O PENSAR HUMANO A química oferece uma analogia interessante para pensar as relações humanas: Moléculas de hidrogênio entram em combustão em presença de moléculas de oxigênio através de uma faísca elétrica. Mas as mesmas moléculas, ao se...
moreO PENSAR HUMANO
A química oferece uma analogia interessante para pensar as relações humanas: Moléculas de hidrogênio entram em combustão em presença de moléculas de oxigênio através de uma faísca elétrica. Mas as mesmas moléculas, ao se combinarem produzindo moléculas de água, H2O, mudam suas propriedades individuais e se tornam capazes de apagar o fogo de uma combustão. Moléculas não podem ser percebidas diretamente através dos órgãos dos sentidos e precisam ser imaginadas através de modelos mentais como a química oferece. Assim como imaginamos moléculas como realidades objetivas sem de fato percebê-las diretamente pelos sentidos, imaginamos pessoas se relacionando, para compreendê-las.
A química das relações humanas precisa ser melhor examinada para ser compreendida.
O dilema da realidade humana é discernir o trato com objetos inanimados do trato com semelhantes, os outros que também pensam, imaginam e sentem. A confusão entre os modos de interagir com coisas e com pessoas sempre resultou em conflitos.
Quando alguém examina a si em relação a outro, cria um campo mental de relação eu-outro isso interessa examinar de forma especial. A relação entre pessoas gera o campo relacional humano desde o nascimento da inteligência. Mesmo na realidade objetiva é preciso operar com relações, como na analogia com as moléculas de hidrogênio e oxigênio dando como resultado uma molécula de água. O eu e o Tu ao interagirem dão como produto o Nós. A representação mental nomeada como a de um Nós não aprende por si mesma, assim como a molécula da água necessita algum tipo especial de interação entre moléculas de hidrogênio e oxigênio.
Tratando de si e dos outros como objetos, alguém precisará abdicar da sua condição pensante. O termo em desuso “recurso humanos” diz muito da forma como nossa cultura tradicional pensa a respeito de como imaginar relações de trabalho, como relações de uso e não de composição e colaboração em direção a uma meta em comum. Nas relações familiares e amorosas esse viés também pode resultar em padrões de antagonismo e não de sinergia.
A conversação oferece um campo para a compreensão mútua, o diálogo. Um jogo de conversação para ir ao encontro do diálogo precisa posicionar-se como diferente do jogo da discussão, no qual o antagonismo de ideias prevalece, uma delas procurando prevalecer sobre a outra, impedindo a outra de se manifestar e se compor seguindo um caminho inclusivo.
Conversar é converter dois ou mais sentidos em um terceiro modo de perceber os sentidos, mais includente. Uma conversa é muito mais do que uma troca de palavras. É a criação de uma realidade terceira de sentido e interesse em comum, a partir do exame das expectativas e modos de pensar das partes.
Cada representação mental é análoga às nossas percepções: são modos de ver, ouvir e sentir física e emocionalmente. Não é por acaso que uma palavra, frase, gesto, olhar atitude ou postura "faz sentido": ele aparece no plano interno ou interpelação ou em grupos como uma experiência vivida na relação entre duas partes ou dimensões.
O exame de uma conversação acontece pela qualificação do que vemos, ouvimos e sentimos desde diferentes posições mentais: imaginando-se dentro da experiência, vivendo-a percebendo-se do fora reagindo a ela, como um observador terceiro dentro do contexto ou como um meta observador, desde fora do contexto específico, percebendo ao longo do tempo os padrões recorrentes de como tem se passado às interações e como podem ser projetados no futuro.