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Unidade de emergência e o trabalho de enfermagem
com qualidade de vida
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DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.997242604
1. Enfermagem. 2. Qualidade de vida no trabalho. 3.
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RESUMO
Não há como dissociar vida e trabalho, uma vez que passamos cerca de um terço
do dia em nosso emprego. Desse modo, podemos observar a ação do trabalho na
nossa qualidade de vida, e a relação entre qualidade de vida e qualidade de vida
no trabalho, que se constroem mutuamente. Este estudo tem por objetivo verificar
os fatores determinantes e condicionantes para a qualidade de vida no trabalho
de enfermagem em Unidade de Emergência, com a finalidade de auxiliar esses
profissionais na resolução dos problemas sociais e administrativos enfrentados
no ambiente de trabalho. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, realizada
através de uma abordagem qualitativa e, mediante exame da literatura científica,
levantamento e análise do que já se produziu sobre o tema, demonstramos
que a realização pessoal/profissional, a estrutura e o clima organizacional e as
relações humanas no trabalho, são elementos que uma vez reconhecida sua
importância, proporcionam subsídios para o desenvolvimento de um trabalho de
enfermagem mais humano e compensador, em um ambiente de trabalho saudável
e conseqüentemente a qualidade do e no trabalho. Esperamos, com este estudo,
contribuir para a discussão quanto à necessidade de uma qualidade de vida no
trabalho para se alcançar a qualidade da assistência em saúde.
PALAVRAS-CHAVE: qualidade de vida no trabalho, trabalho de enfermagem,
qualidade da assistência em saúde.
There is no way to separate life and work, as we move about a third of the day
in our jobs. Thus, we can observe the action of working in our quality of life, and
the relationship between quality of life and quality of life at work, which build
another. This study aims to determine the factors determining the quality of life in
the work of nursing in the Emergency Unit in order to assist these professionals
in solving the social and administrative problems faced in the workplace.
This is a literature search, conducted through a qualitative approach, and by
examination of the scientific literature, survey and analysis of what is already
produced on the subject, demonstrates that achieving personal / professional,
structure and organizational climate and relationships human work, are elements
that once recognized its importance, provide subsidies for the development
of a more humane work of nursing and pay a healthy work environment and
consequently the quality of and at work. Hopefully, with this study, contribute to the
discussion on the need for a quality of life at work to achieve the quality of care.
ABSTRACT
KEYWORDS: quality of life at work, nursing, quality of health care.
1. INTRODUÇÃO ....................................................................... 1
2.OBJETIVO ............................................................................ 4
3. METODOLOGIA .................................................................... 5
4. REVISÃO LITERÁRIA.............................................................. 6
4.1 O Significado do Trabalho......................................................................... 6
4.2 O Trabalho da Enfermagem ...................................................................... 7
4.3 CATEGORIA 1: Realização Pessoal/Profissional .......................................... 11
4.4. CATEGORIA 2: Estrutura e Clima Organizacionais .....................................14
4.5 CATEGORIA 3: Relações Humanas no Trabalho .........................................17
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 21
SUMÁRIO
SOBRE OS AUTORES ................................................................23
INTRODUÇÃO
O trabalho faz parte da vida de todos nós, ou seja, quase todo mundo trabalha,
despendendo muito tempo da vida dentro das organizações. Em nossa sociedade,
importante valor é dado ao trabalho e, cada vez mais cedo, as pessoas começam a
trabalhar.
Não é contraditório então, que sonhemos em ganhar na loteria e não trabalhar mais?
Em contrapartida, quantos de nós já não ouvimos dizer que pessoas que se aposentaram,
entraram em depressão, adoeceram?
Assim, o trabalho pode ser encarado como indesejado, sem sentido, burocratizado,
cheio de exigências e conflito com a vida social e familiar. Mas, também pode ser percebido
como algo que dá sentido à vida, que ocupa o vazio existencial e o social, eleva status,
define identidade pessoal e impulsiona o crescimento do ser humano (RODRIGUES, 1994).
Felli e Tronchin (2005) sustentam ser impossível dissociar a vida e o trabalho, bem
como não observar a “interface” do trabalho na nossa qualidade de vida. Sendo assim,
a expressão “qualidade de vida” refere-se tanto ao momento de vida dos indivíduos
em sociedade, como ao momento de trabalho – qualidade de vida no trabalho (QVT),
entendendo que estes se constroem mutuamente Estes autores, ainda referem que a
Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a qualidade de vida como a percepção do
indivíduo de sua posição na vida, quanto à cultura e sistemas de valores nos quais vive e
em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
Entende-se por qualidade de vida no trabalho a resultante direta da combinação de
diversas dimensões básicas da tarefa e de outras dimensões não dependentes diretamente
da tarefa, que competem à produção de motivação e satisfação em diferentes níveis, além
de resultar em vários tipos de atividades e condutas dos indivíduos pertencentes a uma
organização (WALTON et al.,1973 apud SILVA, 1996).
A qualidade de vida no trabalho tem sido uma preocupação do homem desde o
início de sua existência. Com outros títulos, em outros contextos, mas sempre dirigida
para ocasionar satisfação e bem-estar ao trabalhador na realização de sua tarefa.
Conforme afirma Rodrigues (1994), não se pode desprezar, por exemplo, há 300 anos
AC, os ensinamentos de Euclides de Alexandria sobre princípios de geometria, que foram
aplicados para melhorar a execução do trabalho dos agricultores à margem do Nilo; ou a
“Lei das Alavancas”, de Arquimedes, há 287 anos AC, que veio diminuir o esforço físico
de muitos trabalhadores. Estes são apenas alguns dos fatos históricos que vieram alterar
a forma de realização da tarefa, trazendo intrinsecamente uma melhoria nas condições
de trabalho e bem-estar do trabalhador. Desse modo, fica explícito que, já nas primeiras
civilizações, as preocupações com a forma de execução das tarefas existiam, e que vários
foram os métodos ou teorias que, empregados, minimizaram o mal-estar ou esforço físico
do trabalhador. Foi, somente nos séculos XVIII e XIX, com a sistematização dos métodos
Introdução
1
de produção, que as preocupações com as condições de trabalho e a influência destas na
produção e moral do trabalhador vieram a ser estudados de forma científica.
De acordo com LENZI (2000), desde o fim da década de 60 o termo qualidade de vida
no trabalho tem sido utilizado e seu significado discutido, ganhando várias interpretações. É
evidente a complexidade do tema, pois envolve a subjetividade do indivíduo, sua “interface”
com a organização e a cultura organizacional.
A qualidade de vida no trabalho, refere-se a um conjunto de fatores contidos
em uma instituição que possibilita ao trabalhador o completo desenvolvimento de suas
potencialidades intelectuais e físicas, combinadas ao seu bem-estar físico, mental, material
e social, respeitando-se os princípios de segurança, higiene e ergonomia, que impulsionam
o indivíduo à conquista de seus direitos de cidadania (MIRANDA, 1998).
A proposta de McGregor (1967) expressa que o trabalho não “precisa” ser um mal,
enfatizando:
... a menos que o próprio emprego seja satisfatório, a menos que se criem
oportunidades na situação de trabalho, que permitam fazer dele próprio uma
diversão, jamais lograremos conseguir que o pessoal dirija voluntariamente
seus esforços em prol dos objetivos organizacionais (RODRIGUES, 1994,
p.36).
Ainda as publicações de Vieira e Hanashiro (1990); Lunardi e Mazzilli (1991) apud
Rodrigues (1994), trazem contribuições acerca da qualidade de vida no trabalho. Para
Lunardi e Mazzilli (1991) o trabalho é essencial para a pessoa, independente da sua
natureza, delimitando a própria sobrevivência e a condição social, estabelecendo-se em
fator de equilíbrio e desenvolvimento do ser humano e, desse modo, estrutura a saúde
mental e física. Já Vieira e Hanashiro (1990) afirmam que a qualidade de vida no trabalho
significa uma melhoria nas condições de trabalho, abarcando as variáveis comportamentais,
ambientais e organizacionais que, somadas às políticas de recursos humanos condizentes,
possam humanizar o emprego, com resultados satisfatórios para os trabalhadores e para
as organizações.
Na enfermagem, a qualidade de vida no trabalho é diretamente dependente do
modo como o trabalho se organiza e se opera, e de como os profissionais utilizam-se
das estratégias de enfrentamento. Considera-se que as dimensões da estrutura política e
organizacional se articulam aos processos particulares, que culminam com a personalidade
e a subjetividade, definidoras dos interesses, das motivações, das vulnerabilidades e
da capacidade de reação dos trabalhadores. A qualidade de vida dos trabalhadores de
enfermagem, resulta das condições existentes entre os aspectos saudáveis e protetores
de que esse grupo desfruta e os aspectos destrutivos de que padece, de acordo com sua
inserção histórica e específica na produção em saúde (SILVA, 1996).
Evidencia-se cada vez mais a necessidade de articulação de estratégias que apontem
para investimento nas relações interpessoais, implementação de ações e programas que
Introdução
2
venham ao encontro das expectativas dos trabalhadores de cuidar-se, ao mesmo tempo
em que são cuidados pela organização (FELLI e TRONCHIN, 2005).
O trabalho de enfermagem, inserido no trabalho coletivo em saúde, revela
trabalhadores que enfrentam em seu cotidiano demandas psicobiológicas do processo de
trabalho em saúde, com a agravante de se esperar destes profissionais tranqüilidade frente
aos problemas dos pacientes/clientes.
Por isso se torna evidente a importância de buscar, o que vem a ser qualidade
de vida no trabalho, quais fatores determinam ou prejudicam a qualidade de vida no
trabalho de enfermagem e, como o trabalho influencia na qualidade de vida desses
indivíduos (enquanto possibilidade de saúde ou adoecimento), procurando contribuir para
potencializar as pesquisas e a reflexão sobre a saúde do trabalhador de enfermagem em
seu local de trabalho, com o intuito de atingir um clima de bem-estar e prazer no trabalho
e, conseqüentemente a melhoria da qualidade da assistência prestada aos pacientesusuários.
É oportuno perceber melhor o fenômeno social pelo qual passamos, tendo em vista
que a existência de novas demandas do meio ambiente vem exigindo uma crescente eficácia
das organizações. Por outro lado, a maior conscientização dos trabalhadores tem levado
a constantes reivindicações, no sentido de um trabalho mais humano e compensador. Por
este motivo, o tema “qualidade de vida no trabalho” vem ganhando destaque, sendo cada
vez mais amplamente discutido e considerado como objeto de pesquisas (RODRIGUES,
1994).
Introdução
3
OBJETIVO
Com esta pesquisa pretendemos:
- Verificar quais os fatores determinantes e condicionantes para a qualidade de vida
no trabalho de enfermagem em Unidade de Emergência.
Objetivo
4
METODOLOGIA
Para alcançarmos o objetivo de verificar quais os fatores determinantes e
condicionantes para a qualidade de vida no trabalho de enfermagem em Unidade de
Emergência, realizamos uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa.
Nesta perspectiva, afirma Minayo (1993):
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, p. 21).
A escolha da abordagem qualitativa se justifica pelo fato desta nos possibilitar
compreender a realidade social para além do que pode ser observado e quantificado,
pois oferece descrições ricas sobre uma realidade específica, propiciando-nos superar
concepções iniciais e revisar as estruturas teóricas adotadas anteriormente.
A fim de proporcionar embasamento teórico suficiente para sustentar nosso
trabalho, realizamos uma pesquisa bibliográfica exaustiva sobre o tema em questão,
através da leitura, análise e interpretação de livros, periódicos, textos legais, documentos
mimeografados ou xerocopiados e etc.
Todo material bibliográfico recolhido foi submetido a triagem para determinação
de um plano de leitura. Ênfase foi dada no rigor científico de como foram praticados os
trabalhos, procedendo a uma revisão crítica da literatura compilada, baseada em critérios
metodológicos.
Após levantamento e seleção do material, realizamos uma leitura atenta e sistemática
que se fez acompanhar de anotações, fichamento e arquivamento das informações
relacionadas à pesquisa, que serviram à fundamentação teórica deste estudo
Metodologia
5
REVISÃO LITERÁRIA
Para que possamos discutir qualidade de vida no trabalho, é necessário que façamos
uma breve revisão teórica sobre os sentidos e a compreensão do significado do trabalho
em nossa sociedade.
4.1 O SIGNIFICADO DO TRABALHO
O trabalho é uma atividade essencialmente humana e de cunho eminentemente
social, e como tal, tem passado por transformações concomitantes ao desenvolvimento
histórico da sociedade (LARA, 2005).
E assim, de uma conotação simplista, onde sua importância se justificava, única e
exclusivamente, pelo dinheiro e pela sobrevivência, o trabalho passou a representar algo bem
mais amplo, sendo a satisfação no cargo incorporada à satisfação na vida (MIRANDA, 1998).
No modo de produção capitalista, onde o trabalho é guiado pela lógica da valorização
do capital, ele se torna um modo de produzir que é desgastante aos trabalhadores, sendo
gerador de processos saúde-doença (RODRIGUES, 1994).
Apesar disso, autores como Breilh e Betancourt, citados por Silva (1996), contemplam
que, mesmo em condições adversas, o trabalho pode trazer benefícios ao ser humano,
como o desenvolvimento de potencialidades enquanto habilidades intelectuais, fisiológicas
e morfológicas. Consideram que, além das cargas, o trabalho propicia benefícios e, além
do desgaste, o trabalho concebe uma resposta positiva do corpo biopsíquico.
Autores como Handy e Moreno (1991) apud Silva (1996) vão mais além, afirmando
que o trabalho deve ser visto como parte inseparável da vida humana, sendo a organização
o principal meio para o homem adquirir sua identidade.
Brant e Melo (2001), amparando-se em Frigotto (1998), afirmam que o trabalho é um
ato no qual o homem se contrapõe à realidade e se afirma como sujeito e ao modificá-la,
ele modifica a si mesmo. Fundamentados nestas perspectivas, consideram ser o trabalho
elemento constituidor da condição humana em seus aspectos sociais e simbólicos, levando
a possibilidade tanto de saúde quanto de adoecimento.
Estudiosos do comportamento humano, afirmam que o ser humano age no sentido de
satisfazer suas necessidades. Então, procura-se um trabalho em busca de algum objetivo,
que varia de indivíduo para indivíduo e, em um mesmo indivíduo, em diferentes momentos
de sua vida. A possibilidade de atingir ou não seus objetivos e atender suas necessidades é
determinante da satisfação (ou insatisfação) do homem para com seu trabalho (MASLOW,
s.d; HERSEY e BLANCHARD,1986 apud LENZI, 2000).
O trabalho ocupa muito tempo de nossas vidas, uma vez que despendemos cerca
de um terço do dia em nosso emprego. Dessa forma, ele pode contribuir para a satisfação
ou insatisfação das pessoas e também influenciar as condições de vida e de saúde do
indivíduo/família, por propiciar recompensas psicológicas, econômicas e sociais (SILVA,
1996).
Revisão literária
6
Ser saudável é uma expressão vasta que abrange várias áreas do conhecimento.
Vechietti (1991), apud Brant e Melo (2001), definiu a saúde como um estado de equilíbrio
que é produto do enfrentamento diário das pessoas consigo mesmas, com outras e com
o ambiente de trabalho, tendo, como co-participantes nesse processo, a percepção,
comunicação, interação, o desempenho de papéis e o alcance da auto-realização e das
metas organizacionais.
Nessa mesma concepção, em nosso país, a Lei 8080 de 19/09/1990, ou seja, Lei
Orgânica da Saúde (LOS-SUS), define saúde como sendo um direito fundamental do
ser humano e dever não somente do Estado, mas também das pessoas, da família, das
empresas e da sociedade. Contempla ainda que a saúde possui como fatores determinantes
e condicionantes, a alimentação, a moradia, o meio ambiente, a educação, o transporte, o
lazer, e entre outros, o trabalho (BRASIL, 1990).
Tanto na definição de Vechietti (1991) como na definição da Lei Orgânica o trabalho
aparece como um determinante para que se tenha saúde.
A importância do elemento humano para o alcance dos objetivos organizacionais e
a influência do trabalho na vida dos indivíduos justificam a existência de estudos sobre a
qualidade de vida no trabalho e a saúde do trabalhador. Na enfermagem, estudos deste
tipo tornam-se imprescindíveis, uma vez que a qualidade da assistência aos pacientes, em
muito depende de quem a executa (MOURA, 1992).
4.2 O TRABALHO DA ENFERMAGEM
No início, a enfermagem não era reconhecida como profissão, e o cuidar de
enfermos era tido como atividade desprovida de treinamento específico para sua
realização, contemplada por muitos autores como uma extensão das atividades realizadas
na manutenção da família. Contudo, a partir de 1954, este cuidado começa a ter caráter
profissional com Florence Nightingale, nobre dama inglesa que serviu na Criméia como
voluntária nos hospitais militares ingleses em pleno campo de guerra, dando início à
profissionalização da enfermagem, enquanto trabalho especializado (BORSOI e CODO,
1991 apud HADDAD, 1998).
Desde a profissionalização e o reconhecimento da enfermagem enquanto ofício, ela
é considerada, em sua essência, uma profissão feminina relacionada com o ato de cuidar
do outro (HADDAD, 1998).
A compreensão do trabalho de enfermagem, como uma prática social inserida
nas práticas de saúde, tem raízes históricas e tal trabalho pode ser considerado como
um processo particular do trabalho coletivo em saúde, o que lhe confere um caráter
complementar e subsidiário (SILVA, 1996).
A organização e divisão do trabalho de enfermagem são elementos que constituem
o trabalho de enfermagem, cujas raízes remontam à institucionalização da enfermagem
moderna (BRANT e MELO, 2001).
Revisão literária
7
O trabalho da enfermagem direcionado para um cuidar holístico do paciente, precisou
ser fragmentado para melhorar a organização e a produtividade do serviço, tornando os
funcionários executores de funções específicas. Assim, enquanto um trabalhador realiza
cuidados básicos de higiene e alimentação do doente, outro administra os medicamentos,
outro faz os curativos, etc. Essa divisão de trabalho, assemelha-se à de uma linha de
montagem, onde quem circula é o profissional (HADDAD, 1998).
Atualmente na enfermagem brasileira, a divisão do trabalho é concretizada na
existência de categorias heterogêneas de trabalhadores. De acordo com a Lei nº 7498/86
que dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, esta é exercida pelo
enfermeiro, pelo técnico de enfermagem e pelo auxiliar de enfermagem, respeitados os
respectivos graus de habilitação (COREN, 2003).
Há uma diferenciação quanto à formação das categorias e quanto às atividades
praticadas pelos trabalhadores de enfermagem, cabendo ao enfermeiro a realização de
cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de
base científica; atividades administrativas, como organização, direção, supervisão, etc, dos
serviços de enfermagem; consulta de enfermagem, entre outros (COREN, 2003).
O técnico de enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação
e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e participação no
planejamento da assistência de enfermagem (COREN, 2003).
Já o auxiliar de enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva,
envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervisão bem como a participação
em nível de execução simples dos processos de tratamento (COREN, 2003).
A forma de organização do trabalho de enfermagem não leva em consideração os
problemas do trabalhador, que enfrenta, em seu cotidiano, dificuldades de toda ordem, fora
e dentro do trabalho, mas se espera do profissional que jamais expresse seus dissabores
frente ao paciente. Pelo contrário, espera-se serenidade. (HADDAD, 1998).
Os trabalhadores de enfermagem prestam cuidados aos doentes, independente
de serem adultos, crianças, homens, mulheres, se sua doença é visível ou não, se é
ou não contagiosa, enfim o cuidado é prestado considerando-se as especificidades dos
quadros clínicos, mas não a aparência ou o caráter do paciente/cliente enquanto pessoa.
A assistência de enfermagem deve ser prestada sem discriminação de espécie alguma.
Então, verifica-se a introdução de elementos contraditórios na relação de cuidado do
doente, o que produz efeitos danosos na saúde e no psiquismo do trabalhador. Enquanto
se exige expressão de afeto nesse cuidado, por outro lado esse cuidado é mediado por três
fatores complicantes e interrelacionados, como: o salário, que é o meio de sobrevivência
do trabalhador; o fantasma da perda do paciente, seja por alta ou óbito; e a obrigação
de imparcialidade frente ao paciente/cliente, não expressando preferências ou recusas,
atração ou repulsa etc (HADDAD, 2000).
Revisão literária
8
É, neste contexto, que Mauro et al. (1976) apud Silva (1996) declaram ser a
enfermagem uma profissão que contribui para preservar a vida e a saúde do homem, mas
ainda não conseguiu resolver as questões relativas à sua própria proteção.
Esse fato é evidenciado ao estudar as condições de trabalho da enfermagem,
onde são identificados aspectos que interferem na saúde desse pessoal, como ruídos
que ocasionam desconforto, temperatura desagradável, iluminação insuficiente, longas
distâncias percorridas e esforço físico demasiado (SILVA, 1996).
Portanto, estes são elementos que concorrem para a formação das ditas cargas de
trabalho, que, de acordo com o que Silva (1996) sustenta, são as exigências ou demandas
psicobiológicas do processo de trabalho, que geram, com o tempo, as particularidades de
desgaste do trabalhador.
As cargas de trabalho podem ser caracterizadas, segundo Laurell e Noriega (1989)
apud Motta (2002), em:
•
Cargas físicas: considerados os ruídos internos e externos ao ambiente de trabalho, as temperaturas extremas do ambiente (calor e frio), as radiações ionizantes (ondas eletromagnéticas) e não ionizantes (infravermelho, ultravioleta,
microondas e laser) e os efeitos da eletricidade (choque elétrico, incêndio e
explosões).
•
Cargas químicas: gases, vapores e líquidos e outras substâncias utilizadas em
esterilização e desinfecção de materiais, em anestesias e nos tratamentos medicamentosos dos pacientes.
•
Cargas biológicas: caracterizadas por microorganismos patogênicos provenientes do contato com pacientes portadores de doenças infecciosas e infecto-contagiosas e da manipulação de materiais contaminados.
•
Cargas mecânicas: ruptura da continuidade instantânea do corpo pela manipulação de materiais cortantes e penetrantes que provocam diversos tipos de ferimentos e pelas contusões, torções, fraturas, etc. oriundas das características
inadequadas dos pisos e escadas das instituições de saúde.
•
Cargas fisiológicas: o esforço físico pesado, decorrente do levantamento e manipulação de pesos, a posição de trabalho incômoda, pelo trabalho em pé por
longos períodos e a questão de alternância dos turnos.
•
Cargas psíquicas: a fadiga e a tensão, a perda do controle sobre o trabalho, o
impacto dos rodízios do trabalho noturno e em turnos, das horas extras, das
dobras de plantão, o trabalho subordinado, a desqualificação do trabalhador, o
trabalho parcelado com a fragmentação e repetição de tarefas, o ritmo acelerado de trabalho e a predominância do trabalho feminino.
Revisão literária
9
A exposição às cargas psíquicas é a mais referida pelos trabalhadores de
enfermagem e está relacionada ao objeto de trabalho – humano, que sofre,
sente dor e morre – que os envolve em situações geradoras de estresse,
sofrimento, fadiga, tensão, e, também, às formas de organização desse
trabalho, como rotinizado, parcelado, supervisão controladora e falta de
autonomia. A organização do trabalho de enfermagem, também, evidencia
um ritmo muito acelerado e um trabalho desgastante, imposto pela escassez e
má distribuição de trabalhadores, não permitindo as pausas para o descanso
no decorrer da jornada (FELLI e TRONCHIN, 2005, p.104).
Em relação ao trabalho de enfermagem em Unidade de Emergência, entendemos que
são os profissionais aptos a fornecer cuidados de saúde aos pacientes com necessidades
críticas. E além disso, estabelecer prioridades, monitorizar e avaliar continuamente os
pacientes agudamente doentes e lesados, apoiar e auxiliar aos familiares, tudo isso dentro
de um ambiente de cuidado sob elevada pressão e sob tempo limitado.
O foco do cuidado de emergência é preservar a vida, evitar a deterioração, antes
que o tratamento definitivo possa ser fornecido e, restaurar o paciente à função ótima. E
para isso, são tomadas muitas decisões vitais.
Os membros das equipes de saúde em emergência, como nos demais setores
da organização hospitalar, devem trabalhar em conjunto na realização de habilidades
altamente técnicas e práticas necessárias para cuidar de pacientes, sendo dificultoso e,
muitas vezes raro, o desenvolvimento deste trabalho em equipe.
Então, como qualquer outra especialidade em enfermagem, o trabalho de
enfermagem em emergência trata-se de uma competência técnica empregada em um
ambiente que possui as mesmas cargas de trabalho encontradas nos demais espaços,
porém com suas particularidades e em proporções relativamente aumentadas.
Silva (1996) realizou uma investigação, buscando tornar evidente como o trabalho
gera problemas de saúde dentre os trabalhadores de enfermagem.
Nesse referencial, afirma que o processo saúde-doença, enquanto processo coletivo
e social que se expressa no biológico e adquire historicidade, revela-se a partir da atividade
humana no trabalho, e sua historicidade é entendida pelo conceito de adaptação, ou seja,
como a capacidade de o corpo responder, com plasticidade, frente ao desenvolvimento nos
processos corporais, que se expressam como formas biológicas características (SILVA,
1996).
Desse modo, os processos saúde-doença são expressos no corpo biopsíquico dos
trabalhadores de enfermagem através do desgaste por eles sofridos, devido às cargas
de trabalho que são geradas nos processos de trabalho e nos processos de valorização
(geradores de valor) a que estes trabalhadores estão submetidos (SILVA, 1996).
Compreender a saúde como uma expressão da qualidade de vida dos trabalhadores
de enfermagem pressupõe apreendê-la no contexto histórico e social, para articular e
perceber como o social a determina. Logo, a qualidade de vida no trabalho de enfermagem
se expressa por meio dos processos saúde-doença (SILVA, 1996).
Revisão literária
10
É nesse contexto que Silva (1996) enumera determinantes quanto à qualidade de
vida no trabalho de enfermagem, sendo tanto de um papel favorável, este representado pela
possibilidade de integração social e gregarismo humano; aprendizagem de conhecimentos
e relações sociais; e formação de uma identidade social e pessoal, como de um perfil
destrutivo, apreendido pela alienação, subordinação e hierarquização, falta de autonomia e
criatividade, exposição às sobrecargas e subcargas, elevada rotatividade e desarticulação
de defesas coletivas.
Neste sentido, são várias as propostas de qualidade de vida no trabalho que
emergem, buscando valorizar o trabalhador, sua participação no processo decisório,
incentivar o potencial criativo, satisfazer suas necessidades, trazer melhorias nas condições
de trabalho e humanização das relações de trabalho, entre outras (FELLI e TRONCHIN,
2005).
A fim de sistematizar os resultados obtidos com esse referencial bibliográfico, foram
construídas categorias empíricas e seus núcleos de pensamento.
Segundo Minayo (1996), trabalhar com as categorias denota agrupar informações,
idéias ou expressões em torno de um conjunto capaz de abranger todos esses elementos.
Portanto, almejando atender aos objetivos do presente trabalho, apresentaremos
as três categorias de pensamento que foram construídas baseadas na classificação
dos elementos que emergiram dos dados bibliográficos compilados, que possuem interrelações entre si.
São elas:
•
Categoria 1: Realização Pessoal/Profissional
•
Categoria 2: Estrutura e Clima Organizacionais
•
Categoria 3: Relações Humanas no Trabalho
4.3 CATEGORIA 1: REALIZAÇÃO PESSOAL/PROFISSIONAL
Durante a pesquisa, percebemos um consenso quanto à contribuição de vários
elementos envolvidos no desenvolvimento da satisfação pessoal e profissional, para obterse uma qualidade de vida no seu trabalho.
Nessa direção, fatores como autonomia, valorização do serviço, respeito,
reconhecimento profissional, identidade da tarefa e remuneração adequada, são
enumerados como determinantes tanto de um perfil favorável, quando presentes, como de
um perfil destrutivo, se deficientes ou ausentes, para a qualidade de vida no trabalho de
enfermagem.
Uma importância, cada vez maior, é dada à questão de valorização do trabalho
realizado, como ponto indispensável para que seja atingida a qualidade de vida no trabalho.
Revisão literária
11
De uma forma geral, na estrutura organizacional da saúde, observa-se a implantação
do poderio médico com a apropriação do crescimento de saúde e o gerenciamento do
processo de trabalho em saúde. Tal circunstância decorre da identificação dos médicos com
as classes dominantes nos diversos momentos históricos, diferentemente do que pensa o
senso comum, que erroneamente entende ser a supremacia médica no setor devida à
superioridade do saber médico (HADDAD, 2000).
Observando como base hierárquica a autoridade médica, para os profissionais,
como os profissionais de enfermagem, que realizam funções de menor evidência nas
condutas terapêuticas ou diagnósticas (porém não menos essenciais), pode-se ter a ilusão
de menor grau de importância. Então, além de elevados índices de estímulos estressores,
natural em um ambiente onde predomina a enfermidade, é freqüente a insatisfação dos
enfermeiros pela ausência de reconhecimento.
Ainda nessa reflexão, Felli e Tronchin (2005) referem o surgimento de várias
propostas de qualidade de vida no trabalho de enfermagem, visando à valorização do
trabalhador, sua participação no processo decisório, ao incentivo do potencial criativo e à
satisfação de suas necessidade, entre outras.
Para que haja uso e desenvolvimento das habilidades e capacidades dos
trabalhadores, há necessidade de autonomia no trabalho (autonomia para decisão e
conhecimento suficiente para desenvolver as tarefas), utilização de múltiplas habilidades,
informação e perspectiva de crescimento profissional, planejamento das atividades e
valorização profissional.
Ribeiro (1970) apud Moura (1992) refere que a quantidade de energia necessária
para o trabalho tem relação com os fatores de “sentir” e “pertencer”, “ter confiança” e “gozar
respeito”, sendo que a produtividade do homem cresce à medida que ele tem desenvolvidos
estes sentimentos, afastadas as tensões e obtidas as realizações pessoais.
Desta forma, observa-se que o moral e a satisfação do trabalhador estão ligados
a um forte sentimento de reconhecimento em ser uma parte importante da organização,
como também vinculados e dependentes às relações do grupo (MOURA, 1992).
É necessário ao profissional de enfermagem, o reconhecimento de sua importância,
a identificação das necessidades, um tratamento carinhoso e paciente, para que consiga
efetuar esses valores com autenticidade para com o outro, e respeitar ao mesmo tempo
em que é respeitado.
Pensar em qualidade de vida no trabalho de enfermagem é pensar na pessoa que
realiza o trabalho e em propostas que possibilitem autonomia, uma prática crítica e reflexiva
que revele seu potencial, e não se preocupar somente com a produção. Aliar criatividade e
produtividade conduz, também, à satisfação pessoal e profissional e conseqüentemente à
qualidade de vida no trabalho.
Outro aspecto levantado que reflete na realização pessoal/profissional da
enfermagem, é a identidade da tarefa, ou seja, quando as atividades desenvolvidas são
Revisão literária
12
consideradas importantes e indispensáveis para que o alcance de objetivos pessoais e
organizacionais.
Neste contexto, Pizzoli (2005) afirma que para que um trabalho tenha importância
não é necessário envolver assuntos de grande significado histórico, mas o trabalho precisa
de um sentido para quem o faz. Deve-se sentir que é um trabalho que vale a pena ser feito,
que reforça sua auto-imagem e faz com que se sinta parte de um processo maior.
Geralmente, um desempenho eficaz depende não somente do que as pessoas
precisam “saber fazer”, mas acima de tudo, do “querer fazer”. Através da qualidade de
vida no trabalho é que as pessoas “querem fazer mais” em decorrência de um maior
envolvimento com o próprio trabalho, de um aumento do nível de satisfação das pessoas
em situação de trabalho e, em conseqüência, a eficácia de desempenho e a produtividade.
A expressão moral do indivíduo refere-se à atitude de satisfação, expressa pelo
trabalhador, em relação ao seu trabalho e suas chefias. Assim, decorre de sua identificação
com o trabalho que realiza, bem como do significado deste para sua pessoa (RIBEIRO,
1970 apud MOURA, 1992).
Para Moura (1992), qualquer organização terá uma imagem boa ou ruim junto à
sua clientela, de acordo com as percepções que seus funcionários transmitirem aos seus
usuários. Logo, quanto maior a satisfação dos funcionários dentro da organização hospitalar,
direta e/ou indiretamente estarão contribuindo para um clima favorável de trabalho e para
a recuperação dos pacientes.
E dentre tantos elementos que influenciam a satisfação no trabalho de enfermagem,
e conseqüentemente na qualidade de vida em seu trabalho, estão as políticas de incentivo,
principalmente quanto à recompensa financeira.
Segundo Pizzoli (2005), a enfermagem enquanto profissão ainda carrega muito
da concepção de sacrifício e auto-abandono, desconsiderando as próprias necessidades
básicas, com pouco questionamento dos próprios limites físicos, emocionais, pessoais,
em nome da manutenção do papel competente na atividade e função, mesmo que em
detrimento pessoal. Ressaltando-se uma visão de heroísmo, que não visa à recompensa
financeira.
Portanto, o fato de os salários oferecidos ao profissional de enfermagem, na sua
grande maioria, serem baixos, é decorrente da pouca valorização dada ao trabalho,
principalmente devido à conotação caritativo-religiosa que ainda acompanha a profissão.
Aliados à falta de reconhecimento do profissional, estão a falta de autonomia e de
remuneração adequada, sendo tudo isso reflexo da não valorização deste profissional, seja
pela comunidade, instituição ou mesmo pelo próprio envolvido, constituindo em obstáculos
à qualidade de vida em seu trabalho.
Revisão literária
13
4.4. CATEGORIA 2: ESTRUTURA E CLIMA ORGANIZACIONAIS
Com a categoria “Estrutura e Clima Organizacionais”, pretendemos discutir o
quanto fatores, como a condição do espaço físico, os recursos humanos e materiais, a
remuneração, o número de empregos e a carga horária de trabalho podem influenciar na
qualidade de vida dos profissionais de enfermagem.
Neste contexto, Moura (1992, p. 170) afirma que:
... na medida em que cada indivíduo desempenha seu papel na organização,
acrescido das regras e características da própria organização e da sua
interação com os demais elementos desta, vai-se estabelecendo um clima
organizacional. O clima organizacional é, na realidade, uma resultante
da interação entre as características organizacionais e as características
individuais de seus integrantes. Segundo Souza (1983), este termo serve para
designar a atmosfera de trabalho.
A sociedade é composta por organizações, e o homem depende delas em todos
os momentos de sua vida, pois nasce, cresce, vive e morre dentro de organizações. São
consideradas organizações as escolas, os bancos, os presídios, as lojas, os hospitais etc e,
diferem entre si no que diz respeito aos objetivos, ao tamanho, aos níveis de complexidade
administrativa, à estrutura, aos profissionais, à clientela, entre outros.
O hospital enquanto organização que compõe a sociedade contemporânea,
constitui-se de um grupo de pessoas que prestam atendimento a outro grupo de pessoas,
caracterizando-se como uma empresa prestadora de serviços, e seu processo de trabalho
está voltado para ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e
recuperação de doentes (MOURA, 1992).
Dentre um dos objetivos que se almeja alcançar em um hospital, está a prestação
de cuidados adequados e eficientes aos pacientes/clientes e, para que isso ocorra é
importante que as pessoas que ali trabalham sintam-se satisfeitas e que haja um bom
clima no ambiente de trabalho.
De certa forma, quando se fala em qualidade de vida no trabalho de enfermagem,
para muitos indivíduos a idéia está associada ao ambiente, enquanto presença de recursos
físicos, materiais e humanos satisfatórios.
Mas a questão dos recursos da organização é primordial para uma qualidade de
vida no trabalho de enfermagem e, embora em graus variados de importância para cada
profissional, fica evidente a importância dada aos recursos físicos, enquanto estrutura
física com suas instalações necessárias e condições físico-ambientais seguras; aos
recursos materiais, que proporcionam boas condições de trabalho através de material e
equipamentos adequados à prestação da assistência; e aos recursos humanos, sejam
estes como quantitativo e qualificação suficientes às necessidades do serviço.
Existe uma legislação que define como deve ser a estrutura física dos
estabelecimentos assistenciais de saúde, que é a Resolução Diretoria Colegiada-50
Revisão literária
14
– RDC-50. Consta de uma das principais diretrizes sobre o regulamento técnico para
planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos das edificações
destinadas à prestação da assistência à saúde da população (BRASIL, 2002).
Na nossa prática, o que se observa, é que as instituições de saúde nem sempre
possuem estruturação física adequada para o desenvolvimento da prática de enfermagem
e da assistência de um modo geral, ignorando a importância do cumprimento da RDC-50,
para assegurar diminuição do risco ocupacional aos profissionais e para a satisfação dos
trabalhadores, e indiretamente, da clientela (TAKAHASHI e GONÇALVES, 2005).
É fato, que nos dias de hoje, as organizações estão cada vez mais enfocando o ser
humano e suas relações no trabalho. Mas o que não pode acontecer, é deixar de atentar
para a questão de a qualidade de vida no trabalho estar intimamente ligada às condições
físicas e aos recursos do trabalho, sejam estes entendidos enquanto materiais e humanos.
As condições físicas, materiais e humanas em que o trabalho se desenvolve,
são mais valorizadas por alguns enfermeiros, não obstante necessárias a todos, pois
é a comunhão de diversos fatores, que interatuam dinamicamente entre si, que leva à
qualidade de vida no trabalho.
A falta de recursos materiais leva a interrupções na assistência ao cliente, pois
devido à insuficiência na quantidade ou falta de qualidade de materiais, o trabalho de
enfermagem fica prejudicado, desencadeando estresse e frustração nestes profissionais e,
portanto, em uma baixa qualidade de vida em seu trabalho.
Em relação ao número de enfermeiros e do quantitativo de pessoal da equipe de
enfermagem, estes são definidos por uma legislação específica, a Resolução COFEN
293/2004, que estabelece critérios para o dimensionamento do quadro de profissionais
de enfermagem nas instituições de saúde, baseados nas características da instituição, do
serviço de enfermagem e da clientela (COFEN, 2004).
Apesar da legislação que propõe o quantitativo de enfermagem necessário à
adequada assistência e à realização com qualidade do seu trabalho, o que vem acontecendo
é que por representar o maior quantitativo de profissionais existentes nas instituições de
saúde e, conseqüentemente o maior custo á essas organizações, quando se pensa em
diminuir gastos, fala-se em “cortes” na enfermagem, sem pensar na geração de sobrecarga
de trabalho aos integrantes da equipe de enfermagem mediante a crescente demanda de
atendimento da clientela (GAIDZINSKI, FUGULIN e CASTILHO, 2005).
A qualidade de vida no trabalho de enfermagem está afetada devido à insatisfação
quanto ao estresse pela carga mental e desgaste não somente relacionados à própria
característica da profissão, mas principalmente, pelo quantitativo de enfermeiros muito
aquém do necessário (PIZZOLI, 2005).
Ressalta Laville (1977), apud Silva (1996), que o número insuficiente de profissionais
pode acarretar uma elevada carga de trabalho (como conteúdo e freqüência em que a
tarefa deve ser desenvolvida num período de tempo determinado) para cada indivíduo.
Revisão literária
15
Verifica-se também, segundo afirma Haddad (2000), que a preocupação com a
ergonomia ainda é pequena, tornando o trabalho da enfermagem ainda mais penoso.
Muitas vezes, a planta física é inadequada para o tipo de atendimento desenvolvido, os
equipamentos e materiais de uso diário não favorecem a execução da técnica, há falta de
material para realizar as tarefas, o número de trabalhadores é reduzido para a quantidade
e características dos pacientes, entre outras dificuldades.
Outro elemento levantado, enquanto dificultador para a qualidade de vida no
trabalho de enfermagem, é a excessiva jornada de trabalho vivida por esses profissionais,
e as cargas geradas a partir de tamanho problema.
A situação problema vivida pelo profissional de enfermagem que se vê obrigado
a buscar trabalho em mais de um emprego para aumentar sua renda, revela a baixa
remuneração, e portanto, não valorização devida de seu trabalho.
A assistência hospitalar caracteriza-se pelo trabalho que necessita ser desenvolvido
continuamente durante as 24 horas do dia e durante os 365 (ou 366) dias do ano. Isto requer
que ininterruptamente existam profissionais trabalhando, como por exemplo o pessoal de
enfermagem, acarretando um esquema de trabalho baseado em sistemas de plantões,
diurnos e noturnos, durante a semana, em fins-de-semana e feriados (MOURA, 1992).
E tamanha carga de trabalho a que estes profissionais estão sendo submetidos, gera
processos de desgaste particulares, ou seja, perda da capacidade efetiva e/ou potencial
corporal e psíquica, o que desencadeia potenciais riscos tanto aos profissionais quanto aos
pacientes/clientes (FELLI e TRONCHIN, 2005).
Entendemos que é grave a realidade vivida pela enfermagem, que clama por
melhores condições de trabalho e de salários, enquanto operosa e sacrificada categoria
de saúde.
Autores como Rutenfraz, Kwauth e Fisher (1989) apud Miranda (1998), alertam que
o sistema de plantões, diurnos ou noturnos em fins-de-semana, prejudicam a vida social e
familiar dos indivíduos e acarreta sentimentos de desvantagem e isolamento social.
Acrescido a esse fator, encontra-se a necessidade de manter duas ou mais
jornadas de trabalho para poder sustentar sua família e ter uma vida digna, já que
estes profissionais enfrentam dificuldades econômicas devido à baixa remuneração do
trabalho de enfermagem. Neste contexto, suporta grandes sofrimentos e dificuldades para
desempenhar seu trabalho, refletindo em uma baixa qualidade de vida no trabalho, além
de aumento dos riscos de iatrogenias e de acidentes de trabalho para esses profissionais.
Revisão literária
16
4.5 CATEGORIA 3: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO
A Instituição tem influência importantíssima na qualidade de vida no trabalho de
enfermagem, pois ao mesmo tempo em que pode promover a satisfação dos enfermeiros
através do orgulho por trabalhar na instituição, por seu prestígio, imagem, e pela autorealização no trabalho, pode gerar sofrimento a esses profissionais, sendo atribuído ao
choque entre uma história individual portadora de projetos, de esperanças e desejos, e uma
organização que os ignora.
Segundo Haddad (2000) afirma, o relacionamento entre chefia e subordinado é
importante, e a produtividade e qualidade do serviço aumentam à medida que uma boa
comunicação e parceria no trabalho são estabelecidas. Quando o trabalhador é ouvido e
respeitado pelos seus superiores, certamente realiza suas tarefas com mais envolvimento
e responsabilidade.
Pizzoli (2005) questiona que se não houver por parte da instituição, investimento,
atenção, busca da identificação de obstáculos à harmonia e equilíbrio no trabalho para com
constituintes do seu próprio “corpo” de trabalho, seja o corpo de enfermagem, o clínico ou
qualquer outro componente da área da equipe de saúde, ou mesmo para os que lhe dão
suporte, então o que será projetado realmente na assistência? e complementa que:
A instituição, quando não atende às necessidades de seu próprio corpo
funcional, propicia condições para a proliferação de elementos patogênicos,
que podem levar a organização a estados enfermos e, até mesmo, à própria
morte, pela falência de seus múltiplos “órgãos” (PIZZOLI, 2005, p.1061).
Os profissionais de enfermagem, como trabalhadores que são, através do
comprometimento e empenho ao ofício, esperam que a instituição não deprecie o seu
trabalho e conseqüentemente a sua profissão. Pelo contrário, almejam valorização e apoio
da chefia para qualidade do e no trabalho.
Como apoio da direção a seus funcionários, podemos entender a questão do
treinamento e desenvolvimento do pessoal, que é uma atividade muito importante por
consistir no processo pelo qual não apenas capacita tecnicamente o profissional, dandolhe assim maior segurança, mas principalmente desenvolvem nos trabalhadores o senso
crítico e a motivação para a gerência participativa, elementos estes indispensáveis para
obtenção de qualidade de vida no trabalho.
Dessa forma, a respeito do treinamento dos profissionais de enfermagem, Haddad
(1998) nos dá aporte teórico quando coloca que a desqualificação no trabalho de
enfermagem esvazia o seu significado, ao mesmo tempo em que permite um certo grau de
desenvolvimento rotinizado e ocasiona importantes perdas tanto para a vitalidade de seu
psiquismo individual, quanto para a qualidade do trabalho que desenvolvem.
Moura (1992) recomenda um treinamento contínuo em serviço, além do treinamento
básico, em busca de proporcionar apoio adequado, orientação, supervisão e desenvolvimento
de um trabalho em equipe. Também preza o estabelecimento de atividades sociais, a fim
Revisão literária
17
de melhorar as relações interpessoais bem como o reconhecimento, por parte da chefia, do
trabalho e esforço de cada um dos subordinados.
A plena qualidade organizacional, somente é conseguida em concomitância a
qualidade de vida no trabalho de seus funcionários. Assim, consideramos que a pesquisa
de insatisfação dos trabalhadores pode fornecer informações significativas para a
concepção de estratégias voltadas à produção de reformas organizacionais e, desse modo,
gerar condições para o crescimento pessoal/profissional e da organização, expresso numa
assistência mais produtiva, segura e de qualidade.
A importância do relacionamento profissional é sustentada por Ribeiro (1970) apud
Moura (1992), quando refere ser o hospital um complexo de relações sociais, que pode ser
contemplado como um todo, uma comunidade, pois cada parte, cada setor, se relaciona, se
liga e interdepende de todos os demais setores, ou da unidade hospitalar como um todo.
De acordo com Haddad (2000), para haver um bom nível de integração social é
necessário que o ambiente de trabalho esteja livre de preconceitos, que seja de senso
comunitário, fraca estratificação, que haja existência de mobilidade ascendente e franqueza
interpessoal.
Há necessidade de um bom relacionamento interpessoal no trabalho para se
conseguir saúde e satisfação neste ambiente. O trabalho da equipe de saúde, como o
próprio nome indica, é realizado mediante a participação conjunta de vários profissionais
que precisam ter um bom relacionamento entre si, para serem mais que uma equipe, ou
seja, para se transformarem em um time, que “vista a mesma camisa” e que não meça
esforços em prol da qualidade da assistência e da qualidade de vida no trabalho.
A partir da análise e discussão dos dados levantados, foi possível perceber nas
categorias trabalhadas, a presença dos oito aspectos conceituais de qualidade de vida no
trabalho discutidos por Walton (1973), que são: compensação justa e adequada, condições
de trabalho seguras e saudáveis, oportunidades para desenvolvimento e utilização das
capacidades humanas, oportunidades futuras para crescimento contínuo e garantia de
emprego, integração social na organização, constitucionalismo na organização, no trabalho
e no espaço total na vida do indivíduo e, relevância social do trabalho (WALTON, 1973 apud
FERNANDES e GUTIERREZ, 1988).
Revisão literária
18
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Qualidade de Vida no Trabalho é o maior determinante da Qualidade de Vida. Vida
sem trabalho não tem significado! Assim sendo, o trabalho passou a ter um lugar central na
vida do homem, pois o homem moderno necessita de reconhecimento e de prestígio social,
e é por ocasião do exercício profissional e nas relações de trabalho que possui maior
possibilidade de atender a essas necessidades.
Nessa percepção, Zanelli (1996) apud Haddad (1998) ressalta que nascemos e
morremos dentro das organizações de trabalho. As sociedades organizam-se em função
do trabalho. O trabalho é o núcleo definidor do sentido da existência humana. Toda nossa
vida fundamenta-se no trabalho.
Os estudos sobre qualidade de vida no trabalho ainda são relativamente escassos
no Brasil, principalmente na área de enfermagem. Vista como profissão responsável em
restabelecer o bem-estar alheio, os profissionais enfermeiros são submetidos a vários
fatores que afetam a sua qualidade de vida no trabalho. Tal influência advém de fatores
intrínsecos à natureza da atividade laboral, mas também das condições de trabalho geradas
pela organização.
A qualidade de vida no trabalho é um tema complexo, pois envolve muitas variáveis
e a subjetividade que permeia tal processo. O fato é que, ações muitas vezes simples e
pontuais, podem manifestar-se em melhorias no trabalho, e portanto, em qualidade de vida
no trabalho.
Como constatamos, o trabalho de enfermagem possui uma série de peculiaridades,
enquanto profissão caracterizada pela determinação de um ritmo de trabalho intenso,
gerador de sobrecarga física e mental, bem como, por afastamento do convívio familiar e
social.
Visando minimizar tais efeitos indesejáveis e contribuir para o alcance de uma
qualidade de vida no trabalho de enfermagem, algumas sugestões de medidas poderiam ser
adotadas, voltadas ao ambiente, que proporcione boas relações humanas e boas condições
de trabalho, com número suficiente de material, equipamentos e pessoal qualificado; e
no que se refere ao pessoal, maior atenção ao desenvolvimento dos profissionais e à
valorização social do profissional de enfermagem, com remuneração salarial justa e seu
reconhecimento pela chefia.
Considerando-se exaustiva revisão bibliográfica sobre o tema, não podemos
atribuir-lhe uma definição consensual. Entretanto, Walton (1973) melhor o define como o
atendimento das necessidades e das aspirações humanas dos trabalhadores, calcado na
idéia de humanização do trabalho e responsabilidade social da empresa (WALTON, 1973
apud FERNANDES e GUTIERREZ, 1988).
Com este trabalho foi possível levantar os principais elementos para o alcance da
qualidade de vida no trabalho em enfermagem, que incluem: valorização e reconhecimento
Considerações finais
19
do trabalho pela instituição, equipe e pacientes/clientes; autonomia em serviço; identidade
da tarefa; remuneração justa; presença de estrutura física adequada; recursos materiais
e humanos de qualidade e em quantidade necessária; desenvolvimento e capacitação do
pessoal; e relacionamento interpessoal no trabalho.
Pretendemos, desse modo, conscientizar não apenas os profissionais de
enfermagem, mas também toda a equipe de saúde e as instituições quanto à necessidade
de uma qualidade de vida no trabalho para se alcançar a qualidade da assistência.
A partir da compreensão dos fatores que influenciam diretamente na qualidade
de vida no trabalho de enfermagem, seremos capazes de buscar melhores condições de
trabalho, visando favorecer o desenvolvimento deste e a satisfação dos trabalhadores e
conseqüentemente dos pacientes/clientes.
Sabemos que somente iniciamos as reflexões acerca desse tema.
Visamos contribuir para potencializar as pesquisas sobre a saúde do trabalhador
de enfermagem, sobre seu bem-estar e satisfação no trabalho, e alertar aos próprios
profissionais e às organizações, de um modo geral, sobre a realidade vivenciada em seu
trabalho e a necessidade de contribuir para a melhoria da qualidade de vida no trabalho
destes profissionais, enquanto agentes indispensáveis no processo do cuidar.
Considerações finais
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Enfermagem, e dá outras Providências. In: Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais COREN-MG. Legislação e Normas. Ano 9, n.1, set. 2003.
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BRASIL. Leis etc. Lei n. 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições sobre a formação,
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BRANT, L. C.; MELO, M. B. de. Promoção da saúde e trabalho: um desafio teórico e metodológico para a
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ADRIANA SOUZA RIBEIRO CAVALCANTE
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SUIMARA SANTOS
https://orcid.org/0000-0002-8739-4385
MAICON DANIEL CHASSOT
https://orcid.org/0000-0001-7017-6982
ELISIANE DE OLIVEIRA MACHADO
https://orcid.org/0009-0002-9227-1213
SOBRE OS AUTORES
DJULIA ANDRIELE WACHTER
https://orcid.org/0000-0002-9127-3164
FABIANO DA COSTA MICHIELIN
https://orcid.org/0000-0003-1731-0008
SIMONE THAIS VIZINI
https://orcid.org/0000-0002-4929-1406
PAULA STEGER
https://orcid.org/0000-000-6743-6429
JUCIANE APARECIDA FURLAN INCHAUSPE
https://orcid.org/0000-0002-2386-1378
IVETE IARA GÓIS DE MORAES
https://orcid.org/0000-0002-4785-9627
CINTIA NASI
https://orcid.org/0000-0002-4322-3701
Sobre os autores
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