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Resumo Bastos3

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BASTOS, Vnia Lomnaco. A repartio do produto na economia capitalista.

In:______. Para entender a economia capitalista: noes introdutrias. 3. ed. [Rio de


Janeiro]: Forense Universitria, [1996]. cap. 4, p. 47-67.

Resumo
Para entender a economia capitalista: noes introdutrias

1. Alguns Aspectos Bsicos
No capitalismo, a produo se efetiva atravs de unidades produtivas que
utilizam mo-de-obra assalariada: os trabalhadores vendem sua fora de trabalho aos
capitalistas, que possuem meios de produo e capital e, assim, organizam a produo
de bens. O conjunto das produes individuais constitui o produto da sociedade, que ir
fornecer meios para a existncia dos membros da sociedade e tambm para ampliao
do produto futuro. A quantidade disponvel de bens para cada membro da sociedade em
um dado momento depende das condies tcnicas e das relaes sociais vigentes
(tamanho e distribuio). O produto vira salrio para os trabalhadores e excedente para
os capitalistas, ambos gerados a partir do trabalho assalariado.

2. As Condies da Produo
Na indstria moderna h uma grande diversidade de meios de produo, funes
e insumos para a obteno do produto, o que torna difcil acompanhar o funcionamento
da economia. Didaticamente, possvel utilizar um exemplo com vrias simplificaes
e que pode, at mesmo, ser aplicado para economias mais complexas.
No exemplo, em uma economia capitalista simples, h duas empresas, que
produzem, respectivamente, trigo e bolo. Na primeira, o capitalista, com 6 toneladas de
semente de trigo e um trabalhador, obtm 10,5 ton. de trigo como produto. A segunda,
com um trabalhador, transforma 2 ton. de trigo em 3 de bolo. Como saldo, 2
trabalhadores transformam 8 ton. de trigo (6 como semente e 2 como matria-prima) em
3 ton. de bolo. Restaro 2,5 ton. de trigo e 3 ton. de bolo no fim do processo,
consumidos pelos membros da economia.A produo anual deve fornecer para que o
processo se repita, ou seja, preciso restabelecer as 6 ton. de sementes e 2 ton. de trigo
como insumo.
A repartio do produto depende da funo de cada um no processo: os
trabalhadores recebem o salrio, os proprietrios, o excedente.

3. A Determinao dos salrios
Os economistas da Escola Clssica e Marx, embora sem negar os efeitos
temporrios da oferta e demanda nas flutuaes ocasionais (abordagem realizada por
muitos economistas), colocam o salrio como resultado da luta de de classes,
estabelecem que ele tende a ficar num nvel que garanta a sobrevivncia do trabalhador.
Adam Smith aborda a questo seguindo essa linha de pensamento: h um contrato entre
as partes, que tem interesses conflitantes. Embora o patro tenha uma vantagem bvia, o
salrio deve ser suficiente para garantir o sustento do trabalhador (1983, p. 92-94). Tal
conflito entre patro e empregado fica evidente no exemplo do bolo: aumentando a
porcentagem do produto destinada ao pagamento dos salrios, diminui o excedente.
Para Karl Marx, as necessidades bsicas de um povo so um produto histrico e
dependem da cultura e dos hbitos (1984, p. 141.). O "nvel de subsistncia" no tem
sentido apenas fisiolgico, ele requer um contexto histrico-social e incorpora a luta de
classes (como sindicatos e movimentos grevistas), a determinao do nvel de
subsistncia resulta tambm desse confronto.
Numa economia em crescimento, como h uma grande demanda por mo-de-
obra, os salrios podem aumentar temporariamente. Porm, salrios altos estimulam
empresrios a investir em tecnologia, o que reduz a demanda e diminui os salrios,
preservando o lucro.
Quando determinado o salrio real do trabalhador, automaticamente a parte do
excedente que ser transformada em lucro tambm definida, uma parcela s aumenta
com a diminuio da outra. No caso do bolo, se o salrio anual for estabelecido como 1
ton. de trigo por trabalhador, os proprietrios destinaro 2 ton. de trigo para pagar os 2
trabalhadores e o restante do produto, 0,5 ton. de trigo e 3 ton. de bolo, ser o
excedente. A apropriao dos excedentes s possvel por esse controle exercido pelos
produtores, que estabelecem o trabalho que permanece em suas mos.
A nica maneira de elevar os salrios e manter os excedentes atravs do
aumento da produtividade com tecnologias. Se, com a mesma quantidade de insumos e
de fora de trabalho, houver uma produo de 11,5 t de trigo, os salrios poderiam ser
de 1,5 t. Mas, na prtica, um aumento da produtividade dificilmente seria repassado
para os trabalhadores sem a luta de classes. No costume haver situaes estacionrias
na economia, se os salrios reais se mantm constantes enquanto ocorrem aumentos na
produtividade, apenas os capitalistas esto sendo beneficiados pelo crescimento.

4. A Taxa de Lucro e a Distribuio do Excedente
Os produtores investem seu capital monetrio porque objetivam o lucro, ponto
principal da lgica capitalista. A relao entre o lucro obtido e o volume de capital que
foi necessrio para obt-lo calculado pela "taxa de lucro", que a razo entre o lucro
e o capital investido. Ela utilizada para ajudar a analisar quo lucrativo um
determinado investimento .
No exemplo do bolo, a empresa agrcola obtm um excedente de 3,5 t de trigo
(10,5 - 1 do salrio - 6 dos insumos). Assim, a taxa de lucro seria de 3,5/7 = 50%. Na
empresa de bolos, o produto final constitudo 3 t de bolo, produzido com 3 t de trigo
(2 t de insumos e 1 t de salrio). A quantidade de bolo que ter que vender para obter
essa quantidade de trigo depende do preo relativo entre eles: se a tonelada de bolo
custo 7,5 unidades monetrias e a de trigo custa 5, para pagar o salrio e os insumos o
produtor necessita de 15 unidades monetrias, ou seja, 2 t de bolo. A taxa de lucro seria
de 50%, a mesma da empresa agrcola, garantindo igual retorno por volume igual de
investimento aos dois capitalistas.
Qualquer conjunto que mantenha a relao de 1 t de bolo = 1,5 t de trigo entre os
preos ir gerar uma igual taxa de lucro para os dois capitalistas. Os economistas
chamam de preos naturais ou preos de produo os preos que permitem a igualao
da taxas de lucro.

5. Comentrios
Numa economia em que h facilidade de transferncia de capital entre os setores
(livre movimentao de capitais), o esperado seria que houvesse uma igualao da taxa
de lucro entre eles. Se um setor em, determinado momento, tivesse uma elevao da sua
taxa de lucro, atrairia todos os investimentos para si. Com o aumento da oferta do
produto, haveria uma queda da demanda, estabilizando a taxa de lucro novamente. A
economia est em equilbrio quando as taxas de lucro so iguais, pois os capitalistas no
podero aumentar seus lucros transferindo os investimentos de setor.
Uma situao de equilbrio pleno, porm, no possvel para o mundo
capitalista atual, que no um sistema concorrencial como o que foi citado
anteriormente. A mobilidade de capital encontra frequentes obstculos, como o domnio
da tecnologia, o volume necessrio de investimento inicial e as barreiras institucionais
ao ingresso de capitais. Em todos os casos, os mecanismos responsveis pela igualao
da taxa de lucro deixaro de atuar. Alguns capitalistas recebem lucros maiores, os
excedentes no so bem distribudos. Os preos no mercado so diferentes dos naturais.
Os preos naturais permitem analisar como ocorre a diviso do produto e o papel
dos preos relativos numa economia capitalista: a distribuio do produto entre salrios
e lucros no altera o seu volume; excetuando quando h aumento da produtividade, os
salrios s aumentam com reduo dos lucros; a distribuio do produto se expressa
atravs dos salrios reais e dos preos relativos das demais mercadorias, um aumento
salarial ocasiona o aumento dos preos monetrios das demais mercadorias, os preos
relativos e a repartio do produto podem se alterar ou no.
Em uma situao de inflao, os trabalhadores recebem um aumento salarial que
no real, uma vez que sofrem uma diminuio nos seus poderes de compra. Um
aumento salarial real significa uma alterao da distribuio do produto disponvel, o
que gera prejuzos para os capitalistas, que elevam os preos dos produtos, tentando
preservar os lucros. O produto pode passar a ter um valor monetrio maior, tornando
maiores os valores destinados aos salrios e lucros, ou h uma reduo na participao
dos salrios no produto. H um falso aumento salarial, visto que os capitalistas fazem o
repasse para seus produtos.

Apndice B
No modelo simplificado, a taxa de lucro obtida de maneira simples, j que
insumos, salrios e produto utilizam o mesmo referencial do trigo. Um vez obtida a taxa
de lucro da empresa, e consideram a igualao da taxa de juros, possvel encontrar os
preos relativos que permitem empresa produtora de bolos realizar essa mesma taxa,
considerando que a empresa de bolos deve cobrir os custos e apresentar uma mesma
lucratividade:
3pb = 2pt + w + 1; sendo pb o preo da tonelada de bolo, pt o preo da tonelada de
trigo, w o salrio e o lucro sendo 1.
3pb = 2pt + w + r (2pt + w); como w = pt e r = 0,5;
pb = (3pt +0,5 (3pt))/3, pb = 1,5pt
possvel tambm verificar a elevao dos salrios, sem que os preos das
mercadorias se alterem, afetando a taxa de lucros:
10,5pt = 6pt + w + rt(6pt +w), para a empresa de trigo;
3pb = 2pt + w + rb(2pt +w), para a empresa de bolo.
Considerando rt = taxa de lucro para a empresa de trigo e rb = taxa de lucro para
a empresa de bolo e supondo que pt = 5 u.m., pb = 7,5 u.m. e w = 6 u.m., possvel
chegar aos seguintes valores: rt = 0,49 e rb = 0,41. Sendo assim, as duas taxas de juros
foram reduzidas. Para a manuteno da mesma taxa de lucro nas duas empresas, pb
deveria ser igual a 1,47pt.

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