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O LUGAR DO CONTESTADO NA HISTÓRIA DO BRASIL Márcia Janete Espig Alexandre Assis Tomporoski Delmir José Valentini Paulo Pinheiro Machado Rogério Rosa Rodrigues (ORGANIZADORES) O Lugar do Contestado na História do Brasil Copyright © 2022, Márcia Janete Espig, Alexandre Assis Tomporoski, Delmir José Valentini, Paulo Pinheiro Machado, Rogério Rosa Rodrigues. Copyright © 2022, Editora Milfontes. Rua Carijós, 720, Lj. 01, Ed. Delta Center, Jardim da Penha, Vitória, ES, 29.060-700. Compra direta e fale conosco: https://editoramilfontes.com.br editor@editoramilfontes.com.br Brasil Editor Chefe Prof. Dr. Bruno César Nascimento Conselho Editorial Prof. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU) • Profª. Drª. 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Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora. Revisão De responsabilidade exclusiva dos organizadores Capa Imagem da capa: Gerson Witte Semíramis Aguiar de Oliveira Louzada - aspectos Projeto Gráfico e Editoração Bruno César Nascimento Impressão e Acabamento Maxi Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L951 O Lugar do Contestado na História do Brasil/ Márcia Janete Espig, Alexandre Assis Tomporoski, Delmir José Valentini, Paulo Pinheiro Machado, Rogério Rosa Rodrigues (organizadores) Vitória: Editora Milfontes, 2022. 586 p.: 23 cm. ISBN: 978-65-5389-004-6 1. Movimento do Contestado 2. História do Brasil 3. Movimentos sócio-religiosos. I. Espig, Márcia Janete II. Tomporoski, Alexandre Assis III. Valentini, Delmir José IV. Machado, Paulo Pinheiro V. Rodrigues, Rogério Rosa VI. Título. CDD 904 Sumário Prefácio ................................................................................................................. 9 Cláudia Viscardi (UFJF) Apresentação: Diálogos do Contestado com o Brasil..........................15 Alexandre Tomporoski, Delmir José Valentini, Márcia Janete Espig, Paulo Pinheiro Machado & Rogério Rosa Rodrigues Ressonâncias do tempo: processo criativo da ilustração para o VI Simpósio Nacional sobre o Contestado.................................................. 25 Gerson Witte I PARTE: Universo religioso e insurgências religiosas no Brasil........................33 O protagonismo feminino no messianismo no extremo sul do Brasil: uma análise sobre Jacobina Mentz Maurer .......................................... 35 Daniel Luciano Gevehr O mundo do Contestado visto do Belo Monte de Antônio Conselheiro........................................................................................................ 61 Pedro Lima Vasconcellos Caldeirão: uma ideia para adiar o fim do mundo.............................. 81 Francisco Régis Lopes Ramos Peregrinos e demonófobos: uma nova interpretação sobre Pau de Colher ................................................................................................................ 101 Filipe Pinto Monteiro João Maria de Agostini e a tradição dos padres do deserto ......... 125 Cleber Duarte Coelho A santa religião do Contestado: contribuição para um debate....145 Márcia Janete Espig Monges e frades: rezas e curas na região do Contestado ................171 Delmir José Valentini & Josiane Suelen Kamin II PARTE: O passado revisitado: reflexões sobre historiografia e fontes históricas.........................................................................................................183 Os militares e a questão agrária no Contestado...............................185 Paulo Pinheiro Machado O pedido de habeas corpus de Deocleciano Martyr a favor de Francisco Paes de Farias ............................................................................201 Ana Crhistina Vanali O nevoeiro do epílogo da guerra: o judiciário em Curitibanos (SC)....................................................................................................227 João Felipe Alves de Morais Fotografias e representações: os caboclos nas teses sobre o Contestado ......................................................................................................247 Vanderlei Cristiano Juraski Ética do testemunho: para que a barbárie da guerra do Contestado não se repita ....................................................................................................269 Sandro Luiz Bazzanella O poeta e o historiador: reflexões sobre linguagem e messianismo na obra o Último Jagunço, de Euclides Felippe.................................291 Rui Bragado Sousa III PARTE: A guerra contínua: conflitos e disputas políticas pré e pós-Contestado..........................................................................319 A Lumber Company e as disputas políticas no pós-Contestado (1916-1920)........................................................................................321 Alexandre Assis Tomporoski Conflitos no pós-Contestado: o movimento dos Alonsos (Timbó Grande, 1942) ................................................................................................. 341 Évelyn Bueno George Bleyer: estudos sobre os indígenas na região do Contestado.. .................................................................................................... 353 Eloi Giovane Muchalovski & Flavio Braune Wiik O lugar da Guerra da Pitanga na história dos movimentos sociorreligiosos: um monge entre indígenas Kaingang em 1923, Paraná ............................................................................................................... 373 Grazieli Eurich No limiar da fronteira: luta pela terra e direitos de propriedade no Território Federal do Iguaçu (1943-1946)............................................ 391 Viviani Poyer IV PARTE: História pública e ensino de História: diálogos sobre o Contestado..................................................................................................417 A Guerra do Contestado por meio do samba-enredo Contestado, 100 anos da Insurreição Xucra, da Protegidos da Princesa (2012): usos do passado e o ensino de História...........................................................419 Fabiolla Falconi Vieira Relíquias do Contestado: a produção de material didático sobre a guerra sertaneja .............................................................................................437 Felipe Augusto Werner dos Reis O mediador dos tempos: a Guerra do Contestado entre o passado e o presente .........................................................................................................453 Rogério Rosa Rodrigues Diálogos estéticos entre imagem e história: a Guerra Sertaneja do Contestado pelas aquarelas de Manih .................................................. 471 Rita Inês Petrykowski Peixe, Márcia Elizabéte Schüler & Analice Dutra Pillar A região do Contestado nas fotografias de August Suiter: o rural, o cotidiano e a ferrovia (1907-1911) ...........................................................495 Luiz Carlos da Silva Repertórios de ação e atores sociais no território do Contestado.....................................................................................................517 João Cláudio Casara V PARTE: Ensinar História em território do Contestado: relatos de professores..................................................................................................541 Ensino de História fora da caixa: uma experiência com aprendizagens significativas sobre a Guerra do Contestado ......543 Mateus Henrique Torcatto O Contestado em imagens e letras ......................................................... 551 Roseclei Golynski Nogueira O Contestado, vídeos e educação: uma ideia na cabeça..................559 Arthur Luiz Peixer Os bastidores da arte no coração do Contestado.............................569 Hellen Heine Barreto Ferreira Sobre os autores.............................................................................................579 Peregrinos e demonófobos: uma nova interpretação sobre Pau de Colher1 Filipe Pinto Monteiro O município de Casa Nova (BA), na região do Baixo-Médio São Francisco, recebeu a visita de um beato peregrino em meados da década de 30 do século XX. Severino Tavares, como foi reportado por jornais baianos, perambulou pelo semiárido nordestino e nas suas andanças passou por várias localidades, incluindo um povoado chamado Pau de Colher,2 nos sertões casanovenses (POMPA, 1995, p. 102). Profetizava ele uma “chuva de sangue” a inundar o sertão e que apenas os “bem-aventurados” sobreviveriam ao apocalipse (O POVO, 1935; DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1938; O JORNAL, 1938). Ali, onde, presume-se, esteve entre 1932 e 1934, suas homilias causaram enorme alvoroço. Anos antes, no Ceará, Tavares conhecera José Lourenço Gomes da Silva, líder de um grupo de penitentes que se autoflagelavam e um dos homens de maior influência de Padre Cícero. Zé Lourenço havia recebido do sacerdote, em 1926, um pequeno sítio conhecido como Caldeirão dos Jesuítas, ou Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, localizado no sopé da serra do Araripe, no município do Crato, Ceará (SILVA, 2009, p. 61). Líder carismático, tornou-se ele próprio fonte de veneração intensa, o que possibilitou o estabelecimento de uma hierarquia entre seus seguidores e a delegação de atribuições específicas aos mais próximos. As habilidades oratórias de Severino Tavares lhe renderam a missão de aliciar fiéis para o Caldeirão. 1 Este trabalho contou com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 2 O nome faz referência a uma árvore ou arbusto, planta típica da caatinga, de casca grossa e resistente, muito utilizada para a confecção de colheres de pau. Ver: Estrela (1998). 101 O Lugar do Contestado na História do Brasil Em Pau de Colher, Severino impressionou muito os moradores. Puxava textos inteiros pela memória, apresentava crises, entrava em êxtases e tinha visões proféticas sobre o fim do mundo (HISTÓRICO DE PAU DE COLHER, 1983). Dizia-se o Espírito Santo ou a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, colocando-se em lugar de destaque ao lado das figuras de Padre Cícero e Zé Lourenço (O PHAROL, 1938). Recomendou a todos pelo menos uma visita ao Caldeirão para melhor se inteirarem dos ensinamentos proféticos (MELLO, 1991, p. 52-59), e, logo, a ideia de peregrinação ao Caldeirão ganhou força na comunidade (O JORNAL, 1938). Com a destruição do Caldeirão em fins de 1937, os moradores de Pau de Colher – comunidade que ainda não havia se revelado uma ameaça expressiva, mesmo coexistindo com Caldeirão desde 1934 – receberam a visita inesperada de outro beato, Quinzeiro. Seu Quim, ou Seu Joaquim, como também era chamado, intensificou os preparativos para o projeto original de peregrinação àquela antiga comunidade, agora com o objetivo de reerguê-la. Compenetrados na missão de levantar Caldeirão uma vez mais, os habitantes de Pau de Colher criaram para si um mito muito particular e intrigante: era possível a construção do paraíso terreal no Ceará. Lá uma personagem semelhante a um messias haveria de retornar, e uma era marcada pela paz, prosperidade e concórdia haveria de romper.3 Com essa constatação, a interpretação de Pau de Colher como uma espécie de extensão do Caldeirão, como se fosse uma simples etapa do movimento que se sucedeu no Ceará, sob o comando de Zé Lourenço, se tornou uma abordagem corriqueira nos estudos antecedentes a este. Essa perspectiva permitiu uma confrontação muito proveitosa entre as duas irmandades e revelou importantes crenças e valores compartilhados por ambas. 3 No Brasil, algumas das mais valiosas reflexões sobre o retorno do messias – aqui especificamente na pessoa de D. Sebastião, em meio ao catolicismo popular, que incorporou o sebastianismo de Portugal – podem ser encontradas nas obras de Jacqueline Hermann (2001; 2004). Para a tipificação histórica do conceito de messias, ver: Kohn (1950), Talmon (1992), Lanternari (1994a), Bruce (1995) e Bobsin (2008). 102 Filipe Pinto Monteiro Nós, por outro lado, pensamos que os integrantes de Pau de Colher criaram uma utopia escatológica única, e, para alcançála, novos padrões de comportamento autônomos, criativos e violentos emergiram, estabelecendo uma fronteira mais definida com a comunidade do Caldeirão. Dois importantes fatores que analisamos mais à frente nos oferecem dados essenciais para a defesa da nossa hipótese autonomista, por assim dizer. O primeiro foi a gestação da esperança da peregrinação dos moradores de Pau de Colher para o Caldeirão, algo que funcionou não como um elemento de desarticulação (tal qual parece ser a hipótese mais provável nos estudos precedentes), mas sim de coesão e integração do grupo, ainda que preservasse seu caráter de deslocamento, circulação e transformação. A jornada nunca aconteceu. Foi interrompida após o primeiro assalto à comunidade, em janeiro de 1938, como também veremos adiante. A força simbólica e a possibilidade concreta da viagem, entretanto, estimularam os integrantes do movimento a adotarem regras e modelos de comportamento que vamos explicitar. Viajar ao Caldeirão se tornou, em essência, sinônimo de salvação e redenção. Aqueles que não consentissem com esse propósito – e não foram poucos – eram invariavelmente considerados impuros, blasfemos, ímpios, influenciados por forças malignas e ameaçadoras constantes do imaginário popular do sertão. O segundo fator, portanto, foram o sentimento de frustração e a reação violenta dos moradores da comunidade diante da manifestação de entidade(s) demoníaca(s), um subproduto do projeto de peregrinação. A agressividade só apareceu nos momentos finais do movimento por razões que também vamos apontar. Esses são os elementos que, em nosso entendimento, diferenciam Pau de Colher dos movimentos anteriores, identificados em Juazeiro do Norte (CE) e, sobretudo, no Caldeirão. 103 O Lugar do Contestado na História do Brasil Repensando a peregrinação A questão da peregrinação dos habitantes de Pau de Colher para o Caldeirão não é um assunto inédito entre os especialistas do assunto. O grande evento aguardado por toda a comunidade, como dissemos, nunca se concretizaria. A lembrança viva de Canudos, a tragédia recente do Caldeirão, o rápido crescimento de Pau de Colher atraindo sertanejos de vários povoados da região e, por fim, os atos violentos de seus integrantes – estes analisados mais à frente – levaram as autoridades a se mobilizarem. Uma primeira diligência formada por quatro praças da Polícia Militar da Bahia e 30 civis, sob o comando do terceirosargento e comandante do destacamento geral da Polícia Militar da Vila de Casa Nova, Geraldo Bispo dos Santos, foi enviada à comunidade em 10 de janeiro de 1938 e derrotada. Um segundo destacamento – a Brigada Militar de Pernambuco, comandada pelo temido caçador de cangaceiros capitão Optato Gueiros 4 – alcançou a comunidade em 19 de janeiro do mesmo ano, quando esta foi definitivamente eliminada (DUARTE, 1972). A peregrinação à comunidade de Zé Lourenço foi, portanto, uma utopia abortada. A força e a importância da expectativa de retorno ao Caldeirão, entretanto, geraram em Pau de Colher uma estrutura comunitária substancialmente distinta das outras que lhe serviram de inspiração. A ideia essencial da peregrinação, os seus sentidos e suas significações, as suas injunções e consequências, ainda que não tenham se tornado uma realidade concreta no que tange ao deslocamento físico de pessoas, permanecem um valioso objeto de estudo, o qual não se pode ignorar. Raymundo Duarte, professor universitário baiano e o primeiro a estudar o caso de Pau de Colher, sob orientação de Tales de Azevedo, afirmou que os esforços empreendidos na 4 Optato Gueiros foi o grande nome da repressão a Pau de Colher. Nasceu em 1894 em Palmares, sertão de Pernambuco. Ingressou nas forças policiais do Pará, mas em 1915 voltou à polícia de Pernambuco. Em 1917 se tornou oficial da Força Volante de Nazaré, em que foi duas vezes nomeado comandante-geral, tendo sob suas ordens mais de 800 homens. Combateu Lampião, enfrentou a Coluna Prestes e o movimento de Pau de Colher. Ver: Gueiros (1952) e Grunspan-Jasmin (2006). 104 Filipe Pinto Monteiro preparação da viagem ao sítio arrasado do Caldeirão tiveram impactos decisivos nos integrantes do movimento ao abandonarem o objetivo de estabelecer uma organização definitiva no lugar em que viviam. Entraram, assim, em um período que classificou, oportunamente, de transitoriedade (DUARTE, 1972, p. 334). Esse é um conceito-chave para todos os trabalhos subsequentes. Outro autor, Roberto Malvezzi, reproduz a fórmula de Duarte (1972) e enxerga em Pau de Colher não “um fim em si mesmo”, mas a antessala da marcha para o Caldeirão. Zé Lourenço, desaparecido desde os acontecimentos de 1936, haveria de voltar com a reconstrução de sua próspera irmandade. Diz o teólogo: “Caldeirão, então, era uma ‘saudade’ ” do povo. No momento oportuno ocorreria o deslocamento. Havia em Pau-de-Colher “um caráter transitório, preparando o povo para a marcha até o Crato, Ceará” (MALVEZZI, [s.d.], p. 4). Tentamos aqui nos contrapor a essas opiniões. De acordo com nossos levantamentos, a peregrinação foi sim uma realidade, sempre como um projeto vindouro, porém as mudanças pelas quais o plano passou ao longo da existência do movimento tiveram um significado bem diferente do que os autores mencionados anteriormente apontaram. Uma de nossas hipóteses, talvez a mais importante, é a que estabelece a redefinição do conceito de transitoriedade, tal como definiu Duarte em diversos de seus textos. Em nosso juízo, a iniciativa de peregrinar ao Caldeirão não tira de Pau de Colher a sua capacidade de inovação, a sua autonomia no campo da criação religiosa. Pelo contrário, serve como crença primordial, como uma forma de manter seus membros ativos, alimentando uma utopia que os definia como o grupo de eleitos. De maneira bastante clara, trabalhos como o de Duarte, em geral, entreveem uma forma de sujeição das ações e atividades de Pau de Colher ao Caldeirão. Ainda que essa abordagem, pioneira, traga a possibilidade, muito rica por sinal, de revelar laços inquebráveis entre os dois movimentos, ignora, por outro prisma, características novas que foram se agregando ao projeto inicial de peregrinação e que mudaram completamente a sua fisionomia. 105 O Lugar do Contestado na História do Brasil Aparentemente, há certa contradição nos trabalhos de pesquisadores que se mantiveram na linha de raciocínio iniciada por Duarte. Digo isso de maneira provisória, tendo em mente que, se por um lado eles demonstraram e descreveram, por meio da coleta de testemunhos e de documentos variados, de modo pormenorizado, ritos e crenças religiosos diferenciados na comunidade, insistiram na tese de que o movimento de Pau de Colher não apresentava nada além de características transitórias efêmeras, sendo assim classificado sempre como uma experiência instável e fugidia. Tentamos, portanto, confrontar ideias que não admitem uma autonomia de gestos, crenças, atitudes e atuações de caráter religioso e mítico que se estabeleceu e foi se renovando ao longo dos quatro anos de história de Pau de Colher. O comportamento peregrinatório possui sentidos variados e liga-se a determinado mito ou rito religioso dos quais se servem as pessoas que participam do processo de deslocamento. Peregrinar é sinônimo de movimento e caminhada. Também representa uma prova espiritual e física e, em certas ocasiões, recebe uma conotação de festa e celebração. Geralmente, a marcha em si, isto é, o período de deslocação por dado espaço físico de curta ou longa duração, recebe um sentido próprio, distinto do desfecho da viagem. A rota a ser vencida é como um sacrifício, uma espécie de ascese, uma “oferenda a Deus, aproximando o peregrino do sacrifício que é fonte de salvação – a do Cristo no Calvário” (SOT, 2002, p. 354). Carlos Alberto Steil (1996, p. 95-96), servindo-se de Alphonse Dupront, retoma a ideia de que “a peregrinação é uma terapia no espaço”, como se abrisse um campo de experiências no qual os romeiros pudessem entrar em contato com a intimidade de seu mundo interior. O autor analisa a romaria de São Manuel ao Santuário de Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Apesar do caráter regular e anual dessa travessia, alguns apontamentos do pesquisador podem servir ao nosso caso de estudo, que prometia, de modo inverso, um sentido não repetitivo, definitivo e sem volta da travessia religiosa. Steil (1996) observa, por exemplo, que os romeiros alimentavam a esperança de que no epicentro da cidade de Bom 106 Filipe Pinto Monteiro Jesus encontrariam a salvação de suas almas, a purgação dos pecados pessoais e a realização de seus sonhos. Todavia, a romaria em si deveria ser um ritual à parte, uma performance particular que demandava organização e comprometimento. Diz o autor: aqueles homens e aquelas mulheres assumiam a romaria não apenas como um meio para o cumprimento de uma promessa ou a busca de uma graça ou milagre, mas como um fim que se realizava na própria peregrinação. Assim, para além das motivações, que eram reais e decisivas para que se colocassem em movimento, a própria peregrinação era vivida como um ato que tinha um propósito em si mesmo. (STEIL, 1996, p. 109). Em Pau de Colher, como afirma Duarte (1972), as ações dos participantes da comunidade revelavam uma aspiração comum, a ida para o Caldeirão. Para isso, organizaram-se. “Todos tinham reservada uma alpercata de xilé à espera do dia da viagem” (DUARTE, 1972, p. 334), aponta o autor. A própria seleção antecipada daqueles que deveriam entrar para a comunidade indicava o seu caráter preparatório. As diversas regras ditadas por Severino Tavares e depois implementadas e modificadas pelos integrantes da comunidade, especialmente pelo líder José Senhorinho Costa, que se tornou amigo de Severino, funcionavam como um mecanismo de depuração e organização antes da jornada. Eram medidas necessárias. Caso contrário, os caboclos não poderiam se “apresentar a Deus” no Caldeirão (DUARTE, 1969, p. 9). Os integrantes da comunidade convenciam-se, assim, da necessidade de preparação e aplicação imediata dos ensinamentos e ditames antes da viagem, que não ocorreu. Ao longo desse período, portanto, a possibilidade de peregrinar ao Caldeirão criou o que Victor Turner (2008) chamou de communitas normativa. Esta se diferenciava de outra, a communitas existencial, ou espontânea, caracterizada por uma concepção da existência humana desestruturada e livre. A normativa, por sua vez, se constituiria como uma rede de relações sociais: sob a influência do tempo, da necessidade de mobilizar e organizar recursos para manter os membros de um grupo vivos e prosperando 107 O Lugar do Contestado na História do Brasil e a necessidade de controle social entre aqueles membros que buscam esta e outras metas coletivas – a communitas original e existencial é organizada num sistema social permanente. (TURNER, 2008, p. 158). A definição de Turner (2008), a princípio, não estaria de acordo com a própria natureza inconstante da ideia de peregrinar, afeita a mudanças e transformações. Afinal, estamos falando de pessoas transferindo-se de um local para outro, afastando-se de uma área de origem e aproximando-se de um novo destino, permitindose vivenciar novas experiências religiosas e reveladoras, mesmo que apenas como um ideal futuro. A sua concepção de communitas normativa, entretanto, arquiteta uma forma muito singular de ver os processos sociais. Os empreendimentos sociais seriam, no seu entender, dependentes tanto de movimentos quanto de estruturas, tanto de persistência quanto de mudança. Como resultado de uma negociação entre arranjos estacionários e fluxos contínuos, seriam concretos, porque dinâmicos. Há que se ressaltar que, para os sertanejos baianos, o deslocamento para o Caldeirão era uma expectativa real, viva e ansiosamente aguardada. Aparentemente, eles nunca negligenciaram essa possibilidade. Caso contrário, não teriam se preparado com tanto afinco. Como resultado, comportamentos novos e criativos foram criados e pensados para se alcançar esse propósito. Na communitas de Senhorinho, o tempo preparatório para a viagem foi marcado por votos de penitência e homenagens aos santos, rezas eram intercaladas com cantos e benditos, como “Maria, valei-me”, “ato da contrição”, entre outros (DUARTE, 1997, p. 136). Segundo Turner (2008), a communitas, tal como a descreve em sua forma normativa, seria um meio de interligar diversidades e superar divisões entre grupos e indivíduos. Não obstante, também libertaria o indivíduo de suas obrigações cotidianas, oferecendo-lhe a capacidade “do livre arbítrio e, dentro dos limites da sua ortodoxia religiosa, constitui para ele um modelo vivo de fraternidade humana” (TURNER, 2008, p. 193). Trabalhar a terra, plantar e colher o sustento da família 108 Filipe Pinto Monteiro eram algumas dessas “obrigações cotidianas” abandonadas pelos moradores de Pau de Colher. Segundo Duarte (1997, p. 135), havia despreocupação crescente para com as atividades econômicas que iam garantir a subsistência. O grupo se mantinha graças ao esforço de lavradores como José Camilo, Luis Dentão e o próprio Senhorinho, que tinha armazenado em seus depósitos produtos de primeira necessidade. (DUARTE, 1997, p. 135). Os peregrinos de Pau de Colher, ou melhor, os pretendentes à peregrinação, imaginavam serem conduzidos de um tempo para um outro. Acreditamos que a irrupção de uma temporalidade sagrada no longo percurso da Bahia para o Ceará se relaciona aqui com a fábula milenarista (LANTERNARI, 1994b, p. 303-324; MOTA, 2008, p. 642-645). É a esperança de viver no Caldeirão ao lado de Zé Lourenço que faria emergir um período de paz, liberdade e felicidade, antes do Apocalipse – uma temporalidade que, à luz dos textos bíblicos, teria, em geral, a duração de mil anos.5 Duarte (1997), por exemplo, diz que Severino, ao transitar por Pau de Colher, afirmava que, quando Deus andou no mundo, assegurou: “Adeus mundo velho, até mil que dois mil não há de chegar” (apud DUARTE, 1997, p. 126). A crença no advento do milênio – uma forte tradição escatológica de origem judaico-cristã – trazia, em essência, uma novidade capital: uma sequência temporal com começo e fim a se verificar na história do mundo (TALMON, 1968; DELUMEAU, 1997), e não mais em uma realidade exterior às comunidades humanas, como a observada nas sociedades ditas arcaicas e primitivas da Europa, da Ásia e das Américas, que viviam sob a regulação de um tempo considerado cíclico e reversível (ELIADE, 2001). Aqui essa sequência se confunde com o comportamento 5 Não é consenso entre os teólogos o tempo de duração do reino quiliasta na Terra, mas, de acordo com fontes bíblicas e apócrifas, é presumível que se prolongue por mil anos. Durante o referido reinado, Satanás será acorrentado por um anjo, impedido de atuar sobre os homens, e Cristo ressuscitará com seus mártires e confessores. Ao fim de seu governo, Satanás será solto, reagrupará suas forças, porém uma vez mais será vencido pela intervenção divina e lançado ao lago de enxofre. Cumpre-se, assim, o juízo universal, com a ressurreição de todos os mortos e a condenação dos pecadores. Ver: Woschitz (2000). 109 O Lugar do Contestado na História do Brasil peregrinatório, que a coloca em marcha, lhe serve de combustível e, de acordo com Turner (2008), incentiva os viajantes a reencenar as “sequências temporais sacralizadas e permanentes pela sucessão de eventos nas vidas de deuses encarnados, santos, gurus, profetas e mártires” (TURNER, 2008, p. 193). Turner (2008) também encontra entre o elenco de aspirantes a communitas movimentos religiosos descritos na contemporaneidade como milenaristas e messiânicos. Seus integrantes constantemente renunciam aos bens materiais e adotam a abstinência sexual e a padronização da ornamentação, da vestimenta. Em Pau de Colher, o sexo era proibido, mesmo entre casais. Todos perambulavam de preto, em luto pela morte de Padre Cícero, ocorrida em 1934. Para o autor, nessas ocasiões os profetas carismáticos reafirmam os valores da communitas, muitas vezes de formas extremas, e criam um modelo comportamental representado de maneira seletiva. Em Pau de Colher, essas atitudes eram medidas necessárias para a eleição daqueles que desejavam abraçar o projeto de peregrinação ao Caldeirão. A jornada, portanto, era tomada pelos peregrinos não apenas como um modo de cura do espírito e redenção dos pecados, mas, em última instância, um esforço que os levaria ao momento crucial da redenção ao Jesus libertador ou a alguém que apresentasse forte ligação com ele, como se dizia de José Lourenço (O JORNAL, 1938). Raimundo Estrela, médico que acompanhou os combatentes militares em Pau de Colher, afirma: é um assunto a discutir, esse de se ter elegido o Sítio do Caldeirão como a terra da promissão, onde se assentava num trono o papa negro do messianismo emergente no Ceará: o beato José Lourenço [...]. Surpreendeu a atitude tomada de eleger o sítio do Caldeirão, não a meca que o Juazeiro do Padre Cícero representava e continuava sendo, mas o reino prometido da Salvação! (ESTRELA, 1998, p. 81). Muitos valores e crenças de Juazeiro professadas no Caldeirão, o reino celeste, foram transmitidos a Senhorinho por intermédio das pregações de Severino, profeta dos sertões, e diversos articulistas 110 Filipe Pinto Monteiro continuaram a ressaltar o eterno eco da voz de Zé Lourenço – o messias – em Pau de Colher: no seio de uma gente que vive inteiramente ás escuras, não é de admirar que a voz de um beato Lourenço – voz decerto carregada de uncção apostolar e provavelmente cheia de accentos apocalypticos – consiga despertar todo um movimento mystico de revolta. (GAZETA DE ALAGOAS, 1938). A conclusão da caminhada dos moradores de Pau de Colher se daria com o milagre da reconstrução do Caldeirão e da volta de José Lourenço. A realização desse feito assenta-se em concepções religiosas cristãs. Caldeirão é a terra do Éden, um lugar paradisíaco, o espaço, por excelência, da bem-aventurança, onde a boa-nova será transmitida a todos os crentes, e o beato Lourenço, o enviado do Senhor, servo e penitente, comandará a luta contra as forças obscuras e sombrias do mundo profano. Observa-se que os conselhos de Severino encontraram grande receptividade na comunidade, e a peregrinação, ou, no nosso caso, a sua ideia essencial, como um propósito coletivo futuro, desenvolveu-se posteriormente à sua passagem pelo povoado e gerou novos padrões de comportamento para separar aqueles que poderiam continuar na marcha daqueles que decidiram permanecer sob influência do anticristo, numa terra maldita, seca e miserável. Embebidos por um catolicismo multifacetado, popular e, por meio de agregados diversos, inegavelmente violento, furioso e coercitivo, os membros de Pau de Colher despertaram inquietação entre as autoridades. “Havia o conhecimento da preparação de uma marcha dos místicos para as cidades vizinhas, o que poderia resultar num trágico confronto”, escreveu Manoel de Souza Ferraz (apud FERRAZ, 1978, p. 471), conhecido como Manoel Flor, ex-prefeito de Floresta (PE) e subcomandante da volante pernambucana que atacou a comunidade. O agrupamento preparava-se, assim, para a grande peregrinação ao Caldeirão e, para isso, tentou reunir grande número de fiéis. Como a meta final era a comunidade de Zé Lourenço, inúmeros pesquisadores seguiram o fértil caminho 111 O Lugar do Contestado na História do Brasil trilhado por Duarte, que entrevia em Pau de Colher uma experiência indistinguível daquela do Caldeirão, como se fosse uma realidade momentânea, passadiça e não tivesse somado a essa característica específica e bastante curiosa outros significantes próprios, como os que veremos a seguir. Violência e demonização Uma onda de violência descomedida, uma grande explosão de agressividade, foi documentada nas primeiras semanas de 1938 no interior do município de Casa Nova, nos arredores de Pau de Colher. Os responsáveis, tal como relatado por jornais da época e documentos privados, eram integrantes do movimento fanático de Pau de Colher. Dissemos anteriormente que toda a preparação para a peregrinação ao Caldeirão demandou intenso cuidado e zelo por parte dos que se aventurariam pela caatinga. Só entrariam no grupo aqueles que aceitassem as regras, obedecessem aos ditos religiosos, acreditassem na salvação. Posicionamentos contrários não eram admitidos, e sim interpretados como uma forma de manifestação de poderes demoníacos e combatidos com as cacetadas. Para Duarte (1972, p. 334-335): 0s homicídios e a grande disposição para a luta entre os ‘fanáticos’ encontram explicação no próprio dinamismo religioso do grupo; nada mais eram do que um mecanismo de repressão e seleção. Matar os que estavam ‘virando fera’ e os que eram contra a causa significava obter maiores possibilidades e melhores dias, pois a eliminação dos maus aumentava as credenciais para os bons poderem atingir o ‘novo reino’ tão almejado: o sítio do ‘Caldeirão’. (DUARTE, 1972, p. 344-335). Essa postura agressiva que se sucedeu na comunidade teve repercussão imediata entre as autoridades e também nos veículos de comunicação. Por causa de muitas dúvidas levantadas, já se sabe hoje, pelos estudos de Duarte, Pompa e outros pesquisadores, que esses episódios não eram apenas parte do discurso para incriminar o grupo e justificar uma ação militar organizada. De fato, aconteceram, e com o nosso trabalho procuramos fundamentar sua razão de ser em uma concepção de mundo demonizada por 112 Filipe Pinto Monteiro parte dos agressores. Assim sendo, os que preferiam permanecer vivendo em um mundo profano, marcado pela presença e atuação da besta-fera, do diabo, sofreriam consequências terríveis. No dia 4 de janeiro de 1938, ocorreu o primeiro dos ataques de um grupo de integrantes do movimento a um lugar vizinho, a Fazenda da Barra, distante uma légua ao sul do povoado de Pau de Colher. O jornal noticiava: um morador de S. José, município de Casa Nova, informou-nos que José da Barra, e um irmão foram assassinados e que outros dois também tinham sido victimas da sanha dos fanáticos. (O PHAROL, 1938). O sargento Geraldo Bispo dos Santos, em telegrama ao coronel Tito Lamego, comandante-geral da polícia militar baiana, também relata: havendo chegado ao meu conhecimento que um crescido numero de indivíduos, não só deste como dos municípios visinhos de S. Raymundo Nonato, Estado do Piauhy e de Remanso, deste Estado, estavam se reunindo no dito logar para praticar actos e cultos religiosos sob a direção de um individuo natural do Estado do Ceará, geralmente conhecido pela designação de consilheiro Severino, os quaes desde o dia 4 de janeiro, passando os limites do fanatismo religioso para o de criminalidade, estavam commetendo assassinatos, roubos, incêndios e depredações outras nas propriedades dos fazendeiros e criadores mais próximos de Pau de Colher. (SANTOS, 1938). Quatro dias depois da primeira incursão, a 8 de janeiro, outro massacre deu-se no sítio de um indivíduo de nome Janjão, em Olho D’água, no Piauí (O PHAROL, 1938). Esses foram os dois episódios que marcaram a população de Casa Nova, não obstante outros também tenham sido registrados pelos jornais, antes e depois de ambos, mas ao que parece não investigados. As incursões dos sertanejos pela região geraram muita apreensão na sede do município, e rapidamente se espalhou o boato de que já estavam planejando uma ação de maior vulto: os rebanhos eram roubados, as propriedades devastadas e seus donos capturados. Também havia o conhecimento da preparação de uma marcha dos místicos para as cidades vizinhas, o que poderia resultar num trágico confronto. As cidades importantes 113 O Lugar do Contestado na História do Brasil mais próximas, como Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia provavelmente seriam atingidas em primeiro lugar; temia-se que os desmandos e sobressaltos decorrentes fossem infinitamente superiores aos desencadeados por Lampião. (FERRAZ, 1978, p. 471). Os grupos de assalto partiam de Pau de Colher para tentar angariar o maior número possível de fiéis, tendo à frente Senhorinho ou um de seus comandados, como Silvério José Camillo (seu sobrinho e segundo em comando), José Vicente, João Baraúna e Ângelo Pio Cabaça (ESTADO DA BAHIA, 1938). Os que não os acompanhassem eram mortos ou levados forçadamente ao acampamento. Aproveitavam a oportunidade também para roubar tudo o que podiam carregar para o reduto, que a cada dia crescia e necessitava de armas e mantimentos – já que nada mais se produzia, afinal estavam de partida para o Caldeirão. Os estudos anteriores a este entendem que esses episódios tinham por objetivo forçar outras pessoas a participar da irmandade, tendo em vista que os sentidos apocalíptico e salvífico ali gestados anunciavam a proximidade do fim do mundo e todos deveriam expurgar seus pecados. Embora já atestado, o mito messiânico-milenarista de Pau de Colher não justifica, em nossa concepção, o nível de violência empregado de forma sistemática pelos sertanejos. Temos a sensação de que as análises ignoraram toda uma linguagem alegórica, um conjunto de ações performáticas ligadas a uma visão de mundo demonizada, que se manifestou ruidosamente no período mais agudo da trajetória do movimento: nos momentos que antecederam a viagem ao Caldeirão. Após quatro anos de esforços e intensa preparação, apuração e organização, era chegada a hora da jornada e, para que isso se desse a contento, de acordo com os ensinamentos de Severino, ninguém deveria permanecer para trás. As tentativas de convencimento, entretanto, esbarravam na recusa de outros tantos sertanejos que não desejavam abandonar seus lares, suas terras, seus afazeres, gerando frustração generalizada. Suspeitamos que aqueles que aderiram ao movimento e se comprometeram com sua visão de mundo acreditavam na atuação de forças ocultas capazes de impedir ou dificultar a adesão 114 Filipe Pinto Monteiro de sertanejos ao movimento e a conclusão de todo um esforço de organização para a caminhada ao Caldeirão. A certeza da aproximação do Apocalipse forçou os seguidores de Senhorinho a empregarem formas mais persuasivas de convencimento, com respaldo em uma visão negativa e demonizada do universo ao redor de Pau de Colher (CORREIO DO BONFIM, 1938). Há também relatos de episódios em que indivíduos se entregavam deliberadamente ao sacrifício. Um ataque à Fazenda de Santa Cruz, também em Casa Nova, comandado por Quinzeiro em 1938, gerou um auto de processo no Superior Tribunal Federal para apuração das devidas responsabilidades. No relatório final, o ministro Carvalho Mourão escreveu: esse mesmo bando praticou outras mortes, inclusive de alguns membros da própria quadrilha. Consta do inquérito, o que é significativo, que, em geral, as vítimas se entregavam com jubilo ao sacrifício. Eram abençoadas e encomendadas antes de morrer, por Quinzeiro, ajoelhando-se para receberem os golpes dos carrascos, designados pelos chefes do bando. [...] Um dos condenados à morte, cuja execução fora adiada, chegou a suplicar insistentemente ao carrasco designado que o matasse logo; ao que se recusava o bandido, dizendo que só à tardinha o mataria. (apud REVISTA DE CRÍTICA JUDICIÁRIA, 1938). Caldeirão era a terra sagrada por excelência, almejada como único refúgio para a salvação. Naturalmente, tudo o que se encontrava fora desse território santificado deveria ser corrompido e maculado por forças funestas, e estas agiam sobre os homens, convencendo-os, ardilosamente, a não se juntar ao grupo de Pau de Colher para realizar a viagem à antiga comunidade de Zé Lourenço. Havia, portanto, porções, fragmentos, parcelas de espaço qualitativamente diferentes das outras. Mircea Eliade (2001) oferece algumas ideias para a compreensão desse fenômeno: há, portanto, um espaço sagrado, e por conseqüência ‘forte’, significativo – e há outros espaços não-sagrados, e por conseqüência sem estrutura nem consistência, em suma: amorfos. Mais ainda: para o homem religioso esta não homogeneidade espacial traduz-se pela experiência de uma oposição entre o espaço sagrado – o único que é real, que existe realmente – e todo o resto, a extensão informe que o cerca. (ELIADE, 2001, p. 35). 115 O Lugar do Contestado na História do Brasil O resto, as sobras, enfim, a terra que não é consagrada, ou seja, que é dessacralizada, era palco para a manifestação do capeta, entidade constantemente presente no imaginário popular nordestino, de modo geral, e baiano, particularmente. Vinha de longo tempo uma percepção mágica do mundo, construída, de um lado, por elementos populares e, de outro, pela insistência da Igreja e da Inquisição em escarafunchar na colônia “diabos, diabinhos e diabretes” (MELLO E SOUZA, 1986, p. 136). A demonização do mundo, na ótica eclesiástica – e, por consequência, no devocionário popular –, era decorrência da presença de forças sobrenaturais, indomáveis e muito perigosas. A colônia assumia com frequência essas feições de inferno, em que “várias forças trabalhavam no sentido de demonizar o cotidiano”, um espaço privilegiado para a exacerbação de sentimentos e angústias ligados à ação demoníaca (MELLO E SOUZA, 1986). Segundo Mello e Souza (1993, p. 28), com as guerras religiosas, a evangelização europeia expulsara o malvado da Europa para terras longínquas, provocando a migração de humanidades monstruosas e fantásticas para as Índias e as Américas. A nova missão civilizadora passava então pela perseguição às forças ocultas e pela cristianização de continentes rudes e selvagens. Aqui no Brasil, imiscuído entre os seres da natureza, o diabo podia aparecer sob a forma de cavalos, gatos, sapos, macacos, ursos, peixes e cobras (MOTT, 1985, p. 73). As composições diversas serviam ora para assombrar, ora para seduzir os homens. “Sua própria natureza tende à diversidade e às metamorfoses que os tornam imperceptíveis e perigosos” (BASCHET, 2002, p. 322). Em Pau de Colher, essa tradição teve repercussão, e o diabo foi visto em muitas de suas faces. O capitão Maurino Cezimbra Tavares, comandante do esquadrão motorizado da polícia militar baiana (uma das forças mobilizadas para a eliminação da comunidade), relatou ainda em 1938 as operações em Pau de Colher (TAVARES, 1938). Anos mais tarde, em um estudo de criminalidade e saúde pública, área à qual passou a se dedicar, escreveu: 116 Filipe Pinto Monteiro a abstinência completa de carne de qualquer natureza, ao par da guerra que moviam aos porcos, gatos e cães, na superstição de que esses animais se transformassem em serpentes, firma a convicção de que, na realidade, a religiosidade mórbida foi um dos fatores preponderantes, senão o único, da reunião de indivíduos ignorantes, que, sem o discernimento perfeito das cousas santas, se deixaram sugestionar por promessas sómente concebíveis em imaginações doentias. (TAVARES, 1954). O demônio opunha-se, segundo a tradição medieval que cruzou o Atlântico, a todas as figuras e imagens positivas do cristianismo ocidental. A força da simbologia imagética da cruz, por exemplo, era presente e sempre resgatada na irmandade, pois não se tinha dúvida de que “há um gesto de poder infalível, que salva de todos os perigos: o sinal da cruz” (BASCHET, 2002, p. 322). Foram então confeccionados longos cacetes sagrados, com cruzes talhadas, utilizados como instrumentos de punição e castigo divino, voltados para aqueles considerados sob influência do angelus malignus. (O JORNAL, 1938; SANTOS, 1938a; SANTOS, 1938b). Não foi obra institucionalizada da Igreja essa disseminação de crenças sobre o diabo. Costa e Silva (1982) afirma, por exemplo, que para os missionários do século XIX a terra continuava contaminada por inumeráveis iniquidades. Grassavam as maledicências, as libertinagens, os escândalos torpes. Impudicos e avarentos, muitos homens dessa terra, acreditavam alguns sacerdotes, eram ludibriados pelo acusador e se entregavam a uma vida desgraçada. Pensamos que há de certa forma coerência nas posturas violentas dos membros da irmandade de Pau de Colher. A recompensa seria um mundo livre de almas endiabradas, liberto dos servos do imperfeito. As notícias dos ataques às fazendas e aos sítios das redondezas chegaram rapidamente à sede do município de Casa Nova e, em seguida, à capital do estado, Salvador, levando as autoridades a reagir aos acontecimentos que se passavam no sertão. Desde os primeiros boatos em torno da concentração de fanáticos em Pau de Colher, ainda em 1936, os políticos do 117 O Lugar do Contestado na História do Brasil município vinham pedindo ajuda ao governo do estado. Sem retorno nenhum, o prefeito Raymundo Santos resolveu então organizar a primeira expedição contra o reduto – já citada –, que terminou em grave confronto. O maior impacto dessa primeira ofensiva foi a interrupção dos preparativos para a viagem ao Caldeirão. A suspeita de que mais soldados pudessem voltar à comunidade, alimentada por boatos, fez com que os integrantes de Pau de Colher reconsiderassem o plano e procurassem se defender de uma nova investida. Sob intervenção interina do coronel Antônio Fernandes Dantas, comandante da 6.ª Região Militar em Salvador e executor do Estado de Guerra na Bahia, o executivo estadual uniu forças policiais e militares da Bahia, de Pernambuco, do Piauí e de Sergipe para uma segunda ação em Pau de Colher ainda no mês de janeiro de 1938. Formava-se o Destacamento do Vale do São Francisco, que englobava entre as suas tropas a brigada militar pernambucana, a qual, sob o comando do capitão Optato Gueiros, lançou uma ofensiva a Pau de Colher antes do restante das tropas, sucedendo-se um conflito que perdurou por dois dias e duas noites, deixando centenas de vítimas fatais, entre elas homens, mulheres e crianças (ESTADO DA BAHIA, 1938; O POVO, 1938). Considerações finais O fenômeno messiânico-milenarista aqui discutido apresentou características instigantes para análise de vários pesquisadores que dele se ocuparam. Pau de Colher, como se tornou conhecido na literatura especializada, alimentou a meta de reunir grande número de sertanejos e rumar para o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, onde seus participantes assistiriam ao retorno do beato José Lourenço. No decorrer da pesquisa, notamos que a bibliografia tradicional sobre o tema afirmava a existência desse esboço de peregrinação, porém utilizava-o para sustentar a dependência quase irrestrita de Pau de Colher ao Caldeirão, não 118 Filipe Pinto Monteiro reconhecendo as transformações que tal projeto sofreu ao longo da história da irmandade. Logo, criou-se, entre os primeiros pesquisadores que se debruçaram sobre o assunto, a tradição de apresentar Pau de Colher sempre em função do Caldeirão, como se deste fosse apenas um fragmento, uma etapa, um apêndice. Não há como negar que Pau de Colher surgiu na esteira de dois fenômenos de grande impacto no sertão nordestino: Juazeiro do Norte e Caldeirão. A esperança de peregrinação a este último foi estimulada e incrementada, agregando, numa primeira leitura, características transitórias a Pau de Colher, como definiu Duarte (1972). Entretanto, ao analisar Pau de Colher nessa perspectiva, ele se perde como um fenômeno com dinâmica própria, como se não fosse nada além de uma formação social provisória, evanescente. Ignora-se o fato de que, ao longo de sua existência, padrões de comportamento e concepções de mundo inéditos foram criados e colocados em prática. Pensar o movimento apenas como uma extensão do Caldeirão pode se revelar uma estratégia explicativa limitante. Era isso também, mas não apenas. Os vínculos com a comunidade de Zé Lourenço se fizeram sempre presentes, mas não ocultaram manifestações religiosas distintas que caracterizavam o movimento enquanto experiência com lógica própria. Daí a sua originalidade, aqui exemplificada sobretudo pelo projeto peregrinatório e pela demonização do cotidiano. Outras existiram e fizeram parte do dia a dia de Pau de Colher – tais como as honrarias santorais –, mas deixemos essas reflexões para outra oportunidade. Referências Fontes primárias Periódicos CORREIO DO BONFIM. Salvador, 1938. 119 O Lugar do Contestado na História do Brasil DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Fortaleza, 1938. ESTADO DA BAHIA. Salvador, 1938. GAZETA DE ALAGOAS. Maceió, 1938. O JORNAL. Salvador, 1938. O PHAROL. Petrolina, 1938. O POVO. Fortaleza, 1935. Manuscritos HISTÓRICO DE PAU DE COLHER. Carta anônima ao bispo de Juazeiro D. José Rodrigues. Juazeiro da Bahia, maio 1983. Telegramas, relatórios e folhetos SANTOS, Geraldo Bispo dos. Telegrama ao Senhor Coronel Comandante Geral da Polícia Militar Tito Coelho Lamego. Boletim do commando da Policia Militar do Estado da Bahia, Salvador, 25 fev. 1938. SANTOS, Zacharias Justiniano dos. Relatório apresentado ao Dr. Landulfo Alves de Almeida, interventor do Estado da Bahia, 30 jun. 1938a. SANTOS, Zacharias Justiniano dos. Telegrama ao Senhor Coronel Comandante Geral da Polícia Militar Tito Coelho Lamego. Boletim do commando da Policia Militar do Estado da Bahia, Salvador, 14 fev. 1938b. Fontes secundárias ESTRELA, Raimundo. Pau-de-colher: um pequeno Canudos. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 1998. FERRAZ, Marilourdes. O canto do Acauã: das memórias de Manuel de Souza Ferraz (Manuel Flor) – um comandante das forças volantes. Belém: Falangola, 1978. GUEIROS, Optato. Lampeão: memória de um oficial ex- 120 Filipe Pinto Monteiro comandante de forças volantes. Recife, 1952. REVISTA DE CRÍTICA JUDICIÁRIA. Rio de Janeiro, jul. 1938. TAVARES, Maurino Cezimbra. Fatos históricos de criminalidade: estudo médico social. Trabalho apresentado ao Instituto Baiano de Medicina. Salvador: Imprensa Oficial da Bahia, 1954. TAVARES, Maurino Cezimbra. Operações militares em Pau de Colher. Revista Policial-Militar, p. 49-50, dez. 1937-mar. 1938. Livros e artigos BASCHET, Jérôme. Diabo. 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São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 263-265. 124 Sobre os autores Ana Crhistina Vanali Professora da Faculdade da Indústria de São José do Pinhais e do Colégio da Polícia Militar de Curitiba. Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná. Membro do Grupo de Investigação sobre o Movimento do Contestado. E-mail: anacvanali@gmail.com. Analice Dutra Pillar Professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutora em Artes pela ECA/USP, vinculada ao PPGEDU/ UFRGS – Grupo de Pesquisa em Educação e Arte (GEARTE). E-mail: analicedpillar@gmail.com. Alexandre Assis Tomporoski Professor da Universidade do Contestado (UnC). Doutor em História pelo Departamento de História da UFSC. Membro do Grupo de Investigações sobre o Movimento do Contestado. E-mail: alexandre@unc.br. Arthur Luiz Peixer Professor de História do Ensino Fundamental II na Rede Municipal de Rio das Antas, Santa Catarina. Especialista em Interdisciplinaridade e Práticas Pedagógicas na Educação Básica pelo Instituto Federal de Santa Catarina e especialista em inovação na Educação pela Universidade do Alto Vale do Rio do Peixe. E-mail: arthurpeixer@gmail.com 579 O Lugar do Contestado na História do Brasil Cleber Duarte Coelho Professor do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: rebelc2000@ yahoo.com.br. Daniel Luciano Gevehr Professor titular do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT). Doutor em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. E-mail: danielgevehr@faccat.br. Delmir José Valentini Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul. Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Membro do Grupo de Investigações sobre o Movimento do Contestado. E-mail: valentini@uffs.edu.br. Eloi Giovane Muchalovski Mestre em História pela Universidade Estadual do CentroOeste (UNICENTRO). E-mail: eloigiovane@gmail.com.br. Évelyn Bueno Mestranda em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado (UnC). Bolsista PRONEM/FAPESC. Vinculada ao Grupo de Investigação sobre o Movimento do Contestado. E-mail: evelyn.schermack@gmail.com. Fabiolla Falconi Vieira Professora da Escola de Educação Básica Professora Laura 580 Sobre os autores Lima/SED-SC. Doutoranda do PPGH/UDESC. Bolsista FUMDES/ UNIEDU. E-mail: fabiollafalconi@gmail.com. Felipe Augusto Werner dos Reis Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História do Tempo Presente na Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGH/UDESC). E-mail: werner077@gmail.com Filipe Pinto Monteiro Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz. E-mail: filipemhst@ gmail.com. Flávio Braune Wiik Professor de Antropologia junto ao Departamento e Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina no Paraná (UEL). Ph.D. em Antropologia pela Universidade de Chicago. Participa do Grupo de Investigações sobre o Movimento do Contestado. E-mail: flaviowiik@gmail.com. Francisco Régis Lopes Ramos Professor titular da Universidade Federal do Ceará. Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pesquisador do CNPq. Email: regisufc@hotmail.com. Gerson Witte Professor de Artes Visuais do Instituto Federal de Santa Catarina IFSC – Campus Chapecó. Mestre em Educação pela UNIOESTE, artista e pesquisador da cultura da região do Contestado. E mail: gerson.witte@ifsc.edu.br 581 O Lugar do Contestado na História do Brasil Grazieli Eurich Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. E-mail: graeurich@hotmail.com. Hellen Heine Barreto Ferreira Professora na Escola de Educação Básica Trinta de Outubro, município de Lebon Régis, Santa Catarina. E-mail: eu-hellen@ hotmail.com João Cláudio Casara Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista CAPES. E-mail: jccasara03@yahoo.com.br. João Felipe Alves de Morais Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: joaofelipemorais@gmail.com Josiane Suelen Kamin Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). E-mail: josikamin@ hotmail.com Luiz Carlos da Silva Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: carlos.luiz226@gmail.com. 582 Sobre os autores Márcia Elizabéte Schüler Professora da Rede Federal de Educação no Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Videira. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública - USP- SP. E-mail: m.schuler@ usp.br. Márcia Janete Espig Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pelotas. Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Participa do Grupo de Investigações sobre o Movimento do Contestado. E mail: marcia.espig@terra.com.br. Mateus Henrique Torcatto Realiza mestrado profissional em Ensino de História (ProfHistória) pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Professor substituto no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - Campus Fraiburgo. E-mail: mateus. thistoria@gmail.com Paulo Pinheiro Machado Professor Titular do Departamento e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor em História pela UNICAMP. Integrante do INCT-PROPRIETAS e bolsista em Produtividade de Pesquisa II do CNPQ. Líder do Grupo de Investigação sobre o Movimento do Contestado. E-mail: paulo.pinheiro.machado@ufsc.br. Pedro Lima Vasconcellos Professor da Unidade Educacional Palmeira dos Índios e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Alagoas. Doutor em Ciências Sociais: Antropologia pela 583 O Lugar do Contestado na História do Brasil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: plvascon@ uol.com.br. Rita Inês Petrykowski Peixe Professora de Arte no Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC/Campus Itajaí. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Vinculada ao Grupo de Pesquisas DZArt/GEARTE. E-mail: ritapeixe@hotmail.com. Rogério Rosa Rodrigues Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Santa Catarina. Atua no Programa de PósGraduação em História e no Mestrado Profissional em Ensino de História (Profhistória) da UDESC. Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro do Grupo de Investigações sobre o Movimento do Contestado. E-mail: rogerio. rodrigues@udesc.br. Roseclei Golynski Nogueira Professora efetiva da Rede Municipal do município de Fraiburgo – Santa Catarina, áreas de História e Geografia. Licenciada em História pela Unoesc/Fraiburgo. Realizou especialização na Pós-Graduação em História / Universidade Santa Cecília. E-mail: rosenogueira.fb@gmail.com Rui Bragado Sousa Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: ruibsousa@hotmail.com. Sandro Luiz Bazzanella Doutor em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente do Programa de Mestrado e 584 Sobre os autores Doutorado em História pela Universidade de Passo Fundo. Líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas (CNPq). E-mail: sandro@unc.br. Vanderlei Cristiano Juraski Doutor em História pela Universidade de Passo Fundo. Professor do Instituto Federal Catarinense – campus Fraiburgo. Membro do Núcleo de Estudos Históricos do Mundo Rural. E-mail: vanderlei.juraski@ifc.edu.br. Viviani Poyer Professora do Curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó. Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Membro pesquisadora do Grupo de Investigações sobre o Movimento do Contestado e do INCT Proprietas/UFF. E-mail: vivianipoyer@ gmail.com. 585 (27) 3376-0363 facebook.com/EditoraMilfontes @editoramilfontes Conheça mais sobre a Editora Milfontes. Acesse nosso site e descubra as novidades que preparamos para Você. Editora Milfontes, a cada livro uma nova descoberta! Este impresso foi composto utilizando-se as famílias tipográficas Cormorant Infant. É permitida a reprodução parcial desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para qualquer fim comercial. las Milfa MILFONTES Qual o lugar do Contestado na história do Brasil? Como se inscreveu na memória histórica e nacional? Tais questões foram debatidas com colegas que pesquisam movimentos populares que, de alguma forma, estão conectados com a luta dos fiéis da irmandade de São João Maria, tais como Mückers, Canudos, Caldeirão, Pau de Colher, dentre outros. Também não poderia ficar restrita ao campo dos(as) profissionais da história. Sociologia, educação, artes, antropologia e filosofia foram áreas mobilizadas para debater aspectos desse conflito agrário que agitou a república brasileira no início do século XX. Merecem destaque estudos de professores e professoras da rede básica de ensino que, vivendo na região que foi palco do conflito, enfrentam diariamente os desafios de ensinar a história do Contestado. Este livro consolida décadas de trabalho, apresentando contribuições inéditas, na tentativa de fazer justiça à memória de um dos movimentos mais potentes da nossa história recente. Apoio Institucional e Financiamento www.editoramilfontes.com.br ISBN: 978-65-5389-004-6