Matematica Bsica II
Matematica Bsica II
Matematica Bsica II
MATEMÁTICA BÁSICA II
Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral do Ceará – EEMTI
COLEÇÃO COMPONENTES
ELETIVOS FUNDANTES
2
P. ii
Parabéns por ter escolhido esta eletiva para o seu currículo, pois o
conhecimento dos números reais fez diferença para a Humanidade e
pode fazer diferença em sua vida ajudando, entre outras coisas, a
ampliar o domínio grandezas e medidas, da notação científica e a
resolver problemas do cotidiano que utilizem esses conteúdos.
Prepare-se para a viagem do conhecimento que, por meio da Ma-
temática, fará você aprender a aplicar métodos e a desenvolver
procedimentos científicos e práticos, para além da teoria. Algumas
das experiências que você vai realizar aqui foram desenvolvidas
por grandes escritores, cientistas, matemáticos e suas descobertas
podem abrir muitas portas para sua formação profissional.
Cada unidade que você vai estudar traz elementos para que, ao
final da Eletiva, seja desenvolvida uma atividade prática que você, o
professor e a turma irão produzir e apresentar em uma culminância
que irá acontecer no final desta eletiva.
O objetivo é que este material o/a auxilie a exercer o protagonismo
de modo que você identifique seus potenciais, interesses e paixões e
estabeleça estratégias e metas para alcançar seus próprios objetivos
em todas as dimensões. Logo, o presente material deve servir de
apoio para se atingir esse objetivo.
Sucesso e bom estudo!
P. 1
PARTE I
Aritmética de Números Reais 3
Habilidades Desenvolvidas
BNCC
(EM13MAT103) Interpretar e compreender textos científicos ou divulgados pelas mídias, que empregam
unidades de medida de diferentes grandezas e as conversões possíveis entre elas, adotadas ou não pelo Sistema
Internacional (SI), como as de armazenamento e velocidade de transferência de dados, ligadas aos avanços
tecnológicos.
(EM13MAT310) Resolver e elaborar problemas de contagem envolvendo agrupamentos ordenáveis ou não de
elementos, por meio dos princípios multiplicativo e aditivo, recorrendo a estratégias diversas, como o diagrama
de árvore.
(EM13MAT313) Utilizar, quando necessário, a notação científica para expressar uma medida, compreendendo as
noções de algarismos significativos e algarismos duvidosos, e reconhecendo que toda medida é inevitavelmente
acompanhada de erro.
ENEM
H1 - Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações - naturais,
inteiros, racionais ou reais.
H2 - Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.
H3 - Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos.
H4 - Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantita-
tivas.
H5 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos.
SAEB
D14 - Identificar a localização de números reais na reta numérica.
D15 - Resolver problema que envolva variação proporcional, direta ou inversa, entre grandezas.
P. 3
A expansão decimal dos números racionais é fundamental para expressar medidas das mais diversas
grandezas em todos os contextos cotidianos, científicos ou tecnológicos.
Os instrumentos e experimentos que permitem medir comprimento, área, volume, massa, tempo,
velocidade e outras grandezas são baseados em unidades de medida. Todas as medidas têm um nível
de precisão e erro. Para escolher a unidade de medida, é preciso levar em conta a ordem de grandeza
do que está sendo medido, além da finalidade da medição e a disponibilidade dos instrumentos para
realizá-la.
Vejamos alguns exemplos que explicam esses pontos. Para medir a altura de uma pessoa ou outras
medidas corporais como a circunferência abdominal, usamos metros e centímetros: dizemos que uma
dada pessoa tem 1,74 metros, considerando que a unidade de medida seja em metros, com duas casas
decimais após a vírgula. Poderíamos também dizer que essa altura é igual a 174 centímetros. Não
seria prático, entretanto, dizer que a pessoa mede 0,00174 quilômetro. Da mesma forma, dizemos que a
distância de Milagres a Barro é de 29 quilômetros em vez de 29 000 000 de centímetros: a unidade de
medida, neste caso, é quilômetro, que equivale a 1 000 metros ou a 1 000 000 de centímetros.
Em um extremo das ordens de grandeza muito elevadas, temos as distâncias astronômicas.
enquanto que a distância do elétron ao núcleo em um átomo de hidrogênio é dada pelo raio de Bohr,
aproximadamente igual a
0,000 000 000 052 9 metros.
Observação 1.1 Esse vídeo, assim como outros disponíveis na internet mostra as diversas ordens de
grandeza usadas na Ciência, desde o microcosmo no interior dos núcleos atômicos às estruturas do
Universo, como galáxias, quasares, buracos negros:
https://youtu.be/8Are9dDbW24
Seção 1.1 P. 4
Ordens de grandeza são expressas por potências de dez, tanto positivas quanto negativas. As potências
negativas de dez são notações para simbolizar frações da unidade em que o denominador é uma potência
positiva de dez, como nos seguintes exemplos:
1 1 1 1 1 1 1
10≠6 = = ◊ ◊ ◊ ◊ ◊
1 000 000 10 10 10 10 10 10
1 1 1 1 1 1
10≠5 = = ◊ ◊ ◊ ◊
100 000 10 10 10 10 10
1 1 1 1 1
10≠4 = = ◊ ◊ ◊
10 000 10 10 10 10
1 1 1 1
10≠3 = = ◊ ◊
1 000 10 10 10
1 1 1
10≠2 = = ◊
100 10 10
1
10≠1 =
10
Recorde-se que as potências positivas de dez são dadas por produtos iterados do fator 10, como em:
100 = 1
101 = 10
102 = 10◊10
103 = 10◊10◊10
104 = 10◊10◊10◊10
105 = 10◊10◊10◊10◊10
106 = 10◊10◊10◊10◊10◊10.
Com essas potências, podemos expressar a expansão decimal dos números racionais de modo mais
sucinto. Por exemplo:
Distâncias astronômicas envolvem ordens de grandeza com potências positivas elevadas. Por exemplo, a
distância da Terra ao Sol, é estimada por
um número da ordem de grandeza de 1011 metros. No outro extremo, distâncias atômicas são expressas
por potências de dez negativas. Por exemplo, o diâmetro do núcleo do átomo de hidrogênio é dado por
Medidas como essas têm algarismos significativos (certos e duvidosos) e erros, devidos à precisão dos
instrumentos ou de sua utilização. Esses temas serão retomados em outros cadernos, quando estudarmos
operações aritméticas com números decimais a fundo.
Aprendemos com os antigos gregos que medir significa comparar a um padrão, considerado a
unidade de medida. Historicamente, as primeiras medidas de comprimento foram baseadas em partes
do corpo. Na arquitetura e na escultura da Grécia Clássica, as proporções da figura humana tinham
um papel predominante, como ilustrado nas obras do escultor Fídias e em templos como o famoso
Parthenon.
P. 5 Seção 1.1
Nessas obras, são respeitadas várias relações de proporcionalidade entre as medidas de suas partes,
como é o caso da presença de razões e retângulos áureos. Para mais detalhes sobre esses tópi-
cos, recomendamos consultar textos como este, disponível em https://www.vivadecora.com.br/pro/
curiosidades/proporcao-aurea/
Na área rural, especialmente no Nordeste, ainda usamos unidades de medida baseadas em partes
do corpo como a braça, que equivale a 2,2 metros e é aproximada pela envergadura, isto é, a extensão
máxima obtida, de uma ponta a outra, abrindo-se os braços totalmente na horizontal. Também derivadas
de medidas antigas, muitas das quais presentes na Bíblia, temos o pé, o côvado, o palmo e a jarda, para
citar alguns exemplos. No exercício seguinte, consideramos como uma unidade a medida o comprimento
de um pé.
Problema 1 As alunas do nono ano se encontraram para jogar futebol em um campinho, onde não tem
marcação para o lugar das traves. Elas terão que marcar, em cada lado do campo, um comprimento
de 5 metros para as traves de cada gol. As meninas não têm uma fita métrica ou trena, mas Sofia
lembrou que, como calça 33, seu pé tem um tamanho de 22 centímetros, aproximadamente. Como
Sofia pode, então, ajudar a marcar as traves para que elas comecem o jogo?
Solução. A distância entre as marcas do gol, de cada lado do campo, deve ser de 5 metros ou
500 centímetros. Como o pé de Sofia tem, aproximadamente, 22 centímetros, podemos, na prática,
aproximar a medida de seu pé para 20 centímetros (por falta) ou para 25 centímetros (por excesso),
visto que
20 < 22 < 25.
No primeiro caso, os 500 centímetros entre as marcas do gol é aproximada por
500
= 25 pés de Sofia,
20
enquanto, no segundo caso, essa distância é aproximada por
500
= 20 pés de Sofia.
25
Vejamos as medidas reais, nos dois casos, nas seguintes figuras:
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
Repare que, na primeira estimativa, Sofia marcou 25 pés, ou seja, um comprimento de 25◊22 = 550
centímetros, superior aos 500 centímetros desejados. Logo, uma estimativa por baixo do tamanho do seu
pé resultou em uma aproximação por cima do tamanho da trave, com erro de 50 centímetros na medida.
Na segunda estratégia, Sofia marcou 20 pés, ou seja, um comprimento de 20◊22 = 440 centímetros,
inferior aos 500 centímetros desejados. Logo, uma estimativa por cima do tamanho do seu pé resultou
em uma aproximação por cima do tamanho da trave, com erro de 60 centímetros na medida. Note que
o erro foi ainda maior, pelo fato de que 20 centímetros é uma aproximação melhor de 22 centímetros do
que 25 centímetros!
Para corrigir essas imprecisões na medida, Marília, colega de Sofia, observou que
22◊22 = 484,
com apenas 500 ≠ 484 = 16 centímetros de erro na medida. Melhor ainda,
22◊23 = 506,
com erro ainda menor, de 6 centímetros na medida da trave.
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
Assim, Sofia mediu, pé ante pé, uma medida equivalente a 23 pés, ou seja, 506 centímetros,
aproximadamente. ⌅
Exercício 1.1 Como ficariam essas medidas das traves, considerando o tamanho dos pés de outras
alunas do nono ano, conforme a tabela, com o padrão dos calçados brasileiros?
Observação 1.2 Se você já jogou futebol de rua, deve ter passado por situações como a do exercício.
A lição que extraímos é de que é preciso fixar uma unidade de medida, seja o pé de Sofia ou o pé de
Aninha, e comparar a grandeza que queremos medir com a unidade fixada: é claramente importante
que “o mesmo pé” seja utilizado para medir ambos os gols. Ninguém vai querer que uma trave tenha
o comprimento de 20 pés de um jogador adulto e o outro tenha 20 pés de um menino de três anos de
idade.
Na situação descrita no exercício, se as alunas possuíssem uma régua ou fita métrica (trena),
a medição seria mais precisa, diminuindo a margem de erro. Além disso, a vantagem é que o
comprimento de um metro em qualquer trena de boa qualidade é (praticamente) o mesmo. Outra
vantagem é que a fita métrica garante que a medida seja feita em linha reta. Enfim, para jogar
futebol em um campinho, o importante mesmo é a bola e podemos, tranquilamente, dispensar a trena.
Mas, o mesmo não pode ser dito se formos construir uma casa, quando a precisão do instrumento de
medição e das medidas torna-se crucial.
A base das medidas de grandezas geométricas é a escolha de uma unidade de medida de comprimento
de segmentos de retas, a partir da qual determinamos, por comparação, medidas de outros segmentos.
Também a partir das medidas de comprimento, podemos definir medidas de área e volume, além de
medidas de grandezas relativas, que envolvam razões entre grandezas, como densidade, vazão, fluxo,
velocidade, dentre outras.
P. 7 Seção 1.1
Exercício 1.2 As engenheiras Andrea e Márcia usaram uma fita métrica para medir as dimensões de
um terreno em que farão uma quadra de futebol society, com 25 metros de largura e 45 metros de
comprimento. Elas consideram, por segurança, um erro de 5 centímetros nas medidas de largura e
comprimento que fizeram no terreno. Isso significaria um erro de quantos metros quadrados na área
da quadra?
Solução. Se considerarmos a margem de erro nas medidas, a medida h da largura da quadra está
no intervalo de 25 metros menos 5 centímetros a 25 metros mais 5 centímetros, ou seja,
ao passo que a medida b do comprimento da quadra está no intervalo de 45 metros menos 5 centímetros
a 45 metros mais 5 centímetros, ou seja,
Observe que o primeiro termo seria a área exata, no caso em que as medidas lineares não tivessem erro
algum; o segundo termo é a parte significativa do erro, que é proporcional ao perímetro do terreno; e
a terceira parcela é um componente quadrático do erro que não consideraremos por ser muito pequena
em comparação com as demais medidas.
Concluímos que o erro é da ordem de 3,5 metros quadrados em um total de 1 125 + 3,5 = 1 128,5
metros quadrados, ou seja, algo como 0,3% de erro na medição da área. ⌅
Em resumo, para efetuarmos medidas de uma dada grandeza, começamos definindo uma unidade
de medida, seja baseada na tradição histórica ou no cotidiano (como pés, braças, arrobas, etc.), seja
em conceitos científicos muito precisos e universais, como no caso do metro, do segundo e do bit. O
propósito do sistema de unidades de medida é de que as medidas possam ser comunicadas sem
ambiguidade, de modo universal, e possam ser verificadas e reproduzidas, segundo experimentos
idênticos. Esse rigor é fundamental na atividade cientifica. Imagine, por exemplo, como os médicos
prescreveriam uma dose de antibiótico ou de vacina sem os miligramas e milímetros.
No caso de comprimentos ou distâncias, precisamos definir um segmento de reta padrão, com o
qual todos serão comparados. Os gregos acreditavam que dois segmentos quaisquer são comensuráveis,
ou seja, que a razão entre suas medidas é um número racional da forma m n . Isso significa que n cópias
de um dos segmentos teria comprimento igual a m cópias do outro. Por exemplo, nas figuras seguintes,
o segmento com medida ¸ equivale a 54 do segmento de medida u, ou seja, 4 cópias do segmento de
medida ¸ têm o mesmo comprimento de 5 cópias do segmento de medida u:
0 1¸ 2¸ 3¸ 4¸
0 1u 2u 3u 4u 5u
Observação 1.3 Essa concepção dos gregos, sobre a comensurabilidade de todas as medidas, ou
seja, a suposição de que a razão ou comparação das medidas de dois segmentos quaisquer é sempre
dada por um número racional, reflete a seguinte premissa filosófica:
Seção 1.1 P. 8
Exercício 1.3 Tente fazer medidas bem precisas dos lados de uma folha de papel A4, o formato
comum das folhas de papel ofício ou, provavelmente, de um caderno desses de 10 matérias ou mais.
Use uma régua ou fita métrica para isso e faça as seguintes medições:
Observação 1.4 A figura seguinte representa uma folha de papel A4, cujas medidas têm a seguinte
propriedade: ao dividirmos a folha ao meio, na direção de sua largura ¸ (maior dimensão), a largura
de cada metade, isto é, ¸/2, é igual à altura u (menor dimensão) da folha original
Observe que, tendo em conta que a metade da folha é proporcional à folha inteira, obtém-se:
¸ u
= ,
u ¸/2
ou seja,
¸2 = 2u.
Assim, concluímos que Ô
¸= 2u.
No exemplo, acima, da folha de papel A4 a altura e a largura são medidas de segmentos não-
comensuráveis: se colocarmos várias e várias folhas lado a lado, alinhadas por suas larguras, jamais
obteremos o mesmo comprimento que várias folhas, alinhadas lado a lado, alinhadas segundo duas
alturas.
...
1
...
2
Ô
O “problema”, aqui, é que a raiz quadrada de 2 não é um número racional, como discutiremos na
P. 9 Seção 1.2
Na seção 1.1 anterior, mencionamos que, mesmo fixada uma unidade de medida de comprimento, nem
todos os segmentos de reta terão medida comensurável ou comparável com a unidade fixada. Isso
quer dizer que, seja qual for a medida u de comprimento fixada como unidade de medida, há segmentos
tais que a razão entre sua medida ¸ e a medida u não é um número racional.
Nesta seção, mostraremos alguns exemplos de pares de segmentos, em figuras geométricas, que não
são comensuráveis. Ou seja, mostraremos alguns exemplos de medidas que não são dadas por números
racionais. Na próxima subseção, discutimos a relação entre medidas comensuráveis e números racionais.
Na seguinte, mostramos alguns exemplos de medidas que não são dadas por números racionais, quando
comparadas com uma dada unidade de medida.
Fixada uma unidade de medida de comprimento (ou distância), todo segmento de reta possui uma
medida, que será expressa por um número real positivo.
Veremos que nem todos os segmentos têm medidas dadas por números racionais. A hipótese acima
diz que os números reais formam um conjunto numérico completo, em que podemos expressar as
medidas de todos os segmentos de reta, uma vez fixada uma unidade de medida.
A partir dessa hipótese, é possível estabelecer uma correspondência entre os números reais (agora
incluindo positivos e negativos) e os pontos de uma reta em que cada número corresponde a um único
ponto, e vice-versa, como segue: em uma reta desenhada horizontalmente, escolha dois pontos distintos
O e P , com P à direita de O (ver Figura 1.7). Identifique o ponto O com o número 0 e o ponto P como
número 1 e defina o segmento OP como a unidade de comprimento. Isso estabelece uma orientação e
R O P Q
≠¸ 0 1 ¸ R
Figura 1.7: A reta numérica, fixada uma unidade de medida e uma orientação
uma escala (ou unidade de medida) para a reta. Cada ponto da reta, à direita de O, como é o caso do
ponto Q, está associado a um número real positivo: este número real ¸ é a medida do segmento de
reta OQ cujos extremos são O e Q.
De modo similar, cada ponto da reta, à esquerda de O, está associado a um número real negativo:
na figura este é o caso do ponto R, associado ao número real negativo ≠¸. Note que o segmento OR, de
O a R, tem a mesma medida do segmento de OQ, mas as orientações dos dois segmentos são diferentes:
OR está orientado para a esquerda e OQ para a direita. Por essa razão, usamos os números reais ≠¸ e
¸, respectivamente, para fazer essa distinção.
Dada essa correspondência entre cada ponto da reta e a medida (orientada) do segmento determi-
nado pela origem O e por este ponto, passamos a denominá-la de reta numérica ou reta real. A
reta numérica é uma representação geométrica do conjunto dos números reais R.
O conjunto dos números reais contém o conjunto dos números racionais que, por sua vez, contém o
conjunto dos números inteiros, no qual está contido o conjunto dos números naturais, Temos:
NµZµQµR
Seção 1.4 P. 10
R
racionais Q irracionais R ≠ Q
Recapitulando nosso estudo da correspondência entre medidas de segmentos de reta e números, come-
çamos com o caso mais básico em que essas medidas são expressas por números inteiros. Em seguida,
passamos para o caso em que as medidas podem ser expressas por números racionais não inteiros e, por
fim, discutir medidas dadas por números reais que não são números irracionais.
Sejam ¸ a medida de um dado segmento e u a medida de um segmento que tem mesmo comprimento
que o segmento OP na reta numérica. Ou seja, u tem o comprimento da unidade de medida. Se ¸ é
dado por um número inteiro positivo m, então
¸ = mu,
ou seja, pondo m cópias do segmento u lado a lado, sem sobreposição, temos um segmento com
comprimento exatamente igual a ¸, como na figura seguinte:
u u u u
Figura 1.8: uma barra ¸ que mede 4 unidades de comprimento, já que sobre ¸ cabem exatamente 4
cópias de u.
Sendo assim, dizemos que ¸ mede m unidades de comprimento, ou seja, ¸ = m u. De outro modo,
dizemos que a razão entre ¸ e u é igual a m. Na Figura 1.8 temos um exemplo em que m = 4, ou seja,
¸ = 4u.
O P
≠4 ≠3 ≠2 ≠1 0 1 2 3 4
Figura 1.9: uma maneira prática e precisa de marcar números inteiros na reta real é
utilizar um compasso. Fixe a abertura do compasso tomando por base o segmento
OP ; em seguida, use o compasso para marcar os pontos um a um, partindo de O
em ambos os sentidos.
Partindo da origem O da reta numérica, podemos marcar os pontos que correspondem a números
inteiros, marcando segmentos de comprimento 1 para a direita ou esquerda, como demonstado na figura
acima.
Exercício 1.4 — SPAECE–2015. Observe a reta numérica da figura abaixo, a qual está dividida em
segmentos de mesmas medidas. Os números representados pelos pontos P , Q e S são, respectivamente:
(a) ≠11, ≠3 e 6.
(b) ≠11, ≠5 e 6.
P. 11 Seção 1.5
(c) ≠10, ≠3 e 5.
(d) ≠10, ≠8 e 5.
P Q S
≠5 0 10
Exercício 1.5 — Prova Brasil - adaptado. Uma professora da 4a série pediu a uma aluna que marcasse
numa linha do tempo o ano de 1940. Admitindo que o segmento dado na Figura 1.10 está dividido
em partes iguais e que cada segmento representa um mesmo intervalo de tempo, assinale a alternativa
que corresponde ao ponto que a aluna deve marcar para acertar a tarefa pedida.
(a) A.
(b) B.
(c) C.
(d) D.
1900 B A C D 2000
Solução. Admitamos que o segmento dado na Figura 1.10 está dividido em partes iguais (o que
não foi dito explicitamente na questão) e que cada segmento representa um mesmo intervalo de tempo
(o que também não foi dito no enunciado). Contando o número de partes, vemos que os 100 anos
correspondentes ao intervalo entre 1900 e 2000 foram divididos em 10 partes iguais, ou seja, 10 décadas.
Dessa forma, o ponto que corresponde ao ano de 1940 deve estar na quarta marca depois de 1900, isto é,
deve ser o ponto A. ⌅
Pode ocorrer que, ao tentar expressar a medida ¸ de um segmento, comparando-a com a unidade de
medida, que é o comprimento u do segmento OP , observamos que ¸ não equivale, exatamente, a um
múltiplo inteiro (positivo) de u, ou seja, pode acontecer que
¸ ”= mu,
seja qual for o número inteiro positivo m. Pode ser necessário completar a medida com frações de u ou,
de outro modo, pode ser preciso retirar-se uma fração da medida de u, para obtermos, precisamente, ¸.
No caso mostrado na Figura 1.11 a seguir, a última cópia da unidade u não se ajusta exatamente ao
segmento de comprimento ¸. Para contornar essa dificuldade, dividimos o comprimento u da unidade
de medida em partes iguais, obtendo sub-múltiplos da unidade de medida: na figura, consideramos
1
5 u como esse sub-múltiplo, definindo uma nova unidade de medida. Agora, contamos quantas dessas
sub-unidades serão necessárias para obtermos, exatamente, o comprimento ¸:
Seção 1.5 P. 12
4u
u u u 5
No exemplo da Figura 1.11 acima, 3 segmentos de comprimento u têm, juntos lado a lado, comprimento
menor que ¸: 3u seria uma aproximação por falta da medida de ¸. Por outro lado, 4 segmentos de
comprimento u têm, juntos lado a lado, comprimento maior que ¸: 3u seria uma aproximação por
excesso da medida de ¸. Logo,
3u < ¸ < 4u.
Para obtermos uma medida exata, procedemos como dito anteriormente: dividimos cada segmento de
comprimento u em 5 segmentos de mesmo comprimento, de modo que cada um desses novos segmentos
tem comprimento igual a 15 u. Observamos que, agora, alinhando, lado a lado,
5 + 5 + 5 + 4 = 19
19
¸= u,
5
significa que
5¸ = 19u,
ou seja, 5 cópias do segmento ¸ têm exatamente o mesmo comprimento de 19 cópias do segmento u.
Pensando de outra forma, a comensurabilidade ou comparabilidade dos segmentos de medidas
¸ e u significa que podemos encontrar um segmento cuja medida p é tal que
u = 5p e ¸ = 19p
Note que, na figura acima, cada um dos segmentos menores tem medida igual a p = 15 u.
5
¸ = u.
4
Neste caso, vimos que
4¸ = 5u,
como demonstram as seguintes figuras:
P. 13 Seção 1.5
0 1¸ 2¸ 3¸ 4¸
0 1u 2u 3u 4u 5u
O P Q
1 2 3 5 6 7 9
4 4 4 4 4 4 4
0 4 8
4 4
O P
1 3 5 7 9
4 1 4 4 3 4 4
2 2
0 1 2 3
Solução. Devemos dividir o segmento unitário em duas partes iguais (ou seja, ao meio), a fim
de marcar o número 12 sobre a reta. Em seguida, marcamos os múltiplos positivos e negativos desta
subunidade, para a direita e para a esquerda da origem, respectivamente, como na Figura 1.15. Como
≠6 Æ m Æ 6, temos 6 múltiplos de 1/2 para cada lado. Em tal figura, quando o resultado da divisão
m/2 é um inteiro, resolvemos por anotar apenas o resultado dessa divisão (por exemplo, escrevemos 1
no lugar de 22 , escrevemos 2 no lugar de 42 , etc), e usamos “marcas” maiores para os números inteiros
(isso não é obrigatório, mas facilita bastante a leitura e interpretação da figura). ⌅
Seção 1.6 P. 14
O P
≠ 52 ≠ 32 ≠ 12 1
2
3
2
5
2
≠3 ≠2 ≠1 0 1 2 3
Solução. A figura seguinte representa um quadrado cujo lado mede 1 unidade de comprimento,
destacando-se sua diagonal:
Ô 2
1
1
Nessa figura, a diagonal do quadrado é a hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos são dois dos
lados do quadrado, ambos com medida igual a 1 unidade de comprimento. Pelo Teorema de Pitágoras,
o quadrado da medida da hipotenusa, ¸2 , é a soma dos quadrados das medidas dos catetos, isto é,
¸2 = 12 + 12 .
Assim,
¸2 = 2.
Logo, Ô
¸= 2.
Ô
Lembre-se que 2, a raiz quadrada de 2, é o número real cujo quadrado é igual a 2, isto é,
Ô Ô
2◊ 2 = 2.
Ô
Concluímos que o comprimento da diagonal do quadrado é igual a 2 unidades de comprimento. ⌅
Problema 3 Determine o comprimento da diagonal de um pentágono regular cujo lado mede 1 unidade
de comprimento.
http://www.matematicasvisuales.com/english/html/geometry/goldenratio/pentagondiagonal.html
Solução. A figura indica triângulos semelhantes: usando as relações de semelhança entre lados
correspondentes nos triângulos, temos
„≠1 1
= ·
1 „
Assim, multiplicando cada um dos lados por „, temos:
„(„ ≠ 1) = 1.
Logo,
„2 ≠ „ ≠ 1 = 0.
1 1 1
„2 ≠ 2 · „ + ≠ ≠ 1 = 0.
2 4 4
Assim,
3 42
1 5
„≠ = ·
2 4
Como „ é positivo, concluímos que
Ô
1 5
„= + ·
2 2
⌅
Observação 1.7 Na página seguinte, você pode encontrar uma “demonstração sem palavas” da
relação de proporcionalidade entre o lado e a diagonal do pentágono regular:
http://www.matematicasvisuales.com/english/html/geometry/goldenratio/pentagondiagonal.html
Ô
O número 5, que aparece no Problema 3, significa um número cujo quadrado é igual a 5, isto é, tal
que
Ô Ô
5◊ 5 = 5.
Ô
5
Ô 2
1
1 2
a maior parte está para a menor, assim como a soma das partes está para a maior,
ou seja,
a a+b
=
b a
Seção 1.6 P. 16
a a+b
=
b a
por ab , temos
a2 a
= + 1.
b2 b
Denotando „ = b , temos a equação quadrática
a
„2 ≠ „ ≠ 1 = 0,
Observação 1.8 A razão áurea aparece em vários contextos em Matemática, como associada a
sequências de Fibonacci e à espiral aritmética de Arquimedes. Em Arquitetura, está na base da
definição do retângulo áureo, cujos lados são a + b e a, na proporção áurea, conforme a seguinte figura:
Solução. A solução deste problema será discutida detalhadamente nos cadernos sobre Geometria.
Por ora, lembramos que a razão entre a circunferência C e o diâmetro d do círculo é dada por
C
= fi.
d
P. 17 Seção 1.6
No caso particular em que o raio mede 1 unidade de comprimento e, portanto, o diâmetro d é dado por
duas unidades de comprimento, temos C = 2fi. Na figura acima, vê-se um segmento de reta abaixo do
círculo, que corresponde a “desenvolver” a circunferência rolando-a sem deslizar. ⌅
Ô Ô
Os números reais positivos 2, 5 e fi são exemplos de números irracionais.
Ô
Observação 1.9 Vamos demonstrar que 2 não
Ô é um número racional, usando o método chamado de
redução ao absurdo: começamos supondo que 2 é um número racional e chegaremos, por deduções
lógicas, a uma conclusão falsa.
Ô Ô
Suponhamos, pois, que 2 é um número racional. Nesse caso, 2 pode ser representado por uma
fração irredutível, ou seja, existem números naturais m e n, com n ”= 0, tais que
Ô m
2= ·
n
Além disso, m e n não possuem divisores comuns. Sendo assim, temos:
Ô
m = 2n
m2 = 2n2 .
Logo, 2 é fator de m2 , ou seja, m2 é um número par. Portanto, m deve ser par, pois, se m fosse
ímpar, m2 seria ímpar (verifique!). No entanto, como m é par, m2 é divisível por 4 = 2◊2. Logo, 2
deve ser fator de n2 . Concluímos, como antes, que n é um número par.
Deduzimos, por esses passos lógicos, que m e n são números pares, ou seja, que esses números
têm 2 como um fator comum. Isso contradiz o fato de que m e n são números sem fatores comuns
Ô
Exercício 1.7 Use a ideia acima para mostrar que 5 é um número Ôirracional, ou seja, um número
real não-racional. (Sugestão: supondo, por redução ao absurdo, que 5 = m/n, com m e n naturais
e n ”= 0, considere as possibilidades de m ou n serem ou não múltiplos de 5.)
Exercício 1.8 De modo geral, é possível mostrar que, para qualquer número natural primo p, o
Ô
número p é irracional. Demonstre essa afirmação.
Solução. Por redução ao absurdo, suponha que, dado um número natural primo, sua raiz quadrada
Ô
p seja um número racional, representado por uma fração irredutível:
Ô m
p= ,
n
onde m e n são números naturais, com n ”= 0, de modo que m e n não tem fatores comuns (além de 1,
claro). Assim,
Ô
m = pn
e, elevando ambos os lados ao quadrado, temos:
m2 = pn2 .
Logo, p é um fator primo de m2 . Como p é primo, deve ser fator de m. Logo, m2 é divisível por p2 .
Assim, n2 é divisível por p. Uma vez mais, como p é primo, segue que n deve ter p como fator. Logo, m
e n deveriam ter p como fator comum, o que contradiz o fato de m e n não terem fatores comuns. ⌅
Seção 1.6 P. 18
• https://www.youtube.com/watch?v=wCFj4_gDIU4
• https://www.youtube.com/watch?v=gMlf1ELvRzc
• http://www.ime.unicamp.br/~apmat/numero-pi/
• https://youtu.be/vY6965UdcLI
• O livro de Eli Maor, Trigonometric delights.
A discussão dos exemplos acima parece sugerir que números irracionais, ou seja, números reais não-
racionais, são casos especiais, ou mesmo raros, e estão relacionados a contextos geométricos excepcionais.
A verdade, também surpreendente, é de que, não bastasse existirem números irracionais, eles são muito
mais frequentes que os números racionais na reta numérica! Ou seja, a irracionalidade de um número
real, longe de ser a “exceção”, é quase uma “regra”. Vamos tornar essas afirmações um pouco mais
precisas quando discutirmos a expansão decimal dos números reais, sejam racionais ou irracionais.
Por ora, observe que existem infinitos números irracionais: de fato, como existem infinitos números
Ô
primos (o matemático Euclides provou este teorema), existem infinitos números da forma p, onde p é
Ô
um número primo. Logo, o exercício 1.8 implica que os infinitos números da forma p, onde p é primo,
são todos números irracionais. Para ampliarmos nossa lista de exemplos, façamos duas observações:
Observação 1.11 As operações de adição e multiplicação são fechadas nos números racionais Q, ou
seja, dados números racionais
m p
x= e y= ,
n q
onde m, n, p, q são números naturais, com n ”= 0, q ”= 0, a soma
m p mq + np
x+y = + =
n q nq
e o produto
m p mp
x·y = · =
n q nq
são também números racionais. De modo sucinto,
se x œ Q e y œ Q, então x + y œ Q e x · y œ Q.
Observe que
1 m n mn
x· = · = = 1.
x n m nm
O quociente de y : x ou y
x de dois números racionais, com x ”= 0, é definido como o produto de y pelo
inverso de x, isto é,
y 1
=y· ·
x x
Estudaremos essas oprerações aritméticas com mais detalhes nos cadernos seguintes.
Voltando à discussão sobre a infinidade dos números irracionais, observamos, inicialmente, que,
dado um número primo p e um número racional x = m n ”= 0, o produto
Ô
y =x· p
é também irracional. Se o produto y fosse um número racional (não-nulo) da forma pq , teríamos
Ô y pn pn
p= = = ,
x qm qm
Ô Ô
ou seja, p seria um número racional, o que é uma contradição com o fato de que p é um número
irracional. Logo, nossa premissa é falsa, ou seja, concluímos que os números da forma
Ô
x p,
onde x œ Q e p é um número primo, são números irracionais. De modo similar, demonstramos que são
irracionais todos os números da forma
Ô
X + x p,
onde X, x são números racionais e p é um número primo. Logo, existe uma infinidade de números
irracionais na reta numérica R.
Deduzimos, desse modo, que o conjunto dos números irracionais em R é infinito. De fato, provamos
algo mais: que há, pelo menos, tantos números irracionais quanto números racionais. Ou seja, podemos
colocar pelo menos um sub-conjunto dos números irracionais em correspondência biunívoca com
pares de números racionais da seguinte forma:
Ô
(X, x) œ Q◊Q ‘æ X + x p.
https://www.youtube.com/watch?v=fPWoKCGIJ4s
Com os números reais, a situação é radicalmente diferente: não é possível contar os números reais, ou
seja, colocá-los em correspondência biunívoca com os números naturais: para que fosse possível
contá-los, precisaríamos “separá-los” um a um e, para cada número real, associar um número natural.
Cantor demonstrou, com seu processo de diagonalização, que essa contagem é impossível, ou seja, que
os números reais não são enumeráveis. Veja, a este propósito, os vídeos
• https://youtu.be/_aXwKJk8oBw
Seção 1.7 P. 20
• https://youtu.be/WQWkG9cQ8NQ
• https://youtu.be/fPWoKCGIJ4s
Observação 1.13 Essas questões são profundamente filosóficas e estão nos fundamentos lógicos da
Matemática. Mas, ao mesmo tempo, são de crucial importância nos desenvolvimentos científicos e
tecnológicos, por exemplo, que levaram à era da Computação!
Além disso, veremos, nas próximas seções, como esses problemas estão relacionados à expansão
decimal dos números reais, essencial para a notação científica usada em todos as áreas do conhecimento,
especialmente nas Ciências e Tecnologia.
0 1 1,125 2
9
Figura 1.16: Aproximação de segmento de medida igual a 8 = 1,125 na escala de 1 unidade de medida
0 1 1,125 2
9 1
Figura 1.17: Aproximação de segmento de medida igual a 8 = 1,125 na escala de 10 da unidade de
medida
0 1 1,125 2
9 1
Figura 1.18: Aproximação de segmento de medida igual a 8 = 1,125 na escala de 100 da unidade de
medida
1
subunidade de 10 da unidade de medida, em uma escala 10 vezes menor que a original; na terceira, por
1
1,12, em termos da subunidade de 100 da unidade de medida, em uma escala 100 vezes menor que a
original.
1
A aproximação seguinte, usando a subunidade de 1 000 da unidade de medida, é representada na
reta por uma escala 1 000 vezes menor, o que já dificulta a visualização. Para contornar essa dificuldade,
podemos dar um “zoom” após outro na reta numérica, sempre ampliando 10 vezes, a cada “zoom”, a
figura anterior. Procedendo assim, obtemos a seguinte sequência de ampliações:
1,1 1,2
1 1,125 2
9 1
Figura 1.19: Aproximação de segmento de medida igual a 8 = 1,125 na escala de 0,1 = 10 da unidade
de medida
1,12 1,13
Discutamos, agora, o exemplo da expansão decimal do número racional representado pela fração 97 .
Usando o algoritmo da divisão, calculamos:
9
= 1,285714285714285714 . . .
7
onde as reticências indicam que esta expansão decimal é infinita. Observe que a sequência 285714
aparece periodicamente na expansão. Portanto, temos um exemplo de uma expansão decimal infinita
periódica.
• finitas;
• infinitas e periódicas.
Podemos demonstrar que todos os números racionais têm expansões decimais de um desses dois tipos.
De modo mais geral, podemos provar que um número real tem expansão decimal finita ou infinita
periódica se, e somente se, é, de fato, um número racional. Portanto, os números irracionais são os
números reais cujas expansões são infinitas e não-periódicas.
Vejamos mais alguns exemplos dessas diferentes situações. Iniciemos por um exemplo de número
racional com expansão decimal finita. Temos, por exemplo, as frações que equivalem às divisões
sucessivas de 9 por potências de 2, isto é, por 2, por 4, por 8, e assim por diante:
9 9 9
= 4,5 = 2,25 = 1,125 ···
2 4 8
Como 2 e 5 são fatores de 10, divisões por múltiplos de 2 e 5 geram expansões decimais finitas. Dado
um número natural m, temos:
m m m m
= 5◊ ou = 2◊ ·
2 10 5 10
Seção 1.7 P. 22
Exemplos de expansões decimais infinitas, mas periódicas, são dadas pelas seguintes divisões pelo número
3:
2 4 8
= 0,666 . . . = 1,333 . . . = 2,666 . . . ···
3 3 3
De fato, temos, no primeiro desses exemplos, a seguinte expansão infinita:
2 1 20 1 1 1 1 2
= ◊ = ◊ ◊(3◊6 + 2) = ◊6 + ◊
3 10 3 10 3 10 10 3
3 4
1 1 1 1 2
= ◊6 + ◊ ◊6 + ◊
10 10 10 10 3
1 1 1 2
= ◊6 + ◊6 + ◊ = ...
10 100 100 3
e assim indefinidamente! Note que, a cada iteração ou passo do algoritmo da divisão, a fração 23
reaparece, multiplicada por potências negativas de 10.
Outra sequência de exemplos de números racionais com expansões decimais infinitas, mas periódicas,
são obtidas pelas seguintes divisões por 7 ou por múltiplos de 7:
2 3 5
= 0,285714 . . . = 0,428571 . . . = 0,714285 . . . ···
7 7 7
Exercício 1.9 Verifique essas expansões de 2/7, 3/7 e 5/7. Você observou algo de interessante sobre
os algarismos que formam essas expansões? Qual seria a expansão de 4/7? E de 10/7?
Na seção anterior, vimos vários exemplos de expansões decimais, tanto finitas quanto infinitas e periódicas,
que representam números racionais. Ou seja, dada uma fração, encontramos sempre uma expansão
decimal finita ou infinita e periódica que a representa.
No entanto, precisamos também demonstrar que toda expansão decimal finita ou infinita e periódica
representa uma fração e, portanto, um número racional. Uma prova rigorosa desse teorema está
além dos objetivos desse texto. No entanto, podemos ilustrar algumas ideias ou evidências dessa
correspondência. Ou seja, podemos mostrar exemplos de como partir de uma expansão decimal (finita
ou infinita e periódica) e determinar a fração (o número racional) representada por essa dada expansão.
Por exemplo, consideremos a dízima periódica, ou seja, a expansão decimal infinita periódica dada
por
0,666 . . .
que, como já vimos, é uma representação decimal da fração 23 . Comprovemos esse fato de outro modo.
Para tanto, escrevemos
x = 0,666 . . .
= 0,6 + 0,06 + 0,006 + . . .
1 1
= 0,6 + ◊0,6 + ◊0,06 + . . .
10 10
3 4
1
= 0,6 + ◊ 0,6 + 0,06 + . . .
10
1
= 0,6 + ◊x
10
Note que a expressão entre parênteses, depois da quarta igualdade, tem infinitas parcelas e é exatamente
igual a x. Concluímos que
1
x ≠ x = 0,6,
10
ou seja,
9 6
x= ·
10 10
P. 23 Seção 1.7
Assim, o número racional, ou seja a fração, representada pela dízima periódica 0,666 . . . é dado por
6
x= ,
9
ou seja, por x = 23 .
Observação 1.14 Pode ser demonstrado que toda dízima periódica, ou seja, toda expansão decimal
infinita e periódica representa uma fração, que será chamada fração geratriz da dízima periódica.
Exercício 1.10 Determine a fração geratriz, isto é, o número racional na forma fracionária repre-
sentado pelas seguintes dízimas periódicas:
1) 0,616161 . . ..
2) 2,476666 . . .
Solução. 1) Escrevemos
x = 0,616161 . . . ,
de modo que
Observação 1.15 Tente descobrir um padrão na forma da fração geratriz! Isso tornará nossos cálculos
bem mais rápidos e diretos.
O seguinte exercício é educativo, pois nos alerta para as sutilezas das somas que estamos realizando
e que envolvem as infinitas parcelas nas dízimas periódicas. Se não levarmos em conta que estamos
lidando com a noção de infinito, podemos chegar a paradoxos e erros lógicos ou matemáticos facilmente.
Exercício 1.11 Demonstre que o número 1 tem a seguinte expansão decimal na forma de dízima
periódica:
1 = 0,99999 . . .
x = 0,999 . . .
= 0,9 + 0,09 + 0,009 + . . .
1
= 0,9 + ◊(0,9 + 0,09 + . . .)
10
1
= 0,9 + ◊x
10
Logo,
1 9
x≠ x= ·
10 10
Deduzimos que
9 9
x=
10 10
e, portanto, x = 1. ⌅
Observação 1.16 Acabamos de demonstrar, rigorosamente, que 0,999 . . . = 1. Pelo fato de termos
infinitos algarismos iguais a 9 na expansão decimal infinita, o resultado é exatamente igual a 1. Se
usássemos apenas expansões finitas como, por exemplo, em 0,99 ou 0,999 ou 0,999999, o resultado
obtido seria aproximadamente igual a 1, mas diferente de 1 (de fato, menor que 1). Portanto, podemos
considerar que as expansões decimais finitas são aproximações, cada vez melhores e mais precisas, da
expansão decimal infinita.
Observação 1.17 Ao trabalhar com dízimas periódicas, devemos ser cuidadosos em tentar aplicar
os algoritmos da adição e multiplicação como fazemos no caso das expansões decimais finitas. Por
exemplo, é valido que
2 · 0,333 . . . = 0,666 . . . ,
pois
1 2
2 · 0,333 . . . = 2◊ = = 0,666 . . .
3 3
Da mesma forma, temos
1 4 5
+ = 0,111 . . . + 0,444 . . . = 0,555 . . . =
9 9 9
Todavia, não é tão imediato realizar a soma
2 5
+ = 0,285714 . . . + 0,714285 . . . = 0,999999 . . .
7 7
usando as expansões decimais infinitas, embora saibamos, obviamente, que
2 5 7
+ = = 1.
7 7 7
P. 25 Seção 1.7
Analogamente, não é muito óbvio como calcular 2 · 0,666 . . .. Não é claro o que deve ser feito com
o “vai um” ao realizar a “distributividade” do fator 2 com as infinitas parcelas da soma infinita
em 0,666 . . .. Esse problema pode ser evitado, lidando-se diretamente com as frações geratrizes das
dízimas periódicas. Por exemplo,
6 12 4
2 · 0,666 . . . = 2 · = = = 1,333 . . . .
9 9 3
6,444 . . .
1,222 . . .
4 58
6,444 . . . = 6 + 0,444 . . . = 6 + =
9 9
e
2 11
1,222 . . . = 1 + 0,222 . . . = 1 + = .
9 9
Logo,
6,444 . . . 58/9 58 522
= = = = 5,272727 . . .
1,222 . . . 11/9 11 99
⌅
32,675838383 . . . ,
do seguinte modo:
32 + 0,675 + 0,000838383 . . .
em que temos a parte inteira, o número que corresponde à parcela à esquerda da vírgula (dada por
32, nesse exemplo); anteperíodo, a parcela à direita da vírgula que não se repete (dado por 675, nesse
caso); e pelo período, a parcela à direita da vírgula que se repete periodicamente (dado por 83, no
exemplo em tela). Podemos demonstrar, então, o seguinte mecanismo prático para determinar a fração
geratriz representada por uma dízima periódica:
A fração geratriz de uma dízima periódica cuja parte inteira é igual a zero é da forma:
Por exemplo, observe a dízima periódica 0,213424242 . . .. Seu anteperíodo é 213, que possui três
algarismos, e seu período é 42, com dois algarismos. Logo, sua fração geratriz é:
7,3444 . . . = 7 + 0,3444 . . . =
34 ≠ 3 31
=7+ =7+
90 90
90 · 7 + 31 661
= = ·
90 90
3 12 4
≠1,333 . . . = ≠1 ≠ 0,333 . . . = ≠1 ≠ =≠ =≠ .
9 9 3
Um erro comum seria escrever ≠1 + 0,333..., que não é igual a ≠1,333 . . .. De fato, ≠1 + 0,333 . . . =
≠0,666 . . ..
Nas seções anteriores, vimos que números racionais (e, claro, as frações que os representam) têm, sempre,
expansões decimais finitas ou infinitas e periódicas, essas últimas na forma de dízimas periódicas.
Reciprocamente, vimos vários exemplos do seguinte fato: expansão decimais finitas ou infinitas e
periódicas são, sempre, representações de números racionais. Vimos, em particular, como determinar o
número racional representado por uma dada dízima periódica, a chamada fração geratriz da dízima.
A questão, bem mais sutil, é se expansões decimais infinitas e não-periódicas também representam
números reais. Já sabemos que os números reais representados por expansões decimais infinitas e
não-periódicas devem ser, necessariamente, números irracionais.
Os números reais que tenham expansões decimais infinitas e não-periódicas são números
irracionais.
Nesta seção, não estudaremos a questão mais profunda sobre quais condições fazem com que uma
dada expansão decimal infinita e não-periódica convirja e represente um número real, não-racional.
Em vez disso, temos o objetivo mais modesto, mas muito importante, de entender as expansões decimais
(e as aproximações, portanto) de alguns números irracionais específicos.
Vejamos, em nosso primeiro exemplo, como Ô obter os primeiros algarismos da expansão decimal
(infinita e não-periódica) no número irracional 2. Sabemos que:
Logo, Ô
1,4 < 2 < 1,5.
Melhorando essa aproximação para mais casas decimais, observamos que:
em seguida, Ô
1,400 < 2 < 1,425
e, finalmente, Ô
1,4125 < 2 < 1,4250.
Essas aproximações podem ser representadas geometricamente nas seguintes cópias da reta numérica. A
cada etapa, consideramos 12 da unidade de medida usada na reta imediatamente anterior (lembre da
ideia do “zoom” que usamos antes):
1,45
Ô
1,4 2 1,5
Ô 1
Figura 1.22: Aproximação de segmento de medida igual a 2 na escala de 0,1 = 10 da unidade de
medida
1,425
Ô
1,40 2 1,45
Ô 1
Figura 1.23: Aproximação de segmento de medida igual a 2 na escala de 0,01 = 100 da unidade de
medida
1,4125
Ô
1,400 2 1,425
Ô 1
Figura 1.24: Aproximação de segmento de medida igual a 2 na escala de 0,001 = 1 000 da unidade de
medida
Ô
Analisando a terceira das retas numéricas, deduzimos uma aproximação ainda mais precisa de 2,
com quatro casas decimais, a saber:
Ô
1,4125 < 2 < 1,4150.
Ô
Para sermos mais precisos, como o ponto 2 está, na figura, à direita do ponto médio entre 1,4125 e
1,4150, teríamos Ô
1,41375 < 2 < 1,41500.
Estas aproximações,
Ô obtidas partindo cada intervalo ao meio e mantendo aquele em que está contido
o número 2, poderiam prosseguir indefinidamente: jamais obteríamos uma expansão decimal Ô finita,
independentemente de quantas casas decimais considerássemos, que fosse exatamente igual a 2. O que
obtemos, de fato, são aproximações racionais cada vez mais precisas de um número irracional.
Observação 1.19 O mesmo ocorre com qualquer número irracional: não é possível obter uma
expansão decimal finita, ou mesmo infinita e periódica, de um número irracional. Não se trata de
limitações nossas ou dos computadores, mas de uma impossibilidade matemática!
Se, por exemplo, você quiser conhecer uma aproximação do número fi com 100 000 casas decimais,
visite a página
http://www.geom.uiuc.edu/~huberty/math5337/groupe/digits.html
Nesta outra página, há muita informação interessante sobre fi, incluindo o papel desse número em
cálculos científicos em Astronomia e outras áreas:
Seção 1.8 P. 28
https://www.youtube.com/watch?v=vY6965UdcLI
Ô Ô
Exercício 1.13 Obtenha aproximações de 5 e da razão áurea „ = (1 + 5)/2 por números racionais.
Exercício 1.14 Observe a reta numérica da figura abaixo, a qual se encontra dividida em segmentos
de mesmas medidas. Responda cada um dos itens a seguir:
P S T U V
≠4 ≠3 ≠2 ≠1 0 1 2 3 4
Solução. (a) Veja que 3/4 é uma fração que representa o número racional obtido dividindo-se o
segmento unitário (do ponto 0 ao ponto 1 na reta numérica) em 4 pedaços e tomando-se 3 deles. Logo,
está entre 0 e 1. O único ponto marcado na figura que está entre 0 e 1 é o ponto S. Assim, essa deve
ser a resposta correta.
De todo modo, estudemos este problema em mais detalhes: temos marcados na escala os números
inteiros de ≠4 a 4. Dessa forma, cada segmento entre dois números inteiros consecutivos tem comprimento
1. Veja que cada um desses segmentos de comprimento 1 foi dividido, na figura, em 4 pequenos segmentos
de mesmo comprimento. Assim cada um deles possui comprimento 1/4. Para chegar ao número 3/4
devemos andar, a partir do número 0 e no sentido positivo, 3 vezes o segmento de comprimento 1/4,
parando sobre o ponto S. Ô Ô
(b) Veja que 1 < 2 < 4, logo, 1 < 2 < 2. Assim, o ponto que melhor aproxima 2 deve estar entre
os números 1 e 2 na retaÔnumérica. O único ponto demarcado nesse intervalo na figura do enunciado
é o ponto T . Veja que 2 é um número irracional, de modo que ele não possui uma representação
decimal com uma quantidade finita de algarismos. Mas, podemos obter aproximações
Ô melhores do que a
2 2
estimativa acima. Por exemplo, sabemos que (1,4) < 2 < (1,5) , logo, 1,4 < 2 < 1,5. Isso condiz com
a posição do ponto T , que está um pouco à esquerda da marca
Ô correspondente ao valor 1,5. Observação:
com o auxílio de uma calculadora, podemos checar que 2 vale aproximadamente 1,414. ⌅
Sequência 1
(a) 1,5;
(b) 7;
Ô
(c) 5;
(d) ≠0,222 . . .;
(e) 80,1/129;
(f) 1,4241;
(g) fi.
Ô
Solução. Como vimos, os números 5 e fi não são racionais. Por outro lado, todos os demais
números listados aqui são racionais. Temos que 1,5 = 32 , uma fração, logo, racional. Temos que 7
é inteiro, logo, é racional (podemos escrever 7 = 71 ). O número ≠0,222 . . . é uma dízima periódica,
portanto, também racional. O número 80,1/129, apesar de não estar representado como uma fração de
dois inteiros, pode ser reescrito como 80,1 801
129 = 1290 , de forma que também é racional. Por fim, o número
Ô Ô
1,4241 é uma aproximação de 2 com 4 casas decimais. Apesar de 2 ser irracional, o número 1,4241
P. 29 Seção 1.8
possui uma quantidade finita de casas decimais, logo, é racional; note que ele pode ser escrito como
1,4241 = 14241
10000 . ⌅
Exercício 1.16 Marque cada afirmação como verdadeira ou falsa e justifique sua resposta.
Solução. (a) Verdadeira. O conjunto dos números naturais é formado pelos números inteiros não
negativos. Em particular, todos eles são inteiros.
(b) Falsa. O conjunto dos números inteiros inclui os números negativos, os quais não são naturais.
(c) Verdadeira. Números racionais são aqueles que podem ser representados por frações de inteiros.
Para escrever um número inteiro na forma de fração, basta colocar o próprio número como
numerador e 1 como denominador.
(d) Falsa. O conjunto dos números irracionais é composto por todos os números que não são racionais.
(e) Verdadeira. Todos os naturais, inteiros, racionais e irracionais são reais. De fato, o conjunto dos
reais é composto pela união dos conjuntos dos racionais e dos irracionais.
(f) Falsa. Existem outros conjuntos numéricos (o conjunto dos números complexos, por exemplo),
que contêm o conjunto dos números reais, mas também contêm números que são não-reais.
⌅
Exercício 1.17 — PUCCAMP 2000. Considere os conjuntos: N dos números naturais, Q dos números
racionais, Q+ dos números racionais não negativos e R dos números reais. O número que expressa:
Exercício 1.18 — UTF-PR 2012. Indique qual dos conjuntos abaixo é constituído somente de números
racionais.
Ô
(a) {≠1, 2, 2, Ôfi}
1
(b) {≠5, 0, 2 , 9}
(c) {≠2, 0, fi, 23 }
Ô Ô Ô
(d) { 3, 64,Ô fi,1 2}
(e) {≠1, 0, 3, 3 }
Sequência 2
Exercício 1.19 Calcule a representação fracionária de cada uma das seguintes dízimas periódicas,
admitindo que os padrões sugeridos realmente se mantêm:
(a) 0,010101 . . .
(b) 0,123123123 . . .
(c) 0,999 . . .
Seção 1.8 P. 30
Exercício 1.20 — Prova Brasil–2011. Em uma corrida de rua, os corredores tinham que percorrer 3 km,
entre uma escola e uma Igreja. Joaquim já percorreu 2,7 km, João percorreu 1,9 km, Marcos percorreu
2,4 km e Mateus percorreu 1,5 km. Qual corredor está representado pela letra L, na Figura 1.25?
O M L N
0 km 1 km 2 km 3 km
Escola Igreja
Solução. Observando o número de quilômetros percorridos por cada corredor, veja que os únicos
que percorreram entre dois e três quilômetros foram Marcos, com 2,4 km, e Joaquim, com 2,7 km. Logo,
eles são representados, em alguma ordem, pelas letras L e N (que são os pontos marcados entre os
números 2 e 3 na escala). Como 2,4 < 2,7 e L está à esquerda de N , temos que a letra L representa o
corredor que percorreu 2,4 km, ou seja, Marcos. Logo, a resposta correta é a alternativa (b). ⌅
Exercício 1.21 Calcule a representação decimal do número 22/7. O resultado possui uma quantidade
finita ou infinita de casas decimais? Caso seja uma dízima, indique seu período. Este número é
conhecido como uma boa aproximação para fi. Qual é a estimativa do erro que se comete caso esse
número seja utilizado para aproximar fi.
Solução. Como 22/7 é um número racional, já sabemos que sua representação decimal ou terá
uma quantidade finita de dígitos ou será uma dízima periódica. Ao efetuar a divisão, precisamos ter
paciência (ou usar uma calculadora) para perceber que se trata de uma dízima, pois seu período tem 6
algarismos. A representação decimal obtida é 3,1428571428571 . . ..
Ela é uma ótima aproximação de fi, mas não é exata e nem poderia ser, já que fi é um número
irracional. Apenas as duas primeiras casas decimais são corretas, se compararmos com a expansão
decimal de fi:
fi = 3,14159265358979323846264338327950288419716939937 . . .
Portanto, o erro que se comete ao aproximar fi por tal número é menor que 0,01.
Observação 1.20 — Curiosidade. O número inteiro 142.857 (cujos algarismos são obtidos pelo
período da representação decimal de 22/7 e também de 1/7) é muito famoso por ter uma propriedade
bastante curiosa. Quando o multiplicamos por 2, 3, 4, 5 ou 6, obtemos sempre os mesmos algarismos
apenas trocando sua ordem. Mas, quando o multiplicamos por 7, obtemos 999 999.
(a) A intersecção do conjunto dos números racionais com o conjunto dos números irracionais tem 1
elemento.
(b) A divisão de dois números inteiros não-nulos é sempre um número inteiro.
P. 31 Seção 1.8
Sequência 3
Exercício 1.24 — ENEM 2015. Deseja-se comprar lentes para óculos. As lentes devem ter espessuras
mais próximas possíveis da medida 3,021 mm. No estoque de uma loja, há lentes de espessuras:
3,10 mm; 3 mm; 2,96 mm; 2,099 mm e 3,07 mm. Se as lentes forem adquiridas nessa loja, a espessura
escolhida será, em milímetros, de
(a) 2,099. (b) 2,96. (c) 3,021. (d) 3,07. (e) 3,10.
Exercício 1.25 — ENEM 2017. No modelo de termômetro da figura a seguir, os filetes na cor preta
registram as temperaturas mínima e máxima do dia anterior e os filetes na cor cinza registram a
temperatura ambiente atual, ou seja, no momento da leitura do termômetro.
Por isso ele tem duas colunas. Na da esquerda, os números estão em ordem crescente, de cima
para baixo, de ≠30 ¶C até 50 ¶C. Na coluna da direita, os números estão ordenados de forma crescente,
de baixo para cima, de ≠30 ¶C até 50 ¶C.
A leitura é feita da seguinte maneira:
• a temperatura mínima é indicada pelo nível inferior do filete preto na coluna da esquerda.
• a temperatura máxima é indicada pelo nível inferior do filete preto na coluna da direita.
• a temperatura atual é indicada pelo nível superior nos filetes cinzas nas duas colunas.
(a) 5 ¶C. (b) 7 ¶C. (c) 13 ¶C. (d) 15 ¶C. (e) 19 ¶C.
(a) a < b < c. (b) b < c < a. (c) c < b < a. (d) c < a < b. (e) b < a < c.
Exercício 1.27 — ENEM 2012. Num projeto da parte elétrica de um edifício residencial a ser construído,
consta que as tomadas deverão ser colocadas a 0,20 m acima do piso, enquanto os interruptores
de luz deverão ser colocados a 1,47 m acima do piso. Um cadeirante, potencial comprador de um
Seção 1.8 P. 32
apartamento desse edifício, ao ver tais medidas alerta o construtor para o fato de que elas não
contemplarão suas necessidades. Os referenciais de alturas (em metros) para atividades que não
exigem o uso de força são mostrados na figura seguinte.
Sequência 4
Exercício 1.28 — UEPG 2010 – adaptado. Em cada alternativa, assinale V para verdadeiro ou F para
falso:
Exercício 1.29 — PUC-RJ 2007. Os números m e n são tais que 4 Æ m Æ 8 e 24 Æ n Æ 32. O maior
valor possível para m/n é:
(a) 1/2. (b) 1/3. (c) 1/6. (d) 1/5. (e) 1/8.
Exercício 1.30 É verdade que o produto de dois números irracionais é sempre um irracional? Justifique
sua resposta.
Exercício 1.31 — UFF 2010. Segundo o matemático Leopold Kronecker (1823-1891), “Deus fez os
números inteiros, o resto é trabalho do homem.”
Os conjuntos numéricos são, como afirma o matemático, uma das grandes invenções humanas.
Assim, em relação aos elementos desses conjuntos, é correto afirmar que:
P. 33 Seção 1.8
Exercício 1.32 — ENEM 2a aplicação 2010. Para dificultar o trabalho de falsificadores, foi lançada
uma nova família de cédulas do real. Com tamanho variável – quanto maior o valor, maior a nota – o
dinheiro novo terá vários elementos de segurança. A estreia será entre abril e maio, quando começam
a circular as notas de R$ 50,00 e R$ 100,00. As cédulas atuais têm 14 cm de comprimento e 6,5 cm de
largura. A maior cédula será a de R$ 100,00, com 1,6 cm a mais no comprimento e 0,5 cm cm maior
na largura. Quais serão as dimensões da nova nota de R$ 100,00?
Exercício 1.33 — EsPCEx 2006. Se x é racional e y é irracional, então (qual das afirmativas é a única
verdadeira para quaisquer x e y):
(a) x · y é racional.
(b) y · y é irracional.
(c) x + y é racional.
Ô
(d) x ≠ y + 2 é irracional.
(e) x + 2y é irracional.
Exercício 1.34 Para que valores reais de x a expressão abaixo não é um número real?
4x + 1
2x2 ≠ 8