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Memórias de um Investigador: Crônicas Policiais de uma Cidade
Memórias de um Investigador: Crônicas Policiais de uma Cidade
Memórias de um Investigador: Crônicas Policiais de uma Cidade
E-book215 páginas2 horas

Memórias de um Investigador: Crônicas Policiais de uma Cidade

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Sobre este e-book

Alfredo desde que chegou a São Paulo vindo do interior do Rio Grande do Norte tinha um sonho, trabalhar na polícia. Algumas décadas após retornou à sua cidade natal como policial aposentado. Na pequena Tamboré, sentado em sua rede cercado por sobrinhos e alguns netos cujos pais também haviam retornado, gostava de relembrar e contar estórias policiais que punham as crianças em total atenção. Para os netos contava estórias reais, mas modificadas no linguajar. Sempre que podia fantasiava e mudava o final. Porém, quando estava no boteco preferido da cidade, sempre era cercado pelos amigos e desconhecidos que ali frequentavam. Contava realmente as estórias como de fato aconteceram despertando a curiosidade da plateia. A estória mais pedida e também sua preferida foi a caça a um justiceiro que fazia com a família do infrator o mesmo que ele fazia com as vítimas. Nas delegacias era chamado de justiceiro psicopata.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de ago. de 2022
ISBN9781526056962
Memórias de um Investigador: Crônicas Policiais de uma Cidade

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    Memórias de um Investigador - Carlos Quintal

    cover.jpg

    Memórias de um Investigador

    Crônicas Policiais de uma Cidade

    Carlos Quintal

    1

    Eram quase onze horas da manhã na décima oitava quando Alfredo, o escrivão, resolveu tomar um café para, em seguida, fumar um cigarro nas escadas de entrada da delegacia. Alfredo, já com 40 anos, veio para São Paulo em um verão dos anos 90. Jura que não lembra exatamente do ano, mas que foi em um verão e no mês de janeiro. Havia deixado Tamboré no Rio Grande do Norte e junto com a família desembarcou na Rodoviária do Tietê cinco dias após o embarque.

    Após servir o exército resolveu seguir a carreira militar. Não conseguindo aproveitou um concurso de Escrivão para ingressar na Polícia Civil. Planejava seguir carreira e depois da faculdade de Direito se tornar delegado.

    Enquanto saboreava seu cigarrinho muito tranquilo, ao seu redor gente entrando e saindo da delegacia. De repente notou dois investigadores saírem apressadamente e se dirigirem ao veículo disponível mais próximo, ligarem a sirene e saírem cantando pneu. Voltou ao serviço. Antes passou pela sala da recepção onde em um canto alto da parede havia uma televisão. A televisão possuía cinco quadros de visão. Mostrava uma visão aérea do pátio diante das celas, o fundo do pátio, as duas laterais das celas e outra aérea bem mais próxima do pátio. Nesse momento, um investigador acompanhado de outros quatro armados, abriam as celas para os presos tomarem meia hora de sol. Tão logo todas as celas abertas deixavam o local.

    O Delegado Miranda convenceu sua equipe a concordar com a colocação da televisão na sala de espera para que todos que estivessem esperando atendimento tomassem conhecimento. O tempo passou e Alfredo desistiu de fazer faculdade e virar delegado. Queria mesmo era virar investigador e sair pelas ruas prendendo bandidos.

    Os investigadores que haviam saído solicitaram um camburão e reforço. Horas mais tarde a escolta chegou com o carro deles à frente, o camburão e o carro de reforço a seguir. O camburão seguiu pela lateral e parou diante de uma porta. Logo os investigadores junto com o pessoal do reforço abriram o camburão e pegaram um homem pelos braços já com as mãos algemadas, conduzindo-o para a sala do delegado. O homem foi pego por populares logo depois de uma tentativa frustrada de assalto a um comerciante do bairro. Seu Manoel observava e arrumava as prateleiras enquanto sua mulher estava no caixa. O homem chegou de arma em punho gritando que era um assalto. Seu Manoel assustou-se e intuitivamente jogou uma garrafa de refrigerante que tinha nas mãos. O assaltante assustado virou o braço e na confusão criada atirou em direção ao balcão do caixa atingindo a mulher na testa.

    O acontecimento foi matéria exaustiva nos programas televisivos que cobrem matérias policiais. Quando pego por populares a informação era de tentativa de assalto. Seu Manoel ainda não havia saído para a rua. De repente surge na entrada da loja aos prantos e gritando que sua mulher fora assassinada. Populares chamaram a polícia e outros que estavam com o bandido agarrado pelo corpo começaram então a socar e chutar. Nesse exato momento a viatura chega, dispersa a turma e levanta o homem do chão já bastante machucado. Enquanto aguardam o camburão e o reforço empunham as armas para o alto para que ninguém se aproximasse. Pouco depois chegam todos. A ambulância, o camburão e o reforço. Seu Manoel ainda chorando acompanha a equipe médica retirar o corpo de sua mulher e segue na ambulância para o Instituto Médico Legal. O homem é colocado no camburão aos gritos de assassino e a caravana segue rumo à delegacia. Alfredo aguarda a presença do Seu Manoel para dar início ao boletim de ocorrência.

    Após a lavratura da ocorrência Alfredo foi almoçar em um pequeno restaurante de comida por quilo perto da delegacia onde costuma ir todos os dias. Desta vez está sozinho, pois seus costumeiros colegas de almoço estão fora da delegacia. Após preparar seu prato e pegar um refrigerante se dirige a uma mesa perto da televisão do restaurante. O mais popular programa televisivo de reportagens policiais estava no ar. Mais alguns minutos uma nova reportagem, a tentativa de assalto com morte em um pequeno comércio em um bairro da zona leste. O repórter estava entrevistando o Delegado Miranda. Atento, Alfredo acompanhava o depoimento.

    Ao chegar à delegacia após o almoço, pegou uma xícara de café e dirigiu-se à escada de entrada para fumar seu cigarrinho e depois reiniciar o expediente. Outra vez presenciou uma cena comum, investigadores saindo às pressas para outra ocorrência. Só neste mês já houve quatro feminicídios. E ainda estamos no dia onze pensou. A grande maioria por homens que não aceitam a separação.

    2

    Quatro viaturas da polícia militar já estavam no local quando os investigadores chegaram. No conjunto habitacional moradores se aglomeravam em frente a um dos prédios.

    Ouvimos um barulho que parecia tiro.

    É ali, no 31 daquele bloco, o casal vive discutindo e brigando.

    Já vi o rapaz estapear a mulher no saguão.

    Quatro policiais se dirigem ao bloco, abrem a porta da entrada e sobem as escadas bem devagar. Ao chegarem ao apartamento um dos policiais bate na porta com força e manda abrir falando alto que é a polícia. Alguns gemidos são ouvidos. Bate de novo na porta agora com mais força. Dentro do apartamento ouve-se um arrastar de móveis. Os policiais começam então a forçar a abertura da porta e sentem que está barrada por um móvel.

    Vão embora ou vou matar a Madalena.

    Abre a porta rapaz, vamos acabar com isso, ninguém vai te machucar.

    Vão embora.

    Tudo bem nós vamos negociar lá de baixo, não vá fazer nenhuma besteira.

    Os policiais descem do prédio e logo foram cercados pela população querendo notícias.

    Parece que o rapaz está transtornado e nos mandou descer senão ela mata a moça. Vamos pedir reforço e reiniciar a negociação.

    Pouco tempo depois chegam mais seis viaturas da polícia e vários canais de televisão com seus repórteres atentos à ocasião. O rapaz com a moça agarrada por trás vai até a janela e coloca uma arma em sua cabeça. Fica lá exposto por alguns minutos e depois se afasta.

    A polícia isola boa parte da área de frente ao bloco enquanto alguns moradores que trabalham com carrinhos de pipoca, sanduiches e refrigerantes se aproximam do local a espera de curiosos e de mais pessoal da imprensa. Passado um bom tempo que o rapaz apareceu na janela o porta voz da polícia com um megafone tenta fazer contato.

    Roberto, você me ouve? Quero falar com você.

    O rapaz tem seu nome divulgado para toda a imprensa e curiosos. Roberto abre um pouco a janela e depois some. O porta voz se aproxima mais do bloco para melhor ser ouvido.

    Roberto, vamos encerrar essa situação, toda imprensa está aqui, rádio e televisão, não vamos machucar você, solte a moça e saia de mãos para cima.

    Nesse momento ouve-se um tiro da janela do bloco que foi dado em direção aos policiais pegando um deles de raspão no braço indo se alojar no pneu de um veículo. Todos se afastam rapidamente. Vai ser difícil pensou Rinaldo, o policial porta voz pertencente à Assessoria de Imprensa da Polícia. Roberto não queria atirar, ao abrir um pouco a janela prendeu o dedo na maçaneta que fez com que seu dedo apertasse o gatilho.

    Enquanto anoitece mais policiais se juntam aos já dispostos no condomínio. Dois atiradores de elite estão no bloco em frente ao da ocorrência. Um em uma janela do mesmo andar e outro no telhado. Rinaldo espera amanhecer, localiza e chama a mãe do rapaz. Roberto é o filho caçula de uma família de mais sete irmãos e pai falecido. Dois irmãos moram fora de São Paulo e dona Ernestina não os vê e nem tem notícias já há alguns anos. Outros quatro são casados e somente Roberto e uma irmã solteira moram com a mãe.

    Roberto meu filho, se entrega para a polícia pelo amor de Deus. Eles vão te tratar bem, vou contigo para a delegacia. Ninguém vai machucá-lo.

    Roberto abre a janela por detrás da moça e com um revolver em uma das orelhas.

    Eu não vou sair não. Enquanto tiver esse monte de policiais eu não saio. Quero que alguém da imprensa venha até aqui com um microfone para eu falar o que estou sentindo, sozinho, sem polícia acompanhando.

    Depois de um silencio entre Rinaldo e dos policiais mais a frente um repórter se aproximou oferecendo-se para falar com Roberto.

    Calma, não é assim. Vamos pensar e aguardar ordens, agora se afaste atrás do cordão de isolamento.

    A essa altura dona Ernestina começa a passar mal com o sol já forte e emoções à tona. O pessoal da ambulância a leva para dentro da perua para descansar e se acalmar. Pai, mãe e os dois irmãos de Madalena começam a pressionar a polícia exigindo uma ação mais efetiva. Roberto abre uma fresta da janela sem aparecer a moça ficando a observar a multidão com meio rosto à mostra. Bem na mira de um dos atiradores de elite.

    Posso atirar? Posso atirar, está bem na minha mira. Posso atirar? Posso atirar?

    Ninguém responde ao rádio e Roberto volta a fechar a janela.

    Rinaldo simula uma grande multidão de policiais à sua volta para distrair Roberto enquanto uma turma de elite aproxima-se do bloco pela parte de trás. São seis homens mascarados e bem armados. Entram pela janela da cozinha de um apartamento do térreo e sorrateiramente sobem as escadas em direção ao 31. Lá fora Rinaldo simula uma reunião e mostra a mãe do Roberto junto aos policiais. Roberto abre a janela com a arma no pescoço de Madalena e observa a cena. Os policiais chegam muito próximo da porta e um deles coloca o ouvido encostado para tentar ouvir algum diálogo.

    Vamos para a ação, preparados?

    Sim.

    Todos balançaram a cabeça.

    Roberto continua na janela apontando a arma para o pescoço de Madalena. Um dos policiais, o primeiro que entraria, engatilha a arma e fica bem no canto da porta enquanto outros dois preparam o aríete para derrubá-la. Com o estrondo na porta Roberto vira-se e na intuição atira contra Madalena. Havia um móvel prendendo a porta e pelo vão que o aríete provocou o policial que entrou primeiro acerta a mão de Roberto, empurra a porta e pula em cima dele. Madalena agonizando. Os policiais pedem os serviços de apoio da ambulância. Os socorristas sobem imediatamente e colocam Madalena de forma apropriada em uma maca, descem e vão direto para a ambulância que sai em disparada. Sua família entra em desespero sem saber o que está ocorrendo. Os policiais que entraram no apartamento descem segurando Roberto. Estão mascarados. Quatro deles se misturam ao pelotão que Rinaldo formou. Aos gritos de bandido, assassino e outros ditos os dois jogam Roberto em um camburão e saem com as sirenes ligadas.

    A bala pegou de raspão a mão de Roberto e tratado no hospital foi direto para a delegacia em cela isolada. Madalena não resistiu ao ferimento e veio a óbito ao dar entrada no hospital.

    Todos os canais televisivos mostraram incessantemente as fotos de Roberto e Madalena. Com históricos levantados expunham a vida dos dois. Madalena queria a separação devido aos ciúmes de Roberto. Roberto não aceitou e disse a ela para dar um tempo que depois ele voltaria a procurá-la. Um dia antes do crime Roberto viu Madalena conversando com um rapaz de moto perto de sua casa. Ficou a espreita observando a cena. Em um dado momento o rapaz saiu da moto e os dois sentaram em um banco da praça ao lado de onde estavam. O rapaz tirou o capacete, ajeitou o cabelo e segurou na mão de Madalena. Nesse momento Roberto identificou o rapaz e pensou que uma hora acertariam as contas. Depois de umas duas horas de conversa o rapaz põe o capacete, monta na moto e vai embora. Madalena voltou para casa. Alguns dias depois, próximo ao condomínio onde o caso ocorreu, foi localizado o corpo de um rapaz morto com um tiro no peito. Ao seu lado um capacete.

    Alfredo acompanhou atentamente o acontecimento no condomínio. Quantas mulheres morrem por causa desses desajustados que não aceitam a separação. Eu não aceito isso. Uma lei mais rígida poderia minimizar essas mortes.

    Alfredo, quase todo dia essas mortes que esses merdas praticam. Quanta mulher jovem e bonita. A maioria dos assassinos é feia e nem falam direito. O que elas viram nesses homens?

    É meu amigo, vai entender. Dizem que o amor é cego, mas elas são mais ainda replicou.

    3

    Uma denúncia anônima chegou por telefone à delegacia e foi Alfredo quem atendeu. Informava de um carro queimado e abandonado junto a um matagal em uma rua de terra na zona leste. Anotou o endereço e as referências para chegar ao local. O local não era jurisdição da delegacia. Informado, o delegado Miranda ligou para seu amigo, delegado Vitor notificando a denúncia. Acompanhado de um investigador o delegado Miranda seguiu até o local para dar apoio. Lá chegando avistou o delegado Vitor e sua equipe de investigadores e dois veículos da polícia.

    Como vai Vitor, eu recebi a notificação e só vim checar a veracidade e lhe dar apoio se necessário.

    Obrigado Miranda, minha equipe está nesse momento tentando identificar o chassi, alguma placa ou outra coisa que possa identificar a propriedade. Como você está vendo está todo queimado. Como ainda está quente a lataria deve ter sido deixado aqui há pouco tempo. Já vimos que é um Honda Civic.

    Com um pé de cabra e mantendo distância devido a temperatura um investigador consegue abrir o porta malas. Para espanto geral estava com corpos carbonizados. Era impossível naquele momento saber quantos. Uma equipe especializada foi chamada as pressas para retirar todo o conteúdo do porta malas.

    Vestidos com roupas apropriadas dois técnicos da polícia começaram a operação. Ao lado algumas macas e material de apoio. Evitando ao máximo desmanchar os corpos devido à carbonização retiram o primeiro corpo enfiando cuidadosamente uma prancha por baixo do corpo e colocando-o na primeira prancha. Devido ao estilo do sapato foi identificado como homem. Mais um corpo é retirado e posto em outra prancha. Pelas dimensões trata-se aparentemente de um jovem. Portava um tênis. Outro corpo semelhante retirado. Já são três. O quarto corpo é retirado e pelo formato do sapato julga-se de uma mulher. Quatro corpos foram encontrados no porta malas. As quatro pranchas são cobertas e os corpos encaminhados ao Instituto Médico Legal para exames e tentativas de identificação.

    Agora já bem frio os investigadores começam a fazer vistoria em todo o veículo. As duas placas foram retiradas pelos autores

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