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Relação Entre Língua e Sociedade

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Universidade Católica de Moçambique

Centro de Ensino à Distância – Nampula

Relação entre Língua e Sociedade

Discente: Emelita Carlitos.

Código do Estudante

Licenciatura em Ensino de Português

Disciplina: Sociolinguistica
Índice

Introdução...................................................................................................................................3

Objectivos...................................................................................................................................3

Objectivo geral........................................................................................................................3

Objectivos específicos............................................................................................................3

1 Relação entre a Língua e a Sociedade.................................................................................4

1.1 A língua e o contexto sociocultural do falante.............................................................4

1.2 A língua e os reflexos da posição social do falante......................................................5

1.3 As mudanças linguísticas e os movimentos de classe..................................................7

CONCLUSÃO............................................................................................................................9

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................10
Introdução
O presente trabalho tem como tema a relação entre a língua e a sociedade, este tema
enquadra-se no ramo da sociolinguística, uma vez, que não se pode negar a relação existente
entre língua e sociedade e para analisá-la fez-se um percurso que inicia com a análise entre
língua e contexto sociocultural, passando pela relação entre a língua e a posição social do
falante e finalizando com a análise entre mudança linguística e movimento de classe. No
primeiro momento, argumenta-se que a língua ganha significado a partir de seu contexto de
produção e que o falante não fala por si só, sua fala não é fundamentada em sua
individualidade, mas em uma colectividade social, sendo que sua fala é representante de um
grupo social, por isso, quando há variações linguísticas, o valor social é transplantado para a
forma linguística, isso quer dizer que quando há duas formas linguísticas a que é produzida
por um grupo social de maior status, geralmente, tem maior valor social. A relação entre
língua e posição social é aprofundada no segundo item. O argumento defendido é que o valor
de uma forma linguística não está nos seus elementos internos, mas no valor social do grupo
que a produz. Assim, a forma linguística do falante reflecte sua posição social, muito embora
a ascensão social não apague por completo as marcas linguísticas da classe originária ou
grupo social do qual o falante pertenciaA língua é um factor que permeia as lutas sociais,
sendo que as formas prestigiadas da fala geralmente são usadas pelos grupos sociais que
possuem maior status social, por isso, as lutas sociais são reflectidas no padrão linguístico do
grupo social, isso porque ela é também um identificador social. Sendo que o valor da forma
linguística de um grupo social equivale ao status social que esse grupo possui e, dessa forma,
toda mudança linguística depende da força social do grupo que a originou.

Objectivos

Objectivo geral
 Compreender a Relação entre a Língua e a Sociedade.

Objectivos específicos
 analisar a língua e contexto sociocultural do falante;
 Estudar a língua e os reflexos da posição social do falante

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1 Relação entre a Língua e a Sociedade

1.1 A língua e o contexto sociocultural do falante


A relação entre língua e sociedade não é uma relação em que uma determina a outra, mas de
interacção entre elas, em que uma se retracta na outra, num sistema de influências. Numa
sociedade estratificada, a língua não foge à estratificação. Ela não é um corpo à parte, ela
retracta a estrutura estratificada da sociedade, pois “correlacionando-se o complexo padrão
linguístico com diferenças concomitantes na estrutura social, será possível isolar os factores
sociais que incidem directamente sobre o processo linguístico” (LABOV, 2008, p. 19).

A língua é um espelho pelo qual se pode observar o desenho da sociedade. Esta não é estática,
da mesma forma que a língua não o é, ambas evoluem constantemente num processo de
interacção. (BAKHITIN, 2009, p. 67). A palavra é a materialidade da língua, é nela que a
língua se realiza, mas não só na palavra em si, mas em todo um contexto no qual está envolto
o falante. O contexto de fala não pode ser excluído da significação linguística e é em
decorrência desse contexto que a língua evolui, transforma-se.

A linguagem não é objectiva. Deve-se considerar a posição do sujeito em relação ao tempo e


ao espaço. Ela não visa à tradução objectiva das coisas, mas também não é produto de um
subjectivismo fundamentado na consciência de um sujeito deslocado do tempo e do espaço.
Em todo discurso está presente o sujeito que o produz, mas não é um sujeito que fala por si
mesmo, ele fala a partir de uma determinada posição social, o seu discurso ultrapassa a sua
individualidade para se tornar voz de uma colectividade, ou melhor, de um grupo social.
Assim, através do discurso, o sujeito não só revela algo, como também a si mesmo e ao
contexto sociocultural no qual ocupa determinadas posições sociais (FOUCAULT, 2000, p.
61-62).

Foucault diz que a linguagem mantém relação estreita com o espaço. Ela não é desenvolvida
no interior de cada ser humano, mas influenciada pelo meio exterior a si mesma, “desde o
fundo dos tempos, a linguagem se entrecruza com o espaço” (FOUCAULT, 2000, p. 12). Da
mesma forma, Labov diz que toda mudança linguística é influenciada pelo contexto em que o
falante vive, sendo que “nenhuma mudança ocorre num vácuo social. Até mesmo a mudança
em cadeia mais sistemática ocorre num tempo e num lugar específicos” (LABOV, 2008, p.
20).

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Ele só existe em função de uma realidade sociocultural na qual o falante da língua está
inserido. Não se pode dissociar a língua do falante que a utiliza, como não se pode deslocar o
falante de seu contexto de vida. Dessa forma, a língua se relaciona com o contexto de vida do
falante com todas suas nuances (sociais, culturais, económicas, históricas, artísticas, religiosas
etc.) (SAUSSURE, 1978, p. 4).

Uma forma linguística é valorizada ou desvalorizada em função da classe ou do grupo social


que a realiza. Ela em si não possui valor social; este se agrega a ela a partir da posição social
de quem a realiza. A língua é um instrumento de uso dos falantes de um grupo social, sendo
que o contexto sociocultural dos falantes muda em decorrência do grupo social ao qual o
falante pertence, então, inevitavelmente há formas linguísticas inerentes a cada grupo social,
sendo que existe um núcleo linguístico comum, mas também um núcleo diversificado dentro
de uma sociedade de classe.

1.2 A língua e os reflexos da posição social do falante


A língua identifica, mas também diferencia os grupos sociais e os falantes desses grupos. Ela
marca a posição social do falante. Numa sociedade estratificada, ela é um elemento de
identidade de um grupo social e, ao mesmo tempo, é uma marca que o diferencia dos outros
grupos. Há níveis e barreiras na sociedade que são percebidos e exercidos também na língua.
Não é ela que cria a estratificação social, mas reflecte-a, registra e marca essa estratificação.
“São as classes que agrupam as profissões e as separam. A língua registra essa separação: as
funções exercidas por artesões não se chamam profissões e sim ofícios” (GOBLOT, 1989, p.
38).

A simples distinção entre profissão e ofício demarca uma divisão de classe que se concretiza
também na língua. Ela por si só não é capaz de desencadear mudanças radicais na estrutura
social, mas é a partir dela que se transmitem valores e ideias, ou seja, o conteúdo ideológico
que alicerça e constrói os fundamentos da sociedade.

O falante não muda por si só sua maneira de falar. Não é a fala em si mesma que faz com que
o falante mude de posição social, mas, ao contrário, é a mudança de posição social que faz o
falante mudar sua maneira de falar. Porém essa mudança é relativa, pois mesmo que o falante
mude de posição social, sua língua não muda por completo. Há marcas linguísticas que
permanecem e fazem com que se perceba a sua origem social. A ascensão de um sujeito a
uma classe de maior status não se completa apenas no âmbito económico, entre outras

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mudanças. Faz-se necessário também a do padrão linguístico. Com isso se torna mais difícil
transpor a barreira que separa as classes ou grupos sociais. Para transpô-la é necessário que se
distancie da classe de origem e se nivele à classe que se deseja fazer parte. É um processo que
se movimenta entre a distinção e a identificação. “Passar de uma para outra classe é desligar-
se da antiga, sem que não se é aceito na nova, a qual não admite uma sociedade misturada”
(GOBLOT, 1989, p. 15). A mudança de classe implica também mudança linguística. Os
sujeitos que estão mais próximos da fronteira de classe são os que procuram mais acentuar o
comportamento de classe. Esse processo é reflectido no fenómeno linguístico denominado
hipercorrecção, que se caracteriza devido ao fato “que os falantes da classe média baixa vão
além do grupo de status mais elevado em sua tendência a usar as formas consideradas
correctas e apropriadas para estilos formais” (LABOV, 2008, p. 155), ou seja, as formas
linguísticas prestigiadas, em situações formais, são mais realizadas pela classe imediatamente
inferior à classe de origem da forma prestigiada.

Fica nítida a existência de barreira e nível dentro de uma comunidade de fala, pois, “uma
comunidade de fala não pode ser concebida como um grupo de falantes que usam todos as
mesmas formas; ela é mais bem definida como um grupo que compartilha as mesmas normas
a respeito da língua” (LABOV, 2008, p. 188t).

Sendo que o processo de escolarização leva o sujeito a ter consciência do significado social da
fala e, com isso, desenvolver formas prestigiadas de falar, porém aqueles que pertencem a
grupos que não possuem prestígio social e cuja forma linguística não se aproxima das formas
de prestígio apresentam dificuldades, às vezes insuperáveis, no processo de aquisição das
formas linguísticas de prestígio.

A escola e a universidade são instituições que favorecem o contacto com as normas


prestigiadas, assim, à medida que a escolarização avança, o sujeito toma consciência da
estratificação da língua e, geralmente, procura usar as formas de maior prestígio, pois “o
correlato da estratificação regular de uma variável sociolinguística no comportamento é a
concordância uniforme em reacções subjectivas a essa variável” (LABOV, 2008, p. 288).

O sucesso do falante na produção de uma forma de prestígio social tem relação com sua
exposição a essa variável, sendo que os factores que mais influenciam para a aquisição de
uma forma linguística são a família e a escola. Nesses espaços sociais, o falante se depara
com mais intensidade com as formas linguísticas que constituirão o seu padrão linguístico.

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Sabendo que na escola há uma valorização da forma linguística de prestígio, fi ca evidente
que o falante que possui contexto familiar similar ao contexto escolar seguramente terá
sucesso na aquisição da forma linguística de prestígio.

A aquisição da norma linguística de prestígio é um processo demorado, que depende da


exposição do falante a esse contexto de fala. A família e a escola são os principais
responsáveis por propiciar as condições fundamentais para o desenvolvimento da norma
linguística do falante, porém quando não há uma confluência desses dois factores dificilmente
se consegue desenvolver uma norma linguística de prestígio. Daí a relação entre o código
pedagógico da escola e o da família. Quanto mais próximo um se encontra do outro mais
exitoso é o processo de aquisição do código de prestígio social.

1.3 As mudanças linguísticas e os movimentos de classe


As relações sociais numa sociedade de classe são desiguais. Assim como as relações de poder,
essa desigualdade é reflectida no grau de classificação das relações entre os grupos e nas
relações internas de cada grupo. A classificação é uma forma de circunscrever os limites de
cada grupo, definindo os elementos de identificação de grupo e os de distinção em relação aos
outros grupos.

A existência de uma classificação forte entre os grupos sociais reflecte uma acentuada
desigualdade entre eles, sendo que o objectivo dela é a manutenção das desigualdades e,
consequentemente, da própria estrutura social e de poder. O processo de classificação é um
movimento de cima para baixo, mas não se efectiva sem resistência. Um dos reflexos dessa
resistência é o enfraquecimento da própria classificação. Nenhum movimento de cima para
baixo se efectiva sem resistência, da mesma forma que nem todo movimento tem esse sentido.
A resistência, geralmente, tem sentido contrário, de baixo para cima, mas não só a resistência,
há movimentos que se originam em baixo, da mesma forma não conseguem implantar as
transformações que objectivam devido às contra resistências que vêm de cima.

O movimento deflagrado não recua ao seu ponto de origem. O confronto imprime mudanças
que fortalecem um grupo e enfraquecem o outro. O que sai fortalecido não alcança
plenamente seus objectivos, porque do outro lado houve um quantitativo de força capaz de
resistir às investidas de domínio e controle do outro grupo. Toda mudança parte de um
movimento, nem sempre de cima para baixo. Quando tem esse sentido geralmente objectiva a
manutenção do poder e o fortalecimento do controle; quando tem sentido contrário,

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geralmente objectiva o enfraquecimento do poder e do controle. Por isso, toda mudança que
ocorre suscita questões sobre a origem do movimento que a protagonizou; reconhecendo-se
sua origem compreende-se a natureza das mudanças.

A ordem social se mantém sob o risco constante de desordenar-se, pois é confrontada


continuamente com acções de resistência, as quais se reflectem em todos os âmbitos da vida
social. Sendo a língua um reflexo do grau de desenvolvimento de uma sociedade e que seus
valores são traduzidos na fala da comunidade, ela não deixa de ser uma forma de demarcação
social, porque as barreiras de classe também são barreiras linguísticas e quando há um
nivelamento de classe também há um nivelamento linguístico. Dessa forma, “toda
demarcação social é ao mesmo tempo barreira e nível. É preciso que a fronteira seja uma
escarpa, mas que acima da escarpa haja um planalto” (GOBLOT, 1989, p. 20), ou seja, a
ascensão social é uma mudança de nível que pressupõe a superação de uma barreira, esta
superação recoloca o indivíduo em outro nível que exige o seu desligamento com o nível
suplantado.

As mudanças sociais são reflectidas no padrão linguístico e, da mesma forma que estas, as
mudanças linguísticas podem acontecer de baixo para cima ou de cima para baixo como
reflexo das lutas sociais no âmbito linguístico. Como não se pode correlacionar os dados
linguísticos com medidas de comportamento social que não se pode fazer a comparação ao
longo do tempo, o mais viável é “conectar o comportamento linguístico com a medida do
status atribuído ou adquirido pelos falantes” (LABOV, 2008, p. 327), pois as mudanças na
língua parecem “estar correlacionadas com mudanças na posição dos subgrupos com os quais
o falante se identifica” (LABOV, 2008, p. 327), ou seja, a identificação social do falante
interfere no seu padrão linguístico, sendo que a língua pode ser considerada como
identificador de grupo ou classe social e há uma correlação entre mudança linguística e
movimento de classe. Nenhuma mudança linguística é autónoma. São as condições sociais
objectivas que lhe dão suporte à sua propagação e consolidação, da mesma forma, a mudança
do padrão linguístico de um falante não é decorrente de uma competência individual.

A competência linguística está num plano abstracto, que não se correlaciona com a realidade
concreta da língua. A língua não está aberta a todos, pois há campos impenetráveis que
evidenciam as relações de poder inerentes ao campo linguístico, às formas discursivas. Pensar
numa língua homogénea é pensar numa sociedade também homogénea, uma vez que a língua

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é uma representação dos valores socioculturais dos falantes. A língua não pode se desconectar
das relações sociais.

. O desenvolvimento linguístico dos actores sociais é um pêndulo que movimenta esse


processo e, ao mesmo tempo, é o seu reflexo, pois é no embate discursivo que as relações de
poder se materializam dentro da estrutura social.

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CONCLUSÃO
Não há uma forma única e pré-estabelecida de linguagem. Ela surge da necessidade de
comunicação entre os humanos e desenvolve-se a partir dessa necessidade. Mas subjazem a
essa necessidade outras necessidades humanas, como o poder de mando. Então, o domínio da
linguagem carrega em si a possibilidade do domínio de outrem. Ele objectiva ir além da
simples comunicação, pois comunica para alguma coisa. Em todo acto comunicativo observa-
se um jogo de intenções, não há uma relação única e evidente entre significante e significado,
sempre pode haver uma relação subjacente, que desvia o significado para outro significante.
Em um diálogo, os actores de um acontecimento discursivo constroem seus enunciados dentro
de um mesmo sistema. Caso contrário, não ocorre interacção entre eles, pois passa a existir
uma barreira que impede a interacção e que só é superada com a aquisição do mesmo código
pelos sujeitos envolvidos na acção discursiva.

Essa segregação não é inerente à própria língua, mas decorrente do valor social que se adere à
forma linguística utilizada por determinado grupo social. Não se pode compreender a língua
com um corpo autónomo, que possui uma lógica própria de desenvolvimento, desligada da
estrutura social. Através dela se identifica o grau de desenvolvimento de uma sociedade
porque os processos sociais são nomeados através da linguagem, da mesma forma que os
instrumentos científicos, culturais e económicos são termos constituintes da língua. Assim,
uma pesquisa linguística dá indícios importantes de outros âmbitos constitutivos da sociedade.
A língua não possui apenas o valor linguístico. Ela carrega em si valor cultural, social e
económico, para ficar apenas nesses três. Daí se dizer que a força simbólica da língua não se
constitui apenas em seu valor linguístico, mas a partir de sua representação sociocultural e
económica.

Uma forma linguística se distingue de outra não pelo seu valor linguístico, mas pelo valor
social que possui o grupo social que a pronuncia. Uma forma linguística que ganha status
social relevante não ganha por si mesma, mas devido ao grupo sociocultural que a representa.
Dessa forma não se pode dissociar a língua da sociedade que a produz. A relação entre língua
e sociedade é umbilical. As formas linguísticas de um grupo social dizem muito da sociedade
e do grupo social ao qual pertencem. Existindo em uma sociedade uma diversidade de grupos
sociais, é forçoso que haja também uma diversidade linguística. Porém quando há uma
relação de segregação ou estratificação entre esses grupos sociais, essa relação será percebida

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também no âmbito linguístico, pois os valores sociais frequentemente são transportados para
outros âmbitos da vida, inclusive para o linguístico.

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BIBLIOGRAFIA
 BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2009.
 FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2000.
 GOBLOT, Edmond. A barreira e o nível: retrato da burguesia francesa na
passagem do século. Campinas: Papirus, 1989.
 LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
 SAUSSURE, Ferdinand de. As palavras sob as palavras. São Paulo: Abril Cultural,
1978.

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