DA POLÍTICA
BRASILEIRA
DE DEFESA
Maria Regina Soares de Lima
Carlos R. S. Milani
Rubens de S. Duarte
Marianna R. A. de Albuquerque
Igor D. P. Acácio
Tássia C. Carvalho
Josué Medeiros
Niury Novacek
Murilo Gomes da Costa
Hugo Bras M. da Costa
Juliana P. Lemos
DA POLÍTICA
BRASILEIRA
DE DEFESA
Maria Regina Soares de Lima
Carlos R. S. Milani
Rubens de S. Duarte
Marianna R. A. de Albuquerque
Igor D. P. Acácio
Tássia C. Carvalho
Josué Medeiros
Niury Novacek
Murilo Gomes da Costa
Hugo Bras M. da Costa
Juliana P. Lemos
CLACSO
50 AÑOS
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales
Secretário Executivo
Pablo Gentili
Diretora Acadêmica
Fernanda Saforcada
Área de Desenvolvimento de Pesquisa
Coordenador
Pablo Vommaro
Assistentes
Rodolfo Gómez, Teresa Arteaga, Giovanny Daza, Alessandro Lotti y Ángel Dávila
Área de Produção Editorial e Conteúdos Web
Coordenador Editorial
Lucas Sablich
Coordenador de Arte
Marcelo Giardino
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – Conselho Latino-americano de Ciências Sociais
EEUU 1168| C1101 AAX Ciudad de Buenos Aires | Argentina
Tel [54 11] 4304 9145/9505 | Fax [54 11] 4305 0875| e-mail clacso@clacso.edu.ar | web www.clacso.org
CLACSO conta com o apoio da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (ASDI)
Este livro está disponível em texto completo na Rede de Bibliotecas Virtuais do CLACSO.
DA POLÍTICA
BRASILEIRA
DE DEFESA
Rio de Janeiro | 2017
Atlas da política brasileira de defesa / Maria Regina Soares de Lima ... [et al.] ;
prefacio de Celso Amorim. - 1a ed . - Ciudad Autónoma de Buenos Aires : CLACSO ;
Rio de Janeiro : Latitude Sul, 2017.
Libro digital, PDF
Archivo Digital: descarga y online
ISBN 978-987-722-231-9
1. Atlas. 2. Brasil. 3. Defensa. I. Soares de Lima, Maria Regina II. Amorim, Celso,
pref.
CDD 353.9
Índice
Equipe e apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III
Lista de siglas e acrônimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
V
Introdução:
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
O mundo político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Capítulo 1: Histórico da defesa no Brasil
Colônia, conlitos e expensão territorial . . . . . . . . . .
Império e ameaças de fragmentação . . . . . . . . . . . . .
República, desaios políticos e geoestratégicos . . . . .
Conferências de Paz e Primeira Guerra Mundial . . . .
Segunda Guerra e nova ordem mundial . . . . . . . . . .
Guerra Fria, intervenções e golpes militares . . . . . . .
12
14
16
18
20
22
Capítulo 3: Geopolítica da América do Sul
Entorno estratégico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
América do Sul: um continente pacíico? . . . . . . . . .
Presença de potências extrarregionais . . . . . . . . . . . .
Cooperação regional em defesa. . . . . . . . . . . . . . . . .
Cosiplan e IIRSA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Amazônia verde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Amazônia azul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Recursos estratégicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Brasil: potência regional? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Capítulo 4: Cooperação e desenvolvimento
Cooperação militar com o Sul . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cooperação militar com o Norte . . . . . . . . . . . . . . .
África e ampliação do Atlântico Sul . . . . . . . . . . . . .
Comércio com BRICS e países em desenvolvimento
Geopolítica e cooperação nuclear . . . . . . . . . . . . . .
Economia, política e Congresso . . . . . . . . . . . . . . . .
Indústria da defesa no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sociedade civil e defesa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
52
54
56
58
60
62
64
66
68
72
74
76
78
80
82
84
86
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Capítulo 2: Brasil, distribuição de poder e ordem
global
Capacidades e assimetria estrutural . . . . . . . . . . . . .
Capacidades militares e competição global . . . . . . . .
Mecanismos internacionais de segurança e defesa . . .
Controle nuclear e congelamento do poder mundial
Nações Unidas e Conselho de Segurança . . . . . . . . .
Participações em operações de paz . . . . . . . . . . . . . .
Segurança ambiental e mudança climática . . . . . . . .
Insegurança alimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Epidemias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Terrorismo e crime organizado . . . . . . . . . . . . . . . .
Problema mundial das drogas ilícitas . . . . . . . . . . . .
Segurança e defesa cibernética . . . . . . . . . . . . . . . . .
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
Referências bibliográicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Apêndice metodológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Equipe e
apoio
Coordenadora
Coordenador
Coordenador executivo
Pesquisadora
Pesquisador
Pesquisadora
Pesquisador
Pesquisador
Pesquisador
Pesquisador
Pesquisadora
Geógrafo/cartógrafo
Geógrafa/cartógrafa
Maria Regina Soares de Lima
Carlos R. S. Milani
Rubens de S. Duarte
Marianna R. A. de Albuquerque
Igor D. P. Acácio
Tássia C. Carvalho
Josué Medeiros
Niury Novacek
Murilo Gomes da Costa
Hugo Bras M. da Costa
Juliana P. Lemos
Allan Medeiros Pessôa
Nadhine Hentzy Stellet da Silva
Gostaríamos de agradecer especialmente à professora Enara Echart Muñoz, por gentilmente ceder as fotos
que embelezam este Atlas.
Contou com o apoio financeiro das seguintes instituições:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Instituto Pandiá Calógeras - Ministério da Defesa
Prefácio
Prefácio por Celso Amorim
É com grande prazer que preservação dos nossos recursos
apresento a obra organizada naturais, mesmo antes que a dipelos
professores
Maria mensão das reservas de petróleo
Regina Soares de Lima e do pré-sal se tornasse evidente.
Carlos Milani, entre outros A presença de importante conacadêmicos e pesquisadores, tingente militar brasileiro na
Atlas da Política Brasileira missão de paz da ONU no Haide Defesa. Conhecedor de ti (Minustah) reforçou a nostrabalhos anteriores, como sa posição na região e permitiu,
o Atlas da Política Externa em certo momento, que o BraBrasileira, e, tendo eu próprio sil colaborasse para o respeito à
ocupado as pastas que tratam vontade do povo haitiano nas
de ambos os temas, posso eleições presidenciais que levaavaliar a importância de ram o René Préval ao poder, em
possuir elementos facilmente 2006. Nossa projeção política
perceptíveis, que demonstrem no mundo se viu reforçada por
com clareza como o nosso país iniciativas que se concretizaram
enfrenta suas necessidades em partes do globo mais longe
nesses dois campos, vitais para do nosso território, como a para nossa inserção soberana no ticipação de um navio brasileimundo.
ro na Uniil, a força de paz da
ONU no Líbano.
Como ministro das Relações Exteriores não me falta- Em conferências e discursos
ram oportunidades de observar que proferi como ministro da
como a Diplomacia e a Defe- Defesa, vali-me com frequênsa devem interagir. Mais ob- cia do conceito de Grande Esviamente nas operações de paz tratégia , com o qual procurava
em que o Brasil esteve envolvi- conjugar os objetivos da polítido, mas também em discussões ca externa com os da política de
sobre temas sensíveis, como defesa. Nesse contexto, grande
a reforma do Conselho de Se- atenção foi dada ao entorno esgurança das Nações Unidas, o tratégico do Brasil, amplamente
papel das Forças Armadas sem- ilustrado no Atlas. De particupre surgia, ainda que implicita- lar interesse são os dados relamente, como um instrumento tivos à América do Sul, núcleo
de ação ou como um valor que desse entorno estratégico. Foi
servia de pano de fundo para o pensando sobretudo na Amérijulgamento das credenciais do ca do Sul que busquei juntar os
Brasil. Da integração sul-ameri- conceitos de cooperação e discana às parcerias estratégicas ex- suasão (ambos fundamentais na
trarregionais, como o IBAS e os política de defesa), sublinhando
BRICS, a capacidade de nossas que em nossa região imediata, a
forças militares e a disposição cooperação é a melhor dissuade utilizá-las em situações es- são. O conceito de América do
pecíicas sempre foi motivo de Sul (distinto de outro mais coatenção. Assim, ainda como mi- mumente utilizado, mas menos
nistro do exterior, tive a opor- relevante do ponto de vista da
tunidade de apoiar o projeto defesa, o de América Latina ou,
de nossa Marinha de desenvol- mesmo, de forma mais preciver um submarino de propul- sa, de América Latina e Caribe)
são nuclear, capaz de garantir a informa muitos dos quadros e
diagramas do Atlas. De fato, a
criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, como parte
importante da arquitetura da
UNASUL (a União das Nações
Sul-Americanas), foi, do ponto de vista da doutrina, um dos
passos mais importantes da política externa e da política de
defesa, nos últimos anos. Ela
permitiu substituir a noção politicamente caduca de “hemisfério ocidental” pela de América
do Sul, área com a qual compartilhamos não só a geograia,
mas condições culturais, políticas e econômicas, inclusive no
que concerne aos recursos naturais que temos que proteger.
O estabelecimento de uma Escola Sul-Americana de Defesa,
que, com o tempo – esperamos
-, se tornará uma prioridade nas
discussões estratégicas levadas
a cabo no Brasil e em seus vizinhos, foi um elo importante no
novo encadeamento da dialética cooperação/dissuasão. Quem
sabe, um dia, teremos um Atlas
de Defesa da América do Sul,
que exponha seus pontos fortes
e suas vulnerabilidades.
Sabiamente, o Atlas, recolhendo conceitos da Estratégia Nacional de Defesa (2008, revista
em 2012) e do Livro Branco de
Defesa, alarga o entorno estratégico, de modo a fazê-lo abarcar o Atlântico Sul e a costa
ocidental da África. Segue, nesse aspecto, uma prioridade da
política externa, reforçada nos
últimos anos, com maior participação da defesa, qual seja, a
da consolidação da Zona de Paz
e Cooperação do Atlântico Sul
(Zopacas). A cooperação com
a África, uma prioridade diplomática do Governo do Presidente Lula da Silva, estendeu-se
ao domínio militar no primeiro mandato da Presidenta Dilma Roussef. Um bom número
de acordos e de visitas ministeriais, além da criação de novas
adidâncias, atesta essa prioridade. Juntando a política com a
geograia e combinando iniciativas de origens diversas, talvez
possamos pensar em uma Zopacas que abarque outros países,
como os do norte da América
do Sul e que se estenda às margens mais ao Sul do Oceano
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
III
Índico, de modo a compatibilizar a Zopacas com a CPLP
(Timor e Portugal icariam, naturalmente, de fora).
Vinculado a esses esforços de
cooperação está o empenho
em dar uma dimensão continental sul-americana à indústria de defesa, um objetivo – é
mister reconhecer – ainda longínquo. Ainda assim, é signiicativo o fato de que se tenham
iniciado projetos nas áreas da
aviação militar (aviões de treinamento e veículos não tripulados) e das embarcações luviais
de combate. Muitos outros projetos (como o da cooperação em
sistemas de monitoramento de
fronteiras e defesa cibernética)
foram objeto de exame durante esses períodos. Evidentemente, sua concretização supõe uma
forte determinação e uma visão de longo prazo, nem sempre presentes em momentos de
crises políticas e dúvidas sobre
a direção que tomará o projeto
nacional.
de maior estabilidade, em que
multipolaridade e multilateralismo se combinem de forma
positiva, necessitamos mais do
que nunca compreender os fatores que compõem o “poder
estatal”, além das motivações
de seus líderes. E, naturalmente, este esforço de compreensão
tem que começar por nós mesmos: nossas capacidades e nossas limitações - algumas reais,
mas muitas delas imaginárias,
que servem de pretexto para a
inação. Sob este aspectos, entre
muitos outros, o Atlas da Política Brasileira de Defesa traz elementos indispensáveis para a
análise adequada da nossa realidade estratégica e fornece valiosos elementos para o desenho
do projeto, soberano e solidário,
que desejamos ver implantando
em nosso país.
Rio de Janeiro, março de 2017
Celso Amorim é diplomata, cheiou
o Ministério das Relações Exteriores
(1993-1995 e 2003 - 2011) e o
Ministério da Defesa (2011 - 2015).
Enara Echart Muñoz
É natural que o desenho de uma
Grande Estratégia para o Brasil
envolva uma compreensão adequada dos principais eixos de
confrontação/cooperação (ou
subordinação) presentes na ordem mundial. Essa tarefa, que
por algum tempo pode ter parecido (ainda que enganosamente) fácil na época da Guerra
Fria ou durante o curto predomínio da ordem unipolar que
se lhe seguiu, é hoje de grande
complexidade. Mesmo antes do
Brexit ou do resultado das eleições norte-americanas de 2016,
analistas de várias partes do
mundo alertavam para o “retorno da geopolítica”, do qual as
tensões em torno da questão da
Crimeia e do Leste da Ucrânia
eram as ilustrações mais óbvias.
Hoje, em que uma bem-vinda
multipolaridade parece obrigada a conviver com um pouco alvissareiro desapreço pelo
multilateralismo – sem que os
dois fenômenos estejam logica ou materialmente relacionados -, o entendimento de “para
onde vai o mundo” requer uma
análise despida de noções apriorísticas, tão comuns nos períodos anteriores ao nosso. Para
que logremos uma situação
IV
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Lista de siglas
e acrônimos
ABACC – Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e
Controle de Materiais Nucleares
BWC – Convenção de Armas Biológicas (Biological Weapons
Convention)
ABC – Agência Brasileira de Cooperação
CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina
ABED – Associação Brasileira de Estudos de Defesa
Caisan – Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e
Nutricional
Abimde – Associação Brasileira das Indústrias de Materiais
de Defesa e Segurança
CAN – Comunidade Andina das Nações
ABIN – Agência Brasileira de Inteligência
Caricom – Comunidade do Caribe
ACISO – Ações Cívico-Sociais
CBC/Magtech – Companhia Brasileira de Cartuchos
AGNU – Assembleia Geral das Nações Unidas
CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres
(China-Brazil Earth Resources Satellite)
AIDS – Síndrome de Imunodeiciência Adquirida (Acquired
Immune Deiciency Syndrome)
CCM – Centro Cultural Missionário
AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica
Ccopab – Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil
ALADI – Associação Latino-Americana de Integração
CCW – Convenção sobre Certas Armas Convencionais.
ALALC – Associação Latinoamericana de Livre Comércio
CDS – Conselho de Defesa Sul-Americano
ALBA – Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América
CEED – Centro de Estudos Estratégicos de Defesa
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas
CEI – Comunidade dos Estados Independentes
Amazul – Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A.
Censipam- Centro Gestor e Operacional do Sistema de
Proteção da Amazônia
Anvfeb – Associação Nacional dos Veteranos da FEB
ASEAN – Associação de Nações do Sudeste Asiático
(Association of Southeast Asian Nations)
ATT – Tratado de Comércio de Armas (Arms Trade Treaty)
Avibrás – Avibrás Indústria Aerospacial
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe
CERT – CCentro de Estudos, Resposta e Tratamento de
Incidentes de Segurança no Brasil
CG-Fome – Coordenação Geral de Ações Internacionais de
Combate à Fome
BEC- Batalhão de Engenharia de Construção
CIEX – Centro de Informações do Exterior do Itamaraty
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
CISB – Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro
BM – Banco Mundial
CMA – Comando Militar Amazônico
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social
BRICS – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico
e Tecnológico
Cnumah – Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente Humano
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
V
Cnumad – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento
FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (Food and Agriculture Organization of the United
Nations)
CNV- Comissão Nacional da Verdade
FEB – Força Expedicionária Brasileira
CO2 – Dióxido de Carbono
COE – Conselho da Europa (Council of Europe)
FEMAR – Fundação de Estudos do Mar
FIESP – Federação de Indústrias do Estado de São Paulo
Comina – Conselho Missionário Nacional
FMI – Fundo Monetário Internacional
Cosiplan – Conselho Sul-americano de Infraestrutura e
Planejamento
FOCEM – Fundo para a Convergência Estrutural do
Mercosul
CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CREDN – Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional
Fonplata – Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da
Bacia do Prata
FRF – Fundação Ricardo Franco
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional
FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão
CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas
FUNAI – Fundação Nacional do Indio
CTBT – Tratado de Banimento Completo dos Testes
Nucleares (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty)
Fundep – Fundação de desenvolvimento da pesquisa
CWC – Convenção de Armas Químicas (Chemical Weapons
Convention)
G20 – Grupo das 20 maiores economias do mundo
DEA – Drug Enforcement Agency
G4 – Grupo formado por Brasil, Alemanha, Índia e Japão
para pleitear a reforma do CSNU.
DI – Divisão de Infantaria
GGM – Grande Guerra Mundial
DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar
GLO – Garantia da Lei e da Ordem
Helibrás – Helicópteros do Brasil S.A
DNOG – Divisão Naval de Operações de Guerra
DOS – Ataque de Negação de Serviço (Denial Of Service)
DPKO – Departamento para Operações de Manutenção da
Paz (Department of Peacekeeping Operations)
HIV – Vírus da Imunodeiciência Humana (Human Immune
Deiciency Virus)
IAI – Israel Aerospace Industries
IBAS – Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul
E-Sic – Sistema Eletrônico Do Serviço De Informação Ao
Cidadão
IBGE – Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística
EADS CASA/Airbus Group – Construcciones Aeronáuticas
S.A
IBSA-Mar – Exercícios navais conjuntos da Índia, Brasil e
África do Sul
Ecomog – Comunidade Econômica dos Estados da África
Ocidental
ICIJ – Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos
(International Consortium of Investigative Journalists)
EDA- Agência de Defesa Europeia (European Defence Agency)
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
EIA – Administração de Informações sobre Energia (U.S.
Energy Information Administration)
IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IED- Investimento Estrangeiro Direto
Emgepron – Empresa Gerencial de Projetos Navais
VI
ESG – Escola Superior de Guerra
IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura
Regional Sul-Americana
EUA – Estados Unidos da América
IISS – International Institute for Strategic Studies
FAB – Força Aérea Brasileira
IMBEL- A Indústria de Material Bélico do Brasil
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
IMI – Israel Military Industries
PEB – Política Externa Brasileira
INACE – Indústria Naval do Ceará
PIB – Produto Interno Bruto
IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática
(Intergovernmental Panel on Climate Change)
PIDESC – Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
PMA – Programa Mundial de Alimentos
ISA – Instituto Socioambiental
PNUD – Programa
Desenvolvimento
das
Nações
Unidas
para
o
Itaguaí C.N. – Itaguaí Complexo Naval
ITU – União Internacional de Telecomunicações (International
Telecommunications Union)
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente
PPC – PIB por paridade de poder de compra.
IURD – Igreja Universal do Reino de Deus
Prosub – Programa de Desenvolvimento de Submarinos
JBIC – Japan Bank for International Cooperation
PRIS – Power Reactor Information System
JID- Junta Interamericana de Defesa
Mercosul – Mercado Comum do Sul
Minustah – Missão das Nações Unidas para Estabilização do
Haiti
PTBT – Tratado de Banimento Parcial dos Testes Nucleares
(Partial Nuclear-Test-Ban Treaty)
Renctas – Rede Nacional Contra o Tráico de Animais
MOU – Memorando de Entendimento
SAARC – Associação Sul-Asiática para a Cooperação
Regional (South Asian Association for Regional Cooperation)
MRE: Ministério das Relações Exteriores
SAN – Segurança Alimentar e Nutricional
MTCR – Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis
(Missile Technology Control Regime)
SCCC – Sistema Comum de Contabilidade e Controle
SDN – Sociedade de Nações (Liga das Nações)
MSF- Médicos sem Fronteira
Sinamob – Sistema Nacional de Mobilização
NAFTA – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio
(North American Free Trade Agreement)
SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (Organisation for Economic Cooperation and
Development)
Sisfron – Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira
ODT – Odebrecht Defesa e Tecnologia
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Recíproca
OEA – Organização dos Estados Americanos
TNP – Tratado de Não Proliferação
OMS – Organização Mundial da Saúde
UA – União Africana (African Union)
ONG – Organização Não Governamental
Unaids – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/AIDS
TCA – Tratado de Cooperação Amazônica
ONU – Organização das Nações Unidas
Unasul – União de Nações Sul-Americanas
OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação na
Europa
UNBISnet – Sistema de Informação Bibliográica das Nações
Unidas (United Nations Bibliographic Information System)
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
UN Comtrade – Base de Dados de Estatísticas das Nações
Unidas sobre Comércio de Mercadorias (United Nations
Commodity Trade Statistics Database)
OUA – Organização da Unidade Africana
PAA – Programa de Aquisição de Alimentos
Unctoc – Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional (United Nations Convention
against Transnational Organized Crime)
PCN – Programa Calha Norte
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
VII
UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
Unila – Universidade da Integração Latinoamericana
Unoda – Escritório das Nações Unidas para Assuntos de
Desarmamento (United Nations Ofice of Disarmament
Affairs)
UNTS – United Nations Treaty Series
UPP – Unidades de Polícia Paciicadora
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USAID – United States Agency for International Development
USP – Universidade de São Paulo
WITS – Solução Integrada Comercial Mundial. Setor de
dados do Banco Mundial (World Integrated Trade Solution)
WRI – Instituto de Recursos Mundiais (World Resources
Institute)
WWF – Fundo Mundial para a Natureza (World Wildlife Fund)
ZEE – Zona Econômica Exclusiva
ZLAN – Zona Livre de Armas Nucleares
Zopacas – Zona de Paz e Segurança do Atlântico Sul
VIII
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Introdução
Enara
Echart Muñoz
Enara Echart Muñoz
Enara Echart Muñoz
Introdução
Introdução por Maria Regina Soares de Lima
e Carlos R. S. Milani
A defesa da soberania e da integridade territorial, no uso legítimo dos
meios de violência, é uma das funções
clássicas que deine o Estado, entendido em uma perspectiva weberiana. Desse ângulo, o Estado é um ator
no sistema internacional, inserido simultaneamente no sistema de Estados, cuja principal característica é a
anarquia ou a descentralização de poder, e na ordem capitalista global marcada pela assimetria sistêmica entre o
centro, as semiperiferias e as periferias,
mas também pela reprodução estrutural das desigualdades que atravessam as fronteiras estatais.
Contudo a função defesa, no uso dos
meios coercitivos e, no limite, da guerra interestatal, não tem sido exercida
de forma homogênea pelos diferentes
Estados ao longo dos séculos desde a
formação de um sistema internacional. A hipótese clássica da sociologia histórica, como desenvolvida por
Charles Tilly, do papel da guerra na
formação dos Estados europeus e sua
posterior implicação para o desenvolvimento institucional dos Estados não
se veriicou no solo latino-americano,
ou pelo menos não na mesma intensidade e com as mesmas características.
Seja em função do contexto temporal de suas respectivas constituições
enquanto Estados nacionais, seja por
suas incipientes formas de autonomia
geopolítica na região e no mundo, seja
ainda por sua inserção na esfera de inluência dos EUA, a guerra internacional, como fenômeno total envolvendo
a utilização de exércitos proissionais e
a mobilização da sociedade no esforço bélico, foi fenômeno relativamente raro na América Latina nos últimos
200 anos desde os processos de independência no início do século XIX,
como lembra Miguel Angel Centeno.
Duas consequências se seguiram. Ao
contrário do que ocorreu na Europa,
os Estados latino-americanos nunca
desenvolveram o mesmo grau de poder
4
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
infraestrutural, utilizando o conceito de Michael Mann, de se sobrepor
completamente aos poderes locais e de
desenvolver capacidades especíicas na
implementação de suas decisões. A fragilidade infraestrutural do Estado seria acompanhada de seu maior poder
despótico, quando comparado a seus
congêneres europeus. A outra consequência foi legitimar, perante as elites civis e castrenses, a tese do inimigo
interno, deinido socialmente em termos de classe, etnia e raça. A força
coercitiva do Estado foi usada primordialmente para combater as revoltas
internas contra as oligarquias no poder
e as tentativas federalistas contra o poder central. Na Guerra Fria, a tese do
inimigo interno ganhou reforço externo, então deinido como a “ameaça do
comunismo”, e foi incorporada à doutrina de segurança do sistema hemisférico sob a hegemonia dos EUA. O que
se viu no pós-Segunda Guerra foi a securitização da política doméstica e a
consequente proliferação das ditaduras militares em praticamente todos
os países da região. As demandas sociais por reforma estrutural (em matéria de educação, saúde pública, acesso
à terra produtiva, por exemplo) eram
consideradas “revolucionárias”, “comunistas” e, portanto, uma ameaça à
segurança nacional.
No caso do Brasil não foi diferente, a
tutela militar das Forças Armadas sobre a sociedade foi legitimada e constitucionalizada em 1891, gerando a
autoidentiicação de uma instituição insulada da vida política, reforçada por uma cultura organizacional
que atribuía às Forças Armadas o papel autoritário de tutela da nação, intervindo na política sempre que assim
o desejasse ou que interpretasse que
fosse necessário. O estabelecimento da hegemonia regional brasileira
e do equilíbrio geopolítico favorável
ao país no Império não apenas levou à redução posterior dos efetivos
do exército, mas reforçou nas elites a
perspectiva da baixa securitização de
eventuais ameaças regionais. Tal visão, conjugada com a prevalência da
tese do “paciismo e o jurisdicismo da
política externa” e de uma avaliação
da fraqueza de meios militares para
quaisquer movimentos de projeção
internacional do poder militar, gerou
uma narrativa dominante entre as elites, qual seja: a neutralização de qualquer legitimidade à utilização da força
no plano internacional e ao incremento das capacidades militares para sua
função precípua que é fazer a guerra
ou dissuadir os inimigos de eventual ataque, como ressalta João Alsina
Júnior.
Essa lógica circular foi reforçada no
período da Guerra Fria em que o Brasil participava da defesa hemisférica
associada e coletiva, sob hegemonia
norte-americana e, simultaneamente, aderia às práticas da contra-insurgência e as implementava em solo
nacional, com a instalação da ditadura civil-militar por cerca de vinte anos,
e em solo estrangeiro, mediante a criação de serviços de informação vinculados às embaixadas brasileiras, como
ressalta Pio Penna Filho. A Guerra Fria
não apenas legitimou, perante às elites dominantes, a intervenção militar
na política doméstica, como reforçou
a orientação para dentro dos mesmos.
O desemprego estrutural dos militares foi um dos principais responsáveis
pelo abandono da missão clássica de
defesa, assim como pela construção da
autoidentiicação de uma instituição
separada e acima das demais.
A baixa securitização na percepção das
elites das ameaças regionais no início
do processo de construção do Estado
nacional e a securitização da política
doméstica se reforçaram mutuamente
e foram os principais responsáveis pelas trajetórias institucionais separadas
da diplomacia e da defesa. A tênue integração entre estes dois campos se
manifestou na contribuição praticamente nula da defesa à atuação externa do país e pela orientação da defesa
eminentemente voltada para dentro.
Legado histórico, fatores ideacionais
e doutrinários próprios de cada um
destes dois âmbitos atuaram para reforçar a falta de sinergia entre defesa e diplomacia que se manifestou na
prática pela virtual monopolização
das funções externas pela diplomacia.
Também contribuíram para a solidiicação da identidade de ambos de um
status diferenciado na estrutura do
Enara Echart Muñoz
INTRODUÇÃO
Estado e na sociedade e a autopercepção da legitimidade da autonomia das
duas corporações na deinição de suas
respectivas políticas.
O im da Guerra Fria, o término do
ciclo de regimes militares e a redemocratização, no inal dos anos 1980,
mudaram signiicativamente o papel e a política militar na região e no
Brasil. Novas agendas internacionais
e novos atores no Estado e na sociedade vão induzir à reconiguração do
lugar político da defesa para a nação,
no sentido de deinir um novo papel
externo. Simultaneamente, a maior
participação e mobilização da sociedade civil na dinâmica política e societal pressionaram pela democratização
destas corporações e sua necessária
responsabilização perante à sociedade. A participação em postos de comando dos militares brasileiros nas
Operações de Paz das Nações Unidas,
o incremento da cooperação militar
com os vizinhos e com outros países
do Sul geopolítico reconiguraram o
papel externo dos militares. Consequentemente, as políticas declaratórias de defesa, formuladas a partir do
governo Lula da Silva, estabeleceram a
necessidade da construção de uma capacidade dissuasória militar, na defesa de ativos estratégicos na atualidade,
bem como novos objetivos estratégicos que implicam a cooperação com
vizinhos em seu entorno estratégico e
a coordenação com empresas, sindicatos e universidades no desenvolvimento de uma base cientíica e tecnológica
voltada para o desenvolvimento do
país e para a produção de capacidades
especíicas e meios militares.
A elaboração deste Atlas da Defesa tem
por objetivo dar conta desses desenvolvimentos e da transformação da defesa
e da política de segurança do Brasil ao
longo da história do país. Também busca contribuir para o desenvolvimento
de uma inteligência civil em defesa nas
instituições de ensino e de pesquisa e
na sociedade em geral. A constituição
de uma comunidade epistêmica em assuntos de defesa não apenas estimula
o diálogo entre civis e militares como,
a seu modo, induz à transparência e à
prestação de contas de uma das atividades fundamentais que compõem o núcleo duro do Estado capitalista, sujeita
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
5
Foi com base nesse conjunto de
concepções históricas e políticas
que o Atlas da Política Brasileira de
Defesa foi projetado e desenvolvido,
graças ao apoio do Instituto Pandiá
Calógeras do Ministério da Defesa
do Brasil e do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Cientíico
Tecnológico (CNPq), no âmbito do
Programa Álvaro Alberto de Indução à
Pesquisa em Segurança Internacional
e Defesa Nacional n. 29/2014. O
projeto teve por objetivo desenvolver
metodologia de cartograia temática
na análise do panorama da política
de defesa nacional e seu entorno
estratégico (internacional e regional).
A cartograia temática aqui proposta
aglutinou, de modo rigoroso e
didático, os principais temas relativos
à projeção estratégica de poder do
Brasil em seu entorno, utilizandose de quantiicação, demonstração
gráica e análise crítica das políticas
públicas de defesa nacional.
Apesar da crescente importância
que os temas relacionados à defesa
nacional têm adquirido no meio
acadêmico brasileiro, ainda persistem
lacunas entre o interesse social e o
conhecimento efetivo sobre temas
relativos à segurança nacional e às
estratégias de defesa. Alguns esforços
do sistema de ciência e tecnologia
nacional podem ser mencionados:
os programas “Pró-Defesa” e “PróEstratégia” da CAPES, direcionados
ao inanciamento de pesquisas de
pós-graduação; a criação, em 2008, de
uma Associação Brasileira de Estudos
de Defesa; a inserção progressiva
de militares em instituições civis de
pesquisa e a criação de programas
de pós-graduação no âmbito militar.
No entanto, inexistem trabalhos
que
apresentem
profundidade
analítica,
amplitude
temática,
soisticação metodológica e amplo
potencial de difusão em função
do uso de linguagem acessível e
imagética (mapas, matrizes, gráicos,
etc.). Este projeto visou a dar uma
contribuição para diminuir essa
lacuna, sustentado no pressuposto
de que a superação dessa deiciência
passaria necessariamente pelo esforço
de compreender, de modo espacial,
a inserção estratégica do Brasil,
tornando a temática mais acessível à
sociedade como um todo. O Atlas da
6
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Política Brasileira de Defesa pretende
ser ferramenta didática fundamental
em disciplinas do ensino médio e
superior que tenham em suas análises
temas internacionais relativos à
segurança global e aos mecanismos
de defesa do Estado brasileiro.
Metodologicamente, a cartograia
temática abrange o uso de imagens
em geral, não somente mapas. Além
da metodologia cartográica já
apresentada no Atlas da Política
Externa Brasileira, remetemos o nosso
leitor ao apêndice metodológico
apresentado ao inal deste volume,
que apresenta os detalhes técnicos
e operacionais da pesquisa e da
cartograia temática aqui utilizada.
O volume está organizado da seguinte forma: um capitulo histórico e três
substantivos que consideram os três
níveis de análise clássicos das Relações Internacionais (global, regional e nacional). O primeiro analisa os
elementos principais da política de
defesa da Coroa Portuguesa e, posteriormente, do Império e da República do Brasil que inluenciaram a
dinâmica geopolítica e a formulação
da defesa brasileira e da região. Com
objetivo semelhante, são examinados
alguns momentos ao longo do século XX fundamentais na criação da ordem mundial e na inserção brasileira
neste sistema. O capítulo seguinte tem
como principal foco as características
da ordem global que se segue ao término da Guerra Fria, a distribuição de
poder entre os atores no nível internacional e as capacidades e atributos de
poder brasileiros que o tornam um país
relevante na América do Sul, com aspirações globais. Desta forma, o capítulo concentra-se nos principais temas,
agendas e instituições da ordem mundial, trazendo o caso brasileiro para o
centro da análise, em perspectiva comparada com demais países do sistema
internacional (sejam eles do Norte, do
Enara Echart Muñoz
permanentemente ao risco de autonomização ou insulamento face aos controles democráticos.
INTRODUÇÃO
não foram incluídos neste Atlas. Não
obstante, o conteúdo desses não traz
grandes inovações para a política brasileira de defesa e para seus principais
conceitos.
Enara Echart Muñoz
É importante sublinhar que, além do
apoio do IPC do Ministério da Defesa e do CNPq, este projeto somente
foi possível porque reuniu a expertise
e o conhecimento acumulado em dois
grupos de pesquisa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: o
Laboratório de Análise Política Mundial (LABMUNDO-antena Rio de
Janeiro e o Observatório Político Sul
-Americano (OPSA). O OPSA é conhecido por seu trabalho extenso e de
qualidade sobre a política doméstica e externa dos países sul-americanos
e por estudos sobre a região, inclusive no campo da segurança. O LABMUNDO-Rio, por meio de seu
Ateliê de Cartograia e em parceria
com Sciences Po (Paris), desenvolveu
extensa expertise no campo da cartograia temática que resultou na publicação, em português, inglês e espanhol,
do Atlas da Política Externa Brasileira.
A parceria entre OPSA e LABMUNDO-Rio permitiu ao projeto cumprir
com seus objetivos iniciais, além de
ter reforçado a capacidade instalada
sobre esses temas no IESP-UERJ. Finalmente, gostaríamos de registrar os
nossos agradecimentos aos Professores
Leticia Pinheiro, Monica Hirst, Marco Cepik e hiago Rodrigues, por terem participado do seminário em que
de defesa do Brasil. Com isso, o capí- apresentaram seus comentários e sutulo aborda a relação dos órgãos do Es- gestões sobre uma primeira versão do
tado (como o Ministério de Defesa e Atlas. As contribuições dos colegas em
as Forças Armadas) entre si e com de- muito enriqueceram os capítulos que
mais atores da sociedade (como o setor seguem.
privado, sindicatos, sociedade civil organizada, academia e outros). Os capítulos foram todos divididos em itens.
Cada item foi trabalhado em uma du- Maria Regina Soares de Lima é
pla-página, com a possibilidade de di- Pesquisadora Sênior do Instituto
álogo complementar entre itens de de Estudos Sociais e Políticos
diferentes capítulos, mediante a ferra- da Universidade do Estado do
menta do “Veja também”.
Rio de Janeiro (IESP-UERJ) e
Coordenadora do Observatório
Cabe ressaltar que, no dia 14 de mar- Político Sul-Americano (OPSA) e do
ço de 2017, o Ministério da Defesa pu- Latitude Sul.
blicou em seu sítio web novas minutas
da Política Nacional de Defesa, da Es- Carlos R. S. Milani é Professor
tratégia Nacional de Defesa e do Livro Adjunto do Instituto de Estudos
Branco de Defesa Nacional. Uma vez Sociais e Políticos da Universidade
que esses documentos ainda não fo- do Estado do Rio de Janeiro
ram discutidos e aprovados pelo Con- (IESP-UERJ) e Coordenador do
gresso Nacional, entende-se que ainda Laboratório de Análise Política
não coniguram documentos oiciais Mundial (LABMUNDO) e do
do Estado brasileiro e, por esse motivo, Latitude Sul.
Sul, da região ou países emergentes). O
terceiro capítulo focaliza a região sul
-americana e o entorno estratégico da
política de defesa. A análise do tema regional passa obrigatoriamente pelo papel brasileiro na área assim como pela
inluência de potências extrarregionais
(sejam elas ex-metrópoles europeias, os
EUA ou, mais recentemente, países
emergentes da Ásia). Além da interação da América do Sul com o resto do
mundo, cabe destacar as novas forças
socioeconômicas da região, que estão
em constante modiicação e impactam
diretamente nas estratégias geopolíticas dos países. Essa dinâmica que é o
foco do terceiro capítulo é diretamente inluenciada pela ação de atores tradicionais na formulação da política de
defesa, assim como pela emergência
de novos. Considerando as especiicidades desse nicho temático da defesa, o último capítulo analisa os atores
que diretamente ou indiretamente têm
participação na formação da política
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
7
O mundo político
Canadá
Quirguistão
Tajiquistão
Mongólia
Estados Unidos
China
Afeganistão
Japão
Coreia
Coréia do Sul
Coréia do Norte
Coreia
Taiwan
Hong Kong
Nepal Butão
Paquistão
Índia
Myanmar
Laos
Bangladesh
Tailândia
Cingapura
Sri Lanka
Maldívias
Maldivas
Território Britânico
do Oceano Índico
Macau
Vietnã
Filipinas
Marianas
Guam
Palau
Micronésia
Ilhas Marshall
Nauru
Kiribati
Camboja
Brunei
Malásia
Indonésia
América Central:
aIlhas Cayman
Cayman
1- Ilhas
bTurks ee Caicos
Caicos
2- Turks
c3- Ilhas Virgens
d4- Ilhas Virgens Britânicas
e5- Anguilla
f6-Ilha
Ilhade
deSão
SãoMartinho
Martinho
gColetividade de
de São
São Bartolomeu
Bartolomeu
7- Coletividade
hGustávia
8- Ilha
de São Martinho
i9-São
SãoCristóvão
CristóvãoeeNevis
Nevis
j10-Antigua
Antiguae eBarbuda
Barbuda
k11-Guadalupe
Guadaloupe
l12-Dominica
Dominica
m
Martinica
13--Martinica
n14-Santa
SantaLúcia
Lúcia
o15-Barbado
Barbado
p16-São
SãoVicente
VicenteeeGranadinas
Granadinas
q17-Granada
Granada
r18-Países
PaísesBaixos
BaixosCaribenhos
Caribenhos
s19-Curaçao
Curação
t20-Aruba
Aruba
Terras Austrais e Antártidas
Francesas
Antárticas Francesas
Fonte: Elaboração própria.
8
México
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Papua-Nova Guiné
Timor Leste
Ilhas Salomão
Vanuatu
Nova Caledônia
Caledónia
Austrália
Tuvalu
Tokelau
Wallis e Futuna
Samoa
Samoa Americana
Niue
Polinésia Francesa
Ilhas Cook
Ilhas Pitcairn
Tonga
Ilhas Fiji
Nova Zelândia
INTRODUÇÃO
Europa
1- Guernsey
2- Jersey
3- Andorra
4- Bélgica
5- Luxemburgo
6- Holanda
7- Mônaco
Suíça
8- Suiça
9- Itália
10- Alemanha
11- Liechtenstein
12- Dinamarca
13- Vaticano
14- San Marino
15- Áustria
16- Eslovênia
17- República Checa
18- Eslováquia
19- Hungria
20- Croácia
21- Bósnia e Herzegovina
22- Montenegro
23- Albânia
Groelândia
24- Macedônia
25- Kosovo
26- Sérvia
27- Åland
Islândia
Estônia
28- Estónia
Letônia
29- Letónia
Ilha de Man
30- Lituânia
Romênia
31- Roménia
Irlanda
32- Bulgária
33- Moldávia
Reino Unido
34- Bielorrússia
35- Chipre
36- Chipre do Norte
Jan Mayen
Noruega
Ilhas Faroé Suécia
27
Finlândia
28
Ilhas Malvinas
Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul
100 km
Labmundo, 2017
29
Rússia
12
30
6
34
Polônia
10
4 5
17
1 2
Ucrânia
Kasaquistão
11 15 18
19 31 33
França 8
16
9 20 21 26
Azerbaijão
3
32
7 14 22 25
Uzbequistão
Geórgia
24
Espanha
13 23
Portugal
Turcomenistão
Turquia
Tunísia
Armênia
Grécia
Açores
Gibraltar
35 36 Síria
Malta
Líbano
Ilha da Madeira
Bermudas
Iraque
Marrocos
Irã
Palestina
Israel
Jordânia Kuwait
Argélia
Bahrein
Líbia
Rep. Dominicana
Egito
Bahamas
Saara
Catar
Cuba
EAU
Arábia
Belize
Ocidental
Porto
Rico
b
2
Saudita
d 5e
3c 4
a1
f6 g
Mauritânia Mali
7 10
Omã
Jamaica
j k11
Níger
Senegal
89
h
Sudão Eritreia Iêmen
Honduras Haiti
i
l12
Chade
19
s
13
14 o
n
r18 m
Cabo Verde
20
t
15
Burkina
Djibouti
p
16
Nicaragua
Nicarágua
17
q
Gambia
Guiné
Trinidad
Guiné-Bissau
Guiné
Bissau
Somália
Nigéria
Guatemala
e Tobago
Etiópia
Venezuela
Sudão
Gana
Serra Leoa
do Sul
Centro
África
Guiana
Libéria
El Salvador
Suriname
Costa Rica
Colômbia
Camarões
Togo
Uganda
Guiana
Francesa
Panamá
Bénin
Benin
Quênia
Costa
do
Marfin
República
Equador
Ruanda
Democrática
Burundi
São Tomé e Príncipe
Comores
do Congo
Tanzânia
Guiné Equatorial
Seychelles
Gabão
Congo
Brasil
Peru
Angola
Zâmbia
Moçambique
Rep. de
Santa Helena
Bolívia
Maurício
Maurícia
Zimbábwe
Malawi
Botswana
Madagascar
Namíbia
Chile
Paraguai
Suazilândia
Reunião
Argentina
Uruguai
Lesoto
África do Sul
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
9
Capítulo 1:
Enara Echart Muñoz
HISTÓRICO DA
DEFESA NO BRASIL
Enara Echart Muñoz
O capítulo histórico, de abertura à temática da política de defesa e da
segurança do Brasil, tem por objetivo principal apresentar, desde a Colônia,
como foram implementadas, pela Coroa portuguesa e, após a independência em 1822, pelo Estado brasileiro, as estratégias políticas e militares de
expansão e de ocupação territorial, mas também de proteção do território
diante das ameaças de invasores estrangeiros (franceses, holandeses), bem
como no enfretamento dos conflitos existentes com os vizinhos da região e
nas revoltas internas de norte a sul do país. Ou seja, este capítulo
introdutório procura demonstrar que a política de defesa do Brasil tem
longa trajetória histórica, cujas características geraram dependências e
condicionalidades para a formulação e a implementação dessa política
pública em períodos mais recentes. Para atingir esse objetivo, em primeiro
lugar, foi utilizada uma divisão cronológica, respeitando os três principais
momentos políticos da história do Brasil: Colônia, Império e República.
Em segundo, foram selecionados alguns eventos históricos e eixos estratégicos que marcaram a história da defesa e da segurança do país desde o início
do século XX: as Conferências de Paz e a eclosão da Primeira Guerra Mundial; a Segunda Guerra Mundial e o engajamento brasileiro; a Guerra Fria
e os golpes militares no Brasil e na América Latina.
Colônia, conlitos
e expansão
territorial
DESAFIOS À AUTORIDADE DA COROA
Principais conflitos entre a elite colonial e a Coroa
portuguesa, entre 1660 e 1822
Grão-Pará e Maranhão
Revolta de Beckman
Bahia
Conjuração Baiana
Motim do Maneta
São Paulo
Revolta do Sal
Minas Gerais
Inconfidência Mineira
Revolta de Felipe
dos Santos
Guerra dos Emboabas
Rio de Janeiro
Revolta da Cachaça
Conjuração Carioca
INVASÕES EXTERNAS À COLÔNIA
Labmundo, 2017
500 km
Pernambuco
Revolução Pernambucana
Guerra dos Mascates
Conjuração do Nosso Pai
Conspiração dos Suaçunas
Territórios portugueses ocupados por França e Holanda, entre 1555 e 1654
Golfo da Guiné
1637-1642*
Fonte: Silva, 2005; Schwarcz e Starling, 2015.
Localização dos principais quilombos e aldeias
indígenas revoltosas, entre 1500 e 1822
França Equinocial
1594-1615
Olinda e Recife
1630-1654
Salvador
1624-1625
Guerra dos Bárbaros
Territórios portugueses,
segundo Tordesilhas
500 km
Territórios espanhóis,
segundo Tordesilhas
*Em 1642, Portugal cedeu o território em definitivo para a Holanda
Labmundo, 2017
Invasões francesas
França Antártida
1555-1567
Fonte: Puntoni, 1992.
Angola
1641-1648.
Invasões holandesas
Palmares
Calunga
Aimorés
500 km
Tamoios
era alimentado por interesses comerciais, por uma racionalidade militar e
pela ambição evangelizadora (a exemplo das missões) que, juntos, possibilitaram aos europeus subjugar territórios
e povos em toda a região. O resultado
foi um verdadeiro genocídio: milhões
de nativos morreram em consequência
do regime de trabalho forçado, da destruição dos seus modos de vida e da natureza, das novas doenças introduzidas
pelos brancos e dos combates contra a
opressão e a dominação europeia.
A formação e a expansão dos impérios
coloniais de Portugal, Espanha, França,
Holanda e Inglaterra foi resultado de
um longo processo geopolítico no qual
se inserem a constituição dos modernos
Quilombos
Aldeias indígenas
revoltosas
Fontes: Reis e Gomes, 1996; Ricardo e Fany, 2011.
Labmundo, 2017
Campo Grande
A ocupação pelos portugueses do território do que seria posteriormente o
Brasil foi atravessada por conlitos sociais, étnicos, raciais e geopolíticos. Tratou-se de um processo dirigido por um
Estado centralizado, com forte investimento militar e impulsionado pela
Igreja católica, e que se deu em duas
etapas, primeiro no litoral e depois no
interior. Os portugueses confrontaram-se com povos originários, presentes nas Américas há pelo menos 12 mil
anos antes de sua chegada, e com tentativas de conquista de outros impérios
coloniais. Estima-se que viviam no Brasil 10 milhões de pessoas que falavam
1.300 línguas e que se dividiam em mais
de 1.000 etnias. O expansionismo português (e de outras nações europeias)
Estado-Nação e os primeiros desenvolvimentos do capitalismo. Tais impérios disputavam mercados, populações
e territórios e com isso reconiguraram
todo o planeta em um sistema integrado de metrópoles e colônias. A escravidão moderna na América foi um dos
seus pilares fundamentais: foram traicados do continente africano para a colônia portuguesa 3 milhões de pessoas
para o trabalho forçado no grande latifúndio monocultor, ao que se somam
CONSTRUÇÃO DAS FRONTEIRAS NO PRATA
Tratados de fronteiras entre Portugal e Espanha na América, entre 1715 e 1801
BRASIL
BRASIL
BRASIL
200 km
Fronteiras atuais
Fontes: Magnoli et al., 2001; Góes Filho, 2015.
12
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Tratado de Utrecht (1715)
Tratado de San Ildefonso (1777)
Tratado de Madri (1750)
Tratado de Badajós (1801)
Labmundo, 2017
BRASIL
HISTÓRICO DA DEFESA NO BRASIL
Em paralelo, eclodiam os conlitos geopolíticos entre os europeus no “novo
mundo”: os impérios coloniais português, espanhol, francês, holandês e
inglês disputavam território, mercadorias e populações no continente africano e americano. Portugal enfrentou
a Espanha e com ela pactuou (região
do Prata), expulsou franceses do Rio
de Janeiro e do Maranhão, guerreou
com holandeses nos dois lados do oceano atlântico, e terminou subjugado
MISSÕES JESUÍTICAS
Missões na América do Sul até o século XVIII
Bogotá
Rio Neg
ro
M
Amazonas
a
eir
ad
São
Fra
nc
Ri
o
Rio
á
an
Missões de Mojos
Missões de Chiquitos
i
Missões de Itatim
Missões de Guará
Missões de Tape
Buenos Aires
Montevidéu
Fonte: Goes Filho, 2015.
econômica e politicamente pela Inglaterra ainda no período colonial. Ocorreram também conlitos internos aos
impérios coloniais. No Brasil, os colonos brasileiros e a elite portuguesa que
vivia na colônia disputavam os processos de ocupação do território (a marcha
para oeste com as bandeiras e as entradas, com forte cunho militar e evangelizador, reforçando a aliança entre Igreja
e o Império de Portugal) e lutavam pelos recursos que encontravam em cada
novo pedaço de terra. Dessas batalhas
emergiram, nos ilhos de europeus
s
Amazona
Belém
jós
pa
Ta
o Francisc
Sã
o
Salvador
To
São Luís
o Francisc
Sã
o
Salvador
Mam
or
or
é
ná
Pa
ra
gu
ai
Pa r a
Uru
g
ná
Pa
ra
gu
ai
Urug
ua
i
Pa r a
Rio de Janeiro
São Paulo
São Paulo
i
ua
Tratado de
Madri, 1750
500 km
Bandeiras:
Manoel Campos Bicudo (1673)
Rota ordinária
Manoel Preto e Antonio
Raposo Tavares (1628-1633)
Antonio Pires de Campos (1716)
Estrada terrestre
através de Goiás
Fernão Dias Paes (1638)
Pascoal Moreira Cabral (1718)
Monções do norte
Antonio Raposo Tavares
(1648-1652)
Bartolomeu Bueno da Silva
(1725)
Fonte: Goes Filho, 2015.
nascidos na colônia, um sentimento
de identidade próprio, que se diferenciava de Portugal por meio da narrativa de luta contra a sanha tributária do
Estado opressor português, que impedia os colonos de alcançar autonomia
econômica. Os colonos ilhos da elite
sempre estiveram em contato com as
ideologias e os valores europeus, cultivando a liberdade, sendo refratários à
centralização via Estado e Igreja, como
ilustram os muitos conlitos entre as sociedades locais e os jesuítas. Protagonizaram, portanto, revoltas, rebeliões e
motins que marcaram todo o período
colonial e foram parte fundamental do
processo político e cultural que levaria
à ruptura do Brasil com Portugal. O resultado da empresa colonial portuguesa
foi desastroso do ponto de vista social e
humanitário, com o extermínio de populações inteiras de africanos e povos
ameríndios. Não obstante, do ponto de
vista geopolítico e econômico gerou riquezas incontáveis à Coroa de Portugal
e cujo resultado foi a consolidação de
um novo Estado-Nação independente
comandado por uma elite política coesa, que logrou manter a integridade territorial e identitária da ex-colônia em
meio ao esfacelamento que ocorreu na
América Espanhola.
Monções:
Antonio Raposo Tavares,
André Fernandes e Fernão Dias
Paes (1635-1637)
VEJA TAMBÉM:
Labmundo, 2017
Mam
é
Rio de Janeiro
500 km
Belém
cantins
São Luís
gu
Xin
To
cantins
gu
Xin
Ara
gua
ia
Principais monções, entre 1635 e 1725
Labmundo, 2017
500 km
Ara
gua
ia
s
Amazona
jós
pa
Ta
Salvador
Missões de Maynas
Rio
Pa
r
Assunção
OCUPAÇÃO DO OESTE
Principais bandeiras, entre 1635 e 1725
o
isc
Rio
Lima
Rio P
ara
Rio U
rug guai
ua
outras 2 milhões trazidas depois da independência do Brasil em 1822. A importância da mão de obra escrava era
tanta que as estimativas populacionais para 1584 eram de 25 mil brancos,
18 mil índios domesticados e 14 mil negros escravizados. Os escravos viviam
em média 19 anos, contra 32 da população branca e livre, ou seja, viviam mal
e precariamente, sem direito à terra, à
subsistência autônoma, a constituir família ou a manter sua identidade cultural. Essas pessoas sustentavam uma
estrutura econômica, social e cultural
baseada na violência que deixou marcas profundas na coletividade brasileira até o presente. Houve resistência, e
os quilombos, as fugas individuais e em
massa, as insurreições indígenas e as rebeliões negras são exemplos de um processo de lutas que envolvia também a
produção de laços de solidariedade, de
afeto e comunitários, de valorização de
dinâmicas culturais, religiosas e identitárias cujas heranças também são sentidas até os dias atuais.
Império e ameaças de fragmentação p. 14
República e desafios geoestratégicos p. 16
Colônia (Atlas da PEB) p. 14
Império (Atlas da PEB) p. 16
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
13
Império e ameaças
de fragmentação
A independência da América espanhola se deu em um contexto de lutas
revolucionárias seguido de um republicanismo radical e fragmentação
territorial. Nas metrópoles coloniais,
as guerras napoleônicas transformavam a estrutura política e social do
continente e representavam os conlitos entre a nascente burguesia capitalista contra as classes feudais. Nesse
quadro, a corte portuguesa transferiu
para o Brasil a sede do império português. Como resultado, iniciou-se
um novo ciclo de desenvolvimento
econômico e de abertura política, no
qual foram retomados os ideais nacionalistas e independentistas que já haviam animado importantes revoltas
no Brasil, como a Inconidência Mineira em 1789, e que veio a culminar
na independência.
A ex-colônia portuguesa se emancipou guiada por um projeto de Estado
que não seguiria a cartilha liberal: enquanto esta prega um poder central
resultante dos diferentes interesses sociais, no liberalismo à brasileira coube
ao poder central organizar e disciplinar
tais interesses. O Brasil não foi apenas
o último país a se tornar independente
como foi o único a tornar-se um Império, o qual extraía sua legitimidade política e sua viabilidade econômica de
um pacto baseado na grande propriedade de terra e no trabalho escravo.
GUERRA DA CISPLATINA
Local e quantidade das batalhas, entre 1825 e 1828
Salvador
Exército
Marinha
Quantidade
de batalhas
7
3
1
Rio U
rug
uai
Rio P
aran
á
Fronteiras
atuais
Rio
ro
Neg
Buenos
Aires
225 km
Fonte: Donato, 1987.
14
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
Montevidéu
450 km
Seguiriam então dois tipos de conlitos
fundamentais. No Primeiro Reinado
(1822-1831), chocaram-se os esforços de
centralização empreendidos pelo Império com a diversidade regional de
uma nação continental: a centralização defendida pelas elites sediadas no
Rio de Janeiro versus o federalismo
de algumas províncias, tais como São
Paulo, Pernambuco e Rio Grande do
Sul, justamente aquelas mais mobilizadas no período colonial. Na Regência ocorreu a explosão desse conlito.
As novas elites que assumiram o Estado promoveram reformas de cunho liberal radical, devolvendo a soberania
do poder político às províncias, produzindo um conjunto de novas mobilizações cujo programa clamava por
mudanças de cunho social e econômico, misturando as ambições das elites
provinciais com movimentos de origem popular em busca de melhores
condições de vida.
Estava, portanto, ameaçado o pacto
das elites. A integridade territorial foi
perdida com a independência do Uruguai, consolidada em 1828, a proclamação da República Rio Grandense em
1835, nas guerras da Revolta Farroupilha que duraram até 1845. Houve risco de perda da província do Grão-Pará
(cujo território abrange os atuais Estados do Pará, Maranhão e Piauí) durante da Revolta da Cabanagem, ocorrida
entre os anos 1835 e 1840. Nessa revolta,
as classes médias locais (Cabanos) uniram-se aos índios e mestiços em uma
revolta contra a situação de miséria
da província e instituíram um governo independente que durou dez meses. Nas lutas para retomar o controle
do território o governo imperial eliminou entre 30 e 40% da população local.
O tratamento dado pelo Império aos
revoltosos paraenses foi marcado pela
violência e repressão, enquanto que a
relação com os insurgentes gaúchos foi
de negociação e pactuação.
As bases da sociedade imperial foram abaladas pelas revoltas. A grande
propriedade de terra sofreu seu principal ataque com a Revolta da Balaiada, no Maranhão (1838-1841), quando
camponeses e escravos se revoltaram
contra os grandes fazendeiros. A escravidão foi alvo de diversas revoltas,
como a Revolta Manuel Congo, no
Rio de Janeiro (1838), e a Revolta da
Carranca, em Minas Gerais (1833). Na
Revolta dos Malês (1835), cerca de 600
escravos tomaram Salvador, sendo dizimados no mesmo dia por uma classe
HISTÓRICO DA DEFESA NO BRASIL
REVOLTAS REGENCIAIS
dominante, temerosa de um possível
“Haiti brasileiro”.
Local e quantidade de batalhas, por revolta, entre 1835 e 1845
Em 1840, as elites recompuseram seu
pacto com a coroação de D. Pedro II
e a instituição do Segundo Reinado,
que durou até 1889. A centralização foi
reforçada e a disputa política foi posta dentro de limites que impediam seu
transbordamento para as classes populares. Na chamada “restauração conservadora”, um novo tipo de conlito
vai predominar, quando o Império se
lança na missão de constituir sua supremacia geopolítica na América do
Sul. O principal território dessa disputa foi a região do Prata, onde o Brasil
atuou nos conlitos internos do Uruguai e Paraguai ora para enfraquecer
os projetos nacionais desses países ora
para impedir a Argentina de aumentar sua inluência regional. A criação
do Uruguai foi fruto de uma disputa entre Brasil e Argentina pela posse
da província Cisplatina, que gerou a
guerra da Cisplatina (1825-1828).
Cabanagem
Balaiada
Sabinada
Revolta dos Malês
Revolução Farroupilha
17
8
250 km
1
As forças armadas brasileiras lideraram
essa disputa pela hegemonia geopolítica na América do Sul aproveitando-se
da legitimidade conquistada pela vitória contra as revoltas do Primeiro Reinado. A Guerra do Prata (1851-1852)
colocou em confronto a Argentina
contra o Brasil e Uruguai, com vitória
brasileira. Entre 1864 e 1865, o Brasil,
apoiado pela Argentina e pela oposição uruguaia, entrou em guerra contra
o Uruguai, cujo desfecho precipitou
a Guerra contra o Paraguai quando
100 km
Fonte: Donato, 1987.
este país interferiu a favor do governo uruguaio. A Guerra do Paraguai foi
o maior conlito armado da América
do Sul, e opôs Brasil, Argentina e Uruguai (agora governado pela antiga oposição) contra o Paraguai, que na época
era uma nação em desenvolvimento
Participação dos gastos militares no orçamento total, em %, entre 1830 e 1879
Revoltas Internas
Guerra do Paraguai
Balaiada
que poderia ameaçar a hegemonia brasileira. O conlito durou de 1865 a 1870,
terminando com vitória dos aliados,
com destaque para o Brasil, e com o
Paraguai perdendo territórios importantes, com sua população masculina
dizimada e sua economia devastada.
A vitória marca o auge do II Império e
também o início de sua crise terminal:
o Brasil sai da guerra endividado devido aos empréstimos contraídos junto
à Inglaterra para custear as batalhas e
com um exército composto por escravos sem treinamento e identidade com
a nação. Nesse contexto, D. Pedro II
opta por ceder à reivindicação da abolição, pela qual era pressionado por
Inglaterra e França. Com isso, o imperador abre mão da estratégia gradualista quanto à abolição da escravidão (Lei
do Ventre Livre em 1871 e Lei dos Sexagenários em 1885) e assim perde apoio
dos grandes proprietários de terra.
GASTOS MILITARES NO IMPÉRIO
Cabanagem
Revolução Farroupilha
Sabinada
Labmundo, 2017
República Rio-Grandense (1835-1845)
República Juliana (julho-novembro de 1839)
Malês
50
40
30
20
VEJA TAMBÉM:
79
18
75
18
70
18
65
18
60
18
55
18
50
18
45
Labmundo, 2017
Fontes: Coelho, 2000; Donato, 1987.
18
40
18
35
18
18
30
10
Colônia, conflitos e expansão territorial p. 12
República e desafios geoestratégicos p. 16
Colônia (Atlas da PEB) p. 14
Império (Atlas da PEB) p. 16
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
15
República,
desaios políticos
e geoestratégicos
CONFIGURAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO NA REPÚBLICA
Principais disputas territoriais entre 1889 e 1905
Um dos processos mais importantes
nesse período foi o fortalecimento dos
laços com os EUA. A aproximação era
justiicada como benéica para ambos
os países: de um lado, os EUA buscavam consolidar-se como potência hemisférica; de outro, o Brasil garantia
apoio político, econômico e geoestratégico. No plano econômico, os EUA
passaram a ser o principal parceiro comercial e investidor, relegando o Reino
Unido ao segundo lugar. O modelo republicano dos EUA também teve um
COMÉRCIO E POLÍTICA
Evolução do fluxo comercial entre o Brasil e seus
principais parceiros comerciais, em milhões de
Libras Esterlinas, entre 1901 e 1939
56,8% do fluxo
brasileiro total
Questão do Amapá, 1903
60
qu
e
Questão do Pirara, 1904
Oia
po
Rio
Maú
40
Rio
Rio
Colingo
EUA
37
19
31
19
25
19
19
Alemanha
Reino Unido
150 km
Fonte: IBGE, 1990.
Labmundo, 2017
BRASIL
500 km
19
Rio
Araguari
19
BRASIL
01
Rio
Amapari
07
20
Rio
Tacutu
19
Rio
Rupununi
EUA - 29,2%
Alemanha - 22,0%
80
150 km
13
A disputa pelo poder político foi uma
das características mais fortes dos anos
que se seguiram à proclamação da República. Grupos importantes da elite
política brasileira, das Forças Armadas
(principalmente dentro da Marinha) e
da sociedade eram favoráveis à volta da
monarquia, enquanto que o Exército
se apresentava como uma das principais forças republicanas. A Revolta da
Armada, em 1891, exempliica a disputa de poder dentro do Brasil e quão
frágeis eram as instituições da República. Floriano Peixoto teve que recorrer
a ajuda de outros países e a mercenários, a im de garantir a continuidade
de seu governo. Esse episódio agravou
a disputa de poder dentro das Forças
Armadas, o que resultou no aumento
do desequilíbrio entre os orçamentos
do Exército e da Marinha. A ação militar contra o Arraial de Canudos também demonstra a instabilidade política
e a fragilidade das instituições de defesa no inal do século XIX. Foram necessárias 3 investidas do Exército contra a
população civil nordestina, seguidores
da liderança religiosa de Antônio Conselheiro. A última dessas operações militares contou com quase 30% do total
do contingente do Exército.
19
Com o advento da República, em 1889,
o Brasil deixou de ser a única monarquia
na região. Em um primeiro momento,
essa mudança foi vista com bons olhos
pelos vizinhos sul-americanos, mas gerou instabilidade e disputas de poder
entre as regiões e grupos políticos brasileiros. Os primeiros anos da República
foram marcados pela consolidação das
instituições republicanas, a estabilização
política do país, a demarcação das fronteiras, a busca de equilíbrio de poder na
região e a dissuasão de um eventual intervencionismo europeu.
No âmbito externo, o Brasil enfrentava
desaios a sua segurança tanto na esfera regional quanto no âmbito intercontinental. Enquanto ocorriam disputas
internas entre o Exército e a Marinha,
bem como revoltas civis, o orçamento militar argentino cresceu e ultrapassou o brasileiro. A hegemonia naval no
Prata que era brasileira durante o Império mudou de mãos na República, com
a balança de poder se tornando mais favorável à Argentina, destronando a hegemonia naval brasileira do período
imperial. As fronteiras ainda não estavam totalmente demarcadas, apresentando ameaça à integridade territorial.
Por im, o risco de intervencionismo de
países europeus seguia pairando sobre
o continente americano.
Questão do Acre, 1903
Evolução do saldo comercial entre o Brasil e seus
principais parceiros comerciais, em milhões de
Libras Esterlinas, entre 1901 e 1939
BRASIL
ra
ade i
Rio M
Rio Acre
150 km
10
Questão de Palmas, 1895
Fontes: Milani et al., 2015; Goes Filho, 2015;
Gurnak et al., 2010; Albuquerque et al., 1977.
16
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Rio
Peperi-Guaçu
Rio C
ha p
ecó
100 km
EUA
Fonte: IBGE, 1990.
Alemanha
37
19
31
19
25
19
19
19
13
19
07
-20
19
Áreas pertencentes a territórios
atuais de países vizinhos
Reino Unido
Labmundo, 2017
-10
Ch
op
im
01
Ri
o
Rio Santo
Antônio
19
Áreas pertencentes ao atual
território brasileiro
0
BRASIL
Áreas em litígio em 1889
Labmundo, 2017
Território brasileiro
em 1889
20
Ferrovia
Madeira-Mamoré
Fronteiras atuais
HISTÓRICO DA DEFESA NO BRASIL
papel importante na consolidação das
instituições domésticas brasileiras, pois
representava um contraponto ao modelo monárquico europeu. No âmbito
geoestratégico, o governo brasileiro entendia que aliar-se aos EUA diicultaria
intervenções europeias, bem como traria maior equilíbrio à balança de poder
na região (já que a Argentina era alinhada ao Reino Unido). Essa aproximação
fez com que o Brasil adotasse uma postura favorável à Doutrina Monroe. É
simbólica a recusa brasileira de adotar a
Doutrina Drago, proposta pela Argentina em resposta à intervenção na Venezuela, em 1902. A tentativa de formar
um pacto entre o Brasil, a Argentina e
o Chile (Pacto ABC), em 1915, também
demonstra a preocupação brasileira em
manter o equilíbrio de poder no Prata.
ARRAIAL DE CANUDOS
Contando com o apoio dos EUA, as
disputas relativas à demarcação de
fronteiras, na República, tiveram soluções pacíicas, por meio de acordos
e arbitragens, muitas lideradas pelo
Barão do Rio Branco. Ainda existiam
áreas de litígio entre o Brasil e seus vizinhos, que não tiveram suas fronteiras
demarcadas ao longo do Império. Essa
indeinição colocava em risco a integridade e a integração territorial brasileira. Uma possível anexação da região
de Palmas à Argentina criaria um estrangulamento do território brasileiro em uma das regiões mais sensíveis
em termos de segurança. Um eventual laudo arbitral desfavorável nas questões de Pirara e do Amapá (contra o
Reino Unido e França, respectivamente) facilitaria o acesso de potências europeias às bacias na região amazônica,
um dos territórios com menor densidade populacional do país até os dias
de hoje. Além disso, o Brasil era pressionado para garantir a livre navegação
em seus rios, enquanto que empresas
internacionais, como a Bolivian Syndicate, aumentavam seus negócios no
território do Acre, limítrofe à Bolívia,
colocando em risco interesses do Estado brasileiro e de sua sociedade. A última grande disputa territorial brasileira
foi resolvida junto com a Colômbia e
Peru e se arrastou até a década de 1930,
quando o Brasil concedeu a livre navegação na bacia amazônica, o que icou
conhecida como “Questão de Letícia”.
Isso permitiu que o Brasil se declarasse um país territorialmente satisfeito e
concentrasse seus esforços em questões
domésticas e no fortalecimento de suas
instituições.
População de Canudos, entre 1890 e 1898 e
expedições do Exército contra o povoado
Quantidade de soldados em expedições militares
contra o Arraial de Canudos, em milhares, em 1897
25000
20
16
20000
12
15000
8
10000
4
*Não há dados oficiais sobre o destino da população de
Canudos, mas as fontes indicam que a maior parte da
população foi dizimada e as demais migraram, uma vez
que o Arraial foi destruído.
18
97
Co
nt
Ex ing
ér en
cit te
o to
e t
dem m al d
18 aio o
97
Labmundo, 2017
de
st
o
Ag
o
Ab
r
Ja
18
97
18
95
18
93
18
91
ne
iro
il d
e
de
18
97
18
97
5000
**Em outubro de 1986 foi enviado um contigente policial
contra Canudos. Como essa investida falhou, foram enviadas
3 expedições militares contra a população civil.
Fontes: Ataíde, 1993/1994; Carvalho 2005; Donato, 1987.
A busca do apoio dos EUA teve no Barão do Rio Branco um dos seus maiores
idealizadores e principais personagens
da política brasileira no início da República. Esta aproximação era parte de
uma estratégia geopolítica do governo brasileiro, que buscava equilibrar
a balança de poder regional (treinando e equipando as Forças Armadas) e
mundial (dissuadindo possíveis intervenções europeias), bem como também foi importante para as negociações
fronteiriças até então não resolvidas.
Ao longo da República, o Brasil saiu da
área de inluência britânica e entrou na
estadunidense. Apesar das críticas que
o governo brasileiro recebeu por se alinhar aos EUA, inclusive no âmbito da
Doutrina Monroe, a parceria com os
estadunidenses rendeu o reaparelhamento e treinamento das Forças Armadas brasileiras, além de vantagens
no âmbito da economia e da política.
As parcerias, entretanto, não eram exclusivamente com os EUA. A Missão
Francesa, acordada em 1919, previa o
treinamento de oiciais do Exército em
troca de preferência na compra de armamentos produzidos na França.
ORÇAMENTO E FORÇAS ARMADAS
Estimativa das despesas militares, por % do PIB,
entre 1880 e 1940
República
20
15
ORÇAMENTOS MILITARES NA BALANÇA REGIONAL
10
Evolução dos orçamentos militares da Argentina, Brasil e Chile, em milhões de Libras Esterlinas,
entre 1889 e 1913
0
81
0-
8
18
7
89
18
95
18
Fonte: Carvalho, 1999.
25
19
30
19
40
19
Exército do Brasil
Marinha do Brasil
Labmundo, 2017
5
9
5
VEJA TAMBÉM:
Fonte: Bolt e Zanden, 2014.
Argentina
Brasil
Chile
3
19
1
10
19
19
07
04
19
1
19
0
98
18
95
18
92
18
18
89
1
Labmundo, 2017
3
Colônia, conflitos e expansão territorial p. 12
Império e ameaças de fragmentação p. 14
República (Atlas da PEB) p. 18
Desenvolvimento (Atlas da PEB) p. 20
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
17
Conferências
de Paz e Primeira
Guerra Mundial
É no século XIX que surgem as primeiras organizações internacionais, porém
é a partir do início do século XX que os
Estados efetivamente tentam construir
organizações multilaterais de caráter
político a im de prevenir conlitos e
promover a cooperação. As Conferências de Haia, em 1889 e 1907, inovaram
ao elevar ao debate mundial o tema da
solução pacíica de controvérsias, antes
tratado apenas no âmbito regional ou
bilateralmente. As conferências enfatizaram a necessidade de coordenação
política entre os Estados em matéria
de direito civil e comercial, evitando a
emergência de questões que pudessem
provocar disputas diplomáticas e econômicas. Apesar da importância e da
inovação que representou esse conjunto de reuniões intergovernamentais, a
crise do capitalismo a competição industrial e militar entre EUA, Alemanha e Japão, bem como a decadência
da Pax britannica fragilizaram ainda
mais o sistema internacional e não impediram a eclosão da Primeira Guerra
Mundial.
Nesse sentido, ao ser declarada em
1914, a Primeira Guerra Mundial fez
muito mais do que dividir os grandes
Estados em dois grupos opostos, a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança. Para
além de acordos secretos e interesses
geopolíticos, a declaração de guerra
sepultou a ordem anterior, sustentada pelo Concerto Europeu e pela primazia econômica, militar e estratégica
do Reino Unido. Nos anos de conlito, a guerra de trincheiras provocou
BRASIL NO SISTEMA INTERAMERICANO
Quantidade de tratados, por tema e participação brasileira, entre 1889 e 1936
re
ob esa il
s s ef as
to D Br
en e lo
m ça pe
cu an s
r
o
Doegucad
re
S tifi
ob esa
ra
s s ef
to D
en e
m ça
cu ran
s
Doegu
to s
S
en do
m va
cu ro
Do ap
Em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes e o im oicial da Primeira Guerra Mundial, criou-se um
sentimento de otimismo sobre as possibilidades de manutenção da paz
nos anos seguintes. Essa esperança,
103
I Conferência Interamericana (1889)
45
II Conferência Interamericana (1901-1902)
1
III Conferência Intermericana (1906)
IV Conferência Interamericana (1910)
grandes transformações não apenas
nas táticas durante o conlito, com a
introdução de equipamentos militares mais soisticados, o recrutamento
em massa e a conjugação dos esforços
das Marinhas e dos Exércitos. A Primeira Grande Guerra também provocou alterações signiicativas na balança
de poder mundial, desaiando a centralidade da Europa ocidental, com a
emergência dos Estados Unidos e da
União Soviética (a partir de 1917). O
Brasil declarou a sua neutralidade em
agosto de 1914, posição que mudou somente em outubro de 1917, quando o
Brasil declarou guerra à aliança liderada pela Alemanha. A neutralidade
inicial estava respaldada nos compromissos assumidos pelo país nas Convenções de Haia e no temor de que o
desdobramento do conlito pudesse
diicultar as exportações de café. No
entanto, o Brasil alterou essa posição
e foi o único país latino-americano a
participar da Primeira Guerra Mundial. A atuação brasileira, entretanto,
icou limitada à ação da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG),
principalmente no Atlântico Sul em
direção a Cabo Verde e ao estreito de
Gibraltar, e ao envio de uma missão
médica militar, acometida pela gripe
espanhola antes de chegar à Europa.
Foi nesse contexto que o governo brasileiro havia concebido o Plano Calógeras sobre a participação do Brasil no
conlito – plano este que não chegou a
ser implementado.
MULTILATERALISMO E DEFESA
Quantidade Tratados multilaterais registrados
na Liga das Nações, entre 1919 e 1940
Total de 472 documentos aprovados
Regras de arbitragem sobre
controle de território e recursos
Combate ao narcotráfico e drogas
V Conferência Interamericana (1923)
Reconstrução pós-guerra
VI Conferência Interamericana (1928)
Total
Fonte: sítio web do Direito Público, 2015
18
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
10
20
30
Um total de 187 tratados foram
assinados na Liga das Nações
Dos 84 documentos sobre
Defesa e Segurança, 76 foram
ratificados pelo Brasil
Desse total, 77 tatados versavam
sobre Segurança e Defesa
*O Brasil somente ratificou 7 tratados sobre Segurança
e Defesa, todos sobre combate ao narcotráfico
Fonte: sítio web United Nations Treaty Collection, 2015
Labmundo, 2017
Conferência Interamericana de
Consolidação da Paz (1936)
Controle de armas e
práticas de guerra
84 dos documentos assinados
versavam sobre Defesa e Segurança
Labmundo, 2017
Conferência Interamericana de Conciliação
e Arbitragem (1928-1929)
Território e Direito Marítimo
HISTÓRICO DA DEFESA NO BRASIL
12
Tríplice
Aliança
Tríplice
Entente
Baixas da
Tríplice Aliança
Baixas da
Tríplice Entente
8
Fonte: Hosch, 2010.
Labmundo, 2017
tu
ga
l
on
te
ne
gr
o
M
Po
r
Gr
éc
ia
a
ia
Bé
lg
ica
Sé
rv
o
pã
m
ên
i
Ja
Ro
r ia
ia
Bu
lg
á
EU
A
Tu
rq
u
Fr
an
ça
tro
-H Im
ún pé
g a r io
ro
Itá
lia
4
MULTILATERALISMO E PAZ
Países participantes das Conferências de Haia, em 1899 e em 1907
Participação em
1899 e em 1907
Labmundo, 2017
1000 km
Participação somente
em 1907
Fontes: FUNAG, 2014; Dutch government Treaty Database, 2015.
SEGURANÇA COLETIVA NA LIGA DAS NAÇÕES
Estados membros do Conselho da Liga, entre 1919 e 1940
1000 km
Membros permanentes
Não permantes originais
Fontes: Breda dos Santos, 2003; Baracuhy, 2006; Howard-Ellis, 2003.
Após a assinatura dos Tratados de Locarno, em 1926, a Alemanha ingressou na Liga. Entretanto, a Liga carecia
de força política e de representatividade: os Estados Unidos não faziam parte da Organização, ainda devido a sua
política de isolamento, e a União Soviética foi expulsa após ter invadido a
Finlândia, conlito que a Liga foi incapaz de impedir. A permanência do
sentimento de insegurança, agravado pela crise econômica de 1929, e a
persistência de tensões herdadas da
Primeira Guerra, especialmente por
Outros membros
Labmundo, 2017
A experiência na guerra gerou consequências domésticas no Brasil. A preparação das Forças Armadas para o
conlito provocou não só a modernização das técnicas de combate, como
estimulou a emergência de movimentos ideológicos dentro do Exército e
da Marinha, como o fortalecimento
do tenentismo. Esse cenário de instabilidade doméstica não se restringiu ao
campo militar e teve relexos nos âmbitos sociais e econômicos. A restrição
inicial às exportações brasileiras foi revertida, provocando um grande crescimento econômico no país, aspecto
fundamental que estimulou a industrialização interna. Nos anos seguintes, o Brasil também sofreu os efeitos
da crise de 1929 e passou por transformações domésticas, a exemplo da Revolução de 1930.
Quantidade total de soldados mobilizados e total de perdas por país e aliança militar, em milhões de
pessoas, entre 1914 e 1918
Au
s
Na tentativa de sustentar essa ordem,
foi criada a Liga das Nações, uma organização mundial com o objetivo de
garantir a segurança coletiva, conforme estabelecido pelo presidente Wilson em seus Quatorze Pontos. Para
tal, a Liga contava com um Conselho
Executivo para coibir possíveis ameaças e evitar novos conlitos. O envolvimento do Brasil na guerra credenciou
o país a participar ativamente da construção da estrutura multilateral da
nova ordem. O país foi um dos membros originários da Organização e, apesar de ter participado diretamente no
conlito, foi iel aos seus princípios diplomáticos e esforçou-se pela construção de uma ordem mais pacíica.
Atuando tanto na Liga, quanto no sistema interamericano, o Brasil buscou
fortalecer sua presença internacional,
defendendo a primazia da solução pacíica e negociada e a legitimidade da
decisão multilateral. Devido a esse intuito de consolidar sua atuação, o Brasil retirou-se da Liga em 1926, durante
o governo do Presidente Artur Bernardes, pois lhe foi negada a condição de
membro permanente do Conselho.
ESFORÇO MILITAR DAS PRINCIPAIS POTÊNCIAS
Rú
ss
ia
Al
em
an
ha
Re
in
o
Un
id
o
entretanto, foi curta. A Alemanha foi
declarada a principal culpada pelo
conlito e sobre o Estado germânico
recaíram pesadas dívidas, foram deinidas zonas ocupadas e regiões desmilitarizadas. Essa situação foi interpretada
pelos alemães como injusta e incompatível com o crescimento econômico
alcançado pelo país nas décadas anteriores. Nesse sentido, cresceu no seio
da sociedade alemã um sentimento de
revanchismo e da necessidade de reforma da ordem recém-criada.
parte da Alemanha, izeram com que
o esforço multilateral em torno da
criação e da institucionalização da
Liga das Nações não fosse capaz de
evitar a eclosão da Segunda Guerra
Mundial.
VEJA TAMBÉM:
Colônia, conflitos e expansão territorial p. 12
República e desafios geoestratégicos p. 16
Colônia (Atlas da PEB) p. 14
Império (Atlas da PEB) p. 16
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
19
Segunda Guerra
e nova ordem
mundial
A Segunda Guerra Mundial durou de
1939 a 1945 e acarretou uma nova coniguração de forças entre as principais
potências. A ordem internacional estabelecida após a Primeira Guerra Mundial já não correspondia à realidade
de poder relativo entre os Estados. O
embate entre os países Aliados e os do
Eixo estendeu-se pelo mundo e mobilizou a adesão de praticamente todos
os Estados soberanos. Entre as características do conlito estavam a extensão
da guerra para o cenário extraeuropeu
e o uso em escala sem precedentes de
inovações tecnológicas, como submarinos, aviões e armas químicas. O Brasil foi o primeiro país da América do
Sul a aderir a um dos lados do conlito,
ao se posicionar a favor dos Aliados
no ano de 1942. Ao optar pela aliança formada por países como EUA, Reino Unido e União Soviética, o Brasil
rompeu relações com as potências do
Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e distanciou-se da neutralidade que defendeu nos primeiros anos da guerra. A
posição neutra foi a escolha inicial
do Presidente Getúlio Vargas que, no
exercício da equidistância pragmática, buscava aumentar o comércio negociando vantagens para o Brasil com
ambos os lados. O rompimento com o
Eixo e a adesão aos Aliados ocorreram
após a aproximação entre o Brasil e os
EUA, liderada por Oswaldo Aranha, e
após os ataques aos navios mercantes
GUERRA E PAZ
1939
1940
Países neutros
1944
1945
*De 1940-44, após ocupação alemã, a França foi
dividida, instaurando-se o regime colaboracionista de Vichy.
Países não
independentes
**Os países hachurados indicam mudança de
aliança durante a guerra.
Fonte: Keegan, 1989.
Labmundo, 2017
1000 km
Al
ia
Ei
xo
do
s
Adesão de Estados soberanos ao Eixo e aos Aliados, por ano,
entre 1939 e 1945
na costa brasileira, por submarinos alemães. Enquanto nos anos anteriores à
declaração de guerra a balança comercial brasileira apresentava luxo signiicativo com EUA e Alemanha, a adesão
aos Aliados evidencia a opção brasileira pela aproximação com os estadunidenses e o consequente afastamento
do país europeu. Pelo peso do Brasil
na região, a opção pelos Aliados gerou
efeitos para a posição da América Latina como área de controle hegemônico dos EUA.
Em negociações bilaterais e na
Conferência Interamericana do Rio de
Janeiro, em 1942, Aranha garantiu que
os EUA estabelecessem acordos para
fortalecer as Forças Armadas brasileiras,
em troca da adesão e da participação do
país no conlito. A colaboração militar
entre os dois países foi formalizada com
a criação, em maio de 1942, da Comissão
Mista de Defesa Brasil - Estados Unidos,
com sede em Washington. Destacamse os acordos de Lend-Lease, em que
os EUA se comprometiam a fornecer
armas e munições de guerra e o Brasil
cedia a utilização de bases militares
no Nordeste. A posição geográica de
Natal era estratégica para o esforço de
guerra, em relação ao norte da África,
ocupado pelos alemães, a defesa do
Nordeste, o controle do Atlântico Sul
pelos EUA e o envio de material de
guerra para as tropas aliadas na África.
Pelo Lend-Lease, o Brasil recebeu mais
de seis bilhões de cruzeiros, o que
correspondeu a aproximadamente 30%
do orçamento brasileiro utilizado na
guerra. Com isso, o Brasil tornou-se o
quinto maior beneiciário dos recursos
do Lend-Lease (atrás do Império
Britânico, URSS, França e China),
tendo recebido mais de 70% de todo
o auxílio militar destinado à América
Latina.
GASTOS COM A GUERRA
Composição do orçamento militar brasileiro,
em bilhões de cruzeiros, entre 1942 e 1945
Participação em conferências de paz, por país, entre 1943 e 1945
Ministérios Militares
Lend-Lease
Créditos Suplementares
aos Ministérios Militares
Marinha
Fonte: Sítio web da ONU, 2015.
20
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
*URSS não participou da
Conferência do Cairo (1943)
**China não participou das
Conferências de Teerã (1943)
Labmundo, 2017
1000 km
Não participou
de conferências
2
4
6
*21 bilhões de cruzeiros equivaliam a cinco vezes a
receita anual da União.
**Os gastos com a Marinha referem-se a uma
"nota de prejuízos" das perdas sofridas
(navios avariados e etc.)
Fonte: Castello Branco, 1960.
8
Labmundo, 2017
Participou somente da
Conferência de São Francisco
Participou da Conferência de
São Francisco e de anteriores
HISTÓRICO DA DEFESA NO BRASIL
ORIGEM DOS COMBATENTES
BRASIL EM COMBATE
Quantidade de combatentes por unidade
federativa, em milhares, entre 1943 e 1944
Frentes e principais batalhas na Itália da Força
Expedicionária Brasileira, entre 1944 e 1945
2
4
6
100
200
300
400
Monte
Castello
Montese
Defensiva de
inverno
Roma
Panaro
oles
Rendição
da 148ª DI
alemã
Collecchio
200 km
Feridos
La Serra
Principais batalhas
Movimentação
das tropas
* O Estado da Guanabara (atual
cidade do Rio de Janeiro) era o
Distrito Federal durante o período.
** O Tocantins era parte de Goiás,
mas a fonte utilizada separa os dados.
Fonte: Silveira, 2001.
A cooperação com os EUA não foi restrita ao campo militar e acarretou profundos impactos econômicos. Além
da implementação de vários programas de assistência técnica, as cláusulas dos acordos previam investimentos
da ordem de cem milhões de dólares
para o desenvolvimento da produção
de materiais estratégicos; de quatorze milhões de dólares para a modernização de ferrovias e infraestrutura;
e cinco milhões para a produção de
borracha. A entrada de recursos externos contribuiu para o fortalecimento
da indústria nacional e o crescimento
econômico das décadas seguintes, por
meio da estratégia de industrialização
por substituição de importações. Foi
nesse contexto que foi criada no Brasil a Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN), em Volta Redonda, inanciada
com recursos do Eximbank, que se tornou um dos símbolos dessa cooperação.
A participação brasileira no conlito
foi além da declaração de guerra e da
formação de alianças. Brasil e México
Mortos
Fonte: Associação Nacional dos Veteranos da FEB, 2015.
Vale do rio
Marano
Fonte: Castello Branco, 1960.
foram os únicos países da América Latina que enviaram tropas para a guerra
e, no caso brasileiro, a mobilização de
combatentes foi expressiva. A entrada
na guerra provocou a mudança do centro de organização de defesa no Brasil
do Sudeste para o Nordeste, onde estavam localizadas as principais bases
militares, com destaque para a base de
Natal, no Rio Grande do Norte. Data
desse período o estabelecimento do
Ministério da Aeronáutica e da Força
Aérea Brasileira (FAB), em 1941. Além
disso, foram criadas novas unidades de
combate, como a Força Expedicionária Brasileira (FEB), em que aproximadamente 25 mil brasileiros, entre
oiciais e médicos, representaram o
Brasil e os Aliados em solo europeu.
A FEB foi composta por oiciais provenientes de todas as regiões brasileiras,
principalmente do Centro-Sul, onde se
concentravam as divisões. Os cinco regimentos da FEB desembarcaram na Itália em 1944 e conquistaram importantes
vitórias, com destaque para a Batalha de
Monte Castelo, Montese, Castelnuovo e a captura de uma Divisão de Infantaria da Alemanha. A FEB deslocou-se
POSIÇÃO ESTRATÉGICA DO BRASIL
Uso das bases no Nordeste brasileiro e distância das rotas transatlânticas, em quilômetros, em 1942
5460
Os aviões não tin
voar diretamenteham autonom
para a Á
frica ia para
Labmundo, 2017
áp
Castelnuovo
mb
Dese arq u e e m N
Labmundo, 2017
*DF
SP
MG
RJ
RS
PR
SC
BA
**TO
PE
CE
PB
ES
RN
PA
SE
AL
MA
GO
AM
PI
Baixas da Força Expedicionária Brasileira, por batalha,
entre 1944 e 1945
de Nápoles ao vale do Rio Reno, combatendo em duas frentes e capturando
mais de 15 mil prisioneiros adversários.
A quantidade de baixas entre as tropas brasileiras, com a estimativa de 443
mortos, a maior parte das divisões de infantaria, gerou mobilizações dentro das
Forças Armadas pelo reconhecimento dos combatentes e por demandas de
melhorias e reestruturações no sistema
de defesa brasileiro. Cabe ressaltar que
a presença ativa no conlito credenciou
o país a participar da formação da nova
ordem do pós-Guerra.
A vitória dos Aliados consolidou o sistema da Guerra Fria com dois grandes
polos de poder, os EUA e a União Soviética. No período que se seguiu, o sistema internacional passou por mudanças
signiicativas, com a criação de organizações multilaterais, o surgimento de
novos Estados, resultante dos processos
de descolonização, e o estabelecimento
do sistema hemisférico de defesa, sob a
hegemonia dos EUA. O Brasil teve destaque nesse período, ao aliar crescimento econômico interno, fortalecido pelos
recursos recebidos durante a guerra, e
protagonismo externo, ao ser um dos
países convidados a integrar as Conferências do pós-Guerra, com destaque
para a Conferência de São Francisco,
na qual foi criada a ONU. Todavia, a
expectativa maior do governo brasileiro, em função da cooperação no esforço de guerra, a obtenção de um assento
permanente no Conselho de Segurança,
não foi concretizada.
Espaço aéreo com limitação
ao voo de aeronaves de
guerra dos Aliados
Rotas transatlânticas
dos Aliados
Fontes: Antonucci, 2007; Warner, 1938.
VEJA TAMBÉM:
31 0 0
Natal 300
1000 km
Labmundo, 2017
Países neutros
2984
2936
Países do Eixo ou
controlados pelo Eixo
Colônia, conflitos e expansão territorial p. 12
República e desafios geoestratégicos p. 16
República (Atlas da PEB) p. 18
Nova ordem mundial (Atlas da PEB) p. 22
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
21
Guerra Fria,
intervenções
e golpes militares
A Guerra Fria corresponde ao período histórico no qual a política internacional esteve dividida por um conlito
ideológico entre socialismo e capitalismo, capitaneados por duas superpotências globais. A historiograia, apesar da
falta de consenso, costuma demarcar o
início e o im de tal período em, respectivamente, 1946 e 1991. Concluída a Segunda Guerra Mundial, o resultado das
conferências de paz, além da criação das
Organização das Nações Unidas, foi a
divisão da Alemanha, da Europa e do
mundo em áreas de inluência correspondentes às potências que derrotaram
Alemanha, Itália e Japão. As esferas de
inluência na política internacional tinham seu centro, respectivamente, nos
EUA e na URSS. No plano regional latino-americano, a Guerra Fria implicou, entre outros, na criação do sistema
interamericano (TIAR em 1947 e OEA
em 1948), de natureza política e de segurança, além de uma série de intervenções militares e de ingerências por
agentes de inteligência dos EUA nos governos da região: os casos da Guatemala (1954) e da República Dominicana
(1965) são os mais expressivos. Neste segundo, o Brasil, sob o primeiro governo
militar de Castelo Branco, participou
inclusive mediante envio do segundo maior efetivo de tropas, depois dos
EUA. Importante notar que, em 1965,
o Congresso estadunidense reconheceu
o direito de os EUA intervirem militarmente em qualquer país da região.
É possível dizer que a Guerra Fria teve
várias fases. A primeira, entre 1948-1953,
foi marcada por forte tensão, quando a URSS tentou bloquear o acesso a
INTERVENÇÃO E INSTABILIDADE
Quantidade de golpes militares, por país e período, entre 1946 e 1991
de 1946 a 1950
de 1951 a 1955
de 1971 a 1975
de 1976 a 1980
de 1956 a 1960
de 1981 a 1985
de 1961 a 1965
de 1966 a 1970
de 1986 a 1991
Quantidade
de golpes
4
2
1
Fonte: Marshall et al, 2014.
Labmundo, 2017
2000 km
GOLPES MILITARES NA AMÉRICA LATINA
Total de golpes militares, por país, entre 1946 e 1991
8
*A fonte usada considera que houve dois golpes
militares no Brasil: 1- o Contra-Golpe de Marechal
Lott, em 1955; e 2- o Golpe Civil-Militar, em 1964.
6
4
22
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
a
bi
Ch
ile
ôm
Cu
ba
Labmundo, 2017
Fonte: Marshall et al, 2014.
Co
l
u
Pa
ra
gu
ai
Gu
at
em
al
a
Eq
ua
do
El
r
Sa
lv
ad
or
Ho
nd
ur
as
Su
rin
am
e
Do Re
m pú
in b
ica lic
n a
Pa a
na
m
á
Br
as
i
l*
Ve
ne
zu
el
a
Ur
ug
ua
i
a
iti
Pe
r
Ha
nt
in
Bo
Ar
ge
lív
ia
2
Berlim Ocidental e, em resposta, o Ocidente criou um mecanismo de segurança coletiva, a OTAN. Também nesse
período se instaurou a bipolaridade
nuclear, já que a primeira ogiva atômica soviética foi detonada em 1949. Na
Ásia, o bloco socialista também ganhou
considerável força quando uma revolução comunista foi bem sucedida na
China em 1949, fundando a República Popular da China e na península da
Coreia uma guerra foi delagrada entre
o norte, socialista, e o sul, capitalista.
Entre 1954-1958, ocorre um período de
distensão no conlito bipolar: a morte
de Josef Stalin, líder da União Soviética,
seguida pelo processo de desestalinização comandado por Nikita Kruschev,
são as principais razões. Entre 1959 e
1962, as tensões voltam a escalar: na
América Latina, uma experiência revolucionária de orientação socialista é vitoriosa em Cuba, país até então
considerado sob inluência direta dos
EUA.O mundo chegou à beira do conlito nuclear quando a URSS, aliada de
Cuba, decidiu armazenar, naquela ilha,
mísseis nucleares que poderiam, se lançados, alcançar as principais cidades estadunidenses.Com a solução pacíica
da chamada “Crise dos Mísseis”, o conlito bipolar ganhou novos contornos,
de coexistência pacíica. Este período,
coincidente com a complexiicação da
política internacional e também a tentativa de criação de vias alternativas à
bipolaridade, – por exemplo, o Movimento dos Países Não Alinhados e a
emergência de lideranças do Terceiro
Mundo – perdurou de 1963 ao im dos
anos 1970.
O período que põe im à Guerra Fria
(1979-1990), denominado pela historiograia do período como “Segunda Guerra Fria”, revelou um aumento
nas tensões entre União Soviética e Estados Unidos. São marcas dessa época
a retórica de competição constantemente propagada pela liderança política estadunidense e materializadas
em projetos como o “Guerra nas Estrelas”. Ressalte-se que conlito militar entre as duas superpotências, de
fato, jamais chegou a ocorrer nas décadas de bipolaridade mundial. A instabilidade política e os conlitos foram
projetados para os países do Terceiro
Mundo. Há um paradoxo na Guerra
Fria, conforme mencionam especialistas no tema: justamente nos períodos
de diminuição das tensões entre Estados Unidos e União Soviética é possível veriicar um padrão mais intenso
HISTÓRICO DA DEFESA NO BRASIL
de intervenções – militares ou sob o
comando da Agência Central de Inteligência – dos Estados Unidos em países do Terceiro Mundo. Casos como
o de El Salvador nos anos 1980, em
que os EUA patrocinaram esquadrões
da morte para apoiar um dos lados da
guerra civil ou da intervenção armada
dos EUA em Granada em 1983 não são
isolados, bastando lembrar a sangrenta guerra do Vietnã, que teve repercussões importantes tanto na política
doméstica, quanto na política externa
dos EUA.
RESISTÊNCIA ARMADA
Movimentos de insurgência urbana e rural na América Latina, por país e período, entre 1956 e 1991
de 1956 a 1960
de 1961 a 1965
de 1966 a 1970
de 1971 a 1975
de 1976 a 1980
2000 km
de 1981 a 1985
de 1986 a 1991
Quantidade total de movimentos armados por pais,
entre 1956 e 1991
40
30
20
10
Países com resistência
armada no período
0
Ho Bolí
n v
R. E du ia
Do qu ras
m ad
i
Co nic or
st ana
aR
ic
C a
M uba
éx
ic
Ha o
Ve P iti
e
El nez ru
S a ue
Ni lva la
c a do
rá r
gu
Ar Br a
ge as
n il
Ur tin
u a
Pa gu
ra ai
P g
Gu an uai
at am
Co em á
lô ala
m
bi
a
Labmundo, 2017
O contexto da Guerra Fria, mais especiicamente o esquema internacional
de adesão e resistência às esferas de inluência das superpotências, representa
dimensão fundamental para compreender o papel atribuído à defesa nos
países do Terceiro Mundo, em especial a função exercida pelos militares.
O conlito ideológico Leste-Oeste foi
assimilado pelas lutas políticas locais,
inclusive aquelas relacionadas à libertação nacional contra o colonialismo e,
historicamente, é possível observar um
considerável número de intervenções
dos militares nos regimes políticos de
países no Terceiro Mundo, em especial
na América Latina. Ao longo do período compreendido entre 1946 e 1991,
foram contabilizados 63 golpes militares na América Latina. Nesse contexto, o Golpe de 1964, no Brasil, foi um
dos vários movimentos de ação militar
na política patrocinados por interesses
do governo dos Estados Unidos e pode
ser compreendido no quadro mais amplo dos relexos não tão frios da Guerra Fria, no qual se insere o ciclo de
regimes militares na região (Argentina, Uruguai e Chile). Tal ciclo esteve
estreitamente associado às dinâmicas
de segurança hemisférica no âmbito da
Guerra Fria. Também na chave da bipolaridade mundial, pode-se observar
Fontes: Wickham-Crowley, 1991; Ellner, 1996; Jiménez, 2006; McAllister, 2010; Governo do Peru, 2003; Gaspari, 2014; Governo
do Brasil, 2014; Carranza, 2007; Camp, 2011; Churchill, 2010; Peschanski, 2013; Tristán, 2008.
o surgimento de diversos movimentos de resistência armada - muitos deles com inspiração ideológica e apoio
socialista - como resposta ao endurecimento dos regimes políticos na região.
Na América Latina, esfera de inluência dos EUA, a interpretação dos líderes políticos dos regimes autoritários
com relação à inalidade da defesa nacional era quase unívoca: purgar os
respectivos países da inluência socialista, materializada na luta contra a resistência armada. É nesse contexto que
se insere a profunda repressão política perpetrada pelos militares latino-americanos, sob a égide da doutrina de
contrainsurgência patrocinada pelos
Estados Unidos e internalizada pelas
doutrinas de segurança nacional. Cabe
menção especial a Operação Condor,
esquema de cooperação entre as ditaduras militares dos países do Cone Sul,
em especial Argentina, Brasil, Chile e
Uruguai desvelado, entre outros, pelos esforços da Comissão Nacional
da Verdade estabelecida pelo governo
Brasileiro (2011-2014). Pela Operação
Condor, durante os anos 70 e 80, estes e outros países trocavam informações e expertise objetivando o combate
aos movimentos armados de oposição
aos regimes autoritários. Por meio desta, foram cometidas diversas violações
dos direitos humanos como assassinatos políticos e tortura. Tais iniciativas,
sugerem a documentação e a historiograia, contaram com reiterado apoio
inanceiro e ideológico do governo dos
Estados Unidos da América, sob a justiicativa do apoio à luta contra o bloco socialista.
COOPERAÇÃO REPRESSIVA
Países participantes da Operação Condor,
entre 1975 e1985
2000 km
INTERVENÇÕES DOS EUA
Participante desde 1975
Países que sofreram ações militares e da CIA no Terceiro Mundo, por período entre 1945 e 1991
Participante desde 1978
Fonte: Comissão Nacional da Verdade, 2014.
Labmundo, 2017
Apoio técnico e financeiro
1000 km
Segunda Guerra Fria (1979 - 1991)
Distensão (1963 - 1978)
Coexistência Pacífca (1954 - 1962)
Início da Guerra Fria (1945 - 1953)
Fonte: BLUM, 2003; Comissão Nacional da Verdade, 2014.
Labmundo, 2017
VEJA TAMBÉM:
República e desafios geoestratégicos p. 16
Segunda Guerra p. 20
República (Atlas da PEB) p. 18
Nova ordem mundial (Atlas da PEB) p. 22
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
23
Capítulo 2:
Enara Echart Muñoz
BRASIL,
DISTRIBUIÇÃO DE
PODER E
ORDEM GLOBAL
Enara Echart Muñoz
A discussão sobre as credenciais do Brasil para ser potência regional e mundial,
muito presente na década de 1970, voltou à tona no início do século XXI. Em um
contexto global e regional totalmente distinto do período da Guerra Fria –
marcado por fenômenos tais como a ascensão da China e sua entrada econômica
na América do Sul, a distensão em direção à uma ordem mais multipolar, a
persistência das assimetrias estruturais entre o Norte e o Sul ou ainda a onda de
governos progressistas na região – o governo brasileiro passou a buscar maior
protagonismo inclusive no regime de segurança. O pleito por um assento permanente no Conselho de Segurança na Organização das Nações Unidas e a liderança
na Minustah são exemplos disso. Ao longo do século XX, as participações nas duas
Guerras Mundiais, bem como as capacidades militares, econômicas, demográficas
e territoriais do país não foram suficientes para assegurar a graduação do Brasil,
nem para garantir o reconhecimento de seu estatuto como potência por seus pares
na região e pelos Estados centrais. Na agenda de segurança, a estratégia brasileira
desde a metade do século XX tem sido reforçar o multilateralismo, defender os
princípios westfalianos de soberania e não ingerência e condenar o congelamento
de poder mundial, muito embora este terceiro elemento tenha sido fortemente
relativizado com a adesão do Brasil ao regime de não proliferação nuclear em
1998. A partir de 2003, o governo brasileiro intensifica a busca por maior influência e requalifica o esforço para ampliar suas capacidades materiais e para ter
participação mais assertiva em missões de paz e outros assuntos relacionados à
segurança mundial, demonstrando-se disposto a arcar com os custos relativos a
uma maior responsabilidade. Este capítulo analisa o lugar do Brasil no mundo,
suas capacidades materiais e políticas, suas fragilidades, assim como sua posição
política nas principais agendas de segurança.
Capacidades
e assimetria
estrutural
PODER DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO
Países cujas pesquisas tiveram mais
citações em documentos científicos,
em milhares, entre 1996 e 2014
Países que mais produziram documentos científicos, em
milhares, entre 1996 e 2014
2
4
6
8
EUA
China
Reino Unido
Alemanha
Japão
França
Canadá
Itália
Índia
Espanha
Quantidade de citações
em milhões
177,4
Austrália
Coreia do Sul
Rússia
24,7
2,9
Holanda
Brasil
Suíça
Labmundo, 2017
Taiwan
Suécia
Polônia
Turquia
Fonte: sítio web Scimago, 2016.
Países que mais ingressaram com pedidos de patente, em milhões, entre 2005 e 2014
10
20
30
Japão
EUA
Coreia
do Sul
Alemanha
Rússia
Reino
Unido
França
Irã
Índia
Itália
Coreia
do Norte
Canadá
Tradicionalmente a deinição de poder é desdobrada em três componentes:
posse de capacidades mateBrasil
riais; poder como inluênEspanha
Polônia
cia e poder sobre resultados.
Turquia
A capacidade bélica, tanto
Ucrânia
para atacar quanto para se
Austrália
defender,
é um importante
Holanda
fator de poder na política
internacional. O poder de
um Estado varia de acordo com elementos materiais (fatores
econômicos, demograia, território, recursos naturais, tecnologia, logística) e
simbólicos ou ideacionais (cultura, redes de conhecimento, difusão de políticas públicas, cooperação técnica). Se
26
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Fonte: Banco Mundial, 2016.
Labmundo, 2017
China
os Estados puderem moldar tais dimensões de acordo com suas vontades, a inluência deles será ainda mais duradoura
e intensa no sistema internacional. Associado à noção de poder estatal, o conceito de capacidades estatais é muito
amplo na literatura de relações internacionais, incorporando elementos políticos, institucionais e administrativos
de um Estado-nação. A capacidade estatal consiste no conjunto de instrumentos e instituições de que dispõe o
Estado para a consecução de seus objetivos estratégicos.
Para a construção de um diagnóstico
mais acurado da distribuição de poder
no sistema internacional e nele situar a
posição do Brasil, podem ser usadas informações sobre a produção intelectual
e a capacidade de inovação (produção
de artigos cientíicos, registro de patentes, por exemplo) dos Estados. Também
são de uso corrente dados sobre as desigualdades econômicas entre as diferentes sociedades (e no seu interior). De
modo mais restrito, porém, as capacidades materiais e o poder estatal não são
conceitos idênticos. Ambos estão muito associados, mas o poder estatal é mais
abrangente, razão pela qual a capacidade estatal pode ser considerada uma
variável para se aferir a imagem da distribuição de poder no sistema internacional. O índice de capacidades nacionais,
desenvolvido originalmente pelo projeto Correlates of War, inclui a produção
de ferro e aço, população urbana, população total, total de gastos militares, total de pessoal militar e total da produção
energética de um país com relação ao
total de recursos disponíveis no sistema
internacional. Este indicador percentual demonstra as capacidades de forma relacional no sistema internacional,
sua composição, mas também os limites e os condicionamentos da ação dos
Estados. Como qualquer medida quantitativa, este índice não capta a realidade social perfeitamente, mas pode ser
uma opção considerá-lo criteriosamente na pesquisa e na interpretação do poder dos Estados.
O Brasil pode ser considerado uma potência regional com ambições globais
devido a suas capacidades econômicas
(PIB nominal, mercado doméstico dinâmico, parque industrial diversiicado,
setor agropecuário competitivo, etc.),
territoriais (dimensões continentais,
sem grandes disputas com vizinhos),
demográicas (quinta maior população do mundo) e políticas (capaz de elaborar e difundir políticas públicas de
inclusão e assistência social, de desenvolvimento urbano, etc.). Além disso, a
composição demográica e a diversidade étnico- cultural podem ser consideradas como dimensões facilitadoras da
relação do Brasil com outras sociedades do mundo. Todavia, a concentração
geográica da população (majoritariamente nas grandes cidades da costa
atlântica) e as profundas desigualdades
sociais são elementos que diicultam a
realização plena dessa capacidade potencial, além de impedirem que outros
países percebam e reconheçam o Brasil como uma potência. A concentração de renda e de terras, as altas taxas de
analfabetismo e de mortalidade infantil, parcelas signiicativas da população
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
DIVISÃO NORTE-SUL, DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADES INTERNAS
Índice de desenvolvimento humano, por país, em 2014
0,944
Muito alto
Baixo
0,700
0,944
0,550
0,7800
Labmundo, 2017
Médio
0,348
Sem dados
disponíveis
Fonte: Sítio web do Banco Mundial, 2014.
0,700
0,550
300 km
0,348
Fonte: PNUD, 2013.
Labmundo, 2017
0,800
Alto
1000 km
Municípios brasileiros por IDHM, em 2010
DESIGUALDADE ECONÔMICA NO MUNDO E NO BRASIL
PIB por paridade de compra e per capita, por país, em dólares em 2014
Municípios brasileiros por PIB per capita, em
milhares de dólares, em 2010
Em milhares
per capita
140,6
Em milhares
per capita
50
10
Fonte: sítio web Banco Mundial, 2016.
5
5
0,286
1
0,1
Sem dados
disponíveis
sem acesso adequado a saneamento básico, água tratada, tratamento médico
e educação, bem como problemas de
infraestrutura e logística fragilizam a
construção estratégica do Brasil como
potência, assim como diicultam o
combate às mais diversas ameaças à segurança do país.
Nos primeiros quinze anos do século
XXI, o Brasil apresentou avanços em
diversas áreas sociais e econômicas. No
âmbito econômico, pode-se citar a estabilidade macroeconômica nos anos
1990 e a equalização da dívida externa nos anos 2000. No plano social, foram implementadas políticas públicas
de segurança alimentar, de redução da
pobreza e desigualdade, bem como de
inserção no sistema educacional. Ainda
assim, há um longo caminho para que o
país supere suas fragilidades. O impacto das desigualdades na política de defesa e segurança do Brasil é signiicativo.
A concentração populacional, de riqueza e de infraestrutura no centro-sul do
país agravam um problema logístico
de transporte e a defesa das fronteiras.
Uma população com déicit educacional pode inviabilizar a formação
25
10
5
0,286
Fonte: IBGE, 2011.
300 km
CAPACIDADES NACIONAIS NO SISTEMA MUNDO
Distribuição do poder material dos Estados, por % do Índice de Capacidades Nacionais, em 2012
0,2181166
0,03
0,02
0,01
0,000000244
1000 km
Sem dados
disponíveis
Fontes: COW, 2017; Russett, 1972.
de pessoas capacitadas para que o país
atinja maiores níveis de desenvolvimento. O acesso precário à saúde e a condições básicas de higiene comprometem
o combate a doenças e epidemias. A falta de infraestrutura e a concentração de
terras podem aumentar o desmatamento e a poluição. A desigualdade econômica facilita o aliciamento de indivíduos
para atuar no tráico de pessoas, de armas ou de entorpecentes. Ou seja, as desigualdades internas no Brasil diicultam
Labmundo, 2017
Somente representados valores
acima de 0,1 bilhões de dólares
140,6
50
18
Labmundo, 2017
25
Labmundo, 2017
1000 km
tanto o acúmulo de capacidades materiais e ideacionais, como também prejudicam a percepção que outros atores
internacionais têm do país.
VEJA TAMBÉM:
Capacidades militares p. 28
ONU e Conselho de Segurança p. 34
Epidemias p. 42
Segurança e defesa cibernética p. 48
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
27
Capacidades
militares e
competição global
CAPACIDADE BÉLICA
Quantidade total de peças de artilharia,
em milhares, em 2016
Quantidade total de tanques, em milhares,
em 2016
8
a
Labmundo, 2016
in
a
di
Ch
Fr
an
Ín
ça
ia
Fonte: IISS, 2016.
EU
A
4
UnRein
id o
o
doÁfri
Su ca
l
Br
as
il
Rú
ss
ia
2
a
6
in
ss
4
Ch
EU
A
Rú
doÁfri
Su ca
Fr l
an
ça
UnRein
id o
o
Br
as
il
Ín
di
a
6
Fonte: IISS, 2016.
Quantidade total de cruzadores, fragatas e
destroyers, em 2016
Quantidade total de submarinos de ataque,
em 2016
80
40
60
40
20
Labmundo, 2016
EU
A
UnRein
id o
o
Ín
di
a
Rú
ss
ia
Ch
in
a
doÁfri
Su ca
l
Br
as
il
Fr
an
ça
EU
A
Ch
in
a
ia
ss
Rú
ça
UnRein
id o
o
Ín
di
a
Fr
an
Br
as
il
doÁfri
Su ca
l
20
Fonte: IISS, 2016.
Fonte: IISS, 2016.
Quantidade total de navios porta-aviões,
em 2016
Quantidade total de aeronaves táticas de asa fixa,
em milhares, em 2016
Ao contrário do que as teorias sobre
o im da Guerra Fria previam, os gastos militares entre 1989 e 2014 aumentaram substancialmente. Salvo países
da Europa ocidental e casos especíicos, os atores mais relevantes no sistema internacional incrementaram
sobremaneira seus gastos militares,
com destaque para a República Popular da China, que empreendeu um
sólido processo de aparelhamento militar em todas as áreas. Os EUA, país
responsável pelo maior gasto militar
do mundo, também incrementaram
seu investimento no aparato de defesa
em 4,5% nesse período. A Rússia, potência militar durante a Guerra Fria, é
praticamente o único caso de declínio
acentuado dos gastos militares. Potências médias como Colômbia, Nigéria,
Arábia Saudita e Índia também apresentaram taxas superiores a três dígitos.
Do ponto de vista do gasto militar per
capita, os EUA, países da Europa ocidental, Índia, República Popular da
China e Japão são os destaques. Considerada outra medida clássica em estudos de defesa, a porcentagem dos
gastos militares em relação do produto interno bruto (PIB), o valor médio
para o Brasil é de 1,5%. O Brasil necessitaria, segundo estimativas de seu
próprio governo, gastar 2% de seu PIB
em defesa, valor nominalmente similar ao dos EUA e de democracias ocidentais. Isso permitiria a obtenção de
maior aprestamento às forças armadas
para o cumprimento de suas missões,
além de garantir aumento na taxa de
investimento em equipamento militar,
contribuindo para solucionar o problema da obsolescência de vários elementos do inventário brasileiro.
Observados os dados sobre o pessoal militar, o Brasil destaca-se na região
sul-americana, mas apresenta números inferiores a potências
militares como República
7
3
10
PODER NUCLEAR
Estimativa do inventário total de
ogivas nucleares, em milhares,
em 2015
2
5
6
3
1
28
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
a
in
ia
EU
A
Ch
ss
Rú
do C
Noore
rte ia
Isr
Pa ael
qu
ist
ão
Ín
di
a
UnRein
id o
o
Ch
in
a
Fr
an
ça
EU
A
Rú
ss
ia
Fonte: SIPRI, 2015.
Labmundo, 2017
Fonte: IISS, 2016.
Labmundo, 2017
Fonte: IISS, 2016.
1
doÁfri
Su ca
l
Br
as
il
Fr
an
ça
UnRein
id o
o
Ín
di
a
a
EU
A
ia
in
Ch
di
a
Rú
ss
Ín
UnRein
id o
o
doÁfri
Su ca
l
Br
as
il
Fr
an
ça
2
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
GASTOS MILITARES
PRINCIPAIS GASTOS MILITARES
Gastos totais em bilhões de dólares e per capita em dólares, por país, em 2016
Evolução dos gastos militares, em bilhões de
dólares (valor constante de 2011), por país,
entre 1989 e 2014
577,5
190,9
0,4
Gastos per capita,
em dólares
2714
145,0
1773
540
169
0
22,3
0,007
1000 km
Fonte: IISS, 2017.
Sem dados
disponíveis
Labmundo, 2017
604,5
+
94
China
,1%
04
+4
Colômbia
+3
EFETIVO MILITAR
Quantidade estimada de pessoal militar, em milhares de indivíduos, por país, em 2016*
%
5,6
Nigéria
+2
7%
61,
4
73,
%
Arábia
Saudita
+ 16
1,9 %
Índia
Irã
3,1
+ 13
%
Fontes: IISS, 2016; IISS, 2015.
2.333
439
1
*Os dados per capita
são relativos ao ano
de 2015.
Popular da China, EUA, Rússia e
Índia.
TNP, trinta anos depois da assinatura
do acordo em Nova York.
Ainda como um relexo da Guerra Fria
e apesar dos esforços para desmantelamento do material antigo, Rússia e
Estados Unidos da América continuam a ter os maiores arsenais nucleares. Reino Unido, cujo primeiro teste
foi em 1952 e França, em 1960, são as
potências europeias ocidentais com armas nucleares. A República Popular da
China realizou seu primeiro teste em
1964. Os países que mais recentemente obtiveram armas nucleares são Israel
(1966), Índia (1974), Paquistão (1998),
Coréia do Norte (2006) e a possibilidade de nuclearização do Irã preocupa
a comunidade internacional.
A questão do equipamento militar é
particularmente sensível quando comparamos o caso brasileiro a potências
ocidentais ou aos demais BRICS. O
Brasil destaca-se apenas no número de
peças de artilharia e carros de combate.
No restante dos indicadores selecionados, o Brasil é apenas superior à África
do Sul. Estes dados revelam, também,
que, à exceção do quesito navios aeródromo – no qual a unipolaridade estadunidense é clara - a República Popular
da China possui capacidade bélica considerável e crescente, sobretudo quando
comparada aos EUA. Navios aeródromo, no sistema internacional, signiicam capacidade de projeção de poder,
evidenciada pela divisão estadunidense de frotas navais por região no mundo.
Durante a ditadura civil-militar, o Brasil chegou a buscar o desenvolvimento de armas nucleares, mas aboliu seu
programa bélico nuclear no contexto da Nova República (1990), adotando o uso da energia nuclear para ins
pacíicos e colaborando com medidas
de criação de coniança com a Argentina, vizinho que passou por processo semelhante. Em 1998, o Brasil ratiicou o
Turquia
Argentina
Brasil
Israel
EUA
Reino
Unido
+ 65,5 %
+ 63,7 %
+ 60,2 %
+ 29,5 %
+ 4,7 %
- 6,5 %
França
- 11,0 %
África
do Sul
- 35,8 %
URSS/
Rússia
- 73
,3 %
VEJA TAMBÉM:
Capacidades e assimetria estrutural p. 26
Participações em operações de paz p. 36
Problema mundial das drogas ilícitas p. 46
Segurança e defesa (Atlas da PEB) p. 46
1989
Fonte: SIPRI, 2015b.
2002
2014
Labmundo, 2017
1000 km
47,31
4,45
2,76
1,24
0,22
Labmundo, 2017
Militares por
1.000 habitantes
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
29
Mecanismos
internacionais de
segurança e defesa
REGIME DE NÃO PROLIFERAÇÃO DE ARMAS QUÍMICAS
Países signatários da CWC, por data de ratificação, entre 1993 e 2015
2015
2005
1000 km
2000
1993
Fontes: United Nation Treaty Collection, 2016; Arms Control Association, 2016.
Não assinou
Sem dados
disponíveis
Obs.: Israel foi o único país que assinou
o tratado, mas não ratificou.
Labmundo, 2017
2010
REGIME DE NÃO PROLIFERAÇÃO DE ARMAS BIOLÓGICAS
Países signatários da BWC, por data de ratificação, entre 1972 e 2013
2013
1990
1000 km
1980
1972
Assinou, mas não ratificou
Não assinou
Sem dados disponíveis
Fontes: United Nation Treaty Collection, 2016b; Arms Control Association, 2016.
Labmundo, 2017
2000
REGIME DE CONTROLE DE TECNOLOGIA DE MÍSSEIS
1000 km
Fonte: Sítio web do Missile Technology Control Regime (MTCR), 2017.
30
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Estados-membros
Adesão em análise
pelos membros ativos
Adesão unilateral
Não aderiu
Labmundo, 2017
Estados membros do regime, em 2017
Desde as arbitragens para deinir as
fronteiras e as ações para ocupar o
território nacional, a preocupação com
a defesa foi recorrente, mas tornou-se
mais evidente após a Segunda Guerra
Mundial. Coerente com os princípios
diplomáticos do país, o Brasil
defendeu no sistema internacional
diversas medidas para garantir um
relacionamento pacíico entre os
Estados. Entre os atos internacionais
sobre segurança e defesa do qual o
Brasil faz parte encontram-se tratados
do Regime de Controle de Tecnologia
de Mísseis (MTCR), a Convenção
de Armas Químicas (CWC) e a
Convenção de Armas Biológicas
(BWC). O banimento dessas armas
é de interesse direto do Brasil, para
conservar seu entorno regional como
área segura.
É possível observar que o comportamento internacional brasileiro foi
acompanhado de mudanças no nível
doméstico. Na primeira metade do século XX, as questões relativas à defesa
eram lideradas pelos diplomatas. Com
os processos de redemocratização, observou-se um progressivo adensamento dos órgãos internos de defesa, o que
permitiu um envolvimento maior dos
militares e dos civis especialistas no
assunto. Na década de 1990, foram
criados a Secretaria de Assuntos Estratégicos (em 1990) e o Ministério da
Defesa (em 1999), bem como elaborada a Política de Defesa Nacional. Em
1999, foi proposta a criação do Livro
Branco da Defesa Nacional, que sintetiza os princípios e práticas que regem
a ação brasileira. O livro foi lançado
em 2012, quando já estavam em vigor
a Estratégia Nacional de Defesa e a Lei
da Nova Defesa.
O controle civil do Ministério não
signiicou que os militares tenham
sido excluídos da condução da defesa
nacional. Eles são parte de diversas
secretarias e órgãos de comando, além
de permanecerem ativos por meio
de instituições importantes, como a
Escola Superior de Guerra (ESG) e
demais escolas de estudos militares.
O fortalecimento desse sistema
institucional de defesa estimulou
o Brasil a participar de iniciativas
regionais, como as Conferências
Ministeriais de Defesa das Américas, e a
propor a criação do Conselho de Defesa
Sul-americano, vinculado à Unasul.
Esses movimentos acompanham uma
tendência de regionalização do tema,
percebida também na Europa, por
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
CRONOLOGIA DAS POLÍTICAS DE DEFESA NOS PLANOS INTERNACIONAL, REGIONAL E DOMÉSTICO
1988
1942
Constituição estabelece
o Conselho de
Defesa Nacional
1967
Estabelecimento da Junta Interamericana de Defesa
Lei define crimes contra a
segurança nacional
1943
Criação da Força Expedicionária Brasileira
1989
1968
1947
Criação do TIAR
1969
1947
1948
Tratado de Tlatelolco
Brasil denuncia tratado
militar com a Índia
Criação da OTAN
1949
China formula a Estatégia Militar para Defesa Ativa
1954
Instituição da Patrulha Costeira
1959
Revolução Cubana
Eventos internacionais
Eventos regionais
Eventos domésticos
1964
Estabelecimento do Serviço Nacional de Informação
1960
1966
França retira-se do comando da OTAN
2008
I Exercício Naval
IBSA-Mar
Criação do
Conselho de
Defesa da Unasul
2010
Nova Lei de
Defesa
2012
Livro
Branco
da
Defesa
1999
Criação do Ministério
da Defesa
1985
Declaração Conjunta
sobre Energia Nuclear
de Brasil e Argentina
1980
1970
1995
Lançamento da
Política de Defesa Nacional
Criação do Sistema de Defesa
Aeroespacial Brasileiro
Golpe Civil-Militar no Brasil
2008
1996
1980
1964
Criação da Comissão de
Segurança Hemisférica
Criação da Câmara de Relações
Exteriores e Defesa Nacional
EUA e URSS assinam acordo de
limitações de armamentos
1955
Criação do
Sistema Nacional
de Mobilização
1996
1979
Japão cria a Agência de Defesa
2008
I Conferência Ministerialde
Ministerial de
Defesa das Américas
Brasil denuncia tratado
militar com os EUA
Acordo de Assistência Militar entre Brasil e EUA
Estratégia Nacional
de defesa
1995
1977
1952
2008
Assinatura do Acordo Quadripartite
Acordo Nacional
Brasil-Alemanha
EUA lançam o Ato Federal de Defesa Civil
Política Nacional
de Defesa
1991
1975
1950
2005
Criação da ABACC
I Conferência de
Exame do TNP
1949
Putin ratifica a Doutrina
Militar da Rússia
1991
1975
Criação da Escola Superior de Guerra
2000
Collor cria a Secretaria
de Assuntos
Estratatégicos
1974
1949
Convenção Interamericana para
a Transparência nas Aquisições
de Armas Convencionais
1990
Costa e Silva adota o Conceito
Estratégico Nacional
Índia cria o Ministério da Defesa
1950
Sarney refuta conceito de
soberania compartilhada
Tratado de Não Proliferação Nuclear
1999
1999
Criação da ABIN
1990
Labmundo, 2017
Eventos, entre 1942 e 2016
2015
Compra de caças
Gripen da
Suécia
2000
Fontes: Pinto, 2015; Stephen, 2011; Murray e Viotti, 1994; Livro Branco de Defesa Nacional, 2012; e sítio web da European Defense Agency, 2016.
Países do Norte
D
de éca
19 da
40
D
de éca
19 da
50
D
de éca
19 da
60
D
de éca
19 da
70
D
de éca
19 da
80
D
de éca
19 da
90
D
de éca
20 da
00
TO
TA
L
EUA
Reino
Unido
Suécia
América do Sul
Paraguai
Argentina
Guiana
Colômbia
China
Arábia
Saudita
Índia
Turquia
Timor
Leste
ONU
53
TOTAL
24
*O último acordo bilateral de defesa assinado pelo
Brasil foi depositado na ONU em 2005.
Fonte: sítio web da ONU, United Natios Treaty Collection, 2016.
entre as ações recentes, cabe ressaltar
a criação do Sistema Nacional de
Mobilização (Sinamob), liderado pelo
Ministério da Defesa para responder
a necessidades políticas, econômicas,
sociais e de defesa civil e militar.
1
Labmundo, 2017
A partir da década de 1980, o Brasil
diversiica seus parceiros nessa área, o
que é veriicado pelo adensamento de
parcerias com países do Sul geopolítico,
como China, Índia, Turquia e os países
da América do Sul. A Argentina se
destaca nessa relação, com a criação
da Agência Brasileiro-Argentina de
Contabilidade e Controle (ABACC) e
a assinatura do Acordo Quadripartite
com a AIEA, que institui um duplo
sistema de salvaguardas para o uso
da tecnologia nuclear. Os países
emergentes também aparecem como
parceiros de práticas de treinamento
militar, como Índia e África do Sul,
por meio dos exercícios navais do
IBSA-Mar. No plano doméstico,
Quantidade de acordos bilaterais de defesa ratificados pelo Brasil, por parceiro, entre 1942 e 2005
Outros países do Sul
No nível bilateral, o Brasil tem
participado de diversos tratados que
versam sobre defesa. Nas décadas
de 1940 e 1950, ainda devido aos
resquícios da participação brasileira na
Segunda Guerra Mundial, destacamse os acordos militares e de defesa
realizados com os Estados Unidos.
Durante as décadas de 1940, 1950,
1960 e 1970, quase a totalidade dos
tratados bilaterais de defesa ratiicados
pelo Brasil foram realizados com o
governo estadunidense, o que sugere
a inluência que a parceria dos EUA
representou para o estabelecimento
das políticas de defesa nesse período.
No entanto, destaca-se, em 1975, o
Acordo Nuclear Brasil-Alemanha,
destinado a equipar e desenvolver
tecnologia na usina Angra I.
TRATADOS DE DEFESA NACIONAL
OIs
meio da criação da Agência Europeia
de Defesa, e na Ásia, com a Reunião
dos Ministros de Defesa da ASEAN.
VEJA TAMBÉM:
Participações em operações de paz p. 36
Segurança cibernética p. 48
Cooperação regional em defesa p. 58
Segurança e defesa (Atlas da PEB) p. 46
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
31
Controle nuclear
e congelamento
do poder mundial
PROLIFERAÇÃO NUCLEAR
19
45
19
55
19
65
19
75
19
85
19
95
20
05
20
14
Quantidade total de ogivas nucleares, por país,
entre 1945 e 2014
EUA
REGIME DE NÃO PROLIFERAÇÃO NUCLEAR
Países signatários do TNP , por data de adesão, entre 1968 e 2015
1000 km
2015
1990
1980
1970
1968
Não ratificou
Obs.: A Coreia do Norte denunciou
o tratado em 2003.
Fonte: UNODA Treaty Database, 2016
Labmundo, 2017
URSS/
Rússia
URSS/
Rússia
Reino
Unido
Reino
Unido
Países signatários do Protocolo Adicional do TNP, em 2015
França
China
Israel
Assinou, mas não ratificou
Fonte: sítio web da AIEA, 2016
Não assinou
4760
Índia
300
O uso de armas nucleares ao inal da Segunda Guerra e o desenvolvimento da
tecnologia para uso bélico pelas grandes
potências geraram considerável preocupação quanto a sua proliferação. Sob
a liderança dos EUA e da URSS, posteriormente apoiados por Reino Unido, França e China, criou-se, em 1968,
o regime de não proliferação, desarmamento e uso pacíico da energia nuclear,
pilares do Tratado de Não Proliferação
de Armas Nucleares (TNP), em vigor
desde 1970. A duração inicial prevista era de 25 anos, indicando a opinião
vigente de que a erradicação da ameaça seria possível nesse curto espaço de
tempo. Em 1997, foi criado um Protocolo Adicional ao TNP, que permite a
iscalização das instalações de atividade
32
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
Protocolo em vigor
Labmundo, 2017
Paquistão
1000 km
nuclear nos países pela Agência Internacional de Energia Atômica.
1
Fonte: Noris; Kristensen, 2014.
Como o im da produção de armamentos nucleares não se tornou uma
realidade, os Estados comprometeram-se com a adoção de medidas adicionais de não proliferação. Em 1963,
ainda antes da assinatura do TNP, um
grupo representativo de Estados, incluindo a URSS e os EUA, assinou o
Tratado de Banimento Parcial dos Testes Nucleares, visando ao im dos testes
subaquáticos, na atmosfera e no espaço sideral. Na década de 1990, foi a vez
do Tratado de Banimento Completo
dos Testes Nucleares. EUA e Rússia assinaram, mas não ratiicaram o acordo,
que não se encontra em vigor até hoje.
Outras medidas de controle foram estabelecidas ao longo das décadas. Foram
elaborados tratados regionais de garantias coletivas sobre o não desenvolvimento de tecnologias nucleares para
ins bélicos, incluindo grande parte dos
países do Sul. Destaca-se o Tratado de
Tlatelolco, que trata da desnuclearização da América Latina e do Caribe,
contando com a adesão de todos os 33
países região. O Tratado foi aberto para
assinatura em 1968 e foi o primeiro a
promover a erradicação de armas nucleares em uma área densamente povoada. O Pacíico Sul, o Sudeste Asiático,
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
Do ponto de vista da defesa nacional, a
Constituição Federal brasileira veta o uso
de armas nucleares. O Brasil tem buscado, desde a década de 1970, avanços tecnológicos no campo da energia nuclear,
em especial no desenvolvimento de capacitação autônoma da tecnologia de
Área de Abrangência dos Tratados de ZLAN, em 2016
Tlatelolco (1967)
100 km
Labmundo, 2017
Rarotonga (1985)
Bangkok (1995)
Pelindaba (1996)
CANWFZ (2006)
Fonte: sítio web UNODA, 2016.
TRATADOS DE LIMITAÇÃO DE TESTES NUCLEARES
Países membros do Tratado de Banimento Parcial dos Testes Nucleares (assinado em 1963), em 2016
1000 km
Ratificou
Assinou, mas não
ratificou
Labmundo, 2017
A diplomacia brasileira é a favor da não
proliferação nuclear, mas questiona o
congelamento de poder decorrente que
perpetua a assimetria de poder. Ao propor compromissos diferentes para os
países nuclearmente armados e para os
que não possuem essa tecnologia bélica, esses tratados estabelecem pesos diferentes para os Estados-membros do
regime, ferindo o princípio da igualdade entre as nações no tocante às obrigações jurídicas na ordem internacional.
A ênfase desproporcional na não proliferação funcionaria como atenuante da
necessidade de estimular e monitorar o
desarmamento dos países nuclearmente armados. O Brasil assinou o TNP em
1998, trinta anos após o estabelecimento do acordo, utilizando como justiicativa durante esse período a assimetria
entre os Estados e o fato de já estar comprometido pelo Tratado de Tlatelolco.
O Brasil também se coloca contrário ao
Protocolo Adicional do TNP, que prevê
a inspeção dos locais de desenvolvimento de tecnologia nuclear por defender
que essa medida está em desacordo com
um dos pilares do próprio tratado, que
concerne ao direito dos Estados de elaborar a tecnologia para ins pacíicos. Os
esforços para restringir o uso bélico da
tecnologia nuclear avançaram, mas não
eliminaram a insegurança global. Mesmo com a vigência do TNP, alguns
Estados não assinaram o acordo e mantiveram seus programas nucleares, como
Israel, Paquistão e Índia. A Coreia do
Norte denunciou o TNP em 2003 e tem
realizado testes nucleares desde então.
O Irã não conirma o desenvolvimento
da tecnologia para ins bélicos, mas sofreu sanções internacionais, sob a justiicativa de falta de transparência. A cada
cinco anos, o TNP passa por uma Conferência de Exame, a im de fazer um balanço da implementação do acordo e
debater os principais desaios do regime.
Entre os temas ressaltados recentemente,
destaca-se a ameaça da obtenção de tecnologia nuclear por grupos não estatais.
ZONAS LIVRES DE ARMAS NUCLEARES
Não assinou
Fonte: UNODA Treaty Database, 2016.
Países membros do Tratado de Banimento Completo dos Testes Nucleares (proposto em 1996), em 2016
Ratificou
Assinou, mas não
ratificou
1000 km
Não assinou
Fonte: UNODA Treaty Database, 2016.
enriquecimento de urânio, programa
que foi bem-sucedido. Isso se evidencia
com o programa de desenvolvimento de
submarinos da Marinha do Brasil que foi
iniciado na década de 1980 e que desde
2013 trabalha na construção submarinos
de propulsão nuclear para a proteção do
litoral. Resultado de uma diretriz da Estratégia Nacional de Defesa, o PROSUB
instrumentaliza a prioridade ao setor nuclear na Marinha do Brasil. Bilateralmente, o Brasil participa da ABACC, um
mecanismo de controle conjunto com a
* O CTBT ainda não está em vigor.
Labmundo, 2017
a África, a Ásia Central e a Antártida
também são áreas protegidas por tratados de desnuclearização e consideradas
Zonas Livres de Armas Nucleares. A
Mongólia declarou-se, unilateralmente, como área livre de armas nucleares.
Argentina. No plano regional, a Unasul
reairma o princípio de manter a América
do Sul uma zona livre de armas nucleares
e apoia a utilização como fonte de energia para projetos de desenvolvimento.
VEJA TAMBÉM:
Capacidades militares p. 28
ONU e Conselho de Segurança p. 34
Cooperação regional em defesa p. 58
Economia, política e Congresso p. 82
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
33
Nações Unidas
e Conselho de
Segurança
Desde a Liga das Nações, o Brasil advoga pela conquista de um assento
permanente no principal órgão internacional relacionado à paz e à segurança. Inicialmente, o Brasil pleiteou
essa posição no Conselho da Liga e,
após a criação das Nações Unidas, no
Conselho de Segurança. Composto por cinco membros permanentes
e dez membros rotativos, eleitos regionalmente para mandatos de dois
anos, o Conselho de Segurança das
Nações Unidas (CSNU) é regido pelos Capítulos VI, VII e VIII da Carta
da ONU e possui entre suas prerrogativas a legitimidade para decidir sobre segurança e paz. A campanha do
Com o im da Guerra Fria, as demandas pela reforma do CSNU
se intensiicaram da parte dos países do Norte e do Sul. Nesse sentido, o Brasil formalizou uma aliança
com Japão, Índia e Alemanha, o G4,
para apresentar propostas de reforma do órgão, prevendo a inclusão
de dois países africanos com assento permanente na proposta. Outros
países elaboraram uma contraproposta por meio do Grupo Unidos
pelo Consenso, formado por Argentina, Paquistão, Coréia do Sul, entre
outros. Segundo eles, a criação de novos assentos permanentes continuaria a manter a assimetria de poder. A
ONU mostrou-se sensível às demandas e convocou o Painel de Alto Nível
para elaborar propostas de reformas.
O Painel, com participação do diplomata brasileiro João Clemente Baena
Soares, lançou a categoria de membro semipermanente, com mandatos de quatro anos e possibilidade de
reeleição. Entretanto, nada chegou a
ser levado à votação, devido à ausência de consenso entre os membros da
ONU sobre o formato e os membros.
O tema continua a ser discutido em
Brasil para atuar ao lado de Estados
Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia como membro permanente não é recente na diplomacia
brasileira. Entre os principais argumentos ressaltados pelo Brasil estão a
falta de representatividade do CSNU
no pós-Guerra Fria, suas credenciais
de país paciista e defensor do multilateralismo, sua participação como
membro fundador na ONU, sua posição de destaque regional e entre os
países do Sul e sua participação ativa
em outros órgãos relacionados com o
tema, como o Conselho de Direitos
Humanos e a Comissão para Construção da Paz.
REPRESENTAÇÃO NO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU
Quantidade de mandatos dos membros não permanentes, entre 1945 e 2016
1000 km
Países com mais
mandatos:
Japão - 11
Brasil - 10
Argentina - 9
Colômbia - 7
Índia - 7
Paquistão - 7
Labmundo, 2017
* A Arábia Saudita recusou
o posto em 2013.
11
6
1
** Antes da dissolução, a
Iugoslávia exerceu 3 mandatos.
Fonte: Sítio web do CSNU, 2016.
PRINCIPAIS PARTICIPAÇÕES DE MEMBROS NÃO PERMANENTES NO CONSELHO DE SEGURANÇA
Paquistão (7 mandatos)
Canadá (6 mandatos)
Colômbia (7 mandatos)
Índia (7 mandatos)
Itália (6 mandatos)
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
15
20
10
20
05
20
00
20
95
*Cada retângulo representa um ano em que o referido
país exerceu um mandato no Conselho de Segurança
Labmundo, 2017
Argentina (9 mandatos)
Brasil (10 mandatos)
19
90
19
85
19
80
19
75
19
70
Japão (11 mandatos)
Fonte: Sítio web do Conselho de Segurança, 2016.
34
19
65
19
60
19
55
19
19
50
Cronologia dos mandatos dos países que mais estiveram presentes no Conselho de Segurança, entre 1946 e 2017
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
CAMPANHA CONTÍNUA PELA REFORMA DO CONSELHO DE SEGURANÇA
Antecedentes e cronologia do pleito brasileiro por um assento no Conselho de Segurança, entre 1920 e 2015
1972
Brasil pleiteia
assento na SDN
2003
Defesa da reforma
da Carta da ONU
2010
ONU convoca Painel
de Alto Nível
1926
Embaixador do Brasil
discursa por mudanças
na Assembleia Geral
Debate na Assembleia Geral
sobre reforma
2004
Criação do G4
URSS e Reino Unido
contrariam o pleito
Presidente da
República do
Brasil retoma
o tema no
plenário da
Assembleia Geral
1944
Telegrama ao Secretário
de Estado dos EUA
1963
1930
1970
2013
Países apoiam a reforma na
68ª reunião da Assembleia Geral
2005
Cúpula Mundial de
Alto Nível pede a reforma
Política externa brasileira
Eventos internacionais
*A linha de tempo não está
representada por uma
progressão aritmética
2015
Papa defende reforma na Assembleia Geral
Cúpula do Caricom discute a reforma
Unidos Pelo Consenso
apresenta contra-proposta
2014
2008
Embaixador do Brasil participa do Grupo de Trabalho
Embaixador do França e Reino Unido apoiam o G4
Brasi reapresenta
o tema na Assembleia Geral
1990
Eventos no âmbito da ONU
2013
2005
1999
Quantidade de membros
não permanentes aumenta
de 6 para 10
Presidente da República
do Brasil defende a
reforma em discurso na
Assembleia Geral
Evento em Fortaleza
pela reforma
Reunião do G4 com a
União Africana
1989
2015
2013
2005
1944
Embaixador do Brasil
reafirma a necessidade
de mudança
2012
Painel sugere reformas
no CSNU
1975
Brasil retira-se
da SDN
2015
Reunião Ministerial do G4
2004
2014
Seminário na Índia com participação do G4
2010
2015
Fontes: Vargas, 2011; Seixas Corrêa, 2007; sítio web da missão brasileira no Conselho de Segurança, 2016.
grupos de trabalho na Assembleia
Geral das Nações Unidas (AGNU).
pontos do acordo são negociados pelas delegações antes da votação, o que
torna o processo mais ágil. Entre as resoluções de Capítulo VII, que tratam
da autorização do uso da força, o Brasil não votou airmativamente em seis
ocasiões, com cinco abstenções e um
voto negativo. Em 1994, o Brasil absteve-se de duas resoluções sobre a crise
política no Haiti e uma sobre a operação humanitária em Ruanda. Em
2005, outra abstenção foi dada no
caso do conlito em Darfur. Em 2011,
ocorreu a quinta abstenção brasileira, relacionada à crise na Líbia. Em
todos os casos, a abstenção brasileira
Apesar de não ter obtido sucesso em
seu pleito, o Brasil é reconhecido pelos seus vizinhos como um ator essencial no diálogo sobre esses temas,
motivo pelo qual foi eleito por seus
pares para exercer dez mandatos
como membro rotativo no CSNU. O
Brasil é o país do Sul com mais mandatos, logo depois do Japão. Os votos
do Brasil no CSNU são majoritariamente airmativos, acompanhando a
tendência do Conselho de aprovar resoluções por consenso. Os principais
GEOPOLÍTICA DOS VOTOS BRASILEIROS NO CONSELHO DE SEGURANÇA
Quantidade de votos do Brasil em Resoluções de Capítulo VII, por posicionamento
e por região, entre 1993-2011
19
19
19
94
93
19
98
20
99
20
04
05
TO
TA
L
20
20
11
10
África
Leste
Europeu
Ásia e
Oriente M.
América Latina
e Caribe
TOTAL
110
Labmundo, 2017
A favor
38
Abstenção
Contra
1
Fonte: sítio web do Conselho de Segurança, 2016.
1998
1999
2004
2005
2010
2011
100
100
100
100
100
100
100
100
50
50
50
50
50
50
50
50
Fonte: Albuquerque, 2016.
Assembleia Geral
Conselho de Segurança
Labmundo, 2017
1994
foi acompanhada da mesma posição
por pelo menos um membro permanente. O único voto negativo ocorreu
em 2010, de Brasil e Turquia, após o
CSNU aprovar sanções contra o Irã,
contrariando a Declaração de Teerã, mediada pelas diplomacias turca e
brasileira.
Além do CSNU, a AGNU também
funciona como órgão deliberativo das
Nações Unidas, com a possibilidade
de emitir declarações sobre questões
de grande amplitude temática, inclusive segurança e defesa. É possível veriicar que os votos do Brasil possuem
uma tendência de dissociação dos votos dos Estados Unidos na AGNU.
Enquanto no governo Dutra a convergência era de 100%, o governo Lula
apresentava convergências inferiores a 20%. Essa maior autonomia na
AGNU não se repete Conselho. Em
resoluções de Capítulo VII, o Brasil
ainda tende a votar de modo semelhante aos EUA, com poucas exceções.
A análise da participação brasileira na
ONU não pode se restringir ao voto.
Ela deve incluir a exposição de motivos, onde se expressam (e se explicam)
as divergências do Brasil com a posição dominante. Consciente de que a
posição de membro rotativo não permite ao país muita margem de manobra, o Brasil reairma suas convicções
por meio de discursos na AGNU, no
CSNU e nos grupos de trabalho, além
de ter mantido a campanha pelo assento permanente como um objetivo
constante da política externa.
VEJA TAMBÉM:
Porcentagem de votos convergentes entre o Brasil e os EUA, entre 1993 e 2011
1993
Labmundo, 2017
1920
Participações em operações de paz p. 36
Segurança ambiental p. 38
Brasil: potência regional? p. 68
Segurança e defesa (Atlas da PEB) p. 46
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
35
Participação em
operações de paz
Com quase 70 anos de atuação,
as missões de paz das Nações
Unidas são objeto de uma série
de questionamentos acerca de sua
efetividade e legitimidade. É inegável,
contudo, a relevância estratégica das
missões para a manutenção da ONU
na gestão de conlitos. As operações
de paz produzem grande visibilidade
e mobilizam inanciamento contínuo
da comunidade internacional. A
coordenação de diferentes atores e
luxos de inanciamento, o uso da
força e os princípios de paz, soberania
e democracia não necessariamente são
compartilhados pelos atores sociais
dos países onde as missões se instalam,
gerando desaios importantes a seus
agentes na implementação.
As missões expressam formalmente o
compromisso solidário da comunidade
internacional com a promoção da
paz e a segurança. Com base legal
nos Capítulos VI (solução pacíica
de conlitos), VII (ação em caso de
EFETIVOS PARA MISSÕES DE OPERAÇÕES DE PAZ
Principais contribuições por país, em milhares de indivíduos, em dezembro de 2015
2
3
4
5
6
7
Efetivos de países sul-americanos
Efetivos de países de outros continentes
Fonte: Sítio web do Departamento de Operações de Manutenção da Paz, 2016.
Labmundo, 2017
1
Equador
Bolívia
Paraguai
Peru
Argentina
Chile
Brasil
Uruguai
Índia
China
África do Sul
França
Reino Unido
Turquia
EUA
Rússia
México
FINANCIAMENTO DAS OPERAÇÕES DE PAZ
Principais contribuições financeiras, por país, em bilhões de dólares, em 2014
1,0
1,5
Financiamanto de países sul-americanos
Financiamanto de países de outros continentes
Fonte: Sítio web do Departamento de Operações de Manutenção da Paz, 2016.
36
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
2,0
Labmundo, 2017
0,5
África do Sul
Índia
Turquia
México
Espanha
Canadá
Rússia
Itália
China
Reino Unido
Alemanha
França
Japão
EUA
Brasil
Argentina
Chile
Peru
Uruguai
Equador
Paraguai
Bolívia
ruptura da paz e atos de agressão) e
VIII (participação de organizações
regionais
e
sub-regionais
na
manutenção da paz e segurança) da
Carta da ONU, as missões servem de
instrumento para assegurar a presença
e o apoio da ONU na resolução de
conlitos. A natureza das operações
evoluiu signiicativamente nas últimas
décadas, sobretudo pós-1990, passando
de forças de interposição e observação
para operações mais complexas que
visam a facilitar processos políticos,
proteger civis, assessorar processos
de desarmamento, desmobilização e
reintegração de combatentes, auxiliar
na organização de eleições, proteger
direitos humanos e contribuir
para o restabelecimento do Estado
de Direito. Para atender às novas
demandas, a partir de 1992 foi criado
o Departamento para Operações de
Manutenção da Paz (DPKO).
A importância recente adquirida
pelas operações de paz também é
demonstrada pelos números. Em
julho de 2015 o orçamento da ONU
atingiu 8,27 bilhões de dólares; existem
71 forças armadas em 16 operações de
manutenção da paz, que mobilizam
mais de 125 mil pessoas – entre civis,
militares, policiais e administradores.
Dentre os principais problemas de
ingerência, encontram-se as fortes
denúncias de aumento de estupros e
prostituição de mulheres e crianças
nas localidades de implementação
das missões, fato que tem provocado
novas estratégias como a Resolução
1325 de outubro de 2000, reairmando
a importância da promoção da
igualdade de gênero em todas as fases
dos processos de construção da paz e da
promoção da segurança. Tal realidade
ainda não produziu resultados efetivos.
As mulheres representam 29% dos
civis atuantes nas missões, 10% polícia
e 3% militares, com raras exceções
de liderança. No caso brasileiro a
disparidade de gênero é ainda maior: as
mulheres representam apenas 1% dos
militares enviados em missões de paz.
O primeiro envio de tropas brasileiras
a outro país em uma operação de paz
da ONU aconteceu em 1956, com o
objetivo de mediar o conlito entre
egípcios e israelenses e pôr im à
Crise de Suez. Atualmente, a atuação
brasileira adquire relevância muito
maior com a coordenação e comando
militar das operações no Haiti (2004)
e pela liderança da única Força Naval
atuando pela ONU no Líbano (2011).
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
MISSÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ESTABILIZAÇÃO NO HAITI
BRASIL NAS MISSÕES DE PAZ
Efetivo militar e área de responsabilidade das tropas, por país, em agosto de 2015
Evolução da média anual do efetivo brasileiro nas
missões de paz por período e missão,
entre 2000 e 2015
Brasil
Quantidade de militares
alocados nas tropas
970
Chile
Uruguai
de 2000 a 2003
Cap-Haïtien
335
Peru
Port-de-Paix
Jean-Rabel
Gonaives
Morne Casse
52
Filipinas
Paraguai
Argentina
UNTAET
Guatemala
Jérémie
Port-au-Prince
UNMISET
Cidades haitianas
1000 km
Jacmel
Labmundo, 2017
Les Cayes
50 km
Fonte: Sítio web do Conselho de Segurança da ONU, 2016.
de 2004 a 2007
MINUSTAH
UNMIS
20
15
20
14
20
13
20
12
20
11
20
10
20
09
20
08
20
07
20
06
20
05
20
04
Evolução do efetivo militar da Minustah, por país, entre 2004 e 2015*
Brasil
UNMISET
Uruguai
1000 km
Sri Lanka
Nepal
de 2008 a 2011
Argentina
Chile
MINUSTAH
UNIFIL
Jordânia
UNMIN
UNMIS
Peru
UNMIT
Bolívia
8599
Filipinas
1000 km
Guatemala
850
Outros**
de 2012 a 2015
52
MINUSTAH
UNIFIL
*Os dados são referentes ao mês de agosto de cada ano, com exceção de 2005 e de 2006, que são referentes a setembro
e dezembro, respectivamente.
**Honduras, Paraguai, Coreia do Sul, Equador, Japão, Indonesia, Espanha, Marrocos, El Salvador, Canadá e EUA.
***Benin, Croácia, França, India, Malasia, México, Paquistão e Yemen não enviaram tropas, mas participaram da
Minustah enviando oficiais.
Fonte: Sítio web do Conselho de Segurança da ONU, 2016.
Labmundo, 2017
TOTAL
1000 km
Tais ações certamente projetam o país
internacionalmente em sua campanha
pelo assento permanente no CSNU.
Atualmente há cerca de 1.200 brasileiros
entre militares das forças armadas
e polícia em zonas de conlito. No
total, o Brasil já participou de mais de
30 missões da ONU, tendo enviado
cerca de 27 mil militares ao exterior.
Além de tropas no Haiti e no Líbano,
contribui com participantes em missões
no Chipre, Costa do Marim, Libéria,
República Centro-Africana, Saara
Ocidental, Sudão e Sudão do Sul. O
investimento brasileiro nesse tipo de
atuação cresceu nos anos 2000. Em 2010,
o governo criou o Centro Conjunto
de Operações de Paz do Brasil a im de
consolidar a coordenação da sua atuação
em operações de paz e a preparação de
militares brasileiros e estrangeiros. Isso
demonstra uma possível tendência
do Brasil a seguir assumindo maior
protagonismo em operações de paz.
248,5
60
Fonte: Sítio web do Departamento de Operações de
Manutenção da Paz, 2016.
Labmundo, 2017
1736,5
Média anual
menor que 50
VEJA TAMBÉM:
ONU e Conselho de Segurança p. 34
Cooperação regional em defesa p. 58
Cosiplan e IIRSA p. 60
Segurança e defesa (Atlas da PEB) p. 46
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
37
Segurança
ambiental e
mudança climática
A mudança climática, a segurança ambiental e outras questões correlatas
problematizam as categorias de vulnerabilidade e risco de um país e sua
população. Em uma ordem global
caracterizada por fortes assimetrias de
poder e por luxos transnacionais de
pessoas, mercadorias e serviços, os problemas ambientais, sobretudo os climáticos, atingem a todos (embora alguns
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Participação de indivíduos atingidos por secas, enchentes e temperaturas extremas no total da
população, por país, entre 1990 e 2009
9,22
Labmundo, 2017
2,5
1000 km
0,5
0,04
Sem dados
disponíveis
0
Fonte: Banco Mundial, 2016.
MUDANÇA CLIMÁTICA
Emissões totais de CO2 do G-20, em 2011, e suas
metas voluntárias de redução, em milhões de
quilotoneladas
Emissões de CO2 per capita do G-20, em toneladas
métricas, em 2014
5
10
15
Arábia
Saudita
EUA
Austrália
Canadá
Rússia
Coreia
do Sul
África
do Sul
Japão
U.E.
9,01
China
Argentina
1,81
Turquia
0,19
Total de emissões
de CO2
Metas voluntárias de
redução de emissões
Emissões de CO2
per capita
México
Brasil
Índia
Fonte: Banco Mundial, 2016.
38
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
*Todas as reduções são previstas até 2030, com exceção
dos EUA, que são para 2025.
*África do Sul e Arábia Saudita não definiram
reduções voluntárias.
Labmundo, 2017
Indonésia
países tenham mais capacidade de criar
defesas para os impactos causados) e,
portanto, ensejam uma resposta coletiva. Em alguns casos, as graves consequências das mudanças climáticas, como
o aumento dos níveis dos mares, estão
ameaçando a própria sobrevivência territorial de alguns Estados, como Tuvalu
e Kiribati. Além disso, houve aumento
considerável da conscientização sobre
a importância de promover um debate
amplo, incluindo vários atores. Entre as
diversas ameaças ambientais (redução
da biodiversidade, biopirataria, redução
da camada de ozônio, avanço da desertiicação, impactos socioambientais de
megaprojetos sobre comunidades locais,
etc.), as mudanças climáticas são emblemáticas da transformação nesse debate
em que se entrecruzam questões de segurança, relações Norte-Sul e modelos
de desenvolvimento.
Na década de 1960, os primeiros esforços cientíicos, intelectuais, governamentais e de redes de ativismo foram
mobilizados a im de articular meio
ambiente e segurança coletiva. Os movimentos paciistas, contra o uso da
energia nuclear, uso de defensivos agrícolas, entre outros, buscavam relacionar
o impacto produzido por seres humanos com a segurança da natureza, de
animais e plantas, mas também criticavam os efeitos das estratégias de desenvolvimento então adotadas e prescritas
como boas práticas sobre a qualidade
de vida dos humanos e a conservação da
natureza. Essas primeiras interpretações
sobre a segurança ambiental lançaram
luz sobre o uso indevido de pesticidas,
fertilizantes e as ameaças associadas à
expansão da energia nuclear. Além disso,
enfatizaram a necessidade de garantir a
integridade dos ecossistemas, a im de
assegurar a sobrevivência da humanidade. Na década de 1970, surgiram outras
leituras analisando os efeitos ambientais
das guerras e suas relações com os movimentos de refugiados. Alguns relatórios importantes (tais como Only One
Earth Report e Limits to Growth) enfatizaram os vínculos entre ameaças, crises ambientais e desenvolvimento, mas
principalmente com viés conservacionista. Também merece destaque a Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano. Apesar de ter sido
concluída em torno de um consenso
minimalista com 26 princípios e 109 recomendações de natureza não vinculante, a Estocolmo-1972 abriu o caminho
para a futura cooperação ambiental, levou à criação de redes globais e regionais
de monitoramento ambiental, permitiu
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
A questão ecológica é especialmente importante para a política de defesa
brasileira, por diversos motivos. Primeiro, a diplomacia do Brasil tem a tradição de fazer uma leitura histórica do
1000 km
Menos chuva
Sem dados
disponíveis
Fonte: Banco Mundial, 2016.
-129 -48
-22
Mais chuva
0
30
65 330
Labmundo, 2017
Projeção da variação média do volume de precipitação anual, em mm³, entre 2045 e 2065
AQUECIMENTO GLOBAL
Projeção média do aumento de temperatura, em graus Celsius, por país, entre 2045 e 2065
3,15
2,5
2,1
Sem dados
disponíveis
1,7
1000 km
1,1
Fonte: Banco Mundial, 2016.
Labmundo, 2017
Na Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em
1992, a quantidade de temas debatidos foi maior (incluindo a degradação
ambiental como fator de conlitos e os
litígios resultantes do acesso aos recursos naturais), bem como efetivou-se o
papel da ciência na comprovação das
ameaças que representam as mudanças
climáticas para a segurança dos Estados
(principalmente os pequenos países insulares), das populações (os mais pobres
sendo os mais vulneráveis a tais ameaças) e da natureza como um todo. Na
Rio-92, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado em 1988, teve papel crucial para que a
Convenção-Quadro sobre o Clima fosse adotada. O IPCC deine a mudança
climática como uma variação estatisticamente signiicante em um parâmetro
climático médio (incluindo sua variabilidade natural) que persista por período extenso (pelo menos, por décadas).
Seus relatórios reconhecem a existência
de processos naturais, mas airmam que
as mudanças recentes têm sua causa nas
atividades humanas e alertam para os
perigos que podem decorrer da inação
política. O comportamento dos Estados e os efeitos das mudanças climáticas
sobre as sociedades variam internacionalmente. O Protocolo de Kyoto, que
disciplinou os compromissos da Convenção-Quadro de 1992 em matéria de
emissões de CO2 e entrou em vigor em
2005, não foi ratiicado pelos EUA, apesar de sua signiicativa contribuição histórica e atual para o aquecimento global.
Kyoto ressaltou o princípio de responsabilidades comuns e diferenciadas. Na
Conferência da Partes realizada em Paris, em 2015, houve sensível avanço na
construção de consensos. Em última
instância, as negociações climáticas evidenciam o sentido de ameaça à segurança coletiva, mas igualmente implicam
repensar os efeitos nefastos do modelo
de desenvolvimento capitalista no sistema internacional.
MUDANÇAS PLUVIOMÉTRICAS
CONFERÊNCIA DE PARIS
Países signatários do documento final da Conferência de Paris (2016), em 2016
Assinaram e ratificaram
1000 km
Fonte: sítio web ONU Treaty Database, 2016.
problema e ressaltar que as responsabilidades para sua solução devem ser comuns a todos, mas diferenciadas, a im
de considerar o impacto histórico que
cada país tem tido para a evolução do
problema. A defesa de um crescimento
sustentável assegura o direito brasileiro
de desenvolver-se, rejeitando teorias neomalthusianas ou de crescimento zero,
que congelariam a assimetria internacional de poder. Além disso, a proteção
de ecossistemas (como o bioma amazônico) já foram levantadas para justiicar propostas intervencionistas sobre
Assinaram, mas não ratificaram
Não assinaram nem ratificaram
Labmundo, 2017
a criação do PNUMA em Nairobi e ensejou as primeiras negociações, nos anos
1980, em torno da proteção da camada
de ozônio e do aquecimento planetário, as quais resultaram na celebração da
Convenção de Viena (1985) e do Protocolo de Montreal (1989).
o território brasileiro, o que representa
risco fundamental para a soberania do
país. Também deve ser considerado que
parte da população depende diretamente de um ecossistema saudável para garantir o seu sustento.
VEJA TAMBÉM:
Insegurança alimentar p. 40
Epidemias p. 42
Pobreza e desigualdade (Atlas da PEB) p. 44
Ameaças internacionais (Atlas da PEB) p. 48
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
39
Insegurança
alimentar
O atual debate sobre insegurança alimentar é associado a outro de igual
importância: o da crise ambiental e
das ameaças que daí decorrem. Transformações sistêmicas pós-Guerra Fria,
como interdependência econômica e
avanços tecnológicos, alteraram a natureza dos problemas de segurança e defesa, gerando novas perspectivas de risco
iminente. De fenômeno sazonal, a insegurança alimentar transforma-se em
condição duradoura de escassez, impulsionada por esgotamento dos recursos
ambientais e aquecimento global. As
crises alimentares, historicamente relacionadas a catástrofes, passam a vincular-se à instabilidade climática, à
poluição das águas, ao modelo produtivista na agricultura e ao consumo não
sustentável.
COOPERAÇÃO BRASILEIRA EM SEGURANÇA ALIMENTAR
Labmundo, 2017
Quantidade de projetos por país, em 2014
6
3
1
1000 km
Fonte: Caisan, 2014.
PROGRAMA MUNDIAL DE ALIMENTOS
Doadores e receptores, por países, em 2014
Doações em
milhões de dólares
2251,677
269,909
2,38
1000 km
Labmundo, 2017
Beneficiários,
em milhões de
indivíduos
5,3
1,3
0,1
Fonte: Programa Mundial de Alimentos, 2014.
O arranjo geopolítico assimétrico e o
crescente processo de inanceirização
de terras e commodities agroindustriais
mantêm crises e inseguranças alimentares nas regiões mais pobres: 70% dos
que sofrem fome no mundo são pequenos agricultores. É notória a incapacidade a médio-longo prazo de sanar a
insegurança nos países subdesenvolvidos. A cada ano, a agricultura deve
alimentar 80 milhões de pessoas adicionais. Projeções da FAO de 2014 destacam que, até meados do século XXI,
será preciso aumentar pela metade a
produção de grãos e dobrar a de carne.
O direito à alimentação está previsto
na Carta das Nações Unidas (1945) e no
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). A
FAO, em 1996, traduziu-o como direito à segurança alimentar e nutricional
(SAN): a garantia a todos de condições
de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suiciente, de
CRISES DE FOME NO MUNDO
Principais casos de crises de fome no mundo, por país e por estimativa de mortes, entre 1960 e 2015
1981
1961
1974
1966
Crise de Bangladesh
Crise de Lombok (Indonésia)
33 milhões de mortes
Grande Fome
Chinesa
Crise do Karamoja
(Uganda)
1981
1966
Crise de Suazilândia
Crise de Wallo (Etiópia)
1967
Crise Australiana
1982
Grande Fome
Moçambicana
1968
Crise do Biafra (Nigéria)
1975
Crise do Camboja
1969
Crise do Sahel (Mali,
Mauritânia, Burquina
Faso, Chade e Niger)
1983
Grande Fome da
Etiópia
1984
1972
1965
Crise de Tigray
e Wallo (Etiópia)
Crise de
Bihar (Índia)
1960
1965
Fontes: Rubin, 2015; sítio web Our World in Data, 2016.
40
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
1970
1975
1980
Crise do Chade
1980
Labmundo, 2017
Crise de Darfur e
Kordofan (Sudão)
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares
saudáveis, contribuindo, assim, para
uma existência digna, em um contexto
de desenvolvimento integral da pessoa,
com preservação das condições que garantam uma disponibilidade de alimentos em longo prazo. Visão partilhada
pelo Brasil que, em 2010, inclui o “direito à alimentação adequada” nos artigos 6º e 277 da Constituição Federal.
O Brasil é o segundo maior exportador
agrícola mundial, mas parte relevante
de sua produção é destinada a ins não
alimentares (70% da soja vira ração
animal e 80% da cana, biocombustível).
No cenário internacional, além de
eleger duas vezes o Secretário Executivo
da FAO, o Brasil desempenha relevante
papel na propulsão da SAN por
meio dos programas Bolsa Família e
Fome Zero, da criação do CG-Fome/
PMA, do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e do Fundo IBAS
de Combate à Fome. O sucesso das
iniciativas e a expertise agrotecnológica
possibilitaram ao país sair do mapa
da fome da FAO em 2014 e tornarse modelo na cooperação, facilitando
exportação e internacionalização de
empresas do agronegócio, sobretudo
nos mercados africanos. No governo
Temer, iniciativas como o CG-Fome
(aquisição de alimentos nas escolas)
foram cortadas, deixando a agenda
humanitária a cargo da ABC.
QUADRO DE DESNUTRIÇÃO NO MUNDO
Porcentagem de pessoas em situação de subnutrição, por país e biênio
Entre 1992 e 1994
77,20
34,9
14,9
<5
1000 km
Sem dados
disponíveis
Entre 2002 e 2004
Entre 2014 e 2016
Labmundo, 2017
VEJA TAMBÉM:
Segurança ambiental p. 38
Epidemias p. 42
Pobreza e desigualdade (Atlas da PEB) p. 44
Agronegócio (Atlas da PEB) p. 28
Fonte: FAO, 2016.
1997
2011
Fome na Papua Nova Guiné
1988
Fome de Madagascar
Grande Fome da Somália
2001
Crise Angolana
1998
2012
Crise das Filipinas
1989
Crise de Ruanda
Crise do Leste Africano
(Djibouti, Etiópia, Quênia
e Uganda)
2001
Crise na Guatemala
1998
Crise da Guiné
1991
Crise Somalense
2002
Fome Malauí
2005
Crise de Argélia
1999
2005
Crise do Burundi
1999
1995
Quantidade estimada de
mortes, em milhares
Fome Paraguaia
Grande Fome
Norte Coreana
1999
3800
Crise no Quênia
1998
Grande Crise
do Congo
Quantidade estimada de mortes
2000
Fome Afegã
Menos de 1000 mortes
2000
Menos de 100 mortes
Crise na Moldova
1990
1995
Fontes: Rubin, 2015; sítio web Our World in Data, 2016.
2000
2005
1000
8
2010
Labmundo, 2017
Fome do Paquistão
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
41
Epidemias
Doenças e epidemias são problemas
que afetam a segurança e bem-estar
da população e vinculam-se, sobretudo, à incapacidade do Estado em garantir acesso a condições básicas de
bem-estar e direitos humanos como
saneamento básico, descarte adequado de lixo, acesso a uma alimentação
saudável, água potável e a tratamento médico suiciente. As epidemias,
em particular, criam uma interdependência perversa entre povos e nações
que só pode ser controlada a partir da
ação coletiva de todos Estados afetados. Ainda que assumam um caráter
transnacional, as epidemias têm impactos ainda mais devastadores em países menos desenvolvidos. Pessoas com
pior qualidade de vida ou condições
alimentares inadequadas tornam-se
potencialmente mais vulneráveis tanto à contração das doenças, quanto ao
óbito.
Um dos elementos-chave para o controle epidêmico é o investimento em
MALÁRIA NO MUNDO
43.390
10.000
1.000
100
4,94
43.390
1000 km
1.313
4,94
Fontes: Sítio web da OMS, 2016; sítio web do Banco Mundial, 2016.
Menos de 1.000
casos registrados
Labmundo, 2017
Quantidade de casos confirmados e taxa de incidência por cem mil habitantes, por país, em 2014
pesquisas cientíicas e no desenvolvimento de tratamento eicaz. No entanto, as doenças tropicais, por serem
menos rentáveis, são geralmente menos pesquisadas pelos laboratórios
privados internacionais, aumentando sobremaneira os custos de projetos de pesquisa nos Estados afetados.
Exemplos recentes como o caso do
Ebola e das doenças transmitidas pelo
Aedes aegypti ilustram esse problema. Quando epidemias tipicamente presentes em países pobres passam
a “migrar” para os países mais ricos, os
investimentos em pesquisa crescem
exponencialmente e, dadas as condições inanceiras, técnicas e tecnológicas, cresce também a possibilidade de
tratamento mais efetivo e rápido, ainda que, na maioria dos casos, o acesso
não chegue plenamente aos mais pobres. Não à toa, doenças consideradas
simples e de fácil tratamento em países
ricos ainda matam milhares de pessoas
em países menos desenvolvidos.
O acesso adequado ao tratamento de
epidemias ainda consiste em um dos
principais desaios globais. Emblemático é o caso do vírus do HIV pelo mundo.
Apesar de tratar-se de uma doença ainda sem cura e de dimensões globais, um
tratamento adequado pode propiciar
maior longevidade e qualidade de vida
aos seus portadores. O acesso ao tratamento, contudo, esbarra muitas vezes no interesse de grandes laboratórios
farmacêuticos, protegidos pelo regime
internacional de propriedade intelectual. O Brasil, um dos poucos países do
mundo que fornecem gratuitamente o
tratamento contra a doença, tem possibilitado a expansão do número de beneiciários. Apesar dos empenhos do
VÍRUS HIV NO MUNDO E NO BRASIL
Quantidade estimada de pessoas infectadas pelo vírus HIV e que têm acesso a tratamento médico,
em milhões de pessoas, por região, em 2015
4
8
12
16
Sul e leste
da África
54,2%
27,7%
0,4
Ásia e
Pacífico
Brasil
41,2%
Europa ocidental
e América do Norte
0,3
58,3%
Pessoas infectadas
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
10
20
05
20
20
15
Labmundo, 2017
Fonte: UNAIDS, 2016b.
0,1
00
16,5%
**Os números ao lado das barras se referem à
porcentagem de pessoas infectadas que
recebem tratamento. A média mundial é de
46,4%, portanto inferior à brasileira de 55,4%.
20
55,4%
95
Brasil
*Para fins de comparação, os dados relativos
ao Brasil foram calculados separadamente.
19
54,7%
0,2
90
América Latina
e Caribe*
Pessoas infectadas recebendo
tratamento médico
19
21,3%
Labmundo, 2017
Europa oriental
e Ásia central
42
0,5
Mundo
Leste e centro
da África
Oriente Médio
e norte da África
Evolução da estimativa da população infectada
pelo vírus HIV no mundo e no Brasil, em % do total,
entre 1990 e 2015
Fontes: UNAIDS, 2016b; sítio web Banco Mundial, 2016.
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DO AEDES AEGYPTI NO BRASIL
Dengue
Incidência por
milhares:
25,14054
Chikungunya
Zika
Incidência por
milhares:
7,07223
Incidência por
milhares:
6,62344
8,94630
1,87373
1,04990
4,55875
0,44202
0,46063
0,10296
0,07253
0,02649
0,013168
1000 km
1,61759
0,28822
Fonte: Ministério da Saúde, 2017; IBGE, 2016.
EPIDEMIA DE ZIKA NAS AMÉRICAS
Quantidade de casos confirmados, por país, entre
2015 e 2016
1000 km
130.840
38.870
*Não foram representados
países com menos de 200 casos.
Fonte: OMS, 2017.
Labmundo, 2017
200
governo, o índice de contaminados
no país tem crescido bastante nos últimos anos. A falta de informação pode
ser considerada um dos principais fatores de proliferação. O índice de infectados pelo HIV é maior em regiões em
que a população tem menos acesso à informação e a meios de prevenção. Dentre os principais fatores de aumento do
vírus, podemos citar: o processo de interiorização do HIV no território, onde
prevenção e controle são menos efetivos (geralmente as campanhas estão
concentradas nos grandes centros urbanos); o avanço sobre população feminina e hétero e o sucesso de políticas
públicas de tratamento dos infectados,
que passam a ter maior longevidade. A
incidência, no Brasil, de pessoas portadoras do vírus ainda é elevada, com
uma estimativa de aproximadamente 830 mil infectados (quase 0,4% da
população). Os números brasileiros
são mais altos do que a incidência estimada no Canadá (0,2%), Indonésia
(0,27%) e Argentina (0,21%), enquanto que EUA (0,42%), Rússia (0,75%),
África do Sul (1,27%), Angola (1,28%) e
Nigéria (1,92%) apresentam estimativas
mais elevadas. O controle, contudo, da
quantidade de pessoas infectadas ainda
é um dos principais desaios do Brasil
e de outros países em desenvolvimento.
Diversas epidemias estão diretamente
associadas à falta de informação, saneamento básico e acesso a água potável.
Algumas doenças têm um caráter mais
endêmico e a incidência delas também
está ligada a condições climáticas do
ACESSO A SANEAMENTO BÁSICO
Porcentagem da população com acesso a saneamento básico, por país, em 2015
Total de infectados
527.890
67.481
10.803
Labmundo, 2017
Incidência e quantidade total de infectados por doenças transmitidas pelo Aedes aegypty no Brasil, entre janeiro e dezembro de 2016
local. Ainda assim, há constante preocupação com que essas epidemias sejam
eliminadas ou, pelo menos, contidas.
A organização não governamental Médicos sem Fronteiras (MSF) chama a
atenção para o combate a surtos de cólera, malária, meningite, sarampo e
doenças virais (como dengue, chikungunya, zika, síndrome respiratória do
Oriente Médio e febres hemorrágicas)
pela velocidade com que tais doenças
têm se alastrado. A partir de 2015 o Brasil se transformou em palco do maior
surto de zika já observado, quando a
Organização Mundial de Saúde (OMS)
declarou emergência e empenho da
saúde pública internacional no combate ao vírus. Segundo a instituição, o
vírus se espalhou de forma muito rápida em pouco tempo. Atualmente, cerca de 48 países já registraram casos de
zika vírus, sendo as Américas a região
de maior incidência e o Brasil o país
com o maior número de casos comprovados. O vírus é conhecido há mais
de 50 anos e transmissível não apenas
pelo mosquito Aedes aegypti. É inegável, contudo, que além das condições
climáticas favoráveis, as precárias condições de saneamento nas regiões Norte
e Nordeste (também as mais pobres do
país) são um fator determinante para a
concentração do vírus. Como é possível
perceber, pelos exemplos citados, as dimensões sociais e econômicas ainda representam uma das principais ameaças
ao controle e extinção das grandes epidemias globais.
1000 km
Fonte: Banco Mundial, 2017.
100
90
66
33
0
Sem dados
disponíveis
Labmundo, 2017
VEJA TAMBÉM:
Segurança ambiental p. 38
Insegurança alimentar p. 40
Energia e meio ambiente (Atlas da PEB) p. 34
Ameaças internacionais (Atlas da PEB) p. 48
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
43
Terrorismo e
crime organizado
Outras ameaças à segurança também
agregam mais incertezas globais para
além da competição pelo poder pelos
Estados em um sistema internacional
anárquico. Organizações criminosas
e terroristas são exemplos de grupos
não estatais que afetam a segurança e
o bem-estar da população. Todo chefe de Estado hoje em dia está sujeito não apenas a tensões que possam
ocorrer no âmbito das relações diplomáticas, com outras nações, mas também em relação a esses grupos, cuja
ação traz riscos à segurança nacional, à soberania dos Estados e à geopolítica mundial. Uma das principais
ameaças transnacionais, constantemente veiculada na mídia no século
XXI, o terrorismo, não tem uma deinição consensual, assim como não são
homogêneas suas políticas de combate e prevenção. Com exceção da Resolução 1373 da ONU, que foi aprovada
por unanimidade em 2001, em um
espírito de solidariedade que condenava os ataques de 11 de setembro, as
articulações de deinição e combate ao terrorismo têm caráter regional.
Após os ataques, o tema foi colocado
na agenda do Conselho de Segurança da ONU estabelecendo-se a tendência de securitizar a prevenção e o
combate. Foram estabelecidas condicionalidades para a ajuda ao desenvolvimento para países supostamente
envolvidos ou omissos, a OCDE modiicou o conceito de ajuda oicial ao
desenvolvimento para incorporar programas de cunho militar, assim como
foi dada ênfase às medidas de combate
e contraterrorismo ao invés da prevenção e de uma abordagem econômica e
social das possíveis causas. A falta de
consenso quanto a um conceito universalmente aceito sobre terrorismo
resulta em sua lexibilização e instrumentalização de acordo com conveniências políticas. Não é raro que casos
semelhantes sejam deinidos diferentemente de acordo com fatores sociais (etnia e nacionalidade do grupo
ou indivíduo que promoveu o ataque)
e posicionamento político (governos
autoritários tendem a classiicar atos
de seus opositores como terroristas
para deslegitimá-los). Além disso, a
maior quantidade de vítimas do terror está nos países do Sul, embora os
ataques mais noticiados sejam na Europa ou nos EUA, o que também ilustra a seletividade com a qual o tema é
tratado.
No caso do crime organizado, este é
caracterizado por coletivos que operam crimes regularmente, por meio
de uma motivação prioritariamente econômica e, em sua ampla maioria, de prejuízo difuso, por não terem
efeito negativo direto a qualquer pessoa física ou jurídica. No entanto, é
interpretado pela lei como ilegal, por
CONVENÇÃO PARA PREVENÇÃO E PUNIÇÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS
Países signatários do UNCTOC, por país e data de ratificação, entre 2001 e 2015
1000 km
Fonte: sítio web UNTS Treaty Database, 2016.
Assinou, mas não ratificou
Não assinou
Labmundo, 2017
OURO LATINO-AMERICANO
2015
2010
2005
2001
Exploração e produção de ouro na América Latina
pelo Crime Organizado, por país, em 2013
200
REGIME DE COMBATE AO TRÁFICO E MANUFATURA ILEGAL DE ARMAS DE FOGO
Países signatários do Protocolo contra a Manufatura Ilegal e o Tráfico de Armas de Fogo, entre 2001
u
Pe
r
Ni
Bo
lív
ia
ca
rá
gu
Eq a
ua
do
Ve
r
ne
zu
el
a
Gu
ia
n
a
Co
lô
m
bi
a
Br
as
il
M
éx
ico
100
Total de ouro exportado (toneladas)
Assinou e ratificou
Assinou, mas não ratificou
Não assinou, nem ratificou
Fonte: Sítio web UNTS Treaty Database, 2016.
44
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Valor da produção ilegal (milhões de dólares)
2.600
Fonte: Global Initiative against
Transnational Organized Crime, 2016.
700
100
Labmundo, 2017
1000 km
Labmundo, 2017
Ouro exportado ilegalmente (toneladas)
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
VÍTIMAS DO TERROR
Índice Global de Terrorismo, por país, em 2014
10 principais países com mais vítimas de atentados
terroristas, em milhares, em 2014
Total de vítimas
20
Vítimas fatais
15
10
10
7,5
5,0
FLUXOS FINANCEIROS ILÍCITOS
Principais operadores de fluxos ilícitos, citados no
Panama Papers, em quantidade de mediadores,
por país, em 2015
1000
2000
Hong Kong
Reino
Unido
Suíça
EUA
Panamá
Luxemburgo
*Mediadores são bancos, escritórios
de advocacia e incorporadoras de
empresas que contribuiram no
processo de gerenciamento ou
transferência desses fluxos ilícitos.
Brasil
Equador
Uruguai
Fontes: Sítio web do Panama Papers, 2016; ICIJ, 2017.
Labmundo, 2017
Guatemala
TRÁFICOS DE PESSOAS DA AMÉRICA DO SUL PARA O MUNDO
América do Norte,
América Central e
Caribe
Leste Asiático,
Sul Asiático e
Pacífico
10
Principais destinos e quantidade estimada de pessoas traficadas da América do Sul para outras regiões e
internamente, em 2014
Europa Ocidental
e Europa Central
9
54
18
Tráfico entre
regiões
a d o S ul
1000 km
73
Am
é r ic
2
Tráfico dentro
dos países
Tráfico dentro
da região
Trá
fi
co e n tre p aís e
sd
a
Se a estimativa de 871 vítimas
de tráfico doméstico dentro dos
países sul-americanos fosse
representada no mapa, a seta
teria essa espessura.
Fonte: United Nations Office on Drugs and Crime, 2014.
Trazendo à tona os crimes relativos à
lavagem de dinheiro, à evasão iscal e
aos luxos inanceiros ilícitos, há de se
ressaltar uma tendência, por parte de
organizações como a ONU, OCDE e
Banco Mundial, de associar tais atividades aos países em desenvolvimento,
colocando-os como os mais afetados
por esses crimes, por concentrarem as
atividades de corrupção, fraudes no
comércio internacional e evasão de impostos. O argumento dessas organizações baseia-se no fato de que cerca de 1
trilhão de dólares são drenados anualmente dos países em desenvolvimento,
com destaque para os países do continente africano. No entanto, com os recentes vazamentos dos Panama Papers,
icou evidenciado como os principais
operadores dos luxos inanceiros ilícitos são provenientes dos países desenvolvidos, como o Reino Unido,
EUA e Suíça, por exemplo. Dessa forma, tanto os países em desenvolvimento, como os desenvolvidos precisariam
Labmundo, 2017
ser moralmente ofensivo, além de prejudicar economicamente a sociedade.
Ademais, essa modalidade de crime desenvolve capacidades organizacionais,
coercitivas, técnicas e políticas que são
funcionais à execução desses crimes,
sejam elas integral ou parcialmente ilícitas. Nos estudos sobre a origem do
inanciamento de organizações criminosas, há, ainda, a constatação do aumento da extração ilegal de ouro como
uma das principais vias de inanciamento de organizações envolvidas em
atos de terror, guerrilha e outros crimes, no continente latino-americano.
Uma das motivações para esse aumento foi a migração considerável dos grupos ligados ao tráico de drogas para a
mineração de ouro, justiicada principalmente pelo fato de ser uma produção artesanal e bastante fragmentada,
em especial na América Latina. Dentre os crimes e outros danos relacionados ao crime organizado, destacam-se
a lavagem de dinheiro, a corrupção, o
deslocamento forçado de populações,
a destruição ambiental acelerada, a exploração trabalhista, o tráico de pessoas e armas.
Fonte: Institute for Economics and Peace, 2015.
Labmundo, 2017
Fonte: Institute for Economics and Peace, 2015.
Ira
Sem dados
disponíveis
Ni
Labmundo, 2017
0
qu
e
g
Af
é
eg ria
an
is
Pa tão
qu
ist
ão
Sí
r ia
Ín
di
a
Iê
m
en
So
m
ál
ia
Líb
Ta ia
ilâ
nd
ia
5
2,5
1000 km
atuar em conjunto para frear os luxos
inanceiros ilegais, o que requer a colaboração na administração e regulação
das inanças, na transparência, além de
uma cooperação internacional proativa. Em síntese, como se trata de um
mal que atinge a todos indiscriminadamente, os países desenvolvidos necessitariam assumir a responsabilidade em
prevenir as operações dos mediadores
dos luxos ilícitos em seus territórios,
enquanto os países em desenvolvimento deveriam fortalecer seus regimes legais e regulatórios, para tornarem-se
menos suscetíveis às atividades que geram luxos inanceiros ilícitos e lavagem de dinheiro.
VEJA TAMBÉM:
Mecanismos internacionais p. 30
Drogas ilícitas p. 46
Energia e meio ambiente (Atlas da PEB) p. 34
Defesa regional (Atlas da PEB) p. 90
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
45
Problema mundial
das drogas ilícitas
Uma das principais temáticas da agenda global de segurança é o problema
mundial das drogas ilícitas. O consumo de drogas ilícitas não é algo recente na história da humanidade, nem o
uso ritual ou o consumo tradicional
de psicotrópicos pode ser considerado um fenômeno sem trajetória histórica. No entanto, nos últimos 50 anos,
a maioria dos Estados no sistema internacional têm progressivamente mobilizado seus aparatos de segurança e
defesa para coibir produção, consumo
e distribuição de drogas consideradas
ilícitas. Drogas foram declaradas ilícitas e a repressão ao comércio ilegal destas substâncias mobiliza considerável
quantidade de mão de obra. Ademais,
estima-se que as redes de narcotráico
movam bilhões de dólares anualmente. À medida que se aprofundaram o
capitalismo e a globalização, a demanda por drogas ilícitas (maconha, mas
sobretudo cocaína, heroína e drogas
sintéticas) cresceu vertiginosamente,
gerando implicações de saúde pública
e guardando relação importante com
a escalada da violência nas grandes cidades. No caso das substâncias não
sintéticas, como maconha e cocaína,
grande parte de sua produção se dá em
países em desenvolvimento enquanto
larga parte de seu mercado está localizado em países desenvolvidos, notoriamente os EUA e Europa Ocidental.
O divisor de águas na questão das drogas ilícitas foi a declaração, por parte
CONSUMO ILÍCITO DE ENTORPECENTES
Quantidade total estimada de usuários de cocaína, em milhares, por região, em 2014
Europa
Oriente
Médio
América
do Norte
Ásia
Caribe
Norte da
África
América
Central
África
Sub-saariana
América
do Sul
Labmundo, 2017
5290
Oceania
1000 km
860
30
Fonte: UNODC, 2015.
Quantidade total estimada de usuários de cannabis, em milhares, por região, em 2014
Europa
Oriente
Médio
América
do Norte
Ásia
Caribe
Norte da
África
Oceania
1000 km
45900
16030
700
Fonte: UNODC, 2015.
46
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
América
do Sul
África
Sub-saariana
Labmundo, 2017
América
Central
do presidente estadunidense Richard
Nixon, da “guerra às drogas” em julho de 1971. Sob o manto desta iniciativa proibicionista, crescentemente
aprofundada pelo governo dos EUA
nos últimos 40 anos, foram criadas
instituições de combate ao comércio
de drogas ilícitas, além de diversas inciativas de cooperação internacional
capitaneadas pelos EUA. No “hemisfério ocidental”, termo utilizado pelo
governo estadunidense para se referir
às Américas, os esforços sob a égide
da “guerra às drogas” foram intensos.
Os EUA buscaram inluenciar os governos locais a militarizarem o combate à produção e comércio de drogas
ilícitas porque identiicavam, naquele
continente, a origem de drogas como
maconha e cocaína. Os luxos de ajuda militar dos EUA para esta questão
foram vultuosos em países como México e Colômbia, como a Iniciativa
Mérida e o Plano Colômbia, respectivamente. Esses acordos de cooperação securitária com os EUA visam ao
combate ao tráico de drogas, crime
organizado transnacional e lavagem
de dinheiro. As ações previstas incluem treinamento, fornecimento de
equipamentos e inteligência. O principal instrumento dos recipientes deste tipo de programa é o envolvimento
das forças armadas em operações antidrogas. É necessário ressaltar que
esta cooperação atende aos interesses
estratégicos e de segurança dos EUA mormente o do não transbordamento
da violência relacionada ao narcotráico - e aos dos governos recipientes –
ganhos eleitorais com os programas e
aproximação política dos EUA.
No passado, o envolvimento do Brasil era limitado e se dava por ser um
pequeno mercado consumidor e
uma rota de passagem de drogas ilícitas para os países do Norte. Atualmente, o consumo e a produção de
psicotrópicos no país cresceu. Além
disso, o Brasil passou a ter maior envolvimento com a lavagem de dinheiro decorrente do tráico. Isso suscita
discussões sobre o tráico doméstico de drogas, a necessidade de proteger as fronteiras e os efeitos nocivos
que o uso destas substâncias podem
produzir em termos de saúde pública.
Quanto à ajuda militar estadunidense
para lidar com a questão, o volume de
recursos recebidos pelo Brasil é muito reduzido, se comparado com os
demais grandes países latino-americanos. A inluência daquele país junto ao governo do Brasil foi reduzida
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
+
+
Labmundo, 2017
%
%
50
25
0%
0%
-5
%
9%
00
-9
-1
partir de 2003. A agenda dos EUA RESPOSTA SUL-AMERICANA À GUERRA ÀS DROGAS
e evolução da ajuda militar estadunidense para ações antinarcóticos no hemisfério ocidental,
era que o Brasil envolvesse direta- Total
entre 2001 e 2013
mente suas forças armadas em operaSomente valores acima de 200 mil
estão representados
ções antidrogas e também criasse uma
agência federal diretamente dedicaVariação entre 2001* e 2013:
Redução
da à questão, aos moldes do Drug EnCrescimento
forcement Agency (DEA) dos EUA.
Criada a 1998, a Secretaria Nacional
Antidrogas parecia ser um embrião
do DEA na administração pública
Valores totais recebidos entre 2001 e 2013,
federal, mas teve função e signiicaem milhões de dólares:
do modiicados depois de 2003, mais
63,3
focalizada em formular políticas pú25
blicas para a questão das drogas. No
10
entanto, isso não signiica que a questão das drogas no Brasil não assuma
0,2
contornos militarizados. O consumo de drogas ilícitas no Brasil é passível de repressão policial e as polícias
militares estaduais estão a cargo des- No inal dos anos 1980 foi estata tarefa, sendo bastante elevadas as belecido o regime internacional
estatísticas de mortes e violações de de Combate ao Tráico de Drodireitos humanos relacionadas ao trá- gas Ilícitas e Psicotrópicos, com
25 km
ico de drogas. Além disso, as forças forte apoio do governo dos EUA.
armadas brasileiras têm sido utiliza- O maior número de adesões a
das, desde a segunda metade dos anos este regime ocorreu entre mea*Aruba recebeu contribuição a partir de 2004
2000, em grandes operações de ocu- dos dos anos 1990 e começo dos
e as Ilhas Cayman receberam a partir de 2008
pação militar de complexos de fave- anos 2000, período que coinlas na cidade do Rio de Janeiro, com a cide com a intensiicação da Fonte: Sítio web da USAID, 2016.
missão de garantir a segurança neces- “guerra às drogas”. A partir do
sária para a organização dos megae- inal dos anos 2000, a narventos esportivos na cidade, como a rativa calcada na proibição passou a
exemplos, pode-se mencionar UruCopa do Mundo de Futebol em 2014 ser largamente contestada por setores
guai, Países Baixos, alguns meme os Jogos Olímpicos de 2016.
da comunidade internacional e den- bros da União Europeia e estados dos
tro do governo dos EUA. Isso se deve EUA. No âmbito regional imediato,
ao fato de que, passados mais de qua- a própria Unasul considera a questão
REAÇÃO À GUERRA CONTRA DROGAS
renta anos de esforços repressivos, o das drogas um problema de saúde púQuantidade total da ajuda militar estadunidense
consumo de drogas ilícitas não se re- blica em detrimento de uma abordapara principais ações antinarcóticos na América
duziu substancialmente e tais políti- gem securitária.
Latina, por países, em milhões de dólares (valores
cas deixaram, em especial nos países
correntes de 2014), entre 2001 e 2013
2001
2007
2013
em desenvolvimento, um saldo elevado de mortes em espirais de violên- VEJA TAMBÉM:
cia. Assim, o sistema internacional
Mecanismos internacionais p. 30
México
já contabiliza iniciativas inovadoras
Drogas ilícitas p. 46
de políticas de drogas como descri- Terrorismo e crime organizado p. 44
minalização e legalização do consu- Pobreza e desigualdade (Atlas da PEB) p. 44
Peru
mo de algumas substâncias. Como
Colômbia
COMBATE MUNDIAL AO TRÁFICO DE DROGAS ILÍCITAS E PSICOTRÓPICOS
Adesão à Convenção de Combate ao Tráfico de Drogas Ilícitas e Psicotrópicos, por país e data de
ratificação, entre 1989 e 2014
Equador
242,1
1,6
*Não houve ajuda militar do
Departamento de Defesa dos
EUA para o combate ao
narcotráfico em 2015
Fonte: Sítio web da USAID, 2016.
Labmundo, 2017
1000 km
63,3
Fonte: Sítio web UNTS Treaty Database, 2016.
2014
2007
2001
1995
1989
Sem dados
disponíveis
Labmundo, 2017
Brasil
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
47
Segurança e
defesa cibernética
O progressivo uso das novas tecnologias de comunicação e informação na
vida diária das sociedades enseja um
novo tema na segurança internacional:
a segurança cibernética. Espionagem
virtual, crimes cibernéticos, guerra cibernética e terrorismo cibernético são
desaios com os quais os Estados nacionais precisam lidar no século XXI.
Países como os Estados Unidos da
América, Reino Unido, Alemanha,
China e Brasil são origem e alvo massivo de ataques cibernéticos. Também
são vultuosos os prejuízos econômicos causados pelo crime cibernético no
mundo. Estima-se que 400 bilhões de
computadores para tirar de operação
um serviço, computador ou rede. Há
uma tendência global de crescimento
no número de ataques cibernéticos.
dólares são perdidos todos os anos na
economia mundial devido ao uso nocivo do espaço cibernético.
O Brasil é vítima de ataques provenientes de diversos países do mundo, em
especial da China e dos EUA. Os ataques mais identiicados são as fraudes
(tentativas de obter vantagem via uso
de artifícios informacionais), “scan”
(varreduras em redes de computadores, com o intuito de identiicar quais
computadores estão ativos para empreender ataques) e ataques de negação de
serviço (Dos), em que o atacante utiliza um computador ou um conjunto de
PODER NO CIBER-ESPAÇO
Índice global de ciber-segurança, por país, em 2015
0,824
1000 km
Fonte: ITU, 2015.
0,400
Maiores índices:
0,200
EUA - 0,824
Canadá - 0,794
Austrália, Malásia e Omã - 0,765
Nova Zelândia e Noruega - 0,735
Brasil, Estônia, Alemanha, Índia
e Japão - 0,706
0
Sem dados
disponíveis
Labmundo, 2017
0,600
PROPOSTA EUROPEIA CONTRA O CIBERCRIME
Período de
ratificação:
2016
1000 km
2010
Não participam
2005
Participam da convenção,
mas não assinaram
2002
Fonte: Council of Europe, 2016.
48
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Assinaram a convenção,
mas não ratificaram
Labmundo, 2017
Adesão à Convenção de Budapeste contra o cibercrime, proposta pelo Conselho da Europa, por país e
data de ratificação, em 2016
O debate sobre o papel da defesa no
espaço cibernético – e a consequente
transformação nas forças armadas – tornou-se importante na política internacional porque países e organizações
como Alemanha, Brasil, China, EUA,
Rússia e OTAN estão se moldando a
este ambiente operacional, alocando
recursos e criando políticas de defesa cibernética. Outro aspecto peculiar
desta seara é que a concentração de poder militar tradicional por Estado pode
não se traduzir em preponderância no
espaço cibernético. A guerra cibernética corresponde ao uso ofensivo e defensivo de informações e sistemas de
informações para negar, explorar, corromper ou destruir valores do adversário baseados em informações, sistemas
de informação e redes de computadores. Os alvos podem ser militares ou
civis. Já a defesa cibernética é o conjunto de ações defensivas, exploratórias e
ofensivas a cargo do aparato de defesa
do Estado visando a prevenir ou contra
-atacar ações de outrem. Uma menção
especial deve ser feita aos potenciais danos às infraestruturas críticas da informação, ou seja, instalações, serviços,
bens e sistemas cuja interrupção ou
destruição pode provocar sério impacto social, econômico, político, internacional ou à segurança do Estado e da
sociedade. Quando todos dependem
de tecnologias da informação ataques
cibernéticos podem prejudicar a continuidade da missão do Estado e a segurança da sociedade.
O êxito em gerar legislação internacional, no entanto, ainda é muito limitado. A Convenção de Budapeste contra
o cibercrime, proposta pelo Conselho
da Europa (2001), maior tratado multilateral sobre o tema e aberta a adesões
de fora daquele continente, não possui
muitos signatários, o que denota a diiculdade de criar mecanismos de cooperação sobre o tema. Num ambiente de
incerteza como o do espaço cibernético, evita-se abdicar de soberania e prefere-se maximizar poder nacional. Isso
pode ser exempliicado pelo peso dado
à questão da espionagem. Em 2013 os
EUA utilizaram seu aparato de segurança para obter ilegalmente informações de governos e empresas públicas
do Brasil e da Alemanha. Uma resolução repudiando o uso do espaço cibernético para a espionagem foi aprovada
BRASIL, DISTRIBUIÇÃO DE PODER E ORDEM GLOBAL
10 maiores prejuízos absolutos, valores estimados,
em bilhões de dólares, em 2013
20
60
0,4
0,8
1,2
1,6
Alemanha
Países
Baixos
Noruega
Alemanha
China
Países
Baixos
Brasil
Reino
Unido
Índia
Arábia
Saudita
Noruega
Cingapura
Canadá
Zâmbia
EUA
China
Labmundo, 2017
Brasil
Índia
Irlanda
Fontes: Symantec, 2014; Banco Mundial, 2016.
Alvos de ataques cibernéticos por aplicação
web, em %, entre janeiro e abril de 2016
60
60
40
40
20
20
Pa
í
Re
EU
A
Br
in asi
o
Un l
id
o
Ín
di
a
C
Pa an
íse ad
sB á
ai
Au xos
st
rá
lia
Ch
in
a
J
Ci apã
ng o
ap
ur
Ou a
tro
s
EU
A
Br
se as
s b il
ai
xo
s
Ch
Ro ina
m
ên
ia
R
Re ú
in ssi
a
o
U
Al nido
em
an
h
Uc a
râ
ni
a
Ín
di
a
Ou
tro
s
Origens de ataques cibernéticos por aplicação
web, em %, entre janeiro e abril de 2016
Fonte: Akamai, 2016.
Labmundo, 2017
CIBERATAQUES NO MUNDO
CIBERATAQUE NO BRASIL
Quantidade de ataques reportados ao CERT,
por tipo, em milhares de ataques, em 2014
Quantidade de ataques reportados ao CERT,
por ano, entre 1999 e 2014
1.047.031 incidentes
reportados em 2014
400
300
s
o
tro
Ou
W
eb
Labmundo, 2017
Fonte: sítio web CERT, 2016.
In
va
sã
m
W
or
Do
s
an
Sc
de
100
Labmundo, 2016
200
3.107 incidentes
reportados em 1999
Fonte: sítio web CERT, 2016.
Principais origens dos ataques ao Brasil, por quantidade de ataque e por país, em 2014
Rússia
EUA
4
França Alemanha
Turquia
6.5
96
70.
67
4
7.2
2
4.3
9
9.9
46
Coreia
China do Sul
Países Baixos
Canadá
5.96
8
72
4.60
6
70.8
83
6. 0
1000 km
O Brasil recebeu o total de 1.047.031 ataques em 2010,
sendo que 789.251 foram provenientes do próprio território.
Fonte: sítio web CERT, 2016.
75,38%
Labmundo, 2017
Terrorismo e crime organizado p. 44
Ameaças internacionais (Atlas da PEB) p. 48
100
EUA
VEJA TAMBÉM:
Mecanismos internacionais p. 30
Capacidades militares p. 28
10 maiores prejuízos em % do PIB, valores estimados,
em 2013
7
Essa temática foi inserida na agenda
do Estado brasileiro nos anos 2000.
Na política de defesa, o marco inicial
para os esforços brasileiros para lidar
com a ameaça cibernética é a II Política de Defesa Nacional (2005), seguida
pela deinição pelo Estado Brasileiro
do que entende como guerra cibernética no Glossário das Forças Armadas
(2007). A Estratégia Nacional de Defesa (2008) deiniu o setor cibernético
como estratégico e prioritário, responsabilizando o Exército Brasileiro por
seu desenvolvimento. Em 2010, o
Exército Brasileiro instituiu seu setor
cibernético, o Centro de Defesa Cibernética, realizou compras de antivírus para todo o Exército Brasileiro e
treinou militares no exterior. O Livro
Branco de Defesa Nacional (2012) lista recursos para a defesa cibernética da
ordem de R$ 839 milhões até 2031, evidenciando planos de longo prazo. Em
2014, foi lançada a Doutrina Militar de
Defesa Cibernética, documento elaborado pelo Estado-Maior Conjunto das
Forças Armadas para balizar as ações
de defesa no espaço cibernético. As capacidades instaladas foram testadas a
partir de 2012, com a conferência ambiental Rio+20, seguida pela Copa das
Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e Jogos Olímpicos (2016). O
objetivo é evitar os ataques às infraestruturas críticas e negação de serviço e também prevenir, em momentos
de projeção internacional, que ativistas cibernéticos maculem a imagem do
Brasil na internet.
PREJUÍZO CAUSADO PELO CIBERCRIME NO MUNDO
Fr
au
por unanimidade na Assembleia Geral das Nações Unidas. Em seus debates,
os BRICS demonstram preocupações
comuns em evitar a espionagem estadunidense e há modestas iniciativas de
coordenação, como a instalação de um
cabo de ibra óptica ligando aqueles países. Do ponto de vista das capacidades,
o índice global de ciber-segurança mensura a prontidão institucional dos Estados nacionais no espaço cibernético,
levando em consideração aspectos legais,
técnicos, organizacionais, de construção
de capacidades e cooperação internacional. O Brasil é bem posicionado regional e globalmente por suas iniciativas
políticas e mecanismos criados para lidar com os desaios do ciberespaço.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
49
Capítulo 3:
Enara Echart Muñoz
GEOPOLÍTICA DA
AMÉRICA DO SUL
Enara Echart Muñoz
A América do Sul pode ser entendida como o núcleo do entorno estratégico da política
brasileira de defesa, que também compreende países e territórios situados em outras
regiões próximas, como o Atlântico Sul, a costa ocidental da África e a Antártida. O que
o Estado brasileiro julga prioritário defender e quais são suas reais capacidades de ação?
Quais são as dificuldades enfrentadas pelos governos de turno para implementar a
política brasileira de defesa? No início do século XXI, os processos de integração
regional da América do Sul são parte de um novo ciclo político na região, distinto de
todas as conjunturas políticas vivenciadas desde as independências no início do século
XIX até o final do século XX. Nesse novo ciclo político, forças progressistas das nações
sul-americanas, lideradas por alguns de seus governos, buscaram organizar uma nova
perspectiva coletiva sobre o lugar da região na geopolítica internacional. Esse processo
não foi consensual entre grupos políticos e econômicos domésticos e tem-se
confrontado com a persistente hegemonia estadunidense na região. A emergência de
países asiáticos, principalmente da China, e a presença residual de antigas metrópoles
europeias na região tornam ainda mais complexa a dinâmica geopolítica regional e os
processos de integração sul-americana. O Brasil cumpriu papel decisivo nesse contexto,
tanto em termos de liderança compartilhada no auge desses processos, quanto em
termos de reduzida ambição regional na conjuntura crítica pós-2016. Na concepção
deste capítulo do Atlas, a integração regional apresenta três dimensões estratégicas: 1- a
sua interação com a divisão internacional do trabalho e o sistema de poderes e instituições multilaterais; 2- a organização de novas formações socioeconômicas; e 3- a
emergência de novos atores sociais. O tema da defesa e da segurança regional é diretamente relacionado com, pelo menos, as duas primeiras dimensões dos processos de
integração sul-americana e, por esse motivo, é fundamental o estudo das relações
estabelecidas entre o Brasil e seus vizinhos do chamado entorno estratégico. Nesse
sentido, o presente capítulo trata das interações políticas, econômicas e identitárias que
estão em curso na política brasileira de defesa para a América do Sul.
Entorno
estratégico
O artigo 4º da Constituição de 1988 estabelece que o Brasil regerá suas relações internacionais pela cooperação e
integração com os países da América
Latina. Essa orientação é seguida pelo
Livro Branco da Defesa Nacional, que
descreve que a ênfase da política de
defesa do Brasil consiste na cooperação com seu entorno geopolítico imediato, formado pela América do Sul,
Atlântico Sul, costa ocidental da África e Antártida. Nas duas últimas décadas, as ações brasileiras no Atlântico
Sul e a maior cooperação com os países africanos fortaleceram a presença brasileira nessas regiões, como, por
exemplo, por meio da constituição da
Zona de Paz e Segurança do Atlântico
Sul (Zopacas), em 1986. Em paralelo, a
presença brasileira na América do Sul
passou também por um processo de
aprofundamento.
ENTORNO GEOPOLÍTICO ESTRATÉGICO
Área do entorno geopolítico imediato do Brasil, segundo definição pelas Forças Armadas do Brasil
Cabo Verde
São Pedro e
São Paulo
Fernando de Noronha
Trindade e Martins Vaz
Países da América do Sul
Países Membros da Zopacas
Zona econômica exclusiva brasileira
Atlântico Sul
*Argentina e Uruguai são membros da
Zopacas
Labmundo, 2017
500 km
Fonte: Livro Branco de Defesa Nacional, 2012
OPERAÇÕES ÁGATA E CONTROLE DE FRONTEIRAS
Evolução do efetivo total e da participação de militares nas operações Ágata, em milhares,
entre 2011 e 2016
5
10
15
20
25
30
Ágata 1
agosto 2011
Ágata 2
setembro 2011
Ágata 3
dezembro 2011
*Os efetivos totais das Operações Ágata 8 e 10
são quantidades aproximadas. Não há dados
que distingam militares e funcionários de outras
agências na operação 8.
Ágata 4
maio 2012
Ágata 5
agosto 2012
Ágata 6
outubro 2012
Ágata 7
junho 2013
*Ágata 8
maio 2014
*Ágata 10
outubro 2015
Ágata 11
junho 2016
Fonte: Sítio web do Ministério da Defesa, 2016.
52
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Efetivo total
Efetivo militar
Labmundo, 2017
Ágata 9
agosto 2015
O Brasil, que faz fronteira com nove
países sul-americanos, além da Guiana Francesa, possui na colaboração em
temas de defesa com seus vizinhos um
dos pilares de sua atuação na região.
Dos cerca de 16 mil quilômetros da
fronteira brasileira, aproximadamente
12 mil correspondem à Amazônia Legal, fato que torna o monitoramento
da região uma das prioridades do controle de fronteiras. Nesse sentido, as
Forças Armadas do Brasil instituíram a
Operação Ágata, que faz parte do Plano Estratégico de Fronteiras do Governo Federal. A operação, realizada
desde 2011, é destinada a coibir delitos
transfronteiriços, como contrabando
e narcotráico, e possui edições com
mais militares nos períodos dos mega-eventos que o país sediou, a Copa
das Confederações (2013), a Copa do
Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016).
Além disso, o governo também estabeleceu o Programa Nacional de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira,
devido à interdependência entre defesa e questões socioeconômicas.
Uma das estratégias brasileiras para implementar a cooperação com os países da América do Sul é a realização
de exercícios militares conjuntos, em
que os oiciais têm a oportunidade de
realizar treinamentos e simulações. A
principal operação conjunta é a Operação Fraterno, realizada desde 1978
pela Marinha Brasileira e pela Armada Argentina. A operação possui como
objetivo aprimorar o nível de operabilidade entre ambas as Forças, assim
como promover um melhor relacionamento e conhecimento proissional e
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
AMPLIAÇÃO DAS ZONAS ECONÔMICAS EXCLUSIVAS
OPERAÇÕES FRATERNO
Meios navais utilizados em exercícios militares
conjuntos, entre 2006 e 2015
20
06
20
08
20
10
20
20
11
Áreas pleiteadas à Comissão de Limites da ONU
TO
TA
L
20
12
13
20
14
20
15
Meios aéreos
ZEE original da Argentina
Corveta
ZEE da Argentina expandida
Pleito argentino de
expansão da ZEE
Navio
ZEE original do Uruguai
ZEE do Uruguai expandida
Fragata
ZEE do Brasil
Pleito brasileiro de
expansão da ZEE
Carro anfíbio
Submarino
Contratorpedeiro
Grupamento
de fuzileiros
1000 km
Grupamento de
mergulhadores
Malvinas
28
13
Armada Argentina
1
*As edições de 2007 e 2009
foram canceladas a pedido
da Armada Argentina.
Fonte: Comando da Marinha via Portal da Transparência, 2016
de doutrinas. O planejamento e a execução do exercício ocorrem, alternadamente, em cada um dos países e nas
suas respectivas águas jurisdicionais.
Foram realizadas 8 operações nos últimos dez anos, em que foram utilizados
submarinos, fragatas, corvetas, entre
outros meios navais e aeronavais. As
duas Marinhas realizaram, ainda, entre
1994 e 2002, a Operação ARAEX, cujo
objetivo era prover qualiicação, em
operações a bordo de navios-aeródromo, aos pilotos da Armada Argentina.
Os Exércitos de Brasil e Argentina também cooperam em diversas operações,
como a Hermandad, Yaguareté, Saci,
Duende e Guarani, exercícios estabelecidos pela Conferência Bilateral de
Estado–Maior. Estes são realizados
no território de ambos os países, com
a utilização de tropas terrestres e aeromóveis, simulando forças-tarefa. A cooperação ocorre, ainda, entre as Forças
Aéreas, com destaque para as Operações Prata e Cruzex. A Operação Prata
consiste em exercícios aéreos combinados na região de fronteira entre Brasil e Argentina. Outros países vizinhos,
como Uruguai e Paraguai, participam
de exercícios combinados com as Forças Armadas brasileira e argentina de
forma recorrente, o que contribui para
a cooperação a nível regional em defesa.
Brasil, Argentina e
Uruguai convergem,
ainda, na importância
estratégica que conferem ao Atlântico Sul.
Os três países formularam pedidos à Co- Fonte: Sítio web da Comissão de Limites da ONU, 2016.
missão de Limites da
Plataforma Continental da ONU reivindicando a extensão de
à Comissão, solicitando incremento de
suas respectivas águas jurisdicionais para cerca de 960.000 km². O pleito brasialém das 200 milhas náuticas. Em 2014, leiro foi concedido apenas parcialmente
o Uruguai recebeu resposta airmativa em 2007 e, desde então, o Brasil reforao seu pleito, e aumentou sua platafor- mulou seu pedido para assegurar o conma continental para 350 milhas náuticas. trole sobre a área, signiicando que o
Em 2016, a Argentina conseguiu a exten- aproveitamento de recursos dependerá
são, incorporando área adicional ao seu de consentimento do governo brasileiterritório marítimo. Entretanto, a situ- ro. Esse aumento adquiriu nova imporação argentina é debatida na Comissão tância desde a descoberta de reservas de
desde 2009, pois o pleito inicial requeria petróleo e hidrocarbonetos na camada
a incorporação da região das Ilhas Mal- do Pré-Sal. A Comissão de Limites manvinas e Sandwich do Sul, área de disputa teve em sua agenda a análise do pleito
com o Reino Unido, e de região próxi- brasileiro, aguardando a informação de
ma à Antártida, que possui regime pró- dados que comprovem que a extensão
prio de ocupação, restrito à pesquisa e pedida pelo Brasil condiz com o prolondeinido por tratado. A Comissão, por- gamento natural de seu território.
tanto, não concedeu essas áreas críticas à
soberania argentina.
Labmundo, 2017
Marinha Brasileira
Ilhas Geórgia do Sul
e Sandwich do Sul
Labmundo, 2017
Reboque
VEJA TAMBÉM:
A requisição de ampliação da plataforma
continental brasileira teve início com
os trabalhos do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira
e, em 2004, o Brasil submeteu proposta
Presença de potências extrarregionais p. 56
Amazônia Azul p. 64
Brasil: potência regional? p. 68
Cooperação regional em defesa p. 58
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
53
América do Sul:
um continente
pacíico?
Alguns projetos de pesquisa, sediados em países centrais, buscam consolidar bases de dados que registram os
mais variados conlitos no sistema internacional. Há, no entanto, enormes
limitações quanto à sua atualização e
principalmente quanto aos critérios de
classiicação dos conlitos. Talvez por
isso, a cartograia temática raramente
tenha abordado esse material de pesquisa. Apesar dessas limitações, é possível sublinhar algumas tendências:
observou-se a redução no número de
conlitos interestatais no pós-Guerra Fria e uma concentração dos conlitos na África e no Sul da Ásia, com
na África Subsaariana, os quais geraram consequências humanitárias graves e impactos substanciais no sistema
internacional. Entre os conlitos intraestatais, deve-se ressaltar sua relação
direta com processos de desagregação
social e crises de toda ordem (econômica, ambiental, humanitária, política). Revelam a falta de Estados com
capacidades institucionais adequadas
e, ademais, decorrem dos programas
de ajuste estrutural e dos processos de
globalização econômica e inanceira.
destaque para a violência intraestatal. A América do Sul apresenta baixo
nível de ocorrência de conlitos intraestatais, interestatais e disputas interestatais militarizadas.
Quando se abordam os conlitos internacionais, conforme alguns pesquisadores, incluem-se aqueles cujo
resultado é um número superior a 1000
baixas – ou seja, a guerra – e também
aquelas disputas interestatais militarizadas com menor dimensão, como ameaças de uso da força, demonstração de
força ou pequenas escaramuças que envolvem uso de força militar. Entre 2002
e 2010, predominaram, no sistema internacional, ocorrências nas quais há alguma demonstração (ou mesmo o uso)
de força, por parte de um dos países envolvidos na disputa. Geograicamente,
Entre 1990 e 2010, o espectro do conlito, no plano global, caminhou para
uma predominância dos conlitos intraestatais em detrimento dos clássicos conlitos interestatais. Do ponto
de vista interestatal, destaca-se a guerra
do Iraque, levada a cabo por uma coalizão multinacional liderada pelos EUA
sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU, e conlitos armados
TENSÕES NO MUNDO E NA AMÉRICA DO SUL
Quantidade absoluta de disputas interestatais militarizadas no sistema internacional, por região e
período, entre 2002 e 2010
Entre 2005 e 2007
10
10
Á
e fric
O
a
Su cea
Or l as nia
Am
ie iát
ér Le nte ico
ica s M
do te e éd
u i
Am Sul rop o
ér e C eu
ica en
Oe d tra
st o N l
e o
eu r t
ro e
pe
u
20
Ás
ia
Ás
ia
Á
e fric
O
a
Su cea
l a nia
O
s
Am
rie iá
ér Le nte tico
ica s M
do te e éd
u i
Am Sul rop o
ér e C eu
ic e
Oe a d ntra
st o N l
e o
eu r t
ro e
pe
u
10
20
Á
e fric
O
a
Su cea
Or l as nia
Am
ie iát
ér Le nte ico
ica s M
do te e éd
u i
Am Sul rop o
ér e C eu
ica en
Oe d tra
st o N l
e o
eu r t
ro e
pe
u
20
Entre 2008 e 2010
Fonte: Palmer, D'Orazio, Kenwick e Lane, 2015.
Labmundo, 2017
Entre 2002 e 2004
EUA
Ás
ia
Disputas interestatais militarizadas de países da
América do Sul, por país, entre 2002 e 2010
Evolução do total de disputas interestatais militarizadas no sistema internacional, por tipo de disputa e
ano, entre 2002 e 2010
Rússia
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
TO
TA
L
1000 km
Ameaça de
uso de força
Quantdade
de disputas
Demonstração
de força
1 2 3
Uso de força
*A origem da seta representa o país que iniciou a
disputa interestatal militarizada e o fim da seta
representa o outro país envolvido.
54
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
TOTAL
39
1
Fonte: Palmer, D'Orazio, Kenwick e Lane, 2015.
Labmundo, 2017
Fonte: Palmer, D'Orazio, Kenwick e Lane, 2015.
148
Labmundo, 2017
** Disputas interestatais militarizadas são casos de
conflito entre Estados em que há ameaça,
demonstração ou uso limitado de força militar por
Estado explicitamente dirigidas ao governo,
representantes oficiais, forças oficiais, propriedade
ou território de outro Estado.
Guerra
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
CONFLITUOSIDADE INTERESTATAL E INTRAESTATAL
Interestatal 1990-1998
Intraestatal 1990-1998
Interestatal 1999-2006
Intraestatal 1999-2006
Interestatal 2007-2014
Intraestatal 2007-2014
1000 km
Quantidade de
guerras*
12
Quantidade de
conflitos*
Índice de violência
civil intraestatal
*Considera-se guerra quando há
mais de 1000 baixas.
Considera-se conflito internacional
quando há de 25 a 999 baixas.
14 8
9
6
3
1
Quantidade de
conflitos intraestatais
9
3
1
Fontes: Pettersson, Wallensteen, Gledistch et al., 2002.
veriica-se um número mais elevado de
disputas no continente africano, sul asiático e Oriente Médio.
A literatura que aborda a geopolítica sul-americana compartilha um consenso relativo de que a utilização de
teorias do tipo “dilema de segurança”
não são totalmente aplicáveis ao continente. Historicamente, desenvolveu-se
uma zona de não guerra, o que não necessariamente signiica dizer uma zona
de paz. O sistema de equilíbrio de poder sul-americano resultou da mitigação das tensões entre Brasil e Argentina
materializada nos acordos de Tlateloco, abrindo caminho para um processo
de regionalização da segurança em uma
comunidade plural. Foi possível, no
entanto, identiicar algumas disputas
menores no período 2002-2010. Destaque-se as tensões regionais entre Venezuela, Colômbia e Equador. Também
Labmundo, 2017
Índice de violência
interestatal
5
4
2
1
ocorreram duas disputas envolvendo relativamente pacíico, do ponto de
atores extrarregionais. Em 2002, a Rús- vista da violência interestatal. Quansia protestou contra a apreensão pela to ao entorno estratégico expandido
Argentina de um barco pesqueiro de – entendido como a projeção dos inbandeira russa cuja tripulação alegou teresses brasileiros para o continente
estar pescando em águas internacio- africano -, veriicam-se naquele connais, quando, de fato, estavam pescan- tinente pontos de conlito intraestatal
do em águas territoriais argentinas. Em e interestatal que podem gerar desa2010, um incidente internacional entre ios para o Brasil. Em seu esforço de
EUA e Venezuela foi gerado porque o projeção internacional, o Brasil pogoverno venezuelano ordenou que ca- derá ter de lidar com focos de tensão
ças fossem interceptar um avião militar na África, contribuindo com efetivos
estadunidense que, alegadamente, inva- em operações de paz, cooperação indiu o espaço aéreo venezuelano duas ve- ternacional ou atuando como mediazes num total de 34 minutos. O Brasil, dor de crises.
neste período, envolveu-se numa disputa militarizada com o Peru: 100 militaVEJA TAMBÉM:
res brasileiros ultrapassaram a fronteira
com aquele país, em meio a uma dispu- Cooperação regional em defesa p. 58
ta entre cidadãos de ambos os países.
Brasil: potência regional? p. 68
As evidências sugerem que o entorno estratégico imediato do Brasil é
Presença de potências extrarregionais p. 56
Integração regional (Atlas da PEB) p. 86
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
55
Presença de
potências
extrarregionais
O receio de perder parte de seu território, principalmente na Amazônia,
foi um dos elementos que deu origem
à preocupação com a defesa do Brasil, desde o século XIX. Hoje, a defesa
do território e da plataforma continental continua sendo prioridade. Legados
históricos do colonialismo, do imperialismo e da Guerra Fria ainda geram
consequências na conjuntura atual sul
-americana no que tange à presença de
potências extrarregionais. Constituída
originalmente como colônias de metrópoles europeias e inserida na área de
inluência dos EUA ao longo do século
XX, a região ainda apresenta territórios
sob controle de países europeus, assim
como fortes laços no âmbito da defesa,
treinamento de tropas e outras áreas estratégicas. É o caso da Guiana Francesa,
um território ultramarino da França
que abriga a base de Caiena, além do
Centro Espacial de Kourou. O Reino
Unido também tem bases em ilhas próximas ao continente sul-americano. Por
exemplo, a base naval na Ilha de Ascensão e a base nas Malvinas, território reivindicado pela Argentina que foi objeto
de um conlito armado entre os dois países em 1982.
Ao longo do século XX, em especial após
a Segunda Guerra, os EUA tornaram-se
a principal potência econômica e militar
na região. A presença militar é evidente, por exemplo, pelo controle da base
de Mariscal, no Paraguai. Além disso,
os EUA também se fazem militarmente presentes por meio da Quarta Frota de sua marinha, que tem a missão de
patrulhar as águas internacionais no entorno da América do Sul. Embora o Brasil e a Argentina sejam os únicos países
da América do Sul sem acordo de cooperação militar vigente em 2016, ambos
têm histórico de parceria com a potência norte-americana. No século XXI, a
maior base estadunidense na América
do Sul situava-se em território do Equador. Entretanto, em 2009, o governo
equatoriano não renovou a concessão da
base de Manta aos EUA, e as tropas estadunidenses retiraram-se do local e devolveram o controle daquela instalação.
Como alternativa, os EUA negociaram a
instalação de bases na Colômbia. Apesar
da presidência colombiana ter aceitado
o pedido, a concretização dos acordos
foi impedida pela Suprema Corte que
entendeu que a instalação iria de encontro à Constituição do país. Também há
tentativas constantes dos EUA, a im de
reaquecer negociações com a Argentina
e com o Brasil para a cessão de bases militares em seus respectivos territórios. A
área da tríplice fronteira, no sul da região, Alcântara, no nordeste brasileiro,
e áreas próximas à Antártida são vistas
como estratégicas pelos EUA.
PRESENÇA COMERCIAL
Valor absoluto das exportações feitas pelos países
da América do Sul (exceto o Brasil), por país
importador, em bilhões de dólares, em 2014
20
PRESENÇA MILITAR ESTRANGEIRA NA AMÉRICA DO SUL
Presença de bases militares com caráter de extraterritorialidade, operações militares e acordos de
cooperação militar de potências extrarregionais, em 2016
China
20,0%
EUA
19,1%
Brasil
40
60
80
6,7%
Bases de Caiena e Kourou
Japão
Espanha
Canadá
Ilha de Ascensão
Área de atuação
da Quarta Frota
dos EUA
Países da América
do Sul com acordo
de cooperação militar
vigente com os EUA
França
1,6%
EUA
28,1%
China
26,0%
Brasil
10,3%
*Os números indicam a
participação do país parceiro
no total exportado pelos
países região, sem considerar
o Brasil
Labmundo, 2017
60
80
9,5%
Japão
3,9%
França
3,9%
Espanha
40
3,0%
*Os números indicam a
participação do país parceiro
no total importado pelos
Reino
países região, sem considerar
2,0%
Unido
o Brasil
Fonte: ONU (UN Comtrade), 2016a.
Canadá
2,1%
Labmundo, 2017
Alemanha
500 km
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
1,8%
20
Ilhas Malvinas
56
2,5%
Reino
Unido
Valor absoluto das importações feitas pelos países
da América do Sul (exceto o Brasil), por país
exportador, em bilhões de dólares, em 2014
Base militar
da França
Base militar
do Reino Unido
Fontes: Sítio web do State Partnership Program dos EUA, 2016; sítio web dos US Marines, 2016; sítio web da Força Aérea Real
do Reino Unido, 2016; sítio web da Marinha Britânica, 2016; sítio web do Exército da França, 2016.
3,9%
3,2%
Fonte: ONU (UN Comtrade), 2016a.
Base militar
dos EUA
Base de Mariscal
4,0%
Labmundo, 2017
Alemanha
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
PRINCIPAIS FORNECEDORES DE ARMAMENTOS PARA A AMÉRICA DO SUL
Importação de armamentos pelos países da América do Sul por país exportador, em milhões de dólares (preço constante 1990), entre 2010 e 2015
Rússia
EUA
Alemanha
China
Países Baixos
Espanha
Itália
Reino Unido
Brasil
França
1000 km
Outros
países
1955
485
14
Fonte: SIPRI, 2016b.
Além da presença militar, vínculos comerciais e inanceiros também evidenciam a presença de países externos
à região na América do Sul. Vínculos
econômicos são próprios do capitalismo e podem produzir crescimento
econômico e diminuição do desemprego, entre outros impactos positivos.
Todavia, a assimetria entre parceiros
econômicos e o padrão mineral-extrativista tendem a reproduzir conhecidas formas de dependência na divisão
internacional do trabalho. Diferentemente do âmbito militar, em que há
forte presença dos EUA e uma residual
europeia, a China surge como potencial contraponto no campo econômico. O comércio exterior da América
DEPENDÊNCIA FINANCEIRA
Participação de investimentos externos diretos no PIB, Investimentos externos diretos na América do Sul
entre 2001 e 2015, e valor do stock de investimentos, por país investidor, em bilhões de dólares,
por país, em bilhões de dólares, em 2015
entre 2007 e 2014
20
40
60
80
100
EUA
Países Baixos
Espanha
Luxemburgo
Japão
França
Total de investimentos
Investimentos no Brasil
Labmundo, 2017
Canadá
Alemanha
Reino Unido
Brasil
Outros
1000 km
Valor em stock
Fonte: CEPAL, 2016.
614,9
229,2
1,7
Investimentos externos diretos na América do Sul
por área, em bilhões de dólares, entre 2007 e 2014
Total de investimentos
300
Menos que 10
Labmundo, 2017
Israel
do Sul é concentrado nos luxos com
os EUA e com a China, o que torna a
região mais suscetível a abalos vindos
desses parceiros. A preocupação com
a dependência externa torna-se mais
importante quando se trata de setores estratégicos. É o caso, por exemplo,
do comércio de armamentos, em sua
maioria extrarregional. Apesar da China ser um importante parceiro comercial da América do Sul, isso ainda não
se relete nos investimentos. O principal investidor na região são os EUA,
seguidos dos Países Baixos. Devido à
escala de sua economia, entre outros
motivos, o Brasil é o principal destino
dos investimentos estrangeiros diretos em termos absolutos. Todavia, em
comparação com o Brasil, outros países da região são mais dependentes desses luxos inanceiros, como é o caso
do Chile, em que 62% do PIB em 2015
correspondeu a investimentos vindos
de outras regiões, e da Bolívia, com
41,3%. Os setores mais atrativos para
os investimentos externos são de serviços (como bancos, telecomunicação,
transporte), indústria de extração (mineradoras e petrolíferas, por exemplo)
e indústria manufatureira.
Investimentos no Brasil
Fonte: CEPAL, 2016.
200
VEJA TAMBÉM:
100
Amazônia Verde p. 62
Amazônia Azul p. 64
Serviços
Recursos
naturais
Fonte: CEPAL, 2016.
Manufaturas
Outros
Labmundo, 2017
*Valor do stock do Uruguai
e da Venezuela é referente
ao ano de 2014
**Não há dados para Guiana
67
33
25
18
16,8
Labmundo, 2017
Participação no
PIB, em %
República e desafios geoestratégicos p. 18
República (Atlas da PEB) p. 18
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
57
Cooperação
regional
em defesa
Durante a Guerra Fria, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, a cooperação em defesa envolvendo apenas
países sul-americanos era de baixa intensidade. Nesse período, uma das poucas iniciativas de destaque no âmbito
da cooperação regional (e hemisférica) em defesa era a cooperação repressiva desenvolvida pela Operação Condor.
Ao inal dos anos 1970, a cooperação
os processos de redemocratização e de
busca por maior autonomia na região,
que contribuíram para aproximarem os
Estados e as elites estratégicas nacionais.
Com a intensiicação da integração cultural, econômica, social e política regional nas últimas décadas do século XX,
os Estados sul-americanos desenvolveram a compreensão de que a integração
não poderia se fundar em um ambiente de insegurança. Assim, a partir da
nova onda regionalista do século XXI,
os Estados sul-americanos avançaram
para uma maior cooperação e intercâmbios no eixo de defesa e convergiram
na constituição de arranjos de defesa e
de segurança abrangendo organizações
regionais, através da criação, em 2008,
do Conselho de Defesa Sul-Americano vinculado à Unasul. Diferentemente das alianças militares convencionais,
como a OTAN, o CDS é uma instância
de consulta, cooperação e coordenação
regional em defesa. Seu funcionamento é regido pelos princípios de respeito
à soberania, à autodeterminação e à integridade territorial dos Estados, assim
como de não intervenção em assuntos
internos e de respeito às instituições democráticas e aos direitos humanos. O
CDS estabelece os seguintes objetivos
gerais: a) consolidar uma zona de paz
sul-americana; b) construir uma identidade comum sul-americana em defesa; c) gerar consensos para fortalecer a
cooperação regional em defesa. E especíicos: a) analisar os elementos comuns
para uma visão conjunta em defesa; b)
promover o intercâmbio de informações e análises regionais e internacionais
sul-americana em defesa sofreu forte
impulso em virtude de três fatores. A
transformação das relações bilaterais
entre os países do Cone Sul após a superação das desconianças e de conlitos
fronteiriços que persistiam sem solução
desde o século XIX; o enfraquecimento da credibilidade do sistema interamericano, devido o apoio dos EUA ao
Reino Unido na Guerra das Malvinas;
COMPLEXOS REGIONAIS DE SEGURANÇA
Principais complexos regionais de segurança em 2016.
JID
TIAR
OSCE
OTAN
1000 km
União Africana
*Papua-Nova Guiné e Timor-Leste são
membros observadores da ASEAN;
Conselho de Defesa
Sul-Americano
Fontes: Elaboração própria. Bases: OTAN, OSCE, ASEAN, UA, UNASUL, JID, Comissão de Segurança Hemisférica OEA, 2016.
Labmundo, 2017
ASEAN*
CRIAÇÃO DO CONSELHO DE DEFESA DA UNASUL
1942
1962
Junta Interamericana
de Defesa (JID)
Criação do Colégio
Interamericano de Defesa
1946
Criação da Organização
da União Africana
1947
Tratado Interamericano
de Assistência Recíproca
Crise de delimitação
marítima: Peru-Chile
Crise Itaipu-Corpus
1963
Criação da Escuela de
las Américas no Panamá
1986
1973
Criação da Comissão 1995
Interamericana para Reforma do Colégio
o controle do abuso Interamericano de Defesa
de drogas
Crise do
Beagle:
Argentina
Chile
Criação da Academia Interamericana
de las Fuerzas Aéreas
1979
1948
1948
Pacto de Bogotá
Crise da
Corbeta Caldas:
Colômbia e
Venezuela
Criação da ABACC
Iniciativa de Cartagena
1991
Criação da Comissão
Especial de Segurança da OEA
1984
Tratado de Paz
e Amizade:
Argentina-Chile
Declaração em
Política Nuclear:
Brasil-Argentina
1960
58
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
1970
1980
1990
2004
Criação da CASA
2004
1991
1985
1950
Criação do Comitê Interamericano
contra o Terrorismo
1991
Guerra das
Malvinas
Fonte: Abdul-Hak, 2013; Sítio Web do MRE, 2016.
1999
Compromisso de Mendoza
1982
Eventos de efeitos globais
Acordo de Brasília
1991
Conflito
Falso Paquisha
Eventos hemisféricos
1998
Criação do
Mercosul
1981
Eventos sub-regionais
Acordos bilaterais: Brasil-Argentina
1991
Acordo de
Energia
Nuclear:
Brasil-Argentina
Criação da OTAN
1997
1990
1980
1949
Acordo de Cooperação Militar:
Brasil-Paraguai
Peru denuncia
o TIAR
Acordo
Itaipu-Corpus
Adoção da Carta da OEA
1995
1987
1978
Crise de delimitação
de fronteira:
Bolívia e Chile
1947
Criação da Comissão de
Segurança Hemisférica
1986
1978
1967
Criação da ASEAN
1995
Criação da ALBA
2004
Participação de países
sul-americanos na MINUSTAH
1992
Fim da Guerra Fria
1995
Conflito de Cenepa:
Equador-Peru
2005
Série de Acordos bilaterais
do Brasil com países da região
2008
Crise de "Reyes":
Equador-Colômbia
2008
1995
Conferências Ministeriais
de Defesa das Américas
2000
Labmundo, 2017
Antecedentes da Criação do Conselho de Defesa da UNASUL
Criação do Conselho
de Defesa da Unasul
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
EXERCÍCIOS MILITARES BILATERAIS
POLÍTICAS DECLARATÓRIAS DE DEFESA
Quantidade de exercícios bilaterais entre países
membros da Unasul, por país, entre 2010 e 2016
Documentos sobre defesa entre os países membros da Unasul
15
25
Argentina
Argentina
Brasil
Chile
Uruguai
Peru
Bolívia
- Libro Blanco de la Defensa (2004); e
- Bases para la Discusíon de la doctrina de Seguridad y Defensa del Estado Plurinacional de Bolívia (2010).
Brasil
- Política Nacional de Defesa (1996);
- Política Nacional de Defesa (2005);
- Estratégia Nacional de Defesa (2008);
- Estratégia Nacional de Defesa (2012);
- Política Nacional de Defesa (2012); e
- Livro Branco da Defesa Nacional (2012).
Chile
- Libro de la Defensa Nacional de Chile (1997);
- Libro de la Defensa Nacional de Chile (2002); e
- Libro de la Defensa Nacional de Chile (2010).
Bolívia
Equador
Paraguai
Guiana
Suriname
Fonte: Donadio e Tibiletti, 2012; Donadio e Tibiletti, 2014.
Labmundo, 2017
Venezuela
Colômbia
para identiicar fatores de risco que interiram em um ambiente de paz; c) articular posições regionais em fóruns
multilaterais de defesa; d) proporcionar a construção de visões compartilhadas sobre defesa; e) fortalecer a adoção
de medidas de coniança entre os países;
f ) promover o intercâmbio e a cooperação na indústria de defesa; g) fomentar
o intercâmbio de formação e capacitação militar e promover a cooperação
acadêmica entre centros de estudo da
defesa; h) estimular e apoiar ações humanitárias; i) compartilhar experiências em operações de paz da ONU; k)
incorporação da vertente de gênero no
campo da defesa. Em seu funcionamento, as ações do CDS inserem-se em
quatro grandes eixos: 1) Políticas de Defesa; 2) Cooperação Militar, Operações
de Paz e Assistência Humanitária; 3) Indústria e Tecnologia de Defesa; 4) Formação e Capacitação. Entre as ações já
desenvolvidas destacam-se: Exercícios
militares bilaterais; Cursos e seminários para fomentar a compreensão e a
visão comum de temas da defesa regional; Criação da Secretária Técnica Unasul-Haiti para auxiliar a participação e
planejar uma estratégia de redução do
contingente militar regional na Minustah; a criação do Centro de Estudos Estratégicos de Defesa, na Argentina, e
- Libro Blanco de la Defensa Nacional (1999);
- Revisión de la Defensa (2001);
- Directiva de Política de Defensa Nacional (2009);
- Libro Blanco de la Defensa Nacional (2010);
- Directiva de Política de Defensa Nacional (2014); e
- Libro Blanco de la Defensa Nacional (2015).
Colômbia
- Política de Defensa y Seguridad Democrática (2003);
- Política de Consolidación de la Seguridad Democrática (2007);
- Política de Consolidación de la Seguridad Democrática (2010);
- Política Integral de Seguridad y Defensa para la Prosperidad (2011);
- Política Nacional de Defensa de la Libertad Personal (2011); e
- Política de Defensa y Seguridad "Todos por un nuevo país" (2015).
Equador
- Política de Defensa Nacional del Equador (2002);
- Política de Defensa Nacional del Equador (2006);
- Agenda Política de la Defensa Nacional (2008);
- Agenda Política de la Defensa Nacional (2011); e
- Agenda Política de la Defensa Nacional (2014).
Paraguai
- Política de Defensa Nacional de la República del Paraguay (1999);
- Libro Blanco de la Defensa Nacional (2013); e
- Directiva de Defensa Nacional (2013).
Peru
- Libro Blanco de la Defensa Nacional del Perú (2005).
Uruguai
- Bases de uma Política de Defensa Nacional (1999); e
- Política de Defensa Nacional (2014).
Fonte: Souza, 2015.
da Escola Sul-Americana de Defesa, no
Equador, com o objetivo de gerar uma
doutrina sul-americana de defesa; Desenvolvimento do projeto do avião
EPB-Unasul-I.
Apesar dessas iniciativas terem permitido avançar a cooperação em defesa entre os países da região, isso ocorreu de
modo bastante desigual. Enquanto os
exercícios militares bilaterais se intensiicam no Cone Sul, entre os países andinos, seu desenvolvimento encontra
um obstáculo na persistência de tensões político-militares agravadas pelos
efeitos do conlito político, econômico,
social e militar na Colômbia, pela Política de Defensa y Seguridad Democrática de 2003 iniciada por Álvaro Uribe
e continuada por Juan Manuel Santos
Labmundo, 2017
5
(ex-Ministro de Defesa de Uribe), assim como pela priorização dos EUA
enquanto principal parceiro em cooperação militar do Estado colombiano,
através do Plano Colômbia. As crises
de natureza econômica, derrotas eleitorais dos governos progressistas e a ameaça de ruptura institucional em alguns
governos progressistas mais autonomistas na região também são variáveis
a serem consideradas na construção de
cenários futuros do CDS.
VEJA TAMBÉM:
América do Sul: um continente pacífico? p. 54
Brasil: potência regional? p. 68
Cooperação Sul-Sul em defesa p. 72
Integração regional (Atlas da PEB) p. 86
MULHERES NAS FORÇAS ARMADAS
2
2
2
1
1
1
ez
Ve
n
Bo
Ur
ez
ue
Ur
Ve
n
Fonte: Donadio e Tibiletti, 2016.
ue
la
Br
as
Ur il
ug
Ar ua
ge i
nt
in
a
Ch
Pa ile
ra
gu
ai
Pe
Co ru
lô
m
b
Eq ia
ua
do
r
Bo
lív
ia
Força Aérea
3
lív
ia
ug
Ar ua
ge i
nt
in
a
Ch
Eq ile
ua
do
r
Pe
Pa ru
ra
g
Ve ua
ne i
zu
Co ela
lô
m
bi
a
Br
as
il
Exército
3
la
ug
Ar ua
ge i
nt
Co ina
lô
m
b
Pa ia
ra
gu
Eq ai
ua
do
r
Pe
ru
Ch
ile
Bo
lív
ia
Br
as
il
Marinha
3
*O índice indica a patente máxima atingida por uma mulher, em que a escala varia de 0 a 3,
onde 3 é a patente máxima dentro da respectiva força armada e 0 a patente mínima.
Labmundo, 2017
Posto máximo de oficial alcançado por mulheres formadas nas academias militares, por país, em 2014.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
59
Cosiplan e IIRSA
A constituição do Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan) em 2009, no âmbito da
Unasul, como um conselho setorial, representou uma inciativa importante do
ponto de vista econômico e geopolítico,
indo além do modelo de regionalismo
aberto que prevalecera anteriormente.
Em 2011, a IIRSA, criada no ano anterior, foi incorporada ao Cosiplan, para
que atuassem conjuntamente no planejamento da conectividade regional e da
articulação das infraestruturas. A missão
do Conselho é ser o âmbito de discussão
política sobre a implementação das estratégias de integração da infraestrutura
na América do Sul, com o compromisso de não descuidar dos aspectos históricos e das dimensões social, econômica e
ambiental do desenvolvimento, fomentando a cooperação regional nas áreas de
planejamento e infraestrutura por meio
da consolidação de alianças estratégicas
entre os países da Unasul. As mudanças de governos na região impactaram
na abordagem do Cosiplan. No governo
FHC, a prioridade da IIRSA era a liberalização econômica e a parceria prioritária com o capital privado, e meio para
alcançar o Pacíico e o mercado chinês.
Com a ascensão de governos progressistas, o Cosiplan adquiriu contornos mais
político-estratégicos, e os debates sobre
infraestrutura foram conectados às demandas sociais e à superação das assimetrias entre os membros da Unasul.
PROJETOS COSIPLAN
Quantidade todal de projetos do Cosiplan, por setor e por país, em 2015
Ar
ge
nt
in
a
Br
as
il
Pe
r
u
Ch
ile
Pa
ra
g
Eq
u
Bo
ua
i
lív
ia
Ur
ad
or
Ve
n
Co
l
ez
ôm
ug
ua
i
bi
a
la
TO
TA
L
Su
Gu
ue
ia
na
rin
am
e
Rodoviário
Fluvial
Passagens de
fronteira
Ferroviário
Interconexão
energética
Marítimo
Geração
de energia
Aéreo
Interconexão em
comunicações
Multimodal
TOTAL
Labmundo, 2017
296
83
1
Fonte: Cosiplan, 2016.
A construção de uma rede integrada
de infraestrutura criaria uma capacidade de logística fundamental para as
políticas de defesa dos países da região.
FONTE DO FINANANCIAMENTO
Financiamento de projetos do Cosiplan, por fonte e país, em bilhões de dólares, em 2015
Público
Privado
Parceiria público-privado
1000 km
38,4
0,05
Fonte: Cosiplan, 2016.
60
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
19,6
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
É importante também tratar dos setores de infraestrutura com os quais o
Cosiplan trabalha: transportes, energia
e comunicações. Subordinados a estas
áreas, existem projetos nos setores aéreo, rodoviário, ferroviário, luvial, marítimo, multimodal, de passagens de
fronteira, de interconexão energética,
geração de energia e de interconexão
em comunicações. A área de transportes é a que possui maior quantidade de projetos, e o setor rodoviário é
o que mais se destaca. Essa importância do modal rodoviário acontece por
causa do lobby das empreiteiras. Em
seguida, vem o ferroviário e o luvial.
O desenvolvimento destes setores é
INTEGRAÇÃO PELA INFRAESTRUTURA
Quantidade de projetos do Cosiplan por país,
em 2015
180
140
100
60
Ar
ge
nt
in
a
Br
as
il
Pe
ru
C
Pa hile
ra
gu
Bo ai
lí
Ur via
ug
Eq uai
u
Co ado
lô r
Ve mb
ne ia
zu
e
Gu la
Su ian
rin a
am
e
Labmundo, 2017
20
Fonte: Cosiplan, 2016.
Investimento estimado do Cosiplan por país, em
bilhões de dólares, em 2015
7
5
B
Ar ras
ge il
nt
Eq ina
ua
do
r
Ch
Pa ile
ra
gu
ai
Pe
r
Bo u
Co lívi
lô a
m
Ur bia
ug
Su ua
rin i
Ve am
ne e
zu
e
Gu la
ia
na
1
Fonte: Cosiplan, 2016.
Labmundo, 2017
3
fundamental para a estratégia de ligação dos oceanos, que colaboraria para
a diminuição dos custos de escoamento da produção, para incentivar relações mais incisivas com países asiáticos
e para a integração regional.
A iniciativa conta com um enfoque
nos chamados eixos de integração e desenvolvimento. Os eixos são espaços
multinacionais onde existem assentamentos humanos, zonas produtivas e
luxos comerciais, e onde a integração
nos setores de transporte, energia e comunicações deve ser incentivada. A deinição destes eixos ocorre por meio da
análise do território, que utiliza critérios técnicos, e passa por um processo
de validação sócio-política. Os atores
mais inluentes são os governos, embora o papel do setor privado não seja
desprezível. Muitos analistas acreditam
que o Cosiplan não apenas funciona
como um braço da internacionalização
das políticas desenvolvimentistas, mas
também como ferramenta estratégica
de expansão do poder dos Estados. Para
além disso, os críticos airmam que por
meio dos benefícios às empresas privadas contempladas pela carteira de
projetos, o Conselho contribui para a
expansão do capital. É importante destacar, no entanto, que as principais fontes de inanciamento dos projetos são
os tesouros de cada país, com investimentos estimados em 69,735 bilhões de
dólares. Os inanciamentos privados
aparecem em segundo lugar. A carteira de projetos conta também com inanciamentos do BID, CAF, FOCEM,
Fonplata, BNDES, JBIC, União Europeia, bancos privados, Banco Mundial
e do governo da China.
Em 2015, o país com a maior quantidade de projetos no Cosiplan era a Argentina, seguida pelo Brasil e pelo Peru.
Em relação aos investimentos estimados, o cenário muda, com o Brasil sendo o líder, seguido pela Argentina e pelo
Equador. Sobre as modalidades de inanciamento, e no que se refere a quantidade de projetos, é possível observar
que o investimento público é majoritário em todos os países, porém, quando se analisa o inanciamento do ponto
de vista do dinheiro investido, países
como Chile e Peru mostram que o investimento do setor privado pode ultrapassar o inanciamento público, mesmo
estando envolvido em menos projetos. Também existe a questão das parcerias mistas, que se tornam mais visíveis
nos dados do Brasil, onde esse tipo de inanciamento ocupa o segundo lugar em
INTEGRAÇÃO PELA INFRAESTRUTURA
Quantidade de projetos do Cosiplan por etapa e
por eixo, em 2015
Pr
é-
Pl
a
ne
ja
m
en
to
ex
ec
uç
ão
Ex
ec
Co
n
uç
ão
clu
íd
o
TO
TA
L
Mercosul - Chile
Hidrovia
Paraguai Paraná
Capricórnio
Amazonas
Andino
Interoceânico
central
Sul
Peru - Brasil
Bolívia
Escudo das
Guianas
TOTAL
*O relatório do Cosiplan não
disponibiliza dados sobre o
Eixo Andino do Sul
Fonte: Cosiplan, 2016.
191
49
2
Labmundo, 2017
Superar a inexistência de eixos logísticos de integração na região, legado de
seu passado colonial, tornou-se estratégia destes países, favorecendo setores
basilares da infraestrutura para impulsionar o desenvolvimento, a autonomia
e a segurança nacional. Os processos de
integração têm como objetivo identiicar os obstáculos que impedem o desenvolvimento da infraestrutura da região
e propor ações que permitam a superação de tais barreiras. Uma questão estratégica importante é a ligação entre os
oceanos Atlântico e Pacíico que a rede
de infraestrutura proporcionaria, especialmente com a crescente importância
econômica e política da vertente do Pacíico para a região.
matéria de capital investido. É relevante
também a diferença entre inanciamento estimado e investimento realizado. O
eixo Mercosul-Chile é o que recebeu
maior aporte em projetos já concluídos (foram 8,351 bilhões de dólares dos
5,6169 bilhões previstos), seguido pelo
Amazonas (6,429 bilhões de dólares dos
22,241 bilhões estimados) e Peru-Brasil-Bolívia (5,980 bilhões de dólares dos
3,1432 bilhões estimados). O im do ciclo das commodities e a mudança de signo político-ideológico dos governos da
região tornam bastante incertas a construção de cenários futuros para o Cosiplan, ameaçando a continuidade do
comprometimento prévio dos governos
sul-americanos, e do Brasil em particular, no planejamento estratégico em infraestrutura regional. Além disso, com o
possível enfraquecimento das empresas
brasileiras de construção civil, envolvidas nas investigações da Lava-Jato, a participação do setor privado internacional
pode aumentar sua inluência na região.
VEJA TAMBÉM:
Cooperação regional em defesa p. 58
Brasil: potência regional? p. 68
Integração regional (Atlas da PEB) p. 86
Energia e integração (Atlas da PEB) p. 92
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
61
Amazônia verde
A região Pan-Amazônica, na América do Sul, composta pela loresta tropical de maior extensão e biodiversidade
do mundo e habitada por cerca de 34
milhões de pessoas, compreende nove
países, 40% de todo o território sul-americano, 20% da água doce disponível no
mundo e uma riqueza incalculável de recursos minerais, genéticos e energéticos.
Desperta interesse tanto pelo potencial
econômico, quanto pela manutenção
do equilíbrio climático e da biodiversidade do planeta, atraindo interesses de
extrativistas, agroindustriais, indústrias
farmacológicas, conservacionistas, cientistas, ONGs e governos de terceiros países. É um grande desaio de soberania
para os países que a compõem, inclusive
o Brasil cujo território corresponde a cerca de 70% de toda a extensão amazônica.
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
Localização dos conflitos, na Amazônia Verde, por tema, em 2016
Bioma Amazônia
Conflitos ocasionados por:
Gestão de água
Obras de infraestrutura
Conservação, defesa e cooperação
com os vizinhos são aspectos centrais
para o Ministério da Defesa brasileiro que, sustentado no Princípio 2 da
Declaração do Rio de Janeiro (Rio92), reairma o direito de soberania do
país na exploração dos recursos naturais segundo sua política ambiental e
de desenvolvimento, e comprometese a reduzir danos ao meio ambiente.
Dentre os principais acordos com os
vizinhos, destaca-se o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), de 1978. A
partir de 2010, com a criação da nova
agenda estratégica de cooperação amazônica, uma série de iniciativas de sustentabilidade foi estabelecida em torno
da defesa, iscalização e monitoramento da região. Dentre as iniciativas da
defesa brasileira, destacam-se o Centro Gestor e Operacional do Sistema
de Proteção da Amazônia (Censipam),
responsável por propor e implementar
ações voltadas para produção e circulação de informações técnicas visando
a proteção, a inclusão e o desenvolvimento sustentável da região. Outra
importante iniciativa, ainda em processo de implementação, é o Sistema
Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) para controle das regiões fronteiriças (16 mil quilômetros)
via satélite e radares eletrônicos.
Extração de minerais
Combustível fóssil
e justiça climática
Conservação de
biodiversidade
1000 km
Labmundo, 2017
Gestão de resíduos
Apropriação de terras e
cadeia produtiva para
energia de biocombustíveis
Fonte: Fonte: Sítio web Environmental justice Organizations Liabilities and Trade, 2016.
A presença militar na região também é
fortalecida pelo Programa Amazônia
Protegida que prevê a implementação
progressiva de pelotões especiais de fronteira, além de modernização dos existentes. Apesar de tratar-se de uma das
principais zonas estratégicas, os gastos
com defesa estão muito aquém do necessário para uma cobertura eiciente
do território. Um dos programas mais
AMAZÔNIA SUL-AMERICANA E SEU DESFLORESTAMENTO
Extensão transfronteiriça da floresta equatorial úmida na América do Sul e o avanço das fronteiras de desmatamento, em 2016
Desflorestamento até 2013:
de 2010 a 2013
1000 km
Fonte: OTCA, 1998.
62
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
de 2000 a 2005
antes de 2000
Fronteiras de
desflorestamento
Fonte: WWF Brasil, 2016.
Floresta amazônica
Labmundo, 2017
Amazônia no território
de países vizinhos
Labmundo, 2017
Amazônia no território
brasileiro
de 2005 a 2010
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
DEFESA ETNOAMBIENTAL
TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NA AMAZÔNIA LEGAL
Aldeias, territórios indígenas e Unidades de Conservação, em 2016
Principais rotas e pontos de tráfico no Brasil, em 2014
1000 km
1000 km
Recolhimento e venda
Terras indígenas
Fonte: Sítio web Instituto Socioambiental, 2016; Funai, 2015 e 2016.
Longe de representar unanimidade, a presença militar na região suscita uma série de conlitos envolvendo
as populações indígenas, bem como
a complexa sociodiversidade destes
povos quilombolas, seringueiros e ribeirinhos. Historicamente colocadas
à margem dos debates estratégicos,
tais populações tradicionais são vistas como barreira à política de defesa
da região, sobretudo por não concordarem com as delimitações fronteiriças do Estado. Com a Constituição de
1988, os povos indígenas asseguraram
direitos históricos à terra e às riquezas
naturais nela existentes, bem como o
reconhecimento de suas organizações
sociais. Mais de 70% dos índios brasileiros e cerca de 98% das terras indígenas estão na Amazônia legal. A terra
indígena compreende não apenas o
espaço ocupado pelas populações indígenas, mas todo espaço necessário
para sobrevivência de sua cultura. A
preservação das populações originárias na região enfrenta resistência de
alguns setores da sociedade que consideram a autonomia indígena como
elemento facilitador para a presença
Venda
Principais rotas de tráfico de
animais selvagens
Fonte: Renctas, 2014.
ORGANIZAÇÕES MILITARES NA AMAZÔNIA LEGAL
Municípios com organizações militares
Exército
Marinha
Aeronáutica
Fronteiras
internacionais
Principais rios
da Amazônia legal
Amazônia legal
Labmundo, 2017
efetivos de controle territorial é o Programa Calha Norte (PCN), lançado em
1985 visando à manutenção da soberania,
a integridade e ao desenvolvimento da
região. Sob operação das três forças armadas, o programa abarca cerca de 30%
do território nacional, 8 milhões de pessoas e 46% da população indígena do
Brasil e atua na construção de infraestrutura (rodovias, portos, creches, hospitais,
fornecimento de energia, poços artesianos, etc.) e assistência social.
Recolhimento
Labmundo, 2017
Unidades de Conservação
de proteção integral
Labmundo, 2017
Unidades de Conservação
de uso sustentável
1000 km
Fonte: Franchi, 2013.
e incidência de ONGs, pesquisadores
internacionais, redes de narcotráico,
biopirataria, desmatamento e extração
ilegal de minérios. Em contraposição
a tais discursos, denúncias de invasões
e de práticas desse tipo partem justamente dos povos originários e indígenas da região.
Dentre os desaios postos à defesa da
região, a biopirataria e a presença de
redes de tráico são certamente os problemas que ameaçam a soberania nacional de forma mais silenciosa e que
colocam diiculdades de controle sobre o luxo de materiais genéticos. Os
efeitos da biopirataria são notados pela
multiplicação de patentes estrangeiras sobre produtos originários da região, tanto para ins terapêuticos como
comerciais. Os altos preços de animais
e de recursos genéticos no mercado
internacional são o principal atrativo tanto para atravessadores, quanto
para as próprias populações locais que,
dada a baixa oportunidade de trabalho
e comércio na região, podem ver no
tráico de animais e naqueles recursos
uma alternativa de sustento em uma
das áreas paradoxalmente mais pobres
do ponto de vista socioeconômico no
país.
VEJA TAMBÉM:
Presença de potências extrarregionais p. 56
Amazônia Azul p. 64
Água (Atlas da PEB) p. 36
Defesa e segurança (Atlas da PEB) p. 46
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
63
Amazônia azul
O termo “Amazônia azul” refere-se a
um programa da Marinha do Brasil,
que almeja contribuir para o desenvolvimento da cultura e das questões do
mar, por meio da divulgação da importância desse tema para o país. A origem
do termo advém de um artigo do Comandante da Marinha, Roberto Carvalho, publicado em 2004, no qual
reairmar a viabilidade e a importância
de seus projetos estratégicos para a salvaguarda dos interesses relacionados a
esse território.
aborda a Amazônia Azul, descrevendo
suas riquezas e dimensões próximas à
Amazônia Verde, destacando o amplo
horizonte de valores, recursos e iniciativas. A partir daí, a Marinha adotou
o conceito como objetivo educacional,
cultural e principalmente político e estratégico, a im de ampliar sua margem
de manobra política internamente e de
ÚLTIMA FRONTEIRA NO MAR
Dimensão da área da amazônia azul e verde, em quilômetros quadrados, em 2016
São Pedro e
São Paulo
1000 km
3.600.000 km2
5.020.000 km2
Fernando de
Noronha
Amazônia verde
Amazônia azul
Fonte: IBGE, 2014; Marinha do Brasil, 2016.
Labmundo, 2017
Trindade e Martins Vaz
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR
1000 km
Fonte: Sítio web United Nations Treaty Collection, 2016.
64
2016
2006
1998
1990
1982
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Não assinaram
nem ratificaram
Assinaram a convenção,
mas não ratificaram
Labmundo, 2017
Signatários da Convenção da ONU sobre o Direito do Mar, por país e data de ratificação, entre 1982 e 2016
A relevância geográica da Amazônia
Azul pode ser veriicada em sua dimensão de cerca de 4,5 milhões de km², que
pode vir a ser alterada, tendo em vista o pleito brasileiro para ampliação de
suas fronteiras marítimas para além das
200 milhas. Este pleito envolve uma dimensão geopolítica importante, visto
que aumenta os benefícios da exploração dos recursos existentes na área.
Com isso, outros países como a Argentina e o Uruguai também formularam
pleitos para ampliar a extensão de suas
fronteiras marítimas. Em alguns países
africanos, como na Namíbia e em Angola, houve apoio brasileiro no estudo
que busca levantar informações sobre
as plataformas continentais. Comercialmente, o território destaca-se pelo
transporte das mercadorias do comércio exterior, visto que 90% dos luxos
comerciais do país são realizados pelo
mar, com destaque para o aumento no
tráfego das rotas oceânicas que ligam o
país aos mercados asiáticos, especialmente à China. Ainda no âmbito econômico, 88 % da produção de petróleo
e 90% das reservas do país se situam em
bacias sedimentares marinhas. Houve
recentemente a descoberta de novas jazidas na Bacia de Campos e na Bacia de
Santos, que foram denominados “Présal”, devido à localização do hidrocarboneto abaixo da camada geológica de
sal. O Pré-Sal, se explorado adequadamente, permitiria ao país aumentar seu
potencial de autossuiciência em petróleo. Ademais, os estudos de potencialidade indicam que, com o início da
operação dos campos do pré-sal, o país
poderá produzir excedentes, permitindo que o Brasil se torne um importante
exportador de petróleo, de gás natural
e seus derivados.
No que tange à questão da soberania, para efetivar a proteção da área da
Amazônia Azul, o Brasil investe, desde 2008, no projeto do Núcleo do Poder Naval, que almeja modernizar e
ampliar a capacidade operacional da
Marinha. Este núcleo é integrado por
diversas iniciativas, como o Programa
de Desenvolvimento de Submarinos
(Prosub), com proposta de desenvolvimento de submarinos convencionais e de propulsão nuclear, além de
um estaleiro de base naval. Ademais,
em outros programas estão planejados
a construção de um navio-aeródromo,
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
OURO NEGRO
RIQUEZAS DA AMAZÔNIA AZUL
Evolução das reservas de petróleo em bilhões de
barris, por país, entre 1990 e 2014
Mapeamento dos principais minérios do leito
marinho na costa brasileira, em 2016
298,3
Ouro e Metais Pesados
Calcário e Areia
Quantidade de espécies conhecidas na biodiversidade
marinha da Amazônia Azul, em 2016
Sulfetos
Polimetálicos
Filos do Reino Animalia
2000
60,1
2,0
1000
Diamante
ífe
ro
s
s
Po
r
eo
s
r io
dá
Cn
i
An
el
íd
Pe
ixe
s
M
Cr
us
1000 km
,8%
396
ol
us
tá
ce
os
,3%
490
co
s
Equador
Fonte: Miloslavich et al., 2011.
Venezuela
Filos do Reino Plantae
257,9
Brasil
%
400
Calcário e Areia
200
Argentina
Labmundo, 2017
sp
An
gi
o
Fonte: Miloslavich et al., 2011.
er
m
hy
ta
s
ro
p
lo
hy
ta
s
op
Fonte: Christante, 2010.
Ch
22,9%
Crostas
Cobaltíferas
Rh
ZEE
Extensão da
Plataforma
Continental
Colômbia
od
48,2%
ae
Fosforita
Chile
Fonte: British Petroleum, 2016; U.S. Energy Information
Administration, 2016.
Labmundo, 2016
14
10
20
20
05
20
00
20
95
19
19
90
- 50,0%
Evolução da produção de petróleo em bilhões de
barris, por país, entre 1990 e 2014
2719
990
292
261
Brasil
,0 %
122,0
Colômbia
%
um navio-anfíbio, navios de meios de
superfície, navios-patrulha e corvetas classe Barroso. Por im, há o Sistema de Gerenciamento da Amazônia
Azul (Sisgaaz), que busca monitorar
águas jurisdicionais e as regiões de busca e salvamento sob responsabilidade
da Marinha do Brasil. Estes projetos
estratégicos são desenvolvidos também como forma de combate às potenciais novas ameaças presentes na região
atlântica, tais como o tráico de drogas
ilícitas, atos terroristas contra portos, a
pesca predatória, o transporte criminoso de mercadorias, ameaças ambientais
e a pirataria.
Quanto aos aspectos ambientais, merece destaque a necessidade de preservação de todo o bioma marinho
e da exploração racional do oceano. Além disso, por ter o litoral com
águas frias ao sul e quentes no Nordeste, há o aumento da diversidade biológica, com várias espécies na fauna e
Equador
91,0 %
Argentina
22,0 %
Venezuela
INVESTIMENTO E DEFESA
21,0 %
Recursos aprovados e previstos para o Plano de
Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil,
para fiscalização da Amazônia Azul, em bilhões de
reais, entre 2010 e 2030
Chile
-66,
0%
50
100
lora, de grande potencial comercial.
Um exemplo são as algas calcárias extraídas e comercializadas pelo Brasil.
Algumas ações, no entanto, ameaçam
mais de dez mil espécies da fauna marinha, como a poluição de ambientes
costeiros e a pesca excessiva, que prejudicam o potencial de desova e as capturas no futuro, como ocorre com o
tubarão-azul e a merluza. Também há
as províncias minerais, que vão desde
a presença de diamantes, ouro e metais pesados, até aos cascalhos e areais,
muito usados na construção civil.
Um grande desaio é a conscientização
da sociedade brasileira acerca da importância do tema. Visando a ampliar
essa conscientização, foi criado o Programa de Mentalidade Marítima, com
objetivo de trazer à população questões referentes à Amazônia Azul, por
meio da inclusão das temáticas marítimas nos currículos dos ensinos fundamental e médio, de palestras sobre
assuntos do mar, bem como da aproximação entre a sociedade e o mar, com a
dinamização dos museus oceanográicos. Ainda nesse sentido, foi aprovado,
em 2015, um projeto de lei que instituiu para o dia 11 de novembro, o Dia
Nacional da Amazônia Azul.
Longo prazo
(de 2023 a 2030)
VEJA TAMBÉM:
Curto prazo
(de 2010 a 2015)
Fonte: Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional, 2016.
Labmundo, 2017
Fonte: British Petroleum, 2016; U.S. Energy Information
Administration, 2016.
Labmundo, 2017
14
20
10
20
05
20
00
20
95
19
19
90
Médio prazo
(de 2016 a 2022)
Presença de potências extrarregionais p. 56
Amazônia Verde p. 62
Segurança ambiental p. 38
Problema das drogas ilícitas p. 44
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
65
Recursos
estratégicos
Recursos naturais são considerados
estratégicos por dois motivos principais: por serem bens escassos com
alto valor de mercado ou por possuírem utilidade direta na indústria. Se
um Estado tiver exclusividade sobre a produção ou extração de um
material especíico, ele terá inluência direta nos custos e na capacidade
de desenvolvimento de outros Estados nacionais. De modo análogo, a
autossuiciência de materiais especíicos reduz a dependência internacional de um país. Em suma, dispor
de recursos estratégicos vastos signiica poder material na competição
interestatal.
Com dimensões continentais, o Brasil destacou-se nos primeiros anos do
século XXI, atuando como uma liderança na América do Sul. Seu protagonismo deve-se, entre outras razões,
à extensão de seu território e à consequente concentração de riquezas em
uma região repleta de recursos naturais. A geograia brasileira garante, assim, potencial agropecuário e posição
privilegiada no entorno estratégico,
contando com abundância de matérias-primas importantes para ins de
exportação e a possibilidade de cultivos diversos. O nióbio, mineral utilizado na produção de ligas metálicas,
tem exploração majoritariamente
TENDÊNCIA À ESCASSEZ DE ÁGUA NO MUNDO
Estresse hídrico, por país, em 2020*
brasileira, com cerca de 95% das reservas mundiais e 75% de sua produção. Possuir um recurso considerado
estratégico, no entanto, não é garantia automática de poder e de destaque internacional, uma vez que há
outros elementos que podem levar a
reais assimetrias de poder entre os Estados. Como exemplo, o caso do petróleo: devido à formação geológica da
América do Sul, o continente concentra cerca de 21% das reservas mundiais.
Isso possibilita que alguns países da
região o tenham como um dos principais produtos primários de suas
economias e que sejam grandes exportadores, mas, apesar disso, permanecem como dependentes das grandes
potências: ainda que exportem petróleo, fazem-no, na maior parte dos
casos, no estágio bruto, precisando
importá-lo reinado ou sob a forma de
produtos industrializados.
Outra dimensão relevante, para além
da economia e do mercado, está nas
consequências que estes recursos podem ter para a defesa. Em caso de
conlitos bélicos, nos quais o luxo
de pessoas e de mercadorias são diicultados ou até impedidos, países autossuicientes em recursos estratégicos
teriam clara vantagem. Tanto a segurança pública, no sentido do conlito
e produção bélica, quanto a segurança
alimentar, no que tange à produção de
alimentos, são pontos relevantes neste
caso. Um país ou continente que produz alimentos suicientes para a sua
população em caso de guerra largaria
1000 km
Sem dados
disponíveis
Fonte: Sítio web WRI, 2016.
* Estresse hídrico é
um índice que mede
a relação entre água
disponível e água
explorada. Valores
mais altos indicam
maior competição
por água.
Muito alto (>80%)
Alto (40-80%)
Médio a alto (20-40%)
Baixo a médio (10-40%)
Baixo (<10%)
Labmundo, 2017
EXPORTAÇÃO DE COMMODITIES
Participação dos principais produtos primários
dos países sul-americanos no total exportado,
por país, em milhões de dólares, em 2015
Petróleo
Ouro
Petróleo
Petróleo
Soja
Cobre
POPULAÇÃO E RECURSOS HÍDRICOS
Petróleo
Participação da população e reservas de água doce em relação ao total mundial, por continente, em 2015
7,77%
12,95%
Ásia
América do Norte
16,13%
16,07%
Cobre
População
Água potável
66
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
América do Sul
Oceania
Fonte: Sítio web FAO (Aquastat), 2016
1000 km
África
5,69%
25,62%
1,65%
0,43%
1000 km
Soja
Soja
Europa
Soja
Total exportado
191,1
56,7
Participação do
principal produto
primário
1,1
Fonte: Sítio web WITS/Banco Mundial, 2016.
Labmundo, 2017
59,89%
30,71%
10,09%
12,99%
Gás natural
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
SEGURANÇA ALIMENTAR OU POTÊNCIA AGROEXPORTADORA?
RESERVAS DE GÁS E PETRÓLEO
Volume de reservas comprovadas de petróleo
bruto por região, em bilhões de barris, em 2015
800
*Os dados dos EUA
são relativos ao ano
de 2014.
600
400
Fonte: Sítio web EIA, 2016.
Volume de reservas comprovadas de gás natural
por região, em quatrilhões de pés³, em 2015
*Os dados dos EUA
são relativos ao ano
de 2014.
2
Saldo de exportações de alimentos (exceto pescados), por país, em índice de quantidades, em 2013
a
200
Labmundo, 2017
adiante em uma
situação
como esta.
Esta alusão a
uma imagem
distópica chama atenção para
a África que conta, hoje, com a
maior média de produção de alimentos per capita do mundo, evidenciando sua posição privilegiada quanto à
segurança alimentar. Mas, por ser o
continente mais atingido pela fome
extrema, também demonstra como os
recursos dos países podem não ser destinados ao benefício de suas próprias
populações.
Eu
ro
p
500 km
Apontada
como uma das
principais causas de conlitos
atuais e futuros
no mundo, a escassez de água já atinge
alguns países e ameaça
muitos outros. Disputas
em decorrência disso ocorrem
não apenas pela distribuição natural dos recursos hídricos no mundo
– que em termos absolutos são suicientes para assegurar segurança hídrica a
todos –, mas também por consequências da ação humana. Se na América
do Sul, região que acumula mais de
um quarto das reservas de água potável no mundo, há constantes tensões
provocadas por apropriações indevidas da água, o mesmo ocorre em outras partes do globo, com embates
históricos pelo controle de áreas bem
abastecidas. Quanto à escassez, o Brasil e a região estão em posição relativamente confortável. O país dispõe
de 12% das reservas de água potável
no mundo e de 53% do continente.
Parte considerável desta posição deve-se às bacias e aos aquíferos que banham grande parte do território, em
especial os aquíferos Guarani e Alter
do Chão. Enquanto o primeiro é um
dos mais extensos do mundo, com
volume de 46.337 km³ e 1.196.500 km²
Para garantir que o potencial de seus
recursos naturais seja utilizado em
seu próprio território, uma estratégia comum de diversos Estados é estabelecer legislações que assegurem
o controle da exploração. No Brasil, por exemplo, a extração e o reino
do petróleo eram atividades exercidas exclusivamente pela União até a
década de 90, quando foi aprovada
a lei quebrando o monopólio estatal
e permitindo que empresas estrangeiras participassem de todas as etapas do ciclo do petróleo; na Bolívia,
por outro lado, o plebiscito realizado
em 2004 promoveu a criação de uma
nova lei de hidrocarbonetos, nacionalizando a exploração de petróleo e gás
natural.
Oc Á
ea sia
ni e
a
Fontes: MILANI et al., 2015; MATTA, 2010.
ca
Labmundo, 2017
Bacias Hidrográficas Transfronteiriças
da América do Sul
Conflitos envolvendo a água
(Movimento de Atingidos por Barragens;
Rede Latino-americana contra as Barragens,
pelos Rios, suas Comunidades e a Água;
Red de Vigilancia Interamericana para la
Defensa y el Derecho al Agua)
Áf
ri
Aquíferos Transfronteiriços
da América do Sul
distribuídos pelo Brasil (70,2%), Argentina (18,9), Paraguai (6) e Uruguai
(4,9), o segundo, em relação à reserva
de água, é o maior aquífero conhecido atualmente, possuindo volume de
86.400 km³ ao longo de seus 437.500
km² sob os estados brasileiros do Pará,
Amazonas e Amapá.
O
M rien
éd te
io
Am
do éri
Su ca
No A
l
rte m
é
e ric
Ce a
nt do
ra
l
PRINCIPAIS AQUÍFEROS BRASILEIROS E CONFLITOS PELA ÁGUA
Conflitos sociais pela água na região, em 2016
Fonte: Sítio web EIA, 2016.
Labmundo, 2017
Eu
ro
pa
Oc Á
ea sia
No A nia e
rte m
e éric
Ce a
nt do
ra
l
Am
é
do ri
Su ca
l
ca
Áf
ri
O
M rien
éd te
io
1
1000 km
País importador País exportador
(consome mais (produz mais do
do que produz) que consome)
Labmundo, 2017
0
50
.1
37
0
08
1.
0
40
90
-2
60
.6
Fonte: Sítio web FAO, 2017.
Sem dados
disponíveis
-7
-4
*O índice de quantidade representa a variação no total
dos preços ponderados dos produtos que são comercializados
entre os países, entre o período 2004-2006 e o ano analisado,
que no caso da imagem é 2013.
00
VEJA TAMBÉM:
Presença de potências extrarregionais p. 56
Amazônia Azul p. 64
Amazônia Verde p. 62
Segurança ambiental p. 38
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
67
Brasil:
potência regional?
As narrativas sobre o Brasil preconizam
que seu status de potência regional, em
contexto fortemente assimétrico na
comparação com seus vizinhos, está
sujeito a fatores domésticos e sistêmicos. A ambição de protagonismo regional deve, ademais, ser contrastada com
as capacidades materiais de que dispõe
o Brasil para projeção internacional de
poder em seu entorno estratégico. Em
índices agregados, o Brasil apresentase como o detentor das mais elevadas
capacidades militares em relação aos
demais países situados no entorno estratégico e geopolítico brasileiro.
com os maiores gastos militares no conjunto dos países e também disputando
entre si a liderança militar sub-regional
naquele continente. Nos indicadores selecionados, e apesar da África do Sul possuir uma vasta costa bioceânica, Angola
supera o vizinho em todos os quesitos, à
exceção do poder naval. Angola não possui grandes navios de combate: o foco
das forças angolanas de defesa é o poder
terrestre e o aéreo, enquanto a África do
Sul apresenta peril mais equilibrado.
O Brasil possui o maior número de tanques, de peças de artilharia, navios de
combate, bem como submarinos e aeronaves táticas. Isso não signiica, no entanto, que o país tenha superioridade
material absoluta na eventualidade da
formação de uma coalizão militar. No
entorno estratégico imediato, a análise
comparada do gasto militar entre o Brasil e cada um dos demais países (com destaque para Chile, Colômbia, Argentina e
Peru) revela forte assimetria, quando esses países são tomados individualmente.
No entorno estratégico estendido, destacam-se África do Sul e Angola, ambos
CAPACIDADES MILITARES
0,09
0,25
0,64
1,02
1,96
2,89
3,73
1000 km
Sem dados
disponíveis
Fonte: Sítio web Global Firepower Database, 2017.
Labmundo, 2017
Índice global de capacidades militares, por país, em janeiro de 2016
*Mais de 50 fatores
(território, indústria, recursos naturais,
quantidade de militares etc.) constituem
o índice. Porém, este mede, principalmente,
a capacidade militar convencional.
A fragilidade brasileira, porém, revelase na análise desagregada do orçamento
das forças armadas: este não é uniforme
e relete prioridades políticas do setor
de defesa no Brasil. Entre 2007 e 2016,
em média, 43,1% dos gastos em defesa
foram para o Exército, 25,6% para a Marinha e 22,6% para a Força Aérea. Desagregar os dados sobre o gasto militar
brasileiro é fundamental e traz um diagnóstico preocupante: os gastos com pessoal e encargos atingem valores muito
altos se comparados com os gastos com
investimentos. Os gastos com pessoal e
encargos são, em média, 88,2% no Exército, 76,9% na Marinha e 75,3% na Força Aérea. A taxa média de investimentos,
para o mesmo período é de 3,7% para
o Exército, 11,4% para a Força Aérea e
12,4% para a Marinha. O baixo investimento no setor de defesa denota limitações estruturais importantes na
possibilidade de projeção de poder, ainda que o Brasil seja o maior detentor de
capacidades militares tradicionais se
comparado com países do seu entorno
estratégico imediato e estendido. Fica
em aberto a questão se o Brasil teria capacidade militar de proteger-se e projetar-se sobre a área que ele próprio deine
como seu entorno estratégico.
EQUIPAMENTO MILITAR DO BRASIL E DE SEU ENTORNO ESTRATÉGICO
Equipamento militar, por tipo e país, em unidades, em 2016
Peças de artilharia
500
300
Aeronaves táticas
40
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Angola
Angola
Angola
Angola
Chile
Chile
Chile
Chile
Argentina
Argentina
Argentina
Argentina
Peru
Peru
Peru
Peru
Venezuela
Venezuela
Venezuela
Venezuela
Colômbia
Colômbia
Colômbia
Colômbia
África
do Sul
África
do Sul
África
do Sul
África
do Sul
Equador
Equador
Equador
Equador
Bolívia
Bolívia
Bolívia
Bolívia
Paraguai
Paraguai
Paraguai
Paraguai
Fonte: IISS, 2016.
68
Navios de combate e submarinos
5
15
1500
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
80
Labmundo, 2017
Tanques principais
100
200
GEOPOLÍTICA DA AMÉRICA DO SUL
ORÇAMENTO DA DEFESA NO BRASIL
Execução orçamentária dos comandos das Forçcas Armadas, em bilhões de reais, entre 2007 e 2016
tro
s
en
ca
en
ca
en
ca
Ou
tro
s
Ou
rg Pe
os ss
so oa
cia l e
In
is
ve
st
im
en
to
s
Am
or
de tiz
d í açã
Ju
vi o
da
ro
se
e
da nca
dí rg
vi os
da
Fin Inv
an er
ce sõe
ira s
s
100
rg Pe
os ss
so oa
cia l e
In
is
ve
st
im
en
to
s
Am
o
de rtiz
d í açã
Ju
vi o
da
ro
se
en
d a ca
dí rg
vi os
da
Fin Inv
an er
ce sõe
ira s
s
100
rg Pe
os ss
so oa
cia l e
In
is
ve
st
im
en
to
s
Am
or
de tiz
d í açã
Ju
vi o
da
ro
se
e
da nca
dí rg
vi os
da
Fin Inv
an er
ce sõe
ira s
s
100
Fonte: sítio web do Ministério da Defesa, 2016.
TO
TA
L
Execução orçamentária do Ministério da Defesa por destino ou departamento, em bilhões de reais, entre 2007 e 2016
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
Labmundo, 2017
Comando da Aeronáutica
200
tro
s
Comando da Marinha
200
Ou
Comando do Exército
200
20
15
20
16
*Comando do
Exército
*Comando da
Marinha
*Comando da
Aeronáutica
Fundo
Aeronáutico
Administração
Direta
Fundo do
Exército
Fundo
Naval
Fundo de Administração do
Hospital das Forças Armadas
Indústria de Material
Bélico do Brasil
Amazônia Azul Tecnologias
de Defesa S.A
Fundo de Desenvolvimento do
Ensino Profissional Marítimo
Labmundo, 2017
Outros
TOTAL
273,595
VEJA TAMBÉM:
*Os gastos dos Comandos do Exército, da Marinha
e da Aeronáutica estão discricionados em maiores
detalhes nos gráficos acima.
Capacidades materiais p. 26
Indústria da defesa no Brasil p. 84
18,799
Fonte: sítio web do Ministério da Defesa, 2016.
0,116
Recursos estratégicos p. 66
Capítulo 2 (Atlas da PEB) p. 28-57
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
69
Capítulo 4:
Enara Echart Muñoz
COOPERAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO
Enara Echart Muñoz
Em geral, a defesa é uma política pública sensível para a maioria dos países, pois não
apenas está referida à função coercitiva legal do Estado como está diretamente relacionada às relações civis-militares e à proteção dos elementos constitutivos do Estado:
soberania, território e população residente. Essas especificidades tendem a tornar o
processo de formulação da política de defesa mais opaco em comparação com outras
políticas governamentais. Consequentemente, o Estado, suas instituições, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas são claramente proeminentes no processo decisório
em defesa. Atores não governamentais são relevantes e buscam influenciar o governo
- cada um com suas características, funções e interesses -, mas essa inserção ocorre de
modo assimétrico e, muitas vezes, informal. No caso do Brasil, essa interação no
plano doméstico implica a projeção externa de uma política de defesa baseada
simultaneamente em cooperação e em dissuasão. Nesse sentido, defesa e política
externa deveriam manter diálogo fecundo entre suas burocracias. A política de
cooperação internacional em defesa busca trazer estabilidade em regiões prioritárias,
transferência de tecnologia entre nações consideradas estratégicas e projeção internacional do Brasil. Em matéria de dissuasão, a defesa se orienta no sentido da proteção
dos interesses nacionais no entorno estratégico, mormente contra possíveis ingerências de potências extrarregionais. Daí a necessidade de se analisar a política de defesa
de um modo amplo, levando em consideração os diversos atores econômicos, sociais
e políticos, bem como os interesses envolvidos, a exemplos das empresas públicas e
privadas que têm mantido vínculos estratégicos com as Forças Armadas e o Ministério
da Defesa. A ampliação do papel externo da Defesa e a constituição de uma indústria
nacional de defesa mobilizam não apenas os setores direta ou indiretamente vinculados, como os militares, as empresas, os sindicatos, as universidades e os centros de
pesquisa, mas também setores da sociedade civil organizada que demandam maior
transparência nessa área. Nesse sentido, a maior densidade societal da função defesa
contribui para a instituição de mecanismos de prestação de contas e para sua efetiva
profissionalização.
Cooperação militar
com o Sul
Segundo o Livro Branco da Defesa
Nacional, a atuação internacional brasileira em matéria de defesa deve primar pela consolidação de estruturas
de governança multilaterais, representativas da nova distribuição de poder
global, voltadas para a paz e a segurança mundiais e para o bem-estar da comunidade internacional. Por isso, o
país deve empenhar-se na construção
de uma multipolaridade cooperativa,
buscando a diversiicação de parcerias
e estreitando laços com os países do
Sul, não em detrimento de sua relação
tradicional com os países do Norte.
Nesse sentido, a partir do inal da década de 1980, o Brasil tem desenvolvido iniciativas de cooperação espacial
com China, Rússia, Índia e Ucrânia
(inalizado em 2015), que buscam promover a capacitação tecnológica do setor espacial brasileiro para atender às
necessidades do país. Foram assinados
ACORDOS BILATERAIS E COOPERAÇÃO
Atos bilaterais em Defesa e quantidade de projetos concluídos pelo Brasil na América Central e Caribe,
por país, entre 2010 e 2015
Atos bilaterais em:
Vigor desde 2009
Tramitação
Quantidade de
Projetos concluídos:
Labmundo, 2017
12
2
1
1000 km
Fonte: Sítio Web do Itamaraty, 2016; Sítio Web da ABC, 2016.
acordos-quadro de natureza intergovernamental sobre cooperação para os
usos pacíicos do espaço exterior. Esses
acordos são, em princípio, geradores
de novos instrumentos internacionais
e de iniciativas que levam ao desenvolvimento bilateral de programas espaciais e, eventualmente, à obtenção de
novas tecnologias. Do mesmo modo,
o Brasil participa desde 2003 do Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e
África do Sul (IBAS). O IBAS foi fundado com o objetivo de constituir-se
em mecanismo de coordenação entre
os três países emergentes, que comungam a característica de serem democracias multiétnicas e multiculturais.
Sua principal missão é contribuir para
a construção de uma nova arquitetura
internacional, unindo vozes em temas
globais e aprofundando seu relacionamento mútuo em diferentes áreas.
Para além do aspecto diplomático, o
IBAS prevê também a cooperação setorial em defesa. Essa cooperação foi
iniciada a partir da Reunião de Ministros de Defesa dos três países em
2004, na cidade de Pretória, na África do Sul, e deiniu em seu plano de
ação: a promoção da segurança aérea
e marítima; a cooperação na produção e no comércio através de acordos
de comercialização conjunta; a coordenação entre instituições de pesquisa;
a cooperação no setor de treinamentos
e diálogos trilaterais com regularidade
anual. Entre as principais iniciativas
de cooperação militar realizadas pelo
IBAS, destacam-se os exercícios navais
conjuntos conhecidos como Ibsamar,
COOPERAÇÃO ESPACIAL
Acordos de cooperação na área aeroespacial, país parceiro, entre 1988 e 2016
Acordo sobre
Cooperação nos Usos
Pacíficos do Espaço
Protocolo sobre pesquisa
e produção de satélite de
recursos da terra
1988
1999
Protocolo sobre cooperação
em pesquisa espacial
Acordo sobre
lançamentos
em Alcântara
1993
Protocolo sobre
Cooperação em
Tecnologia do
Espaço
Protocolo de
Cooperação em
Tecnologia
Espacial
Acordo sobre
Desenvolvimento
dos Satélites e
Recursos Terrestres
Acordo sobre Cooperação nos
Usos Pacíficos do Espaço
Declaração relativa às
aplicações pacíficas
da ciência e tecnologia
espacial
2005
1998
Acordo sobre a
cooperação na
pesquisa e usos
do espaço
1990
1995
2002
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Protocolo sobre Continuidade, Expansão
e Aplicações do CBERS
Memorando sobre Cooperação
em Sensoriamento Remoto
2010
Memorando sobre Política de Dados para
Declaração sobre coooperação a Distribuição de Imagens do CBERS
Econômica, Comercial,
Científica e Tecnológica
Memorando sobre
2005
futuros projetos
espaciais bilaterais Protocolo sobre a
modernização do VLS-1
Veículo Lançador
2000
Fontes: Sítio web do Ministério da Defesa, 2016; Sítio web do Itamaraty, 2016; Penna Filho, 2001; e Pereira, 2010.
72
2009
2010
2004
1996
Cooperação com a Ucrânia
Tratado sobre utilização do
Cyclone-4 em Alcântara
Comunicado sobre
2009
expansão da
Memorando sobre Cooperação em
cooperação 2004
Geoinformação Digital
Memorando sobre comissão
espacial
de concertação e coordenação
2010
2002
Memorando para Recepção e Distribuição
Memorando sobre
dos Dados do CBERS-2B
cooperação no
âmbito do espaço
Declaração entre a
AEB e a Agência
Espacial Nacional
da Ucrânia
Cooperação com a Rússia
2003
2005
2015
Encerramento
do Acordo de
Cooperação Espacial
2010
2015
Labmundo, 2017
Cooperação com a Índia
Estatuto da Empresa Binacional 2008
Programa para a recepção e Distribuição de
Alcântara Cyclone Space
Dados do Resourcesat-1.
2002
1995
Cooperação com a China
Acordo sobre proteção de tecnologia na exploração do espaço
Memorando de
colaboração em
2007
tecnologia espacial
Ajuste sobre ampliação da recepção de dados dos satélites
de sensoreamento da Índia
2003
Memorando sobre plano
2008
do sistema de solo do
Programa de Desenvolvimento do Satélite de
CBERS 3 e 4
Navegação Global
2003
2000
1994
2006
2003
1999
1988
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
TO
TA
L
1,0
D
(2 ilm
01 a
120
14
)
Di
(2 lm
01 a
520
16
)
Quantidade de visitas de Presidentes e de Ministros de Defesa brasileiros, por país visitado na América
Central e Caribe, entre 1995 e 2016
F
(1 HC
99
920
02
)
L
(2 ula
00
320
06
)
Lu
(2 la
00
720
10
)
DIPLOMACIA PRESIDENCIAL E MINISTERIAL NA AMÉRICA CENTRAL E CARIBE
Gastos absolutos com exercícios operativos do
Ibsamar, em milhões de dólares, entre 2008 e 2014
F
(1 HC
99
519
98
)
IBSAMAR
Cuba
20
14
20
12
20
10
20
08
0,2
Fonte: Marinha do Brasil, via Lei de Acesso à
Informação, 2016.
Labmundo, 2017
0,6
Haiti
El Salvador
República
Dominicana
Quantidade de militares envolvidos nos exercícios
operativos, por nacionalidade, de 2008 a 2014
200
Panamá
Costa Rica
100
il
Labmundo, 2017
Fonte: Marinha do Brasil, via Lei de Acesso à
Informação, 2016.
Br
as
a
di
Ín
doÁfri
Su ca
l
Guatemala
Honduras
Jamaica
Nicarágua
Não obstante a prioridade atribuída aos países do Atlântico Sul, o Brasil realizou uma série de iniciativas de
cooperação em defesa com países da
América Central e do Caribe. A partir
de 2006, foram assinados acordos bilaterais com países dessas regiões com
o objetivo de: 1) promover a cooperação nas áreas de planejamento, pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico
e aquisição de produtos e serviços de
defesa; 2) partilhar conhecimentos
e experiências adquiridas no campo de operações, utilização de equipamento militar de origem nacional
13
TOTAL
5
TO
TA
L
1
ão
J
(2 osé
00 V
3- ieg
20 a
04 s F
) ilh
W
o
e ald
(2 Ne ir
00 ls P
6- on ire
20 J s
11 ob
) im
Ce
(2 ls
01 o
A
1- m
20 o
15 rim
)
Ja
e qu
(2 Al e
01 do s W
5- R a
20 eb gn
16 el er
) o
Haiti
República
Dominicana
*O Ministério da Defesa
foi criado em 1999.
TOTAL
Fonte: Sítio web da Presidência, 2016; Ministério da Defesa via Portal da Transparência, 2016.
e estrangeira, bem como no cumprimento de operações internacionais de
manutenção de paz; 3) partilhar conhecimentos nas áreas da ciência e
tecnologia; 4) promover ações conjuntas de treinamento e instrução militar,
exercícios militares combinados, bem
como a correspondente troca de informação; 5) colaborar em assuntos relacionados a equipamento e sistemas
militares. Assim também, desde 2010,
foram realizados uma série de projetos
de cooperação em países dessas regiões
na área de formação militar, a partir da
realização de: 1) visitas mútuas de delegações de alto nível a entidades civis
**Não estão disponíveis
os dados dos Ministros
Élcio Alvares (1999-2000)
e José de Alencar
(2004-2006).
Labmundo, 2017
Os diálogos bilaterais entre o Brasil e
a África do Sul também se aprofundaram em função da realização de grandes eventos no Brasil, como a Copa do
Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos
em 2016. Com os países africanos, o
Brasil compartilhou a sua experiência na organização do primeiro evento em 2010, por meio da instalação
de um Comitê Conjunto Brasil-África do Sul e da entrega de um relatório
contendo detalhes sobre a segurança
das estruturas estratégicas da Copa do
Mundo de 2010. Além disso, os dois
países têm trabalhado conjuntamente
em projetos de proteção do Atlântico
Sul e no desenvolvimento de equipamentos militares de ponta.
Trinidad e
Tobago
G
(2 era
00 ld
0- o
20 Q
02 uin
) t
que tiveram início em 2008 na costa
indiana.
e militares; 2) intercâmbio de instrutores e estudantes de instituições militares; 3) cursos teóricos e práticos,
estágios, seminários, debates e simpósios em entidades militares, bem
como em entidades civis de interesse
para a defesa.
VEJA TAMBÉM:
Cooperação regional em defesa p. 58
Cooperação militar com o Norte p. 74
Entorno estratégico p. 52
África e ampliação do Atântico Sul p. 76
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
73
Cooperação militar
com o Norte
Ainda que o Brasil tenha aumentado sua cooperação com países do Sul,
em quantidade e qualidade, estas ações
não afetam a importância das parcerias
estratégicas, no âmbito da cooperação
militar com os países do Norte. Isso
ica ressaltado no setor da indústria
militar, visto que o Brasil ainda carece
das tecnologias existentes no Norte, a
exemplo de componentes de sistemas
de armas, eletrônica aplicada à aviação, antenas para radares e sistemas de
detecção para mísseis. A im de evitar
excessiva dependência em relação ao
exterior, a transferência de tecnologia é fundamental para garantir que as
Forças Armadas possam cumprir suas
funções constitucionais e, também,
que novas tecnologias sejam integradas pela base industrial de defesa. Portanto, o Brasil encontra na cooperação
militar com o Norte um meio de modernizar os seus aparatos militares e de
nos planos global e regional de grupos terroristas, mercenários e paramilitares, aumentou a preocupação com
a possibilidade de que armas de destruição em massa possam ser utilizadas
por tais atores. No bojo dos atentados
aos EUA em 2001, foram ampliadas as
restrições de acesso às tecnologias sensíveis. Determinados Estados como
o Irã e a Venezuela chegaram a sofrer
com a proibição por parte dos EUA e
do Conselho de Segurança da ONU
de receberem a transferência de tecnologias de uso dual.
incentivar a indústria de defesa, a partir dos programas de transferência de
tecnologia. A im de seguir as diretri- Tendo em vista esta preponderância do
zes da política nacional de defesa, os Norte nas tecnologias de defesa, o Brarecentes acordos de cooperação mili- sil tem diversiicado suas parcerias estar estabelecem a necessidade de que tratégicas a im de ampliar suas opções
as empresas brasileiras adquiram par- de cooperação. Devido a restrições rete da tecnologia do produto negocia- lacionadas às tecnologias sensíveis
do ou que produzam o aparato militar – como foi o caso da proibição de venno Brasil.
da dos aviões Super Tucano do Brasil
para a Venezuela imposta pelos EUA,
No período posterior às duas gran- o Brasil buscou novos acordos com
des guerras, a tecnologia foi determi- parceiros alternativos no Norte, como
nante para a solução e a prevenção dos a França e a Suécia. No caso franconlitos armados, contudo os paí- cês, a parceria com a empresa francesa
ses líderes no desenvolvimento cientí- DCNS visou a fomentar o desenvolico e tecnológico cercearam o acesso vimento do Programa de Submarinos
de terceiros países às tecnologias sensí- da Marinha do Brasil e a construção da
veis. Na Guerra Fria, o objetivo do cer- base naval de Itaguaí. Os contratos inceamento era negar conhecimento ao cluíram cláusulas de transferência de
bloco oponente e garantir a suprema- tecnologia de ponta para o país, percia tecnológica em áreas estratégicas. mitindo que o Brasil projete e consCom o recente incremento da ação trua submarinos convencionais e um
PARCEIROS ESTRATÉGICOS NA COOPERAÇÃO NORTE-SUL DO BRASIL
Evolução dos principais acordos de compras de instrumentos militares feitos pelo Brasil, por país parceiro, em milhões de dólares, entre 2000 e 2015
2011
2005
2000
Compra de 1 unidade de Pionierpanzer 2
(Veículo blindado de recuperação)
Compra de 12 unidades de
Mirage-2000 (Caças a Jato)
Compra de 17 unidades de
SK 105 Kurassier (Tanque Leve)
2006
Compra de 23
unidades de Veículo
anfíbio de assalto
2011
Compra de 2 unidades de P-400
(Embarcação de patrulha)
Compra de 10 unidades de Torres
não tripuladas (UT30BR)
2001
Compra de 8 unidades de AS-532U2
Cougar (Helicóptero de Transporte)
2015
2006
Compra de 7 unidades de BPz-2
(Veículo blindado de combate)
2011
Compra de 2 unidades de
Bergepanzer 2 BPz-2
(Veículo blindado de
recuperação)
2015
Acordo de compra
e transferência de
tecnologia de 36
unidades de
caças Gripen-NG
2006
Compra de 250 unidades de Leopard-1A5
(Veículo Blindado de Combate)
2008
Compra de 48 unidades de EC725
Super Cougar (Helicóptero de transporte)
País parceiro:
Em milhões de dólares
Acordo de construção e
transferência de tecnologia de 86
unidades do Guarani (Veículo blindado
de transporte de pessoal)
2009
5800
Itália
2012
Acordo de transferência de
tecnologia para construção
de 4 unidades de Scorpène
(Submarino convencional)
Áustria
Israel
2012
Compra de 2 unidades de Fieldguard
(Veículo com Sistema de controle de
tiro e rastreamento)
1410
EUA
2013
Compra de 34 unidades de
Gepard 1A2 (Veículo de
defesa anti-aérea)
2009
Acordo de transferência de
tecnologia para construção
de 1 unidade de SNBR
(Submarino nuclear)
Suécia
Alemanha
4
2014
Compra de 6 unidades de
Guarder (Veículo blindado)
França
Compra de 80 unidades do
RBS-70 da SAAB (Sistema de
defesa antiaérea portátil)
2000
2003
Fonte: Sítio web do Senado Federal do Brasil, 2016 e CISB, 2016.
74
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
2006
2009
2012
2015
Labmundo, 2017
2014
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NA ÁGUA E NO AR
Investimentos em projetos de transferência de tecnologia militar com a França e com a Suécia,
em bilhões de dólares, entre 2008 e 2016
1
2
Instituições de pesquisa e empresas envolvidas em acordos
de cooperação entre Brasil e Suécia em defesa aeronáutica,
por quantidade de projetos, em 2016
3
Caças Gripen NG
feitos pela SAAB na Suécia
14
Caças Gripen NG
feitos pela Embraer no Brasil
10
Construção de um estaleiro e de
uma base naval em Itaguaí (RJ)
6
Construção de partes não
nucleares para o SN-BR
2
Material e construção de quatro
Submarinos Convencionais
Labmundo, 2017
Acordo SAAB com
a Suécia - Caças
Acordo DCNS com
a França - PROSUB
Torpedos e sensores
Fonte: Sítio web do Senado Federal do Brasil, 2016 e CISB, 2016.
EUA NA COOPERAÇÃO MILITAR
Investimentos estadunidenses em ajuda militar
para o Brasil, em milhões de dólares,
entre 1996 e 2016
20
16
Labmundo, 2017
20
12
20
08
20
04
20
00
20
19
96
10
Fonte: Sítio web Security Assistance Monitor, 2016.
Quantidade de treinamentos militares, por ano,
entre 1999 e 2015.
600
400
Fonte: Sítio web Security Assistance Monitor, 2016.
Labmundo, 2017
15
20
13
11
20
20
09
07
20
20
05
03
20
20
01
20
19
99
200
Em ITA
br
ae
r
US
P
UF
S
AK C
Un AE
ica R
m
UF p
A
IP BC
T
-L
EL
Uf
rg
s
M UFE
ak S
Eq
en
ua
zie
to
r ia
l S IL
i
AE st A
L S em
ist as
em
D as
In FC
te hi
le p
ct
ro
n
Labmundo, 2017
Transferência de tecnologia:
Construção da 1ª Seção de Proa
Fonte: CISB, 2016.
submarino de propulsão nuclear. Já no
acordo entre Suécia e Brasil, que trata
da compra de 34 caças suecos da SAAB,
do modelo Gripen-NG, icou deinido que cerca de 15 caças seriam construídos em território nacional, por
parte da Embraer. No entanto, a crise vivida desde 2016 no país coloca tais
projetos em uma zona de incertezas.
Algumas instituições acadêmicas participam dos projetos de cooperação militar, como é o caso dos projetos com
a Suécia, em que atuam 14 instituições nacionais. Além disso, para fortalecer setores como o cibernético, as
autoridades brasileiras buscam que as
capacitações nesta área sejam destinadas aos usos industriais, educativos e
militares. Nesse tema, os EUA exercem papel importante na formação
de militares e civis, por meio da assistência para segurança cibernética. Há
também um empenho da ABIN nas
ações de contraterrorismo, com a troca de informações com serviços de inteligência estrangeiros e a cooperação
internacional por meio dos adidos de
inteligência na Argentina, Colômbia e
Venezuela. Esta cooperação ocorreu na
COOPERAÇÃO NORTE-SUL EM SEGURANÇA CIBERNÉTICA
Investimentos estadunidenses em assistência para segurança cibernética, em milhões de dólares,
por país e por quantidade de estudantes no NDU iCollege e no Marchall Center, em 2015
0,2
0,4
0,6
0,8
Taiwan
Suécia
Tunísia
Colômbia
Arábia
Saudita
segurança dos grandes eventos esportivos sediados no Brasil, e gerou um intercâmbio de informações da ABIN
com outros órgãos, aumentando a capacidade de identiicação de ameaças
relacionadas ao terrorismo.
No entanto, a cooperação militar com
o Norte pode não estar ligada apenas
ao desenvolvimento nacional, como
ocorreu com Grã-Bretanha, França e
EUA durante a ditadura civil-militar
brasileira. Além da compra de equipamentos militares, também houve
medidas explícitas de cooperação no
auxílio à repressão de grupos sociais e
coletivos da oposição. A Grã-Bretanha
repassou técnicas de tortura psicológica, conhecida como “Five Techniques”,
e auxiliou, de acordo com documentos
da Comissão da Verdade, na criação
do CIEX, órgão composto por diplomatas, encarregado de espionar políticos e militantes contrários ao regime
militar brasileiro e que se exilaram nos
países vizinhos. No caso francês, houve a atuação de seus adidos militares, com o comércio de armas e envio
de veteranos das guerras da Indochina e da Argélia, que treinaram militares brasileiros e trouxeram doutrinas
de contrainsurgência para o Brasil. No
caso dos EUA, nos recentes documentos da Comissão, conirmou-se o ensino, na década de 1970, de técnicas
operacionais de torturas e assassinatos,
além da conivência do governo estadunidense com as forças de segurança
para eliminação, após interrogatório,
de indivíduos considerados subversivos ao regime militar.
México
VEJA TAMBÉM:
Quantidade
de alunos
28
Ucrânia
9
Brasil
2
Fonte: Sítio web Security Assistance Monitor, 2016.
Labmundo, 2017
Indonésia
Cooperação militar com o Sul p. 72
Entorno estratégico p. 52
Segurança cibernética p. 48
Geopolítica e cooperação nuclear p. 80
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
75
África e ampliação
do Atlântico Sul
O conceito de Atlântico Sul ampliado, conforme deinido pelo Livro
Branco da Defesa Nacional, inclui
o Atlântico Sul e os países da costa
ocidental africana, juntamente com
a América do Sul e a Antártida, no
DIPLOMACIA PRESIDENCIAL E MINISTERIAL NA CPLP E ZOPACAS
Quantidade de visitas de Presidentes e de Ministros de Defesa brasileiros, por país, entre 1998 e 2016
Labmundo, 2017
Visitas presidenciais, 1998-2016 (FHC, Lula e Dilma)
1000 km
Fonte: Sítio web do Itamaraty, 2016; Sítio web da Presidência, 2016.
1000 km
31
15
*Dados disponíveis
a partir do ano 2000
1
Fonte: Ministério da Defesa via Portal da Transparência, 2016.
Labmundo, 2017
Visitas ministeriais, 2000-2016*
entorno estratégico brasileiro. Desse modo, foram empreendidas diversas atividades, visitas e acordos para
sinalizar e consolidar a importância
estratégica que o Brasil confere à região. Além dos diversos projetos de
integração com os países da América do Sul, destacam-se, no contexto
africano, a criação e o adensamento
das relações brasileiras com dois grupos: os países membros da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa
(CPLP) e os da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas).
Um possível indicador da relevância
que os agrupamentos possuem na diplomacia e na política de defesa do
Brasil é a quantidade de viagens oiciais realizadas, tanto por presidentes
quanto pelos Ministros da Defesa, visitas que resultaram na assinatura de
acordos e realização de atividades de
cooperação.
A Zopacas foi criada em 1986, no plenário da Assembleia Geral da ONU.
A Resolução 41/11, que a instituiu,
possuiu ampla aceitação, com exceção de poucas abstenções de países
desenvolvidos e apenas um voto negativo, proferido pelos EUA. Essa
informação ressalta o quanto a transformação de uma zona, em que há a
presença da IV Frota estadunidense, em uma região de paz, provocou
reações adversas. Desde que foi instituída formalmente, a Zopacas virou
item prioritário da agenda de defesa do Brasil, pois a região contém riquezas materiais indispensáveis ao
país, como a Amazônia Azul e o PréSal. Além disso, a aproximação e a cooperação em temas sensíveis com os
países africanos insere-se na estratégia de diversiicação de parcerias da
diplomacia brasileira. Essa ampliação
é ilustrada pela relação do país com
a África do Sul, que após o im do
DEFESA NO ATLÂNTICO SUL AMPLIADO
COOPERAÇÃO TÉCNICA EM DEFESA NO ATLÂNTICO SUL
Acordos bilaterais sobre defesa do Brasil com países africanos ou membros da
Zopacas, entre 1990 e 2016
Quantidade de atividades do Brasil nos países do entorno estratégico
ampliado, entre 2008 e 2016
2002
1994
2010
Argentina
Cabo Verde
1994
Angola
2003
2010
2003
2010
Argentina
Cabo Verde
Nigéria
Ãfrica do Sul
Uruguai
2004
2010
Moçambique
São Tomé e Príncipe
2005
2010
Argentina
Senegal
2006
País americano membro da Zopacas
País africano membro da Zopacas
País africano não membro da Zopacas
2000
Namíbia
80
Moçambique
2009
Namíbia
2005
Fonte: Divisão de Acordos Internacionais do Itamaraty, 2016.
76
2014
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
2010
2015
Labmundo, 2017
1995
2009
31
1000 km
Fonte: Sítio web da ABC, 2016.
2
Labmundo, 2017
Guiné Bissau
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
PASSOS PARA UMA PARCERIA ESTRATÉGICA
Cronologia das relações entre Brasil e África do Sul em temas de defesa entre 1918 e 2016
2007
1986
Empresa Denel assina contrato de
para produzir A-Darter
Estabelecimento da Zopacas
1918
Abertura do consulado
brasileiro na Cidade do Cabo
1991
Nelson Mandela
visita o Brasil
1922
2010
Brasil e África do Sul firmam
parceria estratégica
I Reunião da Comissão
Mista de Cooperação
Brasil-África do Sul 2012
África do Sul participa do
exercício naval Atlasur
Estabelecimento de linha de
navegação mercante entre os países
2000
1926
África do Sul envia diplomata para avaliar
o comércio com a América do Sul
1939
Assinatura de acordo
comercial entre os países
2000
Mineradora sul-africana
adquire 2,1% da Vale
1948
Abertura de legação
diplomática em Pretória
2012
Assinatura de acordo
aeronáutico para produzir
A-Darter em SP
1950
África do Sul contraria a ONU
e anexa a atual Namíbia
2003
1966
Criação do IBAS
ONU cancela o mandato
sul-africano na Namíbia
2014
1971
Abertura de legação
sul-africana em Brasília
1977
Conselho de Segurança da ONU decreta
embargo de armas à África do Sul
Atos sul-africanos
1985
Atos bilaterais ou multilaterais
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
Fonte: Sítio web do Ministério da Defesa, 2016; Sítio web do Itamaraty, 2016; Penna Filho, 2001; Pereira, 2010.
apartheid vivenciou um aumento expressivo das relações em defesa com o
Brasil, por meio da formação da Parceria Estratégica e dos sucessivos contratos para a confecção conjunta do
míssil A-Darter. A aproximação em
temas de defesa com a Namíbia apresenta-se, também, como fato expressivo, pois os países manifestaram o
interesse de levar para o Exército e a
Força Aérea a cooperação exitosa das
Marinhas nacionais.
O Brasil possui uma densa cooperação em temas de defesa com os parceiros da África lusófona. Além dos
tratados bilaterais sobre o tema, assinados com parceiros variados, a
CPLP realiza regularmente reuniões
de Ministros da Defesa e o Simpósio das Marinhas, além de realizarem
operações conjuntas, como a Operação Felino e o treinamento em navios
-patrulha. A Operação Felino é uma
atividade de destaque, pois promove a integração entre as Marinhas dos
países, que se revezam para sediar o
exercício. É necessário ressaltar, ainda, a cooperação técnica em defesa
realizada com os países da CPLP, em
que são recebidos pelas Forças Armadas Brasileiras um número signiicativo de militares, principalmente de
Angola e Moçambique, para participar de cursos de treinamento e aperfeiçoamento, ministrados por oiciais
brasileiros.
A ampla gama de atividades, acordos
e visitas indicam que o Atlântico Sul
e os países africanos são de importância vital para a política de defesa
do Brasil. Para além da necessidade
de resguardar recursos estratégicos, a
COOPERAÇÃO EM DEFESA NA CPLP
Sedes e projetos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, entre 2000 e 2016
Sediaram Reuniões de
Ministros da Defesa
Países visitados por navios-patrulha
brasileiros para treinamento
conjunto (2012-2013)
Sediaram edições da
Operação Felino (Exército)
Sediaram o Simpósio
das Marinhas
Membro da CPLP
1000 km
Fonte: Sítio web do Ministério da Defesa, 2016; sítio web da CPLP, 2016; sítio web das Forças Armadas de Portugal, 2016.
Labmundo, 2017
1930
Ministro da Defesa
visita a África do Sul
Acordo para desenvolvimento
do míssel A-Darter
CRIAÇÃO DA ZONA DE PAZ DO ATLÂNTICO SUL
Votos por país na Resolução da Assembleia Geral 41/11 de 1986, que criou a Zopacas
A favor
Abstenção
Contrário
1000 km
Não votaram
Fonte: Unbisnet, 2016.
aproximação indica a vontade mútua
dos parceiros de consolidar a região
como zona de paz, em que os laços que
unem historicamente as duas regiões
sejam reairmados constantemente. Com a ressalva de que os projetos
de cooperação não interiram em processos políticos domésticos, as iniciativas são bem recebidas por todos os
países envolvidos e contribuem para
Labmundo, 2017
1920
Brasil decreta fim de relações
esportivas e culturais devido
ao apartheid
2014
2006
Labmundo, 2017
Atos brasileiros
Exercício IBSA-MAR na
costa sul-africana
Assinatura de Acordo
bilateral de Defesa
2003
a construção de coniança no espaço
regional ampliado.
VEJA TAMBÉM:
Cooperação militar com o Sul p. 72
Entorno estratégico p. 52
Amazônia Azul p. 64
Coop. Sul-Sul: África (Atlas da PEB) p. 116
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
77
Comércio com
BRICS e países em
desenvolvimento
A indústria de armamentos brasileira
vem aumentando o seu potencial competitivo com o desenvolvimento de
sistemas de armas adicionais para exportação, incluindo um míssil cruzeiro de ataque terrestre, um foguete de
artilharia guiada por GPS e mísseis antinavio e antirradiação, que são exemplos de como o setor busca incrementar
suas tecnologias e opta por ir além das
necessidades militares domésticas, buscando espaços nos mercados internacionais. O Brasil, no entanto, ainda
não é um produtor estabelecido no
comércio global de armas convencionais, crescendo apenas uma posição
no ranking dos principais fornecedores mundiais, indo da 24a posição no
período de 2009 a 2014, para a 23a, na
relação de 2010 a 2015. No ranking
de importadores, o Brasil seguiu
ocupando a 26a posição, com uma participação moderada nas transações globais da indústria armamentista. Essa
mudança modesta de posicionamento decorre da abordagem brasileira que
não está focada apenas no aumento do
poderio militar, mas sim na transferência de tecnologia, diretamente relacionada à visão que o Brasil tem do lugar
que deveria ocupar no mundo.
No entanto, é importante analisar os
mercados nos quais o Brasil tem participação. No ranking dos maiores compradores de armamentos brasileiros de 2010
a 2015, todos os países são do Sul, sendo que 3 são da Ásia, 5 da África, e 6 da
América Latina, e desses 6, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Paraguai estão
na América do Sul. Dentre os benefícios para o Brasil, como fornecedor de
armamentos para os países do seu entorno, pode-se citar o comércio de equipamentos como um instrumento político
para aumentar sua inluência sobre os
países compradores, contribuindo para
manter a balança regional de poder.
Como comprador, os benefícios incluem a transferência de tecnologia e
a industrialização para ins militares.
Mais do que isso, esses países muitas vezes não podem arcar com os custos ou
a manutenção de sistemas avançados
de alta tecnologia, o que leva o Brasil
a buscar ocupar um nicho de mercado de itens de média e baixa tecnologia, diminuindo o preço da mercadoria,
e atraindo compradores periféricos. É
interessante também traçar uma comparação com as exportações brasileiras
de armas de fogo e equipamentos associados, que é um tipo de comércio diferente do de armas convencionais, em
que o Brasil encontra um forte mercado
na América Latina, especialmente América Central e Caribe. Neste segmento
ocupa o segundo lugar no ranking dos
países que mais exportam armas desse
tipo para a região, icando atrás apenas
dos EUA. Na relação do Brasil com os
BRICS, a relevância da cooperação política entre os países do bloco não se relete no comércio de armamentos com
aqueles países. O Brasil, além de não exportar para nenhum dos parceiros do
COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS MILITARES ENTRE OS BRICS
Valor absoluto do fluxo comercial de equipamentos militares, participação do comércio com os BRICS no total e fluxos de importação e exportação entre os
BRICS, em milhões de dólares (preços correntes de 1990), entre 2010 e 2015
Rússia
China
Brasil
1000 km
Comércio com outros
países (área do círculo)
Índia
Comércio com
BRICS (área do círculo)
Fluxos de importação/exportação
Valores de totais do fluxo
comercial de equipamentos
militares (área do círculo)
Valores de importação e
exportação entre os países
do BRICS (espessura das setas)
42994
17670
4705
16554
966
Fonte: SIPRI, 2016b.
78
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
África do Sul
Labmundo, 2017
50
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
EXPORTAÇÃO DE ARMAS
Armas de fogo e equipamentos associados exportados pelo Brasil em milhões de dólares,
por país, em 2015
896,4
196,0
Labmundo, 2017
8,4
1000 km
Fonte: UN Comtrade, 2016.
EXPORTAÇÃO DE ARMAS
10 principais países exportadores de armas de fogo e seus equipamentos associados para países da
América Central e do Caribe, em milhões de dólares, em 2015.
10
Brasil
México
Fonte: Sítio Web Comtrade ONU, 2016.
15
20
25
Labmundo, 2017
5
EUA
Espanha
China
grupo, comprou armas convencionais
Itália
apenas da Rússia,
durante o período
Alemanha
avaliado. As prinReino
Unido
cipais importações
do Brasil vem da
França
Alemanha,
França, EUA, Israel, Itália e Rússia, que
são, em sua maioria, potências já estabelecidas no mercado internacional do
setor. A questão central é que o Brasil
não é uma exceção na falta de diversiicação de parceiros dentro dos BRICS,
e que o comércio de armamentos dentro do grupo tem uma interface muito
particular, com a Rússia sendo o único
país que interage com todos os seus pares nesse sentido. Os maiores luxos são
da venda de armamentos russos para
chineses e indianos, apesar de também
existirem registros de compras da África do Sul e do Brasil em luxos menores. A Índia aparece como o único país
que mostra um comércio de armas intra-BRICS maior do que com outros
países, mas a Rússia é a maior responsável por esses números. Embora o bloco
se baseie na ideia de que esses países deveriam compartilhar de uma visão estratégica da política internacional, suas
posições em relação aos temas da agenda global de segurança revelam que as
diferenças ainda inluenciam signiicativamente suas diplomacias, o que
pode levar a um esvaziamento das parcerias comerciais no âmbito da defesa.
Israel
A assimetria material e geopolítica também é expressiva: China e Rússia são os
únicos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU no grupo;
Brasil e África do Sul não têm armas
nucleares. Para além disso, tanto Brasil
quanto África do Sul não buscam projeção internacional baseada puramente
no incremento do seu poderio militar,
mas sim focando em seus atributos políticos e diplomáticos.
As posições que os BRICS defendem
por meio das declarações conjuntas nas
suas reuniões de cúpula são contrárias
ao uso da força e a favor do respeito à
soberania de cada nação, principalmente com o objetivo de construir a
imagem de um grupo pacíico, que deseja contribuir para a estabilidade internacional. No entanto, este discurso
contrasta com algumas posturas individuais dos seus membros. A questão do
tratado sobre o comércio de armas ilustra bem essa questão, além de iluminar os obstáculos práticos no caminho
de uma maior integração dos BRICS nos temas de segurança. É preciso
ressaltar que China e Rússia aparecem
no ranking dos maiores exportadores mundiais de armas convencionais,
enquanto a Índia e a China estão no
ranking dos maiores importadores.
O Tratado sobre Comércio de Armas
(ATT), de 2014, tem como objetivo
central estabelecer mecanismos que
controlem as transações internacionais
de armas convencionais e seus componentes. De modo geral, tratados desse
tipo geram muita resistência por parte dos países fortemente integrados ao
mercado internacional, que temem que
a regulamentação leve a limitações nas
suas estratégias de defesa e de transferência de tecnologia militar. Por esse
motivo, muitos países com maior peso
no comércio internacional de armamentos, seja como vendedores ou compradores, abstiveram-se de assinar o
documento.
Pode-se assim entender a posição do
Brasil e da África do Sul, países com
participação pequena no mercado,
como defensores do documento na Assembleia Geral da ONU de abril de
2013, e a de Rússia, China e Índia, que
se abstiveram de votar. A Índia foi o
país que teve a postura mais irme, condenando a assinatura do tratado e airmando que a iscalização do comércio
de armas deve ser responsabilidade individual dos Estados. O Brasil não apenas foi favorável à adoção do tratado,
como também sugeriu a ampliação de
suas cláusulas e da lista de armamentos incluídos nos termos do acordo.
Portanto, com posições tão diferentes sobre a regulamentação do comércio internacional de armamentos, seria
possível dar força às transferências desse tipo de tecnologia e de bens no contexto intra-BRICS? Como intensiicar
a ampliação da integração econômica
do bloco nesse segmento de mercado se
o grupo reúne países com objetivos tão
diferenciados no sistema internacional
e em termos de estratégias de defesa?
Enquanto os BRICS, na retórica, aparecem como potencial fonte de políticas de contrapeso às estratégias das
potências ocidentais, na prática, seus
luxos de importação de armamentos
ainda são extremamente dependentes de países como Alemanha, França, Reino Unido e EUA, enquanto suas
exportações estão destinadas à periferia do sistema internacional e aos países em desenvolvimento, reforçando
o seu papel de atores de relevância intermediária no comércio mundial de
armamentos.
VEJA TAMBÉM:
Cooperação militar com o Norte p. 74
Geopolítica e cooperação nuclear p. 80
Mecanismos internacionais de defesa p. 28
Cooperação militar com o Sul p. 72
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
79
Geopolítica
e cooperação
nuclear
GEOPOLÍTICA NUCLEAR E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
100
36
1000 km
Fonte: Sítio web PRIS/AIEA, 2016.
1
Labmundo, 2017
Quantidade de reatores nuclares operacionais e desativados por longo prazo*, por país, em 2016**
*Reatores desativados
com intenção expressa
de serem reativados
no futuro.
**Até setembro
Capacidade energética, em megawatt, por país, em 2016
100.000
75.000
50.000
Fonte: Sítio web PRIS/AIEA, 2016.
Capacidade energética dos principais reatores nucleares de cada país em desenvolvimento,
em megawatt, em 2016
200
400
600
800
1000
Labmundo, 2017
EU
Fr A
an
Ja ça
pã
Ch o
Co R ina
re ús
ia si
do a
Ca Sul
n
U ad
Al crâ á
em ni
an a
Re Su ha
in éc
o ia
U
Es nido
pa
nh
Ín a
d
B
Re él ia
p. gic
Tc a
he
ca
Fin Suíç
lâ a
Bu ndia
lg
Hu ária
ng
r
Áf
ric Br ia
a d asi
Es o l
lo Su
v
Ar áqu l
ge ia
nt
M ina
é
Ro xic
m o
ên
ia
Pa I
qu rã
Es istã
Pa lo o
íse vê
s B nia
a
Ar ixo
m s
ên
ia
25.000
1200
Shin-Kori 3 (Coreia do Sul)
Angra 2 (Brasil)
Novovorezh (Rússia)
Hongyanhe (China)
Temelin 1 (Rep. Tcheca)
Kozloduy 5 (Bulgária)
Khmelnitski (Ucrânia)
Koeberg 1 (África do Sul)
Kudankulam 1 (Índia)
Bushehr 1 (Irã)
Laguna Verde 1 (México)
Atucha 2 (Argentina)
Krsko (Eslovênia)
Angra 1 (Brasil)
Paks 2 (Hungria)
Bohunice (Eslováquia)
Chasnupp 3 (Paquistão)
Fonte: Sítio web PRIS/AIEA, 2016.
80
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
Cernavoda 1 (Romênia)
No contexto de Guerra Fria, o desenvolvimento de capacidades nucleares
reletia diferentes objetivos nacionais,
de acordo com a posição dos países no
sistema internacional. Para as grandes
potências, o objetivo principal era assegurar sua hegemonia ao buscar impedir a proliferação de armas nucleares.
Os menos poderosos buscavam dominar a tecnologia nuclear por questões
de poder e desenvolvimento, pelas rivalidades regionais que geravam uma
corrida nuclear entre eles, assim como
pelos benefícios práticos de contar com
fonte de energia alternativa. No Brasil,
esforços consideráveis em pesquisa e
tecnologia nuclear foram realizados somente a partir de 1951, quando da criação do CNPq. A instituição assumiu o
controle das reservas de tório e urânio
no país. À época, a gestão nacional-desenvolvimentista do CNPq quanto aos
rumos da política nuclear brasileira foi
criticada pelo Itamaraty. As tensões do
período ocasionaram a renúncia do
presidente do CNPq e conduziram a
questão nuclear ao status de assunto
majoritariamente diplomático. Nesse
período, o Brasil alinhou-se aos EUA e
às medidas que se seguiram ao programa Átomos para a Paz, no qual o governo estadunidense buscava estimular
a produção de energia nuclear para ins
pacíicos pelo mundo. A iniciativa foi
responsável pelo desenvolvimento de
parte da rede nuclear global, culminando com a criação da AIEA.
Entre disputas internas e a competição
direta com a Argentina, as décadas seguintes marcaram o aumento do interesse declarado do Brasil em expandir
seu sistema de geração de energia nuclear. O governo militar buscou adquirir usinas nucleares visando constituir
um complexo nuclear autônomo e o
domínio do ciclo completo do combustível. Nesse período, o Brasil assinou o Tratado de Tlateloco (1967), no
qual se comprometeu a não utilizar a
tecnologia nuclear para ins militares,
e se recusou a assinar o TNP, alegando que o acordo violaria e limitaria a
soberania nacional sobre o desenvolvimento nuclear e congelaria a distribuição global de poder. Em 1975, o Brasil
negociou um grande acordo nuclear
com a Alemanha, na casa de 10 bilhões
de dólares em valores da época, objetivando a transferência de tecnologia
para a importação de urânio e a construção no país de dois reatores, voltados para ins pacíicos até 1985, além da
opção de mais seis até 1990. Visando
impedir a transferência da tecnologia
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
CORRIDA NUCLEAR
ACORDOS DE SALVAGUARDA PARA FINS NUCLEARES
Evolução da produção de energia nuclear, por país,
em megawatts, entre 1985 e 2015
Principais protocolos, por país e data de conclusão, entre 1962 e 2016
99185
23612
2016
2000
1990
1980
1962
China
1000 km
88
+4
Coreia do Sul
Labmundo, 2017
+1
12
3,7
%
137
Não concluíram
o protocolo
Sem dados
disponíveis
Fonte: Sítio web AIEA, 2016.
%
,6
COOPERAÇÃO NUCLEAR ENTRE BRASIL E AMÉRICA LATINA
Quantidade de acordos bilaterais, por país, entre 1961 e 2015
20
40
Argentina
Paquistão
Chile
+3
Venezuela
,4 %
64
Fonte: Brics Policy Center, 2015.
60
Labmundo, 2017
0
+4
%
3,6
Peru
Índia
Uruguai
de enriquecimento
do urâParaguai
nio, o governo
Colômbia
estadunidenBolívia
se pressionou
México
a Alemanha,
e as cláusulas
de transferência de tecnologia sensível,
irmadas no acordo, não avançaram.
Dada a frustração com a negociação,
no ano de 1979, o governo militar brasileiro deu início, sigilosamente, ao
Programa Nuclear Paralelo, desenvolvido pela Marinha do Brasil em parceria com o Instituto de Energia Nuclear
da USP, que buscava construir um reator para um possível submarino nuclear
brasileiro. Em 1985, Angra I foi inaugurada. A redemocratização no Brasil
marcou um período de reaproximação
diplomática com a Argentina, tal como
é sinalizado pela assinatura da Declaração Conjunta sobre Política Nuclear
(1985), que criou um grupo de trabalho
conjunto para promover o desenvolvimento tecnológico e nuclear de ambos
os países. Dois anos depois, José Sarney
tornou público o programa autônomo
dos militares e comunicou que o Brasil havia dominado a tecnologia de enriquecimento de urânio. Desde então,
a pesquisa e o desenvolvimento nuclear passaram a ser de responsabilidade
da Marinha. Em 1990, a Declaração
sobre Política Nuclear Comum Brasileira-Argentina deu origem ao Sistema
Comum de Contabilidade e Controle
(SCCC), abrangendo todas as atividades nucleares de ambos os países e cuja
Equador
00
+2
Brasil
Argentina
+ 74,5
,9 %
%
Japão
%
+ 70,6
França
+ 68,4
%
Rússia
+ 60,6 %
EUA
+ 33,3 %
África do Sul
+ 1,1 %
Reino Unido
- 11,5 %
- 40,4 %
1985
1995
Fonte: Sítio web AIEA, 2016.
2005
2015
Labmundo, 2017
Alemanha
administração icou por conta de uma
instituição com personalidade jurídica
própria – a ABACC. Assinado em 1991
e em vigor desde 1994, o acordo quadripartite assinado por Brasil, Argentina,
ABACC e a AIEA criou um prolíico
sistema de salvaguardas bilaterais.
Na atualidade, o Brasil está em período
de consolidação de seu programa nuclear. Desde 2008, a Estratégia Nacional de Defesa elenca como prioritária a
intenção de desenvolver e dominar esta
tecnologia. No Livro Branco da Defesa de 2012, há menção à necessidade do
uso do submarino de propulsão nuclear para proteção dos recursos naturais
e das rotas comerciais. Com Angra I e
II em operação e Angra III em construção, o país conta com uma produção
energética bem abaixo das potências
mundiais, mas de relativa eiciência;
os reatores brasileiros, embora em pequena quantidade, estão entre os que
apresentam melhor desempenho. Dos
resultados sensíveis em relação ao avanço do programa, podem ser lembrados
o incentivo às pesquisas, o domínio do
ciclo completo do combustível e o desenvolvimento do submarino com propulsão nuclear.
VEJA TAMBÉM:
Cooperação militar com o Sul p. 72
Cooperação militar com o Norte p. 74
Controle nuclear p. 32
Defesa e segurança (Atlas da PEB) p. 46
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
81
Economia,
política e
Congresso
os povos e nos direitos humanos, os
quais limitam a ação dos Estados-Nação nos conlitos externos e internos.
O sistema multilateral visa deinir
quais os limites e direitos que uma
sociedade possui para se defender.
Historicamente, defesa e segurança são questões que icavam restritas
PRINCIPAIS INVESTIMENTOS
A defesa do território nacional e a segurança da população são elementos
estruturais do Estado-nação moderno e são dimensões decisivas para se
medir o poder de cada país na política
internacional. Para um Estado-nação
exercer suas funções diante de seus cidadãos e para competir com às demais
nações, produzindo relações de força
e de equilíbrio entre elas, há um custo material: recursos e riqueza gerada
nas cadeias produtivas e comerciais ligadas a questão da defesa e segurança, que podem ser medidas enquanto
um PIB mundial e nacional da Defesa.
O Brasil, por exemplo, é o 4º maior
exportador de armas leves do mundo (as que mais matam), segundo relatório divulgado em 2013 pela Small
L
(2 ula
00
320
0
L
(2 ula 6)
00
720
1
D
(2 ilm 0)
01 a
120
14
)
To
ta
l
Orçamento dos principais programas da defesa
brasileira, em milhões de reais, entre 2003 e 2014
Arms Survey. Trata-se de uma rede
que movimentou 6 bilhões de dólares
naquele ano. No que tange aos processos que exigem mais tecnologia, o
Brasil é retardatário, com seus principais investimentos em questões-chave
tais como a defesa cibernética e o submarino nuclear datando de 2009 em
diante.
Há também uma dimensão política da defesa, cujas estratégias são
variadas em qualquer sociedade, ensejando disputas que fazem parte dos
conlitos políticos de todos os países. A temática da defesa encontra,
nas relações internacionais, um contraponto ético e moral expresso nas
noções de coexistência pacíica entre
Sistema de
Controle do
Espaço Aéreo
Implantação de
estaleiro e base naval
para construção
de submarinos
Construção de
submarinos
convencionais
Aquisição de
Aeronaves
Modernização e
Revitalização de
Aeronaves
Missões de Paz
Aquisição de
Helicópteros (HX-BR)
Desenvolvimento
do KC-390
Programa
Nuclear da
Marinha
Construção de
submarino nuclear
Outros
DEFESA NO PIB BRASILEIRO
Valor total e participação no PIB do setor relacionado à defesa, em comparação com outros setores,
em trilhões de reais, entre 2009 e 2014
2
Total
3
*O Ministério da Defesa
não disponibiliza dados
orçamentários completos
referentes aos governos
anteriores.
Serviços
Agronegócio
41.023.338
9.411.053
78.890
Indústria de
transformação
A área de defesa movimenta
aproximadamente 2% da
economia brasileira.
Defesa
Fonte: IBGE, 2015.
Labmundo, 2017
Fonte: Sítio web do Ministério da Defesa, 2016.
Labmundo, 2017
1
ORÇAMENTO DA DEFESA BRASILEIRA
Valor do orçamento em defesa no Brasil e
participação de investimentos no total, em
bilhões de reais, entre 2000 e 2014.
GASTOS MILITARES NO MUNDO
Média com relação ao PIB de cada país, entre 2000 e 2014
60
40
8,18
5,45
2,72
0
Fonte: Banco Mundial, 2015; SIPRI, 2015.
82
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Sem dados disponíveis ou
com média inferior a 0
Labmundo, 2017
1000 km
20
10,9
0
20 0
0
20 1
0
20 2
0
20 3
0
20 4
0
20 5
0
20 6
0
20 7
0
20 8
0
20 9
1
20 0
1
20 1
1
20 2
1
20 3
14
Labmundo, 2017
20
Orçamento total
Orçamento para investimentos
Fonte: Ministério da Defesa, 2014.
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
PASSOS PARA UMA LEGISLAÇÃO EM MATÉRIA DE DEFESA
Cronologia dos principais marcos legais para a Defesa Nacional, entre 1996 e 2016
2010
Lei 12249
Constitui fonte de recursos adicional aos
agentes financeiros do Fundo da Marinha
Mercante; e institui o Regime Especial para
Indústria Aeronáutica Brasileira
2005
Mensagem presidencial
Cria a Política Nacional de Defesa
Decreto 5484
Altera a Política Nacional
de Defesa, inserindo o
conceito de Segurança
1998
Decreto 2864
Brasil adere ao Tratado de
Não Proliferação Nuclear
1999
Lei 11279
Dispõe sobre o Ensino
da Marinha
1999
2006
Lei 9786
Dispõe sobre o Sistema
de Ensino do Exército
Mensagem presidencial
Publica e encaminha ao Congresso
a Política Nacional de Defesa, a Estratégia
Nacional de Defesa e o Livro Branco
2010
Lei 11320
Dispõe sobre o comando
da Força Área em tempos
de paz
1999
Decreto 3182
Estrutura o Sistema
de Ensino do Exército
2013
Decreto 7970
Regulamenta a Lei 12598
Lei 12464
Dispõe sobre o Sistema 2014
de Ensino da Força Área Portaria Normativa 3010
Estabelece a nova Doutrina
Militar de Defesa Cibernética
2011
Lei 12527
2014
Lei de Acesso
Portaria Normativa 3461
à Informação
Estabelece o papel das Forças Armadas
para operações de Garantia
2011
da Lei e da Ordem
Decreto 7438
Estabelece princípios e diretrizes
para criação e elaboração do
Livro Branco de Defesa Nacional
2011
Portaria Normativa 113
Estabelece a nova Doutrina
Militar de Defesa
Lei 9883
Estabelece que o Ministério
da Defesa integra o Sistema
Brasileiro de Inteligência
2007
Lei 11631
Sistema Nacional
de Mobilização
2008
2004
Leis e Leis Complementares
Lei Complementar 117
Dispõe sobre as
atribuições do
presidente para o
emprego das Forças
Armadas
Decretos e Decretos Legislativos
Atos do Executivo
2000
2013
Lei Complementar 136 Decreto Legislativo 373
Cria o Estado-Maior
Aprova a Política Nacional de Defesa,
Conjunto das Forças
a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco
Armadas
2007
1999
Lei 13260
Lei Antiterrorismo
2012
2006
Lei Complementar 97
Cria o Ministério da Defesa
2016
Decreto 6703
Cria a Estratégia
Nacional de Defesa
2012
2009
Estrutura o Sistema
de Ensino da Marinha
2005
Lei 12598
Estabelece normas especiais
para as compras, as contratações
e o desenvolvimento de produtos
e de sistemas de defesa
2010
2015
Fonte: Diários Oficiais da União, 1996-2016.
a setores sociais tais como militares
e empresários que atuavam na área.
No século XXI, é possível identiicar uma tendência internacional de
inclusão de novos atores e novas temáticas para além das “tradicionais”,
como, por exemplo, as questões ambiental e alimentar e a participação
da sociedade civil. Entretanto, ainda
persiste, no mundo e no Brasil, uma
apropriação da problemática da segurança e da defesa por uma agenda de
fechamento democrático e de suspensão da prioridade ética dos direitos
humanos, a qual se justiica, principalmente, pela chave do “combate ao
terrorismo”.
Há no parlamento brasileiro um
constante conlito acerca da defesa,
e a recente legislação que organiza a
ação do Estado nesse setor é resultado
das relações de força e da institucionalização desses conlitos em uma
sociedade democrática. Desde a criação do Ministério da Defesa em 1999,
existe um esforço de democratizar o
tema, produzindo importantes momentos de cooperação entre militares e civis e uma maior publicização
dos debates a partir de instrumentos
legais tais como o Livro Branco de
Defesa Nacional, ou a Lei de Acesso à
Informação, que embora não seja especíica da defesa, atingiu este campo
de modo positivo e profundo.
Nacional (usada no regime autoritário contra as oposições, e que passou
por uma última reforma em 1983) ou
as polícias estaduais militarizadas. Outro limite importante é a ausência de
mecanismos de controle e inspeção
pública que incidam tanto sobre as cadeias produtivas quanto sobre as redes
comerciais da nossa Economia de Defesa. Os dados são escassos quer sobre
o uso de matéria prima para a Indústria de Defesa, quer sobre o caráter das
parcerias comerciais que o Brasil irma
nessa área.
Por outro lado, em 2016 o Brasil aprovou uma lei-antiterrorismo com conteúdo polêmico que é questionada
por importantes setores da sociedade civil. Há, ainda, a permanência de
legislações e estruturas do período ditatorial, entre elas a Lei de Segurança
Nossa legislação sobre Defesa relete um conlito crescente na sociedade
brasileira, qual seja, aquele que se dá
entre os defensores de uma agenda da
segurança calcada exclusivamente em
mecanismos repressivos e setores que
entendem que a segurança só pode ser
alcançada a partir do fortalecimento
da transparência e dos direitos humanos. Tal conlito é, hoje, um dos mais
importantes que se apresentam nos períodos eleitorais, gerando no Congresso bancadas temáticas atuantes nesse
tema e que terminam por inserir a
Economia Política da Defesa no centro das preocupações políticas da sociedade brasileira.
BANCADA DA BALA NO CONGRESSO NACIONAL
Quantidade de parlamentares integrantes das principais bancadas temáticas na Câmara dos Deputados
e no Senado brasileiros, em 2015
Câmara dos Deputados
25
50
50
Ruralistas
Ruralistas
Empresarial
Empresarial
Bala
Bala
Evangélica
Evangélica
Sindical
Sindical
Direitos
Humanos
Direitos
Humanos
Fonte: DIAP, 2015.
100
150
200
250
VEJA TAMBÉM:
Labmundo, 2017
Senado
Labmundo, 2017
1996
Indústria de defesa no Brasil p. 84
Sociedade civil e defesa p. 86
Mecanismos internacionais p. 30
Comércio com BRICS p. 78
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
83
Indústria da
defesa no Brasil
COMPRAS GOVERNAMENTAIS DO BRASIL
Quantidade de contratos em projetos, por empresa e por Força Armada do Brasil, entre 1999 e 2011
Marinha
1
2
3
4
5
6
7
8
DCNS
Avibras
Foreign Military Sales
Mectron/ODT
Santos LAB
Atech/Embraer
Embraer
Emgepron
Femar
Fundep
Kongsberg D&A
BAE Systems
C. Baía Sepetiba/ODT
CMN
EISA
FRF
Genpro Engenharia
Hersa Engenharia
IAI
IMI
INACE
Itaguaí C.N./DCNS
Itaguaí C.N./ODT
Jaraguá
Marsh Aviation Company
MBDA
ODT
Omnsys/Thales
Exército
Cabe ressaltar os luxos de importação e exportação de material bélico,
pelo Brasil, segundo país fornecedor e
país de destino, respectivamente, para
o período entre 1976-2015, conforme a disponibilidade de dados agregados sobre o tema. Dados relativos a
esse período demonstram que o Brasil sempre importou muito mais do
que exportou. Para todo este período,
os EUA, França, Reino Unido, Itália e
Alemanha são os principais fornecedores do Brasil.
1
2
3
4
5
6
7
8
1
2
3
4
5
6
7
8
Embraer
Mectron/ODT
Helibras/Airbus Helicopters
Armscor
Avibras
Denel
EADS CASA/Airbus Group
Foreign Military Sales
Fundep
Jaraguá/Lavitta
Jordan Aeronaltical Systens Company
Opto Eletrônica
Rosoboronexport
Turbomeca do Brasil/Safran
Mectrib/Galileo
Fonte: Silva, 2015.
84
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
Avibras
FRF
IMBEL
Orbisat/Embraer
Ares Aeroespecial e Defesa/Elbit
IVECO/FIAT
ATECH/Embraer
BAE Systems
Bradar/Embraer
CEPPE
Columbus
BAE CPqD
Ingepro-Control/Progeto/H3D
TEPRO-Embraer/Savis/Orbisat
Vectra Consultoria
Aeronáutica
É considerado estratégico, para o Brasil, ter um setor industrial de defesa
que, além de suprir a demanda interna
governamental, também seja capaz de
exportar e gerar bens e tecnologias que
permitam efeito de transbordamento para a indústria civil. Uma aproximação ao tema da indústria de defesa
no Brasil é frequentemente tarefa não
trivial em função da escassez de dados exatos, devido à natureza sensível
do tema - apesar dos esforços de transparência governamental como a Lei de
Acesso à Informação. O uso de estimativas internacionais e de alguns trabalhos acadêmicos que obtiveram acesso
parcial aos dados, embora tenha implicações metodológicas, é paliativo necessário para uma primeira abordagem
do assunto.
Do ponto de vista da exportação, os
clientes brasileiros mudaram ao longo
do tempo devido a fatores domésticos
e externos. Entre 1976 e 1995, o principal cliente das empresas brasileiras de
material bélico era o Iraque. Outros
países no Oriente Médio como Egito,
Líbia e Arábia Saudita também eram
clientes importantes. Esse foi o período de auge da indústria de defesa no
Brasil, signiicativamente ligada ao Estado e com grau relativamente alto de
soisticação, com exportação de carros
de combate lançadores de mísseis, por
exemplo. Com o acirramento de questões políticas naquela região, o advento das Guerras Irã-Iraque e da I Guerra
do Golfo, o principal cliente brasileiro não pode honrar compromissos inanceiros. Tal fator, somado ao ocaso
do modelo desenvolvimentista em
meados da década de 1980 e a ascensão das políticas econômicas neoliberais, que preconizavam privatizações
e redução dos subsídios estatais à indústria, contribuíram para o declínio
nas exportações da indústria de defesa do Brasil. A partir de 2005 evidencia-se uma retomada da indústria de
defesa, devido aos esforços de criação
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
COMPRA E VENDA DE MATERIAL BÉLICO
de políticas públicas que visam ao fomento da base industrial de defesa. Segue-se um processo de expansão de
vendas para clientes tradicionais como
as forças armadas sul-americanas e
também países da África, como Angola e Mauritânia.
Importação e exportação de material bélico pelo Brasil, em milhões de dólares, entre 1976 e 2015
Exportações 1976 - 1985
Importações 1976 - 1985
1000 km
1000 km
Importações 1986 - 1995
Exportações 1986 - 1995
1000 km
1000 km
Importações 1996 - 2005
Exportações 1996 - 2005
1000 km
Exportações 2006 - 2015
1000 km
Importações 2006 - 2015
1912
1000 km
1000 km
351
1
Fonte: SIPRI, 2016b.
Labmundo, 2017
Legenda
EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR DE DEFESA NO BRASIL E NO EXTERIOR
Plantas e escritórios das empresas brasileiras, em 2016
Avibrás
INACE
Emgepron
Mectron
Amazul
VEJA TAMBÉM:
1000 km
1000 km
Fontes: Sítios web das empresas, 2016.
Labmundo, 2017
Embraer
Taurus
Imbel
CBC/Magtech
Rossi
Nesse sentido, é necessário ressaltar a
presença internacional de empresas
brasileiras de defesa. Embraer, do setor de aviação – comercial e militar –,
CBC/Magtech, que fabrica munição,
e a Taurus que fabrica armas leves, são
os destaques de irmas que obtiveram
substancial inanciamento do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para expandir seus negócios. A Embraer, por
exemplo, está produzindo parte do
cargueiro militar KC-390 em Portugal
e possui unidades e escritórios na China, nos EUA, etc. O gráico demonstra os contratos de compras para 55
projetos estratégicos de material bélico pelas forças armadas do Brasil entre
1999-2011. Para o caso da Marinha do
Brasil, o maior número de contratos é
com o consórcio francês DCNS, responsável pelo projeto do submarino
nuclear. Empresas privadas nacionais
como a Avibrás, Mectron e Embraer e estatais como a Emgepron também ocupam posição de destaque nos
contratos com a Marinha. No caso do
Exército, predominam os contratos
com a empresa privada nacional Avibrás, responsável pelas aeronaves daquela força, seguida pela Fundação
Ricardo Franco (FRF) e a estatal Imbel, responsável por produzir o material bélico do Exército. No caso da
Força Aérea Brasileira, a Embraer é a
maior contratante seguida pelas também privadas Mectron, Helibrás/Airbus. Tais dados apontam para um
panorama no qual o Estado Brasileiro participa, enquanto comprador, da
indústria de defesa brasileira, utilizando materiais produzidos por empresas nacionais - públicas e privadas. Em
outros casos, em especial em projetos
com nível maior de soisticação tecnológica, como o submarino nuclear, o
Estado brasileiro precisou buscar contratos com empresas estrangeiras para
suprir esta demanda.
Economia, política e Congresso p. 82
Sociedade civil e defesa p. 86
Cooperação militar com o Sul p. 72
Cooperação militar com o Norte p. 74
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
85
Sociedade civil
e defesa
A relação entre defesa, Forças Armadas
e sociedade civil gera desaios, oportunidades de proissionalização dos militares e tentativas de democratização
de suas relações com os civis. Qual é o
papel da sociedade civil na construção
da política de defesa e quais são suas
demandas? De acordo com a Constituição de 1988, as Forças Armadas, sob
autoridade suprema do Presidente da
República, “destinam-se à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e (...) da lei e da ordem”. É
comum, contudo, o envolvimento das
Forças Armadas em iniciativas sociais,
de infraestrutura e de engenharia. Aos
poucos, elas vêm consolidando seu papel em trabalhos sociais, sobretudo em
regiões de difícil acesso. O aprofundamento do papel, internacional e doméstico, das Forças Armadas também
implica maior interação do Exército,
ACESSO À INFORMAÇÃO
TO
TA
L
*
tro
s
Ou
do
Ne
ga
P
co arc
nc ial
ed m
id ent
o e
Co
n
ce
di
do
Quantidade de pedidos baseados na Lei de Acesso à Informação, por instituição e resultado,
entre maio de 2012 e outubro de 2016
Ministério
da Fazenda
Caixa Econômica
Federal
EXÉRCITO E INFRAESTRUTURA
Localização dos Batalhões de Engenharia de
Construção e obras em andamento, em 2016
Ministério
da Educação
Ministério do
Trabalho e Emprego
Comando
do Exército
500 km
Ministério das
Relações Exteriores
Batalhões de Engenharia de Construção (BEC)
Obras de pavimentação feitas pelos BEC
Perfuração de poços artesianos feitas pelo BEC
Comando
da Marinha
Fonte: Sítio web da Diretoria de Obras de Cooperação do
Exercito Brasileiro, 2016.
Labmundo, 2017
Comando
da Aeronáutica
Ministério
da Defesa
20154
*A categoria “outros” se refere a perguntas duplicadas, pedidos
sobre assuntos que não são competência do órgão, informações
inexistentes ou perguntas incompreensíveis.
INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO
Quantidade de pedidos negados
sob justificativa de informação sigilosa
1275
2
Fonte: Sítio web do sistema eletrônico do serviço de informação ao cidadão, 2016.
Labmundo, 2017
10216
Instituições de ensino das forças armadas, por
localização, tipo e força armada, em 2016
Respostas negativas a pedidos baseados na Lei de Acesso à Informação, em %, entre maio de 2012 e
outubro de 2016
Pedidos negados
1000 km
Pedidos negados sob justificativa
de informação sigilosa
Instituições de ensino
fundamental ou médio:
Escolas Militares
20
86
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
da M
Ed ini
uc sté
aç rio
ão
Labmundo, 2017
Fonte: Sítio web do sistema eletrônico do serviço de informação ao cidadão, 2016.
M
da ini
De sté
fe rio
sa
C
Aeom
ro an
ná do
ut d
ica a
da Mi
Fa nist
ze ér
nd io
a
M
in
Tr isté
Emaba rio
pr lho do
eg e
o
da Co
M ma
ar nd
in o
ha
da M
s
Ex Re inis
te laç tér
rio õ io
re es
s
do Co
Ex ma
ér nd
cit o
o
Ec
on C
Fe ôm aix
de ic a
ra a
l
10
Instituições de formação,
aperfeiçoamento ou
ensino superior:
Exército
Aeronáutica
Marinha
1000 km
Fontes: Sítio web do Ministério da defesa, 2016;
sítio web Exército Brasileiro, 2016
Labmundo, 2017
30
COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
EDITAL PANDIÁ CALÓGERAS
Localização e montantes, em reais, do financiamento para projetos de pesquisa em Defesa nacional, em 2015-2016
Outro projeto de grande visibilidade
é o “Projeto Rondon”, criado inicialmente em 1967 e reativado em 2005.
Desde então, já enviou mais de 24 mil
jovens estudantes universitários e professores de várias áreas do conhecimento (“rondonistas”) para colaborar
junto às lideranças locais e na formação de multiplicadores (produtores,
agentes públicos, professores). As Forças Armadas proporcionam todo o
apoio logístico de deslocamento luvial (Marinha), aéreo (Força Aérea),
bem como alimentação, transporte local e segurança das equipes (Exército).
Merece destaque também a atuação
do Ministério da Defesa no âmbito
de formação educacional e pesquisa
As Forças Armadas também atuam nas
chamadas “Ações Subsidiárias e Complementares”, participando na construção de estradas, ferrovias, pontes,
açudes, etc. ou na promoção de serviços de saúde pública em regiões longínquas e apoio humanitário em casos
de calamidades como enchentes, deslizamentos de terras ou secas prolongadas. Há também as chamadas ações
cívico-sociais (ACISO) que, por meio
das Forças Armadas, levam às regiões
mais pobres assistência médico-odontológica e construção de escolas, abrigos, hospitais, distribuição de água em
regiões de seca, dentre outros.
Está previsto na Constituição que as
Forças Armadas devem atuar na Garantia da Lei de Ordem (GLO) e tal
atuação é a que gera maior embate
com a sociedade civil. Duas iniciativas,
nesse sentido, podem ser citadas: a
Labmundo, 2017
DEFESA OU SEGURANÇA?
Percepção quanto à ação das Forças Armadas no
combate à criminalidade, por região brasileira,
em %, em 2011
65,7
42
0,4
a
Pergunta:
as Forças Armadas devem combater a criminalidade?
Região
Norte
Região
Nordeste
Região
Centro-Oeste
Região
Sudeste
Região
Sul
Total
Brasil
Fonte: IPEA, 2011.
Labmundo, 2017
Os “Programas Sociais da Defesa”, atividades voltadas para integração entre Forças Armadas e a sociedade civil,
são, nesse sentido, uma forma efetiva
de envolvimento com as demandas da
sociedade. Dentre as principais iniciativas, destacamos o “Projeto Soldado
Cidadão” que qualiica social e proissionalmente os recrutas do serviço militar obrigatório, preparando-os para
as demandas de trabalho; o “Programa Calha Norte”, que promove a ocupação e o desenvolvimento social da
região amazônica com projetos de infraestrutura (estradas, pontes, creches
e etc.) e projetos sociais como escolarização e mutirões médicos; e o “Programa Força no Esporte” que promove,
em parcerias com outros ministérios,
a integração social pela prática esportiva com reforço escolar, orientações
educacionais, serviço médico e odontológico e inserção proissional.
acadêmica. Além das escolas de formação das Forças Armadas, e cursos
de pós-graduação em defesa abertos
a civis e militares, outros programas
incentivam a pesquisa e extensão em
temas de defesa e segurança: o Programa Pró-Defesa; os Centros de Estudo
de Política e Estratégia; o Programa
Antártico Brasileiro (que monitora
as mudanças ambientais na Antártida); o Instituto Pandiá Calógeras (que
presta assessoria direta ao Ministério da Defesa na produção de análise e estimulo à trabalhos acadêmicos
sobre defesa nacional). A criação da
Associação Brasileira de Estudos de
Defesa (ABED) com encontros acadêmicos sobre defesa nacional e segurança e o aumento da produção cientíica
em torno de temas de defesa e assuntos estratégicos são provas irrefutáveis
do aumento do interesse da sociedade civil sobre os assuntos de defesa
nacional.
1000 km
nc
da Marinha e da Aeronáutica com a
sociedade e o aumento de demandas
por segurança interna, para além dos
assuntos de defesa.
1000 km
Nu
Fonte: CNPq, 2016
105000
52800
3830
Às
ve
ze
s
1000 km
Bolsa
pr
e
Capital
Se
m
Custeio
Operação Ágata nas regiões de fronteira e a participação das Forças Armadas
junto às Unidades de Polícia Paciicadora (UPP). A criação, em 2010, das
UPPs junto às favelas do Rio de Janeiro provocou grandes debates sobre
quais os limites de atuação das Forças
Armadas altamente qualiicadas para
atuarem externamente, mas não vocacionadas para lidar com segurança
pública. Nas atividades de segurança
em espaços urbanos estão as principais
contradições de sua ação, uma vez que
a securitização de espaços geralmente
situados nas periferias urbanas onde
vive a população mais pobre tende a
ser muito mal avaliada por habitantes
locais, ONG e movimentos sociais.
VEJA TAMBÉM:
Economia, política e Congresso p. 82
Participações em operações de paz p. 36
Amazônia Azul p. 64
Amazônia Verde p. 62
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
87
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICE
METODOLÓGICO
88
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
89
Glossário
CAPÍTULO 1
Páginas 12 e 13
Geopolítica – É o campo do conhecimento que busca
analisar os processos políticos, sociais e econômicos em associação com as características geográicas de um território ou conjunto de territórios.
Trata-se de uma categoria fundamental para o
entendimento das relações de força e equilíbrio
no plano internacional e que precisa incluir todas as possibilidades de cooperação e conlito em
um dado território.
Colonialismo – A colonização remete, em geral, ao
processo de dominação prolongada de um território e sua população por um grupo social
externo a ele, podendo redundar em ocupação,
povoamento e criação de instituições (administração, defesa, educação, saúde, etc.). Contudo,
quando se fala em colonialismo, refere-se à formação dos Impérios Coloniais modernos (séculos XV e XVI), cuja expansão abarcou todos os
continentes entre os séculos XVI e XX e esteve
estreitamente relacionada com a internacionalização do sistema capitalista e a constituição do
sistema-mundo.
Descolonização - A descolonização moderna refere-se
aos processos de independência das colônias nas
Américas, na África, na Ásia e na Oceania. As
lutas anticoloniais ocorreram em duas ondas: a
primeira se iniciou no inal do século XVIII com
Haiti e Estado Unidos da América e se estendeu
até meados do século XIX por todo o continente
americano; a segunda, principalmente em África
e Ásia, ocorreu entre os anos 1910 e 1980 do
século XX.
90
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Povos originários - São chamados de povos originários as populações que ocupavam um determinado território antes dos processos de colonização
moderna promovida pelos impérios coloniais
europeus. O termo “povos originários” abrange
uma diversidade enorme de povos, nações, etnias
e comunidades cujo único traço comum é ser
diferente dos povos colonizadores (os indígenas
nas Américas, as mais diversas etnias africanas e
asiáticas, as comunidades aborígines da Austrália
ou ainda os maoris da Nova Zelândia).
Quilombo - Os quilombos são os territórios ocupados
pelas populações africanas e afrodescendentes
que conseguiram fugir do regime de escravidão
a que estavam submetidas no Brasil. Nesses territórios, que se formaram entre os séculos XVI
e XIX, os antigos escravos constituíam comunidades, organizando a defesa e a subsistência
coletiva e também recriavam seus laços culturais
e simbólicos. Com a constituição brasileira de
1988, os quilombos passaram a ser reconhecidos
pelo Estado brasileiro, o que lhes confere direito
à posse da terra que ocupam e à reparação histórica devido à violência da escravidão.
Páginas 14 e 15
Guerra da Cisplatina - Conlito armado ocorrido entre o império brasileiro e as Províncias Unidas
do Rio da Prata entre 1825 e 1828 pela posse da
Província Cisplatina, a região da atual República
Oriental do Uruguai. A anexação da região pelo
Império, de acordo com Hernani Donato (1987)
não foi um episódio aceito pelo brasileiros. Uruguaios, auxiliados pela Argentina, dão início à
guerra pela independência da região. Após uma
exaustiva e custosa guerra, em 27 de agosto de
1828, Brasil e Argentina reconhecem e garantem
a independência do Uruguai.
GLOSSÁRIO
Cabanagem - A Cabanagem foi uma revolta popular
que aconteceu entre os anos de 1834 e 1840 na
província do Grão-Pará (região norte do Brasil,
atual estado do Pará). Recebeu este nome, pois
grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres que moravam em cabanas nas beiras
dos rios da região. Estas pessoas eram chamadas
de cabanos. A revolução paraense foi considerada a mais radical e violenta do período regencial
(DONATO, 1987).
Balaiada - Revolta popular ocorrida no Maranhão entre os anos de 1838 e 1841 contra o monopólio
político de um grupo de fazendeiros da região.
revolta iniciou a partir de um simples fabricante
de balaios Manuel Francisco dos Anjos - o “Balaio”, que teve uma das suas ilhas estuprada por
um policial sem que houvesse nenhuma punição.
Agregou uma grande quantidade de pretos, mulatos, índios e cafuzos revoltosos contra fazendas
e grandes propriedades. “A dureza da guerra estendeu-se até 1841, quando o exaurimento dos
recursos balaios e a habilidade militar e política
de Luís Alvez de Lima e Silva contribuíram para
a paciicação. O título do futuro duque, Caxias,
lembra o seu êxito no paciicar o Maranhão”
(DONATO, 1987. p. 142).
Sabinada - “Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira” à frente dos partidários exaltados, proclamou
a Bahia desligada do Império ‘enquanto persistisse a menoridade do Imperador D. Pedro II’.
Organizou governo e forças armadas que o sustentassem. Estas, porém, nada puderam diante
do exercício regencial o mando do marecha-decampo João Crisóstomo Calado(...)”(DONATO, 1987. p. 141). A “Sabinada” ganhou esse
nome pelo seu Líder, Francisco Sabino e teve
como principais aliados, militares e integrantes
da classe média. Durou de 1837 a 1838.
Revolta dos Malês - ou Revolta de Escravos Nagôs,
Malês e Tapas - De acordo com Hernani Donato
(1987), “a melhor organizada dentre as revoltas de escravos baianos parece ter sido acionada
pelos nagôs, tendo recebido a adesão de malês
e tapas. (...). O programa da revolta de 1835
clamava, entre outras reivindicações, a abolição
da propriedade e do catolicismo como religião
oicial”. (DONATO, 1987. p. 136). De acordo
com o autor, a revolta teria sido preparada 3 anos
antes pela organização secreta Ogboni, mas não
durou mais que alguns encontros sangrentos, resultando em severa repressão como cinco fuzilamentos e dezenas de condenações ao açoite.
Revolução Farroupilha - De duração entre 1835 e
1845, icou conhecida como a mais longa das
revoluções brasileiras e, assim como a maioria
delas, apresentou por justiicativa o protesto
contra o poder centralizador da Corte. Liderada pela classe dominante gaúcha que usou as
classes mais pobres como apoio. “Pandiá Calógeras observou que ‘federalistas, muito mais que
separatistas, os farrapos pelejavam pelas liberdades locais’. (...). Mas foi o fator econômico que
preponderou (...). A importação, para o nordeste
do Império, do charque platino mais barato que
o rio-grandense e a pesada taxação sobre o sal
necessário às charqueadas foram duros golpes
deferidos pelo governo contra o poder e a economia dos estancieiros. Seriam eles o cerne da
revolução e os principais republicanos em 1838”
(DONATO, 1987, p.137). Chegou a ser proclamada a República Rio-grandense, sob a ressalva
de provisória até que o Brasil se tornasse uma
república federativa. Em 1 de março de 1845,
após exaustivas batalhas, foi acidado o acordo
de paciicação. O Império conseguiu manter a
hegemonia sobre a região, mas os revoltosos tiveram importantes êxitos como maior autonomia
na região, anexação de oiciais rio-grandenses ao
exército imperial, sobretaxação de 25% do charque importado, libertação dos prisioneiros de
guerra, libertação de ex-escravos que lutaram no
exército, dentre outras.
Guerra do Paraguai - Com duração entre 1864 e
1870, foi considerado o maior conlito armado
internacional da região no século XIX. O conlito uniu Brasil, Argentina e Uruguai (união que
também icou conhecida como tríplice aliança)
contra o mais bem sucedido vizinho, o Paraguai.
O crescimento exponencial do Paraguai, tanto
no campo econômico quanto militar (tornando-se a primeira força militar sul-americana), foi
considerado pela coroa inglesa como um exemplo que não deveria ser seguido pelos seus vizinhos. A inglaterra interferiu fortemente no confronto, com o fornecimento de empréstimos e
recursos militares. A guerra devastou o Paraguai,
uma verdadeira potência econômica no período
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
91
e independente das nações europeias. Os efeitos
da guerra para o país foram desastrosos e o Paraguai jamais voltou a ter bons índices de desenvolvimento econômico.
Páginas 18 e 19
Liga das Nações - Ou Sociedade das Nações. Foi uma
organização internacional criada em 1919 e autodissolvida em 1946 com o objetivo de reunir
todas as nações em torno da manutenção da paz.
A Liga foi criada pelo Tratado de Versalhes, junto
ao im da Primeira Guerra Mundial.
Pax Britannica - período de amplo domínio da Grã
Bretanha no sistema internacional, compreendido entre o im da Era Napoleônica e o início
da Primeira Guerra Mundial. Durante esse período de domínio britânico, não houve ausência
de guerras, mas os conlitos tiveram proporções
menores, motivo pelo qual o século XIX icou
conhecido como um século de paz. O domínio
inglês estava pautado na defesa do liberalismo
econômico e do equilíbrio de poder entre as potências européias.
endidos na costa brasileira como arma de guerra.
Os acontecimentos sistêmicos e a instabilidade
política doméstica do Brasil fez com que o Plano
não fosse implementado.
Quatorze Pontos de Wilson - discurso realizado pelo
então Presidente dos Estados Unidos, Woodrow
Wilson, em 1918, após o im da Primeira Guerra
Mundial. O presidente elencou pontos importantes para a manutenção da paz mundial e para
evitar a emergência de novos conlitos. Entre
eles, estavam o im da diplomacia secreta e a criação de uma organização internacional para lidar
com questões de paz e segurança.
Tratados de Locarno (1926) - acordos assinados pelos governos de Alemanha, Bélgica, França, Grã
-Bretanha e Itália, na cidade de Locarno, na Suíça. Após o Tratado de Versalhes impor pesadas
reparações de guerra à Alemanha, o Tratado possibilitava que o país germânico se reintegrasse na
ordem mundial, com a garantia da inviolabilidade de suas fronteiras, a desmilitarização da região
da Renânia e a integração à Liga das Nações.
Páginas 20 e 21
Concerto Europeu - mecanismo de equilíbrio de poder colocado em prática por Inglaterra, Áustria,
Rússia e Prússia após o Congresso de Viena, em
1815. O objetivo era controlar possíveis ameaças
ao equilíbrio europeu, como Napoleão havia feito nos anos anteriores. Esses Estados assinaram
diversos Tratados de defesa mútua, de forma a
impedir o surgimento de outra potência que pudesse controlar a Europa.
Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG) criada no contexto da Primeira Guerra Mundial
pela Marinha do Brasil, era composta de três divisões, com o objetivo de defesa e patrulhamento
do Oceano Atlântico, após as ações dos submarinos alemães.
Plano Calógeras - elaborado em 1918, consistia em
um documento elaborado pelo parlamentar João
Pandiá Calógeras, em que eram previstas diretrizes e planos de ações para o Brasil engajar-se
na Primeira Guerra. Além de melhorias na infra
-estrutura e na capacidade militar doméstica do
país, o Plano previa a utilização de navios apre-
92
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Comissão Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos - a
comissão foi criada no período do Governo Vargas que antecedeu o alinhamento brasileiro aos
Aliados na Segunda Guerra Mundial. Foi instalada como parte da negociação do engajamento
brasileiro no conlito, com o objetivo de aprimorar as bases comuns das políticas de defesa
dos dois países. Paralela à criação da Comissão,
foram negociadas a cessão das bases no Nordeste
e a criação da Companhia Siderúrgica Nacional.
Eximbank - oicialmente chamado de Export-Import
Bank of the United States, é a agência oicial de
crédito do governo norte-americano.
Força Aérea Brasileira (FAB) - criada em 1941, mesmo ano da criação do Ministério da Aeronáutica, participou da força expedicionária que lutou
na Segunda Guerra Mundial. A FAB atuou no
Atlântico Sul e na frente italiana. Participou, na
década de 1970, da Guerrilha do Araguaia. Atualmente, é subordinada ao Ministério da Defesa
e controla as bases aéreas do país e equipamentos
GLOSSÁRIO
aeronáuticos do país, além de realizar treinamentos conjuntos com forças aéreas de outros países
e com o Exército e a Marinha.
Páginas 22 e 23
Crise dos Mísseis - Em 1962 durante treze dias, o
mundo vivenciou um dos episódios mais emblemáticos da Guerra Fria quando a União Soviética instalou mísseis nucleares na ilha caribenha de
Cuba. No dia 22 de outubro, o presidente dos
EUA, John Kennedy anunciou em rede nacional
de TV a presença dos mísseis na ilha e estado
de alerta com bloqueio naval e iminência de um
conlito nuclear entre URSS e EUA.
CAPÍTULO 2
he Military Balance - produzida pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, sediado
em Londres, essa base de dados é atualizada
anualmente e publicada em forma de livro. Para
o Atlas da Defesa, utilizamos seus dados para
equipamento militar, e gasto militar percapita e
efetivo militar permanente por mil habitantes.
A diiculdade do uso desse material reside no
fato de que não há um repositório que permita
compilação de uma série temporal para vários
países, procedimento que requereria a compra
individual de livros e compilação manual. As
descrições dos conceitos são sempre incluídas
ao inal de cada livro, no apêndice metodológico.
SIPRI - produzida pelo Instituto de Pesquisa em Paz
de Estocolmo, a base de dados é de livre acesso
e a utilizamos no atlas para obter os dados sobre
o comércio internacional de armas, situação das
ogivas nucleares e series temporais envolvendo
gastos militares para diferentes países.
Páginas 26 e 27
A bases de dados sobre poder militar e conlito utilizadas no projeto -O uso de bases de dados sobre
conlitos internacionais e capacidades militares
pode oferecer informações substanciais para os
estudos do poder militar. No entanto, tal uso
não deve ocorrer sem que considerações sobre a
natureza de tais dados seja feita, sob o risco de,
na análise, reletir implicações normativas que
não são as do analista. Assim sendo, cabe esclarece o uso de algumas bases de dados sobre poder militar e conlitos internacionais que foram
utilizadas para confeccionar as imagens neste
Atlas. Como qualquer medida quantitativa, tais
medidas de poder militar não captam a realidade
social perfeitamente, sendo, portanto, uma escolha de pesquisa considerá-las para tecer considerações sobre o problema analisado.
UCDP/Prio - produzida pelo Instituto de Pesquisas
sobre a Paz da Universidade de Uppsala, esta
base de dados de livre acesso essa base de dados
foi utilizada para mapas sobre violência interestatal e intraestatal. Conlito armado é deinido
como tendo um número de baixas menor do que
1000 e maior do que 25 e guerra tem um número de baixas maior do que 1000.
Correlates of War - foram utilizados o Índice de Capacidades Nacionais (Composite Index of National Capabilities - CINC) e a base de dados sobre
disputas interestaduais militarizadas, produzidos
pelo projeto Correlates of War, sediado nos Estados Unidos . O CINC inclui a produção de
ferro e aço, população urbana, população total,
gastos militares, pessoal militar e total da produção energética de um país com relação ao total
de recursos disponíveis no sistema internacional.
Os dados disponíveis para essa variável vão de
1816 a 2012, e o conceito que os autores desse
índice utilizam para poder, inspirado numa visão
neorrealista da política internacional, demonstra
ser uma proxy operacional para poder relativo no
sistema internacional, conforme seu livro de códigos (COW, 2010 p. 3).
Tanque principal de batalha (em inglês, Main Battle
Tank) - veículos de combate blindados, rastreados, armados com uma arma montada na torre,
com calibre mínimo de 75mm e pesando pelo
menos 25 toneladas métricas sem carga. Veículos
mais leves que atendam aos três primeiros requisitos são considerados tanques leves.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
93
Artilharia - armas (incluindo canhões, obuses, lançadores de foguetes múltiplos e morteiros) com
um calibre superior a 100 mm para peças de artilharia e 80 mm ou mais para morteiros capazes
de atingir alvos terrestres com fogo indireto.
Submarinos - todos as embarcações concebidas para
funcionar principalmente sob água. Submarinos com um deslocamento submerso abaixo de
250 toneladas são classiicados como submarinos-anões; aqueles abaixo de 500 toneladas são
chamados submarinos costeiros.
toxicidade das substâncias empregadas em sua
fabricação. Entre seus tipos, são incluídos gases
e sufocantes.
Armas biológicas - consideradas armas de destruição em massa, essas armas utilizam toxinas ou
agentes infecciosos, com o objetivo de provocar
reações imunológicas. Tradicionalmente, são utilizados em sua fabricação vírus e bactérias com
grande potencial de infecção e resistência.
Páginas 38 e 39
Principais navios de combate de superfície - todos os
navios de superfície concebidos para operações
de combate no alto-mar e que pesam acima de
1500 toneladas. Os porta-aviões, incluindo os
portadores de helicópteros, são navios projetados
para transportar aeronaves de asa ixa e/ou rotativa, não possuindo capacidade anfíbia. Outras
embarcações envolvidas no combate de superfícies são cruzadores (acima de 9750 toneladas),
destroyers (acima de 4500 toneladas) e fragatas
(acima de 1500 toneladas).
Aeronaves táticas - Incluem as seguintes categorias.
Caça para ataque a alvos no ar (Ftr): aeronave de
asa ixa projetada principalmente para combate
aéreo, que também pode ter capacidade limitada para ataque em superfície. As unidades estão
equipadas com aeronaves destinadas a proporcionar superioridade aérea.
Caça para ataque a alvos no ar e ataque ao solo (FGA)
- aeronave de asa ixa, este caça tem capacidade
signiicativa para atuar em superfície, incluindo
o ataque marítimo, e pelo menos alguma capacidade contra alvos no ar.
Caça de ataque a alvos em terra (Atk) - aeronave de
asa ixa projetada exclusivamente para a tarefa de
ataque à superfície, com capacidade limitada ou
nenhuma capacidade de ataque contra alvos no
ar. As unidades são aeronaves de asa ixa.
Páginas 28 e 29
Armas químicas - reconhecidas pela ONU como armas capazes de gerar destruição em massa, os
efeitos nocivos dessas armas são causados pela
94
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Centro de Excelência de Combate à Fome (CG-Fome) - Extinto no governo Temer, fruto de uma
parceria entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Programa Mundial de Alimentos
(PMA) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento em Educação (FNDE). Inaugurado em 2011,
busca ser um espaço global de intercâmbio de
experiências de desenvolvimento de capacidades,
promoção da cooperação Sul-Sul e redes de proteção, sobretudo na ára de alimentação escolar,
nutrição e segurança alimentar e nutricional.
Programa Mundial de Alimentos - Filial de auxílio
alimentar da Organização das Nações Unidas
(ONU) o PMA é a maior agência humanitária
do mundo, fornecendo uma média de 90 milhões de alimentos, por ano em mais de 80 países.
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) - A FAO
a entende como a garantia a todos de condições
de acesso a alimentos básicos de qualidade, em
quantidade suiciente, de modo permanente e
sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência
digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa, com preservação das condições
que garantam uma disponibilidade de alimentos
em longo prazo A segurança alimentar implica,
portanto, quatro dimensões essenciais: a disponibilidade física de alimentos, o acesso econômico e físico aos alimentos, o uso dos alimentos e
a sustentabilidade, no tempo, das três dimensões
anteriores (FAO, 2011 apud: ECHART E CARVALHO, 2016. p.36).
GLOSSÁRIO
Subnutrição - “a condição das pessoas cujo consumo
de energía alimentar é constantemente inferior
às necessidades mínimas de energia alimentar
para poder levar uma vida saudável e realizar
uma atividade física leve” (FAO, 2006, p. 2 apud
Echart e Carvalho, 2016. p. 36).
Soberania alimentar - O Fórum para a Soberania Alimentar de Nyéléni, em 2007 (Bamako, Mali)
deiniu a soberania alimentar como “O direito
dos povos a deinir suas próprias políticas aimentares e agrícolas, proteger e regular a produção
agropecuária nacional e o comércio para alcançar o desenvolvimento sustentável; determinar
em que medida querem ser autossuicientes; restringir o dum- ping de produtos em seus mercados; e dar prioridade de uso e direitos sobre
os recursos aquáticos para as comunidades que
dependem da pesca. A soberania alimentar não
nega o comércio, mas promove a for- mulação
de políticas e práticas comerciais ao serviço do
direito dos povos e das pessoas a uma produção
segura, saudável e ecologicamente sustentável.”
Páginas 42 e 43
Fluxos Financeiros Ilícitos - Refere-se ao movimento
de capital entre países diferentes, associado com
a atividade ilegal, ou mais explicitamente, ao dinheiro que foi obtido, transferido ou usado de
forma ilegal, ou usado fora do território legal.
Netes luxos estão incluídos evasão de impostos
e taxas, corrupção, roubo e tráico de minerais,
vida selvagem, drogas e pessoas, e o inanciamento do Crime Organizado
Liga Árabe - Organização de Estados árabes, fundada
em 1945, com o intuito de estreitar laços econômicos, políticos, sociais e culturais entre os países
da região.
Panama Papers - Nome da investigação jornalística
internacional que, por meio do vazamento de
documentos conidenciais, expôs um esquema
mundial de ocultação de dinheiro e patrimônio
em paraísos iscais, e que foram realizados por
intermédio da empresa de advocacia Mossack
Fonseca, do Panamá.
Resolução 1373 (2001) do CSNU - aprovada por
consenso logo após os atentados de 11 de setembro, a Resolução autoriza a ONU a usar todos
os meios necessários para combater e punir as
atividades terroristas. Entre as medidas previstas,
estavam o uso da força e as sanções econômicas.
CAPÍTULO 3
Páginas 50 e 51
Zona Econômica Exclusiva - zona adjacente ao mar
territorial do país que se estendo ao limite máximo de 200 milhas marítimas das linhas de base a
partir das quais se mede a largura do mar territorial. Com base em critérios físicos e econômicos,
é possível que um país pleiteie a extensão de sua
zona exclusiva, que é analisada pela Comissão de
Limites da Plataforma Continental, na ONU.
Plano de Levantamento da Plataforma Continental
Brasileira - de acordo com a Marinha do Brasil,
o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira é o programa do governo cujo
objetivo é estabelecer o limite da Plataforma
Continental além das 200 milhas da Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
Páginas 54 e 55
Base de Kourou – A base de Kourou é onde se situa o
Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa.
O território é um território ultramarino francês,
ao lado do Amapá, de onde os foguetes Ariane
são lançados. A base também é usada por outros
países, devido a sua boa localização geográica,
com latitude baixa.
Páginas 56 e 57
IBSA-Mar - exercícios navais conjuntos das Marinhas
de Índia, Brasil e África do Sul, com base no fórum de diálogo trilateral, com o intuito de estreitar as relações entre os países na área da cooperação militar e tecnológica. O primeiro exercício
ocorreu em 2008.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
95
Operação Ágata - parte do Plano Estratégico de Fronteiras, é uma operação realizada pelas Forças
Armadas do Brasil, nas zonas de fronteira, para
prevenir e coibir atividades ilícitas como narcotráico, contrabando, garimpos ilegais e crimes
ambientais. É realizada desde 2011 e conta com
o apoio de diversos Ministérios e agências governamentais.
Operação Fraterno - operação conjunta entre a Marinha Brasileira e a Armada Argentina, em que há
treinamento e compartilhamento de táticas entre
os oiciais dos dois países. Os países se revezam
para sediar a atividade.
Operação Prata - operação realizada em conjunto pelas Forças Aéreas do Brasil e da Argentina, com
o objetivo de observar e coibir o tráfego de aeronaves que realizem atividades ilícitas internacionais.
damentada no meio em que vivem”. Diegues
(1993), enumera uma série de atributos dessas populações aqui sinteticamente explanadas:
grande conhecimento e dependência da natureza, vivência e subsistência econômica e cultural sobre o território, preservação cultural e dos
laços familiares, reduzida divisão do trabalho e
domínio de todos os processos do trabalho, fraco
poder político e autoidentiicação.
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) - instrumento jurídico acordado entre todos os países
que possuem, em seu território, parte da Floresta
Amazônica (Bolívia, Brasil, Equador, Guiana,
Peru, Suriname e Venezuela). Visa a promover a
proteção ambiental da região, o desenvolvimento harmonioso e integrado para o bem-estar de
suas populações, integração da econômica da região e cooperação para o desenvolvimento.
Páginas 64 e 65
Páginas 60 e 61
Amazônia Legal - nome atribuído pelo governo brasileiro à àrea da Floresta Amazônica pertencente
ao Brasil. Abrange nove Estados: Acre, Amapá,
Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos
estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.
Biopirataria: É deinida pela exploração, manipulação
e apropriação de recursos biológicos ou conhecimentos tradicionais.
Pan-Amazônia - Abarca todos países que possuem em
seu território a loresta amazônica: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, as Guianas, Suriname,
Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, as Guianas e
o Suriname, além do Brasil. Conceito também
utilizado pelos movimentos sociais como identidade de luta.
Populações tradicionais - De acordo com J. Silva
(2011) apesar de difícil conceituação, as principais referências acadêmicas sobre o tema consideram-nas como aquelas populações “que por
décadas, séculos ou mesmo milênios, desenvolveram e ainda mantêm processos de adaptação
a ambientes muito particulares, utilizando uma
tecnologia simples, mas eiciente, e praticando
uma cultura mítico religiosa igualmente fun-
96
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Commodities - Produtos primários (sob a forma de
matéria-prima ou com baixo grau de industrialização) produzidos em larga escala e por diferentes produtores.
Aquíferos - Formação ou grupo de formações geológicas capazes de armazenar água subterrânea. São
constituídos por rochas porosas e permeáveis
com capacidade de reter a água da chuva e utilizá
-la para abastecer rios e poços artesianos.
CAPÍTULO 4
Páginas 70 e 71
Mísseis Anti-Ship - mísseis guiados projetados para
uso contra navios e barcos de grande porte.
Páginas 72 e 73
Five Techniques - Método para manter a pessoa torturada de pé contra uma parede por muitas horas, encapuzar a vítima, expor a grandes barulhos, impedir o sono e limitar o acesso do torturado à água.
GLOSSÁRIO
Tecnologia de Uso Dual – Conceito de origem estadunidense usado para deinir a tecnologia que pode
ser utilizada para produzir ou melhorar bens ou
serviços de uso civil e/ou militar.
do Brasil (Mectron, Avibras e Opto Eletrônica) e
da África do Sul (Denel Dynamics).
Páginas 78 e 79
Cooperação Militar e Policial – A apresentação dos dados
conjuntos da cooperação Militar e Policial, com os
EUA, justiica-se pela metodologia usada na base
dados do “Security Assistance Monitor”, visto que
esta é a forma em que os documentos de prestação
de contas dos EUA apresentam os dados referentes
aos programas de ajuda militar. Estes programas
vão desde temas como o “Combate ao terrorismo”,
“não proliferação”, “serviços das academias militares” e “educação militar internacional”, como também estão incluídos programas de “ajuda contra o
narcotráico”, que seriam de natureza policial, com
atuação do DEA (Drug Enforcement Administration), órgão da polícia Federal dos EUA.
Páginas 74 e 75
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) - grupo de países lusófonos, estabelecido em 1966 e composto por Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste. O grupo realiza atividades de promoção e ensino da língua portuguesa e consolidou a cooperação entre os membros em temas
diversos, como defesa, saúde, educação, entre
outros.
Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas)
- estabelecida em 1985, na Assembleia Geral da
ONU, é formada pelos países da América do Sul
e da África que possuem saída para o Atlântico
Sul (África do Sul, Angola, Argentina, Benin,
Brasil, Cabo Verde, Cameroun, Congo, Côte
d’Ivoire, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri,
Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Libéria, Namíbia, Nigéria, República Democrática do Congo,
São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Togo
e Uruguai). São realizadas Reuniões Ministeriais
com o objetivo manter a região como uma zona
de paz e livre de armas nucleares.
Míssil A-Darter - míssil de quinta geração guiado por
infra-vermelho utilizado em aviões de combate,
produzido em conjunto por empresas privadas
Átomos para a Paz - Programa do governo estadunidense para estimular a produção de energia
nuclear exclusivamente para ins pacíicos. O
discurso de anúncio do programa forneceu,
também, as bases para a criação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a assinatura do Tratado de Não Proliferação Nuclear
(TNP).
ABACC - Criada em 1991 a partir do acordo bilateral
entre Brasil e Argentina, a Agência Brasileiro-Argentina de Controle e Contabilidade é a instituição responsável por iscalizar os dois países quanto ao uso exclusivamente pacíico da energia
nuclear. Administra, assim, o Sistema Comum
de Contabilidade e Controle (SCCC), que tem
como objetivo o controle dos materiais nucleares
utilizados pelos dois países, de modo que estes
não sejam usados para a criação de armas.
Páginas 80 e 81
Projeto H-XBR – projeto de desenvolvimento de aeronaves militares que busca o fortalecimento da
indústria nacional de defesa por meio da transferência de tecnologia. Seu começo data de 2008,
quando foi assinado o consórcio entre a Helibrás
e a Airbus Helicotper, subsidiária da Airbus,
maior empresa do mundo em fabricação de aeronaves e sediada na França.
Cargueiro KC-390 - aeronave para transporte tático/
logístico e reabastecimento em voo desenvolvido e fabricado pela Embraer Defesa e Segurança, subsidiária do grupo brasileiro Embraer,
maior empresa brasileira em fabricação de aeronaves.
Páginas 84 e 85
Paciicação - O conceito de “paciicação” é uma expressão que surge na época colonial com o objetivo de controlar revoltas contra a coroa e, ao deATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
97
correr da história, assume contornos diferentes.
Direcionou-se muitas vezes, a controle de povos,
grupos considerados selvagens, perigosos ou
conlituosos e estruturou políticas de conquistas
e ocupações territoriais. Com a implementação
das Unidades de Polícia Paciicadoras (UPPs) o
conceito retorna como estratégia de controle ao
tráico de drogas e o domínio sobre o território.
98
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Referências
bibliográicas
Nesta seção do Atlas nós disponibilizamos as referências bibliográicas usadas em cada capítulo, que consistem em livros, artigos de revista e de jornais, trabalhos acadêmicos, mas também uma lista dos sítios web consultados. Além disso, também
adicionamos indicações de leitura para aprofundamento nos assuntos. Desejamos a todos uma boa leitura.
Livros e artigos
ABDUL-HAK, A. P. N. (2013). O Conselho de Defesa Sul-Americano: objetivos e interesses do Brasil.
Brasília: FUNAG.
ACÁCIO, I. D. P. (2011). Segurança Cibernética:
análise sobre a Política de Defesa brasileira (20002011). Monograia (Bacharelado em Relações
Internacionais). Niterói: UFF.
_______________. (2013). Polaridade Regional e
Percepção de Ameaças: Comparando as Políticas de
Defesa de África do Sul, Brasil e Índia. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciência Política), IESP/
UERJ, Rio de Janeiro.
AGUILAR, S. L. C. (2013). “Atlântico Sul: As relações do Brasil com os países africanos no campo
da segurança e defesa” in Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais, v.2, n.4,
Jul-Dez 2013, p. 49-71.
ALBUQUERQUE, M. R. A. de (2016). O Brasil no
Conselho de Segurança: Votações em Resoluções de
Capítulo VII (1993-2011). Dissertação de Mestrado em Ciência Política, Instituto de Estudos
Sociais e Políticos, Universidade do estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
ALBUQUERQUE, M. M.; REIS, A. C. F.; DE CARVALHO, C. D. (1977): Atlas Histórico Escolar.
Rio de Janeiro: Fename.
ALÍPIO, J. R. S. (2007). Amazônia Azul: a nova realidade geopolítica brasileira. Monograia (Curso de
Política e Estratégia Marítima) - Escola de Guerra Naval (ESG), Rio de Janeiro. Disponível em:
https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/biblioteca/monograias/cpem/2007/CMGAlipioJorgeFinal.pdf (acesso julho 2016)
ALSINA JÚNIOR, J. P. S. (2009a) Política Externa e
Poder Militar no Brasil. Rio de Janeiro: Editora
FGV.
100
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
____________ (2009b) Política Externa e Poder Militar no Brasil: Universos Paralelos. Rio de Janeiro,
FGV.
ALVES, V. C. (2002). O Brasil e a segunda Guerra
Mundial. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio.
ANDRADE, I. de O; FRANCO, L. G. A. (2015). “A
indústria de defesa brasileira e a sua desnacionalização: implicações em aspectos de segurança e
soberania e lições a partir da experiência internacional”, Boletim de Economia e Política Internacional | BEPI. n. 20.
ANTONUCCI, C. (2007). Axis Forces in North África. Hong Kong: Concord Publication Co.
AMORIM NETO, O. (2011). De Dutra a Lula:
a Condução e os Determinantes da Política Externa Brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus.
ARAGON, L. E. (2007). População e meio ambiente
na Pan-amazônia: próximo lançamento do grupo
MAPAZ/NAEA, Belém. Disponível em http://
www.naea.ufpa.br/naea/novosite/paper/355
(acesso novembro 2016).
ARAIA. E. (2016). “As riquezas do fundo do mar: a
nova fronteira da mineração.” Sítio da Web Brasil 247. Disponível em: www.brasil247.com/
pt/247/revista_oasis/137724/As-riquezas-dofundo-do-mar-a-nova-fronteira-da-mineração.
htm. (acesso julho 2016).
ARAÚJO, J. S. (2014). “‘A guerra que vai acabar com
todas as guerras’: o Brasil na Primeira Grande
Guerra – a mobilização da sociedade e o engajamento da Marinha – 1917 – 1918”, História:
Debates e Tendências, v.14, n.2.
ARQUILLA, J; RONFELDT, D. (1993). “Cyberwar
is Coming!” in Comparative Strategy, v. 12, nº 2,
p. 141– 165.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATAÍDE, Y. D. B. de. (1994-1995). As origens do
povo do Bom Jesus Conselheiro. São Paulo:
Revista USP, Dossiê Canudos, 20, dez. 1993fev. pp. 88-99
BARACUHY, B. (2006). “A crise da Liga das Nações
de 1926: realismo neoclássico, multilateralismo
e a natureza da política externa brasileira”, Contexto Internacional, PUC-RJ, v.28, n.2.
BETHELL, L. (2005). A América Latina Após 1930.
Vol VI. São Paulo: EDUSP.
BIDDLE, S (2004) Military Power: Explaining Victory
and Defeant in Modern Battle. Princeton, NJ:
Princeton University Press.
BITZINGER, R. (2014) Brazil’s Re-Emerging Arms
Industry: he Challenges Ahead. RSIS Commentary, n.195, outubro.
BLANK, Stephen (org) (2011). Russian Military Politics and Russia´s 2010 Defense Doctrine. Strategic
Studies Institute.
BLUM, William (2003). Killing Hope: U.S. Military
and CIA Interventions Since World War II. Londres, Zed Books.
BONALUME NETO, R. (1995). A nossa Segunda
Guerra: Brasileiros em combate (1942-1945). Rio
de Janeiro: Editora Expressão e Cultura.
BORBA, P. (2011) “Estrutura e Conjuntura no Conlito Mexicano: uma interpretação alternativa
para a violência relacionada ao narcotráico”, Revista Conjuntura Austral, v. 2, n. 6, p. 121-144,
UFRGS.
BORGHETTI, N. R. B.; BORGHETTI, J.R.;
ROSA FILHO, E. F. da (2004). Aqüífero Guarani: a verdadeira integração dos países do Mercosul.
Curitiba: Imprensa Oicial.
BRAUER, J.; DUNNE, J.P. (2005). “Arms Trade
Ofsets and Development”. Africanus vol. 35,
n.1,p.14-24.
BREDA DOS SANTOS, N. (2003). “Diplomacia e
Fiasco. Repensando a participação brasileira na
Liga das Nações. Elementos para uma Nova Interpretação”. RBPI, Brasília, v. 46, n.2, p. 87-112. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-73292003000200004&script=sci_
abstract (acesso novembro 2016).
BRUM, C. E. (2014). “A medicina vai à guerra: a missão médico-militar brasileira na França durante a
Primeira Guerra Mundial (1918-1919)”, Historia: Debates e Tendências – v. 14, n. p. 306-317.
BRUSTOLIN, V. M. (2009) Abrindo a Caixa-Preta:
O desaio da transparência dos gastos militares no
Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
BUCHANAN, E. (2014). “Britânicos ensinaram ‘tortura psicológica’ a militares brasileiros na ditadu-
ra”, BBC BRASIL, disponível em http://www.bbc.
com/portuguese/noticias/2014/05/140530_tortura_grabretanha_dg (acesso novembro 2016).
CAMP, R. A..(2011). Mexico: what everyone needs
to know. New York, Oxford University Press.
p.113-115.
CARR, E. H. (2001). Vinte anos de crise (1919-1939).
Brasília: Editora UNB.
CARVALHO, J. M. (1996). A Construção da Ordem:
a elite política imperial; Teatro das Sombras: A política imperial. Rio de Janeiro: UFRJ, RelumeDumará.
CARRANZA, O. (2007). Radiografía de los Populismos Argentinos. Buenos Aires, Liber Liberat.
CARVALHO, José Murilo de. (2005). Forças Armadas
e política no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Zahar.
p.222
CARVALHO, R. G. (2005). “A outra Amazônia”in
Jornal Folha de São Paulo. 2005. Disponível
em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/
fz1105200509.htm (acesso novembro 2016)
CASTELLO BRANCO, M. T. (1960). O Brasil na
II Grande Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército Editora.
CASTRO, C. (2002). A Invenção do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar.
CENTENO, M. A. (2002) Blood and Debt: War and
the Nation-State in Latin America. he Pennsylvania State University Press, Pennsylvania.
CEPIK, M. (2011). “A política da cooperação espacial
chinesa: contexto estratégico e alcance internacional” in Rev. Sociol. Polít: Curitiba, v.19, n. suplementar, p.81-104, nov. 2011.
____________. (2014). “Politica de Defesa no Brasil:
instituições, doutrina, capacidades e economia”,
Fondation pour la Recherche Strategique. Note n.7.
CEPIK, M.; BORBA, P. (2011) “Crime Organizado,
Estado e Segurança Internacional”, Contexto Internacional, v.33, n.2, p.375-405, PUC-RJ.
CEPIK, M.; LICKS BERTOL, F. (2016) “Defense policy in Brazil: bridging the gap between ends and
means?”. Defence Studies, v. 16, n. 3, p. 229–247.
CHARITY, S; DUDLEY, N.; OLIVEIRA, D.;
STOLTON, S. (editors). (2016). Living Amazon
Report 2016: A regional approach to conservation
in the Amazon. WWF Living Amazon Initiative,
Brasília and Quito. Disponível em https://www.
wwf.de/ileadmin/fm-wwf/Publikationen-PDF/
WWF-Living-Amazon-Report-2016.pdf (acesso
novembro 2016).
CHAVEZ Jr, S. F. de A. (2013). Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz): o passo
inicial para o efetivo controle da área marítima
brasileira. Monograia (Curso de Altos Estudos
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
101
de Política e Estratégia) ESG, Rio de Janeiro.
Disponível em: http://www.esg.br/images/Monograias/2013/CHAVESJUNIOR.pdf (acesso
julho 2016).
CHRISTANTE, L. (2010). “A era da mineração marinha” in Revista Unesp Ciência, v.1, n.10, p.
18-25 Disponível em http://www.unesp.br/aci/
revista/ed10/ (acesso novembro 2016).
CHURCHILL, L. B.. (2010). Imagining he Tupamaros: Resistance and Gender in Uruguayan and U.S.
Revolutionary Movements, 1960s-1980s. Tese
(Doutorado em Filosoia). Tallahasse, he Florida State University.
CLARKE, R. A; KNAKE, R. K. (2010). Cyber war:
the Next hreat to National Security and what to
do about it. New York: Harper Collins.
COELHO, E. C. (2000). Em busca de Identidade: o
exército e a política na sociedade brasileira. Rio de
Janeiro: Record.
CORREA FILHO, S. L. S.; BARROS, D. C; CASTRO, B. H. R. D.; FONSECA, P. V. D. R.;
GORNSZTEJN, J. (2013) “Panorama sobre a
indústria de defesa e segurança no Brasil”. BNDES Setorial 38, p. 373-408, Rio de Janeiro.
Disponível em https://web.bndes.gov.br/bib/
jspui/handle/1408/1401 (acesso outubro 2016).
COSTA, W. M. (2012). “Projeção do Brasil no atlântico sul: geopolítica e estratégia”, REVISTA USP,
São Paulo, nº.95, p.9-22.
__________________. (2014). “Projeção do Brasil
no Atlântico Sul: geopolítica e estratégia”. Conins - Revista Franco-Brasileira de Geograia, n.22.
Disponível em: http://conins.revues.org/9839.
Acesso em 05 de setembro de 2016.
CUNHA, M. C. (org). (1992). História dos Índios no
Brasil. São Paulo: Cia das Letras.
DAGNINO, R. (2010). A indústria de defesa do governo Lula. São Paulo: Expressão Popular.
DHENIN, M; MENDOŅA, V. (2015). “O Brasil na
Grande Guerra: uma contribuição para o esforço
aliado”, Cadernos IDN, nº18, Lisboa. Disponível
em http://www.idn.gov.pt/publicacoes/cadernos/
idncaderno_18.pdf (acesso novembro 2016).
DIEGUES, A. C. S (1993) Populações tradicionais
em unidades de conservação: o mito moderno
da natureza intocada. In: VIEIRA, P. F.; MAIMON, D. (Org.) As ciências sociais e a questão
ambiental: rumo ̀ interdisciplinaridade. Belém:
APED/NAEA/UFPA, p. 219-249.
DINIZ, E. V. (2000). O Brasil e a Liga das Nações.
Porto Alegre: Editora da UFRGS/FUNAG.
DONADIO, M; TIBILETTI, M. de la P. (2016).
Atlas Comparativo de la Defensa en América Latina y Caribe. Buenos Aires: RESDAL.
102
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
__________________. (2014). Atlas Comparativo de
la Defensa en América Latina y Caribe. Buenos
Aires: RESDAL.
DONATO, H. (1987). Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: Ibrasa.
DUARTE, R. S. (2013): “Brazilian Cooperation is
not a Free Lunch: An Analysis of the Interests
Contained in the International Development
Cooperation Strategy”. Geopolítica(s) v.4, n.1,
pp: 137-157. Madrid: UCM.
DUARTE, R. S.; LIMA, M. R. S. (2016). “Politicising inancial foreign policy: an analysis of Brazilian foreign policy formulation for the inancial
sector (2003 - 2015)” in Rev. Bras. Polít. Int.,
59(1): e013, 2016.
DUNN, M; MAUER, V; KRISHNA-HENSEL, S. F.
(2007) Power and Security in the Information Age:
Investigating the Role of the State in Cyberspace.
Hampshire, UK: Ashgate.
DURAND, M. F. ; COPINSCHI, P.; MARTIN, B.;
PLACIDI-FROT, D.(2009): Atlas da Mundialização.
Compreender o Espaço Mundial Contemporâneo.
São Paulo: Ed. Saraiva.
ELLNER, S. (1996). “Political Party Factionalism and
Democracy in Venezuela”. in Latin American
Perspectives, v.23, n.3, p.101
FAUSTO, B. (2012). História do Brasil. São Paulo:
Editora EDUSP.
FELBA-BROWN, V. (2009). “he Violent Drug
Market in Mexico and Lessons from Colombia”,
Brookings Policy Paper nº 12 Brookings Institution. Disponível em: https://www.brookings.
edu/wpcontent/uploads/2016/06/03_mexico_
drug_market_felbabbrown.pdf (acesso novembro 2016).
FERREIRA, P. C.; DAWOOD, L.; OLIVEIRA, J.
(2013). Brics e o tratado sobre comércio de armas. Brics Policy Center. Disponível em http://
bricspolicycenter.org/homolog/publicacoes/
interna/6023?tipo=BRICS%20Monitor#abrir
(acesso dezembro 2016).
FERREIRA, O. S. (1985) As Forças Armadas na
Constituição”, Política e Estratégia, vol. III, no.
3, jul/set.
FIGUEIREDO, L. R. A. (2005). Rebeliões no Brasil
colônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
FLORENTINO, M. (2011). Em Costas Negras: uma
história do tráico de escravos entre a África e o Rio
de Janeiro (séculos XVIII e XIX). São Paulo: Ed
Unesp.
FRANCHI, T. (2013) Da conquista do inferno verde
̀ proteção do paraíso tropical: o discurso militar
brasileiro sobre a Amazônia no século XX. Tese
(Doutorado em Desenvolvimento Sustentá-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vel)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/14525 (acesso julho 2016)
GADELHA, R. M. A. F. (2002). “Conquista e ocupação da Amazônia: a fronteira Norte do Brasil”,
Estudos Avançados, São Paulo, v. 16, n. 45, p. 6380.
GAMA, A. O. S. (1982). A Marinha do Brasil na primeira guerra mundial. Rio de Janeiro: Capemi.
GASPARI, E. (2014). A Ditadura Escancarada: as Ilusões Armadas. Rio de Janeiro, Companhia das
Letras.
GHOSN, F; PALMER, G; BREMER, S. (2004).
“he MID3 Data Set, 1993–2001: Procedures,
Coding Rules, and Description”, Conlict Management and Peace Science 21:133-154. Disponível em http://cow.dss.ucdavis.edu/data-sets/
MIDs (acesso julho 2016).
GLEDITSCH, N. P WALLENSTEEN, P.; ERIKSSON, M.; SOLLENBERG, M.; STRAND, H.
(2002). “Armed Conlict 1946-2001: A New
Dataset”, Journal of Peace Research. v. 39, n.5, p.
615-637
GOES FILHO, S. S. (2015). Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formação das
fronteiras do Brasil. Ed. rev. e atual. – Brasília:
FUNAG
GOLDONI, L. R. F.; NETO, M. D. (2014). “Perspectiva da cooperação militar entre os BRICS”
in Revista Tensões Mundiais. Fortaleza, v. 10, n.
18, 19, p. 361-375.
GOMES DA COSTA, M. (2013). “Brasil e Zopacas:
A manutenção do status quo e a projeção no
Atlântico Sul” in Porto Alegre: Seminário Brasileiro de Estudos Estratégicos Internacionais (SEBRREI). Anais do SEBREEI. p. 1-14
____________________ (2016). A projeção brasileira para o atlântico sul e os desaios para a defesa
nacional. Monograia (Bacharelado em Relações
Internacionais). Niterói: UFF.
GURNAK, D.; HATTSTEIN, M.; STEFANIK, M.;
HANULA, M. (2010): Historical Atlas of the World.
UK: Parragon.
HALTER, E.M.; HARRISON, R. M.; PARK,
J.; SHARMAN, J. C.; VAN DER DOES
DE WILLEBOIS, E. J. M. (2011). he puppet masters: how the corrupt use legal structures to hide stolen assets and what to do about
it. Stolen Asset Recovery (StAR) initiative.
Washington: World Bank. Disponível em:
http://documents.worldbank.org/curated/
en/784961468152973030/pdf/651250REPLACEM061561B09780821388945.pdf
(acesso fevereiro de 2017)
HANSEN, L; NISSENBAUM, H. (2009). “Digital
Disaster, Cyber Security and the Copenhagen
School”, International Studies Quarterly nº 53,
2009.
HECK, E; LOEBENS, F; CARVALHO, P. D.
(2005). “Amazônia indígena: conquistas e desaios”. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 53,
p. 237-255.
HENRIQUES, A. C. (2011). O Programa Nuclear da
Marinha e sua Contribuição para o Desenvolvimento Nacional. Rio de Janeiro: ESG.
HENSEL, S. F. (2007). “Critical Infrastructures: Vulnerabilities, hreats, Responses”. CSS Analysis in
Security Policy, n. 16, v. 2. Zurique: Center for
Security Studies (CSS).
_____________. (2010). “Cyberwar: Concept, Status Quo and Limitations”, CSS Analysis in Security Policy, n. 71. Zurique: Center for Security
Studies (CSS)
HERZ, M. (2010). “Segurança Internacional na América do Sul”. In: ALSINA JR, J.P.S; JOBIM, N;
ETCHEGOYEN, S. W (orgs). Segurança Internacional: Perspectivas Brasileiras. Rio de Janeiro:
FGV Editora, p. 331-343
HEYE, T. (2005) Os Determinantes Políticos dos Gastos
Militares no Pós-Guerra Fria. Tese de Doutorado,
IUPERJ, Rio de Janeiro.
HIRST, M. (2003). “Los claroscuros de la seguridad
regional en las Américas”, in América Latina y
la Guerra contra Irak, Nueva Sociedad, Nº 185,
mayo-junio 2003.
___________ (2010). “Brazil in Haiti: the chanllenges ahead” in Noref Report, fevereiro, nº 5, 2010.
Disponível em http://noref.no/var/ezlow_site/
storage/original/application/17b77a0b6d59adb6e1679d49947cb176.pdf (acesso 20 julho
2016).
___________ (2015). “O Brasil emergente e os desaios da governança global: a paz liberal em questão”. Revista Tempo do Mundo, v.1, n.1, jan..
HOMMA, A. K. O. (2008). “Extrativismo, Biodiversidade e Biopirataria na Amazônia”, Embrapa - textos para discussão, n 27. Brasília.
Disponível em https://www.embrapa.br/documents/1035106/1047819/texto27.pdf/0de35ee8-b5a1-4c2b-94d8-76eef846cc5d (acesso novembro 2016).
HOSCH, W. L. (ED). (2010). World War I: people,
politics, and power. New York: Rosen Publishing.
HOWARD-ELLIS, C. (2003). he Origin, Structure
& Working of the League of Nation. New Jersey:
he Lawbook Exchange.
IBGE. (2000). Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de
janeiro: IBGE.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
103
JACKSON, A. (2006) he British Empire and the Second World War. Londres: Hambledon Continuum.
JIMÉNEZ, W. J. O. (2006). Los Paraestados en Colombia: Contexto Historico y Político. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade de Granada
-Espanha, Granada.
JONES, A. (2014). he War has Brought Peace to Mexico: World War II and the consolidation on post
revolutionary state. Albuquerque: University of
New Mexico Press.
KEEGAN, J. (1989). he Second World War. London:
Penguin Books.
KENNY, P; SERRANO, M. (2012). “Introduction:
Security Failure Versus State Failure”. In: KENNY, P; SERRANO, M; SOTOMAYOR, A
(orgs.). Mexico Security Failure: Collapse into Criminal Violence. New York: Routledge, p.1-26.
KEYNES, J. M (2002). As consequências econômicas da
paz. Brasília: Ed UNB.
KILINGRAY, D. (2010). Fighting for Britain: African
Soldiers in the Second World War. Nova York: Editora Boydel & Brewer.
KRAMER, F. D; STARR, S; WENTZ, L. K. (Orgs.)
(2009). Cyberpower and National Security. Washington: National Defense UP.
KRISTENSEN, H.M; NORRIS, R.S (2014). Worldwide deployments of nuclear weapons, 2014.
Bulletin of the Atomic Scientists, vol 70 (5). Disponível em <http://www.tandfonline.com/doi/
full/10.1177/0096340214547619>(acesso outubro 2016).
LAURENZANO, M. (2008). Os Conlitos Platinos
e a Formação do Estado Brasileiro (1808-1828).
Dissertação (Mestrado em História Social). Londrina: UEL.
LOGUE, J. (1989). Europe’s Neutral and Nonaligned
States. Wilmington, Delaware, Scholarly Resources Inc.
LIMA, M. R. S. (2000): “Instituições democráticas e
política exterior”. Contexto Internacional, v. 22,
n. 2, jul/dez/ 2000. Rio de Janeiro: IRI/PUC
Rio.
_____________. (2005): “A política externa brasileira e os desaios da cooperação Sul-Sul”. Revista
Brasileira de Política Internacional, v. 48, n. 2,
pp. 24-59. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais.
_____________. (2010) “Diplomacia, Defesa e a
Deinição Política dos Objetivos Internacionais:
O Caso Brasileiro”, in N. A. Jobim, S. W. Etchegoyen e J. P. Alsina, orgs., Segurança Internacional: Perspectivas Brasileiras. Rio de Janeiro, FGV
Editora, pp. 401-418.
104
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
_____________. (2013): “Relações Interamericanas:
A Nova Agenda Sul-Americana e o Brasil” in Lua
Nova, n. 90, pp. 167-201. São Paulo: CEDEC.
LIMA, M. R. S.; DUARTE, R. S. (2013): “Diplomacia presidencial e politização da política externa:
Uma comparação dos governos FHC e Lula”.
Observador On-Line, v, 8, n. 9. Rio de Janeiro:
Observatório Político Sul-Americano - IESP/
UERJ.
LONGO, W. P; MOREIRA, W. de S. (2009). “O
Acesso A Tecnologias Sensíveis”, Revista Tensões
Mundiais, v. 5, n. 9, p. 79-98, Fortaleza/CE.
LUFT, M. V. (2013). “Essa Guerra desgraçada”: recrutamento militar para a guerra da Cisplatina. Dissertação (Mestrado em História). Porto Alegre:
UFRGS
MACHADO, F. da S. (2014). Estratégia nacional de
desenvolvimento das atividades espaciais do Brasil:
justiicativas, requisitos e componentes. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Instituto
de Filosoia e Ciências Humanas. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2014
MAGALHÃES, D. A. M. de (2016). A política brasileira de exportação de armas no contexto da
revitalização da Base Industrial de Defesa. Tese
(Doutorado em Relações Internacionais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo.
MAGNOLI, D; OLIVEIRA, G; MENEGOTTO, R.
(2001). Cenário gaúcho. Representações históricas e
geográicas. São Paulo: Ed. Moderna.
MANDARINO Jr., R. (2010). Segurança e Defesa no
Espaço Cibernético Brasileiro. Recife: Cubzac.
MANN, Michael (1984) “he Autonomous Power of
the State: Its Origins, Mechanisms and Results”,
European Journal of Sociology, vol. 25, no. 2, pp.
185-213.
MARES, D. (2006). Drug Wars and Cofee Houses: he
Policial Economy of the International Drug Trade.
Washington: CQ Press.
_________. (2012a). Latin America and the Illusion of
Peace. New York: Routledge,
_________. (2012b). “Por que os latino-americanos
continuam a se ameaçarem: o uso da força militar nas relações intra latino-americanas”, Varia
Historia.v.28, n. 48, p.599-625.
MARIANO, M.P.; RAMANZINI Jr., H., ALMEIDA, R. A. R. de (2014). “O Brasil e a integração na América do Sul: uma análise dos últimos
dez anos (2003-2013)”. Relações Internacionais,
n.41, Lisboa.
MARSHALL, M. G. (2014). “Major Episodes of Political Violence, 1946-2015” in Center for Syste-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mic Peace. Disponível em www.systemicpeace.
org (acesso julho 2016).
_____________. (2016) “Major Episodes of Political
Violence, 1946-2015” in Center for Systemic Peace. Disponível em www.systemicpeace.org (acesso julho 2016).
MARTINS, L. H. Participação da Marinha brasileira
na Primeira Grande Guerra. In: ______ (Coord.). História Naval Brasileira. Rio de Janeiro:
SDM, 1997. v. 5, tomo IB, p. 257-278.
MATTA, M. (2010). “Aquífero Alter do Chão: a
maior reserva de água doce do pla-neta e sua
importância estratégica para a amazônia e para
o planeta” in XIII Seminário Nacional de Gestão
e Uso da Água.A Crise da Água. Disponível em:
http://wp.ufpel.edu.br/rhima/files/2010/07/
Milton-Matta.pdf Acesso em 23 de outubro de
2016.
MCALLISTER, C. (2010). “A Headlong Rush into
the Future”. in GRANDIN, G.; JOSEPH, G.. A
Century of Revolution. Durham, NC: Duke University Press. p. 276–309.
MIGUEL, S. L. C. (2013). Amazônia Azul: novas
fronteiras. Rio de Janeiro: ESG
MILANI, C. R. S. (2012a): “Aprendendo com a história: críticas à experiência da Cooperação Norte-Sul e atuais desaios à Cooperação Sul-Sul”.
Caderno CRH, v. 25, n. 65, pp. 211-231. Salvador: UFBA.
_________. (2012b): “Multilateralismo en crisis, cooperación sur-sur y política externa brasileña”.
Líneasur. v.1, n. 3, pp.40-55. Quito: Ministerio
de Relaciones Exteriores y Movilidad Humana.
MILANI, C. R. S.; ECHART, E. (2013): “Does the
South challenge the Geopolitics of International
Development Cooperation?”. Geopolítica(s): Revista de estudios sobre espacio y poder, v. 4-1, p.
35-41. Madrid: UCM.
MILANI, C. R. S.; ECHART, E. M.; DUARTE, R.
S.; KLEIN, M. (2015) Atlas da Política Externa
Brasileira. Buenos Aires: CLACSO, 2016.
MILANI, C. R. S.; PINHEIRO, L. (2013): “Política
externa brasileira: os desaios de sua caracterização como política pública”. Contexto Internacional, vol. 35, n. 1. Rio de Janeiro: IRI/PUC Rio.
MILANI, C. R. S.; SUYAMA, B.; LOPES, L. (2014):
“Políticas de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento: que lições e desaios para o
Brasil?” in Cadernos de análise. Fundação Friedrich Ebert.
MILOSLAVICH P.; KLEIN, E.; DÍAZ J.M.; HERNÁNDEZ C.E.; BIGATTI G., CAMPOS L.;
ARTIGAS, F.; CASTILHO, J.; PENCHASZADEH, P.E.; NEILL, P.E.; CARRANZA, A.;
RETANA, M.V; ASTARLOA, J.M.D.; LEWIS,
M.; YORIO,P. ; PIRIZ, M.L; RODRÍGUEZ,
D.; YONESHIGUE-VALENTIN,Y.; GAMBOA, L.; MARTÍN, A. (2011) “Marine Biodiversity in the Atlantic and Paciic Coasts of South America: Knowledge and Gaps”, Journal Plos
One, V6. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.
nih.gov/pmc/articles/PMC3031619/ . (acesso
setembro 2016)
MORAES, R. F. (2010). A Cooperação Brasil-Argentina na Área Militar: da autonomia das Forças Armadas ̀s Relações Estratégicas. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). UFRGS,
Porto Alegre.
MOURA, G. (2012). Relações exteriores do brasil
1939-1950: Mudanças na natureza das relações
Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda
Guerra Mundial. Brasília: Funag.
MUNOZ, E. E.; CARVALHO, T. C. de O. (2016).
“A Cooperação Sul-Sul brasileira com a África no
campo da alimentação”: uma política coerente
com o desenvolvimento?”. Cadernos CRH, Salvador, v. 29, n. 76, p. 33-52.
MURRAY, D.J. (1994); Viotti, P. R. he Defense Policies of Nations: A Comparative Study. Baltimore:
JHU Press. p.611
NEGRETE, A. C. A.; LEITE, A. W.; LESKE, A. C.;
MIGON, E. X. F.; CÔRREA, F. G.; ANDRADE, I. de O.; ASSIS, J. de A. de ; VIANELLO,
J. M.; FERREIRA, M. J. B.; MATOS, P. de O.;
BRUSTOLIN, V. (2016). Mapeamento da Base
Industrial de Defesa. Brasília: ABDI/Ipea.
NISSENBAUM, H. (2005) “Where Computer Security Meets National Security” in Ethics and Information Technology, n.7, p. 61-73.
NYE Jr., J. (2011a). he future of power. New York:
PublicAfairs.
________. (2011b). “Nuclear lessons for cyber security?” in Strategic Studies Quarterly, v.5, n.4 p.1837.
OLIVEIRA, G. Z. de; SOSA, A. C. M. de; SILVA,
H. P. da; SARTI, J. S.; SCHELP, P. G.; MATTANA, R. (2015). A Política Externa Brasileira
para a cooperação internacional em Defesa: análise dos projetos no âmbito da Agência Brasileira de
Cooperação (2003-2014). Disponível em: http://
www.defesa.gov.br/arquivos/ensino_e_pesquisa/
defesa_academia/cadn/artigos/xii_cadn/a_politica_externa_brasileira.pdf
PADULA, R. (2004). “Da IIRSA ao Cosiplan da Unasul:
a integração de infraestrutura na América do Sul
nos anos 2000 e suas perspectivas de mudança”. In:
NETO, W. A. D. O Brasil e as Novas Dimensões da
Integração Regional. Rio de Janeiro: Ipea, p.291-351.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
105
PALMER, G; D’ORAZIO, V; KENWICK, M; ;
Lane, M. (2015). “he MID4 dataset, 2002–
2010: Procedures, coding rules and description”,
Conlict Management and Peace Science. Vol.
32(2) p.222–242. Disponível em http://cow.
dss.ucdavis.edu/data-sets/MIDs (acesso julho
2016).
PEDONE, L. (2009) “Mecanismos unilaterais de
cerceamento tecnológico e comercial e regimes
que o brasil não aderiu”, III Encontro Nacional
da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. Universidade Estadual de Londrina.
PENNA FILHO, P. (2001) “África do Sul e Brasil: diplomacia e comércio (1918-2000)”, RBPI, Brasília, v. 44 n.1, p. 69-93. Disponível em http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292001000100006 (acesso novembro 2016).
_______________. (2009). “O Itamaraty nos anos de
chumbo: o Centro de Informações do Exterior
(CIEX) e a repressão no Cone Sul (1966-1979)”,
RBPI, Brasília, v. 52, n. 2, p. 43-62. Disponível
em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292009000200003
(acesso novembro 2016).
PEREIRA, A.D. (2010). “As relações África do Sul e
Brasil: do impacto da globalização à Constituição do IBAS”, SÉCULO XXI, Porto Alegre, v. 1,
n.1, p. 85-106.
PESCHANSKI, J. A.. (2013). “Papa Doc’s Feint: he
misled opposition and the consolidation of Duvalier s rule in Haiti” in Teoria e Pesquisa, v. 22,
n. 2, p. 1–10.
PETTERSSON, T; WALLENSTEEN, P. (2015).
“Armed Conlicts, 1946-2014”, Journal of Peace
Research. v. 52, n.4.
PINHEIRO, L. (1995). “A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.” Revista USP, n.26, p.
108-119. Disponível em http://www.revistas.
usp.br/revusp/article/view/28153 (acesso novembro 2016)
____________ (2004). Política Externa Brasileira,
1889-2002. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2004. 81p .
____________ (2015). “Integração Regional - projetos, dimensões e dinâmicas” in Observador on-line, v. 10, p. 1-5, 2015
PIRES, A. A.; PINTO, A. C.; DUARTE, A. P. ; REIS,
B. C.; ROLLO, M. F. (org.) (2015). Uma Pequena Potência é uma Potência? O Papel e a Resiliência das Pequenas e Médias Potências na Grande
Guerra de 1914-1918. Lisboa: Cadernos do Instituto de Defesa Nacional.
106
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
PUNTONI, P. (1992). Guerras do Brasil (1504-1654)
- ataques e invasões durante o Brasil colônia. São
Paulo: Brasiliense, 1992.
QUINTELLA, C.; GONCALVES, F. S. F. ; RUIZ, R
(2016) Caderno de Energia Nuclear. Rio de Janeiro: FGV ENERGIA, 2016.
REGINBOGIN, H. R. (2009). Faces of Neutrality.
Berlin: Transaction Publishers.
REIS, J. J. e GOMES, F. dos S. (orgs.). (1996) Liberdade por um io. História dos quilombos no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras.
RICARDO, C. A. e FANY, R. (2011). Povos Indígenas
no Brasil. São Paulo: Ed Instituto Sócio Ambiental.
RODRIGUES, T. M. S. (2003). Narcotráico, uma
guerra na guerra. São Paulo: Editora Desatino.
_________________ (2012). “Narcotráico e militarização nas Américas: vício de guerra”, Contexto
Internacional, v. 34, p. 09-41, PUC-RJ
________________. (2015a). “Drug Traicking and
Security in Contemporary Brazil”, In: International Security: a European – South American Dialogue. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung.
________________. (2015b). Política e drogas nas
Américas: uma genealogia do proibicionismo. São
Paulo: Desatino.
RODRIGUES, T. M. S.; WINAND, e. ; AGUILAR,
S. (Org.) (2016). Defesa e Segurança do Atlântico
Sul. São Cristovão. Sergipe: Editora UFS, 269p.
RODRIGUEZ, J. C. C. (2013) Os Efeitos de Limitadas Capacidades Materiais na Política Externa de
Potências Intermediárias do Sistema Internacional:
o caso do Brasil. Tese (Doutorado), Universidade
de Lisboa.
ROSER, M. (2016) Famines. OurWorldInData.org.
Disponível em: https://ourworldindata.org/famines/ (acesso Maio 2016).
RUBIN, O. (2016). Contemporary Famine Analysis. Cham, Switzerland: Springer International
Publishing (SpringerBrief in Political Science).
RUSSETT, B.M (1972). Peace, War and Numbers.
SAGE Publications, Inc; 1 edition.
SILVA, Maria Beatriz. Nizza da. Ser nobre na colônia.
SP: UNESP, 2005
SCHWARCZ, L. M. e STARLING, H. M. (2015)
Brasil: uma biograia. São Paulo: Companhia das
Letras.
SCHWELLER, R. L. (1994). “Bandwagoning for
Proit: Bringing the Revisionist State Back”, International Security, vol. 19, nº 1, pp. 72–107.
_________________ (1998). Deadly Imbalances: Tripolarity and Hitler´s Strategy of World Conquest.
New York: Columbia University Press.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
__________________ (2006). Unanswered hreats: Political Constraints on the Balance of Power.
Princeton: Princeton University Press.
SCHWELLER, R. L; PU, X. (2011). “After Unipolarity: China’s Visions of International Order in
an Era of U.S. Decline.”, International Security,
V. 36, N. 1, pp. 41-72.
SEELKE, C. R; FINKLEA, K. (2014). U .S. -Mexican
Security Cooperation: he Mérida Initiative and
Beyond, Washington, D.C.: Congressional Research Service.
SEITENFUS, R, (2000). A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Rio Grande do Sul:
EDIPUCRS.
SEIXAS CORRÊA, L. F. (org) (2007). A Palavra do
Brasil nas Nações Unidas. Brasília:Funag.
SINGER, J. D; BREMER, S; STUCKEY, J. (1972).
“Capability Distribution, Uncertainty, and Major Power War, 1820-1965.” In: RUSSETT, B.
Peace, War, and Numbers. Beverly Hills: Sage, p.
19-48.
SILVA, A. H. L. (2010). “Globalização Militar, Segurança e Desenvolvimento: Comparação entre Indústrias Aeroespaciais de Defesa de Brasil, Índia
e China” in Pap. Polít. Bogotá (Colombia), Vol.
15, No. 2, 667-689, julio-diciembre 2010.
SILVA, A. R. de A. (2011). Os Brics e a segurança
internacional. Brics Policy Center. Disponível
em http://bricspolicycenter.org/homolog/uploads/trabalhos/967/doc/5183057.pdf
(acesso
28/04/2017).
SILVA, J. B (2011). População Tradicional da Amazônia Brasileira: conceituação, dilema atual e o papel da educação do campo. In: 1EPPCP. Disponível em http://ieppecpb2011.xpg.uol.com.br/
conteudo/GTs/GT%20-%2008/11.pdf (acesso
28/04/2017)
SILVA, P. F. (2015). A política industrial de defesa no
Brasil (1999-2014): intersetorialidade e dinâmica
de seus principais atores. Tese (Doutorado em Ciência Política) USP. Disponível em http://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/101/101131/tde15092015-113930/pt-br.php (acesso agosto
2016).
SILVA, R. F. (1997). Colônia e nativismo: a História
como “biograia da nação”. São Paulo: Hucitec.
SILVEIRA, J. X. da (2001). A FEB por um soldado.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora.
SOUZA, G. L. M. (2013). Relexos da digitalização da
guerra na política internacional do século XXI: uma
análise exploratória da securitização do ciberespaço
nos Estados Unidos, Brasil e Canadá. Dissertação
(Mestrado em Ciência Política). Recife: UFPE.
SOUZA, M. de; VELOSO, F. T.; SANTOS, L. B.
dos; CAEIRO, R. B. da S. (2014). “Governança
de recursos comuns: bacias hidrográicas transfronteiriças” in Rev. bras. polít. int. v. 57, n. 2, p.
152-175, Dec. 2014
SOUZA, T. A. F. (2015). Cooperação em defesa e a região sul-americana: o papel do Conselho de Defesa
Sul-Americano, da UNASUL. Dissertação (Mestrado em Estudos Estratégicos Internacionais)
UFRGS, Porto Alegre.
SUAREZ, M. A. G; ACÁCIO, I. D. P. (2014). “Relections on virtual to real: modern technique,
international security studies and cyber security
environment.” In: KREMER, J; MULLER, B.
(Orgs.) Cyberspace and International Relations.
Berlin: Springer, p. 269-80.
TIDD, K. W. (2016) Posture Statement of Admiral
Kurt W. Tidd, commander, United States Southern
Command, Before the 114th Congress Senate Armed Services Committee on the 10th March 2016.
Disponível em http://www.southcom.mil/newsroom/Documents/SOUTHCOM_POSTURE_STATEMENT_FINAL_2016.pdf (acesso
outubro 2016).
TILLY, C. (1996) Coerção, Capital e Estados Europeus:
1990-1992. São Paulo, EDUSP.
TORRES, L. C. e FERREIRA, H. de S. (2005). Amazônia Azul: a fronteira brasileira no mar. Rio de
Janeiro: Revista Passadiço, CAAML, p. 3-5.
TRISTÁN, E. R.. (2008). “Guerrilla o terrorismo: El
debate en torno a la caracterización de algunas
organizaciones revolucionarias a partir del caso
de La Familia” in Diálogos Revista Electrónica de
Historia, p. 4168–4188.
TROITSKIY, M. (2015). “BRICS Approaches to Security Multilateralism”. ASPJ Africa & Francophonie, 2nd quarter.
VALENTE, R. (2015) “Militares tinham ordens para
matar ‘subversivos’, diz telegrama”. Folha de São
Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.
com.br/poder/2015/07/1654125-militares-tinham-ordem-para-matar-subversivos-diz-telegrama-dos-eua.shtml (acesso outubro 2016).
VARGAS, J. A. C. (2011). Campanha permanente: o
Brasil e a reforma do Conselho de Segurança da
ONU. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
VARGAS, E.V. (1997). “Átomos na integração: a
aproximação Brasil-Argentina no campo nuclear
e a construção do Mercosul”. Revista Brasileira
de Política Internacional, Brasília, v. 40, n. 1, p.
41-74.
VIDIGAL, A.A.F; CUNHA, M.B.D; FERNANDES,
L.F.D.C; MENDES, I.D.A; SILVA, M.D; OLIATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
107
VEIRA, L.L.D; CUNHA JR., O.B.D; ALBUQUERQUE, A.T.N.D.A; RODRIGUEZ, E.G.;
ALMEIDA, J.A.N.A. (2006) Amazônia Azul: O
mar que nos pertence. Rio de Janeiro: Record.
VIGNA, A. (2014). “Um torturador francês na ditadura brasileira”, Agência Pública. Disponível em
http://apublica.org/2014/04/um-torturadorfrances-na-ditadura-brasileira/ (acesso outubro
2016).
VILLA, R. D; RODRIGUES, T; BASTOS, F. C.
(2015) “South America in the Post-Cold War
Era: War on Drugs and the Reshaping f the US
Security Agenda”, Revista da Escola de Guerra
Naval, v. 21, n. 1, p.33-61.
VISENTINI, P. ; CEPIK, M. ; PEREIRA, A. D.
(2010) G3 - Fórum de Diálogo IBAS. Uma Experiência de Cooperação Sul-Sul. Curitiba: Editora
Juruá, 2010. 178p.
VISENTINI, P. (2013). “Brazil-USA relations during the Military Dictatorship (1964-1985)”,
in: MUNHOZ, Sidnei; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. (Org.). Brazil-US Relations in the
20th and 21st Centuries. Maringá: Eduem. v. 1,
p. 195-216
WALTZ, K. N. (1979) heory of International Politics.
California: Addison-Weasley.
WARNER, E. P. (1938). “he Early History of Aviation.” Vermont: Lecture at Norwich University.
November 21, 1937.
WIESEBRON, M. (2013). “Blue Amazon: hinking
he Defense of he Brazilian Maritime Territory.” Austral: Brazilian Journal of Strategy & International Relations. v.2, n.3, p.101-124.
WICKHAM-CROWLEY, T. P. (1991). Guerrillas and
revolution in Latin America: A comparative study
of insurgents and regimes since 1956. NJ: Princeton University Press.
ZHEBIT, A. (org) (2008). Ordens e Pacis: abordagem
comparativa das relações internacionais. Rio de Janeiro: Mauad.
Documentos e bases de dados
AIEA (2016). Nuclear Power Reactors in the World Reference data series nº 2. Vienna: IAEA, 2016.
AKAMAI. (2016). Akamai’s state of the internet report
Q1. Disponível em https://www.akamai.com/
us/en/multimedia/documents/state-of-the-internet/akamai-q1-2016-state-of-the-internet-security-report.pdf
ARMS CONTROL ASSOCIATION (2016). Nuclear Weapons: Treaties & Agreements. Washington.
Disponível em: https://www.armscontrol.org/
treaties (acesso novembro 2015)
BOLT, J.; VAN ZANDEN, J. L. (2014). he Maddison Project: Collaborative Research on Historical National Accounts. Netherlands: London:
he Economic History Review v.67 n.3. pp
627–651. Disponível em: http://www.ggdc.net/
maddison/maddison-project/data.htm (acesso
20 jul 2015)
BRASIL. Agência Brasileira de Cooperação. (2016).
Pesquisa Projetos de Cooperação. Brasília: Disponível em: http://www.abc.gov.br/projetos/pesquisa (acesso novembro de 2016).
BRASIL. Agência Brasileira de Inteligência. (2016).
Cooperação Internacional. Disponível em
http://www.abin.gov.br/atuacao/cooperacao/
cooperacao-internacional/ (acesso novembro
2016).
108
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
BRASIL. Casa Civil da Presidência da República.
(2000). Decreto Nº 3505, de 13 de junho de
2000. Institui a Política de Segurança da Informação nos órgãos e entidades da Administração
Pública Federal. Brasília.
___________. (2003). Lei Nº 10683, de 28 de Maio
de 2003. Brasília.
___________. (2005). Decreto Nº 5484, de 30 de
Junho de 2005. Política de Defesa Nacional. Brasília.
___________.. (2008). Decreto nº 6.448, de 7
de maio de 2008. Dispõe sobre a proibição da transferência de certos bens sensíveis de uso dual para o Irã. Disponível em
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%20
6.448-2008?OpenDocument (acesso novembro 2016).
___________.. (2010). Decreto Nº 7411, de 29 de dezembro de 2010. Brasília, 2010.
___________.. (2016). Viagens Internacionais da
Presidência da República. Disponível em http://
imprensaacervo.planalto.gov.br/download/pdf/
Viagens%20internacionais11.pdf. (acesso novembro de 2016).
BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. (2014). “A
Guerrilha do Araguaia”. In BRASIL. Comissão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nacional da Verdade. Relatório: Comissão Nacional da Verdade. – Recurso eletrônico. – Brasília, CNV.p.679-726; p. 976.
BRASIL. Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.
(2014). Doutrina Militar de Defesa Cibernética MD31- M-07. Brasília. Disponível em http://
www.defesa.gov.br/arquivos/legislacao/emcfa/
publicacoes/doutrina/md31_m_07_defesa_cibernetica_1_2014.pdf (acesso fevereiro 2016)
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística. (2014). Áreas Especiais: Cadastro de Municípios localizados na Amazônia Legal. Disponível
em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/
geograia/amazonialegal.shtm?c=2 (acesso out
2016)
________________ (2015). Séries estatísticas históricas. Disponível em: http://seriesestatisticas.ibge.
gov.br/lista_tema.aspx?op=1&no=1 (acesso out
2016)
________________ (2011). PIB per capita Municípios: IBGE, PIB Municipal, 2007-2011. Disponível em http://ibge.gov.br/home/estatistica/
economia/pibmunicipios/2011/default_xls.
shtm (acesso maio 2016).
________________ (1990). Série histórica: 1990.
Disponível em http://memoria.ibge.gov.br/sinteses-historicas/historicos-dos-censos/censos-demograicos.html (acesso junho 2015).
BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(2011) Sistema de indicadores de percepção social.
Disponível em http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/SIPS/120417_sips_defesanacional.pdf (acesso junho 2016).
BRASIL. Itamaraty (2016). Pesquisa Atos Bilaterais.
Brasília: Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/pesquisa_ato_bil (acesso novembro de 2016).
______________ (2016). Divisão de Acordos Internacionais do Itamaraty. Brasília. Disponível em:
http://dai-mre.serpro.gov.br/ (acesso nov 2016)
BRASIL. Marinha do Brasil. (2015). Programa Amazônia Azul. Disponível em: https://www.mar.
mil.br/hotsites/amz_azul/html/programa.html.
(acesso novembro 2015).
BRASIL. Ministério da Defesa. (2007a) Glossário das
Forças Armadas (MD35-G-01). Brasília.
___________. (2007b). Portaria Nº63 – DCT, de 31
de janeiro de 2007. Aprova as Instruções Reguladoras para Criação de Estágio Setorial de Guerra
Cibernética (IR 13-09) ”, Boletim do Exército
Nº 06/2007, Brasília.
___________. (2008). Estratégia Nacional de Defesa.
Paz, segurança para o Brasil. Brasília: Ministério
da Defesa.
___________________________. (2009). Glossário
de Termos e Expressões para uso do Exército. Brasília: Ministério da Defesa.
___________.. (2010a). “Portaria nº 037 – DCT,
de 5 de Julho de 2010”, Boletim do Exército
28/2010, Brasília.
___________. (2010b). “Despacho Decisório Nº
144, de 21 de Julho de 2010. Autorização para
pagamento antecipado à empresa OFFENSIVE
SECURITY”, Boletim do Exército, 30/2010.
Brasília.
___________. (2010c). “Portaria Nº 666, de 4 de
Agosto de 2010. Cria o Centro de Defesa Cibernética do Exército e dá outras providências”,
Boletim do Exército Nº 31/2010. Brasília.
___________. (2010d). “Portaria Nº 667, de 4 de Agosto de 2010. Ativa o Núcleo do Centro de Defesa
Cibernética do Exército e dá outras providências”,
Boletim do Exército Nº 31/2010. Brasília.
__________. (2011). Desaios para a Segurança e Defesa Cibernética. Brasília: Presidência da República, Secretaria de Assuntos Estratégicos.
___________________________. (2012). Livro
Branco da Defesa Nacional. Brasília: Ministério
da Defesa.
___________. (2014a). Doutrina Militar de Defesa Cibernética - MD31- M-07. Brasília, 2014.
Disponível em http://www.defesa.gov.br/arquivos/legislacao/emcfa/publicacoes/doutrina/
md31_m_07_defesa_cibernetica_1_2014.pdf.
(acesso fevereiro 2016).
___________. (2014b). Projetos estratégicos da Marinha. Disponível em http://www.defesa.gov.
br/industria-de-defesa/paed/projetos-estrategicos/projetos-estrategicos-da-marinha-do-brasil.
(acesso novembro 2015).
___________. (2016). Viagens Internacionais dos Ministros da Defesa. Brasília: Ministério da Defesa.
Documento obtido a partir da lei de acesso a informação.
BRASIL. Ministério da Saúde (2016). Boletim
epidemiológico. Disponível em http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/janeiro/12/2017_001%20-%20Dengue%20
SE51_publicacao.pdf (acesso (outubro 2016).
BRASIL Ministério de Minas e Energia (2007). Plano Nacional de Energia 2030. Brasília: MME: EPE, 2007.
BRASIL. Secretaria de Assuntos Estratégicos. (2010)
Brasil 2022: Trabalhos Preparatórios. Brasília:
Presidência da República, Secretaria de Assuntos
Estratégicos.
___________. (2011). Desaios para a Segurança e Defesa Cibernética. Brasília: Presidência da República, Secretaria de Assuntos Estratégicos.
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
109
BRASIL. Senado Federal. Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. (2011). Pré-Sal - o
Papel da Marinha do Brasil na Defesa do Patrimônio e Alocação de Recursos para essa Finalidade.
Disponível em http://www.senado.leg.br/comissoes/cre/ap/AP20111107_Luiz_Mendonca.pdf
(acesso novembro 2016)
BRASIL. Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (2016). SIOP/BI-Gerencial. (Por lei
de acesso à informação). Disponível em http://
www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dados/Lists/
Pedido/Item/displayifs.aspx?List=0c839f31%2D47d7%2D4485%2Dab65%2Dab0cee9cf8fe&ID=469965&Web=88cc5f44%2D8cfe%2D4964%2D8f4%2D376b5ebb3bef (acesso
novembro 2016).
BRICS POLICY CENTER. (2015). Acordos bilaterais de cooperação nuclear do Brasil com a América Latina. Disponível em: http://bricspolicycenter.org/homolog/uploads/trabalhos/7058/
doc/1253750038.pdf>. (acesso set 2016)
BRITISH PETROLEUM (2016) BP Statistical Review of World Energy. Disponível em https://
www.bp.com/content/dam/bp/pdf/energy-economics/statistical-review-2016/bp-statistical
-review-of-world-energy-2016-full-report.pdf
(Acesso em junho de 2016).
CAISAN. (2014). Balanço das Ações do Plano Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional. 2012 -2015.
Brasília. Disponível em: http://www.agroecologia.
org.br/iles/importedmedia/balanco-das-acoes-do
-plano-nacional-de-seguranca-alimentar-e-nutricional-plansan-20122015.pdf (acesso out 2016)
CEPAL (2016). O Investimento Estrangeiro Direto na
América Latina e no Caribe: 2016. Disponível
em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/40215/1/S1600416_pt.pdf (acesso
maio 2016).
CISB (2016). Cooperation Brazil-Sweden in Aeronautics and Defence. Disponível em www.cisb.org.br/
images/pdf/CooperationBRSEinAeronauticsandDefense2016.pdf. (acesso outubro 2016).
COUNCIL OF EUROPE. (2016). Council of Europe Treaty Oice. Disponível em http://www.coe.
int/pt/web/conventions/fulllist//conventions/
treaty/185/signatures?p_auth=d2Uv1lV (acesso
março 2016).
COW (2017). National Material Capabilities Data
Documentation: Version 5.0. Michigan: University Of Michigan. Disponível em: http://www.
correlatesofwar.org/. Acesso ( Fevereiro 2017).
_______ (2010). National Material Capabilities Data
Documentation: Version 4.0. Michigan: University Of Michigan.
110
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
EJOLT. (2016). EJATLAS. Environmental justice
Organizations Liabilities and Trade. Disponível em https://ejatlas.org (acesso novembro
2016).
FAO (2014). he State of Food and Agriculture 2014:
Innovation in family farming. Disponível em
www.fao.org/3/a-i4040e.pdf (acesso dezembro
2015).
FAO; OCDE. (2015). Perspectivas agrícolas 20152024. Disponível em https://www.fao.org.br/
download/PA20142015CB.pdf (acesso dezembro 2015).
FUNAG. (2014). II Conferência da Paz, Haia, 1907
a correspondência telegráica entre o Barão do
Rio Branco e Rui Barbosa. Brasília: FUNAG,
2014. Disponível em: http://funag.gov.br/loja/
download/II-conferencia-da-paz-daia-1907.pdf.
(acesso dezembro 2015)
Global inancial integrity (2017). Illicit Financial
Flows. Washington. Disponível em: http://
www.gintegrity.org/issue/illicit-inancial-lows/.
Acesso: fevereiro de 2017
Global Initiative against Transnational Organized Crime (2016). Organazied Crime and Illegaly Mined
Gold in Latin America. Geneva. Abril de 2016.
Disponível em:< globalinitiative.net/wp-content/uploads/2016/03/TGIATOC-OC-and-Illegally-Mined-Gold-in-Latin-America-Report1718-digital.pdf
IISS (2017). he Military Balance 2017. I Londres:
Routledge.
____ (2016). he Military Balance 2016. I Londres:
Routledge.
____ (2015). he Military Balance 2015. I Londres:
Routledge.
ITU. (2015). Global Cybersecurity Index & Cyberwellness Proiles Report. Genebra. Disponível em
http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/str/D-STR-SECU-2015-PDF-E.pdf (acesso março de
2016).
MARSHALL, Monty G. (2016). Major Episodes of
Political Violence, 1946-2015. Center for Systemic Peace. Disponível http://www.systemicpeace.org/inscrdata.html. Acesso em 05 jul 2016.
NETHERLANDS. (2015). Dutch government Treaty
Database. Disponível em https://verdragenbank.
overheid.nl/en/Verdrag/Details/002330 (acesso
dezembro 2015).
ICIJ (2017). he Panama Papers. Washington: 2017.
Disponível em:. https://panamapapers.icij.org/
graphs/. Acesso: 15/01/2017
OCDE. (2014a). OECDStats. Disponível em https://
data.oecd.org/oda/food-aid.htm (acesso novembro 2016).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OCDE (2014b). Illicit Financial Flows from Developing Countries: Measuring OECD Responses.
Paris. Disponível em: <https://www.oecd.org/
corruption/Illicit_Financial_Flows_from_Developing_Countries.pdf>
ONU. (2016a). UN COMTRADE – repositório de
estatísticas oiciais sobre comércio internacional.
Divisão de Estatística, Nações Unidas. Disponível
em: http://comtrade.un.org/data/ (acesso novembro de 2016).
____. (2016b). United Nations Treaty Collection. United
Nations. Disponível em https://treaties.un.org/
Pages/ViewDetails.aspx?src=IND&mtdsg_no=VI-15&chapter=6&lang=en (acesso maio 2016).
____. (2016c). United Nations Peacekeeping. Disponível em http://www.un.org/en/peacekeeping/
(acesso maio 2016).
OUR WORLD IN DATA. (2016). Famines. Disponível em: https://ourworldindata.org/famines/#note-2 (acesso 08 mai 2016)
PERU. GOVERNO DO PERU (2003). Comisión de
la Verdade y Reconciliación: Informe Final. Lima,
Governo do Peru. Disponível em: http://www.
cverdad.org.pe/iinal/index.php (acesso maio
2015).
PMA. (2014). El programa de Alimentos en Cifras. Disponível em http://documents.wfp.org/stellent/
groups/public/documents/communications/
wfp275796.pdf (acesso fevereiro 2016).
PNUD. (2013). IDH Municípios: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em http://
www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta (acesso
maio 2016).
SIPRI. (2015). World Nuclear Forces. Yearbook
Summary 2015. Oxford University Press: Oxford. Disponível em http://www.sipri.org/yearbook/2015/downloadable-iles/sipri-yearbook2015-summary-pdf (acesso fevereiro 2015).
_____. (2016a). Arms Transfers Database - Methodology. Disponível em http://www.sipri.org/databases/armstransfers/background (acesso agosto
2016).
_____. (2016b). SIPRI Military Expenditure Database. Disponível em: http://milexdata.sipri.org
(acesso fevereiro 2016).
SYMANTEC. (2014). Internet Security hreat Report
2014. .v.19. California. Disponível em: www.
symantec.com/content/en/us/enterprise/other_
resources/b-istr_main_report_v19_21291018.
en-us.pdf (Acesso out 2016)
UCDP. (2016). Uppsala Conlict Data Program. Department of Peace and Conlict Research. Disponível em http://ucdp.uu.se/ (acesso julho 2016).
UNAIDS. (2016a) he life-cycle approach to HIV. Geneva: UNAIDS Joint United Nations Programme on HIV/AIDS. Disponível em: http://www.
unaids.org/sites/default/files/media_asset/Get-on-the-Fast-Track_en.pdf (acesso junho 2016)
______ (2016b). UNAIDS Spectrum Estimates. Disponível em: http://www.unaids.org/en/dataanalysis (acesso junho 2016)
______ (2016c). Fact Sheet 2016. Disponível em:
http://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/20150901_FactSheet_2015_en.pdf
(acesso junho de 2016)
UNEP (2008), Vital Water Graphics - An Overview of
the State of the World’s Fresh and Marine Waters.
2nd Edition. UNEP, Nairobi, Kenya.
UNODC (2014). Global Report on Traickig in Persons. Vienna: 2014. Disponível em: <https://
www.unodc.org/documents/data-and-analysis/
glotip/GLOTIP_2014_full_report.pdf>. Acesso: 10/01/2017
______ (2015). World Drug Report 2015. Disponível
em: http://www.unodc.org/wdr2015/ (acesso
janeiro 2015).
USAID. (2016). Foreign Aid Explorer. Disponível
em: https://explorer.usaid.gov/. (acesso fevereiro
2015).
WORLD BANK (2017). Illicit Financial Flows (IFFs).
Washington: 2017. Disponível em:. <www.worldbank.org/en/topic/financialmarketintegrity/
brief/illicit-inancial-lows-ifs
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
111
Sítios web acessados
Abacc: http://www.abacc.org.br/
Agência Brasileira de Cooperação: www.abc.gov.br
Agência de Europeia de Defesa (EDA): https://www.eda.
europa.eu/home
AIEA: https://www.iaea.org/
Amazônia Azul Tecnologia de Defesa S.A: https://www1.
mar.mil.br/amazul/
Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa
e Segurança: http://www.abimde.org.br/
Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN):
http://asean.org/
Associação Nacional dos Veteranos da FEB: www.anvfeb.
com.br
Avibras: https://www.avibras.com.br
Banco Mundial/WITS: http://wits.worldbank.org/
Banco Mundial: http://data.worldbank.org/
Brasil: cnidades ambientais de conservação: http://uc.socioambiental.org/mapa
British Petroleum: https://www.bp.com/
Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes
de Segurança no Brasil: https://www.cert.br/
Direito Público: http://www.dipublico.org/
Diretoria de Obras de Cooperação do Exército: http://
www.doc.eb.mil.br/
Divisão de Atos Internacionais do Itamaraty: www.dai
-mre.serpro.gov.br
Empresa Brasileira de Aeronáutica: http://www.embraer.
com
Empresa Gerencial de Projetos Navais: https://www.emgepron.mar.mil.br
Environmental Justice Atlas: https://ejatlas.org/
Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento: www.un.org/disarmament
European Defence Agency: https://www.eda.europa.eu/
Exército Brasileiro: www.eb.mil.br
Exército do Reino Unido: http://www.army.mod.uk/operations-deployments/22731.aspx
Força Aérea Real do Reino Unido: http://www.raf.mod.uk/
organisation/stations.cfm?selectLocation=Overseas#
Forças Armadas de Portugal: www.emgfa.pt
CNPq: http://cnpq.br/
Fundação Nacional do Índio: http://mapas2.funai.gov.br/
portal_mapas/pdf/terra_indigena.pdf
Comissão de Limites da ONU: (http://www.un.org/
depts/los/clcs_new/clcs_home.htm
Global FirePower Database: http://www.globalirepower.
com/countries-listing.asp
Comissão de Segurança Hemisférica da OEA: http://www.
oas.org/pt/council/csh/
Guarda Nacional dos EUA: http://www.nationalguard.
mil/
Companhia Brasileira de Cartuchos: http://www.cbc.
com.br/grupo-cbc
Indústria de Material Bélico do Brasil: http://www.imbel.
gov.br/
Computer Emergency Response Team: https://www.cert.
gov.uk/
Indústria Naval do Ceará: http://inace.com.br/
Comunidade de Países de Língua Portuguesa: www.cplp.
org
Consejo Suramericano de Infraestructura y Planeamiento
(COSIPLAN): http://www.iirsa.org/
Conselho de Segurança da ONU: http://www.un.org/en/
sc/
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar:
http://www.diap.org.br/
112
Diário Oiciais da União: http://portal.imprensanacional.
gov.br/acervo-dou
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Institute for Economics and Peace: http://economicsandpeace.org/
Instituto Socioambiental: https://www.socioambiental.
org/
Itamaraty: www.itamaraty.gov.br
Junta Interamericana de Defesa (JID): http://www.jid.
org/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Marines
dos
EUA:
http://www.marines.com/
operating-forces/presence
Marinha do Brasil: http://www.marinha.mil.br
Marinha Real do Reino Unido: http://www.royalnavy.
mod.uk/our-organisation/where-we-are/naval-base
Ministério da Defesa da França: http://www.defense.
gouv.fr/ema/forces-prepositionnees/guyane/dossier/
les-forces-armees-en-guyane
Ministério da Defesa do Brasil: www.defesa.gov.br
Ministério de Relações Exteriores e Culto da Argentina:
https://www.mrecic.gov.ar/
ONU: Departamento de operações de manutenção de
paz:
http://www.un.org/en/peacekeeping/operations/inancing.shtml
Organisation for Economic Co-operation and Development: http://www.oecd.org/
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação: http://www.fao.org/home/en/
Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN): http://
www.nato.int/
Organização Mundial da Saúde (OMS): http://www.who.
int/
Organização para a Segurança e Cooperação na Europa
(OSCE): http://www.osce.org/
OTCA: http://otca.pagina-oicial.com
Portal da Força Expedicionária Brasileira: www.portalfeb.
com.br
Power Reactor Information System. (2016) Disponível em:
https://www.iaea.org/pris/
Presidência da República do Brasil: www.presidencia.gov.
br
Security Assistance Monitor: http://securityassistance.org/
Senado da Argentina: http://www.senado.gov.ar/
Senado do Brasil: http://www12.senado.leg.br/hpsenado
Sistema Eletrônico Do Serviço De Informação Ao Cidadão (e-Sic): https://esic.cgu.gov.br/sistema/site/index.html
State
Partnership Program dos EUA:
www.nationalguard.mil/Leadership/Joint-Staf/J-5/International-Afairs-Division/
State-Partnership-Program/
http://
Taurus Armas e Acessórios: http://www.taurus.com.br
U.S. Energy Information Administration (EIA): http://
www.eia.gov
União Africana (UA): http://www.au.int/
União de Nações Sul-Americanas (UNASUL): http://
www.unasursg.org/es
United Nations Bibliographic System (UNBISNET):
www.unbisnet.un.org
United Nations Development Programme: http://www.
undp.org/
United Nations Environment Programme: http://www.
unep.org/
United Nations Oice on Drugs and Crime: https://www.
unodc.org
United Nations Security Council: http://www.un.org/en/
sc/
United Nations Treaty Collection: https://treaties.un.org/
United Nations: www.un.org
World Resources institute: http://www.wri.org/
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS
(UNAIDS): http://www.unaids.org/en/dataanalysis
Programa Mundial de Alimentos: http://documents.wfp.
org/stellent/groups/public/documents/communications/wfp275796.pdf
Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (Missile Technology Control Regime): https://mtcr.info/
Renctas: http://www.renctas.org.br
Rossi Esportes e Lazer: http://www.rossi.com.br/site/index.php
Scimago Journal: http://www.scimagojr.com/
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
113
Apêndice
metodológico
A ideia de produzir o Atlas da Política
Brasileira de Defesa respondeu à necessidade de organizar uma obra que
tratasse da política de defesa e dos desaios de segurança do Brasil de modo
amplo, rigoroso e de fácil entendimento para diversos públicos (do mundo
acadêmico, mas também fora dele). O
Atlas é um instrumento de estudo e de
disseminação de conhecimentos do
conhecimento; portanto, aborda temas clássicos da defesa, mas não se restringe a eles. Ainal, é uma obra sobre a
política brasileira de defesa, e todos os
elementos que a inluenciam devem
ser considerados, em busca de um entendimento mais abrangente e pluralista. Para analisar os temas relativos à
REPRESENTAÇÕES VISUAIS
Representação de uma variável no plano
Tamanho em uma dimensão para quantidades absolutas
6
5
4
3
6
5
4
3
2
2
1
1
1
2
3
4
Tamanho em duas dimensões para quantidades absolutas
lado = 1
lado = 2
lado = 4
área = 1
área = 4
área = 16
O valor absoluto nas imagens
é representado pela área do
círculo ou do quadrado, não
pelo valor do raio ou do lado.
raio = 1
raio = 2
raio = 4
área = π x 1
área = π x 4
área = π x 16
Escala de valor para quantidades relativas
Representação de mais de uma variável no plano
Em cores para mostrar diferenças
Menos
Valor
Em textura para mostrar diferenças
Em formas geométricas para mostrar diferenças
Fonte: Durand et al., 2009
114
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
Labmundo, 2017
Mais
Valor
defesa e à segurança do Brasil, usamos
o conhecimento técnico e tecnológico
adquirido com a experiência do Atlas
da Política Externa Brasileira, publicado em português (2014), em espanhol
(2015) e em inglês (2016). O uso da
cartograia temática cumpre o objetivo de promover uma leitura rápida, dinâmica e moderna, sem abrir mão do
conteúdo - este que é o principal objetivo do projeto. Para isso, foi imprescindível a parceria internacional com
o Ateliê de Cartograia de SciencesPo,
no âmbito do Atlas da Política Externa
Brasileira, assim como o esforço conjunto do LABMUNDO e do OPSA,
dois grupos de pesquisa no âmbito do
IESP/UERJ, que integram a plataforma Latitude Sul.
O
trabalho
conjunto
entre
LABMUNDO e OPSA foi fundamental para enfrentar o primeiro desaio do projeto: montar uma equipe.
O processo de produção de um atlas
por meio da cartograia temática tem
uma série de peculiaridades que exigem uma abordagem multidisciplinar. Integraram a equipe professores,
pesquisadores, doutorandos, mestrandos e graduandos que trabalharam coordenadamente ao longo de mais de
dois anos de projeto, tanto presencialmente como por meio de recursos de
comunicação virtual. A escolha desses pesquisadores foi feita de modo
a abranger diversas áreas do conhecimento, necessárias para o trabalho
multidisciplinar deste Atlas: Ciência
Política e Relações Internacionais,
História, Geograia e Cartograia, assim como especialistas em temas relacionados à política de defesa. Cabe
ressaltar, também, o caráter pedagógico na escolha da equipe. A equipe
priorizou estudantes de pós-graduação e manteve um trabalho constante
de treinamento e orientação, sob a coordenação de Maria Regina Soares de
Lima e Carlos R. S. Milani, de modo
a contribuir para a formação e crescimento dos envolvidos como um todo.
A equipe, então, foi preparada para
trabalhar com as particularidades deste Atlas. Por exemplo, coube no processo de capacitação ressaltar que a
imagem não pode ser um elemento acessório ao texto, nem deve ter
mera função ilustrativa. Pelo contrário, as imagens (sejam elas mapas ou
gráicos, sejam elas matrizes ou linhas do tempo) trazem a informação e o argumento e, neste Atlas, têm
a mesma importância que o texto. A
APÊNDICE METODOLÓGICO
DIFERENTES REPRESENTAÇÕES E SUAS DISTORÇÕES
Projeção de Bertin
Projeção de Fuller
Projeção de Gall-Peters
Projeção de Mercator
Talvez a primeira decisão mais importante seja a escolha da projeção.
O mapa na capa com o Sul para cima
é um claro exemplo disso. A decisão
de colocar o Sul ou o Norte (ou qualquer direção da rosa-dos-ventos) para
cima é política, uma vez que o planeta tem forma de um geoide. Pensando
em qual projeção seria mais apropriada para o nosso Atlas, decidimos que
seria importante trazer o Brasil (principal objeto de estudo do Atlas) e a
América do Sul para o centro da imagem, bem como evitar projeções que
representem territórios muito distorcidos, o que é comum principalmente perto dos polos. A projeção
descontínua de Bertin foi, então, escolhida como padrão para o nosso trabalho, ainda que corte a Ásia em duas
partes. Todavia, em alguns momentos, foi necessário lexibilizar essa decisão. Por ser descontínua, a projeção
de Bertin não é ideal para representar
fenômenos relacionados aos oceanos
ou à Antártida. Como o Atlântico Sul
e a Antártida são considerados estratégicos pela política de defesa brasileira, achamos pertinente adotar outras
projeções em casos pontuais. Quando
essa decisão era tomada, mantivemos
a preocupação em escolher outras projeções que não criassem grandes distorções territoriais.
Projeção de Robinson
Projeção Miller Cylindrical
Projeção
cartograia temática tem como característica principal priorizar o conteúdo ao produzir uma imagem que seja
transmitida ao leitor de modo claro e
dinâmico. Com isso, a técnica usada
neste Atlas vai além do georreferenciamento, pois permite relativizar o preciosismo técnico em prol da clareza e
da capacidade informativa da imagem.
A cartograia temática busca transformar dados complexos para representar
fenômenos políticos, sociais, econômicos, históricos e internacionais. São
imagens quantitativas e qualitativas.
As escolhas metodológicas também
são decisões políticas, acarretando
vantagens e riscos.
Brasil
Alasca
Índia
Mercator
Miller
Cylindrical
Fuller
Goode
Fonte: Elaboração própria. Projeções cedidas pelo Ateliê de Cartografia de Sciences Po.
Labmundo, 2017
Bertin
A escolha das fontes também foi baseada em critérios cientíicos, metodológicos e políticos. O Atlas foi planejado
e produzido por pesquisadores, com
base no estudo de livros e periódicos
acadêmicos, relatórios oiciais de instituições reconhecidas internacionalmente, banco de dados e documentos
oiciais. Muitas vezes essas fontes não
são neutras, mas os dados são obtidos por meio de uma metodologia e
apresentados de modo a favorecer um
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
115
TIPOS DE CLASSIFICAÇÕES EM MAPAS
Dados hipotéticos usados como base para os mapas
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
0,46
0,93
0,53
0,49
Índice
Colômbia Equador
0,31
0,21
Guiana
Paraguai
Peru
0,11
0,40
0,56
Suriname Uruguai Venezuela
0,13
0,42
0,24
Classificação com base na média dos dados
Máximo - 0,93 (Bolívia)
Mínimo - 0,11 (Guiana)
Bolívia
0,93
Peru
0,56
Brasil
0,53
Chile
0,49
0,93 - 0,11 = 0,82
0,82 ÷ 4 = 0,205
0,93
+ 0,205
0,725
+ 0,205
0,52
+ 0,205
0,315
Argentina
0,46
Uruguai
0,42
Paraguai
0,40
Colômbia
0,31
Venezuela
0,24
Equador
0,21
+ 0,205
0,11
Suriname
0,13
Guiana
0,11
0,93 0,725 0,52 0,315 0,11
Sem dados
disponíveis
Quantidade de países = 12
Quantidade de classes = 4
12 ÷ 4 = 3
Bolívia
0,93
Peru
0,56
Brasil
0,53
Chile
0,49
Argentina
0,46
Uruguai
0,42
Paraguai
0,40
Colômbia
0,31
Venezuela
0,24
Equador
0,21
Suriname
0,13
Guiana
0,11
0,93 0,53 0,42 0,24 0,11
Sem dados
disponíveis
Fonte: Elaboração própria.
Labmundo, 2017
Classificação com base na quantidade de unidades
Exemplo concreto sobre o índice de Gini em municípios brasileiros, em 2010
1
1
0,54
0,75
0,5
0,49
0,45
0
Fonte: IBGE, 2010b
116
Recorte por média da variável
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E FES A
0,25
0
Labmundo, 2017
Recorte por quantidade de municípios
ponto de vista. Cientes dessa possibilidade, a equipe deste Atlas buscou diversiicar o máximo a quantidade de
fontes e identiicar a mensagem que
elas transmitem, para apresentar aos
leitores mais de um ponto de vista, de
modo a incentivar e enriquecer o estudo e o debate sobre a política de defesa e de segurança do Brasil. Também
houve a preocupação em buscar dados recentes e atualizados, mas isso
nem sempre foi possível. Deve-se ressaltar que a falta de dados foi um empecilho frequentemente encontrado
nas pesquisas sobre o Brasil e outros
países do mundo. Temas relacionados à defesa são tradicionalmente mais
opacos do que outras áreas, como comércio, meio ambiente e direitos humanos. Ainda que parte das nossas
solicitações por meio da Lei de Acesso
à Informação tenham sido atendidas,
outros dados continuaram inacessíveis,
inclusive relativos aos níveis regional e
internacional. Em alguns momentos,
fomos forçados a encontrar alternativas na produção de imagens, por falta
de acesso a dados oiciais, coniáveis e
atualizados.
Assim como as fontes, as imagens
também podem ser controvertidas.
Então, a preocupação com a coniabilidade na fonte foi acompanhada de
uma atenção especial no uso das técnicas de cartograia temática de modo
a não dar margens para interpretações
equivocadas. A cartograia temática é
um poderoso instrumento de comunicação, mas, assim como qualquer
metodologia, pode ser usada para manipular o leitor. Conscientemente ou
não, o uso de elementos gráicos, cores,
recortes e classiicações de modo a distorcer a perspectiva do receptor está
crescendo junto com a popularização
dessas imagens em jornais, revistas, televisão e redes sociais. É preciso saber
ler e interpretar as imagens. Por isso,
este Atlas busca preparar o leitor para
que consiga identiicar as decisões metodológicas e políticas por trás de cada
imagem, de modo que tome familiaridade com a leitura de imagens desta
obra e de outras.
A escolha da quantidade e do recorte
de categoria é um exemplo disso. Não
existe uma técnica mais correta para a
classiicação de um fenômeno em mapas. A escolha de três, quatro ou dez
classes é uma escolha do autor, que é
tomada de acordo com a necessidade
apresentada pelo fenômeno. O mesmo pode ser airmado em relação ao
APÊNDICE METODOLÓGICO
recorte, que podem tomar como referência a quantidade de unidades, a
média dos dados ou até mesmo uma
classiicação arbitrária. Deve-se ressaltar que o resultado inal se transforma
de acordo com a escolha, assim como
a mensagem que é passada pela imagem. O Atlas buscou usar quatro categorais sempre que possível. Em alguns
momentos, como a representação das
capacidades militares, foram adotadas
mais classes. Devido à grande assimetria entre os países a adoção de apenas
quatro categorias colocaria dentro de
uma mesma categoria países com dados signiicativamente díspares, o que
causaria estranhamento e imprecisão.
Por esse motivo, é importante que a
legenda sempre apresente sempre de
modo inequívoco quais são as classes
usadas naquela imagem.
absoluta analisada. Todavia, a comparação desses elementos gráicos não
é feita do mesmo modo. Enquanto
que a leitura de imagens compostas
por barras e colunas é feita de acordo
com a extensão destas, as setas devem
ser comparadas de acordo com a espessura. A extensão das setas em mapas representa apenas o destino e a
origem do fenômeno. Também devese ressaltar que enquanto barras e colunas mantém a espessura uniforme
e variam o seu tamanho, os círculos
e quadrados aumentam em duas dimensões. Portanto, o fenômeno é representado pela variação do tamanho
da área do símbolo, não pelo raio ou
pelo lado.
A escolha pelo uso da escala aritmética ou logarítmica também é fruto
de uma decisão metodológica, baseada no tipo de informação que a imagem busca passar. Os gráicos em
escala aritmética, que são os mais frequentemente usados em publicações
acadêmicas e na mídia, facilitam a leitura das quantidades absolutas. Esse
tipo de gráico é ideal, portanto, para
a comparação de valores entre os casos selecionados. Os gráicos em escala logarítmica, por sua vez, tornam
a evolução do fenômeno mais visível.
O uso dessa escala, portanto, favorece o estudo do fenômeno ao longo
do tempo. Ainda que exista perda na
comparação imediata da quantidade
absoluta, ela pode ser feita pelos círculos ou quadrados no início e inal
de cada linha.
A legenda também tem como objetivo indicar e esclarecer o uso de símbolos (mais frequentemente barras, setas,
círculos e quadrados) e cores nas imagens tem como objetivo demonstrar
variações nas quantidades absolutas
ou relativas. Enquanto que duas cores
diferentes buscam representar fenômenos diferentes (sejam eles opostos
ou complementares), a escala de tonalidades dentro de uma cor indica a variação do fenômeno representado. Do
mesmo modo, enquanto que o uso de
diferentes símbolos (círculos, quadrados, triângulos, etc.) represente a distinção entre os fenômenos que busca
representar, a variação de tamanho
deles é proporcional à quantidade
TIPOS DE ESCALA EM GRÁFICOS
Dados usados como base para os gráficos
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
País A
9 000
7 000
9 000
11 000 13 000 16 000
País B 10 000
8 000
6 000
9 000
40
100
140
País C
10
12 000 10 000
200
300
Gráfico com escala aritmética
16 000
País A
12 000
País B
8 000
4 000
0
Ano 1
País C
Ano 2
Ano 3
Ano 4
Ano 5
Ano 6
Uso da escala logarítmica
País A
10 000
País B
1 000
País C
100
10
INTERPRETAÇÃO DE TABELAS EM CÍRCULOS PROPORCIONAIS
Dados usados como base para a tabela
1
Ano 1
Geraldo
Quintão
José Viegas
Filho
Waldir
Pires
Nelson
Jobim
Celso
Amorim
Jaques
Wagner
Haiti
0
1
1
5
2
1
República
Dominicana
0
0
0
1
0
0
9 000
TOTAL
0
1
1
6
2
1
300
Ano 2
Ano 3
Ano 4
Ano 5
Ano 6
Gráfico com escala logarítmica
16 000
0
x3
n ti
da
d
e
6
2
1
x0
Ano 1
Fonte: Elaboração própria.
Ano 6
Labmundo, 2017
Q ua
r
es
País B
Labmundo, 2017
Fonte: Ministério da Defesa, 2016.
pr
es
República
Dominicana
x 1,778
País A
en
tad
as
Haiti
TOTAL
País C
em
círc
ulos
proporcio s
nai
C
(2 els
01 o
1- Am
20 o
15 rim
)
Ja
( ja qu
n- es
se W
t 2 ag
01 n
5) er
G
(2 era
00 ld
0- o
20 Q
02 uin
) tã
o
Jo
(2 sé
00 V
3- ieg
20 a
04 s F
) ilh
o
W
(2 ald
00 ir
6- P
20 ire
07 s
)
Ne
(2 ls
00 o
7- n J
20 ob
11 im
)
Quantidade absoluta de viagens de Ministros da Defesa
ATLAS DA POLÍ TI C A B R AS I LEI R A D E D E F ES A
117
O Latitude Sul é uma plataforma de pesquisa que congrega quatro grupos do CNPq
interessados em discutir, aperfeiçoar e apresentar trabalhos e projetos sobre o lugar político,
econômico e social do “Sul” nas relações internacionais. Por meio dessa parceria, os
pesquisadores buscam potencializar o olhar crítico sobre as relações Norte-Sul, as
desigualdades sociais, as diferenças em termos de status e poder decisório, bem como as
hierarquias na política internacional contemporânea.
www.latsul.org
O Laboratório de Análise Política Mundial é uma
iniciativa interdisiciplinar de pesquisa e ensino
lançada em março de 2006. Durante seus
primeiros anos, funcionou exclusivamente na
Escola de Administração da Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Hoje, ele conta com duas
antenas que, de modo conjunto e em parceria,
asseguram a participação de pesquisadores de
diferentes departamentos e centros universitários
do Brasil e do exterior em vários projetos,
seminários e publicações: a antena de Salvador,
na UFBA, e a do Rio de Janeiro, no Instituto de
Estudos Sociais e Políticos da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
www.labmundo.org
O OPSA é um núcleo de referência destinado à
análise, ao monitoramento e ao registro de
eventos políticos nos planos doméstico e
internacional dos países sul-americanos. Suas
atividades principais envolvem a coleta e a
sistematização de informações sobre os
processos políticos dos países do subcontinente,
bem como a elaboração de análises pontuais
sobre aspectos e problemas das conjunturas
doméstica e internacional da área.
www.opsa.com.br
“É preciso escrever um poema várias vezes para que dê a impressão de
que foi escrito pela primeira vez". A frase é do poeta Mario Quintana. Guardião
do idioma, o poeta sabia como é difícil parecer simples. Lapidava suas joias. Na
arte, reunia humor, leveza e perspicácia. Um dia – dizia –, o poema cria vida e
voa. Logo pousa nos corações e mentes dos leitores, onde se perpetua.
O Atlas da Política Brasileira de Defesa que o leitor tem em mãos evoca
esse processo. Os mapas são criativos, os gráficos bonitos, as páginas
entremeadas, harmonicamente, de raciocínios desafiadores e de obras de arte.
Tudo parece simples. As ideias comunicam-se sem ruídos aos leitores,
fazendo-lhes ver, de maneira íntegra e concisa, relações de poder a partir de
perspectivas teóricas, históricas e geográficas.
Súbito, as complexas interações da política internacional parecem óbvias.
Mas o óbvio, aqui, só parece simples porque resume conclusões de análises
densas e rigorosas. O valor desta obra está justamente na capacidade dos autores
de reinterpretar o mundo, tornando-o mais inteligível para a maioria de nós.
Mas não se iludam: esta é uma obra científica. Os autores são honestos ao
expor as premissas que sustentam seus argumentos e rigorosos ao colher e
referenciar dados de fontes variadas. São também corajosos: apresentam-nos a
sua leitura do mundo, mas nos instigam a pensar sobre as possíveis evoluções da
nossa Política de Defesa. E ainda fazem o texto parecer simples.
O resultado cria empatia com o leitor e parece ser espontâneo. Não é.
Aprofunda o esforço iniciado com o Atlas da Política Externa Brasileira e avança
em temas sensíveis, como as relações entre civis e militares, a institucionalização
e os investimentos no setor de Defesa no Brasil. Ao cabo, condensa reflexões de
dois dos mais respeitados analistas das relações internacionais brasileiros ao
longo de suas exitosas carreiras.
Ao fazê-lo mediante a coordenação de um grupo de jovens pesquisadores,
Maria Regina Soares de Lima e Carlos Milani dão-nos, ainda, a lição de que vale
a pena passar aos jovens suas experiências e sabedoria, facilitando o trabalho das
próximas gerações de interpretar um mundo cada vez mais dinâmico e perigoso.
Ao ganhar o mundo com tanta beleza, este Atlas também perpetuará nas mentes
de seus leitores o compromisso de produzir análises densas, rigorosas e
corajosas. E que pareçam simples, a fim de melhor subsidiar as decisões sobre
nossa Política de Defesa.
Antonio Jorge Ramalho
Professor do IREL/UnB & Diretor da ESUDE-CDS/UNASUL