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  • I have a bachelor degree in Social Sciences at the State University of Campinas (Unicamp), where I also had my master... moreedit
  • Ronaldo Rômulo Machado de Almeidaedit
Em 2014 a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) noticiou com grande destaque a saída do Brasil do Mapa da Fome. Esse feito foi celebrado no país como resultado de um conjunto de iniciativas e programas sociais... more
Em 2014 a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) noticiou com grande destaque a saída do Brasil do Mapa da Fome. Esse feito foi celebrado no país como resultado de um conjunto de iniciativas e programas sociais implementados desde 2003 sob égide do Programa Fome Zero. Mais de quinze anos após sua criação, o programa ainda é tema de discussão, apesar de ter sido diluído em diversas políticas de segurança alimentar, e até mesmo políticas de distribuição e geração de renda, recentemente encerradas. A saída do Brasil do Mapa da Fome é aqui entendida como um "evento paradigmático" a partir do qual busquei desvelar as práticas de produção da fome como principal objeto de atenção e gestão na trajetória das políticas sociais no âmbito do Programa Fome Zero. Ao recuperar os discursos mobilizados na construção do "Paradigma de Segurança Alimentar e Nutricional" para a produção da fome enquanto um problema social e sociológico, busco questionar as maneiras em que a fome é enquadrada na construção prática de uma política pública que precisa definir, medir e avaliar. Também é central o questionamento dos usos e efeitos dos discursos e saberes que produziram determinado enquadramento deste fenômeno. Por entender que é analiticamente produtivo não definir a fome a priori, esta tese lança luz aos processos tecnopolíticos de sua transformação na categoria de "Insegurança Alimentar". Através de uma etnografia da prática de "dar forma à fome", que tem como lócus principal a produção de um Arquivo Fome Zero, busco explorar os diferentes dispositivos políticos que conformaram categorias centrais na instituição de uma nova forma de governamentalidade no país. Noções como as de direitos, assistência e necessidade são trazidas à baila buscando tensionar a relação entre um "governo da fome" e um "governo pela fome" e a "cidadanização" de certos sujeitos. É através da atenção a esses movimentos de mutação e estabilização que consigo evidenciar a maneira em que a fome se tornou conhecida, definida e se consolidou como um problema de ordem pública, do Estado, criando sujeitos e populações. Mostro também como ela foi sendo informada por dispositivos, aparatos e disputas epistemológicas, ao mesmo tempo em que era alijada das experiências concretas de uma população. Levando a sério a premissa metodológica de olhar para os processos de (con)formação da fome através da etnografia das principais políticas voltadas para seu combate, pude enxergar como se deu a transformação da fome em uma metáfora e os efeitos dessa estabilização.

Abstract: In 2014, the Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) reported with great prominence the removal of Brazil from the Hunger Map. This achievement was celebrated in the country as the result of a set of social initiatives and programs implemented since 2003 under the aegis of the Zero Hunger Program. More than fifteen years after its creation, the program is still subject of discussion, despite having been diluted in several food security policies, and also distribution and income generation policies - those which were recently terminated. Understanding Brazil's removal from the Hunger Map as a "paradigmatic event", I sought in this dissertation to unveil the practices of hunger production as the main object of attention and government in the trajectory of Zero Hunger social policies. By recovering the discourses mobilized in the construction of the "Paradigm of Food and Nutritional Security" in direct relation to the production of hunger as a social and sociological problem, I seek to question the ways in which hunger is framed in the practical construction of a public policy that needs to define, measure, and assess in order to exist. It is also central the questioning of the uses and effects of discourses and knowledge that produced a certain framework for this phenomenon. Precisely by understanding the productivity of the non-definition of hunger, this research sheds light on the technopolitical processes of its transformation into the category of "Food Insecurity". Through an ethnography of the practices of "framing hunger", which has as its main locus the production of the "Zero Hunger Archive", I seek to explore the different political mechanisms that conformed central categories in the institution of a new form of governmentality in the country. Notions such as rights, assistance, and needs are brought to the forefront in an attempt to tension the relationship between a "government of hunger" and a "government through hunger" and the " citizenization" of certain subjects. It is through the attention to such movements of transformation and stabilization that I am able to show the ways in which hunger has become known, defined and consolidated as a problem of the State. Creating, thus, subjects and populations and being enacted by mechanisms, apparatuses, and epistemological disputes, while it has been removed from the concrete experiences of a population. By seriously considering the methodological premise of looking at the processes of (con)formation of hunger through the ethnography of the Zero Hunger policies, I was able to show how hunger was transformed into a metaphor and the effects of this stabilization.
In this chapter we aim to discuss and comprehend the gender relations through the analysis of the young women relations with food and food control. Through the discourse analysis of 60 semi-direct interviews, we observed that the idea of... more
In this chapter we aim to discuss and comprehend the gender relations through the analysis of the young women relations with food and food control. Through the discourse analysis of 60 semi-direct interviews, we observed that the idea of control is in both countries based on the relation between women and their food habits. This concept of control, built on self-responsibility is considered by these women as ‘normality’, even though it is completely related with food habits reflexibility and causes a rupture in the previous habits. Further than the problematic of aesthetic and health that motivates this idea of control, it represents
a life style and a life hygiene, a life conquer, self control, that is built altogether with the idea of femininity.
Research Interests:
En las sociedades caracterizadas por la abundancia alimentaria, la cuestión central re-lacionada con la alimentación es " ¿qué comer? ". En este contexto, marcado por la debilita-ción de las presiones socioculturales relativas a la... more
En las sociedades caracterizadas por la abundancia alimentaria, la cuestión central re-lacionada con la alimentación es " ¿qué comer? ". En este contexto, marcado por la debilita-ción de las presiones socioculturales relativas a la alimentación, se multiplican discursos y normas, entre los cuales la estética de la delgadez y la dietética, que influyen principalmente a las mujeres. En tal circunstancia, es pertinente comprender las normas, representaciones y prácticas de los individuos, especialmente de las mujeres. Este estudio, basado en una metodología cualitativa y comparativa, centrado en la pregunta " para ti, ¿qué es comer bien? " , busca comprender las normas y representaciones del " comer bien " , observando la influencia de las normas culturales, dietéticas y estéticas en los discursos de mujeres jóvenes brasileñas y españolas. Igualmente, buscaremos observar las discrepancias entre normas y prácticas, así como las dificultades implicadas en poner en práctica tales normas. Final-mente, analizaremos la relación que las jóvenes tienen con la alimentación y las significa-ciones sociales implicadas en el acto de comer. Abstract In the societies defined by an abundance of food, the central concern related to this theme has become " what to eat? ". In this context, marked by the weakness of social-cultural pressure towards food, the discourses and norms related to the esthetics of thinness and diet are multiplying, mainly in regarding to women. In this circumstance, to comprehend the individual norms, representations and practices, mainly about women, is pertinent. This research, using a qualitative and comparative methodology, aims to comprehend the norms and representations of the " eating well " , by questioning: " for you, what does it mean to eat well? " , and then observing the influence of the cultural, medical and esthetic norms in the discourse of Brazilian and Spanish young women. We also seek to observe the divergences between norms and practices, such as the difficulties found in putting these norms in practice. Finally, we aim to analyze the relationship that these women have with the food and the social meanings implied in the act of eating. La noción del " comer bien " para jóvenes brasileñas y españolas: dietética, cultura, placer y disciplina The notion of " eating well " for Brazilian and Spanish young women: dietetic, culture, pleasure and discipline.
Research Interests:
Resumo: Classificar um alimento como comestível perpassa relações de poder, higiene, saúde, status e classe. Assim, é objetivo deste trabalho analisar a trajetória da vida dos alimentos e sua classificação enquanto comestível. Através da... more
Resumo: Classificar um alimento como comestível perpassa relações de poder, higiene, saúde, status e classe. Assim, é objetivo deste trabalho analisar a trajetória da vida dos alimentos e sua classificação enquanto comestível. Através da escolha da categoria analítica do podre a qual permite pensar as variáveis da desta classificação e da classificação das pessoas em relação, desenvolvi uma etnografia da trajetória de certos alimentos na cidade de São Paulo, em feiras livres e no programa Mesa Brasil do SESC, buscando compreender a crueza da máxima "você é o que você come".

Abstract: The classification of food as edible permeates power, hygiene, health, status and class relations. Thus, the aim of this text is to analize the food¿s life path and its classification as edible. Throughout the analytical category of the `rotten¿ as a concept that allows me to think about the variables involved in the food classification in relation to the people¿s classification I devoloped a ethnography of some food in the city of São Paulo, at an open market and in the project Mesa Brasil, aiming to comprehend the perversity of the sentence "you are what you eat".
Research Interests:
Classificar um alimento como comestivel perpassa relacoes de poder, higiene, saude, status e classe. Assim, e objetivo deste trabalho analisar a trajetoria da vida dos alimentos e sua classificacao enquanto comestivel. Atraves da escolha... more
Classificar um alimento como comestivel perpassa relacoes de poder, higiene, saude, status e classe. Assim, e objetivo deste trabalho analisar a trajetoria da vida dos alimentos e sua classificacao enquanto comestivel. Atraves da escolha da categoria analitica do podre a qual permite pensar as variaveis da desta classificacao e da classificacao das pessoas em relacao, desenvolvi uma etnografia da trajetoria de certos alimentos na cidade de Sao Paulo, em feiras livres e no programa Mesa Brasil do SESC, buscando compreender a crueza da maxima "voce e o que voce come". Abstract
Esperavamos uma diversidade de pesquisas de campo, mas nao contavamos com a grande quantidade de colaboracoes que recebemos. Com isso, optamos por dividir as contribuicoes aprovadas em dois volumes da revista e, mesmo com toda... more
Esperavamos uma diversidade de pesquisas de campo, mas nao contavamos com a grande quantidade de colaboracoes que recebemos. Com isso, optamos por dividir as contribuicoes aprovadas em dois volumes da revista e, mesmo com toda diversidade, proporcionar uma organizacao em que a leitura seja possivel atraves de alguns eixos tematicos.  Com essa reuniao de trabalhos etnograficos e historiograficos, textuais e fotograficos, pretendemos mostrar como a festa tem efeitos, produz e e produzida em suas materialidades, sensacoes, relacoes e experiencias. Nesta primeira parte do dossie, a potencia do corpo enquanto ator e mediador das praticas artisticas, sobretudo pela danca, e a festa enquanto um ritual pautado por tradicoes e memorias religiosas, sao dois desses eixos possiveis de abordagem metodologica.
One year after the ‘arrival’ of the new coronavirus in Brazil, although the infection numbers did not show any decline, a process of resumption of activities and adaptation to the ‘new-normal’ has started. Thus, the main goal of this... more
One year after the ‘arrival’ of the new coronavirus in Brazil, although the infection numbers did not show any decline, a process of resumption of activities and adaptation to the ‘new-normal’ has started. Thus, the main goal of this article is to show how an epidemic is built as a health emergency, what are the markers of its temporality and mainly, how it is produced in a process of obliteration and externalization of factors that are often inherent to its effects. In order to do so, we recalled the trajectory of two previous ‘epidemic’ experiences, lived in Brazilian territory, hunger and the Zika virus. We aim to show, through this comparison, that the COVID-19 epidemic needs to be understood taking into consideration that its trajectory is produced in conjunction with other health and disease experiences. If the meanings of the ‘new normal’ are being questioned, it is important to bring to light the processes reproduce daily the ‘normal anew’.
espanolEn las sociedades caracterizadas por la abundancia alimentaria, la cuestion central relacionada con la alimentacion es “?que comer?”. En este contexto, marcado por la debilitacion de las presiones socioculturales relativas a la... more
espanolEn las sociedades caracterizadas por la abundancia alimentaria, la cuestion central relacionada con la alimentacion es “?que comer?”. En este contexto, marcado por la debilitacion de las presiones socioculturales relativas a la alimentacion, se multiplican discursos y normas, entre los cuales la estetica de la delgadez y la dietetica, que influyen principalmente a las mujeres. En tal circunstancia, es pertinente comprender las normas, representaciones y practicas de los individuos, especialmente de las mujeres. Este estudio, basado en una metodologia cualitativa y comparativa, centrado en la pregunta “para ti, ?que es comer bien?”, busca comprender las normas y representaciones del “comer bien”, observando la influencia de las normas culturales, dieteticas y esteticas en los discursos de mujeres jovenes brasilenas y espanolas. Igualmente, buscaremos observar las discrepancias entre normas y practicas, asi como las dificultades implicadas en poner en practica tales normas. Fin...
E extensa a literatura antropologica que aponta respostas e caminhos para essas questoes. Tao extensa que na organizacao do presente dossie decidimos que, apos o recebimento de um numero consideravel de trabalhos, iriamos dividir as... more
E extensa a literatura antropologica que aponta respostas e caminhos para essas questoes. Tao extensa que na organizacao do presente dossie decidimos que, apos o recebimento de um numero consideravel de trabalhos, iriamos dividir as contribuicoes aprovadas em dois volumes da PROA , organizadas de acordo com certas proximidades tematicas. A primeira edicao (GODOY, BLANCO, 2018) aborda a potencia do corpo enquanto ator e mediador das praticas artisticas, sobretudo pela danca, e a festa enquanto um ritual pautado por tradicoes e memorias religiosas. Nessa segunda edicao, tendo em vista a recente efervescencia de manifestacoes artisticas que podem ser compreendidas e, se autodenominam como politicas, a proposta e apontar caminhos e metodologias que compreendam as festas de rua como um momento ritual que e politico em si, que tem a transgressao como fundamento primordial (CAILLOIS, 2015; BATAILLE, 1987). Alem de buscar desvelar como essa expressao estetica tem sido construida, nos ultimo...
O objetivo deste artigo é tratar das relações entre “comida” e “risco” a partir do pressuposto de que a comida carrega com ela, para além de simbolismo, materialidades que são incorporadas, literalmente, através do ato de ingestão. Este... more
O objetivo deste artigo é tratar das relações entre “comida” e “risco” a partir do pressuposto de que a comida carrega com ela, para além de simbolismo, materialidades que são incorporadas, literalmente, através do ato de ingestão. Este texto, além da ambição de contribuir com uma revisão teórica sobre a temática da alimentação na Antropologia, pretende propor uma abordagem metodológica sobre comida que vá mais além de sua definição como linguagem, ou como mediador social, compreendendo-a enquanto objeto promulgador de realidade. A maneira como definimos comida definiria não só a materialidade daqueles que a incorporam, mas as próprias relações que estes estabelecem com o mundo, e o “risco” seria o recorte pelo qual podemos entender como um objeto é definido como comida em um contexto que é muitas vezes concebido como a antítese da cultura: o contexto da pobreza extrema. Para tanto, articularei a discussão mais atual sobre o projeto da “farinata”, do ex-prefeito João Doria Júnior, e...
Chegamos em Aparecida, São Paulo, no dia 22 de abril de 2017. Sabíamos muito pouco, ou quase nada, do encontro de Congadas e da Festa de São Benedito, que já estava em sua 108ª edição. O desafio de realizar uma etnografia conjunta deste... more
Chegamos em Aparecida, São Paulo, no dia 22 de abril de 2017. Sabíamos muito
pouco, ou quase nada, do encontro de Congadas e da Festa de São Benedito, que já estava em sua 108ª edição. O desafio de realizar uma etnografia conjunta deste evento – com um grupo de antropólogos (e amigos), com afinidades em comum, mas que estudam temas tão diversos como música popular,  xamanismo, políticas públicas e catolicismo – foi o que mais nos motivou a encarar tal empreitada (que se revelaria muito mais cansativa do que  poderíamos imaginar). Múltiplos olhares, múltiplas perspectivas, nenhum “especialista”.
Nós, os antropólogos, éramos um grupo de seis pessoas: quatro doutorandos1 do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, um pesquisador de pós-doutorado do Departamento de Antropologia e uma graduanda em Ciências Sociais, todos da Universidade Estadual de Campinas, dos quais quatro são membros do Laboratório de Antropologia da Religião (LAR - IFCH/Unicamp), e dois membros do Ateliê de Produção Simbólica e Antropologia (APSA - IFCH/Unicamp). Não éramos os únicos pesquisadores no evento. Algumas pessoas com as quais conversamos logo que chegamos disseram estar trabalhando em pesquisas do IPHAN, outras trabalhavam com mídia, música ou cinema e estavam ali também com o intuito de estudar aquela manifestação cultural.
Na criação do Programa Fome Zero, era pressuposta a ideia do direito à alimentação como parte inalienável dos direitos fundamentais do homem tendo como princípio político a perspectiva de que o acesso à comida não deve transitar no... more
Na criação do Programa Fome Zero, era pressuposta a ideia do direito à alimentação como parte inalienável dos direitos fundamentais do homem tendo como princípio político a perspectiva de que o acesso à comida não deve transitar no terreno da filantropia. Mais de dez anos se passaram desde o lançamento do Fome Zero, mas a questão do direito à alimentação e sua associação com políticas consideradas assistencialistas ainda é tema de debate.
Neste sentido é objetivo deste artigo, partir da definição e problematização das categorias de comida e alimento para discutir o atual cenário do Direito à Alimentação
Adequada no Brasil através da análise de uma cena etnográfica, que se passou no Conselho Municipal de Segurança Alimentar de São Paulo, a qual é parte de minha pesquisa de doutorado sobre a fome enquanto objeto múltiplo. Pretendo assim, compreender, a partir de questionamentos levantados por esta cena etnográfica, algumas categorias imbricadas nesta disputa, tais como a noção de direitos, assistência, vulnerabilidade e bem-estar social em ação/circulação/pauta.
Há anos, também como pesquisadora, antropóloga (Blanco, 2015), penso em escrever sobre a instituição das feiras populares no Brasil, pois este é um fenômeno que sempre me despertou interesse, curiosidade. No entanto, escrever sobre as... more
Há anos, também como pesquisadora, antropóloga (Blanco, 2015), penso em escrever sobre a instituição das feiras populares no Brasil, pois este é um fenômeno que sempre me despertou interesse, curiosidade. No entanto, escrever sobre as feiras, no decorrer de minhas investigações, deixou de estar conectado ao simbolismo da comida, e à sua capacidade de construção de uma identidade ou cultura, e passou a compreender a própria comida como um actante (Blanco, 2015), um objeto que constrói e é construído nas relações.
Pensando na proposta deste texto em relação ao título deste número, diria então, que o substantivo ‘gosto’ carece de ‘social’, pois ele em si seria uma construção conjunta da socialidade, de forma ampla, o que inclui aspectos biológicos, culturais, psicológicos e naturais.  Segundo Hervé This, o gosto é a sensação sintética e global. Ele seria “a combinação das sensações gustativas, olfativas, mecânicas, (...) que uma vez percebido de maneira psicológica, é interpretado pelo cérebro, o qual associa a ele as qualidades advindas das experiências individuais ou sociais, tais como memórias, emoções e aprendizados”. Da mesma forma, a ideia de hábitos alimentares tira de foco o alimento como sendo ele capaz de sintetizar todas as relações, tanto do plano biológico, como cultural e social em um só objeto.
Proponho assim, pensar o objeto comida como um todo, sendo a feira popular um locus privilegiado de construção do conhecimento. Para tanto, irei compartilhar uma cena etnográfica sobre a instituição da xepa, concluindo então como a feira pode ser um lugar interessante para pensar a comida e o comestível. A referida cena foi vivenciada em uma feira popular no bairro do Madalena em São Paulo, no qual realizei pesquisa de campo durante o ano de 2013 e tem como objetivo iniciar uma reflexão sobre a construção do comestível e da própria definição do que chamamos de ‘comida’.
Nesta vivência de um ano de campo pude aprender muito sobre antropologia e sobra a vida em zonas de precariedade e compartilho aqui com vocês um pouco do que eu aprendi na feira do Madalena.
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Classificar um alimento como comestível perpassa relações de poder, higiene, saúde, status e classe. Quando este objeto foi considerado previamente como lixo, como sobra e como resto, sua classificação enquanto ‘comida’ traz um... more
Classificar um alimento como comestível perpassa relações de poder, higiene, saúde, status e classe.  Quando este objeto foi considerado previamente como lixo, como sobra e como resto, sua classificação enquanto ‘comida’ traz um importante questionamento para se pensar a classificação daqueles que estariam relegados a comer dejetos dos outros.
Assim, proponho compartilhar algumas considerações sobre minha dissertação de mestrado, a qual tinha como objetivo analisar a trajetória da vida dos alimentos e sua classificação enquanto comestível. Foi a partir da escolha da categoria analítica do podre como conceito liminar que permite pensar as variáveis da desta classificação e da classificação das pessoas, que desenvolvi uma etnografia da trajetória de certos alimentos na cidade de São Paulo, em feiras livres e no programa Mesa Brasil do SESC, buscando compreender a crueza da máxima “você é o que você come”.
Através dos estudos de Mauss e Durkeim sobre classificação, mas também em relação às analises de Mary Douglas acerca de noções de pureza e perigo, em consonância com os estudos sobre alimentação que destacam a importância do processo de incorporação, que encontrei um referencial teórico que permitia pensar sobre a trajetória dos objetos/comida e daqueles que os consomem em uma relação que define ambas as vidas. Por meio das noções de objeto e abjeto apresento desta maneira, algumas cenas etnográficas que visam levar o leitor a caminhar comigo por algumas ruas e bairros de São Paulo para compreender os limites ou ainda a extensibilidade daquilo que chamamos de ‘comida’.

Palavras chave: Comida, comestibilidade, lixo, podre, vida
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“A comida é um direito cuja ausência reflete injustiças e gera desigualdades”. Para os idealizadores do Programa Fome Zero, era pressuposto para a estruturação deste programa a ideia de que o direito à alimentação é parte inalienável dos... more
“A comida é um direito cuja ausência reflete injustiças e gera desigualdades”. Para os idealizadores do Programa Fome Zero, era pressuposto para a estruturação deste programa a ideia de que o direito à alimentação é parte inalienável dos direitos fundamentais do homem e deve ter como principio político crucial a perspectiva de que o acesso à comida não deve transitar no terreno da filantropia.
Mais de dez anos se passaram desde o lançamento do programa Fome Zero e sua diluição em programas de transferência de renda, mas a questão do direito à alimentação e sua associação com políticas consideradas assistencialistas ainda é tema de debate, isso porque a própria definição de comida e alimento também o é.
A partir desta contextualização, pretendo em minha apresentação partir da definição de comida e alimento, e da problematização destas categorias para discutir o atual cenário do direito à alimentação adequada no Brasil, através de uma análise da trajetória do Programa Fome Zero, buscando compreender algumas categorias imbricadas nesta disputa, tais como a noção de direitos, assistência, vulnerabilidade e bem-estar social em ação/circulação/pauta.
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Até o ano de 2010 não havia na Constituição Federal Brasileira o direito à alimentação básica. Esse processo de inclusão do direito à alimentação se deu em conjunto com diversas medidas do governo brasileiro desde 2003, sendo a principal... more
Até o ano de 2010 não havia na Constituição Federal Brasileira o direito à alimentação básica. Esse processo de inclusão do direito à alimentação se deu em conjunto com diversas medidas do governo brasileiro desde 2003, sendo a principal delas o Programa Fome Zero. Treze anos após sua criação, o programa ainda é tema de discussão, apesar de, atualmente, ter sido diluído em diversas políticas de segurança alimentar, e até mesmo distribuição e geração de renda.
Pensando então, neste programa central do início do governo Lula, pretendo neste paper apontar algumas discussões iniciais sobre meu projeto de doutorado que busca partir da análise da trajetória deste programa, em relação à construção da categoria fome, para realizar uma etnografia das políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional. Desta forma, pretendo discutir essas ações governamentais explorando as inter-relações construídas neste processo, as diferentes arenas em jogo e os diferentes sujeitos políticos que se projetavam e consolidavam em tais planos, buscando compreender algumas categorias imbricadas nesta disputa, tais como a noção de direitos, assistência, vulnerabilidade e bem-estar social em ação/circulação/pauta.
Tendo em vista que estou atualmente no terceiro semestre do doutorado em Antropologia Social, tenho como objetivo central desta apresentação levantar algumas questões apontadas acima, a partir das quais pretendo pensar o extinto programa Fome Zero, considerando- o como um marco das políticas sociais brasileiras.
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“Será que podemos falar que a insegurança alimentar grave é um pleonasmo para fome?” Essa pergunta, proferida por uma nutricionista em um congresso de pesquisadores em segurança alimentar, foi o ponto de partida para pensar... more
“Será que podemos falar que a insegurança alimentar grave é um pleonasmo para fome?” Essa  pergunta,  proferida  por  uma  nutricionista  em  um  congresso  de  pesquisadores  em  segurança alimentar, foi o ponto de partida para pensar sobre o tema desta proposta de apresentação, isto é, a fome enquanto múltipla, promulgando políticas públicas e fazendo e sendo feita pelo Estado.No entanto, apesar de parecer uma pergunta simples, as categorias implicadas acerca da fome, e mais ainda os diferentes saberes que cada uma dessas categorias mobiliza, propõem uma relevante reflexão sobre o tema da comida e das políticas públicas de combate à fome.Tendo como pano de fundo minha pesquisa de doutorado, na qual pretendo partir da análise da trajetória do programa Fome Zero em relação à construção da categoria fome para realizar uma etnografia das políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional, pretendo no presente artigo discutir  essas  ações  governamentais  explorando  as  inter-relações  construídas  nesse  processo,  as diferentes  arenas  em  jogo  e  os  diferentes  sujeitos  políticos,  que  são  criados  a  partir  de  uma praxiografia da fome.Desta  forma  é  objetivo  central  deste  texto,  inspirada  pelas  análises  de  Annemarie  Mol, compreender  a partir  da  etnografia  de  saberes  tecnopolíticos  envolvidos  na  criação  desta  política pública,  como  a  fome  é  promulgada  e  em  sua  promulgação  cria  sujeitos  e  coloca  em  circulação  a noção de direitos, assistência, vulnerabilidade e bem-estar social, bem como adefinição e criação do próprio Estado. A nutrição, a segurança alimentar e a saúde pública, mas também a própria etnografia são saberes em disputa na construção da fome enquanto múltipla