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MS 39014 - 21-Informacao - Informacao

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SENADO FEDERAL

Advocacia do Senado
Núcleo de Assessoramento e Estudos Técnicos – NASSET

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES, EMINENTE


RELATOR DO MANDADO DE SEGURANÇA n. 39.014, DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL.
(Processo SF nº 00200.003484/2023-97)

MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL. INSTALAÇÃO DE


COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. REQUERIMENTO
APRESENTADO EM JANEIRO DE 2023. TRÂNSITO PARA A
LEGISLATURA SUBSEQUENTE. MATÉRIA PENDENTE DE
APRECIAÇÃO DO SENADO FEDERAL. INTEPRETAÇÃO DAS NORMAS
REGIMENTAIS APLICÁVEIS. IMPOSSIBILIDADE DE
APROVEITAMENTO AUTOMÁTICO DO REQUERIMENTO
APRESENTADO NA LEGISLATURA ANTERIOR. NECESSIDADE DE
RATIFICAÇÃO DO NÚMERO MÍNIMO DE ASSINATURAS DE
SENADORES QUE EXERCEM MANDATO NA ATUAL LEGISLATURA.
AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. AUTONOMIA E
INDEPENDÊNCIA DO PODER LEGISLATIVO. PELA DENEGAÇÃO DA
ORDEM.

O PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL, por meio da ADVOCACIA DO

SENADO FEDERAL, nos termos do art. 52, XIII, da Constituição da República, e dos artigos
205, §§ 3º e 5º, 80 e 31 do Regulamento Administrativo do Senado Federal (Ato da
Comissão Diretora n. 14, de 2022), vem à ilustre presença de Vossa Excelência, com
fundamento no art. 7º, inc. I, da Lei n. 12.016, de 7 de agosto de 2009, apresentar suas
INFORMAÇÕES

o que faz consoante os fundamentos de fato e de direito adiante narrados.


I

1. Cuida-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por Sua


Excelência a Senadora SORAYA THRONICKE, com a finalidade de obter ordem judicial para
determinar ao PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL “que promova a leitura do requerimento

Praça dos Três Poderes – Senado Federal – Bloco 02 – Ed. Senador Ronaldo Cunha Lima – 1º andar – Av. N2 – CEP 70165-
900 - Brasília – DF – Telefone: 55 (61) 3303-4750 – Fax: 55 (61) 3303-2787 – advocacia@senado.leg.br
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de instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito registrada sob o no SF/23054.87654-


43, bem como os demais atos para que seja efetivamente instalada a CPI pretendida (...)”.
2. Relata a impetrante que em 8 de janeiro de 2023 protocolou o requerimento
SF/23054.87654-43, em que pede a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito
destinada “a apurar a responsabilidade pelos atos antidemocráticos praticados no dia 08
de janeiro de 2023, por grupo de pessoas que invadiu e depredou os prédios do Congresso
Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto”.
3. Informa que obteve a subscrição de 38 (trinta e oito) senadores ao requerimento,
razão pela qual, consoante a norma constitucional e a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, entende ser dever do PRESIDENTE DO SENADO proceder à leitura do requerimento
e à instalação da CPI.
4. O eminente Relator, Ministro GILMAR MENDES, solicitou a prestação de
informações à autoridade impetrada no decêndio legal, tendo o Presidente do Senado
Federal recebido a intimação na data de 1 de março de 2023.
5. É a breve síntese.

II
6. Não há preliminares a arguir.
7. Cumpre, todavia, informar que a matéria demanda a aplicação das normas
regimentais do Senado Federal aplicáveis, considerando que o requerimento foi
apresentado na legislatura passada, e cuja interpretação será dada por deliberação da
Presidência do Senado, do que resulta se tratar de ato interna corporis dessa Casa
Legislativa, no uso de sua competência constitucional, não existindo direito líquido e
certo à instalação imediata da CPI, na forma pretendida neste mandado de segurança,
conforme se demonstrará abaixo.

III

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8. Conforme mencionado, o requerimento foi apresentado na legislatura passada, e


há disposições regimentais, cuja interpretação impedem seu prosseguimento automático,
na forma pretendida pela Senadora Impetrante, a demonstrar, portanto, que a segurança
há de ser denegada.
9. Embora a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito constitua um direito das
minorias, na compreensão já consagrada do STF e da doutrina constitucional, há limites
formais que devem ser observados no exercício deste direito.
10. Para além de prazo certo e fato determinado, de número mínimo de assinaturas
e de pertinência com a função desempenhada pela respectiva Casa Legislativa (que
constitui limitação à invasão da seara própria de entes federativos diversos), há um
requisito legal de natureza temporal ao funcionamento de uma CPI, que há de ser
apreciado na deliberação do Presidente do Senado: o curso da mesma legislatura.
11. De acordo com tal princípio, uma legislatura, em outras palavras, não pode
cometer à legislatura seguinte o dever de criar ou de prosseguir em inquérito parlamentar.
O Congresso Nacional que se instala a partir de 1º de fevereiro do primeiro ano de uma
legislatura, reflexo da vontade popular manifestada pelos resultados das eleições gerais,
não pode ser limitado pelas deliberações de natureza temporária da legislatura precedente.
12. É o que se lê, de modo assaz claro, do disposto no art. 5º, §2º, da Lei n. 1.579,
de 18 de março de 1952:

Art. 5º (...)
§ 2º - A incumbência da Comissão Parlamentar de Inquérito termina com a
sessão legislativa em que tiver sido outorgada, salvo deliberação da respectiva
Câmara, prorrogando-a dentro da Legislatura em curso.

13. O Regimento Interno do Senado Federal, por seu turno, assim dispõe:

Art. 76. As comissões temporárias se extinguem:


I - pela conclusão da sua tarefa; ou
II - ao término do respectivo prazo; e
III - ao término da sessão legislativa ordinária.
(...)

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§ 3° O prazo das comissões temporárias é contado a partir da publicação dos


atos que as criarem, suspendendo-se nos períodos de recesso do Congresso
Nacional.
§ 4° Em qualquer hipótese o prazo da comissão parlamentar de inquérito
não poderá ultrapassar o período da legislatura em que for criada.

14. No mesmo sentido, em sede acadêmica, anota o professor PAULO GUSTAVO


GONET BRANCO:

Os trabalhos do Congresso Nacional se desenvolvem ao longo da legislatura,


que compreende o período de quatro anos (art. 44, parágrafo único, da CF),
coincidente com o mandato dos deputados federais. A legislatura é período
relevante; o seu término, por exemplo, impede a continuidade das
Comissões Parlamentares de Inquérito por acaso em curso.
(MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gonet. Curso de Direito Constitucional,
17ª ed., São Paulo: Saraiva, IDP, 2022. p. 485).

15. Pode-se objetar que a CPI ainda não estaria criada, já que a Comissão
Temporária tem seu termo a quo a partir da publicação dos atos que as criarem – in casu,
da leitura e publicação do requerimento de criação.
16. Entretanto, tal interpretação demandaria a análise de faceta do mesmo problema
relativo à liberdade da legislatura subsequente em relação à anterior, desta vez tendo por
objeto o requerimento de criação.
17. É que, consoante a regra geral no Regimento Interno do Senado Federal, incluída
em seu art. 332, “ao final da legislatura serão arquivadas todas as proposições em
tramitação no Senado Federal”, ressalvadas as hipóteses excepcionais ali dispostas,
cuja aplicação, ao caso dos autos, há de ser apreciada pela Presidência do Senado.
18. Além disso, a Comissão Parlamentar de Inquérito ostenta disciplina legal
própria, especial, que de regra tolhe o seu trânsito entre legislaturas, ante a previsão de
arquivamento do requerimento ao final da legislatura, sem a possibilidade jurídico-
política de seu aproveitamento automático pela legislatura subsequente, como pretende a
Impetrante. A nova legislatura, contudo, é livre para aprovar nova peça de criação de
CPI com o mesmo objeto.

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19. Trata-se de interpretação legítima decorrente do princípio da unidade da


legislatura, reconhecido doutrinariamente e pela jurisprudência do STF. Nesse sentido,
decisão do eminente Ministro Celso de Mello na Medida Cautelar no MS n. 24.458:

Cabe destacar, neste ponto, que o princípio da unidade de legislatura – que faz
cessar, a partir de cada novo quadriênio, todos os assuntos iniciados no período
imediatamente anterior, dissolvendo-se, desse modo, todos os vínculos com a
legislatura precedente (JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Princípios do Processo de
Formação das Leis no Direito Constitucional”, p. 38/39, item n. 14, 1964, RT)
– rege, essencialmente, o processo de elaboração legislativa, tanto que, encerrado o
período quadrienal a que se refere o art. 44, parágrafo único, da Constituição
Federal, dar-se-á, na Câmara dos Deputados, o arquivamento das proposições
legislativas, com a só exceção de alguns projetos taxativamente relacionados na
norma regimental (Regimento Interno da Câmara dos Deputados, art. 105).

20. Longe de representar uma inovação, esta interpretação espelha a práxis


legislativo-constitucional em voga, secundum legem, no sentido que melhor respeita o
direito das minorias conjugado com o respeito às dimensões temporais e às limitações
políticas de cada legislatura (art. 44, parágrafo único, do texto constitucional).
21. Com efeito, embora o Senado ainda não tenha se manifestado formalmente sobre
o tema, idêntica questão já foi enfrentada pela Presidência da Câmara dos Deputados em
resolução de questão de ordem, como destacou a Secretaria-Geral da Mesa em suas
informações (anexo). Veja-se o teor da deliberação legislativa na ocasião (Ata da 17ª
Sessão, 18 de março de 2003):

O inquérito parlamentar é instrumento excepcional, já que a apuração de fatos


delituosos compete ordinariamente à polícia judiciária. Decorre daí que o
inquérito parlamentar tem como pressuposto a existência de fato relevante para
a vida nacional.
Evidentemente, o juízo de valor acerca da necessidade de se apurar esse fato
deve ser atual e consentâneo com a orientação emanada daqueles que exercem
o poder, os quais deliberam pela instauração do inquérito parlamentar por meio
da criação de uma CPI.
Os Parlamentares que tomam posse na nova Legislatura não podem estar
compelidos a acatar a expressão das forças políticas da Legislatura anterior,
ingressando no mandato já obrigados a constituir a CPI decorrente de
requerimento arquivado. Se, entretanto, resolvem os novos Parlamentares pela
constituição da Comissão, resta assim atendido o requisito constitucional,

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desde que um terço dos novos membros da Casa subscrevam o requerimento


da criação. [...]
Entretanto, devo, respeitosamente, discordar de S. Exa. para asseverar que
cabe aos novos Parlamentares, e não aos da Legislatura anterior, realizar o
juízo de conveniência e de oportunidade do inquérito parlamentar.
Se esse juízo é positivo da parte dos novos Parlamentares, o requerimento de
CPI, necessariamente, deve vir assinado por pelo menos um terço da nova
composição da Câmara e surge como requerimento no âmbito da Legislatura
que se inicia, ainda que enuncie os mesmos fatos que desafiaram o
requerimento arquivado ao final da Legislatura finda.

22. Tais aspectos jurídicos serão apreciados pelo Presidente do Senado Federal para
sua deliberação sobre a matéria, no tempo oportuno, dentro do seu poder de agenda.
23. Desse modo, conclui-se não ser possível conferir ultratividade automática ao
requerimento de criação de CPI protocolado ao final de uma legislatura, a fim de impor
ao Presidente do Senado o seu recebimento para produzir efeitos jurídicos na legislatura
subsequente.
24. Tampouco seria possível efetuar a sua leitura e instalação durante o curso do mês
em que fora apresentado, já que o objeto da convocação extraordinária do Congresso
Nacional durante o recesso (havida para a votação de intervenção federal decretada pelo
Excelentíssimo Senhor PRESIDENTE DA REPÚBLICA) limitava o horizonte de deliberações
do Poder Legislativo, na forma do art. 57, §7º, do texto constitucional.
25. Assim, em princípio, a manifestação de vontade dos Senadores que exercem
mandato na atual legislatura há de ser ratificada para a criação de uma CPI, a fim de
permitir o eventual aproveitamento do requerimento que está sob deliberação da
Presidência do Senado.
26. Contudo, atualmente, sem a aludida confirmação, não há possibilidade fática ou
jurídica de que o requerimento que constitui o objeto da impetração possa ser lido,
considerando o término da legislatura em que protocolado, do que resulta não haver
direito líquido e certo da impetrante, tampouco ação ou omissão ilegal ou abusiva da
autoridade imputada como coatora.
27. Por fim, conforme anota a SGM em suas informações anexas, há risco de perigo
reverso pela modificação de interpretação consolidada acerca do arquivamento de

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proposições e, em especial, de requerimentos ao cabo da legislatura, o que poderia causar


grande transtorno na gestão dos papéis legislativos. Anote-se, a propósito, que eventual
mudança de interpretação somente deve operar com efeitos prospectivos, como estatui o
art. 2º, inc. XIII, da Lei n. 9.784/99, per analogiam.

IV

28. Diante dessas razões, ante a ausência de direito líquido e certo, há de ser
indeferido o pedido liminar e, no mérito, denegação da segurança.
29. Requer, ainda, que todas as intimações sejam feitas em nome dos advogados do
Senado infra-assinados e, ainda, da ADVOCACIA DO SENADO FEDERAL.
30. São as informações.
Em 13 de março de 2023.

(ASSINATURA ELETRÔNICA)
HUGO SOUTO KALIL
Advogado do Senado Federal
OAB/DF 29.179

(ASSINATURA ELETRÔNICA)
GABRIELLE TATITH PEREIRA
Coordenadora do Núcleo de Assessoramento
e Estudos Técnicos – NASSET
OAB/DF 30.252
FERNANDO CESAR DE Assinado de forma digital por FERNANDO
SOUZA CESAR DE SOUZA CUNHA:87440938100
Dados: 2023.03.13 23:08:03 -03'00'
CUNHA:87440938100

(ASSINATURA ELETRÔNICA)
FERNANDO CESAR DE SOUZA CUNHA
Advogado-Geral Adjunto de Contencioso
OAB/DF 31.546

(ASSINATURA ELETRÔNICA)
THOMAZ HENRIQUE GOMMA DE AZEVEDO
Advogado-Geral do Senado Federal
OAB/DF 18.121

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