A ilha do tesouro
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Sobre este e-book
Robert Louis Stevenson
Robert Louis Stevenson (1850–1894) spent his childhood in Edinburgh, Scotland, but traveled widely in the United States and throughout the South Seas. He was author of many novels, including The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, Kidnapped, The Black Arrow, and Treasure Island.
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A ilha do tesouro - Robert Louis Stevenson
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2019 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Título original
Treasure island
Texto
Robert Louis Stevenson
Tradução
Monique D’Orazio
Diagramação e revisão
Casa de Ideias
Produção e projeto grafico
Ciranda Cultural
Ebook
Jarbas C. Cerino
Imagens
Navalnyi/Shutterstock.com;
Rosovskyi/Shutterstock.com;
pingebat/Shutterstock.com;
Gleb Guralnyk/Shutterstock.com;
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
S847i Stevenson, Robert Louis, 1850-1894
A ilha do tesouro [recurso eletrônico] / Robert Louis Stevenson ; traduzido por Monique D’Orazio. - Jandira, SP : Principis, 2021.
240 p. ; ePUB ; 7,1 MB. - (Clássicos da literatura mundial)
Tradução de: Treasure island
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-282-2 (Ebook)
1. Literatura infantojuvenil. 2. Literatura inglesa. I. D’Orazio, Monique. II. Título. III. Série.
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantojuvenil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 82-93
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
Todos os direitos reservados.
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O velho lobo do mar na Almirante Benbow
Pelo fato de o fidalgo Trelawney, o dr. Livesey e o resto desses cavalheiros terem me pedido para escrever todos os pormenores a respeito da Ilha do Tesouro, do começo ao fim, sem nada ocultar, a não ser a localização da ilha, e isso só porque lá ainda há tesouro não reclamado, pego minha pena no ano da graça de 17… e volto ao momento em que meu pai administrava a estalagem Almirante Benbow e o velho marinheiro moreno com o corte de sabre se alojou pela primeira vez sob nosso teto.
Eu me lembro dele como se fosse ontem, quando veio em direção à porta da estalagem, andando pesadamente, e seu baú de marinheiro vinha seguindo atrás, sobre um carrinho de mão. Era um homem alto, forte, pesado, de cor castanha, uma trança alcatroada¹ caindo sobre o ombro do casaco imundo azul, suas mãos calejadas e cobertas de cicatrizes, com unhas quebradas e pretas, e o corte de sabre cruzando uma face, em um tom branco sujo e lívido. Eu me lembro dele olhando em volta da enseada, assobiando para si mesmo e, então, começando aquela velha canção do mar, que depois ele passou a cantar com tanta frequência:
Quinze homens sobre o baú do defunto
Iô-ho-ho e uma garrafa de rum!
A voz alta, antiga e vacilante parecia ter sido afinada e quebrada nas barras do cabrestante. Então, ele bateu na porta com aquele pedaço de pau, que parecia uma alavanca de cabrestante e, quando meu pai apareceu, bradou asperamente que lhe trouxesse um copo de rum. Quando lhe foi entregue, ele bebeu lentamente, como um conhecedor, demorando-se no sabor e ainda olhando ao redor para as falésias e para cima, onde estava nossa placa.
– Esta é uma enseada conveniente – disse ele, enfim – e uma taverna de localização aprazível. Há muita gente aí, companheiro?
Meu pai lhe disse que não, muito pouca gente, o que era uma grande pena.
– Bem – disse ele –, então este é o ancoradouro certo para mim. Aqui, marujo – gritou para o homem que empurrava o carrinho de mão –, traga isso e ajude a levar meu baú para cima. Vou ficar aqui um pouco – ele continuou. – Sou um homem simples; rum, toucinho e ovos é o que eu quero, e aquele lugar lá em cima para ver os navios a distância. Como você pode me chamar? Pode me chamar de capitão. Oh, entendi o que você quer… aí está – e ele jogou três ou quatro moedas de ouro na soleira. – Pode me dizer quando eu tiver gasto tudo isso – disse, feroz como um comandante.
E por pior que fosse o estado de sua vestimenta e por mais grosseiro que fosse seu modo de falar, ele não tinha nada da aparência de um homem que navegava na frente do mastro, mas pareceu-me um imediato ou contramestre acostumado a ser obedecido ou a bater. O homem que veio com o carrinho de mão nos disse que o correio o deixara pela manhã diante do Royal George. Havia perguntado sobre estalagens ao longo da costa e, ouvindo falar bem da nossa, eu suponho, que foi descrita como solitária, a escolhera dentre as demais para seu local de residência. E isso foi tudo o que pudemos saber a respeito do nosso hóspede.
Por costume, ele era um homem muito silente. Todo dia rondava a enseada ou estava em cima das falésias com uma luneta de latão; ficava a noite toda sentado em um canto da sala de estar próximo à lareira e bebia uma mistura muito forte de rum e água. Em geral, não falava quando falavam com ele, apenas erguia o olhar de modo repentino e feroz e bufava pelo nariz como uma buzina de nevoeiro; nós e as pessoas que passavam pela nossa casa aprendemos a deixá-lo em paz. Todos os dias, quando voltava de seu passeio, perguntava se algum homem do mar tinha aparecido pela estrada. No começo, achamos que era a falta de companhia de gente como ele que o fazia perguntar; mas, por fim, começamos a perceber que ele desejava evitá-los. Quando um marinheiro de fato parava na Almirante Benbow (e de vez em quando alguns paravam, chegando pela estrada costeira, vindos de Bristol), ele o observava pela cortina da porta, antes que entrasse no salão, certificando-se de permanecer quieto como um rato, quando alguém assim estava presente. Para mim, pelo menos, não havia nenhum segredo sobre o assunto, pois eu partilhava, de certa forma, de seus alarmes. Ele tinha me puxado de canto, um dia, e me prometido uma moeda de prata de quatro pence no primeiro dia de cada mês, se eu ficasse de olho aberto para um homem do mar de uma perna só
e o informasse disso no momento em que este aparecesse. Com bastante frequência, quando chegava o primeiro dia do mês e eu me dirigia a ele para coletar meu salário, o velho marinheiro apenas bufava pelo nariz e me fitava de cima a baixo, mas, antes do fim da semana, ele pensava melhor e me dava a moeda de quatro pence, repetindo as ordens de ficar de olho no homem do mar de uma perna só
.
De que forma o sujeito assombrava meus sonhos, eu não preciso lhes dizer. Nas noites de tormenta, quando o vento sacudia os quatro cantos da casa e a arrebentação rugia ao longo da enseada e subia pelas falésias, eu o via de mil formas e com mil expressões diabólicas. Ora a perna era cortada no joelho, ora, no quadril; ora ele era um tipo monstruoso de criatura que nunca teve mais do que uma perna só e, esta, no meio do corpo. Vê-lo saltar e correr e me perseguir pulando as sebes e os fossos era o pior dos pesadelos. E, de modo geral, paguei muito caro pela minha cota mensal de quatro pence, na forma desses devaneios abomináveis.
Contudo, embora eu me apavorasse tanto com a ideia do homem do mar de uma perna só, tinha muito menos medo do próprio capitão do que de qualquer outra pessoa que o conhecesse. Houve noites em que ele tomava mais rum e água do que sua cara aguentava; e então ele, às vezes, se sentava e cantava suas velhas canções perversas do mar, sem se importar com ninguém; mas outras vezes ele gritava pedindo rodadas de bebida e forçava toda a freguesia trêmula a ouvir suas histórias ou a fazer coro com sua cantoria. Com frequência, ouvi a casa tremer com Iô-ho-ho, e uma garrafa de rum
, todos os vizinhos se juntando a ele como se suas vidas dependessem disso, com medo da morte à espreita, e cada um cantando mais alto do que o outro para evitar se expor. Nesses rompantes, ele era o sujeito mais visceral já conhecido; ele batia a palma sobre a mesa pedindo o silêncio de todos; ele voava apaixonadamente de raiva quando lhe faziam uma pergunta ou, às vezes, porque ninguém estava atento e assim ele julgava que a companhia não estava acompanhando sua história. Ele também não permitia que ninguém saísse da estalagem até que ele tivesse bebido até ficar sonolento e partisse cambaleando para a cama.
Suas histórias eram o que mais assustava as pessoas. Eram histórias terríveis – sobre enforcamentos e gente andando na prancha e sobre tempestades no mar e sobre as Ilhas Tortugas e atos e lugares selvagens no Mar do Caribe. Pelo seu próprio relato, ele deve ter vivido entre alguns dos homens mais perversos que Deus já permitiu cruzar o mar, e a linguagem que ele usava para narrar essas histórias chocava nossas pessoas simples do interior, quase tanto quanto os crimes que ele descrevia. Meu pai dizia sempre que a estalagem seria arruinada, pois as pessoas logo cessariam de vir para serem tiranizadas e menosprezadas, e depois despachadas, trêmulas, para suas camas; mas eu realmente acredito que a presença dele nos fez bem. As pessoas ficavam assustadas naquela época, mas em retrospecto, elas até que gostaram; foi uma grande emoção em uma vida pacata do campo, e houve até um grupo de homens mais jovens que fingiam admirá-lo, chamando-o de um verdadeiro lobo do mar
e um velho marujo curtido pelo sal
, e nomes assim, dizendo que ali estava o tipo de homem que fazia a Inglaterra ser temida no mar.
Por um lado, de fato, ele nos trouxe uma boa cota de ruína, pois ficou, semana após semana, e se demorou mês após mês, até que todo o dinheiro já tivesse se esgotado havia muito tempo e, mesmo assim, meu pai nunca teve a coragem de insistir em receber mais. Se alguma vez ele fazia menção a isso, o capitão bufava tão alto que se poderia dizer que rugia, e encarava meu pobre pai até que ele saísse do recinto. Vi meu pai torcendo as mãos após tal rejeição, e tenho certeza de que o aborrecimento e o terror em que ele vivia devem ter apressado grandemente sua morte precoce e infeliz.
Durante todo o tempo em que viveu conosco, o capitão não fez uma mudança sequer em sua vestimenta que não fosse comprar meias de um mascate. Uma das pontas de seu chapéu tricórnio tinha caído, e ele o deixou pendurado daquele dia em diante, embora fosse um grande incômodo quando soprava o vento. Lembro-me da aparência de seu casaco, que ele próprio remendava lá em cima no quarto dele, e que, antes do fim, não era nada além de remendos. Ele nunca escrevia ou recebia uma carta, e nunca falava com ninguém que não fossem os vizinhos e, com estes, na maior parte, apenas quando bêbado de rum. O grande baú do pirata, nenhum de nós o viu aberto.
Só uma vez ele foi contrariado, e isso foi no final, quando meu pai estava em caminho avançado no declínio que o levou. O dr. Livesey veio no fim de uma tarde para ver o paciente, comeu um pouco do jantar que minha mãe ofereceu e foi para o salão fumar um cachimbo até seu cavalo vir da aldeia, pois não tínhamos nenhum estábulo na velha Benbow. Segui-o até lá e lembro-me de observar o contraste que o médico de aparência impecável, alegre, com o seu talco da peruca branco como neve² e os olhos brilhantes e negros, seus modos agradáveis, criava em comparação aos camponeses indóceis, e, acima de tudo, com aquele espantalho imundo, corpulento e de olhos baços do nosso pirata, sentado, já tendo excedido em sua cota de rum, com os braços sobre a mesa. De repente, ele – isto é, o capitão – começou a cantarolar sua canção eterna:
Quinze homens sobre o baú do defunto
Iô-ho-ho e uma garrafa de rum!
A bebida e o diabo já cuidaram do resto
Beba, e o diabo já cuidou do resto
Iô-ho-ho e uma garrafa de rum!
No começo, eu tinha suposto que o baú do defunto
era idêntico à grande caixa dele que estava no andar de cima, na frente do quarto, e o pensamento tinha se imiscuído nos meus pesadelos com o tal do homem do mar de uma perna só. Mas a essa altura, nós todos já tínhamos deixado de prestar qualquer atenção específica à música; não era nova, naquela noite, para ninguém a não ser para o dr. Livesey, e nele eu observei que não produzia um efeito agradável, pois ele ergueu os olhos por um momento, com certa irritação, antes de continuar a conversa com o velho Taylor, o jardineiro, sobre uma nova cura para o reumatismo. Nesse meio-tempo, o capitão foi gradualmente se alegrando com sua música e, por fim, bateu a mão sobre a mesa diante dele de uma maneira que todos nós sabíamos que significava silêncio. As vozes pararam de imediato, todas menos a do dr. Livesey; como antes, ele continuou a falar com clareza e cordialidade, e dando leves pitadas rápidas no cachimbo, entre cada palavra ou duas. O capitão o fitou por um tempo, bateu a mão na mesa de novo, lançou um olhar ainda mais fulminante e, por fim, praguejou em voz baixa, com vilania:
– Silêncio, aí, entre os conveses!
– Estava falando comigo, senhor? – disse o médico; e quando o rufião dissera-lhe, com uma outra blasfêmia, que, sim, ele estava: – Eu tenho só uma coisa a dizer, senhor – respondeu o médico –, que se continuar bebendo rum, o mundo em breve vai ter um patife muito sujo a menos!
A fúria do velho camarada foi terrível. Ele se levantou de um salto, sacou e abriu o canivete de marinheiro e, equilibrando-o aberto na palma da mão, ameaçou prender o médico na parede.
O médico nem mesmo se mexeu. Dirigiu-se a ele como antes, por cima do ombro e no mesmo tom de voz, bastante elevado, para que todo o salão pudesse ouvir, mas perfeitamente calmo e firme:
– Se não guardar essa faca no seu bolso neste instante, eu juro, pela minha honra, que o senhor vai enfrentar a forca na próxima sessão do tribunal.
Depois seguiu-se uma batalha de olhares entre eles, mas o capitão logo cedeu, guardou a arma e retomou seu assento, resmungando como um cão que tinha apanhado.
– E agora, senhor – continuou o médico –, já que agora eu sei que existe um tal sujeito no meu distrito, pode ter certeza de que vou ficar de olho no senhor dia e noite. Não sou apenas médico; sou um magistrado; e se eu pegar um sussurro de queixa contra o senhor, nem que seja apenas por uma demonstração de incivilidade como a de hoje, vou tomar providências eficazes para caçá-lo e removê-lo de tudo isso. E tenho dito.
Logo depois, o cavalo do dr. Livesey chegou à porta e ele se afastou, mas o capitão conservou sua paz naquela noite e por muitas outras noites depois.
Marinheiros do período retratado, o século XVIII, costumavam tratar o cabelo trançado com o mesmo alcatrão que usavam para impermeabilizar as cordas e as velas do navio. (N.T.)
No período retratado, homens atentos à moda usavam perucas que eram branqueadas com talco. (N.T.)
Cão Preto aparece
e desaparece
Não foi muito tempo depois disso que ali ocorreu o primeiro dos eventos misteriosos que nos livraram, enfim, do capitão, embora não nos livrasse, como vocês verão, de seus assuntos. Era um inverno frio e severo, com geadas longas e duras e pesados vendavais; e estava clara desde o início a pouca probabilidade de que meu pobre pai visse a primavera. Ele afundava dia a dia, e minha mãe e eu tínhamos toda a estalagem em nossas mãos e ficamos ocupados o suficiente para não prestarmos muita atenção ao nosso hóspede desagradável.
Era uma manhã de janeiro, muito cedo – uma manhã gelada, cortante –, toda a enseada estava coberta de geada cinzenta, as ondas lambiam levemente as pedras, o sol ainda estava baixo, mal tocava o topo das colinas, e brilhava no mar ao largo. O capitão tinha acordado mais cedo do que o habitual e saído para a praia, a espada balançando debaixo da saia ampla do velho casaco azul, sua luneta de latão debaixo do braço, o chapéu inclinado sobre a cabeça. Eu me lembro de seu hálito deixar um rastro como fumaça, quando ele saiu a passos largos, e o último som que ouvi dele quando contornou a grande pedra foi um grande resmungo de indignação, como se sua mente ainda estivesse matutando sobre o dr. Livesey.
Bem, mamãe estava lá em cima com meu pai, e eu estava arrumando a mesa do desjejum antes do retorno do capitão, quando a porta do salão se abriu e entrou um homem que eu nunca tinha visto antes. Ele era uma criatura pálida, sebenta, com dois dedos faltando na mão esquerda e, embora usasse uma espada, não se parecia muito com um guerreiro. Eu sempre ficava de olho aberto para homens do mar, com uma perna ou duas, e lembro que esse me intrigou. Ele não era do tipo marinheiro, embora fosse, ainda assim, também envolto por uma aura de mar.
Perguntei-lhe o que ele gostaria de pedir, e ele disse que tomaria rum; mas quando eu estava saindo dali para buscá-lo, ele se sentou em cima de uma mesa e acenou para que eu me aproximasse. Parei onde estava, com meu guardanapo na mão.
– Venha aqui, filhinho – disse ele. – Chegue mais perto.
Dei um passo em sua direção.
– Esta aqui é a mesa posta para meu companheiro Bill? – perguntou ele, com um certo olhar de soslaio.
Eu lhe disse que não conhecia seu companheiro Bill, e que aquela mesa era para uma pessoa hospedada na nossa casa, que chamávamos de capitão.
– Bem – disse ele –, meu companheiro Bill poderia muito bem ser chamado de capitão. Ele tem um corte em uma face e modos muito agradáveis, em especial quando à base da bebida, o meu companheiro Bill. Digamos que, em uma hipótese, seu capitão tenha um corte em uma das faces, e digamos, por exemplo, que a face é a direita. Ah, bem! Eu disse. Agora vejamos, meu companheiro Bill está aqui nesta casa?
Eu disse que ele estava fora, caminhando.
– Para que lado, filhinho? Para que lado ele foi?
E quando eu tinha apontado a rocha e lhe dito como era provável que o capitão retornasse, e como isso ocorreria em breve, além de ter respondido a algumas perguntas, ele continuou:
– Ah, isso vai ser tão bom quanto bebida para meu amigo Bill.
A expressão de seu rosto quando ele disse essas palavras não era nada agradável, e eu tive meus motivos para pensar que o estranho estava enganado, mesmo supondo que não estava brincando. Contudo, não era assunto meu, pensei; e além do mais, era difícil saber o que fazer. O estranho ficou logo ao lado da porta da estalagem, espiando pela esquina como um gato à espera de um rato. Uma hora saí para a estrada, mas ele imediatamente me chamou de volta, e como não obedeci depressa o suficiente para seu gosto, uma transformação das mais horríveis acometeu seu rosto gorduroso, e ele me chamou praguejando de um jeito que me fez dar um pulo. Tão logo retornei, ele retomou seus modos anteriores, meio bajulador, meio sarcástico, deu-me um tapinha no ombro, disse-me que eu era um bom menino e que ele tinha gostado muito de mim.
– Eu tenho um filho meu – disse ele –, igual a você, como se fossem dois blocos, e ele é todo o orgulho do meu coração. Mas a coisa mais importante para os meninos é disciplina, filho… disciplina. Ora, se tivesse navegado com Bill, você não teria ficado lá para que falassem com você duas vezes; não você. Esse nunca era o jeito do Bill fazer as coisas, nem dos que navegavam com ele. E, aqui, com certeza, está meu amigo Bill, com uma luneta debaixo do braço. Deus lhe abençoe o velho coração, com toda a certeza. Você e eu podemos voltar para o salão, filho, ficaremos atrás da porta e vamos dar uma pequena surpresa para o Bill, que Deus lhe abençoe o coração, eu repito.
Assim falando, o estranho voltou comigo para o salão e me colocou atrás dele no canto, para que nós dois ficássemos ocultos pela porta aberta. Eu estava muito inquieto e assustado, como podem imaginar, e contribuiu um tanto para meus medos observar que o estranho certamente estava amedrontado também. Ele livrou o punho da espada e soltou-a da bainha; e, todo o tempo que ficamos ali esperando, ele continuou engolindo em seco como se sentisse o que costumamos chamar de um nó na garganta.
Finalmente entrou