Charles S. Peirce (1839-1914) pode ser considerado o maior filósofo nascido nas Américas. Polímata, foi cientista por formação e profissão. Formou-se em química em Harvard, obtendo pela primeira vez a distinção summa cum laude, a mais...
moreCharles S. Peirce (1839-1914) pode ser considerado o maior filósofo nascido nas Américas. Polímata, foi cientista por formação e profissão. Formou-se em química em Harvard, obtendo pela primeira vez a distinção summa cum laude, a mais alta da universidade. De 1859 a 1891, foi geofísico e astrônomo da United States Coast and Geodetic Survey, e, com suas pesquisas, inseriu definitivamente os EUA no cenário científico internacional. Foi demitido sem aposentadoria, o que lhe causou grandes dificuldades financeiras na velhice. No único período (1878-1883) em que trabalhou numa universidade, a então recém-criada Johns Hopkins, elaborou uma teoria da quantificação compatível com a lógica de primeira ordem, posteriormente expandindo-a de forma a torná-la compatível para lógicas de ordem superior. Isto, Peirce o fez com base no trabalho de matemática de seu pai, Benjamin Peirce, o cálculo da lógica de G. Boole, e a lógica das relações de A. De Morgan. Se posterior aos resultados Frege, seu trabalho não obstante foi realizado de maneira totalmente autônoma e sobre outras bases, com outras preocupações, influenciando E. Schroeder, e, por via deste, L. Löwenheim e Th. Skolem. Não à toa, Peirce sempre se considerou sobretudo um lógico. Mas sua obra é imensa e variada, indo da matemática e da lógica à história da filosofia e da ciência, passando pela enologia e pela fonética da língua inglesa do período elizabetano. Nela, desponta proeminente a sua semiótica, ou teoria geral dos signos, pela qual ficou mundialmente conhecido. Sua filosofia é sistemática, abrangente, na qual encontramos desde teses ontológicas sobre o acaso (tiquismo), a afirmação de um princípio amoroso de evolução do universo (agapismo), e a hipótese da continuidade psicofísica de todos os fenômenos (sinequismo), sem esquecer uma teoria das categorias cenopitagóricas (faneroscopia). Tais temas ontológico-metafísicos são por ele resumidos sob a denominação de idealismo objetivo, segundo influência de pensadores do Iluminismo e do romantismo alemães. No entanto, Peirce sempre se autodenominou um realista escolástico, mais radical até mesmo que Duns Scotus, pois defendia um realismo dos continua, e não de termos individuais. Mais tardiamente, também referia à própria filosofia como uma filosofia crítica do senso-comum, parecida com a da anterior escola escocesa, mas adequada aos problemas de um mundo transformado pela Revolução Científica. Tendo recebido de seu amigo William James o título de inventor do pragmatismo, Peirce o entendia primordialmente como um método lógico para a investigação científica, mas, depois, passou a considerá-lo também em chave kantiana, em específica remissão aos imperativos hipotéticos por Kant menosprezados. Tardiamente, e durante certo período, chegou mesmo a usar o rótulo pragmaticismo, um nome tão feio que ninguém desejará roubá-lo, nas suas próprias e jocosas palavras. Seu pensamento exerceu profícua influência sobre vários pensadores do século XX, como Umberto Eco, Roman Jakobson, Gilles Deleuze, Alfred Tarski, Karl Popper e Juergen Habermas, dentre outros.