David Silva Dos Reis
David Silva Dos Reis
David Silva Dos Reis
Santos
2022
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Santos
2022
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BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________
Profa. Dra. Elaine Cristina Marqueze (UNISANTOS)
__________________________________________________________________
Profa. Dra. Laura Cristina Tibiletti Balieiro (Universidade Federal de Uberlândia)
__________________________________________________________________
Profa. Dra. Patrícia Xavier Soares de Andrade Nehme (Prefeitura de Bertioga)
5
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Introdução: A gestação é uma fase da vida da mulher marcada por diversas alterações (fisiológicas,
metabólicas, hormonais e psicológicas) necessárias para o desenvolvimento do feto, que geram
mudanças nas necessidades nutricionais e consequências na alimentação materna. Estudos recentes têm
sugerido que não apenas o quê e o quanto se come, mas quando se come tem refletido em efeitos
importantes no período gestacional, que são estudados pela crononutrição, um ramo de pesquisa da
cronobiologia que se aprofunda no entendimento de como a urbanização e o sono podem influenciar a
alimentação. Objetivo: Descrever as orientações crononutricionais (horário, frequência, janela
alimentar) do consumo alimentar entre gestantes. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa em que
foram revisados artigos científicos indexados no PUBMED sobre a crononutrição e gestação, buscando
levantar os dados de pesquisas atuais e as perspectivas futuras desta área do conhecimento, essencial
para a formulação de políticas públicas e orientações à Atenção Primária à Saúde de gestantes. As buscas
foram realizadas entre agosto de 2021 e setembro de 2022, com descritores envolvendo crononutrição e
gestação, relacionados ao objetivo primário da pesquisa. Resultados e discussão: Os estudos
identificam uma correlação positiva entre os horários de realizar refeições durante a gestação com o
tamanho do bebê ao nascer, os níveis glicêmicos e a adiposidade corporal, com influências no padrão
alimentar, qualidade da dieta e a regulação do peso. Há evidências de alterações na glicose e insulina de
jejum em gestantes eutróficas que consumiram carboidratos e maior conteúdo energético à noite. Comer
tardiamente estão associados com aumento do peso e da gordura corporal na população em geral, que
demanda atenção à população gestante, visto que boa parte delas realizam refeições muito próximos do
horário de dormir. O ato de pular o café da manhã causa menor consumo diário de nutrientes, o que pode
acarretar insuficiência de nutrientes para a gestação, especificamente os micronutrientes importantes
para a gestação que também estão envolvidos no padrão de sono das gestantes. Conclusões: As
orientações crononutricionais para as gestantes devem ser pautadas no consumo de energia e
carboidratos durante o dia e menor consumo à noite, evitar pular o café da manhã e consumir mais frutas
e hortaliças com maior frequência para melhorar a qualidade do sono, da dieta e maior aporte de
micronutrientes. Há evidências de que o horário, a frequência e a janela alimentar podem acarretar
desfechos importantes na gestação e ao feto. O aperfeiçoamento das orientações nutricionais, por meio
da inserção de orientações crononutricionais, será notório para a saúde materno-infantil, fazendo com
que os profissionais da Atenção Primária à Saúde complementem suas abordagens durante o pré-natal.
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 15
2.1 A gestação e suas alterações .............................................................................................. 15
2.2 Alimentação na gestação .................................................................................................... 16
2.3 Os nutrientes na gestação ............................................................................................... ....19
2.3.1 Energia ............................................................................................................................ 20
2.3.2 Ferro ............................................................................................................................... 21
2.3.3 Ácido fólico ...................................................................................................................... 24
2.3.4 Zinco ............................................................................................................................... 26
2.3.5 Vitamina A ...................................................................................................................... 28
2.3.6 Vitamina D...................................................................................................................... 30
2.4 Horário, frequência e janela alimentar............................................................................... 32
3 OBJETIVOS........................................................................................................................ 36
3.1 Objetivo primário............................................................................................................... 36
3.2 Objetivos secundários........................................................................................................ 36
4 MÉTODOS.......................................................................................................................... 37
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................ 39
5.1 Aspectos crononutricionais para a população gestante...................................................... 39
5.2 Perspectivas da crononutrição às gestantes........................................................................ 44
6 CONCLUSÕES................................................................................................................... 45
7 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 46
13
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
relaxamento do esfíncter esofágico inferior, causando azia severa, refluxo gastroesofágico e até
mesmo regurgitação, ocorrendo com maior frequência no período noturno (VITOLO, 2014). A
prevalência de pirose e regurgitação em gestantes é de cerca de 30 a 80% (DALL’ALBA et al.,
2015). A constipação intestinal, considerada como dificuldade de evacuação de fezes, apresenta
19,5% de prevalência em gestantes, de acordo com os critérios diagnósticos de Roma
(CARDOSO; MOURA, 2021; KAWAGUTI et al., 2008). A gênese da constipação durante a
gestação é determinada por vários fatores, considerando a predisposição genética, o status
socioeconômico, a baixa ingestão de fibras e líquidos, falta de mobilidade, alterações
hormonais, aumento do útero e efeitos colaterais ao uso de medicamentos ou a anatomia do
corpo (CARDOSO; MOURA, 2021; FOROOTAN; BAGHERI; DARVISHI, 2018).
Outros estudos mostram alterações comportamentais relacionadas à alimentação.
Destes, a picamalácia ou perversão do apetite é bastante prevalente em mulheres na fase da
gestação. Estudo realizado no Brasil com 227 gestantes identificou 14,4% desta prática,
enquanto nos Estados Unidos, Argentina, Venezuela, México e Quênia, estes dados foram
superiores (31%, 22,6%, 36,5%, 44%, 74%, respectivamente) (BRIOSCHI et al., 2015;
SAUNDERS et al., 2009). Esta alteração do comportamento alimentar é caracterizada como
um transtorno alimentar onde há a ingestão de componentes não comestíveis, com baixo ou
nenhum teor nutritivo, levando à deficiência de nutrientes (BRIOSCHI et al., 2015). Uma outra
definição para a picamalácia está no gosto por alimentos exóticos, condimentos raros e
substâncias diferentes (BELFORT, 2005). Os achados para este transtorno mostram que a
picamalácia é mais comum do que se pensa e pode ter desfechos obstétricos negativos, com
prejuízos para a mãe e bebê (BRIOSCHI et al., 2015). Existem ainda outros aspectos mais
amenos relacionados às alterações fisiológicas que provocam mudanças comportamentais na
alimentação, sendo os desejos, aversões e inapetência (QUAYLE; TEDESCO, 1998). Outro
estudo associa ainda as alterações fisiológicas com perturbações do comportamento alimentar,
como comer em excesso, aversões à alimentos, bebidas e substâncias com cheiros específicos
(CARDOSO; PIRES, 2012), assim como a picamalácia descrita anteriormente.
Diante deste contexto, de acordo com os dez passos para a alimentação da gestante, as
recomendações expostas na caderneta da gestante reforçam a necessidade de uma alimentação
diversificada, rica em alimentos naturais e com menor consumo de alimentos processados,
garantindo saúde e bem-estar para a mãe e bebê (BRASIL, 2018). No quadro abaixo estão
resumidamente os dez passos para a alimentação saudável da gestante (quadro 1).
Quadro 1. Os dez passos para a alimentação saudável da gestante, Ministério da Saúde, Brasil,
2018.
1º Passo: Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches
saudáveis por dia, evitando ficar mais de três horas sem comer. Entre as refeições beba água,
pelo menos 2 litros (6 a 8 copos) por dia.
2º Passo: Inclua diariamente nas refeições seis porções do grupo de cereais (arroz, milho,
pães e alimentos feitos com farinha de trigo e milho), tubérculos como as batatas e raízes
como a mandioca/ macaxeira/aipim. Dê preferência aos alimentos na sua forma mais natural,
pois além de serem fontes de carboidratos, são boas fontes de fibras, vitaminas e minerais.
3º Passo: Procure consumir diariamente pelo menos três porções de legumes e verduras como
parte das refeições e três porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches.
4º Passo: Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, cinco vezes por semana. Esse
prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e excelente para a saúde.
5º Passo: Consuma diariamente três porções de leite e derivados e uma porção de carnes,
aves, peixes ou ovos. Retire a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da
preparação, tornando esses alimentos mais saudáveis!
8º Passo: Diminua a quantidade de sal na comida e retire o saleiro da mesa. Evite consumir
alimentos industrializados com muito sal (sódio) como hambúrguer, charque, salsicha,
linguiça, presunto, salgadinhos, conservas de vegetais, sopas prontas, molhos e temperos
prontos.
9º Passo: Para evitar a anemia, consuma diariamente alimentos fontes de ferro como: carnes,
vísceras, feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, folhas verde-escuras, grãos integrais, castanhas
e outros. Consuma junto desses alimentos àqueles fontes de vitamina C como: acerola,
laranja, caju, limão e outros. Procure orientação de um profissional de saúde para
complementar a sua ingestão de ferro.
10º Passo: Mantenha o seu ganho de peso gestacional dentro de limites saudáveis. Pratique,
seguindo orientação de um profissional de saúde, alguma atividade física e evite as bebidas
alcoólicas e o fumo.
Fonte: Brasil, 2018.
19
2.3.1 Energia
Todos os seres vivos necessitam de energia, que é responsável pelo seu desenvolvimento
e manutenção da vida. Essa energia é obtida através dos alimentos e liberada a partir do
metabolismo como processos oxidativos (PACHECO, 2011). Assim, as necessidades de
energia irão variar de acordo com a idade, sexo, estado de saúde, estado fisiológico e nível de
atividade física (MENDONÇA, 2010).
Cada nutriente específico traz uma quantidade de energia metabolizável por grama deste
nutriente (PACHECO, 2011). Portanto, a alimentação adequada torna-se essencial para o
fornecimento de energia e de nutrientes para a nutrição materna, a fim de evitar as mais variadas
complicações resultantes dessa inadequação (STERN et al., 2021).
Durante a gestação, as necessidades de energia estão aumentadas e, portanto, o adicional
de energia deve ser considerado pois terá impactos positivos no crescimento do feto, da
placenta, dos tecidos maternos e ainda para o próprio consumo da gestante (AFONSO;
SONATI, 2011). De acordo com a FAO (2004), a energia necessária à gestação se dá pelo
fornecimento dos alimentos que garantirá saúde ao bebê, com adequado tamanho e composição
21
corporal, por uma mulher em que sua massa corporal e níveis de atividade física sejam
consistentes com boa saúde e bem-estar.
Entre as fórmulas que calculam a taxa metabólica basal (TMB), que é consumo de
energia pelo organismo na condição de jejum ou repouso físico e psíquico à uma temperatura
de 20º C, a proposta da FAO recomenda o acréscimo de calorias de acordo com o nível de
atividade física (PACHECO, 2011), conforme pode ser visto no quadro 2.
Quadro 2. Equações para o cálculo da TMB, para as diferentes faixas etárias de mulheres
adultas, segundo a FAO/OMS/ONU, 2004.
Idade (anos) Equação da TMB
18 a 30 14,818 x Peso* + 486,6
30 a 60 8,126 x Peso* + 845,6
> 60 9,082 x Peso* + 658,5
*peso ideal ou desejável
Fonte: adaptado de FAO/OMS/ONU, 2004.
2.3.2 Ferro
O ácido fólico é uma vitamina do complexo B, a B9, também conhecida por folato,
folacina, ácido pteroilmonoglutâmico ou vitamina M (LINHARES; CESAR, 2017;
PACHECO, 2011). É uma vitamina hidrossolúvel e sua estrutura química é composta de três
partes: um anel de pteridina, o ácido p-aminobenzóico e uma molécula de ácido L-glutâmico
(OLIVEIRA; GERMANO; KRAMER, 2021). Em virtude dessa composição química, este
nutriente é importante para sintetizar purinas e timidilato (pirimidina), que são essenciais para
a formação de DNA e ácido ribonucleico (RNA), fundamental na eritropoiese (LINHARES;
CESAR, 2017).
Além disto, o ácido fólico também é responsável por outras funções importantes do
organismo como a regulação do desenvolvimento normal de células nervosas, prevenção de
defeitos congênitos no tubo neural e promoção do crescimento e o desenvolvimento normal do
ser humano e, por isto, torna-se um elemento essencial na gestação (LINHARES; CESAR,
2017). O fechamento do tubo neural nas primeiras semanas após a fecundação, tem contribuição
essencial do ácido fólico. Neste sentido, os estudos identificam que as mulheres em idade fértil
com déficit de folato possui maiores chances de desenvolver os defeitos no fechamento do tubo
neural, com associação de deslocamento de placenta, “hipertensão na gestação, parto
prematuro, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, doenças cardiovasculares,
cerebrovasculares, demência e depressão (TORRES et al., 2020).
O reconhecimento do efeito do ácido fólico na gestação foi descoberto por Lucy Wills
em 1931 no tratamento de anemia macrocítica (OLIVEIRA; GERMANO; KRAMER, 2021).
A anemia macrocítica apresenta “defeitos sideroblásticos e distúrbios da produção do grupo
heme (em que o déficit de ferro é mais comum)” (AREIA et al., 2019). Posteriormente foi
descoberto que o folato era fator ativo para o não desenvolvimento deste tipo de anemia
25
(OLIVEIRA; GERMANO; KRAMER, 2021), sendo essencial o seu consumo, sabendo que as
anemias são mais frequentes na gravidez.
O folato é encontrado nos vegetais folhosos verde-escuros, frutas, leguminosas,
amêndoas, castanhas, grãos em geral e miúdos animais (IOM, 1998; PACHECO, 2011). A
recomendação deste nutriente na gestação é de 600 µg (IOM, 1998). No entanto, o consumo
deste nutriente é insuficiente na maioria dos casos, considerando-se ainda a gestação, onde há
o aumento das necessidades de nutrientes (BARBOSA et al., 2011). A forma sintetizada,
encontrada nos alimentos fortificados e suplementos, possui maior biodisponibilidade que a
forma natural dos alimentos (OLIVEIRA; GERMANO; KRAMER, 2021). Estudos identificam
o baixo consumo de ácido fólico alimentar por gestantes aos recomendados pelas DRI’s,
associando a baixa ingestão à fatores socioeconômicos (TORRES et al., 2020). Diante destes
fatores, considerando um amplo consumo de farinha de trigo e de milho pela população
brasileira, e que a deficiência de ácido fólico acarreta doenças do tubo neural e anemias, o
governo brasileiro através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) adotou as
medidas de fortificação destes alimentos para ofertar folato na dieta da população, através da
Resolução da Diretoria Colegiada n. 344, de 13 de dezembro de 2002 (BRASIL, 2002).
Considerando os efeitos insuficientes deste nutriente na gestação, organizações
nacionais e internacionais de saúde orientam a suplementação do ácido fólico, com início
preferencial antes da concepção (BARBOSA et al., 2011). As doses recomendadas variam de
acordo com o risco gestacional sendo 0,4 a 0,8 mg por dia (ou 40 gotas da solução – 0,2 mg/ml),
antes da concepção até a décima segunda semana de gestação como prevenção dos defeitos do
tubo neural e durante toda a gestação como prevenção de anemia para as gestantes avaliadas
em baixo risco gestacional e, 5,0 mg por dia para as gestantes de alto risco, com antecedentes
de mal formação para a redução do risco de recorrência (LINHARES; CESAR, 2017; BRASIL,
2019).
A suplementação de ácido fólico, apesar de se tratar de uma recomendação mundial, a
prevalência é insuficiente do consumo deste nutriente, mesmo no Brasil. Fatores demográficos,
socioeconômicos e cuidados pré-natais são variáveis dependentes e há uma associação do não
consumo deste suplemento na gestação entre as mulheres de baixa escolaridade, sem
companheiro e com falhas no pré-natal (BARBOSA et al., 2011). Para as recomendações deste
suplemento antes da gestação, em um estudo coorte realizado em duas cidades brasileiras foi
identificado que os fatores maternos e socioeconômicos tiveram influência no consumo deste
suplemento (LIMA et al., 2020).
26
Por outro lado, há de se considerar o uso excessivo de ácido fólico nesta fase associado
com danos à saúde da mãe e do bebê. Estudos identificam que este nutriente em excesso disfarça
a carência de vitamina B12 materna, que pode estar associada a danos neurológicos irreversíveis
caso não seja diagnosticada e tratada adequadamente (FEBRASGO, 2012; JOHNSON, 2007),
além de interações entre medicamentos, alergias e efeitos cancerígenos visto que a
suplementação deste nutriente pode acarretar o aumento de células pré-neoplásicas e cânceres
subclínicos em gestantes (SANTOS et al., 2013). Além disto, outros estudos apontam que o
excesso de ácido fólico está associado com aumento do risco de asma (WHITROW et al., 2009),
infecções das vias aéreas superiores e chiados na primeira infância (BEKKERS et al., 2012).
2.3.4 Zinco
As gestantes estão entre o grupo com maior risco de desenvolver deficiência de zinco
visto às maiores necessidades fisiológicas deste período (BORGES et al., 2021). Contudo, há
uma diminuição do zinco circulante devido ao aumento significativo de transferência deste
mineral para o feto durante toda a gestação (MORAES et al., 2010).
Um estudo realizado no município de João Pessoa – PB, identificou que menos da
metade das gestantes consumiu a recomendação diária de zinco alimentar (42,90%)
(VITORINO; ALVES, 2018). Já o estudo realizado por Gomes et al. (2018) avaliou o consumo
alimentar de gestantes e constatou que a ingestão de zinco ficou em aproximadamente 24,5
mg/dia, valor muito superior ao recomendado pela RDA que é de 11,0 mg/dia para gestantes
adultas.
Diante dos possíveis desfechos da falta deste micromineral, avalia-se pela literatura a
necessidade de suplementação de zinco para as gestantes. De acordo com a OMS (2021), a
suplementação de zinco nessa população só é recomendada dentro de um contexto em que haja
uma investigação muito rigorosa. Os achados têm associado a suplementação de zinco com
redução da incidência de nascimento de bebês grandes e pequenos para a idade (KYNAST;
SALING, 1986) e prematuridade (CHERRY et al., 1989). No entanto, outro estudo identificou
que a suplementação de zinco em gestantes com baixo nível socioeconômico não influenciou
no crescimento fetal (LUCYK; FURUMOTO, 2008) e que ainda pode ocasionar interações
negativas para as ações que o ferro e o ácido fólico têm sobre o peso fetal (DURAN et al.,
2012).
28
2.3.5 Vitamina A
As fontes alimentares deste nutriente são bem variadas. As fontes de retinol (vitamina
A pré-formada) são fígado, gema de ovos, óleo de peixe, leite e derivados integrais. Os
alimentos com fontes de carotenoides (pró-vitamina A) são os vegetais folhosos verde-escuros,
legumes, frutas amarelo-alaranjados e/ou verde-escuros, tomate e seus derivados (ALVES,
2016; PACHECO, 2011). Sua absorção é auxiliada pela ingestão de lipídios, proteínas, fibras,
zinco e vitamina E (RODRIGUES et al., 2020). Mesmo muitos alimentos sendo fontes de
vitamina A, alguns grupos apresentam risco de deficiência deste nutriente, considerando as
29
2.3.6 Vitamina D
recordatório de 24 horas e a inadequação foi semelhante nas duas coortes, ultrapassando os 90%
de inadequação de consumo.
Diante dessas condições, alguns estudos têm avaliado a suplementação de vitamina D
nessa população. Uma meta-análise realizada por Oh e colaboradores (2020) avaliou a
suplementação de vitamina D e placebo durante a gravidez. Os estudos incluídos eram do sul
da Ásia, Oriente Médio e norte da África. Destes, seis continham fornecimento de vitamina D
até o final da gestação e os demais forneceram de 8 a 10 semanas a partir do momento de
inscrição no pré-natal. Os resultados demonstraram que a suplementação deste nutriente pode
ter reduzido o risco de parto prematuros. As evidências encontradas por Palacios e
colaboradores (2019) em uma revisão sistemática incluem redução do risco de pré-eclâmpsia,
diabetes gestacional e baixo peso ao nascer quando a mãe é suplementada com vitamina D
isolada durante a gestação.
Estudos controlados recentes comprovam a eficácia de suplementação de vitamina D
durante a gestação em doses que variam de 200 a 4.000 UI, inclusive em regiões que apresentam
deficiência deste nutriente e com carência de infraestrutura. No entanto, é relatado nas revisões
que este nutriente continua sendo prescrito em doses baixas, devido a carências de estudos e
medos de efeitos colaterais, o que corrobora para mais pesquisas com este nutriente (NETO,
2017).
Além da análise do conteúdo alimentar, outros aspectos também vêm sendo estudados
pela área da crononutrição, uma subárea da cronobiologia, destacando os horários alimentares,
a frequência e a janela alimentar. Estes aspectos estão diretamente relacionados aos ritmos
circadianos, e quando dessincronizados, aumentam o risco para diversas doenças crônicas não
transmissíveis, incluindo os distúrbios metabólicos (QUADRA et al., 2022).
A saber, a cronobiologia é a ciência que estuda o tempo na vida, avaliando a interação
entre homem e ritmos biológicos (SANTOS, 2015). Os organismos vivos possuem padrões
cíclicos, chamados de ritmos biológicos, que são influenciados a todo momento por estímulos
externos (LIRA, 2022). Neste sentido, todos os seres humanos possuem um conjunto de
neurônios localizados no hipotálamo, chamado de Núcleo Supraquiasmático, que atua como
oscilador central endógeno, sincronizado pelo ciclo claro-escuro, regulando o ciclo vigília-
sono, além de outros sistemas como o metabolismo energético. Assim, influenciam os
33
rica em gorduras. Um outro estudo demonstra que uma maior janela alimentar, comer mais
tarde (período noturno, especialmente próximo ao horário de dormir) e pular refeições
favorecem o ganho de peso e a obesidade, promovendo menor saciedade e maior ingestão de
calorias (GONTIJO et al., 2019).
Por fim, para melhor entendimento das questões crononutricionais, não se pode
desconsiderar as características e diferenças individuais pois cada ser humano tem suas
preferências para dormir, acordar, fases de maior disposição física e cognitiva e para fazer suas
atividades, permitindo assim uma classificação chamada de cronotipo (DOS SANTOS et al.,
2016; FRAGA, 2020; HORNE; OSTBERG, 1976). Neste sentido, o cronotipo é regulado pelos
sistemas de temporização internos, conforme os estímulos ambientais recebidos durante o dia
e o desenvolver das atividades diárias (HAUS; SMOLENSKY, 2006). Dentre os cronotipos, os
matutinos são aqueles que preferem acordar e realizar as suas atividades muito cedo e assim
tem o hábito de realizar o desjejum mais regularmente. Os intermediários são aqueles que tem
preferências para realizar as suas atividades entre o período matutino e vespertino, sendo
identificados em alguns estudos como o grupo com maior tendência para irregularidades no
café da manhã quando comparados aos vespertinos. Os vespertinos, que são aqueles que exibem
preferências por começar a realizar suas atividades mais tarde, costumando pular o café-da-
manhã ou consumir mais tardiamente (TEIXEIRA et al., 2017).
36
3 OBJETIVOS
4 MÉTODOS
Este trabalho é uma revisão integrativa onde foram utilizados artigos científicos
indexados nas bases de dados do Publisher Medline (PUBMED) sobre a crononutrição e
gestação, buscando levantar os dados de pesquisas atuais e as perspectivas futuras desta área
do conhecimento, essencial para a formulação de políticas públicas e orientações à Atenção
Primária à Saúde de gestantes.
Para a realização das buscas utilizou-se os seguintes descritores na língua inglesa:
pregnant "meal time", pregnant "meal timing", pregnant "mealtime", pregnant "meal times",
pregnant "mealtimes", pregnant "time, meal", pregnant "times, meal", pregnant "dinner time",
pregnant "dinner times", pregnant "time, dinner", pregnant "times, dinner", pregnant "eating
time", pregnant "eating times", pregnant "meal frequency", pregnant "time-restricted eating",
pregnant "time-restricted feeding", pregnant "eating window", pregnant "food window",
pregnancy "meal time", pregnancy "meal timing", pregnancy "mealtime", pregnancy "meal
times", pregnancy "mealtimes", pregnancy "time, meal", pregnancy "times, meal", pregnancy
"dinner time", pregnancy "dinner times", pregnancy "time, dinner", pregnancy "times, dinner",
pregnancy "eating time", pregnancy "eating times", pregnancy "meal frequency", pregnancy
"time-restricted eating", pregnancy "time-restricted feeding", pregnancy "eating window",
pregnancy "food window"
No período de agosto de 2021 a abril de 2022 foram realizadas pesquisas que embasaram
este trabalho, com temáticas dos aspectos fisiológicos da gestação, guias e protocolos de
alimentação na gestação, os principais nutrientes na gestação e padrões de alimentação nesta
fase. Nos meses de agosto e setembro de 2022, foram realizadas buscas especificamente sobre
crononutrição e gestantes, e sua relação, que é o objetivo primário do presente estudo, sem
considerar limite de data de publicação. Os critérios de elegibilidade foram artigos publicados
no idioma inglês, que descrevessem estudos da crononutrição com gestantes e que
respondessem a questão norteadora. Os critérios de inelegibilidade foram: estudos duplicados,
monografias, trabalhos disponíveis somente com resumo ou com a apresentação apenas do
tema, estando o conteúdo indisponível. A coleta de dados envolveu informações extraídas dos
estudos selecionados (Título, Autores, Ano, Base de dados, Delineamento do estudo, Objetivos,
Resultados e conclusão).
Foram encontrados inicialmente 1.867 trabalhos, do qual foram lidos seus títulos e seus
respectivos resumos, onde 16 foram selecionados para leitura criteriosa e, apenas 4 atenderam
38
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
adequadamente neste período está relacionado com desfechos positivos para a saúde da mãe e
do bebê, como o nascimento a termo e peso adequado ao nascer (IOM, 2009). Nesse sentido,
um estudo no âmbito da crononutrição realizado com a população adulta em geral demonstrou
que o maior consumo alimentar à noite está relacionado ao maior risco de excesso de peso
(MAUKONEN et al., 2019). Assim, esta é a proposição do presente estudo, refletir se podemos
(e devemos!) estender estes conhecimentos à população gestante, dado à vulnerabilidade
nutricional que estas apresentam.
Aliada à questão da vulnerabilidade nutricional e ao ganho de peso gestacional, a
gestação tem sido entendida como o momento para pausar algumas regras alimentares e
sucumbir aos desejos pautados pela ideia do “comer por dois” (KEBBE et al., 2021). Diante
destes fatores, é importante lembrar que o Instituto de Medicina Americano orienta que as
gestantes devam fazer três refeições e dois ou mais lanches ao dia (IOM, 1992). O estudo
realizado por Kebbe et al. (2021), ao analisar o comportamento alimentar de gestantes,
identificou que 72% das gestantes lancharam com mais frequência, no entanto, 40,5%
lancharam mais próximos ao horário de dormir. Neste sentido, este dado deve ter atenção
especial para esta população pois, é sabido que as refeições realizadas tardiamente, ou seja,
próximas ao horário do sono, estão associadas com o aumento do IMC e da gordura corporal
na população em geral (MORENO et al., 2019).
Alguns comportamentos crononutricionais podem ser considerados difíceis, visto que
estes podem aumentar a dessincronia dos ritmos biológicos (LIRA, 2022). Neste sentido,
merece destaque o ato de pular o café-da-manhã, ou até mesmo outras refeições. Na sociedade
atual, padrões irregulares de refeições estão associados à diversos fatores, como estilo de vida,
sono insuficiente e estresse emocional, que levam a um comportamento de pular refeições entre
adultos jovens (LOO et al., 2022). Evidências demonstram que pular refeições está relacionada
às doenças metabólicas, incluindo obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares (LOO
et al., 2022), promovendo menor saciedade e maior ingestão de calorias (GONTIJO et al.,
2019). Portanto, fazer as refeições de maneira regular é considerado um importante indicador
de saúde (LIRA, 2022).
Alguns estudos investigaram o ato de pular o café da manhã. O estudo de coorte de
Chang et al. (2021) investigou 329 adultos americanos e os seus resultados identificaram que
as mulheres com atraso no início do sono e com menor duração do sono foram mais susceptíveis
a pular o café-da-manhã quando comparadas aos homens na mesma situação, indicando uma
maior vulnerabilidade ao sexo feminino. Um outro estudo de coorte realizado em Gana com
220 enfermeiros, que trabalhavam em período integral diurno, identificou que àqueles que
42
tinham o hábito de pular o café da manhã apresentaram risco aumentado de ganho de peso e de
estilo de vida sedentário em relação aos que realizavam o café da manhã (ARYEE et al., 2013).
Para as gestantes, Loo et al. (2022) avaliaram a relação da incidência e o estilo de vida da
irregularidade das refeições em mulheres grávidas durante o segundo trimestre, descobrindo
que 36% destas faziam refeições irregulares, sendo que 28% relataram pular refeições e 29%
relataram atraso nas refeições por pelo menos três vezes na semana. O café da manhã foi a
refeição mais omitida e atrasada comparada ao almoço e jantar. Estas descobertas são bem
semelhantes à estudos anteriores em que a supressão do café da manhã variou de 20 a 38% em
gestantes, de acordo com o trimestre gestacional (ENGLUND-ÖGGE et al., 2017 ; FOWLES
et al. , 2011 ; SHIRAISHI et al., 2019). Este comportamento deve ser um ponto de atenção entre
as equipes de saúde no pré-natal pois, fica claro que a menor ingestão de alimentos e,
consequentemente nutrientes, afetará o desenvolvimento do feto, independente do trimestre
gestacional.
A gravidade deste comportamento (omissão do café da manhã) é um importante dado
para a saúde pública, no tocante à formulação de estratégias que possam atenuar este
comportamento, reforçando as orientações do IOM quanto ao número de refeições e também,
para assegurar a ingestão de nutrientes em quantidades adequadas às gestantes. O não consumo
de uma refeição importante, como o café da manhã, pode ocasionar o déficit nutricional,
especialmente de micronutrientes, tão importantes para o desfecho saudável do período
gestacional. Estudo realizado por Shiraishi et al. (2019) com a população em geral identificou
que, por mais que as pessoas que pulam o café da manhã tenham a mesma ingestão energética,
estas pessoas apresentaram menor consumo ajustado de proteínas, gorduras poli-insaturadas,
cálcio, ferro e ácido fólico. Na análise de componentes circulantes no sangue e urina em
mulheres gestantes japonesas, foi identificado que os níveis no sangue de ácido
eicosapentaenoico (EPA), ácido docosaexaenoico (DHA) e betacaroteno e os níveis urinários
de ureia, nitrogênio e potássio foram significativamente menores nas gestantes que pularam o
café da manhã (SHIRAISHI et al., 2019). Apesar de não significativos, outros nutrientes
analisados por Shiraishi et al. (2019) como ácido fólico, vitamina C e vitamina D também foram
menores em gestantes que omitiram o café da manhã.
As recomendações do Ministério da Saúde e do IOM estão pautadas numa dieta que
limite o consumo excessivo e assim possa prevenir a insuficiência de micronutrientes em
gestantes. Assim, a oferta de uma alimentação variada e rica em frutas, hortaliças e grãos
integrais, aliada a intervenções de educação nutricional, têm mostrado melhorar a qualidade da
dieta e os resultados da gestação, especialmente os micronutrientes, onde suas necessidades de
43
ingestão aumentam neste ciclo da vida (PHELAN; ABRAMS; WING, 2019). Um estudo
crononutricional mostrou que as gestantes que iniciaram o episódio alimentar precocemente
(cronotipo matutino) apresentaram melhor qualidade da dieta em consumo de frutas e com
maior número de lanches adequados entre as refeições principais, consumindo assim mais frutas
nessas refeições (GONTIJO et al., 2020).
É importante ressaltar os aspectos do sono na gestação e sua relação com a dieta. O sono
tem papel fundamental na concretização da memória, na termorregulação do corpo e no reparo
energético e, seu comprometimento, pode ocasionar alterações no funcionamento físico,
ocupacional, cognitivo, social e cansaço mental (CRUDE et al., 2013; MÜLLER, 2007), além
de comprometer a qualidade de vida (JANSEN et al., 2007). As principais alterações do sono
na gestação são modificações na sua arquitetura e padrão, como insônia, sonolência em excesso
durante o dia, distúrbios respiratórios e síndrome das pernas inquietas (FAGUNDES, 2019;
NEAU, 2009). Durante o primeiro trimestre, há um aumento do tempo de sono, porém não há
qualidade deste sono. E a partir do segundo trimestre o tempo de sono diminui
consideravelmente (OKUN et al., 2015).
A qualidade do sono na gestação pode ser ocasionada por vários fatores como as
alterações hormonais, desconforto físico e a ansiedade (CAI et al., 2017). A composição da
dieta com foco em componentes específicos demonstrou influenciar na duração, na qualidade
e no comportamento do sono (GRANDNER et al., 2013; ST-ONGE; MIKIC;
PIETROLUNGO, 2016). Para os macronutrientes, um ensaio clínico crossover realizado para
avaliar o sono e a alimentação, demonstrou que o baixo consumo de fibras alimentares e elevado
consumo de gordura saturada e açúcar estão associados com um sono mais leve e menos
restaurador, ou seja, menor quantidade de sono REM (ST-ONGE; MIKIC; PIETROLUNGO,
2016). Podemos identificar em diversos estudos epidemiológicos que nos últimos anos houve
uma mudança no padrão alimentar e nutricional da população, com redução do consumo de
frutas, hortaliças, cereais e leguminosas e o consequente aumento de alimentos
ultraprocessados, que representa um risco para o desenvolvimento de doenças crônicas e
também uma importante ameaça ao período de gestação (GRACILIANO; SILVEIRA;
OLIVEIRA, 2021). O estudo de Graciliano, Silveira e Oliveira (2021) demonstrou que os
alimentos ultraprocessados contribuíram com o aumento de 22% no valor energético total da
alimentação das gestantes. Consequentemente, podemos teorizar um comprometimento na
qualidade do sono dessas gestantes.
A ingestão de micronutrientes também foi relatada no estudo de Frank et al. (2017)
como uma sugestão de melhoras no padrão de sono. De acordo com as investigações desses
44
autores, foram relatadas associações entre as deficiências no organismo de vitamina B1, ácido
fólico, fósforo, magnésio, ferro, zinco e selênio com tempo menor de duração do sono. A falta
de alfa-caroteno, selênio e cálcio foi associada com dificuldade ao adormecer, o baixo consumo
de vitamina D e licopeno associado com a manutenção do sono e o baixo consumo de cálcio e
vitamina C com um sono não reparador. Estes dados reforçam a importância de orientações
crononutricionais para as gestantes, dada a vulnerabilidade nutricional desta população e o
baixo consumo de frutas e hortaliças, o que pode comprometer a qualidade do sono e contribuir
para a dessincronização dos ritmos biológicos.
Diante dos estudos aqui citados, é notável que existe lacunas da temática que precisam
ser estudadas. Temos evidências de estudos que mostram os benefícios crononutricionais na
população gestante. No entanto, faltam explorações que tracem desenhos de estudos acerca da
temática, a fim de entender outros fatores dos benefícios que a crononutrição pode trazer tanto
para as gestantes quando para os seus filhos. Assim, sugerimos que mais estudos
crononutricionais com gestantes sejam realizados, no intuito de contribuir e aperfeiçoar as
recomendações nutricionais existentes.
É notório que as orientações crononutricionais, ao ser inserida na rotina de profissionais
da APS, pode contribuir para minimizar desfechos negativos à gestação, ocasionados por
comportamentos alimentares incorretos. Essa nova visão, de olhar para pequenos
comportamentos (mas que podem ser chaves nos resultados da gestação), passam despercebidos
na atenção à saúde dessa população. Vislumbramos que esse será um avanço significativo na
área da saúde materno-infantil, e consequentemente à saúde pública.
45
6 CONCLUSÕES
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