Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
Skip to main content
Esta tese visa expor e delimitar como o escritor pernambucano Osman Lins (1924- 1978), sobretudo nas obras Nove, novena (1966) e Avalovara (1973), postula o pathos em termos de animalidade – de onde é oriunda uma complexa disposição... more
Esta tese visa expor e delimitar como o escritor pernambucano Osman Lins (1924-
1978), sobretudo nas obras Nove, novena (1966) e Avalovara (1973), postula o pathos em
termos de animalidade – de onde é oriunda uma complexa disposição ecológica de sua
literatura – e, por outro lado, propõe, de maneira crítica, um inventário de técnicas do homem
transfigurado, por sua vez, naquilo que se reúne sob o caráter de ordem e rigor como, por
exemplo, a alquimia, a geometria, o olho de vidro e a temperança, entre outros. Avultamos
que a relação entre cultura e natureza em sua obra seja ponto coincidente em uma importante
parcela de sua fortuna crítica, embora reste não explorada de maneira exaustiva: para tanto,
realizamos, seguindo os passos desta mesma fortuna crítica, uma arqueologia deste tópico em
seus textos a partir da qual se tenciona que ele advém, principalmente, de uma crítica de Lins
à adesão de Carl Jung (arquétipo) e dos nouveaux romanciers franceses (realismo subjetivo) à
fenomenologia de Edmund Husserl, assim como da oposição entre caos e ordem, sensível e
inteligível, corpo e espírito, passivo e ativo, negativo e positivo, física e metafísica no cânone
ocidental (Platão, monoteísmo, Dante). Doravante inferimos determinada passagem crítica do
escritor por esta tradição, que resumiríamos como a acusação de uma economia da natureza
na civilização, assim como, a partir de então, propomos maior aderência de Lins à tradição
poético-literária latino-americana (principalmente à obra de João Cabral de Melo Neto) e aos
procedimentos dos povos indígenas exemplificados por cronistas, antropólogos e demais
estudiosos, o que resulta, por sua vez, numa intensificação da experiência sensível e na
reinvenção constante da relação dos homens com o ambiente circundante, ambas
estabelecidas por meio do advento da sombra em sua literatura. Alocaremos tais
procedimentos, finalmente, sob a proposição osmaniana de uma terra por vir.

Palavras-chave: Osman Lins; cultura; natureza; economia.

ABSTRACT
This thesis aims at expose and define how Osman Lins, a writer from Pernambuco
(1924-1978), suggests the pathos in terms of animality, especially considering the works
Nove, novena (1966) and Avalovara (1973). In these works we encounter a complex
ecological disposal and, on the other hand, there is a critical proposal, an inventory of
anthropo-technologies under the character of order and accuracy, present in themes such as
alchemy, geometry, the glass eye and temperance, among others. We emphasize that the
relationship between culture and nature in his work is a coincident point, significantly present
in the literary criticism inspired by his books, although exhaustively unexplored. To this end,
we conducted, following the footsteps of this literary criticism, an archeology of this topic in
his texts. Moreover, it is intended that the topic stems mainly from Lins' criticism on Carl
Jung's (archetype) and the French nouveaux romanciers (subjective realism) attraction to the
phenomenology idea of Edmund Husserl, as well as the opposition between chaos and order,
sensitive and intelligible, body and spirit, passive and active, positive and negative, physics
and metaphysics in the Western canon (Plato, monotheism, Dante). Henceforth, we infer the
writer's (Lins) passage through this tradition, which we could summarize as the charge of an
economy of nature in civilization. From that point in time, we propose a stronger adherence of
the author to poetic-literary Latin American tradition (especially in the work of João Cabral de
Melo Neto) and to procedures of indigenous peoples exemplified by chroniclers,
anthropologists and other scholars, resulting in an intensification of sense experience and
constant reinvention of man's relationship with the surrounding environment. Both of these
relationships are established by the advent of the shadow as an element in his literature.
Finally, we will allocate such procedures under the "Osmanian" proposal of the land to come.
Keywords: Osman Lins; culture; nature; economy
Research Interests:
The article investigates the acoustic and imagery dimensions of the figure of "O" in the sermon "Nossa senhora do O" (1640), by Antônio Vieira, to propose that while the image refers to geometry, the inclusion of the voice (as opposed to... more
The article investigates the acoustic and imagery dimensions of the figure of "O" in the sermon "Nossa senhora do O" (1640), by Antônio Vieira, to propose that while the image refers to geometry, the inclusion of the voice (as opposed to language) concerns both Christian catharsis and historical context. In this case, we will use the rest of Vieira's sermons, as well as the works of Hansen and Pécora, to show their relationship with the decision of the Concílio de Trento not to wage war, but to include the gentile for correction, which will lead us to conclude that the inclusion of the voice has a domesticating function.
Esta tese visa expor e delimitar como o escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), sobretudo nas obras Nove, novena (1966) e Avalovara (1973), postula o pathos em termos de animalidade de onde e oriunda uma complexa disposicao... more
Esta tese visa expor e delimitar como o escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), sobretudo nas obras Nove, novena (1966) e Avalovara (1973), postula o pathos em termos de animalidade de onde e oriunda uma complexa disposicao ecologica de sua literatura e, por outro lado, propoe, de maneira critica, um inventario de tecnicas do homem transfigurado, por sua vez, naquilo que se reune sob o carater de ordem e rigor como, por exemplo, a alquimia, a geometria, o olho de vidro e a temperanca, entre outros. Avultamos que a relacao entre cultura e natureza em sua obra seja ponto coincidente em uma importante parcela de sua fortuna critica, embora reste nao explorada de maneira exaustiva: para tanto, realizamos, seguindo os passos desta mesma fortuna critica, uma arqueologia deste topico em seus textos a partir da qual se tenciona que ele advem, principalmente, de uma critica de Lins a adesao de Carl Jung (arquetipo) e dos nouveaux romanciers franceses (realismo subjetivo) a fenomenologi...
Resumo: Este trabalho parte da comparação feita por Silviano Santiago, em Genealogia da ferocidade (2017), entre o cavalo mumificado descrito em Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, e a figuração desse animal em Grande sertão: veredas... more
Resumo: Este trabalho parte da comparação feita por Silviano Santiago, em Genealogia da ferocidade (2017), entre o cavalo mumificado descrito em Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, e a figuração desse animal em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, que o crítico usa para recusar qualquer continuidade entre um e outro como o teria feito, finalmente, parte da fortuna crítica roseana. Isto porque o protagonista de Rosa se recusa a ser um "amansador de cavalos". Diferentemente, no livro Ensaio geral (2007), Nuno Ramos reivindica essa mesma imagem do cavalo fossilizado de Os sertões, o que traz consequências não apenas para a figuração do animal no seu posterior Adeus, cavalo (2017), como contamina sua leitura da tradição literária brasileira, a exemplo da ênfase dada à mineralização dos objetos na poesia de João Cabral de Melo Neto. Mostrar-se-á, assim, o debate acerca do caráter neorromântico de Os sertões para, em seguida, evidenciar como um maior distanciamento em relação a ele implica um maior grau de aderência a uma ideia de formação não antropocêntrica. Palavras-chave: João Guimarães; Euclides da Cunha; Nuno Ramos.
Partiremos da ressalva feita por Haroldo de Campos em “O paradigma aberto”, último capítulo de O sequestro do barroco na Formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos (1986), para destacar dois momentos da obra de Antônio... more
Partiremos da ressalva feita por Haroldo de Campos em “O paradigma aberto”, último capítulo de O sequestro do barroco na Formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos (1986), para destacar dois
momentos da obra de Antônio Cândido, quais sejam, Formação da literatura brasileira (1959) e “Dialética da malandragem” (1970). Assim, demonstraremos: 1) a reconfiguração da proposição historiográfica de um sistema literário na passagem de um texto ao outro a partir do trabalho crítico e, 2) os instrumentos que este reposicionamento confere para reduzir o modo de ser nacional à forma de vida de uma classe oprimida, operação originalmente dialética nos estudos literários brasileiros, segundo “Pressupostos, salvo engano, de ‘Dialética da
malandragem” (1987), de Roberto Schwarz. Doravante, tomaremos origem deste novo sistema, a saber, a sátira barroca de Gregório de Matos, para mostrar seu percurso pela critica e historiografia literária brasileira e especular como sua recepção extraviada, caso se adote a tese de João Adolfo Hansen em A sátira e o engenho (1989), pode
conferir um caráter ambíguo às funções do “modo de ser brasileiro” como parte e processo da cena contemporânea.
O artigo toma por objeto a articulação voz e linguagem na obra Ó (2008), de Nuno Ramos, atentando à correlação desta bipartição à polaridade cultura e natureza, conforme consta na Política, de Aristóteles. Infere-se que Ramos... more
O artigo toma por objeto a articulação voz e linguagem na obra Ó (2008), de Nuno Ramos, atentando à correlação desta bipartição à polaridade cultura e natureza, conforme consta na Política, de Aristóteles. Infere-se que Ramos elabora uma descida da linguagem à voz, procedimento que pode ser entendido como a inversão do esquema traçado por Padre Antônio Vieira no sermão “Nossa senhora do ó” (1640), no qual a voz é submetida à linguagem, o corpo ao espírito. Doravante, elegeremos o conto “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa, como um possível precursor da expressão “ó” por fazer o ruído animal atravessar a comunicação, embora nossa conclusão seja a de que Nuno Ramos propõe uma decida de mão única do espírito à animalidade, do lógos à phoné, o que nos permitiria vincular sua humanista teoria da separação entre cultura e natureza àquela proposta pelo filósofo Giorgio Agamben; enquanto em Rosa haveria um procedimento perspectivista, como o teorizado pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, segundo o qual a natureza seria capaz também de possuir linguagem, saber
Research Interests:
Este trabalho demonstra como a proposição de um novo humanismo foi importante para constituição da Literatura Comparada enquanto saber disciplinar, o que permanece intocado quando Wellek e Warren criticam esta disciplina através do... more
Este trabalho demonstra como a proposição de um novo humanismo foi importante para constituição da Literatura Comparada enquanto saber disciplinar, o que permanece intocado quando Wellek e Warren criticam esta disciplina através do conceito de perspectivismo. A partir de autores como Michel Foucault, Jacques Derrida, Jacques Lacan, entre outros, vamos propor uma outra forma de se relacionar culturas por meio do conceito de literatura-litoral, exemplificado por autores como Osman Lins e Jorge Luís Borges, e do perspectivismo ameríndio de Eduardo Viveiros de Castro, uma vez que ambos extirpam o humanismo
Research Interests:
Este artigo visa a explorar a dialética cultura e natureza na poesia de João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade para, posteriormente, evocar rapidamente um debate filosófico sobre o estatuto da poesia empreendido pelos... more
Este artigo visa a explorar a dialética cultura e natureza na poesia de João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade para, posteriormente, evocar rapidamente um debate filosófico sobre o estatuto da poesia empreendido pelos filósofos franceses Jean
Luc-Nancy e Alain Badiou. Nossa conclusão é a de que, enquanto os filósofos qualificam a poesia como um acesso, os citados poetas a entendem como uma interrupção que gera a determinação da razão pela natureza e a ideia perspectivista de que na natureza há saber.
Research Interests:
Resumo: Em uma famosa objeção à comparação de sua literatura com aquela engendrada pelos nouveaux romanciers franceses, Osman Lins afirmava ser tal corrente literária extremamente civilizada enquanto, ao contrário, via-se (a si mesmo e a... more
Resumo: Em uma famosa objeção à comparação de sua literatura com aquela engendrada pelos nouveaux romanciers franceses, Osman Lins afirmava ser tal corrente literária extremamente civilizada enquanto, ao contrário, via-se (a si mesmo e a sua prosa) como " um tanto civilizado, mas […] mais ou menos primitivo, um selvagem civilizado ". Considerando que o primitivismo osmaniano é colocado pelo autor como algo da ordem dos " instintos " e do " incompreensível " , pretendemos com este artigo demonstrar como este aspecto foi identificado de maneira precisa pelo crítico franco-lusitano Álvaro Manuel Machado, sobretudo quando este autor propõe o " paradoxo " e o " animismo " como chaves de leitura de Nove, novena e Avalovara. Em seguida, aclararemos o interesse de Lins pela coincidentia oppositorum e pelo " olhar " dos animais propostos por Mircea Eliade, além de abordar o protagonismo dos viventes não humanos e da natureza em geral em suas duas obras supracitadas. Finalmente, exporemos como Lins, em sua literatura, elabora uma veemente crítica à pretensão à racionalidade pura. Abstract: In a notorious objection to the comparison of his writings with those of the French Nouveau Roman, Osman Lins claimed the latter to be a highly civilized literary current, whereas he and his own prose works were " civilized but […] more or less primitive, a civilized savage ". Lins postulated his primitivism as something along the lines of " instincts " O eixo e a roda,
Research Interests:
O presente artigo parte da constatação do filósofo Emanuele Coccia de que a biografia constitui a base cultural do Ocidente, o que implica a crença na plena coincidência entre lei e vida. A partir de um debate envolvendo a filósofa... more
O presente artigo parte da constatação do filósofo Emanuele
Coccia de que a biografia constitui a base cultural do Ocidente, o que
implica a crença na plena coincidência entre lei e vida. A partir de um
debate envolvendo a filósofa Hannah Arendt ampliaremos os alcances
da supracitada paridade para evidenciar como nela se inscreve a dialética
natureza e cultura e, por fim, reivindicaremos o “corte oblíquo” identificado
por Silviano Santiago nas obras O amanuense Belmiro, de Cyro dos
Anjos, e Água viva, de Clarice Lispector, como possível alternativa à
citada lógica. Isto pois, em ambos os textos, como mostraremos, temos
questionadas as condições da biografia, do cristianismo, do humanismo
e, por fim, do próprio romance, da própria literatura.
O tema geral deste livro coletivo, “A literatura e a vida: por que estudar literatura”, nos reúne e convida a pensar, por um lado, as diferenças e semelhanças entre literatura e vida e, por outro, a refletir sobre essa relação em um... more
O tema geral deste livro coletivo, “A literatura e a vida:
por que estudar literatura”, nos reúne e convida a pensar,
por um lado, as diferenças e semelhanças entre literatura
e vida e, por outro, a refletir sobre essa relação em um
contexto específico de análise, o dos Estudos Literários.
Estudos Literários, aqui, é preciso dizer, está
entendido como um campo do saber de perfil multidisciplinar,
potencializando a pesquisa em literatura a partir de
intersecções com outras esferas do conhecimento e
campos discursivos – cinema, artes, filosofia, antropologia,
música, mídias – suscitados por ela.
Research Interests:
Publicado pela Editora paulista Todavia em 2022, ano de intensas querelas acerca do legado da Semana de arte moderna de São Paulo que, então, completava seu centenário, a discussão proposta por Saudades do mundo: notícias da antropofagia,... more
Publicado pela Editora paulista Todavia em 2022, ano de intensas querelas acerca do legado da Semana de arte moderna de São Paulo que, então, completava seu centenário, a discussão proposta por Saudades do mundo: notícias da antropofagia, de Eduardo Sterzi, desloca, no entanto, o debate. Talvez porque seu objeto seja outro, o que pode ser entrevisto na forma pela qual o autor caracteriza o romance/rapsódia Macunaíma, de Mário de Andrade, ao objetar aqueles que o leram como "alegoria da formação nacional" (STERZI, 2022, p. 82): não apenas porque inexistiria ali um éthos pessoal ou coletivo, uma vez que estes são interditados pela máxima "nenhum caráter do herói" que produz, por sua vez, um éthos "mutante, deslizante e combinatório" (STERZI, 2002, p. 82), sabotando, assim, o ímpeto alegórico; mas, principalmente, porque tal leitura não compreende que, "à época de sua composição (1926) e publicação (1928), o modernismo brasileiro vivia já a sua grande crise interna, culminando na proposta oswaldiana da Antropofagia, cujo mote principal" é, conclui o crítico, "uma variante radical do nenhum-caráter macunaímico: 'só me interessa o que não é meu'." (STERZI, 2002, p. 82). Trata-se, talvez forçando um pouco, menos de um debate sobre o modernismo que sobre o momento no qual ele se torna estranho a si mesmo.