Neste texto, realizaremos uma abordagem histórica das políticas linguísticas (doravante PL) a partir da análise comparativa das comunidades ucranianas de imigração na Croácia e no Brasil. Trata-se de mostrar o modo como diferentes...
moreNeste texto, realizaremos uma abordagem histórica das políticas linguísticas (doravante PL) a partir da análise comparativa das comunidades ucranianas de imigração na Croácia e no Brasil. Trata-se de mostrar o modo como diferentes instituições não governamentais (especificamente a Igreja e os Grupos folclóricos) atuaram no âmbito de ensino e preservação da língua e identidade ucraniana, em uma constante tensão com as PL estatais. Sustenta-se a tese de que seria possível depreender a constituição de uma nova PL interna, realizada pelos grupos mencionados, analisando as circunstâncias históricas nas quais o país se encontrava e as ações e atitudes tomadas pelos membros da comunidade, produzidas dentro do contexto político particular. Assim, será apresentado um histórico sucinto dos principais momentos da constituição das PL externas, para articulá-las com as políticas internas, levando em conta todos os acontecimentos e as circunstâncias sociohistóricas pertinentes para o contexto específico da Croácia e do Brasil. Para tanto, serão analisados comparativamente os discursos oficiais dos governos no que diz respeito à definição, ao tratamento e ensino da língua ucraniana, e complementados com as contribuições teóricas e conceituais de diferentes autores que já abordaram o tema. Esse trabalho servirá como ponto de partida para a contemplação das consequências e da influência que a PL teve na preservação da identidade linguística e cultural das minorias, resultando, por vezes, em tensões entre a identidade assumida pela comunidade e a identidade presumida pelo estado. Em função disso, do diálogo e da tensão constante entre comunidades e estado, poderemos vislumbrar o particular e o universal em cada país, o que certamente mostrará que a possibilidade de entender, através de comparações entre culturas diferentes, croata e brasileira, o lugar singular que os ucranianos tiverem e como sua experiência poderá ajudar no melhor entendimento do que é ser e se fazer eslavo.
Mais especificamente, será realizada uma análise da formação de PL estatais/oficiais e da interlocução que elas tiveram com as políticas comunitárias/não-oficiais das comunidades rurais de origem ucraniana, para mostrar a importância do trabalho de diferentes instituições não-formais, nomeadamente a igreja e os grupos folclóricos na preservação da identidade linguística e cultural de uma comunidade minoritária em diferentes países.
Dessa maneira, acredita-se que a partir das comparações intraculturais e interestatais (ainda relativamente raras neste campo de pesquisa) de abordar da história e constituição de uma PL interna mostrará o quanto ela é importante para a realização e aceitação de uma educação cultural e linguística que respeite e estimule o desenvolvimento das línguas minoritárias mesmo em lugares bem diferentes.
Finalmente, o texto será desenvolvido a partir da seguinte pergunta: de que modo a participação de instituições não governamentais e a consequente constituição de uma PL própria, em diferentes contextos culturais, possibilita aos seus membros a preservação e a efetiva prosperidade cultural de uma comunidade minoritária?