que
com ele convivem.
Participação
Estudantil na Vida
Escolar
Criação de condições para uma participação
efetiva, honesta e equitativa, das quais surjam
oportunidades e responsabilidades de intervenção a
diferentes níveis.
56
Criação de um ambiente positivo, onde se consiga
Condições Ambientais
estabelecer relações interpessoais que expressem e
traduzam bem-estar para todos os intervenientes no
processo educativo.
Fonte: Adaptado de Freire (2001)
Todas estas medidas de cariz preventivo, por nós elencadas, acabam por
possibilitar à comunidade escolar, e muito particularmente, aos docentes, a (re)criação
de uma conduta de prevenção perante a ocorrência de fenómenos e comportamentos
indisciplinares, fomentando, por seu turno, a articulação de diálogos entre professores e
alunos na (re)construção e (re)valorização da disciplina e das regras.
Já as medidas punitivas, que extrapolam todos os âmbitos da negociação, surgem,
por vezes, como sanções exigidas pela comunidade estudantil, "(…) em nome da ordem
e do respeito na aula (…)" (Amado, 2001, p. 175). Encontram-se, por isso, consagradas
no Regulamento Interno das escolas ou mesmo na própria legislação em vigor9, e
conseguem colocar termo à indisciplina "(…) por um tempo curto, (…) não
produz[indo, contudo,] uma mudança de comportamento [que seja] duradoura (…)"
(Curwing, 1987, citado por Amado, 2001, p. 176). Nalguns casos, até, a sua aplicação
acaba por ser perspetivada como um reforço positivo à conduta desviante efetivada
(Amado, 2001).
Ainda que estas medidas sejam, vulgarmente, consentidas e aceites pela própria
comunidade estudantil como um "(…) mal necessário (…)" (Amado, 2000, p. 33) para
se restabelecer a ordem dentro da(s) sala(s) de aula, é, contudo, importante, segundo
Amado (2000), que obedeçam a três requisitos prévios (Figura 2).
9
A título de exemplo, Palma (2014) apresenta-nos algumas das medidas previstas no Decreto-Lei N.º51/2012, de 5
de setembro, que contempla a repreensão registada, a suspensão, a transferência de escola e a expulsão como as
principais medidas punitivas.
57
Razoabilidade
Não devem corresponder
a uma simples exibição e
demonstração de poder e
de arbitrariedade;
Adequação
Devem
conformes
ser
(sempre)
à
gravidade
da(s) ocorrência(s);
Consistência
Devem ser aplicadas a
todos os intervenientes e
em todas as ocorrências
(semelhantes);
Figura 2 – Requisitos (Prévios) na aplicação de Medidas Punitivas (adaptado de Amado, 2000)
Não obstante, a literatura consultada ainda considera a relação pedagógica como
um dos principais fatores potenciadores da indisciplina (Estrela & Amado, 2000; Jesus,
2008; Palma, 2014; Renca, 2008). Precisamos, por isso, de alertar o leitor e, muito
particularmente, os professores, de que urge recriarmos essa mesma relação didáticoeducativa, agora envolta num ambiente de estímulo, rodeada de expetativas positivas e
fortalecida no respeito e na compreensão, na negociação e no diálogo. Acreditamos que,
se assim for, a aproximação entre professores e alunos será mais fácil e mais
harmoniosa. Essa «(re)aproximação», estamos também em crer, será mais proveitosa se
a comunidade educativa tiver como principal preocupação, instruir o aluno para a
autodisciplina e para a responsabilidade, surgindo, para o efeito, a necessidade da regra,
como um dos fatores basilares na liderança da turma em sala de aula (Amado, 2000).
Aliás, é indispensável e, diríamos nós, insubstituível, a existência de um sistema de
regras que seja claro e bem definido, para que estas premissas se concretizem
(Bostroom, 1991; Estrela, 1992, citados por Amado, 2000). Até porque, como já
referimos anteriormente, os alunos aceitam com facilidade a existência de regras, desde
que as compreendam e apreendam os motivos da exigência do seu cumprimento por
parte da comunidade educativa (Amado & Freire, 2005).
Assim,
“(…) a propósito de regras, Short et al. (1994), citados por Amado (2000,
p. 12), salientam a necessidade das regras obedecerem à “regra das
regras”, isto é, certos princípios básicos que devem reger as regras. Estas
58
devem ser: “poucas: “não muito mais do que três ou quatro”; “simples:
de modo a que se compreendam e retenham facilmente”; “positivas:
exprimindo os comportamentos que se desejam e não os que são de
evitar”; “claras: permitindo a percepção de quais os comportamentos que
obedecem à regra e de quais os que a infringem”; “fundamentais:
referindo-se ao que não é negociável ou ao que já está negociado”.”
(Ramos, 2008, p. 19).
Quando não se cumprem as premissas referidas, e se verifica, no decorrer da aula,
inconsistência por parte do docente, os alunos acabam por se sentirem injustiçados e
protestam. Ou porque as regras não são razoáveis ou aplicáveis, ou porque quando,
perante a ocorrência de comportamentos indisciplinares, o professor não os testemunha;
ou também porque se verifica uma certa inconsistência na sua atuação, principalmente
porque não revela «pulso» suficiente relativamente à implementação de uma regra ou
sanção.
“Portanto, Kounin (1970, citado por Gomez, 2000, p. 34) enuncia dois
factores essenciais para obter êxito no controlo de uma turma: a
capacidade do professor conhecer o que se passa na aula e dar a entender
aos seus alunos que detém esse conhecimento e a destreza de dirigir duas
ou mais situações em simultâneo.” (Ramos, 2008, p. 20).
Temos ainda que salientar neste capítulo mais dois aspetos que julgamos
essenciais. Um deles é a utilização, por parte do corpo docente do reforço social, do
sistema de créditos e da gestão de contingências como algumas estratégias de prevenção
da indisciplina e da mudança de comportamento(s). De facto, a aplicação
“(…) da estratégia do reforço social, permite que o aluno receba uma
resposta socialmente recompensadora como um elogio, um sorriso, uma
atenção e o feedback positivo, após a ocorrência de um comportamento
adequado, o que vai favorecer a sua frequência. No entanto, (…) [para
que esta metodologia surta efeitos, julgamos necessário a adoção de
outras medidas], tais como: – Ignorar o comportamento inadequado,
quando pretende que este seja eliminado e escolha um que pretende
acentuar e reforce a atenção e o elogio sobre esse comportamento; – O
reforço deve ser atribuído imediatamente ao comportamento positivo,
revelando-se aí a sua eficácia; – O reforço deve ser individual, devendose adequar a cada aluno, consoante as suas próprias características e
59
gostos; – Reforçar as tentativas que o aluno faz para atingir o
comportamento desejado, ajudando – o e encorajando-o a conseguir os
objetivos pretendidos. Após a concretização do comportamento desejado
deve-se passar a reforçá-lo de forma intercalada, diminuindo assim o
número de reforços para que o aluno o interiorize na sua conduta como
um ato normal.” (Valente, 2014, p. 43).
Um outro método ou metodologia que também pretende estimular e reforçar, de
forma sistemática, a ocorrência de comportamentos agradáveis e corretos por parte dos
alunos é a gestão de contingências. Este tipo de estratégia permite a existência de uma
certa «negociação» entre professores e alunos, tendo como principal objetivo a
supressão de condutas e comportamentos que se revelem inadequados e indisciplinares,
procurando substitui-los por outros que sejam pretendidos e positivos, e atribuindo-se,
sempre que se processe (com êxito) a conclusão do objetivo proposto, uma recompensa
– Princípio de Premack. Assim sendo, e com a utilização de tal metodologia, “(…) o
aluno, para além de se sentir recompensado, também vai aprender a assumir a sua
responsabilidade no processo, permitindo-lhe a cooperação com o professor em vez do
confronto e das manifestações de comportamentos (…)” (Valente, 2014, p. 43)
indesejáveis e perturbadores.
Por fim, ainda ressalvamos, a adoção da metodologia «Sistema de Créditos»: uma
estratégia que compreende a atribuição de créditos ao aluno sempre que se efetue a
concretização de comportamentos, condutas ou atitudes desejáveis e que estejam
explícitos num contrato celebrado entre professor(es) e alunos da turma.
Embora todos estes métodos, metodologias e programas educativos (de que faz
parte o programa T.E.I.P., alvo de estudo da segunda parte desta obra) sejam
substanciais para ressalvar um papel pró-ativo e inclusivo da escola contemporânea, não
poderemos, deixar, porém, de frisar também a importância de que se reveste o
envolvimento dos pais e encarregados de educação na escola e na vida escolar dos seus
educandos, facilitando, assim, (a articulação de diálogos que permitem) a (re)construção
da disciplina escolar. Em verdade, não há qualquer dúvida de que a escola e a família
são os dois alicerces fundamentais e de apoio mútuo na (re)construção e sustentação de
qualquer ser humano. Nesta medida,
60
“(…) quanto melhor for a parceria entre ambas, mais positivos e
significativos serão os resultados na formação do sujeito. Basta
pensarmos na definição das regras escolares, se estas forem ao encontro
daquilo que é praticado em casa podemos obter uma modelação de
comportamentos desejáveis, uma vez que o aluno também em seio
familiar possui regras e referências. Pelo contrário, se não existirem
padrões comuns podemos estar a pedir atitudes e comportamentos que
não são aqueles que fazem parte do [seu] quotidiano familiar, o que [lhe]
provocará um choque com a cultura escolar, manifestando-se muitas
vezes em comportamentos disruptivos e indisciplinados.” (Afonso, 2006,
p. 114).
Assim, os pais devem procurar integrar modelos adequados de condutas
comportamentais para os filhos e devem responsabilizar-se e envolver-se ativamente no
seu processo educativo, colaborando sempre que possível e/ou desejável com os
professores e empregando estratégias educativas consonantes com aquelas que são
aplicadas na escola. Isto quer dizer, segundo diversos autores, entre os quais, Amado
(2000), Palma (2014) e Valente (2014), que devemos ter em consideração que a não
aplicação de punições por parte dos professores passa também pelas famílias dos alunos
não as empregarem. Até porque, se assim não for, para muitos estudantes, esta será a
única linguagem corretiva conhecida, o que acaba por apresentar sérios entraves e
dificuldades ao êxito da aplicação de outras estratégias, nomeadamente as preventivas.
Assim, torna-se
“(…) imprescindível que os pais retomem o reconhecimento, o respeito e
a colaboração com os professores, tentando em conjunto contribuir para
um processo educativo mais adequado, a bem dos alunos (…) e da
sociedade [que pretendem, em conjunto,] [re]construir. (…)
É importante [também] que se assuma que os professores não podem
substituir os pais na educação dos filhos. Os pais são os primeiros
modelos para os filhos, tendo sobre eles uma influência que os
professores não podem ter (…)” (Jesus, 2003, p. 27).
Portanto, e em jeito de conclusão, deixamos aqui imortalizado o conselho de
Amado & Freire (2009), citado por Valente (2014), ao qual introduzimos apenas uma
breve e pequena modificação, por forma a completá-lo (acrescentando o conselho da
letra T). Um conselho, estamos em crer, que certamente ajudará tanto pais, como
61
professores e restante comunidade educativa a lidarem com os fenómenos e
comportamentos de indisciplina na escola e, muito particularmente, em sala de aula.
ABC da Prevenção da Indisciplina
A dquira cada vez maior consciência de si em ação.
B atalhe pela colaboração dos pais na vida da escola.
C rie uma atmosfera de respeito pelos outros.
D escubra o seu estilo de professor.
E nvolva os alunos ativamente nas tarefas.
F aça um inventário das necessidades e interesses dos alunos.
G uie-se por comportamentos assertivos.
H abitue o aluno a cumprir as regras previamente acordadas.
I mplemente estratégias que promovam a autoconfiança e a autoestima.
J ogue com os aspetos cognitivo e sócio – afetivo.
L eve os alunos a serem autodisciplinados.
M ostre entusiasmo nas atividades de ensino.
N ão rotule o aluno.
O rganize atividades extracurriculares.
P lanifique aulas motivadoras.
Q uestione-se sobre os motivos da indisciplina.
R eforce o comportamento adequado dos alunos.
S eja coerente com os seus comportamentos e os que deseja do aluno.
T enha muita calma e paciência!
U se métodos de ensino adequados às situações.
V isualize toda a sala de aula.
X eque-mate à „pedagogia-saliva‟.
Z ele por uma boa organização e gestão de aula.
62
SEGUNDA PARTE
____________________________________________________________
ABORDAGENS À INDISCIPLINA NO A.E.A.N.
“Se queres compreender uma certa realidade,
procura mudá-la”
(Dearborn, s/d, citado por Sanches, 2005, p. 127)
63
Capítulo I – Enquadramento do Estudo de Caso
O Agrupamento de Escolas de António Nobre (A.E.A.N.) é constituído por sete
escolas que se distribuem geograficamente pelas freguesias de Paranhos e Campanhã da
cidade do Porto: quatro delas albergam o 1º Ciclo do Ensino Básico – Antas,
Montebello, Monte Aventino, e São João de Deus –, com Pré – Escolar e não pertencem
ao referido estudo. As três restantes – Escolas Básicas da Areosa e de Nicolau Nasoni,
ambas com 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico, e a Escola Secundária de António Nobre,
sede do Agrupamento, com 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário – são as
escolas que perfazem a amostra deste projeto (Figura 3).
De acordo com dados retirados do Plano de Formação do Agrupamento, no
presente ano letivo, encontravam-se matriculados 1 527 alunos distribuídos, de acordo
com o Gráfico 1, pelos ensinos Pré-Escolar, 1º, 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e
Ensino Secundário.
600
500
400
Nº. de
Alunos
300
200
100
0
Pré-Escolar
1º C.E.B.
2º C.E.B.
3º C.E.B.
Ens. Sec.
Nível de
Ensino
Gráfico 1 – Distribuição dos alunos matriculados no A.E.A.N., por Nível de Ensino, em 2016/2017
Atualmente, este Agrupamento acolhe alunos bastante heterogéneos, provindos
não só das freguesias de Paranhos e de Campanhã, como também de outros lugares do
64
país e até do mundo, facto que lhe granjeia um mosaico cultural «vivo» bastante ímpar10
e para o qual muito contribui a parceria que mantém com o Futebol Clube do Porto.
Em 1972, a sede do Agrupamento em quesito foi inaugurada sob a denominação
de Liceu António Nobre. Volvidos 7 anos, e fruto das profundas alterações sentidas em
Portugal no decorrer dessa década, passou a designar-se de Escola Secundária de
António Nobre (E.S.A.N.). Denominação, aliás, que mantém atualmente, apesar de ter
sofrido, no decorrer da segunda década do segundo milénio, dois processos de
agregação: o primeiro, em Agosto de 2010, entre esta e o anterior Agrupamento Vertical
de Escolas da Areosa; e o segundo, em Julho de 2012, que a fez agregar-se ao antigo
Agrupamento de Escolas Nicolau Nasoni9.
Impelido pelo seu slogan, «Semeando Estrelas e Plantando Luas»9, e auxiliado
pelo programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (T.E.I.P.), o A.E.A.N.
possui, ainda, como primordiais missões; melhorar os resultados escolares dos seus
alunos, diminuir a sua taxa de abandono escolar e salvaguardar a garantia da
continuidade da promoção de igualdade de oportunidades e de sucesso para todos os
seus estudantes, inclusive, os que carecem de um acompanhamento diferenciado.
Assim, entre setembro de 2016 e junho de 2017, prestámos o nosso Estágio
Pedagógico na E.S.A.N., onde estivemos responsáveis por 76 alunos, distribuídos por 4
turmas de 3 anos de escolaridade: uma turma (8º As) do 3º Ciclo do Ensino Básico e
três turmas (11º LH1 e LH2 e 12º LH2) do Ensino Secundário Regular, que na Tabela 4
se encontram sumariamente caraterizadas.
Tabela 4 – Caraterização das 4 Turmas ministradas pelo Núcleo de Estágio (2016/2017)
Ano Turma
Síntese Descritiva da Turma
Constituída por 23 alunos (15 do género masculino e 8 do feminino), esta
8º
As
turma albergou 3 estudantes que frequentam o Futebol Clube do Porto.
O seu aproveitamento foi considerado bom e não se registou, no decorrer
do ano letivo, quaisquer ocorrências indisciplinares.
10
Informação adaptada do site oficial do Agrupamento de Escolas de António Nobre (passível de ser consultada em:
http://www.ae-anobre.pt/index.php/2014-02-25-17-09-48 [Acesso em: 2 de Setembro de 2017]
65
Constituída por 18 estudantes (12 do género masculino e 6 do feminino),
com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, foi também uma
LH1
turma onde 5 dos seus alunos pertencem ao Futebol Clube do Porto, sendo
que os restantes 13 provieram das escolas do A.E.A.N.
A sua conduta comportamental, bem como o seu aproveitamento foram
apreciados como razoáveis.
11º
Constituída por 19 alunos (10 do género masculino e 9 do feminino), com
idades também compreendidas entre os 16 e os 18 anos, foi uma turma
LH2
constituída, na sua globalidade, por alunos procedentes das escolas que
integram a A.E.A.N.
À semelhança do 11º LH1, a sua conduta comportamental e o seu
aproveitamento escolar foram também conotados como razoáveis.
Constituída por 14 estudantes (5 do género masculino e 9 do feminino),
com idades compreendidas entre os 17 e os 20 anos, foi uma turma
bastante heterogénea: acolheu alunos das escolas do A.E.A.N., como
também de outras instituições escolares da Grande Área Metropolitana do
12º
LH2
Porto e, até mesmo, provenientes de outros países (Brasil e Guiné –
Bissau).
O seu aproveitamento escolar foi razoável. Contudo, ao nível da sua
conduta atitudinal foi necessário intervir bastantes vezes (registaram-se
conflitos quer dentro da sala de aula quer, nalguns casos, fora dela).
De realçar que, para este caso prático, e de acordo com os dados recolhidos dos
Relatórios Oficiais Finais Anual (2015/2016) e Periódicos (2016/2017) do A.E.A.N.,
que se cingiram às variáveis percentagem de sucesso escolar (por turma) e número de
faltas disciplinares (registadas também por turma)11, por nós delimitadas, as turmas
selecionadas encontram-se geograficamente distribuídas pelas 3 escolas com 3º Ciclo do
Ensino Básico do A.E.A.N (Figura 3).
11
Este conteúdo será devidamente explicado no Capítulo II da Segunda Parte, intitulado Percursos
Metodológicos.
66
Figura 3 – Enquadramento Geográfico das 3 escolas (A – E.B. da Areosa; B – E.B. Nicolau Nasoni; C – Escola Secundária de António Nobre) com 3º Ciclo do A.E.A.N.
(Porto, Portugal)
67
Capítulo II – Percursos Metodológicos
Por modo a (cor)responder às questões de partida, formuladas e elencadas na
Introdução, adotámos diferentes instrumentos e metodologias de trabalho (Tabela 5).
Tabela 5 – Questões de Partida, Instrumentos de Trabalho e Metodologias adotadas
QUESTÃO DE
PARTIDA
INSTRUMENTO(S) DE
TRABALHO
Quadros
síntese
dos
A (In)Disciplina interfere Relatórios Oficiais Finais do
1
no (In)Sucesso Escolar?
projeto T.E.I.P. (2015/2016 e
2016/2017)12
Quadros
síntese
dos
Há alguma relação entre Relatórios Oficiais Finais do
as faltas disciplinares e o projeto T.E.I.P. e entrevistas
2
sucesso
escolar
nessas semiestruturadas
disciplinas?
a
três
Entidades responsáveis pelo
Programa do A.E.A.N.
Em que medida é que o(s)
METODOLOGIA(S)
ADOTADA(S)
Análise
dos
dados
de
(in)sucesso escolar e de faltas
disciplinares por turma.
Análise
dos
(in)sucesso
disciplina
dados
de
escolar
e
por
de
faltas
disciplinares por turma, bem
como
recolha
opinião/contributos
da
de
três
responsáveis pelo projeto.
Análise de conteúdo (através
contexto(s) em que se Inquérito por Questionário da elaboração de WordClouds)
insere
a
escola,
os aplicado
às
turmas
que dos contributos facultados pela
professores, a comunidade compõem a nossa amostra e nossa amostra estudantil e
3 estudantil e a própria aplicação de entrevistas utilização de excertos de
a
três opinião/contributos de três
família
dos
alunos semiestruturadas
interferem nos fenómenos Entidades responsáveis pelo responsáveis
de
(In)Disciplina
e Programa do A.E.A.N.
(In)Sucesso Escolar?
12
pelo
projeto,
como forma de complemento
e/ou argumentação.
Estes quadros, cujo gráfico originado deles é parte integrante do capítulo seguinte, podem ser consultados em Anexos (Anexos 1)
e foi elaborado com base nos Relatórios Oficiais Finais dos anos letivos 2015/2016 e 2016/2017 do Agrupamento de Escolas de
António Nobre.
68
Análise
Que
efeitos
prática
exerce
pedagógica
a
no
de
Inquérito por Questionário contributos
(amostra
estudantil)
conteúdo
dos
facultados
pela
e nossa amostra estudantil e
aplicação de Entrevistas
4 (In)Sucesso Escolar e na
Semiestruturadas (entidades
(In)Disciplina em sala de
responsáveis pelo programa
aula?
T.E.I.P. no A.E.A.N.).
utilização
de
excertos
opinião/contributos
responsáveis
pelo
de
de
três
projeto,
como forma de complemento
e/ou argumentação.
A Tabela 5 resultou de um longo percurso que se iniciou com a escolha do tema
desta Dissertação: Indisciplina. Uma realidade que nos despertou, desde cedo,
curiosidade, já que a escola onde concretizámos o nosso estágio pedagógico insere-se
numa área geograficamente desfavorecida, assolada por inúmeros problemas de ordem
social, familiar e económica que são, como aludido na primeira parte desta obra,
«importados» para o seu interior (Formosinho, 1992).
É claro que sendo o ciclo de estudos em que se enquadra a elaboração deste
relatório de profissionalização em ensino de Geografia, colocaram-se muitas outras
hipóteses de trabalho mas, na verdade, sentimos desde o primeiro minuto que a nossa
pretensão de sermos professores de excelência, além do evidente saber geográfico
necessário à leccionação, exigia uma profunda reflexão e preparação para as questões da
(in)disciplina - aqui encarada do ponto de vista do equilíbrio das relações entre
professores e alunos.
Deste modo, no decorrer do nosso estágio pedagógico, começámos por reunir os
materiais de suporte ao desenvolvimento do trabalho, conforme a(s) metodologia(s) já
esboçada(s) na Tabela 5: em primeiro lugar, foi-nos cedido o Relatório Oficial Final
Anual do A.E.A.N do ano letivo 2015/2016, bem como os dados dos Relatórios Oficiais
Finais Periódicos do 1º e 2º Períodos Escolares do A.E.A.N de 2016/2017. A opção de
não trabalharmos os anos precedentes, desde a inserção do Agrupamento em quesito
neste programa, reside no facto de que, inicialmente, a nossa intenção era avaliar a
progressão dos fenómenos e comportamentos de indisciplina nas turmas em que
69
tivemos a oportunidade de lecionar. Porém, essas turmas só iniciaram o seu «percurso»
na disciplina de Geografia (A) no ano letivo anterior – 2015/2016 –, conforme se pode
facilmente deduzir da leitura da Tabela 4 do capítulo anterior (o oitavo ano estava
matriculado no sétimo ano de escolaridade; enquanto os dois décimos primeiros
estavam inscritos no décimo ano e a turma de décimo segundo, que preferiu ter como
disciplina optativa a Geografia C, estava matriculada no décimo primeiro, mas não foi
acompanhada –, em 2015/2016 –, pela nossa Orientadora Cooperante de Estágio).
Contudo, ao tratarmos os dados dos Relatórios Oficiais Finais Anual
(2015/2016) e Periódicos (2016/2017) do A.E.A.N, apercebemo-nos que nas nossas
turmas de estágio, a ocorrência de faltas disciplinares era ínfima, pelo que cedo
compreendemos que trabalhar apenas estas turmas do ensino regular da Escola
Secundária de António Nobre era, na verdade, incipiente do ponto de vista da
representatividade do nosso universo (alunos do A.E.A.N). De facto, após um primeiro
exercício de análise dos resultados preliminares, concluímos que as turmas do Ensino
Secundário Regular não possuíam um número significativo de ocorrências
indisciplinares que permitisse poder correlacionar as variáveis deste estudo (Anexos 2).
Por seu turno, e de acordo com os documentos T.E.I.P., era nas restantes escolas com 3º
Ciclo do Ensino Básico (Escolas Básicas Nicolau Nasoni e Areosa) do A.E.A.N. que os
valores de insucesso escolar e de faltas disciplinares eram expressivos, o que nos levou,
então, a abrange-las neste projeto (Anexos 3).
De realçar, ainda, que para efeitos de comparação entre ambos os anos letivos, o
período de análise não é exatamente o mesmo: o relatório T.E.I.P. do atual ano letivo só
possui dados dos dois primeiros períodos, enquanto o de 2015/2016 contempla dados
dos três períodos letivos. Este facto justifica-se, porque, aquando da realização do
presente estudo, ainda não tínhamos os dados oficiais do 3º Período do Relatório Oficial
T.E.I.P. do ano letivo em vigor: na verdade, só procedemos ao levantamento dos dados
referentes às faltas disciplinares e à taxa de sucesso escolar, por disciplina e por turma,
dos três níveis de ensino do 3º Ciclo do Ensino Básico das 3 Escolas do A.E.A.N., no
início do 3º Período. Esta opção de levantamento, tão tardia, deve-se ao facto de que,
para efeitos de comparação dos dois anos letivos, não era aconselhável ter apenas os
70
dados referentes ao 1º Período Escolar de 2016/2017. Foi, portanto, necessário,
aguardar pela divulgação dos dados referentes ao 2º Período, para que, no início do 3º,
os conseguíssemos englobar no nosso estudo e, assim, aferir, no panorama geral das
turmas que compõem o 3º Ciclo do Ensino Básico do A.E.A.N., aquelas que registavam
os valores extremos das duas variáveis em quesito.
Neste âmbito e de acordo com a Tabela 6, no término do primeiro decénio do
mês de Abril de 2017, a nossa amostra estava já completa e circunscrita a 179 alunos,
distribuídos por 9 turmas do 3º Ciclo do Ensino Básico, alojadas nas 3 Escolas com 3º
Ciclo do Ensino Básico do A.E.A.N.
Tabela 6 – Estratificação da Amostra, por Escola do A.E.A.N. (inicio do 3º Período de 2016/2017)
Escola do A.E.A.N.
E.B. 2º e 3º Ciclos da Areosa
Turma(s)
7º Aa
E.B.2º e 3º Ciclos Nicolau Nasoni
Escola Secundária de António Nobre
7º Ba
7º Ca
7º Bn
8º As
AMOSTRA DO PROJETO
Nº Alunos
7º Da
29
8º An
9º As
9 Turmas
72
9º Bs
78
179
Fonte: Dados Retirados do Relatório T.E.I.P. (2º Período) do A.E.A.N.
Após a aplicação dos inquéritos por questionário (Anexo 4) e de tratados
estatisticamente os dados aferidos, que serão apresentados no capítulo subsequente,
percebemos que este projeto ficaria muito limitado se só nos reportássemos, por um
lado, aos números apresentados nos Relatórios Oficiais Finais Anual (2015/2016) e
Periódicos (2016/2017) do A.E.A.N. e, por outro, às imprescindíveis contribuições
prestadas pelos alunos das turmas que compõem a nossa amostra, isto porque ficaria a
faltar a perspetiva dos responsáveis e/ou colaboradores do programa. Nesse sentido,
resolvemos aplicar entrevistas semiestruturadas a três entidades responsáveis pelo
programa T.E.I.P. do A.E.A.N. – Dr.a Alice Barbosa (Psicóloga do Gabinete de Apoio
ao Aluno e à Família – G.A.A.F.), Dr.a Teresa Fonseca (Mediadora do Gabinete de
Apoio ao Aluno e à Família – G.A.A.F.) e Dr.a Maria Salomé Ribeiro (Coordenadora do
programa T.E.I.P. do A.E.A.N.). Celebrados, em Maio de 2017, estes instrumentos de
71
trabalho (Anexos 5 e 6) permitiram-nos adquirir informações valiosas que nos
possibilitaram responder às questões de partida deste relatório de uma forma mais clara,
objetiva, concisa e completa.
Assim, e recapitulando os objetivos sugeridos também na Introdução, a Tabela
7, permite demonstrar como se desenvolverá o capítulo seguinte ao relacionar as
questões de partida com os objetivos propostos.
Tabela 7 – Associação entre Objetivos e Questões de Partida
QUESTÃO DE
PARTIDA
1
2
3
4
OBJETIVO(S)
Identificar e compreender os multifatores e as multidimensões
X
da Indisciplina Escolar.
X
Avaliar a relação entre faltas disciplinares e sucesso escolar
X
nessas disciplinas.
X
Relacionar os contextos socioculturais e familiares com a
formação escolar dos jovens, os seus comportamentos,
X
X
personalidades e objetivos de vida.
Refletir sobre (possíveis) estratégias e medidas de gestão e
controlo da (In)Disciplina em sala de aula.
X
X
X
X
X
X
Propor possíveis medidas e metodologias pedagógicas e
didáticas alternativas para lidar com os fenómenos de
indisciplina escolar.
Vejamos e compreendamos, então, os resultados do projeto.
72
Capítulo III – Cenários e Realidades
Este capítulo desenvolver-se-á em quatro subcapítulos, cada um deles
correspondente a uma questão de partida elencada na Introdução e mencionada no
capítulo dos Percursos Metodológicos.
1. A (In)Disciplina interfere no (In)Sucesso Escolar?
Para responder a esta primeira questão de partida, socorremo-nos dos dados
referentes à Taxa de Sucesso e Faltas Disciplinares que constam nos Relatórios Oficiais
Finais Anual (2015/2016) e Periódicos (2016/2017) do A.E.A.N.
Como a nossa intenção é, por um lado, averiguar a progressão destes fenómenos
no Agrupamento em quesito e, por outro, inferir se a disciplina, ou a falta dela, interfere
no sucesso escolar obtido pelos nossos estudantes, optámos por elaborar 4 gráficos,
onde os dois primeiros se reportam ao ano letivo 2015/2016 e os dois últimos ao ano
letivo atual (2016/2017), estando estes aglutinados em dois grupos: os dois primeiros
gráficos de cada ano letivo (Gráficos 2 e 4) foram concebidos com base nos valores da
Taxa de Sucesso das turmas que compõem a nossa Amostra. A partir deles, foi-nos
possível catalogar as turmas, por ordem crescente de Taxa de Sucesso, e associar-lhes os
respetivos valores de Faltas Disciplinares. Por seu turno, e invertendo o processo, os
dois últimos gráficos de cada ano letivo (Gráficos 3 e 5) colocam em evidência, também
por ordem crescente, as turmas que registaram mais/menos Faltas Disciplinares,
associando-lhes, igualmente, os seus valores (da Taxa) de Sucesso.
O objetivo é aferir se, quando se muda de variável em análise, o comportamento
dos valores de Taxa de Sucesso e de Faltas Disciplinares se mantêm inalteráveis ou, se
ocorre alteração, quais as razões explicativas para a ocorrência dessa transformação.
Assim, analisaremos esta primeira questão sob duas perspetivas distintas, mas
complementares, cada uma delas correspondente às duas variáveis em estudo: a
primeira (Gráficos 2 e 4), onde se coloca em evidêcia a premissa do (in)sucesso escolar
e na segunda (Gráficos 3 e 5), onde se valoriza o princípio das faltas disciplinares.
73
Gráfico 2 – Taxa de Sucesso e Faltas Disciplinares por Turma (Ano Letivo 2015/2016 – Relatórios T.E.I.P.)
Gráfico 3 – Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano Letivo 2015/2016 – Relatórios T.E.I.P.)
74
Da observação de conjunto, é impossível não reparar que a turma do 7º Aa é
aquela que regista, simultaneamente, a menor Taxa de Sucesso do Agrupamento e um
valor extraordinariamente elevado de Faltas Disciplinares (63 registos de ocorrências
disciplinares, segundo o Relatório Oficial Final Anual de 2015/2016, onde a Medida
Disciplinar Corretiva mais utilizada foi a ordem de saída do «aluno indisciplinado» da
sala de aula – Amado (2000)). Poderíamos, portanto, afirmar que de facto os fenómenos
de indisciplina têm efeitos negativos inegáveis no processo de ensino-aprendizagem dos
nossos estudantes.
Contudo, e não querendo extrair ilações precipitadas, com base apenas na análise
genérica do comportamento de uma das turmas em questão, quando observamos os
resultados obtidos, concluímos que a Taxa de Sucesso auferida foi superior a 50%. E se
porventura pressuporíamos, à priori, que as turmas que detêm as maiores Taxas de
Sucesso são as que registam os valores mais irrisórios de Faltas Disciplinares, quando
analisamos, com algum pormenor, os Gráficos em quesito, notamos que esta premissa
nem sempre é verídica: de forma clara, estes provam que existem turmas onde embora
não se registem Faltas Disciplinares, a Taxa de Sucesso por elas obtida não é superior a
outras que averbam registos de tal variável. Veja-se, a título de exemplo, os casos da
turma do 9º Cn que, embora não registe nenhuma Falta Disciplinar, possui uma Taxa
de Sucesso muito inferior à do 7º Ba que assinala a ocorrência de Faltas Disciplinares
(Gráfico 2); ou, ainda, a turma do 7º As que apesar de contabilizar apenas uma falta
disciplinar, a sua Taxa de Sucesso é, contudo, inferior àquela que é averbada pelo 8º As,
que regista um considerável valor de Faltas Disciplinares (Gráfico 3).
Ainda da leitura destes Gráficos, aludimos, que a turma do 7º Bn é
concomitantemente a segunda com valores mais baixos de sucesso e mais elevados de
ocorrências disciplinares e que o 7º Da, embora registe uma Taxa de Sucesso superior a
70% é a segunda turma com mais Faltas Disciplinares escrituradas (30 ocorrências).
Embora estejamos em crer, que outras variáveis estejam por detrás da explicação
destes resultados, tais como a relação pedagógica, as perspetivas dos nossos estudantes
e o seu contexto socioeconómico e familiar, é caso para se concluir que, em 2015/2016,
a indisciplina teve efeitos miráveis na Taxa de Sucesso das turmas do Agrupamento.
75
Gráfico 4 - Taxa de Sucesso e Faltas Disciplinares por Turma (Ano Letivo 2016/2017 – Relatórios T.E.I.P.)
Gráfico 5 - Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano Letivo 2016/2017 – Relatórios T.E.I.P.)
76
Já quando estudamos o presente ano letivo – 2016/2017 – podemos ressalvar da
análise de conjunto (Gráficos 4 e 5) que as turmas que aferiram as maiores Taxas de
Sucesso são aquelas que apresentam os valores mais ínfimos de Faltas Disciplinares e
que, por seu turno, as que possuem as menores Taxas de Sucesso do Agrupamento são
as que outorgam os valores mais elevados de ocorrências disciplinares. Significa isto
que, mais uma vez, é-nos possível validar a premissa de que a (in)disciplina possui
efeitos significativos no processo de ensino-aprendizagem dos nossos estudantes, bem
como nos resultados que desse processo aferem.
Podemos referir, também, que as turmas que possuem valores bastante elevados
de Faltas Disciplinares detêm também uma Taxa de Sucesso superior a 60% (Gráfico
5). Mais ainda, não podemos deixar de reparar que, nesta categoria de análise, a turma
que regista menos Faltas Disciplinares não é a que possui mais sucesso: o 7º Ba, a
primeira turma com mais registo de ocorrências disciplinares, em 2016/2017, possui,
todavia, mais 10 pontos percentuais de Taxa de Sucesso Escolar que a turma do 9º Bs.
E, porventura, a turma que regista a maior Taxa de Sucesso escolar, acaba por ocupar o
terceiro lugar da categoria das turmas com menos faltas disciplinares. Ou seja, podemos
ressalvar que embora a indisciplina possua grandes reflexos no sucesso escolar dos
nossos alunos, esta não dita a sua Taxa de Sucesso, apenas, e no melhor dos cenários,
por nós perspetivados, condiciona-a.
De se sublinhar, ainda, que os valores atuais da Taxa de Sucesso são inferiores
àqueles que foram alcançados e registados no ano letivo 2015/2016, o mesmo
acontecendo com o registo de ocorrências disciplinares. Estamos, assim, em crer que tal
realidade se justifica pelo facto da comunidade educativa encarar, cada vez mais, as
Medidas Preventivas e as Medidas Disciplinares Corretivas como os principais
mecanismos que permitem (re)criar uma conduta de prevenção perante a ocorrência de
fenómenos e comportamentos indisciplinares, assente na articulação de diálogos entre
professores e alunos em prol da (re)construção e (re)valorização da disciplina e das
regras em sala de aula (Estrela & Amado, 2002; Amado & Freire, 2009).
77
2. Há alguma relação entre as faltas disciplinares e o sucesso escolar nessas
disciplinas?
Depois de evidenciarmos que a ocorrência de fenómenos de indisciplina possui
reflexos inegáveis no sucesso escolar da comunidade estudantil, foi nossa principal
preocupação identificar quais as disciplinas que, por turma da nossa Amostra,
apresentam os valores mais elevados de Faltas Disciplinares: será que possuem alguma
relação direta/inversa com a Taxa de Sucesso registada nessas mesmas turmas?
Por modo a responder a estas questões, e na tentativa de facilitar a leitura dos
dados, optámos por, nos Gráficos 6 e 7, apresentar os resultados obtidos por escola, ano
de escolaridade e turmas ordenadas alfabeticamente.
Assim, da análise do Gráfico 6, podemos concluir que, as disciplinas aqui
ilustradas apresentam uma Taxa de Sucesso superior a 30%, embora muito poucas são
aquelas que extrapolam o valor de 90%. Na verdade, este facto só ocorre três vezes, em
2015/2016: duas delas, à disciplina de Geografia, nas turmas do 9º ano de escolaridade
da Escola Secundária de António Nobre, e uma vez à disciplina de Inglês que detém,
dos dados de conjunto, a Taxa de Sucesso mais elevada (100%) na turma do 9º As da
Escola Secundária de António Nobre. Significa isto, portanto, e numa primeira
observação, que existiram turmas em 2015/2016 que registaram Taxa(s) de Sucesso
elevadíssimas (quase todos, ou mesmo todos, os alunos da turma aferiram classificação
final positiva à disciplina) e, mesmo assim, registaram a ocorrência de Faltas
Disciplinares.
Ademais, é notório, ainda, mencionar que a escola que apresenta mais
disciplinas e turmas com Faltas Disciplinares é a Escola Básica da Areosa: segundo a
observação do Gráfico 6, todas as turmas se reportam ao 7º ano de escolaridade, ano de
iniciação do 3º Ciclo de Ensino Básico, e as disciplinas com mais Faltas Disciplinares
(Português – com registos em 2 turmas –, Geografia, Matemática e Francês – com
registos em 3 turmas) são, muito curiosamente, comuns a todas elas. Não obstante, note-se que dessas disciplinas, Francês e Geografia, esta última correspondente à nossa área
de formação e especialização, são as que registam as maiores Taxa de Sucesso da
Escola em questão.
78
A disciplina de Matemática é aquela que, em 2015/2016, aparece evidenciada
em várias turmas de todas as escolas do Agrupamento em análise e, nalgumas delas,
possui a menor Taxa de Sucesso (como se observa na turma do 7º Aa da Escola Básica
da Areosa). As disciplinas de Geografia e de Português são comuns apenas a duas
escolas do A.E.A.N. e delas, a disciplina de Geografia é a que possui melhores
resultados aferidos, sendo a de Português a mais preocupante, pelo facto de registar um
valor de 18 faltas disciplinares numa das turmas (7º Aa).
Face ao exposto, estamos em crer que não existe uma clara relação de
linearidade entre o (jn)sucesso escolar das turmas aqui representadas e as faltas
registadas por elas às diversas disciplinas. Poderemos, sim, afiançar que, em certa
medida, estas variáveis se influenciam mutuamente. Mas, mais que elas, estamos
crentes que será a própria relação pedagógica, os contextos em que se insere e vive a
nossa heterogénea comunidade educativa, bem como a delimitação, compreensão e
respeito das regras e até a própria capacidade dos professores em lidar e liderar as suas
turmas que estão por detrás destes resultados alcançados, em 2015/2016.
Como nos argumenta a Coordenadora T.E.I.P. do Agrupamento – Maria Salomé
Fernandes Ribeiro –, no âmbito das questões que lhe fomos colocando sobre a
importância das regras e da relação pedagógica em sala de aula,
“As normas devem ser trabalhadas com os discentes, para que desde cedo
estes consigam perceber que estas são sustentadas numa matriz de
premissas produtoras de ações que visam o equilíbrio das relações
humanas e que permite uma convivência harmoniosa entre todos.
(…) [Quando os estudantes não participam da sua construção, não as
compreendem ou se recusam a cumpri-las, é inevitável o aparecimento de
fenómenos de] indisciplina. (…) Um conhecimento das diferenças que os
diversos contextos sociais, económicos e familiares imprimem na pessoa,
aliada a uma intervenção sem preconceitos e com uma visão holística,
pode permitir uma convivência pedagógica em que as pontes se vão
construindo e a distância se vai desvanecendo”13.
13
A entrevista semiestruturada está disponível, na íntegra, na área Anexos desta obra – Anexo 5
79
Gráfico 6 – Disciplinas que registam mais Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano Letivo 2015/2016 – Relatórios T.E.I.P.)
80
Já quando nos reportamos ao presente ano letivo (Gráfico 7), verificamos que,
tanto a Taxa de Sucesso, como as Faltas Disciplinares são, comparativamente ao ano
letivo anterior, menores. Ou seja, embora nenhuma das disciplinas elencadas extrapole
os 80% de sucesso, muito nos apraz registar que as disciplinas e as turmas com registo
de comportamentos disruptivos perturbadores do normal funcionamento da sala de aula
são, também eles, menores que em 2015/2016.
Conforme a análise que realizamos para o ano letivo precedente, podemos
deduzir que as disciplinas que mantêm ainda alguma expressividade no número de
ocorrências disciplinares são a disciplina de Matemática, para quem a Taxa de Sucesso
decresceu consideravelmente, e as disciplinas de Português e de Geografia, onde, esta
última se posiciona como uma das disciplinas com mais Taxa de Sucesso do A.E.A.N.
Um pouco mais preocupante que todas as que fomos registando até ao momento,
e com um valor muito superior ao registado na disciplina de Português da turma do 7º
Aa, (2015/2016), situa-se a disciplina de Ciências Naturais (9º As). São muitas as
hipóteses explicativas para estes valores: para além daquelas que já foram tecidas
aquando da análise do Gráfico 6, ainda reportamos que muito provavelmente este
número de ocorrências encontra o seu fundamento no grau de complexidade,
dificuldade ou até alguma inutilidade, dos conteúdos reconhecida pelos «estudantes
indisciplinados». Como as Dr.as Alice Barbosa e Teresa Fonseca (Psicóloga e
Mediadora do G.A.A.F., respetivamente)13, nos informam, “Na maior parte das vezes,
os alunos não encontram na Escola a motivação necessária a uma aprendizagem
consistente, [transportando consigo e para dentro da sala de aula] (…) comportamentos
desatentos e desestabilizadores.”, que acabam por deteriorar a própria relação
pedagógica, considerada, aliás, como um dos principais fatores potenciadores da
indisciplina (Estrela & Amado, 2000; Jesus, 2008; Palma, 2014; Renca, 2008): ou
porque simplesmente não «funciona», ou porque a própria autoridade do professor é já
colocada em causa “(…) por «miúdos» irreverentes e desafiadores (…)” (Estrela, 1991,
p. 30), ou ainda, porque os estudantes não se encontram preparados para uma vivência
coletiva baseada em normas funcionais e proibições (Amado, 2001).
81
Gráfico 7 – Disciplinas que registam mais Faltas Disciplinares e Taxa de Sucesso por Turma (Ano Letivo 2016/2017 – Relatórios T.E.I.P.)
82
3. Em que medida é que o(s) contexto(s) em que se insere a escola, os professores, a
comunidade estudantil e a própria família dos alunos interferem nos fenómenos
de (In)Disciplina e (In)Sucesso Escolar?
Para responder a esta questão, socorremo-nos, em primeiro lugar, da aplicação de
um Inquérito por Questionário às 9 turmas do presente estudo, por modo a
compreendermos qual a sua posição perante as regras, a escola, os professores e os
colegas. Para o efeito, e com base num pequeno excerto de banda desenhada (Anexo
XX), os estudantes inquiridos tinham que colocar por ordem de importância (da mais
para a menos importante) um conjunto de frases que ilustravam possíveis justificações,
que remetem para o âmbito da responsabilidade, do respeito pelo professor, pelas regras
e pelos colegas, para a adoção de comportamentos disruptivos por parte do Zé Gato, a
principal personagem deste nosso excerto (Quadro 1).
Quadro 1 – Possíveis justificações para o comportamento disruptivo do Zé Gato (excerto do Inquérito
por Questionário)
Situação de (In)Disciplina
Ordem:
Porque, como não passa para o caderno o que está no quadro, não está a ser
responsável.
[Responsabilidade]
Porque, ao atirar papelinhos à professora, não está a respeitar a professora.
[Respeito pelo Professor]
Porque, como está sem atenção às explicações da professora, não respeita as
regras da turma.
[Respeito pelas Regras]
Porque, ao distrair os colegas com a sua brincadeira, não está a respeitar os
colegas.
[Respeito pelos Colegas]
Antes de apresentarmos os resultados do Inquérito por Questionário, convém
frisar que, aquando da aplicação do referido instrumento de trabalho, nem todos os 179
alunos estavam presentes e, nalguns casos, os inquiridos, que muito amavelmente a ele
83
responderam, não responderam de forma adequada ao que lhes era solicitado. Assim
sendo, os resultados do nosso estudo acabam por ser «prejudicados», pois cerca de 30%
dos estudantes não colaboraram nele. Todavia, a nossa Amostra é ainda bastante
significativa, pois 70% dela, correspondeu às expectativas que lhes eram pedidas.
Desta forma, o Gráfico 8 ilustra o grau de importância que os alunos inquiridos
atribuíram às quatro opções possíveis da questão “Por que razão o Zé Gato está a ser
indisciplinado?”.
Gráfico 8 – Frequência de Resposta, à questão: “Por que razão o Zé Gato está a ser indisciplinado?”
Da análise do Gráfico 8, podemos ressalvar que os inquiridos referem que o Zé
Gato está a ser indelicado, em primeiro lugar, para com os seus colegas. Ao distraí-los,
está a prejudicá-los. Por isso, o Respeito pelos Colegas a primeira razão e/ou
consequência que os inquiridos atribuem aos «alunos indisciplinados», como o Zé Gato.
Como segunda premissa mais valorizada, encontra-se o princípio da
Responsabilidade: ao não registar e não participar e colaborar nas aulas, a nossa
Amostra considera que os «alunos indisciplinados» não só prejudicam os colegas da e
em sala de aula, como acabam por deteriorar o ethos da sala de aula (Reynolds, 1982) e
impedindo ou fragilizando a interação, a coesão e o diálogo em sala de aula e em turma
84
(fatores de ordem institucional informal mencionados por Amado & Freire, em 2009).
O Respeito pelas Regras e o Respeito pelo Professor são duas premissas pouco
valorizadas pelos nossos estudantes. Ou porque, como já referimos, os alunos se
questionam quanto à capacidade de liderança e ao estilo de autoridade adotado pelo
professor; ou porque, estes acabam por não ter a oportunidade de participar na
elaboração das regras que têm que (nalguns casos, forçosamente, que) cumprir em sala
de aula. Certo é que, com base em diversos autores, para inverter estes resultados, os
professores necessitam de «desmonopolizar» o ambiente de liderança que possuem em
sala de aula, tornando-o mais democrático e participativo, assente na definição coletiva
de um conjunto claro, simples e objetivo de regras e normas. Ao participarem da sua
formulação, os estudantes acabam por aceitá-las, compreendê-las e cumpri-las muito
mais facilmente do que se estas fossem impostas pelo(s) professor(es) (Amado, 2000;
Carita & Fernandes, 2002), (re)construindo, assim, a disciplina.
Em conformidade com estas premissas, e com base no mesmo excerto de banda
desenhada aplicado para o Quadro 1, os inquiridos tinham que colocar, novamente, por
ordem de importância um conjunto de frases que tinham como principal objetivo
analisar o grau de evidência das regras de reconhecimento do contexto regulador da
prática pedagógica dos professores, frases essas que remetem para questões de controlo
pessoal, posicional, pessoal com explicitação e imperativo (Quadro 2).
Quadro 2 – Possíveis “avisos” dos docentes para com o Zé Gato (excerto do Inquérito por
Questionário)
Ordem:
Situação de (In)Disciplina
Zé, o melhor é dares-me o invólucro dessa caneta, porque assim estás a
distrair-te e não prestas atenção à aula.
[Controlo Pessoal]
Zé, vais acabar com essa brincadeira, porque as regras da turma são para
cumprir.
[Controlo Posicional]
Zé, isso é uma falta de respeito para comigo e para com os teus colegas,
porque estás a prejudicar o nosso trabalho.
85
[Controlo Pessoal, com explicitação]
Pára imediatamente com isso e guarda o invólucro da caneta.
[Controlo Imperativo]
Assim, há semelhança do Gráfico 8, o Gráfico 9 ilustra o grau de importância que
os alunos inquiridos atribuíram às quatro opções possíveis da questão “Se algum dos
teus professores se tivesse apercebido do que se passou, o que é que ele/ela teria dito
ao Zé Gato?”.
Gráfico 9 – Frequência de Resposta, à questão: “Se algum dos teus professores se tivesse apercebido do que se passou, o que é que
ele/ela teria dito ao Zé Gato?”
O Gráfico 9 evidencia uma certa dificuldade da nossa amostra em aferir qual das
afirmações plasmadas no Quadro 2 é a mais importante. Mesmo assim, compreendem
que o Controlo Posicional e o Controlo Pessoal com Explicitação são ambos muito
importantes e têm como principal objetivo “(…) o de gerir as situações de indisciplina,
corrigindo mais do que punindo (…)” (Palma, 2011, p. 25), integrando-se no âmbito do
primeiro processo corretivo de Amado (2000) – Correção pela Integração/Estimulação.
Por seu turno, desvalorizam o Controlo Imperativo precisamente porque, como já
tivemos a oportunidade de referir, os estudantes aceitam as regras e os «avisos»
86
encetados pelos professores, desde que possam participar da sua formação, tornando-se
mais responsáveis e mais conscientes do trabalho dos professores e da função e
finalidade da escola. Quando não respeitam as regras pré-estabelecidas ou impostas,
“(…) as interações entre pares e a relação com o professor, enquanto pessoa e
autoridade (…)” (Palma, 2011, p. 14) saem lesadas e chegam a constituir-se mesmo
como um grave e sério obstáculo que “(…) impede ou dificulta o decorrer do processo
de ensino-aprendizagem (…)” (Silva, 2001, p. 9).
A segunda parte do Inquérito por Questionário tinha como principal objetivo
analisar o grau de evidência das regras de reconhecimento do contexto regulador da
prática pedagógica dos professores. Para o efeito, apresentámos novamente um outro
excerto da mesma banda desenhada, onde três amigos – a Marta, o Pedro e o André –
numa conversa informal, acabam por adjetivar uma das suas professoras.
Assim, e para cada uma das seguintes questões explanadas, os nossos estudantes
tinham que escolher a melhor professora que se identificava com os seus professores,
justificando a sua escolha. Foi, aliás, a partir dessas justificações que procedemos à
análise de conteúdo, com recurso à formação de WordClouds (Figuras 4, 5 e 6).
1- Achas que os teus professores têm uma atuação mais parecida com a
professora da Marta, com a professora do Pedro ou com a professora do
André?
2- Se pudesses escolher gostavas que os teus professores fossem como a
professora da Marta, como a do Pedro, ou como a do André?
Porquê?
3- Com qual das professoras – do Pedro, da Marta ou do André – é que achas
que a tua turma teria pior comportamento?
Porquê?
4- Com qual das professoras – do Pedro, da Marta ou do André – é que achas
que a tua turma teria melhor comportamento?
Porquê?
87
Gráfico 10 – Frequência de Respostas da nossa Amostra às 4 questões da Parte 2 do Inquérito por Questionário
O Gráfico 10 permite colocar em evidência que, para a grande maioria dos alunos
inquiridos, os seus professores atuam em sala de aula como as professoras da Marta e
do Pedro (Questão 1), muito embora gostassem que os seus professores procedessem
como a professora do André (Questão 2). Admitem, ainda, que seria com a professora
do Pedro que a sua turma se comportaria pior e, por oposição, em conformidade com a
Questão 2, seria com a do André que se comportariam melhor.
Esta sinopse, permite-nos concluir, juntamente com as Figuras 4, 5 e 6 que, os
alunos adotam determinadas condutas conforme o professor. No entanto, é claro que
estes os compreenderiam melhor se, com eles, os professores (re)construíssem um clima
de abertura (Estrela & Amado, 2000), onde se espera que o professor seja reflexivo,
democrático, seguro de si e das suas atitudes. Que cumpra as regras e normas de
conduta pré-estabelecidas e acordadas com os seus alunos e que se saiba impor, que
consiga manter a «ordem». Mas que consiga também propiciar a criação de uma relação
de cooperação, interesse, interajuda, responsabilidade, autonomia e motivação entre
alunos e, muito particularmente, entre eles e o(s) professor(es).
No fundo, é isto que os alunos precisam para sucumbirem os seus
comportamentos disruptivos: de um professor que se revele persistente, resiliente e
batalhador. Um professor que, como tive já a oportunidade de o frisar, a seu jeito,
permita que o «Aprendiz» se transforme «Mestre».
88
Figura 4 – WordCloud da Professora da Marta
Figura 5 – WordCloud da Professora do Pedro
Figura 6 – WordCloud da Professora do André
89
4. Que efeitos exerce a prática pedagógica no (In)Sucesso Escolar e na
(In)Disciplina em sala de aula?
Esta é uma questão que temos vindo a responder ao longo desta Dissertação de
Mestrado e que encontra a sua essência, fundamentalmente, na forma como alunos e
professores se relacionam na escola e, muito particularmente, nas salas de aula (Estrela
& Amado, 2000; Jesus, 2008; Palma, 2014; Renca, 2008). Uma relação que, se não for
cuidada, «alimentada» e fortalecida diariamente, pode, como nos alerta a Coordenadora
do Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (T.E.I.P.) do
Agrupamento, Dra Maria Salomé Fernandes Ribeiro, deteriorar-se, potencializando, por
um lado, o aumento dos valores de insucesso escolar e, por outro, as ocorrências e
manifestações indisciplinares. Nas suas palavras,
“O crescente insucesso, ano após ano, [acaba por] exponencia[r] o
desinteresse dos alunos, que frequentemente se traduz em comportamentos
problemáticos [que possuem reflexos inegáveis na] prática pedagógica [,
que] não assente no sucesso para todos, irá traduzir-se em comportamentos
desajustados.”.
Portanto, uma vez fragilizada a relação pedagógica, será muito difícil volvê-la à
tranquilidade e à harmonia necessárias para que o processo de ensino-aprendizagem seja
significativo e, diríamos nós, «sentido e vivido». Isto porque, as brechas criadas pelo
desentendimento entre professores e alunos são impreterivelmente acolhidas pelos
estudantes que acabam por ripostar contra os conteúdos científicos que estão a ser
lecionados, perturbando o normal funcionamento das aulas, desrespeitando as regras
pré-estabelecidas e acordadas e, ainda, adotando e manifestando frequentemente e em
sala de aula, como narram as Dras. Alice Barbosa e Teresa Fonseca, responsáveis pelo
Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família do Agrupamento de Escolas de António Nobre,
“(…) comportamentos de indisciplina [, em que os] mais comuns e de
maior gravidade são a falta de respeito pela autoridade da figura do
professor. (…) [Um] conjunto de atitudes que (…) [envolve diretamente o]
desrespeito [e se traduz] (…) na prática por verbalizações insultuosas, que
obrigam [o professor a utilizar, como mecanismo de reposição da ordem,
por um lado, a] medida de ordem de saída da sala de aula e [, por outro a
aplicação de] (…) Medidas Corretivas Sancionatórias.”.
90
Assim sendo, por forma a prevenir a manifestação dos fenómenos de indisciplina
escolar em sala de aula, julgamos necessário e crucial, ressalvar que tanto professores
como alunos saibam reconhecer a importância e a utilidade das regras e, acima de tudo,
as saibam cumprir (Amado & Freire, 2009). A Dra Maria Salomé Fernandes Ribeiro
analisa ainda mais aprofundadamente esta questão, inferindo que,
“O professor tem de ter presente que o seu papel em sala de aula é ensinar
aquele público. Se mantiver o mesmo registo para públicos diferentes, corre
o risco de criar desinteresse nos alunos. As escolhas dos atos e das palavras,
que o professor aplica na condução dos processos e estratégias, devem
conduzir à efetivação de uma relação empática com o outro, e
consequentemente ter como corolário uma influência positiva sobre o
sujeito, que permita gerar uma melhor prática de ensino-aprendizagem.”.
Não obstante, e a propósito da opinião da Coordenadora do Programa T.E.I.P. do
A.E.A.N., as Dras. Alice Barbosa e Teresa Fonseca, Psicóloga e Mediadora do Gabinete
de Apoio ao Aluno e à Família do Agrupamento de Escolas de António Nobre, ainda
salientam que
“Os professores têm vindo a sentir a necessidade de aplicar novas
metodologias e práticas dentro da sala de aula, procurando fugir ao modelo
tradicional de exposição verbal/teórica e desta forma potenciar a motivação
e o interesse dos alunos, com reflexo positivo ao nível comportamental.”.
Contudo, nem sempre é fácil (re)criar um ambiente em que todos os alunos da
turma desfrutem (ou queiram desfrutar) e aproveitem (ou queiram aproveitar) a aula,
com a mesma motivação e o mesmo empenho que o professor. Este fosso entre o desejo
do professor e a realidade da turma que à sua frente se apresenta, gera inevitavelmente
confrontos e consequências que fragilizam não só o processo de ensino-aprendizagem
como, principalmente, a relação pedagógica. A este propósito, a Dra Maria Salomé
Fernandes Ribeiro refere-nos, que,
“Por vezes, [as] sanções são necessárias, no entanto deve imperar o bom
senso. O professor deve ter sempre presente que é a autoridade dentro da
sala de aula e por isso deve munir-se de mecanismos que permitam controlar
os comportamentos desajustados. Esses mecanismos passam muitas vezes
pelo diálogo.”.
91
As Dras. Alice Barbosa e Teresa Fonseca vão, ainda, mais longe e recomendam:
“Consideramos que pode ser benéfico para a melhoria do comportamento,
quando o aluno e o encarregado de educação são envolvidos numa maior
consciencialização sobre as atitudes desadequadas e em conjunto ser
definido um plano de intervenção no sentido da melhoria.”.
Isto porque, quando instadas a responder à questão “No seu entender, o aluno que
é sancionado repete o comportamento que o levou a ser castigado? Porquê?”, as três
entidades responsáveis pela aplicação e monitorização do Programa T.E.I.P. no
A.E.A.N. comungam do princípio de que estes “(…) tendem a reincidir, tanto mais se
não se trabalhar a causa de tal atitude, que está a potenciar estes comportamentos.”
(Dras. Alice Barbosa e Teresa Fonseca). Ou seja, e indo ao encontro da argumentação
exposta por autores como Carita & Fernandes (2002), Estrela & Amado (2002) e Santos
(2015), estamos em crer que “(…) Se o problema for refletido conjuntamente, pode
alterar e melhorar a relação professor-aluno.” (Dra Maria Salomé Fernandes Ribeiro),
desconstruindo, até, as velhas realidades que muitas vezes ouvimos, de que, não adianta
de nada ensinar, porque o aluno não quer, nem vai aprender.
Ressalvamos, assim, desta breve análise de conteúdo das entrevistas
semiestruturadas realizadas às entidades responsáveis pela aplicação e monitorização do
programa T.E.I.P. do Agrupamento em questão, que a relação pedagógica é um
processo dinâmico, vivo e vivido, onde cada individuo é extramente importante na
criação e manutenção da educação e do saber. E é esta, a realidade que precisamos de
demonstrar à comunidade educativa: que os professores não são hoje os únicos
detentores do conhecimento. A propósito de tal, e desta questão fundamental da relação
pedagógica e dos seus efeitos diretos e indiretos no sucesso e na disciplina escolares dos
nossos jovens, recordamos, com um carinho especial, as sessões de Didática da
Geografia, onde fomos compreendendo que ninguém é tão «grande» que não possa
aprender, nem tão «pequeno» que não possa ensinar…
92
TERCEIRA PARTE
_______________________________________________________
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE
(IN)DISCIPLINA ESCOLAR
“Quando pensamos, fazemo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão;
quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos”
(Carl Jung14)
14
Disponível em: < https://www.pensador.com/conclusao/ >. [Acesso em: 23 de Setembro de 2017]
93
Percorremos um «longo caminho» para concretizar esta Dissertação de Mestrado
e, ao tecer, agora, algumas considerações finais, temos a perfeita consciência que muito
ficou, ainda, por fazer e dizer. Mesmo assim, e já quase no seu final, fica perpetuado
uma das nossas principais conclusões sobre a problemática pedagógica em debate: a
indisciplina escolar é um símbolo intrínseco das novas gerações e, constitui-se, também,
como um «amuleto» para nos guiar na descoberta do futuro da escola e da sociedade.
Desta forma, a presente investigação pretende(u) ser um contributo para o estudo
da temática da Indisciplina Escolar. Uma temática que suscitou, ao longo das últimas
décadas, a curiosidade de muitos investigadores que têm encetado inúmeras
investigações
nacionais
e
internacionais
sobre
este
fenómeno
atemporal,
multidisciplinar, multicausal e multifactorial e que, ainda, não possui uma taxonomia
nitidamente definida (Lopes, 2006). Um fenómeno que, em virtude das suas constantes
transformações, impossibilita a existência ou, até, a criação de «receitas» e «fórmulas»
que permitam minorar a sua manifestação na sociedade e, muito particularmente, na
escola, onde graça também o insucesso escolar, fortemente apontado como uma das
principais causas e consequências da Indisciplina.
Assim, não podemos deixar de ressalvar que a atividade de ensino-aprendizagem
deve apoiar-se em motivações sustentadas no estado atitudinal e nos diversos interesses
revelados quer pelos alunos da turma, quer pelos professores da mesma. Será, até,
importante e interessante, conforme nos foi possível aferir, com base nos diversos
contributos prestados não só pela nossa amostra estudantil, como também pelas três
ilustres entidades responsáveis pela monitorização do projeto T.E.I.P. do A.E.A.N., que
os fenómenos de indisciplina e insucesso escolar podem ser minorados se se apostar
numa transversalidade curricular que albergue programas curriculares com conteúdos
alusivos aos sentimentos, às atitudes e aos valores, por forma a poder estimular e
trabalhar o conhecimento interpessoal/psicológico e as relações. Neste âmbito, e indo ao
encontro de diversos autores nacionais e internacionais, as Dr.as Alice Barbosa, Teresa
Fonseca e Salomé Ribeiro sugerem a inclusão de técnicas de mediação de conflitos e a
utilização, em sala de aula, de metodologias que permitam reforçar sentimentos de
entreajuda, de respeito e de solidariedade, além das estratégias de desenvolvimento de
94
empatia e a reciprocidade moral.
Compreendendo que a “(…) Pedagogia não é uma receita, é uma procura (…)”
(Debesse citado por Estrela, 1996, p. 36), para a realização do nosso estudo empírico,
optou-se por uma metodologia que combinou a análise qualitativa (através da aplicação
de entrevistas semiestruturadas a três entidades responsáveis pela monitorização do
programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária do A.E.A.N. e da análise de
conteúdo, com recurso à formação de WordClouds, com base na opinião fornecida pela
nossa Amostra Estudantil) e quantitativa (com a aplicação de um inquérito por
questionário a 179 alunos das 3 escolas com 3º Ciclo do Ensino Básico do A.E.A.N.).
Dos seus resultados, a primeira questão norteadora deste projeto, deixa-nos
cientes, que o domínio dos conteúdos e das variadas formas da sua transmissão são
alicerces fundamentais da competência docente, mas certamente podem constituir-se
como fundações frágeis, do ponto de vista da possibilidade de desencadear
comportamentos menos adequados nos alunos, se não forem acompanhados da «travemestra» que é a competência relacional. Todos sabemos que há muitos professores,
capazes de estabelecer uma boa relação com os seus alunos, mas que fracassam, porque
não dispõem de competência científica e didática que apoie a competência relacional
que detêm. Assim como também sabemos que existem outros que, embora muito
seguros nas matérias que lecionam, têm mais dificuldade em estabelecer uma dinâmica
relacional equilibrada. De uma forma ou de outra, é certo, ainda assim, que as
competências relacionais são suscetíveis de aquisição e treino.
Ainda quanto à primeira questão de partida, devemos frisar que as noções e
conceções que construímos de disciplina e indisciplina, sucesso e insucesso escolar não
são lineares, estáticas e unidirecionais. Não afetam, como constatado pela resposta
ofertada à segunda pergunta de partida, todas as disciplinas por igual e nem todos os
professores. Aliás, e satisfazendo a terceira questão norteadora deste projeto, não são
sequer relações exclusivamente comportamentais e, deva-se sublinhar, muitas vezes,
estes comportamentos disruptivos só ocorrem porque o professor ou é demasiado
autoritário ou permissivo; ou porque o sistema de regras em sala de aula não é claro e
democrático, contando com a opinião dos estudantes; ou, até, em última análise, porque
95
a escola e o meio onde se insere condicionam determinados cânones comportamentais
que, muitos antes de se inserirem nessa determinada escola, os estudantes já os
vivenciavam.
Podemos também concluir, quanto à quarta questão norteadora deste projeto, que
a prática pedagógica exerce grandes e significativas influências sobre a (in)disciplina e
sobre o (in)sucesso escolar. Nesta medida, é nosso dever, à luz das entrevistas
semiestruturadas realizadas às Dr.as Maria Salomé Fernandes Ribeiro (Coordenadora do
projeto T.E.I.P. do A.E.A.N.), Alice Barbosa (Psicóloga do Gabinete de Apoio ao
Aluno e à Família – G.A.A.F.) e Teresa Fonseca (Mediadora do Gabinete de Apoio ao
Aluno e à Família – G.A.A.F.) realçar que a abordagem preventiva é aquela que melhor
pode favorecer a (re)construção da disciplina escolar: intervir, e intervir precocemente,
funciona como uma mais-valia neste processo, uma vez que muitos dos problemas
disciplinares existentes nas escolas só se vão agudizando sistematicamente, porque não
há intervenção por parte da comunidade educativa e da família.
No término da presente investigação, não podemos de forma alguma deixar de
mencionar alguns dos seus principais limites e constrangimentos: o primeiro foi de cariz
temporal, já que o espaço de tempo que dedicamos à sua realização (Junho a Setembro
de 2017) foi muito curto e escasso, pelo que nem sempre conseguimos expor, explorar e
tirar ilações devidamente ponderadas da nossa investigação. O segundo, diríamos nós, é
que, tratando-se de um estudo de caráter exploratório, as conclusões que aqui fomos
explanando são somente aplicáveis a este contexto geográfico e escolar e os dados
obtidos só com muita cautela poderão ser objeto de alguma generalização. Significa
isto, portanto, que os resultados aferidos deste projeto têm, necessariamente, um valor
restrito à realidade do Agrupamento de Escolas de António Nobre. Ademais, o nosso
estudo e as ilações que dele retirámos, não usufruíram do contributo de todos os 179
alunos escolhidos para perfazer a nossa Amostra, pois cerca de 30% dela, no momento
em que aplicámos o inquérito por questionário, numa fase já bastante tardia do ano
letivo 2016/2017, deva-se acrescentar, encontrava-se a faltar.
Não obstante tais repressões, ainda estamos cientes de que as estratégias e
recomendações que fomos elencando e explorando representam, também elas, apenas
96
um pequeno contributo para o desenvolvimento e melhoria das práticas de atuação dos
professores do A.E.A.N. face aos fenómenos e comportamentos de indisciplina. Isto
porque, como já tivemos a oportunidade de o frisar, esta é uma problemática que, em
virtude da sua grande complexidade, requer respostas variadas e diversificadas em
função dos dilemas diagnosticados, considerando as diferentes situações e contextos
sociais e escolares em que ocorre.
Consideramos, assim, que esta Dissertação de Mestrado tem uma mensagem
explícita, ao se revestir de uma série de anotações que se nos parecem essenciais para
conhecer e prevenir a indisciplina, conhecer e reverter a agrura do insucesso escolar,
conhecer e frisar a importância que pais e escola assumem quando, juntas, batalham
pelo bem comum dos seus filhos e alunos; e uma implícita que só agora, bem no final
do «nosso percurso», temos a ousadia de a revelar: falar e opinar de (in)disciplina e de
(in)sucesso escolar, todos somos e seremos sempre capazes. Todavia, poucos serão
aqueles que, ao lerem projetos de investigação-ação como este, compreenderão que
“Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido
mais autêntico da palavra!”
(Anísio Teixeira)15
15
Disponível em: < https://www.pensador.com/frase/NjQ2Nzc3/>. [Acesso em: 24 de Setembro de 2017]
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nas Escolas. Porto: Universidade do Porto.
110
ANEXOS
ANEXOS
111
ANEXO(S) 1
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2015/2016 e que relaciona Nível de Sucesso por Turma com Faltas Disciplinares (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2015/2016
Agrupamento de Escolas António Nobre
PARA EFEITOS DE COMPARAÇÃO
Sucesso por Turma
Níveis
(Sucesso)
A.E.A.N.
(3º
C.E.B.)
4
Menos
Sucesso
1
Mais
Sucesso
Turma
%
Escola
7º Aa
7º Bn
8º Ba
9º Cn
7º Ba
8º Bs
9º Bn
9º An
58,5
58,6
64,7
65,4
81,5
84,9
86,5
87,7
E. B. Areosa
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Nicolau Nasoni
Faltas Disciplinares por Turma
Níveis
(Indisciplina)
%
61,8
4
Mais Faltas
Disciplinares
85,2
1
Menos Faltas
Disciplinares
112
Turma
7º Aa
7º Bn
8º Ba
9º Cn
7º Ba
8º Bs
9º Bn
9º An
Faltas
Discipl.
63
28
6
6
3
0
0
Escola
E. B. Areosa
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Nicolau Nasoni
Total
97
9
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2015/2016 e que relaciona Faltas Disciplinares por Turma com Nível de Sucesso (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2015/2016
Agrupamento de Escolas António Nobre
PARA EFEITOS DE COMPARAÇÃO
Faltas Disciplinares por Turma
Níveis
(Indisciplina)
A.E.A.N.
4
(3º
Faltas
Discipl.
Escola
Níveis
Total
Turma
%
Escola
7º Aa
58,5
E. B. Areosa
Menos
7º Da
72,7
E. B. Areosa
Sucesso
7º Bn
58,6
E. B. Nicolau Nasoni
(Sucesso)
7º Aa
63
E. B. Areosa
Mais Faltas
7º Da
30
E. B. Areosa
Disciplinares
7º Bn
28
E. B. Nicolau Nasoni
8º As
28
E. S. António Nobre
8º As
79,1
E. S. António Nobre
8º Bs
3
E. S. António Nobre
8º Bs
84,9
E. S. António Nobre
Menos Faltas
7º As
1
E. S. António Nobre
Mais
7º As
77,9
E. S. António Nobre
Disciplinares
9º An
0
E. B. Nicolau Nasoni
Sucesso
9º An
87,7
E. B. Nicolau Nasoni
9º Bn
0
E. B. Nicolau Nasoni
9º Bn
86,5
E. B. Nicolau Nasoni
C.E.B.)
1
Turma
Sucesso por Turma
149
4
4
1
113
%
67,2
84,3
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2016/2017 e que relaciona Nível de Sucesso por Turma com Faltas Disciplinares (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2016/2017
Agrupamento de Escolas António Nobre
Sucesso por Turma
Níveis
(Sucesso)
A.E.A.N.
(3º
C.E.B.)
4
1
Turma
%
Escola
Menos
Sucesso
7º Bn
7º Da
9º Bs
52,2
54
57,5
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
Mais
Sucesso
9º As
8º An
7º Ca
8º As
62,7
77,5
80,9
82,8
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
7º Aa
84,4
E. B. Areosa
Faltas Disciplinares por Turma
Níveis
(Indisciplina)
%
56,6
4
81,4
1
114
Mais Faltas
Disciplinares
7º Bn
7º Da
9º Bs
Faltas
Discipl.
24
5
19
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
Menos Faltas
Disciplinares
9º As
8º An
7º Ca
8º As
43
1
0
0
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
7º Aa
1
E. B. Areosa
Turma
Escola
Total
91
2
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2016/2017 e que relaciona Faltas Disciplinares por Turma com Nível de Sucesso (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2016/2017
Agrupamento de Escolas António Nobre
Faltas Disciplinares por Turma
Níveis
(Indisciplina)
A.E.A.N.
(3º
C.E.B.)
4
1
Mais Faltas
Disciplinares
Menos Faltas
Disciplinares
Turma
Faltas
Discipl.
Escola
7º Ba
9º As
7º Bn
47
43
24
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
9º Bs
8º An
7º Aa
8º As
7º Ca
19
1
1
0
0
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
E. B. Areosa
Sucesso por Turma
Níveis
(Sucesso)
Total
133
4
2
1
115
Menos
Sucesso
Mais
Sucesso
Turma
%
Escola
7º Ba
9º As
7º Bn
67,4
62,7
52,2
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
9º Bs
8º An
7º Aa
8º As
7º Ca
57,5
77,5
84,4
82,8
80,9
E. S. António Nobre
E. B. Nicolau Nasoni
E. B. Areosa
E. S. António Nobre
E. B. Areosa
%
60,0
81,4
ANEXO(S) 2
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2015/2016 e que relaciona Nível de Sucesso por Turma com Faltas Disciplinares (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2015/2016
Sucesso Escolar vs Indisciplina Escolar - A.E.A.N.
PARA EFEITOS DE COMPARAÇÃO
Sucesso por Turma
Níveis
(Sucesso)
3
A.E.A.N.
(E. S.)
2
1
Menos
Sucesso
Nível
Intermédio
Mais
Sucesso
Faltas Disciplinares por Turma
10º LH2
Faltas
Discipl.
14
11º LH2
5
10º LH1
4
10º CT
10º CT2
1
1
11º CT1
0
11º CT2
0
84,3
12º CT1
0
11º LH1
85
12º CT2
0
10º LH1
85,4
11º LH1
0
11º CT1
90,1
12º LH1
0
10º CT1
94,2
12º LH2
0
Turma
%
10º CT2
66,2
11º LH2
66,9
12º LH2
73,5
10º LH2
11º CT2
74
78
12º LH2
80,9
12º CT1
82,2
12º CT2
Escola
E.S.A.N.
E.S.A.N.
E.S.A.N.
Níveis
(Indisciplina)
%
70,2
81,4
88,7
3
2
1
116
Mais Faltas
Disciplinares
Nível
Intermédio
Menos Faltas
Disciplinares
Turma
Escola
Total
E.S.A.N
24
E.S.A.N
1
E.S.A.N
0
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2016/2017 e que relaciona Nível de Sucesso por Turma com Faltas Disciplinares (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2016/2017
Sucesso Escolar vs Indisciplina Escolar - A.E.A.N.
Sucesso por Turma
Níveis
(Sucesso)
3
Menos
Sucesso
2
Nível
Intermé
dio
1
Mais
Sucesso
A.E.A.N.
(E. S.)
Turma
%
10º CT1
10º CT2
10º LH1
10º LH2
11º CT2
11º CT1
11º LH2
12º LH2
53
58
64,8
65,7
76,2
77,2
80
81,1
12º CT1
11º LH1
12º LH1
86,9
87
91,5
Escola
Faltas Disciplinares por Turma
Níveis
(Indisciplina)
%
E.S.A.N.
60,4
3
E.S.A.N.
78,6
2
E.S.A.N.
88,5
1
117
10º LH2
Mais Faltas 10º CT2
Disciplinares 10º CT1
11º LH2
12º CT1
11º CT1
Nível
Intermédio 11º CT2
10º LH1
Faltas
Discipl.
40
5
2
1
1
0
0
0
11º LH1
Menos Faltas
12º LH1
Disciplinares
12º LH2
0
0
0
Turma
Escola
Total
E.S.A.N
48
E.S.A.N
1
E.S.A.N
0
ANEXO(S) 3
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2015/2016 e que relaciona Nível de Sucesso por Turma com Faltas Disciplinares (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2015/2016
Sucesso Escolar vs Indisciplina Escolar - A.E.A.N.
PARA EFEITOS DE COMPARAÇÃO
Níveis de Sucesso por Turma
Níveis (Sucesso)
5
Menos Sucesso
A.E.A.N.
(3º C.E.B.)
4
3
Níveis
Intermédios
Turma
%
Escola
7º Aa
58,5
7º Bn
58,6
E.B. Areosa
E.B. Nicolau
Nasoni
8º Ba
64,7
9º Cn
65,4
7º Ca
7º Da
8º Aa
9º Ba
68,3
72,7
73,9
74,5
7º An
76,6
E.B. Areosa
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Areosa
E.B. Areosa
E.B. Areosa
E.B. Areosa
E.B. Nicolau
Nasoni
Faltas Disciplinares por Turma
Níveis
(Indisciplina)
%
61,8
5
72,4
4
77,7
3
118
Mais Faltas
Disciplinares
Níveis
Intermédios
7º Aa
Faltas
Discipl.
63
E.B. Areosa
7º Da
30
E.B. Areosa
7º Bn
28
E.B. Nicolau
Nasoni
8º As
28
E.S.A.N
8º Aa
7º Ca
9º Aa
9º Ba
17
14
14
13
8º An
11
E.B. Areosa
E.B. Areosa
E.B. Areosa
E.B. Areosa
E.B. Nicolau
Nasoni
Turma
Escola
Total
149
58
43
2
1
Mais Sucesso
7º As
77,9
E.S.A.N.
8º Bn
11
E.B. Nicolau
Nasoni
8º An
78
E.B. Nicolau
Nasoni
9º As
11
E.S.A.N.
9º Bs
78,4
E.S.A.N.
9º Cn
10
E.B. Nicolau
Nasoni
8º Bn
79
7º As
8
E.S.A.N.
8º As
9º Aa
9º As
79,1
79,6
80,9
9º Bs
7º Ba
8º Ba
8
6
6
E.S.A.N.
E.B. Areosa
E.B. Areosa
7º Ba
8º Bs
81,5
84,9
8º Bs
7º As
3
1
9º Bn
86,5
9º An
0
9º An
87,7
9º Bn
0
E.S.A.N.
E.S.A.N.
E. B. Nicolau
Nasoni
E. B. Nicolau
Nasoni
E.B. Nicolau
Nasoni
E.S.A.N.
E. B. Areosa
E.S.A.N.
E.B. Areosa
E S.A.N.
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Nicolau
Nasoni
79,7
85,2
119
2
1
Menos Faltas
Disciplinares
28
4
Quadro – Síntese do Ano Letivo 2016/2017 e que relaciona Nível de Sucesso por Turma com Faltas Disciplinares (dados retirados do Relatório Oficial Anual do T.E.I.P.)
Ano Letivo:
2016/2017
Sucesso Escolar vs Indisciplina Escolar - A.E.A.N.
Sucesso por Turma
Níveis (Sucesso)
4
Menos
Sucesso
A.E.A.N.
(3º C.E.B.)
Faltas Disciplinares por Turma
Turma
Faltas
Discipl.
Escola
7º Ba
47
E.B. Areosa
9º As
43
7º Bn
24
E.S.A.N.
E.B. Areosa
9º Bs
9º Aa
19
18
E.B. Areosa
7º An
17
E.S.A.N.
E.B. Nicolau
Nasoni
E.S.A.N.
E.B. Areosa
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Nicolau
Nasoni
E.S.A.N.
E.B. Areosa
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Areosa
Turma
%
Escola
7º Bn
52,2
7º Da
54
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Areosa
9º Bs
57,5
E.S.A.N.
9º As
8º Ca
62,7
66
7º Ba
67,4
Níveis (Indisciplina)
56,6
4
68,3
3
Níveis
Intermédios
2
%
8º Aa
69,2
E.B. Areosa
8º Ba
8º Bs
70,6
70,1
8º Bn
71,7
9º Aa
72,5
E.B. Areosa
E.S.A.N.
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Areosa
Mais Faltas
Disciplinares
3
Níveis
Intermédios
72,9
2
120
9º An
14
8º Bs
8º Aa
13
10
8º Bn
7
8º Ca
6
Total
133
62
0
1
Mais
Sucesso
9º An
75
7º An
75,4
8º An
77,5
7º Ca
8º As
7º Aa
80,9
82,8
84,4
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Areosa
E.S.A.N.
E.B. Areosa
81,4
1
121
Menos Faltas
Disciplinares
8º Ba
5
E.B. Areosa
7º Da
5
E.B. Areosa
8º An
1
7º Aa
8º As
7º Ca
1
0
0
E.B. Nicolau
Nasoni
E.B. Areosa
E.S.A.N.
E.B. Areosa
0
ANEXO 4
Inquérito por Questionário aplicado à nossa Amostra (179 alunos das 3 escolas com 3º C.E.B. do A.E.A.N.)
Olá a todos,
Preciso da vossa ajuda para o preenchimento de um pequeno inquérito por questionário sobre o
tema “(In)Disciplina Escolar”, que é o assunto central da minha dissertação de Mestrado em
Ensino da Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
O objetivo deste estudo é simples: dar “voz” à vossa opinião. Interessa-me saber o que pensam
sobre a (In)Disciplina. Para isso, vou apresentar-vos dois excertos de uma banda desenhada de um
artigo1 publicado, em 2004, por Maria Silva e Isabel Neves na revista Educação. A banda
desenhada refere-se à disciplina de Ciências da Natureza mas, para este estudo, preciso que te
foques em todos os teus professores e em todas as tuas disciplinas. Pode ser? Podes ajudar-me?
Não te preocupes! Este inquérito por questionário é anónimo e a tua ajuda é preciosa… Só preciso
que sejas sincero(a) e não tenhas receio: aqui não há respostas certas ou erradas. Apenas opiniões
que se complementam e, de uma maneira ou de outra, ajudam a enriquecer esta Dissertação.
Mais uma vez,
Obrigado!
Escola a que pertence:
____ Escola Básica da Areosa;
____ Escola Básica de Nicolau Nasoni;
____ Escola Secundária de António Nobre;
Ano escolas que atualmente frequenrta: ___º Ano
Turma: ____
Género: ____ Masculino;
_____ Feminino;
1
Silva, M.; Neves, I. (2004). O que leva os alunos a serem (in)disciplinados? – Uma análise sociológica centrada em contextos diferenciados de integração pedagógica. Revista
Educação, XII (2). Pp.: 37-57
Cena 12
Silva, M.; Neves, I. (2004). O que leva os alunos a serem (in)disciplinados? – Uma análise sociológica centrada em contextos diferenciados de integração pedagógica. Revista
Educação, XII (2). Pp.: 37-57
2
Cena 1
3
1- Por que razão o Zé Gato está a ser indisciplinado?
Coloca por ordem de importância (da mais importante para a menos importante), as
seguintes frases.3
Situação de (In)Disciplina
Ordem:
Porque, como não passa para o caderno o que está no quadro, não está a ser
responsável.
Porque, ao atirar papelinhos à professora, não está a respeitar a professora.
Porque, como está sem atenção às explicações da professora, não respeita as regras da
turma.
Porque, ao distrair os colegas com a sua brincadeira, não está a respeitar os colegas.
2- Se algum dos teus professores se tivesse apercebido do que se passou, o que é que
ele/ela teria dito ao Zé Gato? Qual seria a sua (melhor) reação?
Coloca por ordem de importância (da mais importante para a menos importante), as
seguintes frases.3
Situação de (In)Disciplina
Ordem:
Zé, o melhor é dares-me o invólucro dessa caneta, porque assim estás a distrair-te e não
prestas atenção à aula.
Zé, vais acabar com essa brincadeira, porque as regras da turma são para cumprir.
Zé, isso é uma falta de respeito para comigo e para com os teus colegas, porque estás a
prejudicar o nosso trabalho.
Pára imediatamente com isso e guarda o invólucro da caneta.
Adaptado de Silva, M.; Neves, I. (2004). O que leva os alunos a serem (in)disciplinados? – Uma análise sociológica centrada em contextos diferenciados de integração
pedagógica. Revista Educação, XII (2). Pp.: 37-57
3
Cena 24
Cena
Adaptado de Silva, M.; Neves, I. (2004). O que leva os alunos a serem (in)disciplinados? – Uma análise sociológica centrada em contextos diferenciados de integração
pedagógica. Revista Educação, XII (2). Pp.: 37-57
4
Cena 2
1- Achas que os teus professores têm uma atuação mais parecida com a professora da Marta, com
a professora do Pedro ou com a professora do André? Porquê?5
Professora:
____ Marta;
____ Pedro;
____ André;
Justificação: ___________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
2- Se pudesses escolher, gostavas que os teus professors fossem como a professora da Marta, como
a do Pedro, ou como a do André? Porquê?5
Professora:
____ Marta;
____ Pedro;
____ André;
Justificação: ___________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
3- Com qual das professoras – do Pedro, da Marta ou do André – é que achas que a tua turma teria
pior comportamento? Porquê?5
Professora:
____ Marta;
____ Pedro;
____ André;
Justificação:____________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
4- Com qual das professoras – do Pedro, da Marta ou do André – é que achas que a tua turma teria
melhor comportamento? Porquê?5
Professora:
____ Marta;
____ Pedro;
____ André;
Justificação: ___________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Chegaste ao fim da tua colaboração!
Muito Obrigado… mais uma vez!
Questões transcritas integralmente de Silva, M.; Neves, I. (2004). O que leva os alunos a serem (in)disciplinados? – Uma análise sociológica centrada em contextos
diferenciados de integração pedagógica. Revista Educação, XII (2). Pp.: 37-57
5
ANEXO 5
Entrevista Semiestruturada: Dr.ª Maria Salomé F. Ribeiro – Coordenadora do Projeto T.E.I.P. do A.E.A.N.
GUIÃO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA A MEMBROS/ENTIDADES DA
COMUNIDADE EDUCATIVA ENVOLVIDOS NOS RELATÓRIO T.E.I.P.
Nome: Maria Salomé Fernandes Ribeiro
Cargo: Coordenadora do Projeto T.E.I.P.
DOCUMENTO(S) T.E.I.P.:
1 – O que significa a sigla T.E.I.P.?
R.: Territórios Educativos de Intervenção Prioritária.
2 – Em que ano é que o Agrupamento de Escolas António Nobre (A.E.A.N.) aderiu ao
projeto T.E.I.P.?
R.: A adesão ao programa TEIP surge em logo no inicio deste programa em 1996 criados
pelo Ministério da Educação, através do Despacho 147-B/ME/ com a adesão da EB23 da
Areosa. Após uma interrupção de cinco anos, a partir de 2007, a Escola voltou a integrar um
programa TEIP. O Agrupamento de Escolas António Nobre, constituído pela Escola
Secundária António Nobre (escola sede), por duas escolas básicas de segundo e terceiro
ciclos (EB2,3 da Areosa e EB2,3 de Nicolau Nasoni) e quatro escolas básicas de primeiro
ciclo (EB1 de S. João de Deus, EB1 das Antas, EB1 de Montebello e EB1 Monte Aventino),
regista uma primeira agregação, onde as escolas EB23 da Areosa e EB1 de S. João de Deus,
agruparam com a Escola Secundária António Nobre, no ano letivo de 2010- 2011.Em 20122013, a agregação formalizou-se com o Agrupamento de Escolas Antas (EB2,3 Nicolau
Nasoni, EB1 Montebello, EB1 das Antas, EB1 Monte Aventino).
2.1 – Quais foram as razões para essa adesão?
R.: Num contexto socioeconómico menos favorável a escola tem de dar respostas a
problemas que não se restringem apenas ao ato de ensinar. Para alavancar os
indicadores de sucesso destas escolas, para isso, foi necessário as escolas construírem
projetos de melhoria. cuja função primordial consiste na integração escolar e social
das crianças de meios desfavorecidos que possibilitaram a adoção de um novo modelo
de gestão que visa proporcionar uma maior autonomia aos estabelecimentos de ensino
e uma vontade de descentralização e uma partilha do poder no processo educativo
3 – Quais são os principais contributos do T.E.I.P. para o A.E.A.N.?
R.: São objetivos centrais do programa a prevenção e redução do abandono escolar precoce
e do absentismo, a redução da indisciplina e a promoção do sucesso educativo de todos os
alunos. Para isso, a escola assina um protocolo com o ME em que se propõe melhorar os
indicadores do abandono escolar precoce; do absentismo; redução da indisciplina e a
promoção do sucesso educativo de todos os alunos. O ME aloca meios financeiros e
humanos que permitam no agrupamento a criação de ações de melhoria. O programa TEIP,
uma grande mais-valia da escola, serve para dar resposta a quem pela força da vida, não
possui os meios económicos, que permitam usufruir de capitais que possibilitem uma fácil
inclusão no meio escolar. Vem dar instrumentos e meios para que se criem respostas que
esvaneçam as desigualdades de uma escola que ao ignorar a dissemelhança, isto é, não se
ajustando ao contexto da criança ou do jovem vai transmitindo-lhe uma desvalorização de si
mesma e consequentemente um desinteresse pelas atividades escolares. Este processo resulta
num crescendo insucesso ano após ano que exponencia o desinteresse, acabando na maioria
das vezes em comportamentos problemáticos e futuramente em abandono escolar. O
programa TEIP assente numa monitorização constante do que é produzido, com definição de
metas a alcançar, baseado na construção de projetos que se entrecruzam e vão dando forma
ao todo, com objetivo central da promoção do sucesso escolar, traz um novo paradigma para
a escola exigente per si, um novo passo, um novo caminho que permite uma fundamentação
teórica da escola, pois sem uma avaliação a argumentação é apenas opinativa, não
permitindo por isso, traçar um caminho que permita uma efetiva melhoria dos resultados da
escola Pública.
4 – A seu ver, que fragilidades e/ou constrangimentos possui o projeto T.E.I.P. para o
A.E.A.N.?
R.: A única fragilidade é a assunção por parte de todos os professores da importância deste
Programa.
5 – Quais as principais diferenças que verifica no A.E.A.N. antes e depois da sua inserção no
projeto T.E.I.P.?
R.: Não sei, porque não acompanhei este processo.
6 – Do A.E.A.N., qual é a Escola, a seu ver, que registou o maior progresso com a
implementação do T.E.I.P.? Porquê?
R.: EB23 Areosa. Apresentou melhorias dos indicadores.
ALUNO(S), PROFESSOR(ES), REGRAS, (IN)DISCIPLINA E (IN)SUCESSO ESCOLAR:
1 – Qual a sua opinião sobre as regras de comportamento em sala de aula?
R.: Qualquer sociedade/ grupo para subsistir ao tempo deve existir sempre regras de
convivência, quer de forma explícita, quer de forma implícita. A sala de aula espaço de
convivência grupal com a função da aprendizagem exige dos seus membros conheçam bem o
seu papel. Apesar das regras estarem definidas em normativos (estatuto do aluno e
regulamento das escolas), a maioria dos alunos desconhece estes instrumentos reguladores.
2 – Considera fundamental a participação dos alunos na definição das regras de
comportamento? Justifique.
R.: As regras de convivência são universais e existe uma necessidade de homogeneizar
as mesmas. Só assim, se consegue evitar que os alunos se comportem de maneira
diferente consoante os professores que têm O conceito de indisciplina está ligado às
conceções de cada um em relação à forma como pensa a Escola, esta heterogeneidade
de visão implica conflitualidade e confusão nos discentes.
As normas devem ser trabalhadas com os discentes, para que desde cedo estes
consigam perceber que as estas são sustentadas numa matriz de premissas produtoras
de ações que visam o equilibrio das relações humanas e que permite uma convivência
harmoniosa entre todos.
3 – Ao nível do Agrupamento de Escolas António Nobre, enuncie os comportamentos de
indisciplina que mais frequentemente ocorrem nas salas de aula e que estão contemplados no
projeto T.E.I.P..
R.: Não cumprir a ordem emanada pelo professor; falar constantemente com os outros
colegas;…
3.1 – Dos comportamentos que enumerou, quais são os que considera mais graves?
R.: Os que envolvem agressividade. No agrupamento não são os mais recorrentes.
4 – A seu ver, quais serão os motivos que levam os alunos a perturbarem as aulas?
R.: Desinteresse pelas atividades letivas, decorrente muitas vezes de um insucesso
reiterado ao longo da sua vida escolar A indisciplina resulta de um processo vivencial
que exorta para uma visão dos outros como sendo alheios e hostis sendo muitas vezes
consequência da sua solidão e dos seus medos. É urgente e necessário por isso, uma
desconstrução na criança/jovem do seu modo de olhar os outros. Um conhecimento das
diferenças que os diversos contextos sociais, económicos e familiares imprimem na
pessoa, aliada a uma intervenção sem preconceitos e com uma visão holística, pode
permitir uma convivência pedagógica em que as pontes se vão construindo e a
distância se vai desvanecendo.
5 – Considera que a forma como os professores se relacionam com os alunos tem influência no
comportamento e, consequentemente, no sucesso escolar? Justifique.
R.: O professor como qualquer ser humano carrega consigo uma história de vida. No
entanto como qualquer profissional tem de dar uma resposta eficaz ao público – alvo,
construindo estratégias que permitam desenvolver um processo de ensino aprendizagem que
permita o sucesso de todos. As relações com os outros são aprendizagens efetuadas ao longo
da vida e variam segundo o papel que desempenhamos. A relação entre professor e aluno
deve ser estruturada com o fim de se criarem climas de aprendizagem.
6 – No seu entender, a forma como os professores lecionam as aulas influencia o
comportamento dos alunos? Porquê?
R.: O professor tem de ter presente que o seu papel em sala de aula é ensinar aquele público.
Se mantiver o mesmo registo para públicos diferentes, corre o risco de criar desinteresse nos
alunos. As escolhas dos atos e das palavras, que o professor aplica na condução dos
processos e estratégias, devem conduzir à efetivação de uma relação empática com o outro, e
consequentemente ter como corolário uma influência positiva sobre o sujeito, que permita
gerar uma melhor prática de ensino-aprendizagem.
7 – Acha que os alunos se comportam melhor com os professores mais velhos ou com os mais
novos? Justifique.
R.: Não creio que esta questão se possa colocar com uma justificação etária. Os alunos
comportam-se melhor com os docentes, que conseguem ter autoridade científica e emocional.
8 – Quando os alunos se comportam inapropriadamente na sala de aula, quais as medidas
abrangidas pelo programa T.E.I.P. que os professores mais utilizam para resolver os
problemas com que se deparam?
R.: Saída da sala de aula.
9 – Como avalia a aplicação de sanções para resolver os problemas de indisciplina na sala de
aula.
R.: Por vezes essas sanções são necessárias, no entanto deve imperar o bom senso. O
professor deve ter sempre presente que é a autoridade dentro da sala de aula e por isso deve
munir-se de mecanismos que permitam controlar os comportamentos desajustados. Esses
mecanismos passam muitas vezes pelo diálogo.
10 – Sempre que se recorre à aplicação de sanções, quais são aquelas que são utilizadas com
mais frequência?
R.: Saída da sala de aula.
11 – A seu ver, a aplicação de sanções ajuda ou pode ajudar a adquirir e a incutir hábitos de
bom comportamento nos alunos ditos “indisciplinados”? Porquê?
R.: Se a saída de sala de aula for recorrente deixa de ter o efeito pretendido. A saída da sala
de aula deveria só ser utilizada em situação em que para se controlar a situação implica que
os outros alunos fiquem impedidos de ter aula ou situações graves. No entanto, nunca se
deve descurar uma conversa com o aluno que foi penalizado, após o término da aula. Os
alunos como jovens que são ainda têm dificuldade em auto regularem-se. As escolas TEIP e
a sua grande aposta nas equipas multidisciplinares têm tido um grande contributo para a
constatação que as multivariáveis que induzem o aluno à indisciplina necessitam de uma
intervenção multidisciplinar.
12 – No seu entender, o aluno que é sancionado repete o comportamento que o levou a ser
castigado?
Porquê?
R.: Se após o comportamento não existir uma reflexão sobre o mesmo, ele mantém-se.
13 – Acha que a sanção prejudica a relação do aluno com o professor e com o sucesso escolar?
Justifique.
R.: Depende! Se o problema for refletido conjuntamente, pode alterar e melhorar a relação
professor-aluno.
14 – Que ocorrências identificam os professores como indisciplina, qual a gravidade que lhes
atribuem e qual a frequência percecionada?
R.: Um dos problemas da indisciplina é os diferentes conceitos que existem desta
problemática por parte dos professores. O agrupamento tem feito ações de capacitação para
colmatar este problema.
15 – Como avalia a atuação dos professores do A.E.A.N. perante casos de indisciplina?
R.: Bastante grave. O indicador da indisciplina é bastante elevado.
16 – Em que medida a prática pedagógica, do seu ponto de vista, pode contribuir para a
prevenção da indisciplina na sala de aula e para o sucesso escolar?
R.: O crescente insucesso ano após ano exponencia o desinteresse dos alunos, que
frequentemente se traduz em comportamentos problemáticos, uma prática pedagógica
não assente no sucesso para todos, irá traduzir-se em comportamentos desajustados.
17 – Que importância o projeto T.E.I.P. atribui à relação professor/aluno, enquanto fator
influente na (in)disciplina e do sucesso escolar?
R.: O Plano Plurianual de Melhoria tem ações que têm como objetivo a diminuição da
indisciplina – ação A.M.A.R.E.
18 – Que contributo poderá a formação contínua vir a dar aos professores, para os habilitar
na sua resposta às situações de indisciplina, com que se deparam na sala de aula?
R.: Para dar resposta a esta problemática o agrupamento, através do TEIP, tem tido ações
de capacitação sobre o tema indisciplina. A gestão de conflitos é uma das vertentes que
qualquer professor deve ao longo da sua vida profissional aperfeiçoar. Estas ações permitem
um processo reflexivo e um aprofundamento cientifico sobre a temática.
Obrigado pela sua colaboração!
Paulo M. C. Lemos
ANEXO(S) 5
Entrevista Semiestruturada: Dr.ª Maria Salomé F. Ribeiro – Coordenadora do Projeto T.E.I.P. do A.E.A.N.
GUIÃO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA A MEMBROS/ENTIDADES DA
COMUNIDADE EDUCATIVA ENVOLVIDOS NOS RELATÓRIO T.E.I.P.
Nome: Alice Barbosa e Teresa Fonseca
Cargo: Psicóloga e Mediadora do G.A.A.F – Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família
DOCUMENTO(S) T.E.I.P.:
1 – O que significa a sigla T.E.I.P.?
R.: Território Educativo de Intervenção Prioritária.
2 – Em que ano é que o Agrupamento de Escolas António Nobre (A.E.A.N.) aderiu ao
projeto T.E.I.P.?
R.: O Agrupamento foi sofrendo várias alterações com diferentes fusões que culminaram no
atual mega Agrupamento que agora existe. O 1º processo de fusão ocorreu em Agosto de
2010, entre a Escola Secundária António Nobre e o Agrupamento Vertical de Escolas da
Areosa, este último constituído pela Escola Básica da Areosa (sede do Agrupamento com o
mesmo nome) e a Escola Básica de S. João de Deus (JI/ 1ºCEB). O 2º processo de fusão
ocorreu em Julho de 2012, entre o Agrupamento de Escolas de António Nobre e o
Agrupamento de Escolas Nicolau Nasoni. O Agrupamento de Escolas Nicolau Nasoni,
composto pelas escolas EB Nicolau Nasoni (Escola sede do Agrupamento com o mesmo
nome), EB das Antas, EB Monte Aventino e EB Montebello. As várias escolas distribuem-se
geograficamente por duas freguesias da cidade do Porto - Paranhos e Campanhã.
2.1 – Quais foram as razões para essa adesão?
R.: A ação educativa do Agrupamento tem como prioridade melhorar a qualidade do
ensino e da aprendizagem, assegurando os bons resultados académicos e a
sustentabilidade das melhorias alcançadas. Nessa lógica, as propostas de melhoria
visam diminuir o desfasamento entre os resultados da avaliação interna e externa,
diminuir a taxa de abandono precoce e proporcionar meios de apoio à aprendizagem.
3 – Quais são os principais contributos do T.E.I.P. para o A.E.A.N.?
R.: A possibilidade de contratação de mais recursos humanos em áreas distintas que
contribuem e asseguram a melhoria das aprendizagem, como:
Mediadora Social;
Terapeuta da Fala;
Professores contratados (tutorias e professores de apoio educativo);
4 – A seu ver, que fragilidades e/ou constrangimentos possui o projeto T.E.I.P. para o
A.E.A.N.?
R.: A instabilidade na contratação anual dos diferentes profissionais dificulta a integração e
o conhecimento da especificidade da realidade sociocultural do agrupamento.
5 – Quais as principais diferenças que verifica no A.E.A.N. antes e depois da sua inserção no
projeto T.E.I.P.?
R.: Maiores apoios e recursos para a resolução das problemáticas de insucesso, abandono e
indisciplina.
6 – Do A.E.A.N., qual é a Escola, a seu ver, que registou o maior progresso com a
implementação do T.E.I.P.? Porquê?
R.: De um modo geral, podemos avançar com melhoria ao nível dos diferentes eixos/
domínios do TEIP, consagrados no Projeto Educativo do Agrupamento/T.E.I.P. Desta forma,
tem-se vindo a registar uma evolução positiva nas aprendizagens, diminuição do
abandono/absentismo e da indisciplina.
ALUNO(S), PROFESSOR(ES), REGRAS, (IN)DISCIPLINA E (IN)SUCESSO ESCOLAR:
1 – Qual a sua opinião sobre as regras de comportamento em sala de aula?
R.: Tendo em conta os domínios de atuação/intervenção do GAAF procuramos apoiar os
diretores de turma e docentes no sentido de definição e implementação de regras que se
afigurem consistentes e que desta forma contribuam para diminuir os problemas
comportamentais.
2 – Considera fundamental a participação dos alunos na definição das regras de
comportamento? Justifique.
R.: Sem dúvida alguma, faz todo o sentido o envolvimento e a coresponsabilização dos
alunos na definição das regras.
3 – Ao nível do Agrupamento de Escolas António Nobre, enuncie os comportamentos de
indisciplina que mais frequentemente ocorrem nas salas de aula e que estão contemplados no
projeto T.E.I.P..
R.: Os comportamentos de indisciplina mais comuns e de maior gravidade são a falta de
respeito pela autoridade da figura do professor.
3.1 – Dos comportamentos que enumerou, quais são os que considera mais graves?
R.: O comportamento anteriormente citado, congrega um conjunto de atitudes que
exponenciam esse desrespeito, que se traduzem na prática por verbalizações
insultuosas, que obrigam à medida de ordem de saída da sala de aula e aplicação de
medidas Corretivas Sancionatórias.
4 – A seu ver, quais serão os motivos que levam os alunos a perturbarem as aulas?
R.: Na maior parte das vezes, os alunos não encontram na Escola a motivação necessária a
uma aprendizagem consistente, levando os mesmos a comportamentos desatentos e
desestabilizadores.
5 – Considera que a forma como os professores se relacionam com os alunos tem influência no
comportamento e, consequentemente, no sucesso escolar? Justifique.
R.: O docente tem a possibilidade de “agarrar” uma turma e fazer um trabalho
extremamente positivo, dando exemplo e envolvendo os alunos na própria aprendizagem.
6 – No seu entender, a forma como os professores lecionam as aulas influencia o
comportamento dos alunos? Porquê?
R.: Os professores têm vindo a sentir a necessidade de aplicar novas metodologias e práticas
dentro da sala de aula, procurando fugir ao modelo tradicional de exposição verbal/teórica
e desta forma potenciar a motivação e o interesse dos alunos, com reflexo positivo ao nível
comportamental.
7 – Acha que os alunos se comportam melhor com os professores mais velhos ou com os mais
novos? Justifique.
R.: Enquanto elementos do G.A.A.F, consideramos que a idade não é um factor
diferenciador, sendo muito mais as práticas pedagógicas o que determina o comportamento
dos alunos.
8 – Quando os alunos se comportam inapropriadamente na sala de aula, quais as medidas
abrangidas pelo programa T.E.I.P. que os professores mais utilizam para resolver os
problemas com que se deparam?
R.: Medidas Corretivas, em particular - Ordem de saída de sala de aula.
9 – Como avalia a aplicação de sanções para resolver os problemas de indisciplina na sala de
aula.
R.: Procura-se com as Sanções Corretivas e Sancionatórias, dissuadir os alunos de
apresentarem problemas disciplinares e desajustados ao contexto de sala de aula.
10 – Sempre que se recorre à aplicação de sanções, quais são aquelas que são utilizadas com
mais frequência?
R.: Sanções Corretivas – Ordem de sala de aula.
11 – A seu ver, a aplicação de sanções ajuda ou pode ajudar a adquirir e a incutir hábitos de
bom comportamento nos alunos ditos “indisciplinados”? Porquê?
R.: Consideramos que pode ser benéfico para a melhoria do comportamento, quando o
aluno e o encarregado de educação são envolvidos numa maior consciencialização sobre as
atitudes desadequados e em conjunto ser definido um plano de intervenção no sentido da
melhoria.
12 – No seu entender, o aluno que é sancionado repete o comportamento que o levou a ser
castigado? Porquê?
R.: Depende muito do aluno, do encarregado de educação e do docente. Contudo,
verificamos que os alunos tendem a reincidir, tanto mais se não se trabalhar a causa de tal
atitude, que está a potenciar estes comportamentos.
13 – Acha que a sanção prejudica a relação do aluno com o professor e com o sucesso escolar?
Justifique.
R.: A sanção habitualmente não prejudica a relação com o professor e o sucesso educativo,
desde que se estabeleça uma comunicação eficaz e direcionada para a consciencialização da
necessidade de reverter o comportamento desadequado.
14 – Que ocorrências identificam os professores como indisciplina, qual a gravidade que lhes
atribuem e qual a frequência percecionada?
R.: Tendo em conta o número de turmas e de docentes é difícil restringir este campo a uma
resposta. Habitualmente as queixas baseiam-se na falta de respeito pela autoridade do
professor.
15 – Como avalia a atuação dos professores do A.E.A.N. perante casos de indisciplina?
R.: Os professores aplicam as Medidas Corretivas e Sancionatórias, previstas na lei.
16 – Em que medida a prática pedagógica, do seu ponto de vista, pode contribuir para a
prevenção da indisciplina na sala de aula e para o sucesso escolar?
R.: Enquanto técnicas do G.A.A.F. consideramos que a prática pedagógica é determinante
para a prevenção da indisciplina na sala de aula e para o sucesso escolar.
17 – Que importância o projeto T.E.I.P. atribui à relação professor/aluno, enquanto fator
influente na (in)disciplina e do sucesso escolar?
R.: Este projeto assenta na diminuição da indisciplina e do insucesso escolar, pelo que a
relação professor/aluno é de imperiosa importância para este projeto.
18 – Que contributo poderá a formação contínua vir a dar aos professores, para os habilitar
na sua resposta às situações de indisciplina, com que se deparam na sala de aula?
R.: O próprio projeto T.E.I.P. prevê ações de capacitação dos docentes, pelo que é quase
obrigatório a sua frequência para um constante reciclar das práticas pedagógicas, de forma
a ir de encontro às necessidades e especificidades do “Modelo de aluno atual”.
Obrigado pela sua colaboração!
Paulo M. C. Lemos
As técnicas do G.A.A.F.:
– Maria Alice Barbosa (Coordenadora/Psicóloga);
– Teresa Fonseca (Mediadora);
OBSERVAÇÃO DO G.A.A.F.:
A presente resposta ao questionário foi elaborada pelos dois elementos do G.A.A.F., pois
não é possível dissociar a Psicologia da Mediação em termos de intervenção.