Teatro Shakesperiano
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Teatro Shakesperiano
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eBookLibris
MACBETH
WILLIAM SHAKESPEARE
Ridendo Castigat Mores
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Macbeth
William Shakespeare
Edio
Ridendo Castigat Mores
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Todas as obras so de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado, ou
melhor, da Sociedade que paga impostos; tenho a obrigao de retribuir ao menos
uma gota do que ela me proporcionou.
Nlson Jahr Garcia (1947-2002)
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MACBETH
William Shakespeare
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NDICE
ATO I
Cena I
Cena II
Cena III
Cena IV
Cena V
Cena VI
Cena VII
ATO II
Cena I
Cena II
Cena III
Cena IV
ATO III
Cena I
Cena II
Cena III
Cena IV
Cena V
Cena VI
ATO IV
Cena I
Cena II
Cena III
ATO V
Cena I
Cena II
Cena III
Cena IV
Cena V
Cena VI
Cena VII
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Personagens
DUNCAN, rei da Esccia.
MALCOLM, seu filho
DONALBAIN, seu filho.
MACHBETH, General do exrcito do rei
BANQUO, General do exrcito do rei.
MACDUFF, Nobre da Esccia.
ROSS, Nobre da Esccia.
MENTEITH, Nobre da Esccia.
ANGUS, Nobre da Esccia.
CAITHNESS, Nobre da Esccia.
FLEANCE, filho de Banquo.
SIWARD, duque de Northumberland, general do exrcito ingls.
O jovem Siward, seu filho.
SEYTON, oficial ligado a Macbeth.
Menino, filho de Macduff.
Um mdico ingls.
Um mdico escocs.
Um sargento.
Um porteiro.
Um velho.
Lady Macbeth
Lady Macduff
Criado de quarto de Lady Macbeth.
Hcate e trs bruxas.
Nobres, gentis-homens, oficiais, soldados, assassinos, criados e
mensageiros. O fantasma de Banquo e outras aparies.
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ATO I
Cena I
Lugar deserto. Troves e relmpagos. Entram trs bruxas.
PRIMEIRA BRUXA Quando estaremos mo com chuva, raio e
trovo?
SEGUNDA BRUXA Depois de calma a baralha e vencida esta
batalha.
TERCEIRA BRUXA Hoje mesmo, ento, sem falha.
PRIMEIRA BRUXA Onde?
SEGUNDA BRUXA Da charneca ao p.
TERCEIRA BRUXA Para encontrarmos Macbeth
PRIMEIRA BRUXA Graymalkin, no faltarei.
SEGUNDA BRUXA Paddock chama.
TERCEIRA BRUXA Depressa!
TODAS So iguais o belo e o feio; andemos da nvoa em meio.
(Saem).
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Cena II
Um campo perto de Forres. Alarma dentro. Entram o rei Duncan,
Malcolm, Donalbain, Lennox e pessoas do squito. Encontram um
sargento ferido.
DUNCAN Quem esse indivduo ensangentado? Pelo que
mostra, pode dizer algo sobre o estado recente da revolta.
MALCOLM o sargento que, como bom e intrpido soldado,
me livrou do cativeiro. Salve, valente amigo! Ao rei relata quanto
sabes da luta at ao momento em que saste dela.
SARGENTO Duvidoso era o desfecho, como dois cansados
nadadores que um no outro se embaraam, a arte prejudicando
mutuamente. O impiedoso Macdonwald, digno em tudo de ser mesmo
um rebelde que as inmeras vilanias do mundo em torno dele como
enxames esvoaam suprimentos das ilhas do oeste recebeu de
quernes e galowglasses; e a fortuna, rindo para sua querela
amaldioada, mostrou-se prostituta de um rebelde. Mas tudo isso foi
fraco em demasia, porque o bravo Macbeth merece o ttulo
desdenhando a fortuna, de ao em punho, a fumegar da execuo
sangrenta, tal como o favorito da bravura, soube um caminho abrir at
postar-se bem na frente do escravo, no lhe tendo apertado a mo nem
dito nenhum adeus, enquanto de alto a baixo no o descoseu e em
nossos parapeitos pendurou-lhe a cabea.
DUNCAN Oh bravo primo! Que digno gentil-homem!
SARGENTO Como nascem tempestades terrveis e arrebentam
pavorosos troves do mesmo lado em que o sol principia a levantar-se:
da mesma fonte, assim, de onde o socorro parecia manar, surgiu o
alarma. Presta ateno agora, rei da Esccia: mal havia a justia,
redobrada pelo valor, forado os geis quernes a confiar nos prprios
calcanhares, quando o senhor dos noruegueses, tendo percebido a
vantagem, com polidas armas e gente fresca de reforo, recomeou o
assalto.
DUNCAN E porventura temor no causou isso em nossos cabos
Banquo e Macbeth?
SARGENTO Como os pardais s guias ou a lebre ao leo. Para
dizer o que houve, terei de relatar que pareciam canhes com dupla
carga reforados. Assim eles redobravam no imigo duplos golpes. Se
queriam banhar-se em fumegantes feridas, se dar fama a um outro
Glgota, no sei diz-lo. Mas temo desmaiar; minhas feridas reclamam
por socorro.
DUNCAN Teu relato te orna to bem como esses ferimentos;
ldimo sabor de honra eles revelam. Ide buscar um cirurgio para ele.
(Sai o sargento, acompanhado.) (Entra Ross.) Quem vem a?
MALCOLM O muito digno thane de Ross. Nos olhos dele,
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Cena III
A charneca. Troves. Entram as trs bruxas.
PRIMEIRA BRUXA Onde estiveste, irm?
SEGUNDA BRUXA Matando porco.
TERCEIRA BRUXA E tu, irm?
PRIMEIRA BRUXA Cheio o regao tinha de castanhas a mulher
de um marujo, e mastigava, mascava, mastigava. Cede-me uma, lhe
disse. Vai-te embora, bruxa! grita-me a gorda comedora de babugem.
Em caminho de Alepo est o marido, como chefe do Tigre. Mas como
rato cot numa peneira vou s. E roque, roque, roque!
SEGUNDA BRUXA Vou dar-te um bom vento.
PRIMEIRA BRUXA Vem a meu contento.
TERCEIRA BRUXA Com mais um podes contar.
PRIMEIRA BRUXA Saberei outros achar e os portos de mais
zunidos e os pontos deles sabidos na carta dos marinheiros. Vou deixlo como enguia, sem que o sono, noite e dia, lhe baixe aos olhos um
nada. Vai ser vida amaldioada. Semanas noventa e nove, fraco e
magro, nem se move; e embora no perca o barco, de tufes no ser
parco. V o que eu trouxe!
SEGUNDA BRUXA Mostra-me! Mostra-me!
PRIMEIRA BRUXA O dedo de um marinheiro que naufragou no
roteiro.
(Barulho de tambor, dentro.)
TERCEIRA BRUXA Tambor! Tambor! Eis Macbeth, o vencedor!
TODAS As trs bruxas, mos unidas, por estradas no batidas,
por mar e terra se vo. Trs para ti, trs a mim. trs para nove no fim.
Silncio! O encanto est pronto.
(Entram Macbeth e Banquo.)
MACBETH Nunca vi dia assim, to feio e belo.
BANQUO A que distncia ainda se encontra Forres? Quem so
essas criaturas to mirradas e de vestes selvagens, que habitantes no
parecem da terra e, no entretanto, nela se movem? Acaso tendes vida?
Sois algo a que perguntas dirijamos? Pareceis compreender-me, pois a
um tempo levais os dedos sseos a esses lbios encarquilhados. Quase
vos tomara por mulheres; no entanto vossas barbas no me permitem
dar-vos esse nome.
MACBETH Respondei, se puderdes: quem sois vs?
PRIMEIRA BRUXA Viva, viva Macbeth! Ns te saudamos,
thane de Glamis!
SEGUNDA BRUXA Viva, viva Macbeth! Ns te saudamos, thane
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de Cawdor!
TERCEIRA BRUXA Viva Macbeth, que h de ser rei mais tarde!
BANQUO Meu bondoso senhor, por que motivo vos mostrais
assustado, parecendo recear o que de ouvir assim to belo? Em
nome da verdade, imaginrias sereis realmente, ou o que mostrais por
fora? Meu nobre companheiro foi saudado com ttulos, por vs, de
atual valia e grande predio de haveres nobres e de real esperana,
que parece deix-lo arrebatado. Porm nada me dissestes. Se podeis
ver a seara do tempo e predizer quais as sementes que ho de brotar,
quais no, falai comigo, que no procuro nem receio vosso dio ou
vosso favor.
PRIMEIRA BRUXA Salve!
SEGUNDA BRUXA Salve!
TERCEIRA BRUXA Salve!
PRIMEIRA BRUXA Menor do que Macbeth, porm maior!
SEGUNDA BRUXA No to feliz, mas muito mais feliz!
TERCEIRA BRUXA Gerars reis, embora rei no sejas! Assim,
viva Macbeth e viva Banquo!
PRIMEIRA BRUXA Viva Banquo e Macbeth! A todos, viva!
MACBETH Um momento, oradoras imperfeitas. Falai-me mais
um pouco. Pela morte de Sinel eu fiquei thane de Glamis. Mas,
Cawdor, de que jeito? Vive o thane de Cawdor, gentil-homem muito
prspero; e ser rei ultrapassa os horizontes da crena tanto ou mais do
que ser Cawdor. Dizei de onde tirastes to inslita notcia e por que
causa nos fizestes parar nesta charneca desolada, com saudaes
profticas? Intimo-vos a me falar.
(As bruxas desaparecem.)
BANQUO A terra tem borbulhas, tal como a gua. Elas so
justamente isso. Mas para onde sumiram?
MACBETH No ar; e tudo quanto nos parecia ser corpreo se
fundiu como ao vento nosso anlito. Oh! se tivessem demorado um
pouco!
BANQUO Aqui estiveram, mesmo, essas criaturas sobre que
conversamos, ou teramos comido da raiz mals que deixa prisioneira
a razo?
MACBETH Reis, vossos filhos?
BANQUO Chegareis a rei.
MACBETH E assim, thane de Cawdor. No foi isso?
BANQUO Esse, o tom e as palavras. Quem vem vindo?
(Entram Ross e Angus.)
ROSS Macbeth, com alegria o rei as novas recebeu da vitria
que obtiveste, e quando ouve falar que aventuraste tua pessoa contra
esses rebeldes, pem-se nele a lutar os elogios e a admirao sobre que
parte fora justo te reservar, qual a ele prprio. Se sobre isso no fala,
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Cena IV
Forres. Um quarto no palcio. Fanfarra. Entram Duncan, Malcolm,
Donalbain, Lennox e pessoas do sqito.
DUNCAN Cawdor j foi executado? Os homens incumbidos do
feito j voltaram?
MALCOLM Meu suserano, ainda no vieram; mas falei com
algum que o viu morrer, que me disse haver ele confessado
francamente as traies, pedido a Vossa Grandeza lhe perdoasse e
revelado grande arrependimento. Nada em vida tanto o ornou como o
modo de deix-la. Morreu tal como se estudado houvesse como na
hora da morte desfazer-se do mais precioso bem, como se fosse de
somenos valor.
DUNCAN No existe arte que ensine a ler no rosto as feies
da alma. Era um fidalgo em quem depositava absoluta confiana.
(Entram Macbeth, Banquo, Ross e Angus.) digno primo! Neste
instante pesava-me o pecado de minha ingratido. To na dianteira te
achas agora, que as mais lestes asas da recompensa se revelam tardas
demais para alcanar-te. Quem me dera que teus mritos fossem mais
modestos, porque estivesse em mim a conta certa dos agradecimentos
e da paga! S me resta dizer-te que mereces mais, muito mais do que
as mais ricas messes.
MACBETH O servio e a lealdade que vos devo por si mesmos
se pagam, competindo to-somente a Vossa Honra contar sempre com
nossa obrigao, consistindo esta em bem servir o trono, o Estado, os
filhos e os servidores, que s fazem quanto devem fazendo tudo quanto
podem com relao a vosso amor e glria.
DUNCAN S bem-vindo. A plantar-te comecei; hei de esforarme, assim, para que alcances crescimento completo. Nobre Banquo,
que menos no fizeste e cujos feitos ficar no devem menos
conhecidos: permite que te abrace e aperte muito de encontro ao
corao.
BANQUO Se em tal terreno eu me der bem, vossa ser a
colheita.
DUNCAN As minhas abundantes alegrias, brias de plenitude,
ora procuram ocultar-se nas togas da tristeza. Filhos, parentes,
thanes, e vs outros que vos achais mais prximos: sabei que reforar
queremos nosso Estado em nosso primognito Malcolm a quem
nomeamos doravante prncipe de Cumberlndia. Mas no h de essa
honra a ele somente ornar. No; como estrelas, ttulos brilharo de
alta nobreza sobre quem merecer. (A Macbeth.) Daqui sigamos para
Inverness, a fim de que se dobrem minhas obrigaes para convosco.
MACBETH Trabalho ser o cio que em proveito vosso no for
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Cena V
Inverness. Castelo de Macbeth. Entra lady Macbeth, lendo uma carta.
LADY MACBETH Elas me encontraram no dia da vitria e
pude verificar, pela mais exata confirmao, que so dotadas de saber
mais do que humano. Quando eu ardia em desejos de continuar a
interrog-las, desfizeram-se em ar, no qual se dissiparam. Enquanto eu
me encontrava tomado de estupor com o que acontecera, chegaram
mensageiros do rei, que me cumprimentaram a uma voz como Thane
de Cawdor, ttulo com que, antes, me haviam saudado as irms
feiticeiras, referindo-se ao meu futuro por este modo: Salve! Ainda
virs a ser rei!. Pareceu-me bem comunicar-te o que se passou,
companheira querida de minha grandeza, para que no viesses a
perder a parte que te cabe dessa felicidade, com ignorares o futuro que
te est prometido. Guarda isto no corao e adeus.
Glamis j s e Cawdor, e em futuro virs a ser o que te
prometeram. Temo, porm, a tua natureza cheia de leite da bondade
humana, que entrar no te consente pela estrada que vai direito
meta. Desejaras ser grande, e no te encontras destitudo, de todo, de
ambio; porm careces da inerente maldade. O que desejas com
fervor, desejaras santamente; no queres jogo ilcito, ruas queres
ganhar mal. Desejaras, grande Glamis, possuir o que te grita: Desse
modo precisars fazer, para que o tenhas! Mas antes medo tens de
fazer isso do que desejas que no fique feito. Vem para c, para que
meus espritos nos ouvidos te deite e com a ousadia de minha lngua
chicoteie quantos obstc'los te separam do ureo crculo com que o
destino e o auxlio metafsico como que desde j te coroaram. (Entra
um mensageiro.) Quais so as novidades?
MENSAGEIRO Hoje noite o rei chegar aqui.
LADY MACBETH Como! Ests louco? Acaso teu senhor no
est com ele? No deixaria de instrues mandar-me, para os
preparativos.
MENSAGEIRO Com licena. mas verdade. Vai chegar o
thane. Um dos meus camaradas a dianteira dele tomou, de estafa
quase morto, mal lhe restando o flego preciso para dar o recado.
LADY MACBETH Cuidem dele com carinho; traz grandes
novidades. (Sai o mensageiro.) Rouco est o prprio corvo que crocita
a chegada fatdica de Duncan minha fortaleza. Vinde, espritos que
os pensamentos espreitais de morte, tirai-me o sexo, cheia me
deixando, da cabea at aos ps, da mais terrvel crueldade! Espessaime todo o sangue; obstru os acessos da conscincia, porque batida
alguma compungida da natureza sacudir no venha minha hrrida
vontade, promovendo acordo entre ela e o ato. Ao feminino peito
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Cena VI
O mesmo. Diante do castelo. Obos e tochas. Entram Duncan,
Malcolm, Donalbain, Banquo, Lennox, Macduff, Ross, Angus e pessoas
do squito.
DUNCAN bela a posio deste castelo. O ar afaga os sentidos
delicados por maneira agradvel e serena. Os hspedes do estio, as
andorinhas, dos templos familiares, bem demonstram com seus ninhos
mimosos que o celeste hlito aqui cativa com o perfume. No h
sacada, friso, arcobotante, ou favorvel canto em que esses pssaros
no suspendam seu leito e o bero frtil. Onde eles gostam de viver,
notei-o, o ar mui delicado. (Entra lady Macbeth.) Vede! Vede! Nossa
hospedeira ilustre! O amor que segue nossos passos, por vezes nos
perturba. Mas, sendo amor, agradecemos sempre. Com isso vos ensino
a dirigir-nos um Deus vos recompense pelos muitos trabalhos que
vos damos, e a os incmodos ainda agradecer-nos.
LADY MACBETH Fossem duplos nossos trabalhos, sob qualquer
aspecto, e depois redobrados, ainda foram coisinhas sem valor, se
comparados com as honrarias grandes e profundas com que
sobrecarrega nossa casa vossa alta majestade. Pelos velhos benefcios e
as honras mais recentes que lhe acrescentastes, confessamo-nos como
vossos devotos.
DUNCAN E onde o thane de Cawdor se meteu? No encalo dele
corremos at aqui, pensando mesmo que de aposentador lhe
serviramos. Mas ele monta muito bem, e o grande afeto que nos vota,
agudo como suas esporas, sua prpria casa o trouxe antes de ns.
Formosa e digna hospedeira, esta noite ficaremos aqui como vosso
hspede.
LADY MACBETH A existncia tiveram sempre os servos, eles
prprios e seus haveres todos como simples depsito ao dispor de
Vossa Alteza, pronto a ser devolvido.
DUNCAN A mo vos tomo; para o meu hospedeiro conduzi-me.
Temos-lhe grande amor e mostrar-lhe-emos provas ainda mais de
nossa graa. Permiti-me, hospedeira.
(Saem.)
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Cena VII
O mesmo. Um quarto no castelo. Obos e tochas. Um trinchante
atravessa o palco com diversos criados, que carregam pratos e
acessrios da mesa. Depois entra Macbeth.
MACBETH Se feito fosse quanto fosse feito, seria bom
fazermo-lo de pronto. Se o assassnio enredasse as conseqncias e
alcanasse, com o fim, xito pleno; se este golpe aqui fosse tudo, e
tudo terminasse aqui em baixo, aqui somente, neste banco de areia da
existncia, a vida de aps morte arriscaramos. Mas aqui mesmo
nosso julgamento em semelhantes casos; s fazemos ensinar as
sentenas sanguinrias que, uma vez aprendidas, em tormento se
viram do inventor. Essa justia serena e equilibrada a nossos lbios
apresenta o contedo envenenado da taa que ns mesmos
preparramos. Ele est aqui sob dupla salvaguarda. De incio, sou
parente dele e sdito, duas razes de fora contra esse ato; depois, sou
o hospedeiro, que devera fechar a porta a seus assaltadores, no
levantar contra ele minha faca. Esse Duncan, por fim, tem revelado
to brandas qualidades de regente, seu alto ofcio tem exercitado por
maneira to pura que suas claras virtudes ho de reclamar, sem
dvida, contra o crime infernal de sua morte. E a piedade, tal como
um recm-nado despido, cavalgando a tempestade, ou querubim
celeste que montasse nos corcis invisveis das rajadas, h de atirar
esse ato inominvel contra os olhos de todas as pessoas, at que o
vento as lgrimas afoguem. Esporas no possuo, para os flancos picar
do meu projeto, mas somente a empolada ambio que, ultrapassando
no salto a sela, vai cair sobre outrem. (Entra lady Macbeth.) Que h de
novo?
LADY MACBETH J est no fim da ceia. Por que sastes?
MACBETH Perguntou por mim?
LADY MACBETH Pois ainda me fazeis essa pergunta?
MACBETH No iremos mais longe neste assunto. Muitas
honras me fez ultimamente, havendo eu conquistado ureo conceito
junto de toda gente, que desejo mostrar com o novo brilho, no de lado
jogar sem mais nem menos.
LADY MACBETH Encontra-se embriagada a esperana que at
h pouco vos revestia? Adormeceu, decerto, desde ento e acordou
agora, plida e verde a contemplar o que ela prpria comeara to
bem? Desde este instante para mim teu amor vale isso mesmo. Tens
medo de nos atos e coragem mostrar-te igual ao que s em teus
anelos? Queres vir a possuir o que avalias como ornamento mximo
da vida, mas qual poltro viver em tua estima, deixando que um No
ouso v no rasto de um Desejara, como o pobre gato de que fala o
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provrbio?
MACBETH Paz, te peo. Ouso fazer tudo o que faz um homem;
quem fizer mais, que deixou de s-lo.
LADY MACBETH Que animal foi, ento, que teve a idia de me
participar esse projeto? Quando ousastes faz-lo reis um homem, e
querendo ser mais do que ento reis tanto mais homem a ficar
vireis. Lugar e tempo ento no concordavam; no entanto desejveis
ajeit-los; e ora que se acomodam por si mesmos, essa boa vontade vos
abate! J amamentei e sei como inefvel amar a criana que meu
leite mama; mas no momento em que me olhasse, rindo, o seio lhe
tirara da boquinha desdentada e a cabea lhe partira, se tivesse jurado,
como o haveis em relao a isso.
MACBETH Se falharmos...
LADY MACBETH Falharmos? Bastar aparafusardes vossa
coragem at o ponto mximo, para que no falhemos. Quando Duncan
se puser a dormir e a rude viagem de hoje o convidar para isso
mesmo ambos os camareiros de tal modo dominarei com vinho, que
a memria, essa guarda do crebro, fumaa to-somente ser e o
receptculo da razo, alambique. E quando os corpos nesse sono de
porco se encontrarem, como se mortos fossem, que de coisas no
faremos em Duncan indefeso, que culpas no imputaremos a esses
servidores-esponjas, porque fiquem responsveis por nosso grande
crime?
MACBETH S deves dar luz a filhos homens, pois teu vigor
indmito s pode filhos homens nutrir. Ser aceitvel, quando de
sangue besuntado houvermos os dois homens que dormem no seu
quarto, e seus prprios punhais tambm usado, que foram eles os
autores disso?
LADY MACBETH Quem ousar pensar de outra maneira,
quando rugirmos nossa dor e os altos clamores rimbombarem sobre o
morto?
MACBETH Preparado me encontro e deixo tensos todos os
nervos para esse ato horrvel. Vamos! Recomponhamo-nos primeiro;
corao falso e rosto lisonjeiro.
(Saem.)
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ATO II
Cena I
Inverness. Ptio no interior do castelo. Entram Banquo e Fleance,
precedidos de um criado com uma tocha.
BANQUO Quanto da noite j ser, menino?
FLEANCE No ouvi bater horas, mas a lua j se escondeu.
BANQUO Ela se esconde s doze.
FLEANCE Penso, senhor, que ser mais do que isso.
BANQUO Toma aqui minha espada. H economia no cu; todas
as luzes se apagaram. Fica tambm com isto. Em mim se exerce uma
presso pesada como chumbo. No entretanto, quisera no dormir.
Detende em mim, poderes criadores, os pensamentos maus que a
natureza permite aos que repousam. (Entra Macbeth, acompanhado de
criado, com uma tocha.) Quem vem l?
MACBETH Um amigo.
BANQUO Como, senhor! Ainda estais de p? O rei j foi deitarse; revelava inslita alegria, tendo enchido de grossos cabedais vossos
celeiros. Sada vossa esposa, oferecendo-lhe este diamante, como
mais bondosa das hospedeiras. Foi-se para o quarto com um
contentamento sem limites.
MACBETH Tomada de surpresa, nossa boa vontade se mostrou
serva da falta. Se no, teria inteira liberdade.
BANQUO Tudo vai bem. Sonhei na ltima noite com as trs
irms fatais. Muito verdicas com relao a vs se revelaram.
MACBETH No penso nelas; no entretanto, quando tivermos
alguma hora favorvel dedicaremos a isso umas palavras, se o tempo
vos sobrar.
BANQUO Com todo o gosto.
MACBETH Se no tempo oportuno concordardes com meu
modo de ver, ganhareis honra.
BANQUO Se no vier a perd-la no propsito de faz-la
aumentar, puro deixando-me o corao e lmpida a obedincia, ouvirvos-ei de grado.
MACBETH Bom repouso at esse dia.
BANQUO Muito agradecido, meu senhor; iguais votos vos
dirijo.
(Saem Banquo e Fleance.)
MACBETH Vai dizer senhora que me faa sinal com o sino,
quando estiver pronta minha bebida. Depois disso, deita-te. (Sai o
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Cena II
O mesmo. Entra lady Macbeth.
LADY MACBETH O que os embebedou me deu coragem: fogo
me deu o que os deixou extintos. Ouvi! Silncio! o pio da coruja,
sentinela fatal que augura a mais sinistra noite. Vai dar o golpe; a
porta se acha aberta; o ressonar dos guardas embriagados zomba do
ofcio deles. Pus mistura na bebida de todos, de tal forma que a morte
e a natureza neles lutam sobre se vo morrer ou ficar vivos.
MACBETH (dentro) Quem est a? Ol!
LADY MACBETH Que pena! Temo, que acordassem e nada
esteja feito. O que nos atrapalha a tentativa, somente, no a ao.
Ouvi! De jeito deixei os punhais deles; no podiam ficar
despercebidos. Se no fosse parecer-se no sono com meu pai, eu
prpria o realizara. Meu marido!
(Entra Macbeth.)
MACBETH Realizei o ato. Ouviste algum barulho?
LADY MACBETH O pio, apenas, da coruja, e o grito do grilo.
No falastes?
MACBETH Quando?
LADY MACBETH Agora.
MACBETH Quando eu descia?
LADY MACBETH Sim.
MACBETH Escuta um pouco. Quem que est naquele quarto
ao lado?
LADY MACBETH Donalbain.
MACBETH (Contemplando as mos) Oh, que vista lastimvel!
LADY MACBETH um pensamento nscio dizer isso: Que
vista lastimvel!
MACBETH Um, no sono, sorriu, e o outro gritou: Ai!
Assassnio! E, com isso, acordaram. Escutando-os, me detive. Mas
eles murmuraram oraes, to-somente, e dispuseram-se a dormir
outra vez.
LADY MACBETH No mesmo quarto se acham dois.
MACBETH Um gritou: Deus nos ampare! E Amm disse o
outro, como se tivessem percebido as mos sujas do carrasco. Ao
escutar-lhe o temor, no pude dizer Amm, quando eles
murmuraram Deus nos ampare.
LADY MACBETH No ser prudente pensar tanto sobre isso.
MACBETH Por que causa no pude, ento, dizer Amm? De
bno tinha necessidade mui premente; mas na garganta o Amm
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ficou pegado.
LADY MACBETH Essas coisas no devem ser pensadas dessa
maneira. de deixar-nos loucos.
MACBETH Uma voz pareceu-me ouvir, aos gritos de: No
durmais! Macbeth matou o sono! o meigo sono, o sono que desata a
emaranhada teia dos cuidados, que o sepulcro da vida cotidiana,
banho das lides dolorosas, blsamo dos coraes feridos, a outra forma
da grande natureza, o mais possante pbulo do banquete da existncia.
LADY MACBETH Que pretendeis dizer?
MACBETH Por toda a casa continuava a gritar: Basta de sono!
No durmais! Glamis destruiu o sono! Por isso Cawdor j dormir no
pode, Macbeth dormir no pode!
LADY MACBETH Quem gritava por esse modo? Ora, meu digno
thane, relaxais vossas nobres energias considerando as coisas por
maneira to doentia. Arranjai um pouco de gua, para das mos
tirardes todas essas testemunhas manchadas. Por que causa
trouxestes os punhais de onde se achavam? Precisam ficar l. Tomai a
p-los em seus lugares e sujai de sangue os criados que ainda dormem.
MACBETH No; no volto. Tenho pavor s de pensar no feito;
voltar a contempl-lo me impossvel.
LADY MACBETH Oh! que vontade fraca! Dai-me as armas. Os
mortos e os que dormem so pinturas, nada mais. somente o olho da
criana que tem medo do diabo desenhado. Se estiver a sangrar,
deixarei tintos com isso o rosto de seus prprios criados, pois
preciso que parea que eles o crime cometeram.
(Sai. Pancadas dentro.)
MACBETH Onde batem? Que se passa comigo, para um
simples rudo apavorar-me? E aquelas mos, ai! que os olhos me
arrancam? Todo o oceano do potente Netuno poderia de tanto sangue
a mo deixar-me limpa? No; antes minha mo faria prpura do mar
universal, tornando rubro o que em si mesmo verde.
(Volta lady Macbeth.)
LADY MACBETH De vossa cor as mos agora tenho; mas de
possuir ficara envergonhada um corao to branco. (Pancadas
dentro.) Ouvi! Novas batidas. Ide logo vestir vosso roupo; se nos
chamarem, no devemos mostrar que no dormimos. No deveis
entregar-vos a essas cismas to miseravelmente.
MACBETH Conhecer o que fiz... Melhor me fora se no me
conhecesse. (Pancadas dentro.) Acordam Duncan batendo desse modo.
Ah! se acordasses!
(Saem.)
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Cena III
O mesmo. Pancadas dentro. Entra o porteiro.
PORTEIRO Isso, sim, que bater! Quem fosse porteiro no
inferno no faria outra coisa seno virar a chave. (Pancadas dentro.)
Bate, bate, bate! Quem est a, em nome de Belzebu? Eis que chega
um lavrador que se enforcou, na expectativa de uma boa colheita.
Chegais na hora. Trazei boa carga de lenos, por isso que tereis de suar
aqui a valer. (Pancadas dentro.) Bate, bate, bate! Quem est a, em
nome do outro diabo? Por minha f, um sujeito de lngua equvoca,
que poderia jurar em qualquer um dos pratos da balana, contra o
outro prato, que cometeu bastantes traies por amor de Deus, mas
no pde equivocar o cu. Oh! entrai, meu equivocador! (Pancadas
dentro.) Bate, bate, bate! Quem est ai? Por minha f, um alfaiate
ingls que vem para c por ter roubado uns cales franceses. Entrai,
senhor alfaiate! Aqui podereis aquecer vontade vosso ferro de
engomar. (Pancadas dentro.) Bate, bate! No h sossego de jeito
nenhum. Quem sois? Mas, para inferno, este lugar muito frio. No
continuarei nele por mais tempo como porteiro do diabo. Tinha
pensado em deixar entrar gente de todas as profisses, que vai para os
fogos eternos pela estrada semeada de rosas. (Pancadas dentro.) Um
momento! Um momento! Por obsquio, no vos esqueais do porteiro.
(Abre o porto.)
(Entram Macduff e Lennox.)
MACDUFF Fostes, amigo, vos deitar to tarde para demorar
tanto a levantar-vos?
PORTEIRO Em verdade, senhor, ficamos a beber at ao
segundo canto do galo, e a bebida, senhor, um grande provocador de
trs coisas.
MACDUFF Quais so as trs coisas que a bebida provoca
especial mente?
PORTEIRO Ora, senhor, nariz vermelho, sono e urinas. A
lascvia, senhor, ela provoca e deixa sem efeito; provoca o desejo, mas
impede a execuo. Por isso pode-se dizer que a bebida usa de
subterfgios com a lascvia: ela a cria e a destri; anima-a e
desencoraja-a; f-la ficar de p e depois a obriga a no ficar de p. Em
resumo: leva-a a dormir com muita lbia e, lanando-lhe o desmentido,
abandona-a a si mesma.
MACDUFF Penso que a bebida te lanou o desmentido esta
noite.
PORTEIRO Foi isso mesmo, senhor, que ela fez comigo, pela
garganta a dentro. Mas eu lhe dei o troco do desmentido; porque
sendo, como penso ser, mais forte do que ela, embora por vezes ela me
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Cena IV
O mesmo. Do lado de fora do castelo. Entram Ross e um velho.
O VELHO Posso lembrar-me bem de setenta anos; nesse
espao de tempo vi terrveis horas e coisas por demais estranhas; mas
esta noite triste deixa longe tudo quanto at agora eu conhecia.
ROSS meu bom pai! O cu, como ests vendo, indignado
com o jogo dos humanos, comina ameaas ao sanguneo palco. Pelo
relgio, dia; no entretanto, atrasa a lmpada ambulante a noite
caliginosa. E to potente a noite? a vergonha do dia que permite
que a treva cubra o rosto, assim, da terra, a que beijar devera a luz
radiosa?
O VELHO contra a natureza, tal como o ato que aqui foi
perpetrado. Na passada tera-feira um falco que se gloriava no
remgio habitual, preado e morto foi por uma coruja caa-ratos.
ROSS E os cavalos de Duncan fato estranho por demais,
porm certo to velozes e formosos, ornatos de sua raa, tornaramse selvagens, as cocheiras arrebentaram, contra as ordens todas,
puseram-se a correr, como querendo guerrear a humanidade.
O VELHO Dizem que eles se devoraram mutuamente.
ROSS certo; para perplexidade destes olhos, que tudo
presenciaram. A vem vindo o bondoso Macduff. (Entra Macduff)
Ento, senhor, como vai indo o mundo?
MACDUFF Ento no vedes?
ROSS J se conhece o autor desse atentado mais do que
sanguinrio?
MACDUFF Os camareiros apunhalados por Macbeth.
ROSS Oh dia! E acaso a que vantagens aspiravam?
MACDUFF Estavam subornados; os dois filhos do rei, Malcolm
e Donalbain, fugiram, o que faz cair neles a suspeita.
ROSS Sempre contrrio natureza! ftil ambio que
destris as prprias fontes de tua vida! Assim, bem possvel que
Macbeth suba ao trono.
MACDUFF Proclamado j foi, tendo ido agora para Scone, a
fim de ser coroado.
ROSS E que fizeram do cadver de Duncan?
MACDUFF Foi levado para Kolmekill, sacra sepultura de seus
antepassados e guarida de seus restos mortais.
ROSS Ireis a Scone?
MACDUFF No, primo; vou a Fife.
ROSS Pois eu vou.
MACDUFF Que tenhais festa alegre e sem fadiga, no vindo a
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ATO III
Cena I
Forres. Um quarto no palcio. Entra Banquo.
BANQUO Tens tudo agora: s rei, Cawdor e Glamis, como as
bruxas profticas disseram. Mas temo que roubado ao jogo houvsseis.
Mas foi dito tambm que no havia de ficar isso em tua descendncia
e que viria a ser raiz e tronco de numerosos reis. Se falam certo, como
se deu, Macbeth, a teu respeito, por que se tudo quanto te
auguraram se tornou realidade no ho de elas ser-me o mesmo que
orculo, deixando-me tambm esperanado? Mas, silncio!
(Fanfarra. Entram Macbeth, como rei; lady Macbeth, como
rainha; Lennox, Ross, nobres, damas e pessoas do sqito.)
MACBETH Eis nosso convidado principal.
LADY MACBETH Se olvidado ele houvesse sido, fora como um
vazio em nossa grande festa, vindo tudo a falhar.
MACBETH Uma solene ceia, senhor, daremos esta noite,
esperando que nela tomeis parte.
BANQUO Bastar que mo ordene Vossa Alteza, a quem me liga
minha obedincia, para sempre, por laos inquebrveis.
MACBETH Viajareis esta tarde?
BANQUO Sim, milorde.
MACBETH Se no, pedira vossos bons conselhos que de
peso so sempre e proveitosos para a reunio que vamos ter agora.
Nesse caso, amanh vos ouviremos. Ides longe?
BANQUO O suficiente, meu senhor, apenas para o tempo
ocupar de agora ceia. Se no se esforar muito meu cavalo, noite
poderei pedir de emprstimo uma ou duas de suas horas foscas.
MACBETH Vinde sem falta para nossa festa.
BANQUO No faltarei, milorde.
MACBETH Notcia j tivemos de que nossos sanguinrios
parentes se passaram para a Inglaterra e Irlanda, e que ainda negam o
parricdio cruel, enchendo as ouas de todos com estranhas fantasias.
Mas sobre isso, amanh, j que teremos de tratar de um negcio de
importncia relativo ao Estado. Levais Fleance?
BANQUO Sim, meu senhor; o tempo nos reclama.
MACBETH Desejo-vos cavalos de ps firmes e bem velozes, e
ao costado deles vos recomendo. Adeus. (Sai Banquo.) Todos agora o
tempo gastem como lhes parecer melhor, at s sete horas. Porque
depois nos seja a sociedade muito mais agradvel, at ceia iremos
ficar s. At esse instante, que Deus seja convosco. (Saem todos, com
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Cena II
O mesmo. Outro quarto no palcio. Entram Lady Macbeth e um criado.
LADY MACBETH Banquo deixou o ptio?
CRIADO Deixou, senhora; mas retorna noite.
LADY MACBETH Vai, dize ao rei que eu quero ter com ele uma
conversa rpida.
CRIADO Isso mesmo, senhora, lhe direi. (Sai.)
LADY MACBETH Tudo perdido, quando o desejo fica
repartido. Toca ao morto decerto melhor sorte que a de alegrar-se
assim quem lhe deu morte. (Entra Macbeth.) Ento, marido, por que s
ficardes, tendo por companhia as fantasias mais desconsoladoras e
ocupando-vos com pensamentos que j deveriam ter morrido com
quem se relacionam? O que no tem remdio, no devera ser pensado
sequer. O que est feito, no est por fazer.
MACBETH Ns s talhamos a serpe, sem mat-la. Em pouco
tempo se refar e volta a ser o que era, ficando o nosso miservel dio
de novo exposto ao seu antigo dente. Que a estalar venham todas as
junturas das coisas e a gemer ambos os mundos, antes de termos de
tomar os nossos alimentos com medo e de dormirmos na aflio desses
sonhos pavorosos que nos tm abalado as noites todas. Muito melhor
nos fora estar com o morto que, para nossa prpria paz, mandamos
para o seio da paz, do que vivermos no banco de tormento de nossa
alma, numa angstia sem fim. Duncan descansa no sepulcro; tranqilo
dorme, agora, depois das convulses febris da vida. A traio lhe fez
tudo o que podia; a perfdia domstica, o veneno, o ao, a invaso de
fora, nada pode, doravante, atingi-lo.
LADY MACBETH Caro esposo, saiamos. Alisai esse olhar
crespo; sede claro e jovial com todos hoje.
MACBETH S-lo-ei, amor; o mesmo vos desejo. A Banquo
dedicai todas as vossas atenes, distinguindo-o dentre todos com
palavras e olhares. Pouco firme nossa situao, enquanto for preciso
lavar nossas honras nessa corrente aduladora e as feies
empregarmos como mscara do corao, que os traos lhe disfarce.
LADY MACBETH Precisais deixar isso.
MACBETH Oh! tenho o esprito cheio de escorpies, querida
esposa! Sabeis que vivem Banquo e seu Fleance.
LADY MACBETH Mas eterna no neles a cpia da natureza.
MACBETH o que consola a gente; so vulnerveis. Fica, pois,
alegre. Antes de completar o vo em torno do convento o morcego e
Hcate negra ter ordenado que o besouro crneo com seu zumbido
surdo d o toque sonolento da noite, ser feito algo aqui de memria
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pavorosa.
LADY MACBETH O que que vai ser feito?
MACBETH No macules tua inocncia com saberes isso, minha
pombinha, at saudares o ato. Vem, noite cega, tapa os olhos ternos
do dia compassivo, e com sangrentas mos e invisveis rasga o grande
pacto que me deixa to plido! Escurece; para a mata sombria voa a
gralha. Vacila o claro agente, de fraqueza; mas a noite se atira para a
presa. Admiras-te; mas fica sossegada, que o mal refora a ao mal
comeada. Por favor, acompanha-me.
(Saem.)
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Cena III
O mesmo. Um parque com uma estrada que vai ter ao palcio. Entram
trs assassinos.
PRIMEIRO ASSASSINO Quem te disse que viesses ter
conosco?
SEGUNDO ASSASSINO No h razo de desconfiarmos, porque
ele se acha a par de tudo quanto nos incumbiram, repetindo ponto por
ponto as instrues.
PRIMEIRO ASSASSINO Fica conosco. Ainda brilham no poente
algumas riscas da luz solar. a hora em que o viajante retardado
esporeia a montaria para alcanar o desejado albergue, e de ns se
aproxima o que esperamos.
TERCEIRO ASSASSINO Silncio! Ouo cavalos.
BANQUO (dentro) Uma luz, A! Tragam-nos luz! Ol!
SEGUNDO ASSASSINO ele, no h dvida. Os outros
convidados j se encontram no ptio.
PRIMEIRO ASSASSINO Seu cavalo fez um desvio.
TERCEIRO ASSASSINO Quase de uma milha. Mas, como todos,
ele comumente vai a p deste ponto at o palcio.
SEGUNDO ASSASSINO Uma luz! Uma luz!
TERCEIRO ASSASSINO ele.
PRIMEIRO ASSASSINO agora
(Entram Banquo e Pleance, com uma tocha.)
BANQUO Vai chover hoje noite.
PRIMEIRO ASSASSINO Ento que caia. (Atiram-se sobre
Banquo.)
BANQUO Oh! traio! Foge, foge, bom Fleance! Podes vingarme. Foge! Que bandido! (Morre.)
TERCEIRO ASSASSINO Quem apagou a luz?
PRIMEIRO ASSASSINO No era o certo?
TERCEIRO ASSASSINO Um, somente, caiu, o filho foi-se.
SEGUNDO ASSASSINO Metade, ento, perdemos do trabalho.
PRIMEIRO ASSASSINO Bem; mas vamos contar quanto foi
feito.
(Saem.)
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Cena IV
Um salo do palcio. Mesa posta para banquete. Entram Macbeth,
lady Macbeth, Ross, Lennox, nobres e pessoas do sqito.
MACBETH Conheceis vossos postos; assentai-vos. E de uma
vez por todas: sois bem-vindos de todo corao.
NOBRES Agradecemos a Vossa Majestade.
MACBETH Desejamos misturar-nos em vossa companhia, na
qualidade de hspede modesto. Nossa hospedeira fica no seu posto;
mas no momento certo lhe daremos as boas-vindas.
LADY MACBETH Dai-a em meu nome, caro marido, a todos os
amigos; pois diz-me o corao que so bem-vindos.
(O primeiro assassino aparece porta.)
MACBETH V, todos eles agradecimentos de corao te
enviam. Os dois lados esto iguais; sentar-me-ei no centro. Ficai
alegres; logo beberemos uma rodada. (Aproxima-se da porta.) Sangue
tens no rosto.
ASSASSINO Nesse caso, de Banquo.
MACBETH Antes por fora de ti que dentro dele. Liquidados?
ASSASSINO A garganta, senhor, tem ele aberta. Fiz-lhe isso.
MACBETH s o melhor dos cortadores de garganta. Porm ser
to hbil quem tiver feito a Fleance a mesma coisa.
ASSASSINO Meu muito real senhor, Fleance escapou.
MACBETH Volta-me, ento, o acesso. No fora isso, e eu
estaria bom, firme qual rocha, inteiro como o mrmore, to largo, to
vasto e universal como o ar ambiente. Mas agora estou preso,
barricado, metido num curral, atado ao poste do medo das angstias
insolentes. Mas Banquo est seguro?
ASSASSINO Sim, milorde; no fundo de uma vala, tendo vinte
feridas na cabea, das quais uma qualquer j fora mais que suficiente.
MACBETH Obrigado por isso. A velha serpe j se encontra
vencida; o vermezinho que conseguiu fugir tem natureza para mais
tarde produzir veneno, mas carece de dentes por enquanto. Vai-te
logo; amanh conversaremos.
(Sai o assassino.)
LADY MACBETH Meu real senhor, no animais os hspedes.
Fica estragada a festa, quando muitas e muitas vezes, enquanto ela
dura, no afirmamos quanto nos grata. Para comer, tm todos suas
casas; o tempero melhor em casa alheia sempre a cortesia,
parecendo sem ela as reunies lugar deserto.
MACBETH Galante conselheira! Que alegria da mesa a
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Cena V
A charneca. Trovo. Entram as trs bruxas, que encontram Hcate.
PRIMEIRA BRUXA Hcate, que houve? Pareceis zangada.
HCATE Causa no tenho, feiticeiras? Qual a razo,
bisbilhoteiras, de ser Macbeth neste negcio de morte e enigmas vosso
scio, enquanto eu, dona de vs todas, que apresto sempre as negras
bodas, no fui chamada a tomar parte no brilho e glria de nossa arte?
E o que pior: quanto fizestes a tudo vos mostrando prestes, foi para
um tipo truculento de mui grosseiro acabamento. que no vos tem
nenhuma estima e s de egosmo em tudo prima. Mas emendai-vos; e
defronte do fundo charco do Aqueronte amanh cedo ide encontrarme, que ele em estado est de alarme, e para l, quase sem tino, ir
saber de seu destino. Vasos e encantos tende mo; de tudo basta
proviso. Para o ar me vou; na noite escura farei bem cedo uma ao
dura. De uma grande obra a fantasia ser completa enquanto dia. Ora
uma gota espessa e crua dos cornos pende ali da lua. Vou apanh-la
antes que caia, pois, destilada, de atalaia gnios por de tanto alcance
que, por sua fora, ele se lance na destruio, morte e ao fado a
resistir qual renegado, pondo a esperana acima em tudo da prpria
graa e o medo agudo. Para os mortais a segurana o imigo mor, que
jamais cansa. (Cano dentro: Vinde, vinde, etc.) Chamam-me; meu
esprito travesso que me aguarda das nuvens num cabeo. (Sai.)
PRIMEIRA BRUXA Apressemo-nos; ela volta logo.
(Saem.)
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Cena VI
Forres. Um quarto no palcio. Entram Lennox e outro nobre.
LENNOX Meu discurso anterior s mui de leve tocou em
vossos pensamentos, sendo-vos agora facultado interpret-lo como vos
aprouver. Direi somente que tudo se passou por modo estranho. Por
Macbeth foi chorado o meigo Duncan. Que pena! Estava morto. Muito
tarde saiu de casa o nosso bravo Banquo, que, podereis dizer, se assim
quiserdes, Fleance matou, pois Fleance fugiu logo. perigoso passear
de noite. A quem no ocorreu o pensamento de quo monstruoso foi
haver Malcolm e Donalbain o pai assassinado? Que ao maldita! E
como entristecido deixou Macbeth! Pois ele, na mesma hora,
arrebatado de um furor piedoso, em pedaos no fez os dois facnoras,
servos do sono e escravos da bebida? No foi nobre tudo isso? E foi
prudente. Pais qualquer corao se tornaria por demais irritado,
quando os homens negar ouvisse o fato. Assim, vos digo, soube fazer a
coisa, como penso que se ele vier a ter sob chave os filhos de Duncan
o que nunca, Deus louvado, chegar a conseguir ho de ver ambos
o que matar o pai. E o mesmo, Fleance. Mas, silncio! Por causa de
palavras um tanto livres e por ter faltado festa do tirano, soube h
pouco que em desgraa Macduff agora vive. Caro senhor, dizer-me
podereis em que lugar ele encontrou abrigo?
NOBRE Na corte da Inglaterra vive o filho de Duncan, cuja
herana verdadeira o tirano retm, e recebido pelo piedoso Eduardo
com tal graa que a m vontade da fortuna em nada do alto respeito
merecido o priva. Para l foi Macduff, a fim de ao santo rei suplicar
auxlio, no sentido de estimular Northumberland e o bravo Siward, e
assim, com a ajuda desses nobres confirmando l do alto Deus tudo
isso possamos restituir a nossas mesas os alimentos, sono a nossas
noites, livrar nossos festejos e banquetes das facas sanguinrias,
homenagens da lei prestar e receber as honras a que temos direito,
coisas essas que nos faltam de todo. Essa notcia exasperou o rei de tal
maneira que aprontando se est para uma guerra.
LENNOX Mandou ele a Macduff algum recado?
NOBRE Mandou; porm o mensageiro turvo com um resoluto
Eu no, senhor! as costas voltou-me decidido, resmungando, como
quem diz: Haveis de arrepender-vos do tempo que me impe essa
resposta.
LENNOX Que isso o ensine a ser cauto, conservando-se a
distncia que possa aconselh-lo sua sabedoria. Se um santo anjo fosse
Inglaterra e desse o seu recado antes de ele chegar, para que pronta
bno se espalhe logo em nossa ptria que geme ao peso dessa mo
maldita!
NOBRE Mandaria com ele minhas preces.
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ATO IV
Cena I
Uma caverna. No meio, um caldeiro a ferver. Trovo. Entram as trs
bruxas.
PRIMEIRA BRUXA Gato malhado j miou trs vezes.
SEGUNDA BRUXA Trs e mais uma j guinchou o ourio.
TERCEIRA BRUXA A harpia j gritou: hora! hora!
PRIMEIRA BRUXA Atirai no caldeiro entranhas em podrido.
Os sapos das pedras frias que durante trinta e um dias suaram seu bom
bocado, jogai no pote encantado.
TODAS Mais dores para a barrela. mais fogo para a panela.
SEGUNDA BRUXA Lombo de cobra novinha atirai no pote
asinha, p de sapo e lagartixa, de co a lngua que espicha, plos
brandos de morcego, asa de bufo-sossego, de lagarto a perna fina,
acleo de colubrina jogai na sopa do mal nesta mistura infernal.
TODAS Mais dores para a barrela, mais fogo para a panela.
TERCEIRA BRUXA Trs escamas de drago, com bucho de
tubaro que os mareantes intimida; cicuta noite colhida, bofes de
um judeu malvado, ramo de teixo tirado em noite de muito escuro;
beio de trtaro, o duro nariz de turco, o dedinho de uma criana sem
linho que matado a me houvesse sem dizer nenhuma prece. Deixai
bem forte a mistura; juntai do tigre a fressura, porque nosso caldeiro
tenha caldo em profuso.
TODAS Mais dores para a barrela, mais fogo para a panela.
SEGUNDA BRUXA Esfriai com sangue de mico que o encanto
ficar rico.
(Entra Hcate.)
HCATE Muito bem feito; seu quinho todas por isto ainda
tero. Agora como elfos e fadas cantai volta, de mos dadas, para que
o encanto se complete.
(Msica e a cano Espritos negros etc.)
SEGUNDA BRUXA Meu dedo est coando. Vem algum patife
andando. Ferrolhos, fora! Estamos na hora.
(Entra Macbeth)
MACBETH Que fazeis, misteriosas e sombrias bruxas de meianoite?
TODAS Algo sem nome.
MACBETH Conjuro-vos por vosso prprio ofcio, seja qual for
sua origem: respondei-me. Mesmo que os ventos a soltar visseis,
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Cena II
Fife. Castelo de Macduff. Entram lady Macduff, seu filho e Ross.
LADY MACDUFF Que fez, para exilar-se assim de sbito?
ROSS Precisais ser paciente, nobre dama.
LADY MACDUFF Ele o no foi. Loucura foi a fuga; quando no
pelos atos, pelo medo nos mostramos traidores.
ROSS No sabemos se o medo h nisso parte ou s prudncia.
LADY MACDUFF Prudncia? Abandonar a esposa e os filhos, a
casa, as dignidades, numa parte de onde ele mesmo foge? No nos
ama; no possui corao. A carricinha dos passarinhos o de menor
porte em defesa da prole no seu ninho briga com a coruja. O medo
tudo, nada o amor, e a prudncia coisa alguma numa fuga assim fora
de propsito.
ROSS Querida prima, sede moderada, por obsquio, pois vosso
esposo sbio, nobre, sensato e, mais do que ns todos, conhece as
injunes do nosso tempo. No me atrevo a falar mais claramente, mas
cruel o tempo em que traidores somos sem o sabermos, quando
ouvimos boatos sobre o que receamos, sem sabermos o que nos faz ter
medo, desgarrados vamos num mar violento e tempestuoso, sem
direo alguma. Bem, despeo-me. Dentro de pouco aqui estarei de
volta. As coisas, quando o ponto pior atingem, ou a param, ou de
novo sobem para onde antes estavam. Lindo primo, que Deus vos
abenoe.
LADY MACDUFF Ainda tem pai; no entanto, como se j no
tivesse.
ROSS Revelo-me insensato; se mais tempo ficasse aqui, podia
desgraar-me, sobre prejudicar-vos. Bem, despeo-me definitivamente.
(Sai.)
LADY MACDUFF Ol, menino, vosso pai est morto. Que
destino tereis agora? Como vivereis?
O FILHO Como os pssaros, me.
LADY MACDUFF Como! De vermes e de mosquitos?
O FILHO No; do que encontrar, foi o que eu quis dizer; como
eles fazem.
LADY MACDUFF Pobre bichinho! Nunca ters medo de lao,
mquina e armadilha.
O FILHO Medo por qu? No foi tudo isso feito para os
pssaros pobres. Ainda vive meu paizinho, apesar do que dissestes.
LADY MACDUFF No, morreu. Como vais fazer agora para
arranjar um pai?
O FILHO De que maneira fareis, tambm, para arranjar
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Cena III
Inglaterra. Diante do palcio do rei. Entram Malcolm e Macduff
MALCOLM Busquemos uma sombra desolada para desafogar os
tristes peitos, chorando seus pesares.
MACDUFF No! Saquemos da espada cortadora e, como
bravos, amparar procuremos nossa ptria que ameaa desabar. Novas
vivas, cada manh, ululam; novos rfos soluam; novas dores no cu
batem, que ressoa tal como se sofresse juntamente com a Esccia e as
mesmas slabas emitisse de dor.
MALCOLM Chorar s hei de sobre o que creio; creio o que
conheo, e assim que o tempo se mostrar amigo, estando em mim
fazer alguma coisa tornando-se-me o tempo favorvel, farei o que
puder. O que dissestes, talvez seja verdade. Esse tirano, cujo nome,
to-s, nos deixa a lngua coberta de feridas, como honesto j foi
considerado. Vs o amastes. Atingido por ele ainda no fostes. Sou
moo; mas por mim talvez pudsseis torn-lo vosso devedor. A astcia
manda sacrificar um cordeirinho pobre, inocente e fraco, para a clera
propiciar de um deus.
MACDUFF No sou traidor.
MALCOLM Mas traidor Macbeth. Pode dobrar-se uma leal
natureza e em tudo boa ante uma imperial ordem. Mas preciso que me
perdoeis; modificar no posso com o pensamento o que realmente
sois. Os anjos ainda brilham, muito embora tenha cado o mais
brilhante deles. Se as feies da virtude os vcios todos a assumir
viessem, ela nem por isso deixaria de ter o mesmo aspecto.
MACDUFF J perdi a esperana.
MALCOLM Porventura no mesmo ponto em que achar fui a
dvida. Par que razo deixastes, to de sbito e sem vos despedir, a
esposa e os filhos, esses caros penhores, elos fortes do verdadeiro
amo? Nessas suspeitas no vejais, por obsquio, mancha alguma que
vos possa atingir, mas to-somente minha tranqilidade. Mui sincero
podereis ser, pense eu o que pensar.
MACDUFF Sangra, ento, grande ptria. Poderosa tirania,
refora tua base, porque a virtude contra ti no se ala. Carrega o
roubo, pois o teu direito j viste confirmado. Adeus, milorde; ser no
quero o vilo que ora imaginas, nem por todas as terras que nas garras
se encontram do tirano, acrescentadas das riquezas do Oriente.
MALCOLM Ofensa alguma desejara fazer-vos. No por medo
absoluto de vs assim me exprimo penso que nossa ptria sob o jugo
sucumbe do tirano; chora e sangra, vendo aumentar-lhe cada dia as
chagas uma ferida nova. Sei que muitas mos se levantariam na defesa
de meus direitos, e aqui mesmo acaba de ofertar-me a Inglaterra
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bom rei, j presenciado vrias vezes por mim, desde que me acho no
reino da Inglaterra. De que modo consegue o cu mover, s ele sabe.
Mas pessoas tocadas de molstias estranhas, cheias de lceras,
tristssimo espetculo a todos, desespero da medicina, ss ele tem
posto com lhes pr ao pescoo uma urea estampa, ao tempo em que
murmura santas preces. Dizem tambm que aos reis seus sucessores
transmitir esse poder bendito de curas realizar. Mas alm dessa
virtude estranha, o dom possui celeste da profecia, sobre lhe cercarem
o trono vrias bnos que o declaram cheio de graas.
MACDUFF Olhai quem vem chegando!
MALCOLM Um dos meus compatriotas; mas ainda no o
conheo.
(Entra Ross.)
MACDUFF Sede aqui bem-vindo, meu sempre gentil primo.
MALCOLM Reconheo-o agora. Deus bondoso, afasta em
tempo tudo quanto estrangeiros nos tem feito.
ROSS Amm, senhor.
MACDUFF A Esccia continua no mesmo lugar de antes?
ROSS Pobre ptria, revela medo at de conhecer-se. De nossa
me no pode ser chamada, mas nossa sepultura, porque nela s ri
ainda quem ignora tudo; os gritos e suspiros, os gemidos que os ares
dilaceram, emitidos apenas so, sem serem percebidos. As mais
violentas dores assemelham-se a emoo cotidiana; os dobres fnebres
passam despercebidos e as pessoas de bem fenecem antes de
murcharem as flores do chapu e a vida perdem sem virem a adoecer.
MACDUFF Oh! relao muito precisa e, no entretanto certa!
MALCOLM Qual a ltima dor?
ROSS A que de vida tem uma hora faria ser vaiado quem
viesse relat-la; a cada instante nasce uma nova dor.
MACDUFF E minha esposa, como ficou?
ROSS Ora, essa ficou bem.
MACDUFF E meus filhos?
ROSS Tambm.
MACDUFF A paz de todos no havia o tirano ainda assaltado?
ROSS No; deixei-os em paz ao despedir-me.
MACDUFF Sede menos avaro de palavras. Que aconteceu?
ROSS No instante em que eu trazia para aqui essas novas que
to fundo pesavam sobre mim, soube do boato de que bastantes
homens valorosos se tinham posto em campo, o de que logo me
convenci ao ver os contingentes do tirano aprestados para a luta. Eis o
momento de intervirmos. Vossos olhares, l na Esccia, aprestariam
soldados, levariam para a luta nossas mulheres, para porem termo
desgraa indizvel.
MALCOLM Sirva a todos de consolo saber que j me encontro
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ele ao alcance de meu gldio: vindo a escapar, que lhe perdoe o cu.
MALCOLM Viril essa cantiga. Vamos, vamos procurar logo o
rei. Prestes se encontram nossas foras; s falta despedirmo-nos.
Macbeth est maduro para a queda, j tendo prestes os poderes do alto
os instrumentos que ho de sacudi-lo. Criai coragem; no h noite fria,
por mais longa que seja, sem seu dia.
(Saem.)
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ATO V
Cena I
Dunsinane. Um quarto no castelo. Entram um mdico e uma
camareira.
O MDICO Estive de viglia convosco durante duas noites
consecutivas, mas no posso descobrir indcio de verdade em tudo o
que dissestes. Quando foi que ela andou como sonmbula pela ltima
vez?
A CAMAREIRA Desde que Sua Majestade foi para a campanha
eu a tenho visto levantar-se da cama, atirar sobre si o roupo de
dormir, abrir a escrivaninha, tira uma folha de papel, dobr-la,
escrever alguma coisa, ler o que escreveu, selar depois a folha e voltar
em seguida para a cama, fazendo tudo isso, no entanto, no mais
profundo sono.
O MDICO indcio de uma grande perturbao da natureza
receber os benefcios do sono e executar, simultaneamente, os atos de
viglia. Nessa inquietao do sono, alm desses passeios e de
ocupaes concretas, no percebestes se, por vezes, ela dizia alguma
coisa?
A CAMAREIRA Ouvi coisas, senhor, que no me atrevo a
repetir.
O MDICO A mim podereis dizer o que ouvistes, sendo mesmo
de vantagem que o faais.
A CAMAREIRA Nem a vs nem a ningum, uma vez que no
tenha testemunha para confirmar o que disser. (Entra Lady Macbeth,
com uma vela.) Vede! A vem ela! assim mesmo que sempre faz, e,
por minha vida, a dormir profundamente. Observai-a; aproximai-vos
dela um pouco.
O MDICO Como conseguiu essa luz?
A CAMAREIRA Ora, estava perto dela. Tem sempre luz ao p
de si; so ordens expressas.
O MDICO Como vedes, est com os olhos bem abertos.
A CAMAREIRA certo; mas os sentidos esto fechados.
O MDICO Que faz ela agora? Vede como esfrega as mos.
A CAMAREIRA um gesto habitual nela, fazer como quem
lava as mos. J a vi continuar desse jeito durante um quarto de hora.
LADY MACBETH Aqui ainda h uma mancha.
O MDICO Ateno! Est falando. Vou tomar nota do que ela
disser, para reforar a memria.
LADY MACBETH Sai, mancha amaldioada! Sai! Estou
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Cena II
Plancie perto de Dunsinane. Entram com bandeiras e tambores
Menteith, Caithness, Angus, Lennox e soldados
MENTEITH As foras da Inglaterra j esto perto. Tr-las
Malcolm, seu velho tio Siward e o valente Macduff. Arde a vingana
neles todos, pois uma causa dessas far os prprios mortos
levantarem-se para o combate atroz e sanguinrio.
ANGUS Decerto vamos encontr-los perto da floresta de
Birnam; vm por l.
CAITHNESS Algum sabe informar se Donalbain vem com o
irmo?
LENNOX Decerto no, senhor. Possuo a lista da nobreza toda;
nela o filho se encontra do bom Siward e muitos outros moos ainda
imberbes, que como homens estriam.
MENTEITH E, o tirano, que est fazendo?
CAITHNESS Alenta a resistncia do grande Dunsinane. Alguns
murmuram que ele est louco; outros, que o odeiam menos, o nome
do de fria valorosa. Mas certo que ele sua natureza desmanchada
abarcar j no consegue no cinturo da regra.
ANGUS Ele ora sente como as mos se lhe envisgam com seus
crimes secretos. A toda hora uma revolta lhe exprobra a deslealdade.
Seus soldados no os move o amor; ordens somente cumprem.
Comeou a notar que a dignidade do ttulo de rei lhe envolve o corpo
como faria a roupa de um gigante a um ano que a roubasse.
MENTEITH Quem pudera censurar-lhe os sentidos, exaltados
por tantos sobressaltos e recuos, quando tudo o que h nele se
envergonha por nele se encontrar?
CAITHNESS Ento sigamos para a frente; prestemos a
obedincia pelo dever imposta. Dirijamo-nos para o mdico desta terra
doente, e, para restaurarmos nossa ptria, derramemos com ele todo o
sangue de nossas veias.
LENNOX Ou somente quanto bastar para orvalhar a flor
bendita e afogar a ciznia parasita. Marchemos para Birnam.
(Saem marchando.)
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Cena III
Dunsinane. Um quarto no castelo. Entram Macbeth, o mdico e
pessoas do sqito.
MACBETH Deixai de me trazer essas notcias. Que fujam
todos, pois enquanto a mata de Birnam no chegar a Dunsinane, no
poder manchar-me o frio medo. Que o pequeno Malcolm?
Porventura no nasceu de mulher? Ora, os espritos que os processos
mortais mui bem conhecem, a meu respeito assim se pronunciaram:
Nada temas, Macbeth, pois nenhum homem nascido de mulher pode
vencer-te. Fugi, portanto, miserveis thanes, e ide associar-vos aos
ingleses lbricos. Jamais se dobrar meu forte esprito sob o peso da
dvida, nem h de mostrar meu corao menor vontade. (Entra um
criado.) Que o diabo te condene em negro, biltre de cara de coalhada.
Onde encontraste essas feies de ganso?
CRIADO que h dez mil...
MACBETH Gansos, vilo?
CRIADO Soldados, meu senhor.
MACBETH Vai esfregar o rosto e de vermelho pintar o medo,
fgado de lrio! Que soldados, poltro? Morte de tua alma! Essas
bochechas brancas como linho so ministro do medo. Que soldados,
cara de leite?
CRIADO No vos desagrade, os soldados ingleses.
MACBETH Tira a tua cara daqui. Depressa! (Sai o criado.)
Seyton! Di-me demais o corao, quando contemplo... Seyton! torno
a chamar... Essa batalha vai-me dar alegria para sempre ou tirar-me do
trono neste instante. J vivi muito; minha vida inclina-se para o
Outono de folhas amarelas, e a nada do que deve vir no rasto da
velhice: amor, honras, obedincia, amigos, poderei eu aspirar. Em
lugar disso, maldies, no ditas em voz alta, mas fundas; homenagens
flor da boca apenas, que, de grado o pobre corao contestaria,
conquanto no se atreva... Seyton! digo.
SEYTON Que o vosso prazer gracioso agora?
MACBETH Quais so as outras novidades?
SEYTON Quanto vos disseram, senhor, foi confirmado.
MACBETH Hei de lutar at que me retalhem toda a carne dos
ossos. Dai-me logo minha armadura. Vamos!
SEYTON Ainda cedo.
MACBETH Quero vesti-la j. Mais cavaleiros mandai j limpar
a redondeza. Dai-me a armadura. Como vai passando vossa doente,
doutor?
O MDICO No se acha doente, propriamente, senhor, mas
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Cena IV
Plancie perto da mata de Dunsinane. Entram com tambores e
bandeiras Malcolm, o velho Siward e seu filho, Macduff, Menteith,
Caithness, Angus, Lennox, Ross e soldados, marchando.
MALCOLM Primos, creio que o dia se aproxima de ficarem
seguras nossas casas.
MENTEITH No o duvidamos.
SIWARD Que floresta esta?
MENTEITH a floresta de Birnam.
MALCOLM Que cada homem corte um galho e o carregue,
pois, com isso, no s faremos sombra para as tropas, como a erro
induziremos o inimigo no cmputo dos nossos.
SOLDADOS Ser feito.
SIWARD S o que ouvimos dizer que o tirano, confiante
sempre, em Dunsinane se acha, onde vai resistir ao nosso cerco.
MALCOLM nisso que depe toda a esperana, pois sempre
que ocasio se tem mostrado, todos o deixam, grandes e pequenos, s
fora o servindo os que ainda restam, mas sem que o corao influa
nisso.
MACDUFF Que nosso justo juzo aguarde a marcha dos
acontecimentos. Enquanto isso, em prtica ponhamos toda a nossa
cincia de bons soldados.
SIWARD Est na hora de ficarmos sabendo com certeza quem
tem a haver, quem fez maior despesa. Da mente nasce uma esperana
inglria; mas dos golpes certeiros, a vitria, que para onde
marchamos.
(Saem marchando.)
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Cena V
Dunsinane. No interior do castelo. Entram com tambores e bandeiras
Macbeth, Seyton e soldados.
MACBETH Desfraldai as bandeiras nas muralhas de fora. A
senha sempre: A vm eles! Nosso forte castelo ri de um cerco de
brinquedo como este. Que a fiquem, at que a fome e a peste os
extermine. Se eles no se tivessem reforado com os que do nosso lado
estar deviam, barba com barba ns os enfrentramos sem receio
nenhum e os tocaramos, vencidos, para casa.
(Ouve-se dentro um grito de mulher.)
SEYTON Um grito de mulher, meu bom senhor. (Sai.)
MACBETH Quase esqueci que gosto tem o medo. J houve
tempo em que um s grito, noite, gelados os sentidos me deixava, e
a relao de qualquer fato horrendo eriar os cabelos me fazia, como
se vivos fossem. Entupi-me de tal modo com coisas pavorosas, que o
horror, j agora familiar das minhas cogitaes de morte, no
consegue abalar-me no mnimo. (Volta Seyton.) Que houve?
SEYTON A rainha morreu, senhor.
MACBETH Devia ter morrido mais tarde; ento, houvera
ocasio certa para tal palavra. O amanh, o amanh. Outro amanh,
dia a dia se escoam de mansinho, at que chegue, alfim, a ltima
slaba do livro da memria. Nossos ontens para os tolos a estrada
deixam clara da empoeirada morte. Fora! apaga-te, candeia
transitria! A vida apenas uma sombra ambulante, um pobre cmico
que se empavona e agita por uma hora no palco, sem que seja, aps,
ouvido; uma histria contada por idiotas, cheia de fria e muita
barulheira, que nada significa. (Entra um mensageiro.) Vens para usar
a lngua; fala logo.
MENSAGEIRO Meu gracioso senhor, desejara dizer-vos o que
penso ter visto, mas no sei como expressar-me.
MACBETH Muito bem; pois falai, caro senhor.
MENSAGEIRO Quando estava de guarda na colina, olhei
naturalmente para Birnam, tendo-me parecido que a floresta
comeava a mover-se.
MACBETH Mentiroso lacaio!
MENSAGEIRO Que em mim caia vossa clera, se no for
mesmo assim, pois distncia de trs milhas podeis v-la avanando:
uma floresta em movimento. isso.
MACBETH Se estiveres mentindo, no mais prximo galho
sers dependurado vivo, at que a fome venha ressecar-te; se a verdade
falaste, no me importa que comigo procedas de igual modo. De
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Cena VI
O mesmo. Uma plancie diante do castelo. Entram com tambores e
bandeiras Malcolm, o velho Siward, Macduff etc. e seu exrcito, com
galhos de rvores.
MALCOLM Eis-nos bastante perto; jogai fora vosso amparo de
folhas e mostrai-vos como sois mesmo. Vs, meu digno tio, com vosso
nobre filho, meu bom primo, comandareis nosso primeiro corpo. Ns e
o digno Macduff encarregados ficaremos do mais, de acordo em tudo
com nossas prprias ordens.
SIWARD Passai bem. Se hoje eu achar as foras do tirano, que
a morrer venha, se no causar dano.
MACDUFF Tocai logo os clarins; soprai bem forte nesses
arautos de sangueira e morte.
(Saem.)
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Cena VII
O mesmo. Outra parte da plancie. Alarma. Entra Macbeth.
MACBETH Amarraram-me ao poste; -me impossvel fugir,
sendo preciso que, como urso, agente o ataque deles. Onde se acha
quem no houvesse de mulher nascido? Esse que eu temer devo;
mais ningum.
(Entra o jovem Siward.)
O JOVEM SIWARD Teu nome?
MACBETH Ters medo s de ouvi-lo.
O JOVEM SIWARD No; ainda mesmo que mais quente fosse
do que o de todos que no inferno se acham.
MACBETH Ento, Macbeth me chamo.
O JOVEM SIWARD O prprio diabo no poderia pronunciar um
ttulo que mais odioso fosse a meus ouvidos.
MACBETH No; nem mais de temer.
O JOVEM SIWARD Mentes, tirano detestvel. Com a ponta
desta espada vou provar que mentiste.
(Batem-se; o jovem Siward morto.)
MACBETH Tu nasceste de mulher. Para mim so como o vento
golpes de quem teve esse nascimento. (Sai.)
(Alarma. Entra Macduff)
MACDUFF Deste lado o barulho. Mostra o rosto, tirano! Se
no cais por minha espada, perseguido serei eternamente pelo
fantasma de minha esposa e pelos de meus filhinhos caros. Impossvel
me ser atacar esses coitados que trazem armas s pelo salrio. Ou te
encontro, Macbeth, ou na bainha reponho a espada, intacta e sem
trabalho. Deves estar ali. Aquele estrpito quer anunciar algum de
grande fama. Faze que o encontre, Fado! Mais no peo. (Sai.
Alarma.)
(Entram Malcolm e o velho Siward.)
SIWARD Por aqui, meu senhor; sem resistncia entregou-se o
castelo. Esto lutando dos dois lados os homens do tirano. Os nobres
thanes nesta guerra deram provas de alto valor. O prprio dia est a
vosso favor; j quase nada resta para fazer.
MALCOLM Vimos de perto como o imigo lutava.
SIWARD Eis o castelo, caro senhor, entrai.
(Saem. Alarma.)
(Volta Macbeth.)
MACBETH Por que fazer como o romano bobo e o corpo
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