Dissertação - Rafael Bezerra Duarte-1
Dissertação - Rafael Bezerra Duarte-1
Dissertação - Rafael Bezerra Duarte-1
FORTALEZA – CEARÁ
2022
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FORTALEZA – CEARÁ
2022
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BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me conceder o dom da vida, e me conduzir até aqui, me mantendo firme e forte na
caminhada, mostrando-me sempre o caminho certo, mesmo diante dos obstáculos, fortalecendo
a minha fé e esperança.
Aos meus pais, José Bezerra Duarte (Zé Teta) e Sebastiana Ferreira Bezerra (Tiana), pelo
carinho, pela atenção, pelos cuidados, pelo zelo e apoio que eles me deram durante toda a minha
vida e por sempre mostrarem o caminho certo, lembrando-me a nunca esquecer das minhas
raízes, a dar valor ao simples.
Ao meu irmão Rafanio Bezerra Duarte e ao meu sobrinho Enzo Gabriel de Sousa Duarte, por
estarem ao meu lado e me fazer ter confiança e forças para continuar lutando por dias melhores.
A minha tia/mãe de coração/criação, “Corra”, a minha avó materna, “Dorinha”, a minha tia,
“Lindalva”, a minha madrinha, “Mara Gurgel”, aos irmãos de coração, Ivanise Freitas, Luana
Viana, Tibério Moura, e aos demais familiares, por todo carinho, cuidado, apoio incondicional
e por sempre me dizerem que eu iria conseguir chegar em todo lugar que eu quisesse, que eu
sempre acreditasse, tivesse forças e muita fé. Obrigado a todos por cada oração.
Ao meu grande amigo, parceiro de todas as horas, Helder Sousa, por todo cuidado, carinho,
atenção nos momentos que mais precisei. Agradeço a Deus, por ter colocado você e sua família
em minha vida.
Aos amigos que tanto amo, Raimundo Filho, Gustavo Menezes, Matheus Macedo, Cielany
Clares, Raiany Barros, Michele Paulino, Lucas Amâncio, Brenda Pinheiro, que sempre
estiveram ao meu lado, pela amizade incondicional e pelo apoio demonstrado neste período.
À Kerma Márcia de Freitas e à Lucenir Mendes Furtado Medeiros, amigas, mães, professoras,
mentoras de estudo, trabalho e vida. Obrigado por me fazerem enxergar cada desafio, medo,
dificuldade e insegurança, como uma oportunidade de aprendizagem e crescimento.
As amigas, anjos que o mestrado me deu de presente, Mirna Neyara, Olga Maria e Ana Suelen,
por todo carinho, atenção, afetos e compartilhar de saberes e experiências. Gratidão é a palavra.
A minhas amigas Rayanne Barbsa, Layane Lima, Roberta Peixoto, Maria Jacielma, Ana Clara,
Laura Jennifer, Cibele Brasil, por todo apoio e carinho nessa árdua caminhada e por sempre se
fazerem presentes com palavras de carinho, apoio e incentivo.
Às minhas monitoras Bruna Oliveira, Stefanny Lavor e Adryelle Silva, e a Sara Catarina, pelo
apoio na coleta de dados e por sempre se fazerem presentes com palavras de força e carinho.
Aos meus colegas de turma de mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva
(PPSAC), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em especial Daniele Keuly, Débora
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Pena, Samir Gabriel, Kellen Alves, Edmilson Silva, Juliana Neves, Delane Giffoni, Dean
Carlos, por compartilharem comigo tantos momentos de descobertas e aprendizado e por todo
o companheirismo ao longo deste percurso. Com vocês, tudo se tornou mais prazeroso e leve.
Gratidão a Deus por ter vocês em minha vida. Não se afastem, mesmo que distantes... Os(as)
amo demais!!! Meu velho grupo “mestramigos”.
Aos companheiros(as) do Grupo de Pesquisa Fluxos, Redes e Cuidado (GPFRIDA), em
especial, Thayza Miranda, Inês Dolores, Leilson Lira, André Ribeiro, Clarissa Dantas, Lucas
Machado, Mayana Azevedo, Duda Quadros, Neíres Alves, Jameson Belém, Geovana, Karoline
Bezerra, Eliziane Lima, por compartilhar saberes, práticas e experiências, pelo apoio
incondicional nessa caminhada.
Aos colegas do colegiado do curso de enfermagem e de fisioterapia do Centro Universitário
Vale do Salgado (UNIVS), pela valiosa convivência, pelos aconselhamentos e encorajamento
nos momentos difíceis. Obrigado por cada palavra.
À minha orientadora, Professora Dra. Maria Rocineide Ferreira da Silva, por todos os
ensinamentos. Por todo apoio e paciência durante a caminhada e por constituir-se para mim um
exemplo de mulher de lutas, pessoa, profissional, professora e enfermeira. Gratidão querida
professora por ser esse ser humano lindo, cheio de afetos. Obrigado por toda acolhida.
As professoras Dra. Helena Maria Scherlowski Leal David e Dra. Maria Marlene Marques
Ávila, por terem participado da banca de qualificação e pelas valiosas contribuições. Aos
professores Dr. Antonio Rodrigues Ferreira Júnior, Dr. Eduardo Carvalho de Souza e Dra. Ana
Célia Caetano de Souza minha banca examinadora, pela disponibilidade de tempo e valiosas
contribuições neste trabalho.
Aos professores(as) do PPSAC da UECE, pelos valiosos ensinamentos, pelo incentivo e pela
colaboração durante esse caminho.
Às funcionárias do PPSAC da UECE, pela disponibilidade e dedicação em nos atender, sempre
solícitas quando precisei.
À reitoria da UNIVS, pelo apoio e incentivo para concretização deste sonho.
Às Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) que participaram deste estudo, pela atenção
dispensada, por apoiarem e compartilharem comigo as experiências e angústias vivenciadas na
busca da consolidação de uma Atenção Básica (AB) e de um Sistema Único de Saúde (SUS)
efetivo e forte.
A todos os que contribuíram de forma direta ou indireta para realização deste trabalho, minha
eterna gratidão.
7
(Fernando Sabino)
8
RESUMO
No lócus da Atenção Primária à Saúde (APS), frente à pandemia da Covid-19, destaca-se o(a)
Agente Comunitário de Saúde (ACS), trabalhador(a) com atuação amparada na lógica territorial
do cuidado que, nesse período, tem contribuído, sobremaneira, para o monitoramento da
situação de saúde e acompanhamento dos comunitários. Diante disso, objetivou-se analisar as
práticas dos ACS, no contexto da pandemia da Covid-19. Trata-se de estudo exploratório,
descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido no Município de Icó, localizado na região
Centro-Sul do Estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Participaram do estudo dezenove ACS, as
quais foram divididas em dois grupos, o primeiro formado por nove ACS atuantes na zona rural,
e o segundo formado por dez ACS ativos na zona urbana. A coleta de dados ocorreu de julho a
setembro de 2021, através de Grupo Focal on-line. O material coletado foi transcrito e
organizado com auxílio do software Iramuteq, enquanto a análise das informações foi procedida
de acordo com a análise de conteúdo temático. A pesquisa atendeu às recomendações da
Resolução n.º 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e do ofício circular 02/2021 que dispôs
sobre pesquisas em ambiente virtual, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, através do parecer de nº 4.688.142. A partir da
organização e análise dos discursos produzidos, emergiram quatro categorias: 1) Percepções
das ACS acerca da pandemia provocada pela Covid-19 – aponta que mesmo os(as) ACS não
sendo considerados(as) como trabalhadores(as) da linha de frente no início da pandemia,
tornaram-se essenciais e indispensáveis, devido à ligação que propiciam entre a comunidade e
os serviços de saúde; 2) O individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações
desenvolvidas pelos ACS na pandemia da Covid-19 – tendo como destaque a prática da
educação em saúde, além das ações das campanhas de vacinação contra a Covid-19 e na
formação de rede de solidariedade, tendo a participação social e popular para a superação dos
obstáculos; 3) Processo de trabalho do ACS no contexto da pandemia da Covid-19 – expressa
que as ACS tiveram que se reinventar diante do novo, para assim dar continuidade às atividades
nos territórios de atuação, bem como tiveram que introduzir no processo de trabalho as
tecnologias digitais de informação e comunicação, tendo como destaque o trabalho remoto,
sendo o WhatsApp uma das principais ferramentas utilizadas; 4) Entre as dificuldades e os
desafios no processo de trabalho do ACS em tempos de Covid-19 – evidenciando como
destaque a ausência de formação e capacitação, carência de informações, de insumos e
Equipamentos de Proteção Individual, escassez de comunicação/diálogo com os gestores da
saúde do município, além do medo, sobretudo do contágio, e a preocupação em transmitir para
9
ABSTRACT
In the locus of Primary Health Care (PHC), in the face of the Covid-19 pandemic, the
Community Health Agent (ACS) stands out, a worker whose performance is supported by the
territorial logic of care that, in this period, has contributed greatly to the monitoring of the health
situation and monitoring of community members. In view of this, the objective was to analyze
the practices of the ACS, in the context of the Covid-19 pandemic. This is an exploratory,
descriptive study with a qualitative approach, developed in the Municipality of Icó, located in
the Center-South region of the State of Ceará, Northeast of Brazil. Nineteen ACS participated
in the study, which were divided into two groups, the first formed by nine ACS working in the
rural area, and the second formed by ten ACS active in the urban area. Data collection took
place from July to September 2021, through an online Focus Group. The material collected was
transcribed and organized with the help of the Iramuteq software, while the analysis of the
information was carried out according to the analysis of thematic content. The research
complied with the recommendations of Resolution No. 466/12 of the National Health Council
and Circular Letter 02/2021, which provided for research in a virtual environment, and was
approved by the Research Ethics Committee of Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, through
opinion n. 4,688,142. From the organization and analysis of the speeches produced, four
categories emerged: 1) Perceptions of ACS about the pandemic caused by Covid-19 - points out
that even the ACS were not considered as front-line workers at the beginning of the pandemic,
they became essential and indispensable, due to the connection they provide between the
community and the health services; 2) The individual and the collective entangled: from the old
to the new actions developed by the ACS in the Covid-19 pandemic - highlighting the practice
of health education, in addition to the actions of vaccination campaigns against Covid-19 and
in the formation of solidarity network, with social and popular participation to overcome
obstacles; 3) ACS work process in the context of the Covid-19 pandemic - expresses that the
ACS had to reinvent themselves in the face of the new, in order to continue activities in the
territories of operation, as well as having to introduce technologies into the work process digital
information and communication, with emphasis on remote work, with WhatsApp being one of
the main tools used; 4) Among the difficulties and challenges in the work process of the ACS in
times of Covid-19 - highlighting as a highlight the lack of training and training, lack of
information, supplies and Personal Protection Equipment, lack of communication/dialogue with
the municipal health managers, in addition to fear, especially of contagion, and the concern to
transmit it to other people, especially family members. Therefore, the Covid-19 pandemic
11
demanded reorganization of the work process in the APS, and for the ACS to continue
developing their practices, it must be ensured, at the very least, decent working conditions,
greater recognition of the class, training and permanent education, aiming to guarantee the
continuity and quality of the assistance provided.
Keywords: Primary Health Care. Community Health Agents. Covid-19. Family Health
Strategy.
12
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
% Porcentagem
AB Atenção Básica
ACE Agente de Combate de Endemias
ACS Agentes Comunitários de Saúde
ADS Área Descentralizada de Saúde
AIS Ações Integradas de Saúde
AP Atenção Primária
APS Atenção Primária à Saúde
ASHAs Ativistas Sociais de Saúde Credenciados
ASSOASMI Associação dos Agentes Comunitário de Saúde de Icó
CAPS Centro de Atenção Psicossocial
CE Ceará
CEB Comunidades Eclesiais de Base
CEMED Centro de Especialidades Médicas
CEO Centro de Especialidades Odontológicas
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CESAU Conselho Estadual de Saúde do Ceará
CHD Classificação Hierárquica Descendente
CHW Community Health Workers
CNS Conselho Nacional de Saúde
CONACS Confederação de Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combates
a Endemias
CONASEMS Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde
CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
CSE Centros de Saúde Escola
ENEMEC Encontros Nacionais de Experiências em Medicina Comunitária
EPI Equipamentos de Proteção Individual
ESF Estratégia Saúde da Família
eSF Equipe de Saúde da Família
16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 20
1.1 Aproximação do pesquisador com a temática........................................................ 20
1.2 Descrevendo o objeto de estudo............................................................................... 22
2 OBJETIVOS............................................................................................................. 27
2.1 Geral.......................................................................................................................... 27
2.2 Específicos................................................................................................................. 27
3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................... 28
3.1 Atenção Primária ou Básica à saúde: construção, trajetória e
concepções................................................................................................................. 28
3.2 O ACS na APS: contexto(s) histórico(s), papel e desafios enfrentados na
atualidade................................................................................................................. 38
3.3 O protagonismo do ACS frente à pandemia da Covid-19...................................... 47
4 MÉTODO................................................................................................................. 52
4.1 Tipo de estudo.......................................................................................................... 52
4.2 Cenário do estudo.................................................................................................... 53
4.3 Sujeitos envolvidos no estudo.................................................................................. 55
4.4 Instrumento e técnica de produção de dados........................................................ 56
4.5 Análise das informações.......................................................................................... 60
4.6 Aspectos éticos e legais do estudo........................................................................... 62
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................... 64
5.1 Apresentação dos participantes.............................................................................. 64
5.2 Apresentação do corpus da pesquisa...................................................................... 75
5.2.1 Percepções das ACS acerca da pandemia provocada pela Covid-19........................ 77
5.2.1.1 Trabalho ressignificado: outros modos de atuar e se presentificar nos territórios 77
5.2.1.2 “Elocidar”: a percepção em ato............................................................................... 79
5.2.1.3 Essencial e indispensável!? O(a) ACS entre a política de Estado e o (des) governo
da política no contexto da pandemia da Covid-19..................................................... 81
5.2.2 O individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações desenvolvidas pelos
ACS na pandemia da Covid-19.................................................................................. 85
5.2.2.1 Na linha de frente: principais ações desenvolvidas pelos ACS na pandemia........ 85
5.2.2.2 O ACS como protagonista nas ações de vacinação contra a Covid-19................... 90
19
5.2.2.3 Rede de redes: participação social e popular frente às ações para superação de
obstáculos na pandemia............................................................................................ 93
5.2.3 Processo de trabalho do ACS no contexto da pandemia da Covid-19......................... 98
5.2.3.1 Tivemos que nos reinventar diante do novo: processo de trabalho vivo em ato.... 98
5.2.3.2 Descobertas da pandemia: introdução das tecnologias digitais de informação e
comunicação no processo de trabalho dos ACS........................................................ 101
5.2.4 Entre as dificuldades e os desafios no processo de trabalho do(a) ACS em tempos
de Covid-19................................................................................................................ 105
5.2.4.1 Dificuldades e desafios enfrentados pelos(as) ACS frente à atuação no contexto
pandêmico................................................................................................................. 106
5.2.4.2 O medo e a resistência a ele: mais um desafio enfrentado pelos ACS nessa
pandemia................................................................................................................... 118
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 123
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 127
APÊNDICE A – INSTRUMENTO/ DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS......... 146
APÊNDICE B – INSTRUMENTO - QUESTÕES NORTEADORAS PARA O
ENCONTRO DO GRUPO FOCAL........................................................................ 147
ANEXO A – DECLARAÇÃO DE ANUÊNCIA................................................... 149
ANEXO B – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP................................ 150
20
1 INTRODUÇÃO
estágio me fizeram refletir, ainda no espaço acadêmico, sobre a importância das ações de
Educação em Saúde, das relações hierarquizadas e das práticas em saúde pertencentes ao
modelo biomédico, bem como do relevante papel do ACS como mediador na transformação de
tais práticas de saúde e da ligação entre a comunidade, serviços e trabalhadores da saúde.
O contato e aprendizado com a Saúde Coletiva, o SUS e o trabalho dos ACS não
pararam. Ao terminar o curso, partindo então para vida profissional, no ano de 2014, tive a
oportunidade de realizar, durante cinco meses, estágio voluntário em uma equipe da Estratégia
Saúde da Família (ESF) do município supracitado. Durante esse período, desenvolvi um
trabalho mais voltado para as visitas domiciliares, adentrando, assim, vários territórios, para
isso, fez-se necessária a parceria com os ACS. Essa experiência me fez ver de perto a realidade
das comunidades, observar as necessidades das gentes que ali habitam os espaços, assim como
ver o valor que os ACS têm diante de cada pessoa, de cada vida.
Após essa experiência, fui selecionado para ser preceptor de estágio do Curso de
Enfermagem da UNIVS nas disciplinas Saúde do Idoso, Enfermagem em Saúde da Criança e
do Adolescente (enfoque Programa Saúde na Escola) e Supervisionado I (enfoque AB). Na
preceptoria de saúde do idoso, bem como do Supervisionado I, “meu” papel enquanto preceptor
era acompanhar os alunos nas atividades extra muro na ESF, e mais uma vez, o contato direto
com os ACS, pois as ações eram realizadas através das visitas domiciliares e atividades dentro
das comunidades, e nada melhor do que a parceria com aqueles que representam o elo entre os
serviços de saúde e a comunidade.
Desde então, o contato com os ACS não parou e o “brilho no olhar” pelo trabalho
deles aumentava. No ano de 2017, tive a experiência de trabalhar como enfermeiro de uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) na zona rural, também no município de Icó, mais uma vez,
pude observar o grandioso e relevante papel que os ACS têm para o processo de ampliação da
assistência à saúde da população dentro dos serviços de saúde. Porém, fiquei bastante
preocupado, pois nesse mesmo ano, foi publicada a nova Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB) (BRASIL 2017), a qual trouxe uma série de mudanças, entre as quais a possibilidade
da formação de equipes de ESF sem a presença dos ACS, desconfigurando, assim, a
centralidade da APS/SUS, fugindo do princípio da integralidade. Ainda, no ano de 2017,
retomei as atividades de preceptoria a qual desenvolvo até os dias atuais.
No ano de 2020, tive a oportunidade de vivenciar junto com outras duas
profissionais enfermeiras, gerentes de UBS no município de Icó, e preceptoras da instituição
onde trabalho, um pouco da atuação dos ACS em duas UBS frente à pandemia da Covid-19.
Nesta ocasião, juntamente com as enfermeiras e colegas do Programa de Pós-Graduação em
22
ROCHA; TOMASI, 2018), e o Programa de Saúde da Família (PSF), criado em 1994 que,
posteriormente, no ano de 2006, passou a ser considerado Estratégia Saúde da Família (ESF),
tornando-se rapidamente a principal estratégia de ampliação e consolidação da APS, em
decorrência da capacidade de organizar e dispor de elementos técnico-científicos, capazes de
intervir no processo saúde-doença da população (PINTO; GIOVANELLA, 2018).
A APS é definida pelo MS como conjunto de ações de saúde individuais, familiares
e coletivas, envolvendo promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, diminuição
de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvidas pelas práticas de cuidado
integrado e pela gestão qualificada, realizadas por equipe multiprofissional, direcionada à
população em território definido, sobre as quais as equipes de saúde assumem a
responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017). Contudo, para o desenvolvimento dessas práticas,
alguns atributos são essenciais, os quais devem ser orientados pelos seguintes princípios:
atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, abordagem familiar
e enfoque comunitário (OLIVEIRA; PEREIRA, 2013).
Diante desse processo, o ACS se vincula à APS para atuar nas unidades básicas e
constituir o elo entre a comunidade e os serviços de saúde, realizando atividades de promoção
em saúde, prevenção de doenças e agravos, vigilância em saúde, mediante ações educativas nos
domicílios e na comunidade, além de se destacar por ser um agente social (RIQUINHO et al.,
2018). Portanto, o ACS é fundamental na APS, pois tem como atributos do trabalho a
competência cultural, a construção de vínculo e a orientação comunitária, relacionando-se
cotidianamente com a população do território que atua e transitando entre os saberes populares
e técnicos (ALONSO; BÉGUIN; DUARTE, 2018; MACIEL et al., 2020).
Para Garcia et al. (2019), o ACS também desempenha papel essencial na atenção
integral dos trabalhadores, assim como é quem realiza o levantamento e cadastro dos usuários,
realiza as visitas domiciliares, orienta as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde
disponíveis, entre outras atividades. Os autores referenciam que o trabalho do ACS é
regulamentado pela Lei n.º 10.507/2002, e todas as atividades e/ou atribuições realizadas estão
em consonância com as diretrizes estabelecidas pelo SUS, assim como estão definidas pela
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).
Esses trabalhadores encontram-se presentes em 97% dos municípios brasileiros,
colaborando para melhoria da qualidade de vida da população, por meio de ações de promoção
e vigilância em saúde. Atualmente, no Brasil, são mais de 265.000 ACS trabalhando na APS,
mais de 100.000 no Nordeste e, no Estado do Ceará, o número já superou a marca de 15.000
(BRASIL, 2020f). Apesar disso, nos últimos quatro anos, tem-se observado diminuição
24
do contato próximo com a realidade da comunidade local, promovendo elo entre os serviços de
saúde e os usuários (MOROSINI, 2020).
Ainda sobre a relevância dos ACS nesse período de pandemia, pode-se afirmar que
estes são trabalhadores que podem atuar na sensibilização da população sobre ações de saúde
para mitigar o risco de a comunidade tornar-se foco de disseminação da Covid-19, além de
detectar condições de maior vulnerabilidade e situações clínicas para informar aos serviços
sobre a necessidade de intervenção, já que são trabalhadores que residem dentro da comunidade
(DUARTE et al., 2020; MOROSINI, 2020).
Em síntese, desde as modificações colocadas pela nova PNAB, tem-se
acompanhado um processo de reestruturação da APS que, entre outras coisas, retira a
centralidade das equipes da ESF, fortalece a perspectiva biomédica do modelo de atenção,
amplia a segmentação do cuidado pela oferta de padrões distintos de serviços (básico e
ampliado) e aumenta a distância do SUS em relação à perspectiva do direito universal à saúde
(HARZHEIM et al., 2020).
Além do mais, ao constatarmos a formação de equipes da ESF com número mínimo
de ACS, ou sem, observa-se a recomposição de barreiras ao acesso da população aos serviços
de saúde, assim como diminui mais ainda a visão da atenção territorializada e a centralidade do
trabalho educativo como base para compor o cuidado contínuo e longitudinal, os quais são
importantes para o desenvolvimento de uma APS forte, capaz de fornecer respostas adequadas
à população e em situações especiais, como a atual emergência sanitária da Covid-19.
Diante dessa conjuntura, este estudo justifica-se por considerar que os ACS
representam marco histórico na construção da APS, assim como têm papel importante para a
própria consolidação. Ainda, os ACS são fundamentais para a APS, além do destaque crescente
no SUS, não somente pelo fato de facilitarem o acesso da população às ações e aos serviços de
saúde, mas por constituírem conexão importante entre as equipes de saúde e a comunidade, o
que fortalece as relações, facilita o potencial diagnóstico das situações de risco, além de atuar
como agentes de organização da comunidade para transformação das condições de saúde.
Ainda, a pandemia da Covid-19 trouxe oportunidade ímpar do país reconhecer o
quanto o SUS e a APS são importantes e necessários, sem citar o protagonismo dos ACS, no
que diz respeito às atribuições, uma vez que tal situação representa um dos maiores desafios
sanitários dos últimos tempos, influenciando de forma direta na dinâmica e relação entre os
elementos que arranjam os processos de trabalho, além de mudar, também, a prestação do
cuidado em saúde nos territórios.
26
Nesse contexto, ao admitir o papel do ACS como agente de mudanças, com saberes
e vivências na APS e na situação de pandemia atual, este estudo partiu das seguintes perguntas
norteadoras: como têm se configurado as práticas dos ACS no contexto da pandemia da Covid-
19? Qual a percepção dos ACS sobre a pandemia da Covid-19? Quais as dificuldades e os
desafios trazidos pela pandemia da Covid-19 para o processo de trabalho dos ACS?
A partir do exposto, o presente estudo se fez necessário, não somente por trazer
novos conhecimentos, mas por poder despertar no meio acadêmico o interesse por novas
pesquisas. Este estudo, ainda, mostra-se relevante, uma vez que nos possibilita reflexão sobre
os desafios enfrentados durante a pandemia da Covid-19 pela APS, bem como acerca do
contexto atual da saúde pública brasileira. Busca, também, sistematizar algumas reflexões
referentes às estratégias adotadas para reconfiguração dos processos de trabalho em saúde em
tempos de enfrentamento da pandemia da Covid-19, sobretudo, o desenvolvido pelo ACS nos
territórios, o qual requer, como citado, o contato, o vínculo e o reforço dos tributos provenientes
da APS, principalmente, a mobilização e a orientação dos diferentes grupos populacionais, para
promoção e proteção da saúde, no contexto da crise sanitária atual.
Também, o estudo contribuirá para que possamos refletir acerca do trabalho
essencial que o ACS exerce dentro da APS, tendo em vista a importância de resgatar as
atribuições originais, considerando e incorporando as inovações tecnológicas atuais, mas não o
ter como um trabalhador dispensável, como é proposto na nova PNAB.
27
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
2.2 Específicos
3 REVISÃO DE LITERATURA
sistema, é onde se tem a capacidade para solução de boa parte dos problemas de saúde por eles
apresentados (LAVRAS, 2011; PORTELA, 2017).
Contudo, na retaguarda desse respectivo consenso, existem distintas concepções
sobre o efetivo significado, uma vez que, em determinados países, a APS é interpretada como
um programa seletivo e focalizado que oferece, de forma reduzida, os serviços de saúde,
objetivando responder apenas a algumas necessidades de grupos populacionais de baixa renda,
e sem a garantia da possibilidade de acesso a outros recursos do sistema. Em outros países, de
forma particular os europeus e no Canadá, a APS é visualizada como o primeiro nível de um
sistema de saúde, a qual oferece serviços clínicos de qualidade, assim como se responsabiliza
pela organização do sistema e coordenação do cuidado (CONILL, 2008).
Para Mello, Fontanella e Demarzo (2009), existe frequente discussão a respeito da
terminologia ideal para nomear o primeiro nível de atenção à saúde. No caso do Brasil, os
termos Atenção Básica (AB), Atenção Primária (AP) e APS podem ser usados como sinônimos,
na maior parte das vezes, sem que isto se torne um problema conceitual. Mas, em determinadas
ocasiões, os respectivos referenciais se modificam desde as correntes francamente
funcionalistas até aquelas mais progressistas, particularmente contrapondo os conceitos de AB
e APS ao de AP.
Embora concordando com alguns autores sobre a existência de consenso sobre a
ideia de uma AB estruturante e um SUS de qualidade, no Brasil, tem-se observado tensão
discursiva, no que se refere à ABS e APS, bem como a existência de contraposições entre
promoção/prevenção X cuidado, demanda espontânea X ações programáticas, saúde clínica X
saúde coletiva, serviço de saúde X orientação comunitária, necessidades populacionais X
acesso oportuno, e entre atenção médica generalista X multiprofissionalidade. O fato é que o
debate conceitual sobre a ABS e APS continua atual, em razão da incorporação da cobertura
universal de saúde na Agenda 2030, a qual tem como meta alcançar um dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) (meta 3.8 do ODS 3 “Saúde e Bem-estar”) e a APS
recomendada como estratégia para cobertura universal (GIOVANELLA, 2018).
Historicamente, elementos importantes influenciaram a compreensão de APS que
figura o debate contemporâneo. Todavia, o Relatório Dawson, elaborado pelo então ministro
da saúde inglês Lord Dawson of Penn, em meados dos anos 1920, é considerado um dos
primeiros documentos a usar o conceito de APS em uma perspectiva de organização dos
serviços de saúde, de forma sistêmica, regionalizada e hierarquizada (FONSECA; MOROSINI;
MENDONÇA, 2013).
30
multiprofissionais, com vista a uma assistência integral, garantindo acesso à outra unidade
funcional do sistema, tendo em vista as necessidades de cada usuário, além de se responsabilizar
por este, independentemente se o atendimento esteja acontecendo em outra unidade do sistema;
e, deste modo, ordenando o funcionamento da RAS (LAVRAS, 2011; SUMAR; FAUSTO,
2014; ALMEIDA et al., 2015).
Tasca et al. (2020) acrescentam que, atualmente, apesar dos resultados alcançados,
a expansão da cobertura da APS no Brasil, além de demonstrar modificações na gestão de
serviços, tem transformado o mercado de trabalho no setor de saúde, enfrentado barreiras
associadas a fatores como restrições orçamentárias, carência de profissionais médicos de saúde
da família, localizações remotas e maior cobertura populacional por planos privados de saúde.
Ademais, a desigualdade na qualidade da assistência oferecida nos serviços da APS
pelos municípios brasileiros continua como um dos obstáculos para expandir a capacidade de
responder aos novos e antigos problemas de saúde que arranjam o perfil de saúde brasileiro,
caracterizado pelos problemas de saúde mental, pela alta carga de doenças crônico-
degenerativas, pelos distúrbios alimentares, além da manutenção de doenças infecciosas e do
aumento da incidência de mortes por violência (TASCA et al., 2020).
No entanto, velhos e novos desafios continuam e sugerem a necessidade de articular
estratégias de acesso a outros níveis de atenção à saúde, a fim de garantir o princípio da
integralidade, bem como a necessidade permanente de adequar ações e serviços de saúde locais,
tendo em vista a maior apreensão das necessidades de saúde da população e superação das
desigualdades entre as várias regiões do país (MATTA; MOROSINI, 2009).
Na esperança de superar desafios e fortalecer a APS, para ampliar a capacidade de
responder aos riscos e atender às demandas de novas condições de saúde da população no país,
emergiram, de modo recente, iniciativas que merecem destaque: as RAS, os Núcleos de Apoio
à Saúde da Família (NASF), o Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção
Primária (PMAQ) e o Programa Mais Médicos, com objetivo de reduzir a insegurança na
assistência à saúde, contudo, enfrentam dificuldades (FAHEL; SILVA, 2018).
Ainda, a procura por ampliar a cobertura e aumentar a qualidade de serviços de APS
no Brasil, ao adotar os atributos essenciais definidos anteriormente, demanda capacidade
contínua de inovação na formulação e implantação de políticas, exemplos e práticas em saúde
no SUS. Assim, urge aumentar a eficácia do gasto em saúde, tendo em vista garantir que novos
recursos sejam respostas efetivas às necessidades em saúde da população e não ocorram mais
ônus sem a obtenção de resultados concretos (TASCA et al., 2020).
37
são os mais pertinentes e fundamentais para uma APS forte e resolutiva. Destarte, encontramos
condições para fortalecer os princípios do SUS, melhorando a saúde das pessoas, com equidade
e dignidade.
No mais, diante das concepções apresentadas, enfatizamos que dentre os
trabalhadores da saúde que atuam na ESF, o ACS é considerado sujeito fundamental na
organização dos serviços de saúde da APS, uma vez que assume posição de mão dupla, pois,
além de ser integrante da equipe de saúde, é morador da comunidade em que atua. Também,
representa conexão essencial entre a população e a equipe de saúde, realizando atividades de
promoção em saúde, prevenção de doenças e agravos, vigilância em saúde, mediante ações
educativas nos domicílios e na comunidade.
Os ACS são considerados personagens-chave dentro da APS, uma vez que residem
na comunidade em que trabalham, desempenham importante papel ao atuarem como elo entre
famílias, usuários e serviços de saúde, favorecendo, deste modo, o trabalho de vigilância e
promoção em saúde. São os ACS que estão presentes no dia a dia, em residências e
comunidades, e vivenciam os problemas particulares de saúde e os sociais da população, assim
como são os que têm o privilégio de chegar primeiro aos dados, de observar as mudanças
acontecidas, a partir da intervenção das ações voltadas à obtenção da saúde, sejam de forma
diretas ou não. Ainda, podemos conceituar o ACS como elo cultural, o qual potencializa o
trabalho educativo, à medida que faz a ponte entre dois universos culturais diferentes, o do
saber científico e o do saber popular (SALIBA et al., 2011; GARCIA et al., 2019).
Historicamente, os ACS se caracterizam como categoria da classe trabalhadora da
saúde bem diversificada e recebem nomeações conforme o país no qual estão inseridos.
Internacionalmente, são representativos de um grupo genericamente de trabalhadores
identificados na bibliografia como Community Health Workers (CHW), os quais se configuram
como resposta às situações de grandes carências e ausência de serviços de saúde para parte da
população nos diferentes países. Como exemplos, temos os brigadistas na Nicarágua, os
colaboradores voluntários na Guatemala, os basic health worker (trabalhador de saúde básica)
na Índia e os ativista em Moçambique (FONSECA; MOROSINI; MENDONÇA, 2013;
CHAVES, 2016; SAMUDIO et al., 2017).
A propagação desses trabalhadores estaria particularmente relacionada à
necessidade de estender a cobertura de saúde nas áreas rurais e nas mais afastadas dos serviços
39
de saúde. Na Rússia, em meados do século XIX, treinavam-se os egressos das escolas para
realizarem ações de saúde junto à população do campo (FONSECA; MOROSINI;
MENDONÇA, 2013).
Nessa mesma perspectiva, nos anos 1920, na China, em Ding Xian, os agricultores
analfabetos recebiam treinamento durante três meses e trabalhavam meio expediente como
profissionais de saúde. Ao final dos anos 1960, esses trabalhadores ficaram conhecidos como
‘médicos de pés descalços’. Posteriormente, no ano de 1960, o modelo médico ocidental se
tornou insuficiente, e o exemplo dos ‘médicos de pés descalços’ foi adotado pela Tanzânia,
Honduras, Índia, Indonésia, Guatemala e Venezuela (SAMUDIO et al., 2017).
No continente africano, eram treinados os membros da população para operar na
prevenção e assistência à saúde, tendo em vista a evasão dos profissionais de saúde por conta
dos conflitos militares. Em Cuba, durante a revolução socialista, ocorreu diminuição
significativa do número de médicos, acarretando reorganização dos serviços de saúde, incluindo
principalmente a participação da comunidade nas ações de saúde (FONSECA; MOROSINI;
MENDONÇA, 2013).
No Brasil, o ACS já era um ator na saúde desde a década de 1940, em que o MS,
por meio da Fundação SESP, formava auxiliares, visitadores sanitários, guardas da malária e
auxiliares de saneamento, para realizarem ações de saúde nas áreas desassistidas. Nesse
contexto, os trabalhadores assumiram papel de educador e tinham como função substituir os
saberes populares e o senso comum pelo conhecimento técnico e biomédico. Também, eram
responsáveis por uma área específica, onde realizavam visitas a gestantes, puérperas e crianças,
assim como monitoravam os portadores de doenças prevalentes, os nascidos e óbitos da área de
atuação (FONSECA; MOROSINI; MENDONÇA, 2013).
Entre 1979 e 1986, no Ceará, Brasil, o embrião do que seria o trabalho dos ACS já
existia como experiência exitosa no município de Jucás. Contudo, o trabalho do ACS começou,
oficialmente, no ano de 1987, quando a experiência de Jucás foi expandida por todo o estado,
como parte do Programa de Emergência, criado em consequência da seca que aconteceu entre
junho de 1987 e junho de 1988. A experiência se destacou por ter sido a primeira a
institucionalizar o Programa de Agentes de Saúde (PAS) (ÁVILA, 2011).
Tendo em vista ser o PAS um programa emergencial por conta da seca, de imediato,
foram selecionadas 6.000 mulheres do sertão cearense para atuarem como agentes de saúde, as
quais tinham que seguir os seguintes critérios de seleção: independente de escolaridade;
mulheres mais pobres das comunidades, pois a ideia era garantir, durante o período da seca, um
salário mensal; e serem conhecidas e respeitadas pela comunidade (ÁVILA, 2011).
40
nos países da América Latina, em que se pode observar que a atuação de trabalhadores que não
faziam parte dos quadros instituídos de profissionais da saúde ganhou centralidade e passou a
ser estruturante para o desenvolvimento de atividades dentro da APS. Destarte, destacamos que
a caracterização da APS e do trabalho do ACS precisam ser compreendidos, no que se refere à
conformação das políticas de saúde e políticas sociais, de modo geral, no entanto, devemos
considerar cada contexto político, econômico e social dos distintos países (QUEIRÓS, 2015;
MOROSINI, 2018).
De acordo com a história, a base legal para a profissão de ACS foi estabelecida no
ano de 1997, e, em 1999, foram definidas as diretrizes para o exercício das atividades. No
entanto, apenas no ano de 2002, a profissão foi regulamentada pela Lei n.º 10.507, a qual definiu
como funções básicas dos ACS a prática de atividades de prevenção de doenças e promoção da
saúde, por meio de ações educativas nos domicílios e na comunidade, individuais ou coletivas,
realizadas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob a supervisão do gestor local
(SALIBA et al., 2011).
Conforme a Lei n.º 10.507, para exercer a profissão, o ACS deveria preencher os
seguintes requisitos: residir na área de abrangência em que atuam; ter concluído ensino
fundamental; ter concluído com aproveitamento o curso de qualificação básica para formação
de ACS. No mais, o referido regulamento foi revogado pela Lei n.º 11.350, de 5 de outubro de
2006, para que ajustes pudessem ser realizados (GARCIA et al., 2017).
O ACS é um dos responsáveis pela transformação na realidade social da
comunidade, com atuação direta nas ações de saúde, de forma especial, a educação em saúde,
cuja trajetória progride, à medida que as várias definições do termo promoção da saúde se
ampliam para o contemporâneo contexto de assistência (PEIXOTO et al., 2015). Deste modo,
no contexto da APS, esse profissional tem as atribuições definidas na PNAB da seguinte forma:
em que atuam. Neste cadastro, são coletadas informações demográficas, econômicas, sociais e
de saúde a respeito dos moradores do território. Em geral, essas informações contribuem para
caracterização das condições de risco que são agregadas às prioridades definidas pelos
programas de saúde e outras políticas sociais (ALONSO; BÉGUIN; DUARTE, 2018).
Através da VD, o ACS tem a possibilidade de conhecer e intervir sobre as
necessidades de saúde da população, trazendo a equipe da ESF o mais próximo possível dos
determinantes do processo saúde-doença, reduzindo ou solucionando os problemas
encontrados. Nesse contexto, é essencial a atuação dos ACS como mediadores, inclusive
fazendo parte das redes de apoio social no território para promoção da saúde. A VD, feita pelo
ACS, proporciona maior compreensão dos processos de adoecimento, compreendendo a
dimensão social, territorial e familiar, aprimorando, deste modo, o trabalho interprofissional e
as relações cooperativas entre os trabalhadores (CUNHA; SÁ, 2013; BROCH, 2017).
Como visto, o território é o principal lócus de atuação do ACS, contudo, também
realiza atividades no interior das unidades, como ajudar na separação dos prontuários/fichas
dos usuários que serão atendidos, no apoio a atividades coletivas, associadas aos tradicionais
programas de saúde, como grupos de hipertensos, atividades mais direcionadas com a promoção
da saúde, como a educação física, entre outras. Em geral, os ACS vão à unidade diariamente e
precisam comparecer à unidade para participar das reuniões de equipe e com o NASF, para o
registro mensal dos dados coletados nas VD (produção mensal), os quais serão importantes para
tomada de decisões da equipe e da secretaria de saúde dos municípios (MOROSINI;
FONSECA, 2018).
Outra atividade que tem sido desempenhada pelo ACS na ESF é o acolhimento.
Isso significa que o ACS também tem sido um dos membros das equipes da ESF a primeiro
receber, escutar e interpretar as necessidades dos usuários no serviço de saúde. A partir disso,
o ACS pode identificar as possibilidades de encaminhamento do problema apresentado pelo
usuário e orientá-lo sobre o que será feito, ou não, justificando as impossibilidades de
atendimento que ocorrem no turno que atua (FONSECA, 2013; MOROSINI; FONSECA,
2018). Contudo, para Fonseca e Mendonça (2014), esse conjunto de atividades desempenhadas
pelos ACS tem cada vez mais aumentado e, ao mesmo tempo, vem competindo com a
disponibilidade que tinham para realização de um trabalho mais elaborado de educação em
saúde nos territórios de atuação.
Também, tem-se observado o comprometimento do tempo e a direção que estão
dando as ações desenvolvidas na comunidade, como as VD, atualmente, mais simples e breves.
As ações de mobilização social e de atuação intersetorial, que demandam discussões,
44
planejamento e diálogo com pessoas e instituições, em muito dos casos, têm sido deixadas de
lado, ou a segundo plano, esperando oportunidade para serem colocadas na agenda, o que
raramente se confirma (MOROSINI; FONSECA, 2018).
Assim, teoricamente, o papel do ACS e a respectiva importância para a APS e o
SUS sempre serão reconhecidos. No entanto, a valorização nem sempre segue na mesma
direção, uma vez que esse trabalhador quase sempre tem que enfrentar condições precárias no
campo de atuação, tem a menor escolaridade e os menores salários entre os profissionais que
arranjam a equipe de ESF. Também, vivenciaram por muito tempo uma luta para conseguir
fazer um curso técnico específico, já que a formação esteve restrita a treinamentos ou
capacitações dentro das próprias unidades de saúde (FAHEL; SILVA, 2018).
Na atualidade, o papel do ACS não é definido claramente, o trabalho nem sempre
é documentado, embora gere elevadas expectativas, e, apesar das ações coletivas e de educação
desenvolvidas dentro dos serviços serem entendidas como potencialidades de fortalecimento,
ainda são pouco valorizadas na ESF em geral, pois o foco está na produtividade, medida pelas
metas estabelecidas. Mais do que isso, o ACS se vê em um trabalho que vai além das
competências e possibilidades de resolução (CORDEIRO; SOARES, 2015).
Outro desafio referente às atividades dos ACS dentro da APS são as condições
precárias de trabalho, identificadas pela exposição às longas jornadas de trabalho, que muitas
vezes ultrapassam o horário e invadem a vida privada; escassez de materiais e carência de
estrutura para realização das atividades; fragilidades do vínculo empregatício; exposição a
condições de trabalho insalubres; acompanhamento de número maior de famílias do que o
preconizado; inexistência de proteção social e de alguém para escutá-los; principalmente, pouco
reconhecimento e desvalorização do trabalho por parte dos gestores, pares e usuários; e pela
própria precariedade do sistema (RIQUINHO et al., 2018).
Morosini e Fonseca (2018), ainda, referenciam que estão unidos a esses desafios a
obrigatoriedade de residir na própria comunidade onde atuam, a exposição a vários tipos de
violência, o relacionamento com usuários, o convívio com os problemas e as dificuldades
enfrentadas pela comunidade, as dificuldades relacionadas ao trabalho em equipe, entre outros.
O fato é que os ACS têm suportado um “peso” excessivo de trabalho e
responsabilidades, assim como enfrentam diferentes obstáculos nas vidas diárias, as quais
tendem a prejudicar a efetividade do trabalho. Nesse cenário, o devido reconhecimento e as
boas condições de trabalho são essenciais para realização das ações em saúde. Além disso, é
necessário fornecer ferramentas para o desenvolvimento de habilidades voltadas aos ACS,
45
visando maior satisfação desse trabalhador e reconhecimento pela equipe de saúde, pelos
gestores e próprios ACS (BROCH, 2017).
Para finalizarmos esta seção do referencial, destacamos que, atualmente, em todo o
país, são mais de 265 mil ACS trabalhando na APS, no Nordeste, mais de 100 mil, e no do
Ceará, o número já ultrapassou a marca de 15 mil. Estes trabalhadores estão presentes em 97%
dos municípios brasileiros, contribuindo para melhoria da qualidade de vida das pessoas, por
meio de ações de promoção e vigilância em saúde (BRASIL, 2020f).
Entretanto, nos últimos anos, tem-se observado (Gráficos 1, 2 e 3) crescente
redução da cobertura de ACS, não somente no Ceará, na Região Nordeste, como em todo o
Brasil. Ao analisarmos os gráficos, verificamos que esse acontecimento vem ocorrendo
principalmente desde 2017, ano em que foi lançada a nova PNAB, o que poderia justificar a
redução desse trabalhador da saúde, uma vez que na PNAB-2017, encontra-se uma série de
alterações, sendo uma delas referente ao reconhecimento das equipes de APS, sem a
obrigatoriedade de alguns trabalhadores, entre eles o ACS (FONSECA et al., 2019).
265.000
260.280 259.994
260.000
Nº de ACS
254.603
255.000
248.413
250.000
245.000
240.000
235.000
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Anos
103.036
103.000 102.265
Nº de ACS
102.000 101.758
101.000 100.598
100.000
99.000
98.000
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Anos
14.742
14.800
14.632
14.560
14.600
14.389
14.400
14.200
14.000
13.800
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Anos
local de moradia e pelo conhecimento histórico de cada membro familiar, esses trabalhadores
são de suma importância para o mapeamento e monitoramento da população frente à Covid-19,
pois possuem grande capacidade de acompanhar a situação de saúde das famílias, de grupos
populacionais com maior risco de agravamento relacionados à Covid-19 e àqueles que se
encontram em situação de maior vulnerabilidade social dentro das comunidades
(PERNAMBUCO, 2020; CABRAL et al., 2020).
O ACS destaca-se também como mobilizador social, já que sua inserção dentro das
comunidades pode garantir maior compreensão do atual contexto em que a vida acontece,
podendo, assim, potencializar os fluxos de comunicação dentro de cada realidade local. O
trabalho de comunicação apresenta a potencialidade de traduzir os termos e as recomendações
do campo da saúde, assim como ajuda na articulação das demandas e dos recursos comunitários
para o desenvolvimento das atividades coletivas (PERNAMBUCO, 2020).
De acordo com Morosini (2020), o fato de o ACS residir na própria comunidade
em que trabalha faz toda diferença, quando comparados aos outros trabalhadores de saúde,
diante da situação em que estamos passando, já que consente que os ACS estabeleçam relação
diferenciada com os indivíduos, as famílias e a população que assiste, tendo ainda maior
proximidade e continuidade das ações. Acrescentamos, ainda, a atuação e presença nos
territórios, asseguradas pelos demais profissionais das equipes da ESF e pelos serviços de APS,
que caracterizam elemento importante para constituição de uma relação segura e de confiança
com a população, a qual pode ajudar em situações extraordinárias, como a vivenciada com a
pandemia do novo coronavírus.
O cenário atual desafiou os(as) ACS a readequarem as práticas, pois, anteriormente
à pandemia, podiam adentrar as residências, o que ajudava a compreender melhor cada
realidade. Agora, é recomendado não ingressar nos domicílios, as visitas são feitas na área por
períodos em cada domicílio, mantendo o distanciamento de, no mínimo, dois metros do usuário,
utilizar máscara e, quando necessário, outros Equipamentos de Proteção Individual (EPIs),
realizar a higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel, antes e após a visita, e
sempre investigar sintomas respiratórios (RUIZ; MARTUFÍ, 2020; QUIRINO et al., 2020).
Dentro da unidade de saúde, o ACS pode realizar atividades educativas enquanto
os usuários aguardam atendimento, orientando sobre a utilização das ferramentas disponíveis,
como o aplicativo Coronavírus-SUS do MS, assim como espaço propício para reforçar as
orientações aos pacientes que ficarão em isolamento e aos cuidadores. Também, podem ajudar
a equipe da ESF a organizar o fluxo de acolhimento, tendo em vista evitar aglomerações,
realizar o acolhimento dos usuários, bem como ajudar nas ações de vigilância ativa e passiva,
50
fluxos sobre tratamentos e calendários de vacinação. Além disso, o ACS pode auxiliar na
identificação e monitorização de casos suspeitos e confirmados, por meio da avaliação de
pressão arterial, temperatura e detecção precoce de sintomas da Covid-19. Todavia, para
realização destas ações, os ACS precisam estar qualificados após treinamento, bem como ter a
disposição os EPIs e outros equipamentos necessários, além de seguir as recomendações dos
protocolos específicos na situação da pandemia (BRASIL, 2020c).
Os ACS também têm se destacado durante esse período de pandemia pelo árduo
trabalho realizado junto às comunidades carentes e favelas. Nestes locais, o suporte dos ACS
apresenta-se recorrente, na busca de que a população que ali habita aumente a aderência ao
isolamento social, e se sensibilizem acerca da importância de todos os cuidados que precisam
ser tomados frente à pandemia. Além disso, observa-se que as atividades dos(as) ACS nesses
espaços se manteve nas condições de complexidade, mesmo com o início da pandemia, já que
esses territórios usualmente são marcados pela transição demográfica, situação epidemiológica
de elevada carga de doenças infecciosas, presença fortemente predominante de condições
crônicas, além das causas externas, tendo por destaque a violência. Todavia, esse cenário teve
a complexidade acentuada pela pandemia, pondo assim pressão maior sobre o SUS e,
consequentemente, sobre os ACS, que atuam na ponta deste sistema (COSTA et al., 2020).
Nesta mesma perspectiva, Maciel et al. (2020) referenciam em estudo que, neste
período de pandemia, uma característica essencial que envolve o trabalho do ACS,
considerando os princípios da acessibilidade e longitudinalidade, é alcançar as populações
marginalizadas e vulneráveis, objetivando garantir que as mesmas também tenham acesso aos
serviços, principalmente, aos cuidados essenciais e quaisquer resultados acionáveis, de forma
oportuna, através de mensagens culturalmente adequadas e necessárias para o enfrentamento
da pandemia da Covid-19.
Durante a pandemia, os ACS ainda tiveram que enfrentar alguns desafios na jornada
de trabalho, durante as visitas domiciliares, como a escassez EPIs, principalmente máscaras e
álcool em gel, em alguns casos, ausência de formação e, até mesmo, inexistência de
condicionantes para o trabalho realizado, além da própria rejeição dos usuários às visitas. Essas
situações prejudicam muito a realização das ações do ACS dentro das comunidades, assim
como torna inviável a vigilância em saúde (BENTES, 2020; COSTA et al., 2020).
O fato é que estes e outros problemas são recorrentes no dia a dia, no sistema
público de saúde, antes mesmo da pandemia se instalar. Deste modo, necessário é
imprescindível atenção diferenciada pelos governos das esferas federal, estadual e municipal,
51
tendo em vista que o problema ainda permanece no país por tempo indeterminado e que outras
situações emergenciais podem acontecer (BENTES, 2020).
Duarte et al. (2020) destacam em estudo que, no início da pandemia, os ACS
ficaram preocupados, sem saber como iriam atuar diante da nova realidade, pois estavam em
contato direto com a comunidade e o território. Além disso, os ACS tiveram medo e
insegurança, tendo em vista a possibilidade de contaminação, bem como dos familiares e da
própria comunidade, uma vez que qualquer indivíduo poderia ser vetor potencial da doença,
mesmo estando assintomático. Todavia, apesar de receosos, estes trabalhadores mantiveram-se
disponíveis para realização das atividades, tendo em vista compreenderem a importância da
atuação nesse período, não somente para o território, como também para a atuação da equipe,
considerando o estreito vínculo com a comunidade.
O panorama apresentado demonstra que a atuação dos ACS é essencial para o
enfrentamento da Covid-19 na APS, principalmente no que se refere à vigilância em saúde e ao
apoio aos grupos vulneráveis no território. Além disso, o desenvolvimento das ações dos ACS
depende do apoio dos gestores, do qual decorre a garantia de condições dignas de trabalho,
oferta de capacitação continuada/permanente sobre a Covid-19, envolvendo temas que abordem
transmissão, período de incubação, sinais, sintomas até as medidas de prevenção e uso do EPIs,
além de disponibilizar os EPIs adequados e oferecer suporte em saúde mental. Ainda, é mister
proteger os ACS que apresentam fatores de risco, afastando-os das atividades presenciais junto
à população, podendo estes atuarem dentro das residências, com ações de monitoramento, por
meio das tecnologias digitais (WhatsApp, e-mail, telefone e outros) (RUIZ; MARTUFÍ, 2020).
De modo geral, a atuação do ACS é fundamental frente à pandemia da Covid-19, o
que o configura como um dos protagonistas da APS/SUS. Esses trabalhadores tiveram que
readaptar as atividades, enfrentar novos desafios, dificuldades e encarar a nova realidade. O
fato é que eles não param e, nesse período, o trabalho tem sido essencial, principalmente por
chegarem em locais muitas vezes esquecidos nas periferias e comunidades carentes. Em muitos
dos casos, os ACS são as únicas fontes de informação da Covid-19 para população, de modo
especial as que vivem em meio às vulnerabilidades sociais, em situações de extrema pobreza,
além dos desabrigados. Mais do que isso, eles representam o principal elo entre as pessoas da
comunidade e os serviços de saúde, e, mesmo diante de tudo, estão diariamente no campo de
batalha para zelar pelas vidas das pessoas, pois cada vida importa.
52
4 MÉTODO
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Icó.
54
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde do município/Coordenação da Atenção Básica de Icó, Ceará, 2020.
55
3 - Procedimentos prévios
para realização do grupo
focal on-line:
1 - Seleção da amostra: 2 - Escolha do programa Construção do guia de entrevista;
Recrutamento dos de comunicação a ser
participantes/Número de Escolha do local de realização do
participantes utilizado grupo focal on-line;
Consentimento livre e esclarecido;
Confidencialidade das informações
fornecidas.
Grupos Focais
Após a formação dos grupos, cada participante foi inserido no respectivo grupo no
WhatsApp. Deste modo, a comunicação e os demais informes foram feitos no grupo.
Destacamos, ainda, que os participantes de cada grupo elegeram a melhor data e o horário mais
adequado para realização dos GF on-line. Também, antes do dia da realização de cada GF, os
participantes receberam no grupo do WhatsApp, assim como no privado, o convite para
participar do GF e o link de acesso à sala de discussão. No dia de cada GF, o convite e o link
de acesso à sala foram enviados novamente.
Tendo em vista que foram formados dois grupos, no Quadro 3, observamos as
principais características de cada um dos grupos.
2 - Dinâmica de
apresentação dos 5 - Debate
participantes entre si
Quadro 4 – Descrição das etapas do roteiro estruturado para realização dos GF on-line
Etapas Descrição das etapas do roteiro estruturado
Abertura da sessão Recepção de boas-vindas aos participantes, apresentação dos pesquisadores
e das informações/esquecimentos a respeito dos objetivos e das finalidades
da pesquisa e da técnica de pesquisa.
Dinâmica de apresentação dos Momento para breve apresentação entre os participantes, objetivando maior
participantes entre si interação entre eles, assim como oferta de melhor comunicação.
Esclarecimento sobre a Neste espaço é onde o pesquisador esclareceu para os participantes como
dinâmica de discussões aconteceria a reunião, de forma que todos ficassem cientes quanto à própria
participação e a dos demais, bem como ao choque de ideias, o qual é
fundamental, ao ponto que não existem verdades absolutas.
Estabelecimento do setting Momento em que foi apontado sobre os aspectos éticos vinculados à
pesquisa, bem como ao processo interativo.
Debate Momento em que o moderador instiga o início da entrevista-debate,
centrado em questões norteadoras.
Síntese dos momentos Feito breve resumo da sessão focal, frisando nos pontos principais da
anteriores entrevista.
Encerramento da sessão Agradecimentos e fechamento da sala de reunião (sala remota).
3 - TRATAMENTO DOS
2 - EXPLORAÇÃO DO
1 - PRÉ-ANÁLISE RESULTADOS E A
MATERIAL
INTERPRETAÇÃO
Consiste na organização
estética simples dos
Caracterizada como a
resultados e tabulação das
primeira fase. Nesta, é onde
informações fornecidas
o pesquisador realiza
pela análise do conteúdo.
leitura “flutuante” do Trata-se da segunda etapa.
Prontamente, as
material, assim como Momento em que o
interpretações precisarão ir
realiza a constituição do pesquisador tenta encontrar
além do conteúdo
corpus e formulação e as categorias, através da
evidenciado nos
reformulação de hipóteses e organização do conteúdo
documentos, já que
objetivos. Além disso, das falas, expressões ou
interessa ao pesquisador o
ocorre a elaboração dos palavras significativas.
conteúdo oculto por trás
indicadores que guiarão a
dos significados das
interpretação e preparação
palavras, para assim
do material a ser usado.
propiciar o discurso dos
enunciados.
CHD acontece em função dos respectivos vocabulários, cuja variação ocorre conforme a
transcrição do pesquisador e o tamanho do conjunto do corpus textual que se pretende analisar.
Esse processo possibilita, com apoio do corpus original, a recuperação dos
fragmentos de textos e a agregação de cada um, permitindo, assim, o agrupamento das palavras
estatisticamente expressivas e a análise qualitativa dos dados, ou seja, cada entrevista é
designada de Unidade de Contexto Inicial (UCI). Há, ainda, os fragmentos de texto que
compõem cada classe, também chamados de Unidades de Contexto Elementar (UCE),
adquiridos a partir das UCI e exibem vocabulário idêntico entre si e diferentes das UCE das
outras classes (CAMARGO; JUSTO, 2013).
Nesse contexto, no presente estudo, a CHD dividiu, então, o corpus em cinco
classes, representadas por cores diferentes. Assim, usamos como estratégia regressar ao corpus
textual que deu origem à CHD, para fazer a calorimetria das palavras que foram destacadas nas
classes geradas pelo Iramuteq, conforme tamanho (indicativo de maior número de repetição
pelos sujeitos) e cores correspondentes às classes geradas pelo software. A alocação por cores
possibilitou visualizar e analisar o contexto original com as falas que apresentam similitude de
sentido. Destarte, realizamos a classificação e a associação dos dados, ajudando, assim, na
escolha das categorias teóricas e empíricas, responsáveis pelos temas e subtemas.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
CARACTERÍSTICAS N CARACTERÍSTICAS N
Identidade de gênero Outro trabalho além do de ACS
Feminino 19 Sim 1
Faixa etária (anos) Não 18
26 - 35 2 Trabalho além do de ACS
36 - 45 8 Técnica de enfermagem 1
≥ 46 9 Renda
Cor De 1,0 a 2,0 salários-mínimos 18
Branco(a) 4 De 2,0 a 3,0 salários-mínimos 1
Negro(a) 3 Território de atuação
Pardo(a) 12 Zona rural 9
Religião Zona urbana/Centro 5
Católica 16 Zona urbana/Periferias 5
Evangélica 2 Tempo de atuação como ACS (anos)
Indefinida 1 6 - 10 3
Estado civil 11 - 15 6
Solteira 7 16 - 20 1
Casada/União estável 10 21 - 25 4
Separada/Divorciada 1 ≥ 26 5
Viúva 1 Tempo de atuação na ESF atual (anos)
Formação # 6 - 10 7
Ensino Médio Completo 10 11 - 15 3
Ensino Médio Incompleto 1 16 - 20 4
Ensino Técnico Completo 5 21 - 25 4
Ensino Superior Completo 5 ≥ 26 1
Ensino Superior Incompleto 3 Participação em movimentos/associações #
Pós-Graduação 1 ASSOASMI* 14
Especificidade da formação Pastoral da criança 1
Técnico em enfermagem 5 Pastoral da sobriedade 2
Assistente Social 4 Associação comunitária 5
Pedagoga 1 Grupos da igreja/Catequese 7
Curso de ACS (400horas) Conselho da Mulher 1
Sim 10 CESAU** 1
Não 09 FASEC*** 1
Vínculo trabalhista Outros 3
Seleção pública do Estado 10
Concurso público municipal 9
uma característica usada para classificação de cor, propiciando que um mesmo indivíduo seja
identificado diferentemente da forma que se autorreferiu. Portanto, podem existir aversões
quando os indivíduos autorreferem a cor e quando outro indivíduo faz esse julgamento
(BRANDÃO; MARINS, 2007).
Quanto à religião, a maioria das ACS se autodeclararam católicas. Carneiro et al.
(2020), Lino et al. (2012) e Simas e Pinto (2017) também constataram em estudos a
predominância da crença religiosa no catolicismo entre os ACS.
As questões de religiosidade trazem consigo um contexto histórico-social,
consentido aos ACS maior interação e elo junto às comunidades em que atua, podendo, assim,
influenciar o desempenho do papel, ao valorizar a percepção dos indivíduos no processo saúde-
doença (LINO et al., 2012). Os autores ainda referem que, nos últimos anos, as questões
relacionadas à religiosidade têm evidenciado impactos positivos acerca da saúde física dos
indivíduos, constituindo possível fator de prevenção de enfermidades e outros agravos em
populações previamente saudáveis.
Nesse contexto, o ACS, em grande maioria católico, como evidenciado na maioria
dos estudos, precisará perceber a importância de ser e agir dentro da multiplicidade de crenças,
convicções e credos religiosos, nas quais a atuação e o território de trabalho encontram-se
envolvidos.
Ainda, é possível afirmar que a religiosidade do profissional da área da saúde
representa aspecto de suma importância e que deveria ser mais bem estudado, uma vez que
influencia, de forma direta e positiva, o paciente, beneficiando a assistência prestada e, ao
mesmo tempo, trazendo melhorias para qualidade de vida e saúde (OLIVEIRA; SANTOS;
YARID, 2018).
De acordo com os dados do estudo, também foi possível observar que a maioria das
ACS responderam ser casadas ou viverem em união estável. Dados semelhantes foram
encontrados nos estudos de Carneiro et al. (2020), Andrade et al. (2018), Barcellos, Pandolfi e
Miotto (2006) e Castro et al. (2017).
Ainda sobre o estado civil, destacamos que este pode também ser um indicador de
permanência dos ACS nos territórios onde moram e atuam. Além disso, essa característica se
apresenta de forma favorável para o desenvolvimento das atividades realizadas dentro das
comunidades, já que por fazerem parte de uma estrutura familiar e serem mulheres, apresentam
maior sensibilidade para perceber e lidar com as dificuldades e os problemas da comunidade,
por serem consideradas “cuidadoras” perante a sociedade.
68
No que se refere à formação dos ACS, verificamos nos dados nível de escolaridade
contemplador ou superior ao exigido pelo MS para execução do trabalho de ACS, pois das 19
participantes, dez concluíram o ensino médio, cinco finalizaram curso técnico, cinco o ensino
superior, uma não terminou o ensino médio e uma informou ser pós-graduada. Nesta parte de
formação, destacamos que o curso técnico feito pelas ACS foi o Técnico de Enfermagem, e em
relação à graduação, o curso concluído por quatro ACS foi o de Serviço Social.
Dados parecidos foram encontrados no estudo de Guimarães, Sousa e Mucari
(2017), em que podemos verificar que a maioria dos ACS também tinha concluído o ensino
médio, muitos tinham curso técnico e ensino superior e outros informaram ser pós-graduados.
No estudo de Freitas et al. (2015), os ACS também buscaram outra formação além do nível
médio, como o curso técnico de enfermagem. No estudo de Alencar et al. (2012), a maioria dos
ACS também tinham ensino médio completo.
Saliba et al. (2011) apontam que é necessário refletir acerca do grau de escolaridade
dos ACS, já que depois da implantação da ESF, o papel de atuação foi expandido, deixando o
foco materno-infantil para a família e a comunidade, além das cobranças de novas competências
no campo social e político. Portanto, a ascensão dos processos formativos dos ACS passaria a
ser importante para desempenhar esse novo papel, bem mais abrangente e complexo. Fonseca
(2019) também destaca que, quanto maior o grau de escolaridade dos ACS, mais condições ele
terá de incorporar novos conhecimentos e orientar as famílias de territórios de abrangência.
A qualificação na formação dos ACS tem sido, nos últimos anos, um dos objetivos
da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (CONACS) e, em âmbito legal,
no ano de 2004, já teve a aprovação da ampliação da escolaridade e qualificação em nível
técnico, com a elaboração do Referencial Curricular para Curso Técnico de Agente
Comunitário de Saúde (BRASIL, 2004). Todavia, esse direito conquistado, por meio de
mobilizações e lutas coletivas dos ACS, não tem sido garantido, continuando a precarização da
formação desses trabalhadores da saúde. Salientamos a Lei nº 13.595, de 5 de janeiro de 2018
(BRASIL, 2018a), a qual define que os ACS precisam ter concluído o ensino médio para
participar de concursos para o exercício da profissão.
O MS, por meio da Portaria nº 2.488, destaca que o ACS, antes de ir para os
territórios atuarem, deverá participar de um curso de Formação Inicial, oferecido pela Secretaria
Municipal de Saúde (BRASIL, 2011), entretanto, os dados deste estudo mostraram que apenas
10 dos ACS realizaram esse curso e nove ACS afirmaram não ter passado por nenhuma
qualificação, capacitação ou algum curso relacionado. Nos estudos de Rezende et al. (2020) e
69
Freitas et al. (2015), grande parte dos ACS também afirmaram não ter passado por qualificação
ou capacitação antes de iniciar o trabalho como ACS.
Gomes et al. (2010) acrescentam que o processo de formação do ACS demanda
esforço de capacitação permanente, tendo como base os princípios do SUS e a construção do
conhecimento de forma compartilhada, procurando compreender as experiências dos
profissionais dentro dos territórios, para assim guiar o trabalho.
Acerca do vínculo trabalhista, os dados mostram que as 19 ACS são servidores
estatutários, 10 advindos da seleção do Estado e nove concursadas do município estudado.
Alencar et al. (2012), Denti, Tozzo e Mendez (2014), Simas e Pinto (2017), e Castro et al.
(2017) também constataram em estudos que a maioria dos ACS eram estatutários. Realidade
diferente foi encontrada no estudo de Pontes, Bornstein e Giugliani, (2012), em que 98,39%
dos ACS angolanos não tinham vínculo empregatício formal com qualquer instância
governamental, assim como no estudo de Costa (2009), cuja maioria dos ACS possuíam cargos
comissionados.
Os ACS alcançaram reconhecimento, com acesso aos benefícios trabalhistas, pela
sanção da Lei n° 10.507/2002. No entanto, esse reconhecimento pode não ter sido suficiente
para assegurar os direitos, na medida em que esses trabalhadores vivem variadas formas de
contratação e heterogeneidade de vínculos de trabalho (SIMAS; PINTO, 2017).
De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), as formas
de contrato de profissionais entre as regiões do país e, até mesmo, em estados de uma mesma
região se apresentam de forma heterogênea, tendo em vista as características de cada local e do
padrão de gestão, seguido pelas três esferas administrativas (BRASIL, 2007).
Nascimento (2005) descreve em estudo sobre a informalidade e fragilidade dos
vínculos trabalhistas oferecidos pelos municípios, antes e depois da publicação da Emenda
Constitucional n° 51/2006 e da Lei n° 11.350/2006, cuja finalidade era reverter a situação de
ilegalidade da admissão e dos vínculos dos ACS nos serviços públicos. Para Magalhães (2015),
esse problema se encontra inserido no contexto da precarização das relações de trabalho, o qual
favoreceu maior contratação de trabalho desregulado, vínculos precários com o Estado, bem
como formas distintas de remuneração.
Quanto ao tempo de atuação, observa-se que a maioria das participantes está
trabalhando como ACS há mais de 10 anos, cabendo, ainda, destacar que nove atuam na mesma
equipe há mais de 15 anos. Estes dados demonstram que as ACS possuem baixa rotatividade
na ESF. Guimarães, Sousa e Mucari (2017) também evidenciaram em estudo que a maioria dos
ACS atuavam de 10 a 14,9 anos. Diante disso, Mota e David (2010) referenciam que, quanto
70
maior o tempo de atuação, maior será a contribuição para a equipe da ESF, pois o ACS passa a
conhecer melhor a comunidade, os territórios e as necessidades de saúde da população.
Nos dados, também, podemos verificar que 18 participantes trabalhavam somente
como ACS, apenas um tinha outro trabalho além do de ACS. Castro et al. (2017), em estudo,
também evidenciaram que a maioria dos ACS não tinham outro emprego. Ao verificarmos a
renda, constatamos que 18 ACS recebiam de 1,0 a 2,0 salários-mínimos. No estudo de Simas e
Pinto (2017), os dados revelam que a maioria dos ACS recebiam remuneração de 1,0 até 1,5
salário-mínimo.
Destarte, Nascimento (2008) descreve que o valor recebido pelos ACS os
caracteriza como população de baixa renda, uma vez que tem inserção econômica muito
semelhante à população por eles assistida e que, muitos deles, apresenta papel importante na
sustentação financeira de famílias que, em muitos dos casos, o ACS acaba buscando uma
segunda fonte de renda.
Em relação ao território de atuação, os dados do presente estudo revelam que nove
ACS trabalhavam na zona rural e 10 na zona urbana. A localização da microárea onde o ACS
atua ganha relevância, sobretudo, os que trabalham na zona rural, uma vez que as distâncias a
serem percorridas nos territórios para alcançar a meta mensal de trabalho são expressivas e, em
várias comunidades, somente é possível se existir meio de transporte. No interior, existe maior
carência de transporte público regular e, provavelmente, o trabalho também seja falho em
alguns momentos (DENTI; TOZZO; MENDEZ, 2014).
Baptistini e Figueiredo (2014) descreveram também que a atuação dos ACS na zona
rural é um grande desafio, uma vez que o simples fato de acessar o domicílio, muitas vezes,
torna-se muito difícil, visto que as comunidades rurais, ou mesmo as casas isoladas, são, às
vezes, muito distantes entre si, e, em determinados locais, é muito afetada pelas estradas sem
condições de trafegar. Ainda, no tempo das chuvas, o desafio do ACS de chegar às casas e
comunidades rurais torna-se ainda maior, já que há ausência de pavimentação, ficando as
estradas rurais intransitáveis.
O trabalho dos ACS nos territórios da zona rural é conduzido pelo motivo do desejo
de ajudar as populações que vivem nesses locais e, muitas vezes, não tem acesso às
informações, à energia, ao saneamento básico, à internet, entre outras, levando-os, também, a
gerar processo de invenção, metamorfose ou criação de algo novo.
No que tange à participação dos ACS em espaços de mobilização social, como
movimento, associações, entre outros, observamos expressiva participação dos ACS do
presente estudo em movimentos da igreja, bem como em associações comunitárias.
71
Quadro 5 – Principais características sociodemográficas e de trabalho das ACS participantes do estudo. Icó, Ceará, Brasil, 2021
Sujeitos Idade Cor Formação Estado Renda Religião Curso de Tempo de Vínculo Outro
civil 400h de atuação trabalhista trabalho/
ACS Participação
em pastoral ou
movimento e
outros
ACS 1 – Zona Urbana 46 anos Branca Ensino Solteira 1 a 2 salários Evangélica Sim 21 anos Estatutário Atualmente
Superior presidente da
Incompleto ASSOASMI;
Pastoral da
criança;
Conselho
Municipal de
Saúde
ACS 1 – Zona Rural 51 anos Parda Técnica de Solteira 2 a 3 salários Católica Não 30 anos Estatutário Técnica de
enfermagem; enfermagem;
Pedagoga Grupos da
igreja;
ASSOASMI
ACS 2 – Zona Urbana 51 anos Branca Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 30 anos Estatutário Pastoral da
Médio sobriedade;
Completo ASSOASMI
ACS 2 – Zona Rural 53 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 26 anos Estatutário Associação
Médio comunitária
Completo
ACS 3 – Zona Urbana 50 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Não 30 anos Estatutário Associação de
Médio e bairro; Grupos
Técnico da igreja;
Completo; Conselho
Técnica de Municipal de
enfermagem Saúde;
Conselho da
mulher; Mesa
Coordenadora
dos Fóruns de
Conselheiros da
ADS Icó;
73
ASSOASMI;
CESAU;
FASEC
ACS 3 – Zona Rural 37 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 13 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Completo
ACS 4 – Zona Urbana 44 anos Branca Ensino Solteira 1 a 2 salários Católica Sim 9 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Completo
ACS 4 – Zona Rural 46 anos Parda Ensino Viúva 1 a 2 salários Católica Sim 25 anos Estatutário Associação
Médio e Comunitária;
Técnico Grupos da
Completo; Igreja;
Técnica de Catequista
Enfermagem
ACS 5 – Zona Urbana 38 anos Parda Ensino Separada 1 a 2 salários Católica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI
Superior
Incompleto
ACS 5 – Zona Rural 46 anos Negra Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Não 25 anos Estatutário Grupos da
Médio igreja;
Completo Catequista;
Conselho
Escolar
ACS 6 – Zona Urbana 45 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 18 anos Estatutário Grupos da
Superior igreja; Pastoral
Completo; da sobriedade;
Assistente ASSOASMI
Social;
Pós
Graduada
ACS 6 – Zona Rural 46 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 21 anos Estatutário Catequese
Superior
Completo;
Assistente
social
ACS 7 – Zona Urbana 39 anos Negra Ensino Casada 1 a 2 salários Evangélica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Completo
74
ACS 7 – Zona Rural 30 anos Parda Técnica de Solteira 1 a 2 salários Católica Não 9 anos Estatutário Associação
enfermagem; comunitária;
Ensino ASSOASMI
Superior
Incompleto
ACS 8 – Zona Urbana 34 anos Parda Ensino Solteira 1 a 2 salários Indefinida Sim 9 anos Estatutário ASSOASMI
Superior
Completo;
Assistente
Social
ACS 8 – Zona Rural 50 anos Parda Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Sim 30 anos Estatutário Associação
Médio comunitária
Completo
ACS 9 – Zona Urbana 36 anos Branca Ensino Solteira 1 a 2 salários Católica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI
Superior
Completo;
Assistente
social
ACS 9 – Zona Rural 42 anos Negra Ensino Casada 1 a 2 salários Católica Não 13 anos Estatutário ASSOASMI;
Médio e Sindicato dos
Técnico Servidores
Completo; Públicos de Icó
Técnica de
enfermagem
ACS 10 – Zona Urbana 38 anos Parda Ensino Solteira 1 a 2 salários Católica Não 12 anos Estatutário ASSOASMI
Médio
Incompleto
Destarte, a atuação na linha de frente exigiu mudanças no saber fazer das ACS do
presente estudo, quando o distanciamento físico se fez necessário, mas a presença ocorreu de
outras formas, como expressaram as falas:
[...] Eram os ACS que estavam ali disponíveis, mesmo não sendo de forma presencial,
mas de forma remota [...]. (ACS4 – zona rural)
[...] Nesta pandemia, tivemos que distanciar para o bem da comunidade, mas tivemos
que estar mais presentes ainda de forma segura e eficaz [...]. (ACS9 – zona rural)
[...] O ACS, em meio a essa pandemia, não foi só o profissional que ficou na linha de
frente, que teve que lidar diretamente com o vírus, com infecção... mesmo sem
nenhuma técnica, sem nenhum conhecimento da psicologia, tivemos que... ouvir a
população, de estar ao lado da população, das pessoas infectadas que entravam em
choque, em pânico quando se via em isolamento… tendo que até chorar com eles,
para que seu choro também acalentasse, o choro daquelas pessoas infectadas [...].
(ACS4 – zona rural)
[...] Apesar do medo, das angústias que sofremos, não deixamos em momento algum
de realizar o nosso trabalho [...]. (ACS10 – zona urbana)
Nós estávamos em lugares esquecidos, nós estávamos com a dor do nosso povo e com
nossas dores, mas estávamos nos nossos territórios, continuamos na luta, continuamos
dentro das nossas comunidades [...]. (ACS2 – zona rural)
[...] Nessa pandemia, a gente viu uma maior valorização do nosso trabalho por parte
das famílias, as pessoas passaram a acreditar e confiar mais em nosso trabalho, e que
o mesmo é essencial para todos. E, assim, não é de agora que somos essa ponte, esse
elo entre a unidade de saúde, profissionais e as pessoas [...]. (ACS4 – zona rural)
80
[...] Eu vejo também que essa questão do processo de trabalho teve uma valorização
maior do trabalho do ACS, pelo menos assim, na minha área eu me senti mais
valorizada... e, assim, as pessoas passaram a acreditar mais no trabalho do ACS [...].
(ACS4 – zona rural)
[...] Somos o elo, trabalhamos diretamente com as vidas, e todas elas importam [...].
(ACS1 – zona urbana)
De acordo com Brasil (2020b), no período pandêmico de Covid-19, os(as) ACS têm
sido elo de comunicação essencial entre a UBS e as pessoas do território, apoiando a equipe no
monitoramento de casos suspeitos e detecção de possíveis agravamentos.
[...] Só acho que não precisaríamos que a pandemia provocada pela Covid-19 tivesse
nos dado tanta visibilidade, pois a gente já existia e sempre estivemos nesta linha de
frente, na base em tantas outras situações [...]. (ACS4 – zona urbana)
Infelizmente, foi obrigado a acontecer uma pandemia como essa, para que todos
pudessem ver que sempre estivemos na linha de frente dentro da Atenção Básica, que
somos trabalhadores fortes do SUS. (ACS3 – zona rural)
Nós sempre estivemos no que hoje é muito falado, na linha de frente, mas só agora
com a pandemia fomos vistas [...]. (ACS8 – zona rural)
As falas corroboram o que afirmam Costa et al. (2020) que são em situações de
crise que desafiam o sistema de saúde, como surtos de doenças e grandes pandemias que o
reconhecimento do papel do(a) ACS é enaltecido enquanto membro da equipe da ESF, por
considerar o poder de sensibilizar a população sobre os cuidados em saúde, a fim de mitigar os
riscos de adoecimento e da disseminação de doenças, sobretudo em populações mais
vulneráveis.
81
5.2.1.3 Essencial e indispensável!? O(a) ACS entre a política de Estado e o (des) governo da
política no contexto de pandemia da Covid-19
[...] O ACS é essencial e indispensável. Por mais que a PNAB diga, por mais que o
PREVINE BRASIL queira nos empurrar um novo modelo de financiamento
excludente, quando vem para os municípios a briga pelo micropoder, por mais que
queiram fazer isso, mais não tem como, eles podem inventar outro profissional que
faça o trabalho parecido, mas só quem tem a coragem de fazer o que a gente faz,
somos nós mesmos [...]. (ACS3 – zona urbana)
[...] A atuação do ACS é primordial, e numa pandemia gigante dessa, não podia ser
diferente [...]. (ACS9 – zona urbana)
[...] Nessa pandemia, a gente viu que a atuação do ACS tem sido fundamental. Na
verdade, temos um trabalho essencial e indispensável, pois são os ACS que estão
dentro das comunidades e sabem as verdadeiras dificuldades e necessidades da
população [...]. (ACS5 – zona rural)
[...] O agente comunitário de saúde é a ponte e a base de toda essa estrutura da Atenção
Básica e do SUS. A gente ver aí pelas novas equipes que estão criando sem o ACS, a
gente ver a diferença [...]. (ACS1 – zona urbana)
Destacamos a percepção de uma das ACS quando aponta que mesmo sendo a
atuação do(a) ACS importante nesse período pandêmico da Covid-19, os processos de trabalho
poderiam ter sido melhores, se estes tivessem tido alinhamento e melhor organização junto às
ações propostas pela saúde desde o início.
82
[...] A atuação do ACS na pandemia foi e tem sido muito importante. Contudo, poderia
ter sido melhor se tivesse acontecido um alinhamento e organização da ação propostas
pela saúde [...]. (ACS6 – zona rural)
Também, evidenciamos em meio às falas das ACS que a atuação em áreas rurais
tem sido fundamental, uma vez que ainda existem pessoas que não têm acesso às tecnologias
e, tão pouco, a informações, sendo, então, as ACS essenciais para disseminação delas. Ainda,
podemos constatar que são essas trabalhadoras que conhecem de perto as reais situações,
problemas, dificuldades e necessidades enfrentados pelas comunidades, levando o trabalho
essencial e indispensável.
[...] Nesse período de pandemia, o trabalho do ACS tem sido essencial, principalmente
na área rural, onde muitas pessoas não têm acesso às tecnologias, e muito menos às
informações… Nestes tempos difíceis, o ACS tem sido um elo entre as pessoas da
comunidade e a equipe de saúde. São os ACS que estão diariamente nos territórios,
são esses trabalhadores que conhecem as reais necessidades das pessoas. [...]. (ACS8
– zona rural)
De acordo com Lotta et al. (2020) e Costa et al. (2021), os(as) ACS frente à
pandemia da Covid-19 não têm tido papel central, como tiveram em crises epidêmicas
anteriores. Na realidade, o direcionamento e a capacitação destes(as) trabalhadores(as) para o
enfrentamento da Covid-19 não se efetuou de fato como política nacional deliberada. Segundo
Haines et al. (2020), ao contrário das orientações de analistas e de perspectivas pregressas
acerca do potencial dos(as) ACS, no decorrer de emergências sanitárias, o governo federal
somente veio a publicar uma recomendação de como estes(as) deveriam trabalhar na pandemia
da Covid-19 um mês após o primeiro caso ser confirmado no país.
Todavia, apesar de a recomendação abordar sobre as necessidades de os(as) ACS
realizarem papel ativo no enfrentamento e combate ao novo coronavírus, não se encontra
diretriz que informe acerca da continuidade do acompanhamento e monitoramento das
pessoas/comunidades, em contexto de exigência de isolamento social, o qual foi uma das
recomendações do MS (FERNANDEZ; LOTTA; CORRÊA, 2021).
Nessa mesma perspectiva, é importante ressaltar que a relevância da atuação
desejada para as ACS no enfrentamento da Covid-19 não somente no município estudado, mas,
em todo o Brasil, chegou em um período crítico para o SUS e a APS, em que ambos passam
por um processo de desfinanciamento e recente reformulação da PNAB (MÉLLO et al., 2021).
Além disso, nos últimos quatro anos, tem-se observada crescente diminuição da cobertura de
ACS em várias regiões do país, isso tem acontecido, sobretudo, desde a publicação da PNAB-
2017, uma vez que se encontram descritas uma série de modificações para APS, sendo que uma
83
5.2.2 O individual e o coletivo enredado: das velhas às novas ações desenvolvidas pelos ACS
na pandemia da Covid-19
[...] Nossas ações têm sido primordial para o acompanhamento da população, pois
desde o início, nós temos trabalho em cima da educação e promoção da saúde,
orientando a população sobre a importância do isolamento social, uso das máscaras e
do álcool em gel, entre outras [...]. (ACS7 – zona urbana)
Os(as) ACS são trabalhadores da saúde que atuam diretamente nos domicílios,
nesse tempo de pandemia da Covid-19, observamos que o principal papel no cotidiano de
trabalho na APS/ESF tem sido o de educador em saúde. Logo, as ações educativas realizadas
diariamente pelos(as) ACS nos territórios são consideradas essenciais para divulgação de
informações seguras, visando prevenção de doenças e promoção da saúde, principalmente em
contextos de crise como o atual, nos quais existem a ausência de informações ou informações
contraditórias (MOROSINI, 2020).
É importante lembrarmos que a essência do trabalho educativo na atuação dos(as)
ACS já existia, contudo, no atual contexto, a imprescindibilidade dessa ação foi reforçada,
visando prevenção de adoecimentos e promoção da saúde das famílias e comunidades. Por meio
do trabalho educativo, os(as) ACS podem ajudar na divulgação de informações dos serviços de
87
[...] A princípio, ficamos dentro da unidade, ajudando a equipe, já que não poderíamos
estar nas áreas... Depois, começamos a realizar as visitas peridomiciliares, mas
seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde...Trabalhamos com a
retirada e entrega das medicações aos idosos... Realizamos o acompanhamento
peridomiciliar dos recém-nascidos e das puérperas, e, também, das gestantes.
Realizamos a busca ativa e notificação dos casos, bem como o monitoramento dos
casos suspeitos e confirmados [...]. (ACS2 – zona urbana)
[...] No início, tivemos que trabalhar por escalas dentro da unidade básica de saúde,
ajudando na triagem dos pacientes, na realização de busca ativa de contatos dos casos
suspeitos quando solicitado, auxiliando na campanha de vacinação dos idosos contra
a influenza. Também, ajudamos a equipe a identificar e monitorar os casos suspeitos,
bem como os casos confirmados e grupos de risco nos territórios... Depois,
começamos a realizar ações por meio das visitas peridomiciliares [...]. (ACS4 – zona
urbana)
Nesse período, fiz o acompanhamento das famílias de forma remota, assim como nas
visitas peridomiciliares, busca ativa e acompanhamento de casos suspeitos e positivos
de Covid-19. (ACS9 – zona urbana)
[...] Desde o início, ajudamos na realização de busca ativa de contatos dos casos
suspeitos, auxiliamos a equipe na identificação de casos suspeitos, bem como
monitoramos os casos suspeitos e confirmados e acompanhamos os grupos de risco
do território. Também, realizamos o agendamento de consultas, solicitação de receitas
e retirada de medicamentos do posto para levar para a casa dos pacientes [...]. (ACS8
– zona urbana)
Várias das ações desenvolvidas pelas ACS do presente estudo também foram
observadas em outras pesquisas. Na cidade de Orós, CE, os(as) ACS também apontaram que a
educação em saúde tem sido a principal ação realizada no período de pandemia, assim como o
monitoramento e encaminhamento dos casos suspeito e confirmados, realização de visitas no
território sem entrar nos domicílios, ficando na área peridomiciliar (LAVOR, 2021).
Em Sobral, CE, município localizado a 235 quilômetros de Fortaleza, os(as) ACS
permanecem atuando nos territórios por meio das visitas peridomiciliares, assim como outras
ações (RIBEIRO et al., 2020b).
Fonseca (2021) evidenciou também em pesquisa que os (as) ACS no período de
pandemia tem realizado várias ações na busca de continuidade aos cuidados à população. Entre
as principais ações, citamos: educação em saúde, através de orientações de cuidados e medidas
de proteção relacionadas à Covid-19; realização das visitas peridomiciliares; auxílio à equipe
da ESF no monitoramento dos casos suspeitos e confirmados de Covid-19; realização de busca
ativa dos contatos próximos de pacientes com Covid-19; ajuda na triagem dos pacientes, na
ocasião da consulta de enfermagem e médica.
Essas ações desenvolvidas pelas ACS do município estudado, bem como nos
estudos supracitados, estão dentro das competências preconizadas pelo MS:
• Orientar durante as visitas domiciliares que pessoas com 60 anos ou mais com sinais
e sintomas respiratórios devem entrar em contato com a unidade de saúde. Caso o
município e/ou a unidade apresentem fluxo próprios, os mesmos devem ser seguidos.
• Realizar busca ativa de novos casos suspeitos de síndrome gripal;
• Organizar o fluxo de acolhimento de modo a evitar aglomeração de grupos com mais
de 10 pessoas e, preferencialmente em ambientes arejados;
• Auxiliar as atividades de campanha de vacinação de modo a preservar o trânsito
entre pacientes que estejam na unidade por conta de complicações relacionadas ao
covid-19, priorizar os idosos;
• Realizar atividades educativas na unidade enquanto os pacientes aguardam
atendimento;
• Apoiar a equipe nas atividades administrativas e de prevenção desenvolvidas na
unidade saúde (BRASIL, 2020e, p.3).
[...] Com a chegada da vacina, primeiro fizemos o levantamento dos idosos para se
vacinarem, e depois ajudamos o restante da comunidade no cadastramento,
agendamento da vacina, assim como ajudamos a equipe do posto nas campanhas de
vacinação e também realizamos o levantamento de quem já tinha tomado a primeira
e segunda dose [...]. (ACS4 – zona urbana)
[...] Fizemos o levantamento dos idosos para vacinação de 1ª dose e 2ª dose. Fomos
até os domicílios para a vacinação dos idosos. Também fizemos o cadastramento e
agendamento de muitas pessoas da nossa área, assim como estamos participando das
campanhas de vacinação dentro da unidade e nos locais de apoio [...]. (ACS2 – zona
urbana)
[...] Fizemos o levantamento dos idosos para a campanha de vacinação, tanto da gripe
quanto para Covid-19, ajudamos a comunidade no cadastramento e agendamento da
vacina contra Covid-19 [...]. (ACS8 – zona rural)
A partir dos relatos, observamos que no período de pandemia, a atuação das ACS
frente às ações de vacinação tem sido de suma importância, pois, além de ajudar as equipes de
ESF com os levantamentos solicitados, tem prestado suporte às pessoas das comunidades no
cadastramento e agendamento das vacinas contra a Covid-19.
Além disso, podemos identificar nas falas um trabalho incansável das ACS,
sobretudo, das que atuam na zona rural, na luta pela imunização das comunidades, em que
algumas relataram ter participado das campanhas de vacinação dentro dos postos de saúde, nas
92
residências e em pontos de apoio. Destacamos, que uma das ACS da zona rural participava das
campanhas de vacinação atuando como vacinadora, já que a mesma concluiu o curso de técnico
de enfermagem. Prontamente, essas atividades têm fortalecido a cobertura vacinal.
Fonseca e Morosini (2021) também descrevem que os(as) ACS têm dado apoio à
campanha de vacinação contra a Covid-19, por meio das seguintes atividades: registro dos
dados dos indivíduos para vacinação nos postos de vacinação; identificação da população idosa,
pessoas com dificuldade de locomoção e pacientes acamados; articulação de táticas para
realização de vacinação nos domicílios; e ações para mobilização das pessoas para comparecer
a primeira e segunda dose da vacina, como visitas peridomiciliares, ligações telefônicas, envio
de mensagens por aplicativo, entre outras.
No estudo realizado por Fonseca (2021), ao analisar a percepção dos ACS sobre o
papel na prevenção e no controle da COVID-19, os dados também evidenciaram que entre as
atividades desenvolvidas por estes, encontram-se as ações relacionadas à vacinação, tendo por
destaque as orientações sobre a vacinação, o auxílio nas campanhas de vacinação, realizando
drive thru e vacinação no domicílio.
Frente ao exposto, evidenciamos que os(as) ACS têm desenvolvido as ações de
vacinação a partir do planejamento (juntamente com as equipes da ESF), identificação do
público-alvo, mobilização das comunidades e acompanhamento e participação da
operacionalização das campanhas de vacinas. Essas funções estão em consonância com as
apresentadas no guia desenvolvido pela OPAS, o qual define as responsabilidades, necessidades
e oportunidades de contribuição dos ACS frente à vacinação contra a Covid-19 (OPAS, 2021).
Segundo a OPAS (2021, p. 8), os(s) ACS:
Assim, fica mais fácil identificar de forma mais rápida os idosos, os acamados, os
domiciliados, os que têm alguma deficiência física e as pessoas que se enquadram nos grupos
de risco para Covid-19, para, assim, orientar sobre as campanhas de vacinação.
Ainda, é importante ressaltar que a eficácia das campanhas de vacinação, incluindo
a de vacinas contra a Covid-19, vai depender muito da aceitação e adesão da população, as
quais são obtidas mediante uma série de estratégias, bem como pela conquista da confiança das
pessoas, algo que muitos(as) ACS conquistaram, pois trata-se de um trabalhador que reside
dentro da comunidade onde atua, como mencionado.
Portanto, os(as) ACS configuram-se como protagonistas frente às ações de
vacinação contra a Covid-19, desenvolvidas junto à população/comunidade e aos outros
profissionais da equipe da ESF, já que, através do trabalho desenvolvido, evidenciamos maior
adesão às vacinas, sobretudo, por combater prontamente a desinformação, de modo a diminuir
a relutância.
5.2.2.3 Rede de redes: participação social e popular frente às ações para superação de
obstáculos na pandemia
[...] As ações que foram mais praticadas aqui foi a parceria com a igreja, com as
associações das comunidades. As compras de pessoas que estavam infectadas, a
própria comunidade, a igreja e a associação quem fazia, a gente se dividia, uns
providenciavam alimentação, outros a água. Tem uma comunidade aqui da minha área
que não tem abastecimento de água, aí, a gente procurava providenciar carro pipa com
água para eles, porque até para a higienização deles estava difícil a água, e a gente fez
essas ações. Também, teve famílias que não tinham aparelho celular, a gente
conseguiu emprestado para a equipe fazer o acompanhamento dos casos [...]. (ACS4
– zona rural)
Além dessas ações relacionadas à saúde, nós também trabalhamos muito na parte
social. A gente teve muitas instituições parceiras, no que diz respeito à doação de
máscaras, álcool em gel e cestas básicas. Nós fizemos essa ponte, que foi muito
importante para muitas famílias carentes, que não tinham nem o básico dentro de suas
casas [...]. (ACS1 – zona urbana)
[...] Também fizemos distribuição de máscaras para as pessoas mais necessitadas [...].
(ACS8 – zona rural)
Na fala da ACS4 – zona rural, verificamos a preocupação dela com uma das
comunidades em que atua, já que as pessoas que ali residem não tinham acesso à água, o que
dificulta a realização da higienização, sobretudo, das mãos, uma das recomendações do MS
para contenção da disseminação da Covid-19. Mas, com o esforço da ACS e das pessoas da
comunidade, ações como a solicitação de carro pipa foi de suma importância para o
enfrentamento desse problema.
Apontamos, também, o suporte que pessoas/grupos das próprias comunidades
ofereceram no momento de cadastrar as pessoas para vacinação contra a Covid-19.
[...] Para o cadastro das vacinas no sistema, tivemos a ajuda do grupo de jovens da
comunidade [...]. (ACS1 – zona rural)
[...] Também tive ajuda das pessoas para realizar o cadastro das vacinas da minha
população [...]. (ACS2 – zona rural)
foi a organização de redes solidárias de costureiras. Essas redes podem ser organizadas por
ACS, com articulação com as lideranças comunitárias que têm conhecimento de pessoas que
sabem costurar e que possuem máquina de costura em casa. Prontamente, no presente estudo,
essa ação se fez presente na rede solidária de duas ACS.
Para Haines et al. (2020), um dos diferenciais do trabalho do(a) ACS consiste na
competência comunitária. Logo, no período de Covid-19, o diálogo que esses(as)
trabalhadores(as) têm com a população acerca das demandas e da importância da participação
social desta e o engajamento comunitário nas ações a serem desenvolvidas dentro dos territórios
tornam-se fundamentais.
Neste estudo, também identificamos que uma das ACS, além de desenvolver ações
juntamente como uma Organização não Governamental (ONG) em área descoberta, tem
realizado ações junto às pessoas que residem no lixão.
[...] Temos desenvolvido um trabalho juntamente com uma ONG, em uma área
descoberta, que também faz parte da nossa unidade, levando orientações e ações de
saúde, assim como realizamos um trabalho em uma área de lixão, que também fica
dentro da minha área, onde as pessoas também precisam de uma atenção, e, aí, a gente
precisa promover saúde nesse espaço, então, foi preciso buscar alternativas para levar
informações e orientações até essas pessoas que estavam por lá. Assim, a gente teve
que se reinventar para conseguir chegar a esses locais mais difíceis e esquecidos [...]
(ACS9 – zona rural)
As ações desenvolvidas pelas ACS, juntamente com a rede de apoio criada com
auxílio da participação popular e comunitária do presente estudo, estão em conformidade com
as recomendações do Conselho Nacional de Saúde (CNS), em que este defende que a população
brasileira, sobretudo, a mais vulnerável e os grupos de risco devem ter a saúde e vida protegida
através da implementação de barreiras sanitárias (lavagem das mãos, uso de máscaras,
isolamento e distanciamento social), garantia do abastecimento de água, assim como
alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2020a).
A participação social, popular e o trabalho coletivo tornou possível pessoas,
lideranças e grupos comunitários e as próprias ACS do município estudado se colocarem como
sujeitos da história e assumirem papel de destaque que o Estado capitalista neoliberal está
deixando de cumprir no período de pandemia. Deste modo, Scaramboni (2020, p. 14),
referencia que “a importância das vidas está nas ações construídas pelas coletiVIDAdes, que
teimam em viver e fomentar projetos de sociedade que impliquem não no extermínio de
pessoas, mas sim no fim das desigualdades”.
Portanto, as redes de apoio, de solidariedade, de cuidados, dentre outras que tem
sido formada não somente nos territórios do município estudado, mas, em várias partes do
mundo, tem por objetivo zelar pela seguridade social das populações mais vulnerabilizadas e
que experimentam, de modo mais perverso, os impactos da pandemia. Essas redes, sobretudo,
construídas pelas coletiVIDAdes, têm realizado ações que trazem a esperança entre as pessoas,
esperança do verbo esperançar, que segundo Paulo Freire (1992, s.p):
É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que
tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é
espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir,
esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com
outros para fazer de outro modo…
5.2.3.1 “Tivemos que nos reinventar diante do novo”: processo de trabalho vivo em ato
Nós, agentes comunitários de saúde, precisamos nos reinventar para saber trabalhar
de uma forma diferenciada e trabalhar de forma com que pudéssemos informar o que
a gente ainda nem sabia como informar, mas ainda assim, de uma maneira desafiadora,
todos nós conseguimos nos reinventar enquanto profissionais... Então, para mim, a
frase seria: “Nós nos reinventamos enquanto profissionais”. (ACS9 – zona rural)
[...] Tudo a gente teve que mudar, a forma de trabalhar, as formas da visita foi
diferente, até na unidade básica de saúde no início... quem estava na linha de frente lá
no posto de saúde era a gente... A gente aprendeu a utilizar coisas que não conhecia...
que era o meio de comunicação... Trabalhar ao redor dos lares sem adentrar nas
casas.... fazer uso e seguir normas... Então, assim, tudo foi modificado [...]. (ACS6 –
zona rural)
[...] E o ACS “pau de dar em doido” como ele é, se destacou nessa pandemia, continua
se destacando... Pois, nós nos reinventamos, inventamos novos meios de trabalhar...
O ACS não consegue ficar sem se destacar, nesse sentido de inventar novos meios de
fazer acontecer as coisas... Eu... pedi até um megafone emprestado para informar e
orientar a comunidade nas visitas peridomiciliares, pois, no início, a gente não podia
adentrar as casas [...]. (ACS3 – zona urbana)
[...] Foi um momento de adaptação, a gente teve que se reinventar, reinventar o nosso
trabalho, nosso meio de abordagem diante dessa situação, e o meio virtual, a
tecnologia foi fundamental para que as nossas visitas pudessem acontecer, para que a
gente pudesse ter acesso à informação, dar acesso às outras pessoas a informação [...].
(ACS7 – zona rural)
[...] Tivemos que trabalhar com novas estratégias, buscar novos métodos... fazer uso
dos novos protocolos... tivemos que nos reinventar diante do novo, tivemos que nos
reinventar em cima de todas as dificuldades [...]. (ACS8 – zona urbana)
[...] Tivemos que nos reinventar no processo do trabalho em todos os aspectos [...].
(ACS6 – zona urbana)
100
[...] No nosso processo de trabalho, sempre teve dificuldades, sempre teve desafios...
e, nessa pandemia, aí, que piorou a situação. Então, assim, não foi fácil em momento
nenhum. E, aí, tivemos que nos reinventar para continuar trabalhando [...]. (ACS9 –
zona urbana)
Ao analisarmos as falas das ACS, observamos que elas tiveram que se reinventar,
vencer desafios, dificuldades e buscar novos meios/ferramentas de trabalho. Além disso,
tiveram que aprender a fazer uso de coisas novas e ousar/usar da criatividade, para melhorar a
comunicação e o diálogo não somente com a comunidade, mas com a equipe de saúde, de modo
a oferecer assistência da melhor forma possível. Tudo isso, a fim de dar continuidade ao
trabalho.
A partir do criar, do fazer, do inovar, do inventar e do se reinventar, podemos
descrever o processo de trabalho exposto pelas ACS como “trabalho vivo em ato”, uma vez que
o trabalho vivo se trata do próprio trabalho em ato, ou seja, trabalho realizado no exato momento
de produção, criação, na atividade do trabalhador. Assim, o trabalho vivo em ato é de controle
do próprio trabalhador, ele lhe dá altos graus de liberdade na concretização da atividade
produtiva, pois é feito enquanto o trabalho é executado, o produto é realizado (MERHY, 2002).
O trabalho vivo em ato se faz tão presente nesse novo processo de trabalho dos
ACS, frente às novas atividades realizadas no enfrentamento da Covid-19, que uma das ACS
explicitou na fala que, de fato, o trabalho tem sido realizado no exato momento de produção,
criação e execução das atividades.
[...] Olhe, minha gente, o que vocês falaram, aí, eu fiquei aqui pensando, é igual aquela
música, que diz assim: “Você sabe o que é caviar, nunca vi, nem comi, eu só ouço
falar” (cantando), foi justamente isso que aconteceu conosco... quando nós fomos
colocados na linha de frente [...]. (ACS1 – zona rural)
Tendo por finalidade a garantia da atenção integral à saúde, a APS tem feito cada
vez mais o uso das ferramentas tecnológicas, como a implantação dos teleatendimentos, os
102
No início, tivemos que fazer uso das tecnologias digitais, onde passamos a fazer nosso
trabalho pelo celular com o auxílio do WhatsApp... Hoje, o trabalho de forma virtual
tem ajudado muito a gente chegar em famílias que a gente, às vezes, não encontrava
em casa, ou seja, tem ajudado a gente a ter maior relação e comunicação com nosso
povo. (ACS6 – zona urbana)
[...] Mudamos nossa forma de atuar, atendendo mesmo por telefone, pelo grupo no
WhatsApp, porque, às vezes, não dava para a gente ir até lá onde a família estava, em
suas casas [...]. (ACS8 – zona rural)
[...] A tecnologia foi nossa companheira aliada, porque através da tecnologia, a gente
conseguiu salvar muitas vidas e conseguimos passar assim, esse processo de trabalho
através da tecnologia. Então, acredito que foi uma grande aliada, para gente conseguir
salvar tantas vidas. Informar, chegar em muitos lares, foi através da tecnologia [...].
(ACS9 – zona rural)
[...] É importante também lembrar dos grupos no WhatsApp que nós criamos na
comunidade, pois muitos de nós não trabalhamos dessa forma, não trabalhamos com
o remoto...Trabalhamos, também, muito com as consultas remotas [...]. (ACS2 – zona
urbana)
[...] Estamos trabalhando muito de forma remota, usando o WhatsApp... até as visitas
estão sendo on-line [...]. (ACS7 – zona urbana)
103
[...] Queria também enfatizar que hoje eu tenho uma intimidade muito maior com
minha comunidade, foi um dos ganhos que a pandemia me trouxe, esse trabalho com
o WhatsApp, esse grupo que a gente criou... Então, assim, apesar do sofrimento,
tivemos esse ganho também [...]. (ACS3 – zona urbana)
É notório o uso dos meios de comunicação digital nesse período, tendo como
destaque nas falas das ACS o uso dos celulares, sobretudo, o aplicativo WhatsApp, o qual tem
sido uma importante ferramenta de disseminação de informações, acompanhamento e, até
mesmo, tem auxiliado na realização de consultas remotas. Destacamos, também, a criação de
grupos no WhatsApp, que permitiram mais aproximação das ACS próximas às
pessoas/comunidade e, ao mesmo tempo, maior repasse dos acontecimentos da área, de modo
a trabalhar as intervenções de forma mais rápida. Essa prática, certamente, ajuda a salvar muitas
vidas, como expressou uma das ACS.
Em Florianópolis, Santa Catarina, na busca de fortalecer o teleatendimento, antes
mesmo da pandemia da Covid-19, o processo de trabalho dos(as) ACS já vinha passando por
um processo de ressignificação, em que estes(as) já vinham trabalhando uma parte da carga
horária dentro da UBS, realizando o acompanhamento da comunidade por telefone,
respondendo mensagens de WhatsApp, ajudando no acesso, na coordenação do cuidado, no
planejamento e na organização das agendas. Mas, nesse período de pandemia, essa atividade se
intensificou, tendo em vista que não se podia ter o contato direto com os usuários nos territórios
(SILVEIRA; ZONTA, 2020).
Em algumas das falas, também evidenciamos que as visitas domiciliares, principal
atividade das ACS, passaram a ser de forma on-line. Esta ação encontra-se dentro das
orientações e recomendações dos documentos técnicos avaliados para adaptação do trabalho do
ACS frente à situação de pandemia, em que em um dos documentos, sugere-se como
possibilidade a realização de “visitas on-line”, intermediada pelos canais de comunicação,
como WhatsApp, e-mail, telefone e outros, a fim de monitorar e comunicar a população acerca
do cancelamento de consultas e orientar sobre a rotina de trabalho da UBS nesses novos tempos
(MACIEL et al., 2020; PERNAMBUCO, 2020).
Diante do enfrentamento das situações que a pandemia trouxe, o(a) ACS tem papel
importante como educador(a) em saúde, uma vez que possui a tarefa de contribuir com
reflexões, informações, orientações junto às iniciativas populares, sociais e do campo da saúde,
assim como de coletar, conhecer, sistematizar e traduzir as aflições e as dúvidas da população
104
(ANAPED, 2020). Para isso, o uso das tecnologias e mídias digitais, como grupos de WhatsApp,
apresentou-se como uma das possibilidades para condução dessa ação nesse período.
[...] Realizamos, também, práticas de educação em saúde por meio do celular nos
grupos e contatos individuais no WhatsApp [...]. (ACS4 – zona urbana)
[...] Não se pode negar que foi e que está sendo maravilhoso, extraordinário o uso das
tecnologias para a gente... e, assim, essa formação dos grupos no WhatsApp ajudou
muito, foi uma forma da gente interagir com a população que tinha medo de falar, de
perguntar, e começaram a participar mais, de buscar mais informações. O grupo tem
sido um espaço para troca de informações, retirada de dúvidas [...]. (ACS4 – zona
rural)
Fazer uso do ambiente virtual, por meio dos grupos no WhatsApp, para realização
de educação em saúde, permitiu romper a visão que tínhamos acerca das tradicionais ações
educativas em saúde, mostrando-nos a potencialidade das tecnologias quando bem utilizadas,
além disso facilitou a participação de muitas pessoas sem precisar de aglomeração. Ademais,
os grupos mostram-se potencialmente importantes, uma vez que têm sido espaços para troca de
informações, orientações e esclarecimentos de eventuais dúvidas a respeito de assuntos
relacionados à Covid-19, entre outros.
Outra atividade praticada pelos ACS na pandemia foi o telemonitoramento, como
podemos verificar:
[...] A meu ver, falta de informação, algumas informações até desencontradas... falta
de capacitação e formação profissional, falta de companheirismo por parte de alguns
e falta de empatia [...]. (ACS9 – zona rural)
[...] Falta de treinamento, de insumos, de EPIs. Eu usei muito tempo máscara de TNT,
porque até para comprar, não tinha para vender. Não tinha EPIs nem para os médicos
[...]. (ACS6 – zona rural)
107
[...] Sentimos a falta de capacitação e formação. Além disso, tivemos a falta dos EPIs
e de insumos, falta de informações concretas que a gente não tinha para dar às pessoas,
a ausência de apoio, de comunicação com a rede... As Fakes News prejudicaram muito
nosso trabalho [...]. (ACS2 – zona urbana)
[...] A nossa maior dificuldade foi essa falta de EPIs. Ainda teve a falta de
informações, formação e capacitação [...]. (ACS5 – zona urbana)
[...] A falta de condição de trabalho, tivemos que nos reinventar para garantir o
funcionamento da Atenção Básica. Foi uma grande dificuldade para nós agentes
comunitários de saúde atuar sem condições mínimas. No início, faltaram insumos,
EPIs, e também muitas informações incertas. Não tivemos capacitação e formação
para atuar nessa pandemia [...]. (ACS10 – zona urbana)
[...] As dificuldades foram muitas, como ausências e precarização dos EPIs, falta de
formação e capacitação sobre o novo coronavírus, falta de comunicação e insumos
[...]. (ACS8 – zona urbana)
[...] Nossas maiores dificuldades para atuar frente à pandemia da Covid-19 foi a falta
de formação e de capacitação, falta de insumos, ausência de EPIs, falta de parcerias e
de informações [...]. (ACS4 – zona urbana)
[...] A nossa maior dificuldade nesse período de pandemia é trabalhar sem as devidas
condições de trabalhos, principalmente em relação aos EPIs... Treinamento mesmo,
capacitação nós não tivemos... a gente foi aprendendo mesmo umas com as outras, em
pesquisa mesmo pela internet. Além de tudo isso, as falsas notícias dificultaram muito
nosso trabalho [...]. (ACS6 – zona urbana)
[...] A principal dificuldade enfrentada neste período de pandemia aqui na minha área
foi principalmente a falta de informação. E, como foi uma coisa muito rápida, muitas
pessoas na zona rural ainda não têm acesso à internet, nem a TV, então, assim, a
dificuldade com a informação foi grande. Dificuldades com transporte... Então, foi
muito difícil... falta de EPIs... falta de acompanhamento... falta de insumos... Na
verdade, sentimos falta de capacitação e formação, porque a gente ficou muito aéreo,
repassando coisas sem segurança, pois tudo era muito novo [...]. (ACS4 – zona rural)
Nessa mesma perspectiva, Brasil (2018b) descreve que a EPS é entendida como
processos educacionais criados a partir das necessidades de aprendizagem dos trabalhadores
nos locais de atuação, os quais permitem provocar reflexão sobre os próprios processos, na
busca de mudanças das práticas profissionais, objetivando aperfeiçoá-las e garantir a qualidade
do cuidado prestado, considerando a potência do trabalho em equipe.
Dessa forma, Azevedo Neto et al. (2021) apontam que em contexto pandêmico, o
qual estamos vivenciando, é indispensável a continuidade do cuidado prestado às coletividades
através de agenda focada na EPS. Logo, é reinventando a prática que os(as) ACS, inseridos em
contexto de adversidade nos diferentes territórios, podem se instrumentalizar por meio da EPS,
para, assim, ressignificar o papel e prosseguir, garantindo a ampliação do acesso ao direito à
saúde a toda população. Além disso, os autores destacam que a EPS se mostra, sobretudo, no
período de pandemia, como importante ferramenta para garantir a segurança ocupacional
desses(as) trabalhadores(as).
Diante disso, as práticas de EPS passam a ser importante instrumento, tendo em
vista que objetiva a melhoria na atuação profissional, deixando-os mais preparados/capacitados,
ao mesmo tempo em que desenvolve o aumento de conhecimento, acarretando melhores
cuidados e ações de promoção, manutenção e restauração da saúde individual e coletiva dentro
dos territórios.
Além do mais, a formação/capacitação dos(as) ACS atuantes na linha de frente
torna-se essencial, para que possam atuar de forma mais segura, assim como tratar melhor as
demandas advindas da Covid-19. No entanto, a formação/capacitação deveria ser
responsabilidade das instituições da gestão, a qual tem por objetivo agenciar a atualização de
conceitos, disponibilização de recursos aos trabalhadores da saúde, sobretudo, os(as) ACS que
estão em contato direto com a comunidade, para que possam saber lidar com os diferentes
públicos e demandas.
110
que pode circular e ser absorvida rapidamente pelas pessoas, podendo levá-las a mudanças de
comportamento e, provavelmente, a correr maiores riscos. Isso torna a pandemia da Covid-19
mais grave, afetando grande parcela da população mundial, o que pode comprometer o alcance
e a sustentabilidade do sistema global de saúde (OPAS, 2020a).
Além da falta de informações, no período de pandemia, outro problema que
prejudicou muito os processos de trabalho dos(as) ACS, foram as fakes news. Segundo Barcelos
et al. (2021), um possível conceito atribuído às fakes news é o de histórias falsas que se
assemelham às notícias, espalhadas pela internet ou em outros meios de comunicação, na
maioria das vezes, criadas para influenciar visões políticas ou como piada. Os autores destacam
ainda que as fakes news espalhadas pelas redes digitais e sociais, sobretudo, pelo WhatsApp e
Facebook, são preocupantes para saúde pública, uma vez que podem prejudicar a eficácia de
programas, campanhas e iniciativas que visam à saúde e ao bem-estar da população. Um
exemplo de fake news nesse período foram campanhas antivacinas.
Em um cenário pandêmico como o da Covid-19, os efeitos das fekes news são ainda
mais devastadores, pois pesquisas mostram que 110 milhões de brasileiros (mais de 50% da
população do país) acreditam em notícias falsas acerca da Covid-19, isso acaba influenciando
o comportamento das pessoas, prejudicando a adesão aos cuidados comprovados pela ciência.
Na área de epidemiologia e estatística, as fakes news se caracterizam por informações falsas
sobre o número de casos, de óbitos e acerca das mortes por outros motivos, as quais são contadas
como sendo de Covid-19. Ainda, existem afirmações que comparam a Covid-19 a uma
gripezinha que dispensa o isolamento social e outras medidas recomendadas pela OMS.
Também, essa categoria engloba outras afirmações que atravessam o negacionismo e o que veio
a ser chamado de necropolítica no Brasil (BARCELOS et al., 2021).
Assim, urge compreender que informações seguras, precisas e de fácil acesso
devem ser um direito central para preservar vidas no período pandêmico. Além do mais,
esforços para criação e circulação de informações de interesse público são de grande
importância, e os(as) ACS, por morarem nas áreas onde atuam, têm como ferramentas de
trabalho a educação em saúde, como citadas, sendo mais fácil disseminar informações corretas
para a população e combater as famosas fekes news.
Uma das ACS também apontou as dificuldades que enfrentaram por residir e atuar
na zona rural ACS4 – zona rural, como a falta de acesso à internet, assim como dificuldades
com transportes. Corrêa et al. (2020) também evidenciaram em estudo que, dentre as possíveis
dificuldades elencadas pelos(as) ACS para o combate a Covid-19 no contexto amazônico, estão
a falta de internet e carência de transportes. Diante disso, podemos apontar que a logística para
114
as equipes de saúde atuarem nas áreas da zona rural, como a falta de transporte e o tempo de
deslocamento das famílias irem até a unidades de saúde, ou dos profissionais chegarem às casas
dos pacientes, tornam-se fatores críticos para o pleno acompanhamento e oferta de cuidados. A
falta de internet nessas áreas também dificulta o momento de repasse de informações, assim
como de realização das práticas da telemedicina, sobretudo, as teleconsultas.
O curso da pandemia também trouxe outros desafios aos modos usuais do processo
de trabalho das ACS do presente estudo, como ter que trabalhar mesmo fazendo parte do grupo
de risco (apresentando alguma comorbidade), ver as pessoas de suas comunidades morrerem,
devido à negligência por parte do presidente e outras autoridades, falta de comunicação/diálogo
com os gestores da saúde do município, ausência de gestão e gerenciamento em diversos
aspectos por parte das autoridades, entre outros.
[...] Uma das dificuldades que eu enfrentei foi ter que trabalhar tendo comorbidade.
Tem dias que minha glicemia está em 400, então, estou no grupo de risco, e nem por
isso, eu pude parar. Entre os desafios, encontram-se as perdas das pessoas dentro da
comunidade [...]. (ACS3 – zona urbana)
[...] Também, a falta de diálogo entre a secretaria e a gente [...]. (ACS5 – zona rural)
[...] Faltou um pouco de gerenciamento em vários aspectos por parte das autoridades
[...]. (ACS4 – zona urbana)
[...] Falta de comunicação por parte da Secretaria de Saúde [...]. (ACS7 – zona rural)
[...] Falta de elo por parte da Secretaria de Saúde [...]. (ACS4 – zona rural)
Alguns dos desafios citados nas falas também foram encontrados na pesquisa
realizada por Nogueira et al. (2020), cujos dados revelam que os(as) ACS idosos, os que tinham
comorbidades e os pertencentes ao grupo de maior risco para Covid-19 tiveram dificuldade de
garantir o direito ao afastamento do serviço. Em alguns casos, no início da pandemia, esses(as)
trabalhadores(as) também tiveram que comprar, ou confeccionar, máscaras para garantir a
proteção no trabalho e continuarem atuando. Os(as) ACS da pesquisa supracitada também
relataram a falta de planejamento, de apoio da gestão, assim como de coordenação nacional do
enfrentamento à pandemia no SUS.
Em relação os(as) ACS que tem alguma comorbidade ou que apresentam maiores
condições de risco para Covid-19, recomenda-se que estes(as) tenham o direito de permanecer
atuando dentro de suas residências, através do teletrabalho, a fim de evitar a contaminação e,
consequentemente, o agravo do caso (FIOCRUZ, 2020). Essa recomendação não foi seguida
entre as ACS do município estudado, como observado na fala da ACS3 – zona urbana.
115
[...] Outra dificuldade grande que me marca muito, é ter um presidente como
Bolsonaro que menosprezou uma pandemia, fazendo com que a gente perca quase 600
mil pessoas, e dessas 600 mil pessoas, muitas delas estão dentro de nossas
comunidades. Se a vacina tivesse sido comprada a tempo, a gente não teria perdido
nossos povos, nossos parentes, pois muitos teriam tomado a vacina e eles não teriam
morrido. Então, é um grande desafio morar em um país em que o presidente é uma
pessoa dessa [...]. (ACS3 – zona urbana)
[...] Então, assim, tem tido uma falha no gerenciamento das verbas, porque as gestões
recebem e não estão colocando as coisas no lugar. Tipo, o dinheiro vem para comprar
os nossos EPIs, eles gastam com outras coisas. Nós, além de trabalhar colocando
nossas vidas em risco, nós ainda estamos gastando do nosso bolso com a compra de
máscaras, de álcool em gel, com luvas... Faltou gestão e gerenciamento em muitos
aspectos nesse momento... Nós somos um trabalhador que pagamos para trabalhar,
porque nosso dinheiro vem do Ministério da Saúde para dentro do município e nós
não temos nada. Nós não temos farda, nós não temos nenhum chapéu para colocar na
cabeça, nós não temos um sapato para colocar nos pés para ir trabalhar, nós não temos
uma máscara para colocar na cara para se proteger nem proteger nossa comunidade
[...]. (ACS1 – zona rural)
5.2.4.2 O medo e a resistência a ele: mais um desafio enfrentado pelos ACS na pandemia
O cenário de emergência atual trouxe à tona uma série de desafios, dentro os quais,
podemos incluir o medo dos riscos aos quais os profissionais da saúde estão expostos,
sobretudo, àqueles que atuam na linha de frente.
O início de uma pandemia por uma nova doença ou vírus demonstra as limitações
referentes à compreensão acerca dos mecanismos de transmissão, características clínicas da
doença, assim como dos fatores de risco para contaminação, causando, assim, medo,
inseguranças, angústias e incertezas entre os profissionais que irão prestar os cuidados diante
de algo que ainda é pouco conhecido (RIBEIRO et al., 2020a).
No caso da pandemia da Covid-19, segundo Moreira, Sousa e Nóbrega (2020), essa
apreensão deixa os profissionais da saúde em estado de alerta constante, podendo ocasionar
abalo emocional, em razão do estresse e medo em prestar cuidados em pacientes suspeitos ou
confirmados de Covid-19. Os autores destacam que essa sensação de medo ocorre pelo fato de
os profissionais não terem conhecimentos concretos sobre a doença, bem como pelo receio de
não estarem atuando com técnicas de biossegurança corretas ou pela condição de atividade
laboral diferente do que está acostumado. Atrelado a isso, existe o medo que os profissionais
têm de se contaminar e transportar o vírus para a casa e contaminar familiares.
Assim, podemos evidenciar nesta subcategoria que um dos maiores desafios das
ACS para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 tem sido o medo.
[...] O meu maior desafio foi trabalhar com o medo de ser contaminada e contaminar
minha família. A primeira morte da nossa cidade foi de uma paciente da minha área,
e isso me deixou com muito medo [...]. (ACS9 – zona urbana)
[...] E nosso maior desafio foi trabalhar com medo de se contaminar e acontecer algo
pior, assim como o medo de infectar nossa família, amigos e a própria comunidade
[...]. (ACS4 – zona urbana)
[...] Entre as dificuldades também tem o medo, a angústia... mas, mesmo assim, a
gente não deixou de trabalhar, de levar assistência às nossas comunidades [...]. (ACS1
– zona urbana)
[...] Primeiro que tudo veio o medo, por ser algo novo para todo mundo [...]. (ACS8 –
zona urbana)
[...] O medo, que ainda hoje eu tenho apesar da pandemia está controlada [...]. (ACS5
– zona urbana)
[...] Além disso, o medo, e, ainda, o enfrentamos todos os dias [...]. (ACS9 – zona
rural)
[...] O medo das pessoas e o nosso medo de se infectar e levar para nossas famílias
[...]. (ACS8 – zona rural)
119
[...] A gente sabia muito pouco da doença, e veio o medo de levar para nossa família,
de se contaminar, e de levar para a comunidade [...]. (ACS6 – zona rural)
[...] Primeiro, quando surgiu a pandemia, veio o medo. Tudo muito novo, aí, a gente
teve medo [...]. (ACS5 – zona rural)
Diante das falas, observamos que o medo se faz presente em todas as ACS. A
maioria das ACS destacaram o receio pelo contágio da doença e a preocupação em transmitir
para outras pessoas, sobretudo, os familiares. Podemos verificar também nas falas que mesmo
com medo, as ACS continuaram trabalhando, mostrando resistência a esse sentimento.
Em pesquisa realizado por Lotta et al. (2021), ao analisar a pergunta relacionada ao
sentimento de medo que os profissionais da saúde têm em relação à Covid-19, os dados
revelaram maior percentual entre os ACS/ACE, com 87,7% de profissionais reportando esse
sentimento (Gráfico 4).
Fonte: LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil. Nota técnica
– 5ª fase. Setembro 2021.
estarem mais próximos da população e poderem observar mais de perto as reais situações e as
várias realidades apresentadas pelos povos, têm enfrentado vários sentimentos e emoções, como
insegurança, angústia, tristeza, ansiedade e medo, sendo o último o mais ocorrido.
O medo também se fez presente na pesquisa realizada por Fernadez e Lotta (2020),
que tinha por objetivo analisar as respostas dos ACS durante a pandemia de COVID-19, com
foco nos sentimentos pessoais, acesso a preparos e equipamentos e processo de trabalho, em
que que 91,3% dos ACS têm medo do trabalho durante essa crise de saúde. Na pesquisa de
Fernandez, Lotta e Corrêa (2021), os dados revelam que dentre os desafios enfrentando no
trabalho dos ACS frente à Covid-19, encontram-se a insegurança, o medo de se contaminar e
contaminar usuários, amigos e familiares e a necessidade de conciliar sentimentos e emoções
ora positivas ora negativas, exigindo, assim, dos ACS maior inteligência e controle emocional.
Ao corroborar esses achados, pesquisas mostram que o sentimento de medo durante
o período de pandemia tem se tornado constante na vida dos profissionais de saúde, já que, além
de enfrentar os riscos de contaminação, passam a encarar problemas como despreparo,
insegurança, medo de trabalhar com algo novo, de se contaminar e infectar outras pessoas,
medo da morte de si e de pessoas próximas e enfrentamento de medidas de isolamento social,
a qual pode facilitar o aparecimento de medo, ansiedade, tristeza, angústia, desesperança,
incerteza, estresse pós-traumático, sintomas depressivos e comportamento suicida (TEIXEIRA
et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2021; SOUADKA et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2020;
MORAES FILHO et al., 2021; DANTAS, 2021).
Na pesquisa de Lotta et al. (2021), também podemos evidenciar que houve
impactos que afetaram e ainda afetam os sentimentos e a saúde mental dos profissionais de
saúde em decorrência da pandemia. Logo, podemos observar que a maioria dos(as)
profissionais de saúde de todas as categorias tiveram impacto na saúde mental (Gráfico 5),
sobretudo, os ACS, assim como os dados revelam que a maioria dos profissionais de todas as
categorias não tiveram apoio para cuidar da saúde mental (Gráfico 6), com especial atenção ao
caso dos ACS. Os autores apontam que o impacto na saúde mental tem relação com
estresse/ansiedade, medo, cansaço e tristeza.
121
Fonte: LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil. Nota técnica
– 5ª fase. Setembro 2021.
Fonte: LOTTA, G. et al. A pandemia de covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil. Nota técnica
– 5ª fase. Setembro 2021.
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Diante dos achados, percebemos que mesmo com o medo e outros problemas de
saúde mental, as ACS continuaram exercendo o papel de cuidadora junto aos seus territórios e
às comunidades. Todavia, fica aqui uma inquietação: quem cuida dos(as) ACS?
É esperado que os ACS, frequentemente, vivenciem um misto de sentimentos e
sensações que os deixam, por muitas vezes, sem saber o caminho a seguir. Deste modo, é
imperativo pensar na prevenção dos impactos negativos à saúde mental desses atores, adotando,
dentro das possibilidades individual e coletiva de cada um, estratégias para cuidado e suporte
emocional nesse contexto, permeadas pelo fortalecimento dos vínculos e da confiança na
realização de práticas saudáveis (PERNAMBUCO, 2020).
Assim, recomendamos que esses trabalhadores busquem por suporte
emocional/psicológico e cuidados integrativos, como as Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS) (Meditação guiada, automassagem, uso de plantas e chás,
aromaterapia e exercícios de relaxamento). Além disso, a troca da experiência e das estratégias
tem a capacidade de apoio e fortalecimento da atuação diante dessa nova realidade (CABRAL
et al., 2020; PERNAMBUCO, 2020).
Ainda, para que as ACS possam realizar o trabalho diante do medo imposto pela
pandemia da Covid-19, é indispensável atenção das autoridades, no que diz respeito a oferecer
condições de trabalho, remuneração, segurança e, acima de tudo, cuidados à saúde mental, por
meio de acompanhamento e terapias psicológicas. Também, é muito importante a rede de apoio
da família, bem como social e espiritual.
123
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
da população e ao mesmo tempo de si, assim como para não perder de vista a articulação com
o território e o vínculo.
Na percepção das ACS, também, podemos verificar que no período pandêmico, o
papel destas entrou em destaque entre os trabalhadores que integram o SUS, devido à
“elocidação” do trabalho, pois, além de se reconhecerem como principal elo entre a população
e o sistema único de saúde, tem o trabalho elucidado pela população enquanto membro da
equipe, por meio do reconhecimento e da valorização. Contudo, essa elucidação somente
aconteceu devido à Covid-19, mas sempre estiveram exercendo o trabalho em tantas outras
ocasiões.
As emergências de saúde pública exigem resposta rápida, portanto, a atuação
dos(as) ACS torna-se fundamental dentro dos territórios, sobretudo, por conhecerem mais de
perto as necessidades e os problemas enfrentados pelas populações. Diante disso,
evidenciamos, também, a partir da percepção de algumas ACS que o trabalho, no período da
Covid-19, tem sido essencial e indispensável, mesmo estando no meio de um (des)governo e
de uma política como a nova PNAB que apontam a formação de equipes sem a presença dos(as)
ACS, bem como diante dos novos modelos de financiamento das equipes da ESF, como o
Previne Brasil. Ainda, destacam que as práticas poderiam ter sido melhores, se tivessem tido
alinhamento e melhor organização junto às ações propostas pela saúde desde o início da
pandemia. Ressaltamos, ainda, que o governo federal somente publicou recomendação de como
os(as) ACS deveriam atuar na pandemia da Covid-19 um mês após o primeiro caso ser
confirmado no país, e que foram reconhecidos(as) como trabalhadores(as) essenciais cinco
meses depois do primeiro caso constatado.
Na linha de frente, as ACS tiveram uma série de ações desenvolvidas dentro dos
territórios, tendo como destaque a educação em saúde, principal ferramenta de trabalho,
considerada essencial para divulgação de informações seguras, visando prevenção e promoção
da saúde. Atividades dentro das UBS, visitas peridomiciliares, busca ativa e monitoramento dos
casos suspeitos e confirmados de Covid-19, também, se encontram dentro do trabalho
realizados pelas ACS. Logo, essas ações fornecem ferramentas eficazes para o enfrentamento
à pandemia da Covid-19, realçando o reconhecimento como ator essencial na teia de cuidados
que se tecem dentro do arcabouço da APS.
As ACS também têm sido protagonistas nas ações de vacinação contra a Covid-19,
através do levantamento, cadastramento e agendamento da população, assim como nas
atividades relacionada às ações solidárias, por meio da formação de redes, em que a participação
social e popular têm sido fundamentais para superação dos obstáculos trazidos pela pandemia.
125
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145
APÊNDICES
146
APÊNDICE – A
7 - Curso de formação inicial (400h) para exercer a função de ACS: ( ) Sim ( ) Não
APÊNDICE – B
ANEXOS
149
ANEXO – A
150
ANEXO - B
151
152
153
154