Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Dissertação - Rafael Bezerra Duarte-1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 155

0

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE COLETIVA

RAFAEL BEZERRA DUARTE

“TIVEMOS QUE NOS REINVENTAR”: PRÁTICAS DOS AGENTES


COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

FORTALEZA – CEARÁ
2022
1

RAFAEL BEZERRA DUARTE

“TIVEMOS QUE NOS REINVENTAR”: PRÁTICAS DOS AGENTES COMUNITÁRIOS


DE SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


Acadêmico em Saúde Coletiva do Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPSAC),
do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), como
requisito parcial à obtenção do título de mestre
em Saúde Coletiva. Área de Concentração:
Saúde Coletiva/Políticas, Planejamento e
Avaliação em Saúde.

Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Rocineide


Ferreira da Silva.

FORTALEZA – CEARÁ
2022
2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Universidade Estadual do Ceará
Sistema de Bibliotecas

Duarte, Rafael Bezerra.


Tivemos que nos reinventar: práticas dos
Agentes Comunitários de Saúde no contexto da
pandemia da Covid-19 [recurso eletrônico] / Rafael
Bezerra Duarte. - 2022.
155 f. : il.

Dissertação (MESTRADO ACADÊMICO) -


Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências
da Saúde, Curso de Programa de Pós-graduação Em
Saúde Coletiva - Mestrado, Fortaleza, 2022.
Orientação: Prof.e Dra. Maria Rocineide
Ferreira da Silva.
1. Atenção Primaria à Saúde. 2. Agentes
Comunitário de Saúde. 3. Covid-19. 4. Estratégia
Saúde da Família. I. Título.
3

RAFAEL BEZERRA DUARTE

“TIVEMOS QUE NOS REINVENTAR”: PRÁTICAS DOS AGENTES COMUNITÁRIOS


DE SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


Acadêmico em Saúde Coletiva do Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPSAC),
do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), como
requisito parcial à obtenção do título de mestre
em Saúde Coletiva. Área de Concentração:
Saúde Coletiva/Políticas, Planejamento e
Avaliação em Saúde.

Aprovada em: 10 de maio de 2022.

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Dra. Maria Rocineide Ferreira da Silva


Universidade Estadual do Ceará – UECE

Prof. Dr. Eduardo Carvalho de Souza


Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP

Prof. Dr. Antonio Rodrigues Ferreira Júnior


Universidade Estadual do Ceará – UECE

Prof.ª Dra. Ana Célia Caetano de Souza


Universidade Federal do Ceará – UFC
4

Primeiramente a Deus, que esteve ao meu lado


em todos os momentos, e por ter me dado mais
uma vez a dádiva de viver.
Aos meus pais, meus maiores incentivadores e
exemplos, pela educação que me deram, pela
disciplina que me ensinaram, pela dedicação
nos cuidados e por serem verdadeiro pilar de
esperança, sabedoria, respeito a Deus e amor
em minha vida. Gratidão por tudo!!!
5

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conceder o dom da vida, e me conduzir até aqui, me mantendo firme e forte na
caminhada, mostrando-me sempre o caminho certo, mesmo diante dos obstáculos, fortalecendo
a minha fé e esperança.
Aos meus pais, José Bezerra Duarte (Zé Teta) e Sebastiana Ferreira Bezerra (Tiana), pelo
carinho, pela atenção, pelos cuidados, pelo zelo e apoio que eles me deram durante toda a minha
vida e por sempre mostrarem o caminho certo, lembrando-me a nunca esquecer das minhas
raízes, a dar valor ao simples.
Ao meu irmão Rafanio Bezerra Duarte e ao meu sobrinho Enzo Gabriel de Sousa Duarte, por
estarem ao meu lado e me fazer ter confiança e forças para continuar lutando por dias melhores.
A minha tia/mãe de coração/criação, “Corra”, a minha avó materna, “Dorinha”, a minha tia,
“Lindalva”, a minha madrinha, “Mara Gurgel”, aos irmãos de coração, Ivanise Freitas, Luana
Viana, Tibério Moura, e aos demais familiares, por todo carinho, cuidado, apoio incondicional
e por sempre me dizerem que eu iria conseguir chegar em todo lugar que eu quisesse, que eu
sempre acreditasse, tivesse forças e muita fé. Obrigado a todos por cada oração.
Ao meu grande amigo, parceiro de todas as horas, Helder Sousa, por todo cuidado, carinho,
atenção nos momentos que mais precisei. Agradeço a Deus, por ter colocado você e sua família
em minha vida.
Aos amigos que tanto amo, Raimundo Filho, Gustavo Menezes, Matheus Macedo, Cielany
Clares, Raiany Barros, Michele Paulino, Lucas Amâncio, Brenda Pinheiro, que sempre
estiveram ao meu lado, pela amizade incondicional e pelo apoio demonstrado neste período.
À Kerma Márcia de Freitas e à Lucenir Mendes Furtado Medeiros, amigas, mães, professoras,
mentoras de estudo, trabalho e vida. Obrigado por me fazerem enxergar cada desafio, medo,
dificuldade e insegurança, como uma oportunidade de aprendizagem e crescimento.
As amigas, anjos que o mestrado me deu de presente, Mirna Neyara, Olga Maria e Ana Suelen,
por todo carinho, atenção, afetos e compartilhar de saberes e experiências. Gratidão é a palavra.
A minhas amigas Rayanne Barbsa, Layane Lima, Roberta Peixoto, Maria Jacielma, Ana Clara,
Laura Jennifer, Cibele Brasil, por todo apoio e carinho nessa árdua caminhada e por sempre se
fazerem presentes com palavras de carinho, apoio e incentivo.
Às minhas monitoras Bruna Oliveira, Stefanny Lavor e Adryelle Silva, e a Sara Catarina, pelo
apoio na coleta de dados e por sempre se fazerem presentes com palavras de força e carinho.
Aos meus colegas de turma de mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva
(PPSAC), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em especial Daniele Keuly, Débora
6

Pena, Samir Gabriel, Kellen Alves, Edmilson Silva, Juliana Neves, Delane Giffoni, Dean
Carlos, por compartilharem comigo tantos momentos de descobertas e aprendizado e por todo
o companheirismo ao longo deste percurso. Com vocês, tudo se tornou mais prazeroso e leve.
Gratidão a Deus por ter vocês em minha vida. Não se afastem, mesmo que distantes... Os(as)
amo demais!!! Meu velho grupo “mestramigos”.
Aos companheiros(as) do Grupo de Pesquisa Fluxos, Redes e Cuidado (GPFRIDA), em
especial, Thayza Miranda, Inês Dolores, Leilson Lira, André Ribeiro, Clarissa Dantas, Lucas
Machado, Mayana Azevedo, Duda Quadros, Neíres Alves, Jameson Belém, Geovana, Karoline
Bezerra, Eliziane Lima, por compartilhar saberes, práticas e experiências, pelo apoio
incondicional nessa caminhada.
Aos colegas do colegiado do curso de enfermagem e de fisioterapia do Centro Universitário
Vale do Salgado (UNIVS), pela valiosa convivência, pelos aconselhamentos e encorajamento
nos momentos difíceis. Obrigado por cada palavra.
À minha orientadora, Professora Dra. Maria Rocineide Ferreira da Silva, por todos os
ensinamentos. Por todo apoio e paciência durante a caminhada e por constituir-se para mim um
exemplo de mulher de lutas, pessoa, profissional, professora e enfermeira. Gratidão querida
professora por ser esse ser humano lindo, cheio de afetos. Obrigado por toda acolhida.
As professoras Dra. Helena Maria Scherlowski Leal David e Dra. Maria Marlene Marques
Ávila, por terem participado da banca de qualificação e pelas valiosas contribuições. Aos
professores Dr. Antonio Rodrigues Ferreira Júnior, Dr. Eduardo Carvalho de Souza e Dra. Ana
Célia Caetano de Souza minha banca examinadora, pela disponibilidade de tempo e valiosas
contribuições neste trabalho.
Aos professores(as) do PPSAC da UECE, pelos valiosos ensinamentos, pelo incentivo e pela
colaboração durante esse caminho.
Às funcionárias do PPSAC da UECE, pela disponibilidade e dedicação em nos atender, sempre
solícitas quando precisei.
À reitoria da UNIVS, pelo apoio e incentivo para concretização deste sonho.
Às Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) que participaram deste estudo, pela atenção
dispensada, por apoiarem e compartilharem comigo as experiências e angústias vivenciadas na
busca da consolidação de uma Atenção Básica (AB) e de um Sistema Único de Saúde (SUS)
efetivo e forte.
A todos os que contribuíram de forma direta ou indireta para realização deste trabalho, minha
eterna gratidão.
7

De tudo ficaram três coisas... A certeza de que


estamos sempre começando... A certeza de que
é preciso continuar... A certeza de que podemos
ser interrompidos antes de terminar... Portando,
devemos fazer... Da interrupção um caminho
novo... Da queda, um passo de dança... Do
medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da
procura, um encontro!

(Fernando Sabino)
8

RESUMO

No lócus da Atenção Primária à Saúde (APS), frente à pandemia da Covid-19, destaca-se o(a)
Agente Comunitário de Saúde (ACS), trabalhador(a) com atuação amparada na lógica territorial
do cuidado que, nesse período, tem contribuído, sobremaneira, para o monitoramento da
situação de saúde e acompanhamento dos comunitários. Diante disso, objetivou-se analisar as
práticas dos ACS, no contexto da pandemia da Covid-19. Trata-se de estudo exploratório,
descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido no Município de Icó, localizado na região
Centro-Sul do Estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Participaram do estudo dezenove ACS, as
quais foram divididas em dois grupos, o primeiro formado por nove ACS atuantes na zona rural,
e o segundo formado por dez ACS ativos na zona urbana. A coleta de dados ocorreu de julho a
setembro de 2021, através de Grupo Focal on-line. O material coletado foi transcrito e
organizado com auxílio do software Iramuteq, enquanto a análise das informações foi procedida
de acordo com a análise de conteúdo temático. A pesquisa atendeu às recomendações da
Resolução n.º 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e do ofício circular 02/2021 que dispôs
sobre pesquisas em ambiente virtual, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, através do parecer de nº 4.688.142. A partir da
organização e análise dos discursos produzidos, emergiram quatro categorias: 1) Percepções
das ACS acerca da pandemia provocada pela Covid-19 – aponta que mesmo os(as) ACS não
sendo considerados(as) como trabalhadores(as) da linha de frente no início da pandemia,
tornaram-se essenciais e indispensáveis, devido à ligação que propiciam entre a comunidade e
os serviços de saúde; 2) O individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações
desenvolvidas pelos ACS na pandemia da Covid-19 – tendo como destaque a prática da
educação em saúde, além das ações das campanhas de vacinação contra a Covid-19 e na
formação de rede de solidariedade, tendo a participação social e popular para a superação dos
obstáculos; 3) Processo de trabalho do ACS no contexto da pandemia da Covid-19 – expressa
que as ACS tiveram que se reinventar diante do novo, para assim dar continuidade às atividades
nos territórios de atuação, bem como tiveram que introduzir no processo de trabalho as
tecnologias digitais de informação e comunicação, tendo como destaque o trabalho remoto,
sendo o WhatsApp uma das principais ferramentas utilizadas; 4) Entre as dificuldades e os
desafios no processo de trabalho do ACS em tempos de Covid-19 – evidenciando como
destaque a ausência de formação e capacitação, carência de informações, de insumos e
Equipamentos de Proteção Individual, escassez de comunicação/diálogo com os gestores da
saúde do município, além do medo, sobretudo do contágio, e a preocupação em transmitir para
9

outras pessoas, principalmente os familiares. Portanto, a pandemia da Covid-19 demandou


reorganização do processo de trabalho na APS, e para que o(a) ACS continue desenvolvendo
suas práticas, deve-se garantir, no mínimo, condições dignas de trabalho, maior reconhecimento
da classe, capacitação e educação permanente, visando garantir a continuidade e qualidade da
assistência prestada.

Palavras-chave: Atenção Primaria à Saúde. Agentes Comunitário de Saúde. Covid-19.


Estratégia Saúde da Família.
10

ABSTRACT

In the locus of Primary Health Care (PHC), in the face of the Covid-19 pandemic, the
Community Health Agent (ACS) stands out, a worker whose performance is supported by the
territorial logic of care that, in this period, has contributed greatly to the monitoring of the health
situation and monitoring of community members. In view of this, the objective was to analyze
the practices of the ACS, in the context of the Covid-19 pandemic. This is an exploratory,
descriptive study with a qualitative approach, developed in the Municipality of Icó, located in
the Center-South region of the State of Ceará, Northeast of Brazil. Nineteen ACS participated
in the study, which were divided into two groups, the first formed by nine ACS working in the
rural area, and the second formed by ten ACS active in the urban area. Data collection took
place from July to September 2021, through an online Focus Group. The material collected was
transcribed and organized with the help of the Iramuteq software, while the analysis of the
information was carried out according to the analysis of thematic content. The research
complied with the recommendations of Resolution No. 466/12 of the National Health Council
and Circular Letter 02/2021, which provided for research in a virtual environment, and was
approved by the Research Ethics Committee of Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, through
opinion n. 4,688,142. From the organization and analysis of the speeches produced, four
categories emerged: 1) Perceptions of ACS about the pandemic caused by Covid-19 - points out
that even the ACS were not considered as front-line workers at the beginning of the pandemic,
they became essential and indispensable, due to the connection they provide between the
community and the health services; 2) The individual and the collective entangled: from the old
to the new actions developed by the ACS in the Covid-19 pandemic - highlighting the practice
of health education, in addition to the actions of vaccination campaigns against Covid-19 and
in the formation of solidarity network, with social and popular participation to overcome
obstacles; 3) ACS work process in the context of the Covid-19 pandemic - expresses that the
ACS had to reinvent themselves in the face of the new, in order to continue activities in the
territories of operation, as well as having to introduce technologies into the work process digital
information and communication, with emphasis on remote work, with WhatsApp being one of
the main tools used; 4) Among the difficulties and challenges in the work process of the ACS in
times of Covid-19 - highlighting as a highlight the lack of training and training, lack of
information, supplies and Personal Protection Equipment, lack of communication/dialogue with
the municipal health managers, in addition to fear, especially of contagion, and the concern to
transmit it to other people, especially family members. Therefore, the Covid-19 pandemic
11

demanded reorganization of the work process in the APS, and for the ACS to continue
developing their practices, it must be ensured, at the very least, decent working conditions,
greater recognition of the class, training and permanent education, aiming to guarantee the
continuity and quality of the assistance provided.

Keywords: Primary Health Care. Community Health Agents. Covid-19. Family Health
Strategy.
12

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa com a localização de Icó no Estado do Ceará......................................... 53


Figura 2 - Fluxograma das seis etapas para realização de GF on-line............................. 57
Figura 3 - Formação dos Grupos Focais............................................................................ 58
Figura 4 - Etapas do roteiro estruturado para realização dos GF on-line....................... 59
Figura 5 - Fluxograma das três etapas da Análise de Conteúdo Temática...................... 61
Figura 6 - Dendrograma da Classificação Hierárquica Descendente: temas
originados, após interpretação dos dados coletados........................................ 75
13

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Distribuição do número de ACS por equipes de ESF e território de


instalação da ESF, Icó, Ceará, Nordeste, Brasil, 2020................................... 54
Quadro 2 - Descrição dos critérios de inclusão e exclusão dos sujeitos participantes
do estudo........................................................................................................... 55
Quadro 3 - Características dos grupos focais on-line....................................................... 58
Quadro 4 - Descrição das etapas do roteiro estruturado para realização dos GF on-
line..................................................................................................................... 59
Quadro 5 - Principais características sociodemográficas e de trabalho das ACS
participantes do estudo. Icó, Ceará, Brasil, 2021........................................... 72
14

LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

Gráfico 1 - Cobertura de Agentes Comunitários de Saúde no Brasil, no período de


2010 a 2019...................................................................................................... 45
Gráfico 2 - Cobertura de Agentes Comunitários de Saúde na Macrorregião
Nordeste do Brasil, no período de 2010 a 2019............................................. 46
Gráfico 3 - Cobertura de Agentes Comunitários de Saúde no Estado do Ceará,
Nordeste, Brasil, no período de 2010 a 2019................................................. 46
Gráfico 4 - Medo do Coronavírus por Profissões (%).................................................... 119
Gráfico 5 - Impacto na saúde mental por profissão (%)................................................. 121
Gráfico 6 - Apoio para cuidar da saúde mental por profissão (%)................................ 121

Tabela 1 - Caracterização do perfil sociodemográfico dos participantes da


pesquisa............................................................................................................. 64
15

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

% Porcentagem
AB Atenção Básica
ACE Agente de Combate de Endemias
ACS Agentes Comunitários de Saúde
ADS Área Descentralizada de Saúde
AIS Ações Integradas de Saúde
AP Atenção Primária
APS Atenção Primária à Saúde
ASHAs Ativistas Sociais de Saúde Credenciados
ASSOASMI Associação dos Agentes Comunitário de Saúde de Icó
CAPS Centro de Atenção Psicossocial
CE Ceará
CEB Comunidades Eclesiais de Base
CEMED Centro de Especialidades Médicas
CEO Centro de Especialidades Odontológicas
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CESAU Conselho Estadual de Saúde do Ceará
CHD Classificação Hierárquica Descendente
CHW Community Health Workers
CNS Conselho Nacional de Saúde
CONACS Confederação de Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combates
a Endemias
CONASEMS Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde
CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
CSE Centros de Saúde Escola
ENEMEC Encontros Nacionais de Experiências em Medicina Comunitária
EPI Equipamentos de Proteção Individual
ESF Estratégia Saúde da Família
eSF Equipe de Saúde da Família
16

ESPII Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional


FASEC Federação dos Agentes de Saúde do Estado do Ceará
FVS Faculdade Vale do Salgado
GF Grupos Focais
GM Gabinete do Ministro
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
IOC Instituto Oswaldo Cruz
Iramuteq Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de
Questionnaires
km2 Quilômetro Quadrado
MOPS Movimento Popular de Saúde
MS Ministério da Saúde
n.º Número
NASF Núcleos de Apoio à Saúde da Família
NR6 Norma Regulamentadora nº 6
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organização Não Governamental
OPAS Organização Pan-Americana da Saúde
PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PAS Programa de Agentes de Saúde
PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento do Nordeste
PICS Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
PMAQ Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Primária
PNAB Política Nacional de Atenção Básica
PNACS Programa Nacional de Agentes de Saúde
PPSAC Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
PSF Programa Saúde da Família
R$ Real
RAS Redes de Atenção à Saúde
SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
17

SARS-CoV-2 Novo Coronavírus


SECNS Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de Saúde
SESP Fundação Serviço Especial de Saúde Pública
SPSS Statístical Package for The Social Sciences
SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TIC Tecnologias de Informação e Comunicação
UAPS Unidades de Atenção Primária à Saúde
UBS Unidade Básica de Saúde
UCE Unidades de Contexto Elementar
UCI Unidade de Contexto Inicial
UECE Universidade Estadual do Ceará
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNILEÃO Centro Universitário Dr. Leão Sampaio
UNIVS Centro Universitário Vale do Salgado
UPA Unidade de Pronto Atendimento
VD Visita Domiciliar
18

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 20
1.1 Aproximação do pesquisador com a temática........................................................ 20
1.2 Descrevendo o objeto de estudo............................................................................... 22
2 OBJETIVOS............................................................................................................. 27
2.1 Geral.......................................................................................................................... 27
2.2 Específicos................................................................................................................. 27
3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................... 28
3.1 Atenção Primária ou Básica à saúde: construção, trajetória e
concepções................................................................................................................. 28
3.2 O ACS na APS: contexto(s) histórico(s), papel e desafios enfrentados na
atualidade................................................................................................................. 38
3.3 O protagonismo do ACS frente à pandemia da Covid-19...................................... 47
4 MÉTODO................................................................................................................. 52
4.1 Tipo de estudo.......................................................................................................... 52
4.2 Cenário do estudo.................................................................................................... 53
4.3 Sujeitos envolvidos no estudo.................................................................................. 55
4.4 Instrumento e técnica de produção de dados........................................................ 56
4.5 Análise das informações.......................................................................................... 60
4.6 Aspectos éticos e legais do estudo........................................................................... 62
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................... 64
5.1 Apresentação dos participantes.............................................................................. 64
5.2 Apresentação do corpus da pesquisa...................................................................... 75
5.2.1 Percepções das ACS acerca da pandemia provocada pela Covid-19........................ 77
5.2.1.1 Trabalho ressignificado: outros modos de atuar e se presentificar nos territórios 77
5.2.1.2 “Elocidar”: a percepção em ato............................................................................... 79
5.2.1.3 Essencial e indispensável!? O(a) ACS entre a política de Estado e o (des) governo
da política no contexto da pandemia da Covid-19..................................................... 81
5.2.2 O individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações desenvolvidas pelos
ACS na pandemia da Covid-19.................................................................................. 85
5.2.2.1 Na linha de frente: principais ações desenvolvidas pelos ACS na pandemia........ 85
5.2.2.2 O ACS como protagonista nas ações de vacinação contra a Covid-19................... 90
19

5.2.2.3 Rede de redes: participação social e popular frente às ações para superação de
obstáculos na pandemia............................................................................................ 93
5.2.3 Processo de trabalho do ACS no contexto da pandemia da Covid-19......................... 98
5.2.3.1 Tivemos que nos reinventar diante do novo: processo de trabalho vivo em ato.... 98
5.2.3.2 Descobertas da pandemia: introdução das tecnologias digitais de informação e
comunicação no processo de trabalho dos ACS........................................................ 101
5.2.4 Entre as dificuldades e os desafios no processo de trabalho do(a) ACS em tempos
de Covid-19................................................................................................................ 105
5.2.4.1 Dificuldades e desafios enfrentados pelos(as) ACS frente à atuação no contexto
pandêmico................................................................................................................. 106
5.2.4.2 O medo e a resistência a ele: mais um desafio enfrentado pelos ACS nessa
pandemia................................................................................................................... 118
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 123
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 127
APÊNDICE A – INSTRUMENTO/ DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS......... 146
APÊNDICE B – INSTRUMENTO - QUESTÕES NORTEADORAS PARA O
ENCONTRO DO GRUPO FOCAL........................................................................ 147
ANEXO A – DECLARAÇÃO DE ANUÊNCIA................................................... 149
ANEXO B – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP................................ 150
20

1 INTRODUÇÃO

1.1 Aproximação do pesquisador com a temática

Desde o dia em que eu nasci


Logo aprendi algo assim
Cuidar do outro é cuidar de mim
Cuidar de mim é cuidar do mundo.
(Ray Lima)

A singularidade do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) despertou-


me especial atenção desde quando era criança. Morador da zona rural, lembro-me quando
passava todos os meses pela minha residência uma mulher vestida com uma bata amarela, com
as letras ACS nas costas. Às vezes, corria com medo, pois era sinal que iríamos ser vacinados,
ou então, seríamos pesados naquela balança suspensa no caibro do alpendre ou na galha do pé
de cajarana. Lembro-me, também, que a ACS trazia as informações do posto de saúde, coletava
dados de todos os membros da família, assim como avisava o dia que a enfermeira e o médico
iriam atender dentro de nossa comunidade. Desde então, vi que os cuidados com a saúde são
essenciais e os ACS têm papel importante quando nos referimos a esses cuidados, já que o
principal trabalho deles é o de educador popular em saúde.
Diante dessa realidade, passei a me interessar pela área e decidi que queria cuidar
das pessoas de alguma forma. A princípio, almejava ser pediatra, depois passou-me pela mente
a área da odontologia, mas, aos poucos, percebi que ambas não me completariam, pois queria
algo que me deixasse o mais próximo possível das pessoas, algo que eu pudesse ofertar acima
de tudo o cuidado ao ser humano, de forma individual, na família ou em comunidade, de modo
integral e holístico. Assim, tendo em vista apresentar por objetivos tudo aquilo que eu sempre
almejei, no ano de 2009, ingressei no Curso de Graduação em Enfermagem, na Faculdade Vale
do Salgado (FVS), sediada no município de Icó, Ceará, atualmente, Centro Universitário Vale
do Salgado (UNIVS).
Na trajetória de formação acadêmica, a partir de experiências nos estágios,
sobretudo nas disciplinas Saúde Coletiva I e II, e Estágio Curricular Supervisionado I, enfoque
Atenção Básica (AB), tive a primeira aproximação com o campo da Saúde Coletiva. Desde
então, passei a vivenciar mais de perto como era a realidade da Atenção Primária à Saúde (APS)
e como funciona de fato o Sistema Único de Saúde (SUS) na prática, assim como fui novamente
atravessado pelo trabalho dos ACS, por meio das visitas domiciliares, atividades dentro da
unidade, reuniões, capacitações e entrega de produção mensal. As vivências em campo de
21

estágio me fizeram refletir, ainda no espaço acadêmico, sobre a importância das ações de
Educação em Saúde, das relações hierarquizadas e das práticas em saúde pertencentes ao
modelo biomédico, bem como do relevante papel do ACS como mediador na transformação de
tais práticas de saúde e da ligação entre a comunidade, serviços e trabalhadores da saúde.
O contato e aprendizado com a Saúde Coletiva, o SUS e o trabalho dos ACS não
pararam. Ao terminar o curso, partindo então para vida profissional, no ano de 2014, tive a
oportunidade de realizar, durante cinco meses, estágio voluntário em uma equipe da Estratégia
Saúde da Família (ESF) do município supracitado. Durante esse período, desenvolvi um
trabalho mais voltado para as visitas domiciliares, adentrando, assim, vários territórios, para
isso, fez-se necessária a parceria com os ACS. Essa experiência me fez ver de perto a realidade
das comunidades, observar as necessidades das gentes que ali habitam os espaços, assim como
ver o valor que os ACS têm diante de cada pessoa, de cada vida.
Após essa experiência, fui selecionado para ser preceptor de estágio do Curso de
Enfermagem da UNIVS nas disciplinas Saúde do Idoso, Enfermagem em Saúde da Criança e
do Adolescente (enfoque Programa Saúde na Escola) e Supervisionado I (enfoque AB). Na
preceptoria de saúde do idoso, bem como do Supervisionado I, “meu” papel enquanto preceptor
era acompanhar os alunos nas atividades extra muro na ESF, e mais uma vez, o contato direto
com os ACS, pois as ações eram realizadas através das visitas domiciliares e atividades dentro
das comunidades, e nada melhor do que a parceria com aqueles que representam o elo entre os
serviços de saúde e a comunidade.
Desde então, o contato com os ACS não parou e o “brilho no olhar” pelo trabalho
deles aumentava. No ano de 2017, tive a experiência de trabalhar como enfermeiro de uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) na zona rural, também no município de Icó, mais uma vez,
pude observar o grandioso e relevante papel que os ACS têm para o processo de ampliação da
assistência à saúde da população dentro dos serviços de saúde. Porém, fiquei bastante
preocupado, pois nesse mesmo ano, foi publicada a nova Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB) (BRASIL 2017), a qual trouxe uma série de mudanças, entre as quais a possibilidade
da formação de equipes de ESF sem a presença dos ACS, desconfigurando, assim, a
centralidade da APS/SUS, fugindo do princípio da integralidade. Ainda, no ano de 2017,
retomei as atividades de preceptoria a qual desenvolvo até os dias atuais.
No ano de 2020, tive a oportunidade de vivenciar junto com outras duas
profissionais enfermeiras, gerentes de UBS no município de Icó, e preceptoras da instituição
onde trabalho, um pouco da atuação dos ACS em duas UBS frente à pandemia da Covid-19.
Nesta ocasião, juntamente com as enfermeiras e colegas do Programa de Pós-Graduação em
22

Saúde Coletiva (PPSAC), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), desenvolvemos a


pesquisa intitulada “Agentes comunitários de saúde frente à covid-19: vivências junto aos
profissionais de enfermagem”. Essa pesquisa nos fez refletir acerca da importância desses
trabalhadores da saúde dentro dos territórios, além do protagonismo frente à atual situação
emergencial.
Além disso, passei a refletir a respeito do meu papel enquanto agente participante
nos processos de mudanças de um sistema de saúde, assim como sobre a importância da Saúde
Coletiva como emancipação dos cidadãos, dos processos dialógicos para consolidação do SUS
e do papel relevante que os ACS representam para a APS, o SUS e, especialmente, para as
pessoas, famílias e comunidades.
Dessa forma, o interesse pelo estudo surgiu do entendimento como oportunidade de
reflexão e transformação de aspectos da prática, na qual estou inserido desde minha entrada na
academia, levando-me, assim, a pesquisar sobre tal objeto de estudo.

1.2 Descrevendo o objeto de estudo

Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são personagens importantes quando


nos referimos a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Atenção Primária à
Saúde (APS) na atualidade, tendo vista o relevante papel no fortalecimento e na integração entre
a comunidade e os serviços de saúde. Estes trabalhadores têm sido considerados membros
efetivos do trabalho na APS, e não somente meros suportes para efetivação de determinadas
ações em saúde, pois representam peças-chave na implantação de políticas direcionadas para
reorientação de modelos de assistência em saúde (GOMES et al., 2010; MOROSINI;
FONSECA, 2018).
No Brasil, a reforma do modelo assistencial em saúde, preconizada pelo Movimento
Sanitário, no final da década de 1980, culminou na criação do SUS, regido pelos princípios da
universalidade, integralidade, equidade, descentralização, regionalização e participação social.
Durante o processo de construção, o SUS, ao longo dos anos, tem contemplado a
experimentação de várias propostas alternativas para organização dos serviços de saúde,
sobretudo, no âmbito da APS (PAIVA; TEIXEIRA, 2014; PAIM, 2008).
Entre as propostas, destacam-se o Programa Nacional de Agentes de Saúde
(PNACS), criado no ano de 1991, pelo Ministério da Saúde (MS), o qual transformou-se, em
seguida, no Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), objetivando reduzir os
elevados indicadores de morbimortalidade materna-infantil (BRASIL, 2001; PEDEBOS;
23

ROCHA; TOMASI, 2018), e o Programa de Saúde da Família (PSF), criado em 1994 que,
posteriormente, no ano de 2006, passou a ser considerado Estratégia Saúde da Família (ESF),
tornando-se rapidamente a principal estratégia de ampliação e consolidação da APS, em
decorrência da capacidade de organizar e dispor de elementos técnico-científicos, capazes de
intervir no processo saúde-doença da população (PINTO; GIOVANELLA, 2018).
A APS é definida pelo MS como conjunto de ações de saúde individuais, familiares
e coletivas, envolvendo promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, diminuição
de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvidas pelas práticas de cuidado
integrado e pela gestão qualificada, realizadas por equipe multiprofissional, direcionada à
população em território definido, sobre as quais as equipes de saúde assumem a
responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017). Contudo, para o desenvolvimento dessas práticas,
alguns atributos são essenciais, os quais devem ser orientados pelos seguintes princípios:
atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, abordagem familiar
e enfoque comunitário (OLIVEIRA; PEREIRA, 2013).
Diante desse processo, o ACS se vincula à APS para atuar nas unidades básicas e
constituir o elo entre a comunidade e os serviços de saúde, realizando atividades de promoção
em saúde, prevenção de doenças e agravos, vigilância em saúde, mediante ações educativas nos
domicílios e na comunidade, além de se destacar por ser um agente social (RIQUINHO et al.,
2018). Portanto, o ACS é fundamental na APS, pois tem como atributos do trabalho a
competência cultural, a construção de vínculo e a orientação comunitária, relacionando-se
cotidianamente com a população do território que atua e transitando entre os saberes populares
e técnicos (ALONSO; BÉGUIN; DUARTE, 2018; MACIEL et al., 2020).
Para Garcia et al. (2019), o ACS também desempenha papel essencial na atenção
integral dos trabalhadores, assim como é quem realiza o levantamento e cadastro dos usuários,
realiza as visitas domiciliares, orienta as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde
disponíveis, entre outras atividades. Os autores referenciam que o trabalho do ACS é
regulamentado pela Lei n.º 10.507/2002, e todas as atividades e/ou atribuições realizadas estão
em consonância com as diretrizes estabelecidas pelo SUS, assim como estão definidas pela
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).
Esses trabalhadores encontram-se presentes em 97% dos municípios brasileiros,
colaborando para melhoria da qualidade de vida da população, por meio de ações de promoção
e vigilância em saúde. Atualmente, no Brasil, são mais de 265.000 ACS trabalhando na APS,
mais de 100.000 no Nordeste e, no Estado do Ceará, o número já superou a marca de 15.000
(BRASIL, 2020f). Apesar disso, nos últimos quatro anos, tem-se observado diminuição
24

considerável da cobertura de ACS em várias regiões do país, e isso vem acontecendo,


sobretudo, desde a publicação da PNAB-2017, uma vez que se encontram descritas uma série
de modificações para APS, sendo que uma delas refere-se ao reconhecimento das equipes de
ESF, sem a obrigatoriedade de alguns trabalhadores, entre eles o ACS (FONSECA et al., 2019).
Outro marco importante a ser exposto sobre os ACS, dentro da APS, diz respeito à
atuação frente à pandemia da Covid-19, doença cujo vírus causador é o SARS-CoV-2, também
conhecido como novo coronavírus. Iniciou-se em dezembro de 2019, na China, e se espalhou
rapidamente em todos os continentes, caracterizando-se, assim, como uma pandemia (OPAS,
2020b; SILVA et al., 2020).
No Brasil, o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado em fevereiro de 2020. Desde
então, devido ao elevado potencial de contágio, à fácil disseminação e ao grande número de
mortes, medidas de isolamento de casos e contatos e distanciamento social da população geral
têm sido as principais estratégias preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para
evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, retardar a expansão da doença
(MENEZES, 2020; DAUMAS et al., 2020).
Frente a essa realidade, a melhor ferramenta evidenciada até então para o controle
da Covid-19 vem sendo a prevenção de doenças e promoção da saúde, desempenhada pela APS,
já que se trata da porta de entrada dos pacientes no sistema de saúde. Neste período, a atuação
da APS tem sido sistematizada em vigilância em saúde nos territórios, por meio de atenção e
cuidados aos usuários com Covid-19, bem como suporte social a grupos vulneráveis, além da
continuidade das ações próprias da APS (FARIAS et al., 2020).
Assim, destaca-se a atuação dos ACS frente à pandemia, como trabalhador da saúde
integrante da APS, pois tem feito o trabalho com base em práticas de educação em saúde, além
de competências referentes à promoção, à prevenção e ao controle de agravos, as quais são
essenciais durante emergências. Todavia, o objeto de trabalho dos ACS supera as necessidades
de saúde existentes nos territórios, sendo necessário também incluir as novas demandas que
passam a existir a partir da emergência, como a pandemia da Covid-19, como a obtenção de
novos saberes, o aprimoramento de práticas e o uso de novas ferramentas, tendo como aliadas
as tecnologias de comunicação e informação e as mídias sociais/digitais (BRASIL, 2020e;
MACIEL et al., 2020).
Destarte, diante do grande desafio de enfrentar a pandemia da Covid-19, o papel
dos ACS dentro do arcabouço da APS se mostra relevante, desta forma, a invisibilidade ou não
obrigatoriedade desse agente dentro das equipes de ESF, como proposto pela nova PNAB,
torna-se inviável, pois a presença dele vem fazendo toda diferença no serviço, em decorrência
25

do contato próximo com a realidade da comunidade local, promovendo elo entre os serviços de
saúde e os usuários (MOROSINI, 2020).
Ainda sobre a relevância dos ACS nesse período de pandemia, pode-se afirmar que
estes são trabalhadores que podem atuar na sensibilização da população sobre ações de saúde
para mitigar o risco de a comunidade tornar-se foco de disseminação da Covid-19, além de
detectar condições de maior vulnerabilidade e situações clínicas para informar aos serviços
sobre a necessidade de intervenção, já que são trabalhadores que residem dentro da comunidade
(DUARTE et al., 2020; MOROSINI, 2020).
Em síntese, desde as modificações colocadas pela nova PNAB, tem-se
acompanhado um processo de reestruturação da APS que, entre outras coisas, retira a
centralidade das equipes da ESF, fortalece a perspectiva biomédica do modelo de atenção,
amplia a segmentação do cuidado pela oferta de padrões distintos de serviços (básico e
ampliado) e aumenta a distância do SUS em relação à perspectiva do direito universal à saúde
(HARZHEIM et al., 2020).
Além do mais, ao constatarmos a formação de equipes da ESF com número mínimo
de ACS, ou sem, observa-se a recomposição de barreiras ao acesso da população aos serviços
de saúde, assim como diminui mais ainda a visão da atenção territorializada e a centralidade do
trabalho educativo como base para compor o cuidado contínuo e longitudinal, os quais são
importantes para o desenvolvimento de uma APS forte, capaz de fornecer respostas adequadas
à população e em situações especiais, como a atual emergência sanitária da Covid-19.
Diante dessa conjuntura, este estudo justifica-se por considerar que os ACS
representam marco histórico na construção da APS, assim como têm papel importante para a
própria consolidação. Ainda, os ACS são fundamentais para a APS, além do destaque crescente
no SUS, não somente pelo fato de facilitarem o acesso da população às ações e aos serviços de
saúde, mas por constituírem conexão importante entre as equipes de saúde e a comunidade, o
que fortalece as relações, facilita o potencial diagnóstico das situações de risco, além de atuar
como agentes de organização da comunidade para transformação das condições de saúde.
Ainda, a pandemia da Covid-19 trouxe oportunidade ímpar do país reconhecer o
quanto o SUS e a APS são importantes e necessários, sem citar o protagonismo dos ACS, no
que diz respeito às atribuições, uma vez que tal situação representa um dos maiores desafios
sanitários dos últimos tempos, influenciando de forma direta na dinâmica e relação entre os
elementos que arranjam os processos de trabalho, além de mudar, também, a prestação do
cuidado em saúde nos territórios.
26

Nesse contexto, ao admitir o papel do ACS como agente de mudanças, com saberes
e vivências na APS e na situação de pandemia atual, este estudo partiu das seguintes perguntas
norteadoras: como têm se configurado as práticas dos ACS no contexto da pandemia da Covid-
19? Qual a percepção dos ACS sobre a pandemia da Covid-19? Quais as dificuldades e os
desafios trazidos pela pandemia da Covid-19 para o processo de trabalho dos ACS?
A partir do exposto, o presente estudo se fez necessário, não somente por trazer
novos conhecimentos, mas por poder despertar no meio acadêmico o interesse por novas
pesquisas. Este estudo, ainda, mostra-se relevante, uma vez que nos possibilita reflexão sobre
os desafios enfrentados durante a pandemia da Covid-19 pela APS, bem como acerca do
contexto atual da saúde pública brasileira. Busca, também, sistematizar algumas reflexões
referentes às estratégias adotadas para reconfiguração dos processos de trabalho em saúde em
tempos de enfrentamento da pandemia da Covid-19, sobretudo, o desenvolvido pelo ACS nos
territórios, o qual requer, como citado, o contato, o vínculo e o reforço dos tributos provenientes
da APS, principalmente, a mobilização e a orientação dos diferentes grupos populacionais, para
promoção e proteção da saúde, no contexto da crise sanitária atual.
Também, o estudo contribuirá para que possamos refletir acerca do trabalho
essencial que o ACS exerce dentro da APS, tendo em vista a importância de resgatar as
atribuições originais, considerando e incorporando as inovações tecnológicas atuais, mas não o
ter como um trabalhador dispensável, como é proposto na nova PNAB.
27

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

• Analisar as práticas dos Agentes Comunitários de Saúde, no contexto da pandemia da


Covid-19.

2.2 Específicos

● Compreender a percepção dos ACS acerca da pandemia provocada pela Covid-19;


● Descrever as ações desenvolvidas pelos ACS frente à pandemia da Covid-19;
● Identificar as dificuldades e os desafios trazidos pela pandemia da Covid-19 para o
processo de trabalho dos ACS.
● Evidenciar as potencialidades do trabalho dos ACS no enfrentamento da pandemia da
Covid-19.
28

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Atenção Primária ou Básica à saúde: construção, trajetória e concepções

As discussões a respeito das formas de organização das práticas de saúde têm se


apresentado constantes, tanto no âmbito acadêmico quanto político, evidenciando maiores
reflexões sobre os progressos e desafios frente aos modelos assistenciais em saúde, assim como
tem tomado dois aspectos principais. O primeiro diz respeito ao entendimento conceitual da
expressão “modelo assistencial” e das diferentes terminologias utilizadas. O segundo é sobre
as características do que poderia ser um novo modelo orientado pelos princípios e pelas
diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste contexto, os modelos assistenciais ou
modelos de atenção podem ser caracterizados como um meio de organização, os quais são
estruturados tendo em vista os problemas de saúde de determinada população e as necessidades
de saúde, historicamente definidas (FERTONANI et al., 2015).
No Brasil, uma das conquistas mais fortes das políticas públicas de saúde é o SUS,
cuja criação tem como marco principal a Reforma Sanitária ocorrida na década de 1970,
conquistando para todos direitos como a assistência universal e integral à saúde e a promoção
da participação social. Anos depois, ocorreu também a criação da Atenção Primária à Saúde
(APS), tendo como destaque a reorientação do modelo assistencial, a partir de um sistema
universal e integral de atenção à saúde (PAIVA; TEIXEIRA, 2014; ALMEIDA et al., 2015).
No SUS, a APS, além de configurar-se como “porta de entrada” do cidadão ao
sistema, é a ordenadora das Redes de Atenção à Saúde (RAS) e a coordenadora do cuidado.
Assim, a APS se caracteriza por um conjunto de ações, no âmbito individual e coletivo,
desenvolvidas pelas práticas gerenciais, sanitárias, democráticas e participativas (SILVA;
CAMARGO, 2019). Internacionalmente, a APS tem-se apresentado como estratégia de
organizar a atenção à saúde, de modo a responder à maior parte das necessidades de saúde de
uma população de forma regionalizada, contínua e sistematizada, integrando ações preventivas
e curativas (GIOVANELLA; MENDONÇA, 2012).
Comumente, o uso do termo APS expressa o entendimento de uma assistência
ambulatorial não especializada, oferecida dentro de um sistema por meio de unidades de saúde,
caracterizando-se, principalmente, pelo desenvolvimento de um conjunto variado de atividades
clínicas de baixa densidade tecnológica, o que inclui, em vários países, as atividades de saúde
pública, como é o caso do Brasil. Além disso, é senso comum entender essas unidades como
ambientes onde ocorre, ou deveria ocorrer, sobretudo, o primeiro contato dos pacientes com o
29

sistema, é onde se tem a capacidade para solução de boa parte dos problemas de saúde por eles
apresentados (LAVRAS, 2011; PORTELA, 2017).
Contudo, na retaguarda desse respectivo consenso, existem distintas concepções
sobre o efetivo significado, uma vez que, em determinados países, a APS é interpretada como
um programa seletivo e focalizado que oferece, de forma reduzida, os serviços de saúde,
objetivando responder apenas a algumas necessidades de grupos populacionais de baixa renda,
e sem a garantia da possibilidade de acesso a outros recursos do sistema. Em outros países, de
forma particular os europeus e no Canadá, a APS é visualizada como o primeiro nível de um
sistema de saúde, a qual oferece serviços clínicos de qualidade, assim como se responsabiliza
pela organização do sistema e coordenação do cuidado (CONILL, 2008).
Para Mello, Fontanella e Demarzo (2009), existe frequente discussão a respeito da
terminologia ideal para nomear o primeiro nível de atenção à saúde. No caso do Brasil, os
termos Atenção Básica (AB), Atenção Primária (AP) e APS podem ser usados como sinônimos,
na maior parte das vezes, sem que isto se torne um problema conceitual. Mas, em determinadas
ocasiões, os respectivos referenciais se modificam desde as correntes francamente
funcionalistas até aquelas mais progressistas, particularmente contrapondo os conceitos de AB
e APS ao de AP.
Embora concordando com alguns autores sobre a existência de consenso sobre a
ideia de uma AB estruturante e um SUS de qualidade, no Brasil, tem-se observado tensão
discursiva, no que se refere à ABS e APS, bem como a existência de contraposições entre
promoção/prevenção X cuidado, demanda espontânea X ações programáticas, saúde clínica X
saúde coletiva, serviço de saúde X orientação comunitária, necessidades populacionais X
acesso oportuno, e entre atenção médica generalista X multiprofissionalidade. O fato é que o
debate conceitual sobre a ABS e APS continua atual, em razão da incorporação da cobertura
universal de saúde na Agenda 2030, a qual tem como meta alcançar um dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) (meta 3.8 do ODS 3 “Saúde e Bem-estar”) e a APS
recomendada como estratégia para cobertura universal (GIOVANELLA, 2018).
Historicamente, elementos importantes influenciaram a compreensão de APS que
figura o debate contemporâneo. Todavia, o Relatório Dawson, elaborado pelo então ministro
da saúde inglês Lord Dawson of Penn, em meados dos anos 1920, é considerado um dos
primeiros documentos a usar o conceito de APS em uma perspectiva de organização dos
serviços de saúde, de forma sistêmica, regionalizada e hierarquizada (FONSECA; MOROSINI;
MENDONÇA, 2013).
30

As percepções do Relatório Dawson influenciaram a criação do sistema nacional


de saúde britânico, no ano de 1948, o qual passou, então, a orientar vários países do mundo na
reorganização dos sistemas de saúde. Ainda, cabe destacar que os movimentos estadunidenses
de Medicina Preventiva e Integral, em 1940, e Medicina Comunitária, em 1960, também
tiveram fortes influências sobre as discussões e implementação de políticas de APS nos anos
seguintes (SUMAR; FAUSTO, 2014).
Ainda sobre as concepções elaboradas pelo governo inglês no referido relatório,
elas foram base para a organização dos sistemas de saúde de todo o mundo, como mencionado,
definindo, assim, duas características básicas da APS. A primeira característica seria a
regionalização. Nesta, os serviços de saúde precisam organizar-se, de modo a atender às várias
e distintas regiões nacionais, por meio da distribuição a partir de bases populacionais, assim
como devem identificar as necessidades de saúde de cada região. A segunda é a integralidade,
que fortalece a indissociabilidade dentre as ações preventivas e curativas (MATTA;
MOROSINI, 2009; PORTELA, 2017).
O modelo biomédico, uma consequência do relatório de Abraham Flexner, tem
influenciado, por muitos anos, e algumas vezes ainda influencia, na organização dos serviços,
na produção de conhecimento e na formação profissional, seguindo uma lógica linear e
mecanicista, enraizada na revolução microbiana, e sucesso no tratamento de diferentes doenças
(SILVA JÚNIOR; ALVES, 2007).
Atualmente, o modelo biomédico, ainda, é reconhecido e incorporado pelos
serviços de saúde de muitos lugares, no entanto, as limitações são conhecidas, como o foco no
indivíduo, a ênfase nas ações curativas, a medicalização e a incapacidade de compreender a
multidimensionalidade do ser humano. A partir da década de 1970, esse modelo de assistência
médica desencadeou um movimento de críticas em níveis nacional e internacional, que se
intensificou na década de 1980 (FERTONANI et al., 2015).
Outro marco histórico é a Declaração de Alma-Ata, pois a primeira definição de
APS surgiu após a 1ª Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, promovida
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF), em Alma-Ata, no Cazaquistão, no ano de 1978. Nesta conferência, ficou proposto
um acordo e uma meta entre os 134 países membros/participantes para atingir o maior nível de
saúde possível até o ano 2000, por meio da APS. Essa política internacional ficou conhecida
como 'Saúde para Todos no Ano 2000' (OMS, 1978; GIOVANELLA; MENDONÇA, 2012;
FAHEL, SILVA, 2018).
31

De acordo com a Declaração de Alma-Ata:

Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em


métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente
aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade,
mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam
manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e
autodeterminação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual
constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e
econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos
indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual
os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde
pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado
processo de assistência à saúde (OMS, 1978, p. 1-2).

Em 1986, foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde no Brasil, endossando


modificações no modelo de saúde, ao citar no relatório as diretrizes para reorganização do
sistema. Essa Conferência tornou-se um dos marcos da saúde brasileira, destacando um dos
principais momentos da luta pela saúde universal, tendo a participação de diferentes atores
sociais envolvidos na transformação dos serviços de saúde. O relatório desta Conferência
influenciou as responsabilidades do Estado, no que se refere à segurança do direito à saúde de
toda a população, garantindo a qualidade dos serviços, bem como as condições de acesso, além
de servir como ajuda para elaboração da nova Constituição Brasileira (BRASIL, 1986;
BRASIL, 2009a).
Evidenciada nos termos de Alma-Ata e aprimorada ao longo da história por vários
autores, a APS ganha destaque na pesquisa de Bárbara Starfield. Pesquisadora da área, ela
aponta que a APS é o primeiro contato da assistência continuada, centralizada no indivíduo, de
maneira a satisfazer as necessidades de saúde deste. Ainda, refere que a APS coordena os
cuidados quando os indivíduos recebem assistência em outros níveis de atenção. Além disso,
aponta os atributos para as práticas da APS e que estes devem ser orientados pelos seguintes
princípios: primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, abordagem
familiar e enfoque comunitário (STARFIELD, 2002).
Para Oliveira e Pereira (2013), o primeiro contato diz respeito à acessibilidade e
utilização do serviço para cada novo problema ou novo episódio de um problema para os quais
se busca o cuidado. A longitudinalidade corresponde aos cuidados pela equipe de saúde e o uso
consistente ao longo do tempo, em um ambiente de relação colaborativa e humanizada entre a
equipe e a comunidade (pessoa, usuário e família). A integralidade se refere a um conjunto de
serviços ofertados pela equipe de saúde que atendam às necessidades mais comuns da
população adscrita, assim como diz respeito à responsabilização pela prestação de serviços em
32

outros campos de atenção à saúde e ao reconhecimento apropriado dos problemas biológicos,


psicológicos e sociais que acarretam as doenças.
No que se refere à coordenação, esta sugere a capacidade de garantir a continuidade
da atenção, por meio da equipe de saúde, com o reconhecimento dos problemas de saúde que
necessitam de acompanhamento/cuidado constante. A abordagem familiar, diz respeito à
centralidade na família, assim como remete ao conhecimento desta pela equipe de saúde, pelos
próprios membros da família e ao conhecimento dos próprios problemas de saúde. Em relação
ao enfoque comunitário, este se volta às orientações comunitárias, diz respeito ao envolvimento
da própria comunidade na tomada de decisões em todos os níveis de atenção. Nesse ponto, é
onde se deve buscar o vínculo entre a comunidade e as equipes de saúde (SHIMAZAKI, 2009).
Além disso, ao considerar a saúde como resultado de múltiplos fatores, não
limitados somente às questões biológicas, pode-se somar, dentre os atributos da APS, a
intersetorialidade (SUMAR; FAUSTO, 2014). Assim, a construção da intersetorialidade
acontece pela articulação e ação de vários setores e envolvimentos caracterizados de atores
sociais, como sociedade civil organizada, universidades, movimentos sociais, governo,
autoridades locais, entre outros, tendo por objetivo reunir vários saberes e possibilidades de
atuação, no sentido de viabilizar atenção mais ampla sobre a complexidade de um problema,
possibilitando o enfrentamento de questões que tenham influência para o processo saúde-
doença da população (GARCIA et al., 2014).
No que se refere à organização da APS, a Declaração de Alma-Ata sugere a criação
de serviços locais de saúde centralizados nas necessidades de saúde e nos problemas da
população e constituídos pela perspectiva interdisciplinar, envolvendo profissionais médicos,
enfermeiros, auxiliares e/ou técnicos de enfermagem e ACS, assim como a participação social
na gestão e no controle de atividades (GOMES et al., 2011).
Na Declaração, foi descrito que a APS deve desenvolver as seguintes ações
mínimas e necessárias nos diversos países: educação em saúde direcionada para prevenção e
proteção, planejamento familiar, prevenção e controle de doenças endêmicas, saúde materno-
infantil, nutrição apropriada e distribuição de alimentos, tratamento da água e saneamento,
imunização, tratamento de doenças e lesões comuns e provimento de medicamentos essenciais
(FAHEL; SILVA, 2018).
Entretanto, no Brasil, desde o início do século XX, algumas experiências de APS
vinham sendo instituídas de forma incipiente e, desde então, passamos a observar algumas
tentativas de organizar a APS. Em 1924, em São Paulo, surgiram os Centros de Saúde Escola
(CSE) que tinham como foco as ações curativas e preventivas, organizavam-se a partir de uma
33

base populacional e trabalhavam com educação sanitária e promoção da saúde (TEIXEIRA,


2006). Outra iniciativa que precisa ser apontada foi a criação da Fundação Serviço Especial de
Saúde Pública (SESP), durante a década de 1940. O SESP teve atuação marcante nas Regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, organizando e atuando em serviços de saúde pública e de
assistência médica, tendo em vista ações curativas e preventivas, ainda que restritas às doenças
infecciosas e carenciais (LAVRAS, 2011).
Na década de 1970, duas experiências podem ser assinaladas como fundamentais
para o processo histórico de organização da APS. A primeira trata do Programa de
Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento do Nordeste (PIASS), que tinha por finalidade
chegar à população excluída de algum acesso à saúde, um conjunto de ações médicas
simplificadas, caracterizando-se como política focada e de baixa resolutividade (MENDES,
2015). Destaca-se que o PIASS é considerado marco do movimento da Reforma Sanitária
Brasileira, além da inserção de um trabalhador recrutado dentro das comunidades. A segunda
se refere às primeiras experiências de Medicina Comunitária, que também sob influência do
movimento de Reforma Sanitária e com ajuda das Universidades, apontaram o início de
participação dos municípios no desenvolvimento da APS (LAVRAS, 2011; MENDES, 2015).
No início da década de 1980, com o movimento sanitário, as concepções da APS se
incorporaram à ideia reformista, uma vez que se percebeu a necessidade de reorientar o modelo
assistencial, rompendo com o modelo médico-privatista vigente naquela época. Ainda durante
o período dos anos 1980, ocorreu o processo de redemocratização no país e a crise do modelo
médico previdenciário, representado pela centralidade do Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social (INAMPS). Prontamente, diante desses acontecimentos,
surgiram as Ações Integradas de Saúde (AIS), que visavam o fortalecimento de um sistema
unificado e descentralizado de saúde, voltado para as ações integrais e, em seguida, o Sistema
Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS). Também, foi nesse período, mais precisamente
no ano de 1988, que a nova Constituição instituiu o SUS (MENDES, 2015).
Durante o período da década de 1980, pode-se observar a continuação de diversas
iniciativas de estados e municípios em relação à APS, porém, sem se configurar em um modelo
de base nacional. Somente no início da década de 1990, com a municipalização do SUS,
começou a existir uma estrutura mais uniforme da APS, sob a responsabilidade dos municípios
brasileiros incentivados pelo MS, através de normatizações e financiamento (LAVRAS, 2011).
Diante desse processo de organização, o MS, durante a década de 1990, investiu na
APS, e no ano de 1991, criou o Programa Nacional de Agentes de Saúde (PNACS), objetivando
juntar as várias ações que existiam espalhadas pelo país sob uma única orientação. Depois, o
34

PNACS se transformou no Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com objetivo


de diminuir os elevados indicadores de morbimortalidade materna-infantil. O PACS iniciou-se
na Região Nordeste, e logo foram observados impactos significativos, quando comparados com
as áreas que não tinham o programa. Além disso, o PACS foi criado para contribuir com uma
melhor qualidade de vida, investindo, principalmente, na educação em saúde (BRASIL, 2001a;
PEDEBOS; ROCHA; TOMASI, 2018).
Nesse mesmo cenário, tendo em vista uma avaliação positiva do PACS, no ano de
1994, foi proposto pelo MS o Programa Saúde da Família (PSF), compreendido como uma
estratégia que transforma o antigo modelo assistencial de saúde que focava apenas na doença,
no médico e no hospital para responder à demanda por atenção integral, como estabelecem os
princípios do SUS (SUMAR; FAUSTO, 2014; SAMUDIO et al., 2017).
Com o passar dos anos, após a implantação do PSF, foi preciso organizar a base do
SUS, então, no ano de 2006, o PSF passou a ser compreendido como estruturante, ou seja, ficou
definido como Estratégia Saúde da Família (ESF), tendo em vista a capacidade de organizar e
dispor de elementos técnico-científicos para intervir no processo saúde-doença da população
(ARANTES; SHIMIZU; MERCHAN-HAMANIN, 2016). Nesse sentido, a principal estratégia
de configuração da APS no cenário brasileiro é a ESF que visa à ampliação da cobertura
populacional e à reorganização da atenção à saúde. Além disso, a ESF aprofunda os processos
de territorialização e responsabilidade sanitária das equipes, as quais cada uma é responsável
por, no máximo, 4.000 pessoas de determinada área (FONSECA et al., 2019).
A ESF realiza ações por intermédio de uma equipe multiprofissional/mínima,
formada por enfermeiro, médico, auxiliar ou técnico de enfermagem, ACS, cirurgião-dentista
e auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal, a qual vem promovendo o estabelecimento do vínculo
com a população de forma longitudinal, ou seja, proporciona o cuidado em diferentes etapas do
ciclo da vida, com vistas à prevenção e promoção à saúde (BRASIL, 2011).
Destarte, essas experiências citadas, quando somadas à constituição do SUS
(BRASIL, 1988) e à respectiva regulamentação (BRASIL, 1990), possibilitou a construção de
uma política que visasse à reorientação do modelo assistencial, visando tornar o contato
prioritário da população com o SUS. Assim, em 28 de março de 2006, pela Portaria nº GM/648,
o MS publicou a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2006), a qual
estabeleceu a revisão de diretrizes e normas para a organização da ABS/ESF e o PACS no
Brasil, modificando e revogando várias Portarias existentes. No mais, a PNAB é considerada
um marco histórico para expansão da ESF e do SUS (PINTO; GIOVANELLA, 2018).
35

A PNAB considera os termos “Atenção Básica à Saúde” e “Atenção Primária à


Saúde” equivalentes, pois associa aos mesmos os princípios do SUS, sobretudo a
universalidade, a descentralização, a integralidade e a participação popular, os quais estão
determinados dentro da própria política (BRASIL, 2012). Neste sentido, a PNAB descreve a
APS como:

Um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a


promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento,
a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de
práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho
em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume
a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em
que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa
densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e
relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de
saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da
coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da
responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL,
2006, p.2).

Ainda na perspectiva de organização da APS, mais recentemente reconhecendo a


necessidade de se instituir um sistema de atenção à saúde, com base em uma APS forte e de
qualidade, no ano de 2008, a OMS publicou o Relatório Mundial da Saúde, em que ficou
descrito que, na conexão entre uma população e o sistema de saúde, a atenção primária pode se
tornar facilitadora de uma convergência segura, eficaz e socialmente bem-sucedida da
promoção da saúde, prevenção de doenças, cura e assistência em geral. Mas, para que isso
aconteça, é necessário priorizar as pessoas, enfatizando, de maneira equilibrada, a saúde e o
bem-estar, bem como os valores e as capacidades das pessoas nas respectivas comunidades e
das que trabalham no âmbito da saúde (OMS, 2008).
No que diz respeito às ações e atividades desenvolvidas na APS, as quais são de
responsabilidade dos municípios, devem ser organizadas considerando as características e a
diversidade da população de cada localidade, independente do modelo selecionado, respeitando
as seguintes diretrizes: organização do trabalho, com base no perfil epidemiológico da
população; territorialização com adscrição de clientela; acolhimento do usuário com
atendimento garantido à demanda espontânea; análise de risco em processos de assistência; e
uso de diferentes dispositivos de gestão em saúde. Essas, objetivam garantir a integração de
práticas e a continuidade da assistência (SUMAR; FAUSTO, 2014; LAVRAS, 2011).
Além disso, a APS se responsabiliza pela atenção à saúde dos usuários, oferecendo
ações de saúde, de modo individual e coletivo, organizando o processo de trabalho das equipes
36

multiprofissionais, com vista a uma assistência integral, garantindo acesso à outra unidade
funcional do sistema, tendo em vista as necessidades de cada usuário, além de se responsabilizar
por este, independentemente se o atendimento esteja acontecendo em outra unidade do sistema;
e, deste modo, ordenando o funcionamento da RAS (LAVRAS, 2011; SUMAR; FAUSTO,
2014; ALMEIDA et al., 2015).
Tasca et al. (2020) acrescentam que, atualmente, apesar dos resultados alcançados,
a expansão da cobertura da APS no Brasil, além de demonstrar modificações na gestão de
serviços, tem transformado o mercado de trabalho no setor de saúde, enfrentado barreiras
associadas a fatores como restrições orçamentárias, carência de profissionais médicos de saúde
da família, localizações remotas e maior cobertura populacional por planos privados de saúde.
Ademais, a desigualdade na qualidade da assistência oferecida nos serviços da APS
pelos municípios brasileiros continua como um dos obstáculos para expandir a capacidade de
responder aos novos e antigos problemas de saúde que arranjam o perfil de saúde brasileiro,
caracterizado pelos problemas de saúde mental, pela alta carga de doenças crônico-
degenerativas, pelos distúrbios alimentares, além da manutenção de doenças infecciosas e do
aumento da incidência de mortes por violência (TASCA et al., 2020).
No entanto, velhos e novos desafios continuam e sugerem a necessidade de articular
estratégias de acesso a outros níveis de atenção à saúde, a fim de garantir o princípio da
integralidade, bem como a necessidade permanente de adequar ações e serviços de saúde locais,
tendo em vista a maior apreensão das necessidades de saúde da população e superação das
desigualdades entre as várias regiões do país (MATTA; MOROSINI, 2009).
Na esperança de superar desafios e fortalecer a APS, para ampliar a capacidade de
responder aos riscos e atender às demandas de novas condições de saúde da população no país,
emergiram, de modo recente, iniciativas que merecem destaque: as RAS, os Núcleos de Apoio
à Saúde da Família (NASF), o Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção
Primária (PMAQ) e o Programa Mais Médicos, com objetivo de reduzir a insegurança na
assistência à saúde, contudo, enfrentam dificuldades (FAHEL; SILVA, 2018).
Ainda, a procura por ampliar a cobertura e aumentar a qualidade de serviços de APS
no Brasil, ao adotar os atributos essenciais definidos anteriormente, demanda capacidade
contínua de inovação na formulação e implantação de políticas, exemplos e práticas em saúde
no SUS. Assim, urge aumentar a eficácia do gasto em saúde, tendo em vista garantir que novos
recursos sejam respostas efetivas às necessidades em saúde da população e não ocorram mais
ônus sem a obtenção de resultados concretos (TASCA et al., 2020).
37

Também, observa-se que a revolução em andamento no campo da tecnologia de


informação e comunicação poderá beneficiar a ampliação dos princípios e conceitos da APS,
promovendo, deste modo, a diminuição dos custos operacionais desnecessários e o aumento do
acesso a serviços de qualidade (HARZHEIM et al., 2019).
No Brasil, mesmo identificando os progressos na organização da APS, desde o
começo do processo de desenvolvimento do SUS, é preciso reconhecer que grandes obstáculos
precisam ser superados, para que os objetivos descritos na política nacional venham a ser
cumpridos, assim como possam exercer o papel de organizador do sistema e coordenador de
cuidados de saúde (LAVRAS, 2011).
Lavras (2011) destaca, ainda, que parte desses obstáculos pode ser atribuída a
demandas específicas da realidade de cada município ou equipe, o que não implica
necessariamente medidas locais para superá-los. Além disso, no que diz respeito
especificamente à APS, é necessário superar um padrão cultural em vigor tanto na sociedade
quanto no aparato de treinamento, na perspectiva de valorizar e validar as diversas práticas que
venham a se desenvolver. Ainda, reconhecemos que a maioria desses obstáculos são desafios
que tanto o SUS como a APS devem enfrentar na contemporaneidade.
Atualmente, no Brasil, existem, aproximadamente, seis mil médicos com
especialidade em saúde da família e comunidade, assim como é ainda menor o número de
profissionais enfermeiros e odontólogos com especialização ou residência em APS. Além do
mais, a organização da agenda dos profissionais e das atividades multiprofissionais em grande
parte das equipes não privilegia a prática clínico assistencial (HARZHEIM et al., 2020).
Assim, para enfrentar essas e outras disfunções da APS, Harzheim et al. (2020)
apontam que foram identificados sete desafios principais: ausência de priorização política real
da APS, obstáculos ao acesso de primeiro contato, inexistência de financiamento da APS, tendo
maior foco na estrutura de serviços, maior informatização da APS e escassez de integração de
dados clínicos, insuficiência de profissionais qualificados, fragilidade clínica e necessidade de
ampliação do escopo profissional e falta de informação de qualidade para tomada de decisão
clínica e gerencial.
Ainda, Harzheim et al. (2020) referem que para cada um desses sete desafios, uma
estratégia foi formulada. No mais, esses desafios e as respectivas estratégias para enfrentá-los
representam transformações estruturantes e investimentos em governança clínica para
transformação na APS brasileira, garantindo, assim, para a população mais e melhor saúde, por
meio de mecanismos transparentes e técnicos para medição. Todavia, estas estratégias não são
suficientes para que todos os problemas enfrentados pelo SUS sejam resolvidos, no entanto,
38

são os mais pertinentes e fundamentais para uma APS forte e resolutiva. Destarte, encontramos
condições para fortalecer os princípios do SUS, melhorando a saúde das pessoas, com equidade
e dignidade.
No mais, diante das concepções apresentadas, enfatizamos que dentre os
trabalhadores da saúde que atuam na ESF, o ACS é considerado sujeito fundamental na
organização dos serviços de saúde da APS, uma vez que assume posição de mão dupla, pois,
além de ser integrante da equipe de saúde, é morador da comunidade em que atua. Também,
representa conexão essencial entre a população e a equipe de saúde, realizando atividades de
promoção em saúde, prevenção de doenças e agravos, vigilância em saúde, mediante ações
educativas nos domicílios e na comunidade.

3.2 O ACS na APS: contexto(s) histórico(s), papel e desafios enfrentados na atualidade

Os ACS são considerados personagens-chave dentro da APS, uma vez que residem
na comunidade em que trabalham, desempenham importante papel ao atuarem como elo entre
famílias, usuários e serviços de saúde, favorecendo, deste modo, o trabalho de vigilância e
promoção em saúde. São os ACS que estão presentes no dia a dia, em residências e
comunidades, e vivenciam os problemas particulares de saúde e os sociais da população, assim
como são os que têm o privilégio de chegar primeiro aos dados, de observar as mudanças
acontecidas, a partir da intervenção das ações voltadas à obtenção da saúde, sejam de forma
diretas ou não. Ainda, podemos conceituar o ACS como elo cultural, o qual potencializa o
trabalho educativo, à medida que faz a ponte entre dois universos culturais diferentes, o do
saber científico e o do saber popular (SALIBA et al., 2011; GARCIA et al., 2019).
Historicamente, os ACS se caracterizam como categoria da classe trabalhadora da
saúde bem diversificada e recebem nomeações conforme o país no qual estão inseridos.
Internacionalmente, são representativos de um grupo genericamente de trabalhadores
identificados na bibliografia como Community Health Workers (CHW), os quais se configuram
como resposta às situações de grandes carências e ausência de serviços de saúde para parte da
população nos diferentes países. Como exemplos, temos os brigadistas na Nicarágua, os
colaboradores voluntários na Guatemala, os basic health worker (trabalhador de saúde básica)
na Índia e os ativista em Moçambique (FONSECA; MOROSINI; MENDONÇA, 2013;
CHAVES, 2016; SAMUDIO et al., 2017).
A propagação desses trabalhadores estaria particularmente relacionada à
necessidade de estender a cobertura de saúde nas áreas rurais e nas mais afastadas dos serviços
39

de saúde. Na Rússia, em meados do século XIX, treinavam-se os egressos das escolas para
realizarem ações de saúde junto à população do campo (FONSECA; MOROSINI;
MENDONÇA, 2013).
Nessa mesma perspectiva, nos anos 1920, na China, em Ding Xian, os agricultores
analfabetos recebiam treinamento durante três meses e trabalhavam meio expediente como
profissionais de saúde. Ao final dos anos 1960, esses trabalhadores ficaram conhecidos como
‘médicos de pés descalços’. Posteriormente, no ano de 1960, o modelo médico ocidental se
tornou insuficiente, e o exemplo dos ‘médicos de pés descalços’ foi adotado pela Tanzânia,
Honduras, Índia, Indonésia, Guatemala e Venezuela (SAMUDIO et al., 2017).
No continente africano, eram treinados os membros da população para operar na
prevenção e assistência à saúde, tendo em vista a evasão dos profissionais de saúde por conta
dos conflitos militares. Em Cuba, durante a revolução socialista, ocorreu diminuição
significativa do número de médicos, acarretando reorganização dos serviços de saúde, incluindo
principalmente a participação da comunidade nas ações de saúde (FONSECA; MOROSINI;
MENDONÇA, 2013).
No Brasil, o ACS já era um ator na saúde desde a década de 1940, em que o MS,
por meio da Fundação SESP, formava auxiliares, visitadores sanitários, guardas da malária e
auxiliares de saneamento, para realizarem ações de saúde nas áreas desassistidas. Nesse
contexto, os trabalhadores assumiram papel de educador e tinham como função substituir os
saberes populares e o senso comum pelo conhecimento técnico e biomédico. Também, eram
responsáveis por uma área específica, onde realizavam visitas a gestantes, puérperas e crianças,
assim como monitoravam os portadores de doenças prevalentes, os nascidos e óbitos da área de
atuação (FONSECA; MOROSINI; MENDONÇA, 2013).
Entre 1979 e 1986, no Ceará, Brasil, o embrião do que seria o trabalho dos ACS já
existia como experiência exitosa no município de Jucás. Contudo, o trabalho do ACS começou,
oficialmente, no ano de 1987, quando a experiência de Jucás foi expandida por todo o estado,
como parte do Programa de Emergência, criado em consequência da seca que aconteceu entre
junho de 1987 e junho de 1988. A experiência se destacou por ter sido a primeira a
institucionalizar o Programa de Agentes de Saúde (PAS) (ÁVILA, 2011).
Tendo em vista ser o PAS um programa emergencial por conta da seca, de imediato,
foram selecionadas 6.000 mulheres do sertão cearense para atuarem como agentes de saúde, as
quais tinham que seguir os seguintes critérios de seleção: independente de escolaridade;
mulheres mais pobres das comunidades, pois a ideia era garantir, durante o período da seca, um
salário mensal; e serem conhecidas e respeitadas pela comunidade (ÁVILA, 2011).
40

Um ano depois, em 1988, o PAS foi desativado, contudo a repercussão do trabalho


exercido pelas agentes de saúde foi tanta que, no ano de 1991, o MS decidiu institucionalizar o
ACS, por meio da criação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). O PACS,
como citado, foi criado para contribuir para melhor qualidade de vida, investindo,
principalmente, na educação em saúde (BRASIL, 2001a; ÁVILA, 2011).
Morosini (2018) pontua que as principais características comuns existentes entre
essas experiências e esses trabalhadores são o recrutamento e a preparação de pessoas externas
à equipe profissional de saúde, principalmente leigos e mulheres, residentes na própria
comunidade, sendo que estas estão localizadas em áreas rurais ou urbanas pobres e apresentam
dificuldades para acessar os serviços e as ações de saúde. Além disso, destaca-se o objetivo de
expandir a cobertura da assistência a grupos específicos, com a ideia de que esse trabalhador
poderia ser o 'elo' de aproximação entre os serviços de saúde e a população, significando, deste
modo, um elemento estratégico para realização dos objetivos dos projetos e programas em que
estão inseridos. Outra característica comum destacada é a importância conferida às atividades
de caráter educativo e a centralidade das visitas domiciliares, como estratégia e local para
realização do trabalho (FONSECA; MOROSINI; MENDONÇA, 2013).
Ainda, apontamos que a origem dos ACS também tem relação com os grupos da
Igreja Católica, sobretudo as pastorais que operavam no campo da saúde e da infância, bem
como as Comunidades Eclesiais de Base (CEB), as quais estão entre os movimentos populares
que marcaram os tempos de maior capilarização da luta em prol de melhores condições de vida,
educação, saúde, moradia, entre outros temas que compunham as agendas das lutas pela
redemocratização do Brasil. Logo, destacamos os Encontros Nacionais de Experiências em
Medicina Comunitária (ENEMEC), o qual originou o Movimento Popular de Saúde (MOPS),
orientados pela compreensão da saúde como direito e que contava com a participação
importante de grupos de saúde formados por residentes das comunidades (SILVA; DALMASO
2002; QUEIRÓS; LIMA, 2012; DURÃO; MOROSINI; CARVALHO, 2011).
No MOPS, vários agentes de saúde, religiosos ou não, reuniram-se, ambos
engajados na mobilização para transformação das condições políticas, de vida e saúde. Assim,
o trabalho dos ACS teve forte significado político-transformador, tendo participação destacada
na VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, tendo como marco o Movimento
da Reforma Sanitária, na qual foram definidos os princípios e as diretrizes do SUS
(MOROSINI, 2018; DURÃO; MOROSINI; CARVALHO, 2011; QUEIRÓS; LIMA, 2012).
Diante do contexto apresentado, podemos afirmar que a história dos ACS se
relaciona com a história da APS, em diversas partes do mundo, de modo especial na África e
41

nos países da América Latina, em que se pode observar que a atuação de trabalhadores que não
faziam parte dos quadros instituídos de profissionais da saúde ganhou centralidade e passou a
ser estruturante para o desenvolvimento de atividades dentro da APS. Destarte, destacamos que
a caracterização da APS e do trabalho do ACS precisam ser compreendidos, no que se refere à
conformação das políticas de saúde e políticas sociais, de modo geral, no entanto, devemos
considerar cada contexto político, econômico e social dos distintos países (QUEIRÓS, 2015;
MOROSINI, 2018).
De acordo com a história, a base legal para a profissão de ACS foi estabelecida no
ano de 1997, e, em 1999, foram definidas as diretrizes para o exercício das atividades. No
entanto, apenas no ano de 2002, a profissão foi regulamentada pela Lei n.º 10.507, a qual definiu
como funções básicas dos ACS a prática de atividades de prevenção de doenças e promoção da
saúde, por meio de ações educativas nos domicílios e na comunidade, individuais ou coletivas,
realizadas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob a supervisão do gestor local
(SALIBA et al., 2011).
Conforme a Lei n.º 10.507, para exercer a profissão, o ACS deveria preencher os
seguintes requisitos: residir na área de abrangência em que atuam; ter concluído ensino
fundamental; ter concluído com aproveitamento o curso de qualificação básica para formação
de ACS. No mais, o referido regulamento foi revogado pela Lei n.º 11.350, de 5 de outubro de
2006, para que ajustes pudessem ser realizados (GARCIA et al., 2017).
O ACS é um dos responsáveis pela transformação na realidade social da
comunidade, com atuação direta nas ações de saúde, de forma especial, a educação em saúde,
cuja trajetória progride, à medida que as várias definições do termo promoção da saúde se
ampliam para o contemporâneo contexto de assistência (PEIXOTO et al., 2015). Deste modo,
no contexto da APS, esse profissional tem as atribuições definidas na PNAB da seguinte forma:

I - desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população


adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de
acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade;
II - trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a microárea;
III - estar em contato permanente com as famílias desenvolvendo ações educativas,
visando à promoção da saúde e a prevenção das doenças, de acordo com o
planejamento da equipe;
IV - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados;
V - orientar famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis;
VI - desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e de
agravos, e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas
individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, mantendo a equipe
informada, principalmente a respeito daquelas em situação de risco;
VII - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob
sua responsabilidade, de acordo com as necessidades definidas pela equipe; e
42

VIII - cumprir com as atribuições atualmente definidas para os ACS em relação à


prevenção e ao controle da malária e da dengue, conforme a Portaria nº 44/GM, de 3
de janeiro de 2002 (BRASIL, 2006, p. 43-44).

Sendo o ACS um membro da comunidade em que atua, ele vivencia a realidade


local e tem o conhecimento dos valores, das satisfações e insatisfações dos indivíduos que
vivem na localidade. Assim, o trabalho contribui para qualificação das ações de saúde, causando
diminuição das taxas de mortalidade infantil, ampliação das taxas de cobertura pré-natal,
vacinação e vigilância em saúde. Ainda, inclui a percepção do potencial e das adversidades da
comunidade, sem negar a cultura e a experiência dos indivíduos (BROCH, 2017).
Além disso, os ACS são considerados estratégicos dentro da APS, influenciando na
criação e manutenção de comportamentos saudáveis, onde existem poucos profissionais ou em
locais em que o acesso aos serviços de saúde é difícil, em razão da pouca oferta ou distribuição
desigual entre a população. Além disso, o trabalho do ACS ajuda no planejamento e na
implementação das ações de saúde tanto de forma local, quando fazem o encaminhamento das
informações do território de abrangência para as ESF, quanto nacional, ao dispor de dados que
serão alimentados nos sistemas de informação do MS. Nesse contexto, o ACS tem sido
personagem importante na implementação do SUS, assim como para expansão e consolidação
da APS (BRASIL, 2009c; ALONSO; BÉGUIN; DUARTE, 2018).
Ainda, o ACS pode ser visto dentro da APS como trabalhador sui generis, ou seja,
"único em seu gênero", tendo em vista que suas funções transcendem o campo da saúde,
exigindo-lhes atenção a diversos aspectos das condições de vida da população. Ainda, a
identidade comunitária e a importância do papel social os distinguem dos demais trabalhadores
da saúde, especialmente ao atuarem como mediadores entre as diferentes esferas de organização
da vida social, auxiliando a abrir as portas da solidariedade comunitária, assim como facilitando
o acesso aos direitos sociais (RIQUINHO et al., 2018).
Entre as atribuições desenvolvidas pelos ACS na APS, a Visita Domiciliar (VD)
destaca-se. A VD, além de compreender a visita periódica aos domicílios das famílias residentes
em uma unidade territorial definida como microárea, a qual é de responsabilidade, é o momento
no qual o ACS fornece orientações diversas, relacionadas à prevenção, à promoção e ao cuidado
em saúde, e informações sobre a dinâmica de funcionamento dos serviços de saúde. A
residência é o local ideal para acolhimento, escuta, interação e observação das demandas
(MOROSINI; FONSECA, 2018).
As VD são realizadas diariamente, podendo ser de rotina e por busca ativa, quando
a unidade de saúde necessita. Na VD, os ACS cadastram os membros da família do território
43

em que atuam. Neste cadastro, são coletadas informações demográficas, econômicas, sociais e
de saúde a respeito dos moradores do território. Em geral, essas informações contribuem para
caracterização das condições de risco que são agregadas às prioridades definidas pelos
programas de saúde e outras políticas sociais (ALONSO; BÉGUIN; DUARTE, 2018).
Através da VD, o ACS tem a possibilidade de conhecer e intervir sobre as
necessidades de saúde da população, trazendo a equipe da ESF o mais próximo possível dos
determinantes do processo saúde-doença, reduzindo ou solucionando os problemas
encontrados. Nesse contexto, é essencial a atuação dos ACS como mediadores, inclusive
fazendo parte das redes de apoio social no território para promoção da saúde. A VD, feita pelo
ACS, proporciona maior compreensão dos processos de adoecimento, compreendendo a
dimensão social, territorial e familiar, aprimorando, deste modo, o trabalho interprofissional e
as relações cooperativas entre os trabalhadores (CUNHA; SÁ, 2013; BROCH, 2017).
Como visto, o território é o principal lócus de atuação do ACS, contudo, também
realiza atividades no interior das unidades, como ajudar na separação dos prontuários/fichas
dos usuários que serão atendidos, no apoio a atividades coletivas, associadas aos tradicionais
programas de saúde, como grupos de hipertensos, atividades mais direcionadas com a promoção
da saúde, como a educação física, entre outras. Em geral, os ACS vão à unidade diariamente e
precisam comparecer à unidade para participar das reuniões de equipe e com o NASF, para o
registro mensal dos dados coletados nas VD (produção mensal), os quais serão importantes para
tomada de decisões da equipe e da secretaria de saúde dos municípios (MOROSINI;
FONSECA, 2018).
Outra atividade que tem sido desempenhada pelo ACS na ESF é o acolhimento.
Isso significa que o ACS também tem sido um dos membros das equipes da ESF a primeiro
receber, escutar e interpretar as necessidades dos usuários no serviço de saúde. A partir disso,
o ACS pode identificar as possibilidades de encaminhamento do problema apresentado pelo
usuário e orientá-lo sobre o que será feito, ou não, justificando as impossibilidades de
atendimento que ocorrem no turno que atua (FONSECA, 2013; MOROSINI; FONSECA,
2018). Contudo, para Fonseca e Mendonça (2014), esse conjunto de atividades desempenhadas
pelos ACS tem cada vez mais aumentado e, ao mesmo tempo, vem competindo com a
disponibilidade que tinham para realização de um trabalho mais elaborado de educação em
saúde nos territórios de atuação.
Também, tem-se observado o comprometimento do tempo e a direção que estão
dando as ações desenvolvidas na comunidade, como as VD, atualmente, mais simples e breves.
As ações de mobilização social e de atuação intersetorial, que demandam discussões,
44

planejamento e diálogo com pessoas e instituições, em muito dos casos, têm sido deixadas de
lado, ou a segundo plano, esperando oportunidade para serem colocadas na agenda, o que
raramente se confirma (MOROSINI; FONSECA, 2018).
Assim, teoricamente, o papel do ACS e a respectiva importância para a APS e o
SUS sempre serão reconhecidos. No entanto, a valorização nem sempre segue na mesma
direção, uma vez que esse trabalhador quase sempre tem que enfrentar condições precárias no
campo de atuação, tem a menor escolaridade e os menores salários entre os profissionais que
arranjam a equipe de ESF. Também, vivenciaram por muito tempo uma luta para conseguir
fazer um curso técnico específico, já que a formação esteve restrita a treinamentos ou
capacitações dentro das próprias unidades de saúde (FAHEL; SILVA, 2018).
Na atualidade, o papel do ACS não é definido claramente, o trabalho nem sempre
é documentado, embora gere elevadas expectativas, e, apesar das ações coletivas e de educação
desenvolvidas dentro dos serviços serem entendidas como potencialidades de fortalecimento,
ainda são pouco valorizadas na ESF em geral, pois o foco está na produtividade, medida pelas
metas estabelecidas. Mais do que isso, o ACS se vê em um trabalho que vai além das
competências e possibilidades de resolução (CORDEIRO; SOARES, 2015).
Outro desafio referente às atividades dos ACS dentro da APS são as condições
precárias de trabalho, identificadas pela exposição às longas jornadas de trabalho, que muitas
vezes ultrapassam o horário e invadem a vida privada; escassez de materiais e carência de
estrutura para realização das atividades; fragilidades do vínculo empregatício; exposição a
condições de trabalho insalubres; acompanhamento de número maior de famílias do que o
preconizado; inexistência de proteção social e de alguém para escutá-los; principalmente, pouco
reconhecimento e desvalorização do trabalho por parte dos gestores, pares e usuários; e pela
própria precariedade do sistema (RIQUINHO et al., 2018).
Morosini e Fonseca (2018), ainda, referenciam que estão unidos a esses desafios a
obrigatoriedade de residir na própria comunidade onde atuam, a exposição a vários tipos de
violência, o relacionamento com usuários, o convívio com os problemas e as dificuldades
enfrentadas pela comunidade, as dificuldades relacionadas ao trabalho em equipe, entre outros.
O fato é que os ACS têm suportado um “peso” excessivo de trabalho e
responsabilidades, assim como enfrentam diferentes obstáculos nas vidas diárias, as quais
tendem a prejudicar a efetividade do trabalho. Nesse cenário, o devido reconhecimento e as
boas condições de trabalho são essenciais para realização das ações em saúde. Além disso, é
necessário fornecer ferramentas para o desenvolvimento de habilidades voltadas aos ACS,
45

visando maior satisfação desse trabalhador e reconhecimento pela equipe de saúde, pelos
gestores e próprios ACS (BROCH, 2017).
Para finalizarmos esta seção do referencial, destacamos que, atualmente, em todo o
país, são mais de 265 mil ACS trabalhando na APS, no Nordeste, mais de 100 mil, e no do
Ceará, o número já ultrapassou a marca de 15 mil. Estes trabalhadores estão presentes em 97%
dos municípios brasileiros, contribuindo para melhoria da qualidade de vida das pessoas, por
meio de ações de promoção e vigilância em saúde (BRASIL, 2020f).
Entretanto, nos últimos anos, tem-se observado (Gráficos 1, 2 e 3) crescente
redução da cobertura de ACS, não somente no Ceará, na Região Nordeste, como em todo o
Brasil. Ao analisarmos os gráficos, verificamos que esse acontecimento vem ocorrendo
principalmente desde 2017, ano em que foi lançada a nova PNAB, o que poderia justificar a
redução desse trabalhador da saúde, uma vez que na PNAB-2017, encontra-se uma série de
alterações, sendo uma delas referente ao reconhecimento das equipes de APS, sem a
obrigatoriedade de alguns trabalhadores, entre eles o ACS (FONSECA et al., 2019).

Gráfico 1 – Cobertura de Agentes Comunitários de Saúde no Brasil, no período de 2010


a 2019
275.000
270.370
269.000 269.494 269.278
268.602 268.037
270.000

265.000
260.280 259.994
260.000
Nº de ACS

254.603
255.000
248.413
250.000

245.000

240.000

235.000
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Anos

Fonte: Brasil/MS/Secretaria de Atenção Primária à Saúde/Departamento de Saúde da Família, 2020.


46

Gráfico 2 – Cobertura de Agentes Comunitários de Saúde na Macrorregião Nordeste do


Brasil, no período de 2010 a 2019
105.000 104.599 104.305 104.508
103.875 104.286
103.435
104.000

103.036
103.000 102.265
Nº de ACS

102.000 101.758

101.000 100.598

100.000

99.000

98.000
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Anos

Fonte: Brasil/MS/Secretaria de Atenção Primária à Saúde/Departamento de Saúde da Família, 2020.

Gráfico 3 – Cobertura de Agentes Comunitários de Saúde no Ceará, Nordeste, Brasil, no


período de 2010 a 2019
15.600
15.353
15.400
15.162
15.200 15.108 15.102
15.008 15.044
15.000
Nº de ACS

14.742
14.800
14.632
14.560
14.600
14.389
14.400

14.200

14.000

13.800
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Anos

Fonte: Brasil/MS/Secretaria de Atenção Primária à Saúde/Departamento de Saúde da Família, 2020.


47

3.3 O protagonismo do ACS frente à pandemia da Covid-19

A Covid-19 trata-se de uma doença cujo vírus causador é o SARS-CoV-2, também


conhecido como o novo coronavírus. Esta doença teve início em Wuhan, na China, no final de
dezembro de 2019, e se espalhou rapidamente em todos os continentes, caracterizando-se assim
como uma pandemia, tendo em vista a velocidade de propagação e contaminação em nível
exponencial. Sem vacina, casos confirmados em massa aconteceram em todo o mundo,
configurando-se, de acordo com a OMS, como uma Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional (ESPII) (OPAS, 2020b).
Na América Latina, mais especificamente no Brasil, o primeiro caso da Covid-19
foi anunciado no final de fevereiro de 2020, quando o MS revelou a confirmação de um homem
brasileiro, de 61 anos, que tinha viajado em fevereiro de 2020 para a região da Lombardia, na
Itália, onde nesse período o surto acontecia de forma significativa (LIMA et al., 2020b). Porém,
estudos realizados pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) apontam que a circulação do
novo coronavírus aconteceu vinte dias antes do primeiro caso ser diagnosticado oficialmente, e
quase 40 dias antes das primeiras confirmações de transmissão comunitária. Ainda, a circulação
já ocorria bem na época do Carnaval, período em que acontecem muitas aglomerações e,
portanto, pode ter facilitado ainda mais a propagação da doença (MENEZES, 2020).
A infecção do novo coronavírus é transmitida pelo contato de gotículas da boca e
do nariz que podem ser repassadas por toque ou objetos e superfícies que estejam contaminados.
O período de incubação do SARS-CoV-2 é estimado, em média, de cinco a seis dias, porém
pode variar de zero a 14 dias, assim, o vírus pode levar até 14 dias para manifestar sintomas em
um indivíduo que foi infectado. A Covid-19 é responsável por quadros respiratórios com
possibilidades de evolução para síndrome respiratória aguda grave, com alto potencial de
transmissibilidade e letalidade. Deste modo, a aglomeração de pessoas pode propiciar o
aumento da proliferação da doença (BRASIL, 2020d).
Prontamente, tendo em vista o potencial de contágio e a fácil disseminação da
Covid-19 entre a população, a OMS recomendou a adoção de medidas restritivas mais drásticas,
contudo necessárias, visando evitar aglomerações em vários países do mundo. Dentre essas
medidas, encontra-se o isolamento horizontal, o qual recomenda a paralisação das atividades
que gerem aglomeração de pessoas, como eventos públicos, transportes públicos, atividades de
comércios, bem como atividades em instituições de ensino público e privado, entre outras, para
tornar mínimo o contágio e promover o achatamento da curva epidemiológica de disseminação
do agravo (OPAS, 2020b).
48

Diante desse contexto, as melhores ferramentas existentes no momento para o


controle da Covid-19 são a prevenção e promoção da saúde, e não há melhor espaço para
desenvolvê-las do que na APS, uma vez que se trata da porta de entrada dos pacientes no sistema
de saúde. Atualmente, a APS tem tido papel fundamental dentro do SUS para o controle e a
redução de danos provocados pela pandemia da Covid-19. Ainda, neste período, a atuação da
APS tem sido sistematizada em vigilância em saúde nos territórios, por meio de atenção e
cuidados aos indivíduos acometidos pela Covid-19, através do suporte social a grupos
vulneráveis, além da continuação das ações/atividades próprias da APS (FARIAS et al., 2020;
SARTI et al., 2020).
Farias et al. (2020) destacam que a existência e expansão das equipes de ESF no
Brasil têm sido vantagens para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, pois, através
delas, é possível a realização de ações, como a descentralização dos atendimentos, a realização
de testagem em maior número de casos suspeitos, a busca ativa de novos casos e o
acompanhamento de casos confirmados, entre outras. É importante apontar que essas ações têm
fortalecido a vigilância epidemiológica e ajudado no planejamento de medidas de controle
locorregional. Além disso, o tradicional papel de promoção de saúde e prevenção que as ESF
desenvolvem apresentam importância nesse período, uma vez que a divulgação, o incentivo e
a sensibilização de medidas de prevenção podem ser realizados pelas equipes de ESF, tendo
destaque especial os ACS, por meio do trabalho in loco.
Nesse período, os ACS têm sido um dos principais protagonistas da APS, ou seja,
são personagens de destaque, devido ao importante papel e à atuação frente à pandemia da
Covid-19. Trata-se de um trabalhador da saúde integrante da equipe da ESF, que tem realizado
o trabalho por meio de práticas de educação em saúde, além de competências referentes à
promoção, à prevenção e ao controle de agravos (CONASS, 2020).
Com a pandemia da Covid-19, o processo de trabalho dos ACS passou por
reestruturação. Desde o início da pandemia, as principais ações desenvolvidas por esses
trabalhadores são: realizar atividades de educação em saúde; orientar a população sobre a
doença, medidas de prevenção e identificação de sinais e sintomas; ajudar a equipe a identificar
os casos suspeitos; auxiliar no monitoramento dos casos suspeitos, casos confirmados e grupos
de risco do território; e, quando solicitado, realizar busca ativa, principalmente em casos de
pessoas que se enquadram no grupo de risco (idosos, pessoas com doenças crônicas, gestante e
puérperas), entre outras atividades (DUARTE et al., 2020; QUIRINO et al., 2020).
Sendo os ACS integrantes das equipes de saúde e conhecedores da realidade da
comunidade onde atuam, por saberem quem é população específica, cadastrada conforme o
49

local de moradia e pelo conhecimento histórico de cada membro familiar, esses trabalhadores
são de suma importância para o mapeamento e monitoramento da população frente à Covid-19,
pois possuem grande capacidade de acompanhar a situação de saúde das famílias, de grupos
populacionais com maior risco de agravamento relacionados à Covid-19 e àqueles que se
encontram em situação de maior vulnerabilidade social dentro das comunidades
(PERNAMBUCO, 2020; CABRAL et al., 2020).
O ACS destaca-se também como mobilizador social, já que sua inserção dentro das
comunidades pode garantir maior compreensão do atual contexto em que a vida acontece,
podendo, assim, potencializar os fluxos de comunicação dentro de cada realidade local. O
trabalho de comunicação apresenta a potencialidade de traduzir os termos e as recomendações
do campo da saúde, assim como ajuda na articulação das demandas e dos recursos comunitários
para o desenvolvimento das atividades coletivas (PERNAMBUCO, 2020).
De acordo com Morosini (2020), o fato de o ACS residir na própria comunidade
em que trabalha faz toda diferença, quando comparados aos outros trabalhadores de saúde,
diante da situação em que estamos passando, já que consente que os ACS estabeleçam relação
diferenciada com os indivíduos, as famílias e a população que assiste, tendo ainda maior
proximidade e continuidade das ações. Acrescentamos, ainda, a atuação e presença nos
territórios, asseguradas pelos demais profissionais das equipes da ESF e pelos serviços de APS,
que caracterizam elemento importante para constituição de uma relação segura e de confiança
com a população, a qual pode ajudar em situações extraordinárias, como a vivenciada com a
pandemia do novo coronavírus.
O cenário atual desafiou os(as) ACS a readequarem as práticas, pois, anteriormente
à pandemia, podiam adentrar as residências, o que ajudava a compreender melhor cada
realidade. Agora, é recomendado não ingressar nos domicílios, as visitas são feitas na área por
períodos em cada domicílio, mantendo o distanciamento de, no mínimo, dois metros do usuário,
utilizar máscara e, quando necessário, outros Equipamentos de Proteção Individual (EPIs),
realizar a higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel, antes e após a visita, e
sempre investigar sintomas respiratórios (RUIZ; MARTUFÍ, 2020; QUIRINO et al., 2020).
Dentro da unidade de saúde, o ACS pode realizar atividades educativas enquanto
os usuários aguardam atendimento, orientando sobre a utilização das ferramentas disponíveis,
como o aplicativo Coronavírus-SUS do MS, assim como espaço propício para reforçar as
orientações aos pacientes que ficarão em isolamento e aos cuidadores. Também, podem ajudar
a equipe da ESF a organizar o fluxo de acolhimento, tendo em vista evitar aglomerações,
realizar o acolhimento dos usuários, bem como ajudar nas ações de vigilância ativa e passiva,
50

fluxos sobre tratamentos e calendários de vacinação. Além disso, o ACS pode auxiliar na
identificação e monitorização de casos suspeitos e confirmados, por meio da avaliação de
pressão arterial, temperatura e detecção precoce de sintomas da Covid-19. Todavia, para
realização destas ações, os ACS precisam estar qualificados após treinamento, bem como ter a
disposição os EPIs e outros equipamentos necessários, além de seguir as recomendações dos
protocolos específicos na situação da pandemia (BRASIL, 2020c).
Os ACS também têm se destacado durante esse período de pandemia pelo árduo
trabalho realizado junto às comunidades carentes e favelas. Nestes locais, o suporte dos ACS
apresenta-se recorrente, na busca de que a população que ali habita aumente a aderência ao
isolamento social, e se sensibilizem acerca da importância de todos os cuidados que precisam
ser tomados frente à pandemia. Além disso, observa-se que as atividades dos(as) ACS nesses
espaços se manteve nas condições de complexidade, mesmo com o início da pandemia, já que
esses territórios usualmente são marcados pela transição demográfica, situação epidemiológica
de elevada carga de doenças infecciosas, presença fortemente predominante de condições
crônicas, além das causas externas, tendo por destaque a violência. Todavia, esse cenário teve
a complexidade acentuada pela pandemia, pondo assim pressão maior sobre o SUS e,
consequentemente, sobre os ACS, que atuam na ponta deste sistema (COSTA et al., 2020).
Nesta mesma perspectiva, Maciel et al. (2020) referenciam em estudo que, neste
período de pandemia, uma característica essencial que envolve o trabalho do ACS,
considerando os princípios da acessibilidade e longitudinalidade, é alcançar as populações
marginalizadas e vulneráveis, objetivando garantir que as mesmas também tenham acesso aos
serviços, principalmente, aos cuidados essenciais e quaisquer resultados acionáveis, de forma
oportuna, através de mensagens culturalmente adequadas e necessárias para o enfrentamento
da pandemia da Covid-19.
Durante a pandemia, os ACS ainda tiveram que enfrentar alguns desafios na jornada
de trabalho, durante as visitas domiciliares, como a escassez EPIs, principalmente máscaras e
álcool em gel, em alguns casos, ausência de formação e, até mesmo, inexistência de
condicionantes para o trabalho realizado, além da própria rejeição dos usuários às visitas. Essas
situações prejudicam muito a realização das ações do ACS dentro das comunidades, assim
como torna inviável a vigilância em saúde (BENTES, 2020; COSTA et al., 2020).
O fato é que estes e outros problemas são recorrentes no dia a dia, no sistema
público de saúde, antes mesmo da pandemia se instalar. Deste modo, necessário é
imprescindível atenção diferenciada pelos governos das esferas federal, estadual e municipal,
51

tendo em vista que o problema ainda permanece no país por tempo indeterminado e que outras
situações emergenciais podem acontecer (BENTES, 2020).
Duarte et al. (2020) destacam em estudo que, no início da pandemia, os ACS
ficaram preocupados, sem saber como iriam atuar diante da nova realidade, pois estavam em
contato direto com a comunidade e o território. Além disso, os ACS tiveram medo e
insegurança, tendo em vista a possibilidade de contaminação, bem como dos familiares e da
própria comunidade, uma vez que qualquer indivíduo poderia ser vetor potencial da doença,
mesmo estando assintomático. Todavia, apesar de receosos, estes trabalhadores mantiveram-se
disponíveis para realização das atividades, tendo em vista compreenderem a importância da
atuação nesse período, não somente para o território, como também para a atuação da equipe,
considerando o estreito vínculo com a comunidade.
O panorama apresentado demonstra que a atuação dos ACS é essencial para o
enfrentamento da Covid-19 na APS, principalmente no que se refere à vigilância em saúde e ao
apoio aos grupos vulneráveis no território. Além disso, o desenvolvimento das ações dos ACS
depende do apoio dos gestores, do qual decorre a garantia de condições dignas de trabalho,
oferta de capacitação continuada/permanente sobre a Covid-19, envolvendo temas que abordem
transmissão, período de incubação, sinais, sintomas até as medidas de prevenção e uso do EPIs,
além de disponibilizar os EPIs adequados e oferecer suporte em saúde mental. Ainda, é mister
proteger os ACS que apresentam fatores de risco, afastando-os das atividades presenciais junto
à população, podendo estes atuarem dentro das residências, com ações de monitoramento, por
meio das tecnologias digitais (WhatsApp, e-mail, telefone e outros) (RUIZ; MARTUFÍ, 2020).
De modo geral, a atuação do ACS é fundamental frente à pandemia da Covid-19, o
que o configura como um dos protagonistas da APS/SUS. Esses trabalhadores tiveram que
readaptar as atividades, enfrentar novos desafios, dificuldades e encarar a nova realidade. O
fato é que eles não param e, nesse período, o trabalho tem sido essencial, principalmente por
chegarem em locais muitas vezes esquecidos nas periferias e comunidades carentes. Em muitos
dos casos, os ACS são as únicas fontes de informação da Covid-19 para população, de modo
especial as que vivem em meio às vulnerabilidades sociais, em situações de extrema pobreza,
além dos desabrigados. Mais do que isso, eles representam o principal elo entre as pessoas da
comunidade e os serviços de saúde, e, mesmo diante de tudo, estão diariamente no campo de
batalha para zelar pelas vidas das pessoas, pois cada vida importa.
52

4 MÉTODO

4.1 Tipo de estudo

Trata-se de estudo exploratório, descritivo, de abordagem qualitativa.


De acordo com Gil (2014), estudos exploratórios objetivam obter conhecimento
acerca de determinada temática que não é muito conhecida nem muito explorada. Esse tipo de
estudo oportuniza ao pesquisador obter maiores informações do objeto a ser estudado, assim
como possibilita determinar os objetivos, elaborar as hipóteses, além de proporcionar suporte
nas descobertas de novas perspectivas sobre determinado assunto.
Os estudos descritivos têm o intuito de averiguar e analisar fatos, bem como
registrar, examinar, classificar e explanar as características estudadas em determinado grupo ou
fenômeno, relacionando-as com outras variáveis e informações, mas sem manipulá-las. A
pesquisa descritiva tem também como finalidade definir particularidades de determinada
população, em que podem ser feito o uso de dados, como idade, sexo, escolaridade, entre outros.
O principal objetivo deste tipo de estudo é descrever as características e os objetivos de pessoas,
bem como fenômeno e experiências (GIL, 2014). Nesse tipo de estudo, procura-se descrever
com mais veemência a situação real da população estudada, incluindo opiniões, atitudes e
crenças, o que oportuniza o estabelecimento de novas abordagens (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007).
No que se refere aos estudos de abordagem qualitativa, esses estão relacionados a
questões das ciências sociais. Este tipo de estudo se aplica à veracidade de processos sociais,
concretizado pelas questões direcionadas às relações, representações, opiniões e percepção que
os seres humanos enfrentam diante da sociedade. Também, durante o regime investigativo desse
tipo de estudo, podem-se nascer novos conceitos (MINAYO, 2014).
Além disso, estudos qualitativos costumam trabalhar com o universo de crenças,
valores, significados, motivos, aspirações e atitudes, constituindo, assim, espaço mais
aprofundado sobre as relações dos processos e fenômenos que não apresentam possibilidade de
serem diminuídos à operacionalização de variáveis (MINAYO; DESLANDES; GOMES,
2013). Para Martines (2011), a pesquisa qualitativa também se caracteriza por ser modalidade
que permite o pesquisador ouvir, decifrar e narrar o que os indivíduos têm a expressar sobre a
realidade em que vivem.
53

4.2 Cenário do estudo

O estudo foi desenvolvido no Município de Icó, localizado na região Centro-Sul do


Ceará (CE), Nordeste do Brasil. Distante 375 km da capital Fortaleza, Icó faz divisa com o Rio
Grande do Norte e a Paraíba. A cidade foi a terceira vila instalada no CE, apresenta um sítio
arquitetônico datado do século XVIII. Icó possui área territorial de 1.871,995 km² e apresenta
densidade demográfica de 34,97 hab/km². Conforme dados do último censo (2010), o município
apresentava população de 65.456 habitantes e, para o ano de 2020, a população estimada
caracterizava 68.162 habitantes (IBGE, 2020).

Figura 1 – Mapa com a localização de Icó no Estado do Ceará

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Icó.
54

No que se refere à rede de serviços que constitui o Sistema de Saúde, o município


de Icó-CE é sede da 17ª Área Descentralizada de Saúde (ADS), responsável pela coordenação,
articulação e organização do sistema de saúde locorregional, já que é polo de referência para
outros seis municípios (Orós, Cedro, Umari, Ipaumirim, Baixio e Lavras da Mangabeira). Em
Icó, também, encontra-se instalado um hospital e uma policlínica de caráter regional, o Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) básico e avançado, uma Unidade de Pronto
Atendimento (UPA).
Ainda, o município conta com um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO),
um Centro de Especialidades Médicas (CEMED) de cunho municipal, duas equipes de Núcleo
de Apoio à Saúde da Família (NASF). Tem, também, um Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS) I, um CAPS II, um CAPS Álcool e Drogas, um CAPS Infantil e uma Residência
Terapêutica. Em relação à APS, o município de Icó possui cobertura de 100% de equipes da
Estratégia Saúde da Família (ESF) e mais de 98% de cobertura dos ACS. São 21 equipes de
ESF, distribuídas em 17 Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), sendo nove
localizadas na zona urbana e 12 na rural (Quadro 1).

Quadro 1 – Distribuição do número de ACS por equipes de ESF e território de


instalação da ESF, Icó, Ceará, Nordeste, Brasil, 2020
EQUIPES DE ESF Nº DE ACS NA EQUIPE LOCAL DE INSTALAÇÃO
DA ESF
ESF – CENTRO I 6 Zona urbana
ESF – CENTRO II 6 Zona urbana
ESF - SÃO VICENTE DE PAULO 07 Zona urbana
ESF - SÃO GERALDO 12 Zona urbana
ESF - CIDADE NOVA I 08 Zona urbana
ESF - CIDADE NOVA II 06 Zona urbana
ESF - ALTO MANOEL MARIANO I 04 Zona urbana
ESF - ALTO MANOEL MARIANO II 05 Zona urbana
ESF - GAMA 09 Zona urbana
ESF - UMARI DOS LOURENÇOS 07 Zona Rural
ESF - LIMA CAMPOS I 04 Zona Rural
ESF - LIMA CAMPOS II 06 Zona Rural
ESF - CASCUDO 09 Zona Rural
ESF - GENIPAPEIRO 08 Zona Rural
ESF - BOQUEIRÃO 05 Zona Rural
ESF - ICOZINHO 06 Zona Rural
ESF - TRÊS BODEGAS 05 Zona Rural
ESF - CATAVENTO 03 Zona Rural
ESF - CRUZEIRINHO 08 Zona Rural
ESF - PEDRINHAS 07 Zona Rural
ESF - LAGOA DOS MILHOMES 07 Zona Rural

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde do município/Coordenação da Atenção Básica de Icó, Ceará, 2020.
55

Todavia, elegemos as UAPS do município de Icó e os respectivos territórios como


cenários da pesquisa. A escolha por este município se deu pelo fato de ele ter maior número de
habitantes, assim como por ter na rede de APS o maior número de equipes de ESF entre os
municípios que compõem a 17ª ADS do CE. Logo, o município de Icó tem cobertura de 100%
de equipes de ESF, e todas as equipes contam com a cobertura dos ACS. Além disso, o
pesquisador tem maior acessibilidade ao cenário de estudo, pois reside e atua no município.

4.3 Sujeitos envolvidos no estudo

Os sujeitos que protagonizaram as mais diversas relações e vivências durante a


caminhada deste estudo foram 19 Agentes Comunitários de Saúde. Para seleção dos sujeitos
participantes deste estudo, utilizamos do método de amostragem intencional, visando atender
aos objetivos da pesquisa.
De acordo com Gil (2014), a amostragem intencional se configura na seleção de um
subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado
representativo do restante da população. Thiollent (2011) descreve que um pequeno número de
indivíduos é escolhido de forma intencional, tendo em vista a relevância que apresentam em
relação a determinado assunto, a partir do consenso de pesquisadores e participantes.
A seleção dos ACS foi procedida por meio de indicação dos enfermeiros
coordenadores das Equipes da ESF, bem como indicação dos próprios ACS, os quais
disponibilizaram os números de telefone/WhatsApp. Assim, os ACS foram convidados para
participar do estudo, mediante contato direto, por ligação/conversas pelo WhatsApp.
Todavia, para participarem do estudo, os sujeitos tiveram que obedecer aos critérios
de inclusão e exclusão descritos no Quadro 2.

Quadro 2 - Descrição dos critérios de inclusão e exclusão dos sujeitos participantes do


estudo

Participantes Critérios de inclusão Critérios de exclusão

● Fazer parte de uma da equipe de ● Estar/entrar de férias ou de licença, durante o


ESF do município de Icó, período da coleta de dados;
independente do vínculo ● Apresentar algum problema emocional (medo,
ACS empregatício; síndrome do pânico, ansiedade, depressão
● Residir na área de atuação; etc.), no período de coleta de dados, que
● Atuar na equipe há pelo menos inviabilizasse a participação no estudo.
seis meses.

Fonte: Elaborado pelo autor.


56

4.4 Instrumento e técnica de produção de dados

A construção de dados ocorreu de julho a setembro de 2021. Primeiro, colhemos


informações sobre a caracterização do perfil sociodemográfico dos sujeitos participantes do
estudo, por meio da aplicação de formulário estruturado, feito no Google Forms. O presente
formulário foi aplicado no período de julho a agosto de 2021, pelo link
https://docs.google.com/forms/d/1i7eE3EbFZMg3zJ1AsMgxGQieL1q774q9n3sPmdb8jWA/e
dit. Ainda, as informações contidas no formulário podem ser vistas no Apêndice A.
Em seguida, a construção dos dados se deu por intermédio do Grupo Focal (GF)
on-line, realizado no mês de setembro de 2021, o qual seguiu um roteiro de entrevista
preestabelecido (APÊNDICE B).
A realização de GF na pesquisa qualitativa constitui uma técnica importante. Essa
ferramenta se caracteriza como tipo de entrevista ou conversa em grupos pequenos e
homogêneos. Essa metodologia é vastamente usada em pesquisa qualitativa, seja de forma
combinada, e/ou exclusivamente com entrevistas, e fundamenta-se na capacidade humana de
formar opiniões e atitudes na interação com outros sujeitos. O processo de realização de GF é
coordenado por um facilitador e as discussões podem ser gravadas em áudio e vídeo para
posterior observações e análises. Também, no decurso do processo podem ser feitas anotações
em relação ao comportamento dos sujeitos participantes (MINAYO, 2014; GATTI, 2005).
Minayo (2014) destaca que uma das características de um GF é que ele seja formado
de oito a doze membros. Grupos com menos de oito participantes dificilmente provocam o
arranjo e a dinâmica de grupo necessários para uma reunião bem-sucedida. Da mesma forma,
grupos com número elevado de participantes podem ficar cheios demais e não promover debate
coerente e adequado. Outra característica dos GF é que eles demandam tempo de duração de
uma hora e meia a duas horas.
A finalidade do GF incide na dinâmica existente entre os participantes e os
pesquisadores para coleta de informações, a partir da discussão direcionada para assuntos
exclusivos. Os GF têm sido usados por vários profissionais no desenvolvimento de pesquisas
em saúde, educação em saúde, implementação e avaliação de programas, entre outras
aplicações (COTRIM, 1996; BARBOUR, 2009).
Como mencionado, a proposta dos GF nesta pesquisa foi no formato on-line. O
motivo por escolher esse formato ocorreu por conta da pandemia provocada pela Covid-19,
considerando a não disseminação do novo coronavírus.
57

Frente a isso, Abreu, Baldanza e Gondim (2009, p. 10) referenciam que:

O grupo focal on-line é um método de coleta de informações semelhante ao grupo


focal presencial. Sua principal característica, não obstante, é a de ser realizado em
ambiente virtual, dispensando a presença física dos participantes para que haja
interação e consequente comunicação entre eles. Essa diferenciação é apontada como
uma das principais vantagens dos grupos focais on-line.

Abreu, Baldanza e Gondim (2009) ainda referenciam outras vantagens acerca da


realização de GF on-line, como a ausência de custos, coleta de dados em curto espaço de tempo,
o pesquisador e os participantes não precisam se deslocar, rapidez para registrar as informações
que serão analisadas futuramente. Além disso, ressaltamos a possibilidade de participação de
indivíduos de espaços geográficas diferentes, bastando que tenha dispositivo com acesso à
internet. Outra vantagem é que os participantes do GF, em geral, revelam-se menos inibidos,
no que se refere às respostas e manifestações de pensamentos.
De acordo com Bordini e Sperb (2011), a realização de GF on-line abrange seis
etapas, as quais estão expostas no fluxograma abaixo. Essas etapas também foram seguidas
neste estudo.

Figura 2 – Fluxograma das seis etapas para realização de GF on-line

3 - Procedimentos prévios
para realização do grupo
focal on-line:
1 - Seleção da amostra: 2 - Escolha do programa Construção do guia de entrevista;
Recrutamento dos de comunicação a ser
participantes/Número de Escolha do local de realização do
participantes utilizado grupo focal on-line;
Consentimento livre e esclarecido;
Confidencialidade das informações
fornecidas.

4 - Execução do grupo 5 - Transcrição dos dados 6 - Análise dos dados


focal on-line

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado do modelo de Bordini e Sperb (2011).

A razão pela qual elegemos essa técnica se ampara na perspectiva de ser um


instrumento ideal para este estudo, ao passo que o objetivo principal da técnica consiste em
revelar sentimentos, experiências, percepções e preferências acerca de determinado assunto, o
que permite a construção de conhecimento entre os participantes.
58

A participação em grupos focais on-line somente acontece mediante convite.


Prontamente, após seleção, os participantes receberam um primeiro convite com informações
gerais da pesquisa e as condições de participação. Posteriormente ao aceite por parte dos
participantes, estes foram divididos em dois grupos, conforme Figura 3.

Figura 3 – Formação dos Grupos Focais

GF - 01 Formado por ACS atuantes nos territórios da zona rural

Grupos Focais

GF - 02 Formado por ACS atuantes nos territórios da zona urbana

Fonte: Elaborada pelo autor.

Após a formação dos grupos, cada participante foi inserido no respectivo grupo no
WhatsApp. Deste modo, a comunicação e os demais informes foram feitos no grupo.
Destacamos, ainda, que os participantes de cada grupo elegeram a melhor data e o horário mais
adequado para realização dos GF on-line. Também, antes do dia da realização de cada GF, os
participantes receberam no grupo do WhatsApp, assim como no privado, o convite para
participar do GF e o link de acesso à sala de discussão. No dia de cada GF, o convite e o link
de acesso à sala foram enviados novamente.
Tendo em vista que foram formados dois grupos, no Quadro 3, observamos as
principais características de cada um dos grupos.

Quadro 3 - Características dos grupos focais on-line


CARACTERÍSTICAS GF - 01 GF - 02
Nº de participantes 09 ACS 10 ACS
Quantidade de sessões 01 01
Data de realização do GF 27/09/2021 24/09/2021
Tempo de duração do GF 01h45min 02h
Nº de Moderadores 01 01
Nº de Facilitadores 01 02
Plataforma virtual utilizada Google Meet Google Meet

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para realização dos GF on-line, idealizamos roteiro estruturado em etapas, adaptado


do modelo delineado por Dall’agnol e Trench (1999), exposto na Figura 4.
59

Figura 4 – Etapas do roteiro estruturado para realização dos GF on-line

6 - Síntese dos momentos


1 - Abertura da sessão 7 - Encerramento da sessão
anteriores

2 - Dinâmica de
apresentação dos 5 - Debate
participantes entre si

3 - Esclarecimento sobre a 4 - Estabelecimento do


dinâmica de discussões setting

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado do modelo deDall’agnol e Trench (1999).

Na sequência, apresentamos quadro explicativo de cada etapa do roteiro


estabelecido para realização dos GF on-line.

Quadro 4 – Descrição das etapas do roteiro estruturado para realização dos GF on-line
Etapas Descrição das etapas do roteiro estruturado
Abertura da sessão Recepção de boas-vindas aos participantes, apresentação dos pesquisadores
e das informações/esquecimentos a respeito dos objetivos e das finalidades
da pesquisa e da técnica de pesquisa.
Dinâmica de apresentação dos Momento para breve apresentação entre os participantes, objetivando maior
participantes entre si interação entre eles, assim como oferta de melhor comunicação.
Esclarecimento sobre a Neste espaço é onde o pesquisador esclareceu para os participantes como
dinâmica de discussões aconteceria a reunião, de forma que todos ficassem cientes quanto à própria
participação e a dos demais, bem como ao choque de ideias, o qual é
fundamental, ao ponto que não existem verdades absolutas.
Estabelecimento do setting Momento em que foi apontado sobre os aspectos éticos vinculados à
pesquisa, bem como ao processo interativo.
Debate Momento em que o moderador instiga o início da entrevista-debate,
centrado em questões norteadoras.
Síntese dos momentos Feito breve resumo da sessão focal, frisando nos pontos principais da
anteriores entrevista.
Encerramento da sessão Agradecimentos e fechamento da sala de reunião (sala remota).

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado do modelo de Dall’agnol e Trench (1999).

Os GF foram gravados, sob autorização dos participantes, garantimos o sigilo das


identidades e informações fornecidas.
60

4.5 Análise das informações

Os dados sociodemográficos foram organizados e analisados pela estatística


descritiva e inferencial, utilizando o programa Statístical Package for The Social Sciences
(SPSS), versão 23.0. As variáveis categóricas foram apresentadas em tabela por frequência
absoluta (n).
Segundo Maroco (2016), o programa SPSS – versão 23.0 para Windows trata de
um sistema estatístico e científico, que possui um editor de comando que contribui na realização
de análise de dados mais elaborados e complexos, em que gera relatórios tabulados e gráficos
que possibilitam melhor compreensão e facilidade na análise descritiva e relação entre as
variáveis. Posteriormente à organização e análise dos dados, estes foram discutidos à luz da
literatura pertinente à temática.
Para análise do material, assim como para guiar os resultados e as discussões
advindas dos GF, apropriamo-nos do que é chamado por Minayo (2014) e Gomes (2013) de
técnica de Análise de Conteúdo Temática. Estes autores fazem interpretação nova desta técnica,
criada pela professora Laurence Bardin, em que ela descreve que “[...] a análise de conteúdo
procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça” (BARDIN,
2011, p.44).
Em relação à Análise de Conteúdo Temática, Gomes (2013) recomenda que seja
realizada leitura compreensiva do material selecionado, de forma mais profunda, de modo que
o pesquisador consiga atingir níveis mais intensos do que foi coletado. Em seguida, procede-se
à exploração desse material, ou seja, a análise propriamente dita. Na fase final, tem que ser
organizada uma síntese interpretativa através de redação, objetivando estabelecer diálogos-
tema, com objetivos, questões e pressupostos da pesquisa.
Nessa mesma perspectiva, Minayo (2014) detalha, no plano operacional, a análise
de conteúdo temática em três etapas fundamentais, conforme Figura 5.
61

Figura 5 – Fluxograma das três etapas da Análise de Conteúdo Temática

ANÁLISE DE CONTEÚDO TEMÁTICA

3 - TRATAMENTO DOS
2 - EXPLORAÇÃO DO
1 - PRÉ-ANÁLISE RESULTADOS E A
MATERIAL
INTERPRETAÇÃO

Consiste na organização
estética simples dos
Caracterizada como a
resultados e tabulação das
primeira fase. Nesta, é onde
informações fornecidas
o pesquisador realiza
pela análise do conteúdo.
leitura “flutuante” do Trata-se da segunda etapa.
Prontamente, as
material, assim como Momento em que o
interpretações precisarão ir
realiza a constituição do pesquisador tenta encontrar
além do conteúdo
corpus e formulação e as categorias, através da
evidenciado nos
reformulação de hipóteses e organização do conteúdo
documentos, já que
objetivos. Além disso, das falas, expressões ou
interessa ao pesquisador o
ocorre a elaboração dos palavras significativas.
conteúdo oculto por trás
indicadores que guiarão a
dos significados das
interpretação e preparação
palavras, para assim
do material a ser usado.
propiciar o discurso dos
enunciados.

Fonte: Adaptado de Minayo (2014).

De acordo com Deslandes, Gomes e Minayo (2012), por meio da utilização da


técnica de análise temática, é possível a identificação de núcleos de sentido, os quais passam a
existir com frequência no material coletado e podem significar algo diante do contexto
analisado.
Ainda, para auxiliar na organização das informações colhidas nos GF on-line,
utilizamos do software Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de
Textes et de Questionnaires), versão 0.7, Alpha 2. Kami et al. (2016) explicam que o Iramuteq
foi originalmente idealizado para pesquisas que envolvem análises temáticas ou de conteúdo e
vem sendo muito usado pela área da saúde. Este, permite a realização de análises estatísticas
sobre corpus textuais e tabelas individuais/palavras, concedendo ao pesquisador cinco tipos de
processamento de dados, a partir de cada uma delas (CAMARGO; JUSTO, 2013).
Entre os tipos de processamento de dados e organização dos dados junto ao
Iramuteq, optamos pela Classificação Hierárquica Descendente (CHD) que divide, em classes,
o conjunto das falas transcritas das entrevistadas nos GF on-line. Para Souza et al. (2018), a
62

CHD acontece em função dos respectivos vocabulários, cuja variação ocorre conforme a
transcrição do pesquisador e o tamanho do conjunto do corpus textual que se pretende analisar.
Esse processo possibilita, com apoio do corpus original, a recuperação dos
fragmentos de textos e a agregação de cada um, permitindo, assim, o agrupamento das palavras
estatisticamente expressivas e a análise qualitativa dos dados, ou seja, cada entrevista é
designada de Unidade de Contexto Inicial (UCI). Há, ainda, os fragmentos de texto que
compõem cada classe, também chamados de Unidades de Contexto Elementar (UCE),
adquiridos a partir das UCI e exibem vocabulário idêntico entre si e diferentes das UCE das
outras classes (CAMARGO; JUSTO, 2013).
Nesse contexto, no presente estudo, a CHD dividiu, então, o corpus em cinco
classes, representadas por cores diferentes. Assim, usamos como estratégia regressar ao corpus
textual que deu origem à CHD, para fazer a calorimetria das palavras que foram destacadas nas
classes geradas pelo Iramuteq, conforme tamanho (indicativo de maior número de repetição
pelos sujeitos) e cores correspondentes às classes geradas pelo software. A alocação por cores
possibilitou visualizar e analisar o contexto original com as falas que apresentam similitude de
sentido. Destarte, realizamos a classificação e a associação dos dados, ajudando, assim, na
escolha das categorias teóricas e empíricas, responsáveis pelos temas e subtemas.

4.6 Aspectos éticos e legais do estudo

A presente pesquisa atendeu às normas e recomendações da Resolução n.º 466/12,


do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que regulamenta e trata das diretrizes para realização
de estudos envolvendo seres humanos, a qual engloba a ótica do indivíduo e da coletividade,
bem como se ampara nos quatro princípios básicos da bioética: a justiça, a autonomia, a não
maleficência e a beneficência, os quais asseguram os direitos e deveres da comunidade
científica e dos participantes envolvidos (BRASIL, 2013).
Além disso, tendo em vista que a coleta dos dados foi por meio de GR on-line,
consideramos as orientações para procedimentos em pesquisas que contemplem qualquer etapa
em ambiente virtual, seguindo as orientações presentes no ofício circular 02/2021 do
MS/Secretaria-Executiva, do Conselho Nacional de Saúde (SECNS) / Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP) (BRASIL, 2021).
Para realização da pesquisa, primeiramente, encaminhamos um pedido de
autorização à Secretaria de Saúde do município de Icó Ceará, por meio da Declaração de
Anuência (ANEXO A).
63

Ainda, o projeto de pesquisa foi cadastrado na Plataforma Brasil, base nacional e


unificada de registros de pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema
CEP/CONEP (Comitês de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), e, em
seguida, direcionado ao CEP do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (UNILEÃO) para
apreciação ética, em que obteve aprovação por meio do parecer de nº: 4.688.142 (ANEXO B).
Após a aprovação, os pesquisadores apresentaram a declaração de anuência e o
parecer do CEP à coordenadora da Atenção Básica do município onde foi realizada a pesquisa.
Aos participantes, foram esclarecidas as etapas da pesquisa, podendo ainda serem consultadas
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) on-line.
A pesquisa não apresentou conflitos de interesse, a participação foi livre, podendo
o participante desistir a qualquer momento. Todavia, aqueles que concordaram em participar
foram enviados para assinatura/preenchimento do TCLE, por meio do link
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfHms34M_d32_2oUiJLMFAiEfKvRprCc1Ju68
ay83ewPrHdGQ/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=0&gxids=7628, assim como o Termo de
Autorização de Uso de Imagem e Voz, pelo link
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe5FN-
xooWhhcSI5SnwAHaqkX4PNzc0a972CDBtYZ0HzR6b_w/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=
0&gxids=7628, uma vez que a coleta de dados ocorreu pela gravação de voz e pelo registro de
imagens durante os grupos focais.
Além disso, na perspectiva de preservar o sigilo e anonimato dos sujeitos
participantes da pesquisa, tendo em vista que foram gravadas as falas e possíveis imagens dos
participantes, como meio de garantir maior fidedignidade dados coletados, atribuímos códigos
(siglas) para cada participante, seguidas de numeração crescente e do território de atuação. No
caso dos participantes, essa numeração foi colocada de acordo com o posicionamento de fala
no momento dos GF on-line. Assim, para os sujeitos participantes, dispomos ACS1 - zona rural,
ACS2 - zona rural, ACS3 - zona rural.... ou, ACS1 - zona urbana, ACS2 - zona urbana, ACS3
- zona urbana.
64

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Apresentação dos participantes

Na Tabela 1, estão descritas as características sociodemográficas dos 19 Agentes


Comunitários de Saúde que participaram deste estudo.

Tabela 1 – Caracterização do perfil sociodemográfico dos participantes da pesquisa

CARACTERÍSTICAS N CARACTERÍSTICAS N
Identidade de gênero Outro trabalho além do de ACS
Feminino 19 Sim 1
Faixa etária (anos) Não 18
26 - 35 2 Trabalho além do de ACS
36 - 45 8 Técnica de enfermagem 1
≥ 46 9 Renda
Cor De 1,0 a 2,0 salários-mínimos 18
Branco(a) 4 De 2,0 a 3,0 salários-mínimos 1
Negro(a) 3 Território de atuação
Pardo(a) 12 Zona rural 9
Religião Zona urbana/Centro 5
Católica 16 Zona urbana/Periferias 5
Evangélica 2 Tempo de atuação como ACS (anos)
Indefinida 1 6 - 10 3
Estado civil 11 - 15 6
Solteira 7 16 - 20 1
Casada/União estável 10 21 - 25 4
Separada/Divorciada 1 ≥ 26 5
Viúva 1 Tempo de atuação na ESF atual (anos)
Formação # 6 - 10 7
Ensino Médio Completo 10 11 - 15 3
Ensino Médio Incompleto 1 16 - 20 4
Ensino Técnico Completo 5 21 - 25 4
Ensino Superior Completo 5 ≥ 26 1
Ensino Superior Incompleto 3 Participação em movimentos/associações #
Pós-Graduação 1 ASSOASMI* 14
Especificidade da formação Pastoral da criança 1
Técnico em enfermagem 5 Pastoral da sobriedade 2
Assistente Social 4 Associação comunitária 5
Pedagoga 1 Grupos da igreja/Catequese 7
Curso de ACS (400horas) Conselho da Mulher 1
Sim 10 CESAU** 1
Não 09 FASEC*** 1
Vínculo trabalhista Outros 3
Seleção pública do Estado 10
Concurso público municipal 9

Fonte: Elaboração do pesquisador/Dados da pesquisa.


# Mais de uma resposta
* Associação dos Agentes Comunitário de Saúde de Icó (ASSOASMI)
** Conselho Estadual de Saúde do Ceará (CESAU)
*** Federação dos Agentes de Saúde do Estado do Ceará (FASEC)
65

Ao analisar o perfil sociodemográfico dos participantes do estudo, observamos que


todas são do sexo feminino, predominância que vai ao encontro da crescente feminização
verificada no campo da saúde em geral. Além do mais, este achado corrobora dados obtidos
nos estudos realizados por Castro et al. (2017), Andrade et al. (2018), Nisihara et al. (2018), e
Cabral, Gleriano e Nascimento (2019), que encontraram amostras compostas, em maioria, por
mulheres. Mota e David (2010) também destacam em estudo que a maioria dos ACS em todas
as regiões do país são mulheres e estas, comumente, apresentam questões de precarização e
instabilidade.
A tendência do sexo feminino entre os ACS acompanha os primórdios do Programa
de Agentes Comunitários de Saúde, ao ser implantado no Ceará, em 1987 (ÁVILA, 2006), uma
vez que, naquela época, 95% das pessoas contratadas eram do sexo feminino, pois tinha-se a
ideia de empregar, nas áreas mais carentes, número máximo de mulheres, objetivando melhorar
as condições sociais delas e, consequentemente, estimular posicionamento mais ativo de outras
na sociedade. Além disso, muitas mulheres encontraram oportunidade de inserção profissional,
a qual iria além da renda financeira para família, seria um caminho para emancipação feminina
(SILVA; DALMASO, 2002; GEORGES; SANTOS, 2016).
Outro fato importante que fez com que as mulheres fossem escolhidas para exercer
as funções de ACS foi a possibilidade de realizar educação em saúde com o grupo materno-
infantil, na tentativa de diminuir a morbimortalidade dessa população, por meio de ações que
aumentavam o índice de aleitamento materno e a prevenção da desidratação, acarretados pela
diarreia (MINAYO; D’ELIA; SUITONE, 1990).
Fonseca (2019) elucida que a feminização é uma marca registrada, no campo da
saúde, uma vez que, no ano de 2006, as mulheres integravam mais de 70% de todo o contingente
de trabalho em saúde, mostrando, desde então, tendência ao crescimento, e a categoria de ACS
também segue este padrão, como percebido neste estudo, em que as participantes foram
mulheres. O perfil dos ACS encontra-se também relacionado ao papel de cuidadora que a
mulher sempre exerceu na sociedade, o qual se configura na responsabilidade de educar e cuidar
das crianças e dos idosos da família, o que colaborou para maior confiabilidade e sensibilidade
perante a comunidade onde trabalha.
Ainda, o predomínio de mulheres na função de ACS pode estar associado à
preferência da população, uma vez que o ACS do sexo feminino acende sentimento de
afinidade, credibilidade, sensibilidade e maior segurança com a comunidade (NISIHARA et
al., 2018).
66

De fato, o trabalho do ACS necessita de características singulares reconhecidas


como do universo das mulheres, como cuidado e resistência. Por estas características, inclusive,
elas são intituladas como cuidadora na sociedade. No mundo contemporâneo, com as lutas
feministas por conquista social, as mulheres têm exercido dupla jornada de trabalho,
conciliando os cuidados da casa e família ao trabalho profissional, e isso tem sido objeto de
muitas interrogações, quanto ao reconhecimento do papel real da mulher que inclusive tem
remuneração diferente, quando o parâmetro é o homem.
Em relação à faixa etária, verificou-se que a maioria das ACS tinham 46 anos ou
mais, seguida das compreendidas entre 35 e 45 anos de idade, ou seja, trata-se de população
adulta. As faixas etárias encontram-se em consonância com o que preconiza o MS, cuja única
orientação é que o ACS tenha idade acima de 18 anos, mas não estabelece limite máximo de
idade (BRASIL, 2001a).
Em outros estudos, os autores também se depararam com concentração de ACS na
faixa etária adulta (GUIMARÃES; SOUSA; MUCARI, 2017; ANDRADE et al., 2018;
SANTOS et al., 2011). Esse perfil etário mostra força de trabalho em plena maturidade
produtiva, assim como população de adultos economicamente ativa. Silva e Dalmaso (2002)
referem que, para muitos, ser ACS foi uma oportunidade de ingresso e reingresso no mercado
de trabalho.
Ainda em relação à faixa etária, estudos apontam predomínio entre profissionais
jovens adultos, sendo observado ACS com faixa etária entre 18 e 29 anos (BARCELLOS;
PANDOLFI; MIOTTO, 2006; SALIBA et al., 2011; REZENDE et al., 2020). Mota e David
(2010) apontam que o aumento da presença de ACS em áreas urbanas se configura como um
dos fatores que tem contribuído para que o perfil etário passasse a atrair a população mais jovem
para os processos seletivos para ACS. De fato, essa nova configuração mostra que a profissão
do ACS está se tornando cada vez mais atrativa para os jovens, o que pode ser resultado da
expansão e do reconhecimento da ESF/APS.
Referente à cor, 12 ACS se autodeclararam pardos. O predomínio da cor parda pode
estar relacionado às características regionais pertinentes à miscigenação racial da região
estudada. Em outros estudos, esse perfil foi semelhante, o que pode ser explicado pelo fato de
o Brasil apresentar predominância de afrodescendentes (CABRAL; GLERIANO;
NASCIMENTO, 2019; SIMAS; PINTO, 2017; CASTRO et al., 2017).
No Brasil, o parâmetro étnico-racial é classificado pelos caracteres visíveis de uma
pessoa e os termos utilizados para autoclassificação de raça/cor são embasados na associação
da cor da pele, características corporais e lugar de origem. Em nosso país, existe mais do que
67

uma característica usada para classificação de cor, propiciando que um mesmo indivíduo seja
identificado diferentemente da forma que se autorreferiu. Portanto, podem existir aversões
quando os indivíduos autorreferem a cor e quando outro indivíduo faz esse julgamento
(BRANDÃO; MARINS, 2007).
Quanto à religião, a maioria das ACS se autodeclararam católicas. Carneiro et al.
(2020), Lino et al. (2012) e Simas e Pinto (2017) também constataram em estudos a
predominância da crença religiosa no catolicismo entre os ACS.
As questões de religiosidade trazem consigo um contexto histórico-social,
consentido aos ACS maior interação e elo junto às comunidades em que atua, podendo, assim,
influenciar o desempenho do papel, ao valorizar a percepção dos indivíduos no processo saúde-
doença (LINO et al., 2012). Os autores ainda referem que, nos últimos anos, as questões
relacionadas à religiosidade têm evidenciado impactos positivos acerca da saúde física dos
indivíduos, constituindo possível fator de prevenção de enfermidades e outros agravos em
populações previamente saudáveis.
Nesse contexto, o ACS, em grande maioria católico, como evidenciado na maioria
dos estudos, precisará perceber a importância de ser e agir dentro da multiplicidade de crenças,
convicções e credos religiosos, nas quais a atuação e o território de trabalho encontram-se
envolvidos.
Ainda, é possível afirmar que a religiosidade do profissional da área da saúde
representa aspecto de suma importância e que deveria ser mais bem estudado, uma vez que
influencia, de forma direta e positiva, o paciente, beneficiando a assistência prestada e, ao
mesmo tempo, trazendo melhorias para qualidade de vida e saúde (OLIVEIRA; SANTOS;
YARID, 2018).
De acordo com os dados do estudo, também foi possível observar que a maioria das
ACS responderam ser casadas ou viverem em união estável. Dados semelhantes foram
encontrados nos estudos de Carneiro et al. (2020), Andrade et al. (2018), Barcellos, Pandolfi e
Miotto (2006) e Castro et al. (2017).
Ainda sobre o estado civil, destacamos que este pode também ser um indicador de
permanência dos ACS nos territórios onde moram e atuam. Além disso, essa característica se
apresenta de forma favorável para o desenvolvimento das atividades realizadas dentro das
comunidades, já que por fazerem parte de uma estrutura familiar e serem mulheres, apresentam
maior sensibilidade para perceber e lidar com as dificuldades e os problemas da comunidade,
por serem consideradas “cuidadoras” perante a sociedade.
68

No que se refere à formação dos ACS, verificamos nos dados nível de escolaridade
contemplador ou superior ao exigido pelo MS para execução do trabalho de ACS, pois das 19
participantes, dez concluíram o ensino médio, cinco finalizaram curso técnico, cinco o ensino
superior, uma não terminou o ensino médio e uma informou ser pós-graduada. Nesta parte de
formação, destacamos que o curso técnico feito pelas ACS foi o Técnico de Enfermagem, e em
relação à graduação, o curso concluído por quatro ACS foi o de Serviço Social.
Dados parecidos foram encontrados no estudo de Guimarães, Sousa e Mucari
(2017), em que podemos verificar que a maioria dos ACS também tinha concluído o ensino
médio, muitos tinham curso técnico e ensino superior e outros informaram ser pós-graduados.
No estudo de Freitas et al. (2015), os ACS também buscaram outra formação além do nível
médio, como o curso técnico de enfermagem. No estudo de Alencar et al. (2012), a maioria dos
ACS também tinham ensino médio completo.
Saliba et al. (2011) apontam que é necessário refletir acerca do grau de escolaridade
dos ACS, já que depois da implantação da ESF, o papel de atuação foi expandido, deixando o
foco materno-infantil para a família e a comunidade, além das cobranças de novas competências
no campo social e político. Portanto, a ascensão dos processos formativos dos ACS passaria a
ser importante para desempenhar esse novo papel, bem mais abrangente e complexo. Fonseca
(2019) também destaca que, quanto maior o grau de escolaridade dos ACS, mais condições ele
terá de incorporar novos conhecimentos e orientar as famílias de territórios de abrangência.
A qualificação na formação dos ACS tem sido, nos últimos anos, um dos objetivos
da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (CONACS) e, em âmbito legal,
no ano de 2004, já teve a aprovação da ampliação da escolaridade e qualificação em nível
técnico, com a elaboração do Referencial Curricular para Curso Técnico de Agente
Comunitário de Saúde (BRASIL, 2004). Todavia, esse direito conquistado, por meio de
mobilizações e lutas coletivas dos ACS, não tem sido garantido, continuando a precarização da
formação desses trabalhadores da saúde. Salientamos a Lei nº 13.595, de 5 de janeiro de 2018
(BRASIL, 2018a), a qual define que os ACS precisam ter concluído o ensino médio para
participar de concursos para o exercício da profissão.
O MS, por meio da Portaria nº 2.488, destaca que o ACS, antes de ir para os
territórios atuarem, deverá participar de um curso de Formação Inicial, oferecido pela Secretaria
Municipal de Saúde (BRASIL, 2011), entretanto, os dados deste estudo mostraram que apenas
10 dos ACS realizaram esse curso e nove ACS afirmaram não ter passado por nenhuma
qualificação, capacitação ou algum curso relacionado. Nos estudos de Rezende et al. (2020) e
69

Freitas et al. (2015), grande parte dos ACS também afirmaram não ter passado por qualificação
ou capacitação antes de iniciar o trabalho como ACS.
Gomes et al. (2010) acrescentam que o processo de formação do ACS demanda
esforço de capacitação permanente, tendo como base os princípios do SUS e a construção do
conhecimento de forma compartilhada, procurando compreender as experiências dos
profissionais dentro dos territórios, para assim guiar o trabalho.
Acerca do vínculo trabalhista, os dados mostram que as 19 ACS são servidores
estatutários, 10 advindos da seleção do Estado e nove concursadas do município estudado.
Alencar et al. (2012), Denti, Tozzo e Mendez (2014), Simas e Pinto (2017), e Castro et al.
(2017) também constataram em estudos que a maioria dos ACS eram estatutários. Realidade
diferente foi encontrada no estudo de Pontes, Bornstein e Giugliani, (2012), em que 98,39%
dos ACS angolanos não tinham vínculo empregatício formal com qualquer instância
governamental, assim como no estudo de Costa (2009), cuja maioria dos ACS possuíam cargos
comissionados.
Os ACS alcançaram reconhecimento, com acesso aos benefícios trabalhistas, pela
sanção da Lei n° 10.507/2002. No entanto, esse reconhecimento pode não ter sido suficiente
para assegurar os direitos, na medida em que esses trabalhadores vivem variadas formas de
contratação e heterogeneidade de vínculos de trabalho (SIMAS; PINTO, 2017).
De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), as formas
de contrato de profissionais entre as regiões do país e, até mesmo, em estados de uma mesma
região se apresentam de forma heterogênea, tendo em vista as características de cada local e do
padrão de gestão, seguido pelas três esferas administrativas (BRASIL, 2007).
Nascimento (2005) descreve em estudo sobre a informalidade e fragilidade dos
vínculos trabalhistas oferecidos pelos municípios, antes e depois da publicação da Emenda
Constitucional n° 51/2006 e da Lei n° 11.350/2006, cuja finalidade era reverter a situação de
ilegalidade da admissão e dos vínculos dos ACS nos serviços públicos. Para Magalhães (2015),
esse problema se encontra inserido no contexto da precarização das relações de trabalho, o qual
favoreceu maior contratação de trabalho desregulado, vínculos precários com o Estado, bem
como formas distintas de remuneração.
Quanto ao tempo de atuação, observa-se que a maioria das participantes está
trabalhando como ACS há mais de 10 anos, cabendo, ainda, destacar que nove atuam na mesma
equipe há mais de 15 anos. Estes dados demonstram que as ACS possuem baixa rotatividade
na ESF. Guimarães, Sousa e Mucari (2017) também evidenciaram em estudo que a maioria dos
ACS atuavam de 10 a 14,9 anos. Diante disso, Mota e David (2010) referenciam que, quanto
70

maior o tempo de atuação, maior será a contribuição para a equipe da ESF, pois o ACS passa a
conhecer melhor a comunidade, os territórios e as necessidades de saúde da população.
Nos dados, também, podemos verificar que 18 participantes trabalhavam somente
como ACS, apenas um tinha outro trabalho além do de ACS. Castro et al. (2017), em estudo,
também evidenciaram que a maioria dos ACS não tinham outro emprego. Ao verificarmos a
renda, constatamos que 18 ACS recebiam de 1,0 a 2,0 salários-mínimos. No estudo de Simas e
Pinto (2017), os dados revelam que a maioria dos ACS recebiam remuneração de 1,0 até 1,5
salário-mínimo.
Destarte, Nascimento (2008) descreve que o valor recebido pelos ACS os
caracteriza como população de baixa renda, uma vez que tem inserção econômica muito
semelhante à população por eles assistida e que, muitos deles, apresenta papel importante na
sustentação financeira de famílias que, em muitos dos casos, o ACS acaba buscando uma
segunda fonte de renda.
Em relação ao território de atuação, os dados do presente estudo revelam que nove
ACS trabalhavam na zona rural e 10 na zona urbana. A localização da microárea onde o ACS
atua ganha relevância, sobretudo, os que trabalham na zona rural, uma vez que as distâncias a
serem percorridas nos territórios para alcançar a meta mensal de trabalho são expressivas e, em
várias comunidades, somente é possível se existir meio de transporte. No interior, existe maior
carência de transporte público regular e, provavelmente, o trabalho também seja falho em
alguns momentos (DENTI; TOZZO; MENDEZ, 2014).
Baptistini e Figueiredo (2014) descreveram também que a atuação dos ACS na zona
rural é um grande desafio, uma vez que o simples fato de acessar o domicílio, muitas vezes,
torna-se muito difícil, visto que as comunidades rurais, ou mesmo as casas isoladas, são, às
vezes, muito distantes entre si, e, em determinados locais, é muito afetada pelas estradas sem
condições de trafegar. Ainda, no tempo das chuvas, o desafio do ACS de chegar às casas e
comunidades rurais torna-se ainda maior, já que há ausência de pavimentação, ficando as
estradas rurais intransitáveis.
O trabalho dos ACS nos territórios da zona rural é conduzido pelo motivo do desejo
de ajudar as populações que vivem nesses locais e, muitas vezes, não tem acesso às
informações, à energia, ao saneamento básico, à internet, entre outras, levando-os, também, a
gerar processo de invenção, metamorfose ou criação de algo novo.
No que tange à participação dos ACS em espaços de mobilização social, como
movimento, associações, entre outros, observamos expressiva participação dos ACS do
presente estudo em movimentos da igreja, bem como em associações comunitárias.
71

Destacamos, também, a participação deste na ASSOASMI. Dados semelhantes podem ser


encontrados no estudo de Simas e Pinto (2017), em que os ACS também tinham participação
ativa nos movimentos da igreja, em associações comunitárias e sindicatos.
A história da atuação do ACS no Brasil está caracterizada pelo trabalho político
realizado nas pastorais da Igreja Católica, o qual serviu de inspiração para inclusão no SUS.
Hoje em dia, várias igrejas têm sido implantadas nas comunidades mais pobres. A adesão a
essas igrejas tem se caracterizada pela procura do apoio emocional, por meio da religião e ajuda
material, que se constituem relações de irmandade (COÊLHO, 2002).
O fato é que o elo do ACS com as pessoas e os grupos da comunidade é importante,
uma vez que é uma forma de construir redes sociais de apoio para o desenvolvimento do
trabalho, já que nem sempre esse trabalho envolve questões de saúde diretamente. Além do
mais, a melhor forma de fazer a ligação entre as pessoas e os serviços de saúde é o ACS
conhecer os moradores da comunidade em que atua. A partir desse conhecimento, os ACS
poderão diagnosticar os problemas de saúde, os riscos ambientais, ocupacionais e sociais a qual
as pessoas estão expostas e, com isso, junto com a equipe de saúde, planejar ações de promoção,
prevenção e reabilitação em saúde.
A identificação e descrição de todas essas informações permitiram caracterizar o
perfil sociodemográfico dos ACS do município estudado, assim como de outras localidades,
reforçando, assim, o conceito de trabalhador “sui generis”, por ser trabalhador único em gênero,
de identidade comunitária e social que, por várias vezes, realiza ações que excedem o campo
da saúde, por reunir características tão particulares que o deixa mais próximo possível da
comunidade, fortalecendo, assim, o vínculo por meio do acolhimento, do respeito e da
solidariedade.
No mais, para um melhor conhecimento dos sujeitos participantes do estudo, foi
elaborado um quadro, onde se pode observar as principais características sociodemográficas e
de trabalho de cada ACS (Quadro 5).
72

Quadro 5 – Principais características sociodemográficas e de trabalho das ACS participantes do estudo. Icó, Ceará, Brasil, 2021
Sujeitos Idade Cor Formação Estado Renda Religião Curso de Tempo de Vínculo Outro
civil 400h de atuação trabalhista trabalho/
ACS Participação
em pastoral ou
movimento e
outros
ACS 1 – Zona Urbana 46 anos Branca Ensino Solteira 1 a 2 salários Evangélica Sim 21 anos Estatutário Atualmente
Superior presidente da
Incompleto ASSOASMI;
Pastoral da
criança;
Conselho
Municipal de
Saúde
ACS 1 – Zona Rural 51 anos Parda Técnica de Solteira 2 a 3 salários Católica Não 30 anos Estatutário Técnica de
enfermagem; enfermagem;
Pedagoga Grupos da
igreja;
ASSOASMI
ACS 2 – Zona Urbana 51 anos Branca Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 30 anos Estatutário Pastoral da
Médio sobriedade;
Completo ASSOASMI
ACS 2 – Zona Rural 53 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 26 anos Estatutário Associação
Médio comunitária
Completo
ACS 3 – Zona Urbana 50 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Não 30 anos Estatutário Associação de
Médio e bairro; Grupos
Técnico da igreja;
Completo; Conselho
Técnica de Municipal de
enfermagem Saúde;
Conselho da
mulher; Mesa
Coordenadora
dos Fóruns de
Conselheiros da
ADS Icó;
73

ASSOASMI;
CESAU;
FASEC
ACS 3 – Zona Rural 37 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 13 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Completo
ACS 4 – Zona Urbana 44 anos Branca Ensino Solteira 1 a 2 salários Católica Sim 9 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Completo
ACS 4 – Zona Rural 46 anos Parda Ensino Viúva 1 a 2 salários Católica Sim 25 anos Estatutário Associação
Médio e Comunitária;
Técnico Grupos da
Completo; Igreja;
Técnica de Catequista
Enfermagem
ACS 5 – Zona Urbana 38 anos Parda Ensino Separada 1 a 2 salários Católica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI
Superior
Incompleto
ACS 5 – Zona Rural 46 anos Negra Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Não 25 anos Estatutário Grupos da
Médio igreja;
Completo Catequista;
Conselho
Escolar
ACS 6 – Zona Urbana 45 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 18 anos Estatutário Grupos da
Superior igreja; Pastoral
Completo; da sobriedade;
Assistente ASSOASMI
Social;
Pós
Graduada
ACS 6 – Zona Rural 46 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 21 anos Estatutário Catequese
Superior
Completo;
Assistente
social
ACS 7 – Zona Urbana 39 anos Negra Ensino Casada 1 a 2 salários Evangélica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Completo
74

ACS 7 – Zona Rural 30 anos Parda Técnica de Solteira 1 a 2 salários Católica Não 9 anos Estatutário Associação
enfermagem; comunitária;
Ensino ASSOASMI
Superior
Incompleto
ACS 8 – Zona Urbana 34 anos Parda Ensino Solteira 1 a 2 salários Indefinida Sim 9 anos Estatutário ASSOASMI
Superior
Completo;
Assistente
Social
ACS 8 – Zona Rural 50 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 30 anos Estatutário Associação
Médio comunitária
Completo
ACS 9 – Zona Urbana 36 anos Branca Ensino Solteira 1 a 2 salários Católica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI
Superior
Completo;
Assistente
social
ACS 9 – Zona Rural 42 anos Negra Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI;
Médio e Sindicato dos
Técnico Servidores
Completo; Públicos de Icó
Técnica de
enfermagem
ACS 10 – Zona Urbana 38 anos Parda Ensino Solteira 1 a 2 salários Católica Não 12 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Incompleto

Fonte: Elaboração do pesquisador/Dados da pesquisa.


75

5.2 Apresentação do corpus da pesquisa

A partir da organização dos discursos produzidos, emergiram cinco classes (do


corpus da pesquisa), geradas a partir da análise do Iramuteq (Figura 6). Deste modo, traçaram-
se as discussões sobre o surgimento das falas expostas pelas ACS. A partir das classes,
nasceram as categorias, nas quais aprofundamos as discussões e contemplamos informações
diante dos diálogos realizados. Destacamos, ainda, que, à medida que a leitura e o
aprofundamento sobre as falas eram realizados, acarretando maior familiarização com os
saberes produzidos, percebíamos que os assuntos debatidos eram mais amplos do que os autores
poderiam imaginar, emergindo, assim, as subcategorias.

Figura 6 – Dendrograma da Classificação Hierárquica Descendente: temas originados,


após interpretação dos dados coletados

Fonte: Dados da pesquisa gerados pelo Software Iramuteq (2021).


76

Nessa perspectiva, as cinco classes que emergiram a partir da CHD se encontram


divididas em quatro ramificações (A, B, C e D) do corpus total analisado. O subcorpus A,
denominado “ACS: um trabalhador essencial e indispensável”, apresentado pela Classe
Vermelha, expressa, sobretudo, por meio das palavras em destaque que os ACS são
trabalhadores essenciais e indispensáveis, não somente para os serviços de saúde ofertados pela
atenção básica, mas para comunidade onde atuam, pois fazem ligação entre estes.
Evidenciamos, ainda, nessa classe que esses trabalhadores têm sido fundamentais na pandemia,
atuando incansavelmente nos territórios na chamada “linha de frente”. Diante dos termos
presente nessa classe, surgiu a categoria “Percepções das ACS acerca da pandemia provocada
pela Covid-19”.
O subcorpus B se divide em duas classes. A Classe Verde, nomeada “Dificuldades
e desafios no trabalho frente à Covid-19”, revela os principais obstáculos enfrentados pelos
ACS na atuação durante pandemia da Covid-19, em que, nas palavras, observamos que os
próprios ACS apontam como destaque o medo, o risco de se infectar e de levar a Covid-19 para
casa, a falta de EPIs e a ausência de capacitação. Nessa classe, nasceu a categoria “Entre as
dificuldades e os desafios no processo de trabalho do ACS em tempos de Covid-19”.
A Classe Cinza, denominada “Novas formas de trabalho”, que também se encontra
dentro do subcorpus B, deu origem, após análise das falas, a categoria “Processo de trabalho
do ACS no contexto da pandemia da Covid-19”. Nessa classe, evidenciamos que as ACS nesse
período de pandemia tiveram que se reinventar para atuar, buscando novas formas de trabalho,
tendo como destaque o trabalho remoto, sendo o WhatsApp uma das principais ferramentas
utilizadas. Também, observamos diante desse novo processo de trabalho que as ACS não
poderiam adentrar as casas para visitar as famílias, fazendo-se necessário criar estratégias, ou
seja, adaptar-se ao novo.
Ao analisarmos o dendrograma, observamos relação entre o subcorpus C (Classe
Azul), descrito como “Antigas ações desenvolvidas junto à população”, e o subcorpus D
(Classe Lilás), denominado “Velhas e novas ações praticadas em um novo período”, havendo,
também, essa ligação no presenciar das falas e das palavras geradas pelo Iramuteq. O fato é que
essas duas classes mostram as ações realizadas pelos ACS desde o surgimento até os dias atuais,
sobretudo, na pandemia da Covid-19. Constatamos que o ACS atua na promoção, proteção e
prevenção da saúde, tendo como destaque o cadastramento, agendamento e acompanhamento
das pessoas das áreas (da criança ao idoso), ações de educação em saúde, visitação nos
domicílios, identificação de situações de risco coletivo e individual dentro dos territórios (busca
ativa), trabalha nas campanhas de vacina, além da participação social e popular, entre outras.
77

Diante de tais constatações, uniram-se as classes, passando a existir a categoria “O


individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações desenvolvidas pelos ACS na
pandemia da Covid-19”.

5.2.1 Percepções das ACS acerca da pandemia provocada pela Covid-19

Os(as) ACS são trabalhadores(as) importantes para atuar no enfrentamento de


crises sanitárias, como é o caso da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. Isso ocorre
devido ao amplo conhecimento acerca das limitações e potências dos territórios em que atuam
e pela proximidade que têm com as famílias acompanhadas. Além disso, são atores importantes
quando nos referimos ao elo fundamental entre comunidade e os serviços de saúde (LOTTA et
al., 2020).
Assim, nesta categoria, estão apresentadas e discutidas as percepções das ACS
acerca da pandemia da Covid-19, as quais foram subdivididas em três subcategorias para
melhor compreensão: 5.2.1.1 Trabalho ressignificado: outros modos de atuar e se presentificar
nos territórios que aborda a atuação dos ACS em novo contexto que exigiu novas formas de
trabalho; 5.2.1.2 “Elocidar”: a percepção em ato, que enfatiza o papel do ACS como elo entre
a comunidade e o SUS e a elucidação da importância do seu trabalho e; 5.2.1.3 Essencial e
indispensável!? O(a) ACS entre a política de Estado e o (Des) governo da política no contexto
de pandemia da Covid-19, que resgata e questiona o ACS enquanto membro essencial e
indispensável à equipe de saúde diante do contexto das políticas de saúde atuais.

5.2.1.1 Trabalho ressignificado: outros modos de atuar e se presentificar nos territórios

Os(as) ACS, no trabalho cotidiano dentro dos territórios de abrangência, estão


expostos a diversos riscos no exercício de suas funções. De tal modo, com a chegada da
pandemia da Covid-19, todos os(as) trabalhadores(as) da saúde, sobretudo, os(as) ACS, tiveram
que ressignificar o processo de trabalho, para, assim, dar continuidade aos cuidados da
população e, ao mesmo tempo, de si (AZEVEDO NETO et al., 2021).
Daumas et al. (2020) também apontam que esse(as) trabalhadores(as) tiveram que
ressignificar o trabalho para o enfrentamento do novo coronavírus, sem perder de vista a
articulação com o território onde atuam e o vínculo com a população, sendo estes realizados de
outros modos.
78

Destarte, a atuação na linha de frente exigiu mudanças no saber fazer das ACS do
presente estudo, quando o distanciamento físico se fez necessário, mas a presença ocorreu de
outras formas, como expressaram as falas:

[...] Eram os ACS que estavam ali disponíveis, mesmo não sendo de forma presencial,
mas de forma remota [...]. (ACS4 – zona rural)

[...] Nesta pandemia, tivemos que distanciar para o bem da comunidade, mas tivemos
que estar mais presentes ainda de forma segura e eficaz [...]. (ACS9 – zona rural)

A imposição de distanciamento entre os(as) ACS e a população dentro dos


territórios foi a primeira mudança no processo de trabalho frente à pandemia da Covid-19. Essa
mudança acarretou alguns desafios para o trabalho do ACS, tendo por destaque a interrupção
ou descaracterização das visitas domiciliares e atividades em grupo dentro dos territórios, a
ausência de contato direto com os usuários, sem o toque e abraço, os quais são comumente
usados como formas de abordagem e comunicação e, uma nova configuração de mapeamento
e cadastramento da população, sendo feito, em muitos casos, a distância, de forma remota,
objetivando a não contaminação e/ou disseminação da Covid-19 (FERNANDEZ; LOTTA;
CORRÊA, 2021).
É importante destacar que o distanciamento entre o profissional e o território se fez
necessário para garantir a segurança dos usuários e das ACS. Contudo, o cenário de
distanciamento afeta a organização da APS, provocando a diminuição das ações de promoção
da saúde e prevenção de adoecimentos, a redução do vínculo entre os(as) ACS e os usuários,
assim como a dificuldade para realização de busca ativa e criação de novos laços com a
comunidade.
Salienta-se que na ressignificação do trabalho dos ACS, várias habilidades
interpessoais precisaram ser desenvolvidas, tendo em vista a necessidade de manutenção das
atividades, mesmo diante do medo da contaminação e das incertezas do processo de
adoecimento, como também a empatia que se fez presente nos encontros com os usuários dos
serviços de saúde contaminados ou que perderam entes queridos.
79

[...] O ACS, em meio a essa pandemia, não foi só o profissional que ficou na linha de
frente, que teve que lidar diretamente com o vírus, com infecção... mesmo sem
nenhuma técnica, sem nenhum conhecimento da psicologia, tivemos que... ouvir a
população, de estar ao lado da população, das pessoas infectadas que entravam em
choque, em pânico quando se via em isolamento… tendo que até chorar com eles,
para que seu choro também acalentasse, o choro daquelas pessoas infectadas [...].
(ACS4 – zona rural)

[...] Apesar do medo, das angústias que sofremos, não deixamos em momento algum
de realizar o nosso trabalho [...]. (ACS10 – zona urbana)

Nós estávamos em lugares esquecidos, nós estávamos com a dor do nosso povo e com
nossas dores, mas estávamos nos nossos territórios, continuamos na luta, continuamos
dentro das nossas comunidades [...]. (ACS2 – zona rural)

Diante das falas, evidenciamos que o processo de ressignificação do trabalho das


ACS no município estudado exigiu, destas, novos olhares para o território, assim como novos
elementos e arranjos de cuidados, porém relacionados às atuais necessidades da população do
que nas demandas existentes. Portanto, o conhecimento do território e a relação de confiança
previamente estabelecida com as pessoas da comunidade tornam-se fundamentais nesse
processo (BRASIL, 2020e).

5.2.1.2 “Elocidar”: a percepção em ato

O(a) ACS é um trabalhador estratégico na reorientação do processo de trabalho na


APS. É considerado elo entre a comunidade e os serviços da saúde pública, necessitando ser
reconhecido e incluído no planejamento do cuidado em saúde junto às equipes de ESF
(GONSALVES, 2020), especialmente, em emergências sanitárias, como da Covid-19.
Logo, esta subcategoria retrata a percepção das ACS ao se reconhecerem ligação
entre a população e o território do cuidado no SUS e a elucidação de problemas e questões
percebidas reafirmam a importância do trabalho enquanto membro da equipe no alcance dos
resultados esperados, por isso, nasceu a palavra “ELOCIDAR”.
Para as participantes, a pandemia desencadeou na população, em geral, o
reconhecimento e valorização do trabalho com destaque para o aumento na credibilidade e
confiança, fortalecendo, portanto, a conexão entre a unidade de saúde e os usuários do sistema,
como representam as falas:

[...] Nessa pandemia, a gente viu uma maior valorização do nosso trabalho por parte
das famílias, as pessoas passaram a acreditar e confiar mais em nosso trabalho, e que
o mesmo é essencial para todos. E, assim, não é de agora que somos essa ponte, esse
elo entre a unidade de saúde, profissionais e as pessoas [...]. (ACS4 – zona rural)
80

[...] Eu vejo também que essa questão do processo de trabalho teve uma valorização
maior do trabalho do ACS, pelo menos assim, na minha área eu me senti mais
valorizada... e, assim, as pessoas passaram a acreditar mais no trabalho do ACS [...].
(ACS4 – zona rural)

[...] Somos o elo, trabalhamos diretamente com as vidas, e todas elas importam [...].
(ACS1 – zona urbana)

De acordo com Brasil (2020b), no período pandêmico de Covid-19, os(as) ACS têm
sido elo de comunicação essencial entre a UBS e as pessoas do território, apoiando a equipe no
monitoramento de casos suspeitos e detecção de possíveis agravamentos.

A noção de “elo”, qualificação constantemente a ele atribuída, embora sinalize uma


solução para o dilema, garantindo sua função vincular, acaba por, em contrário,
reforçar esta separação, pois, sendo aquele que une o serviço de saúde à comunidade,
permanece no “entre”, meio-dentro, meio-fora deste campo (QUIRINO et al., 2020,
p.6).

Embora as participantes tenham apresentado a valorização do trabalho do ACS


como ponto positivo, em determinado momento da entrevista, foi possível identificar certa
consternação pelo fato de terem o trabalho reconhecido e/ou valorizado somente por ocasião da
pandemia da Covid-19 uma vez que, sempre estiveram exercendo seu trabalho em tantas outras
ocasiões que envolvem diversas condições no processo saúde-doença, atuando sempre em
contato direto com a comunidade, portanto, sempre estiveram na linha de frente em todas as
demais condições, conforme evidenciado pela falas:

[...] Só acho que não precisaríamos que a pandemia provocada pela Covid-19 tivesse
nos dado tanta visibilidade, pois a gente já existia e sempre estivemos nesta linha de
frente, na base em tantas outras situações [...]. (ACS4 – zona urbana)

Infelizmente, foi obrigado a acontecer uma pandemia como essa, para que todos
pudessem ver que sempre estivemos na linha de frente dentro da Atenção Básica, que
somos trabalhadores fortes do SUS. (ACS3 – zona rural)

Nós sempre estivemos no que hoje é muito falado, na linha de frente, mas só agora
com a pandemia fomos vistas [...]. (ACS8 – zona rural)

As falas corroboram o que afirmam Costa et al. (2020) que são em situações de
crise que desafiam o sistema de saúde, como surtos de doenças e grandes pandemias que o
reconhecimento do papel do(a) ACS é enaltecido enquanto membro da equipe da ESF, por
considerar o poder de sensibilizar a população sobre os cuidados em saúde, a fim de mitigar os
riscos de adoecimento e da disseminação de doenças, sobretudo em populações mais
vulneráveis.
81

5.2.1.3 Essencial e indispensável!? O(a) ACS entre a política de Estado e o (des) governo da
política no contexto de pandemia da Covid-19

Estudos nacionais e internacionais destacam a importância dos(as) ACS diante as


estratégias para o enfrentamento à pandemia da Covid-19, assim como ressaltam a necessidade
de protegê-los(as) e treiná-los(as) em passos acelerados para prevenir, detectar e dar uma
resposta rápida à pandemia. Os estudos também apontam a importância desses
trabalhadores(as), sobretudo, por terem mantido os serviços de saúde primários de rotina dentro
dos territórios, configurando-os como parte essencial e indispensável da força de trabalho das
equipes de ESF, mesmo com dificuldades e desafios (BENTES, 2020; CABRAL et al., 2020;
COSTA et al., 2020; BALLARD et al., 2020; HAINES et al., 2020).
Prontamente, nesta subcategoria, podemos identificar a partir da percepção de
algumas ACS que o trabalho nesse período de pandemia da Covid-19, dentro do arcabouço da
APS, tem sido essencial e indispensável, mesmo diante dos novos modelos de financiamento
das equipes da ESF, como é o caso do Previne Brasil, e frente às implicações trazidas pela nova
PNAB, que apontam a formação de equipes sem a presença do ACS. Inclusive, uma das ACS
aponta na fala a diferença das equipes que estão sendo criadas sem a presença dos ACS.

[...] O ACS é essencial e indispensável. Por mais que a PNAB diga, por mais que o
PREVINE BRASIL queira nos empurrar um novo modelo de financiamento
excludente, quando vem para os municípios a briga pelo micropoder, por mais que
queiram fazer isso, mais não tem como, eles podem inventar outro profissional que
faça o trabalho parecido, mas só quem tem a coragem de fazer o que a gente faz,
somos nós mesmos [...]. (ACS3 – zona urbana)

[...] A atuação do ACS é primordial, e numa pandemia gigante dessa, não podia ser
diferente [...]. (ACS9 – zona urbana)

[...] Nessa pandemia, a gente viu que a atuação do ACS tem sido fundamental. Na
verdade, temos um trabalho essencial e indispensável, pois são os ACS que estão
dentro das comunidades e sabem as verdadeiras dificuldades e necessidades da
população [...]. (ACS5 – zona rural)

[...] O agente comunitário de saúde é a ponte e a base de toda essa estrutura da Atenção
Básica e do SUS. A gente ver aí pelas novas equipes que estão criando sem o ACS, a
gente ver a diferença [...]. (ACS1 – zona urbana)

Destacamos a percepção de uma das ACS quando aponta que mesmo sendo a
atuação do(a) ACS importante nesse período pandêmico da Covid-19, os processos de trabalho
poderiam ter sido melhores, se estes tivessem tido alinhamento e melhor organização junto às
ações propostas pela saúde desde o início.
82

[...] A atuação do ACS na pandemia foi e tem sido muito importante. Contudo, poderia
ter sido melhor se tivesse acontecido um alinhamento e organização da ação propostas
pela saúde [...]. (ACS6 – zona rural)

Também, evidenciamos em meio às falas das ACS que a atuação em áreas rurais
tem sido fundamental, uma vez que ainda existem pessoas que não têm acesso às tecnologias
e, tão pouco, a informações, sendo, então, as ACS essenciais para disseminação delas. Ainda,
podemos constatar que são essas trabalhadoras que conhecem de perto as reais situações,
problemas, dificuldades e necessidades enfrentados pelas comunidades, levando o trabalho
essencial e indispensável.

[...] Nesse período de pandemia, o trabalho do ACS tem sido essencial, principalmente
na área rural, onde muitas pessoas não têm acesso às tecnologias, e muito menos às
informações… Nestes tempos difíceis, o ACS tem sido um elo entre as pessoas da
comunidade e a equipe de saúde. São os ACS que estão diariamente nos territórios,
são esses trabalhadores que conhecem as reais necessidades das pessoas. [...]. (ACS8
– zona rural)

De acordo com Lotta et al. (2020) e Costa et al. (2021), os(as) ACS frente à
pandemia da Covid-19 não têm tido papel central, como tiveram em crises epidêmicas
anteriores. Na realidade, o direcionamento e a capacitação destes(as) trabalhadores(as) para o
enfrentamento da Covid-19 não se efetuou de fato como política nacional deliberada. Segundo
Haines et al. (2020), ao contrário das orientações de analistas e de perspectivas pregressas
acerca do potencial dos(as) ACS, no decorrer de emergências sanitárias, o governo federal
somente veio a publicar uma recomendação de como estes(as) deveriam trabalhar na pandemia
da Covid-19 um mês após o primeiro caso ser confirmado no país.
Todavia, apesar de a recomendação abordar sobre as necessidades de os(as) ACS
realizarem papel ativo no enfrentamento e combate ao novo coronavírus, não se encontra
diretriz que informe acerca da continuidade do acompanhamento e monitoramento das
pessoas/comunidades, em contexto de exigência de isolamento social, o qual foi uma das
recomendações do MS (FERNANDEZ; LOTTA; CORRÊA, 2021).
Nessa mesma perspectiva, é importante ressaltar que a relevância da atuação
desejada para as ACS no enfrentamento da Covid-19 não somente no município estudado, mas,
em todo o Brasil, chegou em um período crítico para o SUS e a APS, em que ambos passam
por um processo de desfinanciamento e recente reformulação da PNAB (MÉLLO et al., 2021).
Além disso, nos últimos quatro anos, tem-se observada crescente diminuição da cobertura de
ACS em várias regiões do país, isso tem acontecido, sobretudo, desde a publicação da PNAB-
2017, uma vez que se encontram descritas uma série de modificações para APS, sendo que uma
83

delas refere-se ao reconhecimento das equipes de ESF, sem a obrigatoriedade de alguns


trabalhadores, entre eles o ACS (FONSECA et al., 2019).
Retrospectivamente, nas PNAB 2006 e 2011, verifica-se que, dentre os itens
necessários à implantação da ESF, encontra-se uma única referência, ao acesso universal, o qual
se construiu de forma mediada, representado pela relação entre o número previsto de ACS por
equipe e a cobertura de 100% da população. No texto da PNAB 2017, não há referência ao
acesso universal, o que foge aos princípios do SUS, determinando que somente haverá
cobertura total de ACS em áreas de risco ou em situação de vulnerabilidade social. Outra
mudança na nova PNAB diz respeito à integração do(a) ACS com o Agente de Combate de
Endemias (ACE) e a realização de procedimentos feitos pelo técnico de enfermagem
(BATALHA; LAVOR, 2017; FONSECA et al., 2019).
Salientamos que a última reformulação da PNAB trouxe uma série de alterações
expressivas não somente para organização e financiamento da APS, mas, de forma especial,
para as relacionadas ao processo de trabalho do(a) ACS junto à população, pois, ao excluir a
categoria da equipe mínima, colocam-se em risco as ações de promoção e prevenção de saúde,
acarretando efeitos negativos no processo de trabalho da APS (PINTO; GIOVANELLA, 2018).
A carência de cobertura integral propiciada por esses(as) trabalhadores(as)
ocasionará o não desenvolvimento de ações de educação em saúde dentro das comunidades,
além de dificultar a promoção e o acompanhamento da adesão do usuário ao plano de cuidado,
bem como a monitorização dos sinais de riscos que envolvam o usuário ao serviço, entre outras
situações (GIOVANELLA; FRANCO; ALMEIDA, 2020).
No que diz respeito ao novo modelo de financiamento da APS, instituído pela
Portaria Ministerial nº 2.979 de 2019, o Programa Previne Brasil determinou que o custeio da
APS se daria agora através de: capitação ponderada, considerando a população cadastrada,
vulnerabilidade socioeconômica, perfis demográficos por faixa etária e a classificação
geográfica dos municípios definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
pagamento pela atuação da equipe de Saúde da Família (eSF), ponderando os resultados
alcançados nos indicadores quantitativos propostos e; incentivos à estratégia e ações prioritárias
(BRASIL, 2019).
Contudo, Soares et al. (2021) apontam que o Programa Previne Brasil apresenta
alguns aspectos negativos, destacando o aumento das desigualdades, no que se refere ao repasse
de dinheiro para as equipes de ESF, desvio do escopo de ações de promoção da saúde e
prevenção de agravos e doenças, além da limitação da universalidade.
84

Para Nogueira (2021), o Previne Brasil, além de acarretar prejuízos para o


financiamento das equipes de ESF, traz também desvantagens para o monitoramento das
condições de saúde da população, uma vez que a carência de verbas resulta na implantação de
equipes de saúde com número reduzido de trabalhadores e exclui a presença dos(as) ACS na
formação das novas equipes, os quais são trabalhadores(as) importantes para o trabalho de
promoção da saúde dentro dos territórios, sobretudo, no período pandêmico, essenciais para o
repasse de informações e orientações, bem como controle da disseminação do novo coronavírus
nos territórios.
O MS reconhece que cerca de 1.098 municípios brasileiros podem perder recursos
devido ao novo modelo de financiamento da APS estabelecido pela Portaria nº 2.979/2019.
Além do mais, essa mesma Portaria, por não apontar meios de financiamento para as
necessidades de ampliação das equipes de ESF, é implantada com intrínseca correspondência à
Emenda Constitucional 95, a qual congela os gastos públicos por 20 anos, além de ter retirado
mais de 20 bilhões de reais do SUS (NOGUEIRA, 2021).
É importante também discutir que o(a) ACS tem papel fundamental no cadastro da
população, porém a contrariedade entre as atuais políticas pode ser notada nessa questão, uma
vez que, enquanto o Programa Previne Brasil incorpora o recebimento de repasse financeiro de
acordo com a população cadastrada, a PNAB recomenda a cobertura por ACS de 100% da
população em áreas de maior afastamento territorial, áreas de risco e de vulnerabilidade social,
não ressaltando a cobertura para população, dificultando o cadastramento de usuários
(SOARES et al., 2021).
Diante do exposto e conforme os estudos que apresentam diversas contribuições do
ACS em situações de crise no sistema de saúde (CHAVES, 2016; MOROSINI, 2018),
refletimos sobre até bem pouco tempo o trabalho do ACS vinha sendo reconhecido pela
colaboração no alcance de várias metas em saúde. Contudo, hoje têm se tornado invisíveis aos
olhos da nova PNAB, bem como aos novos modelos de financiamentos.
Podemos destacar ainda que esses(as) trabalhadores(as), na pandemia da Covid-19,
somente foram reconhecidos como essenciais ao controle da doenças e à manutenção da ordem
pública, depois de cinco meses do primeiro caso constatado, após a publicação da Lei nº 14.023,
de 8 de julho de 2020 (BRASIL, 2020h), que altera a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020
(BRASIL, 2020g), que publicou uma lista de trabalhadores(as) que estariam na linha de frente,
em que ao(as) ACS não faziam parte.
85

5.2.2 O individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações desenvolvidas pelos ACS
na pandemia da Covid-19

Frente à pandemia da Covid-19, a APS tem desempenhado importante papel, por


meio de ações para combater o aumento do número de novos casos e monitoramento daqueles
que dispensam cuidados intensivos. Além disso, tem auxiliado no gerenciamento adequado das
situações de agravamento e direcionado a continuidade da assistência aos serviços
indispensáveis. No lócus da APS, destacamos o(a) ACS, trabalhador com atuação amparada na
lógica territorial do cuidado e que, no contexto da pandemia da Covid-19, têm contribuído
sobremaneira para o monitoramento da situação de saúde e acompanhamento das diferentes
realidades dos povos no território em que atua. As ações desenvolvidas no cotidiano constituem
ferramentas essenciais para o enfrentamento da pandemia, imperando o reconhecimento deste
ator social como protagonista nesta rede de cuidados.
Nesse sentido, essa categoria nos trará uma visão das ações desenvolvidas pelas
ACS do município em estudo frente à pandemia da Covid-19, que estão apresentadas a partir
de três subcategorias: 5.2.2.1 Na linha de frente: principais ações desenvolvidas pelos ACS na
pandemia; 5.2.2.2 O ACS como protagonista nas ações de vacinação contra a Covid-19;
5.2.2.3 Rede de redes: participação social e popular frente às ações para superação de
obstáculos na pandemia.

5.2.2.1 Na linha de frente: principais ações desenvolvidas pelos ACS na pandemia

Na luta contra à Covid-19, esses(as) trabalhadores(as) se apresentam como atores


estratégicos no cenário da APS, tendo em vista atuarem no interior das comunidades,
favorecendo, assim, observar mais de perto as condições de vulnerabilidade e a situação de
saúde da população, além de fornecer informações aos serviços de saúde sobre as necessidades
de intervenções diante dos problemas encontrados. Ademais, esse trabalho tem auxiliado na
contenção da transmissão do vírus, ao propagar informações adequadas, apoiar a identificação
e a vigilância ativa para o cuidado das pessoas e dos grupos de risco dentro dos territórios de
abrangência (CONASS, 2020; BRASIL, 2020e).
Desse modo, essa subcategoria apresenta as principais ações desenvolvidas pelas
ACS participantes do estudo. Logo, podemos observar que a educação em saúde, principal
ferramenta de trabalho dos(as) ACS, tem sido uma das ações mais desenvolvidas nesse
momento de pandemia. Por meio da educação em saúde, as ACS do presente estudo têm
86

buscado orientar e sensibilizar a população acerca das medidas de prevenção da Covid-19,


recomendadas pelo(a) MS/OMS, tendo por destaque o uso da máscara, a higienização das mãos
(água e sabão ou álcool em gel) e o distanciamento social, entre outras.

Com a pandemia da Covid-19, as ações desenvolvidas, tanto na minha unidade básica


como na minha comunidade, foram primeiro, logo no início, nós fomos mesmo
realmente para a linha de frente, nós fomos trabalhar o acolhimento das pessoas na
unidade. Também, trabalhamos em cima de ações de educação em saúde, como
orientações das medidas propostas pelo Ministério da Saúde, como uso de máscara,
uso do álcool em gel e distanciamento social. (ACS1 – zona rural)

As principais ações desenvolvidas nesse período de pandemia foram: educação em


saúde, através de orientações sobre o uso da máscara, do álcool em gel e
distanciamento social... (ACS3 – zona rural)

[...] Nossas ações frente à pandemia consistem na realização de educação em saúde


[...]. (ACS8 – zona urbana)

[...] Realizamos também práticas de educação em saúde... orientando a todos sobre os


riscos da Covid-19, uso da máscara, do álcool em gel, importância do distanciamento
e isolamento social, entre outras orientações [...]. (ACS4 – zona urbana)

No primeiro momento, nossas ações eram mais relacionadas à educação em saúde, no


sentido mesmo de orientar a população, no que diz respeito ao distanciamento e à
importância do isolamento social, sobre o uso das máscaras e do álcool em gel, da
higienização das mãos... (ACS6 – zona urbana)

[...] Nossas ações têm sido primordial para o acompanhamento da população, pois
desde o início, nós temos trabalho em cima da educação e promoção da saúde,
orientando a população sobre a importância do isolamento social, uso das máscaras e
do álcool em gel, entre outras [...]. (ACS7 – zona urbana)

Orientamos a população sobre a doença, os riscos, bem como da importância da


higienização das mãos e objetos, uso da máscara e distanciamento social... (ACS2 –
zona urbana)

Os(as) ACS são trabalhadores da saúde que atuam diretamente nos domicílios,
nesse tempo de pandemia da Covid-19, observamos que o principal papel no cotidiano de
trabalho na APS/ESF tem sido o de educador em saúde. Logo, as ações educativas realizadas
diariamente pelos(as) ACS nos territórios são consideradas essenciais para divulgação de
informações seguras, visando prevenção de doenças e promoção da saúde, principalmente em
contextos de crise como o atual, nos quais existem a ausência de informações ou informações
contraditórias (MOROSINI, 2020).
É importante lembrarmos que a essência do trabalho educativo na atuação dos(as)
ACS já existia, contudo, no atual contexto, a imprescindibilidade dessa ação foi reforçada,
visando prevenção de adoecimentos e promoção da saúde das famílias e comunidades. Por meio
do trabalho educativo, os(as) ACS podem ajudar na divulgação de informações dos serviços de
87

saúde e funcionamento do SUS, bem como fornecer orientações sobres a situação


epidemiológica, formas de transmissão do vírus, sinais e sintomas da Covid-19, orientar a
respeito de medidas de proteção pessoais, domiciliares e comunitárias, sensibilizar a
comunidade sobre o distanciamento social, higiene pessoal, lavagem de mãos, uso de máscaras,
entre outras orientações, as quais têm se constituído como medidas importantes para o
enfrentamento da pandemia da Covid-19 (MACIEL et al., 2020).
O Guia do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) orienta que os(as) ACS, no
período de pandemia, podem oferecer todas as orientações necessárias, próprias do trabalho, e
não apenas as relacionadas à Covid-19, como também alusivas a outros riscos e patologias
(CONASEMS; CONASS, 2020).
Além da educação em saúde, também identificamos outras ações, como atividades
dentro das UBS, visitas peridomiciliares, busca ativa e monitoramento dos casos suspeitos e
confirmados de Covid-19, observamos também intensificação de outras atividades
anteriormente desenvolvidas, como agendamento de consultas, troca de receitas e retirada de
medicamentos, sobretudo, dos pacientes que fazem parte do grupo de risco, entre outras.

[...] A princípio, ficamos dentro da unidade, ajudando a equipe, já que não poderíamos
estar nas áreas... Depois, começamos a realizar as visitas peridomiciliares, mas
seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde...Trabalhamos com a
retirada e entrega das medicações aos idosos... Realizamos o acompanhamento
peridomiciliar dos recém-nascidos e das puérperas, e, também, das gestantes.
Realizamos a busca ativa e notificação dos casos, bem como o monitoramento dos
casos suspeitos e confirmados [...]. (ACS2 – zona urbana)

[...] No início, tivemos que trabalhar por escalas dentro da unidade básica de saúde,
ajudando na triagem dos pacientes, na realização de busca ativa de contatos dos casos
suspeitos quando solicitado, auxiliando na campanha de vacinação dos idosos contra
a influenza. Também, ajudamos a equipe a identificar e monitorar os casos suspeitos,
bem como os casos confirmados e grupos de risco nos territórios... Depois,
começamos a realizar ações por meio das visitas peridomiciliares [...]. (ACS4 – zona
urbana)

Trabalhamos com as visitas peridomiciliares, pois não podíamos entrar nas


residências... Realizamos busca ativa e acompanhamento dos casos suspeitos e
confirmados de Covid-19... Também, realizamos algumas atividades dentro da UBS...
entre outras ações. (ACS3 – zona rural)

[...] As ações mais desenvolvidas nesse período pandêmico são: visitas


peridomiciliares; higienização das mãos e distanciamento social; consultas com
médica para troca de receitas, especialmente dos que são do grupo de risco, como os
idosos; retirada das medicações e deixar na casa dos pacientes; mostrar exames a
médica; acompanhamento de casos suspeitos e dos confirmados; trabalhamos com
agendamento, especialmente das gestantes e idosos, para não ter aglomeração na
unidade [...]. (ACS6 – zona rural)
88

Nesse período, fiz o acompanhamento das famílias de forma remota, assim como nas
visitas peridomiciliares, busca ativa e acompanhamento de casos suspeitos e positivos
de Covid-19. (ACS9 – zona urbana)

[...] Desde o início, ajudamos na realização de busca ativa de contatos dos casos
suspeitos, auxiliamos a equipe na identificação de casos suspeitos, bem como
monitoramos os casos suspeitos e confirmados e acompanhamos os grupos de risco
do território. Também, realizamos o agendamento de consultas, solicitação de receitas
e retirada de medicamentos do posto para levar para a casa dos pacientes [...]. (ACS8
– zona urbana)

[...] Após o período mais crítico, começamos a trabalhar as visitas peridomiciliares,


obedecendo todas as recomendações do Ministério da Saúde. Outras ações que a gente
tem desenvolvido neste período de pandemia são: busca ativa de contatos dos casos
suspeitos, auxiliando a equipe no monitoramento dos casos confirmados e suspeitos,
bem como acompanhando as pessoas que fazem parte dos grupos de risco no território
[...]. (ACS6 – zona urbana)

Várias das ações desenvolvidas pelas ACS do presente estudo também foram
observadas em outras pesquisas. Na cidade de Orós, CE, os(as) ACS também apontaram que a
educação em saúde tem sido a principal ação realizada no período de pandemia, assim como o
monitoramento e encaminhamento dos casos suspeito e confirmados, realização de visitas no
território sem entrar nos domicílios, ficando na área peridomiciliar (LAVOR, 2021).
Em Sobral, CE, município localizado a 235 quilômetros de Fortaleza, os(as) ACS
permanecem atuando nos territórios por meio das visitas peridomiciliares, assim como outras
ações (RIBEIRO et al., 2020b).
Fonseca (2021) evidenciou também em pesquisa que os (as) ACS no período de
pandemia tem realizado várias ações na busca de continuidade aos cuidados à população. Entre
as principais ações, citamos: educação em saúde, através de orientações de cuidados e medidas
de proteção relacionadas à Covid-19; realização das visitas peridomiciliares; auxílio à equipe
da ESF no monitoramento dos casos suspeitos e confirmados de Covid-19; realização de busca
ativa dos contatos próximos de pacientes com Covid-19; ajuda na triagem dos pacientes, na
ocasião da consulta de enfermagem e médica.
Essas ações desenvolvidas pelas ACS do município estudado, bem como nos
estudos supracitados, estão dentro das competências preconizadas pelo MS:

• Auxiliar no atendimento através do FAST-TRACK - “Fluxo rápido” COVID-19


(anexo 01 e 02) na identificação de pacientes sintomáticos, tomando os devidos
cuidados de proteção e isolamento;
• Realizar visita domiciliar, quando necessário. A visita estará limitada apenas na área
peridomiciliar (frente, lados e fundo do quintal ou terreno), em lugares com boa
ventilação.
• Orientar durante as visitas domiciliares que crianças menores de 5 anos com sinais
e sintomas respiratórios devem procurar a unidade de saúde. Caso o município e/ou a
unidade apresentem fluxo próprios, os mesmos devem ser seguidos;
89

• Orientar durante as visitas domiciliares que pessoas com 60 anos ou mais com sinais
e sintomas respiratórios devem entrar em contato com a unidade de saúde. Caso o
município e/ou a unidade apresentem fluxo próprios, os mesmos devem ser seguidos.
• Realizar busca ativa de novos casos suspeitos de síndrome gripal;
• Organizar o fluxo de acolhimento de modo a evitar aglomeração de grupos com mais
de 10 pessoas e, preferencialmente em ambientes arejados;
• Auxiliar as atividades de campanha de vacinação de modo a preservar o trânsito
entre pacientes que estejam na unidade por conta de complicações relacionadas ao
covid-19, priorizar os idosos;
• Realizar atividades educativas na unidade enquanto os pacientes aguardam
atendimento;
• Apoiar a equipe nas atividades administrativas e de prevenção desenvolvidas na
unidade saúde (BRASIL, 2020e, p.3).

Destacamos, também, a importância do trabalho no território e das visitas


peridomiciliares, as quais dão apoio à identificação, por meio da busca ativa, do
acompanhamento e monitoramento de casos suspeitos de Covid-19, casos confirmados e
respectivos contatos. No entanto, é necessário para realização dessas atividades considerar
alguns cuidados, visando garantir a segurança dos(as) ACS e dos usuários (BRASIL, 2020e).
Assim, o MS recomenda não realizar atividades dentro das residências, pois estas
deverão ser limitadas somente na área peridomiciliar (frente, lados e fundo do quintal ou
terreno); dar prioridade aos pacientes que fazem parte do grupo de risco e que precisam de
maior cuidado, como pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, pessoas com doenças
crônicas não transmissíveis (hipertensão, diabetes, doenças cardíacas etc.); fazer higienização
das mãos com álcool em gel; buscar manter o distanciamento de, no mínimo, dois metros das
pessoas, e quando não tiver essa possibilidade, fazer o uso de máscara cirúrgica; nas visitas aos
pacientes com suspeitas de Covid-19, fazer sempre o uso de máscara cirúrgica e garantir a
utilização de EPI (luvas, capote, jaleco, óculos e/ou viseira acrílica de proteção facial) (SAPS,
2020; BRASIL, 2020e).
Ao ACS compete, ainda, no período de pandemia, reforçar as orientações
necessária aos pacientes em isolamento e aos cuidadores, assim como ajudar a equipe no
monitoramento dos pacientes a cada 48 horas, até 14 dias após o início dos sintomas, de
preferência por meio do telefone, informando o mais rápido possível ao enfermeiro ou médico,
caso o paciente mencione algum agravamento dos sintomas ou mudança das condições clínicas,
como a presença de novos sintomas (BRASIL, 2020e).
A importância da atuação dos ACS frente à pandemia da Covid-19 também tem
sido reconhecida internacionalmente. Na Índia, mais precisamente no estado de Kerala, o qual
tem, em média, 35 milhões de habitantes, os Ativistas Sociais de Saúde Credenciados
(ASHAs), assim como são conhecidos os agentes comunitários, têm sido muito importantes
90

para enfrentamento e controle da pandemia. Em Kerala, esses trabalhadores continuaram


desenvolvendo as atividades nos territórios, por meio da identificação de pessoas com sintomas
respiratórios, monitoramento dos casos, acompanhamento dos contatos e ajudado muito a
população na manutenção das medidas de isolamento social. Ainda, os ASHA têm continuado
as ações rotineiras no território para o controle de doenças e a promoção da saúde da população
(VARMA, 2020).
O panorama apresentado demonstra que o trabalho dos(as) ACS, ao adotar as velhas
e novas ações, tem sido essencial para o enfrentamento da pandemia da Covid-19,
especialmente, porque esses(as) trabalhadores(as) conhecem de perto a realidade de cada
comunidade/população, o que ajuda no desenvolvimento das ações, facilita o trabalho de
educação e vigilância em saúde, assim como apoia aos grupos vulneráveis no território.
Todavia, cada ação precisa ser adaptada de acordo com cada contexto local para, assim, garantir
a proteção dos(as) ACS e da população.

5.2.2.2 O ACS como protagonista nas ações de vacinação contra a Covid-19

No Brasil, a erradicação de várias morbidades somente foi possível devido ao forte


trabalho de imunização em crianças da primeira infância e pelos esforços dos(as) profissionais
que atuam no SUS, de modo especial, os(as) ACS. A imunização é compreendida como um dos
cuidados primários de saúde e possibilita resposta quase que imediata na prevenção de doenças.
Contudo, para que isso aconteça, necessário é preciso que o indivíduo receba as doses
necessárias, conforme calendário vacinal, objetivando a qualidade e eficácia no processo de
imunização (ALMEIDA et al., 2021).
Nesse contexto, ressaltamos a atuação dos(as) ACS, pois umas de suas ações
realizadas junto a população é a de prevenção das doenças e promoção à saúde, mediante as
atividades relacionadas à vacinação. Esses(as) trabalhadores(as) são responsáveis por
incentivar e sensibilizar a população em geral acerca do cumprimento do calendário vacinal,
assim como realizar a busca ativa dos faltosos às vacinas, divulgar e participar das campanhas
de vacinação, fazer o acompanhamento das cadernetas e situação vacinal, orientar a população
sobre a importância das vacinas durante as visitas domiciliares ou em reuniões com a
comunidade, encaminhar a população à unidade para iniciar ou concluir o esquema vacinal,
entre outras (BRASIL, 2009b).
Diante da pandemia da Covid-19, a atuação dos(as) ACS, no que diz respeito às
ações de vacinação se intensificaram e, antes mesmo que as vacinas contra o novo coronavírus
91

fossem criadas e disponibilizadas para serem aplicadas na população, esses(as)


trabalhadores(as) realizaram e continuam a realizar trabalhos mais que importante nas
campanhas de vacinação contra influenza, sobretudo, na população idosa e pessoas que se
enquadram nos grupos de risco para Covid-19, além do acompanhamento das vacinas de
crianças e gestantes. Posteriormente, com a chegada dos imunizantes contra a Covid-19, as
ACS passaram também a realizar outras ações.

[...] Com a chegada da vacina, primeiro fizemos o levantamento dos idosos para se
vacinarem, e depois ajudamos o restante da comunidade no cadastramento,
agendamento da vacina, assim como ajudamos a equipe do posto nas campanhas de
vacinação e também realizamos o levantamento de quem já tinha tomado a primeira
e segunda dose [...]. (ACS4 – zona urbana)

[...] Fizemos o levantamento dos idosos para vacinação de 1ª dose e 2ª dose. Fomos
até os domicílios para a vacinação dos idosos. Também fizemos o cadastramento e
agendamento de muitas pessoas da nossa área, assim como estamos participando das
campanhas de vacinação dentro da unidade e nos locais de apoio [...]. (ACS2 – zona
urbana)

[...] Temos ajudado na vacinação da Covid-19, desde o levantamento do número de


idosos, bem como no cadastramento e agendamento das pessoas da nossa área de
abrangência e temos participado nos dias de vacinação dentro das unidades e nos
pontos de apoio, bem como na vacinação dos idosos nos domicílios [...]. (ACS6 – zona
urbana)

[...] Na questão da campanha de vacinas, também fomos em todos os idosos, casa a


casa. Fora os inúmeros levantamentos que fizemos para dar início a vacinação, e até
hoje ainda damos suportes [...]. (ACS8 – zona urbana)

[...] Fizemos o levantamento dos idosos para a campanha de vacinação, tanto da gripe
quanto para Covid-19, ajudamos a comunidade no cadastramento e agendamento da
vacina contra Covid-19 [...]. (ACS8 – zona rural)

[...] Participei da realização do cadastramento e agendamento das pessoas da


comunidade para a vacinação da Covid [...]. (ACS5 – zona rural)

[...] Quando a vacina chegou, realizamos o cadastramento de todos da comunidade


para receber a vacina da Covid-19, além do acompanhamento de cada caso, orientando
sobre a importância da vacina, bem como ajudando nas campanhas e na própria
vacinação [...]. (ACS1 – zona rural)

A partir dos relatos, observamos que no período de pandemia, a atuação das ACS
frente às ações de vacinação tem sido de suma importância, pois, além de ajudar as equipes de
ESF com os levantamentos solicitados, tem prestado suporte às pessoas das comunidades no
cadastramento e agendamento das vacinas contra a Covid-19.
Além disso, podemos identificar nas falas um trabalho incansável das ACS,
sobretudo, das que atuam na zona rural, na luta pela imunização das comunidades, em que
algumas relataram ter participado das campanhas de vacinação dentro dos postos de saúde, nas
92

residências e em pontos de apoio. Destacamos, que uma das ACS da zona rural participava das
campanhas de vacinação atuando como vacinadora, já que a mesma concluiu o curso de técnico
de enfermagem. Prontamente, essas atividades têm fortalecido a cobertura vacinal.
Fonseca e Morosini (2021) também descrevem que os(as) ACS têm dado apoio à
campanha de vacinação contra a Covid-19, por meio das seguintes atividades: registro dos
dados dos indivíduos para vacinação nos postos de vacinação; identificação da população idosa,
pessoas com dificuldade de locomoção e pacientes acamados; articulação de táticas para
realização de vacinação nos domicílios; e ações para mobilização das pessoas para comparecer
a primeira e segunda dose da vacina, como visitas peridomiciliares, ligações telefônicas, envio
de mensagens por aplicativo, entre outras.
No estudo realizado por Fonseca (2021), ao analisar a percepção dos ACS sobre o
papel na prevenção e no controle da COVID-19, os dados também evidenciaram que entre as
atividades desenvolvidas por estes, encontram-se as ações relacionadas à vacinação, tendo por
destaque as orientações sobre a vacinação, o auxílio nas campanhas de vacinação, realizando
drive thru e vacinação no domicílio.
Frente ao exposto, evidenciamos que os(as) ACS têm desenvolvido as ações de
vacinação a partir do planejamento (juntamente com as equipes da ESF), identificação do
público-alvo, mobilização das comunidades e acompanhamento e participação da
operacionalização das campanhas de vacinas. Essas funções estão em consonância com as
apresentadas no guia desenvolvido pela OPAS, o qual define as responsabilidades, necessidades
e oportunidades de contribuição dos ACS frente à vacinação contra a Covid-19 (OPAS, 2021).
Segundo a OPAS (2021, p. 8), os(s) ACS:

Estão em uma boa posição para participar do microplanejamento com outros


trabalhadores da saúde e partes interessadas, desenvolvendo e executando estratégias
para alcançar as pessoas fora dos contextos clínicos (principalmente aqueles que são
itinerantes, “difíceis de encontrar”, ou que possam ter dificuldade de se deslocar até
um local fixo) e identificar idosos ou outros grupos-alvo na comunidade. Suas
contribuições podem servir para embasar processos de microplanejamento nos
âmbitos subnacional, institucional e local, para a distribuição de vacinas contra a
Covid-19.

De fato, os ACS encontram-se em excelentes posições para desenvolver e realizar


ações estratégica voltadas à vacinação contra a Covid-19, pois, além de atuar, residem nas
comunidades, o que os fazem ter maior conhecimento das características locais de cada área,
do perfil da população e das necessidades enfrentadas por ela.
93

Assim, fica mais fácil identificar de forma mais rápida os idosos, os acamados, os
domiciliados, os que têm alguma deficiência física e as pessoas que se enquadram nos grupos
de risco para Covid-19, para, assim, orientar sobre as campanhas de vacinação.
Ainda, é importante ressaltar que a eficácia das campanhas de vacinação, incluindo
a de vacinas contra a Covid-19, vai depender muito da aceitação e adesão da população, as
quais são obtidas mediante uma série de estratégias, bem como pela conquista da confiança das
pessoas, algo que muitos(as) ACS conquistaram, pois trata-se de um trabalhador que reside
dentro da comunidade onde atua, como mencionado.
Portanto, os(as) ACS configuram-se como protagonistas frente às ações de
vacinação contra a Covid-19, desenvolvidas junto à população/comunidade e aos outros
profissionais da equipe da ESF, já que, através do trabalho desenvolvido, evidenciamos maior
adesão às vacinas, sobretudo, por combater prontamente a desinformação, de modo a diminuir
a relutância.

5.2.2.3 Rede de redes: participação social e popular frente às ações para superação de
obstáculos na pandemia

Durante a pandemia da Covid-19, a assistência à saúde e as medidas preventivas


têm sido o principal foco de trabalho, na busca de evitar a disseminação do coronavírus, bem
como o aumento do número de casos e óbitos. Todavia, em decorrência dos vários contextos
sociais existentes, as medidas nem sempre podem ser seguidas pelos povos, sobretudo, os que
moram nas periferias, zona rural ou em favelas, pois, frequentemente, a maioria das pessoas
que vivem nesses espaços são as que apresentam maiores dificuldades de colocar em prática o
isolamento e distanciamento social, pois, devido à necessidade de lutar pela sobrevivência, não
conseguem manter a higiene por falta de água, sabão e álcool em gel, e por não terem condições
mínimas de comprar máscaras e, até mesmo, alimentação básica (CAPONI, 2020; SANTOS,
2020; BORNSTEIN; GOLDSCHMIDT, 2020).
Diante disso, destacamos a importância do trabalho desenvolvido pelos(as) ACS
nos territórios, pois, além de residirem neles, são trabalhadores(as) que conhecem e reconhecem
as necessidades populacionais, conhecem cada indivíduo, hábitos e condições de vida. Logo,
essas características ajudam no momento de acionar a rede de apoio social, a qual podem estar
envolvidas as próprias pessoas da comunidade, os movimentos sociais, as organizações
comunitárias, as lideranças religiosas, entre outras (BORNSTEIN; GOLDSCHMIDT, 2020).
94

Nessa mesma perspectiva, para o enfrentamento dos diversos obstáculos trazidos


pela pandemia, evidenciamos em vários territórios a “constituição de redes de solidariedade, de
iniciativas e respostas comunitárias que, como em outros desafios sanitários já vividos, são elos
fundamentais na construção de respostas que têm nos exigido reflexões ininterruptas”
(NAKAMURA; SILVA, 2020, p. 157), como é o caso da rede de solidariedade e apoio formada
pela participação social e popular das pessoas, movimentos, associações, entidades,
empresários, dentre outras instituições, citadas pelas ACS do presente estudo, as quais estão
sendo suporte para as pessoas/famílias que mais precisam e, até mesmo, propondo ações que
também contribuam para esse momento desafiador.

[...] As ações que foram mais praticadas aqui foi a parceria com a igreja, com as
associações das comunidades. As compras de pessoas que estavam infectadas, a
própria comunidade, a igreja e a associação quem fazia, a gente se dividia, uns
providenciavam alimentação, outros a água. Tem uma comunidade aqui da minha área
que não tem abastecimento de água, aí, a gente procurava providenciar carro pipa com
água para eles, porque até para a higienização deles estava difícil a água, e a gente fez
essas ações. Também, teve famílias que não tinham aparelho celular, a gente
conseguiu emprestado para a equipe fazer o acompanhamento dos casos [...]. (ACS4
– zona rural)

Não posso esquecer do trabalho social, pois também trabalhamos distribuindo


máscaras, cestas básicas. Muita gente se envolveu, pois como a Covid-19 trouxe
desemprego, nós também fomos envolvidas na questão dos serviços sociais. Nós
fizemos desde o levantamento até a distribuição e entrega das cestas básicas. Muitos
comerciantes se solidarizavam com essas questões, e eles chamavam os agentes
comunitários de saúde para pegar e distribuir as máscaras. (ACS2 – zona urbana)

Além dessas ações relacionadas à saúde, nós também trabalhamos muito na parte
social. A gente teve muitas instituições parceiras, no que diz respeito à doação de
máscaras, álcool em gel e cestas básicas. Nós fizemos essa ponte, que foi muito
importante para muitas famílias carentes, que não tinham nem o básico dentro de suas
casas [...]. (ACS1 – zona urbana)

[...] Realizamos também a formação e distribuição de cestas básicas para os mais


carentes da comunidade [...]. (ACS6 – zona rural)

[...] Também fizemos distribuição de máscaras para as pessoas mais necessitadas [...].
(ACS8 – zona rural)

Diante das falas, demonstramos a participação social e popular junto às ações


sociais realizadas pelas ACS nos vários territórios onde atuam no município estudado. Podemos
observar que foram criadas redes de apoio e de solidariedade para ajudar as pessoas mais
necessitadas de cada localidade onde as ACS desenvolvem o trabalho. Observamos, também,
o papel importante das ACS na busca de parcerias e apoio na mobilização de voluntários para
ajudar na logística de compras de alimentação, arrecadação, organização e distribuição de cestas
básicas, álcool em gel e máscaras.
95

Na fala da ACS4 – zona rural, verificamos a preocupação dela com uma das
comunidades em que atua, já que as pessoas que ali residem não tinham acesso à água, o que
dificulta a realização da higienização, sobretudo, das mãos, uma das recomendações do MS
para contenção da disseminação da Covid-19. Mas, com o esforço da ACS e das pessoas da
comunidade, ações como a solicitação de carro pipa foi de suma importância para o
enfrentamento desse problema.
Apontamos, também, o suporte que pessoas/grupos das próprias comunidades
ofereceram no momento de cadastrar as pessoas para vacinação contra a Covid-19.

[...] Para o cadastro das vacinas no sistema, tivemos a ajuda do grupo de jovens da
comunidade [...]. (ACS1 – zona rural)

Também cadastrei 95% da minha área, é, os outros 5% conseguiram um ajudante, já


na reta final, graças a Deus, um adolescente que resolveu me ajudar, ensinei para ele
tudo direitinho, repassei orientações e ele deu continuidade, me ajudou e continua
agendando as vacinas, enfim, está me ajudando [...]. (ACS7 – zona rural)

[...] Também tive ajuda das pessoas para realizar o cadastro das vacinas da minha
população [...]. (ACS2 – zona rural)

[...] Participei da realização do cadastramento e agendamento das pessoas da


comunidade para a vacinação da Covid e, para isso, também tivemos a ajuda de jovens
da comunidade. Assim, foram feitas muitas ações diferentes, e a participação e ajuda
da comunidade foi fundamental nesse momento. Eu fiquei muito grata [...]. (ACS5 –
zona rural)

Em grande maioria, as ações expostas corroboram as ações desenvolvidas pelos(as)


Agentes Populares de Saúde, em que os(as) mesmos(as) pensam e articulam ações solidárias
diversas que envolvem o direito à moradia/abrigo, à água, à alimentação, a itens de higiene
individual e domiciliar, à renda, aos serviços de saúde, entre outras demandas (MÉLLO et al.,
2020). Os(as) autores(as), ainda, descrevem que as Agentes Populares de Saúde são pessoas
voluntárias e militantes dos movimentos populares e organizações comunitárias de cada bairro
que se dispuseram a levantar uma rede de solidariedade ativa em defesa da vida do povo.
Fonseca e Morosini (2021) também descrevem que entre as ações desenvolvidas
pelos(as) ACS durante a pandemia, estão a identificação de sujeitos que se encontram em maior
risco e vulnerabilidade social, articulação e apoio aos movimentos sociais comunitários,
participação na preparação das ações comunitárias, engajamento e atuação na realização de
ações de apoio social, através da distribuição de alimentos, materiais de higiene e máscaras.
Para Pernambuco (2020), devido à rápida disseminação do novo coronavírus nas
comunidades, baixa oferta de máscaras no mercado, assim como em virtude da inexistência de
condições de muitas pessoas para comprar as máscaras, uma alternativa no início da pandemia
96

foi a organização de redes solidárias de costureiras. Essas redes podem ser organizadas por
ACS, com articulação com as lideranças comunitárias que têm conhecimento de pessoas que
sabem costurar e que possuem máquina de costura em casa. Prontamente, no presente estudo,
essa ação se fez presente na rede solidária de duas ACS.

[...] Realizamos a confecção e distribuição de máscaras na comunidade... Aqui mesmo


na minha comunidade, a gente formou um grupo de três pessoas, eu, na época, a
coordenadora da escola e uma costureira... compramos os tecidos e a costureira fez
para poder a gente doar, porque a gente via a necessidade das pessoas usarem
máscaras e eles não tinham... não tinham condições de comprar [...]. (ACS5 – zona
rural)

[...] Realizamos a confecção e distribuição de máscaras [...]. (ACS – zona rural)

Para Haines et al. (2020), um dos diferenciais do trabalho do(a) ACS consiste na
competência comunitária. Logo, no período de Covid-19, o diálogo que esses(as)
trabalhadores(as) têm com a população acerca das demandas e da importância da participação
social desta e o engajamento comunitário nas ações a serem desenvolvidas dentro dos territórios
tornam-se fundamentais.
Neste estudo, também identificamos que uma das ACS, além de desenvolver ações
juntamente como uma Organização não Governamental (ONG) em área descoberta, tem
realizado ações junto às pessoas que residem no lixão.

[...] Temos desenvolvido um trabalho juntamente com uma ONG, em uma área
descoberta, que também faz parte da nossa unidade, levando orientações e ações de
saúde, assim como realizamos um trabalho em uma área de lixão, que também fica
dentro da minha área, onde as pessoas também precisam de uma atenção, e, aí, a gente
precisa promover saúde nesse espaço, então, foi preciso buscar alternativas para levar
informações e orientações até essas pessoas que estavam por lá. Assim, a gente teve
que se reinventar para conseguir chegar a esses locais mais difíceis e esquecidos [...]
(ACS9 – zona rural)

Característica fundamental que envolve o trabalho do(a) ACS, alicerçada nas


premissas da acessibilidade e longitudinalidade, é o alcance de populações vulneráveis para
garantir que estas tenham acesso aos serviços de saúde, principalmente, no contexto da
pandemia da Covid-19 (BRASIL, 2020e).
Diante da pandemia, salientamos a necessidade da articulação intersetorial, já que
os(as) ACS, ao identificarem as populações mais vulneráveis, podem acionar outras instâncias
do sistema de saúde e dos serviços de proteção e assistência social, para garantir que pessoas e
grupos vulneráveis recebam apoio alimentar, monetário, social e médico necessário, bem como
podem buscar apoio de órgãos governamentais ou não, e outras fontes (CHATTERJEE, 2020).
97

As ações desenvolvidas pelas ACS, juntamente com a rede de apoio criada com
auxílio da participação popular e comunitária do presente estudo, estão em conformidade com
as recomendações do Conselho Nacional de Saúde (CNS), em que este defende que a população
brasileira, sobretudo, a mais vulnerável e os grupos de risco devem ter a saúde e vida protegida
através da implementação de barreiras sanitárias (lavagem das mãos, uso de máscaras,
isolamento e distanciamento social), garantia do abastecimento de água, assim como
alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2020a).
A participação social, popular e o trabalho coletivo tornou possível pessoas,
lideranças e grupos comunitários e as próprias ACS do município estudado se colocarem como
sujeitos da história e assumirem papel de destaque que o Estado capitalista neoliberal está
deixando de cumprir no período de pandemia. Deste modo, Scaramboni (2020, p. 14),
referencia que “a importância das vidas está nas ações construídas pelas coletiVIDAdes, que
teimam em viver e fomentar projetos de sociedade que impliquem não no extermínio de
pessoas, mas sim no fim das desigualdades”.
Portanto, as redes de apoio, de solidariedade, de cuidados, dentre outras que tem
sido formada não somente nos territórios do município estudado, mas, em várias partes do
mundo, tem por objetivo zelar pela seguridade social das populações mais vulnerabilizadas e
que experimentam, de modo mais perverso, os impactos da pandemia. Essas redes, sobretudo,
construídas pelas coletiVIDAdes, têm realizado ações que trazem a esperança entre as pessoas,
esperança do verbo esperançar, que segundo Paulo Freire (1992, s.p):

É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que
tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é
espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir,
esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com
outros para fazer de outro modo…

Na perspectiva do verbo esperançar que juntos, pessoas, grupos, associações,


lideranças e os(as) ACS têm tomado a frente das ações sociais dentro dos territórios, por
intermédio da criação de redes, para, assim, oferecer suporte às gentes que precisam de um
sopro de esperança, as gentes que necessitam do básico para sobreviver, viver e resistir às várias
situações trazidas pela pandemia. Enfim, é através das ações dessas coletiVIDAdes que muitas
pessoas/famílias/comunidades se mantêm vivas.
98

5.2.3 Processo de trabalho do ACS no contexto da pandemia da Covid-19

No campo da saúde, a atuação profissional é orientada pelos modelos logísticos de


prestação de serviços nos diferentes campos e realidades, determinando, assim, as atividades,
as ações, as práticas, as técnicas e os aparelhos que podem ser empregados em cada profissão.
A APS apresenta como eixos centrais para reordenação do cuidado em saúde a organização e a
gestão dos processos de trabalho (FARIA et al., 2009). Portanto, torna-se relevante
compreender os elementos desse processo e como eles se (re)organizam em cenários de
emergência em saúde pública, como o que estamos vivenciando.
Nesse sentido, a presente categoria expõe como a pandemia da Covid-19 atravessou
o processo de trabalho dos ACS, fazendo com que estes tivessem que se reinventar para dar
continuidade ao trabalho. Assim, esse novo processo de trabalho é apresentado por meio de
duas subcategorias: 5.2.3.1 Tivemos que nos reinventar diante do novo: processo de trabalho
vivo em ato; 5.2.3.2 Descobertas da pandemia: introdução das tecnologias digitais de
informação e comunicação no processo de trabalho dos ACS.

5.2.3.1 “Tivemos que nos reinventar diante do novo”: processo de trabalho vivo em ato

Nós, agentes comunitários de saúde, precisamos nos reinventar para saber trabalhar
de uma forma diferenciada e trabalhar de forma com que pudéssemos informar o que
a gente ainda nem sabia como informar, mas ainda assim, de uma maneira desafiadora,
todos nós conseguimos nos reinventar enquanto profissionais... Então, para mim, a
frase seria: “Nós nos reinventamos enquanto profissionais”. (ACS9 – zona rural)

Diante da pandemia provocada pela Covid-19, as unidades que operacionalizam a


ESF, ao oferecerem atendimento territorializado e promoverem a longitudinalidade e a
coordenação do cuidado em todos os níveis de atenção à saúde, têm a capacidade de identificar
previamente possíveis casos graves. No entanto, para atender a essa demanda, o processo de
trabalho em saúde necessitou ser readequado de forma significativa, em decorrência das
restrições determinadas pelo MS e também pelos municípios, como novas formas de
desenvolvimento de atividades pela equipe na APS e o isolamento social da comunidade
(MACIEL et al., 2020).
Essas mudanças comprometem a circulação entre os diferentes territórios de
abrangência das equipes da ESF, o vínculo presencial com as pessoas/comunidade,
principalmente, no contexto das visitas domiciliares, bem como exigiu modificações nos fluxos
99

assistenciais e na interrelação entre os membros da equipe, atrapalhando, até mesmo, a


realização de reuniões presenciais para o planejamento mensal de atividades (BRASIL, 2020e).
Nesse sentido, a pandemia da Covid-19 representa um dos maiores desafios
sanitários dos últimos anos, influenciando, de forma direta, a dinâmica e a relação entre os
elementos que arranjam os processos de trabalho, modificando, também, a prestação do cuidado
em saúde nos territórios.
Segundo Merhy (2002), o trabalho em saúde consiste em um processo relacional,
produzido por meio do trabalho vivo em ato. Esse processo é compreendido como resultado do
conjunto de métodos pelos quais pessoas atuam fazendo o uso de meios de produção, sobre
determinado objeto para, modificando-o, alcançarem determinado resultado e/ou produto
(FARIA et al., 2009).
Ao considerar o processo de trabalho em saúde, a partir conceito apresentado, os
eventos de emergência em saúde pública, como o que estamos vivenciando atualmente,
requerem, para além de novas formas de comportamento social, a adaptação e o
desenvolvimento de novas estratégias e metodologias de trabalho entre os trabalhadores da
APS, sobretudo, no processo de trabalho das ACS, já que precisaram se reinventar e buscar
novas maneiras de desenvolver ações estratégicas de promoção e prevenção à saúde.

[...] Tudo a gente teve que mudar, a forma de trabalhar, as formas da visita foi
diferente, até na unidade básica de saúde no início... quem estava na linha de frente lá
no posto de saúde era a gente... A gente aprendeu a utilizar coisas que não conhecia...
que era o meio de comunicação... Trabalhar ao redor dos lares sem adentrar nas
casas.... fazer uso e seguir normas... Então, assim, tudo foi modificado [...]. (ACS6 –
zona rural)

[...] E o ACS “pau de dar em doido” como ele é, se destacou nessa pandemia, continua
se destacando... Pois, nós nos reinventamos, inventamos novos meios de trabalhar...
O ACS não consegue ficar sem se destacar, nesse sentido de inventar novos meios de
fazer acontecer as coisas... Eu... pedi até um megafone emprestado para informar e
orientar a comunidade nas visitas peridomiciliares, pois, no início, a gente não podia
adentrar as casas [...]. (ACS3 – zona urbana)

[...] Foi um momento de adaptação, a gente teve que se reinventar, reinventar o nosso
trabalho, nosso meio de abordagem diante dessa situação, e o meio virtual, a
tecnologia foi fundamental para que as nossas visitas pudessem acontecer, para que a
gente pudesse ter acesso à informação, dar acesso às outras pessoas a informação [...].
(ACS7 – zona rural)

[...] Tivemos que trabalhar com novas estratégias, buscar novos métodos... fazer uso
dos novos protocolos... tivemos que nos reinventar diante do novo, tivemos que nos
reinventar em cima de todas as dificuldades [...]. (ACS8 – zona urbana)

[...] Tivemos que nos reinventar no processo do trabalho em todos os aspectos [...].
(ACS6 – zona urbana)
100

[...] No nosso processo de trabalho, sempre teve dificuldades, sempre teve desafios...
e, nessa pandemia, aí, que piorou a situação. Então, assim, não foi fácil em momento
nenhum. E, aí, tivemos que nos reinventar para continuar trabalhando [...]. (ACS9 –
zona urbana)

Ao analisarmos as falas das ACS, observamos que elas tiveram que se reinventar,
vencer desafios, dificuldades e buscar novos meios/ferramentas de trabalho. Além disso,
tiveram que aprender a fazer uso de coisas novas e ousar/usar da criatividade, para melhorar a
comunicação e o diálogo não somente com a comunidade, mas com a equipe de saúde, de modo
a oferecer assistência da melhor forma possível. Tudo isso, a fim de dar continuidade ao
trabalho.
A partir do criar, do fazer, do inovar, do inventar e do se reinventar, podemos
descrever o processo de trabalho exposto pelas ACS como “trabalho vivo em ato”, uma vez que
o trabalho vivo se trata do próprio trabalho em ato, ou seja, trabalho realizado no exato momento
de produção, criação, na atividade do trabalhador. Assim, o trabalho vivo em ato é de controle
do próprio trabalhador, ele lhe dá altos graus de liberdade na concretização da atividade
produtiva, pois é feito enquanto o trabalho é executado, o produto é realizado (MERHY, 2002).
O trabalho vivo em ato se faz tão presente nesse novo processo de trabalho dos
ACS, frente às novas atividades realizadas no enfrentamento da Covid-19, que uma das ACS
explicitou na fala que, de fato, o trabalho tem sido realizado no exato momento de produção,
criação e execução das atividades.

[...] Olhe, minha gente, o que vocês falaram, aí, eu fiquei aqui pensando, é igual aquela
música, que diz assim: “Você sabe o que é caviar, nunca vi, nem comi, eu só ouço
falar” (cantando), foi justamente isso que aconteceu conosco... quando nós fomos
colocados na linha de frente [...]. (ACS1 – zona rural)

A ACS se utilizou de uma metáfora, referiu-se a um trecho de uma música, para


assim comparar o que ocorreu no início da pandemia, em que foram para linha de frente apenas
com o que tinha ouvido falar sobre a Covid-19 e que, para atuar, fez-se necessário se reinventar,
criar, inovar, apreender e praticar.
Ao se reinventarem, as ACS passaram a fazer uso no processo de trabalho das
tecnologias do cuidado em saúde. Essas tecnologias fazem referência a tudo o que é usado como
instrumento para levar cuidado à população, são classificadas como leve, leve-dura e dura. A
tecnologia leve diz respeito às relações de vínculos, comunicação, autonomização e
acolhimento, são as produzidas no trabalho vivo em ato; a leve-dura corresponde aos saberes
bem estruturados, que operam no processo de trabalho em saúde, como a clínica médica, a
101

clínica psicanalítica e a epidemiologia, bem como o uso de normas, protocolos e conhecimento;


e a dura refere-se à utilização de equipamentos tecnológicos, como máquinas, além de normas
e estruturas organizacionais (MERHY, 2002).
A tecnologia leve apareceu no trabalho das ACS quando elas buscaram reinventar
os processos de trabalho, para, assim, poder dar continuidade no cuidado em saúde e ofertar a
população atendimento humanizado, seja pela produção de vínculos e das relações ou pelo
acolhimento. Ainda, comprovamos nas falas das ACS a autonomização no processo de trabalho.
A tecnologia leve-dura se faz presente nos novos saberes/conhecimentos utilizados
pelos ACS para produção dos novos processos de trabalho, assim como se encontrou quando
duas ACS apontaram fazer uso de normas e protocolos. Também, ao observar as falas, as ACS
buscaram criar estratégias de trabalho, as quais se enquadraram dentro das tecnologias duras,
como no caso da ACS3 – zona urbana, que discorreu sobre a utilização do megafone para
transmitir as informações à comunidade sem adentrar as residências, e da ACS7 – zona rural,
que mencionou o uso das tecnologias virtuais.
Portanto, a utilização das tecnologias do cuidado pelas ACS nesse período de
pandemia tem sido essencial para continuidade do cuidado, diminuição dos agravos e processos
de produção em saúde. Deste modo, concordamos com Gomes e Merhy (2011), quando
afirmam que não cabe hierarquização de valor entre as três tecnologias, pois, a depender da
conjuntura, cada uma terá sua importância, ainda que todas as situações exijam a utilização das
tecnologias.
Destarte, a força de trabalho do ACS está no fazer, no ser, no sentir, no ouvir, no
viver, no cotidiano, nos territórios, nas gentes e, por isso, tem feito um trabalho extraordinário
e resolutivo, já que mostra para todos que é possível se reinventar em relação aos processos de
trabalho, independentemente do modelo adotado para, de um lado, cumprir a responsabilidade
frente à pandemia e, de outro, sustentar a oferta de cuidados a toda a população sob
responsabilidade dele. O fato é que esses trabalhadores nos mostram por que são fortes, e que
essa força nasce da vontade e do desejo de transformar os saberes, as práticas e experiências,
na perspectiva da necessidade das pessoas nas várias realidades e contextos.

5.2.3.2 Descobertas da pandemia: introdução das tecnologias digitais de informação e


comunicação no processo de trabalho dos ACS

Tendo por finalidade a garantia da atenção integral à saúde, a APS tem feito cada
vez mais o uso das ferramentas tecnológicas, como a implantação dos teleatendimentos, os
102

quais podemos destacar as teleconsultas, os telemonitoramentos, os telematriciamentos e, até


mesmo, as televisitas. Isto reforça a importância da inovação tecnológica dentro do arcabouço
da APS, com uso de estratégias simples e de baixo custo, objetivando assegurar a assistência
longitudinal e integral, a qual é legalizada pelo SUS. Deste modo, a APS evidencia que a ideia
de fazer uso das tecnologias não está somente ligada aos equipamentos, mas também ao “saber
fazer” e a um “ir fazendo” (SOUZA et al., 2021).
Diante disso, frente às necessidades de adoção de medidas de distanciamento social
e restrição para realização das visitas domiciliares produzidas pelo cenário da pandemia da
Covid-19, em caráter especial, reconhecemos a possibilidade e a eticidade do uso das
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), dentro de cada realidade, para atuação dos
profissionais de saúde da APS, sobretudo, os ACS. Neste período, utilizaram de aparelhos
móveis, como celulares e tablets, para a continuidade, dentre outras, do trabalho que não podia
ser realizado de forma presencial, para, assim, conseguir alcançar usuários que não tinham
como comparecer aos serviços de saúde (FONSECA; MOROSINI, 2021).
Nesse contexto, o objeto de trabalho dos ACS supera as necessidades de saúde que
já existiam dentro dos territórios de atuação, precisando, assim, ser incluídas as novas demandas
que passam a existir a partir da emergência vigente, fazendo-se necessário o acionamento de
outros, como a obtenção de novos saberes, o aperfeiçoamento de práticas e a utilização de novas
ferramentas, como as TIC e as mídias sociais, como podemos verificar nas falas.

No início, tivemos que fazer uso das tecnologias digitais, onde passamos a fazer nosso
trabalho pelo celular com o auxílio do WhatsApp... Hoje, o trabalho de forma virtual
tem ajudado muito a gente chegar em famílias que a gente, às vezes, não encontrava
em casa, ou seja, tem ajudado a gente a ter maior relação e comunicação com nosso
povo. (ACS6 – zona urbana)

[...] Mudamos nossa forma de atuar, atendendo mesmo por telefone, pelo grupo no
WhatsApp, porque, às vezes, não dava para a gente ir até lá onde a família estava, em
suas casas [...]. (ACS8 – zona rural)

[...] A tecnologia foi nossa companheira aliada, porque através da tecnologia, a gente
conseguiu salvar muitas vidas e conseguimos passar assim, esse processo de trabalho
através da tecnologia. Então, acredito que foi uma grande aliada, para gente conseguir
salvar tantas vidas. Informar, chegar em muitos lares, foi através da tecnologia [...].
(ACS9 – zona rural)

[...] É importante também lembrar dos grupos no WhatsApp que nós criamos na
comunidade, pois muitos de nós não trabalhamos dessa forma, não trabalhamos com
o remoto...Trabalhamos, também, muito com as consultas remotas [...]. (ACS2 – zona
urbana)

[...] Estamos trabalhando muito de forma remota, usando o WhatsApp... até as visitas
estão sendo on-line [...]. (ACS7 – zona urbana)
103

[...] Queria também enfatizar que hoje eu tenho uma intimidade muito maior com
minha comunidade, foi um dos ganhos que a pandemia me trouxe, esse trabalho com
o WhatsApp, esse grupo que a gente criou... Então, assim, apesar do sofrimento,
tivemos esse ganho também [...]. (ACS3 – zona urbana)

[...] Na verdade, os celulares foram a salvação da lavoura. A tecnologia nos ajudou


nesse período difícil que a gente está vivendo. Graças a Deus, o telefone ajudou muito,
a gente criou o grupo e partilhou informações, serviu muito, e ainda estamos assim
viu [...]. (ACS2 – zona rural)

É notório o uso dos meios de comunicação digital nesse período, tendo como
destaque nas falas das ACS o uso dos celulares, sobretudo, o aplicativo WhatsApp, o qual tem
sido uma importante ferramenta de disseminação de informações, acompanhamento e, até
mesmo, tem auxiliado na realização de consultas remotas. Destacamos, também, a criação de
grupos no WhatsApp, que permitiram mais aproximação das ACS próximas às
pessoas/comunidade e, ao mesmo tempo, maior repasse dos acontecimentos da área, de modo
a trabalhar as intervenções de forma mais rápida. Essa prática, certamente, ajuda a salvar muitas
vidas, como expressou uma das ACS.
Em Florianópolis, Santa Catarina, na busca de fortalecer o teleatendimento, antes
mesmo da pandemia da Covid-19, o processo de trabalho dos(as) ACS já vinha passando por
um processo de ressignificação, em que estes(as) já vinham trabalhando uma parte da carga
horária dentro da UBS, realizando o acompanhamento da comunidade por telefone,
respondendo mensagens de WhatsApp, ajudando no acesso, na coordenação do cuidado, no
planejamento e na organização das agendas. Mas, nesse período de pandemia, essa atividade se
intensificou, tendo em vista que não se podia ter o contato direto com os usuários nos territórios
(SILVEIRA; ZONTA, 2020).
Em algumas das falas, também evidenciamos que as visitas domiciliares, principal
atividade das ACS, passaram a ser de forma on-line. Esta ação encontra-se dentro das
orientações e recomendações dos documentos técnicos avaliados para adaptação do trabalho do
ACS frente à situação de pandemia, em que em um dos documentos, sugere-se como
possibilidade a realização de “visitas on-line”, intermediada pelos canais de comunicação,
como WhatsApp, e-mail, telefone e outros, a fim de monitorar e comunicar a população acerca
do cancelamento de consultas e orientar sobre a rotina de trabalho da UBS nesses novos tempos
(MACIEL et al., 2020; PERNAMBUCO, 2020).
Diante do enfrentamento das situações que a pandemia trouxe, o(a) ACS tem papel
importante como educador(a) em saúde, uma vez que possui a tarefa de contribuir com
reflexões, informações, orientações junto às iniciativas populares, sociais e do campo da saúde,
assim como de coletar, conhecer, sistematizar e traduzir as aflições e as dúvidas da população
104

(ANAPED, 2020). Para isso, o uso das tecnologias e mídias digitais, como grupos de WhatsApp,
apresentou-se como uma das possibilidades para condução dessa ação nesse período.

[...] Realizamos, também, práticas de educação em saúde por meio do celular nos
grupos e contatos individuais no WhatsApp [...]. (ACS4 – zona urbana)

[...] Não se pode negar que foi e que está sendo maravilhoso, extraordinário o uso das
tecnologias para a gente... e, assim, essa formação dos grupos no WhatsApp ajudou
muito, foi uma forma da gente interagir com a população que tinha medo de falar, de
perguntar, e começaram a participar mais, de buscar mais informações. O grupo tem
sido um espaço para troca de informações, retirada de dúvidas [...]. (ACS4 – zona
rural)

Fazer uso do ambiente virtual, por meio dos grupos no WhatsApp, para realização
de educação em saúde, permitiu romper a visão que tínhamos acerca das tradicionais ações
educativas em saúde, mostrando-nos a potencialidade das tecnologias quando bem utilizadas,
além disso facilitou a participação de muitas pessoas sem precisar de aglomeração. Ademais,
os grupos mostram-se potencialmente importantes, uma vez que têm sido espaços para troca de
informações, orientações e esclarecimentos de eventuais dúvidas a respeito de assuntos
relacionados à Covid-19, entre outros.
Outra atividade praticada pelos ACS na pandemia foi o telemonitoramento, como
podemos verificar:

[...] No começo, no auge da pandemia, a gente fazia o monitoramento dos casos


confirmados pelo WhatsApp... Na minha área, eu cheguei a ter mais de 60 pacientes,
usuários com Covid-19, e eu tinha que monitorar todos pelo WhatsApp e passar para
minha enfermeira como estava o quadro de cada pessoa [...]. (ACS5 – zona urbana)

Silveira et al. (2020) descrevem que o telemonitoramento é uma ferramenta


tecnológica que tem por objetivo promover o acompanhamento virtual de usuários
acompanhados por determinada unidade de saúde, através da identificação de que eles podem
permanecer monitorados nos respectivos domicílios. Destaca-se ainda que, no período de
pandemia, essa ferramenta tem sido amplamente aproveitada, já que, além de consentir boa
avaliação do estado de saúde dos pacientes a distância, tem ajudado na logística do fluxo de
trabalho e rotina das UBS, devido à triagem virtual, acarretando diminuição de busca
desnecessária das unidades de saúde, o que reflete no atendimento de melhor qualidade àqueles
que realmente precisam. Além disso, serve como forma de vínculo entre os profissionais de
saúde e usuários, os quais se sentem mais assistidos pelo cuidado oferecido e continuidade.
105

Reforçamos que, durante a pandemia, a utilização das TIC para realização de


orientações, monitoramento e encaminhamentos a distância dos pacientes foi aprovada pelo MS
e pelos conselhos representativos de classe, assim como a troca de informações entre os
profissionais sobre os casos de pacientes acompanhados (CONASEMS/CONASS, 2020).
A presença das TICs no processo de trabalho das ACS se faz bastante presente no
contexto atual. Todavia, alguns aspectos podem dificultar a implementação destas, sobretudo,
devido à escassez de suporte para esclarecimentos de dúvidas, assim como a de manuais
específicos para os(as) ACS, o que acaba ocasionando percepções negativas na
operacionalização dessas ferramentas (ABREU et al., 2020).
Além disso, urge investigação da cobertura de uso das tecnologias digitais pela
comunidade de atuação de cada ACS, já que, atualmente, o acesso a essas ferramentas ainda
ocorre de modo heterogêneo entre os diferentes grupos sociais, impedindo, deste modo, a
inclusão de grande parte da população, principalmente os mais pobres e menos letrados, na
sociedade digital, restringindo assim, a possibilidade de acompanhamento do(a) ACS com base
nessa metodologia (MENDONÇA et al., 2009).
No mais, a inclusão desses novos instrumentos de trabalho necessita de
investimentos estatais para capacitação, compra e manutenção dos aparelhos, aplicativos e da
internet utilizadas, bem como o reconhecimento das desigualdades sociais e de acessibilidade
relacionada à utilização das TIC para o processo de trabalho do(a) ACS. Portanto, é
imprescindível atentar-se para que a inclusão desses novos meios de trabalho melhore a
eficiência e a efetividade do trabalho do(a) ACS e favoreça a longitudinalidade e a
acessibilidade aos cuidados prestados a toda a população.

5.2.4 Entre as dificuldades e os desafios no processo de trabalho do(a) ACS em tempos da


Covid-19

Em um cenário de crescentes dificuldades e desafios acarretados pelas mudanças


nas políticas voltadas para a APS, assim como pelas consequências da pandemia da Covid-19,
é preciso conhecer e refletir sobre as questões que se apresentam frente ao processo de trabalho
do(a) ACS. Essa reflexão se apresenta como possibilidade de melhor compreender como essas
dificuldades/desafios se materializam na prática de trabalho dos(as) ACS dentro do arcabouço
da APS e, principalmente, dos territórios de atuação.
106

Destarte, esta categoria nos levará a conhecer e refletir justamente sobres as


principais dificuldades e os desafios que a pandemia da Covid-19 trouxe para o processo de
trabalho dos(as) ACS, sendo, portanto, dividida em duas subcategorias: 5.2.4.1 Dificuldades e
desafios enfrentados pelos(as) ACS frente à atuação no contexto pandêmico; 5.2.4.2 O medo e
a resistência a ele: mais um desafio enfrentado pelos ACS na pandemia.

5.2.4.1 Dificuldades e desafios enfrentados pelos(as) ACS frente à atuação no contexto


pandêmico

A partir do surgimento da pandemia da Covid-19, uma série de mudanças atravessa


os territórios da APS. Tendo em vista essa complexidade, Geraldo, Farias e Sousa (2021)
destacam que, junto a essas mudanças, surgem também várias dificuldades, tendo como
destaque a vulnerabilidade dos profissionais no enfrentamento à Covid-19, a carência de
informação e de comunicação, o desprovimento, em quantidade ou qualidade, dos EPIs para os
profissionais, a fragilidade no conhecimento sobre o uso correto dos EPIs, a ausência de
educação permanente e educação continuada, entre outras.
Costa et al. (2020) referenciam que essas dificuldades, também, fazem parte do dia
a dia no trabalho dos(as) ACS no período de pandemia, e que elas acabaram de certa forma
prejudicando a realização das ações desses(as) trabalhadores(as) dentro das comunidades, assim
como tornou inviável, em muitos momentos, a promoção e vigilância em saúde.
Diante do exposto, essa subcategoria evidencia as dificuldades e os desafios
enfrentados pelos(as) ACS para atuar no contexto da pandemia da Covid-19, tendo os(as)
mesmos(as) que se reinventar para conseguirem dar continuidade ao trabalho dentro dos
territórios de abrangência. Assim, de acordo com os discursos que vem a ser expostos,
observamos as principais dificuldades enfrentadas pelas ACS do presente estudo frente às ações
desenvolvidas nesse período pandêmico.

[...] A meu ver, falta de informação, algumas informações até desencontradas... falta
de capacitação e formação profissional, falta de companheirismo por parte de alguns
e falta de empatia [...]. (ACS9 – zona rural)

[...] Também teve a dificuldade da falta de EPIs, de materiais e insumos para se


trabalhar nos territórios, ausência de capacitação, falta de informação, entre outras
[...]. (ACS3 – zona rural)

[...] Falta de treinamento, de insumos, de EPIs. Eu usei muito tempo máscara de TNT,
porque até para comprar, não tinha para vender. Não tinha EPIs nem para os médicos
[...]. (ACS6 – zona rural)
107

[...] Falta de capacitação e formação, de EPIs, de informação, a gente só sabia mais


pelas notícias da TV, notícias do celular, em termo de capacitação, nós estamos
zeradas [...]. (ACS2 – zona rural)

[...] Sentimos a falta de capacitação e formação. Além disso, tivemos a falta dos EPIs
e de insumos, falta de informações concretas que a gente não tinha para dar às pessoas,
a ausência de apoio, de comunicação com a rede... As Fakes News prejudicaram muito
nosso trabalho [...]. (ACS2 – zona urbana)

[...] A nossa maior dificuldade foi essa falta de EPIs. Ainda teve a falta de
informações, formação e capacitação [...]. (ACS5 – zona urbana)

[...] A falta de condição de trabalho, tivemos que nos reinventar para garantir o
funcionamento da Atenção Básica. Foi uma grande dificuldade para nós agentes
comunitários de saúde atuar sem condições mínimas. No início, faltaram insumos,
EPIs, e também muitas informações incertas. Não tivemos capacitação e formação
para atuar nessa pandemia [...]. (ACS10 – zona urbana)

[...] As dificuldades foram muitas, como ausências e precarização dos EPIs, falta de
formação e capacitação sobre o novo coronavírus, falta de comunicação e insumos
[...]. (ACS8 – zona urbana)

[...] Nossas maiores dificuldades para atuar frente à pandemia da Covid-19 foi a falta
de formação e de capacitação, falta de insumos, ausência de EPIs, falta de parcerias e
de informações [...]. (ACS4 – zona urbana)

[...] A nossa maior dificuldade nesse período de pandemia é trabalhar sem as devidas
condições de trabalhos, principalmente em relação aos EPIs... Treinamento mesmo,
capacitação nós não tivemos... a gente foi aprendendo mesmo umas com as outras, em
pesquisa mesmo pela internet. Além de tudo isso, as falsas notícias dificultaram muito
nosso trabalho [...]. (ACS6 – zona urbana)

[...] A principal dificuldade enfrentada neste período de pandemia aqui na minha área
foi principalmente a falta de informação. E, como foi uma coisa muito rápida, muitas
pessoas na zona rural ainda não têm acesso à internet, nem a TV, então, assim, a
dificuldade com a informação foi grande. Dificuldades com transporte... Então, foi
muito difícil... falta de EPIs... falta de acompanhamento... falta de insumos... Na
verdade, sentimos falta de capacitação e formação, porque a gente ficou muito aéreo,
repassando coisas sem segurança, pois tudo era muito novo [...]. (ACS4 – zona rural)

A partir das falas, identificamos que as ACS têm enfrentado dificuldades no


processo de trabalho, apresentando-se como destaque a ausência de formação e capacitação,
falta de EPIs e insumos e carência de informações. Essas dificuldades prejudicaram o
desenvolvimento das ações das ACS, inviabilizando, também, em vários locais do município,
a vigilância em saúde.
Nogueira et al. (2020), em estudo, também identificaram que os(as) ACS têm
enfrentado no período pandêmico várias dificuldades, como a carência em qualidade e
quantidade de EPIs, distribuição desigual de EPIs para as unidades de saúde e entre os
trabalhadores da equipe, sobretudo para os ACS, que tiveram até que costurar as próprias
máscaras. Os(as) ACS também relataram dificuldades estruturais das unidades de saúde, com
ausência de ventilação e insumos para higienização das mãos, como água, sabão, álcool em gel,
108

entre outros. Ainda, apresentaram dificuldades em relação à ausência de protocolos definidos


para atuação, assim como inexistência de treinamento e capacitações.
Marinho (2021) pontua que os trabalhadores da APS na pandemia passaram a
enfrentar de forma mais complexa condições precárias de trabalho, jornadas de trabalho árduas,
escassez de treinamento ou treinamento insuficiente e equipamento de proteção individual
insuficiente. Também, evidenciamos o fato de os trabalhadores enfrentarem o risco de infecção
diariamente, devido à sobrecarga de trabalho, estresse, instabilidade das instalações e normas
de interação social que intervêm na adesão às práticas de biossegurança no âmbito de trabalho.
Ao analisarmos o exposto pelas ACS do presente estudo, verificamos que a
ausência de formação e capacitação relacionada à Covid-19 foi a dificuldade mais enfrentada.
Todavia, essa inexistência pode estar associada à percepção de insegurança e ao medo das ACS
para o desenvolvimento das ações. Deste modo, a ampliação das atividades de formação e
capacitação continuada destas trabalhadoras deve ser decisão estratégica para o fortalecimento
de funções, já que, entre os trabalhadores da saúde que tiveram algum tipo de capacitação
pertinente a Covid-19, a percepção de segurança para cumprimento das ações nos territórios foi
significativamente maior.
Reiteramos que a formação/capacitação dos(as) trabalhadores(as) da saúde no
período de pandemia é fundamental para reorganizar o fluxo de trabalho, assim como para
identificação e gerenciamento de casos e gestão do risco de infecção. Também, é necessário
capacitá-los(as) para o uso correto e a desparamentação dos EPIs, objetivando, desta forma,
evitar a contaminação (GALLASCH et al., 2020).
De acordo como Méllo et al. (2021), para que os(as) ACS venham a ter melhor
atuação frente à pandemia da Covid-19, é fundamental a presença das bases técnicas, científicas
e políticas tanto das Ciências Biológicas, da Saúde Coletiva, bem como das Ciências Sociais e
Humanas. Estas bases, por sua vez, possibilitam melhor conhecimento acerca do novo
coronavírus e da fisiopatologia da Covid-19, assim como aproveitamento da epidemiologia com
qualificação da vigilância à saúde, planejamento e gestão do trabalho comunitário, de forma
crítica e participativa. Todavia, isso somente é possível por meio da oferta de formação
politécnica.
Diante da dificuldade de ausência de formação/capacitação profissional no período
pandêmico, os(as) ACS deveriam ter acesso a constantes processos de educação permanente,
com a finalidade de melhor atender à área adscrita, assim como garantir a continuidade e
qualidade do cuidado prestado. Assim, destacamos a importância da Educação Permanente em
Saúde (EPS). Logo, Ceccim (2019, p. 71-72) cita que:
109

A educação permanente em saúde deveria ser entendida como aprendizagem-trabalho,


ou seja, formação que acontece no cotidiano dos trabalhadores e do trabalho, segundo
os problemas enfrentados na realidade e levando em consideração os conhecimentos
e as experiências distribuídos nas equipes em colaboração e cooperação.
Contrapunha-se aos treinamentos e às capacitações (treinamento e capacitação são
linguagem clássica dos programas centralizados e verticais), de forma que as
qualificações devessem ser orientadas pelas necessidades de saúde da população, do
próprio setor da saúde e do controle social, segundo duas indagações: o que é ou quais
são os problemas que afastam nossa prática da atenção integral à saúde e de qualidade?
Como mudar essa situação?

Nessa mesma perspectiva, Brasil (2018b) descreve que a EPS é entendida como
processos educacionais criados a partir das necessidades de aprendizagem dos trabalhadores
nos locais de atuação, os quais permitem provocar reflexão sobre os próprios processos, na
busca de mudanças das práticas profissionais, objetivando aperfeiçoá-las e garantir a qualidade
do cuidado prestado, considerando a potência do trabalho em equipe.
Dessa forma, Azevedo Neto et al. (2021) apontam que em contexto pandêmico, o
qual estamos vivenciando, é indispensável a continuidade do cuidado prestado às coletividades
através de agenda focada na EPS. Logo, é reinventando a prática que os(as) ACS, inseridos em
contexto de adversidade nos diferentes territórios, podem se instrumentalizar por meio da EPS,
para, assim, ressignificar o papel e prosseguir, garantindo a ampliação do acesso ao direito à
saúde a toda população. Além disso, os autores destacam que a EPS se mostra, sobretudo, no
período de pandemia, como importante ferramenta para garantir a segurança ocupacional
desses(as) trabalhadores(as).
Diante disso, as práticas de EPS passam a ser importante instrumento, tendo em
vista que objetiva a melhoria na atuação profissional, deixando-os mais preparados/capacitados,
ao mesmo tempo em que desenvolve o aumento de conhecimento, acarretando melhores
cuidados e ações de promoção, manutenção e restauração da saúde individual e coletiva dentro
dos territórios.
Além do mais, a formação/capacitação dos(as) ACS atuantes na linha de frente
torna-se essencial, para que possam atuar de forma mais segura, assim como tratar melhor as
demandas advindas da Covid-19. No entanto, a formação/capacitação deveria ser
responsabilidade das instituições da gestão, a qual tem por objetivo agenciar a atualização de
conceitos, disponibilização de recursos aos trabalhadores da saúde, sobretudo, os(as) ACS que
estão em contato direto com a comunidade, para que possam saber lidar com os diferentes
públicos e demandas.
110

Ao discorrermos sobre as medidas de proteção à segurança e saúde, reiteramos que


os(as) ACS realizam o trabalho em condições insalubres, expostos cotidianamente a condições
climáticas distintas (sol forte, chuva, vento, frio), ruas com superfícies irregulares, pessoas com
vários tipos de doenças, entre outros. Então, a utilização de EPIs torna-se indispensável para
proteção e prevenção de agravos à saúde, considerando a situação real em que o trabalho é
realizado (ALMEIDA et al., 2018).
Nesse sentido, de acordo com a Norma Regulamentadora nº 6 (NR6), os
empregadores têm por obrigação fornecer os EPIs, orientar e treinar os(as) trabalhadores(as)
sobre o uso adequado desses equipamentos, exigir a utilização destes pelos colaboradores,
assim como trocar qualquer EPI imediatamente, quando este for danificado ou extraviado. Em
compensação, compete ao empregado zelar pelos EPIs e informar qualquer dano, além de
utilizá-los de forma adequada, segundo determinação do empregador (BRASIL, 2001b).
Todavia, no período pandêmico, evidenciamos que as ACS do presente estudo têm
enfrentado problemas com ausência desses equipamentos. Oliveira et al. (2021) colocam que
esse problema também ocorreu em outros cenários e países, em que o rápido aumento pela
demanda dos EPIs levou os profissionais de saúde a um crescente risco de se infectar com o
coronavírus, devido à falta ou por não ter número suficiente para aquisição.
A escassez de EPIs é um problema que afetou o sistema de saúde em todo o mundo,
levando os gestores de vários países a disputarem a aquisição de EPIs, na tentativa de suprir a
grande demanda que a pandemia causou nos diferentes níveis de atenção à saúde. Assim, era
previsível que, em momentos de pandemia, a provisão de EPIs atravessaria momentos de
escassez e desabastecimento. Mas, essa situação tornou-se mais preocupante quando associada
aos danos que o déficit poderia trazer para os(as) profissionais atuantes na linha de frente contra
a Covid-19 (CARDOSO; SÓRIA; VERNAGLIA, 2021).
Soares et al. (2020) referenciam em estudo que, além dos casos de Covid-19, que
exigem a utilização de EPIs, por parte dos pacientes, contatos e profissionais de saúde, a
ausência de informação e o pânico levaram a população em geral a comprar e estocar os
produtos de forma descontrolada, colaborando para o desabastecimento ainda maior destes
insumos, o que comprometeu a proteção das pessoas e dos profissionais de saúde, facilitando a
transmissão do coronavírus no âmbito do cuidado em saúde.
No contexto pandêmico, é de responsabilidade das instituições de saúde, do nível
primário à alta complexidade, o treinamento dos(as) profissionais, sobretudo, acerca de técnicas
de paramentação e desparamentação, assim como a supervisão sobre a utilização dos EPIs, a
manutenção e a reposição dos EPIs, segundo indicação do fabricante. Também, é
111

imprescindível garantir a proteção dos(as) profissionais de saúde contra a Covid-19, visando


garantir que eles(as) não atuem como vetores de transmissão do coronavírus, além de evitar o
adoecimento deles(as) (CARDOSO; SÓRIA; VERNAGLIA, 2021).
Destacamos que, no início da pandemia, devido à maior escassez de insumos a nível
global, especialmente de máscaras cirúrgicas, a OMS recomendou o uso de máscara não
cirúrgicas para população, em que muitos passaram a usar máscaras de tecido compostas por
duas camadas, fabricadas com “spunbond”, um tipo de TNT que não tem a eficácia de filtração
para ambientes odonto-médico-hospitalares (CAMARGO et al., 2020).
Acerca do uso desse tipo de máscara, podemos observar na fala da ACS6 – zona
rural que ele fez uso por muito tempo no trabalho, no período de pandemia, de máscara de
TNT, por causa da falta, até mesmo, para comparar as máscaras apropriadas. Todavia, Camargo
et al. (2020) referenciam que esse tipo de máscara não é recomendado para uso dos
trabalhadores da saúde, sendo orientada o uso para não profissional, tendo por finalidade
proteger contra doenças respiratórias, entre elas, a Covid-19. Diante disso, podemos nos
questionar: até que ponto os(as) profissionais de saúde estavam e/ou estão protegidos nos
ambientes de trabalho? Quantos profissionais de saúde, sobretudo, os ACS se infectaram e/ou
perderam suas vidas para a Covid-19 por ausência dos EPIs?
Outra queixa observada nas falas de muitas ACS foi a dificuldade relacionada à
falta de insumos. Logo, segundo Broch (2017), as precárias condições de trabalho na atuação
do(a) ACS, como escassez de insumos básico, podem acarretar impactos tanto aos trabalhadores
como nos serviços prestados nos territórios, o que acaba interferindo na integralidade da
assistência e causando prejuízos no desempenho do atendimento às demandas. Seguindo esse
mesmo raciocínio, Brandão et al. (2021) apontam que, na ausência de insumos básicos, os(as)
ACS não têm a possibilidade de desempenhar o trabalho integrador que tão bem realizam, assim
como não há possibilidade de alcançar a resolutividade necessária pelo serviço prestado.
Portanto, diante do cenário de carência de EPIs e insumos, além do discurso de
governantes e empregadores pertinentes a um esforço para suprir a ausência destes materiais,
os(as) ACS precisam estar conscientes da importância e da necessidade de fazer a utilização
deles de forma racional e segura. Ao mesmo tempo, carecem ser conhecedores dos próprios
direitos de ter acesso a estes materiais, em quantidade e qualidade, para que, assim, possam dar
continuidade ao atendimento das demandas assistenciais, resguardando a própria segurança e
saúde, bem como da população.
112

No que se refere à carência de informações, também apontada pelas ACS do


presente estudo como uma das dificuldades enfrentadas no período da pandemia por Covid-19,
Lima et al. (2020a, p. 9) descreve que:

A falta de informações oficiais de qualidade favorece a proliferação de informações


falsas ou descontextualizadas e dificulta o entendimento do real cenário de contágio,
bem como diminui a capacidade da população em decidir sobre sua saúde. O
desencontro entre as informações oficiais e a realidade verificada impossibilita uma
participação ativa da população no enfrentamento à crise. Para que as políticas
públicas de enfrentamento tenham maior aderência, é necessário primar pela
transparência dos processos de gestão e pela divulgação de dados, documentos e
análises que serviram de base para tal decisão.

Nesse sentido, informações seguras, concisas e acessíveis acerca da pandemia são


eficazes para diminuir o risco de transmissão da Covid-19, assim como para proteger a
população de informações desnecessárias e perigosas. No período de crise, informações
apropriadas são decisivas para amortizar a probabilidade de condenar ou discriminar,
sobretudo, as pessoas que fazem parte dos grupos vulneráveis, abarcando aqueles infectados
pelo novo coronavírus. Ainda, informações seguras permitem que toda a população entenda e
avalie se as respostas dos governos são adequadas para proteger pessoas, grupos ou
comunidades que se encontram em lugares/posições mais vulneráveis (LIMA et al., 2020a).
A pandemia da Covid-19 tem sido acompanhada por muita desinformação e enorme
infodemia. Para Zaracostas (2020), a infodemia consiste em um grande aumento na quantidade
de informações conexas a um assunto peculiar, que podem se multiplicar de forma exponencial,
em pouco tempo, devido a um acontecimento específico, como a pandemia atual. Destarte,
aparecem rumores e desinformação, assim como a manipulação de informações com
finalidades duvidosas. O autor, ainda, aponta que, bem na era da informação, esse fato é
ampliado pelas redes sociais e se prolifera mais velozmente, como um vírus.
Haraki (2021) aponta que essa infodemia representa sério problema para a saúde
pública, pois os profissionais também se tornaram vítimas dela. Ainda, esse problema pode
gerar pânico na população, fazendo com que muitas pessoas procurem comprar e estocar
medicamentos e suprimentos que podem fazer falta onde verdadeiramente são necessários.
A desinformação desse refere a uma informação falsa ou imprecisa, cuja finalidade
é enganar quem a ler, ver ou esculta. Frente à Covid-19, a desinformação pode afetar fortemente
todos os aspectos da vida, especialmente, a saúde mental das pessoas, pois a procura por
atualizações sobre a Covid-19 na internet cresceu de modo descontrolado. Em uma pandemia
como a que estamos vivendo, a desinformação pode acabar prejudicando a saúde humana, já
113

que pode circular e ser absorvida rapidamente pelas pessoas, podendo levá-las a mudanças de
comportamento e, provavelmente, a correr maiores riscos. Isso torna a pandemia da Covid-19
mais grave, afetando grande parcela da população mundial, o que pode comprometer o alcance
e a sustentabilidade do sistema global de saúde (OPAS, 2020a).
Além da falta de informações, no período de pandemia, outro problema que
prejudicou muito os processos de trabalho dos(as) ACS, foram as fakes news. Segundo Barcelos
et al. (2021), um possível conceito atribuído às fakes news é o de histórias falsas que se
assemelham às notícias, espalhadas pela internet ou em outros meios de comunicação, na
maioria das vezes, criadas para influenciar visões políticas ou como piada. Os autores destacam
ainda que as fakes news espalhadas pelas redes digitais e sociais, sobretudo, pelo WhatsApp e
Facebook, são preocupantes para saúde pública, uma vez que podem prejudicar a eficácia de
programas, campanhas e iniciativas que visam à saúde e ao bem-estar da população. Um
exemplo de fake news nesse período foram campanhas antivacinas.
Em um cenário pandêmico como o da Covid-19, os efeitos das fekes news são ainda
mais devastadores, pois pesquisas mostram que 110 milhões de brasileiros (mais de 50% da
população do país) acreditam em notícias falsas acerca da Covid-19, isso acaba influenciando
o comportamento das pessoas, prejudicando a adesão aos cuidados comprovados pela ciência.
Na área de epidemiologia e estatística, as fakes news se caracterizam por informações falsas
sobre o número de casos, de óbitos e acerca das mortes por outros motivos, as quais são contadas
como sendo de Covid-19. Ainda, existem afirmações que comparam a Covid-19 a uma
gripezinha que dispensa o isolamento social e outras medidas recomendadas pela OMS.
Também, essa categoria engloba outras afirmações que atravessam o negacionismo e o que veio
a ser chamado de necropolítica no Brasil (BARCELOS et al., 2021).
Assim, urge compreender que informações seguras, precisas e de fácil acesso
devem ser um direito central para preservar vidas no período pandêmico. Além do mais,
esforços para criação e circulação de informações de interesse público são de grande
importância, e os(as) ACS, por morarem nas áreas onde atuam, têm como ferramentas de
trabalho a educação em saúde, como citadas, sendo mais fácil disseminar informações corretas
para a população e combater as famosas fekes news.
Uma das ACS também apontou as dificuldades que enfrentaram por residir e atuar
na zona rural ACS4 – zona rural, como a falta de acesso à internet, assim como dificuldades
com transportes. Corrêa et al. (2020) também evidenciaram em estudo que, dentre as possíveis
dificuldades elencadas pelos(as) ACS para o combate a Covid-19 no contexto amazônico, estão
a falta de internet e carência de transportes. Diante disso, podemos apontar que a logística para
114

as equipes de saúde atuarem nas áreas da zona rural, como a falta de transporte e o tempo de
deslocamento das famílias irem até a unidades de saúde, ou dos profissionais chegarem às casas
dos pacientes, tornam-se fatores críticos para o pleno acompanhamento e oferta de cuidados. A
falta de internet nessas áreas também dificulta o momento de repasse de informações, assim
como de realização das práticas da telemedicina, sobretudo, as teleconsultas.
O curso da pandemia também trouxe outros desafios aos modos usuais do processo
de trabalho das ACS do presente estudo, como ter que trabalhar mesmo fazendo parte do grupo
de risco (apresentando alguma comorbidade), ver as pessoas de suas comunidades morrerem,
devido à negligência por parte do presidente e outras autoridades, falta de comunicação/diálogo
com os gestores da saúde do município, ausência de gestão e gerenciamento em diversos
aspectos por parte das autoridades, entre outros.

[...] Uma das dificuldades que eu enfrentei foi ter que trabalhar tendo comorbidade.
Tem dias que minha glicemia está em 400, então, estou no grupo de risco, e nem por
isso, eu pude parar. Entre os desafios, encontram-se as perdas das pessoas dentro da
comunidade [...]. (ACS3 – zona urbana)

[...] Também, a falta de diálogo entre a secretaria e a gente [...]. (ACS5 – zona rural)

[...] Faltou um pouco de gerenciamento em vários aspectos por parte das autoridades
[...]. (ACS4 – zona urbana)

[...] Falta de comunicação por parte da Secretaria de Saúde [...]. (ACS7 – zona rural)

[...] Falta de elo por parte da Secretaria de Saúde [...]. (ACS4 – zona rural)

Alguns dos desafios citados nas falas também foram encontrados na pesquisa
realizada por Nogueira et al. (2020), cujos dados revelam que os(as) ACS idosos, os que tinham
comorbidades e os pertencentes ao grupo de maior risco para Covid-19 tiveram dificuldade de
garantir o direito ao afastamento do serviço. Em alguns casos, no início da pandemia, esses(as)
trabalhadores(as) também tiveram que comprar, ou confeccionar, máscaras para garantir a
proteção no trabalho e continuarem atuando. Os(as) ACS da pesquisa supracitada também
relataram a falta de planejamento, de apoio da gestão, assim como de coordenação nacional do
enfrentamento à pandemia no SUS.
Em relação os(as) ACS que tem alguma comorbidade ou que apresentam maiores
condições de risco para Covid-19, recomenda-se que estes(as) tenham o direito de permanecer
atuando dentro de suas residências, através do teletrabalho, a fim de evitar a contaminação e,
consequentemente, o agravo do caso (FIOCRUZ, 2020). Essa recomendação não foi seguida
entre as ACS do município estudado, como observado na fala da ACS3 – zona urbana.
115

No que se refere à falta de comunicação/diálogo e ao distanciamento com os


gestores (representados pela secretaria de saúde), segundo algumas das falas, estes podem ter
impactado diretamente nos processos de trabalho das profissionais ACS, sobretudo, diante da
necessidade de saber das informações corretas, para, assim, orientarem os usuários que
procuraram por orientações diversas. Ainda, no período de pandemia, a comunicação entre os
trabalhadores da saúde se torna essencial, visto que, através dela, as ações a serem
desenvolvidas fluirão de forma adequada. Destacamos, também, que, com a pandemia, vários
problemas foram surgindo, e a comunicação tem sido uma das ferramentas fundamentais para
solucionar esses problemas.
Também merece atenção quando uma das ACS mencionou o negacionismo do
Presidente da República, ao menosprezar a pandemia.

[...] Outra dificuldade grande que me marca muito, é ter um presidente como
Bolsonaro que menosprezou uma pandemia, fazendo com que a gente perca quase 600
mil pessoas, e dessas 600 mil pessoas, muitas delas estão dentro de nossas
comunidades. Se a vacina tivesse sido comprada a tempo, a gente não teria perdido
nossos povos, nossos parentes, pois muitos teriam tomado a vacina e eles não teriam
morrido. Então, é um grande desafio morar em um país em que o presidente é uma
pessoa dessa [...]. (ACS3 – zona urbana)

Logo, segundo a Lancet (2020), um dos maiores desafios enfrentados no Brasil,


desde o início da pandemia da Covid-19, é a postura do presidente Jair Bolsonaro, diante das
posições negacionistas, distorcendo fatos na mídia, tentando confundir de modo irresponsável
a população, além de criar obstáculos para as iniciativas de governadores e prefeitos. O
presidente foi questionado em uma entrevista sobre o rápido aumento do número de casos de
Coid-19 no país, e a resposta dele foi: ‘E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?’, demonstrando
postura de irresponsabilidade e desrespeito sem precedentes, levando todos a retrataram o
episódio como uma séria ameaça à saúde da humanidade (LANCET, 2020).
Quanto ao discurso negacionista, a BBC NEWS descreve que o presidente do
Brasil, juntamente com outros quatro líderes mundiais, têm ignorado a seriedade e a gravidade
da pandemia e, diante disso, receberam o apelido de ‘Aliança do Avestruz’, termo criado por
Oliver Stuenkel, que compara o comportamento desses líderes com a ave que esconde a cabeça
no solo, quando estão em situação de perigo. O presidente Jair Bolsonaro foi denunciado no
Tribunal Internacional de Haia, por crime contra a humanidade, mas, mesmo assim, continuou
tecendo ataques injustificáveis às recomendações postas pela OMS (BBC NEWS, 2020;
VENTURA, 2020).
116

Segundo analistas, o cenário brasileiro a nível federal, para o enfrentamento à


pandemia da Covid-19, foi marcado por omissão de liderança tanto por parte do MS, quanto do
presidente e, consequentemente, de coordenação do Sistema frente à atual crise (CASTRO,
2020; FERIGATO et al., 2020). Para Castro (2020), devido à magnitude e capilaridade do SUS,
esperava-se melhor atuação do Brasil adiante das ações contra a Covid-19. Todavia, a falta de
alinhamento/planejamento, seja para proteger os(as) profissionais que atuam na linha de frente,
seja para o planejamento das respostas descentralizadas, acarretou “desastre”, revelado,
sobretudo, no alto índice de profissionais contaminados(as) e vítimas da Covid-19, como o caso
dos(as) ACS.
Outro desafio enfrentado na pandemia pelos(as) ACS foi a falha no gerenciamento,
sobretudo, das verbas para aquisição de EPIS, fazendo com que esses(as) trabalhadores(as)
tenham que comprar os próprios equipamentos, ou seja, pagar para trabalhar.

[...] Então, assim, tem tido uma falha no gerenciamento das verbas, porque as gestões
recebem e não estão colocando as coisas no lugar. Tipo, o dinheiro vem para comprar
os nossos EPIs, eles gastam com outras coisas. Nós, além de trabalhar colocando
nossas vidas em risco, nós ainda estamos gastando do nosso bolso com a compra de
máscaras, de álcool em gel, com luvas... Faltou gestão e gerenciamento em muitos
aspectos nesse momento... Nós somos um trabalhador que pagamos para trabalhar,
porque nosso dinheiro vem do Ministério da Saúde para dentro do município e nós
não temos nada. Nós não temos farda, nós não temos nenhum chapéu para colocar na
cabeça, nós não temos um sapato para colocar nos pés para ir trabalhar, nós não temos
uma máscara para colocar na cara para se proteger nem proteger nossa comunidade
[...]. (ACS1 – zona rural)

Essa falha no gerenciamento das verbas vai de encontro aos efeitos do


desfinanciamento do SUS, e que se aprofundou pelo (des)governo Bolsonaro-Guedes, antes
mesmo da pandemia chegar, através do desabastecimento de insumos e medicamentos
essenciais, precariedade ou ausência na contratação de recursos humanos na APS e em grande
sobrecarga de trabalho para os diversos trabalhadores da saúde, assim como na difícil situação
financeira, precarização e sucateamento do SUS. Além disso, a política econômica do
(des)governo Bolsonaro-Guedes afetou todos os determinantes sociais da saúde, acarretando
piora de indicadores, como aumento da mortalidade infantil e ressurgimento de outras doenças,
como dengue, febre amarela e sarampo (GIOVANELLA et al., 2020).
Nessa mesma perspectiva, Gomes et al. (2021) apontam que, diante desse cenário
pandêmico, observamos maior ausência de referências claras sobre o fortalecimento ou
investimento de recursos financeiro do SUS, pois, mesmo o Governo liberando cerca de R$
44,2 bilhões para a saúde no início da pandemia, somente 28,3% desse montante tinha sido
usado até o final de julho. Assim, podemos questionar sobre o porquê, mesmo com tantas
117

evidências mostrando as necessidades de recursos financeiros, sobretudo, para aquisição de


insumos e EPIs, os recursos não estão sendo utilizados.
Meneses (2020) destaca que, frente à pandemia, tem sido um desafio enorme
conseguir gerenciar o orçamento de compras de EPIs, pois, de forma lamentável, esse quesito
tem sofrido com a ausência de atitudes humanitárias, ética e de compromisso com a vida, por
parte de muitas empresas fornecedoras desses equipamentos, em que têm inviabilizado a
conclusão das compras, apontando problemas de logísticas, reajuste nos preços dos produtos
ou descontinuidades de contratos.
Ferla et al. (2020, p. 2) também descrevem que “as respostas governamentais à
pandemia encontram uma desarticulação muito relevante, não apenas organizativa, mas de
orientação e formulação de enunciados para sua contextualização”. Os autores destacam que
toda essa crise civilizatória que a pandemia trouxe, não se traduz exclusivamente no descuido
governamental com as vidas, ou seja, é um desleixo seletivo envolvido no gozo de produzir o
sofrimento e a morte, mas que trouxe destruição de políticas públicas e instituições públicas.
A falta de gerenciamento em diversos pontos também se destaca como um dos
desafios apontados pelas ACS. Todavia, a vigilância da pandemia da Covid-19 ordena a criação
de planos de gerenciamento de risco em todos os níveis de atenção (nacional, estadual,
municipal e local), com a finalidade de fortalecer a atuação nos territórios, oferecer proteção
adequada dos profissionais, acompanhar as mudanças organizacionais compatíveis com a
realidade local, identificar as necessidades de apoio logístico e operacional, compreendendo
insumos, transporte e EPIs. Esse gerenciamento, também, deve buscar meios para formação e
educação permanente dos profissionais das equipes de saúde (MEDINA et al., 2020).
Destaca-se que a construção social da APS tem foco no gerenciamento do processo
de trabalho, que ocorre pela tutoria, para que, assim, seja possível estabelecer um equilíbrio
entre a demanda e a oferta de serviços, em que se faz o uso do Modelo de Atenção às Condições
Crônicas, adaptado ao SUS, por Mendes (2019), para o enfrentamento dos desafios.
Ao expor as dificuldades e os desafios enfrentados pelos(as) ACS frente à pandemia
provocada pela Covid-19, é possível compreender quais pontos devem ser melhorados nesse
momento atípico, para que o processo de trabalho seja considerado justo e apropriado. Assim,
é preciso buscar melhorar a organização e o planejamento das atividades a serem desenvolvidas,
otimizar o suporte financeiro, garantir a capacitação e formação continuada, bem como a
quantidade ideal de profissionais nas equipes e disponibilizar insumos e EPIs para todos os
trabalhadores, entre outras questões que extrapolam a discussão apresentada nesta subcategoria.
118

5.2.4.2 O medo e a resistência a ele: mais um desafio enfrentado pelos ACS na pandemia

O cenário de emergência atual trouxe à tona uma série de desafios, dentro os quais,
podemos incluir o medo dos riscos aos quais os profissionais da saúde estão expostos,
sobretudo, àqueles que atuam na linha de frente.
O início de uma pandemia por uma nova doença ou vírus demonstra as limitações
referentes à compreensão acerca dos mecanismos de transmissão, características clínicas da
doença, assim como dos fatores de risco para contaminação, causando, assim, medo,
inseguranças, angústias e incertezas entre os profissionais que irão prestar os cuidados diante
de algo que ainda é pouco conhecido (RIBEIRO et al., 2020a).
No caso da pandemia da Covid-19, segundo Moreira, Sousa e Nóbrega (2020), essa
apreensão deixa os profissionais da saúde em estado de alerta constante, podendo ocasionar
abalo emocional, em razão do estresse e medo em prestar cuidados em pacientes suspeitos ou
confirmados de Covid-19. Os autores destacam que essa sensação de medo ocorre pelo fato de
os profissionais não terem conhecimentos concretos sobre a doença, bem como pelo receio de
não estarem atuando com técnicas de biossegurança corretas ou pela condição de atividade
laboral diferente do que está acostumado. Atrelado a isso, existe o medo que os profissionais
têm de se contaminar e transportar o vírus para a casa e contaminar familiares.
Assim, podemos evidenciar nesta subcategoria que um dos maiores desafios das
ACS para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 tem sido o medo.

[...] O meu maior desafio foi trabalhar com o medo de ser contaminada e contaminar
minha família. A primeira morte da nossa cidade foi de uma paciente da minha área,
e isso me deixou com muito medo [...]. (ACS9 – zona urbana)

[...] E nosso maior desafio foi trabalhar com medo de se contaminar e acontecer algo
pior, assim como o medo de infectar nossa família, amigos e a própria comunidade
[...]. (ACS4 – zona urbana)

[...] Entre as dificuldades também tem o medo, a angústia... mas, mesmo assim, a
gente não deixou de trabalhar, de levar assistência às nossas comunidades [...]. (ACS1
– zona urbana)

[...] Primeiro que tudo veio o medo, por ser algo novo para todo mundo [...]. (ACS8 –
zona urbana)

[...] O medo, que ainda hoje eu tenho apesar da pandemia está controlada [...]. (ACS5
– zona urbana)

[...] Além disso, o medo, e, ainda, o enfrentamos todos os dias [...]. (ACS9 – zona
rural)

[...] O medo das pessoas e o nosso medo de se infectar e levar para nossas famílias
[...]. (ACS8 – zona rural)
119

[...] A gente sabia muito pouco da doença, e veio o medo de levar para nossa família,
de se contaminar, e de levar para a comunidade [...]. (ACS6 – zona rural)

[...] Pois, a gente tinha medo [...]. (ACS3 – zona urbana)

[...] Primeiro, quando surgiu a pandemia, veio o medo. Tudo muito novo, aí, a gente
teve medo [...]. (ACS5 – zona rural)

Diante das falas, observamos que o medo se faz presente em todas as ACS. A
maioria das ACS destacaram o receio pelo contágio da doença e a preocupação em transmitir
para outras pessoas, sobretudo, os familiares. Podemos verificar também nas falas que mesmo
com medo, as ACS continuaram trabalhando, mostrando resistência a esse sentimento.
Em pesquisa realizado por Lotta et al. (2021), ao analisar a pergunta relacionada ao
sentimento de medo que os profissionais da saúde têm em relação à Covid-19, os dados
revelaram maior percentual entre os ACS/ACE, com 87,7% de profissionais reportando esse
sentimento (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Medo do Coronavírus por Profissões (%)

Fonte: LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil. Nota técnica
– 5ª fase. Setembro 2021.

De fato, a pandemia causada pela Covid-19 tem afetado negativamente a saúde


mental dos profissionais de saúde, principalmente os que trabalham na linha de frente, como é
o caso dos ACS. Desde o início da pandemia, os ACS, por atuarem dentro das comunidades,
120

estarem mais próximos da população e poderem observar mais de perto as reais situações e as
várias realidades apresentadas pelos povos, têm enfrentado vários sentimentos e emoções, como
insegurança, angústia, tristeza, ansiedade e medo, sendo o último o mais ocorrido.
O medo também se fez presente na pesquisa realizada por Fernadez e Lotta (2020),
que tinha por objetivo analisar as respostas dos ACS durante a pandemia de COVID-19, com
foco nos sentimentos pessoais, acesso a preparos e equipamentos e processo de trabalho, em
que que 91,3% dos ACS têm medo do trabalho durante essa crise de saúde. Na pesquisa de
Fernandez, Lotta e Corrêa (2021), os dados revelam que dentre os desafios enfrentando no
trabalho dos ACS frente à Covid-19, encontram-se a insegurança, o medo de se contaminar e
contaminar usuários, amigos e familiares e a necessidade de conciliar sentimentos e emoções
ora positivas ora negativas, exigindo, assim, dos ACS maior inteligência e controle emocional.
Ao corroborar esses achados, pesquisas mostram que o sentimento de medo durante
o período de pandemia tem se tornado constante na vida dos profissionais de saúde, já que, além
de enfrentar os riscos de contaminação, passam a encarar problemas como despreparo,
insegurança, medo de trabalhar com algo novo, de se contaminar e infectar outras pessoas,
medo da morte de si e de pessoas próximas e enfrentamento de medidas de isolamento social,
a qual pode facilitar o aparecimento de medo, ansiedade, tristeza, angústia, desesperança,
incerteza, estresse pós-traumático, sintomas depressivos e comportamento suicida (TEIXEIRA
et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2021; SOUADKA et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2020;
MORAES FILHO et al., 2021; DANTAS, 2021).
Na pesquisa de Lotta et al. (2021), também podemos evidenciar que houve
impactos que afetaram e ainda afetam os sentimentos e a saúde mental dos profissionais de
saúde em decorrência da pandemia. Logo, podemos observar que a maioria dos(as)
profissionais de saúde de todas as categorias tiveram impacto na saúde mental (Gráfico 5),
sobretudo, os ACS, assim como os dados revelam que a maioria dos profissionais de todas as
categorias não tiveram apoio para cuidar da saúde mental (Gráfico 6), com especial atenção ao
caso dos ACS. Os autores apontam que o impacto na saúde mental tem relação com
estresse/ansiedade, medo, cansaço e tristeza.
121

Gráfico 5 - Impacto na saúde mental por profissão (%)

Fonte: LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil. Nota técnica
– 5ª fase. Setembro 2021.

Gráfico 6 - Apoio para cuidar da saúde mental por profissão (%)

Fonte: LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil. Nota técnica
– 5ª fase. Setembro 2021.
122

Diante dos achados, percebemos que mesmo com o medo e outros problemas de
saúde mental, as ACS continuaram exercendo o papel de cuidadora junto aos seus territórios e
às comunidades. Todavia, fica aqui uma inquietação: quem cuida dos(as) ACS?
É esperado que os ACS, frequentemente, vivenciem um misto de sentimentos e
sensações que os deixam, por muitas vezes, sem saber o caminho a seguir. Deste modo, é
imperativo pensar na prevenção dos impactos negativos à saúde mental desses atores, adotando,
dentro das possibilidades individual e coletiva de cada um, estratégias para cuidado e suporte
emocional nesse contexto, permeadas pelo fortalecimento dos vínculos e da confiança na
realização de práticas saudáveis (PERNAMBUCO, 2020).
Assim, recomendamos que esses trabalhadores busquem por suporte
emocional/psicológico e cuidados integrativos, como as Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS) (Meditação guiada, automassagem, uso de plantas e chás,
aromaterapia e exercícios de relaxamento). Além disso, a troca da experiência e das estratégias
tem a capacidade de apoio e fortalecimento da atuação diante dessa nova realidade (CABRAL
et al., 2020; PERNAMBUCO, 2020).
Ainda, para que as ACS possam realizar o trabalho diante do medo imposto pela
pandemia da Covid-19, é indispensável atenção das autoridades, no que diz respeito a oferecer
condições de trabalho, remuneração, segurança e, acima de tudo, cuidados à saúde mental, por
meio de acompanhamento e terapias psicológicas. Também, é muito importante a rede de apoio
da família, bem como social e espiritual.
123

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Claramente, a pandemia provocada pela Covid-19 tem exigido reorganização dos


sistemas de saúde e reestruturação dos processos de trabalho e cuidado, porém, essas não podem
implicar ruptura de outros cuidados prevalentes dentro dos diversos territórios habitados por
diferentes povos, sobretudo, em situações de fragilidades e com vulnerabilidades existentes na
estrutura social do Brasil e que se manifestam através da heterogeneidade do perfil
epidemiológico da população, nas diferentes regiões do país.
Diante desse grande evento, que ainda se encontra em meio a um processo de
(re)adaptações, com múltiplos impactos na vida e saúde do povo brasileiro, espera-se, no
mínimo, a conscientização e a mobilização social em defesa do SUS e maior preparação,
especialmente no âmbito da APS, para que, neste caso, o trabalho em equipe e os processos
assistenciais possam ser reajustados rapidamente, sem comprometer o curso de ação que
vinham sendo desenvolvido para intervir nos determinantes do processo de saúde-doença e
sobre os potenciais riscos que as pessoas/famílias adscritas de determinado território estão
sujeitos.
Destacar o trabalho da APS e o potencial desta no contexto da pandemia da Covid-
19, propicia importante objeto de reflexão. Alguns pesquisadores já se dedicaram a isso em
trabalhos atuais. Desta forma, para não repetir os argumentos e as problematizações levantadas,
o presente trabalho visou lançar atenção especial ao trabalho do(a) ACS, que se configura como
um dos atores da famosa linha de frente, que desempenha papel essencial e indispensável dentro
dos territórios de cuidados no período de crise sanitária.
Logo, refletir acerca das práticas dos(as) ACS, no momento pandêmico, significa
considerar tanto a organização da APS quanto o lugar que lhe é atribuído no SUS. Nas últimas
décadas, observamos reorientação de seu desenho, caracterizado pelo aparecimento urgente de
modelos de saúde racionalizados que ressaltam aspectos de produtividade, resolutividade e
desenvolvimento, orientado por resultados de novas práticas de gestão pública, por meio do
estabelecimento de metas e indicadores pouco duradouros às reais necessidades de saúde da
população.
Diante da pandemia da Covid-19, compreendemos, a partir da percepção das ACS
do município estudado, que o trabalho destas teve que passar por ressignificação, exigindo
mudanças no saber-fazer, buscando novos modos de atuar e se presentificar nos territórios, uma
vez que tiveram que se fazer presentes de outras formas no início da pandemia, mesmo quando
o distanciamento físico se fez necessário, na busca pela continuidade dos cuidados e segurança
124

da população e ao mesmo tempo de si, assim como para não perder de vista a articulação com
o território e o vínculo.
Na percepção das ACS, também, podemos verificar que no período pandêmico, o
papel destas entrou em destaque entre os trabalhadores que integram o SUS, devido à
“elocidação” do trabalho, pois, além de se reconhecerem como principal elo entre a população
e o sistema único de saúde, tem o trabalho elucidado pela população enquanto membro da
equipe, por meio do reconhecimento e da valorização. Contudo, essa elucidação somente
aconteceu devido à Covid-19, mas sempre estiveram exercendo o trabalho em tantas outras
ocasiões.
As emergências de saúde pública exigem resposta rápida, portanto, a atuação
dos(as) ACS torna-se fundamental dentro dos territórios, sobretudo, por conhecerem mais de
perto as necessidades e os problemas enfrentados pelas populações. Diante disso,
evidenciamos, também, a partir da percepção de algumas ACS que o trabalho, no período da
Covid-19, tem sido essencial e indispensável, mesmo estando no meio de um (des)governo e
de uma política como a nova PNAB que apontam a formação de equipes sem a presença dos(as)
ACS, bem como diante dos novos modelos de financiamento das equipes da ESF, como o
Previne Brasil. Ainda, destacam que as práticas poderiam ter sido melhores, se tivessem tido
alinhamento e melhor organização junto às ações propostas pela saúde desde o início da
pandemia. Ressaltamos, ainda, que o governo federal somente publicou recomendação de como
os(as) ACS deveriam atuar na pandemia da Covid-19 um mês após o primeiro caso ser
confirmado no país, e que foram reconhecidos(as) como trabalhadores(as) essenciais cinco
meses depois do primeiro caso constatado.
Na linha de frente, as ACS tiveram uma série de ações desenvolvidas dentro dos
territórios, tendo como destaque a educação em saúde, principal ferramenta de trabalho,
considerada essencial para divulgação de informações seguras, visando prevenção e promoção
da saúde. Atividades dentro das UBS, visitas peridomiciliares, busca ativa e monitoramento dos
casos suspeitos e confirmados de Covid-19, também, se encontram dentro do trabalho
realizados pelas ACS. Logo, essas ações fornecem ferramentas eficazes para o enfrentamento
à pandemia da Covid-19, realçando o reconhecimento como ator essencial na teia de cuidados
que se tecem dentro do arcabouço da APS.
As ACS também têm sido protagonistas nas ações de vacinação contra a Covid-19,
através do levantamento, cadastramento e agendamento da população, assim como nas
atividades relacionada às ações solidárias, por meio da formação de redes, em que a participação
social e popular têm sido fundamentais para superação dos obstáculos trazidos pela pandemia.
125

Entre as ações sociais, destacamos arrecadação, organização e distribuição de cestas básicas,


máscaras e álcool em gel, confecção e distribuição de máscaras de tecido, carro pipa para
distribuição de água e alcance de populações vulneráveis (residentes no lixão) para garantir que
estas tenham acesso aos serviços de saúde.
Ao analisarmos os resultados, podemos ainda observar que as ACS tiveram que se
reinventar, vencer desafios, dificuldades e buscar novos meios/ferramentas de trabalho, a fim
de dar continuidade ao trabalho. Todavia, ao se reinventarem, as ACS passam a utilizar no
trabalho as tecnologias do cuidado em saúde, classificadas como tecnologias leve, leve-dura e
dura. Salientamos que o processo de trabalho dessas trabalhadoras também se configura como
“trabalho vivo em ato”, pois o trabalho vivo se trata do próprio trabalho em ato, ou seja, trabalho
realizado no exato momento de produção, criação, das ações desenvolvidas. Diante do novo, as
ACS ainda tiveram a introdução das tecnologias digitais de informação e comunicação no
processo de trabalho, apresentado como destaque o uso da comunicação através do aplicativo
WhatsApp, o qual tem sido importante ferramenta de disseminação de informações,
telemonitoramento e, até mesmo, auxiliado na realização de consultas remotas. Enfatizamos,
também, que muitas visitas domiciliares foram realizadas por meio dos celulares, assim como
a criação de grupos para realização de educação em saúde.
Identificamos que as ACS enfrentaram dificuldades, cuja ausência de formação e
capacitação relacionada à Covid-19 apresentou-se como destaque. A falta de EPIs e insumos e
a carência de informações também estão entre as dificuldades. Essas dificuldades prejudicaram
o desenvolvimento das ações das ACS, inviabilizando em muitos territórios do município a
vigilância em saúde. O curso da pandemia trouxe ainda alguns desafios para o trabalho das
ACS, como ter que realizar atividades, mesmo fazendo parte do grupo de risco, observar as
pessoas morrerem devido à negligência por parte do presidente e outras autoridades, ausência
de comunicação/diálogo com os gestores da saúde do município, falta de gestão e
gerenciamento, em diversos aspectos por parte das autoridades. Ainda, o medo foi um desafio
enfrentado pelos ACS na pandemia, em que a maioria destacou o receio pelo contágio da Covid-
19 e a preocupação em transmitir para outras pessoas, sobretudo, os familiares.
Dessa forma, concluímos que o(a) ACS torna-se a “alma” da APS, sendo, portanto,
essencial e indispensável, pois é através dele(a) que os outros profissionais que integram a
equipe de saúde passam a conhecer melhor os usuários e o território de trabalho, podendo,
assim, traçar estratégias para melhorar o modelo assistencial de saúde, sobretudo, em períodos
como esse que estamos vivenciando, em que os cuidados com a saúde não podem parar. Ainda,
126

destacamos que, frente às dificuldades e aos desafios, diante do novo, do desconhecido e do


medo, as ACS se reinventaram e continuaram atuando.
Prontamente, esperamos com este estudo contribuir para geração de novos
conhecimentos, os quais propiciem o desenvolvimento de práticas atuais, reflexivas e possíveis
de colaborar com o processo de trabalho dos(as) ACS, assim como no reconhecimento e na
valorização destes(as), já que não foram reconhecidos(as) como trabalhadores(as) da linha de
frente no início da pandemia, não tiveram acesso aos EPIs e insumos essenciais, bem como
estão enfrentando uma política, um (des)governo e os novos modelos de financiamento da APS,
que apontam a formação de equipes sem a presença destes, o que acarretaria prejuízos para os
serviços da APS/SUS.
Ao considerar os resultados expostos, seguem algumas recomendações
direcionadas ao processo de reorganização do trabalho dos(as) ACS em situações de
emergência sanitária, com base na reflexão sobre a experiência do enfrentamento da Covid-19:
capacitação e educação permanente dos(as) ACS para qualificá-los(as) para o uso das novas
estratégias de comunicação e educação em saúde; acesso às informações; melhoria da
comunicação com a equipe e com os gestores da saúde; Garantia de EPIs e outros insumos;
acesso à internet de qualidade; otimização das condições de trabalho; maior reconhecimento e
valorização da classe, com salários e jornada de trabalho dignos; oferta de apoio psicológico.
Devido à originalidade da temática, este estudo apresentou como limitação a
carência de publicações, comprometendo, de forma direta, a realização de melhor e
aprofundada discussão dos resultados. Também, outra limitação foi a realização do GF em
ambiente virtual, em que não foi possível observar, em muitos momentos, os gestos, a expressão
facial, a postura corporal e "paraverbal", como inflexões nas vozes e nos risos das ACS, devido
às dificuldades com a internet, pois a câmera e o áudio, às vezes, ficavam desligados para não
cair e sair da sala de reunião on-line. Outra limitação foi a dificuldade de as ACS terem acesso
a uma boa rede de internet, principalmente as que residem na zona rural.
Contudo, a socialização dos resultados alcançados nesta pesquisa é essencial para
compreendermos e refletirmos acerca da importância dos profissionais de saúde que estão
atuando na linha de frente, sobretudo, os(as) ACS que, mesmo diante dos desafios e das
dificuldades enfrentados, tem se reinventado para dar continuidade aos cuidados à população e
se fazerem presentes nos territórios. Assim, destaca-se a necessidade de novos estudos, afim de
melhor conhecer o processo de trabalho dos ACS, sobretudo, a partir das mudanças ocorridas
ao longo dos anos.
127

REFERÊNCIAS

ABREU, F. et al. Percepções dos agentes comunitários de saúde sobre as tecnologias de


informação e comunicação na Atenção Primária à Saúde: uma pesquisa exploratória. Revista
Humanidades e Inovação. v. 8, n. 5, p. 32-45, 2020.

ABREU, N.; BALDANZA, R.; GONDIM, S. Os grupos focais on-line: das reflexões
conceituais à aplicação em ambiente virtual. Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de
Informação, v. 6, n. 1, p. 5-24. 2009.

ALENCAR, O. M. et al. Trabalho do agente comunitário de saúde no controle da hanseníase.


Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 13, n. 1, p. 103-113, 2012.

ALMEIDA, A. O. S. et al. (2021). O conhecimento dos Agentes Comunitários de Saúde sobre


o calendário vacinal infantil. Research, Society and Development, v. 10, n. 7, p. 1-16, 2021.

ALMEIDA, J. H. H. et al. Atenção primária à saúde: enfocando as redes de atenção à saúde.


Rev enferm UFPE on line., Recife, v. 9, n. 11, p 9811-6, nov., 2015.

ALMEIDA, M. C. S. et al. Fatores relacionados ao uso de equipamentos de proteção


individual em agentes comunitários de saúde de um município do litoral norte de São Paulo.
Rev Bras Med Trab. v. 16, n. 3, p. 346-352, 2018.

ALONSO, C. M.C.; BÉGUIN, P. D.; DUARTE, F. J. C. M. Trabalho dos agentes


comunitários de saúde na Estratégia Saúde da Família: metassíntese. Rev Saude Publica. v.
52, n. 14, p. 1-13, 2018.

ANAPED. Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa. Educação popular em


tempos de pandemia: todas as certezas são provisórias. Rio de Janeiro: ANPED; 2020.

ANDRADE, C. C. D. et al. Agentes Comunitários de Saúde: perfil sociodemográfico,


condições laborais e hábitos de vida. Rev enferm UFPE on line., Recife, v. 12, n. 6, p. 1648-
56, jun., 2018.

ARANTES, L. J.; SHIMIZU, H. E.; MERCHAN-HAMANIN, E. Contribuições desafios da


Estratégia Saúde da Família na Atenção Primariam à Saúde no Brasil, revisão de literatura.
Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n.5, p.1499-1510, 2016.

ÁVILA, M. M. M. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde no Ceará: o caso de


Uruburetama. Rio de Janeiro. Tese [Doutorado em Saúde Coletiva]. Universidade do Estado
do Rio de Janeiro; 2006.

ÁVILA, M. M. M. Origem e evolução do programa de agentes comunitários de saúde no


Ceará. RBPS, Fortaleza, v. 24, n. 2, p. 159-168, abr./jun., 2011.

AZEVEDO NETO, G. T. et al. Educação Permanente em Saúde como estratégia para a


segurança ocupacional em tempos de pandemia pela COVID-19: reflexões sobre o agente
comunitário de saúde na construção de cuidado. Rev Bras Med Trab. v. 19, n. 1, p. 107-113,
2021.
128

BALLARD, M. et al. Prioritising the role of community health workers in the Covid-19
response. BMJ Global Health. v. 5, n. 6, p. 1-7, 2020.

BAPTISTINI, R. A.; FIGUEIREDO, T. A. M. Agente Comunitário de Saúde: Desafios do


trabalho na zona rural. Ambiente & Sociedade, São Paulo v. 17, n. 2, p. 53-70, abr.-jun.
2014.

BARBOUR, R. Grupos focais. Trad. Marcelo Figueiredo Duarte. Porto Alegre: Artmed,
2009. 216p.

BARCELLOS, C. S. N.; PANDOLFI, M.; MIOTTO, M. H. M. B. Perfil do Agente


Comunitário de Saúde (ACS) de Vitória- ES. UFES Rev. Odontol., Vitória, v. 8, n. 1, p.21-
28, jan./abr. 2006.

BARCELOS, T. N. et al. Análise de fake news veiculadas durante a pandemia de COVID-19


no Brasil. Rev Panam Salud Publica. v. 45, n. 65, p. 1-8, 2021.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BATALHA, E.; LAVOR, A. Nova PNAB transforma atenção básica em atenção mínima ao
reduzir saúde da família e criar cesta limitada de serviços. Radis Comunicação e Saúde, n.
183, p.11-15, 2017.

BBC NEWS. BRASIL. 'Aliança do Avestruz': FT destaca grupo de Bolsonaro e outros


líderes que 'se recusam a levar coronavirus a sério'. 17 de abril de 2020. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52328505>. Acesso em: 15 de fevereiro de
2022.

BENTES, R. N. A covid-19 no brasil e as atribuições dos agentes comunitários de saúde:


desafios e problemáticas enfrentados no cenário nacional de pandemia. HYGEIA, Revista
Brasileira de Geografia Médica e da Saúde. Edição Especial: Covid-19, p.175 - 182, 2020.

BORDINI, G. S.; SPERB, T. M. O uso dos grupos focais on-line síncronos em pesquisa
qualitativa. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 16, n. 3, p. 437-445, jul./set. 2011.

BORNSTEIN, V; J.; GOLDSCHMIDT, I. O papel d@s agentes de saúde na mobilização


comunitária em tempos de Covid-19. Rio de Janeiro: EPSJV; 2020.

BRANDÃO, A. A.; MARINS, M. T. A. Cotas para negros no ensino superior e formas de


classificação racial. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 33, n.1, p. 27-45, jan./ abr.
2007.

BRANDÃO, G. C. G. et al. O Processo de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde.


Research, Society and Development, v. 10, n. 1, e1610111442, p. 1-11, 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Especial CNS no enfrentamento à COVID-19


[Internet]. Brasília: CNS, 2020 (a). Disponível em: <http://conselho.saude.gov. br/especial-
cns-no-enfrentamento-a-COVID-19>. Acesso em 29 de janeiro de 2022.
129

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Gestão do Trabalho na


Saúde. Brasília: Conass; 2007.

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. As Conferências Nacionais de


Saúde: Evolução e perspectivas. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília:
CONASS, 2009 (a). 100p.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal; 1988.

BRASIL. Lei nº 13.595 de 5 de janeiro de 2018. Altera a Lei nº 11.350, de 5 de outubro de


2006, para dispor sobre a reformulação das atribuições, a jornada e as condições de trabalho,
o grau de formação profissional, os cursos de formação técnica e continuada e a indenização
de transporte dos profissionais Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às
Endemias. Brasília, DF, 2018(a).

BRASIL. Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, 1990.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde,


Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? Brasília:
Ministério da Saúde; 2018(b).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. O novo


coronavírus: orientações para Agentes Comunitários de Saúde no enfrentamento à COVID-
19. Brasília: Ministério da Saúde; 2020(b).

BRASIL. Ministério da Saúde. 8ª Conferência Nacional de Saúde, 17 a 21 de março de


1986.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. RESOLUÇÃO Nº 466 DE 12


DE DEZEMBRO DE 2012. Trata de pesquisas em seres humanos e atualiza a resolução 196.
Publicada no DOU nº 12, 13 de jun de 2013 – Seção 1 – Pág. 59. Disponível em:
<conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>. Acesso em 05 de novembro de 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações para a organização das ações no manejo do


novo coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde. Brasília: MS; 2020 (c).

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a


Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização
da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da
Saúde; 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a


Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a
organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
130

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019. Institui o


Programa Previne Brasil, que estabelece novo modelo de financiamento de custeio da
Atenção Primária à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, por meio da alteração da
Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017. Brasília, 2019. Disponível
em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.979-de-12-de-novembro-de-2019-
227652180>. Acesso em: 18 de março de 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 648, de 28 de março de 2006. Aprova a Política


Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a
organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa
Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília: Mistério da Saúde; 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Referencial curricular para curso técnico de agente


comunitário de saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Guia prático do agente comunitário de saúde. – Brasília: Ministério da Saúde,
2009(b).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009
(c). 84 p.: il. – (Série F. Comunicação e Educação em Saúde).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Departamento


de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência. Protocolo de manejo clínico da Covid-19
na Atenção Especializada. Brasília: Ministério da Saúde, 2020 (d).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS).


Recomendações para adequação das ações dos agentes comunitários de saúde frente à
atual situação epidemiológica referente à COVID-19. Versão-2. Brasília: Ministério da
Saúde; 2020 (e). Disponível em: <http://projetoaedesnamira.com.br/wp-
content/uploads/2020/05/recomendacoes_ACS_COVID19_ver002_final_b.pdf>. Acessado
em 27 de setembro de 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Cobertura de


Agentes Comunitários de Saúde. e-Gestor: Atenção Básica. Informação e Gestão da
Atenção Básica. Ministério da Saúde: 2020 (f). Disponível em:
<https://egestorab.saude.gov.br/paginas/acessoPublico/relatorios/relHistoricoCoberturaACS.x
html>. Acesso em 04 de agosto de 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa de Agentes Comunitários


de Saúde (PACS). Brasília: Ministério da saúde. 2001(a).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de Saúde.


Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Ofício circular nº 2/2021/CONEP/SECNS/MS.
Brasília, 24 de fevereiro de 2021. 2021. Disponível em:
131

<http://www.uepb.edu.br/download/documentos/documentos_2021/CEPUEPB-Oficio-
Comissao-Nacional-de-Etica-em-Pesquisa.pdf>. Acesso em: 19 de março de 2021.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Portaria nº


25, de 15 de outubro de 2001. Altera a Norma Regulamentadora que trata de Equipamento
de Proteção Individual - NR6 e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil. 2001(b).

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre


as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 fev. 2020(g).

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 14.023, de 8 de Julho de 2020. Altera a Lei nº


13.979, de 6 de Fevereiro de 2020, para determinar a adoção de medidas imediatas que
preservem a saúde e a vida de todos os profissionais considerados essenciais ao controle de
doenças e à manutenção da ordem pública, durante a emergência de saúde pública decorrente
do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Diário Oficial da União. 9 Jul 2020(h).

BROCH, D. Desafios na atuação dos agentes comunitários: compreensão da determinação


social da saúde e das condições de trabalho. 2017. 92f. Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Porto Alegre, 2017.

CABRAL, J. F.; GLERIANO, J. S.; NASCIMENTO, J. D. M. Perfil sociodemográfico e


formação profissional de agentes comunitários de saúde. RIES da UNIARP. v. 9, n. 2, p.
193-209, 2019.

CABRAL, S. A. A. O. et al. Precisamos Vencer o Covid-19: Refletindo o Papel da Atenção


Básica e Agentes Comunitários de Saúde. Id on Line Rev. Mult. Psic. v.14, n. 51 p. 40-50,
2020.

CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. IRAMUTEQ: um software gratuito para análise de dados


textuais. Temas psicologia. v. 21, n. 2, p. 513-18, 2013.

CAMARGO, M. C. et al. Eficácia da máscara facial (TNT) na população para a prevenção de


infecções por coronavírus: revisão sistemática. Ciênc. saúde coletiva. v. 25, n. 9, p. 3365-
3376, 2020.

CAPONI, S. Covid-19 no Brasil: entre o negacionismo e a razão neoliberal. Estudos


Avançados, São Paulo, v. 34, n. 99, p. 209-224, 2020.

CARDOSO, F. S.; SÓRIA, D. A. C.; VERNAGLIA, T. V. C. O uso do equipamento de


proteção individual em tempos de COVID-19: uma revisão da literatura. Research, Society
and Development, v. 10, n. 2, e55510212772, p. 1-14, 2021.

CARNEIRO, V. P. P. et al. Perfil dos Agentes Comunitários de Saúde de um Município do


Estado do Paraná e sua Relação com Plantas Medicinais. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6,
n. 1, p. 2902-2918 jan. 2020.
132

CASTRO, M. Falta de liderança federal dificulta a resposta do Brasil à COVID-19. 25 de


junho de 2020. Disponível em: <https://www.hsph.harvard.edu/news/features/brazil-covid-
marcia-castro/>. Acesso em 04 de agosto de 2020.

CASTRO, T. A. et al. Agentes Comunitários de Saúde: perfil sociodemográfico, emprego e


satisfação com o trabalho em um município do semiárido baiano. Cad. Saúde Colet., Rio de
Janeiro, v. 25, n. 3, p. 294-301, 2017.

CECCIM, R. B. Emergência de um “campo de ação estratégica”: ordenamento da formação e


educação permanente em saúde. SANARE, Sobral, v.18, n. 01, p. 68-80, 2019.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo:
Pearson, 2007.

CHATTERJEE, P. K. Preparação da comunidade para COVID-19 e profissionais de saúde da


linha de frente em Chhattisgarh. Indian J Public Health. v. 64, (Supl.), p. 102-104, 2020.

CHAVES, V. C. B. O processo de trabalho do agente comunitário de saúde:


ressignificando seu papel. 132f. 2016. Dissertação (mestrado profissional) – Universidade
Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde, Mestrado Profissional em Saúde da Família,
Fortaleza, 2016.

COÊLHO, E. B. O Perfil do Agente Comunitário de Saúde: características desse novo


trabalhador da saúde e suas perspectivas um estudo em Camaragibe e São Bento do Una/PE
2002. Monografia (Especialização em Saúde Pública), Departamento de Saúde Coletiva,
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2002.

CONASEMS. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. CONASS. Conselho


Nacional de Secretários de Saúde. Guia Orientador para o enfrentamento da pandemia
COVID-19 na Rede de Atenção à Saúde [Internet]. Brasília, 2020. Disponível em:
https://www.Conass.org.br/wp-content/uploads/2020/05/Instrumento-Orientador-Conass-
Conasems.pdf. Acesso em: 13 de janeiro de 2022.

CONASS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. O Papel dos Agentes Comunitários


de Saúde no Enfrentamento da Covid-19 – PARTE 2. Publicado em: 3 set 2020. Disponível
em: <https://www.conass.org.br/o-papel-dos-agentes-comunitarios-de-saude-no-
enfrentamento-da-covid-19-parte-2/>. Acessado em 27 de setembro de 2020.

CONILL, E. M. Ensaio histórico-conceitual sobre a Atenção Primária à Saúde: desafios para


a organização de serviços básicos e da estratégia saúde da família em centros urbanos no
Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, supl. 1, p. 7-16, 2008.

CORDEIRO, L.; SOARES, C. B. Processo de trabalho na Atenção Primária em Saúde:


pesquisa-ação com Agentes Comunitários de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 11,
p. 3581-3588, 2015.

CORRÊA, M. G. et al. A Atenção Primária à Saúde (APS) no combate à COVID-19:


desafios e potencialidades da atuação das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) em
municípios amazônicos. 2020. Disponível em: <https://pesquisa-
133

eaesp.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/conexao-local/1-_artigo_-
_acs_no_combate_a_covid-19_na_amazonia.pdf>. Acesso em 12 de fevereiro de 2022.

COSTA, N. C. G. Os agentes comunitários de saúde da família do município do Sorriso,


Mato Grosso. 2009. 157 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva – área de Saúde e
Sociedade) – Instituto de Saúde Coletiva. UFMT, Universidade do Estado de Mato Grosso,
Cuiabá, 2009.

COSTA, N. R. et al. Community health workers’ attitudes, practices and perceptions towards
the COVID-19 pandemic in brazilian low-income communities. WORK: A Journal of
Prevention, Assessment & Rehabilitation, v. 68, n. 1, p. 3-11, 2021.

COSTA, N. R. et al. Os agentes comunitários de saúde e a pandemia da Covid-19 nas favelas


do Brasil. Observatório covid-19. Informação para ação. Fiocruz, julho de 2020. Disponível
em:<https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/os_agentes_comunitarios
_de_saude_e_a_pandemia_da_covid-19_nas_favelas_do_brasil.pdf>. Acessado em 29 de
janeiro de 2021.

COTRIM, B. C. Potencialidades da técnica qualitativa grupo focal em investigações sobre


abuso de substâncias. Rev. Saúde Pública. v. 30, n. 3, p. 285-93, 1996.

CUNHA, M. S.; SÁ, M. C. A visita domiciliar na Estratégia de Saúde da Família: os desafios


de se mover no território. Interface: Comunicação, saúde e educação, v. 44, n. 17, p. 61-73,
2013.

DALL’AGNOL, C. M.; TRENCH, M. H. Grupos focais como estratégia metodológica em


pesquisas na enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 5-
25, jan. 1999.

DANTAS, E. S. O. Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da


pandemia por Covid-19. Interface (Botucatu). v. 25, (Supl. 1): e200203, p. 1-9, 2021.

DAUMAS, R. P. et al. O papel da atenção primária na rede de atenção à saúde no Brasil:


limites e possibilidades no enfrentamento da COVID-19. Cad. Saúde Pública, v. 36, n. 6, p.
1-7, 2020.

DENTI, I. A.; TOZZO, M. B.; MENDEZ, L. M. P. Perfil e necessidades básicas de educação


dos agentes comunitários de saúde do Alto Uruguai. PERSPECTIVA, Erechim. v. 38,
Edição Especial, p. 61-71, 2014.

DESLANDES, S. F.; GOMES, R.; MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e


criatividade. São Paulo. 31 ed. São Paulo. Vozes, 2012.

DUARTE, R. B. et al. Agentes comunitários de saúde frente à Covid-19: vivências junto aos
profissionais de enfermagem. Rev. Enferm. Foco, v. 11, n.1, (Especial), p. 252-256, 2020.

DURÃO, A. V.; MOROSINI, M. V. G. C.; CARVALHO, V. Os agentes comunitários de


saúde e o conceito de comunidade na configuração de sua qualificação. In: VIEIRA, M.;
DURÃO, A. V.; LOPES, M. R. Para além da comunidade: trabalho e qualificação dos agentes
comunitários de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV, 2011. p. 119 – 159.
134

FAHEL, M.; SILVA, M. P. A Trajetória da Atenção Primária à Saúde no Brasil: de


Alma-Ata ao programa mais Médicos. Belo Horizonte MG: Editora PUC Minas. 2ª Edição
– Revista e Ampliada. Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2018.

FARIA, H. P. et al. Processo de trabalho em saúde. - 2a ed. -Belo Horizonte: Nescon/


UFMG, Coopmed, 2009. 68p.

FARIAS, L. A. B. G. et al. O papel da atenção primária no combate ao Covid-19: impacto na


saúde pública e perspectivas futuras. Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, v.
15, n. 42, p. 1-8, 2020.

FERIGATO, S. et al. The Brazilian Government's mistakes in responding to the COVID-19


pandemic. The Lancet, v. 396, n. 10263, p. 1636, 2020.
FERLA, A. A. et al. Um paradoxo civilizatório: a pandemia como desafio ao ensino e
trabalho na saúde e como afirmação das vidas. Revista Saúde em Redes, v. 6, Supl. 2, p, 1-6,
2020.

FERNANDEZ, M.; LOTTA, G. Como os Agentes Comunitários de Saúde estão enfrentando


a Pandemia da COVID-19 no Brasil: Sentimentos Pessoais, Acesso a Recursos e Processo de
Trabalho. Arquivos de Medicina de Família e Clínica Geral. v. 5, n. 1, p. 115-122, 2020.

FERNANDEZ, M.; LOTTA, G.; CORRÊA, M. Desafios para a Atenção Primária à Saúde no
Brasil: uma análise do trabalho das agentes comunitárias de saúde durante a pandemia de
Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde, v. 19, e00321153, p 1-20, 2021.

FERTONANI, H. P. et al. Modelo assistencial em saúde: conceitos e desafios para a atenção


básica brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 6, p. 1869-78, 2015.

FIOCRUZ. Observatório Covid-19. Informação para ação. Nota Técnica sobre trabalho
seguro, proteção à saúde e direitos dos agentes comunitários de saúde no contexto da
pandemia de Covid-19. Rio de Janeiro, 20 de julho de 2020. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/42355/2/nota_tecnica_acs_poli.pdf>. Acesso em:
15 de fevereiro de 2022.

FONSECA, A. F. O trabalho do agente comunitário de saúde: implicações da avaliação e


da supervisão na Educação em Saúde. 2013. 239f. Tese (Doutorado em Ciências na área de
Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro,
2013.

FONSECA, A. F.; MENDONÇA, M. H. M. A interação entre avaliação e a atuação dos


Agentes Comunitários de Saúde: subsídios para pensar sobre o trabalho educativo. Saúde
debate, Rio de Janeiro, v. 38, n. spe, p. 343-357, 2014.

FONSECA, A. F.; MOROSINI, M. V. G. C.; MENDONÇA, M. H. M. Atenção Primária à


Saúde e o perfil social do trabalhador comunitário em perspectiva histórica. Trabalho,
Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 525-552, 2013.

FONSECA, A. F.; MOROSINI, M. V. Nota técnica: O caráter estratégico do Agente


Comunitário de Saúde na APS integral. APS em Revista. v. 3, n. 3, p. 210-223, 2021.
135

FONSECA, J. C. et al. Nova Política Nacional de Atenção Básica (PNAB): Visão dos
profissionais da atenção básica do município de são Mateus-MA. Enciclopédia Biosfera,
Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.16, n.30; p. 711-722, 2019.

FONSECA, R. B. G. O perfil do Agente Comunitário de Saúde e sua feminização.


Enfermagem Brasil. v; 18, n. 3, p. 430-436. 2019.

FONSECA. C. P. Percepção de profissionais da estratégia saúde da família na prevenção


e controle da covid-19. 2021. 121f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Alfenas.
Programa de Pós-graduação em Enfermagem. Alfenas - MG, 2021.

FREIRE, P. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 1992.

FREITAS, L. M. et al. Formação dos agentes comunitários de saúde no município de


Altamira (PA), Brasil. ABCS Health Sci. v. 40, n. 3, p. 171-177, 2015.

GALLASCH, C. H. et al. Prevenção relacionada à exposição ocupacional do profissional de


saúde no cenário de COVID-19. Revista Enfermagem UERJ, v. 28, p. 49596, 2020.

GARCIA, A. C. P. et al. Agente comunitário de saúde no espírito santo: do perfil às


atividades desenvolvidas. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 283-300,
jan./abr. 2017.

GARCIA, A. C. P. et al. Perfil e o Processo de Trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde.


J. res.: fundam. care. online, v. 11, n. esp, p. 339-344, 2019.

GARCIA, L. M. T. et al. Intersetorialidade na saúde no Brasil no início do século XXI: um


retrato das experiências. Saúde Debate, rio de Janeiro, v. 38, n. 103, p. 966-980, 2014.

GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. Brasília: Líber


Livro Editora, 2005.

GEORGES, I.; SANTOS, Y. G. As ‘novas’ políticas sociais brasileiras na saúde e na


assistência: produção local do serviço e relações de gênero. Belo Horizonte: Fino Traço,
2016. 355 p.

GERALDO, S. M.; FARIAS, S. J. M.; SOUSA, F. O. S. A atuação da Atenção Primária no


contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil. Research, Society and Development, v. 10,
n. 8, e42010817359, p. 1-12, 2021.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed., São Paulo: Atlas, 2014.

GIOVANELLA, L. Atenção básica ou atenção primária à saúde? Cad. Saúde Pública, v. 34,
n. 8, p. 1-5, 2018.

GIOVANELLA, L. et al. A contribuição da atenção primária à saúde na rede SUS de


enfrentamento à Covid-19. Saúde em Debate, p.1-21, 2020. Preprint.
136

GIOVANELLA, L.; FRANCO, C. M.; ALMEIDA, P. F. Política Nacional de Atenção


Básica: para onde vamos? Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 4, p. 1475-1481, 2020.

GIOVANELLA, L; MENDONÇA, M. H. M. Atenção primária à saúde. In:


GIOVANELLA, L.; ESCOREL, S.; LOBATO, L. V. C. et al. (org.). Políticas e sistema de
saúde no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2012.

GOMES, E. M. S. et al. Desafios da atenção primária à saúde durante a pandemia da COVID-


19 no Brasil. Archives of Health, Curitiba, v. 2, n. 2, p.299-313, 2021.

GOMES, K. O. et al. Atenção Primária à Saúde – a “menina dos olhos” do SUS: sobre as
representações sociais dos protagonistas do Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 16, (Supl. 1), p. 881-892, 2011.

GOMES, K. O. et al. O agente comunitário de saúde e a consolidação do Sistema Único de


Saúde: reflexões contemporâneas. Physis, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p. 1143-1164, dez.
2010.

GOMES, L. B.; MERHY, E. E. Compreendendo a Educação Popular Em Saúde: Um Estudo


Na Literatura Brasileira. Cadernos de Saúde Pública, v. 27, n. 1, p. 7–18, Jan. 2011.

GOMES, R. Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria


Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa Social: teoria,
método e criatividade. 33.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013, p. 79-108.

GONSALVES, R. S. A importância do Agente Comunitário de Saúde como elo entre


comunidade e os serviços da saúde pública. 2020. 33f. (TCC). Bacharel em Odontologia.
Universidade Estadual Paulista (Unesp). Araçatuba- SP, 2020.

GUIMARÃES, M. S. A.; SOUSA, M. F.; MUCARI, T. B. Perfil sociodemográfico dos


agentes comunitários de saúde da estratégia saúde da família no município de Palmas-TO.
Revista Desafios. v. 04, n. 03, p. 60-72, 2017.

HAINES, A. et al. Programa nacional do Reino Unido de agentes comunitários de saúde para
resposta ao COVID-19. The Lancet. v. 395, n, 10231, p. 1173-1175, 2020.

HARAKI, C. A. C. Estratégias adotadas na América do Sul para a gestão da infodemia da


COVID-19. Rev Panam Salud Publica, v. 45, n. 43, p. 1-6, 2021.

HARZHEIM E. et al. Telessaúde como eixo organizacional dos sistemas universais de saúde
do século XXI. Rev Bras Med Fam Comunidade. v. 14, n. 41, p.1881-9, 2019.

HARZHEIM, E. et al. Bases para a reforma da Atenção Primária à Saúde no Brasil em 2019:
mudanças estruturantes após 25 anos do Programa de Saúde da Família. Rev Bras Med Fam
Comunidade. Rio de Janeiro, v. 15, n. 42, p. 2354, Jan-Dez., 2020.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Informações Estatísticas de 2020–


Cidade, Icó-Ceará. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/ico/panorama >.
Acesso em 03 de novembro de 2020.
137

KAMI, M. T. M. et al. Trabalho no consultório na rua: uso do software IRAMUTEQ no apoio


à pesquisa qualitativa. Esc Anna Nery, v. 20, n. 3, e20160069, p. 1-5, 2016.

LANCET. COVID-19 in Brazil: “So what?” The Lancet, v. 395, (1- 0235), p. 1461, 2020.
Disponível em: <https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-
6736%2820%2931095-3>. Acesso em: 15 de fevereiro de 2022.

LAVOR, S. R. A. O trabalho do Agente Comunitário de Saúde no contexto da pandemia


de Covid-19 em um município Cearense. 2021. 66f. (Monografia). Curso Bacharelado em
Enfermagem. Centro Universitário Vale do Salgado – UniVS. Icó, Ceará, 2021.

LAVRAS, C. Atenção Primária à Saúde e a Organização de Redes Regionais de Atenção à


Saúde no Brasil. Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.4, p.867-874, 2011.

LIMA, D. et al. ARTIGO 19. 8 anos lei de acesso à informação: transparência para superar
a crise. Artigo 19, São Paulo, 30 maio 2020 (a). Disponível em: <https://artigo19.org/wp-
content/blogs.dir/24/files/2020/05/RelatorioAcessoInformacaoCrise2020.pdf>. Acesso em: 15
de fevereiro de 2022.

LIMA, D. L. F. et al. COVID-19 no estado do Ceará, Brasil: comportamentos e crenças na


chegada da pandemia. Ciênc. saúde coletiva. v. 25, n. 5, p. 1575-1586, 2020 (b).

LINO, M. M. et al. Perfil socioeconômico, demográfico e de trabalho dos agentes


comunitários de saúde. Cogitare Enferm. v. 17, n. 1, p. 57-64, 2012.

LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as HARZHEIM) profissionais de saúde


pública no Brasil. Nota técnica – 5ª fase. Setembro 2021.

LOTTA, G. et al. Community health workers reveal COVID-19 disaster in Brazil. The
Lancet, London, England, v. 396, n. 10.248, p. 365-366, 2020.

MACIEL, F. B. M. et al. Agente comunitário de saúde: reflexões sobre o processo de trabalho


em saúde em tempos de pandemia de Covid-19. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, (Supl.2),
p. 4185-4195, 2020.

MAGALHÃES, A. G. A. Precarização do trabalho: reflexos e impactos na política de saúde


brasileira. In: Anais da VIII jornada internacional de políticas públicas, 2015, Maranhão, p.12.

MARINHO, M. R. Trabalho, gestão e capacitação na pandemia da covid-19: percepção


de profissionais da atenção primária à saúde. 2021. 116. Dissertação (Mestre em
Enfermagem). Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem do Campus Três
Lagoas (CPTL) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Três Lagoas, 2021.

MAROCO, J. Análise Estatística com SPSS Statistics. 5ed. Rio de Janeiro: ReportNumber,
2016.

MARTINES, W. R. V. O cotidiano da produção de cuidados em saúde mental e a


produção de prazer: uma cartografia. 2011. 212f. Tese (Doutorado em Enfermagem) –
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
138

MATTA, G. C.; MOROSINI, M. V. G. Atenção Primária à Saúde. Em: Dicionário da


Educação Profissional em Saúde. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2009.

MEDINA, M. G, et al. Comitê Gestor da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde da


Abrasco. Atenção primária à saúde em tempos de COVID-19: o que fazer? Cad Saúde
Pública, v. 36, n. 8, p. 0-0, 2020.

MELLO, G. A.; FONTANELLA, B. J. B.; DEMARZO, M. M. Atenção básica e atenção


primária à saúde - origens e diferenças conceituais. Rev. APS, v. 12, n. 2, p. 204-213,
abr./jun. 2009.

MÉLLO, L. M. B. D. et al. Agentes comunitárias de saúde: práticas, legitimidade e formação


profissional em tempos de pandemia de Covid-19 no Brasil. Interface - Comunicação,
Saúde, Educação [online]. v. 25, Supl. 1, p. 1-17, 2021.

MÉLLO, L. M. B. D. et al. Agentes populares de saúde: ajudando minha comunidade no


enfrentamento da pandemia de Covid-19. Recife: Fiocruz-PE, 2020.

MENDES, E. V. A construção social da Atenção Primária À Saúde. Brasília: Conselho


Nacional de Secretários de Saúde – CONASS, 2015. 193p.

MENDES, E. V. Desafios do SUS. Brasília: CONASS; 2019.

MENDONÇA, A. V. et al. Inclusão digital dos agentes comunitários de saúde no Brasil:


novas formas de aprender em rede. Tempus - Actas de Saúde Coletiva. v. 3, n. 1, p. 28-37,
2009.

MENESES, A. S. Gerenciamento Emergencial de Recursos da Atenção Primária a Saúde no


Enfrentamento à Pandemia da COVID-19. SciELO, p. 1-7, 2020. Preprint.

MENEZES, M. Estudo aponta que novo coronavírus circulou sem ser detectado na
Europa e Américas. Fiocruz. 12 de maio de 2020. Disponível em:
<https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-aponta-que-novo-coronavirus-circulou-sem-ser-
detectado-na-europa-e-americas>. Acessado em 10 de junho de 2020.

MERHY, E. E. Saúde: Cartografias do Trabalho Vivo. São Paulo: Hucitec; 2002.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. – 14ª. ed.


São Paulo: Hucitec Editora Ltda., 2014.

MINAYO, M. C. S.; D’ELIA, J. C.; SUITONE. E. Programa de Agentes de Saúde do


Ceará: estudo de caso. Fortaleza: Unicef; 1990.

MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa Social: teoria, método e


criatividade. 33.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013, 108 p.

MORAES FILHO, I. M. M. et al. Medo, ansiedade e tristeza: principais sentimentos de


profissionais da saúde na pandemia de COVID-19. Saúde Coletiva, s/v, n.11-COVID, p.
7073-7078, 2021.
139

MOREIRA, W. C.; SOUSA, A. R.; NÓBREGA, M. P. S. S. Adoecimento mental na


população geral e profissionais de saúde durante a pandemia da covid-19: revisão sistemática.
Texto & Contexto Enfermagem, v. 29, n. 1, s/p, 2020.

MOROSINI, M. Entrevista: Márcia Morosini fala sobre o papel dos ACS em momentos
de emergência [Entrevista de V Tavares]. Fiocruz 23 mar 2020. Disponível em:
<https://portal.fiocruz.br/noticia/entrevista-marcia-morosini-fala-sobre-o-papel-dos-acs-em-
momentos-de-emergencia>. Acessado em 27 de setembro de 2020.

MOROSINI, M. V. G. C. Transformações no trabalho dos agentes comunitários de saúde


nos anos 1990-2016: a precarização para além dos vínculos. 2018. 357 f. Tese (Doutorado).
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Centro de Educação e Humanidades. Rio de
Janeiro, 2018.

MOROSINI, M. V.; FONSECA, A. F. Os agentes comunitários na Atenção Primária à Saúde


no Brasil: inventário de conquistas e desafios. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 42, n. 1, p.
261-274, 2018.

MOTA, R. R. A.; DAVID, H. M. S. L. A crescente escolarização do agente comunitário de


saúde: uma indução do processo de trabalho? Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 8 n. 2, p.
229-248, jul./out.2010.

NAKAMURA, E.; SILVA, C. G. O contexto da pandemia do covid-19: desigualdades


sociais, vulnerabilidade e caminhos possíveis. In: GROSSI, M. P.; TONIOL, R. (Org.).
Cientistas sociais e o coronavírus. São Paulo: Anpocs, 2020. p. 154-158.

NASCIMENTO, C. M. B. Análise do cumprimento das práticas dos agentes comunitários


de saúde em municípios da região metropolitana do Recife. 2008. 158 f. Dissertação
(Mestrado em Saúde Pública) – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo
Cruz, Recife, 2008.

NASCIMENTO, C. M. B. Precarização do trabalho do Agente Comunitário de Saúde:


um estudo em municípios da região metropolitana do Recife. 2005. 25f. [Trabalho de
Conclusão de Curso]. Fundação Oswaldo Cruz. Recife, 2005.

NISIHARA, R. et al. Avaliação do perfil sociodemográfico, laboral e a qualidade de vida dos


agentes de saúde responsáveis pelo combate à dengue em duas cidades do estado do Paraná.
Rev Bras Med Trab. 2018; v. 16, n. 4, p. 393-399, 2018.
140

NOGUEIRA, M. É fundamental a garantia de condições de trabalho para que o ACS


atue tanto dentro das unidades de saúde quanto nos territórios. EPSJV/Fiocruz.
10/02/2021 14h39 - Atualizado em 26/02/2021 13h52. Disponível em:
<https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/entrevista/e-fundamental-a-garantia-de-condicoes-de-
trabalho-para-que-o-acs-atue-
tanto#:~:text=Os%20trabalhadores%20t%C3%A9cnicos%20em%20sa%C3%BAde%2C%20
al%C3%A9m%20de%20realizarem%20atividades%20fundamentais,prote%C3%A7%C3%A
3o%20contra%20a%20Covid%2D19.>. Acesso em: 10 de março de 2022.

NOGUEIRA, M. L. et al. Monitoramento da saúde dos ACS em tempos de Covid-19.


Fiocruz/VPPCB/PMA, 2020. Disponível em: https://acscovid19.fiocruz.br/. Acesso em: 28 de
janeiro de 2021.

OLIVEIRA, A. C. S. et al. Percepção dos profissionais de saúde na pandemia por COVID-19:


desafios e estratégias para prática profissional. Research, Society and Development, v. 10,
n. 10, e350101018724, p. 1-11, 2021.

OLIVEIRA, E. N. et al. Com a palavra os profissionais de saúde na linha de frente do


combate à COVID-19. Research, Society and Development, v. 9, n. 8, p. 1-18, 2020.

OLIVEIRA, M. A. C.; PEREIRA, I. C. Atributos essenciais da Atenção Primária e a


Estratégia Saúde da Família. Rev Bras Enferm. v. 66, n. (esp) p. 158-64, 2013.

OLIVEIRA, R. M.; SANTOS, R. M. M.; YARID, S. D. Espiritualidade/religiosidade e o


humanizasus em unidades de saúde da família. Rev Bras Promoç Saúde, Fortaleza, v. 31, n.
1, p. 1-8, jan./mar., 2018.

OMS. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Declaração de Alma Ata. Conferência


Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata, URSS, 6-12 de setembro de
1978. Disponível em: <http://cmdss2011.org/site/wp-
content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf>. Acessado em 23 de
julho de 2020.

OMS. Organização Mundial de Saúde. Relatório Mundial da Saúde 2008: Cuidados de


Saúde Primários - Agora mais que nunca. Genebra: OMS, 2008.

OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. Entenda a infodemia e a desinformação na


luta contra a COVID-19. Kit de ferramentas de transformação digital. Ferramentas de
conhecimento. 2020(a). Disponível em:
<https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52054/Factsheet-
Infodemic_por.pdf?sequence=16>. Acesso em: 15 de fevereiro de 2022.

OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. OMS declara emergência de saúde pública


de importância internacional por surto de novo coronavírus. OPAS Brasil; 2020(b).
Disponível em: <https://bit.ly/2zE2mR2>. Acessado em 27 de setembro de 2020.

OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. UNICEF. O papel dos agentes comunitários


de saúde na vacinação contra a COVID-19 - guia de apoio à implementação. 26 de abril de
2021. Disponível em:
141

<https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/54794/OPASWBRAPHECOVID-
19210073_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acessado em 15 de janeiro de 20202.

PAIM, J. S. Modelos de atenção à Saúde no Brasil. In: Giovanella L, Escorel S, Lobato


LVC, Noronha JC, Carvalho AI, organizadores. Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio
de Janeiro: Fiocruz, CEBES; 2008. p. 547-573.

PAIVA, C. H. A.; TEIXEIRA, L. A. Reforma sanitária e a criação do Sistema Único de


Saúde: notas sobre contextos e autores. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de
Janeiro, v.21, n.1, p.15-35, jan./mar. 2014.

PEDEBOS, L. A.; ROCHA, D. K.; TOMASI, Y. A vigilância do território na atenção


primária: contribuição do agente comunitário na continuidade do cuidado. Saúde Debate, Rio
de Janeiro, v. 42, n. 119, p. 940-951, 2018.

PEIXOTO, H. M. C. et al. Percepção do agente comunitário de saúde sobre educação em


saúde em uma unidade básica. R. Enferm. Cent. O. Min. v. 5, n. 3, p. 1784-1793, 2015.

PERNAMBUCO. Governo do Estado. Secretaria de Saúde. Agente comunitário de saúde na


pandemia de coronavírus: como atuar para fortalecer a comunidade? / Governo do
Estado de Pernambuco. Secretaria de Saúde. /Ana Maria Freire de Souza; Dara Andrade
Felipe; Domitila Almeida de Andrade; Emmanuelly Correia de Lemos; Lívia Milena Barbosa
de Deus e Méllo; Paullete Cavalcanti de Albuquerque; Polyana Loureiro Ferreira de
Carvalho; Ranna Carinny Gonçalves Ferreira (Orgs). Recife - PE: Governo do Estado de
Pernambuco. Secretaria Estadual de Saúde, 2020. 45p.:il. - Caderno ACS.

PINTO, L. F.; GIOVANELLA, L. Do Programa à Estratégia Saúde da Família: expansão do


acesso e redução das internações por condições sensíveis à atenção básica (ICSAB). Ciência
& Saúde Coletiva, v. 23, n. 6, p.1903-1913, 2018.

PONTES, A. L. M.; BORNSTEIN, V. J.; GIUGLIANI, C. O agente comunitário de saúde em


Angola: desafios para sua atuação e para a formação profissional em saúde. Revista
Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.9, n.3, p.521-533, nov. 2011/ fev. 2012.

PORTELA, G. Z. Atenção Primária à Saúde: um ensaio sobre conceitos aplicados aos estudos
nacionais. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 27, n. 2, p. 255-276, 2017.

QUEIRÓS, A. A. L. A prática dos agentes comunitários de saúde na América Latina:


origem, contradições e desafios para o cuidado em saúde no começo do século XXI. 2015.
142 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

QUEIRÓS, A. A. L.; LIMA, L. P. A Institucionalização do Trabalho do Agente Comunitário


de Saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Fundação Oswaldo cruz, Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio v. 10, n.2, p. 257-281, 2012.

QUIRINO, T. R. L. et al. O trabalho do agente comunitário de saúde frente à pandemia da


Covid-19. Rev. Port. Saúde e Sociedade. v. 5, n. 1, p. 1299-1314, 2020.
142

REZENDE, C. N. et al. Perfil e condições de trabalho de agentes comunitários de saúde em


município mineiro endêmico para doenças negligenciadas transmitidas por vetores. Saúde
(Santa Maria). v. 46, n. 2: e44457, p. 1-14, 2020.

RIBEIRO, A. M. N. et al. COVID-19: medos e desafios dos profissionais de saúde diante da


pandemia. Research, Society and Development, v. 9, n. 12, e6891210712, p. 1-13, 2020(a).

RIBEIRO, M. et al. (RE)Organização da Atenção Primária à Saúde para o enfrentamento da


COVID-19: Experiência de Sobral-CE. APS EM REVISTA, v. 2, n. 2, p. 177-188, 2020(b).

RIQUINHO, D. L. et al. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde: Entre a


dificuldade e a potência. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 16 n. 1, p. 163-182, jan./abr.,
2018.

RUIZ, D.; MARTUFÍ, V. O Agente Comunitário de Saúde: trabalhador imprescindível na


abordagem comunitária e vigilância em saúde para o enfrentamento à Covid-19. Rede APS –
Rede de Pesquisa em Atenção Primária a Saúde. 13 de Jul. de 2020. Disponível em:
<https://redeaps.org.br/2020/07/13/o-agente-comunitario-de-saude-trabalhador-
imprescindivel-na-abordagem-comunitaria-e-vigilancia-em-saude-para-o-enfrentamento-a-
covid-19/>. Acessado em 03 de outubro de 2020.

SALIBA, N. A. et al. Agente comunitário de saúde: perfil e protagonismo na consolidação da


atenção primária à saúde. Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v. 19, n, 3, p. 318-326, 2011.

SAMUDIO, J. L. P. et al. Agentes Comunitários de Saúde na Atenção Primária no Brasil:


Multiplicidade de atividades e fragilização da formação. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro,
v. 15 n. 3, p. 745-770, set./dez., 2017.

SANTOS, B. S. A cruel pedagogia do vírus. São Paulo: Boitempo, 2020.

SANTOS, K. T. et al. Agente comunitário de saúde: perfil adequado a realidade do Programa


Saúde da Família? Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, (Supl. 1), p. 1023-1028, 2011.

SAPS. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Coronavírus Covid-19. Recomendações para


adequação das ações dos agentes comunitários de saúde frente à atual situação
epidemiológica referente ao Covid-19. Versão 1. Brasília – DF. Março de 2020.

SARTI, T. D. et al. Qual o papel da Atenção Primária à Saúde diante da pandemia provocada
pela COVID-19? Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, v. 29, n. 2, e. 2020166, p. 1-5, 2020.

SCARAMBONI, K. ColetiVIDAdes em tempos de pandemia. In: SAWAIA, B.B. et al.


(Org.). Expressões da pandemia. São Paulo: Nexin/Nepam, v. 5, p. 10-14, 2020.

SHIMAZAKI, M. E. A Atenção Primária à Saúde. In: MINAS GERAIS. Escola de Saúde


Pública do Estado de Minas Gerais. Implantação do Plano Diretor da Atenção Primária à
Saúde. Oficina 2 e 3. 1- Análise da atenção primária à saúde. Guia do participante. Belo
Horizonte: ESPMG; 2009.
143

SILVA JÚNIOR, A. G.; ALVES, C. A. Modelos Assistenciais em Saúde: desafios e


perspectivas. In: MOROSINI, M. V. G. C.; CORBO, A. D. A. organizadores. Modelos de
atenção e a saúde da família. Rio de Janeiro: EPSJV, Fiocruz, 2007. p.27-41.

SILVA, D. P. B. et al. O Novo Coronavírus e seus desafios para o Sistema Único de


Saúde. Organizadores: Débora Pena Batista e Silva, José Edmilson Silva Gomes, Samir
Gabriel Vasconcelos Azevedo, Maria Rocineide Ferreira da Silva e Maria Marlene Marques
Ávila; Prefácio de Sueli Goi Barrios. – 1. e d. -- Porto Alegre: Rede Unida, 2020.

SILVA, J. A.; DALMASO, A. S. W. Agente Comunitário de Saúde: o ser, o saber, o fazer.


Rio de Janeiro: Fiocruz; 2002.

SILVA, J. C.; CAMARGO, M. R. R. Atenção Primária à Saúde e o Sistema Único de Saúde:


Conquistas e valorização. Revista Científica Eletrônica de Enfermagem da FAEF, v. 2, n.
1, s/p, 2019.

SILVEIRA, J. P.; ZONTA, R. Experiência de reorganização da APS para o enfrentamento da


COVID-19 em Florianópolis. APS EM REVISTA, v. 2, n. 2, p. 91-96, 2020.

SILVEIRA, R. P. et al. Telemonitoramento da COVID-19 com participação de estudantes de


medicina: experiência na coordenação do cuidado em Rio Branco, Acre. APS em Revista, v.
2, n. 2, p. 151-161, 2020.

SIMAS, P. R. P.; PINTO, I. C. M. Trabalho em saúde: retrato dos agentes comunitários de


saúde da região Nordeste do Brasil. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, n. 6, p. 1865-
1876, 2017.

SOARES, C. S. et al. DEBATE ACERCA DO NOVO FINANCIAMENTO DA APS: UM


RELATO DE EXPERIÊNCIA. Revista de Administração Hospitalar e Inovação em
Saúde. v. 18, n. 2, p. 41-54, 2021.

SOARES, S. S. S. et al. Pandemia de Covid-19 e o uso racional de equipamentos de proteção


individual. Rev enferm UERJ, v. 28, e. 50360, p. 1-6, 2020.

SOUADKA, A. et al. COVID-19 e famílias de profissionais de saúde: nos bastidores da


resposta da linha de frente. EClinicalMedicine, v. 23, v. 1, p.1, 2020.

SOUZA, M. A. P. et al. O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas


qualitativas. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 52, e03353, p. 1-7,
2018.

SOUZA, R. A. et al. Uso de tecnologias para telemonitoramento na atenção primária à saúde


na pandemia do Covid-19: relato de experiência. Research, Society and Development, v. 10,
n. 13, e302101321153, p. 1-7, 2021.

STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e


tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002. 726 p.

SUMAR, N.; FAUSTO, M. C. R. Atenção Primária à Saúde: a construção de um conceito


ampliado. J Manag Prim Health Care, v. 5, n. 2, p. 202-212, 2014.
144

TASCA, R. et al. Recomendações para o fortalecimento da atenção primária à saúde no


Brasil. Rev Panam Salud Publica, v. 44, s/n, p. 1-8, 2020.

TEIXEIRA, C. F. D. S. et al. A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da


pandemia de Covid-19. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 3465-3474, 2020.

TEIXEIRA, L. A. Comentário: Rodolfo Mascarenhas e a história da saúde pública em São


Paulo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 3-19, jan./fev. 2006.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

VARMA, V. Reportagem: Os soldados rasos da batalha de Covid-19 em Kerala, 26.000


mulheres que não esquecerão nenhum detalhe. The Indian Express. 05 maio 2020.
Disponível em: <https://indianexpress.com/article/facebook-stories-of-strength-
2020/governing-the-crisis/the-foot-soldiers-of-keralas-covid-19-battle-25000-women-who-
wont-overlook-any-detail-6394687/>. Acessado em 03 de outubro de 2020.

VENTURA, D. Geopolítica da pandemia: “A verdade é que hoje o Brasil é um pária


internacional”. Pública. 27 de abril de 2020. Disponível em:
<https://operamundi.uol.com.br/coronavirus/64371/geopolitica-da-pandemia-a-verdade-e-
que-hoje-o-brasil-e-um-paria-internacional-diz-especialista-em-saude-global>. Acesso em: 15
de fevereiro de 2022.

ZAROCOSTAS, J. Como combater uma infodemia. The Lancet, v. 395, n. 10225, p. 676,
2020.
145

APÊNDICES
146

APÊNDICE – A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS


DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

1 - Identidade de Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino ( ) Transgênero ( ) Cisgênero ( ) Não


deseja informar ( ) Outro: _______________________

2 - Idade: ( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos ( ) 46 anos ou mais

3 - Cor: ( ) Amarelo(a) ( ) Branco(a) ( ) Indígena ( ) Negro(a) ( ) Pardo(a)

4 - Religião: ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Adventista ( ) Espírita ( ) Outra: ____________

5 - Estado Civil: ( ) Solteira ( ) Casada/União estável ( ) Separada/Divorciada ( ) Viúva

6 - Formação: ( ) Analfabeto ( ) Ensino Fundamental Incompleto


( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Técnico Incompleto
( ) Ensino Técnico Completo ( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Superior Completo ( ) Pós-Graduação

6.1 - Especifique sua formação: _____________________________________________

7 - Curso de formação inicial (400h) para exercer a função de ACS: ( ) Sim ( ) Não

8 - Vínculo trabalhista: ( ) Seleção pública do Estado ( ) Concurso público municipal


9 - Tem outro trabalho além do de ACS? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual? _______________

10 - Renda: ( ) Até 1 Salário Mínimo ( ) De 1,0 a 2,0 Salários Mínimos


( ) De 2,0 a 3,0 Salários Mínimos ( ) De 3,0 a 4,0 Salários Mínimos
( ) De 4,0 a 5,0 Salários Mínimos ( ) 5,0 Salários Mínimos ou mais

11 - Território de atuação: ( ) Zona rural ( ) Zona urbana/Centro ( ) Zona urbana/periferias,


vulnerabilidade social

12 - Tempo de atuação como ACS: ____________________


13- Tempo de atuação na ESF atual: ___________________
14 - Participa ou já participou de algum movimento, associação? Se sim, qual? ________
147

APÊNDICE – B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

QUESTÕES NORTEADORAS PARA O ENCONTRO DO GRUPO FOCAL

EIXO TEMÁTICO – PANDEMIA DA COVID-19

1 - Vocês poderiam nos falar sobre a pandemia provocada pela Covid-19?


2 - Em relação a seu processo de trabalho, como tem sido enfrentar a pandemia da Covid-
19?
3 - Quais as ações desenvolvidas por vocês frente a pandemia da Covid-19?
4 - Quais dificuldades e desafios vocês têm enfrentado diante da Covid-19?
5 - Vocês poderiam falar sobre as experiências que ocorreram nos territórios durante a
pandemia?
5 - Como vocês analisam a atuação do ACS no contexto da Covid-19?
148

ANEXOS
149

ANEXO – A
150

ANEXO - B
151
152
153
154

Você também pode gostar