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Fernanda Brabo
  • Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil
Este artigo pretende esbocar uma maneira outra de ser pesquisadora e fazer pesquisa academica e intelectual em educacao. Um modo que considera o pensar emocional, a intuicao, o acaso e a dimensao do corazon , como propoe o filosofo... more
Este artigo pretende esbocar uma maneira outra de ser pesquisadora e fazer pesquisa academica e intelectual em educacao. Um modo que considera o pensar emocional, a intuicao, o acaso e a dimensao do corazon , como propoe o filosofo latinoamericano Rodolfo Kusch, para falar de uma logica outra de (re)interpretacao e (res)significacao da realidade. Considera ainda a disposicao vivencial ao estar junto, partindo do pressuposto de que o metodo de pesquisa surge desde a vivencia e do atuar na pesquisa junto com o outro. Para isso, parte da vivencia da autora junto a professores kaingang e mbya guarani na Acao Saberes Indigenas na Escola, no estado do Rio Grande do Sul, dos anos de 2013 a 2017. Utiliza ainda a nocao de corazonar , de acordo com Patricio Guerrero Arias, propondo uma postura intelectual, academica e politica de luta decolonial a partir do corazonamiento do saber, do poder e do ser. O termo corazonar faz referencia a religacao da afetividade a racionalidade intelectual e tra...
Resumo Neste artigo apresentamos um estudo do decreto presidencial nº 6.861, que criou os Territórios Etnoeducacionais, discorrendo sobre possíveis mudanças que o documento anuncia para a política escolar indígena no Brasil, desde 2009,... more
Resumo Neste artigo apresentamos um estudo do decreto presidencial nº 6.861, que criou os Territórios Etnoeducacionais, discorrendo sobre possíveis mudanças que o documento anuncia para a política escolar indígena no Brasil, desde 2009, ano de sua edição, até outubro de 2013, quando foi publicada a portaria nº 1.062, do Ministério da Educação, instituindo o Programa Nacional dos Territórios Etnoeducacionais. Metodologicamente, assentamos o pensamento numa metáfora que teve como inspiração a instalação artística "Nosso Norte é o Sul", de Yanagi Yukinori (8ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, 2011), cujo "território das formigas", construído ao longo do evento, se mostrou fecundo para pensar possibilidades vislumbradas a partir desses documentos. O decreto e a portaria, ao ressituarem a política de educação escolar indígena, interferem não só na organização territorial, mas principalmente nas formas de gestão e condução das escolas, inserindo com maior ênfase o ...
Este artigo pretende esboçar uma maneira outra de ser pesquisadora e fazer pesquisa acadêmica e intelectual em educação. Um modo que considera o pensar emocional, a intuição, o acaso e a dimensão do corazón, como propõe o filósofo... more
Este artigo pretende esboçar uma maneira outra de ser pesquisadora e fazer pesquisa acadêmica e intelectual em educação. Um modo que considera o pensar emocional, a intuição, o acaso e a dimensão do corazón, como propõe o filósofo latinoamericano Rodolfo Kusch, para falar de uma lógica outra de (re)interpretação e (res)significação da realidade. Considera ainda a disposição vivencial ao estar junto, partindo do pressuposto de que o método de pesquisa surge desde a vivência e do atuar na pesquisa junto com o outro. Para isso, parte da vivência da autora junto a professores kaingang e mbya guarani na Ação Saberes Indígenas na Escola, no estado do Rio Grande do Sul, dos anos de 2013 a 2017. Utiliza ainda a noção de corazonar, de acordo com Patricio Guerrero Arias, propondo uma postura intelectual, acadêmica e política de luta decolonial a partir do corazonamiento do saber, do poder e do ser. O termo corazonar faz referência à religação da afetividade à racionalidade intelectual e trata-se de uma postura de decolonialidade do saber, do sentir e do ser, mas também de uma descolonização da própria academia e sua racionalidade universalizante.
Palavras-chave: Ação Saberes Indígenas na Escola. Corazonar. Decolonialidade.

Abstract This article intends to outline another way of being a researcher and doing academic and intellectual research in education. It is a way that considers the emotional thinking, the intuition, the chance and the dimension of the heart, as proposed by the Latin American philosopher Rodolfo Kusch, to speak of another logic of (re)interpretation and (re)signification of reality. It also considers the experiential disposition to be together, starting from the assumption that the research method arises from the experience and acting in the research with the other. For this, it starts from the author's experience with teachers Kaingang and Mbya Guarani in the Action Indigenous Knowledge in School, in the state of Rio Grande do Sul, from 2013 to 2017. It uses the notion of heart, according to Patricio Guerrero Arias, proposing an intellectual, academic and political position of decolonial struggle beginning with the heart of knowledge, power and being. The term corazonar refers to the reconnection of the affectivity to the intellectual rationality, and it is a posture of both decoloniality of the knowledge, the feeling and the being, and decolonization of the academy itself and its universalizing rationality.
Research Interests:
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Este artigo propõe reflexões acerca da política de territórios etnoeducaconais, criados a partir do Decreto nº 6.861/2009, buscando em especial perceber como vem se dando sua apropriação pelos povos indígenas brasileiros. Tem como... more
Este artigo propõe reflexões acerca da política de territórios etnoeducaconais, criados a partir do Decreto nº 6.861/2009, buscando em especial perceber como vem se dando sua apropriação pelos povos indígenas brasileiros. Tem como objetivo específico compreender de que modo o pensar emocional ameríndio, proposto por Rodolfo Kusch, parecem contribuir para as apropriações étnicoculturais desta política indigenista educacional. Metodologicamente, utilizou-se a teoria da razão sensível, formulada por Michel Maffesoli, abarcando as dimensões da afetividade e do afetual contidos no fazer-se desses etnoterritórios. Como fundamentação teórica, considerou-se o modo como, segundo Kusch, as culturas indígenas parecem estruturar-se sobre a afeição, estabelecendo sua coerência interna a partir do fundo afetivo em que atua, sem dissociar os aspectos racionais dos emocionais. Como resultados iniciais, o estudo aponta para uma visão orgânica da realidade que integra o estar-se-fazendo da educação escolar indígena às questões de territorialidades ancestrais e atuais, pautada em uma racionalidade de fundo afetivo e emocional. Assim, a partir do pensar emocional ameríndio, parece ser possível a compreensão de como os povos indígenas vêm se apropriando da política de territórios etnoeducacionais.
Palavras-chave: territórios etnoeducacionais; educação escolar indígena; pensar emocional; dimensão do coração.
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A educação escolar indígena específica, diferenciada, bilíngue e intercultural é legalmente um direito assegurado aos povos indígenas no Brasil. Na prática, tal direito ainda enfrenta dificuldades para se efetivar, seja pela relação... more
A educação escolar indígena específica, diferenciada, bilíngue e intercultural é legalmente um direito assegurado aos povos indígenas no Brasil. Na prática, tal direito ainda enfrenta dificuldades para se efetivar, seja pela relação colonialista do estado e suas instituições para com os povos indígenas, seja pela morosidade e burocracia dos processos e instrumentos técnico-administrativos. É preciso considerar também os dissensos entre as reivindicações dos movimentos indígenas e o modo moderno ocidental majoritário de fazer e pensar as políticas públicas. Neste cenário, a política de territórios etnoeducacionais – TEE é uma das criações mais recentes na história da educação escolar indígena no país, sendo implementada gradualmente desde o ano de 2009 e gerando discussões, interesses, dúvidas e questionamentos acerca de sua efetivação. A partir de vivências com professoras e professores kaingang e guarani no Rio Grande do Sul, em especial da atuação na Ação Saberes Indígenas na Esco...
A educação escolar indígena específica, diferenciada, bilíngue e intercultural é legalmente um direito assegurado aos povos indígenas no Brasil. Na prática, tal direito ainda enfrenta dificuldades para se efetivar, seja pela relação... more
A educação escolar indígena específica, diferenciada, bilíngue e intercultural é legalmente um direito assegurado aos povos indígenas no Brasil. Na prática, tal direito ainda enfrenta dificuldades para se efetivar, seja pela relação colonialista do estado e suas instituições para com os povos indígenas, seja pela morosidade e burocracia dos processos e instrumentos técnico-administrativos. É preciso considerar também os dissensos entre as reivindicações dos movimentos indígenas e o modo moderno ocidental majoritário de fazer e pensar as políticas públicas. Neste cenário, a política de territórios etnoeducacionais – TEE é uma das criações mais recentes na história da educação escolar indígena no país, sendo implementada gradualmente desde o ano de 2009 e gerando discussões, interesses, dúvidas e questionamentos acerca de sua efetivação. A partir de vivências com professoras e professores kaingang e guarani no Rio Grande do Sul, em especial da atuação na Ação Saberes Indígenas na Escola – núcleo UFRGS entre os anos de 2014 e 2017, constatei que, para a implementação de uma política indigenista ser efetiva, é necessário, entre outros movimentos, que ela seja apropriada afetivamente pelos povos indígenas envolvidos. Para a elaboração desta pesquisa, a política de TEE surgiu como semeadora de discussões e reflexões, com os (des)conhecimentos, (in)compreensões, estranhamentos e sentimentos que essas professoras e professores expõem e compartilham sobre o assunto. Dentro de uma perspectiva de tese como acontecimento, busquei perceber como se dão os movimentos de apropriação (afetiva) da política de territórios etnoeducacionais pelos povos indígenas, tomando os encontros de formação continuada dos professores kaingang e guarani do RS como campos de reflexão coletiva e colaborativa. Utilizei as noções de pensamento seminal (Rodolfo Kusch), a dimensão do coração no pensamento ameríndio (Rodolfo Kusch e tradições indígenas) e o corazonar (Patrício Guerrero Arias) para compor um estudo denso e situado dos movimentos de apropriação afetiva indígena das políticas educacionais indigenistas, com base no vivido e nos sentipensamentos (Orlando Fals Borda) compartilhados em campo. Assumindo a imprevisibilidade de deixar-me estar e deixar-me afetar pelos campos de vivência, sabendo-me também afetando, adotei posturas e (dis)posições metodológicas que possibilitassem o estar junto com as pessoas indígenas, coautoras das reflexões desta pesquisa. Atuei conforme minhas sensibilidades de mundo, considerando a intuição e o acaso, no estar sendo estudante-universitária-mãe-pesquisadora-formadora e de acordo com as relações de parceria estabelecidas com os professores indígenas observando, registrando, participando e intervindo quando me foi solicitado. Dessa forma, esta pesquisa buscou evidenciar os movimentos fecundos de apropriação afetiva de políticas por meio do corazonamiento germinal da política de territórios etnoeducacionais.
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Narrar não é apenas contar uma história. Ao narrarmos fazemos o tempo pulsar, recuperamos detalhes, fazemos gritar a memória e afetivamente nos colocamos diante do que é, e não poderia ser de outra forma, inesquecível. Aprendemos com os... more
Narrar não é apenas contar uma história. Ao narrarmos fazemos o tempo pulsar, recuperamos detalhes, fazemos gritar a memória e afetivamente nos colocamos diante do que é, e não poderia ser de outra forma, inesquecível. Aprendemos com os Guarani e os Kaingang que o passado está na frente, é ele que vemos, atravessa nosso presente,
dando sentido a ele.
Esta obra recupera a memória coletiva da Ação Saberes Indígenas na Escola, Núcleo Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em suas primeiras 4 edições (2014-2019). Quando nos propomos então a fazer este movimento, na ousadia de escrever a várias mãos uma obra, em um momento de profundo descaso com as políticas públicas para os povos indígenas no Brasil, este livro torna-se um ato político. Recuperar aqui têm vários sentidos. Representa primeiramente, uma retomada, em que a palavra busca o território que sempre foi seu para poder dizer-se, a história sempre foi um território usurpado, por isso a urgência em contarmos a história com nossa própria voz. Mas, recuperar também significa cobrar uma dívida, constatação do roubo, da violência, do
genocídio presente na história dos povos indígenas.
Sabemos que ainda temos um caminho longo a percorrer, mas o que construímos juntos – indígenas e não-indígenas – é muito valioso e nos fortalece para as lutas que temos
que enfrentar. Aprendemos muitas coisas nesta caminhada em que a interculturalidade se constituiu como um horizonte importante, como compromisso ético-político que
permeou nosso estar junto.
É sobre estas aprendizagens que trata a presente obra. Todos que escrevem aqui participaram da Ação Saberes Indígenas na Escola, portanto a palavra é testemunho, e como testemunho carrega dores e alegrias daqueles e daquelas que tem o direito (e porque não dizer, o dever) em falar.