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  • Licenciada em Letras habilitação Português/Francês e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal de Pelota... moreedit
O incipt do recente livro de Marianna Scaramucci, "literatura e crítica estão sempre em transformação", toca em ponto sensível e importante no que tange o fazer literário, mas sobretudo, aquele que se dedica a estudar à relação entre... more
O incipt do recente livro de Marianna Scaramucci, "literatura e crítica estão sempre em transformação", toca em ponto sensível e importante no que tange o fazer literário, mas sobretudo, aquele que se dedica a estudar à relação entre ditadura e literatura, especialmente no Brasil. Desde o início da sua pesquisa, conta a autora, ainda em 2015, quando começou o seu doutorado, depois em 2018, com a defesa de tese e, posteriormente, entre a defesa, a tradução e o lançamento da versão do livro que agora lemos, passaram-se alguns anos. O "panorama mnemônico", termo de Scaramucci (2021), entretanto, deslocou-se, com os efeitos, que ainda não se sentiam tanto, do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, mas, sobretudo, com o crescente discurso negacionista que assolou o país.
Resumo Contar um período histórico está diretamente relacionado a questões políticas, sociais, históricas, culturais e temporais. No caso da ditadura militar brasileira, “o que foi” (ou o que é) ainda está sendo produzido, seja na... more
Resumo Contar um período histórico está diretamente relacionado a questões políticas, sociais, históricas, culturais e temporais. No caso da ditadura militar brasileira, “o que foi” (ou o que é) ainda está sendo produzido, seja na historiografia ou na literatura. Muitas dessas histórias, entretanto, ainda não foram contadas e permanecem esquecidas, excluídas e/ou ignoradas. Neste artigo, atentaremos para os pontos cegos da história, observando a relação e composição das temporalidades coloniais e ditatoriais e discutindo quais histórias de violência e de resistência foram contadas, como foram escritas e mobilizadas, mesmo anos depois dos processos de justiça de transição e de reparação, no presente e na literatura, a partir das narrativas Nem tudo é silêncio (2010), de Sonia Bischain, a chamada Trilogia infernal, composta pelos livros Aqui, no coração do inferno (2016), O peso do coração do homem (2017), e O amor, esse obstáculo (2018), de Micheliny Verunschk, em maior medida, e, em...
RESUMO A produção artística e crítica contemporâneas têm colocado em questão a necessidade de observar perspectivas histórias antes silenciadas, de forma a opor-se e resistir ao apagamento de experiências e vivências de grupos, raças,... more
RESUMO A produção artística e crítica contemporâneas têm colocado em questão a necessidade de observar perspectivas histórias antes silenciadas, de forma a opor-se e resistir ao apagamento de experiências e vivências de grupos, raças, etnias e cores diversas. Em um país como o Brasil, entretanto, caracterizado por desigualdades sociais gritantes, tal tentativa foi e é marcada pela disjunção e pela mediação. Esta mediação frequentemente é marcada por produções em que o intelectual, branco e da elite, organiza e edita a obra de alguém que testemunha outra vivência, o subalternizado, negro e pobre. Se por um lado a figura do intelectual é central para desvelar e inscrever tais histórias, por outro, a mediação não é imparcial, mas marcada por relações de poder. A proposta deste trabalho é introduzir questões relativas ao conceito de literatura de testemunho, literatura sobre o/do cárcere e analisar dois exemplos de tal literatura, os textos Sobrevivente André du Rap (2002) e Cela forte ...
Há “giro geracional”, nos termos de Leonor Arfuch (2018), em curso, em relação à produção artística dedicada ao tema da ditadura militar no Brasil: agora, deslocados temporalmente, autores e autoras de uma segunda geração do evento,... more
Há “giro geracional”, nos termos de Leonor Arfuch (2018), em curso, em relação à produção artística dedicada ao tema da ditadura militar no Brasil: agora, deslocados temporalmente, autores e autoras de uma segunda geração do evento, herdeiros dos traumas do(s) outro(s), tomam de assalto a palavra sobre o passado brasileiro, seja ela familiar ou não, e reabrem o que é aparentemente (des)conhecido. Neste artigo, se analisará, especialmente, as narrativas que questionam as formas de transmissão dos sentidos do passado ditatorial brasileiro por aqueles que não o viveram diretamente, a partir dos livros O amor dos homens avulsos (2016), de Victor Heringer e O corpo interminável (2019), de Claudia Lage, observando, em especial, como os textos discutem as formas de transmissão da violência e do medo, parte do ambiente familiar e nacional dos personagens, transmitidos (direta ou indiretamente) ao longo do tempo por aqueles que perpetraram ou colaboraram com o regime ditatorial. Buscaremos a...
RESUMO A produção artística e crítica contemporâneas têm colocado em questão a necessidade de observar perspectivas histórias antes silenciadas, de forma a opor-se e resistir ao apagamento de experiências e vivências de grupos, raças,... more
RESUMO A produção artística e crítica contemporâneas têm colocado em questão a necessidade de observar perspectivas histórias antes silenciadas, de forma a opor-se e resistir ao apagamento de experiências e vivências de grupos, raças, etnias e cores diversas. Em um país como o Brasil, entretanto, caracterizado por desigualdades sociais gritantes, tal tentativa foi e é marcada pela disjunção e pela mediação. Esta mediação frequentemente é marcada por produções em que o intelectual, branco e da elite, organiza e edita a obra de alguém que testemunha outra vivência, o subalternizado, negro e pobre. Se por um lado a figura do intelectual é central para desvelar e inscrever tais histórias, por outro, a mediação não é imparcial, mas marcada por relações de poder. A proposta deste trabalho é introduzir questões relativas ao conceito de literatura de testemunho, literatura sobre o/do cárcere e analisar dois exemplos de tal literatura, os textos Sobrevivente André du Rap (2002) e Cela forte mulher (2003), de maneira a discutir como os textos se estruturam e problematizam a mediação radical da alteridade entre intelectuais e detentos, os seus impasses éticos e textuais, bem como refletir sobre a dificuldade em estabelecer uma (ou muitas) autoria(s) diante de uma certa apropriação autoral da voz do outro.
Research Interests:
Diante de regimes violentos e das catástrofes do século XX, houve uma série de tentativas de refletir e ressignificar o que era anteriormente impensável. A própria condição de representação é colocada em xeque. A obra de Svetlana... more
Diante de regimes violentos e das catástrofes do século XX, houve uma série de tentativas de refletir e ressignificar o que era anteriormente impensável. A própria condição de representação é colocada em xeque. A obra de Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel de Literatura de 2015, se insere na busca de um novo gênero literário a partir de um esgarçamento dos gêneros literários tradicionais, que não mais dão conta das exigências do novo tempo. Como testemunha do testemunho, a partir de uma construção polifônica e híbrida, as obras de Aleksiévitch se organizam através da escuta de entrevistas realizadas sobre as temáticas das obras. A criação autoral, no entanto, não é apagada, e se compõe como uma espécie de trabalho de arqueólogo, ou curador, que busca a sua matéria nos vestígios e nos restos dos arquivos. A proposta deste artigo é pensar essa nova forma de definir a literatura, bem como as especificidades da inscrição, em A guerra não tem rosto de mulher.


ABSTRACT: In face of violent regimes and catastrophes in the 20th century, there have been a series of attempts to reflect about and to resignify what was
previously considered unthinkable. The conditions of representation themselves are put under scrutiny. Svetlana Aleksiévitch, Nobel Prize winner in Literature in 2015, takes part in a pursuit for a new literary genre, following the exhaustion of traditional literary genres, which are no longer capable of dealing with the demands of the century. As witness to the testimony, from a polyphonic and hybrid construction, Aleksiévitch's works are organized by listening to women’s interviews on selected themes. The author's creativity, however, is not effaced, and becomes a work akin to that of an archaeologist or curator, who seeks his material in the vestiges and remains of the archive. This article reflects on these new ways in which literature can be defined, as well as the specificities ofinscription in The Unwomanly Face of War.
Research Interests:
Cinquenta anos depois do golpe militar brasileiro, as artes ainda procuram refletir e representar o período. Um dos grandes exemplos da literatura brasileira contemporânea, e sobre o qual este texto pretende versar, é o livro K. (2011),... more
Cinquenta anos depois do golpe militar brasileiro, as artes ainda procuram refletir e representar o período. Um dos grandes exemplos
da literatura brasileira contemporânea, e sobre o qual este texto pretende versar, é o livro K. (2011), de Bernardo Kucinski. A trama centra-se
na busca de um pai, K., por sua filha, A., desaparecida política no período do regime militar, e para a qual exige justiça, através da construção de
uma narrativa. A leitura da obra proposta buscará contrastar diferentes áreas do conhecimento, como História, Psicanálise, Política e Direito, em
especial com o texto de Shoshana Felman, O inconsciente jurídico (2002). A perspectiva levantada pela autora é a de que os julgamentos e a lei,
de maneira geral, reproduzem e repetem os traumas sociais e políticos, a partir do seu inconsciente jurídico (dotada dos conceitos de trauma
e de inconsciente de Freud). Os julgamentos históricos são marcados pela sua impossibilidade de escuta da voz do testemunho, enquanto a
literatura seria o espaço no qual a hipocrisia da violência é colocada à prova, garantindo a escuta daqueles que não tem voz garantida no ambiente
jurídico.
Este artigo apresenta resultado da investigação sobre o romance O filho da mãe, de Bernardo Carvalho, privilegiando o enfoque intertextual e considerando o contexto cultural e histórico em que a trama se desenvolve. Resultante da... more
Este artigo apresenta resultado da investigação sobre o romance O filho
da mãe, de Bernardo Carvalho, privilegiando o enfoque intertextual e considerando
o contexto cultural e histórico em que a trama se desenvolve.
Resultante da participação de Carvalho no projeto “Amores Expressos”, a
narrativa possibilita abordagem teórica específica, pois foi gestada a partir
de circunstâncias especiais: a proposta de que o texto versasse sobre o
tema universal do “amor” e que a história se passasse em São Petersburgo.
Deve-se considerar, entretanto, a recorrência a outro tema universal,
o da guerra, já que o contexto do romance é o da Segunda Guerra da
Tchetchênia. Assim, o aparente paradoxo que se cria entre esses dois temas
é necessariamente enfocado nesta discussão.
Este trabalho relata resultados da pesquisa “A literatura de Beatriz Bracher: para falar de Não falei”, vinculada ao projeto “Ficção brasileira no século XXI” (UFPel/CNPq). A investigação tem por objetivo principal analisar, a partir de... more
Este trabalho relata resultados da pesquisa “A literatura de Beatriz Bracher: para falar de Não falei”, vinculada ao projeto “Ficção brasileira no século XXI” (UFPel/CNPq). A investigação tem por objetivo principal analisar, a partir de leitura intertextual e interdiscursiva, corpus composto por narrativas de Beatriz Bracher e dessas com outros textos, literários ou não, privilegiando a interpretação do romance Não falei (2004), por meio de análise contrastiva, visando à contextualização histórica e cultural, mobilizando proposições teóricas de outras áreas do conhecimento, como História, Educação e Política. O viés condutor da investigação é o do contexto histórico-cultural da ditadura pós-golpe civil-militar de 1964, pano de fundo da ação ficcional, rememorada quarenta anos depois pelo personagem-narrador (o professor universitário Gustavo), já que o presente narrativo é fixado no ano de 2004. A hipótese é a de que, ainda que não se trate de um romance de testemunho, o texto recupera o clima dos anos de iniquidade, pensando, a partir da célula mínima da sociedade – a família – , os fatos e as consequências dos tempos de repressão e autoritarismo que afetaram o país como um todo, não só durante os vinte cinco anos de arbítrio, mas que continuaram a repercutir na formação social brasileira, mesmo após a retomada da democracia, indo até os primeiros anos do primeiro governo Lula.
Research Interests:
Narrar um período histórico é contingente a questões políticas, sociais, históricas, culturais e temporais. Quando se trata das ditaduras do Cone Sul do século XX, em especial, a ditadura brasileira de 1964-1985, “o que foi” (ou o que é)... more
Narrar um período histórico é contingente a questões políticas, sociais, históricas, culturais e temporais. Quando se trata das ditaduras do Cone Sul do século XX, em especial, a ditadura brasileira de 1964-1985, “o que foi” (ou o que é) ainda está sendo produzido. Esta tese volta- se, então, para a produção da literatura contemporânea brasileira, particularmente as narrativas literárias longas escritas após o ano 2000, com uma distância temporal de trinta e cinco anos ou mais das ditaduras do Brasil, principalmente, mas também do Cone Sul, em geral, e a sua relação formal, estética e temática com esses eventos. Essa literatura lida com as constantes tensões de um passado ainda não resolvido no presente, disputando e lembrando o que foi/é ora esquecido, ora diminuído, ou ainda negado. A fim de compreender essas tensões, este trabalho observa de que maneira a ditadura é contada na literatura contemporânea: como marca as vivências, os corpos e as escritas contemporâneos; de que forma se inscreve, muitas vezes espectralmente, após o ano 2000, e o que desvela (ou perpetua) do que ainda é negado e/ou silenciado. Menos como algo que passou, pertencente a outro tempo, a literatura mobiliza temporalidades coexistentes, em diálogo: situa a ditadura em contato com o tempo presente, como força do passado que ainda mobiliza e violenta e como discurso crítico que pode produzir e imaginar novos futuros. Interessam aqui particularmente as obras que se distanciam e que, dentro dos limites, contradições e anacronismos do seu próprio tempo, formalizam as diferentes temporalidades com as quais lidam. Nelas, o passado cobra um espaço, uma recuperação no presente e é construído como campo em disputa em que pesa, portanto, o que se lembra, mas também, principalmente, como se lembra e como se conta, bem como quando se lembra e quando se conta. Trata-se, então, de observar a relação entre diferentes temporalidades, em diálogo com os campos teóricos da memória, do trauma, da justiça de transição e das utopias nas obras A chave de casa (2007), de Tatiana Salem Levy; Ainda estou aqui (2015), de Marcelo Rubens Paiva; Antes do passado (2012) de Liniane Haag Brum; A resistência (2015), de Julián Fuks; Azul-corvo (2010), de Adriana Lisboa; Nem tudo é silêncio (2010), de Sonia Bischain; O amor dos homens avulsos (2016), de Victor Heringer; O corpo interminável (2019), de Claudia Lage; O fantasma de Luis Buñuel (2004), de Maria José Silveira; Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende; a dita Trilogia infernal, de Micheliny Verunschk, composta pelos livros Aqui, no coração do inferno (2016), O peso do coração do homem (2017), e O amor, esse obstáculo (2018); Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende; e Tupinilândia (2018), de Samir Machado de Machado.
Este trabalho realiza uma leitura comparativa entre as obras da literatura contemporânea brasileira K. - relato de uma busca (2014) e Não falei (2004), tendo em vista o teor testemunhal dessas obras em relação ao período da ditadura... more
Este trabalho realiza uma leitura comparativa entre as obras da literatura contemporânea brasileira K. - relato de uma busca (2014) e Não falei (2004), tendo em vista o teor testemunhal dessas obras em relação ao período da ditadura civil-militar brasileira. Escritas com um distanciamento temporal de mais de quarenta anos, as obras constroem uma leitura acerca do passado histórico a partir do presente, e principalmente da tentativa de elaboração da experiência traumática por parte dos sobreviventes. A inscrição do trauma dos sobreviventes percorre, principalmente, as questões do luto e da culpa; bem como a dificuldade da realização do trabalho de luto e da expiação. A narração e o testemunho serão, dessa forma, uma tentativa necessária, ainda que fragmentária e determinada sob o signo da impossibilidade, de elaboração da experiência. De outra parte, as obras debatem a crítica e a autocrítica das violências perpetradas durante o período ditatorial brasileiro, bem como exigem a definição das responsabilidades e de formas de reparação. Refletem sobre o passado
no contexto de seu tempo, o presente, sobre uma história que ainda não acabou, mas que é decidida também pelo movimento dos dias atuais. A leitura intertexual perpassa os debates dos campos do saber da literatura, da filosofia, da psicanálise, da história e da educação, bem como de outras criações literárias e artísticas.