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RELATOR :
MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
IMPETRANTE :
SÉRGIO GUIMARÃES RIERA E OUTROS
ADVOGADO :
SÉRGIO GUIMARÃES RIERA E OUTRO(S)
IMPETRADO :
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
PACIENTE : L A R (PRESO)
EMENTA
HABEAS CORPUS . ESTUPRO DE VULNERÁVEL. WRIT
IMPETRADO CONCOMITANTE À INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. VERIFICAÇÃO DE
EVENTUAL COAÇÃO ILEGAL À LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO.
VIABILIDADE. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DE
NULIDADE NOS DEPOIMENTOS COLETADOS POR MEIO DE
AUDIOVISUAL. AUSÊNCIA DE ALEGAÇÃO EM MOMENTO
OPORTUNO. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
PREJUÍZO. NÃO OCORRÊNCIA, ADEMAIS, DE PREJUÍZO
EVIDENTE. COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA.
PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
VULNERABILIDADE VERIFICADA APENAS NA OCASIÃO DA
SUPOSTA OCORRÊNCIA DOS ATOS LIBIDINOSOS. VÍTIMA QUE
NÃO PODE SER CONSIDERADA PESSOA PERMANENTEMENTE
VULNERÁVEL, A PONTO DE FAZER INCIDIR O ART. 225,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP. CRIME DE AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE
INEQUÍVOCA MANIFESTAÇÃO DA VÍTIMA NO SENTIDO DE VER
O CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL PROCESSADO.
INEXISTÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
1. É inadmissível o emprego do habeas corpus em substituição ou
concomitante a recurso ordinariamente previsto na legislação
processual penal ou, especialmente, no texto constitucional
(precedentes do STJ e do STF).
2. Apesar de se ter solidificado o entendimento no sentido da
impossibilidade de utilização do habeas corpus como substitutivo do
recurso cabível, o Superior Tribunal de Justiça analisa, com a
devida atenção e caso a caso, a existência de coação manifesta à
liberdade de locomoção, não tendo sido aplicado o referido
entendimento de forma irrestrita, de modo a prejudicar eventual
vítima de coação ilegal ou abuso de poder e convalidar ofensa à
liberdade ambulatorial.
3. Em se tratando de nulidade, necessária a demonstração do
efetivo prejuízo, bem como a arguição em momento oportuno, sob
pena de preclusão. Precedente.
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Superior Tribunal de Justiça
4. Evidenciado que a defesa alegou o vício decorrente de cortes nos
depoimentos de testemunhas de acusação, coletados por meio de
audiovisual, apenas nas razões da apelação, não tendo
demonstrado prejuízo indispensável ao reconhecimento da
nulidade, não há falar em anulação da ação penal.
5. De acordo com o art. 225 do Código Penal, o crime de estupro,
em qualquer de suas formas, é, em regra, de ação penal pública
condicionada à representação, sendo, apenas em duas hipóteses,
de ação penal pública incondicionada, quais sejam, vítima menor de
18 anos ou pessoa vulnerável.
6. A própria doutrina reconhece a existência de certa confusão na
previsão contida no art. 225, caput e parágrafo único, do Código
Penal, o qual, ao mesmo tempo em que prevê ser a ação penal
pública condicionada à representação a regra tanto para os crimes
contra a liberdade sexual quanto para os crimes sexuais contra
vulnerável, parece dispor que a ação penal do crime de estupro de
vulnerável é sempre incondicionada.
7. A interpretação que deve ser dada ao referido dispositivo legal é a
de que, em relação à vítima possuidora de incapacidade
permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos, a
ação penal seria sempre incondicionada. Mas, em se tratando de
pessoa incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da
ocorrência dos atos libidinosos, a ação penal permanece
condicionada à representação da vítima, da qual não pode ser
retirada a escolha de evitar o strepitus judicii .
8. Com este entendimento, afasta-se a interpretação no sentido de
que qualquer crime de estupro de vulnerável seria de ação penal
pública incondicionada, preservando-se o sentido da redação do
caput do art. 225 do Código Penal.
9. No caso em exame, observa-se que, embora a suposta vítima
tenha sido considerada incapaz de oferecer resistência na ocasião
da prática dos atos libidinosos, esta não é considerada pessoa
vulnerável, a ponto de ensejar a modificação da ação penal. Ou
seja, a vulnerabilidade pôde ser configurada apenas na ocasião da
ocorrência do crime. Assim, a ação penal para o processamento do
crime é pública condicionada à representação.
10. Verificada a ausência de manifestação inequívoca da suposta
vítima de ver processado o paciente pelo crime de estupro de
vulnerável, deve ser reconhecida a ausência de condição de
procedibilidade para o exercício da ação penal.
11. Observado que o crime foi supostamente praticado em
30/1/2012, mostra-se necessário o reconhecimento da decadência
do direito de representação, estando extinta a punibilidade do
agente.
12. Writ não conhecido. Concessão de ordem de habeas corpus de
ofício, para anular a condenação e a ação penal proposta contra o
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Superior Tribunal de Justiça
paciente.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Rogerio
Schietti Cruz não conhecendo do habeas corpus , mas concedendo a ordem
de ofício, em menor extensão, e os votos dos Srs. Ministros Nefi Cordeiro e
Maria Thereza de Assis Moura acompanhando o Sr. Ministro Relator, por
unanimidade, não conhecer do pedido de habeas corpus , expedindo, contudo,
ordem de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, vencido o Sr.
Ministro Rogerio Schietti Cruz, que concedia a ordem em menor extensão. Os
Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz (voto-vista), Nefi Cordeiro e Maria
Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator quanto ao não
conhecimento da ordem.
Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro e Maria Thereza de Assis Moura
votaram com o Sr. Ministro Relator quanto à concessão da ordem em maior
extensão.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Ericson Maranho
(Desembargador convocado do TJ/SP).
Brasília, 11 de novembro de 2014 (data do julgamento).
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Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 276.510 - RJ (2013/0291689-4)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
manifestação, formal ou informal, da vítima, no sentido do processamento do
crime de estupro. Informam que a vítima manifestou o desejo de representar
contra o paciente apenas em relação à suposta agressão sofrida, não tendo
sequer assinado o boletim de ocorrência na delegacia.
É o relatório.
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HABEAS CORPUS Nº 276.510 - RJ (2013/0291689-4)
VOTO
A propósito:
Confira-se:
Documento: 1343799 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/12/2014 Página 9 de 24
Superior Tribunal de Justiça
2. A confusa previsão da natureza da ação penal nos crimes contra a
liberdade sexual e contra vítima vulnerável
A Lei n. 12.015/2009, que alterou a redação do art. 225 do Código
Penal, determina que a ação penal, para os crimes constantes dos
Capítulos I e II do Título VI ("Dos Crimes contra a liberdade sexual" e
"Dos crimes sexuais contra vulnerável", respectivamente), passa a ser
pública condicionada à representação. Inverte, dessa forma, sua
natureza, que era de exclusiva iniciativa privada. Contudo,
paradoxalmente, o parágrafo único do mesmo dispositivo legal determina
que a ação penal é pública incondicionada se a vítima for menor de
dezoito anos ou pessoa vulnerável, ou seja, na hipótese dos crimes
previstos no Capítulo II do mesmo Título do Código Penal, o exercício da
ação penal não depende de qualquer condição, contrariando a previsão
do caput .
Afinal, nos crimes sexuais contra vulnerável (Capítulo II) a ação penal
será pública condicionada à representação, como determina o caput do
questionado art. 225, ou será pública incondicionada, como afirma o seu
parágrafo único?
Trata-se de um dos aspectos de uma verdadeira vexata quaestio deste
Capítulo IV, que cuida das disposições gerais; o outro aspecto reside na
contradição do ordenamento jurídico que, a pretexto de proteger um
direito constitucionalmente tutelado - a liberdade sexual do cidadão -,
restringe exatamente o exercício dessa liberdade, que era protegida pela
natureza da ação penal de exclusiva iniciativa privada, pois reconhecia,
nesses crimes, a prevalência do interesse individual em relação ao
interesse público.
(Tratado de Direito Penal, Parte Especial - Dos Crimes Contra a
Dignidade Sexual até os Crimes Contra a Fé Pública . 8ª ed., págs.
150/151)
Ocorre que, da atenta análise dos autos, observa-se que não existe
nenhuma manifestação da vítima no sentido de representar pelo
processamento do crime de estupro de vulnerável.
[...]
Que por volta das 14:30h da presente data, compareceu na residência
de [...], com a finalidade de comprar um "baseado de maconha";
Que chegando ao local, foi atendida por LUIZ, que estava sozinho, o
qual mexia em seu "lap top";
Que começou a conversar com ele, não pedindo a maconha, e do
nada, recebeu um soco no nariz, tendo sido jogada contra a mesa;
Que começou a pedir socorro;
Que tentou fugir do local correndo para a cozinha;
Que neste momento, [...] pegou a declarante pelos cabelos, perdendo
os sentidos;
Que rapidamente, Policiais Militares chegaram ao local,
encontrando a declarante na cozinha;
Que a declarante usava um vestido "tomara que caia", que estava
abaixo do seio e sem calcinha;
Que deseja esclarecer que não foi estuprada e que somente foi
agredida;
Que não viu [...] tirar a calcinha da declarante;
Que [...] dizia que a declarante estava em um complô contra ele,
juntamente com [...] e [...] e ainda um tal de [...];
Que [...] estava com muita raiva da declarante;
Que Policiais levaram a declarante para o Hospital de Emergência,
onde foi devidamente medicada;
Que indagada pela Autoridade Policial se já adquiriu droga de [...],
RESPONDEU que NÃO, mas que já consumiu muita droga com ele;
Que já manteve relações sexuais com [...], tendo o mesmo pago com 5
(cinco) gramas de CRACK;
Que não sabe onde o mesmo adquiriu a droga;
Que manifesta o desejo de representar criminalmente contra [...].
[...]
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). SÉRGIO GUIMARÃES RIERA, pela parte PACIENTE: L A R
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator não conhecendo do habeas corpus, expedindo,
contudo, ordem de ofício, pediu vista o Sr. Ministro Rogerio Schitti Cruz. Aguardam os Srs.
Ministros Nefi Cordeiro, Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE) e Maria
Thereza de Assis Moura.
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Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 276.510 - RJ (2013/0291689-4)
VOTO-VISTA
O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ:
Cuida-se de habeas corpus em que o nobre impetrante postula
nulidade do processo que tramitou na justiça estadual do Rio de Janeiro contra
o paciente, pela acusação de estupro de vulnerável (art. 217-A do CPB), haja
vista a alegação de vício no registro da prova audiovisual e de ausência de
condição de procedibilidade.
Confira-se:
De acordo com o entendimento de nossa Corte Maior, toda vez
que o delito de estupro for cometido com emprego de
violência real, a ação penal será de iniciativa pública
incondicionada, fazendo, assim, letra morta parte das
disposições contidas no art. 225 do CP, somente se exigindo a
representação do ofendido nas hipóteses em que o crime for
cometido com emprego de grave ameaça. (Rogerio Greco.Curso
de Direito Penal – Parte Especial - Volume III, 9ª edição.
Niterói/RJ: Editora Impetrus, 2013, p. 475, destaquei).
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz não
conhecendo do habeas corpus, mas concedendo a ordem de ofício, em menor extensão, e os votos
dos Srs. Ministros Nefi Cordeiro e Maria Thereza de Assis Moura acompanhando o Sr. Ministro
Relator, a Sexta Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido de habeas corpus, expedindo,
contudo, ordem de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, vencido o Sr. Ministro
Rogerio Schietti Cruz que concedia a ordem em menor extensão.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz (voto-vista), Nefi Cordeiro e Maria Thereza de
Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator quanto ao não conhecimento da ordem.
Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr.
Ministro Relator quanto à concessão da ordem em maior extensão.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Ericson Maranho (Desembargador
convocado do TJ/SP).
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