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19 Os Tupiguarani e os Itararé-Taquara no cenário paulista – uma abordagem metodológica Tupi and Jê in São Paulo scenario – a methodological approach Glauco Constantino Perez1 Marisa Coutinho Afonso2 Lúcio Tadeu Mota3 Resumo Pretende-se apresentar a proposta metodológica da pesquisa de doutoramento do primeiro autor e alguns resultados parciais dessa pesquisa que se iniciou em 2013. Este trabalho tem como objetivo estudar os grupos ceramistas que ocupavam a região entre as bacias dos Rios Tietê e Paranapanema no Estado de São Paulo. A bibliografia descreve este espaço como uma região de interação cultural, mas há poucos estudos sistemáticos. A revisão de uma extensa bibliografia e a organização de um banco de dados arqueológico auxiliaram na integração de informações. Com isso, é possível observar e compreender a distribuição dos sítios arqueológicos pela paisagem, períodos de ocupação e regiões com concentração de sítios. Palavras-chave: São Paulo, Jê, Tupi, fronteira, arqueologia Abstract We present the methodological approach of the first author's doctoral research project and some partial results of this research that started in 2013. The aim of this 1 Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo – MAE/USP e Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história/Universidade Estadual de Maringá/PR – LAEE/UEM 2 Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade de São Paulo e Laboratório de Arqueologia da Paisagem e Geoarqueologia LAPGEO/MAE/USP 3 Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história/Universidade Estadual de Maringá/PR – LAEE/UEM 289 project is to study the ceramic groups who lived in the region between the Tietê and Paranapanema River Basins in the state of São Paulo. The literature describes this space as a cultural interaction region, but there are few systematic studies. The review of an extensive bibliography and the organizing of an archaeological database helped to integrate information. This makes it possible to observe and understand the distribution of archaeological sites in the landscape, periods of occupation and regions with concentration of sites. Key words: São Paulo, Jê, Tupi, border, archaeology Introdução Esse texto teve como base a apresentação feita durante a IV Semana Internacional de Arqueologia na mesa redonda “Métodos Contemporâneos na Arqueologia” e memorial do exame de qualificação apresentado ao Programa de Pósgraduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP – MAE/USP. O objetivo principal da pesquisa tem sido organizar os dados disponíveis a respeito dos sítios arqueológicos ceramistas localizados nas regiões entre os Rios Tietê e o Paranapanema, e a partir desse banco de dados gerado, construir mapas com o intuito de repensar e buscar compreender a distribuição desses grupos populacionais. O levantamento de dados para o preenchimento do Banco de Dados (BD) já está concluído, porém possíveis itens que possam surgir até a defesa deste trabalho ainda devem ser incluídos no levantamento. As fontes As fontes selecionadas para a pesquisa foram as seguintes: -Acervo da Biblioteca da empresa Scientia Consultoria Científica; -Banco de dados do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA) online; -Arquivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SP); -Arquivo de Fichas do CNSA impressas; 290 -Arquivo de Projetos e Relatórios de arqueologia preventiva; -Acervo da Biblioteca do Museu de Arqueologia e Etnologia MAE/USP; -Teses; -Dissertações; -Revista do Museu Paulista; -Arquivos do Museu Paranaense; -Arquivos do Museu Paranaense – série Antropologia; -Arquivos do Museu Paranaense – série Arqueologia; -Arquivos do Museu Paranaense – série Etnologia -Anhembi; -Revista do CEPA Santa Cruz do Sul/RS; -Revista de Arqueologia/Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB; -Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia; -Arqueologia - Revista do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas – UFPR; -Revista do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas - Manuais de Arqueologia UFPR; -Revista do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas – UFPR; Destacamos que dentro do Arquivo do IPHAN/SP existe uma distribuição em que os relatórios entregues pelas empresas são organizados em ordem alfabética por município e dentro dessa ordem, são colocados em ordem de número de processo. Isso quer dizer que as fichas cadastrais (Fichas CNSA impressas) acessadas para o nosso Banco de Dados (BD), até o momento, são respectivas a todos os trabalhos arqueológicos realizados entre as décadas de 1960 até 2009. Entre 2010 até 2014, as fichas cadastrais exigidas pelo IPHAN estão dentro dos relatórios finais enviados pelas empresas de arqueologia preventiva, e não mais separadas em um arquivo específico. Já os relatórios entregues anteriormente a 2010 estão organizados apenas por ordem alfabética de municípios. Essa diferenciação na maneira de organizar os 291 arquivos dificulta o acesso à fonte, já que a pesquisa fica atrelada à disponibilidade de um arquivista responsável. Dessa maneira, no período em que existe o aumento dos trabalhos de arqueologia preventiva (Wichers 2011: a e b) e um aumento das descobertas de novos sítios arqueológicos, acontece a diferenciação da organização do arquivo. Para esta pesquisa estipulamos 2013 como data limite para o levantamento, já que entre 2014 e 2015 muitos projetos estão em andamento e não teriam os relatórios finais das pesquisas. As informações contidas nas fontes Como um resultado já esperado na arqueologia brasileira, observamos que as diferentes formações teórico-metodológicas dos arqueólogos também se refletem nas informações levantadas durante a escavação dos sítios arqueológicos. Isso, associado à falta de uma legislação coerente a respeito do proceder arqueológico nos vislumbra com uma gama de informações bastante díspares para cada sítio arqueológico levantado. Apesar disso, o órgão fiscalizador (IPHAN) fornece um padrão de informações mínimas para que se possa cadastrar um sítio arqueológico – Fichas do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), porém essas fichas não respeitam a diversificação metodológica do pesquisador e o resultado são fichas que não são preenchidas completamente contém com as informações necessárias para que se possa correlacionar os sítios arqueológicos de uma região, embora o arqueólogo não precise filiar um sítio a tradições se não tiver uma formação histórico-culturalista, sendo necessário apenas apresentar uma boa arqueografia do sítio e dos vestígios arqueológicos. Poucas são as fichas que contém todos os campos preenchidos. Além disso, as informações relevantes para cada publicação sobre uma pesquisa arqueológica variam de acordo com a maneira como essa pesquisa é divulgada; como exemplo temos: as informações de um relatório de trabalho de contrato não são as mesmas informações elencadas para a disponibilização em um 292 artigo referente à mesma pesquisa de campo. Isso justifica a consulta a tantos tipos diferentes de fontes, mesmo que tratem do mesmo sítio ou do mesmo trabalho de arqueologia preventiva. A partir do que foi exposto, independentemente do método aplicado nos estudos dos sítios, prezar por uma documentação primária de qualidade dos trabalhos realizados junto aos sítios arqueológicos é de fundamental importância para a manutenção das informações e facilitam pesquisas futuras, bem como uma divulgação adequada do trabalho feito. Quantidade de fontes O universo de trabalhos produzidos dentro da temática Tupiguarani e ItararéTaquara é muito grande. São muitas de teses, dissertações e artigos produzidos ao longo das últimas seis décadas de arqueologia brasileira. Porém quando filtramos a pesquisa para a região do sul do Estado de São Paulo, especificamente entre os Rios Tietê e do Paranapanema, as referências são mais raras. Além do acervo do Arquivo do IPHAN/SP e as fichas cadastrais de sítios arqueológicos (132 fichas disponíveis online e 12 caixas arquivos contendo as fichas de impressas para o estado todo que datam da década de 1960 e 2009), consultamos teses e dissertações (num total de 22 produzidas que continham esse recorte geográfico) e 56 relatórios, além do conjunto de outras sete grandes revistas que poderiam conter informações sobre os sítios arqueológicos da região com 33 artigos publicados, bem como outros 9 artigos de outras revistas, como a Radiocarbon, Revista USP e Fronteiras, que também foram consideradas e contam 42 artigos. Assim, temos um total de 128 referências bibliográficas. Durante o estudo dos artigos das sete revistas elencadas, separamos os assuntos pertinentes à Arqueologia brasileira do que era pertinente à pesquisa. Dessa forma temos publicações desde 1895 até 2013, como podemos observar no Quadro 1 a seguir: 293 Quadro 1 - Publicações consultadas entre 1895 e 2013. Ano Revista de Início Revista do Museu Paulista Última Publicação Pertinentes à Pertinentes à Arqueo. pesquisa/ Brasileira considerados 19 1895 1984 133 1941 1993 105 Arquivos do Museu Paranaense - 17 Museu Paranaense Anhembi Revista do CEPA RS Revista CEPA/UFPR Revista de Arqueologia/SAB Revista do MAE Total de artigos 1950 1962 18 1 1968 2004 77 0 1968 2003 26 1 1987 2013 169 2 1991 2013 145 10 2762 33 A observação óbvia que podemos fazer a respeito da análise dessas revistas é que, apesar da grande quantidade de artigos publicados, pouquíssimos (menos de 1,2%) são aqueles que se referem diretamente à temática da pesquisa. O que chama bastante atenção é que nos últimos 50 anos de arqueologia, poucas revistas se mantêm como divulgadoras das produções dos arqueólogos. Muitas vezes os 294 pesquisadores acabam divulgando em revistas de temas interdisciplinares, como revistas das Geociências, Históricas, Ciências Sociais, Biológicas, entre outras; o que acaba dificultando o acesso às informações, isto é relacionado à interdisciplinaridade da disciplina arqueológica e não só a falta de revistas especializadas no assunto. E então, os arqueólogos publicam pouco? Esta é uma dúvida a se debater, visto que de acordo com este levantamento, temos poucas publicações junto às principais revistas destinadas ao assunto arqueológico destinadas à área de pesquisa. A seguir mostraremos os primeiros resultados do levantamento junto à bibliografia associada aglutinado em um Banco de Dados (BD) que facilita o acesso às informações. Banco de Dados - apresentação preliminar O Banco de Dados (BD) foi criado no software Microsoft Office Access (2010), um sistema de gerenciamento de banco de dados da Microsoft que combina o Microsoft Jet Database Engine com uma interface gráfica. Nele a tabela do banco é constituída por linhas que representam os sítios arqueológicos e por colunas que indicam características dos sítios. O programa oferece ainda a possibilidade da construção de um formulário base para a observação dos dados. O BD foi inspirado nas categorias elencadas do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), embora algumas características tiveram de ser modificadas e adequadas para as informações atuais dos sítios, como por exemplo inserimos espaços para maiores informações relacionadas às datações, mais espaço para o campo de Coordenadas geográficas (UTM e por grau, minuto e segundo) e também maior espaço para uma segunda referência bibliográfica associada a cada sítio. Além disso, a ordem das colunas de características está distribuída em três eixos: Descrição geral (município atual; município registrado; sigla do sítio – IPHAN; sigla do sítio – Autor; nome do sítio; tradição; datação existente; informações datação/amostra), Distribuição espacial e física (categorias (pré-colonial/contato); componentes (unicomponencial/multicomponencial); deposição 295 (superfície/profundidade); exposição (céu aberto/abrigo); dimensões (m²); unidade morfológica; compartimento topográfico (topo, terço superior, inferior, planície de inundação); DATUM; Zona; longitude (E); latitude (N); coordenada em grau, minuto segundo), e por fim, Referências bibliográficas (nº CNSA; localização dos dados; referência bibliográfica associada; informações extra/observações; segunda referência bibliográfica). Esse layout do banco de dados favorece o entendimento desses eixos como um todo, já que as informações são bastante complementares entre as colunas; no total são 25 categorias descritivas elencadas para cada sítio arqueológico. Os municípios elencados para fazer parte da pesquisa se localizam ao sul da bacia do Rio Tietê e ao norte da bacia do Rio Paranapanema, pensando nisso, uma busca pela internet facilitou a visualização destes municípios. No total foram 291 municípios utilizados nas buscas, embora nem todos apresentassem sítios arqueológicos. Esse levantamento auxiliou na agilidade da busca dos sítios no CNSA, e também dentro do Arquivo de Relatórios finais entregues ao IPHAN. A seguir temos um Gráfico 1 que aponta os principais locais de coleta de informação para essa pesquisa. É possível notar que a Biblioteca do MAE e o CNSA são os principais locais para a coleta de informações desta pesquisa, com 265 e 224 sítios respectivamente. Além disso, outros 217 sítios aparecem em ambos locais, isto é, tem publicações e fichas cadastrais associadas. 296 Gráfico 1 - Localização dos dados a partir de bibliotecas. Revista Online Inventário CNSA, Biblioteca MAE, Biblioteca Empresa CNSA, Biblioteca MAE e Inventário CNSA e Inventário CNSA e Biblioteca MAE CNSA e Biblioteca Empresa CNSA Biblioteca MAE e Inventário Biblioteca MAE Biblioteca empresa Arquivo IPHAN - Relarórios 3 9 1 2 4 217 1 224 12 265 10 33 0 50 100 150 200 250 300 Quantidade de sítios A apresentação dos eixos referentes à Descrição geral e à Distribuição espacial e física dos sítios será feita em conjunto, já que é interessante notar como os dados estão intrinsicamente ligados. Em uma primeira abordagem do BD podemos observar a presença de sítios arqueológicos em 121 munícipios do Sul do estado de São Paulo, isto é, 41,6% deles apresentam registros de ceramistas pela paisagem. O BD conta com um total 781 sítios cadastrados, sendo que são 479 sítios Tupiguarani, 193 sítios Itararé-Taquara, 100 sítios sem referência à uma tradição associada e 9 sítios que são classificados com as duas tradições Tupiguarani e Itararé-Taquara. Ainda segundo o BD, temos um total de 71 sítios arqueológicos que apresentam datas, distribuídos por 33 municípios; sendo 5 sítios Itararé-Taquara, 63 sítios Tupiguarani, 1 sem referência associada à tradição e 2 sítios que apresentam material cerâmico Itararé-Taquara e Tupiguarani. No total, temos 135 datas para esses sítios, sendo elas de termoluminescência ou radiocarbônicas. 297 Dos 71 sítios que apresentam datações, apenas 44 podem ser georreferenciados, sendo: 37 sítios Tupiguarani, 5 Itararé-Taquara, 1 sem referência a uma tradição arqueológica e um outro Itararé-Taquara e Tupiguarani. Dessa maneira, de um universo com 781 sítios, 71 sítios datados, ou melhor, 9,0% dos sítios apresentam datações conhecidas, 428 coordenadas UTM são apresentadas, isto é 54,8% dos sítios estudados tem referência geográfica; e apenas 44 sítios, ou 5,9% deles, têm as duas características, conforme o quadro 2 a seguir. Quadro 2 - Banco de dados em números resumo. Sítio Tupiguarani Quantidade Sítios com Quantidade Apresentam de datação e de sítios datas coordenadas coordenadas geográficas geográficas 449 52 256 32 192 10 71 5 6 1 4 0 97 2 43 1 Total 744 65 367 38 Porcentagem 100% 8,75% 49,39% 4,9% ItararéTaquara Tupiguarani/ ItararéTaquara Sem Referência Dessa maneira, a partir do levantamento bibliográfico e da organização dos dados dentro do BD foi possível observar dois fatores: a) os dados não são suficientes 298 para um amplo estudo da longa duração dos grupos, pois apenas 5,6% deles são indexados com datas e coordenadas geográficas e b) embora exista um salto na produção de relatórios de arqueologia preventiva após os anos de 2010, não houve um salto significativo na quantidade de sítios arqueológicos descobertos e descritos com informações que pudessem ser anexadas ao BD para fazer diferença nas estatísticas preliminares do levantamento. É valido relembrar que a pesquisa de levantamento no Arquivo do IPHAN entre os relatórios finais teve como limite o ano de 2013. A observação dos dados em mapas A existência do BD tem por intuito não apenas facilitar o gerenciamento dos dados referentes aos sítios arqueológicos do estado de São Paulo, mas também para facilitar a utilização desses dados. Os novos programas de manejo da informação digital exigem bancos de dados cada vez mais complexos e completos e dessa maneira a digitalização dos dados facilitaria a observação dos dados arqueológicos a partir de diversos softwares. Apesar dos problemas apontados anteriormente relacionados à datação e às coordenadas geográficas, 54,8% dos sítios apresentam coordenadas e por isso sua disposição em mapas geográficos e a utilização de SIG (Sistemas de Informações Geográficas) parecem ser uma opção para entender a distribuição dos sítios pelo estado de São Paulo, assim como tem acontecido no estado do Paraná e Minas Gerais (Souza; Merencio 2013; Delforge 2010). A intenção dessa pesquisa é utilizar softwares juntamente aos dados coletados para construir cartas geográficas que apontem melhor a distribuição dos sítios pela paisagem paulista e assim, identificar pontos de possíveis contatos, possíveis aproximações e divisões do território durante o longo período de ocupação desse espaço. Primeira imagem 299 Na figura 1 podemos observar a nuvem de dispersão dos sítios arqueológicos pesquisados pela paisagem paulista. Nessa execução foi utilizado o programa ArcGis Figura 1 - Distribuição dos sítios arqueológicos pela paisagem de São Paulo. em sua versão 10.2 para esta apresentação. É importante notar que a imagem construída aponta para uma aglomeração de sítios arqueológicos Tupiguarani (pontos rosa) no centro-sul e oeste paulista até aproximadamente Tupã e Marília e existe uma grande quantidade de sítios sem referência a uma tradição arqueológica nas margens do alto rio Tietê – apontados pelos indicadores amarelos. Na região do médio baixo Tietê, na mesma margem do rio, temos as comunidades indígenas atuais de Icatu e Vanuíre em que grupos indígenas Kaingang e Guarani estão aldeados. Na proximidade dessas Terras Indígenas há 10 sítios Jê cadastrados (Coió 1, 2, 3, 6, 7, 8, Fogo 01 e Fogo 02 e Córrego Água Limpa 2), além de seis sítios Tupiguarani (Alto Alegre I, II, III, IV, Glicério 1 e Córrego Água Limpa 1) e quatro sítios sem filiação a tradições ceramistas (Caingangue 01, Baixada Preta, 300 Penápolis 1 e Quaresma). Já no centro-sul e sul do estado, existe uma vasta quantidade de sítios de grupos ceramistas Itararé-Taquara (pontos azuis). Destacamos o sítio arqueológico Fazenda Panorama (indicador verde figura 1) por ser o único que apresenta marcador cerâmico Tupiguarani e Itararé-Taquara e está localizado no município de Avaré – SP, bastante próximo de outros sítios ItararéTaquara e alguns Tupiguarani, sendo uma clara demonstração de contatos possíveis, reocupação ou reorganização do espaço pelos grupos ceramistas. Acreditamos que este sítio merece maior atenção e almejamos que pesquisas futuras possam apontar por datações mais precisas e maiores descrições a respeito da distribuição dos fragmentos cerâmicos nos perfis. Considerações finais Os grupos ceramistas no estado de São Paulo são motivos de discussões em muitas pesquisas no século XX (von IHERING, 1906-1909; MILLER, 1978; ARAUJO, 2007; AFONSO, 2005; KASHIMOTO, 2009; MOTA, 2010; WICHERS, 2011a.; CORREA, 2014) e apenas o enfoque regional é capaz de inferir hipóteses sobre sua ocupação. Acreditamos que com o maior avanço deste trabalho teremos maior respaldo para afirmar ou formular novas hipóteses da distribuição desses grupos na região. Este trabalho almeja ser mais um passo em direção ao entendimento deste espaço, que exige atenção especial dada a sua importância atualmente. Os sítios arqueológicos não devem ser barreira para o desenvolvimento, mas também não devem arcar com sua destruição aos avanços econômicos e industriais regionais. A educação e a valorização destes espaços, pelas pessoas próximas que ali estão, são os melhores caminhos para a salvaguarda deste rico patrimônio arqueológico paulista. Dessa maneira, notamos a necessidade de pessoas capacitadas tanto na execução dos trabalhos arqueológicos (em empresas de arqueologia preventiva e nas instituições de pesquisa), quanto dentro do órgão fiscalizador oficial (IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional); com isso, é essencial a padronização das informações apresentadas e um gerenciamento eficaz para este tipo de patrimônio. 301 No Brasil, gerenciamento de sítios arqueológicos deveria ter maior importância, já que desde o segundo semestre de 2007, estão em execução os Plano de Aceleração do Crescimento implantados pelos Presidentes Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Esses planos promovem a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país e desde o início da sua segunda fase em 2011, têm envolvido mais estados e municípios, para a execução de obras estruturantes e que irremediavelmente afetam direta e indiretamente os trabalhos de arqueologia e os sítios arqueológicos. Dessa maneira, reforçando, temos uma situação no Brasil que exige a necessidade imediata de um bom e funcional plano para o gerenciamento dos vestígios arqueológicos encontrados. Agradecimentos À CAPES/CNPq pela bolsa de doutorado e ao CNPq pela bolsa produtividades para a Pesquisa; Scientia Consultoria Científica pela utilização de relatórios; Ao IPHAN/SP na pessoa de Rafael Oliveira; à Equipe de funcionários da Biblioteca MAE/USP. Referências Bibliográficas ARAUJO, A. G. M. A tradição cerâmica Itararé-Taquara: características, área de ocorrência e algumas hipóteses sobre a expansão dos grupos Jê no sudeste do Brasil. Revista de Arqueologia. 20: 2007, pp. 09-38. AFONSO, M. C. Um olhar para a arqueologia pré-histórica do Estado de São Paulo. Tese de Livre Docência. Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. CORREA, A. A. Pindorama de Mboîa e Îakaré: continuidade e mudança na trajetória das populações Tupi. Tese de doutorado. MAE/USP, 2014. DELFORGE, A. O gerenciamento do patrimônio arqueológico no estado de Minas Gerais utilizando-se sistema de informações espaciais (SIG). Mestrado, PUC-MG, Belo Horizonte, 2010. KASHIMOTO, E. M. Arqueologia do leste de Mato Grosso do Sul. I Encontro de arqueologia de MS. Campo Grande, 2009. MILLER, E. Tecnologia Cerâmica dos Caingang Paulistas. Arquivo do Museu Paranaense – Nova Série – Etnologia, Curitiba, 1978. 302 MOTA, L. T. V Fórum de Pesquisa e Pós-Graduação em História & XVI Semana de História da Universidade Estadual de Maringá em uma mesa redonda intitulada ‘Populações tradicionais: indígenas, quilombolas e faxinalenses – Populações indígenas no Paraná’ em outubro, 2010. SOUZA, J. MERENCIO, F. A diversidade dos sítios arqueológicos Jê do Sul no Estado do Paraná. Cadernos do LEPAARQ – Textos de Antropologia, Arqueologia e Patrimônio. V. X, n°20. Pelotas, RS: Editora da UFPEL, 2013. VON IHERING, H. A questão dos índios no Brasil. Revista do Museu Paulista. V.8: 19061909, pp. 112-140. WICHERS, C. A. de M. Patrimônio arqueológico paulista: proposições e provocações museológicas. Tese doutorado, MAE/USP, São Paulo, 2011. WICHERS, C. A. de M. (org). b. Mosaico Paulista. Guia do Patrimônio Arqueológico. Zanettini Arqueologia, 2011. 303