Artigo de Fernanda Dechatnek feito com base na comunicação apresentada no dia 06 de Novembro de 2019 no I Simpósio de Filosofia do Corpo e Movimento UFPR, Reitoria da UFPR, Curitiba-PR. Completo em:...
moreArtigo de Fernanda Dechatnek feito com base na comunicação apresentada no dia 06 de Novembro de 2019 no I Simpósio de Filosofia do Corpo e Movimento UFPR, Reitoria da UFPR, Curitiba-PR.
Completo em:
https://filosofiadocorpoemovimento.wordpress.com/anais-do-evento/Resumo: Uma das coisas mais pontuais que os coreógrafos contemporâneos têm nos ensinado é de que nosso corpo é muito mais complexo e extenso do que os limites da carne e da pele. Eles nos desafiam constantemente por meio de suas coreografias a reinventar nossas concepções entre a divisão de corpo, consciência e ambiente, deixando de ser coisas distintas para formas mais fluídas de troca constante. A fim de investigar o que é o corpo, ou ao menos entender a partir de diferentes configurações como ele se faz, levando em consideração precisamente essas trocas, apresenta-se no seguinte trabalho uma espécie de provocação inspirada por diferentes visões acerca de tal composição corpórea. Voltado principalmente à uma leitura do livro “Movimento Total” do autor e filósofo José Gil, aprofundamo-nos no modo como o movimento consegue mudar nossa percepção do corpo, em especial tomando a técnica do coreógrafo Merce Cunningham — que é comentado logo no início deste mesmo livro — que possibilita-nos a enxergar cada movimento, efetuado de maneira completamente livre e sem seguir uma técnica comum, como a criação de novos corpos virtuais, fazendo do bailarino esse conjunto de corpus monstruoso. Indo também para além disso, faz-se igualmente a apresentação breve da noção de corpo ameríndia a partir da leitura de Eduardo Viveiros de Castro, onde é o conjunto de afecções do ser que criam para este um corpo tal como é. Encaminhados por essas reflexões, ressaltaremos a posição destes corpos como sempre em algum tipo de relação, seja por primeiro querer esvaziar-se disso, como é o caso colocado por Cunningham em sua dança, ou por propriamente ir direto de encontro a isso, como aponta Viveiros de Castro. Ou seja, especularemos os modos pelo qual essas formas alternativas de experiência corpórea trazem consigo um campo amplo de debate sobre a própria existência do corpo como indivíduo, fazendo-nos encarar a multiplicidade dos seres. O trabalho a que nos colocamos é de justamente analisar que a composição corpórea está, em alguma medida, em um ponto crucial e central para o eu e/ou para o ambiente. Veremos bem isso ao apontar propriamente a maneira pelo qual o movimento livre do bailarino de Cunningham cria movimentos de pensamento e, por consequência, também possibilita que esse movimento transforme os tipos de comunicação entre os seres externos, como os outros dançarinos, o espectador e a própria música. O corpo se torna uma película repleta de vacúolos que troca constantemente as informações entre interior e exterior. O que realmente os limites da pele nos impedem? O que isso nos diz com relação ao nosso impacto perante as mudanças do mundo? Mas acima de tudo, o que isso nos diz sobre nosso corpo? Ele é apenas meio ou ponte para essa troca de informações entre o eu/interno e o ambiente/externo? Seja como for, é inegável que esses limites já são quebrados e que, por meio da arte e do pensamento não-ocidental, pelos movimentos para além da vida mesma e pela interação constante, nosso corpo se percebe muito mais conectado e presente com esse mundo, nos colocando frente a frente com as atitudes destes corpos.