Nilthon Fernandes

Ao mapear a estética, ou melhor, a disciplina filosófica e científica de Peirce, Lúcia Santaella recorre ao panorama geral das estéticas filosóficas ao longo da história do belo e do sublime para depois examinar algumas das múltiplas relações entre a estética e as disciplinas filosóficas sublinhando a distinção entre estudos filosóficos dos estudos dos semioticistas sobre a obra de Peirce.

Esta pesquisa tem como objetivo principal investigar como a produção das cartilhas de prevenção e comunicação de riscos de desastres pelas defesas civis de São Paulo e de Santa Catarina, no escopo de seus programas de redução de riscos de desastres, auxilia na representação da relação da comunidade com o ambiente de risco e como o enunciador visa construir e despertar no enunciatário a cultura de resiliência, inibindo com isso comportamentos que aumentem a vulnerabilidade das comunidades frente aos desastres meteorológicos, hidrológicos e geológicos. Neste contexto, os materiais informativos e educativos, ao representar comportamentos condizentes com a cultura da resiliência, a partir da figurativização e tematização das ações e atitudes das comunidades, podem contribuir na redução da vulnerabilidade dessas populações e, com isso, minimizar os impactos dos desastres. Muitas vezes, no entanto, esses materiais são produzidos e disseminados sem a preocupação de tornar efetivos esses contratos de comunicação. Assim, esta pesquisa parte da hipótese de que a comunicação de riscos de desastres, especificamente nos estados de São Paulo e de Santa Catarina, apenas cumpre protocolos estabelecidos nacional e internacionalmente. Para alcançar os objetivos da pesquisa, foi adotada como parte central do procedimento metodológico a análise do discurso sob a semiótica discursiva das peças de comunicação, somada ao levantamento e à análise crítica da bibliografia no campo da comunicação de riscos e sua interface com a redução de riscos de desastres.

Esta pesquisa identifica e analisa os modos de presença das pessoas que moram em zonas de áreas de riscos de deslizamentos de terra no Boulevard da Paz, M’Boi Mirim, zona sul de São Paulo. A partir dessa situação, a fundamentação teórica está amparada na semiótica de A. J. Greimas e nos desdobramentos sociossemióticos de E. Landowski que sustentam três caminhos: o constitutivo e suas instituições, os órgãos de proteção e vigilância e o aspecto situacional da área de riscos. Os conceitos utilizados partem da narratividade e da enunciação global do lugar e se configuram pelo princípio da intencionalidade dos riscos versus o princípio de regularidade nos benefícios que definem a decisão da pessoa a continuar morando ou não na comunidade; assim, pelo princípio da sensibilidade nos valores afetivos e econômicos expressos nas práticas diárias de vida; bem como pelo princípio da aleatoriedade, na ação preventiva e nos desdobramentos provocados pelos desastres. Na metodologia, organizada em duas partes, a pesquisa destaca o sensível por meio de um diário de bordo da presença do pesquisador na área de riscos que trata o objeto enquanto um enunciado da experiência, e o inteligível, interpretando o que do sensível foi auferido para resultar em uma análise sociossemiótica. Essa metodologia centra-se na presença a partir de práticas de vida do Boulevard da Paz e está fundamentada no contato direto com experiência partilhada entre o pesquisador e a população ao explorar os mecanismos enunciativos dessa interação com o intuito de depreender aspectos socioafetivos e socioeconômicos a partir dos sentidos que compõem o coletivo da comunidade. Para desenvolver a pesquisa, o pesquisador cria, por meio de uma postura de construtor do sentido, estratégias para se vincular ao Boulevard da Paz. Em um jogo que oscila entre proximidade e distância, além de registrar o trajeto por fotografias e reportagem audiovisual, o pesquisador vive a área em contato com os líderes comunitários e a população. Nesse convívio, explora o lugar andando pelas ruas e vielas, matagais e morros, pontes sobre córregos, botecos, bar e lanchonete e, em contato direto com as pessoas, almoça em um restaurante construído na garagem de uma casa, visita famílias em suas casas, barracos e tendas e conversa com o padre, pastor e cooperador. A partir da narratividade do lugar no enunciado da experiência e das interfaces interdisciplinares, os resultados mostram que a busca do sentido em se viver no Boulevard da Paz tem duas origens distintas e ao mesmo tempo interligadas. A primeira consiste no abandono do Poder Público que gerencia a dinâmica política por meio do clientelismo, corporativismo, insulamento burocrático e universalismo de procedimentos e a segunda está na hierarquia de regências nas práticas do crime organizado e suas regras sub-reptícias, nas ações e discursos de religiosos e na capacidade política de líderes comunitários que mobilizam governos e comunidade para melhorias da área quanto aos riscos de desastres.

Analisar a comunicação organizacional, via fonte secundária, no contexto dos acidentes ambientais, e identificar seus desafios e conquistas. Métodos: Selecionou-se um acidente ambiental ocorrido no Condomínio Barão de Mauá como estudo de caso, precedido da revisão bibliográfica que sustentou a discussão acerca das teorias do jornalismo e da comunicação organizacional. Para a análise dos fenômenos comunicacionais do caso em questão, desenvolveu-se um estudo das 91 reportagens publicadas nos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde no período de 2001 a 2003. Resultados: O estudo decorrente da revisão bibliográfica revelou que os meios de comunicação de massa, ao recorrerem à espetacularização das notícia, contribuem para a construção de uma realidade ilusória, distante da realidade construída a partir do registro dos fatos verossímeis. No contexto das organizações, o trabalho de relações públicas pode contribuir para a redução dos impactos da representação e construção da realidade pelos meios jornalísticos. A análise das reportagens revelou que o acidente ambiental no Condomínio Barão de Mauá, de responsabilidade da empresa Cofap, sofreu influência da propagação de rumores e que a ausência da Cofap como fonte oficial de informação, por erro ou estratégia, não apenas contribuiu para ampliar socialmente o problema, como também fomentou a representação negativa da comunicação organizacional da empresa que, direta ou indiretamente, reflete a identidade da organização. Considerações finais: A ausência da Cofap como fonte oficial de informação, na maioria das matérias publicadas sobre o acidente, deixou sem resposta vários questionamentos que deram base à realização desta pesquisa. Se estratégia ou erro, a comunicação organizacional da Cofap contribuiu para que a construção da realidade pela imprensa não sofresse nenhuma interferência, impactando negativamente na imagem da própria organização.
Descritores: comunicação de riscos, acidente ambiental, comunicação organizacional, relações públicas, meios jornalísticos, teorias da comunicação e da notícia.

Este artigo, sobre as qualidades reveladas do Papa, desenvolvido no escopo do grupo de pesquisa interateliers, tem como objetivo central mostrar como o enunciador articula os mecanismos discursivos para erigir na imagem do Papa Francisco a ambivalência mundana-imanente e divina-transcendente na construção de sentido de homem-mensageiro midiático do povo e de Deus. Palavras-Chave: Semiótica. Imanência. Transcendência. Efeito de sentido.

Ao partir de uma visão prospectiva e com o intuito de resgatar efeitos de sentidos que emanam das práticas sociais e da constituição de um acidente, o objetivo deste artigo é retomar o mecanismo de fratura e escapatória da obra Da Imperfeição de Greimas (1987) em um desastre natural no início de 2016 na rua Agamenon Pereira da Silva, no distrito de M’Boi-Mirim. Deste modo, o artigo apresenta-se em duas partes: a primeira desenha um recorte dos regimes de sentidos instituídos nas dinâmicas relacionais entre pessoas e objetos em comunhão, e a segunda parte revela os acidentes patêmico e estésico provenientes desse deslizamento de terra e de sua restituição ocorrido naquele lugar. Para a análise do desastre isolado do distrito, mas frequente na região, a metodologia empregada foi a presença in situ do pesquisador caminhando com a finalidade de observar, coletar dados, captar impressões do entorno do bairro tanto por anotações quanto por memorização que sustentam uma análise sociossemiótica.

A proposta desse artigo é resgatar os efeitos de sentidos das práticas sociais da comunidade que vive no coração de Três Marias II, no M’Boi Mirim, a partir dos conceitos de fratura e escapatória da obra Da Imperfeição de Greimas em diálogo com as análises de Fabbri e Landowski. Deste modo, o artigo apresenta-se em duas partes: a primeira destaca o sensível, por meio da presença in situ do pesquisador com a finalidade de coletar informações, captar impressões do entorno do bairro por anotações e por memorização, e a segunda, pelo inteligível, interpretando o que do sensível foi auferido para resultar em uma análise sociossemiótica.

Resumo
No recorte de uma imagem de obra de arte e, portanto, vista pelo aspecto estético, o objetivo desse artigo é emprestar, sem redução ou qualquer alteração no modus, alguns conceitos de imagem de Aby Warburg com propósito de estender e aprofundar na compreensão da obra A festa de Baltazar do pintor holandês de estilo barroco Rembrandt. Entretanto, para essa análise, optou-se por dar visibilidade ao conceito de migração de cultura tanto por conta da possibilidade de atividade de aprofundamento inscrita na imagem da pintura quanto pelo caráter dinâmico e complexo capaz de abrir caminhos para outros discursos visuais que oferecem “uma continuidade da vida” e “possessão” da imagem. Assim, ao esforçar-se no fascínio dessa ideia, é sugerido um quadro teórico fundamentado no estudo arqueológico dos conceitos de fórmula de emoção (Phatosformel) e de pós-vida (Nachleben) de Warburg para direcionar e determinar uma origem ontogenética concebida a partir de uma estrutura assimétrica de imagem e de seu poder simbólico e discursivo. Na instância dessa abstração e com o propósito não somente de se distanciar, mas aproximar-se e apreender a produção de sentido imantada no plano concreto figurativo espaço-tempo-plástico-visual da obra, o olhar foi direcionado para o nomadismo imagético da imagem que, além de atemporal, porque transita em distintas épocas e culturas, possui um fazer saber estratético quando posicionado geograficamente na suspensão do onipresente universal para o digital. Tendo como hipótese de que o gesto de extração cultural da imagem produzida pelo enunciador da obra A Festa de Baltazar e como timoneiro a concepção de que o homem não acessa diretamente o mundo, mas que a imagem é o conceito de pensamento entre homem e mundo, se defende a ideia de que a apreensão visual abstrata pode ser informada e transformada em cultura. Deste modo, insurge uma segunda realidade constituída na iconosfera que norteia a imaginação de tal forma que a imagem revela mapas etnográficos que orientam o enunciatário no mundo. Assim, nesta complexa teia intrincada de imagens, onde a origem de todas elas, consubstanciadas apenas num ícone fantasmagórico, emerge a imagem de culto judaico e estético dos antigos mistérios religiosos e, por consequência, a construção da ideia de imagem transcendental como relação consagrada, mas estética. Manifesta, deste modo, na esteira dessa linha e em sincronia, a imagem da arte imanente, mas extraída da imagem midiática, portanto, migratória que, por resultado, se desvela como simulacro que pertence ao espaço sem dimensão. Os resultados da pesquisa convergem para migração de cultura da imagem do quadro porque faz uma jornada que começa na origem presentificada em um suporte eletrônico ou em in situ no lugar de exposição na Galeria Nacional de Londres. Dessa maneira, como desfecho dessa migração, a primeira viagem é de ordem imanente: a presença diante da imagem e a jornada até o contexto social, político e cultural de onde foi produzida e extraída o tema da obra, e a segunda é de ordem transcendental: a fé dos rabinos mecenas que, longe de ser na sua essência imaterial, é suportada pelo dinheiro e pelos contratos de fidúcia e de veredicção para construir uma história migratória a partir da imagem do rei Baltazar sendo castigado pelo Deus de Israel.

Palavras-chave: Rembrandt. Warburg. Rei Baltazar. Migração de cultura.

As sociedades contam com distintos desafios no âmbito dos desastres naturais e não-naturais para, de forma sustentável e mais justa, produzirem soluções capazes de aumentar a capacidade resiliente de comunidades que vivem em áreas de riscos. O presente artigo justifica que os sistemas instituídos pelos órgãos reguladores da produção dos dados de riscos de desastres, apesar de cumprirem com o fluxo de informações entre cientistas, por outro lado, abstêm-se de construir um planejamento para fazer com que esses dados cheguem às comunidades que vivem em áreas de riscos de desastres como é o caso, do objeto desse artigo, da população que reside no distrito de M’Boi-Mirim. Com base na pouca exposição de informações, aliada a falta de publicidade de dados e indícios que constituem o mapeamento de riscos dessas áreas ao alcance da população, bem como informações geradas pelos sistemas de informação de jornais e revistas, emissoras de rádio e televisão, sites de governo como da Defesa e Proteção Civil, Prefeitura de São Paulo, Governo do Estado de São Paulo e do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres - S2ID, o artigo ampara sua abordagem na ausência de consumo dessas informações pelas comunidades em risco, se furtando, deste modo, de revelar as essas comunidades a capacidade que possuem, pela comunicação de riscos de desastres, de avaliar, prevenir e recuperarem-se diante de fatalidades compostas por desastres naturais e não-naturais.
Palavras-chave: M’Boi-mirim. Consumo de dados. Riscos de desastres. Desastres naturais e não naturais. Órgãos do governo.

O propósito ao escolher a obra Pandeiros, pandemônios e pandemias: quatro cavaleiros do Apocalipse é o de analisar a construção identitária, estabelecer uma axiologia de valores sociais, étnicos e culturais que os enunciadores colocam em circulação como atuantes nas comunidades periféricas e, como obra poética de caráter estético, produzida totalmente durante o isolamento da sociedade na pandemia da doença Sars-Cov-2 (surto da Covid-19).