2022 Dis Jvldourado
2022 Dis Jvldourado
2022 Dis Jvldourado
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
FORTALEZA
2022
JOÃO VÍCTOR LIRA DOURADO
FORTALEZA
2022
JOÃO VÍCTOR LIRA DOURADO
Aprovada em:___/____/_______.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profa. Dra. Maria do Socorro de Sousa – Orientador (a)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Vaudelice Mota – Coorientador (a)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Ivana Cristina de Holanda Cunha Barreto – 1º Examinador (a)
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Ceará)
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Patrícia Neyva da Costa Pinheiro – 2º Examinador (a)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Francisca Alanny Rocha Aguiar – 3º Examinador (a)
Centro Universitário INTA (UNINTA)
Dedico este trabalho a todos os adolescentes,
familiares e profissionais de saúde
pertencentes as áreas adscritas das Unidades
de Atenção Primária à Saúde do Brasil,
especialmente aqueles que vivenciaram alguma
situação semelhante as retratadas neste estudo.
AGRADECIMENTOS
Ao tudo que é e que existe, que por intermédio de algo muito maior e inexplicável,
por muitas vezes e/ou por todos os momentos da minha vida, vem me concedendo saberes para
que eu possa caminhar da melhor maneira possível nos caminhos desta longa estrada da vida
humana. Esta conquista não é apenas minha, mas de algo maior que emanou energias e fluídos
positivos para a conclusão deste trabalho que por meio de um ser humano tão falho e frágil, e
por vezes, (ir)racional e (in)consciente acredito que não se tornaria possível.
A Maria Fátima Lira Lima (vovó), pessoa a qual tenho uma grande admiração pelo
ser humano de grande fibra que já enfrentou vários problemas na vida. Esta sempre esteve
disposta a me auxiliar nos momentos da vida especialmente no ‘gosto pelo estudo’, dispensando
nesta tão difícil e árdua trajetória de estudos; carinho, apoio, cuidado, força, zelo e, sobretudo,
o sentimento mais pleno, belo, puro, completo e absoluto produzido entre os seres humanos, o
amor incondicional.
A Liduína Daniele Lira Lima (mãe), pessoa também pela qual eu devo a dádiva de
poder saborear a vida. Durante este momento, revelou-se também muito importante para que
eu conseguisse finalizar este processo, disponibilizando apoio, conselhos, suporte, força,
carinho e amor. Sem ela, esta vitória não seria possível de ser alcançada.
Ao Júlio Cleber Dourado (pai), que durante este longo processo tem compreendido
minhas longas ausências nos encontros familiares aos finais de semana para que eu conseguisse
finalizar este trabalho. Seja pelo contato pessoa e/ou por meio das redes sociais, sempre me
concedeu apoio, força, carinho, amor e, principalmente, grandes conselhos éticos e morais para
que eu exercesse da melhor forma possível o papel de ser humano, filho, irmão, amigo,
estudante e profissional.
Ao John Walyssoy Lira Dourado (irmão) e Edvard Mesquita de Azevedo Neto
(irmãzinho), pessoas pelas quais também durante este momento desempenharam tão bem o
papel de irmão, me concedendo carinho, apoio e amor, compreendendo minhas longas
ausências e deixando os momentos de pausas da escrita mais leves em meio as descontrações
em família.
As Profa. Dra. Antonia Eliana de Araújo Aragão (in memoriam), ser humano
incrível que o universo me possibilitou conhecer durante a metade da minha vida acadêmica.
Sempre me incentivou para o desenvolvimento das atividades indissociáveis ensino-pesquisa-
extensão na faculdade e nos momentos de pausa para diálogo, por meio de uma alocução
delicada, carinhosa, pacífica e humilde, me oportunizou ensinamentos éticos e morais para que
eu pudesse desempenhar o papel de estudante e profissional nos espaços de atuação,
principalmente, de ser humano aqui na terra.
A Profa. Dra. Keila Maria de Azevedo Ponte, que de encontro no início da
faculdade por meio da disciplina Introdução a Enfermagem me apresentou da maneira mais
bela a ciência no campo da Enfermagem, instigando a produção científica e, que durante a
função de orientadora enquanto era bolsista do Programa de Inovação Científica e Tecnológica
do Conselho Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico, fomentou o
desenvolvimento de competências e habilidades para atuação neste campo que tenho tanta
afinidade.
A Profa. Dra. Francisca Alanny Rocha Aguiar, pessoa a qual tenho um grande
carinho pelo ser humano que se faz presente neste mundo e admiração pela professora que
produz constantemente no campo da docência na área da Enfermagem e Saúde Coletiva.
Durante a minha jornada na graduação de Enfermagem, sempre me incentivou diálogos sobre
questões que envolviam o campo da Saúde Coletiva e Saúde Pública, além de desenvolvimento
de pesquisa a produção de trabalhos científicos envolvendo a atenção primária à saúde e atenção
à saúde dos adolescentes. E, nesta reta final em meio aos diálogos ter me apoiado para a
conclusão do curso e do trabalho escrito. Deste modo, a conquista da entrada no curso de
mestrado e do desenvolvimento deste trabalho, são parte das orientações de todas estas as quais
considero como grandes mestras na minha vida.
A Profa. Dra. Maria do Socorro de Sousa, professora que lugar de orientadora
durante esta longa jornada me conduziu com grande maestria e de forma muito sábia e peculiar
as orientações abrindo pistas para o desenvolvimento deste trabalho enquanto projeto de
pesquisa e versão de dissertação e contribuindo significativamente para a obtenção desta
conquista que é parte de um sonho e interesse intrínseco maior e que reflete de modo direto na
minha vida pessoal, acadêmica e profissional.
A Profa. Dra. Maria Vaudelice Mota, professora no papel de co-orientadora
inicialmente acolheu a proposta do estudo com os adolescentes na atenção primária em primeiro
encontro realizado de orientação e desde então sempre tem se mostrado disponível e aberta para
diálogos aos quais se fizeram necessários durante o curso do mestrado, ofertando sábios
conselhos não apenas para o estudo mas para também para a vida, contribuindo assim
substancialmente no desenvolvimento da pesquisa para o alcance dos resultados obtidos.
As Profa. Profa. Dra. Ivana Cristina de Holanda Cunha Barreto, Profa. Dra. Patrícia
Neyva da Costa Pinheiro e Profa. Dra. Francisca Alanny Rocha Aguiar, as quais aceitaram
participar como membros da banca examinadora, dispensando tempo para a leitura de todo o
material e que tenho uma grande admiração pelas pesquisadoras excepcionais que se fazem
presente atualmente, contribuindo ainda significativamente no aperfeiçoamento dos aspectos
deste trabalho dissertativo.
A Mariana Batista Teotônio de Melo (Mari), Naira Martins da Silva e Sarah Feitosa
Lourenço (Sarita), amigas que de forma muito especial cito entre tantas outras, por terem
acompanhado de modo mais próximo este longo processo de percurso, compreendido minhas
longas ausências para dedicação na escrita e tornado os momentos mais leves e descontraídos,
além de abrirem espaço para o compartilhamento de receios, medos, cansaços e apoiarem de
forma especial para que eu alcançasse este resultado.
A Anyele Barroso Saldanha e Bruna Maria Osterno Mourão, colegas da turma do
mestrado que tive a satisfação de conhecer e construir uma grande parceria. Durante este
período me acompanharam em meio a escrita deste trabalho e de outros processos inerentes,
dispensado sempre atenção, escutas e diálogos que foram essenciais para me fortificar na
continuidade da construção do material, além da ‘troca de figurinhas’ referente os processos do
mestrado.
Ao José Luís Paiva de Mendonça Ferreira, Kilvia Paula Soares Macedo, Maria de
Fátima Bastos Nóbrega de Almeida, Tiago Bento Costa de Oliveira e Ana Camila Bezerra de
Sousa Silva, colegas no Centro de Educação Permanente em Gestão em Saúde da Escola de
Saúde Pública Paulo Marcelo Martins, que durante este período foram fundamentais para que
eu conseguisse realizar a coleta de informação no campo e concluísse a escrita deste material
dissertativo, portanto, compreendendo sempre minhas ausências durante os processos de
trabalho e apoiando a conclusão do curso de mestrado.
Aos Prof. Dr. Alberto Novares Ramos Júnior, Prof. Dr. Carlos Henrique Morais de
Alencar, Profa. Dra. Carmem Emmanuely Leitão Araújo, Profa. Dra. Caroline Mary Gurgel
Dias Florêncio, Prof. Dr. Hermano Alexandre Lima Rocha, Profa. Dra. Ligia Regina Franco
Sansigolo Kerr, Profa. Dra. Lisandra Serra Damasceno, Prof. Dr. Luciano Lima Correia, Prof.
Dr. Marcelo José Monteiro Ferreira, Profa. Dra. Márcia Maria Tavares Machado, Profa. Dra.
Maria Lúcia Magalhães Bosi, Profa. Dra. Maxmiria Holanda Batista, Profa. Dra. Raimunda
Hermelinda Maia Macena, Prof. Dr. Ricardo José Soares Pontes, Prof. Dr. Léo Barbosa
Nepomuceno e Prof. Dr. Bernard Carl Kendall que em meio as aulas ministradas no mestrado
implicaram substancialmente na apreensão de conhecimentos para o desenvolvimento deste
estudo.
A Dominik Garcia Araújo Fontes e José Hemison de Sousa Magalhães, por
desempenharem tão bem o processo de trabalho na secretaria do Programa de Pós-graduação
em Saúde Pública da UFC, mostrando-se durante este momento sempre disponíveis inclusive
fora do expediente para sanar qualquer dúvida a respeito dos processos do mestrado e
encaminhar demandas que envolviam de alguma forma esta pesquisa. Deste modo, foram
também essências para a conclusão deste trabalho científico.
A Universidade Federal do Ceará, a qual por meio do Programa de Pós-graduação
em Saúde Pública com toda sua estrutura física e organizacional cooperou para esta grande
conquista, ofertando ensino de qualidade por meio de excelentes docentes, espaços com
ferramentas que possibilitaram o protagonismo e um acervo com materiais de estudos de
excelência, sempre buscando atender as necessidades dos estudantes com base no que tem de
mais novo inovador, especialmente neste momento de pandemia que disponibilizaram
ferramentas digitais e alteraram a forma do processo de ensino-aprendizagem.
Ao Anselmo Alves Silvestre e Regina Claudia Oliveira de Sousa, agentes de
comunitários da unidade de saúde que foram essenciais ao se mostram prontamente disponíveis
para colaborar na coleta de informações com os adolescentes e familiares da comunidade.
A todos e todas aqueles (as), sejam conhecidos (as) e/ou desconhecidos (as), que de
forma implícita e/ou explicita, estiveram presentes na minha vida durante este momento
contribuindo de forma direta e/ou indireta para a obtenção dessa grande conquista.
Muito obrigado!
A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de
caminhar. (Eduardo Galeano)
RESUMO
Apesar da elaboração de políticas para melhoria das condições de saúde e dos avanços nos
serviços do Sistema Único de Saúde, observa-se que ainda persistem muitos desafios quanto a
assistência à saúde dos adolescentes. De modo geral, nos serviços de saúde há práticas
fragmentadas baseadas no modelo biomédico que não consideram as dimensões biológica,
psicológica e social, além de pouco cuidado direcionado às singularidades desta população, com
destaque para a Atenção Primária à Saúde (APS). Por esse ângulo, acredita-se que avaliar a
qualidade do serviço contribui para monitorar os progressos e pontuar os obstáculos. Deste
modo, objetivou-se avaliar a qualidade da APS ofertada ao adolescente. Trata-se de um estudo
do tipo exploratório, de caráter descritivo com abordagem qualitativa numa perspectiva
avaliativa, realizado em novembro e dezembro de 2021, em uma unidade de APS do município
de Fortaleza, Ceará. Constituiu-se como participantes da investigação os adolescentes,
familiares e profissionais, utilizando para o levantamento de informações de quatro
instrumentos guias com perguntas objetivas e/ou subjetivas. Para tanto, seguiu duas etapas
distintas, sendo que na primeira realizou-se a integração na unidade a partir de uma
aproximação e identificação de possíveis participantes e na segunda efetuou-se o levantamento
de informações através da entrevista e observação sistemática. Na análise das informações
utilizou-se o método hermenêutico-dialético. Este respeitou os princípios éticos conforme a
Resolução 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde e obteve parecer
favorável do Comitê de Ética em Pesquisa. Da análise e interpretação, ao final elaborou-se
quatro categorias sobre o tema em questão. Na primeira, foram apresentadas as características
do perfil dos participantes com diferentes aspectos sociais, demográficos, econômicos e
ocupacionais como parte da realidade do país. Na segunda, os participantes por meio de
depoimentos evidenciam que o acesso do adolescente ainda é escasso devido o próprio
desinteresse do grupo ou por ausência da oferta de atendimento no serviço de saúde, este apenas
acontecendo por alguma necessidade do paciente. O espaço do serviço é considerado
satisfatório ao passo que também não é adequado ao público, a organização da unidade está
direcionada aos processos de trabalho e os materiais, insumos e medicamentos ainda
insuficientes. Na terceira, reconheceram os profissionais que compõem as equipes embora, por
vezes, estes se mostrem ausentes e dispensem atenção com variação devido ao processo de
trabalho. Na quarta, os participantes destacaram que não há oferta de serviços específicos e
modelo de atenção é assistencial. Entre estes, destaca-se atendimento por programa, vacinas,
exames complementares, encaminhamentos, métodos contraceptivos e atividades na
comunidade. Além disso, apresentaram que a unidade favorece o reestabelecimento e a
promoção da saúde e os problemas que afetam são provenientes de comportamentos do grupo
e da deficiência de cuidado. O estado de saúde dos adolescentes foi classificado como
satisfatório embora alguns apresentassem algum problema em saúde. Houve (in)satisfação com
a referida unidade de saúde e com o trabalho desenvolvido pelos profissionais. Nesse sentido,
as evidências sendo sugestivas de que há necessidade de maior investimento na APS para a
inclusão de questões que envolvem os adolescentes.
Despite the elaboration of policies to improve health conditions and the advances in the services
of the Unified Health System, it is observed that many challenges still persist regarding the
health care of adolescents. In general, in health services there are fragmented practices based
on the biomedical model that do not consider the biological, psychological and social
dimensions, in addition to little care directed to the singularities of this population, especially
Primary Health Care (PHC). From this angle, it is believed that assessing the quality of service
contributes to monitoring progress and scoring obstacles. Thus, the objective was to evaluate
the quality of PHC offered to adolescents. This is an exploratory, descriptive study with a
qualitative approach in an evaluative perspective, carried out in November and December 2021,
in a PHC unit in the city of Fortaleza, Ceará. The research participants were adolescents, family
members and professionals, using four guide instruments with objective and/or subjective
questions to collect information. For that, it followed two distinct stages, in the first one, the
integration in the unit was carried out from an approximation and identification of possible
participants and in the second, the collection of information was carried out through the
interview and systematic observation. In the analysis of the information, the hermeneutic-
dialectical method was used. This respected the ethical principles according to Resolution 466
of December 12, 2012 of the National Health Council and obtained a favorable opinion from
the Research Ethics Committee. From the analysis and interpretation, at the end, four categories
were elaborated on the subject in question. In the first, the characteristics of the profile of the
participants with different social, demographic, economic and occupational aspects were
presented as part of the reality of the country. In the second, the participants, through
testimonies, show that the access of the adolescent is still scarce due to the group's lack of
interest or the absence of the offer of care in the health service, this only happening due to some
patient's need. The service space is considered satisfactory while it is also not suitable for the
public, the organization of the unit is directed to work processes and the materials, supplies and
medicines are still insufficient. In the third, they recognized the professionals who make up the
teams, although sometimes they are absent and give attention with variation due to the work
process. In the fourth, the participants highlighted that there is no offer of specific services and
the care model is assistance. Among these, care by program, vaccines, complementary exams,
referrals, contraceptive methods and activities in the community stand out. In addition, they
showed that the unit favors the reestablishment and promotion of health and the problems they
affect come from group behaviors and care deficiency. The health status of the adolescents was
classified as satisfactory, although some had some health problem. There was (dis)satisfaction
with the referred health unit and with the work developed by the professionals. In this sense,
the evidence suggests that there is a need for greater investment in PHC to include issues
involving adolescents.
IP Internet Protocol
RS Secretarias Regionais
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 22
2 OBJETIVOS..................................................................................................... 27
3 REFERENCIAL DO ESTUDO...................................................................... 28
3.4.6.2 Estrutura dos Serviços de Atenção Primária à Saúde para cuidado aos 55
adolescentes.......................................................................................................
3.4.6.3 Relação dos adolescentes e profissionais de Serviço de Atenção Primária à 55
Saúde..................................................................................................................
3.4.6.4 Assistência prestada aos adolescentes pelos Serviços de Atenção Primária à 56
Saúde..................................................................................................................
3.4.6.5 Colaboração entre Atenção Primária e demais setores no cuidado aos 57
adolescentes.......................................................................................................
3.4.6.6 Repercussões na saúde dos adolescentes atendidos pelos Serviços de Atenção 57
Primária.............................................................................................................
3.4.6.7 Facilidades, barreiras e sugestões da Atenção Primária à saúde do 58
adolescente.........................................................................................................
4 METODOLOGIA............................................................................................ 60
REFERÊNCIAS............................................................................................... 172
APÊNDICES................................................................................................. 206
ANEXOS........................................................................................................... 275
1 INTRODUÇÃO
contemplando ainda a determinação do referido ECA que garante o direito de proteção à vida
e à saúde (DAMASCENO et al., 2016).
Apesar da elaboração destas políticas para melhoria das condições de saúde e dos
grandes avanços na expansão de serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
observa-se que ainda persistem muitos desafios quanto a assistência à saúde do adolescente
(SILVA; ENGSTROM, 2020). Nos serviços de saúde há práticas fragmentadas baseadas no
modelo biomédico que não consideram as dimensões biológica, psicológica e social, além de
pouco cuidado direcionado às singularidades e necessidades da população (PENSO et al.,
2013). Além disso, verifica-se que nos cenários do sistema de saúde os profissionais enfrentam
grandes condições adversas no processo de trabalho, excesso de população cadastrada no
serviço, poucos recursos materiais, insumos e equipamentos, além de profissionais não
capacitados para práticas clínicas ampliadas que incluem a promoção da saúde e a prevenção
de agravos (SILVA; ENGSTROM, 2020).
Evidencia-se também disposição geográfica dispersa, deficiência de informação
sobre meios de obtenção do cuidado e ausência de transporte para chegar aos serviços, além de
questões relacionadas as próprias características organizacionais. Ademais, a ausência de
doença entre os adolescentes é o principal motivo da não presença no serviço, seguido de
dificuldade para encontrar a unidade ou não gostar da qualidade do atendimento. Outros fatores
incluem a preocupação acerca do sigilo do atendimento, o desconhecimento dos serviços e o
desconforto em compartilhar preocupações (MARTINS et al., 2019). Na avaliação em países
europeus, em alguns casos identificou-se que a incapacidade de ofertar atendimento de urgência
e a falta de confidencialidade afastavam os adolescentes das Unidades de Atenção Primária à
Saúde (UAPS) (JANSEN et al., 2019).
Contudo, salienta-se que a atenção à saúde ao adolescente exige uma abordagem
mais criteriosa dos serviços, especialmente no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS)
(MARTINS et al., 2019). Esta é uma proposta composta no Brasil pela Estratégia de Saúde da
Família (ESF) e Unidade Básica de Saúde (UBS), sendo a primeira indicada pelo Ministério da
Saúde para reorientação do SUS (OLIVEIRA; PEREIRA, 2013). O arranjo organizativo
flexibilizado em 2017, permite diferentes modalidades de equipes de saúde, composta por
generalistas e sem a presença de agente comunitário e profissionais do Núcleo Ampliado de
Saúde da Família (NASF) (SILVA; ENGSTROM, 2020). Nesse contexto, configura-se como
ponto preferencial de contato do usuário, família e comunidade com o sistema de saúde e
promove a oferta de cuidados para a promoção, detecção, tratamento, reabilitação e manutenção
da saúde (BARBIANI et al., 2014).
24
Por esse ângulo, acredita-se que avaliar a qualidade da APS contribui para
monitorar os progressos e pontuar os obstáculos, viabilizando o direcionamento de intervenções
no processo de planejamento e a delimitação de estratégias para sua melhoria e alcance de maior
resolutividade (FERREIRA et al., 2021). Com esse intento o Ministério da Saúde lançou no
ano de 2011, o Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade na Atenção Básica (PMAQ-AB)
(LIMA et al., 2018) com a proposta de incentivar e sensibilizar os gestores e as equipes na
melhoria da qualidade dos serviços, instituindo processos progressivos e contínuos de avaliação
e monitoramento como parte do planejamento e do cotidiano das unidades de saúde. Essa
iniciativa trouxe grandes avanços, fomentou debates sobre o delineamento da APS e conduziu
pesquisas de abrangência à nível nacional (LIMA et al., 2018).
No entanto, a avaliação por meio de experiências de usuários, familiares e
profissionais envolvidos nos serviços de saúde tem se apresentado também como outra
alternativa importante para reconhecer a atenção à saúde ofertada no âmbito da APS (SILVA;
ENGSTROM, 2020). Verifica-se que as concepções dos usuários permitem avaliar sua relação
com o profissional e a satisfação do atendimento, enquanto a percepção do profissional viabiliza
diagnosticar as características do serviço e as suas próprias condutas (VOLTAPO et al, 2010).
Apesar disso, o aspecto subjetivo de avaliação tem sido ainda pouco explorado nas
investigações e guarda em seus meandros muitas questões a serem desveladas. Nesta
perspectiva, denota-se a sua relevância ao considerar que as apreensões dos participantes podem
repercutir nas ações para a promoção da qualidade (UCHIMURA; BOSI, 2002).
Embora a qualidade dos serviços de saúde se configure como um termo imperativo
social e técnico (BRASIL, 2007), os patamares de exigências pela população se elevaram com
consequente procura de serviços seguros e eficazes, demandando cada vez mais do Estado o
desenvolvimento de ações nesse contexto. Observa-se que a definição de qualidade se apresenta
de forma multidimensional, todavia, essas descrições podem ser condensadas em elementos
comuns, por exemplo, a satisfação das necessidades e expectativas dos pacientes, conformidade
com as especificações, melhor relação custo versus benefício. No campo da saúde, qualidade
constitui-se como produto social expresso por expectativas acerca das relações entre usuários e
profissionais e as formas como são legitimados os papéis no sistema de saúde (GASTAL;
ROESSLER, 2006).
O quadro conceitual mais utilizado para a avaliação e qualidade dos serviços
inclusive neste estudo é o estabelecido por Donabedian (1990). Para o autor, a qualidade não se
constitui como atributo abstrato e deve ser construída por sete pilares: eficácia, efetividade,
eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade, considerados como atributos
25
*
Este parágrafo do texto é parte da história de vida retratada pelo pesquisador no acesso ao serviço de APS.
26
2 OBJETIVOS
3 REFERENCIAL DO ESTUDO
Sem a pretensão de elaborar uma análise exaustiva e/ou esgotar discussão sobre a
temática do estudo, desenvolveu-se uma leitura reflexiva e crítica das publicações para maior
aproximação com os materiais sobre o tema e melhor compreensão dos desdobramentos da
referida pesquisa. E, ao final deste processo se debruçou nesse espaço específico para
apresentação dos elementos considerados mais importantes nas leituras realizadas para a
consolidação do referido enfoque.
Deste modo, como estratégia de exposição sistematizou os apontamentos em quatro
tópicos sequenciais dos temas tratados de forma que fossem situados em níveis distintos. Na
apresentação que se segue, destaca-se um caminho progressivo no plano dos temas acerca da
adolescência, APS, avaliação e qualidade em saúde e, por fim, do estado da arte. Partindo destas
questões situadas no qual se denomina de referencial do estudo, focalizou-se, então,
gradualmente: Uma síntese sobre definições, critérios e indicadores da adolescência; Tecendo
fatos, contextos e conceitos sobre a APS; Avaliação dos serviços e da qualidade em saúde à luz
do quadro de Donabedian e Produção do conhecimento científico sobre APS do adolescente.
Nas normas e políticas de alguns países do mundo, existem outros critérios etários
que permanecem flexíveis e contraditórios, de acordo com os costumes e as culturas locais. No
Brasil, por exemplo, observa-se que as faixas etárias apresentam variações e há grande interesse
nas idades de dez a 24 anos. O Ministério da Saúde (2017) e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) (2007) estabelecem os mesmos critérios cronológicos adotados pela OMS
(1965). Já o ECA, por meio da Lei 8069, de 13 julho de 1990, que dispõe sobre a proteção
integral à criança e ao adolescente, caracteriza a pessoa como criança até 12 anos de idade
incompletos e adolescente na faixa etária compreendida de 12 a 18 anos de idade e, em casos
excepcionais e quando disposto na lei, o estatuto é aplicável entre 18 e 21 anos de idade.
Em outros documentos ainda existe uma classificação de faixa etária que faz
interseção entre a metade da adolescência e os primeiros anos da juventude. Deste modo, pelo
Estatuto da Juventude do país para os efeitos da Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, a partir
das idades de 15 a 17 anos são adolescentes-jovens, entre 18 aos 24 anos são jovens-jovens e
de 25 a 29 anos são jovens-adultos. No campo da pesquisa científica, divide-se conforme às
particularidades identificadas, em inicial, intermediária e final, variando em função das idades
de início e fim. Nesse sentido, classifica-se adolescente precoce abaixo dos 15 anos,
adolescente-jovem entre 15 e 19 anos e adulto-jovem dos 20 aos 24 anos de idade (SMETANA;
CAMPIONE-BARR; METZGER, 2006).
Deste modo, não há consenso quanto à faixa etária exata que determina o grau de
desenvolvimento completo para o desempenho das atividades referente a adolescência. Além
disso, apesar da idade cronológica ser a mais usada à nível nacional como internacional para
demarcar este período pela comunidade científica, verifica-se que muitas vezes não é o melhor
critério em virtude da variabilidade e diversidade dos parâmetros. Os aspectos biológicos,
psicológicos e sociais, denominados de assincronia de maturação, se mostram também
relevantes para a compreensão das características e ampliação conceitual (EISENSTEIN,
2005). Essas mudanças, na visão do desenvolvimento humano, são de grande importância,
abrindo novas fronteiras para o entendimento do desenvolvimento e, mais especificamente para
a adolescência (SCHOEN-FERREIRA; FARIAS; SILVARES, 2010).
Destarte, para delimitar a adolescência em reconhecimento as particularidades
individuais como coletivas, torna-se importante incluir não só apenas os aspectos etários e
físicos como também os sociais e culturais. Deve-se partir de uma descrição relacionada
basicamente a concepções de mudanças múltiplas e simultâneas fundamentais ao
desenvolvimento humano, ao entender que tais transformações acontecem tanto no próprio
34
indivíduo quanto nas suas relações com as conjunturas das quais ele faz parte (SENNA;
DESSEN, 2015).
Mais do que isso, urge em um sentido imparcial descrever não a adolescência e o
adolescente de forma singular e, sim as adolescências e os adolescentes de modo plural,
influenciados por contextos sociais, históricos, culturais, políticos e econômicos, os quais estão
ao seu redor e pertencem a sua realidade. Acredita-se que ao trabalhar nessa perspectiva o
indivíduo passa a elaborar concepções em relação ao sujeito de que fala a partir da dimensão
do tempo e do espaço e, por meio destes aspectos pode ainda levantar questões sobre situações
que aumentam, em menor ou maior grau, a vulnerabilidade dos adolescentes à problemas e
agravos em saúde (DOURADO et al, 2020).
Não obstante, na sociedade contemporânea ainda se verifica a circulação de
concepções errôneas associadas a conflito, irresponsabilidade e desordem sobre a adolescência,
com destaque para um problema social a ser resolvido que merece atenção pública. Além disso,
o enfoque em particular das pesquisas tanto nacionais como internacionais está fortemente
direcionado a repertórios de situações inerentes a esta etapa da vida (DOURADO et al., 2020),
em virtude de os problemas decorrentes e os fatores associados causar ônus para o indivíduo,
família, comunidade e sociedade em geral (PINTO et al., 2018).
A contaminação às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), por exemplo, vem
se apresentando como um grave problema. Globalmente, estima-se que a cada dia há mais um
milhão de casos curáveis entre pessoas de 15 a 49 anos, correspondendo a mais de 376 milhões
casos de infecção, entre os quais, destacam-se por tricomoníase com 156 milhões, seguido de
clamídia com 127 milhões, de gonorreia com 87 milhões e sífilis com 6,3 milhões. No que se
refere ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) que, por vezes, evolui para a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS), observa-se que estes tem causado impactos profundos na
saúde desta população. Dados recentes apresentam que as proporções de HIV são diferentes
entre os casos, evidenciando que a maioria ocorre no sexo feminino, com estimativa de 5.500
jovens entre 15 e 24 anos toda semana, com destaque para a África Subsaariana que em cada
seis casos de infecção cinco estão para meninas de 15 a 19 anos (UNAIDS, 2020).
No Brasil, não existem ainda informações sobre a prevalência de IST comuns entre
a população adolescente nas diferentes regiões do país, em virtude de somente o HIV e a sífilis
se apresentarem como notificação compulsória e os indivíduos com a infecção apenas buscarem
tratamento em farmácias, além da escassez de estudos sentinelas e de base populacional com
este enfoque (PINTO et al., 2018). Quanto ao HIV/Aids, dados do último boletim
epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde mostram que a doença cresce mais na
35
população jovem. Observa-se que mais da metade dos novos casos (52,1%) de HIV em 2019
ocorreram no sexo masculino. As taxas de detecção de HIV são quase quatro vezes maiores de
novos casos entre os jovens homens de 20 a 24 anos. Na faixa etária de 15 a 19 e de 20 a 24
anos, entre o período de 2009 e 2019, identificou-se também incremento na taxa de detecção
de Aids com proporções de 64,9% e 74,8%, respectivamente (BRASIL, 2020).
Soma-se isto à gravidez na adolescência que vem também ocasionando apreensão
no cenário global, sendo considerada um problema de Saúde Pública há mais de quatro décadas,
devido os impactos biológicos, psicológicos, sociais, educacionais e econômicas (UNICEF,
2013). Esta diminuiu nos últimos anos em todo o mundo, contudo, a redução se apresenta
desigual entre as zonas geográficas, situação que está relacionada à baixa condição
socioeconômica de países de baixa e média renda e as dificuldades de implementação e
manutenção de estratégias para o seu controle (MCCALL et al., 2015). Estima-se que das 7,3
milhões de meninas grávidas no mundo, 2 milhões correspondem aquelas com idade menor a
14 anos (UNICEF, 2017). Em relação as taxas de mortalidade, 70 mil óbitos de adolescentes
estão relacionados a problemas na gravidez ou no parto, configurando-se como a segunda causa
de morte (LIMA et al., 2015).
No Brasil, observa-se que uma em cada sete crianças são de mães menores de idade
e que a cada hora nascem 48 recém-nascidos de adolescentes. O número de recém-nascidos de
adolescente até 14 anos contabilizou 19.330 em 2019, o que significa que a cada 30 minutos,
uma menina de dez a 14 anos torna-se mãe (FEBRASGO, 2021). No entanto, desde o ano de
2000, quando a taxa de fecundidade entre 15 a 19 anos era de 81/1.000 adolescentes, a gravidez
vem apresentando queda latente, atingindo taxa de 62/1.000 em 2015. Dados de 2018 apontam
taxa de 54/1.000, reduzindo para 48/1.000 em 2019 (MONTEIRO et al., 2019). Em relação ao
parto, constata-se que no ano de 2018 a participação das adolescentes entre dez e 19 anos
representou 15,5% do total de partos, equivalente a 456.128 nascimentos. Em 2019, observa-se
redução para 14,7% do total de partos, igual a 419.252 recém-nascidos. Isto, portanto,
representando entre 2000 e 2019 uma redução de 37,2% no país (BRASIL, 2020).
No entanto, estas taxas de gravidez e parto são consideradas ainda elevadas entre
as adolescentes no país e são resultados das atuais condições sociais e de saúde que repercutem,
substancialmente, nos aspectos gerais de vida deste grupo populacional. Por viverem em um
país de grande extensão continental, destaca-se que as desigualdades se acentuam em desfavor
das meninas e mulheres que habitam nas regiões de difícil acesso, em que as políticas públicas
não vêm sendo implementadas de forma eficiente, com consequente vulnerabilidade a qualquer
tipo de iniquidade (FEBRASGO, 2021). Deste modo, as gestações inclusive as sucessivas
36
parecem decorrer de inúmeros fatores que fazem parte do contexto de vida destas jovens, como,
por exemplo, baixas condições socioeconômicas, início precoce da atividade sexual, baixa
adesão aos métodos contraceptivos, viver em união estável ou ser casada e abandono dos
estudos (ALMEIDA et al., 2016).
Em adição, ao considerar a adolescência como um momento com profundas
mudanças na vida dos indivíduos, as diferenças nas dimensões físicas e psicológicas implicam
que os adolescentes se tornem também mais vulneráveis ao consumo de bebidas alcóolicas e,
em alguns casos ao abuso de substâncias psicotrópicas (PRATTA; SANTOS, 2006). O contato
com algum tipo de substância, lícita ou ilícita, decorre basilarmente da influência dos amigos
que usam e da busca de aceitação em um determinado grupo social (NASCIMENTO;
AVALLONE, 2013).
Apesar das legislações brasileiras, entre elas o ECA, proibirem a venda de bebidas
alcoólicas para menores de 18 anos de idade (SCHENKER; MINAYO, 2005), o consumo pelos
adolescentes no país é preocupante, sendo fortemente induzido pelas estratégias publicitárias
(FARIA et al., 2011). A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), edição 2013, evidencia que a
prevalência de consumo abusivo de álcool, nos últimos 30 dias, em jovens é de 13,7% (IBGE,
2013). O consumo desta substância podendo produzir um efeito multiplicador, com aumento
da probabilidade do uso de outras drogas, a exemplo, das ilícitas que apresentou percentual de
16,6% entre adolescentes de 16 a 17 anos, conforme apresenta a Pesquisa Nacional de Saúde
Escolar (PeNSE), edição 2015 (IBGE, 2015). O consumo gerando ainda problemas tanto no
âmbito social como de saúde, entre os quais, destacam-se os acidentes e mortes no trânsito,
homicídios, quedas, queimaduras, afogamento e suicídio (OPAS, 2005).
Além disso, o envolvimento dos adolescentes em situações conflituosas com os
grupos sociais do seu cotidiano, na maioria das vezes, se manifesta em torno da perpetração do
fenômeno da violência (PEREIRA et al., 2020). Globalmente, estima-se que uma em cada três
adolescentes de 15 a 19 anos sofreu algum tipo de violência, por exemplo, emocional, física,
psicológica e/ou sexual por conhecidos (OMS, 2017). A violência interpessoal se constitui
como a terceira principal causa de morte entre os adolescentes, embora a sua projetação se
modifique de acordo com as zonas geográficas. Por exemplo, em países de baixa ou média
renda das regiões das Américas, essa causa representa quase um terço de todas as mortes entre
adolescentes do sexo masculino (OMS, 2018). Este tipo de violência nessa fase está relacionado
a comportamentos sexuais de risco, baixo desempenho escolar e uso de bebida alcoólica e
outras drogas (MALTA et al., 2017).
37
Essas concepções não foram implantas imediatamente por pressão da cooperativa médica,
todavia, fundamentaram iniciativas posteriores de implementação dos sistemas de saúde. Deste
modo, os centros de saúde foram somente difundidos em meados de 1960, quando as unidades
foram construídas em sua maioria na Inglaterra. Nos países em desenvolvimento, elaborou-se
um modelo diferente de centro de saúde com a oferta de apenas serviços preventivos. Nos países
socialistas, os centros de saúde apresentaram-se como modelo de atenção ambulatorial
predominante e representaram o modelo de atenção ambulatorial mais inclusivo e integral,
articulando serviços clínicos e preventivos de acesso universal e gratuito (FAUSTO; MATTA,
2007).
Contudo, o modelo de atenção à saúde da população de modo geral ainda se
apresentava naquela época pouco efetivo para o acesso do sistema de saúde e com enfoque
muito curativista, individualista e hospitalocêntrico, tradicionalmente instituído nos sistemas
de saúde nacionais. Frente ao exposto, durante a década de 1960 a OMS realizou uma crítica
aprofundada sobre à abordagem vertical dos programas no combate as doenças transmissíveis,
desenvolvidos com intervenções seletivas e descontextualizadas em diversos países e, ao final
deste mesmo período o modelo biomédico de atenção à saúde também recebeu críticas de
diversas origens, destacando os determinantes sociais mais gerais dos processos saúde-doença
e a exigência de nova abordagem em atenção (GIOVANELLA; MEDONÇA, 2009).
Na década de 1970, com o movimento de libertação das colônias africanas se
iniciaram movimentos para democratização dos países da América Latina. Em tais processos
surgiu a defesa pela modernização com ênfase nos valores locais, privilegiando a construção de
um modelo de atenção distinto dos Estados Unidos da América (EUA). Desse modo, criticava-
se a especialização progressiva e o elitismo médico, propondo a articulação de práticas
populares e a democratização do conhecimento (GIOVANELLA; MENDONÇA, 2009).
Ademais, o relatório do Ministério da Saúde canadense que discutia uma nova perspectiva para
saúde mostrava também a importância do objetivo de prevenção e da promoção para a
população, além da organização de um sistema adequado assumido como responsabilidade
pública. Este demonstrava a relação da saúde com as condições de vida, em particular o
saneamento ambiental e a nutrição, ao analisar retrospectivamente a evolução da situação de
saúde na Inglaterra e no País de Gales (MCKEOWN, 1976).
Nesse contexto, ao final da década de 1970 esta situação propiciou então a
organização de uma conferência de Atenção Primária. A realização da Conferência
Internacional sobre Atenção Primária à Saúde foi proposta pela China a OMS para difundir
novos métodos alternativos na área da saúde, contudo, esta não participou em virtude das
39
disputas políticas acerca do modelo de atenção do bloco socialista. E, ao final após uma
oposição inicial a temática o evento ocorreu na União Soviética com o apoio financeiro
substancial, em virtude do avanço do movimento em defesa da APS em todo o mundo. A
conferência realizada em Alma-Ata, em 1978, foi então um importante evento que contou com
representações de vários governos e na ocasião o documento Declaração de Alma-Ata foi
aprovado tendo sido ratificado em 1979 pela Assembleia Geral da OMS (CUETO, 2004).
A declaração entre outras afirmações acerca da atenção à saúde expressa a
concepção da atenção primária de forma abrangente, uma vez que a considera como eixo central
do sistema de saúde e aspecto do processo mais geral de desenvolvimento social e econômico
da comunidade que, de certo modo, envolve a cooperação com outros setores de modo a
possibilitar o desenvolvimento social e enfrentar os determinantes de saúde mais amplos de
caráter social e econômico. Esta ressalta também a preocupação com os custos crescentes da
assistência em decorrência do uso de novas tecnologias que permanecem, na maioria das vezes,
sem a avaliação adequada de seus reais benefícios para a saúde da população (GIOVANELLA;
MEDONÇA, 2009).
Neste referido documento, a APS é concebida a partir de uma assistência essencial
com tecnologias apropriadas, cientificamente comprovados e socialmente aceitáveis, em que o
acesso deve ser garantido a todo usuário, família e comunidade mediante a sua plena
participação. Assim sendo, pressupõe o envolvimento comunitário e a democratização do
conhecimento, incluindo práticas complementares e agentes de saúde qualificados para atuar
em tarefas específicas contrapondo as práticas biomédicas centrais. Nessa acepção, representa
também o primeiro nível de contato com o sistema de saúde e a oferta de atenção mais próxima
possível do espaço onde as pessoas residem. No entanto, a saúde não restringindo apenas a este
nível ao considerar a integração de um processo permanente de assistência, que inclui entre
outras intervenções a prevenção, promoção, cura e reabilitação (DECLARAÇÃO DE ALMA-
ATA, 1978).
Após sua aprovação com consequente divulgação, a Declaração de Alma-Ata
passou a ser censurada por várias instituições de âmbito internacional com o argumento de ser
pouco propositiva e muito abrangente. Deste modo, em contexto global adverso de maior
presença de govenadores conservadores e baixo crescimento econômico, houve uma sequência
nos anos posteriores de um embate entre a concepção de atenção primária abrangente e integral
e a concepção restrita em que se sobressaiu esta última supracitada. E, após um ano da
aprovação da Alma-Ata, a Fundação Rockefeller realizou uma reunião na Itália com a
colaboração de diferentes instituições internacionais para discussão de uma nova proposta
40
referente a uma APS seletiva, como estratégia para o controle de doenças em países em
desenvolvimento (CUETO, 2004).
Este novo modelo de atenção primária buscava desenvolver um conjunto de
intervenções de baixo custo para combater doenças em países pobres. A proposta inicial como
estratégia interina complementar às proposições de Alma-Ata, difundiu-se a partir da
destinação de controlar as principais doenças nos países em desenvolvimento. Em anos
posteriores, quatro intervenções passaram a ser inseridas: acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento, reidratação oral, aleitamento materno e imunização. E, a esse conjunto
restrito foram também incorporados alguns programas: suplementação alimentar, alfabetização
feminina e planejamento familiar. No entanto, embora a efetividade destas intervenções fosse
reconhecida, a concepção foi criticada por seu tecnicismo custo-efetividade e por desconsiderar
melhorias socioeconômicas e a relevância de assegurar as necessidades básicas
(GIOVANELLA; MEDONÇA, 2009).
Assim sendo, durante a década de 80 a configuração de Atenção Primária como
modelo restrito de serviços básicos à saúde de modo selecionado, direcionados à população em
situação de maior pobreza, passou a ser de modo hegemônico para as diferentes instituições
internacionais (GIOVANELLA; MEDONÇA, 2009). Nesse sentido, pode-se afirmar que a
nível nacional o emprego de vários termos, entre os quais, destaca-se a Atenção Básica para
designar a APS no SUS buscou diferenciar nas políticas propostas pelo movimento sanitário
(GIOVANELLA; MEDONÇA, 2009), distanciando dos programas de APS seletivos e
focalizando naqueles amplamente naqueles divulgados pelas instituições de âmbito
internacional (PAIM, 2012).
Deste modo, no Brasil desde os anos 1920 até a atualidade houveram várias
tentativas de modo a organizar a APS. Nesse período, os modelos foram implantados em regiões
do país em função de concepções e interesses bastante distintos. Contudo, o marco mais
relevante da APS ocorreu por meio da implantação do Programa Saúde da Família (PSF),
influenciado por questões internas e externas de cuidados primários (MENDES, 2012). Este foi
criado no ano de 1994 após o estabelecimento do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) e apresentado no primeiro documento ministerial como um programa, incluindo os
princípios do SUS e despontando um novo paradigma na atenção à saúde, com diretrizes que
elaboravam uma nova maneira de produzir as intervenções e serviços de saúde, na perspectiva
de mudanças e conversões do modelo assistencial biomédico e mecanicista (SOUZA et al.,
2008).
41
uma rede de serviços (EDDY, 1992). Por exemplo, são indicadores de qualidade em saúde o
número de profissionais no serviço para prestação do cuidado, as condições de armazenamento
de medicamentos no espaço da farmácia, a existência de um sistema de referência e contra
referência em rede de serviço de saúde (PORTELA, 2000), entre outros aspectos que permitem
levantar informações acerca de determinados elementos do serviço de saúde para dar resposta
as condições existentes na provisão do cuidado.
O padrão se configura também em outro conceito de grande relevância no
desenvolvimento dos processos de avaliação em saúde. Esse conceito se refere a um valor
especificado para distinguir a qualidade das práticas ou de serviços de saúde, em aceitável ou
não, por meio de um certo indicador aplicado (DONABEDIAN, 1980). No entanto, neste
conceito se destacam dois pontos importantes que precisam ser levados em consideração por
estarem permeados na própria lógica da avaliação de qualidade em saúde (PORTELA, 2000).
O primeiro refere-se à noção de que é possível inferir conclusões acerca da
qualidade de serviços e tecnologias em saúde, com base em um grupo de observações e nas
ocorrências individuais de eventos que podem representar um sinal de alerta, mas que não
devem ser vistas necessariamente como reflexos de má qualidade. O conceito de evento
sentinela, trazido da epidemiologia, se refere a observar esses eventos como um alerta para a
possibilidade de uma deficiência na qualidade da atenção. O segundo, diz a respeito ao
estabelecimento de padrões para os indicadores da qualidade. Este campo tem merecido atenção
de pesquisadores e profissionais preocupados, especialmente em identificar aspectos da
assistência que se caracterizem como boas práticas. Logo, deve-se ter como parâmetro as
evidências científicas, referências nacionais e internacionais e resultados em realidade
semelhante (PORTELA, 2000).
Deste modo, se o indicador é considerado como critério de avaliação em saúde e o
padrão como valor que representa a qualidade do indicador, então os significados de ambos
dependem das características do problema e da população nas práticas ou nos serviços sob
investigação. Nessa linha de raciocínio, ao final se chega ao conceito não menos de importante
de referente no desenvolvimento de uma avaliação em saúde. A inclusão deste em um processo
de avaliação garante a elaboração de categorias homogêneas e reaplicáveis, com base nas quais
tecnologias ou serviços podem ser comparados em momentos e espaços distintos
(DONABEDINA, 1980). Essas costumam ser estabelecidas segundo características
diagnósticas, podendo também levar em consideração as questões demográficas, geográficas,
culturais, entre outras da população. O uso reduz a possibilidade de incertezas na consideração
de indicadores e padrões de qualidade da assistência (PORTELA, 2000).
44
precisa da qualidade, seria preciso que as demais causas envolvidas na obtenção do mesmo
resultado fossem eliminadas (DONABEDIAN, 1994). Deste modo, a atribuição de aspectos
específicos mensurados na repercussão de cada uma dessas mudanças nos desfechos da
assistência permanece como tarefa não resolvida, mas não se pode negar a inter-relação entre
essas questões ainda que complexas de mensuração (MALIK; SCHIESARI, 1998).
Portanto, na avaliação de práticas e serviços se pressupõem que uma estrutura
adequada propicia um bom processo de assistência e este, por sua vez, implica em mudanças
benéficas ao nível de saúde da população. Entretanto, esta suposição não deve ignorar a
inexistência de um vínculo obrigatório e causal entre os três componentes. Em especial,
interessam os resultados produzidos sobre a saúde da população, mas é de relevância atribuir
esses desfechos ao processo da assistência. O conhecimento do processo de atenção ganha
notoriedade sempre que o estabelecimento de elos causais entre seus elementos e os resultados,
favoráveis ou desfavoráveis, seja possível com base na evidência científica. A avaliação da
estrutura é que menos informação oferece sobre a atenção à saúde, mas pode ser relevante para
complementar avaliações dos processos e dos resultados ou em alguns casos ser a única possível
(PORTELA, 2000).
Além disso, observa-se que a existência de relações causais bem estabelecidas entre
a estrutura do serviço de saúde, o processo de atenção à saúde e os resultados sobre a saúde da
população fortalece a abordagem da avaliação da qualidade em saúde que, por sua vez,
constitui-se como um campo de grande e forte interesse de pesquisadores na área da avaliação
em saúde (PORTELA, 2000). Esta, na literatura científica, ainda apresenta uma definição
complexa, múltipla e dimensional, no entanto, essas diferentes facetas podem ser sintetizadas
por meio de alguns pontos em comuns (UCHIMURA; BOSI, 2002). No campo da saúde, espaço
de reflexão e de prática, submerge uma rede objetiva e subjetiva por meio da qual se vislumbram
potencialidades, lacunas e barreiras ao cuidado. Deste modo, a qualidade em saúde reflete a
forma como são compartilhadas as responsabilidades e o estado de preocupação com o direito
de acesso ao serviço, bem como a melhoria da saúde individual e coletiva da população
(GASTAL; ROESSLER, 2006).
Esta pode ainda ser pensada tanto de forma delimitada quanto de forma abrangente.
Em relação ao conceito delimitado, Donabedian (1980, 2003) em trabalho anterior atribuiu a
qualidade como o produto de dois fatores, sendo um voltado a tecnologia do cuidado, derivada
da ciência e o outro seria a aplicação dessa ciência e tecnologia na prática concreta, influenciada
sobremodo pelas relações interpessoais (DONABEDIAN, 1980, 2003). Esse mesmo autor
definiu ainda a qualidade como a relação entre benefícios, riscos e custos de uma intervenção
46
Tomando como base os temas anteriores ainda que apresentados de forma ampla,
destaca-se que para maior delimitação das informações existentes acerca do referido estudo,
elaborou-se ainda uma revisão de literatura com base no “estado da arte” da produção do
conhecimento científico nacional e internacional. Sabe-se que esta tem se tornado cada vez mais
presente nas pesquisas do cenário acadêmico, na medida que a Prática Baseada em Evidências
(PBE) ganha reconhecimento mundial como referência e a quantidade de fonte primária e o
acesso aumenta de forma acentuada.
47
Scopus adolescent AND “delivery of health care” AND “primary health care”
(adolescent OR adolescents OR adolescence OR youth OR teenagers) AND
(“delivery of health care” OR “health services” OR “community health
MEDLINE/PubMed,
services” OR “services, health” OR “delivery of healthcare” OR
Web of Science,
“healthcare deliveries” OR “health care”) AND (“primary health care”
CINAHL
51
Por meio dos textos analisados nesta revisão, estabeleceu-se ainda os pontos
convergentes e divergentes e situou-se uma relação entre a questão da pesquisa e os achados
obtidos. Buscou também levantar as lacunas do conhecimento existente e sugerir pautas para
futuros estudos científicos.
Com base nas informações extraídas dos estudos selecionados, efetuou uma síntese
de elementos relevantes e enriquecedores sobre a referida temática e inseriu as informações em
quadros pela capacidade de facilitar a compreensão e interpretação dos leitores.
Sendo assim, por meio da utilização das estratégias de buscas nos bancos de dados,
encontrou-se 33.834 produções científicas, sendo 2.996 na LILACS, 260 no SciELO, 6.294 na
Scopus, 15.959 na MEDLINE/PubMed, 1.016 na Web of Science e 7.309 na CINAHL e
removeu-se 103 pela duplicidade na íntegra, restando 33.834 trabalhos. Com a aplicação dos
critérios de inclusão e exclusão e análise dos títulos, resumos e palavras-chave, elegeu-se 176
artigos e, destes após uma leitura completa, selecionou-se 64 estudos. Portanto, destaca-se que
ao total foram incluídos no material uma amostra final de 64 artigos (Figura 2).
53
Figura 2: Fluxograma da seleção dos estudos incluídos na revisão integrativa de acordo com
as buscas nos bancos de dados. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2021.
Artigos analisados
(n=33.731)
Artigos completos
analisados (n=176)
Artigos incluídos na
revisão (n=64)
al., 2018; GOLDENBERG et al., 2019; AYEHU; KASSAW; HAILU, 2016), o que leva a
utilização de outros serviços de saúde da rede de maior complexidade (CLARK et al., 2018).
3.4.6.2 Estrutura dos Serviços de Atenção Primária à Saúde para cuidado aos adolescentes
3.4.6.4 Assistência prestada aos adolescentes pelos Serviços de Atenção Primária à Saúde
2020) com referência aos casos de violência (LEAL et al., 2016; MAPELLI et al., 2020;
LOURENÇO; FONSECA, 2020), visitas domiciliares que não contemplam a singularidade
desses sujeitos (RAMALHO et al., 2019; ANTUNES; PADOIN; PAULA, 2019;
FERNANDES et al., 2019) e deficiência de ações para a promoção da saúde (LEITE et al.,
2019; RAIZEL et al., 2016; KOLA et al., 2020; ROMERO et al., 2017).
3.4.6.5 Colaboração entre Atenção Primária e demais setores no cuidado aos adolescentes
3.4.6.6 Repercussões na saúde dos adolescentes atendidos pelos Serviços de Atenção Primária
do atendimento primário de cuidados durante este período está relacionado com melhores
resultados de saúde inclusive na vida adulta (TOULANY et al., 2019)
Ao contrário daqueles adolescentes que não obtiveram experiências satisfatórias no
atendimento do profissional de saúde, apresentando mais propensão de relatar condições de
saúde precárias de saúde (YASSAEE et al., 2017; TOOMEY et al., 2016). Deste modo, sem
cuidados primários tiveram mais altas taxas de doenças e admissões de internações
(TOULANY et al., 2019).
(ARAÚJO et al., 2016), recursos financeiros limitados para orçamento das atividades (DECKE
et al., 2020; CLARK et al., 2018; KOLA et al., 2020).
No que concerne as sugestões, a realização de treinamento para que os profissionais
possam desenvolver competência profissionais (HALLUM-MONTES et al., 2016; CORDOVA
et al., 2018; SCHRAEDER et al., 2020; SNYDER; BURAK; PETROVA, 2016), atualização
de informações sobre a situação dos adolescentes da comunidade (HALLUM-MONTES et al.,
2016; SCHRAEDER et al., 2020), garantir a integralidade do cuidado no momento do
atendimento (LEITE et al., 2019; JONES et al., 2017; TEIXEIRA; COUTO; DELGADO, 2017;
SCHRAEDER et al., 2020; YASSAEE et al., 2017), inclusão de atividades divertidas e
especificas para o grupo por meio de programa (AUFA et al., 2020; BOMFIM et al., 2020;
YASSAEE et al., 2017), adaptar a unidade forma que acolha os pacientes para que se sinta
confortável durante o atendimento (SNYDER; BURAK; PETROVA, 2016;
DEJONCKHEERE et al., 2019)
60
4 METODOLOGIA
Por meio deste tópico se apresenta os métodos e as técnicas que foram empregados
para o desenvolvimento do estudo, considerados importantes para a obtenção das informações
e construção dos resultados, após um levantamento realizado acerca da metodologia da pesquisa
na literatura científica disponível para desenho atinente a proposta deste estudo.
Além disso, as recomendações atendidas do guia Consolidated Criteria for
Reporting Qualitative Research (COREQ) traduzido e validado para o português do Brasil, que
dispõe de critérios para incremento da qualidade da publicação de trabalhos científicos
(SOUZA et al., 2021), conforme pode-se observar no Anexo A.
O estudo foi realizado no município de Fortaleza que está localizado no litoral norte
do estado do Ceará, parte da região do nordeste do Brasil, com área territorial de 313,8 km².
Limita-se ao norte com o Oceano Atlântico, a leste com o município de Aquiraz, ao sul com o
município de Pacatuba e a oeste com os municípios de Caucaia e Maracanaú, conforme se
apresenta a seguir na Figura 03:
Figura 04: Mapa da distribuição das regiões admistrativas de Fortaleza localizada no estado
do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2021.
63
Esta unidade é composta por dois patamares, sendo o primeiro piso equivalente ao
rés-do-chão e o segundo piso ao primeiro andar. No andar térreo na porção da frente do prédio,
dispõe-se de um espaço externo seguido do hall de entrada que dá acesso ao lado oeste as
escadas para o primeiro andar e ao lado leste ao espaço de atendimento do Núcleo de
Atendimento ao Cliente (NAC), seguido de uma sala de espera que dá acesso para uma sala de
imunização, uma sala de laboratório, duas salas de consultório, dois banheiros individuais para
cada sexo, uma sala de esterilização, uma sala de expurgo, uma sala de atendimento
odontológico.
Neste mesmo andar ao lado norte dispõem-se de um espaço de circulação que inclui
uma sala de espera com acesso a duas salas de consultório para atendimento, uma sala para
procedimento, uma sala de farmácia, uma sala da farmácia clínica, uma sala para depósito de
material de limpeza, um banheiro para funcionários e ao final na porção final ao leste um espaço
de circulação para dispensação de medicamento com acesso a espaço sem cobertura. Já no
primeiro andar com acesso a espaço em forma de corredor, compõem-se três consultórios para
atendimento, uma sala de coordenação, uma sala da copa e uma sala de situação e reunião.
Além disso, a unidade é composta por quatro equipes de Saúde da Família
completas para cada micro área, isto é, em cada equipe de adscrição há um (a) médico (a), uma
enfermeira, um (a) técnico (a) de enfermagem, de três a sete agentes comunitários de saúde, um
(a) cirurgiã (o) dentista e uma técnica ou auxiliar em saúde bucal e uma equipe incompleta, ou
seja, apenas um médico, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem e quatro agentes
comunitários. Em caráter complementar sem vinculação as equipes de saúde, a unidade ainda
apresenta dois profissionais farmacêuticos e uma educadora física. Estes profissionais
apresentam carga horária que varia entre 32 a 40 horas semanais e com diferentes horários de
entrada e saída, sendo todos vinculados a Secretaria Municipal de Saúde por meio de
contratações efetivas ou temporárias
A unidade apresenta funcionamento com horário estendido, iniciando o expediente
a partir das 07:00h da manhã e encerrando o atendimento as 19:00h da noite. Esta oferece
atendimento por meio da demanda espontânea ou programada e atendimento específico de
rotina. No caso da demanda espontânea, ao chegar na unidade de saúde o usuário é acolhido
pelo NAC para ser direcionado ao seu atendimento, passando pela sala de procedimentos para
aferição dos sinais vitais e posteriormente segue para atendimento do profissional enfermeiro e
quando necessário é encaminhado ao profissional médico.
Na demanda programada, o paciente comparece na unidade de saúde após
agendamento efetuado na própria unidade, pelo agente de saúde ou na consulta de retorno,
65
passando inicialmente pela sala de procedimentos para aferição dos sinais vitais para posterior
atendimento com o profissional de saúde. No atendimento específico de rotina, o paciente se
direciona a sala de coleta de exame, espaço da farmácia, sala de procedimentos e sala de vacina.
No caso da demanda espontânea e programada, a unidade direciona os profissionais de saúde
de forma diferente para cada tipo de atendimento, isto é, uma vez na semana o enfermeiro,
técnico de enfermagem e agentes de saúde de cada equipe estão voltados para a linha de frente
do acolhimento, atendendo os usuários que chegam por demanda espontânea de todas as
áreas/equipes da unidade e o médico da equipe fica na retaguarda deste acolhimento também.
Os demais profissionais das equipes estão direcionados apenas a atender os pacientes de sua
área adscrita com agendamento.
investigada. Excluiu-se aqueles com alguma deficiência mental e/ou problema cognitivo,
desorientados ao tempo e espaço e dificuldade em responder as perguntas do referido estudo.
Quanto aos critérios de inclusão dos familiares, utilizou-se: faixa etária igual ou
superior aos 18 anos de idade, membro da família com parentesco de vínculo sanguíneo
(consanguíneo) ou afetivo sem laços legais e que conviva há pelo menos 12 meses na mesma
residência, período este considerado necessário para reconhecer a relação do adolescente com
a unidade e formulação de opinião sobre a temática investigada. Exclui-se aqueles que
apresentavam alguma deficiência mental e/ou problema cognitivo, desorientados ao tempo e
espaço e dificuldade em responder as perguntas do referido estudo.
Em relação aos critérios de inclusão dos profissionais, adotou-se: integrantes de
equipe de Saúde da Família ou equipe de Atenção Primária, equipe de Saúde Bucal e equipe
multiprofissional que atuavam de forma integrada com as equipes, vínculo empregatício ativo
no âmbito da unidade de saúde, desenvolvimento de atividades profissionais há pelo menos 12
meses, considerando essencial este período para vivência na unidade de saúde e formulação de
opinião sobre a temática investigada e prestação cuidado aos adolescentes usuários da área
adscrita a unidade de saúde. Excluiu-se aqueles que durante a coleta de dados estiveram no
período de férias, atestado de saúde ou afastamento do trabalho.
Os participantes foram selecionados de forma não intencional, considerando a
diversidade e o acesso durante o desenvolvimento da pesquisa. O número de participantes se
deu por meio da saturação teórica das respostas sobre a temática investigada. Esta é
operacionalmente definida como a suspensão da inclusão de novos participantes quando as
informações obtidas passam a apresentar, na análise do pesquisador, uma certa repetição ou
redundância, não sendo considerado importante continuar com as entrevistas (DENZIN;
LINCOLN, 1994). Acredita-se que as informações fornecidas pouco acrescentariam ao material
obtido, não contribuindo para o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentada nos dados
que estão sendo coletados (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008).
Nesta primeira etapa, entrou-se em contato prévio com o coordenador da UAPS por
via telefônica e/ou e-mail para agendar um encontro pessoal no espaço do serviço de saúde.
Este momento serviu para apresentar os aspectos metodológicos e os benefícios da pesquisa,
tendo em vista a participação dos adolescentes e de seus familiares da área adscrita e dos
profissionais da unidade de saúde do cenário. Logo, a apresentação da proposta do estudo aos
possíveis colaboradores foi uma estratégia importante para o estabelecimento de relações de
confiança e de parceria.
Após o aceite, foi ainda solicitado a liberação de breves visitas técnicas para
reconhecimento da estrutura física, organizacional e cognitiva do serviço de saúde. Este
momento oportunizou uma aproximação inicial com a realidade do cenário do referido estudo,
a partir da presença em dias e horários da semana previamente agendados com o coordenador.
Acreditava-se que vários obstáculos poderiam dificultar ou até mesmo inviabilizar essa etapa
da pesquisa e, frente ao exposto buscou em primeiro lugar uma aproximação com a área
selecionada para o estudo.
Foi efetuado também um reconhecimento prévio e contato inicial com os possíveis
participantes do cenário a serem selecionados para o estudo. Sendo assim, os adolescentes
foram identificados por meio da sugestão dos agentes comunitários das equipes de saúde e os
familiares por meio da indicação dos próprios adolescentes participantes. Já os profissionais
68
que os objetivos sejam alcançados. Esta combina perguntas abertas e fechadas, oportunizando
que o informante tenha a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto (MINAYO, 2002).
Além disso, apresenta como vantagem a elasticidade quanto à duração da coleta de
informações, permitindo uma cobertura mais profunda sobre determinados assuntos. Esta
possibilita uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e entrevistado, o que permite
ao primeiro abordar assuntos mais complexos e delicados, ou seja, quanto menos estruturada a
entrevista maior será o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas partes (BONI;
QUARESMA, 2005).
Para tanto, no momento da entrevista um conjunto de questões foram seguidas
previamente definidas nos instrumentos guias elaborados num contexto semelhante ao de uma
conversa informal. Ficou-se atento para dirigir, no momento que achava oportuno, a discussão
para o assunto que interessava, fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não
ficavam claras ou ajudando a recompor o contexto da entrevista, caso a participante tivesse
perdido o sentido do tema ou dificuldade de expressar este.
E, ao final ainda realizou-se uma observação sistemática para captar informações
adicionais que fossem complementares às entrevistas realizadas. Esta examina a realidade em
condições controladas para se responder questões previamente definidas, portanto, requerendo
o planejamento e necessitando de operações específicas para o seu desenvolvimento. Com esta
técnica, sabe-se o que procura e usa propósitos preestabelecidos, porém flexíveis para o
levantamento de dados do fenômeno que se observa (LAKATOS; MARCONI, 2010).
Assim sendo, por meio de um roteiro elaborado foi realizada na referida unidade de
saúde esta observação de forma criteriosa e ponderada acerca dos elementos previamente
definidos, buscando garantir o distanciamento com o fenômeno a ser observado e a adoção de
procedimentos rigorosos de registros das informações.
Continua
Embora neste estudo a quantidade de adolescentes do mesmo sexo tenha sido igual
de modo não proposital, a qual se diferencia em outros ao mostrarem que a maioria dos
participantes são do sexo feminino (MARTINS et al., 2019), outras características também vão
de encontro com as levantadas por meio dos participantes em pesquisas nacionais. Deste modo,
evidenciou-se a presença de adolescentes com idades entre 15 e 19 anos ao apresentarem certo
grau de maturidade, com predominância da pele parda que é parte da existência de uma
miscigenação no país, com escolaridade entre ensino fundamental e médio incompleto em
consonância com faixa etária do ensino regular (MARTINS et al., 2019).
Além disso, em sua maioria se autodeclarando solteiros como reflexo de que as
relações afetivas entre pares ainda não foram estabelecidas, adeptos ao catolicismo que se
apresenta como religião bastante frequente no território brasileiro, voltados a realização das
atividades escolares como parte de um direito garantido pelo Estado e com renda mensal menor
que um salário mínimo proveniente dos membros da família (MARTINS et al., 2019). Isto,
portanto, em parte representa que a realidade dos adolescentes no interior do estado do Ceará é
semelhante com a de outros jovens em diferentes cenários do país.
Os familiares dos adolescentes que participaram do estudo em sua maioria foram
os responsáveis legais com destaque para as mães. Estes tinham idade entre 32 a 67 anos, grande
parte eram casados, pertencentes a diferentes religiões com apenas um não adepto, a metade se
autodeclarou de cor parda e com ocupação direcionada as atividades domésticas e a maior parte
apresentou menos de um salário mínimo, como se observa no Quadro 5 abaixo:
77
F01 Mãe 54 Casada Evangélica Ensino Médio Negra Dona de casa Menos
anos Completo de 01
salário
F06 Mãe 33 Casada Católica Ensino médio Parda Dona de casa Menos
anos completo de 01
salário
diferentes formações que integram a equipe mínima e multiprofissional da APS, possuindo grau
de escolaridade desde o ensino médio até ensino superior completo com especialização, tempo
de formação variando de dois a mais de 11 anos e de serviço mais de cinco anos em mais da
metade, como pode se observar no Quadro 6 a seguir:
Participante Sexo Idade Estado Raça/ Renda* Categoria Grau de Tempo de Tempo
Escolaridade Formação de
Civil Etnia Serviço
P06 Feminino 49 Casada Branca Mais de Cirurgiã- Especialização > 10 anos 15 anos
anos 05 Dentista
salários
P09 Feminino 55 Solteira Branca Mais de Farmacêutica Especialização >10 anos 05 anos
anos 05
salários
P10 Masculino 49 Casado Pardo Mais de Cirurgião- Especialização >10 anos 15 anos
anos 05 Dentista
salários
79
Continua
P11 Feminino 33 Casada Parda De 01 a Enfermeira Ensino De 06 a 04 anos
anos 02 Superior 10 anos
salários
P12 Masculino 48 Casado Branco Mais de Médico Especialização >10 anos 03 anos
anos 05 e meio
salários
(...) os adolescentes não são de vir ao posto, eles não têm uma política,
algum programa para vir, que tenha alguma coisa no posto, assim (...).
(P01)
(...) porque eu não estou sentindo muitas coisas, eu mal vou no posto,
porque eu não sinto muitas coisas. (A10)
(...) porque se ele está bem, ele não vai precisar vir a posto, ele vai
estar sempre com a saúde boa, ele não precisa vir a posto, se ele não
81
tem um cuidado melhor em casa, ele sempre vai precisar está vindo no
posto. Eu acho que o posto de saúde está para receber as pessoas que
estão necessitando. (P05)
Assim sendo, percebe-se que devido a sua própria condição de pessoa ainda em
desenvolvimento com transição do período de criança para a vida adulta, o adolescente traz em
si uma condição intrínseca de vulnerabilidade, por apresentar ainda a insuficiência de atributos
necessários à proteção de seus interesses. Sabe-se que neste período ocorrem mudanças de
ordem física que geram transformações emocionais e em decorrência disto ele vivencia
problemas internos. Além disso, ocorrem transformações cognitivas na transformação de
maniqueísta, mágico, animista, artificialista e finalista para relativista, lógico, racional, abstrato.
Logo, nesse emaranhado de transformações vivenciam sentimentos conflituosos e paradoxais
como dúvidas e certezas se alternando que, por muitas vezes, implicam em modos de vida sem
planejamento e irrefletidamente (PESSALACIA; MENEZES; MASSUIA; 2010).
Por outro lado, a baixa procura ocorre também pela deficiência na oferta de
atendimento à população no serviço de saúde primário, conforme apresenta o adolescente
participante do estudo:
82
Sabe-se que o não atendimento aos usuários que procuram a APS vai contra os
princípios doutrinários e organizativos do SUS, ao pregarem sobretudo pelo acolhimento no
nível primário como importante estratégia de reorganização do modelo assistencial (BRASIL,
2017). Além disso, a existência de situações como estas no âmbito da APS, por um lado, gera
grande insatisfação do paciente e, por outro, de forma negativa no retorno dele ao serviço. Logo,
há necessidade de melhorias na gestão dos serviços e investimentos no preparo dos profissionais
e no acesso às consultas (GOMIDE et al., 2018).
Isto, portanto, implica que o adolescente e seu familiar como identificado nos
depoimentos abaixo busque de outras alternativas. Por exemplo, a adesão de planos de para
assegurar atendimento à saúde e suprimir esta carência de serviço:
(...) a minha mãe fez dois planos e a gente vai para um dos dois planos
da gente. (A01)
(...) porque eu vou dizer, eu mal vou lá [unidade de saúde investigada]
e quanto ela adolescente eu mal levo ela para lá. Assim, quanto ela
adolescente é muito difícil, qualquer coisa que ela tem eu levo no meu
plano, porque eu pago para todos aqui, eu levo ela para lá [serviço do
plano de saúde], mas no posto geralmente eu nem vou. Por isso que eu
prefiro pagar os 100 reais para extrair o dente dela do que perder meu
tempo indo em posto. (F01)
Os planos de saúde como apontado acima existem no Brasil desde de 1940 como
forma de garantir ao indivíduo acesso ao serviço de saúde privado (BAHIA, 2008) e em 2000
foi criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) pela Lei Federal nº 9.961
(BRASIL, 2000) com o objetivo de regular o setor, elaborando normas e fiscalizando as
operadoras (SOUSA JÚNIOR et al., 2021). Deste modo, conforme estudo realizado a partir da
Pesquisa Nacional de Saúde, observa-se uma cobertura de plano de saúde médico e
odontológico entre a população brasileira, com estimativa de 28,5% em 2019 que representa
um total de 59,7 milhões de segurados, levemente superior a estimativa de 55,7 milhões de
pessoas em 2013 (SOUSA JÚNIOR et al., 2021).
O estudo desenvolvido por Martins et al., (2019) evidenciou também entre 15,1%
dos adolescentes a adesão de algum plano privado médico ou odontológico. Outro em Pelotas
83
que o serviço de saúde mais utilizado pelos adolescentes é o consultório financiado por
planos/convênios de saúde ou pagamento privado por desembolso direto (NUNES et al., 2015).
Entre este grupo a cobertura nos planos de saúde é menor, o que pode ser explicado por serem
considerados como populações mais saudáveis e com isto as famílias retardariam a adesão
deles. Além disto, pela legislação em vigor foram estabelecidas faixas etárias e reajustes dos
planos e custos (MALTA et al., 2017).
No entanto, o grande embate sobre esta situação no país envolvendo o serviço
público e privado é que existe uma sobreposição de assistência à saúde a população brasileira,
pois como no caso acima evidenciado o setor privado oferta serviços que também são
disponibilizados de forma gratuita no setor público. Sendo assim, o mercado de planos e seguros
privados atuando de forma suplementar e gerando uma cobertura duplicada, em que seus
segurados podem acessar tanto os serviços públicos quanto os privados (BONFADA, 2015).
Outra estratégia também revelada pelos familiares é o acesso as outras unidades de
saúde no município em busca de garantir o atendimento para os adolescentes:
(...) uma vez ela [adolescente] apareceu um tumor muito grande aqui
nisso daqui dela [pescoço], isso foi um sofrimento, um sofrimento, eu
não levei para o posto porque eu sei que não ia ter atendimento, a
minha cunhada que a irmã do meu esposo que trabalha no posto da
Fazenda [nome fictício], foi que ela fez, ela tirou a foto e ajeitou para
imediatamente atender. Tia venha segunda feira tal hora. A gente
procura outro posto para outra coisa para nos cuidar porque lá
[unidade saúde investigada] não tem. Eu sei que a minha cunhada
pegou, venha, minha filha ela pegou um uber mais a minha irmã, foi
quando chegou lá [outra unidade de saúde] um médico bem novinho,
bem novinho atendeu, ela passou, (...) passou o medicamento, remédio
e ela tomou, ela tomou os remédios tudinho adequado na hora certa,
ficou boa, botou tudo para fora (...). (F01)
Precisava de um atendimento melhor, muitas vezes eu saio daqui com
ele [adolescente] levo lá para outro posto para outro serviço. (F04)
(...) porque assim, a gente já sabe que não tem, a gente já sabe que não
tem, então, a gente procura outros meios. Por exemplo, aqui a gente
procura outro meio, a gente procura outras especialidades, vai
procurar em outros cantos, mas não o posto para o adolescente. (F08)
Acredita-se que isso pode ser resultado de possíveis falhas no desenvolvimento das
ações voltadas a integração entre a equipe de saúde e população adscrita à unidade e o estímulo
as relações de vínculo e responsabilização entre ambos, como forma de garantir a continuidade
84
Embora a UAPS não seja a primeira alternativa para atendimento aos adolescentes,
o participante familiar reconhece que em algum momento poderá ser a única escolha disponível,
considerando as questões financeiras que venham a impossibilitar o acesso ao serviço
suplementar:
(...) um dia eu posso precisar, eu vou dizer que eu não vou precisar,
porque num dia eu posso precisar, porque aqui de repente, eu não
tenho como pagar mais um plano, eu vou correr no posto com ela. (F01)
Para aqueles usuários como adolescentes e familiares que possuem algum plano de
saúde no país, a primeira e melhor escolha como identificado anteriormente parece ainda ser o
acesso ao serviço de saúde privado. Contudo, percebe-se que a cobertura tem diminuído
significativamente entre pessoas com rendimento domiciliar per capita de até um quarto do
salário mínimo e aqueles com ensino fundamental e médio completo. Entre indivíduos com
melhor rendimento domiciliar per capita, acima de três salários mínimos e aqueles residentes
em capitais tem havido um aumento significativo desta cobertura (SOUZA JÚNIOR et al.,
2021).
85
Nesse contexto, adolescente que são desprovidos de algum plano de saúde devido
ao baixo poder aquisitivo de seus familiares, priorizam como alternativa e não pior escolha a
busca por atendimento na UAPS do SUS, pois ao contrário das instituições de saúde privada
que apresentam escopo de eficiência produtiva e modelo de atenção à saúde limitada, a primeira
se pauta entre outros princípios na universalidade, integralidade e equidade impostos pelo SUS.
Deste modo, garante o acesso à saúde a qualquer cidadão, com abrangência a nível nacional e
ampla cobertura territorial a serviços gratuitos com referência aos demais níveis de atenção
(GARNELO et al., 2018).
Além disso, com base nos depoimentos dos adolescentes, familiares e profissionais
de saúde, a procura acontece quando da existência de algum problema de saúde de menor ou
maior agravo instalado:
Não, eu não vou muito no posto não (...) eu não vou muito no posto não,
eu vou só fui para tomar a vacina mesmo. (A06)
Não, porque eu quase não vou no posto de saúde, eu só vou do dia que
eu me peso mesmo. (A08)
(...) por algum, é algum problema de saúde, quando eles vêm à procura,
ele só vem mais à procura do posto por algum atendimento. (P07)
É porque é na verdade, o que eu vejo é que muito adolescente só vem
aqui [unidade de saúde investigada] quando eles estão precisando de
alguma coisa. Quando eles estão precisando de um remédio, quando
eles estão precisando de uma consulta (...). (P14)
quando estes apresentam queixas de saúde consideradas por seus cuidadores como de menor
problema (FIGUEIREDO et al., 2017).
E, como destacado pelo profissional de saúde, atualmente, com a pandemia causada
pela Covid-19, o atendimento à população adolescente na UAPS aumentou de forma
significativa por meio de demanda espontânea ou programada:
Os adolescentes deste estudo avaliaram que a unidade de saúde apresenta uma boa
estrutura física, considerando como adequada em comparação a anterior após a reforma
realizada pela gestão municipal:
88
com prazos de entrega entre os meses de abril e junho de 2020 (DIÁRIO DO NORDESTE,
2020).
Os profissionais de saúde em sua avaliação apresentaram ainda que a unidade
investigada em sua estrutura física dispõe de salas de consultórios para atendimento, com
equipamentos como máquinas, macas e pias, além da limpeza geral realizada no ambiente:
(...) uma coisa que eu acho, assim, que era difícil o uso de duas cadeiras
funcionando no consultório e acaba que você não dava para conversar
individualmente, alguma coisa assim, mas devido a pandemia ninguém
está atendendo em duas cadeiras e então acaba que por um lado ficou
ruim e por outro não. E não dava, como é que você vai abordar o
paciente com o sugestivo de uma DST [Doenças Sexualmente
Transmissíveis], como é que você vai chegar e o colega está atendendo
e tem o outro na outra do outro lado, acaba que a gente deixa passar
justamente para evitar expor, assim, o espaço em si não favorece (...).
(P06)
(...) é assim, eu acredito que do jeito que está, a gente está conseguindo
atender, não está tendo problema não. A gente, você não vai deixar
atender por causa da estrutura, porque a estrutura está nos ofertando
aquele atendimento, está nos dando o suporte que nós precisamos, que
precisa naquele momento. Não teve nenhuma situação que não desse
para atender por conta da estrutura não. (P04)
acolhimento do dia, em que o enfermeiro e médico de uma equipe atende os pacientes por
demanda espontânea como identificado neste estudo; e acolhimento misto (equipe de referência
e equipe do dia), que determinada quantidade de usuários ou horário que o enfermeiro de cada
equipe acolherá a demanda espontânea da sua área (BRASIL, 2013).
Enquanto, a demanda programada é considerada como um recurso-chave para
garantir a retaguarda do acolhimento quanto para a continuidade do cuidado programático. Por
exemplo, há agenda programada para grupos específicos abrangendo o atendimento de pessoas
previsto nas ações programáticas; agenda de atendimentos agudos a partir do acolhimento da
demanda espontânea e de acompanhamento ou não de usuários como evidenciado nesta
pesquisa; e a agenda de retorno de usuários que não fazem parte de ações programáticas. Desta
forma, sendo uma estratégia que viabiliza a atenção em tempo oportuno na maior parte dos
casos agudos e subsidia na melhor distribuição dos atendimentos ao longo do dia, evitando
superlotação, desconforto e tensões (BRASIL, 2013).
No entanto, estas modelagens de atendimento ainda não são bem aceitas por
profissional que compõem a equipe de saúde, ao considerar o direcionamento de profissionais
exclusivamente para atendimento por demanda espontânea que, por vezes, se apresenta de
maneira pontual e com menor procura em relação a demanda programada que é maior:
(...) antes eles tinham um local e agora até isso eu acho errado, porque
devia ter um lugar para quando eles vierem. Antes quando passava ali
na entrada da porta eles já pegavam, agora tem que pegar na farmácia
e eles não vão. (P01)
Quanto aos materiais e insumos, o profissional de saúde revela que a unidade possui
de forma adequada e suficiente para toda a população em geral, incluindo os adolescentes que
pertencem a comunidade:
(...) tem um dia, teve uma vez que a gente também foi para lá [unidade
de saúde investigada] e tinha umas coisas faltando, era remédio, era
seringue, algumas coisas faltando também, a falta de respeito porque
se a gente está pagando o nosso imposto, era para ele ter, era para
prefeitura mandar, tudo bem direitinho, porque tanto atrapalha a gente
como atrapalha o trabalho deles. (A01)
(...) tipo tem uns materiais que era para ter para um exame correto não
tem, então às vezes falta você percebe que falta, você vai no posto e ver
que tem aquele certo materiais e quando você vai nele você ver que
falta que não tem. (A03)
Nem sempre, nem sempre tem, porque tem falta, tem alguns que tipo
falta, várias coisas é que eu não estou lembrada, mas várias coisas,
teve uma vez do exame que não tinha materiais. (A04)
(...) aqui na minha área, aqui na sala de procedimento. Nesta parte
aqui sim tanto medicação como procedimento, agora suficiente não,
não são suficientes não, bem pouco, bem pouco material, vem pouco.
Como eu falei algumas coisinhas, falta insumo, falta alguns insumos
ainda falta, a gente dá um jeito, um próprio jeito aqui para conseguir
fazer o procedimento. Por exemplo, uma coisa simples, agora tem o
garrote, mas as vezes não tem, não tem garrote, por exemplo, agora
tem garrote, mas assim agora vamos supor assim, as vezes não tem,
tem que procurar, vou fazer uma medicação e não tem o garrote para
fazer, eu vou ter que usar a própria luva para fazer. Então, falta
algumas coisinhas, tipo alguns materiais do dia a dia para fazer
procedimento. (P03)
Nem a adolescente, nem para ninguém. Não é apenas uma questão de
adolescente, mas é questão de uma pessoa como um todo, aqui e ali
falta insumos. Assim, os insumos não são de qualidades. Então, assim,
com relação ao adolescente não, eu acredito que a demanda do posto
como um todo, porque não tem o material para o adolescente,
entendeu. Então, sempre falta material no posto de saúde. (P06)
(...) os insumos são poucos, as vezes limitados, mas acredito que o
básico sim, por exemplo, é alguns dias falta alguns tipos de insumos
para a gente ofertar até cuidados básicos mesmo, mas isso é muito
cíclico, eu não sei como é a questão dessa gerência. (P15)
(...) a gente vê que falta uma máscara, falta um jaleco que é do plástico,
eu trago o meu. (P06)
(...) a única coisa que algumas vezes não chega a ter é remédio,
remédio ali no posto em alguns tipos de medicamento a gente atravessa
umas dificuldades. (F03)
(...) porque quando a gente procura nunca tem, a gente procura um
remédio ou uma medicação, nunca tem. (F06)
Eu acho que falta, falta materiais educativo, que tinha num era numa
época, acho que falta mais um pouco desse atendimento educativo,
seria bom. (F04)
(...) porque não tem, assim, não eu não tenho acesso, se eu quiser
mostrar aqui em relação fotos, em relação a doença sexualmente
transmissível que chegue um com dúvida queira saber, eu tenho que
abrir no meu celular para mostrar do meu jeito, mas material não tem.
(P13)
102
Entre os desafios impostos para efetuar cuidado aos adolescentes no âmbito da APS,
ainda está o fato da escassez de materiais didáticos-pedagógicos que subsidiem os profissionais
de saúde no momento da consulta (SILVA; ENGSTROM, 2020). Sabe-se que a utilização de
materiais educativos é de grande valia no desenvolvimento de intervenções preventivas e cabe
ressaltar a importância da prévia adequação destes às realidades locais para que se alcancem os
objetivos propostos (BRASIL, 2017). No entanto, a ausência de recursos materiais não pode se
tornar uma justificativa plausível para a não realização das atividades preventivas com os
adolescentes, uma vez que o processo educativo tem como principais protagonistas o educador
e o educando (FONTANA; SANTOS; BRUM, 2013).
Além de tudo isso visto, o profissional de saúde revela que ao dispor de
equipamentos, materiais e insumos na unidade para a assistência à saúde, estes ainda são de
baixa qualidade pela forma de aquisição da gestão municipal através das contratuais licitações:
(...) não são suficientes, eu digo a qualidade porque todo que trabalha
é com licitação, todas as prefeituras trabalham com licitação. Então, o
que é que vence, quem tem o menor preço, então, quem tem menor
preço tem menor qualidade, basicamente é isso. (P10)
Tem a enfermeira e um médico, uma doutora que ela já foi até embora,
eles vêm de fora, ela veio e ficou um bom tempo, ela ajudou todo
mundo, pronto aí chegou o tempo dela, ela foi embora, quem ainda
ajuda mais é as enfermeiras. (A01)
Eu não tenho o que reclamar não, tem é o ginecologista, a médica, só
ela mesmo. (A04)
Tem médico, tem enfermeiro que são esses de cabeça que eu lembro e
que eu sei. (A10)
Tem os médicos, os enfermeiros que têm esse primeiro, têm as
enfermeiras. (F02)
No posto, no posto a gente tem médicos, tem técnico de enfermagem,
tem os agentes de saúde, que são os que mais presentes na comunidade,
conhece mais. (F08)
Tem o médico que atende, a enfermeira, tem o dentista, tem esses
profissionais na unidade. (P06)
Há profissionais sim, médicos, enfermeiros, os próprios ACS [Agente
Comunitário de Saúde] na ponta podem estar resgatando esse público
(...). (P09)
(...) nós temos aqui no posto o técnico de enfermagem, enfermeiro,
médico, dentista, auxiliar de saúde bucal, o vacinador, todos esses
profissionais estão disponíveis para o atendimento ao adolescente.
(P12)
(...) às vezes quando eu vou, às vezes não tem, mas acho que é provável
ter, não tinha nenhum enfermeiro e nenhum médico. (A02)
Nunca tem médico, nunca tem nada, a gente vai perder tempo passa o
dia todinho no posto, só para perder tempo e eu acho que isso (...) (F01)
Eu não tenho como levar porque nunca tem dentista para poder levar,
nunca dá certo, uma vez eu levei ela no UPA [Unidade de Pronto
Atendimento]. (F02)
(...) até porque nem médico tem, é só enfermeira, tudo passa pela mão
da enfermeira, a enfermeira que a gente fica olhando para ela. Aí sim,
se acontecer alguma coisa de algo muito ruim, é que ela passa para a
mão de outro profissional (...). (F05)
Quanto tem é só as enfermeiras mesmo fazendo uma triagem e só, é só
o que a gente vê mesmo. (F06)
(...) para atender o adolescente principalmente a enfermagem, a
enfermeira dedicada a área tem enfermeira para cada área e cada área
tem uma atendendo. (P03)
(...) pode ser o enfermeiro, o médico, assim, a gente vê mais a questão
da equipe, a gente tem os enfermeiros em maior número do que os
médicos, então, teoricamente estariam mais disponíveis para o
atendimento. (P08)
questão, mas é assim, eu tenho que fazer dessa forma para que o
adolescente se sinta à vontade. (P11)
(...) quando o adolescente ele nos procura, certo, ele por exemplo, eu
atendo alguns aqui, são acolhidos de forma devida, são escutados de
forma devida, são acompanhados falando de forma devida. Quando o
adolescente nos procura aqui a gente, a gente tenta deixar o mais à
vontade possível. É dessa maneira de como eu estou lhe dizendo, eu
tento deixar o adolescente o mais o mais à vontade possível para que
ele possa realmente se expressar e estou tendo êxito apesar de querer
um volume muito maior desses, desses adolescentes aqui, mas é dentro
do que a nossa realidade, dentro do que realmente a gente atende aqui,
eu tento deixar o adolescente o mais à vontade possível, para que ele
possa realmente, poder se expressar de forma mais livre e a gente poder
verdadeiramente ajudar, porque muitas vezes o adolescente, ele tem ele
tem medo, tem receios, tem dúvidas, tem vergonha, isso é essas
barreiras que a gente tenta romper para que a gente possa ter um
trabalho realmente produtivo com esse pessoal. (P12)
A gente tem que saber, como o adolescente tudo é muito novo, tudo
muito é complicado, a gente tem que saber como entrar, como
conversar, como saber coletar as informações dele, respeitando a
individualidade de cada um, mas a gente tenta da melhor forma. (P13)
usuários alguma coisa, pronto, ali ela trata do mesmo jeito, atende
bem. E eu acho que isso é uma questão de ética não repassa para nada,
a gente fica, tudo que acontece fica aqui na sala não se espalha. (P05)
Pelo que eu tenho visto sim, é reservado a questão de exames, as
meninas que fazem, a enfermeira, só entrega o resultado se for com o
pai, tem uma parte mais assim sigilosa, eu o que eu tenho presenciado
apesar de eu não estar muito lá, as o que eu tenho presenciado, o que
eu vejo é que tem sempre esse cuidado. (P06)
(...) porque a gente não tem ouvido falar, nem de profissional para
profissional de por exemplo um pai vindo depois da unidade falar e
reclamar como quebra de ética, não, não tem isso aqui não. (P11)
Realmente eu posso falar que pelo menos dentro do que a nossa
realidade aqui no posto, as pessoas são muito éticas, as pessoas são
muito, são muito profissionais e dentro desse contexto, é a gente tenta
adequar o máximo possível do que é dentro do programa específico de
cada, de cada categoria, de cada setor, de cada área, de cada
categoria, de cada idade, por exemplo, de cada problema. (P12)
(...) agora também já aconteceu causas de falta de respeito a ética, que
já teve em questão religiosa, às vezes uma pessoa vai fazer uma visita
numa casa e ela tem uma religião, por exemplo, o agente saúde tem
uma religião tal e a mãe falou para a agente de saúde que achava que
a filha era lésbica, ela foi logo em rezar, dizer que isso era errado, que
ela tinha que procurar ajuda para melhorar disso e tal e ela veio a
menina se consultou com a psicóloga e após a consulta a mãe veio com
a agente atrás de saber o que a menina tinha falado se ela era
realmente gay, a psicóloga não, isso não, o que ela conversou comigo
na sala é sigiloso entre mim e ela, ela vai continuar vindo ainda alguns
dias, algumas vezes e eu peço que a senhora respeite tudo e a mãe tinha
vindo até com diário da menina na mão, então, às vezes acontece sim.
Acho que muitas vezes a pessoa deixa a sua crença o que ela acha
interferir na vida das pessoas. (P14)
Verifica-se que situação como esta costuma igualmente gerar conflitos na ESF,
devido ao atendimento de menores de idade sem consentimento dos pais ou responsável legal
(DOURADO et al., 2020). Todavia, com base no princípio da autonomia os adolescentes podem
ser atendidos sozinhos caso desejem no sentido de garantir o direito à privacidade, uma vez que
é indispensável para melhorar a qualidade da assistência, promover a saúde e prevenir agravos.
Deste modo, o profissional deve respeitar as decisões e as escolhas do menor de idade, sempre
que este apresentar em sua avaliação capacidade para tal (BRASIL, 2017).
Além disso, promover orientações e esclarecimentos a população de adolescentes
utilizando uma estratégia participativa pode facilitar a construção de sua autonomia, tornando-
os corresponsáveis pela sua própria saúde. Logo, as práticas de saúde devem ser pautadas na
elaboração da responsabilização clínica e da intervenção resolutiva e os profissionais devem
ser resolutivos e facilitadores de todo este processo, como forma de assegurar a integralidade
da atenção e autonomia do paciente adolescente no cuidado em saúde (COSTA et al., 2012).
112
Porque assim, quando ela vai, elas orientam ela, olha tu vai fazer isso,
tu faz aquilo, educação física, faz exercícios, tem que se alimentar
assim, tem que tem que se trabalhar mesmo em ti e eles ajudam muito
nisso. (F02)
(...) no atendimento em si de tirar dúvidas de tirar, mas principalmente
em tirar dúvidas dos adolescentes, porque os adolescentes têm muitas
dúvidas. Olha, assim, eles têm as orientações, ele tem as orientações
sobre as vacinas, ele recebe as orientações sobre as IST’s [Infecções
Sexualmente Transmissíveis], sobre o HPV [Papiloma Vírus Humano],
tudo com embasamento científico. Quando um paciente, um cliente ele
chega ele pergunta o que é isso, para que você vai explicar, tem todo
um embasamento científico. (P03)
(...) muitos adolescentes vêm aqui que nem na sala de vacina, ele vem
com muita dúvida em relação ao HPV [Papiloma Vírus Humano]
porque que eu tenho que tomar essa vacina, a gente vai explicar que é
uma doença, que é uma vacina para evitar o câncer de colo de útero,
que não é só a menina no homem também pega, os tipos de vírus mais
agressivo, a gente explica o que está lá na vacina. (P04)
(...) de orientação, de orientação de dieta, de fio dental, como escovar,
a gente sempre está orientando, então. (P06)
(...) uma disposição no dia que quiser, eles retornarem para esclarecer
mais dúvidas, no dia que iniciar a relação sexual, quiser buscar
realmente, me deixo a disposição qualquer dia qualquer horário, está
certo, se tiver alguma questão de agenda qualquer coisa. (P15)
(...) eles [profissionais de saúde] não dão mais atenção, tem uns assim
que mal falam, tem uns que ignoram, tem uns que são mais atenciosos.
(A05)
Uma vez eu fui com essa menina no posto, ela acordou cansada, ela
acordou de madrugada cansada, peguei vamos para o posto, eu fui e
quando eu cheguei lá, tinha pessoal para atender, foi que eu falei com
a moça ela olhou para mim, assim, puxa porque que a senhora ficou
até essa hora com essa menina cansada desse jeito, eu disse, eu te
trouxe ela para cá, eu não tinha como sair de madrugada de casa com
ela não, trouxe para cá, pois o médico está atendendo muita gente e
não pode atender a senhora, a senhora vai imediatamente na UPA
[Unidade de Pronto Atendimento] com ela, não vá nem em casa não,
vá imediatamente na UPA com ela, não tem atendimento aqui para a
sua neta não, a senhora quer que a sua neta morra. Eu disse não, se eu
quisesse que ela morresse, eu tinha trazido aqui não, eu trouxe ela para
cá porque aqui tem médico, pois o médico não vai atender ela desse
jeito não, vá correndo, pegue um carro e vá para o médico e como vou
pegar um carro sem ter o dinheiro do carro. Eu vou ter que ir em casa
para ver se eu arranjo o dinheiro, eu trouxe ela para cá porque eu não
tenho nem o dinheiro do transporte, mesmo assim eu voltei com ela,
quando eu cheguei aqui ajeitei meus documentos, ajeitei os documentos
dela e arranjei o dinheiro e fui com ela de ônibus. Graças a Deus,
quando eu cheguei lá foi num instante, fiz a ficha dela, a doutora
chamou logo ela e eu saí de lá era sete horas da noite com ela, mas
esse posto, foi desde desse dia que eu fui com ela muito cansada, desde
desse dia eu fiquei muito chateada nesse posto. (F04)
(...) ela não vai ter aquela coisa de examinar ele, de tocar não, ela vai
só olhar um exame e vai olhar se está tudo bem e se não tiver vai para
casa e pronto, não tem aquela questão de atenção, de examinar, não
tem aquele cuidado. (F05)
Eles não fazem na hora, é chato porque as vezes nem necessita daquele
exame, eles passam para outro e vai ver é outra coisa mais leve
entendeu. (A04)
Compreende-se que situação como está retratada neste estudo representa um
descompasso no cuidado ao paciente no âmbito da APS. Este nível de atenção ao se caracterizar
como porta de entrada preferencial do SUS e gerenciadora do cuidado dos usuários na
efetivação do ordenamento e da integralidade, deveria apresentar capacidade clínica e de
cuidado entre as equipes, com grau de incorporação de tecnologias duras (diagnósticas e
terapêuticas) para a alta resolutividade dos problemas apresentados pelos pacientes e não ao
contrário com o referenciamento do paciente com condição sensível a própria unidade básica
(BERNARDINO et al., 2020).
A regulação da assistência também deveria servir como um filtro para os
encaminhamentos desnecessários, selecionando o acesso dos pacientes às consultas e/ou
procedimentos apenas quando estes apresentassem alguma indicação clínica para realizá-los.
Essa ação de filtro deveria provocar a ampliação do cuidado clínico e da resolutividade na
Atenção Básica, evitando a exposição dos pacientes a consultas e/ou procedimentos
117
desnecessários de prevenção quaternária. Isto, porque esses processos otimizam o uso dos
recursos em saúde, impedem deslocamentos desnecessários e trazem maior eficiência e
equidade à gestão das listas de espera (BRASIL, 2015).
Ademais, em seus depoimentos os participantes revelaram também a inexistência
da realização de vistas domiciliares aos adolescentes da comunidade por parte dos profissionais
de saúde, uma vez que o processo de trabalho em saúde se restringe exclusivamente aos espaços
da referida unidade de saúde:
(...) os profissionais nunca vieram aqui não, eu não posso dizer para ti
que alguma vez a gente recebeu uma visita porque não. (F03)
Ela [Agente Comunitário de Saúde] é ótima, sempre tem vindo aqui, é
ótima, mas nunca ninguém do posto veio aqui, aqui nunca veio
ninguém. (F07)
Porque assim, a gente está mais aqui durante o dia, a gente não anda
na comunidade, porque que anda mais são os agentes comunitários de
saúde e estes estão com contato mais direto, o nosso [trabalho] é
quando esse adolescente vem aqui na unidade de saúde. (P04)
(...) assim, porque primeiro, a gente [profissionais de saúde] não
trabalha assim, saindo para vistas, a gente fica mais dentro, a gente
fica mais interno, então, a gente atende as pessoas que nos procuram,
a gente não sai à procura deles para de saber quem é quem, para a
gente ter aquela certeza. (P05)
(...) o único que tem é o José [nome fictício] assim, porque quem vem
mais por aqui é o José. O José vem ele diz os dias das consultas, no dia
que tem atendimento no posto, a gente só sabe mais das coisas por
causa dele (...). (F01)
(...) quando acontece uma coisa, é uma vacina, está tendo isso, está
tendo aquilo, o José [nome fictício] ele avisa, ele avisa, está tendo isso,
já levou ela, está tendo prevenção, tu já levou ela, ele eu não tenho que
falar dele não (...) (F02)
O agente da nossa área que é o José [nome fictício]. O José sempre
está vindo, está perguntando como é que está, está perguntando se
vacina está em dia, se a gente quer consulta e isso daí particularmente
nós aqui a gente não tem do que reclamar não. (F03)
(...) eu tenho nas minhas visitas, sempre é o que, como a nossa unidade
oferece, primeira coisa que eu faço é tentar quando eu vê-las tentar
saber como é que está, a questão da vacinação dele, da imunização
dele se está com as vacinas, qual a vacina que tomou, qual a vacina
que não tomou, eu pergunto tem mais alguma coisa mais a desejar,
falar, quando não, quando cita alguma situação que está passando, eu
digo pois vamos no posto comigo, para tentar essa consulta quando
quer fazer um teste, alguma coisa, um exame, vamos, e assim a gente
vai tentando levar, é um jogo de cintura que a gente tentar resgatar e
trazer, porque eles não vem aqui. (P01).
Sabe-se que como integrante da equipe da ESF, o agente de saúde opera com
habilidade específica a sua principal ferramenta assistencial: os vínculos interpessoais
(CARDOSO; NASCIMENTO, 2010) estabelecidos com os usuários e familiares como
observado neste estudo. Nesse sentido, historicamente os agentes comunitários interpõem suas
intervenções diárias no contexto da família pela aproximação social e afetiva que eles mantêm
com todas as pessoas que a pertencem de sua área e que fazem parte de seu convívio. Este,
portanto, reconhece as necessidades sociais vividas pela população adscrita e acompanha as
condições de vida de toda a população do bairro, o que facilita ao membro da equipe o controle
das questões de saúde presentes da comunidade (MENEGUSSI; OGATA; ROSALINI, 2014).
Ao contrário dos demais profissionais de saúde que se revela falha, imprecisa ou
ausente em determinados casos, pois além da baixa procura de atendimento por parte do
adolescente, este ainda é direcionado apenas a realização de uma consulta e/ou um
procedimento para resolução do problema, como descrito nos excertos de alguns participantes
do estudo:
Para que a integralidade seja de fato realizada na prática nos serviços de saúde, é
imprescindível que os profissionais atuem de maneira interdisciplinar, atendendo às
necessidades intrínsecas dos adolescentes e promovendo assistência qualificada que apresenta
várias dimensões, essencialmente, o acesso, acolhimento e vínculo. É importante também que
o adolescente se sinta aceito, confortado, ajudado e respeitado frente aos seus direitos para que
possa confiar nos profissionais e retornar aos serviços de saúde, pois o modo como é recebido
na unidade e acolhido pelo profissional de saúde definirá o vínculo a ser estabelecido (COSTA;
QUEIROZ; ZEITOUNE, 2012).
Esta situação retratada acima para alguns participantes do estudo é parte da
instabilidade na permanência dos profissionais na UAPS, considerando a grande rotatividade
em razão do remanejamento para outros serviços e do encerramento de contratos temporários:
haverá alguma rotatividade que pode ser positiva ou não, desde que sejam de funcionários não
essenciais que estejam executando determinada atividade e que venham deixar a organização.
Entretanto, esta pode acarretar perdas de pessoas estratégicas para uma determinada vaga,
causando assim o fator de interrupção das atividades e consequentemente prejudicando no
desenvolvimento da organização (ROBBINS, 2002).
No caso da APS, a alta rotatividade de profissionais gera grandes impactos na saúde
e vida dos usuários. Por exemplo, o comprometimento de vínculos entre a equipe com o usuário
da comunidade que afeta também o objetivo dos resultados esperados dentro do serviço
(TONELLI et al., 2018) e a dedicação dos usuários no cuidado com a saúde relacionada a saída
repentina do profissional que colaborava. Além disso, no andamento do tratamento do usuário
ao considerar o início da atividade e o término inacabado por conta da saída, o que gera um
desamparo no processo até a chegada de outro profissional que pode ou não dar continuidade a
atividade (CAMPOS; MALIK, 2008). Pode acarretar ainda em falta de profissionais
qualificados, engajados e conhecedores do serviço no SUS (MEDEIROS et al., 2010).
Nesta conjunta, a relação interpessoal conforme aponta participantes apenas se
estabelecendo por meio das intervenções em saúde desenvolvidas no ambiente escolar, pois
favorecem a aproximação do profissional de saúde da unidade com o adolescente da
comunidade enquanto estudante:
(...) o vínculo que eu tenho que, eu posso dizer é da escola, que eu vou
na escola eles sabem que eu estou lá toda terça-feira, que eu conheço,
eu digo que é o posto e tudo mais. Assim, da minha área que é a área
que eu tenho, se você me perguntar quantos adolescentes é na minha
área, eu não sei te dizer, eu acredito que não é sou uma realidade
minha, é de todos porque a gente está trabalhando só com o pessoal
que procura. (P06)
O vínculo que a gente tenta e consegue estabelecer com eles é através
do PSF, o programa saúde na escola que a gente vai fazer os
atendimentos uma vez por semana também, faz o atendimento
preventivo, a escovação como eu disse, a aplicação de flúor, o vínculo
que a gente consegue estabelecer com eles é através da escola. (P10)
utilizados, desde aqueles mais arcaicos que visavam à domesticação, à orientação clínico-
assistencial até os mais recentemente que estimulam a capacidade crítica e a autonomia dos
sujeitos em sintonia com a promoção da saúde (SILVA; BODSTEIN, 2016).
As ações em saúde podem ser desenvolvidas com a participação dos profissionais
da saúde da equipe de Saúde Família em junção com educadores e gestores das escolas e
familiares e adolescentes da comunidade (BRASIL et al., 2017). Nesta direção, a atuação dos
profissionais de saúde pode ser centrada na tríade assistência, promoção e prevenção,
destacando-se a Atenção Básica como espaço privilegiado na efetivação das práticas educativas
e de promoção da saúde, observando a população adscrita e formando vínculo com a
comunidade (SANTOS et al., 2012).
(...) eu acho que eles são esforçados no trabalho deles para fazer
atendimento. (A09).
(...) eu acho que se nós tivéssemos um apoio maior, a gestão nos desse
mais, com certeza, porque nossos profissionais são muito top, para mim
eu vejo, porque tem situações que eles passam e eles conseguem lidar,
levar até onde dá. (P01)
(...) o profissional hoje em dia trabalha com o que tem, na medida do
possível. É tipo procurar usar o modo mais profissional possível para
não deixar o impacto negativo para o adolescente. (P02)
(...) eles fazem o que eles podem, são prestativos pessoal do posto, faz
o que eles estão conseguindo, mas eu acho muito sobrecarregado, que
era para ter uma área sobre especializada para cada coisa, não
enfermeiro tomar conta de tudo, da adolescente, da criança, do adulto,
da gestante, do idoso, não era para ser assim. (F05)
(...) na verdade eu não considero falha do profissional, é uma demanda
sobrecarregada do profissional, assim estou dizendo assim aumentou
mais um programa, porque já tem o programa da criança, da gestante,
do hipertenso, do diabético e vai surgir mais uma, o adolescente e a
gente é só um, então não dar para dar conta, a acaba que não vai ficar
bom para todo mundo. Não é nem mais uma sobrecarga que o
profissional da atenção primária tem que tá absorvendo todo mundo e
tem que dar conta de todo mundo, acaba que o adolescente é quem vem
menos como é que nós vamos dar uma atenção se nós não damos conta
nem de que quem está procurando, é isso que que a atenção primaria
sofre muito, tudo começa aqui e é só um e ainda tem mais o negócio de
acolhimento, de urgência, os profissionais aqui até atende, o dentista a
gente tem um dia determinado para ir a escola, pelo menos um dia a
gente foi obrigado a ir, o médico não tem tempo para o tanto de aluno,
um tempo para ir um período para ir na escola, a enfermeira não tem
esse luxo, digo em um tipo de um luxo para ela mas é uma necessidade
mas como é quem vai atender o pessoal que está doente e precisa de
atendimento porque já está sobrecarregado. (P06)
(...) pela questão do tempo que nós não temos, nosso tempo é muito
corrido. Então a gente trabalha de segunda a sexta e um horário muito
puxado que é o dia todo e quando nós temos que se ausentar daqui ou
é um curso ou então algum problema de saúde, é o que mais acontece
aqui com a gente, então, nós somos uma classe praticamente assim
doente. (P07)
(...) por conta de uma demanda que é muito alta, por conta que tem
uma equipe que tem 10 mil na sua área para atender, então fica meio
que impossível ele fazer um trabalho mais direcionado e de qualidade
melhor para cada área assistencial que é preconizado pelo Ministério
da Saúde na saúde do idoso, do hipertenso, do diabético, da saúde da
125
Não se pode negar que a APS como observado acima nos depoimentos tem sido o
locus no qual mais se avançaram as propostas de organização dos serviços de saúde, com base
no trabalho em equipe e na prática colaborativa (PEDUZZI; AGRELI, 2018). O trabalho em
equipe interprofissional tem sido definido como elemento que envolve diferentes profissionais
e não apenas aqueles formados em alguma área da saúde, mas todos os que compartilham o
senso de pertencimento à equipe e trabalham de maneira integrada e interdependente para
atender às necessidades de saúde (INTITUTE OF MEDICINE, 2015).
127
(...) eu acredito que eles são, eles estudaram para isso, porque é para
eles fazerem isso assim, porque eles estudaram para isso e é para eles
fazerem isso. (A01)
Eu acho que sim, eu acho que são [capacitados], porque eles estudam,
eles são capacitados para tudo. (A06)
(...) porque eles estudaram para isso, a prefeitura não ia botar um
profissional dentro do posto de saúde que não fosse qualificado. (F06)
(...) porque um médico ele, um médico, um enfermeiro, profissional de
nível superior, eles são formados para atender toda população, tanto
adolescente, adulto, criança, eu acho que estão aptos sim, então, tem
qualificação. (P05)
Na minha área de educação física sim, porque nos estágios a gente
acaba tendo acesso específico a esse público. A gente sempre tem aula
de didática para trabalhar com esse público, é de como se comunicar,
de fazer atividades que sejam mais do interesse deles, é dependendo da
faixa etária, então, na minha área de educação física assim. (P14)
(...) na faculdade a gente aprende como lidar um pouco mais com
adolescente, a questão tem muitas mudanças, a gente tem que atender
também a questão da saúde mental dessa população. (P15)
128
Parece que situação como esta fazem parte da realidade dos profissionais de saúde
no âmbito da APS ao envolver distintos grupos e condições. Estudo qualitativo desenvolvido
em duas capitais brasileiras com a participação de 140 profissionais da atenção e 34 da gestão,
no período de 2013 e 2014, evidenciou também que em casos de qualificação para atendimento
à mulher em situação de violência sexual, os profissionais de saúde das unidades de saúde
buscaram por iniciativa própria meios de capacitação. Portanto, esses fatos sinalizando que as
lacunas do conhecimento transcendem os muros das instituições de ensino e se estendem para
os espaços das unidades de saúde, em virtude de os temas permanecerem, na maioria das vezes,
oculto nas ações de educação permanente em saúde (MOREIRA et al., 2018).
Sendo assim, alguns profissionais de saúde apresentam maior qualificação do que
outros para atendimento ao adolescente, como apresentado nos depoimentos a seguir de alguns
participantes do estudo:
131
(...) tem muita gente qualificada, mas tem uns que uma qualificação a
mais, que você percebe que elas têm um certo direcionamento maior.
(P03)
Alguns profissionais sim e outros não tem capacitação, outros eu acho
que teria que ter mais um preparo, porque as vezes eu vejo que alguns,
alguém tem mais domínio de um determinado assunto. (P04)
5.4 Serviços ofertados aos adolescentes e repercussão, impacto e satisfação com APS
À vista do exposto, parece que a APS ainda tem efetuado um cuidado em saúde
com intervenções impulsionadas por uma lógica pautada na fragmentação da análise do
fenômeno do adoecimento e uma atuação com atenção maior na dimensão biológica do ser
humano. Logo, esse panorama sendo sustentado pelo foco no paciente e seu corpo doente e
disfuncional no qual cabe apenas ações com viés curativista e intervenções medicamentosas,
inserindo o indivíduo em uma posição de assujeitamento que reflete negativamente em seus
processos de subjetivação e autonomia (RAIMUNDO; SILVA, 2020).
Com efeito, políticas públicas que se propagam na área da saúde corroboram com
a possibilidade de um cuidado integral no âmbito da unidade de saúde. Portanto, as estratégias
de humanização têm sido convocadas a tentar dirimir a tecnicalidade constitutiva da produção
do cuidado e têm como desafio promover integralidade nesse microcosmo. A clínica ampliada,
por exemplo, busca considerar o indivíduo ao máximo possível em sua dimensão
biopsicossocial, identificando as correlações entre seus modos de produção de vida e trabalho
em relação ao processo saúde-doença. É a não padronização diagnóstica que se contrapõem ao
cuidado biomédico ao considerar o sujeito em si, ou seja, é um constante neoartesanato que de
tanto se realizar, amplia a capacidade de considerar o humano como um holos (CARNUT,
2017).
Além disso, os participantes do estudo ainda relataram que a oferta de serviços em
saúde se efetua por meio de ações programadas implantadas na unidade direcionadas aos grupos
específicos, como o planejamento familiar e a consulta de pré-natal:
(...) a minha filha ela já precisou mais do posto, a minha filha sim, a
minha filha engravidou na adolescência e ela foi para o posto e eles
acompanharam a gravidez dela e encaminharam ela para um hospital
mais especializado, ela precisou mais de consulta. Então, ela teve mais
cuidados agora. Eu acho que se preocupa muito com a menina, tipo a
minha filha foi gravidez na adolescência, a gente foi bem
acompanhada, foi bem acompanhada e ela foi encaminhada, mas
menino não, menino a gente não tem essa preocupação, porque se visa
muito a mulher e o homem é mais um pouquinho esquecido. (F08)
(...) eu aqui eu tenho agenda até separada por turno, de hoje pela
manhã segunda-feira pela manhã eu tenho um planejamento familiar
nessas vagas do planejamento familiar, sempre tem um ou dois
adolescentes. Eu não tenho na agenda voltada para o adolescente, mas
ele insere nas minhas outras agendas como pré-natal, sempre tem um
paciente adolescente. (P13)
135
(...) eles pedem o exame, eles pedem, eles pedem o exame, mas só que
tem uma coisa a gente marca, mas fica na fila de espera e não sai de
jeito nenhum, já tem tanto exame na fila de espera que ainda não recebi
e isso está do mês passado (...) (F04).
(...) se eu quiser conseguir um exame para ele [adolescente] eu consigo,
um exame, um hemograma completo, mas eu marco hoje para daqui a
três meses. (F05)
Durante uma consulta em geral na unidade de saúde como observado neste estudo,
o profissional de saúde pode solicitar entre outros exames aqueles considerados como
complementares e de rotina. O paciente pode optar a depender do exame indicado entre realizá-
lo em um laboratório particular, conveniado ou no municipal. A maioria dos pacientes prefere
fazer os exames no laboratório conveniado ou municipal, pois além do exame ser gratuito
devido ao financiamento ofertado pelo SUS, a coleta do material biológico pode ser realizada
137
na própria unidade de saúde e nesse caso o usuário não precisa custear gastos com o transporte
pelo seu deslocamento.
No entanto, várias são entraves ainda presentes enfrentados pelos pacientes para o
acesso como parte de um processo que pertence a organização do serviço. Para realizar o exame
o usuário em realidade precisa fazer o agendamento de forma antecipada, sendo a marcação dos
exames para o laboratório municipal efetuada uma vez por mês, pois toda unidade possui uma
cota específica de exames de patologia clínica. O usuário permeia ainda uma segunda fila para
conseguir seu atendimento, pois idosos e gestantes por serem priorizados no agendamento, não
precisam enfrentar a fila e agendam seus exames a qualquer momento. Deste modo, situação
como esta no serviço corroborando para a iniquidade em saúde de acesso aos exames
laboratoriais e a insatisfação entre os usuários (SOUSA et al., 2014), além da possibilidade um
diagnóstico tardio que pode comprometer o estado de saúde e a vida do paciente adolescente.
Foi bom, porque da última vez que eu fui para tomar a vacina da gripe
e foi rápido. Eu acho bom que eu tomei a vacina eu não tenho nada a
julgar. (A02)
Só vacina mesmo, só mesmo a vacina porque quando a gente procura
outra coisa nunca tem. (F06)
Cuidado no atendimento principalmente agora na questão do Covid-
19, eles têm feito na questão da dengue, chikungunya e hoje em dia
principalmente a vacina do covid-19. (A07)
suscetibilidade a algumas doenças preveníveis por meio da imunização e pela baixa cobertura
vacinal apresentada por essa faixa etária (ARAUJO et al., 2010).
O Ministério da Saúde (2014) preconiza e disponibiliza a imunização dos
adolescentes contra a Hepatite B (efetuadas em três doses), contra a difteria e tétano (uma dose
a cada 10 anos), contra a febre amarela (duas doses), tríplice viral (duas doses) e contra o
Papiloma Vírus Humano (HPV) para meninas entre 9 e 13 anos em 2017 e, para meninos entre
12 e 13 anos esta faixa etária foi ampliada até 2020 ao serem incluídos os de 9 a 13 anos. Deste
modo, o Brasil disponibilizando cerca de 300 milhões de doses de vacina anualmente e
representando um dos países que possui o maior número de vacinas ofertadas na rede pública
(VIEGAS et al., 2019).
No que se refere a vacinação contra a Covid-19, em junho de 2021 a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) autorizou de fato a vacinação de pessoas maiores
de 12 anos no Brasil com a vacina Pfizer/BioNTech e, por conseguinte, a Lei nº 14.190, de 29
de julho de 2021, incluindo artigos na lei nº 14.124 de 10 de março de 2021, passou a considerar
adolescentes com comorbidade ou privados de liberdade. Por outro lado, discussões foram
realizadas sobre a temática, visto que o Ministério da Saúde emitiu notas informativas que
restringia a vacinação dos adolescentes e, ao final divulgou nova orientação indicando
que todos fossem vacinados considerando a ordem de prioridade apenas com a vacina
Pfizer/BioNTech.
Outros participantes revelaram que a UAPS disponibiliza ainda aos adolescentes
vários métodos contraceptivos, a exemplo, do anticoncepcional injetável e do preservativo
masculino:
Reconhece-se que nas duas últimas décadas, houveram grandes avanços com a
publicação de legislações e políticas internacionais e nacionais para garantir os direitos sexuais
e reprodutivos como Direitos Humanos da população, incluindo, os adolescentes e os jovens
como sujeitos desses direitos. Em especial, a Atenção Básica por ser considerada como espaço
privilegiado para se trabalhar a promoção da saúde, a prevenção de agravos e a
intersetorialidade, além de acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos adolescentes, tem
possibilitado garantir a atenção à saúde sexual e reprodutiva a este público-alvo (BRASIL,
2010).
Entre os serviços, inclui-se a distribuição de insumos para a prevenção de
IST/HIV/Aids e métodos contraceptivos, respeitando os direitos sexuais e reprodutivos. Deste
modo, disponibiliza materiais de prevenção, como preservativos masculinos e femininos. A
pílula anticoncepcional de emergência está disponível desde 2001, além da pílula
anticoncepcional combinada, minipílula anticoncepcional, anticoncepcionais injetáveis,
diafragma e dispositivo intrauterino (DIU). Entretanto, deve ser evitado o uso de
anticoncepcionais com apenas progestogênio (injetável trimestral e minipílula) antes dos 18
anos pelo possível risco de diminuição da calcificação óssea (BRASIL, 2013).
intervenção na saúde dos usuários que poderiam ter sido levantas a priori. Além disso,
representa uma lacuna no potencial das práticas assistências desenvolvidas pelos profissionais,
tornando-se relevante um direcionamento de suas práticas, no intuito de favorecer mudanças
com relação às ações no contexto da ESF.
Outros participantes do estudo destacaram que a unidade oferece ainda intervenções
em saúde por meio de outros dispositivos da comunidade, a exemplo, dos Centros Urbanos de
Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) presentes no referido município:
Como a gente não tem esse espaço, acaba que a gente tem que ir para
comunidade, no caso o nosso posto ele tem uma vantagem que é o
CUCA [Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte], que é o
CUCA do Ararenda [nome fictício] que antes da pandemia a gente
conseguia abrir o espaço lá no CUCA para levar o profissional, fazer
palestra, fazer consultas. No entanto, com a pandemia, o CUCA fechou
e depois voltou só com as vacinas e agora é que ele está voltando a
desempenhar atividades com adolescentes, mas o nosso
relacionamento também foi porque sempre, sempre foi bom, porque lá
a gente tem um tem enfermeira, técnico de enfermagem, tinha um
médico também, mas agora não tem, mas sempre tem um profissional
de saúde sentinela, se houver um problema muito sério, a gente
consegue trazer o adolescente por questão de proximidade também,
então a gente tem esse link com o CUCA, acaba tendo que a gente tem
um ponto de apoio lá. Porque tem um grande número de adolescentes
lá fazendo atividades é e se houver algum problema, se for detectado
alguma demanda ou também traz para a gente. (P11)
Aqui nós temos um diferencial, porque nós temos o CUCA, que era
onde a gente pensa em entrar forte como um ponto de apoio para esse
pessoal, realmente que faz a parceria realmente muito bonita, a gente
realmente tem uma assim uma simpatia, uma empatia também muito
grande, nessa novamente parceria muito bonita, nós estamos com o
pessoal do CUCA. (P12)
A Rede Cuca evidenciada nos depoimentos dos profissionais acima é uma iniciativa
mantida pela Prefeitura de Fortaleza como rede de proteção social e oportunidades formada por
três CUCAS, sendo gerenciado pela Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de
Juventude. Estes espaços atendem prioritariamente adolescentes e jovens com idade entre 15 a
29 anos, oferecendo cursos, práticas esportivas, difusão cultural, formações e produções na área
de comunicação e atividades que fortalecem o protagonismo juvenil e realizam a promoção e
garantia dos direitos humanos. Além disso, também visa trazer para a periferia do município
142
desenvolvido em Fortaleza, Ceará, o qual aponta que a vinculação das equipes de saúde ao PSE
ainda não é bem delimitada no município, pois os participantes desconhecem o vínculo de sua
equipe ao programa e os profissionais nunca participaram de capacitações. Ao contrário dos
dentistas que atuam no programa, essencialmente, desenvolvendo ações de prevenção de
doenças bucais, como escovação bucal supervisionada e aplicação tópica do flúor, além de
atividades preventivas com outros enfoques (LIMA, 2016).
No entanto, com a pandemia causada pela Covid-19 em meio as medidas sanitárias
que orientaram a realização das aulas de forma online ou híbrida, estas intervenções estiveram
inoperantes com o retorno ainda sendo de modo gradual, como se pode observar no excerto
abaixo de participante do estudo:
Em virtude da pandemia causada pelo novo coronavírus com a suspensão das aulas
de forma presencial, a rotina do referido programa precisou de fato ser desacelerada e
readaptada para um novo contexto. No entanto, ao contrário do que se encontrou neste estudo
com as atividades totalmente paralisadas, outro desenvolvido na Fronteira Oeste do Rio Grande
do Sul com a equipe do PSE vinculada às Secretarias de Saúde e Educação do município,
evidenciou a preparação de materiais com orientações de prevenção ao coronavírus e dicas para
a tornar a quarentena de modo mais leve e saudável. Assim sendo, como forma de proporcionar
o cuidado em saúde à população escolar do município, foram organizadas ações respeitando as
medidas preventivas nas escolas ao longo dos últimos meses (FETTERMANN et al., 2021).
O estudo reconhece que mesmo nesta situação de pandemia imbricada com vários
empecilhos, a aprendizagem acerca de questões de saúde aconteceu com a utilização de recursos
em vários lugares a partir das atividades previstas pelo PSE. Deste modo, essa aproximação
auxiliando que a escola juntamente com a unidade de saúde pudesse criar mecanismos que
favorecessem a promoção da saúde e a prevenção de agravos em estudantes, especialmente em
144
tempos de pandemia com uma articulação maior de ações em relação as medidas prevenção
contra o coronavírus e a divulgação de informações sobre a pandemia.
Além de tudo isso, os familiares e profissionais acrescentaram que a UAPS realiza
também quando necessário encaminhamento de adolescentes aos serviços especializados da
rede de saúde:
Tem dia que tem atendimento, tem dia que não tem. Eu me lembro que
eu fiquei com a minha mãe, a gente chegou e disseram que o
atendimento já tinha acabado e era de manhã e disseram não tem.
Nunca tem, marca e nunca é chamada, eu nem vou. Eu fui uma vez lá
para o dentista foi com a mãe, a moça falou que ia fazer todo o meu
tratamento e esperei, esperei lá nunca me chamaram. (A01)
(...) nunca não tem, tipo a gente chega com um problema de uma
adolescente lá e às vezes nem tem atendimento e às vezes as pessoas
que têm nem dão atenção, é muito ruim. (A03)
(...) ela está com dente para extrair, a mulher me prometeu no dia
ajeitar o tratamento do dente dela e até hoje não deram notícia de nada
(...) (F01)
(...) atendimento não tem não, não tem não, porque a gente vai no posto,
não consegue nada. Então consegue não nesse posto, a gente vai não
sei quantas maneiras e o tanto de viagem e o atendimento ainda é bom
não. É a pior humilhação quando a gente chega e não tem atendimento
nenhum. (F04)
(...) é muito difícil a gente conseguir, não tem, a gente tem que pagar
para conseguir um procedimento. Esta questão de higiene bucal, é
muito precário e para conseguir é questão assim a gente marca hoje
questão de três meses (...) (F05)
146
O acesso aos serviços de saúde conforme observado neste estudo permanece como
um nó crítico na APS brasileira associado aos vários problemas que o compromete (TESSER;
NORMAM; VIDAL, 2018), entre os quais, destaca-se a grande sobrecarga de trabalho dos
profissionais das equipes de família relacionada a quantidade elevada de usuários adscritos ou
não em cada área que demanda um maior atendimento na unidade de saúde. Logo, esse
problema gerando um aumento no tempo para a população conseguir atendimento, além da
qualidade da consulta não corresponder às necessidades do paciente (LIMA et al., 2015).
Frente a este contexto, em alguns casos a oferta de serviço apenas ocorre quando
há alguma situação de emergência envolvendo o paciente adolescente, conforme apontam os
participantes deste estudo:
Agora assim, quando é uma emergência, as vezes está com a febre com
coisa assim eu ia, aí sim, eu era atendida faz tanto tempo, mas agora a
minha mãe paga plano. A gente vai assim para o plano porque ela a
gente não encontra. Eu acho a falta de respeito, porque a gente paga o
nosso imposto para ter a o nosso direito à saúde. (A01)
(...) a gente procura e nunca tem um atendimento lá, ali só mesmo se a
gente for na emergência a gente, a gente é atendida pela enfermeira,
mas assim a gente procurasse uma consulta uma coisa assim não. (F06)
O acesso dos adolescentes como observado neste estudo em alguns casos está
vinculado ao momento em que a família procura a unidade com sinais e sintomas apresentados
pelo paciente familiar. Isto é, os profissionais de saúde percebem que o paciente não se
apresenta bem quanto o estado de saúde e, dessa forma incluem no rol para a oferta de um
algum atendimento por meio de consulta. Logo, nessa situação a equipe de saúde não se
responsabiliza pela saúde destes cidadãos e tampouco apresenta sinais de vinculação com os
mesmos (OLIVEIRA et al., 2012).
Além disso, os profissionais perdem a possibilidade de uma aproximação direta
com o usuário e a construção de vínculo e cumplicidade na unidade. Outrossim, a proposta de
integralidade, acesso e escuta qualificada que são tão necessários e urgentes durante o processo
de cuidado ampliado em saúde, para reduzir o acolhimento apenas a uma prática clínica pontual
de queixa-conduta direcionado ao quadro de saúde com a presença de uma situação de
emergência e urgência (PENNA; FARIA; REZENDE, 2014).
Os participantes apresentaram também que na UAPS há uma lacuna na realização
das atividades educativas voltadas a promoção da saúde e a prevenção de agravos:
148
(...) não faz nenhuma ação assim para alguns jovens essas coisas, não
fazem nada, nada, eles não fazem nada. (A01)
(...) não tem um suporte em relação a educação, uma educação,
informação como entregar aquelas cartilhazinhas, não tem, eu ainda
não vi, existia mais eu no momento, eu não estou vendo. (F04)
(...) não temos um certo direcionamento, por exemplo, vamos supor,
palestras, você percebe que falta muita palestra direcionada ao
adolescente para adolescência, é tudo na verdade. (P03)
Não dar para eu chegar e pegar, não tem um grupo lá fora de
adolescente, hoje nós vamos falar sobre carie no adolescente, mau
hálito no adolescente, não, a gente não faz esse tipo de atividade aqui
na unidade, não tem espaço, mas já foi feito em escola, é assim na
escola essa parte, assim, de educação em saúde e promoção de saúde.
A gente faz na escola, eu pelo menos assim é meu público atingido nos
grupos de educação permanente e nas capacitações dos grupos pelo
município é na escola, no posto normalmente assim é difícil, porque
não tem espaço, então fica mais restrito ao clínico e orientação do que
precisa. (P06)
(...) eu acredito assim que faltam a parte mais a questão da parte da
educação em saúde. Eu acho que é um ponto assim, que falta para esse
olhar mais ao tratamento ao cuidado aos adolescentes, a questão de
temas que aborda o universo da adolescência e a gente não vê tão
presente aqui na unidade. (P08)
(...) agora aqui dentro do posto mesmo não tem não ações educativas,
eu não sei das outras áreas porque na nossa área a gente trabalha
dessa forma. (P10)
vezes maior a participação deles em atividades educativas nos serviços da própria ESF.
Houveram maiores percentuais de indivíduos que procuraram por esses serviços para ações
preventivas e que conheciam os agentes comunitários nas áreas cobertas pela ESF.
Isto, portanto, segundo os autores está relacionado a cobertura das áreas pela ESF
que possibilitou os serviços de APS serem identificados e utilizados pelos adolescentes e
jovens. Além disso, indica que as unidades de saúde investigadas não atende apenas as
necessidades de atenção aos problemas do setor, mas funcionam como serviços capaz de
responder a demandas por prevenção de doenças e promoção da saúde, o que deve ser destacado
como fortemente positivo e condizente com as diretrizes e os propósitos da ESF.
Esta carência de serviço se mostrou presente na UAPS inclusive durante a pandemia
da Covid-19, em que as intervenções foram necessárias para conscientizar a população sobre a
importância da adesão as medidas preventivas para a manutenção da saúde e preservação da
vida, conforme evidenciado pelo familiar participante deste estudo:
Esta situação expressa no depoimento acima não vai de encontro com o que a
Secretária de Atenção Primária à Saúde, pertencente ao Ministério da Saúde publicou por meio
da Nota Técnica de nº 4/2020. Entre os elementos contidos no documento oficial, havia
recomendações às coordenações de saúde de adolescentes e jovens a nível estadual e municipal
e demais gestores da APS e equipes de SF atuantes no SUS, para a manutenção e/ou adequação
das intervenções no atendimento as necessidades de saúde de adolescentes e jovens no cenário
da pandemia da Covid-19 e mesmo após esse período.
Entre outras sugestões, considerando que população adolescente em condições
sanitárias normais se depara com obstáculos para acessar os serviços de saúde por questões do
imaginário social e cultural associado à sua geração, o documento pontuava a importância da
150
divulgação em meios acessíveis e familiares aos adolescentes e jovens quando houvessem casos
de sintomas a procurar a unidade. Além disso, o levantamento de adolescentes com
comorbidades que pudesse evoluir para formas mais graves da infecção, a busca de formas
objetivas que apoiassem os adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade na prevenção
individual do comprometimento de sua capacidade e a priorização de estratégias de
teleatendimento durante o período de pandemia para manter a continuidade do cuidado, as quais
aparentemente não foram efetuadas pela unidade de saúde investigada.
Nesse contexto, parece a UAPS está direcionada a ofertar serviços a outros grupos
populacionais da comunidade vistos como prioritários, conforme destacaram os participantes
deste estudo:
(...) eu acho que não é mais para os adolescentes, é mais para os idosos,
mas na minha opinião é mais para os idosos. (A09)
(...) eu vejo mais assim, criança para o idoso e isso eu vejo, mais o
adolescente em si não. Tem para criança mas para adolescente não. Eu
acho que é um ponto que a gente não pensa muito, não pensa muito no
adolescente, a gente pensa mais muito no idoso, hoje pensa mais na
criança, mas no adolescente nem tanto assim. Porque a gente tem
programa voltado para criança, para o idoso na comunidade mas para
o adolescente em si não. (F08)
(...) tem outras pessoas que a gestão dá mais prioridade certo, idosos,
gestantes e as pessoas com doenças crônicas. É porque as políticas
públicas para o adolescente realmente não estão acontecendo,
entendeu, no meu ver. (P01)
não se encontrou pesquisas disponíveis até o momento acerca de projetos semelhantes inclusive
no país.
5.4.6 Repercussão dos serviços na saúde da população adolescente
(...) porque eu já me vacinei lá, eu já tive uma consulta, meio que isso
me curou de doenças de forma em geral. (A07)
(...) você vai promover saúde, você vai resolver o problema que poderia
ter sido evitado. (P06)
Porque assim, se você vai com um médico, ele disse que você tem que
fazer isso e isso, é as regrinhas, então faz, eu acho que por isso que ela
não precisa mais, o cuidado, não se você não quer ir para médico, não
153
quer ir para o hospital, não quer se cuidar, faça em casa, se cuide e ela
já está com um bom tempo que não precisa graças a Deus, agora faz
assim é exame de rotina. (F02)
(...) por conta dessas informações mesmo, principalmente sobre esta
questão das informações ou de informações que ele tem dos
profissionais, das próprias enfermeiras que eles têm, parte de uma
forma boa, por conta disso das informações, porque ele não vão está
fazendo um sexo desprotegido ou menos vezes, é está acontecendo,
pronto, ultimamente, está acontecendo nessa sala aqui que eu estou
percebendo que eu estou fazendo menos bezetacil, estou fazendo menos
em adolescente, ultimamente, ultimamente deu um queda nessa relação
de adolescente. Claro, que eu não tenho, não estou fazendo, não tenho
uma base para poder dizer exatamente, mas eu percebo que
ultimamente está tendo, está mais linha mais adulta mesmo do que em
adolescente em si. (P03)
Alguns pacientes a gente ver algumas melhoras, alguns com mais
dificuldade mais outros a gente acaba evoluindo e vendo que há sim
uma melhora a partir do momento que paciente não deixa de tomar o
medicamento porque ele atende ou saiu daquela condição ou então
tinha diminuído a dose, então a gente então acho que nesse ponto sim.
(...) porque eu entendo que tudo que uma coisa esteja ligada a outra,
se realmente está caminhando com a situação de melhora é porque está
tendo um atendimento adequado. (P08)
(...) eu já tenho um atendido adolescente com diabetes e a gente
consegue sabe, eu tenho um paciente com 11 anos já 10, tipo 1, a gente
começou a acompanhar quando ele estava na UTI [Unidade de Terapia
Intensiva] do Barreto [nome fictício] e hoje esse menino é muito
disciplinado totalmente compensado. Então, assim ele é aquele menino
que anota na agenda quantas vezes ele tem que verificar glicemia
capilar, bota o celular para despertar, anota os resultados das
aferições, então, a gente consegue, é colocar a ideia para o paciente
da importância do autocuidado, dele assumir aquela responsabilidade,
autonomia todo dia e conhecimento da sua condição clínica. (P09)
Eu acho que sim, porque a gente faz o trabalho preventivo de
aconselhar e de conscientização do adolescente, a gente faz as
palestras. Então, eu acho que isso tem impacto, porque eles vão
aprendendo, valorizando sua saúde, é tem mais cuidado através do
aconselhamento de nutrição, de hábitos em tudo isso influência na
formação do paciente adolescente. A gente avalia isso a partir de índice
de carie que a gente faz o levantamento, como eu falei aqui como no
caso a odontologia, a gente vai acompanhando se está aumentando o
número de caries, os problemas bucais se está diminuindo, então a
gente nota que com o tempo que a gente já faz isso de 2006 está
reduzindo, tem menos problemas os adolescentes, vão tendo
154
consciência, então vão tendo mais um maior cuidado com a sua saúde.
(P10)
desconhecem algumas questões sobre cuidados em saúde que, por sua vez, podem ser obtidas
na unidade de saúde ao atender às necessidades mais comuns. No entanto, em determinados
casos em que há a ausência de intervenção, o paciente não se beneficia dos serviços implicando
paulatinamente em atitudes imprecisas que, de certa forma, podem comprometer à saúde em
razão de comportamentos deletérios. Nesse sentido, para melhorar ou manter a qualidade da
saúde e de vida, os pacientes mesmo que não conheçam o assunto cientificamente, precisam ter
acesso aos conhecimentos básicos de saúde (LUNA; KUTIASKI, 2018).
Caso contrário, os adolescentes podem estar vulneráveis aos problemas de saúde
considerados como preveníveis por meio do acesso as orientações e informações, conforme
apresenta os profissionais de saúde:
(...) isso é ruim para a gente, porque, porque o que está acontecendo
as consequências, quais são as consequências que está, uma
consequência que para numa gravidez, numa doença que as vezes eles
mesmos tem dúvida, eles ficam com aquilo guardado. (P01)
(...) a falta de informação, a desinformação leva erro, é início de vida
sexual precoce, IST [Infecções Sexualmente Transmissíveis], gravidez,
drogas e aí vai, o contexto geral que a gente já está cansado já de
escutar a respeito dessa fase adolescente. (P12)
(...) isso aí vai reverbera um futuro, a questão da promoção, da
prevenção, mais doenças, o uso de ilícito, a dependência química, a
questão também da depressão e aí é um efeito dominó. (P15)
e assertivas quanto a sua conduta, em lugar de ser submetido a valores e normas que o impedem
de exercer seu direito de escolha na administração de sua própria vida (BRASIL, 2017).
Nesse enquadramento, o profissional precisa também repensar as práticas de saúde
desempenhadas neste âmbito da APS, ao passo que segundo os participantes do estudo a forma
como o atendimento acontece repercute notadamente no retorno do adolescente a unidade:
(...) até mesmo para que ele tenha confiança de procurar a unidade de
saúde, porque senão ele não vai vim, aí é que ele não vem mesmo. (P01)
Se você não tiver aquela relação, claro o ele não voltar, você saber
acolher o adolescente, saber conversar, mesmo que ele venha meio
assim assustado, você sabendo acolher, sabendo conversar, a próxima
vez que ele vier, ele já vem mais tranquilo, já vem com mais à vontade,
já fica mais à vontade de lhe ouvir, de lhe dar mais atenção. Porque se
ele chegar num ambiente que que ele está com muito medo e que você
não transmite a segurança para ele, ele não vem mais voltar, então, eu
acho que impacta sim. (P05)
Eu julgo isso também pelo retorno dele, porque uma vez que o paciente
ele é bem acolhido na unidade ele volta, então é essa resposta que eu
vejo positiva, aquele paciente, independente, da idade de que não é bem
recebido na unidade, que não tem a demanda resolvida, ele não volta
certo. (P11)
(...) eu acho que é isso aí a onde a gente consegue provar, é produzir o
vínculo de confiança e muitas vezes com o adolescente, a grande
maioria das vezes ele quer ser escutado, ele tem suas queixas pessoais,
particulares individuais, porque não quer compartilhar com a família,
mas ele sim que resolver o problema, sim ele quer ele quer informação,
sim ele quer progredir, ele quer avançar, ele quer conhecer, ele quer
dominar o assunto. Então realmente é o trabalho, ele é muito
interessante, é muito interessante de trabalhar com jovens
adolescentes. (P12)
(...) eu acho que esse primeiro contato, essa primeira questão aí do
acolhimento do paciente adolescente, quando a busca é o serviço de
saúde essencial, traz buscas futuras para esse cuidado longitudinal e
integral do paciente adolescente no momento que tem uma questão,
falta de empatia com esse público que o profissional não sabe acolher
as dúvidas, as transformações, transições, a gente coloca uma barreira
nisso aí dificulta novos acessos. (P15)
a empatia, atenção, diálogo e respeito como prática de uma atenção humanizada e integral,
torna-se decisivo para a construção de relação, estabelecimento de confiança, cuidado contínuo
e retorno ao serviço em busca de novos atendimentos. Em casos em que isto não ocorre, o
acolhimento e o vínculo do profissional e unidade de saúde com o usuário ficam de fato
prejudicados, apresentando-se de modo bastante superficiais, frágeis, imprecisos (GOMIDE et
al., 2018).
Eu acho que está normal, está normal, eu não tenho problema dessas
coisas, de saúde, problema do coração, de diabetes, tenho nada não.
(A06)
Minha saúde está bem, está bem. Ela está bem, porque eu já fui
vacinado, eu já tomei os remédios, eu não tive doença e nem tantas
doenças nos últimos dias assim. (A07)
Está bem graças a Deus, está bem, porque eu não sinto nada, eu não
estou sentindo nada, não estou precisando de nada, está bem, na minha
opinião está bem. (A09)
Saúde está bem, está melhor do que eu dez vezes, melhor do que eu dez
vezes, não sente nada, não sente nada, nem uma dor na unha, ela nunca
adoeceu, ela está ótima. (F07)
Bem como outros participantes apesar dos adolescentes apresentarem algum
problema de saúde considerados de menor risco à saúde:
Assim, a saúde está boa, mas não está tanto mais está bom, graças a
Deus. Porque assim, eu acredito que todos nós temos um problema de
saúde, então a gente precisa sempre estar ali se consultando. Eu
também só não como estou sem por cento, eu tenho eu tenho é coisas
alguns problemas para mim examinar e saber se eu estou bem mesmo
ou não mas assim de saúde assim vendo, graças a Deus eu estou bem.
(A01)
Minha saúde está maravilhosa, porque já que eu não fico doente, as
vezes eu tenho uma gripe mas passa é um, dois dias, então é boa,
159
porque para quem cansava que tinha que ir para o hospital e ser
internada e agora não sou mais, então é maravilhosa. (A03)
Graças a Deus é até agora graças a Deus ela está bem, não só mesmo
esse problema desses dentes dela, mas de saúde graças a Deus deu
nada não, ela não está sentindo nada não. (F01)
Está bom de saúde dele, ele não teve mais nenhuma doença mais assim,
só mesmo uma virose aqui e ali mesmo, por causa do tempo, mas está
bem. (F06)
Tem adolescente que vem até com um estado de saúde boa, mas tem
adolescentes que chegam com uma necessidade muito grande de
cuidados, de cuidados mesmo, questão de limpeza, questão de boca, os
dentes estragados e tem adolescente que chegam bem cuidados. (P05)
Na verdade, a busca pelos serviços de saúde como pensa o adolescente não se deve
restringir apenas quando da presença de um problema ou agravo já instalado, uma vez que se
pode definir a APS como um inextricável conjunto de propostas assistenciais divididas de forma
equitativa a toda população brasileira. Entre os serviços de saúde que devem ser ofertados
conforme a política para resolver uma diversidade de problemas comuns, destaca-se as
160
Minha saúde está bem, só o meu psicológico que está abalado, mas
estou bem, mas para mim é normal. (A04)
Meio mais perturbado o adolescente, é um adolescente, é uma geração
meio que muito informada, mas não preparada para agir com as
informações que eles têm, então são meio aborrecidos mesmo em
alguns aspectos. Vejo porque as informações estão bem fáceis, mas
como ele lidam com essa informação é que é o diferencial, é o que eu
vejo muitos pacientes que tem muitos casos de suicídio assim, coisas no
adolescente que a gente cite. A enfermeira quando a gente começou
nesse programa, ela deu testemunho que ela tinha um grupo que os
adolescentes estão adoecidos mentalmente, eles tão sozinhos, solitários
num mundo bem conectado. (P06)
(...) hoje em dia nos estamos com muitos adolescentes com problemas
psicológicos, muito e muito até é considerado hoje em dia uma das
primeiras doenças. (P07)
Hoje, é de modo geral, eu vejo os adolescentes é socialmente, abalados,
talvez, a mente está muito confusa. A gente tem número de pacientes
novos jovens fazendo uso de antidepressivos. Então depois, a pandemia
só aumentou isso daí. (P09)
(...) depois da pandemia, a gente tem recebido muito adolescente com
ansiedade, alguns poucos casos estão com alguns sinais de depressão,
de pânico também, mas a maioria da adolescente que vem aqui é com
crise de ansiedade, tudo gerado por outros motivos, mas que a
pandemia ela veio trazer uma complicação. (P11)
(...) o que chega muito mais a questão emocional desses adolescentes
com depressão, com muita ansiedade, tem muita agora na época da
pandemia, veio muito adolescente com o ataque de pânico contar que
ataque cardíaca dizendo que tem ansiedade. (P14)
(...) existe ainda uma questão de uma aflição e um angustia relacionada
à questão do isolamento da pandemia que eu tenho visto bastante. Os
poucos que eu atendi é uma repercussão como se fosse um transtorno
de ansiedade gerado, eles sentem muita falta do contato na escola, eu
acho que essa questão das aulas online muitos relataram para mim
sobre o que eu atendi dessa barreira que não estão gostando de ficar
dentro de casa e gostava do convívio social, acho que essa questão é
161
É por isso que nós temos na nossa área muitas adolescentes com
questão de gestantes, adolescentes com doenças sexualmente
transmitidos, outros questionamentos (...) (P01)
(...) a gente chega aqui tem muita adolescente grávida, muita novinha
e às vezes eu já cheguei a atender porque eu atendi o compartilhado
com psicóloga a adolescente que já estava, já tinha saído da fase da
fase mais na adolescência, ela teve três filhos e ela não tinha a menor
noção de educação sexual, ela achava que ela engravidava quando
queria, um rapaz disse para ela que não fazia filha, ela acreditou e ele
fez um filho, a menina totalmente inocente do mundo sem nenhuma
noção de educação sexual (...). (P14)
162
(...) então, assim, eu não tenho muito o que falar deles não, porque eles,
pelo profissionalismo deles, eles são as pessoas que são umas pessoas
legais, pessoas que a gente cria afeto com eles. (F02)
modo, para alguns autores a expressão de satisfação não necessariamente reflete uma avaliação
positiva. Os pacientes sentem-se satisfeitos independentemente da boa qualidade do cuidado
recebido e a insatisfação é manifesta apenas em eventos extremamente negativos
(ESPERIDIÃO; VIERA-DA-SILVA, 2018).
Nesse sentido, os familiares ao contrário dos adolescentes como identificado abaixo
apresentaram insatisfação com a referida unidade de saúde:
(...) é porque a gente nunca viu isso não, aqui não tem isso não, isso é
ruim, isso é péssimo. A gente se sente meio abandonado, na área da
saúde a gente se sente meio que abandonado. (F06)
Tem sido péssimo, uma vez que cheguei lá para ser atendida, cheguei
lá era uma hora da tarde e saí seis horas da noite, povo demora no
atendimento, às vezes o doutor demora todo essa demora, às vezes nem
consulta e quando uma vez eu passei mal lá não prestaram socorro, foi
tanto que eu tive que voltar para casa passando mal, horrível. Que não
deveria nem existir esse posto, nem presta assistência nenhuma. (A03)
166
O tempo de espera como retratada acima neste estudo tem sido avaliada também
em outras pesquisas no país e os resultados são em geral negativos, identificando queixas sobre
esta dimensão. Em geral, as queixas dos participantes se referem ao tempo de espera demorado,
a necessidade de receber atendimento mais rápido e as dificuldades para a marcação das
consultas (BRANDÃO; GIOVANELLA; CAMPOS, 2013). Em uma pesquisa observou-se que
o tempo de espera para consulta dentro dos serviços esteve em torno de 30 minutos, logo, dentro
do período recomendado por estudiosos da qualidade dos serviços de saúde (STARFIELD,
2002).
Assim sendo, na unidade básica o tempo médio razoável da duração de uma
consulta deve ser em torno de 20 minutos para um atendimento. Entende-se que o momento da
consulta é central no processo diagnóstico e terapêutico, sendo necessário o entendimento da
subjetividade do paciente e a influência das queixas clínicas dos aspectos sociais, culturais e
religiosos. Logo, o tempo no modelo centrado no paciente deve permitir a abordagem de
questões do médico relacionada aos sintomas e à doença e do paciente que inclui suas
preocupações, medos e experiência de adoecer e a integração entre de ambas (BALLESTER et
al., 2010).
Embora exista (in)satisfação por parte de adolescentes, familiares e profissionais
frente aos serviço da unidade de saúde, estes últimos demostraram em seus depoimentos
conformação com as situações complexas e indesejáveis vivenciadas:
Tem que se conformar, tem que ficar calada, porque ninguém pode
dizer nada, tem que ficar calado, eu fico calada, muitas vezes eu fico
calada, mas só Deus sabe porque, vai no posto porque precisa, tem que
estar precisando, quando chegar direitinho, mas você tem que ficar
calada. (F04)
(...) eu acho que porque é o que nós temos, não tem como você exigir a
mais do que isso. (P05)
Estudo desenvolvido por Gomide et al., (2018), identificou também que apesar das
diversas debilidades presentes nas UAPS investigadas, os participantes apresentaram com
frequência uma satisfação com os atendimentos ofertados e um certo conformismo quanto aos
serviços prestados. Nesse contexto, percebe-se que entre os adolescentes e os familiares, em
especial, há uma necessidade de apreensão sobre os seus direitos e o envolvimento no controle
social da comunidade para que possam participar dos processos de gestão pública em busca de
167
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
espontânea e programa conforme sua rotina geral, sendo este mais voltado ao modelo
assistencial com identificação do problema e busca pela sua resolução de modo pontual. Além
disso, entre os serviços disponíveis há oferta de atendimento através de programas específicos,
administração de imunizantes, solicitação de exames complementares, encaminhamento para
serviços especializados, disponibilização de métodos contraceptivos e realização de atividades
promotoras em diferentes espaços da comunidade, os quais de fato fazem parte do SUS para
garantir o acesso a saúde da população brasileira incluindo os adolescentes.
De algum modo, a unidade tem possibilitado reestabelecer a saúde dos adolescentes
através de atendimentos pontuais, bem como a promoção da saúde em meio as orientações
realizadas pelos profissionais. Ademais, os problemas de saúde que afetam os adolescentes, ora
são provenientes de comportamento deletérios do próprio grupo, ora são da deficiência de
cuidado em saúde do serviço que viabilizam também a adoção destas práticas. De forma geral,
o estado geral de saúde do adolescente foi classificado como satisfatório embora o grupo
investigado apresente algum agravo em saúde de menor grau e risco, estando presente de forma
mais acentuada os problemas psicológicos, gravidez e IST, retrato este que em sua maioria faz
parte da realidade e do universo da população adolescente.
Os participantes do estudo ainda demostram em meio aos depoimentos uma certa
(in)satisação com serviços ofertados aos adolescentes. De um lado, observou-se a satisfação
pela presença de uma unidade de APS na comunidade para a oferta de serviços e a qualidade
do cuidado do profissional dispensado ao adolescente e, por outro, a insatisfação com os
serviços da referida unidade de saúde e também com o trabalho desenvolvido pelos
profissionais, demostrando ainda um certo grau de conformação com as situações complexas
enfrentadas.
Nesse contexto, as evidências são sugestivas de que há necessidade de maior
investimento na APS no que diz respeito a inclusão de questões que envolvem à saúde da
população adolescente, de forma a implantar e implementar processos de trabalho, práticas de
cuidado e ações em saúde que contemplem as especificidades deste grupo para acesso aos
serviços primários. Acredita-se que intervenções como estas possivelmente estimularão a
presença dos adolescentes na unidade de saúde em busca de algum atendimento no cuidado
com a saúde e favorecerão o desenvolvimento de atividades assistenciais para a promoção da
saúde e prevenção de agravos.
Espera-se que este estudo possa contribuir de alguma forma na atenção à saúde
ofertada a população adolescente pela APS. Deste modo, que este favoreça a reorientação do
modelo de atenção em saúde a esse público ainda vigente na unidade de saúde, a partir da
171
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Fonte: elaborado pelo autor (2021).
210
APÊNDICE B – DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS INFORMAÇÕES EXTRAÍDAS DOS ESTUDOS SELECIONADOS NA REVISÃO
INTEGRATIVA
TÍTULO OBJETIVO MÉTODO PRINCIPAIS RESULTADOS CONCLUSÕES
Barreiras e Usar uma abordagem Estudo misto Dos 72 construtos do consolidado, Usando o consolidado para examinar
facilitadores para o sistemática com base no sete fortemente distinguidos e sete sistematicamente o uso desta vacina em
HPV vacinação nas Consolidado Framework fracamente distinguidos entre os práticas de atenção primária
práticas de atenção for Implementation profissionais com cobertura de independentes, permitiu identificar
primária: um estudo Research (CFIR) para vacina de Papiloma Vírus Humano facilitadores e barreiras no provedor,
de métodos mistos identificar e caracterizar mais alta versus mais baixa. A nível interpessoal e de prática que
usando o fatores que são facilitadores maioria dos construtos fortemente precisam ser abordadas em esforços
Consolidado de barreiras para a distintivos foram facilitadores e futuros para aumentar o uso de vacinas
Framework for implementação do nacional. estavam relacionados às em tais locais. Os resultados sugerem
Implementation características dos provedores, sua que a implementação de estratégias que
Research. percepção da intervenção e seu têm como alvo o profissional, os
processo de aplicação da auxiliam a lidar com as barreiras de
vacina. Construtos adicionais vários níveis ao uso da vacina contra o
fracamente distintivos que eram vírus e merecem ainda mais
facilitadores eram do ambiente investigação.
externo, do ambiente interno e
processo. Dois fortemente
distintivos construtos foram
barreiras de uso, um da
intervenção e o outro ambiente
externo.
Centros de saúde Examinar se o aumento da Estudo Os alunos em escolas de centros de Este estudo sugere que o aumento da
em escolas, disponibilidade de serviços longitudinal saúde com base na escola que disponibilidade de serviços de saúde
depressão e risco de de saúde mental em centros aumentaram a disponibilidade de mental nas escolas pode ajudar a
suicídio entre de saúde em escolas serviços de saúde mental foram reduzir os episódios depressivos e o
adolescentes. públicas de Oregon estaria menos propensos a relatar risco de suicídio entre adolescentes.
associado a uma diminuição episódios depressivos de 2013 a
na probabilidade de 2015 em comparação com todas as
episódios depressivos e outras escolas. Reduções
significativas de risco em
211
Quais modelos de Descrever modelos de Estudo Método qualitativo a partir de Compartilhado estratégias de prática e
atendimento os cuidados que os cuidados quantitativo entrevistas semiestruturadas. filosofias enfatizaram o cuidado co-
generalistas primários provedores Dezenove médicos generalistas ordenação, foco em todo o paciente
implementar implementaram e com formação de todos os EUA, além do imediato preocupações com a
abordar a transição examinando características engajados em processos de saúde e vontade de aprender com a
do atendimento das experiências dos transição e/ ou cuidados contínuos práticas de famílias, agem baseada em
pediátrico para o médicos generalistas de adolescentes e adultos jovens equipe interdisciplinar.
adulto ?:um estudo proporcionando cuidados com condições de início na
qualitativo. transitórios. infância, sendo a análise conteúdo
e teoria fundamentada.
Conseguir um Entender melhor as vias de Estudo A 1ª apresentação foi na atenção Relatórios anteriores de tempo para o
diagnóstico referência em um coorte de quantitativo primária em 86% e 93% diagnóstico prolongado focaram no
oportuno para pacientes recém- consultaram também antes do atraso no encaminhamento da atenção
adolescentes e diagnosticados diagnóstico. As rotas para o primária, mas esse estudo sugere que
jovens adultos com encaminhados para uma diagnóstico foram 45% por meio isso pode ser reduzido por meio da
câncer: o ACE rede de atenção ao câncer de vias de espera de duas semanas otimização da gestão na atenção
“também jovem TYA no sudoeste de urgentes e 38% como secundária.
para ter câncer? " Inglaterra. encaminhamentos de emergência.
estudo No geral, o tempo na atenção
primária foi curto em comparação
ao atendimento secundário. 40%
das vias foram classificadas como
boas/melhores práticas, mas 16%
foram menos que
satisfatórias. Segurança contínua
rede/apoio foi identificado a partir
de cuidados primários, mas a
análise sugeriu oportunidades de
melhoria em transição para a
atenção secundária.
Andaluzia sobre o por papiloma vírus humano comportamentos sexuais de risco, que os transmitam de forma clara e com
papiloma vírus e administração da sua devido à falta de tempo e pouca assertividade aos pais. Isso evitaria
humano e sua vacina. preocupação dos adolescentes com incertezas em pais, melhoraria as taxas
vacina. medidas preventivas. Embora de vacinação e diminuiria as
reconheçam a sintomatologia da complicações da infecção e câncer.
infecção por HPV, nem todo
mundo sabe se o homem sofre da
doença, bem como da associação
de infecção com outros tipos de
câncer além do colo do útero. Eles
duvidam da hora de recomendar a
vacina, cabendo aos pais a decisão
de vacinar suas filhas.
Conhecimento e Explorar o conhecimento e Estudo Existe um atendimento clínico O quadro legal causa insegurança nos
prática clínica de a prática clínica da atenção qualitativo diferenciado para a prevenção da profissionais de saúde e deriva de uma
provedores de primária à saúde gravidez entre adolescentes abordagem clínica diferenciada de
saúde para prestadores de cuidados maiores de 14 anos. Isso é devido acordo com a idade do paciente. Esta é
prevenção da (APS) em relação à ao quadro legal, especificamente à uma barreira para fornecer acesso
gravidez na prevenção da gravidez na lei do crime sexual e à lei sobre a oportuno e confidencial a
adolescência de adolescência. regulamentação da fertilidade. As aconselhamento e contracepção.
acordo com o marco diferenças afetam os cuidados de
legal chileno. saúde, o acesso e o
aconselhamento sobre
contracepção e
confidencialidade. Assistência à
saúde de adolescentes menores de
14 anos é percebido como
problemático para os prestadores,
devido às possíveis implicações
legais.
Associação da Analisar a associação entre Estudo coorte Entre 8.409 adolescentes com No contexto da diminuição das taxas de
continuidade dos a continuidade da atenção doença mental grave, 65,1% tinham consultas ambulatoriais de especialistas
cuidados primários primária durante a transição cuidados primários contínuos e em saúde mental após a transição para
com os resultados de pediátrico para cuidados 28,4% tinham cuidados primários os cuidados adulto, garantindo o acesso
216
após a transição adultos e necessidade de descontínuos, e 6,4% não tiveram adequado aos cuidados primários
para os cuidados de serviços de saúde mental atenção primária durante o período durante este período vulnerável pode
adultos para aguda na idade adulta de transição. Jovens sem cuidados melhorar os resultados de saúde na
adolescentes com jovem. primários durante a transição eram idade adulta jovem.
doença mental mais propensos a ser do sexo
grave. masculino, ter menor nível
socioeconômico e não ter médico de
cuidados primários habituais no
início do estudo. Em comparação
com o cuidado contínuo, os
pacientes com descontínua e sem
atenção primária teve um aumento
na taxa de hospitalização
relacionada à saúde mental em idade
adulta jovem.
Experiências de Descrever experiências de Estudo Os participantes reconhecem que As descobertas ressaltam o desejo dos
adolescentes de adolescentes de qualitativo os médicos são profissionais, a adolescentes de se envolverem na
comunicação entre comunicação clínico- importância da confidencialidade comunicação sobre HIV/DST com os
médico e paciente paciente de HIV/DST por para promover a comunicação profissionais de saúde, ao mesmo
em HIV / DST na meio de entrevistas médico-adolescente e apelando tempo em que destacam estratégias
atenção primária. qualitativas com mulheres para a comunicação de HIV/DST importantes para os médicos. Os
adolescentes iniciada pelo médico. Os resultados podem informar a pesquisa e
predominantemente afro- adolescentes expressaram a a prática de comunicação em saúde e o
americanas de uma clínica necessidade de os médicos desenvolvimento de intervenções
de atenção primária voltada envolverem os jovens nessas destinadas a aumentar a comunicação
para jovens. conversas desafiadoras por meio médico-adolescente sobre HIV/DST.
de uma abordagem aberta e
compreensiva. Além disso, os
adolescentes descreveram
experiências de julgamento
percebido e desconforto dos
médicos e não revelação de
comportamentos de HIV / DST aos
seus médicos.
217
Participantes do Descrever os participantes Estudo Destaca-se que 79% dos Os adolescentes Lésbicos, Gays,
Festival do Orgulho adolescentes do festival do transversal entrevistados se identificaram Bissexuais e Transgêneros que
do Adolescente - Orgulho e determinar se eles como tendo orientação não frequentam o Orgulho de Minnesota
Avaliando suas estão acessando o sistema heterossexual. Os participantes estão acessando um médico de atenção
interações com os de saúde, se os provedores rurais foram mais propensos a se primária com a mesma regularidade que
médicos da atenção estão discutindo história identificarem como Lésbicos, os pares heterossexuais cisgêneros, mas
primária. sexual e oferecendo exames Gays, Bissexuais e Transgêneros raramente recebem testes de Infecções
de Infecções Sexualmente do que os participantes urbanos ou Sexualmente Transmissíveis, apesar do
Transmissíveis nesses suburbanos. A maioria (90%) dos conhecimento das taxas aumentadas de
encontros, com foco em adolescentes foi visto por um infecções nesta população. Obter um
adolescentes Lésbicos, médico no último ano. Destes, histórico sexual e rastrear Infecções
Gays, Bissexuais e 68% foram questionados sobre Sexualmente Transmissíveis é algo que
Transgêneros. histórico sexual e 29% oferecidos todos os médicos podem fazer e
testes de Infecções Sexualmente representa um primeiro passo
Transmissíveis. A identificação importante em qualquer iniciativa de
como Lésbicos, Gays, Bissexuais e redução de Infecções Sexualmente
Transgêneros não foi associada à Transmissíveis.
taxa de histórico sexual obtido ou
ao rastreamento de oferecido, mas
foi associada à percepção da
necessidade de teste de Infecções
Sexualmente Transmissíveis.
Esforços para Descrever as mudanças na Estudo misto Dentre os 48 centros de saúde das Para aumentar o uso dos adolescentes
aumentar a implementação de práticas 10 comunidades, 52% relataram dos serviços de saúde reprodutiva de
implementação de clínicas baseadas em um aumento na implementação de qualidade, centrados no cliente,
práticas clínicas evidências entre parceiros práticas clínicas baseadas em acessíveis e confidenciais, é necessário
baseadas em de centros de saúde como evidências, principalmente no melhorar a implementação de práticas
evidências para parte de uma iniciativa de fornecimento de acesso a clínicas baseadas em evidências. Os
melhorar os prevenção de gravidez em anticoncepcionais e na oferta de esforços para identificar barreiras e
serviços de saúde adolescentes com vários Quick Start. Entre os centros de facilitadores na implementação de
reprodutiva amigos componentes e em toda a saúde que não relataram nenhuma práticas clínicas, podem informar aos
dos adolescentes. comunidade; compreender mudança (13%), a maioria relatou centros de saúde sobre as oportunidades
melhor as barreiras e os que as práticas já estavam sendo de desenvolver sua capacidade para
facilitadores da implementadas antes da garantir que estas sejam
implementação das práticas iniciativa. Entre os centros de implementadas.
218
atenção primária: não-conformes de gênero e participantes comentou acerca do unidades proporcionarem um ambiente
um estudo suas recomendações para as sofrimento ao serem chamados acolhedor, usarem nomes e pronomes
qualitativo. práticas de atenção primária pelo nome ou pronome corretos e discutirem o gênero de
e clínicos. incorreto. Várias recomendações maneira confidencial com os pacientes.
emergiram, incluindo perguntas
sobre a identidade de gênero e
pronomes nas consultas e não
perguntar em relação a identidade
de gênero. Os participantes
enfatizaram a importância de usar
seus nomes e pronomes
afirmativos e a existência de
conhecimento do profissionais
acerca da saúde transgênero.
Resultados de uma Descrever as experiências Estudo De 1.123 adolescentes elegíveis, Os resultados descrevem barreiras e
Pesquisa Nacional relacionadas à atenção longitudinal 789 responderam a pelo menos um possíveis soluções para a atenção
de Mensagens de primária entre uma grande prompt. Quatro temas foram primária entre os adolescentes. Por
Texto com Jovens: amostra nacional de encontrados: os jovens exemplo, cuidados com a saúde são
Perspectivas na adolescentes para melhorar reconheceram a importância da estabelecidas durante a adolescência e
Atenção Básica. a atenção centrada no atenção primária, mas existem uma transformação é necessária para
paciente. barreiras que limitam sua criar um cuidado mais centrado no
utilização, sentiram que melhorar a paciente que se alinhe com os valores e
conveniência aumentaria o uso da as experiências. Assim, os profissionais
atenção primária; não tinham de cuidados primários têm a
certeza de como fazer a transição oportunidade de impactar de forma
entre os ambientes de atenção positiva a saúde dos adolescentes de
primária; sentir-se respeitado era presente e dos adultos do futuro.
essencial para obterem
experiências positivas em um
ambiente de atenção
primária. Jovens mais velhos e
aqueles que se identificam como
mulheres, não binários ou
transgêneros eram mais propensos
220
Percepções dos Determinar se os serviços de Estudo misto A maioria dos jovens apresentou Os jovens sentiram que suas demandas
jovens LGBTQ atenção primária à saúde são que suas necessidades de saúde de saúde não foram contempladas no
sobre a Atenção percebidos com não eram bem atendidas. A centro, sendo as principais
Básica. atendimento adequado às maioria reconheceu a má preocupações com relação a abordavam
necessidades dos jovens comunicação entre paciente e superficial dos médicos sobre questões
LGBTQ, avaliar as lacunas profissional de saúde, desrespeito de orientação e saúde sexual. Além
nos serviços e identificar e falta de discussões sobre tópicos disso, muitos sentiram-se tratados de
áreas para melhoria na importantes como saúde sexual e maneira crítica e desrespeitosa. Os
prestação da atenção emocional. Os participantes prestadores de cuidados primários
primária à saúde. citaram preocupações com a precisam aumentar seus conhecimentos
confidencialidade e comentários sobre a saúde LGBTQ e melhorar suas
inadequados como barreiras para o habilidades de comunicação.
atendimento. Os jovens
expressaram um forte desejo de
que os médicos estivessem mais
conscientes de suas necessidades e
preocupações.
Desafios da Identificar os desafios Estudo Os profissionais e gestores O estudo desenvolvido na atenção
Atenção Básica às enfrentados por gestores e qualitativo apontaram desafios associados à básica do Brasil abordou os desafios
crianças e equipes no cenário da gestão das condições crônicas e à enfrentados pelos profissionais e
adolescentes com atenção básica para o estrutura operacional da rede de gestores, mostrando que a coordenação
condições crônicas atendimento de crianças e atenção à saúde que afetam a do cuidado à criança/adolescente em
no Brasil. adolescentes em condições coordenação do cuidado e a condição crônica ainda não é eficiente
crônicas no Brasil. organização da rede de ou eficaz no município estudado. Para
atendimento à população jovem que esse tipo de atenção seja integral,
acometida por doenças crônicas. são necessárias melhorias na gestão das
necessidades de saúde, bem como na
estrutura operacional que afeta a
organização da rede de atenção à saúde.
Acesso à atenção Examinar as questões de Estudo A maioria dos jovens relatou um Os clínicos gerais podem desempenhar
primária e atenção acesso à atenção primária e transversal estado de saúde mental geral ruim. um papel fundamental na melhoria da
dispensada: uma dispensa de atenção à saúde Conforto com um médico foi saúde dos jovens trans, demonstrando
pesquisa com entre adolescentes e jovens positivamente correlacionado com compreensão das necessidades de saúde
adolescentes e transexuais. o estado de saúde geral e mental, dos jovens transgêneros e competência
jovens transexuais. assim, como ter um médico ciente em cuidados de afirmação de gênero, e
223
Vacinação Investigar a associações Estudo Foram utilizados dados de 587 O estudo identificou vários fatores
meningocócica na entre várias características ecológico práticas gerais, representando 8% independentemente associados à
atenção primária de medicina geral e a de todas as práticas gerais na vacinação da meningocócica
entre adolescentes aceitação de vacina Inglaterra. A captação da quadrivalente ACWY na atenção
no Noroeste da meningocócica meningocócica quadrivalente primária. Essas descobertas permitirão
Inglaterra: um quadrivalente ACWY no ACWY variou de 20,8% a 46,8% uma abordagem direcionada para
estudo ecológico noroeste da Inglaterra. entre os grupos de melhorar a aceitação da vacinação em
investigando comissionamento clínico nível de prática geral.
associações com avaliados. Após a regressão
características da multivariável, a aplicação da
clínica geral. vacinação aumentou com o
aumento da porcentagem de
pacientes de minorias étnicas, da
porcentagem de pacientes de 15 a
24 anos, de pacientes que
recomendariam sua prática e o
alcance total da estrutura de
qualidade e resultados para a
prática. Por outro lado, a absorção
da vacinação diminuiu com o
aumento da privação.
Utilização de Identificar as condições de Estudo Três quartos das 4.121 visitas de Medir a morbidade e a provisão de
serviços de saúde saúde que os jovens retrospectivo jovens foram registrados por serviços é fundamental para informar a
primários e de apresentam e os serviços mulheres e 40% de todas as visitas política e promover sistemas de saúde
saúde escolar por eles recebem em clínicas de de jovens foram de mulheres com responsivos. Os esforços devem ser
adolescentes e saúde pública, clínicas idade entre 20 e 24 anos. As intensificados para melhorar a
jovens adultos em móveis e serviços de saúde condições de apresentação mais qualidade e integridade dos registros de
KwaZulu-Natal, escolar. comuns foram relacionadas ao saúde, com atenção à documentação de
África do Sul. Vírus da Imunodeficiência questões de saúde dos jovens
Humana, pré-natal, planejamento importantes, e atualmente mal
familiar, queixas gerais não documentadas, como saúde mental e
específicas e problemas nutrição.
respiratórios. Houve poucas
consultas registradas para outras
condições comuns que afetam os
225
Perspectivas dos Obter uma compreensão Estudo Durante a transição do A opinião dos médicos de família que
prestadores de sobre os papéis dos médicos qualitativo atendimento pediátrico para o acompanham seus pacientes ao longo
cuidados de saúde de família e potenciais adulto, as cinco funções principais da vida e fornecem a maior parte dos
primários sobre as barreiras e facilitadores para identificadas pelos participantes cuidados primários no Canadá, são
suas funções no o seu envolvimento durante para apoiar os adolescentes e essenciais para informar e refinar as
apoio a o período de transição, a jovens pareceram inter- práticas de transição recomendadas. As
adolescentes e partir da perspectiva dos relacionadas. Antes da descobertas fornecem insights, dos
jovens adultos na médicos de família e outros transferência, o relacionamento próprios prestadores da atenção
transição de prestadores de Atenção longitudinal profissional-paciente primária, para reforçar a justificativa
serviços Primária à Saúde. permite que eles assumam que para o envolvimento durante as
pediátricos. incluem o fornecimento transições da especialidade pediátrica e
de cuidado holístico e avaliação da dos cuidados baseados na
preparação para a transição, bem comunidade. Soluções para superar as
como capacitar os adolescentes e barreiras para a integração da atenção
jovens para desenvolver primária e atenção especial para
autonomia e responsabilidade adolescentes e adultos jovens precisam
pessoal por seus cuidados. Os ser identificadas e testadas.
participantes perceberam que os
papéis eram essenciais para
facilitar seu papel no cuidado,
como coordenar serviços
especializados e/ou comunitários
durante o período de
transição. Este papel foi percebido
como difícil para os provedores de
cuidados aos adolescentes e jovens
se eles não tivessem
relacionamento estabelecido ou
não fossem conhecidos.
Dificuldades Identificar as dificuldades Estudo As dificuldades foram a ausência e A enfermagem necessita desenvolver
enfrentadas por enfrentadas pelos qualitativo a inadequação da estrutura física, ações concretas baseadas na realidade
enfermeiros para enfermeiros no item necessário para proporcionar dos adolescentes e, também facilitar o
desenvolver ações desenvolvimento de ações realização de encontros, debates e acesso aos serviços de saúde a partir de
direcionadas ao voltadas ao adolescente na reuniões com adolescentes. A programas e serviços específicos para
atenção primária. sobrecarga de trabalho impede a esse público.
227
Influência da saúde Descrever os padrões de Estudo Quase a metade (49,2%) dos Os adolescentes em risco de uso de
mental e do risco de risco de uso de álcool e transversal adolescentes relatou uso de álcool álcool e outras drogas e problemas de
uso de álcool ou outras drogas e triagem e e outras drogas no ano saúde mental têm maior probabilidade
outras drogas nos intervenção de cuidados anterior. Dos 769 (60,1%) de se beneficiar de uma intervenção
cuidados relatados primários relatados por adolescentes que relataram ter sido breve. Essas descobertas sugerem que
por adolescentes adolescentes e examinar questionados por um provedor estratégias são necessárias para facilitar
recebidos em associações de risco de uso médico em cuidado primário sobre a identificação dos profissionais de
ambientes de de álcool e outras drogas e o uso de álcool e outras drogas, saúde da necessidade de
cuidados primários. saúde mental com os apenas 37,2% relataram ter aconselhamento tanto de uso de álcool
cuidados recebidos. recebido triagem/intervenção. As e outras drogas quanto de cuidados de
chances de triagem/intervenção saúde mental para jovens em risco.
relatada foram significativamente
maiores para adolescentes com
maior risco de uso de álcool e
outras drogas e menores escores de
saúde mental.
Rede intersetorial Analisar a rede intersetorial Estudo Emergiram duas categorias A ausência de um cuidado em rede
para o construída a partir da qualitativo intituladas “Não é inexistente, mas ficou evidente, gerando isolamento e
enfrentamento da Atenção Primária à Saúde é complicada” e “A gente está sobrecarga da unidade de atenção
violência contra em contexto rural para sempre na linha do tiro”. A básica que é potencializada pelas
crianças e enfrentamento da violência existência de uma rede fragilizada, características da ruralidade.
adolescentes em doméstica contra crianças e a atenção pautada pelo viés
contexto de adolescentes. biomédico e a fragmentação no
ruralidade. cuidado foram características
presentes no cuidado às famílias.
229
Relação entre o Examinar em uma amostra Estudo Um total de 40% dos adolescentes Muitos adolescentes não relatam
relatório do da comunidade se o auto transversal relatou que receberam atenção receber atenção centrada no
adolescente de relato do adolescente sobre centrada no paciente. O relatório paciente. Esta relatada por adolescentes
atenção centrada no a atenção centrada no de recebimento de atenção correlaciona-se positivamente com
paciente e da paciente varia de acordo centrada no paciente foi associado medidas de atenção primária a
qualidade da com as características do a alta qualidade para outras adolescentes de alta qualidade. O
Atenção Básica. paciente e se o recebimento medidas, como ter uma conversa estudo fornece suporte para usar o
pelo adolescente está privada com um médico e ter relatório do adolescente de atenção
associado a medidas de falado sobre comportamentos de centrada no paciente como uma medida
qualidade da atenção saúde. Além disso, foi associado a da qualidade da atenção primária ao
primária ao adolescente. menor probabilidade de adolescente.
necessidade de cuidados não
satisfeita auto referida e ter um
problema de saúde sério não
tratado.
230
Fornecimento de Estimar o impacto que o Estudo Entre 2008 e 2017, o Projeto de Quando serviços abrangentes de saúde
contracepção em aumento da disponibilidade transversal Saúde Reprodutiva do Centro de reprodutiva estão disponíveis os Centro
centros de saúde e do acesso a serviços Saúde Escolar apoiou um aumento de Saúde Escolar, os adolescentes os
baseados em contraceptivos locais, substancial na proporção de utilizam, resultando em
escolas da cidade de incluindo método clientes mulheres sexualmente substancialmente menos gravidezes,
Nova York: anticoncepcional reversível ativas que usam anticoncepcionais abortos e nascimentos, e custos mais
impacto na gravidez de ação prolongada, em eficazes. Mais dramaticamente, baixos para os sistemas de saúde
na adolescência e Centro de Saúde Escolar 14% dos clientes no mix de pública.
custos evitados, teve sobre o uso de métodos do Projeto de Saúde
2008–2017. contraceptivos entre Reprodutiva do Centro de Saúde
adolescentes sexualmente Escolar usaram método
ativas em Nova York e, anticoncepcional reversível de
consequentemente, em ação prolongada em 2017, em
gravidezes e nascimentos comparação com 2% no mix de
em toda a cidade e abortos não Projeto de Saúde Reprodutiva
de 2008 a 2017. do Centro de Saúde Escolar. O
projeto evitou uma estimativa de
5.376 gestações, 2.104
nascimentos e 3.085 abortos,
resultando em um valor estimado
de $ 30.360.352 em custos únicos
evitados de nascimentos e abortos
com financiamento público. Esses
eventos evitados foram
responsáveis por 26–28% do
declínio de gravidezes,
nascimentos e abortos na
adolescência em Nova York.
231
Desencontros entre Discutir aspectos Estudo Profissionais e gestores É necessário maior investimento na
formação relacionados ao processo qualitativo consideram a graduação e a formação/capacitação dos profissionais
profissional e formativo de gestores e educação permanente incipientes, como caminho para aperfeiçoar a
necessidades de profissionais da Atenção não abarcando o cuidado integral. prática nos serviçosS, a fim de torná-los
cuidado aos Básica à Saúde no cuidado à O despreparo do profissional foi mais coerentes e adequados à lógica de
adolescentes na saúde do adolescente. destacado pelos adolescentes cuidado e às necessidades e aos modos
Atenção Básica à como entrave para vinculação ao de vida dos adolescentes.
Saúde serviço.
Acesso aos serviços Analisar a associação entre Estudo O acesso aos serviços de Atenção A pesquisa evidenciou que os
de atenção primária o acesso aos serviços de transversal Primária à Saúde foi referido por adolescentes e adultos jovens
à saúde por atenção primária à saúde 89,5% dos indivíduos, apontando conseguem acessar os serviços de
adolescentes e dos adolescentes e adultos uma elevada prevalência entre os Atenção Primária à Saúde, apesar da
jovens em um jovens e a cobertura da adolescentes e adultos jovens e não existência de barreiras de acesso
município do Estratégia Saúde da Família. havendo diferenças geográficas e organizacionais. Isso
Estado da Bahia, estatisticamente significantes entre indica que, embora seja considerada
Brasil. esse tipo de acesso e a área de porta de entrada privilegiada e
cobertura da Estratégia Saúde da alternativa substitutiva do modelo
Família. Entretanto, entre biomédico, a Atenção Primária à Saúde
indivíduos residentes em áreas ainda enfrenta muitos desafios para a
cobertas pela Estratégia Saúde da efetivação de um papel organizador e
Família, verificou-se maior acesso coordenador do cuidado no sistema de
às ações de prevenção de agravos saúde.
e promoção da saúde, mas também
menor probabilidade de o
atendimento ocorrer no mesmo dia
de marcação da consulta e menor
disponibilidade de transporte
coletivo. Embora não se tenham
observado diferenças do acesso
entre as áreas com cobertura da
Estratégia Saúde da Família, a
maior participação desses
indivíduos em atividades de
232
Comportamentos de Analisar comportamentos Estudo Houve baixa participação em A renda familiar esteve associada ao
risco à saúde de de risco à saúde de transversal ações educativas sobre álcool, baixo consumo de frutas e hortaliças.
adolescentes e adolescentes e ações alimentação e atividade física; Adolescentes mais próximos à idade
atividades educativas da Estratégia meninas apresentaram maior adulta apresentaram maior prevalência
educativas da Saúde da Família em prevalência de atividade física de consumo de álcool. A baixa
Estratégia Saúde da Cuiabá, Mato Grosso, insuficiente; o consumo de álcool participação de adolescentes em ações
Família em Cuiabá, Brasil. foi associado à idade de 15 a 19 de promoção da saúde indica a
Mato Grosso, 2011. anos; e o baixo consumo de frutas necessidade de políticas de saúde mais
e hortaliças associou-se à renda efetivas. Sugere-se o monitoramento de
familiar menor que dois salários programas de prevenção aos agravos,
mínimos. O estudo não encontrou principalmente voltados à adolescência.
associação significativa entre os
comportamentos de risco à saúde e
a participação dos adolescentes em
ações educativas promovidas pela
Estratégia Saúde da Família. Além
do que, houve baixo relato de
participação desse público
adolescente nesse tipo de
atividades desenvolvidas no
âmbito da Atenção Primária.
Os cuidados da Cartografar a produção do Estudo O desfecho da atividade A utilização da cartografia e do
Estratégia Saúde da cuidado ofertada a um qualitativo possibilitou olhar para a vida de fluxograma possibilitou visualizar os
Família a um adolescente em situações de Teo em si e não somente para a modos produzir cuidado de uma equipe
adolescente vítima “bullying” pela Estratégia patologia. Todavia, de modo geral, ao adolescente vítima de bullying. Há
de bullying: uma Saúde da Família. o cuidado ofertado não alcançou a uma frágil rede de suporte à saúde do
cartografia dimensão do sofrimento psíquico adolescente que foram: as estratégias de
decorrente do bullying escolar. A cuidado desarticuladas entre os níveis
alopecia tão visível e inquietante de atenção, reduzida comunicação entre
roubou a cena e se fez protagonista os profissionais e inexistente atenção à
233
Avaliação da Avaliar a qualidade deste Estudo Foram avaliados 126 usuários do Embora a maioria dos usuários estejam
qualidade nos serviço de saúde na sua transversal Serviço Amigo do Adolescente e satisfeitas com os serviços, houve
cuidados de saúde localização no Centro de da Juventude, todos pertencentes algumas críticas severas. A prática dos
primários: Serviço Saúde Marrere, Nampula, ao grupo étnico-linguístico profissionais de saúde com o protocolo
Amigo do norte de Moçambique, na Emacua. Entre os participantes, é variada e há deficiências
Adolescente e da perspectiva dos clientes. 67% eram adolescentes e 78,2% significativas de informação.
Juventude, um mulheres. A média de idade foi de Verificou-se comunicação aberta nas
estudo de caso 17,6 anos. Encontrou-se uma famílias e o reforço de informações
moçambicano. média de 0,54 gestações por sobre saúde sexual e reprodutiva.
mulher e 69% nunca Recomenda-se a inclusão de reforço na
engravidaram. 44% conseguiram capacitação dos profissionais para a
relatar a data da primeira consulta proteção da saúde sexual de
de pré-natal, em média realizada adolescentes e jovens, importante
na semana 16, embora 53% a estratégia na atenção primária à saúde
tenham realizado durante o para alcançar a cobertura universal.
primeiro trimestre. Abortos
espontâneos e induzidos foram
relatados respectivamente em
quatro e 34 casos. O índice de
satisfação geral foi mais frequente
em ambos os grupos, sendo
respondido por 93,8% dos jovens e
234
Violência contra Analisar o cuidado Estudo Da análise das informações O modelo de compreensão e construção
crianças e realizado por Unidades qualitativo obtidas no estudo, emergiram duas dos processos de trabalho na Unidade
adolescentes: o Básicas de Saúde (UBS) categorias temáticas: Tudo Básica de Saúde está estruturado no
olhar da Atenção junto a famílias envolvidas desemboca aqui, que reflete o paradigma biomédico centrado na
Primária à Saúde. na violência intrafamiliar lugar legitimado das Unidades queixa e conduta. Destaca-se que o
contra crianças e Básicas de Saúde para a população profissional de enfermagem tem a
adolescentes. e as intervenções efetuadas para a possibilidade de se colocar como um
produção do cuidado às famílias e agente de mudança, tanto na formação
A gente só faz o que é dos profissionais como no cuidado à
indispensável mesmo, que comunidade.
apresenta o olhar para a violência
ainda pautado no modelo
biomédico e positivista, sem
atender as necessidades das
vítimas e familiares para atenção
integral.
Agentes Identificar os domínios Estudo Emergiram duas categorias e nove Percebeu-se que houve a presença de
Comunitários de desenvolvidos pelos qualitativo domínios das competências de alguns domínios da competência em
Saúde: Agentes Comunitários de promoção da saúde, sendo promoção da saúde de Agentes
competências de Saúde, na competência de Conhecimento a partir de conceito, Comunitário de Saúde junto aos
promoção da saúde promoção da saúde, para determinantes e condicionantes da adolescentes, mas há necessidade de
para adolescentes. com os adolescentes. saúde, principais problemas de Educação Permanente em Saúde
saúde da população e referente à abordagem que estes
enfrentamento e a profissionais, em relação ao
intersetorialidade; Habilidade conhecimento e habilidades de
através de identificar a relação promoção da saúde.
entre os problemas de saúde,
realizar atividades educativas,
organizar grupos de discussão,
propor e implementar ações
235
intersetoriais e estabelecer
articulação com equipamentos
sociais, apoiar ações sociais de
alfabetização.
Atenção à saúde de Avaliar a presença do Estudo A longitudinalidade apresentou-se A avaliação indicou o potencial da
crianças e atributo longitudinalidade transversal satisfatória (p=6,96). Associaram- Atenção Primária à Saúde para o
adolescentes com da Atenção Primária à se ao alto escore: profissional com atendimento das crianças e
HIV: avaliação da Saúde, na experiência de idade menor ou igual a 30 anos adolescentes com HIV, especialmente
longitudinalidade. profissionais dos (p=,01); formação profissional em proporcionar o vínculo,
municípios de procedência clínico geral (p 0,03). Foi determinante para a continuidade da
de crianças e adolescentes associado ao alto escore, na atenção.
com HIV, acompanhados Estratégia de Saúde da Família, o
em serviço especializado. tempo suficiente no atendimento
aos usuários (p 0,045).
Usando Alcance, Fornecer uma avaliação Estudo A maioria dos participantes da O uso da estrutura na avaliação do
Eficácia, Adoção, formativa-programa de ação qualitativo Posmaja eram adolescentes do programa sugere que Posmaja é
Implementação, da Posmaja usando a sexo masculino com idade em potencialmente impactante,
Estrutura de estrutura de Alcance, torno de 15 anos. Os temas comuns especificamente para empoderar a
Manutenção na Eficácia, Adoção, gerados foram adolescentes com juventude, promovendo conhecimentos
236
Jovens não Explorar resultados de Estudo Os jovens não binários e binários Jovens trans não binários relatam
binários: acesso aos saúde e experiências de quantitativo eram semelhantes na maioria dos desafios no acesso a cuidados de saúde
cuidados primários jovens não binários em dados demográficos, incluindo de afirmação de gênero necessários.
de saúde que comparação com aqueles de idade, distribuição geográfica e Além disso, prestadores de cuidados
afirmam o gênero. meninas/mulheres trans e etnocultural. No entanto, uma primários estão bem situados para
meninos/homens trans no proporção maior (82%) de jovens integrar uma ampla gama de serviços de
acesso geral as necessidades não binários foi designada do sexo cuidados de afirmação de gênero na
primárias de saúde ou trans feminino ao nascer. Jovens não prática, a fim de atender às
específicas. binários mais velhos (19 e 25 anos) necessidades exclusivas de não
eram mais propensos a renunciar juventude binária. Pesquisas futuras são
aos cuidados de saúde do que os necessárias para explorar experiências
jovens binários mais velhos. No de jovens não binários relacionadas a
geral, os jovens não binários barreiras ao cuidado e para explorar os
(13%) eram menos prováveis do serviços ofertados.
que os binários jovens (52%) de
acessar a terapia hormonal, mas
eram mais propensos do que os
jovens binários a relatar a
experiência de barreiras para
237
Perspectivas dos Obter uma compreensão Estudo Cinco papéis distintos, embora A opinião dos médicos que
prestadores de sobre os papéis dos médicos qualitativo sobrepostos, de prestadores de acompanham seus pacientes ao longo
cuidados de saúde de família e potenciais cuidados primários para da vida e fornecem a maior parte dos
primários sobre as barreiras e facilitadores para adolescentes e jovens adultos em cuidados primários no Canadá, são
suas funções no o seu envolvimento durante transição para cuidados de adultos essenciais para informar e refinar as
apoio a o período de transição, a resultaram de nossa análise: ser o práticas de transição recomendadas. As
adolescentes e partir da perspectiva dos provedor de cuidados contínuos descobertas fornecem insights, dos
jovens adultos na médicos de família e outros acessíveis, cuidar do paciente de próprios prestadores de Atenção
transição de prestadores de Atenção forma integral, conhecer a família Primária, para reforçar a justificativa
serviços Primária à Saúde. para o cuidado colaborativo, para o envolvimento do serviço durante
pediátricos. empoderar os adolescentes e as transições. Soluções para superar as
adultos jovens para barreiras na integração da atenção
desenvolver responsabilidade e primária e atenção especial precisam
cuidados especializados ou ser identificadas e testadas, com a
baseados na comunidade). Os
238
Escopo do Descrever o recebimento de Estudo O estudo 90% eram negros não Este estudo descobriu que poucos
recebimento de saúde sexual e reprodutiva transversal hispânicos, 61% com idade entre pacientes jovens do sexo masculino
cuidados de saúde de homens jovens por 20 e 24 anos, 90% sexualmente receberam saúde sexual e reprodutiva
sexual e reprodutiva comportamento sexual e ativos, 71% tinham parceiras de homens jovens essencial e o
entre jovens do sexo fatores associados com femininas e 20% homens ou recebimento de cuidados variou
masculino com maior recebimento destes parceiros femininos. Entre os principalmente de acordo com o status
idade entre 15-24. serviços . homens sexualmente ativos, um do comportamento sexual dos pacientes
em cada dez recebeu todos os e características da visita. Os resultados
serviços. Metade ou mais foram do estudo destacam a necessidade de
questionados sobre saúde sexual e melhorar a prestação de serviços de
testes de Infecções Sexualmente saúde sexual e reprodutiva de homens
Transmissíveis, testados para jovens aos homens jovens, para além
infecções e aconselhados sobre dos cuidados de Infecções Sexualmente
redução do risco destas e uso Transmissíveis.
correto de preservativo. Poucas
pessoas foram questionadas sobre
planejamento familiar, receberam
preservativos e aconselhadas sobre
planejamento familiar. No geral,
os homens que não eram
sexualmente ativos relataram
menos serviços do que os homens
sexualmente ativos.
Avaliação do Avaliar o acesso à Atenção Estudo No período estudado, 65,2% das A proporção de condições sensíveis à
acesso à atenção Primaria à Saúde oferecido transversal 2.031 internações ocorridas na atenção primária foi alta nesta
primária à saúde a crianças e adolescentes enfermaria pediátrica foram população. O acesso aos serviços é
entre crianças e hospitalizados por decorrentes de condições sensíveis inadequado devido a: barreiras de
adolescentes condições sensíveis à à atenção primária. Tanto o Acesso acesso, valorização dos serviços de
de Primeiro Contato quanto seus emergência e atitude em relação às
240
hospitalizados por atenção primária e analisar dois componentes estrutura e necessidades de saúde. Atitudes e
condições evitáveis. os condicionantes. processo tiveram baixa avaliação opiniões profissionais reforçam ideias
entre os usuários. Dentre as inadequadas dos usuários refletindo
variáveis estudadas, as que sobre o padrão de uso do serviço.
pareceram influenciar a avaliação
foram o tipo de diagnóstico e o
modelo de atendimento
recebido. A avaliação feita pelos
profissionais foi ainda pior.
Atenção básica e Analisar os facilitadores e as Estudo A partir dos eixos temáticos Há inexistência de direção psicossocial
cuidado barreiras para o cuidado qualitativo propostos, identificou-se que a clara que deixa os operadores sem um
colaborativo na colaborativo entre a e um percepção dos problemas de saúde saber fazer, dinâmico e corresponsável,
atenção Centro de Atenção mental infanto-juvenil pelos com a criança ou adolescente que sofre.
psicossocial de Psicossocial infanto- trabalhadores das Estratégias de A efetivação da saúde mental de
crianças e juvenil, no Rio de Saúde da Família foi nomeada crianças e adolescentes como política
adolescentes: Janeiro/RJ. pelas alterações de comportamento pública exige estratégias formais de
facilitadores e situadas em contexto de difusão, avaliação, acompanhamento e
barreiras. vulnerabilidade. As principais compartilhamento para que responda
barreiras para implementação das pelo mandato da inclusão. Espera-se
ações foram: desconhecimento que os resultados encontrados e as
sobre o modo de cuidado, discussões propostas possam contribuir
problemas relacionados ao para o debate e o avanço da saúde
processo de trabalho e mental comunitária brasileira.
desarticulação da rede. Ainda que
os profissionais consigam
identificar os problemas de saúde
mental de crianças e adolescentes,
as ações de cuidado são frágeis e a
articulação da rede praticamente
inexistente. O cuidado
colaborativo foi reconhecido como
uma estratégia para qualificação
241
Avaliação dos Detalhar a avaliação do Estudo As pontuações médias para os dez As instalações tinham os componentes
serviços amigáveis Serviço Amigo do transversal padrões mostraram uma variação essenciais para a prestação de serviços
para adolescentes e Adolescente e da Juventude substancial entre as instalações nos gerais, mas faltava a prestação de
jovens em unidades em relação aos padrões dois subdistritos, com a província serviços específicos para
de saúde primárias definidos para informar as de Gauteng pontuando abaixo do adolescentes. O Serviço Amigo do
em duas províncias iniciativas para fortalecer Noroeste para nove padrões. A Adolescente e da Juventude é uma
da África do Sul. esses serviços. mediana do subdistrito de Gauteng prioridade do governo, mas é
foi de 38% e do Noroeste de necessário apoio adicional para as
48%. Em ambas as províncias, os instalações para atingir os padrões
padrões relacionados à prestação acordados. Atender a esses padrões
de serviços gerais, como os pode dar uma grande contribuição para
padrões quatro e cinco, pontuaram garantir a saúde dos adolescentes,
acima de 75%. A avaliação dos especialmente na prevenção de
serviços que abordam gravidezes indesejadas e do HIV, bem
especificamente a saúde sexual, como melhorar a gestão psicossocial.
reprodutiva e mental mostrou que
quase todos esses serviços foram
pontuados acima de 50%. A
exploração de serviços
relacionados a avaliações
psicossociais e físicas demonstrou
diferenças na gestão de queixas
apresentadas por adolescentes em
unidades de saúde e sua gestão
abrangente, incluindo status
psicossocial e perfil de risco.
Testes de clamídia e Determinar as opiniões dos Estudo Os participantes indicaram que o A equipe de clínica geral deve facilitar
HIV, conselhos jovens adultos sobre o qualitativo método de teste, o momento e a as preferências dos pacientes,
sobre contracepção recebimento de uma oferta forma como o membro da equipe garantindo que os 3Cs e os serviços de
e preservativos mais ampla de saúde sexual abordou foram aspectos teste de HIV sejam disponibilizados em
gratuitos oferecidos de 3Cs e HIV em sua importantes para quem receberam sua cirurgia e oferecidos aos pacientes
na prática geral: um clínica. 3Cs e HIV. Os participantes apropriados de uma forma sem
estudo de entrevista demonstraram preferência por 3Cs julgamento.
qualitativa das e HIV a serem
percepções de oferecidos. Destacaram a
jovens adultos conveniência da prática, garantia
sobre esta de sigilo e que a discussão era
iniciativa. apropriada e rotineira. As barreiras
para os pacientes foram
constrangimento, desconforto,
falta de tempo, religião. Os
facilitadores sugeridos incluem
aumentar a conscientização,
reafirmar a confidencialidade e
garantir que a oferta seja feita de
forma profissional e sem
julgamentos no final da consulta.
Oportunidades Descrever a proporção de Estudo A maioria dos participantes eram Constatou-se que uma minoria de
perdidas de abordar homens jovens que transversal negros não hispânicos, com idades homens jovens, independentemente de
a prevenção da perceberam que aprenderam entre 15-19 anos, vistos para seu status de atividade sexual, percebeu
243
gravidez com sobre prevenção da gravidez exame físico e pacientes que aprendeu sobre prevenção de
homens jovens na na atenção primária, estabelecidos. Poucos gravidez em sua consulta de atenção
atenção primária. estratificada por status de participantes perceberam que primária. Essa percepção foi associada
comportamento sexual. aprenderam sobre prevenção da ao recebimento das necessidades de
gravidez, independente da prevenção da gravidez e
atividade sexual ou não. Os anticoncepcionais na última relação
modelos de regressão de Poisson sexual. Destaca-se a necessidade de
determinaram que o aprendizado abordar a prevenção da gravidez para
percebido sobre a prevenção da homens jovens na atenção primária.
gravidez foi independentemente
associado ao recebimento de
cuidados de prevenção da gravidez
e às necessidades de contracepção
no último sexo. .
Aconselhamento e Descrever as práticas de Estudo Na revisão registro eletrônico de As instruções sobre o status do uso de
documentação documentação no registro transversal saúde, a triagem de cigarro foi tabaco devem ser revisadas para maior
sobre o tabaco na eletrônico de saúde documentada em 92,3% das clareza e incluir produtos de tabaco
prática de atenção relacionadas ao tabaco em visitas, a triagem de tabaco sem não-cigarros e exposição a fumaça do
primária a clínicas de atendimento a fumaça em 51,4%, o uso de tabaco cigarro. A educação do provedor sobre
adolescentes: adolescentes e identificar pelos pais em 23,2% e a exposição produtos não-cigarros e avaliação de
desafios e aspectos do uso de tabaco a fumaça do tabaco em casa em exposição é necessária. Melhorias nos
oportunidades. por adolescentes que podem 33,1% das visitas. As opções de sistemas, recursos e ferramentas de
informar as atualizações e as status de fumante não eram registros podem levar a melhores
práticas de aconselhamento mutuamente exclusivas e não práticas de rastreamento, prevenção e
e documentação. incluíam produtos não-cigarros. tratamento do tabaco entre os
Nenhum registro documentou prestadores de cuidados primários.
avaliação do uso de cigarros
eletrônicos, apesar de quase
metade dos adolescentes
entrevistados citarem estes como
os produtos mais populares entre
adolescentes. Em entrevistas, os
adolescentes discutiram suas
experiências com produtos
244
alternativos de tabaco/nicotina
mais do que cigarros.
Fatores Apresentar uma abordagem Estudo Fatores socioecológicos e Para avaliar plenamente a
comportamentais e abrangente para a qualitativo comportamentais influenciaram a complexidade da utilização dos
socioecológicos que exploração da utilização de intenção dos jovens de usar os serviços de saúde, é necessário não
influenciam o serviços de saúde por jovens serviços. As barreiras incluíam a apenas considerar fatores e processos
acesso e a utilização na zona rural de KwaZulu- percepção de atitudes negativas relevantes para o indivíduo, mas
dos serviços de Natal, África do Sul, dos profissionais de saúde e a também reconhecer e agir sobre a
saúde por jovens examinando barreiras e percepção de fracas competências disjunção entre valores culturais,
que vivem na zona facilitadores conceituados do pessoal. Os facilitadores normas e políticas nacionais no nível da
rural de KwaZulu- pelos construtos da Teoria incluíram uma apreciação por comunidade.
Natal, África do do Comportamento receber educação em saúde e
Sul: implicações Planejado, enquadrados em presumiram uma melhora na
para a intervenção. um modelo socioecológico. saúde. Nos níveis social e
comunitário, as crenças
normativas impediam os jovens de
utilizar os serviços, pois temiam a
estigmatização No nível das
políticas públicas, os elementos
estruturais tiveram um efeito
enfraquecedor, pois o layout físico
das clínicas dificultava a
utilização, os recursos limitados
influenciavam o pessoal e os
horários de abertura das
instalações não eram
convenientes.
Enfrentamento da Analisar as ações relatadas Estudo Emergiram dois núcleos As principais limitações ao trabalho
violência doméstica por enfermeiros da atenção qualitativo temáticos: Políticas públicas prático dos enfermeiros são a
contra crianças e básica no enfrentamento da identificadas pelas enfermeiras e sobrecarga de trabalho, a falta de
adolescentes na violência doméstica contra Ações das enfermeiras diante da segurança e a dinâmica de trabalho
perspectiva de crianças e adolescentes. violência permeadas por medos e desarticulada com a rede de proteção as
enfermeiros da conflitos. Destaca-se que as quais levam à subnotificação dos casos
atenção básica. enfermeiras conheciam as políticas de violência.
públicas, mas não conseguiam
245
Percepções de Analisar as percepções dos Estudo Construíram três categorias com Diante do exposto, percebeu-se que a
adolescentes acerca adolescentes acerca do qualitativo base na releitura do material: a participação da Estratégia Saúde da
do enfrentamento enfrentamento da violência, violência no cotidiano do Família deve ser ampliada, visto que a
da violência na desenvolvido pelos adolescente, a banalização da violência deve ser considerada na
atenção primária à profissionais da Estratégia violência, relação dos adolescentes multiplicidade de interfaces geradas no
saúde. Saúde da Família. com a equipe de saúde local. âmbito, físico, social e de saúde
Evidenciou-se que os adolescentes pública. A formação de parcerias
estão expostos à violência na sua parece emergir como potencial
comunidade, o que contribui para mecanismo de enfrentamento dos
naturalização deste fenômeno. problemas oriundos da violência,
Quanto à equipe de saúde, esta tem construindo alternativas para melhora
dificuldade em construir atrativos das relações humanas e mediação de
direcionados aos adolescentes, conflitos.
causando pouca procura deste
público. No entanto, são geradas
necessidades no cotidiano dos
adolescentes que merecem atenção
específica dos profissionais.
Discursividade de Evidenciar a discursividade Estudo Apurou-se que na Atenção Os agentes comunitários de saúde
agentes de agentes comunitários de qualitativo Primária as ações de cuidado não precisam sensibilizar-se em relação às
comunitários de saúde acerca da atendem às especificidades das necessidades das crianças/adolescentes
saúde acerca do contribuição de suas ações necessidades de saúde de com doença crônica e suas famílias e
cuidado à criança e de cuidado para o manejo da crianças/adolescentes com doença buscar nas equipes uma comunicação
ao adolescente com doença crônica de crianças/ crônica, sendo necessário o efetiva, para que sejam traçadas ações
doença crônica na adolescentes na atenção acompanhamento destes por de cuidado compartilhadas, objetivando
Atenção Primária. primária. serviços especializados da rede de o manejo qualificado da doença
atenção. A visita domiciliar é crônica.
realizada para cumprimento de
246
Avaliação dos Avaliar os atributos Estudo Na caracterização da população A avaliação dos atributos derivados
atributos da atenção derivados de Atenção transversal investigada, identificou 270 demonstra a interação com os usuários
primária à saúde: Primária à Saúde com foco profissionais em Unidade Básica e a comunidade e o potencial da
criança e nas crianças e adolescentes de Saúde (51%) e 257 em Atenção Primária à Saúde para atender
adolescente vivendo com HIV, na Estratégia Saúde da Família essas crianças e adolescentes, sendo
vivendo com HIV. experiência de (49%). A comparação entre os que a visita domiciliar qualifica a
profissionais, comparando tipos de serviço de Atenção prática.
unidades do modelo Primária à Saúde mostrou que o
tradicional e Estratégia escore derivado atribuído às Saúde
Saúde da Família. da Família (7,8) foi maior do que o
atribuído às Unidade Básica (6,8),
ambos satisfatórios. Contribuíram
com o alto escore as variáveis
visita domiciliar, formação
profissional e vínculo
empregatício, essa última atuando
independentemente das demais.
Ações de Analisar ações das equipes Estudo Evidenciaram-se ações As ações na Atenção Primária à Saúde
autocuidado da Atenção Primária à qualitativo insuficientes no plano de cuidados ainda não valorizam o papel ativo e
apoiado a crianças e Saúde na perspectiva do específicos. São realizadas corresponsável do indivíduo no
autocuidado apoiado de intervenções isoladas incluindo, controle de sua doença, havendo
247
adolescentes com crianças e adolescentes com avaliação de barreiras para o lacunas a serem superadas nos cinco
doenças crônicas. doenças crônicas. autocuidado e do estado emocional pilares do autocuidado apoiado.
do indivíduo, fornecimento de Sugerem-se pesquisas de intervenção
informações sobre sinais, sintomas que capacitem os trabalhadores para o
da doença e tratamento, estímulo autocuidado apoiado à saúde desses
da busca por recursos da indivíduos.
comunidade, ações inerentes à
formação profissional e
acompanhamento por meio da
busca ativa e visitas domiciliares.
Fatores associados Examinar a vacinação Estudo 26,0% receberam pelo menos uma O início e a conclusão do HPV na
à vacina contra contra o HPV e os fatores quantitativo dose de vacina e 12,3% receberam amostra do estudo foram baixos.
HPV iniciação, associados à vacinação três doses. Fatores associados ao Atendimento ao centro de saúde para
Conclusão da contra o HPV em homens de recebimento de pelo menos uma adolescentes, público seguro e idade
Vacina e Precisão 13 a 26 anos de idade e dose em modelos multivariáveis mais jovem foram associados ao início
da vacinação auto examinar e determinar os incluiu local de recrutamento e da vacina. Idade mais avançada e
relatada Status entre fatores associados ao público seguro versus outro. A ambiente clínico de DST eram
homens de 13 a 26 autorrelato preciso da maioria dos jovens relatou com associado a auto relato preciso de
anos de idade. vacinação. precisão o estado de vacinação, vacinação.
mas a precisão do relatório diferia
por idade. A maioria (73,3%)
relatou com precisão o número de
doses recebidas.
_____________________________________
Assinatura do(a) menor
249
_____________________________________
Assinatura do(a) pesquisador(a)
Prezado (a),
O seu familiar está sendo convidado por JOÃO VÍCTOR LIRA DOURADO como
participante da pesquisa intitulada “AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE DO ADOLESCENTE". Ele não deve participar contra vontade.
Leia atentamente as informações abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que
todos os procedimentos desta pesquisa sejam esclarecidos.
A colaboração de seu familiar nesta pesquisa será através da participação em uma entrevista
com perguntas fechadas acerca do perfil sociodemográfico, econômico e ocupacional e
perguntas abertas quanto a atenção à saúde dele (a) pela unidade de Atenção Primária à Saúde
por meio de itens referente a estrutura física da unidade, o processo de trabalho dos profissionais
e os resultados disso tudo na saúde dele (a). O momento será na unidade de saúde ou na
residência podendo ainda ser gravado pelo pesquisador para melhor compreensão das
informações obtidas, mediante a autorização. Garanto que a pesquisa não trará nenhuma forma
de prejuízo, dano, transtorno para ele (a), uma vez que é máximo o benefício como a avaliação
da qualidade a atenção à saúde do adolescente no serviço de saúde que poderá apresentar vários
resultados para quando necessário mudanças para melhorias no serviço de saúde e mínimos os
riscos como possível constrangimento e desconforto pela temática abordada, no entanto, caso
venha a acontecer, o pesquisador estará prontamente disponível para prestar assistência integral
às complicações e danos decorrentes da pesquisa. Comprometo-me a utilizar os dados coletados
somente para a pesquisa sempre resguardando a identificação. Portanto, participação dele (a) é
muito importante para o alcance dos objetivos deste estudo, se apresentará de forma voluntária
sem recebimento de nenhum pagamento pela participação e só poderá acontecer após sua
autorização.
Destaco ainda que a qualquer momento ele (a) poderá recusar a continuar participando da
pesquisa e que também poderá retirar o consentimento, sem que isso traga qualquer prejuízo.
Garanto que as informações conseguidas através da participação não permitirão a identificação,
exceto aos responsáveis pela pesquisa e que a divulgação das mencionadas informações só será
feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Fortaleza, ____/____/___
Destaco ainda que a qualquer momento o (a) senhor (a) poderá recusar a continuar participando
da pesquisa e que também poderá retirar o seu consentimento, sem que isso lhe traga qualquer
prejuízo. Garanto que as informações conseguidas através da sua participação não permitirão a
identificação da sua pessoa, exceto aos responsáveis pela pesquisa e que a divulgação das
mencionadas informações só será feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Fortaleza, ____/____/___
Prezado (a)
Você está sendo convidado por JOÃO VÍCTOR LIRA DOURADO como participante da
pesquisa intitulada “AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE DO ADOLESCENTE". Você não deve participar contra a sua vontade. Leia
atentamente as informações abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que todos
os procedimentos desta pesquisa sejam esclarecidos.
A sua colaboração nesta pesquisa será através de sua participação em uma entrevista com
perguntas fechadas acerca do seu perfil sociodemográfico, econômico e ocupacional e
perguntas abertas quanto a atenção à saúde do adolescente pela unidade de Atenção Primária à
Saúde por meio de itens referente a estrutura física da unidade, o processo de trabalho dos
profissionais e os resultados disso tudo na saúde dele. O momento será na unidade de saúde ou
em sua residência podendo ainda ser gravado pelo pesquisador para melhor compreensão das
informações obtidas, mediante sua autorização, se o (a) senhor (a) assim concordar. Garanto
que a pesquisa não trará nenhuma forma de prejuízo, dano, transtorno para o (a) senhor (a), uma
vez que é máximo o benefício como a avaliação da qualidade a atenção à saúde do adolescente
no serviço de saúde que poderá apresentar vários resultados para quando necessário mudanças
para melhorias no serviço de saúde e mínimos os riscos como possível constrangimento e
desconforto pela temática abordada, no entanto, caso venha a acontecer, o pesquisador estará
prontamente disponível para prestar assistência integral às complicações e danos decorrentes
da pesquisa. Comprometo-me a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa sempre
resguardando sua identificação. Portanto, a sua participação é muito importante para o alcance
dos objetivos deste estudo e se apresenta de forma voluntária sem recebimento de nenhum
pagamento pela participação.
Destaco ainda que a qualquer momento o (a) senhor (a) poderá recusar a continuar participando
da pesquisa e que também poderá retirar o seu consentimento, sem que isso lhe traga qualquer
prejuízo. Garanto que as informações conseguidas através da sua participação não permitirão a
identificação da sua pessoa, exceto aos responsáveis pela pesquisa e que a divulgação das
mencionadas informações só será feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Fortaleza, ____/____/___
Prezado (a)
Você está sendo convidado por JOÃO VÍCTOR LIRA DOURADO como participante da
pesquisa intitulada “AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE DO ADOLESCENTE". Você não deve participar contra a sua vontade. Leia
atentamente as informações abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que todos
os procedimentos desta pesquisa sejam esclarecidos.
A sua colaboração nesta pesquisa será através de sua participação em uma entrevista com
perguntas fechadas acerca do seu perfil sociodemográfico, econômico, ocupacional e de
formação e perguntas abertas quanto a atenção à saúde do adolescente pela unidade de Atenção
Primária à Saúde por meio de itens referente a estrutura física da unidade, o processo de trabalho
dos profissionais e os resultados disso tudo na saúde dele (a). O momento será na unidade de
saúde podendo ainda ser gravado pelo pesquisador para melhor compreensão das informações
obtidas, mediante sua autorização, se o (a) senhor (a) assim concordar. Garanto que a pesquisa
não trará nenhuma forma de prejuízo, dano, transtorno para o (a) senhor (a), uma vez que é
máximo o benefício como a avaliação da qualidade a atenção à saúde do adolescente no serviço
de saúde que poderá apresentar vários resultados para quando necessário mudanças para
melhorias no serviço de saúde e mínimos os riscos como possível constrangimento e
desconforto pela temática abordada, no entanto, caso venha a acontecer, o pesquisador estará
prontamente disponível para prestar assistência integral às complicações e danos decorrentes
da pesquisa. Comprometo-me a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa sempre
resguardando sua identificação. Portanto, a sua participação é muito importante para o alcance
dos objetivos deste estudo e se apresenta de forma voluntária sem recebimento de nenhum
pagamento pela participação.
Destaco ainda que a qualquer momento o (a) senhor (a) poderá recusar a continuar participando
da pesquisa e que também poderá retirar o seu consentimento, sem que isso lhe traga qualquer
prejuízo. Garanto que as informações conseguidas através da sua participação não permitirão a
identificação da sua pessoa, exceto aos responsáveis pela pesquisa e que a divulgação das
mencionadas informações só será feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Fortaleza, ____/____/___
PARTE II
ESTRUTURA
RECURSOS HUMANOS
Você considera que no posto de saúde há profissionais para atendimento a você? Quais? Por
que?
Você considera que esses profissionais do posto são qualificados/ capacitados para atender lhe
atender? Por que?
MATERIAIS
Você considera que no posto há materiais disponíveis para que os profissionais possam fazer o
atendimento a você? Por que?
NORMAS E ROTINAS
Você considera que no posto de saúde há normas e rotinas apropriadas levando em conta a sua
presença? Por que?
INSTALAÇÕES
Você avalia que a estrutura física, as instalações e os equipamentos o posto são adequados em
atenção à sua presença?
PROCESSO
Você considera que os profissionais do posto de saúde têm prestado assistência ou cuidado a
você? De que forma?
Como você avalia essa assistência ou esse cuidado dos profissionais do posto a você.
PROCEDIMENTOS
260
Qual a sua analisa sobre esses procedimentos realizados em você pelo profissional.
TÉCNICAS
Você considera que os profissionais do posto de saúde têm utilizado de boas práticas, de
técnicas científicas e corretas na assistência ou cuidado a você? Por que?
Como você avalia/julga essas condutas utilizadas no atendimento a você pelo profissional.
ASPECTOS ÉTICOS
Você considera que os profissionais do posto de saúde têm respeitado a ética no atendimento a
você? Por que?
Conte-me como você julga então essa ética dos profissionais do posto de saúde em relação ao
atendimento a você.
RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Você considera ter uma relação estabelecida/vínculo com os profissionais do posto? Por que?
Conte-me como você avalia/julga essa relação entre você e os profissionais do posto.
RESULTADOS
IMPACTO
Você considera que a relação com os profissionais do posto de saúde tem impactado no seu
estado de saúde? Por que? Quais são os impactos?
Então, conte-me de que forma você verifica este impacto na sua saúde.
261
EFEITO
Você considera que esta interação com os profissionais do posto tem causado efeito no seu
estado de saúde? Por que? Quais são os efeitos?
Então, conte-me como de que forma você avalia estes efeitos no seu estado de saúde.
CONDIÇÃO DE SAÚDE
Descreva-me como você julga atualmente o seu estado geral de saúde.
Você considera que este seu estado de saúde é reflexo/resultado da relação atual com o posto
de saúde? Por que?
SATISFAÇÃO
Qual o seu julgamento com os serviços prestados pelo posto a sua saúde e a você? Por que?
262
PARTE II
RECURSOS HUMANOS
Você considera que no posto de saúde há profissionais para atendimento a ele (a) enquanto
adolescente? Quais? Por que?
Você julga que esses profissionais do posto de saúde são qualificados para atender a ele (a)
enquanto adolescente? Por que?
MATERIAIS
Você considera que no posto de saúde há materiais disponíveis para que os profissionais possam
fazer o atendimento a ele (a) enquanto adolescente? Por que?
NORMAS E ROTINAS
Você considera que no posto de saúde há normas e rotinas apropriadas a presença dele (a)
enquanto adolescente? Por que?
Como você avalia essas normas e rotinas em atenção a presença dele (a) enquanto adolescente?
INSTALAÇÕES
Você avalia que a estrutura física, as instalações e os equipamentos são adequados em atenção
à presença dele (a) enquanto adolescente?
PROCESSO
Você considera que os profissionais do posto de saúde têm prestado assistência ou cuidado a
ele (a)? De que forma?
Conte-me como você avalia essa assistência ou esse cuidado prestado pelos profissionais a ele
(a).
PROCEDIMENTOS
264
Como você analisa isso sobre os procedimentos realizados no atendimento a ele (a) pelos
profissionais.
TÉCNICAS
Você considera que os profissionais do posto têm utilizado de boas práticas e técnicas
científicas na assistência ou cuidado a ele (a)? Por que?
Conte-me como você avalia isso sobre as técnicas realizadas no atendimento pelo profissional
do posto.
ASPECTOS ÉTICOS
Você considera que os profissionais do posto têm respeitado a ética no atendimento a ele (a)
enquanto adolescente? De que forma?
Como você avalia/julga isso sobre esta conduta do profissional do posto no atendimento a ele
(a).
RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Você considera que o profissional do posto possui uma relação estabelecida com ele (a)? Por
que? De que forma?
Como você avalia essa relação entre o profissional do posto com ele (a) enquanto adolescente?
RESULTADOS
IMPACTO
Você considera que a relação com os profissionais do posto impactado no estado de saúde dele
(a)? Por que? Quais são os impactos?
265
EFEITO
Você considera que esta interação com os profissionais do posto tem causado algum efeito no
estado de saúde dele (a)? Por que? Quais são os efeitos?
Então, conte-me como de que forma você avalia isto sobre a saúde dele enquanto adolescente.
CONDIÇÃO DE SAÚDE
Descreva-me como você julga atualmente o estado geral de saúde dele (a).
Você considera que este estado de saúde dele (a) é reflexo/resultado da relação com o posto de
saúde? Por que?
SATISFAÇÃO
Qual o seu julgamento/opinião com os serviços prestados pelo posto à saúde e vida dele (a)?
Por que?
266
PARTE II
ESTRUTURA
RECURSOS HUMANOS
Você considera que no posto de saúde há profissionais para atendimento os adolescentes?
Quais? Por que?
Você julga que os profissionais do posto de saúde são qualificados para atender os
adolescentes? Por que?
MATERIAIS
Você considera que no posto há materiais e insumos disponíveis para fazer o atendimento aos
adolescentes? Por que?
NORMAS E ROTINAS
Você considera que no posto de há normas e rotinas levando em consideração a presença dos
adolescentes? Por que?
Como você avalia isso levando em conta a presença dos adolescentes no posto?
INSTALAÇÕES
Você considera que a estrutura física, as instalações e os equipamentos são adequados em
atenção à presença dos adolescentes na unidade?
PROCESSO
Você considera que os profissionais do posto têm prestado assistência ou cuidado aos
adolescentes? De que forma, por exemplo?
268
Como você avalia/julga essa assistência ou esse cuidado dos profissionais do posto de saúde
aos adolescentes.
Como você julga a sua assistência ou o cuidado prestado aos adolescentes? Por que?
PROCEDIMENTOS
Como tem sido o atendimento, o cuidado e a assistência do profissional aos adolescentes?
Você tem realizado atendimento aos adolescentes? De que forma tem acontecido?
TÉCNICAS
Você considera que os profissionais do posto têm utilizado de boas práticas e técnicas-
científicas na assistência ou cuidado aos adolescentes? Por que você considerada isso?
Conte-me como você avalia isso sobre essas condutas utilizadas no atendimento aos
adolescentes pelos profissionais do posto.
ASPECTOS ÉTICOS
Você considera que os profissionais do posto de saúde têm respeitado a ética no atendimento
aos adolescentes? Por que?
Conte-me como você julga então isso sobre a ética dos profissionais do posto em relação ao
atendimento aos adolescentes.
Você considera que tem respeitado a ética no atendimento aos adolescentes? Por que?
RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Você considera que os profissionais do posto possuem uma relação estabelecida com os
adolescentes em atenção à saúde deles? Por que? De que forma?
Conte-me como você avalia isso sobre esta relação entre os profissionais e adolescentes em
atenção à saúde dele.
Você considera que possui uma relação estabelecida com os adolescentes em atenção à saúde
deles? Por que?
RESULTADOS
IMPACTO
Você considera que a relação que os profissionais do posto têm com os adolescentes tem
impactado no estado de saúde deles? Por que? Quais são os impactos?
270
Então, conte-me de que forma você verifica isto sobre o impacto na saúde dos adolescentes.
EFEITO
Você considera que esta interação com os profissionais do posto tem causado algum efeito no
estado de saúde dos adolescentes? Por que? Quais são os efeitos?
CONDIÇÃO DE SAÚDE
Descreva-me como você julga atualmente o estado geral de saúde dos adolescentes.
Você considera que este estado de saúde dos adolescentes é reflexo/resultado da relação com o
posto de saúde? Por que?
De forma geral, qual o seu julgamento com os serviços que são oferecidos pelo posto aos
adolescentes? Por que?
271
ESTRUTURA
RECURSOS HUMANOS
Equipe mínima de saúde presente na unidade para atendimento ao adolescente?
MATERIAIS
Presença de materiais em atenção à saúde do adolescente (antropômetro/estadiômetro, gráfico
de Estatura/Idade para os sexos masculinos e femininos, balança eletrônica ou mecânica;
calculadora; gráfico de IMC/Idade para os sexos masculino e feminino, materiais educativos,
métodos anticoncepcionais)?
NORMAS E ROTINAS
Existência de normas levando em consideração a presença do adolescente na unidade de saúde?
INSTALAÇÕES
Existência de um ambiente na unidade com espaços que permitem com que o adolescente se
sinta à vontade (privacidade, conforto, segurança, sigilo)?
PROCESSO
PROCEDIMENTOS
Realização de procedimentos de rotina no atendimento ao adolescente na unidade de saúde?
TÉCNICAS
Adesão aos métodos propedêuticos no atendimento ao adolescente na unidade de saúde?
ASPECTOS ÉTICOS
Respeito aos éticos em atenção e atendimento ao adolescente na unidade de saúde?
RELAÇÃO TERAPÊUTICA
274
ANEXOS
276
DECLARAÇÃO DE REVISÃO
2022.Sinceramente,
Tradutora e
Revisora Tel/Zap:
(21) 98703-9852