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Alterações de Motricidade Orofacial e Presença de Hábitos Nocivos Orais em Crianças de 5 A 7 Anos de Idade: Implicações para Intervenções Fonoaudiológicas em Âmbito Escolar

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CDD: 616.

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ALTERAÇÕES DE MOTRICIDADE OROFACIAL E PRESENÇA DE


HÁBITOS NOCIVOS ORAIS EM CRIANÇAS DE 5 A 7 ANOS DE IDADE:
IMPLICAÇÕES PARA INTERVENÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS
EM ÂMBITO ESCOLAR

STOMATOGNATHIC SYSTEM DISORDERS AND THE PRESENCE OF


SUCKING HABITS IN CHILDREN BETWEEN 5 AND 7 YEARS OF AGE:
IMPLICATIONS FOR SPEECH AND LANGUAGE
INTERVENTIONS AT SCHOOL
Gilsane Raquel Czlusniak1, Fabiani Coelho Carvalho2, Jáima Pinheiro de
Oliveira2
1
Autor para contato: Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Campus
de Irati/PR; Departamento de Fonoaudiologia; e-mail: gilsane@brturbo.com.br
2
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Campus de Irati/PR.

Recebido para publicação em 23/05/2008


Aceito para publicação em 02/11/2008

RESUMO

A persistência de hábitos nocivos orais ao longo do desenvolvimento infantil


pode provocar alterações e interferir no padrão normal de crescimento facial e no
desempenho das funções estomatognáticas. Este estudo teve como objetivo prin-
cipal identificar a incidência de alterações de motricidade orofacial e de hábitos
nocivos orais em crianças na faixa etária de 5 a 7 anos, buscando relações entre
essas manifestações. Além disso, o trabalho teve também como meta caracterizar as
alterações principais observadas na amostra, indicando também possibilidades de
ações educativas em âmbito escolar. Fizeram parte desta pesquisa 31 crianças, de
ambos os sexos, que freqüentavam uma escola pública do Estado do Paraná. Foram
aplicados questionários junto aos pais para a investigação da presença de hábitos
orais nocivos e feita uma avaliação dos aspectos de motricidade orofacial com as
crianças. De um total de 31 crianças, 24 apresentaram alterações de motricidade
orofacial. Destas, 19 apresentaram hábitos orais nocivos. Em relação às alterações
de motricidade orofacial, destacam-se as de postura, tonicidade e mobilidade dos
órgãos fonoarticulatórios. Foram observados também problemas nas funções de
mastigação, articulação da fala, deglutição e respiração. Ao final da pesquisa, foram
feitos aconselhamentos em âmbito escolar, com a presença de pais e professores,
com ênfase para a ajuda fundamental dos educadores em relação ao processo de
eliminação dos hábitos orais nocivos em crianças que freqüentam a escola em
período integral.

Publ. UEPG Ci. Biol. Saúde, Ponta Grossa, v.14, n.1, p. 29-39, mar. 2008
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Palavras-chave: Desenvolvimento infantil. Fonoaudiologia na escola. Alte-
rações do sistema estomatognático. Sucção de chupeta. Uso de mamadeira.

ABSTRACT

The persistence of pernicious oral habits during a child’s development may


cause alterations and interference in the growth of the face and the functions of
the stomatognathic system. The aim of this study was to establish the incidence of
stomatognathic system disorders, and to investigate the presence of such habits in
children between 5 and 7 years of age, while trying to identify relationships between
these occurrences. It also studied the main alterations observed in the sample, and
indicated possibilities in instructing procedures at school. The subjects were 31
children, 15 boys and 16 girls, who attended a public school in the State of Paraná.
Questionnaires were applied to the mothers, in order to investigate the presence of
pernicious oral habits and to perform an evaluation of the children’s speech ability.
24 of the 31 children presented stomatognathic system disorders and 19 presented
pernicious oral habits. Among the stomatognathic system disorders, those related
to position, tonus and mobility stood out. Functional disorders related to speech,
swallowing and respiration were also observed. At the end of this research, edu-
cational advice was given to parents and teachers at the school, with emphasis on
the essential role played by the teachers in extinguishing such pernicious habits in
children who spend the whole day at school.

Keywords: Children’s development. Stomatognathic system disorders. Pa-


cifier sucking. Use of the feeding bottle.

Introdução lação entre os hábitos nocivos orais e as funções


estomatognáticas, mais fortemente explorada nas
A Motricidade Orofacial (MO) é o campo da áreas de Fonoaudiologia e Ortodontia, embora ainda
Fonoaudiologia voltado para o estudo e os mais bastante controvertida (SONCINI; DORNELLES,
diversos tipos de intervenção dos aspectos estru- 2000). Grande parte dos autores que trabalha nessa
turais e funcionais das regiões orofacial e cervical. área relata a necessidade de favorecer a condição
A atuação nessa área requer conhecimentos sobre miofuncional orofacial, visando à correção e à
anatomia e fisiologia pertinente às estruturas oro- estabilidade do complexo orofacial. Segundo revi-
faciais e cervicais, o que possibilita, por sua vez, são realizada por Pereira e Felício (2005), quando
a compreensão do desenvolvimento adequado das odontólogos e fonoaudiólogos trabalham em equipe,
funções estomatognáticas, a saber: sucção, degluti- o papel de cada um destes profissionais apresenta
ção, mastigação, articulação da fala, respiração e a maior clareza, ao passo que atuações isoladas de
mímica facial. Sendo assim, é de suma importância ortodontistas, por exemplo, referem apenas as cor-
o conhecimento dos fatores etiológicos e contribuin- reções com aparatos odontológicos. Por outro lado,
tes relacionados aos distúrbios miofuncionais oro- as autoras comentam que as diferentes condutas
faciais e cervicais, além de conhecer o trabalho de adotadas pelos odontólogos no tratamento de seus
outros profissionais, mantendo contato com vistas pacientes podem ser decorrentes de suas formações,
à interdisciplinaridade nos casos dessas alterações o que acaba implicando em posturas diferenciadas
(COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, na interação com outros profissionais.
2004). Os hábitos orais são padrões de contração
Dentro desse contexto, está inserida a re- muscular aprendidos, tais como sucção digital, suc-

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ção de mamadeira e chupeta que, quando persisten- reto (CATTONI, 2004; CUNHA, 2001). A função
tes, podem provocar alterações e interferir no padrão de deglutição, por sua vez, pode ser caracterizada
normal de crescimento facial e no desempenho das como alterada quando há sobras de alimento no
funções estomatognáticas. Moresca e Feres (1994) vestíbulo e na cavidade bucal, protrusão de língua
complementam esse conceito referindo que esses entre as arcadas dentárias, pressionamento da língua
hábitos trazem um certo prazer e/ou satisfação para contra os dentes, elevação da cabeça, contração
quem o apresenta. Seu início é consciente, mas, em da musculatura perioral, excessivo abaixamento
função da repetição contínua, ocorre um processo mandibular e interposição do lábio inferior, dentre
de automatização e aperfeiçoamento tornando-se, outros (CATTONI; 2004; SACALOSKI; ALAVAR-
assim, inconsciente. Em sua maioria, os hábitos SI; GUERRA, 2000).
orais nocivos se originam na lactância ou primeira A respeito da respiração, Cunha (2001) e
infância. Tessitore (2004) ressaltam que ela pode se alterar
As alterações provocadas por tais hábitos em decorrência de fatores funcionais ou orgânicos.
inadequados irão influenciar o crescimento da face, Quando a respiração nasal se torna mista ou bucal,
a forma das arcadas dentárias e a produção da fala, ela passa a ser antifisiológica, gerando inúmeros
principalmente pelo padrão de posicionamento da efeitos colaterais oriundos do trabalho e da ação im-
língua. Além disso, tais alterações poderão prejudi- própria de toda a musculatura orofacial. Essa autora
car também as funções de mastigação, deglutição e explica que esses efeitos colaterais são ocasionados
respiração. Peres et al (2007) alertam para que esses principalmente pela modificação postural da língua,
hábitos sejam considerados como risco para altera- que se torna rebaixada, fazendo com que a estrutura
ções de oclusão e para o fato de a amamentação ser óssea da região do palato sofra uma compressão
um fator de proteção em relação às oclusopatias. em função da ação incorreta dos músculos da face.
Em relação à produção da fala, sabe-se que Não havendo a oposição da língua na região supe-
esta depende de um controle neuromuscular com- rior, o palato torna-se atrésico, aprofundando-se e
plexo, que envolve: posição da língua e sua capa- projetando a arcada dentária superior para frente,
cidade de se movimentar, presença e posição dos determinando alterações de oclusão (TESSITORE,
dentes, movimentação dos lábios e de bochechas. 2004; CUNHA, 2001).
Para um padrão satisfatório dessa função, é neces- Ressalta-se que as causas das alterações nes-
sário ainda uma posição mandibular própria que sa função são inúmeras e a relação dessa função
proporcione um espaço interdental capaz de con- com os hábitos orais nocivos pode ser analisada
trolar a abertura e o fechamento da cavidade oral, do ponto de vista de uma conseqüência, isto é, o
promovida pela ação dos lábios e musculatura da hábito nocivo oral pode proporcionar um padrão
face (MARCHESAN, 2004). Nas alterações articu- de respiração oral.
latórias, podem ser incluídos os sigmatismos lateral Na literatura, há vários estudos que relacio-
e frontal e a imprecisão articulatória. Aguns destes nam essas alterações à presença de hábitos orais
casos podem ter sua origem em alterações gerais nocivos, no sentido destes serem, em grande par-
da motricidade orofacial, pois estão relacionados te, responsáveis pelos problemas de Motricidade
a vários aspectos do sistema sensório-motor-oral Orofacial. Isso porque a persistência destes hábitos
(MARCHESAN, 2004; SACALOSKI; ALAVARSI; ao longo de desenvolvimento infantil pode refletir
GUERRA, 2000). diretamente no desenvolvimento sensório-motor-
Sobre a mastigação, para que esta se realize oral, craniofacial, assim como nas funções estoma-
satisfatoriamente é necessário que as arcadas dentá- tognáticas (MARCHESAN, 2004; CATTONI 2004,
rias se disponham de forma a proporcionar contato FELICIO 2004).
entre os dentes da arcada superior e os dentes cor- Dentre esses hábitos, destaca-se aqui o uso
respondentes da arcada inferior. Caso haja alteração indiscriminado de chupeta e de mamadeira, sem
não será possível realizar o padrão mastigatório cor- dúvida os mais freqüentes na população infantil

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(SONCINI; DORNELLES, 2000). Esses hábitos medidas e condições clínicas aos hábitos de sucção
vêm despertando interesse de vários profissionais e alterações miofuncionais em 130 escolares. A
da área da motricidade orofacial, pois englobam respeito dos hábitos, foi aplicado um questionário
aspectos relacionados à ação dos grupos muscu- com os responsáveis. Os resultados indicaram a
lares nas suas movimentações, nas características mordida aberta como o padrão de alteração de
morfológicas e na descrição de processos funcio- oclusão mais prevalente. Houve também associação
nais já citados, em padrões normais e patológicos entre esse padrão e a interposição lingual. As autoras
(BITAR, 2004). concluíram que existe uma correlação etiológica
Os danos que esses hábitos podem causar em entre a mordida aberta anterior com hábitos orais
relação às funções estomatognáticas também são deletérios e algumas alterações das funções orofa-
descritos na literatura. Os hábitos de sucção trazem ciais, com destaque para os padrões de deglutição
conseqüências importantes na morfologia do palato e articulação da fala. Desse modo, o estudo alertou
duro, como alterações de oclusão, posicionamento para a necessidade da interação entre ortodontistas e
em repouso e movimentação da língua, dentre outras fonoaudiólogos no atendimento integral do paciente
(BIGENZAHN, 2008; CATTONI 2004, FELICIO portador de mordida aberta.
2004; CUNHA, 2001; TANIGUTE, 1998). As disfunções temporomandibulares também
No estudo de Frias, Foresti, Carmona et al são foco de interesse em relação às possíveis asso-
(2004), as autoras verificaram que existe relação ciações destas com a presença de hábitos orais dele-
entre o ceceio anterior, o crescimento craniofacial térios. Merighi, Silva, Ferreira et al (2007) fizeram
e a presença dos hábitos de sucção não nutritiva. O um estudo com o objetivo de verificar a ocorrência
objetivo do estudo era analisar a relação existente de disfunção temporomandibular em crianças de 6
entre ceceio anterior e idade, sexo, presença de suc- a 11 anos, correlacionando os achados à presença de
ção não nutritiva e medidas dos terços da face. As hábitos orais deletérios. Participaram desse estudo
autoras avaliaram 178 crianças, de ambos os sexos, 79 crianças de ambos os sexos e foram investigadas
na faixa etária de 3 a 7 anos de idade. Para coleta as presenças de disfunção temporomandibular e de
de dados referente aos hábitos orais, foi enviado hábitos orais deletérios de sucção (mamadeira, chu-
um questionário aos pais. Dentre os aspectos mais peta e digital) e de mastigação (onicofagia, morder
relevantes observados, destacam-se a diminuição do objetos, morder a mucosa oral ou labial, bruxismo
ceceio com o aumento da idade e a maior proporção e apertamento dentário). As autoras verificaram
dessa manifestação em crianças com hábitos de que 27 crianças apresentaram sinais de disfunção
sucção não nutritiva. Além disso, os dados eviden- temporomandibular, sendo a disfunção articular a
ciaram que a medida do terço médio da face possui mais freqüente. A presença de hábitos orais dele-
relação direta com a presença do ceceio. A partir térios foi verificada em 55 crianças, sendo maior
destes dados, as autoras indicaram a necessidade o número de crianças com hábitos de mastigação
de se questionar o momento de intervenção. do que de sucção. As autoras ainda identificaram a
Também referente à temática de hábitos presença de dois hábitos associados em 22 crianças
orais nocivos e alterações de motricidade orofa- da amostra. A partir da análise estatística, não foi
cial, Maciel e Leite (2005) realizaram um estudo demonstrada nenhuma associação entre a presença
com o intuito de associar disfunções orofaciais de hábitos orais deletérios e disfunção temporoman-
e hábitos orais deletérios à alteração de mordida dibular, embora fosse alta a freqüência de ambas as
aberta anterior. As autoras pretendiam também características.
reunir evidências que colaborassem para o melhor Observa-se, dessa forma, que os hábitos po-
entendimento da etiologia e do desenvolvimento dem alterar de modo significativo tanto as estrutu-
dessa oclusopatia, já que se trata de uma anomalia ras, quanto as funções do sitema estomatognático,
complexa e de difícil tratamento. Para tanto, as merecendo, portanto, muita atenção no que se refere
autoras fizeram um estudo exploratório, associando às medidas para minimizar a freqüência destes du-

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rante a infância e, principalmente, ao suporte para Local
questionar sobre o momento de iniciar a intervenção
de profissionais. Levando tais aspectos em consi- A pesquisa foi realizada numa escola pública
deração, este estudo teve como objetivo principal de uma cidade do interior do Estado do Paraná, após
identificar a incidência de alterações de motricidade autorização por parte da diretoria.
orofacial e de hábitos nocivos orais em crianças na
faixa etária de 5 a 7 anos, buscando, por sua vez, Materiais e instrumentos
relações entre essas manifestações. Além disso, o
trabalho teve também como meta caracterizar as Como instrumento de coleta de dados foi
alterações principais observadas nessa amostra, utilizado um questionário no qual foram contem-
buscando implicações para ações educativas em plados dados para a investigação da presença de
âmbito escolar. hábitos orais nocivos, bem como de aspectos gerais
de motricidade orofacial. Foi utilizado também
um protocolo para avaliação de motricidade oro-
Método facial, elaborado pela pesquisadora com base em
Marchesan (2004) e Bigenzahn (2008). Dentre os
Participantes e critérios de seleção principais materiais utilizados, destacam-se: luvas
esterilizadas, espátulas, lanterna, espelho de Glatzel,
Fizeram parte desta pesquisa 31 alunos, de 5 dentre outros.
a 7 anos de idade, de uma escola pública do Estado
do Paraná. Ambos os sexos foram contemplados Coleta e análise de dados
e o principal critério de seleção das crianças foi a
participação voluntária, após leitura e assinatura Num primeiro momento, foi aplicado o ques-
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido tionário junto aos pais. Em seguida, foi realizada a
(TCLE) pelas mães. Além desse critério, a idade avaliação de aspectos de motricidade orofacial em
foi estabelecida dentro da faixa etária citada em todas as crianças, a fim de verificar as condições
função de ser um período no qual espera-se que os estruturais e funcionais. Essa avaliação foi feita por
hábitos nocivos orais mais freqüentes na infância, meio de observação e manipulação de estruturas
como o uso de chupeta e mamadeira, já estejam orofaciais. Os dados do questionário foram anali-
extintos do desenvolvimento da criança. A seguir, sados de modo a identificar a presença e os tipos
é apresentada a caracterização da amostra, quanto de hábitos nocivos orais em cada criança. Os dados
à idade e ao sexo. da avaliação foram analisados de modo a obter
também a presença de alterações de
Tabela 1 – Distribuição das crianças quanto à idade
motricidade orofacial, bem como a
Grupos etários Freqüência absoluta (n) Freqüência relativa (%)
distinção entre alterações estruturais
G1 (5 anos) 13 42,0%
e/ou funcionais.
G2 (6 anos) 13 42,0%
G3 (7 anos) 5 16,0%
Total 31 100% Aspectos éticos

A pesquisa respeitou todas as


Tabela 2 – Distribuição das crianças quanto ao sexo normas estabelecidas pela resolução
Grupos etários Sexo Total 196/96 acerca dos aspectos éticos
Masculino Feminino em pesquisas com seres humanos,
G1 (5 anos) 6 7 - iniciando apenas após a devida au-
G2 (6 anos) 8 5 - torização da instituição, bem como
G3 (7 anos) 1 4 - após a leitura e concordância dos
Totais parciais 15 16 31

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pais, obtida por meio da assinatura dos Termos de e a presença desses hábitos. Além disso, verificaram
Consentimentos Livres e Esclarecidos (TCLE). correlações entre os hábitos e alterações das fun-
ções orofaciais, com destaque para os padrões de
deglutição e articulação da fala.
Resultados e discussão No estudo de Frias, Foresti, Carmona et al
(2004), as autoras também verificaram relação
1) Incidência de alterações de motricidade entre o ceceio anterior, o crescimento craniofacial
orofacial e de hábitos nocivos orais e a presença dos hábitos de sucção não nutritiva.
Dentre os aspectos mais relevantes observados nes-
De um total de 31 crianças, 24 apresentaram sa pesquisa, destacaram-se a diminuição do ceceio
alterações de motricidade orofacial, indicando uma com o aumento da idade e a maior proporção dessa
alta (77,5%) freqüência dessas manifestações nessa manifestação em crianças com hábitos de sucção
amostra. Sobre os hábitos, desse total de crian- não nutritiva.
ças com alterações de motricidade orofacial, 19 Ainda, Cattoni (2004) relatou em seu estudo
apresentaram hábitos nocivos orais, dado também que os distúrbios orais miofuncionias são conseqü-
indicativo de alta (61%) incidência. ências dos hábitos nocivos orais, sendo a manifes-
Em vários estudos, os autores alertam para a tação mais comum destes distúrbios a interposição
relação entre a presença de hábitos nocivos orais e de língua durante a fala e a deglutição.
as disfunções ligadas ao sistema estomatognático. O Observa-se, dessa forma, que a alta incidência
desequilíbrio muscular gerado pelos hábitos nocivos de hábitos orais nocivos e de alterações de motrici-
orais pode levar a problemas no posicionamento dade orofacial numa faixa etária não mais esperada,
dos dentes ou na oclusão das arcadas dentárias, como é o caso da amostra do atual estudo, pode ser
o que interfere negativamente nos padrões da ar- um indicador da necessidade de serem pensadas
ticulação da fala, da deglutição, da mastigação e intervenções em momentos anteriores. Nessa pers-
da respiração (BIGENZAHN, 2008; MERIGHI; pectiva, Cunha (2001) refere que, se a eliminação
SILVA; FERREIRA et al, 2007; MACIEL; LEITE, do hábito de chupeta ocorrer até o terceiro ano de
2005; FRIAS; FORESTI; CARMONA et al 2004; vida, é possível que as alterações ocasionadas por
CATTONI, 2004). esse hábito sejam corrigidas naturalmente. Por
Bigenzahn (2008) descreve sobre as diversas outro lado, se houver agravantes, como no caso de
origens das disfunções orofaciais na infância, aler- respiradores orais, essas alterações poderão se tornar
tando sobre os maus hábitos orais estarem dentro ainda mais graves.
dessa etiologia. Por outro lado, no estudo de Meri-
ghi, Silva, Ferreira et al (2007) não foi encontrada 2) Hábitos mais freqüentes presentes na
nenhuma associação entre a presença de hábitos de amostra
sucção não nutritiva e de mastigação, com sinais
de disfunção temporomandibular (DTM), embora, Na Tabela 3, os dados referentes à associação
na amostra do estudo, fosse alta tanto a freqüência de dois hábitos chamam a atenção. Essa associação,
destes hábitos, como dessas disfunções. referente aos hábitos de chupeta e mamadeira,
Maciel e Leite (2005) indicaram a mordida aparece com alta freqüência (47%). Há também a
aberta como o padrão de alteração de oclusão mais associação entre três hábitos, embora tal associa-
prevalente em crianças Tabela 3 – Tipos de hábitos mais freqüentes relatados pelas mães das crianças
portadoras de hábitos Tipos de hábitos Freqüência absoluta Freqüência relativa
nocivos orais, concluin- Chupeta 4 21,0%
do dessa forma que há Mamadeira 5 26,0%
uma correlação etiológi- Chupeta e mamadeira 9 47,0%
ca entre essa oclusopatia Chupeta, mamadeira e onicofagia 1 6,0%
Total 19 100%

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Tabela 4 – Alterações estruturais observadas nas crianças
Alterações Estruturais Freqüência absoluta Freqüência relativa
Estruturas moles (postura, mobilidade e tonicidade) 48 81,0%
Estruturas duras (morfologia de palato e oclusais) 11 19,0%
Total 59 100%
ção esteja presente apenas em uma (6%) criança. 3) Caracterização das alterações de motri-
Sobre o uso de chupeta, na Tabela 3, é indicada a cidade orofacial na amostra portadora
freqüência de 21%, enquanto o uso da mamadeira de hábitos nocivos orais
está presente em 26% da amostra.
Sobre o uso da mamadeira, a literatura apon- Observa-se, na Tabela 4, que 81% das altera-
ta sua introdução precoce, como um dos fatores ções estruturais das crianças referiam-se a alterações
etiológicos do desmame precoce (LAMONIER, de estruturas moles, como: posturas inadequadas em
2003; VICTORA, 1997; BLOMQUIST; JONSBO; repouso de lábios e língua, mobilidade e tonicidade
SERENIOUS et al, 1994). inadequadas de bochechas, lábios e língua. Sobre as
Sobre a relação deste hábito com as altera- alterações de estruturas duras, estas aparecem com
ções de motricidade orofacial, Cotrim, Venâncio e freqüência de 19% na amostra. Essas alterações se
Escuder (2002) alertam para o fato de que o uso da referiam principalmente ao tipo de mordida (aber-
mamadeira pode ocasionar uma diminuição da ação ta e cruzada) e à alteração morfológica de palato
mandibular, levando a língua a pressionar o bico da (ogival).
mamadeira contra o palato, ocasionando um palato Novamente são indicados aqui os alertas
ogival. Ainda sobre esse hábito, Bigenzahn (2008) dos autores em elação à associação entre essas
comenta que a introdução da mamadeira em subs- alterações e a presença de hábitos orais deletérios
tituição ao aleitamento materno configura-se como (BIGENZAHN, 2008).
uma das causas principais das disfunções orofaciais Bitar (2004) comenta que a presença de
na infância, em função de padrões incorretos adqui- hábitos nocivos orais no desenvolvimento da
ridos pelas crianças, especialmente em relação ao criança pode indicar aspectos relacionados à ação
padrão de deglutição. dos grupos musculares nas suas movimentações,
Em relação ao uso da chupeta, normalmente nas características morfológicas e na descrição de
ela é utilizada pelos pais, inicialmente, frente ao processos funcionais já citados, em padrões normais
choro do bebê. Porém, sua persistência ao longo do e patológicos.
desenvolvimento infantil é muito freqüente, mesmo Cavassani, Ribeiro e Nemr et al (2003), em
em situações supostamente “não necessárias”. Se- seu estudo com foco para a influência dos hábitos de
gundo Lopes apud Sertório e Silva (2005), a chupeta sucção na morfologia e nas funções do sistema es-
é capaz de sossegar o filho ou mantê-lo quieto. Na tomatognático, também verificaram a ocorrência de
perspectiva materna, a criança fica mais tranqüila, alterações em relação à tonicidade, postura, mobili-
chora menos e dorme mais fácil, havendo manifes- dade e sensibilidade dos órgãos fonoarticulatórios.
tação de satisfação que reforça o conhecimento de Há alguns autores, como por exemplo Bigenzahn
senso comum, de que a chupeta atua como consolo (2008), que referem o mau posicionamento de lín-
e calmante. gua como um indício de perda estereognósica oral,
Pereira e Trezza (2005) referem que, em sua o que, por sua vez, poderá interferir nos padrões
grande maioria, os pais têm conhecimentos em adequados de deglutição e articulação. Esse autor
relação às alterações que podem causar a chupeta, reforça a idéia dos hábitos nocivos orais, principal-
mas apresentam uma situação de comodismo frente mente os de chupeta e de mamadeira, estarem entre
ao objeto. as prinicpais causas dessas alterações. Vê-se, dessa
forma, que esses hábitos podem ser responsáveis
não só por alterações de motricidade orofacial, mas

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fundamentalmente por disfunções sensoriais. dentes da arcada superior e os dentes corresponden-
Outros autores, como Cunha (2001) e Tani- tes da arcada inferior. Portanto, é possível inferir que
gute (1998), referem alterações específicas voltadas as alterações estruturais identificadas na presente
para as estruturas do sistema estomatognático, amostra, apontadas anteriormente, possam estar
bem como para as funções desempenhadas por interferindo nesse padrão de mastigação. Cunha
esse sistema, com conseqüências que vão desde (2001) salienta também que os hábitos de sucção
alterações de morfologia até alterações nos padrões podem fazer com que a mastigação se realize com
de mastigação, deglutição e articulação da fala, pouca força, modificando movimentos e alterando
decorrentes em sua grande maioria da presença de o ciclo da função mastigatória.
hábitos nocivos orais. Sobre as disfunções articulatórias, principal-
Dessa forma, verifica-se que as alterações tan- mente referentes aos sigmatismos lateral e frontal,
to de estruturas moles quanto duras do sistema esto- Sacaloski, Alavarsi e Guerra (2000) comentam que,
matognático são comuns em crianças com hábitos em alguns casos, a origem desses problemas po-
nocivos orais, podendo alterar de modo significativo dem ser devida às alterações gerais da motricidade
as funções do sistema estomatognático. orofacial, pois estão relacionados a vários aspectos
Observa-se, na Tabela 5, que as alterações do sistema sensório-motor-oral alterado. O autor
de mastigação são as mais freqüentes (37%) na Bigenzahn (2008) também relaciona as alterações
amostra, caracterizadas por: mastigação unilateral, de sensibilidade cinestésica a esses problemas.
mastigação ruidosa, mastigação com lábios entre- No presente estudo ainda são observadas, em-
abertos e mastigação com movimentos verticais de bora em menor freqüência, alterações de deglutição
mandíbula. Em seguida, aparecem em percentual de e de padrão respiratório, predominantemente oral,
26, os problemas referentes à articulação de fala: dado contrário ao encontrado por Cavassani, Ribei-
interposição lingual nos fonemas linguodentais (t, ro e Nemr et al (2003). As alterações de deglutição,
d, n, l) e sigmatismo. Na Tabela 5, ainda aparece em grande parte, são caracterizadas por sobras de
a freqüência das alterações de deglutição (23%). alimento no vestíbulo e na cavidade bucal, protrusão
Dentre estas, destacam-se os padrões de deglutição de língua entre as arcadas dentárias, pressionamen-
com projeção de língua e participação exagerada to da língua contra os dentes, elevação da cabeça,
da musculatura perioral. Quanto às alterações de contração da musculatura perioral, excessivo abai-
respiração, estas aparecem com freqüência de 14% xamento mandibular e interposição do lábio inferior,
na amostra, que se referem ao modo de respira- dentre outras manifestações. Essas características
ção predominantemente oral. Sobre esse aspecto, são apontadas na literatura também em associação
ressalta-se que esse padrão pode se originar devido à presença de hábitos nocivos orais (BIGENZAH,
aos fatores funcionais ou orgânicos e esse padrão 2008; CATTONI, 2004; CUNHA, 2001).
pode gerar inúmeros efeitos colaterais, oriundos do
trabalho e da ação imprópria de toda a musculatura 4) Intervenções fonoaudiológicas reali-
orofacial (TESSITORE, 2004). zadas em âmbito escolar a partir dos
Sacaloski, Alavarsi e Guerra (2000) afirmam dados obtidos
que, para que a mastigação seja realizada de modo
satisfatório, é necessário que as arcadas dentárias se Após a análise dos dados, as pesquisadoras re-
disponham de forma a proporcionar contato entre os tornaram à instiuição escolar a fim de fornecer uma
Tabela 5 – Alterações funcionais observadas nas crianças
Alterações de Motricidade Orofacial Freqüência absoluta Freqüência relativa
Mastigação 24 37,0%
Articulação da fala 17 26,0%
Deglutição 15 23,0%
Respiração 8 14,0%
Total 64 100%

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devolutiva aos pais das crianças e aos profissionais educativas, com equipes interdisciplinares, no senti-
da escola. Tal retorno foi feito por meio de reuniões, do de esclarecer as vantagens e desvantagens destes
nas quais foram expostos os resultados do estudo, hábitos a essas mães, para modificar suas atitudes
com ênfase em relação à alta freqüência de hábitos frente ao desenvolvimento da criança.
de sucção de chupeta e de mamadeira nas crianças,
em idade não esperada. Essa exposição teve o intuito
de sensibilizar os pais e professores da escola para Considerações finais
a necessidade da eliminação dos referidos hábitos.
Foram explanados os possíveis prejuízos, tanto nas Os dados do presente estudo indicaram a
funções do sistema estomatognático, quanto nos presença de hábitos nocivos orais na população
órgãos fonoarticulatórios que estes hábitos podem avaliada, sendo o uso prolongado de chupeta e de
acarretar. mamadeira os mais freqüentes, confirmando o que
Complementando tais orientações, foram é apresentado na literatura. Ademais, na atual pes-
expostas também orientações acerca das crianças quisa, chamou a atenção a associação destes dois
que necessitariam de acompanhamento profissional. hábitos em praticamente metade da amostra.
Nesses casos, as crianças foram encaminhadas para Reforça-se aqui a preocupação em relação à
os serviços públicos de atendimento fonoaudioló- introdução precoce da mamadeira e seu uso prolon-
gico e otorrinolaringológico. Sobre o acompanha- gado, apontado como possível causa do desmame
mento ortodôntico, ressalta-se que não existe tal precoce. A despeito disso, Czernay e Bosco (2004)
serviço público na cidade na qual foi realizado o indicaram a necessidade dos profissionais acompa-
estudo, o que não impossibilitou os aconselhamen- nharem as mães desde o início do nascimento da
tos devidos. criança, a fim de que sejam orientadas no sentido de
Embora não tenha sido medida a eficácia de estabelecerem hábitos adequados de alimentação.
tais aconselhamentos, foi possível notar interesse Nessa perspectiva, o estudo de Osternach e Oliveira
dos pais em relação ao atendimento das crianças (2007) indicam programas educativos com gestantes
e também dos professores em relação à ampliação nos programas de assistência pré-natal como uma
de seus conhecimentos acerca do assunto. Nesse possibilidade de promover o uso efetivo do conhe-
sentido, foi enfatizada a ajuda fundamental destes cimento que estas mães têm acerca dos prejuízos
profissionais em relação ao processo de eliminação causados pelo uso prolongado da mamadeira e da
dos hábitos orais nocivos de crianças que freqüen- chupeta, ao longo do desenvolvimento infantil.
tam a escola em período integral. Em relação às alterações de motricidade
Santos, Ávila e Cechella (2000) alertam para orofacial, que podem ser decorrentes da presença
a necessidade de serem realizados programas pre- desses hábitos, foi verificada uma alta freqüência
ventivos com pais e professores, com a finalidade de destas, com destaque para os prejuízos voltados para
minimizar as alterações de motricidade orofaciais, os órgãos fonoarticulatórios, envolvendo posturas
decorrentes de hábitos orais nocivos em crianças inadequadas, tonicidade e mobilidade. Além disso,
pré-escolares e escolares. Os autores referem que verificou-se também uma alta incidência de altera-
as orientações podem evitar que essas alterações ções funcionais referentes à mastigação, articulação
permaneçam, causando prejuízos mais graves em da fala e deglutição.
relação ao sistema estomatognático. Adicionalmente, o presente estudo indicou
No estudo de Evangelista, Alvim e Martins uma possibilidade de intervenção em âmbito esco-
et al (2003), as autoras concluíram que, embora as lar, embora não tenha medido sua eficácia. Nesse
mães não tenham aceitação em relação a esses há- sentido, a prática educativa realizada sensibilizou
bitos, elas encontram muita dificuldade em relação pais e professores para os prejuízos que os hábitos
aos procedimentos adequados para remoção destes. orais deletérios podem causar ao longo do desen-
As autoras sugerem que sejam feitas intervenções volvimento infantil.

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A literatura referente à temática de hábitos no abr-jun, 2004.
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