Klauberg
Klauberg
Klauberg
____________________________________________________
Prof. Dr-Ing. Walter Lindolfo Weingaertner
Orientador
_____________________________________________________
Prof. Eduardo Alberto Fancello, D. Sc.
Coordenador do Curso
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Prof. João C. E. Ferreira, Ph. D.
Presidente
______________________________________________________
Prof. Rolf Bertrand Schroeter, Dr. Eng.
______________________________________________________
Prof. Alexandre Magno De Paula Dias, Dr.-Ing.
“Ainda que eu tivesse toda a ciência
e conhecimento, sem Amor nada serei”
(Apóstolo Paulo na carta aos Coríntios, capítulo 13)
Dedico este trabalho acima
de tudo a Jesus Cristo,
o Autor da Vida.
AGRADECIMENTOS
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................... 8
LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 12
SIMBOLOGIA ............................................................................................................. 13
RESUMO....................................................................................................................... 16
ABSTRACT .................................................................................................................. 17
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 18
2. ESTADO DA ARTE ............................................................................................. 22
2.1. O PROCESSO DE CORTE................................................................................... 22
2.1.1 A interface cavaco-ferramenta............................................................................23
2.1.2 Geração e distribuição de calor...........................................................................24
2.2. TIPOS DE CAVACOS...........................................................................................25
2.3. DESGASTE E AVARIAS DE FERRAMENTA...................................................27
2.3.1 Mecanismos de desgaste.......................................................................................27
2.3.2 Avarias térmicas e mecânicas..............................................................................27
2.3.3 Formas e grandezas de desgaste..........................................................................28
2.4. VIDA DE FERRAMENTA....................................................................................29
2.5. MATERIAIS PARA FERRAMENTAS DE CORTE COM GEOMETRIA
DEFINIDA......................................................................................................................30
2.5.1 Aço-rápido.............................................................................................................31
2.5.2 Metal-duro.............................................................................................................32
2.5.3 Revestimentos de ferramentas.............................................................................32
2.6. FURAÇÃO COM FERRAMENTAS DE CORTE DE GEOMETRIA
DEFINIDA......................................................................................................................35
2.6.1 Furação com brocas helicoidais...........................................................................37
2.6.2 Desgastes, avarias e critérios de fim de vida para brocas helicoidais..............39
2.6.3 Desenvolvimentos em brocas helicoidais para redução ou eliminação de
fluidos de corte...............................................................................................................40
2.7. USINAGEM DE ROSCAS INTERNAS COM FERRAMENTAS DE CORTE DE
GEOMETRIA DEFINIDA..............................................................................................41
2.7.1 Rosqueamento interno com machos de corte.....................................................41
2.7.2 Desgastes, avarias e critérios de fim de vida para machos de corte.................44
2.8. MEIOS AUXILIARES DE CORTE.................................................................... ..45
2.8.1 Definições e funções..............................................................................................45
2.8.2 Efeitos indesejados dos fluidos de corte..............................................................47
2.8.3 Formas tradicionais de aplicação de fluidos de corte........................................50
2.8.4 Usinagem a seco....................................................................................................51
2.8.5 Aplicação de fluidos de corte em mínimas quantidades...................................51
2.8.6 Fluidos de corte para MQFC...............................................................................57
2.8.7 Viabilidade da usinagem a seco ou com MQFC................................................59
2.9. AÇOS DE MÉDIO CARBONO.............................................................................61
2.10. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ESTADO DA ARTE...................... ..... 62
3. METODOLOGIA E APARATO EXPERIMENTAL........................................63
3.1. CARACTERÍSTICAS DOS COMPONENTES USINADOS...............................64
3.2. MÁQUINA-FERRAMENTA E DISPOSITIVO DE FIXAÇÃO DOS EIXOS....66
3.3. PREPARAÇÃO E ESTRATÉGIA DE USINAGEM............................................68
3.4. FLUIDOS DE CORTE E FORMAS DE APLICAÇÃO........................................69
3.5. PROCEDIMENTOS DE CALIBRAÇÃO............................................................ .73
3.6. ENSAIOS DE FURAÇÃO.....................................................................................74
3.7. ENSAIOS DE ROSQUEAMENTO.......................................................................80
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS..........................................................................83
4.1. ENSAIOS DE VIDA EM FURAÇÃO...................................................................83
4.2. ENSAIOS DE VIDA EM ROSQUEAMENTO INTERNO..................................96
4.3. CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE OS ENSAIOS ............... 101
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.............103
6. REFERÊNCIAS...................................................................................................109
ANEXOS.......................................................................................................................115
LISTA DE FIGURAS
Estudos mostram que entre 7 a 17% dos custos de fabricação estão ligados aos
fluidos de corte [3]. Este montante não considera somente os custos de aquisição, mas
inclui outros custos relacionados, como exemplificado na Figura 1-2. Diferenças de
valores estão relacionadas com o porte da indústria, legislação local e peculiaridades de
processo de cada empresa. Seja qual for o contexto e a forma de estratificar estes custos,
eles não são inexpressivos. Há empresas onde a complexidade do gerenciamento e a
qualidade exigida dos fluidos de corte requer a manutenção de equipes especializadas.
20
Figura 1-2 – Distribuição de custos relativos aos fluidos de corte numa indústria
automobilística com sistema centralizado (adaptado de Klocke e Gerschwiler apud
[33]).
Figura 2-2 – Distribuição típica do calor gerado por ferramentas de corte de geometria
definida [12].
25
As proporções da Figura 2-2 podem ser alteradas em função dos parâmetros de corte
adotados, especialmente da velocidade de corte. Pesquisadores indicam um aumento da
proporção transferida para o cavaco com o incremento da velocidade de corte [13, 14].
Ensaios didáticos de torneamento realizados para alunos de Engenharia no Laboratório de
Mecânica de Precisão – LMP também demonstram esse fenômeno. A Figura 2-3 apresenta
um estudo da distribuição de calor em função da velocidade de corte para uma operação de
brochamento sem emprego de um meio auxiliar de corte. Em velocidades da ordem de 5
m/min, mais de 30% do calor fica na peça, enquanto essa proporção cai para menos de 5% em
velocidades acima de 100m/min.
posteriormente caldeiam. Os cavacos arrancados são típicos de materiais frágeis com estrutura
irregular, como ferros fundidos e rochas.
A norma ISO 3685 apud Stoeterau [7] classifica os cavacos produzidos na usinagem
de metais quanto à sua forma (Figura 2-4). Conforme resume a Figura 2-5, a forma dos
cavacos depende de diversas características do processo de usinagem.
Figura 2-4 – Classificação dos cavacos quanto à forma, segundo a ISO 3685 apud Stoeterau
[7].
Ferraresi [17] define a vida de ferramenta como sendo o tempo em que a mesma
trabalha efetivamente, sem perder o corte ou até que atinja um critério de fim de vida
previamente estabelecido. Esse critério geralmente busca manter a ferramenta em uso
somente enquanto sua utilização é economicamente vantajosa. Alguns dos critérios de fim de
vida empregados são [16]:
• Colapso catastrófico da ferramenta;
• Valores pré-definidos das grandezas de desgaste de flanco, de cratera ou entalhe;
• Vibrações (reconhecimento de padrões por monitoramento);
• Parâmetro de rugosidade fora do admissível;
• Alterações na integridade superficial;
• Rebarbas no componente;
• Alterações na forma dos cavacos;
• Alterações dimensionais do componente para fora dos limites toleráveis;
30
FERRAMENTA: PEÇA:
- Composição química; - Composição química;
-microestrutura; - microestrutura;
- processo de fabricação - processo de fabricação
(trefilado, sinterizado, (fundido, forjado,
etc); laminado, trefilado, etc.);
-geometria da cunha de - dimensões e forma;
corte; VIDA DE
-ângulo de posição de FERRAMENTA
gume
-tenacidade, dureza a frio
e quente, afinidade MEIO AUXILIAR DE
química com a peça; CORTE:
- textura e integridade da MÁQUINA-
superfície; - Composição e
FERRAMENTA: propriedades;
- Rigidez;
- resposta dinâmica; - pressão e vazão;
- parâmetros de corte -forma de aplicação
(velocidade de corte,
avanço, etc)
- potência disponível
Figura 2-9 – Principais fatores que influenciam na vida de ferramentas (adaptado de [8]).
2.5.1 Aço-rápido
Desenvolvidos por Taylor na virada do século XIX para o século XX, os aços-rápidos
são uma evolução dos aços-ferramenta. Empregam como principais elementos de liga o
tungstênio (W), o Molibdênio (Mo), o Vanádio (V) e o Cobalto (Co) [16]. Apresentam melhor
revenimento que os aços-ferramenta, e atingem durezas entre 60 e 67HRc. São divididos em
quatro grupos, de acordo com o teor de W e Mo [16]. O primeiro grupo possui alto teor de W
(até 18%) e apresenta boas características de revenimento. O segundo grupo possui menores
teores de W (até 12%), porém com crescente teor de V. Apresenta revenimento pouco pior
que o primeiro grupo e é indicado para ferramentas de forma complexa por sua ótima
maleabilidade e tenacidade. Os dois últimos grupos também apresentam ótima tenacidade e
substituem em diferentes proporções o W por Mo. Cada elemento de liga exerce uma
influência nas propriedades finais do material. O tungstênio é um formador de carbonetos
duros que melhora a resistência ao desgaste e o revenimento. O Molibdênio melhora a
temperabilidade, a tenacidade e substitui com menor custo o W. O Vanádio também é
formador de carbonetos e melhora a resistência ao desgaste, além de refinar o grão, o que
permite melhor afiação dos gumes. O cobalto melhora a dureza a quente dos aços-rápidos.
Por sua excelente tenacidade comparada aos demais materiais de ferramenta
modernos, os aços-rápidos ainda são empregados onde há fortes exigências dessa propriedade.
Ferramentas grandes e/ou muito complexas podem ter custo proibitivo com materiais de
ferramenta mais nobres, o que torna o aço-rápido uma alternativa econômica para esses casos.
A possibilidade de aplicar revestimentos sobre ferramentas de aço-rápido melhorou suas
propriedades, ampliando sua aplicação.
O processo convencional de fabricação do aço-rápido envolve etapas de fundição,
lingotamento, recozimento e homogeneização, forjamento, laminação, recozimento final,
têmpera e revenimento [16]. Por esse processo, segregações na composição acabam reduzindo
a vida das ferramentas. O processo de fabricação por metalurgia do pó é uma alternativa que
32
confere uma granulometria mais fina e maior homogeneidade de estrutura, o que se traduz em
propriedades melhoradas dos aços-rápidos sinterizados.
2.5.2 Metal-duro
falha no fim da vida da broca, segundo Kustas et alli apud Weinert et alli [3]. Os
revestimentos multicamada apresentam descontinuidades perceptíveis de composição e
propriedades ao longo de sua espessura (Figura 2-10 à direita), mas atualmente é possível
também aplicar estruturas tipo gradiente como as da Figura 2-10 (à esquerda). Neste caso, há
uma variação gradual de composição ao longo da espessura do revestimento PVD, o que
procura aliar vantagens da estrutura monocamada (mais rígida) e da multicamada (mais
versátil). Por fim, desenvolveram-se também estruturas nanocompostas por cristais de
altíssima dureza envoltos em uma matriz amorfa, como ilustrado na Figura 2-11. O
revestimento PVD nanocomposto da Figura 2-11 é significativamente mais duro que os de
estruturação convencional, podendo possuir altíssimo teor de alumínio em sua composição
[18]. Diversos pesquisadores denominam essa nova família de revestimentos de supernitretos
[3]. Testes realizados por Erkens et alli apud Weinert et alli [3] em fresamento a seco de aço
42CrMo4V com várias velocidades de corte, compararam TiAlN convencional e um
supernitreto, mostrando vidas de ferramenta sempre superiores no supernitreto.
Imediações
da superfície
Substrato
Figura 2-10 – Comparação entre revestimentos com multicamada e com gradiente [19].
Figura 2-11 – Estruturação nanocomposta dos cristais de TiAlN em matriz amorfa de Si3N4 -
revestimento comercial nACo®[19].
Figura 2-13 – Principais partes constituintes de uma broca helicoidal com haste cônica ou
cilíndrica [21].
37
1)
2)
3)
4)
Figura 2-17 – Exemplos de grandezas de desgaste em brocas helicoidais, segundo Bork apud
de Andrade [24].
______________
4) Superfície de saída
40
O fim de vida de brocas helicoidais pode ser determinado por diversos critérios:
qualidade da peça usinada, aumento da força de corte, da potência consumida, do torque, da
força de avanço, ruídos anormais, faíscamento intenso no corte, vibrações excessivas, forma
dos cavacos, acabamento fora do especificado, tolerâncias de fabricação não-conformes ou
um valor limite para quaisquer grandezas de avarias ou desgastes indicadas na literatura [4,
21, 24].
O macho de corte é uma ferramenta bastante complexa, composta por múltiplos gumes
que, através do movimento rotativo combinado com o axial, executa a usinagem na superfície
interna de um furo, cujo diâmetro é um pouco menor que o diâmetro externo do macho, a fim
de promover remoção do material no perfil desejado. O movimento de avanço é sincronizado
com o passo, eliminando a flexibilidade desse parâmetro. Após a geração da dimensão da
42
Figura 2-19 – Características da entrada de um macho de corte segundo a Titex Plus apud
Mota [5].
43
Figura 2-20 – Tipos principais de machos de corte quanto à configuração do canal [29].
44
5)
Como a maior parte do esforço concentra-se nos filetes de entrada, é nessa região que
quase sempre se concentram os desgastes. À medida que o desgaste se desenvolve, o diâmetro
definido pelo macho desloca-se do primeiro filete da parte cilíndrica para o segundo, e assim
sucessivamente, até não ser mais possível garantir as tolerâncias da rosca. A velocidade de
corte tem influência importante no mecanismo de desgaste, como já discutido no tópico 2.3.1.
O colapso catastrófico do macho é um problema freqüente, devido às severas solicitações a
que esse tipo de ferramenta é submetido, com vários gumes em contato simultâneo. Segundo
Reiter et alli apud Mota [5], o torque é uma variável crítica, freqüentemente agravado pelo
elevado atrito dos cavacos acumulados dentro do furo e pelas deficiências de lubrificação na
interface cavaco-ferramenta. As operações anteriores de furação (e eventualmente de
alargamento) também exercem significativa influência no resultado do rosqueamento [30].
A complexidade geométrica dos machos de roscar dificulta a mensuração dos
desgastes e avarias neles observados, não sendo habitualmente usado nenhum dos parâmetros
tradicionais de desgaste na literatura [31]. Há dificuldade de visualização dos desgastes nas
superfícies através de microscópio óptico, pela restrição de foco imposta pelos diversos
ângulos constituintes da ferramenta. Alternativas sofisticadas envolvem altos investimentos e
tempos de análise das ferramentas [28], o que normalmente não se viabiliza em aplicações
industriais. Critérios de fim de vida baseados em calibradores tipo “passa – não passa” é a
alternativa econômica mais adotada pelas indústrias. Outra opção mais recente é o
monitoramento de grandezas relacionadas ao desgaste, como o torque, por exemplo. Alguns
sistemas permitem esse tipo de abordagem, disponibilizados no mercado por empresas como
Emuge, Artis, Prometec, Brankamp e Montronix.
Teixeira [1] propõe uma classificação mais abrangente para enquadrar produtos no
estado sólido e outras formas de facilitar o processo de usinagem, como a introdução de calor
(usinagem a quente), a retirada de calor (usinagem criogênica) ou a introdução de excitações
ultrassônicas. São os chamados meios auxiliares de corte que podem ser físicos (sólidos,
líquidos, gasosos ou mistos) ou especiais (térmicos, mecânicos, químicos, revestimentos de
ferramentas ou inclusões na peça). Os fluidos de corte são um caso particular dos meios
46
• Refrigerar a peça para facilitar o manuseio seguro por parte dos operadores;
• Remover cavacos por arraste da região de corte e dos elementos móveis da máquina
(guias e barramentos);
Segundo Machado e da Silva [11], a usinagem de certos materiais como: ferro fundido
cinzento (exceto em furação profunda), magnésio, certas ligas de alumínio e alguns plásticos e
resinas, praticamente não é beneficiada pelos fluidos de corte. Baseado no que foi discutido
no tópico 2.3.2, operações com ferramentas cerâmicas e mesmo as de metal-duro e aço-rápido
submetidas a ciclos de resfriamento e aquecimento pelo contato intermitente, geralmente
apresentam maior incidência de microtrincas que antecipam a falha da ferramenta. A
usinagem de materiais endurecidos acima de 30HRc, por sua vez, se beneficia do maior
48
corte, assim como seus aditivos, biocidas, fungicidas e também produtos de reações e
impurezas, podem causar diversos tipos de doenças de pele, não somente dermatites, como
também inflamações cutâneas, hiperpigmentação, alergias e outras irritações. Muitos aditivos
naturais e sintéticos agregados são capazes de retirar a proteção natural de gordura da
epiderme permitindo maior absorção de elementos com efeitos colaterais desconhecidos e de
bactérias patogênicas comumente encontradas em fluidos de corte, tais como Escherichia coli,
Proteus sp, Salmonella sp, Pseudomonas putida, Pseudomonas fluorescens, Alcaligenes sp.,
Brevibacterium sp, Bacillus sp. e Staphylococcus sp [34].
Os efeitos nocivos dos fluidos de corte podem ser estendidos para longe das
imediações do ambiente de trabalho. Mesmo com um sistema eficaz de filtração e
recuperação dos fluidos de corte, a sua contínua utilização gera um acúmulo de contaminação
até atingir um estado que inviabiliza o seu aproveitamento, exigindo a aplicação de
procedimentos legais e técnicos para o descarte de fluidos inadequados ao uso. O volume de
fluidos de corte que necessita de reciclagem e/ou descarte adequado traz consigo um risco
potencial ao homem e ao meio ambiente. A possibilidade de acidente é proporcional ao
volume produzido e as conseqüências de um manuseio inadequado são imprevisíveis para o
solo, lençóis freáticos e redes de coleta de esgoto [2]. O governo dos Estados Unidos
recomenda o controle de várias substâncias freqüentemente utilizadas nos fluidos de corte,
pois em geral eles estão associados aos danos causados à saúde do homem e aos efeitos
nocivos contra o meio ambiente [33]. A constante evolução tecnológica nessa área faz com
que uma grande quantidade de novos produtos sintéticos seja lançada no mercado sem testes
toxicológicos adequados. Como é complexa a tarefa de monitorá-los, os órgãos ambientais
americanos recomendam atitudes preventivas. No Brasil não existe uma legislação específica
que determine que os fluidos de corte ou seus resíduos sejam perigosos [33]. O procedimento
preventivo recomendável seria seguir as mesmas instruções dos órgãos internacionais.
50
A aplicação do fluido de corte por jato de baixa pressão é a técnica tradicional usada
nas indústrias. Direciona-se um ou mais jatos de fluido em direção a região de usinagem,
geralmente na Direção A da Figura 2-23 (chamada “sobre cabeça”). Há também as direções
alternativas B (na superfície de saída da ferramenta) e C (pelo flanco).
A alimentação por jato externo apresenta sérias restrições de acesso à região de corte
nos processos de furação e rosqueamento, exceto se a profundidade de corte for pequena.
Uma alternativa empregada com freqüência é a introdução do fluido de corte sob pressão por
dentro da ferramenta até a extremidade da mesma, como ilustra a Figura 2-24, assegurando
assim uma maior eficiência de lubrificação e refrigeração.
Com base no que foi discutido no tópico 2.8.2, é fácil perceber que a completa
eliminação dos fluidos de corte é a situação ideal do ponto de vista ambiental e de saúde
ocupacional. Existem vários estudos na literatura para aplicação de usinagem sem a presença
de fluido de corte (também chamada de usinagem a seco ou dry-machining em inglês).
Diferentes processos de usinagem foram abordados, como alargamento [37], fresamento de
aços de médio carbono [39] e de ligas aeronáuticas [38], ou o torneamento [40, 41]. São
comuns também as aplicações industriais no Brasil e no exterior, tradicionalmente operações
de fresamento ou usinagem em Ferro Fundido. Por definição, a usinagem a seco não
pressupõe vácuo, ou seja, há presença de ar em torno do processo de usinagem.
Também já foi discutido que a remoção de calor e o arraste dos cavacos são afetados
drasticamente pela ação do fluido de corte. Quando a eliminação do fluido é total, ou mesmo
em uma redução significativa da quantidade, vários aspectos do processo necessitam ser
revistos, a fim de compensar efeitos negativos ao desempenho do mesmo. Shefelbine e
Dornfeld [42] mencionam a menor acuracidade dimensional, a formação de maiores rebarbas
e eventual piora na qualidade superficial como algumas dessas conseqüências. Kammemeier
[14] comenta que, por um lado, as exigências térmicas sobre as ferramentas aumentam e as
geometrias de corte precisam ser revistas especialmente para facilitar a extração dos cavacos
em usinagens internas, mas que, por outro lado, o amolecimento do material cortado reduz o
desgaste abrasivo, aumenta a transferência de calor para o cavaco e permite maiores taxas de
avanço pela redução da espessura do cavaco.
Apesar das pressões pela eliminação dos fluidos de corte, em muitas situações não é
economicamente ou tecnicamente possível eliminá-los, como exemplifica a Figura 2-25.
Surgiram então concepções de aplicação de fluidos em quantidades reduzidas, ou que, em
último caso, ao menos prolonguem a durabilidade destes quando a redução não é possível. A
Federação Alemã de Instituições para Seguridade e Prevenção de Acidentes – HVBG - lançou
a normativa BGI 718 [43] com as seguintes definições:
Aplicações de ferramentas com geometria definida onde a vazão de fluido de corte foi
reduzida a menos de dois litros por hora de processamento são identificadas pelo termo:
Quantidade Reduzida de Lubrificação (do inglês Reduced Quantity Lubrication - RQL).
52
Quando em média não mais que 50ml/h de lubrificante são usados por hora e por
ferramenta para o processo de usinagem define-se então a Mínima Quantidade de
Lubrificação (do inglês Minimal Quantity Lubrication). Também se aceitam até 150ml/h para
intervalos curtos em algumas operações com ferramentas de diâmetro superior a 40mm.
A própria Federação não cunhou o termo e reconhece que estas não são definições
universais. O Fraunhofer Institut für Produktiontechnologie – IPT – Aachen apud Markus
[40] adota definições semelhantes ao descrito acima, porém este autor prefere os termos:
Quantidade Reduzida de Fluido de Corte (QRFC) e Quantidade Mínima de Fluido de Corte
(QMFC). Na Tabela 2-2, Kardekar [44] tenta resumir o histórico das principais terminologias
correntes internacionalmente. Outros termos não mencionados por ele são: em português,
Mínimas Quantidades de Fluido - MQF [4, 11] ou Mínimas Quantidades de Fluidos de Corte
– MQFC [1, 45]; em inglês, Minimal Quantity Cooling Lubrication – MQCL [3]; e no
alemão, Minimalmengenkühlschmierung - MMKS [35] ou simplesmente
Minimalmengenschmierung (MMS). Doravante essa técnica será referenciada simplesmente
como MQFC neste trabalho.
Figura 2-25 – Broca utilizada na furação a seco com um canal obstruído pela soldagem de
cavacos [4].
Projeto simples e adaptável Projeto relativamente Suprimento de spray bem Facilmente aplicável em
a qualquer máquina, porém simples com um único tubo, direcionado e excelente centros de usinagem
ineficiente em aplicações de porém pode haver remoção de cavacos, mas conferindo grande
difícil acesso do fluido à separação do spray no aumenta a complexidade do flexibilidade entre MQFC e
região de corte. Não percurso. Com dois tubos sistema de fixação e tira a jato de fluido de corte.
favorece a remoção de aumenta a complexidade da flexibilidade deste para Porém, pode interferir no
Além da concepção com tanque pressurizado e bicos com venturi, duas outras
concepções de MQFC externa são comercialmente adotadas segundo a normativa BGI 718
[43]: a primeira emprega micro-bombas pneumáticas que dosam o lubrificante conforme uma
freqüência ajustada (Figura 2-29). A fonte cita como principal vantagem a boa acuracidade
de ajuste de vazão, porém destaca seu elevado custo de manutenção. O segundo tipo é usado
para ferramentas de diâmetro muito pequeno, onde a elevada rotação dificulta o acesso de
partículas leves de fluido. Uma válvula de alta velocidade arremessa com precisão uma única
gota não atomizada de fluido em intervalos regulares até a ponta da ferramenta numa
distância de até 800mm (Figura 2-30).
Figura 2-29 – Sistema com tanque pressurizado e venturi (esquerda) e sistema com micro-
bombas pneumáticas (direita) [43].
56
Figura 2-30 – MQFC externa sem atomização para ferramentas de pequeno diâmetro [43].
• Produtos a base de óleo mineral com alto teor de aromáticos (> 3ppm) pelo potencial
cancerígeno.
Características como biodegradabilidade, estabilidade à oxidação e estabilidade de
estocagem são mais importantes em MQFC, pois o consumo é muito menor que na aplicação
tradicional. Os lubrificantes biodegradáveis tendem a aderir às superfícies interiores e
exteriores das máquinas, formando filmes finos que oxidam mais facilmente (SUDA et alli
apud WEINERT et alli [3]).
Pela sua biodegradabilidade, óleos de base vegetal foram usados para aplicações de
MQFC. Além deles, ésteres sintéticos (óleos vegetais quimicamente modificados) possuem
uma ampla gama de biodegradabilidade dependendo de sua combinação molecular de ácidos
e álcoois. Mono-ésteres, di-ésteres e poliol-ésteres são considerados biodegradáveis [3]. Estes
últimos possuem viscosidades mais adequadas a MQFC e por isso foram estudados (SUDA et
alli apud WEINERT et alli [3]). Um teste envolvendo três poliol-ésteres com respectivas
viscosidades de 19, 25 e 48mm2/s a 40°C contra um óleo base vegetal com viscosidade
36mm2/s procurou mensurar os níveis de oxidação pelo aumento do peso molecular após 168
horas de exposição de filmes desses óleos numa atmosfera à 70°C. O óleo vegetal aumentou
seu peso em 65%. Em contrapartida, houve aumento insignificante no peso dos óleos de base
éster. Em princípio, considera-se que um aumento superior a 10% já é indesejado [3]. Em
concordância, os referidos pesquisadores defendem a superioridade dos poliol-ésteres em
relação aos fluidos vegetais para MQFC.
Além dos ésteres sintéticos, os fatty alcohols são os fluidos mais comumente usados
para MQFC. A seleção depende do tipo de alimentação, do material envolvido, da operação
de usinagem e das subseqüentes operações de acabamento requeridas [3, 43]. No mesmo nível
de viscosidade, fatty alcohols têm ponto de fulgor mais baixo que os ésteres sintéticos.
Mesmo tendo um efeito refrigerante maior que o dos ésteres, ele ainda é bastante pequeno, e o
fluido evapora rapidamente. São usados em operações onde se deseja manter as superfícies
mais limpas de resíduos e onde há menores necessidades de lubrificação do que a obtida com
ésteres. Operações que requeiram maior lubrificação normalmente utilizam ésteres sintéticos
(exemplos são operações de furação, mandrilamento fino e rosqueamento em aços e ligas de
alumínio). Além disso, ésteres sintéticos tipicamente são classificados como de baixa
toxicidade nas legislações internacionais de fluidos.
59
A literatura possui diversos trabalhos sobre aplicações de MQFC onde sua utilização é
bastante promissora para vários processos de usinagem, tanto no aspecto econômico, como
em quesitos técnicos. Entre os aspectos técnicos, pode-se citar como vantagens, o aumento da
vida da ferramenta e a diminuição dos tempos de produção.
Weinert [49] realizou ensaios com usinagem a seco e com MQFC em operações de
torneamento, fresamento, furação convencional e profunda, alargamento e fresamento
interpolado de roscas, principalmente em aços e ligas de alumínio, onde encontrou vários
resultados de aplicação promissora. Um resumo dessas aplicações por ele identificadas se
encontra na Tabela 2-3. Obikawa et alli [50] citam várias aplicações de MQFC e estudaram
especificamente a aplicação de MQFC em usinagem de ranhuras em um aço equivalente ao
ABNT 1045, com altas velocidades de corte, obtendo melhores resultados de vida de
ferramenta com MQFC do que na usinagem a seco e com fluido de corte aplicado na forma de
jato.
fluidos em MQFC (éster sintético e uma solução sintética com 40% de água) e comparando
também com a usinagem a seco. Mesmo com as deficiências de MQFC externa nessa
profundidade de corte, o pesquisador obteve menores valores de torque e maiores vidas com
MQFC do que a seco na maioria dos ensaios. Zeilmann [4] aplicou MQFC em furação de
ligas de titânio Ti6Al4V com sucesso, porém, exigindo a otimização do projeto da ferramenta.
Rahnam, Kumar e Salam [53] avaliaram o uso de MQFC no fresamento de aço
ASSAB 718 HH com 35HRc (equivalente ao aço P20), onde empregaram ferramentas com
insertos de metal-duro sem revestimento e compararam a aplicação de MQFC com o jato
convencional de fluido de corte e com a usinagem a seco. Melhores resultados de vida, forma
de cavacos mais adequada e menores rebarbas foram obtidas com MQFC. Kishawy et alli
[54], no fresamento de ligas AlSi (A356) com metal-duro e metal-duro revestido com
diamante, mostram resultados favoráveis de vida de ferramenta e esforços de corte para a
aplicação de MQFC. Kardekar [44] comparou MQFC versus jato de fluido de corte e
usinagem a seco no fresamento frontal da liga AlSi A380 e sugere que MQFC é comparável e
até superior às demais alternativas em altas velocidades de corte.
No Brasil o emprego de MQFC em ambiente industrial é muito modesto, mas a
tecnologia de MQFC e a usinagem a seco se difundiram em indústrias da Europa, Japão e
Estados Unidos. Algumas empresas comercializam soluções em geradores de spray de
MQFC, máquinas-ferramenta e sistemas de processamento de névoa específicos. Yoshimura
[55] aplicou com sucesso a usinagem a seco para o processo de fresamento de engrenagens e
MQFC para a furação na empresa Toyota do Japão. Todo o processo teve que ser revisado,
envolvendo adaptações na máquina, em parâmetros de usinagem e no ferramental. O
fabricante Horkos, que possui uma linha de máquinas-ferramenta desenvolvida para
operações com MQFC, menciona ter cerca de 250 máquinas dedicadas operando em
indústrias nos Estados Unidos, com destaque para a fábrica de transmissões da Ford-Livonia
em Warren, Michigan [56]. Outros fabricantes como a Cross Hüller, Grob e Heller também
possuem modelos específicos vendidos principalmente para indústria automobilística. A
DaimlerChrysler fabrica em larga escala, desde 2003, componentes de alumínio do eixo
traseiro em centros de usinagem a seco [43]. O Ministério Alemão de Educação e Pesquisa
possui um projeto chamado "Forschung für die Produktion von Morgen" ("Pesquisa para a
produção do amanhã”) onde várias áreas de produção e empresas foram convertidas para
MQFC em projetos de pequeno e médio porte . A Tabela 2-4 resume experiências de projeto
em parceria com o Departamento de Tecnologia de Usinagem de Dortmund para vários ramos
de indústria.
61
Os aços de médio carbono pertencem à categoria dos aços carbono (não ligados),
como mostra a Figura 2-32. São amplamente aplicados na indústria para a fabricação de
diversos componentes estruturais, como engrenagens, bielas e eixos. São compostos
basicamente por ferrita (fase alfa), perlita e cementita (Fe3C). A formação de cavacos
geralmente é adequada (cavacos curtos) e, em condições normais, não há dificuldade de se
obter superfícies com bom acabamento. À medida que os teores de perlita e cementita
aumentam, a abrasividade do material cresce, exigindo ferramentas mais rígidas e resistentes
ao desgaste.
62
Os fluidos de corte têm um papel de grande relevância no processo de usinagem, seja por
sua contribuição positiva, seja pelos impactos negativos que eles geram no processo ou no
meio onde estão inseridos. Como há uma tendência recente de maior valoração dos aspectos
negativos, alternativas para minimizar estes efeitos estão ganhando projeção, dentre as quais
se destacaram a usinagem a seco e com MQFC no meio industrial internacional. Entretanto, a
readequação dos processos não é tarefa simples, o que é evidenciado pela diversidade de
variáveis afetadas, gerando diferentes soluções aplicadas por pesquisadores de acordo com a
operação estudada. As ferramentas precisaram evoluir e se especializar tanto na tecnologia de
materiais como na concepção geométrica; surgiram várias opções de geradores de spray
buscando atender as particularidades de cada aplicação de MQFC; a própria formulação dos
fluidos teve de se ajustar a novos requisitos e maior atenção foi dispensada à extração do calor
e dos cavacos. Levando em conta esses aspectos tecnológicos, o próximo capítulo apresenta a
aplicação industrial de MQFC que foi objeto de estudo neste trabalho, discutindo a
metodologia dos ensaios e o aparato experimental envolvido.
CAPÍTULO 3
1. METODOLOGIA E APARATO EXPERIMENTAL
Torneamento do eixo
Furação e rosqueamento na
extremidade dos eixos
Retificação
CARACTERÍSTICAS REQUISITO
a) Composição Química Carbono (C ) 0,37 a 0,50%
Manganês (Mn) 0,60 a 0,90%
Fósforo (P) máx. 0,040%
Enxofre (S) máx. 0,050%
Silício (Si) 0,15 a 0,30%
Cromo (Cr) máx. 0,20%
b) Resistência a tração (MPa) mín. 520
c) Limite de escoamento (MPa) mín. 290
d) Alongamento em 2" (%) mín. 16
e) Características metalográficas Perlita máx. 60
(%) Ferrita mín. 40
Figura 3-2 – Croqui de um eixo para motor elétrico em aço ABNT 1045 com duas
extremidades roscadas.
As operações de furar e roscar são realizadas em lotes tipicamente de 200 a 500 peças.
A alternância de produtos similares com diferentes diâmetros e profundidades de roscas são
freqüentes ao longo do dia numa mesma máquina-ferramenta. A máquina-ferramenta onde se
realizaram os ensaios usina, na sua maioria (cerca de 65%), roscas com profundidade de 2
vezes o diâmetro e furos de 2,5 vezes o diâmetro. O restante praticamente consiste de eixos
com profundidade cerca de 3 vezes o diâmetro na furação e 2,5 vezes o diâmetro no
66
Lado “passa”
Figura 3-3 – Calibrador, código 30435 HEF OS 7200C, para controle de roscas métricas
M8x1,25.
15.000rpm, projetado para passagem de fluido de corte por dentro do mesmo. O centro de
usinagem trabalha exclusivamente com eixos de pequeno porte para motores elétricos e
possui comando CNC do próprio fabricante Mori Seiki, modelo MSG-805. A programação
foi feita manualmente em linguagem EIA/ISO para execução dos ensaios.
Figura 3-5 – Dispositivo para fixação de eixos na etapa de furação e rosqueamento de suas
extremidades.
Figura 3-6 – Dimensões do furo de centro na extremidade de eixos antes da etapa de furar e
roscar.
Diferentes tipos de fluidos foram utilizados nos ensaios, cada qual dedicado à sua
respectiva forma de aplicação: jato tradicional ou “spray” de MQFC. Para os ensaios com
jato, utilizou-se um óleo emulsionável denominado Alusol XT e fornecido pelo fabricante
Castrol. Esse fluido, de base éster com mistura de óleos minerais, é isento de cloro, nitritos e
fenóis; também possui aditivos de extrema pressão para operações que exigem boa
lubricidade, como a furação e rosqueamento. O Alusol XT foi previamente selecionado pela
fábrica de motores elétricos com base em testes de diversos tipos de fluidos em diferentes
concentrações. A concentração de 20% foi determinada e adotada pela empresa como o
melhor compromisso entre custo e desempenho nos testes de homologação do produto.
Conforme descrito no tópico 2.8.6, os fluidos de corte indicados pela literatura para
aplicação de MQFC são os fatty alcohols e os ésteres sintéticos, sendo que estes últimos
apresentam melhores características lubrificantes que os primeiros. Baseado nisso, foi
primeiramente utilizado nos ensaios de furação em MQFC um fluido de base éster sintético,
especialmente desenvolvido pela empresa Blaser Swisslube para aplicações de MQFC com
demanda de boa lubricidade. Tal fluido, denominado pelo fabricante por Vascomill MMS
SE1, é biodegradável, tem densidade de 0,85g/cm3 a 20°C, é muito resistente à corrosão,
possui viscosidade cinemática a 40°C de 20mm2/s, tem aditivos de extrema pressão e é isento
70
Figura 3-9 – Válvula com acionamento por solenóide para liberação e bloqueio do spray pelo
eixo-árvore da máquina-ferramenta.
A Figura 3-10 mostra o sistema de alimentação por jato interno de alta pressão do
fluido de corte, modelo SAP5027 do fabricante MachSystem, com reservatório, hidrociclone
e filtro para limpeza do fluido recirculado integrados no sistema. A bomba possui uma
pressão de 50kgf/cm2 e vazão na ponta das ferramentas de 6,6l/min.
certo período, iniciou-se a geração de faíscas seguida por uma alteração repentina da forma
dos cavacos para fitas emaranhadas em torno da broca. Verificações das brocas neste estágio
indicaram a presença de lascamentos nas quinas. Persistindo na utilização das brocas, houve
colapso catastrófico. Adotou-se a mudança de forma dos cavacos como critério de fim de vida
pela sua fácil visualização, interrompendo os ensaios nesse estágio. Por uma questão de
segurança, as brocas ensaiadas eram verificadas entre um lote e outro de fabricação para
detectar eventuais anomalias após um percurso inicial de furação de cerca de 10 metros.
Figura 3-13 – Forma dos cavacos normalmente gerados pelo processo de furação de eixos.
77
Para auxiliar na análise dos resultados, fotografias de brocas no fim de vida foram
tiradas em um estéreo-microscópio, modelo DV4 da Zeiss (Figura 3-14), com ampliações de
16 a 64 vezes, empregando uma máquina fotográfica digital PowerShot A700 da Canon.
Algumas fotos com maior ampliação foram feitas em microscópio Óptico Reichert PolyVar2
MET com ampliação entre 40 e 2000 vezes, interligado a uma Câmera Evolution LC da
empresa Media Cybernetics e com interface para um PC Pentium 4 1,6Ghz de 512MB RAM,
conforme mostra a Figura 3-15. As fotografias eram processadas com auxílio do software
analisador de imagens Image-Pro Express que permite inserir linhas auxiliares para medição
de dimensões lineares, como exemplificado na Figura 3-16. Através das imagens de
microscopia, foram verificados os danos nas guias, nas quinas e, eventualmente, quando
aplicável, danos ao longo do gume principal.
Figura 3-15 – Bancada com microscópio óptico acoplado à câmera digital e PC com software
analisador de imagens.
0,26 mm
Figura 3-16 – Distância aproximada entre sulcos em uma guia de broca desgastada. Medição
feita com auxílio do software Image-Pro Express.
Primeira Etapa – Consiste de ensaios para verificar se os parâmetros indicados pelo fabricante
são adequados para as etapas subseqüentes. Apenas a geometria “1” com revestimento
“Firex®” e no diâmetro de 7mm foi utilizada nesta etapa. As três condições de corte
empregadas se encontram na Tabela 3-2.
Terceira Etapa – Consiste de dois ensaios complementares, sem repetição, conforme Tabela
3-5, apenas indicando tendências na furação com broca de metal-duro de diâmetro 8,7 mm.
Foi empregada a Geometria “3”, por ter apresentado os melhores resultados de vida na etapa
anterior. Substituiu-se o fluido Vascomill MMS SE1 na aplicação de MQFC pelo Nor SSL,
que foi também utilizado nos ensaios de rosqueamento, conforme será detalhado no próximo
tópico.
com ângulos de hélice de 40° (geometria 1) e 42° (geometria 2); chanfro e filetes de entrada
conforme DIN 2197 forma “C”, com 2 a 3 filetes de entrada por canal; substrato de aço-
rápido sinterizado com Vanádio e Cobalto; passagem central para fluido de corte e
revestimento PVD multicamada de TiCN e TiN.
Geometria 3: denominada BP70 segundo o fabricante Vergnano; com dimensões
conforme norma DIN 371; 3 canais helicoidais com ângulo de hélice de 45°; chanfro e filetes
de entrada conforme DIN 2197 forma “C”; substrato de aço-rápido sinterizado com Vanádio e
Cobalto; passagem central para fluido de corte, revestimento PVD monocamada TiN com 1 a
5mm de espessura e 2300HV de dureza.
Geometria 4: denominada pela referência 260/2 segundo o fabricante OSG; com
dimensões conforme norma DIN 376; 3 canais helicoidais com ângulo de hélice de 35°;
chanfro e filetes de entrada conforme DIN 2197 forma “C; substrato de aço-rápido com 8% de
Cobalto; sem passagem central para fluido de corte e sem revestimento.
A variável de saída monitorada foi novamente a vida das ferramentas, cujo critério de
fim de vida é atingido quando não é mais possível introduzir o calibrador tipo “passa – não
passa” (Figura 3-3) na peça usinada. Eventualmente, algumas ferramentas apresentaram
colapso catastrófico antes desse critério ser atingido. Fotos complementam a análise das
ferramentas que atingiram o fim de vida utilizando os equipamentos já descritos no tópico 3.6
deste capítulo.
Os ensaios de rosqueamento constituíram-se de duas etapas. A primeira foi um estudo
preliminar com as geometrias 1, 2 e 3, diferentes formas de alimentação do fluido de corte,
alguns revestimentos e velocidades de corte variadas a fim de compreender o comportamento
das ferramentas no processo e identificar a melhor geometria, revestimento e velocidade de
corte para a segunda etapa dos ensaios. A segunda etapa promove uma comparação entre a
melhor combinação de variáveis sugerida pelos ensaios preliminares e o processo previamente
existente na fábrica, que empregava a geometria 4 com alimentação de fluido de corte por jato
externo.
A Tabela 3-6 mostra as condições dos ensaios preliminares. Como o objetivo é
identificar tendências no menor custo e tempo possível, não foram feitas repetições dos
ensaios, exceto no primeiro, onde se buscava verificar a repetitividade de desempenho do
ferramental no processo empregando MQFC. O revestimento nACo®, já descrito no processo
de furação, também foi testado nesta etapa.
82
A Figura 4-1 mostra resultados de vida de brocas nos testes da primeira etapa, que
corresponde às condições apresentadas na Tabela 3-2 do capítulo 3. Todas as avaliações de
vida de brocas são mensuradas em termos do percurso total de furação. Conforme discutido
no capítulo 3, esta etapa avalia apenas a geometria RT100U do fabricante Guhring (geometria
1) com revestimento Firex® (TiAlN multicamada), usando jato interno de fluido de corte. O
objetivo é verificar a melhor condição de avanço para os ensaios subseqüentes. As barras de
erros em cada coluna da Figura 4-1 correspondem às amplitudes de vida obtidas em cada
condição ensaiada. Calculando a variância para cada uma destas condições, obtiveram-se,
respectivamente, valores de 0,020m2, 7,45m2 e 113,2m2. A dispersão da vida aumenta com o
incremento do avanço, o que mostra que algum mecanismo de falha fortemente aleatório tem
sua influência potencializada na medida em que o avanço cresce.
35
percurso furado (m)
30
23,1 21,2 23,8
25
20
15
10
5
0
Veloc.de corte = 105 m/min
Figura 4-1 – Vida de brocas nas condições 1 a 3 da Tabela 3-2, utilizando jato interno de
fluido Alusol XT a 20% de concentração.
Ao observar o estado das brocas no fim de vida, identificam-se lascamentos nas quinas
e ao longo do gume principal (Figura 4-2). Como o surgimento e propagação de trincas no
material são fenômenos aleatórios, conclui-se que o aumento na dispersão esteja intimamente
84
relacionado ao surgimento mais freqüente de trincas nas ferramentas, que evoluíram para os
lascamentos observados. O incremento de avanço implica em aumento das tensões mecânicas
e maior geração de calor que, por sua vez, aumenta os gradientes térmicos presentes entre a
superfície e o núcleo da ferramenta quando se emprega o jato de fluido de corte. O
crescimento das tensões térmicas, oriundas dos gradientes de temperatura, e das tensões
mecânicas potencializa o surgimento de trincas, como já discutido no tópico 2.3.2, o que
explicaria a tendência verificada na dispersão de resultados. Em todos os avanços testados na
primeira etapa, verificou-se também a formação de desgaste severo na forma de cratera ao
longo das superfícies de saída, conforme mostra a Figura 4-2.
Lascamento
da quina
Desgaste
severo
Figura 4-2 – Falhas no fim de vida de uma broca testada na condição 1.
Tabela 4-1 - Percurso total furado obtido nos ensaios da segunda etapa (valores em metros).
Repetição 1 Repetição 2 Média Amplitude
Geometria 1 (RT100U);
Condição 1 jato; TiN+TiAlN 23,0 23,2 23,1 0,2
multicamada (Firex®)
Geometria 1 (RT100U);
Condição 4 MQFC; TiN+TiAlN 80,7 15,1 47,9 65,5
multicamada (Firex®)
Geometria 1 (RT100U);
Condição 5 MQFC; TiAlCN gradiente 19,8 20,2 20,0 0,4
(AlboNiT®)
Geometria 1 (RT100U);
Condição 6 MQFC; nc-TiAlN/a-Si3N4 27,4 6,6 17,0 20,8
nanocomposto (nACo®)
Geometria 2 (especial);
MQFC; TiAlN+MoS2
Condição 7 multicamada (base 16,8 37,5 27,2 20,7
Moliglyde®); 95 m/min e
0,24 mm
Geometria 3 (B256A -
Condição 8 HPC); MQFC; TiN+TiAlN 140,6 160,2 150,4 19,6
multicamada (KC7315®)
Geometria 3 (B256A -
Condição 9 HPC); jato; TiN+TiAlN 21,1 26,0 23,6 4,9
multicamada (KC7315®)
índice QMR é um indicativo da dispersão dos resultados. A Tabela 4-3 compara algumas
médias, duas a duas, usando a “d.m.s.” de Tukey.
90,0
percurso furado (m)
80,0
70,0
60,0 47,9
50,0
40,0
30,0 23,1
20,0
10,0
0,0
Veloc.de corte = 105 m/min
Desgaste
Lascamento
da quina
80,0
60,0 47,9
40,0
20,0 17,0
20,0
0,0
Veloc.de corte = 105 m/min
A razão para uma vida média tão baixa do revestimento nanocomposto nACo® não foi
determinada, porém acredita-se que esteja relacionada a alguma de suas propriedades em
contraste com a condição de tensões residuais internas nas imediações das quinas. Segundo
Gey [60], a formação de trincas é potencializada em revestimentos de TiAlN com alto teor de
alumínio, em comparação com revestimentos convencionais de TiAlN. Os grandes gradientes
de composição existentes em pequenas espessuras de revestimento PVD geram tensões
internas elevadas, tipicamente da ordem de alguns GPa [61]. Além disso, como seus cristais
se formam geralmente na direção ortogonal à superfície do substrato [62], gumes afiados se
tornam regiões de formação instável por sua transição brusca na direção de crescimento dos
cristais do revestimento. Assim, o revestimento nas imediações do gume acaba sujeito a
tensões internas ainda maiores que nas superfícies de saída ou de folga, propiciando a
formação de trincas que, por sua vez, resultam em desplacamentos pouco depois do início do
corte, exatamente na região onde usualmente se medem os desgastes [19]. Uma boa
preparação de gume é aquela que reforça os gumes cortantes assegurando uma transição suave
do revestimento entre o flanco e a superfície de saída, reduzindo assim as tensões internas,
89
mas sem deixar os gumes “cegos”. A preparação deve ser feita antes do revestimento, do
contrário o desempenho do mesmo é prejudicado pela remoção localizada que reduz o
isolamento térmico e químico, facilitando o contato direto da peça com o substrato. Alguns
pesquisadores [19] discutiram a influência de arredondamentos nas quinas em ensaios de
furação a seco do aço para trabalho a frio X155CrVMo12-1. Foram feitos furos cegos com
brocas de metal-duro revestidas com nACo®, diâmetro 5mm, velocidade de corte de
75m/min, avanço por faca de 0,15mm e profundidade de 15mm. Quatro preparações de
gumes foram feitas: gume somente retificado (vivo) e três diferentes raios de arredondamento
de gume: 11µm, 15µm e 21µm. A Figura 4-6 mostra que o melhor resultado foi obtido com
brocas de raio de 15µm para essa aplicação. O exemplo reforça a tese da importância da
preparação de gume no desempenho das ferramentas revestidas.
Kammermeier [14] comparou vários revestimentos para furação em aço Ck45 (similar
ao ABNT 1045) de um furo de 6,8mm de diâmetro, em velocidade de corte de 80m/min,
avanço de 0,15mm e 30mm de profundidade. O melhor resultado foi obtido com uma
composição otimizada de TiAlN, como mostra a Figura 4-7. Heineman et alli [52] também
indicaram o revestimento TiAlN na furação profunda (dez vezes o diâmetro) de aço não
ligado com 0,45% carbono como a melhor opção testada em seu estudo, justamente por suas
propriedades refratárias.
90
Figura 4-7 – Vida de brocas com diferentes revestimentos para furação em aço Ck 45 [14].
Figura 4-8 – Quina de broca sem honing (acima) e com honing (abaixo) [19].
91
Figura 4-9 - Desgaste nas guias de broca com geometria B256A - HPC após 160,2m furados
em MQFC.
Figura 4-10 – Lascamento em broca de geometria B256A - HPC com refrigeração por jato
interno após furar 21,1 metros (Condição 9)
92
100,0
50,0 23,6
0,0
Figura 4-12 - Craterização de uma broca de geometria B256A - HPC testada na condição 8
(em MQFC) após 160,2 metros furados.
94
150,4
150,0
100,0
47,9
50,0 27,2
0,0
Geometria RT100U e TiN+TiAlN (Firex®); 105 m/min; 0,22 mm
Geometria 2 (especial) e TiAlN+MoS2 (Moliglyde®); 95 m/min; 0,24 mm
Geometria B256A - HPC e TiN+TiAlN (KC7315®); 105 m/min; 0,22 mm
Figura 4-14 - Desgaste e lascamentos nas guias de broca de geometria 2 (Condição 7).
95
Figura 4-15 - Craterização com largura de 23µm junto ao gume principal no fim de vida de
uma broca com geometria 2 (MQFC).
Em vista do exposto, conclui-se que geometria B256A - HPC é a que melhor alia
características geométricas para a operação estudada. Como etapa complementar de
verificação do comportamento das duas formas de aplicação de fluidos de corte estudadas
(jato interno e MQFC interno), dois ensaios descritos na Tabela 3-5 comparam a vida de
brocas de geometria B256A - HPC no diâmetro 8,7 mm. A Figura 4-16, onde se encontram
os resultados, segue a mesma tendência obtida na Figura 4-11 para brocas de diâmetro 7 mm
com a geometria B256A – HPC, o que só vem a confirmar a vantagem de MQFC em relação
ao jato interno de fluido de corte no que diz respeito à vida de ferramenta.
200,0
155,6
150,0
100,0
50,0 26,6
0,0
Veloc.de corte = 9,75 m/min; Avanço = 0,27 mm
Figura 4-16 - Etapa de verificação de vida de brocas com diâmetro 8,7 mm.
96
80,0
70,0
percurso roscado (m)
60,0 54,8
51,0
50,0
39,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Condição 1:TiCN+TiN Condição 2:TiCN+TiN Condição 3:nACo
VC=15 m/min VC=27,6 m/min VC=27,6 m/min
filetes de rosca, apresentam maiores gradientes de tensão interna [19]. Em alguns lotes,
percebe-se uma deficiência na formação dos cavacos, que se enroscaram em torno da
ferramenta. Também há que se considerar que a velocidade de corte é reduzida em relação a
outros processos de usinagem. Assim, acredita-se que todos esses fatores pesaram
negativamente contra o supernitreto e favoreceram o revestimento mais tenaz, de melhor
adesão e com dureza intermediária, que é o TiCN e TiN multicamada.
A Figura 4-18 mostra falhas em um macho da condição 1 após atingir o critério de
fim de vida estabelecido. Em outras palavras, o dimensional da rosca se alterou a ponto de
impedir a entrada do calibrador tipo “passa – não passa” especificado. Percebem-se sinais de
adesão de material na superfície de saída de um filete de entrada do macho (à direita da
figura) e avarias que comprometeram o formato deste. Falhas semelhantes foram observadas
na maioria dos machos testados. Há também sinais de desgaste nas laterais dos filetes de
entrada (à esquerda da Figura 4-18).
Figura 4-18 - Falhas em macho de geometria V-40, com TiCN e TiN, empregando MQFC.
80,0
percurso roscado (m)
70,0
60,0 54,9
51,0
50,0
38,2
40,0
30,0 21,4
20,0
10,0
0,0
Condição 1:Rosca Condição 4:Rosca Condição 5:Rosca Condição 6: Rosca
M8; geometria M10; geometria M8; geometria M10; geometria
Rasant V-40; 15 Rasant V-Dry; 15 Rasant V-Dry; 15 Rasant V-Dry; 34,6
m/min m/min m/min m/min,
60,0
49,5
percurso roscado (m)
50,0 43,7
40,0
30,0
17,3
20,0
10,0
0,0
Condição 7: Rosca M8; Condição 8: Rosca M10; Condição 9: Rosca M8;
geometria Rasant V-Dry; Geometria Rasant V-Dry; Geometria BP70; 30 m/min;
27,6 m/min; jato 25 m/min; jato MQFC
Uma vez definida a geometria BP70 como a mais adequada para o processo em
questão, adotou-se a velocidade de maior produtividade (34,6m/min) para a próxima etapa de
ensaios em MQFC. O experimento proposto foi detalhado no capítulo 3, sendo resumido na
Tabela 3-7. As condições A2B1 e A2B2 da referida correspondem ao processo adequado à
MQFC, enquanto que o processo pré-existente é representado pelas condições A1B1 e A1B2.
A Tabela 4-4 mostra os coeficientes da ANOVA realizada sobre o experimento
fatorial, cujo cálculo é detalhado em anexo. A estruturação na forma de experimento fatorial
tanto permite verificar estatisticamente se o processo adequado a MQFC é melhor que o pré-
existente, como permite avaliar se há uma mudança de comportamento entre as roscas
M8x1,25 e M10x1,5. Para o fator A, o valor de “Fcalculado” é muito superior ao valor crítico,
mesmo considerando um nível de significância bastante conservador (1% de probabilidade de
erro na afirmação). Considerando que o percurso médio de rosqueamento no processo
proposto é de 48,8m contra apenas 15,7m no processo pré-existente, fica comprovada a
superioridade do processo adequado à MQFC em relação ao pré-existente do ponto de vista
101
da vida de ferramentas. Por outro lado, as dimensões de roscas avaliadas não apresentam
qualquer relação com o desempenho de um processo ou outro, o que é evidenciado pelo valor
quase nulo de “Fcalculado” no fator B. Em alguns experimentos fatoriais, verifica-se que o valor
de um fator interfere no desempenho de outro e isso é chamado de “Interação” [58]. O fator
AxB é a interação entre os dois fatores e verifica-se que seu “Fcalculado” é nulo, ou seja, não
existe interação entre os fatores escolhidos para análise.
5.1. CONCLUSÕES
efeito benéfico, não somente na remoção dos cavacos para evitar aquecimento e
entupimento por cavacos, mas também na formação de filmes óxidos de efeito
lubrificante entre a peça e ferramenta e na adsorção do fluido de corte às superfícies.
Por outro lado, o aumento na dispersão de resultados com MQFC não foi devidamente
esclarecido e já tinha sido observado na furação de liga de titânio Ti6Al4V.
No rosqueamento, o controle de cavacos desejado não foi obtido com as
geometrias Rasant V-40 (geometria 1) e Rasant V-Dry (geometria 2), o que acabou
comprometendo a possibilidade de aplicação dessas ferramentas no experimento final.
Embora a restrição pudesse ser contornada em ensaios em ambiente de pesquisa
laboratorial pela freqüente remoção manual dos cavacos, tal condição é inaceitável para
a fabricação seriada de componentes. Nenhuma relação entre o emprego de MQFC e a
dificuldade de controle de cavacos mencionada na literatura foi detectada.
Os ensaios preliminares não forneceram indícios de diferença relevante na vida
de machos de roscas aplicando jato interno de fluido de corte ou MQFC. Também não
se verificou incremento no desempenho pelo emprego do mesmo revestimento
nanocomposto testado na furação. O revestimento de multicamada TiCN e TiN
prevaleceu como alternativa de menor custo e amplamente difundida em aplicações de
rosqueamento na indústria.
A avaliação final da geometria BP70 (geometria 3) empregou MQFC e
parâmetros de corte maiores contra o processo anteriormente usado na indústria, que
aplicava jato externo de fluido de corte e a geometria 4. A análise de variância
comprovou a superioridade de vida média para o novo processo adotado com MQFC,
como já previsto. Não há qualquer diferença perceptível de desempenho na comparação
de machos para rosca M8x1,25 e M10x1,5 mm. Apenas na geometria 3 se obteve o
controle de cavacos desejado.
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Soma dos Quadrados do Resíduo (SQR) = SQT – SQTr = 30.331,39 - 27.549,41 = 2.781,98
Quadrado Médio dos Tratamentos (QMTr) = SQTr/(N° de tratamentos -1) = 4.591,57
Quadrado Médio do Resíduo (QMR) = SQR/ (N° de ensaios - N° de tratamentos) = 397,43
Função F de Snedecor calculada (Fcalc.) = QMTr/QMR = 11,55
Soma dos Quadrados do Fator A (SQA) = (ΣNível 1 na coluna 1 - ΣNível 2 na coluna 1)^2/
N° ensaios da coluna 1
SQA = ((29,6+33,3) – (95,3+99,7))^2/8 = 2.184,407
Soma dos Quadrados do Fator B (SQB) = (ΣNível 1 na coluna 2 - ΣNível 2 na coluna 2)^2/
N° ensaios da coluna 2
SQB = ((29,6+95,3) – (33,3+99,7))^2/8 = 8,173
O quadrado médio de cada tratamento é igual a soma dos quadrados, pois cada
tratamento tem grau de liberdade 1. O quadrado médio total e do resíduo é calculado da
mesma forma que na construção experimental da furação. Assim:
Testes de Tukey: