Operacao Macho Alfa - A Historia - R. B. Mutty
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A História de Babelyn
Design da capa:
R. B. Mutty
Aaaaah, era ele, era ele sim! O carteiro parou sua bicicleta
diante do nosso jardim, colocou algo na nossa caixinha e seguiu
pedalando até sumir de vista.
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A euforia foi tanta que o doutor Michel até esqueceu-se da
sopa no fogão. Por sorte o senhor Alisson assumiu o controle da
cozinha, o que era bem raro, e eu e as crianças ficamos
encarregados de colocar a mesa.
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“Vai dar tudo certo, meu irmão.” Eu apertei seu ombro, mas
gestos de apoio eram tão esquisitos pra mim quanto para ele. “O
humano Gabriel aprendeu muito sobre nossa cultura nos últimos
anos. A predestinação das gêmeas não será um choque tão grande.”
“Mas e se elas…” O medo no coração do primogênito
reverberou intenso pela água.
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“Desculpe achar graça, mas tem certeza que nós dois não
somos pai e filha?” Perguntou o doutor. “Quando perseguimos um
objetivo por muito tempo é natural termos medo de alcançá-lo,
porque o que vem depois? Nestas horas lembre-se de que passar na
faculdade não é o fim, mas apenas o começo de uma jornada
incrível.”
Eu sorri para a doçura do doutor Michel, sempre tão ávido a
dizer os conselhos certos.
“Agradeço, doutor, mas… mas e meu alfa…?” Eu
avermelhei, hesitante sobre envolvê-lo em um assunto tão secreto
para o nosso povo. “Você sabe como funcionamos, não sabe? Logo
um alfa vai aparecer para querer… coisas.... comigo...”
Desta vez eu esperei mesmo ver preocupação sombria no
olhar do doutor, mas mesmo o cara mais nervoso e neurótico do
mundo permaneceu tranquilo e risonho para aquele fato.
****
O senhor Gabriel atendeu a porta e sorriu empolgado por me
ver.
“Babelyn, você por aqui de novo? Entre, entre.” Ele me
convidou, enfático. “Como estão seus planos com a mudança? O Alis
comentou que você perdeu sua carta, conseguiu encontrar?”
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“Ah, ontem pela primeira vez ele dormiu fora de casa. Ele
disse algo sobre encontrar alguns parentes.” Gabriel coçou a testa,
pensativo. “É tão estranho ele sumir assim, não é? E com as
meninas doentes, ainda por cima.”
“É no mínimo suspeito, me mantenha informado quanto a
isso.” O doutor guardou seus equipamentos na maleta e juntos nós
deixamos o quarto, permitindo que as gêmeas descansassem. “Já
sobre as gêmeas, relaxe. Presumo que a situação se resolverá
sozinha.”
“Absolutamente nada.”
Ok, isto não era nada bom… mas o importante era ser
otimista. Se aqueles gêmeos eram civilizados o bastante para
possuir uma lancha, provavelmente não seria um choque cultural tão
grande. Que tipo de pai não gostaria de homens bonitos e bem-
sucedidos para suas filhas, não é mesmo? E lanchas não eram tão
rápidas assim, não era como se…
A campainha tocou.
Eu e Dylan trocamos olhares surtados. Ele deixou sua caça
cair no chão e andou em círculos pela areia, então nós corremos
furtivamente para dentro da casa.
****
Nove da noite e não havia nenhuma ambulância ou viatura
policial diante da casa do irmão Dylan. Ótimo! Talvez o senhor
Gabriel já estivesse calmo e adorável como ele sempre foi. Sim, ele
devia estar sorridente e dócil, provavelmente no colo do irmão Dylan,
todo manhoso e feliz pelo sucesso de suas filhas.
Ahahah, quem eu queria enganar? Se eu fosse o humano
Gabriel eu estaria comendo sashimi de Dylan naquele momento, com
sopa de Amalona para acompanhar.
“Babelyn, onde pensa que vai? Você ouviu nosso pai Gabe,
não pode apenas…” Resmungou Rebecca.
Eu ignorei as súplicas daquela duplinha de demônias e
rebolei até a saída, me sentindo uma diva mais poderosa do que
elas jamais foram. Pelas leis do nosso povo eu não devia obediência
alguma ao humano Gabriel, e ele próprio devia saber disso quando
me envolveu em sua condição absurda. Eu nunca passaria mais
tempo que o necessário com suas filhas e ele sabia disso.
Satisfeita após uma confusão tão divertida, eu me despedi
de todos e voltei para casa sem perceber um detalhe muito
importante. Um detalhe que eu pagaria caro por ter esquecido.
Capítulo 09
“Sacrifício?” Eu perguntei.
“Desculpe, talvez tenha sido uma palavra muito forte. É só
que você é tão realista e estudiosa, nunca te imaginei frequentando o
Camping de Astrologia Terapêutica.”
****
“Ai, Babi, não seja grossa. Você adora essa coisa de ver
insetos, não é mesmo? Nós compramos este presente para você
descobrir uns bichinhos novos por aí.” Disse ela, já se acomodando
no colo do Jackson.
Aquele presente foi tão inusitado que eu travei, sem
palavras, e então eu comecei a rir do ridículo daquela situação.
****
Dawson e Jackson eram estranhos, mas não de um jeito
ruim. Eles curtiam coisas como tocar pandeiro, olhar as nuvens e
preparar chás de alga, e também debatiam numerologia como se
fosse um assunto bem sério.
****
Ahm… exceto que não era uma criança. Pela voz quase
sumida parecia ser, mas era um rapaz da minha idade. Camisa
xadrez de flanela, óculos gigante de aro grosso, um saiote de brim
que descia até os sapatos e o pior penteado que já vi na vida: as
mechas cor-de-mel caíam sobre o rosto que ele mantinha baixo, e
pareciam ter sido cortadas com uma tigela.
“Que foi?” Eu perguntei, querendo voltar logo para junto dos
outros.
“Eu… ah… ahm…” O cara espiou meu rosto brevemente e
voltou a se encolher, esfregando os braços em nervosismo. Para um
cara quase tão baixo quanto eu ele tinha uns bíceps enormes, que
ele tentava ocultar com a postura recurvada e com a camisa grande
demais. “Sa… sabe onde tem um… ahm… um livro de coleóptos?”
“Eu sei, não estou aqui para isso.” Rebecca sentou ao meu
lado na cama. “Eu vim pedir desculpas. Creio que você nos entendeu
mal.”
“Se eu entendi mal não há motivos para pedir desculpas, não
é mesmo?” Eu murchei os lábios, magoada demais para soar
debochada. “Eu sei que eu estava sobrando, tá bom? Seus planos
com o Jackson devem passar bem longe de precisar aturar a minha
conversa e os meus gostos esquisitos.”
“Sim, senhor!”
****
“Meus pais são uns idiotas. Todos vocês são.” Disse ela, em
um tom sombrio e monocórdio.
“Ei, pode me insultar o quanto quiser, mas o meu irmão…”
“Penny… escuta…”
“Não é justo, não é justo… nós deveríamos ser iguais… por
que só eu tenho essas memórias?”
“Que memórias, Penny? O que tá havendo com você?”
****
“Oh, Jack, não seja bobinho. Meu maior desejo é ter nosso
próprio território.”
“E seu próprio ateliê de costura, já estou sabendo … meus
pais vão providenciar o melhor terreno para a construção do nosso
lar, e não haverá tecido no mundo que eu não consiga importar para
a nossa ilha. Quanto aos cavalos premiados…”
“Você pode ficar com dois deles, mas os outros permanecem
na casa dos seus pais, bem longe do lindo jardim que estou
planejando.”
“Ei, ei, não precisa contar, se não quiser. Está tudo bem.” Eu
disse a ele.
“Foi horrível.” Ele soluçou e relaxou os músculos, aceitando o
meu toque. “Em um momento o meu irmão está despertando e
partindo empolgado, rumo ao encontro com seu ômega, e no instante
seguinte ele está de volta, ajoelhado no pátio de execução. Meus
pais e eu imploramos de joelhos por misericórdia, mas o Oráculo-Rei
mantinha-se inflexível. Meu irmão Yoshan havia assassinado d-d-dois
tritões, disse o Oráculo, mas eu sabia que era mentira. O meu irmão
era bom e justo, ele nunca…”
Eu franzi a testa.
“Então, se eu entendi bem, o seu irmão Yoshan realmente
matou dois tritões. Talvez ele tenha tido bons motivos ou não, mas
um assassino não é um traidor.”
“Não finja que não está ansioso, aposto que até mesmo seu
irmão está aproveitando o cinema com a Rebecca para uma
rapidinha nos assentos dos fundos.”
“Meu irmão não é este tipo de cara, e duvido que sua irmã
seja.” Disse Dawson, aborrecido. A maçaneta da porta começou a
girar. “Só uma passada rápida, de boas? Não terminamos nenhum
preparativo, queremos deixar tudo perfeito para a nossa grande
noite.”
“Já lhe prometi tudo isso. Podemos ir, agora? E tente fingir
uma surpresa quando o Jackson apresentar a lancha. Nós ainda nem
compramos as velas e... o que está fazendo?”
Muito curiosa, eu tentei espiar algo que não fosse os
tornozelos daqueles dois. Nem precisei me arriscar muito, porque
logo ficou óbvio o motivo do espanto do Dawson: o vestido da
Penélope desceu todinho aos seus pés, e seu sutiã logo depois.
“Eu pensava que o irmão Dylan era o único tritão que sabia
dirigir bem, mas você até que tem talento.” Eu soltei meu cinto de
segurança, um tanto impressionada. “Existem muitos carros na ilha
Orona? Você tem um?”
“Ahm… na verdade tem apenas cavalos, mas eu te assisti
dirigindo antes, então foi só fazer exatamente o contrário.” Taimen
desceu do carro e contornou para me abrir a porta.
“Você nunca foi uma sereia ruim, Penny. Você foi apenas
uma criancinha lidando com uma situação difícil demais.”
“Por que o irmão Hian sofreu tanto? E eu sempre fui tão fria
e distante… agora ele foi embora para o continente e eu nunca tive
coragem de pedir desculpas.”
“Ei, ei, da última vez que falei com ele, o Hian estava
plenamente saudável e empolgado com sua vida de fazendeiro. Você
ainda terá muitos anos para conversar com ele, Penny. O Hian II é
um tritão valoroso, ele certamente não a culparia por nada. E nem a
Rebecca, ou o Dawson.”
Penélope esfregou o rosto molhado e virou-se para me olhar
nos olhos. Sem a maquiagem ou sua cabeleira de megahair ela
parecia tão… frágil.
Claro que não podia ser tão fácil. Assim que eu cheguei à
entrada, Dawson parou na minha frente e bloqueou a porta com seu
corpão de alfa. Eu nunca quis tanto morder a jugular daquele cara.
“Escuta, eu sei que você me despreza pelo que fiz com o
Taimen… entenda que a cultura da Ilha Orona…”
“Eu sei, não torna isso ainda mais difícil pra mim! O Taimen é
muito legal, é só que…” Meus olhos empoçaram com lágrimas, eu
nunca senti tanta raiva de mim mesma. “Desculpa, avisa ele que eu
preciso ir.”
Dawson ficou sem palavras, então eu apenas lhe dei as
costas e me fechei dentro de casa.
Eu ainda nem tinha acalmado meu coração quando o senhor
Alisson me segurou pelos ombros.
“Ai, ai… aquele peixe vai sentir sua falta, Babi. Não se
esqueça de ligar pra ele todos os dias.” Disse o Doutor.
Eu concordei com a cabeça, tentando ocultar a profunda dor
no meu peito. Eu deveria me sentir aliviada por receber tanto apoio,
e realmente estava comovida, mas… o Taimen…
****
“Localizá-lo?”
“Quando eu me afastava do Gabe, localizá-lo por telepatia e
me certificar de sua segurança sempre me acalmava. Foi muito difícil
me adaptar à vida sem este poder, então recomendo que valorize o
seu.” Ele olhou com discreta tristeza para a cicatriz em seu pulso.
Aham, claro que Taimen estava onde ele estava, mas onde
seria ali, exatamente? Não havia se passado tanto tempo, ele ainda
devia estar nos arredores de Waikiki, entretanto minha recém-
adquirida telepatia estava demorando a pegar no tranco. Por que eu
sentia como se meu alfa se estivesse bem ao meu lado?
“É impressão minha, ou esta caixa se mexeu?” O irmão
Dylan arqueou as sobrancelhas.
“Um alfa não deve culpar a ômega por esse tipo de acidente,
Taimen! É rude! Mas sim, a camisinha deve ter estourado naquela
hora.”
Taimen tentava não rir, aquele safado orgulhoso. Como era
possível um alfa ser tão desastrado? Tá certo que logo na nossa
primeira noite ele me deu uns dois… ok, seis orgasmos, mas isso
não era motivo para ele se achar o machão pica das galáxias!
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Nós seguimos meu irmão pelas águas cada vez mais escuras
daquelas passagens estreitas e pedregosas, e então, em uma parte
onde a caverna se expandia novamente, um facho de luz vindo de
uma rachadura no topo iluminava uma ampla galeria secreta.
E no meio daquele espaço nadava um cardume de peixes
grandes cor-de-mostarda, com um formato que eu só reconhecia
pelos livros de biologia cretácea.
“Celacantos!” Taimen sorriu, com os olhos brilhando. Ele
acelerou na direção do cardume, já expondo os dentes e mirando no
maior dos peixes. “Hoje o almoço é por minha conta.”
“…Empurrar?” Eu perguntei.
O Doutor encostou o scanner gelado na minha barriga e
concentrou-se em achar o foco correto. Um chiado verde e preto
ondulava rápido na tela. Ele também pressionou o estetoscópio logo
abaixo do meu umbigo.
“Doutor…” Eu disse.
“Já começaram as contrações?” O Doutor Michel enfim
virou-se para nós, sorridente. E então ele congelou no lugar.
FIM
Agradecimentos especiais aos meus
queridos apoiadores!
Caroline L. Souza
Josiela de Souza
Igor Paulino da Silva
Kamila dos Santos Oliveira
Alice Lívia dos Anjos
Akio Nanase
Catarina Wilhelms
Carina
Maria Janaína Silva de Almeida
Vanderlei Gadotti
Jordão Rocha
Yago Pereira
Carol Lacerda
Josiela de Souza
Igor Paulino da Silva
Adriana M. Didi
Kathy Seraph
Felipe Mendes de Souza
Klara Vieira
Lara Evangelista
Gabrielle Lima
Jociane M. dos Santos
Karen B. de Jesus
Felipe Mendes de Souza
Pétalas de Vidro