Laserterapia Na DTM Dolorosa
Laserterapia Na DTM Dolorosa
Laserterapia Na DTM Dolorosa
REVISÃO CIENTÍFICA
ANTÔNIO SÉRGIO GUIMARÃES
PAULO CESAR RODRIGUES CONTI
DIRETORIA DA SBDOF
LAÍS VALENCISE MAGRI trial), e este tipo de estudo é guiado por diretrizes específicas e bem
determinadas por um grupo internacional de pesquisadores e instituições
FUNCIONA OU NÃO FUNCIONA? QUAL DOSE DEVO USAR? QUAIS ÁREAS
(CONSORT 2010)1, que determina parâmetros de randomização, alocação,
DEVO APLICAR? QUAL PROTOCOLO DE UTILIZAÇÃO? PARA QUAIS CASOS
grupo controle, desfecho, etc... E as metanálises e revisões sistemáticas são
DE DTM? VERMELHO OU INFRAVERMELHO? POSSO ASSOCIAR À OUTRAS
outra categoria de pesquisa, que analisam um grupo de ensaios clínicos com
TERAPIAS PARA DOR? MAS E SE O PACIENTE NÃO RESPONDE AO LASER? E
base também em critérios pré-determinados, e são considerados a “ponta da
O EFEITO PLACEBO?
pirâmide” em termos de nível de evidência. Portanto, é preciso buscar por
estes estudos como referência para as escolhas terapêuticas.
Prezado leitor, todos estes questionamentos devem rapidamente ter vindo à
sua mente ao ler o título deste texto. Sinto desapontá-lo, mas o objetivo aqui Diante desta breve exposição, o que será discutido a partir de agora tem
não é convencê-lo a utilizar ou não a laserterapia para casos de disfunção como base pesquisas científicas publicadas nos últimos 10 anos (2008 a 2018),
temporomandibular (DTM) dolorosa, e sim humildemente apresentar o que e que podem ajudar a nós, especialistas em DTM e Dor Orofacial, a
há de mais recente e confiável em pesquisas científicas sobre este tema. A compreender os mecanismos de ação da laserterapia, bem como quais
partir daí, cabe a cada profissional interpretar e refletir de forma crítica e ética resultados clínicos são esperados e quais subgrupos de pacientes respondem
sobre estes conhecimentos, considerando o universo multidimensional e com maior grau de analgesia, ou que simplesmente não respondem. Mas é
desafiador de cuidar de pessoas com dor. preciso ter em mente que existe muita controvérsia de opinião e de
resultados científicos relacionados com a utilização da laserterapia.
Antes de mais nada é preciso pontuar alguns esclarecimentos que envolvem a
construção do conhecimento científico: a experiência clínica é extremamente Com relação à DTM dolorosa, os estudos publicados ainda são contraditórios,
importante e relevante, e diversos profissionais utilizam a laserterapia em um uma vez que alguns resultados demonstraram efetividade superior em
número relativo de pacientes e referem ótimos resultados ou resultado comparação ao grupo que recebeu placebo (uma ponta de laser idêntica, que
nenhum, todavia quando falamos de pesquisa e disseminação de não emite irradiação, apenas a luz guia e o sinal sonoro)2-6, e outros
informações, é preciso que os resultados sejam extrapolados e reprodutíveis 7-11
observaram efeito semelhante ao placebo . Estas diferenças podem ser
para grandes populações, com eficácia e custo-benefício comprovados. Aí atribuídas à grande variabilidade de doses, protocolos e áreas de aplicação,
começam os problemas, já que muitas variáveis influenciam na percepção de que dificultam a comparação, sendo que alguns estudos de revisão
melhora da dor, como a relação com o cuidador, a confiança no tratamento, o sistemática e metanálise apontam que não existe evidência científica
“ritual” da aplicação do laser, dentre tantas outras. suficiente que indique resultados previsíveis deste tipo de terapia para casos
de DTM12-17 . Para resumir, as metanálises/revisões sistemáticas mais atuais e
O tipo de pesquisa desenvolvido para avaliar a efetividade de um tratamento suas conclusões são:
é chamado ensaio clínico randomizado (o famoso “RCT”, randomized clinical
PETRUCCI ET AL. (2011, J OROFAC PAIN): Ÿ Eticamente e cientificamente falando, é complicado utilizar uma terapia que
NÃO HÁ EVIDÊNCIA QUE SUPORTE A EFETIVIDADE DA LASERTERAPIA NO modula a dor por efeitos inespecíficos: efeito placebo, regressão à média e
TRATAMENTO DA DTM.
12 remissão espontânea de sinais e sintomas20. Ou seja, não dá para garantir
que foi o laser que levou à melhora.
MAIA ET AL. (2012, J APPL ORAL SCI): Ÿ Outro ponto importante: já foram testadas doses que variam entre 1 a 105
2
MUITOS ESTUDOS APONTAM QUE A LASERTERAPIA PARECE SER EFETIVA J/cm e praticamente todas foram efetivas na redução da dor em músculos
NA REDUÇÃO DA DOR DA DTM. NO ENTANTO, A DIVERSIDADE DE da mastigação e ATM, com maior ou menor diferença em relação ao
17
PARÂMETROS DE APLICAÇÃO DEMANDA CAUTELA NA INTERPRETAÇÃO placebo . Tais resultados são discutíveis e nos fazem refletir: será a dose de
DESTES RESULTADOS.13 laser que melhora a dor ou o “ritual do cuidado” e toda a publicidade e
expectativa que envolve o laser? Como é possível que a melhora ocorra com
espectros tão diferentes de doses? Não há uma curva dose-resposta
CHEN ET AL. (2015, J ORAL REHABIL):
estabelecida? A resposta é não, já que doses tão variadas são efetivas da
A LASERTERAPIA TEM UMA EFICÁCIA LIMITADA NA REDUÇÃO DA DOR DE mesma maneira.
21
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