Se Fosse Um Filme (Amores Imper - Mithiele Rodrigues
Se Fosse Um Filme (Amores Imper - Mithiele Rodrigues
Se Fosse Um Filme (Amores Imper - Mithiele Rodrigues
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C opyright © 2019 Mithiele Rodrigues
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Skoob: Mithiele Rodrigues
Para mim, pois esse livro foi escrito com minhas experiências, de
quando eu sofri bullying na escola aos doze anos.
*E para você que também passou por isso*
Além disso, depois de tanto tempo dando alisamento nos meus
cabelos, dias antes de escrever esse livro, decidi passar pela transição
capilar e cortei minhas madeixas.
A Mia me ajudou, estou tentando me descobrir, espero que se você
estiver passando ou já passou por uma situação ruim, saiba que tudo ficará
bem.
Que esse livro faça você se amar um pouco mais, assim como fez
comigo.
Uma sombra vem em minha direção e quando a luz reflete na sua
pele, a primeira coisa que observo são suas formas e logo em seguida, o jeito
com que seus olhos brilham. Ele é incrível e sabe disso.
Seus braços torneados e hipnóticos me fazem pensar em como deve
ser o seu toque em minha pele. Assim que está completamente na luz, perto
de mim, observo como seus olhos são bonitos.
Um tom de azul bem claro.
Na minha cabeça, um único pensamento… Estou apaixonada e nem
o conheço, pelo menos, não dessa maneira como apareceu para mim.
Um brinde à amores instantâneos. Sonhos são para a hora de
dormir?
— Por que as árvores mudam no outono, pai?
Estou aconchegada com um enorme casaco cor-de-rosa, nas ruas
desertas do Brooklyn, por causa da hora. O vento toca na minha pele e
arrepio.
— Elas querem se proteger do frio, querida, assim como nós.
Papai bagunça o meu cabelo e aperto ainda mais a sua mão. Falta
poucos dias para o meu aniversário e tudo o que consigo pensar nesse
momento é em uma pizza com bastante queijo.
— Ah, mas não é como se elas ficassem sem roupa?
— Quando você crescer um pouco mais, saberá o que acontece
dentro delas.
— Ok, um dia eu terei essa resposta, e vou ensinar a você.
Ele sorri, seus olhos brilham, pois eu sou a pessoa mais importante
para ele depois que a mamãe morreu no parto. Talvez não devesse me amar
tanto assim, visto que perdeu ela por minha causa, mas é o contrário, acho
que me ama ainda mais.
— Quero só ver, borboletinha.— Amo quando ele me chama assim.
Ganhei esse apelido porque gosto de ficar no jardim da nossa casa, maior
parte das vezes, lendo um livro e tentando decorar as falas.
— Um dia, eu serei uma atriz, igual ao senhor.
— Espero que tenha mais sorte do que eu nisso.
Meu pai veio para Nova Iorque para tentar a vida de ator, e se Deus
quiser, tudo dará certo. Já temos planos para nos mudarmos para uma casa
enooorme e beeem cara.
Suspiro e penso no futuro.
— Pai, eu…— Não tenho tempo para completar a frase, pois um
homem com o rosto coberto vem em nossa direção com algo brilhante na
mão.
— Passa tudo!
Logo no início, não entendo o que está havendo, até ver o meu pai
passar o celular velho para o homem, assim que pega sua carteira e dá todo o
dinheiro que temos, sinto vontade de chorar.
Não compraremos a pizza? Penso.
— A aliança também!— Grita e dou um pulo de susto com o tom
ameaçador de sua voz.
Papai começa a chorar, sei que é a única coisa que sobrou da mamãe,
então ele não pode dar algo com tanto valor sentimental.
— Por favor, tudo menos isso…
O ladrão fica ainda mais agitado e balança a cabeça.
— Passe tudo, ou vai levar uma bala na cabeça, velhote.
Ele não é velho! Sinto vontade de gritar, mas a voz é abafada pelo
meu choro. Não consigo nem sussurrar.
— É da minha falecida esposa, espero que reconsidere.— meu pai
não entrega e vejo que o homem fica ainda mais agitado.
E então, o bandido levanta a arma e vejo o ódio em seu olhar, antes
que ele levante a arma até a altura do peito de meu pai e dispare a sangue frio.
Dou um grito e vejo o sangue espirrar em mim.
Fico imobilizada enquanto o corpo do meu pai desaba no chão e o
bandido puxa o anel de ouro de seu dedo. Vai embora, como se não tivesse
acabado de atentar contra uma vida. Nem consigo focar no ladrão, apenas no
sangue que escorre do corpo do meu querido pai.
— Papai…— Estou chorando tanto que soluço com força.
Sou apenas uma criança, não sei o que devo fazer.
— M-mia…
Isso não pode estar acontecendo. Meu pai vai ficar bem, sei disso.
— Vou procurar alguém que te ajude, papai. O médico vai curar o
senhor.
Os médicos são inteligentes e tenho certeza que tudo pode ficar bem.
Eles conseguem fazer as pessoas doentes voltarem a ficar saudáveis.
— Espere…— O homem forte que sempre conheci, parece estar
com uma dor agonizante, então me remexo para ir embora, procurar por ajuda
— Primeiro, você tem que saber que eu te amo muito.
— Pode me dizer isso depois, papai.
— Querida, espero que tenha uma vida brilhante.— sua voz é tão
baixa que tenho que fazer esforço para ouvir.
Exatamente nessa hora, uma mulher aparece e grita quando vê a
cena.
— Ai meu Deus, alguém ajude!
Posso sentir meu nariz escorrer e o ranho se misturar com as minhas
lágrimas, enquanto começo a pedir a Deus para salvar a vida dele. Os olhos
queimando com a dor dentro do meu peito.
Nada nessa vida é tão difícil quanto ver a pessoa que mais ama
partindo.
A mulher pega seu próprio celular e liga para a emergência, fala
bastante e tenta conversar comigo, mas não escuto uma palavra. Só consigo
focar no corpo ensanguentado no bairro do Brooklyn. Vendo a vida ir
embora, e quero morrer também, pois ele é a única coisa que me resta.
— Querida…— A mulher segura os meus ombros e tento respirar,
mas minhas vias respiratórias estão congestionadas.— A ambulância chegou.
O aperto no meu coração parece aumentar, e isso não deveria
acontecer.
— A pulsação está fraca…— Diz um dos homens fardados e
seguimos para dentro da ambulância.
Respiro fundo e tento chamar o meu pai. Seus olhos quase fechados,
estão na minha direção quando seguro a sua mão, aquela força revigorante
cada vez mais distante.
— Mia, eu te amo demais… você sempre foi especial, a minha
melhor amiga…— sua voz cada vez mais fraca, até que sua mão caia.
— Por favor, moço, faz o meu pai ficar bom, logo.—
provavelmente, o enfermeiro não entendeu uma palavra sequer, nem eu
mesma o fiz.
— Qual o seu nome?
— Mia… Mia Corrigan.
— Sabe o número da sua mãe?
Respiro fundo para que desta vez ele consiga entender as minhas
palavras.
— Não tenho mãe, ela morreu quando eu nasci.
O olhar penoso do homem é algo que jamais poderei esquecer, pois é
como se algo terrível tivesse acabado de acontecer.
E realmente aconteceu, o meu pai já havia morrido, minutos antes
quando a sua mão largou a minha, pouco antes de dizer que me amava. E eu
não consegui dizer que também o amava uma última vez.
Nunca escolhemos quando a pessoa que mais amamos nos deixará. É
evidente que tentaríamos mudar o futuro se soubéssemos dele, e evitar as
tragédias que o desconhecido nos traz.
Muito tempo depois
Um dia eu estarei bem longe daqui e serei feliz.- Mia
Essa carreira de atriz significa tudo para mim, por isso estou com um
sorriso de orelha a orelha quando chego no teatro estiloso, bem maior dos que
eu costumo atuar. Aquele friozinho na barriga me faz suspirar.
O teto é tão alto e estonteante, com todas aquelas cortinas douradas e
caras. As cadeiras em um tom de vermelho vinho e acolchoadas, reclináveis.
E o palco é alto e tem um jogo incrível de luzes. O cheirinho que traz a minha
memória as coisas antigas é a melhor parte desse teatro.
Assim que fiz o meu teste, nunca imaginei que fosse passar, sabe
como é, né? As coisas são bem mais difíceis para pessoas negras,
principalmente em Nova Iorque.
Vou até uma mulher de terno que já vi antes, e ela parece ser bem
simpática, pois fica animada ao me ver.
— Olá, Mia Corrigan! Seja bem-vinda ao NY theatre.
— Muito obrigada, isso significa muito para mim.
Nos abraçamos e sei que isso não é muito nova-iorquino, mas nada
importa, pois estou dentro e nada pode tirar essa felicidade. Ademais, hoje
estou completando 23 anos.
— Maya vai acompanhá-la até onde estão os outros, para que vocês
se conheçam.
No dia da minha audição não tive tempo para me conectar com
ninguém, pois estava muito concentrada decorando as minhas falas.
Uma mulher magra demais vem até mim, com seus cabelos
cacheados e castanhos, a pele bronzeada, ela é bastante bonita.
— Oi, Mia, me chamo Maya e sempre estarei por aqui para ajudá-la
se precisar.— Maya estende a mão para mim e percebo que é um pouco
tímida.
— Espero que nunca precise chamá-la, porque não gosto de
incomodar ninguém.
Sigo-a até uma sala, onde os outros já estão conversando, mas não
sei se fui a última a chegar, pois não contei a quantidade de atores presentes
no roteiro, além disso, os produtores também podem acrescentar algo.
— Pessoal, essa aqui é Mia Corrigan, a atriz principal da peça “Entre
o amor e a vingança”, e vai atuar com vocês.
Todos acenam para mim e dizem que sou bem-vinda. Sempre
imaginei esse momento, mas há um homem no fundo, mexendo no celular
que não dá a mínima para mim e isso me incomoda. Não porque sou uma
burguesinha metida, mas porque quero me dar bem com todo mundo.
— Parece que a senhorita está bastante feliz.— Um homem se
aproxima, e me dá um copo de água, que aceito prontamente. Não posso
deixar de notar que ele é muito bonito, os cabelos loiros, curtos, como se
estivesse no exército e óculos de grau que combinam bastante com o rosto.
— Sim, nem posso acreditar que isso está mesmo acontecendo… foi
algo que sempre esperei, sabe?
— Me encontro na mesma posição.
— Ai meu Deus, você é quem vai contracenar comigo?
— Irei, mas não sou a sua primeira opção, se é que me entende.
Ok, eu entendi. Essa peça conta a história de Tory, a minha
personagem, que se apaixona por Adam, com quem contracenarei, e ele
descobre que eu sou filha do homem que matou sua mãe e a partir daí,
começa a história da vingança. Não posso contar mais do que isso, senão
seria um spoiler, mas esse homem provavelmente será:
— Robin, certo?
— Acertou na mosca.
Sorrio, pois Robin é um homem romântico e sedutor que gosta de
Tory, tentando roubá-la de Adam, aproveitando a oportunidade da vingança
como um álibi. Tory, pelo visto, não sabe o que está perdendo, porque esse
homem à minha frente é lindo de morrer e parece um mocinho perfeito que
saiu de algum livro.
— Como já fui apresentada por Maya, você já sabe o meu nome,
mas qual é o seu?
— Scott Anderson, ao seu dispor.
Scott segura a minha mão e a beija, então rapidamente gosto dele.
Sei que nos daremos bem e não no sentindo pornográfico, apesar de que
gostaria, mas apesar de ser gato, não faz o meu tipo.
— Obrigada… acho que te conheço de algum lugar.
— Já participei de algumas peças menores.
— Oh, deve ter sido isso, seu rosto não é estranho.
Rapidamente, outras pessoas vêm até mim e começamos a
conversar. Uns quinze minutos depois, Maya vem nos chamar para irmos até
o palco e nos dar as primeiras instruções.
— Bem, como todos sabem, essa peça está sendo bastante cotada,
então temos que esperar uma estreia bastante cheia. Além do mais, temos
atores incríveis.— O fato de nossa diretora ser uma mulher é muito
maravilhoso e ela fala como se sua vida dependesse disso. Me sinto
exatamente dessa forma.
Todos batem palmas, e fico animada com toda essa energia de estar
onde eu gosto de estar. Aqui as cores são mais vibrantes e tudo parece
mágico, e de certa forma, acaba sendo.
— Quero escutar uma salda de palmas para nossos quatro atores
principais… Mia Corrigan, Damon Eastbourne, Scott Anderson e Elis West.
Sinto-me um pouco tímida ao levantar e escutar tudo isso voltado
para mim. Estou bastante orgulhosa da mulher que estou me tornando e de
onde estou chegando.
— Como hoje é o primeiro dia, vou apresentar todo o contexto da
peça que foi inspirada em Hamlet. E se todos já tiverem lido a peça escrita
por Shakespeare, sabem que essa tragédia tem um romance que acaba por
causa de vingança.
Suspiro, pois a pobre Ofélia teve o seu próprio amor destruído por
causa de uma vingança que talvez tenha levado Hamlet à loucura. Quando li a
peça, fiquei indecisa se o homem estava louco ou só fingia isso muito bem.
No entanto, essa peça escrita por Tomy E. Handerson, incluiu uma
vilã na história que é Margot, interpretada pela loirinha bonita um pouco
distante de mim no momento. A mulher não parece nada com uma vilã, mas
ainda não a vi atuando.
— Espero que todos já tenham lido todo o roteiro e já saiba mais ou
menos o que acontece.
Sou apaixonada por atuar e já sinto o coração acelerar para que
chegue logo o dia em que os ensaios comecem a todo o vapor. Desde que li o
roteiro, me peguei como sendo Tory, uma mulher decidida que nunca
acreditou no amor até que ele apareceu, tão belo. Dou uma olhada para o meu
Adam, a diretora o chamou de Damon. O homem nem sequer tentou
socializar comigo como Scott fez, então talvez não seja sociável. Apesar
disso, é tão bonito que dói, sua barba por fazer é chamativa e seu nariz é todo
perfeito, arrebitado, e isso faz com que pareça ainda mais metido. Subindo
um pouco mais, vejo sua sobrancelha grossa e seus olhos… ah, que olhos
lindos.
Se ele não quer falar comigo e continuar sendo um babaca, tudo
bem, uma hora teremos que atuar e ele não poderá ficar com essa cara
amarrada para sempre.
Até lá, eu espero… sou muito paciente.
É bem nesse momento meio stalker, que sou pega no flagra, desvio o
olhar, coço a cabeça e pego o meu celular. É constrangedor, mas posso lidar
com isso.
••
— Skylar, foi incrível!
Esse é um dos raros dias que Sky abre mão de ficar com Luke para
se juntar a mim em uma noite de garotas, mas hoje é meu aniversário, então
tenho um crédito. Estamos assistindo “meninas malvadas” e comendo pipoca
de micro-ondas.
— Estou percebendo como está eufórica… e olhe que eu morei com
você por um bom tempo.
— E o teatro é bem maior, dá vontade de explorar cada lugarzinho
por lá, ou quem sabe, encontrar o amor da minha vida quando estiver
voltando para casa, com os olhinhos brilhando de emoção.
— Não dou um mês para você realmente achar algum homem
estranho e isso acontecer. Sério amiga, não tem nenhuma história que queira
me contar? Estou querendo sorrir um pouco hoje.
— Nunca mais saí com ninguém, infelizmente.
— Claro que não, depois de tantos encontros estranhos, eu também
não iria atrás de ninguém. Falando nisso, não sei como você ficou com aquele
Ollie.
— Eu não sabia que Ollie ficava estrábico quando gozava!
— Ele era estranho sem isso!
Só de imaginar o rostinho bonito dele, com os olhos muito abertos
em minha direção, dou uma gargalhada. Não consegui levar aquilo adiante.
Além do mais, as vezes ele me ignorava completamente nos meus desejos
sexuais.
— Tirando a vez que você realmente ficou com um estrábico. Acho
que tem uma tara nesse tipo de homem.
— O Rick era realmente um bom partido, uma pena que tivesse mais
atração por homens que mulheres.
Preciso confessar que ele me disse isso logo depois que acabamos, e
também preciso confessar que não gozei. Mas não fiquei com raiva, porque
ele foi sincero.
— Ah, amiga, espero que o seu príncipe encantado esteja em uma
esquina entre Williamsburg e o Brooklyn.
— O meu príncipe encantado já existe e vive nos meus sonhos, é
exatamente por isso que ele é encantado… apenas fruto da minha
imaginação.
— Ainda tem sonhos com aquele homem?
— É um homem muito bonito…— Só de pensar naqueles olhos
azuis, sinto vontade de dormir.
— Ok. Ok. Tenho que ser sincera com você. Acho que sonha com
esse homem misterioso, porque tem medo de se apaixonar perdidamente por
alguém.
— Touché.
Não posso negar que tem um quê de verdade nessa situação do meu
príncipe. Quero me apaixonar, mas, ao mesmo tempo, tenho um pouquinho
de medo. Sempre fui muito independente, então entregar o coração não é algo
fácil.
Já conheci o amor de uma maneira bastante impactante e esse é o
problema, primeiramente com o meu pai e logo depois com o meu melhor
amigo. É uma pena que nada dura para sempre… muito menos o amor.
Quando a minha mente está dando reviravoltas no passado, meu
celular começa a tocar, abro um sorriso gigantesco ao olhar para a tela e ver o
nome “Cora”.
— PARABÉNS!
É a primeira coisa que escuto a minha ruivinha gritar. Somos nós
três faz tanto tempo que meus olhos lacrimejam.
— Muito obrigada.
Skylar encosta a cabeça na minha e agora Cora pode ver nós duas.
— Ai meu Deus, Sky, você engordou um pouco, não foi?
— Quem deraaaa.— minha louca favorita grita ao meu lado.
— Tem um buraco negro dentro dela, parece que nunca engorda,
aposto que nem tem estrias!
Sorrio e sinto uns fios do meu cabelo se moverem quando ela
assente.
— Não tenho mesmo, sinto informar.
Estar com essas duas garotas, melhora o meu dia e sei que posso
contar com elas a qualquer instante. São as amizades mais saudáveis do
universo.
— Preciso falar algo para vocês duas.— começo.— Eu tenho as duas
como minhas irmãs e amo tanto que chega a doer, de verdade.
— Como você é fofa, Mia, nós também te amamos! Fico muito mal
de não estar com vocês, assistindo “meninas malvadas”, e essa distância está
me matando.
— Mas é por uma boa razão, Cora.— Sky fala ao meu lado, os olhos
já marejados, o que me faz querer chorar também.
— Sim, mas hoje é o aniversário da minha melhor amiga e eu só
queria dar um abraço bem apertado. Como não posso, é importante ressaltar o
quanto Mia Corrigan é a melhor conselheira do mundo, exceto se o conselho
for para ela.
“E o quanto ela sempre se importa com as nossas dores e se hoje
Luke tem a sorte de estar ao lado de Sky, foi por causa dela. Além disso, é
tão linda e amável que não sei como está solteira.”
— Vocês duas ainda me matam de emoção.— estou chorando tanto,
que tenho soluços involuntários.
— Também é um pouco chatinha, não esqueça de falar isso, Cora.
Dou um tapa em Skylar com a mão livre, mas ela me abraça em
seguida e beija a minha bochecha.
— Sempre seremos nós três contra o mundo.
— E distância nenhuma separa.— Sky e Cora complementam, como
sempre fazemos.
E com isso, mais lágrimas escorrem pelo meu rosto. É assim que sei
que foi o melhor aniversário de todos.
E sempre que você está por perto, o mundo desaparece.-Skylar
Chego no teatro com uma dor de cabeça dos infernos, e para piorar
tudo, tenho que me esbarrar com a vilã dos olhinhos bobos, vulgo Elis.
— Parece que há alguém que não olha por onde anda.— ela fala,
exatamente da mesma maneira que a sua personagem, Margot.
Antes que eu possa dar uma resposta afiada, e começar uma briga
logo de manhã, ela muda a expressão e começa a sorrir, como se tudo não
passasse de uma brincadeira.
— Pela sua cara, acho que pensou que eu estava brava de verdade…
— Me desculpe, estou com uma dor de cabeça horrível.
— Não tem problemas, se eu tivesse disposição, também sairia para
beber logo depois dos ensaios.
Consigo dar um sorrisinho, pois, Elis parece ser muito gente boa e
carinhosa, bastante diferente de sua personagem megera.
— Também não costumo, mas ontem foi um dia difícil.
— Urgh, nem me fale… fazendo uma pequena fofoca dos
bastidores, acho que o assistente de palco está caidinho por você.
Mal percebo quando já estamos no camarim e fico feliz por Elis ter
mudado de assunto, fazendo a nossa conversa fluir como uma nascente de
água.
— Continuando a fofoca… acho que ele tem uma perna mais curta
que a outra.
Elis solta uma gargalhada, sem se importar com as pessoas ao redor,
que voltam suas cabeças em nossa direção, e na mesma hora, sei que vamos
nos dar bem, pois ela é uma boa pessoa.
Não sei como isso acontece, mas sempre sinto quando uma pessoa é
verdadeiramente legal e quando não é. É quase como um dom.
— Deve ser por isso que ele pende um pouquinho para o lado.
— Talvez ele tenha dado um tiro no próprio pé[2].— dou de ombros.
A loira abre os olhos para mim, não sabendo se pode rir ou não da
piada.
— Como você chegou nessa conclusão?
— Certa vez, fui para um encontro com um policial, e ele andava
muuuito estranho. Quando perguntei o que havia acontecido, ele me
confessou que a arma estava com problemas, então quando foi recarregá-la,
ela disparou sozinha e acertou vários dedos.
— Nossa, Mia… eu nem sei o que falaria para um homem como
esses, pois odeio pensar em armas.
— Exatamente como eu! Depois que esse homem me falou que a
arma fez os ossos dele parecerem um “s”, eu fingi que estava com sono e dei
um perdido nele.
— Eu faria o mesmo.
A conversa com Elis fluiu rápido demais e passamos mais meia hora
conversando, antes que o assistente viesse nos chamar para o ensaio. É claro
que Elis e eu sorrimos. Nos comunicamos com olhares.
•
— Vamos para um Happy hour depois daqui?
Scott pergunta repentinamente quando eu e Elis estamos
conversando sobre algumas falas da peça. A melhor coisa em ter amigos é
sair com eles.
— Por mim tudo bem.— Não tenho nada para fazer além de estar
nessa peça. E preciso mesmo de uma distração.
— Vou amar passar um tempo com vocês.— Elis fala e é tão fofo
que tenho vontade de apertá-la. Me lembra bastante a minha melhor amiga,
Cora.
Como minha ruivinha favorita está em outro Estado, só podemos nos
falar por videochamada(e até isso tem se tornado um problema, pois ela é
mais ocupada do que eu).
Fico animada por ter tanta sorte com essas amizades que a vida tem
me proporcionado. E espero que durem para sempre.
Assim que o ensaio acaba, fico muito cansada, mas, ainda assim,
animada para sair com os meus colegas de trabalho. Quero aproveitar cada
segundo dessa peça e espero que esse seja o caminho que me fará brilhar
como uma estrela.
Scott escolhe um lugar chique, chamado “Miss Americana”,
sinceramente, eu sorri quando escutei o nome, mas agora que estamos aqui,
me arrependo. Julguei pela capa, mas acontece.
Miss americana é um lugar bastante chique, mas escondido e não sei
como nunca ouvi falar daqui antes. O lugar é bastante limpo e com luzes que
deixam tudo mais animado.
— Queria ter coragem de dançar sem me importar com as pessoas ao
redor.— confesso meio que sem querer e Elis olha para mim como se sentisse
da mesma forma.
— Nem me fale! Eu já tentei e nunca consegui me soltar. Sou uma
péssima dançarina. Juro que parece que não estou dançando para valer
quando estou.
Scott se aproxima e passa o braço pelo ombro da loira ao meu lado,
sinto seu cheiro másculo e forte inundar o ambiente por alguns segundos.
— Depois de uns drinques, aposto que vocês ficarão soltinhas como
arroz.
Elis o empurra para o lado, mas está com os lábios levemente
repuxados para cima, em um quase sorriso.
— Uma péssima analogia, sinto te informar.
— Não pensei que alguém tão charmoso fosse tão mal educado ao
ouvir a conversa de duas mulheres.
— Pelo visto, a senhorita Corrigan está caidinha por mim, me
chamando de charmoso.
— Vai sonhando, Anderson.— mostro o dedo para ele, mas toda
essa conversa, quebra o gelo antes de nos sentarmos em uma grande mesa
retangular.
Damon também está aqui, e pelo visto, tudo o que aconteceu nos
palcos foi uma graaande encenação, pois ele voltou a me ignorar, olhando
para o seu celular como se sua vida dependesse disso.
Muita falta de consideração.
— Ok, agora que somos amigas, pode me contar porque escolheu
viver a vida nos palcos…
Não costumam me perguntar esse tipo de coisa, primeiramente
porque não sou uma grande atriz nem nada, mas sou sincera ao responder:
— Por causa do meu pai… ele me inspirou.
Scott me lança um olhar, pois já sabe um pouco da história, visto que
ele literalmente foi o meu ombro amigo e eu tagarelei para ele durante toda a
noite.
— Profundo. Ele é ator?
— Era… ele morreu.
— Ok, as coisas ficaram meio sombrias por aqui, vamos falar sobre
você, Elis.— Scott fala antes que Elis possa comentar algo, salvando a minha
pele da pena habitual, e agradeço com um olhar.
— Ah, a minha história é bem sem graça. Meus pais sempre
odiavam a ideia de ter uma filha atriz, então foi bem chato quando eu entrei
na faculdade.
— Nada sobre você é sem graça…— Anderson lança um olhar para
ela e percebo um clima entre os dois, ou talvez seja coisa da minha cabeça.
Fazemos os nossos pedidos e passamos a noite conversando um
monte de besteiras, mas vez ou outra, tenho a sensação de que Damon está
olhando para mim.
Claramente é apenas uma sensação, pois Elis está ao meu lado, então
eu desencano. Mesmo assim, fico tomando o meu coquetel de maneira sexy,
vai que ele olhe para mim de alguma forma?
Sim, eu o acho muito atraente e não ficaria nada mal se ele
resolvesse falar comigo, ou talvez sairmos. Homens misteriosos sempre me
atraem, e ele tem aquele ar de algo muito escondido.
E é por isso, que ao chegar em casa vou fuçar sua rede social.
Estou sentada, na mesma cadeira que estive outras milhares de
vezes, sozinha com um livro velho e úmido em minha mão.
— Está linda hoje, Mia.
Esboço um sorriso, pois já sei o que vem em seguida. É sempre a
mesma coisa.
— O que foi, o gato comeu sua língua? Ou foi um macaco?
Da última vez que eu tinha agradecido, ele havia caçoado de mim,
nem consigo me lembrar de suas palavras, ainda bem.
Já tentei bater minha cabeça na parede para esquecer todas as
coisas que já me falaram nesse ano. Eu queria poder denunciar, mas dessa
forma, eles se voltariam ainda mais contra mim.
E eu não consigo aguentar mais do que isso.
— Ah, agora ela é muda… literalmente uma macaca.
As lágrimas começam a queimar nos meus olhos, enquanto penso
que nunca serei boa para ser amiga de ninguém.
Assim que Trace vai embora, baixo a minha cabeça e começo a
chorar, pois somente assim, posso aliviar um pouco dessa dor no meu peito.
••
Acordo assustada.
Sou uma pessoa que tem muitos sonhos e pesadelos estranhos. Odeio
isso. Mas isso não foi um pesadelo, o que torna tudo pior. Era uma lembrança
dolorosa.
Preciso urgentemente de um café.
Visto-me o mais rápido que consigo, vou atrás do meu fone de
ouvido cor-de-rosa e após colocar um casaco, saio para clarear a minha
mente.
Somente Lana Del Rey consegue me trazer a tranquilidade
necessária, para que a minha ansiedade comece a voltar ao normal. Aos
poucos, vou me acalmando.
Estou tão aérea, que esbarro com força em alguém relativamente
mais alto que eu.
— Desculpe.— olho para cima e imagine a minha surpresa ao
perceber que é Damon Eastbourne que está na minha frente. Tiro os fones do
ouvido e fico sem reação.
Sempre imaginei que ele fosse o tipo de pessoa que morasse na 5º
avenida. Ok, estou fazendo um prejulgamento… não faço ideia se ele mora
aui nesse bairro.
— Ah, é você…
Olho para ele com os olhos semicerrados. Por acaso sou tão
repugnante assim? Dou até uma olhada na minha roupa, mas ela está normal.
— Nossa, parece que não sou a melhor pessoa do mundo para
esbarrar, né?
Os olhos de Damon escurecem, como se sentisse culpado e por um
segundo eu me sinto bem por ter causado esse efeito, até ele abrir a boca:
— Não foi isso que quis dizer… me desculpe.
Sei identificar uma pessoa triste quando vejo uma, e há algo em
Damon que expressa uma agonia, como se descobrisse uma doença terminal
ou algo do tipo. Ou talvez, eu esteja imaginando coisas demais.
— Sem problemas, eu estava distraída demais para notar você.
E por alguns segundos, nós dois não sabemos como agir e é estranho
para caramba. Mexo no fone que está na minha mão e nada me vem na
mente.
— Olha, eu sou beem alto, então você deveria estar mesmo distraída.
— Mora por aqui?— tento puxar assunto, pois quero mesmo
conhecê-lo melhor.
— Não.— seu rosto se fecha e acho que falei algo que não deveria.
Não é da minha conta.
— Então, se não estiver ocupado, quer tomar um café comigo?
Damon abre o esboço de um sorriso, seus ombros relaxam e, quando
penso que vai recusar, assente. Caminhamos lado a lado, e com apenas um
dos lados do fone de ouvido, acabo me sentindo em um clipe indie.
Como já estamos perto da cafeteria, o silêncio estranho entre nós não
se estende por muito tempo. Ele abre a porta do estabelecimento para mim e
meu coração aquece um pouco.
Arrumamos uma mesa e eu resolvo quebrar o gelo:
— Está bastante bonito hoje…— as palavras saem sem querer e eu
fico muito envergonhada por ter dito isso em voz alta, mas ganho a sua
atenção.
Assim como eu, Damon está distraído e tenho quase certeza que tem
algo com ele estar por essas áreas.
— Obrigado, tenho que retribuir o elogio.
O clima entre nós ainda está bastante tenso. Mexo nas próprias
mãos, tentando pensar em algo legal e parece que me tornei uma adolescente
boba novamente.
Peço um café extra forte e ele fica no café com leite.
— Você é de Eastbourne mesmo?
Ele me observa com interesse, e é claro que eu tinha dado um google
no nome dele e vi que era uma linda cidade.
— Tudo bem, porque estamos conversando assim? Como se
fossemos dois adolescentes? Estamos na mesma peça, então vamos
aproveitar essa oportunidade para nos conhecer melhor.
Nunca o vi falar tanto em tão pouco tempo, então começo a sorrir de
sua frase motivadora.
Claro que quero conhecê-lo melhor!
— Ainda não me respondeu a pergunta sobre Eastbourne.
— Desculpe, fiquei empolgado demais, não foi?
— Para falar a verdade, que bom que disse isso, eu também estava
um pouco incomodada. Somos dois adultos, não precisamos agir como
estranhos.— Inclino-me para frente, como se fosse um segredo
compartilhado entre nós dois.
Já tive muitos encontros nessa vida(e vai por mim que foram
muitos), mas nunca me senti tão nervosa assim. É como se Eastbourne
causasse um efeito Benjamin Button em mim.
— A minha mãe sempre gostou de Eastbourne e disse que quando
seu primeiro filho nascesse, teria esse sobrenome. Estranho, né?
— Na verdade, achei fofo… queria ter tido a oportunidade de
conhecer a minha mãe e perguntar porque me chamo Mia.— minha mãe
quem escolheu o meu nome, mas nunca disse ao meu pai o porquê dele.
— É um nome muito bonito, ela morreu cedo?
— Logo depois que eu nasci, mas tudo bem, eu tive um pai incrível.
Beberico um pouco do meu café e o líquido quente desce
deliciosamente em minha garganta. Está tocando alguma música de Colbie
Caillat, pois conheço essa voz doce em qualquer lugar.
— Nunca conheci o meu pai, ele meio que abandonou a minha
mãe…— sinto que Damon me contaria algo a mais, mas, para e bebe um
pouco de sua bebida.
— Alguns homens podem ser cruéis.— digo por experiência própria,
pois desde cedo sofri com eles.
— Sempre morou por aqui? Acho que eu teria lembrado de um rosto
bonito como o seu.
Impossível não corar com o comentário, mas logo lembro que esse é
o pior tipo de homem. Os que eu geralmente atraio. Os que não querem nada
sério.
— E eu teria lembrado desses olhos…— elogiar um homem para
inflar seu ego é a coisa mais eficaz — Mas, não. Na verdade, vivi em vários
lugares, Brooklyn, depois Mineola, depois fui para a faculdade em Queens, e
agora, moro aqui em Williamsburg.
— Estou hospedado aqui perto, então se quiser carona, para não
pegar o trem…
— Obrigada.
Seus dedos se movem sobre a xícara e ele olha fixamente para a
janela, ficando pensativo. Está um belo dia lá fora, mas Damon não parece
estar apreciando a vista, está parecendo imerso em lembranças.
— Sinto saudades da Inglaterra, mas gosto bastante daqui.
Suspiro ao lembrar da minha própria infância, quando o meu pai
estava sempre junto de mim.
— Ao falar de saudades, lembrei do meu pai, ele era o homem mais
incrível que já conheci.
— Todos os pais deveriam ser.
Encaro-o e sinto uma energia magnetizante em seu olhar. Como ele
consegue ser bonito nessa hora da manhã, nunca saberei, pois estou com os
cabelos em pé, a cara sem um pingo de maquiagem e minhas olheiras devem
estar gritando. Ele é tão lindo, que já está pronto para ser um galã de
Hollywood se quiser. Esses olhos tão intensos e em um tom de azul e verde,
me fazem suspirar levemente, até que tento lembrar do que estávamos
falando.
— Exatamente! Mas antes de o meu pai morrer, comecei a sofrer
Bullying na escola e ele me ajudou.
Sempre que falo sobre isso, minha garganta começa a ficar pesada,
mas é apenas um efeito colateral que toda essa história tem sobre mim. Não
costumo me vitimizar, pois o que eu sofri, me tornou quem eu sou.
— Lembro de uma vez que uma garota falou que meu cabelo parecia
uma esponja de lavar prato e tentou cortar um pedaço para enfatizar isso… o
meu pai me abraçou e disse que eram os cabelos mais lindos e cheirosos do
mundo inteiro.
“Logo em seguida, me levou para a cidade vizinha e tomamos
sorvete, na volta para casa, eu já tinha esquecido toda a situação e me sentia
bem melhor.
— Como alguém diz que esse cabelo é feio?
Coro novamente, mas é verdade, hoje em dia sei que meus cabelos
são mesmo muito bonitos. Certa vez o alisei e me odiei por isso. Agora eles
são volumosos e cheios de curvas, no entanto, vez ou outra passo a temida
chapinha.
— Desde quando você mora aqui nos Estados Unidos?
— Faz uns cinco anos, sempre quis me mudar para cá. Assim que
acabei a minha faculdade, aos vinte e cinco anos, vim fazer especialização e
fiquei.
Nossa, isso significa que Damon Eastbourne tem 30 anos! Eu
poderia apostar a minha vida que ele era uns três anos mais novo.
— Bem, a nossa conversa está muito boa, mas tenho que ir, ou vou
me atrasar para o ensaio.— tenho que ser a estraga prazer, pois gosto de ser
pontual.
Damon me dá o seu telefone e pede para que eu digite o meu número
e blá blá blá. Assim ele vai poder me dar uma carona e dessa maneira não nos
atrasaremos.
Fico feliz, pois toda essa situação fez com que nós dois tivéssemos
uma conversa bem bacana. E agora estou tentando não criar muitas
expectativas.
••
Eu havia esquecido completamente que hoje é o dia com uma cena
realmente quente como o sol entre Tory e Adam, consequentemente, entre
mim e Damon.
Durante todo o caminho até o ensaio, vimos discutindo nomes de
bandas e descobri que gostamos de “Evanescence”, fala sério, ficamos
falando sobre isso e nem vimos a hora passar!
Mas, agora me vejo nervosa, pois, agora é pra valer, vamos nos
beijar e tudo o que sinto é uma inquietação no meio de minhas pernas.
Ao nos chamar para começar, o olhar que Damon me lança é
extremamente quente e sensual. Fico molenga e depois de um tempo,
finalmente chega a hora de nos beijarmos.
— Me perdoe, gata.— diz antes de contar sobre a vingança contra o
pai de Tory.
Faço uma expressão de desentendida e respiro fundo antes que ele se
aproxime e toque suavemente em meu pescoço. Meu corpo reage, e fecho os
olhos. A pressão tão conhecida como “tesão” se instala em mim como uma
sanguessuga.
— Não entendo…— e antes que eu possa pensar duas vezes, Damon
aproxima o rosto do meu e me beija.
No mesmo instante que nossos lábios se encontram, sinto todo o
meu corpo vibrar com toda a emoção de um primeiro beijo. Suas mãos estão
no meu rosto e logo em seguida estão baixando até a minha cintura. Os dedos
baixam até a curvatura do meu bumbum e a sensação me deixa louca.
Gemo quando abro espaço para que ele aprofunde o beijo e nem
penso na quantidade de pessoas que está nos assistindo, na verdade, tudo se
torna ainda mais excitante.
— Minha nossa!— Sussurro para que apenas ele possa me escutar.
Passo minha mão por seu rosto antes de puxá-lo para mais perto,
como se nada estivesse bastando, porque não está. Preciso de mais. A textura
da sua língua na minha me deixa molhada.
Respiramos fundo e como ninguém nos interrompe, começamos a
nos beijar mais uma vez e dessa é ainda melhor, pois ele passa a mão na
minha bunda, algo que me deixa ainda mais ligada. Imagino essas mesmas
mãos em lugares mais indecentes…
— Está ótimo!— Escuto a voz da diretora e isso basta para esfriar o
clima entre mim e Damon.
Olho rapidamente para ele e vejo que está se controlando. Aposto
que se estivéssemos sozinhos, isso não pararia por aqui. Só em pensar nisso,
minhas entranhas se retorcem de desejo. Meus lábios estão inchados e
molhados.
— Vocês dois têm uma química inegável!
Fico bastante constrangida com isso, pois é estranho que eu receba
esse tipo de comentário juntamente à Damon Eastbourne. Os outros atores
com quem contracenei não era famosinhos como ele, esse homem já estava
escalado sem nem precisar fazer teste. Fazer parte disso junto dele me faz
pirar de ansiedade e recebo o que acabei de escutar, como um elogio.
— Andei pensando que podemos fazer essa peça explodir se vocês
fingissem estar juntos. A imprensa ama esse tipo de coisa, casais que se
formam nos palcos.
O frio na minha barriga triplica, eu e Damon nos encaramos, ambos
sem ter o que dizer. Isso é a coisa mais clichê de todas, fingir que os atores
estão juntos, mas se ajudará, não posso me abster.
— Sei que é algo para se pensar a respeito, mas acho que são
grandes atores e conseguiriam fazer isso dar certo.
— C-claro.
Mexo nos meus cabelos, desconsertada por ter gaguejado, mas, ao
mesmo tempo, começando a gostar da ideia, se isso significar que haverão
mais beijos como esse.
Na volta para o camarim, tenho certeza de que escuto Damon
sussurrar para mim que sou “gostosa”. As palavras me pegam de surpresa e
fico chateada por ele pensar isso de mim. Não inteligente, e sim gostosa,
assim como todos os outros… e eu que achei que ele fosse diferente.
Sofro com a ansiedade 24 horas por dia, ou seja, até quando estou
dormindo.- Cora
— Confia em mim?
— Você é Aladdin agora?
Passamos a tarde de ontem assistindo alguns filmes de princesas e
lembro o quanto Peter achou fofo o casal do filme de Aladdin, pois os dois
são muito unidos desde o início.
— Posso ser o que você quiser.
— Awn, como é fofo!
Já somos amigos há muito tempo e já estamos no primeiro ano do
ensino médio. Ele sempre foi a pessoa que esteve ao meu lado quando todos
os outros me xingavam.
Peter é o meu porto seguro e eu o dele. A mãe dele não gosta muito
de mim, mas me tolera, a mulher é muito chata e mal suporta o próprio filho,
então não me importo com sua opinião.
— Eu te vejo com os mesmos olhos de quando eu te conheci.
Faz cerca de um mês que ele se declarou para mim e começamos a
sair escondidos e fazer declarações desse tipo. Perder o meu “bv” com Peter
foi a coisa mais estranha e espetacular da minha vida, porque ele é meu
melhor amigo.
Agora, sempre que saímos da escola, ficamos em um parque que é
perto da minha casa. Nossos beijos ficam melhor a cada dia, e temos
praticado bastante.
— Ninguém nunca me falou esse tipo de coisa.
— Isso, porque eu tenho a sorte de te conhecer melhor do que todo
mundo.
Ele segura o meu queixo e me dá um selinho.
— Podemos ficar juntos para sempre?
Todos os dias, quando nos despedimos, sinto como se fosse morrer.
Sei que não vou, e que sou apenas uma adolescente, mas não gosto de ficar
longe dele.
— Se depender de mim, sim.
— Então, estamos combinados.
Peter entrelaça as mãos nas minhas e logo em seguida, deita a
cabeça no meu colo, me observando e tenho certeza absoluta que estou um
horror sendo vista de baixo.
— Depois que terminarmos a faculdade, vamos nos casar e teremos
uma filha e um golden trivier.
Solto uma gargalhada, pois Peter sempre sonhou com um cachorro
e sua mãe nunca permitiu.
— Ok, teremos tudo isso e seremos muito felizes.
— Felizes para sempre e sempre.
Por mim, eu realmente ficaria assim para sempre.
•
Acordo, sozinha na cama e percebo o quanto me sinto só. As coisas
nunca saem como planejamos. Fecho os olhos e tento sonhar com outra coisa,
mas antes, uma lágrima escorre pelos meus olhos e molha o travesseiro.
Odeio fazer planos.
•
Não sabia o quanto eu me vestia mal até o dia de hoje. Pelo menos, é
o que esse consultor de moda está me dizendo há meia hora. “ninguém mais
usa blusas que caem em apenas um dos ombros, a moda agora é ombro a
ombro”, e a única coisa que faço é me manter com um sorriso no rosto e
esperar que ele tire as medidas para que tudo fique perfeito no final das
contas.
— Porque não sai um dia desses para fazer umas compras? Não
pode ser fotografada mais de uma vez com a mesma roupa depois que a peça
sair.
Eu já tinha isso em mente, mas agora, sinto como se estivesse me
vestindo como uma mendiga, ou talvez a pessoa mais mal vestida desse
teatro.
Depois que sou dispensada, como quem não quer nada, fico ouvindo
o que esse tal de Jean fala para Elis, que é a próxima da fila do “esquadrão da
moda”.
— Oh, querida, amei o tom da sua blusa, combina com seus olhos.
Assim que escuto isso, faço o máximo para não fazer nenhuma
careta. Então, ele é um baba-ovo de Elis ou o quê?
— Muito obrigada.
Logo no início, pensei que houvesse algo entre Elis e Damon, mas
depois que vi os dois conversarem, ficou claro que só havia amizade.
Fico boba quando Scott entra no nosso camarim e fica olhando para
Elis como se ela fosse uma deusa que o enfeitiçou… para falar a verdade,
talvez tenha sido exatamente isso que aconteceu.
— No entanto, tenho que dar o mesmo conselho que dei para Mia.
Todos devem estar com o guarda-roupa lotado quando a peça sair.
— Claro que sim, vou arrumar um jeito de encher o meu closet.
Nunca fui uma pessoa muito rica, mas ouvir Elis falar de closet me
faz perceber o quão longe é a nossa situação bancária, provavelmente ela
sempre teve tudo nas mãos.
Scott finalmente deixa de encarar a loirinha e senta ao meu lado.
Chega uma mensagem de Damon exatamente no mesmo instante e vejo seus
olhos se moverem curiosamente até o aparelho eletrônico em minha mão.
— Nunca mais conversamos, estou com saudade.
— Também estou, mas o trabalho anda bastante pesado.
— E pelo visto, você e Damon levaram muito a sério o papo de
namorarem por marketing…
Ruborizo, pois esse assunto ainda é estranho para conversar e as
únicas pessoas que sabem o que está acontecendo entre mim e Damon, são
Cora e Skylar.
— Sabe como é, eu levo a minha personagem muito a sério… além
disso, Damon é um ótimo amigo.
Ele aponta com a cabeça para a mensagem que recebi de Eastbourne
e ainda não abri. Forço um sorriso.
Damon e eu vivemos grudados, realmente como se fossemos
melhores amigos. Sempre sorrindo de alguma coisa engraçada ou vendo
algum vídeo no instagram… meio que se tornou um hábito e não podemos
controlar os olhares sempre que alguém passa alguma vergonha perto de nós.
— Preciso confessar uma coisa.
De repente, sinto um frio na barriga, pois, Scott está agindo estranho
e de maneira nenhuma, eu quero que se declare para mim ou algo do tipo.
— P-pode falar…
Congelo a minha expressão me preparando para o pior e não consigo
evitar que o meu coração acelere um pouco.
— Não sei se você tem percebido isso, porque sempre está
conversando com Damon, mas…
Quando ele faz a pausa, meu coração ameaça despencar para fora do
peito, já nem consigo mais deixar o sorriso falso no meu rosto, até que Scott
segura a minha mão e se inclina em minha direção, como se fosse um
segredo.
— Puxa, a sua mão está fria!
Tento dar um sorriso sem graça e ele balança a cabeça, como se
quisesse chegar ao ponto mais rápido.
— Está rolando um lance entre mim e Elis.
Quase dou uma risada e solto o ar que estava prendendo. Depois de
tanto suspense… por sorte, dessa vez escapei. Scott é um ótimo amigo e
desde que nos beijamos, fiquei com medo que ele ficasse querendo algo a
mais comigo. Mesmo assim, não faz sentido ele se declarar justo agora,
meses depois daquilo.
— Sério?
— Sim. Criei coragem pra contar a ela sobre meus sentimentos e
saímos. Gostaria que você soubesse.
— Então, todo aquele lance de falar sobre sair com pessoas do
trabalho foi por água abaixo?
— Infelizmente não controlamos os nossos sentimentos, eles
simplesmente brotam como um feijão no algodão.
Começo a sorrir e percebo quando Elis se vira para nós dois,
enquanto conversa com Jean e escuta seus conselhos. Me pergunto se ela é do
tipo ciumenta ou é uma pessoa muito confiante, e espero que seja a segunda
opção.
— Nem sei o que falar depois disso.
De alguma maneira doida, o que ele falou é verdade, nunca sabemos
quando esse sentimento começa e não conseguimos evitar. Sempre que penso
em Damon, é como se algo surgisse dentro de mim, o que me lembra de sua
mensagem.
— Não fale para Elis, mas eu me iludo muito fácil e já planejo todo
o meu futuro.
— Relaxa e aproveita o momento.
É o que eu tenho dito para mim como um maldito mantra e tem
funcionado, pois pensar no futuro sempre é aterrorizante. Aproveitar o nosso
momento é incrível, pois não criamos expectativas e não nos decepcionamos.
— E agora, me deixa ir embora, porque eu tenho que responder
alguém.
Scott semicerra os olhos na minha direção e eu dou risada. Gosto de
trabalhar com essa equipe, pois meus colegas são incríveis e sentirei falta das
nossas manhãs e tardes conversando sobre trivialidades.
Até uma conversa sobre o tempo se tornava interessante se eles
estivessem presentes.
E é com um sorriso no rosto que eu abro a notificação com o nome
de Damon(ao lado eu coloquei Lullaby, mas é a nossa piadinha interna).
“Um presentinho para você”.
É uma foto dele, sem camisa, na frente do espelho, me falta o ar e
olho para os pelos que eu tanto amo nesse peito. As batidas aceleradas do
meu coração não são do tipo “ruim”, e sim, aquele frio na barriga bom.
“Estava fazendo ioga e tentando relaxar, mas as coisas não estão
muito fáceis dentro da minha cabeça”.
A segunda mensagem me deixa tristonha, porque nesses dias a sua
mãe está cada vez pior e mesmo que eu faça de tudo para colocar um sorriso
naquele rostinho lindo, não adianta, pois ele está passando por um dos piores
momentos de sua vida.
Encosto na parede e coloco o celular no meu peito, sentindo ele
descer e subir conforme a minha respiração, e penso em algo para respondê-
lo.
“Quero muito conhecer a sua mãe e fazer algo por ela”.
Envio e tenho a brilhante ideia de fazer uma surpresa para animá-la,
o tipo de coisa que toda mulher gosta. Provavelmente não poderei levar
flores, pois não sei se é alérgica, mas pensarei em algo.
“Ela vai ficar feliz em conhecer você, já que não sou o tipo de cara
que namora sério, sempre me concentrei muito no trabalho”.
Arregalo os olhos e fico surpresa ao ver que ele menciona um
possível namoro entre nós. Desde sempre, achei que não fosse um lance
sério. Passo um longo tempo lendo e relendo a mensagem. Meu coração
acelera ainda mais.
E isso meio que me assusta.
“Ok, posso fazer isso”
Claro que farei algo por uma mulher que está à beira da morte com
câncer, ela precisa de uma noite legal, conversar com alguém que não seja a
sua enfermeira ou o filho.
E já sei exatamente oque eu preciso fazer.
Acontece que, as vezes, o amor da sua vida não é o amor para a sua
vida.- Elis
Na volta para casa, por incrível que pareça, a pessoa mais animada é
a mãe de Damon. Mesmo fraca, a mulher está reluzente por ver o filho atuar e
é fofo o jeito como o meu namorado se importa com a saúde da mãe.
— Queria ir todos os dias.
— Mas, sabe que não pode, por estar tão frágil.
De instante em instante, ele a observa, com medo de que algo possa
acontecer.
— É um saco estar perto da morte…— A maneira como ela fala,
ironicamente, me faz olhar para Damon, com os olhos arregalados.— O meu
próprio filho fica preocupado comigo.
— Não diga esse tipo de coisa, mãe!
— Ah, mas é a verdade, e eu já aceitei, você deveria fazer o mesmo.
Sinto minhas mãos gelarem, pois a primeira coisa que penso quando
penso em aceitação, é em mim mesma. Eu não estou conseguindo aceitar que
sou boa o suficiente para interpretar Tory.
Estou muito abalada com tudo o que está havendo na minha vida.
São tantas coisas boas e ruins ao mesmo tempo, que até parece que estou
sufocando.
— Você está bem, Mia?
As mãos da senhora Eastbourne seguram nas minhas e é quando
percebo o quanto estou nervosa. A respiração entrecortada diz tudo por mim.
— Por que eu não estaria?
— Porque está hiperventilando e isso nunca é um bom sinal.
— Ai meu Deus, acho que estou apenas pensando na peça…
Damon me observa, e sei que bem no fundo, sabe que estou
mentindo, mas não quer falar nada na frente de sua mãe. E eu não quero falar
sobre o que estou sentindo agora.
— Nem consigo imaginar como é estar na pele de vocês.
Penso em algo aleatório para mudar o rumo dessa conversa.
— Exatamente… e acredita que Damon conseguiu mais seguidores
do que eu?
É incrível como os homens sempre conseguem mais destaques
nesses lugares. É mais difícil para as mulheres, e ainda mais se você for uma
mulher e for negra.
— Sério, mesmo?
— Infelizmente, sim.
— É porque eu sou muito gato, sabe?
Reviro os olhos, mas acabo sorrindo, pois é nesses momentos que
me sinto como uma adolescente novamente. Nunca aproveitei de fato a
minha juventude, então, é sempre bom poder viver um pouco disso nesses
raros momentos infantis que temos.
— É porque você é homem!
— Isso não é verdade.
— É sim! Sempre que algum filme estoura na netflix ou no cinema,
os homens sempre se destacam na frente das mulheres. Veja o Noah Centineo
e a Lara Condor… os dois estão no filme “para todos os garotos que já
amei”, e apenas ele foi chamado para novos filmes.
— Talvez seja porque ele é um galã.
— Um galã feio só se for…
Em minha defesa, eu não o acho feio, mas quero provar o meu
ponto.
— Estou perdida no assunto de vocês, quero uma foto desse menino
que estão falando.
Abro o google e pesquiso o nome do autor e pronto, estamos vendo
fotos dele e da Lana. Os números de seguidores são completamente
diferentes.
— Realmente, a Mia tem razão.
— Não consigo acreditar que até a minha mãe está contra mim…—
Sua voz risonha nos faz sorrir.
— Eu tenho bons argumentos e provas que são fundados na verdade.
— Que droga! A minha mulher é mais inteligente do que eu e por
isso deveria ter mais seguidores…
Por mais que eu não me importe com quantos seguidores eu tenha,
me espanta saber que o gênero faz bastante diferença. Sei que Damon tem
mais chance de ser chamado para algo grandioso depois que essa peça acabar,
enquanto não faço a mínima ideia de que acontecerá comigo.
— Ainda bem que você sabe disso.
E é triste quando chegamos na casa temporária da senhora
Eastbourne, pois a conversa estava realmente divertida, mas, precisamos
descansar.
— É sempre legal estar com vocês.— Ela diz ao se despedir e fico
esperando no carro, enquanto o meu namorado vai levá-la para dentro de casa
e ajudá-la, como bom filho que é.
Abro a minha página do instagram e vejo os novos comentários nas
minhas fotos, alguns são fofos, outros nem tanto, como esse último que
acabei de receber.
Faria um estrago nessa mulher.
Apago esse comentário e ao sentir o meu estômago revirar, desligo o
celular e espero uns dois minutos antes de Damon entrar no carro.
— O que faremos hoje à noite?
— Estou cansada, então nada de pensamentos pecaminosos.
Encosto a cabeça na janela e escuto sua gargalhada ao meu lado.
Damon se aproxima de mim e beija o meu pescoço, mas nem mesmo isso me
anima no momento.
— E se esse pensamento envolver uma massagem nos seus ombros
até você dormir?
— Aí você está falando a minha língua.
Viro-me para ele e encosto os lábios nos seus. É tão estranho que
isso seja o nosso casual, estar sempre sorrindo com a pessoa que faz o seu
coração acelerar.
— No que está pensando?
— Que você é bom demais para mim.
Damon se afasta e acho que minha sinceridade está estampada no
olhar, pois ele balança a cabeça e segura firme a minha mão, logo em seguida
a beijando-a demoradamente.
— Acho que há um pequeno engano aqui… somos igualmente bons
um para o outro, e quero que nunca esqueça disso.
Baixo os ombros e engulo em seco, é exatamente esse tipo de coisa
que o faz ser incrível e exageradamente bom para mim. Eu sinceramente não
sei se mereço isso.
— Promete para mim que esse nosso filme nunca vai acabar?
— Prometo o que você quiser…—beija a minha mão novamente e se
inclina na minha direção.
— Okay, agora você colocou a arma na minha mão. Quero que me
prometa que ficará comigo mesmo quando eu roncar no meio da noite ou
estiver com um bafo matinal insuportável.
— Mia Corrigan, não há nada nesse mundo que me faça desistir de
você.
— Eu vou cobrar isso no futuro.
E com o coração quentinho e os olhos marejados, vamos para a
nossa casa. A minha casa não parece só minha quando ele está lá. Eu e ele.
Nós.
Só eu sei o que é chorar tanto a ponto de quase ver o meu reflexo
pelas lágrimas.- Mia
Uma semana depois, já estou me sentindo esgotada, mas sei que tudo
está valendo a pena. Meu número de seguidores já triplicou, agora estou com
trezentos mil, enquanto que meu namorado está quase com um milhão. Já
falei sobre isso anteriormente, mas não me importo com números.
— Minha bumblebee está muito calada…
Estamos voltando para casa, ainda estou com a mesma maquiagem
pesada no rosto, o começo de uma dor de cabeça, até o telefone de Damon
tocar e eu ver o rosto de Trace na tela, o meu namorado atende e coloca no
viva voz.
— Alô?
— Oi, irmãozinho, queria te fazer uma surpresa…
Como assim? De repente, me vejo prestando ainda mais atenção na
conversa dos dois.
— Você veio mesmo? Achei que estava apenas brincando.
— Ai meu Deus, não acredito!— reclamo baixinho.
— Estou em um restaurante, pois a Tee estava com fome e não
parava de reclamar. Me mande a sua localização, precisamos conversar sobre
a sua péssima atuação.
Damon vira para mim, como se estivesse pedindo permissão para
levar o seu irmão e sua família para a minha casa. O que poderia dar errado,
não é mesmo?
— Claro, já te mando. Eu sei que estava incrível, você é que está
com inveja.
Escuto a risada do outro lado e logo em seguida uma voz de
garotinha. É tão estranho, que nem consigo pensar em nada.
Parece que essas últimas semanas têm sido uma avalanche na minha
vida. Todas essas coisas acontecendo tão rapidamente… um nó se instala na
minha garganta, mas preciso segurar ou Damon perceberá.
— Preciso desligar, nos falamos depois.
Escuto um bip e ao olhar para meu namorado, percebo o quanto está
feliz por saber que o irmão está por aqui. Quase pergunto se ele não quer ir
para a casa de sua mãe ou algo do tipo.
Nessa última semana, senti como se Damon estivesse se preparando
para a morte da mãe, pois geralmente ele ia todos os dias vê-la, mas agora,
vai dia sim e dia não. Não o julgo, pois talvez faria o mesmo. Ver a própria
mãe naquele estado não é a coisa mais fácil do mundo.
Ontem, quando ele chegou na minha casa, estava com os olhos
inchados e tudo o que eu pude fazer, foi abraçá-lo e fazê-lo dormir um pouco
nos meus braços.
Tem sido dias difíceis, mas é a vida e ninguém nunca falou que seria
fácil, né?
— Acho que não se importa de eu levar o meu irmão para a sua casa,
certo?
Demoro uns segundos, antes de concordar com a cabeça, incapaz de
falar qualquer coisa no momento e já ficando um pouco ansiosa.
— Não acredito que ele veio me ver…
De modo algum eu quero tirar esse sorriso bonito do rosto dele, por
isso, apenas fico calada, com a cabeça encostada na janela, pensando em
como fazer a minha vida voltar ao normal. Ou pelo menos, ficar um pouco
mais calma.
É exatamente nesse momento, que vejo o número da minha tia
brilhar na tela. Abro a mensagem e vejo uma foto nossa com o meu pai,
estamos tão sorridentes e isso faz um sorriso brotar no meu rosto, tornando o
meu dia melhor.
— Não é tão mais fácil quando somos tão pequenos que não
entendemos o mundo ao nosso redor?
— Sinto saudades de quando eu era pequeno e o meu maior medo
era que houvesse um monstro embaixo da minha cama.
— Eu tinha pavor de borboletas, mas um certo dia, vi uma amarela
pousando numa flor e fiquei encantada, ela parecia tão serena.
— Quanto a mim, fiz xixi na cama até ser grandinho demais. Eu
realmente era aterrorizado com a ideia de um monstro me agarrar a noite e
meus sonhos eram sempre sobre isso.
— E hoje em dia, com o que você sonha?
Não é estranho como ninguém pergunta com o que sonhamos
quando dormimos? Acho que agora farei essa pergunta para todo mundo.
— Não sou uma pessoa que sonha todas as noites, mas uns meses
atrás eu tive um muito estranho, em que eu estava em uma biblioteca e
alguém me vigiava.
— Acho que foi a pressão da peça.
Olho para o lado e a sua expressão não é a mais animadora, o que
significa que ele realmente ficou assustado… ou há algo nos bastidores que
eu não sei.
— Deve ter sido.
— Sabe com o que estou animada?
— Você está animada na maior parte do tempo…
Reviro os olhos e lhe dou um tapinha, mas é verdade mesmo.
— Saber que na próxima semana, estaremos em um red carpet, no
“American theatre awards”
Fomos convidados para o nosso primeiro tapete vermelho, e eu nem
sei como agir diante disso. Vou usar o meu vestido mais bonito e arrasar
junto de Damon. Vai ser a entrada triunfal e vai ser como um convite para as
pessoas aparecerem na nossa peça.
— Tenho que alugar um smoking, me lembre de fazer isso.
— Claro, vou junto, porque quero escolher com você.
— Sim, senhora.
Enquanto paramos em um sinal, seguro a sua mão e dou um beijo.
Ele olha para mim, e eu o desejo tanto que dói. Cada traço desse rosto, as
rugas sempre que sorri e essa boca linda, os olhos curvados levemente para
baixo.
A melhor parte de tudo é quando ele se inclina em minha direção e
posso sentir o seu cheiro forte, beija o meu pescoço e assim que vejo o sinal
abrir, fico um pouco triste, pois queria mais beijos assim.
••
Chegar em casa numa me pareceu tão aterrorizante, e como Trace
não está tão longe daqui, vai ser apenas uma questão de tempo até que a
campainha soe.
— Está pálida, meu amor…
Me jogo no sofá e afundo, sentindo o acolchoado me abraçar e
tentando fazer com que meu coração pare de bater como um louco.
— Acho que a minha pressão deve ter baixado, não se preocupe.
Mas, é claro que as minhas palavras não valem de nada, porque ele
vem até mim e me abraça. Qualquer ser humano fica com vontade de chorar
quando está sobrecarregado e alguém lhe dá atenção.
— Sempre vou me preocupar com você.
O nó em minha garganta multiplica, mas consigo segurar firme, e
não sei quanto tempo ficamos assim, até que escutamos a campainha e meu
coração dispara.
— Já volto.
Fico parada e observo o meu namorado abrir a porta, a primeira
coisa que eu vejo é uma garotinha morena e feliz abrir os braços para o tio,
seguida de uma mulher negra de cabelos lisos e presos num coque. Por
último, vejo o homem alto entrar no meu apartamento, e é estranho demais
saber que esse mesmo homem me atingiu tanto quando eu era uma criança.
Trace parece o mesmo garotinho, sendo que em uma versão bem
mais velha, o que me faz lembrar o quanto o tempo passou.
— Estou bastante surpreso com a visita de vocês, entrem.
Coloco um sorriso no rosto, pois é como uma anfitriã deve se portar
em situações como essa.
— Ainda não conhecem a minha namorada, Mia Corrigan.— a
família vem até mim com um sorriso no rosto, mas assim que o olhar de
Trace recai sobre mim, ele congela.
Sei que provavelmente lembra do meu nome e da minha aparência,
mas não sei o que está se passando pela sua cabeça.
Me abaixo para conhecer a pequena Tee, a garotinha é tão amável,
que me dá um abraço apertado. O cheirinho de criança é tão presente que até
sinto vontade de ter um filho.
— Pelo visto, você é a famosa Tee…
— Sou! E essa é a minha mamãe Mor, e esse é o meu papai, Trace.
— a criança aponta para os dois, para que eu os conheça, então sou obrigada
a me levantar e agir como uma adulta que sou.
— Olá, espero que sintam-se em casa.— Aperto a mão deles e sei
que Trace está me analisando. Tento parecer normal com ele aqui na minha
frente, apertando amigavelmente a minha mão, mas é bastante difícil.
O que me deixou mais espantada nessa situação, é que Mor é negra!
No entanto, ter um relacionamento inter-racial não é sinônimo de não existir
preconceito.
Preciso dessa noite para deixar um de meus fantasmas irem embora
com o passado. Talvez a vida esteja me dando a coragem para enfrentar todos
os meus monstros embaixo da cama.
— Já nos sentimos, fico feliz pelo meu cunhado, e em saber que os
dois compartilham do mesmo sonho, me enche de felicidade.— Mor é tão
bonita e simpática que quero impressioná-la.
Convido todos a sentarem no sofá, para ficarmos mais confortáveis e
Mor dá um tablet para a Tee, que instantaneamente fica quietinha, com seus
jogos de corrida de carro.
— Então, preciso dar os parabéns pela atuação dos dois.— Mor
começa.— A química entre os dois é inegável.
Trace está muito calado e a mulher deve estar percebendo algo de
estranho, pois segura a sua mão e ele ergue o olhar para nós.
— Verdade, nunca pensei que fosse dizer isso, mas estão de
parabéns.
Sei que ele quis dar um ar mais leve em toda situação, mas a frase
“nunca pensei que fosse dizer isso”, me faz encolher no sofá, ao lado de
Damon.
— Contem as novidades, como está a sua empresa, Trace?
Fico escutando eles debaterem sobre a tal empresa que eu ainda não
tinha conhecimento e tento me concentrar em outra coisa que não o meu
passado aqui bem na minha frente.
Estou pegando toda a energia ruim e dispersando, para que não haja
rancor no meu coração e que não haja nenhuma mágoa do passado e preciso
contar isso para Trace.
Uns bons minutos se passam e eu até consigo sorrir genuinamente
com a Mor e a Tee que é surpreendentemente esperta para a sua idade.
— Eu gosto de jogos e as minhas amigas dizem que é para menino,
mas não tem jogo exclusivamente para menino, né?
— Com certeza, não. Você deve jogar o que gosta.— Tee abre um
sorriso para mim e me chama para competir com ela em uma das corridas,
para ver quem consegue o maior “score”.
Obviamente, eu perco várias vezes, pois nunca havia jogado isso
antes.
— Uma hora você aprende, tá, tia?
Assinto, com o coração quentinho por ela ter me chamado de tia e
ela sorri, me contagiando.
— Não sei com quem essa garota aprendeu a ser assim tão
espontânea.— Mor me fala e sorrio.
— Quem dera eu fosse assim na minha infância. Eu quase nem
falava e nunca tive muitos amigos.
Juro que não joguei nenhuma indireta. Mas senti Trace ficar
desconfortável e remexer as mãos. Meio que me senti mal por ele.
— Entendo, mas sou o tipo de pessoa que acredita que sempre há um
lado bom nas coisas ruins, por mais difíceis que elas pareçam ser.
Paro um pouco para refletir e talvez, eu ter sofrido tanto na infância,
tenha me feito aproveitar mais tempo com o meu pai antes de ele morrer.
— Provavelmente.
— Geralmente sou eu quem tenho bons conselhos, mas você arrasou
nesse.
— Sempre que precisar.— ela faz uma mesura.
E nesse momento, Trace se levanta e penso que vai jogar tudo o que
aconteceu entre nós aqui, na frente de sua filha, mas ele me surpreende.
— Sinto muito atrapalhar vocês duas, mas queria muito falar com
Mia a sós e testá-la para saber se merece o meu irmãozinho.
Sei que Trace está apenas arrumando um pretexto para me tirar da
sala e conversar comigo sobre o passado, e é nesse momento que fico ainda
mais nervosa, pois vou descobrir se ele quer me confrontar ou me pedir
desculpas pelo que fez.
Levanto-me e o conduzo até a cozinha, com medo de que dê para
escutar a nossa conversa e assim que estamos sozinhos, ele me encara, como
se não estivesse acreditando nos próprios olhos, o que não diminui a minha
ansiedade.
— Há quanto tempo, Mia…
— Olha, eu não sabia que Damon era o seu irmão, apenas aconteceu,
então não pense que quero me vingar ou algo do tipo…
— Eu quero muito que saiba o quanto eu lamento pelo que te fiz
passar.
Sinto quase fisicamente o meu coração apertar dentro do peito, um
sentimento nascendo no lugar de toda a angústia e meus lábios tremem antes
que uma lágrima caia pelo meu rosto.
— Fui uma criança horrível, mas…
— Eu perdoo você, Trace, na verdade já perdoei faz tempo.
Enxugo a lágrima com as costas da mão e respiro fundo, nunca
imaginei que algumas palavras pudessem me deixar tão leve.
— Te fiz sofrer tanto, Mia, e você não merecia isso. Acho que no
fundo, sempre tive uma quedinha por você e fazia aquilo para chamar a sua
atenção.
— Até parece…— reviro os olhos e repentinamente, ele me puxa
para um abraço.
Fico imóvel e enquanto ele passa a mão pelos meus cabelos, permito
que uma parte ruim do meu passado vá embora. Não quero mais lembrar das
coisas que me magoaram, e a partir desse momento, sinto que me pai ficaria
orgulhoso de mim.
— Quando eu me apaixonei por Mor, lembrei de você e de como eu
fui um babaca completo. Me arrependi tanto e queria ter uma chance de me
redimir. Parece que a vida foi bondosa e me permitiu ter essa chance.
Nos afastamos e percebo que seu rosto também está úmido.
— Assim que a minha filha nasceu, soube o quanto uma vida é
importante e o quanto eu nunca desejaria que ela sofresse com alguém como
eu.
— A Tee tem sorte de ter você como pai, já deu para perceber o jeito
que ela olha para você; como um herói.
— Eu amo a minha família e ficarei muito feliz em te chamar de
cunhada.
— Obrigada.
Nos abraçamos novamente e quando menos percebemos, vemos
Damon e Mor aparecerem na cozinha. Os dois parecem felizes ao nos ver
bem.
— Se até o meu irmão aprovou a Mia, terá casamento.
Nos afastamos de vez e limpamos o restante das lágrimas. Damon
vem até mim, que estou sem palavras no momento. Preciso contar para ele a
verdade nessa noite e tenho certeza de que vai ficar um pouco chateado por
não ter contado antes.
••
— O quê? Bem que eu percebi algo de estranho no ar.
— Mas tudo isso ficou no passado. Agora somos da mesma família.
— ainda é estranho falar isso, que sou da mesma família que Trace.
Diferentemente do meu vizinho, que continua com a reforma
rolando no apartamento ao lado. Passado não é exatamente onde aquele
homem está.
— A Tee ficou apaixonada por você. Disse que quer vir mais vezes,
para te ensinar como competir de verdade com ela.
Dou uma gargalhada, e me sinto uma boba por ter ficado ansiosa
antes de conhecê-los.
Entrelaço minha mão na dele e agora posso curtir esse tempo a sós
com o meu namorado.
— Ela é uma criança adorável.
— Quando tivermos uma filha, será exatamente assim.
— Já está pensando em filhos?
Damon tem falado bastante sobre casamentos e coisas do tipo, e na
maior parte do tempo, penso que está brincando, mas algumas vezes, parece
que, de fato, quer casar comigo.
Meu pai costumava me falar que quando eu encontrasse a pessoa
mais especial de todas, deveria me casar sem pensar duas vezes e sem me
importar com a opinião de ninguém.
Não nos casamos por amor, mas para amar, repetia para mim.
— Estamos praticamente casados, só tenho que colocar um anel no
seu dedo e te dar o meu sobrenome… depois disso, um filho já deve estar nos
planos.
— Damon Eastbourne…
— Sim?
— Você está falando sério ou brincando dessa vez?
Ele me puxa até si, nossos corpos quentes em contato e dá vários
beijos na minha mão. Ainda está muito cedo para falar em casamento, pelo
menos para mim.
— Sinto como se já te conhecesse a minha vida inteira, então,
porque esperar?
— Hum… achei que estivesse brincando com esse lance de
casamento.
Uma decisão tão importante ser tomada quase como desespero não
pode dar certo no fim das contas, certo?
— Casamento para os ingleses é algo muito importante, Mia, e eu
quero que você seja a minha esposa.
— Olhe, Damon, sei que está fazendo isso por sua mãe e eu toparia
casar com você para que ela tivesse uma última lembrança feliz. Mas um
casamento de verdade poderia esperar um pouco mais.
— Não quero que pense que quero casar com você para ver a minha
mãe feliz e apenas isso.
Fecho os olhos e espero que ele complemente com algo a mais, mas
nada vem e assim que abro os olhos, vejo que está sendo sincero. Acho que
Damon não me pediria em casamento apenas para ver a mãe feliz.
Não acredito que vou mesmo embarcar nessa loucura, mas penso
em algo.
— Eu tive uma ideia. É perfeita, na verdade.
Abro um sorriso, pensando em como matar dois coelhos com uma
cajadada só(no sentido figurativo, é claro, pois os coelhos não têm nada a ver
com isso).
— Me diga, senhora, estou todo ouvido.
— Nós dois, podemos fazer uma cerimônia toda especial lá no
hospital para a sua mãe, só para ela saber que nós vamos casar um dia, mas
que essa lembrança seria somente dela. Nosso noivado.
O meu namorado me observa por uns bons segundos, antes que seus
olhos encham de lágrimas e ele me puxe com força para si, beijando a minha
testa com tanta paixão que me deixa sem fôlego.
Ai caramba que cheiro bom…
— Caramba, Mia, eu não sabia que tinha como ficar ainda mais
apaixonado por você.
— Sei disso, é impossível não se apaixonar por Mia Corrigan.
Ele toca a ponta do meu nariz. Sei que fiz a coisa certa e que Brenda
Eastbourne vai ficar profundamente tocada por isso. Toda mãe deseja ver o
filho se casando.
— De fato, você me faz o homem mais feliz do mundo.
— E você atrapalha o meu sono…
— Como consegue arruinar um momento perfeito?
— Acho que é um dom, sabe?
— Com certeza é um dom, mas eu te perdoo, porque você é linda.
— E…?
— Inteligente…
— E…?
— Eu poderia passar um tempão falando das suas qualidades, sua
chata.
Dou risada e beijo o seu pescoço quente, sua veia pulsa e fica ainda
mais à mostra.
— Como consegue me elogiar e xingar ao mesmo tempo?
— Um dom, acho.
— As vezes você é tão criança, Eastbourne.
Ele se inclina ainda mais para mim, e nossos olhos ficam muito
próximos, eu o desejo tanto que chega a doer ao pensar em nos separarmos.
Sempre pensei que já tivesse me apaixonado na adolescência, mas
aquilo era apenas um teste, eu era muito jovem. Isso aqui é para valer, estou
apaixonada e nunca pensei que fosse acontecer novamente.
— Sei disso, mas se está aqui comigo, nos meus braços, significa
que você gosta de mim, dessa maneira.
Fecho os olhos e me aconchego nesse calor, no corpo que já estou
acostumada a estar.
— Claro que sim.
E em seus braços, com os olhos fechados, espero que o sono me
atinja e que esse dia seja eternizado.
Todos os dias, a maior luta é contra o meu próprio reflexo.-Mia
Uma semana depois
[1]
Damn significa droga/porcaria e coisas do tipo em inglês.
[2]
Fofoca da vida real… isso de fato aconteceu com alguém que conheci.
[3]
Obrigada, próximo.
[4]
A raspagem é um procedimento para retirar a carne morta(fica horrível).