Competência, Atribuições Privativas e Os Desafios Da Ética Profissional
Competência, Atribuições Privativas e Os Desafios Da Ética Profissional
Competência, Atribuições Privativas e Os Desafios Da Ética Profissional
COMPETÊNCIA, ATRIBUIÇÕES
PRIVATIVAS E OS DESAFIOS DA
ÉTICA PROFISSIONAL
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sociedade de classes cria as possibilidades de sua transformação” (Yasbek, 2009,
p. 129).
No Brasil, o serviço social se legitima profissionalmente como um
instrumento impulsionado pelo Estado e pelo núcleo empresarial, tendo suporte
da Igreja Católica, com o intuito de enfrentar e regular a questão social, em
especial a partir dos anos de 1930. Nesse momento histórico, se intensificam as
manifestações da questão social:
Dessa forma, é possível afirmar que, assim como as relações sociais são
dinâmicas e determinadas em um tempo histórico, as caracterizações da profissão
também o são.
A lei que regulamenta a profissão (Lei n. 8.662/93) considera que a
inserção do profissional de serviço social na realidade brasileira ocorre com base
nos reflexos da questão social, ou seja, se revela nas situações de desigualdades
sociais e econômicas, na forma de pobreza, variadas formas de violência,
situações de fome, desemprego, além de situações de negligência e preconceito.
O assistente social pode trabalhar em instituições que prestam serviços
destinados a atender pessoas e comunidades que precisam desenvolver
autonomia, fomentar a participação social e exercitar a cidadania, para que assim
todos possam acessar seus direitos sociais e humanos. Um dos principais
objetivos do trabalho é dar respostas aos usuários, garantindo o acesso aos
direitos elencados na Constituição Federal de 1988 e nas legislações
complementares.
A atuação profissional deve ocorrer a partir de políticas sociais que
respondam às necessidades, assegurando o acesso da população a serviços e
benefícios conquistados ao longo da história, em especial daquelas asseguradas
na seguridade social.
O perfil do profissional deve estar em sintonia com a perspectiva
humanista, comprometida com valores que dignificam as pessoas, sempre de
modo articulado com os princípios presentes no Código de Ética Profissional e
com no Projeto Ético-Político do Serviço Social.
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No próximo tema, vamos estudar elementos que nos ajudam a
compreender a caminhada dessa profissão no Brasil.
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A questão social não é senão as expressões do processo de formação
e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário
político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por
parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da
vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual
passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e
repressão.
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A partir da década de 1990, passamos a viver de forma contundente os
reflexos da lógica capitalista, pautada em movimentos de exclusão, precarização
e subalternização do trabalho, com fragilização dos direitos, havendo redução
significativa da responsabilidade do Estado com relação às demandas
apresentadas pela questão social. Assim, presenciamos a privatização de
serviços públicos e empresas estatais, o que refletiu diretamente na vida da
população (Piana, 2009).
Considerando o exposto, um dos grandes desafios da profissão no
cotidiano é conhecer e interpretar os reflexos dos fundamentos capitalistas
presente nas relações sociais, de forma mais evidente nas alterações ocorridas
no mundo do trabalho e no desmonte do sistema de proteção social.
Piana (2009), com base em Iamamoto (2000), afirma que o assistente
social precisa desenvolver habilidades e competências para decifrar a realidade.
Deve apresentar propostas criativas que possibilitem a preservação e a efetivação
dos direitos conquistados, com a ousadia de ampliá-los.
Para além da execução das políticas sociais, é preciso ter um aporte de
conhecimento que possibilite formular e fazer a gestão, tanto na esfera pública
como no cenário privado (empresas e entidades não governamentais).
Outro grande desafio é estar fundamentado em uma sólida postura ética,
para poder fazer valer as diretrizes do Projeto Ético-Político assumido pela
profissão a partir do Movimento de Reconceituação. As ações devem ser
desenvolvidas à luz de uma práxis educativa e transformadora, visando trabalhar
no processo do despertar da consciência individual e coletiva, pautada em uma
perspectiva dialética, de modo a “transformar a realidade e por ela ser
transformado” (Piana, 2009). Para tanto, cabe ao profissional assumir uma
postura propositiva, que vá além da mera execução de ações designadas pelas
diretrizes das políticas sociais.
Pensar o serviço social na contemporaneidade é antes de tudo perceber a
realidade apresentada na conjuntura política, econômica, social e cultural da
sociedade analisada. As alterações sociais provocadas pelo sistema capitalista
exigem que o assistente social assuma uma postura de resistência, capaz de ver
as circunstâncias para além de uma noção meramente fatalista e/ou predestinada
pela história.
Nesse sentido, analisar a realidade que se apresenta abre a possibilidade
de formulação de políticas sociais capazes de responder demandas complexas.
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Os desafios sociais agudos neste cenário destacam-se a forma de
examinar e lidar com as demandas impostas, como o desemprego
estrutural, que constrói um dos maiores fantasmas da atualidade, o
acirramento do racismo, das lutas éticas, religiosas e de fronteiras,
acompanhado ao fenômeno de exclusão social. Assim constata-se como
desafio à profissão, encontrar formas de resistência e enfrentamento à
altura de tais demandas. (Barbosa et al., 2015, p. 135)
Netto (2015) afirma que o projeto da profissão de Serviço Social está aliado
a uma escolha de um projeto de sociedade. Assim sendo, ele revela a imagem de
uma profissão no âmbito da sociedade. Elege os valores que a legitima, prioriza
os objetivos e atribuições, e desenha os requisitos teóricos, metodológicos e
operacionais para que se efetive o exercício profissional. Alinha as normas e o
comportamento dos assistentes sociais tendo em vista a relação com os usuários,
outros profissionais e instituições.
Vale destacar que uma categoria profissional expressa a sociedade em que
está projetada; sendo assim, é comum encontrar contradição de interesses dentro
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do seio do serviço social. Assim, existe um Projeto Ético-Político hegemônico da
profissão no cenário brasileiro; mesmo diante das diversidades, existe um
predominante consenso profissional.
Teixeira e Braz (2009) apontam que os projetos de sociedade podem estar
pautados em matrizes conservadoras ou transformadoras. A escolha da profissão
de serviço social foi por uma vertente transformadora. Tem em seu núcleo o
reconhecimento da liberdade como valor ético, trabalhando pela perspectiva da
autonomia e da emancipação plena dos sujeitos sociais.
Os autores elencam os seguintes itens para a constituição do Projeto Ético-
Político do serviço social (Teixeira; Braz, 2009, p. 190-191):
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REFERÊNCIAS
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YASBEK, M. C. O Significado Sócio-histórico da Profissão In: CFESS – Conselho
Federal de Serviço Social. Serviço Social: Direitos Sociais e Competências
Profissionais. (CFESS). Brasília: ABEPSS, 2009. p. 125-142.
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