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Júlia
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E-book324 páginas3 horas

Júlia

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Sobre este e-book

Júlia foi sequestrada quando acreditou num imaginário emprego como recepcionista de um transatlântico de luxo. Traficada e transformada em escrava sexual, foi vendida e revendida para várias quadrilhas da Ásia e da Europa. Depois de anos passando pelas mais variadas formas de sofrimentos e humilhações, foi novamente comprada pela mesma organização criminosa que a sequestrou, e foi trazida de volta para a América. Escapou do cativeiro e conseguiu reorganizar sua vida tornando-se próspera e rica intermediadora de negócios, aproveitando-se do alto índice de corrupção dos governantes de países da América Central, América do Sul e da África Austral. Por suas ligações com pessoas poderosas e influentes, descobriu a identidade do chefe da organização criminosa, e iniciou um plano de vingança inusitado, usando de recursos técnico-científicos sofisticados e incomuns. Mas ela não previu que poderia ao final perder o controle sobre suas próprias emoções, e que terminaria fazendo tudo de forma diferente da que tão minuciosamente planejara. Júlia, desenrola-se na linha de fronteira do México com os Estados Unidos, onde opera a organização criminosa que atua no continente americano com tráfico de mulheres e seus desdobramentos.
IdiomaPortuguês
Editorae-galáxia
Data de lançamento24 de nov. de 2020
ISBN9786587639192
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    Pré-visualização do livro

    Júlia - Rômulo Pinto

    Capítulo 1

    Abril de 2005 – terça-feira, 14:00 horas, Cidade do México

    Caruso estava realmente indignado:

    – Você é louco, homem, me fazendo sair do meu país assim repentinamente pra resolver um problema que não tenho a menor ideia do que seja? – Tomou um gole de bebida e sentenciou que era pouca a quantia de dinheiro depositada no banco, independentemente do que eu deveria fazer.

    Com um enigmático sorriso e engolindo um trago do copo, Paco disse:

    – Não, não sou louco, mas tinha que trazê-lo pra cá. E você está aqui e parece que não está satisfeito com o valor depositado na sua conta. – E, indecifrável, perguntou: – Quer mais?

    Acostumado a correr perigo e lidar com esse tipo de situação, Caruso enfrentou Paco e disse:

    – Claro que sim. Você sabe que não trabalho por ninharia. E também sabe que, pra me ter a seu serviço, tem que aumentar muito a quantia.

    Sem se dar por vencido, Paco perguntou:

    – O dobro do que foi depositado será suficiente?

    – Claro que não, e você sabe disso – respondeu Caruso, determinado. – Por enquanto pense no triplo do que você já transferiu pra minha conta. – E, de dedo em riste, salientou: – Mas saiba contudo que, depois que eu souber do que se trata, e dependendo do que seja o trabalho, acontecerá nova conversa sobre esses valores. Por enquanto, já que você me tirou de meu território abruptamente sem me dar tempo de me programar, triplique o valor depositado. Depois veremos se aceito o trabalho. Mas não tenha esperança de que eu devolva um centavo sequer do dinheiro antecipado, em nenhuma hipótese. Mande fazer o depósito do restante do dinheiro que você já me deve e depois volte pra me dizer o que você quer de mim. E seja rápido, porque amanhã há voos saindo daqui para o meu país.

    – Está bem – disse Paco. – Hoje à noite você já poderá verificar que o dinheiro estará na sua conta. Vamos aos fatos, pra você começar a ter ideia do que vem fazer aqui no México.

    Baixando a guarda, Caruso assentiu:

    – Ótimo. Vamos lá. Diga então o que está na sua cabeça.

    Paco pousou o copo na mesa e disse:

    – Você tem amigos poderosos em La Paz e sabe como fazer as coisas acontecerem lá nas terras do Cochabamba.

    Caruso bebeu outro gole e retrucou:

    – Mas estamos na Cidade do México, onde eu mal sei como caminhar ou mesmo encontrar um restaurante pra não morrer de fome.

    Paco riu, sarcástico, e disse, outra vez indecifravelmente:

    – Não se preocupe, porque eu sei disso. E saiba que aqui no México, se você morrer, não será de fome, pode apostar!

    Não gostando da velada ameaça, Caruso perquiriu, irritado:

    – Mas o que você sabe sobre mim? De onde você tirou a ideia de que eu posso lhe servir de alguma maneira? E por que decidiu me chamar? O que você sabe do meu trabalho?

    Com a confiança de quem tem poder para querer e dinheiro para pagar, Paco explicou:

    – Sei tudo sobre você e sua família. Um de seus clientes mais influentes, que por acaso é também nosso amigo e às vezes sócio, fala muito bem de você. Ele diz que você sempre sabe como fazer pra remover as pedras do caminho. Isso é o que nos importa, e é por isso que queremos ter você por perto.

    Caruso ouviu e perguntou:

    – Você disse nos importa e queremos. Nós quem? Você é uma pessoa ou uma organização?

    Paco olhou Caruso dentro dos olhos e respondeu, enigmático:

    – Você saberá no tempo certo. Fique tranquilo, porque precisamos da sua ajuda, e, estando conosco, você estará bem.

    Caruso perguntou, incisivo:

    – Esse estando conosco, você estará bem que você diz quer dizer exatamente o quê? Parece ameaça... é...?

    Paco o encarou firme e explicou:

    – Prefiro que você não pense assim, mas, se isso lhe faz bem, pense o que quiser, até porque há uma pessoa que o conhece, fala bem do seu trabalho, e foi essa pessoa que mandou trazer você pra cá. No tempo certo você a verá. Mas agora o que importa é você se preparar pra voar pra Bolívia, porque é lá que estão os interesses que cercam este caso.

    Prossiga, disse Caruso:

    – Em La Paz vamos nos reunir no restaurante El Vagón del Sur, em Calacoto, ao sul da capital, com o uruguaio Alvarado, que você conhece. Ele chegará de Montevideo um dia antes da reunião. Você deve convidar um de seus melhores amigos pra nos fazer companhia nessa reunião. Trata-se daquela eminência parda do presidente Cochabamba, pois vamos precisar dele para os nossos negócios.

    Querendo parecer ingênuo, Caruso perguntou:

    – Quem é esse meu melhor amigo?

    Paco cinicamente respondeu:

    – Você sabe quem é seu melhor amigo boliviano não sabe? Por enquanto, aproveite pra conhecer melhor a velha Tenochtitlan antes de voar pra La Paz. Mesmo que você não veja, saiba que nosso pessoal estará por perto pra proporcionar-lhe conforto e segurança. A linda Nina lhe fará companhia caso você não tenha outros planos ou preferências.

    E, levantando-se, Paco fez sinal para o garçom, que veio acompanhado de uma bela mulher que se apresentou como sendo Nina e que estivera todo o tempo sentada em uma mesa próxima à espera de ser chamada. Assentou-se ao lado de Caruso em uma cadeira que lhe foi oferecida pelo garçom. Não mais se falou de negócios naquela noite, e Paco se foi.

    Capítulo 2

    Maio de 2002 – São Paulo, Brasil

    Rodrigo reuniu seu pessoal e passou as instruções:

    – A partir de hoje vigiaremos todos os passos do homem. Já temos as informações de todos os seus hábitos e costumes. Não se esqueçam de que estamos sendo muito bem pagos pra fazer este serviço e que estamos lidando com gente poderosa e muito perigosa.

    Alguém do grupo perguntou:

    – Chefe, você pode nos dizer que espécie de organização criminosa é essa que nos contratou?

    Rodrigo respondeu:

    – Na verdade eu não sei, porque quem nos contratou foi um homem a quem só conheço pelo nome de Diretor. Mas parece que o presidente deste país, um sujeito chamado Leo Salviano, que é o dono do maior partido político, é quem quer ver esse homem morto. E a ordem dele é pra descobrir tudo que o homem sabe e depois matá-lo. Antes de morrer, o cara tem que dizer se contou pra alguém as coisas que promete publicar, mesmo que para isso seja preciso torturá-lo. E, se ele tiver falado com alguém, vamos terminar o serviço matando uma ou mais pessoas das relações desse homem. Essa é a ordem do tal presidente Leozinho.

    Outro homem perguntou:

    – Então, além de torturar e matar o homem, ainda vamos ter que matar outras pessoas?

    Rodrigo respondeu:

    – Se as informações preliminares estiverem corretas, vamos ter que matar outras seis ou sete pessoas, ou quantas sejam necessárias pra livrar a cara do presidente e da sua gente. Mas, se esse filho da mãe contar logo o que os caras querem saber, não será torturado; só morrerá.

    Outro sujeito do grupo levantou uma dúvida:

    – E o que eles querem saber?

    – Eles querem saber se ele falou pra alguém as coisas que diz saber do presidente – repetiu Rodrigo, impaciente. – Mas, de qualquer maneira, a partir do momento que nós o sequestrarmos, ele é um homem morto, conforme a ordem recebida.

    Terminado o acerto, Rodrigo distribuiu as tarefas de cada um dos participantes do grupo e estabeleceu que o sequestro aconteceria em uma cidade vizinha em três dias a partir daquela noite.

    ***

    Era costume do prefeito não ir para o trabalho nas manhãs daquele dia da semana, quando costumava caminhar no parque localizado a apenas quatro quilômetros de sua casa, levando consigo apenas dois homens de sua segurança pessoal. A manhã estava calma e sem sol quando os guarda-costas saíram da casa, examinaram as vizinhanças e entraram numa caminhonete GMC branca. Poucos minutos depois o prefeito saiu da casa, caminhou despreocupadamente para seu carro e saiu acompanhado da caminhonete de seus seguranças.

    Em menos de três minutos uma caminhonete Ford azul ultrapassou a GMC e colocou-se entre ela e o carro do alcaide, ao mesmo tempo que um pequeno caminhão três por quatro emparelhou-se com a GMC e o cano de uma arma de grosso calibre com silenciador surgiu na janela, despejando dezenas de tiros em série. O caminhão abalroou a caminhonete GMC e jogou-a para fora da estrada com os seguranças mortos antes que tivessem podido esboçar qualquer reação. Ao mesmo tempo, sem dar chance ao prefeito para qualquer reação, a caminhonete Ford abalroou seu carro, jogando-o para fora da pista, enquanto três homens desciam de um automóvel preto que vinha logo atrás. Os três homens rapidamente agarraram o alcaide e ataram suas mãos e seus pés com fita adesiva. Em seguida, com a mesma fita adesiva, taparam seus olhos, a boca e os ouvidos, e o jogaram no porta-malas do automóvel negro. Toda a operação demorou cerca de três minutos, e em seguida os três carros seguiram seu caminho em marcha normal, como se nada tivesse acontecido.

    Os três veículos rodaram por volta de três quilômetros, saíram da estrada e entraram em um desvio não pavimentado, onde logo à frente havia uma van tipo furgão com um motorista ao volante. Deixaram ali os carros usados no sequestro e voltaram para a estrada. Viajaram por todo o resto do dia e parte da noite, mantendo o sequestrado jogado no piso do veículo, completamente cego, surdo, mudo e imobilizado, sem água e sem comida.

    Chegaram a uma espécie de sítio agrícola que parecia abandonado e somente aí tiraram as fitas adesivas que cegavam, emudeciam e ensurdeciam a vítima. Para reanimar o homem, deram-lhe água e meteram comida em sua boca, que o pobre desgraçado quase não podia engolir. Submeteram o infeliz a uma interminável sessão de perguntas, maus-tratos e torturas a fim de obterem as informações desejadas pelo mandante do crime. Ao amanhecer depois de obterem as informações que queriam mataram o homem sem contemplação, e cortaram o seu dedo anular com a aliança de casamento, e se foram deixando o cadáver na beira do caminho.

    Rodrigo informou ao grupo que mais sete pessoas ligadas ao caso seriam executadas. Dois dias depois alguém retirou de uma caixa de energia elétrica de um posto de gasolina, o pacote que continha o dedo com a aliança, que foi levado para o palácio do governo. Na sequência seguiu-se a matança das sete pessoas sentenciadas.

    Capítulo 3

    Abril de 2005 – terça-feira, 17:00 horas, Cidade do México

    Caruso estava vivendo um momento de inquietação profissional porque vários de seus clientes, tanto os de língua portuguesa quanto os de língua espanhola, tinham ligações com o universo político. E esses poderiam ser atingidos por uma movimentação que estava acontecendo na polícia federal de seu país, decorrente de uma operação liderada por um juiz federal que se espelhava nos métodos de trabalho do juiz italiano Giovanni Falconi, que enfraqueceu o poder da máfia. O país passava por transformações políticas e sociais, e o presidente Leo Salviano surfava numa onda de enorme popularidade. Como o momento era propício, Leo Salviano, mais conhecido por Leozinho Paz e Amor, fazia muitos negócios para beneficiar vários países governados por outros esquerdistas e comunistas. Sob os auspícios de uma organização idealizada por Cuba e denominada La Casa de San Pablo, Leozinho enfiava gigantescas somas de dinheiro do tesouro nacional do seu país em governos ditatoriais, da ditadura cubana e da América Central, assim como vários outros ditadores africanos, em negociações secretas.

    O que passou a preocupar Caruso foi a abertura de processo de apuração dos negócios de uma instituição bancária que operava no sul do país e levou à prisão um poderoso investidor e predador financeiro nacional. Esse simples acontecimento desencadeou um procedimento investigatório que certamente produziria efeitos desastrosos contra pessoas da sua lista de clientes, que direta ou indiretamente estavam ligadas a Leozinho e ao seu partido político.

    O fato mais grave era que de nada adiantava avisar essas pessoas dos perigos que ele antevia, porque elas continuavam agindo na certeza de serem inatingíveis à aplicação da lei, pois a Suprema Corte de Justiça e o Parlamento do país, integrados em sua maioria por juízes e políticos venais, sempre obedeciam às ordens de Leozinho. Assim construiu-se a cultura de que as pessoas do esquema não precisavam temer, porque a corrupta Suprema Corte as libertaria imediatamente após serem presas. E aquelas que não se enquadrassem nos moldes do chefe eram simplesmente eliminadas.

    Pessoas influentes estavam sendo caçadas e assassinadas por ordens palacianas nos moldes da velha Chicago de Al Capone. Por suas observações, Caruso via a possibilidade de que, dentro de pouco tempo, o partido político de Leozinho fosse escancarado como a organização criminosa que realmente era. E, se continuasse aquela escalada justiceira da operação policial, todo o espúrio esquema que dominava o país poderia ser desmontado, com reflexos negativos e funestos para os interesses de pessoas de suas relações profissionais, e também para si próprio, que direta ou indiretamente possuía informações daquela sujeira. Ele também seria assassinado quando chegasse o momento em que sua vida perderia valor para aquele sindicato do crime.

    Agora que fora chamado à Cidade do México para atuar em algum esquema na Bolívia, devia se precaver, pois sabia que haveria altos riscos, como veladamente Paco dera a entender. Ligou para o filho em Buenos Aires para saber se ele estava em segurança. Ficou sabendo que o encontro fora casual e aparentemente sem maior importância. O filho explicou que Paco lhe fora apresentado por acaso, quando avistou um amigo em um restaurante no centro da cidade. Que conversaram sobre amenidades e outros assuntos sem nenhuma importância, e que Paco se mostrara atencioso e solícito. Caruso sabia, entretanto, que tudo que o filho pensava ser apenas um mero e casual encontro era na verdade parte de um plano adredemente arquitetado para subjugá-lo. Seu filho, homem simples e de boa fé, não poderia antever nenhum perigo porque não conhecia as entranhas dos negócios profissionais do pai, nem a espécie de pessoas com as quais ele lidava diuturnamente. Desde a primeira conversa Caruso sabia que tal encontro nunca fora casual, mas planejado propositadamente e engendrado para que ele soubesse que não deveria rejeitar o trabalho que lhe era proposto na Cidade do México. O recado estava dado.

    ***

    Ligou para seu escritório e foi informado de que a única novidade era o fato de que seu cliente Rogério Duret precisava lhe falar com urgência. Era a única notícia extraordinária. Tudo o mais seguia na melhor normalidade, exatamente como estava programado e previsto. Considerou o que poderia estar provocando essa urgência no interesse da conversa de Rogério e determinou que o escritório lhe informasse que eles conversariam à noite e que ele ligaria para Duret. Nina regressou do toalete e se sentou ao lado dele. O que fariam a seguir?, lhe perguntou. Caruso explicou que precisava ligar para casa. Ligou e conversou um bom tempo com a mulher, enquanto Nina apenas observava, muda e imóvel. Desligou e voltou-se para Nina, que pacientemente esperava, e disse:

    – Pronto, sou todo seu. O que você quer fazer?

    Nina perguntou se ele a levaria ao Palácio Belas Artes, que naquela noite apresentava a ópera Pescadores de pérolas, do francês Georges Bizet. Isso gradou muito Caruso, que gostava desse gênero de entretenimento e dessa belíssima peça lírica, passada no universo religioso do bramanismo do antigo Sri

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