Homens e Almas
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Homens e Almas - Lourdes Carolina Gagete
Sem a reencarnação, a justiça e a
sabedoria divinas careceriam de lógica,
pois o destino de cada criatura
se faria ao humor de Deus.
rostorostoISBN ISBN 978-85-7341-599-5
ISBN ePub 978-85-7341-602-2
1ª edição - outubro/2013
Copyright © 2013,
Instituto de Difusão Espírita - IDE
Conselho Editorial:
Hércio Marcos Cintra Arantes
Doralice Scanavini Volk
Wilson Frungilo Júnior
Projeto Editorial:
Jairo Lorenzetti
Revisão de texto:
Mariana Frungilo
Capa:
César França de Oliveira
Diagramação:
Maria Isabel Estéfano Rissi
eBook desenvolvido por:
Luciano Holanda
Capítulo Setewww.capitulosete.com.br
INSTITUTO DE DIFUSÃO ESPÍRITA - IDE
Av. Otto Barreto, 1067 - Cx. Postal 110
CEP 13600-970 - Araras/SP - Brasil
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FICHA CATALOGRÁFICA
(Preparada na Editora)
Gagete, Lourdes Carolina, 1942-
G12h Homens e Almas / Lourdes Carolina Gagete. Araras, SP, IDE, 1ª edição, 2013.
320 p.
ISBN 978-85-7341-599-5
ISBN ePub 978-85-7341-602-2
1. Romance 2. Espiritismo. I. Título.
CDD -869.935
-133.9
Índices para catálogo sistemático:
1. Romance: Século 21: Literatura brasileira 869.935
2. Espiritismo 133.9
Capitulo 1
Agruras da alma
Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?
(Espírito André Luiz)
A tropa se preparava para levantar acampamento do encosto¹ às 5h30 de um magnífico dia de verão. O ano e o dia são irrelevantes, mas o século é o XVIII, quando os tropeiros do Brasil colônia desempenhavam o importante serviço de transportar animais, mercadorias, alimentos, notícias, para lugares distantes.
O país começava a desenvolver mais objetivamente suas potencialidades. Suas matas eram rasgadas por intimoratos tropeiros, que nelas se aventuravam a fim de negociar e levar as informações para bem longe de suas origens, inclusive aos garimpos que então proliferavam.
Com a exploração do ouro brasileiro pelos portugueses, apareceram outras necessidades como, por exemplo, o abastecimento dos garimpos e das cidades que iam surgindo à força de tal atividade. Não havendo estradas, o transporte era precário, só possível quando efetuado por animais. Subidas íngremes, descidas abruptas, ocasionavam às vezes algum acidente. Desenvolvia-se, então, o serviço da tropeirada. Esses homens, pioneiros nessa lide, abriam picadas por entre a mata e seguiam com suas mulas carregadas de mercadorias e até mesmo conduzindo boiada. Deveu-se a essa atividade a abertura de muitas estradas. Também muitos povoados e vilas, hoje prósperas cidades como Sorocaba, Taubaté, Santana de Parnaíba e outras, foram fundadas por esse tempo e em função dos tropeiros.
O povo gostava da figura deles, pois isso significava informações. Eram os tropeiros que traziam as notícias, embora sempre com muitos dias, senão meses, de atraso. Mas como o mundo, à época, não corria
tão velozmente como hoje, como havia tempo suficiente para se digerir uma novidade antes que chegasse outra, não havia muito prejuízo pelas informações defasadas. Assim, tal serviço de correio era sempre bem-vindo.
A tropa, comandada por Santiago, compunha-se de muitos tropeiros alegres e falantes. Apesar de exaustos, à noite, quando arranchavam, contavam suas aventuras das quais saíam sempre vitoriosos.
Aquela noite não bastara para o descanso necessário. Traziam ainda, nos olhos semiabertos, as canseiras da viagem. Embora bem próximo corresse um rio, ninguém se aventurou a espantar o sono, a tirar o bodum do corpo, mergulhando em suas águas límpidas.
Estrelas ainda tremulavam no céu, relutando em ceder lugar ao Sol. As mulas, aliviadas provisoriamente do peso das mercadorias, mal haviam descansado e se mostravam impacientes, abanando com o rabo os insetos indesejados que também queriam seu desjejum. Napoleão e Josefina, os dois cachorros SRD², roíam um pedaço de osso já malcheiroso. As reses, espalhadas e despertas pelo som alegre de uma gaita, desciam vagarosamente o leve declive e se dirigiam ao rio. Talvez, pressentissem a longa viagem que teriam pela frente e o melhor seria abastecerem-se bem. Comida vegetariana, verdinha, não faltava para encherem o bucho, mas a água nem sempre estava por perto.
Tião Matuto, considerado o bobo da corte
, tentava assoprar o berrante, mas somente um som choco, cansado e desnutrido conseguia dele tirar.
Santiago:
Um poeta tropeiro tocador de gaita?
Uma alma perdida no Brasil colonial?
Sofria. Amor ou obsessão?
Ambos.
O fato é que o tropeiro agasalhava na alma uma dor de amor e uma dor de ódio. Falemos primeiro da dor de amor. Desde que conhecera Maria Pia, uma inquietação se lhe entranhara no peito. Acordava de manhã e seu primeiro pensamento era para Maria Pia. O dia todo era feito de Maria Pia. Quando soprava o berrante, era em homenagem a Maria Pia. Quando extraía da gaita as melodias chorosas, ali estavam uns olhos assustadiços: os olhos de Maria Pia. Talvez, fosse só paixão exacerbada pela negativa da portuguesa sensual. O fato é que era como tiririca: por mais que o tropeiro quisesse arrancá-la do peito, mais viçosa e mais forte ela ressurgia. Sempre. Como uma tenaz obsessão.
E Maria Pia? O que era Santiago para ela?
Ora, Maria Pia era ainda uma menina alienada, sem qualquer preocupação que não fosse revirar os olhos para o espelho, a fim de descobrir se as longas pestanas ainda estavam no mesmo lugar; se as pequeninas orelhas, cujos lóbulos foram furados pela parteira Dorcas, ainda ostentavam seus brincos de rubi – que fora de sua avó materna –; se os lábios continuavam generosos e avermelhados, enfim, se tudo estava como tinha de estar. Sua cabecinha ainda não conhecia qualquer tipo de dor.
Quando conheceu Santiago, ele ainda não era um tropeiro, o que aconteceria logo depois. Seu coração andava inquieto como passarinho em terreiro de gato. Foi em Coimbra, Portugal. Estava na taberna do avô paterno quando ele entrou. Estava suado, pois cavalgara mais de cinco léguas de sua vinha até ali. O cavalo negro também reluzia de suor. As patas batiam no chão duro para espantar as moscas que se lhe agarravam às pernas suarentas. Santiago o deixara a beber num cocho que encontrou ao lado da taberna.
Era, Santiago, um tipo difícil de passar despercebido em qualquer lugar que estivesse. O avô de Maria Pia, assim que o viu entrar, fez um gesto para ela se retirar dali. Ela obedeceu, mas ficou espiando pela porta entreaberta, afinal, a mulher e a curiosidade são irmãs siamesas.
Ouviu, então, a voz de tenor daquele homem alto e queimado de sol. Suas esporas faziam um tinido metálico, e seus passos repercutiam pelo assoalho desgastado.
Maria Pia se admirou quando ele virou goela abaixo uma talagada de bagaceira, estalou a língua e pediu outra. Tirou da algibeira uma nota encardida e pagou a bebida. Depois, falou do tempo. Tempos secos... Frios repentinos... Vai chover? O inverno será mais rigoroso neste ano?
Quando se quer conversar, e não se tem assunto, fala-se sobre o tempo. Uma senha? Prolegômenos para início de amizade? Nunca ninguém soube dizer com certeza, mas o bom é que funciona. Aproxima as pessoas e desfaz o silêncio incomodativo.
O amor de Maria Pia:
Desprovido de prolegômenos.
Bateu à porta daquele coração e se instalou.
Era um amor-criança.
Maria Pia saiu do seu esconderijo. Não podia mais se conter. Achou que as batidas de seu coração logo se transformariam em trombetas indiscretas, denunciando-a.
– Avozito, posso dar uma voltinha por aí?
Pronto. Agora que berrassem as trombetas. Falou com um olho no avô e outro em Santiago. Fez aquele charme de quem não está nem aí... como se pudesse enganar um homem da fibra de Santiago.
O avô, guardanapo no ombro, enrolando o bigode farfalhudo, muito se aborreceu com a presença da menina. Via, em qualquer par de calças, um perigo iminente para ela. Amava esta única neta que possuía. Passou-lhe uma reprimenda:
– Ora, pois! Mas vejam só como já toma ares de sinhazinha, essa cachopa! Anda embora lá pra dentro já, já, pois que aqui nada interessa a ti.
– Deixa lá a menina, que não está a incomodar – disse Santiago.
– Avozito...
Mal saístes dos cueiros e já te assanhas, oh, pequena!
– pensou o avô, mas nada falou. Ficou tudo entalado na garganta e nem quando percebeu o olhar incendiado de Santiago sobre a neta, conseguiu pôr ordem na casa.
Maria Pia correspondeu e sorriu como se fosse a coisa mais natural do mundo. Mas, talvez amedrontada pelo mutismo do avô, sua voz também não saiu quando o homem lhe elogiou a beleza. Daí... já era demais! O avozito fez com que as palavras saíssem daquele motim injustificado:
– Oiça lá, ó gajo! Esta rapariga é minha neta. Exijo muito respeito aqui. Ela é uma criança. Mal acaba de completaire quinze anos.
– Tens uma bela neta... e eu não estou a ofendê-la, pois não?
Pronto. A fogueira já tinha bastante lenha.
Maria Pia nunca teve a noção exata do que resultou seu olhar inocente e ao mesmo tempo atrevido naquele coração até então virgem de amor. Seu sorriso tímido, mas comprometedor, fez o homem tecer venturas, qual adolescente imberbe. O amor, quando chega na maturidade, chega com a força de um gigante devastador.
É verdade que Santiago já tivera várias mulheres, várias aventuras, mas jamais o amor estivera presente. E devia àquela menina a revolução que sua alma enfrentava pela vez primeira. Era como estar sonhando acordado ou dormindo sonhando. Como estar no Céu e no inferno, no presente e no futuro, onde nada mais, que não Maria Pia, tinha importância.
Aquela vila sem Maria Pia não era nada. Aquela província sem Maria Pia era apenas alguns metros de chão. Portugal sem Maria Pia era apenas um aglomerado de casinhas sem significação alguma. O mundo? Existiria mundo sem Maria Pia?
O coração apaixonado tem qualquer coisa de insano; de incongruente; de tolo. O amor, de repente, pula na sua frente e lhe aprisiona sub-repticiamente a alma.
E a menina também sonhava. Nos seus quinze anos de vida, jamais sentira aquela emoção. Calor misturado com frio, que fazia sua pele arrepiar. Um suspirar constante e um desejo de ficar só. Nunca se preocupou tanto com sua aparência, a partir de então. Por todos os espelhos pelos quais passava, ajeitava o cabelo, comprimia os lábios, examinava os dentes, esfregando-os com os dedos, apertava as bochechas... Mas... puxa! Santiago parecia muito idoso (tinha ele vinte e cinco anos). Não seria mais sensato se apaixonar por um jovem de sua idade? O que pensaria sua família? Estaria ela transferindo o amor do pai falecido para aquele homem? Complexo de Electra? Se a mãe ainda vivesse poderia se aconselhar com ela.
É sabido que o proibido gera mais desejo, que efervesce a alma, que se apassiva ante sua força.
Tal amor parecia proibido a Santiago. Proibido também para Maria Pia. Razão: ele... muito velho (conceito dela); ela... muito nova (conceito dele). Uma donzela de pouco mais de quinze anos. Verdade é que nada disso seria empecilho se ele não estivesse comprometido com Alba. Santiago chutou tudo para o alto e foi à luta.
Assim, nasceu a dor de amor.
– Minha cara rapariga, desde que em ti botei os olhos, que estou cativo do teu amor. Dize o que mais hei de fazer para ser digno dos teus favores. Vamo-nos daqui para o Brasil. Lá construiremos nossas vidas. Com nosso amor... tu me amas, pois não? Bem o sinto.
Maria Pia é feita também de incoerências. É alma feminina. E alma feminina descobre segredo por mais bem esteja ele escondido. Com açúcar e fel na voz, bebendo o hálito de Santiago:
– Senhor Santiago... pois não sou eu uma mulher temente a Deus? E Deus abençoaria a nossa união com prejuízos a inocentes? Creio que não.
– Inocentes? Por Nossa Senhora! Do que falas, senhorinha?
– Acaso te esqueceste de Alba? De Ângelo, teu filho?
A pequena falava depressa. Um rubor ia lhe tomando as faces. Havia jurado que aquilo não seria impedimento, pois que se amavam; que Alba era bonita e logo arranjaria outro marido, e o filho teria neste um pai melhor do que Santiago. Mas o fato é que Alba e Ângelo passaram a ser a sua consciência.
– Maria, Maria! Preciso de ti como preciso do ar que respiro! Juro que não te arrependerás. Lá na colônia, ninguém nos conhecerá, e seremos felizes. Teremos filhos brasileirinhos que haveremos de amar muito. Bem sei que és ainda uma criança... mas...
– Pois se não amas o que já está aí nascido, como posso saber se amarás os que ainda virão, ó homem de Deus!? Na colônia ninguém nos conhecerá, por certo, mas Deus nos conhece no mais profundo do ser. E eu temo a mão Dele.
Maria Pia não queria dizer aquilo. Era como se estivesse advogando contra si mesma. Mas dissera. Fora como que obrigada a dizê-lo. Depois, sentiu um arrepio e entendeu que obedecia ao pai que, apesar de já desencarnado, era o que lhe dizia, pois pressentia as intenções da filha. E isso era muito forte, pois parecia estar lhe ouvindo. Na verdade, apesar de católica, acreditava que, de alguma forma, seu Espírito conversava com ela. Os ditos mortos sempre são mais vivos do que nós, afinal, somos originalmente criaturas espirituais reencarnadas a fim de conquistar a sabedoria por nós mesmos. As reencarnações, pelo menos como são processadas hoje, um dia terminarão. Então, seremos apenas a essência que herdamos do Pai Criador. O mundo corporal é plasmado pelo espiritual, onde a vida é pulsante, permanente, original.
³
Santiago apaixonado.
Santiago inconformado.
Maria Pia aparentemente irredutível.
– Como podes tu dizer que não amo meu filho? Só Deus sabe o sacrifício que tenho feito nestes nove anos de convívio com ele!
Ia dizer mais alguma coisa, mas se calou.
– Não entendo esse amor. Tu o amas e queres abandoná-lo aqui?! Ou pensas raptá-lo de Alba?
– Tu me amas, bem vejo. Oh, menina! Não pensemos nos outros. O amor acontece só uma vez... Deus abençoará nossa união... Dize, Maria Pia, que irás comigo para o Brasil. Teremos lá a oportunidade de enricar. Muito já ouvi falar da colônia; que é rica; que tem muito oiro! Muita beleza natural.
– Não sei o que mais te diga para fazer-te entender... Tens compromisso sério com Alba. Tens um filho com ela... Jamais poderei te respeitar se não assumires teus compromissos de cidadão probo. Cá, no meu peito, a virgem santa já está a me recriminar.
Falara por medo da mão de Deus. Mas a mão de Deus era a percepção do pai falecido que, ali presente, tentava colocar algum juízo em sua cabeça:
Oiça cá, ó menina! Estou eu de olho em ti. Este gajo aí só vai te trazer desdouro.
Mas que nada. O conselho vindo em tão boa hora, não mereceu maior atenção. Maria Pia, no fundo do coração, desejou que Alba e Ângelo desaparecessem do mundo. Eram pedras no caminho de sua felicidade.
Santiago ficou desconsertado. Mas sabia que Maria Pia tinha razão. O que ele não sabia era que a resolução da amada nada tinha de consistente. Falava por saber-se espreitada pelo Espírito desencarnado João Manuel, seu pai.
Frustração. Maria Pia se manteve irredutível, embora desejasse que suas palavras encontrassem ouvidos surdos.
Depois de muito tempo de discussão...
– Diante de tal recusa, estou a ir embora para o Brasil com Alba e meu filho. Se não posso ter o teu amor... nada mais me importa – disse bem assim, no estilo trágico-romântico.
Maria Pia sentiu um soco no estômago e, em um arroubo de bravura, de