A Teologia Negra da Libertação, sistematizada em meados do século XX, constitui se a partir da experiência afrodiaspórica nas Américas e no contexto de protesto contra o domínio colonial branco na África. Orientada pelo s princípios de...
moreA Teologia Negra da Libertação, sistematizada em meados do século XX, constitui se a partir da experiência afrodiaspórica nas Américas e no contexto de protesto contra o domínio colonial branco na África. Orientada pelo s princípios de Libertação e Justiça esta perspectiva teológica correlaciona a mensagem cristã com a situação histórico cultural em que está inserida, objetivando uma transformação concreta na história, ao engajar se na luta antirracista. A partir da constatação da crítica teológica negra à pretensa universalidade da teologia euro ocidental, tomamos como objetivo geral analisar o potencial correlativo entre a teoria decolonial e a Teologia Negra da Libertação, considerando as situações históricas que condicionam a hermenêutica de ambas, sobre tudo no que diz respeito à relação entre modernidade, religião e colonialidade. Para realizar a análise, recorremos a autores como Paul Tillich e Claude Geffré, no que se refere à compreensão dos teóricos mencionados so bre a condição hermenêutica da teologia, sintetizada no “método de correlação” e na concepção de “virada hermenêutica”, respectivamente. No primeiro momento, traçamos um panorama da Teologia Negra da Libertação, nos Estados Unidos e no Brasil, destacando a constituição correlacional entre teologia e “situação”, identificando a hermenêutica implicada nessa teologia, radicalizada na afirmação do corpo do sujeito teológico como uma condição sem a qual não há hermenêutica teológica, e a luta contra o racismo como o seu ponto de partida. Em seguida , identificamos os principais argumentos críticos e propositivos da teoria decolonial em sua hermenêutica engajada contra o eurocentrismo, que, ao compreender a colonialidade enquanto constitutiva da modernidade, e não derivativa desta , sugere a reconstituição epistêmica dos povos subalternizados. A partir disso, analisamos a correlação entre teoria decolonial e produção intelectual afrodiaspórica e o possível lugar da teologia no projeto decolonial, nos apropriando de um critério estabelecido pelos teóricos decoloniais, em que a articulação entre lugar social e lugar epistêmico é imprescindível para a formulação de um discurso contra hegemônico comprometido com os oprimidos. Por fim, analisamos o potencial correlativo entre a teoria decolonial e a Teologia Negra da Libertação. Após termos abordado a hermenêutica da modernidade realizada pelos teóricos decoloniais e identificar a presença de sua perspectiva na hermenêutica teológica negra e sua resposta teológica às perguntas implícitas na “situação”, privilegiando a análise do livro O Deus dos oprimidos , de James Cone, pudemos afirmar a Teologia Negra da Libertação como uma teologia afrodiaspórica, antirracista e decolonial.