Apresentação
Há um ano, na edição anterior a esta, dávamos conta de algumas alterações introduzidas na estrutura do Mestrado em Museologia (MMUS) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Alterações decorrentes de dinâmica assumida, desde a criação da formação pós-graduada em Museologia na FLUP, em 1992 e pela mão de Armando Coelho, Rui Centeno e Jaime Ferreira-Alves, de previsão e adaptação a novos desafios e realidades em mudança, assente em saber herdado, criticado, desenvolvido, acumulado e partilhado, no sentido do desenvolvimento de teorias e práticas e em prol dos museus e das suas mais diversas comunidades.
Publicada no Diário da República n.º 119, 2ª Série, de 24 de junho de 2014 e implementada no ano letivo 2014/15, a nova estrutura teve efeitos mais sentidos em 2016, em contexto de uma das unidades curriculares introduzidas no 2.º semestre do 2.º ano, Seminário II. Para além do estímulo que o MMUS vem dando aos discentes para, com o apoio dos vários docentes, organizarem uma edição e publicarem os resultados das suas reflexões, investigações e ações, um desejo acalentado pelo curso há longos anos e iniciado em 2011 por Alice Semedo e Patrícia Costa com a ENSAIOS E PRÁTICAS EM MUSEOLOGIA 01, o estímulo alargou-se, no âmbito de tal Seminário, à organização de uma reunião científica onde, em contextos (inter)nacionais de multi, pluri, inter e, ambicionadamente, transdisciplinaridade, os discentes partilham e aprofundam conhecimentos, fruto de relações profícuas de colaboração crítica, que se pretendem cada vez mais alargadas, diversificadas e fortalecidas.
Assim, nesse âmbito e sentido, coube aos discentes, sempre apoiados pelos docentes, a responsabilidade da organização e produção do Seminário de Jovens Investigadores - Património, Museus e Desenvolvimento, a 30 e 31 de maio de 2016. Adotando e conciliando o tema celebrado pelo International Council of Museums (ICOM), Museus e Paisagens Culturais, com o celebrado pelo International Council on Monuments and Sites (ICOMOS), O Património do Desporto, foi uma atividade que contou com a coorganização do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (CITCEM) e com o honroso apoio institucional do ICOM-Europa, do ICOM-Portugal, do ICOMOS-Portugal, da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), do American Corner FLUP e da Associação de Estudantes da FLUP (AEFLUP). O programa estruturou-se em sessões temáticas, promovendo a reflexão relativa à necessidade dos museus e outras instituições culturais discutirem o seu papel no desenvolvimento integrado, na sustentabilidade e inclusão do quadro de vida das sociedades do novo milénio e dos diferentes territórios que abrangem, procurando assumir-se como agentes ativos na salvaguarda do património, na promoção, coesão e felicidade social. Globalmente, a sua dinâmica pode ser explorada a partir da consulta do sítio eletrónico, também ele produzido pelos discentes:
http://mmusflup2016.pagongski.com/.
Objetivou-se a criação de oportunidades privilegiadas de contacto com a comunidade académica e profissional, proporcionando espaços complementares de discussão/reflexão crítica que articulassem
os trabalhos de investigação dos alunos com o conhecimento e experiência de outros de 3º ciclo em Museologia (DMUS), de alumni MMUS e de conceituados oradores convidados, promovendo a sistematização, produção de conhecimentos e sua divulgação, às diferentes escalas, orientando-se por padrão de qualidade e inovação académica, aprofundando e alargando conhecimentos.
Esta edição, que pretende potenciar a partilha de tais conhecimentos, não reflete plenamente a globalidade do seminário. Antes, é fruto de uma seleção, conduzida por circunstâncias particulares de vida e pela ação da equipa de revisão científica.
Assim:
António Ponte salienta a relação sinérgica entre turismo e cultura, sintetiza as suas dinâmicas de evolução e sublinha a importância do papel que os museus podem ter nas estratégias de atração de visitantes, na salvaguarda do património identitário e no incremento da condição económica da sociedade.
Luciana Justiniani Hees reflete especificamente sobre a relação entre homem e meio ambiente, alicerçando as perspetivas assumidas pela, já não tão nova, Nova Museologia nos movimentos ambientalistas e no direito internacional, orientados para a salvaguarda do património e para o papel dos museus na gestão das paisagens culturais.
João Brigola defende o potencial dos museus e equipamentos culturais, especialmente quando em rede voluntária e colaborativa. Transporta-nos até Évora e apresenta-nos o Projeto RMECÉVORA (Rede de Museus e Equipamentos Culturais de Évora), com os seus agentes, linhas de orientação estratégica, fontes de financiamento e objetivos.
Com Mário Santos viajamos até mais longe, ao território do Sudeste Asiático, para, através da sua escultura, descobrirmos outras formas de representação artística e expressão cultural, as suas crenças e representações, bem como agentes de (con/in)fluência.
Elizabete de Castro Mendonça transporta-nos até ao Brasil e apresenta-nos o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, concretamente o caso do Museu do Samba, no Rio de Janeiro, refletindo sobre os desafios, potencialidades e estratégias de articulação entre os processos de patrimonialização e de musealização na sua criação.
Graça Alexandra Pinho Silva partilha as suas reflexões preliminares ao processo de musealização da Electro-Cerâmica do Candal, em Vila Nova de Gaia, salientando a importância da interação e inclusão das suas comunidades, apresentando perspetivas e linhas de atuação e assumindo dificuldades.
Os dois últimos artigos inserem-se na estratégica de internacionalização do curso e, globalmente, da Universidade do Porto (U.PORTO). Trata-se do resultado de estágios desenvolvidos em contexto de protocolos de mobilidade Erasmus+, em colaboração com o Victoria & Albert Museum (V&A) e com o English Heritage, no Reino Unido.
Clarisse Ranhada Lima considera o caso do V&A e a questão da gestão ambiental, com enfoque especial na qualidade do ar, concretamente na poluição por partículas. Partilha objetivos e metodologias de atuação implementadas no decurso de obras de expansão do museu, bem como
aspetos inovadores na obtenção e tratamento de dados, salientando a sua importância para a área da conservação preventiva.
Ana Marques contribui para a mesma área, considerando alguns espaços de reserva do English Heritage e ensaiando o recurso a funções de dano para estimar os efeitos das suas condições termohigrométricas
para coleções documentais, úteis à tomada de decisão quanto à implementação de estratégias de atuação.
Paula Menino Homem, Marlene Rocha e Luciana Justiniani Hees