proibidão
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Gustavo Lopes: o MC Orelha
2012|05|19 Quando enxergo alguém como bandido, posso não saber detalhes, mas conheço a
trajetória: foi vapor, foi gerente, teve seu sofrimento. Eu o respeito como bandido.
Publicado: 19 maio 2012
Autor: Carlos Palombini
Categoria: entrevista
Discussão: 8 Comentários
Entrevista com o MC Orelha no Estúdio dos Loucos, Largo da Batalha,
N i t e r ó i , q u a r t a - f e i ra , 1 0 d e m a i o d e 2 0 1 2 , c o m a p a r t i c i p a ç ã o d o s D J s
G e l o u ko , J u n i o r e L e o B o l i n h a
No final da manhã de quarta-feira, 10 de maio de 2012, atravessei pela primeira vez a baía de
Guanabara, ao encontro daquele que se tornou, com “Na Faixa de Gaza é assim”, um dos MCs
de maior credibilidade no Brasil, e um de meus artistas preferidos. Gustavo Lopes me mostrou
o Bumba, o Morro do Céu, e o Rio de Janeiro vistos do Capim Melado.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você se define no Facebook assim: “Sou apenas um cara que explora o
sentido das palavras”. Além de ser o “cara que explora o sentido das palavras”, quem é o MC
Orelha?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — O MC Orelha é o Gustavo, uma versão para os outros. Porque o Gustavo é
uma versão para mim. Eu tenho que me fazer duas pessoas, não é? Às vezes mesmo não sou
quem eu sou, quem estou parecendo ser, como o Orelha. Já que você tocou no Facebook, ali
acontece muito isso: eu tenho que mostrar às vezes uma coisa que não sou. E às vezes eu
mostro uma coisa que sou, disfarçadamente.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Quem é o Gustavo?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — O Gustavo é um cara de praticamente vinte e seis anos, completando agora,
em setembro, às vezes com cabeça de trinta, às vezes com cabeça de doze. Um cara que já teve
muito sofrimento, porém não o suficiente para me mostrar que posso conseguir muito mais.
Sempre acho que posso querer algo mais, mas esse meu jeito acomodado de ser não deixa. O
Orelha está entre um personagem e a realidade do Gustavo. E o Gustavo é isso, o que vivo
todo o dia. O Orelha talvez não seja.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como é a vida no Capim Melado?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — O Capim Melado, onde moro desde pequenininho, não é uma favela. Por
mais que seja uma comunidade de periferia, não é favela, favela mesmo, aquelas. Tem muito
mato, mas também algumas casas coladas às outras. Não chega a ter, como muita gente pensa,
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o aspecto daquelas favelas do Rio. Pensa em favela, pensa uma casa em cima da outra,
bequinho. Não. A vida no Capim Melado é tranquila por isso. Pelo lado do MC Orelha, é bom
morar lá porque todos, apesar de me ver também como MC Orelha, me vêem mais como
Gustavo. E a tranquilidade, por não ser essa favela tão como estou dizendo que são as outras.
Não tem essa coisa de toda a hora ficar entrando polícia. Também não tem essa coisa de
marginalidade tão grande assim. É tranquilo pra morar com meus pais, e morar lá é
sossegado.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — O Colégio Estadual Baltazar Bernardino foi importante pra você?
G
Geelloou
ukkoo: — Como foi!
G
Gu
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peess: — Como foi! Isto é uma coisa engraçada. Eu estudava na comunidade mesmo,
na Ititioca, e fui pro Baltazar quando comecei a fazer a quinta série. Foi quando comecei a ver
outra realidade, gente de outras comunidades, e às vezes também muita marginalidade: gente
sendo esfaqueada, gente armada, fumar maconha. Essa realidade formou o Orelha.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como o funk e o rap apareceram na sua vida?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Desde muito pequeno. De novinho. Um período que lembro — antes de
escutar, claro, em outros lugares — é aquele em que um colega me emprestou uma fita cassete
com proibidão. Tinha um do Mascote, um do Cidinho, um do G3. Comecei a ver que gostava de
funk, e de qual funk gostava. Aquele de letra, proibidão mesmo.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você lembra quais eram esses funks?
G
Gu
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peess: — O do Mascote, tenho que lembrar agora, mas o do Cidinho, lembro muito
bem: “E se o gato passar não se assuste não, se a chapa esquentar é cobrança meu irmão”.1 O
do G3, “tu vai tomar de G3, vai tomar de G3”.2 Ah, e o do Mascote, “alemão, tu passa mal
porque o Comando é Ver…”,3 que é o hino.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você teve ídolos na sua infância e juventude?
G
Gu
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peess: — Esses três. Tive vários, tanto que vou cometer injustiça se falar. Mas pra
classificar, pra não deixar faltar ninguém, vou dizer uma coisa: eu sou fã dos MCs dessa
geração. O Cidinho e Doca, o Catra, o Menor do Chapa. Posso estar esquecendo alguns. O Gil
do Andaraí, o Mascote, o Duda do Borel. Inclusive o Frank: já curti muito o Frank.
G
Geelloou
ukkoo: — O Galo.
G
Gu
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Loop
peess: — O Galo, claro, principalmente o Galo, um dos que fazem letra com um
sentido poético: “Formiga de tamanco não sobe parede não”.4 Você para pra pensar, porque
existe um ditado. Eu gosto muito desse tipo de funk.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você disse numa entrevista anterior que já esteve no problema. Como
você entrou no problema, como é a vida no problema, e como você saiu do problema?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Quis dizer que já fui preso, que estive dentro do crime. Não sei se posso
dizer que saí desse mundo porque, de certa forma, a gente acaba sendo vinculado, até pelo
trabalho, fazendo funk pra bandido. Não sei como dizer. Eu nunca fui traficante, nunca
trafiquei na minha vida, mas já assaltei, fiz sequestro. Fui preso como sequestrador, menor de
idade na época. Então fui pro CRIAM (Coordenadoria de Recursos Integrados de Atendimento
ao Menor), fiquei preso no Padre Severino, um presídio na Ilha do Governador. Fugi do CRIAM
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e, quando fiz 18 anos, limpou minha ficha, porque, menor de idade, limpa. Essa lei nossa, boa,
da qual sou mais um exemplo. Por isso estive dentro do problema, e saí quando voltei a
estudar. Na época em que estava foragido, trabalhei como camelô. Voltei a estudar quando
conheci uma pessoa com quem fui morar. E consegui sair voltando pro funk. Eu já havia
gostado de cantar funk, cantava nas comunidades, mas tinha parado.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como é a vida na cadeia?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Tem uma música do Catra que retrata muito bem: “A vida na cadeia não dá
nem pra imaginar”. É do G3, mas Catra cantava na época: “Liberta coração, liberta coração, a
vida na cadeia não é mole não”.5 Costumo dizer mesmo isto, algo em que reparei: foi um
aprendizado muito bom pra mim. Pra alguns, não, porque acaba sendo uma continuidade. Vi
moleque que tinha vinte passagens antes dos dezoito anos, uma coisa contínua, que não tinha
jeito, moleque de rua mesmo. Vi tudo isso. Cheguei a escutar de uma assistente social que eu
era o único menino do presídio — havia mais de duzentos, trezentos lá — que tinha o segundo
grau. E eu estava no primeiro ano do segundo grau. Era o único que tinha chegado ao segundo
grau. A vida na cadeia pra mim foi um aprendizado muito grande, mas pra outros não, e eu
sei ver dessa forma. É sofrida, porém a gente acaba se acostumando. As pessoas dizem:
“Caraca, como é que o cara vai viver trinta anos na cadeia?” Ele vive. O ser humano se adapta
a qualquer ambiente, mesmo de sofrimento.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como surgiu “Na Faixa de Gaza é assim”, e onde fica a Faixa de Gaza da
música?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — A “Faixa de Gaza” faz referência à Leopoldo Bulhões, por comparação com
a Faixa de Gaza real. Fiz essa música, não sem querer, fiz por querer. Queria fazer uma
homenagem ao cara que pediu a música, e calhou de outro bandido pensar que fosse pra ele,
por isso estourou. Mas fiz a música trabalhando, entre um cliente e outro, na época em que
estava empregado numa assessoria de cobrança. Eu fazia cobrança. Entre um cliente e outro,
escrevi no bloco de notas onde foram feitas várias músicas minhas, o bloco da empresa, do
sistema, no qual eu fazia um atalho, pra ninguém achar. Fiz a “Faixa” e não tinha ritmo ainda,
fiz a música, e falei: “Caraca, na moral, essa bateu na veia!”6 Mostrei pra um colega que estava
na PA ao lado, fazendo atendimento. Ele olhou, eu falei, “aí!”, e joguei pra ele pelo sistema.
“Caraca, essa tá bolada!” Ele morava numa favela de facção rival. Veja você, como é a ironia
do destino. “Caraca, eu sou a primeira pessoa a ver?” Falei: “é, você é a primeira pessoa a
ver”.7
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Quem produziu a versão que você chama de “Santa Rosa” e como ela foi
gravada?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Santa Rosa é o bairro para o qual eu fazia — continuo fazendo — muita
música. É uma alusão ao nome “Baixinho”, à sua origem.
G
Geelloou
ukkoo: — E acharam que fosse o da Leopoldo!
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Eu estava em casa com cinco amigos. Tinha recém começado a trabalhar
com Gelouko e disse: “Cara, eu tenho que mostrar essa música pra Gelouko, né, pô, essa
música é maneira pra caralho, agora eu tenho que produzir, pra mostrar produzida.” Gravei
em cima de um tambor. Como eu já sabia mexer, porque era mesmo curioso dos programas
que só eu conhecia, fiz a batida em cima e misturei. Um amigo falou: “pô, cara, mas esse
negócio tá muito seco, tem que botar alguma coisa, por que você não bota aí: ‘nós tá que tá,
hem!’?” Eu disse “é”, gravei, e coloquei na virada. Foi assim. Fiz por acidente mesmo,
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querendo mostrar pra Gelouko, e explodiu do jeito que é.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — De que modo o sucesso dessa música alterou sua vida?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Fora o anonimato, e financeiramente? Trouxe pessoas que talvez não
estivessem aqui hoje. Talvez eu não pudesse dar o que dou a meu pai, a minha mãe. Minha
irmã passou sufoco onde mora, leva uma vida complicada hoje, e eu consigo ajudar. Tudo isso
faz parte da mudança porque, não fosse assim, só se eu tivesse estudado muito, e a vida que
eu levava não permitia estudar. Eu havia parado para poder trabalhar em outro emprego,
tinha duas carteiras assinadas. A “Faixa de Gaza” mudou não só minha vida como a de
Gelouko. Queira ou não queira, foi — e é — a referência do Orelha. Mudou minha vida, a de
muitas pessoas, e a do Orelha. Talvez eu não fosse o Orelha sem a “Faixa de Gaza”. E se eu
não fosse o Orelha, talvez não tivesse a referência do Estúdio dos Loucos. Tudo veio umacoisa-ligada-na-outra.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — O fato de ter obtido seu reconhecimento nacional através de uma música
que se tornou um hino do CV atrapalha?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Atrapalha. Atrapalha e ajuda, porque gosto, é aquele caso, tem gente que
gosta e tem gente que não gosta, como em qualquer coisa na vida. Atrapalha porque é
vinculado à criminalidade. E a realidade dói, não é? A algumas pessoas, pode incomodar eu
estar cantando a “Faixa de Gaza” numa casa de show: ao dono, pelo marketing. “Pô, que é
isso?” Sobretudo casa de show, onde eles costumam ter amigos na polícia. Como receber um
policial e a família com a “Faixa de Gaza”? Mesmo que eu não cante, e o público: “Comando
Vermelho…”? Deixo de ir a alguns lugares, alguns DJs deixam de tocar minha música: “ah, esse
moleque aí, pô, o Orelha, tá maluco, vou tocar uma música desse moleque?”
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — É uma pergunta honesta, que não precisa ser publicada (se você preferir,
desligo o gravador) e, evidentemente, também não precisa ser respondida: o que o Comando
Vermelho representou, e o que ele representa pra você?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Representou, continua representando o mesmo que sempre representou, o
mesmo que representa para qualquer jovem que já tenha segurado pelo menos um 38 na mão
pelo Comando Vermelho. É como se fosse uma paixão. Eu consigo compreender problemas de
outras nacionalidades quando olho pro Comando Vermelho: Israel, a Palestina, a religião. Como
uma pessoa pode se explodir para matar gente que não tem nada a ver? É a doutrina. A
mesma coisa o Comando Vermelho. É inato. Você já nasce dentro da criminalidade ao nascer
dentro da favela. O Comando Vermelho é uma união, uma força dos refugiados. Isso gera
guerras de facção. Já é outra coisa.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você já teve problemas com a polícia por causa do que canta?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Já. Só nunca fui preso por causa do funk, mas tomei tapa na cara, fui
esculachado verbalmente. Tenho o reflexo constante de ficar com medo de sair de casa em
certos horários porque posso estar saindo da favela e eles entrando. E vão me reconhecer. Eles
sabem quem eu sou. Não é difícil, com a orelha que tenho. Eu tenho muito medo, e já
aconteceu muita coisa comigo e a polícia. De me levar à delegacia, mas não prender; de estar
com nada, tranquilão, e eles quererem sempre alguma coisinha, quererem sempre arrumar
algum problema. Nada comparável ao que um bandido de verdade já sofreu: ser preso,
esculachado, tomar tiro. Isso, polícia não. Polícia, até agora, além de me esculachar, fez apenas
seu papel.
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C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como esses problemas foram resolvidos?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Eles lá, eu aqui, entendeu? Eu tiro como exemplo o que aconteceu com os
MCs que foram presos e foi pra mídia. Se acontecer comigo, não serei preso como o MC
Orelha. Eles podem forjar, me matar, me ocultar, me prejudicar de modo que não venha a
prejudicá-los, porque já viram que prender MC por música não dá em nada. E se der, não há
de ser o que querem, porque polícia que sobe morro tem ódio de mim. É desses que tenho
medo. A polícia civil vai ter de agir conforme a lei. E vai acabar em nada.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você já precisou recorrer a advogados ou à Justiça para se defender?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Ainda não, e confesso que tenho muito medo, se um dia precisar.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como a prisão ilegal dos MCs Frank, Max, Tikão, Dido e Smith afetou seu
trabalho e sua carreira?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Pra ser bem realista, não deu em nada, a não ser marketing pra eles. Se
ocorresse comigo, daria marketing pra mim. Teve algo a ver com mostrar serviço na
pacificação do Complexo. Porque se não, tenho muito mais letras pesadas, e não fui preso.
Acho ótimo porque nunca quis, quero ou quererei envolvimento com a polícia: ter passagem,
ser realmente preso, como eles foram. Isso eu não quero.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — As execuções dos MCs Felipe Boladão, Duda do Marapé, Primo e Careca
afetaram você?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Afetaram porque eu os conhecia, pude apertar a mão de todos como
companheiros de trabalho. Mas medo de morrer por causa de funk, é uma das coisas em que
parei pra pensar só nos últimos dias. Já imaginei represálias de todos os lados, mas como em
São Paulo, não. Ficar sentido pela morte de meus companheiros, pessoas que estavam aí
expressando a verdade, por mais que estivessem ganhando um dinheirinho, mas ter medo
disso, não, porque já tenho muitos outros medos.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — O atentado recente contra o MC Duduzinho afetou você?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Não. Desse tempo em que tenho cantado, existe um histórico, de sete a dez
bailes em que o pessoal dá tiro e sai correndo. No último, em Porto Alegre, morreu um em
cima do palco, na Strike. Veja você. Eu estava tirando fotos no camarim, nem escutei por causa
do som, mas Gelouko estava armando a MPC e ouviu. Violência em baile funk, criminalidade,
tiro, isso é normal. Já vi nego morrer dentro de baile, já vi nego ser baleado, já vi nego correr
por causa de tiro. É normal.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — O que você pensa das UPPs?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Eu penso só uma coisa da UPP: está sendo um bom marketing pro governo.
Porra, Beltrame tá arrasando! Sérgio Cabral então, tá abalando geral. Mas pra comunidade que
está sendo pacificada, é uma boa. Ninguém quer ver seu filho no tráfico, na violência, no sinal
roubando, porque vai ser preso ou vai morrer. Não tem outra: bandido não morre de velhice.
Viu o Escadinha? Viu o Gregório? Viu o Bagulhão? Os fundadores do Comando Vermelho, todos
mortos. Quem entra na vida do crime tem que levar no sapatinho.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — O funk mudou depois das invasões da Vila Cruzeiro e do Complexo do
Alemão?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Com certeza! Mudou o proibidão. O bandido agora não quer seu nome no
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rap: “não, tá maluco, vou ficar pixadão aí, eu vou acabar rodando.” O crime acaba
influenciando o funk.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Existe alguma forma de ação que possa contribuir para acabar com a
violação sistemática do direito constitucional à liberdade de expressão no funk?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Só se partir dos grandes, e a gente se unir, os pequenos do funk, porque
liberdade de expressão não é só pro funk, é pra qualquer coisa. Tem que partir dos grandes,
com movimentação em rede nacional. Principalmente o funk, que hoje em dia tem força em
São Paulo, em todo o lugar. Se todos se unissem, sim, mas se continuar nessa de um MC ser
preso e o pessoal levantar a ideia, a hipótese, vai virar copa do mundo: só quando acontecer
mesmo a gente lembra.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você divulga sua música livremente na Internet, distribui CDs, e vive do
que ganha com apresentações ao vivo, correto? Você está satisfeito com esse sistema ou
preferiria receber direitos autorais e de execução, ser filiado ao Ecad, ter contrato com uma
gravadora?
G
Geelloou
ukkoo: — Filiado, ele já é.
G
Gu
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Loop
peess: — Eu recebo PE (por execução). Satisfeito, eu estou. Nunca pensei que
conseguisse chegar, por mais que quisesse, porque é difícil pra caramba, a oportunidade que
me foi dada, e o talento também. Estou satisfeito, mas queria muito virar um Luan Santana.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Que músicas você ouve?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — Gosto de escutar música antiga, MPB: Caetano Veloso, Djavan, Legião
Urbana (muito). Gosto de escutar Natiruts. Funk, a letra, mas hoje em dia — não sei se porque
trabalho com isso — não estou escutando muito, exceto profissionalmente. Gosto de escutar
músicas que transmitam paz.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Quem são seus DJs e produtores preferidos?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — São os que trabalham comigo, que sem eles — meu deus! — eu não seria o
Orelha. Gelouko, Junior, Leo Bolinha, o Wagner. Gurilão, que está atrasado. São esses.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Como o Gelouko entrou na sua vida e se tornou seu produtor musical?
G
Gu
ussttaavvoo L
Loop
peess: — O Gelouko já tinha um nome. Foi na época em que comecei a trabalhar
com o Junior. Eu andava muito com o Junior, mas como o Gelouko fazia baile no Rio, queria
trabalhar com ele também. Ele disse: “vou te dar uma oportunidade”. Até porque, malandro já
de pista de funk que era, ele viu que tinha uma coisa andando. Marcamos um dia, depois do
carnaval. Passou o carnaval e eu pensei que fosse caô dele: “não, deixa passar o carnaval”.
Mas foi o tempo certinho. Eu já tinha algumas músicas tocando em Niterói. Foi quando fiz a
“Faixa de Gaza”, mostrei pra ele, e começamos a trabalhar. Foi quase por acidente. Antes do
Gelouko, o DJ Wagner e o Junior já me apoiavam. O Leo Bolinha eu só conhecia de nome.
Depois, todo o mundo trabalhando junto.
C
Caarrllooss P
Paalloom
mb
biin
nii: — Você diz no Facebook que odeia política, no entanto, seu trabalho me
parece um dos mais políticos e coerentes do funk. Quando Nem foi preso e tantos o
ridicularizavam, você deixou de lado o jogo das rivalidades de facção e prestou sua
solidariedade ao homem privado da liberdade com “Entre o luxo e o sofrimento”. Quando
outros MCs trocaram o funk consciente pela putaria, você apresentou como objeto de desejo
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um garoto meio torto, que é como você se enxerga. A música seria uma forma de fazer
política?
G
Gu
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peess: — No “Segura o garoto” não, porque saiu numa brincadeira, mas meu estilo
de música é político, pois todas as minhas letras têm um pouco de consciência. De fato, não é
aquela consciência da qual os funkeiros dizem: “é um rap consciente”. A música pode estar
dizendo que o cara foi até o banco, assaltou, e matou o vigia. Mas também tenho algumas que
são “conscientes”. Quanto ao Nem, você não está de todo errado. O Nem era alemão, mas, por
mais que fosse um Amigo dos Amigos, eu não tinha raiva dele, porque o via como bandido.
Quando enxergo alguém como bandido, posso não saber detalhes, mas conheço a trajetória: foi
vapor, foi gerente, teve seu sofrimento. Eu o respeito como bandido. Não fiz chacota, não fiz
música contra ele. Já fiz rap contra a facção. Não fiz essa música pra ele, mas pra um bandido
como ele. Poderia ter sido ele.
Ouça a entrevista no Mixcloud
1
“Dez Mandamentos da favela”, fragmento na voz do MC Orelha, e gravação dos MCs Cidinho
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e Doca, ao vivo no Chapadão.
“Dez Mandamentos da favela”, MC Orelha (excerto)
“Dez Mandamentos da favela”, Cidinho e Doca, no Chapadão
2
“Vai tomar de G3”, fragmento na voz do MC Orelha, e gravação do MC G3, ao vivo no
Complexo do Alemão.
“Vai tomar de G3”, MC Orelha (excerto)
MC G3 canta “Vai tomar de G3”
3
“Comando Vermelho”, fragmento na voz do MC Orelha, e gravação do MC Mascote.
“Comando Vermelho”, MC Orelha (excerto)
MC Mascote canta “Comando Vermelho”
4
“Nem tudo que brilha é prata”, fragmento na voz do MC Orelha, e duas gravações do MC
Galo, a segunda, ao vivo no Jacaré.
MC Orelha canta “Nem tudo que brilha é prata”
MC Galo canta “Nem tudo que brilha é prata”
MC Galo canta “Nem tudo que brilha é prata” no Jacaré
5
“Vida na cadeia”, dois fragmentos na voz do MC Orelha, e gravação de Mr Catra.
“Vida na cadeia”, MC Orelha (excerto 1)
“Vida na cadeia”, MC Orelha (excerto 2)
Mr Catra canta “Vida na cadeia”
6
Gustavo Lopes evoca sua reação inicial ao concluir, ainda sem o tamborzão da base, “Na
Faixa de Gaza é assim”.
Caraca, na moral, essa bateu na veia
7
“Na Faixa de Gaza é assim”, com a letra original e produção do próprio MC, hoje com mais
de dez milhões de acessos no Youtube.
Na faixa de gaza é assim (Santa Rosa)
Na Faixa de Gaza é só homem bomba, na guerra é tudo ou nada,
Várias titânio no pente, colete à prova de bala.
Nós desce pra pista pra fazer o assalto, mas tá fechadão no doze,
Se eu tô de rolé, seiscentas, bolado, perfume importado, pistola no coldre.
Mulher, ouro e poder, lutando que se conquista,
Nós não precisa de crédito, nós paga tudo à vista.
É Ecko, Lacoste, é peça da Oakley, várias camisas de time,
Quem tá de fora até pensa que é mole viver do crime.
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Nós planta humildade pra colher poder, a recompensa vem logo após,
Não somos fora da lei porque a lei quem faz é nós.
Nós é o certo pelo certo, não aceita covardia,
Não é qualquer um que chega e ganha moral de cria.
Consideração se tem pra quem age na pureza,
Pra quem tá mandado o papo é reto: bota as peças na mesa.
Quantos amigos eu vi ir morar com deus no céu,
Sem tempo de se despedir, mas fazendo o seu papel.
Por isso eu vou mandar, por isso eu vou mandar assim:
Comando Vermelho, RL até o fim.
É vermelhão desde pequeninim,
Só menor bolado nas favelas do Baixim.
Não dá, não dá, não dá não, por isso eu mando assim:
Comando Vermelho, RL até o fim.
É vermelhão desde pequeninim,
Só menor bolado nas favela do Baixim.
Nós tá que tá, hem? Caralho!
FFO
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2012 | 05 | 26
Tamara Siqueria
Nossa não é atoaa que se toornou esse grande MC’
Talento,carisma e inteligenciia –
Pra mim ele é simplesmente FODAEu choro ouvindo o Orelha
Eu sorio ouvindo o Orelha
Faz parte de mim e isso ninguém pode tirar –
Parabéns mlq tudoo de maravilhosoo mt mt mais sucesso haa e outra coisaa vc ja é mais que
um Luan Santana!
Msm não tendo contato mais com vc continuoo sendoo sua fã e poor onde eu vou levandto sua
bandeira – pra mim ORELHA É O REI – BJ SUA FÃ N° 1
O
2012 | 05 | 28
http://www.proibidao.org/gustavo-lopes-o-mc-orelha/
13/05/19 21:26
2012
Rafael
| 06 Lino
| 25
2012 | 07 | 24
Davidson Mendes
biiel
Mlk bom canta muito,mas a musica mais foda dele é “PESADÃO NAMORAL”
Canta muito.
esse cara ér mt mt foooda eu e meu primo sonhamo em conhecer vc cara vc canta mt
A realidade tem que ser mostrada.
2013 | 06 | 02
thiago jorge rosa dos santos
SOU FÃ DESSE CARA PRA MIM UM DOS POUCOS VERDADEIROS NO FUNK, SEMPRE
CONTUDENTE E FIRME NAS PALAVRAS E UMA DAS REDAÇÕES MAIS COERENTES DO
FUNK……..ALÉM DA ADMIRAÇÃO DE AMIGO E COMPANHEIRO DE PROFISSÃO, SÃO PALAVRAS
SINCERAS DE FÃ TANTO ORELHA QUANTO GELOUKO E TAMBEM O PALOMBINI PARABÉNS.
BJÃO NO CORAÇÃO DE CADA UM DE VCS FIQUEM COM DEUS.
PRAGA.
Carlos Palombini2013 | 06 | 02
Praga, você disse tudo o que eu penso do Gustavo. E ainda me fez lacrimejar!
2013 | 12 | 22
washington
e nois mc orelha cvrl até o fim caralho
2014 | 02 | 22
washington
e isso ai orelha
site por L_ar a partir do tema Protean de Landau Reece
http://www.proibidao.org/gustavo-lopes-o-mc-orelha/
13/05/19 21:26