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Tendo a fragmentação e a elipse como métodos estruturantes no modo de contar histórias, a literatura de Franz Kafka e o cinema de Michael Haneke instauram narrativas enigmáticas. Eleito o romance O Castelo como ponto de partida, o filme... more
Tendo a fragmentação e a elipse como métodos estruturantes no modo de contar histórias, a literatura de Franz Kafka e o cinema de Michael Haneke instauram narrativas enigmáticas. Eleito o romance O Castelo como ponto de partida, o filme homônimo dirigido por Haneke busca a materialização imagética da linguagem protocolar kafkiana, convergindo para o seu cinema literário. Propomos então realizar uma reflexão crítica e analítica da transposição midiática orquestrada pelo diretor alemão do romance inacabado de Kafka. Respondendo à imensa crítica do escritor, intentamos estabelecer uma leitura literal do texto romanesco, evitando as exegeses que tendem a condicionar a tônica de sua literatura. Em seguida, acessando toda a filmografia do diretor, foi possível conjeturar panoramas, a fim de investigar de que maneira a prosa kafkiana serve de substrato na edificação de sua controversa estética. Walter Benjamin, Theodor Adorno, Roberto Calasso e Milan Kundera conduziram a trajetória analítica da obra literária, especialmente por se tratar de teóricos que teceram importantes contribuições para a compreensão da prosa do autor tcheco. Com o intuito de delinear as vicissitudes desse encontro interartístico entre escritor e diretor e a tônica dialógica daquilo que chamamos de “cinema de liberdade”, recorremos essencialmente a Mikhail Bakhtin e à Estética da Recepção, além de Roland Barthes e Robert Stam. Nessa arena dialógica das artes, ao absterem-se de decretar a palavra final sobre aquilo que é escrito ou mostrado, escritor e diretor se encontram na edificação de linguagens verbais e imagéticas que provocam o ativismo de leitores e espectadores.
Da leitura da papelada que Franz Kafka deixou, um peculiar corpo se revela. Premido pelo que entendeu como o seu destino literário, ele engendrou para si mesmo, por meio da escrita, uma existência poética ao transformar os seus mundos... more
Da leitura da papelada que Franz Kafka deixou, um peculiar corpo se revela. Premido pelo que entendeu como o seu destino literário, ele engendrou para si mesmo, por meio da escrita, uma existência poética ao transformar os seus mundos interno e externo em um corpo escrito. Assim como outros que dedicaram suas vidas à arte, Kafka também manteve sua retórica de clausura, mas não há dúvida de que se valeu do mundo externo para nutrir o interno e elegeu a escrita para registrar a constituição de ambos que, fixados graficamente, compõem um corpo escritural que é dado a circular através da leitura. Nessa conjuntura, corpo-escrito e corpo-lido integram o desejo muito íntimo do autor de dar uma feição ideal ao seu próprio “eu”, de dar voz a uma existência que se sentia coagida ao silêncio e a encenar, por meios não tão óbvios, uma comunicação que se perdura no tempo. É recorrendo especialmente aos seus escritos íntimos, como as cartas e os diários, que este artigo pretende demonstrar que co...
Resumo: Originário de pesquisa em desenvolvimento afeita à distorção das mensagens provenientes dos discursos jurídicos vinculados ao sistema penitenciário nacional, este estudo apresenta a relação que permeia a metáfora intertextual das... more
Resumo: Originário de pesquisa em desenvolvimento afeita à distorção das mensagens provenientes dos discursos jurídicos vinculados ao sistema penitenciário nacional, este estudo apresenta a relação que permeia a metáfora intertextual das grades e a textualidade do direito, através de análise competente à semiótica jurídica. O ideário de solidariedade e participação social, que busca a reinserção do reeducando no contexto social, é, por vezes, inviabilizado, já que se admite a existência de um conflito sígnico no âmago do discurso jurídico. Este conflito provoca uma confusão dos espaços ocupados pela sociedade e pelo reeducando, como se o símbolo das grades, na dependência do referencial do observador, a ambos aprisionasse.
Escrito em 1928, no auge do movimento modernista, e precursor daquilo que Robert Stam chamou de "realismo magico", o romance Macunaima de Mario de Andrade explora as idiossincrasias da lingua portuguesa para fazer ressoar uma... more
Escrito em 1928, no auge do movimento modernista, e precursor daquilo que Robert Stam chamou de "realismo magico", o romance Macunaima de Mario de Andrade explora as idiossincrasias da lingua portuguesa para fazer ressoar uma linguagem genuinamente nacional. A exemplo do que ocorreu com as vanguardas europeias, em Macunaima deparamo-nos com o uso de elementos arcaicos da cultura indigenista brasileira na construcao de um romance polifonico. O texto romanesco perpassa a dicotomia estabelecida entre o arcaico e o moderno, o primitivo e o civilizado, colocando em equipolencia o erudito e a tradicao popular. Ao recorrer a elementos primitivos e arcaicos da lingua na construcao de seu texto, Mario de Andrade faz ressoar as premissas modernistas de 1922, fundamentadas na recusa das convencoes de um realismo mimetico. A narrativa agrega o sincretismo linguistico emanado das lendas luso-brasileiras, amazonenses e africadas na constituicao do espaco romanesco e reverbera o pensamen...
Franz Kafka manteve doze cadernos in-quarto ao longo de quatorze anos e fez neles o registro da sua peculiar existência. Conhecidos como seus diários íntimos, esses cadernos servem de valiosa fonte para a compreensão não apenas da vida do... more
Franz Kafka manteve doze cadernos in-quarto ao longo de quatorze anos e fez neles o registro da sua peculiar existência. Conhecidos como seus diários íntimos, esses cadernos servem de valiosa fonte para a compreensão não apenas da vida do escritor como também – e especialmente – do seu legado literário. Não obstante, pouca atenção ainda é dada pela crítica e pela academia a esses textos como objeto exclusivo de investigação, ora pelo constrangimento exercido pelos resquícios das abordagens pós-estruturalistas, ora pela recepção e pela tradução a que se sujeitaram. Este artigo tem o propósito de apresentar um panorama desses doze cadernos, abrangendo sua origem, sua recepção, sua tradução, suas particularidades, sua estrutura e seu conteúdo. Por ser a crítica em nosso país tanto a respeito do gênero diário quanto dos cadernos in-quarto de Kafka escassa, essa apresentação pode auxiliar potenciais leitores e interessados nesses diários a contextualizá-los e consequentemente permitir o ...